TGI II - HOSPICE URBANO - Lucas Menighini

Page 1

Hospice Urbano

A experiência de vivenciar espaços públicos no final da vida




ComissĂŁo de Acompanhamento Permanente Prof. Dr. David Moreno Sperling Prof. Dr. Joubert Jose Lancha Profa. Dra. Lucia Zanim Shimbo Profa. Dra. Luciana Bongiovanni Schenk

Coordenador de Grupo de Trabalho Prof. Dr. Paulo CĂŠsar Castral


Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo

Hospice Urbano: A experiência de vivenciar espaços públicos no final da vida

Trabalho de Graduação Integrado II Lucas Menighini Loureiro São Carlos-SP, 2017


AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)


FOLHA DE APROVAÇÃO Comissão de Acompanhamento Permanente

Prof. Dr. David M. Sperling Prof. Dr. Joubert J. Lancha Profa. Dra. Luciana B.M. Schenk Profa. Dra. Lucia Z. Shimbo Coordenador de Grupo Temático

Prof. Dr. Paulo César Castral

BANCA EXAMINADORA TGI II | Lucas Menighini Loureiro

Prof. Dr. Joubert J. Lancha IAU-USP

Prof. Dr. Paulo César Castral IAU-USP

Profa. Dra. Maísa Fonseca de Almeida

Data | 07 de Dezembro de 2017

Conceito Final



“You matter because you are you, and you matter to the end of your life. We will do all we can not only to help you die peacefully, but also to live until you die.� Dame Cicely Saunders fundadora do movimento hospice



Agradeço aos professores Joubert e Paulo Castral que compartilharam comigo o desenvolvimento desse trabalho de forma dedicada e atenciosa, também à professora Luciana por defender e acreditar nos nossos temas. Um agradecimento especial à Letícia, grande incentivadora desse trabalho, pela compreensão e apoio durante todo o percurso. Aos amigos Mariana, Anna, Tatiana, Rachel, Vitória e Renan pelos momentos inesquecíveis durante a faculdade, e às amigas Amanda e Luísa que compartilharam os bons e maus momentos do TGI.


RESUMO

Culturalmente em nosso país, a condução de pacientes em terminalidade, aqueles cujos cuidados apresentam-se fora de terapêutica curativa, se desenvolve em hospitais num ambiente fechado e de isolamento social. Excepcionalmente, pessoas com maior poder aquisitivo podem optar por receber tais cuidados em domicílio, o chamado “home care”, que é uma opção ao cenário comumente oferecido, porém ainda fora do alcance da maioria da população. Contrariando esse pensamento, os cuidados paliativos apresentam-se como um tratamento voltado para a melhora da qualidade de vida dos pacientes, entendendo que o cenário de condição terminal ainda oferece potencial de tempo a ser aproveitado de forma significativa e que possibilite ao sujeito desenvolvimento afetivo e partilha de momentos inerentes a esta etapa da vida. Neste sentido, o clima e o ambiente hospitalar de quartos fechados e corredores intermináveis e mórbidos não correspondem ao espaço ideal para se viver esses últimos momentos. Assim sendo, alguns preceitos básicos são necessários e habitualmente não são encontrados em um hospital convencional, no qual o foco é curativo e não cuidativo. Dentre estes, estão o alívio total da dor, apoio físico, psicológico e espiritual, não só para o usuário, mas também sua família, que também é sujeito ativo neste processo e exige atenção direcionada. Desta forma, é proposto um Hospice próximo a uma região de parques do rio Piracicaba, na cidade de Piracicaba – SP. Propondo um ambiente construído qualificado e diretamente envolvido com a paisagem e o ambiente circundante. O projeto é composto por um complexo de equipamentos integrados ao hospice, sendo, ao mesmo tempo, independentes para o uso da comunidade local. Cada qual possui um identidade formal diretamente relacionada à identidade do local, sem comprometer o uso e a função do edifício. Ou seja, apesar da unidade formal, cada qual possui uma espacialização inerente ao seu uso. 12


fonte: acervo pessoal


fonte: acervo pessoal


sumário 12 Resumo 18 Inquietações 36 Base Conceitual 60 Lugar 84 Proposta 88 Projeto 144 Referências bibliográficas

15


fonte: acervo pessoal


Um olhar Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via não era uma garça na beira do rio. O que ela via era um rio na beira de uma garça. Ela despraticava as normas. Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste. Com ela as coisas tinham que mudar de comportamento. Aliás, a moça me contou uma vez que tinha encontros diários com suas contradições. Acho que essa frequência nos desencontros ajudava o seu ver oblíquo. Falou por acréscimo que ela não contemplava as paisagens. Que eram as paisagens que a contemplavam. Chegou de ir no oculista. Não era um defeito físico falou o diagnóstico. Induziu que poderia ser uma disfunção da alma. Mas ela falou que a ciência não tem lógica. Porque viver não tem lógica – como diria nossa Lispector. Veja isto: Rimbaud botou a beleza nos olhos e viu que a beleza é amarga. Tem Lógica? Também ela quis trocar por duas andorinhas os urubus que avoavam no Ocaso de seu avô. O Ocaso do seu avô tinha virado uma praga de urubu. Ela queria trocar porque as andorinhas eram amoráveis e os urubus eram carniceiros. Ela não tinha certeza se essa troca podia ser feita. O pai falou que verbalmente podia. Que era só despraticar as normas. Achei certo. - Manoel de Barros



01| INQUIETAÇÕES


Contextualização arquitetura hospitalar

O surgimento do conceito de hospital e da arquitetura voltada à saúde datam da Idade Média, contudo não é possível traçar comparações entre o que existia e o que existe atualmente, restando apenas alguns resquícios das funções que eram desenvolvidas, como o acolhimento, o cuidado e a oferta de abrigo que coincide com sua atual definição, um estabelecimento que trata de pacientes por mais de vinte e quatro horas. “A predominância inicial do sagrado no tratamento de saúde na Idade Média não esconde a tentativa de marginalização do doente, da consideração dos males da saúde como punição divina, implicando no afastamento do olhar do cidadão dito saudável. Sem sombra de dúvida, foi Foucault (1979), em sua análise sobre os equipamentos de repressão, quem detectou a função inicial do hospital de retirada do ambiente público do indesejável e perigoso para a sociedade, na visão das classes dominantes.” (CARVALHO, 2014).

Já o surgimento de equipamentos de saúde desvinculados do tratamento religioso surgiu em diversos momentos da história, mas só começaram a ganhar grande importância na metade do século XIX, com o aparecimento de Claude Bernard, Louis Pasteur e Santiago Ramón y Cajal (Lorén, 1975). A estrutura organizacional do hospital foi se modificando ao longo da história, surgindo como nave e claustro na Idade Média e evoluindo para um sistema radial já no final do período. Contudo, foi no final século XVIII, quando o sistema arquitetônico hospitalar evoluiu para pavilhões, e foi nesse momento em que se iniciou um estudo mais detalhado sobre esse tipo de equipamento, partindo de propostas de ventilação, iluminação e separação entre tipos de doenças e sexo, mas mantendo o caráter de vigilância e exclusão social. Nesse momento, os hospitais passam a se apresentar como uma instituição de cura e recuperação, não mais de confinamento e aguardo da morte. 20


Nesse sentido, no século XIX, ao edifício hospitalar passam a ser implantadas áreas ajardinadas, que auxiliam na recuperação dos doentes, permitindo e incentivando caminhadas e passeios. Essa é uma prática que vem se estabelecendo ao longo do tempo, uma vez que no panorama atual essa preocupação com os usuários é representada pelo conceito de humanização do tratamento de saúde, que busca a valorização do convívio e o bem estar do ser humano. Dessa forma, ao longo do século XX, o hospital tradicional responsável pela cura de seus pacientes foi se transformando progressivamente, assumindo cada vez mais a função de cuidar além da função de curar. Nesse momento, a arquitetura hospitalar assume papel importante na humanização desses ambientes, oferecendo espaços qualificados para o desenvolvimento de ambas as atividades, tanto de curar quanto de cuidar. A imagem do hospital sendo um lugar frio e impessoal passou a ser combatida, na intenção de alcançar ambientes mais confortáveis, aconchegantes e acolhedores, o projeto arquitetônico passou a incorporar novas preocupações, pode-se citar os fluxos propostos, a setorização, a sustentabilidade da obra, em construção e finalizada, até a iluminação e ventilação, entre outros. Em suma, o conceito de humanização trouxe para a área da saúde as necessidades psicológicas dos usuários, pacientes, acompanhantes e funcionários, incentivando o estreitamento das relações médico-paciente e paciente-instituição. Esse movimento de humanizar o atendimento, característica mais marcante no século XX, levou ao questionamento da situação de pacientes terminais, sobre o tipo de atendimento que recebiam e onde recebiam, pode-se dizer que o surgimento dos hospices (detalhado mais adiante) está relacionado com essa ação de melhorar o atendimento e o ambiente hospitalar presente desde seu surgimento. 21


Humanização do ambiente hospitalar

Boa sinalização, projeto paisagístico, esperas bem dimensionadas. Não se trata apenas de dimensionar, mas sim se certificar de que o edifício todo está buscando o bem-estar do usuário. A previsão de áreas abertas, bem iluminadas, bem ventiladas, com temperatura adequada, deve ser considerada. A colocação de quadros com visões tranquilizadoras, o uso adequado de cores ou utilização de música ambiente selecionada podem ser fatores decisivos para a melhoria do estado psicológico dos pacientes (CARVALHO apud MARTINS, 2004). A arte deve ter um papel importante no hospital humanizado, notadamente em locais de longa permanência, como em internações, em aplicação de tratamentos, esperas, levando paciente e trabalhadores à diminuição do estresse a que estão submetidos. Não apenas esculturas ou pinturas podem ser utilizadas, mas performances mais dinâmicas, como grupos teatrais e de música, que podem transformar momentos de dor em vivência profunda e troca de experiências. O grupo Doutores da Alegria tem demonstrado a existência de alternativas inovadoras para a transformação do ambiente hospitalar (CARVALHO, 2014). O uso da cor em unidades de saúde é difícil e perigosa. Esse fato acaba conduzindo ao uso de tonalidades pastéis e cores frias que são facilmente aceitas, mas possuem a propriedade de aumentar a tristeza e a depressão (CUNHA, 2004; COSTI, 2002). Uma técnica segura e adaptável é a previsão de objetos com cores fortes, que podem ser retirados ou modificados a Grupo Doutores da Alegria depender do estado de ânimo e a faixa 22

fonte: http://www.editorasegmento.com.br/fotos/Melhor/Edicao-321/Doutores-da-alegria-01.jpg


etária. Podem ser painéis removíveis, cortinas, assentos, placas em portas, quadros, objetos de arte, aparelhos telefônicos, enfim, objetos que permitam considerar a cor como um aliado no bem-estar geral. Cada decisão de projeto deve conspirar para que os usuários dos ambientes de saúde – tanto funcionários, visitantes ou pacientes – se sintam a vontade. Lugares para leitura e deambulação, controles individualizados de iluminação e temperatura, a utilização de jardins internos são providências simples que podem ser adotadas com êxito. Essa intenção de melhorar a vivência do paciente através da humanização abrange todas as situações relacionadas ao ambiente hospitalar, uma vez que qualquer forma de diminuir o sofrimento é válida. Principalmente em um dos momentos de mais fragilidade que é o da terminalidade, quando o paciente tem consciência de que não há mais cura para sua doença. Nesse caso, a partir do conceito de humanização surge a necessidade de qualificar o atendimento a esse paciente, oferecendo um ambiente em que ele possa viver de forma digna seu tempo determinado de vida. fonte: https://aslathedirt.files.wordpress.com/2015/06/children1.jpg fonte: https://psicologiahospitalarsite.wordpress.com/2016/03/30/79/

