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UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO LOUISE RODRIGUES DE LIMA

ALVORADA VIVA: UMA PROPOSTA DE RESGATE DAS ÁREAS DE CONVÍVIO E DA IDENTIDADE LOCAL

VILA VELHA 2016


LOUISE RODRIGUES DE LIMA

ALVORADA VIVA: UMA PROPOSTA DE RESGATE DAS ÁREAS DE CONVÍVIO E DA IDENTIDADE LOCAL

Dissertação apresentada à Universidade Vila Velha, como pré- requisito da graduação em Arquitetura e urbanismo, para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

VILA VELHA 2016



“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.” Eleanor Roosevelt


Agradecimentos Primeiramente a Deus por iluminar meu caminho e me dar forças para persistir a continuar. À Ana Paula Rabello Lyra pela dedicação, paciência e palavras de estímulo; ao Clóvis Aquino Cunha, pela aceitação do convite para participar como segundo membro da banca e pelo encorajamento durante o período de elaboração deste trabalho nas vezes que nos encontramos pelo corredor; aos demais professores da Universidade Vila Velha do departamento de arquitetura e urbanismo, que muito contribuíram e acrescentaram à minha formação. À Janine Gomes da Silva, pela amizade, pelas primeiras lições sobre arquitetura e por ter sido uma das primeiras pessoas a acreditar e me encorajar a cursar a graduação em arquitetura e urbanismo. Em especial à minha mãe Edna Maria de Lima, pelo amor, pelo apoio financeiro, emocional e pela paciência em me ouvir ler mil e uma vezes os capítulos deste trabalho; ao meu irmão Edison Rodrigues M. Jr. e ao meu pai Edison Rodrigues Marcelino pelo amor e pelo auxílio à minha formação; aos demais familiares, pela harmoniosa convivência familiar, que apesar da grande distância sempre foram muito presentes e me estimularam; aos meus amigos, meus colegas de trabalho, em especial minha chefe Elissa Maria Marchiori Frinhani pelo companheirismo e pela compreensão me liberando alguns dias do emprego para a realização deste trabalho; e finalmente, à todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente, com sugestões e informações para a realização deste trabalho, muito obrigada.

Louise Rodrigues de Lima


Resumo

A temática deste trabalho articula a relevância do papel de espaços públicos na estrutura da cidade e da vida urbana com o conceito da humanização. Este estudo trouxe subsídios para o desenvolvimento de um projeto urbanístico paisagístico com a proposta de oferecer espaços adequados para o convívio e a prática de atividades esportivas e culturais, contribuindo para atender a uma demanda da população do bairro Alvorada e incentivar a apropriação de um terreno ocioso e vazio através da elaboração de um projeto de uma praça para a comunidade local. . O texto se inicia pelo estudo do espaço público, sua importância no cenário urbano e as relações entre a estrutura destes espaços e as forma de apropriação. Apresenta um estudo de intervenções urbanas em áreas vulneráveis através da humanização do espaço público desenvolvidas em duas cidades da América Latina que possuem resultados práticos que serviram como referência na elaboração do presente estudo . Prossegue através da identificação e caracterização da área de intervenção e menciona algumas análises sobre as formas de apropriação e a estrutura física da área de projeto e aponta as prioridades do projeto urbanístico paisagístico para a área. O resultado contemplou uma nova composição paisagística que foi de encontro aos anseios dos moradores da área de estudo, visto que a área carecia de vegetação, equipamentos urbanos e usos que acomodassem as atividades atuais e atraíssem novas formas de apropriação saudáveis das áreas livres de uso público do bairro.

Palavras chaves: espaço público; espaço livre; vitalidade urbana.

praça pública; segurança urbana;


ABSTRACT

The theme of this work articulates the important role of public spaces in the structure of the city and urban life with the concept of humanization. This study provided support for the development of a landscaped urban project with the proposal to provide adequate spaces for socializing and the practice of sports and cultural activities, contributing to meet a Alvorada neighborhood population demand and encourage ownership of an idle land and void by drafting a project of a square for the local community. . The text begins with the study of public space, its importance in the urban setting and the relationship between the structure of these spaces and the form of appropriation. It presents a study of urban interventions in vulnerable areas through the humanization of public space developed in two Latin American cities that have practical results that served as a reference in the preparation of this study. Proceeds through the identification and characterization of the intervention area and mentions some analysis of the forms of ownership and the physical structure of the project area and points out the priorities of landscaped urban project for the area. The result included a new landscape composition that was against the wishes of the residents of the study area, since lacking area of vegetation, urban equipment and uses acomodassem current activities and attracted new forms of healthy ownership of open spaces for public use the neighborhood.

Key words: public space; free space; public square; urban security; urban vitality.


LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ação educativa com trabalho de mímicos na cidade de Bogotá, Colômbia. .................................................................................................................................. 19 Figura 2. Estação Calle 76 do sistema de transporte público coletivo TRANSMILÊNIO ....................................................................................................... 20 Figura 3. A transformação espacial e estrutural de Bogotá com a construção de calçadas largas e ciclovias. ....................................................................................... 20 Figura 4. Mapa da Rede de bibliotecas públicas de Bogotá, denominado "BiblioRed". .................................................................................................................................. 21 Figura 5. Localização dos polígonos das ações e de formação do programa PRIMED(1992-2001) ................................................................................................. 23 Figura 6. Localização dos Projetos Urbanos Integrais (2004-2011). ........................ 25 Figura 7.Sistema de transporte público por teleférico denominado "Metrocable". .... 26 Figura 8. Escadas rolantes implantadas para facilitar o acesso nas áreas mais íngremes. .................................................................................................................. 26 Figura 9. Parque La Candelaria, Medellín, Colômbia ............................................... 27 Figura 10. Parque Biblioteca España, Medellín, Colômbia. ...................................... 27 Figura 11. Localização da área de estudo e do bairro Alvorada dentro da Região Administrativa 04 do Município de Vila Velha/ ES. .................................................... 30 Figura 12. Planta do Loteamento e Arruamento do Bairro Alvorada aprovado em 1957. ......................................................................................................................... 31 Figura 13. Vista da praça do bairro Alvorada mencionada na Lei Ordinária nº1,754, em 2015. ................................................................................................................... 32 Figura 14. Vista da Rodovia Carlos Lindemberg a partir do canteiro central. ........... 33 Figura 15. Bloco Só Capim Canela na década de 90 pelas ruas do Bairro Alvorada. .................................................................................................................................. 36 Figura 16. Localização do Campinho do Alvorada. .................................................. 37 Figura 17. Treino do Projeto social Alvorada Alvoradinha no Campinho do Alvorada em 2013. ................................................................................................................... 38 Figura 18. Micareta fora de época Alvorada Folia em 2008 no “Campinho do Alvorada”. .................................................................................................................. 38 Figura 19. Mapa da malha viária. ............................................................................. 39 Figura 20. Vista das ruas, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua B. ................... 40 Figura 21. Vista das ruas, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua Itaóca. ............ 40 Figura 22. Vista do terreno à partir das ruas limítrofes da área, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua B. ........................................................................................... 40 Figura 23. Mapa hierarquia viária. ............................................................................ 41 Figura 24. Mapa de usos. ........................................................................................ 42 Figura 25. Mapa de gabarito..................................................................................... 43 Figura 26, Mapa VI – Zoneamento Urbano. ............................................................. 44 Figura 27. Vista das faces laterais da área de intervenção composta por muros e fachadas cegas. ........................................................................................................ 45 Figura 28. Detalhe do levantamento planialtimétrico cadastral do município de Vila Velha. ........................................................................................................................ 46 Figura 29. Mapa de infraestrutura urbana. ............................................................... 47


Figura 30. Condição das calçadas das vias na área de estudo................................ 48 Figura 31. Iluminação pública nas vias da área de estudo. ...................................... 49 Figura 32. Formas de apropriação encontradas na área de estudo. ........................ 49 Figura 33. Delineamento da área de intervenção. .................................................... 56 Figura 34. Croqui do setor de vivência para jovens, próximo ao circuito de skate. .. 59 Figura 35. Vista do acesso à Praça pela Rua Itaóca ................................................ 59 Figura 36. Croqui do espaço de atividades físicas para idosos. ............................... 60 Figura 37. Croqui da planta baixa do caminho das águas. ....................................... 61 Figura 38. Vista do caminho das águas. .................................................................. 61 Figura 39. Croqui da fachada do Centro comunitário e acesso à praça pela Rua B. .................................................................................................................................. 62 Figura 40. Vista a partir do interior da Praça do acesso pela Rua Jundiaí. .............. 62 Figura 41. Implantação da Praça Campinho. ........................................................... 63 Figura 42. Perspectiva da Praça - Campo de futebol .............................................. 64 Figura 43. Perspectiva da Praça - Fachada do Centro comunitário (Rua B). .......... 64 Figura 44. Perspectiva da Praça - Horta Comunitária. ............................................ 65 Figura 45. Perspectiva da Praça - Espaço de mesas. ............................................. 65 Figura 46. Perspectiva da Praça - Acesso a praça pela Rua Jundiaí. ..................... 66 Figura 47. Perspectiva da Praça - Caminho das águas. .......................................... 67 Figura 48. Perspectiva da Praça - Espaço infantil. ................................................... 67 Figura 49. Perspectiva da Praça - Espaço do idoso. ................................................ 68 Figura 50. Perspectiva da Praça - Espaço dos jovens. ............................................ 68 Figura 51. Perspectiva da Praça - Circuito de Skate. ............................................... 69 Figura 52. Perspectiva da Praça - Esquina da Rua B com a Rua Jundiaí. ............... 69 Figura 53. Perspectiva da Praça - Alameda viva - vista sentido Rua Itororó – Rua B. .................................................................................................................................. 70 Figura 54. Perspectiva da Praça - Alameda viva - vista sentido Rua B - Rua Itororó. .................................................................................................................................. 70

LISTA DE TABELAS Tabela 1.Tipologias de espaço público. .................................................................... 10 Tabela 2. Tabela Resumo ......................................................................................... 29 Tabela 3. Faixa etária população total e distribuição populacional por gênero e faixa etária nos bairros da região IV do município de Vila Velha, 2010. ............................ 34 Tabela 4. Valor nominal médio de pessoas com mais de 10 anos e com rendimento, nos bairros da região 04 do município de Vila Velha, 2010. ..................................... 35 Tabela 5. Fragilidades apontadas na análise da área de estudo. ............................. 50 Tabela 6. Potencialidades apontadas na análise da área de estudo. ....................... 50


LISTA DE SIGLAS

BRT.- Bus Rapid Transit, tradução: ônibus de tráfego rápidoONG’s - Organizações Não GovernamentaisONU - Organização das Nações Unidas PMVV – Prefeitura Municipal de Vila Velha PUI - Projetos Urbanos Integrados SEMDU - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Mobilidade da Prefeitura Municipal de Vila Velha SEMPLA - Secretaria Municipal de Planejamento Orçamento e Gestão RMGV - Região Metropolitana da Grande Vitória


SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 3

1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA...................................................... 3 1.2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 5 1.3. METODOLOGIA ................................................................................................. 5 2 O ESPAÇO PÚBLICO COMO ALTERNATIVA PARA A HUMANIZAÇÃO DE ÁREAS URBANAS ..................................................................................................... 8 2.1. CONCEITO, HISTÓRIA, TIPOLOGIAS E FUNÇÕES DO ESPAÇO PÚBLICO .. 8 2.2. A IMPORTÀNCIA DO ESPAÇO PÚBLICO NA CIDADE .................................. 12 2.3. A RELAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS E AS FORMAS DE APROPRIAÇÃO: UM CONCEITO PARA UMA ESTRUTURA HUMANIZADA........................................................................................................... 15 3 EXPERIÊNCIAS DE TRANSFORMAÇÕES DO CENÁRIO URBANO DE ÁREAS VULNERÁVEIS ATRAVÉS DA HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO 18 3.1. REFERENCIAIS DA AMÉRICA LATINA: BOGOTÁ E MEDELLÍN ................... 18 3.2. CONTRIBUIÇÕES PARA INTERVENÇÕES EM ÁREAS SOCIALMENTE VULNERÁVEIS ......................................................................................................... 28 4

CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO ............................. 30

4.1. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................. 30 4.2. HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO TERRITORIAL ......................................... 31 4.3. PERFIL SOCIOECONÔMICO .......................................................................... 33 4.4. IDENTIDADE CULTURAL ................................................................................ 35 4.5. TIPOLOGIA DA MALHA ................................................................................... 39 4.6. HIERARQUIA VIÁRIA ....................................................................................... 41 4.7. USOS ................................................................................................................ 42 4.8. GABARITO ....................................................................................................... 43 4.9. ZONEAMENTO URBANÍSTICO ....................................................................... 44 4.10. VISUAIS............................................................................................................ 45 4.11. TOPOGRAFIA E MASSA DE VEGETAÇÃO .................................................... 46 4.12. INFRAESTRUTURA URBANA ......................................................................... 47 4.13. ANÁLISE DAS APROPRIAÇÕES URBANAS................................................... 49 4.14. FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES DA ÁREA ......................................... 50 5

PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO: ALVORADA VIVA .................................... 53

5.1. CONCEITO E PARTIDO ................................................................................... 53 5.2. ÁREA DE INTERVENÇÃO: PRAÇA CAMPINHO ............................................. 56


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5.3. PROGRAMA DE NECESSIDADES E SETORIZAÇÃO DA PRAÇA CAMPINHO57 5.4. ANTEPROJETO ............................................................................................... 63 6

CONSISERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 71

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 73


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INTRODUÇÃO

Os espaços públicos continuam a ser um local fundamental das cidades. O terreno densamente construído não é por si só uma cidade, é apenas um terreno densamente construído (Sassen,2013). O crescimento acelerado das cidades e a tendência de um modo de vida dentro de comunidades fechadas tem suprimido os espaços públicos nas cidades e comprometendo a qualidade de vida das pessoas, a segurança e as atividades culturais dos bairros. Hoje, em meio ao aumento da desigualdade social e da insegurança, o resgate do cenário de cidades concebidas para pessoas com espaços destinados a socialização e integração social é visto por estudiosos como Gehl e Jacobs como condição fundamental para reforçar a sensação de segurança nas cidades. O presente estudo tem como temática a humanização de áreas socialmente vulneráveis

através

de

intervenções

no

espaço

público

como

forma

de

transformação social.

