LUCAS VITOR SENA
Que Haja Paz em Israel A HISTÓRIA DO CLUBE DE DESBRAVADORES SHALOM
PREFÁCIO O Clube de Desbravadores é uma organização pertencente à Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), voltada para meninos e meninos de 10 a 15 anos. Trabalha com as crianças nas partes física, mental e espiritual, incentivando sempre nas crianças o amor e o serviço a Deus e à sociedade. Atualmente, mais de um milhão de crianças e adolescentes integram as fileiras da organização em todo o mundo, e na América do Sul, 298 mil meninos e meninas fazem parte do Clube de Desbravadores. No Amazonas existem mais de 5000 desbravadores, e grande parte deles se concentra na capital, Manaus. É um grande exército cuja força é exclusivamente para o bem. O clube Shalom faz parte desse exército. Fundado em 1970, permanece sendo até hoje uma luz no bairro da Raiz. Histórias de vida foram mudadas dentro do Shalom, formando grandes pessoas como profissionais de saúde, comunicadores sociais, pastores, empresários e muitos outros profissionais levam em suas vidas a marca do sangue azul. O leitor poderá encontrar nesta obra alguns termos que não lhe são familiares, como Campori (lê-se Camporee, grande acampamento de desbravadores), Associação (campo local de igrejas adventistas. Geralmente compreende a área de uma cidade ou um ou dois estados), Região (grupo de clubes de determinado distrito de igrejas) e muitos outros. Entretanto, à medida em que for lendo estas páginas, se sentirá tão parte deste universo que, ao final, já irá querer usar um lenço amarelo. Clube de Desbravadores Shalom | 5
Quando tivemos a ideia de escrever esta obra, logo entendemos que será apenas uma pequena contribuição para o que de fato o clube Shalom, que nos abriga desde os 10 anos de idade, merece. Entretanto, sabemos que se não houverem as pequenas contribuições, no futuro haverão ainda menos. Escrevemos a História para que não esqueçamos o passado e aprendamos com ele, e para lembrar também que muitos deram o seu sangue antes de nós em prol desta causa. Bem-vindo ao universo dos Desbravadores, leitor. E quando puder, procure a Igreja Adventista do Sétimo Dia mais próxima de você num domingo de manhã, ás 8h30 da manhã, para ver de perto o trabalho do Clube. Você não irá se arrepender! MARANATA! O SENHOR LOGO VEM!
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CAPÍTULO I O início de tudo – anos 1970 e 1980 e os pioneiros Maranata sempre é do cristão A bendita, feliz esperança! Maranata, a mensagem a dar A um mundo que está em mudança! Maranata é a fé a inspirar o fiel cristão. O regresso de Jesus amar, anunciar, apressar, aguardar! Maranata, Maranata, Maranata!
Domingo, 7h30 da manhã. Enquanto muitos ainda estão em suas camas, dormindo, alguns jovens e adolescentes estão aguardando no portão da IASD do bairro Raiz. Em questão de segundos o diretor do Clube vai chegar para abrir o portão. É o momento em que a diretoria se reúne para fazer o seu devocional e traçar os últimos ajustes para a reunião daquele dia. 7h50. Começam a chegar os primeiros juvenis e adolescentes. Pontuais, trazem na mochila suas Bíblias, cadernos de atividades das classes regulares, um caderno para anotações e lápis ou caneta, além de muita disposição, incomum para aquele horário do dia, principalmente em um domingo. Enquanto as unidades se reúnem para fazerem os seus devocionais, outros desbravadores começam a chegar, juntamente com instrutores e conselheiros. Ás 8h10 em ponto, a reunião inicia com o cerimonial. Apresentação de unidades ao oficial-de-dia, récita de ideais Clube de Desbravadores Shalom | 7
e canto do Hino do Desbravador. Segue-se o programa, com o devocional geral e oração. Dali, são divididos para as demais atividades: classes regulares, cantinho da unidade, e recreação. Ás 11h30, tudo termina, e a diretoria fica para dar o feedback da reunião do dia. Quem vê isso acontecer tão facilmente mal imagina que um dia muita gente deu seu suor e gastou tempo necessário para que o Clube de Desbravadores Shalom estivesse completamente estruturado, com classes, especialidades e unidades funcionando na mais perfeita ordem. A história, por mais que se faça no tempo presente, começou muito antes, em 1970.
Naquele ano, o Brasil vivia um estado de auge. No México, a Seleção Brasileira de Futebol conquistava o tricampeonato mundial. O país estava sob o Regime Militar há seis anos, e agora, tinha como presidente da República o general-de-Exército Emílio Médici. No Amazonas, governado pelo coronel João Valter de Andrade, iniciavam-se as obras de restauração do Teatro Amazonas, uma das mais famosas casas de ópera do Brasil, abandonado à sua própria sorte há tempos. Manaus, cujo prefeito era Paulo Pinto Nery, começava a viver o boom causado pela Zona Franca de Manaus, instalada em 1967. Novos bairros surgiam, e a capital deixava de ser a Metrópole da Borracha, que fora no início do século, para se tornar a metrópole industrial do Norte do Brasil.
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O bairro da Raiz, na zona Sul de Manaus, também fundado em 1967 por iniciativa do então governador Arthur Reis, seguindo a linha desenvolvimentista adotada pelo então presidente da República, general Arthur da Costa e Silva, e o plano de urbanização da capital amazonense, que desenvolveu bairros como o de Flores. idava do pequeno grupo de adventistas oder Executivo estadual As terras do bairro, que à época pertenciam à família Nery, ficavam na margem do Igarapé do 40, um dos inúmeros afluentes do rio Negro que invadiam a cidade de Manaus. Com o fim da Cidade Flutuante, situada na beira do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, as famílias foram obrigadas a procurarem outros lugares para viverem, optando pelas regiões próximas ao Centro. Bairros como Morro da Liberdade, Betânia, Crespo e Raiz começaram a ser povoados a partir dessa expansão.
Foi nessa onda de expansão da capital que famílias como os Farias, os Moraes e os Gomes chegaram ao bairro. Enquanto a família Gomes, cujo patriarca era Samuel Padilha, fazia parte da Igreja Adventista Central de Manaus, na avenida Sete de Setembro, a família Farias, chefiada por Bento Farias, eram membros da Igreja Adventista de Cachoeirinha, na antiga rua Belém, atual Marciano Armond. Os Moraes, entretanto, vinham de Maués, cidade-berço do adventismo no Amazonas, e seu patriarca era Manoel Moraes. Oito anos antes, o pastor Itamar Paiva, líder dos Missionários Voluntários da Missão Central Amazonas (MCA), Clube de Desbravadores Shalom | 9
fundara um tal “Clube de Desbravadores” na Igreja Central de Manaus. Alguns achavam que era uma invencionice vinda de São Paulo e dos Estados Unidos, que não daria muito certo ali no meio da selva. O fato é que em maio de 1963, esse clube contava com cerca de 120 crianças, algumas provenientes do próprio bairro da Raiz. Com um grupo de pessoas tão grande, fez-se necessário dividirem-se, surgindo três novos clubes: o Amazonas, da igreja da Cachoeirinha; o Falcões da Liberdade, da igreja do Morro da Liberdade; e o Vitória Régia, que continuou na igreja Central. Em seu livro A Conquista de Uma Cidade, o pastor Abdoval Cavalcanti define o ano de 1970 como o da fundação oficial da IASD da Raiz. A congregação, formada em março daquele ano, originara-se de uma classe de Escola Sabatina Filial da Igreja Central de Manaus, e quando transformada oficialmente de grupo para igreja pelo pastor João Isídio da Costa, já contava com cerca de 80 membros, sob a liderança do pastor Alair Freitas.
Samuel Padilha Gomes nasceu em 1935, na vila de Nazária, no município de Coari, interior do Amazonas. Com seis meses de idade, seus pais migraram para Codajás, onde Samuel foi criado e cursou todo o ensino Primário. Aos 17 anos, mudou-se para Manaus para cursar o curso Ginásio no Colégio Amazonense Pedro II. Entretanto, na mesma época, entrou para o Exército Brasileiro, de onde saiu em decorrência de sua aposentadoria, para servir ao 27° Batalhão de Caçadores (27 BC), subordinado ao Comando de Elementos de Fronteira (CEF), que funcionava na Ilha de 10 | Clube de Desbravadores Shalom
São Vicente, rua Bernardo Ramos, Centro de Manaus. Da capital amazonense, Samuel foi transferido para Guajará Mirim, no então Território Federal de Rondônia, e mais tarde, para Boa Vista, em Roraima. Lá, conheceu a jovem Dircinha Rocha, com quem se casou. Foi em Boa Vista que o militar viu eclodir o movimento militar de 1964, já com seus filhos Dirce, Samuel Filho e Núbia. A casa da família em Boa Vista tinha um quintal grande com muros baixos, então todos os passantes viam quem lá estava. Foi numa dessas passagens que um amigo da família de Dircinha, Sandoval Linhares, viu a jovem e parou para conversar. Linhares era pastor da Igreja Central de Boa Vista, de onde a moça era membro. O pastor perguntou à jovem porque ela não tinha ido mais aos cultos, e ouviu a resposta de que, por seu marido não professar a mesma fé, ela tomou a decisão de não frequentar. O pastor Sandoval, então, ofereceu estudos bíblicos para Samuel, que prontamente aceitou. A cada domingo, o pastor Linhares ia à casa de Samuel e Dircinha para estudar a Bíblia. Padilha fez três séries de estudos bíblicos da Escola Radiopostal de A Voz da Profecia, programa de rádio da Igreja, incluindo o chamado Curso Avançado. Ao final deles, entretanto, não se decidiu pelo batismo. No mesmo ano, é transferido de volta para Manaus, onde o pastor Aldo Carvalho visita a família, a fim de convencer o chefe da casa a batizar-se. Depois de tanto resistir, Samuel Padilha Gomes desceu às águas batismais em 31 de dezembro de 1964. Em 1970, o militar é transferido para o Rio de Janeiro para fazer o Curso de Formação de Sargentos. A família vai junto, e é na Cidade Maravilhosa que nasce o quarto filho, Wagner. “Eu não queria ficar lá. Se hoje a situação do Rio Clube de Desbravadores Shalom | 11
já é péssima, naquele tempo estava começando a ficar assim. Eu não queria que minha família fosse atingida pelos males da cidade, então conversei com algumas pessoas no Departamento de Pessoal da Ativa do CEF, que me deram vias para ser transferido de volta para Manaus. Retornei em 1971, e aqui permaneci”. Quando a família Gomes retorna para Manaus – onde nasceu o último filho, Everton –, Samuel logo fica sabendo de um pequeno grupo de adventistas liderado pelo pastor Alair Freitas, que se reunia próximo à avenida Tefé. O militar, naquela altura, morava no Conjunto Costa e Silva, no mesmo bairro, mas mudara-se para a Travessa São Pedro, também perto da igreja. “Eu pensei ‘tem uma igreja a 10 minutos da minha casa, não tem razão para eu ficar indo para a Central todo sábado, além de ainda ter que ficar procurando estacionamento’. Resolvi na mesma hora que ia me transferir para a Raiz”, conta.
Enquanto na zona Sul de Manaus existiam apenas igrejas na Cachoeirinha e no Centro, a construção de uma igreja na Raiz se tornava um marco para os adventistas da região. Ao invés de caminharem ou irem de ônibus ou carro para os demais bairros, podiam simplesmente andar até a igreja. No entanto, era longe e perigoso para as crianças irem andando todo domingo para participar das atividades dos clubes existentes na cidade. Alguns, como a jovem Rute Farias, arriscavam ir até a rua Belém, onde funciona a igreja
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de Cachoeirinha e o clube Amazonas, mas mesmo assim, ainda era inseguro. Por fim, em 28 de abril de 1970, os jovens Célio Costa, Rubens Solimões, Waldir Mota, Tereza Morais e Austrazelino Queiroz, fundaram o Clube de Desbravadores Pioneiros, na igreja da Raiz. O nome foi dado como uma expressão viva dos Desbravadores, e àquela altura, contava com cerca de vinte crianças e adolescentes. Seu primeiro diretor foi Rubens Solimões. Núbia foi uma das primeiras desbravadoras do clube. Filha de Samuel Padilha, ela e os irmãos participavam com todo o afinco das atividades realizadas. Ela relata que na época, chegou para frequentar em sua igreja o missionário norte-americano Daniel Walter, responsável pelo Departamento de Aviação da então Missão Central Amazonas, hoje aposentado nos Estados Unidos. “O pastor Daniel trouxe muitas novidades para o clube. Os manuais, as classes, a própria organização do clube em si. Nós aprendemos muita coisa com ele e com a esposa, a irmã Dorothy. Todas as classes do Clube de Aventureiros, por exemplo, nós completamos no Clube de Desbravadores”, explica. Hoje com 54 anos, ela lembra com saudades dos acampamentos da época. “Era tudo muito bom! Nós íamos para o mato, aprendíamos a usar facão, a trabalhar com corda, a tirar água de cipó... até hoje eu me lembro de como nós assávamos batata. São coisas que ficaram na minha vida. O clube ajudou a me desenvolver”. Em 1987, viajou para Pernambuco para cursar Psicologia, mas lá cursou História. “Eu saí do clube e fui para Recife com a intenção de retornar para o clube quando voltasse para Manaus. Passei dois anos lá, e quando eu retornei, Clube de Desbravadores Shalom | 13
voltei casada. Não consegui ficar no clube e acabei me separando do meu primeiro marido. Logo depois, me relacionei com o pai dos meus filhos. Fiquei fora da igreja por um bom tempo, e sempre o meu coração dizia que eu tinha que voltar, que eu não tinha razão para estar fora”. Núbia não voltaria para as atividades de sua infância até 2008, quando seus filhos já tinham idade para participar das mesmas. Mas isso é história para depois. Rute Farias foi uma das primeiras instrutoras do clube Pioneiros. Sua família fora uma das fundadoras da igreja de Cachoeirinha: seu avô, Bento Farias, fora o primeiro tesoureiro daquela igreja, e ela própria participava do Clube de Desbravadores Amazonas. Quando o Pioneiros iniciou suas atividades, Rute, que se mudara para a igreja da Raiz com a família, foi convidada para ser instrutora da classe preliminar de Mãos Ajudadoras e da classe progressiva de Amigo. Revirando suas memórias, lembra que o pastor Alair disse que precisava ser formado um clube de desbravadores na igreja, que ainda era pequena. Seu cunhado Rubens Solimões assumiu a direção. Rute participou ativamente do clube de 1970 a meados da década de 1980. Por ser professora, tinha facilidade para lidar com crianças, tornando-se instrutora, conselheira e coordenadora geral das classes progressivas durante o período em que ficou no clube. “Eu adorava dar aulas para as classes! Cada classe progressiva tinha um hino, que nós cantávamos antes de começar as instruções. Esses hinos falavam exatamente o que nós estudávamos nas classes, como o Salmo do Pastor, a Regra Áurea, as Bem-Aventuranças, os Dez Mandamentos e outros requisitos da classe de Amigo, por exemplo”.
