Ganhasó

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uma visĂŁo alĂŠm do centro


Editorial Essa é a primeira vez que você vê a revista Ganhasó, provavelmente a estranheza da palavra o tenha levado a folhear as páginas, na tentativa de encontrar alguma resposta para essa gíria que adotamos como nome, e entender sobre o que estamos falando, provavelmente também foi por isso que também que começou a ler o editorial. Então vamos sanar sua curiosidade, ou despertala mais ainda.

se pergunta “Isso sempre esteve aqui?”. Existem várias informações que deixamos para trás, vários detalhes que escapam aos olhos, existem várias formas de ver o mundo, de enxergar o valor de uma obra de arte, de avaliar a importância de um acontecimento. Esse é o nosso objetivo, exercitar a curiosidade e descobrir novas visões sobre o mundo.

A curiosidade é sempre o motivador para novas descobertas, pode nos trazer grandes Toda revista carrega características da experiências e grandes aprendizados, conhecer equipe que a faz, é daí que vem o nome pessoas interessantes e lugares inesquecíveis. É da revista, é uma gíria de um dos nossos dessa forma que tudo começa, pela curiosidade integrantes, é a forma dele de dizer “olha isso”, começamos a explorar o mundo, e sempre e foi a melhor forma de representar nossa que descobrimos algo novo temos o desejo de publicação, uma forma diferente de mostrar uma compartilhar e discutir. E muitas vezes discutir leva forma diferente de olhar. a diferentes pontos de vista, formas de entender um único objeto, vários lados para serem vistos, vários E para inaugurar a revista Ganhasó, trazemos novos pontos de perspectiva que não foram explorados, olhares sobre o que está ao nosso redor, seja uma detalhes que foram deixados para trás. Você pode, nova forma de contar a trajetória dos B.Box, o por exemplo, passar todo dia pelo mesmo lugar grupo de “colecionadores” de Boombox, seja a caminho do trabalho, e um dia uma mistura de outra forma de admirar a obra de Estevão Silva cores no canto do olho direito faz você parar e da Conceição e sua Casa de Pedra, ou nosso virar o rosto, e perceber que ali há um grafite, ponto de vista sobre os diferentes museus que por algum motivo te cativa, e você da cidade de São Paulo.

Equipe Editorial:

Orientador:

Betina Silva Santos

Prof. Raul Busarello

Deyse Rosa Duarte Edson Rodrigues Passos Lucas Rodrigues Ribeiro Pedro Henrique Ferreira Raquel Vendramin

Edição Nº 01 Nov/ 2013 Tiragem: 10 exemplares Capa: Couché 170 g/m² Miolo em Couché 115 gm²


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Sumário

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Um dia na B.box

Uma Palavra

Menos tédio mais pupunha

Museus da São Paulo

Serifa na Perifa

Estevão e a Casa de Pedra


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“- Oi Ricardo beleza, aonde agente se encontra? Cara, eu e o Danone estamos aqui em um evento em pinheiros, a tarde vamos na Benedito Calixto fazer um “garimpo”, depois tenho que pegar uns rádios em um galpão, aí agente vai no centro, na galeria do rock tem uma amiga minha que quer me mostrar um rádio, aí finalmente nós vamos para Santo André e fazemos a entrevista. - Beleza, tamo indo praí!”


fotos: Edson Passos

Danilo Guedes (Danone) e Ricardo Rodrigues (Rico) são fundadores do grupo B.Box, atualmente os dois juntos possuem a maior coleção de rádios do Brasil, são no total 270 Rádios, e é rotina os dois se encontrar para fazer o chamado garimpo, onde eles saem a procura de novos modelos de rádios. Encontramos os dois na Pixel Show, o objetivo era apenas uma entrevista com os dois colecionadores de Boom-box porem o dia rendeu bem mais que isso. Do evento nos dirigimos para a feirinha da Benedito Calixto, durante uma volta na feira nós encontramos uma pequena banda de Soul, tocando ao ar livre na calçada, aí não deu outra, Ricardo que também é B.boy, já se apressou em tirar um casquinha do som que estava rolando, Danone não se intimidou e entrou na roda, no final eles arrancaram aplausos das pessoas que pararam para assistir, até trocaram contato com a banda. Ricardo disse: “O “rolê” tem que ser assim, agente sempre faz coisas imprevisíveis, cada garimpo é diferente do outro”. Logo após continuamos o “tour” pela feira, nesse momento eles explicaram que o mercado de rádios é bem restrito e achar um bom modelo é bastante difícil.

