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TFG 2013

Cidadania BLZ Um Centro de Formação Profissional em Beleza

Luana Cifuentes RA:074183 Orientadora: Profa. Dra. Silvia A. G. Pina Mikami

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Luana Soledad Silva Cifuentes

Cidadania

BLZ

Um Centro de Formação Profissional em Beleza

Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Orientação: Profa. Dra. Silvia Aparecida Gonçalves Pina Mikami Campinas, 2013

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rESumo O

mercado voltado para beleza cresce no mundo todo, inclusive no Brasil, revelando uma crescente demanda por profissionais treinados e capacitados. Neste contexto se propõe um espaço educativo para formação profissional no setor de beleza, inserido em meio urbano, mais precisamente no distrito do Tatuapé na cidade de São Paulo, enriquecendo as opções dos que buscam esse serviço, além de criar mão de obra especializada para atender a demanda cada vez mais exigente. Por outro lado a formação em gestão e empreendedorismo proporciona ao profissional um diferencial na inserção ao mercado de trabalho. Assim desenvolve-se uma proposta de um salão-escola, como complemento do curso profissionalizante e como local de atendimento ao público, criando maior interação e proximidade com o local de implantação. Para tanto, soma-se um espaço de atendimento voltado à saúde e estética além de espaços adequados para convivência e possíveis eventos no bairro. O projeto nasce inicialmente de uma análise cuidadosa do lugar, seguido de um estudo das demandas existentes por este tipo de equipamento urbano em São Paulo. Em seguida, foram identificadas as necessidades e exigências programáticas por meio de entrevistas com usuários e comunidade local, bem como visitas técnicas a salões e escolas de referência. Também desenvolveu-se uma pesquisa em busca de referências tanto projetuais quanto conceituais, que fundamentassem o programa e a proposta projetual.

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Sumário Introdução_________________________________________________________________________________________________________ 5 Objetivos__________________________________________________________________________________________________________ 6 Justificativa_________________________________________________________________________________________________________ 7 1. Argumentação Teórica_____________________________________________________________________________________________ 8 1.1 O Belo como conceito____________________________________________________________________________________________ 8 1.2 A beleza como prática___________________________________________________________________________________________ 16 1.3 Capacitação e Empreendedorismo no Brasil_ ______________________________________________________________________ 19 1.4 A Zona Leste e o Tatuapé_________________________________________________________________________________________ 21 2. O Local de Projeto_______________________________________________________________________________________________ 26 2.1 A Escolha do Local_ _____________________________________________________________________________________________ 26 2.2 Caracterização do Local: Tatuapé_________________________________________________________________________________ 29 2.3 Visita de Campo: Tatuapé________________________________________________________________________________________ 31 2.4 Seleção do Terreno_ ____________________________________________________________________________________________ 35 2.5 Dados do Terreno – levantamentos e legislação____________________________________________________________________ 36 2.5.1 Legislação – Lei de Uso e Ocupação do Solo______________________________________________________________________ 36 2.5.2 Plantas de Situação e Topografia do Terreno______________________________________________________________________ 37 2.5.3 Levantamento do Entorno do Terreno: usos e gabaritos_ __________________________________________________________ 39 2.5.4 Levantamento Fotográfico______________________________________________________________________________________40 3. Referências Projetuais e Programáticas_____________________________________________________________________________ 41 3.1 Referências_____________________________________________________________________________________________________ 41 3.1.1 Bauhaus, Alemanha, 1925 – Walter Gropius _______________________________________________________________________ 41 3.1.2 Colégio Gerardo Molina, Colômbia, 2004 – Giancarlo Mazzanti____________________________________________________ 43 3.1.3 Sassoon Academy, Xangai – A00_ _______________________________________________________________________________ 44 3.1.4 Kaze Hair Salon, São Paulo, 2010 – Forte, Gimenez & Marcondes Ferraz Arquitetos___________________________________ 45 3.1.5 Fudge Hair Pop-up Salon, Londres, 2012 – Zaha Hadid_____________________________________________________________ 48 3.1.6 Hertford Regional College, Hertford, 2009 – Bond Bryan Architects_________________________________________________ 49 3.1.7 Táña Kmenta Hair Studio, Brno, República Checa, 2012 – Studio Muon______________________________________________50 3.2 Outras Escolas de Beleza_________________________________________________________________________________________ 51 3.2.1 Visitas de Campo______________________________________________________________________________________________ 53 4. Programa de Necessidades_ ______________________________________________________________________________________ 56 4.1 Questionário_ __________________________________________________________________________________________________ 56 4.2 Programa de Necessidades_ _____________________________________________________________________________________ 58 5. Processo de Projeto______________________________________________________________________________________________ 61 6. Conclusão_ _____________________________________________________________________________________________________69 Referências Bilbiográficas___________________________________________________________________________________________70 Pranchas__________________________________________________________________________________________________________ 72

