CAOSZINE
SOLAR
PUNK
A SUA REVISTA DE MAGIA DO CAOS
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NESTA CAOSZINE Revista editada e diagramada por Lua Valentia para o grupo magia do caos SUSTENTABILIDADE EARTHSHIP MATAS CILIARES PRESERVANDO ÁGUA PRODUTOS
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SIGILOS E MAIS Saiba como usar sigilos para mudar o mundo.
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ESPECIAL CASAS
ÁGUA, SUA LINDA
Neste artigo, abordamos diversas
Saiba como surgiu uma das páginas mais influentes
opções de casas sustentáveis para
sobre sustentabilidade da internet e aprenda com
você mesmo produzir a sua.
ela!
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POESIAS
HARPAEHOLOGYEVE
Leia os hipersigilos criados pelos nossos
Esta é a palavra que vai ficar na sua men-
incríveis artistas e já sinta a mudança
te, entenda o motivo!
acontecendo de dentro para fora.
Editorial O mundo precisa de pessoas loucas, rebeldes, atentas e conectadas de verdade. O mundo precisa de revolucionários e de ativistas, assim como precisa de artistas, bruxas e magos. Nós entendemos a importância de respirarmos um ar limpo, de andarmos por lugares limpos, de termos direito à comida orgânica e sem agrotóxico. Queremos água sem plástico e temperaturas agradáveis. Pensando nisso, criamos esta edição totalmente dedicada ao movimento SolarPunk. É a nossa primeira Caoszine, o que já indica o tom que desejamos para nosso futuro enquanto comunidade de Magia do Caos. Como magista do Caos, é sempre bom questionar os próprios conceitos. Eu estava numa vibe muito pessimista em relação ao futuro da humanidade e isso estava me corroendo por dentro. Veja bem: vários desastres naturais, notícias péssimas todos os dias etc. Eu realmente estava só me alimentando disso, digo espiritualmente. E eu não tenho nada contra a sombra ou o lado obscuro da vida, sentir medo e raiva faz parte. Mas isso não estava me fazendo tão bem. Então finalmente encontrei um movimento, dentro da própria bruxaria, que
surgiu no Brasil, mas que tomou mais forma internacionalmente. Chama-se: «solarpunk». É basicamente um movimento em que você é otimista e age para uma vida mais utópica em que tecnologia, bruxaria e sustentabilidade fazem parte do seu dia-a-dia. Esses hipersigilos (livros, pinturas, ilustrações, música, qualquer forma de arte) são para se contraporem aos hipersigilos criados no século XX e que propunham um final catastrófico da humanidade. Pra quem se interessou, temos o livro Solarpunk – Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável, da editora Draco É difícil ser otimista num mundo de obstáculos, especialmente agora que o céu parece cair sobre nós. Só mesmo um bando de malucos para topar este desafio. Agradeço a todos que me escreveram com suas obras, em especial à Tayna Zahlouth que ilustrou a capa. Todas as imagens que não foram creditadas são de bancos pagos de imagens. Esta edição é para todos os punks, especialmente do movimento SolarPunk. Um forte abraço para o grupo Magia do Caos,
Lua Valent ia
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sigilos e mais Entenda os sigilos que você pode usar para ajudar
NADA É VERDADEIRO, TUDO É PERMITIDO, INCLUSIVE SONHAR COM UM MUNDO NOVO!
Símbolo do movimento Extinction Rebellion
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O magista do Caos é conhecido por usar sigilos, ou seja, símbolos mágickos de poder que são responsáveis por fazer algum tipo de mudança no mundo. Existem vários tipos de sisiglos, como descritos no livro Vero, da Lua Valentia. Neste caso, estamos usando um símbolo de forma recorrente. Cada sigilo representa um movimento específico. Usados
Símbolo do movimento de Resistência
coletivamente, o poder de tais sigilos aumenta proporcionalmente. O magista pode colar e pintar tais sigilos pela cidade, roupas, objetos, da forma que achar necessária. Ele também deve ativar tais sigilos sempre que puder, de forma que o poder de cada um deles permaneça. O sigilo à esquerda, do movimento Extinction Rebellion,
é bastante popular na Austrália e no Reino Unido. Também é importante para o Brasil. “Extinction Rebellion (abreviada como XR; em português, “Rebelião da Extinção”) é um movimento sociopolítico que pretende utilizar a resistência nãoviolenta para evitar o colapso do clima, deter a perda de
biodiversidade e minimizar o risco de extinção humana e colapso ecolĂłgico. É um movimento globalmente ativo que pede desobediĂŞncia civil na crise climĂĄtica para acabar com a extinção em massa. O objetivo da Extinction Rebellion ĂŠ o exercĂcio de pressĂŁo sobre os governantes e o pĂşblico para aumentar a conscientização sobre a crise climĂĄtica. Extinction Rebellion foi estabelecida no Reino Unido em maio de 2018, com cerca de cem acadĂŞmicos assinando um apelo Ă ação em apoio em outubro de 2018 e lançado no final de outubro por Roger Hallam, Gail Bradbrook, Simon Bramwell e outros ativistas do grupo de campanha Rising
Up !.Em novembro de 2018, vĂĄrios atos de desobediĂŞncia civil ocorreram em Londres. O movimento ĂŠ incomum, um grande nĂşmero de ativistas se comprometeu a ser preso e ir para a prisĂŁo.Citando inspiração de movimentos de base como Occupy, o movimento de independĂŞncia de Gandhi, as Sufragistas, Martin Luther King e outros no movimento pelos direitos civis, a Extinction Rebellion pretende reunir apoio mundial em torno de um senso comum de urgĂŞncia para combater o colapso climĂĄtico.â€? JĂĄ o sigilo da direita ĂŠ do Movimento de ResistĂŞncia. đ&#x;†˜ Sigilo feito pelo tecnomancer Eldritech! Assim como nos EUA, vamos trazer este
movimento para o Brasil. Trata-se da resistĂŞncia contra a opressĂŁo. A favor da liberdade de expressĂŁo de todas as pessoas, crenças, status e sexualidade. Pela liberdade de crença, de amor. Pelo diĂĄlogo. Por um paĂs mais unido e melhor. Vamos espalhar esta ideia! VocĂŞ tambĂŠm pode criar seu prĂłprio sigilo, movimento e ritual. Na Magia do Caos, o importante ĂŠ que vocĂŞ use a sua prĂłpria criatividade e siga em frente.
