Legenda vol.3.n.2

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vol. 3 | n° 2 | 2016.


ÍNDICE

6 EDITORIAL 8 HQ’s 10 Estúdio Numen

Carina Ribeiro: Comuta Paulo Mazzoco: Fator Zumbi Everaldo Cas: Kuembo 34 Bruno Ruscão Eu no Mundo da Lua: Quadrinhos Eu no Mundo da Lua: Dia da Mulher 56 Relíquias de Luiz 60 Renan Alves

66 DOSSIÊS TEMÁTICOS

76 Estudo sobre a obra do grafiteiro brasileiro Speto

Adriana Mara, Alice Siqueira, Maria Clara Bramante 92 Moda e arte com a aura de Benjamin: ilustrações com Marcelo Grassmann e o francês George Barbier Marcelo Elias, Rosilene Rodrigues da Costa 104 Gabriel Buzzo (Gadão) e o hoje construído pelo ontem: A arte efêmera descontruindo a ideia de passageiro Lucas de Aguiar Venâncio, Luíza Bianchi Barbosa, Natália Assis Cunha, Thiago Barbosa da Silva

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116 Memórias muralistas grafitadas de Eduardo Kobra

Bruna Costa Santos, Fernanda Rocha da Costa, Thaís de Carvalho Rodrigues 130 A arte como produto e as ilustrações de Drew Struzan: Os cartazes de cinema como exposições universais David Xavier Fernandes, Letícia Marinho dos Santos, Raul Guilherme Costa Alves 144 O grafite dos Gêmeos: Presença do Spätzeit em obras contemporâneas e no castelo de Kelburn Ana Luiza Wick, Camilla Pereira Reis, Danitza Velásquez, Francesca Oliveira 158 A arte do grafite com Eduardo Kobra: A capacidade de impactar o público através dessa técnica de ilustração Bruno Gomes de Souza

102 ENTREVISTAS

174 Bruno Ruscão: No Mundo da Lua 178 Renan Alves: Song Fuê

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LEGENDA QUADRINHOS Revista Brasileira de Pesquisa e Divulgação dos quadrinhos.

Legenda Quadrinhos é uma publicação semestral do NIQ - Núcleo de Ilustrações e Quadrinhos, integrado ao Centro de Estudos em Design da Imagem, na Escola de Design da UEMG. ISSN 2447-2638 Públicação Online

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MISSÃO D ivulgar artigos que abordem temas relacionados as ilustrações e histórias em quadrinhos correlatos aos vários nomes de quadrinistas nacionais, anônimos e consagrados que passaram a publicar suas produções autorais. Legenda Quadrinhos é uma revista interdisciplinar, criada com o objetivo de dinamizar a pesquisa, a produção e a divulgação dos quadrinhos, bem como contribuir com a documentação histórica e o estudo de novas técnicas de produção de imagens. Sentados lado a lado, quadrinistas e designers gráficos, debateram e contemplaram, pela primeira vez no espaço acadêmico, as possibilidades e os resultados da aproximação entre estas duas áreas do conhecimento humano, sempre com o intuito de promover vocações e estimular processos criativos, permitindo que estudantes de graduação e de pós-graduação também possam enviar artigos que abordem sobre estes diversos talentos artísticos brasileiros presentes no mercado nacional e/ou com sucesso no exterior. Em especial, busca publicar a produção dos alunos de graduação. A revista recebe artigos e resenhas em fluxo contínuo e funciona apenas no formato digital. Além do dossiê temático que permite aprofundar em áreas específicas. As submissões dos textos devem estar em sintonia com a Missão da Revista.

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EDITORIAL Prof. Dra. Eliane Raslan ED-UEMG

“Enfim, o fundo do poço da vergonha foi atingido quando a informática, o marketing, o design, a publicidade, todas as disciplinas da comunicação apoderaram-se da própria palavra conceito e disseram: é nosso negócio, somos nós os criativos, nós somos os ‘conceituadores’!” Deleuze e Guatari

Temos as mais diferentes técnicas e formas de ilustrar, publicadas em livros ou ensinadas por empresas e academias. Seja com lápis, por meio eletrônico ou por diferentes meios, como xilografia e colagens, o artista continua com muitas dúvidas sobre o que usar para ilustrar. Os questionamentos sobre iniciar trabalhos utilizando de técnicas ou não, é discutido e defendido por muitos, ao mesmo tempo, revelam que arriscar com ideias pode gerar trabalhos diferenciados. Ainda, há aqueles que acreditam que o ato do artista interfere na criatividade. A sétima revista Legenda Quadrinhos levantou essas questões no dossiê temático, ao inserir diversas polêmicas no ato de ilustrar, ou seja: “Arte nos Espaços Urbanos e o resgate da memória. O que é moderno? A técnica, a ideia ou o ato de ilustrar?”. Em geral, se a imagem vem acompanhada de um texto, logo, é considerada por muitos como ilustração. Verbal ou não, tanto a ilustração quanto ao texto, tem seu próprio universo discursivo. Ocorre diálogo e interação entre si. A ilustração por si só pode esclarecer e instruir o observador, então, entendemos que o conhecimento de um texto passa a ser “clareado” pela ilustração. O artista tem seu ponto de vista – elucidação – e o mesmo, ao criar sua ilustração, irá acrescentar significados em seus trabalhos, nos permitindo entender ou ainda imaginar suas intenções, nos torna algo esclarecedor. O olhar do artista está na ilustração, ganha vida própria. A ilustração pode ser acompanhada pelo universo textual, relação que permite ao observador verificar o discurso da imagem e do texto. A mensagem, não necessariamente permite ambas, ela pode ser entendida com apenas uma delas. A ilustração tem caráter simbólico e muitos símbolos abstratos, sem irmos além, como falta de conhecimento cultural, social ou político, podem dificultar a linguagem transmitida pelo artista com o público. No texto, temos a informação imediata. Contudo, a ideia pode ser materializada ao produzir uma imagem. Os elementos que o artista utiliza tem ligação com a palavra e entre os espaços e lugares vazios a ilustração vai se revelando.

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Editorial:

Eliane Meire Soares Raslan

Coordenador do Centro de Imagem: Rosemary Portugal

Coordenador do NIQ:

Eliane Meire Soares Raslan

Conselho Editorial Científico:

Ana Kelma Cunha Gallas (UFPI) Edgar Silveira Franco (UFG) Gazy Andraus (FIG – UNIMESP) Nílbio Thé (UNIFOR) Janie Kiszewski Pacheco (UFRGS e ESPM)

Conselho Gráfico:

Mariana Misk – LDG ED/UEMG Silvestre Rondon – ED/UEMG

Projeto Gráfico: Louise Machado Produção: Kaique d’Paula, Louise Machado Capa: Eduardo Damasceno Apoio:

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica. Edital 9/2015 PIBIC / UEMG / FAPEMIG

Data de publicação:

03.08.2016 Edição 7 ISSN 2447-2638 – Publicação Online - V. 3. N. 2 Segundo semestre de 2016

Artigos e Resenhas: Fluxo contínuo Dossiê Temático: Arte nos Espaços Urbanos e o resgate da memória O que é moderno? A técnica, a ideia ou o ato de ilustrar? A Revista Legenda Quadrinhos é uma publicação sem fins lucrativos do NIQ - Núcleo de Ilustrações e Quadrinhos, vinculado ao Centro de Estudos em Design da Imagem, na Escola de Design da UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais. Periódico com duas publicações anuais de artigos científicos, como também, ilustrações e histórias em quadrinhos produzido por brasileiros. As opiniões emitidas e imagens são de inteira responsabilidade de seus autores. Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos Ilustradores e/ou quadrinistas de cada seção. O conteúdo dos artigos publicados é de inteira responsabilidade dos seus autores. Contato: Av. Antônio Carlos, 7545. 7º andar - sala 53, Bairro São Luís. Belo Horizonte. MG. Brasil. Cep: 31270-010. (55) (31) 3439-6517. E-mail: <legenda-niq@hotmail.com>; Link: <https://revistalegenda.wordpress.com/> 7


QUADR

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RINHOS

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ESTÚDIO NUMEN

O grupo, que atua desde 2007 no mercado de artes visuais da capital, reformulou sua marca e ampliou seu trabalho em 2015 para produzir os quadrinhos independentes Comuta, Fator Zumbi eKuembo – Além das Sombras, todos voltados para o público adolescente. Três cenários totalmente diferentes. Histórias que misturam medos e paixões, fantasia e realidade. Personagens que sugerem diferentes tipos de heróis. Eles encaram angústias cotidianas, momentos de pavor e dilemas universais em três HQs demonstradas aqui na Legenda, através de um pequeno recorte.

COMUTA, FATOR ZUMBI E KUEMBO – ALÉM DAS SOMBRAS SÃO DESENHADAS NO ESTILO MANGÁ E TÊM TRAMAS VOLTADAS PARA O PÚBLICO ADOLESCENTE.

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CARINA RIBEIRO

Designer, ilustradora, quadrinista, tatuadora e apaixonada por HQs, Carina faz suas ilustrações à mão com nanquin e aquarela e finalização no photoshop. WWW.FACEBOOK.COM/CRCDESIGN

WWW.FACEBOOK.COM/DOT.TATTOO

PAULO MAZZOCO

Quadrinista, Ilustrador, criador freelancer de logomarcas e instrutor de de desenhos. Membro do Estúdio Numen viciado em desenho, Paulo usa o programa Studio Clip Paint para suas ilustrações.

WWW.FACEBOOK.COM/PAULOALEXANDRE.DUARTEMAZZOCO

EVERALDO CÉSAR

Ilustrador experiente, professor de quadrinhos e membro fundador do Estúdio Numen. É também criador freelancer de logomarcas e graduando em Jogos Digitais pela FUMEC. WWW.FACEBOOK.COM/EVERALDOCASS

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sinopse Marco, também conhecido como Francis, (pseudônimo usado em seu ramo de atuação) é assassino de aluguel e atirador. Há anos, ele trabalha para a OSIC - Ordem dos Sicários e nunca teve problemas em executar suas missões com perfeição. Até receber de seus superiores uma ordem suspeita e se ver no meio de uma encruzilhada entre o assassinato de um parceiro, a paixão e seu trabalho mortal.

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sinopse Uma cidade Ê misteriosamente atacada por um vírus e rapidamente quase todos os moradores se transformam em zumbis. Sem ter ideia do ocorrido, Davi acorda e, com alguns vagos flashes de lembranças, sai em busca de respostas. Mas ao sair de onde estava desacordado, acontece um fato estranho que mudarå sua vida completamente.

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CONTINUA...

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sinopse Moa é membro dos Maliki Iminali, um grupo de guerreiros antigos que ao longo dos séculos têm a árdua missão de impedir o aumento do desequilíbrio da natureza. Mas, para reequilibrar a balança natural, ele acaba colocando-se no caminho de poderes titânicos gerados pela desordem nas forças que mantêm a vida.

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Renan Alves TĂŠcnico em Artes Visuais, formado em 2014 pela Casa dos Quadrinhos.

mais em: www.destinatariotheo.wordpress.com

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SUAS CORES


“ANUBIS"

ILUSTRAÇÕES POR RENAN ALVES “SONG FUÊ"


fanart superman


os leguminhos PROJETO EM PARCERIA COM O BRADESCO SAÚDE, ONDE RENAN ALVES TRABALHOU COMO DIRETOR DE ARTE.


THE MISSING PIECE


ALICE FANART


REMINISCENCES FANART



DOSSIÊS T

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TEMÁTICOS

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Estudo sobre a obra do grafiteiro brasileiro Speto Adriana Mara1 Alice Siqueira2 Maria Clara Bramante3

Resumo Expandido O presente artigo reflete sobre as variadas formas de manisfestação do passado no nosso cotidiano. Seu objetivo principal é instigar discussões a respeito da saturação cultural e da perda de energia abordadas pelo Spätzeit (termo alemão que significa, resumidamente, tempo tardio) no que diz respeito à criação de novas coisas. Foram utilizados os trabalhos do ilustrador brasileiro Speto, grafiteiro da cidade de São Paulo, para analisar a linguagem moderna existente em suas criações. A Arte será o cenário principal, pois nela encontram-se os dois grandes pilares que sustentarão essa discussão: aquilo que recebemos e aquilo que produzimos. Palavras-chave Speto; Intervenção urbana; Grafite; Cultura Popular; Spätzeit;

Introdução

Abordaremos questões sobre as influências dos acervos do passado, das vivências do presente e das aspirações do futuro nos processos criativos dos artistas. Não pretendemos (e nem poderíamos pretender) chegar à conclusões definitivas. Nosso objetivo é instigar discussões a respeito da saturação cultural e da perda de energia abordadas pelo Spätzeit no que diz respeito à criação de novas coisas, e da repercussão das obras contemporâneas na arte do porvir. O termo alemão “Spätzeit”, 1

Estudante do curso de Design de Ambientes Manhã da UEMG - Universidade do Estado de Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Trabalho orientado pelos professores Eliane Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: adrianamaradeabreuteixeira@gmail.com. 2 Estudante do curso de Design de Ambientes Manhã da UEMG - Universidade do Estado de Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Trabalho orientado pelos professores Eliane Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: alicelsiqueira@gmail.com. 3 Estudante do curso de Design de Ambientes Manhã da UEMG - Universidade do Estado de Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Trabalho orientado pelos professores Eliane Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: mariaclarabmota@gmail.com.

Minas Meire Minas Meire Minas Meire

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que significa, superficialmente, tempo tardio, nos apresentam questionamentos pertinentes sobre a presença do passado no trabalho do artista estudado. Ter influências, se inspirar, reler, retomar, agregar, romper, atualizar, inovar, transformar criar. O que se deve fazer com tudo aquilo que já se construiu até o momento do início de uma nova coisa (objeto/pessoa/lugar/etc)? Como dar início a uma nova coisa? “Nova coisa” é possível ser nova? Chegamos tarde. Tudo aquilo que era para ser criado, foi criado. Ou não. A discussão é mais profunda. Nosso objeto de estudo será a obra de um artista brasileiro, Speto 4. Grafiteiro da cidade de São Paulo, Brasil, usa sua arte para intervir nos meios urbanos, tem referências culturais passadas e atuais, como a Arte Naïf, os seres mitológicos, o Cordel, o Hip Hop e outros ícones das culturas brasileira e estrangeira.

Intervenção Urbana

Realizaremos, pois, uma revisão literária sobre os subtemas propostos, apresentaremos a obra do ilustrador Speto e discutiremos sobre a relevância do estudo dessas questões para todos que criam, para todos que consomem e para todos os que se preocuparem. Entendida por muitos como vandalismo, a intervenção urbana5 busca, através de movimentos artísticos, chamar a atenção das pessoas. O artista que intervém nos meios urbanos tem a intenção de provocar reflexão, crítica, protesto, incentivo, transformação, tensões, entre outros sentimentos. Segundo Barja (2008): [...] a paisagem admite um logus, ou seja, uma lógica espacial, pensada de forma a organizá-la para gerar um lugar idealizado. [...]intervir é interagir, causar reações diretas ou indiretas, em síntese, é tornar uma obra interrelacional com o seu meio, por mais complexo que seja considerandose o seu contexto histórico, sociopolítico e cultural. (BARJA, 2008, p. 214)

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Fonte: Tradução de entrevista com Speto. Interview with legendary brazilian street artist Speto. Disponível em: <http://www.ilovemega.com/blog/speto-brazilian-street-art//> Acesso em: 14 mai. 2015. 5 Fonte: O que é intervenção urbana? Disponível em: <http://www.intervencaourbana.org>. Acesso em: 12 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 76 – 91, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Podemos considerar os espaços urbanos como paisagens e, por serem públicos, devem servir “para o uso de todos” 6. Entendemos, então, os espaços urbanos como aquilo que deve ser visto por todos. Por isso é relevante o entendimento da intervenção urbana como forma de expressão e não como vandalismo. Não devemos reconhecê-la e, muito menos, tratála dessa forma. O vandalismo se dá pelo uso inapropriado do espaço, a intervenção urbana é o produto de um processo criativo pensado e com intenções relevantes, seja para o artista, seja para os espectadores. Para que a intervenção aconteça é necessário, substancialmente, o artista e a rua. A relação entre os dois é crucial no processo criativo. Metaforicamente, o olhar do artista sobre a rua é como o de um pintor sobre sua tela vazia, antes de começar sua obra. A rua para o artista urbano passa a ser sua "tela", na qual ele expressará a sua arte. Esse processo pode ter a duração de minutos, de horas, de dias. Esse processo pode ser, inclusive, interminável. A obra final pode ou não interagir com o público. A própria construção da obra pode ou não depender dessa interação. Nesse sentido, ao contrário de muitas obras sobre tela expostas em museus, o artista urbano entrega seu produto aos espectadores e, se ele intervir de alguma forma, tornar-se-á uma obra. A característica mais marcante da intervenção urbana é o fácil acesso do público à obra, mas as circunstâncias desse cenário devem ser levadas em consideração pelo artista, como argumenta Barja (2008): A conquista de um público, antes inatingível pelas artes visuais, pelo ato de intervir no urbano obriga, também, o artista à adoção de uma postura pública de compromisso, requisitando rigor e estratégias de sensibilidade aguçada, pois as massas estão cada vez mais desatentas às sutis mensagens da arte, que se confundem ao imenso ruído visual provocado pela veloz invasão da publicidade. (BARJA, 2008, p. 217)

As intervenções urbanas podem utilizar de vários recursos, como: grafite, estêncil, instalações, pinturas, teatros, entre outros. Mas, o fator relevante é a mensagem que o artista quer passar às pessoas que se depararem com a obra.

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Fonte: Público. Def. 2. Dicionário Michaellis. Editora Melhoramentos, 2009. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=p %FAblico>. Acesso em: 12 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 76 – 91, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fig. 01: Grafite de rua, por Speto.

Fonte: Página do Facebook de Speto.7

Referente ao termo grafite, de acordo com Costa e Cruz (2008), a palavra grafite deriva-se do termo italiano grafito, que indica as inscrições ou desenhos feitos em épocas antigas, de forma rudimentar, utilizando pedras e carvão como 7

Disponível em: www.facebook.com/pages/Speto/164963826909724?sk=timeline

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instrumentos. Segundo Gitahy (2011), a prática de grafitar representa o ato de riscar, documentar fatos e situações ao longo do tempo. O grafite é reconhecido como o mais antigo registro gráfico do ser humano (COSTA; CRUZ, 2008), portanto, a pintura rupestre pode ser considerada um exemplo dos primeiros grafites produzidos pelo homem, sendo que, esse tipo de registro continuou sendo utilizado no decorrer da história da humanidade. Fig. 02: Pintura Rupestre. Nicho policrômico – Toca do Boqueirão da Pedra Furada.

Fonte: Fundação Museu do Homem Americano. Disponível em: www.fumdham.org.br/pinturas.asp 8

Percebemos que registrar é uma necessidade do ser humano. É ferramenta usada para expressar sentimentos, comunicar com o outro, ensinar, formar ideias, criar acervos. Essa forma de intervenção urbana é usada, por exemplo, para fomentar movimentos. No decorrer da segunda guerra mundial, de acordo com Ganz (2010): "[...] os nazistas usaram inscrições em muros como meio de propaganda para provocar o ódio contra os judeus e os dissidentes" (GANZ, 2010, p.8). O grafite também foi 8

Fonte: Pintura Rupestre. Nicho policrômico – Toca do Boqueirão da Pedra Furada. Disponível em: <www.fumdham.org.br/pinturas.asp>. Aceso em: 20 jun. 2015.

