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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
IDE IGREJA ITINERANTE
LUCAS ALVES ANGELO DRª MARCIA CAVALCANTE ORIENTADORA
FORTALEZA | CE JUNHO, 2019 2
Sumário
01
Apresentação [04]
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03
04
Referências Projetuais [30]
Referencial Teórico [07]
Projeto [37]
05
Considerações Finais [47]
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Apresentação [01] 4
Introdução A construção de espaços sagrados remonta ao período das primeiras civilizações, como os Zigurates, criados pelos sumérios. Fato é, também, que a História da Arquitetura Ocidental está fortemente relacionada com a arquitetura de templos cristãos devido à forte influência da Igreja Católica no decurso do tempo. O mundo moderno viu surgir um processo crescente de secularização, devido a movimentos como o racionalismo, humanismo, as reformas religiosas, ocasionando a perca de força da Igreja Católica, o modernismo e, mais recentemente, com o pós modernismo, fazendo com que essa relação não se dê mais de maneira tão intima. Porém, em meio a subjetivação e a flexibilização de valores da sociedade contemporânea, o homem encontra no exercício da fé e na vivência dos espaços sagrados o alento para suas inquietudes. A motivação para o desenvolvimento do projeto de uma igreja itinerante, em um primeiro momento, se deu pela descoberta, na leitura da Bíblia, de textos sagrados relacionados à arquitetura, do carácter itinerante do primeiro templo judaico e no contato com trabalhos de conclusão de curso de semestres anteriores que tratam tanto do tema da arquitetura efêmera quanto da arquitetura sacra, ainda que em trabalhos distintos. Depois, viu-se na itinerância do espaço a possibilidade de ter a arquitetura, dado seu valor imagético e a qualidade de atrair e promover relações, auxiliando na evangelização realizada pelas igrejas protestantes. Somado a isso tem-se os números do Censo do IBGE, que apontam que existiam no Brasil, em 2010, 42,3 milhões de evangélicos, equivalente a 22,2% da população. Ainda segundo o censo, esse número deveria crescer 0,7% ao ano. É a 2ª religião mais professada no Brasil e nas capitais brasileiras. Há uma crescente abertura de espaços físicos destinados ao culto, porém muitos deles inadequados por se utilizarem de espaços incompatíveis com o programa da Igreja ou por falta de planejamento adequado. Sendo assim, o projeto IDE se propõe a ser um referencial de projeto para igrejas evangélicas incorporando o projeto missionário das mesmas, sob a forma de Igreja Itinerante.
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Objetivos Geral »»Criar uma estrutura montável e desmontável com caráter itinerante para abrigar um espaço de culto de cunho protestante.
Específicos »»Estudar a trajetória dos espaços de culto descritos na Bíblia e na História da Arquitetura; »»Estudar a relação entre os protestantes e a sacralização do espaço e como este é percebido; »»Propor um programa de necessidades adequado para as atividades litúrgicas e que seja flexível.
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Referencial Teรณrico [02] 7
2.1 Espaço Sagrado: Transformações Históricas 2.1.1 Historiografia Bíblica Depois Noé construiu um altar dedicado ao Senhor e, tomando alguns animais e aves puros, ofereceu-os como holocausto, queimando-os sobre o altar. Gn 8:20
Quando Noé desembarcou sobre as montanhas de Ararate após o dilúvio, ele construiu um altar para agradecer a Deus oferecendo sacrifícios. Esse culto centralizado no altar ao ar livre era a forma característica de cultuar ao Senhor no período da criação ao êxodo. O primeiro templo judeu foi o tabernáculo (EKERMAN, 2007). Era uma construção móvel que acompanhou os hebreus na peregrinação no deserto e representava simbolicamente a presença divina no meio do povo. Todo o complexo era ordenado em três partes e os espaços marcavam níveis de aproximação com o Divino [figura 1 e 2]. No pátio, na área externa, situava-se o altar onde se ofereciam os sacrifícios e a pia de cobre onde Arão e seus filhos deveriam lavar as mãos e os pés antes de entrarem na tenda ou oferecerem sacrifícios no altar. Esse espaço poderia ser acessado por todo o povo, exceto aqueles proibidos por lei. A tenda da congregação abrigava os outros dois espaços. O primeiro chamado o Lugar Santo era restrito aos sacerdotes. Nele se situava uma mesa para pães, um candelabro para iluminar o espaço e um altar onde se queimava incenso. O segundo, separado do primeiro por um véu, era acessado, exclusivamente pelo sumo sacerdote somente uma vez por ano. Era onde se situava a Arca da Aliança que guardava as tábuas dos dez mandamentos.
Figura 1 Planta do primeiro templo judaico, o Tabernáculo. Fonte: moonsbarcaitheat.ga, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 2 Perspectiva do Tabernáculo Judaico. Fonte: moonsbarcaitheat.ga, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Todas as instruções para a construção do tabernáculo foram dadas pelo próprio Deus a Moisés (Ex 25:9), bem como a sabedoria para confecção dos utensílios, que ficaram a cargo de Bezalel e Aoliabe, artífices do velho testamento bíblico (Ex 3:5). Acabados os quarenta anos de peregrinação pelo deserto, há a tomada da terra prometida e a fixação do povo. Porém, o tabernáculo perdura ainda por mais de duzentos anos, perpassando períodos de instabilidade política e conflitos. Com o Reinado de David (1000 - 970 a.C), Israel inaugura um período de grande prosperidade que o transformará em um dos estados mais poderosos do mediterrâneo oriental (EKERMAN, 2007). Com um reinado prospero e sem conflitos, surge em David o desejo de erguer um templo fixo e condizente materialmente com a luxuosidade, do qual ele usufruía, para o Senhor (2 SM 7:1-2). Embora a intenção de David para a construção do Templo fosse bem-intencionada ele não estava apto para a realização de tal empreendimento (1Cr 28:3). Porém Deus escolhe Salomão, filho e sucessor de David para a construção do novo templo. Mesmo David não participando da construção em si, antes de morrer ele deixou a especificação do lugar onde seria implantado o templo (junto a eira de Ornã, 1 Cr 21:15), uma quantidade de materiais exorbitante, a planta do santuário e o peso dos utensílios de ouro, prata e bronze (1 Cr 28:11-19). O templo de Salomão [figura 3 e 4] levou sete anos para ser construído (957 - 950 a.C). O novo templo se assemelhava ao tabernáculo, com planta longitudinal e a presença de um pátio rodeando o edifício. As maiores diferenças dizem respeito a solidez, ao aspecto vultoso e o carácter fixo da nova construção.
Figura 3 Planta do Templo de Salomão themasons.org.nz, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 4 Perspectiva do Templo de Salomão Fonte: themasons.org.nz, internet <acessado em 22/05/2019>.
