Noite Milionária - Sarah Morgan

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Noite Milionária (Million-Dollar Love-Child)

Sarah Morgan

Ela precisa fazer tudo o que ele deseja por cinco milhões de dólares. E ele se certificará de que ela mereça cada centavo... O filho de Kimberley Townsend está em perigo, e a única pessoa que pode ajudar é o pai dele, o bilionário brasileiro Luc Santoro. Ele nem mesmo sabe que seu filho existe, e acredita que Kimberly não passa de uma golpista. Contudo, ele está disposto a dar o dinheiro que ela tanto precisa desde que se torne sua amante. Kimberly não é mais a virgem inocente que dormiu com ele anos atrás... E é justamente por isso que irá fazê-lo perder o controle em proporções que jamais imaginou...

Digitalização: Simone R. Revisão: Bruna Cardoso


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Querida leitora, Em Dominados pela Paixão, conheceremos Morgen e Kimberley, duas mulheres dedicadas a seus filhos e julgadas de maneira equivocada por Conall e Luc. Morgen é vista por seu chefe como uma garota festeira, mas na verdade passa toda a noite ao lado da filha doente. E Kimberly, um ex-caso de Luc, está de volta para pedir-lhe dinheiro, só que para tirar o filho deles do perigo. Sabe o que mais elas têm em comum? Ambas acabam se apaixonando. Ou seja, não vai faltar paixão! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: IN HER BOSS’S BED Copyright © 2004 by Maggie Cox Originalmente publicado em 2004 por Mills & Boon Modem Romance Título original: MILLION-DOLLAR LOVE-CHILD Copyright © 2006 by Sarah Morgan Originalmente publicado em 2006 por Mills & Boon Modem Romance Projeto gráfico de capa: núcleo i designers associados arte-final de capa: núcleo i designers associados Editoração Eletrônica: ABREU’S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornal e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907. Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900. Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186/2195-3185 /2195-3182. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4° andar. São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380. Correspondência para: Caixa Postal 8516. Rio de Janeiro, RJ — 20220-971. Aos cuidados de Virginia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br 2


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CAPÍTULO UM ELA NUNCA havia sentido medo daquela forma. Respirando tão rapidamente que chegava a ficar tonta, Kimberley estava na imponente sala de reuniões com paredes de vidro da Santoro Investimentos, observando as vibrantes ruas do Rio de Janeiro. A espera era torturante. Tudo dependia desse encontro, e pensar nisso a fez sentir-se fraca. Era irônico, pensou que a única pessoa que poderia ajudá-la agora era o único homem que ela havia jurado nunca voltar a ver. Obrigando-se a respirar calmamente, ela fechou os olhos por um momento e tentou modificar suas expectativas. Ele provavelmente se recusaria a vê-la. Ninguém chegava ali sem avisar e conseguia falar com um homem como Luc Santoro. Ela só estava ali agora porque a assistente pessoal dele tinha sentido pena dela. Gaguejando ao pedir para vê-lo, Kimberley estava tão pálida e ansiosa que a mulher tinha ficado bastante preocupada, insistindo para que ela se sentasse e esperasse na sala de reuniões, no ar condicionado. Depois de lhe trazer um copo d’água, a assistente pessoal sorriu e lhe assegurou que o Sr. Santoro realmente não era tão perigoso quanto sua reputação sugeria. Mas Kimberley sabia que não era bem assim. Luc Santoro não só era perigoso como também letal, e ela sabia que um copo d’água não seria suficiente para encorajá-la a enfrentar o homem que estava atrás daquela porta. O que ela diria? Como ela contaria a ele? Por onde começaria? Ela não poderia apelar para a consciência dele, porque ele não tinha uma. Ajudar outras pessoas não era uma prioridade para ele. Ele usava as pessoas e, mais especialmente, usava as mulheres. Ela sabia disso melhor do que ninguém. Sentiu uma grande dor ao lembrar o quanto ele a maltratara. Ele era um bilionário egoísta, com apenas uma meta em sua vida: a busca pelo prazer. E por um tempo muito curto e feliz, ela havia sido o prazer dele. Olhando para trás agora, ela não podia acreditar no quanto havia sido ingênua. No quanto havia confiado nele. Como uma idealista e romântica garota de 18 anos de idade, ela estivera ansiosa para compartilhar cada parte de si com ele. Não vira nenhuma razão para se resguardar. Ele havia sido o seu escolhido. Havia sido tudo para ela. E ela não havia sido nada para ele. Ela então se lembrou de que o objetivo do dia de hoje não era relembrar o passado. Ela teria que esquecer a dor, o pânico e a profunda humilhação que havia sofrido. Nada disso importava agora. Só havia uma coisa que importava para ela, apenas uma pessoa, e por causa dessa pessoa ela teria que sorrir implorar ou lazer o que fosse necessário para cair nas graças de Luc Santoro, porque não havia nenhuma maneira de ela sair do Brasil sem o dinheiro de que precisava. Era uma questão de vida ou morte. 3


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela andou pela sala, tentando formular algum tipo de plano em sua mente, tentando descobrir uma forma razoável de pedir cinco milhões de dólares a um homem que não tinha absolutamente nenhum sentimento por ela. Como ela abordaria o assunto? E como ela poderia fazer com que ele se importasse? Ela sentiu uma onda de pânico, e então a porta se abriu, e ele entrou na sala, sem avisar, com o sol brilhando em seu cabelo preto, com seu rosto sério e bonito. Kimberley então percebeu que estava com mais problemas do que havia imaginado. ELA PARECIA um filhote de veado pego em uma emboscada. Sem demonstrar seus pensamentos, Luc observou aquela menina ruiva, esguia e incrivelmente bela, que tremia pálida, no outro lado de sua sala de reuniões. Ela parecia tão assustada que ele quase sentiu pena. Só que ele a conhecia demais para isso. E se ele estivesse na posição dela, estaria tremendo também. Era muita ousadia dela vir até aqui! Sete anos. Ele não via Kimberley Townsend há sete anos, e ela ainda tinha a capacidade de perturbá-lo. Durante algum tempo o havia enganado com aquela interpretação de mulher amorosa e generosa que ela havia aperfeiçoado. Acostumado a estar com mulheres tão sofisticadas e calculistas, Luc havia se encantado pela inocência quase pueril de Kimberley. Aquela havia sido a primeira e única vez, em sua vida adulta, que ele havia cometido um grave erro de julgamento. Ela era apenas uma gananciosa alpinista social. Ele sabia disso agora. E ela sabia que ele sabia. Então por que ela havia voltado? Ou ela era muito corajosa ou muito, muito estúpida. Ele caminhou em direção a ela, vendo-a recuar e tremer, e decidiu que ela não parecia corajosa. Ou seja, ela era estúpida. Ou estaria desesperada? KIMBERLEY ESTAVA de costas para a parede e se perguntou como ela poderia ter esquecido o impacto que Luciano Santoro tinha sob as mulheres. Como ela pôde pensar que conseguiria segurar um homem como aquele? Ela era alta, mas ele era mais alto. Seus ombros largos e seu físico ágil e atlético eram o suficiente para fazer uma mulher esquecer seu próprio nome. A verdade é que, mesmo pertencendo a um povo reconhecido por seus homens bonitos, Luc se destacava na multidão. Ele estava vestido formalmente, como o homem de negócios que era, mas, mesmo sob a perfeição de seu terno bem cortado, ele não conseguia disfarçar inteiramente sua natureza selvagem. Luc nunca poderia ser descrito como “seguro”, e esse toque sutil de perigo conferia a ele um charme irresistível. Sentindo seu coração bater fortemente em seu peito, Kimberley se perguntou se era louca para ir até aquele lugar. Então ela se lembrou de que estava ali por outra pessoa. Se não fosse por isso, ela nunca se aproximaria de Luc novamente. Mas ele era sua única esperança. — Luciano. Os olhos dele zombaram dela, daquela forma tão sedutora que ela conhecia. — Tão formal... Você costumava me chamar de Luc. 4


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Aquela rispidez dele a fez tremer. Claro que ele era duro e cruel, ela raciocinou tentando controlar a resposta exagerada de seu corpo, que tremia muito. Havia rumores de que ele havia saído das ruas do Rio de Janeiro para construir uma das maiores multinacionais do mundo. — Isso é passado. — E ela não queria lembrar-se do passado. Lembrar-se dos tempos em que ela e ele... Ele levantou uma sobrancelha, e ela pôde perceber que ele estava lembrando-se das mesmas coisas que ela. — E esse é o motivo deste encontro? O passado? Você quer enterrar o passado? Você veio para pedir perdão e devolver o dinheiro que roubou? Era típico dele, mencionar dinheiro antes de qualquer coisa. Por um momento, a coragem dela vacilou. — Eu sei que foi errado usar seus cartões de crédito, mas eu tinha uma razão muito boa... — Ela então interrompeu seu discurso cuidadosamente preparado e não conseguiu mais pensar em como diria o que precisava ser dito. Agora, ela se exigiu, conte a ele agora. Mas, de alguma forma, as palavras certas simplesmente não vinham. — Você me deu os cartões... — Essa era uma das vantagens de estar comigo — disse Luc suavemente. — Mas quando gastou o dinheiro, você não estava mais comigo. Eu tenho que parabenizá-la. Eu pensei que nenhuma mulher seria capaz de me surpreender, mas você fez exatamente isso. Durante nossa relação, você não gastou nada. Você não mostrou nenhum interesse em meu dinheiro. Na época, eu pensei que você fosse uma exceção entre as mulheres. Achei sua falta de interesse em coisas materiais particularmente cativante. — Seu tom endureceu. — Mas agora eu vejo que, na verdade, você era apenas esperta demais. Assim que a relação terminou, você mostrou sua verdadeira face. Kimberley ficou genuinamente espantada. O que diabos ele estava insinuando? Era definitivamente a hora de contar a verdade a ele. — Eu posso explicar para onde foi o dinheiro... — Ela se preparou para a confissão, mas ele deu de ombros, desdenhoso, não indicando nada a não ser uma total indiferença. — Se existe alguma coisa mais tediosa do que ver uma mulher fazendo compras, é ouvi-la falar a respeito. — Luc estava entediado. — Não tenho absolutamente nenhum interesse sobre os detalhes. — E isso o que você acha que aconteceu? — Kimberley olhou para ele, espantada. — Você se presenteou com alguns sapatos e bolsas novos. — Ele deu um sorriso sarcástico. — Isso é tipicamente feminino. Kimberley engasgou. — Você é incrivelmente insensível! — Em sua voz havia raiva, paixão e dor. Ele pensou que ela havia feito compras? — Fazer compras era a última coisa em minha mente! — Seu corpo todo tremia de indignação. — Foi por sobrevivência. Eu precisava do dinheiro para sobreviver, porque eu havia desistido de tudo para estar com você. Tudo. Eu deixei meu trabalho e meu apartamento e fui morar com você. Foi um pedido seu. — Eu não me lembro de vê-la protestar contra isso. — Eu estava apaixonada por você, Luc — disse ela, lutando contra suas emoções. — Eu estava tão apaixonada que estarmos juntos era a única coisa que fazia sentido para mim. Eu não podia imaginar que depois não estaríamos mais juntos. — Ás mulheres tem uma tendência a ouvir sinos de casamento quando estão perto de mim — observou ele secamente. — Eu não estou falando sobre casamento. Eu não me importava com casamento. Eu só me importava com você. 5


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Obviamente você estava planejando em longo prazo. Ela demorou um instante para entender o que ele estava querendo dizer. — Você está sugerindo que tudo aquilo foi uma representação minha? — Ela deu uma risada de descrença. — Você acha que eu estava fingindo? — Você foi muito convincente — admitiu Luc, depois de um momento de reflexão. — A perspectiva de conseguir agarrar um bilionário é o suficiente para estimular as habilidades de representação de uma mulher. Kimberley olhou para ele. Como ela pôde ter sido tão tola para dar seu amor àquele homem? — Eu não o considero um prêmio, Luc — Ela engasgou. — Na verdade, eu o considero o maior erro da minha vida. — Claro. Imagino que você não se perdoe por ter me deixado escapar. Tudo o que posso dizer é: tenha mais sorte com o próximo cara. Ela olhou para aquele rosto frio e bonito e, de repente, quis apenas chorar e soluçar. — Você merece ficar sozinho na vida, Luc — disse ela sem rodeios, lutando para não deixar que ele visse a emoção em seu rosto — E todas as mulheres com um pouco de bom senso o deixarão escapar. Ele sorriu arrogante, mostrando sua inabalável autoconfiança. — Nós dois sabemos que você me desejava o tempo todo. Ela ofegou profundamente humilhada pela imagem que ele pintou. — Isso foi antes de eu saber que você era um canalha insensível! — Ela se interrompeu, horrorizada com sua própria grosseria. O que havia acontecido com ela? — Por favor... Desculpe-me, isso foi imperdoável... — Não se desculpe por mostrar quem você é verdadeiramente. — Longe de estar ofendido, ele parecia levemente divertido. — Acredite ou não, eu prefiro a honestidade em uma mulher. Isso evita muitos mal-entendidos. Tinha sido tão difícil para ela vir até aquele lugar. Tão difícil preparar-se para dizer a ele as coisas que ele precisava saber. E até aqui nada havia saído como o planejado. — Você se importava Luc — disse ela suavemente. — Eu sei que você se importava. Eu sentia. — Eu estava muito excitado pelo fato de ser seu primeiro homem — disse ele suavemente. — Na verdade, eu estava totalmente empolgado pela novidade daquela experiência. Naturalmente, eu queria muito que você gostasse também. Você era muito tímida, e era do interesse de nós dois que você relaxasse. Eu fiz o que precisava ser feito e disse o que precisava ser dito. Ela corou. Em outras palavras, ele era tão experiente com as mulheres que sabia exatamente do que elas gostavam. No caso dela, ele percebeu que ela precisava de proximidade e afeto. Aquilo não significou nada para ele. — Então você está dizendo que tudo aquilo era um fingimento? — A dor dentro dela cresceu. — Ser carinhoso e gentil era apenas mais um de seus métodos de sedução? Ele encolheu os ombros, como se não visse nenhum problema nisso. — Eu não ouvi você reclamando. Ela fechou os olhos. Como pôde ter sido tão crédula? Sim, ela era virgem, mas isso não era desculpa para ser tão estúpida. Viver por 16 anos com um homem como seu pai deve ter ensinado a ela tudo sobre os homens. Ele tivera várias namoradas, nunca quis compromisso. Apenas as usava. Usava e descartava. Sua mãe havia saído de casa logo depois do quarto aniversário de Kimberley, e, a partir daí, ela teve uma série de “tias”, mulheres que entravam na vida de seu pai e depois iam embora, gritando, cheias de acusações ciumentas. Kimberley havia 6


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan prometido a si mesma que nunca deixaria um homem tratá-la da maneira que seu pai tratava as mulheres. Ela encontraria um homem e o amaria. E então conheceu Luc, e, por um período curto e louco, ela pensou que ele era aquele homem. Ela havia ignorado a reputação dele com as mulheres, havia ignorado as semelhanças com o pai dela, havia ignorado o que tinha se prometido. Ela havia quebrado suas próprias regras. E tinha pagado o preço disso. — O que eu fiz a você para que me tratasse tão cruelmente? De repente, ela precisava entender. Queria saber o que estava errado. Como ela poderia ter cometido um erro tão grande. — Por que você precisava de outras mulheres? — Eu nunca fui o tipo de homem de uma mulher só — admitiu ele sem qualquer traço de remorso. — E vocês são praticamente todas iguais, como você me mostrou com seus gastos realmente impressionantes. Ela se encolheu. Este seria um momento perfeito para confessar. Dizer a ele exatamente por que ela precisava tanto do dinheiro. Ela respirou fundo e se preparou para a verdade. — Eu gastei o seu dinheiro porque precisava dele para algo muito importante — disse ela, hesitante. — E antes que eu diga exatamente para quê, saiba que eu tentei falar com você na época, mas você não quis me ver, e... — Essa conversa vai chegar a algum lugar? — Ele olhou para o relógio. — Bem, se você tivesse precisado de mais dinheiro naquela época, talvez devesse ter pedido a seu outro amante. Ela engasgou. — Nunca tive outros amantes. Você sabe disso. Só havia ele. — Não estou certo disso. — Seus olhos endureceram. — Em duas ocasiões, voltei para casa e me disseram que você estava “fora”. — Porque eu estava cansada de deitar em nossa cama, esperando você voltar dos braços de alguma outra mulher! — Ela explodiu exasperada, determinada a se defender. — Sim, eu saí! E você não suportava isso, não é? E por que não? Porque você sempre tem que ser a pessoa que está no controle. — Não tem nada a ver com controle. Você não precisava sair. Você era minha. E ele achava que isso não tinha nada a ver com controle? — Parece que sou uma propriedade sua! — Sua voz demonstrava dor e frustração. Ela estava tentando dizer o que precisava ser dito, mas cada vez que ela tentava falar sobre o presente, eles voltavam ao passado. — Você trata as mulheres como propriedade! E por isso que nossa relação nunca funcionaria. Você é cruel, egoísta e totalmente sem moral. Você achava que eu devia esperá-lo em casa quando você voltasse de suas festinhas! — Em vez disso, você decidiu expandir seus horizontes sexuais — disse ele friamente, e ela resistiu à tentação de arranhar seu belo rosto. — Você saiu então eu saí também. O que eu deveria fazer enquanto você não estivesse em casa? — Você devia ficar descansando e esperar que eu voltasse para casa. — Estamos no século XXI, Luc! As mulheres votam. Administram empresas. Decidem sobre suas próprias vidas. — E traem seus parceiros. Belo progresso — disse ele, irônico. — Eu não o traí! — Ela olhou para ele, indignada. Ela o havia amado tanto. — Você é que foi fotografado em um restaurante com outra mulher. Claramente eu não era 7


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan suficiente para você. Então eu supus que, se você estava vendo outras pessoas, então eu podia fazer o mesmo. Mas eu não o traí! — Eu não quero os detalhes. Eles estavam se aproximando aos poucos. Talvez você devesse ouvir os detalhes, em vez de tirar conclusões precipitadas. E se alguém errou aqui, esta pessoa foi você, Luc. Eu tinha 18 anos, e, mesmo assim, você me seduziu, sem pestanejar. E de repente foi embora, também sem hesitar. Diga-me, você pensou sobre isso? Antes de tirar minha virgindade e destruir minha vida, você pensou nisso? — Você reapareceu há apenas cinco minutos e já está me cobrando e acusando. Você estava muito disposta a ser seduzida, minha ruiva sedutora, mas se você se esqueceu disso ficarei feliz em ajudá-la a se recordar. Ele a puxou pelo braço para perto dele. A conexão foi imediata e poderosa. — Naquela primeira noite, no banco traseiro do meu carro, quando você enlaçou seu corpo incrível no meu — Sua voz era um ronronar —, aquilo não era um convite? A tensão estava no ar. Ela puxou o braço, mas ele a segurou com facilidade, e ela se lembrou do quanto adorava sua força. Sua masculinidade vibrante. Na verdade, ela saboreava as diferenças entre eles. O poder masculino dele junto à suavidade feminina dela. Ele era tão forte, e ela sempre se sentia incrivelmente segura perto dele. Eu tinha sido atacada. Eu estava com medo... E ele a tinha salvado. Utilizando suas habilidades de luta de rua, que não combinava com o smoking que ele estava usando, ele havia enfrentado seis homens, salvando-a. — Então você queria consolo. — Ele apertou um pouco mais o braço dela. — Então, quando você veio para o meu colo e me implorou que a beijasse, aquilo não foi um convite? Kimberley corou. — Eu não sei o que aconteceu comigo naquela noite... Ela havia olhado para ele e imediatamente havia passado a acreditar em contos de fadas. Cavaleiros. Dragões. Donzelas em perigo. Era ele. Ou assim ela pensou... — Você descobriu o seu verdadeiro eu — disse ele asperamente. — Foi isso o que aconteceu. Então não me acuse de seduzi-la, quando nós dois sabemos que eu só peguei o que você ofereceu. Você estava me desejando e... — Eu era inocente... Ele deu um sorriso sensual, que acelerou o coração dela. — Você estava desesperada. Ele ia beijá-la. Ela estava reconhecendo os sinais. A tensão aumentou, e de repente ele a soltou, dando um passo para trás. — Então, por que você está aqui? — Seu tom agora estava frio e raivoso. — Você quer relembrar o passado? Você quer de novo, é isso? Você sabe que as mulheres só têm uma chance comigo, e você estragou tudo. Você quer de novo? Memórias eróticas brilharam pela mente dela, que deu um passo para trás, como se para escapar delas. — Vamos deixar uma coisa bem clara. — Sua voz tremia um pouco. — Nada me levará à sua cama novamente, Luc. Nada. Aquela foi uma experiência que eu não pretendo repetir. Jamais. Não sou tão estúpida assim. Ele se acalmou, e um olhar de especulação cintilou em seu rosto bonito. 8


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Isso é verdade? Ela percebeu tarde demais que um homem como Luc entenderia isso como um desafio. E ele amava desafios. Ela olhou para ele, impotente, sem entender como a conversa unha chegado a esse ponto. Por alguma razão, eles haviam voltado ao ponto em que estavam há sete anos. Ela tinha planejado agir de forma calma e profissional e assim evitar qualquer coisa remotamente pessoal. Em vez disso, o diálogo deles havia sido até agora inteiramente pessoal. E, mesmo assim, ela ainda não havia dito o que precisava dizer a ele. Um sorriso zombeteiro surgiu no rosto dele. — Ainda cheia de paixão, Kimberley, e ainda tentando fingir que esta não existe. Que não é parte de você. — Ele passou a mão sobre o cabelo dela, sorrindo, zombeteiro. — Nunca se envolva com uma mulher quem tenha o cabelo da cor do sopro do dragão. Kimberley ergueu o queixo, e seus olhos verdes brilharam. — E nunca se envolva com um homem que tenha um ego do tamanho do Brasil. Ele riu. — Nossa relação nunca foi das mais tranquilas, não é, meu amorzinho? Meu amorzinho. Ele sempre a chamou assim, e ela adorava ouvi-lo falar em sua língua materna. Parecia muito mais exótico do que na língua dela. — Nós dois precisamos esquecer o passado. — Determinada a não deixar que ele a abalasse, ela respirou fundo e tentou encontrar a tranquilidade, que em geral vinha naturalmente para ela. — Nós dois seguimos adiante. Eu não sou mais a mesma pessoa. — Você é exatamente a mesma pessoa, Kimberley. — Ele deu uma volta em torno dela, como um animal selvagem avaliando sua presa. — Por dentro, as pessoas nunca mudam. Só a embalagem muda. Só a forma como elas se apresentam ao mundo. Antes que ela pudesse adivinhar a intenção dele, Luc levantou uma das mãos, em um movimento hábil, e retirou o prendedor do cabelo dela. Kimberley quis protestar e segurou seu cabelo, caído nos ombros. — O que você acha que está fazendo? — Modificando a embalagem. Lembrando-me de quem você realmente é sob a roupa que está vestindo. — Ele a examinou inteiramente. — Você vem aqui, vestida como uma professora ou bibliotecária, com seu cabelo ruivo preso, domado. No exterior, você está toda domada, mas nós dois sabemos que tipo de pessoa você é por dentro. Cheia de paixão. Selvagem. Ela sentiu um frio na barriga, e suas pernas ficaram fracas. — Você está errado! Eu não sou assim! Você não tem nenhuma ideia de quem eu sou. — Apesar de se prometer manter a calma, ela não conseguia conter a emoção. — Você realmente acha que eu seria a mesma garotinha patética que você seduziu há muitos anos? Você realmente acha que eu não mudei? Apesar de negar, ela sentiu um lampejo de desejo que a chocou, mas logo o dominou. Ela não iria deixar que ele fizesse isso com ela novamente. Ela não iria sentir nada. — Você não era patética, e eu nunca a seduzi — disse ele suavemente, tocando um cacho do cabelo dela. Nossa paixão era mútua e muito quente, meu amorzinho. — Ela se sentiu excitada ao ouvi-lo dizer essas palavras. A única diferença entre nós era que você tinha vergonha do que sentia. Para seu horror, ela sentiu seu corpo começar a derreter e sua respiração acelerar, então se afastou dele, desesperada para impedir esta reação que sentia. Como? Como, depois de todos esses anos, ela ainda reagia assim a este homem? 9


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Será que ela não havia aprendido nada? E então ela se lembrou de que havia aprendido. Da forma mais difícil. E não importava como seu corpo respondia a este homem, desta vez sua mente estava no comando. Ela estava mais velha e mais experiente e poderia ignorar muito bem a onda de desejo que assolava seu corpo. — Eu não vim até aqui para isso. O que aconteceu entre nós não é importante. — Então o que é importante para fazê-la viajar até o Rio de Janeiro, quando você jurou nunca mais voltar? Nossas praias? Nossas montanhas? — disse ele com seu sotaque pronunciado. — O ritmo contagiante do samba? Lembro-me daquela noite em que dançamos no meu terraço... — Eu quero que paremos de falar sobre o passado. — Ela parou por um instante e sentiu suas pernas ficarem fracas. Seria agora, tinha que ser agora. — Estou aqui por que... — Sua voz falhou, e ela tentou novamente. — Estou tentando lhe dizer... Que nós temos um filho, Luc, e ele têm seis anos de idade. — Seu coração batia forte, e seu corpo tremia. — Ele está com seis anos de idade, e sua vida está em perigo. Estou aqui porque eu preciso de sua ajuda. Eu não tenho mais ninguém a quem recorrer.

