A casa como lar na contemporaneidade

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A casa como lar na contemporaneidade Lucas Lourenรงo


Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto Curso de Arquitetura e Urbanismo

A casa como lar na contemporaneidade Lucas Lourenço

Orientação Prof. Dr. Marcelo Carlucci

Trabalho Final de Graduação Novembro de 2018


Ă minha famĂ­lia que me ensinou o real significado de lar


agradeço

Ao Prof. D.r Marcelo Carlucci, por todas as conversas importantíssimas que foram cruciais para traduzir meus sonhos nesse trabalho, contudo pela orientação e amizade durante esses anos; à Prof. M.a Tânia Bulhões por toda contribuição e evolução aqui presente; à Marina, Bianca e Giovanna por todo amor e amizade que compartilhamos nesses anos; ao Ricardo por estar meu lado, me tranquilizando e me ajudando; à minha família por tudo; em especial à minha mãe, minhas irmãs por toda proteção e amor imensurável, e minha tia por toda paciência e apoio.

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10

12

INTRODUÇÃO

ESPAÇO DOMÉSTICO

18

30

34

ARQUITETURA MODERNA

HABITAÇÃO CONTEMPORÂNEA

VITALE LOFT

40 46 NAKED HOUSE

52

CASA GRELHA

CELL BRICK

58 CONCEITO

78 PROJETO

66

74

ÁREA DE INTERVENÇÃO

EVOLUÇÃO DO PROJETO

112 REFERÊNCIAS


Introdução

O objetivo desse presente trabalho foi entender as relações que permeiam a casa e como esta se apresenta na contemporaneidade. É fato que a casa possui forte relação com seu morador, e vice-versa, e portanto os ambientes influenciam diretamente nas sensações vividas ali. Por assim dizer, decidiu-se estudar o comportamento da casa e como ela evoluiu

ao

longo

transformando

o

entendimento

das

do

tempo,

relacionamento atuais

e

consequentemente

com

necessidades

o

morador. da

O

sociedade

contemporânea foi crucial para o desenvolvimento do projeto, e portanto o estudo projeta hoje pensando no amanhã. Antecipando por aqui o que já se diz corrente em outros locais, a disputa pelo espaço físico, e assim busca uma forma de otimizá-lo. Tendo sempre em mente de que a evolução de pensar a casa não consiste apenas na dimensão física mas também na sensorial, abordando as características que fazem da casa um lar. O primeiro capítulo abordará questões acerca do espaço doméstico, fazendo uma análise da casa burguesa e sua evolução ao longo dos séculos XIV, XVII e XIX. Em seguida mergulha-se no universo da arquitetura moderna em pleno século XX, para entender como esse movimento teve grande contribuição para o que consideramos como arquitetura contemporânea. Em seguida é tratado os modos de vida na atualidade, abordando questões sobre os novos usos de ambientes e as mudanças de hábitos notórias nesse momento. Por conseguinte 4 projetos que contribuirão para integração, flexibilidade,

modulação,

e

integração

+

modulação,

respectivamente. Três tópicos que serão explorados no projeto.

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O espaço domÊstico e os novos modos de vida


Nos parece pertinente, no escopo desse trabalho, a

O conceito de casa enquanto lar é algo tão complexo que

reflexão acerca das diferenças entre “espaço” e “lugar”, além

necessita uma reflexão mais apurada, que abrange sua origem

dos conceitos “casa” e “lar”. “Espaço” engloba um conjunto de

e os seus desdobramentos. O arquiteto romano Vitrúvio, que

significados, segundo

:”extensão

viveu no século I a.C., foi o primeiro a pressagiar um significado

limitada em uma, duas, ou três dimensões; distância, área ou

para a palavra, fazendo uma correlação à descoberta do fogo.

volume determinados”. No contexto arquitetônico “espaço”

Para ele, a fogueira permitiu a realização de reuniões, e

está relacionado com algo físico, assim adquirindo adjetivos

consequentemente a vida em comum, pois ele era usado para

como grande/pequeno, claro/escuro, confortável ou não, entre

aquecer, cozinhar e iluminar. A própria etimologia da palavra lar

outros. Para “lugar” três conceitos podem ser destacados:

está relacionada a um lugar onde se acende o lume, fazendo

“parte delimitada de um espaço; local onde se está ou deveria

uma conexão direta ao pensamento vitruviano. Nesse contexto

estar; local frequentado por certa classe de pessoas, roda,

surge o conceito de cabana primitiva, remetendo-se a questões

ambiente” (dicionário Houaiss, 2009). Lugar é caracterizado na

de acolhimento e sociabilidade. Hoje, o termo mantém

linguagem arquitetônica e espontânea como o espaço onde

basicamente a mesma essência, porém evoluiu e tornou-se, de

há um movimento de pessoas, seja no singular ou plural, onde

forma metafórica, a terceira pele do indivíduo, que o protege

de

do meio ambiente onde vive, como um delimitador entre o

significação do espaço pelo usuário. Para “casa” foi destacado

espaço público e privado. Um objeto construído à espera de um

o seguinte significado: “lugar destinado a encontros, a reuniões

uso familiar, e que a partir da troca emotiva de seus moradores

ou à moradia de certas categorias de pessoas”. E, por fim, “lar”

e as relações do plano físico, a casa finalmente se tornará um

relaciona-se a um “domicílio familiar”. Assim, o significado de

lar. A casa como espaço deve-se adaptar aos modos de vida

“casa” e “lar” resultam em um sinônimo, o que não ocorre na

de seus moradores, assim como estar adequada ao local em

realidade. Uma casa não compreende um lar necessariamente,

que está instalada. Ela se relaciona com eles, sendo assim é

assim como este não se resume em uma casa propriamente

dependente destes, que após infundi-la com seu hálito vital, a

dita. Isso quer dizer que lar está muito mais relacionado ao

transformam no bem mais próprio e pessoal.

uma

conceito

apropriação

espiritual,

dicionário Houaiss (2009),

identitária

psicológico,

e

uma

fazendo

construção

uma

alusão

acolhimento do ser. Tal acolhimento, não está relacionado ao conforto proporcionado por bens materiais, e sim ao espírito do local e à sensação agradável que ele causa.

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7


A casa é o objeto construído, possui valor econômico, é o abrigo, o invólucro protetor, é a parte integrante do sítio onde se integra. O lar, por sua vez, é a vivência familiar dentro da casa, o aquecimento ou a frialdade; o ruído ou o silêncio, a calma ou a tempestade emotiva, o equilíbrio ou a desarmonia, o clima espiritual que ecoa nos ambientes concretos da casa (MIGUEL, 2002, p.2).

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Na reflexão sobre a semantização de “casa” e “lar” se depara

A escassez dos móveis estava justificada pela falta de espaço, e

com a conceituação da palavra “confortável”, que em sua

os poucos existentes eram nômades e de diversas funções,

origem não se relaciona ao conceito de satisfação que a ela foi

mesmo que o design da época não tivesse ferramentas

conferida. A raiz latina da palavra remete à definições de

suficientes para que sua forma fosse mais inteligente. É

fortalecimento e consolo, tanto que já fora usada na teologia

importante ressaltar o caráter público que a casa medieval

para retratar o Espírito Santo em inglês. Posteriormente, a

tinha nesse momento, e assim se cozinhava e se recebia no

palavra foi usada para designar algo tolerável ou suficiente.

mesmo espaço que de noite serviria para dormir, e então os

Apenas no século XVIII é que “confortável” foi escolhido para

móveis eram afastados. O que leva ao pensamento de que não

expressar prazer e seus desdobramentos, o que leva este

tinham relevância, o que não é uma verdade, a mobília tinha

presente trabalho a uma retomada à Idade Média. Contrário à

peso de equipamento, e seu valor de ornamentação, e

sua

ostentação, será dado posteriormente. (Rybczynski, Witold 1943)

fama

popular,

o

período

denunciava

as

primeiras

manifestações de industrialização na Europa, e fora marcado pela desigualdade das classes, predominantemente pobre.

O tamanho desse salão multifuncional era dado também pelo

Assim, o conforto surgiria como uma espécie de recurso a fim de

tamanho da família, pois ao nos referirmos sobre tal conjunção

minimizar os sofrimentos cotidianos, que impactavam de tal

parental trata-se de, em média, 20 pessoas por residência,

forma que lar e família eram termos não discutidos. Sem ver uma

lembrando que todas habitavam um ou dois cômodos, o

perspectiva de melhora, cabia aos moradores da cidade

conceito de privacidade aqui era desconhecido. Ainda não

desejar essa prosperidade medieval. Responsáveis por criarem

haviam banheiros e hábitos que hoje são tratados como

uma

tinham

extremamente pessoais. Neste momento, a higiene pessoal

independência o que levaria uma perspectiva de prosperidade

tratava-se de um ato coletivo, sem nenhum constrangimento.

economia, e por isso são pauta no que se refere ao espaço

Ao nos questionarmos sobre o aspecto do conforto, era

doméstico e seu conforto. (Rybczynski, Witold 1943)

desconhecido e assim não fazia falta, pois noção de conforto

nova

civilização

urbana,

os

burgueses

não era tão objetiva e consciente ainda. A casa medieval sofria O presente trabalho terá como base a moradia burguesa de

de

três épocas: século XIV, XVII e XIX, assim será possível estabelecer

decoradas com ricas tapeçarias e tinham um péssimo sistema

o contexto de cada momento que proporcionaram as

de aquecimento. A ornamentação das vestimentas femininas se

evoluções que permearam esses séculos. No século XIV, as

contradizia no desconforto dos móveis domésticos. Pode-se

cidades eram pouco exploradas ainda em relação aos feudos e

justificar tais divergências pelo pensamento medieval de não

sua economia baseava-se no comércio. Desse modo, a casa

distinguir função de beleza ao se tratar do espaço doméstico,

burguesa seria local de trabalho e moradia simultaneamente, e

elas acabam como sinônimos na época, e a primeira não era

sua planta estava subdividida basicamente em dois espaços: o

ligada a utilidade de algo. (Rybczynski, Witold 1943)

espaço de trabalho, seja uma loja ou oficina, que ocupava a frente ou o andar principal da casa; e a parte de morar, que constituía em um grande cômodo onde eram atendidas todas as necessidades dos moradores. Questões de flexibilidade já podem ser verificadas nesse contexto, uma vez que por ser tratar de um único cômodo responsável por diversas funções, o seu codinome era versatilidade.

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contradições,

pois

simultaneamente

as

salas

eram


No século XVII, a casa burguesa eleva-se a quatro ou

Assim, esse conceito foi aprimorando com o passar do tempo, e

cinco pavimentos e agora é permeada por um jardim interno.

consequentemente

aumentando

sua

zona

de

ação.