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“O estudo da Bíblia dentro do clube é constante. Eu lembro que na época, não se aprovava nenhum desbravador para a investidura se ele de fato não tivesse estudado tudo o que foi ensinado na classe. Não bastava apenas saber uma história bíblica ou contá-la, era preciso interpretar! Tudo isso ajudava os meninos a aprenderem. Eu sei que hoje isso é mais intenso, e isso é bom. É sinal de que os princípios do clube continuam os mesmos, até porque princípio não muda”, conta. Hoje, com 66 anos, Rute lembra com saudades dos acampamentos. “Nós não tínhamos os Camporis como temos hoje, mas nós fazíamos acampamentos para recreação própria. Lembro-me de um que o clube, juntamente com a sociedade MV, foi acampar em um terreno da igreja adquirido pelo pastor Daniel e doado para a igreja, que ficava na Estrada Claudio Mesquita, na BR-174. Lá nós fizemos atividades de sobrevivência, de arte de acampar, subimos vários morros pelo meio da floresta fechada, e no alto de um morro, o pastor Daniel ensinava como cozinhar alimentos na terra, como se livrar de animais selvagens... Isso realmente me marcou muito, e eu guardo o período que fiquei no clube com muito carinho no coração”. Pelas mãos e instruções da professora, saíram vários meninos que mais tarde se tornaram líderes do Clube, da Sociedade de Jovens (que à época, se chamava Sociedade de Missionários Voluntários – MV) da igreja e, mais tarde, da própria IASD da Raiz. “O Haroldo, o Itamar, o Arlindo (Jorge), o Agnaldo e o Osvaldo Oliveira, as crianças da família Passos, as meninas da família Martins (Jane, Jacyr, Janira), todos passaram por lá. Outros que eu lembro são as famílias Soledade e Solimões e a minha família. Nós podíamos não
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estar na linha de frente, como diretores, mas sempre demos muita força para o clube nos bastidores. Eu soube de muitas histórias de meninos que não dariam muito certo na vida, mas pela influência do clube, se tornaram grandes líderes na igreja e até nas suas vidas pessoais e profissionais”, relembra.
Marcos Lúcio Gonçalves foi o responsável pela mudança do nome do grupo de Pioneiros para Raízes. Diretor no início da década de 1980, viu muitos meninos entrarem no clube, como Haroldo Almeida, Itamar Vilhena, José Roberto Oliveira. No ano de 1984, Marcos, que servia ao Exército Brasileiro, foi deslocado para o Rio de Janeiro. Desta forma, o Raízes ficou desativado por longos três anos. Em 1986, a Comissão Diretiva da Igreja votou, para o ano de 1987, o jovem Haroldo Almeida para ser o diretor do Clube de Desbravadores da congregação. Sua trajetória começara ainda em 1980. Em sua gestão que houve nova mudança de nome: de Raízes para Órion. “Quando eu assumi a direção, tinha pouca visão de liderança. O estilo de diretoria da época era muito centralizador, isto é, toda a parte administrativa era exercida pelo diretor, sem qualquer delegação de funções a outras pessoas. Nós trabalhávamos na igreja, e, por vezes, atuávamos como diáconos, organizando a saída, recolhendo dízimos e ofertas, e dirigindo a programação do Dia Mundial dos Desbravadores, mas nada além disso”, conta Haroldo, que hoje atua como professor. Além de desbravador, ele também fazia parte dos Escoteiros. “Particularmente, eu achava que o Clube de Des16 | Clube de Desbravadores Shalom
bravadores era fraco, porque a dinâmica era diferente dos Escoteiros. Quando eu assumi em 1987, nós resolvemos mudar esse quadro. Foi quando chegou também o Itamar (Vilhena), cheio de ideias. Nós juntamos essas ideias e resolvemos montar o projeto de clube ideal”, relembra. A estrutura pensada por Haroldo e Itamar para o novo clube podia até ser considerada impensável para o momento, mas cabia perfeitamente em uma das principais diretrizes do Clube de Desbravadores: ganhar almas. “A mentalidade que se tinha nos clubes é que tudo funcionava como uma creche. Não era para ser assim. O Ministério dos Desbravadores fora criado para ganhar almas, formar líderes e evangelizar, tanto que o clube estava sempre batizando meninos, meninas e até mesmo seus próprios pais. Nós nunca pensamos pequeno; o projeto que tínhamos era para mais de 100 integrantes”, explica. Em certo dia reuniram-se 11 pessoas, incluindo o próprio Haroldo, para melhorar as ideias e projetos: Itamar Vilhena, Laíse Cristina Costa, José Roberto Oliveira, os irmãos Paulo, Tereza e Manoel Moraes Filho (conhecido como Fiel), Janira e Erasmo de Paula, e Inez e César Alcântara. “Quando chegamos naquela reunião, nosso desejo era um só: que o clube fosse um legado para os nossos filhos e para a igreja. Alguns de nós ali éramos solteiros. Itamar e Laíse já eram casados, mas eram jovens, assim como Janira e Erasmo, e César e Inez já tinham filhos. Mesmo assim, a ideia era uma só: um clube que nossos filhos participariam. Deu certo”. Sob a liderança deste grupo, o projeto vingou. Na segunda passagem do professor pela diretoria, o clube chegou a ter cerca de 180 desbravadores, um feito inédito para a época. “Para que o projeto funcionasse ainda melhor, nós Clube de Desbravadores Shalom | 17
unimos as diretorias JA e de Desbravadores. Além das próprias crianças e adolescentes, como o Fiel e o André Chaparro, que hoje são Líderes JA, nós investimos em muita gente boa, como José Carlos (Nascimento), Irinete (Crisóstomo), Paulo Félix e muitos outros. Eles foram meus alunos no Curso de Liderança de Desbravadores, e hoje estão à frente do Ministério Jovem.” “Todo mundo que entrou no clube na nossa liderança começava a sonhar diariamente com o projeto. Meninos e meninas que antes não tinham quaisquer perspectivas na vida, hoje são líderes, desbravadores em toda a sua essência. Eu tenho certeza que o Clube Shalom mudou muito a sua atuação com esse projeto, que refletia com louvor que é ser um desbravador de verdade”, completa. Haroldo ainda seria diretor mais duas vezes: em 1994 e 1995. Seu sonho de deixar um Clube para seus filhos se concretizou: o mais novo, Luiz, foi desbravador na Raiz e hoje atua como conselheiro no Clube de Desbravadores Água Viva, da IASD do bairro de São Francisco. Thays, a filha do meio, além de desbravadora, foi conselheira da unidade Beija-Flor, das meninas de 12 e 13 anos. Thiago, o primogênito, depois de ter sido conselheiro de unidade e instrutor de classes, atuou em 2017 como coordenador de especialidades. Uma prova que o sangue azul, cor oficial do clube, não é apenas espiritual, mas também genético.
A partir de 1988, o clube começava a respirar o ar das mudanças. No final de 1987, como já era o costume, a 18 | Clube de Desbravadores Shalom
Comissão de Nomeações para 1988 indicou o casal César e Inez Alcântara, recém-chegados do Rio de Janeiro, para a diretoria do Clube de Desbravadores Órion, com Haroldo Almeida e Itamar Vilhena como associados. Ele era militar da Marinha do Brasil, e ela, professora. Foi naquele mesmo ano, de acordo com Inez, que o nome Shalom passou a vigorar. “Nós identificamos que já havia um clube Órion na Missão Central Amazonas. Daí, em uma reunião com a diretoria e alguns desbravadores, vimos que era preciso mudar. A Etiene Cantuário sugeriu Shalom, que é a palavra paz em hebraico. Todos aceitaram. Nascia ali o nosso nome. Levamos a ata da reunião para a Missão e enfim, oficializamos o Shalom”. “Grande parte dos meninos não tinha uniforme, até porque ninguém em Manaus vendia os acessórios como o lenço, a faixa, os bottons, entre outros. Entrei em contato com um amigo meu do Rio de Janeiro, que era Líder de Desbravadores, e pedi a ele que trouxesse esse material de lá. Após cumprirmos os requisitos, fizemos a primeira cerimônia de admissão em Lenço de Desbravadores em Manaus”, conta a professora. Ainda na gestão de César e Inez, o Shalom se tornou pioneiro em uma área: foi o primeiro clube em Manaus a executar uma evolução de Ordem Unida. O trabalho foi conduzido pelo diretor, que trouxe o costume da Marinha do Brasil. “Foi em um dos acampamentos que nós participamos, antes de os Camporis serem organizados pela MCA. Tínhamos um grupo muito dedicado na Ordem Unida, e na evolução que ensaiamos, o objetivo era que, marchando, conseguíssemos escrever a palavra Shalom. Deu certo. Foi uma ovação geral!”, conta César Alcântara.
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Ainda hoje, o clube é conhecido por suas evoluções, que junto a outros requisitos, lhe garantiu boas colocações em concursos da atual Associação Central Amazonas (ACeAm). Na sua primeira participação em competições, no II Concurso de Ordem Unida da ACeAm, em 2009, o clube angariou um excelente segundo lugar, ficando por dois décimos atrás do Clube de Desbravadores Atalaia Luminar, da IASD de Santo Antônio I. Uma história curiosa e ao mesmo tempo engraçada aconteceu na época dos dois na diretoria do clube, e que até hoje, todos os ex-desbravadores de Inez e César lembram às risadas. “Os meninos, quando chegam na adolescência, sempre tem aquele desejo de namorar, de beijar. E aí, o Luiz Aleluia, junto com o César, viram aquela ‘presepada’ e resolveram brincar com eles. No meio de um acampamento, o Luiz perguntou ‘quem aí gosta de beijar?’. A meninada respondeu animada que gostava! O Luiz, então, pegou um sapo que ele estava escondendo e disse ‘pois beijem o sapo!’. Os meninos se viram obrigados a beijar o sapo, enquanto as meninas riam!”, relembra Inez, às risadas. César dirigiu vários acampamentos de sobrevivência na selva, ensinando aos meninos e meninas como tirar sal das cinzas, como se orientar com e sem bússola, entre outras atividades. “Fizemos as especialidades de Rapel, Natação I e II e gostávamos muito de fazer Ordem Unida. Foi um período maravilhoso para todos nós”, afirma.
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Se os últimos dois anos foram o prenúncio de grandes mudanças para o Clube, 1989 foi o ano em que todas essas mudanças ocorreram. Para aquele ano, Itamar Vilhena, já falecido, foi escolhido para ser o diretor do Clube Shalom. “O Itamar queria deixar o clube com a cara dele. Ele queria que a partir daquele momento, o Shalom fosse algo novo, algo inédito, que deixasse sua marca por onde quer que passasse”, conta Laise Cristina Costa, então secretária do clube e esposa de Itamar. E assim o fez. Assim que assumiu a direção, as atividades começaram, com foco no cumprimento de requisitos das classes regulares e avançadas. E à medida que os meses se passavam, o clube passou por uma reformulação completa, a começar pelos nomes das unidades. “As femininas ganharam nomes que faziam referência à beleza da Criação, e as masculinas levaram nomes de estrelas e corpos celestes. Era desejo do Itamar que o Shalom fosse destaque por onde quer que passasse”, completa Laise. De fato, aconteceu. As unidades masculinas receberam os nomes de Cruzeiro do Sul, Scorpion, Prócion, Órion e Antares. Já as femininas, Arco-Íris, Beija-Flor, Rosa de Sarom, Alpha e Brilho Celeste. Hoje, as unidades Órion, Antares, Alpha e Brilho Celeste encontram-se desativadas, mas por muito tempo abrigaram desbravadores e desbravadoras de garra e fibra. A parte administrativa foi reformulada, dos cargos à documentação, sob a responsabilidade direta de Laíse, que é graduada em Administração pela Universidade do Amazonas (UA) e trabalhava como secretária em um jornal, onde conhecera Itamar. Ou seja, tinha experiência. “Quando Clube de Desbravadores Shalom | 21
cheguei para somar com o clube, o Itamar deixou toda a parte de secretaria comigo, só que eu não conhecia o funcionamento do clube ainda. Então, devorei todo o Manual Administrativo do Clube de Desbravadores na época para entender. Depois daí, foi fácil”, relembra Laíse Cristina.
Os primeiros 20 anos de história consolidaram o clube. Durante este tempo, pessoas vieram para somar, outras saíram, outras resolveram ficar. O legado deixado por elas não pode ser medido. A partir de 1989, o clube Pioneiros, que se tornou Raízes, depois Órion, e finalmente Shalom, continuaria trilhando um caminho glorioso, construído na base de sangue, suor, lágrimas e muitas orações. No final de 1989, a Comissão de Nomeações da igreja da Raiz se reuniu mais uma vez, e, para o ano seguinte, vota o nome de Itamar Vilhena da Silva para exercer a função de diretor. A partir daquele momento seria escrita uma nova história.