com a janela esteja aberta, “cara uma vez eu estava passando em frente a uma casa e a janela estava aberta, e vi um pedaço de algo prateado, pensei que poderia ser um rádio, nem vacilei, toquei a campainha, e perguntei, com licença, por um acaso o Sr. ou Sra. Teria um daqueles rádios antigos para vender?”. Eles disseram que muitas pessoas estranham, mas já conseguiram vários exemplares desse modo.

Em uma esquina próxima a feira em uma loja de antiguidades, paramos para ver um rádio que os dois almejam a bastante tempo, o dono da loja estava pedindo , “O problema é que esse cara sabe o valor dos rádios, já oferecemos vários modelos para fazer uma troca, mas ele não aceita,” Ricardo diz que a mais de seis meses eles tentam conseguir aquele rádio, “algumas pessoas não tem noção da raridade de alguns modelos, e acabam deixando em algum canto, tomando poeira,” é um dos motivos que faz o mercado de Boom-box restrito e difícil, Eles dizem que o garimpo consiste não só em ir para lugares específicos, como bazares ou lojas especializadas, o tal garimpo é sair observando a cidade a procura de peças cromadas, encobertas por poeira, jogadas em um canto, possivelmente em algum boteco de esquina, ou em uma casa

Danone nos convida a conhecer um restaurante, e almoçar trocando uma ideia sobre os rádios, acabou sendo um bate papo, regado a cerveja e feijoada, “Meu agente fica tão ligado a essas paradas (rádios), que criamos um linguagem interna, por exemplo, Meu você viu os falantes daquela mina!”, nem precisa explicar do que eles estão falando né. Nessa conversa descontraída acabamos por conhecer pessoas que através de um hobby, vêem o mundo de outra perspectiva, os rádios acabam sendo um plataforma de interação com o mundo, “Existem pessoas que quando saem de casa escolhem o sapato que vai usar, no meu caso eu vou nas minhas prateleiras e escolho com qual rádio vou sair, meus rádios saem na rua, acho que isso é bem diferente da maioria dos colecionadores, que deixam suas coleções trancadas a sete chaves,”.

“algumas pessoas não tem noção da raridade de alguns modelos, e acabam deixando em algum canto, tomando poeira”

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Após o almoço conhecemos um galpão, onde o dono da loja de antiguidades tem seu estoque, foi uma viagem ao passado, objetos, moveis, eletrônicos, era tanta coisa que a cada momento que agente olhava víamos algo interessante, porem o Danone e o Ricardo só queriam saber dos rádios, o Danone disse que no mês anterior tinha deixado uma caixa com 6 modelos, o objetivo era convencer o dono da loja a fazer uma troca com o exemplar de R$ 2.000,00, porém não deu negócio, o cara era irredutível, “nesse esquema de coleção tem que ser paciente, eu vou vencer esse cara pelo cansaço, venho aqui uma vez

“Meu, a gente fica tão ligado a essas paradas (rádios), que criamos um linguagem interna, por exemplo, ‘Meu você viu os falantes daquela mina!’” por semana se possível, mas um dia levo aquele rádio,” Assim Ricardo nos passa o espírito de um garimpeiro, tentar sempre, desistir jamais. Eles decidem adiar a ida ao centro na galeria do Rock, e nós dirigimos direto para Santo André, o destino era o apartamento onde o Danone mantém a maioria dos rádios da coleção, e lá conhecemos um pouco mais sobre os modelos e suas histórias. Eles possuem modelos emblemáticos, que figuraram filmes e séries, por exemplo, eles possuem um exemplar do modelo que o Will Smith usa na entrada da série Prince of Bel-air, e um outro modelo da Sony, que dobra e vira uma maleta, A conversa foi muito empolgante só interrompida pelos telefonemas de esposas e namoradas dos entrevistadores, preocupadas, para não dizer injuriadas pelo avançar do horário, o fato foi que nossa jornada junto com os rapazes da B.box terminou a 1h da manhã de domingo, com muitas risadas e histórias que não caberiam em uma matéria de revista.

