Deu zebra!

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DEU ZEBRA! Hist贸rias das quatro maiores surpresas da Copa do Brasil


2015 Capa: Lara Melillo e Lucas Turco Diagramação: Lucas Turco Revisão: Wladyr Nader

Direitos autorais reservados É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou qualquer meio, salvo com autorização do autor. (Lei nº 9.610 de 19 de feveireiro de 1998.) Esta obra está amparada pela Lei dos Direitos Autorais, denominando-se projeto educacional não havendo qualquer intuito de lucro, sendo livre de qualquer obrigação para com imagens, citações e paráfrases. (Lei n°9.610 de 19 de fevereiro de 1998 - Cap IV - Art 46.)


DEU ZEBRA! Hist贸rias das quatro maiores surpresas da Copa do Brasil

Lucas Turco

Pontif铆cia Universidade Cat贸lica de S茫o Paulo Curso de Jornalismo



“Um jogo de futebol pode se transformar num conto de fadas, tornar um jogador um heroi popular, trazer asas a um time e euforia a um povo.� Andreas Wertz



Prefácio Thiago Arantes Não vou mentir: cresci com um ódio profundo pelas zebras. Mas não por qualquer zebra. Afinal, torci por Camarões na Copa de 1990; vibrei quando Alesi apareceu na Fórmula 1, de Tyrrell, e gostava de quando algum tenista se metia entre Lendl, Courier, Edberg e Becker e ganhava algum Grand Slam. Mas daí veio o Criciúma de 1991. Veio uma Copa do Brasil, a terceira edição. E tudo mudou. tivo.

Espero que entendam o motivo, porque, sim, existe um mo-

Um ano antes, em 1990, o Goiás – o meu Goiás, o time da minha vida – havia chegado à final da Copa do Brasil depois de eliminar Cruzeiro, Atlético Mineiro (4 a 3, eu no estádio, o maior jogo da história do futebol!) e o próprio Criciúma. Na decisão, perdeu para o Flamengo. Um ano depois, o Criciúma eliminou o Goiás nas quartas de final, venceu o Grêmio e levou o título. E eu, com os olhos mareados, perguntava a mim mesmo: como seria possível que aquele time conseguisse o que o Goiás, um ano antes, não havia conseguido?


A resposta não existia para o garoto de 8 anos, que ia ao Serra Dourada ver Túlio, cabeludo e velocíssimo, fazendo gols em times grandes, gigantes, imbatíveis até então. Um dia, parei de procurar respostas. E o ódio do Criciúma passou. Virou apenas indignação. Não com o time então dirigido por um Felipão ainda de bigode preto, mas com a incompetência do meu time. Se fosse pra o Goiás nunca ser grande, pois então que virasse zebra! Mas nunca virou. O título do Brasileiro de 1996 escorreu pelos dedos naquela semifinal contra o Grêmio, e, quando um time verde conseguiu surpreender com um título nacional (como o Coritiba, de 1985), foi... o Juventude! Na Copa do Brasil de 1999. Ali, diante da vitória dos gaúchos em um Maracanã todo em branco e preto, não tive pena do Botafogo. Nem ódio do Juventude. O time de Caxias merecia, como um prêmio por todos os anos em que esteve na elite do futebol brasileiro, contra todas as previsões. Com Criciúma e Juventude devidamente coroados com seus títulos nacionais, eu passei a não ter mais nenhuma dúvida: o próximo time a entrar na lista de campeões nacionais seria o Goiás. Devo ter criado esta teoria em 2000, e ela chegou a seu auge em 2003, até que um gol de Augusto Recife, quase do meio-campo, fez o Cruzeiro avançar contra o time esmeraldino de Cuca, na semifinal. No ano seguinte, a teoria mostrou-se mais uma das bobagens que eu previ sobre futebol: em 2004, o Santo André foi o campeão. Em 2005, o Paulista.


O Goiás não foi o sucessor do Juventude como zebra campeã da Copa do Brasil, não conseguiu um lugar neste livro, e por isto cito meu time à exaustão para que ele fique pelo menos representado por aqui, já que nas próximas páginas ele sempre vai aparecer perdendo. Para o Criciúma de 1991, por exemplo. Mas hoje, uma década depois da última grande zebra da Copa do Brasil e sem perspectivas de que haja outras, eu troquei o ódio por saudade. Sim, tenho saudade das zebras.

Mas é mais do que isto.

É saudade de quando o Criciúma peitava os grandes, de quando o Santo André calava o Maracanã, de quando o Juventude estava na Série A, ou o Paulista – contra todos os prognósticos – levava a taça em cima do Fluminense (na mesma edição em que o Baraúnas de Cícero “Romário” eliminou o Vasco!). Saudade de quando eu ainda acreditava que um dia o Goiás seria campeão da Copa do Brasil e ser campeão encerrava-se no próprio ato de ganhar o torneio e levantar a taça. Saudade de quando ainda não existia o futebol-estacionamento, em que vaga é comemorada como título, título é comemorado porque é vaga, e título só vale mesmo se o time ganhar o título do torneio para o qual o título anterior deu a vaga. É, vivemos em tempos confusos. A Copa do Brasil de hoje é “o caminho mais fácil pra Libertadores”, é o torneio em que times perdem pra ir jogar a Sul-Americana, é o campeonato do time misto, do “vamos ver se dá pra conciliar com o Brasileiro”.


A Copa do Brasil de Criciúma, Juventude, Santo André e Paulista – a Copa do Brasil que o Goiás nunca ganhou – era outra coisa. Era um torneio democrático, de campos esburacados, atacantes gordos, torcidas emocionadas e de zebras, sim, de zebras. As zebras que eu cresci odiando e só fui aprender a amar depois de velho, quando já não podia mais vivê-las em sua plenitude. Ainda bem que, nas próximas páginas, poderei voltar ao meu passado – agora amando cada resultado, cada vitória, e saboreando as conquistas mais improváveis, dos times mais surpreendentes.

Como aquele Criciúma de 1991.




Apresentação “ze.bra Nome comum a vários mamíferos equinos da África, relacionados ao cavalo e ao asno, mas inteira e reguarmen te listrados de preto ou castanho, sobre fundo branco ou amarelo-claro.” A definição do dicionário está aí, mas, para nós, ela pouco interessa. Zebra, neste livro, nada tem em comum com as explicações de “aurélios” ou “houaissis”. O termo, pelo menos no esporte, tem outro significado. Leva consigo diversas histórias saborosas e lembranças únicas. Tem quase vida própria. É inevitável. Qualquer torcedor, mesmo que do melhor time do mundo, já sofreu aquela derrota que ninguém esperava. Aquele resultado que faz você erguer a sobrancelha e ficar boquiaberto, quase sem conseguir balbuciar a popular expressão: “deu zebra!”. Mas como surgiu o termo que já fez você zombar do torcedor rival e também receber diversas provocações? Para explicar isto, voltemos ao dia 23 de julho de 1964. Pouco antes da partida entre Portuguesa do Rio de Janeiro e Vasco da Gama, válida pelo Campeonato Carioca, o folclórico técnico Gentil Cardoso, que comandava a “Lusinha”, foi perguntado sobre o que poderia acontecer naquela partida, já que o Vasco es-


tava com uma campanha irregular. A resposta veio de bate-pronto: “Pode dar zebra”. Explica-se: a zebra é um animal que não existe entre os 25 presentes no jogo do bicho, criado pelo Barão de Drummond no fim do século XIX. Portanto, o que Gentil quis dizer é que um resultado realmente inesperado poderia acontecer. E aconteceu. Os 4.744 pagantes, que encararam uma noite fria de inverno e foram ao Estádio das Laranjeiras, viram Mário abrir o placar para a Portuguesa com apenas dez segundos de jogo. Inaldo até empatou para os vascaínos, mas Tião, já no fim, selou a vitória rubro-verde, para a surpresa de todos. No dia seguinte, as manchetes estampavam: “Deu zebra”, termo que ficou para sempre sinônimo de qualquer resultado surpreendente. No Brasil, nenhum torneio é mais propício às surpresas do que a Copa do Brasil. Também, pudera, em um campeonato que começa com nada menos que 86 clubes de todo o país, é quase inevitável que a zebra passeie pelos gramados irregulares da competição. Neste livro, você vai conhecer as histórias das quatro maiores surpresas da Copa do Brasil: Criciúma – 1991, Juventude – 1999, Santo André – 2004 e Paulista – 2005. Quatro times pequenos que, de um em um, foram derrubando favoritos até se tornarem campeões, verdadeiras zebras.

Boa leitura!




Sumário Criciúma - 1991

19

Juventude - 1999

39

Santo André - 2004

65

Paulista - 2005

103

Disputa de Pênaltis

143



CriciĂşma 1991

19


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-Alô. -Jairo?

-Quem é?

Explico o motivo da ligação e, em segundos, o tom da voz muda: “Pô, tu não acredita, estava lembrando daquele título hoje mesmo.” Jairo Lenzi pode ser um nome desconhecido para a maioria dos brasileiros, mas basta perguntar a qualquer torcedor do Criciúma que logo você terá uma ficha completa do ex-ponta esquerda, com detalhes precisos de suas atuações na inédita conquista da Copa do Brasil de 1991. No entanto, para relembrar o título, que revelou ao futebol o nome do pentacampeão Luiz Felipe Scolari, é necessário voltar um pouco no tempo. Mais precisamente a 1986, quando o elenco que conquistou a maior glória da história do Criciúma começou a se formar. “O time pegou cara mesmo alguns anos antes, em 1986. Primeiro, veio o Vanderlei, depois eu e, em março, chegou o Sarandi. A espinha dorsal daquele time surgiu ali”, revela Itá, capitão da equipe na Copa do Brasil de 1991. 21


Não à toa, naquele ano, o time faturou seu segundo título na história do Campeonato Catarinense, feito repetido em 1989 e 1990. Este último, classificando o Criciúma para a Copa do Brasil do ano seguinte. “Foram aqueles títulos estaduais seguidos que nós conquistamos que nos deram motivação. Com eles, nós nos aproximamos também dos torcedores da cidade de Criciúma, que, então, tinham um time competitivo para torcer. O apoio deles foi fundamental”, comentou o ex-atacante Vanderlei, que completou: “A gente montou um time com uma base psicológica muito forte e conseguimos transmitir isto para os jogadores que iam chegando. Conseguimos, de forma inteligente, reconhecer nossas deficiências. Nós não tínhamos nenhum craque fora de série, mas também não tínhamos nenhum cabeça de bagre.” Foi assim, com um time equilibrado e uma torcida motivada pelas boas champanhas no Estadual, que o Criciúma começou a traçar sua caminhada na Copa do Brasil no dia 21 de fevereiro de 1991. O primeiro adversário foi o tímido Ubiratan, do Mato Grosso do Sul. Jogo fácil? Pelo contrário. Apoiado por sua torcida no estádio Douradão, o time da casa saiu à frente aos 37 minutos de jogo, e o Criciúma conseguiu um sofrido empate só aos 44 da etapa final, quando Grizzo, com o bico da chuteira, igualou o placar. “Nós tomamos um susto. Pensamos que seria um jogo mais fácil, mas só conseguimos empatar no último minuto de jogo. Mas eu acho que isto, no fim, foi bom, nos ajudou a acordar”, contou Jairo Lenzi. O Criciúma, no entanto, teve alguns minutos a mais de “sono” do que a torcida gostaria de ver. Na partida de volta, mesmo com o Heriberto Hülse cheio, foi o Ubiratan que abriu o placar, logo aos 22


dois minutos de jogo. “Ali todos os jogadores se olharam, a gente sabia que precisava fazer alguma coisa.” E, seguindo as palavras de Sarandi, o time fez: virou o jogo, com direito a goleada. Evandro, Grizzo, Zé Roberto e Vanderlei fizeram 4 a 1, passaram pelo primeiro desafio e colocaram o Criciúma nas oitavas de final da Copa do Brasil. Agora o time teria pela frente “apenas” o Atlético Mineiro, na opinião quase unânime dos jogadores, o time mais forte daquele torneio. “Foi um jogo determinante, pois o adversário mais difícil que nós tivemos em toda a Copa do Brasil foi o Atlético, sem sombra de dúvida. Todos nos tratavam como uma presa fácil”, comentou Vanderlei, que teve a mesma avaliação de Roberto Cavalo: “Foi o confronto mais difícil. Lógico que a final foi marcante, mas os jogos mais decisivos foram contra eles.”

Jogadores do Criciúma perfilados para foto no estádio Heriberto Hülse

Reprodução


Motivos não faltavam para isto: o Atlético Mineiro estava invicto havia 45 partidas, vinha de uma goleada de 11 a 0 na fase anterior sobre o Caiçara, do Piauí, e tinha uma média de um gol marcado a cada 15 minutos em campo. Para piorar, pela primeira e única vez naquela competição, o Criciúma enfrentou um desafio diferente: jogar a primeira partida em casa, ou seja, decidir a vaga no estádio do adversário. No jogo de ida, o time catarinense fez seu dever no Heriberto Hülse. Cruzamento da esquerda e Vanderlei subiu mais alto que a zaga para cabecear. A bola ainda bateu caprichosamente no chão antes de entrar, tirando todas as chances de defesa do goleiro da seleção brasileira Carlos. A vitória, no entanto, parecia não ter convencido, pelo menos o técnico Felipão. “Passou a semana inteira reclamando, rabugento, bravo que só. ‘1 a 0 em casa foi pouco’. Dizia que tínhamos perdido muitas chances na partida de ida e que, em Minas Gerais, seria muito f...”, relembrou Roberto Cavalo. A desvantagem mínima fez com que a torcida do Atlético Mineiro acreditasse na virada e lotasse o estádio Independência. Mas todo o barulho das arquibancadas deu lugar a um solitário grito de gol aos 21 minutos do segundo tempo. Roberto Cavalo, de pé direito, bateu no ângulo e saiu comemorando sem rumo. Se o Independência estava calado, Santa Catarina era festa, o Criciúma se classificava para as quartas de final. “Rapaz, eu não sabia nem para onde correr. Tinha treinado muito cobranças de faltas como aquela, mas no jogo sempre é diferente. Era um momento complicado, então sabia que um gol ia ser muito importante. Quando eu vi que a bola passou da barreira e a rede balançou, saí correndo e pulei em cima dos outros jogadores. Ali, eu acho que o pessoal começou a ter medo da gente”, relatou Cavalo. 24


Atletas do Criciúma beijam a taça da Copa do Brasil

Agencia RBS

O desafio seguinte foi contra o Goiás, que, à época, tinha em seu ataque o jovem Túlio Maravilha. E o jogo representava muito mais do que uma vaga na próxima fase, era uma oportunidade de revanche. Um ano antes, o sonho do título da Copa do Brasil do Criciúma acabou junto com os pênaltis perdidos, na semifinal, para o próprio Goiás, que depois cairia na decisão para o Flamengo. Os elencos dos dois times eram praticamente iguais, mas o roteiro, bem diferente. A começar pela ordem dos jogos: desta vez era o Criciúma que decidiria a classificação diante de sua torcida. Com isto, tomou uma postura bem mais cautelosa no Serra Dourada. Resultado: um descolorido 0 a 0, que combinou muito bem com a rara noite fria e chuvosa daquela quinta-feira em Goiânia. Mesmo jogando com um a menos após Vanderlei ter sido expulso, o Criciúma foi criticado pela postura excessivamente defensiva, e Felipão recebia pela primeira vez o título de “retranqueiro”. 25


A definição, portanto, ficou adiada em uma semana, desta vez, em Santa Catarina. Para aumentar em alguns minutos a ansiedade do Criciúma e dos torcedores que lotavam o Heriberto Hülse, o voo do trio de arbitragem, liderado por Wilson Carlos dos Santos, atrasou-se por conta do mau tempo em São Paulo. Com o problema, três juízes catarinenses foram chamados às pressas, e as duas diretorias concordaram com aguardar até 21h15 para o início do jogo. Com as equipes já em campo e dez minutos depois do tempo acordado, Wilson Carlos dos Santos e seus dois auxiliares entraram no gramado e foram recebidos em um misto de vaias e aplausos da arquibancada. Haveria jogo, para sorte do Criciúma. A palavra “fulminante” aparecia em algumas manchetes de jornais no dia seguinte. E ela serve muito bem para resumir a atuação do time catarinense. A equipe precisou de apenas 45 minutos para Jairo Lenzi, Gélson e Grizzo marcarem 3 a 0 ainda no primeiro tempo e administrarem o resultado na etapa final. O Criciúma se vingava um ano depois, como bem lembrou Felipão após a partida: “Ano passado foi o Goiás que mandou o Criciúma embora, desta vez fomos nós que os mandamos. Ficou elas por elas.” “Teve sabor de revanche, claro, os jogadores do Goiás falavam que iam passar por nós de novo, isto deu motivação, entramos com tudo. No outro dia, todos nos elogiavam, davam parabéns ao Criciúma”, relembrou Jairo Lenzi. A semifinal uniu as duas maiores zebras daquele torneio. O Remo poderia muito bem preencher as páginas deste capítulo se tivesse avançado. E motivos para isto não faltavam. Se o Criciúma havia passado por Atlético Mineiro e Goiás, o Remo tinha desbancado Vitória e Vasco para se garantir como um dos quatro primeiros.

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Atletas posam com a faixa de campeão no peito

Reprodição

Em uma semifinal sem favoritos, o time de Belém e sua torcida tentaram usar de tudo para levar vantagem. Desde fogos de artifício que atormentaram a noite anterior ao jogo dos catarinenses, até a mudança do Mangueirão para o estádio Evandro Almeida, o Baenão, local bem mais acanhado e favorável à pressão da arquibancada. Mas, até São Pedro parecia estar do lado tricolor: “Estava um calor insuportável naquele dia, daqueles que a gente pingava suor já no vestiário de tão quente. Mas, uns minutos antes da partida, caiu uma baita chuva que ajudou a dar uma refrescada. Eles estavam acostumados com aquele calor, mas, nós, não. Isto parece meio insignificante para alguns, mas com aquela refrescada e com o campo molhado, a partida se igualou”, contou o goleiro Alexandre ao “Diário Catarinense”. O Criciúma logo tratou de acabar com esta igualdade: Jairo Lenzi recebeu na linha de fundo, driblou o adversário e cruzou para a cabeça de Soares, que subiu e alcançou a bola para marcar o único gol da partida. 1 a 0, Criciúma. 27


O autor da assistência lembrou bem do gol: “Nós estávamos levando uma pressão, amigo. Apesar de o campo ser pequenininho, eu estava morto porque o Felipão pedia para voltar e marcar os laterais, mas consegui tirar força não sei de onde para puxar aquele contra-ataque”. No jogo de volta, foi a vez de a torcida do Criciúma retribuir o “carinho” dos rivais, também com muito barulho em frente ao hotel dos jogadores do Remo. Toda a pressão para não levar gols estava na defesa comandada pelo goleiro Alexandre, mas foi justamente dos pés dele que começou a ser construído o lance que selou a classificação dos catarinenses. “O curioso é que foi uma jogada ensaiada que deu errado, mas acabou funcionando. Sempre que eu pegava a bola, tentava ligar um contra-ataque rápido com o Soares, que era a referência e tinha a maior impulsão. Naquele dia, assim que eu agarrei a bola, O time catarinense em festa no Heriberto Hülse

Agencia RBS


vi que o Roberto Cavalo estava livre no meio-campo, acenando. Só que eu estava tão bem preparado e com tanta força física que, quando eu chutei, a bola acabou passando por ele e chegando à meia-lua do campo de ataque. O Soares não conseguiu alcançar, mas atrapalhou o Chico Monte Alegre, que cabeceou a bola para trás e marcou o gol contra, sem querer, depois que encobriu o goleiro Samuel.”, revelou Alexandre ao “Diário Catarinense”. O Criciúma ainda ampliou o placar com uma jogada já tradicional: Jairo Lenzi avançou pela esquerda e cruzou para Soares desviar de pé direito dentro da área. Foi o que faltava para os 19.128 pagantes do Heriberto Hülse fazerem a festa cantando a música de Dorival Caymmi “Ai ai, ai ai, adeus, Belém do Pará.” O Criciúma estava pela primeira vez em sua história na final da Copa do Brasil e teria pela frente no caminho até o título o Grêmio, campeão da competição dois anos antes. A primeira partida estava marcada para 30 de maio, em Porto Alegre, e, para os torcedores do clube catarinense, até o céu amanheceu apoiando a equipe naquele dia. “Eu estava muito ansioso, então quase não consegui dormir. Levantei da cama cedinho, o sol tinha acabado de nascer. Quando olhei para o céu, ele estava completamente amarelado, nada de azul, era Criciúma de uma ponta à outra. Pensei na época: ‘Se até o céu trocou as cores do Grêmio pela nossa, não tem como perdemos esse jogo’ ”, relembrou Felipe Nabuco, torcedor do Criciúma. Guilherme Búrigo não viu o nascer do sol, mas foi até Porto Alegre e garantiu que a motivação era ainda maior: “Fui para o Rio Grande do Sul com uma parte da torcida e logo na rodovia a gente já via muitos carros indo para lá. Nós fomos almoçar numa churrascaria do Internacional, rival do Grêmio, e, claro, fomos bem recebidos. Como naquela época não havia a cobertura de televisão e rádio que há hoje, que começa a falar do jogo várias horas antes, 29


decidi ir bem cedo para o estádio, com umas duas ou três horas de antecedência. Quando eu entrei, fiquei completamente paralisado, a arquibancada já estava cheia de torcedores do Criciúma, todo mundo gritando”. A euforia e as provocações dos torcedores do Criciúma, no entanto, não agradaram nenhum pouco os gremistas que iam chegando ao estádio Olímpico. Ainda sem policiamento no local, a corda que separava os setores das duas torcidas não foi suficiente para evitar uma briga generalizada. Foram 15 minutos de “guerra” até que chegassem os primeiros policiais. O saldo: muito sangue e um gremista preso. “Entramos para aquecer e vimos toda aquela briga. E, claro, sem apoiar a violência, mas sentíamos que nossa torcida estava conosco. Então, você pensa ‘eu tenho que suar sangue, porque eles vieram ver o jogo, eles não podem voltar para casa achando que viajaram à toa. Vamos entrar voando’ ”, disse Jairo. Foi justamente “voando” que o Criciúma surpreendeu a todos e abriu o placar no estádio Olímpico. Roberto Cavalo cobrou escanteio do lado direito do ataque, e Vilmar apareceu no meio da defesa gremista para marcar o primeiro de cabeça. “Eu não vi que tinha sido escanteio naquele lance. Já estava voltando para compor a marcação e, quando olhei, estava todo o mundo dentro da área ainda. Se tu lembrar o gol, eu venho de trás, meio atrasado, mas por felicidade a bola veio no lugar certo”, relatou Vilmar. “Não é porque eu sou torcedor do Criciúma, não, mas depois do gol só se ouvia a nossa torcida no estádio. Era só as nossas vozes. Nós os calamos, mas aí veio o empate”, contou Guilherme Búrigo. 30