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CAPÍTULO II Começo de uma nova história – Anos 1990
Avançai, juvenis, afrontando a estrada ao pó Sempre avante, garbosos, gentis! Pois assim, juvenis, sede J.A. reais Corajosos e bravos leais!
- Maranata! - O Senhor logo vem! - Capitão Fábio Gomes apresenta unidade Prócion em forma, sem alteração, pronta para as atividades do dia. - Unidade apresentada! - Permissão para entrar em forma! - Concedida. Fábio executa o comando de meia-volta, volver e aguarda para entrar em forma. Quando o oficial-do-dia dá o comando descansar à unidade, o adolescente entra na formação, com o peito estufado, pronto para dar seguimento. Naquela reunião, ele irá terminar os requisitos teóricos da classe regular de Guia e se preparar para o II Selvori, onde cumprirá os requisitos da especialidade de Vida Silvestre. Fábio Gomes entrou no clube aos 10 anos. Criado na rua Independência, próxima ao Igarapé do 40, no bairro da Raiz, sonhava em ser desbravador desde que conheceu o clube. Não nasceu em família adventista: os tios Ízis e MaClube de Desbravadores Shalom | 23
noel, junto com os primos Annison, Anielle e Yara, se batizaram na IASD da Raiz em 2008, e logo depois, Fabinho, como ainda é conhecido, apesar de as mudanças físicas de seu corpo já denunciarem que ele não pode mais ser chamado pelo diminutivo de seu nome. Seu primeiro conselheiro foi Ítalo Vilhena, filho de Itamar Vilhena e Laíse Cristina, ainda na unidade Cruzeiro do Sul. Desde sua entrada no clube, foi reconhecido como um desbravador esforçado: sempre participou do Pelotão de Elite do clube, terminou todas as suas classes regulares e até mesmo algumas avançadas, e é um ás em Nós e Amarras. Apesar da pouca idade, já atua como sonoplasta da igreja. Se a família de Fábio não tivesse conhecido a igreja, muito provavelmente ele teria seguido o mesmo rumo de outros garotos de sua idade: cedo, teria se deixado seduzir pelas drogas, e mais tarde, pela criminalidade, alimentando o tráfico na zona Sul da capital. Hoje, poderia estar preso ou até mesmo morto. Em resumo: se não fosse pelo Clube de Desbravadores, com todas as suas atividades, a vida de Fábio seria outra. Ao longo da década de 1990, histórias como a de Fabinho sempre foram recorrentes no Clube de Desbravadores. Jovens que não conheciam a igreja, mas em alguma passeata, tiveram um brilho nos olhos ao ver meninos e meninas fardados, trajados com um lenço amarelo, distribuindo folhetos missionários com um largo sorriso. Não foi à toa que Haroldo Almeida disse, em sua segunda passagem pela diretoria, que haviam mais de 100 meninos e meninas nas fileiras do clube.
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Em 1990, Itamar Vilhena foi votado para ser diretor do Clube de Desbravadores Shalom. A consolidação do projeto de clube pensado por ele, Haroldo Almeida e Laíse Cristina estava começando a dar certo, junto com a parceria de outras pessoas, como as irmãs Jane e Jacyr Martins, Luiz Aleluia, José Roberto Oliveira, entre outros. Itamar continuou na direção até o ano de 1992, e durante sua gestão, o clube participou do seu primeiro campori na MCA, em 1990, sagrando-se campeão. Em 1991, o clube participou de seu primeiro Campori Interdistrital de Unidades, onde cada unidade era como um clube. Foi ali que os desbravadores da unidade Antares viveram um dos momentos mais marcantes em toda a sua história. O pequeno Lenno Santos, de apenas 11 anos, era o capitão da unidade. Era ele quem comandava e apresentava a mesma, sem esquecer de encorajar a cada um dos seus companheiros. Em uma das competições – que aconteciam no terreno da Missão Central Amazonas, no bairro do Tarumã –, Lenno caiu de bruços, sentindo muita dor em seguida. Levado à enfermaria do acampamento, descobriu-se que o rapaz quebrara o braço. Com o braço lesionado e enfaixado, Lenno voltou para casa na companhia de Itamar, seu diretor, enquanto os demais garotos ficavam desolados sem o seu capitão. No dia seguinte, os desbravadores da unidade Antares pareciam estar vendo uma miragem na entrada do Manjadinho. Ali estava Lenno, com o braço enfaixado e sua Clube de Desbravadores Shalom | 25
mochila, de volta ao evento, onde ficou até o fim, participando de todas as demais competições dentro das suas limitações físicas. No fim do evento, Lenno recebeu o prêmio de Melhor Capitão, e a unidade Antares sagrou-se campeã. “A persistência e a garra do Lenno emocionaram a todos nós, principalmente ao Itamar”, lembra Laíse. Durante toda a sua adolescência e juventude, Lenno Santos nunca deixou de ser membro do clube. Sua esposa, Leidyane, também foi conselheira de unidade, participando do Pelotão de Elite nos anos de 2009 e 2010. Hoje, a filha dos dois, Larissa, com 13 anos, segue os passos dos pais: é desbravadora da unidade Beija-Flor, e é uma das mais destacadas integrantes do clube.
Em 1993, Laíse Cristina Costa assume a diretoria pela primeira vez, e é a segunda mulher a se tornar diretora. Já tendo atuado como secretária do clube, conselheira de unidades e até mesmo diretora associada, Laíse chega ao seu primeiro grande desafio: substituir Itamar Vilhena na direção, considerado, à época, o melhor dos diretores. “O Itamar tinha sido votado para ser regional, e na época, a nossa região abrangia os bairros da Raiz, Japiim e Coroado. Humanamente, ele não tinha condições de cuidar da região e também do Shalom, e aí, chegou comigo e disse ‘Não tem outra pessoa pra assumir.’ O Itamar não queria largar o osso, e largaria se fosse para alguém de confiança”, conta. Acontece que Laíse não era adventista de berço, e an26 | Clube de Desbravadores Shalom
tes de 1986, não tivera quaisquer contatos com os adventistas do sétimo dia ou o Clube de Desbravadores. Conhecera Itamar, Haroldo e José Roberto quando os quatro trabalhavam em um veículo de comunicação na capital amazonense. Depois de insistentes convites para assistir a um culto Jovem na IASD da Raiz, Laíse resolveu ir. Foi a alguns, e até mesmo participou de um retiro espiritual da igreja no período do Carnaval. Meses mais tarde, começou a namorar Itamar Vilhena, e o casamento deu frutos: Itamar Júnior e Ítalo. Quando o segundo filho nasceu, Laíse resolveu aceitar o batismo. “Foi o Espírito Santo que me tocou. Não pedi estudos, ninguém me deu estudos, eu fui atrás sozinha”, conta. Quando Laíse chegou para ser diretora, sentiu um baque. “Quando você faz parte da direção, é uma coisa. Mas quando você está à frente, é cabeça, é diretor ou diretora, é completamente diferente. Todo mundo que chegue para ser diretor de um clube de Desbravadores vai passar por isso, e quem volta para a direção também fica com o pé atrás. Foi difícil, porque para toda a turma, o Itamar era perfeito, o melhor diretor. Tinha paciência, tinha tato, era carismático, e o clube gostava dele. Substituir o Itamar era complicado”, afirma. Hoje, quando se fala em Shalom, logo vem à mente a figura de Laíse Cristina. “Posso dizer que 1993 não foi um ano tão fácil assim. Era eu e uma diretoria sem o Itamar. Mas a gente conseguiu! Deus nos deu sabedoria para que as coisas acontecessem. Tenho certeza que no meu primeiro ano como diretora, eu mais aprendi do que ensinei”. Em 1994, a vida de Laíse deu um giro de 180°. Por razões particulares, Laíse e Itamar se divorciaram. No entanto, a amizade dos dois continuou. Tanto que em 1996, os Clube de Desbravadores Shalom | 27
dois se uniram para apresentar ao clube Shalom, na época em que José Carlos Nascimento era diretor, um projeto de portal e acampamento para o Campori da MCA que aconteceria naquele ano.
Para o ano de 1994, a Igreja da Raiz votou o nome de Haroldo Almeida para a direção do clube, tendo como vice-diretores Luiz Aleluia e Jane Martins. Mas em junho daquele mesmo ano, os dois trocaram de função: Luiz tornou-se diretor e Haroldo foi votado como vice-diretor do clube. E em 1995, aconteceu a mesma coisa: enquanto Luiz Vidal Aleluia começou o ano como diretor, no mês de março, Haroldo assumiu, com a eleição de Luiz para comandar a Região. Naquele ano, a diretoria do Shalom também ganhou dois grandes reforços: o casal José Carlos e Irinete Nascimento. “O Haroldo nos convidou para assistir a uma reunião do clube num domingo, e quando chegamos na quadra da igreja e nos deparamos com aquela imagem da turma em forma, todos enfileirados, por unidades, liderados por um capitão, foi um impacto enorme”, afirma Irinete. “Eu havia sido militar, mas já estava fora das Forças Armadas. E quando eu vi o clube em forma, já gostei! Mas quando eles passaram para assistir as instruções, eu desgostei (risos)! Percebi que a turma era muito animada, muito agitada, e eu mesmo achei que não ia conseguir. No final da reunião, o Haroldo nos fez o convite formal para integrar o clube. Eu disse a ele ‘Haroldo, talvez eu não fique, porque a 28 | Clube de Desbravadores Shalom
turma é muito agitada, não sei se a gente vai conseguir trabalhar com eles’. E aí ele me respondeu ‘De fato, Zé Carlos, a turma é agitada. Mas se todas as pessoas que a gente convida para participar do clube não quiserem trabalhar por esse motivo, quem é que vai?’ Na hora eu entendi e resolvi ficar”, conta José Carlos. “Quando entrei no clube, de cara, fiquei com a unidade Órion, e era uma turma muito boa! Ficavam sob a minha orientação Mário, Rogério e André Chaparro, Sandro e Luciano Lima, Alessandro e Alex Simões, e quando eu olho para eles hoje e os vejo homens feitos, fico feliz demais, porque eu sei que ajudei na construção do caráter deles”, completa. Alessandro Simões, inclusive, trabalhou como radialista, apresentando o programa Novo Tempo Manaus. Hoje, estuda na Universidade Adventista da Bolívia, onde se prepara para receber o diploma de bacharel em Teologia. O casal ficou, e em 1995, sob a direção de Haroldo Chaves, encarou um dos maiores desafios de suas vidas: o VII Campori da MCA no município de Maués, distante de Manaus 356 quilômetros pelo rio Amazonas. Naquele ano, Luiz Aleluia, mesmo como regional, continuava auxiliando o clube Shalom com o transporte para Maués. A preparação foi intensa, e no dia do embarque, um imprevisto. O regional recebeu uma ligação do dono do barco, que disse não poderia mais levar o clube para Maués, porque o barco estava com problemas. Enquanto a diretoria recebia a notícia, os desbravadores começavam a chegar na igreja da Raiz com mochilas e colchonetes, todos animados. “Na mesma hora, o Luiz nos chamou, explicou a situação e disse ‘vamos orar e vamos pro Mercado, porque a gente precisa viajar pra Maués’. Oramos, e resolvemos levar todo o clube para a Manaus Moderna. Não sabíamos o que nos esperava, Clube de Desbravadores Shalom | 29
só resolvemos confiar em Deus”, lembra José Carlos. “Chegamos na Manaus Moderna, e encontramos lá o Carlinhos, nosso amigo do clube Sentinelas do Rei, lá da igreja do São José. Ele estava num caminhão, com todo o material deles, e de tão pesado, o caminhão acabou atolando. Quando chegamos lá, vimos aquela situação e o ajudamos. Aí ele nos disse ‘ô Aleluia, o nosso barco tá muito grande e sobrou muito espaço! Vocês não conhecem nenhum clube que queira ir com a gente?’. Era a resposta das nossas orações diante dos nossos olhos! O Luiz disse pra ele na mesma hora ‘vocês acabaram de encontrar! O Shalom vai junto com vocês pra Maués!’”, conta Irinete, emocionada.
Para 1996, a Igreja da Raiz aprovou o nome de Luiz Aleluia para ser o diretor. No entanto, este precisaria viajar para São Paulo, para concluir o bacharelado em Teologia pelo Instituto Adventista de Ensino. Em seu lugar, a igreja aprovou o nome de José Carlos Nascimento para assumir a diretoria dos Desbravadores, tendo como vice-diretor Paulo Félix, e como associados, Haroldo Almeida, Mário Chaparro, Rosinaldo Pereira, Laércio Pires, e como secretária, Irinete Nascimento. Naquele ano, outro grande desafio esperava o clube Shalom: o VIII Campori da MCA, com o tema O Senhor Acampa Conosco, em Itacoatiara, distante 271 quilômetros da capital pela rodovia AM-010. Foi um ano difícil do ponto de vista financeiro, visto que a congregação decidiu pela reforma do templo, e todo o dinheiro em caixa estava des30 | Clube de Desbravadores Shalom
tinado às obras da construção. “Quando eu levei a proposta de o clube participar do Campori, a comissão diretiva da igreja vetou no mesmo instante. Nós não tínhamos fanfarra, não tínhamos nada, e eu voltei para casa triste”, lembra o ex-diretor. José Carlos não viu saída. Em reunião com a diretoria, estes foram unânimes em dizer que também não iriam para o Campori. O diretor precisaria fazer uma escolha: ou iria sozinho acompanhando o clube para Itacoatiara, ou o clube não iria. “Quando eu cheguei em casa, vi o Luiz Aleluia vindo logo atrás de mim. Ele parou aqui pra gente conversar e me disse ‘Olha, Zé, eu sei pelo o que você tá passando. Mas você realmente quer levar o clube pro Campori? Então no domingo, reúna todos e pergunte quem quer ir. Se todos quiserem, ótimo, porque vão ter que arregaçar as mangas e trabalhar por isso’. No domingo eu fiz o que me foi aconselhado. Todos quiseram”. O esforço do diretor de primeira viagem e do clube Shalom inteiro foi devidamente recompensado em Itacoatiara. O clube foi com dois ônibus para o Campori, com toda a diretoria e os desbravadores, e na classificação geral, o Shalom foi um dos clubes que se destacou no acampamento. “Fomos também com uma fanfarra sensacional e levamos todos os prêmios, graças a Deus”.
