ficha catalográfica
ÍNDICE
FICHA TÉCNICA
Fortaleza – uma terra de vaga-lumes.
Fortaleza, território de cultura viva e vibrante, é também um berço de diversidade e criatividade. E é neste cenário que se estabelece uma rica tessitura de criações e possibilidades artísticas: as trajetórias de artistas que, com coragem e resistência, produzem e inspiram a cena cultural da nossa cidade.
Dentro do panorama multifacetado de Fortaleza, encontram-se traçadas as histórias de artistas LGBTQI+ que promovem uma resistência combativa e uma influência contínua nos cenários artísticos locais.
Inspirado na obra Devassos no Paraíso de João Silvério Trevisan, fazemos alusão aos vaga-lumes citados por Trevisan, que, mesmo em ambientes desafiadores e muitas vezes adversos, imprimem uma vida simbólica de resiliência através de sua bioluminescência. Assim também são os artistas da comunidade LGBTQI+, brilhando e resistindo contra as adversidades.
Este E-book é resultado de uma pesquisa financiada pela Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR, por meio da Lei Paulo Gustavo, lei Complementar nº 195/2022, que viabiliza investimentos diretos no setor cultural.
Desta forma, este compilado é uma celebração das trajetórias de artistas que desafiam normas e rompem barreiras em seus trabalhos. Nosso objetivo é mais do que apenas lançar um olhar sobre essas trajetórias; queremos apresentar o fazer teatral como produtor de conhecimento e enaltecer a representatividade para as novas gerações de artistas LGBTQI+.
Em uma época em que a luta por igualdade e respeito se torna cada vez mais urgente, este E-book se apresenta como um testemunho da resistência dos artistas que nos precederam e um tributo à pesquisa e à expressão artística.
Obrigado por terem vindo aqui. Boa leitura! Os autores.
VAGA-LUMES FERIDOS
Entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2024, Fortaleza registrou 98 vítimas em casos de homofobia e transfobia, representando um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são alarmantes e destacam a necessidade urgente de medidas mais eficazes para combater esses crimes.
As ocorrências se distribuíram de forma variada: 25 casos ocorreram em residências particulares, 12 em vias públicas, 9 em ambientes virtuais, 8 em hospitais ou clínicas, e o restante em locais como aeroportos, farmácias, teatros e paradas de ônibus.
A faixa etária das vítimas revela que 4 casos envolvem jovens de 12 a 17 anos, 19 são de pessoas de 18 a 24 anos, 23 de 25 a 29 anos, 21 de 30 a 34 anos, e 28 de 35 a 64 anos, com 3 casos sem informação sobre a idade. Quanto ao estado civil, 81 vítimas são solteiras, 7 casadas e 10 não informaram. Entre os casos registrados, 78 foram classificados como conduta homofóbica e 20 como transfóbica.
Os dias com maior número de ocorrências foram quarta-feira e domingo, destacan do padrões preocupantes de violência. É importante ressaltar que esses são os casos registrados com boletim de ocorrência, sabe-se que os casos não registrados são maiores e mais preocupantes.
Esses dados foram extraídos do Sistema de Informações Policiais - SIP da Polícia Civil do Estado do Ceará - PCCE. Esse quadro evidencia a persistência de um cenário de discriminação e violência contra a comunidade LGBTQIA+ em Fortaleza, sublinhando a necessidade de políticas públicas e ações sociais que promovam a segurança e o respeito a todos os indivíduos.