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usado nos movimentos de resistência e, mais tarde, nos movimentos estudantis que, utilizavam da técnica para disseminar e divulgar suas ideias e protestos. A vertente de manifestação cultural do grafite começou a se desenvolver em Nova Iorque, por volta dos anos setenta, junto ao movimento da cultura Hip Hop. Ela assumiu-se como proposta contrária ao modelo cultural vigente e, por consequência, passou a ser vista como algo marginal, associado a comportamentos transgressivos e de vandalismo. No início do século XXI, esse cenário começou a mudar, o grafite começou a ser reconhecido e o os grafiteiros entraram para o mundo das artes plásticas. Um dos pioneiros nessa mudança foi Jean Michel Basquiat, que foi um dos primeiros grafiteiros a ter reconhecimento de seus trabalhos a partir da ótica das galerias de arte. (HONORATO, 2008) Segundo Ramos (2001): Os grafiteiros remodelam a cidade e devolvem a ela um caráter de comunicação compartilhada, de recepção de novos significados, tensões e mudanças. Fazem dos espaços da cidade espaços de opinião, de investigação, de diálogo e, por que não, da Arte. (RAMOS, 2001, p.10)

Atualmente, o grafite é uma das principais manifestações artísticas da sociedade urbana. Essa cultura se expandiu e novas formas, personagens, símbolos e abstrações passaram a ser explorados (GANZ, 2010). Neste âmbito, então, surgiu a distinção entre grafite e pichação. Ambos possuem, como objetivo principal, a intervenção no espaço urbano e fazem uso dos mesmos materiais. Entretanto, a pichação se apresenta como uma ação rápida, gestual, desprovida da intenção de elaboração artística e o grafite, ao contrário, possui preocupação com questões técnicas e compositivas. (HONORATO, 2008)

O ilustrador e sua atuação no grafite brasileiro: Cordel e Xilogravura

De acordo com sua página em uma rede social, Speto (nome artístico de Paulo César Filho), nasceu em 1971 em São Paulo. Começou a grafitar aos 14 anos, fazendo parte da primeira geração de grafiteiros da cidade. Ele foi uma das pessoas que ajudou

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a moldar o estilo do grafite brasileiro, inserindo a cultura e arte folclórica do país ao movimento do grafite americano. Speto utiliza, em seus trabalhos, temas de simplicidade e seres mitológicos que estão presentes na cultura brasileira como, por exemplo, a sereia, presente no folclore nacional (Fig.3). Na maioria de suas obras, o ilustrador utiliza-se das cores preto e branco. Segundo relato em uma entrevista gravada com Speto, ele diz9: Eu gosto muito de trabalhar o preto e branco porque ele é simples, eu acho que as coisas simples são muito fortes e elas te dão margem para a interpretação. Então, quando eu pinto em preto e branco eu tento reproduzir a gravura. Fig. 03: Grafite feito por Speto para o skatista Totó.

Fonte: Blog de Arquitetura. Disponível em: www.gbazani.blogspot.com 10 9

Fonte: Vídeo entrevista com Speto. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=Go5tmMTR8tw > Acesso em: 13 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 76 – 91, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Speto possui diversas influências, tanto das artes plásticas, quanto do movimento do Hip Hop e da cultura brasileira. Uma dessas influências é a Arte Naïf, uma arte popular instintiva, que se dá quando o artista é autodidata e não tem formação acadêmica na área das artes. Outra influência de Speto, talvez a mais relevante, está relacionada à cultura popular nordestina: a xilogravura, utilizada para ilustrar os folhetos da Literatura de Cordel. Trataremos sobre o contexto dessas influências, a fim de embasar nossa discussão acerca da obra do ilustrador. Por seus artistas não possuírem nenhuma formação no campo das artes ou até, às vezes, por rejeitarem as regras convencionais da pintura, a Arte Naïf é, também, chamada de arte primitiva. Ela retrata as características da cultura popular de um local, seja ele rural ou urbano.11 Geralmente, as obras desse segmento não possuem acabamento, perspectiva e também não têm compromisso com a realidade. Há uma mistura de cores, sem um estudo prévio, além de traços figurativos e bidimensionais. (ADAMI, 2015) Apesar dos artistas da Arte Naïf não utilizarem técnicas elaboradas, não significa que eles não tenham um estudo e um aperfeiçoamento do desenvolvimento de suas próprias obras, mesmo de modo autodidata. Portanto, suas obras não possuem qualidade inferior a nenhuma outra. São obras que expressam simplicidade e sentimentos profundos.12 D'Ambrósio afirma (1999 apud AQUINO): O Brasil é um berço da pintura ingênua. As solicitações sensoriais criadas por um país tropical e por seu folclore, ligadas à liberdade gerada pela arte moderna, fizeram surgir nos campos e nas cidades milhares de ingênuos13 — a maioria sem qualquer expressão. Sobram poucos, uns trinta, cujas qualidades vão além do simples colorismo bruto e das incorreções anatômicas para chegarem à arte propriamente dita. (AQUINO, 1999, p. 168)

10 Fonte: Grafite feito por Speto para o skatista Totó. Disponível em: <www.gbazani.blogspot.com>. Acesso em: 20 junho 2015. 11 Fonte: D'AMBROSIO, Oscar. O que é Arte Naïf. Disponível em: <http://www.artcanal.com.br/oscardambrosio/artenaif.htm>. Acesso em: 08 jun. 2015. 12 Fonte: O que é Art Naïf? Disponível em: <http://allartsgallery.com/pt-PT/naif>. Acesso em: 08 jun. 2015. 13 Os artistas da Arte Naif são chamados de ingênuos.

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Foi no Brasil, então, que esses artistas encontraram um contexto propício para a execução de suas obras. A Literatura de Cordel consiste em folhetos que ficam pendurados em cordas, como varais, e são vendidos em feiras. Esse tipo de literatura, apesar de muito antigo, chegou ao Brasil através da colonização portuguesa e, aqui, a Literatura de Cordel passou a ter suas próprias características, trazendo elementos da nossa cultura, como o cangaceiro, as lendas populares e as lutas. Esses folhetos retratam histórias fantásticas, comédias e romances, além de abordarem também conteúdos informacionais, ligados à política, educação, problemas sociais, medicina preventiva, sempre fazendo uso de uma linguagem acessível e cheia de ritmo, o que favorece a transmissão e a assimilação do seu conteúdo por parte dos leitores. (ASSIS; TENÓRIO, 2012) Fig. 04: Folheto de Cordel.

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Fonte: Casa do Cordel. Disponível em: www.casadocordel.blogspot.com.br 14

Fig. 05: Técnica de Xilogravura.

Fonte: Banco de Imagens do Google. Disponível em: www.tvsinopse.kinghost.net15

A xilogravura é utilizada para ilustrar as gravuras dos folhetos de cordel. Consiste em uma técnica de impressão em que os desenhos são entalhados, através de materiais cortantes, em uma chapa de madeira. Após ser gravada, a madeira recebe uma camada de tinta, com ajuda de um rolo de borracha, e em seguida o desenho é transferido para o papel.

O Spätzeit: o passado presente no grafite de Speto O Spätzeit é um termo alemão que significa, superficialmente, tempo tardio. O texto de Walter Moser, contido no trabalho intitulado Narrativas da Modernidade, de Wander Miranda16, foi objeto de estudo durante um semestre na disciplina Comunicação e Semiótica II17, cursada pelas integrantes desse grupo.

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Folheto de Cordel. Fonte: Disponível em: <www.casadocordel.blogspot.com.br>. Acesso em: 20 jun. 2015. 15 Técnica de Xilograbura. Fonte: Disponível em: <www.tvsinopse.kinghost.net>. Acesso em: 20 jun. 2015. 16 WANDER, M . Narrativas da Modernidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. 17 Disciplina obrigatória ofertada no curso de Design de Ambientes, UEMG. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 76 – 91, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


O autor discorre sobre cinco componentes semânticos que compõem a compreensão do termo. Trataremos sobre cada um e, em seguida, relacionaremos o Spätzeit com a obra do ilustrador Speto. De acordo com Moser (2001): “A energia se perde, os recursos se consomem e, consequentemente, diminuem; o tamanho das criaturas que esse sistema é capaz de produzir vai diminuindo, a força criadora dos humanos se enfraquece.” (MOSER, 2001, p.34) Vivemos em um mundo que sofreu essa perda. Com isso, não temos mais a energia suficiente para elaborar coisas novas e, por esse motivo, acabamos apenas por modificar aquilo que já havia sido criado anteriormente. Decadente é o estado daquilo que está se deteriorando ou que tende a se extinguir. Aquilo que foi criado no passado pode entrar em decadência e, quando o faz, diminui de tamanho, se fragmenta e chega ao artista de hoje como marcas de uma época passada, como ruínas e escombros. “O destino do artista que veio mais tarde consiste em ser condenado a habitar um mundo decaído. ” (MOSER, 2001, p.36) Tudo aquilo que foi produzido no passado, tendo entrado no processo de decadência ou não, se encontra no presente, compondo o cenário em que o artista está inserido. Dessa forma, entende-se que a cultura do mundo está plena, não há mais nada a se criar. Então o artista encontra dois caminhos de reação: no primeiro, ele reage negativamente, entende que a situação o impede de produzir. Como afirma Moser (2001): Esse é, sobretudo, o caso do artista moderno, que aspira aos valores positivos da novidade, da originalidade, da autenticidade, e que vê fracassado seu gesto preferido, que consiste em fazer tábua rasa, a fim de começar do zero.” (MOSER, 2001, p. 38)

No outro caminho, o artista reage positivamente, acredita que as circunstâncias são favoráveis a uma nova fase de produção. Isso vale àquele que não se importa em não começar de um “novo começo”, que não se desvalida por não dar a “primeira origem”. Para isso, ele precisa aceitar que o seu trabalho nascerá também do passado. A existência desse elemento semântico se dá a partir da exclusiva consideração da reação positiva do artista em relação à saturação cultural. A produção

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secundária só é possível quando o artista encara a presença do passado como acervo fértil para o desenvolvimento do seu processo criativo. Esse termo faz a relação temporal da criação. Segundo Moser (2001) “Temporariamente, o Spätzeit é pura posteridade. Ele está, pois, inserido logicamente num desenrolar linear do tempo, permitindo estruturá-lo pelas conjunções antes que, enquanto e depois que. ” (MOSER, 2001, p.44) A figura 06 é uma intervenção feita por Speto na Cidade de Berlim, em 2006, durante a Copa do Mundo da Alemanha, no projeto Copa da Cultura, programa de intercâmbio cultural entre Brasil e Alemanha que ocorreu na época. Fig. 06: Obra de Speto, Berlim, 2006.

Fonte: Página do Facebook de Speto. Disponível em: www.facebook.com/pages/Speto/164963826909724?sk=timeline 18

Speto é um ilustrador que se inspira na Arte Naïf. Entretanto, ao contrário dos chamados ingênuos, ele busca formação na área das artes e tem considerável conhecimento em técnicas plásticas. A relação entre o artista e essa influência é, 18

Fonte: Obra de Speto, Berlim, 2006. Disponível em: <www.facebook.com/pages/Speto/164963826909724?sk=timeline>. Acesso em: 20 jun. 2015.

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portanto, o anseio do estudo e aperfeiçoamento do desenvolvimento de suas próprias obras, a expressão de simplicidade e de sentimentos profundos em seu trabalho e o fato de enxergar o Brasil como campo fértil para suas criações. O Brasil é um país internacionalmente conhecido por sua mistura de culturas. Há uma heterogenização de tudo que compõe o cenário brasileiro. Cada região do país tem características muito distintas e marcantes e, ao mesmo tempo, encontramos todas essas características e tantas outras que são importadas em todos os cantos do país. Analisando o Brasil, com os conhecimentos da cultura do Spatzeit, podemos defini-lo como um campo plenamente saturado culturalmente, onde os resquícios de todos os cantos e de todas as épocas se encontram misturados, formando uma montanha, na qual estamos bem no meio e não podemos mensurar nem começo e nem fim. Nesse campo, então, não há mais energia para a criação de novidades. E uma perspectiva quase inevitável surge na visão do artista contemporâneo: tudo aquilo que era para ser criado, foi criado. E, nesse momento, Speto optou por seguir o caminho da reação positiva. Como argumenta Moser (2001), o artista percebe mais a plenitude que o excesso e acredita que ela é uma fonte inesgotável. Vê a densidade de materiais culturais que o envolve como riqueza que lhe foi oferecida para aproveitar em sua criação. Speto trabalha mais com as cores preto e branco e utiliza o traço forte. Essas são referências diretas às ilustrações feitas com a técnica de xilogravura na Literatura de Cordel. O ilustrador, que estuda periodicamente a técnica, desenvolveu seu estilo baseado em uma cultura já existente. Por isso, relacionamos a obra do autor com um conceito: o Retrô, aquilo que produzimos hoje, inspirados em características do passado, mas, utilizando de processos atuais de fabricação. “De modo geral, indica em uma peça algumas características do passado, ou seja, envolve uma reciclagem de estilos” (ROHENKOHL, 2011, p.151). Atualmente, o ilustrador Speto tem reconhecimento internacional, participa de vários eventos culturais, shows, exposições. Intervindo no meio urbano, o autor provoca reações e leva o seu “novo estilo, secundário”, para todo o Brasil e para o mundo.

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Considerações Finais

Percebemos que o Spätzeit é o produto de toda criação que “vem depois”. Que vivemos sim em um mundo onde as coisas já foram criadas. Mas, qual de nós poderia definir algo sobre o “tudo”? O papel do artista contemporâneo é utilizar desse acervo. Entender que criar uma coisa a partir do passado não significa repetir, copiar ou não inovar. Ao contrário, quando se assume a consciência da presença do passado no processo criativo, as possibilidades de se ter uma novidade no produto são maiores e mais assertivas. A arte de Speto busca o passado vivo no futuro, criação que abre possibilidades de mercado e incentiva diversos meios no mercado artístico.

Referências Bibliográficas

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GANZ, N. O mundo do grafite: arte urbana dos cinco continentes. 2.ed. rev. e amp. São Paulo: [s.n], 2010. GITAHY, C. O que é graffiti. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2011. HONORATO, G. Grafite: da marginalidade às galerias de arte. PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL, 2008. Paraná. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1390-8.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2015. MOSER, Walter. Spätzeit. In: MIRANDA, Wander (org). Narrativas da Modernidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. p. 33 - 52 RAMOS, C. M. A. Grafite & pichação: por uma nova epistemologia da cidade e da arte. CEART revistas, Santa Catarina,2001. Disponível em: <http://pages.udesc.br/~poeticasdourbano/Grafite%20e%20pichacao-por%20uma %20nova%20epistemologia%20da%20cidade%20e%20da%20arte.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2015. ROHENKOHL, R. A. S. Design retrô: um desafio da contemporaneidade em reconhecimento ao passado. Unoesc & Ciência – ACSA, Joaçaba, v. 2, n. 2, p. 147153, jul./dez. 2011.

Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 26.10.2015

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Moda e arte com a aura de Benjamin: ilustrações com Marcelo Grassmann e o francês George Barbier

Marcelo Elias1 Rosilene Rodrigues da Costa2

Resumo Expandido Este artigo tem como finalidade analisar a teoria de Walter Benjamim no início do século XX e mostrar que suas considerações são relevantes para a sociedade. Ele critica a arte, dizendo que a “aura” se perde quanto aos inúmeros detalhes. Através de sua análise, pode-se ter outra visão sobre a arte em seus mais verdadeiros sentimentos. Em meio aos destroços da 1ª Guerra Mundial, a arte se renova, dando agora o seu ar da graça em vitrines e fachadas das novas construções. De acordo com Araújo (2010), a arte marcando uma nova era, uma época de novo início, novo renascimento; trazendo agora sua ousadia. O que era de fato domínio dos burgueses saindo agora para as ruas de Paris. Novas concepções artísticas, novos conceitos: arte moderna, arte pós-moderna e arte contemporânea. A nova face da arte que surge em meados do século XIX e, nasce em meio a um turbilhão de transformações do período histórico, que representa e instaura traços únicos do mesmo. A partir desta época, a arte acompanha as mudanças do pós-guerra e valida conceitos inovadores – comparados aos que eram postos como arte até então – refletindo o cotidiano comandado pelo capitalismo pós-industrial e suas tendências, e, ao mesmo tempo, atuando de forma crítica. Com as inovações, surgem artistas ousados, capazes de transportar para suas obras a “aura” do mais profundo ser, refletindo até mesmos na moda, na arte de vestir, nas joias que na verdade tornam-se verdadeiras obras de arte. Através dessa análise, buscamos os trabalhos do ilustrador brasileiro Marcelo Grassmann, para análise de 1

Estudante de Artes Visuais Licenciatura da Escola de Design UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais, Escola de Design, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Trabalho orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: marleco.fabricio.elias@gmail.com 2 E-mail: rosilenesotero@gmail.com Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 92 – 103, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


seus desenhos medievais e os trabalhos artísticos de Barbier, quanto aos traços e diferenças formas de desenhar.

Palavras-chave: Benjamin; diferentes ilustrações; moda e arte.

Trabalhos artísticos com Marcelo Grassmann e George Barbier Marcelo Grassmann3 tem nacionalidade brasileira. Nasceu no dia 23 de setembro de 1925 em São Paulo e veio a falecer no dia 21 de junho de 2013. Destacou-se com obras nos anos 50 e vamos abordar seu estilo medieval. O desenhista, gravurista e artista plástico, iniciou sua produção artística como escultor. Como autodidata, passa a dedicar-se à xilogravura em 1943, sofrendo grande influência do expressionismo alemão e dos mestres do fantástico, de Bosch à Klubin. Reconhecido como o melhor gravador nacional pela Bienal de São Paulo de 1955, melhor desenhista pela Bienal de 1959, destaca-se ainda sua participação nas Bienais de Veneza, Paris e Tóquio. A partir de 1949, passa a atuar como ilustrador do Jornal do Estado da Guanabara no Rio de Janeiro. O artista recorre freqüentemente, a motivos ligados ao imaginário medieval e renascentista. Ao longo de sua carreira, interessa-se por história da arte e mitologia. Figura 01-03: Trabalhos do brasileiro Marcelo Grassmann

3

Fonte: Blog de Marcelo Grassmann. Disponível em: <marcelograssmann.blogspot.com>Acesso em: 30 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 92 – 103, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Blog de Marcelo Grassmann. 4

Os trabalhos (fig. 01-03) de Marcelo Grassmann nos passam um ar de tristeza e melancolia. As ilustrações têm traços que pontuam a depressão nos olhos dos seus personagens e nos passam a impressão de dor e desilusão à vida. Abaixo, ilustrações do francês George Barbier (fig. 04-07): Fig. 04-Ilustração da forma, Barbier por Jeanne Paquim,

Fonte: La Gazette du bon ton5

Fig. 05-07: Ilustrações por Jorge por George Barbier

Fonte: Livro, Arte Deco

Em Nantes, na França, surgiu a partir da I Guerra Mundial, George Barbier 6, e na casa dos seus 29 anos, tornou-se um dos mais conhecidos e renomados artistasilustradores, especialmente famoso como criador das placas brilhantemente coloridas 4

Fonte: Blog de Marcelo Grassmann Uma das revistas de moda mais influente da época do artista George Barbier. 6 Fonte: Facebook de Jorge Barbie. Disponível em: <https://pt-br.facebook.com/public/Barbie-Jorge>; <www.jogosdabarbi.org> Acesso em: 30 junho 2015. 5

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de moda que tinham sido lançadas pelo costureiro Paul Poiret uma década antes, e de jóias para Cartier. Ele também deixou sua marca como um escritor e revisor de revistas, um designer para teatro e cinema, e um ilustrador de livros. Diferente de todos os artistas que só são verdadeiramente conhecidos após a morte, George Barbier7 morreu em 1932, com a idade de 50, seu nome afundou rapidamente no esquecimento. Sua primeira exposição se deu no Museu Fortuny em Veneza, "George Barbier: The Birth of Art Deco" num show de mais de 200 pinturas, figurinos, desenhos, vestidos, livros, artigos, manuscritos, fotografias e outras peças. Nascido em uma família burguesa, próspera na cidade provincial de Nantes, na França, Barbier viveu um estilo de vida claramente muito diferente em Paris. Sua biblioteca, que contém muitas edições raras, foi leiloada e sua coleção de literatura erótica japonesa e europeia foram doadas para a Bibliothèque Nationale, onde foi colocada na seção "Enfer" como restrita, reservada para obras consideradas ameaçadoras à decência pública. Suas próprias obras sobreviventes estão agora dispersas em diversos arquivos e coleções privadas

Marcelo Grassmann e George Barbier: momento e moda A tendência da moda pode começar quando as pessoas que têm alto status social ou mesmo tenham “popularidade” – sirvam de exemplo para ditar moda – entre determinado grupo social, fazem com que determinada época surjam novos estilos de vestir, de agir e criar. As pessoas que gostam ou respeitam esses “ditadores” de moda, começam a usar roupas de um estilo similar. Mais especificamente, moda denota um estilo predominante de vestido. Moda é visto como uma exposição da individualidade; moda de uma pessoa dá ao mundo em torno deles uma ideia de quem eles são. Os termos "fashionista" ou "vítima da moda" se referem àqueles que servilmente seguem as modas atuais. A evolução da moda tem sido uma resposta às mudanças culturais, mas a indústria da moda também iniciou suas próprias tendências de vestuário. O termo da moda é, muitas vezes, utilizado para designar um estilo predominante de vestido. Moda feminina, especialmente no vestir e adornar do cabelo tornou-se igualmente complexa e em mudança. Inicialmente, as mudanças na moda 7

Fonte: House of Retro. George Barbier: The master of Art Deco. 19.03.2013. Disponível em: < http://houseofretro.com/index.php/2013/03/page/2/> Acesso em: 15 agosto 2015.