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iNTroDuÇÃo O

setor de beleza é um dos que mais tem crescido no país nos últimos cinco anos. Segundo o SEBRAE-SP, o número de salões de beleza abertos no país cresceu 78% no primeiro semestre de 2012, somente no Estado de São Paulo foram abertos 8176 novos salões, tais números revelam uma crescente demanda por profissionais capacitados, visto que o público vem se tornando cada vez mais exigente. Esse crescimento se deve, em parte, ao avanço econômico do país, que tornaram serviços e produtos relacionados ao setor mais acessíveis às mais diversas camadas da sociedade, podendo a beleza ser um considerada um luxo ao alcance de todos (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008). Por outro lado, as mudanças no papel da mulher também contribuíram para esse fenômeno (DWECK, 2006), permitindo ampliar seu espaço no mercado de trabalho, e conseguinte, aumentar o poder de compra dessa população, principal consumidora de serviços de beleza, e que busca nestes bem-estar, auto estima e valorização de si mesmas. Outros fatores devem ser levados em consideração, a maior longevidade da população em uma sociedade que valoriza o “ser jovem” e inclusive a discriminação pela aparência física, em que pessoas de melhor aparência conseguem empregos e salários melhores com maior facilidade (DWECK, 2006). Outro ponto, não menos importante que contribui para esse crescimento do mercado de beleza, em especial salões e serviços, é a recente criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI) tornando possível a formalização de profissionais da área.

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É em um bairro de centralidade regional crescente e de histórico industrial, o Tatuapé em São Paulo, que se propõe a implantação de uma escola ou centro de capacitação em beleza, um local apropriado para a preparação de profissionais do setor (cabeleireiros, manicures e maquiadores, ocupações que totalizam cerca de 80% do total no setor – DWECK, 2006), tanto teórica quanto prática, seja na técnica do ofício ou ainda no atendimento ao público ou gestão do negócio, este último sendo um importante diferencial em um mercado tão competitivo, em especial para aqueles que planejam uma atuação independente (BIZARRO, 2012). Desenvolve-se portanto um programa primariamente educacional, que une ofícios de beleza e gestão, além de espaço de atendimento ao público, que busca referências em projetos arquitetônicos igualmente educacionais e embasamento programático em outras escolas já existentes no Brasil e no mundo. Tudo sob um direcionamento teórico conceitual, o qual discorre conceitos da beleza e do belo, a importância da capacitação profissional e também sobre a dinâmica e formação urbana da Zona Leste de São Paulo e do Bairro do Tatuapé.


oBJETiVoS B

usca-se propor um espaço adequado à aprendizagem, cujo programa proporcione novas oportunidades à população que procura formação ou especialização profissional, ou ainda inserção no mercado de trabalho. Um espaço que estimule e convide o usuário, seja ele aluno, cliente ou vizinho da escola, integrando-se ao bairro respeitando as características e a identidade local, agregando novos usos. O objetivo deste estudo se resume ao projeto de uma escola profissionalizante no ramo de beleza, oferecendo formação para cabeleireiros, manicures, maquiadores, massagistas e depiladores, além de formação empreendedora e em saúde (proteção do profissional e dos clientes de acordo com normas e recomendações da Anvisa); ocorrendo, em paralelo, o atendimento ao público através de um salão de beleza e de uma pequena clínica de saúde e estética; oferecendo também espaços de convívio para alunos, funcionários, clientes e vizinhos. Trata-se de uma proposta projetual que busca atender às necessidades dos usuários do bairro - constatadas em visitas ao local e na aplicação de questionário - e da população que procura formação profissional e serviços de beleza (cabeleireiro, manicure, maquiagem, etc); respeitar o histórico e a dinâmica urbana do bairro em que está inserido, o Tatuapé; oferecer ambientes educacionais e de convivência espacialmente adequados, proporcionando conforto de acordo com as preocupações ambientais; e espaços de atendimento ao público convidativos e funcionais; tudo dentro das leis de zoneamento e de uso e ocupação do solo da subprefeitura da Móoca, do município de São Paulo.

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Justificativa O

trabalho aqui apresentado propõe um projeto que se insere no mercado de beleza do país, o qual vem crescendo rapidamente ao longo dos últimos dez anos. O Brasil, segundo pesquisa divulgada no jornal The Economist, é o sétimo país mais vaidoso entre os 30 pesquisados, e ocupa o terceiro lugar entre os maiores consumidores de cosméticos e produtos relacionados à beleza, ficando atrás somente dos EUA e Japão. Nota-se uma crescente vaidade do povo brasileiro, homens e mulheres, e uma maior preocupação estética, provavelmente resultado da influência provocada pela mídia pregando bem-estar e sucesso através de cuidados estéticos do corpo; ao que se soma uma certa “democratização da beleza” visto que serviços e produtos relacionados ao setor se apresentam de formas variadas e acessíveis às diversas camadas da sociedade. Segundo Dweck (2006), outros aspectos sociais e comportamentais auxiliaram ao crescimento do mercado, entre eles a maior longevidade da população e a valorização do “parecer jovem”, e pela recente adesão dos homens à esse fenômeno. Dweck, em seu estudo publicado em 2006, analisou a fundo o mercado, constatando o crescimento deste ao ressaltar que, no Brasil, em 1985 eram empregados 361 mil profissionais do setor, número que dobrou na década seguinte e em 2003 apresentava um valor superior a um milhão de profissionais. Em seu estudo observa-se também o crescimento da participação da mulher no setor, fenômeno ligado ao processo social em que a mulher vem ganhando independência econômica e maior espaço nos mercados de trabalho e consumidor. Quanto ao perfil do profissional, Dweck nos apresenta um panorama da mão-de-obra formada principalmente por mulheres, representando em 2001 cerca de 80% dos profissionais do setor, e que em sua maioria trabalham por conta própria; são profissionais com idades entre 30 e 39 anos, em sua maioria sem ensino superior, com segundo grau completo ou incompleto.