23


A questão da morte para a filosofia

Atualmente, com a crescente violência presente nos meios urbanos, a questão da morte parece banalizada, apesar de ter muitos relatos e casos acontecendo, as pessoas procuram evitar o assunto, como se fosse algo exterior a própria vida humana, como se não fosse algo natural. Por outro lado, na história o tema foi tratado de diversas formas diferentes por campos do conhecimento diferentes. Na filosofia muitos se propuseram a discutir o tema, sendo Platão o primeiro a dizer que “filosofar é aprender a morrer”, para ele a morte é a separação do corpo e da alma, da mesma forma que o nascimento é o aprisionamento da alma ao corpo. A alma continua, para ele a alma é eterna, ela se liberta e o corpo perece. Quando o homem filosofa ele treina a separação, busca conhecer as verdades absolutas do mundo, o conhecimento verdadeiro, já que um componente da filosofia é pensar a vida e viver a partir desse pensamento, ou seja, refletir sobre a existência e existir de acordo com essa reflexão, abandonando as alegrias e tristezas que se sente. Ele é o primeiro que traz a morte para a vida, ou seja, refletir sobre a morte faz mudar o jeito de viver. Nesse sentido, há duas grandes concepções filosóficas sobre esse tema e elas se debatem, a primeira é a idealista, em que a morte é um tipo de passagem, em que o corpo e alma estão associados e com a morte o corpo perece e a alma continua. A segunda é a materialista, que vai propor que a morte é o fim, é o momento em que tudo acaba. Portanto, essa é a única vida que existe, cada momento é irrecuperável e deve ser vivido da forma mais intensa possível. Epicuro também reflete sobre o tema da morte, para ele a vida é um exercício para a morte, mas não como Platão, pois Epicuro se encaixa na concepção materialista de que a morte é o fim. Para ele a vida deve ser vivida a base 24


de prazeres, buscando respeitar estritamente aquilo que o corpo reclama como necessário. A reflexão aqui se justifica na medida em que a morte pode trazer desconforto, desprazer e dor, contudo é inevitável, então a conclusão a que se chega é que quando a morte determina a finitude da vida, por consequência também lhe confere o seu valor. Concordando com essa lógica, Espinoza se encaixa na concepção materialista, ele considera que o homem tem uma essência que é uma possibilidade de agir em função de uma energia vital, a qual ele denomina de potência de agir. Dessa forma, para analisar a vida de alguém deve-se analisar as oscilações da sua potência de agir ao longo de um certo intervalo de tempo. As relações entre homem e universo podem significar ganho de potência, quando se está em harmonia com a parte que está se relacionando, isso compõe um todo mais potente, isso gera a alegria. Por outro lado, a morte é toda relação que se mantém com outras partes do universo e que rouba potência de agir, que apequena, ou seja, morre-se a cada tristeza, a cada instante entristecedor. A partir da análise desses pensadores conclui-se que a morte vem sendo discutida desde a Grécia Antiga, mas como uma forma de compreender a importância da vida, a importância de se aproveitar todos os instantes, e isso no final da vida se maximiza, na medida em que um paciente possui um tempo determinado de vida ele necessita realmente viver esse tempo com qualidade e dignidade.

25


A questão do tempo para a filosofia

De suma importância para este tema está a questão do tempo. Uma vez que o diagnóstico diz que a doença não será vencida e que o paciente tem determinada quantidade de tempo de vida é preciso refletir acerca do significado dessa situação, afinal, esse tempo não será sentido da mesma forma para o paciente e para as outras pessoas. Na filosofia, Epicuro discute o tema do tempo, diz que só existe um tempo possível de ser mensurado, que é o tempo do prazer, mas não qualquer prazer, é preciso ter a capacidade de ter prazer com coisas simples. Nesse sentido, uma vida ruim é uma vida que necessita de coisas sofisticadas para se ter prazer. Epicuro também acredita numa temporalidade que não pode ser medida igualmente para todos, pois a temporalidade é uma sensação, uma percepção. Sendo assim, para ele toda perspectiva de percepção temporal surge a partir da relação entre prazer e dor, existe tempos que demoram a passar e existem tempos que passam sem se notar, tempos que se lamenta a curta duração ou que se deseja que acabe o mais rápido possível. Já no trabalho de Agostinho ele discute a noção de passado, presente e futuro, para ele nada pode existir no passado, no passado não há existência material, portanto tão pouco pode existir no futuro, logo só resta o presente, porém esse também não permanece, pois se assim fosse não viraria passado e seria eternidade. Ele chega a conclusão que os tempos são um deixar de ser, deixa-se de ser presente para ser passado. Com isso, ele cria categorias de tempo que deixam de ser, passado é o presente quando lembramos dele, passado é memória, uma produção intelectiva no presente, deixa de ser passado para ser presente. O futuro é o presente quando pensamos sobre ele, quando antecipamos e projetamos, ou seja, ele só existe para nós. Essa temporalidade da percepção não é a temporalidade do mundo, mas sim a da alma. A temporalidade do 26


mundo é a do instantâneo, da impossibilidade de duração, nada no mundo dura, o tempo do mundo é o tempo do relógio, o tempo do já foi. Já a temporalidade da alma é regida por uma lógica própria, é repleta de avanços, recuos, acelerações, retardamento e durações diferentes. Nesse sentido, entende-se que não se pode mensurar o tempo de vida do outro, a análise de que certa quantidade de dias ou meses é muito ou pouco pertence a cada um, pois esse tempo passará em velocidades diferentes para pessoas diferentes.

Ode a idade Pablo Neruda Mediremos la vida por metros o kilómetros o meses? Tanto desde que naces? Cuanto debes andar hasta que como todos en vez de caminarla por encima descansemos, debajo de la tierra? Al hombre, a la mujer que consumaron acciones, bondad, fuerza, cólera, amor, ternura, a los que verdaderamente vivos, florecieron y en su naturaleza maduraron, no acerquemos nosotros la medida del tiempo que tal vez es otra cosa, un manto mineral, un ave planetaria, una flor, otra cosa tal vez, pero no una medida.

27


Introdução ao tema Hospice

O Brasil é culturalmente um país onde não se sabe lidar com o tema da morte; enquanto o valor da qualidade de vida é inquestionável, a valorização do fim da vida é quase ignorada. A busca por humanização dos ambientes hospitalares se estende a todas as áreas, e a situação de terminalidade é uma das mais sensíveis e que demandam uma atenção especial, principalmente pelo caráter excludente que recebe. Raras são as universidades de medicina do país que têm disciplinas relacionadas a cuidados paliativos — aqueles introduzidos depois do diagnóstico de uma doença incurável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve a prática de cuidados paliativos da seguinte forma: “Cuidados paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.” Em 2015, estima-se que 1,1 milhão de mortes ocorreram no Brasil e, destas, 850 mil foram mortes esperadas, porque eram pessoas muito idosas ou com doença crônica (ARANTES, 2012), então, é preciso discutir esse assunto. Ainda hoje, é possível encontrar situações em que o paciente com doença terminal recebe tratamentos intervencionistas que oferecem pouco ou nulo benefício a qualidade de vida deste sujeito. Tal situação se relaciona intimamente com o fato da cultura nacional não discutir o tema da morte; característica mais comum nos países latinos do que nos países anglo-saxões e orientais. Neste contexto reside a importância de se discutir e desenvolver o assunto. Em 2010, a publicação The Economist, da Inglaterra, realizou uma pesquisa com quarenta países buscando avaliar a qualidade de morte em cada um. Sendo 28


que para julgar foram levantados dados como a disponibilidade de acesso a leitos de cuidados paliativos, formação na área para os profissionais da saúde nos cursos de graduação, número de leitos de cuidados paliativos disponíveis, etc. Nessa pesquisa o Brasil foi considerado o terceiro pior país para se morrer, ficando a frente, por pouco,apenas de Uganda e Índia.

29


O QUE SÃO CUIDADOS PALIATIVOS?

Ele beneficia os sistemas de saúde, reduzindo as internações hospitalares desnecessárias

É o cuidado para pacientes com doenças que ameaçam a vida e seus familiares

Busca o alívio de sofrimentos físicos, psicosociais e espirituais.

Pode ser oferecido em casas, centros de saúde, hospitais e hospices

Pode ser feito por muitos tipos de profissionais da saúde e voluntáros

Melhora a qualidade de vida

Dos 40 milhões de pessoas que precisam de cuidados paliativos por ano:

QUEM PRECISA?

39% tem

doenças cardiovasculares

QUAIS SÃO AS BARREIRAS?

30

34% tem

câncer

10% tem

6%

doenças pulmonares

tem

HIV/AIDS

5% tem

diabetes

Má consciência pública de como os cuidados paliativos podem ajudar

Barreiras culturais e sociais, como crenças sobre a dor e a morte

Regulações restritivas em excesso para o uso de opióides no controle da dor

Habilidades insuficientes dos trabalhadores na área da saúde


QUANDO SÃO NECESSÁRIOS?

Morte

Diagnóstico

Progressão da doença

Suporte ao luto

QUAIS SÃO AS FALHAS? 86%

das pessoas que precisam de cuidados paliativos não recebem

Revisar leis e processos para melhorar o acesso a opióides

83%

da população mundial não tem acesso à alívio da dor

Incluir cuidados paliativos no treinamento de trabalhadores da área da saúde

98%

das crianças que precisam de cuidados paliatvios vivem em países de baixa e média renda

O QUE OS PAÍSES PODEM FAZER?