A

Os primeiros andares eram destinados à família, e os andares de

industrialização, o que já nos leva a meados de 1920,

cima eram destinados ao aluguel. A disposição no espaço

proporcionou a produção em massa e assim a acessibilidade do

ainda se resumia ao grande cômodo de uso comum, trazendo

conforto, democratizando-o ou

consigo influência medieval no contexto da mobilidade dos

democratizá-lo. (Rybczynski, Witold 1943)

, ao menos, procurando

móveis, com exceção da cozinha que foi deslocada para depois do jardim interno, a fim de inibir o cheiro tido como

No século XIX, a tripartição do espaço doméstico se mostrava

desagradável que o uso do ambiente gerava. Uma grande

cada vez mais nítida, e as áreas sociais, íntimas e de serviços

mudança que ocorre foi a separação do ambiente de trabalho

eram delimitadas de forma a inibir a mistura desses três setores, o

do restante da casa, e como consequência a casa passou a se

que ficou conhecido como a casa projetada para a família

tornar cada vez mais privada, aumentando a intimidade e

nuclear tradicional. A área íntima da família estava agora

ressaltando a vida familiar, ela passará a ser um local de

completamente isolada das áreas de serviços, de modo que

comportamento pessoal e íntimo. Nesse contexto, destaca-se a

esta tivesse o mínimo contato com a “criadagem”. A intimidade

casa como um lar, que em seguida será base para a

da casa fazia jus ao seu nome, e cada cômodo era restrito a seu

descoberta do conforto e acolhimento que esse local poderia

respectivo morador ou função. Logo na entrada da casa o

ofertar. Nesse aspecto, um conceito nomeado de Stimmung por

vestíbulo, hoje conhecido como hall, fazia seu papel de filtro das

Mario Praz, retratava a relação entre usuário e aposento, sobre

impurezas do ambiente externo, visando a proteção do local de

como ele reflete a personalidade do dono. Por fim, relaciona-se

convívio familiar. Diversas salas eram subdivididas, separadas às

o aconchego a um ambiente marcado pelos moradores, o

vezes por gêneros após as refeições, onde cada ambiente tinha

oposto de casas estéreis e impessoais que dispersavam qualquer

funções

vestígio de ocupação. Com o passar do tempo a privacidade

especialização do espaço ou estanqueidade do cômodo.

específicas,

fenômeno

que

conhecemos

como

passou a ser desejada, e nesse momento os criados que dormiam próximo aos patrões são distanciado, a fim de

O espaço doméstico englobava três zonas do que caracteriza a

preservar a intimidade do núcleo familiar, simultaneamente

controvérsia entre individualidade e intimidade. A vida social

surgiam cômodos designados exclusivamente aos donos da

influencia esse espaço a partir do momento que ele é o local

casa. (Rybczynski, Witold 1943)

onde se recebe pessoas para reuniões de diferentes propósitos. Por mais que as residências, na maioria das vezes, tinham

As melhorias da infraestrutura, como sistemas de aquecimento

espaços exclusivos para esse tipo de convívio, ainda era um

mais eficientes, presença maior dos banheiros e até o

tabu um estranho adentrar a casa, pois tratava-se do seu

aprimoramento

fatores

espaço íntimo ou, como dito anteriormente, a terceira pele do

determinantes na concepção da palavra conforto sob a visão

indivíduo. O segundo nível é a vida familiar propriamente dita,

atual. A luz a gás e a ventilação foram o início da mecanização

com sua rotina, festas e reuniões, sempre no âmbito do mesmo

da casa, a qual economizava tempo e esforço, permitindo que

espaço não fugindo do círculo da família. O terceiro nível é o

as tarefas domésticas fossem realizadas com mais conforto.

que se conhece por vida privada individual, e por assim dizer

do

design

de

mobiliário,

foram

ambientes específicos para hábitos de higiene, necessidades fisiológicas e repouso.

16


A questão que se pretende abordar nessa reflexão, é

As paredes em uma casa passam a partir do século XIX, a ter

sobre como os modos de vida modificam a casa. Em suma, ela

uma semântica muito mais que física, pois as mesmas causam

reflete esses modos, como um espelho, afinal tais residências do

sensações que afetam os usuários do espaço. Nélida Pinõn

século XIX tinham esse caráter devido ao seus moradores e

(1998) é incisiva no aspecto:

costumes da época. Em contrapartida nesse momento houve uma padronização, principalmente na classe burguesa, dos

“(...)A parede impede que o vento despótico

hábitos de vida tidos como exemplares para tal estrato social.

disperse os haveres da família. Esconde a

Os layouts sofreram uma homogeneização, pois hábitos ditados

miséria, a humilhação diária, a mesa

eram baseados nos modos de vida das classes mais nobres, e

pobre. Abençoa o homem com a fechadura

assim as casas também foram se mimetizando.

da qual pende, trêmula, a modesta chave.

O século seguinte foi marcado por uma forte mudança

Tranca a porta, não deixa que a cobiça

originada pelo movimento modernista, o que será mais discutido

alheia, a intriga malsã dos vizinhos, os arbítrios

no capítulo seguinte.

dos bárbaros, invadam o refúgio que se designa de lar. E tudo que a

almeja em troca é que a respeitem. Caso seja

sua maioria, repetindo a especialização e tripartição (social,

um dia vendida, jamais a derrubem. Tratem-

íntimo, serviços) do espaço, com algumas exceções de

na, por favor, como a amiga sob cujo teto, à

flexibilizações

noite, o homem busca o generoso abrigo”

que

acabam

fazendo

a

fusão

de

alguns

ambientes como cozinha e sala de jantar, por exemplo. A justificativa para o fato vem de um resultado de projeto economicamente viável, que atende as necessidades “básicas de seus moradores”. A flexibilidade dos novos grupos domésticos deveria

corresponder

uma

flexibilidade

dos

espaços

da

habitação, capaz de absorver esta transformação contínua acerca dos perfis familiares distintos.

17

casa

Atualmente os modelos habitacionais continuam imutáveis em

(PINÕN, 1998).


A arquitetura moderna: modulação e flexibilidade


Até

o

século

XIX, o

conceito

de construção

grandiosa executada pelo homem era automaticamente

O entendimento da modulação das peças de aço, podendo

associado

ser montadas geometricamente entre si, fez com que a

à

Pirâmide

de

Queóps.

Tal

monumento

era

considerado a maior e mais pesada obra já construída pelo

construção

homem, com cerca de 140 metros de altura alcançados pelas

possibilitada pela logística de montagem. Esse pensamento

milhares de rochas que somam quase 6 toneladas. O posto da

originou o sistema de treliças que resultou em diversas

pirâmide foi passado para a Catedral de Lincoln na Inglaterra,

edificações, entre elas a Torre Eiffel de 1889. As barras metálicas

que se fez a edificação mais alta do mundo durante 249 anos,

foram usadas largamente, inclusive em pontes, caso da Iron

até a destruição da ponta de sua torre por fatores naturais. Em

Bridge em 1779 na Inglaterra, construída por Abraham Darby III,

torno de 1709, o ferro fundido passou a ser comercializado por

descendente do criador do processo de industrialização do

Abraham Darby que encontrou a formula para industrializar o

ferro, e foi considerado um marco na revolução industrial. Tais

metal. Com a leveza e praticidade das barras metálicas,

realizações tecnológicas foram fundamentais para o surgimento

impunha-se uma nova ordem sobre as construções maciças,

de diversos movimentos no ramo da arte e da arquitetura.

de

complexos

e

grandiosos

edifícios

fosse

que se elevaram e saíram do limitado edifício assobradado. O cimento foi patenteado por Joseph Aspdin, em 1824, como

Para se compreender o movimento moderno na arquitetura, é

Cimento

pedras

necessária uma reflexão do contexto que o antecede. Uma

calcárias e argila, transformando-as num pó fino. Assim, obteve-

Portland,

após

queimar

conjuntamente

insatisfação significativa referente aos métodos de produção de

se uma mistura que, após secar, tornava-se tão rígida quanto às

móveis e objetos, em meados do século XIX, deram origem a um

pedras empregadas nas construções.

movimento estético e social inglês conhecido como Arts and Crafts (Artes e Ofícios). Era defendido por ele, um artesanato

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As limitações do concreto (que se apresentava funcional no que

criativo que funcionaria como alternativa à mecanização e à

se referia à compressão, mas desqualificado ao se tratar de

produção

tração), levou Joseph Lambot à experimentação de unir o

trabalho do artesão, recuperando a sua magnitude perdida

material junto ao aço. Assim “nasceu” o concreto armado, que

entre as engrenagens da indústria. Este fortalecia o conceito de

resistiria a vãos de mais de 5 metros com sessões consideradas

que o operário se tornasse o artista, e assim valorizasse

até então esbeltas. O novo material foi testado, em 1849, nos

esteticamente a produção industrial. Essa ideia foi desenvolvida

vasos de flores com rede metálica, até chegar às tubulações

por William Morris (1834-1896), que após uma reflexão sobre os

(1868), pontes (1873), às escadas (1875), às vigas (1878) e

ideais de John Ruskin (1819 - 1900) e os preceitos sociais de Karl

cobertura (1880). A Ponte Chazelet, executada com o material

Marx (1818-1883) fez um comparativo às guildas medievais, pelas

em 1875 na França, foi uma realização tão bem-sucedida que

quais se desenhava e executava a obra em um coletivo de

foi vendida para toda Europa. Entre 1887 e 1891, foram

artesãos, cada um com sua peça. Ao fim do século XIX, o

construídas cerca de 300 pontes na Alemanha e na Áustria. O

movimento ligou-se ao seu futuro sucessor, o Art Noveau. Esse

concreto e o aço juntos ocasionaram uma outra revolução

movimento tinha base no Arts and Crafts, mas ele aliou-se à

construtiva e criaram um sistema mais prático e econômico,

racionalidade das ciências e da engenharia, e assim explorou

proporcionando atingir dimensões jamais pensadas em um

novas materialidades que o mundo moderno ofereceu, como

canteiro de obra.

ferro, vidro e cimento.

em

massa.

Consequentemente

exaltava-se

o


O entendimento da modulação das peças de aço, podendo ser montadas geometricamente entre si, fez com que a construção de complexos e grandiosos edifícios fosse possibilitada pela logística de montagem. Esse pensamento originou o sistema de treliças que resultou em diversas edificações, entre elas a Torre Eiffel de 1889. As barras metálicas foram usadas largamente, inclusive em pontes, caso da Iron Bridge em 1779 na Inglaterra, construída por Abraham Darby III, descendente do criador do processo de industrialização do ferro, e foi considerado um marco na revolução industrial. Tais realizações tecnológicas foram fundamentais para o surgimento de diversos movimentos no ramo da arte e da arquitetura. Para se compreender o movimento moderno na arquitetura, é necessária uma reflexão do contexto que o antecede. Uma insatisfação significativa referente aos métodos de produção de móveis e objetos, em meados do século XIX, deram origem a um movimento estético e social inglês conhecido como Arts and Crafts (Artes e Ofícios). Era defendido por ele, um artesanato criativo que funcionaria como alternativa à mecanização e à produção

em

massa.