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Tédio Pupunha!

menos

mais

O Pupunha Ink surgiu graças ao encontro de dois amigos da faculdade, Arthur D’ Araujo e Fellipe Martins que cursavam artes plásticas e possuíam os mesmos gostos e costumes. Nessa época, eles decidiram se reunir em um barzinho para beber e desenhar, mal sabiam que esse encontro, futuramente, se tornaria um evento.

foto e ilustração: Betina Silva

Algumas reuniões depois, quando já não eram somente os dois, mas vários amigos, Fellipe precisou viajar a trabalho, o que fez com que os encontros de desenho acabassem. Arthur começou a sentir falta de sair para desenhar e beber com seus amigos. Durante uma conversa entre Arthur e Nina Grando, organizadora do evento e namorada de Arthur, ele contou que queria voltar a desenhar. Então, Nina começou a ajudá-lo a fazer com que o Pupunha ressurgisse, não como um encontro entre amigos, mas como um grande evento onde qualquer pessoa que tivesse o interesse em desenhar pudesse participar. Esse evento iniciou-se em janeiro de 2010, quando Nina e Arthur começaram a reunir o pessoal novamente.

Há outras pessoas envolvidas neste evento como os fotógrafos Walter Kinder e Camila Tuon, que registram o evento. Além deles, Brendo Garcia recebe o público e explica aos novatos como funciona, e Tainá Camilo que iniciou o Correio Elegante Ilustrado. Atualmente, quem quiser participar é só ficar dentro, nas redes sociais e no site do Pupunha. Mas as pessoas que dizem não saber desenhar podem participar também, afinal, para o Pupunha Ink, todo mundo sabe desenhar! Para quem quiser participar desse evento, ele acontece todos os meses, em São Paulo. São agendados com uma semana de antecedência pela organização. Para saber as datas:

O EVENTO ACONTECE SEMPRE NA PÃO DE LÓ Rua São Carlos do Pinhal, 451 São Paulo – SP VISITE O SITE www.pupunhaink.com

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“Palavra Uma palavra só, a crua palavra Quer que dizer Tudo Anterior ao entendimento, palavra”

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U ma Palavra Qual o efeito do significado de uma palavra em um contexto? Relacionando as palavras e seus significados usados na música de Chico Buarque no título desta matéria, encontramos várias colocações diferentes que rementem interpretações e reflexão na mensagem da música. Essa reflexão está ligada no senso comum/crítico de cada pessoa, onde seu repertório de vida influência na interpretação do significado da “PALAVRA”. Para entendermos melhor esse fenômeno da linguística da língua portuguesa, falaremos da semântica, ponto inicial para o estudo dos significados das palavras, onde se analisa suas interpretações, não só de uma palavra, mas também de um signo, de uma frase ou de uma expressão em um determinado contexto.

ilustração: Deyse Duarte

Na Semântica, encontram-se divisões de categoria desse estudo, sendo esses: sinônimos, antônimos e polissemia, estão relacionados à palavra. Relacionado isso com as músicas de Chico Buarque, podemos buscar novas interpretações da palavra apresentadas na música “Casa de João de Rosa”, observa-se que a palavra CASA, contida no trecho da música, pode ser interpretada como lar, moradia ou até mesmo residência, essa colocação se encaixa na categoria dos sinônimos.

“Casa de João de Rosa Rosa de João João que levantou a casa No boqueirão João que fez aquela casa Rosa fez questão A casa de botão de Rosa Que é de João”

Agora, falando de outra relação da palavra e seu significado, ainda relacionado com a semântica, temos os homônimos, que são bem presentes nas músicas de Chico Buarque, como em “Exaltação da Mangueira”, a música menciona MANGUEIRA, essa palavra contem outros significados dependendo do seu contexto, que são: Mangueira (árvore), Mangueira (Tubo flexível) e a Mangueira (Escola de samba do Rio de Janeiro), essa colocação se encaixa na categoria polissemia ou homônimos perfeitos, onde duas palavras possuem a mesma grafia e som com significados diferentes.

