Canto Coral: Propostas para dicção da língua inglesa americana.

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UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” INSTITUTO DE ARTES

Luciano Freitas

Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana

São Paulo 2012


Luciano Freitas

Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Bacharel em Música com Habilitação em Regência do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” como requisito para obtenção do título de Bacharel em Música. Orientador: Prof. Dr. Fábio Miguel

São Paulo 2012


RESUMO Este trabalho tem como objetivo principal analisar e sugerir técnicas de pronúncia da língua inglesa americana para coros formados por falantes da língua portuguesa do Brasil, bem como pontuar possíveis erros comuns de pronúncia e como esta pode influenciar e dificultar a perfoamance da peça que está sendo ensaiada. Para isso foram utilizadas como amostras trechos de duas peças do compositor norteamericano Norman Dello Joio, se executados por coros brasileiros, provavelmente ocorreriam problemas de dicção e pronúncia. Estes problemas foram enumerados e categorizados da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos, terminações de palavras e elisões. Para esses casos foram indicadas soluções que possam viabilizar uma dicção no canto de melhor qualidade. Conclui-se que esses problemas são gerados, na maioria das vezes, pela associação do indivíduo em questão com a língua portuguesa e estes pode ser amenizados se isto for levado em conta, transcrevendo estas palavras problemas como se estas fossem faladas em português do Brasil.

ABSTRACT The current work aims to analyze and suggest American English pronunciation techniques for choirs having Brazilian Portuguese speaking choristers, as well as punctuate possible mispronouncing and how this affects and harms the performance of the song that is being rehearsed. In order to achieve this, it was used as samples, excerpts from two songs by the American composer Norman Dello Joio; if performed by Brazilian choirs, probably there would be diction and pronunciation problems. Those problems were numbered and categorized as follows: association with speech in Portuguese, diphthongs, the sound of "th" and "t", phonemes that sound different from the way they are written, word endings and elisions. For these cases were given solutions that can enable a diction in singing of better quality. We conclude that those issues are raised, mostly, by the association of the individual concerned with the Portuguese language and these can be mitigated if it is taken into account, problems transcribing these words as if they were spoken in Brazilian Portuguese.


SUMÁRIO

Projeto de pesquisa..........................................................................................................1 Introdução.......................................................................................................................4 1. Diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado....................................................6 2. Trechos selecionados para análise em relação às dificuldades de pronúncia.............9 3. Análise e sugestão para os problemas encontrados nos trechos selecionados...........18 3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil............................18 3.2 Ditongos.......................................................................................................23 3.3 O som do “th”..............................................................................................23 3.4 O som do “t”................................................................................................24 3.5 Fonemas que soam diferentes......................................................................25 3.6 Terminações.................................................................................................25 3.7 Elisões .........................................................................................................27 4. Considerações Finais......................................................................................30 Referências bibliográficas..................................................................................33 Anexos...........................................................................................................................34


PROJETO DE PESQUISA

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais. Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por compositores americanos, apresentavam certas dificuldades para interpretar o texto, não só pelo seu entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção. Os ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que a dicção do texto em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.” (APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)1 Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a línguamãe é a inglesa e esta língua apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício, maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 2

De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo. Tenho notado as diversas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em um ensaio de coro quando este prepara uma obra onde o texto é em inglês. Tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e minha experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar os

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Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in singing he will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful sound. 2 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic environment the greater the intelligibility. 1


regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes da língua portuguesa brasileira.

OBJETIVOS

1. Selecionar trechos de partituras corais escritas por compositores americanos. 2. Identificar as dificuldades de dicção e pronúncia nos trechos selecionados. 3. Fazer um levantamento das dificuldades dos coralistas para com a língua inglesa americana ao ser cantada. 4. Propor soluções para o regente ao ensaiar tais peças.

METODOLOGIA

O trabalho consistirá na leitura e revisão da bibliografia geral e específica que aborda o canto coral e a dicção da língua inglesa americana, bem como a seleção de trechos de partituras para coral escritas por compositores americanos que contenham palavras, que independente da altura e duração, apresentam maior dificuldade de pronunciação. Em seguida, será feita uma análise destes trechos e um levantamento das dificuldades de pronúncia e dicção por parte dos coralistas.

CRONOGRAMA

ATIVIDADE

Revisão da Literatura

Organização de Dados Análise e interpretação dos Dados

Início

Coleta e leitura das principais obras relacionadas ao assunto Organizar e selecionar os pontos mais importantes para a pesquisa Contextualizar os pontos importantes da pesquisa

Apresentação dos

Elaboração do texto final e

resultados

entrega do trabalho 2

Término

Mar/2012

Set/2012

Jul/2012

Set/2012

Set/2012

Out/2012

Nov/2012

Dez/2012


BIBLIOGRAFIA

APPELMAN, D. Ralph. The science of vocal pedagogy. Indiana University Press.1986 MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953 NEWTON, George. Sonority in singing: a historical essay. New York: Vantage Press. 1984. FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v. 39, n. 4, p. 270-81, 1991. FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp.

