Época #1158 (21.09.2020)

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! ! o v si e u HORA DE l m c i x r E P s e t VOLTAR n a p i O QUE JÁ SE SABE QUE c i t ! r t c FUNCIONA E O QUE DEVE SER e pa l e S EVITADO NO RETORNO DOS ALUNOS À ESCOLA por Ullisses Campbell, Ana Letícia Leão e Bruno Alfano

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EPOCA MENOS IGREJA, MAIS BOLSONARO O PARTIDO DA UNIVERSAL SE TRAVESTE PARA CRESCER por Gustavo Schmitt e Bernardo Mello

UM GIGANTE EM BAIXA

A PETROBRAS ENCOLHE, INVESTE MENOS E PERDE ESPAÇO por Ramona Ordoñez e Bruno Rosa

21.09.20

STREAMING OU CINEMA

ESTREIAS DE MULAN E TENET INDICAM O CAMINHO PÓS-COVID por Pedro

Willmersdorf

EPOCA.GLOBO.COM Nº 1158 CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROXIMADAMENTE 4,65%

EXEMPLAR DO ASSINANTE VENDA PROIBIDA






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dos editores

CONTRA QUEIMADAS, MAIS PASTO ue coincidência macabra vive o Brasil, Q que, num intervalo de um ano, assistiu a dois de seus principais biomas serem atingi-

dos por queimadas em proporções jamais vistas — e que transcorreram ao longo de uma gestão do Executivo que prega sem qualquer recato o afrouxamento de regras ambientais, a exploração das terras protegidas e o abandono das populações nativas. Segundo o MapBiomas, uma parceria entre universidades, ONGs e institutos de pesquisa, os alertas de desmatamento no Pantanal quadruplicaram em um ano. Em 2020, foram 61 em uma área de 11 mil hectares. Apenas um era autorizado pelo Ibama. O restante, ilegal. Com maior área desmatada, multiplicaram-se as queimadas propositais, feitas para “limpar” a terra para o plantio — o mesmo receituário visto na Amazônia no último ano. Com o desmatamento como política de governo, desmatadores se sentem cada vez mais convidados a se apropriar de terras das quais não têm necessariamente a posse e promover queimadas para torná-las aptas ao plantio. Antes comum para a pecuária, a terra pantaneira tem sido usada mais recentemente para o cultivo da soja, o que implica o uso de mecanismos de “limpeza” da vegetação nativa. Na segunda-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação que investiga cinco fazendeiros suspeitos de terem ateado fogo no Pantanal, num movimento orquestrado similar ao chamado “Dia do Fogo”, registrado na Amazônia no ano passado e cujas imagens correram e chocaram o mundo. O descaso ganhou contornos desmoralizantes quando, só depois de quase 20% do território do Pantanal esvair-se em cinzas, o go-

verno federal finalmente reconheceu se tratar de uma emergência, na tarde da segunda-feira — mesma data em que o governo do próprio estado de Mato Grosso do Sul declarou estado emergencial. Enquanto a polícia vasculhava endereços de pecuaristas em Campo Grande, o texto redigido pelo governador Reinaldo Azambuja apontava uma “grave estiagem” somada a “outros fatores” para justificar as queimadas, sem fazer qualquer referência a suspeitas de ações criminosas. O Pantanal é o maior bioma úmido do mundo. Tão inédita é a tragédia que se abate sobre a região que o Ministério do Meio Ambiente não dispunha de mecanismos para dar conta do estrago: não há técnicos, equipamentos nem logística suficientes para cuidar dos animais feridos, resultando nas cenas chocantes exibidas nas últimas semanas na TV e em redes sociais, em que voluntários tiveram de cumprir o papel que seria dos órgãos ambientais. Por respeito a um patrimônio único dos brasileiros, o Ministério do Meio Ambiente teria de, por obrigação, expor um plano de combate ao desastre. Em vez disso, o ministro Ricardo Salles postou um vídeo com conteúdo de desinformação negando queimadas na Amazônia e depois disse que, por “razões ideológicas”, o manejo do fogo não foi feito corretamente no Pantanal. Salles sugeriu que, se os pecuaristas tivessem mais espaço para pasto, o gado comeria a matéria orgânica acumulada no solo — que, segundo ele, é a principal causa do alastramento do fogo. A conclusão do ministro é estarrecedora: contra queimadas que destroem os biomas brasileiros, a solução é mais pasto.



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do leitor

escreva para epoca@edglobo.com.br

ÉPOCA 1157

parece representar muito mais “suborno” a tribunais superiores, para manter Diniz à frente do sistema, que “serviços”, para treinamento de mão de obra, mantidos por federações da Indústria e Comércio. Foi necessária a intervenção da Operação Lava Jato, sempre ela, para mostrar que advogados ligados a pessoas públicas — entre eles Frederic Waseff, que defendia Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro — advogavam para facilitar as traficâncias do empresário. Talvez esse seja o motivo de o ministro Paulo Guedes nunca ter passado a tesoura no sistema, prometida desde o começo do governo Bolsonaro. Abel Pires Rodrigues, Rio de Janeiro, RJ

ORLANDO DINIZ Em nova fase da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal aponta o envolvimento de advogados renomados em um esquema de tráfico de influência que desviou R$ 151 milhões para manter o empresário no comando do Sistema S do Rio

Nessa milionária história do empresário Orlando Diniz, no comando do surrupiado Sistema S do Rio de Janeiro, sigla famosa por abrigar várias instituições de vital importância para o desenvolvimento do estado, o “S”

A FÓRMULA ERRADA O que motiva a subida de preço dos alimentos e o que a história mostra que não se deve fazer para tentar contê-la

A questão que ora levanto não tem nada a ver com a lei da oferta e procura; diz respeito aos diversos indexadores da inflação, que servirão de base para o aumento dos salários e dos contratos, principalmente o reajuste dos aluguéis e das tarifas públicas. Há uma discrepância gritante entre o IPCA, do IBGE e o IGP-M e o IGP-DI da FGV. De janeiro a agosto, o acumulado do IPCA é 0,70%, enquanto o IGP-M atinge 9,64% e o IGP-DI

11,13%. Os índices da FGV sempre foram, ao longo dos anos de inflação, os balizadores mais confiáveis do mercado. Costumam ser mais elevados por capturarem os aumentos ocorridos no atacado, porém, num período mais longo, costumam se ajustar aos demais. No caso em questão, há uma diferença considerável, que, se não for reduzida drasticamente, punirá indistintamente os assalariados, principalmente os mais pobres. Dirceu Luiz Natal, Rio de Janeiro, RJ

PENSAMENTO CRÍTICO Monica de Bolle escreve que a economia está ideologizada há tempos, sobretudo no Brasil

Monica de Bolle levanta mais um tema interessantíssimo para nossas reflexões: pensamento crítico. Nestes tempos de debates com o fígado, é de suma importância pensar antes de verbalizar ou postar. Ciência é inquestionável por obviedade. Economia é pensar “fora da caixa” às vezes, para saber se adaptar aos imprevistos que nos são impostos. Referências antes tidas como inquestionáveis precisam ampliar o leque de possibilidades sempre. Novas janelas sempre se abrem em meio ao caos reinante. O ambiente precisa sempre estar arejado. Ainda mais em tempos de pandemia. Márcio Barbosa, Rio de Janeiro, RJ


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DE ONDE VEM A RESISTÊNCIA ÀS VACINAS? Helio Gurovitz afirma que quem não toma se beneficia dela sem arcar com nenhum ônus e que vacinar envolve responsabilidade diante dos outros

Acho que a resistência a vacinas vem de uma errada interpretação do que é liberdade. Podemos dizer que liberdade é semelhante ao amor, ou seja, não prejudica, não machuca, não põe o outro em risco. Quando você prejudica o outro de qualquer maneira que seja, mesmo que minimamente, você não está usufruindo de sua liberdade. No mínimo você está confundindo direito pessoal com dever de cidadão. Mesmo que a maioria esteja vacinada, muitos dos vacinados podem ter suas imunidades estremecidas por várias situações, facilitando assim pegar as doenças que já são protegidas por vacinas. Assim, se todos estão vacinados, a chance de isso acontecer com quem está mais fragilizado, mesmo vacinado, diminui demais. As vacinas que são oferecidas para a população têm comprovação de qualidade e eficácia científica. Governo nenhum vai querer aplicar vacina para botar a população doente e ele mesmo ter de pagar para curá-la. Portanto, sejamos sensatos, as vacinas devem ser sempre muito bemvindas, aceitas e tomadas por todos. Mônica Delfraro David, Campinas, SP

DIRETOR-GERAL Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE NEGÓCIOS Ricardo Rodrigues DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO COMERCIAL Tiago Afonso DIREÇÃO DE AUDIÊNCIA Ricardo Fiorotto e Silvio Dias DIREÇÃO EDITORIAL Daniela Tófoli e Sandra Boccia MERCADO ANUNCIANTE | SEGMENTOS — FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, INFRA/LOG, INDÚSTRIA/ENERGIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Emiliano Morad GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA João Carlos Meyer EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Catarina Augusta Pedroso dos

Hansenn |

Santos, Edvaldo da Silva, Fábio Bastos Ferreira de Andrade, Francimaria Pacheco Santos, José Carlos Brandão, Milton Luiz Abrantes, Selma Teixeira da Costa | SEGMENTOS — VAREJO, TELECOM,

EDITORA-CHEFE Ana Clara Costa epocadir@edglobo.com.br

Fernanda Delmas (coordenadora), Alessandro Alvim, André Miranda e Flávia Barbosa

EDITORES EXECUTIVOS – INTEGRADA Maria

EDITOR Eduardo Salgado COLUNISTAS Guilherme Amado, Helio Gurovitz, Larry Rohter e Monica de Bolle ÉPOCA ON-LINE Fábio Brisolla (editor), Paolla Serra e Rodrigo Castro EDITOR DE ARTE Mateus Valadares DESIGNERS Daniel Vides Veras e Gustavo

Amaral

SECRETARIA EDITORIAL Marco Antonio Rangel FOTOGRAFIA | EDITOR André Sarmento

dos Reis Galvão de França (coordenadora), Kátia Regina de Almeida Silva e Mariana Rimoli Dumans

REVISÃO Araci

CARTAS À REDAÇÃO | EPOCA@EDGLOBO.COM.BR ASSISTENTE EXECUTIVA Jaqueline Damasceno REDAÇÃO | RIO DE JANEIRO | EPOCA@EDGLOBO.COM.BR

Rua Marquês de Pombal, 25, 3º andar, Cidade Nova, CEP 20.230-240 – Rio de Janeiro – RJ

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Avenida Nove de Julho, 5229, 9º andar, CEP 01407-907 Itaim Bibi – São Paulo – SP

TECNOLOGIA, MÍDIA, ELETRÔNICOS, GOVERNO SP, SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Ciro Horta Hashimoto | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Lilian Cassamassimo Baima EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Christian Lopes Hamburg, Roberto

Loz Junior, Priscila Ferreira da Silva, Karina Penachio Primon |

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Karina Zuccaro, Lilian de Marche Noffs, Marcelo Malzoni Barreto | SEGMENTOS – EDUCAÇÃO, ALIMENTOS E BEBIDAS, PUERICULTURA,

ENTRETENIMENTO, OUTROS – DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Lucio Miguel Del Ciello | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Cesar Augusto Picchi Daltozo, Marco Guidi, Nara Moinho | RIO DE JANEIRO — DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Marcelo Lima da Cunha Mattos | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Darlene Bastos Campos Machado (Varejo) e Monica Monnerat Silva (Beleza, Moda, Shopping) | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Alessandra Fernandes, Beatriz Alves, Claudia Coutinho, Daniela Chahim, Kalinka Araújo, Marley Trindade | GERENTES DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA (GOVERNO, SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS, ENERGIA: Luiz Manso | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Robert Correa (Energia), Claudia dos Santos e Marcelo Agueda Valentin (Governo) | COORDENADOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA (PEQUENOS E MÉDIOS ANUNCIANTES): Rubens Guedes | COORDENADOR DE NOVOS NEGÓCIOS: Fabio Paz Lago | BRASÍLIA — GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Luiz Manso | EXECUTIVA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Luciana Gomes Burnett | CONTATO PUBLICIDADE Candida Ana Vieira | ESCRITÓRIOS REGIONAIS — DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Lucio Miguel del Ciello | GERENTE MULTIPLATAFORMA Thais Éboli Haddad | DESENVOLVIMENTO COMERCIAL | G.LAB Edward Pimenta | PROJETOS ESPECIAIS SP/RJ: Leonardo André | EVENTOS SP: Daniela Valente | EVENTOS RJ: Claudia Lobo | OPERAÇÕES ESPECIAIS: Anderson Góes (gerente)

ÉPOCA É UMA PUBLICAÇÃO SEMANAL DA EDITORA GLOBO S.A. Avenida 9 de Julho, 5229 01407-907 São Paulo SP Distribuidor exclusivo para todo o Brasil Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações GRÁFICA Plural Indústria Gráfica Ltda. Av. Marcos Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700 06543-001 Tamboré, São Paulo, SP

O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa — no 2012, da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol. VENDAS CORPORATIVAS E PARCERIAS 11 3767-7226 parcerias@edglobo.com.br PARA ANUNCIAR SÃO PAULO (11) 3736-7128 / 3767-7447 3767-7942 / 3767-7889 3736-7205 / 3767-7557 RIO DE JANEIRO (21) 3380-5930 / 3380-5923 BRASÍLIA (61) 3410-8953

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PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO Endereçar cartas ao Diretor de Redação, Época. Caixa Postal 66260, CEP 05315-999 – São Paulo, SP. Fax: 11 3767-7003 – E-mail: epoca@edglobo.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. ÉPOCA reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. Só podem ser incluídas na edição da mesma semana as cartas que chegarem à Redação até as 12 horas da quarta-feira.


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PERSONAGEM

DA SEMANA

PANTANAL Inoperância do governo, ação criminosa de fazendeiros e uma das mais graves secas dos últimos anos foram o combustível perfeito para uma das maiores tragédias ambientais do país

RECUPERAÇÃO

PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO Mesmo com o comércio reabrindo, as escolas seguem fechadas em quase todo o país. O que a experiência internacional e a de Manaus ensinam sobre a retomada das aulas presenciais 28. DIREITA UNIVERSAL SUBMISSÃO REPUBLICANA A estratégia do partido da igreja de Edir Macedo de se distanciar da religião e se aproximar cada vez mais de Jair Bolsonaro

AMANDA PEROBELLI/REUTERS

36. CONCORDAMOS EM DISCORDAR

IRAPUÃ SANTANA × FERNANDO HOLIDAY O advogado e o vereador discordam sobre a divisão proporcional de recursos do fundão para candidaturas negras 40. TANQUE BAIXO UM NOVO INFERNO ASTRAL Afetada pela crise e pelos males do passado, a Petrobras encolhe e perde protagonismo entre as petrolíferas mundiais


58. 7 PERGUNTAS PARA... REGINA NAVARRO LINS A psicanalista diz que a busca da individualidade é o grande componente das relações contemporâneas — e que se tornou ainda mais importante com a pandemia

COLUNISTAS

62.