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A entrada era marcada por duas colunas denominadas Boaz e Jachin. O primeiro espaço era uma espécie de pórtico separando o sagrado do profano. Manteve o lugar santo onde se situava a maior parte dos utensílios e o Santo dos Santos onde se encontrava a Arca da Aliança. Em 586 a.C, acontece o exílio para a Babilônia a mandado de Nabucodonozor, que conquista Jerusalém e destrói o templo e a cidade. Longe do lugar de adoração, surge nesse período uma liturgia coletiva, sem a exclusividade dos sacerdotes, centrada em orações e estudos. Especula-se que as sinagogas, lugares de celebração centradas na leitura da Torah e que se difundiu na cultura judaica, tenham surgido nesse período. Porém, apesar das mudanças, o povo mantinha certa reverência ao templo, fazendo orações em direção a Jerusalém mesmo com o santuário em ruínas (apud EKERMAN, 2007). Com a invasão e conquista da Babilônia por Ciro o Grande, rei da Pérsia, em 538 a.C é permitido aos exilados voltarem as suas terras e há a construção de um novo templo em 515 a.C, com esquema semelhante ao edifício anterior, unidirecional, de eixo definido, com um caminho que parte do menos ao mais sagrado. Este esquema acabou se tornando muito importante para a organização das igrejas cristãs (EKERMAN, 2007) Anos mais tarde, sob o jugo do Império Romano o qual conquistará a Judeia em 63 a.C, Herodes I amplia o templo e o torna ainda mais monumental [figura 5]. Apresentava um pátio externo para mulheres separado de um espaço aberto para homens. O santuário em si tinha o vestíbulo e o salão que se dividia em dois espaços, sendo o último o Santos dos Santos, porém sem a Arca da Aliança.
Figura 5 Reconstituição do Templo de Herodes, desenhada por Melchior de Vogué, em 1864. Fonte: apud EKERMAN, 2007, pág. 23
Devido a sua exuberância o Templo causava grande admiração nas pessoas da época (Lc 21:5), vindo a ser derrubado no ano 70 d.C, quando a cidade é invadida pelas tropas romanas com grande poder bélico. Hoje o lugar é ocupado pelo Domo da Rocha, uma mesquita construída no século VII d.C e mantém conservado do edifício original, o muro ao leste, conhecido como o Muro das Lamentações.
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2.1.2 A Igreja primitiva As primeiras reuniões cristãs eram feitas nas casas dos fiéis. Não existia uma construção específica para a realização dos cultos da religião. A própria palavra Igreja, derivada do grego ekklesia, não se referia a uma construção em si, e sim, à reunião de pessoas. Assim, é antes de mais nada o ajuntamento das pessoas que confessam o nome de Jesus e creem que Deus o ressuscitou dos mortos, procurando viver fraternalmente entre si, e assim, formam o corpo de Cristo. Essas reuniões estavam voltadas para orações, para o convívio fraternal, para o partir do pão e para o ouvir a palavra. De acordo com GEIER (2012), as casas inicialmente usadas eram pequenas e de aspecto irrelevante. Porém quando as comunidades cresciam havia necessidade de ampliações para abrigar mais fiéis. Essas reformas iam desde a demolição de uma das paredes para ampliar o espaço de reunião até a construção de um batistério. Imagens de relatos bíblicos desenhados nas paredes também auxiliavam na transmissão dos ensinamentos para quem não sabia ler. Exemplo disso é uma casa em Dura-Europos, Síria [figura 6] datada do século III, que servia a cerca de 50 pessoas com espaço para as reuniões, sala de estudo e batistério [figura 7]. Uma parede foi removida para aumentar a sala de reuniões. Devido as perseguições aos cristãos nos primeiros séculos da era crista o viver em comunidade nos espaços dessas casas traziam sentimentos de acolhimento e proteção. Havia um grande senso de pertencimento e comunhão, é tanto que eles se chamavam entre si de irmãos, propiciado por esse espaço tão familiar como a casa.
Figura 6 Desenhos Casa Dura-Europos - Planta perspectivada; planta original e planta adaptada para o culto. Fonte: Cavalcanti, 2016
Figura 7 Batistério da Casa Dura-Europos. Fonte: Cavalcanti, 2016
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Esses lugares não se destacavam no meio urbano por não ter proteção legal. É provável que com a intensificação das perseguições oficiais pela recusa em reconhecer as divindades sancionadas pelo Estado, os cristãos tenham se utilizado de catacumbas para preservar a integridade do grupo (GEIER, 2012). 2.1.3 A Igreja Católica Romana Em 313 d.C., Constantino proclama tolerância a todas as religiões do Império Romano através do Édito de Milão e em 387, Theodósio sanciona o Cristianismo como a Religião Oficial (SOUZA, 2011). Assim os cristãos adquirem o direito de construir edificações para a realização de cultos públicos sendo o imperador o responsável pelos primeiros esforços para a construção de Igrejas, em sua maioria baseadas na basílica romana, que antes serviam para reuniões cívicas (FAZIO, 2011). Os espaços das basílicas sofriam pequenas adaptações para se adequar ao culto cristão. O altar era colocado na abside, onde anteriormente ficava o assento do magistrado, e a entrada ficava na fachada oposta, onde se tinha um átrio que acomodava os fiéis antes do culto e permitia que pessoas não batizadas ouvissem a celebração. O átrio juntamente com a nave central e a abside marcava um percurso de eixo longitudinal que terminava no altar, lembrando a concepção dos espaços sagrados da historiografia bíblica. Assim, a trajetória do observador guiava a concepção do edifício criando um ritmo no qual direcionava o olhar do fiel para o altar onde a liturgia era celebrada pelo clero. A igreja surgia como um vasto salão, obrigando os olhos e espíritos dos fiéis a voltarem-se apenas para o púlpito e o altar-mor (FERRARE, 2006 apud GEIER, 2012, pag. 25). A antiga basílica de São Pedro (318-322 d.C.) deixa evidente os elementos básicos das plantas baixas das igrejas em forma de basílica [figura 8]. Porém, devido as diferentes culturas locais e a extensão do Império Romano surgem variações regionais (GEIER, 2012). Na parte oriental do império ouve preferência por cúpulas tanto em igrejas em forma de basílica como em igrejas em planta baixa centralizada. A igreja de Santa Sofia (532-537 d.C.) “é uma basílica com cúpula central, complementada por pares de semicúpulas na frente e nos fundos [figura 9 e 10]. Essa configuração é ao mesmo tempo linear - com um eixo longitudinal dominante - e centralizada, com uma cúpula apoiada em pilares, ao centro”. (FAZIO, 2011)
Figura 8 Reconstituição da Planta da Antiga Basílica de São Pedro. Fonte: concretoemcurva, internet <acesso 22/05/2019>.
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Figura 9 Planta baixa da Basílica de Santa Sofia. Fonte: Pinterest, internet <acesso 22/05/2019>. Figura 10 Basílica de Santa Sofia, Istambul. Fonte: InfoEscola, internet <acesso 22/05/2019>.
Com o fim do Império Romano no Ocidente em 476 d.C. devido as invasões bárbaras, passou-se de uma vida urbana com governo centralizado para pequenas unidades agrícolas controladas por líderes locais que moravam em habitações fortificadas e que mantinham o controle sobre o entorno, dando origem, posteriormente, ao sistema feudal (FAZIO, 2011). Com o poder secular disperso, como escreve GEIER, a única instituição capaz de gerar unidade na sociedade europeia era a Igreja, que passou a controlar as artes e a educação através dos mosteiros e é responsável pela clericalização absoluta da vida. O culto às relíquias e restos mortais de mártires notáveis cresce nesse período e é motivo de peregrinação aos santuários. A arquitetura monástica e as Igrejas Românicas marcam o início do Período Medieval. A Igreja de Saint Sernin (1077 - 1119), um dos maiores monumentos da Arquitetura Românica, tem sua configuração espacial em resposta as peregrinações. Com uma planta basilical [figura 11] modificada pela inserção do deambulatório (extensão das naves laterais em volta da abside) permitia uma passagem contínua em torno de toda a igreja que recebia cada vez mais pessoas. Pequenas capelas com altares, as absidíolas, foram agregadas ao deambulatório e ao transepto. Assim, era possível visitar essas capelas e o acesso as relíquias sem interromper as atividades litúrgicas realizadas no coro (FAZIO, 2011). Em geral, as igrejas românicas eram complexos maciços com poucas aberturas, com interior sombrio [figura 12]. No final da idade média a economia ocidental retoma sua força trazendo novamente a vitalidade urbana. Em vista disso, há uma secularização da cultura comprometendo o poder e a influência da Igreja. Surgem no período igrejas monumentais na França, construídas inicialmente de forma empírica, que marcam o início do período do estilo gótico, que a medida que se desenvolve busca a redução da massa dos edifícios e o aprimoramento das características do espaço e da iluminação estimulando inovações técnicas e artísticas (FAZIO, 2011).