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INTRODUÇÃO

Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais. Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por compositores americanos, apresentavam certas dificuldades não só pelo seu entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção. A duração dos ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que o texto em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.” (APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)3 Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a línguamãe é a inglesa e esta apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício, maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 4

De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo. Tenho notado as variadas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em um ensaio de coro quando este prepara uma obra com o texto em inglês. Há uma tendência em pronunciar as palavras da forma como lemos em português, e na maioria das vezes a palavra cantada em inglês tem até mesmo seu significado comprometido.

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Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in singing he will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful sound. 4 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic environment the greater the intelligibility.

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Por essa razão, um regente de coro deve dar atenção especial à pronúncia da obra que será trabalhada para que, não só o texto cantado seja compreendido, mas para que o sentido musical da peça possa ser aprimorado também.

A fim de que o público entenda bem a sonoridade característica e o significado do texto – seja em que idioma for – é necessário, primeiramente, que se trabalhe a pureza dos sons vocálicos e a clareza das consoantes. Entretanto, um simples trabalho de enunciação não é o suficiente, sendo necessário combiná-la com a prática insistente de se cantar as palavras com a acentuação adequada e dar sentido ao conteúdo poético de cada verso, ajustando-o ao conteúdo musical da obra. Assim, os textos ganham em expressividade e seu significado é melhor comunicado. (FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., p. 51-74)

Por isso, tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e minha experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar os regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes da língua portuguesa brasileira. Para o desenvolvimento da proposta acima referida, foram selecionados trechos de duas peças do compositor norte-americano Norman Dello Joio onde possivelmente ocorreriam erros de dicção e pronúncia. Por meio dos problemas abordados, pretendo sugerir certas soluções que poderão servir como ferramenta para um regente de coro, de forma a melhorar a pronúncia no canto de obras em inglês de compositores norteamericanos. Reitero que o inglês que será considerado nesse trabalho é o de origem americana. O trabalho está divido da seguinte forma. No capítulo 1, intitulado Diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado, abordarei diferenças do idioma inglês quando este é cantado e falado. Em seguida no capítulo 2, selecionei trechos das peças “To Saint Cecilia” e “The Blue Bird” e aponto possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da língua porguesa do Brasil. Para finalizar, no capítulo 3, agrupei e categorizei os fragmentos selecionados onde fiz uma análise qualitativa de cada possível problema que seria encontrado, e a partir dessa análise, apresentei uma solução para cada caso.

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1. DIFERENÇAS ENTRE O INGLÊS FALADO E O INGLÊS CANTADO Neste capítulo abordarei as diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado, pois, por se tratar de um trabalho onde a pronúncia e dicção tem como foco principal, é importante salientar que Os sons que a boca humana produz incluem diversos eventos acústicos como falar, cantar, gargalhar, tossir, assoviar, e sons de lábio. A discriminação desses sons contribuem para evitar o sistema de erros do diálogo falado a compreensão da comunicação da fala humana. (OHISHI, Y; GOTO, M; ITOU, K; TAKEDA, K, p. 1, tradução nossa)5

Dentre desses variados eventos acústicos, será abordado por este trabalho apenas a diferença entre a fala e o canto na língua inglesa. Os autores Emmons e Chase ressaltam em seu livro que (...) não se pode cantar como se fala. Não é o suficiente para atender as advertências freqüentes para "cuspir as consoantes para fora", ou "relaxar, é só como falar no tom", ou "cantar sobre as consoantes" (EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa) 6

Essa citação traz uma ideia contrária a um pensamento comum de que o canto e a fala são similares. Eles ainda complementam que: 1. O controle da respiração é muito mais rigoroso para o canto do que para a fala. 2. Uma vogal deve ser sustentada por períodos maiores no canto do que na fala. 3. A altura coberta pela voz cantada é muito superior que a utilizada para falar. 4. Os sons do canto demandam maior variação de dinâmica. 5. Cantar requer um nível maior de ressonância, não necessária para falar. (loc cit)7 Um outro ponto que diferencia o inglês falado e o cantado é a separação silábica das palavras, que nem sempre coincidem com a divisão silábica de uma canção. “Uma

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Sounds from the human mouth include various acoustic events such as speaking, singing, laughing, coughing, whistling, and lip noises. The discrimination of these sounds contributes to avoiding spoken dialogue system errors and to understanding human speech communication. 6 (…) one cannot sing as one speaks. It is not enough to heed the frequent admonitions to "just spit those consonants out," or to "relax; it's just like speaking on pitch," or to "sing on the consonants". 7 1. Breath management responsibilities are far more stringent for singing than for speaking. 2. A vowel must be sustained for greater durations in singing than in speaking. 3. The range covered by the singing voice far exceeds that used for speaking. 4. The sounds of singing demand greater fluctuations of dynamics. 5. Singing requires a constant level of resonance not necessary for speaking. 6


palavra em inglês de duas ou mais sílabas é separada silabicamente pela sua estrutura e esta mesma quando cantada, pode ser separada silabicamente para soar mais clara.” (MARSHAL,1953, p. 7, tradução nossa.) 8 Exemplos: spir-it-u-al

spi-ri-tu-al

di-fer-ence

di-ffe-rence

re-mind-er

rem-in-der

Também é importante ressaltar que as vogais e as consoantes são emitidas de formas diferentes quando cantadas. A cantora Miriam Tikotin, em seu website sobre canto lírico, reporta que Uma das diferenças entre falar e cantar é o tempo: nos cantamos muito mais devagar. E na maioria das vezes nós cantamos vogais. Por causa disso – nós temos que definir as vogais muito claramente. (...) Os cantores devem exager a pronúncia das consoantes usando tempo e apoio extra com elas.9

