Livro-guia tarot vintevinte

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TAROT VINTEVINTE

LIVRO GUIA

LUANA FONSECA ABRIL - MAIO 2020



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INDICE -

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0 - LOUQUE

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APRESENTACAO

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II - SACERDOTISA

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III - IMPERATRIZ

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IV - IMPERADOR

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V - HIEROFANTE

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VI - AMANTES

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VII - VEICULO

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VIII - JUSTICA

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IX - HEREMITA

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X - FORTUNA

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XI - FORCA

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XII - PENDURADE

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XIII - MORTE

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XIV - ARTE

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XV - DIABO

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XVI - TORRE

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XVII - ESTRELA

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XVIII - LUA

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XIX - SOL

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XX - TEMPO-ESPACO

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XXI - UNIVERSO

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I - MAGUE

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APRESENTACAO Esse baralho foi desenvolvido durante a quarentena da pandemia de covid-19. Ele possui vinte e duas cartas, referentes aos arcanos maiores do tarô e segue a caracterização de seus arquétipos, tomando como referências o tarô de Thoth, de Aleister Crowley, e o tarô Voyager, de James Wanless. A decisão por seguir uma estrutura referenciada a esses baralhos se deu pelo respeito à sistematização de afetos primordiais em torno de tais arquétipos, oferecida pelo acúmulo de tradições milenares. No entanto, o contexto atual (abril de 2020), brasileiro e mundial, modulou uma série de características desse trabalho em específico. Em primeiro lugar, a composição dos sistemascartas, formada por fragmentos de imagens e palavras ou frases, responde à fragmentação e à profusão de imagens e discursos, características de nossa condição pós-moderna e da experiência nas redes. As imagens foram tomadas do arquivo de fotos pessoais existente no meu computador, operação que funciona como a limitação de recursos do momento e ilustra a dimensão ampliada que ganharam a esfera íntima e a relação com a memória. As palavras, apesar de traduzidas e adaptadas dos livros que acompanham os referidos baralhos, tomam aqui sentidos específicos. Na descrição das cartas há também leituras breves que as relacionam à pandemia, ao vírus, ao distanciamento social, a características do capitalismo atual e à trágica situação política do país, comandado por um agrupamento político fascista, negacionista e genocida. Além das leituras dos arquétipos e sua relação com

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o contexto, para cada carta há uma proposição de prática. As práticas buscam efeitos de sensibilização e consciência corporal, de modulação da relação do complexo corpo-mente com o espaço e o tempo e de reflexão crítica sobre a realidade que se impõe. Não têm relação necessariamente literal com a leitura das cartas, nem pretendem ser remédios às questões tratadas, mas surgem a partir de algum vínculo de sentido. Diante de tantas pretensões, os textos foram alimentados pela leitura de produções de pensadores contemporâneos frente à pandemia, além de sensações, percepções e relexões que fiz durante esse tempo que já corre. Apesar desse esforço, porém, o trabalho não busca dar conta dos tantos e tamanhos aspectos envolvidos na complexidade da situação atual. Para jogar, acesse o link: https://luanafonseca.cargo. site/tarot-vintevinte. Há três estruturas de jogos: com uma, duas ou três cartas. Antes de sortear, busque conectar-se com a respiração e com as sensações do corpo no momento. Clique nas cartas para que virem. Em seguida consulte esse livro-guia. A primeira parte do texto contém chaves abertas para leituras, a partir dos baralhos de referência; a segunda, uma leitura mais livre que tenta uma relação com o contexto, de maneira mais ou menos direta; a terceira, uma proposição de prática. SOBRE A AUTORA Luana Fonseca é artista, pesquisadora, terapeuta através do movimento. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Para qualquer conversa: luanafdamasio@gmail.com

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0 . LOUQUE O principal elemento da carta do Louco é seu número: zero. O vazio primordial. Equação do universo. Ar e vácuo. Início, criança. O louco é também sábio, sensível, aberto, mediúnico, espontâneo. Convoca para o relaxamento, o risco, a brincadeira. Zero do espírito, ar do pensamento. Presente. O espírito difere da convenção. O atual estado de paralização, redução de atividades externas e isolamento social proporciona, pres que podem se isolar, uma dupla condição de ubicação: a exigência de uma presença absoluta no corpo, contido num espaço tridimensional delimitado e a infinitude da topologia espacial das redes, ilimitada, ponte com o mundo, como também a expansão dos campos da imaginação e da memória. Pres que precisam circular, há nas cidades um espaço comum esvaziado, reduzido, ameaçador. Também o campo espiritual se amplifica, como amparo e possibilidade de expansão. O elemento ar é carrega a iminência da contaminação, ganhando corpo como vazio que se preenche de conteúdo simbólico e biológico (sempre, mas agora demarcado). -

SUGESTAO VINTEVINTE Num ambiente seguro, sentade em posição confortável e com a coluna ereta, de olhos fechados, atente-se à sua respiração natural, sem modificá-la, por alguns minutos. Perceba como ela está. Quando sentir ganho de consciência do estado atual da respiração, comece a fazer inspirações e expirações longas, retendo o ar com o pulmão cheio, sem intervalo entre expirar e inspirar. Após as inspirações, na retenção, perceba em si o espaço vazio, repleto de ar. Siga, expandindo o espaço e o tempo de retenção, tempo suficiente para experimentar a expansão através do vazio.