OS AUTORES
GRACO ALVES
Autista, LGBT e artista
Iniciou sua trajetória como ator, formado pelo Curso Princípios Básicos de Teatro – CPBT, em 1998, hoje é diretor e coreógrafo. Em 2000 formou-se pelo Colégio de Direção teatral do Ceará, pelo Instituto Dragão do Mar de arte, designe e cultura do Ceará. Obteve a graduação em Tecnólogo em Artes Cênicas (2007) e Licenciado em Teatro (2010) pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE (2021), onde também logrou o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes no mesmo instituto. Fundou a Cia. Argumento de Teatro em 2001, onde desenvolve pesquisas nas linguagens de Clown, Dança Contemporânea e contação de histórias. Sua carreira acadêmica e profissional inclui uma vasta formação complementar, abrangendo desde cursos técnicos e capacitações em artes cênicas até especializações em maquiagem para teatro, expressão vocal, ballet clássico e clown. Sua produção artística e acadêmica é reconhecida, tendo recebido prêmios como Prêmio Gasparina Germano melhor caracterização Festival de Esquetes de Fortaleza (2003), e o Prêmio de Incentivo às Artes da SECULT de Circulação em Dança (2004), Prêmio Itaú Cultural Rumos Dança na categoria Intérprete Criador (2007), Programa Nacional de Incentivo ao Intercâmbio – Minc (2009) o Funarte Interações Estéticas com Pontos de Cultura (2010). Graco Alves continua a contribuir para a cena cultural com sua pesquisa em cultura alimentar e dedicação às artes cênicas, destacando-se como avaliador parecerista de editais por todo o país.
LUCAS ALEXANDRE
Ator, palhaço, produtor e LGBT
Ator e diretor registrado profissionalmente sob o número 2098/CE. Possui uma formação acadêmica com experiências nas áreas de teatro e educação. Formado em Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) em 2019 e apresentou sua monografia intitulada “Carri Costa e o espetáculo Tita & Nic: Uma etnografia sobre a improvisação”, orientada pelo professor doutor Paulo Sérgio de Brito - Paulo Ess. Sua formação acadêmica é complementada por uma especialização em Tecnologias Aplicadas à Educação pela Faculdade Descomplica, concluída em 2022.
Trabalhou em colaboração no livro “Fortaleza: territórios de criação em teatro”, publicado em 2021 pela LA Produções. Sua trajetória como ator e diretor é marcada por diversas produções teatrais e circenses, incluindo “VISITA ESPETACULAR - Uma aventura no Theatro José de Alencar” (2021), “O circo do K’os e os clássicos da palhaçaria” (2019), “Senhorita Marshmallow” (2018), Malasombro (2015) e entre outros. Foi professor de Artes na Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (2021-2023). Suas áreas de atuação incluem Artes, Teatro, Arte-educação e Educação.
WILLIAM AXEL
Artista e etc.
Mestre em Artes pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) na linha de pesquisa em Processos de Criação em Arte (2022) e ator com registro profissional número 2081/CE. Realizou a Pós-Graduação Lato Sensu em Docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas de Aprendizado (2023). Licenciado em Teatro pelo Instituto Federal do Ceará (2017). Foi bolsista de iniciação à docência pela CAPES no período de 2015 a 2017. Atuou como da Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC) na disciplina de Artes (2019-2023) e da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME) também na disciplina de Artes (2020-2023).
Sua formação acadêmica inclui Mestrado em Artes (IFCE, 2019-2022) com o título “El Nino: Insurgências de uma criação homoafetiva”, sob orientação de Fernando Ximenes Lira, e Especialização em Docência do Ensino Superior e Metodologias Ativas de Aprendizado (Faculdade Descomplica, 2022-2023), com o título “Estudo de caso”, orientado por Rafael de Andrade Cunha. Obteve a Graduação em Artes Cênicas pelo Instituto Federal do Ceará (2014-2017), com o título “Yandê Tekoha: uma reflexão sobre teatralidade, territorialidade e dispositivo em um processo compositivo”, sob orientação da professora doutora Francimara Nogueira Teixeira.
