RODRIGO MEIRELES trajetรณria de um criativo
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Rodrigo Meireles Vieira
é o criador da Vibri, estúdio especializado em design e branding com sede em Fortaleza-CE. Fundada em 2014, a Vibri direciona seus esforços no sentido do poder transformador do design, pensando em ideias e estratégias inovadoras que possam agregar valores, gerar novas percepções e criar experiências incríveis para marcas e negócios. Em uma breve, porém inspiradora conversa, Rodrigo compartilha um pouco de sua história, oferecendo reflexões acerca de tudo o que foi aprendido durante sua trajetória como publicitário e designer gráfico, e o que lhe inspirou a chegar onde está hoje: construindo o seu legado.
Linha do tempo - histórico da formação acadêmica e profissional de Rodrigo: 2006 - UFC (Bacharelado) 2008/2009 - Pós-Graduação em Barcelona 2014 - Formação da Vibri 2015 - Pós-Graduação na FA7
Quando você era mais jovem, em algum momento imaginou que seria publicitário? Como se deu a escolha dessa carreira?
Rodrigo: acredito que hoje em dia já deva ser diferente, mas na minha infância, por exemplo, era muito difícil uma criança sequer saber que publicitário existia. Não era o tipo de carreira que se conhecia desde cedo. Na realidade, não lembro o que eu queria ser quando pequeno, mas lembro que eu tinha muito o hábito de desenhar, então acho que, de uma forma ou de outra, sempre fui familiarizado com esse aspecto visual e artístico. Quando comecei a cursar o ensino médio, lembro que queria fazer faculdade de cinema. Acontece que cursos como esse (de audiovisual e novas mídias) ainda não existiam em Fortaleza naquela época, e o curso mais próximo que encontrei disso foi Publicidade.
Em relação à sua experiência como universi-
tário na Universidade Federal do Ceará (UFC), quais foram algumas das maiores dificuldades pelas quais você passou?
Acredito que muitas das dificuldades estavam relacionadas ao contexto social que estávamos vivendo. O Brasil estava passando pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (do partido PSDB), então nós como estudantes sentíamos muito o “sucateamento” da Universidade. Inclusive, recentemente tive a experiência de lecionar algumas aulas em determinadas cadeiras da faculdade de Design da UFC - como professor subsituto - e vi como o investimento e a estrutura do local são muito diferentes. Por exemplo, antigamente, havia casos de ficarmos sem 3
professor por até dois meses no semestre. Essa realidade de instabilidade - não que os professores não fossem competentes, mas havia claramente uma falta, tanto do corpo docente como de equipamentos disponíveis para os estudantes - acabou por forçar a minha turma a sair em busca do mercado muito cedo, e eu tentei suprir essas deficiências com alguma formação complementar. Só aprendi a fotografar poque fiz um curso à parte. Outro problema era que o curso ainda estava se formando: muitos professores vinham de outras áreas, como Jornalismo e Arquitetura, sem possuir uma vivência nem experiências próprias do mundo da publicidade e do design. Hoje a realidade não é mais essa. Também passei por duas greves na UFC, o que acabou atrasando a minha graduação.
Existe algo pelo qual você é grato que a UFC tenha lhe ensinado? Algo que perdura até hoje na sua carreira?
Não gosto de “comparar” universidades, até mesmo porque eu não estudei como graduando em outras insituições, mas já trabalhei com diversos profissionais que são formados, por exemplo, na UNIFOR, na FA7 (hoje UNI7) ou na Fanor, e tive ótimas experiências profissionais com isso. Acho que o importante é cursar uma boa faculdade, e aproveitar o máximo disso. Mas, se por um lado houve uma deficiência técnica por parte da UFC, por outro ela me proporcionou uma formação humanística muito grande, multo voltada ao olhar sociológico e filosófico. Vejo isso como uma característica marcante da UFC: enquanto a fromação da maioria das universidades particulares são um pou4
co mais técnicas, a UFC te molda melhor humanamente, o que pode vir a te tornar um melhor profissional, no final das contas. Algo muito presente nas universidades públicas é esse “medo do mercado”: estuda-se para estar inserido no mercado, na academia ou em ambos, enquanto na realidade deve haver um meio-termo. É importante não estar alheio ao senso crítico e nem à realidade do mercado.