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Hoje vivemos um momento de valorização desses profissionais, antes pensava-se no setor como um que não exigia maior preparação profissional, mas temos visto na última década o aparecimento de cursos superiores no área. Em pesquisa denominada “Determinantes da satisfação e atributos da qualidade em serviços de salão de beleza” publicada no periódico Produção em 2012, a competência técnica dos profissionais foi o aspecto que apresentou maior participação na satisfação dos clientes, somando 11,8%, seguido da higienização, compromisso com horários e localização conveniente. Nota-se, assim, a importância da capacitação profissional para o sucesso de um empreendimento no setor, capacitação esta que dá forma ao programa do projeto apresentado, porém que envolve não apenas preparação técnica do ofício, mas também preparação administrativa a fim de dar suporte aos novos empreendedores, cujo número vem crescendo graças ao incentivo do SEBRAE, que com a criação da figura do Empreendedor Individual permitiu que muitos profissionais do setor de beleza, cabeleireiros e manicures principalmente, regularizassem sua atividade. O projeto surge, portanto, como uma forma de atender à necessidade de formação profissional para pessoas que desejam entrar no mercado de trabalho no setor de beleza e cuidados pessoais, ou ainda profissionais já preparados que buscam atualizar seus conhecimentos ou especialidades, promovendo conhecimentos teóricos e práticos, além de oferecer um novo espaço de atendimento ao público da região, atendendo necessidades estéticas e de saúde. Por outro lado, a criação de um espaço próprio para esse uso pode vir a formar uma nova visão sobre esses profissionais, sendo sua capacitação encarada com mais seriedade levando a uma consequente valorização dos mesmo, valorização esta, ainda pequena na sociedade brasileira, em que a opção por uma carreira no setor por vocação e vontade própria, no lugar de uma opção secundária, é um fenômeno recente.


1. Argumentação_Teórica 1.1_O_Belo_como_conceito

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Beleza faz parte da humanidade e de sua história desde a antiguidade até os dias de hoje, assumindo diferentes formas, físicas ou conceituais, através dos tempos; já foi sinônimo de bondade, de proporção, de divino. Na antiguidade clássica a Beleza assumia um aspecto psicofísico, significando a harmonia entre corpo e alma, se é belo nas formas e se é belo quando se tem bondade na alma; em grego, kalón denomina aquilo que agrada, que provoca admiração e que atrai o olhar, seja no sentido literal ou metafórico, agradando aos olhos do corpo ou da mente. Nesse contexto, Umberto Eco em sua “História da Beleza” cita uma “primeira compreensão da Beleza que é ligada, entretanto às diversas artes que as exprimem e não têm um estatuto unitário: nos hinos, a Beleza se exprime na harmonia do cosmo; na poesia, no encanto que faz os homens se deliciarem; na escultura, na apropriada medida e simetria das partes; na retórica, no ritmo” (ECO, 2004. p.41). Com a ascensão de Atenas como grande potência a Beleza passa a ganhar contornos mais nítidos, e a estética ganha uma percepção mais clara, a pintura e a escultura progridem e a arte grega põe a visão subjetiva em primeiro plano chegando, eventualmente, a um “equilíbrio entre a representação realista da beleza, em particular aquela das formas humanas (...) e a adesão a um cânone (kanon) específico” (ECO, 2004. p.45). Não só na arte, mas também no campo da filosofia a Beleza tem seu espaço, principalmente em Sócrates e Platão, o primeiro, mais no plano conceitual, divide a Beleza em três cate-

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gorias estéticas: “Beleza ideal, que representa a natureza através de uma montagem das partes; a Beleza espiritual, que exprime a alma através do olhar (...), e a Beleza útil ou funcional” (ECO, 2004. p.48). Já o segundo concebe a Beleza de duas formas, como harmonia e proporção das formas (sob influência de Pitágoras) e a Beleza como esplendor - visão que virá a influenciar o pensamento neoplatônico mais adiante - como uma Beleza que tem uma existência autônoma, não vinculada aos objetos físicos, mas que resplandece em toda parte; Platão ainda defende que a visão intelectual deve superar a visão sensível, e que a arte nada mais é do que uma cópia da Beleza autêntica, aquela da natureza sendo, portanto, deseducativa e que deveria ser banida e substituída pela Beleza das formas geométricas, baseada em uma concepção matemática do universo. O pensamento grego a respeito da Beleza influenciou inúmeros pensadores ao longo da história da humanidade, no caso, Nietzsche foi altamente influenciado pela antítese Apolo e Dionísio, que exprime a problemática ordem/caos e que traz consigo a discussão da oposição entre Beleza e Aparência. É assim que Nietzsche separa a Beleza entre apolínea e dionisíaca, a primeira sendo aquela da harmonia serena, da ordem e da medida, que vem como anteparo para a dionisíaca, a Beleza conturbadora, que vai além das aparências, trata-se de uma “beleza noturna”, alegre e perigosa, representada como possessão e loucura; uma visão da Beleza que voltará a aparecer na idade moderna.