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I . MAGUE Multiplicidade de talentos. Habilidades, sabedoria, destreza. Engano. Poder e saberes ocultos. Interferência. Recursos próprios. Materialização, transformação, canalização. O número um refere-se ao zeroespírito manifestado em forma física (presença pela manifestação). Conceituação, escrita, comunicação. Inspiração, esclarecimento. Percepção. Manipulação. Essa carta favorece a posta em prática de atividades que realizem suas habilidades e destrezas, o uso de sabedorias ocultas ou não, já em seu repertório ou acessíveis através de seu poder de canalização. O que é possível materializar? Como interferir? A favor ou em detrimento de que? Como pesquisar e aprofundar, desenvolver? Que novos recursos buscar? Uma boa economia das suas ferramentas pode ser um bom motor de ação nesse momento, transformando suas capacidades em efetivações úteis para a comunidade ou mesmo para si. -

SUGESTAO VINTEVINTE Observe o espaço que reserva para si e para os objetos que estão sob a sua gestão (casa, quarto, canto, parte de armário). Faça um levantamento atencioso da maneira como acomoda suas coisas, tendo em vista que a disposição dos recursos interfere na possibilidade de visualização e ciência dos mesmos. Proponha-se um trabalho, possível e ao alcance de seus desejos, de fazer uma espécie de inventário (seja mental ou sistematizado sobre um suporte como papel) de dois campos de recursos dos quais dispõe: materiais e imateriais. Realize alterações de disposição se for o caso. Tendo consciência e acesso aos recursos busque colocá-los em ativação.

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II . SACERDOTISA Conhecimento relacionado a uma busca pela “verdade”. Autoconhecimento. Quietude, equilíbro. Profundidade. Reflexão, capacidade do número dois (um, que se reflete em dois). Sabedoria, aconselhamento. Receptividade. Sensibilidade. Canalização de percepções metafísicas ao mundo material. Autossuficiência. Diante de tantas forças colonizadoras, anestesiantes e de captura da produtividade para usos capitalísticos, tão evidenciadas pelo reconhecimento frente ao presente, convocam-se também forças de manifestação através de experiências multidimensionais e práticas mágicas. A sabedoria espaço-temporal feminina, que atravessa ancestralidades, vivências do presente e fabulações de futuro, acessíveis por diversas experiências de feminino (não biológico, não padronizado, não aprisionado em estigmas cis-patriarcais) é instrumento fundamental na construção de práticas e epistemes agenciadas aos saberes do corpo e das relações comunitárias. -

SUGESTAO VINTEVINTE Para essa carta sugere-se a criação, produção, de um rito pessoal. Pode ser através de alguma ação já presente no dia-a-dia, ou a elaboração de algo novo. Escolha uma ou mais intenções, a partir das quais a ação se estruturará. O ritual pode ser composto por gestos, palavras, enunciações, ações concatenadas, tendo a participação de instrumentos, objetos, materiais, elementos físicos ou não. É importante a conjuração de um “ambiente” espaço-temporal, ou seja, um momento reservado para atenção, intenção e presença, num espaço escolhido e organizado para tal. Vale considerar o uso de cheiros, a gradação e a cor da luz, se há som e qual, além de elementos materiais.

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III . IMPERATRIZ Guardadora da semente da vida, a Imperatriz tem a energia da mãe, bem como do prazer, da boa fortuna, da preservação. Beleza, alegria, gentileza. Exaltação do feminino. Cuidado. A carta da imperatriz é um duplo da que segue, o imperador. Em cada uma delas reúnem-se, de forma localizada, aspectos do feminino e do masculino, presentes em todes os seres e elementos, como também na cultura. O aspecto do cuidado, agenciado pela figura da mãe, soma-se ao do prazer, força desmoralizante. Potencializam-se aqui gestos de autocuidado e preservação, assim como o cuidado com o mundo e outros entes. -

SUGESTAO VINTEVINTE Coloque atenção nas sensações do corpo. Perceba e escolha uma parte do corpo para a qual dedicar um tempo de cuidado. Com as mãos espalmadas, flexíveis, receptoras, toque, buscando máximo de contato entre superfícies e aprofundando o efeito de troca para o interior das massas (mãos e carne interna do corpo), utilizando as mãos como escutadoras. Repouse-as aí, dando tempo para a conversa acontecer. Se precisar, repita o toque, afastando as mãos e voltando a pousálas sobre a mesma área de pele. Quando sentir que a troca já forneceu informações o suficiente, retire tranquilamente as mãos. Esfregue-as uma na outra com vigor e velocidade, dinamizando-as e as energizando. Intencione cuidado para as informações que coletou. Volte a tocar, agora com função ativa. Use da duração para mensurar o toque. Afaste e repita, se necessário, podendo voltar a esfregar as mãos algumas vezes, até que sinta que o gesto se manifestou.