Já aos 38 minutos do segundo tempo, Caio foi lançado dentro da área, e Altair, ao tentar cortar o lance de carrinho, acabou atingindo o adversário. Pênalti. Na cobrança, Maurício, com muita calma, deu uma cavadinha e enganou o goleiro Alexandre, empatando o jogo em 1 a 1. “Depois daquele gol, que até hoje acho que não foi pênalti, ainda tomamos uma pressão porque jogávamos no estádio deles, mas conseguimos segurar. Apesar de termos feito um ótimo resultado, quando entramos no ônibus muitos jogadores estavam um pouco abatidos por termos tomado o gol já no final. Mas eu, sem desmerecer o Grêmio, sabia que seríamos campeões, não perderíamos aquele título em casa nunca”, comentou Roberto Cavalo. Foram só três dias de espera até o segundo e decisivo jogo da final, mas pareceram demorar mais do que os 44 anos de história do clube até então. “Se na primeira partida eu acordei cedinho e vi o nascer do sol, nesta eu acho que fiquei uns dois dias sem dormir. Sou tão supersticioso que fiquei todo o período entre um jogo e o outro sem andar de carro porque eu tinha um Chevette azul, cor do Grêmio”, relatou Felipe Nabuco. “Acho que só fui entender a dimensão daquela conquista quando entramos no gramado. A torcida gritava muito e fazia uma festa danada. Nós nos olhamos e ninguém precisou falar nada, não teve aquela última conversa já no gramado, olhar a arquibancada já tinha sido o bastante”, recordou Jairo Lenzi. Com a vantagem de poder empatar sem gols, o Criciúma jogou como Felipão pediu, com o regulamento na mão. E a característica que marcaria o treinador anos depois funcionou: o time quase não tomou sustos e, quando Gélson foi expulso, o próprio atleta tratou de forjar uma briga para também tirar o gremista Maurício de campo. Scolari viu tudo de perto e deu um sorriso discreto após o lance. 31


Após alguns tímidos gritos de campeão, logo silenciados pelo restante do público no estádio que rebatia - “Não comemora, o jogo ainda não acabou, vai zicar!” - a cautelosa torcida do Criciúma pôde, enfim, festejar o título da Copa do Brasil de 1991. Em alguns segundos, o gramado do Heriberto Hülse estava completamente tomado pelos torcedores, que brigavam Diário Catarinense Reprodução por qualquer pedacinho da conquista inédita. Naquela altura, pouco importava se era a bola da partida, uma camisa de um jogador ou só um tufo de grama, tudo tinha o mesmo sabor. Luiz Felipe Scolari A careca já se desenhava, junto com alguns fios de cabelo grisalhos e o tradicional bigode, mas Felipão ainda era apenas Luiz Felipe Scolari quando chegou ao Criciúma em 1991, ainda sem o apelido que combina com a grandeza que o treinador atingiu. Na visão do presidente do clube, Moacir Fernandes, o time, que havia começado a se montar sob o comando de Levir Culpi e vinha sendo treinado pelo interino Luiz Gonzaga Milioli, precisava de alguém com o “pulso firme” para comandar o comando. Logo, o nome de Felipão veio à pauta. Com 41 anos na época, o treinador, já acompanhado de seu “fiel escudeiro” Murtosa, havia ganhado destaque com o título do Gaúcho de 1987, pelo Grêmio, e com a experiência de ter dirigido a seleção do Kuwait. Mas vinha de uma situação curiosa: Scolari tinha acabado de sair de uma passagem “relâmpago” pelo Coritiba. 32


Luiz Felipe Scolari, ainda com alguns cabelos e jรก com o tradicional bigode

Gazeta Press


Foram só três partidas como técnico da equipe paranaense, com três derrotas e a reclamação de que os jogadores não estavam comprometidos. O caso foi tão discreto que o staff do treinador não inclui a informação em seu currículo e nunca houve cobrança de salário pelos 20 dias à frente do Coritiba. Reza a lenda, ainda, que, após a derrota para a Juventude, Felipão nem se despediu dos jogadores e voltou para o Sul de carona no ônibus do adversário. Luiz Felipe Scolari chegava ao Criciúma com certa desconfiança e prometendo montar uma equipe sólida, que pudesse ganhar dos grandes. O primeiro grande teste foi no jogo de volta contra o Atlético Mineiro nas oitavas de final, partida em que o Criciúma, já com o estilo do técnico, mostrou-se extremamente competitivo e saiu de Minas Gerais com a vitória de 1 a 0 e a classificação. Mas, enquanto avançava na Copa do Brasil, a equipe catarinense vinha tropeçando no Campeonato Brasileiro. A derrota de 2 a 1 para o Juventude em Caxias do Sul indicava que o clube iria ser rebaixado - o que nunca aconteceu por conta de diversas mudanças no regulamento do Campeonato Brasileiro da época. Diante disto, Felipão colocou seu cargo à disposição, e a diretoria estava decidida em demiti-lo. No entanto, pouco antes de o anúncio ser feito, a CBF emitiu um comunicado divulgando que o Criciúma jogaria quatro dias depois contra o Goiás, fora de casa, pelas quartas de final da Copa do Brasil. O elenco, que já estava de folga, foi chamado de volta às pressas, e três jogadores usaram o argumento para intercederem pela manutenção do treinador em nome de todo o grupo. “Eu, o Vanderlei e o Sarandí fomos até o presidente Moacir para dizer que não adiantava demitir, porque a gente tinha um jeito de jogar montado ainda pelo Levir Culpi, nós estávamos bem em campo. Aquele não era o momento de mudança”, declarou Itá. 34


Felipão, como todos sabem, ficou. E sua permanência serviu para estreitar a relação com os jogadores. Era o surgimento da primeira “Família Scolari”, como lembrou Roberto Cavalo: “De certa maneira foi até bom a quase demissão dele, porque a gente passou a conversar mais, ficamos todos mais amigos. Na hora do trabalho, era trabalho sério, mas depois a gente sempre parava para bater um papo”. A conversa rolava junto com a cuia de chimarrão, que circulava entre os jogadores e a comissão técnica, que se reuniam ao lado de uma árvore no estacionamento do Heriberto Hülse. Cavalo, responsável por cevar o mate, lembrou daquela época: “Nós não tínhamos nem vontade de ir embora. Acho que hoje em dia não daria para tomar um chimarrão com o Felipão depois do treino na porta do estádio”. A sintonia entre todos do grupo era tão grande que, quando perguntado sobre algum episódio de discórdia entre Felipão e o elenco, Sarandi ficou em silêncio alguns segundo antes de, aos risos, lembrar: “Acho que teve só uma, com o Grizzo. O Felipão queria que ele voltasse para marcar, mas o jogador desobedecia. Aí o Felipão pensou em afastar o Grizzo do grupo, mas nós fomos falar com ele que isto não era necessário. O Felipão aceitou, mas avisou que o atleta não tomava mais chimarrão na cuia dele”. A fé também teve papel fundamental naquele título. Foi durante aquela Copa do Brasil que Luiz Felipe Scolari, que frequentou missas e cumpriu todas as etapas do catolicismo na infância, conheceu o padre Pedro Bauer, que se tornou uma espécie de talismã para o treinador no restante de sua carreira. O padre foi “relacionado” por Felipão para dar palestras aos jogadores antes das partidas decisivas, mas a relação entre ele e o time do Criciúma cresceu tanto que Pedro participava até dos rachões da equipe nos treinamentos. 35


“O grupo tinha vários jogadores com religiões diferentes, mas ele sabia respeitar cada um de nós, por isto deu certo. Quando o padre entrava para jogar com a gente era fogo, ninguém podia chegar mais forte nele. Eu só ficava pensando ‘Como tu vai dividir com o padre?’ ”, contou Jairo Lenzi.

No entanto, quem pensou que o título traria apenas regalias aos jogadores estava enganado. No dia seguinte à conquista, depois de passar a noite inteira comemorando com a torcida na Avenida Centenário, todo o elenco teve de cumprir a promessa feita por Felipão: seguir o caminho dos romeiros, a pé, de Criciúma a Nova Veneza, onde fica um dos santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, de quem o técnico é devoto. Felipão Gazeta Press “Rapaz, você tu não tem ideia de como é longe, uns 10 km. Todo mundo foi caminhando quietinho, no passinho de Felipão. Pelo menos voltamos de ônibus, nem ele aguentava mais. Mas valeu, era da crença do treinador e nós estávamos fechados com ele”, lembrou Jairo Lenzi. O treinador, no entanto, teve pouco tempo para comemorar. Menos de uma semana após o título, ele aceitou uma proposta milionária para dirigir o Al-Ahli, do Oriente Médio. Terminava ali sua passagem pelo Criciúma. Depois de mudar para sempre a história do clube, Luiz Felipe Scolari começou a escrever a sua própria: virou Felipão e acumulou títulos como o da Libertadores e o da Copa do Mundo. Mas, a relação entre o técnico e o Criciúma nunca acabou, porque, assim como está escrito no bandeirão com o seu rosto que a torcida leva para todo jogo, Felipão é imortal.


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Juventude 1999

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“1913, foi dado a inspiração O verde da esperança Nos trouxe a taça na mão

94, 98, 99 também Já conquistamos o estado e o Brasil O que virá noutros cem”.

O trecho do hino criado em 2013 como parte das comemorações pelo centenário do Esporte Clube Juventude mostra a importância que o título da Copa do Brasil de 1999 tem para o time. Pudera, nada mais justo do que deixar grafado em algumas linhas o que já estava eternizado na história do clube gaúcho desde o dia 27 de junho daquele ano. No entanto, a luta pela maior conquista da história do Juventude começou a ser construída sete anos antes, em 1992, com uma “mãozinha” que estendeu-se do outro lado do Oceano Atlântico à equipe. A italiana Parmalat, em uma ação pioneira até então, deixou as prateleiras dos supermercados um pouco de lado para promover sua marca de outra maneira: investindo no futebol. Ao longo dos anos 90, a empresa do ramo alimentício propôs modelos de cogestão com diversos clubes ao redor do mundo como Parma (Itália), Boca Juniors (Argentina) e Nacional (Uruguai), além de Palmeiras, Santa Cruz e... o Juventude. 41


Os “lactodólares” foram fundamentais para que o Juventude, até então somente um emergente do Rio Grande do Sul, roubasse dos “gigantes” as principais manchetes. Vieram reforços e títulos inéditos, como o da Série B de 1994 e o do Gaúcho de 1998. Mas, quis o destino (e o trabalho duro, claro) que o primeiro título nacional do Juventude viesse justamente numa competição em que o clube nunca havia passado sequer da primeira fase, a Copa do Brasil. “Naquele ano nós montamos a equipe para tentar o bicampeonato do Gaúcho e para a Copa do Brasil. No Estadual, não conseguimos vencer, mas acho que isto empolgou mais nosso time para a outra competição. Como falei, montamos uma equipe para ser competitiva, mas quem imaginaria que conseguiríamos ser campeões? Acho que nem os torcedores gaúchos mais otimistas”, declarou Milton Scola, presidente do Juventude na época. A base da “equipe competitiva” citada por ele era a mesma dos últimos anos, mas com algumas mudanças, por “culpa” do próprio Juventude. As boas campanhas recentes colocaram na vitrine alguns jogadores que acabaram negociados naquela temporada. A dupla de ataque formada por Rodrigo Gral e Sandro Sotilli foi desmanchada por inteiro. O primeiro, cujas boas atuações levaram à seleção sub-20, precisou ser devolvido de empréstimo ao Grêmio, enquanto o segundo passou a vestir as cores do Rio Branco de Americana. O técnico Lori Sandri foi outro que deixou o barco, atraído pelos “petrodólares” do Al-Hilal, da Arábia Saudita. Para manter a equipe equilibrada, o Juventude foi às compras. Chegaram Émerson, Alcir, Gil Baiano, Fernando Rech, Maurílio e Geninho, novo treinador do time. Não foi preciso muito tempo para que os reforços se entrosassem e, em alguns casos, dividissem o protagonismo da equipe. 42


“Nós não começamos o ano muito confiantes, não. O fim de 1998 não foi tão bom e perdemos nossos atacantes. As contratações foram boas, mas nada que mudasse nosso patamar. Acho que nós viramos a chave mesmo quando começamos a ver que poderíamos ir longe na Copa do Brasil. Nada como a confiança, não é?”, contou o meio-campista Marcelo Mabília, um dos líderes daquela equipe e que, temporadas antes, já havia atuado por Grêmio e Internacional. Antes até de o Campeonato Gaúcho começar, o Juventude estrou na Copa do Brasil de 1999 diante do Guará, em Brasília. O adversário aurinegro, conhecido por ter revelado o zagueiro Lúcio, pentacampeão mundial com o Brasil, e ter sido o primeiro clube criado no Distrito Federal, em 1956, até conseguiu segurar o Juventude, mas só durante os primeiros 45 minutos. “Rapaz, quando o juiz apitou o fim da etapa inicial a primeira coisa que eu fiz foi olhar para o Geninho, ele já estava até contraindo a sobrancelha de raiva, sabe? No intervalo, deu uma baita bronca, falou que, se a gente não voltasse diferente no segundo tempo, ele e todos nós já podíamos arrumar as malas que iam dar um pé na bunda de todo mundo. Tratei logo de fazer dois gols para não correr o risco de ficar desempregado”, lembrou Fernando Rech, aos risos. Dênis, aos 13 minutos da etapa final, abriu o placar para a equipe gaúcha, mas logo, na saída de bola seguinte, o Guará conseguiu marcar com Santos. Como ninguém por lá estava interessado em perder o emprego logo no início do ano, os jogadores do Juventude trataram de pôr fim a qualquer princípio de esperança dos torcedores do clube brasiliense no estádio Bezerrão. Mabília, Capone e Fernando, duas vezes. Com quatro gols em pouco mais de 15 minutos e 5 a 1 no placar, o Juventude eliminou a possibilidade do jogo de volta e avançou para a segunda fase da competição. 43


Equipe do Juventude perfilada em campo

Reprodução

Com a classificação assegurada, o clima deveria ser de tranquilidade no Juventude, certo? Nada disto. Apenas quatro dias depois da vitória sobre o Guará, começou, paralelamente à competição nacional, a segunda fase da Copa Sul-Minas, que, àquela altura, já podia ser chamada de Copa Paraná-Rio Grande do Sul, pois, dos seis times que restavam, eram três paranaenses e três gaúchos. Tudo o que Geninho, que já vinha sendo muito contestado por torcida e diretoria pelo mau futebol e resultados pouco satisfatórios, torcia para não acontecer, acabou ocorrendo: goleada de 4 a 1 do Grêmio sobre o Juventude, e demissão do treinador, que deixou seu cargo após pouco mais de três meses de trabalho. “É claro que eu não achava que deveria ser demitido porque ainda era um começo de trabalho. Com o tempo em que eu fiquei lá era muito difícil fazer o time engrenar, mas eles queriam resultado logo, pois tinham que dar uma resposta ao dinheiro investido. Mas eu não guardo ressentimento nenhum, por coincidência ou não, foi depois do Juventude que minha carreira começou a melhorar realmente: fui campeão do Módulo Amarelo da Copa João Havelange 44


com o Paraná no ano seguinte, depois fui campeão brasileiro com o Atlético Paranaense, passei pelo Galo (Atlético Mineiro), pelo Corinthians... Até que agradeço ao Juventude: se eu não houvesse sido demitido, talvez nada disto teria acontecido”, declarou Geninho. O clube gaúcho precisava agora de um novo treinador, e os requisitos iniciais exigidos pela diretoria eram respaldo por bons trabalhos anteriores e identificação com o time, o que daria mais paciência aos torcedores. Ninguém mais apropriado para o cargo do que Valmir Louroz. O treinador, que, como zagueiro, encerrou sua carreira no próprio Juventude, iniciou seus trabalhos à beira do campo também no clube gaúcho, em 1980, após um período comandando as categorias de base da equipe. Sem contar que dirigiu o time novamente cinco nos depois. Com a questão da identificação resolvida, faltava agora olhar para o histórico de bons resultados. Tarefa fácil para Valmir Louroz, que vinha colecionando grandes campanhas tanto no Brasil como no exterior. Em 1985, o treinador levou o pouco expressivo Brasil de Pelotas ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, eliminando o Flamengo, de Zico, Bebeto e companhia. Sete anos depois, classificou a seleção do Kuwait, sem nenhuma tradição no futebol, para os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. Sua última experiência havia sido no Japão, onde levou o Júbilo Iwata ao vice-campeonato nacional e ao título da Copa Nabisco.

Pronto, o Juventude tinha um novo técnico.