(studio.miriamtikotin.com/voice_diction.html)

Como o presente trabalho pretende propor soluções de dicção de uma língua estrangeira para que o coralista obtenha uma pronúncia aproximada daquela de um nativo, é relevante ter consciência dessas diferenças entre canto e a fala, uma vez que os possíveis problemas de pronúncia tratados aqui envolvem ditongos, sons característicos da língua inglesa, fonemas que soam diferentes nesta mesma língua e sons de consoantes, ou seja, para produzir estes sons, o coralista deve fazê-lo pensando na voz cantada, levando em consideração fatores que vão desde o controle da respiração até a separação silábica do trecho a ser cantado. Para evidenciar a possibilidade de ter a pronúncia mais adequada de acordo com a língua estrangeira quando se canta, observe a citação abaixo: Por mais que os valores das vogais quando faladas variam de acordo com o idioma ou dialeto, no canto eles não podem partir da coincidência de uma altura de uma vogal e de um harmônico de uma fala. Isso é um absoluto no canto. Essa é uma das razões pela qual uma pessoa pode cantar em uma

8

A word of two or more syllables is divided, in print, on the basis of its structure; the same word, when sung, may be divided in an entirely different manner for the sake of clearer and more effective singing. 9 One of the difference between singing and speaking is time: we sing much slower. And most of that time we sing on vowels. Because of that - we have to define the vowels very clearly: Singers should exaggerate pronouncing the consonants using extra time and extra support on them. If we do not pay that extra attention - it will probably not be understood; 7


língua estrangeira sem sotaque, mas não pode falá-la sem sotaque. (EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa) 10

A citação acima mostra que é possível cantar sem sotaque, o que evidencia ainda mais a importância do trabalho da dicção com um coro.

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Whereas spoken vowel values vary according to languages and dialects, in singing they cannot depart from the coincidence of a vowel pitch and an harmonic of the sung pitch. This is an absolute in singing. This is one of the reasons that a persons can sing in a foreign language without an accent but cannot speak it without an accent. 8


2. TRECHOS SELECIONADOS PARA ANÁLISE EM RELAÇÃO ÀS DIFICULDADE DE PRONÚNCIA Esta análise possue trechos que foram retirados de duas peças, To Saint Cecilia e The Blue Bird, do compositor americano Norman Dello Joio (1913 – 2008). Essas obras foram escolhidas porque nesta pesquisa a proposta é trabalhar com problemas de pronúncia no inglês norte americano e, além disso, tais obras tem sido bastante executadas por vários coros11, inclusive, brasileiros como foi o caso do Coro de Câmara da Unesp que no ano passado realizou a primeira citada juntamente com a Banda Sinfônica Jovem e neste ano tem trabalhado a segunda obra mencionada. Os trechos serão apresentados, enumerados em separado apontando-se os problemas quanto à pronúncia que neles podem ocorrer para em seguida agrupá-los por categorias de problemas comuns e apresentar as sugestões para as dificuldades de dicção observadas. A escolha dos trechos foi baseada nas possíveis dificuldades de pronúncia das palavras, sejam estas relacionadas à associação equivocada com a Língua Portuguesa do Brasil, elisões, terminações, entre outros casos, que se verá mais adiante. Trechos das obras selecionadas e possíveis problemas de pronúncia: Seleção dos trechos de “To Saint Cecilia” Trecho 1

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Ver exemplos no Youtube: http://goo.gl/2lXqn / http://goo.gl/oJolp / http://goo.gl/3ofht 9


JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: palavra universal [jʊnɪvərsəl] Trecho 2

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: palavra began [bɪgæn] 10


Trecho 3

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 6). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: frase When Nature underneath a heap of jarring atoms lay [wɛn netʃər əndərniθ ə hip əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI] Trecho 4

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 89). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a frase ye more than dead [ji mɔr ðæn dɛd] Trecho 5 11


JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 10). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra obey [obeI] Trecho 6

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 11). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a frase Through all the compass of notes [θru ɒl ðə kəmpəs əv nots] Trecho 7

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JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 12). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra full [fʊl] Trecho 8

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra brethren [brɛðrən] Trecho 9 13


JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra faces [fesəz] Trecho 10

JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 19). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra Music [mjuzÉŞk] Trecho 11

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JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 25). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. Problema: a palavra jealous [dʒɛləs] Trechos de “The Blue Bird” Trecho 12

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 4). Vozes mistas com piano. Problema: a frase How shall I tell my love? [haw ʃæl aI tɛl maI ləv] Trecho 13

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JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 6). Vozes mistas com piano. Problema: a frase Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl] Trecho 14

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9). Vozes mistas com piano. Problema: a frase I will not give you [aI wɪl nɑt gɪv] Trecho 15

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JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9). Vozes mistas com piano. Problema: a palavra Bring [brɪŋ] Trecho 16

JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 13). Vozes mistas com piano. Problema: a frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu]

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3. ANÁLISE E SUGESTÃO PARA OS PROBLEMAS ENCONTRADOS NOS TRECHOS SELECIONADOS Os trechos selecionados foram agrupados por problemas comuns e categorizados da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos, terminações de palavras e elisões. Essas categorizações são apenas ilustrações das ocorrências que podem ser encontradas quando um coro brasileiro canta em inglês. Pretende-se nesta parte do trabalho, em cada agrupamento, abordar a palavra do trecho específico, como provavelmente um brasileiro a cantaria e, apresentar uma solução para cada caso com vistas a contribuir com uma pronúncia de melhor qualidade que poderá facilitar a inteligibilidade do texto, bem como colaborar com aspectos tais como: a sonoridade do coro, afinação, precisão rítmica, entre outros. 3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil Trechos: 2, 7, 11, 14, 15 e 16 É comum para um falante da Língua Portuguesa do Brasil ler uma palavra em alguma outra língua e pronunciá-la como se fosse em português pois por inconsciência da mudança necessária, coordenamos os movimentos dos órgãos da fala (abertura da boca, língua, lábios, vibração das pregas vocais) como se estivéssemos falando português; também guardamos tendências de pronunciar (padrões de pronúncia) típicas do português. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 36)

Nos trechos selecionados temos os seguintes casos Palavra

Problema/ Provável

Sugestão

pronúncia a. began [bɪgæɲ]

“Bigãn” – em inglês soará

“Bi-guén”

como begun, particípio do mesmo verbo. b. full [fʊl]

“fúl” – em inglês soará

“fôul”

como fool, ou seja, tolo. c. jealous [dʒɛləs]

“Djélous” – a palavra pode

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“Djé-lãs” – onde ous


ficar incompreensível

sempre tem o som de ãs

d. I will not give you [aj wɪl

O will e o give tendem a

Wil e guiv - sendo o “i”

nɑt gɪv]

soar como wheel e geev.

falado como o segundo “e” da palavra “mexe

e. Bring [brɪŋ]

O bring soa com [i], onde

Bring – sendo o “i” falado

na verdade é [I].

como o segundo “e” da palavra “mexe”

f. full well she knew [fʊl

Novamente “fúl” – em

wɛl ʃi njʊ]

inglês soará como fool, ou

Niú

seja, tolo; e “níu” – em inglês soará como knee, ou seja, joelho.

No caso a, para a palavra began [bɪgæɲ] sugeri a pronúncia “Bi-guén” onde o [æ], está em posição tônica e pode ser pensado, para aproximar com um som da língua portuguesa, com o “é”, como por exemplo, na palavra “égua”. Desta forma evitaria-se a dicção equivocada “Bigãn” que resultaria em outro tempo verbal em inglês. Deve-se salientar, entretanto, que a terminação do “n”, deve ser de acordo com n [ɲ]. Ou seja, não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal, “êin” em português. Outro erro muito comum para os falantes do português do Brasil acontece no trecho b, ao pronunciar a palavra full [fʊl], em inglês “cheio”, é fazê-la soar como fool, ou seja, “fúl” como seria escrito em português, que quer dizer tolo. Isso acontece pela associação com a fala do português, uma vez que a vogal “u”, em posição tônica, nessa mesma língua tem o som prolongado como em “urso” ou “uva. De acordo com o AFI (Alfabeto Fonético Internacional) a vogal “u” nas duas palavras, tem transcrições diferentes: Full [fʊl]

Fool [ful]

Para pronunciar corretamente a palavra full, basta dizer “fôul”, lido como se estivesse falando português, uma vez que esta palavra “não tem equivalência em 19


português que sirva de exemplo”. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 44). Isso evita que o falante da língua portuguesa mude o significado das palavras, como nas palavras pool (piscina) e pull (puxar). Já no caso c, jealous [dʒɛləs], o “j” inicial tem o som semelhante ao “d” presente na palavra “dia” [dʒiə] do português. Na mesma palavra, outro erro comum também por causa da associação com a língua portuguesa, é o de pronunciar erronamente a sufixo ous (əs), que em português se aproxima ao “as” da palavra casas [kazəs] ou até mesmo, como o fonema “ãs”, de maçãs. Sendo assim a pronuncia mais ideal para a palavra “jealous” é “djélãs”, como seria escrito em português. Nos casos d e e, a vogal “i” das palavras Will e bring pode ser pensado a partir do “i” reduzido, o [I] do AFI, como nos caso da palavra em português mexe [mæʃI], em que o segundo “e” soa como um “i” curto. Essa sugestão é para evitar que o falante da língua portuguesa pronuncie e cante o “i” [i] longo como, por exemplo, na palavra feet, o que estaria errado e em alguns casos esse erro pode mudar o significado das palavras como em leave (deixar, sair, partir) e live (morar), feet (pés) e fit (caber). Na frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu] do caso f, os problemas estão nas palavras ful [fʊl], (explicado anteriormente no caso b) e knew [niú]. Na palvra knew, o “k” não é pronunciado e na minha experiência como professor de inglês, este não é um erro tão frequente, mas ainda assim vale ressaltar que “os sons das letras “k” e “g” não são pronunciados quando aparecem antes da letra “n”.” (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 69). Entretanto, o que geralmente acontece com os falantes do português brasileiro ao pronunciar a palavra knew, é um nítido som de ní ou níu. Isso acontece também pela presenta do “e” na palavra e a associação com outras palavras em inglês que também contém a vogal “e” como, por exemplo, nas palavras knee, free e creed. Sendo assim, de acordo com o AFI, sugiro que a pronúncia seja “niú” acentuando, mas não prolongando, o “u” e não o “í” como seria de costume, e de acordo com a AFI, a transcrição fonética da palavra knew é [njʊ], ou seja, com uma semivogal e um “u” curto, reduzido. 3.2 Ditongos

