Sesc Cine Messejana:
Resgate de memórias afetivas
Lucas de Sousa Saraiva Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Departamento de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal do Ceará
Universidade Federal do Ceará Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação
Sesc Cine Messejana:
Resgate de memórias afetivas
Por Lucas de Sousa Saraiva
Sob Orientação do Prof. Dr. Romeu Duarte Júnior
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. email: ssaraivalucas@gmail.com
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária
S246s
Saraiva, Lucas. SESC CINE MESSEJANA : Resgate de Memórias Afetivas / Lucas Saraiva. – 2018. 103 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2018. Orientação: Prof. Dr. Romeu Duarte Júnior . 1. Intervenção Patrimônio. 2. Espaço Público. 3. Multifuncional. 4. Equipamento Cultural. 5. Messejana. I. Título. CDD 720
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Lucas de Sousa Saraiva Sesc Cine Messejana: Resgate de memórias afetivas
Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.
Banca Examinadora Prof. Dr. Romeu Duarte Júnior Orientador
Prof. Dr. Francisco Ricardo Cavalcanti Fernandes Membro da banca examinadora
Arq. Domingos Cruz Linheiro Membro da banca examinadora
Fortaleza, 13 de Dezembro de 2018 3
Agradecimentos A primeira parte que você está lendo, foi a última a ser escrita. Como o Trabalho Final de Graduação é um fato importante, que marca o encerramento de um ciclo e o início de uma nova caminhada, nada mais justo que usar esse momento inicial para um ‘registro pessoal’ importante em minha vida. Contando parte dessa história e agradecendo a todos aqueles que participaram dessa jornada. Agradecer até mesmo a todas as dificuldades passadas desde o início, e que não foram poucas. Esse ‘Registro Pessoal’ já foi contado para quase todo mundo. Então, vou tentar fazer um resumo e contar o início de tudo pra você, que talvez eu nem conheça e que por algum motivo está lendo esse trabalho. O sonho de ser Arquiteto me acompanha desde criança, sempre tive a certeza que queria seguir essa profissão e nenhuma outra carreira chamava a minha atenção. Quando chegou o momento de viver o sonho e concorrer a uma vaga na UFC, eu não passei para a turma do primeiro semestre de 2012. Como alternativa, tentei me enganar entrando em um outro curso e seguindo por caminhos que nunca foram uma opção. Apesar das experiências vividas nesse primeiro contato com a universidade, não adiantava tentar fingir. Lá dentro eu sabia qual caminho eu tinha que seguir. Depois de um período obscuro, chegou o segundo semestre de 2012 e com ele uma nova chance de conquistar o que sempre sonhei. Novamente, parecia que não daria certo. Não passei na 1° chamada... Não passei na 2° chamada... Na ‘1° Lista de Classificados’, eu estava na 16° colocação de um total de 9 vagas disponíveis. 7 desistências era tudo que eu precisava para entrar no curso. Na tentativa de saber se eu teria alguma chance, fiz uma lista com o nome dos classificados e fui em busca de resposta em suas redes sociais. Mesmo sem conhecer ninguém, enviava mensagens perguntando se iriam ou não cursar Arquitetura. E assim, sempre com muita esperança, tive a confirmação. Teriam 7 desistências! 4
Mas como eu disse, o inicio dessa trajetória foi MUITO difícil. Uma das 7 pessoas, que inclusive já cursava um outro curso na UFC, confirmou virtualmente e, por conta disso, eu não passei na 1° lista de espera. Por uma única vaga... Ao tentar entender o que tinha acontecido, recebi a noticia, através de um amigo em comum, que mesmo confirmando virtualmente, ela não iria fazer a matricula e permaneceria no curso em que já estava matriculada. Foi uma mistura de euforia, alívio e nervosismo. Eu tinha a confirmação de que a pessoa não iria se matricular, mas ainda assim, o medo de um novo fracasso me atormentava. A confirmação oficial só iria acontecer na 3° semana de aula. E eu não queria perder os momentos iniciais do curso que eu tanto sonhei em entrar. E assim, sem nome na lista de chamada, sem uma confirmação oficial da UFC, eu fui como ouvinte no meu 1° dia de aula no curso de Arquitetura e Urbanismo. Coincidência ou não, era uma aula do Prof. Romeu Duarte, que hoje, na conclusão dessa jornada, eu tive a satisfação em ter como orientador. Eu acreditei, lutei e consegui! O último aluno a entrar no curso de Arquitetura e Urbanismo na turma de 2012.2 está pronto para iniciar uma nova jornada!
Agradeço a Deus, a quem pedi forças INÚMERAS vezes (e fui atendido); Aos meus Pais, Eveline e Mário, pelo suporte, dedicação e amor incondicional; A minha Irmã Camyla, por tudo que só o amor entre irmãos é capaz de proporcionar; Ao meu sobrinho Arthur, por continuar amando um tio que nunca tinha tempo para brincar (por tá sempre precisando terminar um novo trabalho); Aos meus Avós, Edmilson e Eridan, pela acolhida, risadas (e aquele almoço especial) em seu lar. Ao meu Tio Elder, pelo exemplo de profissional e o pelo primeiro contato com o mundo da construção civil. A minha Tia Evelane, por sempre incentivar o desenvolvimento do meu lado criativo através da arte. Ao meu amigo de longe que tá SEMPRE por perto, Caio Henrique. A todos os meus amigos do Colégio Cônego, pelos quais eu não sei viver sem. Aos meus grandes amigos da ‘Firma’ que entraram juntos comigo na Turma de 2012.2. Aos meus amigos do RNBW+, por terem me acolhido tão bem em sua turma e proporcionarem tantos momentos inesquecíveis (E HILÁRIOS) no pátio do DAU. E para todos aqueles que de alguma maneira contribuíram direta ou indiretamente nessa caminhada. Lucas Saraiva
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Sumário INTRODUÇÃO Justificativa Objetivos Gerais Objetivos Específicos Metodologia Referencial Teórico
08 08 10 10 10 11
PARTE 1: HISTÓRIA Formação de Messejana O Bairro hoje Comércio em Messejana Cine Messejana
12 12 16 18 20
PARTE 2: PATRIMÔNIO SIMBÓLICO Patrimônio Origem Os teóricos do restauro Cartas Patrimoniais Patrimônio no Brasil O Interesse no patrimônio e a eficácia do tombamento Intervenções contemporâneas em ruínas
24 24 26 26 28 30 32 34
PARTE 3: REFERÊNCIAS PROJETUAIS SESC Pompeia SESC 24 de Maio Parque das Ruínas de Santa Teresa Musealização da Área Arqueológica do Castelo de São Jorge
36 38 42 46 48
PARTE 4: DIAGNÓSTICO URBANO Dados Sociodemográficos Marcos e Equipamentos Legislação Uso do solo Macrozoneamento Ambiental Sistema Viário Mobilidade
50 52 52 54 56 56 58 58
PARTE 5: PROPOSTA SESC CINE MESSEJANA
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PRANCHAS SESC CINE MESSEJANA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
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Introdução Durante minha jornada no curso de Arquitetura e Urbanismo, sempre senti a necessidade de realizar algum tipo de atividade no bairro Messejana. Por ter sido morador e ainda possuir vínculos fortes com o bairro, as dinâmicas da região, que antes passavam despercebidas, ficaram mais evidentes graças à visão crítica adquirida durante essa minha caminhada. Ao tentar identificar demandas e/ou ideias para um projeto de graduação, me deparei com um prédio em ruínas onde um dia funcionou um cinema, o Cine Messejana. O edifício, tombado emergencialmente pelo município durante sua demolição, encontra-se as margens de um dos principais símbolos do bairro, a Lagoa de Messejana. Essa região concentra os principais estabelecimentos comerciais do bairro e a proximidade com o Mercado e a Igreja Matriz faz com que exista uma intensa movimentação de pessoas durante o dia. Porém, assim como o Centro de Fortaleza, a região sofre com o esvaziamento durante o período da noite, deixando o lugar com uma forte sensação de insegurança. O projeto vem então levantar reflexões sobre a questão do patrimônio edificado de Fortaleza e seu processo de restauro; a importância de “edifícios símbolos” para a perpetuação da memória e identidade de um bairro; e a influência da arquitetura na alteração da situação existente.
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Figura 01 - PĂ´r-do-Sol em Messejana. Foto: MacĂlio Gomes 9
INTRODUÇÃO
Objetivos Gerais
Metodologia
O principal objetivo desse trabalho é a requalificação da região ao entorno das margens da Lagoa da Messejana, com um foco tanto no desenvolvimento da região, como na preservação e valorização do contexto histórico existente no bairro.
Elaborar uma proposta de projeto arquitetônico demanda a absorção de informação de diversas áreas do conhecimento. Esse processo de apreensão recebe um maior destaque quando se pretende inserir a temática do restauro de bens de relevância histórica de um povo.
Objetivos Específicos
Para o seguinte trabalho mostrou-se necessário fazer logo no inicio a construção de uma base histórica bem fundamentada sobre o objeto de estudo e o local onde ele está inserido. Só após esse processo que procurou reconhecer e apontar os fatores dessa importância local e regional, é que foi possível prosseguir com outras etapas de elaboração.
Entre os objetivos específicos desse trabalho estão: - Analisar a possibilidade de preservação das ruínas do antigo Cine Messejana; - Inserir uma nova edificação ao conjunto tombado que ofereça atividade cultural e de lazer para a população; - Criar espaços de resgate das memórias afetivas do bairro; - Estabelecer diretrizes que possam unificar a edificação proposta às outras edificações marcantes na região, como o Mercado Público, a Igreja Matriz e a Lagoa de Messejana. - Requalificar os sistemas de espaços livres existentes; - Reinserir a Lagoa de Messejana no cotidiano do bairro.
Estando ciente dessa gama de assuntos nos quais o projeto iria se inserir e por questões metodológicas e didáticas, foi necessário dividir o trabalho nas seguintes partes: 1- Antecedentes Históricos 2- Patrimônio Simbólico 3- Referências Projetuais 4- Diagnóstico Urbano 5- SESC Cine Messejana A primeira parte, Antecedentes Históricos, é dedicada ao processo de formação do bairro Messejana, de sua origem até os dias de hoje. Passando por uma rápida análise sobre a vocação comercial do Bairro e como isso influenciou na demolição do Cine Messejana. Em Patrimônio Simbólico, foi realizada uma análise sobre os processos de conservação do Patrimônio Cultural Edificado, suas origens e vertentes. Incluindo uma análise das Cartas Patrimoniais e como elas se relacionam com as práticas contemporâneas de restauro em ruínas. A parte de Referências Projetuais, busca mostrar através de obras arquitetônicas de sucesso, como os arquitetos no Brasil e no mundo solucionaram importantes questões em seus projetos.
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SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
O Diagnóstico Urbano reúne dados gerais e específicos da área de intervenção em busca de melhor fundamentar e adequar o processo criativo as condições locais. Por último, a descrição da proposta SESC Cine Messejana.
Referencial Teórico Para cada uma dos assuntos abordados, foi necessário adotar uma referência teórica específica. Quanto à história e formação de Messejana, adotaram-se as obras ‘Memorial e História de Messejana’ de Esau Ribeiro Costa e ‘Messejana. Coleção Pajeú’ de Edmar Freitas. Com relação à questão patrimonial, foi necessário fazer uma revisão dos principais teóricos, das cartas patrimoniais e compreender o que os contemporâneos falam sobre o assunto. Entre os obras consultadas estão ‘A Lâmpada da Memória’ de John Ruskin e a leitura de trechos de ‘A Alegoria do Patrimônio’ de Françoise Choay e ‘O culto moderno dos monumentos’ de Alöis Riegl. Além de importantes artigos como ‘Preservação do Patrimônio Cultural’ do Arquiteto Liberal de Castro, ‘A preservação do patrimônio entre a teoria e a prática: conflitos contemporâneos na sociedade da imagem’ de Patrícia Henning e ‘Reflexões sobre intervenções arquitetônicas contemporâneas em ruínas’ de Rodrigo Espinha Baeta e Juliana Nery. Entre as Cartas Patrimoniais, as principais consultadas foram ‘Carta de Atenas’, ‘Carta de Veneza’, ‘Carta de Amsterdã’, ‘Carta de Burra’ e ‘Carta de Washington’.
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Antecedentes Históricos A Formação de Messejana A formação do bairro Messejana data de desdobramentos do processo de formação do Ceará. Com o território cearense habitado por diversas etnias indígenas, especialmente os Potiguaras, a capitania recebeu diversas tentativas de ocupação por parte de incursões a serviço da Coroa Portuguesa e da Igreja Católica. Obras como “Algumas Origens do Ceará” e “Memorial e História de Messejana” ajudam a entender esse processo. Os primeiros registros de aldeamentos indígenas datam de 1603, com a passagem da comitiva de Pero Coelho, e de 1607, durante rápida passagem da missão liderada pelos padres Jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira. Ambas expedições tinham como objetivo chegar na região da Serra da Ibiapaba e na Capitania do Maranhão. Segundo NETO, foi apenas entre os anos de 1611 e 1612, com o fortalecimento territorial causado pela incursão de Martim Soares Moreno, que a colonização portuguesa no Ceará passa a ser efetivamente bem-sucedida, fato que se deu pela boa relação de Martim com as lideranças potiguaras. Essa boa relação permitiu, com o auxílio da mão de obra indígena provinda dos aldeamentos da Serra de Ibiapaba, a construção de edifícios de suporte às atividades portuguesas e de estruturas de proteção contra os ataques de outras tribos e de estrangeiros. O principal exemplar foi o Forte de São Sebastião, erguido nas margens do Rio Ceará (atual Barra do Ceará). Como consequência, o entorno da fortificação passou a aglomerar um grande número de nativos, dando origem a chamada Aldeia do Forte. Entretanto, durante a primeira metade do Sec. XVII, ocorreram diversos conflitos entre Portugueses e Holandeses pelo controle da região, e foi dentro desse contexto de instabilidade que os índios Potiguaras começaram 12
Figura 02 - Costa do Cearรก em mapa de 1629, por Albernaz I. Arquivo Digital Biblioteca Nacional. 13
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
a se distribuir pelo território, dando preferência às regiões distantes do Forte. Com o auxílio dos Jesuítas, as três principais aldeias responsáveis pela consolidação do adensamento do território surgem nesse período: as aldeias de Parangaba, Paupina e Caucaia. Importante salientar que essas nomenclaturas surgem pela primeira vez, em documentos oficiais, a partir de 18 de março de 1663, quando o Governador Geral de Pernambuco Francisco Bezerra de Menezes, satisfeito com os esforços Jesuítas na região, envia uma carta aos padres dando a eles o direito de nomearem as aldeias. Em 1665, registra-se primeiramente a existência do Arraial do Bom Jesus de Parangaba. Devido ao seu crescimento, ocorre entre 1680 e 1690 o reordenamento que deu origem a Aldeia de São Sebastião da Paupina.
A Aldeia Quanto ao nome, segundo o historiador Teodoro Sampaio, Paupina significa ‘Lagoa Descoberta’ ou ‘Lagoa Limpa’. Por muito tempo, alguns historiadores apontavam que o nome tinha sido dado em homenagem ao Padre Francisco Pinto (Pai Pina), mas segundo NETO e FREITAS, não existem comprovações quanto a esse fato. Com o fortalecimento das Missões e o sucesso do seu modelo de organização em Aquiraz, a Aldeia de Paupina também passa a ser administrada pelos Jesuítas. Mesmo que de maneira discreta, foram eles os responsáveis pelo início da urbanização com a definição dos primeiros traçados de rua e com a construção da primeira capela, que futuramente serviria de base para a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em 04 de maio de 1758, um alvará expedido pelo Governador de Pernambuco elevou todas as aldeias à categoria de Vila. A mudança de modelo administrativo e a transformação das aldeias (ou paróquias) em Vilas de Índios foi concluída em 1759 com a expulsão dos Jesuítas do Brasil. A Vila Sendo a quarta vila de uma série de inaugurações (Viçosa em julho, Caucaia e Arronches [Parangaba] em outubro de 1759), a antiga Aldeia de Paupina é inaugurada em 1º de janeiro de 1760 com o nome de “Vila Nova Real de Messejana da América”. A utilização dessa data para as celebrações da fundação do bairro é defendida por alguns historiadores, já que foi a primeira vez que o nome ‘Messejana’ apareceu oficialmente nos registros.