Faça
parte ĂŠm
mb a t ĂŞ c o v
Ilustração por ativistas do movimento Extinction Rebellion.
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SUSTENTABILID Á
gua na torneira, comida armazenada e luz elétrica. O que é básico para o dia-a-dia dos mais afortunados pode se tornar um desafio de se conseguir nos próximos anos. Mais do que nunca, as crises de mudanças climáticas e o aumento da população nos levam a repensar nosso estilo de vida. Imagine não mais ter que se preocupar com as contas de luz, de água e com as filas de supermercado. Ou, pelo menos, reduzir ao máximo as despesas domésticas. É sim, possível. Basta agir de forma sustentável, ou seja, tomar atitudes para suprir as necessidades mais básicas da sua família e se comprometer com o destino daqueles que ainda virão. Ser sustentável é ter uma postura em defesa da própria vida e daquelas pessoas que
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amamos, não apenas para o velho bordão “salvar o planeta”. A falta de preocupação com nosso meio ambiente tem consequências claras: secas extremas em alguns lugares, enchentes devastadoras em outros. O desequilíbrio ecológico gera perdas materiais, torna o dia-a-dia mais difícil e coloca a vida futuro em risco. Para Marcel Bursztyn, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), “A humanidade parece despertar apenas quando os problemas se tornam muito evidentes”. Segundo ele, sustentabilidade é “buscar um progresso associado à melhoria do bem
estar da população e ao maior desempenho das atividades econômicas”. Não se trata de tratar a situação econômica com descaso. Pelo contrário. “Quando os consumidores exigem das indústrias e quando os eleitores exigem dos políticos, as mudanças acontecem”. Para que aja mudança, é preciso saber bem o que está acontecendo no mundo ao seu redor e o que fazer para mudar seus hábitos de consumo. Por isso, faça sua parte: leia atentamente esta revista especial de sustentabilidade. Ela é gratuita. Partilhe com seus amigos, leve para as escolas e locais comunitários, torne-a pública.
DADE
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JÁ PENSOU CONSTRUIR SUA PRÓPRIA CASA E/OU MORAR NUM LAR SUSTENTÁVEL?
ESPECIAL: CASAS
SAIBA MAIS SOBRE CASAS SUSTENTÁVEIS
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P
ensando no futuro, empresas oferecem alternativas para a construção de moradias elegantes, confortáveis e que podem se manter estáveis por longos períodos. A empresa estrangeira Earthship Biotecture leva a sustentabilidade ao seu nível mais radical. O conceito da Earthship transforma sua vida num dia-a-dia singular, celular, individual e descentralizado.
Ou seja, você é, de fato, independente do sistema. As casas são construídas ao redor do mundo com materiais recicláveis. O terreno é estudado e a arquitetura analisada para obter os melhores ângulos de fontes de energia naturais. Caso o cliente não queira contratar um serviço pronto, a empresa disponibiliza manuais para que ele mesmo possa construir sua própria casa (ou obter ajuda para tal).
“Muitos anos atrás, eu construí uma versão inicial do modelo de sobrevivência que estamos apresentando agora. Eu construí o prédio com a ajuda de amigos. [...] Eu vivi lá por um tempo em total liberdade porque eu não tinha contas. Eu possuía a minha vida”, afirma Michael Reynolds, principal arquiteto responsável.
EU VIVI LÁ POR UM TEMPO EM TOTAL LIBERDADE PORQUE EU NÃO TINHA CONTAS.
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EARTHSHIP VIDA SUSTENTÁVEL E CONFORTÁVEL É POSSÍVEL Todo o sistema é pensado de forma a tornar a casa independente, desde captação e tratamento da água, da obtenção de energia elétrica de fontes naturais (sol e vento), até à produção de alimentos orgânicos. O design das casas lembra um pouco o de Star Wars, ainda mais agradáveis aos olhos.
Detalhe do banheiro de uma Earthship pronta para a venda. Custa $369,000
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Saiba mais visitando earthship.com
Narumi Kataiama
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TECVERDE O Brasil também conta com uma empresa sustentável. A Tecverde promete entregar uma casa num período de 4 a 6 meses, ou seja, o método de construção assegura ser duas vezes mais rápido que o convencional. O imóvel conta ainda com isolamento térmico e acústico, além de uma tecnologia sustentável que chega a ter uma redução de até 80% em emissão de gás carbônico e de 85% de geração de resíduos durante a construção. É possível financiar o imóvel através da parceria que a empresa tem com o banco Santander, que oferece o programa “Construção Fácil”, em até 30 anos, ou pela Caixa Econômica Federal. Estes são apenas dois exemplos de como a realidade começa a mudar. A demanda por áreas verdes, orgânicas e sustentáveis está cada vez mais evidente. O sujeito torna-se de fato livre quando consegue viver de forma autônoma e sustentável. Caso ainda não seja possível adquirir algum imóvel como este, procure ao menos pesquisar a mais respeito de como funcionam tais construções.
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Em parceria com a construtura FKlas, 66 famílias de Curitiba que estavam na fila da Cohab foram beneficiadas com casas construídas pelo sistema Tecverde
Saiba mais visitando www.tecverde.com.br
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ECO CASA A casa sustentável é mais barata Carol Daemon
U
ma leitora escreveu reclamando sobre os custos de construir-reformar uma casa para padrões sustentáveis. Fiquei surpresa, porque a idéia é exatamente o contrário, reduzir os custos e impacto ambiental, o que reduz os custos de todos nós a longo prazo. Como a maioria das pessoas têm a visão de que o produto sustentável é como o orgânico da agricultura, melhores mas restritos a uma “minoria biochic”, assumo o compromisso de
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publicar uma série de posts dando exemplos práticos de como tornar sua casa mais verde, ou até totalmente verde, gastando pouco e com muito estilo. Já que eu trabalho na área e gosto muito do que faço, vejo como inaceitável uma opção reciclada e marginal ser mais cara do que o convencional para as massas. Em tempo, orgânicos também são para todos, vá numa Feira local e veja como pode até sair mais em conta do que o comprado no
supermercado, eu falo melhor sobre isso na postagem Orgânicos podem ser mais baratos. E mãos à obra:
01 Você não precisa comprar móveis caríssimos e assinados, produzidos em MDF oriundo de madeira reflorestada. O reflorestamento de eucalipto é um mito que devasta às áreas remanescentes de mata atlântica. Reciclagem é um tripé apoiado em pelo menos 3 conceitos: recusar,
reutilizar e só então reciclar. Compre móveis de segunda mão, em madeira de lei, nas centenas de lojas, feiras de rua, antiquários de todo o país e até em sites de leilão. Você terá um móvel melhor, mais resistente e que já consumiu sua cota de madeira, água e combustível fóssil na logística de transporte. Aproveite para comprar as louças (inglesas), copos (de cristal), talheres (de prata), objetos de decoração, itens de colecionador, obras de arte e afins
s
CAROL DAEMON
LAR,
ECO LAR
A autora Supervisora certificada em Segurança, Meio Ambiente e Saúde de plataformas de petróleo. Mergulhadora, fotógrafa e voluntária. Cozinheira e permacultora autodidata. Responsável por 3 vira-latas resgatados.