Em 1997, um dos conselheiros do clube Shalom assume a diretoria, votado pela Comissão de Nomeações da Igreja da Raiz. Rosinaldo Pereira fora desbravador no períoClube de Desbravadores Shalom | 31
do de Itamar Vilhena e crescera tendo ao seu redor diversos mentores. A sua escolha para exercer o cargo de diretor fez parte de uma nova metodologia de trabalho na liderança dos Desbravadores, que consistia em fazer com que os jovens começassem a assumir cargos de maior responsabilidade. E naquele ano, Rosinaldo levou o Clube Shalom para o IX Campori da MCA, no terreno do Manjadinho, com o tema Na Direção de Deus. Nesta edição do evento, o Shalom se empenhou, participando com afinco das provas físicas, mentais e espirituais, ombro a ombro com clubes também de renome, como Falcões da Liberdade e Tiago White, este último, da Compensa. Era um tempo em que ainda havia a colocação geral de 1°, 2° e 3° lugar. No encerramento do Campori, os ânimos se exaltaram entre algumas pessoas dos outros clubes, e quando anunciaram os vencedores, o Shalom voltou para o seu acampamento na mesma hora. Falcões da Liberdade levou o 1° lugar, Tiago White o 2°, e Shalom, o 3°. “Eu voltei pro nosso acampamento e vi os meninos chorando. Doeu, porque eu sabia como tinha sido a preparação. Mas de longe, vi a confusão entre integrantes do Falcões e do Tiago White acontecer. Olhei pro Rosinaldo e disse ‘não deixa ninguém sair daqui’, e ele seguiu esse conselho. Dias depois, chamaram os diretores dos três clubes na sede da Missão, e o Shalom, pelo seu espírito fraternal, foi agraciado com o 1° lugar, graças a Deus! Foi uma vitória memorável, onde o clube deu o melhor exemplo do que é ser um desbravador”, relembra Laíse, que àquela altura, era diretora associada do clube
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Os dois anos seguintes foram de muitas conquistas. José Carlos voltou à direção em 1998, levando o clube para o X Campori da MCA, em Manacapuru, com o tema Unidos em Cristo. Nesse Campori, o clube Shalom venceu mais uma vez, conquistando um feito inédito na história da Missão: foram pentacampeões invictos, desde 1994! Idomero Crisóstomo, irmão de Irinete, assume a direção em 1999, levando o clube para mais um Campori de Unidades regional, com o tema Rumo ao Porto Seguro. Os anos 1990 podem ser considerados a década dos desafios para o Shalom. Muitos acampamentos, muitas vitórias, mas também algumas tristezas. Naquela década, o clube perdeu uma desbravadora importante: Cristiane, da unidade Rosa de Sarom, em consequência de um atropelamento na avenida Tefé. “Foi quando eu vi o clube se unir ainda mais. No velório, as meninas da Rosa de Sarom se juntaram e começaram a cantar a música Amigos Para Sempre, do Prisma Brasil. Em determinado momento da música, elas choraram, e todo o clube cantou junto. Eu me emocionei demais naquele dia”, conta Laíse Cristina. Foi naquela mesma década que o clube avançou na área musical. Antes de 1989, quando usavam-se as coletâneas de corinhos nos Cultos Jovens, Haroldo e Itamar Vilhena encontraram uma canção tradicional judaica, chamada Havenu Shalom Aleichem. Haroldo, exímio violonista, tocou a canção, e com a letra e melodia fáceis, acrescentou a música à coletânea. Na reestruturação, quando viram que o clube precisava de uma canção oficial, os desbravadores
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escolheram Havenu Shalom por unanimidade, que unida com a música Shalom, do quarteto The King’s Heralds, tornou-se o hino do clube. Foi também nessa década que a Fanfarra do Clube Shalom surgiu. “Começou tímida, com uma caixinha e um bumbo. O Arlen (Johnes) tocava na fanfarra da Escola Estadual Ruy Araújo, e ele trouxe os instrutores para ensinar a turma. Conseguimos também instrumentos cedidos com outras escolas, e os meninos eram muito dedicados! Tudo o que eles faziam ali era por amor”, conta Irinete. “O diferencial da nossa fanfarra era que todos os nossos músicos eram os nossos desbravadores”. A partir de 1996-1997, a Fanfarra tornou-se carro-chefe do clube, mas foi na década seguinte que ela chegou ao seu ápice e passou a ser o seu cartão de visitas.
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RECORDAÇÕES
Foto 1 - Pai e filhos. Da direita para a esquerda, Itamar Vilhena, Ítalo Vilhena e Itamar Vilhena Júnior, em 2012, no I AcampClasse do Clube Shalom.
Foto 2 - Justina Neves em 2014. Avó de Arlen Johnes e Jair Neves, ela trouxe os dois para o clube e ficou com eles.
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Foto 3 - Itamar Vilhena em investidura no Clube Prรณcion, da IASD do Jardim do Senhor, do qual foi um dos fundadores. Faleceu em outubro de 2014.
Foto 4 - Clube Shalom no Dia Mundial dos Desbravadores de 2016.
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Foto 5 - Shalom no XX Campori da ACeAm, depois de um dia intenso de atividades.
Foto 6 - Clube em formação em uma reunião cotidiana.
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Foto 7 - Shalom em frente ao seu acampamento no Ăşltimo dia do XX Campori da ACeAm, em 2016.
Foto 8 - Shalom na reuniĂŁo de abertura das atividades do ano de 2017.
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VIDA & ESTILO
V&E7
a crítica MANAUS, DOMINGO, 5 DE JANEIRO DE 2014
Teens
Está próximo!
O IV Campori Sul-Americano, “Encontro Marcado”, começa nessa terça-feira, dia 7 e vai a 12 de janeiro, no Parque do Peão em Barretos/SP .Mil desbravadores do Amazonas estarão nesse grande evento.
Encontrode
Fotos: Dheyvo Lemos e Danielle Passos
desbravadores
Clube do AM em evento sul-americano p
CYNTHIA BLINK cynthia.blink@acritica.com.br
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arretos (SP) está prestes a receber 35 mil pessoas. Elas vão com seus lenços, cintos afivelados e muito dispostas. Mas, dessa vez, não é festa do peão e nem vai ter rodeio, como costuma acontecer na cidade. Quem chegará por lá são os desbravadores, eles participarão do IV Campori Sul-Americano. O evento, que acontece a cada 10 anos, terá mil representantes do Amazonas. “Somos meninos e meninas, de 10 a 15 anos, e fazemos atividades que desenvolvem nosso lado cultural, social e religioso”, explica Lieda Gadelha, 14, sobre o que é ser desbravador. Lieda desembarca hoje em São Paulo junto com outros 29 integrantes do Shalom, clube de desbravadores da Igreja Adventista do 7° dia, do bairro da Raiz, em Manaus. No comando desse grupo está a diretora Laíse Cristina Costa. Assim como as crianças, ela também está ansiosa. “Levar o Shalom para o Sul-Americano era um desafio e agora é um sonho
que tudo é muito grande. 35 mil pessoas!”, afirma Itamar Júnior, 26.
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ENCONTRO DE CULTURAS
Sou desbravadora desde os meus 14 anos, mas somente agora, com 42, tenho a oportunidade de ir a um Campori SulAmericano. Estou muito feliz de poder viver isso junto com a minha filha Rebeca. Jancyr Martins PROFESSORA
O clube Shalom fez fotos em pontos turísticos de Manaus para apresentar aos outros desbravadores sul-americanos
que estamos realizando. Não foi fácil, mas conseguimos porque tivemos o apoio da igreja, dos pais dos desbravadores... todos abraçaram esse projeto e, antes de tudo, conseguimos porque Deus abençoou”, diz Laíse, agradecida. Entre as atividades que esses
jovens realizarão em Barretos estão visitas a comunidade, onde entregarão folhetos, livros, farão orações e “pregrarão a mensagem do advento”, como diz o “alvo” dos desbravadores. Atividades físicas como rapel, tirolesa, falsa baiana e outras também estão na progra-
Justina Neves, a Juju, é conhecida por ser uma desbravadora participativa, apesar dos cabelos brancos
mação dos pequenos e dos grandinhos responsáveis pelo grupo. “Será algo completamente atípico. Sou desbravador desde criança, já fui para inúmeros camporis, mas esse é diferente de tudo. Primeiro que para chegar tem que pegar o avião, nunca viajei assim antes e depois
O encontro de 8 países da América latina anima os jovens desbravadores de Manaus a conhecer as outras culturas. “Vamos ter acesso aos desbravadores do Brasil inteiro e também de outros países, é uma rara oportunidade de conhecer outros costumes”, conta Lucas Vitor Sena, 17 anos, conselheiro de unidade. “O nosso acampamento ficará entre o acampamento dos clubes da Bolívia e do Peru”, conta Tereza Morais, a enfermeira do clube (com o uniforme branco, nas fotos). Ao mesmo tempo em que descobrem mais dos desbravadores de outros lugares, eles também apresentam um pouco de Manaus a esses povos. “Fizemos fotos em pontos turísticos da cidade para colocar no portal do nosso acampamento. Todo mundo que passar por ali vai poder ver as belezas de Manaus”, explica Laiza Chaves, 13.
saiba + Um símbolo mundial
O lenço colorido no pescoço é um símbolo dos escoteiros, mas os desbravadores usam apenas o amarelo. Este é um símbolo mundial. Para poder usá-lo é necessário, entre outras coisas, saber de cor os lemas e votos dos desbravadores, que anunciam a volta de Cristo e o modo de vida que esses meninos e meninas devem ter para toda a vida. Comprometemse em ser cortez, puro, nunca usar drogas ou álcool e manter-se distante do que definem como pecado.
Elas vestem a camisa e seguram sua bandeira. No meio está Laíse Cristina Costa, a diretora do clube
Matéria do jornal A Crítica, de 05 de janeiro de 2014, assinada por Cynthia Pinheiro, falando sobre a ida do clube Shalom para o IV Campori da Divisão Sul-Americana. Clube de Desbravadores Shalom | 39
CAPÍTULO III Consolidação de um forte trabalho – Anos 2000
Um milagre, Senhor! Um milagre eu sou! Um milagre, Senhor, tens feito em mim! Té findar meu viver, dar-te-ei meu louvor! Um milagre, Senhor, tens feito em mim!
Quando embarcaram no ônibus que os levaria para Boa Vista, os irmãos Everaldo e Eloy Júnior, de 18 e 17 anos, achavam que seria mais uma viagem normal para um Campori. Seus tios e primos moravam ali e eles já haviam visitado a capital roraimense algumas vezes, mas desta vez, não iriam para o conforto da casa dos parentes. Ficariam acampados no Parque Anauá, próximo à Universidade Federal de Roraima, com o Clube Shalom, para o XI Campori da reformada Associação Central Amazonas, que englobava os estados de Amazonas e Roraima. Os dois eram conselheiros do clube, e faziam um contraste interessante: enquanto Everaldo era mais agitado, Eloy Júnior era mais calmo e mais centrado. Os dois também tocavam corneta na Fanfarra do Clube, e quando subiram naquele ônibus ainda na igreja da Raiz, mal sabiam que dali a alguns dias, tocariam para mais de três mil desbravadores em desfile e acompanhariam 17 clubes. Clube de Desbravadores Shalom | 41
No mesmo dia, a mãe dos dois, Vera, juntamente com o filho caçula, saíram da Rodoviária de Manaus para chegarem no dia seguinte na capital roraimense, onde se hospedaram na casa de seu irmão, Assis. Vera nunca deixou de ser apoiadora do clube, nem quando seus filhos saíram para se dedicarem às suas vidas pessoais, e tornou-se mais ainda quando seu filho mais novo decidiu participar.