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Figura 11 Planta Baixa Igreja Saint Sernin. Fonte: docplayer, internet <acessado em 22/05/2019>. Figura 12 Interior Igreja Saint Sernin. Fonte: Pinterest, internet <acessado em 22/05/2019>.
Com características artísticas e estruturais cada vez mais refinadas, o estilo atinge sua maturidade e abre mão do empirismo. Sua arquitetura é marcada pela exacerbada verticalidade enfatizada com todas as linhas voltando-se para o alto numa arquitetura que busca o céu. Somado a isso, a iluminação acentuava o carácter transcendental da arquitetura das catedrais góticas através de vitrais que filtravam a luz criando “uma atmosfera cálida e transmitindo um sentimento de êxtase ao fiel” (GEIER, 2012). Além destas características, o estilo é marcado pelo uso de arcos ogivais, pelo uso de arcobotantes e contrafortes, responsáveis pela transferência das cargas ao solo, o que libera o papel estrutural das paredes. Isso permite a inserção de vitrais e transmite uma sensação de leveza. A catedral de Notre Dame de Chartres (1194 - 1230) é um exemplo do gótico maduro no qual os arcobotantes foram planejados desde o início, simplificando as elevações internas compostas pelas arcadas da nave central, pelo trifório e pelo clerestório. Do mesmo modo, a fachada é dividida pelos portais, no nível do chão, por grandes janelas na parte central e acimada por uma rosácea [figura 13]. A planta é uma adaptação de uma basílica românica e apresenta um transepto marcado, com a nave lateral o atravessando [figura 14]. Os vitrais trazem ilustrações religiosas, com representações dos santos e temas como juízo final sublinhando a necessidade da salvação. As catedrais góticas se sobressaiam na paisagem das cidades medievais funcionando como elemento formador do meio urbano, segundo MUMFORD apud GEIER, sendo uma das principais edificações da cidade, expressando o forte sentimento religioso da época (GEIER, 2012). Acredita-se que para financiar a construções das grandes catedrais do período a igreja tenha se utilizado da venda de indulgências.
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Figura 13 Catedral de Notre Dame de Chartres. Fonte: Pinterest, internet <acessado em 22/05/2019>. Figura 14 Planta Baixa Catedral de Notre Dame de Chartres. Fonte: docplayer, internet <acessado em 22/05/2019>.
O século XV marca o início do Renascimento na Itália e o fim do estilo gótico que caracterizou a Idade Média. Com grandes avanços científicos e florescimento do comércio mundial, o período foi marcado por uma forte secularização da cultura advindas do humanismo, que se refletiu na arquitetura, tendo o homem como a medida de todas as coisas. Algumas características desse período, no que concerne a arquitetura, é a retomada do repertório greco-romano, a ordenação do espaço segundo uma métrica racional, o equilíbrio estático e formal, uso de arcos plenos, cúpulas e preferência por planta centralizada, devido ao gosto pelas formas geométricas consideradas ideais, quais são o círculo e o quadrado. A exemplo temos o projeto de Bramanti para a basílica de São Pedro, em Roma [figura 15].
Figura 15 Planta Baixa do projeto de Bramanti para a Basílica de São Pedro. Fonte: firstyearcoordinator, internet <acessado em 22/05/2019>.
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2.1.4 A Reforma Protestante Concomitantemente ao Renascimento, ocorre na Europa a chamada Reforma Protestante, que denunciava os abusos da Igreja Católica Romana. Porém antes da eclosão da Reforma, houve manifestações que refletem as motivações que encadearam uma reforma necessária. Ainda no século XII, os Valdenses (chamados assim devido ao seu líder, o francês Pedro Valdo, comerciante da cidade de Lyon, que se converteu ao cristianismo em 1174 e dividiu seus bens com os pobres) pregavam um retorno ao cristianismo primitivo e faziam suas reuniões nas casas de famílias ou às escondidas em montanhas, florestas e grutas devido as perseguições. Tinham a Bíblia como a única fonte da verdade e defendiam que todos teriam o direito de tê-la em sua língua nacional, e condenavam o culto às imagens de santos. No século XIV, o inglês Jonh Wycliffe elaborou diversos questionamentos que envolviam a Igreja Católica e defendia o retorno à vida monástica simples dos tempos primitivos de Cristo e a dissolução da Igreja com o poder político, devendo esta ater-se apenas às questões espirituais. Seus seguidores ficaram conhecidos como “lolardos” e na Holanda como “hussitas” devido ao seu seguidor, Jan Huss. O movimento reformista teve seu início com a promulgação das 95 teses contra a venda de indulgências, que tinha se tornado uma prática desenfreada e correspondia a grande parte da renda da Igreja da época, publicadas por Martinho Lutero na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg e protestava contra diversos fundamentos da Igreja Católica, combatia a corrupção moral do Papa e defendia a liberdade crítica e interpretativa dos textos sagrados. O resultado do movimento que se iniciou com Lutero foi a divisão da Igreja do Ocidente entre Católicos Romanos e Protestantes (SOUZA FILHO, 2011). Os protestantes têm suas raízes nas ideias defendidas principalmente pelos reformistas Lutero e João Calvino, que deram origem, respectivamente, ao Luteranismo e ao Calvinismo. Entre as ideias dos reformadores está a salvação pela fé (Sola Fide), a Bíblia Sagrada como a verdade última (Sola Scriptura), a salvação somente através da crença em Jesus (Sola Christus), a salvação sendo pela graça (Sola Gratia) e a Glória somente à Deus (Soli Deo Gloria). Entre as diferenças entre as vertentes estão a questão da eleição e predestinação à salvação defendida pelos Calvinistas; a questão do batismo: para Lutero, o batismo regenera e remove a culpa e o poder do pecado e para Calvino, o batismo incorpora o fiel na aliança da graça; e por fim, a questão do sacramento da Ceia do Senhor: no luteranismo, Cristo está presente objetivamente no sacramento da Ceia do Senhor e no Calvinismo, Cristo também está presente, mas de modo espiritual, não físico.
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2.1.5 Reflexos na Arquitetura A forte oposição ao catolicismo se refletiu na arquitetura através da abolição das artes visuais do templo. Os templos eram marcados pela simplicidade e a liturgia do culto era enfatizada no ouvir e na leitura da palavra. Devido a isso, o altar foi substituído pelo púlpito, que se tornou o ponto focal do espaço [figura 16]. Os púlpitos possuíam dimensões consideráveis, eram elevados e possuíam um fechamento superior em vista de melhorar a audibilidade, a visibilidade do ministro e de acentuar a sua autoridade perante os fiéis. Assim o foco auditivo guiou as alterações na arquitetura dos templos protestantes, com os bancos voltados para o púlpito e a eliminação de elementos que pudessem distrair a atenção do fiel que deveria se concentrar em ouvir a palavra.
Figura 16 Interior do Templo de Lyon, França. O púlpito como ponto focal do espaço. Google images, internet <acessado em 27/05/2019>.