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levaram a uma fragmentação do que tinha sido previamente estilos muito semelhantes de vestir em todas as classes mais altas da Europa. Moda, por definição, muda constantemente. Nos trabalhos de George Barbier8 revela-se um estilo ousado do novo modo artistico "Art Deco9," que surgiu na Europa nos anos 1920 e corre-se o risco de dar uma impressão enganosa. O termo Art Deco só entrou em uso na década de 1960 e é mais fácil de definir em arquitetura, design de interiores e produtos domésticos do que nas artes visuais. O trabalho de Barbier difere de outros artistas Art Deco, pois ele estava intocado pelo Cubismo, um dos principais inspirações da tarde Art Deco. Desde o início ele produziu álbuns suntuosamente coloridos, como também figurinos para a bailarina Anna Pavlova, mas criticou muito a produção de estilo cubista "Parade" em 1917, que ele condenou na imprensa como "estranho, barulhento, excêntrico" e "a apoteose do escárnio." Embora o figurino de Barbier na década de 1920 reflete inevitavelmente estilos atuais de vestido, seus cenários remetem ao período anteriro, e em seus olhos mais elegantes, eras e outros mundos: os bosques sagrados e bedchambers10 luxuosos, afrescos da Grécia antiga; os haréns das Mil e Uma Noites estão presentes em seus trabalhos. Nos trabalhos (fig. 08-11) de George Barbier (1882-1932)11, ele afirma acompanhar versos de um romance publicado em 1896, "Aphrodite: Manners antigas", o conto de uma cortesã em Alexandria helenística, que se tornou um best-seller e para o qual Barbier também fez ilustrações, como também criou chapas a cores para publicações no luxuoso jornal mensal "La Gazette de Bon Ton", publicado 1912-1925, foram produzidas usando "pochoirs" ou stencils, uma técnica criticada por alguns artistas mais conservadores. Abaixo (fig. 08-11) temos “d’autrefois” (fig. 10) e “Moda prato dis: bom noite vestido” (fig. 11).

8

Fonte: House of Retro. George Barbier: The master of Art Deco. 19.03.2013. Disponível em: <http://houseofretro.com/index.php/2013/03/page/2/> Acesso em: 15 agosto 2015. 9 Fonte: Sua pesquisa. Art Déco tem caráter decorativo, um estilo artístico que surgiu na Europa nos anos 1920. Disponível em: < http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/art_deco.htm> Acesso em: 10 maio 2015. 10 Bedchamber = quarto de dormir 11 Fonte: Roderick Conway Morris. George Barbier. Prints Pochoir no Cooper-Hewitt National Design Library. New York Times. Blog de Marcelo Grassmann. Disponível em: marcelograssmann.blogspot.com Acesso em: 30 junho 2015

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Figura 08-11: Ilustrações de Jorge Barbier

Fonte: Livro Arte Deco

As características da produção cultural realizada no decorrer do século XX denotam que, ao contrário do defendido por Benjamin (1991), não houve uma superação da aura pela obra de arte da era da técnica reprodutibilidade, pois seus elementos adaptaram-se às novas condições de produção. Para demonstrar como essa adaptação ocorreu inicialmente, a análise do processo de industrialização da cultura e de seus impactos sobre a produção cultural e o contraste do texto de Benjamin (1991) que analisa a indústria cultural, demonstra que os elementos constituintes da aura adaptaram-se às novas tecnologias, mantendo o caráter áurico da obra de arte: A multidão é o véu através do qual a cidade costumeira acena ao flâneur, enquanto fantasmagoria. Na multidão, a cidade é ora paisagem, ora ninho acolhedor. Tudo para mim se torna alegoria. 12

De acordo com Araújo (2010), Benjamim entende que a arte ao surgir no apogeu da criação, em meio às novas construções da cidade, hora destruída pela guerra, transmite a ideia de que embora perdendo sua “aura” a cidade passa a se tornar uma verdadeira obra de arte em todos os seus aspectos. As roupas com um novo ar moderno, com suas mais sublimes facetas, causando a aqueles que as usam um delírio de inovação e conquista. Para o filósofo, muitas vezes, estas ousadias pedem até mesmo a aura daquele que a usa. Benjamin observou como eram diferentes e estava consciente das mudanças que se faziam necessárias.

12

Fonte: Site Teoria do Espaço Urbano. V. Baudelaire ou as ruas de Paris. 23.03.2013. Disponível em: < https://teoriadoespacourbano.wordpress.com/2013/03/23/v-baudelaire-ou-as-ruas-de-paris/> Acesso em: 02 abril 2015.

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Em síntese, o autor defende a preservação da “aura” com a finalidade de valorizar o olhar da sociedade em todos os ângulos artísticos. A autenticidade é constituída pelo “aqui e agora” da obra de arte (BENJAMIN, 1991, p. 167). Para o autor, ser autêntico é a única maneira de preservar não apenas os elementos físicos, mas também a história da obra de arte, registrada nas transformações físicas sofridas pela obra ao longo do tempo. A autenticidade é a qualidade que nos permite reconhecer que o objeto é, até nossos dias, aquele objeto único sempre idêntico a ele mesmo (BENJAMIN, 1991, p. 167). O outro elemento caracterizador da aura é a unicidade, que consiste no caráter único e tradicional da obra de arte. Com tantas mudanças que se faziam necessárias, mesmo assim, não houve superação da aura pela obra de arte, porque os elementos centrais da aura, autenticidade e unicidade adaptaram-se às mudanças tecnológicas e passaram a constituir elementos essenciais ao modo de produção industrial. Uma análise mais atenta das ilustrações e dos cenários criados por Barbier 13 mostra o cuidado do ilustrador ao deixar expressa a sutileza de detalhes que envolviam uma fantástica maneira de exprimir o ser em seu apogeu. Dentro desse contexto, podemos perceber abaixo, nas ilustrações de Marcelo Grassmann, um enorme rompimento com a felicidade em seus trabalhos. A mulher não olha nos olhos de seus parceiros e sempre está com um olhar longe e triste. Os olhares das personagens são valorizados nos traços, como tratamos acima na autenticidade expressa na arte, com Walter Benjamin, que, notoriamente, expressa-se um singular tom de nostalgia e ao mesmo tempo um vazio da alma. Figura 12-23: O destaque das mulheres medievais no estilo de Marcelo Grassmann

13

Fonte: House of Retro. George Barbier: The master of Art Deco. 19.03.2013. Disponível em: <http://houseofretro.com/index.php/2013/03/page/2/> Acesso em: 15 agosto 2015.

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Fonte: Blog de Marcelo Grassmann. 14

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Blog de Marcelo Grassmann. Disponível em: <marcelograssmann.blogspot.com>Acesso em: 30 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 92 – 103, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Diversas obras do artista estão à venda, como a “Figura técnica mista”, de 45 X 34, sendo o leilão inicial de R$2.500 no ano de 2008, no site Arte Eventos15. Para Marcelo Grassman (ano?) “Na vida, há momentos em que tudo é belo. Há momentos em que tudo merece a mais pura serenidade. Há momentos em que devo toda minha alma ao enlevo da arte”. Neste sentido, ele está tentando expressar os seus mais nobres sentimentos, quando estava profundamente envolto na arte. Para ele a expressão maior poderia ser identificada em pequenos detalhes, até mesmo seus maiores medos e tristeza até os mais profundos sentimentos da alma. Araújo (2010) afirma que que Benjamim, trata da “aura” como algo que se perde, mesmo quando envolve os mais sublimes sentimentos, algo que percebemos nos trabalhos do brasileiro Marcelo Grassmann, através da arte, ele expressa seus sentimentos.

Considerações Finais

Embora as técnicas de George Barbier e de Marcelo Grassmanne possuam uma certa igualdade e, ao mesmo tempo, desigualdade, ambos estão retratando sua influência e até mesmo criando um novo modo de pensar daqueles que vislumbram o fato de que a arte pode interiorizar os mais nobres sentimentos. Apesar da moda sempre ter sido liderada pelos elitistas, uma afluência crescente de início na moderna Europa, os artistas tinham seu papel fundamental em transformar suas peças em uma verdadeira obra de arte. A burguesia e, até mesmo, os camponeses acompanhavam fielmente as tendências. William Shakespeare (ano?) define a natureza do homem e da vida: “Somos feitos da matéria dos sonhos”. Foi neste plano que Marcelo Grassman caracteriza seu ponto de sonhar. Para ele o mundo era feito da mesma matéria de que se fabricam os sonhos, e é este mundo que ele descobre que é feito com extraordinária qualidade e com elevada convicção de seus sonhos que podemos ver aplicados em seus desenhos. Então, resta em nós a convicção de que entramos num universo antes desconhecido e 15

Fonte: Arte Eventos. Disponível em: <http://www.arteeeventos.com.br/paginas_leilao/categorias_lote.asp?iType=360&offset=48>Acesso em: 30 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 92 – 103, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


agora revelado pela lucidez do artista: a estranheza deste lugar de cavalheiros e armaduras, animais míticos, donzelas intangíveis e belas, e no qual o destino paira sobre todos. Ambos os artistas se envolvem naquilo que decidiram ser seus próprios sonhos, dentro dessa aura tratada por Benjamin, afirma Araújo (2010). Eles conseguem dar vida em seus trabalhos, ao observamos as figuras acima de seus trabalhos, percebemos o sentimento dos artistas na obra. A reprodutibilidade técnica é evidente em suas obras. As obras de Marcelo Grassmanne, ainda são mais nítidas, quando pensamos nessas alterações que ocorre na sua produção, exatamente por causa dessas alterações das novas técnicas durante a produção, o elemento essencial da técnica tende a provocar a superação desta aura artística. Podemos entender que moda também é uma forma de expressão artística desses trabalhos, seja na produção que interfere diretamente na criação do artista, como também sua bagagem e interesse cultural.

Referências Bibliográficas: BENJAMIN, Walter. Paris, A Capital do século XIX: Exposé de 1935. (Org) Flávio R. Kothe. Coordenador Florestan Fernandes. 2º edição. São Paulo: Editora Ática, p. 30-43, 1991. ARAÚJO, Bráulio Santos Rabelo. O conceito de aura, de Walter Benjamin, e a indústria cultural. Revista Pós. São Paulo: USP, v. 17 n.28 , dez./2010.

Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 26.10.2015

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 92 – 103, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


G a b r i e l B u z z o ( G a d ã o ) e o hoje construído pelo ontem: A arte efêmera descontruindo a ideia de passageiro

Lucas de Aguiar Venâncio1 Luíza Bianchi Barbosa2 Natália Assis Cunha3 Thiago Barbosa da Silva4 Resumo Um dos fatos que nos fez abordar as obras do ilustrador brasileiro Gabriel Buzzo (Gadão) e a relação existente entre seus trabalhos com o conceito de vintage, retrô, spätzeit foi a questão do moderno. O artigo está dividido em três partes principais, sendo elas: contextualizações, que irá abordar a história do grafite, a biografia do ilustrador em questão, a biografia do artista Elvis Presley e a história do símbolo feminista. Em um segundo momento, os conceitos spätzeit, vintage, retrô e moderno. Por fim, as associações criadas com os termos estudados e com as obras do ilustrador Gabriel Buzzo, são apresentadas de forma que conectem a atualidade presente no dia-a-dia do ser humano, seja no comportamento ou mesmo no próprio conhecimento do indivíduo para interpretar a obra. Palavras-chave Ilustração de Gadão; Moderno; spätzeit; vintage; retrô;

Introdução Na tentativa de contextualizarmos, rapidamente, a história do grafite, percebemos que, ao contrário do que muitos pensam, o grafite é um exemplo de expressão artística feita em paredes. De acordo com Ota e Valente (2011), a arte de grafitar está no campo 1

Estudantes de Design de Ambientes Tarde da Escola de Design UEMG. Trabalho orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: <lucasa582@gmail.com> 2 E-mail: lubianchibarbosa@gmail.com 3 natalia_sacra@hotmail.com 4 E-mail: thibarbosasilva@gmail.com Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


de artes visuais, na street art/ arte urbana tendo como base de apresentação, os espaços públicos, em sua maioria, nas paredes. A palavra grafite veio do italiano graffiti que significa “escritas feitas com carvão”. O grafite surgiu do gueto, no movimento do Hip

Hop

e

é a

forma

dos

desfavorecidos

expressarem

seus

desabafos perante a sociedade. O grafite se difere da pichação pela

sua

diversidade

de

cores,

uso

de

técnicas,

riqueza

de

conteúdo e exige uma elaboração mais complexa. Surgindo em 1970, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, o grafite começou com um simples desenho que ao se desenvolver no tempo conta com variadas técnicas e ilustrações. O grafite chegou ao Brasil também em 1970, em São Paulo, contudo, com estilos diferentes. Com um desenvolvimento no mundo do grafite, foram criados os ‘Togs’, que seriam uma assinatura registrada de cada grafiteiro. 5 Seu novo nome, “Nova Arte Pública”, refere-se ao trabalho dos grafiteiros

que

integram

diversas

técnicas,

estilos,

que

se

relacionam com o passado, presente e pintura tradicional. A arte utiliza ideias já existentes fazendo paródias, nas quais, vacas assumem as posições dos personagens. Gadão Buzzo com sua arte efêmera revive dois grandes ícones de época: Elvis Presley e o símbolo feminista do cartaz ‘We Can do It’. Desta forma, faz de seu trabalho uma ponte, resgatando o antigo e o moderno, inserindo em seu grafite, contextualizando-os. Referente ao ilustrador, José Gabriel Buzzo 6 nasceu em Itapetininga – SP no dia 14 de abril de 1985. Iniciou seus estudos no ensino médio em 2000, contudo, ficou afastado da escola por motivos

pessoais

durante

alguns

anos

e

assim,

os

concluiu

somente em 2007. Figura 01: Gabriel Buzzo – Gadão 5

Fonte: Graffiti. Elemntos fundamentais para o grafitti. Disponível em: <www.graffiti.org/faq/elementos_br.htm Acesso em: 20 junho 2015. 6 Fonte: Facebook do artista Gadão. Disponível em: <https://pt-br.facebook.com/gadao.buzzo> Acesso em: 20 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Facebook do ilustrador7

Aos 30 anos, Gabriel Buzzo faz curso técnico na ETEC (Escola Técnica Estadual) e trabalha com gesso. O que começou como um xingamento por parte dos colegas na escola tornou-se seu nome artístico, assim o apelido Gadão foi utilizado para assinar

suas

obras

no

mundo

do

grafite.

O

artista

afirma:

“ C o m e c e i a gr a f i t a r , a s s u m i d e v e z o G a d ã o e n ã o t e m a v e r c o m as vacas como muitos pensam”, diz. A inspiração de pintar vacas começou aos 11 anos, quando ele e mais dois amigos, ao verem o animal, uma vaca branquinha, tiveram a ideia de escrever na mesma.

“Assim que tentei me aproximar, ela veio para cima de

mim e tive que correr”, descreve. A partir desse dia Gadão Buzzo começou a se interessar pela arte do grafite: passa a grafitar vacas na parede em contextos distintos. Aos 13 anos, um projeto social lançado na escola onde estudava possibilitou Gadão a se apaixonar ainda mais pelo grafite 8. Seu primeiro trabalho foi com grafite, inicializou seus desenhos em creches e no comércio de sua cidade, desta forma conseguia dinheiro e as tintas para pintar nas ruas. Seus grafites 7

Idem Fonte: Brasil Escola: Artes Grafite. Disponível em <h t t p : / / w w w . b r a s i l e s c o l a . c o m / a r t e s / g r a f i t e . h t m > . A c e s s o e m : 1 4 j u n h o 2 0 1 5 . Fonte: História da Arte. Linha Graffiti. Disponível em: <h t t p : / / w w w . h i s t o r i a d a a r t e . c o m . b r / l i n h a / g r a f f i t i . h t m l > . A c e s s o e m : 1 4 j u n h o 2 0 1 . Fonte: Point Arte: História da Arte do Graffiti. Disponível em <h t t p : / / p o i n t d a a r t e . w e b n o d e . c o m . b r / n e w s / h i s t o r i a - d a - a r t e - d o - g r a f i t e / > . Acesso em 14 de junho 2015 8

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começaram a ganhar destaque quando começou a grafitar as vacas. Desde 2006, Gadão Buzzo vem pintando vacas amarelas inspiradas em histórias infantis, super-heróis, personagens marcantes na história e filmes. De início, Gadão considerava pintar as vacas como uma brincadeira, porém, “de um certo tempo começou a notar que as pessoas que não eram ligadas ao grafite ou sempre que passavam desinteressadas pelos muros pintados começaram a parar e notar os desenhos na cidade”, relata. 9 Sempre que pode, Gadão Buzzo está viajando para pintar suas famosas vacas amarelas nos muros de outras cidades, em eventos, ou até mesmo, convite de amigos e familiares. Tamanha proporção de seu trabalho proporcionou, ao longo desses 15 anos de spray, um convite para pintar o terceiro maior muro grafitado em Campinas–SP. Acredito que o que nos define é o que fazemos por a m o r , p o r i s s o e u s o u u m gr a f i t e i r o . N ã o v i v o d i s s o , mas é o que eu amo fazer! Meus graffitis não são nenhuma forma de protesto ou algo do tipo, assim procuro desenhar de maneira simples as coisas que gostava na minha infância e que me divertiam. E o l e ga l é d e e s t a r p i n t a n d o n a r u a e i s s o , p o r u m momento, por mais breve que seja, você tira a pessoa daquela rotina, com uma lembrança da sua infância ou curiosidade por aquele desenho estranho. É mais ou menos isso... (Gadão Buzzo, 2015).10

Buscamos a biografia do cantor Elvis Presley 11, para em seguida

retratarmos

o

trabalho

de

Gadão,

que

toda

a

representatividade e repercussão em cima do trabalho de Gadão está

nas

suas

escolhas

ilustrativas.

O

artista

representa

a

diversidade de trabalhos artísticos brasileiros, algo que torna importante seus resultados para esse estudo. O falto de suas 9

Entrevista concedida por email aos autores deste artigo. 10.07.2015 Fonte: Facebook do artista Gadão. Biografia do ilustrador Gabriel Buzzo - acervo pessoal do grupo. Disponível em: <https://pt-br.facebook.com/gadao.buzzo> Acesso em: 20 junho 2015. 11 Fonte: Biografia de Elvis Presley. Disponível em <h t t p : / / w w w . e biografias.net/elvis_presley/ >. Acesso em 14 de junho de 2015 Fonte: Vagalume: biografia de Elvis Presley. Disponível em <h t t p : / / w w w . v a g a l u m e . c o m . b r / e l v i s - p r e s l e y / b i o g r a f i a / # i x z z 3 d 4 s J S a n 4 > . Acesso em 14 de junho de 201. 10

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ilustrações terem ligação direta com a figura feminina não tem uma explicação direta, já o mesmo, informa na entrevista que sempre gostou de ilustrar a figura de vacas. Elvis Aaron Presley 12, filho de Vernon Presley e Gladys P r e s l e y, n a s c e u e m E a s t T u p e l o , M i s s i s s i p i , E s t a d o s U n i d o s n o dia 8 de janeiro de 1935.

E l v i s t e v e u m i r m ã o gê m e o , J e s s i e

Garon, que nasceu morto. De família simples, Elvis trabalhou como lanterninha de cinema e caminhoneiro. Com sua infância em Memphis, participou do coro da igreja evangélica, aprendendo seu instrumento

de

identidade,

a

guitarra.

Em

1954

o

produtor

musical da Memphis Recording Service, Sam Philips, contratou Elvis. No mesmo ano, Elvis gravou seu primeiro disco, com as m ú s i c a s " T h a t ' s a l l r i g h t " e " B l u e M o o m o f K e n t u c k y" . C o m e s s e início de carreira gloriosa, em 1955, a gravadora RCA Victor contratou Elvis e assim lançando "Mystery Train" e "Baby Let's Play House". No ano de 1956, Elvis se apresentou na TV no programa Dorsey e seu álbum “Heartbreak Hotel” alcançou nove milhões de cópias. Após, atuou em seu primeiro filme “Love Me Tender”. No dia 14 de agosto de 1958 sua mãe vem a falecer. Em outubro do mesmo ano, Elvis é chamado para servir o exército dos EUA na Alemanha. 13 Assim que retornou para sua cidade, se apresentou

no

programa

The

Frank

Sintra

Show.

