Avesso: Introspecçþes Manifestadas
Esse projeto foi realizado durante o mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, 2015. curadoria
Lucas Blat
orientação de projeto
Eduardo Aires
artistas e escritores
Aline Bei Breno Liguori Dylan Silva Gonçalo Sepúlveda João Santos Lígia Blat Lucas Blat Lucas Lenci Margarida Dias Marina Merlino Priscila Morais Rafael Navogino Rodolfo Almeida Sam Doctor Victor Maia Vitor Serrano
projeto gráfico e diagramação
Lucas Blat
família tipográfica
Replica Pro (Norm, 2008)
impressão
Norcópia
encadernação
Ana & Carvalho Encadernações
agradecimentos
Rua do Sol 172 José Oliveira Vitor Serrano Lígia Blat João Santos
exposição
8 a 10 de maio de 2015 Rua do Sol 172
Avesso: Introspecçþes Manifestadas
índice
Aline Bei, BR Breno Liguori, BR Dylan Silva, PT Gonçalo Sepúlveda, PT João Santos, PT Lígia Blat, BR Lucas Blat, BR Lucas Lenci, BR Margarida Dias, PT Marina Merlino, BR Priscila Morais, BR Rafael Navogino, BR Rodolfo Almeida, BR Sam Doctor, AU Victor Maia, BR Vitor Serrano, PT
46 49, 51, 53 10, 12 13, 14 15, 16 17, 55, 58 18, 19 20, 22, 24 26, 27 59, 60 62, 63 28, 30 31 32, 34, 36 38, 40 42, 44, 45
A forma de cada um expor a sua compreensão sobre o que vive é pessoal e intransferível: cada um vê a sua e a sua é vista apenas por cada um. Do lado de dentro para o lado de fora, “Avesso: Introspecções Manifestadas” expõe o resultado do raciocínio ou a sua ação, assim como uma metalinguagem. A sensação aconchegante de se identificar com uma obra deu origem a esta publicação. Reunindo obras de 16 artistas e escritores de 3 países diferentes, “Avesso” propõe a reflexão sobre as várias formas de manifestar o consciente e o subconsciente. Os trabalhos coletados, juntos, representam a pluralidade intelectual e técnica dos artistas. O seu objetivo não é trazer ao observador a introspecção que deu origem a obra, mas sim despertar uma nova reflexão de forma única e pessoal.
Lucas Blat, curador
Dylan Silva PT
Sem TĂtulo 2013
aquarela e ecoline sobre papel 40 x 30 cm
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Dylan Silva PT
Last Sleep of November 2014
aquarela e ecoline sobre papel 15 x 43 cm
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Gonçalo Sepúlveda PT
Tryout 2014
colagem 10,50 x 15,50 cm
13
Gonçalo Sepúlveda PT
Sem Título 2014
colagem 10,50 x 15,50 cm
14
João Santos PT
Espelho 2012
instalação: telas brancas, banco, vídeo projetado em tempo real
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João Santos PT
Viagem Em Perspectiva 2013
instalação: vitrine, publicação independente, vídeo projetado
publicação Viagem em Perspectiva impressão a cores sobre papel, 20,5 x 13,5 cm
vídeo Perspectiva cor, 2’35’’
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LĂgia Blat BR
Brise 2012
fotografia, jato de tinta sobre papel 55 x 60 cm
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Lucas Blat BR
Sem TĂtulo 2014
xilogravura sobre papel 20 x 40 cm
18
Lucas Blat BR
Sem T铆tulo 2015
贸leo sobre tela 30 x 40 cm
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Lucas Lenci BR
Sem TĂtulo 2014
fotografia 42 x 30 cm
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Lucas Lenci BR
Sem TĂtulo 2014
fotografia 42 x 30 cm
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Lucas Lenci BR
Sem TĂtulo 2014
fotografia 42 x 30 cm
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Margaria Dias PT
Drowned 2015
fotografia 70 x 50 cm
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Margaria Dias PT
80% 2015
fotografia 50 x 50 cm
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Rafael Navogino BR
Ambiente em Violeta 2015
guache sobre papel 22 x 35 cm