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CAPÍTULO DOIS COMO O silêncio podia soar tão alto? Será que ele não falaria nada? O que ele iria dizer? Como ele reagiria à descoberta repentina de que ele era pai? — Bem, isso é criativo. — Seu tom era sem emoção, e ele se esparramou na cadeira mais próxima. — Você certamente sabe como chamar a atenção de um homem. Kimberley ficou surpresa. Ele não acreditava nela? Ela havia se preparado para a raiva e a recriminação. Ela havia se preparado para ser atingida pelo temperamento brasileiro dele. Ela tinha se preparado para explicar por que não havia contado isso a ele sete anos antes. Mas nunca havia passado por sua cabeça que ele poderia não acreditar nela. — Você pensa de verdade que eu brincaria com algo assim? Ele deu de ombros. — Algumas mulheres fariam qualquer coisa para conseguir dinheiro de um homem. E isso o que você quer? Mais dinheiro? Era exatamente o que ela queria, mas não por nenhuma das razões que ele parecia estar insinuando. Ela estava atordoada. Não havia nem imaginado a possibilidade de ele não acreditar nela, então não sabia realmente o que dizer. — Por que você não acredita em mim? — Possivelmente porque as mulheres não reaparecem, depois de sete anos de silêncio, para anunciar que estão grávidas. — Eu não disse que eu estava gra... Grávida — gaguejou ela, chocada e frustrada. — Eu já disse, ele tem seis anos. Nasceu precisamente quarenta semanas depois que nós... Que você... — Ela parou, corando. — Depois que eu “agi mal” com você? Você é tão reprimida que não pode nem dizer a palavra “sexo”. — Você provavelmente está se perguntando por que eu não lhe disse isso antes... — Sim, isso passou pela minha mente. — Você me mandou embora, Luc — lembrou-o ela, em uma voz trêmula — E você se recusou a me ver ou a atender minhas ligações. Você me tratou de maneira abominável. — Relacionamentos acabam todos os dias da semana. Pare de ser tão dramática. — Eu estava grávida! — Ela se levantou, abalada pela total falta de remorso dele. — Eu decidi que você devia saber sobre seu filho. Tentei lhe dizer isso tantas vezes, mas você me cortou de sua vida. E você me machucou. Você me feriu tanto que decidi que nenhum filho meu teria você como pai. E é por isso que eu não lhe contei. — Ela parou, à espera de uma reação furiosa dele. Ao contrário, ele apenas levantou uma sobrancelha. — Depois de sete anos, esta é a melhor história que você pode inventar? Ela olhou para ele fixamente, incapaz de compreender sua indiferença. — Você acha que eu tomei essa decisão facilmente? Você por acaso tem ideia de como uma decisão dessas abala uma pessoa? Eu me senti atravessada pela culpa, Luc! Eu estava privando meu filho de um pai e sabia que um dia eu teria que responder por isso. Eu me senti culpada durante todos os dias dos últimos sete anos. Todos os dias. 11


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Sim, bem, essa é outra característica feminina: a culpa. E eu suponho que toda essa culpa de repente a assolou, e por isso você teve que compartilhar, subitamente, essa feliz notícia comigo. Ela balançou a cabeça. — Eu não posso acreditar que você está se comportando assim. Você sabe o quanto foi difícil vir até aqui? — Como ela pôde se sentir culpada? Ela deveria estar orgulhosa de ter mantido seu filho afastado deste homem. Mas, infelizmente, agora ela precisava da ajuda dele. — O que preciso fazer para provar a você que estou dizendo a verdade? Luc virou a cabeça e olhou para a porta. — Traga-o até aqui. Isso resolverá o assunto. Ela olhou para ele, incrédula. — Você seriamente acha que eu traria uma criança de seis anos de idade até o Brasil para encontrar um homem que ele nem sabe ser seu pai? Isso é muito sério, Luc. Precisamos discutir como vamos lidar com isso. Como vamos dizer a ele. Precisa ser uma decisão conjunta. Havia um brilho sardônico em seus olhos escuros. — Bem, isso vai ser um problema. Eu não tomo decisões conjuntas. Nunca tomo, nunca tomarei. Eu sou sempre unilateral, meu amorzinho. Mas nesse caso, isso realmente não importa, porque nós dois sabemos que esse seu “filho”... Oh, desculpe, eu deveria dizer “nosso” filho, não deveria?... Nosso filho é uma invenção da sua imaginação gananciosa. Portanto, seria impossível para você trazê-lo até aqui. Ao menos que você contratasse alguém para representar. Você fez isso? Kimberley estava boquiaberta. Ele era um canalha completo! Mas o destino interveio, e ela decidiu que ela não tinha escolha a não ser contar a verdade a ele. Ele tinha que ajudá-la. Ele tinha que assumir esta responsabilidade, embora não gostasse da ideia de ser pai. Mas, no momento, ele nem sequer acreditava que o tal filho existisse... Ela se afundou na cadeira mais próxima, confusa e enojada com o que ele pensava sobre ela. — Por que você tem uma opinião tão ruim sobre mim? — Bem, vamos ver — disse ele com um sorriso paciente, como se estivesse lidando com alguém muito, muito estúpido. — Pode ter algo a ver com a quantidade de dinheiro que você gastou depois que rompemos. Ou pelo fato de você estar usando argumentos desconhecidos anteriormente para me processar para conseguir pensão alimentícia. Não são exatamente ações de uma santa, concorda? — Eu não vou processá-lo para exigir pensão alimentícia. — Mas você quer que eu dê dinheiro para a criança. — Sim, mas não é para mim e não tem nada a ver com pensão. Posso sustentar nosso filho. Peguei seu dinheiro porque eu estava grávida, sozinha e com muito medo, e eu não conseguia pensar em como traria uma criança ao mundo sem nem mesmo ter um lugar para morar. Eu usei o seu dinheiro para comprar um pequeno apartamento. Se eu não tivesse feito isso, teria de encontrar um emprego e colocar o bebê em uma creche, e eu queria poder cuidar dele pessoalmente. Também comprei algumas coisas básicas. Eu não tinha ideia de quantas coisas um bebê precisava. Comprei um berço e um carrinho, roupas de cama, fraldas. Não usei nenhum dinheiro para mim. Eu sei que tecnicamente isso era roubo, mas eu não sabia mais o que fazer. Se eu tivesse ido atrás de você pelos tribunais, você teria que pagar muito mais para ajudar a manter o Rio. Luc levantou uma sobrancelha. — Rio? 12


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela corou. — Escolhi esse nome por causa da cidade na qual ele foi concebido. — Que exótico. — O tom da voz de Luc estava carregado de ameaça. — Então, se eu já paguei pelo carrinho e pelas fraldas, o que está faltando? Ele precisa de um novo casaco para a escola tal vez? Seus pés cresceram e seus sapatos já não cabem mais nele? Ele ainda não acreditava nela. — Na semana passada, eu recebi uma carta com uma ameaça de sequestro. — Sua voz tremeu ao dizer essas palavras. Talvez a verdade o tirasse de sua calma irritante. — Alguém sabe sobre o nosso filho. Eles sabem que você é o pai. E eles estão ameaçando a vida de Rio. Houve um longo silêncio enquanto ele a observava, seus olhos escuros fixos no rosto pálido dela. Eles estavam sentados muito próximos. Próximos demais. O joelho dele roçou no dela, e ela sentiu um calor pelo corpo. Contra a sua vontade, os olhos dela observaram suas mãos. Aqueles dedos longos... Seu corpo sentiu um calor quando ela se lembrou de como aqueles dedos a apresentaram a intimidades que ela nunca havia imaginado antes. — Mostre-me a carta. Ela pegou em sua bolsa a carta ameaçadora, largando-a sobre a mesa ao lado dele, como se esta pudesse mordê-la. Ele estendeu a mão e pegou a carta calmamente. Ele a abriu e a leu, com seu belo rosto inescrutável. — Interessante. — Ele colocou a carta novamente na mesa. — Então se espera que eu desembolse cinco milhões de dólares, e, em seguida, todos vivam felizes para sempre? Será que entendi direito? Ela olhou para ele, surpresa por ele não parecer preocupado com o bem-estar de seu filho. Ao menos agora ele saberia que ela estava dizendo a verdade. — Você acha que pagar é a coisa certa a se fazer? Você acha que devemos recorrer à polícia? Ela olhou para ele, ansiosa. — Eu já pensei sobre isso, obviamente, mas você pôde ler na carta o que eles ameaçam fazer caso eu fale com a polícia. Eu sei que todos dizem que não se deve pagar aos chantagistas, mas isso é muito fácil de dizer quando não é seu filho que está em perigo. E eu não posso arriscar a vida dele, Luc. Ele é tudo o que eu tenho. Ela olhou para o rosto forte de Luc e, de repente, quis que ele a salvasse, como a salvara naquela primeira noite, quando se conheceram. Ele era implacável e tinha conexões poderosas, e ela sabia instintivamente que ele seria capaz de lidar com esta situação, se quisesse. Ele podia fazer tudo aquilo acabar. — Acho que envolver a polícia não é uma boa ideia — garantiu ele, levantando-se em um movimento ágil e atlético e indo até a janela. — A polícia, em qualquer país, não aprecia perder tempo. Seus olhos se arregalaram. — Mas por que a polícia perderia tempo? — Porque nós dois sabemos que tudo isso é parte do seu plano elaborado para tirar mais dinheiro de mim. Foi um golpe de mestre sugerir que contatemos a polícia, porque isso dá credibilidade à situação, mas nós dois sabemos que seria constrangedor se eles aceitassem se envolver no caso. Ela olhou para ele, atordoada. — Você ainda acha que eu estou inventando tudo isso, não é? 13


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Veja do meu ponto de vista — aconselhou ele. — Você aparece depois de sete anos, exigindo mais dinheiro para ajudar a uma criança, sobre quem eu nada sei e cuja existência você não pode provar. Se ele é meu filho, por que você não me disse que estava grávida há sete anos? — Eu já expliquei! Eu telefonei diversas vezes e vim a seu escritório, e você se recusou a falar comigo. Ele a cortou da sua vida, e ela pensou que iria morrer. Ela sentiu muito a falta dele. — Nossa relação tinha acabado, e falar sobre relacionamentos terminados não é o meu forte. Falar é uma coisa muito feminina. Assim como a culpa. — Bem, só porque você não tem habilidade para se comunicar, não venha me culpar agora pelo fato de que você não foi informado sobre o seu filho! Eu tentei lhe dizer, mas sua capacidade de ouvir estava muito prejudicada. — E engraçado, mas eu sempre acho que eu me tomo levemente surdo quando as pessoas estão me pedindo dinheiro. Ela o fitou impotente. — Ele é seu filho... Ele estendeu a mão. — Então me mostre uma foto. — O quê? — Se ele existe então me mostre pelo menos uma fotografia. Ela sentiu como se estivesse no banco das testemunhas, sendo questionada por um promotor particularmente desagradável. — Eu... Eu... Não tenho uma aqui. Eu estava em pânico e não pensei em trazer uma. — Mas ela deveria ter trazido. Deveria ter imaginado que Luc pediria para ao menos ver uma foto de seu filho. — Eu não esperava ter que provar a existência dele, então não trouxe uma fotografia. — Que mãe amorosa você deve ser. Nem mesmo carrega consigo uma fotografia de seu próprio filho. Ela explodiu, exasperada. — Eu não preciso carregar uma fotografia dele, porque eu estou com ele praticamente a cada minuto de todos os dias, e tem sido assim desde que ele nasceu! Eu usei seu dinheiro para comprar um pequeno apartamento, de forma que eu pudesse ficar em casa e cuidar dele. E agora que ele está mais velho, eu trabalho em casa para não ficar um único minuto longe dele. Eu não preciso de fotografias! Ele inclinou a cabeça e sorriu. — Boa resposta. Sabe, eu acho que você é uma mulher gananciosa, que quer cinco milhões de dólares de qualquer jeito e está preparada para fazer o que for para conseguir isso. E você pode abandonar este seu olhar ferido, pois não me convencerá. — Por que você pensa dessa forma sobre mim? — Porque eu já sei que você é gananciosa — disse ele, consultando o relógio. — E agora você terá que me dar licença, porque eu tenho uma delegação japonesa me esperando em outra sala de reuniões. Ela olhou para ele, horrorizada. Era isso mesmo? Ele iria embora, abandonando-a? Ela sabia instintivamente que, se ele saísse da sala agora, não o veria novamente. Ter acesso a Luciano Santoro era uma honra de poucos privilegiados, e ela sentiu que seu tempo tinha se esgotado. — Não! — Ela se levantou rapidamente, e havia pânico em sua voz. Seus sentimentos não importavam mais. Nada importava, exceto a segurança de seu filho. — 14


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Você não pode simplesmente me mandar embora! Eu estou dizendo a verdade e irei provar se necessário. Eu posso colocar Rio no telefone com você, eu posso providenciar para que você fale com a escola, eu farei tudo, absolutamente tudo, mas você tem que me dar o dinheiro. Eu estou implorando, Luc. Por favor, empreste-me o dinheiro. Eu pago de volta de alguma forma, mas se você não me der, não saberei o que fazer. Eu não terei a quem recorrer. Ela caiu em uma cadeira. Ele não ia ajudá-la. A responsabilidade de ser mãe solteira sempre tinha sido enorme, mas nunca tanto quanto agora, quando a segurança de seu filho estava ameaçada. Ela queria se apoiar em alguém. Ela queria compartilhar o fardo. — Por cinco milhões de dólares, você faria absolutamente qualquer coisa? Havia algo em seu tom que a deixou inquieta, mas ela não hesitou. — Eu sou uma mãe, e que mãe não faria qualquer coisa pela segurança de seu filho? — Bem, é uma oferta muito interessante. Vou pensar a respeito. Ela mordeu o lábio. — Eu preciso de uma resposta rapidamente. — Aqui é o Brasil, meu amorzinho — lembrou-a, esticando as pernas fortes à sua frente — E você deveria saber que nós não fazemos nada rapidamente. Ela prendeu a respiração. De repente, ela voltou ao passado, lembrando-se das longas tardes fazendo amor na cama dele, na piscina, tardes que se estendiam até a noite, que, por sua vez, iam até a manhã. Não, os brasileiros certamente não faziam nada rapidamente. — O prazo é amanhã à noite. Os olhos dele brilharam. — Você acha que eu simplesmente lhe darei o dinheiro e a deixarei ir? Ela engoliu em seco, hipnotizada pelo olhar dele. — Luc... — Vamos encarar os fatos. Você claramente me responsabiliza por seduzi-la, sete anos atrás. Você entra em meu escritório, tentando ignorar o passado. Tudo a seu respeito é fechado. Você está vestindo roupas como uma armadura, protegendo-se, e a verdade é que você está com medo das coisas que eu fiz você sentir, não está? Por isso você nega seus sentimentos. É muito mais fácil fingir que eles não existem. — Eu não sinto nada... Você, minha doçura, esquece que eu já conheci intimamente cada centímetro delicioso de você. Eu conheço os sinais. Eu reconheço este rubor em seu rosto, eu reconheço a maneira como seus olhos brilham e como seus lábios se abrem antes de me pedir para beijá-la. Completamente perturbada por suas palavras, Kimberley se levantou tão depressa que quase derrubou a cadeira. — Você é insuportavelmente arrogante! Seu coração estava batendo forte, e todo o seu corpo estava formigando. — Eu sou honesto, coisa que você nunca foi. É muito mais fácil me culpar do que aceitar sua responsabilidade. Por que será que você acha que o sexo é algo tão vergonhoso? — Porque o sexo deveria ser parte de um relacionamento amoroso. — Se você acredita nisso, então claramente a maturidade não acrescentou nada à sua capacidade de enfrentar os fatos. As lágrimas encheram os olhos dela. — Por que você é tão cínico? Ele encolheu os ombros. 15


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Eu sou realista e, como a maioria dos homens, não preciso tingir o amor para justificar um bom sexo. Como ela havia se envolvido com um homem assim? Eles eram tão diferentes. — Eu... Eu odeio você... — Você não me odeia, mas eu sei que você acha que odeia o que toma toda esta situação mais intrigante a cada minuto. E isso toma sua ganância mais deplorável ainda. — Eu já lhe disse por que eu preciso desse dinheiro, e esta situação não tem nada a ver conosco; nós dois já seguimos em frente. Eu sei que você não está mais interessado em mim, nem eu em você. — Isso é verdade? — disse, contemplando-a, divertido. — E se você estiver errada? E se eu ainda estiver interessado em você? — Você está sendo ridículo. — Vou lhe dar um conselho. Quando você estiver tentando tirar uma soma absurda de dinheiro de alguém, não acuse esta pessoa de ser ridícula. Ela engoliu em seco. Ela nunca deveria ter ido até lá, pensou, desesperada. — Se você não vai me emprestar o dinheiro, então não há nada mais a ser dito. Ela havia falhado. O pânico ameaçou sufocá-la, e ela caminhou em direção à porta. — Se você sair por esta porta, não poderá voltar. Volte e sente-se. Será que ele a mandaria sentar-se se não tivesse a intenção de lhe emprestar o dinheiro? Com uma esperança misturada com receio, ela se virou, com a mão na maçaneta da porta e o coração na boca. — Eu disse sente-se. A expressão dela era desafiadora quando ela olhou para ele. — Esta é uma pergunta simples, Luc. Sim ou não? Não importa se eu estou sentada ou de pé, e não importa se eu saio da sala ou não. Toda a informação de que você precisa está na carta, à sua frente. A carta que ele claramente pensava ser uma farsa. Ela observou desesperada, enquanto ele encolhia os ombros, casualmente, e a empurrava para longe dele, num gesto de total indiferença. — Não tenho nenhum interesse na carta ou em suas histórias sobre sua gravidez fantasma. O que me interessa meu amorzinho é o fato de você ter vindo até mim. — Eu já disse, eu... — Eu a ouvi — interrompeu gentilmente. — Você veio para me dizer que faria absolutamente qualquer coisa por cinco milhões de dólares, e agora eu simplesmente tenho que decidir exatamente que tipo de coisa eu vou querer. Quando eu descobrir, você será a primeira, a saber.

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CAPÍTULO TRÊS DE VOLTA ao seu quarto de hotel, Kimberley caiu sobre a cama, lutando contra as lágrimas de frustração e ansiedade. Ela havia estragado tudo. Ela havia planejado ser calma e racional, contar a ele os fatos e explicar as razões por ter mantido o nascimento de Rio um segredo por tanto tempo. Mas a partir do momento em que ele entrou na sala, os planos dela voaram pela janela. Ela tinha sido jogada de volta ao passado. E ela sabia ter menos de 24 horas antes de terminar o prazo. Menos de 24 horas para persuadir um homem sem moral ou decência a depositar cinco milhões de dólares na conta bancária do chantagista. O chantagista que ele nem sequer acreditou existir. Ela respirou fundo várias vezes, lutando para se recompor. Tinha sido a coisa mais difícil do mundo deixar seu filho naquele momento, quando todos os seus instintos matemos diziam a ela que ficasse perto dele. Mas ela sabia que trazê-lo nesta viagem teria sido expô-lo a um perigo ainda maior. E ela havia esperado ficar apenas dois dias no Rio de Janeiro, no máximo. E, depois disso... Ela não podia acreditar que alguém tinha descoberto a verdade sobre a paternidade de seu filho. Ela tinha sido tão cuidadosa, mas ainda assim eles descobriram. E ela havia deixado seu filho com a única pessoa no mundo em que ela confiava. O homem que era uma figura paterna para ele. Como que por telepatia, o telefone na bolsa tocou, e ela atendeu rapidamente. — Ele está bem? A voz de Jason voltou familiar e tranquilizadora. — Ele está bem. Pare de se preocupar. — Eles haviam concordado em não discutir detalhes ao telefone. — Como você está? Teve sorte? Kimberley sentiu o pânico crescer novamente. — Ainda não. — Ela não podia contar a Jason que Luc não acreditava nela. Parte dela ainda estava esperando por um milagre. — Mas Luc concordou em vê-la desta vez? Você se encontrou com ele? Os dedos de Kimberley apertaram o telefone. — Oh, sim. — E todo o seu corpo ainda estava formigando com o resultado desse encontro. — Mas ele não me deu ainda uma resposta. Ele está jogando. — Será que ele caiu de joelhos e implorou seu perdão por tratá-la tão mal? Kimberley inclinou a cabeça para trás e lutou contra as lágrimas. — Não exatamente. — Acho que “desculpe” não está no vocabulário dele. Aguente firme. Se ele não bater à sua porta dentro de uma hora, então ele não é o homem que eu acho que ele seja. Bater à porta dela? Por que ele faria isso? Kimberley deu um suspiro. Ela sabia muito bem que Luc Santoro não sairia por aí batendo em portas de mulheres. Normalmente elas caíam a seus pés, e ele apenas as levava até sua cama, até que ele se cansasse delas. — Eu gostaria de ter sua confiança. E se ele se recusar? 17


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Ele não vai se recusar. Tenha coragem. — A voz de Jason era firme. — Mas eu ainda acho que devemos falar com a polícia. — Não! — Ela se sentou na cama. — A polícia, não. Você viu o bilhete. Você sabe o que aquele homem ameaçou fazer... — Tudo bem. Mas se você mudar de ideia... — Eu não vou mudar de ideia. Tudo o que eu quero é depositar o dinheiro em sua conta, como ele instruiu. Eu não quero fazer nada que possa perturbá-lo ou dar-lhe razão para ferir Rio. Exausta, Kimberley desligou o telefone e se deitou na cama, fechando os olhos. Por um momento, ela questionou sua decisão de ficar neste hotel pequeno, sem arcondicionado, em uma parte insegura do Rio de Janeiro. Ela não queria gastar muito dinheiro, mas agora, sentindo o suor em sua pele e sua cabeça latejando, ela desejou ter escolhido outro lugar. Ela estava com calor, estava se sentindo infeliz e não tinha comido ou dormido desde que a carta tinha chegado, há dois dias. Ela havia passado os dois últimos dias andando, inquieta, por seu apartamento em Londres, planejando uma estratégia com Jason. Tinha sido difícil agir como se nada estivesse errado na frente de seu filho. Tinha sido mais difícil ainda pegar um avião para o Rio de Janeiro sem ele, porque, tirando o tempo que ele passava na escola ou brincando com seus amigos, eles dificilmente ficavam separados. Ela havia ficado em casa quando ele era pequeno, e, com a ajuda de Jason, um fotógrafo de moda que ela havia conhecido quando ainda era modelo começou a trabalhar em casa, vendendo seus desenhos de joias. Ela conseguiu encaixar seu horário de trabalho de forma a poder cuidar de seu bebê e trabalhou pesado para afastar as memórias de Luc Santoro de sua cabeça. E ela teve que lidar com a imensa culpa ao dizer para si que havia alguns homens que simplesmente não eram feitos para serem pais, e Luc era definitivamente um deles. Ele era um homem como o pai dela, um homem que trocava sua atenção de uma mulher para a próxima sem nem pensar em compromisso, e ela jurou que nenhum filho dela iria experimentar a tristeza e a insegurança que ela tinha sofrido quando criança. Sentindo de repente que o calor havia se tomado insuportável, Kimberley se levantou e tirou o resto de suas roupas, entrando no minúsculo banheiro, na tentativa de buscar alívio para a umidade implacável. Ela tomou um banho e se jogou na cama, apenas de lingerie, torcendo para que o ventilador de teto funcionasse. — Acredito que tudo isso seja parte de seu plano para ganhar a simpatia alheia, hospedar-se em um hotel sem ar-condicionado, em uma parte da cidade que até mesmo a polícia evita. — Aquela voz pausada veio da porta, e ela teve um sobressalto, pulando da cama. Ela não tinha sequer ouvido a porta abrir. — Você não pode simplesmente entrar aqui! — Ela apanhou seu roupão e se cobriu com ele, envergonhada por ser flagrada nesse estado. Seu cabelo estava molhado e solto, e ela estava sem maquiagem. Ela se sentia completamente despreparada para um confronto. — Você deveria ter batido! — Você deveria ter trancado a porta. — Ele entrou no quarto e fechou a porta firmemente atrás dele, trancando-a. — Nesta parte da cidade, é preciso ser muito cuidadoso. Com as mãos trêmulas, ela amarrou o roupão na cintura, ainda olhando para ele. — O que você está fazendo aqui? 18


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Fiquei com a impressão de que você queria uma resposta urgente para o seu pedido. — Ele caminhou pelo pequeno quarto e olhou pela janela a rua abaixo, cheia de lixo e abandonada. — Se suas finanças estão tão mal assim, talvez você deva me pedir mais do que cinco milhões. Ela não respondeu. Mal podia respirar, enterrada naquele quarto minúsculo, abafado, com Luc Santoro, que dominava cada centímetro do espaço disponível com o seu corpo poderoso. Ele ainda estava vestindo seu terno elegante, mostrando força e poder. Ele era perigosamente atraente, e, com uma onda de horror, ela sentiu seus seios reagirem à presença dele. Espantada com sua própria reação, ela tentou lembrar-se de que nada disso importava. Não importava o quanto seu corpo reagisse a ele. Desta vez, seu cérebro estava comandando, e tudo o que importava era seu filho. Será que ele concordaria com o empréstimo? — Eu já lhe disse que o dinheiro não é para mim. — Nervosa, ela deixou escapar as palavras antes que pudesse se conter. — Eu não sei o que mais preciso fazer para convencê-lo. Ele se virou para ela, dizendo com voz macia: — Para ser honesto, eu não estou particularmente interessado em suas razões para querer o dinheiro. O que me interessa é o que você pretende me dar em troca pelo meu... Investimento. Havia algo nos olhos dele que a deixou nervosa e alerta. — Eu não estou entendendo... — Não? — Ele se afastou da janela. — Então me deixe dar-lhe uma lição básica sobre negócios. — Sua voz era suave, e ele a observava como um caçador estuda a sua presa. — Negócios são trocas de favores. Somente isso. Eu tenho algo que você quer. Você tem algo que eu quero. Não entendendo aquilo, seu coração bateu mais rápido. — Eu não tenho nada que você possa querer. Então eu suponho que você esteja dizendo não. Ele passou os dedos pelo rosto dela. — Eu estou dizendo que estou disposto a negociar. Eu lhe darei o dinheiro, mas eu quero algo em troca. Não o filho dele. Deus, por favor, não deixe que ele peça o filho dele. Ela o fitou, impotente, mal ousando respirar. — O quê? — O que mais ela possuía que poderia ser do interesse dele? Seu apartamento em Londres era ridiculamente modesto para os padrões dele. — O que é que você quer? Rio, não. Por favor, Rio não... A mão dele deslizou pelo cabelo dela, e os olhos dele não se desviaram dos dela. — Você — disse ele aquela palavra com clareza e simplicidade. Eu quero você, minha doçura. De volta na minha cama. Nua. Até que eu lhe dê permissão para se vestir e sair. Houve um silêncio. Um grande silêncio, enquanto seu corpo sentia um calor pela sensualidade que vinha dele. Ele a queria? Aliviada por ele não ter mencionado Rio, ela, ao mesmo tempo, se sentia excitada. De alguma forma, ela conseguiu falar, finalmente. — Você não pode estar falando sério. — Eu nunca brinco com relação a sexo. 19


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Mas por quê? — Ela estava tonta e queria se afastar dele. Ele estava muito próximo. — Por que você me quer na sua cama? Nós já fizemos isso... — E eu quero fazer isso de novo — disse ele com um sorriso perigoso. — E de novo. E de novo... — Você pode ter qualquer mulher que desejar... — Bem — disse ele suavemente, retirando a mão de seu cabelo lentamente, como se ele estivesse relutante em se afastar dela. — Então está combinado. Ele ficou em uma posição que denotava seu completo controle da situação, totalmente confiante de que poderia manipular qualquer situação a seu favor. — Espere. — Ela queria desesperadamente não ter retirado sua roupa formal. Era difícil manter uma fria distância vestida com um roupão praticamente transparente, especialmente quando a conversa era sobre sexo. — Você está dizendo que vai me dar o dinheiro se eu concordar... Em dormir com você? — Não, dormir, não — disse ele, irônico. Posso lhe assegurar que haverá muito pouco sono envolvido nisso. Sua boca ficou seca. — Esta é uma sugestão ridícula. Ele franziu a testa. — O que há de ridículo nisso? Eu estou apenas renovando um relacionamento. — Um relacionamento? — A voz dela se alterou. — Nós não tivemos um relacionamento, Luc, nós tivemos sexo! — Um sexo incrível e inesquecível, que tinha neutralizado a capacidade dela de pensar direito. Alguém no quarto ao lado bateu na parede, e Kimberley fechou os olhos, envergonhada. Luc nem sequer percebeu a interrupção. — Sexo, relacionamentos... E tudo a mesma coisa. Ela olhou para ele, não acreditando naquilo. — Não! Não é a mesma coisa, Luc! — Ela estava tão indignada que mal podia respirar. — Não é a mesma coisa! Não que eu espere que um homem machista como você entenda isso, na verdade... Claramente ele não tinha mudado nem um pouco! Luc encolheu os ombros, indiferente à sua opinião. — As mulheres querem coisas diferentes dos homens, é um fato reconhecido. Eu não preciso de romantismo para me sentir bem com um bom sexo, mas se isso a faz sentir melhor, então a escolha é sua. O queixo dela caiu. — Eu não posso acreditar que você acha que eu consideraria tal proposta. Que tipo de mulher você acha que eu sou? — O tipo de mulher que precisa de cinco milhões de dólares e está disposta a fazer “absolutamente tudo” para consegui-los. Eu tenho algo que você deseja. Você tem algo que eu quero. Isso c fazer negócios, da forma mais básica. Era típico de Luc ver o sexo como apenas mais uma mercadoria, ela pensou, desesperada. — O que você está sugerindo é imoral. — É honesto. Mas você não é tão boa assim em ser honesta sobre seus sentimentos, não é? Diga que você não deitou em sua cama à noite sem conseguir dormir porque estava pensando em mim. Diga que o seu corpo não arde pelo meu toque. Diga que você não está se lembrando de como eram as coisas entre nós. Ela não queria lembrar-se de algo que havia levado sete anos para esquecer. 20


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Você está disposto a pagar para ir para a cama com uma mulher, Luc? Você deve ter perdido o seu poder. — Você acha mesmo? — Ele sorriu. — Não há nada de errado com o meu poder, meu amorzinho, como você vai descobrir no momento em que você disser sim. E, quanto a pagar, posso ser um amante muito generoso quando eu quero. O dinheiro não é nada. Chame isso de um presente. Só que, desta vez, eu pagarei adiantado por seus serviços para poupá-la do incômodo de tirá-lo depois. Sua necessidade desesperada por dinheiro estava brigando com seu poderoso senso de autopreservação. Ela demorou anos para reconstruir sua vida. Como ela podia considerar se colocar de novo na mesma posição? Ela sabia, por amarga experiência, que ele era incapaz de se conectar com uma mulher em qualquer outro nível que não fosse o físico. Ele era incapaz de mostrar ou até mesmo de sentir emoção. Ele quebraria o coração dela novamente se ela fosse tola o suficiente para deixar que ele assim o fizesse. Só que desta vez ela não era uma adolescente idealista, lembrou-se. Suas expectativas eram realistas. Desta vez, ela conhecia o homem com quem estava lidando. E, mais importante, desta vez ela não se apaixonaria por ele. Dadas às circunstâncias, como ela poderia dizer não à proposta dele? A única coisa que importava era seu filho. — Por que você quer isso, quando o nosso relacionamento já acabou há tantos anos? — Você não entende? Nós temos assuntos não resolvidos, meu amorzinho, como você bem sabe. Seu coração bateu com força contra o peito. — Eu preciso de tempo para pensar sobre isso. — Você tem dez segundos — disse ele. — E então partiremos. — Dez segundos? — Como ela desejava estar em um quarto com ar-condicionado. Estava quente demais para pensar direito, e ela precisava pensar. — Isso é ridículo! Você não pode querer que eu tome uma decisão com tanta rapidez! — Mas foi você quem disse que precisava do dinheiro imediatamente. Foi você quem disse que não tinha tempo a perder com esta decisão. O chantagista está esperando, não é? Havia sarcasmo em sua voz, e ela olhou para ele, impotente. Luciano Santoro era duro e cruel. — Por quê? — As palavras saíram de seus lábios como uma súplica. — Por que você me quer de volta? Você mesmo disse que as mulheres não têm uma segunda chance com você. Isso não faz sentido. — Fará sentido quando você estiver nua e debaixo de mim — assegurou, no tom confiante de um homem que sabia quando uma negociação estava fechada. — Seu tempo para pensar acabou meu amorzinho. Sim ou não? Ela olhou para ele com nojo, imaginando como ele poderia ser tão frio e distante. Então ela pensou em seu filho. — Você não me deixa escolha. — É típico de você fingir que isso não é o que você deseja. Novamente eu sou jogado no papel de lobo mau. Mas você pode recusar... Ela olhou para ele, hipnotizada pelo calor nos olhos dele. — Infelizmente eu não posso recusar. Ao contrário de você, meu compromisso com nosso filho é absoluto. E para mantê-lo seguro, eu preciso do dinheiro na minha conta esta noite. — Nossa, estamos desesperados, hein? 21