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IV . IMPERADOR Conquista, guerra. Desenvolvimento material, mundano. Pioneirismo, poder. Originalidade. Ambição, aspirações. Governo. Pai. Criador de novos mundos para si e outres. Iniciador, fazedor. Política, dinheiro. Clareza mental, força emocional, energia física. Os aspectos tidos como masculinos nessa carta são úteis no sentido da ação, do uso da força em situações necessárias. No entanto, como o padrão hegemônico desse momento da história é mantido pelo eixo patriarcal, exploratório, capitalístico, uma vez que há um desequilíbrio das forças no sentido do abuso dos poders masculinos e repressão dos femininos, podemos usála para observar, de uma perspectiva crítica, aspectos como a soberania, a biopolítica e o controle. Entender as formas de governo que se impõem e quais vias de escape ao controle são possíveis de serem criadas. -

SUGESTAO VINTEVINTE Se propõe para essa carta o uso da raiva no sentido da transformação. Para isso, pode-se fazer uma prática de movimento, iniciando com a respiração. Respira-se por alguns minutos de forma intensa, rápida e caótica, sem estabelecer um ritmo. O ar entra e sai com vigor pelo nariz. Após esse estágio, move-se o corpo de modo a canalizar a raiva (pode-se usar imagens, referências, sentimentos existentes), movendo com força e explosão todo o corpo, emitindo sons ininteligíeis. Fazê-lo por alguns minutos. Em seguida, com os braços erguidos, de pé, inspirar profundamente e expirar batendo com força os calcanhares no chão. Repetir algumas vezes. Paralizar. Estar assim por um tempo. No último estágio, dançar como numa celebração. Usar essa prática para descobrir e expressar energia.

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V . HIEROFANTE Inspiração, sabedoria divina. Domínio da vida. Persistência. Força. Desafio, perseverança. Aprendizagem e ensino. Paciência, organização. Relação com o oculto. Como uma criança, amadurecer com a experiência. Iluminação. Observação. Abertura de caminhos para aprofundamento na força da vida. Dogmatismo e tradição. Através de todos os ciclos que o mundo natural-cultural do planeta atravessam, há uma força de manutenção da vida que insiste e resiste, convive com as forças de destruição. Uma coisa não anula a outra. O Hierofante convida à persistência, através da conexão com o aprendizado a partir da experiência, do estudo, da observação e da sabedoria. Sua sombra pode levar a aderência a dogmas e tradições e para escapar dela é importante praticar e nutrir a vitalidade no sentido do movimento e da atualização. -

SUGESTAO VINTEVINTE Busque uma prática de leitura concentrada. Escolha um livro, objeto material, cujo conteúdo textual te traga informações importantes para você nesse momento. Antes de começar, inspire profundamente algumas vezes, perceba os apoios do corpo, na posição em que está, que te conectam à força da gravidade, evidência do presente e da relação do corpo com a materialidade imediata do mundo. Toque esse objeto que tem em mãos, perceba seu peso, cor, cheiro, textura. Inicie a leitura, seguindo até que conclua algum ciclo proposto pela estrutura do texto (um capítulo ou mais, um subtítulo, um poema, uma passagem). Faça o exercício de conectar o que leu à constelação que te compõe.

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VI . AMANTES Duplicidade, ambiguidade, opostos, complementariedade. Dependência, dúvida. Escolha. Energia, jovialidade. Atração. União, junção, comunhão. Integração de polaridades. Semelhanças, diferenças. Esforço para manter centro. Embora essa carta nos remeta facilmente à estrutura das relações amorosas, afetivas, sexuais, ela também diz respeito a quaisquer aspectos ou situações que impliquem na dualidade. Como toda carta, há forças alegres e tristes, vivas e destrutivas, positivas e negativas, porém esse é o próprio tema des amantes. Talvez seja o momento de perceber o que está em jogo, habitando as contradições, sem procurar que haja integração. A depender da situação, escolhas podem ser necessárias. -

SUGESTAO VINTEVINTE Prática se sozinhe: posicione-se diante de um espelho. Comece a mover, lentamente, partes do corpo, observando a reprodução refletida de suas ações em imagem. O que chega? Há algo que não se traduz? A imagem, invertida, representa os afetos que se movem no seu corpo? O que transita entre ação e imagem, corpo e superfície refletora? O que se perde? O que se ganha? Prática se com parceire: Diante ume de outre, uma pessoa se move enquanto a outra busca seguir, de forma espelhada, os movimentos. A princípio de maneira reprodutora, buscando fidelidade às ações de parceire. Em seguida, movendo-se livremente, direcionade pelos afetos gerados pela movimentação de parceire. Alternar entre as posições movedora-propositiva e receptoramovedora.