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Rafael Navogino BR
Estrutura em Carnation 2015
guache sobre papel 24 x 30 cm
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Rodolfo Almeida BR
Minha Casa Fica Ali Mas NinguĂŠm Passa, 2014
sketch em processing 2 500 x 600 px openprocessing.org/sketch/159112
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Sam Doctor AU
Still do filme The Return 2014
fotografia, 42 x 30 cm original em vídeo, 18’
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Sam Doctor AU
Still do filme The Return 2014
fotografia, 42 x 30 cm original em vídeo, 18’
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Sam Doctor AU
Still do filme The Return 2014
fotografia, 42 x 30 cm original em vídeo, 18’
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Victor Maia BR
Firmamento 2014
técnica mista três peças de 100 x 150 cm
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Victor Maia BR
Enxarque 2014
รกgua-forte sobre papel 40 x 20 cm
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Vitor Serrano PT
Sem TĂtulo 2015
fotografia, jato de tinta sobre papel 70 x 50 cm
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Vitor Serrano PT
Sem TĂtulo 2015
fotografia, jato de tinta sobre papel 31,75 x 31,75 cm
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Vitor Serrano PT
Sem TĂtulo 2015
fotografia, jato de tinta sobre papel 31,75 x 31,75 cm
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Aline Bei, Por dentro é sempre outra coisa, 2014 Quando você pegou no meu braço e olhou pra minha pele com aquele seu jeito de observar até as veias, até as células, eu senti vontade de tirar o braço das suas mãos. Depois colocar de novo. Depois te lamber até sair o gosto do sabonete que você tinha lavado os dedos, a palma, quando foi ao banheiro quan‑ tas vezes, 2? 3?, por conta dos chopes que tu tinha tomado. E pensar que pra ir ao banheiro você abriu o zíper da calça, pegou seu pau nas mãos e depois lavou as mãos, eu não lavaria. Quando você me deu o – Tchau. seco, depois do melhor abraço e batidas de coração que poderíamos nos dar, eu engoli a rua, subi a calçada de cabeça baixa tão contente por não conseguir enxergar nada além
de você, quis muito voltar para te dar um beijo. Pensei 1, 2, 3, 4 vezes, quase voltei, era só virar o corpo na sua direção e não era só virar o corpo na sua direção. As escolhas são sempre profundas, mudaria tudo se eu tivesse voltado e eu escolhi não voltar, somos um resultado matemático de seleções boas ou péssimas, não há testemunha possível além de nós mesmos e jamais saberemos, nem tente. Se tentar, estará prestes a conhecer a palavra Cansaço. Eu escolhi esperar com paciência o nosso beijo que nunca Aconteceu, apesar de termos passado tão perto. Somos bons
em (a)guardar. Porque amamos demais o gozo, queremos prolongá-lo do tamanho de uma passarela, fazer da vida apenas um motivo de seguir vivendo pra te encontrar de novo. Assim não se morre. Quando se quer muito alguma coisa, com todo o coração, então não morreremos até consegui-la, está na carne. A gente se almoçou, sentei na sua frente como planejamos e sentei também um futuro brilhante ao seu lado. Tudo dentro Da cabeça Da gente, os filmes mais lindos, mais sujos, mais pornográficos do mundo feitos por mim e por você, sem nunca terem sido feitos.
Breno Liguori, Esqueci, 2015
Ele pega o celular e nada. N a d a. — Talvez seja a falta de sinal, a bateria, o bode. O b o d e. Ou apenas o esquecimento. Que medo do esquecimento. Há algo pior?… Não. A angústia da morte é
justamente isso: o esquecimento. a falta, o desconto, o lapso e o amor. Aquele que já não é mais lembrado. Engavetado, lacrado, envenenado.