Suas

apresentações nacionais e internacionais enfeitiçaram e foram alvo de falatório por conta de suas roupas extravagantes e sua maneira abusiva de rebolar durante seus shows. Elvis casou-se com Priscilla Presley em Las Vegas na data de 1 de maio de 1967 e em 1 de fevereiro de 1969 nasce o fruto do casal, Lisa Marie Presley. Mas, em 1973 separou-se de sua 12

Fonte: Blog Elvis Presley. Disponível em: <elvispresleyreidorock.blogspot.com/p/biografia.html> Acesso em: 20 junho 2015. 13 Fonte: Dicionário Alemão/português Infopedia. Disponível em <http://www.infopedia.pt/dicionarios/alemao-portugues/Sp%C3%A4tzeit>. Acesso em 16 de junho de 2015. Fonte: Translate. Disponível em <https://translate.google.com.br/?ie=UTF-8&hl=pt&client=twob#de/pt/sp%C3%A4tzeit>. Acesso em: 16 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


mulher. Nos anos 70, Elvis grava seu novo disco e as músicas "Suspicious Minds", "In the Ghetto", chegaram ao topo. Com problemas de saúde, Elvis se apresenta pela última vez em Los Angeles, no dia 21 de junho de 1977. E no dia 16 de agosto,

em

Memphis,

faleceu

o maior

ídolo

do

rock’n

roll

mundial, vítima de um ataque cardíaco. Elvis é considerado como uma das mais importantes personalidades da cultura pop do século 20, efetivando, assim, a máxima de que ‘Elvis ainda não morreu’. A questão da história do símbolo feminista também está p r e s e n t e n o s t r a b a l h o s d e Gabriel Buzzo – Gadão14, logo sendo necessário trabalharmos a ideia desse movimento para analisarmos os trabalhos de Gadão. C o m e ç a n d o p e l o d i a 8 d e m a r ç o d e 1 8 5 7 , a f i r m a Barcellos (2008)1 5 , em uma fábrica de tecidos na cidade de Nova York, as mulheres resolveram guerrear por seus direitos de trabalho. A greve como forma de manifestação foi contida com hostilidade e a fábrica incendiada com as operárias presas lá dentro. Segundo dados, aproximadamente 130 tecelãs perderam a vida naquele dia, de forma horrenda. Com esse fato se instituiu o dia Internacional da Mulher, um dia para ser lembrado agora e por gerações futuras devido ao seu marco na vida social de todas as mulheres 16. O episódio acima possibilitou uma grande força da massa feminina para

o

mundo.

Por

consequência,

várias

oportunidades

de

mercado, vivência civil e publicidade surgiram. O cartaz ‘We can do it!’ faz alusão a esse acontecimento. A personagem Rosie do cartaz é inspirada na moça Geraldine Doyle (1924 – 2010), uma 14

Fonte: Flickr. Disponível em <http://flickr.com/gadao10m/>. Acesso em: 13 maio 2015.Fonte: G1 Globo. Disponível em <http://g1.globo.com/saopaulo/itapetininga- regiao/noticia/2015/04/simpsons-chaves- e-ne ym ar viram-vacas-em-grafites-de-artista-do-interior.html>. Acesso em: 13 maio 2015 15 Fonte: BARCELLOS, Gilsa Helena. Biblioteca Digital. Minas Gerais: UFMG, Depto Geográfia, 2008. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/MPBB7MDM33/gilsa_compacta.pdf?sequence=1> Acesso em: 15 junho 2015. 16 Fonte: Revista Capitolina. Mulheres e força no trabalho. Disponível em <h t t p : / / w w w . r e v i s t a c a p i t o l i n a . c o m . b r / w e - c a n - d o - i t - m u l h e r e s - n a - f o r c a - d e trabalho/>. Acesso em 14 de junho de 2015.

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


operária de 19 anos que se tornou um ícone feminista. Rosie foi um exemplo de mulher que quebrou as regras e começou a lutar pelos direitos feministas no mercado de trabalho e salários iguais aos dos homens. Ao transcorrer do tempo, o cartaz com a imagem de Rosie se consagrou, sendo hoje um parâmetro social e, acima de tudo, um símbolo feminista. O episódio e sua forma de divulgação vitoriosa, sem dúvida, ajudou a mudar a posição da mulher perante a sociedade e tudo o que ela consiga será mérito próprio. S p ä t z e i t : Gadão nas narrativas da modernidade com vintage e retrô O termo spätzeit traduzido para o português significa fim, período final ou até época baixa. Moser, em seu texto, trata o spätzeit

de

várias

formas,

dentre

elas

perda

de

energia,

decadência, saturação, secundariedade e posterioridade. Cotejar as ilustrações de Gadão com o texto em estudo possibilitou um desenlace

em

um

de

seus

componentes

semânticos,

a

posterioridade. Moser (2001) explica que, o Spätzeit é aquilo que vem depois de alguma coisa que o terá precedido, mas não determinado. Ainda, Moser (2001) afirma que temporalmente falando, o Spätzeit é pura posterioridade. Após a observação dos trabalhos do artista Gadão Buzzo, fica

evidente

que

sua

arte

é

um

produto

do

Spätzeit.

A

posterioridade tratada no texto de Moser (2001) apresenta uma natureza cíclica, afirma o autor: Ele chega no final do ciclo, quando os recursos dos heróis estão esgotados, quando a força vital diminui, quando tudo declina imediatamente antes do desabamento decisivo que anuncia um novo ciclo. (MOSER, 2001, p.44)

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Assim, o ilustrador revive o ícone que foi Elvis em outro período

ao

retratar

questões

simbólicas

do

cantor

nas

suas

ilustrações que misturam características de Elvis, como cabelo e instrumento musical, as questões do feminista (vaca) estampado em suas ilustrações, faz uma mistura e sugere como se fosse um cartaz da década de 50. Ainda, dentro desse contexto, buscamos os termos vintage17 e retro, que possuem diferentes origens. Se referindo ao antigo, o conceito retrô tem seu nascimento do francês restrospectif , e está fora do que é evidenciado atualmente. O termo

vintage era

utilizado pelos enólogos para se referenciar ao ano de boa colheita de uvas em que os fatores climáticos, principalmente, contribuíram

para

uma

produção

de

vinho

com

qualidade

excepcional. Os estilos vintage e retrô são analisados em diferentes contextos, exemplificado por moda, música, cinema além de design

de

apresentam

produtos.

Ainda,

divergências,

que

ambos

sejam

dois

vivenciam

o

conceitos seu

ápice

que na

contemporaneidade. O moderno: tratando-se de vincular ao tempo p r e s e n t e o u a u m p e r í o d o h o d i e r n o , o termo (tal como o de “moda”) deriva do latim modo (ablativo de modus), que se refere aquilo que é de agora, do instante, recente ou circunstancial, afirma B a r r e n t o ( 2 0 1 1 : 3 ) . Pautado nessa definição, o conteúdo do artigo irá prosperar um paralelo deste com o não-moderno, ou seja, o antigo, o passado. A i l u s t r a ç ã o d o E l v i s c o m características

de

vaca,

na

figura

abaixo

(fig.

02)

é

uma

caricatura de uma das lembranças que se tem do cantor. Ela faz uma referência ao passado por ter um símbolo do rock do final da 17

Fonte: Conceito de vintage. Disponível em <http://conceito.de/vintage#ixzz3e0Ru0yhW/>. Acesso em 16 de junho de 2015. Fonte: significados de Vintage. Disponível em <http://www.significados.com.br/vintage/>. Acesso em 16 de junho de 2015. Fonte: Ehow: significado da palavra vintage. Disponível em <http://www.ehow.com.br/significado-palavra-vintagefatos_16865/>. Acesso em 16 de junho de 2015. Fonte: Nossa Gente. Diferença entre vintage e retro. Disponível em <http://www.nossagente.net/diferenca-entre-vintage-e-retro>. Acesso em 16 de junho de 2015. Fonte: Blog Jeito Conceito. Vintage e Retro. Disponível em <http://jeitoeconceito.blogspot.com.br/2012/12/vintage-e-retro.html>. Acesso em 16 de junho de 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


década de 60 e à modernidade pela forma de expressão, o grafite, e o objeto segurado na ilustração em questão, sendo uma guitarra que é utilizada em um jogo de vídeogame, chamado Guitar Hero. Figura 02: Ilustração Elvis Presley, por Gadão

Fonte: acervo pessoal do ilustrador18

Identificando os detalhes da obra de Gadão, percebe-se que há fortes relações com o vintage, já que ela retrata a imagem de uma mulher que foi usada como propaganda de guerra dos Estados Unidos criado

em

1943

Corporation, como trabalhadores.

Seus

para

inspiração traços,

a

fábrica Westinghouse para

que

dão

levantar valor

a à

Electric

moral

dos

modernidade,

expressam intimamente o valor que tal propaganda possuiu no passado, onde ajudou a promover o feminismo no mundo e que ainda é utilizado até os dias de hoje. Embora estivesse tão aplicado no período de guerra, o símbolo feminista ainda o utiliza como forma de erradicação do pensamento machista que ainda predomina, e talvez seja uma das ideias em que Gadão teve como

18

Fonte: Facebook do artista Gadão. Disponível em: <https://pt-br.facebook.com/gadao.buzzo> Acesso em: 15 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


inspiração: reviver a luta da mulher naquele período, e trazer para o mundo atual. Figura 03: Ilustração We Can Do It, por Gadão

Fonte: Facebook do ilustrador1 9

19

Fonte: Facebook do artista Gadão. Disponível em: <https://pt-br.facebook.com/gadao.buzzo> Acesso em: 20 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Na própria ilustração, Gadão coloca detalhes que remetem ao moderno, mas que não foge ao real conceito da imagem, como a utilização de cores marcantes. O graffiti, que não é um estilo de arte tão antigo, mas que entrou em evidência após os anos 2000, serviu como forma de representar a arte de Gadão, o que garante dizer que não é uma cópia completa, apenas uma obra com pontos verossimilhantes. O retrô está altamente presente em suas obras, já que ele recria ilustrações que remetem ao passado, utilizando fortes toques modernos e animados, o que faz serem caracterizados como paródia. O artista aproveita de um recurso muito incomum de representação,

pois

o

passado

é

algo

incumbido

em

seus

trabalhos, o que lhe deixa numa situação de destaque entre outros grafiteiros. Muitas vezes, o passado é marcante na vida das pessoas, fazendo com que elas não esqueçam o seu valor e transformem em algo inapagável no presente. E o grafite, arte que usa principalmente os muros das cidades, torna-se inesquecível nas memórias das pessoas quando elas o observam.

Referências Bibliográficas

BARRENTO, João. Que significa “moderno”?. 10.11.2011. Disponível em <http:molybdan,wordpress.com/2011/11/10/quesignifica-moderno/>. Acesso em: 15 junho 2015. MOSER, Walter; MIRANDA, Wander. Narrativas da Modernidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. OTA, Otávio Fabro; VALENTE, Agnus. Graffiti como meio: estética e utopia na paisagem urbana. ANPAP Org, Anais, 2011.

Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 02.12.2015

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 104 – 115, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>



Memórias muralistas grafitadas de Eduardo Kobra

Bruna Costa Santos1 Fernanda Rocha da Costa2 Thaís de Carvalho Rodrigues3 Resumo Expandido O artigo tem como objetivo uma reflexão e entendimento sobre os termos Muralismo e Grafite e uma percepção sobre as obras do artista Eduardo Kobra, um muralista brasileiro que possui trabalhos pelo mundo. Em seu trabalho foram observadas e encontradas releituras e referências do passado, as quais foram relacionadas ao termo Spätzeit, escrito por Walter Moser, em um dos capítulos do livro “Narrativas da modernidade”, de autoria de Wander Melo Miranda. As obras também foram relacionadas ao termo retrô, em que o artista utiliza recursos e materiais atuais, mas cria a partir de referências do passado. Esse lado retrô está presente não apenas na obra do artista, mas no mundo contemporâneo em que vivemos.

Palavras Chaves Muralismo; Grafite; Eduardo Kobra; Retrô; Spätzeit;

Introdução O termo grafite é frequentemente utilizado para se referir a desenhos feitos em muros utilizando tinta spray, mas o que, muitas vezes, não se sabe é que o grafite é um tipo de muralismo, pinturas ou murais sobre temas populares. O muralismo existe desde a época das cavernas quando já se fazia desenhos nas paredes para representar rituais e as atividades cotidianas do homem. Durante a Revolução Mexicana ele 1

Estudante do 3º período do curso de Design de Ambientes Manhã da Escola de Design – Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Este trabalho foi orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borges. E-mail: bruscosta@gmail.com 2 Estudante do 3º período de Design de Ambientes Manhãda Escola de Design – Universidade do Estado de Minas Gerais. E-mail: nanda.rochac@yahoo.com.br 3 Estudante do 3º período de Design de Ambientes Manhãda Escola de Design – Universidade do Estado de Minas Gerais. E-mail: tacarod@hotmail.com Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


ganhou novo destaque ao mostrar a intervenção social e política através da arte em muros de forma acessível a todos (Ganz e Manco, 2010). Fig. 1: Eduardo Kobra

Fonte: Instagram4

Hoje os murais podem ter diferentes objetivos, como os que o brasileiro Eduardo Kobra dá aos seus, ao pintar obras do seu projeto Green Pincel, o qual faz críticas à relação que o homem tem com a natureza, levando as pessoas que as veem a refletir sobre os impactos das suas ações no planeta. De acordo com o site oficial de Kobra5, o projeto de pintura de pavimentos em 3D é diferenciado, devido à interação que permite entre artista, obra e apreciador. Esse tipo de trabalho se mostra capaz de trazer descontração para o dia a dia das pessoas que passam por ele. A qualidade de tais desenhos mostra o nível de profissionalismo, estudos e tecnologia empregada na sua construção. O mesmo ocorre com os murais de Kobra espalhados pelo mundo todo, os quais resgatam a memória dos que vivem na região em que são feitos, ao retratar imagens de pessoas e acontecimentos que marcaram aquele lugar. Os murais de resgate de memórias de Eduardo Kobra são os mais famosos do artista. Um de seus projetos lhe garantiu projeção internacional, denominado Muros da Memória, o qual retrata imagens do início do século XX da cidade de São Paulo e estão espalhados pela cidade, transformando o cenário urbano a partir da arte. O projeto foi expandido para o exterior e os muros de cidades como Moscou, Roma, Tóquio e Atenas serviram de tela para o artista, sempre resgatando a história do local. 4

Fonte: Disponível em: < https://instagram.com/p/56L89YBJri/?taken-by=kobrastreetart>. Acesso em: 20 nov. 2015. 5 Fonte: Site oficial Kobra. Disponível em: <http://eduardokobra.com/> Acesso em: 24 jun. 2015.

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fig. 2: Pintura rupestre em caverna mostrando cena de batalha

Fonte: Revista Época6 Fig. 3: Pintura do bairro Wynwood em Miami, onde as paredes são como um verdadeiro museu ao ar livre

Fonte: Brooklyn Street Art7

Outro mural muito famoso do Kobra é O beijo está no ar, feito em Nova Iorque, inspirado na fotografia O Beijo, tirada na Times Square, no final da Segunda Guerra Mundial. Ambas as obras têm como característica forte o Spätzeit, termo do autor Walter Moser, o qual trata em seu livro Narrativas da modernidade, e mostra como o autor utiliza de materiais culturais já existentes como matéria prima para as suas criações.

Muralismo e Grafite

6

Fonte: Disponível em:< http://colunas.revistaepoca.globo.com/viajologia/2011/02/03/pinturasrupestres-de-14-mil-anos-tornam-akakus-um-museu-ao-ar-livre/>. Acesso em: 20 nov. 2015. 7 Fonte: Diponível em: <http://www.brooklynstreetart.com/theblog/2012/12/04/miami-2012-thewallsthe-artists-and-the-action-part-i/#.Vkcuc2SrSX0> Acesso em: 20 nov. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


O termo Muralismo não é encontrado nos dicionários, mas, informalmente, quer dizer pinturas murais sobre temas populares ou de propaganda 8. Ganz e Manco (2010) afirmam que essa técnica existe desde o início da humanidade, quando imagens eram gravadas nas paredes das cavernas pelos homens primitivos. Esse termo ganhou força no México com artistas muralistas como Diego River José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros na revolução mexicana. De acordo com Quinsani (2010) “A pintura mural mexicana é um dos melhores exemplos da criação da conexão entre arte e sociedade” e, no contexto atual, o muralismo está presente nos muros de diversas cidades. Hoje, ele se diversificou em várias formas de arte, conquistando reconhecimento. As pessoas convivem com esse tipo de arte diariamente, o que faz este estilo acessível a grande parte da população. Fig. 4: Industria Norte de Detroit, 1932, Diego Riviera

Fonte: Inversu9

Fig. 5: Detalhe do mural Civilização Americana, 1932, José Clemente Orozco

Fonte: Nicholas Gimenes10

Fig. 6: Tormento de Cuauhtémoc, 1950, David Alfaro Siqueiros

8

Verbete disponível no dicionário online Dicio. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/muralismo/>. Acesso em: 15 jun. 2015. 9 Disponível em: < http://www.inversu.com/diego-rivera-o-muralista-mexicano/>. Acesso em: 20 nov. 2015. 10 Disponível em: < http://www.nicholasgimenes.com.br/2010/11/jose-clemente-orozco-deuses-domundo.html >. Acesso em: 20 nov. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Crisol Plural11

Dentro da concepção de Muralismo, segundo a Volkswagen do Brasil (1988) no livro Artistas do muralismo brasileiro, no país essa arte tem características que a tornaram única, como a cultura carnavalesca, as comemorações folclóricas e religiosas, junto ao crescimento - desordenado - das cidades, fazendo com que o caráter público do muralismo ressaltasse a comunicação comunitária de todo país. Há um novo espaço conquistado pela arte brasileira. Este espaço está vinculado à utilização dos locais públicos e as oportunidades que a construção oferece. Assim a criação do muralismo brasileiro teve uma oportunidade quase inédita no mundo hoje. No Brasil o desenvolvimento está atrelado à expansão das cidades e ao seu progressivo gigantismo (VOLKSWAGEN DO BRASIL, 1988).

De acordo com Volkswagen do Brasil

[D5]

(1988), o país começa a progredir

com gestos ousados e marcantes, um exemplo citado na obra Artistas do Muralismo Brasileiro é o bairro Pampulha em Belo Horizonte, com intervenções de Cândido Portinari e Niemeyer. Nas ilustrações de Portinari na Igreja São Francisco de Assis popularmente conhecida como Igrejinha da Pampulha - podemos perceber essa característica do muralismo brasileiro, que acompanha a arquitetura, dando importância ao conjunto arquitetura e obra (pintura/arte). Assim como outras artes, o muralismo brasileiro se desenvolveu e hoje vem se tornando uma das artes mais acessíveis a maioria da população, podendo ser encontrado em várias regiões das cidades. Um estilo particular de muralismo vem se desenvolvendo e ganhando visibilidade no mundo todo, é o chamado Grafite - ou em seu idioma original, o inglês, graffiti. Essa arte se intensificou como forma de 11

Disponível em: < http://crisolplural.com/2009/09/19/no-andabamos-muertos-andabamos-deparranda/>. Acesso em: 20 nov. 2015.

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expressão, sendo usada para propaganda, ou até mesmo para criticar governos. O grafite atual teve início em Nova York, e segundo Ganz e Manco (2010) na década de 70. Atualmente, esse movimento vem ganhando respeito e admiração de grande parte da população. O artigo 65 da Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98) equalizava o grafite à pichação, considerando ambos como crime com pena de detenção de três meses a um ano e multa. Porém, a nova lei nº 12.408/2011 altera tal artigo, descriminalizando a grafitagem: § 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional (BRASIL, 2011).

Segundo Lopes (2011), a pichação não possui pretensão artística e tem intuito apenas de confrontar e provocar a polícia, prevalecendo assinaturas ou frases ilegíveis a quem não pertence ao meio. D’Urso (2011) afirma que se trata de um vandalismo gratuito ao patrimônio público e privado, sem qualquer dimensão estética. Deve-se desconsiderar a justificativa da liberdade de expressão para tal ato, pois a pichação, ao fazer uso de frases ou símbolos geralmente incompreensíveis à grande parte da população, a mensagem nem mesmo é decifrada. No grafite, por outro lado, prevalece o lado artístico do seu autor, o qual busca alcançar as pessoas e ser reconhecido através da sua arte. Para Santos (2010) essa forma de arte vem ganhando visibilidade através dos muros, tendo a qualidade de se renovar e se tornar acessível a todos. O graffiti integra as formas contemporâneas de comunicação social, sendo herdeiro legítimo de uma cultura visual de massa, passível de leitura e de compreensão subjetiva para quem o observa, interpreta e lhe atribui significado (LOPES, 2010, p. 4).

