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Módulo 1: Históricos e Histórias

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mulheres impulsiona a sofisticação do debate que, embora na época não levasse este nome, já apresentava um caráter interseccional.

No mesmo período, nos Estados Unidos, o movimento pelos direitos civis ganhava corpo, e um de seus motes principais era o fim da segregação racial e a garantia de Direitos Constitucionais. Algumas conquistas desta mmovimentação incluem A Lei de Direitos Civis de 1964, que proibiu expressamente discriminação baseada em raça, cor, religião, sexo ou origem nacional no trabalho; o fim da aplicação desigual dos requisitos de registro de eleitores; e a proibição da segregação racial nas escolas, no trabalho e nas acomodações públicas e, posteriormente, privadas. O Partido dos Panteras Negras, originalmente denominado Partido Pantera Negra para Auto-defesa, foi uma organização urbana socialista revolucionária fundada nos Estados Unidos em 1966 por Bobby Seale e Huey Newton.

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Sugestão de atividade

Kathleen Cleaver é uma professora de direito conhecida por seu envolvimento com o movimento Black Power e o Partido Pantera Negra. Apresentação do vídeo Kathleen Cleaver dos Panteras Negras e a importância de valorizar a beleza negra. Após a apresentação segue discussão a respeito do caráter político do empoderamento pela estética.

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qr4nv94x7NM

MNU

O Movimento Negro Unificado (MNU) é uma organização pioneira na luta do Povo Negro no Brasil que foi fundada no dia 18 de junho de 1978, e lançada publicamente no dia 7 de julho, deste mesmo ano, em evento nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo em pleno vigor do regime militar. O ato representa um marco referencial histórico na luta contra a discriminação racial no país.

Enegrecer o feminismo

A dupla militância nos movimentos negro e feminista, como forma de sensibilizar ambos os campos a respeito do sexismo e racismo como elementos estruturantes, é característica da organização independente de mulheres negras no Brasil. Nomes como Lélia Gonzales, Sueli Carneiro e Luíza Bairros, já referidos nesta cartilha, despontaram então como expoentes de um forte corpo intelectual do feminismo brasileiro, visando enegrecê-lo para contemplar a realidade das mulheres brasileiras, negras em maioria. Hoje dão continuidade a este trabalho feministas como Djamila Ribeiro e Winnie Bueno, reconhecidos internacionalmente pelo contínuo de rompimento de silenciamentos sistemáticos e pelo aprimoramento e amplificação do alcance de vozes feministas negras do país.

Sugestão de atividade

Finalizar este Módulo com a apresentação do vídeo O silenciamento é uma arma contra as pessoas negras, de Winnie Bueno no TEDxLaçador 2019.

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=prV5qJX6UBU

MÓDULO 2 TRABALHO

No Módulo 1: Históricos e histórias percorremos alguns marcos, ideias e movimentos de mulheres e negros no Brasil, EUA e Europa em mais de uma cronologia, encontrando ferramentas conceituais e teóricas e observando racismo nos feminismos. A partir de agora abordaremos temáticas específicas em perspectiva feminista antirracista – e, neste segundo módulo, o tópico é trabalho.

Roteiro para confecção da aula

Informações e conteúdo para confecção de aulas

Seção 3

Tempo sugerido: 4h ao todo Tipo de atividade: expositiva, discussão em grupo Espaço/formação da sala: dispor cursistas em meio-círculo Materiais sugeridos: quadro para anotações pertinentes às discussões em grupo Abordagem do conteúdo: este é um módulo expositivo e de discussão, cujos objetivos são constatar a desvalorização do trabalho dito reprodutivo, bem como diferenças laborais entre mulheres.

O conceito de trabalho é geralmente entendido como sendo sobre atividades humanas que visam produzir formas de subsistência; para refletir sobre o tema, é necessário colocá-lo em perspectiva social, e o Módulo 2: Trabalho nos convida a avaliar nossas próprias condições de trabalho de forma interseccional.