No que diz respeito à Beleza como ordem e proporção, foi Pitágoras o primeiro a defender uma visão estético-matemática do universo: “todas as coisas existem porque refletem uma ordem e são ordenadas porque nelas se realizam leis matemáticas que são ao mesmo tempo condição de existência e de Beleza” (ECO, 2004. p.61), foram os pitagóricos, por exemplo, os primeiros a estudar as relações matemáticas nos sons musicais. As proporções matemáticas não regem apenas os sons, mas também as formas arquitetônicas, os pitagóricos transmitem a ordem aritmética do número ao conceito geométrico-espacial, uma ordem regula “as dimensões dos templos gregos, os intervalos entre as colunas ou as relações entre as várias partes da fachada” (ECO, 2004. p.64). Ideais que aparecem também em Platão e no platonismo que aparece entre o humanismo e o renascimento, celebrado por Leonardo da Vinci, por Luca Pacioli no De divina proportione (a seção áurea), por Albert Dürer no Da simetria dos corpos humanos, assim como na obra de Vitruvius, que transmitiu para a idade média e ao renascimento as proporções arquitetônicas ótimas, obra na qual irão se inspirar grandes teorias do renascimento como De re aedificatoria de Leon Battista Alberti e os Quatro livros da arquitetura de Palladio. Vale lembrar que essas proporções arquitetônicas vêm carregadas de simbolismos, explicando as preferências formais em certas construções como igrejas e catedrais. Para os primeiros pitagóricos, entre dois opostos apenas um representava a harmonia e o belo (o ímpar, a reta, o quadrado), enquanto seu oposto representa o mal e a desarmonia; porém, seus discípulos sucessivos (que viveram entre os séculos V e IV a.C.) aceitam que “a harmonia não é ausência, mas equilíbrio entre contrastes” (ECO, 2004. p.72), ou seja, entre dois opostos não se anula um dos lados por ser um erro, mas os dois vivem em equilíbrio, tronando-se harmônicos, conceito que se transportado para o plano gráfico dá origem ao que entendemos como simetria. Uma simetria que sempre esteve presente na arte grega, mas que agora se assume como um cânone da arte da Grécia clássica; a justa proporção das formas e a simetria eram requisitos para que algo fosse considerado belo, os artistas criavam então, a princípio, formas humanas com equilíbrio entre dois lados iguais, dois olhos iguais por exemplo, mais tarde a simetria das formas passa a ser regida por relações proporcionais entre as partes (A está para B, assim como B está para C) como foi apresentado por Vitrúvio, estas proporções devem ser ainda adaptadas de acordo com o movimento do corpo da figura, da perspectiva, de acordo com a visão do espectador, adaptação esta a que Vitrúvio chama de euritmia, conceito que parece não ser usado na produção da idade média no que diz respeito às proporções na representação do corpo humano, o que, segundo Umberto Eco, se deve a uma valorização do beleza espiritual naquele momento. O ideal platônico de beleza como ordem e proporção seguiu no mundo medieval, neste momento com elementos de influência religiosa, autores da escola de Chartres, no século XII,

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defendem que “Deus dispôs todas as coisas segundo ordem e medida” (ECO, 2004. p.83), Deus criou os cosmo, a ordem de tudo, enquanto o ornamento e a Beleza do mundo ficam sob responsabilidade da Natureza. Tratava-se não de uma ordem imutável, matemática, rígida, mas de um processo orgânico no qual a natureza se sobrepõe ao número. No pensamento medieval nasce uma beleza que surge das proporções e dos contrastes, onde o belo se forma e cresce ao lado do feio, onde os monstros e o mal ganham sua razão de ser já que, por contrastes, tornam o belo e o bom, ainda mais belo e bom. Em outra fase do pensamento medieval, Tomás de Aquino dis-

Fig 01 – Esquema das proporções do corpo humano, 1490. (Fonte: ECO, 2004)

cute uma beleza que não é apenas proporção mas que apresenta também integridade, esplendor (cor nítida) e consonância, entretanto para Aquino a proporção não é apenas aquela ligada às formas físicas, é além disso um valor ético ligado ao princípio da adequação ao escopo, um martelo de cristal, por exemplo, seria portanto considerado feio, já que por mais belo que aparente ser mesmo assim não atende ao seu propósito, mostra-se inadequado à sua função primária. O próprio conceito de proporção ganha novos contornos ao passar dos séculos, modificando-se a cada nova problemática no caminho dos artistas e no gosto de cada cultura e de cada tempo. No renascimento vai ganhar “espaço a ideia de que a beleza,


mais que equilibrada proporção, nasce de uma espécie de torção, de tensão inquieta em direção a algo que está além das regras matemáticas que governam o mundo físico” (ECO, 2004. p.95), assim nasce a inquietude do maneirismo, paralelamente à grandes avanços científicos que mudaram a visão de mundo e do cosmo regido pela perfeição “pitagórica”, como o modelo planetário do Kepler, o qual propõe que a Terra realiza uma trajetória em forma de elipse, a qual tem o sol como um dos seus focos; ao que se soma a ideia de cosmos infinito, com a pluralidade dos mundos, proposta por Giordano Bruno no final do século XVI. Ainda na Idade Média, Aquino recorda a necessidade da clareza e da luminosidade à beleza, a claritas. O neoplatonismo se une à tradição cristã pregando uma beleza que traz em si Deus, o divino, em forma de luz e que percebe o belo pela nitidez e riqueza da cor. Enquanto Tomás de Aquino defende que se é belo desde que se atenda adequadamente à sua função, Isidoro de Sevilha percebe que algumas coisas são destinadas à utilidade, enquanto outras ao decus, ou seja, ao ornamento; o corpo humano, por exemplo, parece mais belo por conta de ornamentos naturais (cabelos, umbigo, sobrancelhas, seios) ou artificiais (roupas, joias), quanto aos ornamentos em geral, ganham valor os que se baseiam na luz e na cor: “os mármores são belos por sua brancura, os metais pela luz que refletem” ou ainda as pedras preciosas que “são belas por sua cor, e a cor nada mais