Através da concepção de que o grafite como muralismo é uma das formas mais expressivas de arte, com participação constante no dia a dia das pessoas, escolhemos estudar o artista brasileiro Eduardo Kobra, que possui obras espalhadas pelo mundo todo e foi um dos artistas pioneiros no cenário nacional a conseguir o reconhecimento através desse estilo de arte. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Kobra: o ilustrador Eduardo Kobra nasceu em 1976, na cidade de São Paulo - SP e iniciou sua carreira em 1887, com a prática da pichação na grande São Paulo. Durante a década de 90, com o contato com a cultura hip hop e com grafiteiros de Nova Iorque, ele percebeu que podia levar a sua habilidade em desenhar, que surgiu antes de começar a pichar, para os muros da cidade. 12Kobra acabou desenvolvendo de forma brilhante esse tipo de arte, fazendo com que hoje seja reconhecido por todo o mundo como muralista. Desenvolvendo seu gosto pelos desenhos, que nasceu antes da arte em rua, passou a desenhar em muros aproximadamente na década de 90, hoje, o artista vem ganhando o mundo com a arte muralista. Em 1995 começa o Studio Kobra, dando início ao sucesso do artista, que ganha admiração pela grandiosidade, cores e resgate de memórias. Entre seus projetos podemos citar a pintura 3D em pavimentos, que consiste em uma pintura que do ângulo correto transmite profundidade e realismo, mas de outros ângulos pode ficar distorcida. O projeto Green Pincel, no qual o artista tenta criticar artisticamente a destruição da natureza pelo homem, e também seu projeto Muros da Memória, no qual o artista interfere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século XX, esse projeto é uma junção de nostalgia e modernidade, resultando em pinturas cenográficas, algumas monumentais. Através delas cria portais para saudosos momentos da cidade.·.

O beijo está no ar: a releitura do VJ in Times Square e a fotografia Em junho de 2012, Eduardo Kobra coloriu as ruas de Nova Iorque com o mural intitulado O beijo está no ar. O mural é inspirado na icônica fotografia O Beijo, tirada por Alfred Eisenstaedt. 12

Fonte: vídeo oficial do artista, em seu canal do site YouTube. Disponível em: <https://youtu.be/HOpYMRFG1A>. Acesso em: 2 jun. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


O contexto histórico da época era a 2ª Guerra Mundial, “pela amplitude geográfica e pelo volume de recursos humanos e materiais envolvidos, a maior da história da humanidade” (FERRAZ, 2005, p. 10). A guerra aconteceu no período de 1939 a 1945 e envolveu, de forma direta, Alemanha, Japão e Itália - países que compunham o Eixo –, em conflito com os Aliados – formado por China, França, GrãBretanha, União Soviética e EUA. A fotografia de Eisenstaedt foi capturada em 14 de agosto de 1945, dia em que o Japão se rendeu aos EUA. Após o anúncio, o país inteiro celebrava e as pessoas saíram às ruas festejando o final da Segunda Guerra Mundial. Foi nesse contexto que ocorreu o beijo mais famoso do mundo, protagonizado por Edith Shain, uma enfermeira, e o marinheiro Glenn McDuffie. A cena se tornou um ícone, por se tratar de uma demonstração pública de afeto, algo fora dos padrões da sociedade da época. A história por trás da fotografia torna o fato ainda mais surpreendente, já que os dois nem ao menos se conheciam. O ato foi fruto de um impulso do marinheiro, em meio às celebrações do dia. E hoje, mesmo a quem não vivenciou esse episódio em Nova Iorque, esse fragmento visual evoca a lembrança do sentimento de euforia que envolvia a cidade naquele momento e que levou dois desconhecidos a se beijarem em público. Segundo Santos (2008, p.3), “o ato de beijar apenas compartilhava a alegria de estar presenciando um recomeço, a chegada de um novo tempo”. O mural de Kobra foi produzido na 10th Avenue, na região de Chelsea, um centro de referência em galerias de arte da cidade de Nova Iorque. O Portal taboanense afirma que a obra logo se tornou um cartão postal da cidade, recebendo visitas diárias de centenas de turistas, além de casais que desejam registrar seus momentos apaixonados num cenário tão romântico. Ao criar uma releitura da fotografia de Eisenstaedt, Kobra evidencia o lado retrô em sua obra. O retrô é caracterizado pela produção com tecnologia e processos atuais, mas que se inspira nas características de um estilo de uma época passada (HESLAM, 2000).

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Kobra afirma, em entrevista ao Programa do Jô 13, da Rede Globo, que a escolha do material para a produção dos seus murais depende do tipo de superfície, do trabalho e da dimensão do trabalho, mas que, normalmente, ele utiliza tinta látex e tinta esmalte sintético. Ao alterar a natureza técnica da imagem alteram-se os efeitos políticos e simbólicos, desta forma, Kobra traz a imagem para um novo contexto e a forma que as pessoas a interpretam mudam significativamente. A imagem retratada no mural do artista passa agora a assumir o papel diferente do que a fotografia original assumia a euforia e celebração do fim de um tempo ruim. Expresso por um casal apaixonado envolvido em um momento íntimo de amor, o mural de Kobra passa a retratar a exaltação do amor.

Seu trabalho e a relação Spätzeit: muros da memória Eduardo Kobra desenvolve trabalhos que podemos relacionar ao termo Spätzeit de Walter Moser. O Spätzeit decorre de uma cultura desenvolvida do passado, de tal forma que nada é novo, tudo é inspirado ou possui influências de um passado. O artista aqui retratado tem relação a esse termo, pois em seus trabalhos, muitas vezes, aborda pessoas ou cenas com impacto historicista, ou seja, cenas conhecidas pela maioria das pessoas. Um exemplo seria o mural de Manhattan, O Beijo está no Ar. Esse mural contém duas características da cultura Spätzeit, a primeira seria a Saturação Cultural com olhar positivo, em que a cena, por mais conhecida que seja ainda pode oferecer de alguma forma um pensamento cultural e ser vista pelo artista como fonte para criação, fonte esta que ele aceita e aproveita em suas obras. A densidade de materiais culturais que o envolve pode então ser vista como uma riqueza que lhe é oferecida, e que ele pode aproveitar enquanto criador. [...] Aquilo que jaz em pedaços cortados, o fragmento, o destroço saturado de significação: eis a matéria mais nobre para a criação. (MOSER, 1999, p. 39-40)

13

Entrevista realizada em 13 de outubro de 2011, disponível no canal oficial do artista, no site YouTube. Disponível em <https://youtu.be/QcESsjFyNGI>. Acesso em: 30 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


A

segunda característica

que podemos

relacionar

ao artista

é

a

Secundariedade, em que ele desenvolve uma produção secundária e a produção primária se torna indispensável a sua criação. A produção cultural irá trabalhar a partir de algo já estabelecido, podendo sofrer transformações. A cultura cresce sobre um húmus cultural deixado pelos antepassados, nada nunca será o ponto de partida de um processo (MOSER, 1999). No mural de Manhattan, a secundariedade está presente na obra do artista demostrando não o esgotamento ou falta de criatividade que impulsiona a cópia, mas sim um fator de revitalização, em que as obras são uma continuação da produção artística e cultural, e sofrem transformações através do artista, seja pelas novas formas de sua concepção (tinta, o que era antes uma fotografia), sua aplicação/relação com cores e formas, ou até mesmo, na sua nova percepção frente ao mundo contemporâneo. Fig.7: “VJ Day in Times Square”

Fonte: UFS14

Fig. 8: “O beijo está no ar”, Kobra

Fonte: Site Oficial Eduardo Kobra15

A arte presente no projeto Muros da Memória, obra de Eduardo Kobra, incorpora a função de humanizar a cidade de São Paulo, por meio de imagens que 14

Disponível em: <http://www.seer.ufs.br/index.php/tempo/article/view/2678/2311> Acesso em: 24 junho 2015. 15 Disponível em: <http://eduardokobra.com/murais/> Acesso em: 24 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


marcavam o cotidiano da capital no início do século XX. O projeto busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade e foi expandido para diversas cidades do mundo. Esse projeto incorpora o termo Spätzeit do autor Walter Moser, principalmente em sua característica saturação cultural, pelo qual “as culturas do passado estão, entretanto, materialmente presentes sob a forma de destroços que irrompem no presente, que se impõem à paisagem cultural contemporânea” (MOSER, 1999). Kobra vê a saturação cultural de uma forma positiva ao fazer os murais, mostrando que ele aceita “criar a partir de uma mesa cultural já posta e onde reina a abundância”, (MOSER, 1999). Fig. 9: “Muros da memória”, São Paulo

Fonte: Site oficial Eduardo Kobra16

Fig10: “Muros da memória” na Avenida 23 de maio, em São Paulo

Fonte: Zebunarede17 16

Disponível em: <http://eduardokobra.com/muro-de-memorias/> Acesso em: 24 junho 2015. Disponível em: <http://www.zebunarede.com/2014/11/conheca-eduardo-kobra.html/> Acesso em: 24 junho 2015.

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Desta forma, esse projeto em particular do artista é uma junção de nostalgia e modernidade, em que ele nos transporta no tempo, não só na paisagem, como as pessoas que habitavam aquele espaço. Nas palavras do próprio artista, “a ideia é justamente pintar murais com cenas antigas, criando portais para uma cidade que já não existe”. Os murais hoje se encontram cobrindo metros e metros de áreas urbanas e industriais, provocando nostalgia nos que presenciaram a época, e curiosidade nos que se veem em meio a esse ambiente pela primeira vez. Segundo Moser (1999) nostalgia é afeto próprio do Spätzeit, no qual as pessoas do tempo atual enxergam o passado como um tempo heroico, no qual gostariam de ter feito parte.

Considerações Finais Os trabalhos de Eduardo Kobra fazem parte da arte contemporânea, mas sua inspiração, muitas vezes, são temas já conhecidos, acontecimentos históricos ou pessoas influentes. Isso leva a pensar que apesar de se estar vivendo uma realidade diferente das vividas pelas civilizações passadas, é como se nada fosse realmente novo, como se a atualidade adaptasse o passado. Dentro dessa concepção percebe-se que buscar o passado, o conhecido, não é apenas uma “intenção nostálgica”, mas uma realidade pela qual a sociedade foi construída. Isso é possível a partir da arte e dos murais distribuídos pelas áreas urbanas, que abrem janelas para uma época em que muitos não viveram, funcionando assim como uma forma de memória compartilhada da sociedade. O passado nunca deixará de fazer parte do presente, assim como nunca criaram coisas exclusivamente novas, sempre existirá uma referência as anteriores, só que com um olhar atual.

Referências Bibliográficas

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 116 – 129, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


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QUINSANI, R. H. A revolução na encruzilhada: uma análise da arte revolucionária do Muralismo Mexicano a partir da imagem: O homem controlador do universo, de Diego Rivera. 2010. História, imagem e narrativas. [S.l.], n. 11, 20 p., out. 2010. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br/edicao11outubro2010/muralismo.pdf> Acesso em: 20 nov. 2015.

Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 02.12.2015

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A arte como produto e as ilustrações de Drew Struzan: Os cartazes de cinema como exposições universais David Xavier Fernandes¹ Letícia Marinho dos Santos² Raul Guilherme Costa alves

Resumo Expandido

Fizemos nesse artigo uma relação entre o ilustrador Drew Struzan, responsável por famosas imagens que marcaram o cinema em posteres de filmes como Stars Wars e Indiana Jones e o imaginário desse público, e o texto “Paris, Capital do Século XIX”, do filósofo, sociólogo, ensaísta e crítico Literário Walter Benjamin. Recapitulando inicialmente a vida e carreira de Struzan, e fazendo comentários sobre o seu tipo de ilustação, iniciamos procurando trazer clareza à pessoa estudada e sua influência, assim como faremos, posteriormente, com Walter Benjamim. Fazendo um breviário também sobre Wallter Benjamin, buscamos também a consciência de modo geral, do ensaísta, do qual nos apropriamos do texto para relacionar seus trechos a nossos caprichos a o ilustrador acima citado. A relação é feita a partir de algumas ilustrações selecionadas que tragam em si um geral sobre a obra e o terceiro capítulo do texto: “Grandville e as exposições universais”, que explica que as exposições universais idealizaram o valor da troca de mercadorias. Buscamos o artista sueco Mattias Adolfsson para abordarmos as versões diferentes de trabalhos, como Star Wars e Indiana Jones no mercado global, suas interferências e interesse no trabalho internacional. Tomando a arte como mercadoria e assim tratando da relação entre as imagens, os respectivos filmes e seus números elevados de bilheteria, renda e público, e avaliamos essa como uma generosa relação entre o ilustrador e sua obra, na forma de um trabalho assalariado e Walter Benjamin e sua crítica ao tratamento da arte como produto no mercado.

Palavras-chave: Influências internacionais; mercado; Struzan; Walter Benjamin.

Estudantes de Artes Visuais Licenciatura da Universidade do Estado de Minas Gerais, Escola de Design, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Estudo orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: raulgca@yahoo.com.br; bobtheridle@yahoo.com.br; leticia_ms_14@hotmail.com Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 130 – 143, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Introdução

Nesse trabalho, é feita relação entre o texto de Walter Benjamin (1991), “Paris, Capítal do Século XIX”, e a obra de Drew Struzan para cartazes de filmes famosos e suas rentáveis franquias. Mais especificamente relacionando a Grandville ou as exposições universais. As franquias cinematográficas dos pôsteres em questão se tratam de grandes produções que com o tempo ganharam reconhecimento e status, enquanto seu autor também ganhou sua fama entre o público e suas ilustrações adquiriram a qualidade de obra de arte. Essa deferência entre ilustração e arte aparece em um relato do autor em que diz que ele teve que escolher entre uma carreira de artista, fazendo o que gosta, mas ganhando menos, e uma carreira de ilustrador, recebendo mais. Escolheu a ilustração. Fazendo relação com a inacabada obra “Paris, Capital do século XIX”, Walter Benjamin faz uma crítica ao tratamento da arte como produto e as exposições universais.

Walter Benjamim e seu legado crítico e o homem por tás do pôster Walter Benjamin (1991) foi um filósofo alemão e crítico cultural, que contribuiu de forma duradoura e influente para a teoria estética e o marxismo ocidental, sendo um dos membros mais importantes da Escola de Frankfurt1. Benjamin foi um intenso admirador da língua e da cultura francesa, as quais dominava perfeitamente. Ele traduziu para a língua alemã obras fundamentais de Charles Baudelaire e de Marcel Proust. Sua produção literária foi também um espelho de suas crenças, à primeira vista paradoxais. As obras mais célebres são A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936) e a incompleta Paris, Capital do século XIX. A Tarefa do Tradutor é essencial para quem estuda Literatura.

1

FONTE: THE EUROPEAN GRADUATE SCHOOL: GRADUATE AND POS GRADUATE SCHOOL. Walter Benjamin – Byography. Disponível em: <http://www.egs.edu/library/walter-benjamin/biography/>. Acesso em: 23 de Jun. 2015.

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Sua curta carreira levou-o, através dos dez anos que antecederam à Segunda Guerra Mundial, a publicação de um ensaio sobre “As afinidades eletivas de Goethe” em 1924, que lhe valeu o reconhecimento rápido. Ele recebeu seu doutorado na Suíça em 1919, mas o trabalho que tinha apresentado em 1928 foi o único estudo completo que ele publicou, “As Origens do alemão Drama Trágico”, e foi provavelmente incompreendido por seus jurados, pois em destaque continha uma complexa rede de citações apropriadas. Benjamin (1991) desenvolveu seu trabalho baseado na concepção kantiana de crítica como uma forma de reflexão, tanto estética como política. E vale ressaltar que esse ato de crítica, valorizado por ele, incluía todo o sistema cultural e também sua base econômica. Dentre suas criações intelectuais Benjamin articulou a teoria da história, da tradução, violência, tendências da recepção da obra de arte dentre outras questões. Em 1934, Benjamin (1991) foge para a Itália, onde permanece por um ano, tentando escapar da ascensão do Nazismo na Alemanha. Neste período já haviam se estabelecido algumas divergências entre Benjamin e a Escola de Frankfurt. Em 1940, na margem espanhola da fronteira entre França e Espanha, tentando atravessar os Pireneus, possivelmente com medo de ser capturado pelos nazistas, proibido de seguir adiante, Benjamin se suicida. O filósofo não resiste à intensidade da pressão emocional e, movido pelo ardor de seu lado melancólico e apaixonado, opta pela morte. Seu aspecto racional não é forte o bastante para contê-lo. Neste mesmo ano ele cria sua última obra, Teses Sobre o Conceito de História. Sua produção intelectual marcou a produção de vários filósofos que o sucederam, principalmente de Giorgio Agamben, influenciando principalmente sua noção de ‘Estado de Exceção’. Buscando alguns exemplos de mercado, Drew Struzan é um artista visual norte-americano, conhecido por seu trabalho junto à indústria cinematográfica. Ele pintou cartazes não somente para Star Wars e Indiana Jones, mas também para filmes como Harry Potter, Jurassic Park, Blade Runner e ‘E.T. o Extraterrestre’. Struzan pintou cartazes para a maioria dos filmes das sagas Star Wars e Indiana Jones, assim como a trilogia De volta para o futuro, entre dezenas de outros filmes e capas para discos2. 2

Fonte: RUSSO, Tom. What do Indiana Jones, Luke Skywalker, Harry Potter and the Muppets have in common? A creator of iconic images. In: Special to the times. 2002. Disponível em: <http://www.drewstruzan.com/>. Acesso em: 10 jun. 2015.

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A contribuição do artista surge no âmbito da afirmação de uma identidade entre os filmes, da emissão da mensagem de que George Lucas estava envolvido nas produções. Também descreve que coerência é a qualidade que garante que um senso de unidade seja facilmente percebido pelo consumidor Drew Struzan nasceu em Oregon. Em 1965, aos 18 anos, ele se matriculou na Art Center College of Design, em seguida, localizado em West Los Angeles, Califórnia. Um conselheiro perguntou Struzan sobre seus interesses e disse que ele tinha uma escolha entre belas-artes ou ilustração. O conselheiro descreveu as duas carreiras, dizendo Struzan que como artista ele poderia pintar o que ele queria, mas como ilustrador ele poderia pintar para o dinheiro. Struzan escolheu para ser um ilustrador, dizendo: "Preciso comer." Struzan trabalhou sua maneira através da escola com a venda de seus trabalhos de arte e aceitando pequenas comissões. Graduou-se em cinco anos, ganhando um grau de Bacharel em Artes com honra. Ele também completou dois anos de estudos de pós-graduação e, eventualmente, voltou para a escola em anos posteriores (o campus mudou-se para Pasadena, Califórnia) para ensinar por um tempo curto. No início de sua carreira, depois de se formar na faculdade, Struzan permaneceu em Los Angeles, e em uma viagem para uma agência de empregos encontrou um trabalho como artista para o Pacific Eye & Ear, um estúdio de design. Lá ele começou a desenhar capas de álbuns experimentando os aspectos criativos do tamanho 12x12 que a embalagem recorde lhe proporcionou. Ao longo dos próximos cinco anos, ele iria criar arte da capa do álbum para uma longa linhagem de artistas musicais, incluindo Tony Orlando e Dawn, o Beach Boys, Bee Gees, Roy Orbison, Black Sabbath, Glenn Miller, Iron Butterfly, Bach, Earth, Wind and Fire, e Liberace. Suas obras para cartaz de filmes começaram a aparecer em 1975, embora a princípio para filmes B, como Império das Formigas e Alimento dos deuses. Em 1977, o também artista Charles White III, conhecido por seu próprio talento em airbrush, tinha sido contratado pelo cineasta norte-americano George Lucas para criar um projeto do cartaz para o re-lançamento de Star Wars em 1978. Desconfortável com o retratista recorreu a Struzan a ajuda no projeto. Struzan então

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pintou os personagens humanos em pinturas de óleo e branco focado nas naves, Darth Vader, C-3PO, e todos os detalhes mecânicos da arte do cartaz. Ao longo dos anos 70 e dos anos 80 Struzan produziu posteres para filmes como Blade Runner, The Cannonball Run, a série Loucademia de polícia, a trilogia De volta para o futuro, Os Muppets, Rambo, Negócio Arriscado, Enigma de outro mundo, Um conto americano, O imbatível, Os Goonies, entre muitos outros. Na década de 1980, Struzan estava produzindo, aproximadamente, dez posteres por ano. Durante este período, Struzan continuou sua associação com Lucas, projetando o logotipo da Industrial Light & Magic original, e criando as obras de arte para a contínua saga Star Wars e da série Indiana Jones de filmes. No processo, o trabalho de Struzan tornou-se, na mente do público, as imagens visuais definitivas representando as séries. Como tal, ele também foi procurado para criar novas obras de arte para relançamentos e reedições em vídeo e DVD, capas de livros, passeios de parque temático e títulos de jogos de vídeo para essas propriedades. Na década de 1990, com o advento dos computadores e manipulação digital de imagens utilizadas para criar a arte do cartaz, Struzan foi afetado pelo declínio da arte do cartaz tradicionalmente ilustrada. Embora continuando a criar obras de arte para 1990 e 2000 filmes como Hook, Hellboy e o cartaz americano de Harry Potter e a Pedra Filosofal, ele começou a explorar outras áreas para seu trabalho, incluindo histórias em quadrinhos, artes de edição limitada e o mercado colecionável. Em 1999, em uma exposição intitulada: Arte do Cinema, Struzan teve mais de 65 peças de seus trabalhos de arte apresentadas no Museu Norman Rockwell em Stockbridge, Massachusetts. Depois de completar o extenso trabalho artístico necessário para a campanha de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, Struzan anunciou sua aposentadoria em 03 de setembro de 2008. Quanto às questões de ilustrações cinematográficas, entre mocinhos e vilões, dramas e comédias, o cinema foi se desenvolvendo ao longo do século XX e tornouse uma das principais formas de arte e entretenimento contemporâneo. A parte todas as discussões e teorias, no final de tudo, o cinema é apenas essa história que vimos na tela, de que gostamos ou não, cujas brigas ou lances amorosos nos emocionam ou não.