1.1. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA A problemática levantada neste trabalho relaciona-se com a insegurança de áreas vazias desprovidas de atrativos que estimulem a socialização e a presença constante de pessoas, sobretudo nos bairros socialmente vulneráveis, onde a ausência de espaços livres destinados ao lazer se faz mais presente. Realidade que vem preocupando dirigentes e pesquisadores nas áreas de gestão pública, arquitetura e urbanismo, sociologia, criminologia, antropologia, dentre outros em virtude dos números crescentes de ocorrências de ações antissociais nos bairros planejados das cidades contemporâneas. Situação de insegurança que vem sendo divulgada nas mídias e seguida pela ausência cada vez maior de pessoas onde não existem atrativos e usos favoráveis a permanência e circulação das mesmas nestas áreas. Desse modo, a falta de estrutura e de espaços comuns propicia a sensação de medo que tornam tais locais perigosos, poluídos e sem vitalidade.


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Este é o atual cenário causado pelas drásticas modificações das relações sócio espaciais ocorridas na última década em vários bairros de cidades metropolitanas tal qual ocorre no Bairro Alvorada, em Vila Velha, E.S. Tais modificações intensificaram a sensação de insegurança nas áreas públicas, comprometendo as tradições do bairro caracterizada pelas manifestações espontâneas de convívio e socialização. O bairro com extensão de 64,01 ha criado em 1954, nunca possuiu uma área de lazer com infraestrutura adequada para o convívio social, estas atividades sempre foram desempenhadas em um terreno vazio de terra batida, apropriado pelos moradores, como campo de futebol e utilizado até hoje por crianças e adultos da região. No entanto, esta área se transformou em um local bastante inseguro, com a recente e crescente construção de galpões, edificações cuja arquitetura introspectiva não promove uma vigilância natural adequada e favorável à circulação de pessoas na região. Se antes as crianças brincavam sozinhas no local e tantas outras pessoas frequentavam e cruzavam a área para cortar caminho, hoje as pessoas evitam passar por ele e também pelo entorno, pois este espaço foi transformado em um ambiente vazio com pontos de despejo de lixo e é ocupado por atividades ilícitas que transmitem sensação de insegurança. O interesse pela elaboração do estudo nessa área surgiu mediante o convívio com as fragilidades deste local e as consequências negativas ocasionadas devido a infraestrutura atual do espaço, percebidas pela observação empírica da autora que faz parte do grupo de moradores deste bairro. Além disso, outro fator importante para a escolha é a forte relação de identidade do bairro relacionada com a utilização dos espaços públicos que vem desfalecendo. Diante disto este estudo tem como relevância acadêmica e social elaborar uma proposta de resgate e humanização para esta área ainda livre do bairro Alvorada com a proposta de legitimá-la em espaço para o uso público melhorando as condições do mesmo para uma apropriação adequada a realidade local, de modo a favorecer e estimular novas formas de apropriação deste e dos espaços livres circundantes a esta área, transformando- o em um espaço interativo proporcionando a melhoria da qualidade de vida e contribuindo com a segurança do bairro.


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1.2. OBJETIVOS O desenvolvimento desta monografia tem como objetivo geral apresentar uma proposta de intervenção paisagística na gleba subutilizada do bairro Alvorada, considerando a relevância da estruturação física dos espaços públicos com formas de promover sua apropriação e melhorar a qualidade de vida e a sensação de segurança para os moradores do bairro. Para atingir tal objetivo, tornou- se necessário estabelecer alguns objetivos específicos, conforme segue:  Compreender o conceito de espaço público e a sua importância para a vida em sociedade;  Verificar possíveis relações entre estrutura física dos espaços públicos com as formas de apropriação e a qualidade de vida e segurança de um lugar;  Investigar estratégias de transformações social através de intervenções no espaço público;  Identificar e analisar as características morfológicas da área de estudos;  Compreender as características sociais e econômicas da área de estudos;  Avaliar as fragilidades e as potencialidades da área inerentes à proposta de intervenção.  Desenvolver uma proposta projetual em nível preliminar de uma praça para a comunidade local.

1.3. METODOLOGIA Para a realização deste estudo qualitativo, recorreu- se à pesquisa bibliográfica e documental a partir de referências de autores como Jacobs (2000), Caldeira (2011), Gehl (2014) e Lira (2014) que abordam a questão da vitalidade urbana através de uma crítica a arquitetura introspectiva dos enclaves fortificados e indicando propostas de integração dos espaços através da promoção de áreas de convívio que promovam a socialização das pessoas. Tais referências se estenderam aos


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documentos legais disponíveis no município e utilizados para redação do capítulo referente ao diagnóstico da área de estudos. Para tanto foram selecionados alguns conteúdos semelhantes com a situação- problema proposta, tais como: (artigos de revistas, artigos científicos, livros, cartilhas municipais, etc.), para consulta de documentos de suporte, tais como: (levantamentos topográficos, mapas, planos urbanísticos, fotografia, estatísticas, projetos, etc.). As informações referentes à morfologia da área de estudos foram elaboradas a partir de um trabalho de campo, por meio de observação, levantamentos in loco, anotações e registros fotográficos. Após o levantamento dos dados, procedeu-se a análise e interpretação das informações para elaboração do presente trabalho. Umas das limitações para a realização deste estudo se deu pela inexistente bibliografia específica sobre o bairro Alvorada. Todavia, a utilização de registros pessoais dos moradores e documentos legais contribuiu para minimizar essa problemática. Este trabalho está estruturado em quatro capítulos: Capítulo 1- INTRODUÇÃO; Capítulo 2- O ESPAÇO PÚBLICO COMO ALTERNATIVA PARA A HUMANIZAÇÃO DE ÁREAS URBANAS; Capítulo 3- EXPERIÊNCIAS DE TRANSFORMAÇÕES DO CENÁRIO URBANO DE ÁREAS VULNERÁVEIS ATRAVÉS DA HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO; Capítulo 4- CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO; Capítulo 5- PROPOSTA URBANÍSTICA E PAISAGÍSTICA: ALVORADA VIVA. A conclusão, referências bibliográficas, anexos complementam a estrutura do trabalho. O capítulo 1 deste trabalho apresenta a temática de estudo desenvolvida nesta monografia, bem como justifica a escolha e a relevância do tema abordado. Neste capítulo, são expostos os objetivos gerais e específicos, a metodologia de pesquisa aplicada para o desenvolvimento do trabalho e a forma de estruturação da revisão


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bibliográfica, permitindo ao leitor, de forma sucinta, conhecer o conteúdo abordado em cada capítulo. O capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica referente ao espaço público. A elaboração desta pesquisa foi baseada nos princípios conceituais de embasamento do projeto proposto. São abordados aspectos como a conceituação do espaço público, a importância destes espaços no contexto urbano e concluem o segundo capítulo os fatores de qualidade e a configuração destes espaços para que cumpram seu papel democrático e de locais para convívio público. O capítulo 3 expõe a revisão bibliográfica referente às intervenções similares em alguns parâmetros à proposta deste trabalho. A pesquisa procedeu- se através da leitura e análise dos trabalhos existentes e relacionados com o tema do estudo. Foram abordadas as estratégias estruturais e políticas de transformação física, econômica e urbana, a partir desse levantamento, realizou- se uma análise dessas experiências de humanização e transformação social. O capítulo 4 apresenta a caracterização e análise da área de projeto e do seu entorno imediato. Procedeu- se à escolha e análise de informações, visando atender os objetivos geral e específico estipulados para a elaboração do trabalho de Conclusão de Curso II. Abordou- se aspectos sobre a formação do bairro estudado e a situação atual dos espaços públicos do perímetro de alcance, por fim foram determinadas as fragilidades e potencialidades do bairro para fundamentar as diretrizes projetuais adotadas. O capítulo 5 fundamentado pelos capítulos anteriores, apresenta os fatores determinantes para a elaboração do conceito e do partido urbanístico paisagístico. Na sequência é apresentado o plano conceitual da área estudada, e por fim se apresenta o desenvolvimento do projeto de humanização em nível de estudo preliminar da área de convívio no bairro Alvorada.


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O ESPAÇO PÚBLICO COMO ALTERNATIVA PARA A HUMANIZAÇÃO DE ÁREAS URBANAS

Neste capítulo são apresentados os conceitos e definições referentes às tipologias de espaços públicos propostas como objeto de estudo deste trabalho. O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos atuais referentes à estrutura dos espaços públicos, as principais características favoráveis às diferentes formas saudáveis de apropriação, assim como a importância desses espaços na cidade como elementos de integração social, de conexão e permanência.

2.1. CONCEITO, HISTÓRIA, TIPOLOGIAS E FUNÇÕES DO ESPAÇO PÚBLICO O conceito de espaço público é estudado por diversas áreas que interagem com a arquitetura paisagística, o urbanismo e a geografia, tais como a economia, filosofia, antropologia, sociologia e a política. Estes conceitos estão eventualmente relacionados ao comportamento humano em função do meio, das relações e dos processos que proporcionam a integração ou não dos indivíduos com o espaço físico. Segundo o minidicionário Aurélio, a palavra “espaço” significa distância entre dois pontos, ou a área ou volume entre limites determinados, enquanto a palavra “público”, derivada do latim publicus, significa relativo ou destinado ao povo, à coletividade, [...]. Que é do uso de todos, [...]. A partir destas duas definições o Espaço Público pode ser definido como a área destinada à coletividade, ou seja, para o uso de todos. Os espaços públicos podem ser então entendidos como lugares de uso comum, que podem ser locais da esfera pública, como praças municipais, parques, praias e as ruas da cidade, assim como os locais da esfera privada, como pátios de shopping centers, mercados, entre outros que são destinados ao uso coletivo. Conforme é definido por Serpa (2013), o espaço público é um local simbólico e palco da apropriação humana para manifestação de diversas culturas, valores, ideias, desejos e um local de manifestações políticas na contemporaneidade. Tal definição reforça o dever das áreas livres de uso público em oferecer a possibilidade de que


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os indivíduos tenham as mesmas oportunidades de usufruir das qualidades da vida urbana, independente de etnia, classe social, habilidades físicas e credo, resguardando a todos o mesmo direito à cidade. Para Inneranity (2006, p.107) “A ideia de espaço público está estreitamente ligada à realidade da cidade, aos valores da cidadania e ao horizonte da civilização”. Compreende- se assim que o espaço público não se trata de um mero espaço físico para uso público, mas de um espaço onde estão impressos os registros das atividades do cotidiano urbano dos seres humanos e das suas necessidades, que acabam por vezes causando reestruturações físicas nos espaços possibilitando a flexibilização de usos e atribuindo novas funções para este espaço. A existência de um espaço dedicado às manifestações da vida urbana não é recente. Esta necessidade de um local para o convívio social e organização estrutural de uma cidade existe há muitos séculos. A ágora, na Grécia Antiga era um local onde os gregos se reuniam em função de atividades comerciais, culturais e políticas, sendo provavelmente um dos primeiros ambientes produzidos pelo homem com o intuito de ser um espaço público que possibilitasse o convívio entre as pessoas e a vida em sociedade. O acesso à ágora era permitido a todo e qualquer indivíduo, no entanto a ideia de espaço democrático é controversa quanto às atividades desenvolvidas, visto que não era aplicável a todos o direito a participar das decisões políticas, eram abstidos desse direito mulheres e escravos, os quais representavam a maioria da população da época. Outra realidade a ser considerada foi o desenvolvimento de novas tecnologias com destaque para o século XIX, também conhecido como século das luzes, como um período de mobilização da elite intelectual europeia com o objetivo de reformular a sociedade e os conhecimentos herdados em busca da razão, pela ciência e o respeito à humanidade. Inúmeras foram as modificações no modo de realizar tarefas e de utilizar os espaços da cidade, após este período, consequentemente essas mudanças trouxeram alterações nas características da estrutura do espaço público. Uma das modificações está relacionada ao conceito de criação desses espaços, que passaram a ser concebidos com usos e funções específicas. Praças, ruas, jardins e parques são algumas das tipologias dos espaços abertos ao público na cidade que persistem ainda hoje, e que na classificação tipológica dos


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espaços públicos apresentada por Brandão (2008) integra critérios de ordem estrutural, espacial e de utilização, considerados determinantes no processo projetual destas áreas livres de uso público e coletivo. Tabela 1.Tipologias de espaço público. Ordem estrutural

Utilização

Tipologia

Circulação

Ruas, avenidas

Encontro

Largos, praças

Lazer – Natureza

Jardins parques

Contemplação

Miradouros, panoramas

Transporte

Estações, paragens, interfaces

Canal

Vias férreas, autoestradas

Estacionamento

Parking, sítios

Saudade

Cemitérios

Arqueologia

Industrial, agrícola, serviços

Memoriais

Espaços monumentais

Espaço - Traçado

Espaço – Paisagem

Espaço – Deslocação

Espaço – Memória

Mercados, Centro comerciais Semi – interiores

Arcadas

Semi – exteriores

Mercados levante, quiosques, toldos

Espaço – Comerciais

Adro, passagem, galeria, pátio Por edifícios, Espaço gerados

Por equipamentos, Por sistemas

Culturais, desportivos, religiosos, infantis Iluminação, mobiliário, comunicação, etc.