O ano 2000 abriu o terceiro milênio da história mundial. Em 22 de abril, comemorariam-se 500 anos do Descobrimento do Brasil, e em todos os rincões da pátria, do Oiapoque ao Chuí, do leste ao oeste, brasileiros se preparavam para comemorar a data. Em Manaus, por exemplo, a quarta edição do Festival Amazonas de Ópera encenaria a mais simbólica ópera brasileira: Il Guarany, de Carlos Gomes, na direção musical de Luiz Fernando Malheiro. O Clube de Desbravadores em toda a América do Sul não ficou atrás. E entre os dias 7 e 10 de setembro de 2000, o Parque Anauá recebeu cerca de 3000 desbravadores dos estados de Amazonas e Roraima. Entre eles, o Clube Shalom, que estava sob a direção de Idomero Crisóstomo, Contudo, ninguém imagina os percalços que foram vencidos para chegarem ao Campori, que começaram ainda na viagem. O ano foi desafiador. Mais uma vez, não havia nenhum dinheiro em caixa. A igreja não tinha como ajudar o clube, e até mesmo os desbravadores não tinham dinheiro para pagar inscrição e o uniforme. “Os conselheiros tiveram
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que suar a camisa pra que o clube fosse pra Boa Vista. Foi intenso”, afirma Laíse Cristina. A muito custo, o clube conseguiu que tudo desse certo. Fizeram as inscrições, arrecadaram alimentos, realizaram eventos para angariar fundos... cada esforço das unidades era válido para que o Shalom estivesse em Boa Vista. Afinal, seria a primeira vez que participariam de um evento fora do Amazonas. Era um marco para todos aqueles adolescentes e jovens, tanto que dois ônibus foram alugados para a viagem. Paulo Félix, que fora diretor associado na primeira gestão de José Carlos Nascimento na frente do clube, relembra que no ano 2000 ele estava ausente das atividades do clube, porém, seu filho, Henrique, participava ativamente. “A minha esposa, Vera, estava grávida. Eu queria ir pro Campori, então conversei com o Idomero, que me disse que ainda tinha uma vaga. Paguei as inscrições, minha e do Henrique, e nos preparamos. Uma turma foi primeiro, uns três dias antes, para cercar e montar o acampamento, e o clube foi depois. Quando eu entrei no ônibus, vi que não tinha muita gente da diretoria, só conselheiros e desbravadores. O ônibus também estava levando madeira, alimento, muita coisa. Estava muito pesado”, conta. Irinete Crisóstomo lembra que quando o clube chegou na barreira da Polícia Federal, já na rodovia BR-174, apresentaram toda a documentação, mas ficou faltando a autorização da empresa dona do ônibus. “Nos mandaram voltar dali mesmo e disseram que não íamos seguir viagem. Entramos em apuros, oramos, e descobrimos o local onde morava o delegado da Polícia Federal, que, em tese, poderia nos ajudar”, conta. O clube não voltou para a igreja. A diretoria entrou em acordo, e decidiram que os meninos dormiriam por Clube de Desbravadores Shalom | 43
uma noite no Tarumã, próximo ao Riacho Doce, no caminho para o terreno do “Manjadinho”. Enquanto isso, alguns membros da diretoria, entre eles Irinete, foram à casa do delegado. “Não foi uma experiência muito boa. O homem nos disse que não gostava de ‘crente’, que não faria o menor esforço pra que a gente fosse pra Boa Vista, e que no dia seguinte, ele mesmo estaria na barreira pra prender o ônibus. Saímos de lá enxotados”, conta. Na manhã seguinte, ainda no Tarumã, Paulo Félix recebeu uma ligação dizendo “podem ir!”. O clube iria para Boa Vista. Idomero já estava no Parque Anauá com a Equipe Sapo – a equipe de montadores – e o clube precisava chegar. Foram. Passaram na barreira da Polícia Federal, no quilômetro 8 da rodovia, e o ônibus não foi parado. Em seguida, Paulo recebeu uma ligação. “Me disseram ‘Paulo, volta, porque o delegado tá na barreira e disse que vai prender o ônibus!’. Eu respondi que já tínhamos passado”. O medo de Paulo era que o delegado tivesse passado um rádio para a segunda barreira, depois de Presidente Figueiredo (AM), para prender o ônibus lá. Mas aconteceu a mesma coisa: o ônibus também não foi parado! Uma batalha fora vencida, mas a viagem ainda seria longa. No meio do caminho, o pneu furou pela primeira vez. Trocaram pelo estepe e seguiram viagem. Isso aconteceu mais quatro vezes. “Chegou um momento da viagem, já em Rorainópolis (RR) em que o motorista disse ‘eu estou dirigindo há dois dias sem dormir. Não aguento mais’. Eu não podia fazer nada. Tinha dinheiro, fui numa pousada, e paguei uma dormida pra ele. Chamei a turma e avisei ‘vamos jantar e dormir’. Só que os meninos estavam agoniados, porque todos os clubes passavam pela gente e nós estávamos lá! Pelos ônibus de clubes que passavam, mandávamos recado para o 44 | Clube de Desbravadores Shalom
Idomero avisando que a gente estava chegando, e ele estava esperando o clube!” No dia seguinte, o clube seguiu viagem. Pneus foram trocados, e em meio à estrada ruim, os desafios iam sendo vencidos. Quando passaram por Caracaraí, de um descampado alto, o clube já podia contemplar as luzes de Boa Vista! A vibração foi geral! Mas naquele mesmo local, ás 19h, o pneu do ônibus furou mais uma vez. “Olha, eu não sigo mais daqui. Estou exausto”, Paulo Félix ouviu do motorista. No mesmo instante, como uma oração respondida, um ônibus com mais um clube passou ao lado. “Quando vocês chegarem no Campori, avisa pro Idomero, diretor do Shalom, que a gente tá no prego aqui na estrada e não tem mais como chegar!”, gritou Paulo pro ônibus. Horas depois, um ônibus vem de Boa Vista, para levar o Clube Shalom ao Parque Anauá. A abertura aconteceu no dia 06 de setembro, uma quarta-feira à noite, e depois de muitos percalços, todos estavam lá, representando a Igreja Adventista do Sétimo Dia da Raiz. Alguns desbravadores tinham viajado quase que por um milagre, tendo vencido, além dos desafios da viagem, desafios pessoais. Era o exemplo do próprio Everaldo Rodrigues, de quem falamos no início do capítulo. Aos 18 anos, o rapaz já sofria com a obesidade e outras doenças decorrentes, entre elas, o reumatismo. “Não era pra eu estar em Boa Vista. Fui no médico na semana anterior, e ouvi que não poderia viajar de forma alguma. Meus pés estavam inchados, sentia dores muito fortes, e os exames que fiz naquela semana detectaram que o meu ácido úrico estava muito alto. Mas o amor pelo clube foi muito maior. O que me marcou naquele Campori foi que no dia do desfile principal, nós saímos do Parque Anauá Clube de Desbravadores Shalom | 45
em direção à avenida Capitão Ene Garcez, parando todo o trânsito de Boa Vista”, relembra, entre lágrimas de emoção. Everaldo hoje tem 36 anos, e Eloy Júnior, seu irmão, tem 35. Ambos trabalham na área de Informática. Ainda no Campori, aconteceu uma grande investidura de Líderes, realizada pela Coordenação de Treinamento de Desbravadores (Cotre) da ACeAm, chefiada por Stélio Ribeiro, tendo Mário Norberto Júnior como associado e Laíse Cristina como secretária. “Quando eles disseram que ia ter investidura, prontamente eu apresentei a do Shalom, mas avisei que teríamos que procurar outras”, conta Laíse. O trio conversou com as demais fanfarras presentes no Campori, que toparam. Mas estas só tocavam para os aspirantes originários dos seus clubes. Logo depois da investidura, veio o desfile dos clubes e suas regiões. Como não podia deixar de ser, o clube Shalom foi atração, sendo convidado em seguida para tocar acompanhando outros clubes, de acordo com Laíse. “Algumas pessoas chegaram com a gente e disseram ‘ah, o Shalom tocou para aquele clube. Será se pode tocar pro meu também?’. A turma já estava nas últimas, mas respondia que sim. E nessa brincadeira, a Fanfarra tocou para 17 clubes”.
Em 2001, depois de uma longa experiência como diretor associado e vice-diretor, Paulo Félix assume a direção do Clube Shalom, tendo ao seu lado Laíse Cristina e o sobrinho Marcos Eduardo Gomes. Foi nesse ano que a Fanfarra do Clube foi reestruturada, com a aquisição de novos instru46 | Clube de Desbravadores Shalom
mentos e a capacitação de Arlen Johnes como instrutor. Paulo relembra que em todas as vezes que a fanfarra ensaiou na igreja houveram problemas com os vizinhos. “Todos eles se sentiam incomodados com o som, então tivemos que ensaiar em outros lugares. Ensaiamos na casa da mãe da Monalisa, na casa do Eloy, no campo do Goiabal que fica atrás do Castelo do Rei, até mesmo o galpão onde funciona hoje a IASD do Castelo do Rei... Sempre avisávamos na reunião do clube onde seria o ensaio da fanfarra”. Também foi nessa época que o clube começou a entrar na formação de concha, especial para apresentações. Nesse ano, a ACeAm realizou seu XII Campori de Desbravadores, com o tema A Esperança é Jesus, que aconteceu no campus Senador Arthur Virgílio Filho da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus. “A turma virava pra mim e dizia ‘Laíse, a gente vai de ônibus de linha pro Campori!’. Foi um ano mais light porque o evento era perto. Entretanto, o local não tinha uma estrutura adequada pra receber recebe-lo. Interessante foi a participação nos desfiles e nas outras atividades”, completa. Em 2002, Paulo Félix é reeleito diretor, mas por razões de trabalho, precisou se afastar da direção. Em seu lugar, Irinete Crisóstomo assume a diretoria, também pela primeira vez, assessorada por Marcos Eduardo, Janira de Paula e Olivaldo Patrício. Já era a terceira vez que uma mulher comandaria a potência que era o Clube Shalom. “Quando assumi, começamos logo a ter alguns problemas. A diretoria era muito boa, conselheiros excelentes, mas nas reuniões, tanto do clube como da diretoria, sempre havia uma turminha que achava que eu não ia conseguir, e vivia atrapalhando nossos diálogos. Percebi que era mais comigo, pelo fato de eu ser mulher. Mesmo assim, eu os Clube de Desbravadores Shalom | 47
agregava nas reuniões, nunca excluímos ninguém. A gente entendia que as discordâncias existiam, e sabíamos que deveríamos deixá-las pelo bem do clube”, afirma Irinete. “Cada diretor tem a sua forma de pensar, com uma metodologia de trabalho diferente. Eu já passei por isso, a Laíse também, e até mesmo os mais novos, como o Daniel (Passos) e o Josias (Gomes), tiveram atritos e discordâncias nos seus períodos de diretoria. O exemplo que a Irinete deixou foi bom, de agregar aqueles que plantavam a discórdia, para que todas as energias fossem canalizadas em prol do avanço do clube”, completa Paulo.
Ainda em 2002, o Clube Shalom participou de mais um Campori de Desbravadores: a edição de número 13, intitulada Por Belezas Naturais. Naquele ano, o departamental da área era o pastor Marcos Bentes, um jovem, que já pastoreara a igreja da Raiz e conhecia o trabalho do clube Shalom. Uma das atrações daquele acampamento seria o Festival de Fanfarras de Desbravadores (FESTFAN). E como todas as outras fanfarras, a do Shalom se preparou, ensaiando dia e noite. Quando incomodava os vizinhos da igreja, ia para o Campo do Goiabal, onde era mais aberto e a sonoridade era melhor. Não foram raras as vezes que tiveram que parar tudo ou tocar mais baixo no meio de um ensaio na igreja. No local onde era o campo, atualmente funciona uma madeireira.
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No Campori, todas as outras fanfarras estavam com toda a pompa, prontas para o concurso. E à medida que cada uma entrava e fazia sua apresentação, os desbravadores vibravam. Não porque eram as músicas da igreja, e sim porque eram as músicas seculares que estavam em alta nas rádios e todo mundo ouvia. Enquanto isso, o Shalom aguardava pacientemente. Por fim, a penúltima fanfarra entrou, e nessa hora tudo parecia perdido. Aquela fanfarra tocou a música Anna Júlia, da banda Los Hermanos, que era sucesso nas rádios em todo o Brasil. Todo o Campori veio abaixo. Desbravadores estavam dançando, e o evento mais parecia uma rave do que uma concentração de jovens cristãos. No mesmo instante, o pastor Marcos Bentes tomou o microfone no palanque e disse “O Festival e o Campori acabam aqui. Estamos profundamente irritados com essa situação”. Arlen Johnes, que na época era instrutor da fanfarra, correu para o palanque e disse “pastor, deixe pelo menos o Festival terminar! Deixe a fanfarra do Shalom tocar!”. Arlen encontrou guarida em Laíse Cristina, que nesse ano estava na Cotre. Laíse se juntou ao instrutor e pediram ao pastor que desse uma chance ao Shalom. O pastor cedeu. O instrutor correu para o clube, que já estava guardando os instrumentos. Deu o comando, e a fanfarra marchou para o centro do campo do Manjadinho. “Quando o Shalom entrou, parece que houve uma paz. Parecia que os anjos de Deus haviam chegado”, lembra Laíse. Formou-se a concha, e naquele instante, a fanfarra tocou a peça Pra Te Adorar, um dos corinhos mais cantados nas igrejas naquele período. O Campori inteiro se calou. Uma batalha espiritual havia sido vencida ali. O clube tocou Shalom, e saiu da apre-
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sentação executando a canção Vitória Só Vem do Senhor, do grupo paulista Projet’art, outro carro-chefe da Fanfarra. Não é necessário dizer que o Shalom foi o vencedor daquele Festival e levou a pontuação máxima do Campori.
Em 2003, José Carlos Nascimento assume a direção do Clube Shalom mais uma vez, tendo ao seu lado Cleandro Crisóstomo, Arlen Johnes, Irinete Nascimento e a jovem Milena Farias, esta última, uma novidade como diretora associada. Em 2004, na última gestão de Idomero Crisóstomo, Milena também foi diretora associada, junto com Arlen Johnes e Paulo Félix. A história de Milena no clube começara na unidade Arco-Íris. Era destemida, impetuosa, e tinha espírito de liderança. Mas por trás da intrépida jovem, havia uma história triste, que como a de muitas outras pessoas, foi mudada por influência direta do clube Shalom. O pai de Milena, nas suas próprias palavras, era um criminoso, e hoje paga o preço dos seus crimes na prisão, em Manaus. Traficava drogas, era pedófilo e era assaltante. “Por conta dos vícios do meu pai, a nossa vida antes de conhecermos a igreja e o Shalom era um pesadelo. Eu cresci vendo meu pai trazer roubos pra casa, policiais entrando e levando-o, entre muitas outras coisas horríveis”, conta a jornalista, que hoje reside em Orlando, no estado da Flórida (EUA). Milena entrou no clube aos nove anos, tendo como conselheira Virgínia Ribeiro. Quando chegou aos 16 anos, 50 | Clube de Desbravadores Shalom
tornou-se conselheira da unidade em que começou, a Arco-Íris. Foi também conselheira adjunta e conselheira titular da unidade Rosa de Sarom, das meninas de 14 e 15 anos. Continuou estudando, até que chegou na classe de Líder de Desbravadores, onde foi investida. “Cada classe, para mim, era uma forma de não fazer eu perder o foco. Eu era muito engajada em todas as atividades do clube, e vejo que isso me salvou. Embora meu pai fosse uma pessoa ruim, eu ainda tinha um sonho de que a nossa família ficasse unida. Mas no fundo, sabia que isso talvez não fosse acontecer. O clube me tirou da tristeza e me manteve no caminho certo. Tenho certeza que a grande maioria das crianças e adolescentes que fazem parte sofrem com seus problemas e dramas pessoais, que muitas vezes os próprios pais não conseguem resolver. É aí que o Clube entra, oferecendo uma saída, uma fuga passageira e até mesmo perene para esses problemas”, afirma. Milena casou em 2004, com o também Líder de Desbravadores André Moreno. Viajaram para os Estados Unidos em seguida, para morarem próximo a Boston, no estado de Massachusetts. Lá fundaram um clube com o mesmo nome do seu: Shalom. Infelizmente, os dois se separaram, e André voltou para o Brasil. Persistente e obstinada como é, a jovem nunca desistiu de seu maior sonho, que era viver na América do Norte. Lá, casou-se novamente, com Diogo Bittencourt, e hoje os dois tem uma filha, chamada Tylla. Em Massachusetts e na Flórida, Milena trabalhou na redação de um periódico voltado para a comunidade brasileira, com notícias do Brasil e ofertas de serviços de brasileiros para brasileiros nos EUA. Trabalha hoje fazendo Comunicação, e destaca que foi o clube que a ajudou a ser o que é hoje. “Quando eu ainda estava no clube, gostava de partiClube de Desbravadores Shalom | 51
cipar da Ordem Unida e dos concursos de oratória que nós participávamos. Tudo isso me moldou para o que sou hoje”.