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela ergueu o queixo. — Eu voltarei para sua cama, Luc, se é isso o que é necessário, mas é melhor você estar alerta. Eu não sou a mesma menina inocente que você seduziu há sete anos. Você pode não ser capaz de lidar comigo. Ela estava fervendo por dentro, com muita raiva. — Eu posso lidar com você com minhas mãos amarradas às costas. — Você pode me forçar a voltar para sua cama, Luc, mas você não pode me fazer desfrutar da experiência. — Você acha isso? No mesmo instante, ele a beijou impulsivamente, excitando-a. Ele a beijou com uma experiência sexual, fazendo-a retribuir o beijo, faminta e desesperada por mais. E ele lhe deu mais. Deu-lhe exatamente o que ele sabia que ela precisava. Com um gemido de satisfação, ele a beijou mais profundamente, com mais força, suas mãos deslizando pelas costas dela, pressionando-a com força contra sua ereção. Ela estremeceu, excitada, e, em seguida, deu um suspiro suave de protesto quando ele afastou sua boca da dela, deixando-a tremendo e ofegante. — Como eu disse, eu posso lidar com você com minhas mãos nas costas, se necessário. Se ela precisava de alguma prova de que ainda era vulnerável ao sex-appeal de Santoro, então ela agora a tinha conseguido. E saber disso era humilhante. — Obrigada por me lembrar de que eu realmente odeio você. — Eu acho que acabei de provar o contrário. E pare de fingir que esse acordo vai ser difícil para você quando ambos sabemos que você estará implorando no momento em que eu a receber de volta em minha cama. Ela levantou uma das mãos e lhe bateu com tanta força que a palma de sua mão ficou ardendo. Chocada e mortificada, ela deu um passo para trás, horrorizada. Nunca em sua vida ela havia agredido alguém, mas a imagem que ele havia pintado da pessoa que ela tinha sido era dolorosamente embaraçosa. Imediatamente ela prometeu que, não importa o que acontecesse, não importa o que ele fizesse a ela, da próxima vez que ele a tocasse, ela não responderia. Ela não daria a ele essa satisfação. — Você está totalmente errado sobre mim. Eu odeio você. Eu realmente o odeio por me transformar em uma pessoa que eu nem mesmo reconheço. — Isso é porque você convenientemente se esqueceu da pessoa que você realmente é. Estou ansioso para ajudá-la a se lembrar. Muitas e muitas vezes, meu amorzinho. — Você está prestes a descobrir a mulher que eu realmente sou, Luc, e eu só espero que não seja um choque, porque não haverá reembolso. — Ela lutava para se acalmar. — Quanto tempo você espera que dure essa farsa? — Até que eu termine com você. Ela sentiu uma onda de pânico maternal. — Eu tenho que voltar para casa, para meu filho. — Eu não quero ouvir mais nada sobre esse “filho”, e, apenas para registro, da próxima vez que você decidir acusar um homem de paternidade, não espere sete anos para fazê-lo. Se tivesse uma arma, ela teria atirado nele. Em vez disso, ela olhou para ele, com raiva e frustrada, imaginando o que ela teria que fazer para convencê-lo da existência de Rio. Mas então ela percebeu que ela realmente não precisava de que ele acreditasse nela. Tudo de que ela precisava era dinheiro, e parecia que ele estava disposto a dar isso para ela. Contanto que ela concordasse em retomar o relacionamento deles. 22


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela fechou os olhos e se permitiu uma última tentativa de encontrar uma alternativa, mas não havia uma. E ela sabia disso. Seu filho ficaria bem sem ela por um período tão curto, ela se tranquilizou com firmeza, tentando ignorar a ansiedade materna que a machucava. Jason era como um pai para ele. Quanto a ela, não podia deixar de sentir que agora ela estava mais em perigo do que seu filho. Ela abriu os olhos. — Duas semanas. Eu não posso ficar mais do que duas semanas. E eu não trouxe roupas para uma longa estada, então precisarei de algo para vestir. Ela tinha orgulho de seu tom prático, mas ele apenas sorriu daquela maneira enlouquecedora que nunca falhava em acelerar seu batimento cardíaco. — Se vista, sim, porque não tenho vontade de dividir seus atributos com o resto do Brasil, mas você não precisa comprar nada para vestir. Para o que eu tenho em mente, você não vai precisar de roupas. Seus olhos se arregalaram. — Mas... — Meu carro está estacionado aqui em frente e chamando muita atenção nestas ruas, então vamos logo embora daqui. Ele não temia a violência, e até mesmo havia rumores de que Luc tinha saído das favelas direto para seu atual status de bilionário. Mas Luc Santoro era um enigma, o que simplesmente servia para aumentar o seu fascínio na mídia. E entre as mulheres. Kimberley se vestiu rapidamente, prendendo o cabelo e abotoando sua roupa, no banheiro. Aquilo era um acordo, era negócio. Nada mais. Ela não iria gritar ou implorar. E, acima de tudo, ela não iria se apaixonar. Tirando confiança desse pensamento, ela abriu a porta do banheiro, pegou sua bolsa e caminhou em direção à porta. — Vamos? — Luc lançou um olhar depreciativo ao elevador e foi pelas escadas. — Por que você escolheu este hotel, quando o Rio de Janeiro tem outros muito melhores? Porque ela estava economizando dinheiro. — Ele tem charme — disse ela com humor. Luc fez um gesto em direção à limusine prata que estava estacionada em frente ao hotel. Um motorista mantinha a porta aberta enquanto um guarda-costas mantinha sua atenção nas ruas em torno deles. Kimberley franziu a testa. Por Luc ser tão obviamente capaz de cuidar de si mesmo fisicamente, não tinha lhe ocorrido que ele pudesse ser um alvo para o crime, mas é claro que ele deveria ser, e ela teve um pequeno arrepio ao lembrar-se da carta que estava em sua bolsa. — Vamos. — A mão de Luc abraçava firmemente suas costas, mas ela tentou impedi-lo, ainda relutante em ceder. — Eu preciso pagar a conta do hotel. — Você quer dizer que eles cobram para que se fique neste lugar? Minha equipe vai cuidar disso. Precisamos sair daqui antes que a imprensa chegue, a menos que você deseje estar amanhã em todos os jornais. Ela ignorou o sarcasmo e franziu a testa. Ela havia esquecido que Luc Santoro sempre havia sido objeto de atenção da imprensa. Na rua, diversos flashes estouraram em seu rosto, e Kimberley parou tomada pela surpresa. — Entre no carro — ordenou Luc duramente, enquanto seu guarda-costas lidava com os fotógrafos. 23


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan

CAPÍTULO QUATRO KIMBERLEY ENTROU no luxuoso veículo, grata pelas janelas escuras que ofereciam alguma privacidade para quem estava ali dentro. — Como eles sabiam que você estava aqui? — Ela olhou o grupo de fotógrafos, observando o guarda-costas de Luc afastá-los. — A imprensa me segue por toda a parte, e eles também acompanham quem está ligado a mim de alguma forma — Luc a lembrou, tenso. — Se você não andasse em um carro que grita “olhem para mim!”, talvez você pudesse escapar da atenção deles — murmurou ela. Mas ela sabia que um playboy rico como ele sempre seria uma constante fonte de fascinação para a mídia mundial. Toda mulher que era vista com ele era material para dias e dias de especulação nos jornais. Será que uma mulher finalmente havia domado o bad boy brasileiro! Tinha sido o mesmo quando ela estava com ele. Eles ainda não tinham sido vistos em público, ela lembrou amargamente, e ainda assim a imprensa tinha conseguido tirar fotos dela entrando no carro dele. E tinha sido a mídia que a alertara para o fato de que ele havia passado a noite com outra mulher. E também tinha sido a mídia que colocara fotos dela no dia em que ele a mandou para o aeroporto, com a expressão traumatizada, com os olhos inchados de tanto chorar. — Eu não preciso lembrar que foi você a pessoa que escolheu ficar nesse hotel, em uma das piores partes do Rio de Janeiro. Pelo menos o carro tem ar-condicionado, e podemos conversar sem o risco de insolação. — Você nasceu aqui. Você não sente o calor. Ele pegou um cacho de seu cabelo. Enquanto que você, minha doçura, com seu cabelo de fogo e sua pele branca, foi feita para ser mantida dentro de casa, na cama de um homem, bem longe do calor do sol. Seu coração bateu fortemente contra o peito. — Eu prefiro a abordagem mais tradicional de um chapéu e um protetor solar. E a sua atitude com relação às mulheres é a de um troglodita. A verdade era que o calor que lhe seria mais prejudicial, o calor que ela mais temia, não vinha do sol. Ela sentiu a pressão suave enquanto ele enroscava levemente seu cabelo nos dedos. Por um momento, ela apenas olhou para ele, impotente. As coisas sempre começavam assim entre eles, com as mãos dele no cabelo dela. Ele usava o cabelo dela como uma ferramenta para seduzi-la. Quantas vezes ele havia murmurado que seu cabelo era a parte mais sensual do corpo dela? Hipnotizada pelas lembranças e pelo olhar dele, Kimberley sentiu uma onda de calor em seu corpo. Mas de repente ela também se lembrou do homem frio e insensível que ele era então ergueu a mão e tirou seu cabelo dos dedos dele com um puxão decidido. — Não toque em mim... — Eu estou lhe pagando pelo privilégio de fazer exatamente isso, mas eu estou preparado para esperar até que não tenham lentes de câmeras à nossa volta. E estranho que você esteja tão corada — ele observou, em um ronronar suave. — Por que está assim? 24


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Como você mesmo disse, não sou muito boa em lidar com o calor — disse ela. — O carro tem ar-condicionado, e ambos sabemos perfeitamente bem que não é o calor que a está incomodando. Você me quer meu amorzinho, tanto quanto eu quero você, e admitirá isso. Seu coração balançou. — Você superestima os seus atrativos — disse ela secamente, e ele deu uma risada de diversão genuína e deslizou para o outro lado do assento, dando-lhe finalmente o espaço que ela pensava querer. Apesar disso, ela continuava bem consciente do corpo musculoso dele, esparramado descuidadamente no assento de couro do carro. O telefone dele tocou, e Luc respondeu em português, sua língua nativa, mudando em seguida para um italiano fluente assim que identificou quem estava ligando. O que tomava Luc tão diferente dos outros homens que ela havia conhecido? Eles dois eram completamente inadequados um para o outro. Eles não queriam as mesmas coisas da vida. Luc não queria relacionamentos. Luc apenas gostava de sexo. E a coisa realmente surpreendente é que ele não acreditava que houvesse uma diferença entre essas duas coisas. E nunca falava de seu passado, nem tinha nenhum tipo de conversa com ela. Como resultado, ela nunca soube nada sobre ele. Ele terminou a chamada, e ela lançou um olhar especulativo em sua direção. — Quantas línguas você fala? — O meu negócio é global, portanto, línguas suficientes para garantir que tudo corra bem e eu não seja enganado. — Como sempre, ele não se abria, e ela revirou os olhos, exasperada. — Suas habilidades de conversação são tão limitadas que eu suponha que você não precise de um vocabulário muito extenso murmurou ela sarcasticamente. — Você só precisa conseguir mandar nas pessoas à sua volta. Ele guardou o telefone no bolso, rindo. — Interessante — observou ele. — Você esteve comigo por quase um mês, e só no fim eu vi os sinais do seu gênio impossível. Os sinais estiveram sempre lá, é claro, mas sua paixão era dirigida para outras coisas. Kimberley sentia uma pontada de dor sempre que ele a lembrava de como ela havia sido desinibida quando esteve com ele durante aquele mês que passaram juntos. A verdade o que ela tinha estado tão apaixonada por ele que não vira nenhum motivo para se conter. Não percebera que tipo de homem Luc Santoro realmente era. Não havia entendido o quanto eles eram totalmente diferentes. — Eu nunca tinha ido para a cama com um homem antes disse ela. — Foi porque era novidade. — Aquela foi uma fraca tentativa de se defender, e recebeu de volta um olhar zombeteiro. — Novidade? — Claro. Eu era jovem e havia descoberto o sexo. O que você esperava? Teria sido o mesmo com qualquer outra pessoa. — Você acha? — disse ele, se inclinando em direção a ela. — Nós estávamos apenas começando — disse ele com a voz arrastada — Mas agora eu acho que você está pronta para ser transferida para o próximo nível, meu amorzinho. De repente, tudo ao redor dela parecia estar acontecendo em câmera lenta. — O que você quer dizer com “o próximo nível”? — Sete anos atrás, você era virgem. Foi sua primeira experiência sexual, então eu fui muito cuidadoso com você. Agora, como você não para de me lembrar, as coisas são diferentes. Aquela menina cresceu. É hora de descobrir a mulher. Ela sentiu um frio na barriga. 25


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan O que exatamente ele tinha em mente? Ela queria tanto não sentir nada, ser indiferente, mas sentia tudo, e perceber isso a chocava. Durante os últimos anos, ela havia se concentrado em criar seu filho e nunca quis se envolver com outro homem. Sua experiência com Luc a havia afastado dos homens completamente. Mas aquilo que ela sentia agora era só físico, disse para si com firmeza, nada mais do que isso. — A questão é: você pode lidar com esta mulher, Luc? — Eu já disse que posso lidar com você. E o simples fato de você ter concordado com este acordo mostra que você está tão ansiosa quanto eu para renovar nossa relação. — Nós não tivemos um relacionamento — disse ela secamente. Nós fizemos sexo, e eu concordei com isso agora porque você não me deixou nenhuma escolha. — Nós sempre temos escolhas. — Por um breve segundo, sua expressão ficou sombria, e, em seguida, seus olhos voltaram a ter sua expressão habitual de zombaria. — Mas algumas escolhas são mais difíceis do que outras. E a vida. Ela olhou para ele, frustrada ao perceber que ele continuava pensando que ela iria para a cama com ele apenas para satisfazer um desejo indecente de comprar compulsivamente. Será que ele realmente tinha uma opinião tão baixa sobre ela? — Você está me pagando para dormir com você — ela o lembrou friamente não para conversar. Isso vai lhe custar mais dinheiro. Em vez de ficar chateado, ele riu. — Acho que minha conta bancária poderá cobrir esse gasto extra. Você ainda conhece muito bem os homens, meu amorzinho. Conversar é algo que as mulheres querem não os homens. Eu não tenho intenção de pagá-la para que conversemos. Para ser honesto, eu não me importaria se você não falasse nada durante as próximas duas semanas. Ela se mexeu na cadeira, tentando desesperadamente ignorar o calor que sentia. — Para onde estamos indo afinal? — Para o meu covil. A intimidade suave de seu tom era muito perturbadora. — Qual deles? — Meu escritório. E, de lá, vamos para a ilha. Sua ilha. Ao oeste do Rio havia a linda costa Esmeralda, cheia de ilhas, algumas delas pertencendo a uns poucos privilegiados. E muito ricos. — Quer dizer que você está disposto a abandonar seu trabalho? — Algumas coisas são dignas de toda a minha atenção. O fato de que ele estava planejando mantê-la em algum lugar isolado aumentou a tensão dela. Como uma menina impressionável de 18 anos, ela havia amado a deslumbrante paisagem desta parte do Brasil, as florestas, as montanhas e todas as praias. E ela tinha ficado impressionada pelo luxo de permanecer na ilha de Luc, com todo o conforto e privacidade. Durante o tempo em que eles passaram lá, ela ficou envolvida naquela atmosfera romântica, tão saciada sexualmente e tão loucamente apaixonada por Luc e pela beleza exótica dali que não conseguia se imaginar querendo viver em outro lugar. Todas as memórias relativas a ele estavam ligadas àquele lugar especial, e ela não tinha o menor desejo de voltar até lá. — Você tem outras casas — resmungou ela. — Não podemos ficar em outro lugar? 26


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Em algum lugar que não a fizesse lembrar-se do passado, da humilhação que sua total entrega a fez passar. Os olhos dele brilharam, divertidos. — Para o que eu tenho em mente, eu quero muita privacidade. A ilha é perfeita. E ainda continuarei perto do escritório, caso precise voltar. — Você só pensa em negócios? — Não. Eu também penso em sexo. Como agora, por exemplo. Estou amaldiçoando a necessidade de retomar ao escritório para assinar alguns papéis, quando tudo o que quero fazer é ir direto para a ilha e tirar toda a sua roupa. Suas palavras deveriam tê-la chocado, mas uma emoção atravessou por seu corpo. Ele era o homem mais sexy que ela já tinha conhecido, Kimberley pensou desanimada. Determinada a não cair em seu encanto sedutor pela segunda vez, ela tentou se convencer a ser racional. Ela se lembrou de que ele havia partido seu coração em um milhão de pedacinhos. Ela também se lembrou de que havia demorado anos para construir uma nova vida. De repente, percebeu que o carro havia parado. O motorista abriu a porta para ela, que saiu do carro. Por um momento, ela pensou em correr pelas calçadas ensolaradas e se perder nas ruas do Rio, mas sua bolsa, que guardava a carta, estava em seu ombro. Talvez tenha lido a mente dela, porque ele fez uma pausa por um momento, na calçada, observando-a com aqueles olhos incrivelmente sensuais. Então ele colocou firmemente a mão em suas costas e a levou até o prédio. Ele a guiou até o elevador apertou um botão, e as portas se fecharam, encerrando o mundo exterior. O silêncio se fez entre eles. De repente, ela estava ofegante, ciente de que estava sozinha com ele em um pequeno espaço, confinada com o único homem capaz de colocar sua vida de cabeça para baixo. Kimberley olhou para o chão. Com um desespero silencioso, ela arriscou olhar para ele. Seus olhos se encontraram, e o último resto de sanidade dela desapareceu incendiada pela sensualidade que havia entre os dois. Com suas belas feições severas, ele praguejou e a empurrou contra a parede do elevador, beijando-a com fome e paixão. Ela o beijou de volta, ansiosa e desesperadamente. Seus braços deslizaram em volta do pescoço dele, e, a partir deste momento, ela deixou de ser uma mulher racional. Em vez disso, ela respondia com instintos quase animais, totalmente fora de controle. Com os olhos nos dela, ainda beijando-a, ele levantou sua saia, gemendo. Ele a puxou com força contra ele, e ela suspirou ao senti-lo. O corpo dela latejava e doía, e seu coração disparava loucamente com toda aquela emoção. Ela esqueceu todas as suas resoluções. Esqueceu todas as promessas que havia feito para si. Em vez disso, ela colocou as mãos por baixo da camisa dele, necessitando tocá-lo, senti-lo, desesperada para ficar ainda mais próximo dele. Ela havia se recusado a isso por tanto tempo que não conseguia mais fazê-lo agora. Não quando o que ela tanto necessitava estava bem à sua frente. Ele moveu sua calcinha para o lado e a levantou, pondo suas costas contra a parede com um baque. 27


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan O elevador sinalizou que havia chegado ao andar de seu escritório, mas Luc simplesmente apertou o botão com impaciência, sem parar de beijá-la. Kimberley o abraçava com as pernas, impulsionada por um desejo que ela não entendia. — Luc, por favor — gritou o seu nome e mexeu os quadris, em um apelo desesperado. Imediatamente Kimberley explodiu em um clímax tão intenso que mal pôde respirar. E, ainda assim, ele a beijava, sufocando seus gritos com a boca. Ela tremia ofegante, presa àquela sensualidade, até que finalmente seu corpo relaxou. Só então ele afastou seus lábios dos dela, com a respiração irregular, observando seu rosto corado. Ela então percebeu o que havia acabado de fazer. O que ela tinha permitido que ele fizesse. Em um lugar público. — Meu Deus... — Como se tivesse percebido o mesmo, ele a soltou. — Eu não me reconheço quando estou com você. Sua respiração estava longe de ser estável. Ele, gentilmente, se separou dos cachos cor de fogo do cabelo dela. Profundamente chocada com seu próprio comportamento, ela quis entrar em um buraco e nunca mais sair. Ela havia feito aquilo de novo. Durante os últimos sete anos, ela havia estado tão desinteressada pelo sexo oposto que Kimberley acreditava que seu relacionamento com Luc tinha matado algo dentro dela. E estava extremamente aliviada. Isso significava que ela nunca mais se arriscaria a sentir aquele desejo ardente por algum homem. Como ela estava errada. Cinco segundos em um espaço fechado com Luc foram suficientes para tirá-la de seu estado normal. A atração entre eles era tão poderosa que os fazia ignorar as circunstâncias. Como o fato de que eles estavam em um elevador público. De repente conscientes de onde eles estavam Kimberley olhou para ele, horrorizada. — Alguém poderia ter chamado o elevador. Ele se afastou dela e deu de ombros, casualmente. — Bem, então ficariam chocados — disse ele com a voz arrastada, sem se preocupar com a opinião dos outros. — Você pode estar acostumado a ser exposto, mas eu não. Em resposta, ele acariciou seu rosto corado. — Como de costume, você parece estar me culpando, mas encare a realidade, meu amorzinho, você queria isso tanto quanto eu. — Como se para provar isso, ele se inclinou para pegar alguma coisa no chão. — Isso é seu, acredito. Kimberley olhou para a calcinha que ele a entregava, a dela, e quis sumir. Ele então apertou um botão, e as portas do elevador se abriram. Furioso com ele por não lhe dar mais tempo para se recompor, Kimberley foi forçada a guardar sua calcinha na bolsa. Ela o observou com frustração e raiva crescentes enquanto ele entrava em seu escritório, sem olhar para trás. Como ele podia parecer tão indiferente? Ele estava totalmente relaxado e no controle, como se fazer sexo em um elevador fosse algo rotineiro para ele. E talvez fosse ela refletiu miseravelmente. As mulheres se atiravam em Luc Santoro onde quer que ele fosse. Ao ver um banheiro, Kimberley entrou, querendo melhorar sua aparência. 28


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Quando ela saiu, viu que Luc estava falando com sua assistente pessoal, que lhe trouxera água e tinha sido tão gentil com ela. Ela possuía a mesma aparência exótica e morena de seu chefe, mas era cerca de vinte anos mais velha do que Kimberley esperava. De alguma forma, ela imaginava que sua secretária fosse jovem e provocante. A mulher terminou seu telefonema e sorriu ironicamente para seu chefe. — Bem, você os deixou agitados, como sempre... — Está tudo certo? — perguntou ele. — Você só precisa verificar estes números e assinar isto, porque o pessoal do quinto andar quase desmaiou de horror quando eu disse a eles que você estava planejando ficar longe do escritório por alguns dias — disse, empurrando alguns papéis em sua direção. — Mas posso cuidar de todo o resto. Eu vou falar com Milão para remarcar aquela apresentação, e Phil vai chegar de Nova York na próxima quarta-feira, como você pediu. Está tudo resolvido. — E o helicóptero? — Seu piloto está esperando por vocês dois. Kimberley se perguntava como Luc conseguia mudar tão facilmente de um amante quente para um homem de negócios frio. Ele parecia ainda mais frio e distante examinando aqueles papéis e estendendo a mão para receber uma caneta. Sexo e negócios, as duas únicas coisas que interessavam a ele. Claramente o encontro fervente deles no elevador não o tinha afetado da mesma forma que a ela. Ela se sentia humilhada, como se ele pudesse ter feito aquilo com qualquer outra mulher. Depois de entregar a Luc outro documento, a assistente pessoal olhou para ela. — Como vai você? Eu sou Maria. Desculpe prendê-los, mas não esperávamos que ele fosse ficar longe do escritório por uma semana. Ele só precisa dar uma olhada nestes números para mim, e então vocês estarão livres. Kimberley olhou para ela consternada, sem saber como responder. O quanto aquela mulher sabia sobre o acordo deles? Ela fez parecer que eles estavam indo tirar férias. E a ausência proposta por Luc estava claramente causando uma infinidade de problemas para todos. Ele fez alguns comentários, assinou o resto dos papéis e, em seguida, olhou para o relógio, impaciente. — Chega. Vamos. — Como um homem em uma missão, ele praticamente a arrastou até o terraço, onde estava o helicóptero. Seu piloto e outro homem, que Kimberley deduziu que seria um guarda-costas de Luc, imediatamente ficaram a postos ao vê-los se aproximando. — Não há necessidade de me arrastar — murmurou ela. — Eu estou com pressa. E isso ou voltar para aquele elevador. Faça a sua escolha. — Seu comportamento é típico da Idade da Pedra, sabia? Você já ouviu falar do movimento feminista e das oportunidades iguais entre os sexos? — Você quer oportunidades iguais? Pode deixar você terá a mesma oportunidade que eu de sentir prazer quando estiver na minha cama — disse ele, levando-a apressadamente até o helicóptero. — Você é inacreditável. Alguma mulher concorda em trabalhar para você? — disse ela, acomodando-se em seu assento. — Claro. Você já viu a Maria. — Sim, mas ela não é nada do que eu esperava — disse Kimberley. 29


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — E o que você estava esperando exatamente? — Eu não sei. Alguém mais jovem, mais glamourosa. Você é viciado em mulheres bonitas. — O segredo do sucesso nos negócios é ser claro sobre a discrição do trabalho e então selecionar a pessoa certa — disse ele friamente. — As qualidades que eu exijo de uma secretária não são as mesmas que eu exijo das minhas amantes. Eu nunca confundo os dois papéis e nunca misturo negócios com prazer. Ela olhou para ele. — Então o que você faria se você quisesse um relacionamento com alguém que trabalhasse para você? — Eu a despediria e então dormiria com ela — respondeu ele sem hesitação. — Mas eu não entendo por que isso lhe interessaria. Você não está trabalhando para mim, então não há absolutamente nenhuma barreira para o nosso relacionamento. — Além do fato de que não podemos aguentar a visão um do outro. — Lembre-se do que aconteceu no elevador agora a pouco — sugeriu ele, observando-a com intenção claramente sexual. — E se isso não ajudar a sua memória, tente se perguntar por que você está sem calcinha no momento. O coração dela pulou. — Você não me deu a oportunidade de colocá-la, e ela está em farrapos — murmurou. — Isso é porque eu não vejo sentido em removê-la duas vezes. — Você não se interessa por outra coisa que não o sexo? — Ela deixou escapar de repente. — Você não quer saber de nada a meu respeito? — Eu sei que você me excita mais do que qualquer outra mulher que já conheci — respondeu ele de imediato. — O que mais eu quereria ou precisaria saber? Ela olhou para ele, frustrada e abalada por sua total falta de envolvimento emocional. Ele não parecia precisar de ninguém. Então ela pensou em Rio e foi sufocada por um amor maternal tão grande que quase engasgou. Sentindo um pânico repentino, ela correu para soltar o seu cinto de segurança, dizendo: — Eu não posso fazer isso, Luc, me desculpe. Você tem que me levar para o aeroporto. Eu tenho que ir para casa agora. Eu preciso ficar com meu filho. Eu nunca o deixei antes, não por tanto tempo, e ele está em perigo... — Pare de interpretar, meu amorzinho — aconselhou ele gentilmente. — O dinheiro já foi pago. O acordo está feito. Sua respiração acelerou. — Mas e se não for suficiente? — Ela mordeu o lábio. — Muitos chantagistas acabam pedindo mais. Luc fez uma pausa. — Acho que o nosso “chantagista” vai precisar de um pouco de tempo para gastar seus cinco milhões de dólares, não é? — Seu tom era de zombaria, e ela ficou vermelha de raiva e frustração. — Você está cometendo um erro tão grande! — Eu não cometo erros. Eu tomo decisões, e elas sempre são as mais certas — disse ele em um tom frio. — Minha decisão sobre isso é pagar o que você pediu. Está feito. Agora você tem que fazer a sua parte, e eu não quero mais ouvir nenhuma menção sobre chantagistas ou crianças doces e vulneráveis que precisam de você em casa. O que ela poderia fazer? 30


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan O helicóptero já estava em pleno voo, e, se Luc estivesse certo, então o dinheiro já estaria nas mãos do chantagista. Kimberley virou a cabeça para que ele não a visse chorar. O problema é que ela era superprotetora. Desde que Rio nasceu, seu amor por ele tinha sido absoluto e incondicional. Ela tentava não sufocá-lo, mas achava isso muito difícil. Ela o amava muito e não podia suportar a ideia de que qualquer coisa pudesse o fazer infeliz. Mas Rio ficaria bem, ela se convenceu. Ele adorava Jason, e Jason o adorava e nunca deixaria que nada acontecesse a ele. Era ela quem sofreria por não estar perto de seu filho. Duas semanas. Ela se forçou a controlar suas emoções. Em duas semanas, sua vida estaria de volta ao normal, sem chantagistas e sem Luc. Seria realmente difícil? O que ele estava pedindo? Sexo sem amor? Bem, ela poderia fazer isso. Ela apenas se deitaria, prometeu a si mesma ferozmente. Não iria soluçar nem implorar. E quando ele finalmente se cansasse dela e decidisse deixá-la partir, ela iria embora sem olhar para trás, tão emocionalmente fria quanto ele.