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VII . VEICULO Triunfo, vitória. Esperança. Saúde. Movimento. Obediência ao funcionamento. Exploração de possibilidades. Aventura. Por ser uma carta relacionada ao signo de câncer, o carro carrega sua babagem e sua casa consigo. Possibilidade de uso da violência para manter ideias tradicionais. Prazer na destruição. Apesar desta carta implicar numa certa objetividade do movimento, num rigor, ela é carregada pela simbologia do signo de câncer, ligado às águas e às emoções. Na conjunção desses fatores, o veículo, como chamamos aqui, também chamado de carro ou carruagem em outros baralhos, conduz a um caminho de saúde. Há também de se observar os aspectos de lida com a autoridade e a obediência. -

SUGESTAO VINTEVINTE No banho, sob a água corrente do chuveiro. Deixar que a água caia, visualizando os fluxos de líquidos que ocorrem no interior do corpo. Propõe-se um toque de ativação e mobilização da fascia, tecido conjuntivo que envolve e conecta todos os tecidos do corpo, do nível superficial ao profundo. A fascia é o veículo da memória de sensações do corpo e da memória histórica da vida. Pousar ambas as mãos sobre a parte superior do peito, próxima ao pescoço. Aprofundar o toque, abrindo um campo de escuta. Exercendo uma leve pressão e mantendo a aderência das mãos, deslizá-las para baixo, na direção do umbigo, estirando consigo a pele e os tecidos subcutâneos. Promover esse estiramento muito lentamente, retendo a posição ao se atingir um limite. Segurar por um tempo. Retornar do mesmo modo. Todo o movimento deve durar em torno de 2 minutos. Repetir de cinco a dez vezes.

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VIII . JUSTICA Balança, equilíbrio. Ajustamento. Lei da ação e reação. O número 8 representa o equilíbrio em meio a mudanças constantes, como uma espécie de dança. Para tanto é importante a flexibilidade. Lados direito e esquerdo do cérebro, análise e criação. Julgamento, decisão. Objetividade. Ética. Reparação. No tarot de Crowley refere-se à mulher satisfeita. A justiça da natureza funciona fora das leis morais da cultura. É de outra ordem. Toda ação implica numa reação, por essa razão vemos tantos ciclos de ajustamento promovidos por movimentos sociais e forças e extra-humanas. Cabe a cultura do homem ajustar-se de maneira a promover a justiça em seu âmbito social e ecossistêmico. A carta traz uma dimensão de reparação. Como mobilizar energias e empregá-las de maneira consistente em ações comuns no sentido do ajustamento, seja ele social, econômico, racial, de gênero ou com a natureza? -

SUGESTAO VINTEVINTE Com o uso de um cabo de vassoura, apoiado horizontalmente no chão. De pés descalços, se inicia por uma das extremidades do bastão. Apoiar um dos pés, no sentido do comprimento, em seguida o outro, subindo o corpo sobre o cabo. Fazê-lo lenta e detidamente. Dar um e outro passo. Observar a distribuição de peso em todo o corpo e os movimentos involuntários, decorrentes da procura por formas de gerar equilíbrio. Caso caia, comece de novo. Não é um jogo que se ganha, mas uma pesquisa do próprio corpo. Seguir até que se complete o trajeto, chegando ao outro lado, sem correr. Observar o que se aprende na experiência de um equilíbrio não estático.

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IX . EREMITA Carta do signo de virgem. Elemento Terra. Instrospecção. Metáfora da fertilidade: preparação do solo, semeadura, cultivo, colheita; espermatozóide, óvulo, fecundação, gestação, nascimento. Mistério da vida. O máximo do contato com a matéria é também a reintegração do espírito. Quando em isolamento social, a despeito da constante virtualização vivida nas redes, é possível - e importante, para não esvair-se em algaritmos - intensificar a experiência matérica da unidade do corpo. Também são favorecidas as atitudes de contemplação e reflexão, possibilitando o ganho de perspectivas outras. -