Em sua produção bibliográfica, destaca-se a publicação do livro “Fortaleza: territórios de criação em teatro” (LA PRODUÇÕES, 2021, 1ª ed., 150p) e a publicação de artigos como “EL NIÑO: DISPOSITIVOS DE CRIAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA” na REVISTA CENA (2021). Apresentou trabalhos como “Dispositivos de Criação em Tempos de Pandemia: Um Olhar Sobre a Ação em El Niño” (2021), “CARTOGRAFIAS LGBTQI+: O TEATRO COMO POSSIBILIDADE” (2019), entre outros.
HERÊ AQUINO
Diretora e pesquisadora teatral
Herê Aquino, uma figura proeminente do teatro cearense, nasceu em Fortaleza, Ceará, em 9 de janeiro de 1958. Diretora, pesquisadora e professora de teatro, Herê começou sua trajetória artística em 1990 ao fundar o Grupo Expressões Humanas, uma iniciativa que marcaria sua carreira na cena teatral da cidade.
Autodidata no início, Herê Aquino fez sua estreia como diretora em 1991 com o espetáculo Anárquico Velho Mundo Novo. Esta produção, encenada pelo Grupo Expressões Humanas, foi destaque na XIII Mostra de Teatro Amador de Fortaleza, recebendo prêmios de melhor atriz e sonoplastia, além de indicações para melhor espetáculo, direção, cenário e iluminação.
Em 1992, Herê expandiu seu repertório ao dirigir seu primeiro espetáculo infantil, Dom Poder e a Revolta da Natureza. A peça permaneceu em cartaz por quase três anos, consolidando o Grupo Expressões Humanas como uma presença constante no teatro de Fortaleza.
Entre 1994 e 1996, Herê direcionou seus esforços para investigações internas e experimentações teatrais, realizando intervenções em espaços públicos de Fortaleza. Esse período de intensa pesquisa ajudou a definir e sistematizar os parâmetros que norteariam suas futuras criações, como relata em sua biografia disponibilizada na plataforma Mapa Cultural do Ceará e em seu documentário hereaquinomundo.
A partir de 1997, com o espetáculo UNI – VERSOS, sua pesquisa começou a se solidificar, imprimindo uma assinatura reconhecível e respeitada no campo teatral. Montagens como Morte e Vida Severina, Deus Danado, Lá ri lá rá Macunaíma Saravá, Dorotéia, A Hora da Estrela, Os Cactos, Encantrago - Ver de Rosa um Ser Tão, Ensaio para um Silêncio, Orlando, Îandé Tekoha e tantos outros, enriqueceram a cena teatral cearense e ganharam reconhecimento para além das fronteiras do país com apresentações do Grupo Expressões Humanas no continente africano.
A carreira acadêmica de Herê também é notável. Ela atuou como professora convidada no curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2000 e 2004, no Colégio de Direção Teatral do Instituto Dragão do Mar em 2001 e 2003, e no Curso Superior Tecnológico em Artes Cênicas do CEFET em 2007, dirigindo espetáculos de conclusão das turmas. Sua pesquisa teatral se concentra na ritualização no teatro, com ênfase na poética do espaço cênico e na composição de uma cena física, conceito de Jerzy Grotowski. Herê busca um teatro participativo, onde o espetáculo não
é apenas observado, mas vivenciado junto com o espectador, alinhando-se com tendências contemporâneas e fundamentando-se em estudos de Grotowski, Eugênio Barba e Bertolt Brecht.
Em 2010, Herê participou do projeto Palco Giratório do SESC com os espetáculos Encantrago – Ver de Rosa um Ser Tão, Os Cactos e Ensaio para um Silêncio. Além disso, ministrou oficinas sobre "Teatro Ritualístico" e participou como palestrante no "Encontro Pensamentos Giratórios" em Salvador, discutindo a relação entre teatro ritual e cultura popular. Herê Aquino também tem importantes contribuições para o teatro por meio de artigos, curadorias, bancas de comissões em festivais e mostras teatrais, e em processos seletivos para escolas de teatro.