Fig 02 – Catedral de Notre-Dame, Paris (Fonte: ECO, 2004)

é que luz do sol aprisionada e matéria purificada” (ECO, 2004. p.113). A luz por si só já é considerada sinônimo de beleza, quando associada à religiosidade, Deus, com sua beleza indivisa, é fonte de luz, do fluxo luminoso que deu origem ao universo e ao Ser, é dessa luz que derivam, por rarefações e condensações progressivas, os elementos com suas esfumaturas, cores e volumes. Em um momento em que o desenvolvimento da ótica traz novos horizontes tem-se que “a proporção do mundo nada mais é, portanto, que a ordem matemática em que a luz, em seu difundir-se criativo, se materializa segundo as diversas resistências impostas pela matéria” (ECO, 2004. p.126); estas visões de beleza se traduzem, principalmente, nas construções de igrejas góticas, cortadas por lâminas de luz, pelos vitrais coloridos que filtram e modificam a luz, trazendo o divino e o belo para o interior do espaço arquitetônico. Sob uma visão aristotélica, Bonaventura de Bagnoreggio trata a luz como uma realidade metafísica, sendo esta a forma substancial dos corpos, portanto, é a luz o princípio de toda beleza, é dela que surgem as cores e luminosidades da terra e do céu. Bonaventura percebe a luz sob três aspectos: lux, luz como pura força criativa e origem de todo movimento, desde os germes no interior da terra, às pedras e minerais; lumen, a luz possui em si o ser luminoso e é transportada através do espaço; e luz como cor ou esplendor, refletida pelos corpos opacos. Por outro lado, enquanto Bonaventura trata a luz como realidade metafísica, Tomás de Aquino a trata como realidade física, a luz nada mais é do que uma qualidade ativa do sol ao encontrar um corpo, que recebe e transmite esta

Fig 03 – Catedral de Notre-Dame, Paris, Rosácea Norte. (Fonte: ECO, 2004)

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luz e suas qualidades. Mais adiante, entre os séculos XV e XVI, o movimento neoplatônico promovido em Florença por Marsilio Ficino, propõe uma nova concepção de beleza, uma beleza com alto valor simbólico, contrária à beleza como proporção e harmonia, fala-se de uma beleza supra-sensível do todo, a qual pode-se contemplar pela beleza sensível; é um momento em que se discute uma “beleza divina (que) difunde-se não apenas na criatura humana, mas também na natureza” (ECO, 2004. p.184). Na arte, principalmente na pintura, essa visão se reflete nos simbolismos das formas representadas e em como estas são mostradas. “A arte encontra-se em três níveis: no espírito do artista, no instrumento que ele utiliza e na matéria que recebe sua forma de arte” (DANTE in PANOFSKY, 1994). Umberto Eco cita como tal simbolismo da beleza, como natureza e divino, está presente principalmente nas representações de Vênus: “Em seu Amor sacro e amor profano, Ticiano refere-se explicitamente às Vênus Gêmeas para simbolizar a Vênus Celeste e a Vênus Vulgar, duas manifestações de um único ideal de beleza (...). Botticelli, ao contrário, espiritualmente próximo de Savonarola (para quem a beleza não é qualidade que deriva da proporção das parte, mas resplandece tão mais luminosamente quanto mais se aproxima da beleza divina), põe a Vênus Genitrix no centro da dupla alegoria da Primavera e do Nascimento de Vênus” (ECO, 2004. p.188). O renascimento, por sua vez, coloca o artista em um novo lugar, defronte a uma nova problemática, enquanto alguns defendiam uma beleza baseada na natureza de forma que a arte deveria representá-la fielmente, como Leonardo da Vinci ao estabelecer o princípio de que “a pintura mais digna de elogio é a que apresenta maior semelhança com a coisa que quer pintar, e digo isso para refutar os pintores que querem corrigir as coisas da natureza” (LEONARDO in PANOFSKY, 1994), outros trazem a discussão do triunfo da arte sobre a natureza, uma certa liberdade criativa ao representá-la, porém ainda buscando representar seus elementos belos, harmônicos e proporcionais, evitando ao máximo a deformidade, elevando a beleza da natureza e não apenas representando sua verdade e tornando

Fig 04 – Ticiano Vecellio. Amor Sacro e Amor Profano, 1514, (Fonte: ECO, 2004)