61. ALLAN SIEBER TESTE DE AUDIÊNCIA

DE VOLTA À SALA ESCURA A chegada de Tenet e Mulan às telas indicará se os lançamentos de filmes terão melhor desempenho no cinema ou em streaming após a pandemia 46. VIVI PARA CONTAR HÁ DOIS VÍRUS: MADURO E O CORONAVÍRUS Refugiado na embaixada do Chile, líder opositor venezuelano conta como foi ganhar a liberdade depois de acordo costurado por Henrique Capriles

50. PANDEMIA DIGITAL INFLUENCERS IMUNIZADOS O avanço dos testes da vacina contra a Covid-19 no país faz aumentar o debate sobre a eficácia do tratamento e voluntários se tornam influenciadores nas redes

39. MONICA DE BOLLE O espectro do populismo na América Latina 49. HELIO GUROVITZ A importância do racismo nas eleições americanas

66. LARRY ROHTER Sobre provar o próprio veneno GUILHERME AMADO O colunista está de férias capa: Raphael Alves

DIVULGAÇÃO

54. LONGE DO PÓDIO UM MAL OLÍMPICO Um documentário e o movimento de atletas acendem debate sobre assédio moral na ginástica e os limites da relação entre professores e ginastas

sumário 21.09.20


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PERSONAGEM DA SEMANA por

Leandro Prazeres

PANTANAL


PERSONAGEM DA SEMANA

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Inoperância do governo, ação criminosa de fazendeiros e uma das mais graves secas dos últimos anos foram o combustível perfeito para uma das maiores tragédias ambientais do país a manhã de quarta-feira, a procuradora N da República Samara Dalloul e o delegado da Polícia Federal Alan Givigi acorda-

Uma área equivalente ao tamanho de cinco Distritos Federais queimou só neste ano no bioma. É um aumento de 213% em relação ao mesmo período de 2019 FOTO: MAURO PIMENTEL / AFP

ram cedo e preparavam o espírito para um dia que prometia ser agitado. Pelos planos feitos havia algumas semanas, os dois deveriam se dirigir ao aeroporto de Corumbá, em pleno Pantanal sul-mato-grossense, e embarcar em um helicóptero para deflagrar a Operação Matáá, que investiga incêndios criminosos em fazendas da região. O voo, porém, nunca aconteceu. Foram paralisados pelo que combateriam. “A fumaça das queimadas não deixou. Os pilotos não tinham visibilidade para decolar. Em vez do helicóptero, usamos um barco”, contou Dalloul. A ação contra fazendeiros foi a primeira resposta na esfera criminal contra uma tragédia de proporções sem precedentes que se abateu sobre a maior planície alagada do mundo e uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta. Há semanas, o fogo consome o bioma a taxas avassaladoras sem que as autoridades consigam dar mostras de reação à altura. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1º de janeiro e 15 de setembro, o Pantanal registrou 15.477 focos de incêndio. Isso representa um aumento de 213% em relação ao mesmo período de 2019, que já havia registrado números extremamente altos em comparação aos anos anteriores. Além da quantidade, o que assombra é o apetite do fogo. No dia 3 de agosto, os incêndios haviam destruído 1,2 milhão de hectares da área. Pouco mais de um mês depois, a estimativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é que a destruição tenha chegado a 2,9 milhões de hectares, equivalente a 19% de todo o bioma. É como se uma área do tamanho de cinco Distritos Federais pegasse fogo destruindo a vegetação nativa, matando ou afugentando milha-

res de animais como a onça-pintada e criando uma nuvem de fumaça tóxica que ameaça chegar nos próximos dias a centros urbanos como São Paulo. Diante de tamanha catástrofe, a primeira pergunta óbvia é: como isso pôde acontecer? Para o pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, a tragédia no Pantanal pode ser comparada a um acidente aéreo. “Quando um avião cai, nunca é por um único motivo. O Pantanal está queimando por conta de uma conjunção de fatores”, afirmou Nobre, que fez parte do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Para o cientista, esses incêndios são resultado de alterações no clima e na geografia da região causadas pelo homem. Por um lado, o aquecimento global vem aumentando as temperaturas no planeta, e no Pantanal não é diferente. Por outro, o desmatamento desenfreado da Amazônia e do Cerrado nos últimos anos fez diminuir a capacidade de produção de chuva que abastece os rios que alagam o bioma. Com temperaturas altas e chuvas mais escassas, disse Nobre, as condições para o fogo estão dadas. Bastou mais um “empurrãozinho” humano: as queimadas feitas por fazendeiros da região. “Não pode ser acidente”, disse o delegado Alan Givigi ao comentar as queimadas na região. As suspeitas da PF são de que fazendeiros estejam aproveitando a temporada seca para queimar a vegetação nativa e abrir mais espaço às criações de gado. Em alguns casos, os investigadores constataram que, logo depois de uma área ter sido destruída pelo fogo, já era possível ver gado pastando no local. “O Brasil se dedicou muito para chegar a esse ponto. Chegamos à distopia climática”, lamentou Antônio Nobre. Mas como em quase toda catástrofe, as proporções do desastre não se explicam apenas pelos fatores externos. O tamanho da


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PERSONAGEM DA SEMANA

Mesmo sabendo da crise em potencial, o Ibama atrasou-se na contratação de brigadistas que poderiam ter minimizado os impactos das queimadas na região

tragédia também pode depender da perícia (ou imperícia) da “tripulação”.

não é possível dizer que os “tripulantes” E não podiam imaginar que algo assim pudesse acontecer. ÉPOCA analisou notas téc-

nicas e boletins meteorológicos produzidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (CPTEC) ao longo deste ano e constatou que, pelo menos desde abril, os dois órgãos federais já haviam produzido dados que indicavam que a estiagem e as temperaturas no Pantanal poderiam ser severas no trimestre entre junho, julho e agosto, início da temporada de fogo na região. Mesmo com todas essas informações à disposição, o Ibama só lançou o edital para contratar brigadistas em junho e só terminou o processo seletivo no final de julho,

MANDA PEROBELLI/REUTERS

quando os incêndios já haviam destruído centenas de milhares de hectares e estavam praticamente fora de controle. “Quando você tem os brigadistas mais cedo, eles conseguem fazer ações preventivas. Neste ano, não tivemos tempo para fazer isso”, afirmou o analista ambiental do Ibama em Mato Grosso do Sul Alexandre Pereira. A região de Corumbá conta com apenas 30 homens do instituto. Em nota, o Ibama disse que o servidor responsável pelo atraso foi substituído. O governo ainda cortou parte das verbas destinadas ao combate a incêndios florestais. Os orçamentos das duas principais ações caíram 30% — de R$ 83 milhões em 2019 para R$ 57 milhões em 2020. Além disso, técnicos com décadas de experiência foram afastados de postos-chaves, dando lugar a militares e civis com pouca ou nenhuma experiência nessa área.

A Polícia Federal suspeita que as queimadas foram impulsionadas por ações criminosas de fazendeiros


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RECUPERAÇÃO

PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO

FOTO: RAPHAEL ALVES


RECUPERAÇÃO

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Mesmo com o comércio reabrindo, as escolas seguem fechadas em quase todo o país. O que a experiência internacional e a de Manaus ensinam sobre a retomada das aulas presenciais por Ullisses Campbell, de Manaus, e Bruno Alfano, do Rio de Janeiro

Ana Letícia Leão, de São Paulo,

assados seis meses desde a suspensão das aulas em todo o Brasil P por causa da pandemia do novo coronavírus, pais, alunos, professores, governos estaduais e municipais, especialistas em educação, médiAs escolas particulares de Manaus, com protocolos sanitários mais exigentes, também têm observado a resistência dos pais em mandar os filhos para o colégio por medo de contágio

cos e, em alguns casos, até juízes se perguntam se é hora de voltar às escolas e como esse processo deve se dar. Uma boa medida do interesse por essa discussão é o gráfico que registra a procura no Google usando as palavras “retorno aulas presenciais”. Desde o final de agosto, o número de buscas por esses termos só faz crescer. Com bares e shopping centers abertos em várias cidades, a pergunta em quase todo o país é: quando as escolas voltarão a funcionar presencialmente?


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RECUPERAÇÃO

Manaus foi a primeira cidade a reabrir escolas públicas e privadas. O número de contágios e de mortes não subiu, mas o desleixo na aplicação de protocolos sanitários assustou parte dos pais e enfraqueceu a adesão às aulas presenciais

FOTOS: RAPHAEL ALVES

No Rio de Janeiro, o governo estadual marcou o retorno para o dia 5 de outubro, mas a batalha judicial em que se transformou a reabertura das escolas privadas em meados de setembro colocou em dúvida se a data será mantida. Em São Paulo, 20% dos municípios retomaram as aulas nas escolas para reforço e acolhimento de alunos. A volta definitiva deverá ocorrer em 7 de outubro, segundo o governo estadual. Como datas já foram anunciadas antes e depois adiadas, muitos duvidam que desta vez as escolas vão reabrir. Outros nove estados estão realizando planos de retomada, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Educação. Apenas o Rio Grande do Norte comunicou que o ensino presencial está suspenso até o ano que vem. Na discussão que tomou conta do país, há geralmente dois lados digladiando. Os

que defendem o adiamento por acreditarem que retomada é obrigatoriamente sinônimo de aumento do contágio e os que querem uma volta total para estancar os enormes prejuízos educacionais. No meio dessa guerra, existem grupos de especialistas em saúde e também em educação tentando promover um debate que analise caso a caso. “A ideia de que o retorno será possível apenas depois da vacina é inviável, já que a previsão de imunização é incerta”, disse Lígia Bahia, professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação, com sede em São Paulo, é outra que argumenta em favor de um plano de ação. “Por mais difícil que seja, essa é uma discussão que precisamos ter. O calendário eleitoral não ajuda. Com

Em Manaus, as escolas particulares (acima) foram reabertas em julho e as públicas em agosto, apenas para alunos do ensino médio. O governo do Amazonas agora planeja liberar o ensino básico


RECUPERAÇÃO

medo de desagradar a parte do eleitorado, políticos têm optado por adiar, em vez de fazer uma análise mais realista da situação”, disse.

e todas as cidades do país, Manaus é o único laboratório a céu aberto. Ao todo, D são 123 colégios públicos estaduais já funcio-

nando há mais de um mês para atender 106 mil estudantes de ensino médio e um número menor de escolas privadas abertas desde o começo de julho. Nenhuma outra cidade reabriu nessa escala e há tanto tempo. Na avaliação das primeiras cinco semanas desde o reinício da rede pública, houve um ou outro ponto positivo, como a decisão de dividir turmas em grupos menores. Mas se a cidade fosse receber uma nota pelo processo de reabertura, ela muito provavelmente seria baixa. Usando como parâmetro os protocolos defendidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referência no Brasil, a conclusão, até o momento, é que Manaus cometeu muitos erros. As aulas nas escolas públicas foram reiniciadas em 10 de agosto sem previsão de testes para professores que eventualmente apresentassem sintomas do vírus. Por pressão do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas, o governo estadual começou a oferecer esse serviço, mas com testes rápidos, não com o exame conhecido por RT-PCR, o melhor disponível. Feitos os testes, o governo estadual contou 361 professores com corona-

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vírus. Esses profissionais acabaram sendo afastados, mas os alunos que tiveram contato com eles não foram testados nem obrigados a ficar em quarentena, como preconizam os protocolos. Na terceira semana de setembro, ÉPOCA visitou oito escolas públicas de Manaus. Nas duas indicadas pela Secretaria de Educação do Amazonas, todos os alunos usavam máscaras, havia álcool em gel à disposição e distanciamento social. Nos seis colégios a que a reportagem teve acesso sem acompanhamento das autoridades locais, o quadro era bem distante do ideal, com estudantes com máscaras no queixo, aglomerações e falta de álcool em gel na entrada dos prédios. A seu favor, a Secretaria de Educação argumenta que o número de casos confirmados de Covid-19 na cidade caiu desde o início das aulas e o de óbitos tem se mantido numa mesma média diária. Não há consenso sobre o que tem feito esses indicadores apresentarem esse viés, mesmo com tanto descuido nas escolas. Manaus foi uma das cidades que mais sofreram com a pandemia e é possível que tenha atingido um certo grau de imunidade. “Estamos fazendo monitoramento detalhado desses dados diariamente no município”, disse Luis Fabian Pereira, secretário estadual da Educação, que pretende reiniciar as aulas do ensino básico antes do final de setembro. O placar geral da evolução do coronavírus em Manaus pode ser favorável à política de reabertura do governo, mas não tem sido


RECUPERAÇÃO

MARIANA GREIF/REUTERS

suficiente para conquistar a confiança de boa parte dos pais. Pelas contas do sindicato dos professores, que faz campanha contra a volta às aulas presenciais, somente 30% dos alunos têm frequentado as escolas. Já a Secretaria de Educação afirma que o percentual é de 70%. Sem um levantamento independente, é difícil saber quem está mais perto da realidade. Mas o que os números das duas entidades mostram é que o estado tem falhado na campanha de convencimento dos pais para que mandem os filhos para o colégio. Quando ÉPOCA visitou a Escola Estadual Vasco Vasquez, na Zona Leste de Manaus, havia salas de aulas com apenas seis alunos, quando deveriam ter pelo menos 20. “Professores da Vasco Vasques pegaram Covid-19 e os alunos correram de medo”, relatou Ana Cristina Pereira Rodrigues, presidente do sin-

dicato dos professores do estado. Nas escolas particulares, os cuidados com prevenção são, em geral, maiores. Na Martha Falcão, uma das mais caras e tradicionais de Manaus, os alunos entram separadamente e deixam os sapatos do lado de fora das salas. Entre as cadeiras há lâminas de plástico. Mesmo com investimentos em prevenção como esses, cerca de 27 mil alunos da rede privada preferiram continuar apenas com o ensino remoto. “As pessoas estão inseguras, e com razão. A incerteza é enorme. Para haver adesão, as escolas precisam mostrar aos pais que seguem à risca os protocolos”, disse Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, entidade voltada à educação. Há um mês, uma consulta do instituto de pesquisa Datafolha revelou que 78% dos brasileiros acreditavam que a volta às aulas agravaria a pandemia.

O Uruguai é reconhecido como um modelo a ser seguido pelos municípios brasileiros (acima). No país vizinho, foi dada prioridade às populações mais vulneráveis e sem acesso à internet


RECUPERAÇÃO

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Para Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação, o calendário eleitoral está atrapalhando o debate sobre a volta às aulas. Com medo de sofrer nas urnas, prefeitos candidatos à reeleição estão empurrando o assunto com a barriga

DIVULGAÇÃO/ CPII

O Rio de Janeiro se tornou um ringue judicial sobre a reabertura das escolas (acima)

lessandra Cristina Araújo, de 44 anos, A ainda não permitiu que seu filho de 15 anos volte a frequentar a Escola Estadual Ruy Araújo, no bairro Cachoeirinha, em Manaus. “Em casa, todo mundo se abraça e se beija o tempo todo. Acho que ainda não é o momento de voltar para a escola”, disse. Ela contou que visitou o colégio do filho para ver como estava o “novo normal”, mas não gostou do que viu. Em sua opinião, todos agiam como se não houvesse pandemia. Os dados gerais de contágio em Manaus podem mostrar uma realidade positiva, mas ela não pretende mandar o filho para o que vê como um foco de coronavírus. Admite que o rapaz não se concentra nas aulas remotas e provavelmente perderá o ano. “Prefiro que reprove a alguém de minha família morrer com Covid 19”, afirmou.