Consequentemente

exaltava-se

o

trabalho do artesão, recuperando a sua magnitude perdida entre as engrenagens da indústria. Este fortalecia o conceito de que o operário se tornasse o artista, e assim valorizasse esteticamente a produção industrial. Essa ideia foi desenvolvida por William Morris (1834-1896), que após uma reflexão sobre os ideais de John Ruskin (1819 - 1900) e os preceitos sociais de Karl Marx (1818-1883) fez um comparativo às guildas medievais, pelas quais se desenhava e executava a obra em um coletivo de artesãos, cada um com sua peça. Ao fim do século XIX, o movimento ligou-se ao seu futuro sucessor, o Art Noveau. Esse movimento tinha base no Arts and Crafts, mas ele aliou-se à racionalidade das ciências e da engenharia, e assim explorou Figura 1. Edifício Flatiron, NY, 1902 de 21 pavimentos. É um dos primeiros edifícios construído todo em aço.

novas materialidades que o mundo moderno ofereceu, como ferro, vidro e cimento.

20


A escola de design foi um dos principais meios dissipadores da postura racionalista na arquitetura, linha de raciocínio que firma compromisso com as conquistas da estética do cubismo. O método busca sempre o equilíbrio, a simetria, e a regularidade

no

projeto,

baseando-se

na

composição

arquitetônica através das formas elementares. Um conjunto de premissas constitui a chamada arquitetura racionalista, como o uso das coberturas planas, a simplificação da ornamentação, eliminando os elementos gratuitos sem função, a estrutura aparente,

o

uso

do

vidro,

criando

grandes

superfícies

translúcidas, e uma das mais importantes a atenção ao layout interno do edifício. As implicações arquitetônicas dessa corrente foram detectadas já em 1675 nos tratados clássicos franceses propsotos pelas mãos de François Blondel e Claude Perrault. O primeiro aborda as proporções, regras, ou seja, os princípios ideais e esquemas

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A fusão da arte, do artesanato e da indústria serviu de

geométricos. O segundo difere a beleza arbitrária, baseada nos

base para Bauhaus, escola de design, artes plásticas e

costumes e hábitos, da positiva, baseada na razão e função, ou

arquitetura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na

seja, a percepção da beleza. O racionalismo que foi culminante

Alemanha, que embasou-se no fazer artístico como forma de

também na concepção da arquitetura gótica, foi explorado na

aprendizado,

da

implantação dos altos edifícios, o que foi proporcionado graças

reintegração das artes e ofícios. A escola foi uma das maiores e

à industrialização do ferro e do concreto, e à modulação e

mais importantes expressões do que é chamado Modernismo

racionalização dos destes. É nesse momento em que os

no design e arquitetura, sendo uma das primeiras escolas de

procedimentos

design do mundo. Um de seus principais objetivos era unir artes,

importância, pois assim criou-se uma nova arte, uma nova

artesanato e tecnologia, sendo a máquina valorizada, e a

tipologia construtiva e estilística e, por conseguinte, um novo

produção industrial e o desenho de produtos tendo lugar de

meio de expressão artístico. Podem ser usados como exemplos

destaque. O instituto, que foi pioneiro no ensino baseado nas

desse momento o Palácio de Cristal, em Londres (1851), e a Torre

tendências

a

Eiffel em 1889, ambas utilizando o ferro laminado representando

minimização de impactos que seus feitos poderiam causar. Isso

uma estrutura leve, capaz de atingir a maior relevância e altura.

refere-se à dimensão, materialidade e o uso diferente dos

A partir da década de 1920, o concreto armado tem seu uso

mesmos sempre derivado de um método ou problemática, e

popularizado,

então referenciava um dos principais dogmas da arquitetura

tecnologia e modulação, que envolviam intensas teorias de

moderna, a equivalência da forma e função. Tais deveres da

cálculo. Hardy Cross é um dos responsáveis pela circunstância,

instituição criada e dirigida por Walter Gropius (1883 - 1969)

pois foi através de um estudo seu publicado em 1922 sobre o

estavam amparados pela liberdade de recursos no que se

cálculo de pórticos que foi calculada a estrutura do Empire

refere às mais novas tecnologias da época.

State de Nova York.

recordando

construtivistas

uma

herança

trabalhava

de

medieval

acordo

com

racionais

possibilitado

da

engenharia

pelo

ganham

aperfeiçoamento

grande

de

sua


Uma característica do racionalismo na arquitetura é

considerado o “pai” da arquitetura moderna na Holanda, o

sua correspondência ao funcionalismo, juntos constituem o

qual foi seguidor direto de Gottfried Semper. Berlage defendia a

movimento moderno, no referido assunto. A questão só se

ideia de um espaço interior dentro do edifício e não, o espaço

dispersa em uma fração do movimento, a arquitetura orgânica,

de uma maneira única. O que refere também a sua outra ideia

que usufrui do racionalismo não mecânico, adaptando-se às

de paredes e superfícies de paredes, enfatizando as qualidades

formas mais livres. Salvo a exceção, o início do século XX foi

substanciais da parede. Ele não procura definir o significado do

marcado pela racionalização que impactou inclusive na esfera

estilo, mas sempre ressalta sua importância. (BANHAM, Reyner)

artística, a exemplo de Wassily Kandinsky e Piet Mondrian que trabalharam o elementarismo abstrato de forma a decompor as

Rietveld desenvolveu a icônica Poltrona Red Blue em torno de

figuras. Nesse momento foi proposta uma nova doutrina estética

1918, baseada em formas puras e que teve uma de suas

que ficou conhecida como Neoplasticismo, pela qual seu

características básicas, o colorido, aplicado em 1923 seguindo o

idealizador Mondrian propunha reduzir-se às formas geométricas

princípio de que a cor deveria seguir a forma e enfatizá-la.

e cores puras para assim criar uma linguagem plástica dita

Desse modo, as duas placas de compensado e algumas ripas

universal. Toda esta teoria foi divulgada pelo pintor Theo Van

de madeira escurecida se tornaram estruturas pretas, planos de

Doesburg, com o ideal de justapor os elementos bidimensionais

corte amarelos, assento azul e encosto vermelho. Para a autora

gerando um novo senso estético plástico. Para ele, o processo

Marijke Kuper, do livro De stoel van Rietveld, “o amarelo marca

atingiria muito mais que quadros e esculturas abstratas, mas

os finais, dando a impressão de que as partes foram cortadas

também a cena urbana. Para Mondrian, essa cena urbana

por eixos imaginários no espaço. As diferentes cores enfatizam a

revisitada de acordo com esse novo senso estético substituiria a

independência das partes e a abstração da forma”. A

obra de arte, algo que seria alcançável através de leis objetivas

disposição das cores na peça remete diretamente a principal

e universais baseadas em seus métodos, que se assemelhariam

obra de Piet Mondrian, Composição em vermelho, amarelo e

às científicas.

azul (1921), a ocorrência se dá justamente pela universalização das “leis” que dirigiam o método de concepção.

Enquadrado como um movimento de caráter vanguardista, que teve origem em meados de 1905, seus artistas rapidamente ultrapassaram o percurso traçado pelo cubismo e chegaram à abstração completa. O rompimento era total com o passado, com ideias que não sofreram impactos da 1ª Guerra, pois eram derivadas

de

estudos

que

permeavam

os

anos

que

antecederam o período bélico. Mesmo com todo o rigor defendido pelo movimento, o que provocou grandes críticas dentro e fora do métier, o neoplasticismo é tido como a origem do abstracionismo geométrico.

Esse movimento reuniu pintores, designers, arquitetos, entre eles o holândes Gerrit Thomas Rietvel, que desenvolveu aplicações desse método ao design e à arquitetura. O arquiteto foi discípulo indireto de Hendrik Petrus Berlage (1856-1934),

Figura 2. Poltrona Red Blue

22


A casa Schröder de Rietveld é um exemplo da aplicação dos parâmetros neoplásticos à arquitetura, baseando-se na composição geométrica, contrapondo linhas e planos, obtendo paredes, esquadrias, divisórias, passagens. Anulando o conceito de arestas rígidas dos volumes puristas, aplicou pela primeira vez uma densa e complexa integração dos espaços. Espacialidade possível através da estrutura inteligente de vigas de aço, que reduziam as paredes à função de preenchimento. Resultando em uma flexibilidade na definição dos limites espaciais dos ambientes internos, e da relação entre exterior e interior. No piso superior através da deslocação das divisórias deslizantes que dividiam os três quartos e a sala de jantar, poderia se obter um amplo único espaço. O uso de diferentes materiais e cores no piso permitia referenciar essa questão espacial. Assim como na poltrona Red Blue, na casa Schröder, Rietveld introduziu na linguagem arquitetônica as pesquisas estéticas de caráter bidimensional de Mondrian, além de ter realizado uma obra ligada minimamente ao conceito de flexibilidade.

Figura 5. Duas plantas do 2º pavimento, mostrando as possibilidades de layout com as divisórias de ambientes recolhidas e expostas na Casa Schröder.

23

Figura 3. Elevação Casa Schröder

(A)

(B)

.

.

Figura 4. Elevação Casa Schröder

(C) .

Figura 6. Interior da Casa Schröder com o espaço integrado e como ele pode ser subdivido pelas divisórias que se recolhem. .


Em meio ao turbilhão do neoplasticismo, a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) acelerou os desenvolvimentos técnicos em vários âmbitos, e assim no ramo arquitetônico construções mais descomplicadas e rápidas foram projetadas. Cresceram-se as atividades

de

construção,

desenvolvimento

de

gerando

talentos

por

ainda

consequinte em

o

ascensão.

Simultaneamente À crise econômica proveniente dos altos gastos bélicos, a guerra fez com que as classes se associassem e assim minimizaram-se os antigos hábitos da hierarquia social. Outra decorrência foi a sensibilização gerada da reflexão acerca de toda a situação ocorrente. Viam-se usando o intelecto antes destinado às criações benéficas em geral, voltado agora para meios de destruição, e tendo que lidar com essa transição na maior naturalidade. Esse conjunto de consequências gerou um sentimento que imprimiu uma reflexão acerca dos modos de viver, pensar e agir. Dentro dos movimentos de vanguarda, o neoplasticismo não distanciou de seu caráter e seguiu com o pensamento a fim de quebrar

Figura 7. Esquematização da Maison Dom-Inó de Le Corbusier

paradigmas, ou melhor, os abstrair. É notória a contribuição dos movimentos vanguardistas

A geometria proveniente desses episódios formou uma

para a concepção da modulação e da flexibilidade no

ordem estética aplicável a um bloco retangular até a

movimento

disposição final das aberturas funcionais (BANHAM, 2006). Tal

moderno,

que

influenciou

a

arquitetura

contemporânea. Os métodos inovadores que buscavam o

estilo

rompimento quase que total com os preceitos dos movimentos

cartesianos, sendo o mais paradigmático a casa Dom-Inó,

anteriores foram refletidos e aprimorados, aproveitando a

criada por Le Corbusier em 1914 (MONTANER, 2012).

essência dos mesmos. Essência que ,em suma resume-se ao

habilidade em manusear as formas, é algo que não tem

racionalismo atingido através do abstracionismo. Eliminando os

comparação nos dias atuais, sempre conciliando a razão à

excessos, limpando a estrutura, e obtendo literalmente a

comunicação geral, pois além de instigantes, suas criações

essência

eram

eram úteis e aplicáveis a uma infinidade de possibilidades

assim

construtivas. (BENÉVOLO, 2004)

da

concebíveis

criação. através

Na da

arquitetura, conjunção

os

de

volumes linhas

e

influenciou

o

surgimento

de

modelos

racionais

e

Sua

compunham o espaço interno que interagia com o externo. Uma

consequência

de

tais movimentos

também

era a

preocupação com o interior sendo a estética do edifício subsequente ao layout interno.