“A Mangueira não morreu nem morrerá Isso não acontecerá tem seu nome na história Mangueira tu és um cenário coberto de glória” Além desta música, temos também a “Tira as mãos de mim”, a palavra NÓS, é utilizada em dois sentidos: o de pronome (primeira pessoa do plural) e como substantivo (laço apartado).

“(...) Éramos nós, Estreitos nós Enquanto tu, És laço frouxo(...)” Com isso refletimos que, a palavra é a representação de um pensamento. Seus significados são interpretados de acordo com o contexto apresentado em seu uso, sendo assim as palavras podem ser usadas abundantemente para transmitir uma mensagem que gerem grandes reflexões.

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Museus de São Paulo Casa do Rosário São Paulo possui ambientes poucos conhecidos, que foge do padrão das avenidas, do concreto e asfalto, o bairro de parelheiros é um exemplo dessa diversidade desconhecida, colocando um olhar mais apurado nesses espaços é possível redescobrir novos lugares. Pois a Casa do Rosário é uma ótima oportunidade de começar essa redescoberta, localizada no Centro Paulos um hotel e centro de desenvolvimento humano, enfincado em um remanescente de mata atlântica no bairro de Parelheiros, a Casa foi uma iniciativa de difusão da arte e cultura regional e Local: Centro Paulus possui exposições de artistas plásticos que atuam na periferia da Rua Amaro Alves do Rosário, 102 cidade, um exemplo é o grupo Imargem, um coletivo de grafiteiros Parelheiros – São Paulo que elaboraram um projeto que aliou graffiti e cartografia, e expõe Tel.: (11) 5920-8935 essa proposta na galeria da Casa, com a exposição ”Há Gente”, há http://www.centropaulus.com.br também outros artistas expondo no local, como o Ronaldo Costa, que utilizando de madeiras reaproveitadas cujo o destino seria o lixo, esse artista, da vida nova a esse material explorando um repertorio típico do nordeste brasileiro, morador da região, e natural da Bahia Ronaldo é só um exemplo do potencial artístico da periferia da cidade, portanto a cidade tem muito mais a mostrar, e como enfatizou o roteirista, músico e escritor Rodrigo Bittencourt, presente na inauguração do espaço: “A Casa do Rosário celebra o encontro e tudo o que é bonito... não despreza o esquisito e é de bossa e não de grito.”. fica a dica de visão periférica das galerias de arte da cidade.

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fotos desta página: Edson Passos


Museu da Voz O Museu da Voz localizado na Praça Benedito Calixto em pinheiros foi umas das primeiras barracas de vendas do local, inaugurada por volta de 50 anos atrás pelo proprietário Jorge Narciso Caleiro Filho, exgerente de um banco da época. Segundo o Sr. Jorge Narciso através de uma entrevista com a Revista Ganhasó, o museu se início primeiramente em sua casa, onde conversa um grande acervo de obras literárias e musicais. Esse acervo contempla com grandes nomes da música brasileira e estrangeiras, considerando como um acervo das vozes históricas e da arte consagrada dos poetas, cantores, músicos, cientistas, políticos e esportistas, como Freud Thomaz Edison, Ghandi, Che Guevara, Churchil de Gaule, Villa Lobos, Bidú Sayão, Pixinguinha, Noel Rosa, Carlos Drummond, Vinicius de Morais, Neruda, Barão do Rio Branco, Washington Luiz, Vegas, Presidente Juscelino Kubistchek, Charlie Chaplin, Tom Jobim e outras personalidades memoráveis. Estas obras são gravações em vinis que estão sendo guardadas

na casa do proprietário formando um museu na sua própria casa. A inauguração da feira foi através de um contato com um amigo da alta sociedade que conhecia pessoas influentes na política e na mídia. O evento tomou grande repercussão na época, fazendo o simples museu ser um ponto bem frequentado por artistas e pessoas de várias etnias. Com o passar do tempo, o proprietário começou a repor seu acervo, tento vinis raríssimos devido a não ser mais fabricados e poucos encontrados. Atualmente o museu revende CDs nacionais e internacionais, fotos ampliadas e gravações de CDs através de pedidos de músicas que estão em vinis, o proprietário monta um CD com o gênero, artistas ou época que o cliente deseja. Vale apena visitar o museu, devido a quantidade de CDs, fotos e produções de músicas, que são poucos encontrados nas lojas.