O primeiro desafio foi superado com sucesso: 3 a 1 sobre o Internacional na Copa Sul-Minas e sobrevivência na competição. Seu jogo seguinte à frente da equipe alviverde seria diante do Fluminense, pela segunda fase da Copa do Brasil. 45


O tradicional time carioca, comandado por Carlos Alberto Parreira na época, vivia naquele ano um período de reconstrução. Afinal, disputava a terceira divisão nacional após colecionar rebaixamentos em 1997 e 1998. Engana-se, no entanto, quem acredita que, por estar na Série C, o Fluminense tinha um time fraco. Só no ataque, o elenco tricolor contava com nomes como Magno Alves, Roni e Túlio Maravilha. Os dois últimos, aliás, junto com Flávio, foram os autores dos três gols da vitória de 3 a 1 sobre o Juventude - que marcou com Wallace - no Maracanã. “Uns acham que a gente menosprezou o Fluminense porque ele estava na terceira divisão, mas não aconteceu isto, não. Os jogadores precisavam dar uma resposta à torcida e à diretoria e foram muito bem naquele jogo. Para muitos, a vitória deles era irreversível. Para nós, não”, comentou Mabília. No intervalo até o jogo de volta, que foi realizado só 20 dias depois da partida de ida, outra notícia ruim para o Juventude: com dois empates, contra os rivais Grêmio e Internacional, a equipe estava eliminada da Copa Sul-Minas. Os três times terminaram a fase com cinco pontos (uma vitória, dois empates e uma derrota), mas o Grêmio conseguiu a vaga na decisão pelo saldo de gols, deixando o Juventude de fora. “Eu, como torcedor, sempre acreditei, mas, para ser sincero, não tinha muita esperança em passar do Fluminense. O Juventude possuía aquela sina de ser time pequeno. Apesar de termos vencido o Gaúchão um ano antes, em campeonatos nacionais havia vezes que a gente achava que ia conseguir, acreditava, torcia, mas sempre num jogo a gente ia mal, era roubado pela arbitragem, dava alguma bobeira e acabava eliminado. Naquela Copa do Brasil, esse ‘jogo da eliminação’, que faz a gente voltar para a realidade, tinha tudo pra ser aquele contra o Fluminense. Mas não foi”, relembrou Caio Scherrer, torcedor do Juventude. 46


O que aconteceria naquele dia ficaria para a história. Não apenas por ser uma das maiores goleadas aplicadas pelo Juventude e sofridas pelo Fluminense, mas por enterrar de vez a velha “síndrome de vira-lata” do clube gaúcho. Aos sete minutos já estava 2 a 0. Ao final do primeiro tempo, a vantagem era de quatro gols. E ainda sobrou entusiasmo para marcar mais dois na etapa final. 6 a 0 para o Juventude, um atropelamento que nem o mais otimista torcedor alviverde esperava e nem o mais pessimista torcedor do Fluminense acreditava. Uma avalanche que ficou, inevitavelmente, gravada na memória de cada um dos personagens daquele confronto no estádio Alfredo Jaconi. “Como morava no Rio de Janeiro, vi aquilo pela televisão mesmo. E digo aquilo, pois me nego a tratar daquela goleada como um jogo de futebol normal. Não foi. A gente fala do 7 a 1 que a seleção brasileira levou da Alemanha na Copa do Mundo, mas aquele jogo contra o Juventude teve um sabor muito mais amargo para mim, pois mexeu com meu time de coração”, declarou Cícero Mulito, torcedor do Fluminense. A opinião é bem parecida com a dos jogadores do Fluminense que estiveram em campo. “Olha, eu já me aposentei há muitos anos, mas juro que aquela goleada é uma das coisas que nunca saem da minha cabeça. Goleiro tem mania de querer pegar a bola no funTaça é beijada pelos jogadores Reprodução do das redes quando toma gol para mostrar que está de cabeça em pé, que aquilo não o abalou, mas abaixar para buscar a bola seis vezes foi duro”, lembrou Ailton Cruz, goleiro da equipe carioca naquela partida. 47


O resultado foi impactante não apenas para quem estava no jogo e para quem torce para um lado ou para o outro, mas, para sempre, quando Juventude e Fluminense entram em campo para se enfrentarem, aquela partida é relembrada. “Tenho certeza de que a maioria das pessoas que vão ao estádio Alfredo Jaconi hoje em dia não estava lá naquela goleada, grande parte deles devia ter ainda pouca idade em 1999, mas, se há uma coisa de que eu já tenho certeza que acontecerá quando sou escalado para cobrir um jogo entre os dois times em Caxias, é que a torcida da casa vai provocar o Fluminense durante os 90 minutos por conta do 6 a 0”, contou Walter Marcuso, repórter da Gazeta de Caxias. No entanto, ninguém foi mais marcado pelo duelo do que Flávio Paiva, meio-campo do Juventude. Afinal, anotar quatro gols em um mesmo jogo – naquela partida em especial – é um feito dos mais invejáveis. “Aquela vitória foi muito especial para mim, acho que sou adorado até hoje pelos torcedores do Juventude. Eu comecei a ter uma noção do que aquele jogo representa quando um torcedor do Fluminense invadiu o campo para agredir o técnico Parreira, e a torcida deles que estava no estádio começou a aplaudir a atitude em vez de reprimir”, disse Flávio Paiva. Os relatos da época contam que a maioria dos jogadores comemorou tanto que voltou para suas casas sem nem tomar banho. Esquecimento compreensível. Afinal, poucos cheiros são tão bons quando o “perfume da vitória”. Como quase em todo mata-mata, quanto mais o Juventude avançava na Copa do Brasil, mais difíceis ficavam os adversários. Nas oitavas de final, a tabela colocou o clube gaúcho frente a frente com o Corinthians, que havia deixado para trás o Ubiratã-MS e o Treze-PR. Mas não se tratava de qualquer Corinthians. Àquela altura, a equipe alvinegra era a atual campeã brasileira e garantiria o bicampeonato no fim da temporada. 48


A imprensa paulista afirmava na época que o Corinthians não daria tanta atenção à Copa do Brasil, para que pudesse focar suas ações na Libertadores e na defesa do título do Campeonato Brasileiro. Isto explicaria, por exemplo, a classificação suada diante do Treze, que veio apenas na disputa de pênaltis. O foco do Corinthians poderia até não estar na Copa do Brasil, mas em campo estavam atletas como Gamarra, Marcelinho Carioca, Vampeta e Edílson. Ou seja, promessa de jogo complicado. Desta vez, o Juventude abriria os trabalhos em casa, no Alfredo Jaconi, e precisava garantir um bom resultado, pois sabia que, se deixasse para decidir em São Paulo, a competição poderia acabar mais cedo para o time. Por isto, o clube se reuniu e começou a se concentrar já dois dias antes da partida. “As outras equipes passaram a ver que a gente poderia incomodar no torneio depois da vitória sobre o Fluminense. Então era a nossa vez de mostrar que eles estavam certos, a gente poderia incomodar, sim. O jogo contra o Corinthians foi um destes casos, A gente estava muito focado no que o professor Valmir Louruz falava”, comentou Flávio Paiva. As ordens do “professor” eram claras: prioridade para a defesa, pois segurar o forte ataque corintiano não era tarefa fácil e tomar um gol fora de casa faria com que o Juventude precisasse marcar dois no Pacaembu para ficar com a vantagem. O foco, portanto, era na defesa, mas poucos imaginavam que seria justamente ela que daria a vitória. Aos 45 minutos do primeiro tempo, o zagueiro Capone, que já havia passado com sucesso por Mogi Mirim e São Paulo, abriu o placar. O atleta, que levava na camisa o apelido em alusão ao gângster ítalo-americano Al Capone, ainda terminaria a Copa do Brasil como artilheiro do Juventude. 49


Wallace (à frente) disputa bola com Vampeta

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Já aos 32 da etapa final, Índio Alagoano, também zagueiro, deu números finais ao jogo e uma ótima vantagem ao Juventude, que, após ter vencido por 2 a 0, poderia até empatar fora de casa. “O Corinthians tinha mais time, mas o Juventude vinha em um momento melhor, estava motivado. Para a nossa sorte, o segundo jogo aconteceu logo depois do primeiro. Então. o time levou a euforia da vitória no Rio Grande do Sul para São Paulo”, analisou Caio Scherrer. 50


Três dias depois, as duas equipes se reencontraram. O estádio agora era o Pacaembu, a torcida era, a maioria, do Corinthians, mas o jogo mais parecia uma continuação da primeira partida disputada em solo gaúcho, uma espécie de terceiro tempo. Tanto que, ainda aos 10 minutos do primeiro tempo, foi o Juventude que abriu o placar. Márcio Mixirica, que recebeu o apelido devido ao excesso de espinhas no rosto que tinha na adolescência, marcou para os gaúchos. O Corinthians até melhorou depois de se ver em desvantagem, mas os quatro gols que eram necessários para a classificação nem chegaram perto: 1 a 0 para o Juventude, que eliminava o futuro bicampeão brasileiro e se garantia como uma das oito melhores equipes da Copa do Brasil. “Nesta altura, nós já estávamos atentos a todos os jogos da competição e vendo quais poderiam ser nossos adversários, quem eram os mais fortes e os mais fracos. Lembro que, na época, eu comemorei o Bahia eliminando Atlético Mineiro e Coritiba e se colocando como nosso adversário, pois o time estava na segunda divisão, só que eu não imaginava que aquele seria nosso rival mais difícil daquela campanha”, analisou Mabília. O Juventude, mais uma vez, abriu a série em casa, mas, ao contrário do que aconteceu nas últimas partidas em seu estádio, teve um desafio diferente: correr atrás de um placar adverso. Isto porque, aos 17 minutos, Uéslei, apelidado de Pitbull pela torcida do Bahia, apareceu livre dentro da área para abrir o marcador. O Juventude não conseguia reagir, e Valmir Louruz já estava inquieto à beira do campo, provavelmente pensando em alternativas para mexer na equipe no intervalo. A solução, no entanto, parecia já estar dentro de campo. Ainda na primeira etapa, aos 42 minutos, Mabília empatou a partida e deu esperança a todos os jogadores. 51


O gol também serviu de combustível para os torcedores do clube gaúcho, que apoiaram a equipe durante todo o segundo tempo, até serem recompensados aos 36 minutos, quando Mário Tilico marcou o gol da virada do Juventude. Como faltava pouco menos de dez minutos para acabar a partida, o banco de reservas e a torcida do Juventude já comemoravam a vitória. Mas era cedo demais... Aos 42 minutos de jogo, faltando apenas três para o fim do tempo regulamentar, Índio Alagoano acabou cometendo pênalti quando foi tentar cortar uma bola dentro da área, e Uéslei aproveitou a cobrança para empatar o jogo em 2 a 2. “O gol levado no fim veio como um balde de água fria. A torcida toda estava comemorando e deu uma murchada. Foi a primeira vez que nós não conseguimos vencer dentro de casa e sabíamos que jogávamos bem pior longe do nosso estádio”, contou Caio Scherrer. Mas não era só a torcida que estava apreensiva. O clima era de tensão também com os jogadores durante toda a semana que antecedeu o jogo da volta disputado no estádio da Fonte Nova. O nervosismo parecia presente em todos do time, menos em um... “A gente chegou a Salvador um dia antes para não termos problema de atraso e também para nos ambientarmos com o clima quente da cidade. Então, dormimos, na noite anterior ao jogo, em um hotel. Acordei na manhã seguinte para tomar café e vi o Capone pegando uma tapioca, depois outra e, em seguida, mais uma. Aí trocou de prato e foi pegar um acarajé. Eu lembro que puxei o braço dele e questionei: ‘Capone, você está ficando louco, estas comidas são fortes e nós temos jogo hoje à noite, você vai acabar passando mal’. Ele olhou para trás, na maior tranquilidade do mundo, e respondeu: ‘Rapaz, passei a semana inteira esperando só esse café da manhã, vou passar mal é se voltar para Caxias sem aproveitar tudo isto’ ”, revelou Marcelo Mabília. 52


Mesmo com três tapiocas e um acarajé na barriga, foi o próprio Capone que subiu mais alto que a defesa adversária aos 23 minutos e colocou o Juventude na frente do placar na Fonte Nova. Um gol com tempero baiano. Mas, ainda no primeiro tempo, Uéslei cobrou falta com perfeição e empatou o jogo. O resultado já era suficiente para a classificação do Bahia, que “cozinhou” o jogo até os 34 minutos do segundo tempo, quando recebeu um presente de Émerson. O goleiro do Juventude, que, curiosamente, seria jogador do Bahia alguns anos depois, saiu muito mal e permitiu que Vinicius Carioca cabeceasse para as redes. Era o gol que virava o jogo para o time baiano e selava a eliminação do Juventude. Isto se, pouco tempo antes, Valmir Louruz não tivesse promovido a entrada de Mário Tilico no lugar de Mabília. Praticamente na saída de jogo seguinte ao gol levado, a bola ficou viva dentro da área, e o atacante, já sem goleiro, empurrou para empatar a partida em 2 a 2. Desta vez, era a torcida do Bahia que murchava nos minutos finais.

Era hora dos pênaltis em Salvador.

Como diz o ditado, nos momentos difíceis é que vemos quem são aqueles “diferentes”. E, no Juventude, eles sobravam. Após o apito final do árbitro, quando os jogadores faziam a tradicional “reunião” para definir os cobradores, Lauro, que se tornaria anos depois o maior ídolo da história do clube gaúcho, com mais de 500 jogos com a camisa do time, tratou logo de acalmar e orientar os companheiros, lembrando-os de todo o treinamento duro que eles tiveram durante a semana. O outro “herói” do Juventude estava a poucos metros dali, concentrado embaixo das traves, como se lhes pedisse uma “ajudinha extra” na disputa de pênaltis que aconteceria em instantes. 53


Se a conversa realmente houve, ninguém sabe, mas o fato é que o goleiro Émerson, que já havia falhado no jogo, defendeu a cobrança de Clébston e viu a de Vinicius bater no travessão. Foi mais do que suficiente para o Juventude vencer por 4 a 1 nos pênaltis e se classificar para a semifinal da Copa do Brasil. Émerson, goleiro do Juventude

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Sabe aquela história de que pênalti é tão importante que o presidente do clube deveria bater? Bem, pelo menos com Milton Scola, foi melhor que isto não aconteceu: “Deus me livre, eu ia ficar com as pernas tremendo, melhor do jeito que foi mesmo. No início da competição a gente realmente achava que tinha condição de fazer uma boa Copa do Brasil, mas chegar à semifinal já estava sendo algo de certa forma surpreendente. Só o dinheiro que ganhamos chegando até aquela fase já seria suficiente para bancar o time até o final do ano sem problemas, mas isto a gente não falava para os jogadores, queríamos eles ainda com mais vontade. A semifinal já estava ótima para nós, mas a vaga na decisão bem que caiu muito bem, ainda mais contra um rival do estado”, lembrou o presidente da época.


O rival em questão era o Internacional, que vinha fazendo uma espécie de torneio à parte com o Juventude, de tantas vezes que eles se encontraram em 1999 - na Copa Sul-Minas, no Gaúchão, no Brasileiro e na própria Copa do Brasil. “Os dois times já se conheciam muito. E ainda tinham alguns atletas que haviam passado pelo rival antes de chegarem ao atual clube, como eu e o Wallace, por exemplo. Então, a gente sabia que seria um jogo truncado”, declarou Mabília. Se a promessa já era de um jogo travado, tudo piorou quando Paulo Autuori, técnico do Internacional, precisou armar um esquema nunca antes usado, com três zagueiros - Gonçalves, Lúcio e Ronaldo - por conta dos desfalques para o primeiro jogo da semifinal. Dunga e Fabiano estavam lesionados, Régis estava suspenso e, para piorar, os colorados ainda perderam Christian, com amigdalite, dez minutos antes da partida. Como o jogo de ida seria disputado no Alfredo Jaconi, casa do Juventude, a tática utilizada pelo Internacional durante os 90 minutos foi se defender. E deu certo: empate de 0 a 0 e um duelo muito truncado. O Juventude saiu de campo lamentando o resultado, enquanto o Internacional comemorava o fato de poder decidir a vaga na final em casa, sem qualquer desvantagem no placar. No entanto, nenhum dos mais de 60 mil colorados, que lotaram o Beira-Rio para ver seu time chegar a uma final de competição nacional após sete anos, imaginava o que estava por vir. Aqui seguem os números antes de cada gol para que você não perca a conta. 1 - Marcos Teixeira pega forte de pé direito da entrada da área e abre o placar, aos 45 minutos de jogo. 2 - Márcio Mixirica aparece bem posicionado para completar de cabeça a 55


falta cobrada no canto esquerdo de ataque, aos dez da etapa final. 3 - Mabília parece livre na meia-lua, aos 27 minutos, e arremata de primeira, sem chances para o goleiro André Doring. 4 - Capone, de pênalti, estufa as redes coloradas, já no fim do segundo tempo. Ufa, 4 a 0, Juventude, garantido na grande decisão da Copa do Brasil de 1999. A goleada aplicada pelo time de Valmir Louruz, que, acredite, meses depois passaria a comandar o próprio Internacional que ele mesmo ajudou a “destruir”, teve consequências imediatas. De um lado, a torcida colorada gritava “timinho, timinho, timinho”, queimava bandeiras, jogava suas carteirinhas de sócio no lixo e promovia um quebra-quebra nas arquibancadas do Beira-Rio. Do outro, os torcedores do Juventude lotavam as ruas de Caxias para comemorar a vaga inédita na decisão e esquentar a fria noite na serra gaúcha. Esta goleada é considerada a mais vexatória derrota do clube colorado em jogos decisivos. Ainda ocorrerão muito placares elásticos no clássico “Juve-nal”, mas o 4 a 0 de 1999 jamais será esquecido. Melhor para o Juventude, que em 18 dias disputaria a final da Copa do Brasil. Ah, na mesma semana da “tragédia” na Copa do Brasil, o Inter se vingou vencendo o Juventude na semifinal do Gaúchão - mas isto ficou praticamente esquecido. Na decisão, o Juventude teria pela frente outro carioca: o Botafogo, que havia eliminado times fortes ao longo da competição. Os adversários foram, na sequência: Paysandu, Criciúma, São Paulo, Atlético Paraense e, por último, nas semifinais, o Palmeiras, que conquistaria naquela temporada o título da Libertadores, mas, no torneio nacional, foi batido pelo Botafogo nos pênaltis. Como já havia virado tradição no campeonato, o Juventude faria a primeira partida em casa, no dia 20 de junho, um domingo, 56


e decidiria o título no estádio do adversário, no caso, o Maracanã. “Agora que nós sabemos que tudo deu certo é fácil falar, mas na época eu achei bom que houvesse caído para nós fazermos o primeiro jogo da final em casa. Primeiro, porque vinha dando sorte, nós passamos por quase todos os times com esta sequência de chaveamento. Segundo porque, jogando a primeira partida em casa, eu poderia ir ao jogo no estádio.” Caio Scherrer realmente foi. E teve a companhia de outros 25 mil torcedores do Juventude que lotaram o estádio Alfredo Jaconi para ver seu time pela primeira vez na final da Copa do Brasil. A partida teve tudo que um grande jogo merece: gol, dribles, expulsão, briga, estádio cheio... Cardápio completo, com direito ainda a uma pitada (daquelas grandes) de polêmica com a arbitragem. Juventude na final da Copa do Brasil contra o Botafogo

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Apoiado pela torcida, que fez um lindo espetáculo antes do início de jogo, o Juventude abriu o placar ao 14 minutos com Fernando Rech, que só entrou como titular porque Maurilio havia sido suspenso. O cruzamento da esquerda atravessou toda a área, e o atacante só cutucou para as redes para marcar o gol mais importante de sua vida. A festa alviverde ficou ainda maior aos 21 minutos, quando Márcio Mixirica recebeu dentro da área, tirou para o pé direito e bateu firme, rasteiro, para superar o goleiro Wagner e fazer 2 a 0 no placar. A partir daí, o jogo virou, e foi o Botafogo que começou a causar problemas. A bola estava rolando quando Sandro Barbosa, do time carioca, e Wallace, do Juventude, se esqueceram do jogo e começaram a trocar empurrões no meio-campo. Resultado: cartão vermelho para ambos, que deixaram as duas equipes com um jogador a menos. Àquela altura, o clube gaúcho visivelmente tocava a bola e segurava o jogo para que o intervalo chegasse logo, e ele pudesse se acertar. Mas, aos 41 minutos da etapa inicial, o Botafogo alçou para a área, o lateral Dênis falhou feio, e a bola sobrou limpa para o tetracampeão Bebeto descontar: 2 a 1. No segundo tempo, Gilson Nunes, treinador do Botafogo, colocou em campo Leandro Eugênio e, em um de seus primeiros lances, o jogador partiu, livre, rumo ao gol do Juventude. Porém, quando se aproximava da grande área, levou um pontapé do zagueiro Capone, que, na tentativa de evitar o gol adversário, acabou expulso. “Para mim, a atitude do Capone demonstra muito do que era nosso grupo: união. O jogador deles ia marcar o gol de empate, ia deixar nossa situação muito complicada e a torcida impaciente, 58


mas Capone, antes de entrar na área, faz a falta. Ele sabia que seria expulso de campo, mas preferiu abrir mão de jogar a decisão do que entregar um gol ao Botafogo”, comentou Mário Tilico. O Juventude perdeu, numa cartada só, seu melhor zagueiro e seu artilheiro, já que Capone, com cinco gols, era quem mais havia marcado pelo time na competição. Se com a mesma quantidade de jogadores em campo o Botafogo já vinha sendo melhor do que o Juventude mesmo atrás no placar, com um a mais no gramado o roteiro não poderia ser outro: pressão botafoguense. Naquela hora, surgiu em cena o personagem de Márcio Rezende de Freitas, o árbitro da partida. O juiz anulou dois gols marcados pelo clube carioca no segundo tempo, discutíveis até hoje, o que provocou a ira nos jogadores e dos pouco mais de 100 torcedores alvinegros que foram à partida. Primeiro, Rodrigo, que mais tarde ganharia o apelido Beckham pela semelhança com o jogador inglês, mandou para as redes, mas Márcio Rezende de Freitas anulou, vendo falta de Bebeto em Roberto, enquanto a bola viajava para a grande área. Minutos depois, a defesa do Juventude parou, e Rodrigo apareceu livre para marcar, mas a arbitragem viu impedimento. Lance que, nem com a ajuda das câmeras, é possível chegar a uma conclusão. “Foram lances muito difíceis, que, em um jogo importante como aquele, ganharam proporções ainda maiores. Não sei se o juiz errou ou não, é questão de interpretação, mas má fé eu tenho certeza que não teve. Todo o mundo estava lá fazendo seu trabalho, inclusive o árbitro. Mas, que os jogadores do Botafogo ficaram bravos, isto eles ficaram. Dentro de campo eles reclamaram de todos os lances, ficavam fazendo o sinal de negativo com a cabeça”, contou Marcelo Mabília. 59


Maurílio comemora o resultado do Juventude sobre o Botafogo

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Aparentemente desanimado e nervoso, o Botafogo, que a todo lance reclamava com a arbitragem, voltou a levar pressão do Juventude e só não tomou o terceiro gol porque Wagner salvou o time. Mas, a decisão ficava mesmo para a partida final, no Maracanã. Para a equipe gaúcha, qualquer empate seria suficiente, mas a tarefa dos cariocas para ficar com a taça também não era tão complicada: vitória simples, por 1 a 0, diante de sua torcida. “O resultado foi bom e também não foi ao mesmo tempo. Ambos os times teriam chance de ganhar o título na segunda partida: por isto acho que aquela semana entre um jogo e outro foi tão aguardada. As duas torcidas compraram a ideia do título: os torcedores do Juventude que não foram ao Maracanã se reuniram em Caxias do Sul, e a torcida do Botafogo lotou o estádio”, recordou Caio Scherrer. 60


Durante os sete dias até a partida final, os jornais sempre mostravam filas quilométricas para comprar ingressos e foram unânimes em dizer que a previsão era de casa cheia. No entanto, eles erraram feio. Dizer que a “casa estava cheia” é minimizar o espetáculo protagonizado pelo público que lotou o estádio: 101.581 mil pessoas estiveram presentes, o maior público da história da Copa do Brasil. Para mostrar o tamanho daquilo, segundo dados do IBGE em 2015, apenas 304 dos 5.570 municípios existentes no Brasil contam com uma população acima de 100 mil pessoas. Ou seja, o Maracanã, naquele domingo de junho, tinha mais gente do que 94,5% das cidades brasileiras. “Nós sabíamos, pelos noticiários, que o estádio estaria cheio e teria muita pressão, mas, quando subimos ao gramado, realmente pudemos ter uma noção de tudo aquilo. Não havia espaço para mais ninguém. Acho que nenhum atleta daqueles times tinha jogado até então com tanta torcida. Tentamos não demonstrar, um para o outro, que nós estávamos nervosos, mas era meio inevitável. Aí a liderança do Valmir Louruz foi tão importante”, relatou Flávio Paiva. Instantes antes de subirem para a partida, no túnel que dá acesso ao campo, que tremia com a torcida pulando, o técnico do Juventude reuniu os jogadores para a última motivação antes de o jogo começar, que foi captada pelas câmeras de televisão: “Ninguém deste estádio inteiro, além de nós, acreditava que poderíamos estar aqui hoje, mas nós estamos. Eu não sei quantas pessoas estão nos apoiando aqui no Maracanã, mas sei que a família de cada um aqui e todos os torcedores do Juventude estão juntos com a gente e são para eles que nós precisamos jogar. Mas não só para eles, nós temos que vencer para nós mesmo porque ninguém além de nós trabalhou tanto parar estar aqui hoje. Eu acredito em vocês e creio que sairemos daqui campeões do Brasil, agora vão lá e provem isto para mim”, foram as exatas palavras do treinador. 61


Jogadores do Juventude comemoram a conquista da Copa do Brasil

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“Aquilo arrepiou a gente. Quando o jogo começou nem escutamos mais a torcida, era o nosso momento ali dentro de campo, tínhamos que colocar em prática tudo que treinamos. Foi difícil, mas conseguimos segurar os caras”, disse Flávio Paiva. Dentro de campo, o Juventude, muito firme na defesa, conseguiu neutralizar as ações do Botafogo, que pouco criou no primeiro tempo. A torcida, imaginada como trunfo do clube carioca, começou a ficar nervosa e pressionar o time quando o fim do jogo ia se aproximando. As músicas de apoio agora davam lugar a gritos de impaciência. O Juventude seguia se defendendo da enorme pressão do Botafogo, e um dos lances mais emblemáticos veio já nos últimos minutos da partida: Rodrigo girou dentro da área e bateu forte de pé direito para marcar o gol que daria a vitória ao Botafogo. Mas, quando a bola já parecia se encaminhar para a rede, o goleiro Emer62


son defendeu esticando a perna direita, a mesma que ele havia quebrado duas vezes cinco anos antes. No último lance do jogo, até o goleiro Wagner foi à área para tentar fazer o gol para o Botafogo.