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Trechos: 1, 5 e 10 As vogais da língua inglesa possuem quatorze sons de acordo com o padrão de Received Pronunciation12, destes, abordarei dois, contidos na obra de Dello Joio, que são problemáticos por causa da associação com os sons do próprio português falado no Brasil, que foi tratado no subtópico 2.1. Palavra

Problema/ Provável

Sugestão

pronúncia a. universal [junɪvərsəl]

“universal” – u como em

“iúnivãrsol”

urso. b. obey [obeI]

“obeí” – as vogais “o” e

“ôu-bêi”

“e” não soariam. c. Music [mjuzɪk]

“Míuziqui” – além de

“miúzic”

acrescentar uma sílaba a mais a vogal “u” soaria com um ditongo decrescente.

Sabe-se que em português existem cinco letras para os sons das vogais: “a”, “e”, “i”, “o” e “u”. Também, pode-se combinar esses sons para formar sequências de vogais (ditongos e tritongos), por exemplo: ai, pau, outro. Na língua inglesa, as vogais possuem outros sons, que eu português soariam da seguinte forma: Vogal em português

Som da mesma vogal em inglês

A

“êi” [eI]

E

“í” [i]

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Received Pronunciation (pronúncia recebida), conhecida como RP, é a pronúncia do inglês padrão teoricamente transmitida através do inglês literário. 21


I

“ái” [aj]

O

“ôu”[oʊ]

U

“iú” [ju]

Nos ítens a e c, som da vogal “u” das palavras universal e music, ao ser pronunciada, soa como um ditongo, “iú”, ou seja, junto com a vogal “i”. Entretanto, vale lembrar que o som da vogal “u” do inglês, forma um ditongo crescente. Desta forma o acento fica na vogal “u”, resultando no som “iú” e não “íu. Na letra b, trata-se de dois ditongos: um sonoro e um escrito, respectivamente o “ou”-bey “bei”13 sendo que a vogal “o” apresenta um ditongo decrescente, ou seja, resulta-se no som “ôu” e não “oú”. A sílaba tônica da palavra obey é a segunda, portanto trata-se de uma palavra oxítona, e tendo em mente o ditongo decrescente com a sílaba tônica da mesma palavra, se tem a exata proúncia “ôu-bêi” Em canto, seja coral ou não, o regente deve ficar atento a esses problemas relacionados ao ditongo, pois no próprio ditongo, a passagem de um som de vogal para outro, pode implicar na afinação da cantada, uma vez que a abertura da boca, dentre outros fatores, pode alterar a ressonância do som produzido. Alterando a abertura da boca, bem como a vogal é também uma das principais formas de alterar a ressonância do canto. (...) Mudar a posição de tom, o arredondamento ou disposição dos lábios, ou o tamanho da abertura da mandíbula de seus cantores, você deve ter notado mudanças significativas para o tom.14 (EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 117-118)

13

A letra Y pode ser considerada ambas vogal e consoante. The letter Y can be regarded as both a vowel and a consonant. In terms of sound. http://oxforddictionaries.com/words/is-the-letter-y-a-vowel-ora-consonant 14 Changing the mouth opening as well as the vowel is also a major way to change the resonance of the singing. (…) Changing the tone position, the rounding or spreading of the lips, or the size of the jaw opening of your singers, you will have noticed significant changes to the tone. 22


3.3 O som do “th” Trechos: 3, 6 e 8 Palavra

Problema / Provável

Sugestão

pronúncia do th a. Underneath [əndərniθ]

Para pronunciar o “th” é “s”, “t” ou “f”

b. Through [θru]

preciso morder a língua e assoprar.

c. Brethren [brɛðrən]

Existem dois tipos de sons que produzimos: aqueles formados somente pelos diferentes movimentos das estruturas da cavidade oral associados „a passagem do ar pela boca, como o som do “f” ou “t”, por exemplo; aqueles em que, além dos diferentes movimentos e da passagem do ar pela boca, tmabém ocorre a vibração das pregas vocais, ou seja, a produção de voz. Exemplos são o som do “v” ou “d”. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)

No caso do “th” da língua inglesa, é possível pronunciá-lo destas duas formas embora ele seja um som extremamente, e naturalmente, difícil para brasileiros, pois esse som não existe na língua portuguesa. A técnica para produzir esse som é a seguinte: morder a língua e assoprar como se estivesse emitindo o som do “s”. Dessa maneira emitir-se-á o som do th sem voz. No entanto, para emitir o som do th com voz, repita o procedimento acima, só que ao invés de assoprar como se estivesse emitindo o som do “s”, emita o som do “z”. Note que o som do “th” com som é emitido sempre quando há uma vogal na frente dele, como nas palavras the, though, author. Nos casos a, b e c, o “th” é pronunciado sem voz, ou seja, sem a vibração das pregas vogais, uma vez que em todos os casos o “th” é seguido de uma consoante ou está no final da palavra. Desta maneira forma, evitar-se-á confundir o “th” com o som de “f” ou “t”, o que implicaria no entendimento da palavra.