Porém, entre as vertentes do protestantismo a abolição das imagens foi mais branda no luteranismo por considerá-las parte do imaginário popular. Os calvinistas foram mais radicais nesse sentido. No livro de Êxodos encontramos a fundamentação para a não veneração das imagens defendida pelos calvinistas. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto. (Ex 20:4-5a)
Os templos se apresentaram em plantas circulares, octogonais e quadradas, convergindo internamente para o púlpito (KILDE, 2002 apud GEIER, 2012) [figura 17].
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Figura 17 Vista do Templo de Lyon, França. Planta Circular. Google images, internet <acessado em 27/05/2019>
O início do processo reformador foi marcado por perseguições, dificultando a construção de templos específicos protestantes, levando as reuniões realizadas ao ar livre à clandestinidade. Em 1568, nos Países Baixos, onde o Calvinismo ganhou popularidade, a liberdade religiosa protestante foi alcançada. Algumas Igrejas foram entregues aos protestantes onde os mobiliários foram retirados e as paredes foram pintadas de branco [figuras 18 e 19]. Embora houvesse a utilização dos templos católicos, a planta basilical com o altar na extremidade e a materialidade de pedra dos edifícios dificultavam a propagação do som. Com isso, eram feitas alterações em vista de valorizar a mensagem auditiva, em torno do púlpito inserido.
Figuras 18 e 19 Interior da Igreja Jacobikerk, Utrecht. Fonte: archimon, internet <acessado em 27/05/2019>.
2.1.6 A Contrarreforma No período da Reforma, a Igreja Católica Romana passava por uma crise de perda de fiéis em massa e pela a diminuição do poder papal absoluto (SOUZA, 2011). Com intuito de amenizar essa perda e apaziguar os ânimos daqueles que se encontravam duvidosos entre as correntes religiosas, em 1545 é realizado o Concílio de Trento, que marca o início do movimento chamado de Contrarreforma. Do Concílio de Trento se concluiu que a arte era a ferramen-
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ta principal para aumentar o prestígio e os ensinamentos da Igreja, como aponta FAZIO, 2011. Assim, surgiu o Barroco: estilo artístico da Contrarreforma com o intuito de reafirmar os ensinamentos católicos tradicionais. Baseado em uma elaboração das formas clássicas, já bastante individualizadas pelos artistas e arquitetos do início do século XVI, o Barroco foi um estilo didático, teatral, dinâmico e exuberante. [...] No contexto, porém, as obras eclesiásticas barrocas devem ser vistas como projetos que visavam envolver diretamente as pessoas e os ideais religiosos. (FAZIO, 2011,p. 359 ) Em geral, segundo FAZIO (2011), a arquitetura barroca é caracterizada pela complexidade e pelos dramas espaciais criados pela luz através de efeitos obtidos por meio do jogo dinâmico de formas côncavas e convexas; pela preferência por espaços e elementos elípticos ou ovais axiais e centralizados; e pela integração entre pintura, escultura e arquitetura. Nas palavras de THIERS (2019), as mudanças no espaço tinham o objetivo de emocionar o fiel com excessos e com a exuberância em cada detalhe [figura 20]. Assim, podemos considerar que o barroco, enquanto estilo arquitetônico, tenha surgido como a resposta espacial da Contrareforma. Contudo, o estilo não ficou restrito aos templos católicos, influenciando toda a arquitetura da época, como enormes palácios e até mesmo templos protestantes do século posterior à Reforma.
Figura 20 Interior da Igreja de Die Wies, perto de Munique Pinterest, internet <acessado em 27/05/2019>.
Fato é que, após o grande incêndio da Inglaterra em 1666 que destruiu diversas edificações, Christopher Wren, influenciado pelo barroco classista francês, reconstruiu diversos templos. Dentre eles, está a Catedral de Saint Paul [figuras 21 e 22], com planta em cruz latina com uma cúpula projetada no transepto ao centro, naves laterais, nave com duas torres lembrando o esquema católico. (GEIER, 2012). Na Alemanha, a Igreja Die Frauenkirche, em Dresden, [figura 23] foi construída em estilo barroco devido a influência dos exemplares católicos jesuítas existentes na região, com cúpula, planta centralizada e interior octogonal. Até mesmo, quanto a sua localização, a edificação
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é destacada no espaço urbano semelhante as igrejas católicas que guiavam o traçado urbano das novas vilas e organizavam a vida social da comunidade. Porém, isso não era uma regra, pois na França, por exemplo, de acordo com Edito de Nantes, criado no final do século XVI, só era permitida a construção de igrejas protestantes a cinco léguas de Paris e sem muito destaque (GEIER, 2012). Contudo, mesmo com a influência do estilo barroco e em algumas vertentes o uso de vestes clericais, altar elaborado, utensílios adornados e ornamentadas fontes batismais, as edificações protestantes comparadas as católicas ainda conservavam a simplicidade e o foco auditivo, características das alterações espaciais da reforma (apud GEIER, 2012).
Figura 21 Catedral de Saint Paul, Londres. Fonte: wikimedia, internet <acessado em 27/05/2019>. Figura 22 Planta baixa da Catedral de Saint Paul, Londres. Fonte: GEIER, 2012.
Figura 23 Vista do exterior da Igreja Frauenkirche, em Dresden, Alemanha. Google images, internet <acessado em 27/05/2019>.
A partir de meados do século XVIII iniciou-se uma reação ao modo de vida barroco, desencadeando no renovo do espírito da antiguidade que instaurou o neoclássico, além de outros estilos que reviveram e foram utilizados para diferenciar as funções das edificações como o neogótico para os templos por expressar melhor o sentimento religioso; e o neobarroco para teatros e operas por suscitar as emoções e a teatralidade (GOMBRICH, 1972 apud GEIER, 2012). Nesse período, o protestantismo se diversificou e se expandiu por toda a Europa e outros continentes (GEIER, 2012). A maioria dos
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templos protestantes empregaram o estilo neogótico que serviu para destacar as edificações no contexto das cidades que passavam por um processo de crescimento e aumento populacional, devido a industrialização; e como meio para os diferentes grupos protestantes atraírem os fiéis. Além de ter sido considerado o estilo que encarna os princípios cristãos com suas proporções, estrutura visível e transparência ligadas à verdade cristã e, embora tenha sido uma maneira de disputa por fiéis através de edificações grandiosas no estilo, também era uma maneira de manter a unidade entre as diferentes denominações cristãs. Porém, alguns consideravam que o estilo era católico e lamentavam a inexistência de um estilo próprio protestante. No século XVIII, as participações dos fieis nos sermões com questionamentos, que eram permitidas no século anterior, foram diminuídas e “o clero passou a concentrar a maior parte das reuniões” (GEIER, 2012, pag. 38). Em compensação, a música que sobreviveu a radicalização artística protestante, teve seu papel ampliado nas atividades litúrgicas com participações musicais e com a congregação cantando salmos e hinos. Assim, houve a necessidade de alterar os espaços dos templos com a criação de um lugar específico para o uso dos instrumentos, como o órgão, e para o coro. O antigo espaço da abside deu lugar a uma plataforma com o púlpito e atrás uma galeria elevada para o coro e instrumentos. No final do século XIX, com o Ecletismo, elementos de diferentes estilos passaram a serem utilizados em uma mesma edificação. Porém, os templos continuaram com a preferência pelo neogótico. 2.1.7 No Brasil O protestantismo somente vingou no Brasil a partir do século XIX trazido por missionários estrangeiros. Outras duas tentativas haviam sido feitas, mas sem sucesso. A primeira data do século XVI com os huguenotes, como eram chamados os calvinistas na França, fugindo da perseguição religiosa do seu país; e a segunda, com a presença dos calvinistas holandeses no Nordeste no século XVII. Até o final do século XIX, a religião oficial era a Católica e o ser católico estava fortemente enraizado na cultura. Os cultos protestantes eram restritos às casas familiares não sendo permitida construções com aparência exterior de templo, como descreve a constituição na época do Brasil Império: “Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma exterior de templo” (BRASIL, 1824, art.5º). Em 1891, uma nova constituição entra em voga permitindo a liberdade religiosa a todos os credos e consequentemente a permissão para a construção de templos protestantes. Embora, ainda havia uma repulsa por parte da sociedade, majoritariamente católica. A maioria dos primeiros templos protestantes a surgirem nas cidades brasileiras adotaram o neogótico, embora o ecletismo estivesse em alta na arquitetura brasileira. É o caso do templo da Primeira
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Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro [figura 24], inaugurado em 1934. O movimento modernista, influenciado pelas inovações técnicas e o progresso da máquina, ganha destaque na arquitetura com Le Corbusier e Walter Gropius no cenário mundial e com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa no Brasil, principalmente a partir de 1930. A supressão dos ornamentos e dos historicismos da arquitetura, que remetiam a tradição, fizeram com que inicialmente as construções cristãs, em geral, não adotassem o estilo, temendo que a adoção os afastassem dos valores cristãos tradicionais (GEIER, 2012). O que também explica a continuidade do neogótico nas construções religiosas.