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CAPÍTULO CINCO Mal o helicóptero aterrissou, e Luc já havia se levantado. Se ele percebeu os olhares confusos trocados por seu guarda-costas e seu piloto, não deu nenhum sinal disso e pareceu estar indiferente ao caminhar a pequena distância até a Villa, mantendo Kimberley firmemente ao seu lado. Para um homem que parecia estar sempre no controle, Luc agora estava desconfortável e irritado, porque naquele preciso momento ele estava se sentindo absolutamente fora de controle. Apenas uma vez antes, ele podia se lembrar de agir assim, de maneira tão selvagem e impulsiva, e isso havia sido sete anos antes, quando Kimberley entrou pela primeira vez em sua vida. Não era apenas por causa do incidente no elevador, ele meditou sombriamente enquanto caminhava. Não. Definitivamente não era por causa do elevador. O que isso provava, além do fato de que ele era um homem normalmente quente, com um desejo saudável por uma mulher atraente e com habilidade para aproveitar ao máximo o momento? Ele poderia até mesmo ter evitado os aspectos mais sórdidos de seduzir uma mulher em um lugar público, se a experiência o deixasse lúcido e saciado e com sua sanidade totalmente restaurada. Mas não era esse o caso. Como um alcoólatra que se permitia apenas um drinque, aquele sabor do proibido o havia deixado com uma necessidade de beber ainda mais. Era isso o que o incomodava na situação atual. Ele nunca perdia o controle. Na verdade, ele se orgulhava de sua capacidade de manter a calma quando todos os outros ao seu redor estavam desesperados. E, embora as mulheres fossem parte importante de sua vida, nunca, jamais nenhuma delas havia comprometido suas decisões de negócios. Até agora. A partir do momento em que Kimberley voltara para sua vida, tudo o que importava a ele era que ela voltasse para sua cama e lá permanecesse até que seu corpo estivesse saciado. Só então ele seria capaz de pensar claramente de novo. Seu comportamento havia mudado tanto desde que Kimberley voltara que ele compreendera os olhares de surpresa de seu guarda-costas e de seu piloto. Até Maria, que sabia mais sobre ele do que a maioria das pessoas tinha ficado claramente chocada por seu pedido repentino para que ela rearrumasse sua agenda, a fim de acomodar sua necessidade de estar ausente do escritório. Na verdade, ele estava totalmente certo de que grande parte de sua equipe estava agora mesmo discutindo a transformação de personalidade de seu chefe. E ele mesmo também estava se questionando a esse respeito. Dada à situação delicada de seus negócios no momento, foi muito complicado cancelar reuniões e deixar o escritório, quando sua presença era obrigatória. Mas isso era exatamente o que ele tinha feito, e estava pronto para ignorar as consequências. Ele estava pronto para ignorar tudo, exceto a tensão sexual que incomodava seu corpo. Saber disso o perturbava ainda mais, porque ele estava ciente de que nunca uma mulher havia conseguido atrair sua atenção por mais do que algumas semanas. Confiante 32


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan nessa característica de sua personalidade, ele esperava poder facilmente tirar Kimberley de sua mente. Ela realmente estava desafiando sua sorte, ele pensou, inventando essa história de paternidade sete anos após a relação de eles ter acabado. Será que ela pensava que ele fosse tão estúpido assim? Contudo, sua ganância a tinha colocado de volta em seu caminho, e ele estava feliz com isso. Finalmente ele teria a chance de tirá-la de sua cabeça de uma vez por todas. Desta vez, ele iria levar a relação á sua conclusão inevitável. Ele decidiu tirar as próximas semanas de sua vida para se enfastiar de Kimberley. Ele devia isso à sua sanidade e à sua capacidade de se concentrar. E tudo de que ele necessitava para fazer isso era privacidade e uma cama de casal bem grande, e ele teria essas duas coisas em sua propriedade na ilha. Era o único lugar no mundo onde ele não seria perturbado. Era o único lugar onde a imprensa e o público não os incomodariam. O único lugar onde poderia ficar verdadeiramente sozinho para se concentrar em Kimberley. COM MUITO calor, por fatores muito mais complexos do que um clima tropical, Kimberley olhou ansiosamente para a água fria da piscina, mas Luc não alterou seu ritmo enquanto caminhava em direção à suíte da qual ela se lembrava muito bem. Seu coração acelerou, e sua boca ficou seca. Ela queria resistir, mas a mão dele a prendia firmemente. E, de qualquer maneira, ela raciocinou impotente, como ela poderia argumentar? Pela soma de cinco milhões de dólares e para proteger seu filho, ela havia concordado com isso, e só desejava que aquelas duas semanas seguintes passassem o mais rapidamente possível e que ela pudesse voltar para casa. Ela estava com medo. Desesperadamente temerosa de que pudesse voltar a ser aquela menina ingênua e carente que Luc seduzira anos atrás. Quando ela o conheceu, tinha uma carreira bem-sucedida de modelo e trabalhava muito. Ela nunca tinha perdido uma sessão de fotos, nem tinha se atrasado para algum compromisso em sua vida. Então ela conheceu Luc, e tudo aquilo mudou. Com apenas um olhar daqueles olhos escuros, ela havia ficado incapaz de ver qualquer coisa, exceto ele. Ela abandonou seu trabalho, esqueceu suas responsabilidades e deixou de se preocupar com qualquer coisa que não fosse Luc. Ela estava tão embriagada com ele que não havia conseguido ver que, para ele, aquele relacionamento era apenas sexo. Mesmo quando ele a deixava na cama para se encontrar com outras mulheres, ela não aceitara que aquela relação não tinha futuro. Somente quando ela descobriu estar grávida e quando ela pediu ajuda a ele e foi rejeitada que Kimberley finalmente aceitou que tudo estava acabado entre eles. E agora lá estava ela, entrando novamente no quarto de Luc. Arriscando tudo, de novo. Mas agora ela sabia que Luc não tinha um pingo de emoção dentro de si, e isso nunca mudaria. Ela ergueu o queixo. Se ele era capaz de desfrutar do sexo sem sentimento, por que ela não conseguiria fazer o mesmo? De muitas maneiras, ele era o homem perfeito para isso, pensou, olhando-o de soslaio e admirando sua beleza. Lembrando-se do que acontecera no elevador, um surto repentino de emoção deliciosa e proibida queimou seu corpo. Ela se comportaria pelas próximas duas semanas distante emocionalmente com relação a ele, pensou, ignorando o calor em seu peito apenas por ele a guiar até o quarto, que dava para a piscina. 33


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan À sua frente, estava uma cama enorme, a cama enorme da qual ela se lembrava muito bem. Coberta com lençóis feitos do melhor algodão egípcio, a cama permitia que se visse a piscina e o mar, mas Kimberley logo se lembrou de que, em outras ocasiões que esteve naquela cama com Luc, nem se lembrara de apreciar a vista. Quando ela estava com Luc, o mundo exterior deixava de existir. Bem, não mais. Desta vez, ela iria aproveitar aquela piscina e aquele mar, juntamente a quaisquer outros prazeres que aquela ilha privada pudesse oferecer. É claro, ela desfrutaria do sexo por duas semanas, mas desta vez tudo seria diferente. Ela desfrutaria do incrível corpo dele, da maneira mais superficial possível. Ela não se apaixonaria, nem fingiria que Luc poderia se apaixonar por ela. Desta forma, ela sairia dali com seu coração completamente intacto. — Bem. — Ela fez um gesto com a mão em direção à cama, quase com desprezo. — Parece que temos aqui tudo de que precisamos, então talvez devamos começar certo? Não era assim que funcionava? Praticidade contra o romance. — O sarcasmo não combina com você. Não faz parte de sua personalidade, nem de quem você é. — Você não tem ideia de quem eu sou, Luc, e nós dois sabemos que não é a minha personalidade que o interessa. — Ela manteve o tom casual, caminhando em direção à cama. E foi você quem disse que não me pagou cinco milhões de dólares para conversar. Ela viu a incredulidade nos olhos dele e sentiu vontade de rir. Ele esperava que ela gaguejasse e protestasse. Ele havia se preparado para controlar e dominar, como sempre. Mas, desta vez, ela não permitiria isso. Desta vez, era ela quem estava no comando. Ela o havia surpreendido e se sentia bem. Com uma sensação de poder e confiança que ela não se lembrava de haver sentido antes ao lado dele, casualmente Kimberley desabotoou sua blusa e se dirigiu ao banheiro luxuoso. — Vou tomar um banho e volto em cinco minutos. Ela estava se saindo muito bem, pensou alegremente ao se despir e entrar na ducha. Embora esta situação não fosse uma escolha sua não havia razão para que Luc detivesse o comando absoluto. Ela cantarolava alegre por saber que estava no controle. Mas seu sentimento de satisfação durou apenas oito segundos. — Eu nunca soube que você tinha uma voz tão boa para cantar — disse uma voz masculina. Luc estava a apenas alguns centímetros de distância dela, nu e descaradamente excitado, seu corpo próximo da perfeição física masculina. — Parabéns — disse ele, observando-a. — Um banho juntos foi uma ideia perfeita, meu amorzinho. Ideia aprovada! A recém-adquirida confiança de Kimberley desapareceu em um instante. Ele não deveria aprovar nada. Ele devia se sentir frustrado por ela ter tomado o controle. Mas, em vez disso, ele parecia à pessoa verdadeiramente no comando da situação. — Você não precisava se juntar a mim — disse ela, desviando os olhos da visão tentadora de seu corpo bronzeado e musculoso. Mas não se atrevia a olhar mais para baixo. — Temos um contrato e pretendo honrá-lo. Não precisa se preocupar que eu escape. 34


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Eu pareço preocupado? — Seus olhos brilhavam, divertidos, e ele tirou o cabelo dela de seu rosto. — Por que eu me preocuparia, sabendo que você não consegue dizer “não” para mim? Ela rangeu os dentes e tentou ignorar os pequenos espasmos de excitação que passavam por seu corpo. — Você precisa de uma ilha inteira para acomodar o seu ego. Luc deu uma risada suave e estendeu a mão para puxá-la para mais perto. — Eu adoro vê-la fingindo que consegue resistir a mim. Isso fará de sua rendição final algo ainda mais satisfatório. Você está me presenteando com um desafio, e eu adoro um desafio. Ela olhou para ele, impotente, revoltada com sua arrogância e ainda fascinada com sua masculinidade. O que você está dizendo é que você simplesmente não aceita “não” como resposta. — Talvez o meu inglês não seja sempre perfeito. — Seu inglês é f-fluente — gaguejou ela ao sentir as coxas dele contra suas pernas nuas. — Mas é que tudo tem sempre que ser do seu jeito. — E o que há de errado com isso? — disse ele, dando de ombros, enlaçando-a pela cintura. — Principalmente quando nós dois queremos a mesma coisa. O coração dela estava batendo tão forte que ela mal conseguia evitar um gemido quando ele começou a ensaboar suas costas. — Você tem um corpo incrível — disse ele com a voz rouca, deslizando suas mãos fortes pelas costas dela. Seus olhos se fecharam, e ela se forçou a pensar em outra coisa. Mas a única coisa em sua mente era Luc, e então, quando ele passou a mão por seu cabelo, ela estremeceu em aprovação. Ele começou a ensaboar o cabelo dela, massageando-o sensualmente, e ela fechou os olhos, incapaz de resistir à pressão incrivelmente hábil de seus dedos. Tinha sido sempre assim, ela pensou impotente, se rendendo à sua carícia. Ele sabia exatamente como tocá-la. Sabia exatamente como vencer sua resistência. Exatamente como deixá-la louca. Ele lavou o resto do corpo dela, demorando-se em algumas partes mais do que em outras. Ele continuou até que o corpo dela tremesse. Até que ela estivesse desesperada para explorá-lo do jeito que ele a estava explorando. Incapaz de esperar mais, Kimberley estendeu a mão e a deslizou sobre o peito dele, em seguida descendo mais. Mas ele pegou os pulsos dela e colocou suas mãos em volta de seu pescoço, negando a ela a satisfação de tocá-lo. Com muito desejo e frustração, ela tentou libertar os braços, mas ele a segurou firme, os olhos zombando dela, e então se curvou para beijá-la. Mas ele se recusou a beijá-la corretamente, ainda brincando em seu pescoço e perto de seus lábios, deixando-a mais ansiosa e desesperada. Todo o corpo de Kimberley latejava e doía. Só ele poderia dar a ela a satisfação final pela qual ela ansiava. Ele estava brincando com ela e seduzindo-a até todos os nervos de seu corpo estar latejando, até que ela ficou incapaz de pensar em algo além daquele homem à sua frente. Sua mente parou de funcionar, e ela nem mesmo percebeu que ele havia desligado o chuveiro, até que ela se viu envolta em uma toalha macia e carregada por ele. Em algum lugar no fundo de sua mente, algo a incomodava. Algo sobre ele estar no controle mais uma vez. Mas ela não podia nem pensar, quanto mais agir com relação a isso, então apenas ficou em seus braços, embriagada pela lenta e experiente sedução. 35


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ele a colocou na cama tirou a toalha de seu corpo esguio com um puxão gentil e determinado e então se deitou sobre ela. Quase sem fôlego, ela passou as mãos pelo corpo musculoso dele e moveu seu próprio corpo de forma a tentar ter acesso ao membro dele. Ele deslizou para longe, em um movimento sutil, e ela deu um soluço de frustração, seus quadris se contorcendo contra os lençóis. — Você me toca, por que não posso tocar em você? — Ainda não — Ele a pegou pelos pulsos e, finalmente, beijou-a. Seu beijo arrebatou Kimberley de forma tão sensual que o quarto girava em tomo dela, que chegou a pensar que poderia de fato acabar perdendo a consciência. Ela estava tão embriagada por seu toque habilidoso que não percebeu que ele havia amarrado os pulsos dela até tentar passar os braços em volta do pescoço dele e descobrir que não conseguia. Suas mãos estavam firmemente presas à cabeceira da cama. Ele deu uma risada baixa de satisfação. — Agora eu a tenho exatamente onde quero meu amorzinho. Ela tentou puxar os pulsos, mas ele escolheu esse momento preciso para beijar seus seios, e ela deu um suspiro profundo. Ela se contorceu e deslocou-se na cama, tentando desesperadamente recuperar a fala para pedir que ele a soltasse. Mas era uma sensação boa demais, e ela se sentiu arder. Ele não tinha pressa, habilmente acariciando primeiro um seio e, depois, o outro. Ela se encolheu, e, quando pensou que não poderia aguentar mais, ele deslizou pelo corpo dela, buscando outro ponto. Quase incapaz de formar as palavras, ela deu um gemido de protesto. — Desate-me, Luc, por favor... Ele levantou a cabeça. — Ainda não. Você ainda tem muitas inibições. Você pensa demais. Eu quero mostrar o que seu corpo pode sentir quando não se tem escolha. Você está completamente segura, meu amorzinho. Eu apenas pretendo torturá-la com o prazer, e você ficará totalmente incapaz de resistir. Ele então deslizou mais para baixo da cama e fechou suas mãos fortes em volta das coxas de Kimberley. Percebendo sua intenção, ela tentou desesperadamente manter as pernas juntas, mas ele deu uma risada baixa e ignorou sua fraca resistência, abrindo as pernas dela. Ela nunca se sentira tão exposta antes, tão vulnerável, e seu rosto queimou corado, sob o olhar intenso e masculino de Luc. Todo o seu corpo ficou tenso quando ela sentiu os dedos dele deslizando, explorando sua intimidade. Ela deu um suspiro, tentando libertar-se, mas suas mãos estavam firmemente atadas, e ela não tinha nenhum meio de se proteger de Luc. E logo a ideia de se proteger dele sumiu, porque o que ele estava fazendo com o corpo dela era tão bom que Kimberley pensou que desmaiaria. Tudo era tão selvagem que ela perdeu o contato com a realidade, perdeu o contato com tudo o mais, totalmente controlada pela sensação causada por aquele homem. Finalmente, os espasmos cessaram. Atordoada, ela olhou para ele fixamente, lentamente registrando a expressão triunfante naqueles olhos negros que olhavam seu rosto em chamas. Sem tirar os olhos dela, ele a soltou em um único movimento. — Agora você pode me tocar - informou, e ela desejou ter energia para dar um tapa em seu rosto, que carregava um sorriso de satisfação. Ele estava muito consciente de 36


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan suas próprias habilidades para levar uma mulher ao limite de sua sanidade, mas infelizmente ela estava sofrendo muito com a sobrecarga de excitação para poder pensar em outra coisa que não fosse sua própria necessidade de tê-lo. Ela o procurou apressada, fechando os dedos delgados sobre sua excitação pulsante, com um gemido de aprovação feminina. Com um grunhido profundo na garganta, ele deslizou um braço em direção aos quadris dela, posicionando-a de forma a satisfazê-lo, e penetrou profundamente em seu corpo trêmulo. Kimberley então o envolveu com suas pernas, movendo os quadris instintivamente, e ele murmurou algo antes de penetrá-la e iniciar um movimento primitivo e fora de controle. Kimberley sentiu seu corpo desmoronar. Vagamente, registrou um gemido masculino e percebeu que o clímax dela o levara ao mesmo ponto. Ela sentiu a força líquida da libertação dele, sentiu os pelos do corpo masculino dele contra os seios sensíveis dela. Os espasmos ainda continuavam, e ela se agarrou a ele, dominada por aquela sensação, esperando que o mundo ao seu redor se aquietasse. E, eventualmente, isso aconteceu. Seus sentidos clarearam, e a calma foi restaurada. Ela abriu os olhos e viu um ombro masculino bronzeado, tornou-se ciente do calor do corpo dele contra o dela, sentiu a respiração pesada dele e seu peso sobre ela. E então ele se deitou ao lado dela, abraçando-a. Ele afastou gentilmente o cabelo de Kimberley do rosto dela para que pudesse beijar sua boca. — Isso foi incrível — disse ele. Kimberley então o olhou, enfeitiçando-se com seu olhar profundo. — Você é tão selvagem na minha cama. E, caso tente fingir que não gostou, devo adverti-la de que perderá seu tempo. Você ficou completamente louca por mim, e ainda tenho os arranhões nas minhas costas para provar. Ao se lembrar de como tinha sido desinibida, Kimberley, horrorizada, se afastou dele, de repente percebendo que ele estava no controle novamente. E, a julgar pelo sorriso de satisfação no lindo rosto de Luc, ele também sabia disso. Ignorando o fato de que estava fraca e seu corpo doía, ela pulou da cama. Essa era a única maneira de lutar contra o impulso de se aconchegar junto a ele. E a relação deles não tinha nada a ver com afeto. — Bem, é que achei que cinco milhões de dólares exigiam um desempenho acima da média de minha parte. — O tom casual dela o fez franzir o cenho, mas ela entrou no banheiro, esperando ser convincente em sua falsa indiferença. Dentro do banheiro palaciano, ela fechou a porta e se sentou no chão de mármore, cobrindo o rosto com as mãos. Ela se lembrou das palavras ditas por ele enquanto a desamarrava, com um gemido de horror. Agora você pode me tocar. Mesmo no meio do ato sexual, ele ainda era a pessoa no controle, e ela havia estado tão desesperada por ele que não havia nem mesmo percebido. E, embora ele claramente tenha gostado daquele encontro, em nenhum momento ele perdeu o controle ou fora consumido pelo mesmo grau de abandono sexual que ela. Ela se lembrou de como pensou estar no controle, no começo, e de como ele havia ficado surpreso. Mas não durou. A partir do momento em que ele entrou no chuveiro para se juntar a ela, ele estava no comando. O que havia acontecido com ela? Nos últimos sete anos, ela criara um filho e construirá um negócio de sucesso, a partir do zero. Ela se considerava competente e independente. Ela estava orgulhosa da mulher que havia se tomado. 37


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Mas na cama de Luc Santoro, aquela mulher havia desaparecido, e, em seu lugar, aparecera àquela mesma menina carente e desesperada de 18 anos. Duas semanas, ela se recordou severamente enquanto lavava o rosto e arrumava o cabelo. Ela teria que passar por isso por apenas duas semanas, e então poderia voltar para casa, para seu filho e colocar Luc Santoro de volta ao passado, onde ele pertencia.

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CAPÍTULO SEIS ESTIRADA NA sombra à beira da requintada piscina, quase duas semanas depois, Kimberley percebeu sonolentamente que havia sofrido uma completa mudança de personalidade. Longe de ser aquela mulher independente e pensante, agora ela se sentia mais como uma escrava sexual, pronta e disposta a obedecer aos comandos de seu mestre. Luc só tinha que lançar um olhar ardente em sua direção para que ela caísse em seus braços com um entusiasmo tão previsível quanto humilhante. Por baixo do sensual vício que alimentava cada movimento seu, ela estava secretamente horrorizada consigo e não sabia o que era pior: saber que havia voltado ao seu antigo eu ou o fato de que ela estava na verdade adorando aquilo tudo e era honesta demais para fingir. Se não fosse pelo fato de ela estar com muitas saudades de Rio, Kimberley estaria totalmente feliz. Embora Luc tenha assegurado a ela que o dinheiro havia sido imediatamente transferido para a conta correta, de acordo as instruções dela, e que todas as ligações de Jason haviam assegurado que tudo parecia bem em casa, ela não conseguia parar de se preocupar. Não fazia diferença que ela telefonasse, furtivamente, uma vez por dia, ou até duas, para o seu filho para conversar com ele. E também não fazia diferença que ele parecesse feliz e animado e não parecesse estar sentindo falta dela. Ela sentia falta dele. Desesperadamente. E ela queria ir para casa. Então só faltava cumprir sua parte no acordo com Luc. E, até agora, ele tinha certamente feito com que seu dinheiro valesse a pena. Eles quase não saíram da cama. Era impossível não lembrar, naquele lugar, do que havia acontecido ali há sete anos. Ela voltara a ser aquela menina de 18 anos. — Você está sonhando de novo. — Luc saiu da piscina em um movimento ágil e passou a mão sobre os olhos para limpar a água de seu rosto. Ele pegou uma toalha e lançou a ela um sorriso predatório. -— Não há necessidade de sonhar quando você tem a coisa real. Se você quiser voltar para o quarto, meu amorzinho é só dizer. Aquela suposição arrogante de que todos os sonhos dela estavam relacionados a ele merecia um tapa no rosto. Mas ela não pôde rebater, pois era verdade. Todos os seus sonhos eram, de fato, relacionados a ele. E essa era a coisa mais irritante de todas. Além de estar com seu filho, não havia nenhum lugar no mundo, a não ser na cama de Luc, em que ela quisesse estar, e se odiava por sentir isso. Tudo poderia ser diferente se o relacionamento deles fosse igualitário, mas não era. Ele estava sempre no controle. Ele decidia quando eles comeriam, quando dormiriam, quando fariam amor e, até mesmo, como fariam amor. Qualquer tentativa da parte dela de liderar era sempre ignorada. Ele caminhou até ela, com a toalha enrolada sobre os seus ombros largos. Ele tinha um corpo projetado para enlouquecer uma mulher, e ela sentiu um frio na barriga. Não é de admirar que ela não conseguisse resistir a ele. Que mulher conseguiria? 39


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Você já está aqui há quase uma hora. Volte para dentro antes que você fique muito queimada de sol. Ela abriu a boca para ressaltar que ele a estava controlando novamente, quando ela percebeu que isso daria para ela a oportunidade perfeita para ligar para casa novamente. Ela poderia não esconder dele que ligava para seu filho, mas, já que Luc não havia mencionado o assunto desde que haviam chegado à ilha, parecia mais prudente não comentar nada. De repente, ela sentiu tanta saudade de Rio que sentiu uma dor quase física. Ela precisava ouvir sua voz. Tentando parecer casual, ela se ergueu, dizendo: — Você está certo, estou queimando. Vou entrar um pouco e descansar. Era verdade. Ao contrário de Luc, que parecia possuir uma energia quase sobrenatural, ela achava difícil passar uma noite inteira quase sem dormir. Ignorando o olhar quente dele sobre seu corpo, Kimberley correu para o quarto, procurando o celular em sua bolsa. Vendo se estava mesmo sozinha, Kimberley discou o número. Rio atendeu. — Mãe? — Ele parecia muito entusiasmado. — Você tem que me comprar um peixe! Ela fechou os olhos e sentiu um grande alívio. Ele parecia tão normal. E tão parecido com o pai. A vida com Rio era cheia de ordens e pedidos. — Que tipo de peixe? — Igual àquele que tem na escola, é tão legal. Eles conversaram por mais alguns minutos, e então ela desligou, relutante, guardando o telefone. Dentro da bolsa algo brilhou, e ela descobriu que era um par de algemas. Ela sorriu, sem acreditar, e de repente se lembrou de que seu filho havia pedido emprestado uma roupa de policial de um de seus amigos e de que ele a havia vestido um dia antes de ela ir para o Brasil. Ele devia ter deixado às algemas caírem ali, dentro de sua bolsa. Ela não soube explicar como as algemas não tinham sido detectadas pelas autoridades do aeroporto. De repente, uma ideia passou por sua cabeça. Será que ela se atreveria? Antes que ela perdesse a coragem, ela as prendeu rapidamente na cabeceira da cama e as cobriu com um travesseiro. — Percebi que poderia ficar com insolação lá fora e que também preciso de um descanso. — A voz irônica de Luc veio da porta, e ela rapidamente pulou da cama, seu coração batendo forte, convencida de que a culpa devia estar em seu rosto. Será que ele percebera o que ela havia acabado de fazer? Seus olhos se encontraram. Ela sentiu um frio na barriga e ficou excitada. Não, ele não tinha notado. Ele estava muito ocupado olhando as pernas dela e outras partes de seu corpo seminu. — O sol não o incomoda, e você nunca fica cansado — disse ela, vendo-o caminhar em direção sua ela em uma sunga que não escondia sua excitação. — E nós só saímos da cama há uma hora. — Uma hora é tempo demais — disse ele. — Especialmente quando você está com este biquíni. — Foi você quem escolheu o biquíni. Eu não trouxe nenhuma roupa, lembra? Ele deu um sorriso predatório. — E até agora, minha doçura, você não precisou de nenhuma. 40


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Quando se trata de sexo, você é insaciável — disse ela sem fôlego. — Quando se trata de você, eu sou insaciável — disse ele, logo depois franzindo a testa, como se esse pensamento o deixasse desconfortável. — Por que você está franzindo a testa? — Eu não estou. — Ele desfez a carranca, esquecendo aquele pensamento. Ela sentiu as mãos dele deslizando por suas costas e estremeceu. Sua reação a ele era tão previsível... Mas desta vez... Ele passou a mão pelo cabelo dela e o puxou suavemente. Ela ofegou quando sentiu o ardor da boca de Luc e então estava de volta à cama, com Luc sobre ela. — Eu não me canso de você — disse ele com a voz rouca, enquanto tirava o biquíni dela e colava sua boca na de Kimberley. Ele rolou para o lado, trazendo Kimberley para cima dele. Neste momento, ela parou de beijá-lo, pois precisava pensar, e não conseguiria fazê-lo se o estivesse beijando. E ela precisava se concentrar, porque tinha um plano. Pela primeira vez, ela estava determinada a assumir o controle. Ela estava determinada a torturá-lo do jeito que ele sempre a torturava. Hora da vingança. Sabendo que tinha de agir rapidamente, ela esticou os braços, retirando o travesseiro, revelando as algemas presas à cama. Com o coração batendo muito rápido, ela fechou as algemas em tomo dos pulsos dele antes que ele tivesse tempo de perceber as intenções dela. Um olhar atordoado de incredulidade apareceu em Luc. — O que você pensa que está fazendo? Ela prendeu a respiração, vendo que ele tentava se libertar. Será que as algemas o segurariam? Decidindo que ela precisava usar mais do que um método de mantê-lo em cativeiro, ela abaixou a cabeça e começou a brincar com os cantos da boca de Luc, com sua língua. — Você disse que podia lidar comigo com suas mãos amarradas às costas — lembrou Kimberley —, então eu pensei em lhe dar uma chance de provar isso. Suas mãos estão bem amarradas às costas, ou acima de sua cabeça, se você quiser ser mais preciso. Eu sou toda sua, Luc. — Ela levantou a cabeça e lambeu os lábios lentamente, saboreando o gosto da boca de Luc. — Ou talvez você seja todo meu. Vamos descobrir? Ela viu a expressão chocada de Luc e, pela primeira vez em sua vida, teve o prazer de vê-lo fora do controle. Ela o viu lutando para afastar o desejo, para que pudesse pensar de forma clara, e quase sorriu. Quantas vezes ela havia tentado fazer a mesma coisa na cama dele e não tinha conseguido? — Nenhuma mulher jamais fez isso antes, fez? — Ela deslizou por cima dele, sentindo o poder de sua ereção contra o abdômen. Ela não estava pronta para tocá-lo lá. — Você está prestes a descobrir como é ser dominado pelos sentidos e ficar totalmente à mercê de outra pessoa. Seus olhos escuros eram ferozes. — Meu Deus, Kimberley. Solte-me agora! Com lentidão agonizante, ela passou os dedos pelo peito dele, vendo-o estremecer. — Você não está em posição de dar ordens — disse ela. — Então você tem que relaxar. Talvez você descubra que gosta de estar por um tempo com outra pessoa no comando. — Kimberley, eu exijo que você me solte. 41