24


Usando o método da pré-fabricação, consequência da racionalização, as plantas e fachadas foram libertas da dependência da função de estruturação do edifício construído. Os

ideais

que

formularam

a

concepção

deste

projeto,

posteriormente, foram divulgados de modo mais organizado, através de um documento datado de 1926 em que designaramse os “cinco pontos de uma nova arquitetura”. A elevação da edificação através dos pilotis, disponibilizando o térreo para a dinâmica urbana, “devolvendo o espaço para a cidade”. O uso dos tetos-jardim, outro ponto estabelecido por Le Corbusier, tinha uma razão lógica, econômica e funcional. Com o avanço da tecnologia, e assim criado o sistema de aquecimento central, as lajes-terraços foram permitidas a fim de realizar o escoamento da água da chuva. Graças ao concreto armado, as coberturas lisas foram alcançadas e, com elas a dilatação natural do concreto. Le Corbusier idealizou o sistema de tetosterraço a fim de manter certa umidade na cobertura, evitando a relatada dilatação. O desenvolvimento do concreto armado e seu processo industrial

possibilitou

eliminar

das

paredes

o

posto

de

sustentação, sucedendo uma planta livre, o terceiro dos cinco pontos. Os pavimentos têm seu layout independente uns dos outros, o que permite total liberdade na criação, a q qual acaba refletindo em uma otimização dos espaço. Outra circunstância acerca da independência da estrutura em relação a vedação é a questão dos fechamentos, que nesse momento se alongam e originam as planejadas “janelas em fita” de Le Corbusier. Elas contornam o edifício e iluminam o interior integrado, formando uma espécie de quadro que emoldura a paisagem. O quinto ponto estabelecido é resultado de todos os anteriores, uma fachada livre. O edifício elevado sobre pilotis, e os mesmos distanciados da fachada, fazem dessa superfície um elemento de vedação que conecta interior e exterior.

Figura 8. Double house, Le Corbusier-Stuttgart, Alemanha

25


Pode-se usar uma linguagem metafórica para retratar a contribuição de Le Corbusier nesse momento, pois é como se ele tivesse plantado uma semente para posteriormente colher o vegetal. Na Villa de Garches de 1927, o arquiteto pode atestar que trabalhar isoladamente uma obra, mesmo que seguindo seus cinco pontos, não se resulta necessariamente em uma obra prima, pelo contrário. Nesse caso, a casa não escondeu suas dificuldades. Acabou-se posteriormente concluindo as janelas verticais são preferíveis para a iluminação do espaço, a abolição das cornijas acaba por desproteger as fachadas das adversidades naturais, entre outros detalhes. Mas é exatamente a questão da “semente”, que aqui se pretende ressaltar, a qual foi plantada e colhida pelo próprio arquiteto em projetos adiantes, e por outros colegas que acabaram “semeados”. Outra obra notória de sua trajetória, a Villa Savoye, de 1929, também aplica os cinco pontos definidos por Le Corbusier, e acabou por angariar várias críticas. Mesmo que tenha distribuído todos os elementos na residência de forma racional e funcional, como, por exemplo, ter sido alocada no centro do lote deixando a simetria da paisagem alinhada à simetria de sua forma, a casa não dialoga com o entorno. Ao mesmo tempo o arquiteto aplica ao design seus preceitos e ainda cria diversas possibilidades no layout, uma característica significativa no contexto. Novamente a execução do projeto não condiz com a excelência de sua idealização, e consequentemente o resultado arquitetônico é afetado pelas falhas técnicas.

Figura 9. Villa de Garches, Le Corbusier-Vaucresson, França Alemanha

Figura 10. Planta baixa e 1º piso da Villa de Garches, Le Corbusier-Vaucresson, França Alemanha

Figura 11. Villa Savoye, Le Corbusier-Poissy, França Alemanha

Figura 12. Plantas, fachadas e cortes. Villa Savoye, Le Corbusier-Poissy, França Alemanha

26


O arquiteto Mies Van der Rohe adere aos movimentos vanguardistas,

entre

eles

o

expressionismo,

de

modo

a

incorporar tal essência ao movimento moderno arquitetônico. Por um método de simplificação, ele isola os problemas arquitetônicos a fim de solucioná-los, o que nos remete à tendência de vanguarda que usava da simplificação para abstrair as problemáticas e chegar a sua forma mais pura, a fim de resolvê-la. As relações entre elementos funcionais, base de Le Corbusier, era o método do arquiteto alemão que unificava a tática ao conhecimento técnico, criando um equilíbrio entre o Figura 13. Fachada da Villa Tugendhat, Mies Van der Rohe-República Checace

design criativo e executivo. Nesse ponto de vista fica explícita uma das maiores diferenças entre Mies e o arquiteto suíço radicado na França. Um dos projetos mais emblemáticos da carreira de Mies Van der Rohe é o Pavilhão Barcelona, encomenda para a Mostra Internacional de 1929. O arquiteto concluiu que não se tratava de um edifício comum, mas sim um objeto efêmero. A partir

dessa

reflexão,

considera

essencial

não

ser

uma

construção fechada, e ter partes de destaque, visando o maior número de visitantes a serem atraídos. Para isso ele faz recurso de materiais nobres, principalmente o ônix. Outra questão levantada no projeto foi acerca do seu método construtivo, criando um sistema modulado para que sua estrutura ficasse Figura 14. Planta baixa da Villa Tugendhat, Mies Van der Rohe-República Checa

Figura 15. 1º pavimento da Villa Tugendhat, Mies Van der Rohe-República Checa

27

firme por tempo ilimitado, ou pudesse ser desmontada.


A

partir

da

década

de

1920

os

movimentos

vanguardistas se dirigem de um modo convergente ao campo da realidade, deixando de lado a utopia. Os que se divergem são ditos volúveis, e assim acabam deslocados. Benévolo (2006,

Figura 16. Pavilhão de Barcelona, Mies Van der Rohe-Barcelona, Espanha

p. 452) é incisivo nesse aspecto: “(...) os mestres do movimento moderno trabalham e falam com um tom totalmente diverso: um tom razoável, relativo, preocupado com uma tarefa ser realizada a longo prazo”. Pela

observação

dos

aspectos

analisados,

a

modulação e flexibilidade na arquitetura foram aspectos proporcionados pelo avanço das técnicas construtivas ao referirse sobre técnicas construtivas. É de grande importância a participação de pessoas como Abraham Darby, Joseph Aspdin, e

Joseh

Lambot,

industrialização

do

responsáveis ferro,

concreto

pelos e

processos

concreto

de

armado

respectivamente. Esses materiais foram os instrumentos de criação

para

os

designers,

arquitetos

e

engenheiros

vanguardistas modernos executarem suas ideias inovadoras de

Figura 17. Elevação e planta do Pavilhão de Barcelona, Mies Van der Rohe-Barcelona, Espanha

caráter progressista. Tais fatos revolucionaram todo o processo construtivo, sendo ele composto por: concepção do layout e forma, definição de materiais e método de construção. Todas essas etapas foram reformuladas de acordo a atingir um único objetivo, a simplificação, essa em todos os sentidos, estéticos e formais. Tal contribuição influencia até os dias de hoje a concepção arquitetônica, sendo ela uma das fontes de inspiração para a arquitetura proposta na atualidade, que busca nas raízes do modernismo as bases de técnicas de conceito e construção de uma obra.

28


Habitação contemporânea


Os

Outro aspecto a ser ressaltado é que a vida contemporânea novos modos de vida levantam uma crítica

acerca do espaço doméstico e como esse se organiza, que reflete uma certa incompatibilidade do programa com as atuais necessidades de seus moradores. Assim, é necessária uma compreensão acerca das novas tipologias de núcleos familiares, e como a família nuclear tradicional se modificou. A família nuclear renovada agora compreende famílias monoparentais, uniões livres, casais dink (double income no kids), além de grupos coabitando sem laços conjugais ou parentesco. A vida contemporânea trouxe consigo novos hábitos para o cotidiano ao mesmo tempo que substituiu antigos costumes. Um exemplo de fácil compreensão é o ato de cozinhar, pois esse era considerado um afazer dos prestadores de serviço, ou em caso da falta do mesmo, o responsável da família pela função executava em um espaço restringido da área social, liga-se à ideia da cabana e do fogo como “core” do lar. Com o passar dos anos e a valorização da vivência familiar, cozinhar passou a ser um ato de prazer, um momento de ficar juntos em volta de um fogão, exaltando a casa como lar. Essa mudança de hábito trouxe a cozinha para mais perto da área social da casa, e começaram a surgir os “espaços gormet”, pois nem sempre a cozinha era deslocada da área de serviço, muitas vezes eram pensadas essas cozinhas mais cenográficas de uso esporádico. Simultaneamente

os

serviços

domésticos

terceirizados

acabaram se tornando uma prática cada vez mais incomum, e assim os próprios moradores colaboram entre si para a execução dos mesmos. Isso está vinculado à evolução de fatores socais principalmente, e também financeiros. Pois as vagas voltadas a essa tipologia eram destinadas à aqueles que não conseguiam melhores oportunidades. Como esse cenário se modificou nos últimos anos, as ofertas de serviços domésticos diminuíram

e

consequentemente

se

valorizaram

financeiramente. Com isso espaços destinados à realização dessas tarefas acabaram se fundindo à área comum, pois se tornara ainda mais contraditório manter esses ambientes escondidos.

31

trouxe consigo muitos medos, e inserir uma pessoa externa ao seu ciclo para dentro do seu espaço mais íntimo, a sua casa, passou a ser olhado com muitos empecilhos. A confiança e intimidade entre pessoas é algo que leva tempo a ser construído, o qual é escasso no cotidiano vigente. No mesmo contexto, o “dormitório de empregada”, proveniente da casa burguesa do século XIX e da senzala, fazendo um intercâmbio nacional, vêm caindo cada vez mais em desuso. Infelizmente não se pode usar a conjugação verbal no passado pois ainda há casas construídas em pleno século XXI que priorizam essa tipologia de espaço. A crítica aqui estabelecida não é acerca de quem tem ou não uma pessoa colaboradora que mora na casa em que trabalha, até porque isso é algo particular de cada família, e pode ser que algumas tenham necessidade de tal serviço. O problema refere-se ao tratamento espacial dado ao serviço, isolando o cômodo no layout referenciando diretamente o período escravocrata brasileiro.