Fonte: Brandão (2008, p.19). O presente trabalho não pretende estudar todas as tipologias de espaço público existentes tendo, portanto, como foco aqueles identificados como Espaços – Traçado, cujo entendimento de sua função no espaço urbano será fundamental para a realização deste trabalho. Segundo Fernandes (2008, p.15) “O espaço traçado é por excelência o espaço de circulação e encontro entre transeuntes, espaço onde a vida em sociedade toma lugar”. As tipologias: ruas e avenidas, ambos os espaços


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dessa ordem estrutural, segundo Cullen (2008) podem ser definidos como estreitamentos, resultantes da aproximação de dois agrupamentos de edifícios que permitem a polaridade entre pés e pneus, ajudam na articulação entre os espaços da cidade e permitem estabelecer zonas bem definidas e diferenciadas. Realidade cada vez maior nas áreas conurbadas e adensadas de cidades metropolitanas. Ainda em relação a esta tipologia, Jacobs (2000) elege as ruas e as calçadas como os principais locais públicos na cidade e os considera como “órgãos vitais” do organismo vivo chamado cidade. As calçadas, as ruas e avenidas são destinadas, sobretudo para a circulação pedonal ou por modais de transporte motorizados ou não, no entanto não raramente percebemos a ocupação conflitante entre os usos de pedestres e de veículos, estes, sobre calçadas ou em locais irregulares que atrapalham e colocam em risco a circulação das pessoas. Esta relação por sua vez, é uma das funções mais negligenciadas do desenho urbano na configuração atual das cidades. Por outro lado, estão os largos e praças definidos por Robba e Macedo (2010) como espaços livres, não ocupados por edifícios, obrigatoriamente de acesso público à população e livre da presença de veículos, são locais destinados ao lazer e convívio em sociedade, sobretudo, devem localizar- se em áreas urbanas. A forma e dimensões de ambas as tipologias não possuem um padrão, podendo ser adaptadas a diversas formas de traçado. Devido à capacidade integradora e a facilidade de acesso, em muitas cidades os espaços públicos, em especial as praças, quando inseridas em um contexto de uso misto, são elementos estruturantes do tecido urbano. O tráfego costuma ser alto pela permeabilidade e conectividade que os estabelecimentos e atrativos destas zonas apresentam e devido as suas características formais que comumente geram a convergência de traçados. Neste caso, seu sentido de centralidade o define intencionalmente como um lugar de encontro, de permanência, de lugar para acontecimentos, e de práticas e manifestações sociais da vida cotidiana urbana, demandando um cuidado maior na sua configuração.


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2.2. A IMPORTÀNCIA DO ESPAÇO PÚBLICO NA CIDADE A primeira parte deste capítulo destacou as principais funções dos espaços públicos como estruturas fundamentais para a vida coletiva nas cidades. Neste subcapítulo relacionam-se as funções destes espaços aos benefícios gerados à cidade, reafirmando a importância destes espaços no meio urbano. Importância social: A facilidade de acesso aos espaços públicos à coletividade reforça o exposto por Gehl (2014), o qual defende que na construção dos espaços públicos, mais importante do que dimensionar estes espaços para comportar os tipos e a intensidade dos fluxos de pessoas é possibilitar que este espaço seja utilizado por muitas pessoas e que estas, apesar de suas diversidades interajam. Sendo assim a importância social destes espaços da cidade é a possibilidade de trocar e unir informações, produtos e experiências com pessoas conhecidas ou não. Portanto, como defendido por Police (2011) o espaço público é o elemento estruturador da cidade de maior relevância pelo papel que possui de proporcionar o convívio social e por isso são fundamentais para a cidade em função da tolerância às diversidades coexistentes nesses locais. Importância ambiental: A oferta de áreas arborizadas e áreas para a prática de atividades físicas e esportivas promovem a melhoria da qualidade ambiental e social das cidades que além do embelezamento da cidade, funcionam como um eficiente sistema de drenagem e absorção das águas pluviais, contribuindo para a purificação do ar com a absorção de poluentes soltos na atmosfera e no conforto a partir da redução do calor melhorando a sensação térmica e reduzindo em função de sua área os transtornos gerados pelas enchentes, pela poluição e pelo calor. Importância econômica: Os espaços públicos que atraem um grande público valorizam o entorno e atraem novos serviços e empresas, que consequentemente atraem mais frequentadores e atividades de comércio, transformando- se em locais atrativos para o mercado imobiliário. Situação que demanda atenção do poder público para evitar a supervalorização de áreas pontuais da cidade, o que pode resultar em consequências negativas apontadas por Ribeiro (2008) e Serpa (2013), que destacam as raras áreas livres de uso público das cidades como responsáveis pela prática mercadológica capitalista em tratar a facilidade de acesso a esses espaços como mercadoria para o consumo de poucos. Os mesmos autores apontam


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como , sendo a solução para este modo de segregação a criação de muitas áreas públicas,

principalmente

nas

áreas

menos

abastadas

de

infraestrutura

e

equipamentos públicos. Importância na segurança: A importância da segurança e de se sentir seguro é considerado por diversos autores como Jan Gehl, Jane Jacobs e Kevin Lynch um pré-requisito para a constituição de um bairro próspero e para a criação de cidades atrativas. As formas organizacionais da estrutura da cidade são um dos fatores que influenciam na sensação de segurança, um ambiente com maior legibilidade, ou seja, a “Facilidade com que cada umas das partes [da cidade] pode ser reconhecida e organizada em um padrão coerente” (Lynch,1960, p.2), proporcionar maior sensação de segurança, pois permite ao usuário uma antecipação do cenário devido a continuidade dos elementos. A discussão sobre a segurança apresenta uma dimensão não restrita aos espaços públicos, mas cabe também aos espaços privados. Muros altos, cercas elétricas, circuitos de câmera e alarmes, são elementos da “Arquitetura do medo” (Lira,2014) utilizados como artifícios utilizados pelos espaços privados que buscam garantir a integridade de seus patrimônios. O medo do espaço público, demonstrado pela evasão de pessoas nas áreas livres de uso público da cidade e pelo aumento dos dispositivos de segurança privados e públicos culminou na criação de tipologias edilícias caracterizadas por Caldeira (2011) em “enclaves fortificados”. Construções introspectivas constituídas por condomínios fechados e edificações muradas como tentativa de se proteger das falhas da segurança pública das cidades. Segundo Jacobs (2000) essa fuga da cidade ocorre devido ao não cumprimento do atributo principal dos espaços públicos: a sensação de segurança em meio a tantos desconhecidos. Jacobs relata ainda um fato comum nos dias de hoje, o enorme número de desconhecidos em uma pequena porção territorial, o medo fez com que pessoas se isolassem e com que moradores de uma mesma rua, por exemplo, sejam totais desconhecidos um para o outro. No entanto, como destaca Gehl (2014) essas soluções individuais de se prevenir quanto à criminalidade não são muito eficientes em locais onde a sensação de insegurança é bastante enraizada. Este é o caso das cidades caracterizadas por um processo excludente de ocupação urbana, onde periferias e favelas, resultantes


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muitas vezes de uma formação espontânea ou com planejamento simultâneo ou posterior à criação desses bairros constituem fragmentos segregados da paisagem da cidade (Mattos, 2011). A carência de espaços públicos na cidade se faz mais presente nas áreas de maior vulnerabilidade social, enquanto novos investimentos em serviços públicos são realizados nas áreas centrais e por mais que pertençam à esfera pública, como descrita por Ribeiro (2008) a simples presença no entorno destes espaços inibem a apropriação destes, pelas classes sociais menos abastadas. A desigualdade econômica acaba criando cenários bem distintos em uma mesma cidade, enquanto alguns bairros são extremamente dotados de infraestrutura para convívio público, alguns outros bairros aproveitam- se dos escassos espaços desocupados para as práticas sociais. Apesar do uso “público” e da apropriação espontânea destes espaços, estes também ficam vulneráveis a outras apropriações por parte de traficantes, milícias e demais forças dominantes causando um efeito negativo e fragilizando a liberdade de usufruir desses espaços. A presença destes personagens inibe a utilização dos espaços públicos por uma questão de sensação de insegurança, transformando estes bairros em áreas do medo, reduzindo a qualidade de vida dos moradores e frequentadores. A sensação de segurança não é baseada meramente na presença de policiais, pois como frisado por Jacobs (2000) a manutenção da civilidade e da ordem pública que regem o convívio saudável de uma sociedade perante o fator segurança não pode ser estabelecido por força policial. Isto porque o cumprimento normal e o discernimento sobre as regras de convivência foram rompidos e estruturados na revolta contra as barreiras criadas pelo preconceito e as desigualdades de acesso às oportunidades e às necessidades básicas do cidadão. No capítulo a análise espectral, de seu livro, O Direito à Cidade, Lefebvre (2001) questiona a recuperação da capacidade de integração e de participação da cidade por parte das camadas populares e afirma que o retrato de cidade que temos é o resultado de ações políticas de segregação. Segregação social utilizada como estratégia de classes dominantes para a expulsão da classe operária, da cidade tradicional, vítima da segregação territorial e privada dos benefícios da vida urbana atual.


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O convívio mais aproximado entre diferentes grupos da sociedade, reduz significativamente a sensação de insegurança e as manifestações de violência, como defendido por Jacobs (2000, p.35) “ É uma coisa que todos já sabem: uma rua movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não”. A movimentação a que Jacobs se refere, é quanto ao fluxo de pedestres, com diferentes perfis e em horários alternados, para isso os espaços devem ser planejados de forma flexível atendendo as múltiplas finalidades e abrindo mais oportunidades de formas de apropriação, tornando- se cada vez mais seguros e de valor simbólico para os frequentadores.

2.3. A RELAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS E AS FORMAS DE APROPRIAÇÃO: UM CONCEITO PARA UMA ESTRUTURA HUMANIZADA “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência”. (Friedrich Schiller) Esta frase não se aplica somente para nós seres vivos pensantes, mas também para os espaços públicos, fixos, porém não menos vivos que nós. Na introdução de seu livro, 2000, Morte e Vida de Grandes Cidades, Jacobs, assegura que a aparência do espaço físico e o modo como ele funciona são aspectos inseparáveis, assim, considera uma tolice planejar a estética de uma cidade sem considerar o que deve ser encarado como plano principal: a sua ordem funcional. A construção de espaços cujo objetivo principal seja a aparência, estão fadados ao fracasso. O homem, responsável pelas modificações do ambiente natural, sempre buscou articular de forma estratégica os espaços públicos com as demais funções da cidade. Gehl (2014) e Jacobs (2000) reconhecem que essa ligação entre as funções da cidade e o comportamento humano em relação ao meio começou a se desvencilhar no fim do século XX, período concomitante à popularização do automóvel. Este objeto motorizado capaz de vencer maiores distâncias em menos tempo, permitiu novas configurações de cidade, como as ideias de planejamento urbano propostas por Howard, criticadas por Jacobs (2000) em que Howard apontava como a melhor solução organizacional da cidade, a completa separação


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das funções urbanas por uso simples e dando a cada um dos setores criados uma relativa autonomia. A cidade dos sonhos de Le Corbusier, também criticada por Jacobs, era na verdade a cidade dos sonhos para veículos, a sua proposta contemplava a organização do traçado da cidade em vias expressas de mão única e a redução significativa do número de ruas, consequentemente os cruzamentos, o que culminou na criação do conceito de superquadra, inicia- se a partir daí a supra valorização do espaço privado em detrimento à desvalorização e morte dos espaços públicos e do convívio social. Algumas experiências recentes, como a de São Francisco, apresentadas por Gehl (2014) em seu livro Cidades para pessoas, descreve que após a destruição das vias arteriais de tráfego intenso, ocorridas em virtude do terremoto de 1989 e a consequente remoção da rota para outra localidade, a população se adaptou facilmente a vida sem a via e se apropriou do local onde hoje possui um bulevar com bondes, árvores, amplas calçadas, e o mais importante, espaços confortáveis pra o convívio. Jacobs (2000) define que o espaço público com infraestrutura para atrair novos públicos e transmitir sensação de segurança e usá-la como vantagem precisa ter três características fundamentais: A primeira é a nítida separação entre público e privado, influenciando o convívio público no exterior da propriedade privada. A segunda é estruturar a rua de modo que não se formem faces de edificações sem olhos para a mesma. A terceira é a consolidação de calçadas ativas, portando devese incentivar os serviços e comércios no pavimento térreo. A grande oferta de estruturas com diversas de funções em uma menor porção do território aumenta a vitalidade dos espaços urbanos e gera novas oportunidades de apropriação. Gehl (2014) conclui que a oferta de um espaço público inserido em um contexto de atrativos mistos apresenta uma estrutura com melhor qualidade e atrativos e que por consequência, o seu uso e apropriação aumenta, por isso o desenvolvimento de um planejamento físico adequado a tais premissas é um fator bastante influenciável na apropriação das áreas urbanas.