Sugestão de atividade

Recomendamos que significados e conceituações engendrados pelas perguntas abaixo em discussão sejam anotados de forma visível para participantes:

O que é e o que não é trabalho, e por que? • Trabalho doméstico é trabalho? •

Notas:

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT)1 de 2017 revelam que o Brasil emprega cerca de 7 milhões de pessoas no setor de trabalho doméstico, o maior índice no mundo; O perfil das trabalhadoras domésticas brasileiras é predominantemente composto de mulheres negras; Há consenso entre historiadoras de que o Brasil do Século XXI herdou profundas desigualdades não resolvidas de nosso passado colonial, imperial e escravista, e que isso influencia o quadro contemporâneo do trabalho doméstico de baixa remuneração e, até recentemente, poucos direitos; A Lei Complementar nº 150 de 2015 regulamentou alterações previstas pela Emenda Constitucional nº 72, expandindo direitos confirmados na Constituição Federal de 1988 a empregadas/os domésticas/os – por exemplo: salário mínimo nacional, tempo máximo de jornada de trabalho, férias, licença-maternidade e 13º, dentre outros até então não garantidos por lei para este setor; Nosso curso e cartilha não homenageiam Laudelina de Campos Melo por acaso: ela foi pioneira nas lutas pelo fim da precariedade do trabalho doméstico, e sua atuação foi fundamental para a categoria conquistar Carteira de Trabalho e Previdência Social.

Breves considerações da Sociologia do Trabalho

Trabalho é o conceito que engloba atividades sobre as quais empregamos nossa força para produzir meios para nosso sustento, segundo Karl Marx – para quem, na sociedade capitalista, resta ao trabalhador (quem não dispõe dos meios de produção) vender o que tem: sua força de trabalho em troca de salário. Já em 1884 em A origem da família, da propriedade privada e do Estado Friedrich Engels categoricamente afirma que se propriedade é o poder de dispor da força de trabalho alheia, a divisão sexual do trabalho e a propriedade privada são expressões idênticas. Trabalho produtivo é aquele que modifica o valor de uso de produtos ou serviços, gerando riqueza material e não material à sociedade. Trabalho reprodutivo é aquele necessário para a reprodução humana, não restrito à procriação e extensivo a todas atividades relacionadas ao cuidado. O trabalho reprodutivo, doméstico ou não (por exemplo, em hospitais, creches, refeitórios) é histórica e sistematicamente realizado por mulheres, e independentemente de oscilações e métricas referentes a mulheres e mercado de trabalho, ainda hoje o trabalho reprodutivo, sobretudo tarefas domésticas, continua sendo menos feito por homens: em 2018 o IBGE revelou que brasileiras dedicam 21,3h por semana, contra 10,9h dos brasileiros, a afazeres domésticos². Contudo, raça chacoalha a noção de que esta divisão de trabalho se desdobra tendo apenas gênero como eixo organizador.

Sugestão de atividade

Em Mulheres, raça e classe Angela Davis enfatiza que o sistema escravista definiu o povo negro como propriedade; mulheres eram vistas, não menos que homens, como unidades de trabalho, e conveniência governava a postura dos proprietários: quando lucrativo explorar escravas como homens, eram consideradas sem gênero; quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas como mulheres, eram atreladas a papéis femininos³. A partir desta reflexão, debater diferenças, nas lutas feministas por direitos:

na esfera do trabalho como possibilidade de libertação financeira X trabalho como contexto a ser aprimorado ou do qual se libertar nos impactos da dupla e/ou tripla jornadas de trabalho para mulheres que podem contratar empregadas domésticas X para próprias empregadas domésticas na “síndrome da impostora” – como a inserção das mulheres no mercado de trabalho se organiza a partir da divisão entre trabalho produtivo e reprodutivo?

Para aquém e além de articulações feministas e antirracistas por direitos nas questões referentes a trabalho, há também que se considerar fenômenos sociais que impactam nossa saúde, física e mental. Apesar de não ser uma síndrome propriamente dita – ou seja, a manifestação clínica de uma doença a partir de um conjunto de sinais e sintomas – ao falarmos de gênero, raça e trabalho, frequentemente invocamos a síndrome do/a impostor/a. Trata-se de um fenômeno psíquico informado por normas sociais, que fazem com que sujeitos plenamente capacitados para exercer funções específicas sofram de uma sensação de inferioridade, subestimando as próprias habilidades.