Casos de quem habita residências e apartamentos da década

A evolução do design de mobiliário foi capaz de

de 30 em diante deparam-se com um espaço que não se

viabilizar soluções de integração de espaços sem deixar o

encaixa nas necessidades atuais, e por assim dizer o tem de

espaço similar a casa burguesa do século XIV, que tinha todas

maneira indireta. Residências e apartamentos de alto padrão

as funções executadas em um mesmo cômodo de forma

construídos na atualidade manterem essa tipologia é no mínimo

explícita. A marcenaria e a serralheria juntas criaram uma áurea

um retrocesso. Como argumentado anteriormente, não está em

artística, pois junto com as ideias da nova geração possibilitou

pauta a necessidade de ter um colaborador que more na casa,

mecanismos de acomodar aparelhos eletrodomésticos, móveis,

mas sim o modo como esse é tratado.

objetos pessoais, e até ambientes internos de modo mais coerente aos olhos de quem habita o espaço. Tornou-se possível

Conclui-se, portanto, que não faz mais sentindo afastar

trabalhar, estudar, repousar, comer, receber, tudo em um

esses cômodos o máximo possível da área social, levando em

mesmo ambiente interno mudando completamente e se

conta que espaço é algo tão precioso nos dias de hoje, e o

adaptando para cada função.

mesmo tem que ser otimizado e explorado da melhor forma. Integrar esses espaços é uma solução prática viabilizando o seu uso, pois entende-se que muitas vezes os moradores executam as funções, e que a dividirão o menos possível com um prestador externo, no caso da lavanderia. No caso da dependência de funcionário, essa pode-se ser um quarto de hóspedes, ou vice-versa.

Figura 18. “Espaço gourmet” da MM House do Studio MK27, Bragança Paulista, Brasil.

32


ento das portas “camarão”

A evolução do design de mobiliário foi capaz de

Nesse cenário pode-se ressaltar obras como a Naked House

viabilizar soluções de integração de espaços sem deixar o

(Saitama, Japão, 2000) do arquiteto japonês Shigeru Ban. A casa

espaço similar a casa burguesa do século XIV, que tinha todas

foi concebida a partir da premissa de oferecer a intimidade

as funções executadas em um mesmo cômodo de forma

para cada morador sem isola-los, priorizando a vivência familiar.

explícita. A marcenaria e a serralheria juntas criaram uma áurea

O objetivo foi atingindo pelo grande espaço único de dois

artística, pois junto com as ideias da nova geração possibilitou

andares no qual quatro salas pessoais com rodízios podem ser

mecanismos de acomodar aparelhos eletrodomésticos, móveis,

movidas livremente. Assim os moradores passam a maior parte

objetos pessoais, e até ambientes internos de modo mais

do

coerente aos olhos de quem habita o espaço. Tornou-se possível

necessitam de maior privacidade têm seu espaço reservado.

tempo

em

um

ambiente

compartilhado,

e

quando

trabalhar, estudar, repousar, comer, receber, tudo em um mesmo ambiente interno mudando completamente e se adaptando para cada função.

Figura 22. Visão externa da Naked House, Saitama, Japão. Figura 20. O design de mobiliário nesse projeto divide e integra ambientes mediante a necessidade do morador.

Figura 23. Visão interna da Naked House, Saitama, Japão. Figura 21. O design de mobiliário nesse projeto divide e integra ambientes mediante a necessidade do morador.

33


Vitale Loft, Joel Sanders, 2001


35

Figura 24. Duchas ao fundo da cozinha do Vitale Loft, Nova York, EUA.


O loft de 167m² projetado pelo arquiteto Joel Sanders, em Nova Repouso

York, compreende um layout que maximiza a flexibilidade espacial e programática do espaço, criando um ambiente que atende ao corpo tátil. O desafio foi driblar as barreiras impostas pela localização dos pontos de

Alimentação, preparo e estocagem de alimentos

hidráulica, que muitas vezes resultam em cozinhas e banheiros adjacentes. Nesse projeto optou-se por exaltar essa tipologia de layout, ao invés de disfarça-lo como é feito comumente, celebrando a proximidade desses dois espaços domésticos centrais que atendem às necessidades funcionais e sensuais do corpo físico. A volumetria e espacialização é simples e respeita as característica de um autêntico loft, isso é, um amplo espaço que tem dividido apenas o cômodos de higiene íntima e necessidades fisiológicas. O acesso é feito pela escada ou elevador, os eixos de circulação vertical do prédio, e que adentram diretamente ao apartamento. O que espera é uma grande sala permeada pela iluminação proveniente das grandes janelas, que é completada pela luz das janelas dos quartos que passa pelo vidro opaco que divide o apartamento. Um lavabo é o ponto de apoio para os visitantes, e está

Higiene pessoal

localizado ao lado do eixo de circulação vertical de modo que não prejudique a fluidez do espaço. O que sucede a grande sala é a cozinha dividida em 3 partes, uma ilha para o fogão que se estende em um mesa, um bancada de trabalho onde localiza-se a pia, e uma parte de estocagem e instalação de eletrodomésticos. Essa tipologia de cozinha faz referência ao

Eixos de circulação vertical

projeto da Unité d’habitation de Marselha (1952) de Le Corbusier, que a une com a sala em um ato inovador. Os ambientes estavam separados por um balcão, e possibilitava o contato de quem estava na cozinha com quem estivesse fora dela, modelo que ficou conhecido como cozinha “tipo americana”, que também está. Lembrando que esse cômodo tem grande contribuição do protótipo da arquiteta vienense Margarete Schütte-Lihotzky conhecido como a “cozinha de Franfurt” em 1927. No projeto do loft a cozinha

Convívio social

é totalmente integrada ao restante da casa, porém é notória a contribuição do arquiteto moderno em tal cenário. Em seguida localiza-se o banheiro, elemento estruturador do projeto, que possui uma banheira, dois duchas que podem ou não ser integradas, uma pia que se apoia no mesmo nível. Essa importância dada ao espaço é justificada pelo fato de sua estrutura funcionar como divisória. Por fim os quartos, que podem ou não estar no plural, uma vez que com a divisória recolhida um espaçoso cômodo é formado.

Figura 25. Planta setorizada do Vitale Loft, Nova York, EUA.

36


O projeto busca obter não só um espaço mais fluído como também uma arquitetura mais integrada, sendo assim o atribui com um espaço neutro, isso é, ausência de hierarquia dos espaços. O espaço de banho mesmo estando mais alto não se impõe ao programa, graças à pele de vidro que o reserva da cozinha, pois o material carrega consigo a característica de permeabilidade, e assim expõe esse ambiente que está elevado apenas no sentido vertical. O vidro jateado funciona como

elemento

estruturador

do

projeto,

ele

ressalta

a

intimidade, ou sensualidade, do espaço ao mesmo tempo que pode ser interpretado como uma sátira ao tratamento da sexualidade na contemporaneidade. Vale lembrar que a casa burguesa do século XIV até o XVII não tinham, na maioria, espaços de banho reservados e muito menos individuais. A nudez era tratada com mais naturalidade e conceitos de intimidade

eram

pouco

familiarizados,

o

que

mudou

completamente na atualidade em que o assunto virou tabu, e é tratado exclusivamente entre quatro paredes. O projeto faz uso dessa deficiência estrutural do layout que “impõe” a cozinha próxima ao banheiro, e os unificam de vez através da superfície de concreto que serve de bancada para cozinha e piso da casa de banho. Esse cômodo possui dois chuveiros que podem ser divididos por uma divisória de vidro que corre no trilho que corta os dois quartos, além também da cortina interna ao espaço da ducha, que serve pra dar mais intimidade se necessário. Figura 26. Detalhe de um lado do espaço de banho do Vitale Loft, Nova York, EUA.

Figura 27. Espaço de preparo de alimentos do Vitale Loft, Nova York, EUA.

37


Eixo estruturador da iluminação, hidráulica, e esquadria de divisão.

Integração,

que

é

a

palavra

chave

desse

projeto,

foi

impulsionada pela caracterização da materialidade do espaço. O arquiteto usou superfícies de concreto para criar as bancadas da cozinha, piso e bancada do banheiro, piso de todo o quarto principal , e até se desdobra em cabeceira de cama do quarto secundário. Essa decisão oferece ao espaço maior amplitude, pois ao invés de subdividí-lo com vários tipos de materiais, é usado um único, oferecendo assim uma única camada visível aos olhos. Essa característica é nítida na figura 28 e no croqui 2. A grande “viga metálica” que corta o espaço dos quartos e banheiro é o principal eixo estruturador de hidráulica e iluminação junto com o pilar que divide as duas duchas, essa estrutura está mais detalhada no croqui .1 O loft foi uma referência no que se refere a integração dos espaços,

buscando

neutralizar

o

quanto

for

possível

o

isolamento dos ambientes. Essa característica está presente nos layouts das áreas privadas do projeto.

Croqui 01.

Croqui 02.

Figura 28. Banheiro integrado do Vitale Loft, Nova York, EUA.

38


Naked House, Shigeru Ban, 2000


Nesse projeto, o arquiteto japonês Shigeru Ban teve

Figura 29. Esquematização da Naked House, Saitama, Japão.

como desafio realizar o desejo do cliente em ter um espaço que

Convívio social

Higiene pessoal

respeitaria a individualidade de cada morador, mas, ao mesmo

Repouso

Estocagem

Espaço livre para uso dos cubos móveis ou atividades fora dele

Alimentação, preparo e estocagem de alimentos

tempo não os isolasse. Segundo o arquiteto, o desejo do cliente era um projeto que “fornece o mínimo de privacidade para que os membros da família não sejam isolados uns dos outros, uma casa que dá a todos a liberdade de ter atividades individuais em um ambiente compartilhado, no meio de uma família unificada”. Essa premissa é uma medida solucionadora de um grande problema que a contemporaneidade trouxe, pois com o desenvolvimento das tecnologias elas se tornaram cada vez mais acessíveis. Consequência disso foi a redução do convívio social, fora e dentro de casa, onde acentua-se a problemática uma vez que tem se cômodos individualistas para se isolar. Os responsáveis por essa família decidiram mudar essa realidade e melhorar o conceito de familiaridade.

41

Figura 30. Planta setorizada da Naked House, Saitama, Japão.


Figura 31. Visão interna da Naked House com e sem os ambientes móveis, Saitama, Japão.

