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Prefácio

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Carne tenra

Carne tenra

Cristian Lopes*

Ainda que criemos raízes, todos somos transeuntes –ou deveríamos ser. Com um título provocativo, que imediatamente nos desperta a curiosidade para o que pode ser fixo, permanente e, simultaneamente, passageiro, transitório, Luciano Serafim, mais que poeta, um pensador das alteridades e dos contrastes, nos oferece um diálogo com a ausência, um retrato do efêmero, sem, com isto, perder o seu lirismo característico.

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Por meio de uma linguagem formal-coloquial, tem-se como resultado versos híbridos, cujos motes vêm ao encontro de sentimentos próprios do ser humano, a saber: a paixão, o medo, o amor, a inveja, a vida, etc., propiciandonos, (des)pretensiosamente, reflexões existenciais que nos movem na busca do desconhecido. Trata-se, portanto, de uma poesia capaz de nos transportar para a essência do provisório, para o centro da liquidez do nosso tempo.

Raiz transeunte revela-se um título e uma obra abissal e, paradoxalmente, prazerosa de ler. Um livro potente por transgredir o que está posto, estabelecido, seja pelo seu conteúdo que aponta para o “entre” (dois seres, duas situações), para a fronteira, tomando esta como espaço de passagens, de expectativas, onde algo se reelabora e se refaz, seja pela

sua forma de produção, edição e publicação de modo independente.

Estou a falar de uma obra cheia de significados, realizada com mestria, que designa, demonstra, representa, interpela, suplica, insinua e ressoa silenciosamente ao leitor contemporâneo que anseia pelo diferente, pelo heterogêneo, pelo excêntrico: “mais rio / menos lago / mais canto / menos grito / mais gente / menos mito”. Como não se identificar?

Não creio enganar-me dizendo que o leitor moderno será, em alguma medida, provocado por estes versos, pois, como disse, todos somos transeuntes.

* Especialista em Estudos Literários (UEMS) e Mestrando em Literatura e Práticas Culturais (UFGD).

RAIZ TRANSEUNTE

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