Figura 03 - Praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição (ao fundo) na Década de 1920. Foto: Arquivo Nirez.
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Quanto ao nome Messejana, duas versões são as mais utilizadas. A primeira, mais romântica, vem do livro Iracema de José de Alencar, que afirma que em Tupi-guarani o nome significa ‘Lagoa Abandonada’ e que a grafia correta seria ‘Mecejana’. A outra, mais fundamentada, defende
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
INTRODUÇÃO
que o nome é uma variação da palavra árabe ‘Mosjana’, que significa ‘Cárcere’ ou ‘Prisão’. Em Portugal, já existiam duas vilas de mesmo nome, por isso acredita-se que a inspiração tenha vindo desses locais. Inclusive, com uma vila que compartilha, além do nome, a mesma padroeira do bairro, Nossa Senhora da Conceição. Após a fundação da vila, foram feitas as escolhas dos representantes administrativos, a construção de pequenas edificações que davam o suporte necessário para essas atividades e a partilha dos bens que foram confiscados dos Jesuítas. As terras herdadas da antiga Aldeia de Paupina, com o advento da Lei de Terras, foram transformadas em grandes sítios que deram origem a vários bairros que hoje formam a chamada ‘Grande Messejana’. Pertencentes a famílias ou pessoas influentes na época, esses grandes sítios foram responsáveis pelo início da produção agrícola e industrial do bairro. Entre as atividades exploradas estavam o cultivo de canade-açúcar, mandioca, frutas além de uma discreta atividade pecuária e de produção de sal, cera de carnaúba e borracha. Pouco se tem registros de acontecimentos da vida cotidiana neste período. Perda de Autonomia Em 13 de maio de 1833, a vila de Messejana recebe uma tentativa de extinção, mas graças à atuação da Câmara de Messejana, a ação foi revertida. Entretanto, uma nova tentativa em 22 de dezembro de 1839 conseguiu extinguir a vila, fazendo com que a região passasse a viver sob administração da Capital. Além da mudança administrativa, houve o desmembramento de uma vasta área territorial pertencente a vila, ação que possibilitou a criação da Vila de Aquiraz e de uma área que corresponde hoje ao município de Pacatuba. Após a perda de sua autonomia, agora sob administração da capital, Messejana passou anos sem receber grandes investimentos. Entre os anos
Figura 04 - Lagoa de Messejana com suas várzeas ainda intactas. Década 1920. Foto: Arquivo Museu da Imagem e do Som
de 1839 e 1868 nada foi construído. As principais intervenções realizadas pela Capital foram a construção do Cemitério Público em 1869 e a construção do prédio que abrigou as atividades da Câmara de Messejana em 1880. Em 1870, houve a intensificação do processo de urbanização com a execução do calçamento em pedra da estrada que ligaria Messejana a Capital. A obra que levou 36 anos para ser iniciada, demoraria quase 70 anos para ficar pronta. No mesmo ano, foram criadas leis e concessões para a exploração do transporte de carga e passageiro entre a Vila de Messejana e a Capital por meio de veículos sobre trilhos de ferro. Entretanto, o que se observou nas décadas seguintes foram desistências e transferências do direito de exploração entre diversos grupos. Em 1881, a Vila de Messejana é reinaugurada e importantes obras foram executadas, como o Mercado Público e a cacimba da praça do mercado. Mas mesmo com a retomada de sua autonomia, o final do Século XIX e o início do Século XX foram marcados por diversas disputas políticas na região. Todos esses processos foram interrompidos quando, em 31 de outubro de 1921, uma medida tomada por Justiniano de Serpa extinguiu de uma só vez as Vilas de Messejana e Parangaba, rebaixando esses locais para Distritos de Fortaleza. 15
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
O Distrito
O Bairro Hoje
Apesar dessa mudança colocar novamente Messejana sob administração do município e fazer com que houvesse mais perdas de território, o restante do século XX foi de importantes modificações para o distrito. Após anos de abandono, em 1933 o distrito recebeu todo um aparelhamento administrativo ao sediar uma Subprefeitura de Fortaleza, o que, de certa forma, resgatou um pouco da autonomia dos tempos de vila.
Com seus mais de 41 mil habitantes, segundo o censo de 2010, Messejana continua sendo um dos principais bairros de Fortaleza. Conhecida por possuir um setor comercial e de serviços bastante intenso e diversificado, onde quase tudo pode ser encontrado, o bairro cada vez mais vem fortalecendo seu papel de centralidade e autonomia na cidade.
Com o esforço de importantes figuras políticas da região, os anos seguintes foram de execução de diversas obras de infraestruturas e de captação de importantes equipamentos públicos para o bairro. A abertura e pavimentação de vias, a chegada da rede de luz elétrica, a instalação do Hospital do Coração, o surgimento de diversas escolas, postos de saúde, agências bancárias e principalmente a melhora na conexão entre Messejana e a Capital foram algumas das melhorias realizadas. Entre os principais equipamentos de lazer do bairro durante o Século XX estavam o Cine Messejana, o Balneário Clube, o Estádio Murilo Borges, a Churrascaria Tremendão e o Clube Pau de Arara, além, é claro, da própria Lagoa de Messejana, com a utilização das suas águas para práticas náuticas que iam desde o nado livre até a corridas de lanchas, botes e jet-skis. O final da década de 90 trouxe consigo a última grande reforma administrativa de Fortaleza. Entre as mudanças estavam a extinção das Administrações Regionais (nome dado as Subprefeituras desde 1970), a criação das Secretarias Executivas Regionais e a divisão do território de Fortaleza em 119 bairros, sendo Messejana um deles.
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Essa independência, aliada a uma grande oferta de terrenos vazio, fizeram com que o bairro se tornasse um dos principais vetores de crescimento da cidade, recebendo nos últimos anos uma grande quantidade de empreendimentos imobiliários. Entretanto, esse processo de ocupação e verticalização, durante muito tempo não foi acompanhado de ações efetivas por parte do poder público, e assim como outras regiões com grande concentração populacional e intensa atividade comercial, a mobilidade acabou se tornando um dos principais problemas do bairro. A falta de equipamentos públicos de lazer, e a não manutenção dos existentes, faz com que os poucos espaços livres existentes sejam subutilizados e transmitam uma sensação de abandono. A péssima situação em que se encontram os equipamentos presente nas margens da Lagoa de Messejana, urbanizada em 2003, esporadicamente aparece nos telejornais locais por conta de denúncia de moradores. Nem mesmo a presença da maior estátua de Fortaleza dedicada à índia Iracema, personagem do romance de José de Alencar, e que foi construída na tentativa de inserir o bairro no eixo turístico da cidade, faz com que o espaço receba a devida atenção e ofereça à cidade todo o seu potencial. Essa carência de espaços de lazer faz com que os mais de 8.296 jovens de 4 a 14 anos que vivem no bairro, segundo o Censo 2010, fiquem ociosos e mais suscetíveis à criminalidade. Em paralelo, a disputa territorial pelo controle do
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
tráfico de drogas vem a cada dia se intensificando na região, deixando claro a ineficácia das políticas públicas que estão sendo executadas em Fortaleza na área da segurança. Apesar desse contexto, o bairro ainda resiste e aos poucos Messejana vai recebendo modificações a fim de melhor adequar as atividades que ocorrem no bairro. O reordenamento da malha viária, a criação de binários, a expansão da malha cicloviária e a expansão do Terminal de Messejana são alguma das obras de mobilidade recentemente executadas pela Prefeitura na Região. Por outro lado, pouco se planeja fazer pelo lazer, cultura e memória do bairro, ficando grande parte das propostas apenas no campo das promessas e intenções. A reforma do Mercado Público e a recuperação do Polo de Lazer nas margens da Lagoa de Messejana são alguns dos projetos que sempre estão sob análise e no aguardo de verbas.
Figura 05 - A utilização da Lagoa de Messejana para a prática de esporte naúticos foi bastante popular até o início dos Anos 90. Foto sem data. Acervo Carlos Juaçaba. Foto disponível online no blog ‘Fortaleza Nobre’.
Figura 06 - Messejana de 2018: Bairro consolidado que vem intensificando seu processo de verticalização com a chegada de empreendimentos imobiliários. Foto de Everton Marinho.
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ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Comércio em Messejana Exercendo uma importante função econômica dentro do Ceará, Messejana desde o Séc. XVII serviu de entreposto para as principais rotas comerciais que foram estabelecidas. Carne de Sol, Charque e Algodão foram alguns dos produtos que ajudaram no progresso da região, formando os primeiros traçados de vias e estabelecendo as primeiras relações da região com outras vilas e municípios próximos. Entretanto, a distância e a dificuldade de conexão existente entre Messejana e o Centro de Fortaleza, durante grande parte do seu processo de desenvolvimento, fez com que o bairro tivesse que buscar alternativas para o seu sustento. Durante o Séc. XIX, o Mercado Público e as pequenas bodegas e mercearias da região supriam as necessidades mais urgentes dos moradores, deixando o deslocamento para a capital necessário apenas para mercadorias mais específicas. O enorme crescimento populacional, os investimentos em infraestrutura e o aumento da dependência de outros bairros aos serviços prestados no bairro durante o final do Séc. XX e início do Séc. XXI fizeram com que a centralidade comercial do bairro fosse definitivamente estabelecida. A consolidação da Feira de Messejana, uma das maiores feiras de Fortaleza, pode ser utilizada para exemplificar esse fato. A tradicional Feira Livre de Messejana acontece há muitos anos na Praça do Mercado e ainda hoje continua atraindo milhares de pessoas de bairros próximos e de outros municípios. Proporcionando centenas de empregos diretos e indiretos, a feira funciona diariamente com a presença de permissionários cadastrados em barracas fixas e temporárias aos domingos, o dia oficial e de maior movimentação da feira. Além das tradicionais frutas e verduras, é possível encontrar produtos artesanais, artigos de decoração, eletrônicos e peças de vestuário. 18
Além desse intenso comércio de rua, o que aconteceu foi um enorme crescimento no número de estabelecimentos comerciais dos mais diversos tipos e setores nas proximidades do Mercado Público. Em seu entorno, por exemplo, é possível encontrar grandes varejistas de móveis e eletroeletrônicos, redes de supermercados, lojas de calçados, vestuário e cosméticos, além de serviços como consultórios odontológicos e oficinas mecânicas. Hoje, o que podemos observar é a expansão do comércio local ao longo das principais ruas do bairro, principalmente aquelas que fazem conexão com o eixo viário da BR-116 e da Avenida Washington Soares, como é o caso da Avenida Padre Pedro de Alencar, Avenida Frei Cirilo e a Rua José Hipólito. Entretanto, toda essa intensa e diversa oferta comercial fez com que uma série de problemas se agravassem na região. A falta de ordenamento e de fiscalização de novos feirantes e ambulantes fez com que os espaços destinados aos pedestres fossem ocupados, o número de vagas de estacionamentos já não se mostra suficiente frente a demanda e a pressão para a compra de terrenos vazios e de antigas residências para a construção de novos estabelecimentos já é uma realidade. Tomando conhecimento desse contexto é que se faz possível compreender os motivos que fizeram com que o edifício do Cine Messejana, uma importante edificação da história do bairro e objeto de estudo desse trabalho, fosse demolido.
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 07 - Feira de Messejana: Localizada na Praça do Mercado, a feira acontece diariamente. Aos Domingos, atrai milhares de pessoas de outros bairros e municípios. Foto disponível online no site pordentrodoseubairro.com.br.
Figura 08 - O comércio informal ambulante ocupa o espaço destinado aos pedestres causando transtorno pela falta de espaço. Foto do autor. 19
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Cine Messejana Localizado na Rua Padre Pedro de Alencar, nº 224, o sobrado foi construído inicialmente para servir de residência do Dr. Desembargador Álvaro de Alencar, um dos herdeiros do Dr. Rufino Antunes de Alencar (RIBEIRO, 1982, p. 59). Infelizmente, a escassez de registros mais precisos sobre a edificação não permitem afirmar com exatidão o ano em que sua construção foi realizada. Segundo Ribeiro (1982), em 1935 o sobrado foi colocado à venda e seu novo proprietário transformou os baixos em sala de projeção. Com o nome de Cine Messejana, a casa de espetáculos foi inaugurada em 11 de setembro de 1948 contando com a presença de autoridades, como relata Nirez (2005) em seu livro ‘Cronologia Ilustrada de Fortaleza’. “11 de setembro de 1948 - Inaugurase, em Messejana, mais uma casa de espetáculos, de propriedade de Júlio Ventura, o Cine Messejana, na Rua Pedro Alencar Pinto nº 224, com a presença do governador do Estado, Desembargador Faustino de Albuquerque e Sousa”. NIREZ, 2005 Rapidamente, o local tornou-se uma das principais opções de lazer do bairro, atraindo principalmente os jovens que buscavam diversão após as missas na Igreja Matriz. O local exibia filmes nacionais, estrangeiros e até séries americanas. As sessões diárias eram realizadas no período da noite, das 19 às 21 horas, e com sessões matinês, às 17 horas, durante o final de semana. Nos anos 1960, com a popularização da televisão e a inauguração da TV Ceará, com noticiários e uma programação local, a população passou, aos poucos, a abandonar o cinema como principal opção de entretenimento. Assim, seguindo a tendência natural de outros cinemas 20
periféricos na cidade, o ‘Cine Messejana’, agora com o nome de ‘Cine Juventus’, fechou as portas. Nas décadas seguintes, o prédio seguiu abrigando diversos usos. Voltou a ser residência, sediou uma filial da COBAL (Companhia Nacional do Abastecimento), até, por fim, receber as atividades de uma igreja evangélica no início dos anos 2000. Em 2002, com a transferência dessa igreja para uma edificação maior nas proximidades, o prédio ficou sem uso, servindo de abrigo para moradores de rua e sofrendo depredações ao longo dos anos seguintes. Com o objetivo de garantir a preservação dessa edificação simbólica para o bairro de Messejana, estudos de tombamento foram iniciados. Em 2004, um inventário chegou a ser realizado por parte da SECULTFOR, mas foram impedidos pelos proprietários de realizar levantamentos no local. Segundo relato do Prof. Dr. Romeu Duarte, coordenador do inventário, a edificação já se encontrava arruinada. Em junho de 2006, enquanto o processo de tombamento acontecia, o prédio do Cine Messejana começou a ser demolido irregularmente a mando de seu proprietário, causando grande espanto na população. A Secretaria Executiva da Regional VI conseguiu interromper a demolição e em parceria a Movimentos Culturais, Centros Comunitários e Associações de Moradores montou uma grande rede de proteção com o objetivo de exigir mais celeridade ao processo de tombamento e evitar que novas demolições acontecessem. Em 4 de julho de 2006, após manifestações e coleta de assinaturas de moradores, o Decreto Municipal nº 12.062 oficializou o tombamento do edifício. Com o tombo efetivado, promessas de restauro surgiram por parte de representantes da Prefeitura Municipal de Fortaleza, levantando a possibilidade da instalação de um cine-teatro e de uma biblioteca para a Regional VI, mas nenhum projeto foi apresentado ou executado.