Figura 24 Primeira Igreja Prebisteriana do Rio de Janeiro, RJ. Fonte: Pinterest, internet <acessado em 27/05/2019>.
O uso dos pressupostos modernos só fora empregado nas construções protestantes a medida que se percebeu a vantagem da utilização do concreto e outros materiais no seu estado natural, barateando as construções. A ênfase dada a funcionalidade e a simplicidade formal, características tanto do protestantismo como do movimento moderno, também contribuíram para sua adoção como o estilo que representava bem a primazia dada as escrituras sagradas. “Assim, as paredes livres de ornamentos supérfluos, sublimavam a primazia da palavra falada, eliminando quaisquer distrações, como nos templos calvinistas mais rústicos do século XVI.” (GEIER, 2012, p.48 ) Nos tempos hodiernos, os templos protestantes apresentam
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tipologias diversas, embora tenham organização espacial interna semelhante, atendendo às funções religiosas (GEIER, 2012). 2.1.8 Em Fortaleza O protestantismo chega à Fortaleza, a partir de 1875, através dos esforços dos missionários presbiterianos enviados pela Junta de Missões Mundiais da Igreja Presbiteriana do Sul, com sede em Nashville, Estados Unidos. Ganha destaque o missionário Lacy Wardlaw que chega na cidade em 1882, e no ano seguinte, batiza os primeiros 13 membros e é responsável pela organização da primeira igreja protestante da Capital. O templo de estilo Neogótico [figura 25], teve sua pedra fundamental lançada por volta de 1896 e foi concluído no pastorado do Rev. Natanael Cortez, entre 1915 e 1943. O prédio foi demolido em 1976 e situava-se na Rua Sena Madureira, Centro de Fortaleza, no local do atual Edifício C. Rolim.
Figura 25 Primeira Igreja Protestante de Fortaleza Fonte: Fortaleza em Fatos e Fotos, internet <acessado em 27/05/2019>.
Segundo, a revista Exame atualmente 22,12% dos Fortalezenses são evangélicos, o que equivale a 482 mil pessoas. Esses fiéis são distribuídos entre as diversas vertentes que se originaram com contribuição significativa da Reforma, ainda que algumas não estejam diretamente ligados a ela. As denominações atuais existentes no país podem ser classificadas em três grandes grupos segundo o critério de proximidade com o movimento reformista: os tradicionais, os pentecostais e os neopentecostais. As denominações tradicionais são aquelas ligadas mais diretamente com a Reforma. Os pentecostais e os neopentecostais estão relacionados com a influência dos movimentos de reavivamento pentecostal do século XX nos Estados Unidos. O esquema a seguir [esquema 1] mostra as ramificações do
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protestantismo ao longo dos séculos.
CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL
COMUNIDADE SARA NOSSA TERRA
CRISTÃ MARANATA
BATISTAS
METODISTAS
ASSEMBLÉIA DE DEUS
QUADRANGULAR O BRASIL PARA CRISTO
CRISTÃ NOVA VIDA EVANGÉLICA CRISTO VIVE
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS INTERNACIONAL DA GRAÇA
IGREJAS TRADICIONAIS
IGREJAS PETENCOSTAIS
IGREJAS NEOPENTECOSTAIS
Esquema 1
2.2 A Arquitetura Efêmera A palavra efêmero vem do grego ephemeros e significa “que dura um dia”. Em arquitetura está ligado a temporalidade em que determinada construção permanece em um determinado local. Embora toda obra de arquitetura seja por natureza efêmera, no sentido que se desgasta no tempo, existe aquelas que são idealizadas para servirem por curta duração e aquelas pensadas para serem transportadas se adaptando a diversas localidades. SANTOS, 2016 caracteriza as manifestações efêmeras em três vertentes: a primeira diz respeito à dimensão temporal, ligado a provisoriedade, ou seja, quando as construções são removidas após um curto período de tempo, sem previsão de reutilização; a segunda, à dimensão material, que diz respeito a própria efemeridade do material; e a terceira à dimensão construtiva, que usa de conhecimentos técnico-científicos explorando a capacidade de novos materiais e componentes construtivos para viabilizar reutilizações futuras diminuindo os custos das intervenções e potencializando a capacidade de adaptação. Apesar das categorizações, é possível na concepção arquitetônica a combinação das categorias a fim de se obter a melhor solução para determinada situação. Alguns conceitos como leveza, flexibilidade e portabilidade cercam as construções efêmeras. Além de um forte potencial imagético na percepção dos indivíduos. Dois grandes expoentes efêmeros se destacam na história da Arquitetura: o Palácio de Cristal [figura 26], feito para abrigar a Exposição Mundial de 1851 em Londres, sendo a primeira grande edificação
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Esquema representativo das ramificações protestantes ao longo dos séculos. GEIER, 2012.
MENONITAS
INÍCIO DO SÉC. XX
PRESBITERIANOS
ANABATISTAS
MEADOS DO SÉC. XX
ANGLICANOS
MOVIMENTO DE REAVIVAMENTO PENTECOSTAL NOS EUA
CALVINISTAS
MOVIMENTO DE REAVIVAMENTO NEOPENTECOSTAL NOS EUA
LUTERANOS
SÉC. XVI AO XIX
REFORMA PROTESTANTE
auto suporte de ferro fundido se estendendo por 70 mil metros quadrados, precursor na utilização de cortinas de vidros e na construção de peças pré-fabricadas para permitir rápida montagem e desmontagem; e a Torre Eiffel em Paris feita de aço estrutural, projetada por Gustavo Eiffel inicialmente para ser temporária, mas devido sua popularidade a mantiveram construída. Das manifestações efêmeras da contemporaneidade podemos citar o carnaval, o movimento circense, as Exposições Mundiais, os pavilhões temporários da Serpentine Gallery, galeria de arte moderna e contemporânea em Londres por onde já passaram nomes como Zaha Hadid e Oscar Niemeyer. Também, podemos citar os concertos musicais com estruturas necessariamente desmontáveis e pensadas para otimizar o ciclo montagem-desmontagem-transporte (SANTOS, 2016).
Figura 26 Palácio de Cristal, Londres. 1851 Fonte: Google images, internet <acessado em 03/06/2019>.