Prover serviços de cuidados paliativos, inclusive através de centro de saúde e hospices

31


Breve histórico dos hospices

O movimento chamado de hospice moderno como é conhecido atualmente foi fundado pela médica inglesa Dame Cicely Saunders, a partir de conhecimentos e técnicas desenvolvidas desde que foi voluntária no St. Luke Hospital. Em um primeiro momento ela se qualificou como enfermeira para cuidar dos pacientes e tentar aplicar técnicas de controle da dor, porém não possuía a autonomia que precisava para esses procedimentos, ela ainda se tornou assistente social, para só então, com 37 anos, tornar-se médica, quando percebeu que esse seria o única caminho para conseguir ajudar pessoas com dor da forma que ela acreditava. Antes de se tornar médica, Saunders observou no St. Luke Hospital que os pacientes que estavam internados recebiam regularmente remédios para dor, mesmo que não estivessem com dor, era um sistema quase que automático que funcionava, porém ela discordava desse modelo, pois para ela cada paciente tinha que receber a medicação que lhe era necessária, nas horas em que fossem necessárias. Essa vivência no hospital colaborou para que ela desenvolvesse seu próprio método de trabalho. Seu pioneirismo começa quando ela decide abrir uma casa voltada especialmente para cuidar de pacientes com doenças incuráveis. Com o foco do tratamento no paciente e não na doença, com o princípio de controle total da dor, um lugar dedicado tanto aos pacientes quanto a pesquisa por novos métodos que proporcionassem qualidade de vida e trouxesse dignidade para esses pacientes. Saunders conseguiu fundar seu próprio hospice em 1967, a partir da doação de um paciente chamado David Tasma, ela cuidou dele até a sua morte. Então em Sydenham, South East London, ela fundou o Saint Christopher’s Hospice. 32


Foi a partir de Tasma que Saunders compreendeu que ajudar um paciente em situação de terminalidade vai muito além dos cuidados físicos, mas também emocionais, sociais e espirituais. Desde a abertura do St. Christopher’s mais de duzentas e vinte unidades já foram estabelecidas por todo o Reino Unido. Muitas dessas unidades possuem também equipes especializadas em cuidados paliativos que vão até as casas dos pacientes, sempre trabalhando com outros agentes da saúde. I nicialmente os hospices tratavam pacientes com câncer avançado, contudo, ao longo dos anos foram sendo incluídos outros pacientes com doenças tão graves quanto, como doenças degenerativas e AIDS. Muitas pessoas pelo mundo todo visitam os hospices na Inglaterra para ver o que pode ser feito por aqueles que precisam. Seguindo os exemplos de Cicely Saunders, eles retornam para seus países decididos a dar ajuda similar para seu próprio povo.

Dame Cicely Saunders com seus pacientes fonte: http://www.stchristophers.org.uk/about/history . acessado em: Agosto de 2017. fonte: https://cicelysaundersinternational.org/. acessado em Setembro de 2017

33


O que é e o que não é o hospice?

O hospice não é um hospital, é uma instituição que pode fazer parte de um hospital, mas em geral dispõe de um espaço separado. Possui foco no bem-estar do paciente, não se trata de curar, mas sim de cuidados e presença, tem como objetivo o alívio da dor e outros sintomas. O hospice não é um lugar para morrer. É um lugar para viver o tempo de vida da melhor forma possível quando o paciente se encontra fora de possibilidade terapêutica. O hospice não é apenas um lugar para pacientes. A situação de terminalidade exige as melhores condições tanto para o paciente quanto para os parentes próximos e as equipes de trabalho. A filosofia do Hospice é precisamente o esforço que procura oferecer qualidade e estrutura para o fim da vida. A mensagem mais importante da filosofia Hospice é que o atendimento ao paciente e seus parentes é único e deve ser organizado de forma individual, cada caso é um caso específico, que deve ser atendido com base no fato de que a desordem pode ser física, mental, social e espiritual/existencial. Essa abordagem individual deve se basear em evidências, portanto são atividades indissociáveis de um hospice a educação de profissionais e a pesquisa contínua.

34


Referências Iniciado na Inglaterra, o movimento logo se disseminou pelo mundo. Em 1976, os Estados Unidos criaram seu primeiro hospice seguindo tais princípios, em New Haven, Connecticut. Dados recentes mostram que nos Estados Unidos já há cerca de três mil serviços e 450 mil pacientes inscritos no programa de Cuidados Paliativos (National Hospice and Palliative Care Organization).

St. Christopher’s Hospice Londres, Inglaterra

Assisi Hospice Cingapura

St. Margaret’s Hospice Londres, Inglaterra

North London Hospice Londres, Inglaterra

35



02| BASE CONCEITUAL


Princípios de

design do hospice

Os princípios de design arquitetônico tiveram como referência o “Program for Det Gode Hospice i Danmark” (Manual para um bom hospice na Dinamarca), um programa lançado em 2006, pela Realdania, uma empresa dinamarquesa sem fins lucrativos que apoia projetos filantrópicos nos campos da arquitetura e do planejamento. O Manual para um Bom Hospice na Dinamarca é um programa que pode ser usado como inspiração, livro de referência ou lista de verificação para o planejamento de novos hospices ou a expansão dos existentes. Trata-se de obter conteúdos e necessidades para se fundir em um equipamento tanto humano, quanto profissional e arquitetônico que apoie as pessoas que precisam desse atendimento. Esse capítulo serviu de base para o entendimento do espaço físico do hospice proposto pela Realdania, focado nas necessidades dos pacientes e conforto durante toda a permanência. Cada cômodo é descrito detalhadamente no programa dinamarquês, contudo essas descrições serão utilizadas como inspirações para as possíveis soluções, pois o desenho final será baseado em outras fontes e decisões além dessa. O hospice não é um hospital, portanto é importante projetar uma instituição com o mínimo possível de associações com o ambiente hospitalar. Isso implica que as tecnologias de assistência médico-hospitalar, se possível, devem estar dispostas de forma discreta, para que se crie uma atmosfera caseira. Dentro dessa atmosfera todo os aspectos do edifício são de grande importância para os usuários, pacientes, famílias e trabalhadores, uma vez que não apenas as salas de uso comum, como jantar e estar, mas também os corredores, jardins e pequenos nichos possam ser usados para criar interações sociais. 38


fonte: Program for Det Gode Hospice i Danmark


Oferecer proximidade com áreas verdes, inclusive com acesso dos pacientes

Áreas comuns e espaços públicos devem promover relações sociais.

A equipe deve estar perto dos quartos, da enfermaria e da administração.

Espaço aberto com salas adjacentes, diferentes grau de privacidade.

A partir da cama ter vista do exterior, jardins, arredores, etc.

Foco na sociabilidade mas com divisões em zonas diferentes.

A entrada principal: deve transmitir uma impressão amigável, positiva e acessível, onde a entrada é claramente marcada e o estacionamento próximo. O edifício e o entorno: escolha de materiais e elementos arquitetônicos dispostos de forma a promoverem as relações entre usuários e entre usuário e o lugar. Os espaços verdes: devem se conectar com o interior do edifício através de aberturas e vistas, com a possibilidade de acesso pelos usuários externos ao hospice, com o propósito de desenvolver relações sociais. Esses espaços são importantes como espaços de reflexão dos usuários, por isso deve ser acessível a partir de vários pontos do edifício, seja pelas áreas mais sociais ou áreas mais íntimas. A enfermaria: deve estar conectada com a área de estar dos funcionários, com o espaço verde e com a área de reflexão. Estar do paciente: deve prover uma atmosfera confortável e caseira com pinturas e fotografias pessoais, itens pessoais, cores e texturas quentes, mas não deve ser muito grande, para que incentive o uso das áreas públicas. Uma grande janela com acesso direto ao terraço ou aos espaços verdes é indispensável, desde 40


Incorporar um ponto de encontro natural: lareira, tv, aquário, piano, etc.

Espaço para reflexão com caráter espiritual, mas sem símbolos religiosos.

A área de estar dos quartos não deve ser grande demais.

Área mais reservada para ler, relaxar ou dormir.

Áreas flexíveis que podem lidar com várias situações.

Permitir que parentes, convidados passem a noite com o paciente.

que garanta a oportunidade de se fechar, controlando o grau de privacidade e insolação. O mobiliário deve ser moderno, confortável e funcional sem o toque institucional. Estar de uso comum: conectado com a enfermaria, um lugar para reunião casual entre pacientes, parentes, trabalhadores e voluntários. A sala deve ser separada em pequenas zonas com o propósito de criar nichos de sociabilidade. Pode-se também utilizar elementos que são naturalmente atrativos, como lareira, televisão, piano, aquário, etc. A sala deve ser atrativa para atividades sociais, como jantar, cerimonias, apresentações, concertos, leituras coletivas, etc. Estar dos funcionários: conectado com a enfermaria, os quartos e a administração. Aberto para a paisagem ou jardins. Com salas de reunião, salas de consulta internas. Áreas para grupos e também espaços individuais. As cores devem ser enérgicas e dinâmicas para criar uma atmosfera positiva e alegre. A área de reflexão: deve ser um lugar para terapias e meditação. Deve ter um caráter espiritual, mas sem nenhum símbolo religioso específico. Esse espaço deve prover paz e silêncio. 41


Diretrizes arquitetônicas para hospices

O desenho dos ambientes do hospice deve seguir um princípio fundamental que é o de aumentar o senso de conexão entre as pessoas e entre o lugar. Um paciente deve se sentir, tanto quanto possível, como se estivesse em casa e ao mesmo tempo em companhia de outras pessoas. A arquitetura deve se propor a discutir as relações humanas e auxiliar nessas conexões, apresentando espaços que façam com que os usuários se sintam acolhidos, confortáveis, evitando o caráter de instituição que os hospitais possuem. [...] o programa indica necessidades a serem satisfeitas no projeto por meio de enumeração das partes utilitárias dos espaços úteis que deverá conter. Porém, não especifica claramente suas relações, uma vez que isso seria postular restrições ao arquiteto quanto à distribuição, essa habilidade especial que apenas ele próprio tem, para dar ordem e converter essa enumeração linear de palavras em uma disposição de âmbitos (MARTINEZ, 2000).