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Em 2008, com a indefinição quanto ao seu futuro e com estrutura física completamente comprometida, o sobrado do Cine Messejana foi demolido após parte de sua fachada cair sobre a calçada. Hoje, além da memória de seus antigos frequentadores, o que restou do Cine Messejana são apenas as paredes da sala de projeção e de alguns outros compartimentos de menor proporção, como banheiros e salas. A vegetação vai naturalmente crescendo e tomando conta de todo o terreno e, aliadas ao período chuvoso, colabora esporadicamente para a queda de outras partes da estrutura que ainda insistem em manterse de pé. Enquanto continua aguardando intervenção, o local permanece servindo de rota de fuga para delinquentes e espaço para o consumo de drogas. A falta de uso aliado à desertificação no período noturno faz com que toda essa região passe uma sensação de insegurança para aqueles que usam o seu entorno como estacionamento, atalho e principalmente para as poucas residências que ainda resistem no seu entorno.
Figura 09 - ‘Cine Messejana é Tombado’: Fotografia de André Lima reproduzida em reportagem do Jornal Diário do Nordeste, disponível online. Figura 10 - ‘Viajando pelo túnel do tempo’: Fotografia retirada do trabalho de Mário Sérgio Barbosa Costa para o XIV Congresso de Sociologia, disponível online. 21
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Durante o processo de elaboração desse trabalho, buscou-se incessantemente por qualquer tipo de registro iconográfico do sobrado do Cine Messejana, porém não foi possível encontrar algo anterior ao início do processo de demolição. Foi realizado o contato com alguns moradores do bairro, com colecionadores de fotografias antigas e com os principais sites, blogs e grupos sobre ‘Fortaleza Antiga’, e, até o final desse trabalho, apenas dois registros fotográficos em baixa qualidade foram encontrados (Figura 09 e Figura 10). Devido à insegurança e a impossibilidade de entrar no terreno para fazer uma medição das ruínas in loco, o levantamento foi realizado a partir da análise das imagens de satélites disponibilizadas pelo programa Google Earth e Google Street View, e reconstruída através de programas de modelagem tridimensional como SketchUp e ArchiCAD.
Figura 11 - Imagem aérea mostrando o conjunto de ruínas do Cine Messejana. Captura de Tela do Google Earth.
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SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 12 - Ruínas do Cine Messejana em 2012. Captura de tela do Google Street View.
Figura 13 - Vegetação aos poucos vai cobrindo o que restou do antigo Cine Messejana. Junho de 2018. Foto do Autor. 23
Patrimônio Simbólico Sobre Patrimônio Do Latim patrimonium, a origem da palavra ‘Patrimônio’ tem como base a ideia de ‘bens de família, herança familiar’. Em resumo, tudo aquilo que possui um valor monetário a uma pessoa ou grupo e que pode ser de algum modo adquirido ou repassado. Com o passar dos anos, o conceito foi sendo ampliado e passou a ser utilizado como definição para algo que possui importância histórica e/ou significado simbólico para uma sociedade. A preservação do patrimônio cultural de um povo permite o registro de sua história para a posteridade, tendo como principal contribuição o fortalecimento de sua identidade local e o respeito as suas dinâmicas e diversidade cultural quanto agrupamento. Por ser um assunto bastante diverso e com rebatimento em diversas áreas de conhecimento, como nas Artes, Biologia e Sociologia, é importante fazer um recorte e mencionar que o objetivo final desse trabalho resultará em uma proposta de intervenção arquitetônica. Por conta disso, grande parte da análise tem como base as teorias, processos e práticas dentro do campo da Arquitetura, tendo como foco principal a conservação e restauro das edificações e sua relação com o entorno.
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Figura 14 - Igreja Matriz de Messejana: um dos símbolos do processo de formação de Messejana. Foto disponível online no blog ‘Roberto Moreira’ no Diário do Nordeste 25
PATRIMÔNIO SIMBÓLICO
Origem Não se tem registros precisos em que momento da história surgiu a necessidade de preservação de elementos culturais simbólicos. Segundo o Arquiteto Liberal de Castro, em sua matéria sobre a ‘Preservação do Patrimônio Cultural’, divulgada pela Revista do Instituto do Ceará em 2008, durante o século XVIII, a existência de antiquários já demonstrava um interesse da sociedade pela conservação de bens materiais. Mesmo que ainda não houvesse nesse período um rebatimento direto na Arquitetura, a existência desses antiquários, com o comércio e a valorização de peças e objetos antigos, de certa maneira contribuiu para a fundamentação da ideia de patrimônio cultural como conhecemos hoje. Liberal, citando os estudos de Françoise Choay, aponta que os primeiros ‘sussurros’ sobre a questão da ‘defesa sistemática e oficial’ de edificações podem ter surgido na França, no período em que muitos dos Monumentos Nacionais eram alvos de ataques durante a Revolução Francesa. Porém, apenas na primeira metade do século XIX é que as primeiras medidas efetivas em prol da preservação do patrimônio construído foram adotadas pela primeira vez, também na França, tendo como foco os edifícios da Antiguidade e da Idade Média. A criação da Comissão dos Monumentos por François Guizot em 1930 permitiu que um conjunto de edificações em péssimo estado de conservação fosse selecionadas para serem preservadas. Tal atitude fez com que os membros da comissão, chamados de Inspetores dos Monumentos Históricos, tivessem que adentrar em um campo até então ‘sem regras’. Com o auxílio de áreas da História e Arqueologia e também usando como referência os processos de identificação, classificação e inventário dos antiquários, que os primeiros registros e propostas foram sendo executados. 26
Na medida em que os trabalhos aconteciam, vertentes divergentes foram surgindo. De um lado aqueles que defendiam o reestabelecimento das edificações através de modificações mais intensas, às vezes tendo como base os documentos e registros de seus criadores, do outro aqueles que agiam de maneira mais conservadora as alterações nas construções. Essa problemática seguiu fomentando calorosos debates e claramente teve rebatimentos no campo teórico. Os Teóricos do Restauro desenvolveram postulados, caminhos e indicações a fim de defenderem seus pontos de vista sobre qual seria o ‘caminho mais correto’ para lidarem com o problema da restauração arquitetônica. John Ruskin e Viollet Le-Duc são conhecidos por terem sido pioneiros nessa discussão. A partir disso, outros países interessados em preservar seu acervo arquitetônico passaram a agir de maneira particular, alguns com mais cautela e sem envolver o estado como é caso dos britânicos, e outros de maneira mais discreta e com atividade pontual e regional, como foi na Alemanha. Os Teóricos do Restauro Françoise Choay, em seu livro ‘A Alegoria do Patrimônio’, categoriza as duas grandes correntes que inicialmente pautaram os processos de restauração do Patrimônio, são elas a Intervencionista e a Anti-Intervencionista. Com base no pensamento desenvolvido por Viollet Le-Duc, a corrente Intervencionista tinha como preceito a ideia de que o restauro deveria recompor o monumento a “um estado que pode não ter existido nunca”. Para isso, Le-Duc buscava estabelecer um ‘modelo base’ teórico para direcionar sua atuação nos projetos de intervenção e restauração. O também chamado Restauro Estilístico, buscava conhecer profundamente toda a lógica de concepção da obra que estava sendo restaurada, o estilo
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arquitetônico e sistema construtivo das obras eram destrinchados, e direcionavam as modificações. Ao final, o objeto restaurado deveria conter o mais próximo possível de elementos estabelecidos na ‘base ideal’ criada. As principais críticas feitas a esse modelo desenvolvido por Viollet Le-Duc, eram a de que os resultados finais das intervenções dava origem a uma edificação completamente diferente da original. A ‘Liberdade Criativa’ de Le-Duc fazia com que suas suposições sobressaíssem ao papel do idealizador original, deixando o restaurador com um ‘objetivo velado’ de tornar a obra restaurada muito mais sua, do que de quem realmente a criou. “Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado que pode não ter existido nunca em um dado momento” Viollet Le-Duc A corrente Anti-intervencionista desenvolvida com base na teoria de John Ruskin, em total contraponto a Viollet, trata a questão da restauração com grande conservadorismo. Ruskin apontava que qualquer tipo de restauração em uma edificação se mostraria como uma mentira, sendo admitidas apenas pequenas ações conservativas. Com uma atuação maior na Inglaterra, essa abordagem trazia consigo toda uma romantização sobre o que a destruição ou ruína de uma edificação representava. O ‘mistério’ e ‘beleza’ da ruína fariam com que a edificação se tornasse um retrato da passagem temporal, com a pátina e a vegetação fazendo parte desse cenário. Ao inserir a ideia de que as edificações possuíam uma ‘alma’, o ato de restauração faria com que surgisse um novo edifício e, portanto, um novo ‘espírito’. Sendo impossível para a edificação voltar a ter a mesma ‘alma’ ou significado, o único
resultado seria um ‘falso histórico’, uma réplica e imitação. E é assim, de maneira simbólica e romântica, que Ruskin vai construindo seus argumentos, reunidos em seguida em um volume especialmente dedicado a questão patrimonial, a chamada ‘Lâmpada da Memória’. “(O restauro) (...) significa a mais total destruição que um edifício possa sofrer: uma destruição no fim da qual não resta nem ao menos um resto autêntico a ser recolhido, uma destruição acompanhada da falsa descrição da coisa que destruímos.” John Ruskin sobre o restauro Com a consolidação das ideias, outras contribuições foram sendo inseridas na discussão com o objetivo de propor uma visão mais conciliadora. Apesar de não chegar a originar teorias, a linha técnica de Camillo Boito e Giovannoni buscou abordar a importância do valor documental das edificações, focando mais na prática do que na teoria. O Restauro Filológico, apesar de ser considerado falho em sua tentativa de alinhar duas vertentes opostas, levantou a importante questão da relação das intervenções com o entorno e o equilíbrio do programa de necessidades. Ampliando novamente o debate surge então o Restauro Crítico. Tendo Cesare Brandi como um de seus maiores expoentes, essa vertente considera os monumentos não só como documentos, mas também coloca em consideração o seu significado social e figurativo. Sugere que as praticas de conservação e manutenção sejam sempre priorizadas, permitindo a restauração apenas como última alternativa, desde que siga pontos como:
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1- A mínima intervenção no objeto original; 2- Distinção clara entre o que é novo e o antigo; 3- A reversibilidade de modificações e/ou adições que forem executadas e; 4- O respeito pelas modificações pré-existentes, a fim de evitar qualquer tentativa de unificação ou ‘invencionismo’ por parte do restauro. Portanto, essa última vertente trata a questão do patrimônio como sendo parte de um processo reflexivo, complexo e único, onde cada obra precisa ser devidamente analisada dentro de seu contexto e não a partir de modelos pré-estabelecidos. Entendendo que as questões estilísticas e históricas devem estar inseridas no processo de restauro de maneira complementar e não em lados opostos, a contribuição do pensamento de Brandi permitiu o amadurecimento das discussões sobre a preservação do patrimônio arquitetônico, ao ponto de proporcionar a criação das cartas patrimoniais durante o Séc. XX. Cartas Patrimoniais O inicio do Séc. XX marcou o aumento do interesse pela preservação dos bens materiais construídos. O mundo tentava se reconstruir depois de duas grandes guerras mundiais, especialmente as cidades europeias, e um número maior de países buscavam criar uma identidade nacional e se impor frente aos seus vizinhos. Grande parte desse avanço pode ser atribuída ao trabalho desenvolvido pela ONU (Organização das Nações Unidas), em especial pela a sua extensão responsável pela educação, ciência e cultura, a UNESCO. Essas organizações contribuíram como patrocinadora em diversos congressos e reuniões internacionais, que ao final elaboravam cartas e recomendações especiais sobre o assunto. 28
As Cartas Patrimoniais consistem em documentos sintéticos e sucintos que reúne os resultados e consensos debatidos entre os países participantes. Seu conteúdo tem caráter indicativo e serve de ponto de partida para aqueles que precisam lidar com o restauro. Assim, cada situação necessita de uma reinterpretação e aprofundamento para melhor adequar o projeto elaborado a realidade e cultura local. A cada nova reunião essas orientações podem ter seu conteúdo reavaliado e complementado. Com a ampliação da discussão diversas cartas foram surgindo, cada uma delas tratando de assuntos específicos e pertinentes a um determinado local. O compartilhamento e colaboração internacional sobre o assunto faz com que essas novas cartas possam servir de referência para outras situações, perpetuando o ciclo de criação de novos documentos. Por conta disso, foi necessário realizar uma seleção de cartas que abordassem questões pertinentes ao processo de elaboração desse trabalho, entendendo, é claro, que as cartas não se anulam, mas complementam-se. As principais cartas que serviram como base de consulta para a elaboração desse projeto foram a Carta de Atenas e a Carta de Veneza. Carta de Atenas: Fruto da primeira grande reunião internacional sobre o tema realizada em 1931 na cidade de Atenas, que teve como foco debates teórico sobre o papel da Arquitetura e o seu comportamento com relação à prática da preservação e conservação de edifícios. Essa carta tem como objetivo estabelecer normas nos aspectos técnicos, construtivos e legais; além de indicar condutas norteadoras para o trato com o restauro. O documento complementa com a necessidade de o processo ser realizado de maneira multidisciplinar, incentivando principalmente a colaboração internacional para a
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perpetuação dos monumentos. Além disso, atribui às nações a responsabilidade em determinar e catalogar o seu patrimônio. Carta de Veneza: Com base em reunião realizada em 1964, a carta é um dos principais documentos internacionais sobre o tema de restauro até hoje. Em seu conteúdo, amplia as definições de monumento histórico e mais uma vez reconhece a importância de preservá-los, buscando aprofundar e garantir um maior alcance dos princípios estabelecidos pela Carta de Atenas. Adota uma visão de reflexão crítica semelhante a que foi desenvolvida por Cesare Brandi, ou seja, da necessidade de tratar cada edificação com particularidade e ponderar tanto os aspectos histórico-documentais quanto os estéticos, além de mostrar a necessidade do processo de conservação estar atrelado à recuperação ou fortalecimento da função social de uma edificação. Entre os principais pontos abordados na Carta de Veneza que foram de importância para o projeto, estão: Carta de Veneza Sobre Conservação: Artigo 5º - A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber e se podem autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes.
Artigo 6º - A conservação de um monumento implica a preservação de um esquema em sua escala. Enquanto subsistir, o esquema tradicional será conservado, e toda construção nova, toda destruição e toda modificação que poderiam alterar as relações de volumes e de cores serão proibidas. Sobre Restauração: Artigo 9º - A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo arqueológico e histórico do monumento. Artigo 10º - Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o emprego de todas as técnicas modernas de conservação e construção cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência.
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Artigo 11º - As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração, a exibição de uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias excepcionais e quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor histórico, arqueológico, ou estético, e seu estado de conservação é considerado satisfatório. O julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto Artigo 12º - Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história. Artigo 13º - Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações com o meio ambiente.
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Outras cartas que contribuíram para o amadurecimento de ideias e justificativa nesse trabalho foram: • Carta de Amsterdã (1975): Sobre a necessidade de incentivos financeiros, programas de educação e políticas integradas de conservação. • Carta de Burra (1979): Revisão da nomenclatura e definição de novas recomendações de conservação, preservação e restauração e; • Carta de Washington (1987): Sobre a questão da preservação na escala de bairro e cidades históricas, tendo como base a Carta de Veneza. Patrimônio no Brasil No Brasil, a questão patrimonial passa a ganhar um maior destaque a partir da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Através da Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, estabelece e orienta a atuação do órgão, que ainda hoje, é o principal responsável por proteger e promover os bens culturais nacionais, além de garantir sua permanência e usufruto para as próximas gerações. Em 1970, depois de algumas mudanças de nomenclatura, passou-se a chamar Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), nome que permanece até hoje. Legalmente, a primeira legislação a tratar da questão da conservação do patrimônio cultural brasileiro data de 30 de Novembro de 1937. O decreto-lei nº 25, ainda em vigor no país, define em sem Artigo 1º o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, além de instituir o instrumento de tombamento, estabelecendo algumas diretrizes, efeitos e etapas desse processo.
