CONSTRUINDO MEMÓRIAS REVITALIZAÇÃO DO LARGO DA ESTAÇÃO Vargem Grande do Sul, cidade do interior do Estado de São Paulo, vem sofrendo a perda de sua arquitetura histórica ao longo dos anos, pela prevalência do interesse econômico em detrimento do (interesse) histórico. A arquitetura histórica representa a identidade da cidade enquanto comunidade e sua preservação, visando o reuso destas edificações, minimiza o impacto ambiental gerado pela produção de novos bens, poupando energia e insumos que seriam necessários para a construção de novos edifícios. A Estação Ferroviária da Cia. Mogiana foi um marco no desenvolvimento da cidade, pois possibilitou o escoamento do produto que movimentou a economia da região por décadas – o café. Com o apogeu do café, que movimentou a economia da região, surgem as grandes fazendas cafeeiras. Suas casas possuem em torno de 150 anos e estão bem conservadas. A contribuição dos imigrantes foi muito significativa para o progresso. Em 1888, com a Abolição da Escravatura, a mão de obra europeia veio substituir o trabalho dos negros nas lavouras de café e trouxe consigo novas técnicas construtivas, enriquecendo a característica arquitetônica do povoado. Surgem as primeiras construções de tijolo maciço e estruturas de telhado elaboradas. Os fazendeiros começam a se mudar para a zona urbana e os primeiros casarões da aristocracia do café foram projetados pelo arquiteto José Speria. Alguns exemplares ainda existem, todos no entorno da praça central da cidade. A riqueza do café também se refletiu nos prédios institucionais. Na região do Largo da Estação foram construídos inúmeros armazéns para abrigar fábricas e maquinários para beneficiamento de grãos que eram produzidos na zona rural do município. Com a desativação da ferrovia muitos deles foram substituídos por residências, mas alguns permanecem e foram restaurados, dando um bom exemplo de reutilização. Os remanescentes arquitetônicos existentes no Largo da Estação Ferroviária datam do início do século XX e são registros da memória coletiva da população. O Largo da Estação pode se tornar um foco de interesse para a população à medida que for revitalizado e equipado adequadamente, pois apesar da Estação em si já ter sido demolida, ainda há no local arquitetura com peso histórico e sua preservação e reuso trariam benefícios não só aos moradores do seu entorno mas também a toda a população da cidade, que carece de espaços para atividades culturais.
Cidades convidativas devem ter um espaço público cuidadosamente projetado para sustentar os processos que reforçam a vida urbana. Uma condição mínima é que a vida na cidade seja potencialmente um processo de autorreforço. (GEHL, 2016, p.65)
Devolver às pessoas a área do Largo da Estação revitalizando-o. Recriar um espaço de encontro, onde haja acesso à cultura e ao lazer. Revitalizar significa convidar pessoas especialmente pedestres, não só a transitarem pelo local, mas se manterem nele por longos períodos, tornando-o atrativo. Seguindo o preceito de Jan Gehl, a proposta é utilizar a escala humana no desenvolvimento de um projeto que reúna cultura e lazer, transformando-o em um ponto de encontro da cidade. A concepção da nova edificação, que abrigará a Escola de Artes é pautada pela permeabilidade, havendo construção a partir do primeiro pavimento, deixando o térreo livre, contribuindo com a sensação de continuidade para o pedestre, que é o foco central do projeto.
Lucia Rodrigues Aliende
RA: 608850