Local: Praça Benedito Calixto, Box 117 Pinheiros – São Paulo e-mail: museudavoz@bol.com.br http://museudavoz.blogspot.com.br

09 fotos desta página: Deyse Duarte


Centro de Memória do circo Hoje Tem Espetáculo! Centro de Memória do Circo. foi inaugurado pela prefeitura do Estado de São Paulo no dia 16 de Novembro de 2009 na galeria Olido com esforço de Roger Avanzi, de 88 anos, mais conhecido como Picolino o palhaço que fez gerações de crianças gargalharem nas arquibancadas do Circo Nerino, Vilma da Costa Tragnone, nora de Antolin Garcia, criador do picadeiro batizado com seu sobrenome, empunha uma das sanfonas que por décadas balançaram a lona de sua família e a Verônica Tamaoki, coordenadora do “Centro de memórias do Circo” que mostra em sua exposição à história dos dois primeiros circos do Brasil Nerino e Garcia que seria os precursores da arte do circo no país. O Nerino rodou o Brasil de 1913 a 1964, enquanto o Garcia deu a volta ao mundo entre 1928 e 2002. A história do primeiro já havia sido desvendada em livro escrito por Verônica e Avanzi, em 2004. Eles chegaram a ter 300 trabalhadores e reuniam 4.000 pessoas nos espetáculos. Nos anos 40, Nerino e Garcia foram rivais. Disputavam a preferência do público como times de futebol. A concorrência só ficou menor após um dos raros encontros das trupes, no Recife, em 1947. Na ocasião, Roger, filho de Nerino Avenzi, criador do Nerino, conheceu e casou com Anita, sobrinha de AntolinGarcia dando o fim a rivalidade. O Centro de Memória do Circo vai mostrar também algumas situações que ficaram no passado, já que desde 2006 a exibição de animais é proibida na cidade. O espaço da galeria Olido hóspeda também a história de um dos ícones mais importante do circo o palhaço Piolin que na década de 1920 fazia a antiga travessia do Paissandu conhecido na época como “Largo do Circo” o seu picadeiro onde fazia piadas sobre a rotina na cidade e revelando aos espectadores menos favorecidos a opressão e as condições que estavam submetidos. Em 1975, a antiga travessia do Paissandu foi modificada para o nome verdadeiro do palhaço rua Abelardo Pinto, em sua homenagem, em cujo aniversário, 27 de março, comemora atualmente o Dia Nacional do Circo.

Local: Galeria Olido Avenida São João, 473 São Bento – Centro – São Paulo Tel.: (11) 3397-0177 http://memoriadocirco.prefeitura.sp.gov.br