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Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber: 1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º. 2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interêsse histórico e as obras de arte histórica; 3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; 4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras
Já na Constituição de 1988, com a evolução mundial dos conceitos sobre patrimônio, com o IPHAN já consolidado e atuante e com as próprias mudanças que ocorreram no país, foi necessária que houvesse uma atualização nas definições sobre o que seria o nosso Patrimônio Histórico e Artístico. O Artigo 216 amplia o conceito como sendo “os bens de natureza material e imaterial” da sociedade brasileira, sendo esse conjunto de bens agora denominado Patrimônio Cultural Brasileiro. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Seção II DA CULTURA Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. As práticas e domínios da vida social de um povo repassado de geração em geração são considerados Patrimônio Cultural Imaterial. A chamada Cultura Intangível abrange os saberes, ofícios e modos de fazer de um povo, assim como 31
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as suas celebrações, danças, músicas e expressões cênicas ou plásticas, sejam elas realizadas de maneira individual ou coletiva. O Patrimônio Cultural Material diferese do anterior por possuir a característica de ser um bem palpável. Os bens tombados que podem ser transportados são denominados de natureza Móvel, como por exemplo, as coleções arqueológicas e acervos museológicos em seus mais diversos formatos (Arquivos, Documentos, Livros, Quadros, Fotos, Vídeos, etc.). Já as cidades históricas e suas paisagens, sítios arqueológicos e bens individuais (Edificações) são classificados como de natureza Imóvel. A Arquitetura, portanto, está inserida nessa última nomenclatura. O Interesse no patrimônio e a eficácia do tombamento. Desde a origem da palavra, a questão monetária sempre esteve diretamente ligada ao patrimônio. Não é de hoje que existe um ‘Status’ que envolve todas as cidades que são reconhecidas por valorizar e preservar seus exemplares históricos. A própria França que, como dito anteriormente, teria iniciado os primeiros movimentos em prol da preservação de edificações, ainda hoje desperta o interesses de visitantes que desejam conhecer uma Paris ‘cidade luz, romântica, berço da cultura e conhecimento’. Essa construção de imagem faz com que a conservação do patrimônio esteja atrelada ao turismo. Os estudos de Françoise Choay sobre o patrimônio chamam atenção sobre essa relação, apontando que é cada vez mais frequente a vertente que trata o restauro dos bens históricos pelo prisma de bens de consumo e rentabilidade. O que a autora critica com isso, é o uso da preservação com a finalidade de criar ‘falsos 32
cenários históricos’, que em muitas vezes não correspondem a realidade do local. Uma preservação vazia que atende aos interesses financeiros, servindo apenas de plano de fundo a uma espetacularização de algo sem significado histórico nenhum. “O culto que se rende hoje ao patrimônio histórico deve merecer de nós mais do que simples aprovação. Ele requer um questionamento, porque se constitui num elemento revelador, negligenciado mas brilhante, de uma condição da sociedade e das questões que ela encerra” Françoise Choay Ao inserir o pensamento de Choay, não pretendo negar a importância que o investimento privado tem na manutenção de edificações históricas, ou até mesmo rechaçar esse tipo de turismo, mas é preciso reconhecer que a questão ainda está diretamente ligada aos interesses do setor público e privado. Os processos de restauro e conservação de edificações demandam tempo, estudos e recursos, dependendo diretamente da ‘boa vontade’ desses setores em querer realizar esse tipo investimento. Cidades como Fortaleza, de onde grande parte da renda vem de atividades relacionadas ao Turismo, cada vez mais vão percebendo como os investimentos na preservação do seu patrimônio cultural podem se tornar algo lucrativo. Porém, é importante sempre estar atento aos impactos e como isso está conectado ao processo de construção da cidade. Mais do que criar atrações, símbolos e cartões-postais para aqueles que visitam nossa cidade, é preciso fazer com a ideia de preservação do patrimônio cultural edificado seja compreendida como algo voltado para os
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próprios moradores. Uma cidade só será plena quando aqueles que habitam tiverem respeito e conhecimento sobre a sua história e memória, seja para celebrar com saudosismo ou para não repetir os erros do passado. Hoje, por mais completa que sejam as definições e legislações em vigor sobre a conservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, processos como o de tombamento já não são mais garantia de conservação. Atrelado a isso, a busca por esse retorno financeiro faz com que apenas as edificações em áreas turísticas recebam investimentos e o cuidado do poder público.
Figura 15 - Casa da Câmara da Villa de Arronches e Intendência Municipal da Villa de Porangaba: outro exemplo de edificação com importante significado histórico para a cidade de Fortaleza. Foto disponível online no blog ‘Fortaleza em Fotos’.
O principal alvo de estudo desse trabalho, o sobrado onde funcionava o ‘Cine Messejana’, exemplifica bem como essa dinâmica acontece e como a lentidão, o desrespeito à lei e a falta de investimentos fazem com que os exemplares de ‘menor importância’ em nossa cidade acabem desaparecendo. Alöis Riegl, em seu livro O Culto Moderno dos Monumentos, defende a ideia de que a definição de monumento histórico não deve ser atrelada apenas as dimensões ou ‘qualidade’ do objeto construído, mas também nas relações afetivas que com os anos foram sendo construídas naquele local. E é com base nessa noção de memória coletiva que defendo a importância e a necessidade de reinserir o ‘Cine Messejana’ no cotidiano do bairro e na vida dos moradores de Messejana. Ao propor a recuperação de um edifício fora do eixo turístico da capital, busco descentralizar os investimentos para um equipamento com atividades que tenham como foco principal o morador. Além disso, mostrar que a existência de uma edificação que, aparentemente não é de ‘grande relevância’ para a cidade, muito pode nos contar sobre os processos de formação, costumes e memória afetiva de um bairro ou comunidade.
Figura 16 - Escola Jesus, Maria, José: Conjunto Arquitetônico tombado pelo Município desde 2015 continua na espera de restauro. Foto disponível online no site do Jornal Diário do Nordeste.
Figura 17 - Sobrado da Rua Dr. João Moreira, 143: Tombado em 1995, abandonado até 2001, quando foi adquirido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará após parte de sua estrutura desmoronar. Restaurado, foi sede da Casa Cor 2007 e hoje abriga o Museu da Indústria do Ceará. Foto de Igor de Melo.
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Intervenções Contemporâneas em Ruínas Até que ponto o arquiteto pode ou deve intervir em uma ruína? Até que ponto a inserção de novos elementos contribui ou atrapalha a leitura do todo? Não existe resposta correta para perguntas desse tipo. A experiência aplicada às intervenções em ruínas ao redor do planeta mostram abordagens completamente diferente uma das outras. Como visto anteriormente, as cartas patrimoniais indicam, mas não limitam a atuação de arquitetos em obras nesse estado de degradação. Mais uma vez, cabe a análise individual precisa de cada situação para direcionar as intervenções. Muitas obras de restauro usam da inclusão de anexos ou ampliação em seu sítio para expandir as possibilidades de programa, muitos deles sendo transformados em museus ou centro culturais. Entretanto, muito mais do que analisar o programa, é importante analisar como essas relações são estabelecidas.
Figura 18 - Casa da Torre de Garcia D’Ávila - Brasil: Intervenção que conserva e permite o passeio pelas ruínas. Foto de Keul Fortes.
Por conta dessas possibilidades múltiplas de intervenção, foi necessário buscar escritos que abordassem de maneira direta a questão. No Artigo-Dossiê “Reflexões sobre intervenções arquitetônicas contemporâneas em ruínas”, Rodrigo Espinha Baeta e Juliana Cardoso Nery conseguem, com maestria, organizar as intervenções em grupo quanto o tipo de intervenção, para, a partir dai, fazer um apanhando das críticas sobre as modificações. A categorização utilizada pelos autores é: • Intervenções que apenas conservam, consolidam ou estabilizam as ruínas em conjunto com pequenas inserções contemporâneas. • Escavações que expõem as fundações de antigos edifícios ou conjuntos urbanos • Intervenções que reconstroem o edifício ou áreas urbanas a partir das ruínas ou dos vestígios remanescentes 34
Figura 19 - Sítio arqueológico de Tlatelolco - México. Escavações que expõem as fundações de edificações. Foto de Raquel Mazetto.
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• Recuperação da caixa mural exterior de edifícios arruinados em consonância com a preservação de restos da antiga ruína na parte interna da construção • Criação de novos objetos arquitetônicos a partir das ruínas de construções ou áreas urbanas remanescentes Com isso, observou-se que as intervenções que conseguem se inserir de maneira mais diluída e silenciosa dentro da irregularidade das ruínas, são bastante eficientes. Esse tipo de situação tem como foco principal, além da simples conservação do conjunto, a possibilidade de dotar o conjunto de ruínas de melhores condições de uso, com a instalação de elevadores, rampas, passeios e banheiros por exemplo.
Figura 20 - Colégio do Santuário do Caraça: Recuperação da caixa mural exterior e alteração do programa interno. Foto de Jean Yves Donnard.
As propostas que buscam realizar um trabalho mais arqueológico do conjunto das ruínas, com escavações com o objetivo de expor as fundações de edificações, esbarram na situação do seu entorno. Quando esse tipo acontece nos grandes centros urbanos, tem como possível consequência à demolição de edificações mais recentes, sendo esse fato o alvo das críticas. As propostas que reconstroem completamente a edificação a partir das ruínas ou de seus vestígios são uma das poucas intervenções que as cartas patrimoniais explicitamente não incentivam. Representando o ‘falso histórico’ comentado anteriormente. As duas últimas categorias tratam de um restauro que, a partir das paredes externas, tentam preservar o uso do espaço interno. Essa proposta pode seguir por dois caminhos, onde em um primeiro cenário ocorre a recuperação das formas ou usos originais e em outro ocorre o rearranjo do espaço e a forma e programa são completamente novos.
Figura 21 - Castelo de São Jorge - Lisboa: Criação de novos objetos arquitetônicos. Foto de FG+SG Fernando Guerra.
Com base nessas referências, foi possível estabelecer possíveis cenários para o projeto de intervenção das ruínas do Cine Messejana. 35
Referências Projetuais
Figura 22 - Parque das Ruínas Santa Tereza. Foto de Bruno Vouzella. Figura 23 - Área ArqueológIca do Castelo de S. Jorge. Foto de FG+SG – Fernando Guerra, Sergio Guerra. 36
Figura 24 - Sesc PompĂŠia. Foto de Monique Renne.
Figura 25 - Sesc 24 de Maio. Foto de Eduardo Knapp. 37
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
SESC Pompeia – São Paulo - Lina Bo Bardi “Numa cidade entulhada e ofendida pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento. E aí está hoje a Fábrica da Pompeia, com seus milhares de frequentadores, as filas na choperia, o solarium índio do deck, o Bloco Esportivo: pequena alegria numa triste cidade.” Lina Bo Bardi Ficha Técnica Início da obra: 1977 Data de inauguração: 22/01/1982 Área do terreno: 16.573 m² Área construída da fábrica: 12.211 m² Área construída informada: 23.571 m² Área construída real: 21.996,50 m² Data de inauguração de 18/08/1982 até 30/10/1986 Programa de Necessidades Espaço de Tecnologias e Artes Comedoria (Restaurante por peso) Bar Café Espaço de leitura Central de Atendimento Espaço de Brincar/Sala de Recreação Clínicas Odontológicas: 5 consultórios e RX periapical Loja SESC Sala de Ginástica Salas de expressão corporal e ginástica multifuncional 3 Ginásios poliesportivos cobertos Piscina coberta aquecida Deck/Solarium Vestiários Teatro (774 lugares) Galpão Cultural multiuso Oficina de Arte 7 salas multiuso Convivência 38
Figura 26 - Fábrica, onde hoje funciona o Sesc Pompéia, abandonada em 1972. Foto disponível online no site Estadão.
Localizado zona oeste da cidade de São Paulo, o SESC Pompeia é uma joia arquitetônica projetada pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. A obra iniciada em 1977, parte do aproveitamento dos galpões de uma antiga fábrica de tambores da década de 1930 e da adição de um bloco com equipamentos esportivos. O projeto se desenvolve inicialmente a partir da transformação da antiga rua de acesso de caminhões em uma via exclusiva para pedestres. Esse eixo central contribui para o direcionamento dos visitantes, facilitando a apreensão do conjunto a medida que o percurso é realizado. Com a recuperação desses galpões, especialmente por conta da sua estrutura precursora em concreto, o local revela-se um espaço amplo e com pé-direito alto, iluminados naturalmente graças a utilização de telhas translúcidas.
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em blocos de concreto estrutural colocadas à meia altura. Com isso, é possível estabelecer uma maior relação e interatividade entre as atividades artísticas, além de manter o destaque nas treliças de sustentação da estrutura original. Nos galpões do lado oposto ficam concentrados o setor administrativo, manutenção, choperia, cantina, além de um restaurante por peso que consegue comportar até 800 pessoas, a chamada Comedoria. Com toda a infraestrutura de cozinha industrial, é possível acompanhar os funcionários trabalhando graças ao uso de vedações de vidro.
Figura 27 - Adição de uma nova edificação ao conjunto de galpões da antiga fábrica. Foto de Hélvio Romero.
Programa No primeiro conjunto de galpões estão inseridos uma grande área de estar com uma lareira e espelho d’água, espaço de recreação infantil, áreas para exposição, além de uma biblioteca e áreas de leitura. Apesar de atividades aparentemente conflitantes estarem localizadas no mesmo espaço, as mudanças de níveis e o espaçamento existente permitem que elas aconteçam sem prejuízos. Mais à frente encontra-se o galpão que abriga o Teatro, escolhido por ser o com maior pé direito. Devido limitações de área, Lina optou por um formato de arena, onde o palco é posicionado no centro com dois conjuntos de plateia dispostos em posição opostas uma da outra. O foyer iluminado naturalmente além de fazer o controle do acesso, abriga uma pequena loja com produtos e publicações da Rede SESC.
Ao fim do eixo de galpões, um grande deck em madeira é construído em cima de um córrego canalizado responsável pelo escoamento de água de chuvas. O Solário então surge de uma exigência da legislação de uma área não-edificada nas margens do córrego das Águas Pretas. Esse novo eixo direciona aos dois grandes volumes prismáticos projetados para abrigar as atividades esportivas. O prisma maior, com janelas vermelhas em formato irregular, abriga uma piscina coberta e um conjunto de quadras. Do outro lado, um prisma menor com janelas quadradas posicionadas sem uma ordem aparente, recebe as áreas de vestiários, salas de dança e de ginástica corporal. Conectando-as, um conjunto de rampas em ‘V’ garante uma maior unidade e dinamicidade aos edifícios. A caixa d’água, além da função de armazenamento, usa do simbolismo para fazer referência a antiga chaminé que existia no local. Formada por 70 anéis de 1 metro de altura cada, é o elemento mais alto do conjunto.
Na sequência, o galpão que abriga as atividades de oficinas e ateliês. Com estrutura e materialidade semelhantes aos outros galpões, o diferencial nessa área fica por conta das paredes 39
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Estrutura Estruturalmente, os volumes prismáticos foram construídos em concreto armado moldado in loco, utilizando ripas horizontais de madeira como molde. Essa escolha permite que o resultado final do concreto aparente deixe claro o seu caráter quase artesanal, característica forte do trabalho de Lina. Para as passarelas, uma estrutura feita em concreto protendido para vencer o vão de 25 metros. Janelas e outras aberturas feitas a partir da inserção de moldes de isopor e plásticos durante a fase de concretagem. Materialidade Assim como em outras obras, Lina Bo Bardi procura inserir elementos tradicionais da arquitetura brasileira como azulejos com motivos brasileiros, tapeçarias produzidas no Triângulo Mineiro, muxarabis, entre outros. Além do colorido, essas escolhas dão ao conjunto mais identidade e mostram a preocupação da arquiteta em valorizar e preservar técnicas tradicionais e artesanais brasileiras.