Breno Liguori, Preto no branco, 2015
Chove há algum tempo Dentro e fora. Nada acontece a não ser a chuva que cai. Cai ininterruptamente e cai bem. Essa coisa de tristeza cai bem pra quem escreve, Pensa, Ou Produz algo catarzico. HA HA HA. ouço alguém rir da janela. Ou sou eu mesmo enquanto leio. Entra um pouco de chuva em casa, Mas eu não ligo. Falam que lava a alma. Mas a lava que existe dentro de mim Não se molha. Permanece seca,
Intocável. Intransigente. Minha. Quente. Fria. Pelando. Uma vez me falaram que eu preciso de chuva, De água. Que sede, aqui dentro. Quero ficar velho e gordo. Para que em cada gaveta do meu ser, Guarde histórias, Momentos, Sofrimento e, Claro, Alegrias. Quem não tem um preto, Não tem o branco.
Breno Liguori, Gavetas, 2015
Um dia desses me peguei inquieto, pensando em deixar de pensar quando eu as vi ali. Sozinhas, reflexivas e cheias de histórias - minhas histórias. Anos e anos de vida amarrotados em três gavetas que repousam ao meu lado. Sem visita, sem curiosidade só despojo. Li em algum lugar que é bom arrumar gavetas antigas. Recicla energia, abre espaço para novas histórias e lembram que, mesmo depois de tudo, daquela carta, daquele ingresso, daquele dia, daquele amor, tudo volta a ser como um dia foi.
Virei o conteúdo delas pelo chão e algumas memórias saíram rolando, mas logo foram impedidas pelo rodapé. Elas queriam reviver, assombrar e lembrar que nem sempre tudo foi tão azul e já bastante preto. Enquanto vasculhava entre elas percebi que nada mais daquilo me atingia e fui tomado pelo desejo de me livrar de tudo. Queria, a partir de agora, lotá-las com novas histórias, novas cartas, novos ingressos, novos amores, para que assim tudo volte a ser como sempre foi uma mistura de azul e preto.
Lígia Blat, Confessionário, 2013
Carregando dor, lembranças e angústias, dia a dia. E um dia, quis fazer diferente. Mudou de caminho, de penteado e de motivo. Passou por uma igreja, por outra, e por mais uma... Quando já não aguentava mais, decidiu entrar. Não era católica, mas tinha lá suas crenças. Sentou ao lado do confessionário e com um vazio no colo e no peito, disse: -Seu padre, dizem que sou louca. -Ora, mas louca por que minha filha? -Não sei padre. E olha, sabe que não sou tão feia? Eu ainda sei fazer carinho, fazer cartas e fazer doce de abóbora! Só queria que soubessem que além de louca, tenho esperança e uma coisa aqui dentro, que parece que cresce, cada dia que passa. Acho que é amor. Mas não esse amor que a gente vê por aí, nas ruas, nas propagandas... mas pode ser aquele, que a gente vê num banco de uma praça. Sabe, seu padre, eu espero demais por um dia. Mas desse dia, eu não conto pra 55
ninguém, tudo bem eu não contar pro senhor? Quando to triste, começo a pensar no que eu errei. Posso ficar triste o dia todo, a semana toda, e ver a alegria de vez em quando, mas são dessas poucas vezes que eu lembro. E não ponho culpa em ninguém, a não ser em mim mesma. E deve ser por isso que me chamam tanto de louca. É que quero muito de tudo, e também de pouco. Eu sofro com esse meu egoísmo amoroso. Quero colocá-lo num mundo, e que esse mundo seja o meu. Ah, seu padre, por que é que eu não me ajeito? Por que é que eu não me contento? E sabe, ando sem fome... e quando dizem que cara feia é fome, insisto em dizer que não! ...Mesmo sabendo que tudo pode dar errado, quero insistir no que eu quero, porque eu sei que vai dar certo... muitos ou todos podem dizer que não, mas como disse, eu conheci a esperança. Não quero mais meus planos de volta, meus sonhos e meu carinho. Tudo está ali, num único lugar, e vou deixar ali, e junto... meu coração. Não quero de volta 56
padre, quero que fique ali, até o tempo levar ou o vento assoprar. Não quero mais carregar esse peso, e levar de um lado pro outro. O que eu queria na verdade, era ir pra bem longe, que esqueçam essa louca que um dia existiu ou, apenas, a ponta do bigode dele encostando na minha boca, e o mais puro beijo numa noite fria. Você ainda está me ouvindo não está? -Claro! -Ah quer saber padre? O que eu quero mesmo agora é comer açúcar, num banco de uma praça, mesmo que sem amor. Foi, e foi rezando cinco ave-marias na espera de um milagre. Depois desse dia, foi só mais um pra dizer que ela era louca.