Sugestão de atividade

Finalizar o módulo debatendo as formas sistemáticas com que (i) narrativas machistas e racistas se repetem [ex.: na produção de estórias (novelas, filmes, livros), de notícias (jornais, revistas, internet) e de estereótipos sociais (como por exemplo, a ideia de que há “profissões de homem e profissões de mulher” ou o que significa dizer que algo é “coisa de preto”)]; e (ii) silencia-se críticas sociais ao machismo e ao racismo; e como esses fatores contribuem para que, individualmente, sujeitos desenvolvam a “síndrome do/a impostor/a”. No Módulo 2: Trabalho constatamos a desvalorização do trabalho dito reprodutivo bem como diferenças laborais entre mulheres, e além de direitos articulamos também alguns dos impactos individuais das opressões sociais que têm como eixo gênero e raça. Seguimos abordando temáticas específicas em perspectiva feminista antirracista – e, neste terceiro módulo, o tópico é corpo.

CORPO MÓDULO 3

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Seção 4

Tempo sugerido: 4h ao todo Tipo de atividade: lúdica/artística, com engajamento corporal para além de discussão em grupo Espaço/formação da sala: deve haver espaço suficiente para desenhar e colar, e recomenda-se emprego entusiasmado dos sentidos durante a atividade artística (música, comidinhas e bebidas não alcoólicas são bem vindas) Materiais sugeridos: papel pardo, canetinhas e lápis de cor, tesoura e cola, revistas para colagem Abordagem do conteúdo: módulo em que o engajamento do próprio corpo visa fazer com que participantes constatem a existência de padrões e controle sociais que se dão pela via da corporalidade

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O corpo é natural e cultural. Recipiente e produtor de sentido e discurso. Há corpos entendidos como desejáveis e indesejáveis, como produtivos ou improdutivos, como padrão e ideal. O Módulo 3: Corpo nos convida a avaliar gênero e raça como sendo, também, linguagens que se inscrevem em corpos, afetando-os em diversas dimensões de poder. No campo da saúde sexual e reprodutiva questões que se dão em corpos, como maternidade, contracepção e aborto, engendram a necessidade por políticas públicas. Nos campos do desejo, do casamento e do trabalho sexual se atravessam corpos, moral e religião. Como vimos no Módulo 2: Trabalho, é no corpo que se exerce controle laboral. Corpos são sujeitos a controle, e os objetivos deste módulo são, portanto, situá-los como categoria analítica central do conhecimento, e avaliar em análise interseccional relações sociais de poder onde gênero e raça atuam como marcadores de experiências de privilégio e opressão. Sugestão de atividade

Dividindo participantes em grupos, cada grupo desenha um corpo feminino padrão usando os materiais disponíveis (papel, canetinha, revista, tesoura, cola, etc.). Ao mesmo tempo em que desenha o corpo, o grupo cria para ele também uma narrativa de subjetivação feminina padrão, contendo nome, idade, raça, orientação sexual, informações sobre família e relacionamentos, quais atividades realiza por trabalho e lazer, escolaridade, planos e projetos, gostos, dúvidas e medos. Ao final, cursistas compartilham seus desenhos e narrativas umas com as outras. Os objetivos desta atividade são: • perceber como a ideia da criação de um “corpo padrão” revela decisões bastante específicas quanto à forma deste corpo (em geral os desenhos e histórias se parecem) • solidificar raça e gênero como chave para compreensão do corpo como recipiente e produtor de sentido e discurso refletir sobre o papel do corpo nas relações de poder – o que constitui um padrão, e como isso cria narrativas de controle?