Em vão.

Depois disto, só se ouviu o apito final do árbitro Antônio Pereira da Silva e a festa de 1.181 torcedores do Juventude, que viram seus jogadores silenciarem o maior estádio do mundo. As arquibancadas, antes lotadas, esvaziaram rapidamente, mas a comemoração da delegação do clube gaúcho ainda ecoava em todos os cantos do estádio: “Aha, uhu, o Maraca é nosso”. Não apenas o “Maraca” era deles, o título da Copa do Brasil de 1999, o mais importante da história do Juventude, também. A festa nas ruas de Caxias do Sul viraram a noite sem hora para acabar. Não duvide se algum torcedor do Juventude emendou a comemoração até o retorno da equipe gaúcha, que foi recebida em casa com grande entusiasmo. Depois da “farra” promovida pelo próprio clube, cada um foi brindar a conquista do seu jeito: na balada, com a família, com os amigos... Mas Valmir Louruz tinha guardado uma celebração diferente. Quer dizer, não tão diferente assim. Depois do jogo, em agradecimento pelo título, o treinador foi até o santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, aquele mesmo a que Luiz Felipe Scolari levou os jogadores do Criciúma após o título da Copa do Brasil de 1991. O parceiro de Valmir Louruz nesta caminhada? O próprio Felipão, que comemorava o título da Libertadores com o Palmeiras naquela temporada. Os dois se conheceram ainda no CSA, em 1981, quando Louruz adoeceu e deu ao companheiro, que na época era zagueiro do time alagoano, a primeira chance como treinador. A partir daí, todo o mundo sabe o que aconteceu. 63


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Santo AndrĂŠ 2004

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“De um dia para o outro, eu era campeão do Brasil e tinha levado o meu time ao título mais importante de sua história. Esses momentos passam muito rápido. Há dias em que eu passo horas olhando para aquele troféu, lembrando de tudo. Não tenho certeza se vamos conseguir algum dia repetir algo como aquilo, por isto tenho muito orgulho de ter conquistado aquele título.” As falas são de Jairo Livólis que, sentando em uma cadeira de madeira com tinta azul já descascando, lembrava a conquista da Copa do Brasil de 2004 pelo clube que presidia à época, o Santo André. O título colocou a cidade do ABC paulista no mapa do futebol brasileiro e, por coincidência ou não, mexeu até com a região. Foi por volta de 2004, segundo dados do censo do IBGE e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que Santo André começou a se tornar uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). E pensar que parte disto pode ter começado em uma Copa São Paulo de Futebol Júnior... Foi da popular “Copinha”, torneio dedicado a jogadores de até 20 anos, que terminou com o título do Santo André em 2003, que saiu grande parte dos jogadores campeões pelo time profissional no ano seguinte. 67


Júnior Costa, Alex, Nunes, Tássio, Denni, Rodrigo Sá e Makanaki, todos eles participaram do título sobre o Palmeiras, que, como um prenúncio do que estava para vir no ano seguinte, foi conquistado com boas doses de sofrimento: vitória nos pênaltis após sair perdendo por 2 a 0 no tempo normal e buscar o empate. “Um dos grandes diferenciais do nosso time é que éramos muito unidos, somos amigos até hoje. Isto começou na Copinha. Os jogadores do Palmeiras provocavam a gente na final, dizendo que éramos um time sem tradição, mas nós fomos lá e mostramos na bola quem era melhor. Foi aí que nós pegamos confiança e boa parte da molecada subiu no ano seguinte para o profissional já com a consciência de que não tínhamos motivos para temer ninguém”, contou Tássio. Mas, apesar de a Copinha ter dado confiança ao Santo André, não foi ela que classificou o clube para a Copa do Brasil. Foi com o título da Copa do Estado de São Paulo de 2003, hoje chamada de Copa Paulista, que tem como intuito ocupar o segundo semestre dos clubes menores sem torneios para disputar, que a equipe do ABC conseguiu a vaga na competição nacional que a faria entrar para a história e para as páginas deste livro. Os indícios de que a temporada de 2004 seria positiva começaram ainda no Campeonato Paulista. Em um grupo complicadíssimo de dez times, entre eles Palmeiras, Santos, São Caetano e Paulista, estes dois últimos campeão e vice, respectivamente, o Santo André conseguiu honroso quinto lugar. O resultado não foi suficiente para classificar a equipe para as fases finais, mas ninguém reclamou. Assim o clube pôde treinar para o torneio que mais interessava no ano: a Copa do Brasil. O primeiro adversário na campanha que levaria o Santo André ao título nacional foi o tímido Novo Horizonte, da cidade goiana de Ipameri, que conta atualmente com uma população de 68


pouco mais de 26 mil habitantes. O time, que por diversas vezes em sua história precisou retornar ao amadorismo, chegou a disputar a final do Campeonato Goiano de 2003, mas, no ano seguinte, por dificuldades financeiras, pediu para não disputar o torneio, sendo automaticamente rebaixado. O Santo André, portanto, não encontrou muitas dificuldades para “atropelar”. Jogando no estádio Durval Ferreira Franco, com capacidade para cinco mil pessoas, o time chegou ao 3 a 0 ainda no primeiro tempo com gols de Makanaki e Jean Carlos, duas vezes. Na segunda etapa, Fábio (contra) e Elvis completaram o placar e construíram a goleada de 5 a 0. O Santo André começava com o pé direito sua trajetória na competição. “É claro que vencer logo na estreia sem levar nenhum susto é muito bom, mas a gente não se deixou enganar. Sabíamos da situação complicada que o Novo Horizonte enfrentava e nem por isto tiramos o pé. Nós fomos até a casa deles para dar nosso ‘cartão de visitas’ para os outros times e conseguimos. O problema é que sabíamos que a partir dali a sequência seria bem mais complicada”, declarou Dedimar, capitão da equipe e um dos jogadores mais experientes do elenco, com passagem por clubes como o Atlético Mineiro e o Palmeiras da “era Parmalat”. O compromisso pela segunda fase da competição foi contra o Atlético Mineiro, que, apesar de ter alcançado as semifinais dois anos antes, vinha com um time enfraquecido comandado por Bonamigo. A prova disto é que o clube já estava há três anos sem um título estadual e terminaria o Campeonato Brasileiro daquela temporada na 19° colocação, muito próximo do rebaixamento. Por mais que o Atlético Mineiro não vivesse seu melhor momento, ninguém esperava que o Santo André fosse tão eficiente na primeira partida, disputada no estádio Bruno José Daniel: 3 a 0, com gols de Edmílson Matias, Dedimar e Jean Carlos. 69


Júlio César, goleiro do Santo André, comemorando

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Os próprios jogadores do clube paulista saíram de campo assustados com o resultado: “Nós tínhamos um time que havia acabado de subir no Brasileirão, enquanto o Atlético é o Atlético, tem tradição. A maioria dos jogadores nossos desejava estar do outro lado, com a camisa deles. Então, nos mesmos ficamos impressionados com o placar do primeiro jogo. Só que aí a partida de volta seria mais complicada, eles já conheciam nosso time”, lembrou Dedimar.

O Atlético Mineiro não só conhecia o Santo André como também estava “mordido” pelo primeiro jogo. Os jornais da época definiram como “vergonhosa” e “irreversível” a desvantagem de três gols, e o clube mineiro queria provar, diante de sua torcida, que poderia reverter o placar. Quase conseguiu. Apoiado por um Mineirão com ótimo público, o Atlético abriu o placar com Márcio Araújo e chegou ao segundo com Márcio Mixirica, aquele mesmo que foi decisivo no título do Juventude da Copa do Brasil de 1999. No entanto, a expulsão do meia Dejair complicou as pretensões do clube mineiro. 70


Quanto ao Santo André, armado pelo técnico Luiz Carlos Ferreira, restou defender-se e garantir a vaga inédita nas oitavas de finais da competição, para a festa dos jogadores. “De verdade? Eu sabia que a vantagem era nossa, mas não estava muito confiante na classificação, não. Então, a gente foi comemorando de Belo Horizonte até São Paulo. Como eu era um dos zagueiros titulares e nós conseguimos segurar no finzinho e não levar um gol, todo o mundo vinha me dar um abraço e me parabenizar. Sabíamos que, só de eliminar um time de primeira divisão, nós já cairíamos nas graças da torcida, que passou a estar cada vez mais presente na nossa campanha”, disse Alex Bruno, mais um que faturou o título da Copinha e foi promovido ao time profissional. A história da chegada do zagueiro ao Santo André, aliás, é bem curiosa. Quando jogava pela Inter de Bebedouro-SP, em 2002, o jogador estava sem receber salários e aprontou uma “jogada de mestre” para ser contratado pelo clube paulista. Um dia, por sorte, Alex Bruno atendeu, por acaso, uma ligação de Ari Mantovani, dirigente do Santo André, que queria falar com Marcão, preparador de goleiros do time do interior paulista, já que buscava uma indicação de arqueiro para contratar. Foi então que o atleta resolveu se arriscar: se passou por dirigente e recomendou sua própria transação. “Ele perguntou se o goleiro era bom, eu, de imediato, falei que era, mas, na hora, mandei: ‘Olha, além do goleiro, tem um zagueiro aqui que é ótimo, seu Ari. Cabeceia bem, é rápido, técnico, alto’. Tive que fazer minha moral, não é? Passei para o preparador de goleiros e pedi para ele confirmar tudo o que eu disse”, revelou o zagueiro, em entrevista à “ESPN”. Deu certo. Alex Bruno foi chamado para um período de 10 dias de testes no clube do ABC e, no segundo treino, já foi aprovado. Melhor para o Santo André, que contou com uma ótima atuação do zagueiro para superar o Atlético Mineiro. 71


No entanto, a classificação para as oitavas de final, ironicamente, trouxe problemas para a equipe. Agora “popular”, o Santo André chamou a atenção de empresários, e, de uma vez só, perdeu meio time titular para grandes equipes. Saíram Alexandre Paulista, Cláudio, Cléber Gaúcho, Vânder, Fumagalli e Edmílson Matias. Para o lugar deles, as reposições foram bem mais discretas: apenas Valdir e Barbieri, sendo que o primeiro não tinha condições de disputar a Copa do Brasil. “Foi um baque para nós. O time estava começando a pegar jeito, aí seis jogadores deixaram a equipe praticamente de um dia para o outro. Só que não deu para culpar também, se cada um de nós se colocasse naquela situação, teria tomado a mesma atitude. Ninguém previa que nós fôssemos terminar o torneio como campeões. Aí chegam propostas de clubes maiores e é claro que você vai ficar balançado”, analisou Sérgio Soares, auxiliar técnico do Santo André. Com um elenco enfraquecido e sem confiança, o clube teria pela frente nas oitavas de final o Guarani, que, na época, disputava a primeira divisão do Brasileiro. Como tudo indicava uma eliminação, o técnico Luiz Carlos Ferreira decidiu montar uma proposta de jogo que fizesse com que o clube superasse as adversidades da melhor maneira. A tática é bastante popular: defender, defender, defender. A retranca armada na partida de ida, disputada no estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, ficou ainda mais confortável quando o Santo André abriu o placar com Dedimar - de novo ele - logo aos 23 minutos de jogo. A partir daí, o jogo foi ataque contra defesa, até que o veterano Viola (sim, ele já tinha 35 anos em 2004) empatou a partida. Se no primeiro jogo a postura do Santo André era defensiva, na partida de volta, agora com a possibilidade de se classificar sem 72


precisar nem balançar as redes, o mais natural seria repetir a dose. E foi isto que aconteceu: Joel Santana, então técnico do Guarani, não conseguiu furar a barreira montada pela zaga do Santo André, e o público do estádio Bruno José Daniel presenciou um pouco empolgante 0 a 0. Mas vai perguntar para algum torcedor se ele ficou infeliz com o resultado... “Pouco me incomodava se o jogo havia sido um empate ou uma goleada para nós. O importante é que vi meu time conseguir a classificação. Estávamos nas quartas de finais da Copa do Brasil, eliminando novamente um time da elite”, comentou Ovídio Simpionato, torcedor do Santo André, que lembrou da “saga” para voltar para casa depois daquele jogo: “Morava em São Paulo e tinha que pegar ônibus para voltar. Só que, depois daquela partida, acabei estendendo demais a festa e, quando eu vi, já estava tarde e todos os transportes públicos já tinham fechado. Pedi carona para o primeiro andreense que eu vi indo para a capital, mas fui parar em um bairro distante. De lá, passei um ‘lero’ em um taxista, que gostava da Ponte Preta e ficou feliz que nós tínhamos eliminado o Guarani, rival deles. Aí ele me levou até em casa sem nem cobrar nada.” O Santo André estava entre as oito melhores equipes do campeonato, o time começava a se acertar e a torcida já estava empolgada novamente. Quando tudo parecia voltar aos trilhos, surgiram problemas de novo. E dos grandes. O técnico Luiz Carlos Ferreira surpreendeu a diretoria e pediu demissão para assumir o Sport, que estava na Série B do futebol nacional, poucas horas após ter eliminado o Guarani. Sérgio Prado, diretor de futebol do clube paulista ainda tentou convencer o treinador a ficar, mas ele optou pela mudança de equipe. Ferreira certamente se arrepende disto, já que comandou o clube pernambucano por apenas 10 jogos até ser dispensado.

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Péricles Chamusca foi contratado para comandar o Santo André

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O Santo André tinha pouco tempo para definir um novo técnico até a primeira partida contra o Palmeiras, pelas quartas de final. Mas que nome escolher? Depois de uma madrugada inteira analisando opções, o presidente Jairo Livólis chegou a uma conclusão: Péricles Chamusca, que tinha feito seu último trabalho no Santa Cruz, era o melhor treinador - e o mais em conta - no mercado. Afinal, se o grande objetivo do Santo André passou a ser a conquista da Copa do Brasil, o novo comandante tinha experiência no assunto. Ou pelo menos quase. Em 2002, foi Chamusca quem dirigiu o Brasiliense ao vice-campeonato do torneio, eliminando clubes como Fluminense e Atlético Mineiro e parando só na final diante do Corinthians. 74


Pouco mais de 24 horas após a perda de Luiz Carlos Ferreira, o Santo André já convocou, na manhã de sexta-feira, uma coletiva de imprensa para anunciar o novo treinador. “Acho que acertamos a troca de técnico em tempo recorde. Nós fomos pegos de surpresa, mas conseguimos resolver o problema logo. Acho que isto foi determinante para nosso time, porque, se dentro de campo nós queríamos que eles dessem uma boa resposta, precisávamos passar este exemplo também nos bastidores. Se demorássemos muito para definir o novo treinador, íamos passar a imagem de que estávamos despreparados. Por sorte, achamos o Péricles (Chamusca), ele aceitou o convite e, no final, deu tudo certo”, contou Jairo Livólis. Logo em sua primeira reunião com os jogadores, o técnico, de 38 anos, procurou motivar o elenco de uma maneira pouco convencional: enquanto a maioria dos treinadores falava apenas de futebol, Péricles Chamusca foi buscar em outro esporte animação para seus atletas. O comandante citou os feitos de Ayrton Senna - que, na época, havia falecido há 10 anos - para encorajar o time, mostrando como o piloto procurava sempre ultrapassar seus limites, independentemente da situação. O limite para o desacreditado Santo André parecia ser sempre o próximo jogo. E o clube teimava em acabar com qualquer favoritismo. Nas quartas de final, teria pela frente o Palmeiras, campeão da Libertadores cinco anos antes e um dos maiores candidatos ao título em 2004. Um desafio e tanto para o novo treinador. Para melhorar as coisas e repor alguns jogadores que haviam deixado a equipe ao longo da competição, o Santo André acertou a contratação de Osmar, vindo do União São João, e Sandro Gaúcho, que já havia brilhado com a camisa do clube paulista em 2001 e estava defendendo o América de Natal, do Rio Grande do Norte. A apresentação dos dois jogadores contou com pouquíssimos jornalistas: talvez eles não imaginassem que, em alguns dias, entrevistas dos reforços seriam tão disputadas. 75


Sandro Gaúcho chegou ao clube

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Tudo se encaminhava bem para a primeira partida contra o Palmeiras quando, na véspera do jogo, o Santo André foi surpreendido por outra notícia negativa. Mais uma vez, das grandes. O time foi punido com 12 pontos na Série B por ter escalado o zagueiro Valdir e o atacante Osmar nas partidas contra Paulista e Avaí sem que o nome dos dois jogadores constasse no Boletim Informativo Diário da CBF, o BID. Para piorar ainda mais, naquele ano, a segunda divisão estava sendo disputada em turno único e rebaixava seis times, ou seja, era praticamente uma condenação ao decesso de volta à Série C.