SUGESTAO VINTEVINTE Passe algumas horas do dia sem conectar-se à internet. Durante esse tempo, deite-se com as costas no chão, braços e pernas relaxados. Respire profunda e longamente três vezes. Sinta o peso do corpo, os pontos de contato. Visualize-se subindo, vendo de cima a cidade, o país, o continente, o planeta, o universo. Depois desça, aos poucos, retornando ao corpo. Imagine-se agora afundando no chão, penetrando aos poucos as camadas de terra, sentindo seu corpo rodeado por ela. Retorne e imagine-se retraindo para dentro do próprio corpo, encontrando abrigo no ponto interno mais profundo. Esteja aí por alguns minutos. Aos poucos, busque uma maneira de levantar-se, ainda de olhos fechados. Dobre levemente os joelhos e perceba o peso do corpo nos pés. Balance, de forma sutil, alterando a distribuição do peso, dando-se conta do que te sustenta. Toque com as mãos todo o perímetro do corpo, sentindo o contorno de pele, limite último de seu volume físico.

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X . FORTUNA Mudança de destino. Em geral, sorte. Abundância, prosperidade. Saber receber. Oportunidades. Bom uso dos recursos. Produção. Coragem, assunção de riscos. Materialismo. Sinergia. Partilha e retorno. Exploração. A sorte da carta da fortura refere-se ao elemento incalculável, contingente e implica na transformação constante. Pode significar acúmulo material, o qual, segundo a lei da contingência, está sempre passível de redistribuição, no caso das injustiças e dos desequilíbrios. -

SUGESTAO VINTEVINTE Sugere-se para essa carta uma análise dos recursos materiais e imateriais. O que há na sua vida em abundância, que se pode celebrar? Analise o que te traz conforto. Há excessos? Se sim, tome consciência deles. O que fazer então? Como trabalhar para alguma redistribuição? Havendo faltas, são estruturais? Como você se posiciona na estrutura das classes sociais? Talvez essa análise traga algum desconforto. Conviva com ele e busque informações. Tanto o conhecimento quanto os recursos materiais e imateriais devem trazer autonomia e equilíbrio. Lembre-se de que não há liberação individual, mas coletiva. Busque encaminhar seu desconforto. Quanto à sorte contingente, observe as dimensões da sua vida em que o imponderável se manifesta. Nem tudo está sob seu controle.

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XI . FORCA Domínio de si. Coragem. Energia. Expressão. Liberdade e controle. Luxúria. Alegria. Uso de poder mágico, magia. Atributos. Aspectos vários da força. Vida em acordo com multiplicidade do espírito. Ego, exibição e vaidade. Carta do fogo do signo de Leão. Também chamada de volúpia, a carta onze implica no uso alegre da força, na vigorosidade. O prazer é importante e libertador, como uma embriaguez ou êxtase divinos. Essa força é então expansão da energia vital, tal como a criação primitiva. Há algo de feminino nesta carta, a despeito do referencial de força como algo primordialmente masculino. -

SUGESTAO VINTEVINTE Num campo de intimidade, havendo esse recurso, bote pra tocar músicas ou sons que te excitem. Caso sua companhia sonora seja o silêncio, o disfrute. Mova o corpo, procurando nos movimentos gestos que tragam prazer. Siga assim, alterando, diminuindo e aumentando intensidade, ritmo, força, contato com o chão, as paredes, os objetos. Perceba a expansão de energia, busque produção de calor, suor. Use as mãos ou outros objetos para tocar a pele, suavemente, profundamente, esfregando matéria com matéria. Vá aumentando e disfrutando o campo de energia. Se for o caso, se masturbe. Perceba as alterações de estado e de potência de ação. Sinta a expansão e produção de energia a partir desse investimento no próprio prazer.

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XII . PENDURADE Reversão. Redenção. Inversão. Carta do deus que morre, morte. Alcance de feitos através de meios opostos aos esperados. Entrega passiva. Deixar ir, abrir mão. Desistência. Espera. Suspensão. Circunstâncias fora do controle. Aspectos profundos, noturnos. Renascimento. Compassividade. Abandono do ego para o bem comum. Desespero, autocompaixão. Importante superar a moral da redenção através do sofrimento e da punição. Nos baralhos tradicionais a figura ilustrativa do doze é um homem pendurado pelo pé, com o corpo suspenso. Há em muitos a presença de uma cobra, símbolo da criação e da destruição. Também é chamado de o afogado, por sua relação com os elementos água e ar (inversão), imagem que podemos também transferir aos tempos pandêmicos, onde o perigo da morte chega através do ar. -

SUGESTAO VINTEVINTE Assumir posição invertida. Uma maneira simples é “sentar-se ao contrário no sofá”: com os pés para o alto, os quadris apoiados sobre o assento, os braços ao lado da cabeça; apóia-se as mãos no chão, escorregando até uma posição que se possa sustentar por alguns minutos. Respire, deixando que o sangue verta para a cabeça. Aproveite a posição para observar o espaço em que se encontra a partir dessa nova condição de posição. Observe os objetos e referenciais de localização, como o piso, as paredes, o teto. Revire lentamente os olhos, explorando o máximo de lateralidade e circularidade, acompanhando o movimento com sua observação. Essa é uma prática que exercita ver as coisas de outro modo. Repita dez vezes para cada lado. Retorne lentamente à posição sentada, observando os efeitos da inversão.