No ano de 2005, o anseio de que a juventude passasse a comandar os rumos do Shalom retornou. Naquele ano, a Comissão de Nomeações da igreja da Raiz votou Henry Solimões diretor, tendo Laíse Cristina e Wancley Martins como associados. Henry e Wancley haviam crescido no Shalom, e Henry era a segunda geração de sua família a estar na direção do clube: seu pai, Rubens, fora o primeiro diretor, ainda em 1970. 2005 começava a trazer algumas mudanças. A chegada de Odirley Mozambite foi uma delas. Trompetista da Amazonas Band, Odirley tornara-se adventista do sétimo dia em 2001, por influência direta de sua esposa Paula. Quando entrou no clube, o músico, que também é professor do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, já tinha uma larga experiência com bandas e fanfarras, tendo atuado como regente na Big Band do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (Cefet/AM). O trabalho de Odirley com a fanfarra se intensificou no ano seguinte, 2006, quando Paulo Félix assumiu a direção do clube, mantendo Laíse Cristina como diretora associada. No início daquele ano, veio o anúncio do XV Campori da recém-reformada ACeAm. Reformada porque, a partir daquele ano, a Associação não abrangeria mais os estados de Amazonas e Roraima, somente a parte norte e centro-
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-oeste do Amazonas, e algumas áreas da capital Manaus. As zonas Leste e Norte da cidade, a parte sul e a parte leste do Amazonas, e o estado de Roraima passariam a integrar a recém-criada Associação Amazonas Roraima (AAmaR). Além do anúncio do Campori da ACeAm, mais uma novidade: dentro do evento, aconteceria o I Concurso de Bandas e Fanfarras da Associação Central Amazonas.
Mais uma vez, 2006 se mostrava um ano difícil no campo financeiro. A igreja não tinha dinheiro em caixa para ajudar o clube com as inscrições ou compra de materiais, e os próprios desbravadores também não tinham dinheiro. “Antes de se reunir com a diretoria, o Paulo chegou comigo e disse: ‘Laíse, não vai dar. Eu mesmo não tenho dinheiro pra ir’. Eu respondi que tinha que ter um jeito. O Shalom só não tinha participado de um Campori em toda a sua história. Nós dois, então, resolvemos que o clube iria pra esse acampamento”. Paulo relembra que certo dia, chamou a diretoria para uma reunião e “jogou a real”: o clube não tinha dinheiro, ninguém tinha pago a inscrição e não tinha condições de ir pro acampamento. “Eu esperava que eles dissessem que acharíamos uma saída, mas em vez disso, disseram que se não tinha dinheiro, era melhor nem ir. Saí da sala triste e cabisbaixo. Estava tendo ensaio da Fanfarra nesse dia, e quando eu cheguei na saída da igreja, vi alguns meninos, como a Dayane e a Danielle Passos, com instrumentos na
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mão, esperando pai ou mãe, tristes porque queriam ir mas o clube não ia. Aquilo me tocou o coração. Na mesma hora eu voltei e disse: ‘o clube vai pro Campori, vocês indo ou não”. Por fim, toparam o desafio. Querendo ou não, o Shalom estaria no XV Campori da ACeAm. A Fanfarra se esforçou como nunca para apresentar o melhor. As inscrições foram pagas e os uniformes foram providenciados, junto com toda a estrutura de acampamento. No dia que a equipe Sapo – chefiada por Paulo e Laíse – chegou para cercar a área de acampamento no Manjadinho, dias antes da abertura, uma surpresa: a área determinada para o clube estava cheia de seixo e areia. De imediato, os dois líderes procuraram o departamental de Desbravadores, que estava no local junto com toda a equipe da Coordenação do Campori, para a resolução dos problemas de eletricidade e outros fatores. Ao procurarem-no para falar do problema na área designada para o Shalom, ouviram a resposta “escolham um”. Paulo e Laíse analisaram o todo o terreno ainda no palanque do Manjadinho, e a escolha foi rápida: a área do Shalom ficaria em frente ao palanque. Prontamente avisaram o pastor, que autorizou a montagem, sob contestações de alguns membros da coordenação. A equipe Sapo começou a montar o acampamento no mesmo instante, e no final, Paulo e Laíse perceberam que não havia um portal à altura da potência que era o Shalom. “O Paulo ficou meio aflito, e quando eu vi aquilo, tratei logo de acalmar ele. Disse que aquilo era fácil de resolver. Disse pra ele que o Shalom era um clube simples, e quando ele ouviu isso, ficou meio pensativo. ‘É, Laíse... o Shalom é um clube simples, né? Simplesmente Shalom... É, uma boa’. Eu achava que ele ia mandar fazer uma faixa com 54 | Clube de Desbravadores Shalom
o nome do clube, região, associação, o básico que precisa ter numa faixa de identificação. Nem imaginava o que ele ia fazer”, lembra a então diretora associada. “Quando a gente voltou pra Manaus, mandei logo fazer uma faixa de dez metros, de ponta a ponta, escrito “SIMPLESMENTE SHALOM”. Fui no local que mandei fazer as camisas do uniforme, pedi pra colocarem na frente de cada camisa a palavra SIMPLESMENTE, e atrás, a marca do clube”, conta Paulo. Quando chegou o dia da montagem do acampamento de fato, Paulo trouxe a faixa e perguntou se ficara boa. “Tá maravilhosa, Paulo!”, respondeu Laíse. O Campori iniciou. E na hora do concurso, a Fanfarra não era mais fanfarra. Agora era oficialmente a Banda de Música do Clube Shalom. Sob a regência de Odirley Mozambite, a Banda competiu com fanfarras importantes entre os Desbravadores, como as dos clubes Tiago White e Getsêmani. “O Odirley mudou a cara da Banda. Foi incrível o trabalho técnico que ele fez com os meninos, despertando neles um amor pela música.”. No Concurso, a Banda executou as peças Um Milagre, Senhor, gravada pelo grupo Prisma Brasil; Oh, Happy Day, canção do estilo negro spiritual americano, eternizada no filme Mudança de Hábito, com Whoopi Goldberg; e Vitória Só Vem do Senhor. A apresentação encerrou com Shalom, com o clube arrematando, momentos depois, a primeira colocação no concurso.
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Henry Solimões volta à direção em 2007, e no ano seguinte, 2008, Wancley Martins é escolhido como novo diretor, tendo ao seu lado Henry e a jovem Ahizel Martins. Naquele ano, o desafio era o XVI Campori da ACeAm, intitulado Vivendo a Esperança da Cruz. Foi nesse ano que Núbia Gomes, de quem falamos ainda no primeiro capítulo, retornou ao clube, já com seus filhos Diego e Adrianne e a sobrinha, Gabriela. Durante todo aquele ano, as atividades do clube foram intensas, juntamente com os ensaios da Banda, que preparava uma peça nova para o tradicional desfile dos clubes. Naquele ano, a Banda teve dois instrutores: enquanto Odirley Mozambite trabalhava com os sopros, Jair Neves, irmão de Arlen Johnes, trabalhou com a percussão. A parceria deu um resultado de sucesso. No acampamento tudo correu bem. Num sábado à tarde no Campori, Núbia e os filhos selaram definitivamente as suas vidas com Cristo, descendo às águas batismais. Em determinado dia, o clube acordou às 4h da manhã, a pedido da coordenação, para acordar todo o Campori com sua música. Vestindo trajes de anjos, a percussão entoou o toque de marcha, e em seguida, os sopros entraram tocando músicas como Breve Jesus Voltará, Ó, Que Esperança, e o Hino dos Desbravadores. Aquilo serviu de preparação para o desfile. À noite, o clube já estava preparado. Todos arrumados, preparados para a entrada, trajando uniforme oficial. À frente do clube, quem carregava a faixa era Justina Neves e outro desbravador. Pelotão de bandeiras vinha em seguida, liderado por Sheila Elaine carregando a bandeira do Brasil. 56 | Clube de Desbravadores Shalom
Em seguida vinha o clube, e logo atrás, a banda. Quando foi dado o primeiro toque, tudo se apagou. A energia tinha acabado de ir embora no Manjadinho. Um tremor veio sobre os desbravadores. Foi quando ouviu-se o grito “continuem tocando! Continuem marchando!”. E eles continuaram. Entraram tocando Shalom, e no campo central do Manjadinho, pararam, à luz das lanternas de quase dois mil desbravadores. Ali a Banda se posicionou, e em formação, os sopros começaram. Na hora certa, como numa orquestra profissional, todos tocaram juntos a peça Poderoso Deus, da Coletânea JA de 2001. Acompanhado pela Banda, o Campori inteiro cantou o refrão da música a uma só voz: “Meu Deus é o supremo Rei dos reis, que reina com Seu poder sobre Terra e Céu! Meu Deus é o supremo Rei!”. Caro leitor, permita-me, neste momento, deixar o manto da impessoalidade exigida de qualquer jornalista e “quebrar a quarta parede”, digamos assim. Naquele Campori, em 2008, este autor tinha 11 anos de idade. Entrara no clube em 2007 e logo se encantou pela Banda, onde continua tocando. Me faltam palavras para descrever aquele primoroso momento em que o clube Shalom deu tudo de si e mostrou porque é uma potência. Na maior das adversidades num Campori, que era a falta de energia, o clube demonstrou que não abaixa sua cabeça para elas e as vence, porque serve a um Deus que reina com Seu poder sobre Terra e Céu.
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Para o ano de 2009, a IASD da Raiz, reunida em Comissão de Nomeações, escolheu Itamar Vilhena Júnior como diretor do Clube Shalom. Graduando em Administração pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Itamar Júnior cresceu no clube: filho de Itamar Vilhena e Laíse Cristina, herdou de seu pai o arrojamento e o gosto pela arte de acampar, e de sua mãe o primor pela organização e bom andamento das atividades do clube. Para auxiliá-lo, ninguém melhor que a própria Laíse, que fora votada como diretora associada do clube junto com Henry Solimões. A partir daquele ano, o Ministério dos Desbravadores da ACeAm passou a implantar projetos importantes, focados principalmente no incentivo ao cumprimento dos requisitos das classes regulares. Não haveria Campori, mas a Associação realizou o seu II Concurso de Ordem Unida, e desta vez, o clube Shalom resolveu participar. Como que por providência divina, Arlen Johnes, que passara quatro anos no clube Mensageiros do Advento, da IASD do Armando Mendes, retorna para o Shalom, e forma o Pelotão de Elite com 28 desbravadores. Os ensaios para a apresentação foram liberados pela Igreja, mas não poderiam acontecer na quadra. Desta forma, a cada segunda, terça e quinta-feira, o Pelotão de Elite ensaiava no estacionamento do Prosamim da Raiz, próximo ao Colégio Militar da Polícia Militar do Amazonas (CMPM). “O forte do Shalom antigamente era a Banda, mas na Ordem Unida, ainda pecava um pouco. Quando formamos o Pelotão de Elite, grande parte da turma não tinha noção alguma do que era Ordem Unida de verdade, principal58 | Clube de Desbravadores Shalom
mente com relação à garbosidade, energia e uniformidade nos movimentos. Foi um trabalho que começou do início mesmo, do princípio da Ordem Unida”, relembra Arlen, que tornara-se especialista na área com dois dos maiores nomes da Ordem Unida de Desbravadores no Amazonas: os irmãos Gelson e Roberval Florentino. A primeira eliminatória aconteceu no Parque dos Bilhares, na avenida Constantino Nery, com dez clubes. Cinco seriam escolhidos para a grande final, que aconteceria no ginásio do Colégio da Polícia Militar. Entre os primeiros cinco, o clube Shalom passou em primeiro lugar. Os ensaios foram retomados, e na grande final no ginásio do CMPM, por apenas dois décimos de diferença, o clube arrematou um segundo lugar que tinha muito mais o gosto de primeiro para meninos e meninas que marchavam, de fato, pela primeira vez nas suas vidas.
Para o clube Shalom, a década de 2000 foi uma década de ouro. A consolidação da Fanfarra, mais tarde Banda, e a formação do Pelotão de Elite foram fundamentais. O clube entrou em 2010 fortalecido, pronto para novos desafios. Os próximos anos ainda trariam novos marcos para a história do clube Shalom, um deles, a mais de 3000 quilômetros de Manaus.
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CAPÍTULO IV Passado recente e projeções para o futuro – Anos 2010
Um encontro marcado com Jesus na eternidade É meu sonho a cada dia; vou correndo lhe abraçar! Um abraço apertado de emoção e alegria Ele diz “Que bom, Meu filho, te encontrar aqui!”