Figura 32. Tapetes de tatami japoneses tradicionais

Como se percebe na figura 29, as caixas com rodízios têm no piso uma paginação que se refere aos tapetes de tatami japoneses tradicionais (figura 30). Desse modo o arquiteto incorpora hábitos milenares da arquitetura japonesa em uma residência contemporânea buscando representara a viabilidade de um projeto ser contemporâneo, original, e ao mesmo tempo respeitar os hábitos culturais de dezenas de anos passados.

42


Figura 35. Parte da fachada leste da Naked House com e sem os ambientes móveis, Saitama, Japão.

A fachada leste é confeccionada por sete portas, como está representado na figura 35, sendo apenas uma delas destinada

Figura 33. Planta setorizada da Naked House, Saitama, Japão.

ao acesso. As outras funcionam como aberturas para insolação e ventilação natural no espaço destinado à higiene pessoal, destacado nas figuras 31 e 32, que consta com uma banheira, vaso sanitário, e pia. Esse ainda pode ser divido ao meio através de

uma

cortina,

o

que

permite

que

seus

usos

sejam

independentes e coletivos caso necessário, pois ainda há um outro espaço com apenas vaso sanitário e pia que é acessado por portas que correm. Sendo assim, essas sete folhas fazem a função de um brise soleil, e fazem dessa arquitetura ainda mais instigante aos olhos externos.

Figura 34. Planta setorizada da Naked House, Saitama, Japão.

43


Figura 36. Visão externa da Naked House destacando a permeabilidade da iluminação do lado interno para o externo do projeto, Saitama, Japão.

Figura 38. Visão interna de uma tradicional casa japonesa, com as divisórias a esquerda revestidas pela tela de papel Shoji.

A materialidade no projeto é um pretexto relevante, pois ela ressalta sua comunicação com o entorno, além de contribuir para um melhor acolhimento no seu interior. A casa está localizada às margens de um rio, onde campos são permeados de estufas, assim a forma arquitetônica é totalmente derivada desse entorno. O tradicional formato de estufa linear foi reproduzido com as paredes externas compostas por duas folhas de plástico reforçado com fibra de plástico corrugado. Na parte interna um tecido de nylon é organizado em molduras de madeira. as quais são assentadas em paralelo. Entre eles são anexados sacos de plástico transparente, cuidadosamente recheados com cordões de polietileno espumado para fins de isolamento. Através destes sacos, uma luz difusa macia preenche o interior da casa durante o dia como é visto na figura 34. e ilumina o lado externo ao anoitecer, que é perceptível na figura 36. Essa composição de materiais translúcidos é uma referência às telas de papel Shoji da casa tradicional japonesa, como representado na figura 38, que permitem o brilho da luz, em mais uma tentativa bem sucedida do arquiteto de incorporar as características da arquitetura oriental em uma construção atual.

Figura 37. Visão interna da Naked House destacando a permeabilidade da iluminação do lado externo para o interno do projeto, Saitama, Japão 44


Croqui 3-Representação esquemática do entorno da Naked House, Saitama, Japão.

O projeto foi realizado às margens de um corpo d’água que permeia toda a cidade, e as edificações ao redor respeitam um limite de 2 pavimentos verticalizados. A maioria dos lotes possui um percentual significativo de permeabilidade que somada à larga faixa preservada ao redor do rio, oferece um ambiente de visão ampla e agradável para o entorno. Essa situação está bem representada nos croquis 3 e 4, Em suma, a Naked House consiste em uma valiosa referência no que

se

questões

refere como

a

residências

habitação

contemporâneas,

coletiva,

e

a

cercando

privacidade

e

intimidade dentro do espaço doméstico, as quais serviram como base para o projeto desse estudo. Através de um programa simples traduzido na mais pura simplificação de layout, os usuários do espaço se viram mais próximos, fortalecendo o convívio social. Tamanha contribuição fez da obra uma das mais importantes da carreira de Shigeru Ban, que tem como marca, um alto nível de integração dos espaços e programa.

45

Croqui 4-Representação esquemática da implantação da Naked House, Saitama, Japão.


Casa Grelha, FGMF Arquitetos, 2007


Figura 39. VisĂŁo externa da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

47


O projeto está localizado na Serra da Mantiqueira, região montanhosa que abrange 3 estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O local é considerado uma estância turística, e portanto abriga diversas casas de lazer, entre elas a Casa Grelha, um projeto que tinha como premissa não intervir na paisagem de forma agressiva. Como solução projetual, elevou-se a residência do terreno através de uma grelha metálica apoiada em pilares de concreto, além de integrá-la à sua paisagem seja pela cobertura permeável ou pelos passeios estratégicos criados na topografia original, evitou que grande parte da vegetação existente fosse destruída.

48


Como partido arquitetônico foi adotada uma modulação estrutural que deu o nome à casa, e nela organizou todo layout pensado em satisfazer às necessidades dos moradores. Todo o programa se organiza na grelha ressaltando a conexão entre modulação estrutural e layout, pois os ambientes se organizam dentro dos espaços quadriculares, os quais podem ser divididos ao meio em alguns momentos. Essa condição do projeto contribui para criação de espaços mais coerentes que são aproveitáveis ao máximo, além de destacar a paisagem existente. Procurou-se ocupar os módulos de 5x5m de modo a setorizar a casa, ao mesmo tempo em que resolveria uma premissa projetual de respeitar a individualidade de cada integrante da família. As suítes dos filhos foram organizadas em duplas que podem ou não dividir os banheiros, assim como ter ou

não

varandas

privativas,

as

quais

ficaram

dispostas

dispersamente na grelha visando a maior privacidade dos usuários. A família divide uma vasta área comum interna à

Figura 41. Visão do deck de passeio (em rosa na planta abaixo), da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

grelha, com partes fechadas e abertas, sempre integradas entre si. É dito ‘interna a grelha” uma vez que há um pavilhão exclusivo para o lazer, o qual também foi concebido na mesma modulação, mas que não se apresentou relevante para o

presente trabalho.

Convívio social Eixos de circulação vertical Higiene pessoal Alimentação, preparo e estocagem de alimentos Lavanderia Repouso Circulação

49

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11

Garagem Lavanderia Cozinha Sala de Jantar Terraço Sala de Estar Hall de Entrada Sala de TV Circulação Suíte Principal Suítes Figura 40. Planta setorizada da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira.


Ao se tratar da circulação no projeto encontra-se 3 tipologias, sendo uma sob a grelha, outra através, e também sobre ela. Por baixo, em um jardim com espelho d’água e pedras naturais, pela casa, sob o pergolado, e por cima, através do teto-jardim que funciona como uma continuidade do terreno. A grelha possui módulos ocupados ou não, o que permite que a natureza a atravesse em alguns pontos, assim deixando ainda mais íntima a relação construção e entorno.

Figura 43. Visão do eixo de circulação sob a grelha, composto de jardim com espelho d’água e pedras naturais, da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

Croqui 05. Diagrama de eixos de circulação da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira.

Figura 44. Visão do eixo de circulação pela a grelha, sombreado pelo pergolado em madeira, da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.’

Figura 45 Visão do eixo de circulação sobre a grelha permeado pelos espelhos d’água e gramado, da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

Figura 42 A planta de cobertura ao lado representa a grande permeabilidade do projeto ocasionado pelos módulos vazios da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

Figura 45 Visão do eixo de circulação sobre a grelha permeado pelos espelhos d’água e gramado, da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

50


A estrutura da Casa Grelha é um fator crucial no projeto pois é ela que permite o mínimo impacto na área, uma premissa projetual, e organiza todas as funções do programa. Para isso foi adotado uma mistura de três tipos de materiais estruturais, concreto, madeira e aço. Alternando-se vigas de aço corten e madeira, que se estruturam em pilares de concreto, têm se a base da grelha que se ergue em pilares de madeira. Buscando minimizar a estrutura, optou-se pelo uso das vigas vagão a cada 2 módulos, tornando a estrutura mais leve e permeável, enquanto ela apoiava duas laterais no morro, em que se escorava nos muros de gravidade de pedras retiradas do ´próprio local. Sua relevância no projeto de estudo é justamente a sua modulação estrutural e como ela se mostra significante no layout dos ambientes.

Pilar de madeira

Vigas de aço Corten Conexão entre a estrutura em aço Corten e a estrutura de madeira

Vigas de madeira

Transição entre o pilar de concreto e a estrutura em aço Corten

Figura 50. Visão do detalhe da estrutura da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil

Vigas em aço Corten

Pilar de concreto

Figura 49. Detalhe estrutural explodido da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.’

Figura 47 e Figura 48. Estrutura vista por baixo da grelha, da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.

51

Figura 46. Croqui da estrutura e materialidade da Casa Grelha, Serra da Mantiqueira, Brasil.


Cell Brick, Tekuto, 2004


O projeto da Cell Brick originou-se do desejo do cliente em ter uma casa fora da “norma”, que junto com uma condição do entorno de não permitir fisicamente a passagem de grandes veículos de construção, a adoção desse método de construção de pequenos componentes se mostrou muito conveniente. Tais componentes referem-se às caixas de aço de 45cm de altura por 90cm de comprimento e 30cm de profundidade, que foram empilhadas e deram origem a toda estrutura da casa. As caixas são empilhadas com aberturas que se tornam janelas, com a profundidade perfeita para servir como brise-soleil. A profundidade dada bloqueia a luz do sol de verão e absorve melhor o sol de inverno para dentro da casa. Além disso, um material de resistência ao calor, um revestimento com infusão de cerâmica especial, é colocado na chapa de aço, para ajudar a resolver o problema de aquecimento.

Figura 51. Visão externa da Cell Brick ao amanhecer e entardercer respectivamente, Tokyo, Japão.

Conexão da unidade

Axometria

Figura 52. Esquematização estrutural por módulos da Cell Brick, Tokyo, Japão.

Conexão de peças 1 peça

Uma carga vertical desce pela borda de caixas como a forma de 'Perna Fantasma' e a força sísmica é suportada por uma fileira de estruturas que se tornam como uma grande 53

parede.

1 peça & 1 unidade


Figura 53. Visão interna da Cell Brick na qual fica explícita a conexão das caixas, Tokyo, Japão.

Elevação 54


A organização espacial do projeto seguiu algumas sugestões do cliente como o banheiro “flutuante” e a lavanderia acoplada a ele. Como eixo de circulação vertical, a escada helicoidal tornou-se

o

elemento

estruturador

da

casa,

ligando

os

patamares típicos e intermediários. Classifica-se os patamares em tais tipologias pois a casa conta com o subsolo para um quarto mais reservado, que ocupa dois terços do espaço, o térreo, como grande pavimento social da casa, o primeiro andar, cujo intermediário que resume-se a um terço do espaço para sala de banho e lavanderia, e o segundo andar ocupado pelos dois quartos, banheiro, e loft de interação. A casa pensa na otimização dos espaços, pois como a área era relativamente pequena

para o

programa

num primeiro momento, foi

necessário uma dinamização do layout, integrando funções e usando o máximo de cada ambiente.