Outro assunto que se faz pertinente apontar se falando de arquitetura efêmera é a questão da necessidade de prover abrigos temporários para situações de emergência diante da crise humanitária de refugiados ou das catástrofes ambientais. O Arquiteto Shigeru Ban, vencedor do prêmio Pritzker em 2014, é o nome de maior exponencial quando se trata da utilização de materiais pouco convencionais, como papelão estrutural, na concepção de construções temporárias de alta qualidade e de baixo custo. Para o fim deste trabalho, pensou-se nos acontecimentos efêmeros atuais de cunho religioso que tem como objetivo a proclamação da fé e propagação do evangelho. No Brasil são conhecidos eventos a nível nacional como a Consciência Cristã realizada em Campina Grande, na Paraíba, que faz parte da programação oficial da cidade no período do carnaval; a Marcha para Jesus, realizada em São Paulo, onde os fiéis saem as ruas com trios elétricos em um dia de celebração; o Louvorzão, no Rio de Janeiro; Alegria e Louvor, em Maracanaú, entre outros. Existem também, a nível local, cultos realizados esporadicamente ao ar livre, denominados cultos campais, que podem ser de menor escala, onde são utilizados um ou outro equipamento de som,
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assentos e um apoio para o ministrante, como um púlpito ou uma mesa; ou de maior escala, com montagem de estrutura de palco. Nesse sentido, buscou-se no Tabernáculo Judeu que era itinerante, na celebração da festa da Sucá, na vida de Jesus e na relação dos protestantes com o espaço físico o embasamento para propor uma arquitetura sacra itinerante que cumpra com o papel da arquitetura e colabore para evangelização. 2.2.1 O Efêmero na Religião Cristã As primeiras formas de arquitetura eram temporárias e/ou transportáveis (SANTOS, 2016). Fazendo referência às escrituras sagradas, há um período de quarenta anos na história do povo hebreu de peregrinação no deserto do Sinai em busca da Terra Prometida, após a libertação do jugo egípcio, em que eles habitavam em tendas. Suas tendas, assim como o Tabernáculo, eram transportáveis pois o povo estavam em locomoção. Assim, temos o primeiro espaço sagrado da cultura judaico-cristã sendo um templo itinerante. Uma nuvem se colocava acima do Tabernáculo, como manifestação divina, e guiava os deslocamentos. Quando a nuvem se erguia, era sinal para que todos se colocassem em marcha em direção ao local que seriam guiados pela nuvem, repousando no lugar onde ela parasse e descesse novamente sobre o santuário (Bíblia Sagrada, Livro de Números 9:15-23). Mais tarde, quando os Israelitas conquistam a Terra Prometida e passam a viver de forma fixa é celebrada a festa do Tabernáculo em rememoração à época de peregrinação onde o povo habitava em tendas. A festa do Tabernáculo, assim como a Páscoa e Pentecostes formavam as chamadas de festas de peregrinação, pois incluía a peregrinação até o Templo de Jerusalém. No período da festa que durava sete dias, o povo habitava em tendas como memória do deserto onde Deus fez o povo habitar em tendas feitas de ramos, como é descrito na passagem bíblica: No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o Senhor, vosso Deus. Celebrareis esta como festa ao Senhor, por sete dias cada ano; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações; no mês sétimo, a celebrareis. Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais de Israel habitarão em tendas, para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus. (Bíblia Sagrada, Livro de Levítico 23)
A palavra equivalente para Tabernáculo em hebraico é Sucá, que significa cabana. A Sucá era construída de tal forma que o teto devia permitir as pessoas verem estrelas e ainda deviam serem com-
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partilhadas com as pessoas menos favorecidas, impulsionando a aproximação afetiva e instigando à hospitalidade. Apontava também para a efemeridade das coisas materiais, levando a um certo desprendimento dos privilégios de uma vida mais estável. Embora seja uma celebração de caráter efêmero, por sua perpetuação na cultura judaica é símbolo de permanência e continuidade. (GUIMARÃES, 2018) Essas manifestações históricas, culturais e arquitetônicas possuem carga simbólica pertinente para os cristãos hodiernos. Em relação a situação nômade por qual passaram os hebreus no antigo testamento, as escrituras sagradas na nova testamentária trazem, em diversas passagens, a figura dos cristãos como estrangeiros e peregrinos na terra e na esperança de um nova e melhor pátria que está nos céus, uma nova Terra Prometida (Bíblia Sagrada, Filipenses 3:20, Hebreus 11:13-16). O mundo, palco das peregrinações dos cristãos que esperam a pátria celestial, e as coisas terrenas são tidos como efêmeros e passageiros. Em contrapartida, a cidade celestial é eterna e permanente. Nesse contexto de peregrinação, a Igreja realiza a tarefa de convidar aos povos da Terra para percorrerem esse caminho, se desprendendo das coisas temporárias para alcançar cidade perene. A fé confessada em Cristo ressuscitado é compartilhada pela igreja e é o único requisito para adentrar na cidade celestial. Assim, é realizada a tarefa missionária através da pregação do evangelho, como uma anunciação da cidade que está por vir, sendo uma mensagem dinâmica e que perpassa as paredes dos templos. Jesus teve seu ministério itinerante, percorrendo diversas cidades. O Apóstolo Paulo, que trabalhava fazendo tendas, alcançou diversos povos do mundo greco-romano com o evangelho, abrangendo a Ásia Menor, Europa e Roma (Bíblia Sagrada, Livro de Atos). Nos locais alcançados pelo evangelho através da pregação de Paulo, uma igreja era fundada e ela ficava responsável pela evangelização do restante da população, como a Igreja fundada em Corinto (Atos 18:1-18). 2.2.3 Sacralização do Espaço e como ele se apresenta nos templos atuais Numa perspectiva bíblica, dois acontecimentos para embasam a relação do crente com o espaço de culto. Temos como primeira o fim da restrição de somente adorar em um local específico, no caso o Templo de Jerusalém (Bíblia Sagrada, João 4:21,23). A segunda diz respeito a não restrição de somente o Sumo-sacerdote ter um nível maior de aproximação com Deus, pois somente ele poderia uma vez por ano adentrar no Santo dos Santos. Com Jesus, todos têm livre acesso a Deus (Bíblia Sagrada, Efésios 3:12), por não haver mais separação, que era representada pelo véu, entre o Lugar Santo e o Santos dos Santos (Bíblia Sagrada, Mateus 27:50-51a). Dessa forma, o espaço físico em si perde relevância em rela-
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ção ao sagrado (Bíblia Sagrada, Atos 17:24). Em consequência, é dada maior importância para a comunidade de duas ou mais pessoas que se reúnem em prol de prestarem culto à Deus. Embora, a ideia do sagrado não estar atrelada ao um espaço físico específico, por ser o suporte para as atividades religiosas e permitir que as pessoas o experimentem e se relacionem entre si, acaba adquirindo um carácter sagrado na mente dos fiéis. Esse sentimento de respeito e temor pode ser relacionado ao mysterium tremendum apontado por Otto: um temor que diferencia aquele espaço do seu entorno, demarcando-o como um lugar sagrado. (GEIER, 2012, p. 71 ) Essa ideia de sacralização do lugar é defendida por Mircea Eliade, que traz, em sua obra O sagrado e o profano, uma descrição de como o homem religioso e o não religioso percebem o espaço. Segundo o autor, para o homem religioso o espaço não é homogêneo, existindo porções de espaços qualitativamente diferentes das outras. É aí que está a oposição entre o espaço sagrado, aquele que requer uma atitude mais reverente, e o espaço profano. Para o homem não religioso, nenhum espaço é diferenciado qualitativamente quanto à espiritualidade. A exemplo da não-homogeneidade dos espaços na experiência profana, ele cita um exemplo de uma igreja numa cidade moderna, no qual para o crente o espaço interior do templo é diferente do espaço da rua onde ela se encontra, sendo a porta a passagem do espaço profano para o espaço sagrado. Muitos dos templos protestantes, como afirma GEIER, 2012 evidenciaram um despojamento e relativo desleixo nos seus espaços de celebração, reduzindo a carga simbólica visual em comparação do catolicismo. FELZEMBURGH, 2003 distingue as igrejas atuais em dois tipos dominantes: as primeiras adaptadas funcionalmente [figuras 27 e 28], se utilizando de edificações que antes serviam de outro uso, como cinemas, galpões e até mesmo bares, às vezes ocorrendo incompatibilidade entre as necessidades da atividades desenvolvidas pelas comunidades e os espaços adquiridos; e as igrejas de projeção específica, que em alguns casos se apresentam com maior monumentalidade nas áreas mais valorizadas e com maior circulação de pessoas e podem apresentar melhores condições de habitabilidade; porém, em construções autoconstruídas e de menor porte, localizadas principalmente dentro das comunidades, podem apresentar problemas de conforto em diferentes aspectos.