No plano individual, a decisão de Araújo de manter o filho em casa e cogitar que repita o ano pode até ter um final feliz. Com o apoio da mãe, ele provavelmente continuará seus estudos. Numa escala maior, o déficit de aprendizagem provocado pelo fechamento das escolas como um todo é gigante. Não está descartada a hipótese de que governos optem por aprovar todos os alunos, independentemente de terem tido aulas pela internet ou um bom aproveitamento nas atividades on-line. Com a crise econômica, ainda existe o temor de que muitos desistam de estudar. Se o que deixou de ser ensinado aos alunos não for compensado, os efeitos serão duradouros, acredita o Banco Mundial. A perda de renda para cada um dos jovens e crianças da América Latina ao longo da vida como trabalhadores é estimada em US$ 10


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RECUPERAÇÃO

Pelos cálculos do Banco Mundial, cada estudante da “geração Covid” perderá US$ 10 mil ao longo da vida ativa se as lacunas provocadas pelo cancelamento de aulas presenciais não forem preenchidas

mil, medida por uma paridade que leva em conta o poder de compra. “A geração Covid tem seu futuro colocado em perigo. Devemos fazer todo o possível para reduzir as perdas de aprendizado, com ações concretas para mitigá-las enquanto as escolas estejam fechadas, e remediá-las uma vez que reabram”, disse João Pedro Azevedo, economista líder da área de educação do Banco Mundial e um dos principais autores do estudo sobre queda futura de renda. Uma outra projeção, feita pelo Insper, uma instituição de ensino de São Paulo, e pela Fundação Roberto Marinho, estima que cada jovem brasileiro que não concluir o ensino básico gerará uma perda de R$ 372 mil.

A

experiência internacional mostra que existe um caminho a ser seguido. Um levantamento realizado pela Vozes da Educação, uma consultoria técnica, analisou o processo de retomada das aulas em 20 países. Foram escolhidos lugares com diferentes realidades, como África do Sul e Alemanha. Em comum, os casos de reabertura de sucesso contaram com queda na curva de casos do vírus, rígido cumprimento dos protocolos sanitários e comunicação eficiente e transparente dos governos para ganhar o apoio da opinião pública. “A redução da taxa de transmissão comunitária é o primeiro parâmetro que precisa ser considerado. Só quando isso estiver controlado é que se pode garantir a segurança para professores, funcionários e alunos”, disse Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e colunista de O GLOBO. Quando se fala no que aconteceu em outros países, o caso de Israel costuma ser muito citado. As aulas foram retomadas em maio, houve aumento do contágio em questão de dias e o governo teve de voltar atrás. O problema lá foi que várias questões hoje

defendidas em protocolos foram negligenciadas. O uso da máscara, por exemplo, foi displicente, toda a rede foi chamada de uma vez e não foram feitos grupos menores de alunos com horários de chegada e saída diferentes. Parte dos estados brasileiros que estão preparando a volta tem levado em conta os erros dessas experiências malogradas. “Não estamos falando de uma volta com 30, 40 alunos por sala, mas oito. Sem dúvida, o ensino híbrido — meio presencial, meio à distância — veio para ficar”, disse Rossieli Soares, secretário estadual de Educação de São Paulo. Outro ponto que costuma ser lembrado nas discussões sobre a volta às aulas é que o Brasil nunca vai ter a organização da Alemanha ou da Dinamarca. Felizmente, não se precisa ir tão longe em busca de uma referência bem-sucedida. “O modelo de abertura das escolas seguido pelo Uruguai, mundialmente elogiado, pode ser algo para o Brasil se espelhar”, disse Carolina Campos, fundadora do OMS/AFP

Videoconferência da Organização Mundial da Saúde, órgão que tem ajudado os países-membros com conselhos sobre a retomada das aulas presenciais


RECUPERAÇÃO

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BRUNO ROCHA/FOTOARENA

Infectologistas fazem coro em favor da reabertura apenas em cidades com índices decrescentes da taxa de transmissão do novo coronavírus. Tudo para evitar a lotação de UTIs

Vozes da Educação. “É verdade que o Uruguai é um país pequeno, mas ainda assim pode nos ajudar a pensar sobre nossos municípios”, completou. Os uruguaios, por exemplo, iniciaram o processo de reabertura com os estudantes de populações vulneráveis e sem conexão com a internet. ntre os especialistas da área médica, exisE te o entendimento de que os parâmetros para a tomada de decisões precisam ser pensados da forma mais territorial possível. “Cidades grandes como Rio e São Paulo têm indicadores diferentes em diferentes bairros ou regiões. Por isso, esses indicadores devem ser pensados, de preferência, escola por escola”, disse Patrícia Canto, pneumologista da Fiocruz que coordenou o estudo sobre o retorno às aulas presenciais.

Foi pensando numa análise focada em cada colégio que a ONG Impulso, de São Paulo, criou uma ferramenta digital, disponível no site Coronacidades.org, que reúne materiais e ferramentas para apoiar gestores públicos. Foram montados questionários para entender a realidade de cada escola, abordando assuntos como gestão escolar, distanciamento social e limpeza. Depois de responder “sim” ou “não” a 74 tópicos, o gestor pode avaliar o que precisa ser feito para garantir segurança na retomada. “Sem um planejamento adequado, é muito difícil que uma escola tenha 100% de aprovação, até mesmo na rede privada. O questionário dá um norte dos protocolos necessários”, ressaltou João Abreu, que antes de fundar a Impulso fez parte da consultoria em gestão pública da Universidade Harvard.


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BUDA MENDES/GETTY IMAGES

SUBMISSÃO


DIREITA UNIVERSAL

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A estratégia do partido da igreja de Edir Macedo em se distanciar da religião e se aproximar cada vez mais de Jair Bolsonaro por

Gustavo Schmitt e Bernardo Mello

o último dia 7 de setembro, data da N convenção que oficializou a candidatura à reeleição do prefeito do Rio, Marce-

Jair Bolsonaro recebe de Marcelo Crivella a Medalha Marechal Zenóbio da Costa. O presidente tem evitado associar seu nome às eleições municipais, mas deu apoio à reeleição de Crivella no Rio

lo Crivella, o auditório reservado pelo Republicanos em um shopping da Zona Norte da cidade, a cerca de 500 metros da sede da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), estava lotado. Respeitando parcialmente os protocolos sanitários de distanciamento, os membros do partido de Crivella e de sete outras legendas que lhe davam apoio ficaram aglomerados de pé. Presidente estadual do PP e político acostumado a falar com diferentes públicos, o deputado Dionisio Lins se empolgou com as analogias religiosas e afirmou que considerava Crivella “um homem tocado pelo Espírito Santo”, representando uma suposta “luta do Bem contra o Mal” nesta eleição municipal. Convidado a falar em seguida, o deputado federal Jorge Braz (Republicanos-RJ) — ele, sim, pastor da Universal — abriu seu discurso, religiosamente comedido, com iro-

nia: “Parece que o deputado Dionisio está mais pastor do que eu”. Apesar de a proximidade com a igreja render créditos num período de ascensão das denominações neopentecostais na política, o Republicanos (antigo PRB), criado em 2005 sob forte influência da Igreja Universal, quer agora desvencilhar-se da imagem de partido a serviço de Edir Macedo para tentar postular-se como conservador. O objetivo é atrair um leque mais diverso de candidatos não necessariamente associados à igreja e aumentar seu protagonismo político. E Crivella, único prefeito que a sigla já elegeu numa capital, é hoje o principal símbolo desse grande mosaico identitário. A vitória do bispo e sobrinho de Macedo entusiasmou os evangélicos em 2016, quando o presidente da sigla, Marcos Pereira, afirmou a ÉPOCA que, um dia, um evangélico seria presidente do Brasil. A previsão não se concretizou, mas a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto

REPUBLICANA


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DIREITA UNIVERSAL

O bispo da Universal, Edir Macedo (abaixo). A cúpula quer que o partido se distancie da igreja para atrair candidatos e eleitores de outras denominações evangélicas e até mesmo católicos Flávio e Carlos Bolsonaro se filiaram ao Republicanos no Rio de Janeiro, assim como sua mãe, Rogéria

deu uma guinada na legenda. Com isso, a sigla hoje busca se apresentar como um partido conservador de direita, colado à imagem de Bolsonaro e com o discurso neutro em relação à igreja. Em abril, foram filiados os filhos do presidente Carlos e o senador Flávio, além da ex-mulher Rogéria Bolsonaro. O zero quatro, Jair Renan, também já ouviu que, caso decida entrar para a política, será bem-vindo na sigla. Mas a transformação moralizante buscada pelos caciques do partido, expoentes do centrão e aliados de todos os governos, enfrenta alguns desafios práticos: as acusações de corrupção que se empilham nos tribunais envolvendo alguns de seus representantes. Tais suspeitas de irregularidades atingem o presidente Marcos Pereira e principalmente o prefeito Marcelo Crivella, cuja administração enfrenta uma série de denúncias. Pereira foi acusado na delação da JBS de acertar um pagamento de R$ 6 milhões, a título de propina, quando era ministro da Indústria e Comércio Exterior do presidente Michel Temer. Ele também foi acusado por recebimento ilegal de dinheiro da Construtora Odebrecht. Ele nega irregularidades Crivella, por sua vez, esteve em foco nas últimas semanas em razão de investigações do Ministério Público (MP) sobre o chamado “QG da Propina”. Trata-se de um suposto esquema de corrupção em que credores da prefeitura do Rio pagariam propina para receber por serviços não prestados. O caso mostra o empresário Rafael Alves, filiado ao Republicanos e ligado a contraventores, como um dos nomes de maior influência no governo Crivella. Segundo os investigadores, Alves cuidava de pagamentos e nomeações em um cardápio variado de serviços, desde a iluminação pública até o turismo. Um de seus principais aliados nessa atividade transversal na máquina pública era, ainda segundo o MP, Mauro Macedo, tesoureiro

ADRIANO MACHADO/REUTERS


DIREITA UNIVERSAL CHIQUITO CHAVES/AGÊNCIA O GLOBO

pessoas indicadas por pastores de diferentes denominações, cunhando o famoso bordão “fala com a Márcia”, assessora do prefeito à época. A investigação pode até deixar Crivella inelegível, mas o prefeito já conseguiu arquivar pedidos de afastamento e a abertura de uma CPI sobre o assunto.

H

de Crivella nas últimas campanhas eleitorais e primo de Edir Macedo. O envolvimento de Mauro Macedo, mais do que Rafael Alves, empurra o prefeito para o olho do furacão. Apelidado de Mestre dos Magos por sua onipotência na campanha vitoriosa à prefeitura, em 2016, Mauro Macedo é um dos aliados mais antigos e próximos a Crivella justamente pela relação que antecede a política. “O Mauro é a família. É por isso que o Rafael Alves fala que poderia derrubar não só o Crivella, mas a igreja, se falasse o que sabe”, disse um ex-funcionário do prefeito, referindo-se a mensagens obtidas pelos investigadores no celular de Alves. Até agora, o principal problema que Crivella havia arrumado pela atenção dedicada às igrejas foi um pedido de impeachment, que virou também investigação do Ministério Público, motivada pelo evento Café da Comunhão, realizado em julho de 2018, na sede da prefeitura. Nele, Crivella prometeu vantagens na fila de hospitais públicos a

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á quatro anos, a força da Universal nas urnas do Rio de Janeiro se traduziu na eleição de apenas três vereadores ligados à igreja: João Mendes de Jesus, Bispo Inaldo Silva e Tânia Bastos. Neste ano, a aproximação de Crivella com o presidente Jair Bolsonaro poderá se traduzir numa ampliação sem precedentes da base parlamentar do Republicanos. Enquanto os três vereadores eleitos em 2016 deverão concentrar os votos da igreja na busca por mais um mandato, a nova leva de candidatos do partido terá nomes que vão desde o ator Paulo Cintura ao DJ Tubarão, conhecido no funk carioca. Na esteira do alinhamento a Bolsonaro, o Republicanos terá ainda ao menos meia dúzia de candidatos ligados à área de segurança, sendo três egressos da Polícia Militar, um da Marinha, um inspetor penitenciário e a inspetora-geral da Guarda Municipal, Tatiana Mendes. A pedido de Carlos, o partido abraçou também seu principal colega na Câmara Municipal, o vereador Leandro Lyra, eleito pelo partido Novo. Luis Carlos Gomes da Silva, bispo da Universal e presidente estadual do Republicanos, enxergou a onda Bolsonaro como chance de estimular mais membros da igreja a também tentarem a sorte de ser “puxados” nesta eleição. “A política só chegou a esse ponto porque ficamos de fora dela. Agora, o partido vai fazer mais de dez vereadores”, calculou Silva. Nesta eleição, o Republicanos lançará cabeças de chapa em capitais de nove estados (RJ, SP, AM, PA, RO, MA, MG, ES e RS). A maioria deles se esforça para associar suas

A nova leva de candidatos do partido nas eleições municipais será um mosaico identitário, com nomes que vão do ator Paulo Cintura ao DJ Tubarão, conhecido no funk carioca


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propostas ao presidente — e aguarda retribuição. Embora tenha dito que não se envolveria no pleito, Bolsonaro tem deixado sua participação mais evidente nas disputas nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, em sua primeira entrevista como candidato, o deputado Celso Russomanno deu logo o recado de que é “alinhado” a Bolsonaro. Sua fala buscava contrapor o PSDB, que domina a prefeitura e o governo estadual e vive às turras com o presidente. Bolsonaro chegou a tentar, sem sucesso, interferir no PSL — partido que o levou ao Planalto e com o qual rompeu logo depois — para trocar a deputada Joice Hasselmann por um vice na chapa do Republicanos, na capital paulista. No Rio, o candidato do PSL à prefeitura, Luiz Lima, não terá o apoio da família presidencial, aliada de Crivella. Ao oficializar a candidatura de Celso Russomanno à prefeitura de São Paulo num pequeno auditório de um antigo casarão na Avenida Indianópolis na última quarta-feira, na Zona Sul de São Paulo, Marcos Pereira buscou explicar a recente proximidade com o presidente. Trata-se de uma mudança e tanto para um político que, apesar de ocupar o posto de vice-presidente da Câmara dos Deputados, não era sequer recebido por Bolsonaro no Palácio do Planalto até poucos meses atrás. Pereira jura não se tratar de oportunismo. “O Republicanos não se declara conservador para se aproveitar da ascenção do presidente. Essa nossa mudança veio ao encontro do que a sociedade brasileira e paulistana querem”, disse. Mas, a exemplo do que ocorre em todo o centrão, o conservadorismo é um conceito bem mais elástico do que se imagina. Na eleição municipal, a legenda terá coligações com partidos de todo o espectro político, inclusive da esquerda: DEM, PROS, PSDB, Progressistas, MDB, PSD, PSB e PDT. No Recife, o socialista João Campos, filho do ex-governador Eduardo

JORGE WILLIAM/AGÊNCIA O GLOBO

Campos, morto em um acidente aéreo em 2014, contará com o apoio do Republicanos. Em Aracaju, será Edvaldo Nogueira, do PDT, o depositário dos votos da Universal. m sua estratégia de diversificação, o ReE publicanos tem aberto as portas a membros das mais variadas denominações cris-

tãs e até a políticos de outras religiões. Em março, já havia filiado o também deputado Marco Feliciano, aliado de primeira hora de Bolsonaro, que é de uma igreja evangélica ligada à Assembleia de Deus, concorrente da Universal. Diante dos novos quadros, o presidente Marcos Pereira refuta a tese de influência da igreja, afirma que há independência no partido e cita dados de que, dos 34 deputados da bancada federal, só 14 são da igreja. “A maioria são pessoas de outras denominações religiosas ou de outras áreas”, disse Pereira. Mas há dúvidas sobre tal independência ser colocada em prática. O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou

O presidente Marcos Pereira refutou a tese de influência da igreja nas decisões internas, afirmou que há independência no partido e disse que, dos 34 deputados da bancada federal, só 14 são da Universal