Em 2014, o pequeno Andred Meireles tinha apenas 10 anos de idade. Entrara no Shalom no final de 2013 e estava indo para um Campori, mas não fazia ideia da magnitude do evento que participaria. Era o IV Campori de Desbravadores da Divisão Sul-Americana (DSA), em Barretos, no estado de São Paulo, que teria a participação de cerca de 35 mil pessoas, entre adolescentes, jovens e adultos. A abertura do evento foi dirigida pelo Ministério dos Desbravadores da União Noroeste Brasileira (UNoB), que engloba os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. E como membro do Clube de Desbravadores Shalom, junto a outros clubes dos quatro estados, Andred participaria daquele grandioso momento na Arena do Parque do Peão, onde tudo acontecia. Sua chegada a Barretos com o clube, entretanto, era resultado de uma jornada que começara quatro anos antes.
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Para 2010, Itamar Vilhena Júnior continuou na diretoria do clube Shalom, tendo Erik e Jacira Nascimento como associados, e Lívia Fontenelle como secretária. Foi um ano de profundas mudanças nas metodologias de trabalho com os desbravadores, onde novos projetos começaram a vir do Ministério de Desbravadores da ACeAm – liderado pelo pastor Luiz Aleluia – para ajudar os clubes. A parte espiritual continuou a ser incentivada, e desta vez, ainda mais com o projeto Bom de Bíblia, que premiaria o desbravador que se destacasse na leitura anual da Bíblia. Naquele ano também haveria Concurso de Ordem Unida, com a grande final sendo no XVII Campori da ACeAm, que aconteceria no mês de setembro no Instituto Adventista Agroindustrial (IAAI). A elite, mais uma vez, ensaiou como nunca e, neste ano, Arlen tinha como seu auxiliar principal Ítalo Vilhena, que ensinou a cada um dos membros da elite a execução dos comandos em trompete. A Banda de Música do Clube Shalom também continuou seus ensaios, e um fato interessante é que naquele ano, haviam desbravadores que integravam os dois grupos: o Pelotão de Elite e a Banda. Desta vez não haveria Concurso de Bandas e Fanfarras, mas haveria o tradicional desfile das Regiões, e o Shalom, como não poderia deixar de ser, traria uma inovação. Na metade do ano, cada diretor de clube recebeu o Guia de Orientações Gerais, contendo as provas e pontuações a serem avaliadas. A cada semana mais perto do Campori, os treinos da Ordem Unida, os ensaios da Banda e os treinos para as provas do evento eram constantes, sem deixar, no entanto, de continuar exercendo as atividades 62 | Clube de Desbravadores Shalom
normais do clube, como as classes, especialidades e acampamentos. Foi em 2010 que o Shalom ganhou um dos seus maiores reforços: o jovem Bruno Grana, que estava finalizando o curso de Odontologia na UFAM, conhecera a IASD no ano anterior, por intermédio da amiga Adrienne Nascimento. Decidiu-se pelo batismo e logo se encantou pelo trabalho do Clube de Desbravadores, onde passou a integrar a unidade Scorpions como conselheiro. Bruno era uma espécie de modelo para seus desbravadores, e um exemplo para todos os outros conselheiros. Não que os demais não fossem bons, até porque o Shalom era repleto de pessoas que trabalhavam com garra e muita vontade. Mas Bruno ia além. Sempre procurava ver as necessidades dos garotos sob a sua responsabilidade, e quem o visse com os meninos podia jurar que eles eram irmãos mais novos ou até mesmo filhos do futuro dentista. Enfim, na noite de sexta-feira, dia 03 de setembro, o clube Shalom chegou ao IAAI. A abertura não aconteceria naquela noite, mas o que viria no sábado à noite foi de emocionar, com um incrível show de fogos de artifício e a tradicional fincada das machadinhas de todos os clubes da ACeAm. No dia seguinte, domingo, era a final do Concurso de Ordem Unida. Os desbravadores estavam cientes de que tinham ensaiado à exaustão, e mesmo assim, ainda estavam nervosos. Afinal, fariam sua apresentação na frente de mais de 2000 meninos e meninas que vinham de vários cantos do Amazonas, como Coari, Eirunepé, Tefé e outros municípios. E assim o fizeram. Executaram com perfeição os comandos a pé firme, em movimento e os toques de corneta.
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Entretanto, na hora da evolução, um erro. O Pelotão, que estava sob o comando de Arlen Johnes, deveria estar virado para a direita, e desta forma, deveria executar a evolução. Mas quando o instrutor deu o comando para o início da evolução, não atentou que o pelotão estava virado para o outro lado. Durante alguns instantes, os meninos ficaram desnorteados. Voltaram a si, fizeram a segunda parte da evolução e terminaram a apresentação com o “fora-de-forma”. Ao saírem, entretanto, os integrantes da Elite foram correndo para o acampamento, sob os cuidados de seu diretor, que lutava contra as lágrimas. “Eu tinha visto do palco o Júnior e o restante da diretoria levando a turma pro acampamento, porque não queria que eles chorassem na frente dos outros clubes. Quando eu o vi querendo acalentar as crianças que estavam chorando, também o vi tentando não chorar. Aí o meu coração partiu. Por dentro, eu também estava chorando, mas por fora, eu precisava ser forte”, conta Laíse Cristina, que neste ano, estava trabalhando na coordenação do Campori. Se a emoção de uma conquista é capaz de unir as pessoas, a dor de uma derrota tem mais poder ainda. E foi o que aconteceu. Com as vozes embargadas, Itamar Júnior, Arlen e Laíse uniram o clube no centro do seu acampamento e falaram. Encorajaram o clube a levantar a cabeça e sorrir, embora fosse difícil. Eles sabiam o quanto tinham se esforçado para chegar até ali. De um por um, as lágrimas foram se enxugando. Todos se abraçavam, dando forças um ao outro. Ali provou-se a maior das verdades bíblicas. “Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia é mais chegado que um irmão”. Enquanto o clube permanecia no seu acampamento, jantando e descansando para as provas do dia seguinte, alguns voltaram à arena do concurso para assistir os últi64 | Clube de Desbravadores Shalom
mos clubes e aguardar a premiação. Minutos depois, eram anunciados os vencedores. A cada momento que passava um clube, a apreensão era grande. Até que chegou a hora de anunciar os três primeiros, e na terceira colocação, o Shalom, com o coração mais do que acalentado. O evento ainda reservaria algumas alegrias para o clube. Em um dos dias de acampamento, caiu uma chuva torrencial sobre o IAAI. Nenhum desbravador de nenhum clube, entretanto, quis saber de ficar nas suas barracas. Todos saíram para se divertir na chuva, e como uma conexão, um grande número de adolescentes e jovens saíram de clube em clube sorrindo e brincando. As diferenças tinham sido deixadas de lado, e todos estavam ali como irmãos. Entre as conquistas individuais do Shalom, duas se destacam, em especial: Núbia Gomes, que voltara para o clube em 2008, dedicara-se a fazer novamente as Classes Regulares. Completou-as junto com a classe de Líder, e em 2010, mentoriada por Laíse Cristina, recebeu o lenço de Líder de Desbravadores, inaugurando a nova safra de líderes do Clube Shalom. Outra conquista viria pela prova do Bom de Bíblia. Ainda no sábado, o desbravador Lucas Rodrigues fizera a prova representando o clube. No dia do encerramento, enquanto entregavam os troféus, anunciaram o vencedor do projeto e, para a alegria do Shalom, Lucas vencera, e se tornava o Bom de Bíblia da Associação Central Amazonas do ano de 2010!
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Em 2011, Bruno Lopes foi escolhido para suceder Itamar Júnior na diretoria do Shalom. O novo diretor, que atuara como conselheiro e instrutor – igual a tantos outros que passaram pela diretoria –, teria uma boa equipe ao seu lado, como Laís Goulart, Núbia Gomes, Cynthia Pinheiro e Daniel Passos. Não haveria Campori naquele ano, mas o Ministério dos Desbravadores, agora liderado pelo pastor Enoque Reis, promoveu uma reformulação completa: a partir daquele ano, as regiões seriam subordinadas às áreas, e o Shalom faria parte da área B. Em novembro, a área B realizou seu I Campori de Unidades, sob a coordenação de Piedade Medeiros. O clube levou todas as suas unidades para participar do evento, destacando-se principalmente na Ordem Unida, onde as unidades Prócion e Rosa de Sarom tiveram as melhores colocações.
No ano seguinte, Itamar Júnior, assessorado por Núbia Gomes e Daniel Passos, volta à direção com um desafio tremendo: levar o Shalom ao XVIII Campori da ACeAm, que pela primeira vez de muitos anos, aconteceria fora de Manaus novamente: seria no Paraíso D’Angelo, em Manacapuru. 2012 também marcava uma fase importante: comemorava-se o aniversário de 50 anos do Clube de Desbravadores no Amazonas, e como convidado para o Campori, veio o
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pastor José Maria Barbosa, que por alguns anos fora departamental de Desbravadores da Divisão Sul-Americana. Mais um projeto da Associação viria para ajudar os clubes durante aquele ano: a Escola Desbravadora, que agora era requisito de pontuação anual. Cada clube deveria manter as suas classes regulares funcionando, com os desbravadores frequentando e cumprindo os seus requisitos, resultando numa grande investidura no fim do ano. Nova reformulação aconteceu, e agora as áreas transformaram-se em regiões, com o Shalom pertencendo à 2ª Região de Desbravadores. Foi também nesse período que o Ministério dos Desbravadores – ainda sob a liderança de Enoque Reis, com coordenação geral de Paulo Félix – resolveu apostar no Clube de Líderes. A cada domingo à tarde, os jovens acima de 16 anos que não tinham completado todas as suas classes reuniam-se em escolas no bairro da Compensa para trabalharem somente nelas. Por semestre, eram trabalhadas três classes de uma vez. De Amigo a Pesquisador, e de Pioneiro a Guia, junto com as suas respectivas especialidades. Quem já tinha todas as classes, era encorajado a fazer a classe de Líder. Quem já tinha Líder, faria Líder Master. E quem já era Líder Master, deveria cumprir a mais alta graduação: Líder Master Avançado. Os desbravadores trabalharam incansavelmente dentro do clube, que tinha todo o cotidiano de uma escola. Para assumirem as classes, foram convidados especialistas nos assuntos principais das mesmas. A biotecnóloga Ketlen Ohse, por exemplo, trabalhou com a classe de Pesquisador, e o próprio Itamar Júnior atuou como instrutor da classe de Guia. Tudo para que a parte mental do tripé de trabalho dos Desbravadores fosse valorizada ainda mais. Clube de Desbravadores Shalom | 67
Novembro chegou, e com ele, o Campori. Ali, em cuja concentração estava representada a Cidade Santa descrita no livro do Apocalipse, foi realizada a maior investidura da Associação Central Amazonas. Desta vez, não apenas aspirantes a Líder eram investidos, como era comum nos Camporis, e sim os próprios meninos e meninas de 10 a 15 anos, que foram o centro daquele evento. Foi ali também que Itamar Vilhena Júnior foi investido em Líder, e Paulo Félix e Laíse Cristina foram investidos na classe de Líder Master Avançado. No sábado, um grupo de pessoas da IASD da Raiz vai a Manacapuru para visitar o Campori e o clube ali acampado. “Eu estava no acampamento pra almoçar, e aí o Neildo (Rosas, primeiro-ancião da igreja) veio me cumprimentar dizendo ‘boa tarde, diretora!’. Disse pra ele ‘eu sou regional, o diretor é aquele moço ali’, apontando pro Júnior. Foi quando ele me disse ‘Laíse, a Comissão de Nomeações se reuniu e indicou você pra ser diretora do Shalom em 2013’. Tomei um choque”, lembra Laíse Cristina, que à época, era a regional da 2ª Região. Em dezembro, o clube dirigiu um Culto Jovem de encerramento das atividades anuais na igreja da Raiz. Foi um culto emocionante, e no final, Itamar Júnior recebeu um vídeo-surpresa de todos os membros do clube, agradecendo pelo tempo em que permaneceu diretor. Depois do momento de homenagens, recebeu novamente o lenço de Líder das mãos de sua mãe. Mais uma prova, assim como Haroldo e seus filhos, de que o sangue de desbravador não é só uma herança emocional, e sim genética.
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Quando Laíse recebeu a notícia de que seria diretora, disse que não desejava o cargo, mas ao mesmo tempo, começou a ter mil ideias para o clube. Foi aí que recebeu a notícia de que seria responsável por levar o Shalom para o IV Campori da Divisão Sul-Americana, em Barretos. “Eu passei muito tempo sem estar na função de diretora, e quando acontece isso, a gente perde um pouco o costume de delegar funções, ser diretor de fato. Era um recomeço pra mim”, recorda. Laíse Cristina assumiu a diretoria oficialmente em 2013 pela segunda vez, 20 anos depois de ter dirigido o clube, com Daniel Passos e Núbia Gomes continuado como diretores associados. “Quando o ano começou, a primeira coisa que eu fiz foi orar. Depois, chamei o Júnior, que fora diretor, e o Ítalo, que dirigia a banda, e perguntei ‘o que o Shalom está precisando?’. Aí chamei os associados para juntos planejarmos o ano. Eu tinha uma noção de como estavam as coisas porque ajudava por fora, e de certa forma, foi mais fácil, porque ‘a casa foi arrumada’ em 2012”. A primeira vez que Laíse resolveu, de fato, pensar em levar o Shalom para o Campori da DSA foi no início das atividades de 2013. Num domingo, o Ministério dos Desbravadores da ACeAm marcou um encontro na igreja da Raiz com todos os diretores de clubes da Associação para apresentar o novo departamental da área: o paranaense Anderson Carneiro dos Santos. Quando o pastor chegou, após um breve intervalo na reunião, Laíse o levou para conhecer o clube e receber as tradicionais boas-vindas do Shalom.
