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No âmbito da disciplina de Português, no dia 3 de dezembro, os alunos da turma 12º1 percorreram a Baixa de Lisboa, com o objetivo de visitar os locais de referência do poeta Fernando Pessoa, em Lisboa, acompanhados pelas professoras Lurdes Cruz e Lúcia Teixeira. Esta visita foi dinamizada pelos alunos Cátia Miranda, Rita Mateus, Maurício Antunes e Miguel Diogo. Este livro digital pretende divulgar, através das fotografias dos alunos e das professores e do roteiro proposto pelo grupo
de
alunos
organizadores,
a
“Lisboa de Pessoa”.
A tarde estava fria e seca. O Sol brilhava no azul do céu. Permitia visualizar o Tejo ao longe e o bulício da cidade. Iniciamos o nosso percurso!
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Imaginem-se de fato, com um chapéu na cabeça, de lunetas postas, bigode aparado e pasta na mão. Quem acham que estão a idealizar? Então Vamos conhecer lisboa em Pessoa!
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Do Chiado ao Largo do Carmo
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2
3 1
1- Largo SĂŁo Carlos 2- CafĂŠ A Brasileira 3- Miradouro Santa Catarina 4- Largo do Carmo 5
Às três horas e vinte minutos da tarde de 13 de Junho de 1888, nascia em Lisboa, Fernando Pessoa. O parto ocorreu no quarto andar esquerdo no nº4 do Largo de São Carlos.
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Ó meu passado de infância, boneco que me partiram! Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela afeição, E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente! Mas tudo isto foi o Passado, lanterna a uma esquina de rua velha. (ÁLVARO DE CAMPOS, «Ode Marítima»)
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Igreja que o poeta de alma lusitana avistava do prédio onde residiu, no Largo de São Carlos.
Ó sino da minha aldeia Dolente na tarde calma Cada tua badalada Soa dentro da minha alma
Em carta datada de 1931, Pessoa afirma que:
O sino da minha aldeia, Gaspar Simões, é o da Igreja dos Mártires, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o Largo de São Carlos. (Carta de Fernando Pessoa A João Gaspar Simões, Europa-América,1947)
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A basílica que vemos hoje é uma reconstrução; esta, em 1147, situava-se no alto
da
Colina
de
S.
Francisco, e foi destruída pelo Terramoto de 1755. Fernando
Pessoa
foi
batizado, nesta igreja, a 21 de Julho de 1888, com o nome Fernando António Nogueira Pessoa. E perguntam-me vocês Fernando António? É Fernando António, por ter nascido a 13 de Junho, o dia em que Fernando de Bulhões é aclamado Santo António.
RUA DE SÃO MARÇAL O
seu
pai
falece
com
43
anos,
de
tuberculose. A sua mãe muda-se para uma casa mais modesta, na Rua de S. Marçal. É neste período que surge o 1º heterónimo, Chevalier de Pas. No mesmo ano, Fernando Pessoa cria o seu 1º poema, um verso curto com a infantil epígrafe de “ A Minha Querida Mamã”.
Eis-me aqui em Portugal Nas terras onde eu nasci Por muito que goste delas Ainda gosto mais de ti
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Na
esplanada
d’A
Brasileira,
Lagoa Henriques criou a figura em bronze de Fernando Pessoa, sentado à mesa bebendo café. Ao lado deste histórico local de encontro e de tertúlia de muitos escritores, pintores, políticos e pensadores, encontramos a Havanesa, outro dos lugares famosos do Chiado.
CAFÉ A BRASILEIRA Trata-se de um café de tradição histórica, situada no Chiado. Foi inaugurado por Adriano Telles um português que fizera fortuna no Brasil, e quisera trazer ao coração do Chiado, a venda do genuíno café do Brasil. O café não fazia parte da cultura Lisboeta, era uma bebida pouco apreciada e até evitada pela população, o que fez que Telles, inicialmente, servisse café aos clientes para que o provassem, sem cobrar, de maneira a criar gosto por aquela bebida aromática e amarga, que estava distante de ser servido em chávenas, de ser extraído de máquinas ou possuir um aspeto cremoso. 10
Foi também neste café que, em 19 de novembro de 1935 (11 dias antes de morrer), o poeta escreveu o seu último poema, em português:
Há doenças piores que as doenças, Há dores que não doem, nem na alma Mas que são dolorosas mais que as outras. Há angústias sonhadas mas reais Que as que a vida nos traz, há sensações Sentidas só com imaginá-las Que são mais nossas do que a própria vida. Há tanta coisa que, sem existir, Existe, existe demoradamente é nossa e nós... Por sobre o verde turvo do amplo rio Os circunflexos brancos das gaivotas... Por sobre a alma o adejar inútil Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo. Dá-me mais vinho, porque a vida é nada. Fernando Pessoa
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Foi certamente o transporte público mais utilizado por Pessoa, nas suas deslocações entre a sua casa em Campo de Ourique e a Baixa de Lisboa, onde se situavam as casas comerciais para quem trabalhava e os cafés onde se encontrava com os seus amigos.
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No Largo do Carmo, em 1907, o poeta viveu num quarto alugado, no primeiro andar do prĂŠdio nÂş18.