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A capacidade do espaço público em despertar no usuário um sentimento de identificação e simbolismo decai quando não existe algo que motive ou atraia o público, como mencionado por Jacobs (2000, p. 37) “Não se podem forçar as pessoas a utilizar as ruas sem motivo”. Na ausência de propulsores de vitalidade ao espaço público, surgem cenários indesejáveis, espaços ociosos e locais de grande vulnerabilidade social, geralmente destinados ao depósito de lixo, prática de comércio de drogas e do corpo, além de esconderijo para ataques surpresas de assaltantes. Em meio à escassez de áreas vazias nos bairros e regiões já consolidados apresenta- se em paralelo à demanda de áreas públicas e de lazer, por esse motivo, Queiroga (2011) defende a realização de investimentos na recuperação destas áreas e reitera que as ações que visam a requalificação das áreas vulneráveis devem acontecer de forma planejada e relacionada com a cidade de forma que potencialize os recursos da área e propicie a apropriação urbana pelo maior número de pessoas possível. O planejamento urbano é a palavra chave para solução, ou ao menos a amenização dos dilemas da boa forma dos espaços públicos e da cidade quanto à inclusão das pessoas no cotidiano urbano. A viabilidade desta proposta exige um trabalho cuidadoso em estabelecer através da estrutura dos espaços públicos as condições favoráveis para as pessoas circularem, permanecer e utilizar este espaço. Gehl (2014) defende que no processo de criação desses espaços deve estar em primeiro lugar o respeito ao ser humano, a dignidade e a motivação pela vida e pela cidade como lugar de encontro. Portanto, o ser humano e suas relações com o meio e os demais seres humanos devem ser o ponto fundamental do planejamento.


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EXPERIÊNCIAS DE TRANSFORMAÇÕES DO CENÁRIO URBANO DE ÁREAS VULNERÁVEIS ATRAVÉS DA HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

O explosivo crescimento das cidades, sobretudo de países emergentes, demanda abrigar uma enorme população de padrão de vida modesto, resultando no surgimento de áreas de habitação informal (Gehl,2013). Lugares de economia menos próspera e ativa que acabam tornando-se territórios socialmente vulneráveis, onde prevalecem condições e recursos que impedem ou reduzem a oportunidade de bem-estar, de integração social e mobilidade dos indivíduos. Tais condições são os principais indutores da desigualdade social e de restrições ao acesso e uso dos recursos municipais. A apresentação das experiências de intervenções urbanas em áreas socialmente vulneráveis tem como relevância para este trabalho afirmar o vínculo entre a estrutura dos espaços públicos com a qualidade de vida urbana. Neste contexto, sobressaem as intervenções ocorridas nas cidades de Medellín e Bogotá, ambas localizadas na Colômbia que tiveram como resultado uma redução significativa dos índices de violência locais acompanhados de uma nova apropriação dos espaços urbanos criados. O primeiro passo é a caracterização dos aspectos mais relevantes do processo de implantação destas propostas nos locais estudados. O passo seguinte é estabelecer a relação destes aspectos como contribuição para a proposta de intervenção a ser desenvolvida no presente trabalho.

3.1. REFERENCIAIS DA AMÉRICA LATINA: BOGOTÁ E MEDELLÍN Bogotá, a capital administrativa da Colômbia desde 1995 realiza notáveis ações referentes ao planejamento urbano, contribuindo para que a cidade se consolidasse como principal centro financeiro, industrial, cultural, administrativo e urbano do país. Até então, em meio à industrialização e desenvolvimento que transformaram a cidade em polo de atração de capitais e de migrantes voluntários e refugiados o processo de urbanização da cidade ocorria de modo acelerado, sem planejamento, enraizando


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complexos problemas políticos e sociais, como a pobreza, a violência e a desigualdade social (REIS, 2012). Nos territórios informais, muitas das residências eram construídas de forma improvisada e não eram assistidas pelos serviços públicos básicos de energia elétrica, água encanada e coleta e tratamento do esgoto. Tais problemas e dificuldades eram refletidos na forma comportamental da população, caracterizada principalmente pela falta de civilidade. Segundo Reis (2012), com a reforma constitucional de 1991, que permitiu maior autonomia aos municípios e eleição direta para prefeitos pela população deu-se início o processo de transformação da cidade em busca da reforma social. Na visão de REIS, (2012), a transformação de Bogotá se apoiou sobre a tríade: cultura cidadã, transporte e espaço público. Esse processo de transformação colocou como prioridade a melhoria da qualidade de vida da cidade e teve como fator fundamental a continuidade de gestão e planejamento urbano cujos esforços foram realizados ao longo de 20 anos. As principais transformações urbanas iniciaram na administração de Mockus (19951997) com os programas desenvolvidos pela gestão da cultura cidadã (figura1), basilares para o desenvolvimento de iniciativas integradas e estratégicas em Bogotá, pois tinham como principal objetivo levar as pessoas a observar a cidade e mudar sua conduta, seguindo as normas de uso da cidade e convívio. Em pouco tempo, se percebeu a melhoria da cidade em vários aspectos, além de alcançar resultados como a redução do número de homicídios e de acidentes de trânsito (ALCALDÍA DE MEDELLÍN,2015). Figura 1. Ação educativa com trabalho de mímicos na cidade de Bogotá, Colômbia.

Fonte: www.archdaily.com. Acessado em: 15.11.2015.


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A execução de projetos de grande impacto nas transformações físicas de Bogotá ocorreu durante a administração de Peñalosa (1998-2000). Em seu governo foram priorizadas as iniciativas de ampliação de parques, áreas públicas, equipamentos urbanos, projetos de inclusão digital, coesão social e a execução de grandes obras de melhoria da mobilidade urbana, com a criação de um projeto referencial de transporte: o TRANSMILÊNIO (figura 2), um sistema que consiste num modal de transporte público baseado no uso de ônibus de tráfego rápido (BRT) e a implantação de um programa para melhorar as condições de fluxos e deslocamentos não motorizados, com a recuperação das calçadas, criação da via pedonal e de ciclovias (figura 3). Figura 2. Estação Calle 76 do sistema de transporte público coletivo TRANSMILÊNIO

Fonte: http://bogota.gov.co/. Acesso em 15.11.2015.

Figura 3. A transformação espacial e estrutural de Bogotá com a construção de calçadas largas e ciclovias.

Fonte: http://hotsites.diariodepernambuco.com.br/. Acesso em: 15.11.2015.


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Paralelamente a essas ações foi instituída a política de rodízio de veículos e o aumento das taxas de estacionamento reduzindo consideravelmente a presença dos veículos e o tempo gasto para se deslocar na cidade. A respeito de cultura, educação e cidadania, a Rede de Bibliotecas Públicas (Figura 4) da Secretaria de Educação de Bogotá, conhecidas por “BiblioRed”, concebido também na administração de Peñalosa contribuiu para a coesão da população como comunidade, pois além de constituírem locais de encontro, convivência e trocas culturais tornaram-se símbolo do aumento da cidadania urbana, do desenvolvimento humano e que a beleza é cabível a todos os espaços da cidade ( REIS, 2012). Figura 4. Mapa da Rede de bibliotecas públicas de Bogotá, denominado "BiblioRed".

Fonte: www. bbf.enssib.fr. Acesso em 15.11.2015.


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Em linhas gerais, a transformação de Bogotá pode ser dividida em dois momentos: O primeiro momento, durante a gestão de Mockus, teve como principal ferramenta a educação, assumindo o compromisso com a sociedade em mudar o cenário social de altos índices de violência e desigualdade. Enquanto no segundo momento, durante o governo de Peñalosa, essas transformações se consolidaram no cenário físico com a implantação de programas de mobilidade e espaços públicos. As políticas e iniciativas adotadas na transformação de Bogotá durante a década de 1990 serviu de inspiração para outras experiências em áreas socialmente vulneráveis, inclusive a de Medellín, que compartilha muitos aspectos sociais e espaciais com Bogotá, segundo a PREFEITURA DE MEDELLÍN (2015). Medellín, a segunda cidade mais populosa da Colômbia, localiza-se no centro geográfico do Vale de Aburrá rodeada por montanhas. O centro da cidade se consolidou no ponto mais baixo e mais plano, região onde os investimentos em infraestrutura eram realizados prioritariamente, contribuindo para que o preço do solo nesta região fosse elevado. Diferentemente das áreas montanhosas e afastadas do centro da cidade, onde a ocupação ocorreu de forma espontânea e com a ausência ou grande precariedade de infraestrutura, originando bairros e comunidades informais, reféns das operações do narcotráfico, e com baixo valor venal do solo urbano. O Cenário acima favoreceu a ocupação pelo crime organizado por estarem completamente excluídas das ações do estado, levando a situação da cidade a um ponto insustentável, dando origem a uma profunda crise social durante as décadas de 80 e 90, quando a cidade de Medellín foi considerada a mais violenta do mundo. A desigualdade social acabou por dividir a cidade em zonas e ocasionava conflitos sociais entre as classes fragmentando o território e alimentando a intolerância (PREFEITURA DE MEDELLÍN, 2015). A insegurança se fazia presente em todos os lugares, impedido que a população desfrutasse dos espaços públicos com segurança. Naquele momento, constatou-se que bastava de ações públicas desarticuladas e era então o momento de reunir forças e iniciar uma reforma social na cidade. A primeira experiência no âmbito local foi o Programa Integral de Melhoramento de Bairros Subnormais de Medellín


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(PRIMED), criado com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de 15 bairros localizados na região montanhosa em três zonas da cidade (figura 5). Desenvolvido em duas fases (1992-1996) e (1997-2001), o programa contou com recursos federais, municipais e do Estado alemão. Figura 5. Localização dos polígonos das ações e de formação do programa PRIMED(1992-2001)

Fonte: PREFEITURA DE MEDELÍN, 2015.


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O foco do programa foi promover a participação comunitária nas soluções dos problemas locais, a legalização do solo, melhoramento das residências, remoção das famílias em áreas de risco devido à condição geológica do local e o melhoramento da infraestrutura básica, como serviços públicos, equipamentos comunitários e espaços públicos (Montoya et al.,1996). Assim como em Bogotá, em Medellín a continuidade do processo de transformação a cada administração vigente da cidade foi fundamental para atingir as metas de desenvolvimento e avanços na qualidade de vida da população. Durante a administração de (2004-2007) o conceito de Urbanismo Social é aplicado no plano de desenvolvimento da cidade intitulado de “Medellín, social e includente”. A adoção do conceito do Urbanismo Social foi o mecanismo utilizado pelo governo local para realizar o desenvolvimento humano integral. As ações urbanas adotadas estavam basiladas nas seguintes linhas: mobilidade, espaço público, equipamentos comunitários, habitação, melhoramento ambiental e deslocamento das famílias em áreas de risco. Dentre os instrumentos de intervenção que mais se destacaram dentro deste conceito, foram os Projetos Urbanos Integrais (PUI), aplicados onde a precariedade espacial, social e ambiental apresentavam os piores indicadores (figura 6). (PREFEITURA DE MEDELLÍN, 2015).


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Figura 6. Localização dos Projetos Urbanos Integrais (2004-2011).

Fonte: PREFEITURA DE MEDELÍN, 2015.

Entre as obras de melhoria da mobilidade urbana se destaca a criação de um projeto referencial de transporte: o METROPLÚS, um sistema que consiste num modal de transporte público de média capacidade, articulado ao metrô e ao sistema de transporte público de teleférico denominado, “Metrocable” (figura 7), que está conectado à rede de ciclorrotas, chamadas de “Rotas Verdes”. Ao longo das


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ciclorrotas

localizam-se

aglomerados

subnormais

diversos

equipamentos

conectando

estes

urbanos,

setores

à

universidades cidade

formal

e e

democratizando o acesso à cidade. Figura 7.Sistema de transporte público por teleférico denominado "Metrocable".

Fonte: http://labhab.fau.usp.br/. Acessado em: 27.05.2016.

Ainda referente às intervenções realizadas no campo da mobilidade, vale ressaltar a instalação de escadas rolantes (figura 8) e a construção de pontes pedonais que ajudou a integrar bairros e a facilitar o deslocamento dos moradores. Figura 8. Escadas rolantes implantadas para facilitar o acesso nas áreas mais íngremes.

Fonte: http://www.bbc.com. Acessado em: 27.05.2016.

Os espaços residuais da ocupação informal, as áreas transformadas em depósitos de lixo na comunidade e os espaços consolidados como áreas de convívio da comunidade foram recuperados e transformados em parques lineares, mirantes, além de praças para práticas desportivas e para o convívio (figura 9).


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Figura 9. Parque La Candelaria, Medellín, Colômbia

Fonte: http://labhab.fau.usp.br/. Acessado em: 27.05.2016.

A escolha dos locais para a implantação dos Parques Biblioteca (figura 10) e dos colégios públicos implantados nas comunidades seguiu a mesma lógica de implantação dos PUI, locais com baixo índice de Desenvolvimento Humano Integral e de serviços públicos. A integração da sociedade no processo projetual e de execução das obras destes equipamentos aproximou a comunidade e reforçou os laços de pertencimento ao território e da identidade local. Figura 10. Parque Biblioteca España, Medellín, Colômbia.