Como coordenadora de teatro da Secretaria de Cultura de Fortaleza, produziu e coordenou várias edições do Festival de Teatro de Fortaleza. Seu trabalho foi reconhecido com o Troféu Carlos Câmara pelos 22 anos de contribuição ao teatro cearense, e em 2012, foi homenageada pela Semana SESC de Artes Cênicas com o troféu de Destaque do Meio Artístico Cearense.
Herê Aquino, com seus trabalhos contribui para a produção de conhecimento em teatro, influencia e inspira gerações de artistas e fazedores de cultura do nosso estado.
GILBERLAN MENESES
Criador/intérprete e produtor cultural
É um artista interdisciplinar com atuação transversal em diferentes linguagens artísticas, incluindo teatro, dança, pesquisa e produção cultural. Iniciou sua formação artística no Curso Princípios Básicos em Teatro do Teatro José de Alencar - CPBT (2012). Posteriormente, formou-se em Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE (2017). Formou-se no Curso de Iniciação em Dança Contemporânea (2018) e completou o Curso Técnico em Dança no Centro Cultural Bom Jardim (2021). Recentemente, tornou-se Mestre em Artes pelo Programa de Pós Graduação – PPG Artes, pelo IFCE (2023).
Gilbertan atualmente está cursando Especialização em Gestão Cultural na Universidade Estadual Vale do Acaraú. Durante sua graduação, ele desenvolveu o trabalho de conclusão de curso intitulado “O Corpo Nu e Sua Força Política na Cena Contemporânea: Um Olhar no Processo Criativo do Espetáculo Olaria”, sob orientação do Professor Andrei Bessa. Como profissional, atuou em diversas instituições. No Instituto Federal do Ceará, foi bolsista entre 2015 e 2017, desenvolveu ações de assistência e produção artística no Grupo de Pesquisa em Cultura Popular Mira Ira, com foco em dança e cultura popular. De 2021 a 2023, atuou como coordenador de secretaria no Instituto Dragão do Mar, onde organizava a agenda de gestão, documentos, compromissos e eventos, no aparelho cultural Theatro José de Alencar.
Entre suas produções bibliográficas e técnicas, destaca-se a gestão da página do Mestrado Profissional em Artes do IFCE no Instagram, além de workshops e produções artísticas, como a VII Semana de Artes Cênicas do IFCE (2019), a Oficina de Jogos Teatrais (2017), e a participação na Virada Cultural de Fortaleza (2015).
No campo das artes cênicas, Gilberlan participou de diversos espetáculos, como “Percursos” (2019), “Povo nativo: Somos Feitos de Átomos, mas Também de Histórias” (2018), “Guerreiros Santa Folia Festeira” (2018), e “Fartura Brasil” (2018). Ele também esteve envolvido em produções como “Olaria” (2017), “Fuertes” (2017), e a abertura dos Jogos IFCE (2017).
Além disso, participou de eventos como o Encontro “Arte e Agenciamento” (2018), o Fórum de Produtores do Ceará (2018), o Seminário “Arte & Política” (2017), e o Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil (2015).
Gilberlan também produz e coordena eventos culturais, como a VII Semana de Artes Cênicas do IFCE (2019). No mestrado foi orientado pela
Foto: Acervo pessoal.
Profa. Dra. Maria de Lourdes Macena, defendendo a dissertação “A Poética do Meu Corpo Nu: Compondo Reflexões Criativas” (2023) no mesmo ano O projeto “Lá pras bandas do interior, para as bandas do interior da minha alma.” Contemplado no Edital Nº 7204 - Projeto fomentando com recursos da Lei 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc –por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza .
Em sua atuação como educador, ministrou cursos de curta duração, como a Oficina de Jogos Teatrais (2017). Sua dedicação à popularização da cultura e das artes é evidente em suas múltiplas produções e participações em eventos culturais importantes. Recentemente lançou o trabalho de vídeo dança “Mamãe, sou espada!” na plataforma do Youtube, como resultado da sua pesquisa de mestrado, contemplado pelo edital de Microprojetos culturais com o apoio da Secretaria de Cultura de Fortaleza, através da Lei Paulo Gustavo.