Para as vedações, a arquiteta resolve optar por mostrar a ‘verdade do material’. Essa escolha pode ser observada desde o uso do concreto aparente nos grandes prismas, até pela retirada das camadas de reboco das paredes dos galpões e expondo os tijolos que lhe dão sustentação. O mobiliário, também projetado por Lina, é desenvolvido de modo a ser resistente e de fácil manutenção, a exemplo do mobiliário urbano de espaços públicos. Entre os materiais escolhidos estão o concreto e a Madeira. Seu formato em módulos busca criar e estimular encontros, conversas e a convivência entre os usuários, principalmente no bloco da comedoria. Em março de 2015, o Sesc Pompeia foi considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional patrimônio cultural protegido, além de já ser tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) desde 2009.
Figura 28 - Amplo e Polivalente: O espaço formado pela unificação dos galpões, permite que diversos usos aconteçam simultaneamente, sem interferência entre eles. Foto de Haupt & Binder. 40
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Avaliação Ter tido a oportunidade de visitar o SESC Pompeia no início do processo de concepção desse Trabalho Final de Graduação, foi definitivo para a definição das diretrizes do projeto. Vivo, funcional e extremamente necessário, são algumas das características que consigo utilizar para definir esse projeto vitorioso. Lina Bo Bardi conseguiu incluir mais um marco na sua carreira ao fornecer para a cidade de São Paulo um espaço de prestação de serviços, lazer e cultura em total conexão com a cidade, e que mesmo depois de 41 anos de sua inauguração continua em sua forma total. Jovens, adultos e crianças, todos das mais variadas idades ocupavam todos os espaços destinados a eles em plena manhã de Sextafeira. Acredito que ter a oportunidade de realizar um projeto como esse e ao finaliza-lo perceber que seus frequentadores se apropriaram do local como idealizado, talvez seja o maior presente que qualquer arquiteto possa receber. Um projeto abraçado por aqueles que frequentam.
“Seria tão bom se existisse algo assim em todo bairro!”, penso.
Figura 29 - Vivo, funcional e extremamente necessário: A excelência do trabalho de Lina Bo Bardi pode ser comprovada pelo fato do Sesc Pompeia se encontrar totalmente inserido na vida dos moradores. Foto de Haupt & Binder 41
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
SESC 24 de Maio – São Paulo - Paulo Mendes da Rocha + MMBB Arquitetos “O que interessa mesmo na arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. Eu vejo, por exemplo, uma criança pulando dentro da água de um lugar que não era para pular, mas tudo isso tem sua graça” Paulo Mendes da Rocha Ficha Técnica Data de inauguração: 19 de agosto de 2017 Arquiteto responsável: Paulo Mendes da Rocha e MMBB Arquitetos Área do terreno: 2.203 m² Área construída total: 29.516 m² Características: Edifício composto por 2 subsolos, térreo e 17 pavimentos. Programa de Necessidades Teatro (216 lugares) Loja Sesc Cafeteria e Café do Teatro Central de Atendimento Comedoria (Restaurante por peso) Área de Convivência Biblioteca e Espaço de Leitura Espaço de Brincar Salas Multiuso Oficinas Área de Exposição Espaço de Tecnologia e Artes Consultórios Odontológicos: 14 consultórios, 1 RX panorâmico e 1 Periapical Salas de Atividades Físicas, Expressão Corporal e de Ginástica Multifuncional Piscina Recreativa, descoberta e climatizada Solário
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Figura 30 - Edifício-sede da Loja Mesbla Foto Revista Acrópole, 33
Localizado na Rua 24 de Maio com a Rua Dom José de Barros, no Centro de São Paulo, o SESC 24 de Maio é um exemplo de como a arquitetura pode ser agente transformador no direcionamento de mudanças nos centros urbanos das grandes cidades. Em um contexto onde estão inseridos outros equipamentos de importante valor simbólico para a cidade de São Paulo, como o Theatro Municipal, Praça das Artes e a Praça da República, o projeto insere um programa multifuncional a partir do aproveitamento do edifício-sede da antiga Mesbla. Sendo a 21ª unidade dessa experiência bem-sucedida realizada na cidade de São Paulo, a Rede SESC fornece ao prédio a oportunidade de abrigar o conjunto de instalações de recreação e serviços pelos quais passou a ser reconhecido em todo o Brasil.
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Com o pedido atendido pelo SESC, respeitouse a implantação já existente e houve o aproveitamento de grande parte da estrutura original, não havendo a necessidade de uma completa demolição da antigo para a inserção do novo. Além do aproveitamento da implantação e de parte da estrutura, era necessário que o edifício contribuísse para a recuperação da área. Para isso, algumas ideias básicas nortearam o projeto, são elas:
Figura 31 - Sesc 24 de Maio. Foto de Eduardo Knapp.
Programa Sendo a 21ª unidade dessa experiência bem-sucedida realizada na cidade de São Paulo, a Rede SESC fornece ao prédio a oportunidade de abrigar o conjunto de instalações de recreação e serviços pelos quais passou a ser reconhecido em todo o Brasil. Por trás dessa difícil tarefa de desenvolver um programa complexo em um contexto urbano tão consolidado está a figura do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Em parceria com o escritório MMBB Arquitetos Associados, Paulo Mendes conseguiu interpretar e resolver com maestria os desafios propostos, com uma sensibilidade e visão arquitetônica presente apenas naqueles que possuem anos de experiência.
- Estabelecer uma conexão entre a rua e o pavimento térreo, formando áreas de convivência e de livre circulação de pedestres; - Transformar o antigo subsolo em um Café e Teatro, diretamente ligados a Rua 24 de Maio; - Criar um novo sistema de circulação vertical, que de maneira clara e eficiente conecte todos os serviços oferecidos nos diversos pavimentos, formando um percurso contemplativo que funcione como continuidade da rua; - Fazer a distinção entre os espaços de acesso público com as áreas de acesso mais restrito. Além disso, foi de interesse do arquiteto a adição de uma piscina/solário no terraço do edifício, decisão essa que pautou algumas das escolhas fundamentais nas fases iniciais, principalmente relacionada a estrutura.
Esse ‘olhar aprimorado’ pode ser observado quando Paulo Mendes conta em entrevista que, logo na primeira visita, que caso um pequeno prédio lateral na Rua Dom José de Barros fosse adquirido, apenas uma ‘boa reforma’ já seria suficiente para atender ao programa idealizado 43
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Estrutura e Execução
Setorização
Para a execução do projeto, inicialmente foi demolido a parte central correspondente a um saguão coberto de 14 x 14 metros que servia de poço de iluminação e ventilação na antiga edificação. Nesse grande vazio central, foi inserida uma estrutura independente, composta por quatro grandes pilares de concreto, responsável pela sustentação das áreas em pé direito duplo e principalmente pelo suporte da grande carga gerada pela água da piscina no terraço. Além da estrutura de concreto armado, uma estrutura metálica ajuda na dissipação da carga da piscina para os pilares.
Sua setorização levou em consideração as semelhanças temáticas, formado a partir da sobreposição de 3 blocos setoriais: cultural, esportivo e piscina. Apesar dessa separação, os programas conectam-se entre si através de rampas de circulação e pelo conjunto de elevadores. Áreas em pé-direito permitem uma maior dinamicidade no espaço e uma conexão visual entre salas e serviços, reforçado por alguns fechamentos envidraçados nas divisões internas
No prédio anexo ao volume principal, foram instalados os espaços não recreativos, ou seja, todo o setor complementar de serviços, banheiros, elevadores, depósitos, espaços para os funcionários, entre outros. Essa escolha fez com que houvesse um maior aproveitamento de área nos pavimentos do antigo edifício, garantindo a amplitude e conexão que são premissas do projeto.
Materialidade Quanto a materialidade, observam-se vedações em concreto e vidro. Na fachada, um grande plano de vidro faz a unificação de toda a lateral, permitindo a entrada de uma grande quantidade de luz nos ambientes internos e protegendo as atividades dos olhos de quem se encontra do lado de fora. Esteticamente, essa escolha faz com que a fachada do prédio reflita os prédios do seu entorno, mostrando que sua inserção, apesar de ser notoriamente marcante, tem como objetivo fundir-se com o já existente.
Figura 32 - Os pilares dão suporte as rampas que fazem a integração entre todos os andares do prédio. Foto de Nelson Kon. 44
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Sem forro ou uso excessivo de revestimentos, o espaço apresenta-se de maneira clara aos seus visitantes. São utilizados materiais que visam uma fácil manutenção e alta durabilidade. Algumas estruturas e vedações opacas remanescentes foram pintadas de branco, elas contrastam com o concreto aparente dos novos pilares e da laje aparente. Cores mais fortes são utilizadas como elemento indicativo em alguns setores, aparecendo através de intervenções artísticas, adesivagem e sinalização, além de estar presente no mobiliário especialmente desenvolvido por Paulo Mendes da Rocha para o conjunto. Avaliação O resultado é um projeto que preza pelos espaços amplos, dinâmicos, conectados e de fácil permeabilidade pelo público, que busca mesclar a irregularidade da estrutura antiga com os elementos novos e principalmente focar na relação do edifício com o seu entorno.
Figura 33 - Sem grandes ornamentos, o espaço flexivel e aberto permite que os diversos usos se integrem. Foto de Nelson Kon. 45
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Parque das Ruínas de Santa Teresa – Rio de Janeiro, Brasil - Ernani Freire “Procurou-se, na medida das possibilidades, preservar o clima de ruína, a atmosfera, o mistério, enfim, não espantar os fantasmas.” Ernani Freire Ficha Técnica Data de inauguração: 1996 Arquiteto responsável: Ernani Freire Arquitetos Associados Cliente: Prefeitura do Rio de Janeiro Características: Revitalização de Ruínas e Implantação de programa complementar para Museu da Chácara do Céu. Fundação Parques e Jardins Premiações: 1998 - Prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade (Instituto de Arquitetos do Brasil / RJ) Categoria: Valorização, Conservação e Restauração do Acervo Arquitetônico, Histórico ou Paisagístico. Restauro A antiga residência de Laurinda Santos Lobo foi construída no final do século XIX. Palco de importantes festas e eventos, a casa ficou abandonada após a morte de sua proprietária, sendo bastante saqueada e servindo de abrigo para moradores de rua, até sua ruína. Em 1993, a prefeitura do Rio de Janeiro passa a ter a posse do terreno e resolve fazer a criação do Centro Cultural Parque das Ruínas. Em 1997, o projeto de restauração do casarão feito pelo arquiteto Ernani Freire foi finalizado. O projeto busca tratar a ruínas como ela estava antes da intervenção, mantendo toda a áurea existente em seu interior. O arquiteto, através de escadas e passarelas metálicas, faz a interligação da casa com um terreno plano vizinho e com a Chácara do Céu. Assim, trata as ruínas como um espaço de passagem e contemplação. 46
Figura 34 - O antigo, o restaurado e o novo. Foto de Vinícius (Membro Skyscrapercity Forum).
Apenas alguns vãos de porta e janelas foram fechados com vidro, permitindo a entrada de luz e garantindo a permanência da narrativa da ruína. A volumetria da coberta foi recuperada utilizando a mesma ideia, nesse caso sendo utilizada uma estrutura de aço e vidro.
Figura 35 - Fechamentos em vidro com aplicação de adesivagem com imagem da antiga proprietária. Foto de Monique Ribeiro
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Figura 36 - Mirante. Foto de Vinícius (Skyscrapercity Forum).
Figura 37 - Criação de passarelas metálicas permitem o passeio pela edificação. Foto de Vinícius (Membro Skyscrapercity Forum).
Figura 38 - Reconstrução da volumetria utilizando aço e vidro. Foto de Vinícius (Skyscrapercity Forum).
Figura 39 - Passarela permite a conexão da edificação com o terreno vizinho. Foto de Celso Brando. 47
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Musealização da Área Arqueológica do Castelo de São Jorge – Lisboa, Portugal – João Luís Carrilho da Graça “Se a arquitetura é boa, pode mudar a vida das pessoas e da cidade” João Luís Carrilho da Graça Ficha Técnica Data do projeto: 2008 Data da execução: 2010 Arquiteto responsável: Carrilho da Graça Arquitectos - João Luís Carrilho da Graça Área construída: 3500 m² Tipo de projeto: Cultural Características: Intervenção em sítio arqueológico Materialidade: Metal Estrutura: Aço Localização: Lisboa, Portugal Implantação no terreno: Isolado O Conjunto A intervenção realizada está inserida dentro dos muros de proteção do Castelo de São Jorge. Essa colina é conhecida como sendo local de um dos primeiros assentamentos humano do Período da Idade de Ferro. Durante a construção de um pátio de estacionamento foram encontrados vestígios desse período. Com a paralisação das obras em 1986, um longo processo de escavação arqueológica foi realizado no sítio histórico. Foram encontradas, além de artefatos, as fundações de uma habitação mulçumana medieval e de um palácio do Séc. XV. O projeto de Carrilho da Graça teve como objetivo a proteção da área de escavação exposta e a musealização do espaço. 48
Figura 40 - Muros de contenção em aço corten fazem o perímetro da área de escavação. Foto de FG+SG – Fernando Guerra, Sergio Guerra.
A primeira atitude realizada pelo arquiteto foi a delimitação do perímetro da escavação com a criação de um muro de contenção em aço corten, criando espaços que permitem a observação panorâmica do sítio. O maior destaque do conjunto é a caixa volumétrica branca que ‘pousa’ sobre as fundações das residências mulçumanas do século XI. Construída em estrutura metálica leve (Steel Frame), a ‘caixa flutuante’ toca o chão em apenas 6 pontos e permite, além da proteção das ruínas e afrescos, uma maior imersão e apreensão dos espaços internos dessa antiga forma de ocupação. Uma cobertura translúcida em policarbonato permite a entrada controlada de luz solar nos espaços e pátios internos.
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Figura 41 - O liso da nova volumetria construída contrasta com a rugosidade das ruínas. Foto de FG+SG – Fernando Guerra, Sergio Guerra.
Figura 42- Processo de construção da estrutura metálica em Steel Frame. Foto de FG+SG – Fernando Guerra, Sergio Guerra.
Figura 43 - A iluminação noturna fortalece a ideia de que o volume construído ‘flutua’ sobre as ruínas. Foto de FG+SG – Fernando Guerra, Sergio Guerra. 49
Diagnóstico Urbano Com o objetivo de melhor compreender a área onde o projeto pretende ser implantado, foi necessário à realização de um diagnóstico urbano analisando os aspectos gerais do local, como Legislação, Uso do Solo, Características Ambientais, Malha viária e Mobilidade. Como fonte de pesquisa, foram utilizados indicadores divulgados pelo Censo IBGE (2010), parâmetros legais presentes no Plano Diretor Participativo de Fortaleza (PDPFOR 2009), além do diagnóstico urbano realizado pelo Plano Fortaleza 2040. Para uma melhor compreensão, sempre que necessário às informações obtidas serão apresentadas através de mapas e tabelas desenvolvidas ou adaptadas pelo autor. O fato de já ter sido morador e ainda continuar frequentando o bairro foi um facilitador para que houvesse uma melhor compreensão e apreensão dos dados e demandas obtidos durante essa etapa. Sendo possível entender mais sobre as dinâmicas existentes e melhor fundamentar a escolha do bairro e da área de intervenção para a implantação do equipamento.
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Figura 44 - Pesca de subsistĂŞncia. Foto de Paulo Targino Moreira. 51
DIAGNÓSTICO URBANO
Dados Sociodemográficos
Marcos e Equipamentos
Sendo o principal bairro da Regional VI, o bairro Messejana faz divisa com 11 bairros, são eles Cajazeiras, Parque Iracema, Cambeba, José de Alencar, Curió, Guajerú, Coaçu, Paupina, Parque Santa Maria, Jangurussu e Barroso. A área de influencia formada por esses bairros é chamada de “Grande Messejana”.