Fonte: www.pinterest.com. Acessado em: 27.05.2016.

As gestões seguintes elaboraram seus planos de desenvolvimento dando continuidade aos processos de transformação, enfatizando o desenvolvimento social e econômico destes espaços antes excluídos. Em suma, a integração da comunidade e a inclusão social foram alguns dos bons frutos colhidos pelo plano de desenvolvimento baseado no urbanismo social. As


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intervenções realizadas no território informal conseguiram atingir plenamente a cobertura dos serviços de saúde, educação, áreas para recreação, atividades esportivas e estimulou a vocação comercial de algumas vias, permitindo gerar novas oportunidades de emprego, consequentemente melhorando a qualidade de vida.

3.2. CONTRIBUIÇÕES PARA INTERVENÇÕES EM ÁREAS SOCIALMENTE VULNERÁVEIS A apresentação das experiências de intervenções urbanas em áreas socialmente vulneráveis tem como relevância para este trabalho corroborar a relação entre a estrutura dos espaços públicos e a qualidade de vida urbana. Nesse contexto, a escolha das intervenções ocorridas nas cidades de Bogotá e Medellín na Colômbia como referência para este trabalho foi baseada no êxito da proposta de transformação espacial e social das cidades. Ambas alcançaram a redução significativa dos índices de violência, elevaram índices de qualidade de vida e desenvolvimento humano e proporcionaram um novo modo de apropriação dos espaços urbanos, além da redução da desigualdade social e de mudanças na conduta cívica dessas cidades. Através do estudo das intervenções que adotaram o conceito do urbanismo social como chave do processo de desenvolvimento da cidade, explicita a necessidade do reconhecimento das áreas informais e de suas fragilidades pela esfera pública para melhorar a qualidade de vida de toda a cidade. Pode-se inferir com o estudo apresentado que a articulação de projetos sociais e físicos realizados nas duas cidades, Bogotá e Medellín, se voltam efetivamente para o cumprimento do estado em seu dever de garantir o direto à cidade a todo cidadão. A enfática particularidade das soluções urbanísticas de cada ponto de intervenção reforça o compromisso em minimizar ou excluir os problemas de cada área. Após o estudo das intervenções as propostas foram sintetizas em uma tabela resumo (tabela 2), apresentando os problemas identificados, as ações e as intervenções realizadas comuns às duas propostas, as quais poderão servir de referência para a proposta de intervenção deste trabalho.


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Tabela 2. Tabela Resumo SETORES

PROBLEMA

AÇÃO

INTERVENÇÕES  Novos modais;

Mobilidade

Segregação

Conexão

 Pontes e passarelas;  Ciclorrotas e vias pedonais;

Serviços Públicos

Insalubridade

Urbanização

 Fornecimento de água encanada e coleta de esgoto;  Fornecimento de energia elétrica.  Remoção das pessoas em área de risco;

Habitação

Déficit Habitacional

Reforma Social

 Legalização do solo;  Construção de habitações coletivas;

Lazer

Cultura e Educação

Ambiental

Violência

Exclusão

Áreas degradadas

Espaço Público

Equipamento Comunitário Recuperação Ambiental

nas residências.  Melhoramentos Criação de parques, praças desportivas e de convívio, mirantes em espaços residuais;  Melhoramentos nos espaços  consolidados. Construção de praças, bibliotecas e centros culturais na;  Construção de escolas;  Reflorestamento das encostas;  Criação de aterros sanitários;

Fonte: Produção própria da autora, 2016.

Por fim, destaca-se que a articulação entre projetos sociais e físicos, baseados no conceito do Urbanismo Social, independentemente do tamanho das intervenções e valores de investimentos contribui significativamente para alcançar resultados concretos na transformação do cenário urbano e social das áreas vulneráveis.


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CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO

4.1. LOCALIZAÇÃO A área de estudo proposta neste trabalho situa- se no bairro Alvorada, o qual compõe a região administrativa 04 (quatro) do município de Vila Velha/ ES e ocupa aproximadamente 64,01 há. Os limites do bairro consistem no Morro do Cruzeiro e os bairros São Torquato ao norte; Cobilândia a Sul; Alecrim a leste; e Cobi de cima a oeste, conforme a figura 11. Figura 11. Localização da área de estudo e do bairro Alvorada dentro da Região Administrativa 04 do Município de Vila Velha/ ES.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base dos arquivos da PMVV, 2016.


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4.2. HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO TERRITORIAL O bairro surgiu com o desenvolvimento da Avenida Ernesto Canal, antiga Avenida Brasília e da Rodovia Carlos Lindemberg, antiga estrada Jerônimo Monteiro e foi oficializado como bairro durante a administração do então prefeito Dr. Antônio Bezerra de Farias, através do decreto-lei n°192, de 2 de setembro de 1954 (SEMDU,2015), no qual o documento descreve os condicionantes mínimos de urbanização exigidos: o beneficiamento da área loteada com a instalação de redes de luz e água e a execução de serviços de aterro e nivelamento de rua. Poucos anos após a aprovação do loteamento, durante a administração do prefeito municipal Antônio Gil Veloso, por meio do decreto-lei nº 342, em abril de 1957, foi novamente aprovado com modificações no loteamento do “Bairro Alvorada” (figura 12), tais não foram descritas no documento, porém denota os mesmos condicionantes mínimos de urbanização do decreto-lei nº 192. Figura 12. Planta do Loteamento e Arruamento do Bairro Alvorada aprovado em 1957.

Fonte: SEMDU, 2015.

Se tratando de espaços para a convivência e sociabilização, no dia 19 de setembro de 1963 a Câmara Municipal de Vila Velha autoriza o Senhor Chefe do Executivo a instalar no Bairro Alvorada, na Avenida Brasília, atual Avenida Ernesto Canal, esquina com a Rua B, um chafariz público por meio do decreto-lei nº 681 (SEMDU,2015).


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Através de análises dos documentos sobre as intervenções urbanísticas no bairro, pode- se concluir que ao passar dos anos os arruamentos do bairro foram modificados, no entanto, vale ressaltar que a disposição das quadras ao longo da Avenida Ernesto Canal são as mesmas do traçado original, visto a sua importância para o crescimento do bairro e a localização de grandes empresas como a UNICAFÉ-União Exportadora de Café S/A e a Viação de Transportes Urbanos Sanremo. A última modificação a que se tem em registro na Prefeitura Municipal de Vila Velha, ocorreu em 1979, por meio da Lei Ordinária nº 1.754 (SEMDU,2015), registrada e publicada em 24 de julho de 1979, a qual dispõe em seu artigo 02 a doação de parte dos lotes pertencentes à empresa UNI-CAFÉ-União Exportadora de Café S/A para a construção de um muro de contenção e de uma praça (figura 13), sendo esta a única praça existente no bairro até os dias atuais.

Figura 13. Vista da praça do bairro Alvorada mencionada na Lei Ordinária nº1,754, em 2015.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2015.


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4.3. PERFIL SOCIOECONÔMICO O bairro Alvorada como dito anteriormente neste trabalho localiza- se às margens da Rodovia Carlos Lindemberg, uma das principais ligações entre Vila Velha e Vitória e de deslocamento municipal. No ponto de vista urbanístico, a rodovia consiste mais do que uma via de fluxo intenso, mas como uma barreira entre os bairros Alvorada e Cobilândia, situados em lados opostos da rodovia o que gera uma ruptura na continuidade do tecido urbano da região. Figura 14. Vista da Rodovia Carlos Lindemberg a partir do canteiro central.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2016.

Outros fatores que reforçam esta ruptura são o uso e as tipologias construtivas das edificações rentes à rodovia, predominantemente composta por galpões de depósito e guarda de veículos que funcionam em horário comercial, no entanto não estimulam o fluxo de pessoas na região. Geralmente as construções apresentam taxa de ocupação de 100% (cem por centro) do lote e não fazem parte do grupo de edificações com “fachadas vivas”, aquelas que permitem a vigilância natural através da permeabilidade do olhar entre interior e exterior, contrastando com a realidade identificada no restante do bairro onde prevalece o uso residencial. Em relação à população do bairro, de acordo com o estudo “Perfil socioeconômico por bairros, 2013”, elaborado pela Secretaria Municipal de Planejamento Orçamento e Gestão (SEMPLA) com dados do CENSO 2010, o bairro Alvorada apresenta uma população de 6.904 pessoas. Deste total, a população em idade produtiva (15 a 65


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anos de idade) representa 71,1% o que equivale a 4.911 pessoas, como pode ser observado na tabela 3. O predomínio da população em idade produtiva ocorre também no bairro limítrofe Alecrim. Esses números mostram o quão representativa essa parcela é para estes bairros e direciona a questão da demanda de espaços públicos para a prática de atividades esportivas, de convivência com a família e amigos e de simplesmente descansar nos momentos em que não estão trabalhando. Apesar de haver uma população predominantemente jovem e adulta, também segundo a tabela 1, o bairro Alvorada apresenta um grande número de crianças de 0 a 14 anos e de idosos. Muitos desses idosos compõem o grupo de moradores residentes desde a formação do bairro nos primeiros anos da década de 1950. Tabela 3. Faixa etária população total e distribuição populacional por gênero e faixa etária nos bairros da região IV do município de Vila Velha, 2010.

Fonte: SEMPLA, 2010.

Quanto a situação econômica do bairro Alvorada, os estudos mostram que cerca de metade dos moradores com rendimentos, recebe mais de um salário mínimo, apesar disso, a outra metade não possui rendimentos ou possui renda de até 1 (um) salário


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mínimo, como mostra a tabela 4, demonstrando a existência de uma diversidade de classes de poder aquisitivo no bairro.

Tabela 4. Valor nominal médio de pessoas com mais de 10 anos e com rendimento, nos bairros da região 04 do município de Vila Velha, 2010.

Fonte: SEMPLA, 2010.

Em função do número considerável de pessoas sem rendimentos e com rendimento de até 1 (um) salário mínimo, é importantíssimo que a proposta inclua equipamentos que possam associar

o acesso à informação, capacitação,

oportunidade de estudo e emprego, para que dessa maneira a comunidade possa alcançar o desenvolvimento de forma igualitária no ponto de vista espacial e social.

4.4. IDENTIDADE CULTURAL Os estudos relativos aos espaços públicos apresentados neste trabalho mostram a importância sociocultural que estes possuem para a vida urbana e para o cenário urbano, portanto, as áreas públicas e os espaços vazios adotados pela população


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para atividades culturais e de sociabilização tornam-se bastante significantes para a comunidade. As ruas do bairro Alvorada foram por muitos anos o cenário de manifestações culturais e recreativas. Desfilava no bairro durante o período da festa de Carnaval o bloco “Só Capim Canela” (figura 15), fundado pelos próprios moradores, onde o público era reforçado a cada rua que passava ao convidar os moradores para folia e tomava conta do bairro com um clima animado e familiar, infelizmente o bloco não desfila desde o ano 2004, ano da última edição do bloco. Figura 15. Bloco Só Capim Canela na década de 90 pelas ruas do Bairro Alvorada.

Fonte: Centro de Memória de Alvorada – Vila Velha, 2015.

No bairro Alvorada uma porção de lotes vazios, denominada pelos moradores de “Campinho do Alvorada” (figura 16) é utilizado há anos pela comunidade para desempenhar o papel das áreas públicas e suprir a demanda dos moradores por um espaço para a prática de esportes, lazer, eventos da comunidade e travessia. O Campinho do Alvorada ocupa cerca de 6.008,95 m² e tem como limites, à leste a obra de construção de uma escola pública de ensino fundamental, à oeste o estacionamento da Viação Sanremo, ao sul a rua Itororó e ao norte a rua B.


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Figura 16. Localização do Campinho do Alvorada.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.

Neste espaço a comunidade mantém viva a sua tradição esportiva. Há registros de que o bairro possuía dois times, o “Time de Futebol do Bosque” e o “Esporte Clube Agulha Negra”. Existe ainda no bairro o projeto social de escolinha de futebol chamado “Alvorada Alvoradinha” que utiliza o Campinho do Alvorada para treino e disputas com os demais times dos campeonatos que participam, apesar da decadente estrutura do espaço (figura 16).


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Figura 17. Treino do Projeto social Alvorada Alvoradinha no Campinho do Alvorada em 2013.

Fonte: Bairro Alvorada Online, 2013.

Nas décadas de 80 e 90, o Campinho do Alvorada foi palco de diversos eventos, como circos, rodeios, parques de diversão, festas comemorativas, festas religiosas, festival de pipas, e mais recentemente na primeira década do ano 2000 foi por três vezes o recinto da micareta fora de época chamada Alvorada Folia, que assim como alguns dos outros eventos atraíam além dos moradores do bairro, o público dos bairros vizinhos e até mesmo de bairros mais afastados. Figura 18. Micareta fora de época Alvorada Folia em 2008 no “Campinho do Alvorada”.

Fonte: www.norock.com, 2015.

A instalação e manutenção da infraestrutura do Campinho do Alvorada sempre fora executada pelos moradores, o que demonstra haver neste bairro um forte sentimento de pertencimento da área, como área de convívio e recreação, além de revelar a carência destes moradores pela legitimação desta e de outras áreas do bairro para apropriação na forma de áreas livres de uso público como praças, campos e parques.