FAULER
Bailarino e coreógrafo
É bailarino e coreógrafo, formado pelo Colégio de Dança do Ceará. Em 2003, fundou e passou a dirigir a Cia. Dita. Entre 2005 e 2007, foi contratado pela Association Fin Novembre, em Paris. Desde 2001, Fauller desenvolve trabalhos autorais de dança que dialogam com outras linguagens artísticas, colaborando com artistas de diversas nacionalidades, como Allan Buffard, Rachid Ouramdane, Gilles Jobin, Julie Nioche, Yann Marussich e Gary Stevens. Entre suas obras
mais relevantes, destacam-se: “De-vir”, “Corpornô”, “Mulata”, “Fortaleza”, “L’après Midi d’un Fauller”, “Manga com Leite” e “Como Você se Sente Agora?”. Ele também participou de produções como “Mauvais Genre”, de Alain Buffard, “Cover”, de Rachid Ouramdane, “And”, de Gary Stevens e “Outro Tango”, de Paulo Caldas. Fauller também tem se aventurado no cinema, colaborando com diretores cearenses como Armando Praça (“Greta”), Rosemberg Cariry (“Siri-Ará”) e Allan Deberton (“Pacarrete”). Ao longo de quase duas décadas, seus trabalhos com a Cia. Dita têm circulado pelo Brasil, África, América do Sul e Europa.
LAYLA SAH
Atriz e cineasta.
Layla Sah é uma atriz, transformista, diretora, roteirista e produtora que se destaca no cenário cinematográfico brasileiro com seu trabalho multifacetado. Iniciou sua carreira no teatro em 1999 com o musical “O Sítio do Pica-pau Amarelo” e, no ano seguinte, participou do espetáculo “Inocente”como conclusão do Curso Princípios Básicos de Teatro - CPBT no Theatro José de Alencar. Em 2002, integrou o elenco das peças “Eles Não Usam Black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, e “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. No ano de 2003, atuou em “Retratos de um Brasil em Preto e Branco”, seguido pelo espetáculo “Raimunda Pinto, Sim Senhor” em 2004 como conclusão do Colégio de Direção Teatral do Ceará. Em 2006, estrelou “Miss Cangatí” pela Cia. Argumento e, no ano seguinte, “Deus é Máquina” em comemoração aos 30 anos do CPBT. Entre 2009 e 2013, participou do espetáculo “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, no grupo de teatro Imagens.
Sua carreira no cinema começou em 2016 com as curtas-metragens “Janaína Overdrive” e “Jango”. Em 2017, atuou em “O Direito de Dublar”, “Bocas Sujas de Carmim”, “Bate Coração” e “Gretta”. No ano seguinte, participaram dos curtas “Aos Seus Pés” e “Poleiro”. Em 2019, esteve nos filmes “Fortaleza Hotel” e “Veludo Little Hell’s”. Em 2020, protagonizou o filme “Janaína Overdrive”, um filme LGBT futurista onde interpreta uma ciborgue trans que luta por sua vida. Este trabalho, lançado no canal Kinobox Filmes, recebeu grande atenção, acumulando muitas visualizações desde sua estreia em 9 de junho de 2020. No mesmo ano, participou do filme “Poleiro”, dirigido por Mozart Freire e Ton Martins, e marcou mais uma colaboração com os diretores, com quem já trabalhou em “Ariadne” (2019).
Além de suas atuações, Layla Sah se destacou como diretora, roteirista e produtora. Em 2020, o curta-metragem “Tia Iracy Futebol Clube”, herdou essas três funções, e a obra foi apresentada no Festival de Curtas Mídia Ninja. No mesmo ano, supostamente, roteirizou e produziu “D. Jayra e o Mocoronga Vírus, a Saga”, exibido no Festival Cultura Dendicasa da Secretaria de Cultura do estado do Ceará - SECULT-CE. Com uma carreira marcada pela diversidade de papeis e pela capacidade de transitar entre diferentes funções no cinema, Layla Sah continua a propor e a contribuir fortemente para a representação e visibilidade de temas sociais, especialmente aqueles que narram as experiências da população trans por meio de seu trabalho em audiovisual.