No Módulo 1: Históricos e histórias conhecemos melhor o conceito de Imagens de Controle, conforme explicado pela própria autora do termo, Patricia Hill Collins, em Pensamento Feminista Negro¹. Para Winnie Bueno, co-autora do curso que origina esta cartilha e estudiosa do pensamento de Hill Collins:

O conceito de “imagens de controle” é uma ferramenta de análise da teoria crítica social, elaborado por Patricia Hill Collins e que pode ser usado para pensar várias experiências de subordinação – desde que com rigor metodológico². (Winnie Bueno, 2019)

Nota: O feminino padrão fala de ideais de feminilidade que não exatamente representam o que há de bom ou ruim ou certo ou errado, nem na feminilidade nem nas mulheres, mas do que é considerado ideal para a manutenção de um status quo patriarcal. Lembrar dos ideários de feminilidade abordados na Seção 2 Módulo 1: Históricos e Histórias

Hill Collins adverte que padrões se constroem a partir de pressupostos hegemônicos, e que quanto mais próximo um sujeito está do ideal, mais favoravelmente será julgado socialmente – fator importante sobretudo ao levar em consideração a insistência de Bueno em ressaltar que Imagens de Controle não são simplesmente estereótipos de mulheres negras, mas sim, e “antes de mais nada uma forma de articular roteiros sociais a partir dos quais a sociedade irá visualizar e tratar mulheres negras”³. Das Imagens de Controle articuladas por Hill Collins vamos conferir atenção especial à da empregada doméstica “leal aos seus empregadores que dedica sua vida ao emprego e a fornecer cuidado e conforto para os brancos4”, ideário tão marcadamente presente no contexto brasileiro. Em entrevistas profundas que figuram em sua dissertação O Trabalho da Babá: trajetórias corporais entre o afeto, o objeto e o abjeto³, Nanah Sanches Vieira analisa o cotidiano de trabalhadoras domésticas no Brasil contemporâneo com enfoque na prática laboral de babás. Em sua pesquisa o corpo da babá é abordado como categoria central de reflexão sobre relações sociais onde raça e gênero estão interseccionadas. A compreensão das representações e práticas referentes à babá, em sua análise, se dão por meio de subclassificações de seus corpos entre afeto (carinho, cuidado), objeto (atividade laboral) e abjeto (dominante x dominado).

Sugestão de atividade

Na atividade anterior vimos que o padrão de representação feminina é a mulher cis branca e heterossexual. Em discussão em grupo, questionar:

quais corpos frequentemente preenchem o imaginário social das representações de empregadas domésticas? quais representações frequentemente preenchem o imaginário social para mulheres negras? de que formas reflexões feministas e antirracistas centralizadas no corpo podem se beneficiar do questionamento de Imagens de Controle? No Módulo 3: Corpo situamos corpos como sendo categoria central de nossa análise interseccional de relações sociais de poder, e ressaltamos a existência da criação de imaginários sociais, a partir do conceito de Imagens de Controle, consolidando gênero e raça como marcadores fundamentais de experiências de privilégio e opressão. Seguimos abordando temáticas específicas em perspectiva feminista antirracista – e, neste quarto módulo, o tópico é masculinidades.

MASCULINIDADES MÓDULO 4

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Seção 5

Tempo sugerido: 4h ao todo Tipo de atividade: expositiva, discussão em grupo Espaço/formação da sala: tradicional Materiais sugeridos: quadro para anotações pertinentes às discussões em grupo Abordagem do conteúdo: este é um módulo expositivo e de discussão, cujos objetivos são constatar que o masculino e o feminino não são essência, e sim sistemas simbólicos atravessados por relações patriarcais de poder, subsequentemente compreendendo gênero como sistema sociopolítico tanto relacional como resultante de dominação masculina.

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O conceito de masculinidade hegemônica faz parte da teoria da ordem de gênero da cientista social australiana Raewyn Connell1. Embora reconheça a existência de múltiplas masculinidades que variam ao longo dos tempos, contextos e sujeitos, o conceito sustenta que hegemônicas são as configurações de linguagens e práticas masculinas que legitimam, justificam ou naturalizam a posição dominante de alguns homens sobre outros, e de todos os homens sobre as mulheres. Toma emprestado o adjetivo hegemônica da conceituação do filósofo marxista e político italiano Antonio Gramsci, para quem hegemonia resulta de dinâmicas sociais de domínio ideológico de um grupo sobre outro. O Módulo 4: Masculinidades nos convida a avaliar gênero como sendo um sistema relacional montado sobre lógicas de dominação masculina. Sugestão de atividade

Discussão em grupo a partir dos questionamentos a seguir:

É possível ou desejável transformar ou aniquilar o feminino? E o masculino? Como discernir exatamente entre um e outro? Quais critérios os colocam em oposição?