A arquitetura, portanto, é responsável por humanizar o atendimento em um equipamento como o hospice, a partir de alguns partidos adotados, como por exemplo, a adoção de quartos individuais ao invés de enfermarias com várias camas, a possibilidade de quartos para familiares passarem a noite com os pacientes. Além de incorporar fatores sociais inerentes como cultura, religião, relacionamentos e lugares feitos sob medida para adoração, são itens que podem e devem ser considerados na hora de desenvolver o programa. Pode-se citar outras considerações fundamentais como maximizar a luz natural, a possibilidade de observar paisagens naturais de dentro dos quartos e também ter acesso a uma área externa a partir do quarto. No entanto, essas medidas precisam ser tomadas levando em consideração a intenção de manter um alto grau 42


de privacidade para espaços mais íntimos. A importância das dicotomias dentro/fora, inclusão/exclusão, vida/morte é intrínseca ao desenho de um hospice. A arquitetura utilizada no hospice deve criar um edifício que possa ser lido e entendido de forma clara e fácil, com um interior de alta qualidade espacial, com detalhes estéticos e que desfrute de vistas para paisagens naturais. Ainda, o edifício deve possuir um caráter receptivo e seguro, ao mesmo tempo que seja interessante e divertido. Por exemplo, algumas áreas devem possuir uma escala doméstica, isso pode trazer conforto aos usuários. O edifício precisa achar um equilíbrio entre o hospital, o hotel e a habitação. Portanto, ele deve possuir, entre outras coisas, a praticidade do hospital, o conforto do hotel e ser quente e familiar como a habitação. O design do Evelina Children’s Hospital em Londres é baseado nesse conceito e a maioria dos quartos possuem vista para um parque. As camas estão em um nível mais alto, dessa forma a vista não é bloqueada pela avenida localizada entre eles, pois os pacientes olham sobre a avenida, direto para o parque. O hospice tem como função aumentar o senso de comunidade entre seus usuários, pois eles passam por uma experiência difícil de lidar, e a interação entre pessoas na mesma situação compartilhando seus problemas pode ajudar mutuamente a lidar com um diagnóstico ruim. fonte: http://www.adeptfacades.com/images/evelina/evelina-3.jpg

43


LOCAÇÃO E LUGAR Muitos hospices estão localizados na zona rural, bem isolados de quaisquer vizinhos, existem muitas razões para a escolha de um lugar assim, variando de disponibilidade da terra, doação da terra ou o desejo de fazer com que o hospice seja um refúgio da vida citadina, onde se possa fugir do cotidiano e tirar férias. Contrariando essa lógica, existe a visão de que o hospice, se possível, deve estar localizado na cidade, onde adolescentes possam se relacionar com outros adolescentes, os pacientes acamados podem ouvir os ruídos naturais da cidade – ouvir os carros, ouvir as crianças e se sentir menos isolados. Na cidade ou no campo, é benéfico ao hospice se ele tiver contato com um cenário natural, seja um parque ou um bosque, em pelo menos um lado do edifício. A escolha do lugar engloba vários aspectos. O lugar deve ser próximo a área central de serviços, pela facilidade de acesso através de veículos e transporte público. O lugar deve ser avaliado se possui os requisitos mínimos para abrigar um hospice, como:

- espaço adequado para estacionamento e movimento de veículos, inclusive em emergências. - espaço no terreno para separar áreas públicas de áreas de serviço. - possibilidade de alocar quartos dos pacientes para vistas e luz solar. - possibilidade de prover privacidade para os quartos dos pacientes. - Espaço suficiente para futura expansão.

EXTERIOR DO EDIFÍCIO

Ao entrar no edifício, é importante fazer uma transição agradável entre o ambiente externo e o ambiente interno, com o auxílio de uma entrada coberta, mantendo um senso de escala do edifício. Essa entrada também pode 44


ser configurada por uma varanda coberta com lugar para sentar, esse gesto de aproximação é para criar uma sensação de conforto antes de entrar. Os próprios pacientes precisam se sentir confortáveis e tranquilizados pela arquitetura, precisam de um design não institucional para que eles não se sentam em um hospital, e sim em um equipamento que irá cuidar deles como se estivessem em casa. EXTERIOR-INTERIOR O uso da relação interior-exterior é uma ferramenta valiosa para o projeto de um hospice, pois ao levar luz natural para dentro do edifício também garante-se uma conexão visual, fazendo um edifício grande menos complexo para o visitante. Para os pacientes, pode-se utilizar varandas junto aos quartos com acesso da cama ou cadeira de rodas para tomar sol e proporcionar ventilação, elas permitem ao paciente com pouca mobilidade ir para uma área externa sem ter que deixar o edifício. Já nas áreas comuns é importante garantir grandes aberturas como na área de estar/jantar e circulação. JARDINS E PAISAGISMO Ter uma agradável vista a partir dos quartos dos pacientes ou outras áreas comuns, como sala de estar é uma importante ferramenta para se manter um estado mental de tranquilidade. Caminhos pelos jardins precisam de uma atenção especial em relação ao piso, para serem usados eles precisam ser de uma superfície dura que permita o uso de cadeiras de rodas e/ou macas.

45


USO DE CORES

O uso de cores na área interna do hospice é uma ferramenta importante para criar uma atmosfera agradável, desde a cor do carpete ou outros tipos de pisos, a cor das paredes, mobiliário e até acessórios. O uso correto das cores pode criar um espaço mais produtivo de trabalho para a equipe, e pode oferecer cômodos mais relaxantes para os pacientes e os membros das famílias. As cores tem a capacidade de alterar o humor das pessoas, pode-se despertar sentimentos de calor, de intimidade e serenidade, por exemplo. Por outro lado, o uso de cores deve ser feito de forma cuidadosa, pois muitas cores causam sentimentos misturados, o azul, por exemplo, pode ser calmo e diminuir a frequência cardíaca, mas também pode causar sentimentos depressivos. Cores geralmente caem em dois grupos, quentes e frias – cores quentes são as que devem ser usadas em um hospice, ao contrário dos tons frios de cinzas ou verdes das paredes dos hospitais. Um outro material importante para essa questão de quente e frio é a madeira natural, pois ela tem uma aparência quente e pode ser usada em praticamente tudo, piso, janelas, soleiras, mobiliário, portas, etc. Em geral, branco morno é uma boa opção para o quarto dos pacientes. Eles são neutros e as cores podem ser aplicadas nas cortinas e nos tecidos. Carpete com verde quente ou madeira natural laminada são boas escolhas para o piso. Dicas de laranja são bem indicadas para crianças pois estimulam uma combinação de reações físicas e emocionais, ela é conhecida como a “cor divertida”.

46


fonte: https://itdesignblog.com/2012/10/05/um-hospital-colorido/#jp-carousel-24963

fonte: http://thermanstatom.com/site/wp-content/uploads/2014/12/Lobby1forThurman-WEB.jpg

fonte: https://i.pinimg.com/600x315/47/8f/a3/478fa3aaa6ce1662f778827ca69daff8.jpg


Conceito de biophilic design

Biofilia: amor à vida; instinto de preservação, de conservação.

Se o design não se concentrar em aspectos do mundo natural que contribuem para a saúde humana na luta antiquíssima para se adequar e sobreviver, não é biofilia. (Stephen R. Kellert) O projeto biofílico busca conectar a necessidade humana inerente de se afiliar à natureza no ambiente moderno construído. Uma extensão da teoria da biofilia, o design biofílico reconhece que nossa espécie evoluiu mais de 99% de sua história na resposta adaptativa ao mundo natural e não às forças humanas criadas ou artificiais. Ficamos biologicamente codificados para se associar a características e processos naturais. Ao invés de ser vestigial - ou relevante para um mundo que já não existe -, essa necessidade é considerada fundamental para a saúde física, mental e para o bem-estar das pessoas. Uma vez que os centros urbanos passaram a ser o destino da maior parte da população, o ambiente construído se tornou o “habitat natural” da humanidade, assim, o objetivo fundamental do design biofílico é satisfazer a necessidade inata de se afiliar à natureza. A realização deste objetivo depende do cumprimento de certas condições. Primeiro, porque o design biofílico se concentra nos aspectos da natureza que, ao longo do tempo evolutivo, contribuíram para a saúde e bem-estar. Portanto, qualquer ocorrência de natureza no ambiente construído não pode ser chamado de design biofílico, se não tiver influência nas tendências inatas de nossa espécie que tenham avançado nossa aptidão e sobrevivência. Outra característica distintiva do design biofílico é a ênfase na configuração geral e não a ocorrência única ou isolada de natureza. Como em um 48


ecossistema as ocorrências da natureza devem estar relacionadas umas as outras, o ambiente deve ser constituído pela soma das partes. Em contrapartida, os habitats compostos de elementos desconectados e não relacionados proporcionam poucos benefícios aos seus usuários. Assim, simplesmente inserir um objeto da natureza em um ambiente construído humano vai exercer quase nenhum impacto no desempenho das pessoas, se não estiver relacionado ou em acordo com outras características mais dominantes da configuração espacial. A eficácia do design biofílico depende de intervenções que estejam conectadas, complementares e integradas no ambiente geral ao invés de serem isoladas ou transitórias. Embora o ser humano possa estar biologicamente inclinados a afiliar-se à natureza, para que esse contato seja útil, deve ser nutrido através de experiência repetida e reforçada. Os benefícios do design biofílico dependem do contato envolvente com a natureza ao invés de experiências ocasionais, excepcionais ou efêmeras.

Muitos quartos de hospital são dominados por tecnologia e desprovidos de qualquer contato com a natureza. fonte: The Practice of Biophilic Design

A pesquisa de Kellert tem comprovado que a visão da natureza pode melhorar a recuperação e reduzir a necessidade de remédio potentes para a dor.

49


Essas características distintivas produzem um conjunto de cinco condições para a prática efetiva do design biofílico. Cada um sublinha o que é e não é design biofílico: - O design biofílico enfatiza as adaptações humanas ao mundo natural que, ao longo do tempo evolutivo, provaram ser fundamentais para o avanço da saúde, da aptidão e do bem-estar das pessoas. As exposições à natureza irrelevantes para a sobrevivência exercem pouco impacto no bem-estar humano. - O design biofílico depende do engajamento repetido e sustentado da natureza. Uma experiência ocasional, transitória ou isolada da natureza exerce apenas efeitos superficiais e fugazes sobre as pessoas. - O design biofílico requer intervenções que se conectem e formem a configuração geral ou o espaço. O funcionamento ideal acontece quando vários elementos compreendem um conjunto interconectado. Por exemplo, uma planta isolada ou uma imagem fora do contexto ou em desacordo com outras características espaciais dominantes não são um design biofílico efetivo. - Ao satisfazer a inclinação inerente a afiliar-se à natureza, o design biofílico engendra um apego emocional a espaços e lugares específicos. Esses vínculos emocionais motivam o desempenho das pessoas e nos levam a identificar e manter os lugares que habitamos. - O design biofílico promove interações e relações positivas e sustentadas entre as pessoas e o ambiente natural. Os seres humanos são uma espécie profundamente social cuja segurança depende de interações positivas dentro de um contexto espacial. O design biofílico efetivo promove conexões entre as pessoas e seu meio ambiente, aprimorando os sentimentos de relacionamento e um senso de associação em uma comunidade significativa. 50


O pressuposto moderno de que os seres humanos não precisam mais se afiliar à natureza é revelado na prática generalizada de colocar as pessoas em ambientes sensoriais privados e artificiais, como prédios de escritórios, hospitais, escolas, centros comerciais - com pouco ou nenhum contato com forças naturais e estímulos. Grande parte do ambiente construído de hoje foi projetado sem luz natural adequada, ventilação natural, materiais naturais, vegetação, visões, formas ambientais e outras afinidades evoluídas para o mundo natural. Esse é apenas o começo no caminho de entender que esses habitats ambientalmente empobrecidos favorecem a fadiga, sintomas de doenças e os problemas de desempenho, a simples introdução de iluminação natural, vistas externas e vegetação podem resultar em maior bem-estar.