23


3.4 O som do “t” Trecho: 13 Palavra

Problema/

Provável Sugestão

pronúncia a. tell [tɛl]

“tél” com o mesmo “t” de “tsél” onde o “t” soa quase “telefone”

como um “ts"

Do trecho Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl], tratarei nesse ítem apenas da palavra tell [tɛl] onde a consoante “t” parece ser problemática quanto sua pronúncia na língua inglesa. O “t” em português possue dois sons diferentes: o “t” de “quantia” [ku ntʃi ] e o “t” de “tatu” [t tu]. Nenhum dos casos citados acima possue o som do “t” da língua inglesa. Como dito no subtópico 2.3, existem dois tipos de sons que produzimos a partir de uma consoante, com som e sem som. No caso do “t” em questão, este é produzido sem som, ou seja, requer apenas um som da passagem de ar que seja audível. Na língua inglesa Devemos usar som similar ao sotaque de algumas regiões de SC (como em Blumenau, por exemplo) ao pronunciar “Bom dia!”, “Boa tarde” ou “Hoje eu irei ao dentista”. Nestas expressões os sons ficam sem o “chiado” característico de alguns sotaques, que não existe nesses casos em inglês. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)

Para ilustrar a citação acima, sugiro tentar pronunciar o “t” posicionando a língua na crista alveolar superior, ou seja, na cavidade bucal localizada bem atrás dos dentes superiores. Desta forma o “t” soará quase como um “ts”. É extremamente importante ser preciso na pronúncia “t” da língua inglesa para não resultar na mudança de significado das palavras. Ex.: “Dime” [dajm] (dez centavos) e “time” [tajm] (tempo).

24


3.5 Fonemas que soam diferentes Trechos: 3 e 6 Palavra

Problema/ Provável

Sugestão

pronúncia Of [əv]

Óf – O que em inglês

“óv” – com “v” ao invés de

soaria como “off” e não

“f”

“of”

De acordo com o AFI, a pronúncia correta para a preposição “of” [əv] é “óv”. Neste caso a consoante “f” tem som de “v” para não ser confundida com o advérbio “off” [əf]. Pelas razões expressadas no subtópico 2.2, o falante da língua portuguesa do Brasil facilmente confundiria essas duas palavras. 3.6 Terminações Trechos: 4 e 9 Palavra

Problema/ Provável

Sugestão

pronúncia a. dead [dɛdt].]

“dédji”

“déd” com o ultimo “d” soando como um “t”

b. faces [feIsəz]

“fêiss”

“fêicês”

No caso a, o problema encontra-se no “d” final da palavra dead [dɛd]. Em português, os casos em que o “d” mudo aparecem em palavras como “advogado” [adʒvogadʊ] e “Edna” [ɛdʒnə], o “d” acaba soando como um “dj”. Sendo

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assim a tendência do falante do português ao pronunciar a palavra dead, é a de soar algo como “dédji”. Uma possível solução para isso é pensar na consoante “d” como se fosse o “t” no sotaque da região sul do Brasil, nas palavras “dia”, “tarde”, como afirma (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25). Somente assim o último “d” soaria puramente mudo. No fragmento em questão, há uma outra peculiaridade que pode dificultar ainda mais a pronúncia da palavra dead, especialmente com relação ao último “d”. Note no trecho 5, que a palavra dead deve ser cantanda na duração de duas mínimas e uma colcheia ligadas e logo em seguida há uma pausa cortando o som. Sendo assim a sugestão final para a melhor execução e clareza deste excerto é a de cantar a letra “d” como explicado acima, exatamente na entrada da pausa, cortando o som. No caso b, a palavra faces [fesəz] está no plural. É comum aos falantes do português confundirem a pronúncia das palavras, quando no plural, que possuem terminações em “es” como em services, offices, buses, pronunciando o “es” como “Is”, ou seja com “i” curto como em palavras no português tais como: Mente [MeɲtʃI], Cabide [kabidʒI]. Por isso, deve-se lembrar que de acordo com o AFI é necessário se acrescentar uma sílaba extra [əz] para fazer a diferenciação da mesma palavra no singular. Para que não seja cometido o erro de pronúncia, anteriormente comentado e, a sílaba extra [əz] seja devidamente pronunciada, sugiro que a vogal “e”, da palavra faces seja pensada com acento circunflexo, como na palavra “você”, resultando numa vogal mais fechada e neutra. Na tabela abaixo coloco alguns exemplos de como as palavras no plural devem ser pronunciadas, com esta sugestão mencionada. Singular

Plural

Sugestão em português

Face [feIs]

Faces [feIsəz]