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o feio de alguma forma belo, seja corrigindo imperfeições ou agregando-lhe valor, atribuindo-lhe admiração. O ato de tornar algo belo, corrigi-lo para que transpareça sua beleza, é uma prática que não se atém às artes, mas também ao comportamento da sociedade. Umberto Eco ressalta que “a mulher renascentista usa a arte da cosmética e dedica-se com atenção à cabeleira (...), tingindo-a de louro que muitas vezes tende ao ruivo. Seu corpo é feito para ser exaltado pelos produtos da arte dos ourives, que também são objetos criados segundo cânones de harmonia, proporção e decoro” (ECO, 2004. p.196). O autor atribui este comportamento, principalmente, ao novo papel que a mulher ganha no renascimento, em especial na corte, onde se ditam leis de moda e gosto, além de se mostrarem ativas nas belas artes e em outros campos intelectuais. Com a Reforma ocorrem, entre os séculos XVI e XVII, certas mudanças de costumes que vêm por sua vez, modificar a imagem feminina agora não mais representada somente através de uma beleza sensual ou de um simbolismo religioso, a mulher agora é uma comprometida dona-de-casa, é educadora. Eco dá atenção especial à pintura holandesa, caracterizandoa como “livremente prática”, são pinturas que ilustram o ambiente doméstico, onde as mulheres podem ser sensuais e ainda realizar suas tarefas de dona-de-casa de forma eficientes, e por mais que o ambiente possa expressar o poder da família, as vestes dos homens se mostram simples práticas para as tarefas do dia. Estamos, como lembra o autor, em um momento de “dissolução da beleza clássica nas formas do maneirismo e do barroco, ou do realismo caravagista e flamengo, (que) já acena com os sinais de outras formas de expressão da beleza: o sonho, o estupor, a inquietude” (ECO, 2004. p.212). Os maneiristas, por sua vez, aceitam os modelos da beleza clássica, entretanto dissolvem-lhe as rígidas regras dos cânones e opõem à ela uma certa espiritualização, “suas figuras se movem no interior de um espaço irracional e deixam emergir uma dimensão onírica ou, em termos contemporâneos, surreal” (ECO, 2004. p.220); no maneirismo prefere-se uma figura com movimento à figuras de proporções minuciosamente calculadas,


embora não se rejeitem as proporções, já que são figuras que surgem de profundo estudos de anatomia humana; sua beleza é uma beleza refinada, culta e cosmopolita, como expressa Eco, ao contrário do que virá a ocorrer no barroco, com traços mais populares e emotivos. O barroco traz em si uma beleza além do bem e do mal, que “pode dizer o belo através do feio, o verdadeiro através do falso, a vida através da morte” (ECO, 2004. p.233), trata-se de uma beleza presente no todo, sem hierarquias que a regem, presente nas expressões faciais, em um olhar, nas dobras de um vestido, na melancolia e na dramaticidade das cenas. Refere-se ao século XVIII como um período racional, coerente, mas mostra uma complexidade que vai além. Assim como a sociedade se torna cada vez mais diversificada, também acontece com o pensamento da época, seja na arte ou na filosofia, diferentes correntes e visões coexistiam na sociedade, embora cada uma se desenvolvendo em seu respectivo nicho, fosse na aristocracia, na burguesia emergente ou na jovem nobreza. Umberto Eco menciona, por exemplo, como Kant nos traz um lado luminoso da razão iluminista, e o marquês de Sade um lado obscuro e inquietante, enquanto o neoclassicismo busca regras rígidas e vinculantes em contraposição ao anticlassicismo que expressa uma beleza estilizada e trágica (no sentido grego da palavra). No campo da arquitetura o neoclassicismo se expressa em um novo rigor dos estilos em nome de um naturalismo mais rigoroso, em especial na Inglaterra, onde a arquitetura de então expressa acima de tudo sobriedade, distanciando-se dos excessos das formas barrocas; “o parque de Versalhes é assumido como modelo negativo, pois o jardim inglês não recria, mas reflete a beleza da natureza, não encanta com o excesso, mas com a

Fig 05 – Giuseppe Sanmarfino, Cristo Velado, 1753. (Fonte: ECO, 2004)

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composição harmoniosa dos cenários” (ECO, 2004. p.242). A partir da segunda metade do século XVIII, os artistas, e não somente eles, passam a reivindicar uma maior liberdade expressiva, liberdade dos cânones; nesse contexto defende-se uma beleza de caráter mais subjetivo, ao afirmar que a beleza não é inerente às coisas, mas se forma na mente do crítico, do espectador livre de influências externas, assume-se também a subjetividade do gosto sendo o que para mim é belo, para o próximo pode ser feio, é então que se inicia o apreço pela estética das ruínas e por seu simbolismo (memória da devastação do tempo; fé na possibilidade de reconstrução do passado). O século XVIII, entre muitas inovações, trouxe uma nova relação entre intelectuais e o público, trouxe a afirmação dos salões femininos e do papel da mulher, e o surgimento de novos temas artísticos. Os intelectuais e artistas passam a ganhar maior independência econômica, livres de mecenatos, graças à expansão da indústria editorial. Assim propagam-se as ideias de filósofos, críticos e opinionistas, entre eles Eco menciona os mais conhecidos, Addison e Diderot, o primeiro defendendo uma beleza que se forma pela captação através da imaginação, o segundo trata a beleza como resultado da percepção que se forma através das variadas relações entre homem sensível e natureza. Na literatura, no romance de amor, nasce uma beleza vista com o olho interior das paixões, e abre-se caminho para a convicção de que o sentimento, ao contrário do que se pensava, não é uma perturbação da mente, mas faz parte da razão, é uma terceira faculdade do homem, e ganha espaço em uma luta contra a “ditadura da razão”. À essa luta unem-se Kant e Rousseau, ao se apartarem da razão; Kant defende que “belo é aquilo que agrada de forma desinteressada (...), o gosto é, por isso, a faculdade de julgar desinteressadamente um objeto (...)