Thorncrown Chapel, Eureka Springs - Arkansas fonte: https://s-i.huffpost.com/gen/1867385/images/o-CHAPEL-facebook.jpg

51


A aplicação efetiva do design biofílico começa com a aderência aos princípios básicos descritos anteriormente. A partir daí, práticas específicas de design biofílico podem ser empregadas para ajudar a implementar resultados positivos e benéficos. Essas aplicações de design biofílico podem ser resumidas da seguinte forma:

EXPERIÊNCIA DIRETA DA NATUREZA • Luz • Ar • Água • Plantas • Animais • Paisagens naturais e ecossistemas • Clima

EXPERIÊNCIA DE ESPAÇO E LUGAR • Prospecto e Refúgio • Complexidade organizada • Integração de peças a partes integrantes • Espaços de transição

52

EXPERIÊNCIA INDIRETA DE NATUREZA

• Imagens da Natureza • Materiais naturais • Cores naturais • Mobilidade e direção • Anexo cultural e ecológico ao lugar • Simulação de luz natural e ar • Evocando a natureza • Riqueza da informação • Idade, mudança e marcas do tempo • Geometrias naturais


fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b7/ Kroon_Hall_interior_-_2.jpg

fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/Kroon_Hall_interior_-_3.jpg

fonte: https://images.adsttc.com/media/images/500d/ee90/28ba/0d66/2500/1bd3/ large_jpg/stringio.jpg?1361391686

fonte: https://www.ambius.com/blog/wp-content/uploads/2016/03/GWU-Greenwall_Biophilia.jpg

fonte: https://i.pinimg.com/originals/f4/90/52/f49052bb538083780b7b590d8b982632.jpg

fonte: https://i.pinimg.com/736x/2d/73/65/2d7365c7303d3ba75845c6ce94ddbbea--interior-office-office-interiors.jpg


Espaços Públicos contextualização

A cidade contemporânea é constituída por complexas relações entre seus espaços que sofrem influências de fatores sociais, políticos e econômicos, tendo na somatória desses fatores a conformação das suas espacialidades e sociabilidades. O espaço urbano entra em degradação quando passa a ser negado pelos seus habitantes, uma vez que o desenvolvimento dos meios de comunicação e meios de transporte possibilitam o deslocamento e o contato com áreas distantes em alta velocidade, essa rapidez e possibilidade de conexão com muitos espaços resulta na dificuldade de desenvolver um sentimento de pertencimento a um determinado lugar, esse afastamento da vida cotidiana do espaço urbano que o rodeia faz com que o ambiente urbano perca progressivamente sua importância e sua identidade. Fazendo surgir espaços que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico, afirma Augé (1994). Dessa forma, a cidade começa progressivamente a ser conformada por espaços efêmeros, onde não há mais a identificação com o lugar, são espaços constituídos de forma que permitam as relações sociais pontuais, um lugar marcado para encontrar determinada pessoa ou situação, não mais espaços onde as experiências urbanas se manifestam de forma natural, desenvolvendo as sociabilidades características da vida coletiva. Solá-Morales (2002) caracteriza esses espaços como instáveis e passíveis de constante transformação. A partir dessa reflexão é preciso compreender que a cidade contemporânea é carente de espaços públicos qualificados, ou seja, espaços que possibilitem trocas sociais. Contudo, a definição de espaço público ou privado tem mais a ver com um sentido de posse do terreno do que das sociabilidades que se desenvolve nele. Tanto que Herman Hertezberger (2006) classifica como públi54


co um lugar acessível a todos a qualquer momento e que seja administrado de forma coletiva. Enquanto que o espaço privado tem seu acesso determinado por aqueles que detenham a posse da terra. Por outro lado, ele defende a existência de espaços que tensionam essa relação público-privado, um meio termo entre os dois, uma vez que não importa a quem pertença o domínio da terra o uso e acesso atende a todos. Mesmo assim, só a existência desse espaço não implica a existência de trocas sociais, uma vez que existem exemplos de espaços privados de uso coletivo que obedecem outras lógicas em detrimento das sociabilidades. Um exemplo dessa situação é o shopping center que pertence a agentes particulares, mas é de uso coletivo, porém, obedece a lógica do mercado e do consumo, os usos desse espaço para atividades que extrapolam ou interfiram nesses interesses são arbitrariamente suprimidos. Portanto, são espaços para trocas comerciais e não de lazer e recreação. A partir dessa reflexão, entende-se que há a necessidade de se oferecer espaços, sejam públicos ou privados, que ofereçam áreas livres para o lazer e recreação e que permitam o desenvolvimento das sociabilidades em meio a outras lógicas que constituem as vivências da vida na cidade. Uma alternativa para compreender como são esses espaços e o que devem oferecer é o uso de indicadores baseados no placemaking que serão os pontos de partida para a construção de uma proposta de espaço de uso coletivo que atenda os interesses sociais, buscando relacionar edifício e cidade, além de discutir a acessibilidade, permeabilidade e possibilidade programáticas visando a inclusão social. 55


Espaços Públicos placemaking

O placemaking é um conceito cunhado pela ONG norte-americana, Project for Public Spaces (PPS), para definir os processos de desenho de espaços públicos baseados em pesquisas multidisciplinares que tem como objetivo resgatar a escala humana na cidade, atender os desejos, interesses e necessidades das comunidades locais, instigando o uso e apropriação desses espaços. No programa lançado pelo PPS, Healthy Places, Improving Health Outcomes Through Placemaking, de 2016, surge a seguinte definição: “This report codifies and presents the current evidence based on how placemaking strategies and projects — on a community’s streets, in parks and open spaces, in housing projects, and in diverse public settings— can contribute to improving people’s mental, physical and social health. It explores how built and natural environments that facilitate human connectivity and reduce isolation, while fostering equitable access to the social and economic determinants of health, directly supports human flourishing.” Como estratégia de organização desses indicadores é possível enquadrar seus principais conceitos em cinco áreas, tendo em vista que objetivam a melhoria da saúde mental, psicológica e social dos seus usuários. Sendo elas: o suporte social e interação; recreação ativa e entretenimento; entornos naturais e verdes; alimentação saudável; e por último, caminhadas e ciclismo. Suporte social e interação: desde a Grécia Antiga os espaços públicos são entendidos como locais de excelência para as relações sociais, sendo representados pela ágora, os mercados e os parques. Ainda em 2016, para o Project for Public Spaces quando existe interação social há uma série de benefícios para seus habitantes, sendo os principais o suporte social, as redes de apoio e o senti56


mento de pertencimento a uma comunidade. Para se conseguir isso é possível organizar eventos que busquem explicitamente reunir membros da comunidade de diferentes origens sociais, econômicas e culturais. Visando utilizar as propriedades existentes para transformá-las em lugares de reunião social que podem receber uma ampla gama de atividades e programas, seja construindo áreas cobertas, praças em frente aos edifícios, lotes não empreendidos, ruas adjacentes, entre outros. Recreação ativa e entretenimento: O desenho é um elemento fundamental quando se pensa em espaços públicos, pois quando bem resolvido consegue incentivar passeios recreativos e fomentar atividades físicas entre adultos e crianças. Além disso, outros aspectos são importantes e precisam de atenção especial, como a apropriação do lugar e a geração de um sentido de comunidade que se apresenta quando os habitantes fazem parte do processo de planejamento. Nesse sentido, procurar envolver grupos comunitários e os residentes locais para discutir as ideias sobre melhorias para os espaços de recreação. Programando atividades físicas por meio de linguagens, imagens e métodos que atraiam a população local. Dessa forma, é fundamental melhorar o acesso à pé, de bicicleta e por transporte público e as conexões com parques comunitários locais, parques infantis,parques de atividades físicas e outras recreações ativas. Entornos Naturais e Verdes: Fundamental para a construção de um espaço público de qualidade é a presença da vegetação, uma vez que ela possui a capacidade de tornar um local mais acolhedor visualmente e beneficiar o 57


estado de saúde da população em diversas perspectivas ao reduzir os níveis de ansiedade, depressão e estresse. Além disso, a vegetação tem o potencial de desenvolver a interação e as atividades sociais que constituem o capital social. Uma das estratégias para se conseguir aumentar o número desses espaços é usar terrenos baldios ou qualquer área que guarde um potencial para ser requalificada em espaços verdes e livres, levando esses espaços para mais perto das habitações. Ainda, utilizar-se de elementos naturais que possuam vínculo com melhores resultados da saúde, como árvores, características da água, passeios para caminhar e fauna. Alimentação Saudável: permitir que os consumidores locais tenham acesso a alimentos frescos e saudáveis, que contribuem na redução do impacto ambiental na cadeia de distribuição destes alimentos entre as áreas rurais e urbanas. Para a PPS, a vantagem de se incentivar o hábito alimentar mais saudável e natural toca em questões ambientais, econômicas, sociais e educacionais. Dessa forma, defendem a educação e programação relacionadas à saúde nos espaços públicos, na tentativa de conectá-los com o sistema alimentício local, como mercado de agricultores, bancos de alimentos, etc. Caminhadas e ciclismo: O placemaking é um mecanismo de apoio aos meios de transporte sustentáveis, uma vez que defende que os espaços tornam-se mais atrativos quando são mais acessíveis à pé ou de bicicleta. Portanto, há o incentivo de se melhorar os destinos públicos, especialmente os localizados no centro, próximos a paradas de ônibus, com faixas de pedestres, rampas de acessibilidade, com acesso através de ciclovias, de forma que proporcione uma infraestrutura mais segura aos usuários, seja em cruzamentos, seja no armazenamento de bicicletas, por exemplo. 58


A partir da análise dessas cinco áreas levantadas, entende-se que o ambiente proposto necessariamente precisa se relacionar com os espaços públicos ou de uso coletivo do seu entorno, uma vez que esses o influencia e são influenciados por ele. As áreas livres e espaços públicos devem se relacionar de forma que funcionem como um sistema, dialogando entre si, facilitando o acesso de um para o outro e oferecendo programações conjuntas que reforcem as vivências da cidade. Sendo assim, para se propor um ambiente coerente com o seu contexto urbano há a necessidade de análise de todo o seu entorno, buscando apreender as principais características da região, por exemplo se ela é bem servida do ponto de vista da infra-estrutura urbana, os pontos em que ela é deficiente, compreender o que é possível oferecer em relação à mobilidade, seja no transporte público ou nas vias de acesso. Outros pontos importantes para essa discussão é a questão da permeabilidade e dos acessos aos espaços propostos, visando compreender o controle da circulação, por exemplo, definindo áreas que são totalmente públicas e outras que são de acesso controlado, etc. Tendo como objetivo uma heterogeneidade das atividades, através da inclusão social em suas diversas camadas e possibilidades.