Figura 54. O espaço destinado ao preparo e consumo de alimentos da Cell Brick é totalmente integrado ao espaço no térreo, Tokyo, Japão.

Convívio social Repouso Circulação vertical Alimentação, preparo e estocagem de alimentos Higiene pessoal Estocagem Lavanderia

55

Figura 55. Planta setorizada da Cell Brick, Tokyo, Japão


A

concepção

estrutural

nesse

projeto

é

grande importância, pois ela se

tornou

o

elemento

estruturador do espaço, uma vez que serviu de modulação para os espaços, além de fazer-se da estética total do edifício

externamente

e

internamente, onde cumpre a função todos

de os

estocagem cômodos.

quando

os

colocam

seus

em

Assim,

moradores pertences

pessoais nas caixas de aço, uma "camada de vida" é adicionada e um processo de camadas chega ao fim, pois Figura 56. Visão do pavimento térreo da Cell Brick, Tokyo, Japão.

para evitar criar um espaço sem graça, a parede interior é feita como várias camadas e dá uma certa sensação de profundidade. O

projeto

apresenta

sua

relevância para o estudo no que se refere a integração dos ambientes, ao mesmo tempo que

os

design

otimiza de

usando

interiores

o

como

ferramenta.

Figura 57. Visão do banheiro e de um dos quartos do segundo pavimento da Cell Brick, Tokyo, Japão.

56


Conceito


o presente estudo buscou fazer uma análise do comportamento humano cotidiano e como os hábitos se modificaram ao passar do tempo. O espaço de trabalho, por exemplo, fazia parte do layout da casa burguesa do século XIV e ao longo dos anos essa logística veio se excluindo do ambiente doméstico, o que já é notório na casa burguesa do século XIX. E então, no século XX já surge uma nova concepção de espaço para a função, os home offices, que se mostram presentes até os dias atuais nas casas e apartamentos. Eles se mostraram muito eficazes em atender o aspecto profissional conciliando-o com o pessoal. Porém, em pouco tempo uma nova tipologia se fez presente a fim de solver questões da sociedade

contemporânea,

tais

como

a

escassez

e

encarecimento do espaço, e a impulsão de uma carreira profissional iniciante. Assim surge o coworking, quando o engenheiro de software Brad Neuberg criou, em 2005, uma comunidade de trabalho com os amigos. O conceito é baseado na ação de um grupo de profissionais compartilhando um espaço, assim trocam-se valores e experiência. O cotidiano altamente movimentado e com as horas do dia cada vez mais disputadas, as atividades domésticas como a limpeza da casa e lavagem de roupas tornaram-se cada vez menos indesejáveis. Nesse enredo proporcionou-se a criação de robôs aspiradores, os quais já estão viabilizados no mercado, e o serviço das lavanderias foi se aperfeiçoando até ao

ponto

de

torná-la

um

serviço

self-service,

muito

disseminado nos grandes centros. Elas se tornaram um local comunitário, e que foi incorporado em empreendimentos residenciais de diversas tipologias com o objetivo de liberar o espaço que ocupariam no layout da casa para que ele seja usufruído em funções mais agradáveis.

59


Figura 58. Ambiente de um coworking.

.

.

Outra inovação de hábitos domésticos da atualidade foi a cozinha de aluguel, também disponível em diferentes tipologias

como

empreendedores

mais do

industriais ramo

voltadas

gastronômico

a que

pequenos buscam

desenvolver seu produto, ou as porte familiar que atendem muito bem pequenas recepções. Mais relevante para esse estudo, as cozinhas de aluguel de porte familiar, como exemplo da foto ao lado, são propostas para as cidades onde o espaço da casa vem sendo cada vez mais reduzido para possibilitar acolher a população que só tende a crescer. Sendo assim a cozinha da casa contemporânea em muitos casos apresenta-se reduzida à escala dos moradores e satisfatória às funções básicas. Portanto, buscar opções que podem acolher uma grande família ou grupo de amigos, em um ambiente que não se assemelhe a um restaurante e sim a uma casa, tornou-se

Figura 59. Liberty Laundry,Oklahoma,EUA.

.

usual nas grandes metrópoles. Essas três tipologias de espaço discorridas acima, servem como introdução ao conceito de compatibilização do espaço e melhor aproveitamento deste, que é a grande chave do objeto desse projeto. Entender as relações entre espaço, tempo e indivíduo faz com que a interpretação de projetos contemporâneos soem com naturalidade e coerentes. Sendo assim o projeto encontrou na integração dos espaços a solução para integrar semelhanças e diferenças, os grandes responsáveis por darem vida a sociabilidade.

Figura 60. The Kitchen Table ,New York ,EUA.

60


O conceito do projeto passou a ser a integração de pessoas, criando laços comunitários que fariam das casas um grande lar. Visando a coletividade e agindo como um convite ao convívio social, buscando combater a individualização exacerbada dos dias atuais, em que as pessoas se isolam nos seus espaços especificados cercados pela tecnologia como companhia. A coabitação é uma maneira de resolver o isolamento que muitas pessoas experimentam hoje, recriando o apoio da vizinhança do passado. Uma premissa projetual imprescindível nos projetos do século XXI é a sustentabilidade, o que é um dos princípios dessa nova tipologia doméstica, pois assim verifica-se a economia de espaços, que impacta na construção e consumo energético. O que se busca é conceituar um novo modo de moradia, elaborado a partir da análise do cenário atual de uma série de residências não funcionais que

Casas e Loft’s

baseiam-se em métodos obsoletos de concepção do layout. Baseado

no

cohousing,

expressão

inglês

que

Lazer comum

significa

coabitação, onde comunidades são criadas e geridas pelos seus moradores. A maioria dessas comunidades tem uma casa comum, com instalações compartilhadas, como cozinha e refeitórios, áreas para reuniões e brincadeiras, lavanderias e quartos de hóspedes. Isso pode significar que as residências particulares são menores, pois os residentes também têm o benefício

das

instalações

comuns.

Espaços

externos

compartilhados para os jardins, brincadeiras infantis, festas e cultivo de alimentos, muitas vezes, estão presentes em um projeto de coabitação. Esse sistema pode ser intergeracional, acolhendo pessoas de qualquer idade e qualquer estrutura familiar, ou especificamente para atender pessoas mais velhas ou que sejam de interesse comum, por exemplo, para mulheres ou

grupos

LGBT.

Os

moradores

gerenciam

sua

própria

comunidade, cuidando da manutenção e desenvolvimento dela,

administrando

as

finanças,

cuidando

dos

jardins,

organizando atividades compartilhadas. A comunidade é governada de maneira não hierárquica, geralmente usando decisões

de

consenso,

todos

os

residentes

incentivados a participar na tomada de decisões.

61

adultos

são

Coworking e brinquedoteca

Cozinha e Lavanderia comunitária


Casas e Loft’s

Casas e Loft’s

Garagem

Croqui 11. Ilustração esquemática de um Cohousing

Espaço para reuniões

Quartos de visita e academia

62


Um ensaio foi proposto para elaborar a proposta do objeto, partindo da quadra tradicionalmente dividida em seus lotes com os mesmos ocupados pelas casas, cada um a sua maneira, como demonstrado no croqui 06. A partir dai imagina-se um agrupamento de todas as residências em um bloco único, mesmo com todas suas diferenças, o que foi representado no croqui 07. O bloco então têm as suas usos, como alimentação, repouso, recreação, higiene, explodidos de forma a serem agrupados em seguida coletivamente, assim mostra o croqui 08. Nesse momento, uma premissa projetual entra em cena, a modulação que cobre a quadra como uma malha de 10x10m, como no croqui 09. Por fim, as funções anteriormente explodidas se unem de forma homogênea no que se refere as tipologias, em

blocos

adequados

volumetricamente

à

modulação

estrutural que os organizam, como esquematizado no croqui 10.

63


Croqui 06.

Croqui 07.

Croqui 08.

Croqui 09.

Croqui 10.

64


Área de Intervenção


A localização do projeto parte de um desejo pessoal de contribuir, de certa forma, para com a cidade de origem, Santa Rosa de Viterbo no interior de São Paulo. Localizada a aproximadamente 70km de Ribeirão Preto, a cidade de aproximadamente

26.000

habitantes

surgiu

mediante

ao

desenvolvimento da cidade vizinha, São Simão, na década de 1980. Tal fato acelerou-se com a potência industrial que se tornou a Fazenda Amália, fundada por Henrique Dumont e prosperada

pela

família

Matarazzo.

Longos

anos

de

desenvolvimento foram sucedidos por um período de crise econômica que abalou a cidade a partir de 2010, e foi se agravando em meados dos anos 2013/2014, restando assim apenas

2

indústrias

de

grande

porte,

e

outras

2

de

pequeno/médio porte que estão localizadas fora da Fazenda Amália. O cenário atual é de reestabelecimento e a principal atividade empregadora é o comércio. O complexo da Fazenda Amália tornou-se uma grande herança no cenário cultural e arquitetônico, pois ele guarda histórias de grande parte da população, uma vez que esse era o vetor locomotivo da cidade, assim como têm em seu sítio edificações históricas que retratam as áureas tipologias arquetípicas correntes na época. Para uma melhor compreensão da localização do objeto, foi feita uma análise do mercado imobiliário da cidade levando em conta aspectos econômicos, demográficos, e geográficos. Buscou-se entender da melhor forma possível como estava distribuída a população sob a malha urbana, e como essa está preparada para o crescimento da cidade. Todo o diagnóstico é de suma importância a partir do momento em que se vislumbra um projeto de caráter inovador e conceitual dentro de uma cidade interiorana.

Mapa 01. Mapa do cidade e das vizinhas, imediatas ou não.

67


Análise do Mercado Imobiliário: bairros setorizados por valorização

Centro da cidade

Figura 27. Duchas ao fundo da cozinha do Vitale Loft, Nova York, EUA.

Área de intervenção

Vetores de crescimento

Áreas passíveis de expansão

Condomínios fechados

Loteamentos privados em lançamento

N

Bairros + valorizados $$$

Bairros – valorizados $

Mapa 02.

No mapa acima os bairros foram classificados mediante a sua valorização imobiliária, destacando-se também alguns fenômenos desse mercado. Uma forte postura no município que vem atraindo investimentos nos últimos anos, são os condomínios fechados, os quais já iniciaram obras, e a expectativa é que em menos de 2 anos já estarão em funcionamento. Na área de lançamentos, alguns loteamentos instalados próximos a bairros já existentes acabam funcionando como uma expansão destes. As áreas passíveis de expansão, estão completamente inseridas na malha urbana, e sendo assim, dotadas de infraestrutura necessária para sua ocupação.

68


Análise do Mercado Imobiliário: bairros setorizados por adensamento

Centro da cidade

Figura 27. Duchas ao fundo da cozinha do Vitale Loft, Nova York, EUA.

Área de intervenção

N

Adensamento alto Adensamento médio Adensamento baixo

Mapa 03.