10 fotos desta página: Betina Silva


Museu da Pessoa Ao falarmos de museu, pensamos em prédios grandes e espaçosos, mas o museu da Pessoa que está localizado no Alto de Pinheiros, fica entre várias casas com uma fachada discreta. Esse museu teve início em 1991, com o esforço de registrar histórias de quem era excluído das narrativas. Inicialmente eram gravados em CD-ROM’s, porém para que o projeto ganhasse força, foi criado o “Museu que Anda” que circulou por todo o país. O “Museu que Anda” é uma cabine montada para que o público tenha fácil acesso para contar sua história em qualquer lugar já que a sede fica em São Paulo. Com o passar do tempo, a instituição criou um site para hospedar os depoimentos. O acervo tem mais de 15 mil histórias gravadas em vídeo e com fotografias. Além do site, há um canal no Youtube com os depoimentos. Esse museu também atua com a Memória Institucional, que nada mais é do que realizar a pesquisa e disseminação da história de instituições, cidades ou até escolas seja através de pesquisa nos documentos históricos até entrevista com funcionários, moradores, alunos, etc. Para que o museu se sustente, eles contam com o apoio de várias instituições entre elas: rádio CBN, Sesc, Instituto Avisa Lá, Revista Táxi, Rede Folha, Globo Cidadania, entre outras. Quando uma pessoa quer contar sua história, é preciso entrar em contato com o Museu para agendar a entrevista que acontecem todas as quintas-feiras. A entrevista dura em média, 3 horas e depois ela é editada para ser postada no site e no canal do museu. A maioria das pessoas consegue contar toda sua história nesse tempo mas há pessoas que precisam voltar outro dia ainda, para terminar sua história. O público que conta a história em sua maioria é idoso, mas o museu não restringe idade. A pessoa que conta sua história leva para casa um DVD com sua entrevista. Há pessoas que visitam o museu para pesquisa. Seu público geralmente é ligado a parte acadêmica como estudantes, pesquisadores, pessoas que trabalham com comunicação como jornalistas, redatores e produtores que buscam boas histórias e personagens. Para agendar uma visita para conhecer o museu, é só entrar em contato via email ou por telefone disponíveis no site. Local: Rua Natingui, 1100 Alto dos Pinheiros – São Paulo Tel.: (11) 2144-7150 http://www.museudapessoa.net

11 fotos desta página: Raquel Vendramin


“SERIFA na PERIFA” é uma família tipográfica que surge no cenário do design gráfico, com o intuito de enfatizar a cultura dos paulistanos de forma periférica, através de seu conceito forte e claro em cada carácter. Analisando a cultura da cidade de São Paulo, observa-se um circuito de conhecimentos culturais predominantes, porém não se dá tanta importância para o que está fora dessa circunferência, deixando a margem projetos de grande valor, que sofrem um preconceito por não pertencerem a esse grande circuito cultural e por consequência são discriminados pela sociedade. A tipografia “SERIFA na PERIFA” surge dessa ponto, com o intuito de mostrar essa cultura periférica através de seus módulos, presentes a margem dos caracteres e, esquecendo totalmente dos módulos centrais, chamando a atenção para as serifas arredondadas, incluídas no processo de criação para dar mais leveza aos caracteres, e, para relembra características de tipografias como “Visat” e “Claredon”, mais utilizadas nas décadas passadas, que perderam essa frequência, talvez, por conta das exigências tipográficas voltada para tecnologia. Compondo o nome da revista GANHASÓ, a tipografia traz todo o seu conceito para a capa da revista, criando uma linha de discussão seguida pelas matérias, ilustrações e imagens do editorial.

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13 foto: Pedro Henrique


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Estevão e a Casa de Pedra “Uma roseira, que deu início a sua obra”

Logo que chegamos a casa de Estevão ficamos maravilhados com o frontão decorado com pedras de seixo, pratos e os mais variados objetos. A fachada já nos põe no clima da casa, a distancia enchergamos a beleza da textura dos mosaicos e quando nos aproximamos, nos encantamos com a riqueza de detalhes.

O primeiro contato com nosso anfitrião foi um pouco desajeitado e desconfortável mas com o desenrolar da entrevista fomos nos enturmando, e acabou se tornando um prazeroso bate-papo de duas horas. Nos acomodamos na sala de estar, um ambiente altamente decorado com louças de todos os tipos e tamanhos, e no centro uma mesinha serve de base para um escultura com pires, xícaras e moedas de cruzeiro, com uma figura de Nossa Senhora no topo. E quando se olha para cima vemos o emaranhado de estruturas de cimento e mosaicos entrelaçados como galhos de uma floresta densa. Começamos perguntando suas origens, como é de praxe, ele nos contou que nasceu em Santo Estevão, na Bahia, migrou ainda jovem para o interior de São Paulo, trabalhou em diversos empregos e vivia transitando entre o interior e a capital, só em 1985 se fixou em um terreno no Paraisópolis, na capital paulista. Foi nesse terreno que ele ergueu uma casa, e no jardim plantou uma roseira, que deu início a sua obra. Conforme a roseira crescia, Estevão estendia a armação de ferro para sustentar as rosas, mas as plantas começaram a ocupar muito espaço do terreno, e tiveram de ser arrancadas, deixando o ferro aparente. A partir da estrutura que já estava implantada, o artista resolveu estender a armação para cima e relocar as rosas, criando um jardim suspenso. Mesmo sem as pedras e louças que fazem o mosaico dos “galhos”, o trabalho de Estevão já teve reconhecimento como arte pela beleza estética vinda das formas naturais, inspiradas no crescimento das plantas, e deixam evidente sua admiração pela natureza,