“fêicês”

Service [sərvəs]

Services [sərvəsəz]

“sãrvãcês”

Bus [bəs]

Buses [bəsəz]

“bãcês”

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Office [ɒfəs]

Offices [ɒfəsəz]

“ófecês”

Language [læŋgwədʒ]

Languages [læŋgwədʒəz]

“lénguãdjês”

3.7 Elisões Trechos: 3, 6 e 12 Palavra

Problema/ Provável

Sugestão

pronúncia a. When Nature underneath “Uêin Neitchãr ãnderníθ a

“UêNêitchãr ãnderníθahíp

rípi ófi jarring átoms lêi”

óv jórrinétamz lêi”

b. Through all the compass

“s‟ru au de compéss ófi

“θru ólθã compéssóv

of notes [θru ɒl ðə kəmpəs

nôutis”

nôuts”

“Hóu shau ai téu mai lóvi”

“hau sháulái téll mai lãv”

a heap of jarring atoms lay [wɛn netʃər əndərniθ ə hip əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI]

əv nots] c. How shall I tell my love? [haw ʃæl aI tɛl maI ləv]

Ao ensaiar uma peça em inglês, o regente de coro deve dar atenção especial à dicção dos coralistas para que as frases musicais e o texto fiquem o mais claro possível. Isto porque a dicção permite: uma enunciação clara, capaz de proporcionar um melhor entendimento do texto; uniformidade sonora das vogais, essencial para uma afinação refinada e para a maior homogeneidade sonora; uniformidade de articulação consonantal, essencial para o equilíbrio rítmico; e flexibilidade dos lábios, da língua e da garganta, permitindo uma produção vocal eficiente e saudável. (FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A.,p. 51-74)

Um dos pontos da dicção a ser trabalhado para que a inteligibilidade do texto fique mais fluente quando se tratar de um outro idioma, é a elisão.

27


Por definição, “elisão é a omissão de sons, sílabas ou palavras na fala. Isto é feito para tornar a linguagem mais fácil de dizer, e mais rápido.” 15 Na língua portuguesa existem elisões já escritas em algumas palavras, como por exemplo, “daquele”, “naquele” e “disto”; ou então separadas por apóstrofos como em “d‟água” e “Santa Bárbara D‟Oeste”. Musicalmente, essa supressão de fonemas, além de facilitar a articulação do texto, colabora para o melhor entendimento e fluência das frases musicais propostas pelo compositor. Nos trechos selecionados, realço alguns dos erros cometidos pelos coralistas falantes da língua portuguesa. Esses problemas geralmente ocorrem, pois os sons das vogais e consoantes da língua inglesa são produzidos em locais diferentes da boca comparado aos locais onde as vogais e consoantes da língua portuguesa são produzidos, e além disso, a língua portuguesa ainda possui alguns fonemas nasais que são emitidos quando “a corrente de ar vibrante passa pelas cavidades bucal e nasal, formando cinco fonemas vocálicos nasais: linda, tenta, banda, onda, fundo.”16 Como mostra a tabela acima, três trechos problemáticos da obra de Dello Joio foram selecionados e em seguida proponho possíveis soluções: Na frase a há um caso típico de elisão logo no começo onde aparece uma palavra terminada em “n” e outro em seguida começada em “n”: When Nature [wɛn netʃər]. Nesse caso, sugiro que faça a redução dos dois “n” em questão para um, que soaria “uêNêitchãr” [wɛnetʃər], como seria escrito em português. Deste modo, será evitado o erro grave de pronúncia da palavra when que seria um “uêin” anasalado. Novamente ressalto que o som do “n”, deve ser emitido de acordo com o n [ɲ], ou seja, não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal. Na mesma frase a, ocorre-se outra elisão em heap of jarring [hip əv dʒɑrɪŋ]. Segundo as Dicas de Pronúncia da Língua Inglesa da BBC, esse tipo de elisão deve ser feito “quando uma palavra termina em consoante e a próxima palavra começa com um

15

Elision is the omission of sounds, syllables or words in speech. This is done to make the language easier to say, and faster. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision 16 http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/tipos-de-fonemas 28


som de vogal, há então uma ligação suave entre essas duas”. 17 Embora essa dica de pronúncia foi proveniente dos consultores linguísticos da BBC de Londres onde o inglês britânico é falado, esta também se aplica ao inglês americano. Sendo assim, sugestão para a pronúncia para o trecho heap of seria “rípóv” [hipəv]. Esta regra também se aplica aos casos selecionados b e c. Os mesmo problemas se repetem e as soluções são similares. Trecho em questão

Sugestão de pronúncia com a elisão e como seria falado em português do Brasil

compass of [kəmpəs əv]

Compass_of [kəmpəsəv], ou seja “compéssóv”.

shall I [ʃæl aI]

Shall_I [ʃælaI], ou seja “sháulái”.

Note que em alguns casos, as elisões devem ser evitadas quando o texto não ficar claro ou “quando uma palavra de importância pode ser confundida por uma outra palavra, então as palavras devem ser separadas.” (MARSHALL, Madelaine, p. 82). Exemplos: Steps in

Sin

If aught

Faught

Nesse caso, a opção da elisão dependerá também da tradução do texto, desta forma o regente ou o ensaiador saberá quando fazer elisões.