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“Foi aí que o pastor Anderson me perguntou: ‘esse clube vai pro Campori da Divisão, né, Laíse?’ Eu respondi que sim, só não sabia como”, conta. Então tudo começou. Durante o ano inteiro as atividades do clube se intensificaram, e foi nesse período que o Shalom entrou nas redes sociais e na mídia. Um dos requisitos principais do Campori da DSA era que os clubes mostrassem a sua caminhada rumo a Barretos durante todo aquele ano. As classes continuaram a ser cumpridas com louvor, e novas pessoas, como a jovem Sabrina Menezes, começavam a tomar parte ativa nos deveres do clube. “Eu não queria só que a Internet visse o que estávamos fazendo. Queria, de alguma forma, destacar o Shalom e o trabalho que nós desenvolvíamos. Pensei em falar da nossa ida para o Campori, só não sabia como”, lembra Laíse. Foi então que ela conversou com Cynthia Pinheiro, que é jornalista e trabalhava no jornal A Crítica, pedindo um destaque no veículo. Num sábado à tarde, Cynthia reuniu todo o clube e começou a entrevistá-los. Os trabalhos continuaram se intensificando. E no dia 05 de janeiro de 2014, mal saídos do Ano Novo, o clube Shalom saiu do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, para o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. “Quando a gente estava no aeroporto, o A Crítica do dia 05 já tinha chegado pra venda. Na mesma hora eu comprei um exemplar e vi uma página inteira só do Shalom! Levei o jornal, e lá em Barretos eu mostrei para o pastor Anderson, que mostrou para o pastor Udolcy Zukowski, departamental de Desbravadores da Divisão”, relembra a então diretora. Era praticamente uma viagem dos sonhos. Os meninos desceram em Guarulhos, e lá já tomaram o ônibus para 70 | Clube de Desbravadores Shalom
Barretos, em companhia do clube Embaixadores do Rei, da igreja do Areal, dirigido por Diego Brelaz. A viagem ainda teve uma parada em Campinas, onde puderam visitar o shopping Parque Dom Pedro, considerado o maior da América do Sul. De lá, foram para Barretos, chegando à noite no Parque do Peão. Ali montaram as barracas e dormiram. No dia seguinte, sob um forte sol, os meninos começaram a montar o portal, enquanto as meninas organizavam a área de acampamento. Mais tarde naquele dia, houve o ensaio geral para a abertura. Os ensaios tinham acontecido em Manaus, na Vila Olímpica Danilo Areosa, que teria praticamente a mesma área do campo da Arena do Parque do Peão. E na noite do dia 7, a União Noroeste Brasileira, representada por 40 clubes, entre eles, o Shalom, abriu um dos maiores espetáculos dos Desbravadores na América do Sul. Os cinco dias de Campori foram repletos de emoções. A troca de camisetas era constante, e por onde quer que fosse, o Shalom chamava a atenção por causa da sua camiseta azul. Entretanto, os desbravadores não quiseram trocar. Trocaram outras antigas, mas as de seu uniforme, não. Eram preciosas demais para fazê-lo. Após o término do evento, o clube viajou para Brotas. Lá tiveram uma experiência incrível com atividades na natureza, como arvorismo, rafting, rapel, escalada e muitas outras. Ao final daquela viagem, o clube voltou para casa com histórias para contar pelos cinco anos seguintes.
Naquele mesmo ano, um novo desafio. Laíse continua como diretora, mas desta vez, teria ao seu lado uma nova Clube de Desbravadores Shalom | 71
auxiliar: enquanto Núbia Gomes passou a ser instrutora de classes, Sabrina Menezes subiu ao cargo de diretora associada. E naquele ano, teria Campori mais uma vez: seria a décima nona edição do evento pela ACeAm. O clube participou com louvor, tendo o destaque de ter voltado de um evento a nível continental. 2014, entretanto, também traria uma perda inestimável para a história do clube Shalom. Itamar Vilhena, que estava no clube Prócion, sofreu um acidente vascular cerebral no início do ano. Passou vários meses internado entre a vida e a morte, até que no dia 22 de outubro, descansou no Senhor. A cerimônia fúnebre aconteceu na igreja da Raiz, onde Itamar por tantas vezes dirigira os cultos Jovens e as cerimônias de investidura do Shalom. A igreja lotou. Os clubes Prócion e Shalom, filhos do mesmo pai, estiveram em peso na igreja, e as suas bandeiras ladearam o caixão. Ex-desbravadores dos dois clubes, que ainda viam em Itamar a figura de um pai, não aguentaram a emoção e choraram sobre o caixão. A cerimônia foi dirigida pelo pastor Tufi Fernandes, do distrito do Mauazinho, onde Itamar congregava atualmente. Ao final da cerimônia, cantaram seu hino favorito: Espero a Manhã Radiosa, que traduziu ao coração dos presentes a mais sublime esperança de seus amigos: esperar encontrar queridos nas mansões celestiais, e entre estes, o próprio Itamar.
No ano seguinte, mais uma aposta da IASD da Raiz na juventude. O jovem engenheiro Daniel Passos, que pas72 | Clube de Desbravadores Shalom
sara os últimos três anos como diretor associado, foi votado para ser o diretor. Sua trajetória começara ainda em 2003 como desbravador, junto com suas irmãs Dayane e Danielle. Durante sua vida, passou pelos cargos de conselheiro adjunto, conselheiro titular, instrutor de classes e coordenador de especialidades, destacando-se por sua habilidade com Nós e Amarras e Pioneirias. Quando Daniel assumiu, teria como seus associados a noiva, Sabrina, e Josias Gomes, que depois de dois anos como conselheiro, ganhava uma nova responsabilidade. 2015 se mostrava mais um marco na história do Shalom. Fora anunciado no ano anterior o I Campori de Desbravadores da UNoB, que seria mais uma vez no IAAI, com o tema À Prova de Fogo, com a coordenação geral do pastor Lélis Silva. Mais uma vez, a Banda de Música ensaiou à exaustão para a apresentação das bandas e fanfarras no Campori. Desta vez, outra peça coroaria o trabalho executado pelo grupo, que estava sob a regência de Odirley Mozambite e Ítalo Vilhena: Tu És Santo, de Michael Smith e gravada pelo Coral dos Adolescentes do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS). A abertura do Campori estava programada para a noite do dia 03 de setembro, mas por conta de uma forte chuva que desabara naquela tarde sobre o IAAI, foi cancelada e precisou ser realizada na noite do dia seguinte. O evento, que foi marcado por fortes emoções, contou com a presença do pastor Odailson Fonseca, da TV Novo Tempo, que proferiu uma de suas frases mais fortes: “Desbravador, não ouse faltar no Céu!”. Foi um ano em que toda a diretoria cresceu na administração do clube. Daniel se aperfeiçoou ainda mais no Clube de Desbravadores Shalom | 73
planejamento e coordenação de atividades externas, como o AcampClasse; Josias, que iniciara como conselheiro adjunto, tomou gosto pela área de acampamento; e Sabrina, que também atuara como coordenadora educacional, aprendeu toda a dinâmica dos cartões e classes regulares. O crescimento de Sabrina Menezes, que entrara no Shalom em 2008, influenciou diretamente para que oito anos depois, em 2016, ela fosse a terceira integrante do Shalom a receber o lenço de Líder de Desbravadores na década de 2010.
2016 também marcou a volta de Paulo Félix à diretoria, depois de 13 anos longe. Nesse período, Paulo atuara como coordenador distrital e regional, coordenador geral de Desbravadores, e membro do Conselho de Desbravadores da ACeAm. Teria ao seu lado Rebeca Martins e Josias Gomes, que cresceu ainda mais na diretoria do clube. “Quando eu assumi a diretoria, tentei trazer um pouco do que foi na minha época, adequando à nova realidade. Com mais atividades de acampamento, mais pessoas, uma metodologia de trabalho interessante”. De fato, foi. Paulo apostou em muita gente boa que deu certo, como a própria Rebeca Martins, que já vinha atuando como instrutora de classes nos anos anteriores. No mesmo ano, Paulo trouxe uma solução: como haviam muitos jovens acima de 16 anos que ainda integravam o clube e não estavam inseridos em nenhuma função na diretoria ou como conselheiros, uma unidade foi criada especialmente para estes: a Raízes. Serviria para que os adoles74 | Clube de Desbravadores Shalom
centes estivessem em capacitação constante, sob o comando de Núbia Gomes. Aprenderiam como ser conselheiros ou até mesmo a desempenhar as funções da diretoria. A iniciativa funcionou. Jovens como Thaynara Enes, Jeane Matos, Bruno Félix e muitos outros se capacitaram na Raízes, e em 2017, assumiram funções de responsabilidade maior ainda: Jeane assumiu a coordenação das pontuações, Thaynara se tornaria conselheira adjunta da unidade Rosa de Sarom com Antônia Lima, e Bruno Félix assumiria a unidade Prócion. Também em 2016, a Associação Central Amazonas chegou à sua marca histórica: a edição de número 20 de mais um Campori, com o tema Protegidos que, mais uma vez, aconteceu no IAAI. O colégio se consolidou como local oficial de acampamentos de associações e da União Noroeste, e prepara-se para receber em 2018 o I Campori de Jovens da União. O clube cumpriu com todas as atividades. Entretanto, a diretoria sentia que, para algumas crianças, estava sendo um pouco cansativo participar de várias atividades durante o dia. Paulo e Laíse – que estava atuando como conselheira geral – perceberam isso, e na saída de uma prova, já no fim do dia, o diretor disse ao clube: “Barra-bandeira, diretoria contra desbravadores. Agora!”. Foi uma festa. Os desbravadores venceram a diretoria por 2x1, e a brincadeira ainda se repetiria por mais dois dias. O clube saiu do Campori mais leve. Dois momentos de grande importância para o clube ainda aconteceram ali. No primeiro dia de atividades, o Shalom foi escolhido pela Associação para dirigir o cerimonial logo no início do dia. Isto é, entrada de bandeiras, récita dos ideais e canto do Hino dos Desbravadores. Thiago e Daniel Passos e este autor, juntamente com mais seis desClube de Desbravadores Shalom | 75
bravadores, foram escolhidos para a atividade, e até o fim do Campori, ainda se podia lembrar que o Shalom fora o melhor clube a realizar o cerimonial. O segundo momento aconteceu no final do Campori. Keicyane Souza entrara no clube ainda em 2010, com sua irmã Sarah. A família das duas não é adventista, mas resolveu incentivar as meninas a participarem. Depois de um ano fora, ela retornou e passou a integrar a unidade Raízes. Envolveu-se como nunca nas atividades do clube, e sua história de como o clube a havia salvado encantou a todos, principalmente ao departamental de Desbravadores, pastor Anderson Carneiro. No encerramento do evento, o pastor contou a história de Keicyane, que diante de 3000 desbravadores, pediu oração por sua família. E junto com ela, o pastor retirou a machadinha da Associação do tronco, finalizando com louvor o XX Campori de Desbravadores da ACeAm.
Para 2017, Paulo Félix foi votado mais uma vez como diretor, tendo Josias Gomes e Sabrina Menezes como associados. Mas em março, precisou sair do cargo por motivos de saúde. Em seu lugar, indicou Josias Gomes, que já vinha realizando um trabalho de excelência como associado, instrutor e conselheiro. Prontamente a igreja da Raiz aceitou, e no início de maio, Josias Gomes assumiu como diretor do Shalom, com Sabrina e Daniel como associados. Também era ano de mais um Concurso de Ordem Unida. Desta vez, a Elite ficou sob o comando de Paulo 76 | Clube de Desbravadores Shalom
Moraes Júnior. Filho de Paulo e Lúcia Morais, que fizeram parte do clube Shalom ainda no início, Paulo Júnior se encantou pelo clube ainda em 2014, quando o clube Atalaias do Norte, do qual fazia parte em Maués (AM), acampou em frente ao Shalom no IV Campori da DSA. Paulinho, como é conhecido, veio para Manaus em 2015 para cursar Odontologia e encontrou um lugar no clube Shalom, onde foi recebido calorosamente pelos novos amigos. Em 2017, recebeu a incumbência de levar o clube para o Concurso de Ordem Unida, tendo a imensa colaboração de Arlen Johnes, Ítalo Vilhena e Thiago Passos. Sob o seu comando, o Pelotão se destacou nas etapas da Região e da Área, chegando à grande final com muita garra. 2017 também foi um ano de tristeza, com o falecimento de duas importantes personagens de sua história. Jane Martins, que atuara desde o início das atividades do clube como Shalom, faleceu em decorrência de um câncer. Justina Neves, avó de importantes desbravadores como Arlen Johnes e Jair Neves, e bisavó de João Victor e Raquel Lima, filhos de Arlen, também descansou no Senhor. Não fora pioneira do clube, mas seu exemplo de persistência em participar do clube mesmo em idade avançada emocionava a todos que a viam. Um exemplo para as novas gerações.
O ano terminou, mas as projeções do Shalom para o futuro continuam. O clube fará uma excursão para a Serra de Tepequém, na fronteira entre o estado de Roraima e a Venezuela no fim do ano, e já é presença garantida no V Clube de Desbravadores Shalom | 77
Campori da DSA, que acontecerá novamente em Barretos. E para 2018, Josias Gomes já foi votado como diretor. O futuro é incerto, mas o Shalom chega ao final de mais um ano em atividade plena, com classes cumpridas, requisitos de pontuação todos alcançados, dois acampamentos realizados e uma certeza: Ebenézer, até aqui nos ajudou o Senhor.
Se você chegou até aqui, parabéns. Você acaba de ler a história de um dos mais potentes clubes de desbravadores no Amazonas. Uma história de emoção, construída à base de sangue, suor e lágrimas. Algumas pessoas podem perguntar como o Shalom conseguiu subsistir por quarenta e sete anos. Talvez a resposta seja simples: o clube é uma família. Não apenas uma família no sentido físico, mas espiritual. Por mais que hajam líderes destemidos, conselheiros competentes e desbravadores esforçados em tudo o que façam, nada supera o fato de que são uma família. Olhando para trás, nota-se que cada página desta história foi escrita pelo dedo do próprio Deus. Não há outra explicação. Afinal, ser um desbravador e um líder de desbravadores é entregar diariamente a sua vida a Deus, deixando que Ele faça o resto. Somente assim o clube poderá seguir no seu mais áureo objetivo: salvar do pecado e guiar no serviço.
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Este livro foi produzido no ano de 2017.