“Eu estava havia poucos dias no clube, ia fazer um dos meus primeiros jogos, logo contra o Palmeiras, e, na véspera da partida, aquela notícia pegou a gente de surpresa. Todo o mundo ficou abalado porque a gente já vinha meio irregular na Série B. Aí, do nada, tiram 12 pontos da gente? É praticamente te rebaixar de uma vez. Os jogadores estavam descontentes. Eu pensei ‘pô, tudo isto logo quando eu chego?’. Como eu era um dos mais experientes do grupo, chamei a turma para uma conversa e disse que, se aquela notícia abalasse, a gente ia acabar jogando fora tudo o que havíamos feito até então. Precisávamos levantar a cabeça e encarar o próximo jogo, 76


mostrar para a torcida que ia encher o nosso estádio que nós continuávamos fortes e confiantes”, lembrou Sandro Gaúcho. Se a Copa do Brasil já era tratada como prioridade, depois da punição na Série B ela passou a ser vista como a única chance de salvar o ano. Portanto, o próximo duelo valia por uma temporada inteira. Ainda mais contra o Palmeiras, já conhecido de muitos jogadores do Santo André por conta da final da Copinha do ano anterior. Antes da partida, o clube alviverde atuou nos bastidores para tentar fazer com que o Santo André não jogasse no Bruno José Daniel, alegando que o estádio não tinha iluminação suficiente para um jogo e ainda que o gramado era tão irregular que prejudicaria o andamento da partida. As reclamações pouco adiantaram e foi, na verdade, o próprio Palmeiras que “acendeu” primeiro na partida. Corrêa cobrou escanteio pelo lado direito, Magrão desviou e Diego Souza apareceu livre na pequena área para, de “peixinho”, abrir o placar. Pouco depois, Osmar girou e, de muito longe, muito longe mesmo, chutou forte, e Marcos acabou não segurando a bola: 1 a 1. Se o campo era escuro, a torcida do Santo André tratou de iluminar as arquibancadas com muitos sinalizadores depois do gol. Ainda na primeira etapa, Vágner Love recebeu dentro da área e foi puxado. Neste caso, não foi necessário nenhum holofote para ter certeza: pênalti. Na cobrança, o colombiano Muñoz bateu rasteiro para colocar o Palmeiras de novo à frente do placar. Nesta época, Vágner Love, que ensaiaria ser ídolo do clube paulista anos depois, era ainda uma revelação e tinha acabado de ganhar o apelido que carrega na camisa. O “love”, amor, em inglês, surgiu depois que o atacante foi pego com uma garota na concentração durante a disputa da Copa São Paulo de Juniores. 77


Amor à parte, Barbieri, dois minutos antes do intervalo, bateu falta também de muito longe, a bola desviou em Diego Souza na barreira e acabou enganando Marcos, que levou o segundo gol por cobertura naquela noite. Antes do segundo tempo, o goleiro, de cabeça quente, defendeu-se das críticas acusando a imprensa de “esquentar” o jogo. A luz de emergência se acendeu ainda no início da etapa final: três cartões em apenas quatro minutos, e Magrão, que acumulou o terceiro, estava fora do último jogo das quartas de final. O Santo André aproveitou a desorganização palmeirense, e Sandro Gaúcho, de cabeça, colocou o time do ABC à frente do placar. Barbieri comemora gol sobre o Palmeiras

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No entanto, ainda havia luz no fim do jogo para o Palmeiras. O zagueiro Leonardo se antecipou à zaga e subiu mais alto que os adversários para deixar o placar novamente igual: 3 a 3 e um jogo daqueles que ficam guardados na memória... “Aquela primeira partida foi espetacular, foi marcante. Os jogadores do Palmeiras saíram de campo comemorando o empate fora de casa, ainda mais com tantos gols, mas sabíamos que tínhamos força para nos classificarmos na segunda partida, mesmo fora de casa. Foi assim que o Péricles Chamusca conversou com a gente durante a semana seguinte ao jogo, dando esperança, falando que poderíamos vencer”, declarou Dedimar. Oito dias depois, em um Palestra Itália lotado e “pintado” de verde pela torcida do Palmeiras, o jogo seria ainda mais espetacular do que o primeiro. A partida, se não estivesse guardada na memória de cada uma das pessoas que participaram de alguma forma daquele duelo, pareceria irreal. Tudo começou no escanteio cobrado por Elvis. Sandro Gaúcho, de cabeça, abriu o placar. 1 a 0, Santo André. O “susto” palmeirense durou apenas seis minutos até que Marcinho chutou de fora da área, e Vágner Love desviou para empatar. Logo depois, Lúcio, lateral do Palmeiras, cruzou, e Corrêa se antecipou para virar o placar. Só um detalhe: o gol, na verdade, foi com a mão direita, que o volante esticou para desviar a bola. O próprio jogador relevou isto ainda na saída para o intervalo: “Veja bem, ali vale tudo, se jogar... De algum jeito a bola tem que entrar. Agora, se foi mão ou se não foi, pouco interessa, o importante é que foi gol”, defendeu-se o palmeirense diante das câmeras. Se o Palmeiras usou as mãos, o Santo André preferiu, mais uma vez, a cabeça. Osmar pulou mais alto que a zaga adversária e desviou com a testa para o gol. O 2 a 2 já classificaria o time do 79


técnico Jair Picerni, mas, ainda no primeiro tempo, o lateral-direito Baiano cobrou falta com perfeição para fazer mais um para o time alviverde. O Santo André teria 45 minutos para fazer um gol e levar o jogo para os pênaltis, mas foi novamente o Palmeiras que fez sua torcida ir ao delírio e mandou a bola para as redes mais uma vez para anotar o 4 a 2 no placar. Vágner Love, em posição de impedimento, recebeu na meia-lua, invadiu a área e marcou. Inconformado com os erros da arbitragem, Péricles Chamusca não se segurou, emendou uma série de ofensas ao juiz Giulliano Bozzano e foi expulso de campo. Para piorar, o treinador foi julgado após a partida e acabou suspenso pelo resto da Copa do Brasil. Nas arquibancadas, a torcida do Palmeiras comemorava como quem já estava classificada e, dentro de campo, o time começou a ter a mesma postura. Élson Falcão, que entrou no decorrer do jogo, provocou os jogadores do Santo André dizendo que já estava 4 a 2 no placar e que aquele jogo estava decidido porque o time adversário era fraco e o Palmeiras precisava apenas tocar a bola e deixar o tempo passar. O roteiro parecia mais uma vez o mesmo: o Santo André fazia boa campanha, protagonizava algumas “zebras”, mas era prejudicado pela arbitragem e acabava eliminado. Mas, daquela vez, foi diferente. Aos 34 minutos do segundo tempo, mais um cruzamento e de novo Sandro Gaúcho surpreendeu a defesa adversária, se aproveitou da saída atabalhoada do goleiro Marcos e cabeceou para diminuir. Gol que deu esperanças ao torcedor do Santo André: faltava apenas mais um para a classificação histórica. 80


Osmar comemora com “mortal� o gol marcado sobre o Palmeiras

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No entanto, nem os próprios jogadores perceberam isto na hora: “A gente acabou se confundindo com o placar no momento. Como saíram muitos gols, a gente não sabia direito quanto estava. Quando conversamos ali dentro de campo mesmo e percebemos que, se marcássemos mais um, estaríamos classificados, começamos a ir para ataque com tudo, aquilo nos deu força”, lembrou Sandro Gaúcho. Eis que, de um rádio improvisado, Péricles Chamusca, que já estava assistindo ao jogo do vestiário, pediu a entrada de Tássio, que pouco havia participado da competição até então. Poucos minutos após ter substituído Elvis, o atacante fez o que parecia impossível. Acredite: aos 44 do segundo tempo, mais uma vez de cabeça, o atacante aproveitou nova falha de Marcos e mandou para o gol. O placar estava 4 a 4, e o Santo André, classificado para as semifinais da Copa do Brasil eliminando o Palmeiras. Jogadores do Santo André celebram a classicificação

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“Alguns torcedores estavam virados de costas na hora do cruzamento que saiu o gol, porque eles falaram que estavam muito nervosos, não conseguiam olhar para o jogo. Alguns fazem isto normalmente em cobranças de pênaltis. Mas eu não sou destes, não. Imagina? Perder aquele gol? Eu estava ajoelhado no cantinho do Palestra Itália, área que foi demarcada para a torcida do Santo André. Quando eu vi que a bola entrou, de joelho mesmo, dei um salto que fui mais alto que o degrau da arquibancada. Aí olhei para o bandeirinha para ver se ele não tinha anulado nada. Sabe como é... Time pequeno sempre é prejudicado. Mas, desta vez, ninguém tinha marcado nada. Aí foi um chororô. Comecei a abraçar gente que eu nem conhecia. Foi emocionante”, contou Ovídio Simpionato, torcedor do Santo André. Se o lado andreense comemorava, a parte palmeirense do jogo reclamava. Após o gol, foi a vez de Jair Picerni “chiar” muito com o juiz e acabar expulso de campo. Na torcida, as vaias e os xingamentos tinham destino certo. Marcos, pentacampeão do mundo e um dos maiores ídolos do Palmeiras, deixou o gramado naquela noite de quinta-feira hostilizado pela torcida pela primeira vez em sua vida. O goleiro, como já era de praxe, não deixou barato. Irritado e com as mãos para cima, como se pedisse para a torcida gritar mais alto, o atleta se defendeu em entrevista após ter sido chamado de “frangueiro”: “Quando vou bem eles pedem camisa, quando vou mal são os mesmos que xingam. Estou pouco me lixando para este tipo de torcedor”. De nada adiantava a revolta palmeirense, era o Santo André que estava classificado para a semifinal da Copa do Brasil. E pensar que por pouco tudo não foi diferente... Tássio, autor do gol no último minuto, quase vestiu outra camisa após a Copa São Paulo. “Eu ia fechar com o São Caetano. Es83


tava torcendo para dar certo porque ele estava na Série A na época e era um grande time, mas as coisas acabaram não se acertando e eu fiquei no Santo André”, comentou o jogador. Mas os “caprichos do destino” não pararam por aí: “Eu estava afastado porque briguei com a diretoria e quis sair. Aí eles me tiraram um mês e meio do elenco, como uma espécie de punição. Então, eu não estava jogando a Copa do Brasil, mas via o pessoal chegando feliz todos os dias conforme o clube ia avançando. Foi aí que eu falei comigo mesmo: “Eu tenho que fazer parte disto”. Fui conversar com a diretoria e eles aceitaram que eu voltasse. Comecei a treinar duro para isto”, lembrou o jogador. Tássio ficou no banco de reservas na partida de volta contra o Guarani e no primeiro jogo diante do Palmeiras. O retorno dele aos gramados na Copa do Brasil estava guardado para uma ocasião especial: “Eu estava de boa sentado no banco de reservas, era um dia depois do meu aniversário. Estava 4 a 2 para o time deles já, aí me chamaram para entrar. Eu acho que foi por superstição porque teve um jogo na Paraíba, contra o Campinense, que a gente estava perdendo por 1 a 0 e eu entrei e mudei o jogo. Então acho que a comissão técnica se lembrou disto na hora de me colocar em campo. Sei que foi tudo tão rápido que só deu tempo de os repórteres à beira do gramado me perguntarem o que eu iria fazer no jogo e eu responder: ‘Também não sei, mas que eu tenho que entrar, eu tenho’”, recordou o atacante, aos risos. “Eu fui para o jogo, peguei uma vez na bola, depois outra... Aí no lance que saiu o gol, era para o Makanaki ir para a área, mas ele falou que estava tão cansado que era melhor eu subir, enquanto ele ficava no rebote. Aí aconteceu o que todo mundo já conhece. Eu não sabia nem como comemorar, fiquei anestesiado, nem consegui voltar para o jogo direito. Fiquei olhando para o céu e chorando. Tanto que, quando acabou o jogo, vieram me entrevistar e eu nem conseguia falar. Mas tudo isto tem uma explicação: eu tinha um 84


amigo de infância que estava sempre comigo. Como éramos palmeirenses íamos sempre ao Palestra Itália. Ele sempre falava que eu iria marcar o gol que iria eliminar o nosso próprio time, só que eu sempre dava risada, achava que ele estava viajando. Esse amigo foi assassinado em 2001, mas eu sempre fiquei com aquilo na cabeça. Quando eu fiz o gol, a minha sensação foi de que ele estava ali torcendo. Foi um misto de felicidade e saudade”, contou Tássio. Na semifinal da Copa do Brasil, o Santo André participaria de um dos jogos mais históricos da competição. Mas não porque envolvia um clássico ou dois clubes “gigantes”. A questão ali era justamente o contrário: do outro lado, estava o 15 de Novembro, clube de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, treinado na época por Mano Menezes, que se tornaria um dos principais técnicos do país anos depois. Apesar de não ter grande tradição nem ser conhecido por vencer muitos títulos em sua história, o 15 de Novembro já vinha com uma sequência de bons resultados. Nos dois anos anteriores, 2002 e 2003, o time alcançou a final do Campeonato Gaúcho, embora tenha perdido nas duas oportunidades para o Internacional. O adversário, apesar de conseguir ser uma “zebra” tão grande quando o Santo André, seria páreo duro para a equipe do ABC paulista. Antes de entrar em campo, no entanto, o time tinha que resolver outros problemas. Como Péricles Chamusca estava suspenso por ofender a arbitragem contra o Palmeiras, o clube precisava definir o substituto do treinador, que faria o papel de técnico e ficaria à beira do gramado pelo restante da Copa do Brasil. A vaga caiu praticamente no colo de Sérgio Soares. Depois de uma carreira de jogador com diversas trocas de clubes, em que seu destaque maior foi no Palmeiras, o novo coman85


dante provisório “pendurou as chuteiras” no início de 2004, pelo Santo André, e acabou ficando no clube como membro da comissão técnica. A experiência como treinador interino deu tão certo que, após o título da Copa do Brasil, Péricles Chamusca acabou se transferindo para o São Caetano, e o próprio Sérgio Soares foi efetivado no cargo. Mas voltemos à semifinal... Já que o estádio Bruno José Daniel não comportava o público mínimo exigido pelo regulamento da competição para esta fase decisiva, o Santo André acabou tendo que mandar a partida no Pacaembu. Longe de sua casa e numa noite fria até para os gaúchos, o público presente na partida foi modesto, mas esse não foi o maior problema. “Nós estávamos muito cansados. Vínhamos de um jogo lá em Belém do Pará, num calor absurdo. De lá, ainda tivemos que ir até Manaus para pegar um avião de volta para São Paulo. Como havíamos perdido muitos pontos na Série B, nós sempre jogávamos com os titulares, mesmo estando perto do título da Copa do Brasil. Era o que dava para fazer. Então, você imagina como nossa sequência de jogos já estava enorme, estávamos estenoados e, na minha opinião, isto acabou acarretando no péssimo resultado contra o 15 de Novembro no jogo de ida”, revelou Sandro Gaúcho. A bola aérea que salvou o Santo André contra o Palmeiras, desta vez seria a vilã. Primeiro, Bebeto Oliveira apareceu livre dentro da área para marcar de cabeça para o 15 de Novembro. O time da casa até reagiu rápido: Romerito foi puxado por Luiz Oscar dentro da área, e Barbieri empatou de pênalti. Mas, a partir daí, o Santo André parou. Liderado em campo por Perdigão, folclórico jogador que depois seria campeão do mundo pelo Internacional e ainda teria passagens por Vasco e Corinthians, o 15 de Novembro foi às redes três vezes seguidas. Aos seis minutos do segundo tempo, Dauri, de 86


cabeça, fez 2 a 1. Dois minutos depois, Patrício, que depois faria carreira no Grêmio, arriscou de longe, e o goleiro Júnior da Costa acabou aceitando. Um “frangaço”. Ainda tinha mais um e, claro, novamente de cabeça. Bebeto, sozinho, livre, fez com que as pouco mais de 500 pessoas que estavam no estádio ficassem chocadas. O 15 de Novembro vencia por 4 a 1 fora de casa. “Eu estava muito nervoso naquele jogo porque não consegui ir no estádio. Fiquei em Campinas por conta do trabalho. Então, vi tudo aquilo de longe, não dava nem para gritar para ver se dava uma chacoalhada nos jogadores. Depois de tudo o que construímos, estávamos sendo eliminados daquela maneira apática dentro de casa. Sorte que, dos males, o menor: nós conseguimos reduzir a diferença”, comentou Ovídio Simpionato. Com a ótima vantagem no placar, o 15 de Novembro acabou relaxando, e o Santo André aproveitou para diminuir o estrago. Primeiro, a defesa do time visitante afastou mal, e Tássio aproveitou a sobra, pegou de primeira, de fora da área, e marcou um belo gol. Depois, já aos 29 do segundo tempo, Osmar, que ainda acabaria expulso e seria desfalque para o segundo jogo, aproveitou cruzamento na área esquerda e, de carrinho, desviou de pé direito. 4 a 3 para o 15 de Novembro, mas, apesar da desvantagem, ainda havia esperança para os andreenses. “Se formos analisar o resultado em si, ele foi péssimo: perdemos dentro de casa e ainda levando quatro gols. Mas, se pararmos para ver a maneira como ele foi construído, não foi de todo mal. Saímos perdendo por dois gols de diferença e ainda conseguimos buscar mais dois. Apesar da derrota, nosso time estava muito sólido e ciente de que, se o 15 de Novembro conseguiu vencer em São Paulo, nós também poderíamos nos dar bem no Rio Grande do Sul”, disse Sérgio Soares.

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15 de Novembro e Santo André fizeram uma semifinal das “zebras” na Copa do Brasil

A partida de volta, desta vez disputada no estádio Sady Schimdt, em Campo Bom-RS, aconteceu duas semanas após a derrota em São Paulo. Tempo suficiente para o Santo André acertar todos problemas, não é? Pois pareceu que não. Foi o 15 de Novembro que abriu o placar com Tiago Belmonte, aos 10 minutos de jogo. Se as conversas durante as duas semanas não serviram para ajustar as falhas do Santo André, os jogadores agora teriam apenas alguns minutos, já dentro de campo, para se acertar e virar o jogo. “Depois que saímos atrás, nós paramos e falamos uns para os outros ‘bom, é agora ou nunca, vamos jogar bola’, só então eu acho que a gente deixou um pouquinho o receio de perder de lado e fomos para cima sem ter o que temer”, analisou Sandro Gaúcho. 88


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Se os jogadores fizeram de fato o que combinaram naquela pequena reunião realizada ainda dentro de campo eu não sei, mas, que depois daquilo o jogo mudou completamente, isto foi visível: Sandro Gaúcho, duas vezes, virou o jogo para o Santo André. A vitória de 2 a 1 ainda classificava o 15 de Novembro, então surgiu outro herói improvável com as cores da equipe paulista. Makanaki, que ganhou o apelido por conta da semelhança com o jogador camaronês que tem o mesmo nome, vinha chamando pouco a atenção na competição. Tudo, no entanto, parecia estar guardado para a semifinal. O atacante completou um escanteio cobrado aos 18 minutos do segundo tempo e fez o improvável 3 a 1. 89


Mais improvável ainda foi o destino que Makanaki teve após o gol. O jogador ficou duas temporadas no Lucern, da Suíça, e, depois, transferiu-se para o 3 de Febrero, do Paraguai. Acabou ficando dois anos no país e jogou até pelo tradicional Olímpia. De lá, o jogador foi atuar pelo Brasil de Farroupilha-RS, mas, após o término de seu contrato, ficou sem clube para defender. Foi então que Makanaki teve que usar outros talentos para conseguir se virar: em vez de calçar chuteiras, foi vende-las na Centauro, loja de artigos esportivos, em um shopping da cidade de Santo André. Após ser reconhecido pelos torcedores andreenses diversas vezes, o atacante, que se dizia craque como vendedor, decidiu pedir outra chance no clube que o revelou. Após quase encerrar a carreira, o atleta voltou a vestir a camisa do Santo André, embora nunca mais tenha marcado um gol como aquele na semifinal da Copa do Brasil. Makanaki foi destaque na reta final da Copa do Brasil

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Voltando para a partida, que ainda estava na metade do segundo tempo, a pressão passou a ser toda do 15 de Novembro, que buscava um gol que o daria a classificação. E ele só não saiu porque Júlio César, que havia falhado no jogo de ida, fez uma defesa de causar inveja a qualquer goleiro de seleção. Depois disto, foi só aguardar o apito final do árbitro Héber Roberto Lopes. No confronto das “zebras”, foi o Santo André que se deu melhor e estava com a passagem confirmada para a final da Copa do Brasil. A decisão foi contra o Flamengo, treinado por Abel Braga e que contava com grandes jogadores como Felipe, Ibson, Athirson e o goleiro Júlio César. Embora, na época, o clube carioca estivesse passando por um momento administrativo conturbado, com salários atrasados, alguns dados mostram a diferença de tamanho entre os dois times finalistas. O Santo André tinha uma folha salarial mensal, juntando os departamentos profissional e de base, de pouco mais de R$ 100 mil, enquanto só os jogadores do Flamengo que estavam inscritos na Copa do Brasil já somavam um gasto de R$ 850 mil a cada mês. Na equipe paulista, todos os jogadores recebiam um salário entre R$ 1.500 e R$ 8 mil, enquanto, pelo lado carioca, apenas o meia Felipe custava R$ 90 mil a cada 30 dias para os cofres rubro-negros. Se na folha de pagamento a diferença entre os dois times era imensa, no quesito confiança as coisas estavam muito mais equilibradas: “Nós sabíamos que seria o jogo mais difícil daquela campanha porque se tratava de uma final e do outro lado estava o Flamengo, um dos times mais populares do país. Mas, antes do primeiro jogo, nós nos reunimos na concentração e conversamos que, se já tínhamos passado por tantos adversários maiores do que nós, o Flamengo seria só mais um. Além disto, nós, por sermos um time menor e já termos feito história só de chegar à final, não tínhamos 91


nada a perder, enquanto o Flamengo estava pressionado para ser campeão”, recordou Sandro Gaúcho. O Santo André novamente faria a primeira partida em casa e decidiria longe de sua torcida. O jogo de ida, assim como já havia acontecido na semifinal, não pôde ser disputado no Bruno José Daniel por conta da limitação de público. O time então precisou mandar novamente a partida em outro estádio. Mas, se na fase anterior a equipe escolheu o Pacaembu, o palco, desta vez, foi outro: o Palestra Itália, onde o time havia eliminado o Palmeiras e feito história. Apesar de toda torcida a favor do Santo André, quem abriu o placar da decisão da Copa do Brasil foi o Flamengo, que cruzou uma falta na área aos 25 minutos do primeiro tempo e viu Roger Guerreiro subir mais alto que a defesa adversária para marcar. A reação do time da casa veio só na etapa final, mas foram necessários apenas oito minutos para Osmar empatar a partida e Romerito virar. Tudo se encaminhava para a vitória do Santo André que, por mais incrível que possa parecer, não vencia em casa desde a segunda fase da competição e, mesmo assim, vinha avançando. O Flamengo, no entanto, tratou de ampliar o jejum do clube paulista diante de sua torcida. Faltando apenas sete minutos para acabar o jogo, Athirson cobrou falta rasteira, a bola caprichosamente achou um espaço no meio da barreira e acabou entrando no cantinho esquerdo do goleiro Júlio César, que nada pôde fazer. “O empate deles no finalzinho veio como um banho de água fria. Sabíamos que, no Maracanã lotado, eles eram muito fortes, mas eu, como capitão, tinha que mostrar confiança mais do que qualquer um ali, já que o time era cheio de meninos e eu, como era mais velho e já tinha uma rodagem, dava um equilíbrio para aquele grupo. Antes da final, peguei na mão de cada um ali e disse que um precisava que o outro se dedicasse ao máximo para que pudéssemos 92


vencer. Mas eu acho que os jogadores só ficaram empolgados mesmo quando estavam chegando no Maracanã... E não teve nenhuma relação com as minhas palavras”, analisou Dedimar. Segundo o zagueiro do Santo André, a motivação para aquela decisão saiu, ironicamente, da atitude dos próprios jogadores e torcedores do Flamengo. Conforme se aproximavam do estádio, era cada vez maior o número de flamenguistas com faixas de campeão cruzando o peito. Isto um dia depois dos atletas rubro-negros darem entrevistas como se a entrega da taça para suas mãos fosse só questão de tempo. Os boatos eram ainda de que o clube já tinha até reservado um show da Ivete Sangalo para comemorar a festa pelo título, pois a música que fazia mais sucesso na torcida era uma adaptação de “Poeira”, da cantora baiana. Osmar comemora gol sobre o Flamengo na final