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Uma das mais tradicionais formas de publicidade de um filme são os cartazes ou pôsteres, peças gráficas que surgiram no final do século XIX, antes mesmo do cinema. Como expressão da vida econômica, social e cultural, competindo entre si para atrair compradores para os produtos e público para os entretenimentos. Se no final do século retrasado o cartaz era utilizado apenas para vender produtos e entretenimento, no século XX ele passou a buscar produzir emoções e desejos em seus leitores. O cartaz possui, segundo Moles (1974), uma importante característica – tornando-o essencial para o cinema em uma época em que as mídias eram restritas –, que é sua capacidade de reproduzir uma imagem em grande escala, propriedade que uniu fortemente esse tipo de imagem fixa às imagens em movimento das grandes telas. Assim, passou a ser comum pensar nas duas coisas de forma intrínseca, sendo que o cinema não seria o mesmo sem seus cartazes, já que eles também representam sua identidade visual, repassada a outros materiais promocionais. Struzan é conhecido por seu trabalho junto à indústria cinematográfica. Ele pintou cartazes não somente para Star Wars e Indiana Jones, mas também para filmes como Harry Potter, Jurassic Park, Blade Runner e “E.T. o Extraterrestre.” Struzan pintou cartazes para a maioria dos filmes das sagas Star Wars e Indiana Jones. A contribuição do artista surge no âmbito da afirmação de uma identidade entre os filmes. Séries de filmes, como Star Wars e Indiana Jones, acabam tornando-se marcas no contexto cinematográfico, sendo partes de marcas maiores, como Lucasfilm e George Lucas. Estabelece-se assim uma arquitetura de marcas, descrita por Wheeler (2009, p.22, tradução nossa) como a hierarquia de marcas dentro de uma companhia, sendo a relação entre organização principal, companhias subsidiárias, produtos e serviços. Wheeler (2009, loc. cit.) ainda afirma que ‘é importante trazer consistência, ordem visual e verbal’ na arquitetura de marcas.

Walter Benjamin: versões globais no olhar do sueco Mattias Adolfsson Consiste na relação entre o texto de Walter Benjamin (1991) e as imagens dos cartazes produzidos por Struzan. Mais especificamente o capítulo lll: Grandville e as

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exposições universais, que apresenta uma crítica ao tratamento da arte como produto, a partir das exposições universais. Apresentando os pôsteres dos filmes, ao invés das artes originais sem textos ou informações de produção, relevando assim o caráter de anúncio, com informações de interesse como produtora, atores, e outros dados. Tomando como exemplo a saga Indiana Jones, em que Struzan produziu os pôsteres de todos os filmes. Muitos fãs, ao se lembrarem do filme, têm a imagem dos cartazes remetida à memória pela iconografia das obras. O fato de serem muito conhecidas também faz associação com as bilheterias. O fato dos filmes serem sucesso de público e crítica valoriza os pôsteres, os elevando tanto em status quanto em valor financeiro em mercadorias relacionadas. Quando foi chamado para fazer o pôster de O reino da caveira de Cristal, muitos anos depois do terceiro filme, isso confirmou o gosto do público pelo estilo que acabou se perdendo com o desenvolvimento das artes gráficas por computador. Figura 01: Capa do DVD do filme Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Fonte: www.osamaclassicos.com

De acordo com o site Revista Design 3, o trabalho do ilustrador Mattias Adolfsson retrata o universo de Star Wars em estilo Barroco, expondo os personagens, como Darth Vader ao estilo Napoleão. Nas imagens abaixo, alguns exemplos do trabalho do artista ao retratar elementos, elemento importante da saga em estilo barroco. 3

Fonte: Revista Design. Star Wars estilo barroco. 30.04.2015. Disponível em: http://www.revistadesign.com.br/2/categoria/caricatura/page/2/> Acesso em: 15 junho 2015.

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Figura 02: Star Wars no estilo Barroco, por Mattias Adolfsson

Fonte: Revista Design: Fonte: Revista Design. Star Wars estilo barroco. 30.04.2015. Disponível em: http://www.revistadesign.com.br/2/categoria/caricatura/page/2/> Acesso em: 15 junho 2015. Figura 03-07: Ilustrações Originais de Star Wars, por Ralph McQuarrie

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Fontes: Updateordie

No site Updateordie4 Ralph McQuarrie (fig. 03-07) diz que George Lucas tinha ideias sobre como a imagem ficaria. Na verdade, é possível que o visual da foto seja mais interessante para ele do que o enredo. Segundo o site, McQuarrie foi a primeira pessoa a dar um visual para o universo de Star Wars e foi uma forte influência sobre a aparência da trilogia original. Algumas cenas dos filmes são praticamente idênticas ao conceito de arte fornecida por ele. Vemos o início então de um projeto de design, com fins lucrativos, pois as ilustrações definiram a estética do filme. Relacionando a Benjamin (1991), trata-se de uma fantasmagoria da arte original, que nos é apresentada de forma a termos a impressão de estética já construída cinematograficamente, e não por etapas que incluem ilustração. Fazendo relação da valorização das exposições as exposições universais, afirmamos pelas palavras de Benjamin (1991): As exposições universais transfiguram a troca de mercadorias. Criam uma moldura em que o valor de uma moldura em que o valor de uso da mercadoria passa para segundo plano. Inauguram uma fantasmagoria a que o homem se entrega para se distrair.” (pag. 3536)

O fato de os posteres terem se tornado referência de bons filmes e objetos de desejo, pois é possível comprar as artes originais no site do próprio Struzan, remete ao status: “ A moda prescreve o ritual segundo o qual o fetiche mercadoria pretende.”

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Fonte: Updateordie. ROMANO, Paula. 27.05.2015. Ilustrações originais de Star Wars. Disponível em: <http://www.updateordie.com/2015/05/27/ilustracoes-originais-de-star-wars/> Acesso em: 15 junho 2015.

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A grande maioria dos filmes dos quais Struzan ilustrou os cartazes se tratam de franquias em que os fãs demonstram devoção. Com fervor, se tratam, geralmente, de nerds, principalmente Star Wars (ou Guerra nas Estrelas). Uma saga que mudou a história do cinema e tem fãs no mundo todo, que chega ao ponto de adotar certa religião presente no filme, o jedaísmo 3. Grandville (ano???) afirma que “o nervo vital do ser vivo é o fetichismo, subjacente ao sex-appeal do inorgânico. O culto à mercadoria coloca-o a seu serviço.” (Fig. 08-09) Figura 08-09: Poster da saga Star Wars e Caneca com silk dos personagens Star Wars

Fonte: Redit6 Fonte 10: principais personagens da saga criada por George Lucas em uma versão de “olhos puxados.

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Fonte: Plantão Nerd. 5

A arte obedece de uma maneira "imenente" às leis sociais. Quando ela se torna mercadoria, no sentido moderno, ela reduz a subjetividade à função de mero objeto. Voltando a Benjamin (1991), trata-se do momento em que a semelhança determina plenamente os sujeitos “sem que eles tenham disso consciência”. No caso de Star Wars, trata-se de todo um império de licenciamento. Recentemente comprada pela Disney, a Lucasfilm, detentora dos direitos de produtos, acabou expandida exponencialmente sem que se percebesse o fato de que passou a se tratar de uma parte menor de um monopólio maior. 5

Fonte: PAIVA, Samuel. 07.02.2012. Star Wars no Universo dos animes. Plantão Nerd. Disponível em: <http://www.plantaonerd.com/blog/2012/02/07/star-wars-no-universo-dos-animes/> Acesso em: 20 junho 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 130 – 143, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Grande parte desses produtos traz a assinatura do artista pela referência e pela demanda. No empenho parisiense de fazer dos panoramas imitação perfeita da natureza, nota-se a teoria, Benjamin afirma a doutrina das semelhanças em que a indústria cultural modela-se pela regressão mimética, pela manipulação dos impulsos de imitação recalcados. Para isso ela se serve do método de antecipar a imitação dela mesma pelo expectador e de fazer aparecer como já subsistente o assentimento que ela pretende suscitar.(BENJAMIN, ano, pg?)

A fantasmagoria atribuída ao capitalismo é, deveras, ignorada ou desconsiderada, em se tratando de cultura de massa. O fato de se tratar de uma mercadoria não chega a ser um empencilho para quase ninguém, por mais que isso signifique valores elevados ou um tratamento diferenciado.

Referências Bibliográficas ALAMBERT, Francisco. Arte como mercadoria: crítica materialista desde Benjamin. Disponível em: < http://conti.derhuman.jus.gov.ar/2010/10/mesa-42/alambert_mesa_42.pdf/>. Acesso em: 28 de Jun. 2015. BENJAMIN, Walter. Paris, A Capital do século XIX: Exposé de 1935. (Org) Flávio R. Kothe. Coordenador Florestan Fernandes., 2º edição. São Paulo: Editora Ática, p. 30-43, 1991. RUSSO, Tom. What do Indiana Jones, Luke Skywalker, Harry Potter and the Muppets have in common? A creator of iconic images. In: Special to the times. 2002. Disponível em: <http://www.drewstruzan.com/>. Acesso em: 10 jun. 2015. SOUZA, Manoel. FICÇÃO CINETÍFICA: Mundo Nerd. São Paulo: Editora Europa, 2015. (Coleção Mundo Nerd). STRUZAN, D. Drew Struzan: Conceiving & Creating The Hellboy Movie Poster Art – Painting. Disponível em: https: <//www.youtube.com/watch/v=C03nUaKjDPw/>. Acesso em: 19 de Mai. 2015. THE EUROPEAN GRADUATE SCHOOL: GRADUATE AND POS GRADUATE SCHOOL. Walter Benjamin – Byography. Disponível em: <http://www.egs.edu/library/walter-benjamin/biography/>. Acesso em: 23 de Jun. 2015. VILELA, Soraia. Deutsche Welle. In: Jornal da Unicamp. Campinas, 2 a 8 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2010/>. Acesso em: 25 Jun. 2015. VOGELMANN, Lucas Graebin; KIRINUS, Gabriela Giehl; MAFALDA, Alan da Cruz. 2014. De Star Wars a Indiana Jones: a construção da marca cinematográfica através dos cartazes de filmes de George Lucas. In: Coutinho, Solange G.; Moura, Monica; Campello, Silvio Barreto; Cadena, Renata A.; Almeida, Swanne (orgs.). Proceedings of the 6th Information Design International Conference, 5th InfoDesign, 6th CONGIC [= Blucher Design Proceedings, num.2, vol.1]. São Paulo: Blucher, 2014. Disponível em: <http://pdf.blucher.com.br/designproceedings/cidi/CIDI-18.pdf>. Acesso em: 25 Jun. 2015.

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Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 28.12.2015

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O grafite dos Gêmeos: Presença do Spätzeit em obras contemporâneas e no castelo de Kelburn Ana Luiza Wick1 Camilla Pereira Reis2 Danitza Velásquez3 Francesca Oliveira4 Resumo O presente artigo tem por análise as obras dos ilustradores Os Gêmeos, Gustavo e Otávio Pandolfo, São Paulo, Brasil, sobre uma ótica crítica e comparativa com segmentos do texto Spätzeit, Moser (1999). O texto apresenta termos como “saturação cultural” e “a secundariedade”, diretamente relacionados à obra e ao olhar dos ilustradores, que tem como principal ponto de partida e inspiração para seus trabalhos a crítica a problemas sociais, vista por eles como consequência de culturas passadas inseridas no contexto da atualidade. O legado deixado por épocas que nos precederam tem ligação com o quadro em que hoje vivemos. Os vestígios do passado se encontram na atualidade e algumas formas contemporâneas com que eles se apresentam na sociedade podem ser encaradas com uma ótica do conceito retrô, que se fundamenta na ideia de reciclagem de estilos para processos de fabricações atuais, onde características do passado são incorporadas. Além disso, haverá uma análise aprofundada da obra em 2007 dos irmãos brasileiros no castelo Kelburn, na Escócia, com construção datada no século XIII. Palavras-chave: Crítica social; cultura; modernidade; passado.

Introdução Os artistas Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como OSGÊMEOS, nasceram no ano de 1974, em São Paulo, no Cambuci, um dos bairros mais antigos da

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Estudante do curso de Design de Ambiente Manhã da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Estudo orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borges da ED/UEMG. E-mail: Ana Luiza Wick''<luwick2@hotmail.com>. 2 E-mail: Camilla Reis'' <camilla_reeis@hotmail.com>. 3 E-mail: Danitza Velásquez" <danitza_gadaca@hotmail.com>. 4 E-mail: Francesca Oliveira" <flm_oliveira@hotmail.com>. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


capital. De acordo com o site UFPEL5, eles são formados em Desenho de Comunicação, pela Escola Técnica Estadual Carlos de Campos. Desde a infância, brincavam, desenhavam e criavam juntos, muitas vezes, até no mesmo papel, fortalecendo uma ligação que permanece até hoje e que, segundo eles, permanecerá por toda eternidade. 6 Figura 1: Gustavo e Otávio Pandolfo

Fonte: Prezi- A história dos gêmeos grafiteiros no Brasil, abril de 20147

De acordo com o site oficial dos artistas 8, OSGEMEOS cresceram em meio à cultura Hip Hop nos anos 80, onde lhes foi apresentado o grafite, forma de intervenção urbana sem qualquer tipo de regra. Essa liberdade de expressão fez com que os artistas estivessem cada vez mais presentes nas ruas. Sendo então diretamente influenciados por elas, pelo improviso brasileiro, pela música e pela sufocante cidade de São Paulo, acreditam que a arte é uma válvula de escape. Deram início à sua trajetória através do Street Art, expressão que surgiu associada aos pré-urbanistas e logo após o urbanismo culturalista, cujo termo era usado para designar o 5

Fonte: UFPEL Educação. Disponível em: <http://www2.ufpel.edu.br/iad/ddesign/> Acesso em: 23 junho 2015. 6 Vídeo: Os gêmeos revelam seus rascunhos, ateliê e vida para a Revista Trip. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RP9b0ZNqxrw>. Acesso em: 05 jun. 2015. Vídeo: Entrevista com os gêmeos do grafite no Paulo Miklos Show. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XuYqXdxqsqM>. Acesso em 05 jun. 2015. 7 Gustavo e Otávio Pandolfo. Disponível em: < https://prezi.com/gyh4b9nmeqpc/os-gemeos-a-historiade-gemeos-grafiteiros-no-brasil/>. Acesso em: 09 jun. 2015. 8 Fonte: Site oficial de OSGEMEOS. Biografia OS GÊMEOS. Disponível em:<http://www.osgemeos.com.br/biografia/>. Acesso em 15 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


“refinamento” de alguns traços executados pelos urbanistas ao “moldarem” a cidade. No entanto, esse movimento tem uma característica mais despretensiosa, onde o principal elemento é a falta de foco e sua maior inspiração é o dia-a-dia, relatando assim, de diversas formas, contextos políticos, ambientais e sociais. Nessa ótica se baseia o trabalho de OSGÊMEOS. Com o passar dos anos, sem abandonar o grafite, eles conheceram outras técnicas que ultrapassavam as ruas bem como a escultura, a pintura e o desenho. E dessa forma, conseguiram criar uma identidade própria para se comunicarem com seu público. Hoje, suas obras estão espalhadas por todo o mundo em países como Lituânia, Escócia, Japão, Chile, Estados Unidos, Cuba, Itália, Portugal, Espanha, Alemanha e Inglaterra, abordando questões políticas, sociais, cultura brasileira, folclore, retratos de família de uma forma intuitiva e lúdica. 9 Figura 2: Atual situação de escassez de água que atinge diversos estados

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Figura 3: Don't believe the hype

Vídeo: The graffiti project on kelburn castle. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=__C-MjmVUrU>. Acesso em: 05 jun. 2015. Fundação Armando Alvares Penteado. Disponível em: <http://www.faap.br/hotsites/osgemeos/>. Acesso em: 26 mai. 2015. Castelo grafitado por brasileiros é alvo de controvérsia na Escócia. Disponível em : <http://www.dw.com/pt/castelo-grafitado-por-brasileiros-%C3%A9-alvo-de-controv%C3%A9rsia-naesc%C3%B3cia/a-15373522>. Acesso em: 26 mai. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Site OSGÊMEOS, junho de 201510

Fonte: Site OSGÊMEOS, 201011

Os gêmeos expressando sua arte através do grafite exploram o espaço das ruas para transmitir ideias que sejam de participação social e que adquiram visibilidade. Eles misturam a realidade com uma esfera onírica que permite que o cotidiano e as dificuldades dos fatos da vida dos brasileiros sejam exaltados de forma lúdica e folclórica, e que tudo isso tome forma de maneira descontraída. A participação crítica na sociedade atual é uma marca dos dois irmãos que retratam problemas que são parte da história do Brasil e seus cidadãos, e que acontecem por muitos anos. Figura 4: Escultura na exposição A Ópera da Lua

Fonte: Blog Page One, junho de 201412

O país é marcado por uma história de desigualdade social, de pobreza, de preconceitos, de corrupção, de uma hierarquização que permaneceu por anos como um padrão e de vários outros problemas que levaram uma grande parte dos indivíduos a ter uma vida alienada por séculos. Nos desenhos de Gustavo e Otávio estão presentes elementos que logo remetem a situações comuns na vida dos brasileiros, e a cultura deles também, como elementos que retratam um culto ao futebol, o folclore e 10

Fonte: Atual situação de escassez de água que diversos estados. Disponível em: <http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/colaboracao-com-jr/#!/5723>. Acesso em: 09 jun. 2015. 11 Fonte: Don't believe the hype. Disponível em: <http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/dontbelieve-the-hype/#!/3082>. Acesso em: 13 jun. 2015. 12 Fonte: Escultura na exposição A Ópera da Lua. Disponível em: <http://pageonebrasil.blogspot.com.br/2014/06/exposicao-dos-gemeos-opera-da-lua-chega.html>. Acesso em: 13 jun. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


as diferentes práticas espalhadas por todo o país, além da enorme diferença que algumas regiões possuem, devido ao processo de urbanização e aos avanços tecnológicos que receberam. Fazendo a leitura das figuras acima, podemos buscar o resultado de estudo de Almeida e Rizolli (2013), na abordagem quanto às manifestações do artista e suas intervenções no espaço urbano, em que os gêmeos procuram representar a realidade brasileira, a fim de, não só conscientizarem a sociedade, mas também ilustrarem nas ruas paulistas suas maiores inspirações do dia-a-dia. Figura 5: Nordestino dançando break

Fonte: Site OSGÊMEOS, 201413

A arte pública encontra sua originalidade justamente porque é acessível ao grande público. E, desse modo, determina um dos traços mais marcantes da arte contemporânea: a necessidade que o artista tem de comunicar a sua obra. A arte urbana, algo entre a arte e a comunicação de massa, tem sido geradora de uma multiplicidade de experimentações artísticas, pesquisas visuais e propostas conceituais baseadas em questões originadas pelas diferentes linguagens das populações urbanas e pelas multiformes expressões contemporâneas. (Almeida e Rizolli 2013: 14) Figura 6: Ordem e Progresso

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Fonte: Nordestino dançando break. Disponível em: <http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/aopera-da-lua/#!/5267>. Acesso em: 15 jun. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Unurth Street Art , outubro 201414

A arte de rua como forma de manifesto não é tão exclusivamente contemporânea, há muitos anos já havia vestígios dessa arte em vários lugares do mundo e em diversas épocas. Mas foi apenas de algumas décadas pra cá, que o povo compreendeu a grande força que a arte de rua tem e as inúmeras qualidades que ela pode proporcionar para o ambiente. E foi exatamente isso que os irmãos Gustavo e Otávio perceberam, eles descobriram uma forma de não só se comunicarem com a sociedade, mas também dar vida e beleza para os ambientes onde encontram suas obras, que, consequentemente, afetam de forma positiva as pessoas que ali frequentam. 14

Fonte: Ordem e progresso. Disponível em: <http://www.unurth.com/Os-Gemeos-Order-ProgressBrazil>. Acesso em: 15 jun. 2015.