Os principais marcos do bairro são a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, o Mercado Público, o Terminal de Messejana, a sede da Regional VI, a Estátua de Iracema e a própria Lagoa de Messejana.
O bairro possui, segundo o Censo 2010, uma população de mais de 41 mil habitantes, o que corresponde a 1,7% da população total de Fortaleza. Desse total, 53% são mulheres e 46% homens. 87,93% são alfabetizados. A renda média dos moradores é estimada em R$ 569,51. Quanto à infraestrutura básica, o bairro apresenta a seguinte porcentagem de cobertura: Rede de distribuição de água: 96,59% Rede de distribuição de energia elétrica: 99,82% Rede de coleta de lixo: 99,81% Rede de coleta de esgoto: 24,25% Sendo um dos principais eixos de crescimento sudeste da cidade, a área é conhecida pela alta concentração de estabelecimentos comerciais, com a presença de grandes marcas de varejo e de um intenso comércio informal. O “boom imobiliário” no bairro causou um considerável aumento populacional, sobrecarregando vias e serviços básicos, exigindo da prefeitura medidas rápidas e efetivas. A área de intervenção está localizada nas proximidades desse polo comercial e por conta disso é influenciada por sua monofuncionalidade. A utilização apenas no chamado “horário comercial” (8hr as 18hrs) faz com que a região seja subutilizada durante a noite.
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O bairro é bem servido de serviços básicos, possuindo uma boa oferta de escolas (públicas e privadas) e de equipamentos de saúde, tendo como destaque o Hospital do Coração. Infelizmente as opções de lazer são restritas. O Polo de Lazer nas margens da Lagoa de Messejana encontra-se em péssimo estado de conservação, situação semelhante à Vila Olímpica. Algumas praças estão passando por manutenção recente pela prefeitura, mas em alguns casos a falta de segurança deixa o local subutilizado. A recente chegada de empreendimentos como o Grand Shopping Messejana e o Pátio Messejana segue a tendência da utilização de equipamentos privados como espaços públicos de lazer.
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DIAGNÓSTICO URBANO
Legislação A Área de Intervenção está inserida quase em sua totalidade dentro de uma Zona de Recuperação Ambiental (ZRA), com exceção de um pequeno trecho correspondente a Praça da Igreja Matriz que é definido como uma Zona de Ocupação Moderada 2 (ZOM2). O PDPFOR 2009 define ZRA como: Seção III Da Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) Art. 67 - A Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) compõe-se por áreas parcialmente ocupadas e com atributos ambientais relevantes que sofreram processo de degradação, e tem como objetivo básico proteger a diversidade ecológica, disciplinar os processos de ocupação do solo, recuperar o ambiente natural degradado e assegurar a estabilidade do uso dos recursos naturais, buscando o equilíbrio socioambiental. Quanto aos objetivos da ZRA: Art.68 - São objetivos da Zona de Recuperação Ambiental (ZRA): I - Promover a conservação e recuperação ambiental de áreas indevidamente utilizadas e/ou ocupadas; II - Qualificar os assentamentos existentes, de forma a minimizar os impactos decorrentes da ocupação indevida do território elevando os níveis da qualidade ambiental; III- controlar e disciplinar os processos de uso e ocupação do solo a fim de assegurar a estabilidade do uso dos recursos naturais; 54
IV - Proteger ambientes naturais onde se assegurem condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora e da fauna local; V - Promover a regularização fundiária nas áreas ocupadas pela população de baixa renda, definidas como ZEIS; VI - Promover a recuperação ambiental de terras ocupadas irregularmente mediante Termo de Compromisso. A região que corresponde a Lagoa de Messejana e suas margens é categorizada como Zona de Preservação Ambiental (ZPA), essa mesma delimitação foi utilizada como base para a criação do Parque Urbano da Lagoa de Messejana através do decreto n 13.286 de 14 de Janeiro de 2014. O PDPFOR 2009 define ZPA como: Seção II Da Zona de Preservação Ambiental (ZPA) Art. 63. A Zona de Preservação Ambiental (ZPA) se destina à preservação dos ecossistemas e dos recursos naturais. § 1º A Zona de Preservação Ambiental (ZPA) subdivide-se nas seguintes zonas: I — ZPA 1 – Faixa de Preservação Permanente dos Recursos Hídricos; II — ZPA 2 – Faixa de Praia; III — ZPA 3 – Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba.
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Quanto aos objetivos da ZRA: Art. 64. São objetivos da Zona de Preservação Ambiental (ZPA): I — preservar os sistemas naturais, sendo permitido apenas uso indireto dos recursos naturais; II — promover a realização de estudos e pesquisas científicas; III — desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental; IV — turismo ecológico; V — preservar sítios naturais, singulares ou de grande beleza cênica; VI — proteger ambientes naturais em que se assegurem condições para existência ou reprodução de espécies ou comunidades da
flora local e da fauna residente ou migratória; VII — garantir o uso público das praias. Dentre algumas das modificações recentes na Legislação de Fortaleza, vale a pena salientar a proximidade da Área de Intervenção com uma Zona Especial de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS). A Lei Complementar nº 205/2015 permite a flexibilização dos índices urbanísticos e fornece incentivos fiscais para atividades econômicas ligadas à tecnologia e à economia criativa. Entre as atividades nas quais a ZEDUS Messejana pretende estimular estão equipamentos de Serviço Alimentação, Comércio Varejista, Comércio e Serviço Múltiplo e Prestação de Serviços.
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DIAGNÓSTICO URBANO
Uso do Solo Como dito anteriormente, grande parte do uso próximo à área de intervenção é voltado ao setor comercial e de serviços, tendo a presença de poucas residências. As principais manchas residenciais ficam concentradas na porção norte e sul da área de estudo. Na proximidade das principais vias, é possível encontrar algumas edificações de uso misto. O gabarito é predominante baixo, com grande parte das edificações apresentando a configuração ‘Térreo + 1’ e ‘Térreo +2’. Macrozoneamento Ambiental O bairro está inserido dentro da sub-bacia do Rio Cocó. Seu principal recurso hídrico, a Lagoa de Messejana, teve seu espelho d’água tombado pela esfera municipal através do decreto/lei Nº 6.201 de 27 de Maio de 1987, entretanto esse nível de importância não se reflete nas práticas de conservação do recurso hídrico. Sem muita dificuldade é possível encontrar desde lixo em suas margens até o despejo de esgoto através das redes de drenagem urbana. Uma realidade muito diferente da existente nos anos 80, quando a lagoa ainda era utilizada para a prática de esportes aquáticos como natação e corridas de barcos. Hoje ainda é possível encontrar alguns poucos moradores pescando nas águas da lagoa, em busca de algum peixe para a sua alimentação ou sustento. A vegetação na área de intervenção já foi bastante modificada, restam apenas poucos exemplares de mangueiras e de carnaúbas. Na outra margem, uma realidade completamente oposta, sítios particulares de grandes dimensões ainda preservam uma vasta quantidade de espécies nativas, infelizmente não sendo de usufruto da população. 56
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DIAGNÓSTICO URBANO
Sistema Viário
Mobilidade
O bairro é delimitado por importantes vias de Fortaleza, a oeste pela BR-116 e a Leste pela Av. Washington Soares. A ligação Norte-Sul do bairro é realizada através das Av. Frei Cirilo e sua continuação a Av. Padre Pedro de Alencar. Quanto à ligação Leste-Oeste fica a cargo da Av. Jornalista Tomaz Coelho, Av. José Hipólito e Av. Manuel Castelo Branco.
O bairro é bem servido de linhas de ônibus, muito pela presença do Terminal de Ônibus de Messejana. O terminal recentemente recebeu uma ampliação de 70% e já é considerado um dos mais modernos da capital. A obra faz parte do projeto BRT (Bus Rapid Transit) Centro-Messejana, proposto pelo Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (PAITT). Além do Terminal, o projeto conta com obras de requalificação na Av. Aguanambi e futuramente com a instalação de paradas de ônibus e passarelas ao longo da BR-116.
Outras vias importantes para o fluxo viário são Rua Dr. Joaquim Bento, Rua Coronel Dionísio Alencar e Rua Barão de Aquiraz. Quanto à hierarquia dessas vias, o sistema básico viário de Fortaleza categoriza como sendo: Expressa: BR-116 Arterial 1: Av. Washington Soares, Av. Frei Cirilo Coletora: Av. Jornalista Tomaz Coelho, Av. José Hipólito, Av. Padre Pedro de Alencar, Av. Manuel Castelo Branco, Rua Coronel Dionísio Alencar e Rua Barão de Aquiraz. A Lei Complementar 236/2017 planeja realizar a mudança de hierarquia de algumas vias e sua expansão. Um trecho da Av. Jornalista Tomaz Coelho passou por obras de duplicação durante o ano de 2018. Os principais Polos Geradores de Tráfego do bairro, além da própria região comercial, são a Praça e a Igreja Matriz de Messejana, o entorno do Terminal de Messejana, o viaduto de acesso ao Cambeba e mais recentemente, a região do Grand Shopping Messejana. As Vias Locais no entorno da Área de Intervenção, Travessa Capitão Afrânio e Rua Joaquim Felício, apresentam uma baixa frequência de veículos.
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Além da melhora de infraestrutura, o terminal recebeu uma estação do ‘Bicicleta Integrada’ (Sistema Integrado aos Terminais de Ônibus), uma variante do programa ‘Bicicletar’ que permite ao usuário o aluguel de bicicletas por um tempo maior. Aliado a isso, houve a implantação de ciclofaixas, o ordenamento de vagas de estacionamento e a execução de faixas de pedestre elevada. Outra importante medida de mobilidade recentemente executada pela Prefeitura Municipal foi à criação de binários na parte oeste do bairro e no entorno do Terminal de Messejana. Além desses, outros binários estão sendo estudados para os próximos anos com o objetivo de desafogar o trânsito na região central do bairro.
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Proposta Sesc Cine Messejana
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PROPOSTA
Ruínas do Cine Messejana Como visto anteriormente, as opções de restauro de ruínas se mostram as mais diversas possíveis. Entretanto, o contexto urbano no qual o objeto de estudo está inserido fornece informações importantes para direcionar essa atuação. Hoje coberta de vegetação, as ruínas passam despercebidas por aqueles que passam em sua frente e aos pouco vai ruindo, voltando ao seu ‘estado bruto’. A demolição completa do sobrado em 2009 fez com que a leitura do conjunto ficasse ainda mais prejudicada. ‘O que funcionava aqui?’ ‘O que aconteceu para ele ficar assim?’ são algumas das perguntas que os mais atentos podem fazer ao se deparar pela primeira vez com a situação. Uma proposta que apenas conserve as ruínas em seu estado atual foi cogitada. Seria garantida a sua sustentação, manutenção e limpeza, realizando também um projeto paisagístico em todo o seu entorno. Mas será que somente isso seria suficiente para resgatar a memória afetiva da população com a edificação? Hoje, o contexto da área de intervenção no qual a ruína está inserida é de insegurança e desertificação noturna. Os vários compartimentos que foram sendo anexados ao Cine Messejana formaram labirintos e esconderijos. A criação apenas de uma praça contemplativa não garantiria o controle de acesso a esses espaços e não seria um atrativo suficiente para garantir a apropriação pelos seus moradores nos diferentes turnos. Apenas perpetuando a atual situação. Por conta disso, foi necessário expandir os horizontes em busca de soluções de programa que ao mesmo tempo garantisse o seu restauro e desse a ele uma função útil à sociedade.
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Ao reconstituir a volumetria do antigo sobrado demolido e construindo uma nova coberta, a caixa formada pelas paredes do antigo cinema permite a utilização do seu interior com múltiplos usos. O ‘Fantasma do Cine Messejana’ reaparece resgatando a memória de seu passado glorioso, além de ‘assombrar’ e denunciar a maneira como o patrimônio local é tratado, um caráter lúdico que é reforçado através da escolha dos materiais. O sobrado opaco em concreto busca recuperar seu protagonismo ao se inserir de maneira rígida na paisagem. A proximidade dessa volumetria com a rua e o passeio pequeno, reflexos de um tempo com diretrizes urbanísticas bem diferentes das atuais, faz com que essa ‘reconstrução’ dificilmente aconteça de maneira silenciosa. Ao retirar os anexos, permanecendo apenas as bases, os esconderijos são extintos e novos espaços para intervenção são criados. As fundações permanecem como um registro da preexistência de algo no local. Essa base serve então de guia para a construção de novos anexos que abrigam usos complementarem no conjunto. Porém, o bairro Messejana exige mais. O espaço criado com a recuperação das ruínas conseguiria resolver importantes questões, mas as atuais carências do bairro exigem uma maior diversidade de atividades. Atividades essas que o espaço recém-criado não comportaria. Além disso, é preciso pensar financeiramente. Como esse espaço conseguiria se sustentar ao longo do tempo, mesmo com um espaço físico tão limitado? Surge então a experiência da Rede Sesc de São Paulo.
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Processo de Concepção da Intervenção nas ruínas do Cine Messejana: Figura 46 - Estudo de Volumetria em material semiopaco e Estudo de Fachada do Sobrado. Croquis elaborados pelo Autor. Figura 47 - Estudos Formal dos Anexos e Estudo de Proposta que apenas faz a conservação das ruínas Croquis elaborados pelo Autor. Figura 48 - Estudo de reconstrução de coberta e uso interno. Croqui elaborado pelo Prof. Romeu Duarte. 63
PROPOSTA
Porque um Sesc? Ao longo de mais de 70 anos, o Sesc (Serviço Social do Comércio) introduziu um novo modelo de ação cultural, utilizando a educação como agente de transformação social. Mantido pelos empresários do comércio de bens, turismo e serviços, essa entidade privada também tem uma intensa atuação no campo cultural e nas suas mais diversas manifestações, com uma serie de atividades destinada ao publico de diversas faixas etárias e estratos sociais. Só no estado de São Paulo, a rede conta com 39 unidades operacionais marcadas pela excelência nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência, com vasta oferta de eventos e serviços. No Ceará, a instituição atua desde 20 de maio de 1948, integrando o Sistema Fecomércio. Com atuação mais discreta quando comparada ao que acontece em São Paulo, a rede possui no estado seis Unidades Operacionais completas, sendo duas em Fortaleza e quatro no Interior do Estado, nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Sobral. As unidades de Fortaleza, Unidade Centro e Unidade Fortaleza, ficam próxima uma das outras, não conseguindo abranger grande parte da capital. Nessa tentativa de descentralização, algumas outras unidades foram criadas, entretanto fornecendo serviços específicos, como é o caso das Escolas Educar Sesc e Restaurantes Sesc. Ao propor um Sesc em Messejana, consigo alinhar a ideia de fornecer serviços de cultura, lazer e assistência em um equipamento na proporção que um dos mais importante bairro de Fortaleza merece. O fato da instituição está relacionado diretamente ao comércio permite que ocorram atividades de capacitação e assistência também a esse setor, incentivando e qualificando a atividade comercial formal e informal atualmente inserida no bairro. 64
A exemplo da experiência desenvolvida por Lina Bo Bardi no Sesc Fábrica Pompéia, a implantação desse equipamento garantiria o suporte financeiro e logístico necessário ao projeto de restauro das ruínas do Cine Messejana, inserindo o complexo no circuito local de entretenimento e lazer. Assim, o Sesc Cine Messejana mostrase um projeto viável e que consegue atender a todos os seus objetivos, tanto na perspectiva do reordenamento urbano, quanto na formação da cidadania e no resgate das memórias afetivas de uma comunidade.