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — “Ordem”, “exijo”... Estas não são as palavras que eu quero ouvir. Quando eu fizer o que tiver que fazer com você, você irá gritar e implorar, Luc. Exatamente da mesma maneira como você me faz gritar e implorar. — E diferente... — Como é diferente? — disse, beijando seu peito bronzeado. — Porque você é um homem e sou uma mulher? Você me disse que acreditava em oportunidades iguais, Luc. Vamos descobrir se você estava dizendo a verdade. Pela primeira vez na sua relação, ela estava tendo a oportunidade de admirar o corpo dele, do mesmo jeito como ele insistia em admirar o dela. Ela não precisava ter pressa. Registrando a expressão espantada e confusa dele, com um sorriso sexy e satisfeito, ela deslizou suas mãos pelo corpo dele e tirou seu calção de banho com um movimento suave. Ele estava excitado e totalmente pronto para as explorações sensuais que ela planejava. Por um momento, ela apenas olhou para ele, que praguejou fluentemente em português. — Liberte-me agora! Isso não é engraçado... — Não é para ser engraçado. — A atmosfera do quarto vibrava com a tensão crescente. Ele era magnífico, ela pensou. Quente, excitado e mais homem do que ele tinha o direito ser. E o desejava intensamente. Mas ela esperaria. E, mais especificamente, ela também o faria esperar. Ela então deslizou seus dedos pelo corpo de Luc, até que suas mãos permaneceram em seu abdômen tenso, muito próximo de sua masculinidade. — Solte-me! — disse ele e puxou com força as algemas, mas elas permaneceram firmes, e Kimberley levantou a cabeça e sorriu. — De jeito nenhum. — Sua mão escorregou para sua coxa. — Finalmente você está exatamente como quero e vai continuar assim até que eu decida parar. — Você não pode fazer isso... Mas eu já estou fazendo isso. É hora de você saber que nem sempre poderá estar no controle. Eu vou mostrar para você como é ser torturada pelo prazer sensual. Luc novamente tentou se livrar das algemas, mas elas se mantiveram firmes. O toque de Kimberley era lento e provocante. Kimberley queria muito que ela o tocasse, mas ela estava determinada a não fazê-lo. Ainda não. Ela não estava pronta. E nem ele. Ela começou a lambê-lo e mordiscá-lo em todos os lugares, exceto em sua latejante masculinidade. Depois, seus dedos roçaram sua masculinidade fugazmente, e ela deu um gemido gutural. Ele tentou se aproximar dela, mas Kimberley se afastou. Ele novamente tentou se libertar das algemas, sem sucesso. Ele murmurou alguma coisa em sua própria língua, e ela levantou a cabeça, dando-lhe um sorriso zombeteiro. — Se você espera que eu entenda o que você está dizendo, você vai ter que falar inglês. O que é você quer Luc? Por um momento, ele apenas olhou para ela, obviamente incapaz para formar as palavras, seus olhos vidrados e febris. — Eu quero que você me toque — murmurou ele com voz rouca. — Toque-me agora. Não havia dúvidas do quanto ele a desejava, e ela sentiu um lampejo de triunfo feminino. 42


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Ainda não. Eu não estou pronta, nem você está. Ele fechou os olhos, e gotas de suor apareceram em sua testa. — Kimberley, por favor... A sensação de poder se espalhou pelas veias dela. — Quando eu estiver pronta, eu o tocarei. Tudo o que você tem que fazer é ficar deitado. — Ela o beijou no canto da boca; ele tentou beijá-la, mas ela foi mais rápida e ficou fora de alcance, sorrindo. — Isso não é uma brincadeira, Kimberley! — Eu sei disso. Eu nunca brinco com sexo. Apenas relaxe, Luc. Desta vez, sou eu quem está no controle. Você não vai a lugar nenhum até que eu tenha terminado. Ela o viu endurecer ainda mais e deu uma risada baixa de satisfação. — Eu vou fazer você gritar e implorar, Luc — disse ela suavemente. — Eu vou deixálo tão desesperado que você não vai nem mesmo se lembrar de quem é ou o que está fazendo aqui. Ela deslizou a mão lentamente sobre seu corpo esticado, ficando apenas a alguns milímetros de sua virilha. Os olhos de Luc brilhavam perigosamente. — Eu vou fazer você sofrer por isso. — Quem está sofrendo aqui é você, Luc. Mas a verdade é que ela também estava sofrendo. Seu corpo doía e ardia de desejo. Ela devia ser a pessoa que estava seduzindo, mas ter aquele corpo masculino perfeito à sua disposição era uma tentação grande demais para resistir. Ela começou a lamber todo o seu corpo, exceto o único lugar que estava implorando para ser tocado. — Kimberley... — disse ele, com os olhos brilhando de desejo. — Ainda não. Você não implorou. — Meu Deus — amaldiçoou ele em voz baixa, fechando os olhos. Ele estava tão excitado que sentia a boca seca, em antecipação. Por que ela não havia pensado em fazer isso antes? Ela se perguntava. — Kimberley... — A voz de Luc tremia. — Estou implorando. E então ela o tocou. Com sua boca, ela o provou, os gemidos de prazer dele alimentando sua própria sensação de poder. Ela explorou todas as partes do corpo dele com os dedos e com a língua até que ela pudesse não suportar o desejo que crepitava em seu corpo. Só então ela levantou a cabeça e se posicionou em cima dele, olhando-o nos olhos, mal permitindo que sua masculinidade a locasse intimamente. Ele tentou preenchê-la, mas ela se manteve um pouco afastada dele e se inclinou para beijá-lo. — Eu ainda sou a pessoa no controle, Luc — sussurrou ela, mas sabia que aquilo não era verdade. Ela o desejava tão desesperadamente quanto ele a desejava. Mas, finalmente, ela o aceitou. Dentro de si, ela podia sentir o pulsar de sua ereção, de modo que ela se esqueceu de que eles deviam ser um homem e uma mulher, separados. Em vez disso, eles eram um só. E quando a inevitável explosão veio, foi tão intensa que, por um momento, ela ficou assustada com o que ela havia desencadeado. Era uma fera que não podia ser domada e que atacava aos dois. Com gritos suaves, gemidos, suspiros e soluços, a fera finalmente os abandonou. Lutando para respirar, Kimberley deslizou lateralmente, ficando ao lado dele. Ela se atreveu a levantar a cabeça. 43


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ele estava deitado com os olhos fechados, seus braços ainda presos acima da cabeça. De repente, já mais calma, depois de tal intimidade, ela se sentiu ridiculamente tímida e consciente. — Luc? Ele não respondeu, e ela então abriu as algemas. Instantaneamente os braços fortes dele a abraçaram. — Eu não posso acreditar que você fez isso... — Você está bravo comigo? — Bravo? — Ele gemeu e a beijou longamente. — Como eu poderia ficar bravo com você por ter me proporcionado o melhor sexo da minha vida? E, de qualquer maneira, eu não tenho nem energia para ficar bravo. Eu não tenho energia para mais nada. Ela sorriu, sentindo-se inteligente, bonita e totalmente mulher. — Foi bom, não foi? — Foi incrível — disse ele com a voz rouca, acariciando seu rosto corado. — Onde você conseguiu essas algemas? Ela ficou tensa. Essa era uma pergunta que ela não havia previsto, e não queria estragar o momento ao mencionar Rio. — Alguém que eu conheço me deu de brincadeira — murmurou ela vagamente, esperando que ele não fosse adiante com o diálogo. Felizmente, ele não foi. Ele a trouxe para mais perto, aconchegando-a contra ele. Ela sentiu um lampejo de surpresa. Luc tolerava receber carinho depois do sexo, mas ela nunca o tinha visto iniciar esse tipo de contato antes. Luc fazia sexo, e não carinho. Ele beijou o topo de sua cabeça. — Eu não posso acreditar que você acabou de fazer isso. Nem que eu a deixei fazer isso. — Você não tinha escolha — disse ela, rindo. — Pela primeira vez em sua vida, você não era a pessoa no controle. Eu era. Para sua surpresa, ele riu. — Você está certa, você é uma mulher diferente agora — disse ele. — Você nunca teria tido a coragem fazer isso há sete anos. — Você foi meu primeiro homem — ela o lembrou. — Eu não tinha feito nenhuma dessas coisas antes, e você era totalmente controlador. — Era necessário, pois você era muito inibida. — Eu era virgem. Ele deu um sorriso de satisfação. — Eu sei disso. E ser o único homem que havia dormido com você me deixou muito excitado. Agora vá dormir. — Ele a abraçou. — Você precisa descansar um pouco e recuperar sua energia. Depois de dizer isso, ele fechou os olhos e prontamente adormeceu seus braços amparando-a firmemente. Estava tão bom que Kimberley mal ousava se mover. Tudo aquilo parecia tão certo. O que era ridículo, ela disse a si mesma, porque não havia nada certo sobre uma relação baseada em nada mais do que sexo. Lentamente, a felicidade foi desaparecendo à medida que ela foi entendendo. Para ela, aquilo era muito mais do que sexo e sempre tinha sido. Ela não percebera que aquilo era mais do que uma paixão infantil. Quem não gostaria de estar ao lado de um homem tão sofisticado quanto Luc? Mas a verdade é que ela tinha amado Luc quase desde o primeiro momento em que ela pôs os olhos nele, e o tempo não havia diminuído 44


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan esse sentimento. O amor era a razão pela qual ela era tão vulnerável a Luc. O amor era a razão pela qual ela não havia procurado outro homem nos últimos sete anos. Não importava que ele fosse o homem errado para ela. Não importava nem mesmo que ele não a amasse. Ela ainda o amava. Ela fechou os olhos com força, recusando-se a permitir que esses pensamentos sombrios estragassem o momento. Logo aquilo tudo acabaria, pois as duas semanas estavam acabando. Luc ACORDOU algumas horas depois, com o sol se pondo e Kimberley já fora da cama. Ele sentiu um lampejo de algo que ele não reconheceu imediatamente. Decepção, ele reconheceu depois, rejeitando a oportunidade de examinar suas emoções mais detalhadamente. O sexo mais explosivo de sua vida o havia revigorado e o tomado mais do que pronto para apreciar a mulher que tinha sido parte dessa experiência. Ele saiu da cama, viu as algemas com um sorriso agradecido e procurou sua calça. Luc encontrou Kimberley na piscina, com uma expressão tensa e o telefone celular na mão. — Há algo de errado? Ele esperava encontrá-la relaxada e sorridente, recuperando sua energia ao sol, pronta para a próxima sessão de amor. Em vez disso, ela teve um sobressalto e lhe lançou um olhar de culpa, colocando o telefone na bolsa. — Não há nada de errado. — Com quem você estava falando? El a abaixou a cabeça, escondendo sua expressão. — Apenas com uma pessoa amiga. Uma pessoa amiga? Luc sentiu as garras afiadas do ciúme em sua carne. Essa “pessoa amiga” seria homem, por acaso? Ela estava falando com outro homem? Como seria a vida dela quando estava em casa? Será que ela saía com outras pessoas? Será que ela havia amarrado outro homem à cama e o tornado incapaz de pensar? Ele percebeu, com um pequeno grau de desconforto, que, embora ele tivesse passado semanas na cama com esta mulher, ele não sabia quase nada sobre ela, e de repente foi tomado por um desejo ardente de descobrir tudo. — Jantaremos no terraço esta noite — disse ele firmemente, enquanto ela olhava para ele, claramente assustada por ouvir esta notícia incomum. — E então conversaremos. Os instintos de Luc lhe diziam que havia algo de errado nesta situação. E ele pretendia deixar tudo certo. Sentiu uma súbita necessidade de vê-la sorrindo novamente. A razão pela qual ele de repente se sentia à vontade para fazer uma mulher feliz fora do quarto não havia ocorrido a ele, que agora se perguntava o porquê disso. Obviamente ela não tinha problemas com o sexo, então a questão não poderia ser essa. O problema deveria estar em outro lugar. Romance. Com um lampejo, ele identificou a razão para a tristeza dela. Talvez as duas últimas semanas tenham sido um pouco concentradas demais no quarto, ele admitiu. Não era verdade que as mulheres precisavam de coisas diferentes do que os homens? Por razões inexplicáveis, as mulheres sentiam necessidade de falar e, certamente, durante as duas últimas semanas, ele e Kimberley não haviam se dedicado muito a isso. Normalmente o reconhecimento desse fato o deixaria indiferente, mas por 45


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan alguma razão que ele não compreendia, de repente sentiu uma grande necessidade de dar a ela tudo o que ela quisesse. Ele queria fazer Kimberley feliz. E se conversar a deixasse feliz, então ele estaria disposto a fazer esse sacrifício. Convencido de que havia encontrado a solução para a tristeza de Kimberley, ele apontou para o quarto com um olhar de homem que sabia todas as respostas quando se tratava de mulheres. — Há roupas no guarda-roupa — informou a ela suavemente. — Escolha algo e encontre-me aqui depois. Ela olhou para ele fixamente, como se tivesse acabado de receber um comando incompreensível. — Qual é o sentido de me vestir se você vai me despir novamente? — perguntou ela. Ele deu um sorriso. — Porque hoje eu estou mais interessado em sua mente do que em seu corpo. Nós vamos conversar meu amorzinho, e eu vou descobrir tudo o que há para descobrir sobre você. Aquela boca macia, a mesma boca que o havia levado ao paraíso, deu um sorriso irônico. — E quanto a você, Luc? Você vai falar também? Ou eu vou ser a única a me expor? Talvez eu queira saber tudo o que se pode saber sobre você também. Luc franziu o cenho, mas se recuperou rapidamente. Se ela queria que ele falasse também, ele poderia fazer aquilo. E verdade que aquele não era seu passatempo favorito, mas ele lidava com jornalistas curiosos diariamente e estava acostumado a falar sobre muitos assuntos. Ele estava mais do que confiante de que poderia manter um diálogo durante todo um jantar com uma mulher atraente se o incentivo fosse bom o suficiente. — Estou ansioso para contar a você tudo o que você quiser saber — disse ele diplomaticamente. — Se troque e eu vou pedir aos funcionários para que sirvam o jantar à beira da piscina. Ela se afastou dele com a graça e os movimentos fluidos de uma bailarina. Os olhos de Luc automaticamente deslizaram pelas costas de Kimberley, e ele lutou brevemente contra um poderoso impulso de esquecer toda esta abordagem “romântica”. Lembrando-se da expressão desolada no rosto dela, ele se recordou de que um pequeno investimento poderia muitas vezes produzir resultados surpreendentes. Esse poderia muito bem ser o caso de Kimberley. Ele estava inteiramente confiante de que uma privação física por um curto período de tempo resultaria em benefícios na cama. Tudo o que ele precisava era investir mais, com lindas flores, bom vinho e boa comida. Então o sorriso voltaria ao rosto dela. Isso vai ser fácil, ele pensou enquanto andava em direção á cozinha para dar as coordenadas ao chef e aos funcionários. Lidar com mulheres não era diferente de qualquer outro tipo de negociação. Era apenas uma questão de identificar sua fraqueza, e, em seguida, partir para o ataque. Antes de a noite terminar, ela estaria sorrindo novamente. E ele poderia satisfazer o homem das cavernas dentro dele.

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Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan

CAPÍTULO SETE — Então, POR que você desistiu de ser modelo? Luc estava à frente dela, seu belo rosto iluminado por velas cintilantes. O cenário não poderia ser mais romântico. A piscina estava iluminada por centenas de pequenas luzes; a noite estava quente, e o ar estava preenchido pelo cheiro inebriante de flores exóticas. Era um ambiente adequado para a sedução, e ele já a havia seduzido. Muitas e muitas vezes. Então por que o arranjo de flores na mesa? Por que a toalha de mesa e as taças de cristal? E por que ele estava vestido tão elegantemente? Se não fosse Luc sentado ali, à frente dela, Kimberley teria pensado que aquele era um cenário romântico. Mas Luc não era nada romântico. Luc gostava de sexo selvagem. Luc gostava de controle e dominação. Ele certamente, definitivamente, não era romântico. Então por que ele estava fazendo isso agora? E por que o desejo súbito de se familiarizar com cada pensamento e sentimento dela? Desde que Kimberley havia surgido no terraço, ele havia estado muito solícito e, desde então, havia feito a ela intermináveis perguntas. Parecia uma entrevista de emprego, especialmente porque era impossível para ela relaxar por conta do medo de dar as respostas erradas e de revelar coisas que não queria. Kimberley se concentrou em sua comida, perguntando o que haveria despertado esse súbito desejo de Luc de conversar. Será que ele havia percebido que ela estava escondendo alguma coisa? Será que ele havia escutado sua conversa ao telefone? — Na verdade, o mundo da moda desistiu de mim — disse ela secamente — quando eu escolhi não fazer nenhuma das fotos na praia, porque eu estava em sua cama. Era um contrato lucrativo para a agência, e eu fui à culpada por eles o terem perdido. Tiraram-me de seus registros e fizeram com que eu não trabalhasse em mais nenhum lugar. Os olhos de Luc endureceram. — Vamos, me dê o nome da agência. Ela piscou. — Por quê? — perguntou, animada. — Você vai fechá-la? Ele não sorriu. — Talvez. — Não há necessidade. Fiquei contente em não ser mais modelo. Esse estilo de vida nunca serviu para mim. Você sabe que eu nunca estive confortável com as festas, com as drogas, nada disso. — Eu sei que você era incrivelmente ingênua e inocente quando a conheci — falou ele suavemente, inclinando-se para encher o copo dela. — Tão ingênua que estava andando na praia no Rio de Janeiro, à meia-noite, com um minivestido e com esse cabelo da cor do fogo. Eu não pude acreditar nos meus olhos. Você era como uma virgem pronta para ser sacrificada. Ela deu um sorriso irônico, reconhecendo o quão estúpida havia sido. — As outras meninas me convenceram a ir a uma festa, mas eu odiei tudo aquilo. Eu só queria voltar para o meu hotel, e não havia um táxi — disse ela, lembrando-se daquela noite com um pequeno estremecimento. Se Luc não tivesse aparecido... 47


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Fazia tempo que eu não precisava usar minhas habilidades contra uma faca — Luc disse, olhando-a nos olhos e deixando-a perturbada. — Você foi impressionante — admitiu ela, imaginando se o momento em que ele atacou uma gangue de seis bandidos, todos com facas, teria sido o momento em que ela havia se apaixonado por ele. Quando em sua vida, antes daquele momento, alguém a tinha defendido? Nunca, e a sensação de encontrar um homem disposto a arriscar sua vida para tirar uma mulher de uma situação de perigo havia sido inebriante. No mesmo segundo em que ele identificou o líder da gangue e se movimentou com tamanha velocidade e habilidade, Kimberley imaginou se seu salvador não seria mais perigoso que seus atacantes. Onde exatamente ele aprendera as táticas de luta de rua que ele havia usado para tirá-la do perigo naquela noite? Kimberley então se lembrou dos boatos que tinha ouvido sobre o passado dele. Nada específico. Apenas especulações. — Onde você aprendeu a lutar? — ela perguntou, antes que pudesse se conter. — Não entendo. — Ele franziu o cenho. — O que você quer dizer com “lutar”? Ela engoliu em seco. — Na noite em que você me salvou você deu conta de seis homens. Como você aprendeu a fazer isso? Onde você aprendeu? Ele pegou seu copo. — Eu sou um homem. Lutar é instintivo. — Eu não acredito nisso. Você era um contra seis e parecia saber todos os movimentos que eles fariam antecipadamente. Como se vocês tivessem todos sido treinados na mesma escola de luta. — A escola de luta que eu frequentei se chama vida — disse ele secamente. — Eu aprendi muito e aprendi cedo. — Por que se tomou necessário em sua vida aprender isso? Eu nunca tive que aprender a lutar. Se eu tivesse aprendido, talvez não tivesse me metido em problemas naquela noite — ela admitiu. — Eu não era muito esperta. Sendo honesta, não havia qualquer necessidade de ser esperta onde nasci e fui criada. Ele deu uma risada e bebeu de sua taça. — Você uma vez me disse que sua casa era uma vila arborizada na Inglaterra, onde todos se conheciam. Pessoas de classe média. Não me admira você não ter aprendido a se defender. Talvez ele a fascinasse por isso. Ele era um homem de contradições. Por um lado, ele tinha muita riqueza e sofisticação e frequentava os mais altos círculos sociais. Mas aquele verniz de sofisticação não escondia inteiramente o lado escuro, perigoso, quase primitivo que ela tinha visto nele desde o primeiro momento. Aquele era um dos motivos pelos quais as mulheres não resistiam a ele. — Presumo que sua educação não tenha sido de classe média ela se aventurou. — Você nasceu no Rio de Janeiro? — Sim. - Seu sorriso era ligeiramente zombeteiro. - Eu sou um verdadeiro carioca. — Então como você passou a ser um bilionário? - perguntou ela. Ele sorriu sedutor. — Motivação e trabalho duro. Se você quer muito alguma coisa, meu amorzinho, você pode conseguir isso. E só uma questão de planejar cuidadosamente e não deixar nada ficar em seu caminho. Aquela abordagem fria e cruel da vida, tão diferente da dela, a fez estremecer. — Mas você precisa considerar as outras pessoas, certo? — disse ela. Um sorriso levemente zombeteiro surgiu no rosto de Luc. 48


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Essa é uma abordagem tipicamente feminina. — O sorriso desapareceu. — Eu acredito que confiar nas pessoas é um passatempo para tolos. Você decide o que quer da vida e então luta por isso. Você constrói algo até que ninguém possa tirar isso de você. Havia tanta paixão em seus olhos escuros que Kimberley se viu sem fôlego. Por um breve momento, ela teve um vislumbre do Luc real, o homem sob aquele exterior frio, sem emoção. — Foi isso o que aconteceu? — Sua voz era suave. — Será que alguém tirou algo de você? Ele se recostou na cadeira. — Por que as mulheres sempre buscam o lado dramático das coisas? O caráter das pessoas é formado pelos acontecimentos em suas vidas. Eu não sou diferente. — Mas se fecha para as pessoas — disse ela apaixonadamente, e ele deu um sorriso frio. — Eu sou um homem, meu amorzinho, e, como a maioria dos homens, eu caço sozinho. E eu não permito que outro macho invada meu território. A pessoa amiga com quem você estava falando mais cedo... Era um homem? Aquela mudança repentina de assunto a pegou de surpresa, e ela respondeu sem pensar: — Sim. Ela viu Luc apertar com força sua taça. De repente, a atmosfera mudou de confortável para ameaçadora. — E vocês estão juntos há muito tempo? — Não é assim... — Evidentemente que não — disse ele se ele permite que a mulher dele passe duas semanas na cama de outro homem. Ou ele não sabe? — Ele é apenas um amigo... — Um bom amigo, imagino... — O melhor! — A lealdade a Jason a fez dizer a verdade. — Ele me apoiou em todos os momentos. — Tenho certeza de que ele fez mais do que dar apoio — disse Luc, irônico. — Nem todo mundo é como você, Luc! Algumas pessoas têm relacionamentos adequados. — Ela se levantou tão irritada e chateada que quase derrubou a cadeira. — Relacionamentos que não sejam apenas sexo e nada mais. Mas você é tão emocionalmente atrofiado que não poderia entender isso. — Meu Deus, o que é isso? — Ele se levantou também, com raiva. — Eu não sou emocionalmente atrofiado. Ela levantou as mãos, num gesto de desespero. — Então me diga algo sobre você! Qualquer coisa. — Por quê? Por que você acha que compartilhar o passado acrescenta algo ao relacionamento? Mudará algo entre nós se eu lhe disser que nasci na favela e fui tão pobre que ter comida era um luxo? Será que mudará as coisas entre nós se eu lhe disser que meu pai e minha mãe trabalharam como animais para sair e me tirar daquele lugar? Ajudará em alguma coisa saber que eles conseguiram fazer isso e logo depois perderam tudo, sendo forçados a voltar para o estilo de vida que eles tinham lutado tanto para deixar para trás? — Ele deu a volta na mesa e puxou-a contra si, olhando-a nos olhos. — Diga-me, meu amorzinho, agora que você sabe a verdade sobre minhas origens, agora que você sabe que eu tenho emoções, por acaso nosso relacionamento melhorou? De alguma forma, Kimberley conseguiu falar. — Esta foi a primeira vez que você me contou algo sobre você. 49


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Então aproveite o momento — aconselhou ele suavemente, passando as mãos pelo cabelo dela, em um gesto possessivo. — Porque conversar inutilmente sobre eventos passados não está entre meus passatempos preferidos. — Eu pensei que esta noite estava reservada para conversarmos e nos conhecermos melhor. — Você já sabe mais sobre mim do que qualquer outra pessoa no planeta — disse ele, puxando delicadamente o cabelo dela e beijando-a no pescoço. — Vamos deixar isso como está. Kimberley sentiu um frio na barriga. — Luc... — E hora de reverter à linguagem corporal — disse ele, deslizando sua mão pelas costas dela e levando-a até o quarto. Ela olhou para ele em um estado de excitação. Eles tinham feito progressos, pensou ela, enquanto ele tirava sua camisa e a jogava no chão, com pressa. Pequenos progressos talvez, mas, ainda assim, era algum progresso. Eles haviam se arrumado e jantado juntos. Eles haviam conversado, ou quase isso, E esse foi seu último pensamento coerente, enquanto ele a despia com precisão e levava sua boca de encontro à dela. Kimberley esperava que todas aquelas sensações habituais a inundassem, mas alguma coisa desta vez estava diferente. Ele estava diferente. Mais gentil. Mais carinhoso? A ideia surgiu em sua cabeça, e ela a deixou de lado bruscamente. Não! Ela não iria cometer o erro de acreditar que Luc estava interessado em outra coisa além de seu corpo. Ela já fizera isso antes. E se permitir sonhar sobre algo impossível já havia quebrado seu coração. Mas agora era diferente. Em vez de dominar ou ser dominado, eles compartilharam, e depois do clímax, ele a segurou firmemente contra ele, recusando-se a deixá-la partir. Aquilo era ridículo, porque ambos sabiam que ela partiria e ambos sabiam que ele não se importaria. As duas semanas estavam quase terminando. Mas ela estava com muito sono para entender qualquer coisa e finalmente parou de imaginar e se perguntar coisas, caindo no sono, na segurança dos braços de Luc. UM DIA antes de ela voltar para casa, Kimberley acordou tarde e encontrou a cama vazia. O coração dela sentiu uma pontada, mas em seguida ela percebeu que as portas para o terraço estavam abertas e ouviu alguém nadando na piscina. Ela ficou deitada, sorrindo. Obviamente, Luc havia decidido nadar cedo. Ou talvez não fosse tão cedo, pensou com tristeza, olhando o relógio. Agora seria um bom momento para ligar para casa pela última vez, antes de voltar. Ela se levantou, procurando o telefone. Jason atendeu, e eles conversaram um pouco. Em seguida, ela falou com Rio, com um sorriso suave no rosto, ouvindo sua voz animada. Ela mal podia esperar para reencontrá-lo. — Eu sinto sua falta, filho. — Você estará de volta logo, mamãe? — De repente, ele parecia muito pequeno. — Estou com saudades. — Estarei em casa amanhã. E sinto sua falta também — disse ela com lágrimas nos olhos. 50


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela ouviu um barulho atrás dela e se virou para ver, aterrorizada, Luc logo ali, de pé, com seu corpo brilhando com as gotas de água e sua expressão sombria. Ela disse um adeus apressado para Rio, desligou o celular e se virou para receber seu castigo. — Vejo que seu “amigo” está sentindo sua falta. — Seu tom era frio, e ele andou em direção a ela com raiva. — Da próxima vez, diga a seu “amigo” que ele está invadindo o meu território. Ela não conseguia entender por que ele estava tão irritado. — Nossas duas semanas juntos acabam amanhã, Luc — disse ela. — E eu estou arrumando tudo para a minha volta. Ele parou e olhou para ela fixamente, sem expressão, como se ela houvesse dito algo que ele não soubesse. Algo passou por seu belo rosto. Surpresa? Arrependimento? — Foi apenas um telefonema... — Se ela não o conhecesse, diria que ele estava com ciúmes, mas como ele poderia ter ciúmes de um telefonema? — Isso é ridículo — disse ela, tentando manter a voz firme. — Foi você quem negociou os termos. Você concordou que fossem duas semanas, Luc, e essas duas semanas são até hoje. — Eu não concordei com duas semanas. Você está morrendo de vontade de voltar para casa para vê-lo, não é? — Por que você está agindo assim? Não faz sentido. Especialmente porque nós nem sequer temos um relacionamento. — Nós temos um relacionamento. O que você acha que foram essas duas últimas semanas? — Sexo — ela respondeu friamente. — As duas últimas semanas foram apenas sexo. A raiva desapareceu, e ele a olhou cautelosamente, como um homem que sabia que estava em um terreno difícil. — Não foi somente sexo. Ontem à noite nós conversamos. — Eu falei. Você apenas fez perguntas. Sua expressão endureceu. — Eu contei a você sobre o meu passado. — Você gritou e perdeu a calma — ela o lembrou calmamente — e então, relutantemente, deixou escapar uma pequena parte de sua infância! Presos sob tortura revelariam muito mais do que você! — Bem, eu não estou acostumado a falar sobre mim — disse ele defensivamente, andando e lhe lançando um olhar severo. — Mas se é isso o que você quer, nós podemos jantar no terraço novamente esta noite para conversar. Ela olhou para ele, atordoada. Por que ele estava se importando com aquilo? — Eu tenho que ir para casa, Luc — disse ela calmamente, e ele parou de andar, olhando para ela. — Por quê? — Porque eu tenho um filho — ela disse sem rodeios. — Uma criança que eu amo e da qual sinto falta, e da qual preciso estar perto. Evitei mencionar isso nestas duas semanas, mas o fato de não havermos mencionado não muda os fatos. Minha vida está cm Londres, e amanhã estou indo para casa. — Você tem um amante em Londres. Ele estava ignorando a questão de Rio mais uma vez. Ela se levantou totalmente confusa. — Por que você está agindo desta forma, ciumento e possessivo, quando nós dois sabíamos que isso duraria apenas duas semanas? — Eu não estou com ciúmes. Apenas não divido. Jamais. Eu já lhe disse isso antes. 51


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Kimberley fechou os olhos brevemente, percebendo que nunca entenderia os homens. — Meu voo parte amanhã à tarde — disse ela. — Cancele o voo — disse ele suavemente — Ou eu o cancelarei por você. Ela havia feito aquilo de novo, pensou impotente. Ela havia se entregado a ele de corpo e alma. E agora ela teria que encontrar uma maneira de se recuperar. Como ela pôde pensar que conseguiria se afastar dele e não sentir nada? Existiam clínicas para se livrar das drogas e bebidas, mas ela necessitava de uma clínica para se livrar de seu vício em Luciano Santoro. Ou então ela teria que viver o resto de seus dias desejando um homem que ela não poderia ter. CIUMENTO? Luc mergulhou de novo na piscina para expulsar o incômodo e os pensamentos e sentimentos desconhecidos que enchiam seu cérebro. Se ele fosse totalmente honesto, ele admitiria não saber exatamente o que estava acontecendo consigo no momento. Certamente ele nunca havia sentido aquela necessidade de manter uma mulher ao seu lado, como acontecia com Kimberley. Mas isso era realmente tão surpreendente? Ela era incrível na cama. Que homem normal e são quereria que ela fosse embora? Isso não tinha nada a ver com ciúme, e sim tudo a ver com sanidade, ele decidiu enquanto executava uma volta perfeita na piscina. O fato de que as duas semanas que eles estipularam não tinham sido suficientes para tirá-la da cabeça dele o perturbava ligeiramente, mas ele estava totalmente certo de que mais uma ou duas semanas seriam suficientes para convencê-lo dos benefícios de procurar outra mulher, talvez menos motivada a descobrir tudo sobre ele. Ele simplesmente descobriria uma maneira de persuadir Kimberley a prorrogar o prazo, ele decidiu confiante de que desta forma tudo estaria resolvido. Luc saiu da piscina. O fato de que ela parecia estar determinada a voltar para casa no dia seguinte não o incomodava nem um pouco. Ele simplesmente a convenceria a não ir. Para um homem de negócios de sucesso como ele, aquilo seria muito fácil. Ele ainda tinha mais uma noite. Ele ia começar provando a ela que poderia conversar tanto quanto qualquer homem, caso fosse necessário. E então ele a levaria para a cama. No fim da noite, ele estava inteiramente confiante de que ela mesma iria ligar para companhia aérea para cancelar seu voo. NA MANHÃ seguinte, Kimberley checou sua passagem e seu passaporte e os colocou cuidadosamente em sua bolsa. Uma pequena valise estava aberta sobre a cama. Ela pegara a valise no closet, e uma vez que estava claro que aquilo era para o uso dela e que as roupas tinham sido compradas especificamente para ela, Kimberley havia decidido que poderia levar as suas favoritas. Provavelmente nenhuma das outras namoradas de Luc vestia a mesma roupa duas vezes, ela pensou ironicamente enquanto tirava o vestido de seda do cabide e o colocava cuidadosamente na valise, tentando não pensar muito sobre o que significava partir. Na noite anterior, eles haviam jantado no terraço novamente, e, desta vez, Luc tinha feito o que só poderia ser descrito como um esforço heroico para falar de si mesmo. Na verdade, ele não tinha parado de falar, e, se ela não tivesse ficado tão emocionada, teria rido daquilo.