Ao longo de sua trajetória, recebeu diversos prêmios, incluindo Melhor Atriz por sua atuação em “Inocente” e “Raimunda Pinto, Sim Senhor”. No Festival de Cinema Nóia, foi premiada como Melhor Atriz pelo filme “Janaína Overdrive”, que também rendeu uma Menção Honrosa no Festival de Cinema do Rio. Além disso, atuou como locutora de rádio no programa “Café com Lalinha” na Costa Oeste FM de 2009 a 2011, e no programa “Absoluta da Cidade” na Rádio Cidade FM de 2011 a 2012. Sua dedicação à atuação no teatro e no cinema perdura até os dias atuais, consolidando sua presença marcante na cena artística.
Com uma carreira marcada pela diversidade de papéis e pela capacidade de transitar entre diferentes funções no cinema, Layla Sah continua a propor e a contribuir fortemente para a representação e visibilidade de temas sociais e das narrativas que refletem a vida da população trans, enriquecendo o cenário do audiovisual com seu talento e
TOMAZ AQUINO Diretor e pesquisador
José Tomaz de Aquino Júnior é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e doutorando em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF) desde 2021. Sua pesquisa de doutorado, intitulada “Corpo Ausentes: tecendo uma corpografia da memória por meio da dança-teatro butô e das Santas Almas da Barragem de Senador Pompeu-CE”, é orientada por Andrea Copeliovitch e aborda temas como butoh, dança-teatro, memória e cartografia. Ele é mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF (2015), com a dissertação “O Ator Estrangeiro e a Flor do Mandacaru”, também orientada por Andrea Copeliovitch. Durante o mestrado, foi bolsista da CAPES. Possui especialização em Neuroeducação pelo Centro Universitário Christus (UNICHRISTUS, 2017), onde desenvolveu um trabalho sobre educação inclusiva e salas de recursos multifuncionais na Rede Federal de Educação. Graduado em Licenciatura em Teatro (2019) e Artes Cênicas (2009) pelo IFCE, com orientação de Mônica Braga Marçal-Dominé em ambos os cursos. Desde 2016, é professor no IFCE, onde leciona em cursos de graduação, como Licenciatura em Teatro, Licenciatura em Química, Engenharia de Produção Civil e Engenharia Ambiental e Sanitária. Além de suas funções docentes, atuou em diversas comissões e consultorias, incluindo a Comissão Própria para Escolha e Implantação dos Livros do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Núcleo Docente Estruturante (NDE) do Curso Licenciatura em Teatro. Foi coordenador do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) no Campus Quixadá e membro da comissão local do Plano de Permanência e Êxito.
Tomaz também tem uma extensa formação complementar, com cursos em mímica, teatro físico, butoh, dramaturgia e educação inclusiva, realizados em diversas instituições, como a Cia. Angatu, Estúdio Luis Louis, LUME Teatro, Instituto Federal do Triângulo Mineiro, e outros. Ele tem uma carreira artística organizada como diretor teatral, preparador corporal, performer e ator-pesquisador, com ênfase nas linhas de pesquisa da mímica, teatro corporal, performance e butô. Foi colaborador do Coletivo Artístico As Travestidas no espetáculo “Trans-Ohno” e coordenou a Cia de Artes Curral de Pedras e o Programa Campus de Arte e Cultura no IFCE Campus de Quixadá.