DIREITA UNIVERSAL

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (à esq.), comanda o partido desde 2011. No período, a bancada na Câmara dos Deputados saltou de oito para 34 parlamentares Celso Russomanno (abaixo) selou sua candidatura à prefeitura de São Paulo pelo partido com o aval de Jair Bolsonaro

que já foi convidado para migrar para o Republicanos, mas explicou que nos momentos decisivos a palavra final sempre é da Igreja Universal. “Vejo a Igreja Universal muito exclusivista no segmento evangélico. Só querem misturar-se quando tem conveniência pra eles. Tenho meus dois pés atrás. No fundo, os nomes da Universal sempre prevalecem”, disse. Sob o comando de Pereira desde 2011, quando tinha oito deputados federais eleitos, a sigla mais que quadruplicou a bancada na Câmara dos Deputados, ultrapassando partidos tradicionais como PSDB, PDT e DEM. Os planos para o futuro são ambiciosos. Nesta eleição, a “meta” é triplicar o número de prefeitos, que hoje são cerca de 100, e também de vereadores nas Câmaras — eles somam 1.200 cadeiras pelo país. Marcos Pereira reforçou que a guinada conservadora começou antes do fenômeno do bolsonarismo, quando uma pesquisa encomendada pelo partido nos idos de 2017 mostrava certa simpatia do eleitorado às

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ideias defendidas pela direita, sobretudo no campo econômico. Em maio de 2019, quando o nome PRB foi abandonado em detrimento de Republicanos, houve até mesmo a adoção de um pensador para lastrear a nova fase da legenda: o filósofo político americano Russell Kirk (1918-1944), amplamente citado por Olavo de Carvalho em suas “aulas”. Os novos tempos de proximidade com o poder trouxeram também uma boa dose de autoestima para os integrantes do partido, com destaque para o próprio Marcos Pereira, que não esconde a vaidade ao ver seu nome hoje na bolsa de apostas para a vaga “terrivelmente evangélica” que poderá vir a surgir no STF com a aposentadoria de Celso de Mello. “Eu me sinto honrado, mas meu foco é o Legislativo”, disse ele. A modéstia é colocada à parte, porém, quando Pereira é confrontado sobre as articulações que conduz para a substituição de Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados. Aí, com voz entusiasmada, não esconde a empolgação. “Estamos trabalhando.” CLAUDIO BELLI/AGÊNCIA O GLOBO


APRESENTADO POR

Maior evento de vinhos portugueses do Brasil ganha edição digital em 2020

Para degustar em casa

Vinhos de Portugal se torna on-line em 2020, com provas de rótulos inéditos, envio de garrafas aos participantes e passeio virtual Quem diria que o vinho e a internet se tornariam uma dupla tão perfeita? Durante a quarentena, as conversas on-line, acompanhadas de brindes à distância, ajudaram a amenizar a saudade e se tornaram a marca de um tempo. Por isto, nada mais natural que o maior evento de vinhos portugueses do Brasil ganhar uma edição digital em 2020. Os ingressos para a 7ª Edição do Vinhos de Portugal já estão à venda e várias atrações já podem ser acompanhadas pelo site. Do dia 23 ao dia 25 de outubro serão realizadas lives para todo o país, com 62 produtores e 15 provas com críticos

brasileiros e portugueses. Quem mora no Grande Rio e na Grande São Paulo tem a opção de adquirir ingresso e receber vinhos em casa. Mas, mesmo quem mora em outras cidades pode comprar as lives, as provas e os vinhos. O evento será pela primeira vez realizado no país inteiro. Qualquer pessoa em qualquer lugar do Brasil pode comprar os ingressos, já que a plataforma do evento tem a lista de importadoras de cada cidade, onde pode-se encontrar os vinhos. O participante que adquirir o ingresso com a gift box receberá em casa um rótulo surpresa de um dos produtores presentes,

a revista do evento e brindes como o guia de enoturismo do Centro de Portugal. Das 15 provas, quatro serão inéditas com a presença do produtor e duração de uma hora. Os participantes terão a oportunidade de sorver até quatro vinhos premium, muitos dos quais não são vendidos no Brasil. Será uma ótima oportunidade de compartilhar este momento com a família, o companheiro ou aquele amigo querido, mesmo à distância. SALÃO DE DEGUSTAÇÃO Nesta 7ª Edição do Vinhos de Portugal, cinco críticos do evento conduzem o


CONTEÚDO PUBLICITÁRIO PRODUZIDO POR Foto Fernando Donasci/Divulgação

Evento será pela primeira vez realizado simultaneamente no Brasil e em Portugal Salão de Degustação. Estarão presentes o único Master of Wine de língua portuguesa, Dirceu Vianna Junior; o crítico brasileiro do Valor Econômico, Jorge Lucki; o diretor do jornal Público, Manuel Carvalho; e os críticos portugueses Luís Lopes e Rui Falcão. Outra novidade é que, pela primeira vez, haverá uma prova especial de azeites com Ana Carrilho, do Esporão; e as jornalistas Luciana Fróes, de O Globo, e Alexandra Prado Coelho, do jornal Público. A prova é gratuita para os cem primeiros consumidores que comprarem ingressos. Vinhos de Portugal é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, com parceria de ViniPortugal, apoio do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Comissão Vitivinícola do Alentejo, Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portuga l, Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), Mozak e AGO, participação da Comissão Vitivinícola do Dão e Azeites Esporão, projeto da Out of Paper, rádio oficial CBN e apoio institucional do SindRio. PASSEIO VIRTUAL NAS VINÍCOLAS Uma plataforma digital leva o consumidor a uma viagem pelo mundo dos vinhos portugueses das oito regiões vinícolas, de

UM ENCONTRO DE SABORES E APRENDIZADO 23 a 25 de outubro Ingressos: vinhosdeportugal2020.com.br

Vinícolas portuguesas poderão ser visitadas em passeio virtual

norte a sul do país. Nos meses de julho e agosto, uma equipe viajou pelas quintas de 62 produtores para fazer vídeos e fotografias que ilustram o passeio virtual. Com acesso gratuito, a plataforma já pode ser acessada para esta incrível viagem virtual! Trata-se do único conteúdo digital que revela ao consumidor o mundo dos produtores de vinho, com histórias e imagens inéditas das quintas e informações sobre os vinhos que vão desde as fichas técnicas até onde comprá-los no Brasil. Cada produtor terá uma página exclusiva. TOMAR UM COPO Uma das mais populares das edições anteriores, a sessão “Tomar um Copo” também terá formato digital. Vinte e dois produtores, a maioria do Alentejo, do Porto e Douro recriaram a atividade

VINHOS PREMIUM EM CASA

PROVAS ESPECIAIS

Os participantes das provas que moram no Grande Rio e na Grande São Paulo recebem de 3 a 4 garrafas de vinhos premium, muitos dos quais não são vendidos no Brasil.

Das 15 provas, quatro serão especiais, com a presença dos produtores: Luís Pato, João Portugal Ramos, Pedro Baptista e o casal Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares.

em vídeos onde degustam vinhos e falam sobre cultura. Nenhum país do mundo reúne informações de produtores agregadas em um só espaço e com este forte apelo visual. A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que há quatro anos é presença garantida no evento, também viajou pelas regiões do Douro e Dão e encabeça uma série de três vídeos inéditos. VINHOS COM Em 2020, haverá também o “Vinhos Com”, com viagens que unem a enologia com a sustentabilidade. Um dos principais destinos desta incursão em vídeo é o centro de Portugal, onde o passeio começa na Serra da Estrela, na praia fluvial mais alta do país, atravessa uma vila e termina em um hotel, campeão de sustentabilidade e paraíso dos surfistas de todo o mundo.

GIFT BOX

Moradores do Grande Rio e da Grande São Paulo podem receber em casa uma gift box com um rótulo surpresa de um dos produtores presentes, a revista do evento e outros brindes.

62 PRODUTORES

O evento reúne 62 produtores de nove regiões: Alentejo, Bairrada, Beira Interior, Dão, Lisboa, Porto e Douro, Tejo, Vinhos Verdes e Península de Setúbal.


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CONCORDAMOS EM DISCORDAR

O advogado e o vereador discordam sobre divisão proporcional de recursos do fundão para candidaturas negras por Marlen Couto

SANTANA×HOLIDAY

MONTAGEM SOBRE FOTOS: KARIME XAVIER/FOLHAPRESS | ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA

IRAPUÃ SANTANA, 33 anos, fluminense O que faz e o que fez: advogado e consultor jurídico da Educafro e do Livres. Deu suporte à consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que levou a Corte a decidir pela divisão de recursos do fundo eleitoral para candidatos negros. É doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

FERNANDO HOLIDAY, 23 anos, paulista O que faz e o que fez: vereador de São Paulo pelo Patriota. Foi eleito em 2016 com 48 mil votos, depois de ganhar projeção no Movimento Brasil Livre (MBL), uma das organizações responsáveis por convocar protestos de rua pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff


CONCORDAMOS EM DISCORDAR

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A distribuição proporcional de recursos do fundo eleitoral e do tempo de rádio e TV para candidaturas negras, como decidiu o TSE, é necessária? O que explica o baixo número de candidatos negros eleitos no Brasil? IRAPUÃ SANTANA Historicamente, os partidos políticos investem me-

nos tempo e dinheiro nas candidaturas de pessoas negras. Em 2016, dos 5.500 municípios, em mais de 2.500 não existia sequer um candidato a prefeito negro. Fui pesquisar o porquê disso e a primeira hipótese em que pensei foi a distribuição demográfica de brancos e negros no Brasil. Achei que boa parte desses casos de cidades sem candidatos negros estaria na Região Sul, por ter proporcionalmente menos negros em sua população. Mas verifiquei que havia discrepância em todas as regiões do país. A partir disso, comecei a observar como se deram as eleições anteriores e vi que, quanto maior o cargo disputado, menor o número de negros candidatos. Além disso, em algumas cidades, os candidatos brancos chegavam a ter três vezes mais investimento de verba pública do que os candidatos negros. Entendi que o que efetivamente modifica esse panorama é o dinheiro investido. Se estamos falando de dinheiro público, temos de nos perguntar por que esse dinheiro não está chegando às pessoas negras. A Constituição veta esse tipo de discriminação, afinal de contas todos são iguais perante a lei. Todos têm de ter a mesma chance de concorrer. FERNANDO HOLIDAY Sou contra essa medida. Acredito que, para que os negros alcancem posições de destaque, especialmente nas eleições, eles precisam ter um caminho respeitável até a vitória. E, para ter um caminho respeitável, eles não podem ter uma ajuda que os outros não tiveram, porque acabam não sendo dignos dos votos das pessoas. Isso está relacionado a um problema mais grave no país, que é o racismo enraizado. Para que o racismo seja vencido, os negros precisam ser respeitados. A meu ver, essa política instituída pelo TSE, de garantir verbas para candidaturas negras somente por conta da cor da pele, não ajuda na superação desse preconceito e não ajuda a alcançar esse respeito que todos nós queremos. O plenário do TSE decidiu que a mudança deveria valer apenas em 2022, mas o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou em decisão liminar que a divisão proporcional comece a valer a partir deste ano. Em sua avaliação, a regra deve valer já para esta eleição?

IS O que ficou decidido por uma votação apertada no TSE é que valeria só a partir de 2022, por conta do artigo 16 da Constituição. Entretanto, existem precedentes no Supremo Tribunal Federal. O próprio artigo 16 fala especificamente de casos em que a lei eleitoral venha a ser modificada, para os quais se aplicaria o princípio da anterioridade, o que exige que a mudança ocorra um ano antes da eleição. Mas a gente não está falando de lei, e sim de uma interpretação dentro de um procedimento. E houve precedente justamente nas cotas femininas em relação a isso, que foram aplicadas no mesmo ano também. FH A decisão do plenário do TSE era muito clara em relação à validade a partir da próxima eleição. Uma decisão monocrática como essa, de um único ministro, acaba desrespeitando a própria Corte. Apesar de discordar da política como um todo, acho pior ainda o fato de a decisão de um ministro prevalecer sobre um plenário. É evidente que isso vai interferir nas eleições de forma que nenhum candidato esperava. Vai bagunçar o jogo.


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CONCORDAMOS EM DISCORDAR

Que impacto as mudanças terão nas eleições? IS Deverão ter impacto positivo nas eleições e na sociedade brasilei-

ra. Com mais representantes negros em cargos públicos, teremos um olhar mais acurado para as populações marginalizadas das cidades. Saneamento, assistência de saúde e outros assuntos ficam mais evidentes na atuação de pessoas mais periféricas, por exemplo, nas câmaras municipais e prefeituras. Um exemplo: existe um plano nacional para saúde integral da população negra no SUS, mas ele foi implantado em apenas 57 municípios. Esse tipo de política poderá ser reavaliado a partir do momento em que mais candidaturas negras sejam efetivamente eleitas. FH Possivelmente, teremos mais candidatos negros, mas no fim do dia não teremos muitos mais políticos negros eleitos, porque as pessoas não vão votar por conta da cor da pele do candidato, mas pelas ideias que defendem. Se as ideias da maioria dos candidatos negros não condisserem com os desejos da sociedade, de nada vai adiantar, a não ser para aumentar a tensão racial no Brasil. Há risco de os partidos deixarem de lançar candidatos negros para não terem de destinar mais recursos para essas candidaturas? IS As pessoas mal-intencionadas sempre vão tentar burlar regras fei-

tas para o bem. A partir do momento em que se observar má-fé dos partidos, existem duas consequências possíveis. A primeira é o julgamento das contas eleitorais ser rejeitado. A segunda é a reação da própria sociedade. Vai pegar muito mal para o partido se ela verificar que a sigla está impedindo candidaturas negras. FH É possível. Na prática, acredito que alguns partidos vão manter os candidatos negros que avaliam ter potencial e eliminar os que não tenham. Dessa forma, vão evitar dar uma porção grande do fundo eleitoral para candidatos negros. De todo modo, os candidatos que forem eleitos e que usarem essa verba vão ser desrespeitados de alguma maneira por isso, por terem tido acesso a um tipo de privilégio. Além das mudanças definidas pelo TSE, que medidas podem ser tomadas para que o país tenha mais candidatos negros eleitos? IS O principal é o financiamento das campanhas, o dinheiro e o

tempo de rádio e TV, que significam a possibilidade de chegar ao eleitor. Entendo que as cotas para as candidaturas negras são importantes também, mas isso vai ficar para o debate no Legislativo. FH Existe um problema. Claro que as pessoas não estão votando em candidatos negros. A gente vê isso pelo retrato do Congresso e da Câmara dos Vereadores. Só que a cota racial não resolve o problema. O problema está na educação. Os negros, de uma forma geral, precisam ascender socialmente para que tenham condições de se candidatar e ter meios de divulgar suas ideias. Alguns poucos conseguem, como eu consegui por meio das redes sociais. O melhor meio para isso acontecer, a opção mais imediata que nós temos, é uma ampliação de cotas sociais nas universidades em detrimento das cotas raciais, e haver uma conscientização para que mais pessoas privadas doem para candidaturas negras, mas não porque são negros, e sim porque verdadeiramente representam causas demandadas pela sociedade.


M.B. MONICA DE BOLLE É PESQUISADORA SÊNIOR DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS

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mbolle@edglobo.com.br

O ESPECTRO DO POPULISMO NA AMÉRICA LATINA

air Bolsonaro e Andrés Manuel López Obrador (AMLO) Jcaspareciam, no ano longínquo de 2018, duas figuras polítidiametralmente opostas. De um lado, um ex-deputado

candidato à Presidência nitidamente reacionário — extrema-direita passou a ser o termo para designar aqueles que antes eram mais diretamente identificados. Bolsonaro é não apenas reacionário, mas abertamente refratário às instituições que compõem a democracia brasileira. Do outro lado, tínhamos um político de esquerda, com experiência em gestão — havia sido prefeito da Cidade do México —, defensor da democracia e dos direitos dos mais pobres. Ambos demonstravam inclinações populistas, é verdade, mas em todo o resto as diferenças eram brutais. Veio a pandemia. Veio a pandemia e a resposta de um e de outro foi praticamente a mesma. Ignoraram a gravidade do quadro, não adotaram medidas para frear a disseminação do vírus, não fizeram políticas adequadas para resgatar suas economias do desastre. Contudo, gozam de índices de aprovação razoáveis, e, de um modo geral, o povo nas ruas os enxerga com bons olhos. Notem: falei do povo nas ruas.