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4.5. TIPOLOGIA DA MALHA A malha viária da área de estudo apresenta traçado regular e padronização da largura da caixa viária nas vias internas do bairro, consequentemente apresenta melhor legibilidade, condições de acessibilidade e conectividade com o entorno. As quadras assim como o traçado possuem grande regularidade na forma, com cruzamentos predominantemente ortogonais. Apesar das quadras não apresentarem um único padrão de dimensões, apresentam similaridade na forma, o que permite a melhor articulação, gerando esquinas mais próximas e melhores condições de deslocamento e permeabilidade. Figura 19. Mapa da malha viária.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.


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Figura 20. Vista das ruas, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua B.

Fonte: Acervo próprio do autor, 2016. Figura 21. Vista das ruas, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua Itaóca.

Fonte: Acervo próprio do autor, 2016. Figura 22. Vista do terreno à partir das ruas limítrofes da área, a esquerda a Rua Itororó e a direita Rua B.

Fonte: Acervo próprio do autor, 2016.

Conforme o mapa da malha viária (figura 20) as vias do bairro apesentam a mesma dimensão da caixa viária. Nota-se também a quebra da continuidade da malha viária por uma das quadras localizadas na área de intervenção o que prejudica a conectividade entre partes do bairro e a permeabilidade do olhar.


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4.6. HIERARQUIA VIÁRIA Como já relatado neste estudo, o bairro Alvorada foi consolidado historicamente pela hierarquia assumida pela Rodovia Carlos Lindemberg e a Avenida Ernesto Canal, duas importantes conexões da cidade de Vila Velha com a Ilha de Vitória, são classificadas como arterial e local principal respectivamente, conforme a Lei nº 4.575. Enquanto as vias que delimitam a área escolhida, Rua Itaóca, Rua Itororó, Rua B e a Rua Jundiaí, são classificadas como locais, conforme pode ser visto na figura 32. Figura 23. Mapa hierarquia viária.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.

A Rua Itaóca e o trecho da Avenida Ernesto Canal entre a Rodovia Carlos Lindemberg e a Rua Itaóca são os principais trechos de congestionamento por terem a função de retorno e acesso principal ao bairro Cobilândia.


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4.7. USOS Conforme o mapa de usos (figura 24) percebe- se que a região do bairro Alvorada onde está situado o terreno é marcada pela presença predominante de edificações com uso habitacional e de serviços. Figura 24. Mapa de usos.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.

Contudo, a maioria dos serviços prestados é por suas naturezas incompatíveis com o uso residencial, como serviços de manutenção de frotas e garagens de empresas de transportes e de depósitos, precipuamente nas principais vias de acesso ao bairro e na área de intervenção, criando um cenário pouco dinâmico e atrativo, com esquinas de empenas cegas, comprometendo a segurança principalmente de


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pedestres. Há também algumas edificações de uso institucional, como igrejas e o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

4.8. GABARITO Referente à verticalização das edificações, de um modo geral na área de estudo predomina edificações com 2 (dois) pavimentos. Nota- se ainda um número considerável de edificações de uso de serviços (a maioria galpões) com gabarito equivalente a edificações de 3 pavimentos, resultando em uma forma introspectiva e isolada. Figura 25. Mapa de gabarito.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.


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Vale ressaltar que a maior porção da quadra que interrompe a malha viária não possui construções, apesar de parte ser classificada com uso de serviços, este atualmente é utilizado como garagem de uma empresa de transporte público urbano no município e possui apenas muros construídos (comparar figuras 24 e 25).

4.9. ZONEAMENTO URBANÍSTICO O zoneamento urbanístico é o instrumento destinado a regular o uso e a ocupação do solo para cada uma das zonas em que se subdivide o território do município. De acordo com o “Mapa VI – Zoneamento Urbano” da Lei nº 4.575, a área encontra-se na Zona de Ocupação Prioritária (ZOP) 4, (figura 26).

Figura 26, Mapa VI – Zoneamento Urbano.

Fonte: Lei nº 4.575,2016.

Na ZOP 4 permite-se atividades de grau de impacto I e II. Conforme o “Anexo I – Coeficientes de Aproveitamento do Terreno –CA e Parâmetros Urbanísticos” da Lei nº 5.541 aplica- se para todos os terrenos o coeficiente de aproveitamento mínimo


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de 0,2 (zero vírgula dois) e básico de 2,5 (dois vírgula cinco). Deve- se resguardar no mínimo 3 (três) metros de afastamento frontal. Quanto a taxa de ocupação do lote, esta deve alcançar no máximo de 60 % (sessenta por cento) do lote e a taxa de permeabilidade mínima deve corresponder a 10% (dez por cento) da área do lote. Destaca- se que nesta ZOP não são fixados os parâmetros de Gabarito e de Altura Máxima das edificações.

4.10. VISUAIS O olhar de dentro da área de intervenção para o seu entorno pode gerar diretrizes projetuais, desde a valorizar visuais, preservar, esconder ou até mesmo modificar. No caso da área escolhida o observador depara- se com muros cinzas e sem aberturas. Um destes muros é exatamente o limite entre a área utilizada como espaço de lazer do bairro e a escola de ensino fundamental, que apesar de não possuir acesso pelo terreno, possui um uso favorável a apropriação do espaço pelos alunos da escola. A maioria das vias apresenta aspecto de espaço negligenciado, algumas inclusive são usadas como local de descarte de materiais de demolição, restos de alimentos e animais mortos por terceiros, atraindo urubus e demais pragas urbanas. Figura 27. Vista das faces laterais da área de intervenção composta por muros e fachadas cegas.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2015.


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Observa-se baixa permeabilidade na maioria das fachadas da área de intervenção decorrente a predominância de muros altos e fachadas cegas, tais características tornam a área propícia para usos inadequados, como o descarte de lixo e consumo de drogas. Portanto, deverão ser previstos elementos que reprimam este comportamento incivilizado e atenuem o impacto visual destas fachadas na paisagem.

4.11. TOPOGRAFIA E MASSA DE VEGETAÇÃO Quanto ao perfil topográfico do terreno, tomando como referência a base cartográfica do IJSN (1991), percebe-se que a área possui poucas variações de níveis, tendo em vista toda a extensão do terreno, a declividade presente é pouco significativa, portanto, se pode considerar que trata- se de uma área plana. Figura 28. Detalhe do levantamento planialtimétrico cadastral do município de Vila Velha.

Legenda Área de estudo Área de intervenção Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Instituto Jones do Santo Neves, 2016.

A massa de vegetação no espaço público na área de estudo, resume-se apenas a massa vegetativa da praça existente, composta por duas árvores de médio porte e


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alguns arbustos. As demais árvores existentes na área estão no espaço privado e foram plantadas pelos próprios moradores nas calçadas e no limite de seus lotes com a rua. Em suma, esta área é desprovida dos benefícios providos de uma área verde e caracteriza-se por ser uma área bastante árida e com poucas áreas sombreadas tornando as áreas não atrativas à permanência. Em virtude dos benefícios da arborização a proposta deve contemplar o plantio de árvores e outras tipologias de vegetação.

4.12. INFRAESTRUTURA URBANA Quanto à infraestrutura urbana, foram levantados em campo elementos visíveis componentes da rede viária, rede de drenagem pluvial, rede de esgoto sanitário, rede de energia elétrica e mobiliário, conforme figura 29. Figura 29. Mapa de infraestrutura urbana.

Fonte: Produção própria da autora a partir de base do Google Earth, 2016.


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Tratando primeiramente da acessibilidade universal, considerando os parâmetros da norma específica (NBR 9050), toda a localidade está em desacordo. Percebe- se tentativas de se adequar à norma, porém, foram instituídas de forma equivocada. Como o uso do piso podotátil e rampas nas calçadas. Outro importante fato a se destacar é o posicionamento dos postes, principalmente nas calçadas estreitas, localizados no centro dificulta o livre percurso dos pedestres. Observou-se também a ausência da calçada em alguns pontos apesar da execução do meio-fio. Figura 30. Condição das calçadas das vias na área de estudo.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2016.

Quanto à pavimentação, todas as vias da área são pavimentadas e em bom estado de conservação. As ruas Itaóca e Itororó possuem pavimentação asfáltica, enquanto as ruas Jundiaí e Rua B possuem pavimentação com bloco intertravado, como identificado na figura 30. No local foram identificados poços de visita da rede de esgoto e da rede águas pluviais, assim como as caixas ralos que estavam cobertas por lixo dificultando a drenagem do local. Apesar de Alvorada recentemente ter sido comtemplada com a obra de macrodrenagem, o bairro ainda enfrenta alagamentos pondo em risco a segurança e a saúde das pessoas que por algum motivo precisam sair de casa na enchente. Constatou-se o abastecimento de água encanada em todos imóveis da área estudada. A iluminação natural no terreno e nas vias de acesso é intensa durante o dia devido à ausência de massas verdes e elementos de proteção construídos. No entanto no período noturno, a iluminação artificial é bastante precária, com grandes áreas em penumbra ou sem iluminação alguma, o que torna o local vulnerável a usos ilícitos e indesejados, conforme a figura 31.


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Figura 31. Iluminação pública nas vias da área de estudo.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2016.

O local não conta com mobiliário urbano, sendo os únicos elementos fixos encontrados no local apenas duas traves instaladas pelos próprios moradores há muitos anos. Em linhas gerais, o que se é que apesar da área ser ainda utilizada, necessita de diversas adaptações e melhoramento da infraestrutura e da estrutura, assim como de arborização e instalação adequada para os usuários que acompanham as partidas de futebol.

4.13. ANÁLISE DAS APROPRIAÇÕES URBANAS No levantamento da área de estudo constatou-se uma paisagem desértica, com muito baixo fluxos de pessoas e de veículos, a ausência de atividades econômicas e sociais ocorrendo nas edificações do entorno na maioria do tempo. Entretanto em horários específicos foram identificadas no campinho formas de apropriações do espaço positivas como o campeonato de futebol de pequenos clubes aos domingos de manhã e formas de apropriação negativas, como o descarte de materiais de lixo, entulho e pessoas usando drogas no fim da tarde ao escurecer (figura 33). Figura 32. Formas de apropriação encontradas na área de estudo.

Fonte: Acervo próprio da autora, 2016.

A concentração de pessoas no horário das missas e cultos das igrejas próximas a área utilizada como espaço de lazer fomentam a criação de uma área destinada para a concentração de alguma atividade comercial informal em determinado trecho da área para estimular o fluxo de pessoas e absorver este uso de forma confortável e segura.


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A concentração de trabalhadores das empresas de serviço localizadas na área de estudo sentados e deitados nas calçadas sombreadas e na praça de Alvorada durante o horário de descanso após o almoço também será uma diretriz de projeto para a atender a demanda de um espaço sombreado para o ócio e relações sociais.

4.14. FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES DA ÁREA A realização da análise da área é uma importante fonte de leitura das características do local de estudo e das relações sociais existentes entre o espaço e o usuário. As informações levantadas são fundamentais para a definição das diretrizes projetuais e na escolha de referências para a proposta de intervenção. Com a intenção de desenvolver uma proposta para a área estudada que atenda de fato os objetivos a que esse trabalho se propõe faz- se necessário elencar as fragilidades e as potencialidades da área, apresentadas nas tabelas 5 e 6 respectivamente: Tabela 5. Fragilidades apontadas na análise da área de estudo. A área possui uma imagem negativa relacionada aos crimes que ocorrerem no local.

FRAGILIDADES

Área encontra-se em desacordo com a Norma de Acessibilidade Universal (NBR 9050/ 2015) Há falta de conscientização da população mediante ao descarte de materiais, animais e restos de comida de forma inadequada no local. A localidade enfrenta problemas com drenagem e alagamentos. Ineficiência dos serviços de jardinagem e limpeza pública. Arborização e iluminação pública ineficientes. Inexistência de infraestrutura adequada para o convívio público e prática de atividades recreativas. Inexistência de equipamentos adequados aos diversos públicos como crianças, jovens e idosos. Vizinhança composta por garagem, galpões de depósito que compõem uma paisagem formada por muros cinzas e altos e por fachadas cegas. Fonte: Produção da autora com base em levantamentos no local, 2015.

POTENCIALIDADES

Tabela 6. Potencialidades apontadas na análise da área de estudo. A comunidade é antiga, consolidada e ativa quanto ao desejo de transformar a área em um espaço de sociabilização de qualidade no bairro. O bairro é predominantemente residencial e a área está bem localizada na região, próxima aos principais acessos ao interior do bairro. Possui forte identidade sociocultural, alguns grupos ainda utilizam a área (como por exemplo o projeto social Alvorada Alvoradinha e jovens que residem no bairro). Capacidade de atrair e reunir grupos de diferentes perfis. A localidade dispõe de área suficiente para receber uma proposta capaz de suprir as necessidades e desejos dos usuários. Existência de instituições ecumênicas no entorno que atraem público foram do horário comercial e escolas, atraindo alto fluxo de possíveis usuários. Fonte: Produção da autora com base em levantamentos no local, 2015.


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Apesar de todos os problemas encontrados em função do estado de negligência, a área apresenta um enorme potencial, conforme mostrado na tabela 6, para a transformação social, econômica, ambiental, hígida e cultural do bairro Alvorada desde que promovam melhorias na qualidade das áreas livres de uso público, modificando o cenário de abandono, insegurança e praticamente inóspito encontrado atualmente no local. Através do desenvolvimento do diagnóstico, do apontamento das fragilidades e das potencialidades da área de estudo, foi desenvolvido o mapa síntese, apresentado a seguir. Este conteúdo auxiliará no processo de elaboração do plano conceitual da área estudada e do estudo preliminar da área de convívio.