nesses locais - os vendedores sempre dão desconto. 02. Faça seu aquecedor solar em casa, o custo total da placa é menor do que sua conta mensal de gás. A Sociedade do Sol ensina em cursos e ainda disponibiliza uma apostila para download gratuito em seu site. 03. Reuse todas as águas cinzas da máquina de lavar roupa. O custo total desse “projetinho doméstico” não passa de R$30,00 e te faz reduzir o consumo de água doméstico em pelo menos 200lts por semana. 04. Adote de uma vêz por todas o sanitário de caixa acoplada em comunicação com a pia. Um sanitário novo custa R$150,00 e pode ter sua tubulação de pvc adaptada sem precisar quebrar a parede. 60 a 70% CAOSZINE | 15
do consumo de água em residências é oriundo dos banheiros.ão de casas antigas e compre todas as portas, janelas, sancas, rodameios e rodapés nesses locais. Caso não vá precisar de algum item, mas se apaixonou por aquela “porta antiga de fazenda”, leve a porta (janela) assim mesmo e a transforme num encosto de cama, base para mesa de jantar, biombo separador de ambiente, moldura para quadrosespelhos ou mesmo a pregue na parede fazendo dela um quadro imenso e tridimensional. Nesse leilões ou mesmo galpões de venda de demolição, você pode comprar vitrais, azulejos antigos, tudo em madeira e até algumas peças em gesso. Eu descrevo melhor minha experiência de ter morado numa casa em parte construída com material de demolição na postagem Um país em obras. 05. Se estiver construindo a própria casa, aproveite os leilões de demolição de casas antigas e compre todas as portas, janelas, sancas, rodameios e rodapés nesses locais. Caso não vá precisar de algum item, mas se apaixonou por aquela “porta antiga de fazenda”, leve a porta (janela) assim mesmo e a transforme num encosto de cama, base para mesa de jantar, biombo separador de ambiente, moldura para quadros-espelhos ou mesmo a pregue na parede fazendo dela um quadro imenso e tridimensional. Nesse leilões ou mesmo galpões de venda de demolição, você pode comprar vitrais, azulejos antigos, tudo em madeira e até algumas peças em gesso. Eu descrevo melhor minha experiência de ter morado numa casa em parte construída com material de demolição na postagem Um país em obras. 06. Já existem telhas e forros internos totalmente desenvolvidos em pet reciclado para substituir até compensado naval, prometo buscar um fornecedor e trazer a informação. Mas não compre telhas de amianto, por favor. 07. Se realmente estiver empolgado, tente
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fazer pelo menos 1 ecotinta caseira, caso contrário, priorize as tintas comerciais produzidas em base aquosa. Na hr de descartar, lembre que as latas de tinta não reciclam, são lixo cinza, e as transforme em vasos de planta. Um bom pretexto para começar outra boa prática ambiental doméstica, uma horta caseira. 08. Garrafas de vidro, especialmente as de vinho (azuis e verdes), viram lindos vitrais se encaixadas inteiras na alvenaria, como um tijolo de vidro. Basta o executante fazer um desenho interessante. 09. Telhado verde, o Instituto IPEMA e a Rede Permear dão cursos muitas vezes gratuitos. 10. Coletar água da chuva é mais fácil do que parece, toda laje é naturalmente inclinada para facilitar o escoamento da chuva, basta instalar uma calha e na saída da calha, uma cisterna. 11. Retalhos, cortinas, toalhas de renda e afins. Você pode usar até lona de caminhão higienizada para forrar uma cama box velha e existem centenas de cooperativas reaproveitando retalhos, colchas parcialmente rasgadas, toalhas de renda parcialmente manchadas vendidas em brechó e até sacos de café para fazer cortinas, almofadas, forrar cadeiras e poltronas. Os tecidos são limpos, tingidos e cortados, parecendo novos. Um dos grandes problemas de nosso tempo é que tudo vem com muita embalagem e o artesanato local inclui socialmente a população desempregada quando reaproveita essas embalagens. O melhor exemplo brasileiro, na minha opinião, é a Tem quem queira, cooperativa de presidiários que reaproveita outdoors para fazer bolsas exclusivas, os detentos já saem da carceragem com outra expectativa profissional. Você pode usar o exemplo deles e fazer do
outdoor descartado um papel de parede alternativo para uma única parede numa sala toda branca. Lembro sempre também da mãe de uma amiga de infância que, deprimida e cheia com os 2 filhos rapazes e adolescentes, arrancou a rede da varanda (eles colocavam o pé sujo em cima) e a transformou numa cortina longa que dispensava blackout.
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COMO SURGIU SAIBA COMO SURGIU A PAGINA AGUA, SUA LINDA
PATRICIA KAHLIL
R
Foto: Reprodução TED Professor Antonio Donato Nobre, numa apresentação para TED (Technology, Entertainment, Design), organização sem fins lucrativos voltada para disseminação de ideais.