Se não se nasce mulher, mas tornase, o que constitui uma mulher? E o que constitui um homem? Pontos de interesse acerca destas indagações são o masculino e o feminino, aqui enquadrados como sistemas simbólicos – linguagens, por assim dizer, que se inscrevem na cultura, e em corpos. Connell formulou a feminilidade enfatizada em relação à masculinidade hegemônica em reconhecimento de que certos ideários do feminino são fundamentalmente patriarcais e enfatizam lógicas da subordinação das mulheres pelos homens. A masculinidade subordinada também existe em relação de subordinação à hegemônica, que historicamente não falha em ser branca e cisgênero e se apresentar como heterossexual.

Sugestão de atividade

Discussão em grupo;

Do que, hoje, são constituídas as configurações de linguagens e práticas masculinas que legitimam, justificam ou naturalizam a posição dominante de alguns homens sobre outros, e de todos os homens sobre as mulheres? Masculinidades negras, gays e trans constituem o que Connell chama de masculinidade hegemônica? Quais masculinidades escapam do conceito?

O masculino e o feminino não são essências, mas produções culturais, e é de interesse de um feminismo antirracista que eles sejam avaliados, questionados, dessacralizados e desnaturalizados para que possam ser repensados, reconfigurados, desfeitos e refeitos, visto que historicamente esta divisão rigidamente binária operou em benefício da ordem patriarcal de gênero.

Sugestão de atividade

Discussão em grupo

O que acontece quando feminilidades ou masculinidades são deslocadas de corpos onde estão naturalizadas suas inscrições – em outras palavras, o que significa ser um homem feminino ou o que define uma mulher masculina? Aparentes deslocamentos como estes revelam rupturas nas normas e códigos de gênero, ou os reforçam? Quem pode ou não se utilizar dos códigos de gênero, e por que? Se o patriarcado é também constituído e marcado por raça e classe, há privilégios para mulheres brancas, cisgênero e heterossexuais dentro do sistema relacional de opressão e subordinação chamado gênero? No Módulo 4: Masculinidades constatamos que o masculino e o feminino não são essência, e sim sistemas simbólicos atravessados por relações patriarcais de poder, e compreendemos gênero como sistema sociopolítico relacional e resultante de dominação masculina. Neste módulo, nosso último, a temática abordada em perspectiva feminista antirracista é saúde.

SAÚDE MÓDULO 5

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Seção 6

Tempo sugerido: 4h ao todo Tipo de atividade: discussão em grupo Espaço/formação da sala: participantes em círculo para roda de conversa Materiais sugeridos: espaço para anotações pertinentes às discussões em grupo Abordagem do conteúdo: este é um módulo dialógico cujo objetivo é articular em nível básico perspectivas feministas e antirracistas de questões de saúde pública, com enfoque em direitos sexuais e reprodutivos.

Informações e conteúdo para confecção de aulas

A concepção da noção de saúde integral para mulheres no Brasil se deu no contexto de explosão demográfica do início da década de 1980. Pautando-se centralmente na questão de controle de natalidade, o modelo de atenção maternoinfantil vai sendo paulatinamente substituído por uma modelo de saúde reprodutiva que se oriente a partir do planejamento familiar – ao menos em teoria, mas a verdade é que questões de saúde pública relacionadas a direitos sexuais e reprodutivos são formuladas a partir da prerrogativa de que este é um lugar a ser ocupado por mulheres. A pesquisadora Suely Gomes Costa em sua pesquisa1 sobre proteção social, maternidade transferida e lutas pela saúde reprodutiva no País, salienta que aqui prevalece o entendimento de que o controle democrático da concepção – ou ainda, a regulação da concepção – seja próprio das mulheres, formulação sexista que faz com que programas de saúde sexual sejam organizados quase que completamente pelo binômio mãefilho e o ciclo gravídico-puerperal. O princípio norteador da noção de saúde sexual e reprodutiva, para todas as pessoas, é o direito individual de decidir livre e responsavelmente sobre ter ou não ter filhos, quando e como tê-los. Este princípio é reconhecido como direito inscrito em legislação na maioria dos países do mundo. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) saúde sexual e reprodutiva também diz respeito à condição de bem-estar físico, mental e social relacionada com o sistema reprodutor, perspectiva que obteve respaldo institucional internacional nas Conferências Mundiais sobre População e Desenvolvimento (1994) e Conferências Mundiais para o Desenvolvimento Social (1995) das Nações Unidas – que promovem, também, que pessoas desfrutem de vida sexual satisfatória e segura.