Tanto AMLO quanto Bolsonaro foram às ruas dizer a ambulantes e outros trabalhadores que essa história de quarentena não fazia sentido pois perderiam seus meios de sobrevivência. Ambos usam um linguajar simples e não escondem seu lado mais rude. Não têm diplomas para ostentar, tampouco acreditam nesses diplomas. Pelo poder da retórica junto ao povo, pela essência de seu populismo desvelado, impuseram suas próprias narrativas sobre o que está acontecendo em seus países. Conseguiram, cada um a seu modo, calar a oposição e não lhe oferecer qualquer alternativa de engajamento com o povo que eles agora chamam de seu. Dói constatar isso? Claro. Mas é essa a realidade das duas maiores economias da América Latina.

O que se passa nas outras? No Chile e na Colômbia, dois países sempre elogiados pela boa condução da política econômica, pelo respeito às instituições, pelas difíceis transformações pelas quais passaram esses países, estão à beira do caos social. Na recente reunião anual da Corporação Andina de Fomento (CAF) tive a oportunidade de dividir um painel com cientistas políticos desses dois países. A avaliação que fizeram foi dura. Disseram que tanto Sebastián Piñera no Chile, quanto Iván Duque na Colômbia estão extremamente frágeis ante a frustração da população. Os problemas econômicos e de saúde pública desses países estão sendo atribuídos às falhas de seus respectivos governos. Há risco de revoltas sociais, quiçá piores do que as que testemunhamos em outro ano longínquo, a segunda metade de 2019. Detalhe mais do que importante: Piñera e Duque são de centro-direita, tecnocráticos, com currículos para esbanjar. O que lhes falta? A capacidade de conectar-se com o povo. Martín Vizcarra, do Peru, também se enquadra nesse critério de falta incapacitante. Haverá eleições presidenciais no Peru em 2021. Haverá eleições presidenciais no Chile em 2021. O desfecho desses pleitos muito dirá sobre os rumos da América Latina. Com eleitores frustrados vítimas da pandemia, da crise e da desigualdade, não é irrazoável supor que haja uma guinada para o populismo. Nesse caso, a Colômbia será a próxima — por lá, há muitos arrependidos de terem votado no centrista Duque e não nos candidatos dos polos. A pandemia tem oferecido múltiplas oportunidades para que os populistas façam aquilo que sabem fazer melhor: encantadores de serpentes, prometem para o povo uma vida melhor enquanto garantem seu próprio futuro político aniquilando a oposição. Se os demais países da região olharem não para as péssimas lições evidentes nas ações do México e do Brasil, mas em como esses líderes foram capazes de superar desafios que pareciam insuplantáveis, poderemos vir a testemunhar algo que não é nada raro na América Latina: o retorno dos populistas. Não daqueles de traços mais leves, como vimos nos anos 2000, mas daqueles que sempre foram responsáveis, no decorrer da história, pelos piores desastres dessa pobre região marcada por oportunidades perdidas e desperdiçadas.


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UM NOVO INFERNO ASTRAL AFETADA PELA CRISE E PELOS MALES DO PASSADO, A PETROBRAS ENCOLHE E PERDE PROTAGONISMO ENTRE AS PETROLÍFERAS MUNDIAIS por

Ramona Ordoñez e Bruno Rosa

Terminal da Transpetro em São Sebastião. A estratégia de Roberto Castello Branco é vender os ativos não relacionados ao pré-sal. A medida é bem avaliada pelo mercado no curto prazo FOTO: DADO GALDIERI/BLOOMBERG


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NO SEGUNDO TRIMESTRE, A PETROBRAS PERDEU O POSTO DE MAIOR EMPRESA DO BRASIL EM FATURAMENTO PARA A JBS. E, EM AGOSTO, VIU A PLATAFORMA DE COMÉRCIO ELETRÔNICO MERCADO LIVRE OCUPAR SEU LUGAR NA BOLSA COMO COMPANHIA DE MAIOR VALOR DE MERCADO EM TODA A AMÉRICA LATINA

N

a maior parte de sua história de quase sete décadas, a Petrobras ocupou o lugar de principal empresa do Brasil. Mas sua majestade vem sendo dinamitada por uma sucessão de más notícias. Noves fora os escândalos de corrupção do passado, no segundo trimestre deste ano ela perdeu o posto de maior empresa do Brasil em faturamento para a processadora de carnes JBS. Em agosto, viu a plataforma de comércio eletrônico Mercado Livre ocupar seu lugar na Bolsa como companhia de maior valor de mercado em toda a América Latina. E, na última segunda-feira, anunciou a redução de seus investimentos entre 2021 e 2025 para algo entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões. É um patamar bem menor que os US$ 64 bilhões do plano estratégico 2020-2024, já desidratado por dificuldades financeiras. A empresa ainda informou que vai se desfazer de mais ativos. Essas mudanças poderiam ser circunstanciais no mundo corporativo, mas ganham um contorno simbólico quando se fala da maior estatal do Brasil, uma empresa que foi protagonista da economia brasileira desde sua criação, nos anos 1950. A estatal, que vinha em uma lenta recuperação da debacle provocada pela corrupção revelada pela Lava Jato e pelas consequências financeiras de investimentos e políticas de preços equivocados, vive nova tempestade. A pandemia derrubou o consumo de combustíveis e os preços do petróleo em todo o mundo. A Petrobras teve um prejuízo de R$ 51,2 bilhões no primeiro semestre e viu aumentar as dificuldades que já vinha enfrentando para vender negócios no intuito de reduzir seus débitos, hoje da ordem de US$ 100 bilhões. Trata-se da petroleira mais endividada do mundo, e esse posto segue até agora incontestável. Um estudo da consultoria

RENATO PINHEIRO/DIVULGAÇÃO/PETROBRÁS


MICHAEL NAGLE/BLOOMBERG

Outras petrolíferas, como a ExxonMobil, têm perdido espaço no âmbito global em razão da baixa no setor de óleo e gás (acima) Ao lado, o então presidente, Getulio Vargas, com uma das mãos suja de óleo. Esse foi um dos símbolos de sua campanha de 1952. Outros sucessores repetiram a imagem

Wood Mackenzie mostra que o nível de endividamento na Petrobras chega a ser mais que o dobro do de outras grandes gigantes globais do setor. O novo inferno astral da Petrobras — cuja privatização já defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo próprio presidente da estatal, Roberto Castello Branco, foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro — coincide com o mau momento da indústria do petróleo no mundo. Baixas contábeis bilionárias e prejuízos também têm penalizado outras grandes petrolíferas, as chamadas majors do setor. Nos Estados Unidos, a ExxonMobil, que já foi celebrada como principal companhia de energia e uma das maiores de seu país, foi retirada do índice Dow Jones Industrial, da Bolsa de Nova York, onde estava desde 1928, para dar espaço para empresas de tecnologia. Neste ano, a anglo-holandesa Shell teve de fazer uma reavaliação do valor de seus ativos (uma baixa contábil, no jargão financeiro) de US$ 16,8 bilhões, uma das maiores entre as empresas que divulgaram seus balanços do segundo trimestre. Foi a única a superar a Petrobras, com baixa de US$ 13,4 bilhões. Em

seguida aparecem a britânica BP (US$ 9,11 bilhões), a francesa Total (US$ 8,1 bilhões) e a americana Chevron (US$ 5,7 bilhões). A diferença da Petrobras em relação às outras petroleiras é sua fragilidade financeira, que a obrigou a reduzir investimentos de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões neste ano e a desencadear um forte corte de custos, que não poupou nem os funcionários: para parte deles, nas áreas administrativas, a jornada e os salários foram reduzidos no auge da crise. A estatal fechou escritórios e abriu programas de demissão voluntária com a meta de reduzir a força de trabalho de 45.500 para 30 mil empregados. Rafael Chaves Santos, gerente executivo de Estratégia da Petrobras, disse que o encolhimento é uma realidade que veio mesmo para ficar: “Uma empresa não é muito diferente de uma família. É igual ao chefe de família que fica desempregado e tem de pagar aluguel, escola do filho e alimentação. É uma coisa parecida com o que aconteceu com a Petrobras quando ocorreu a Covid-19 e ficou todo mundo em casa. Desabou a venda de gasolina, de querosene de aviação. A receita


MAURO PIMENTEL/AFP

foi para o chão, e os gastos continuaram. Por isso tem de fazer as medidas duras para preservar a saúde financeira da empresa”. Esse “novo normal” se reflete em seu novo plano estratégico, para o período até 2024, a ser finalizado em novembro. A companhia se prepara para conviver com os preços do petróleo no mercado internacional em torno de U$$ 50 o barril no longo prazo, distante do patamar acima de US$ 100 registrados em meados da última década, contou o executivo. O último plano estratégico da empresa considerava um patamar mínimo de US$ 65. preço internacional do barril tipo Brent, O referência para a Petrobras, tem apontado perspectivas de alta, com a cotação atual-

mente em torno de US$ 45. Mas agora, para ser mais resiliente ainda à volatilidade dos preços do petróleo, a estatal pretende manter somente os projetos que se mostrarem viáveis com o petróleo cotado a US$ 35 o barril. “O mundo do petróleo vai ficar mais desafiador. Tem um pedaço deste choque que ocorreu agora que não é de curto prazo, é perene”, afirmou Santos, citando a redução

dos deslocamentos facilitada pela tecnologia, o avanço dos carros elétricos e a aceleração da transição energética no mundo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Ele frisou que a empresa não está preocupada com a perda de posições no ranking das maiores, mas focada na comparação com as outras petroleiras. E isso passa por reduzir sua dívida para um patamar de US$ 60 bilhões nos próximos anos, o que não será possível em 2020. O melhor resultado esperado para este ano é manter o patamar de 2019: US$ 87 bilhões. Analistas que acompanham os números da empresa elogiam a estratégia definida pela gestão de Roberto Castello Branco: vender ativos e concentrar esforços na produção dos campos de petróleo do pré-sal para fazer caixa e reduzir a dívida. Mas mostram preocupação em relação ao médio e ao longo prazos diante das transformações globais citadas por Santos. Companhias europeias, como a Total ou a norueguesa Equinor, vêm investindo pesado no desenvolvimento de energias renováveis, algo hoje fora do radar de Castello Branco. “Focar no pré-sal é a decisão correta hoje, pois os

Plataforma de exploração do pré-sal na Bacia de Santos, em Itaguaí. O foco na retirada do óleo, e não em investimentos em energias renováveis, tem suscitado questionamentos de analistas


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COMPANHIAS EUROPEIAS, COMO A TOTAL OU A NORUEGUESA EQUINOR, VÊM INVESTINDO PESADO NO DESENVOLVIMENTO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS, ALGO HOJE FORA DO RADAR DE ROBERTO CASTELLO BRANCO NO PLANO ESTRATÉGICO DA PETROBRAS, FOCADO INTEIRAMENTE NA EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL campos são mais lucrativos e ajudam na geração de caixa. Essas áreas resistem ainda a um preço baixo do barril. Mas, olhando o futuro, é uma estratégia arriscada, até porque a empresa não tem mais atuação no exterior. Num cenário pessimista, a empresa acaba quando o pré-sal acabar”, disse Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da área de Exploração e Produção de Petróleo da Wood Mackenzie na América Latina. Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e consultora da FGV Energia, avaliou que, “ao botar todos os ovos na mesma cesta”, a Petrobras fica mais suscetível a crises. E apontou um risco na estratégia de concentração na produção de petróleo no pré-sal. “Quando acabar, como vai ser?”, questionou. A especialista admitiu que alguns negócios não fazem sentido, como operar gasodutos e campos terrestre, mas criticou a venda de ativos lucrativos como a BR Distribuidora e refinarias em mercados estratégicos para reduzir o endividamento. “Antes a Petrobras buscava fazer tudo. Hoje, estamos no extremo oposto, com a empresa vendendo tudo”, disse. “Não é preciso desmantelar tudo para ser mais eficiente. E se essa estratégia não der certo?” O economista e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar Almeida avaliou que a atual estratégia da empresa é acertada. Segundo ele, o foco na produção do pré-sal e a venda de ativos para reduzir endividamento é uma prioridade da qual a companhia não pode fugir. “A Petrobras não pode ser comparada com as outras empresas em termos de agenda estratégica porque tem um passivo muito grande por causa da crise financeira e do que aconteceu nas gestões anteriores. Isso não é escolha, tem de pagar a dívida. Por outro lado, há projetos de excelente qualidade no pré-sal que só ela tem”, observou.

Castello Branco herdou o plano de venda de negócios — que tem como objetivo arrecadar US$ 26,9 bilhões até 2023 — das gestões anteriores de Pedro Parente e Ivan Monteiro, que iniciaram a reestruturação da empresa no pós-Lava Jato, no governo de Michel Temer. A estatal conseguiu vender alguns negócios, como o controle da BR Distribuidora e a rede de gasodutos TAG, mas ainda não saíram do papel as vendas de ativos como um bloco de oito refinarias, anunciadas ainda no ano passado, e a subsidiária Gaspetro, que detém fatias em várias empresas de distribuição de gás nos estados. Adriano Pires, especialista do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse que o ritmo ainda é lento, mas avaliou que é o caminho certo: “O plano de desinvestimento está andando mais devagar, mas está andando. A Petrobras está concluindo a venda da Liguigás (subisidiária de gás GLP), anunciou a venda de sua participação restante na BR Distribuidora, está vendendo uma série de campos de águas rasas e em terra. E a venda das refinarias está caminhando também. Diante dessa situação que o mundo está vivendo, e também o Brasil, acho até que a Petrobras está se saindo melhor do que se poderia prever”. Para o consultor, a baixa contábil de US$ 13,4 bilhões feita no primeiro trimestre do ano, apesar de ter provocado o elevado prejuízo, foi uma medida pragmática, porque evitou o pagamento de dividendos e preservou o caixa. Ele destacou o aumento significativo das exportações da Petrobras, que já é a maior exportadora de óleo da América Latina. “Apesar dos resultados negativos que teve nos últimos meses, é preciso lembrar que é um ano atípico. Se a empresa não estivesse fazendo as coisas que vem apresentando, o resultado seria pior ainda. Na hora que vier essa vacina, no ano que vem, o preço do petróleo vai subir outra vez”, disse Pires.