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io de Janeiro, sábado à noite, 1º de novembro de 2014. Lia o relatório do professor Antonio Nobre na semana de seu lançamento, depois de receber o link do arquivo por mensagem de um amigo ambientalista no facebook, João Valderato. A cada página, eu me seduzia mais com os encantos e mistérios da natureza e me espantava mais com a capacidade
humana de destruíla. No fim da leitura, o professor fazia um apelo contra a ignorância ambiental do brasileiro, que já havia consentido à tragédia do corte de 50% da floresta Amazônica pelas madeireiras e criadores de gado. Comecei a postar fotos com frases do relatório. No dia seguinte, fui a São Paulo, pois na ocasião, além de meus trabalhos como jornalista
Dados sobre o relatório que serviu como inspiração para a página
,
RE O V R
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Madeira de árvores da Amazônia Fotografia por Karl Mooney
para a OIT sobre Trabalho Infantil e para revistas de artes visuais, havia aceito um job em uma “agência de inovação”. Lá, entre engenhocas eletrônicas e traquitanas, cuidava das redes sociais de uma grande empresa do showbusiness no país. Ressalto isso porque eu que havia crescido com a cultura do jornalismo, de textos elaborados, assistia às criações publicitárias para engajamento do público no pior e melhor da indústria
da música. E via como funcionava. Ao chegar em SP, esbarrei com Tom Bojarczuk online no facebook e o convidei para almoçar comigo na Liberdade. Eu só pensava no relatório. Mostrei para ele empolgada a palestra em vídeo de divulgação feita pelo professor para um grupo de jornalistas, ambientalistas e governo. Dizia que se fossemos depender da mídia tradicional para espalhar aquele conhecimento, corríamos sério risco de ninguém jamais saber o que estava ali. Primeiro,
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duvidava que todos os jornalistas leriam o relatório inteiro. Segundo, não achava que o relatório deveria ser esgotado em apenas uma matéria de lançamento no jornal ou cópia de release. Conversei com Tom sobre os posts de engajamento em redes sociais que estava acompanhando a realização na agência. Todos bonitos, curtos, alegres, com um linguajar amigo para dizer uma única mensagem: a data do show e sua importância. Perguntei: “Tom, vamos fazer memes com as mensagens do professor, num trabalho voluntário? Um post por dia, como muitas páginas, só isso”. Ele se empolgou e disse mais: precisamos ser acima de bonitos e simples, muito fofos. Sugiro que usemos o “fofismo” como estratégia de marketing de guerrilha para disseminar a mensagem que poucos se interessam. Tom debateu um pouco sobre a 20 SOLAR PUNK
possibilidade de financiamento do projeto. Eu insistia que esse trabalho não poderia ser financiado por uma empresa e que deveria ser feito porque nós dois juntos estavamos tocados com a urgência de transmitir aquela mensagem. Ele como ilustrador e eu como jornalista, duas pessoas da comunicação, que viviam comunicação, mas que só estávamos até então usando nosso conhecimento profissionalmente, em troca de tostões que não nos faziam nem mais ricos, nem mais pobres. Ele falava de crowdfunding. Eu dizia que seria difícil ter crowdfunding quando ainda ninguém havia visto nosso trabalho ambiental, nem nós mesmos. Topamos em criar, como teste, a página do relatório ilustrado com o nome “Árvore, Ser Tecnológico”, como desafio de criar até 100 posts, em 3 meses. A página entrou no ar na segunda-feira, um dia depois, 3 de novembro.
Em menos de um mês já tinhamos mais de 10 mil seguidores. Eu comecei a ter trocas diárias por email com o professor, para discutir os memes da semana e as discussões levantadas nos comentários da página. Entre nossos seguidores havia pessoas das mais diversas profissões e cantos do país, muitos estudantes de engenharia florestal. Nossos memes começaram a ser muito compartilhados, tendo sido um deles compartilhado mais de 20 mil vezes, outro 5 mil, outro 2 mil. Tudo sem impulsionamento ou investimento. Recebemos pedidos de fora para tradução dos memes em outras línguas. Abrimos todo o material no creative comuns para que os interessados, entre professores do ensino médio e pessoas com vontade de entrar nessa campanha, pudessem usa-los à vontade. E essa é a história da Árvore!!
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MATAS CILIARES A RELAÇÃO ENTRE O DESMATAMENTO DAS MATAS CILIARES E A CRISE DA ÁGUA NO SUDESTE AFINAL, QUAL É A IMPORTÂNCIA DAS MATAS CILIARES PARA PROTEGER A NOSSA ÁGUA?
Imagens e textos por Água, sua linda
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Cantareira Os níveis de água do sistema Cantareira ainda continuam abaixo do volume morto, segundo a Sabesp. “A situação não está nada bem, apesar da TV ‘não se sabe bem o porquê’ comemorar o nível do Cantareira e Alto Tiete, sem enfatizar o uso da água da Billings e que ainda estamos no negativo, ou seja, no segundo volume morto”, afirma a página Água, sua linda. Gráfico feito pela página Água, sua linda.
A
s matas ciliares ficam à margem de de sistemas de produção que não são adaprios, igarapés, lagos, olhos d´água tados às condições locais de clima e solo têm e represas. Têm este nome como sido fatores responsáveis pela destruição referência aos cílios humanos. Da de vastas extensões de florestas nativas na mesma forma que os cílios são importantes região. para a proteção dos nossos olhos, as matas Alguns produtores também desmaciliares o são para proteger os reservatam para que os igarapés aumentem tórios de água. a produção de água no período Infelizmente, tais de estiagem. Esta realidade matas vêm sendo degradeve-se ao fato de as das devido ao desmaárvores deixarem de AS MATAS CILIARES tamento. A pecuária, ‘bombear’ água usada PROTEGEM por exemplo, exige a na transpiração das NOSSA AGUA destruição de vastas plantas. Contudo, pesáreas. A organização quisas mostram que ambiental WWF, em seu esta prática, com o temsite oficial, também aponta po, tem efeito contrário, pois outros fatores para a diminuição com a ausência da mata ciliar de tais áreas: ocorre um rebaixamento do nível do lençol freático (de água).Também as queiA Amazônia sofre, ainda hoje, um promadas, utilizadas como prática agropecuária cesso de diminuição contínua devido para renovação de pastagens ou limpeza da às políticas de incentivos à pecuária e terra, aparecem como causas de degradação. culturas de exportação (café, cacau etc). O efeito das queimadas leva ao empobreciO aumento das populações rurais e a prática mento progressivo do solo”.
“
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Quando chove, sem a informação necessária, pessoas se perguntam nas redes sociais se o sistema Cantareira está furado. O sistema não consegue absorver a água graças ao efeito esponja.