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Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Era uma luta óbvia para ele falar sobre qualquer coisa remotamente pessoal, mas ele se esforçou muito, partilhando com ela Iodos os detalhes de sua infância e da forma como seu escritório funcionava. A questão de por que motivo ele estava tentando tanto passou por sua mente, mas ela não prestou atenção nisso porque a resposta era óbvia. Ele queria que ela ficasse porque ele queria mais sexo, e, por alguma razão, ele tinha imaginado que a forma de fazê-la mudar com relação à sua decisão de voltar para Londres era conversar. Mas é claro que ela não havia mudado de ideia, mesmo após tudo o que tinha acontecido. Antes da última noite, ela pensava já ter experimentado o que de melhor havia no que dizia respeito ao sexo. Mas Luc fora incansável em sua determinação de levá-la ao auge do êxtase, provando mais uma vez que ele era um amante hábil e sofisticado. E ela não podia se imaginar vivendo sem ele. Ela estava desesperada para voltar para casa e ficar com seu filho, mas ela queria estar com Luc também. Naquele momento, ele saiu do banheiro, com o rosto barbeado, seu cabelo ainda úmido do chuveiro. Apesar de sua total falta de sono, ele parecia mais revigorado e sexy do que qualquer homem tinha o direito de ser. Seus olhos se deleitaram com ele, sabendo que esta seria provavelmente a última vez. Se ela não tivesse que pensar em seu filho, será que ela ficaria? Não, porque ela não queria ter seu coração partido pela segunda vez, ela disse a si mesma com firmeza enquanto colocava o biquíni na bagagem. Ele olhou para a bagagem e franziu a testa. — Por que você está arrumando as malas? — Porque eu estou indo para casa — ela o lembrou levemente confusa com a pergunta dele. Ele sabia que ela estava indo para casa naquela noite. — Eu presumo que o seu piloto me levará até o aeroporto. — Ele certamente não a levará — disse ele, enquanto tentava tirar a valise da mão de Kimberley. — Porque você não está indo para casa. Eu pensei que nós dois havíamos concordado com isso. — Mas nós não concordamos com isso. Luc se aproximou dela e deslizou uma mão possessiva em seu cabelo. Nós ficamos ou não a noite inteira fazendo amor? — Sim, mas... — E foi ou não a experiência mais alucinante de sua vida? Um calor subia mais e mais dentro dela. — Foi incrível — concordou ela, com a voz embargada. — Mas ainda assim preciso ir embora. O sorriso arrogante deu lugar a uma expressão de incompreensão. — Por quê? — Porque eu tenho que ir para casa. — Então está resolvido. Sua casa agora é aqui. Comigo. Ela olhou para ele com espanto, e uma centelha de esperança louca veio à tona dentro dela. — Você quer que eu more com você? — Ela estava tão atordoada que a sua voz falhou, e ele deu um sorriso cheio de autoconfiança. — Claro. O sexo entre nós é simplesmente incrível. Eu teria que estar louco para deixá-la partir. Assim sendo, você fica. Como minha amante. Até que nós decidamos que estamos satisfeitos um do outro. 53


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan A esperança se desfez em um milhão de pedacinhos, e ela olhou para ele, incrédula com sua total falta de sensibilidade. — Sua amante! Por acaso estamos vivendo na Idade Média? — Amante ou namorada... Escolha o nome que preferir. — Que tal “idiota”? Porque isso é o que eu seria se aceitasse um convite como esse, de um homem como você. Como ela podia ter se permitido pensar, por um só minuto, que ele se importasse com ela, mesmo que só um pouquinho? Luc não era capaz de se importar com ninguém. — Eu acho que você não entendeu — disse ele secamente. — Eu estou sugerindo que você more comigo em um caráter permanente, ao menos pelo futuro previsível... — Pelo futuro previsível não é permanente, Luc, e eu entendi perfeitamente. Sexo à vontade, até que eu enfastie você. Isso é muito conveniente para você e muito ruim para mim. Portanto, não, obrigada. Agora eu tenho mais respeito por mim para aceitar uma oferta dessas. Como ela pôde se apaixonar por aquele homem de novo? — Não, obrigada? — perguntou ele, incrédulo e atordoado. — Sabia que eu nunca tinha proposto isso a nenhuma mulher? Vou precisar começar a visitar o escritório ocasionalmente, mas, acredite em mim, meu amorzinho, passaremos muito tempo juntos. De agora em diante, eu ficarei extremamente motivado para terminar o meu dia de trabalho mais cedo. É evidente que ele havia pensado que aquilo seria o suficiente para que ela esvaziasse a mala. — Você é inacreditável, sabia? — Ela o fitou com uma mistura de espanto e exasperação. — Não é lisonjeiro saber que alguém quer você apenas para sexo! Ele franziu a testa. — Se você está fingindo que o sexo não é incrível entre nós, então você está se iludindo novamente, e eu pensei que nós já havíamos passado desse ponto. — Não há nada de errado com o sexo. O sexo é maravilhoso. O sexo é incrível. Mas há outras coisas tão importantes quanto o sexo. E com essas coisas tudo está errado. — O que você quer dizer com outras coisas? Que outras coisas? — Havia um toque de confusão verdadeira em seus belos traços, como se ele não pudesse imaginar que existiam coisas mais importantes do que o sexo. E para ele provavelmente não havia, ela admitiu impotente, fechando sua mala. Ela levantou o queixo, com o olhar desafiador. — Compartilhar uma vida, por exemplo. Atividades cotidianas. Mas você não entenderia isso porque você está na Idade da Pedra. Para você, o lugar de uma mulher é deitada, de preferência nua, não é verdade, Luc? Sabia que você nunca me levou para sair? Nunca. Qual o sentido de você me comprar um guarda-roupa cheio de roupas elegantes, quando eu não tenho razão para usá-las? — Porque eu gosto de tirá-las de você e porque eu não consigo vê-la nua sem desejá-la — admitiu ele, com franqueza. — Sexo, de novo! Você percebeu que mais uma vez não saímos da ilha? Ele franziu o cenho. — Não havia nenhuma razão para sair. Tudo o que precisamos está aqui. — Claro que está. — Sua voz tremeu. — Porque tudo o que se precisa, quando um relacionamento tem base em nada além de sexo, é de uma cama muito grande e talvez nem mesmo isso, se existir um confortável elevador à mão. — Você está ficando muito emocional... 54


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Sim, eu sou muito emocional. Eu sou uma mulher e gosto de ser emocional. Acredite ou não, eu gosto de ser capaz de sentir as coisas, porque sentimento é o que nos toma humanos. Você deveria experimentar ter sentimentos; acredito que vá achar libertador. Ele rangeu os dentes. — Eu não posso falar com você quando você está assim. — Você não pode falar comigo, não importa como eu esteja, Luc. — Ela tirou sua mala e a colocou no chão. — Você tenta falar comigo, mas isso é um esforço tão grande que eu me sinto exausta por você. E você sempre me trata como se eu fosse uma jornalista. Dizendo coisas que soam bem. Eu nunca chego perto do seu verdadeiro eu. — Você ficou nua debaixo do meu verdadeiro eu por duas semanas — lembrou ele. — Você queria mais proximidade do que isso? Ele simplesmente não entendia. E nunca entenderia. E quanto mais cedo ela desistisse de tentar fazê-lo entender, melhor seria para ambos. Eles eram tão diferentes que chegava a ser engraçado. — E essas duas semanas estão concluídas agora — lembrou ela categoricamente, pegando a mala e levando-a para a porta do quarto. — Você não sabe o significado da palavra compromisso. Há um voo saindo de Londres esta tarde. Eu ficaria muito grata se você pedisse a seu piloto que me levasse para o aeroporto para que eu possa pegá-lo. Estou indo para casa ver meu filho. O filho que você ainda não acredita que existe. Ele olhou para ela em um silêncio atordoado, tentando compreender o incompreensível. Então ele murmurou algo em seu próprio idioma e virou as costas, caminhando para fora da sala sem olhar para trás. Exausta, Kimberley ficou olhando para ele com o coração pesado. O que ela esperava? Que ele conversasse com ela? Que ele a fizesse ficar? Que ele fizesse um transplante de personalidade e eles vivessem felizes para sempre? Ela viu que estava perdendo a cabeça. Aquelas duas semanas terminaram, e Luc não mudaria jamais. Nem ela. A verdade é que a atração física entre eles era tão impressionantemente poderosa que a havia cegado para a verdade. Ela nunca compartilharia nada além de paixão com Luc, e isso não era suficiente para ela. Ela havia feito o que era necessário. Seu filho estava a salvo. Era hora de seguir com sua vida. Hora de ir para casa.

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CAPÍTULO OITO A HORA do almoço chegou e passou sem nenhum sinal de Luc, e Kimberley olhava para o relógio com ansiedade crescente, com medo de perder seu voo. No meio da tarde, ela já estava certa disso. Não havia nenhum sinal de helicóptero nem de Luc. Não havia nenhuma forma de sair da ilha a não ser nadando ou pegando uma carona em algum barco que passasse. Sentindo calor e cansaço e furiosa com Luc por ele estar descaradamente sabotando seus planos, ela estava a ponto de pegar o telefone e ver se conseguia arranjar um táxi-helicóptero para que a levasse ao aeroporto, quando finalmente ouviu o som característico de um helicóptero que se aproximava. Ela deu um suspiro de alívio. Não havia nenhuma maneira de ela chegar a tempo no aeroporto para pegar seu voo para Londres, mas ao menos ela estaria no aeroporto, pronta para pegar o primeiro voo disponível no dia seguinte. Querendo deixar a ilha o mais rapidamente possível, Kimberley pegou sua bolsa e caminhou apressadamente por meio dos jardins em direção ao heliporto, imaginando se Luc se importaria em dizer adeus a ela. O sol da tarde estava quase insuportavelmente quente, e ela trocou algumas palavras gentis com o piloto antes de subir no helicóptero, ansiosa para se proteger do calor. Momentos depois, Luc veio caminhando em sua direção, e ele parecia tão incrivelmente bonito que ela ficou sem ar. Ele agora usava um temo de grife que marcava a perfeição masculina de seu corpo. Havia mais em uma relação do que o físico lembrou-se firmemente, olhando na direção oposta, numa tentativa de quebrar o feitiço sensual que a presença dele lançava sobre ela. Ele trocou algumas palavras com um dos guarda-costas que estava ali e então se juntou a ela no helicóptero, sentando-se a seu lado. Certamente ele não iria com ela. Ela olhou para ele, surpresa, tentando não perceber a maneira como seu temo cinza impecável exibia a impressionante largura de seus ombros. — O que você está fazendo? — Explorando o significado da palavra compromisso — ele lhe informou suavemente, prendendo o cinto de segurança num gesto determinado. — Mostrando que eu posso ser tão flexível quanto qualquer pessoa quando há necessidade. Se você não vai ficar aqui, então eu vou com você. Ela ficou boquiaberta. Luc? Flexível? Ele era tão flexível como uma haste de aço. Mas, por outro lado, ele estava sentado ao lado dela, ela admitiu, sentindo-se um pouco atordoada. — Você vai mesmo comigo? — Excitação e emoção se misturavam ao pânico. Ele iria ver seu filho? Ele estava procurando a prova que ele havia exigido? Ou havia alguma outra razão? — Você tem negócios em Londres? — Eu tenho negócios em toda parte — ele informou a ela. — E Londres não é uma exceção, embora desta vez os negócios estejam misturados com assuntos pessoais. — Bem, eu odeio dizer isso, mas nós não vamos a nenhum lugar hoje, porque perdemos o voo — ela informou divertida. 56


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — O voo sai quando eu dou ordens para que ele saia. Não antes. Nós certamente não vamos perdê-lo. Ela olhou o relógio. — Ele parte em dez minutos, para ser precisa. E mesmo você não pode mandar em uma companhia aérea. — Mas não voaremos por uma companhia aérea comercial — ele informou a ela. — Meu jato particular já está reabastecido e esperando nossa chegada. Jato particular? — Você tem seu próprio avião? — Claro. Eu tenho escritórios em todo o mundo que exigem a minha presença frequentemente. De que outra forma você acha que eu viajaria? De tapete voador? Ela corou, sentindo-se ridiculamente ingênua. — Eu nunca havia pensado nisso — ela admitiu. De repente, Kimberley teve um pensamento: ele era um vício, e ninguém se cura de um vício apreciando a substância viciante. — Luc. — Ela limpou a garganta, desejando que ele não estivesse tão perto dela. — Nós concordamos com duas semanas, e essas duas semanas acabaram. — E as próximas duas semanas estão apenas começando — disse ele, deixando-a exasperada. — Você sabe o significado da palavra “não”? Ele deu de ombros. — Eu não sou muito bom com “não” ou “talvez” — ele admitiu, mas eu estou trabalhando em “compromisso” e “conversa”. Ela não sabia se ria ou se batia nele. E não importava que seu lado racional dissesse que estar com Luc em Londres complicaria muito sua vida, pois outra parte dela estava muito animada por saber que ele havia mudado seus planos para ficar com ela. Ele estava indo a Londres para ficar com ela. No helicóptero, Kimberley ficou quase o tempo inteiro como dentro de uma nuvem de sonho, mas tentando se lembrar de que aquele era Luc, e ele nunca mudaria. No aeroporto, eles foram transferidos para o jato particular, e Kimberley achou difícil parecer fria e indiferente enquanto ela era recebida na aeronave como se fosse alguém da realeza. Kimberley, ao entrar, ficou espantada com o luxo. — É maior do que uma casa comum. E mais confortável. — Eu viajo então conforto é essencial. Há um banheiro, uma sala de reuniões, um pequeno cinema e um quarto muito grande. Ela corou. — Você é muito rico, não é? — Chocante indecente e extravagantemente rico — assegurou a ela, divertido. — Sente-se. Perdemos o almoço, e eu estou morrendo de fome, e há uma garrafa de champanhe esperando por nós. Ela se afundou no abraço de um sofá de couro creme e se perguntou como seria ter tanto dinheiro assim, sem nunca precisar se preocupar com essa questão. Funcionários do avião os atenderam discretamente e logo depois os deixaram sozinhos. — Eu não sabia que você tinha um escritório em Londres — disse ela, bebendo um pequeno gole de champanhe e saboreando um frango servido com uma salada deliciosa. — Eu tenho escritórios na maior parte das principais cidades do mundo — observou ele. — Eu não sabia que você tinha um interesse tão grande nos detalhes dos meus negócios. 57


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — É porque nunca conversamos — lembrou a ele. — Você deseja passar as noites discutindo números de vendas? Ela tomou um gole de champanhe e notou que agora estava percebendo o verdadeiro tamanho do império de Luc. — E o que você vai fazer enquanto estiver em Londres? — Se você tem que me perguntar isso, então eu obviamente não deixei claro o objetivo da minha visita. Ela não devia estar lisonjeada. Ela realmente não devia. Mas ela estava. — Você realmente está viajando para Londres para ficar comigo? — Você pensou que eu estava precisando de uma mudança de cenário, é isso? — perguntou ele, divertido. — Não. Mas eu simplesmente não posso acreditar que você mudou seus planos para estar comigo. A esperança explodiu dentro dela. Talvez ela o tivesse entendido errado. Será que ele cruzaria um oceano apenas por pura satisfação física? Ou havia algo mais na relação deles, afinal de contas? — O sexo entre nós é realmente incrível, meu amorzinho — respondeu ele —, e em qualquer relacionamento deve haver compromisso. Você me ensinou isso. A esperança dela desapareceu. — Então o que você está dizendo é que você está disposto a mudar de país para continuar a fazer sexo comigo, certo? — Se você está prestes a iniciar uma briga, então eu deveria avisá-la que há turbulência suficiente fora do avião, e não necessitamos de mais uma aqui dentro. Como você mesmo disse, eu nunca havia mudado meus planos por uma mulher. É um elogio. E verdade que ela não queria uma briga. Não adiantaria nada. Ele nunca mudaria. — Bem, nós não conseguiremos passar muito tempo juntos Eu tenho um negócio que precisa da minha atenção — disse ela sem rodeios. E um filho. Um filho que Luc ainda não acreditava existir. — Ao contrário de você, eu não tenho uma equipe grande disposta a trabalhar por mim em minha ausência. Ten do estado afastada por duas semanas e tenho muitas coisas para aprender. — Minha suíte de hotel vem completa: minha própria equipe e todas as instalações de escritório, que você pode usar à vontade — ele ofereceu suavemente, e ela se sentiu tensa. — Eu não preciso de espaço em escritório — disse ela rapidamente. — Eu estou afastada há duas semanas, Luc. Há pessoas que eu preciso ver. Havia um brilho sardônico nos olhos dele, enquanto a estudava. — Mas imagino que suas noites estarão disponíveis. Ela devia dizer que não. Ela devia dizer a ele que o relacionamento deles havia acabado. — Talvez. Posso encontrá-lo para jantar. Mas somente quando Rio já estivesse dormindo. O que haveria de errado nisso? Ela se perguntou. Ela já estava loucamente apaixonada por Luc. O que ela perderia ficando um pouco mais com ele? ELES DESEMBARCARAM no início da manhã, a tempo de ficar presos no tráfego normal dos dias úteis da cidade de Londres. Então Luc teve bastante tempo para considerar a possibilidade de ele ter sofrido uma mudança de personalidade. 58


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Nunca antes em sua vida ele tivera um impulso de mudar seus planos por uma mulher, quanto mais segui-la até o outro lado do mundo. E isso o deixava incomodado. Era difícil dizer quem estava mais chocado entre os dois. — Eu nem sequer perguntei onde você vive — disse ele. Kimberley olhou para ele, surpresa. — Eu comprei um pequeno apartamento com seu dinheiro — ela o lembrou calmamente. — Se você me deixar em seu escritório, eu irei para casa e mais tarde o encontrarei em seu hotel. Luc a olhou intensamente. Estaria ela planejando encontrar seu amante? — Sim, sem problemas — disse ele, percebendo o alívio dela com sua resposta e entendendo isso como uma confirmação de suas suspeitas. Ela já havia dito a ele que não existia nenhum homem em sua vida, mas as evidências pareciam sugerir outra coisa, pensou Luc, sombriamente. — Meu motorista vai levar você para casa — ele informou a ela suavemente, inclinando-se e beijando-a demoradamente na boca. — O jantar sairá às 20h. Depois do jantar, ele pretendia tirar todos os pensamentos dela sobre outros homens. Depois de dar instruções a seu motorista em sua língua nativa, Luc saiu do carro e pensou no grau de confusão que ele iria causar em um escritório despreparado para sua chegada iminente. Ladeado por membros de sua equipe de segurança, que estava no carro de trás, ele caminhou em direção ao edifício, tentando se lembrar de como exatamente ele pretendia justificar sua visita inesperada ao escritório em Londres para sua equipe espantada. KIMBERLEY PASSOU o dia organizando algumas questões urgentes dos negócios, conversando com Jason e observando o relógio, ansiosa, esperando pelo momento em que ela poderia buscar sou filho na escola. Quando a pequena figura de Rio finalmente apareceu nos portões da escola, ela ficou impressionada por sua semelhança espantosa com seu pai. Ele tinha o mesmo cabelo e olhos negros. Ela havia sentido tanta falta dele! Eles conversaram sem parar no caminho para casa, o pequeno apartamento que ela dividia com Jason, e a conversa continuou enquanto ela preparava o lanche. Kimberley tinha acabado de limpar o prato de Rio quando a campainha tocou. — Eu atendo. — Jason se levantou, sorrindo. — Vocês dois ainda têm muito que conversar. Ele atendeu a porta e voltou momentos depois, desta vez sem o sorriso. — Quem era? — E Kimberley logo se interrompeu ao ver a figura alta e poderosa ao lado dele. Seu coração sofreu um baque. — Luc. — Ela se levantou rapidamente, trêmula. O que ele estava fazendo ali? — Eu estava indo encontrá-lo às 20h. — Eu terminei mais cedo no escritório e decidi surpreendê-la. — Havia algo na voz dele que a alertou do perigo. — Mas você não sabia o meu endereço... Ele deu um sorriso frio. — Sim, você manteve essa informação em segredo. Eu queria saber por quê. — Seus olhos se dirigiram para Jason, e, em seguida, ele viu a criança. Sua expressão, que estava fria, ficou subitamente chocada. — Meu Deus, não pode ser... — Sua voz estava rouca, e ele empalideceu rapidamente. Ele parecia totalmente espantado. Kimberley de repente descobriu que não conseguia se mover. — Eu disse a você... 59


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Mas você sabia que eu não havia acreditado em você — disso ele, com um olhar de acusação. Ela o fitou impotente. — Acho que devemos sair para falar sobre isso... Por um longo momento, ele não respondeu. Parecia ter perdido sua capacidade de falar. Em seguida, finalmente ele conseguiu. — Por quê? — Ele não tirava os olhos da criança. — Se isso é realmente o que parece, então por que estou descobrindo isso agora? Depois de sete anos Kimberley prendeu a respiração, sentindo a raiva e a tensão emocional de Luc. Ela estava a ponto de pegar Rio nos braços, com medo de que ele sentisse as mesmas vibrações que ela, com medo de que ele ficasse mal. Mas, longe de estar mal, ele estava olhando para seu pai, fascinado. — Você parece comigo. Luc respirou bruscamente, e sua cabeça foi para trás, como se tivesse sido esbofeteado. — Sim. Kimberley fechou os olhos e se perguntou por que seu filho não podia ter nascido com cabelo vermelho. A semelhança entre pai e filho era tão marcante que não poderia haver absolutamente nenhuma dúvida sobre a paternidade do menino. Ela sentiu a tensão de Luc aumentar. Sentiu sua raiva, sua incerteza, sua agonia, e a culpa a atingiu violentamente. Pela primeira vez desde que ela o conhecera, todas as emoções de Luc estavam claras em seu rosto, e a visão de um homem tão reservado se mostrando tão explicitamente aumentou a culpa que ela já sentia. Ela prendeu a respiração, não sabendo como sair daquela situação, apenas rezando para que ele não dissesse nada que prejudicasse o filho deles. E ele não fez isso. Ao contrário, ele se agachou para que os olhos dele ficassem mesmo nível dos olhos do menino. — Eu sou Luc. Os olhos de seu filho se fixaram nos de seu pai pela primeira vez na vida. — Você parece zangado. Você está zangado? — Não estou zangado — Luc assegurou a ele, com a voz decididamente instável e um sorriso incerto. — Eu só não estava esperando encontrá-lo, só isso. — Eu sou Rio. Luc fechou os olhos brevemente. — Não é um nome muito comum. — Recebi meu nome em homenagem a uma cidade muito especial — confidenciou Rio, feliz, escorregando na cadeira e indo em direção à parede da cozinha, que estava coberta de pinturas dele, de fotos e de cartões postais. — E esta. — Ele puxou um cartãopostal e entregou a Luc, com um sorriso. — E desta cidade que recebi meu nome. Este é o Corcovado, com a estátua do Cristo Redentor — ele pronunciou perfeitamente. — Não é linda? Eu irei para lá algum dia. Mamãe me prometeu. Mas é muito longe, e nós ainda não temos o dinheiro. Estamos economizando. Houve um longo silêncio enquanto Luc olhava para o cartão-postal em sua mão, e, em seguida, ele levantou seu olhar para Kimberley, com a acusação em seus olhos escuros. Ela ficou totalmente imóvel, paralisada pela ira aterrorizante que ela sentia crescer nele. Esta não era uma raiva passageira, rápida. Era uma raiva letal. Sua coragem sumiu, e, sem saber por que, ela sentiu medo. 60


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Luc... — Não agora, e não na frente da criança — rosnou ele, antes de respirar profundamente e voltar sua atenção para Rio. Kimberley ficou maravilhada com a mudança ocorrida nele, o quanto ele conseguia suavizar sua atitude quando olhava para o filho. A raiva parecia sumir e ser substituída por um fascínio. — Esta é uma linda foto. Uma linda cidade. — Sua voz era suave, e ele alisou os cachos escuros de Rio, em um gesto surpreendentemente carinhoso. — Essas pinturas na parede... Foi você quem as fez? — Eu vou ser um artista — confidenciou Rio, pegando Luc pelas mãos e levando-o até a parede na qual as pinturas estavam. — Essa é a minha favorita. — Ele apontou para uma em particular, e Luc assentiu. — Eu posso ver o motivo. Ela é muito boa. — Sua expressão estava séria enquanto ele estudava cada pincelada infantil com enorme interesse. Kimberley sentiu o coração agoniado com a culpa. Ela havia tomado à decisão errada. Ela tirara dele o direito de conhecer seu filho. E negado ao filho o direito de conhecer seu pai. De repente, ela mal podia respirar. Mas o que ela poderia ter feito? Raciocinou. Ela havia tentado contar a ele. Ela tinha precisado do apoio dele no início. Mas ele deixara claro que o relacionamento deles tinha acabado. E ela vira em Luc um homem igual a seu pai. — Você pode ficar com esta se quiser — Rio ofereceu, generosamente, e houve um longo silêncio enquanto Luc continuava a observar a pintura. Então ele engoliu em seco e limpou a garganta. — Obrigado. — Ele olhou para seu filho, e a instabilidade de sua voz denunciou sua emoção. — Eu gostei desta. Ele tirou cuidadosamente a pintura da parede, como se ela fosse de valor inestimável. Então ele se agachou novamente e começou a conversar com seu filho. Ele perguntava coisas, ele escutava, ele respondia, e durante todo o tempo Kimberley observava fascinada pelo que estava vendo. Como ele podia ter tanto jeito com crianças? Ele não tinha absolutamente nenhuma experiência com crianças. Em vez de ficar perdido, ele estava totalmente confortável, conversando com um menino de seis anos sobre pintura, futebol e qualquer outro assunto que Rio escolhesse abordar. Finalmente, Luc olhou para seu relógio e teve que interromper a conversa, relutante. — Infelizmente eu tenho que ir agora. Rio franziu a testa. — Será que vou vê-lo novamente? — Oh, sim. — A voz de Luc ainda era suave, mas seus ombros mostravam toda a sua tensão. — Você definitivamente irá me ver novamente. Muito em breve. O coração de Kimberley bateu forte contra seu peito. — Luc... Finalmente ele olhou para ela, com o olhar severo. — Às 20h. — Seu tom estava muito frio. — Vou mandar meu motorista buscá-la. Então conversaremos. Eu acho que você vai ver que essa é uma habilidade que eu finalmente consegui adquirir.