Em relação a suas experiências no mercado, quando e como você comecou a se inserir nesse meio?
Minha graduação foi bastante conturbada, e naquela época também não havia um engajamento dos alunos em diversas linhas de pesquisa como há hoje, muito devido à falta de verba para bolsas de estudo. No momento que percebi que eu estava ocioso no ambiente universitário, comecei a procurar oportunidades.
Ao longo dos anos, Rodrigo trabalhou como diretor de arte nas seguintes agências: - Íntegra; - Slogan; - Ágil; - Link; - Mark; - Propeg.
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Fiz um curso local chamado “Central Criativa” - específico para fromar portfólio em criação publicitária - e logo após já comecei a estagiar. Estava no quarto semestre da faculdade. A partir daí as coisas foram acontecendo, e estagiei em várias agências da cidade, então a minha formação profissional e acadêmica andaram em paralelo. Eu via vários alunos que chegavam a se formar sem ter nenhuma experiência profissional, o que é um grande problema, e percebia a diferença que aquilo realmente fazia.
Duranto o seu tempo trabalhando em agências, você observou algum fator que se mostrava constante no ambiente de trabalho?
Acho que algo muito presente e até natural da própria publicidade é a questão do “tudo é para ontem”. As agências tem uma cultura de “sugar” o profissional: a pressão é muito grande, e é quase como se o trabalho ocupasse todo o seu tempo, o que deixa muito difícil conciliar a vida profissional com a acadêmica e a pessoal. Quando planejei minha viagem à Barcelona para fazer uma Pós-Graduação, foi um período em que tive que optar por focar nos estudos ao invés de trabalhar. Acabei trabalhando meio-período por lá, mas em um esquema bem mais tranquilo, totalmente diferente de tudo que eu havia vivenciado até ali. Atualmente, acho que essa história de “trabalhar feito maluco” está se glamourizando cada vez menos, além de haverem bem mais caminhos a serem seguidos. Na minha época, nós realmente não vinhamos outras opçoes de mercado além de trabalhar em uma agência. Hoje as possibilidades são inúmeras, e já houve uma inversão desse ce-
nário, com muitos estudantes já considerando tomar outros rumos desde o início de suas formações. Quando montei a Vibri, um dos aspectos que mais prezei foi justamente essa possibilidade de ter mais tempo para realmente pensar e desenvolver projetos.
Quando você decidiu criar a Vibri, quais foram algumas das principais dificuldades que enfrentou?
Primeiro de tudo, acho que há a questão da responsabilidade. Quando você está trabalhando dentro de uma agência, você acaba sendo a figura do criativo, que é de certa froma estereotipada, como sendo aquela pessoa irresponsável ou “artística” demais. Nessa situação, o cliente não está propriamente lhe contratando, e sim o dono da agência e a credibilidade que ele carrega, do qual você é apenas um funcionário. É diferente de quando você abre uma empresa, pois isso te força a sair desse papel “coadjuvante” e passar a ser o gestor do negócio inteiro, e então o principal desafio é convencer as pessoas de que você é mais que apenas um cara criativo. É totalmente diferente trabalhar somente na área criativa e trabalhar gerindo projetos, pessoas e recursos. Creio que o brasileiro tem um pouco desse mito do empreendedorismo, mas o que acontece é que você não deixa de ter um patrão quando monta um negócio próprio, os seus patrões só passam a ser os seus clientes. Se alguma coisa dá errado, não tenho mais ninguém a quem culpar: a responsabilidade é minha. Então o trabalho que eu faço hoje não envolve apenas ser um cara legal, e sim uma série de outras funções que antes eu não exercia. 7
Quais são alguns pontos positivos de ter um empresa própria?