59



03| O LUGAR


Piracicaba - SP Área: 1.378.069 km² Perímetro Urbano: 229,66 km² População: 391.449 hab Densidade: 284,06 hab/km² Altitude: 554 metros Relevo Pouco Acidentado Clima: tropical de altitude

Breve Histórico da cidade Oficialmente, o povoado de Piracicaba, foi fundado em 1º de agosto de 1767, sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres. Em 1774, a povoação constituiu-se em Freguesia, com uma população estimada em 230 habitantes. Porém, só no ano de 1821 é que foi elevada à categoria de Vila, tomando o nome de Vila Nova da Constituição. A partir de 1836, deu-se um importante período de expansão. Não havia lote de terra desocupado e predominavam as pequenas propriedades. Além da cultura do café, os campos eram cobertos pelas plantações de arroz, feijão, milho, algodão e fumo, mais pastagens para criação de gado, tornando-se um centro abastecedor. Em 1778, eram três os engenhos. Em 1799, o número de engenhos saltava para nove. Em 1807, era fundado o Engenho Limoeiro, pelo senador Vergueiro. Em 1896, havia 78 engenhos em Piracicaba, responsáveis por um quinto da produção de açúcar da província. Em 24 de abril de 1856, Vila Nova da Constituição foi elevada à categoria de Cidade. Em 1877, por petição do então vereador Prudente de Moraes, mais tarde primeiro presidente civil do Brasil, o nome da cidade foi oficialmente mudado para Piracicaba. 62


N


Piracicaba tem sua história ligada à terra, ao rio que leva seu nome e à cana-de-açúcar. Uma história que se confunde com a do desenvolvimento do Estado, lastreado no desenvolvimento do interior. Em 1881, era construído na cidade o Engenho Central, que representava um avanço na estrutura produtiva, pois industrializava a cana de forma centralizada com equipamentos modernos e empregava pela primeira vez mão-de-obra assalariada no município. Na virada do século, Piracicaba tornava-se a maior produtora de açúcar da América Latina.

fonte: acervo pessoal


Outros marcos importantes na história da cidade foram as instalações das suas instituições de ensino mais relevantes. Em 1881, foi fundado o Colégio Piracicabano, e desse hoje centenário colégio, surgiria em 1975 a Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), atualmente com cerca de 10.000 alunos. No ano de 1892, Luiz de Queiroz doava ao governo do Estado a Fazenda São João da Montanha, para que ali fosse construída a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), que desde 1994 faz parte da Universidade de São Paulo (USP). No início do século XX, a base da economia do município continuava sendo a agricultura, em que se destacavam o café e a cana-de-açúcar. Surgiam também, fábricas de acessórios para usinas, o que fez com que Piracicaba, nos anos 1950, ficasse conhecida como a Capital do Açúcar. Com a política de substituição das importações as fábricas existentes eram ampliadas, novas fábricas eram instaladas. Esse surto de industrialização começava a promover uma intensa migração rural-urbana que caracterizaria os anos seguintes. A partir de 1970, desenvolveu-se um importante processo de diversificação econômica no município, com a implantação de um parque industrial complexo. Nesse cenário, se destacariam as indústrias mecânica e de maquinário agrícola, metalúrgica e de papel e papelão. Todos os problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento do período se reproduziram na região de Piracicaba, como a concentração da terra e da renda, a diminuição da produção per capita de alimentos e o êxodo rural. E, com este, os problemas da favelização e da ocupação de áreas verdes e de risco, além da pressão sobre as infra-estruturas de saúde, educação e transporte. É importante observar a força influenciadora da cana-de-açúcar na formação socioeconômica e cultural da região.

65


Piracicaba está localizada no estado de São Paulo, na região Sudeste do país. A cidade possui fácil acesso às mais importantes regiões do estado através da Rodovia Anhanguera, Rodovia dos Bandeirantes, Rodovia Washington Luis, Rodovia do Açúcar e Rodovia Castelo Branco. São Paulo tem uma área total de 248.222.362 km², sendo um pouco maior que o Reino Unido, é o estado mais populoso com cerca de 43 milhões de habitantes. Possui também o maior PIB do país, correspondendo a 32% das riquezas produzidas. Em 2009, existiam no estado 14.215 estabelecimentos hospitalares, com 98.585 leitos. Contudo, no campo de cuidados paliativos, apesar de ser o estado mais avançado do país em saúde, apresenta números irrisórios de leitos voltados para esse tipo de atendimento. Número de estabelecimentos que oferecem cuidados paliativos no estado de São Paulo: 66

23 Equipes de Interconsulta: o hospital

possui uma equipe multiprofissional de Cuidados Paliativos que atende os pacientes em seus leitos a pedido de outras especialidades. (80 no Brasil).

11 Enfermarias: o hospital mantém uma área específica, com leitos, para internação de pacientes em Cuidados Paliativos, com equipe própria multiprofissional, liderada por médico paliativista. (35 no Brasil). 15 Ambulatórios: possui área de assis-

tência ambulatorial em Cuidados Paliativos, sem internação, realizada por equipe multiprofissional. (59 no Brasil).

11 Assistências Domiciliares: o hospital mantém multiprofissionais que visitam os pacientes em suas casas. (51 no Brasil). 5 Hospitais-dia: o hospital mantém aten-

dimento em Cuidados Paliativos de um dia de internação para algum procedimento mais urgente. Está ligado ao ambulatório. (22 no Brasil).

11 Hospices: a instituição é especializa-

da e atende exclusivamente Cuidados Paliativos. (16 no Brasil).


Instituições que oferecem cuidados paliativos

Piracicaba

São Paulo

Distância até a capital: 154 km

Piracicaba

São Paulo

Instituições que oferecem exclusivamente cuidados paliativos (hospices) 67


Equipamentos de Saúde O estudo do território foi realizado a partir do levantamento de cartografias usadas para realizar cruzamentos de dados que possibilitassem leituras e justificassem a escolha da área de intervenção. O sistema de saúde de Piracicaba possui ao todo seis hospitais com um total geral de leitos de 848 (IPPLAP). A cidade também possui onze UBS (Unidade Básica de Saúde), 26 PSF (Programa Saúde da Família) e quatro UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Com um corpo médico formado de aproximadamente 1300 médicos. Perímetro Urbano de Piracicaba

68

fonte: IPPLAP (sobreposições gráficas feitas pelo autor)


Patrimônios Históricos / Mancha Urbana Apesar disso, Piracicaba não dispõe de leitos para cuidados paliativos. Ainda que no ano de 2015, foram registrados 528 óbitos por neoplasias, 239 por problemas respiratórios e 477 por problemas circulatórios, os três tipos de casos que mais necessitam de cuidados paliativos. A cartografia abaixo traz a evolução da mancha urbana e os patrimônios históricos tombados, mostrando que o lugar escolhido está ligado a área histórica mais importante do município, próxima a primeira casa construída que deu início a cidade. Perímetro Urbano de Piracicaba

fonte: IPPLAP (sobreposições gráficas feitas pelo autor)

69


Parques e Praças A localização dos parques e praças apresentam uma distribuição ao longo do território urbano, mas praticamente todas as praças se encontram em estado deteriorado, sendo que as áreas de parques demarcadas representam a mais qualificada e frequentada área verde da cidade. A escolha do lugar, nesse sentido, se justifica por entender que o contato com a natureza e com a paisagem é uma necessidade, mas sem recorrer à zona rural, uma vez que entende-se o ambiente proposto como algo integrado

Perímetro Urbano de Piracicaba

70

fonte: IPPLAP (sobreposições gráficas feitas pelo autor)


Densidade / Mobilidade ao cotidiano e vivência da cidade, da vida urbana, além de proporcionar qualidade de vida ao seus usuários Dito isso, o levantamento abaixo visa cruzar os dados dos maiores aglomerados populacionais e os meios de transportes, sendo possível observar que a área de intervenção possui fácil acesso a todas as áreas da cidade através das principais avenidas.

Perímetro Urbano de Piracicaba

fonte: IPPLAP (sobreposições gráficas feitas pelo autor)

71


PARQUES DO ENTORNO

Área de esportes Rio

Pir

ac

ica

ba

Terreno da Intervenção

Área comercial

Área de lazer


Parque do Mirante

Engenho Central

Casa do povoador

Ponte PĂŞncil

Museu da Ă gua


Engenho Central

fonte: www.flickriver.com

Parque do Engenho Central

Fundado em 1881, para processar cana-de-açúcar, foi transformado em usina e chegou a ser a mais importante do país. Desativado em 1974, hoje funciona como parque e sedia diversos eventos culturais, como a Festa das Nações, Paixão de Cristo, Virada Cultural Paulista e Salão Internacional do Humor.

Área de Lazer

fonte: acervo pessoal

Parque da Rua do Porto

74

Parque urbano que ocupa uma área verde de 200 mil m², contém um lago para atividade de canoagem e lazer com pedalinho, pista para exercício físico, parque infantil, e um teatro de arena. É muito usado tanto por moradores quanto por turistas, pela sua proximidade com os bares e restaurantes da Rua do Porto.


Área Comercial As antigas habitações à beira do rio foram tombadas e transformadas em bares e restaurantes com mesas com vista para o rio, sendo muito ativos aos finais de semana. Configuram um dos principais pontos turísticos de Piracicaba.

fonte: acervo pessoal

Rua do Porto

Área Esportiva Espaço poliesportivo com alternativas de entretenimento e lazer, localizado ao lado do Parque da Rua do Porto. Possui quadras poliesportivas, quadras de tênis, pista de skate, ciclismo e campo de futebol.

fonte: acervo pessoal

Parque do Trabalhador

75


Ponte Pêncil Inaugurada em 1992, possui extensão de 77 metros. De uso exclusivo de pedestres sua arquitetura férrea é sustentada por cabos de aço e madeiramento. Foi projetada e executada pela Escola de Engenharia de São Carlos e indústrias da região. Serve de acesso ao Engenho Central. fonte: acervo pessoal

Ponte Pêncil

Mirante No século XIX, O Barão de Resende mandou construir o mirante para o Salto do rio Piracicaba. Só entre as décadas de 1910 e 1930 é que a população começou a frequentar. Hoje é uma das principais atrações turísticas.

fonte: https://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/145666871.jpg

Parque do Mirante

76


Museu da Água Foi construído no ano de 1887, é onde funcionou a primeira estação de captação e bombeamento de água da cidade. Possui vários aquedutos internos em alvenaria. Seu terraço funciona como um mirante para o rio Piracicaba, o Engenho Central e a Rua do Porto. fonte: www.flickr.com/marciolambais

Museu da Água

Casa do Povoador

fonte: http://semac.piracicaba.sp.gov.br/povoador/wp-content/uploads/2011/11/banner1povoador.jpg

Casa do Povoador

Localizada na margem esquerda do rio, é atribuída a Antônio Correa Barbosa, fundador do povoado que viria a ser Piracicaba. Feita de pau a pique é um raro exemplar da arquitetura piracicabana do século XIX. É o ponto de partida de várias manifestações artístico-culturais.