Figuras 27 e 28 Igrejas Adaptadas funcionalmente, Vitória, ES. Fonte: ROCHA, 2016.
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No caso das Igrejas adaptadas funcionalmente, a reutilização dos espaços aponta para a flexibilidade de uso nas construções, mas carecem de um projeto que potencialize essas adaptações. Também aponta para a efemeridade pois, segundo GEIER (2012) as edificações utilizadas são marcadas pela transitoriedade, podendo passar pouco tempo sendo utilizado para fins religiosos e logo receber outro uso. No entanto, sugerem que qualquer local que antes possa ter servido para alguma atividade, mesmo que profana, pode vir a servir para as celebrações religiosas. GEIER, 2012 traz também a noção de não-lugar de Augé, que a autora associa aos espaços evangélicos atuais que se apresentam de modo mais volátil em relação ao grau de sociabilidade entre os fiéis. Além disso, muitos dos frequentadores se alteram com muita rapidez, impossibilitando uma experiência mais demorada do usuário com o espaço. Assim a individualidade, característica da contemporaneidade, se faz negativa, pois o que faz o ser Igreja é a comunhão, a sociabilidade e a fraternidade. 2.3 Considerações Assim, depois de um apanhado histórico das transformações dos templos cristãos em geral para se chegar nos espaços sagrados protestantes atuais, vê-se a carência de espaços de projeção específica que atendam as atividades litúrgicas, que gerem conforto para o usuário e que seja um suporte para as relações entre as pessoas que se apropriam do lugar e lhe dão significado. Pensando em propiciar um espaço adequado para a realização do culto protestante, tendo em vista a tarefa missionária da Igreja e reconhecendo que não há restrição de um local específico para o culto, é que se propõe espaços de culto protestante itinerante, que possa difundir o evangelho em meio a uma sociedade também marcada pelo dinamismo e efemeridade, que por vez valoriza a vivência e a experimentação do espaço através do apelo imaginativo e sensorial (SANTOS, 2016).
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ReferĂŞncias Projetuais [03] 30
Catedral de Papelão Shigeru Ban
Arquiteto: Shigeru Ban Localização: Christchurch, Nova Zelândia Ano: 2013 Localizada na Nova Zelândia, Cidade de Christchurch, a chamada Catedral de Papelão [figuras 30, 31 e 32] é uma obra de carácter temporário levantada para substituir a antiga Catedral Anglicana que desmoronou [figura 29] após um terremoto de grande magnitude [6.3 pontos] em 2011. A obra de papelão, construída como uma simples estrutura em forma de “A” se inspira nas formas geométricas da antiga catedral e incorpora a utilização de 98 tubos de mesmo tamanho e 8 containers de aço [figuras 33 e 34]. Cada tubo de papelão é recoberto por poliuretano à prova d’água e retardantes contra incêndio, além de cumprir a função estrutural do edifício. Externamente os tubos são protegidos por uma cobertura translúcida de policarbonato. Referenciada neste trabalho por seu carácter efêmero e por sua materialidade, a obra foi idealizada para perdurar por, pelo menos, cinquenta anos até que a antiga catedral seja reerguida. Shigeru Ban, o arquiteto da nova catedral, é conhecido por outras obras destinadas para situações temporárias utilizando materiais alternativos e vem trabalhando com tubos reciclados como material construtivo desde 1986. Em suas palavras: “a força do edifício não tem nada a ver com a força do material. [...] mesmo edifícios de concreto podem ser facilmente destruídos por terremotos, mas edifícios de papel não.”
Figura 29 Ruínas da Antiga catedral anglicana; Fonte: archinect.com, internet <acessado em 22/05/2019>. Figura 30 Fotografia da fachada da Catedral de Papelão; Fonte: Archdaily, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Figura 33 Planta Baixa da Catedral de Christchurch; Fonte: architecturalrecord.com, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 31 Interior da Catedral de Christchurch; Fonte: Archdaily, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 32 Maquete Catedral de Christchurch; Fonte: Archdaily, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Figura 34 Elevaçþes oeste e leste da Catedral de Christchurch; Fonte: architecturalrecord.com, internet <acessado em 22/05/2019>.
Igreja Batista Central
José Nasser Hissa / Francisco Nasser Hissa Arquitetos: José Nasser Hissa / Francisco Nasser Hissa Localização: Fortaleza, Ceará Ano: 2003 O anfiteatro da Igreja Batista Central, localizada em Fortaleza, é uma das maiores tensoestruturas contínuas do país e é referência nesse aspecto [figura 35]. Apesar do carácter fixo do projeto, faz-se pertinente referenciar devido a membrana têxtil utilizada para a cobertura. A tensoestrutura é constituída de dois mastros metálicos centrais equidistantes principais com altura de vinte e um metros e se apoia em base de concreto. Outros sete mastros são colocados nos vértices inferiores periféricos em forma de “V” [figura 36] invertidos e sete blocos de ancoragem para fixação dos cabos esticadores principais [figura 37]. A cobertura propriamente dita foi confeccionada em membrana de alta resistência, na cor branca, semi-translúcida, e engloba uma área de 3.500 m2 [figura 38 e 39]. O cálculo da tenda foi elaborado na USP, em São Paulo. O tecido é importado da Alemanha, com base de teflon, com garantia de 15 anos, mas a previsão de duração é de praticamente o dobro disso.
Figura 35 Imagem Panorâmica da Igreja Batista Central de Fortaleza Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Figura 36 Imagem da Igreja Batista Central de Fortaleza Fonte: metalica, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 38 Planta de Coberta IBC Fonte: metalica, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 37 Detalhe ancoragem Fonte: metalica, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Figura 39 Planta de Baixa IBC Fonte: metalica, internet <acessado em 22/05/2019>.