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Porém, mesmo sendo uma forma forte e importante de se transmitir a arte, a arte de rua é ao mesmo tempo vulnerável, visto que se encontra em espaços públicos, e, portanto, se encontra exposta às condições climáticas, ações humanas e de tempo.

O Spätzeit por Walter Moser Propondo-nos em associar um dos trabalhos dos ilustradores ao texto de Walter Moser (1999), nos vemos diante do termo Spätzeit, de origem alemã, cuja dificuldade de definição de melhor significado faz com que o autor pontue 5 conceitos considerados por ele capazes de, juntos, constituírem a melhor ideia e concepção do real significado da palavra. Os conceitos são: 1) a perda de energia; 2) a decadência; 3) a saturação cultural; 4) a secundariedade e 5) a posteridade, no entanto, analisaremos dois itens: a saturação cultural e a secundariedade, que são por nós considerados de maior relação com o objeto de estudo do trabalho. É válido ressaltar a relação entre todos os 5 componentes, e que a análise mais precisa de alguns faz também referência aos demais. Damos início ao primeiro termo pontuado pelo autor, a saturação cultural. Sobre as possíveis traduções de Spätzeit, diz o autor: “Como traduzir Spätzeit? ‘época tardia’ não é corrente, ‘tempo de decadência’ é restritivo demais, ‘o tempo que chega tarde’ literal demais. Trabalhemos, pois, com o termo alemão como a sigla de alguma coisa que resta precisar” (MOSER, 1999, p. 33) A condição do ‘Spätzeit’ inclui a vida num mundo culturalmente pleno, cheia dos restos das épocas que o precederam. [...] O espaço cultural está saturado, e talvez supersaturado de objetos, e de fragmentos de objetos que os ancestrais e os antecessores legaram aos descendentes. Estes últimos nascem num mundo que já está culturalmente pleno, talvez pleno demais. (Moser 1999: 38)

Podemos dizer que o termo saturação cultural faz referência a heranças culturais do passado que estão materialmente presentes na sociedade. Esse acúmulo de culturas passadas deixa o homem limitado a ser original e preso em referências de outras épocas que estarão sempre presentes. Acontece então uma descarga de culturas, o empilhamento, e o homem por vezes pode se entregar a esse sistema e entrar em um estado de nostalgia. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Essa descarga cultural pode gerar duas reações, no caso do nosso estudo uma favorável à produção cultural, onde a densidade de informações é encarada como riqueza e não como excesso. O homem então se vê diante de uma grande gama de repertório capaz de auxiliá-lo em sua criação que, de certa forma, fará sempre uma referência, direta ou indiretamente, a elementos de épocas que o precederam. Outro elemento referencial ao nosso objeto de estudo é o termo secundariedade, vista sobre a ótica do autor como, afirma Moser (1999), “um modo de produção cultural que trabalha a partir de um pré-construido cultural, a partir de materiais previamente dados, que já tem um estatuto cultural. [...] Empenho-me muito mais em afirmar que a cultura cresce sobre um húmus cultural.” (p.41) Esse termo expressa o conceito de que para traçarem-se novas linhas é necessário interpretar o passado, pois este é um material e recurso indispensável. Para melhor compreensão do quadro atual, é importante entender o original. Tomamos duas linhas de análise desse termo: a primeira, fazendo referência a um fenômeno que se repete, porém, de maneira tardia e mais fraca, sendo vista como consequência ou até associação de um elemento central, e a segunda, como um objeto que é lançado a margem de um sistema já estabelecido, sendo este então, encarado também por um fator espacial e não apenas temporal. No entanto, a secundariedade não é um empecilho à criação, é um elemento que, apesar de influenciar o modo de ser da sociedade moderna, tem por objetivo sempre a produção cultural.

O castelo de Kelburn visto pela ótica do Spätzeit E desse modo se dá a obra dos gêmeos no castelo de Kelburn, na Escócia, que foi construído no século XIII. Em 2007, o seu proprietário, o conde Glasgow Patrick Boyle, por sugestão de seus filhos Alice e David, contratou a dupla para fazer uma intervenção no tradicional castelo. A pintura seria feita com a intenção de tampar uma camada de concreto feita nos anos 50 que estaria danificando a estrutura original da construção e seria retirada após três anos. Inicialmente, a decisão do conde foi bastante criticada, devido ao grande número de pessoas que consideraram a intervenção artística como uma forma de vandalismo. Entretanto, após um tempo, a obra começou a atrair turistas de diversos locais e foi tão aclamada que o conde pediu Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


formalmente às autoridades de preservação do patrimônio histórico para tornar a obra dos gêmeos uma característica permanente do castelo, e assim é até os dias atuais. É interessante observar a mescla de gerações: algo tão moderno contrastando-se com uma construção tão antiga, o que nos permite relacionar com conceitos sobre o Spätzeit de Walter Moser, primeiramente, através da saturação cultural e, em seguida, através da secundariedade. Figura 7: Castelo de Kelburn antes da intervenção

Fonte: Image Friend, 200715

Seguindo a lógica e análise do texto, observamos a reação negativa, que enxerga os destroços do passado como um obstáculo na criação de algo novo. Podemos então citar o castelo que, por si só, é uma grande obra arquitetônica, feita para abrigar e resguardar seus habitantes. É visto como algo pronto, saturado de memórias e informações e que jamais receberia uma intervenção, ainda mais algo tão ousado e fora de sua época – como é o caso do grafite, algo completamente fora do contexto do castelo e que, no trabalho dos gêmeos, aborda temáticas extremamente contemporâneas. Além disso, o castelo traz características não só da arquitetura da 15

Fonte: Castelo de Kelburn antes da intervenção. Disponível em: <http://imagefriend.com/kelburncastle.shtm>. Acesso em: 20 jun. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


época, mas também dos materiais e recursos utilizados que, na visão negativa, não devem ser modificados, não podem ser complementados, são obsoletos. Abordamos também a reação positiva, vendo os destroços do passado como uma oportunidade de se criar algo novo em parceria com o existente. E foi exatamente isso que os gêmeos fizeram: chocaram a reação negativa, que enxerga o passado como obstáculo de criação, e viram no castelo de Kelburn um papel em branco pronto para receber mais de 50 ilustrações diferenciadas, dando continuidade à produção artística e cultural de forma moderna, inesperada, criativa e inovadora. O que se encaixa também na Secundariedade, uma vez que a intervenção da dupla foi feita em algo já construído, algo previamente dado que foi submetido a transformações. Os irmãos resgataram uma obra em estágio primário e através de suas ilustrações transformaram em uma obra secundária, renovando uma construção do passado. Figura 8: Castelo de Kelburn após a intervenção

Fonte: Image Friend, 200716 Figura 9: Castelo de Kelburn

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Fonte: Castelo de Kelburn após a intervenção. Disponível em: <http://imagefriend.com/kelburncastle.shtm>. Acesso em: 20 jun. 2015. Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Blog Altenburg , maio de 201317 Figura 10: Vista lateral do castelo

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Fonte: Castelo de Kelburn. Disponível em:< http://www.altenburg.com.br/blog/tag/castelografitado/>. Acesso em: 20 jun. 2015 Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Fonte: Flickr, julho de 200718 Figura 11: Torre do Castelo de Kelburn

Fonte: Blog Luart, outubro de 200819

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Fonte: Vista lateral do castelo. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/victorybros/sets/72157600792955105/>. Acesso em: 20 jun. 2015. 19 Torre do castelo de Kelburn. Dispoível em: <http://iadmluart.blogspot.com.br/2008/10/osgemeos.html>. Acesso em: 20 jun. 2015 Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 144 – 157, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. Texto recebido: xxxxxx. Texto aprovado: xxxx. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Se, tal como Benjamin apresenta aqui para o barroco, o artista considera e trata os destroços do passado não como um obstáculo à sua criação, mas, ao contrário, como um recurso indispensável, e se empenha de fato na sua reutilização como material, falaremos então de uma produção secundária. (...) Segundo essa teoria, a evolução exclusiva das forças primárias de um sistema levá-lo a um ponto morto; é, então, de seus elementos secundários que o sistema pode tirar suas oportunidades de sobrevivência, em forma de revitalização. Em outras palavras, a desordem dos elementos secundários de um sistema salva-o de uma morte que lhe estaria assegurada se ele não fizesse senão seguir a dinâmica primária da ordem. (MOSER, 1999, p. 4041)

A interpretação da história do castelo e sua época foram fatores importantes no trabalho de sua restauração. O passado sempre influencia a visão moderna, já que os fatos atuais são consequências de atos passados e tudo está diretamente ligado. A secundariedade pode ser encarada no contexto do castelo como experiências recorrentes e expressas de diferentes formas, uma no objeto de intervenção - um castelo datado do século XIII - e a forma de intervenção moderna.

Considerações Finais

Segundo Almeida e Rizolli (2013), arte é uma manifestação humana desenvolvida em razão da necessidade do homem em comunicar algo para alguém. E dessa forma se dá o trabalho DOS GÊMEOS. De forma lúdica e criativa a dupla trabalha em diversos locais, países e materiais criando, criticando, expressando sua opinião sobre diversos assuntos e levando suas obras aos olhos de seu público através da street art. Entendemos que não só os temas trabalhados por eles, mas também a forma com que trabalham são carregados de informações vindas de outras épocas. Bem como o castelo de Kelburn: onde se encontravam escombros os artistas enxergaram uma oportunidade. A obra é uma clara manifestação de intervenção urbana capaz de gerar algum tipo de reação na população, seja por seu aspecto físico ou semântico. O espaço sob um olhar pós-moderno se tornou um meio de troca cultural com a população através de manifestações artísticas, e isso é cada vez mais visível nas cidades.

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Referências bibliográficas ALMEIDA, Marcelo Erick de; RIZOLLI, Marcos. Arte e Comunicação: como os artistas se comunciam com a cidade contemporânea. Faculdade Metodista. São Paulo, UENSCO, 2013. Disponível em: <http://www2.metodista.br/unesco/ecom2013/GT5/13.Arte%20e%20Comunica %C3%A7%C3%A3o_Marcelo%20e%20Marcos.pdf> Acesso em: 23 junho 2015. MOSER, Walter. Spätzeit. In: MIRANDA, Wander Melo (Org.). Narrativas da Modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

Texto recebido: 10.07.2015. Texto aprovado: 28.12.2015

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A arte do grafite com Eduardo Kobra: A capacidade de impactar o público através dessa técnica de ilustração Bruno Gomes de Souza1

Resumo expandido Este trabalho trata da história de Eduardo Kobra, que, influenciado pela cultura hip hop, se tornou um grafiteiro famoso, ao adotar o estilo hiper-realista, fazendo com que seus murais pareçam retratos. Serão apresentadas suas principais ilustrações, as quais se destacaram nos espaços urbanos, tanto no Brasil quanto no exterior. Será abordada a história do grafite, explicando como revolucionou a maneira de fazer arte, apesar de bastante criticado em seu início, por ter sido considerado vandalismo. Serão discutidas as formas de comunicação do artista com o público, aplicando suas técnicas e habilidades com o uso de materiais variados. Serão analisadas as outras formas de expressar do artista, cujos significados são transmitidos por meio de recursos incomuns no universo do grafite. Portanto, este é um estudo aprofundado sobre as técnicas de ilustração de Eduardo Kobra, objetivando melhor compreensão de suas obras. Além disso, será demonstrado o grafite 3D, em que o artista utiliza uma técnica muito antiga capaz de interagir com as pessoas.

Palavras-Chave Ilustração de Eduardo Kobra; Grafite; Significado.

Introdução Eduardo Kobra foi criado na periferia de São Paulo e realizava apenas pichações com grupos de amigos. Nessa época já fazia desenhos, porém, apenas em um caderno. Conheceu a arte do grafite2 através de dois livros americanos: um, chamado “ Subway

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Estudante do curso de Design de Produto manhã da Escola de Design da UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Este trabalho foi orientado pelos professores Eliane Meire Soares Raslan e André Borge da ED/UEMG. E- mail: designskyline06@gmail.com Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 158 – 169, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


Art “ e o outro, “ Spary Can”. Estes mostravam os grafites dos trens e metrôs de Nova Iorque nas décadas de 70 e 80, despertando muito interesse de Eduardo Kobra. Assim, começou a realizar grafites e deixou de lado as pichações, se tornando um expoente da neovanguarda paulista. Seu sucesso teve início quando realizou o projeto “Muros da Memória”, em São Paulo, que demonstra a vida cotidiana das pessoas na década de 20. Seu estilo de traçado hiper-realista é inspirado nos pintores muralistas, como o mexicano Diego Rivera e o brasileiro Di Cavalcanti. Eduardo Kobra gosta tanto de coisas antigas, que coleciona objetos, roupas, carros e chapéus. Em 95, fundou o Estúdio Kobra, onde são realizados painéis artísticos, contando com uma equipe de 12 artistas pelo fato de o grafite ser feito em painéis de grande escala. Já realizou mais de 1000 obras, sendo 100 delas espalhadas por todo o Brasil. Os materiais utilizados são de variados tipos, dependendo do tipo de mural, de textura e da superfície. Dentre os materiais estão o aerógrafo, o pincel e o spray, utilizando tintas acrílicas e tintas automotivas. Com isso, o ilustrador consegue realizar uma obra capaz de interagir com o público, utilizando luz e sombra, cores vivas que geram o aspecto tridimensional. A base de seu trabalho é a memória, ou seja, trabalha com cenas icônicas, personagens que fizeram história e cenas antigas. Segundo o artista, a ideia é provocar nostalgia nas pessoas ao se depararem com suas obras.

História do grafite e sua análise técnica Grafite ou grafito é uma palavra de origem italiana ”graffito”, cujo significado é “escrita feita com carvão”. São desenhos ou inscrições realizadas em paredes das cidades e monumentos na época do Império Romano. Sua popularização aconteceu nos anos 60, em alguns bairros da cidade de Nova York. Estudantes jovens do bairro do Bronx resolveram marcar paredes da cidade com símbolos próprios, utilizando

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Fonte: Significados Grafite. Disponível em: < http://www.significados.com.br/grafite/>Acesso em: 10 Junho 2015

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tinta em spray. Eles desenhavam imagens de protesto contra a ordem social, iniciando um grande movimento de arte urbana.3 O movimento Hip Hop está intimamente ligado ao universo do grafite, pois os desenhos e as mensagens são recursos de expressão contra os malefícios da humanidade e desperta o lado da reflexão em relação à realidade dos menos favorecidos. No Brasil, o grafite teve seu início na década de 70 em São Paulo, na época em que os militares estavam no poder. Porém, o estilo americano não agradou, fazendo com que fossem desenvolvidas técnicas próprias, complementando o toque de “brasilidade”. Com isso, segundo estudiosos do tema, o grafite brasileiro se tornou um dos melhores do mundo. No início, essa forma de ilustração era muito criticada pela maioria da sociedade. Isso se deve pelo fato de que sua expressão era interpretada como um rabisco que provoca poluição visual. Além disso, era considerado um ato de vandalismo. Em contrapartida, o grafite é uma arte de rua, pois, ao contrário da pichação, é uma técnica em que são utilizadas cores com desenhos complexos, transmitindo informações para a sociedade. O grafite é uma forma de expressão, de manifesto registrado em muros de cidades. Além de ser uma arte, é um importante veículo de comunicação urbano alertando a sociedade, isto é, um importante instrumento de protesto que pode ser apreciado pelo público, pois é uma ilustração bem trabalhada, onde se utilizam técnicas interessantes. Uma ilustração é capaz de transmitir ideias variadas, pelo fato de as pessoas apresentarem diferentes pontos de vistas. O grafite em si é uma arte urbana que expressa a ideia que o autor quer passar para a sociedade, fazendo com que as pessoas reflitam sobre um determinado tema. Cada artista tem uma personalidade, um estilo, refletido através das cores utilizadas, do traço e do ambiente onde quer mostrar sua arte. Eduardo Kobra desenvolveu o projeto “Muros da Memória” que busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade, seguindo os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo. Com o seu 3

Fonte: Blog Graffiti Arte. Disponível em: <http://graffitiartece.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html> Acesso em: 10 junho 2015.

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modo peculiar de criar, ele adere, interfere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século XX, fazendo uma junção entre nostalgia e modernidade. O resultado são as pinturas cenográficas, algumas monumentais, fazendo com que as pessoas que ali passam, possam vivenciar a época então retratada. Isso é possível devido à técnica utilizada pelo autor, capaz de sensibilizar as pessoas através da riqueza de traços, luz e sombra, resultando em uma série de murais tridimensionais que permitem ao público interagir com a obra. Portanto, é visto que o artista valoriza o passado da cidade, combinado com o aspecto romântico, transformando o ambiente de constante agitação característico de um grande centro como a cidade de São Paulo. É importante frisar que Eduardo Kobra sempre está se informando sobre novas formas de se fazer um grafite, utilizando novas tecnologias e materiais reciclados no Brasil e no exterior. Fig.01: Projeto Muros da Memória

A maneira como foi realizada esta obra faz despertar o lado emocional de determinadas pessoas em diferentes aspectos.