Freddy Guevara (à esq. na foto) e o colega Gilber Caro vão a uma manifestação em Caracas depois de serem libertados por ordem do regime de Maduro

HÁ DOIS VÍRUS: MADURO EO CORONAVÍRUS

MANAURE QUINTERO/REUTERS


VIVI PARA CONTAR

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Refugiado na embaixada do Chile, líder opositor venezuelano conta como foi ganhar a liberdade depois de acordo costurado por Henrique Capriles por Freddy Guevara em depoimento a Janaína Figueiredo

dois anos e dez meses refugiado na Fparaiquei embaixada do Chile. Quando saí e voltei Caracas, fiquei impressionado com as

filas nos postos de gasolina. Aqui a gasolina era dada quase de graça. Eu, muitas vezes, abasteci minha moto sem pagar. E não porque eu era deputado ou um político conhecido. Isso acontecia com qualquer venezuelano. Hoje nos falta o básico. Também me impactou o abandono da cidade, está tudo muito descuidado. O trânsito mudou completamente, com menos carros nas ruas. Todos os dias parecem um domingo de tarde. Fiquei surpreso, também, ao ver todas as pessoas com máscaras. Os venezuelanos sabem que se adoecerem podem morrer, em razão da precariedade de nosso sistema de saúde. Minha vida dentro da embaixada era muito simples. Recebia algumas visitas. Alguns políticos como Juan Guaidó (presidente da Assembleia Nacional não reconhecida pelo governo Maduro) foram me ver. Mas era complicado. Como estava numa embaixada, não podia fazer política. Via muitas séries, fazia atividade física, e o mais importante era ter uma rotina. Isso me recomendou um preso político que esteve quase 15 anos detido. Sem rotina você enlouquece. Dependendo do dia, tinha reuniões pela manhã, depois fazia exercício. Não estava esperando sair. Fiquei sabendo de minha liberdade condicional — porque a liberdade de todos os venezuelanos é condicional — pela televisão. Antes de sair, entrei num processo de medo, incerteza, dúvida. De pensar que tudo era uma armadilha, se me obrigariam a ser candidato ou não

(nas eleições legislativas de dezembro, que grande parte da oposição considera uma fraude). Também tinha de decidir onde moraria. Eu entreguei meu apartamento, que era alugado, quando me refugiei na embaixada. Para um jovem de 34 anos como eu, é impossível ter casa própria na Venezuela. Terminei na casa de meu pai. Por enquanto, estou com ele. O fato de poder sair e recuperar minha liberdade, mesmo que seja condicional, é positivo. Mas, se o preço a pagar por essa liberdade era que Henrique Capriles (líder opositor e ex-candidato presidencial, derrotado por Maduro em 2012) decidisse dar seu aval à fraude eleitoral de Maduro, gostaria de ter sido consultado antes. Se dependesse de mim, teria dito que não. Se a consequência de nossa liberdade é que outros participem da fraude eleitoral, o dano é muito grande. Ninguém nos procurou para explicar nada. Não sabíamos que nossa liberdade era parte de um acordo. Na Venezuela não existe Justiça independente, todas as decisões são do regime. Quem decide perseguir e prender é a ditadura. Tive contato com Stalin González (outro dos que negociaram com Maduro) e lhe disse que lamentava muito que tudo tivesse sido resolvido dessa maneira. Se eu quisesse, poderia ter negociado minha liberdade oferecendo coisas ao regime há muito tempo. O que não teriam me dado se eu, em janeiro passado, tivesse respaldado a tentativa de golpe contra Guaidó na Assembleia Nacional? O que não dariam a Leopoldo López (líder opositor que continua


WIL RIERA/BLOOMBERG/GETTY IMAGES

Ninguém nos procurou para explicar nada. Não sabíamos que nossa liberdade era parte de um acordo. Na Venezuela não existe Justiça independente, todas as decisões são do regime refugiado na embaixada da Espanha) se ele dissesse, agora, que está disposto a reconhecer o governo Maduro? Capriles é um ativo importante da oposição, foi candidato presidencial, e o fato de ele ter participado dessa negociação produz uma imagem de divisão importante. Mas também é preciso dar dimensão às coisas. Ele é importante, sim, mas fora da Venezuela devem entender que nem sequer seu partido o apoiou nessa decisão. Temos, a nosso lado, todos os partidos da oposição, toda a Assembleia Nacional, o governo interino, Guaidó, todos dizendo que não devemos participar da fraude. Capriles é a única liderança importante que pactuou com Maduro para participar. Estamos falando de 37 partidos, toda a Assembleia Nacional e, repito, nem mesmo o partido de Capriles o apoiou. A primeira coisa que fiz quando saí da embaixada foi participar de uma reunião do partido. Quis transmitir que temos de lutar

assumindo todos os riscos. Aqui não existe estado de direito. Fui liberado, mas podem voltar a me prender. Não temos as armas nem o Exército conosco. O que depende de nós é fazer tudo que pudermos para pressionar. Hoje Maduro nega qualquer possibilidade de saída do governo, e a opção militar não está colocada. O que podemos fazer é forçar um acordo que nos leve a eleições gerais e livres. Para isso, Maduro e Guaidó devem se afastar e deve ser formado um governo de união nacional. Nesse aspecto, a pressão internacional é essencial, e o papel do Brasil é fundamental. Sempre vamos privilegiar a saída menos traumática, mas, no fim das contas, estamos falando de vidas humanas que lamentavelmente vão se perder se continuarmos assim. Eu tive a oportunidade de ganhar a liberdade, e agradeço a Deus, não a Maduro e aos que negociaram com ele. Hoje, livre, me preocupo com dois vírus: Maduro e o coronavírus.

O líder opositor a Maduro, Henrique Capriles, em 2017 (acima). Guevara avalia que Capriles colocou a credibilidade em risco ao negociar a soltura de adversários do ditador venezuelano


H.G. HELIO GUROVITZ É JORNALISTA, EDITOR DE OPINIÃO DO JORNAL O GLOBO

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hgurovitz@edglobo.com.br @gurovitz

A IMPORTÂNCIA DO RACISMO NAS ELEIÇÕES AMERICANAS

ogo depois da violência neonazista de Charlottesville, Lviviam em 2017, Joe Biden declarou que os Estados Unidos “uma batalha pela alma da nação”. Àquela altura, ele

não tinha como saber que seria o candidato democrata a desafiar Donald Trump nas urnas. Mesmo assim encontrou a descrição perfeita para o que estará em jogo nas urnas em novembro. Não se trata de uma disputa para definir o que deve fazer o próximo presidente da nação. Trata-se, em vez disso, da briga para definir o que vem a ser essa nação. Mais precisamente, do embate entre duas visões antagônicas de Estados Unidos: de um lado, os que enxergam a diversidade da população como força; do outro, os que a veem como ameaça. Tal choque, latente antes mesmo da eleição de Trump em 2016, de lá para cá se tornou mais e mais explícito. A violência em Minneapolis, Kenosha ou Portland durante a campanha, os protestos contra o racismo policial e a própria escolha da vice de Biden, a senadora Kamala Harris, resultam do mesmo movimento: o predomínio crescente das questões identitárias sobre as demais no debate político. “Quem expressava atitudes favoráveis em relação a negros, imigrantes e muçulmanos se aglutinou no Partido Democrata. Quem expressava atitudes menos favoráveis em relação a tais grupos, no Republicano”, escrevem os cientistas políticos John Sides, Michael Tesler e Lynn Vavreck em Identity crisis (Crise de identidade). Lançado em 2018, o livro é o relato definitivo das razões que levaram à vitória de Trump em 2016 — e de suas consequências. A meio caminho entre narrativa jornalística e estudo acadêmico, os três produziram a melhor análise dos dados, acoplada à melhor síntese dos fatos. É o tipo de trabalho capaz de encerrar qualquer debate de botequim. Tudo que importa está lá, mastigado, pronto para desmentir achismos e opiniões desinformadas. Se for necessário ler um único livro para compreender o significado de Trump na política americana, não perca tempo: leia esse. O fundamental é entender que a candidatura Trump só poderia vicejar no terreno arado pelo governo Obama. “A Presidência de Obama ajudou a ativar as atitudes raciais mais por causa de quem ele era (o primeiro negro a chegar à Presidência) do que pelo que disse ou fez.” Pela primeira vez em décadas, a melhora na situação econômica não foi

acompanhada de um otimismo generalizado. A razão? Numa palavra: racismo. Ou algo parecido. O que moveu a eleição de Trump não foi, como noutras ocasiões, a ansiedade econômica ou o desejo por mudança (discutível, já que Trump perdeu a votação popular por uma diferença de quase 3 milhões de votos). Nem mesmo uma raiva difusa. Foram, como os autores comprovam com base em dezenas de pesquisas e indicadores, as atitudes em relação a negros, latinos ou imigrantes.

Esse racismo sub-reptício se tornou o prisma por meio do qual o eleitorado branco sem instrução — essencial à vitória de Trump — passou a enxergar a economia. Não o preconceito explícito, mas a crença de que “quem não merece” está avançando, enquanto “o grupo a que pertenço” é deixado para trás. Trump foi pioneiro ao aproveitar — e ao alimentar — a divisão em torno das atitudes identitárias já existente na sociedade americana. “Ele simplesmente foi lá aonde muitos eleitores já estavam.” Não provocou mudança no sentimento do eleitor, mudou apenas as escolhas oferecidas. Não se trata de um movimento de mão única. No Partido Republicano, Trump venceu o debate ao legitimar eleitoralmente a tendência, já presente entre os brancos, de rejeição a grupos a que não pertenciam. No Partido Democrata, a divisão era outra: entre a agenda econômica, de combate a bancos e grandes corporações, e a identitária, de inclusão étnica, religiosa e racial. Ao apostar na segunda, a campanha de Biden crê que Trump despertou no próprio eleitor branco um sentimento novo no enfrentamento do racismo. As causas que levaram alguém com o perfil e as ideias de Trump à Casa Branca são, paradoxalmente, as mesmas que podem tirá-lo de lá. IDENTITY CRISIS John Sides, Michael Tesler e Lynn Vavreck, Princeton University Press 2018 | 360 páginas | US$ 30



PROFISSÃO VACINADO

O avanço dos testes da vacina contra a Covid-19 no país faz aumentar o debate sobre a eficácia do tratamento e voluntários se tornam influenciadores nas redes sociais por

Carolina Mazzi

INFLUENCERS IMUNIZADOS anestesista carioca Bárbara Pinto, de 45 A anos, nem tinha tomado a primeira dose da vacina contra a Covid-19 quando co-

meçou a receber ligações de vizinhos pedindo que “não entrasse no estudo”. Ao interfone, eles alardeavam medos e inseguranças. Antecipadamente, sentenciavam a ineficácia do imunizante em teste e afirmavam que a médica seria responsável por “contaminar outras pessoas do prédio”. Bárbara ainda nem tinha contado aos mais próximos sobre o assunto quando, diante da confusão, resolveu tornar pública a experiência de cobaia. “Era tanta desinformação que resolvi, quando tomei a dose, expor a experiência nas redes sociais, mostrando a seriedade do processo e os protocolos de segurança para combater fake news que se espalham”, disse a anestesista.

ARTE: DANIEL VIDES VERAS

Bárbara não se vê como influenciadora digital, mas faz de suas redes um canal para se posicionar no debate virtual. Num ambiente polarizado, onde a discussão sobre a pandemia virou palco político, ela, ao lado de outros profissionais de saúde que se apresentaram como voluntários para tomar uma das quatro vacinas em teste no Brasil, abriram seus perfis pessoais para tentar influenciar com informações sobre o avanço da pesquisa no país. O reumatologista Fábio Jennings, de 47 anos, voluntário do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford, fez de seu Instagram um balcão para tirar dúvidas. No dia 2 de setembro, ele publicou uma foto logo depois de tomar a segunda dose. Nos comentários, questionado, explicou que a primeira injeção causou dor por alguns dias, mas que não teve outras reações.

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PROFISSÃO VACINADO

Quando Oxford suspendeu os testes em razão de uma suspeita de reação adversa grave em um voluntário no Reino Unido, o reumatologista Fábio Jennings foi às redes desmistificar o problema. Como se submeteu aos testes, fez postagens explicando como funcionam os ensaios clínicos Outra seguidora quis saber se estava tendo o efeito esperado. Ele respondeu que os resultados preliminares eram animadores. O médico ainda alertou sobre a necessidade de manter os cuidados de prevenção, mesmo depois de participar do teste. “A maior parte das pessoas nem sabe como o ensaio clínico funciona, não sabe do grupo de controle, acha que quem tomou a vacina está protegido. Eu posso não estar imunizado”, explicou o reumatologista. Ele vai ficar mais dois anos sendo acompanhado por pesquisadores para a análise dos efeitos a longo prazo.

uando Oxford suspendeu os testes em Q razão de uma suspeita de reação adversa grave em um voluntário no Reino Unido,

Jennings foi às redes desmistificar o problema. Ele fez postagens esclarecendo como funcionam os ensaios clínicos e como a transparência em relação a essa reação é importante. Em uma das imagens, ele explicou que a fase 3 é um processo fundamental exatamente por mostrar que efeitos podem ter as vacinas quando aplicadas em grandes grupos, mas ponderou que a reação do paciente no Reino Unido foi pontual e era “até esperada”. “Eles analisaram as predisposições dos voluntários e perceberam que aquele efeito adverso estava dentro do escopo dos procedimentos de tantas outras vacinas. Há sempre um pequeno número de pessoas que serão afetadas, mas elas estavam dentro do grupo estatístico esperado. A transparência deles me fez mais confiante no processo, pois percebemos, como cientistas, o comprometimento com a informação ao público”, disse. Os testes com o imunizante inglês foram retomados nesta semana depois que os pesquisadores não identificaram uma relação direta com a vacina.

MONTAGEM SOBRE REPRODUÇÕES

Tomar ou não a vacina chinesa, russa, do político A ou do político B tem impulsionado o debate nas redes e influenciado Bárbara, Jennings e outros profissionais de saúde a relatarem suas experiências e se tornarem influencers informais da vacina. “É importante que especialistas em saúde estejam dispostos a participar do debate on-line e publiquem conteúdo informativo, analítico, esclarecedor e desmentidos”, afirmou Tatiana Dourado, pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP). Em Ribeirão Preto, analistas ligados à União Pró-Vacina (UPVacina), um grupo de instituições que têm relações com a Universidade de São Paulo (USP), identificaram um aumento de 383% em postagens com conteúdo falso ou distorcido sobre vacinas

Assim que os testes da vacina de Oxford foram suspensos no Reino Unido, o reumatologista Fábio Jennings (acima), voluntário no Brasil, foi às redes explicar que a situação era normal Os 16 mil seguidores do psiquiatra Arthur Danila (acima, à dir.) transformaram as lives e as postagens do médico em um balcão de dúvidas sobre o tratamento


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contra a Covid-19 no Facebook entre março e julho deste ano. Um outro estudo, conduzido pelo site Avaaz, mostrou que seis em cada dez internautas receberam algum tipo de fake news pelo WhatsApp durante a pandemia no país. “Há duas formas de impedir que esses conteúdos falsos se disseminem tão rapidamente. Uma são os mecanismos de controle das próprias plataformas, que de fato vêm sendo expandidos e ficando mais eficientes, mas que ainda não são o suficiente. A outra é aumentar o número de informações verídicas e comprovadas cientificamente nas redes, com conteúdo produzido por especialistas”, afirmou o pesquisador Gregório Fonseca, que estuda o comportamento de vídeos sobre vacina em redes sociais desde 2018 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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A velocidade de propagação e engajamento de conteúdos falsos ligados às vacinas e a outros tratamentos de saúde foi quatro vezes maior do que a de informações provenientes de instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, de acordo com um estudo global realizado pelo grupo Avaaz nos últimos dois anos. No Brasil, o impacto da desinformação foi constatado em uma pesquisa do Ibope de agosto. O levantamento mostra que um de cada quatro entrevistados não sabe se vai tomar a vacina, caso aprovada. Hoje, no país, quatro estão na fase de testes. Além da imunizante de Oxford, há a chinesa Coronavac, a americana produzida pela Pfizer-Wyeth e uma europeia em desenvolvimento pela Johnson & Johnson. A russa Sputnik V poderá ser a quinta autorizada pela Anvisa. Antes mesmo de os testes começarem, nos últimos sete dias, a frase “a vacina russa é segura” foi a sexta mais pesquisada na plataforma no Brasil, quando usuários pesquisavam sobre o termo “vacina”. Um dos voluntários da vacina com maior número de seguidores é o psiquiatra Arthur Danila, de 32 anos. Ele é um dos 9 mil voluntários da vacina que vem sendo desenvolvida pela China. O médico postou uma foto recebendo uma das doses no último dia 4. Imediatamente, parte dos 16 mil seguidores interagiram com ele. “Como pesquisador, fiquei positivamente surpreso com os protocolos de segurança da vacina e, por isso, resolvi fazer o post. Tomei os cuidados para passar apenas as informações já comprovadas cientificamente, porém, tenho receio de que os medos infundados da população possam levar a uma baixa adesão à vacina e a gente não consiga evitar novos surtos” afirmou Danila. O engajamento desses novos influencers não tem restrições, de acordo com os responsáveis pelos testes consultados por ÉPOCA. Em caso de abuso ou irregularidades, pode haver fiscalização por entidades de classe, como o Conselho Federal de Medicina (CFM). O manual de ética da entidade médica restringe fazer publicidade ou divulgar, fora do meio científico, “processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente”. “É preciso cautela”, avaliou o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM/PR), Roberto Issamu Yosida.