Ao longo de sua trajetória, José Tomaz recebeu diversos prêmios e distinções, incluindo o Prêmio Especial do Júri - Excelência do Trabalho no Festival de Esquetes de Cabo Frio (2014) e o Prêmio Gasparina Germano
no XV Festival de Esquetes de Fortaleza (2011). Ele também participou de projetos de extensão como “Patrimonialização da Caminhada da Seca: Ações de apoio ao Registro do Patrimônio Imaterial de Senador Pompeu - CE” e “CARNAUBAL: Ambiente de expansão política na cultura”. Seu trabalho inclui apresentações em congressos e seminários, organização de eventos culturais e publicações em periódicos e anais de congressos.
Tomaz de Aquino é um educador e artista multifacetado, com uma carreira dedicada ao ensino, pesquisa e extensão nas artes cênicas, destacando-se por sua atuação em projetos inclusivos e culturais, além de sua contribuição significativa para a formação artística e acadêmica.
MARCUS FÁBIO
A Condessa da arte transformista e seu legado IN MEMORIAM
Marcus Fabio Azevedo de Medeiros, Conhecido artisticamente como Condessa Mireille Blanche, nasceu em Fortaleza no dia 30 de março de 1969 e foi brilhar em outros palcos no dia 30 de outubro de 2023. Em dias comuns ou quando estava “a paisana”, como diria o próprio Marcus Fabio, desempenhava o papel de contador de empresas comerciais e de alguns estabelecimentos como a boate em que se apresentava e saunas, mas, à noite, transformava-se em Condessa Mireille Blanche, um ícone do transformismo que encantou a comunidade LGBTQI+ com suas performances inesquecíveis em bares, saunas e eventos da comunidade.
Condessa Mireille Blanche foi uma figura central na cena artística de Fortaleza, especialmente durante os sete anos em que atuou como diretora artística da boate Divine, no centro da cidade (2007-2014). Sob sua direção, a Divine tornou-se um ponto de encontro vital para artistas transformistas, travestis, dançarinos e drag queens. A boate era um espaço onde talentos se reuniam e onde o entretenimento noturno prosperava. Quando a Divine fechou suas portas em 7 de janeiro de 2014, uma era de ouro da arte drag no Ceará também chegou ao fim, deixando um legado importante e uma sensação de perda para artistas e frequentadores.
Condessa Mireille Blanche também foi uma destacada apresentadora do maior concurso gay do estado, o Top Gay Ceará. Além de performar, ela
apresentava as candidatas ao concurso de beleza transformista com graça e elegância. Marcus Fábio tinha um dom natural para reunir pessoas, utilizando palavras delicadas e sábias para conduzir personalidades diversas nas noites de Fortaleza.
Ao longo de sua carreira, Condessa Mireille Blanche criou quadros e números musicais inovadores, como os Gatos da Condessa. Ela também apresentou as últimas edições do concurso Transformista do Ano, onde entregou o prêmio Dayany Princy. Sua presença era constante no karaokê da Condessa no Thermas Califórnia, onde comandava as noites com carisma e talento.
A dedicação de Marcus Fábio à arte do transformismo e sua habilidade em reunir a comunidade deixou uma marca indelével na cultura LGBTQI+ de Fortaleza. Em homenagem póstuma, a boate Valentina prestou um emocionante tributo à Condessa Mireille Blanche no domingo, dia 29 de outubro de 2023. A homenagem foi dirigida pelo promotor e diretor artístico Haylto Araújo, contando também com uma interpretação magnífica da Diva Adma Shiva, que emocionou todos os presentes, performando umas dos números mais conhecidos da Condessa.
Condessa Mireille Blanche será sempre lembrada como uma pioneira e uma verdadeira rainha da noite, cuja paixão e talento iluminaram a vida de muitos e cujo legado continuará a inspirar futuras gerações de artistas.