mediante um prazer ou desprazer” (ECO, 2004. p.264). Na filosofia, começa a formar-se um novo conceito de belo, uma beleza, assim como em Kant, subjetiva, definida pela experiência de um sujeito com capacidades cognitivas regidas pelo gosto (também subjetivo) e pelo sentimento, as quais o tornam capaz de apreciar o fruto do gênio e da imaginação. E é nessa discussão que o sublime ganha seus contornos. Já na época alexandrina surgiam as primeiras ideias a respeito do sublime, Pseudo-Longino considera o sublime uma expressão da participação do sentimento, seja no criador, seja no espectador, para ele o sublime é algo que “anima o discurso poético de dentro para fora” (ECO, 2004. p.278), o sublime é então um efeito da arte com a finalidade de causar prazer. Por outro lado, a perspectiva setecentista, considera o sublime associado, não à arte, mas à natureza, privilegiando o informe, o doloroso, o tremendo. Dividia-se o prazer estético em dois universos, o belo e o sublime, embora não completamente separados, já que ambos baseiam-se em um distanciamento do objeto de apreciação, algo é belo quando agrada de forma desinteressada, enquanto o sublime aprecia o terror, mas a certa distância desde que não seja nocivo. O autor Umberto Eco menciona, a respeito do sublime, como a principal obra a Pesquisa filosófica sobra a origem de nossas ideias do Sublime e do Belo, de Edmund Burke, o qual coloca o sublime e o belo em explicita oposição, definindo a beleza como uma qualidade dos corpos que atua na mente humana através dos sentidos, considera como pertencentes ao universo do belo “a variedade, a pequenez, a lisura, a variação gradual, a delicadeza, a pureza e a clareza da cor, a graça e a elegância” (ECO, 2004. p.290) e não apenas a proporção e a harmonia. Já ao sublime pertencem “a vastidão das dimensões a aspereza, o descuido, a solidez mesmo maciça, a tenebrosidade, (...) a solidão e o silêncio, (...) o não-finito, a dificuldade, a aspiração a alguma coisa sempre maior” (ECO, 2004. p.290). Exprime-se o sublime no então gosto pelas ruínas, já não

Fig 06 – Casper David Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818. (Fonte: ECO, 2004)

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pelo seu simbolismo passado, mas por sua forma atual, degradada e na nova busca por formas góticas na arquitetura. No século seguinte, sob olhares do romantismo, sintetizam-se algumas das já mencionadas ideias do belo dando forma à beleza romântica, uma beleza que aceita o lúgubre e o melancólico, que já não é regido exclusivamente pela razão, mas por ela e pelo sentimento, e que acolhe as antíteses em uma co-presença; é um belo que carrega o informe e o caótico. À essa beleza Rousseau acrescenta a subjetividade da expressão “je ne sais quoi” (não sei o quê), agregando um caráter vago e indeterminado; uma vagueza que se posiciona contra a beleza artificial e classicizante. Os românticos buscam uma beleza dinâmica, não a beleza clássica, estática e harmônica, mas uma beleza que nasce da desarmonia e que se torna sinônimo de verdade que, para os românticos, diferentemente do pensamento grego, é a beleza que produz verdade, e não o contrário, assumindo que a beleza produz maior verdade e realidade. Livre dos cânones clássicos a beleza pode agora se exprimir através de opostos: “o feio já não é a negação, mas a outra face do belo” (ECO, 2004. p.321). A fins do século XIX e já no século XX, com a expansão capitalista e industrial e a consciência da classe operária, o mundo passa a ser das máquinas, da funcionalidade e a estética perde lugar; assim se origina a “religião estética”, sob o lema da Arte pela Arte, a beleza passa a ganhar, em certos meios, valor primário “a ser realizado a qualquer custo, a tal ponto que muitos viverão a própria vida como obra de arte” (ECO, 2004. p.330), conquistando para arte certos aspectos da vida tais como a doença, a transgressão, a morte, o tenebroso, o demoníaco e o horrendo, não mais julgando-os, mas tornando-os fascinantes e belos, e é nesse contexto que nasce a figura do dândi, com seu culto à beleza em todos os aspectos, chegando a vezes à excentricidade, e com a oposição à preconceitos e costumes correntes. Outra corrente vigente na época, o decadentismo, também contextualizado na “religião estética”, cultuava uma beleza que nasce da alteração das potências naturais, que busca a ambiguidade das figuras andróginas, da beleza inatural, que ama a mulher de beleza alterada, enfeitada por joias e roupas luxuosas, que ama a mulher flor ou a mulher joia. Nesse mundo industrial, mecanizado e funcional, no qual, como diz Umberto Eco, “ninguém pertence a si mesmo”, tornavam-se necessárias novas possibilidades para experiências mais intensas. E, sobre um pano de fundo de uma beleza baseada no platonismo, a qual é vista como uma realidade que está sempre fora de nós, como teorizada por Edgar Allan Poe, que se formula a ideia do simbolismo, em que o mundo e seus elementos são representados por códigos decifrados pelos artistas, a beleza se esconde atrás da sugestão. Outro pensador que via a arte sufocada pela indústria, o inglês John Ruskin, reivindicava um retorno ao artesanato e ao modo de produção quatrocentista, e propunha uma visão um pouco mais mística sobre a beleza, sendo veneração “ao milagre da natureza e à marca divina que a permeia” (ECO, 2004. p.351), uma visão platônica de uma beleza transcendente. Ainda no simbolismo, mas sobre outra ótica,