Capela Santo Frei Galvão/Santa Crescentia Lília Campelo e Artur Diniz
Arquitetos: Lília Campelo e Artur Diniz Localização: Guaratinguetá, SP Ano: 2007 Produzida com perfis tubulares, a estrutura metálica dá a forma de tenda à capela, que tem em seu envoltório cinco vitrais curvos, com vidros artesanais em 21 tons de azul, intercalados por membranas tensionadas de pvc, reforçadas com tecido de poliéster. A concepção arquitetônica foi norteada pela volumetria, simbolizada pela tenda, uma referência a um dos primeiros espaços de celebração da humanidade; e a utilização de formas orgânicas no interior da construção resultou na busca de uma relação com o meio ambiente local, a serra da Mantiqueira, em uma área de preservação ambiental [figuras 40 e 41]. A estrutura metálica da capela compõe-se de dez colunas tubulares retangulares e equidistantes com diferentes alturas que garantem a estrutura em forma de tenda, dando dinamismo à volumetria final. Entre os vitrais, repetem-se cinco faces brancas com membrana de PVC reforçada por tecido de poliéster, cuja camada interna proporciona maior conforto térmico e proteção contra os raios solares. O tensionamento foi feito retesando as membranas em direção ao solo com o uso de cabos de aço embutidos na base de cada peça, por meio de esticadores estrategicamente posicionados nas bases das colunas metálicas [figuras 42, 43 e 44].
Figura 40 Interior Capela Santa Crescentia Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>. Figura 41 Capela Santa Crescentia Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Figura 42 Planta de Coberta da Capela Santa Crescentia Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 43 Planta Baixa da Capela Santa Crescentia Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>.
Figura 44 Corte da Capela Santa Crescentia Fonte: arcoweb, internet <acessado em 22/05/2019>.
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Projeto [04] 37
Arquitetura Sagrada - Porte I »»Terreno Tomando como base as dimensões de um lote mínimo de 125m² (5m de testada por 25m de profundidade, Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979) , se propõe para a implantação da estrutura da Igreja a junção de dois lotes de 6mX25m, totalizando 300m². Com essa metragem de lote permite-se a implantação em áreas de ZEIS, conjuntos habitacionais existentes e áreas destinadas à habitação de interesse social. Por motivos práticos, considera-se o terreno topograficamente plano. Tratando-se de Fortaleza, deve-se preferir orientar o edifício com as menores faces no sentido leste|oeste em vista de se obter um melhor conforto térmico.
1mX25m
5mX25m
6mX25m
6mX25m
12mX25m
Esquema 2 Terreno projeto Fonte: produzido pelo autor. 0 1
6
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Esquema 3 Orientação favorável Fonte: produzido pelo autor.
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»»Concepção formal Como se evidenciou neste trabalho, o gótico foi tido, por certo período, como o estilo que melhor expressou o sentimento religioso. Isso é evidenciado através das construções religiosas em estilo neogótico e a presença elementos com linhas verticais e formas triangulares. Ao projetar a Catedral de Papelão, usada como referência nestre trabalho, Shigeru Ban foi buscar inspiração nas formas da antiga Catedral de estilo neogótico. Aliado a isso, também viu-se na estrutura das treliças espaciais, imaginando-as em uma escala maior, a possibilidade de gerar um espaço com as formas pretendidas e com vantagem da fácil montagem e desmontagem.
Figura 45 Secção transversal triangular da antiga Catedral de Christchurch Fonte: LUZ, 2017. Figura 46 Secção transversal triangular da antiga Catedral de Christchurch Fonte: LUZ, 2017. Figura 47 Passarela em Copenhague Fonte: MEYER, 2002.
O esquema a seguir mostra o processo de +concepção formal, + partindo da forma com seção transversal triangular.
+
Esquema 4 Concepção da Forma Fonte: produzido pelo autor.
forma inicial
adições
forma inicial
adições
transformações
forma básica final
transformações
forma básica final
+
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tracejado da coberta
03
acesso
01
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06
04
03
06
»»Programa de Necessidades O espaço foi pensado para servir a grupos em torno de 50 pessoas, configurando uma igreja pequena. À medida que forem sendo incorporados membros fixos ao corpo da igreja, teria a possibilidade da ampliação ou a substituição por uma construção fixa. A periodicidade que a estrutura ficará em determinado lugar depende da finalidade da construção, se é para um culto esporádico, para a instalação de um novo local que posteriormente seria fixo ou para servir por tempo indeterminado. O espaço é composto por um salão de 70,32m² comportando um pequeno espaço na entrada, a área de banco e o púlpito na extremidade. Para dar suporte as atividades com área de sanitários e um apoio, foi pensado na inserção de um contêiner.
01 - Entrada 02 - Circulação 03 - Área de Bancos 04 - Púlpito 05 - Apoio 06 - WC’s
01. Planta Baixa _ Porte 1 A concepção planimétrica segue o partido visto nos Templos, herdado do Tabernáculo Judaico, com o eixo longitudinal marcando a trajetória do observador.
02. Corte AA »» Partido Estrutural A estrutura foi pensada a partir de um sistema de treliças formadas por tubos metálicos conectados através do sistema de nó mero.
1 6
5 6 Pele (lona)
»» Principais Componentes Utilizados 1. Lona 2. Esquadrias [4x] 3. Piso Elevado 4. Tubos Metálicos Ø=80mm [31x] 5. Nó mero [13x] 6. Conector angular | 18x 7. Container
2 Esquadrias
04. Detalhe 4 Estrutura
7 Container
Mobiliário
6 3 5
Terreno
06. Detalhe Explodido 05. Detalhe
Piso Elevado
03. Corte BB
tracejado do beiral
04
tracejado coberta
02
04
03
03
01
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03
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04
»»Programa de Necessidades A segunda proposta é um espaço para eventos de evangelização. Enfatizando o eixo longitudinal, a estrutura foi pensada inicialmente para comportar um hall com recepção e lojas, áreas de bancos para mais de 2000 pessoas, containers contendo sanitários e lavatórios, palco, salas de apoio ao palco e house mix.
04
03
03
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03
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01 . Recepção 02. Lojas 03. Área de Bancos 04 . Banheiros 05. House Mix 06 . Palco 07. Salas de Apoio ao Palco
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07
07
01. Planta Baixa _ Porte 2
02. Corte AA
Pele (lona)
Cabos
Estrutura Cumieira
Terças
Estrutura Lateral Pórticos Tirantes
»»Sistema Estrutural Tomando como base a estrutura de um galpão de vão de 40 metros, composto por pórticos espaçados a cada cinco metros, propõe-se a adição de uma estrutura nas fachadas laterais e na cumieira para dar dinamicidade e conversar com a forma proposta para a arquitetura de porte 1.
Sapatas
04. Detalhe Explodido
03. Corte BB
Considerações Finais [05] 47
Considerações Finais A arquitetura gera espaços que proporcionam aos indivíduos a sua experimentação, conferindo-lhe significado. No programa Igreja essa experiência é levada a uma dimensão transcendental. Ao projetá -la, cabe ao arquiteto conhecer como determinado grupo reconhece e se relaciona com o espaço. É buscar, também, na história como a arquitetura incorporou os símbolos e auxiliou o indivíduo a transcender de sua realidade. Os espaços projetados neste trabalho buscaram potencializar as relações entre os fiéis e o espaço através do uso de tecnologias, materiais leves e formas interessantes e atrativas. Procurou-se conferir simplicidade, valorizada pelas igrejas protestantes, através da clareza arquitetônica e um programa de necessidades sintético. Não se pretende ocasionar nos fiéis uma veneração ao edifício e aos símbolos, mas uma interação harmoniosa com o receptáculo para as reuniões e atividades litúrgicas, em vista de eliminar o desleixo em relação aos espaços de celebração. Para o memorial de TC1, conseguiu-se chegar a proposição do partido e estudo preliminar de dois espaços sagrados, um de menor porte e outro, em uma escala maior, para a realização de eventos de evangelização. Para a próxima etapa, pretende-se avançar no detalhamento das ligações entre os componentes estruturais e elementos de vedação, afim de otimizar os processos de montagem, desmontagem e transporte.
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