Sugestão de atividade

Em pares ou em grande grupo, aplicar o questionário abaixo para debate; o objetivo do exercício é situar e compartilhar entendimentos sobre questões relacionadas a aborto:

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

8.

A distinção entre aborto seguro e inseguro, legal e proibido por lei são importantes pelas diferentes implicações à saúde das mulheres, sobretudo do ponto de vista da gestão da saúde pública. No Brasil, o ato de provocar aborto é considerado

Você é contra ou a favor do aborto? Você é contra ou a favor da descriminalização e legalização do aborto? Deveria existir um limite de número de procedimentos por mulher? Deveria existir uma idade mínima para a realização do procedimento? Deve haver um limite máximo de tempo para a realização do procedimento? Na sua opinião, de quem deve ser a decisão de realizar um aborto? Na sua opinião, as instituições de ensino e família transmitem educação sexual de forma segura e clara para prevenção de gravidez? Na sua opinião, sendo que o SUS é o órgão competente para a realização de procedimentos médicos assistidos pelo Estado, deveria realizar abortos?

crime, exceto em duas circunstâncias: quando não há outro meio para salvar a vida da mulher ou é resultado de estupro.

O aborto envolve questões éticas, e abordagens sobre o assunto tendem a ser pesadamente influenciadas por demandas morais, religiosas e patriarcais. São estas demandas o que dificulta a compreensão do tema como sendo primordialmente pertencente à seara dos direitos sexuais e reprodutivos e saúde integral das mulheres. A prática do abortamento não se faz necessária por causa de coisas como caráter, classe social ou idade, e mulheres jovens, maduras, mulheres religiosas ou não abortam, ainda que aborto não seja um benefício ou evento que se deseje ou planeje alcançar. A criminalização representa um grave problema de saúde pública, visto que ocorrem mais de um milhão de abortamentos por ano no Brasil e esta é uma das principais causas de morte materna no País. Não é simples realizar o procedimento, nem em casos previstos por lei: pesquisa do Anis – Instituto de Bioética mostra que existem 37 serviços; em 7 estados não há serviço em atividade; em 4 estados há serviços fora das capitais.²

Notas:

Artigos sobre aborto no Código Penal brasileiro:

124: tipifica o crime de aborto – provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque; pena: detenção, de um a três anos; 126: aplicação da lei para quem faz o procedimento – provocar aborto com o consentimento da gestante; pena: reclusão, de um a quatro anos; 128: abortos não-puníveis, desde que praticados por médicos: 128-1: quando a gravidez impõe risco à saúde da mãe; 128-2: quando a gravidez é consequência de estupro (requer comprovação do estupro, bem como consentimento da gestante ou, quando incapaz, menor ou não, de seu representante legal) A ADPF 54 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 54) garante no Brasil a interrupção terapêutica da gestação de feto anencéfalo – em outras palavras, em casos de anencefalia o procedimento não é considerado crime nem chamado de aborto

Mais informações sobre aborto podem ser encontradas nas seguintes páginas: • Women Help: https://womenhelp.org/ • FAQ de Aborto do Think Olga: http://thinkolga.com/2016/09/27/faq-sobre-o-aborto-tudo-quevoce-deveria-saber-respeito/ • ZINE Útero Livre: https://issuu.com/zineuterolivre/docs/n_1-_julho_2017__vers__o_reeditada_

Anotações

Referências

Introdução

Feminismo para os 99%: um manifesto. Cinzia Arruzza, Heci Regina Candiani e Nancy Fraser. Boitempo, 2019.