“
Como o solo está muito seco, as águas das chuvas entram na terra rachada e não se acumulam. Esse é o chamado efeito esponja. Se não tem floresta, a água cai e evapora. Há uma relação delicada e fundamental entre floresta e água. Como o entorno da represa Guarapiranga foi todo desmatado, por exemplo, a drenagem fica prejudicada”, afirma a página Água, sua linda. A Sabesp, responsável pelo fornecimento de água em São Paulo, não preservou a mata ciliar da Cantareira. Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo, a GV Agro (Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas) e a Empraba (Empresa
Imagens por Água, sua linda
SEM MATA CILIAR, SEM AGUA
“ Fragmento do atigo de Marcia Hirota, originalmente no Blog do Planeta 24publicado SOLAR PUNK
Estudo da Fundação
2.270 km2 do conjunto de
SOS Mata Atlântica
seis represas que formam o
divulgado com exclu-
Sistema Cantareira.
sividade pela revista
O levantamento avaliou
Época constatou que a
também os 5.082 km de
cobertura florestal nativa
rios que formam o sistema.
na bacia hidrográfica e nos
Desse total, apenas 23,5%
mananciais que compõem o
(1.196 km) contam com
Sistema Cantareira, centro
vegetação nativa em área
da crise no abastecimento
superior a um hectare em
de água que assola São
seu entorno. Outros 76,5%
Paulo, está pior do que se
(3.886 km) estão sem matas
imaginava. Hoje, restam
ciliares, em áreas alteradas,
apenas 488 km2 (21,5%)
ocupadas por pastagens,
de vegetação nativa na
agricultura e silvicultura,
bacia hidrográfica e nos
entre outros usos”
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) asseguram que é preciso o plantio urgente de 30 milhões de mudas. Tais mudas seriam responsáveis por recompor 34 mil hectares no entorno do Cantareira, o que recuperaria águas e nascentes.
nascentes”, informa a página Água, Sua Linda.
PRESERVAR AS MATAS CILIARES ALGO ESSENCIAL!
“
Em 50 anos, foram destruídas todas as matas ciliares ao longo dos rios nos 12 municípios que cercam o Cantareira. Florestas nativas essenciais para a manutenção da vida foram substituídas por plantação de eucaliptos, espaço para criação de gado, condomínios de luxo com casas com piscinas e loteamentos. Essa vegetação garantia infiltração do solo, evitava erosão, evitava contaminação da água e que os rios secassem. Segundo o professor Antonio Carlos Zuffo, Unicamp, a vegetação exerce esse papel não só na beira dos rios, mas também mais longe, no topo dos morros, onde intercepta a umidade atmosférica e devolve água para o solo que chega nas Imagem por Água, sua linda
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Imagem e texto por Árvore, Ser Tecnológico
E
m projetos de recuperação ambiental, a mistura de sementes nativas e de adubação verde tem conseguido colocar muito mais árvores por hectares com a metade do custo do plantio de mudas. Com o uso de muvuca de sementes, as árvores crescem junto com os arbustos e ervas. Quando as plantas de crescimento mais rápido e vida mais curta morrem, deixam a matéria orgânica para enriquecer o solo. 26 SOLAR PUNK
As outras plantas de vida mais longa já podem seguir seu desenvolvimento, na sucessão natural ou ecológica. Com o acompanhamento certo, pode-se plantar agroflorestas produtivas. Os paleoíndios transformaram a Amazônia num rico pomar uma vez. Segundo nosso consultor botânico Paolo Sartorelli, “a técnica de muvuca apresenta resultados em menor tempo e com muito mais vantagens por hectare: maior sombreamento, maior
deposição de matéria orgânica, maior densidade de plantas que nascem espontaneamente (regenerantes) e árvores estabelecidas. Isto porque, as sementes apresentam uma adaptação mais natural às condições ambientais do que mudas produzidas em viveiros. Além de todas estas vantagens, a técnica de Muvuca tem menor custo, pois o uso direto de sementes dispensa a necessidade de viveiros. E contribui com a inclusão social e engajamento ecológico, pois gera trabalho e renda a habitantes do campo, indígenas, assentados, quilombolas e pequenos produtores rurais que são capacitados tecnicamente para coletar as sementes ao mesmo tempo que protegem a floresta que os circunda”.
A
Imagem e texto por Água, sua linda
Os rios são seres vivos
prendemos na escola no “Systema Naturae” que a natureza se divide em três reinos, animal, vegetal e mineral, que se subdividem em classes, ordens, famílias, espécies. No comecinho do primário, aprendemos a classificar o mundo entre coisas “vivas” e “não-vivas”. Uma árvore? Vivo! Um rio? Não-vivo. Não-vivo?! Mesmo se refletíssemos, “poxa, o rio pode ser vivo”, a professora logo explicaria que “o rio faz parte do grupo dos não-vivos, pois um rio não nasce, cresce, se reproduz e morre”. Será? Na cosmologia indígena dos povos que já moravam aqui em Pindorama antes da invasão européia e sua cultura, a visão de mundo sempre foi outra. Para eles, a água no rio, a água no mar, as montanhas, o planeta, tudo isso é vivo.
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or que nas escolas falam sobre o desperdício de água em casa e não falam do alto consumo de água potável pela indústria, serviços (shoppings e hotéis) e setor agrícola? Uma pesquisadora da UFMG de Engenharia Ambiental analisou livros usados nas escolas do país para provar que somos vítimas de uma abordagem política para nos tornar pouco informados e logo pouco críticos sobre a gestão e responsabilidade do governo na
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garantia de água. Para ela, o que há é um tom “apocalíptico sobre a água” que sempre coloca o usuário como vilão. “Estamos culpabilizando o uso doméstico e prescrevendo como os indivíduos devem se comportar para economizar água, não permitimos que outras reflexões críticas sobre a “problemática da água” façam parte das aulas de geografia (e de outras disciplinas), perdendo a oportunidade de
sensibilizar os estudantes para uma formação mais crítica”. quilombolas e pequenos produtores rurais que são capacitados tecnicamente para coletar as sementes ao mesmo tempo que protegem a floresta que os circunda”.
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Eis aqui nossas poesias e visões infinitas do futuro que virá, o futuro que abraçamos como um coletivo. Um futuro cheio de amor e de união.
Somos um MUITO
DE MIM
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Lua Valentia Veja todas as crianças marchando com os Rebeldes da da Extinção Logo mais vamos festejar no Rainbow Warrior Até que as árvores altas nos pedem para voltar para casa É a paz verde agora, tudo está dançando, brilhando, subindo Levando sementes e sonhos agora no baile de Gaia Não mais abelhas quebradas: provavamos o pólen saudável Limpamos o sangue da Terra, as lágrimas e o oceano Somos todos Um, somos o número um Observe a chuva purificando nossas almas Deixamos queimar, agora começamos a crescer, fluir 11. Alimentos
coloridos crescem saudáveis nas nossas janelas Tudo está conectado, em uníssono Nós somos a voz do futuro Estamos aqui no agora Nós colhemos o que queremos Paz, amor, fraternidade Entre tudo e todos Reconhecemos a vida Universal Somos a expansão verde, a verdadeira consciência, somos um!