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PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO: ALVORADA VIVA

Como apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, as grandes deficiências da área estudada são o baixo fluxo de pedestres, a escassa oferta de áreas livres de uso público e a insegurança. Conforme o mapa de logradouros da PMVV, o bairro Alvorada possui cerca de 488,50 m² de área livre de uso público para atender a população do bairro de 6.904 habitantes (CENSO,2010) representando cerca de 0,07 m² de área lazer por residente. Para ampliar esta proporção a proposta prevê a utilização do instrumento previsto no Estatuto da Cidade (2004): desapropriação de áreas privadas por utilidade pública e interesse social mediante indenização. As áreas destinadas à aplicação do instrumento são os lotes ocupados hoje pela garagem da Viação Sanremo e a área conhecida como Campinho do Alvorada. A proposta de humanização a partir da intervenção urbanística paisagística da área pretende resgatar os espaços de convívio do bairro Alvorada como local de intensa apropriação pela comunidade. A requalificação e criação de praças e a inserção de novos equipamentos comunitários, assim como a reconfiguração dos percursos e a adoção do conceito Urbanismo Social servirão de suporte fundamental para impulsionar fluxos e atividades no bairro.

5.1. CONCEITO E PARTIDO A ideia chave da proposta é transformar o bairro Alvorada em um “espaço vivo” com grande interação e movimentação de pessoas, qualidades básicas de locais que transmitem a sensação de segurança e permitem usufruir dos espaços públicos. Fundamentado na ideia chave, a proposta foi intitulada de “ALVORADA VIVA”. Buscando incorporar ao desenho soluções relacionadas às fragilidades e potencialidades da área para a construção de um projeto coerente, o partido urbanístico definiu como ideias base para a elaboração da proposta seis vertentes: “Acessos”, “Conexão”, “Eixos verdes”, “Identidade Cultural”, “Lazer e Convívio” e “Educação e Cultura” aplicadas no plano conceitual apresenta a seguir.


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PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO: ALVORADA VIVA

Como apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, as grandes deficiências da área estudada são o baixo fluxo de pedestres, a escassa oferta de áreas livres de uso público e a insegurança. Conforme o mapa de logradouros da PMVV, o bairro Alvorada possui cerca de 488,50 m² de área livre de uso público para atender a população do bairro de 6.904 habitantes (CENSO,2010) representando cerca de 0,07 m² de área lazer por residente. Para ampliar esta proporção a proposta prevê a utilização do instrumento previsto no Estatuto da Cidade (2004): desapropriação de áreas privadas por utilidade pública e interesse social mediante indenização. As áreas destinadas à aplicação do instrumento são os lotes ocupados hoje pela garagem da Viação Sanremo e a área conhecida como Campinho do Alvorada. A proposta de humanização a partir da intervenção urbanística paisagística da área de estudo pretende resgatar os espaços de convívio do bairro Alvorada como local de intensa apropriação pela comunidade. A requalificação e criação de praças e a inserção de novos equipamentos comunitários, assim como a reconfiguração dos percursos e a adoção do conceito Urbanismo Social servirão de suporte fundamental para impulsionar fluxos e atividades no bairro.

5.1. CONCEITO E PARTIDO A ideia chave da proposta é transformar o bairro Alvorada em um “espaço vivo” com grande interação e movimentação de pessoas, qualidades básicas de locais que transmitem a sensação de segurança e permitem usufruir dos espaços públicos. Fundamentado na ideia chave, a proposta foi intitulada de “ALVORADA VIVA”. Buscando incorporar ao desenho soluções relacionadas às fragilidades e potencialidades da área para a construção de um projeto coerente, o partido urbanístico definiu como ideias base para a elaboração da proposta seis vertentes: “Acessos”, “Conexão”, “Eixos verdes”, “Identidade Cultural”, “Lazer e Convívio” e “Educação e Cultura”.


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Acessos: Reconhecer e destacar os principais pontos de acesso ao bairro Alvorada, localizados nas ruas Itaóca e Itororó através da criação de eixos paisagísticos. Estes pontos de acesso foram definidos pela localização estratégica e a potencialidade destes pontos para atrair o tráfego de pessoas promovendo a vigilância natural, reforçando a segurança e valorizando os espaços públicos. Conexão: Potencializar as conexões com o entorno e o acesso às áreas livres de uso público através da reestruturação da caixa viária priorizando o passeio de pedestre atendendo às normas de acessibilidade de âmbito municipal e federal e incentivando caminhadas nas áreas de lazer e de acesso ao bairro. Eixos verdes: Estabelecer “eixos verdes” compostos por ruas arborizadas, promovendo a conexão entre áreas livres novas e existentes, proporcionando um ambiente sombreado, agradável para a circulação de pedestres e ciclistas, favorecendo a criação de uma identidade local e senso de lugar, valorizando esquinas e reforçando a malha urbana. Identidade Cultural: Manter as formas de apropriação positivas existentes no local que o mantém como um espaço significante para a comunidade por meio da melhoria e reestruturação dos espaços livres permitindo que a comunidade volte a usufruir dos espaços públicos para a promoção de manifestações culturais e sociais típicas da comunidade. Lazer e Convívio: Definir espaços com a finalidade de práticas esportivas e de convívio capazes de atrair um público diversificado em diversos horários do próprio bairro Alvorada e de bairros vizinhos, reforçando as ligações entre os bairros e a vigilância natural, fomentando a sensação de lugar vivo e seguro, através da implantação da praça proposta neste trabalho. Educação e Cultura: Criar e acentuar equipamentos comunitários de uso educacional e cultural na área de intervenção e os definir como âncoras urbanas para ajudar a construção do senso de orientação, atrair público e auxiliar no processo de reforma social da comunidade. Estas seis vertentes foram aplicadas no plano conceitual apresentado a seguir.



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5.2. ÁREA DE INTERVENÇÃO: PRAÇA CAMPINHO Em virtude da inviabilidade de realizar uma proposta de intervenção em todo o bairro devido ao tempo disponível para a sua execução propõe-se um melhor delineamento da área de intervenção da proposta com foco na área utilizada pelos moradores ocasionalmente para atividade de lazer (figura 34). Figura 33. Delineamento da área de intervenção.

Fonte: Produção própria do autor a partir de base do Google Earth, 2016.

A escolha da área foi baseada visando o resgate da sensação de segurança e principalmente, considerando os vínculos afetivos e históricos existentes entre comunidade e bairro. Como já exposto neste trabalho, o Campinho do Alvorada sempre esteve associado a um lugar de uso cotidiano e de espaço de eventos do bairro com grande atração de público. Por isso, propõe-se a criação da Praça Campinho, na área resultante da unificação dos lotes do Campinho do Alvorada e da garagem da Viação Sanremo, que totalizam uma área de 12.534,64m².


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5.3. PROGRAMA DE NECESSIDADES E SETORIZAÇÃO DA PRAÇA CAMPINHO Baseado nas particularidades, problemas e potencialidades identificadas através dos estudos da área sob o ponto de vista técnico foi possível estabelecer uma lista de necessidades a serem contempladas no projeto. Com o intuito de possibilitar o uso da área por todos os públicos (crianças, jovens, adultos e idosos) conforme sugeridos nos capítulos referenciais teóricos deste trabalho e visando atender a necessidade de espaços de lazer e para atividades socioculturais do bairro Alvorada e de bairros vizinhos, propõe-se a implantação de uma grande variedade de equipamentos com as funções que se deseja potencializar e introduzir. Desse modo, os quatro setores que compõem o programa de necessidades são: Setor de Esportes, Setor de Convivência, Setor de Lazer e o Setor de Cultura e educação, distribuídos conforme a planta de setorização a seguir.



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Setor de Convivência: Estes espaços estão pulverizados na praça, uma vez que funcionarão também como espaços de passagem e de apoio para as demais atividades sendo utilizados como locais para descanso e espera. Visando atender uma necessidade do público jovem de espaços que permitam a reunião em grupos, propõe-se a criação de um espaço conectado ao circuito de skate, com tomadas no próprio mobiliário. De modo a favorecer a vitalidade da praça no período da noite, foi criada a alameda viva, um espaço-trajeto com a função de unir as áreas do entorno da praça, segmentadas pelo traçado viário existente e comportar feirinhas sazonais com produtos gastronômicos e de artesanato. Figura 34. Vista do acesso à Praça pela Rua Itaóca

Fonte: autora, 2016.

Setor de esportes: Este setor é de fundamental importância para o funcionamento da área, uma vez que, identificado nas visitas ao local que atividades deste segmento já são consolidadas e bem aceitas apesar da precariedade da infraestrutura do espaço. Foram estabelecidos os seguintes ambientes para este setor: Campo de futebol: A FIFA não tem medidas oficiais para minicampos, conforme pesquisas, nestes casos adotam-se medidas proporcionais que permitam um jogo confortável. Recomenda-se que a largura seja aproximadamente ¾ do comprimento, desta forma a área de jogo terá as dimensões de 40x60m. A arquibancada será rebaixada e com capacidade para 470 pessoas, com duas fileiras em cada lateral do campo.


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Circuito de Skate: Pista do tipo Street a modalidade mais difundida no Brasil. A pista possui rampas que simulam a arquitetura urbana de um modo adaptado ao skate e conta com obstáculos como bancos, corrimãos, paredes com inclinação entre 30º e 80º. Espaço de Saúde: Área para exercícios aeróbicos e com aparelhos destinados prioritariamente para os idosos. Figura 35. Croqui do espaço de atividades físicas para idosos.

Fonte: autora, 2016.

Setor de Lazer: Este setor é composto pelo espaço de mesas de jogos que visa atender não só ao idoso, mas também aos jovens pela proximidade à entrada da escola. Com o intuito de oferecer um espaço lúdico e diferenciado para a comunidade, foi proposto um espaço para a interação com o elemento água, dando ritmo e marcando o eixo horizontal entre o acesso à Praça pela Rua Jundiaí e o acesso à escola pela praça. Figura 36. Vista do caminho das águas a partir da rua Jundiaí.

Fonte: autora, 2016.


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O espaço infantil está localizado em uma parte mais reservada da praça e circundado por gradis. Nas extremidades foram dispostos bancos para os acompanhantes, ao centro foram posicionados os brinquedos, facilitando o controle visual por parte dos responsáveis. Figura 37. Croqui da planta baixa do caminho das águas.

Fonte: autora, 2016.

Setor de Cultura e educação: Será criado um novo centro comunitário para o bairro com espaços flexíveis com capacidade para comportar atividades com foco nos setores de alimentação e artesanato,

como

cursos

de

culinária,

pintura

em

tecido,

crochê

e


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empreendedorismo, para que os moradores possam ali ampliar seu conhecimento e obter uma nova fonte de renda. Figura 38. Croqui da fachada do Centro comunitário e acesso à praça pela Rua B.

Fonte: autora, 2016.

De forma a incentivar o cooperativismo e a união dos moradores, próximo ao centro comunitário foi prevista uma horta comunitária que irá fornecer ingredientes para as aulas de culinária. A edificação com sanitários foi localizada próximo ao campinho de futebol e ao centro comunitário aproveitando a infraestrutura hidrossanitária para atender a demanda de uso dos dois equipamentos. Figura 39. Vista a partir do interior da Praça do acesso pela Rua Jundiaí.

Fonte: autora, 2016.

A reflexão sobre os dados levantados nos diagnóstico e a evolução do programa de necessidades e da setorização da Praça Campinho trazem como resultado o anteprojeto que será apresentado no item seguinte.


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5.4. ESTUDO PRELIMINAR As plantas apresentadas neste item também estão disponíveis como anexo no final deste trabalho em escalas adequadas para melhor leitura e entendimento do projeto. Figura 40. Implantação da Praça Campinho.

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Fonte: autora, 2016.

1.Campo de Futebol e arquibancada 2.Centro Comunitário 3.Horta Comunitária 4.Espaço de Mesas 5.Baia de Embarque e Desembarque Escolar 6.Vagas de estacionamento 7.Bicicletários 8.Caminho das águas 9.Espaço Infantil 10.Espaço Saúde 11.Circuito de Skate 12. Espaço dos Jovens 13.Ponto de Táxi 14. Alameda Viva


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O campo de futebol por ser o equipamento consolidado na área optou-se por propor uma nova estrutura considerando as outras funções que serão atribuídas para este local, até mesmo pelo fato da estrutura existente estar comprometida. Considerando que o bairro Alvorada sofre com as enchentes nos períodos chuvosos e que o campo funciona como uma bacia de reservação e permite a infiltração da água, decidiu-se que o piso do novo campo de futebol deveria ser de terra batida. Para não permitir a saída da bola e evitar barreiras visuais, a cancha e as arquibancadas são rebaixadas. O acesso à área de jogo pode ser feito por degraus ou por rampas, tornando o espaço acessível. Além de espaço para jogos de futebol o campo poderá ser usado como espaço para eventos e como bacia de reservação, visto que o bairro enfrenta problemas de alagamento nos períodos chuvosos. Figura 41. Perspectiva da Praça - Campo de futebol com vista para o caminho das águas e o Centro Comunitário ao fundo.

Fonte: autora, 2016.

A orientação solar adotada está dentro dos padrões aceitos para a prática do futebol e as dimensões obedecem as relações confortáveis de jogo. Para a iluminação noturna da área foram utilizados postes com projetores de vapor metálico.