77


A escolha do lugar O terreno da intervenção possui 58.200m² de área livre, fica localizado próximo aos parques da região da Rua do Porto, uma área central e uma das mais conhecidas da cidade, faz parte de um circuito de lazer ao longo das margens do rio Piracicaba. Como demonstrado nos levantamentos realizados o terreno tem uma situação favorável em relação a transportes, pois é facilmente acessado através das principais avenidas. O acesso direto ao terreno pode ser feito pelo norte ao longo da avenida Jaime Pereira, movimentada e em contato com o Parque do Trabalhador, ou a sul pela rua Doutor Lula que possui menor tráfego e está ligada ao bairro Castelinho, predominantemente residencial. No seu entorno há locais de interesse histórico e cultural a até 1,5km de distância, como o Engenho Central, o Museu da Água, o Mirante, a Casa do Povoador, o SESC, a Estação da Paulista, o Largo do Pescador, o Parque do Trabalhador, o Parque da Rua do Porto e a própria Rua do Porto, sendo que várias dessas construções são tombadas como patrimônio histórico e consideradas locais recreativos e culturais. A leste e sudeste do terreno encontra-se o centro de Piracicaba, principal área comercial da cidade, que vai gradativamente se transformando em área residencial conforme se aproxima da região da rua do porto. Já a oeste e sul a região é caracterizada intensamente pelo uso residencial em uma malha ortogonal, com comércios apenas ao longo das avenidas. Ao norte e nordeste encontra-se uma densa área verde ao longo do rio Piracicaba e os parques já citados, estas áreas são alvos de intervenções da prefeitura para revitalização com o Projeto Beira-Rio. Como demonstrado ao lado, o terreno possui um desnível de trinta e cinco metros que o configura como um mirante natural para toda a área verde ao longo do rio. 78


Planta de Situação

Limites do terreno

Rio Piracicaba

Planialtimetria - curvas de nível (5m)

79


Uso do solo

80

Intervenção Residencial Comércio e serviços

Institucional Áreas Verdes

0m

100m

500m


Gabarito das edificações

Intervenção Térreo 2 a 3 pavimentos 4 a 6 pavimentos

7 a 10 pavimentos 11 a 15 pavimentos acima de 15 pav.

81


Cheios e vazios

82

0m

100m

500m


Distâncias para o pedestre principais rotas de ônibus parada de ônibus

Esse diagrama mostra o raio de acesso percorrido em 5 e 10 minutos por um pedestre, também mostra as rotas mais comuns de ônibus e suas paradas. Portanto, o terreno possui fácil acesso às áreas públicas seja a pé ou pelos meios de transportes. 83


04| A PROPOSTA fonte: acervo pessoal



A proposta O objetivo deste trabalho é discutir os espaços nos quais se vivenciam situações de terminalidade. Comumente esses espaços restringem-se a quartos de hospitais, que não possuem estrutura física ou funcional que abranja a complexidade e cuidados necessários nesta situação. Isso decorre do fato de que hospitais são tradicionalmente locais especializados na cura, e uma vez afastada essa possibilidade, o atendimento oferecido perde sua principal característica. Dito isso, o trabalho se propõe a oferecer um ambiente voltado especificamente para essa situação, ou seja, um Hospice, onde o paciente , seus amigos e familiares, bem como as equipes de saúde sejam o foco em um espaço voltado para o cuidar. Portanto, um ambiente onde pacientes possam receber cuidados paliativos e desfrutar da melhor forma possível o tempo de vida que possuem. Além disso, como os estudos em cuidados paliativos no Brasil são incipientes, faz-se necessário também um espaço que ofereça ensino e treinamento aos profissionais e voluntários da área da saúde, e assim ligado ao Hospice propõe-se uma Escola de Cuidados Paliativos. Nesse contexto, como visto nas referências de hospices, cada instituição tem uma leitura diferente de como esse espaço deve ser. Esse trabalho procura demonstrar que a vivencia da terminalidade demanda uma estrutura mais complexa que a intra edifício, uma vez que desfrutar das atividades sociais na cidade e o que de melhor ela tem a oferecer, junto à pessoas queridas, é uma das formas mais dignas de se aproveitar o tempo de vida. Dessa forma, surge a necessidade de integração entre o espaço proposto à cidade, seja conectando-se com espaços públicos já consolidados, seja oferecendo novos espaços de uso coletivo. Para isso, acertar na escolha do lugar é fundamental e isso começou na 86


escolha da cidade. Piracicaba não possui nenhum tipo de serviço semelhante apesar de haver demanda e um sistema de saúde capaz de absorver uma instituição com tais características. Além de possuir ligação com todas as importantes áreas do estado através das principais rodovias. Já em relação ao terreno escolhido para a intervenção, as cartografias levantadas demonstram quais questões foram importantes para sua escolha. A ligação com um espaço público consolidado é de extrema importância já que os pacientes do hospice, quando possível, tem sua mobilidade dificultada. Além disso, é de suma importância que a região esteja bem localizada na rede de transportes, uma vez que o hospice, diferente do hospital convencional, propõe-se a funcionar como um edifício residencial, onde não há horários de visita, permitindo aos pacientes receberem seus convidados sem restrições, podendo usufruir das diversas atividades que o edifício e a região dispõem. Nesse sentido, a região da intervenção atende duas necessidades essenciais, a do contato com a natureza e a proximidade das atividades públicas que a cidade oferece. Contudo, não são só pacientes que desfrutam dessa infraestrutura. O ambiente é voltado para as famílias, outros visitantes e a própria equipe de trabalho local. É de suma importância para essas pessoas, além do paciente, que esse seja um lugar significativo, uma vez que ficará na memória daqueles que se despedem de um ente querido. Por outro lado, a importância de um lugar assim para a cidade é poder oferecer mais atividades públicas além de levantar uma discussão necessária no contexto atual, em que a morte é vista como exterior a existência e não algo que faz parte do ciclo natural da vida, entender que como visto na filosofia, a importância da morte é conferir valor a vida e a forma como se vive. 87


05| O PROJETO



O projeto Como mencionado anteriormente, o terreno de intervenção está conectado com uma área de parques públicos bastante consolidada em Piracicaba, sendo essa uma das primeiras demandas do programa do hospice urbano. Nesta área consolidada, existe em andamento um projeto da prefeitura que estabelece um parque linear integrando as área dos parques com as regiões mais periféricas e populosas localizados na zona norte da cidade. Contudo, o projeto não contempla a região escolhida para a intervenção em questão. O terreno escolhido possui ainda outras características que foram determinantes para a sua preferência. A primeira é a grande declividade na direção norte-sul, que faz dele um mirante natural para o rio Piracicaba e para toda a área verde dos parques já existentes. Outra característica marcante do terreno é a diferença morfológica do seu entorno, possuindo acessos com traços bastante diferentes: a face sul possui caráter mais residencial e privado; enquanto a face norte do terreno possui caráter mais pública e movimentado. Essas particularidades foram determinantes para a disposição da implantação dos edifícios propostos. 90



O programa O programa escolhido busca a integração em diversas escalas, e tem como objetivo implantar o hospice buscando oferecer aos seus usuários a experiência de vivenciar espaços públicos. Para isso, propõe-se equipamentos que contemplem tanto as demandas do hospice quanto de seu entorno, complementando o programa de espaços públicos consolidados na região da Rua do Porto. Para obter essa integração mantendo um certo grau de privacidade que o hospice exige, a implantação do terreno foi feita a partir de dois platôs principais. Desta forma, pode-se resolver as questões visuais e de insolação do hospice sem deixar de preservar as condições naturais do terreno. Na cota mais alta, foi alocado o edifício do hospice, a escola de cuidados paliativos e o restaurante. Além do potencial visual que esse platô possui, outra característica determinante são as suas formas de acesso. Na face sul, foram projetados três acessos menores e mais reservados. O acesso pela lateral esquerda atende à circulação pública e faz a conexão entre o bairro residencial e os parques públicos. O acesso central do terreno serve de entrada para o parque, para o restaurante e o hospice. Já o acesso pela lateral esquerda, serve de entrada para uma região mais reservada do terreno, possuindo vegetação mais densa e fechada conferindo um caráter privativo para a Capela Ecumênica. Essa região faz a transição entre os platôs público e privado e possui caráter espiritual e religioso, sem fazer menção à nenhuma doutrina específica. No platô da cota mais baixa foram alocados os equipamentos públicos, como o Planetário, o Centro de exposições e a Oficina de artes. Todos atendem tanto aos usuários do hospice, quanto aos usuários da cidade. A escolha em projetar tais equipamentos visa provocar reflexão e permitir a expressão de sentimentos dos frequentadores do hospice, um vez que os mesmos se encontram em uma situação de elevada fragilidade e sensibilidade. 92


PERIFERIA

Parque do Trabalhador Pl

an

et

orto Rua do P

Calçadão

ár

ês

Pr

a

Ex po

siç

ão

Pr aç

a

io

Pla

At

eli

yg

Mir

ant

Ca

pe

Re

sta

ura

nte

Ho

spi

Es c de ola c.p .

la

e

Ac

Bairro

Ho

ce

ess

spi

o

ce

Bairro

0m

25m

100m

rou

nd

CENTRO


Ações projetuais Desnível do terreno

Av

en

O terreno foi dividido em dois platôs, e as modificações necessárias foram desenhadas com o objetivo de conceber um percusso acessível sem desconsiderar as particularidades naturais do mesmo. O primeiro platô se localiza a doze metros do nível da Rua Jaime Pereira, e o segundo a vinte e seis metros acima desta mesma rua.

0m

id

a

Ja

im

e

Pe

re

ira

35m

Percurso O percurso pelo terreno possui caráter contemplativo e perpassa todos os diferentes níveis da área de intervenção. Cada percurso é um convite para ajudar os participantes a abrandar e abrir os sentidos, a fim de perceber mais profundamente as nuances do ambiente. Cada estar possui um diferente ponto de vista para o rio e para as áreas verdes, inclusive atravessando os equipamentos projetados.

94


Acessos Propõe-se diversos acessos ao terreno. Seja conectando os equipamentos da área de intervenção, ou auxiliando na circulação pública ao conectar o bairro residencial do Castelinho aos parques da Rua do Porto através de uma rota acessível.

Edificações

Todos as edificações formam um complexo integrado no qual o hospice se apresenta como elemento que ativa toda a discussão a respeito da terminalidade. Seus equipamentos complementam os cuidados e estudos necessários dentro dessa discussão, além de se articularem como elementos que conectam este à cidade. Todos seguem a mesma linguagem formal, porém seu desenho respeita as inerências das atividades complementares e da disposição do mesmo dentro do terreno.

95


Implantação geral 0m

25m

100m



1

Implantação

A 7

LEGENDA 1 - Acesso 2 - Hospice 3 - Escola de Cuidados Paliativos 4 - Restaurante 5 - Mirante 6 - Capela Ecumênica 7 - Planetário 8 - Centro de Exposições 9 - Oficina de Artes 10 - Praça 11 - Playground 12 - Ponto de ônibus 98

B


10

11

C

D

1

1

A

8 9

2

4

B

3

6

1

C

1

1

D

5

1

0m

25m

100m


Corte AA

hospice arrimo

oficina

Corte BB restaurante

e capela planetรกrio


mirante

capela exposição planetário

hospice

escola

0m

10m

50m


Corte CC

hospice

oficina

exposição

planetário playground


Corte DD

hospice

oficina

exposição

planetário playground

0m

10m

50m


Oficina de Artes



Oficina de Artes

“A arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão; é sensibilidade, criatividade, é vida” (Jung, 1920). A Oficina de Artes é um espaço para cursos, oficinas e workshops que contemplam ateliês de trabalho e outros estúdios que promovem o hibridismo entre trabalho e sentidos. Visa o uso de recursos artísticos/visuais ou expressivos como elementos terapêuticos. É um convite a explorar os aspectos do consciente ou inconsciente por meio da expressão artística. Como parte da proposta de integração e conexão presente no projeto, o percurso atravessa o edifício com as entradas demarcadas pelo volume que avançam sobre a fachada. As diversas salas possuem diferentes aberturas para a paisagem, as que apresentam pequenas aberturas, possibilitam atividades mais reservadas; enquanto que as outras salas - dos estúdios de pintura, desenho e escultura, por exemplo - possuem grandes aberturas buscando a relação interior-exterior. O edifício possui 895m² de área construída com pé-direito variado entre 4,00 e 7,50 metros - dependendo da atividade exercida em seu interior.