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XIII . MORTE Transformação. Mudanças abruptas. Destruição para renovação. Queda de ilusões e padrões destrutivos. Entropia, impermanência. Fim de ciclos, início de outros. Tristeza circunstancial. Liberação. Novos ares. Percepção da contingência inerente a todos os processos. Medo da vida. Morrer para viver. Natureza que não é destruída pelas alterações da matéria. Como muitas imagens do tarot, a morte aqui é uma figura simbólica, referente a mortes metafísicas e renovações. Essa morte simbólica, assim como a natural, faz parte dos ciclos entrópicos. No entanto, em meio a uma pandemia num país fundado pelo genocídio e pela violência, componentes nunca desativados pelo poder, a morte faz-se materializada. É preciso então lidar com a dimensão do luto e entender que mortes e de quem se dão por efeitos de questões estruturais. -

SUGESTAO VINTEVINTE Separar esponja áspera ou escova - que se possa usar no corpo - e deixá-la onde se banha. Escolher o espaço mais amplo possível do território em que se está. Começar a caminhar, aquecendo o corpo, buscando aos poucos imprimir mais velocidade. Em algum momento, transformar o passo em corrida. Continuar. Gradualmente intensificar e aumentar a velocidade, persistindo ainda que com cansaço. Correr até a exaustão, certificando-se de levar o corpo a atingir um ponto quase impossível, intransponível. Parar muito brevemente. Ir daí direto ao banho. Ainda sob os efeitos da exaustão, com a respiração que houver, banhar-se esfregando a pele vigorosamente, com força, usando seu instrumento como meio, promovendo a troca da pele. Lavar o corpo, finalizar o banho. Respirar.

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XIV . ARTE Combinação de forças, alquimia. Realização, materialização. Gestão, economia. Cálculo. Oferta. Elaboração. Ação, acontecimento. Criação. Carta do signo de sagitário. Comunicação, inspiração, visão. Expansão. Condução do inconsciente ao consciente. Canalização. Desconexão com a realidade, mania e impaciência. O sentido profundo da carta da arte é a alquimia, a transformação da matéria, através da combinação de forças, em busca da medicina universal. Curioso e preciso pensar arte como alquimia e vice-versa. Estão presentes em especial os elementos fogo e água e uma mistura possível entre eles. Se formula a existência. -

SUGESTAO VINTEVINTE Escolher um espaço onde possa se movimentar. De pé, respirar profundamente três vezes, conectando com as sensações do corpo. Firmar os pés no chão. Fechar os olhos. Aos poucos, sinta todas as partículas e células do corpo virando água, traduzindo a sensação em movimento. A ideia não é parecer ou representar, mas ser água. Deixe que a sensação invada, percorra, se expanda e conduza o movimento do corpo. Siga assim até sentir que explorou suficientemente. Num dado ponto, o que era água passa a ser, gradualmente, fogo. Todos os pequenos cantos mais interiores e exteriores passam a ser fogo. Aprofunde na sensação. Perceba o que há de diferente no fogo em relação a água. Aproveite diferentes intensidades. Aos poucos a água retorna, sem tirar espaço do fogo. Ambos os elementos convivem no seu corpo, ao mesmo tempo, por toda a extensão, como uma coisa nova, criada pela sua própria alquimia. Explore longamente. Lentamente, a matéria do corpo volta a cobrar seu lugar. Respire, abra os olhos.

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XV . DIABO Impulso cego. Força, irresistibilidade, falta de escrúpulos. Ambição. Tentação. Prazer. Carta dionisíaca, invoca a celebração e o riso, para espantar medos e arrependimentos. Obsessão. Exaltação. Materialismo. Destino. Uso de substâncias para alteração da consciência. Liberação das convenções sociais. Delito. Nas cartas da Morte e do Diabo, pensamento e êxtase são desenvolvidos. Aqui não temos a figura binarisada pela moral católica, mas um arquétipo da energia criativa, vital e material. Fazer a própria vontade. Pode significar egoísmo e inescrupulosidade, porém com disfrute. O mais sublime convive e opera junto ao mais terreno. -

SUGESTAO VINTEVINTE Comece a prática escolhendo uma substância da qual fazer uso, a seu critério, preferência e alcance, afim de mudança de estado e liberação. Aproveite-a na quantidade que te satisfizer. Comece a mover o corpo, liberando tensões e descobrindo movimentos não usuais. Experimente sons, expressões faciais, movimentos com a língua (movendo-a se move uma cadeia de músculos que seguem até o ânus estão conectados). Tome consciência do seu ânus e sexo. Siga movendo por onde as forças te levarem, experimentando dosagens entre mover e ser movido. Faça coisas que sua moral em geral não permitiria.