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
65
PROPOSTA
Modificações Compreendendo a dimensão do projeto tanto na sua escala de objeto arquitetônico quanto na sua dimensão urbana, foi necessário realizar algumas modificações para a sua implantação. A escolha da área se deu mediante a constatação de um grande número de lotes vazios e estabelecimentos comerciais fechados e que no momento encontram-se sem função útil para a sociedade. Além disso, houve a identificação de dois usos inadequados, um posto de gasolina e um restaurante, dentro de áreas frágeis de ZRA e ZPA. Além desses, outros três imóveis foram desapropriados. Após análise, observou-se que essas edificações não se adequavam ao contexto e para uma melhor implantação entre os edifícios propostos e sua relação com a cidade, sua retirada foi necessária. Quanto à mobilidade, decidiu-se privilegiar o acesso ao pedestre e ao usuário do transporte publico e cicloviário. Para isso realizei o fechamento definitivo da Travessa Capitão Afrânio, devido ao baixo fluxo de carros diariamente, e a sua transformação em uma esplanada de acesso ao equipamento. A Rua Joaquim Felício também passou por intervenções. Alargamento de passeios, alterações na caixa viária e nas áreas de estacionamento foram desenvolvidos com o objetivo de transformá-la em uma via de Trânsito Calmo (Traffic Calm). Além disso, observando a existência de estacionamentos privados no entorno, apenas um número restrito de vagas foram disponibilizadas ao longo do complexo.
Outra grande modificação proposta é a desapropriação completa de uma residência particular nas margens da Lagoa de Messejana. Essa edificação interrompe a continuidade do Polo de Lazer e somente com a sua retirada é que será possível a unificação da Praça da Igreja Matriz com o Sesc Cine Messejana pela orla, contribuindo também como rota de acesso ao Terminal de Messejana. Com a área excedente, propõe-se a criação de espaços públicos e a inserção de equipamentos de lazer, buscando fazer o redesenho da urbanização das margens realizada em 2003, tendo como foco a recuperação ambiental do recurso hídrico.
Diretrizes As principais diretrizes que guiaram a elaboração do projeto SESC Cine Messejana, foram: • Criar um espaço multifuncional, compacto e simbólico para o bairro. • Fornecer no programa opções de capacitação, lazer, saúde e entretenimento. • Garantir integração do térreo com a rua e com espaços públicos. • Inserir atividades que garantam o funcionamento nos três turnos, especialmente no período noturno. • Valorizar a Lagoa de Messejana, através de visuais e da reconfiguração da margem urbanizada. • Reintegrar as ruínas do Cine Messejana a cidade e ao projeto proposto.
66
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
67
PROPOSTA
Partido Partindo do agrupamento dos terrenos, optou-se por trabalhar com a ideia de eixos a fim de direcionar a concepção. O primeiro eixo (Norte – Sul) faz a ligação das Ruínas do Cine Messejana com a Estátua de Iracema, o segundo eixo (LesteOeste), perpendicular ao primeiro, faz a ligação da Rua Padre Pedro de Alencar com a margem urbanizada da Lagoa de Messejana. O limite de ocupação da edificação foi estabelecido com base em um eixo virtual definido pelo prolongamento da Rua Padre Carlos de Alencar. A união dos eixos resultou em três manchas de ocupação. Mesmo bastante modificado pelas edificações pré-existentes, o terreno possui diferenças de nível acentuadas. Tendo em vista que o projeto se desenvolveria ao longo do eixo central, foi definida uma cota média (+24,90) no centro do terreno para a inserção do nível térreo. Essa escolha foi feita para: 1 - Estabelecer uma maior permeabilidade no térreo; 2 - Garantir que o percurso entre as áreas de ocupação (Praça / Sesc / Cine Messejana) acontecesse sem grandes mudanças topográficas.; 3 - Diminuir a percepção da diferença topográfica entre a margem da lagoa e a Av. Padre Pedro de Alencar.
68
Por conta das limitações de grandes verticalizações, as restrições dos índices da ZRA e o extenso programa de necessidades, o projeto foi desenvolvido para ser o mais racional e compacto possível, dando uma maior importância ao seu caráter longitudinal. A peça chave do partido é a criação de uma grande coberta ao longo do eixo central que faz a conexão entre as volumetrias, garantindo assim uma leitura uniforme e coesa de todo o complexo. O resultado final do partido foi uma implantação em ‘T’, mais longitudinal e paralela à lagoa, focando na permeabilidade do térreo e liberando grande parte do terreno para a construção de espaços públicos e de lazer.
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 49 - Processo de Concepção do Sesc Cine Messejana: Estudo de implantação. Elaborado pelo Autor.
Figura 50 - Estudo Formal: Esplanada de Acesso. Croqui elaborados pelo Autor.
Figura 51 - Estudo Formais Iniciais da Volumetria. Croqui elaborados pelo Autor.
69
PROPOSTA
Índices Urbanísticos A área de intervenção está inserida quase em sua totalidade dentro de uma ZRA. Segundo o PDPFOR 2009 os parâmetros urbanísticos dessa zona são: Art. 71. São parâmetros da ZRA: I - índice de aproveitamento básico: 0,6; II - índice de aproveitamento máximo: 0,6; III - índice de aproveitamento mínimo: 0,0; IV - Taxa de permeabilidade: 50%; V - Taxa de ocupação: 33%; VI - Taxa de ocupação do subsolo: 33%; VII - altura máxima da edificação: 15m. Aplicação dos Índices no Terreno: - Área Total do Terreno: 16.375m² - Índice de Aproveitamento (0,6): 9.825m² + Área do Terreno = 26.200m² - Taxa de Permeabilidade (50%): 8.187,5m² - Taxa de Ocupação (33%): 5.403,75m² - Taxa de Subsolo (33%): 5.403,75m² Índices Finais: - Área Construída: 5335,17m² - Taxa de Ocupação: 4.293,55m² x 100 / 16.375m² = 26,22% - Índice de Aproveitamento: 5335,17m² / 16.375m² = 0,32 - Taxa de Permeabilidade: 6702,06m² x 100 / 16.375m² = 40,92%* *Levar em consideração a proximidade com a Lagoa de Messejana para o escoamento da água. Classificação quanto à atividade: - 5.20 - ECL – Equipamento para a Cultura e Lazer Código: 85.32.41 – Centro Social Urbano Classe: 3PE - Projeto Especial
70
Programa de Necessidades O Programa de Necessidades proposto partiu de uma adaptação ao programa completo da Rede Sesc. As principais modificações foram com relação à parte esportiva e saúde. A proximidade com o Cuca Jangurussu, com o futuro Cuca José Walter e com a Vila Olímpica de Messejana, fez com que a piscina fosse retirada do programa. A parte de assistência medica e odontológica, foi substituída por assistência profissional e psicológica. O programa até o momento é composto por:
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
MEMÓRIA
Total: 795m²
Arena ‘Cine Messejana’ - 595m² - Palco ‘Sobrado’ - 1 - 115m² - Espaço Multiuso - 1 - 355m² - Preparação Artista - 1 - 50m² - Banheiros - 2 x 25m² - 50m² - Depósito - 1 - 25m² Exposição Temporária - 2 x 100m² - 200m² CAPACITAÇÃO
Total: 1.275m²
Biblioteca - 1 - 325m² - Recepção - 1 - 25m² - Guarda Volume - 1 - 10m² - Acervo - 1 - 165m² - Área de Leitura - 1 - 25m² - Area de Estudo - 1 - 100m² Salas de Aula - 6x50m² - 300m² Salas Multiuso - 4x50m² - 200m² Lab. de Informática e Inovação - 1 - 100m² Oficina/ Ateliê (Mecânica, Gastronomia, Corte/ Costura) - 6 x 50m² - 300m² Banheiros - 2 x 25m² - 50m² LAZER
Total: 2.287m²
Cineclube - 2 x 75m² - 150m² Café/Bar - 1 - 25m² Academia - 1 - 200m² - Vestiários - 2 x 17m² - 34m² - Recepção - 1 - 5m² - Área de Exercícios - 161m² Sala de Dança - 1 - 100m² Sala Arte Marciais - 1 - 100m² Terraços - 2 x 125 - 250m² Banheiros - 2 x 25m² - 50m² *Playground - 1 - 155m² *Academia ao Ar Livre - 1 - 100m² *Anfiteatro - 1 - 315m² *Skate Park - 1 - 160m² *Campo ‘Areninha Society’ (16 x 32) - 650m² *Quiosques - 3 x 16m² - 32m²
COMUNIDADE
Total: 695m²
Assistência Profissional - 1 - 100m² Assistência Social - 1 - 25m² Assistência Psicologia - 1 - 25m² Sala de Reuniões Populares - 1 - 50m² Restaurante Popular – 1 – 170m² - Cozinha - 1 - 55m² - Salão de Serviço - 1 - 80m² - Banheiros - 2 x 17,5m² - 35m² Economia Criativa - 1 - 250m² - Loja - 3 x 50m² - 150m² - Loja Âncora - 1 - 100m² Lojinha Sesc - 1 - 25m² Banheiros - 2 x 25m² - 50m² ADMINISTRATIVO
Total: 200m²
Sala Diretoria - 1 - 20m² Sala de Tesouraria - 1 - 25m² Matrícula - 1 - 25m² Sala Administração - 1 - 20m² Área de Espera - 1 - 10m² Sala de Reuniões - 1 - 50m² Sala dos Professores - 1 - 50m² APOIO
Total: 311m²
Depósito Geral – 1 – 60m² Serviços Gerais – 1 – 45m² Depósito Lixo – 1 – 15m² Depósito Gás - 1 - 20m² Subestação - 1 - 40m² Gerador - 1 - 18m² Resfriador - 1 - 17m² Informações/Guarita - 1 - 10m² Vestiários Funcionários - 2 x 22m² - 44m² Copa Funcionários - 3 x 14m² - 42m² Total do Programa: 5.563m²
*Equipamentos adicionados como parte da reurbanização das margens da Lagoa de Messejana
71
PROPOSTA
Sesc Cine Messejana O Programa foi distribuído de maneira que as atividades com um maior fluxo de pessoas ocupassem os andares inferiores, enquanto as atividades que exigissem um maior tempo de permanência ficassem nos andares mais elevados. O resultado final é um prédio na configuração Térreo + 2 que não contrasta verticalmente com as edificações do seu entorno, em especial com o volume reconstruído do Cine Messejana. A proposta final resultou em um edifício com volumetrias simples e de fácil leitura. Uma grande caixa branca eleva-se do solo, ora pousando, ora interseccionando outros grandes cubos volumétricos em suas extremidades. Além de dinamizar o objeto arquitetônico, esses cubos destacam-se do plano principal e fazem a marcação visual dos diferentes programas existentes. A grande coberta surge sobre o edifício e faz a ligação do novo prédio com o conjunto reconstruído do Cine Messejana. A criação de uma grande área sombreada, interna e externamente ao prédio, garantem seu pleno funcionamento ao longo dos três turnos, independente das condições climáticas, às vezes severas, da cidade de Fortaleza. Sustentando por grandes pilares do ‘tipo árvore’, a coberta torna-se provavelmente no elemento mais marcante do conjunto ao ‘flutuar’ sobre os edifícios. Por não tocar a nova edificação, a cobertura permite que ocorram entradas e saídas de ar constantes nos espaços internos, melhorando a sensação térmica. Na tentativa de intensificar a relação do edifício com a cidade, o Pavimento Térreo desenvolve-se como uma extensão da rua e da praça, tornando-se uma galeria ‘Open Mall’ sombreada.
72
A inserção de programas que atraem um grande número de pessoas como lojas, salas de cinema e serviços sociais, além da construção de um Jardim interno, permitem que o local funcione não só como distribuidor de fluxos, mas também como área de permanência. Os dois andares superiores seguem o padrão longitudinal orientado pelo eixo central, tendo suas atividades organizadas em ambientes que surgem do agrupamento de módulos de 5 x 5 metros. Os fluxos entre os pavimentos são distribuídos verticalmente através de um núcleo central composto por um conjunto de escadas e por um elevador panorâmico. Nas extremidades, amplas passarelas fazem a ligação horizontal entre os volumes espelhados, facilitando o deslocamento e permitindo a contemplação do exterior do edifício através de uma grande abertura protegida por painéis vazados. Esses painéis aparecem novamente em outras duas fachadas, desenvolvendo, além do papel estético, outra função muito importante. Proteção Solar A implantação longitudinal do projeto ao longo do eixo Norte-Sul, fez com as principais fachadas ficassem voltadas ao nascente e ao poente, áreas de maior insolação. A escolha por vedações em amplas esquadrias de vidro adicionou um desafio extra na busca por um melhor condicionamento ambiental nos ambientes. Além do prolongamento generoso das marquises, foram inseridos painéis especiais de proteção solar ao longo de todas as fachadas com o objetivo de proteger o máximo possível o edifício da incidência solar direta.
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
O desenho do painel surgiu a partir de grafismos encontrados na calçada do antigo Cine Messejana. Essa composição faz uma singela homenagem ao edifício alvo do restauro, além de funcionar como identidade visual de todo conjunto. Já para os cubos volumétricos, foi desenvolvido outro tipo de proteção solar. Composto por painéis verticais opacos e chapas perfuradas, os elementos são distribuídos uniformemente ao longo de todas as fachadas. A ideia é que juntamente com plantas trepadeiras, esse belo conjunto possa sombrear e proteger os ambientes internos, especialmente a biblioteca. Sistema Estrutural
Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’ Para garantir uma maior integração entre o edifício novo e o antigo, optou-se por realizar a inversão da entrada no Cine Messejana. Anteriormente feita pela Av. Padre Pedro de Alencar, agora o acesso principal é feito pelo eixo central através de um conjunto de rampas localizado a esquerda da esplanada de acesso. Entre os benefícios dessa inversão estão à proximidade do acesso do espaço multiuso aos outros programas no pavimento térreo. Além disso, possibilitou a utilização do espaço interno da volumetria do sobrado reconstruído como caixa cênica.
Para esse projeto optou-se pela utilização de um sistema estrutural em vigas e pilares metálicos seguindo uma modulação 10 x 5 metros, ao longo do eixo central. Para um melhor acabamento e aperfeiçoar as vedações, os pilares foram revestidos com Placas de Drywall.
O caráter amplo e longitudinal do Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’, permite sua utilização com as mais diversas atividades. Principalmente para montagens de show e peças mais experimentais, fugindo dos esquemas tradicionais dos grandes teatros e casas de espetáculo.
Para as Lajes foi escolhida a técnica em Steel Deck, com o concreto sendo moldado in loco.
A reconstrução dos anexos permite a inserção de programas complementares que dão suporte a essas atividades.
As principais vedações foram realizadas em blocos de alvenaria e esquadrias de alumínio e vidro. Para o revestimentos das fachadas foram utilizadas Chapas de ACM (Alumínio composto) na cor ‘branco fosco’ e fixadas em linhas de alumínio soldadas diretamente na estrutura metálica. A escolha por esses sistemas foi feita pela resistência, durabilidade e principalmente por conta da alta velocidade do método construtivo.
73
PROPOSTA
Figura 52 - Sesc Cine Messejana. Elaborado pelo autor. Edição por Mirella Raposo.
Figura 53 - Reconstrução volumétrica do sobrado demolido do Cine Messejana e Esplanada de acesso. Elaborado pelo autor. Edição por Mirella Raposo. 74
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 54 - Pátio Interno. Elaborado pelo autor. Edição por Mirella Raposo.
Figura 55 - Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’. Elaborado pelo autor. Edição por Mirella Raposo.
75
PROPOSTA
Figura 56 - Fachada voltada para a Lagoa de Messejana. Elaborado pelo autor.
Figura 57 - Espelho D’agua com Escultura e PÊrgulas Sombreadas. Elaborado pelo autor. 76
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 58 - Pátio Interno. Elaborado pelo autor.
Figura 59 - Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’. Elaborado pelo autor. 77
Figura 60 - AteliĂŞ Gastronomia. Elaborado pelo autor.
Figura 61 - Salas de Aula. Elaborado pelo autor. 78
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Figura 62 - Biblioteca e Área de Estudo.