De acordo com matéria publicada pelo jornal Diário do Nordeste em 25 de agosto de 2024 e assinada pela jornalista Ana Beatriz Caldas, a partir de 2025, o Ceará contará com um novo marco para celebrar a arte e a diversidade: o Dia da Arte Transformista. A data será comemorada anualmente em 29 de junho, um dia após o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+. O projeto de lei que institui a celebração, proposto pela deputada Lia Gomes (PDT), foi aprovado na Assembleia Legislativa. Além de destacar a relevância artística da cena transformista, o PL também evidencia seu impacto econômico, gerando renda e oportunidades para diversos profissionais, especialmente aqueles pertencentes a grupos minorizados.
A escolha da data para homenagear a arte transformista cearense se dá em referência à inauguração da Boate Casa Blanca, em 29 de junho de 1984, um espaço icônico da cena cultural de Fortaleza, onde artistas que desafiavam as normas de gênero se apresentavam em espetáculos memoráveis. A cena, contudo, antecede a criação da Casa Blanca, como relata na entrevista para o Diário do Nordeste, o diretor de televisão e produtor cultural Fábio Nobre. Segundo ele, o movimento começou no final dos anos 70, com o grupo pernambucano TransAção, inspirando o surgimento de coletivos locais como o Metamorfose, que realizavam performances de clássicos da MPB. Na época, os artistas eram chamados de transformistas, enquanto as drag queens se destacavam por seus visuais mais chamativos e maquiagem exuberante. Entre os locais que marcaram essa época, a Casa Blanca e a Boate Navy foram essenciais, mas foi com a Boate Divine, inaugurada em 2000, que a cena transformista de Forta-
leza atingiu um novo patamar. A Divine foi um verdadeiro celeiro de talentos, abrigando cerca de 400 artistas ao longo de quase 15 anos, incluindo figuras de destaque como Gisele Almodóvar, personagem do ator Silvero Pereira, Denis Lacerda, Aurineide Camurupim e Skolastica.
Além dos palcos das boates, o segmento também se fortaleceu por meio dos concursos de beleza transformista. Concursos como o Miss Brasil Gay, criado em 1977, abriram espaço para certames regionais como o Top Gay Ceará, fundado em 2008 por Vladimir Libério e Irivan Simplício. O Top Gay não só celebra a beleza transformista, como também fomenta empregos na área da moda e da beleza, atraindo estilistas, maquiadores e cabeleireiros locais.
A atual dinâmica dos concursos envolve seletivas nos bairros de Fortaleza, que culminam no concurso estadual, cujas vencedoras têm a oportunidade de representar o Ceará no Miss Brasil Gay, em Juiz de Fora (MG). A apresentadora Layla Sah, presente nesse livro e figura importante na cena dos concursos, destaca que o Top Gay fomenta a economia local e oferece uma plataforma para a visibilidade de artistas transformistas, ressaltando o papel social e artístico desses eventos.
Em 2023, Nandin Andrade, interpretando a miss Letícia Andrade, conquistou o título de Top Gay Ceará após anos de trabalho no mundo transformista. Agora, ele representará o Ceará no Miss Gay Brasil em agosto de 2025, reforçando o poder transformador da arte e da diversidade no estado.
AGRADECIMENTOS
Ao final deste compilado, gostaríamos de expressar nossa gratidão a todos que contribuíram para a realização deste trabalho. Primeiramente, um agradecimento especial às pessoas que dedicaram seu tempo para colaborar com a pesquisa. Sem o apoio e as valiosas contribuições de cada um de vocês, este projeto não teria alcançado o valor e a estima que pretendíamos. Suas ideias, críticas e orientações foram fundamentais para o desenvolvimento e a conclusão deste trabalho.
Agradecemos também à SECULTFOR que, com seu apoio financeiro e institucional, possibilitou a realização deste projeto. O financiamento e os recursos disponibilizados foram essenciais para a execução da pesquisa e para a produção deste livro. Este material é, em grande parte, fruto do esforço coletivo e da colaboração de muitos sujeitos. A todos vocês, nossos sinceros agradecimentos.
Com gratidão, Os autores.