Meu futuro
João Lucca
É assim que vejo meu futuro ideal, vou explicar como eu vejo essa arte que fiz. Em cima há um trecho de uma música que se chama “girassol da cor do seu cabelo”, é uma música que considero o tema meu e da minha namorada. Nós sofremos muito preconceito, pelo fato de eu ser um homem trans, já chegou ao ponto da gente ser expulso de casa pelo simples fato de amar, apesar de tudo isso e muito mais, a gente continua se amando e nunca desistindo. Desenhei a gente no futuro, coloquei cores mais alegres, deixei meu corpo mais masculino como se eu já tivesse feito a minha tão sonhada transição hormonal. Esse futuro, é o futuro que a gente luta, lutamos pra ter nossa casa, isso significa paz, sossego pra gente, o amor tem que triunfar apesar de tudo. Acredito que isso também sirva para os outros LGBTs que passam por coisas parecidas que a gente, a gente só quer amar em paz, acredito também que o amor na sociedade está bem escasso.
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A queda do Olimpo Nocto Machado Caíram as colunas do Olimpo Zeus me disse. Disse “meu filho, o tempo que tive foram eras de guerra, paz tristeza e alegria.” Disse “mas meu tempo acabou assim como meu lar o Olimpo desabou.” “Mas não seja por isso, não chores por mim, os deuses ainda andam pelas ruas noturnas das cidades ainda bebem vinho, ainda cantam canções e ainda lembram dos tempos que passamos juntos.” As paredes racharam, do topo das nuvens pedaços de mármore branco foram sendo derrubados sobre a terra dos mortais. Hoje, se andarmos pelos montes, pelas florestas, sem pontes,
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pelos mares, e não fontes, se nadarmos nos rios e se olharmos bem de perto, veremos por lá, os pedaços do Olimpo, o céu está na Terra. “O céu, meu filho, pode ter finalmente entrado em eterno colapso. Mas os pássaros voam, os animais cheiram e sentem, os cegos procuram e acham pedaços das colunas de mármore do Olimpo, espalhados pelo chão.” Em anarquia espiritual o Olimpo vive dentro do âmago pulsante da terra molhada e com cheiro de folhas quando chove, sentimos mais forte. O Olimpo desabou, mas ele vive, ele vive.
O inevitável Novo Aeon César Jadiel Debaixo do sol o amor reina, sobre Gaia a paz agora festeja a lua ilumina o extraordinário evento a natureza cantando em uníssono acalento homens e animais, espíritos e encarnados, todos os seres do universo encantado Bailando em um frenético Caos Ordenado todos em paz, alegria e prazer o Universo em êxtase, um orgasmo astral celebra a evolução dos pequeninos humanos em ascensão Enfim chegara a hora Deuses caminham entre os escolhidos os sábios, que reerguem o império caído ensinam o poder de criar, modelar, desenhar e projetar curar a terra, os rios, o mar Amar, dançar os báquicos ritos viver, expressando o poder do espírito A pluralidade é respeitada, de todas as cores, credos e raça o homem, a mulher a criança de qualquer parte do planeta brilhante igualdade, respeito e compaixão todos se veem em empatia Não ha pobres e ricos, melhores e piores, todos sabem do seu poder e compartilham com o próximo ser A cada caminho de negra pedra plantas a tomam em uma nova selva a selva urbana literal o verde toma o preto, devora o concreto e purifica limpa, renova, ar puro abundante da flora todos agora podem ver, de seus pulmões com novo ar podem dizer: “Oh, que admirável mundo novo! abençoado seja o novo aeon eternamente, assim seja!” CAOSZINE | 33
Queremos arte & liberdade!
Flavia Uva
Estamos aqui para montar um novo futuro e é assim que enxergamos!
Vitória França Tudo que penso posso concretizar A utopia mora em algum outro lugar Que minha ciência não pode acessar E mesmo essa Também não é utopia Parte do processo Em que se É o que se cria À espreita ali no fundo Onde habita o não-há A parte indivisível do seu DNA Que em breve eu garanto Não mais se fracionará Nítida comunicação Em simbiose com o irmão Que você pensava não importar Essas palavras se vão E pra que não sejam em vão Se quiser Pode completar...
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É chegado, e bem vindo, o momento em que o ser humano recupera sua humanidade, conjugamos corretamente o verbo governar, pela primeiríssima vez, dando a ele o merecido pronome oblíquo: eu me governo, tu te governas, nós nos governamos. A nova lei é a Liberdade, pura e completa, seja ela individual ou coletiva, não restrita ao ser humano, mas ao bicho, que livre do assassinato pode ser o que nasceu pra ser, selvagem, e a terra, que livre do veneno tornase o sustento da vida, como sempre foi, entretanto sua natureza foi confudida por tempos, mas agora tudo está claro. A terra é de todos, a
comida é o suficiente para sustentar a vida que anda de pés descalços pelo ventre da sua mãe original, a água limpa e cristalina, e mata todas as sedes, limpa os corpos, purifica as almas, água que é livre dos restos de uma existência humana que já não existe, seres que não morreram, transcederam. As caixas se quebram, os sexos, os gêneros e os credos vivem sem pudores, são pontes de conexão de um ser com outro, de um amor com outro, e o amor é rotina, disciplina ensinada desde que estamos no ventre, o amor universal, o verdadeiro, o que escuta e não prende, o que afaga e jamais agride.
As mentes são massageadas pelo mais profundo conhecimento, da ciência, filosofia, das artes e da magia, e de tudo que merece ser estudado e aprendido. A riqueza humana é a cultura, moeda de troca de valores, sim trocas, sem jamais roubar nada, todos os humanos são artistas, sensíveis observadores, criativos produtores. A beleza é unificada, a humana e a beleza que vem da terra, dos céus e de tudo que é natural é, em toda sua glória, a mesma beleza.