UM MAL OLÍMPICO


AS DORES DO OURO

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UM DOCUMENTÁRIO E O MOVIMENTO DE ATLETAS ACENDEM DEBATE SOBRE ASSÉDIO MORAL NA GINÁSTICA E OS LIMITES DA RELAÇÃO ENTRE PROFESSORES E GINASTAS por

Giulia Costa

os 10 anos, Raquel (nome fictício) tentaA va imitar os movimentos precisos das ginastas brasileiras Daniele Hypólito e Daia-

A ginasta Maggie Nichols, cujas denúncias anônimas depois resultaram no documentário Atleta A, exibido pela Netflix FOTO: DIVULGAÇÃO/NETFLIX

ne dos Santos que via pela televisão. As vitórias impulsionaram a paixão pelo esporte e fizeram a menina de Porto Alegre começar a praticar, em 2005, piruetas e voos em um clube tradicional da capital gaúcha — a Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), fundada em 1867, com mais de 40 mil sócios. Dois anos depois de iniciar os primeiros passos no piso emborrachado, a menina, então com 12 anos, abandonou o clube e a modalidade intempestivamente. Os motivos que a levaram a desistir da ginástica artística ficaram adormecidos por 13 anos até o mês passado. Ao assistir ao documentário Atleta A, disponível pelo serviço de streaming da Netflix, Raquel, hoje com 25 anos, percebeu que teve seu primeiro ataque de pânico durante um treino na Sogipa. “Passei horas repetindo um mesmo exercício, e ela (a técnica) me xingava sempre que eu errava. Quanto mais ela xingava, mais eu errava. Comecei a passar mal, ficar com falta de ar, e mesmo assim ela me obrigou a continuar, como se não fosse nada. Em um momento me senti muito tonta, apenas saí correndo para o banheiro e nunca mais voltei”, contou. Na mesma época em que sofreu o abuso, Raquel ouviu relatos parecidos de uma amiga que treinava em outro clube da região. Ela não era a única. Sua mãe voltou ao clube para informar o motivo de sua saída, mas nada foi feito, segundo a jovem. A Sogipa afirma que o episódio não foi formalmente relatado e que não há registros no clube. Em nota oficial, a entidade disse que “não há outras evidências de casos semelhantes envolvendo outros atletas” e que o caso em questão seria isolado. O documentário da Netflix, lançado em junho deste ano, traz relatos de vítimas de diferentes formas de abusos nas principais equipes de ginástica americanas, as maiores

vencedoras da modalidade nas últimas duas décadas. “Atleta A” foi um pseudônimo dado à ginasta de identidade então anônima que primeiro denunciou à USA Gymnastics, a Federação de Ginástica dos Estados Unidos, o médico Larry Nassar, condenado por múltiplos crimes sexuais. A atleta é Maggie Nichols. O filme, de Bonni Cohen e Jon Shenk, relata uma longa história de abusos e acobertamentos da organização. Embora se concentre em Nichols, a história mostra a natureza implacável do treinamento das ginastas, os gritos, insultos e as consequências de se manifestar sobre o assédio. As descrições sobre abusos físicos e psicológicos em Atleta A geraram uma avalanche de “fichas caindo” no esporte. Ginastas do mundo todo, em atividade ou aposentadas, utilizaram a hashtag #GymnastAlliance nas redes sociais para compartilhar seus traumas. Mas nem sempre quem denuncia consegue ser ouvido. O ginasta Angelo Assumpção, de 24 anos, representou o Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo, por 16 anos. No fim de 2019 foi demitido depois de, segundo ele, denunciar injúrias raciais sofridas no local. O caso foi confirmado em auditoria interna, mas ninguém foi punido ou afastado. Só Assumpção perdeu o emprego e os patrocínios. Sem dinheiro, depende de uma vaquinha virtual para conseguir sobreviver. Até segunda-feira 14, já havia sido arrecadado o valor de R$ 32.400, superando a meta inicial de R$ 15 mil. “Minha vida está muito parada. Estou sem clube desde novembro, quando rescindiram meu contrato. Faço o possível em casa, mas não tenho ferramentas”, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no último dia 7. Assumpção era uma das promessas do esporte e fazia parte da equipe olímpica quando seu nome foi exposto em um caso de racismo na seleção brasileira em 2015. Um vídeo viralizou nas redes sociais com brincadeiras de conteúdo racista feitas por seus companheiros. Entre eles, Arthur Nory,


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AS DORES DO OURO

PARA GEORGETTE VIDOR, TÉCNICA DO FLAMENGO E EX-TÉCNICA DA SELEÇÃO BRASILEIRA, A RIGIDEZ NO TREINO É REQUISITO DO ATLETA EM BUSCA DE MELHORAR A PERFORMANCE, E NÃO ABUSO. “MUITAS VEZES A EXIGÊNCIA É DO PRÓPRIO ATLETA. ELES NÃO QUEREM SABER DE TREINADOR QUE VAI LEVÁ-LOS A LUGAR NENHUM. ALTO RENDIMENTO É PARA POUCOS”, DISSE medalhista de bronze na Olimpíada do Rio em 2016. Só neste ano, cinco anos depois, Nory se desculpou pelas ofensas. Em um post no Instagram no início do mês, o atleta classificou sua atitude como uma “imbecilidade”, disse que “já passou da hora” de se desculpar e afirmou que se envergonha do que fez com Assumpção. Além do caso de racismo, um relatório interno do clube Pinheiros, obtido pela TV Globo, mostrou que uma série de denúncias de assédio moral identificadas na ginástica da instituição, de 2013 a 2019, também não levou a qualquer punição. Em resposta, o clube disse que repudia as atitudes denunciadas, mas não se justificou por não ter afastado os acusados. uisa Parente, ex-ginasta e pioneira na Lmedalhas modalidade no país, ganhadora de duas de ouro pan-americanas, pon-

derou que a vulnerabilidade das crianças no esporte seria a porta de entrada para comportamentos de “má índole” ou “doentes”. Comentarista de ginástica artística na TV, Parente lembrou da necessidade de conhecer os próprios limites. “Eu passei pelos quatro lados: fui atleta, professora, gestora esportiva e mãe de atleta. São fatores que fazem parte de uma cena em que cada um deve atuar para que os limites não sejam ultrapassados. Não pode existir o “custe o que custar” em ambiente nenhum”, disse ela, que hoje é secretária nacional da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Muitos atletas nem sequer percebem que estão inseridos em uma situação abusiva, em razão da cultura de rigidez atrelada ao treino esportivo profissional. Durante suas passagens pela seleção brasileira e pelo Flamengo, Parente foi treinada por Georgette Vidor, técnica campeã e conhecida pelo rigor e pela intransigência. “Nem sei quantas atletas já treinei na minha vida, mas a grande maioria delas hoje são mi-

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nhas amigas. Deve ter uns 10% que, por não alcançar uma performance desejada e não gostar do meu temperamento, pode ser que hoje não gostem de mim”, disse a técnica de 62 anos, que começou na profissão aos 15 e é atualmente coordenadora técnica da ginástica artística do Flamengo. Para Vidor, a rigidez é requisito do próprio atleta. “Muitas vezes a exigência é do próprio atleta. Eles não querem saber de treinador que vai levá-los a lugar nenhum. Alto rendimento é para poucos”, disse. Ela definiu a convivência extrema entre atleta e treinador como uma relação de amor, mas deixou escapar uma forma de interferência que transcende a relação profissional. “Ao mesmo tempo que era muito rígida, eu tinha muito carinho. Não deixava que minhas atletas namorassem para não atrapalhar no treinamento”, exemplificou a treinadora. A técnica disse ainda que nunca presenciou nenhum tipo de abuso, sexual ou moral, durante seus longos anos trabalhando com ginástica, mas afirmou “considerar normal”, na relação entre atletas mulheres e professores

Luisa Parente (acima) diz que a cultura da rigidez no esporte não pode ultrapassar os limites do atleta O ginasta Angelo Assumpção (acima, na foto da direita) ficou sem clube e sem patrocínio depois de denunciar um caso de racismo em um clube paulista


AS DORES DO OURO

FRIEDEMANN VOGEL/GETTY IMAGES

homens, a “paixão de professor com aluno”, segunda ela, natural da hierarquização da relação e recorrente em vários ambientes. A diferença que Vidor não deixou clara é que, no ambiente da ginástica, muitas das vezes, são menores de idade que estão na mira de possíveis assediadores e abusadores. No Brasil, o ex-técnico da seleção masculina Fernando de Carvalho Lopes pode ser condenado a até 150 anos de prisão por molestar quatro ginastas. Um dos denunciantes é Petrix Barbosa, medalhista de ouro na competição por equipes dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011. Lopes foi seu primeiro técnico, no Movimento de Expansão Social Católica (Mesc). Eles trabalharam juntos por seis anos. Aos 13, o atleta não aguentou e resolveu sair. O treinador nega as acusações. “Já acordei com ele, não sei quantas vezes, com a mão dentro da minha calça. Ele sempre perguntava como estava nosso desenvolvimento. Eu tinha 10, 11 anos, e ele (alegava que) precisava acompanhar nosso crescimento, então dizia que a gente precisava mostrar o pênis”, contou o ginasta em

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2018 ao Fantástico, da TV Globo. A ação contra Lopes está suspensa desde o início do ano por uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Casos como esses chocam e ao mesmo tempo levantam o questionamento sobre como as entidades responsáveis lidam com outras formas de abuso nesse esporte. Após a denúncia contra o ex-treinador da seleção brasileira, um dos maiores atletas da modalidade no país, Diego Hypólito, relatou abusos ocorridos no Flamengo durante a gestão de Georgette Vidor. O medalhista olímpico, mundial e pan-americano denunciou, em 2018, uma forma de punição nos treinos. Os meninos que chegassem atrasados, cometessem erros nas séries ou desobedecessem a alguém eram obrigados a deitar-se num desses caixotes de madeira fechados com tampa. Após a revelação de Hypólito, Vidor afirmou que nunca “tinha visto algo assim”. O que as atletas chamam de “cultura do abuso na ginástica” é o limite entre o treinamento rigoroso e o assédio, que em um esporte que busca a perfeição pode virar uma linha tênue. Para Natália Gaudio, atleta da seleção feminina de ginástica rítmica, o ambiente assediador pode ser uma barreira intransponível. Para ela, o segredo da longevidade no esporte é a felicidade. Há 21 anos na modalidade, ela acredita que o papel do treinador não é apenas corrigir, mas também elogiar e parabenizar pelos avanços. “Se eu tivesse passado por um problema desses (abuso), talvez eu não estivesse aqui até hoje fazendo o que amo. Todas as críticas que recebi foram com o objetivo de alcançar minha evolução”, disse a ginasta de 27 anos, bronze nos Pan-Americanos de Lima, no ano passado. Um dos maiores símbolos da ginástica nacional, Daiane dos Santos disse nunca ter sofrido abuso, mas já ouviu relatos de condutas abusivas no esporte, apesar de não querer falar sobre eles. Primeira brasileira medalhista de ouro em mundiais, Daiane foi o motivo de tantas crianças como Raquel se apaixonarem pela ginástica. Ela acredita que, mesmo no mais alto nível do esporte, é possível criar um ambiente saudável. “A ginástica mudou muito de anos para cá. Se você vai falar com um ginasta, não precisa ser ríspida ou grosseira. Antigamente era esse o método usado, sim, mas acho que vem evoluindo”, disse.


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A psicanalista Regina Navarro Lins diz que a busca da individualidade é o grande componente das relações contemporâneas — e que se tornou ainda mais importante com a pandemia por

7 PERGUNTAS PARA

Fernanda Bassette

NAVARRO

ANDREA LA LEUXHE/DIVULGAÇÃO


7 PERGUNTAS PARA NAVARRO

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Nos últimos 25 anos a senhora tem se dedicado a atender pacientes para debater relações amorosas. As pessoas têm aprendido a criar menos expectativas em relação à pessoa amada?

O amor romântico está dando sinais de sair de cena, pois a busca contemporânea é a busca da individualidade — e o amor romântico prega o oposto. Meu novo livro, Amor na vitrine, que eu lançarei em outubro, fala justamente das relações contemporâneas, e cada vez mais vejo que as pessoas estão se desligando desse amor romântico. Nós somos bombardeados desde que nascemos com crenças equivocadas. Fomos regidos pelo amor romântico, e em cada período da história ele se apresenta de uma forma. Ele começou no século XII e passou a ser uma possibilidade no século XIX, depois da Revolução Industrial. Mas ele entrou para valer na vida das pessoas a partir dos anos 1940, com os filmes de Hollywood. Ele é muito prejudicial, pois prega a idealização, a fusão do casal, a transformação dos dois em uma pessoa só. Você não conhece a pessoa, mas atribui a ela características que você queria que ela tivesse.

De que forma o amor romântico está saindo de cena?

A mudança de mentalidade está acontecendo de forma lenta e gradual. Acredito que daqui a algumas décadas haverá relações abertas, livres e múltiplas, no sentido de amarmos duas, três pessoas ao mesmo tempo. Quando eu digo que o amor romântico está saindo de cena é porque vejo que cada vez menos pessoas procuram isso, menos pessoas idealizam o casamento, menos pessoas sonham em encontrar o parceiro ideal, sua alma gêmea. O maior problema do amor romântico é o desrespeito à individualidade do outro, e hoje em dia tenho visto muitas mulheres proporem a abertura da relação. Imagine se na década de 1950-60 alguém dissesse que dali a algumas décadas as pessoas poderiam se separar e não ter problema nenhum. Diriam que a pessoa estava louca, pois naquele período a separação era uma tragédia familiar, os filhos eram discriminados, a mulher era considerada uma vagabunda.

Seu novo livro, Amor na vitrine, é um apanhado de tudo que a senhora estudou ao longo das últimas décadas. Mas não contempla as possíveis mudanças comportamentais que podem decorrer da pandemia do novo coronavírus. Por quê?

Porque ainda vamos precisar de algum tempo para avaliar o que a pandemia alterou nas relações amorosas. Muitos casais, que se encontravam rapidamente de manhã e depois só à noite, estão passando 24 horas por dia juntos, sete dias por semana. Espero que uma das mudanças seja perceber a importância do respeito à individualidade. É um livro para as pessoas refletirem sobre as crenças e se livrarem do moralismo e dos preconceitos. Só assim poderão viver com mais satisfação.

A senhora acha que o uso de aplicativos de paquera, que muitas vezes transformam os encontros sexuais entre desconhecidos em algo corriqueiro, é um sinal de evolução das relações ou de retrocesso?

São uma evolução no sentido de possibilitar que as pessoas se conheçam com mais facilidade. É uma mudança. No século XIX, as pessoas se conheciam na igreja e tinham de pedir autorização dos pais para namorar.