Mulheres, raça e classe. Angela Davis. Boitempo, 2016.

Citações extraídas de A feminist dictionary. Cheris Kramarae e Paula A. Treichler. Pandora, 1985.

Educação como prática da liberdade. Paulo Freire. Paz e Terra, 1967.

Por uma Pedagogia da Pergunta. Paulo Freire, Antonio Faundez. Paz e Terra, 1985.

Aula Introdutória

Do site www.acordacultura.org.br, sessão Heróis de Todo Mundo, disponível em <http://antigo. acordacultura.org.br/herois/heroi/laudelina>

Peles Negras, Máscaras Brancas. Frantz Fanon. Pluto Press, 1967.

O segundo sexo. Simone de Beauvoir. Difusão Européia do Livro, 1970.

Simone de Beauvoir em Beijing 1 de outubro de 1955, praça Tiananmen. Liu Dong’ao, Wikimedia

Commons, disponível em <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=77978532> Citação extraída de A feminist dictionary. Cheris Kramarae e Paula A. Treichler. Pandora, 1985.

Feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. bell hooks. Rosa dos Tempos, 2018.

O contrato sexual. Carole Pateman. Paz e Terra, 1993.

Em meio à crise o patriarcado contra-ataca. Joanna Burigo. Carta Capital, 2016. Disponível em <https:// www.cartacapital.com.br/opiniao/em-meio-a-crise-o-patriarcado-contra-ataca/>

Gênero para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra. Donna Haraway. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n22/n22a09.pdf> (2004).

Adaptado da sistematização feita por Brasil Escola, disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/ sexualidade/cisgenero-transgenero.htm>

Kimberlé Williams Crenshaw por Mohamed Badarne, Wikimedia Commons, disponível em <https:// pt.wikipedia.org/wiki/Kimberl%C3%A9_Williams_Crenshaw#/media/Ficheiro:Kimberl%C3%A9_Crenshaw_ (40901215153).jpg>

Enegrecer o Feminismo: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero.

Sueli Carneiro. Geledes, 2011. Disponível em <https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismosituacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/>

Módulo 1: Histórico e Histórias

Extraído de Um olhar além das fronteiras – educação e relações raciais. Organização de Nilma Lino Gomes.

Editora Autêntica, 2007.

Teorizando sobre gênero e relações raciais. Sandra Azerêdo. CBFQ, 2014. Disponível em <https:// periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/viewFile/16103/14647>

Esperança Garcia. Do site observatorio3setor.org.br. Disponível em <https://observatorio3setor.org.br/ noticias/escrava-ela-buscou-justica-e-tornou-se-a-primeira-advogada-do-piaui/attachment/esperancagarcia/>

Mary Wollstonecraft. Por John Opie, c. 1797. Domínio público. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/

Mary_Wollstonecraft#/media/Ficheiro:Mary_Wollstonecraft_by_John_Opie_(c._1797).jpg>

Early Feminist Theory and the Querelle des Femmes, 1400-1789. Joan Kelly. The University of Chicago Press, 1982. Disponível em <https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/493940>.

Nísia Floresta. Acervo da Biblioteca Nacional. Domínio público. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/ wiki/N%C3%ADsia_Floresta_(escritora)#/media/Ficheiro:Nisia_floresta.jpg

Maria Firmina dos Reis. IEA. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/professora-da-usp-participa-denova-edicao-de-ursula/

Irmandades religiosas no Brasil: luta e resistência negra. Luciane Reis. Correio Nagô, 2011. Disponível em <http://correionago.ning.com/profiles/blogs/irmandades-religiosas-no-1>

A necessidade da construção de um novo paradigma sobre a laicidade do Estado brasileiro para a eliminação da intolerância religiosa experienciada pelas tradições religiosas de matriz africana. Winnie Bueno, 2016.

Disponível em: <https://medium.com/@winniebueno/a-necessidade-da-constru%C3%A7%C3%A3o-deum-novo-paradigma-sobre-a-laicidade-do-estado-brasileiro-para-a-93e386102fb>

10. 11.