Hora São Gabriel Felipe Jacomel étiquetal qual tique nervoso não deixe o sistema levar todos louros tique tal qual ponteiro taque tá que por inteiro toma os meios por ahora! amem
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HARPAEHOLOG Gabriel Simon
O silêncio sepulcral da noite em pleno inverno do deserto era uma prerrogativa interessante para o que estava prestes a acontecer, no Atacama faziam quatro graus. Em um dos maiores observatórios astronômicos do mundo, ele estava agasalhado, com uma calça grossa e duas blusas como era de costume quando ia trabalhar. Não haveria nenhum evento digno de nota, e nenhuma observação especial a ser realizado, o trabalho seria rotineiro, com uma série de procedimentos simples. Entre eles eram processados pelos computadores no período noturno uma analise dos arquivos de áudio captado pelas sondas extraplanetárias, a procura de padrões que indicassem comunicação. E alheio a tudo isso ele estava distraído comendo seu jantar sobre a mesa de trabalho, sem saborear a refeição, pensava em o que faria quando essa semana acabasse. Primeiramente por que voltaria ao período matutino a qual preferia, onde as tarefas eram menos maçantes e havia algumas pessoas 36 SOLAR PUNK
para conversar. E então faltariam apenas três semanas para suas férias e o retorno a seu país de origem. O e-mail do computador que analisa os áudios espaciais poderia ter passado despercebido se não fosse um dia tão ordinário, para ter algo com que se entreter ele verificou a correspondência o programa havia identificado um arquivo binário de tamanho razoável, ele começou então a procurar segmentos que indicam o possível reflexo de um arquivo enviado de um satélite terrestre e que tivesse refletido em algum tipo de obstáculo e retornado ao espaço. O retorno do programa demonstrou que o arquivo não tinha nenhum metadado que indicasse uma transmissão vinda da Terra. Nesse momento ele começou a suar frio, em conjunto suas mãos começaram a tremer, oque ele ali estava testemunhando não era apenas grandioso, se realmente a transmissão fosse exoplanetária, seria uma confirmação de vida em outros planetas, melhor seria a confirmação de vida inteligente e disposta a se comunicar com nossa espécie. Ele precisava agora de
GYEVE uma análise de espectro para descobrir a provável localização da mensagem. Iniciou o programa de verificação e saiu da sala para aguardar. Ele não se lembrava de ter ficado tão nervoso alguma vez na vida, seu corpo todo chacoalhava de excitação e medo, seus pensamentos eram uma névoa cheia de glória e assombro, se o que tinha acontecido dentro daquela sala fosse verdade, amanhã seu nome estaria em todos os jornais e noticiários, um homem, um cientista e pai de família de vida mundana teria entrado na história, e jamais seria esquecido. O tempo de execução do programa foi de quarenta e cinco minutos, que consumiu exatamente três cafés na máquina do laboratório, quatro cigarros e quase uma vida inteira de Felipe. Os resultados confirmaram que as ondas vieram de uma distância muito grande, três vezes a distância de Plutão para o Sol, mas ainda sim, muito mais próximo que a maioria dos sistemas estelares distantes.
Após isso Felipe, começou a procurar os dados online e reparou que o sinal estava se repetindo, por fim sua curiosidade venceu o lado científico, ele transformou a informação para vários formatos de arquivos conhecidos usando o código binário e o mais congruente foi um arquivo de áudio com uma palavra sendo repetida, numa voz computadorizada: - HARPAEHOLOGYEVE A comoção causada no outro dia nos jornais, na internet e na mídia foi sem precedentes. A noticia foi recebida com ceticismo pela maioria dos meios, entretanto várias fontes corroboraram sua autenticidade, havia uma sonda enviada por outra raça que estava transmitindo e repetindo a mesma mensagem para nós. Apesar de termos recebido o áudio a palavra não tinha nenhum significado em nenhuma língua conhecida, porém aos poucos ela foi fazendo parte do vocabulário humano, vista em pichações nas cidades, nos tópicos mais procurados em ferramentas de busca. Algumas religiões e seitas tentaram explica-la apelando para sistemas de numerologia e cabala. Em um primeiro momento virou algo como esperança que vem de longe, ou de fora. Passamos a especular sobre a composição dessa exo-linguagem e também da espécie que tinha a tecnologia para nos alcançar, começamos a preparar missões não tripuladas para visitar a sonda da onde vinha sua transmissão. Alguns processos econômicos interessantes começaram a ocorrer, devido a uma gigante corrida espacial, começaram revoluções econômicas e talvez pela primeira vez tivemos uma colaboração global em uma força tarefa. Duas décadas se passaram até a primeira nave chegar a sonda transmissora, e talvez só com sua chegada e posterior reboque da sonda, que estava sendo feito para o estudo de seus motores e forma de transporte é que notamos que estávamos mudando. A quantidade de crimes no planeta caiu drasticamente desde a comunicação, e estávamos agora preocupados com a preservação ecológica, e com um desenvolvimento econômico sustentável. CAOSZINE | 37
Pensávamos que nossa consciência de espécie havia finalmente triunfado e nos guiado para um caminho melhor, mas os estudos científicos dos próximos anos viriam a desmentir isso, tínhamos sido invadidos, nossa estrutura cerebral estava se transformando, qualquer exame genético não diria naquele momento, mas em algumas gerações e estaríamos em outro patamar evolutivo. Uma palavra repetida milhares de vezes, impressa em nosso subconsciente, passou a alterar nossa coletividade, como um vírus mental ela se espalhou por diversos contextos da cultura até se transformar num fenômeno unanime. Mudou nossos governos, os sistemas de produção e criação de conteúdo, aumentou nossa inteligência emocional e QI. Quando a sonda retornasse a terra em mais 20 anos, estaríamos prontos para explorar o espaço como as Nações Unidas da Terra, a fome e pobreza haviam sido erradicadas, nossa curiosidade era imensa, estávamos intrigados com uma raça que conseguiu transformar outra usando apenas uma palavra, nos perguntando o que aprender a língua deles poderia fazer por nós.