Ao mesmo tempo que há essa questão da responsabilidade, eu sempre tive a sensação de que dentro das agências eu estava construindo coisas para outras pessoas. Agora, me sinto como um agente ativo nesse processo, no sentido de que estou construindo um legado para mim, e pelo qual eu sou responsável. Esse sentimento é muito gostoso, porque o reconhecimento vem com o tempo, com os resultados que você colhe. Quando eu trabalhava com publicidade, era comum sentir que o que chegava até o cliente não era exatamente o que poderia ter sido melhor para ele, e agora os clientes são mais dispostos a ouvir e a construir algo junto com a gente.
Você pensa em voltar a trabalhar no exterior?
Na época que eu fiz isso, tive muita vontade. Achei que estava na hora de voltar, e hoje penso que o desenrolar das coisas por aqui é que vai dizer para onde seguir. Não posso ter certeza, porque hoje em dia o nosso trabalho já não tem mais limites físicos. Tudo é contexto. No momento, eu quero estar aqui.
Você trabalha com clientes em outras regiões do Brasil ou até mesmo de fora do território nacional. Quais algumas diferenças marcantes entre esses mercados? Em relação ao Brasil e ao Nordeste espe-
cificamente, acho que a questão de fechar propostas financeiramente se destaca. Aqui, é muito dificil fechar negócios, enquanto com alguns clientes de fora, há uma confiança maior. Até a maneira de pechinchar é di8
ferente! Claro que isso não é algo absoluto. Estamos vivendo uma mudança de consciência constante - Fortaleza ainda é uma cidade com imensa desiguldade social, e isso vem muito da maneira que enxergamos os outros ao nosso redor.
Você tem planos para o futuro, no que diz respeito à Vibri ou ao seu próprio patamar profissional?
Tenho, mas não posso revelar! Posso dizer que penso, por exemplo, em fazer um mestrado e um doutorado. Na realidade, algo que tem passado muito pela nossa cabeça é o fato de que o mercado vem mudando muito, ao ponto de me fazer questionar a necessidade de uma presença física no ambiente de trabalho. Hoje, acho que é possível desenvolver muitos projetos remota e simultaneamente, de forma a inclusive multiplicar e explorar as habilidades de cada um. Por exemplo, aqui nós podemos estar desenvolvendo projetos para uma marca em Belo Horizonte, outra em Curitiba e outra na Alemanha. Ou seja, já não existe mais a necessidade de ter várias pessoas trabalhando em um mesmo local. A idéia de ter uma estrutura enxuta, com uma versatilidade maior, me atrai muito, então acho que esse é o nosso rumo. Porque todas as pessoas precisam sair para trabalhar nos mesmos lugares nos mesmos horários? Atualmente, é perfeitamente plausível estabelecer contatos de forma remota de acordo com cada necessidade. Acho que a troca é muito importante, entáo ter um grupo mínimo que possibilite uma troca real - de ideias e experiências - é essencial também.
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Atualmente, a Vibri conta com uma equipe composta por quatro profissionais: Rodrigo Meireles, criador e diretor criativo; Samuel Furtado, diretor criativo; Régis Lima, designer; e Robson Fernandes, designer. Dentre seus clientes, podem-se citar: FIEC, VFood, M. Dias Branco, Fundação Beto Studart, Espaço Beleza, Hortalícia, Amêndoas do Brasil e TV Jangadeiro. Também já realizaram trabalhos para o Governo do Estado, para a Prefeitura de Fortaleza e para eventos como o TEDx. Mensalmente, o estúdio também promove encontros e palestras exclusivas com diversos profissionais de diferentes campos da área criativa, de modo a compartilhar inspirações. Sobre o seu trabalho, a equipe comenta: “não acreditamos no design com as respostas prontas, mas sim com as perguntas certas. Cada projeto elaborado por nossa equipe é uma solução única para um problema específico, aliando criatividade e pertinência, forma e função, razão e emoção.”
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Elaborado por:
Ana Dilara Soares
Lucas Bruno Sales
Wilker Meireles
Inara Menezes 11
Livreto elaborado como trabalho acadêmico para a disciplina História da Comunicação Publicidade e Propaganda - Universidade de Fortaleza 2017.1 12