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“O que motivou mesmo nossos jogadores foi eles verem que, do outro lado, o Flamengo estava menosprezando a gente. Antes nós subirmos para a partida, fui ao gramado e vi que tinha um palco montado atrás do gol. Lá no vestiário, contei isto para os jogadores. Falei que eles já estavam com a comemoração preparada lá em cima e claro que não era nada para nós”, comentou Sérgio Soares. Jogadores motivados, estádio cheio e clima de final, parecia tudo pronto para o Santo André. Parecia. Assim mesmo, com o verbo no passado. “Eu estava à beira do campo porque o Péricles estava suspenso. Nós sempre nos comunicávamos por um rádio, mas, bem naquele jogo, o aparelho não funcionou. A gente ficou sem comunicação até uns 30 minutos do primeiro tempo. Nesta hora, veio aquele frio na barriga de pensar ‘bom, agora é comigo aqui, eu que estou no comando’. Eu e o Chamusca tínhamos um pensamento de jogo bem parecido, então consegui ajustar a equipe direitinho naquele período. Nossa estratégia inicial era esfriar o ímpeto do Flamengo e isto deu certo no começo. Quando retomamos o contato pelo rádio e o jogo ainda estava 0 a 0, tive a tranquilidade de falar para o Chamusca que estava tudo dentro do planejado”, revelou Sérgio Soares. Se a intenção do Santo André era realmente se segurar no primeiro tempo, ela foi mais eficaz do que nunca. O jogo foi truncado nos 45 minutos iniciais, com média de um passe errado por minuto, e os gols ficaram guardados para a etapa final. Aos sete minutos, Elvis cobrou escanteio e Sandro Gaúcho, livre, cabeceou para abrir o placar da partida e marcar seu sexto gol na competição, tornando-se o vice-artilheiro (atrás de Dauri de Amorim, do 15 de Novembro, e Alex Alves, do Botafogo, ambos com oito). O próprio atacante explicou com detalhes como balançou as redes: “O gol saiu exatamente do jeito que a gente treinou. Eu ficava bem perto do goleiro e dava uns passos para trás quando a bola era cruzada, para tentar me desvencilhar do adversário. Era o André Bahia que estava me marcando o jogo inteiro, mas, naquele 94


lance, eles trocaram e eu aproveitei a confusão para fazer o gol”, contou Sandro Gaúcho. Atrás do placar, os flamenguistas começaram a ficar nervosos dentro de campo e nas arquibancadas. Já era possível ouvir os gritos de impaciência a cada jogada desperdiçada pelos atletas rubro-negros. O Santo André, então, aproveitou a ansiedade do adversário para ampliar o placar. Dirceu lançou Osmar na esquerda. O atacante avançou e tocou para o meio da área para Elvis, que se antecipou à zaga, desviou a bola e saiu para comemorar o gol. Com 2 a 0 no placar, já dava para ver e ouvir toda a festa que os cerca de 300 torcedores andreenses começavam a fazer em pleno Maracanã, revestido por 72 mil flamenguistas. A comemoração só foi interrompida quando a torcida carioca decidiu, ainda faltando 15 minutos de jogo, xingar os jogadores do seu time e puxar o coro de “timinho, timinho, timinho”. Ao apito final do árbitro Carlos Eugênio Simon, os poucos flamenguistas que ainda restavam no estádio aplaudiram de pé o Santo André. Não era para menos, a equipe calou o Maracanã e conquistou a Copa do Brasil de 2004, o maior de sua história. Pena que o espírito esportivo de parte da torcida rubro-negra não serviu para todos. Alguns flamenguistas brigaram com a Polícia Militar ainda dentro das arquibancadas. As agressões sobraram até para Marcio Braga, presidente do Flamengo na época, que tomou um soco por trás. Como o Santo André não tinha nada a ver com os problemas do adversário, comemorou o título dando volta olímpica Maracanã. A música da Ivete Sangalo também não deixou de ser ouvida no estádio, mas, desta vez, com sotaque paulista. Atletas e torcida do clube do ABC festejaram ao som de “poeira, poeira, poeira, levantou poeira”. 95


Élvis vibra com gol sobre sobre o Flamengo que calou dez vez o Maracanã lotado


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“A gente levou oito ônibus de Santo André para o Rio de Janeiro. Pagamos tudo do nosso bolso, mas eu acho que cada centavo valeu a pena. Faltando dez minutos, me toquei que seríamos campeões. Comecei a chorar feito uma criança. Ninguém imagina o quanto foi gostoso escutar o hino do clube na televisão, ver o Galvão Bueno fazendo discurso de que o título era merecido. Eu ficava bobo em ver algumas coisas aparentemente simples como uma reportagem do Santo André no Jornal Nacional. Foi espetacular”, se emocionou Ovídio Simpionato. Logo após o fim do jogo, Da Guia correu em direção ao árbitro para pegar a bola da partida. Carlos Eugênio Simon, no entanto, disse que não a daria para o meia, mas não por conta de normas da arbitragem, nem nada parecido. O juiz, na verdade, também queria guardar a recordação. Enquanto parte da equipe ficou comemorando dentro de campo, um grupo de jogadores e da comissão técnica foi ao vestiário parabenizar o técnico Péricles Chamusca, que estava suspenso. “Quando eu vi que faltava pouco para acabar, decidi parar de ver o jogo e descer para acompanhar os instantes finais ao lado do treinador. Nós demos um grande abraço e, depois, falei para nós subirmos para festejarmos com o restante do time. Só que ele não queria, disse que estava suspenso e, se fosse ao gramado, poderia acabar ferindo alguma regra da competição. Expliquei que o torneio já tinha terminado, nós éramos campões e não tinha jeito de tirar aquilo da gente... Mas ele era teimoso”, contou o ex-presidente Jairo Livólis. Depois que a delegação saiu do Maracanã, após todos tomarem banho, foram fazer um jantar de comemoração em um restaurante do Rio de Janeiro. Ao chegar ao local, que estava cheio, mesmo sendo tarde da noite, todas as pessoas presentes se levantaram. Os jogadores pensaram então que seriam hostilizados, mas se surpreenderam ao notar que os clientes, na verdade, aplaudiram os atletas, até mesmo aqueles que estavam com a camisa do Flamengo. 98


“Aquela reação das pessoas foi legal. Nós pensamos que, por sermos um time de São Paulo, os cariocas não iam gostar de nos ver comemorando lá após a vitória, ainda mais os flamenguistas. Mas, quando todos começaram a aplaudir, deu para notar o tanto que nossa conquista foi importante e marcante”, comentou Dedimar. Engana-se, no entanto, quem pensa que as comemorações pelo título se encerraram junto com o jantar. A noite dos jogadores do Santo André ainda seria longa... “Depois que a gente voltou para o hotel ninguém queria dormir, estava todo mundo agitado ainda por conta do jogo, então muitos atletas desceram até a praia de Copacabana, que era logo em frente ao local que estávamos. Eu estava cansado e preferi ficar lá no meu quarto mesmo. Uma hora olhei pela janela e tinha um monte de jogador que tomou umas a mais pulando no mar. Fui logo dormir antes que visse qualquer tragédia. Já pensou alguém se afogar logo na comemoração do título?”, lembrou Sandro Gaúcho. Na manhã seguinte, sem que a maioria dos jogadores tivesse sequer dormido, todos foram ao aeroporto para pegar o voo de volta a São Paulo. Chegando em Santo André, uma verdadeira festa estava armada na cidade. Nem parecia uma quinta-feira comum de trabalho, pois mais de cinco mil pessoas pararam as ruas da região para festejar o título junto com os atletas, que desfilaram em um carro de bombeiro. Enquanto o elenco do Santo André comemorava, as bancas de revista da cidade vendiam como nunca jornais naquela manhã. Todos queriam saber a repercussão do título, e as manchetes eram sempre enfatizando o feito do time do ABC: “Ramalhão cala o Maracanã”, “Inacreditável”, “Novo Maracanazzo” e “Maracalhão” foram alguns dos títulos dos principais periódicos.

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Torcedores levantam a taça na chegada do time ao aeroporto

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Daquele time que fez história e levou o Santo André ao título da Copa do Brasil, grande parte do grupo também se beneficiou dos “minutos de fama” e deu um salto na carreira. Além do técnico Péricles Chamusca, que foi para o São Caetano e deixou a vaga com Sérgio Soares, Osmar teve passagem pelo Palmeiras, Alex Bruno foi campeão do mundo com o São Paulo e muitos foram atuar em clubes medianos do Brasil e do exterior. Ah, lembra da ameaça de rebaixamento na Série B do Santo André, que perdeu 12 pontos no torneio? Pois, motivado pelo título da Copa do Brasil, o time arrancou na tabela e terminou a competição num honroso 14º lugar, inclusive com chances de classificação para a segunda fase até a última rodada do campeonato. Desde então, para sempre uma estrela estará acima do emblema do Santo André, para fazer com que ninguém esqueça o que aquele grupo de jogadores conseguiu fazer em 2004, uma das maiores “zebras” da Copa do Brasil. 100


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Paulista 2005

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Para quase todos os pais comuns, o nascimento de um filho é a maior alegria da vida. Mas, quando falamos de futebol e paixão, quase nenhum pai é comum. Eduardo Palhares é um exemplo destes casos. Mariana e Stéfanie Palhares já se conformaram: para seu pai, o título da Copa do Brasil conquistado em 2005 pelo Paulista de Jundiaí é mais importante do que elas. “Minhas duas filhas já entenderam e aceitaram. São sentimentos muito diferente, mas, se colocarmos na balança, o título é mais saboroso. Filha eu tenho duas, troféu da Copa do Brasil, só um”, brincou Eduardo Palhares. Os dois parágrafos acima mostram a importância do Paulista na vida de algumas pessoas. No caso de Eduardo, toda esta loucura é um pouquinho mais compreensível. Afinal, ele era ninguém menos do que o presidente do clube na conquista inédita de 2005. Histórias como esta não são difíceis de se encontrar quando falamos de títulos tão marcantes para algumas pessoas. Basta, por exemplo, perguntar a qualquer torcedor do Paulista quem é Clóvis de Campos que diversos casos que misturam devaneio e paixão saltarão aos seus ouvidos. Pudera, alguém que, por conta da conquista, raspou um bigode que cultivou durante 20 anos sempre será um bom exemplo. Afinal de contas, nem um filho fica tão próximo de você por tanto tempo. 105


Mas, tudo isto só foi possível por conta de uma palavra: pla-ne-ja-men-to. Assim mesmo, com as sílabas separadas, como todos gostam de enfatizar. O Paulista (ainda como Etti Jundiaí por conta de um patrocínio da Parmalat), havia passado pela melhor fase de sua história em 2001, quando foi campeão paulista e conquistou a Série C. O sucesso, por pouco, não foi maior no começo de 2004, quando o clube ficou com o vice-campeonato no Paulistão, perdendo para o São Caetano, de Muricy Ramalho, na final. Para manter a boa fase, dirigentes e toda comissão técnica da equipe se reuniram, em 2004, para planejarem o ano posterior com antecedência e definiram que a temporada seguinte seria tratada com ainda mais “carinho” por todos eles. Só não imaginavam que tanto apreço faria com que 2005 nunca mais fosse esquecido por todos de Jundiaí... O primeiro passo teve que ser dado, na verdade, fora das quatro linhas do campo. A maioria dos cartolas do Paulista decidiu que a melhor opção era a manutenção do treinador Vagner Mancini, que chegou ao clube após Zetti se transferir para o Guarani, depois do título estadual de 2004. Motivos para isto não faltavam. Afinal, se a proposta do clube era reviver bons momentos como os de 2001, nada melhor do que contar com o capitão da equipe naquele ano à beira do campo. A missão de Vagner Mancini era montar um time competitivo, mesmo sem muito dinheiro nos cofres para grandes contratações. Por isto, o treinador adotou uma técnica na hora de trazer os reforços: “Eu não tinha verba quase nenhuma para investir, então não podia correr riscos de trazer jogadores que não dessem certo. por aqui Decidi, portanto, contratar apenas atletas com quem eu já tinha jogado ou eu conhecia e tinha certeza que iriam se adaptar facilmente e trabalhar sério para ajudar a equipe”, declarou Vagner Mancini. 106


Vagner Mancini comandou o Paulista no tĂ­tulo de 2005

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Mas esse não foi o único ponto. Como o elenco era recheado de jogadores jovens, o treinador precisava pensar também em trazer mais experiência ao grupo na hora de contratar. Pois então, os reforços foram “cirúrgicos”: vieram jogadores como Fábio Gomes, Anderson Batatas, Julinho, Jean Carlos e Fábio Vidal. Alguns deles, aliás, foram para sua segunda passagem pela equipe. “O Vagner (Mancini) montou aquela equipe sem muito dinheiro. Ele conseguiu juntar duas gerações lá dentro e deu muito certo. Formou-se um time muito forte tanto dentro como fora de campo. Eu fui um dos que retornou ao clube. Estava jogando no Japão e fui sondado. A diretoria deixou claro que não podia pagar a mesma coisa que eu ganhava lá, mas, mesmo assim, topei assinar até um contrato em branco para aceitar o desafio”, confessou Anderson Batatais, que completou: “Como o treinador levou um monte de jogadores que ele já conhecia, a imprensa de Jundiaí brincou apelidando o time de ‘Amigos do Mancini’ ”. A primeira experiência de tudo isto foi positiva. Logo no Paulistão, o time não conseguiu repetir a vice-colocação do ano anterior, mas acabou terminando a competição, disputada por pontos corridos e que terminou com o São Paulo com o título, no honroso sexto lugar, atrás de clubes com maior poderio financeiro, mas à frente, por exemplo, do tradicional Palmeiras. No entanto, o grande feito daquele ano estava guardado para a Copa do Brasil, logo na primeira vez em que o clube participou do torneio. “Nós não acreditávamos no título quando começou a competição. Sabíamos das nossas limitações financeiras e que seria muito difícil jogar de igual para igual com times tão fortes. Além disto, um ano antes, o Santo André venceu a competição. Qual era a chance de acontecer outra ‘zebra’ assim logo depois? Nós entramos só para jogar mesmo, ver até onde conseguiríamos chegar, mas 108


sempre com aquele pingo de esperança: se outros times pequenos já conseguiram, no fundo, a gente pode sonhar também”, comentou Anderson Batatais. O primeiro adversário do Paulista logo na fase inicial já era complicado: o Juventude, que disputava a primeira divisão do Campeonato Brasileiro e tinha experiência de sobra na Copa do Brasil. Afinal, está presente nas páginas deste livro por ter vencido a competição em 1999. Mas, por pouco, o adversário do clube paulista na competição não foi diferente. “Estava tudo certo para nós enfrentarmos o Glória, de Vacaria, do Rio Grande do Sul. Estávamos prestes a começar a buscar informações sobre a equipe para nos prepararmos para o primeiro jogo, mas aí a CBF mudou o ranking dela e alterou nossa partida. De uma hora para a outra, passamos a enfrentar o Juventude, um time muito mais tradicional e difícil. Até pensamos em reclamar, mas desistimos. Como éramos um time pequeno, não adiantaria nada, eles dariam qualquer desculpa e a troca permaneceria. Então, o melhor mesmo era se preparar para jogar com o Juventude”, relembrou Vagner Mancini. A mudança de adversário também influenciou o mando da partida. Agora o Paulista jogaria o primeiro confronto em casa, no estádio Jayme Cintra. Era a primeira oportunidade para a torcida de Jundiaí, que estava empolgada com o time, mostrar esta confiança com apoio nas arquibancadas. E assim foi: com ótimo público, o Paulista bateu o Juventude por 1 a 0 com gol do meia Davi, cria das categorias de base da equipe e que, anos depois, teve passagens por São Paulo, Avaí e Coritiba. Se as chances de gols foram escassas, faltas não faltaram na partida: quatro cartões amarelos pelo lado tricolor e mais cinco para o time gaúcho, que ainda viu Léo Santos ser expulso. 109


Galo, mascote do do Paulista, dentro do ônibus do time

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No entanto, nem todos do Paulista ficaram satisfeitos com a vitória. Fábio Gomes, que retornou ao clube naquele ano, tinha motivos para se decepcionar: “Eu fui cortado daquela partida. Fiquei muito triste porque eu vinha treinando bem e aquilo me surpreendeu. Mas eu respeitei a decisão do Vagner Mancini, eu joguei com ele nas conquistas da segunda divisão do Paulistão e da Série C do Brasileiro, em 2001, e ele me ajudou bastante naquela época. Se ele tinha me trazido de volta para o Paulista, era porque confiava no meu trabalho”, declarou o volante, tratando de evitar qualquer polêmica.

Com Fábio Gomes, desta vez, no time titular, o Paulista foi até Caxias do Sul para decidir a vaga na segunda fase com o Juventude no estádio Alfredo Jaconi. Como foram 15 dias de intervalo entre uma partida e outra, deu tempo de sobra para os técnicos Vagner Mancini e Ivo Wortmann estudarem bastante o adversário e armarem a melhor estratégia. 110


Mas eles se estudaram tanto que a partida terminou empatada. Jefferson abriu o placar para os visitantes de cabeça, e Zé Carlos, também pelo alto, igualou o marcador para o Juventude. Para o Paulista, o equilíbrio pouco era relevante. O importante ali era que o clube tinha superado o primeiro desafio e estava classificado para a segunda fase da Copa do Brasil. “Só teve um problema em nós termos avançado. Depois que eliminamos o Juventude, nós passamos a dar mais atenção para a Copa do Brasil do que para a Série B e, no final, foi um sufoco danado para escapar do rebaixamento. Só que, na hora, nós nem pensávamos nisto, queríamos ir bem na competição nacional e depois nos virávamos na segunda divisão”, disse Anderson Batatais. O adversário do Paulista na fase seguinte foi mais um time da elite: o Botafogo. No entanto, o tradicional time carioca não vivia boa fase naquela época, o que ajudou a deixar as partidas mais equilibradas. Em 2002, a equipe da estrela solitária foi rebaixada para a segunda divisão. No ano seguinte, até conseguiu subir, mas sem encantar e levando algumas goleadas ao longo do caminho. Em 2004, o clube lutou até o fim para não cair de novo. E, se a crise dentro de campo era grande, a situação financeira do time causava ainda mais problemas: na época da partida contra o Paulista, eram três meses de salários atrasados para os jogadores. “Nós demos sorte de enfrentarmos o Botafogo. Apesar de ser um time muito popular e estar na primeira divisão na época, a crise pela qual o clube passava fez com que ele não chegasse tão focado na partida, aí as coisas ficaram mais equilibradas”, comentou Vagner Mancini. No jogo de ida, disputado novamente no Jayme Cintra, o Paulista saiu à frente do placar. Márcio Mossoró, que foi um dos principais jogadores do time no torneio, fez fila na marcação e anotou um golaço ainda aos 20 minutos de jogo. Só que, no meio do 111


segundo tempo, Alex Alves recebeu, avançou e tocou na saída do goleiro Rafael para igualar o placar e deixar a decisão para o segundo jogo. Apesar do resultado indefinido, o clima era de tranquilidade na equipe do Paulista. Ambiente que só era quebrado quando algum jogador resolvia aprontar alguma, como esta brincadeira que Finazzi fez antes do segundo jogo diante do Botafogo: “A gente sempre procurava deixar as concentrações mais leves, sem aquela pressão tradicional. Acho que esse foi um dos segredos para o sucesso. O Fábio Vidal era um dos que mais sofria com as minhas brincadeiras. Ele sempre foi muito engraçado e adorava fazer piadinhas, então eu descontei. Nós estávamos em quartos conjugados e esqueceram a porta que ia do meu para o dele aberta, aí eu aproveitei: quando ele saiu, enchi sua cama de pedras e cobri com o lençol. Depois, fiquei quietinho até ouvir ele dando um berros dizendo que iria ‘pegar’ quem tinha feito aquilo. Como tinha acabado de chegar no clube, ninguém desconfiava de mim”, revelou o atacante, que foi contratado pelo equipe após ser artilheiro do Campeonato Paulista daquele ano pelo América. Foi com esse clima leve que o time foi ao Maracanã encarar o segundo e decisivo jogo contra o Botafogo, treinado por PC Gusmão. Logo aos quatro minutos, Léo chutou de longe, e o goleiro Jefferson, que jogou a Copa do Mundo de 2014 pelo Brasil e, na época, já defendia as categorias de base da seleção, falhou feio. Depois da partida, o arqueiro, que chegoua ser palhaço de circo antes de se firmar no futebol, colocou a culpa do erro no “morrinho artilheiro” que desviou a bola. No entanto, aos 12 minutos, Juca, também com uma “bomba” de fora da área, surpreendeu o goleiro Rafael e empatou para o Botafogo. O placar ainda se definiu no primeiro tempo. Aos 32, Cristian fez um golaço de falta e colocou o Paulista de novo à frente, mas o Botafogo voltou a igualar a contagem com Alex Alves. 112