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Em um futuro tão próximo quanto quisermos: Por Marcelo F. Oliveira
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uitas das verdades, hipóteses e suposições científicas pareciam se tornar cada vez mais incompletas conforme seus desbravadores escavavam mais fundo. Buracos negros, gravidade, o dilema da energia infinita e a força “invisível” que conectava cada átomo do espaço tempo eram apenas algumas das respostas buscadas na academia. Uma dialética enferrujada cujo próprio método científico era posto em cheque conforme avançavam-se os conceitos da mecânica quântica e da metafísica. Acontece que alguns, poucos e poucas, visionários ou nãos, “especiais” ou não, tiveram a sensibilidade (ou coragem) de explicitar o motivo do “por quê essas contas não fecham?”. Nunca se tratou da falta de fatores ou deficiência metodológica. Acontece que era simplesmente impossível dar passos mais largos rumo à evolução tecnológica, melhores 40 SOLAR PUNK
relações interespecíficas e harmoniosos contatos com o meio ambiente enquanto se ignoravam fatores de uma equação. Dessa urgência por respostas, talvez desespero ou esperança, casaram-se os intelectos objetivos e subjetivos. Os primeiros, representados por cientistas, técnicos e lógicos, regidos quase que majoritariamente pelos lados esquerdos de seus cérebros. Enquanto os segundos, não menos “cientistas”, “técnicos” e “lógicos”, ouviam muito mais os lados direitos de seus cérebros. Eram artistas, criadores, supersticiosos, místicos e parte importante dos fatores ocultos na tal “grande equação do universo” que vinha sendo, até então, ignorada. Mas seria muita pretensão imaginar que se dividiriam tão imperfeitamente assim, de um lado para o outro, sem se misturar... “Sem mistura não existe evolução”, ambos concordavam. E era apenas o Caos, nascido da união dos opostos, que garantiria a sobrevivência dos grupos que, ao partilhar qualidades e remediar as deficiências do outro, prevaleciam juntos frente as adversidades, falta de respostas, preconceito e desilusão que adoeciam um planeta e sociedade
vítimas do egoísmo e ignorância tardia. Na intersecção destes opostos, o lado esquerdo do cérebro aprendia a considerar, em seus cálculos, fatores que antes julgava inúteis ou até inexistentes e o lado direito do cérebro aprendia a calcular melhor aquilo que sempre julgaram útil e existente. A verdadeira (r)evolução do pensamento começou de maneira discreta, nas salas de aula, onde educadores cansados de formar meros repetidores de informação, buscavam integrar e contextualizar conceitos de maneira Hermeticamente harmoniosa, nem sempre de propósito, mostrando, explicitando e sublinhando, aos seus jovens ouvintes, as maravilhas da natureza, do conhecimento e da integração de ambos. E por falar em natureza, foi (mais uma vez) através de suas normas de evolução e adaptação que estes aprendizes e seus mestres se uniam, aos poucos, à correntes adeptas de ambos os lados do cérebro e encontravam em cada uma delas a latência e urgência por este casamento e apoio mútuo entre si. Não é preciso dizer que, ao ver as respostas e aprendizados que conseguiam juntos, iam aos poucos destruindo suas próprias muralhas egóicas e contruíam pontes entre si à partir deste material. Dividiam, de bom grado, este conhecimento à todos. Fazendo cada um enxergar seu próprio papel e como ele se encaixava no grande script do progresso social. A arte, a paciência, a ciência e a linguagem formavam, juntas, uma filosofia inabalável que identificava as doenças do ego em cada um e os apresentava novas formas de existência, onde todos tinham espaço. Alguns, mais conservadores/temerosos podiam torcer o nariz e tentar lutar contra o progresso. Contra estes, a paciência e a dialética mostravam os resultados, explicavam e o tempo os mostrava que o progresso era por si mesmos, também. A sustentabilidade e melhor aproveitamento de recursos, passaram a configurar não apenas aspectos reciclatórios da mente coletiva, que se desfazia daquilo que não era útil, mas também uma das prioridades do contexto social, que permitia uma melhor relação com a natureza e com si próprios. Exponencialmente, as pessoas foram tomando o próprio poder das mãos de um sistema que as castra e trata como meras engrenagens, pois perceberam que podiam ser os motores que iriam propulsionar o bem estar, à nível global. Como previu Arthur C. Clarke, se tornara impossível distinguir a magia da tecnologia.
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PRODUTOS SUSTENTAVEIS
Dizem que a tecnologia pode salvar o futuro. Não sabemos ao certo. Mas, ela definitivamente nos salva no dia-a-dia. Confira a seguir alguns dos produtos mais revolucionários do mercado:
SUNFLOWER O carregador que imita um girassol Este mimo que parece um vasinho de planta é o XD Design Solar Sunflower e faz parte da série de carregadores que utilizam a energia solar para funcionar. Recarrega qualquer aparelho com entrada USB ou Mini USB.
REVIVE AMPY O carregador que transforma O smartphone ecologicamente correto a energia dos movimentos do corpo em carga Se você adora trocar seu smartphone, talvez não Mais um motivo para se precise mais. O conceito do manter em forma: a energia Revive, criado pelo designer cinética do seu corpo agora inglês Kinneir Dufort, quer revolucionar o mercado. A proposta é atualizar tanto o software quanto o hardware do aparelho, garantindo assim a sua sustentabilidade. Dufort pensou num sistema de pontos caso o usuário mantenha componentes no aparelho. Estes pontos poderiam ser trocados por upgrades no
pode também recarregar dispositivos que têm entrada USB. 30 minutos de corrida equivalem a 3 horas de carga para a bateria de um smartphone, por exemplo. O mesmo se dá a cada 10 mil passos, o que normalmente uma pessoa comum caminha por dia.
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ETREE A árvore feita de painéis solares que gela água, pode recarregar dispositivos e ainda oferece Wi-Fi
SUNVOLT GOMADIC O carregador a prova d’água
Imagine um parque com árvores artificiais que oferecem Wi-Fi gratuitamente. Pois elas existem! A árvore eTree, criada por uma companhia israelense, tem paineis solares que produzem energia para alimentar dispositivos com entrada USB. Esta árvore pode ser usada tanto em casa quanto em áreas urbanas, como escolas, parques e universidades. Nosso objetivo no futuro é que haverá eTrees todo Israel e em todo o mundo”, diz ele. “ETree é uma empresa social que visa promover a consciência ambiental e sustentabilidade, para criar uma ligação entre les ambiente da comunidade,” disse Michael Lasry, da empresa responsável Sologic, à ISRAEL21c. Lasry se juntou ao artista Yoav Ben-Dov, e juntos projetaram três diferentes modelos de eTrees. “Toda árvore: tem um monitor conectado através do Wi-Fi, oferecendo informação sobre a energia gerada pelo sistema e informações geográficas sobre o local específico. Então, as pessoas sentam-se em Nice podem ver e trocar informações com pessoas sentadas a uma eTree em Israel ou na China ou em qualquer outro lugar”, acrescentou ele.
Capaz de recarregar vários aparelhos ao mesmo tempo, o SunVolt Gomadic também é a prova d’água.
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