como ele mesmo diz na entrevista, “Eu quero cuidar da natureza, eu quero ter plantas”. A visualidade que recebeu levou até a fazer uma das vacas para a primeira Cow Parade de São Paulo, foi leiloada e foi parar em Campos do Jordão. Apesar do reconhecimento da sua arte ele diz que os vizinhos nunca deram apoio no início, aconselhavam a construir uma casa “normal”. Nunca deu ouvidos e continuou a criar a casa como queria, que lembrasse as arvores que fizeram parte de sua infância. Concretar e encravar pedras foi uma decisão de simples estética, o criador achou que seria bom decorar as estruturas para que ficassem mais agradáveis. Mas o grande toque pessoal que cria a identidade da arte de Estevão veio de um prato quebrado, era um prato que ele gostava muito, e decidiu eternizar na parede de sua casa de pedra. A partir dai o artista não parou mais, começou a visitar bazares e comprar objetos que lhe chamam a atenção. E confessa que se sente frustrado quando as pessoas acham que as louças e objetos que ele agrega a construção são doadas ou tiradas do lixo, muita coisa está desgastada

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“Eu quero cuidar da natureza, eu quero ter plantas” pelo tempo ou pelo uso, mas é tudo comprado e escolhido com cuidado, o garimpo não é feito de forma aleatória, tem que chamar a atenção dele por algum motivo, seja por remeter a memórias de infância ou por ter um formato interessante. Andando pela casa encontramos câmeras fotográficas de décadas atrás, bolinha de golfe da Nova Zelândia, celulares, carrinhos de brinquedo, garrafas de vinho e muitas outras coisas. Mas com certeza figuras religiosas são suas principais aquisições, em todo canto é possível ver uma imagem de Nossa Senhora ou algum santo, tem até um espaço grande no segundo andar, acima da escada, dedicada a um presépio permanente. Na metade da conversa resolvemos circular a casa com Estevão nos guiando, em um pequeno atêlie em seu quarto o criador da casa de pedra mostra que é artista também na criação de quadros e vasos. Com sementes de dendê trazidas da Bahia, criou três vasos excepcionais, e já até vendeu dois deles. Mas em dois de seus quadros, “Três Mulheres Grávidas” e “Pantanal”, mostra a essência de um artista, de forma abstrata retrata uma cena deixando compreensível a imagem que realmente representam. Mesmo sem estudo formal de artes, sem conhecer grandes nomes das artes plásticas ou até mesmo ter terminado o ensino fundamental, é capaz de usar a sensibilidade e habilidade manual para criar grandes obras, e isso mostra que as qualidades que tornam certo objeto arte variam, hora pode ser dá história por traz do quadro, hora por trazer uma técnica nova em um mundo estagnado em uma fórmula pronta, ou por simplesmente trazer uma nova utilidade para objetos que alguém não queria mais em um mosaico gigante. Estevão é um artista único, sua própria trajetória, seu apreço pela natureza e sua criatividade são as reais qualidade que fazem dessa casa uma obra incrível de ser apreciada, que se pode interagir de dentro, tocá-la, senti-la, perceber detalhes a cada passo, cada angulo em que se olha é uma descoberta nova, são tantos detalhes é necessário uma vida para apreciá-los, como foi para fazê-las.

16 fotos: Lucas Rodrigues e Edson Passos. Ilustração: Pedro Henrique



edição nº 01 - nov. 2013


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