0m

5m

20m


Centro de Exposições



Centro de Exposições O Centro de Exposições é um equipamento de lazer com espaço fechado e coberto para descanso. Está associado à Oficina de Artes, e como a mesma, faz parte do percurso peatonal: pelo acesso indicado à esquerda na planta, atravessa-se a galeria do edifício; pelo acesso indicado à direita, a passagem penetra o café que serve de ponto de encontro e descanso. Os diferentes pés-direitos estão associados aos diferentes usos. No ambiente com pé-direito constante, observa-se o espaço de exposição - fechado e recluso. Enquanto que a galeria e o café se abrem para diferentes ambientações, seja uma passagem coberta, ou um estar contemplativo. Tanto no espaço expositivo quanto no café, utilizou-se grandes aberturas buscando a relação interior-exterior. Como observado no corte ao lado, a fachada envidraçada e o pé direito ascendente, permite uma permeabilidade visual para a área verde do Parque do Trabalhador e para o Rio Piracicaba. O espaço de exposição possui 950m² de área total construída, sendo 325m² destinados para a sala de exposições. Possui um pé-direito variado entre 6,00 a 11,00 metros - dependendo da atividade exercida.


0m

10m

40m


Planetรกrio



Planetário Uma pesquisa da Universidade da Califórnia explica que o ato de observar a imensidão do universo desperta um sentimento de deslumbramento e temor que em inglês recebe o nome de “awe”. Esse sentimento consegue diminuir a ênfase do indivíduo no próprio ego e a sensação criada pela observação do universo encoraja as pessoas a abrir mão do interesse próprio em nome do bem estar dos outros (American Psychological Association). Sendo assim, é proposto no percurso pelo terreno, a visita ao Planetário. Este espaço abraça uma série de ambientes voltados para o estudo e contemplação astronômica. Todo edifício é permeável, sua circulação foi concebida para que apenas as salas de exibição sejam fechadas - incluindo uma sala de projeção com 120 lugares. Possui 2440m² de área construída e com pé-direito variado entre 6,00 e 9,50 metros.


0m

10m

40m



Capela EcumĂŞnica


Capela Ecumênica Capela Ecumênica Os conceitos de Reflexão, Força e Luz levaram a adoção do partido ar-

quitetônico da Capela. O elemento em projeto que representa a Reflexão é a “A arte é a expressão pura queda hámeditação para a demonstração do insconspraça externa, que atende mais ao exercício ao mesmo tempo que ciente de cada um. É a liberdade de expressão; é sensibilidade, criatividade, é se conecta com paisagem circundante. O elemento Força, é representado pelo vida” (Jung, 1920). ambiente construído nas formas ortogonais, na densidade e na resistência do equipamento projetado - possui 54 lugares no claustro principal e um espaço de estar A escola de artes funciona tanto para visitantesde quanto alunos, que tenao fundo com salas de apoio. E o conceito Luz, épara o elemento do comoeobjetivo os finais semana ser grandes um espaço de oficinas, e conecta integra para os outros dois,de por meio dos painéis de vidroscursos planepalestras sobre artes e afins. jados. Desta forma, intensificou-se os momentos de paz e reflexão ao mesmo Aque arteprovoca pode ser utilizada emcom processos terapêuticos, funciona tamtempo a integração os jardins externos e apois paisagem. bém como instrumento de catarse, e ajuda na expressão de sentimentos, Além disso, a Capela também funciona como uma transição entre pensaos dois mentos, idéias, fantasias e traumas. É capaz de melhorar a vida social, aumentar platôs - dos equipamentos e do hospice - e tem como função alterar o caráter a auto-estima e promover vida mais gratificante e feliz. do percurso uma vez que uma possui uma vegetação mais densa e um ambiente mais reservado. A capela serve como um refúgio para os usuários do hospice, é um ambiente espiritual e religioso, mas sem fazer menção a uma doutrina específica. Possui 240 m² de área construída, com pé-direito de seis metros.


0m

5m

15m



06| O HOSPICE


O HOSPICE O prédio possui três acessos distintos. O primeiro, de funcionários, acessa-se os escritórios administrativos, os vestiários para trocas de roupas e guarda-volumes, e escola de cuidados paliativos. O segundo acesso, é exclusivo para ambulâncias e emergências. Por fim, o terceiro e principal acesso é dos pacientes e visitantes, que dirigem-se à recepção no qual se pode chegar à sala de estar e jantar comuns aos pacientes, ou seguir pela circulação vertical até o primeiro andar, onde se encontram os quartos. O térreo é dividido em áreas administrativas, área de terapias, recepção, estar comum e área exclusiva de funcionários. A recepção é o núcleo do edifício onde se distribui toda a circulação, ela conecta o eixo de circulação do térreo com os dois núcleos de circulação vertical. O primeiro, público, que acessa os quartos dos pacientes, e o segundo exclusivo de funcionários. O complexo do hospice possui 3300m² de área construída, dividido entre a lâmina que contempla as atividades do hospice (2495m²), a escola de cuidados paliativos (515m²) e o restaurante (290m²) que serão detalhados a seguir. 122


0m

10m

30m


Leituras Projetuais Acessos

124


Setorização

térreo

1º andar

125


elev.1

elev.2


0m

10m

30m


Hospice F

Planta Térreo E

34

34

28

31

4

24

B

3 33

33

32

30

27

2

25

5

A 26 1

5,00

F

29

E

LEGENDA

Planta 1º andar

B

3

2

3

3

5

4

1 A E

128

18 - banheiro 19 - arquivo 20 - escritório admin. 21 - sala de repouso 22 - escritório médico 23 - sala de relaxamento 24 - sala multiuso 25 - assistente social 26 - acesso escola de C.P. 27 - fisioterapia 28 - hidroterapia 29 - entrada funcionários 30 - secretaria 31 - sala de reunião 32 - apoio 33 - guarda-volumes 34 - vestiário

E

1 - entrada principal 2 - recepção 3 - hall de espera 4 - 1º aconselhamento 5 - aconselhamento 6 - consultório 7 - estar comum 8 - acesso ambulância 9 - morgue 10 - sala de descartes 11 - sala técnica 12 - estar funcionários 13 - rouparia 14 - lavanderia 15 - cozinha 16 - câmara fria 17 - Depósito Cozinha

LEGENDA 1 - Sala de reflexão 2 - Sala de leitura 3 - Quarto 4 - Sala de filmes 5 - Estar comum 6 - Banheiro

7 - Consultório médico 8 - Expurgo 9 - Farmácia 10 - Ponto de Enfermagem 11 - Quarto de convidado 12 - Solário

5


21

19

16

21

B

12

7

23

5

5

6

8

9

10

11

13

17

14

18

18

20

22

22

22

D

C

D

C

A 3

3

3

3

3

3

3

3

3 B

12 5

6

6

7

8

9

6

10

11 11

11

D

C

6

11 11

0m

5m

20m

11 A

gem ado

C

D

15

129


solรกrio quartos de visitantes

estar funcionรกrios

estar comum


Corte AA

restaurante

Elevação 1

0m

10m

40m


sala de leitura

restaurante hidroterapia


Quartos de pacientes

Corte BB

Elevação 2

0m

10m

40m


cobertura envidraçada do corredor janela assento

Corte DD

mirante

marquise da entrada

recepção

Corte EE


Corte CC

quarto de visitante varanda do paciente

mirante

repouso dos funcionรกrios

muro de arrimo

0m

5m

15m


Quarto do paciente

cama pode ser levada para a varanda

janela assento

possui vista para a paisagem

sofĂĄ cama para acompanhante

acessĂ­vel

136

0m

1m

3m


Vista ao entrar no quarto

Vista do paciente na cama


F

Planta Escola de Cuidado

Escola de Cuidados Paliativos

G

G

F


Corte GG

Corte FF

0m

5m

15m


Restaurante


H H

1

Corte HH

0m

5m

15m




Referências Bibliográficas ARANTES, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver. Rio de Janeiro - 1ed - Casa da Palavra, 2016. AUGÉ, M. Dos lugares aos não-lugares. In : Não – Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994. CARVALHO, Antônio Pedro Alves de. Introdução à arqutietura hospitalar. Salvador – Quarteto Editora, 2014. CIACO, Ricardo José Alexandre Simon. A arquitetura no processo de humanização dos ambientes hospitalares.Dissertação (Mestrado) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 2010. COSTI, Marilice. A influência da luz e da cor em salas de espera e corredores de hospitais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. GOES, Ronald de. Manual Prático da Arquitetura hospitalar. São Paulo – Edgard Blucher, 2ed, 2011. HETZBERGER, H. Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. KELLERT, Stephen. CALABRESE, Elizabeth. The Practice of Biophilic Design. www. biophilic-design.com KUBLER-ROSS, Elisabeth. On death and dying. New York - 8ed - Mcmillan, 1969. LORÉN, Santiago. História de la Medicina: manual de historia de la medicina y de la professionalidad médica. Zaragoza: Anatole, 1975. 144


MACEDO, Silvio Soares. SAKATA, Francine Gramacho. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo - 3ed - Editora da Universidade de São Paulo, 2010. MARTINS, Vânia P. A humanização e o ambiente físico hospitalar. Anais..., Salvador, 2004. MORTE. Palestra de Clóvis de Barros Filho. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=6QWaC1ySAyw, 2015. Acesso em abril de 2017. PLATAFORMA URBANA, The case for healthy places. Disponível em <http://cdn. plataformaurbana.cl/wpcontent/uploads/2017/02/healthy-places-pps.pdf>. Acesso em 23 de abril de 2017. PROJECT FOR PUBLIC SPACE: THE CASE FOR HEALTHY PLACES. Link: http://cdn.plataformaurbana.cl/wp-content/uploads/2017/02/healthy-places-pps.pdf. Acessado em julho de 2017. SAMPAIO, Ana Virgínia Carvalhães de Faria. Arquitetura hospitalar: projetos ambientalmente sustentáveis, conforto e qualidade. São Paulo, 2004. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. SILBERBERG, S. LORAH, K. Places in the making: How placemaking builds places and communities. MIT Department of Urban Studies and Planning. Massachusetts Institute of Technology, 2013. SOLÁ-MORALES, I. Territórios. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. TOLEDO, Luiz Carlos. Feitos para cuidar: a arquitetura como um gesto médico e a humanização do edifício hospitalar. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 145





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.