Jogadores do Paulista se abra莽am ap贸s a equipe marcar

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Na etapa final, o Botafogo pressionou, mas não conseguiu desarmar a boa defesa do Paulista. No geral, os dois times haviam empatado em 3 a 3, mas, por conta da regra de gols fora de casa, a equipe tricolor, que fez dois jogando no Rio de Janeiro, estava classificada para as oitavas de final, eliminando o adversário em pleno Maracanã. Curiosamente, os gols marcados pelo Paulista foram justamente de dois dos jogadores que tiveram mais sucesso na sequência de suas carreiras após o título de 2005. Léo seguiu para o Internacional e foi campeão da Libertadores e do Mundial apenas um ano depois e Cristian passou só por clubes grandes: Atlético-PR, Flamengo, Corinthians e Fenerbahce, da Turquia, sendo ídolo nestes dois últimos. Foi também após a partida contra o Botafogo que uma das marcas registradas daquele título surgiu. “Eu não lembro como aquilo começou, nem quem puxou o coro, só sei que, no vestiário do Maracanã após a classificação diante do Botafogo, chegou uma hora que todos nós, pulando de alegria e comemorando. Estávamos cantando: ‘Eu tenho a força, sou invencível, vamos amigos... Unidos venceremos a semente do mal’. Pelo jeito, havia algum jogador que era fã de desenho infantil ou tinha algum filho que estava nesta fase, mas ninguém sabe quem começou isto”, contou Márcio Mossoró. A origem da música “Trem da Alegria”, que embalava o desenho animado “He-Man”, no vestiário era desconhecida, mas o fato é que aqueles versos viraram quase um hino do Paulista durante a Copa do Brasil e eram repetidos a cada concentração, a cada comemoração de uma vitória ou a cada momento em que a equipe precisava de força para seguir lutando. A origem daquela música realmente nenhum jogador do Paulista se lembra, mas basta assoviar a primeira parte do refrão que todos aqueles que fizeram parte do título da Copa do Brasil de 2005 vão cantar a plenos pulmões. 114


Agora com uma espécie de música tema, o Paulista teve nas oitavas de final um duelo que muitos dos jogadores classificaram como o mais difícil de toda competição. A batalha, desta vez, era contra o Internacional, vice-campeão brasileiro em 2005 e que bateria até o Barcelona no ano seguinte. “O time deles era muito, muito bom. Ficava até difícil falar qualquer coisa no vestiário. Como eu podia dizer ‘nós somos melhores que eles’ se do outro lado do campo tinham jogadores como Fernandão, Rafael Sóbis e Tinga. O que falei foi: ‘vamos jogar com inteligência, segurar no Rio Grande do Sul e colocar todas as nossas fichas na volta, em casa’. Na Copa do Brasil, tem que ser inteligente. Como é uma competição mata-mata, uma ‘zebra’ pode acontecer. Naquele ano, fomos nós”, analisou Vagner Mancini. O time seguiu as instruções do treinador e, no primeiro jogo, disputado em um Beira-Rio lotado, pois a partida foi jogada no feriado de 21 de abril, o que atraiu o público, conseguiu segurar toda a pressão do Internacional e perdeu só por 1 a 0. Jorge Wagner, batendo falta com perfeição, fez para o time colorado, e o goleiro Rafael tratou de pegar todas as outras chances e garantir o placar. Mesmo com o resultado adverso, a animação marcou mais uma vez a preparação para o segundo duelo. “Aconteceu um episódio muito engraçado no aeroporto, depois que enfrentamos o Internacional. O Dema tinha que marcar o Fernandãoa partida inteira, sem desgrudar um segundo. Depois que o jogo acabou, nós fomos direto viajar porque jogaríamos contra o Santa Cruz pela Série B. E advinha quem perdeu o voo? O Dema, claro. Quando ele chegou atrasado lá em Recife, a gente ria dele falando que o Fernandão tinha passado no aeroporto, aí ele correu atrás e acabou perdendo o avião”, lembrou o lateral Lucas, aos risos. A classificação mais uma vez ficou adiada para o jogo da volta, que, foi disputado no Jayme Cintra. “Deu para ver que a tor115


cida começou a acreditar mais no time. Tinha ido a todos os jogos em casa, sou fanático. Só que os jundiaienses comuns também passaram a pegar gosto pela equipe. Naquele jogo, o estádio estava cheio, sorte de quem foi lá para ver aquele jogão”, disse o torcedor Clóvis de Campos, que, nesta partida, ainda exibia seu bigode nas arquibancadas. Desta vez, o roteiro do jogo era justamente o oposto. Sem se preocupar com o “peso da camisa”, era o Paulista que pressionava e o Internacional que se segurava como podia. Crisitian bateu falta na trave, Mossoró arriscou duas vezes, e o gol teimava em não sair. Teimava. Até os 39 minutos do segundo tempo, quando Juliano tocou de calcanhar, recebeu de volta e, de fora da área, acertou um lindo chute de perna direita (seu pé ruim) para fazer 1 a 0. E pensar que, se o presidente não tivesse um carro disponível para emprestar, nada disto poderia ter acontecido... “A gente contratou o meia Juliano, que havia se destacado no União São João de Araras, e corremos para inscrevê-lo na CBF para que estivesse disponível para o jogo de volta, em casa. Quando Juliano chegou, o Paulista já estava concentrado em Itu para a partida, como a gente fazia normalmente. Só que, um dia antes de ele ir se juntar com o resto do grupo, seu carro quebrou. Aí ele me ligou: ‘presidente, não tenho como ir até lá, meu Fox quebrou’. Eu tinha um compromisso com patrocinador em Jundiaí e não podia levá-lo até Itu, só que, se o jogador não chegasse logo lá, o Vagner Mancini não iria vê-lo treinar e ele não iria para a partida. Então falei: ‘Quer saber, eu te empresto meu carro para você viajar, Juliano, depois eu encontro vocês de táxi’. Moral da história: ele chegou, treinou com o time normalmente, entrou no segundo tempo do jogo e marcou o gol que nos ajudou”, revelou o presidente Eduardo Palhares. A vitória do Paulista no Jayme Cintra repetiu o placar alcançado pelo Internacional no jogo de ida. Portanto, a decisão foi para 116


os pênaltis. Nesta hora, todos olham para a posição mais ingrata do futebol: o goleiro. Do lado paulista, Rafael. Do lado gaúcho, Marcelo Boeck. Ambos seguiriam o mesmo destino no futebol posteriormente e construíram carreira em Portugal. Mas, naquela partida, o destino dos dois era bem diferente. Nas penalidades, Anderson Batatais e Márcio Mossoró converteram para o Paulista. Jorge Wagner e Rafael Sóbis também confirmaram pelo lado do Internacional. Na sequência, Cristian fez o dele, e o goleiro Rafael, que fazia 24 anos exatamente naquela noite, pulou para o lado esquerdo para espalmar o chute de Élder Granja. Agora com vantagem, o Paulista fez mais um com Jefferson. Restava a Perdigão marcar para manter o Internacional na briga. Foi então que aconteceu o lance mais polêmico de toda a campanha no Paulista na Copa do Brasil. O volante colorado chutou forte no canto direito alto, a bola explodiu na trave, pingou dentro do gol e saiu. Após alguns segundos de indefinição, o árbitro Djalma Beltrami apontou o centro do campo, como se a bola não tivesse entrado. Jefferson comemora gol marcado de pênalti

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Todo o elenco do Internacional foi pressionar o juiz, mas a decisão, embora errada, já estava tomada: a bola foi considerada para fora, e o Paulista havia vencido a disputa de pênaltis, eliminado o poderoso Internacional e se classificado para as quartas de final da competição. O torcedor do Paulista deve agradecer demais à família Bracali, e Rafael explica o motivo: “Aquela classificação veio muito por conta do meu pai, Armado Bracali, que, curiosamente, era o preparador de goleiros da equipe e me ajudava muito. No treino antes do jogo de volta, no Jayme Cintra, o técnico Vagner Mancini fazia um trabalho de chute a gol de um lado e, na outra metade, os jogadores treinavam pênaltis. Naquele dia, meu pai disse que eu ficaria só defendendo as cobranças, e eu ganhei muita confiança por conta disto”, declarou o goleiro. O goleiro Rafael defende cobrança de pênalti contra o Internacional

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Rafael ainda completou: “Eu acertei o canto que o Perdigão bateu aquele pênalti, mas o chute foi no alto. Como foi muito forte, não deu tempo de ver se a bola entrou ou não, só olhei ela pingando e saindo do gol. Quando vi que o juiz estava com cara de dúvida, já saí correndo comemorando em direção à torcida. Tirei minha luva, minha camisa e pulei na arquibancada antes que ele apitasse qualquer coisa. Acho que foi um presente para mim no dia do meu aniversário”. Um presente para Rafael e para o Paulista, que estava nas quartas de final da Copa do Brasil. Lembram-se daquela história de que é fácil achar loucuras quando se trata de um título tão marcante para um clube? Pois aí vai mais uma delas... Samuel de Oliveira não é daqueles que vai a todos os jogos do Paulista, mas seu fanatismo pela equipe tricolor não pode ser colocado à prova. Não depois de 5 de maio de 2005. Naquele dia, o engenheiro deixou de ir ao nascimento do próprio sobrinho para acompanhar a partida contra o Internacional. “Estava tudo certo, eu iria ao hospital ver o João Pedro e já tinha comprado o ingresso para as quartas de final da Copa do Brasil. Mas, quando a data do jogo foi se aproximando, vi que as duas coisas aconteceriam no mesmo dia e na mesma hora. Fiquei contra a parede, ou eu veria meu sobrinho nascer ou iria para o Jayme Cintra. Então eu pensei: ‘Eu vou ver o moleque pelo resto da minha vida. O Paulista eliminando o Internacional pode ser que nunca mais aconteça. Eu vou é para o jogo’. O resto da família, claro, ficou doido comigo”, relembrou Samuel de Oliveira, que contou o restante da aventura: “Eu estava vendo o jogo, mas ficava naquela tensão, olhando toda hora para o celular para ver se ninguém me ligava do hospital dizendo que tinha dado tudo certo. O parto estava marcado para 22h30. O jogo foi para os pênaltis e nada de notícia 119


da minha família. Parece mentira, mas, bem na hora que o Perdigão bateu o pênalti e errou, minha mãe me ligou dizendo que estava tudo bem com o João Pedro. Hoje em dia levo ele em diversos jogos do Paulista. Quem sabe assim meu sobrinho consiga entender o drama pelo qual eu passei naquela noite”. Já com João Pedro no mundo, o Paulista, que estava entre os oito melhores da competição, teve pela frente nas quartas o Figueirense. O time catarinense também era tratado como certa surpresa, pois havia eliminado na fase anterior o poderoso Corinthians, turbinado pelo dinheiro da MSI e que tinha no elenco nomes como Tevez, Carlos Alberto e Roger. Portanto, os dois times eram tratados como azarões e vinham motivados para serem mais uma “zebra” na Copa do Brasil. “Aquele era um jogo diferente daqueles que já tínhamos disputado até então na competição. O Figueirense não era franco favorito contra a gente, por isto nós tínhamos que tomar cuidado, eles não iriam entrar com aquele ‘salto alto’ das equipes grandes”, comentou Vagner Mancini. O roteiro foi muito parecido daquele visto na partida contra o Internacional. No jogo de ida, disputado no Orlando Scarpelli, o Paulista até chegou a jogar melhor, mas o Figueirense conseguiu sair de campo vitorioso. Cláudio apareceu livre dentro da área para marcar aos 17 minutos do primeiro tempo. Para piorar a situação do clube de Jundiaí, Cristian, um dos destaques do time, acabou cometendo falta dura em Marquinhos Paraná já no fim do jogo e foi expulso pelo segundo amarelo. Mais uma vez, o Paulista precisava mostrar sua força dentro de casa para avançar na competição. Mesmo com o estádio cheio e a cidade de Jundiaí fazendo festa pelo time, o primeiro tempo terminou empatado em 0 a 0. Só que, pouco antes da partida ir para o intervalo, o clima esquentou ainda mais: Amaral, do Paulista, e 120


Bilu, do Figueirense, trocaram empurrões e acabaram expulsos de campo pelo árbitro Sérgio da Silva Carvalho. Mas, apesar de os dois times terminarem a primeira etapa com um jogador a menos, teve gente que voltou para o vestiário sem algo muito valioso do que alguns gols... “Eu recebi uma bola na grande área e ia fazer o gol. Só que o Cléber, aquele zagueiro grandão ex-Palmeiras, tentou roubá-la de mim e me deu uma cotovelada na boca. Logo senti que tinha algum problema. Quando levei minha mão até o local, vi que tinha perdido três dentes, logo aqueles da frente. Não deu nem para disfarçar. Um quebrou, outro amoleceu e o último caiu de vez. Mas continuei em campo mesmo banguela”, lembrou o atacante Finazzi, que continuou a história: “No intervalo, todos nós estávamos reunidos ali para orar e nos concentrarmos. Afinal, precisávamos de um gol. Quando estava todo mundo sério naquele momento, eu vejo o Anderson Batatais, que era o capitão, mas adorava uma brincadeira, olhando para minha boca com sorrido de canto, já sabia que vinha alguma piada. Aí ele deu uma risadinha e falou: ‘É isto aí moçada, com dente ou sem nós vamos morder os caras’. Todo mundo se olhou e caiu na gargalhada”. Mesmo sem os dentes, Finazzi voltou para o segundo tempo e viu Lucas pegar de “sem pulo” o rebote do goleiro Edson Bastos e mandar para as redes. Um golaço para o Paulista. À frente do placar, os donos da casa diminuíram a intensidade, e o placar permaneceu assim até o final. 1 a 0 para a equipe de Jundiaí, o que significava mais uma vez pênaltis no estádio Jayme Cintra. O que não seria novidade para nenhuma das equipes. Se o Paulista havia eliminado o Internacional nos pênaltis, o Figueirense também chegou às quartas após vencer a série de cobranças diante do Corinthians. 121


Atletas do Paulista concentrados durante as cobranças de pênaltis contra o Figueirense


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“Mais uma vez era meu filho ali na linha do gol que podia decidir nossa classificação. Como o Figueirense já tinha passado por uma disputa de pênaltis, sentei um dia antes do jogo com o Rafael e mostrei aonde cada jogador do time deles costumava bater. Então, pouco antes das cobranças, ali no gramado, só tive o trabalho de ir relembrando com ele o que já tínhamos visto. Isto é a vantagem de ser pai do goleiro, fiz o trabalho com ele ainda em casa”, contou o preparador de goleiros Armando Bracali. A aula do seu pai parece ter dado resultado. Rafael pegou o pênalti de Sérgio Manoel e viu Paulo Sérgio e Marquinhos chutarem para fora. O Paulista venceu por 3 a 1 nas penalidades e se classificou para a semifinal do torneio. A “zebra” já estava rascunhada. “Desta vez, não precisei sair correndo para a torcida e tirando a camisa quando eles perderam o último pênalti. Assim que terminou, eu fui direto dar um abraço no Juliano, que havia perdido o pênalti para nós. Afinal, não era hora de chorar, nós já estávamos entre os quatro melhores da Copa do Brasil”, declarou Rafael. Rafael comemora mais uma vitória nas cobranças de pênaltis

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Na semifinal, o adversário foi o Cruzeiro, que tentava chegar pela sexta vez em uma final de Copa do Brasil. Se parte dos jogadores achou o jogo contra o Internacional como o mais difícil da competição, a outra parcela apontou esta partida contra o time mineiro como a mais complicada da campanha. E não era por menos: do outro lado do campo estavam jogadores como o atacante Fred, o goleiro Fábio, o meia Wagner, o zagueiro Argel Fucks e o chileno Maldonado. Tudo isto em um time que havia encantado o Brasil dois anos antes e vivia ótima fase. Por sorteio, foi definido que a equipe mandaria a primeira partida em casa e decidiria em Minas Gerais. Um mau preceito para Vagner Mancini: “Eu sempre preferi fazer a segunda partida em casa, decidir perto da torcida, sabendo do resultado que precisa. Mas sorteio é sorteio, acho que a nossa parcela de sorte já havia sido gasta naquele pênalti do Perdigão que falaram que não entrou. Então, orientei os jogadores para tentarmos fazer um bom resultado no primeiro jogo porque depois seria complicado”. Os jogadores trataram, então, de seguir as instruções. Em uma noite chuvosa em Jundiaí, os dois goleiros tiveram muito trabalho, mas o Paulista conseguiu se sair melhor. Em um chute de muito longe, Cristian mandou no cantinho e abriu o placar logo aos cinco minutos. Mas, a torcida no Jayme Cintra ainda recolhia o bandeirão quando o Cruzeiro, em cobrança de falta ensaiada, empatou a partida com gol de Fred. O resultado se manteve igual até o final do primeiro tempo, e os jogadores do Paulista, cientes de que precisavam vencer, foram para cima na etapa final. Márcio Mossoró chutou no ângulo para colocar os donos da casa na frente de novo, e Jefferson, aos 40 minutos, ampliou a vantagem: 3 a 1. Um gol que teve sabor especial para o atacante. Já com 29 anos e experiência de ter atuado na Europa, na maior parte do tempo 125


na Suíça e na Rússia, o atleta chegou ao Paulista em 2005 de forma despretensiosa: “Sabia que a condição financeira do clube não era das melhores. Eu já estava pensando em parar de jogar quando veio o convite, mas aí decidi aceitar para ficar perto de minha família e meus pais poderem me ver, o que era um sonho deles”, contou. Mossoró celebra gol anotado contra o Cruzeiro

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No entanto, por pouco o sonho dos pais não virou pesadelo. Durante a Copa do Brasil, Jefferson lesionou o joelho e foi orientado pelos médicos a operá-lo. Então, o atacante teve que tomar uma decisão complicada: “Ou fazia a cirurgia e ficava fora dos gramados um bom tempo, ou seja, perdia a Copa do Brasil, ou continuava jogando mesmo com aquele problema e corria o risco de a lesão se agravar e eu demorar muito mais para retornar aos campos, podendo até parar de vez de jogar. Acabei decidindo continuar no sacrifício, como já estava no fim da minha carreira, aquela poderia ser a última chance de eu conquistar um título, e um daqueles inesquecíveis, então, não podia desperdiçar”, revelou Jefferson. A primeira partida contra o Cruzeiro ainda marcou a estreia de outro jogador que faria história no futebol brasileiro: Réver, então com 20 anos e em sua primeira temporada como profissional, teve a complicada tarefa de substituir o capitão Anderson Batatais naquele jogo. “O Anderson e o Dema eram como espelhos para mim, eles me ajudaram muito pela experiência que tinham. Isto fez com que eu pudesse estar tranquilo. Na minha primeira oportunidade, acredito que o Mancini poderia ter ficado um pouco preocupado em colocar um jogador jovem, pela importância daquele jogo. Afinal, marcar o Fred do Cruzeiro não era fácil. Mas o treinador confiou no meu trabalho e me deixou bem à vontade. Deu tão certo que, depois daquele jogo, eu entrei em todas as partidas até o final”, declarou Réver, que iniciou sua carreira profissional naquele duelo contra o Cruzeiro e depois foi campeão da Libertadores pelo Atlético Mineiro, em 2013, e ainda defendeu a seleção brasileira em diversas oportunidades, conquistando o título da Copa das Confederações, também em 2013. Apesar de haver levado um gol dentro de casa, o Paulista abriu uma vantagem ótima para o segundo jogo. Dependendo do placar, poderia perder até por dois gols que ainda assim avançaria. O time só não imaginava que o primeiro tempo da partida de volta seria daqueles para se esquecer para sempre. 127