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XVI . TORRE Briga, conflito. Perigo. Ruína. Queda. Mudança de planos a partir de forças externas. Revolução. Quebra de padrões e paradigmas. Metamorfose. Fim. Exame apurado para seleção do que segue e do que basta. Término de velhas estruturas. No sentido original, a carta da Torre representa a queda do material existente, velho, através do fogo, para a vinda de um novo aeon (eternidade, tempo de vida, força vital, geração). No sentido pessoal, pode representar mudanças importantes. No sentido político, a alimentação de um processo de queda, fim de ciclos, por vezes urgente e necessária, como no caso de um governo fascista e genocida. -

SUGESTAO VINTEVINTE Propõe-se para esta carta a feitura lenta e meticulosa de um objeto. Esse processo deve durar alguns dias ou semanas, enquanto o objeto é construído, montado e cuidado. Já de início se sabe que o objetivo final é a sua destruição. Sendo assim, incorpore insumos, materiais, palavras, recortes, que estabeleçam uma rede de sentidos, uma narrativa que se aproxima do fim. Conviva com ele, interferindo sempre que for o caso, fazendo alterações, como uma espécie de gestação. Prolongue esse convívio tempo o suficiente para que se estabeleça uma relação, que estejam nítidos os aspectos para os quais se deseja o fim, que haja tensão. Se desejar, converse com ele. Quando houver uma soma importante de apego e tensão, escolha um método de destruição apropriado para as qualidades materiais do seu objeto: fogo, queda, arremesso, estilhaço. Livre-se rapidamente dos restos.

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XVII . ESTRELA Visão. Auxílio. Luminosidade. Inspiração. Clareza nos entendimentos relacionados à espiritualidade. Sonhos, delírios. Autoestima. Esperança, ajuda. Erro de julgamento, desapontamento. Serviço ao Universo. Pode representar desconexão com a própria luz e beleza, apagamento. Em um mundo tão tomado pela racionalidade e pelo narcisimo, modulado pelas expectavias externas e pelo desejo de pertencimento e aprovação, a relação com a autoestima e o amor por si pode tornar-se hora exacerbada, distorcida, desconectada, hora criminalizada, diminuída, desvalorizada, quando as forças externas pedem por produtividade, ganho material, utilidade. O cuidado de si é então adoecido. Para que se tenha saúde e força no enfrentamento de tantos desafios políticos, relacionais e subjetivos que o momento impõe, é importante voltar atenção para o que te compõe, com amor e generosidade, firmando-se naquilo que é importante, sem depender de aprovação. -

SUGESTAO VINTEVINTE À noite, num ambiente escuro, de luzes apagadas. De pé ou sentade, acender uma vela diante de si, se de pé apoiar a vela (sobre um prato ou num copo) sobre uma mesa, prateleira ou suporte, para que esteja mais próxima da altura dos olhos, se sentade apoiá-la no chão. Observar o movimento do fogo e o efeito da luz em seu entorno imadiato e no ambiente. Visualize agora essa luz no centro do seu peito. Como o fogo, ela se expande, desde o interior da carne, iluminando uma área que se expande gradualmente, até envolver todo o corpo. Medite nessa sensação. Sentindo-se preenchide e envolte, expanda a luz aos poucos para todo o cosmos.

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XVIII . LUA Ciclicidade, mudança. Contínua transformação natural. Atração. Ilusão. Eclipse da razão. Loucura. Sonho. Histeria. Emoções. Noite como terreno para a atenção e o contato com desejos e motivações subconscientes. Percepção de padrões e ciclos. Instabilidade emocional. Contamos o tempo pelo relógio, segundo a métrica linear. Paralelamente a esse sistema, porém, há ciclos diversos que correspondem a outras contagens ou que funcionam segundo outras percepções. A carta da Lua trás a dimensão da ciclicidade e da variação, frente a um mundo que cobra e oferece a ilusão da estabilidade. Itensificam-se nesse arcano a intuição, a instabilidade emocional e um mergulho no oculto que pode trazer ilusão e loucura, aspectos a se cuidar. -

SUGESTAO VINTEVINTE Descansar os olhos. Separar um pano molhado com água gelada e uma pedra, se tiver (cristal ou a que tenha contigo). Deitade, feche os olhos. Procure identificar e soltar as tensões nos músculos do rosto: testa, cenho, sobrancelhas, pálpebras, bochechas, boca, língua, maxilar. Pouse sobre os olhos o pano molhado e no centro da testa, no espaço entre os olhos, repouse a pedra. Observar o escuro e suas gradações de cor. Inspirando e expirando profundamente, busque aos poucos um ritmo tranquilo para a respiração. Aprofunde no escuro e no relaxamento. Se pensamentos vierem, deixe-os passar. Quando sentir, retire lentamente pano e pedra, mantendo-se de olhos fechados. Abra aos poucos os olhos, recebendo gradualmente as imagens do entorno.