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CAPÍTULO NOVE KIMBERLEY ESTAVA na porta da suíte Luc, recompondo-se. Será que ele ainda estava tão zangado como quando havia saído de sua casa? Ela respirou fundo e sentiu pavor. Não seria um encontro muito fácil. E ela não estava nada preparada. Durante os últimos sete a nos, ela havia se convencido de que, mesmo se ela tivesse conseguido ficar próxima o suficiente de Luc para contar a ele sobre a gravidez, ele teria rejeitado completamente a perspectiva de paternidade. Aquele era um homem que não conseguia manter um relacionamento por mais do que um mês. Certamente a palavra “gravidez” o teria deixado em pânico. Mas hoje, vendo-o interagir com seu filho, ela se perguntou a mesma coisa que vinha se perguntando durante os últimos sete anos. Será que ela fizera a coisa errada ao não persistir em suas tentativas de fazer contato com Luc e dizer-lhe a verdade? Certamente Luc não tinha parecido nada horrorizado ao saber que ele realmente tinha um filho. Chocado, sim. Zangado com ela, sim. Mas horrorizado? Não. Ele a tinha surpreendido. E agora ele esperava uma explicação. Ela entrou na enorme sala de estar da suíte, levada por um de seus seguranças, que logo a deixou sozinha com Luc. Ele estava de pé, de costas para a janela, olhando em sua direção. Esperando por ela. O silêncio se prolongou. Ela torceu as mãos, nervosa. — Luc... — Eu não quero falar sobre isso enquanto não resolvermos o problema do chantagista. Evidentemente alguém realmente está ameaçando meu filho. Eu quero aquela carta, e eu a quero agora. — Ele estendeu a mão, e ela a procurou em sua bolsa, entregando-a a ele. — Não há absolutamente nenhuma pista sobre quem a mandou, ele... — Não é sua função procurar pistas. — Luc falou em seu celular, e, momentos depois, um homem que Kimberley reconheceu como seu chefe de segurança entrou na sala. Ele talou brevemente com Luc, pegou a carta e saiu da sala, parando apenas para dar um sorriso reconfortante para Kimberley, que ficou olhando para ele, surpresa. — Será que ele não quer me perguntar alguma coisa? Luc deu um sorriso frio. — Eu não preciso ficar gerenciando as mínimas ações da minha equipe. Eu contrato pessoas com base na competência deles, de forma que o trabalho fica nas mãos deles. Ronaldo é o melhor que existe. Se ele achar que há necessidade de questioná-la, então, sem dúvidas, ele fará isso. Nesse meio-tempo, eu organizei uma segurança de 24 horas para Rio, tanto dentro como fora de casa. — Você acha que ele ainda está em perigo? — perguntou ela, aflita. — Ele é meu filho — disse Luc friamente — E só isso já é o suficiente para colocá-lo em perigo. Ele vai ficar sob uma segurança reforçada aqui até que eu possa levá-lo de volta ao Brasil. O quarto girou. 62


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Você não vai levar o meu filho para o Brasil! Eu sei que você está zangado, mas... — Nosso filho, Kimberley. Estamos falando de nosso filho, e a palavra “zangado” não descreve nem minimamente o que sinto neste momento — ele informou a ela em um tom perigosamente suave. — Eu estou esperando uma explicação e nem mesmo sei por que motivo, já que, francamente, não há explicação que justifique o fato de você não ter me informado que eu era pai, há sete anos. — Eu lhe disse há duas semanas... — Porque você precisava da minha ajuda! Se não fosse pela carta do chantagista, eu nunca teria descoberto, não é mesmo? Eu não posso acreditar que você teria mantido meu filho longe de mim para sempre! — Seus olhos brilhavam com esta condenação. O fato de ele não considerar sua própria conduta nesta situação a encheu de indignação. Ele simplesmente estava colocando toda a culpa nela, mas ela sabia que se ele tivesse concordado em vê-la quando ela o procurou, ela teria contado a ele, imediatamente. — Eu não tenho que justificar nada, Luc. — Sua voz balançou, mas ela continuou assim mesmo, determinada a não se deixar ficar intimidada. — Você me tratou de forma abominável. — E essa foi minha punição? Porque eu terminei o nosso relacionamento você decidiu que eu não merecia saber sobre meu filho? — Não. Mas você deveria assumir a responsabilidade por suas ações. Você estava ansioso para dormir comigo, mas consideravelmente menos ansioso para descobrir se eu estava grávida, não é, Luc? — Eu não ignorei essa possibilidade — rosnou ele, mas eu usei proteção. Não havia nenhuma razão para você engravidar. — Então é isso? Sua responsabilidade termina aí? Sinto muito informá-lo que você é não é infalível, e sinto dizer que a “proteção” não funcionou. Eu descobri que estava grávida no dia que saí de sua casa. — Você ainda estava no Rio de Janeiro quando descobriu estar grávida? Não custava nada você ter ido até mim para me dizer isso. Aquela condenação foi à gota d’água. — Você tem uma memória seletiva. E tão fácil para você dizer isso, mas naquela época você não me deixou nem mesmo chegar perto de você! — Seu corpo tremia de indignação. — Você não quis mais saber de mim, Luc. Lembra-se? Você começou a sair, apenas para provar que estava entediado comigo, e quando eu fiz o mesmo, você perdeu a calma. Nós não nos separamos em bons termos, absolutamente. O olhar dele estava frio. — Mas você tinha a responsabilidade de me dizer sobre a criança. — Como? — Ela quase engasgou com a palavra. — Como eu poderia lhe contar? Você sabe o quanto é impossível chegar perto de você sem que você dê permissão para isso? É mais fácil ver a realeza do que conseguir marcar uma reunião com você! Ele franziu a testa. — Você está sendo ridícula... — Não estou sendo ridícula, Luc. — Ela se forçou a se acalmar. — Você é totalmente inacessível ao público e você deveria saber disso, porque você decidiu assim. — Mas você não era o público. Nós tivemos um relacionamento. — Mas, uma vez que esse relacionamento acabou não tive mais acesso a você do que qualquer outra pessoa. — Obviamente você não tentou o bastante. A injustiça daquela afirmação a machucou. 63


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Duas vezes eu liguei para você, querendo vê-lo, e duas vezes você se recusou a me atender. Você pensou que eu tinha deixado o Brasil, e, de repente, duas semanas depois de nossa relação ter terminado, eu fiz uma última tentativa de dizer-lhe que eu estava grávida. Desta vez, eu apareci em seu escritório pedindo para vê-lo. Eu pensei que, se eu fosse pessoalmente até lá, seria mais difícil ser mandada embora. Mas sua resposta foi pedir a seu motorista que me levasse ao aeroporto, só para ter certeza de que desta vez eu realmente havia partido. Era isso o que você queria Luc, por isso fiz desta forma. Ele ficou desconfortável. — Eu achei que você queria falar sobre o nosso relacionamento. — Não. Eu queria dizer a você que eu estava grávida. Mas você não quis ouvir. Então fui para casa e fiz tudo sozinha. Você pensou que eu fosse uma mulher que estava atrás do seu dinheiro. Tremendo de raiva e pela injustiça sofrida, Kimberley tirou de sua bolsa um maço de papéis. — Aqui estão os recibos, Luc. Tudo o que eu gastei está discriminado aqui, até o último pacote de fraldas, e não há um único par de sapatos na lista. Apenas para registrar: eu odiei ter que usar o seu dinheiro e somente o fiz pelo Rio. Ela entregou a ele os papéis e teve a satisfação de vê-lo sem palavras. Ele olhou para os papéis por um momento, pálido. — Eu não sabia que você estava grávida. — Você não me deu a chance de dizer a você! Mas talvez tenha sido bom eu não ter conseguido lhe dizer a verdade. O que teria acontecido? Você nunca ficou com uma mulher por mais de um mês, Luc. Ele colocou os papéis no sofá mais próximo e se dirigiu para fora do quarto. Então se virou para encará-la, com os olhos brilhando, ferozes. — Eu não teria abandonado uma criança... — Mas a criança teria vindo com uma mãe — ela lhe lembrou, sem rodeios. — Complicado, não é? Será que você abandonaria sua vida de playboy para dar um lar a seu filho? — Eu não sei o que eu teria feito, mas descobrir desta forma é muito difícil... — Você está achando isso difícil? Tente descobrir que você está grávida aos 18 anos, desempregada e sozinha em uma cidade estrangeira. Eu estava totalmente sozinha e assustada, sem emprego e sem casa. Isso é difícil, Luc! — Você deve ter tido o apoio de sua família... — Bem, eu não exatamente atendi às expectativas dos meus pais. Ela tentou esconder a mágoa, porque a verdade era que ela ainda não conseguia acreditar que seus pais haviam se recusado a ajudá-la. Ela não podia imaginar qualquer situação em que ela se recusaria a ajudar seu filho. — Eles não aprovavam minha carreira de modelo, e menos ainda minha carreira como sua amante e o fato de que eu havia abandonado tudo para estar com você. Seus olhos se encontraram, e ela pôde ver que ele também estava se lembrando da loucura sensual daquele tempo em que eles passaram juntos. A desaprovação era evidente em Luc. — Eles deviam tê-la apoiado... — Talvez. Mas você nem sempre tem o que merece na vida, e as pessoas nem sempre se comportam da forma que deveriam. — Ela lhe lançou um olhar significativo. — O único apoio que eu tive foi de seus dois cartões de crédito, então não me fale sobre o que é difícil, Luc, porque eu sei muito bem o que é isso. E não fique me dizendo que eu fiz a coisa errada. Eu tentei lhe contar. Sim, eu falhei, mas uma parte da responsabilidade dessa falha é sua, por isso não me dê este olhar de “eu sou perfeito”. — Ela pegou sua 64


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan bolsa e caminhou em direção da porta, de repente sentindo uma desesperada necessidade de respirar ar fresco. O passado havia voltado, e ela precisava ir embora. — Você não vai sair daqui. — Vou sair, sim! — Ela se virou para olhar para ele, com o cabelo caído sobre os ombros e o olhar desafiador. — Esta conversa não está chegando a lugar nenhum, e eu estou cansada. — Então vamos continuar a conversa, mas sentados. — Ele apontou para o sofá. — Ainda temos muito a discutir. — Eu já estou cansada de suas acusações e estou indo para casa. Quando você estiver mais calmo, talvez possamos conversar. — Eu já encomendei o jantar. — Eu prefiro passar fome a jantar com você — disse ela, abrindo a porta. — E se você está com fome em um momento como esse, então você é mais insensível do que eu imaginava. Depois de uma noite sem dormir, revivendo cada momento da conversa, Kimberley estava bebendo um café forte na mesa da cozinha quando a campainha tocou. Era Luc, e a julgar por suas olheiras e a barba por fazer, sua noite também não havia sido boa. Mesmo assim ele ainda era lindo, pensou ela. — Posso entrar? — Para quê? Mais recriminações, Luc? Mais culpa? — perguntou ela. — Não há recriminações ou culpa. Mas você tem que admitir que precisamos conversar. — Eu não estou certa disso. Meu Deus, eu estou fazendo o meu melhor, mas você não quer nem mesmo tentar me entender! — Nós dois não importamos, Luc! Só Rio. E eu não quero vê-lo chateado. E eu não confio em seu temperamento. — Não há nada de errado com o meu temperamento! — Luc respirou profundamente, lutando para manter o controle. — Admito que ontem à noite eu estava com raiva, mas agora já passou, e eu nunca deixaria Rio chateado. Ele pareceu chateado ontem quando me encontrou? Parecia me diga? — Não. Mas ele não sabia quem você era. Mas isso não tem só a ver com seu temperamento, Luc, embora você definitivamente precise trabalhar essa questão. Você está prestes a mexer com a vida dele, e eu não o deixarei fazer isso. Luc rangeu os dentes. — Não tenho nenhuma intenção de mexer com a vida de ninguém. — Não? — O tom dela era frio. — E quanto à forma como você me tratou ontem à noite? — Eu posso ter sido um pouco injusto com você — admitiu ele, finalmente, e ela sentiu uma grande vontade de esbofeteá-lo. — Um pouco? Ele pareceu desconfortável. — Tudo bem, acho que fui bastante injusto, mas isso está no passado e agora precisamos falar sobre o futuro. — E isso? — Kimberley deu uma risada incrédula. — Essa é a sua ideia de um pedido de desculpas? Colocar tudo no passado e esquecer? Muito conveniente. Ele praguejou baixinho. — E verdade que me arrependo de muitas coisas que aconteceram, mas realmente precisamos nos concentrar no futuro. 65


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — E isso? Você tem que adicionar “desculpe” à lista de coisas que você precisa trabalhar, juntamente de “não”, “compromisso” e “conversa”. — Meu Deus, o que você espera que eu faça? Eu não posso mudar o que aconteceu, mas eu posso mudar o que está acontecendo agora. Nós precisamos conversar. — Nós dissemos tudo o que precisava ser dito na noite passada — disse Kimberley. — Nós dois estávamos em estado de choque ontem à noite e tivemos tempo para fazer algumas reflexões — murmurou ele. — Esse é um território novo para mim, e eu certamente não quero explorá-lo em público. Você vai me deixar entrar ou você quer dar material para as manchetes dos jornais de amanhã? Adiantaria recusar? Aquilo seria somente adiar o inevitável. Ela abriu a porta um pouco mais e ele entrou indo direto para a cozinha. — Este é um local agradável — Seus olhos repararam as portas de vidro, que se abriam para um pequeno jardim. — Aqui tem uma atmosfera agradável. Você escolheu bem. Considerando que seu apartamento inteiro cabia em apenas um quarto da Villa de Luc, ela entendeu as palavras dele como uma tentativa de ser conciliador. — Obrigada — disse Kimberley. Ele inclinou a cabeça e olhou os quatro cantos do recinto. — O valor dele deve ter aumentado consideravelmente desde que você comprou. Ela olhou para ele com incredulidade indisfarçável. — Você só pensa em dinheiro e investimentos? — Não, às vezes eu penso em sexo, e agora também tenho uma criança na qual pensar. Diga-me, Jason mora com você desde o início? Era com Jason que você estava falando ao telefone? — Sim. — Ela havia feito café. — Ele era o único amigo que eu tinha. — É bom saber que a preferência sexual de Jason não é por lindas modelos. — Por que você diz isso? — Porque me poupa de ter que dar um soco nele — disse Luc agradavelmente. — Você e eu não éramos mais um casal, Luc — ressaltou ela, colocando café para os dois e levando as xícaras para a mesa —, então seu ciúme é simplesmente ridículo. Eu poderia ter estado com quantos homens eu quisesse. A atmosfera na sala escureceu instantaneamente. — E você esteve? — Sua voz era ameaçadora. — Não, Luc, eu não estive. Eu tinha um bebê, estava lutando para construir um negócio e estava sempre exausta. A última coisa que eu precisava era do estresse de uma relação. E, francamente, minha experiência com você foi o suficiente para me colocar distante dos homens para sempre. — Não exatamente para sempre — disse ele suavemente, sorvendo seu café. — Eu me lembro de você estar bastante entusiasmada nas últimas duas semanas. Essa não é exatamente a reação de uma mulher que desistiu dos homens. Seus olhos encontraram os dele, e ela engoliu em seco. — E diferente. — Não é diferente. — Ele olhou para ela pensativo. — Talvez o que você esteja dizendo, meu amorzinho, é que você não conseguiu encontrar outro homem que a tenha feito se sentir da maneira como eu fiz. Talvez o que você esteja dizendo é que estar comigo a afastou dos outros homens porque nenhum deles chegou aos meus pés. E era verdade. — O seu ego é incrível... — Eu estou apenas dizendo a verdade. — Ele estava calmo, confiante e totalmente de volta ao controle. E como se ele nunca tivesse se arrependido nem pedido desculpas. 66


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — E tempo de sermos totalmente honestos um com o outro. Isso é essencial para que nosso casamento funcione. — Nosso casamento? — Ela quase engasgou com aquela palavra. — Que casamento? — E o processo natural das coisas. — Ele deu de ombros. — Nós temos um filho juntos. Faz sentido que compartilhemos outros aspectos de nossas vidas também. Ela se esforçou para conseguir falar. — Nós não temos nada juntos. Ele deu um sorriso de satisfação masculina. — Eu acho que as duas últimas semanas provaram que isso não é verdade. — Você está falando de sexo de novo, Luc! — Kimberley se levantou, resistindo à tentação de gritar. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. — Você não pode basear um casamento no que temos! O sorriso dele desapareceu. — Nós temos um filho — disse friamente —, e isso é mais do que suficiente para um casamento. — Você está louco — disse ela sem rodeios, e ele a olhou com total incredulidade. — E desse jeito que você responde a um pedido de casamento? — Possivelmente não, mas você não fez um pedido de casamento — disse ela amargamente, levantando-se novamente e andando por sua cozinha minúscula, em uma tentativa de liberar um pouco de sua raiva e frustração. — Você entra aqui para anunciar que vamos nos casar porque temos um filho! E se levantou também. — Eu nunca pedi uma mulher em casamento antes... — Então, acredite você precisa de mais prática. — Ela levantou uma sobrancelha. — Talvez na quarta ou quinta tentativa você consiga fazer direito. Ele estendeu a mão e a agarrou, forçando-a a olhar para ele. — Pare de andar e me escute. Quero dizer que você deveria estar lisonjeada. Sabe quantas mulheres gostariam de me ouvir dizer essas palavras? — Quais palavras exatamente? — Ela olhou para ele, frustrada. — “Nós temos um filho juntos. Faz sentido que compartilhemos outros aspectos de nossas vidas também.” Isso certamente não estava em nenhum dos contos de fadas que eu li quando criança. — Pare de fazer piada... — Por acaso estou rindo? — Ela tentou se livrar dele, mas ele a segurou com firmeza. — Acredite em mim, Luc, eu nunca estive tão longe de rir. Você me insultou de verdade. — Meu Deus, como eu a insultei? Eu estou lhe pedindo que case comigo. Ela inclinou a cabeça para um lado, significativamente impressionada. — E por que eu iria querer fazer isso? Porque é uma honra concedida a poucas? — Porque é a melhor coisa para o nosso filho — rosnou ele. — E porque isso é o que as mulheres sempre querem dos homens. E o pior é que isso era exatamente o que ela queria. Mas não desta forma. — Você acha? — disse ela com sarcasmo. — Bem, não esta mulher aqui, Luc. Eu não posso pensar em nada pior do que estar ligada para sempre a você. — Você não está pensando direito. — Eu estou pensando direito, sim. Casar com você seria um pesadelo. Eu nunca seria capaz de sair, porque você é terrivelmente possessivo, e nós não teríamos nenhum tipo de vida social, porque sua ideia de uma noite comigo é estarmos nus na cama. Você provavelmente não permitiria que eu me vestisse nunca! Ele estava pálido. 67


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Você está ficando muito emotiva. — Muito bem, eu sou emotiva! E as coisas que importam Luc, como o amor e o carinho? Eu cresci com um homem igual a você. Meu pai sentia a necessidade de ir para a cama com todas as mulheres que sorriam para ele! Minha casa era cheia de regras, e, creia-me, não há absolutamente nenhuma possibilidade de eu impor uma infância como esta a um filho meu. — Essa não é a maneira como eu me comportaria. E verdade que não existe amor entre nós, mas o casamento pode dar certo com base em outras coisas. — Como o quê? Sexo? — disse ela, irônica. — Para que um casamento funcione um casal precisa ao menos ser capaz de passar algum tempo na companhia do outro, de preferência vestido. Isso é o mínimo, Luc, especialmente quando há uma criança envolvida. Luc estudou-a cuidadosamente. — Então, se passarmos um tempo juntos, você vai me dizer sim? Esses são os seus termos? — Termos? — Você faz isso soar como outra de suas negociações. Ele deu de ombros. — E de certa forma é. Cada um de nós tem algo que o outro quer. — Você não tem nada que eu quero. Ele se recostou na cadeira. — Você quer que Rio cresça sem conhecer seu pai? Ela mordeu o lábio. — Não, mas... — Então, se pudermos achar uma maneira de convivermos amigavelmente, seria o que você quereria para ele? — Bem, sim, mas... — Me diga suas condições. Ela olhou para ele, em silêncio. Dizer minhas condições? Ele estava tão desesperado assim para colocar as mãos em Rio? — Não é tão simples assim. Eu... — E simples, sim. — Como de costume, ele estava sendo arrogante em sua autoconfiança. — Diga-me o que você quer, e eu darei a você. Amor. Ela queria que ele a amasse. Ele pensava que poderia dar qualquer coisa a ela, mas é claro que ele não podia. E ela estava querendo o impossível. — Então eu digo o que eu quero você diz sim e depois nos casamos. — É isso mesmo. — Ele deu um sorriso confiante, evidentemente aliviado por ela finalmente ter entendido. — E então você volta a ser como era. Ele franziu a testa. — Eu quero que esse casamento dê certo... — Mas você nunca foi propriamente muito bom com compromissos, certo, Luc? Qual foi sua relação mais longa até agora? Um mês? Dois meses? — Nunca houve uma criança envolvida antes... Eu farei o que for preciso para que dê certo. — Sério? — Ela olhou para ele com curiosidade. — Você vai fazer o que for preciso? — O que for preciso. O que ela tinha a perder? 68


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Tudo bem, vou lhe dizer minhas condições. Durante o próximo mês, em todos os nossos encontros, estaremos completamente vestidos. Você me levará para sair, e você levará Rio para sair também. Nós vamos nos comportar como uma família, Luc. E todas as noites, você me deixará em casa às 22b. Sem dormir juntos e sem sexo. E sem sexo com mais ninguém também. Se eu vir uma fotografia incriminadora de você na imprensa, nosso acordo está cancelado. — Sem sexo? — perguntou ele. — Sem sexo. Tenho certeza de que você será capaz de se conter pelo bem maior de provar que ser um bom pai para seu filho é o que realmente importa para você. E isso vai nos dar uma chance de descobrirmos se podemos ficar juntos sem ter sexo envolvido. Se pudermos — Ela deu de ombros —, então eu me caso com você. Ela sorriu placidamente, certa de que ele estava pronto para ficar em pé e ir embora, rejeitando as condições dela. Ele era um macho de sangue quente em seu auge. Ele nunca concordaria com os termos dela. E tudo bem, por ela. Ela não queria se casar Luc. Ele não a amava e nunca a amaria, e viver com ele sabendo que ele estaria ali só pelo filho deles seria um tormento. — Tudo bem. Ela estava tão ocupada sorrindo por dentro que pensou não ter escutado direito. — Como? — Eu disse tudo bem. — Ele se levantou e caminhou em direção a ela, com um brilho ligeiramente perigoso em seus olhos escuros e sexy. — Eu aceito seus termos. Ela olhou para ele com desconfiança. — Todos eles? — Todos eles. — Aceita? — Ela olhou para ele, confusa, e um leve sorriso surgiu em seu rosto. — Eu aceito. E logo estarei dizendo essas palavras em uma cerimônia de casamento, meu amorzinho. Kimberley estava boquiaberta. Será que nada abalava a confiança dele? Ele nunca conseguirá cumprir essas condições, pensou ela. Sem sexo e forçado a se comunicar diariamente com ela, logo ele desistiria da ideia do casamento, pensou amargurada, e então talvez sua vida pudesse voltar ao normal. — Ótimo — disse ela alegremente. — Estamos combinados. Luc SAIU da casa dela, pensando exatamente quando ele havia perdido sua sanidade. Ele concordou em ficar um mês sem sexo com uma mulher que só o fazia pensar em sexo. Que tipo de homem normal e saudável concordaria com termos como esses? E ela se casaria com ele, é claro, porque ele cumpriria todas as exigências dela. Será que seria tão difícil assim? Conversar era fácil, ele estava melhorando nesse quesito a cada dia. Viagens em família também seriam fáceis. Ficar sem sexo não seria tão fácil, ele admitiu com pesar. Mas talvez, se ela ficasse completamente vestida durante todo o tempo em que eles estivessem juntos e ele tomasse muitos banhos frios, talvez ele conseguisse cumprir aquilo também. Seria apenas por um mês, ele reforçou, enquanto cruzava a rua sem perceber os carros. E então ele poderia ser um bom pai para seu filho. Porque essa era a razão para o casamento deles. Que outras razões poderiam existir? 69


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan

CAPÍTULO DEZ UM MÊS depois, Kimberley estava sentada na sala arejada de seu apartamento, imaginando o que havia acontecido à sua vida. A sala estava repleta do cheiro de mais flores frescas ainda, que tinham chegado de manhã, enviadas por Luc, e em seu pescoço havia um lindo colar, que ele tinha dado a ela na noite anterior em mais um jantar romântico no pequeno jardim dela. Se ela achava que Luc não seria capaz de sustentar um relacionamento fora do quarto, ela havia se enganado completamente. Ela ficou olhando para o seu caderno de desenhos, à sua frente, aberto e intocado. Ela havia se prometido que hoje iria fazer alguns esboços de um colar para um cliente francês muito rico, mas até agora ela não tinha conseguido. Ela estava muito distraída. Ela não conseguia parar de pensar em Luc. Era irônico, pensou ela, que a primeira vez que ela e Luc haviam passado algum tempo juntos completamente vestidos lenha sido em uma visita ao jardim zoológico de Londres, com o filho deles. E o ridículo de tudo isso era que eles realmente pareciam uma família. Não importava quantas vezes ela lembrasse a si mesma que ele não a amava e que aquele mês incrível e romântico era apenas uma manobra dele para que se casassem e ele pudesse ter convívio diário com seu filho; ainda assim, ela não conseguia parar de sentir ridiculamente feliz. A ansiedade quase agonizante que ela sentia pela ameaça de sequestro finalmente havia desaparecido, em parte porque ela não tinha tido mais notícias do chantagista e, em parte, porque a equipe de segurança de Luc agora fazia parte de sua vida cotidiana. Mas a verdadeira razão para sua felicidade era que ela simplesmente amava estar com Luc. E hoje ela estava com saudades dele. Naquela manhã, ele tinha sido forçado a viajar para Paris para uma reunião de negócios urgente, e ela já estava olhando o relógio, aguardando o momento em que seu avião pousaria. Logo ela havia descoberto que, além de ser incrível na cama, Luc também era incrivelmente divertido quando queria ser, e ela estava gostando desse lado totalmente diferente dele. A partir do momento em que ele revelou suas intenções de se casar com ela, todo seu foco tinha se voltado para ela e Rio. Ele havia contatado advogados, mudado seu testamento, assinado inúmeros documentos. E passava horas e horas com seu filho, o esperava na saída da escola para buscá-lo e, em seguida, o levava em passeios e conversava com ele. Com a espontaneidade da juventude, Rio sempre lhe fazia perguntas, e Luc tinha começado a relaxar e responder, gradualmente se tomando mais aberto sobre si e seu passado. E essa vontade de revelar detalhes íntimos a seu respeito havia se estendido até as noites, quando Rio já dormia, em segurança. Londres estava passando por uma onda de calor, e Luc e Kimberley tinham criado o hábito de comer no pequeno jardim, no qual tinham conversas muito íntimas. Só nos últimos dias ela soubera que seus pais haviam morrido quando Luc tinha 13 anos de idade e que ele havia sido acolhido por Maria, à mulher que agora era sua assistente pessoal. Em troca, ele tinha dado a ela um emprego, no qual ela estava há mais de vinte anos. 70


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Talvez Luc fosse capaz de se comprometer, Kimberley pensou enquanto pegava o lápis e tentava passar para o papel a ideia que tinha em sua cabeça. Afinal de contas, ele estava obviamente comprometido com Maria. E ele parecia estar também muito comprometido com seu filho. Comprometido o suficiente para fazer um esforço para se relacionar bem com ela. Ela era muito realista para fingir que todo esse esforço da parte dele não era conduzido por outra coisa senão um desejo de ler acesso irrestrito a seu filho. Com o consentimento dela, ele revelou sua identidade para Rio imediatamente, e se ela tivesse tido alguma dúvida sobre o sentido de se casar com um homem que claramente não a amava, então essa dúvida tinha se dissolvido quando ela viu o entusiasmo no rosto de seu filho assim que ele finalmente soube que esse homem vibrante, enérgico e exótico era seu pai. Como ela poderia privar seu filho da chance de crescer em uma família normal? Especialmente uma vez que Luc estava claramente determinado a ser o melhor pai possível. E ele havia cumprido cada uma de suas condições facilmente. Será que ela era a única frustrada sexualmente ali? Ela se perguntou, triste. Evidentemente a resposta era sim. Luc não havia feito nenhuma tentativa durante o mês passado. Ele a beijava no rosto quando eles se encontravam e quando se separavam. Esse era o limite do contato físico deles. Muito formal. Muito contido. A necessidade desesperada de tocá-lo e ser tocada por ele estava deixando-a louca. E eles estavam se entendendo bem, ela reconheceu, enquanto desenhava, criando uma joia linda. Ela gostava de estar com ele. Tudo bem, então o relacionamento deles não era perfeito, mas qual relacionamento era? Ela havia aprendido aos 18 anos que os finais felizes não aconteciam na vida real. Ao menos ela estava com Luc, e Rio tinha um pai. O fato de que Luc não a amava quase tinha deixado de importar. Kimberley olhou para o relógio novamente. Ela tinha combinado de pegar Rio na escola meia hora mais cedo do que o normal, para que eles pudessem encontrar Luc no aeroporto. Não era isso o que as famílias faziam? O telefone tocou, e, esperando a ligação de Luc, ela atendeu. Mas não era Luc, e seu rosto empalideceu ao reconhecer aquela voz. — Então, desta vez você realmente tirou a sorte grande. Os papéis deslizaram de seus dedos, e seus joelhos tremeram, fazendo-a sentar para que não caísse. A ansiedade e o pânico a invadiram. — O que você quer? — Se você tem que perguntar isso, então você é muito mais idiota do que parece. — N-nós já lhe pagamos. Uma fortuna. Você prometeu que... — Bem, vamos dizer que as circunstâncias mudaram. Você é uma mulher rica. Desta vez, eu quero 10 milhões. Ela fechou os olhos por alguns instantes. — Isso é ridículo. — Você conquistou um bilionário. —Não é meu dinheiro. Eu não posso... — Má decisão. — A voz era áspera. — Adeus. — Espere! — Ela se levantou em pânico. — Não desligue! — Você vai ser razoável? 71