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A edificação proposta para sediar o novo Centro Comunitário de Alvorada (CCA) possui 559,07m². A configuração dos fluxos adotada foi o de sala – corredor, permitindo que fosse aproveitada a ventilação cruzada. As instalações sanitárias foram localizadas em bloco separado com sanitários feminino e masculino, com chuveiro e cabines para portadores de necessidades especiais. Todas as janelas utilizadas são do tipo maxim-ar de alumínio anodizado branco e as portas são de madeira laminada. O novo Centro Comunitário conta com uma cozinha comunitária e quatro salas multiuso com portas recolhíveis possibilitando que as salas sejam utilizadas para festas, reuniões e demais eventos da comunidade com um público maior. Também foi prevista uma brinquedoteca viabilizando a realização dos cursos por tutores de crianças. Figura 42. Perspectiva da Praça - Fachada do Centro comunitário (Rua B).

Fonte: autora, 2016.

Pensando na inclusão da cultura na vida da comunidade, o centro comunitário possui uma biblioteca que realiza empréstimo de livros e computadores com internet para o uso da comunidade. Levando em consideração a criação da cozinha comunitária, pensou-se em criar uma horta comunitária que além de fornecer ingredientes para as aulas de culinária


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estimula a ideia de pertencimento ao território fortalecendo os elos com a praça e incentiva a criação de vínculos entres os moradores de diferentes idades. Devido às enchentes que poderiam contaminar os alimentos e para facilitar o manuseio dos usuários tornou-se necessário que a horta fosse produzida em jardineiras de concreto, o que possibilitou que a horta compusesse um conjunto harmônico com os demais equipamentos sociais urbanos. Figura 43. Perspectiva da Praça - Horta Comunitária.

Fonte: autora, 2016.

Para armazenar as ferramentas e produtos utilizados nos cuidados com a horta foram criados dois módulos de apoio com cerca de 2,60 m² cada depósito. A proposta de arborização realizada para a área teve como principal diretriz proporcionar aos usuários áreas sombreadas e aumentar as áreas verdes do bairro. Sendo assim, nas áreas sociais como o espaço de mesas, o espaço dos jovens e os espaços sociais pulverizados foram propostas árvores de grande porte, como o paubrasil, a canafístula e a chuva de ouro. Além disso, esta proposta partiu da utilização de espécies frutíferas localizadas próximas à horta como o jambeiro e a acerola com o intuito de remeter aos usuários a ideia de que a praça é uma extensão do quintal de suas casas, ou seja, um local onde eles podem se sentir seguros e conviver em harmonia com seus semelhantes.


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As mesas com tabuleiro e bancos foram localizados próximo à horta comunitária, ao acesso criado à escola pela praça e a academia da terceira idade, o que possibilita o agrupamento de pessoas com características diferentes e a interação entre públicos de diferentes idades ao invés de segregar. O material escolhido para a composição foi o concreto , tendo em vista a durabilidade, a facilidade de manutenção e o custo. Figura 44. Perspectiva da Praça - Espaço de mesas.

Fonte: autora, 2016.

Com a intenção de criar um elo entre a escola e a praça foi criado um acesso à escola pela praça, visto que a via em que foi previsto o acesso principal da escola é uma via de mão dupla com apenas uma faixa de rolamento em cada sentido e que os veículos passam em alta velocidade além de a calçada ser bastante estreita. Prevendo-se o aumento do fluxo de veículos com o início do funcionamento da escola de ensino fundamental foi criada uma baia de embarque e desembarque escolar além de vagas de estacionamento que poderão atender usuários da praça e do entorno. Antevendo que com a diversidade de atividades na praça um grande número de frequentadores utilizará a bicicleta como meio de transporte foram posicionados estrategicamente suportes de bicicleta próximos aos acessos, servindo de apoio aos usuários.


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Figura 45. Perspectiva da Praça - Acesso a praça pela Rua Jundiaí.

Fonte: autora, 2016.

O trajeto entre o portal de acesso pela Rua Jundiaí e ao novo acesso à escola foi nomeado de caminho das águas devido à instalação de fontes secas que proporcionam a oportunidade das pessoas interagirem e se divertirem com a água principalmente nos dias quentes. A água utilizada neste sistema é captada da cobertura do centro comunitário, do vestiário e do piso da praça que após passar por um filtro e pelo tanque de reservação enterrado retorna a superfície na forma de jatos no caminho das águas. Figura 46. Perspectiva da Praça - Caminho das águas.

Fonte: autora, 2016.


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Para a pavimentação do caminho das águas, da horta comunitária e do espaço de mesas foi proposto o uso de placas pré-fabricadas de micro concreto de alto desempenho (piso drenante) reduzindo a área impermeável da praça e permitindo a acessibilidade para o tráfego de pessoas. Um dos pontos estabelecidos como primordiais para o bom funcionamento da área foi a iluminação, por se tratar de uma das grandes deficiências da área. No que diz respeito a iluminação pública dos passeios públicos que contornam a praça, os postes foram relocados seguindo o distanciamento entre postes de iluminação desobstruindo o percurso seguro das calçadas permitindo o tráfego de pedestres, além disso os postes foram devidamente sinalizados com o piso tátil. A iluminação da área foi realizada com um tipo de luminária que para a escolha foram levados em consideração à facilidade de manutenção, baixo consumo, necessidades de uso alto, rendimento e compatibilidade com o partido adotado. Como observado no item perfil socioeconômico do diagnóstico, Alvorada possui uma população considerável de crianças e idosos. Para estes usuários foram previstos um parquinho infantil e uma academia da terceira idade respectivamente. O parquinho infantil contemplará equipamentos de lazer e recreação para bebês e crianças. De modo a estimular a interação das crianças com o ambiente natural, a pavimentação proposta para este espaço foi a terra batida. O desenho e as cores dos brinquedos foram definidos de forma a integrá-los a paisagem e promover o diálogo entre estes elementos e as demais estruturas metálicas vermelhas presentes na praça, como o monumento na Alameda Vida e os pergolados. O espaço saúde contemplará uma área pavimentada com concreto laminado para a prática de atividades aeróbicas e uma área gramada onde serão instalados os equipamentos da academia com uso prioritário para idosos. A proximidade entre estes dois espaços favorece a integração entre públicos de perfis diferentes, a vigilância natural e consequentemente a sensação de segurança como foi destacado nos capítulos referenciais deste trabalho.


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Figura 47. Perspectiva da Praça - Espaço infantil.

Fonte: autora, 2016. Figura 48. Perspectiva da Praça - Espaço do idoso.

Fonte: autora, 2016.

Para os jovens foi criado um circuito de skate que se conecta com o espaço social destinado aos jovens. O circuito de skate foi projetado para a modalidade street, por se tratar da modalidade mais praticada e a carência de uma pista para esta modalidade na região. O revestimento previsto para a pista de skate e o banco-


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obstáculo que se estende até o espaço social foi o concreto armado com acabamento polido em cor natural. Por fim criou-se na extremidade da praça com a Rua Itororó um grande canteiro com árvores para acomodação mais descontraída de jovens. Figura 49. Perspectiva da Praça - Espaço dos jovens.

Fonte: autora, 2016. Figura 50. Perspectiva da Praça - Circuito de Skate.

Fonte: autora, 2016.


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Com o objetivo de reforçar os pontos de conexão entre a praça e o entorno, as esquinas foram mantidas livres. Figura 51. Perspectiva da Praça - Esquina da Rua Itaóca com a Rua Itororó.

Fonte: autora, 2016.

O desenho dos acessos foi concebido através da continuação dos eixos da malha viária do entorno com o intuito de valorizar as visuais para a praça. A utilização de pergolados metálicos vermelhos, também presentes em outros espaços da praça reforçam estes eixos. Pensando na intenção do encontro entre as pessoas, foi criada a Alameda Viva, uma via de pedestres que interliga o tecido urbano interrompido pela grande gleba e cria um eixo visual entre os extremos da praça e do bairro no eixo Norte-SUL, melhorando a legibilidade e permeabilidade da área com o entorno. A pavimentação proposta para este trecho foi o basalto claro serrado em placas retangulares. No eixo central foi prevista uma linha de palmeiras imperiais de cuba com altura superior a 12 metros reforçando o eixo Norte-Sul. O cruzamento dos eixos da malha viária é marcado pela escultura Raios da Alvorada, que remete os raios do sol ao alvorecer em homenagem ao Bairro.


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Figura 52. Perspectiva da Praça - Alameda viva - vista a partir do campo de futebol.

Fonte: autora, 2016. Figura 53. Perspectiva da Praça - Alameda viva - vista sentido Rua B para Rua Itororó.

Fonte: autora, 2016.

Além de funcionar como elemento de conexão, a alameda é um espaço para o comércio itinerante em diversos horários e dias da semana, atraindo público que pratica atividades na praça e no entorno, como da igreja, da escola e das residências. Foi inserido neste eixo uma escultura para marcar a conexão visual com as vias do entorno e a partir da esquina da escola fundamental.


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CONSISERAÇÕES FINAIS

Os espaços públicos sejam eles, parques, praças ou ruas, há muito tempo fazem parte da vida urbana. Colaboraram para o desenvolvimento econômico e social da cidade, como ponto de encontro para trocas comerciais, intelectuais, culturais e sociais e se constituíram como espaço democrático e de uso coletivo. A evolução tecnológica e a popularização do automóvel no fim do século XX, assim como a crescente insegurança, que estimula o mercado da “Arquitetura do medo” e dos espaços semi-públicos como os shoppings centers, acabaram por influenciar nos modelos de planejamento urbano da cidade que passaram a privilegiar estruturas para a circulação de veículos e incentivaram que as pessoas vivessem escondidas por trás de vidros com insulfim e de muros altos com cercas elétricas, cada vez mais afastadas do espaço público e do convívio social. A segregação dos grupos sociais não é só resultante desse fenômeno, mas também uma das causas do aumento dos índices de insegurança na cidade. Quanto mais distante o homem do homem e quanto mais impessoal a relação do homem com o espaço público, mais está ameaçada a identidade cultural de uma sociedade. Por isso, a Praça Campinho é colocada neste trabalho como uma solução, salvo as suas limitações, de reaproximar a comunidade dos espaços públicos e de resgatar o hábito de ocupação das áreas livres do bairro por parte dos moradores. Fortalecendo vínculos afetivos e históricos da comunidade com o território através dessa alternativa de apropriação do lugar e por fim, revivificar o sentimento de pertencimento e a identidade cultural. Vale salientar que, o projeto aqui proposto não tem a pretensão de resolver por si só todos os problemas inerentes à área, mas sim fazer parte de uma ação maior, que vise a elaboração de políticas públicas que contemplem ações de intervenção nos espaço públicos e que o conceito de urbanismo social e de humanização sejam utilizados como ferramentas nas intervenções realizadas em áreas negligenciadas e subutilizadas. Por fim, os resultados obtidos nas pesquisas e os demais dados apresentados no trabalham possibilitam a continuidade de reflexões para alimentar a base de estudos sobre os espaços de convívio no bairro Alvorada, que apesar das transformações


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ocorridas, ainda apresenta uma forte identidade local e contribua para o Planejamento Urbano adequado das áreas públicas. Além disso, pretende-se despertar nos seus leitores o reconhecimento da importância de estudos urbanos desse tipo de intervenções em áreas vulneráveis para que possamos vivenciar uma cidade mais socialmente justa e segura.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PROPOSA DE HUMANIZAÇÃO DO BAIRRO ALVORADA INSTITUIÇÃO - DEPARTAMENTO

UNIVERSIDADE VILA VELHA - ARQUITETURA E URBANISMO LOCAL

BAIRRO ALVORADA, VILA VELHA/ ES DESCRIÇÃO

PRAÇA CAMPINHO PLANTA DE DEMOLIÇÕES E CONSTRUÇÕES QUADROS DE ESPECIFICAÇÕES DISCENTE

Louise Rodrigues de Lima

ALVORADA VIVA ESCALA:

INDICADA DATA:

JUNHO/2016 ETAPA:

ESTUDO PRELIMINAR PRANCHA:

01/03


PROPOSA DE HUMANIZAÇÃO DO BAIRRO ALVORADA INSTITUIÇÃO - DEPARTAMENTO

UNIVERSIDADE VILA VELHA - ARQUITETURA E URBANISMO LOCAL

BAIRRO ALVORADA, VILA VELHA/ ES DESCRIÇÃO

PRAÇA CAMPINHO PLANTA DE ARBORIZAÇÃO E EQUIPAMENTOS QUADROS DE ESPECIFICAÇÕES DISCENTE

Louise Rodrigues de Lima

ALVORADA VIVA ESCALA:

INDICADA DATA:

JUNHO/2016 ETAPA:

ESTUDO PRELIMINAR PRANCHA:

02/03


PROPOSA DE HUMANIZAÇÃO DO BAIRRO ALVORADA INSTITUIÇÃO - DEPARTAMENTO

UNIVERSIDADE VILA VELHA - ARQUITETURA E URBANISMO LOCAL

BAIRRO ALVORADA, VILA VELHA/ ES DESCRIÇÃO

PRAÇA CAMPINHO CORTES AA E BB, DETALHES CONSTRUTIVOS DETALHAMENTO DO CENTRO COMUNITÁRIO DISCENTE

Louise Rodrigues de Lima

ALVORADA VIVA ESCALA:

INDICADA DATA:

JUNHO/2016 ETAPA:

ESTUDO PRELIMINAR PRANCHA:

03/03


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