17

“When one word ends with a consonant sound and the next word begins with a vowel sound there is a smooth link between the two. http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish/grammar/pron/progs/prog1.shtml#linking1 29


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Busquei com o presente trabalho, possíveis problemas de pronúncia, no canto, que os falantes da língua portuguesa do Brasil podem encontrar na língua inglesa americana, exemplificados e analisados em determinados trechos de duas obras de Norman Dello Joio para coral. No capítulo 1, onde abordei algumas diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado, pudi também inferir que é possível cantar em um idioma estrangeiro com sotaque reduzido utilizando-se apenas das técnicas vocais básicas. Em seguida selecionei pequenos excertos das peças “To Saint Cecilia” e “The Blue Bird” onde apontei possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da língua porguesa do Brasil. Uma vez que a explicação básica das diferenças entre o canto e a fala na língua inglesa e as amostras da análise foram apurados, fiz uma análise qualitativa destes problemas e propus soluções de pronúncia para eles levando em consideração um coro de falantes da língua portuguesa do Brasil. Embora pode-se haver muitos problemas de dicção envolvendo associação com a fala em português, ditongos, o som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos, terminações de palavras e elisões, pude verificar que, na maioria dos casos analisados, o fator que mais dificulta a pronúncia da língua inglesa é a associação incorreta que o indivíduo em questão faz com a língua portuguesa. Por um fator inconsciente, os movimentos dos órgãos da fala seguem uma tendência já adquirida pela língua-mãe, o que gera padrões de pronúncia. Ao longo da análise, utilizei-me dessa associação para criar transcrições desses trechos problemáticos como se estes fossem falados em português, partindo do AFI, busquei sempre um fonema na língua portuguesa que mais se aproximasse do fonema em inglês, de forma de não comprometer a sonoridade e inteligibilidade da palavra no texto cantado, como por exemplo:

Palavra em inglês

Possível erro de pronúncia

Como

se

falaria

em

português began [bɪgæɲ]

“Bigãn” – em inglês soará “Bi-guén” – soando como se como begun, particípio do deve ser pronuciado. mesmo verbo.

30


Esse tipo de transcrição (escrever como se fala na própria língua) pode ser feito com outras palavras ou frases de outras peças de outros compositores americanos, como mostra o exemplo abaixo, tendo como exemplo “The Battle Hymn of the Republic” da compositora norte-americana Julia Ward Howe:

Frase em inglês

Possível erro de pronúncia

Como

se

falaria

em

português coming of the Lord “comin ófi de Lórdji” – “Câmin óv dãlôrd” [kəmɪŋ əv ðə lɔrd]

quase inteiramente associado à língua portuguesa do Brasil

Por último tratei das elisões, que não deixa de ser algo que fazemos com certa frequência quando falamos português, porém quando encontramos um idioma que não dominamos, ao ler uma frase, tentamos pronunciar palavra por palavra, e isso prejudica a fluência do texto. Musicalmente falando, a fluência do texto é fundamental para que a obra que está sendo trabalhada possa ter sentido musical. Assim como previsto, a pesquisa servirá como um caminho para regentes de coros que possuam coralistas que não dominam a língua inglesa americana e/ou o Alfabeto Fonético Internacional. Sendo assim transcrevi alguns fonemas do AFI como este seria falado em português do Brasil. Isto, de certa forma, facilitaria o trabalho do regente para com o coro que está sendo ensaiado, não só para melhorar a inteligibilidade do texto em si, mas também para haver uma compreensão do texto musical para todos os ouvintes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPELMAN, D. Ralph. The science of vocal pedagogy. Indiana University Press.1986 MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953 FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v. 39, n. 4, p. 270-81, 1991. EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance. Prescription for Choral Excellence. Oxford Press: 2006. JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura. Vozes mistas com piano. JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura. Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal. FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., A prática coral na atualidade:

sonoridade,

interpretação

e

técnica

vocal.

2006.

http://www.revistas.ufg.br/index.php/musica/article/download/1865/1770. Acesso em: 9 de setembro de 2012. OHISHI, Yasunori; GOTO, Masataka; ITOU, Katunobu; TAKEDA, Kazuya. Discrimination

between

Singing

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Speaking

Voices,

2005,

ftp://ftp.cs.pitt.edu/web/projects/nlp/conf/interspeech2005/IS2005/PDF/AUTHOR/IS05 1733.PDF, acesso em: 12 de outubro de 2012. Diction and Languages. http://studio.miriamtikotin.com/voice_diction.html. Acesso em: 8 de outubro de 2012 Is the letter Y a vowel or a consonant? http://oxforddictionaries.com/words/is-the-lettery-a-vowel-or-a-consonant Acesso em: 5 de outubro de 2012 BBC – elision. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision Acesso em: 8 de outubro de 2012

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA NEWTON, George. Sonority in singing: a historical essay. New York: Vantage Press. 1984. Choral Forum. http://www.choralnet.org/view/221707 Acesso em: 4 de outubro de 2012 FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp. http://dictionary.reference.com/browse/of?s=t Acesso em: 4 de outubro de 2012

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