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Lígia Blat, Abismo, 2014
Não me rendo. É pelo fracasso que chego ao ventre dos abismos. Quero me abrigar e chorar no colo do desespero; sentir a proteção de um filhote no ninho. Não me entrego. Deixe que a ruína da alma me conforte; que o outono volte e me traga os pássaros e seus desejos. Não me perco. No desamparo do cosmos vou me encontrar; e pelas vísceras caminhar até que meus olhos não enxerguem mais o horizonte, e o vento me traga de volta. Somme, Que je voie un abîme d’espoir.
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Marina Merlino, Hoje, 2015
não sei direito quando ou onde você caiu por uma fresta entre meus dentes e se misturou aos cacos de vidro espalhados pelo chão abri um rasgo na sola do meu caminho enquanto te procurava mas você já tinha se diluído em pedacinhos ásperos na língua tem uma fina camada de poeira adocicada e ácida no trajeto entre a minha matéria e a tua luz as cores se misturam e sugam o ar e assim, oca encontrei um embaçado onde antes morava teu amor.
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Marina Merlino, ♀, 2015
a tua saliva me queimou em Pandora e minha voz te manchou o coração pela ponta dos olhos me desmancho na distância vermelha entre boceta e humanidade sou sôfrega e seca no fundo do mar todos os poemas presos debaixo das unhas já não posso dar palavras por que seguro todo o amor do mundo (numa mordida desesperada) entre os dentes você me chama, querendo o caminho de volta
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mas cumpri minha sina e perdi nossa trilha cá estamos, perdidos O MUNDO É GRANDE DEMAIS SÃO PRECISAS MUITAS MUITAS ENVERGADURAS PARA ABRAÇÁ-LO em toda a sua extensão
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Priscila Morais, Sensações, 2011
Lamentável. Sensação desagradável. Algo que entristece, enlouquece, aliena e desaparece com a sanidade. Alucinações, sonhos, flashes de imagens surgindo, borbulhando em sua mente. A realidade agora estranha, não traz sentido, somente desconfiança. Arrebatado a um lugar isolado, sinistro, sombrio, inerte, incerto, in/conveniente, sendo essa sua mente. Resumindo: medo. Medo que o sussurro alheio, arranque, mesmo que passageiro aquele abraço e sorriso faceiro.
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Priscila Morais, Marcas, 2014
Me sinto uma farsa, releio poemas, insisto em frases feitas. Confesso ter algo seu, mesmo que vago, no entanto, algo. Somente copio e adiciono minha marca d’agua discreta. Uma pessoa condenada a captar: sensações e desejos de cada resquício esquecido em mim.
Artistas
Aline Bei, BR alinebei@hotmail.com alinebei.wordpress.com
Gonçalo Sepúlveda, PT g.jorge.sepulveda@gmail.com
Lucas Blat, BR lucaslucasblat@gmail.com cargocollective.com/lucasblat
Breno Liguori, BR brenolfer@gmail.com
João Santos, PT j.mendessantos@live.com.pt users.fba.up.pt/~lap09053/ jms/index.php
Lucas Lenci, BR lucas@lucaslenci.com lucaslenci.com.br
Dylan Silva, PT dylansilva42@yahoo.com
Lígia Blat, BR lihblat_@hotmail.com pranaorasgar.tumblr.com
Margarida Dias, PT margaridaeosdias@gmail.com
Marina Merlino, BR marinamema@uol.com.br costelasrasgadas.blogspot.com.br
Rodolfo Almeida, BR rodolfoalmeida01@gmail.com
Vitor Serrano, PT vitor.h.serrano@gmail.com cargocollective.com/vitor-serrano
Priscila Morais, BR pri.13.93@gmail.com
Sam Doctor, AU info@samdoctor.net samdoctor.net
Rafael Navogino, BR rafaelnavogino@gmail.com behance.net/designrafaeldias
Victor Maia, BR victornocce@gmail.com