12. 13.

14.

15.

16.

17.

18.

19.

20.

21. Nancy Hartstock. Disponível em <https://alchetron.com/Nancy-Hartsock> Barbara Smith. Disponível em <http://feministfreedomwarriors.org/watchvideo. php?firstname=Barbara&lastname=Smith> Sojourner Truth: A life, a symbol. Nell Irving Painter. Mississippi State University, Libraries, 1996. Com informações do Sojourney Truth Project. Disponível em <https://www.thesojournertruthproject. com/> Tradução conforme aparece em arrigo do Jornal Migalhas publicado aos 29 de julho de 2019. Disponível em <https://www.migalhas.com.br/coluna/migalaw-english/307474/direitos-das-mulheres-os-discursosde-sojourner-truth-em-traducao> Angela Davis ao vivo - “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”. TVE Bahia, YouTube, Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=2vYZ4IJtgD0&feature=emb_logo>. Página de Facebook do Instituto Vladmir Herzog. Disponível em <https://www.facebook.com/ institutovladimirherzog/posts/952379101494018/> Onde estavam as mulheres negras na ditadura militar? Niara Oliveira. Portal Geledés, 2015. Disponível em <https://www.geledes.org.br/onde-estavam-as-mulheres-negras-na-ditadura-militar/?gclid=Cj0KCQiAnL 7yBRD3ARIsAJp_oLYShW4tpM0BEoPsDKe-udFKibgGYAiOtRakvoEok0HAuANm8jnZ41YaAlddEALw_wcB> O movimento negro no Brasil: ausências, emergências e a produção dos saberes. Nilma Lino Gomes. Política e Sociedade, v. 10, n. 18, 2011. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Petrônio Domingues. Revista Tempo, v. 12, n. 23, 2007. A Redenção de Cam. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3281/a-redencao-de-cam> . OLIVEIRA, Laiana Lannes. A Frente Negra Brasileira: política e questão racial nos anos 1930. 2002.

Módulo 2 – Trabalho

1.

2.

3. Fatos e números de trabalho doméstico no Brasil e no Mundo. OIT (Organização Internacional do Trabalho). 2017. Disponível em <https://www.ilo.org/brasilia/temas/trabalho-domestico/lang--pt/index. htm> Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: características adicionais do mercado de trabalho: 2018; PNAD contínua: características adicionais do mercado de trabalho: 2018. Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE). Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalog o?view=detalhes&id=2101694> Mulheres, raça e classe. Angela Davis. Boitempo, 2016.

Módulo 3 – Corpo

1.

2.

3. 4. 5. Pensamento Feminista Negro. Patricia Hill Collins. Boitempo. 2019.

Elaboração do conceito feita por Winnie Bueno em conversa privada com Joanna Burigo e Rosana

Pinheiro-Machado como áudio de WhatsApp em 07/11/2019, autorizada para publicação nesta cartilha pela autora.

A Lacradora: Como imagens de controle interferem na presença de mulheres negras na esfera pública. Winnie

Bueno. Medium, 2019. Disponível em: <https://medium.com/neworder/a-lacradora-como-imagens-decontrole-interferem-na-presen%C3%A7a-de-mulheres-negras-na-esfera-p%C3%BAblica-cb26f5edbb59>

Idem

O trabalho da babá: trajetórias corporais entre o afeto, o objeto e o abjeto. VIEIRA, Nanah Sanches Vieira. 2014. Dissertação (Mestrado em Sociologia) Universidade de Brasília.

Módulo 4 – Masculinidade

1. Masculinities. R.W. Connell. 1995 (2005). Cambridge, UK: Polity Press.

Módulo 5 – Saúde

1. 2.

3. Proteção social, maternidade transferida e lutas pela saúde reprodutiva. Suely Gomes Costa. Revista Estudos Feministas, 2002. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104026X2002000200003&script=sci_abstract&tlng=pt> Serviços de Aborto Legal no Brasil — um estudo nacional. Anis – Instituto de Bioética. 2015. Disponível em <https://anis.org.br/projetos/censo-dos-servicos-de-aborto-legal-no-brasil/>

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