Figura 63 - Visão Geral. Elaborado pelo autor. 79
80
SESC CINE MESSEJANA: RESGATE DE MEMÓRIAS AFETIVAS
Pranchas Sesc Cine Messejana
81
orte
14 22,05 22,05
LAGOA DE MESSEJANA 12
13 12
03
22,05
22,05
pa % am 0 R 0,0 1
22,05
RUA JOAQUIM FELÍCIO
12
23,85
23,02
Rampa 8,33 %
Rampa 8,33 %
23,85
Rampa 8,33 %
24,90
Rampa 8,33 %
Rampa 8,33 %
24,90
24,40
22,95
23,85
22,05
24,90
22,05
21,32
11 pa am % R ,33 8
24,90
24,90
02
24,24
pa am % R ,33 8
26,25 27,05
07
09
15
pa am % R ,33 8
06
04 pa am % R ,33 8
08
05
01 25,00
25,98
24,40 24,90
24,71
24,56
24,32
24,24
25,86
10
26,56
27,00
24,09
24,09
25,08
AV. PADRE PEDRO DE ALENCAR
0
Legenda:
GSEducationalVersion
01 Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’ 07 Areninha Society
13 Skate Park
Travessia Elevada
5
08 Praça da Criança
14 Piêr
Estacionamentos
Curso
Arquitetura e Urbanismo
03 Setor de Serviços
09 Academia ao Ar Livre
15 ‘Prainha’
Rua de Trânsito Calmo
Assunto
SESC Cine Messejana
04 Estátua de Iracema
10 Deck / Mirante
Área de Recuperação da Mata Ciliar
Conteúdo
05 Espelho D’agua
11 Anfiteatro
06 Redário
12 Quiosques
Paraciclos Parada de Ônibus
25
40
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
02 SESC ‘Cine Messejana’
Acessos
15
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Planta Implantação Lucas de Sousa Saraiva
Escala: 1:500 Orientador
Romeu Duarte Junior
01
09
A5
Corte
A4
Corte
A3
A2
Elev.
24,90
24,40
Corte
03
Corte
A1
Corte
Rampa 8,33 %
24,90
Rampa 8,33 %
orte
projeção 1 pavimento
24,90 projeção coberta
projeção coberta
A8
Corte
06
05
19
06
07
10
09
10
10
A8
Corte
11
08
02 20 24,90
12
01
24,90
11
Corte
10
4 S
1
2
3
) m ) 7 ,1 0 m E(0 ,3 24 3P(0 2
RUA JOAQUIM FELÍCIO
5
6
7
Corte
A7
9
A7
8
02
Elev.
26,25
24
23
22
21
20
19
18
17
16
27,05
01
04
03
15 14 13 12 11
18
24E(0,17 m) 23P(0,30 m)
10
24
9 8 7
13
6 5 4 3 2
02
1 S
A6
12
projeção coberta
Corte
15
14
projeção coberta
02
16
A6
Corte
17
projeção 1 pavimento
21
23 A5
Corte
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
01
Elev.
25,00
25,98
25,86
22 26,56
27,00
Lista de Ambientes:
01 Circulação Vertical
07 Bilheteria
02 Sanitários (Masc./ Fem. /P.N.E.) 08 Lanchonete/Bomboniere
5
13 Administração 14 Assistência Social
0
AV. PADRE PEDRO DE ALENCAR 19 Cozinha
5
10
20
25,08
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
20 Restaurante
Curso
Arquitetura e Urbanismo SESC Cine Messejana
03 Copa Funcionários
09 Convivência/Exposições Temporárias 15 Assistência Psicológica
21 Espaço Multiuso ‘Cine Messejana’
Assunto
04 DML
10 Lojas
16 Sala p/ Movimentos Sociais
22 Palco ‘Sobrado’
Conteúdo
05 Café/Bar
11 Loja Âncora
17 Assistência Profissional
23 Preparação Artistas
06 Cineciube 70 Lugares
12 Biblioteca
18 Lojinha SESC
24 Depósito
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Planta Baixa - Térreo Lucas de Sousa Saraiva
Escala: 1:200 Orientador
Romeu Duarte Junior
02 09
Corte
24,90
A5
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
03
Elev.
24,90
24,40
orte
09
A8
Corte
05
06
07
08
16
18
19
20
21
22
23
D
24
16
A8
Corte
14
15
16
17
02
13
Elev.
A7
12
01
24,90
9
10
11
Corte 7
8
Corte
A7
1
8 7 6
S
21E(0,18 m) 20P(0,30 m)
4 2
9
3
) m ) 7 ,1 0 m E(0 ,3 24 3P(0 2
10
5
6
11
5 4
26,25
3 2 1 S
D
27,05
24
23
22
21
20
19
18
17
16
14
10
13 12 11
24E(0,17 m) 23P(0,30 m)
10 9
11
8 7
04
03
15
12
6 5 4
02
3 2 1 S
13 14
A6
A6
Corte
Corte
15
A5
Corte
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
01
Elev.
25,00
25,98
25,86
26,56
27,00
Lista de Ambientes:
01 Circulação Vertical
5
0
5
10
20
25,08
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
07 Convivência/Exposições Temporárias 13 Sala de Reuniões
02 Sanitários (Masc./ Fem. /P.N.E.) 08 Academia
14 Cantina
Curso
Arquitetura e Urbanismo
03 Copa Funcionários
09 Vestiário Academia
15 Terraço
Assunto
SESC Cine Messejana
04 DML
10 Área de Estudos
16 Laje Jardim
Conteúdo
05 Sala de Dança
11 Lab. de Informática e Inovação
06 Sala de Artes Marciais
12 Sala dos Professores
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2
Planta Baixa - 1 Pavimento Lucas de Sousa Saraiva
Orientador
Prancha
Escala: 1:200 Romeu Duarte Junior
03 09
Corte
24,90
A5
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
03
Elev.
24,90
24,40
orte
A8
Corte
05
06
05
06
A8
07
08
08
09
Corte
09
D 21 20 19 18 17 16 15
02
14 13
24,90
Elev.
A7
12
A7
01
Corte
24,90
Corte 11 10 9
21E(0,18 m) 20P(0,30 m)
8 7 6 5 4
26,25
3 2 1 S
27,05
04
03 10
A6
10
10
10
11
02
12
11
12 A6
13
Corte
Corte
A5
Corte
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
01
Elev.
25,00
25,98
25,86
26,56
27,00
Lista de Ambientes:
5
0
5
10
25,08
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
01 Circulação Vertical
07 Convivência / Exposição Temporária 13 Terraço
02 Sanitários (Masc./ Fem. /P.N.E.)
08 Salas de Aula (Mecânica)
Curso
Arquitetura e Urbanismo
03 Copa Funcionários
09 Ateliê de Mecânica
Assunto
SESC Cine Messejana
04 DML
10 Salas Multiuso
Conteúdo
05 Ateliê de Corte e Costura
11 Salas de Aula (Gastronomia)
06 Salas de Aula (Costura e Costura) 12 Ateliê de Gastronomia
20
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2
Planta Baixa - 2 Pavimento Lucas de Sousa Saraiva
Orientador
Prancha
Escala: 1:200 Romeu Duarte Junior
04 09
Corte
24,90
A5
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
03
Elev.
24,90
24,40
orte
01 A8
i=5%
Corte
A8
i=2,5%
Corte
04
i=5%
03
Calha
i=5%
i=5%
i=5%
Calha
02
i=2,5%
24,90
Elev.
A7
02
Corte
02
04
A7
24,90
Corte
i=2,5% 26,25
Calha
Calha
27,05
i=2,5%
04
A6
A6
Corte
Corte
03
i=5,5%
i=5,5%
i=37%
i=37%
01
03 A5
Corte
A4
Corte
A3
Corte
A2
Corte
A1
Corte
01
Elev.
25,00
25,98
25,86
02 26,56
27,00
5
0
5
10
20
25,08
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Legenda: 01 Laje Impermeabilizada com Isolamento Especial em Argila Expandida
Curso
Arquitetura e Urbanismo
02 Laje Impermeabilizada
Assunto
SESC Cine Messejana
03 Telha Termoacústica (Tipo Sanduíche)
Conteúdo
04 Telha Zipada
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Planta Coberta Escala: 1:200
Autor
Lucas de Sousa Saraiva
Orientador
Romeu Duarte Junior
05 09
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Subsolo +21,90 (-3,00)
Subsolo +21,90 (-3,00)
02 Corte Longitudinal A9 Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Coberta +39,40 (+14,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
Térreo +24,90 (0,00)
Subsolo +21,90 (-3,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
Subsolo +21,90 (-3,00)
orte
03 Corte Longitudinal A10
A10
Corte
01
10 03
02 01
06
A9
Corte
09
08
05
04
10 11
07
A9
Corte
A10
Corte
RUA JOAQUIM FELÍCIO 5
0
5
10
20
01 Planta Baixa - Setor Serviços Lista de Ambientes:
GSEducationalVersion
01 Vestiários Funcionários (M/F)
07 Gás
02 Serviços Gerais
08 Lixo
03 Depósito Geral
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Estacionamentos
Curso
Arquitetura e Urbanismo
09 Portaria
Rua de Trânsito Calmo
Assunto
SESC Cine Messejana
04 Refrigeração
10 Cisterna
Paraciclos
Conteúdo
05 Geradores
11 Cisterna Elevada
Planta Baixa - Setor Serviços Cortes - Setor Serviços
06 Subestação
Autor
Lucas de Sousa Saraiva
Trabalho Final de Graduação - 2018.2
Orientador
Prancha
Escala: 1:200 Romeu Duarte Junior
06 09
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
01 Corte Transversal A1
5
0
5
10
20
02 Corte Transversal A2
5
0
5
10
20
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
03 Corte Transversal A3
5
0
5
10
20
04 Corte Transversal A4
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
5
0
5
10
.
20
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
05 Corte Transversal A5
5
0
5
10
20
Curso
Arquitetura e Urbanismo
Assunto
SESC Cine Messejana
Conteúdo
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Cortes Transversais Escala: 1:200
Autor
Lucas de Sousa Saraiva
Orientador
Romeu Duarte Junior
07
09
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
01 Corte Longitudinal A6
5
0
5
10
20
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
02 Corte Longitudinal A7
5
0
5
10
20
Coberta +39,40 (+14,50)
Coberta +39,40 (+14,50)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
Laje Imper. +35,9 (+11,00)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
2 Pavimento +32,40 (+7,50)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
1 Pavimento +28,90 (+4,00)
Térreo +24,90 (0,00)
Térreo +24,90 (0,00)
03 Corte Longitudinal A8
5
0
5
10
.
20
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC Curso
Arquitetura e Urbanismo
Assunto
SESC Cine Messejana
Conteúdo
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Cortes Longitudinais Lucas de Sousa Saraiva
Escala: 1:200 Orientador
Romeu Duarte Junior
08
09
01 Fachada 01 (Leste) - Av. Padre Pedro de Alencar
02 Fachada 03 (Oeste) - Lagoa de Messejana
03 Fachada 02 (Sul) - Rua Joaquim Felício
5
0
5
10
5
0
5
10
20
5
0
5
10
20
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
20 Curso
Arquitetura e Urbanismo
Assunto
SESC Cine Messejana
Conteúdo
Autor
Trabalho Final de Graduação - 2018.2 Prancha
Elevações Lucas de Sousa Saraiva
Escala: 1:200 Orientador
Romeu Duarte Junior
09
09
82
Considerações Finais Finalizo esse processo acreditando cada vez mais no poder da Arquitetura em ser um forte aliado para transformações sociais. O olhar crítico desenvolvido ao longo dessa longa caminhada, muitas vezes faz com que se perca o sono ao imaginar constantantemente como nossas cidades poderiam ser diferentes. E é justamente essa inquietude que faz o Arquiteto pensar e, principalmente, que faz o Arquiteto agir! Espero que o trabalho apresentado nesse volume tenha conseguido mostrar um pouco dos problemas que envolvem a questão do patrimônio e como eles podem servir de ponto de partida para uma série de discussões e propostas. Propostas essas que tem como objetivo transformar positivamente a realidade de uma comunidade, de um bairro e de uma cidade. As soluções são as mais diversas possíveis e sempre podem ser aperfeiçoadas. Nessa eterna tentativa de alcançar o melhor, é importante continuar desenvolvendo o olhar crítico, mesmo que isso exija uma revisão de nossos velhos posicionamentos. Não esquecendo do passado, mas sempre de olho no futuro.
101
102
Bibliografia LIVROS •FREITAS, Edmar. Messejana. Coleção Pajeú. Fortaleza. 2013. •NETO, Felipe Alves de Freitas. Muito Além dos Muros do Forte: as dinâmicas que propiciaram a anexação do antigo município de Messejana a fortaleza em 1921 e seus desdobramentos. Premius Editora. Fortaleza. 2011. •RIBEIRO, Esau Costa. Memorial e História de Messejana. Editel. Fortaleza. 1982. •Cartas Patrimoniais, Rio de Janeiro: IPHAN, 1999. 2001.
•CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade / Ed. Unesp, •RIEGL, Alöis. O culto moderno dos monumentos. Lisboa, Edições 70, 2013.
•RUSKIN, John. A lâmpada da Memória [The Lamp of Memory]. tradução e apresentação Maria Lucia Bressan Pinheiro. Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2008.
ARTIGOS •HENNING, P. . A preservação do patrimônio entre a teoria e a prática: conflitos contemporâneos na sociedade da imagem. In: SNH2015 - XXVIII Simpósio Nacional de História, 2015, Florianópolis. Anais eletrônicos - SNH2015 - XXVIII Simpósio Nacional de História ANPUH, 2015. •ALOISE, J. M. . O restauro na atualidade e a atualidade dos restauradores. Artigos do Patrimônio, 2015. Disponível em http://portal.iphan.gov.br/. •BAETA, Rodrigo Espinha; NERY, Juliana. Reflexões sobre intervenções arquitetônicas contemporâneas em ruínas. OCULUM ENSAIOS , v. 14, p. 217-240, 2017.
SITES •Mapa Cultural do Ceará. Cine Messejana. Disponível em http://mapa.cultura.ce.gov.br/ espaco/220/. Acesso em 18/04/2017 •Diário do Nordeste. Cine Messejana é Tombado. Disponível em http://diariodonordeste. verdesmares.com.br/cadernos/cidade/cine-messejana-e-tombado-1.490655. Acesso em 01/04/2018. •Diário do Nordeste. Antigo Cine Messejana está sendo demolido. Reportagem Diário do Nordeste. Disponível em http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/antigo-cinemessejana-esta-sendo-demolido-1.619807. Acesso em 01/04/2018 •Site Sesc. Sesc Pompéia. Disponível em https://www.sescsp.org.br/unidades/11_POMPEIA/#/ content=tudo-sobre-a-unidade. Acesso em 23/04/2018. •Archdaily. Clássicos da Arquitetura: Sesc Pompeia. Disponível em https://www.archdaily.com. br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi. Acesso em 23/04/2018. •Site Sesc. Sesc 24 de Maio. Disponível em https://www.sescsp.org.br/ unidades/36_24+DE+MAIO/#/content=tudo-sobre-a-unidade. Acesso em 23/04/2018. •Archdaily. Sesc 24 de Maio. Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/889788/sesc-24de-maio-paulo-mendes-da-rocha-plus-mmbb-arquitetos. Acesso em 23/04/2018. •EF Arquitetos. Parque das Ruínas. Disponível em http://www.efarquitetos.com.br/1996PARQUE-DAS-RUINAS. Acesso em 22/06/2018 •Museus do Rio. Centro Cultural Municipal Parque das ruínas. Disponível em http://www. museusdorio.com.br/joomla/index.php?option=com_k2&view=item&id=18:centro-cultural-municipalparque-das-ruínas. Acesso em 22/06/2018 •Museu Arqueológico Castelo de São Jorge. Disponível em hhttps://www.archdaily.com.br/ br/01-20123/musealizacao-da-area-arqueologica-da-praca-nova-do-castelo-de-s-jorge-carrilho-dagraca-arquitectos. Acesso em 01/12/2018.
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