O município de Santa Rosa de Viterbo possui um adensamento regularmente distribuído. As áreas de adensamento alto na maioria das vezes coincidem com bairros de classe média baixa, justamente por se tratarem de conjuntos habitacionais na maioria. Um outro foco de adensamento alto que ocorre na Avenida Presidente Vargas (demarcada em azul no mapa acima), é justificado pela área ter grande importância no ramo comercial e de prestação de serviço. O restante da malha urbana é dotada de um adensamento médio, sem grandes inflações habitacionais, nem significativa quantidade de lotes vazios ou menos habitados.

69


Renda por bairro no município

Centro da cidade

Figura 27. Duchas ao fundo da cozinha do Vitale Loft, Nova York, EUA.

Área de intervenção

‘ N

>renda

<renda

Mapa 04.

Acima pode-se observar o mapa que classifica os bairros mediante a renda familiar que habita cada um deles. Após análise é notório que as maiores rendas se polarizam ao redor do centro da cidade, sendo a maior localizada no Jardim Morumbi e Parque do Sol Nascente.

70


Análise do uso do solo

Centro da cidade

Figura 27. Duchas ao fundo da cozinha do Vitale Loft, Nova York, EUA.

Área de intervenção

Residencial Comércio

Prestação de Serviço Institucional

Área Verde

Indústria

Vazio

N

Mapa 05.

A malha urbana do município tem seu uso apropriado predominantemente pelas residências, e as áreas de comércio e prestação de serviço não se apresentam de maneira relevante em mapa quando se classifica as quadras por predominância. Sendo assim foi destacado os corredores criados por essas duas tipologias, os quais formam as principais avenidas (destacadas em preto no mapa acima).

71


A área intervenção está localizada no bairro Jardim Morumbi, em Santa Rosa de Viterbo. O lote, é, na verdade, um conjunto de sete lotes que medem em 9,75x29,25m cada. Assim totalizase como área de intervenção 1.996m². Nos mapas ao lado é possível perceber a relação do entorno (círculo vermelho) com o centro da cidade (circulo amarelo), o qual estão distanciados por 1km, levando como referência a igreja matriz, levando 12 minutos de caminhada, 3 minutos de bicicleta ou 5 minutos de carro. A escolha do local foi determinada por ser um bairro com forte tendência de expansão, e assim, a tipologia aqui proposta serviria como uma alternativa às residências vigentes ali.

N

Figura 61. . .

N

N

Figura 62.

Figura 63

.

.

.

. . 72


Evolução projetual


Em um primeiro momento foi a pensado a ideia de pavilhões, sendo 1 compartilhado e os outros privados. Porém o resultado ainda ficou muito relacionado à tripartição presente nas residências atuais, e a ideia de coabitação acabou se interligando ao conceito de condomínio fechado. Nesse momento mudou-se a área de intervenção, passando de uma quadra de 22 lotes, que totalizavam 7.380m², para o local apresentado anteriormente com 1.996m². Diminuindo a área de intervenção, o conceito de cohousing se propagou com mais facilidade e então passou a se idealizar uma coabitação para 8 famílias. Estudando diversas tipologias desta como a família nuclear tradicional, composta, família poliamoros entre outras. Esse estudo não foi feito para que projeto fosse voltado especificamente para elas, mas de um modo em que ele pudesse abrigá-las, se fosse o caso.

Croqui 11

Croqui 12

75


Com o novo terreno em mãos era hora de alinhar o programa e definir as áreas para cada uso. A maioria dos usos comuns,

que não se vinculam tanto ao espaço doméstico,

estariam localizadas no térreo semi-público, caso do coworking, sala de estudos, e academia. As funções de caráter mais doméstico, como refeição, entretenimento e descanso foram dipostas nos pavimentos acima. No primeiro esboço nessa nova dimensão o objeto seria apenas térreo com 1 pavimento superior. No decorrer do projeto adotou-se aberturas na laje do 1º pavimento com visão para o térreo, e assim os módulos que foram "vazados" precisaram ser dispostos acima. Lembrando que todo o plano de massas foi trabalhado em cima da modulção de 5x5m que facilitariam a estrutura metálica de 10x10m.

Croqui 13

Croqui 14

76


O térreo ganhou uma nova dimensão a partir do estabelecimento das áreas de jardim. A intenção foi criar áreas de convívio e que ao mesmo estivessem reservadas pelos jardins. Abaixo verifica-se uma intervenção no pavimento térreo, redesenhando as áreas de jardim. Ao lado, um croqui ilustrativo da ideia de módulos vazados nos pavimentos, vista em planta e corte.

Croqui 15

Croqui 16

77


Projeto


Figura .64 VisĂŁo externa do projeto, observada a partir do sudoeste.

79


O

projeto parte do princípio de integrar pessoas, estreitar laços em um era tão

individualista, buscando uma sustentabilidade espaço físico. Tratando de viabilizar o significado de lar, retomando características da vizinhança de tempos passados, e usando ela como base para aplicação do conceito de cohousing. Pensando em uma habitação que fosse adaptável a diversos locais e circunstâncias, mesmo que a forma estética se dilua, mas sempre preservando o conceito, ou melhor, a essência do projeto.

Como

partido projetual, layouts e integrados, com total liberdade para se modificar, além de claro, respeitar a individualidade dos moradores em uma habitação compartilhada. Com um programa pensado com base nas reflexões acerca cotidiano contemporâneo, adotouse espaço para coworking, estudos, atividades físicas, e entretimento. Assim atendendo quaisquer possíveis necessidades de seus moradores, de modo sempre a vislumbrar uma qualidade de vida considerável, isto é, atender boa parte de suas necessidades dentro da própria residência. A fachada principal do projeto tem seu recuo de 5 metros voltado para as vagas de estacionamento, as quais estão cobertas pela estrutura metálica que permeia todo o projeto. Estrutura que funciona como elemento estruturador dos eixos de circulação no, além de oferecer uma cobertura em um objeto que se preserva tão aberto. Uma faixa verde protege o edifício, dando maior privacidade para os ambientes térreos. Com intuito de oferecer uma fachada mais limpa e privada, as aberturas de áreas sociais ficaram voltadas para o interior do edifício, assim minimizou-se o impacto das esquadrias na elevação. Visando trazer um traduzir um pouco da linguagem interna para externa, as vegetações na cobertura foram cruciais.

80


Figura 65. Fachada principal (oeste) do projeto.


82


+1

RUA DR. RENATO PALMA ROCHA

B Playground

4

+2

rampa

S

inclinação 5%

A

A

Área multiuso

ML

9

ML

ML

ML

ML

Área privada 1

17 18 16

2

21 22 20 21 19 20 18 19 17

4 4 3

D

25E(0,18 23E(0,17m) m) 24P(0,29 22P(0,32m) m)

ML

16

Elevador Elevador

5 5

22 23

1 1

Lavanderia coletiva

Sobe Sobe S S

Estacionamento

Espaço de refeição coletivo

23

Estacionamento

15 15

14 14

13 13 12 12 11 11 10 10 9

8 8 7 7 6 6

Playground

24 25

Desce D D

Ref.

3

1

Espaço multiuso

Área privada 2

Área privada 3

Ref.

Ref.

Piscina

Sala de Estudos

Espaço multiuso

17

20

19

18

22

21

16

23E(0,17 m) 22P(0,30 m)

23

Espaço multiuso

14

1 2 3

Área privada 4

15

13 12

4 5

11

6

10

9

8

7

2

N B

0

+1

+2

ESCALA 1/500

Espaço multiuso W.C

Cozinha

IMPLANTAÇÃO

Área multiuso

RUA MIGUEL SANTIAGO

Sala de entrenimento

Coworking

S

0

RUA OVANDRO SINTRA

Academia


B Playground

4 rampa

S

inclinação 5%

A

A

Área multiuso

ML

ML

ML

ML

ML

ML

15

14

9

11

13

12

10

8 16

7

Estacionamento

23 24

25E(0,18 m) 24P(0,29 m)

Lavanderia coletiva

22

Sobe

21

Estacionamento

D

1

20

2

19

Elevador

4 3

S

18

5

17

6

25

Academia

Área multiuso W.C

Cozinha

Coworking

+0,00m

3

1

Ref.

Piscina

N B

0

+1

+2

ESCALA 1/300

2

Térreo

Sala de Estudos


B

4

Ref.

MLL

Ref.

Ref.

Ref.

Ref.

MLL

Cozinha coletiva

A

MLL

Área privada 1

17 18

4

20

Elevador

5

19

6

21

3

22

2

23

1

D

23E(0,17 m) 22P(0,32 m)

16

7

Playground

15

14

9

11

13

12

10

8

S Sobe

Desce

Espaço de refeição coletivo

D

Sala de entrenimento

Espaço multiuso

Ref.

Ref.

Área privada 3

Ref.

17

18

20

19

23

21 S

16

23E(0,17 m) 22P(0,30 m)

D

22

Espaço multiuso

14

1 2 3

Área privada 4

15

13 12

4 5

11

6

10

9

8

7

2

N B

ESCALA 1/300

Área privada 2

1º PAVIMENTO

3

1

Espaço multiuso

+4,50m

A

Horta


B

4

A Área privada 8 Ref.

Ref.

Elevador

Espaço multiuso

Desce D

S

+8,30m

3

1

Área privada 7

D

Espaço multiuso

S

Área privada 5

Ref.

2

N B

ESCALA 1/300

Área privada 6

2º PAVIMENTO

Ref.


2

N

B

ESCALA 1/300

COBERTURA

+12,10m

3

1

B

4

A A


ESCALA 1/100

+12,10 3 Cobertura

+8,30 2 Segundo Pavimento

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

TALUDE PERFIL NATURAL DO TERRENO

+12,10 3 Cobertura

+8,30 2 Segundo Pavimento

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

2

ELEVAÇÕES

1

RAMPA 5% INCL.


ESCALA 1/100

+12,10 3 Cobertura

+8,30 2 Segundo Pavimento

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

+12,10 3 Cobertura

+8,30 2 Segundo Pavimento

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

4

ELEVAÇÕES

3


+8,30 2 Segundo Pavimento

ESCALA 1/100

+12,10 3 Cobertura

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

A.A +12,10 3 Cobertura

+4,50 1 Primeiro Pavimento

±0,00 0 Térreo

B.B

CORTES

+8,30 2 Segundo Pavimento


Figura 66. Visão do pátio multiuso no térreo.


98


Figura 67. VisĂŁo do piscina e entorno no tĂŠrreo.


100


Figura 68. VisĂŁo do piscina e entorno no tĂŠrreo.


102


Figura 69. Visรฃo espaรงo multiuso do 1ยบ pavimento


104


Figura 70. Visรฃo do espaรงo multiuso do 1ยบ pavimento.


106


Figura 71. Visรฃo do terraรงo da รกrea privada 8 no 2ยบ pavimento.


108


Figura 72. Croqui esquemรกtico da fachada leste.


110


ReferĂŞncias


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