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7 PERGUNTAS PARA NAVARRO

No início do século XX houve uma grande novidade: a chegada do automóvel e do telefone o que possibilitou o encontro marcado. Nesse período, as pessoas passaram a se conhecer por meio dos amigos, nas baladas. O século XXI é marcado pelos aplicativos. As pessoas se conhecem, namoram, às vezes casam. Tem facilitado muito as relações.

No consultório, qual é o maior problema entre casais?

O sexo no casamento. Eu recebo várias pacientes que dizem que amam o companheiro, que é o melhor pai, o melhor amigo, mas que elas não sentem vontade de fazer sexo. É impressionante. Tenho uma paciente que está casada há 15 anos e não faz sexo há oito. Não adianta nada acreditarmos em pessoas que dizem “tem de ter criatividade”. É uma grande mentira. O tesão é que leva à criatividade, e não o contrário. Se você tiver tesão, vai ficar cheia de ideias. E por que o tesão acaba? Porque esse modelo de casamento é totalmente equivocado, baseado no controle, na possessividade, no ciúme, no desrespeito à individualidade. Para ter tesão é preciso ter um mínimo de distância, de mistério.

Durante a quarentena temos visto duas situações opostas: ex-casais que voltaram a viver juntos por questões econômicas e até emocionais e aumento no número de divórcios. Como a senhora avalia isso?

Os casais estão se divorciando porque não suportam mais conviver 24 horas com o companheiro, estão sufocados. Antes da quarentena, os casais acordavam, tomavam café, iam para o trabalho, almoçavam com os amigos, chegavam, iam para a academia, jantavam e aí iam conviver. Agora são 24 horas por dia, sete dias por semana. Muitos estão dividindo a mesma mesa da sala para fazer o home office. E isso acaba se tornando um problema, porque já não se respeita a individualidade em situações normais, menos ainda numa situação de isolamento. Você soma a isso o estresse, a redução do salário, o medo de perder o emprego, o fato de não poder sair e socializar. Nem todos os apartamentos têm quatro quartos para que cada um possa ter seu momento sozinho. É insustentável. Já os casais que voltam a viver juntos para ajudar um ao outro por questões econômicas ou sociais é algo temporário, um efeito da pandemia.

Em sua avaliação, o fortalecimento da mulher (e do feminismo) na estrutura social pode estar motivando uma onda maior de violência e feminicídio?

O aumento da violência na pandemia acontece quando o homem desconta na mulher, que é mais frágil, suas frustrações. Num ambiente fechado, com o estresse do momento, 24 horas por dia, esse problema acaba aumentando. Isso só vai mudar quando houver uma real reflexão de que isso é uma mentalidade patriarcal e começarmos a discutir o assunto nas escolas, desde o jardim da infância. A gente vem de uma cultura patriarcal há 5 mil anos, com a mentalidade de que a mulher é inferior ao homem. E se a mulher hoje deixar de ser submissa e serviçal, isso pode, sim, provocar aumento da violência. Só existem duas razões para alguém não ser feminista — e homens também devem ser feministas: desconhecimento total da história ou não se importar com as mulheres serem espancadas e assassinadas todos os dias.


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ALLAN SIEBER


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NOVOS TEMPOS

A chegada de Tenet e Mulan às telas indicará se os lançamentos de filmes terão melhor desempenho no cinema ou em streaming após a pandemia por

Pedro Willmersdorf

DE VOLTA À

JASIN BOLAND/DIVULGAÇÃO


NOVOS TEMPOS

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SALA ESCURA À esquerda, cena de Mulan, a aposta da Disney lançada diretamente na plataforma de streaming a um valor de US$ 29,99, o equivalente a mais de R$ 150

eis meses depois de colecionar pergunS tas, o cinema começa a obter respostas que podem ajudar a traçar um esboço de como se comportarão os grandes lançamentos pós-pandemia. E os principais responsáveis por clarear essa sala escura são dois filmes recém-lançados sob estratégias completamente distintas. Uma das grandes apostas da Warner para 2020, Tenet, do americano Christopher Nolan (de A origem e Batman — O Cavaleiro das Trevas), estreou no fim da semana passada nos cinemas dos dois maiores mercados do mundo: Estados Unidos e China. Orçado em US$ 220 milhões, o longa, que mistura espionagem com ficção científica, vem sendo encarado como um desbravador, cuja performance na bilheteria deverá avalizar, ou não, o lançamento de blockbusters represados durante a pandemia. Desde junho, cinemas ao redor mundo vêm reabrindo suas portas, como na França, no Reino Unido, na Espanha e na China, com protocolos específicos de operação, mas seguindo as regras de distanciamento dentro das salas, obrigatoriedade do uso de máscaras e proibição do consumo de alimentos e bebidas durante as sessões. Já os Estados Unidos, país que lidera o número de vítimas de Covid-19, com quase 200 mil mortos, vêm atravessando um processo mais lento de reto-

mada. Apesar de ter, no momento, cerca de 70% dos cinemas em funcionamento, mercados importantes, como Nova York e Los Angeles, continuam com suas salas fechadas. Mesmo com todos os poréns, o desempenho de Tenet em seu fim de semana inaugural indicou otimismo diante de um cenário de terra arrasada. De acordo com o site Box Office, somente em solo americano, o filme conquistou US$ 20 milhões, dentro da margem prevista. Já na China, atingiu a marca de US$ 30 milhões, um pouco abaixo da expectativa. Somado à bilheteria de outros países onde estreou anteriormente, como Reino Unido e França, o valor arrecadado já ultrapassa os US$ 200 milhões. No Brasil, sua estreia está marcada para 15 de outubro — embora a maioria dos cinemas do país ainda esteja fechada. Paulo Sérgio Almeida, diretor do Filme B, portal especializado no mercado de cinema, considera o desempenho do longa como um bom indicativo. “Tenet é um filme feito para ser visto na sala de cinema, como todo trabalho do Nolan. E parece ter cumprido bem seu papel. Vai se pagar, mostrou que a tela grande ainda é importante e que as pessoas querem frequentar as salas”, avaliou. A segunda tentativa mira outras poltronas, mais especificamente as que estão na casa dos


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NOVOS TEMPOS

Desde junho, cinemas ao redor do mundo vêm reabrindo suas portas com protocolos específicos de operação, mas seguindo as regras de distanciamento dentro das salas, obrigatoriedade do uso de máscaras e proibição do consumo de alimentos e bebidas durante as sessões consumidores americanos da plataforma Disney+. Em uma decisão inédita, a Disney decidiu lançar Mulan diretamente em seu canal de streaming, que só estará disponível para o público do Brasil em novembro. Além do valor de US$ 6,99 pela mensalidade, o espectador que quiser conferir a nova versão da animação, sucesso em 1998, tem de desembolsar mais US$ 29,99. O desempenho de Mulan poderá ajudar a responder à pergunta que o mercado audiovisual se faz desde o início da pandemia: o vídeo sob demanda está destinado a substituir o cinema? Em quatro dias, Mulan foi visto por 1,1 milhão de assinantes apenas nos EUA, chegando a arrecadar US$ 33,5 milhões. Os dados são da Samba TV, empresa especializada em métricas de televisão e streaming. Em março, YIFAN DING/GETTY IMAGES

a Disney havia projetado a marca de US$ 8090 milhões de bilheteria para o fim de semana de estreia nos cinemas americanos. Mas isso não significa que o estúdio saiu perdendo: pelas regras do mercado, a empresa ficaria com 50% do montante alcançado com a venda dos ingressos tradicionais (entre US$ 40 e US$ 45 milhões), cedendo a outra metade aos exibidores. Já com o lançamento em sua própria plataforma, a Disney pode embolsar integralmente seus quase US$ 34 milhões. Ou seja, na ponta do lápis, o desempenho inicial de Mulan na plataforma pouco ficou devendo a sua natimorta carreira nas salas dos EUA. O bom retorno financeiro apresentado pelo filme, no entanto, ainda não é garantia de que todos os lançamentos em plataformas de streaming terão o mesmo destino.


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MELINDA SUE GORDON/DIVULGAÇÃO

Cena de Tenet, de Christopher Nolan (acima). O filme orçado em US$ 220 milhões já arrecadou US$ 207 milhões nos primeiros dias de exibição nos cinemas recém-abertos Uma sala de cinema reaberta em Xangai, na China (ao lado). Distanciamento social, máscaras durante toda a exibição e proibição de venda de alimentos são alguns dos protocolos adotados na reabertura

Nome por trás de sucessos como Central do Brasil, Cidade de Deus e Minha mãe é uma peça, Bruno Wainer, diretor da produtora e distribuidora Downtown Filmes, acredita que o exemplo da Disney se encaixa mais como um teste. “Com a volta plena das salas de exibição e o controle da pandemia, duvido que os grandes lançamentos abram mão da janela do cinema. Simplesmente a conta não fecha”, ponderou. hamado de verticalização, o processo C em que o estúdio domina todos os estágios de um filme (produção, distribuição e

exibição) joga luz sobre o debate de encurtamento da janela, que é o tempo que um filme leva para sair de cartaz nos cinemas e chegar a outros canais de distribuição, como streaming, DVD ou TV a cabo. Nos EUA e no Brasil, esse período gira em torno de 90 dias. Porém, um caso ocorrido em abril suscitou debate acalorado. Na ocasião, a Universal decidiu lançar a animação Trolls 2 diretamente em streaming, arrecadando mais de US$ 100 milhões em aluguéis do filme, um desempenho superior ao conquistado pelo original nas bilheterias americanas. Maior cadeia de salas exibidoras dos EUA, a AMC chegou a ameaçar um boicote às produções do estúdio.

Tenet é símbolo de um possível desafogo para um safra de apostas que foram adiadas ao longo da pandemia. No entanto, o cenário ainda é tão incerto que não parece transmitir segurança aos grandes estúdios. Nesta semana, a estreia de Mulher-Maravilha 1984 (Warner) foi realocada para 25 de dezembro, nos EUA, após uma série de adiamentos prévios. Já 007 — Sem tempo para morrer (MGM), que deveria ter chegado aos cinemas em abril, está com seu lançamento previsto para 12 de novembro no Reino Unido e para o dia 25 do mesmo mês no resto do mundo. Por enquanto, o prejuízo do estúdio é estimado em mais de US$ 50 milhões. Porém, outros blockbusters que também estavam programados para chegar às salas de cinema em 2020 já foram jogados definitivamente para 2021. É o caso de Os Eternos, novo filme do Universo Marvel, cujo lançamento pela Disney foi adiado, logo no começo da pandemia, para fevereiro do ano que vem. Viúva Negra, estrelado por Scarlett Johansson e também da Marvel, vem sendo cotado como o próximo da fila a ser empurrado para 2021. A decisão da Disney poderá ser influenciada pelo fraco desempenho de Os Novos Mutantes, que estreou nos cinemas dos EUA no fim de agosto e já vem sendo chamado de “o pior filme de X-Men de todos os tempos”.


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LARRY ROHTER, JORNALISTA E ESCRITOR, É EX-CORRESPONDENTE DO NEW YORK TIMES NO BRASIL E AUTOR DE RONDON, UMA BIOGRAFIA

L.R.

larryrohter@edglobo.com.br

SOBRE PROVAR O PRÓPRIO VENENO

Amazônia em chamas, depois o Pantanal, e agora a A Costa Oeste dos Estados Unidos. Como diz a Bíblia, “aquilo que o homem semear, isso também colherá”, e o

castigo que estamos recebendo não é nada mais do que o fruto de décadas de abusos ao meio ambiente. Não gosto de misturar metáforas, mas a gravidade da situação justifica: com o ar cheio de cinzas, fumaça e gases letais, estamos literalmente provando nosso próprio veneno. Claro que as conflagrações em Califórnia, Oregon e Washington, que já desnudaram uma área do tamanho de Sergipe, não provêm de um desmatamento premeditado, tal como na Amazônia. Como os incêndios no Pantanal, são manifestações de mudanças climáticas: temperaturas altíssimas, deslocamentos de correntes oceânicas, ventos mais fortes e estiagens. Mas o impacto é igualmente desastroso. “Parece que estou morando em Marte”, me disse um amigo residente de São Francisco, que não sai de casa há quase uma semana. “O céu está vermelho, cinzas e poeira caem o tempo todo, e outro dia ao meio-dia parecia meia-noite, de tão escuro.” Os paulistanos já experimentaram isso em anos recentes. Mas as cifras produzidas no noroeste americano são realmente assustadoras. Normalmente, cidades asiáticas como Beijing são campeãs na categoria de pior índice de qualidade do ar, o AQI. Mas nas últimas semanas, Portland, em Oregon, tem alcançado níveis sem precedentes: o máximo na escala do AQI é 500, e outro dia Portland chegou a 492. Desse jeito, a vida é insustentável. Ao mesmo tempo, neste annus horribilis, o número de furacões no Oceano Atlântico está chegando a um patamar recorde, e estamos assistindo à aceleração do degelo na Antártica e no Ártico. Na semana passada foram lançados dois novos estudos importantes sobre o fenômeno. O primeiro aponta o surgimento de canais de água quente debaixo de duas geleiras enormes na Antártica, enfraquecendo sua estrutura, e o segundo revela que no Ártico o gelo e a neve estão cada vez mais cedendo lugar às águas abertas e chuvas. “Estamos chegando ao ponto onde não podemos mais saber o que esperar”, disse a Dra. Laura Landrum, principal autora do segundo estudo. Sei que num país tropical como o Brasil os Polos Norte e Sul parecem longínquos, tanto no imaginário nacional como geograficamente. Mas para um país que ainda tem metade de sua população morando ao longo de uma costa

de 8.500 quilômetros, a ameaça da subida do nível do mar é real. Quando vejo mapas mostrando cidades como Nova York, Miami e Boston inundadas em 75 anos, automaticamente penso em Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, entre outras, sofrendo o mesmo destino. E os portos brasileiros, como Santos, Tubarão e Paranaguá, ainda continuariam viáveis se o nível do mar aumentasse 1 metro? Meio metro? Onde está o ponto sem retorno? Mesmo assim, ainda tem gente, inclusive dirigentes americanos e brasileiros, que resiste em aceitar o fato da mudança climática. Quando Donald Trump foi visitar a Califórnia no começo da semana, o governador, um democrata, tentou convencê-lo de que a devastação não se deve ao mau manejo das florestas, como alegam os republicanos, e sim “aos fatos observados”, que mostram que “algo está acontecendo com o encanamento do planeta”. Qual foi a resposta de Trump? “Bom, não acredito que a ciência saiba”, replicou. “O tempo vai começar a esfriar em breve, você vai ver.” É a mesma tática — de negação — que ele usa quando fala da pandemia.

O que mais me inquieta com os incêndios afligindo o Pantanal é a causa de sua proliferação. A estação das chuvas que terminou em abril foi muito fraca e agora as águas, evaporando na estação da seca, estão baixíssimas, o que contribui para as estiagens que aumentam a probabilidade de incêndios. E por que não choveu? Segundo a Nasa, o aquecimento dos oceanos está desviando a umidade do Atlântico Sul para o Atlântico Norte. Quer dizer, a mesma mudança climática responsável pelo aumento de furacões no sul dos Estados Unidos também causa secas e incêndios no Brasil. A grande preocupação é que isso não seja um fenômeno passageiro e sim um “novo normal” fora de nosso controle. Falamos da Mãe Natureza como se fosse uma mulher que podemos cortejar ou manipular. Mas isso não existe. O que existe é uma conjunção de biologia, física e química que obedece às leis da ciência de maneira previsível. Só isso. Mas nós, seres humanos, temos vontade própria, e se “a humanidade está numa encruzilhada”, como advertiu outro relatório, da ONU, publicado na terça-feira, urge fazer a escolha certa. Que também é a escolha óbvia.


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