De maneira avassaladora, com apenas 36 minutos de jogo já estava 3 a 0 para o Cruzeiro. Kelly fez o primeiro e Fred anotou os outros dois, chegando a 14 gols e se tornando o artilheiro isolado daquela edição da Copa do Brasil. Mas não foi só isto: teve bola na trave, chute que passou perto, dribles, várias defesas de Rafael... Foi um verdadeiro “banho” celeste nos 45 minutos iniciais. “Não sei se foi a torcida deles que lotou o Mineirão que nos assustou, se estávamos afobados por estarmos tão perto de uma final ou se eles estavam com muita sorte mesmo, só sei que a gente simplesmente não entrou em campo. Não vimos a cor da bola. Voltamos para o vestiário no intervalo arrasados”, contou Finazzi. Foi então que uma ideia do auxiliar técnico Wagner Lopes mudou os ânimos dos jogadores. Enquanto Vagner Mancini discursava, seu assistente, sem falar nenhuma palavra para não atrapalhá-lo, foi até a lousa e escreveu simplesmente “Milan 3 x 3 Liverpool”. Aquilo bastou para os jogadores todos se olharem e acreditarem que seria possível reverter a situação. Explica-se: uma semana antes, na final da Liga dos Campeões, torneio mais importante de clubes da Europa, o Milan abriu 3 a 0 diante do Liverpool no primeiro tempo. Mas, na etapa final, a equipe inglesa conseguiu reagir e empatar em 3 a 3. Nos pênaltis, o Liverpool venceu e conquistou o título que parecia impossível após o primeiro tempo. Se aquilo aconteceu na Europa, por que não poderia se repetir em gramados brasileiros? Poderia! Com apenas quatro minutos do segundo tempo, em duas cobranças de falta, Cristian acertou o pé e mandou para a rede duas vezes. Sendo que, na segunda, a bola desviou caprichosamente na barreira para enganar o goleiro Fábio. O que parecia impensável após o domínio do Cruzeiro aconteceu: mesmo perdendo por 3 a 2, o Paulista fez 5 a 4 no placar conjunto e conseguiu se classificar para a decisão da Copa do Brasil. 128


Cristian (camisa 6) comemora gol de falta sobre o Cruzeiro

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Dentro de campo, sobraram provocações. “No primeiro tempo, quando eles estavam ganhando por 3 a 0 e se classificando, o Adriano Gabiru falava para todos nós: ‘Não adianta correr, vocês já perderam, vocês são fracos’. A gente aguentou calado, mas, quando fizemos os dois gols no segundo tempo, não me segurei. Quando passei perto dele falei: ‘O que você tinha dito no primeiro tempo mesmo?’ Claro que sobrou um palavrão depois da frase. A resposta foi dada à altura”, revelou Fábio Gomes. 129


“O jogo de volta foi no Mineirão, então eu tive que ver a partida na televisão lá de casa mesmo. Fiquei muito chateado depois do primeiro tempo, achei que a gente tinha feito toda aquela campanha, ido até a semifinal e perderia daquele jeito, com um time apático. Mas, quando saíram os dois gols no segundo tempo, gritei tanto que devo ter acordado a cidade inteira”, disse Clóvis de Campos. O Paulista conseguiu reagir contra o Cruzeiro e avançou para a final

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Com provocação e gritos, o Paulista estava na grande decisão, e a “zebra” estava cada vez mais perto de passear de novo pela Copa do Brasil. O último adversário antes do título foi o Fluminense, que vivia ótima fase em 2005. O time havia acabado de conquistar o Campeonato Carioca e brigava na parte de cima da tabela do Brasileiro, tanto que acabou a competição em quinto lugar. Era de novo uma final de um clube considerado azarão contra uma equipe do Rio de Janeiro. Mas as coincidências não pararam por aí: à beira do banco de reservas do adversário, quem comandou o Fluminense naquele jogo decisivo foi o técnico Abel Braga, o mesmo que perdeu a Copa do Brasil do ano anterior para o Santo André, quando dirigia o Flamengo. No entanto, se as coisas pareciam conspirar a favor do Paulista, o cenário começou a mudar poucos dias antes do primeiro jogo da final. Em conflito com a diretoria e acusado de não aceitar ficar no banco de reservas, Finazzi, um dos principais atacantes da equipe, rompeu seu vínculo com o clube e não pôde mais enfrentar o Fluminense. Um grande problema para o técnico Vagner Mancini, que precisou promover outro atleta ao time titular logo na final. Finazzi, no entanto, se defendeu e explicou que o caso não aconteceu exatamente como a mídia havia veiculado: “A imprensa pegou muito no meu pé e contou várias mentiras.Eu não saí do clube simplesmente porque não queria ser reserva. O primeiro e principal motivo foi eu ter tido uma torção no tornozelo direito, que já ia me dificultar muito a participar da decisão. Além disto, houve um problema no meu contrato: eu tinha acordo com o Paulista, mas parte do meu salário seria pago pela MSI, que também era parceira do Corinthians na época. Disputei todos os jogos pela equipe mesmo com a definição do acordo ainda para acontecer, mas, no final, não deu certo. Acabei recebendo só a parte do dinheiro que veio do Paulista. A quantia que ia vir da empresa eu nunca vi. Eu queria ter participado da final, se tivesse condições, participaria do jogo sem 131


dúvida, mesmo não recebendo nada. Era um momento especial, uma pena eu não ter feito parte do final daquela história”, declarou o atacante, que fechou contrato com o Atlético-PR após se despedir do time de Jundiaí. Sem Finazzi à disposição, Vagner Mancini já tinha um atleta em mente para ser titular na decisão: André Leonel, que explicou como recebeu a notícia: “Alguns dias antes da decisão, nós fomos a Porto Alegre para enfrentarmos o Grêmio pela Série B. Estava me preparando para o jogo quando o técnico disse que eu seria poupado porque entraria como titular na partida diante do Fluminense. A minha felicidade foi tamanha que pedi para atuar no fim daquele jogo no Olímpico e ainda marquei um gol”, declarou o atleta. O jogo ainda foi uma espécie de recomeço para o atleta. André Leonel chegou ao Paulista em 2004 e logo na sua terceira partida rompeu o ligamento cruzado do joelho direito. Foram oito meses de agonia sem poder entrar em campo. Na época, o jogador teve a chance de dar a volta por cima logo no jogo mais importante da história do clube. A cidade de Jundiaí estava mobilizada, o Jayme Cintra, lotado, os jornalistas que iriam cobrir a partida a postos, os jogadores do Paulista prontos e os árbitros já aquecendo. Só faltava um “detalhe”: o time do Fluminense. A equipe carioca ficou concentrada em Campinas e decidiu ir a Jundiaí apenas na hora do jogo. O problema é que o motorista do clube se perdeu na cidade e acabou chegando ao estádio em cima da hora. Após se prepararem rapidamente, os jogadores do time carioca acabaram subindo ao gramado só na hora da partida e não se atentaram a um ponto: a comissão técnica do Paulista pediu que o campo fosse molhado alguns minutos antes de a bola rolar para que o jogo fluísse mais rapidamente. O time de Jundiaí, ciente da recomendação, usou chuteiras com cravos apropriados para a situação, 132


mas os atletas do Fluminense reclamaram o jogo inteiro, dizendo que parecia que jogavam em um gramado ensaboado. Aproveitando-se da situação, o Paulista dominou o primeiro tempo inteiro, criou várias situações, mas não conseguiu abrir o placar. No entanto, o amplo controle do clube paulista foi o bastante para irritar o técnico Abel Braga, que, na saída de campo, reclamou muito do seu time para os repórteres: “Nossa atuação foi horrível, estamos tremendo. Parece um time que nunca chegou a uma final na vida”. A bronca do treinador no vestiário, no entanto, parece não ter sido suficiente para “acordar” os jogadores do Fluminense. Melhor para o Paulista, que se aproveitou do momento frágil do adversário para definir a partida: ainda aos dois minutos, Léo fez corta luz, e Mossoró mandou para as redes. Um golaço. Faltando apenas sete minutos para o apito final, foi a vez de Léo ser lançado em um ótimo contra-ataque e tocar na saída do goleiro Kléber. O Paulista venceu por 2 a 0, abriu a maior vantagem que um time já tinha conseguido após o primeiro jogo da final da Copa do Brasil e se aproximou do título. Tudo só não foi perfeito porque, na comemoração do segundo gol, Léo pulou no alambrado para celebrar junto com a torcida e acabou levando o cartão amarelo do árbitro Wilson de Souza Mendonça. Foi o terceiro do atacante na competição, o que o impediu de disputar o último e decisivo jogo contra o Fluminense. O Paulista teve que disputar a última partida sem um dos seus principais atletas. A segunda partida da decisão, apesar de ser disputado contra um time do Rio de Janeiro, não pôde ser jogada no Maracanã. O estádio estava em reforma para receber os Jogos Pan-Americanos de 2007, e o Fluminense, assim como já vinha fazendo em suas partidas como mandante na competição, decidiu disputar o duelo em São Januário, casa do rival Vasco da Gama. 133


Léo comemorou no alambrado, mas acabou levando o amarelo

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Longe de Jundiaí, foi a vez de o Paulista enfrentar diversos problemas antes de entrar em campo: “A comissão técnica teve o cuidado de nos hospedar em um hotel que ficava uns 30km de distância do estádio, para que nada pudesse nos atrapalhar. Mas, na madrugada anterior à partida, a torcida do Fluminense passou a noite inteira soltando fogos e cantando o hino do time na porta do local que estávamos. Não conseguimos dormir nada. Se eu descansei duas horas, foi muito”, contou Anderson Batatais.

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Chegando ao estádio, o Paulista foi recebido com muita “hospitalidade” pelos tricolores. Quando o ônibus se aproximava, a torcida do Fluminense, como num gesto tolo para tentar mostrar soberania, apedrejou o veículo, e os jogadores precisaram entrar no estádio escoltados pelos seguranças para que não houvesse consequências mais graves.


A poucos metros de lá, a chegada de Eduardo Palhares foi bem mais tranquila. Ele foi recebido no estádio por Eurico Miranda, presidente do Vasco, que, como administrador de São Januário, ofereceu um dos melhores camarotes para que o mandatário do Paulista pudesse acompanhar a partida, segurança reforçada e ainda um “tour” para que o cartola visse as centenas de troféus expostos no local. Eurico fez apenas uma ressalva: “Só não deixe que o Fluminense ganhe o título na minha casa”. Para que não deixasse que isto acontecesse, dentro do vestiário, pouco antes da partida, Vagner Mancini mostrou para os jogadores diversas faixas de campeão com o nome do Fluminense estampado. A torcida carioca, mesmo com derrota no primeiro jogo, acreditava que o time conseguiria reverter o placar em cima do “frágil” Paulista e, mais do que isto, já praticamente comemoravam a conquista. “Aquilo motivou muito a gente. Nós entramos em campo para conquistar o título e para mostrar para todos que duvidavam que conseguiríamos. Foi um jogo muito, muito complicado, mas nós suportamos”, disse Anderson Batatais. O zagueiro não exagerou nas suas palavras, foi um jogo muito difícil para o Paulista. Foram oito chances claras de gol para o Fluminense, que parou no goleiro Rafael, na bem postada defesa paulista e na mira ruim dos seus atacantes. O clube de Jundiaí conseguiu suportar toda a pressão do estádio lotado e segurou o empate por 0 a 0. Resultado mais do que suficiente para dar o título inédito da Copa do Brasil de 2005 ao Paulista. Histórico. A comemoração começou já no vestiário de São Januário, com o troféu passando de mãos em mãos para todos registrarem o momento único. A trilha, sonora da conquista, claro, tinha ritmo certo: “Eu tenho a força, sou invencível, vamos amigos... Unidos venceremos a semente do mal”, a música que embalou aquele título. 135


Márcio Mossoró (camisa 8) vibra com o resultado diante do Fluminense

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Uma pena que nem todos puderam assistir à partida, como conta o preparador físico André Zaros: “Depois do título, liguei para casa. Soube, então, que meu pai não deixou minha irmã e minha mãe verem o jogo. Ele também não assistiu, por ter problemas cardíacos e pensar que as emoções do duelo pudessem complicar sua saúde. Mas minha mãe me revelou que ela e minha irmã ficaram ouvindo o jogo pelo rádio bem baixinho, escondidas”. 136


Diferente do habitual, o Paulista só voltou para Jundiaí no fim da tarde do dia seguinte, pois, como era uma quinta-feira, queria fazer a festa com sua torcida em um horário em que eles já tivessem saído do trabalho. Portanto, sobrou tempo para os atletas passearem pelo Rio de Janeiro. Rafael, então, aproveitou o tempo livre para inovar. Após sair com a família pela manhã, o jogador decidiu passar em um shopping da cidade para comprar... Tinta para tingir o cabelo. Isto mesmo, enquanto todo o elenco almoçava, o goleiro estava no seu quarto do hotel pintando sua cabeça de vermelho, preto e branco, as cores do Paulista. “Quando eu desci para o restaurante, todo o mundo começou a zombar de mim, falando que eu estava muito feio. Mas, dez minutos depois, todos estavam pedindo o spray emprestado para pintar o cabelo também”, contou Rafael. Com as cores do Paulista literalmente dos pés à cabeça, os jogadores foram recebidos por uma multidão de torcedores em Jundiaí. Muito mais do que fanáticos pelo clube, lá estavam reunidos moradores comuns que também passaram a torcer pela equipe da cidade ao longo da competição. Não à toa, segundo matéria publicada pelo Globo Esporte na época, as lojas oficiais do Paulista quebraram o recorde de venda de camisas oficiais no dia posterior à conquista. Um torcedor em especial não estava lá, mas o motivo era “nobre”. Enquanto os jogadores comemoravam o título em um carro de bombeiros no meio de Jundiaí, a alguns quilômetros de lá, Clóvis de Campos estava cumprindo sua promessa: raspando o bigode depois de 20 anos. “Quem poderia imaginar que eu teria realmente que fazer aquilo? Fiz o compromisso em tom de brincadeira, mas, no fim, tive que tirar o bigode. Depois de vinte anos com ele, foi como tirar uma parte de mim”, declarou, aos risos, Clóvis, que, de tanto carisma junto aos torcedores, ganhou até bandeirão nas arquibancadas do Jayme Cintra.

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Jogadores, em cima de carro de bombeiro, sĂŁo recebidos por multidĂŁo em JundiaĂ­


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Até quem não estava mais no elenco, como Finazzi, foi lembrado pelo título. Nem que tenha sido dois anos depois... “Cheguei a ser convidado para a festa, mas não pude ir porque estava em Curitiba. Em 2007, quando eu já jogava pela Ponte Preta, estava indo para o vestiário do estádio Moisés Lucarelli quando ouvi uma voz conhecida me chamando. Era o presidente Eduardo Palhares com uma medalha da Copa do Brasil para mim. Foi uma atitude muito bacana e olha que eu tinha feito dois gols e meu time tinha vencido o Paulista por 3 a 1”, declarou Finazzi, que enquadrou a lembrança na parede de sua casa. O título não foi um divisor de águas apenas para o Paulista, que passou a ser reconhecido a nível nacional. Diversos jogadores do time campeão chamaram a atenção de clubes maiores e acabaram trocando de camisa após a competição. Cristian saiu de lá para o Atlético Paranaense e Léo e Márcio Mossoró, dois dos destaques daquela campanha, foram para no Internacional, por exemplo. Atletas do Paulista fazem a festa no aeroporto

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O troféu ajudou até na carreira de quem estava apenas começando. Depois de jogar as partidas decisivas, Réver se firmou no Paulista e, alguns anos depois, brilhou no Brasil inteiro. Tiveram alguns beneficiados até indiretamente... O goleiro Rafael acabou negociado com o Nacional, de Portugal, e, no seu lugar, o Paulista promoveu como titular um nome que seria bastante conhecido pouco depois: Victor, ou, para a torcida do Atlético Mineiro, “São Victor”. O atleta, que não entrou em nenhuma partida da Copa do Brasil, trocou a equipe jundiaiense pelo Grêmio três anos depois, mas foi com a camisa do “Galo” mineiro que conquistou uma série de títulos e ganhou a alcunha de santo. Para tornar o ano ainda mais especial, o Paulista, que largou completamente a Série B enquanto se concentrava na Copa do Brasil, conseguiu se livrar do rebaixamento para a terceira divisão na última rodada. O clube poderia até estar no segundo escalão do futebol nacional, mas teria pela frente algo que todos os times grandes estavam sonhando: a Libertadores. Os torcedores, com bigode ou não, sempre se lembrarão com carinho da conquista de 2005. Assim se deu a última “zebra” da Copa do Brasil até a confecção deste livro. Mas não coloco um ponto final neste trabalho... Pelo contrário, torço para que outros “Criciúmas, Juventudes, Santo Andrés e Paulistas” venham por aí e possam dar origem a novas páginas, com histórias ainda mais saborosas do que estas contadas aqui. Afinal, o futebol não sobreviveria nem a 90 minutos (sem acréscimos) se o “acaso” não pudesse desafiar estatísticas, esquemas táticos, retrospectos, Pitágoras, régua e compasso. E assim arranhar um sistema que é feito para os ricos cada vez ficarem mais ricos e os pobres cada vez ficarem mais pobres. 141


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Disputa de Pênaltis A Copa do Brasil não conta apenas com “zebras campeãs”. Em meio a esses quatro times que surpreenderam a todos e ficaram com o título, uma série de outros clubes pequenos também “aprontaram” para cima dos grandes e conseguiriam resultados inesperados que, embora certas vezes não tenham sido suficientes para alcançar a taça, deram um charme mais do que especial ao torneio. Estas “pequenas zebras”, claro, não poderiam ficar de fora deste livro. Como numa disputa de pênaltis, em que as únicas opções são acertar ou errar, a seguir você encontrará 10 perguntas, com apenas uma resposta certa, sobre outras equipes que também fizeram história no torneio.

É hora de testar seus conhecimentos na próxima página!

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1) Em 1992, o Vasco da Gama de Edmundo e Roberto Dinamite foi eliminado nas oitavas de final para o CSA. Qual foi o problema que o time de Alagoas teve que superar antes de eliminar o rival carioca? a) Os jogadores do CSA estudavam entrar em greve por conta dos salários atrasados b) Por conta do mau tempo, o avião em que o elenco do CSA estava teve que descer em Salvador, e o clube fez o restante do trajeto até o Rio de Janeiro de ônibus c) Após a segunda partida, alguns atletas do CSA revelaram que grande parte dos jogadores estava passando mal por terem ingerido comida estragada no hotel em que ficaram no Rio de Janeiro. d) O vestiário em que a equipe do CSA ficou no estádio São Januário estava sem água no dia da partida 2) Um ano antes de ser eliminado pelo Londrina nas oitavas de final de 1993, o Internacional foi campeão da Copa do Brasil. Quantos jogadores que estavam em campo na conquista participaram também do vexame diante do time paranaense em pleno Beira-Rio?

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a) Nenhum

b) 3

c) 5

d) 6


3) Em 1994, o Fluminense de “Super Ézio” foi eliminado para o tímido Linhares, ainda na primeira fase. O time capixaba contava com um jogador com nome de craque. Quem era ele?

a) Zé Falcão

b) Dico Maradona

c) Didi Toledo

d) Romualdo Pelé

4) Em uma das “zebras” mais históricas da Copa do Brasil, o Palmeiras foi eliminado pelo ASA de Arapiraca na primeira fase de 2002. Um jogador do time alagoano fez gol nas duas partidas e tornou-se o carrasco alviverde. Quem foi ele?

a) Jânio

b) Sandro Mineiro

c) Fuscão

d) Sandro Goiano 145


5) Também em 2002, o Brasiliense fez história e chegou até a decisão da Copa do Brasil, quando perdeu para o Corinthians. No caminho até a final, o time comandado por Péricles Chamusca eliminou dois gigantes do futebol brasileiro. Quais?

a) Fluminense e Atlético Mineiro

b) Vasco e Cruzeiro

c) Botafogo e Internacional

d) São Paulo e Grêmio

6) O Vasco caiu diante do 15 de Campo Bom na segunda fase da Copa do Brasil de 2004. Que o time gaúcho era comandado pelo técnico Mano Menezes todos se lembram, mas aquela equipe contava também com um jogador folclórico. Quem?

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a) Gilmar Fubá

b) Valdir Bigode

c) Perdigão

d) Amaral


7) Em 2005, o Vasco foi novamente vítima de uma “zebra”. O time carioca, que contava com Romário no elenco, foi surpreendido pelo Baraúnas, do Rio Grande do Norte, na primeira fase, e levou dois gols de Cícero Ramalho, que, com 40 anos, voltava a jogar após já ter anunciado até sua aposentadoria. Quantos quilos o atacante pesava na época?

a) 88kg

b) 92kg

c) 96kg

d) 100kg

8) O Santos foi eliminado nas quartas de final nos pênaltis para o Ipatinga, que, em 2006, figurava na terceira divisão nacional. Quem era o técnico da equipe mineira?

a) Geninho

b) Ney Franco

c) Jair Picerni

d) Ivo Wortmann 147


9) O Sport conquistou o título da Copa do Brasil em 2008 após passar por adversários como Palmeiras, Internacional e Vasco. Na primeira partida da final contra o Corinthians, a equipe pernambucana estava perdendo por 3 a 0, mas conseguiu descontar aos 45 do segundo tempo com Enílton. O que Carlinhos Bala disse após o gol do companheiro?

a) “Calamos o Corinthians”

b) “Vão ter que me engolir”

c) “Gol do título”

d) “Lá na Ilha do Retiro nós somos invencíveis”

10) Em 2009, o Santos de Neymar deu vexame na segunda fase da Copa do Brasil diante do CSA, que disputava a Série D e brigava contra o rebaixamento no Alagoano. Naquela época, o clube alvinegro se preparava para enfrentar o Corinthians na final do Campeonato Paulista, por isto decidiu poupar alguns jogadores na Copa do Brasil, decisão que saiu cara. Quem foram os titulares que não começaram jogando na equipe do Santos? a) Neymar, Germano e André Astorga b) Fabão, Kléber Pereira e Paulo Henrique Ganso c) Madson, Pará e Fábio Costa d) Roni, Fabiano Eller e Triguinho 148


149 1) A

2) D 3) B 4) D 5) A 6) C 7) B 8) B 9) C 10) B

Respostas





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