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XIX . SOL Franqueza. Vitalidade. Energia. Cura. Ganhos, riqueza. Glória. Vaidade, arrogância. Prazer. Espontaneidade, manifestação. Presença alerta. Possível dificuldade de aprofundamento em aspectos menos visíveis e obscuros. Sol espiritual e físico, tem como finalidade a emancipação, para a liberação dos preconceitos e das amarras morais. O sol é fonte de vida e morte (aspectos de uma mesma função) para tudo o que há sobre a superfície da terra. Ele franqueia a vitalidade e faz mostrar as coisas como elas são. -

SUGESTAO VINTEVINTE Mãos espalmadas sob o sol. Encontre um lugar e horário em que o sol entre no espaço em que está. Se houver área externa, faça a prática aí. Caso não haja sol direto, posicione-se no ponto mais claro que encontrar, durante o dia. Com o corpo voltado de frente para o sol/ luz, de olhos fechados, estenda os braços para frente, espalmando as mãos abertas com intencionalidade. Receber a luz e o calor do sol por todo corpo, as mãos sendo receptoras em especial. Quando sentiu que absorveu e acumulou energia nas mãos, pousá-las sobre os olhos. Repetir os ciclos quantas vezes quiser. Usar essas mãos para mexer nas plantas.

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XX . TEMPO-ESPACO Decisão final sobre passado, passo definitivo. Novo presente para o futuro. Visão. Justiça. Consciência. Carta primaveril. Morte de antigos padrões. Avaliação. Percepção expandida. Ganho de possibilidades a partir de inflexões nos padrões limitantes. Redirecionamento. No seu sentio original, essa carta fala sobre a constituição d eum novo tempo, o aeon (eternidade geracional), num casamento entre possibilidades ilimitadas e realidade. Acondição da quarentena nos faz expenciar uma dupla experiência espaço temporal: aquela do presente e do espaço físico, materializada nas sensações trazidas pela materialidade do corpo no espaço, e aquela do espaçotempo topológico, o virtual das redes e a ampliação da imaginação e da importância da memória. Ambos coexistem, sem julgamentos morais. A questão que se impões é como gerenciar uma presença relacional com nosso entorno imediato e a expansão através da conexão “espiritual” e da topologia das redes. Certamente as imaginações, pessimistas, otimistas, criadoras, estão ativadas. Como gerar uma saúde possível, crítica, uma continuidade, com rupturas necessárias e urgentes?

SUGESTAO VINTEVINTE Escolher referenciais para contar o tempo que não o relógio. Observar o crescimento dos pêlos, os ciclos de morte e vida das plantas, a troca das células da pele. Ler as notícias, dosar a leitura de notícias. Projetar o agora. Como pode ser a experiência do tempo presente se o passado estiver à sua frente e o futuro nas costas? Diante de você há memórias pessoais demarcadoras, a história mais ou menos recente do país, o tempo geológico, a cultura das gerações, extendendo-se do peito adiante. Como fica a relação com o futuro?

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XXI . UNIVERSO Universalidade. Multiplicidade e unicidade a um só tempo. Síntese e expansão. Resolução e continuidade. Possibilidades. Recomeço. Inércia em caso de falta de ação diante dos possíveis. Perseverança. A jornada do louco inicia no zero, o vazio primordial. Esta carta, última dos arcanos, complementar a primeira, o Universo, o cosmos, implica em muitas complexidades, mas também nesse vazio, o grande salão. Daí a ideia de síntese, não redutora da multiplicidade. -

SUGESTAO VINTEVINTE À noite, antes de dormir, escolher e pegar nas mãos uma pedra que se tenha em casa. Senão uma pedra, algum objeto que te traga sensação de peso e presença. Ter a pedra ou objeto nas mãos. Escolher um ponto em que haja vento, ou a presença de um ar fresco - pode ser a janela, uma sacada, ou o lado de fora. Fechar os olhos. Sentir o peso do corpo nos pés, assim como o peso da pedra nas mãos. A pedra é sua âncora, tanto quanto a gravidade que a sustenta e sustenta seu corpo no chão. Abrir os poros para o ar ou vento. Deixar-se atravessar por ele, sem perder a ancoragem da pedra e dos pés. Experimentar as sensações dessa condição, deixar-se estar assim um tempo. Deitar para dormir e aguardar o sonho.

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