Fonte: Vilamundo4 Como dito anteriormente, a utilização dos materiais é um dos fatores que determinam o estilo do artista. A escolha do material dependerá do tema que Eduardo Kobra irá fazer. As cores, por exemplo, são importantes na significação da obra. O 4

Disponível em:<www.vilamundo.org.br> Acesso em: 04 junhos 2015

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projeto “Muros da Memória” possui apenas tons de cinza, cor preta e branca, dando ideia de antigo, nostálgico que o artista quer transmitir para o público. “[...] todo artefato material possui também uma dimensão imaterial, de informação.” (Cardoso 2012, p.111). O público, ao se deparar com uma determinada obra, começa a imaginar, abstrair, sonhar. Se os artefatos carregam informações, necessariamente, e estas têm sua origem nas associações que fazemos entre aparências e contextos, então é possível induzir o usuário, por meio da aparência, a depreender do objeto determinadas ideias. (CARDOSO, 2012, p.112)

Fig.02: Materiais utilizados

Fonte: Paginacultural5

Fig.03: Recurso geométrico

Fonte: ffw6

Além de utilizar materiais de pintura em sua obra, o artista utiliza outros recursos para chamar atenção do público. O trabalho de Eduardo Kobra não se resume apenas em grafites de muros em ambientes urbanos. Ele também realiza ilustrações em produtos de grande porte, como por exemplo, veículos. Importante ressaltar que, em um de seus trabalhos de grafite, ele utilizou tanto uma tela quanto um carro, fazendo com que as junções desses dois elementos se tornassem uma obra apenas. Através dessa técnica, ele gera significações interessantes. A ideia de mesclar o painel com o carro mexe com a percepção do observador, visto que o veículo em si é algo concreto, palpável, despertando sensações. Por exemplo, o modelo fornecido pela empresa Hot Wheels a ser utilizado por Eduardo Kobra é um Ford Maverick, cujo veículo é do final da década de 60. Com isso podese atribuir significados, isto é, por ser um carro antigo, a obra pode sugerir para um

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Disponível em: < www.paginacultural.com.br> Acesso em: 02 junho 2015. Disponível :< www.ffw.com.br> Acesso em: 02 junho 2015

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determinado observador o significado de nostalgia, fazendo com que a pessoa relembre seus tempos de infância. As aparências características dos objetos nos remetem a vivências, hábitos e até pessoas que associamos ao contexto em que estamos acostumados a deparar com eles. Mais uma vez, o mecanismo prioritário de identificação do sentido é a memória. (CARDOSO, 2012, p.110)

O uso da técnica de pintura no veículo em si também gera um determinado significado, isto é, o carro esportivo foi pintado com traços característicos da Hot Wheels. Uma pessoa e até mesmo uma criança, que se depara com a obra, irá sugerir que a mesma, como um todo, transmite a ideia de uma criança segurando um carro de brinquedo. Ao considerarmos que cada significado só existe dentro de um sistema maior, faz se possível compreender que significado formal é mais processo do que coisa. Melhor falar então, então, “em significação”, ou seja: o processo mediante o qual significados vão sendo acrescentados, subtraídos e transformados em relação ao conjunto total das formas significativas. (CARDOSO, 2012, p.131)

O formato do carro em si, expressa um significado, por exemplo, o Ford Maverick aos olhos de um amante de carros irá sugerir que o veículo, por apresentar linhas esportivas, desperta o lado criança de qualquer pessoa adulta que aprecia velocidade. “Os objetos são capazes de significar alguma coisa por meio de sua aparência.” (CARDOSO,2012, p.108). O objeto inserido na obra é capaz de transmitir significados, fazendo com que a ilustração como um todo tenha determinadas interpretações. Importante ressaltar que o artista nessa obra, em específico, divulga uma marca através de sua técnica de pintura. Um recurso que causa impacto para um determinado público em questão. Trata-se de uma empresa de brinquedos muito famosa e, portanto, ao ver a estampa Hot Wheels em um veículo de tamanho real, um determinado público, como por exemplo, as crianças se sentirão atraídas pela obra. Há anos as pessoas associam que o divertimento de um menino está intimamente ligado a carros. Além disso, observa-se que a marca Hot Wheels, inserida propositalmente no carro pelo autor, por exemplo, mostra claramente que se trata de divertimento infantil. Alguns arquétipos têm histórias milenares, com geração após geração produzindo suas interpretações particulares de um dado formato. Esses são arquétipos que, de tão universais, se tornaram invisíveis, cada versão

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avançando a partir das precedentes para renovar continuamente os parâmetros básicos. (SUDJIC, 2010, p.60)

O elemento Ford Maverick aos olhos de um observador conhecedor da história automotiva pode transmitir uma ideia, de forma imediata, que o carro é um veículo de competição sem precisar observá-lo em ação. Isso ocorre em função de o artista ter inserido elementos que caracterizam o veículo. O efeito de bandeira quadriculada, por exemplo, representa a corrida há anos, isto é, muitas gerações já têm esse conhecimento em mente. A associação de um carro com uma arma letal pode parecer um tanto infeliz, mas tem uma atração poderosa. A combinação ponto vermelho/pintura preta no Golf e na Tizio pode não parecer decoração, mas, assim como um padrão de folha de acanto na arquitetura clássica ou num dos papéis de parede de padrões florais William Morris, tem como objetivo dar a deixa para uma resposta emocional ao objeto. (SUDJIC, 2010, p.66)

Os americanos, na época, produziram carros com motores grandes com um design robusto e agressivo, fazendo com que surgisse uma nova categoria, isto é, os pony cars. A própria Ford iniciou esse segmento lançando o Ford Mustang. Posteriormente, as demais montadoras do país resolveram seguir o mesmo caminho, tornando o mercado bastante competitivo. Assim essa categoria de carros se tornou um ícone na indústria automotiva, onde se observa o arquétipo. “Uma geladeira, uma bota de esqui, uma jaqueta impermeável, até um tomógrafo ou um aplicador de insulina são objetos que podem ser desenhados de modo a sugerir uma personalidade”. (SUDJIC, 2012, p.56) Fig.04: Desenvolvimento da obra

Fonte: Caras7 7

Fonte: Revista Caras. Disponível em: <www.caras.uol.com.br> Acesso em: 20 Junho 2015.

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Fig.05: Mural Hot Wheels

Fonte: Vemais8

O uso de cores fortes distribuídas de maneira geométrica, como, por exemplo, rostos de personagens que são encobertos com formatos geométricos de cores variadas, pode transmitir uma determinada mensagem, causando um determinado impacto ao público, pois é uma técnica que foge dos padrões, fazendo com que as pessoas reflitam sobre a obra em si. De forma geral, suas obras são bem contrastantes, fazendo com que se destaquem nos centros urbanos. Portanto, essa variedade de cores e elementos geométricos, pode ser uma forma de despertar a atenção das pessoas. “O ser humano parece se deleitar com a variedade, por motivos psicológicos profundos.” (CARDOSO,2012, p.107) O seu estilo lembra pinturas famosas em função de sua técnica ser muito precisa em relação ao traço e ao acabamento. Isso faz com que o grafite em si pareça uma obra de arte do estilo de Da Vinci, por exemplo. Porém, Eduardo Kobra rompe com essa maneira de fazer arte implementando seu estilo, podendo causar uma

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Fonte: Vemais. Disponível em:<www.paginacultural.com.br> Acesso em: 20 junho 2015.

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determinada reação ao público. Portanto, o uso de cores contrastantes, combinados com técnicas de pinturas é uma forma de comunicação com o público. Eduardo Kobra realizou grafites no exterior aplicando o mesmo estilo, isto é, o estilo hiper-realista, utilizando cores vibrantes com luz e sombra. Porém, se trata de países que possuem culturas diferentes, interferindo na maneira de observar do público em questão. Os personagens inseridos na obra contêm uma história, uma cultura que causará impacto apenas para o público de um determinado país. Qualquer camisa de time de futebol é capaz de suscitar uma resposta emocional que nada tem a ver com sua natureza como peça de vestuário. As camisas do Flamengo ou do Corinthians costumam provocar reações apaixonadas, a favor ou contra, pois as “maiores torcidas do Brasil” só perdem em número para a legião de torcedores de outros times que voltam suas energias contra elas. Isso nada tem a ver com qualidades intrínsecas ao vermelho e ao preto, por exemplo, como poderia postular alguém preocupado com os significados das cores. Tem a ver, simplesmente, com a identificação que se faz entre a camisa, sua torcida e toda uma cultura própria à história do futebol brasileiro. Um estrangeiro que olhasse para essa camisa, pela primeira vez, dificilmente esboçaria qualquer tipo de reação emocional. (CARDOSO,2012, p.108)

Fig.06: Mural do Monte Rushmore

Fonte: Paginacultural9

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Disponível em :< www.paginacultural.com.br> Acesso em Jun. 2015

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Logo é visto que através dos elementos de uma obra em si é capaz de passar uma ideia imediata para o público, pelo fato de o mesmo possuir um determinado conhecimento adquirido, isto é, são observados arquétipos responsáveis em transmitir uma ideia aos olhos do observador. Verifique abaixo seu trabalho (fig. 07). Fig.07: Materiais utilizados

Fonte: Casaclaudia10

Um determinado público, ao se deparar com a obra pode se sentir atraído imediatamente, pois o artista realiza sua arte em grandes painéis e superfícies, isto é, são obras de grande porte que se destacam em centros urbanos. Logo, essa forma de fazer grafite pode causar uma reação nas pessoas, ou seja, o nível visceral da emoção. O design visceral é o que a natureza faz. Nós, seres humanos, evoluímos para coexistir no ambiente com outros seres humanos, animais, plantas, paisagens, condições climáticas, e outros fenômenos naturais. Como resultado disso, somos singularmente sintonizados para receber poderosos sinais emocionais do ambiente, que são interpretados automaticamente no nível visceral. (NORMAN, 2004,p.87)

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Fonte: Casaclaudia. Disponível em: < www.casaclaudia.abril.com.br > Acesso em Junho de 2015

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 158 – 169, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


O impacto através da utilização de cores vivas, em função do contraste que provoca com os tons de cores da cidade em geral, chama atenção das pessoas. Segundo Norman (2004), o uso de cores alegres, primárias, torna algo prazeroso de se ver. Outra técnica utilizada pelo artista é a pintura anamórfica, cujo propósito é provocar o efeito tridimensional em superfície plana, como por exemplo, em calçadas e ruas. É uma pintura distorcida e funciona quando vista apenas sob um determinado ângulo. Há dois nomes que se destacam nessa técnica: Julian Beever e o Kurt Wenner. Porém, essa forma de arte existe desde 1500, da época do Renascimento. A ideia principal é interagir com o público de forma que o mesmo sinta que está fazendo parte da obra. É uma técnica que exige um olhar bem treinado do artista, realizando um traço preciso e a utilização correta de luz e sombra pra causar efeito de profundidade. Isso mexe com o olhar do público fazendo com que tenha uma determinada reação, ou seja, essa técnica é um outro meio de o artista comunicar com o público, despertando o lado visceral da emoção.“O design visceral é todo relacionado ao impacto emocional imediato”.(NORMAN,2004,p.90) Fig.08: Ilustração de outro ângulo

Fonte: Street11

Fig.09: Ilustração do ângulo correto

Fonte: Bocaberta12

Considerações Finais Através dos trabalhos de Eduardo Kobra, é possível observar o grafite de maneira aprofundada, isto é, prova que a obra de arte pode ser expressa em um espaço urbano de forma que sensibilize as pessoas, induzindo-as a refletir, degustar e até 11 12

Disponível em: <www.street.ig.com.br> Acesso em: 16 junho 2015 Disponível em: < www.bocaberta.org> Acesso em: 16 junho 2015

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 158 – 169, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


mesmo se sentirem parte da arte. O grafite é um instrumento de comunicação, de expressão. Muitas técnicas são exploradas no intuito de dar um sentido, um valor para a obra. O espaço urbano, através do grafite, ganha personalidade, destacando muros, casas e prédios, isto é, possui a capacidade de propiciar uma mudança significativa na arquitetura urbana. Uma forma de arte pública, onde pessoas de qualquer classe, personalidade e estilo possam observar suas obras. É visto que outras técnicas para realizar grafite são exploradas para causar um determinado impacto para o público, isto é, o artista sempre busca outras formas de expressar suas ideias, não ficando preso à ideia de que o grafite é apenas ilustrar muros. Eduardo Kobra busca sempre inovar na maneira de fazer o grafite, fazendo com que sua arte ganhe outras significações, conceitos. Num grafite que foge dos padrões, revolucionando a arte urbana. Seus trabalhos bem executados permitem uma interação, isto é, a complexidade de sua ilustração faz com que a obra como um todo tenha conteúdo rico que permite fazer reflexões, gerar opiniões e despertar sentimentos para o público. Em função disso, o grafite está sendo aceito pela sociedade de forma gradativa. Isso é fundamental para o crescimento moral e de senso estético do indivíduo. A comunicação que o grafite realiza em centros urbanos, atualmente, está cada vez mais intensa, mais impactante, contagiando o público.

Referências Bibliográficas

CARDOSO, R. A vida e a fala das formas: Significação como processo dinâmico. In: Design para um mundo complexo.São Paulo: Cosac Naily, 2012. p. 99-168. SUDJIC,D. O design e seus arquétipos. In: A linguagem das coisas.Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010. p.53-89. NORMAN, D. Três Níveis de Design: Visceral, Comportamental e Reflexivo. In: NORMAN, D. Design Emocional.São Paulo: Rocco, 2004. p.85-123.

Texto recebido: 08.07.2015. Texto aprovado: 28.12.2015

Revista Legenda Quadrinhos. Escola de Design da UEMG. Belo Horizonte, vol. 3, n. 2, p. 158 – 169, 2º semestre/2016. ISSN 2447-2638. <https://legendaniquemg.wordpress.com/>


ENTRE


EVISTAS


ENTREVISTA COM

BRUNO RUSCÃO “Eu No Mundo Da Lua” www.facebook.com/eunomundodalua

Nacionalidade: Brasileiro Naturalidade: Carioca

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REVISTA LEGENDA: Como começou seu interesse pelo trabalho que faz hoje? RUSCÃO: A criação do Eu no Mundo da Lua foi um processo muito natural. Eu sempre gostei de desenhar, desde criança... Sempre estive rabiscando e fazendo rascunhos de desenhos aleatórios nos meus cadernos. Também sempre gostei de criar. A criação é uma paixão muito predominante na minha vida: histórias, desenhos, personagens, maquetes, jogos... não importava o que eu criasse: o fato de criar em si é o que sempre me deu mais prazer. A minha profissão hoje em dia é a área de Design Gráfico, então como sempre gostei de desenhar, decidi me aprofundar mais na área Ilustração. Foi nesse período que eu tive a ideia de criar uma página com as minhas loucuras do dia-a-dia; mesmo que esse desejo fosse algo meio distante para mim, naquela época. Eu criava algumas tirinhas soltas sem muito compromisso e armazenava elas nas pastas do meu computador. Quando eu menos percebi, eu tinha material o suficiente para quase dois meses de conteúdo para a página. Eu ainda não estava preparado para inaugurarala, mesmo com todo esse conteúdo. Eu não sabia onde aquilo ia dar e como as pessoas iam receber, mas eu chutei a porta da barraca e inaugurei a página mesmo assim. Hoje é muito satisfatório ver o resultado disso tudo; amo fazer o que faço e tenho muito o que percorrer ainda. É engraçado olhar para trás e ver que tudo que eu praticava e gostava de fazer na infância, reflete em mim no que sou hoje: no caminho que trilhei até aqui. Essa sensação é maravilhosa, e por isso quero levar esse projeto adiante por muito tempo ainda. REVISTA LEGENDA: Quais foram as maiores dificuldade por que passou? RUSCÃO: Eu me inspiro na minha própria vida, nas coisas que eu penso e vivencio, nas minhas filosofias mirabolantes sobre a vida e de como eu enxergo o mundo. “Eu no Mundo da Lua” é um nome que reflete muito isso e representa muito o que eu sou realmente. Eu tenho o meu o meu amigo, Lucas, que me ajuda com as tirinhas desde o começo. Ele também deve se inspirar na vida dele quando ele me sugere suas ideias. E eu também gosto de me inspirar na vida das pessoas ao meu redor, nos acontecimentos do cotidiano... Enfim, a minha grande inspiração é esse mundo lunático em que nós vivemos. Hahaha.


REVISTA LEGENDA: Qual a tecnica que você usa e como chegou até ela? RUSCÃO: Putz! Quando eu me interessei por ilustração, deu um trabalhão até eu definir o meu estilo. Fiquei cerca de um ano variando, tentando estilos diferentes, mas eu sempre gostei de ilustrações com essa pegada mais fofa com cores de tons pastéis e decidi seguir essa linha. Eu acabei me inspirando muito nos traços da Hora de Aventura, mas com o tempo eu fui dando mais a minha cara e deixando a minha marca nos meus desenhos. Minhas ilustrações são totalmente digitais (no começo eu desenhava no papel e digitalizava depois, mas hoje em dia eu faço tudo digitalmente mesmo). Eu sou apaixonado por cores e estudei muito sobre elas para aplicar nos meus desenhos. Eu gosto de fazer o uso do significado e das sensações que elas passam de acordo com o que eu quero transmitir naquela determinada ilustração. Se a tirinha se trata de algo feliz, costumo usar o laranja para expressar essa “eletricidade”; caso se trate de algo triste, eu costumo a usar o roxo. Sempre seguindo essa linha, usando cores que realmente transmitam aquilo que eu quero passar. Esse tipo de estudo é muito interessante, onde procuro melhorar esses aspectos mais e mais, a cada ilustração nova que eu faço. REVISTA LEGENDA: Tem outros projetos futuros em mente? RUSCÃO: Sim, sim! Quero expandir as minhas ilustrações para estampas de camisas, de canecas e capas para celulares e tudo que aparecer aí e que o pessoal queira ter. Eu também penso em criar um livro com esses personagens, já que eu gosto bastante de escrever, mas isso é uma ideia muuuito distante ainda. Quem sabe, né? REVISTA LEGENDA: Qual sua obra favorita, e por que? RUSCÃO: Eu gosto muito da Hora de Aventura. É um desenho com traços ingênuos e infantis, mas que tem um grande poder de passar uma mensagem maior para pessoas de diversas idades diferentes. Preso muito por essa expressividade, e é uma das características que tento passar para as minhas ilustrações: algo que as pessoas consigam entender o que quero dizer através dos meus traços; com muita loucura, ousadia e bom humor. xD.


REVISTA LEGENDA: Qual a maior lição aprendida com esse trabalho? RUSCÃO: O mundo fica muito mais bonito quando estamos desenhando, isso é fato. Desenhar é terapia. E a melhor de tudo é as pessoas reconhecerem o seu trabalho e conseguirem se identificar com ele. Eu fiz algumas tirinhas sobre o amor, por exemplo (eu gosto de abordar muito esse tema). Então as vezes converso com pessoas que acompanham o meu trabalho, e elas me contam histórias de como se inspiraram em alguma dessas tirinhas para ir atrás de quem elas gostam, ou pedem a minha opinião sobre alguma coisa... É muito gratificante ver que minhas ilustrações estão conseguindo passar algo bom para elas; uma inspiração, um momento de descontração, um momento de felicidade e entretenimento... Essa é a minha ideia desde o início, compartilhar essa minha visão do mundo com as pessoas.

Afinal, viver no Mundo da Lua

é isso: conduzir a sua vida à sua maneira, ter uma visão otimista sobre o mundo e não desistir

nunca do que você deseja para si mesmo. Essa é a maior licão que

eu aprendi com esse trabalho, e é

também a maior licão que eu quero passar para as pessoas que estão por aí, sobrevivendo.

ENTREVISTA INDIVIDUAL Realizada por e-mail por: Louise Gonzaga Machado e-mail: legenda-niq@hotmail.com Membro da equipe Legenda Quadrinhos. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil Data da entrevista: 16 de junho de 2016, 17:26


ENTREVISTA COM

RENAN ALVES “Song Fuê”

www.destinatariotheo.wordpress.com

Nacionalidade: Brasileiro Naturalidade: ---

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REVISTA LEGENDA: O que te levou a se interessar pelo trabalho que tem hoje? ALVES: Sempre gostei de desenhar. As primeiras evidências concretas vieram quando a minha professora da pré-escola me deu de presente um bloco de folhas, para que eu parasse de preencher as apostilas. Quando eu tinha 11 anos, conheci o artista Ziraldo em uma palestra do colégio. Ele me arranjou um patrocinador e consegui publicar minha primeira HQ (a única até agora), com 120 páginas. REVISTA LEGENDA: Quais dicas você têm para ilustradores que buscam se tornar quadrinistas? ALVES: Bom, eu ganho a vida como ilustrador e animador, nunca publiquei nada profissional como quadrinista. Mas no âmbito geral, no meu caso, a questão foi puro estudo, muitas vezes precisei virar várias noites seguidas para aprender algo novo, desenvolver soluções para uma ilustração. Eu sempre penso que enquanto eu não estiver evoluindo, alguém estará fazendo isso no meu lugar. Eu sempre gostei de escrever histórias e ler quadrinhos. É o que eu desejo para o meu futuro desde que era uma criança, mas eu precisava de uma técnica consistente para assegurar ao público que valia a pena gastar seu tempo vendo o que eu tinha para apresentar. REVISTA LEGENDA: O que você tem a dizer sobre a valorização do mercado de quadrinhos? ALVES: Do ponto de vista nacional sou bem otimista. No último FIQ fui apenas com o intuito de adquirir exemplares brasileiros e saí extremamente satisfeito. Acredito que o mercado de quadrinhos nacional está encontrando a sua identidade e fazendo bom uso dela. Internacionalmente as coisas também vão bem, mas por outro caminho, a mídia excessiva de super-heróis fez parecer que o mercado se resumiu a isso. Não que seja ruim, mas eu tendo a sentir um certo medo de um colapso quando essa febre passar. REVISTA LEGENDA: Qual técnica você utiliza? ALVES: Depende da situação e do que eu preciso passar, eu vejo o que é melhor mídia condutora para a questão e aplico, de acordo com as técnicas que eu domino. Atualmente ando puxando minhas ilustrações mais para uma lineart de Nankin e acabamento em aquarela Para quadrinhos, eu costumo usar o preto e branco do guache e nankin


REVISTA LEGENDA: Conte sobre uma de suas obras favoritas e a técnica que usou nela. ALVES: Gosto muito da minha pintura do Shadow of the Colossus, fiquei realmente obstinado para terminar ela, passando dia e noite no trabalho. Fiz a pintura puramente com guache e o resultado me deixou muito satisfeito. REVISTA LEGENDA: Quais perguntas faltaram que você gostaria de responder? ALVES: Recomendações de leitura, talvez... Ano passado conheci o Daytripper, do Fábio Moon e Gabriel Bá, foi o melhor quadrinho que li em 2015, entrou para a minha lista de favoritos, junto com V for Vendetta (Alan Moore) e Éden – Um Mundo Infinito (Hiroki Endo).

ENTREVISTA INDIVIDUAL Realizada por e-mail por: Ana Beatriz de Lima e-mail: legenda-niq@hotmail.com Membro da equipe Legenda Quadrinhos. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil Data da entrevista:novembro 2015.


SHADOW OF THE COLOSSUS



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