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António de Oliveira Salazar. Três nomes em sequência regular... António é António. Oliveira é uma árvore. Salazar é só apelido. Até aí está bem. O que não faz sentido É o sentido que tudo isto tem. ...... Este senhor Salazar É feito de sal e azar. Se um dia chove, A água dissolve O sal, E sob o céu Pica só azar, é natural. Oh, c'os diabos! Parece que já choveu... ...... Coitadinho do tiraninho! Não bebe vinho. Nem sequer sozinho... Fernando Pessoa, Da República (1910 - 1935)
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Do Rossio ao Terreiro do Paรงo
2 1
3
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1- Largo do Rossio 2- Praรงa da Figueira 3- Rua dos Fanqueiros 4- Terreiro do Paรงo
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Fernando
Pessoa
trabalhou em mais de 20 firmas,
situadas
em
locais
da
inúmeros
cidade, quase todas na Baixa (como a Rua da Prata,
Rua
Douradores, Assunção,
dos
Rua Rua
da da
Vitória, Rua do Ouro, Rua da Conceição, Rua dos Fanqueiros, etc.).
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, Acordar da Rua do Ouro, Acordar do Rossio, às portas dos cafés, Acordar E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono. Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar, Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo. À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma, E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo. (ÁLVARO DE CAMPOS, «Acordar»)
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Descendo a Rua Garrett e a Rua Nova do Almada, na direcção da Rua do Ouro, pela Rua da Conceição, chegamos à Rua da Prata, onde trabalhou Fernando Pessoa, redigindo correspondência em inglês. Uma dessas firmas comerciais, a Ourivesaria Moitinho, situava-se no nº 71. Das
janelas
primeiro
do
andar,
Pessoa via, na Rua da
Conceição,
então
a
existente
Havaneza
dos
Retrozeiros,
hoje
Casa Pampas, que inspirou Álvaro de Campos
no
seu
poema «Tabacaria».
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real for fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. (ÁLVARO DE CAMPOS, «Tabacaria»)
Foi nestes escritórios da Baixa, em especial no primeiro andar da Ourivesaria Moutinho, que o semi-heterónimo Bernardo Soares escreveu O Livro do Desassossego. Mas a história aí relatada é transferida ficcionalmente para a Rua dos Douradores, que o poeta atravessa sempre ao almoço.
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E recordo-me, como ao lar
que os outros têm, à casa alheia, escritório amplo, da Rua
dos
Douradores.
Achego-me
À
secretária,
como
baluarte
minha
contra
a a
um vida.
Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que
me sirvo, pelas
costas sobradas de Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que
amar
–
ou
talvez,
também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspeto do meu tinteiro como À grande indiferença das estrelas. (FERNANDO PESSOA, O Livro do Desassossego de Bernardo Soares)
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Ao lado da Praça da Figueira, podemos encontrar o Rossio e visitar a outra Brasileira ou o Café Nicola, famoso não só por ser um dos lugares de Bocage, mas também por ser aí que Fernando
Pessoa
escreveu
alguma da sua obra e se encontrava com Mário de SáCarneiro e outros escritores amigos.
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«Fernando Pessoa em flagrante delitro» (dedicatória a Ofélia Queirós)
Subindo novamente a Rua da Prata, vamos até à Praça da Figueira, cuja visão crítica o leva a dizer:
A praça da Figueira de manhã, Quando o dia é de sol (como acontece Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece, Embora seja uma memória vã. Há tanta coisa mais interessante Que aquele lugar lógico e plebeu, Mas amo aquilo mesmo aqui… Sei eu Porque amo? Não importa. Adiante… Isto de sensações só vale a pena Se a gente se não põe a olhar para elas. Nenhuma delas em mim serena… De resto, nada em mim é certo e está De acordo comigo próprio. As horas belas São as dos outros ou as que não há. (ALVARO DE CAMPOS, “Praça”)
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Continuando podemos
na
Baixa,
seguir
outros
caminhos
diariamente
percorridos por Pessoa, como a Rua da Vitória, a Rua Augusta e a Rua da Assunção, onde no nº42, segundo
andar,
no
escritório Féliz Valladas & Freitas
Lda,
conheceu
Ophélia Queirós, em 1920 (um dos sócios era Mário Nogueira de Freiras, primo de Fernando Pessoa). 23/03/1920, Meu querido Bebezinho, Hoje, com a quase certeza que o Osório não te poderá encontrar, pois além de ter que esperar aqui pelo Valadas, tem naturalmente que ir levar açúcar a casa de meu primo, quase que de nada me serve escrever-te. Vão, em todo o caso, estas linhas, para o caso de sempre ser possível fazer-te chegar a carta às mãos. […] (Cartas de Fernando Pessoa a Ofélia Queirós)
Entre as Ruas dos Douradores e dos Fanqueiros no nº4 da Rua de São Nicolau, ficava uma das tabernas de Abel Pereira da Fonseca, onde Pessoa surge fotografado em Setembro de 1929, «em flagrante delitro», como escreve a Ofélia Queirós. Os armazéns de Abel Pereira da Fonseca continuam em Lisboa, mas a taberna frequentada por Pessoa desapareceu.
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Deixando o Rossio, em direção ao Terreiro do Paço, descendo a Rua da Prata, podemos observar o Tejo e, na esquina norte, o mais antigo café da cidade, o Martinho da Arcada, onde Fernando Pessoa passava muitas das suas horas.
Se entrarmos no Martinho da Arcada, podemos ver uma pintura na parede de azulejos brancos a homenagear o poeta.
Ó céu azul – o mesmo da minha infância Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o céu se reflecte! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de h
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Conhecer Lisboa em Pessoa
12ยบ1
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