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Que outra escolha ela possuía? Seus olhos se encheram de lágrimas. — Sim... E-eu farei qualquer coisa... — Agora você está sendo sensata. E, porque eu estou de bom humor, vou lhe dar 24 horas para conseguir o dinheiro. E então farei contato com você novamente. E se você informar à polícia ou a Luc Santoro, então o acordo está desfeito. 24 horas? Como ela conseguiria aquele dinheiro em 24 horas? Não havia tempo suficiente. Ela não poderia... — Eu não vou contar a Luc, prometo que não vou contar a Luc, mas... — Ela se interrompeu quando percebeu que ele já havia desligado. — Então, exatamente o quê você não vai me contar? Uma voz gélida veio da porta, e o telefone caiu de seus dedos. Ela olhou para Luc, horrorizada, imaginando o quanto ele tinha ouvido. — Você chegou cedo... — E evidente que tentar voltar mais cedo para passar mais tempo com minha família não foi uma boa ideia — disse ele categoricamente, entrando na sala e fechando a porta. — Eu passei o último mês tentando ser o homem que você queria que eu fosse. Você me acusa de não ser capaz de me comunicar, mas sempre é você a pessoa com segredos nesta relação. Ela mal podia respirar, mas seu pânico era todo por causa de Rio. — Eu não tenho segredos... — Ela não podia lidar com isso agora. Ela só precisava ficar sozinha para pensar e planejar. Luc ficou na frente dela, tenso. — Então o que é que você prometeu não me contar, e quem estava fazendo com que você prometesse isso? Ela queria se defender, mas como poderia fazê-lo se o chantagista havia insistido para que ela não dissesse nada a Luc? E se ela contasse a Luc e alguma coisa acontecesse a Rio? Ela tentou relaxar, lembrando que a equipe de segurança de Luc vigia Rio, mas não adiantou muito. — Eu não posso falar sobre isso agora. — Ela precisava falar com Jason. Ela precisava ir à escola. Ela precisava pegar seu filho. Com urgência. Em uma agitação completa, ela caiu de joelhos para recolher os papéis que estavam espalhados, mas suas mãos tremiam tanto que ela imediatamente os deixou cair de novo. Lágrimas caíam de seus olhos. — Podemos voltar para o Brasil esta noite? — ela deixou escapar impulsivamente. — Nós três? Por favor. Luc levantou atordoado. — O período escolar ainda não terminou. Você disse que queria esperar até as férias de verão. Era uma de suas condições. Lembra-se? — Eu s-sei o que disse — gaguejou ela. — Eu mudei de ideia. Quero ir agora. O mais rápido possível. Se ela tirasse Rio da escola, então eles poderiam ir para a ilha e ele estaria seguro lá, ela raciocinou desesperadamente. Ele estaria cercado pela água e pela equipe de segurança de Luc. Em um lugar como aquele, eles seriam capazes de protegê-lo, mantê-lo seguro. Luc estudou-a com uma visível falta de compreensão. — De repente você quer voltar para o Brasil. Por quê? Pare de evitar o meu olhar e fique parada para que conversemos. — Eu não posso. Agora não. — Nem nunca. — E de qualquer maneira, não há nada a dizer. — Sua voz era quase inaudível. 72


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Então ele a soltou tão de repente que ela quase caiu. — Ótimo. — Seu tom era frio. — Eu estava louco ao pensar que tínhamos um relacionamento. Faça o que tiver que fazer e que eu não posso saber o que é. Eu estou indo para o escritório. Eu voltarei mais tarde para pegar Rio e levá-lo para lanchar. E meu advogado entrará em contato com você para discutir o futuro. Finalmente eu concordo com você. Eu não posso me casar com uma mulher cujo comportamento eu não consigo entender. Ela quis se lançar para a segurança dos braços dele. Queria contar-lhe tudo. Mas ela não se atreveu. Então ela ficou lá, vendo-o partir através de uma cortina de lágrimas. Vendo-o partir como um homem cuja intenção era nunca mais voltar. Kimberley só queria chorar e soluçar até que seu coração estivesse vazio de emoções, mas ela sabia que não podia dar-se ao luxo. Ela tinha que pegar seu filho. Antes que outra pessoa o fizesse. Quando se dirigia à porta, o telefone tocou novamente. Desta vez era a escola, dizendo que Rio havia desaparecido. Luc CAMINHOU em direção ao seu carro, lutando para conter a raiva e o ciúme. A culpa no rosto de Kimberley ao vê-lo havia despertado sentimentos dentro dele que ele nunca havia experimentado antes. Por um momento, ele quis simplesmente colocá-la em seus ombros e tratá-la como uma propriedade exclusiva, sem contato com o mundo exterior. Sem contato com outros homens. Porque ele estava completa e totalmente certo de que era um homem o motivo de ela ser tão misteriosa. Seria por isso que ela havia feito àquela proibição ridícula de sexo? Porque ela estava passando as noites com outro homem? Ele estava se sentindo inseguro como nunca antes. Ele havia deixado Paris antes do previsto, oprimido por uma necessidade inexplicável de estar com Kimberley, só para encontrá-la com o rosto pálido e claramente horrorizada ao vê-lo. Seus sonhos de um encontro romântico tinham se dissolvido naquele momento. O diamante raro que ele havia escolhido com tanto cuidado para ela e com o qual ele presentearia sua futura esposa havia permanecido em seu bolso, um lembrete cruel de como a vida com Kimberley nunca seria da forma que ele esperava. Na verdade, nada havia sido da maneira como ele tinha planejado. Ao longo do mês passado, ele havia ficado convencido de que ela realmente estava gostando da companhia dele. Como ele pretendia que ela reagisse à sua chegada antecipada? Ele queria que ela se atirasse em seus braços e declarasse seu amor? Que ela mostrasse toda sua devoção por ele, como aos 18 anos? Dificilmente. Como ela sempre o lembrava, ela não era mais aquela pessoa. Em vez de calor e afeto, ela não demonstrava nada além de reservas a ele, e, em sua linguagem corporal, nada havia que sugerisse que ela sentia falta da parte física do relacionamento deles. Estaria ela dando sua afeição a outro? De repente, Luc se lembrou de que, ao entrar na sala, os papéis já estavam no chão e ela já estava pálida. Sua chegada inesperada não havia feito aquilo com ela. A única coisa que ela deixou cair ao vê-lo foi o telefone. Ele franziu a testa enquanto passava a exata sequencia dos acontecimentos em sua mente. 73


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Por que ela quereria interromper o período escolar de Rio e voltar para o Brasil? Parecia uma mulher desesperada. Por que ela quereria voltar para o Brasil se tinha outro homem em sua vida? Alguma coisa não estava certa. Naquele momento, seu celular tocou e ele atendeu a chamada imediatamente, todos os seus sentidos ficando em alerta ao ver o número de Kimberley na tela. Ela sussurrou quatro palavras. — Eu preciso de você. ONDE ESTAVA Luc e quando ele chegaria? Kimberley estava encolhida no chão, tremendo tanto que não podia falar. Seu pior pesadelo havia se tomado realidade. — Acalme-se e me diga novamente o que a escola disse — Jason segurava uma taça de conhaque em seus lábios, mas ela o afastou, seus olhos cheios de medo. Por um momento, ela pensou que poderia ser engolida pelo pânico, e então ouviu os passos determinados de Luc no assoalho de madeira e quase chorou de alívio. Ele entrou na sala, percebendo Jason segurando a taça e o rosto dela molhado de lágrimas. Em dois passos ele estava ao lado dela. — Do começo — ele ordenou em tom áspero, sentando-se na cadeira mais próxima e colocando-a no colo. — E desta vez você não vai omitir nada. Por um breve momento, Kimberley descansou uma das mãos contra o peito dele, sentindo-se reconfortada. E então ela se lembrou de que não tinha tempo para conforto. — Eu tenho que ir... — Você não vai a lugar nenhum. — Você não entende... — Quase chorando de medo, ela tentou se libertar. — Ele foi levado. — Quem foi levado? — Rio. Ele me deu 24h para conseguir o dinheiro, mas a escola acabou de telefonar dizendo que ele desapareceu. — Isso não está fazendo absolutamente nenhum sentido. O chantagista fez contato novamente? E isso o que você está me dizendo? Kimberley se virou para Jason, procurando apoio, sem saber o que fazer ou dizer. — Você quer a minha opinião? Você precisa contar tudo a ele. Ele pode ajudar. Nós dois sabemos que Luc é um filho da mãe desagradável quando está irritado — disse Jason. — Obrigado. — Luc lançou um olhar irônico para o outro homem, que deu de ombros, em desculpas. — Isso é um elogio. E disso que precisamos no momento. — Eles me fizeram prometer não contar a você. E se eles descobrem? — Kimberley estava tremendo de medo, mas Luc estava totalmente calmo, seu belo rosto uma máscara gelada quando pegou seu telefone. Sem dar qualquer explicação, ele fez três ligações rapidamente, dando instruções em sua língua nativa. — Você devia ter me contado. Você não sabe nada sobre mim? Você acha que eu permitiria que alguém levasse nosso filho? — Eu acho que não... De repente, surgiu uma luz na escuridão. Ela tinha esquecido o quanto Luc era forte. Diferente dela, ele não mostrava nenhum sinal de pânico. Ele estava frio, racional e totalmente no controle. Jason disse: — Como uma criança de seis anos pode desaparecer de uma escola? 74


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Apesar do calor e da segurança dos braços de Luc, Kimberley não conseguia parar de tremer. — Porque alguém o levou. — Acalme-se, meu amorzinho — pediu Luc. — Ninguém o levou. Não é possível. Minha equipe não saiu de perto dele desde que eu descobri sua existência. Seu telefone tocou de repente, e ele respondeu imediatamente, sua expressão sem revelar nada enquanto ele ouvia e respondia. Ele terminou a ligação. — Como eu pensava tudo está bem. Rio está seguro. Um dos meus seguranças o apanhou há dois minutos, só por precaução. Você pode relaxar minha doçura. — Eles o encontraram? — A voz de Kimberley era um sussurro, e Luc acariciou seu cabelo. — Ele havia atravessado a rua para ir à loja de doces — disse ele rispidamente —, aparentemente para me comprar um presente e levar ao aeroporto. Ele contou ao meu motorista sobre seus planos para me surpreender. Kimberley corou. — Nós estávamos indo encontrá-lo, mas você chegou cedo... — Um erro que eu vou me lembrar de não repetir. Minha equipe está levando Rio direto para o meu hotel. Ele estará seguro lá. Vou levá-la até ele, mas primeiro você precisa lavar seu rosto e sorrir. Nós não queremos que ele saiba que algo está errado. — Mas e o chantagista? Ele me deu 24 horas... — Esse não é um problema seu — informou Luc a ela. — Ele errou quando ligou para você. Agora temos sua identidade e paradeiro. Vamos cuidar dele agora. Pela primeira vez, ela estava mais do que disposta a deixá-lo tomar o controle da situação. Algo na expressão de Luc fez Kimberley sentir quase pena do chantagista... Ela lavou seu rosto no banheiro, e, ao sair, dois seguranças a esperavam. Luc já tinha ido.

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Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan

CAPÍTULO ONZE KIMBERLEY PASSOU O resto da tarde e da noite brincando com Rio na segurança da suíte do hotel. Apesar da presença reconfortante da equipe de segurança de Luc, ela não permitiu que ele saísse de sua vista. E quando as horas foram passando e Luc não chegava, ela de repente descobriu que sua ansiedade não tinha a ver somente com a segurança de seu filho. E se alguma coisa tivesse acontecido a Luc? Finalmente, muito depois de Rio ter ido dormir, Luc entrou na suíte, e ela despencou no sofá mais próximo, aliviada. — Graças a Deus, eu estava tão preocupada, e ninguém me dizia onde você estava. — Por que você está preocupada? — Sua camisa estava desfeita, e ele andou em direção a ela, tão frio e indiferente como sempre. — Rio está seguro ao seu lado. — Eu sei, mas eu pensei que algo poderia ter acontecido a você — ela confessou, e depois quase mordeu sua língua quando percebeu o que havia revelado. Ele não queria o amor ou o afeto dela. Ele só queria o seu filho. E, de repente, ela sabia que não poderia se casar com ele, mesmo querendo muito. Não seria justo com Luc. Eventualmente, ele encontraria alguém a quem amaria, e ela não queria impedir sua felicidade. Ele parou na frente. — Eu acho que é hora de aprender a confiar em mim, meu amorzinho — pediu ele, segurando-a pelo queixo e forçando-a a olhar para ele. — Você me acusa de ser controlador, mas há momentos em que é bom permitir que outros cuidem da situação. Este foi um desses casos. Você já provou mais de uma vez, que é capaz de cuidar de sua própria vida, mas eu acho que, quando se trata de lidar com chantagistas, você pode muito bem passar o trabalho a outros. Você precisa aprender a delegar. — Você o encontrou? Ele deu um sorriso nada agradável. — Claro. O problema está resolvido. — Obrigada — Ela respirou quase fraca de alívio. De repente, ela descobriu que ela nem queria saber o que havia acontecido. Ela estava contente que tudo estava acabado. — Muito obrigada. — Antes que você me agradeça, devo dizer que toda a situação foi minha culpa. Ele quis acabar com sua tranquilidade por minha causa. Não me agradeça. Ela franziu a testa. — Eu não entendo... — Ele era um empregado meu. Um dos meus motoristas. Eu o despedi. Ele era desonesto, e eu não tolero desonestidade. Isso foi há sete anos. Kimberley olhou para ele. — Eu estava com você há sete anos. — E isso mesmo. Ela olhou para ele fixamente, ainda sem entender. — Mas o que isso tem a ver comigo? Ele soltou um suspiro. 76


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Ele queria fazer dinheiro fácil. Você lhe presenteou com a oportunidade de fazer isso. — Mas como? Como ele sabia sobre Rio? Ele era meu motorista. Eu suspeito que ele tenha ouvido algo. — Mas eu nunca... — Kimberley se interrompeu, e Luc deu um sorriso irônico. — Você nunca...? Ela levou uma das mãos à boca. — Oh, Deus, a última vez que eu tentei vê-lo, eu fui ao escritório e você mandou que um carro me levasse embora. Eu estava péssima e liguei para Jason para perguntar-lhe se eu poderia ficar com ele... — E, naturalmente, você disse a ele por que — finalizou Luc por ela. — Eu acho que você tem a sua resposta. — Então é tudo minha culpa — ela sussurrou com horror, e Luc franziu a testa. — Não é verdade. A culpa é minha por mandá-la embora naquele dia, sem nem ao menos escutá-la. Tenho culpa por tudo o que aconteceu a você e realmente sinto muito. Minha única defesa é que você era muito diferente de todas as outras mulheres que eu havia conhecido. Ela se espantou ao ver Luc Santoro se desculpando. — Mas a coisa que mais me deixa triste é que eu não acreditei em você quando me disse que estava sendo chantageada. Eu realmente sinto muito por você enfrentar isso sozinha. Naquele dia em que você veio ao meu escritório e me pediu cinco milhões de dólares, eu deveria ter acreditado em você, mas nunca fui capaz de pensar claramente perto de você. A verdade é que eu queria acreditar que você era apenas uma aproveitadora. — Mas por quê? Por que você quereria pensar isso sobre alguém? — Sete anos atrás, essa foi à única maneira pela qual eu consegui não ir atrás de você e trazê-la de volta. Mas eu não a conhecia bem. Você nunca se interessou por bens materiais. Só recentemente eu percebi que você não tinha ideia do quanto eu sou rico... — Para ser honesta, eu nunca realmente pensei nisso. Ela nunca tinha se interessado por Luc como empresário. Apenas Luc como homem. — A única coisa que você já me pediu foi para conversar. Você não está interessada em coisas materiais, então eu deveria ter sabido que, quando me contou sobre Rio, devia estar dizendo a verdade. Eu deveria tê-la escutado, mas infelizmente meu temperamento é tão quente como minha libido. Ela corou. — Eu posso entender que você ainda estava com raiva de mim — admitiu ela às pressas, disposta a perdoá-lo. — Eu gastei muito do seu dinheiro. O que foi provavelmente uma coisa errada, mas eu estava zangada e com medo do futuro e queria ficar em casa para cuidar de nosso filho. — Você não gastou quase nada comparado às suas antecedentes — informou ele a ela, que ficou atônita. — Eu comprei um apartamento. — O que acabou sendo um excelente investimento — disse ele, divertido. — Eu tive namoradas que gastaram o mesmo somente com seus guarda-roupas. Parece que o apartamento triplicou de valor desde que você o comprou. — Mas se você realmente pensou que eu fosse uma aproveitadora, por que você me quis de volta em sua cama? Eu nunca entendi isso. Você obviamente já tinha se cansado de mim quando nos separamos, há sete anos. Ele fez uma careta. 77


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Eu gostaria que esse tivesse sido o caso, mas infelizmente a verdade era o oposto disso. — Mas você me mandou embora. — E verdade. — Você estava farto de mim... — Eu duvidava que eu jamais me cansasse de você, meu amorzinho. E, por esse motivo, eu tive que mandá-la embora. Ela se sentia completamente confusa. Durante todos esses anos, ela havia feito certas suposições, e parecia agora que ela estava errada. — Você sabia que eu iria embora? — Claro. Você era muito possessiva. Eu sabia que, se eu fosse fotografado com outra mulher, aquilo seria demais para você. E seria nosso fim. — Eu não posso acreditar que você fez isso. — Ela lutou para encontrar sua voz. — Eu fiquei tão mal. Ele se encolheu como se tivesse sido atingido por um soco. — Eu sei e me sinto péssimo por isso. Se ajudar em algo, era tudo fingimento. Eu deixei o fotógrafo tirar aquelas fotos e, em seguida, passei o resto da noite me embebedando. Eu nunca toquei em outra mulher enquanto estivemos juntos. Ela franziu a testa. — Você odiava o fato de que eu era carinhosa, odiava o fato de que eu o amava, porque você não sentia o mesmo com relação a mim. Ele deu uma risada curta. — Você está errada. Eu sentia exatamente o mesmo que você, e esses sentimentos me assustavam. Luc com medo? Houve um silêncio longo e doloroso enquanto ela olhava para ele. — Você sentia o mesmo que eu? — É isso mesmo. O coração de Kimberley bateu com força. — Eu amava você — disse ela. Ele ficou tenso, ligeiramente. — Eu sei. — Você me acusou de fingir... — Alguns homens dizem qualquer coisa em vez de aceitar que foram totalmente fisgados por uma mulher. Luc passou a mão sobre a nuca, visivelmente desconcertado pela admissão. — Eu acho que eu sou um desses homens. Eu não sabia como lidar com a situação. Pela primeira vez na minha vida, eu me vi fora de mim. Ela olhou para ele. — Você está dizendo que você sentia o mesmo por mim? — Por que você acha que eu me recusei a vê-la naquelas três ocasiões? Eu sempre me considerei um homem autodisciplinado, mas isso desapareceu quando eu a conheci. Eu não Confiava em mim para mandá-la embora. Fiquei aliviado quando você gastou todo aquele dinheiro, porque isso significava que eu estava finalmente em condições de compará-la às outras mulheres. Ficou mais fácil mandá-la embora. — Eu não entendo. Se você me amava, por que me mandou embora? Ele respirou fundo. — Porque eu nunca quis me apaixonar. Eu passei minha vida evitando envolvimentos emocionais e consegui fazer isso muito bem, até que você apareceu. Eu sempre tive o cuidado de escolher o mesmo tipo de mulher. Fria e com os olhos firmemente focados no 78


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan meu dinheiro. Suponho que, de certa forma, era uma garantia. Eu sabia que não havia chance de eu me apaixonar por uma mulher assim. Mas eu cometi um erro com você. Um grande erro. — O que há de errado em se apaixonar se isso for recíproco? Ela olhou para ele, confusa. — Eu adorava você. Houve um longo silêncio. Ele andou até a janela, ficando de costas para ela, como se falar aquilo de repente tivesse se tomado algo extraordinariamente difícil. — Minha mãe amou muito meu pai, e, quando ela morreu, a vida dele desmoronou. Eu vi isso acontecer. Eu vi um homem forte tomar-se fraco. Ele não queria mais viver e perdeu o interesse em tudo, inclusive em mim. — A voz de Luc era fria. — Eu tinha 13 anos, e certamente aquela não foi uma boa propaganda do amor. Meu pai parou de trabalhar. O negócio dele foi à falência. Perdemos nossa casa. E, finalmente, ele morreu. Kimberley ficou parada, chocada e entristecida. E seu coração doía ao pensar como ele devia ter sofrido ainda menino, perdendo seus pais ainda tão jovem. Ela quis dar-lhe um abraço apertado. Mas sentiu que ele não queria o consolo dela. — Como ele morreu? Luc não se virou os olhos ainda estavam fixos em um ponto na vista da janela. — Para ser honesto, acho que ele simplesmente não quis mais viver. Ele desistiu. — E você jurou que isso nunca aconteceria com você... — E nunca aconteceu. — Ele se virou, olhando-a nos olhos. — Nada parecido com isso, até que eu a conheci. E o que eu senti por você me assustou tanto que me recusei a reconhecer esse sentimento. Ela engoliu em seco. — Eu queria ter sabido antes sobre sua infância. Queria que você tivesse contado para mim... — Eu não queria falar. Eu só queria escapar daquilo. Eu jurei que nunca aconteceria comigo. Que eu nunca ficaria tão vulnerável. Meu pai deixou de ser um homem com energia. Perdemos tudo da noite para o dia. Maria me deu um lar. Ela foi como uma mãe para mim. — Eu ainda acho que você devia ter me contado. Ele deu um sorriso irônico. — Eu não contei nada a ninguém, meu amorzinho. Foi assim que me mantive seguro. Ela torceu as mãos. — Então, quando eu apareci em seu escritório, há seis semanas... — Eu não pude resistir à tentação de vê-la mais uma vez, e depois de vê-la, não pude resistir à tentação de ter você em minha cama mais uma vez — ele confessou com franqueza brutal. — Eu me convenci de que duas semanas com você seriam suficientes para me curar, de que só um pouco mais seria suficiente. Eu não sou bom em ficar sem você, meu amorzinho. Ela olhou para ele, incapaz de conter a felicidade dentro dela. — Eu nunca havia imaginado que você se sentia assim. — Eu a segui até a Inglaterra — ressaltou ele secamente. — Isso deveria ter lhe dito alguma coisa. — Eu pensava que era apenas sexo... — Não é apenas sexo — garantiu a ela. — E esse último mês devia ter provado isso. Mas se você ainda não acredita, pode falar com o meu conselho de administração, que está imaginando se algum dia eu voltarei a trabalhar. Estive ausente do escritório por tanto tempo que eles estão todos ficando nervosos. 79


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan Ela quase não teve coragem de perguntar. — E agora... Você está curado, Luc? Luc a olhou fixamente. — Você realmente tem que me perguntar isso? No mês passado, eu só pensei em você e no que você precisava em um relacionamento. Falei até que minha garganta ficou rouca e lhe contei tudo sobre mim. Eu expressei pensamentos que eu nem sabia que tinha. Mas, acima de tudo, ignorei o fato de que, quando a via, só queria desnudá-la. Você ficou completamente vestida por um mês inteiro, e eu nem mesmo a beijei nos lábios. Eu fiz por você o que nunca fiz por nenhuma mulher antes. E você ainda pergunta se eu amo você? De repente, Kimberley só queria sorrir e sorrir. — Eu pensei que você só queria se casar comigo por causa de Rio... — Eu quero me casar com você porque eu a amo e porque eu não posso viver sem você — confessou ele com um gemido, puxando-a contra si. — E se eu fosse um tipo de homem decente, estaria dizendo que a amo demais e somente me casaria com você se você também me amasse. Mas, como você já disse tantas vezes, eu sou cruel, totalmente egoísta e não aceito a palavra “não”, então eu vou insistir até que você diga sim. Kimberley riu. — Controlando novamente, Luc? — Os olhos dela brilharam, sugestivamente. — As algemas ainda estão na minha bolsa. Talvez eu devesse usá-las novamente. Não é bom para você ter tudo do seu jeito. — Se serve de consolo, eu estou sofrendo muito pelo jeito que eu a tratei — confessou ele. — Me tortura pensar o quanto você esteve sozinha, com medo, e saber que eu fui à causa disso. Eu não sei como você conseguiu... — Bem, seus cartões de crédito certamente ajudaram — ela murmurou, e ele deu um gemido de agonia. — E você ainda guardou os recibos de tudo o que você comprou. Você sabe como isso me fez sentir? Saber que você sentiu a necessidade de enumerar todas as coisas? — Acho que, no fundo, eu me sentia culpada por gastar seu dinheiro — disse ela, com um sorriso triste. — Mas você estava totalmente no controle, e aquela foi uma maneira de ter o controle sobre outras coisas. Os olhos dele brilharam. — Uma vez que estivermos casados e em segurança, você pode assumir o controle a qualquer momento — assegurou-o com a voz rouca, deslizando as mãos pelo cabelo dela. — Mas, enquanto isso, eu preciso que você me tire deste estado triste. Eu nunca imaginei que pedir uma mulher em casamento pudesse ser algo tão traumático. Não é à toa que eu tenho evitado o compromisso há tanto tempo. — Eu não sabia que você estava pedindo; pensei que você estivesse apenas comunicando. — Eu estou tentando pedir; mas é que pedir é algo muito novo para mim — confessou ele suavemente, sugerindo que ele não tinha absolutamente nenhuma intenção de mudar seu modo de ser futuramente. — Como “compromisso” e “conversa” também são coisas novas para você — brincou ela, e ele deu um gemido como se estivesse sendo torturado. — Não me provoque apenas me dê uma resposta. — Ele a beijou rapidamente. — Você vai dizer “sim” ou você ainda tem mais desafios para que eu possa me juntar a você para sempre? Para sempre. Como duas palavras podiam soar tão bem? 80


Jessica 181.2 – Noite Milionária – Sarah Morgan — Eu acho que você passou muito bem no teste — sussurrou ela. — E a resposta é sim. — E você acha que, se eu realmente me concentrar no compromisso e na conversa, você pode conseguir me amar também algum dia, do jeito que você já amou? — Eu já amo você — disse ela suavemente, na ponta dos pés e beijando—o novamente. — Você estava absolutamente certo quando disse que nenhum outro homem jamais havia conseguido se igualar ao que nós tivemos. Eu nunca encontrei alguém que me fizesse sentir da maneira como você faz. — Sério? — Ele parecia atordoado, como se ele não acreditasse no que ela estava dizendo. — Você ainda me ama? — Eu nunca deixei de amar você. Embora eu esteja preocupada sobre o efeito dessa confissão em seu ego já superinflado. Ele deu um riso feliz e a puxou com força contra ele. — Então, se eu colocar um anel no seu dedo imediatamente, podemos deixar de lado o acordo de “nada de sexo”, porque, francamente, a abstinência é outra coisa em que não sou muito bom. — Nem eu — confessou ela sem fôlego, corando. — E não há necessidade de esperar por um anel. — Você vai usar o anel — disse a ela em seu habitual tom de autoridade, pegando em seu bolso uma caixa de veludo. — O anel diz “caia fora, ela é minha”, para que nenhum outro homem olhe em sua direção. Eu quero você bem rotulada, para que não haja nenhum erro. — Quer dizer que você não é possessivo, certo, Luc? — brincou ela e ficou sem fôlego quando ele abriu a caixa, e um maravilhoso diamante piscou e brilhou para ela. — Oh, é lindo... — Vale uma pequena fortuna, não que você se preocupe com esse tipo de coisa — acrescentou apressadamente. — Comprei em Paris quando eu decidi que eu absolutamente não aceitaria um “não” como resposta. — Ele colocou o anel em seu dedo e a puxou de volta para seus braços. — E se eu tivesse dito não? Ele acariciou seu cabelo. — Eu não entendo o “não”. Eu tive uma educação muito limitada. Ela se sentiu tonta. — Nesse caso, acho melhor dizer “sim”, mas acho melhor você não ser muito controlador ou serei forçada a algemá-lo à cama novamente. Seus olhos brilhavam. — Nesse caso, meu amorzinho — murmurou ele com a voz embargada devo avisá-la que estou planejando ser sempre controlador. O coração dela bateu com muita força. — Então talvez seja melhor levar esta conversa até o quarto. Luc deu uma risada baixa e a segurou em seus braços. — Eu estou achando essa ideia de conversa cada vez mais atraente.

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