propõe-se uma beleza associada à epifania, à “um êxtase sem Deus: ela (a epifania) não é a transcendência, mas a alma das coisas desse mundo, é (...) um êxtase materialista” (ECO, 2004. p.354), e é nesse êxtase, na epifania, que se tem a experiência completa da beleza, e a vida, para os autores desse período, deve ser vivida com intuito de acumular essas experiências. Esta corrente “epifânica” encontra seu espaço nas artes figurativas nas formas do impressionismo, os pintores de então não pretendiam representar belezas transcendentes, mas representar uma impressão do mundo, através do desenvolvimento de novas técnicas. É um momento em que “a busca da beleza abandona o céu e leva o artista a mergulhar no vivo da matéria” (ECO, 2004. p.359). Paralelo ao decadentismo, desenvolvia-se na Inglaterra, o ideal vitoriano de beleza, moldado pela burguesia, assim como os costumes morais, os cânones estéticos e arquitetônicos, o bom senso, as regras do vestir, do comportamento e da decoração. A beleza de ideal burguês é prática, sólida e durável, não se aceitam abiguidades, ou se é feio ou se é belo, “a beleza vitoriana não é perturbada pela alternativa entre luxo e função, entre parecer e ser, entre espírito e matéria” (ECO, 2004. p.362). A estética, juntamente com a economia capitalista, unem a beleza ao valor, onde antes se encontrava o vago, o subjetivo ou ainda o simbolismo, agora encontra-se a função prática do objeto e seu valor monetário. Com a crise econômica do final do século XIX e com o desenvolvimento de novos materiais de construção, as formas vitorianas da arquitetura perdem seu espaço, e entram o vidro e o ferro-gusa, fenômeno que tem como exemplos a Bibliothèque de Sainte-Geneviève e a Bibliotèque Nationale de France, obras de Henri Labrouste, o qual acreditava que os edifícios não devem exprimir uma beleza ideal, mas sim as aspirações sociais do povo que o habita ou utiliza, trata-se de “um modelo de beleza intrinsecamente permeado por um espírito social, prático e progressivista”, como nos lembra Eco. Em contraposição aos edifícios de ferro e vidro, desenvolve-se na Inglaterra um movimento em prol do retorno à uma beleza natural e artesanal (o Arts and Crafts, que tem como representantes Pugin, Calyle, Ruskin, Morris) e rejeita a beleza criada pelas máquinas, mas que também acredita que a arquitetura deva exprimir uma função social. No campo das artes as ideias do Arts and Crafts influenciou o surgimento do movimento Art Nouveau, que tornou-se notável principalmente na decoração, nos objetos e no design, promovendo uma beleza preciosa de detalhes e decoração unida à função real dos objetos, que aparece primeiramente em pequenos objetos como livros, e mais tarde ganha as formas das janelas, portas, entradas de metrô, etc. O Art Nouveau en-

Fig 07 – Frank Lloyd Wright, Casa Kaufmann, 1936. (Fonte: www.wright-house.com)

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contra-se, com pequenas adaptações, e diferentes nomes de acordo com cada país, sendo Jungendstil na Alemanha, Sezession na Áustria e Liberty na Itália.O Jungendstil da Alemanha, por exemplo, invade o mundo feminino, do vestuários aos costumes, como explica o autor Umberto Eco, “a mulher do Jungendstil é uma mulher sensual, eroticamente emancipada, que recusa o busto realçado e ama a cosmética: da beleza das decorações livrescas e cartazes, o Art Nouveau logo passa à beleza dos corpos” (ECO, 2004. p.369). Mais adiante no século XX, o Art Déco, herda algumas características do Jungendstil e agrega elementos de experiências cubistas, futurista e construtivistas, sempre seguindo o princípio de subordinação da forma à função, iniciando uma substituição da beleza estética por uma beleza funcional de produção em massa, resultado de uma reaproximação da arte e da indústria, uma beleza que deixa em segundo plano os elementos decorativos, que aceita os materiais metálicos e vítreos e a linearidade geométrica; como cita o autor, a luta contra o elemento decorativo é o traço mais marcadamente político dessa beleza do Art Déco. Com o declínio dos cânones vitorianos, e com uma retomada da relação com a natureza (livre de utopias regressivas), desenvolve-se uma nova arquitetura que busca sua expressão por elementos de linguagem orgânica em harmonia com linhas e materiais industriais, que encontra um de seus principais exemplos nas Prairie Houses de Frank Lloyd Wright, em que o interno se prolongo sobre o externo, integrando-os em uma só beleza que une o arquitetônico (artificial) e o natural. Em oposição temos, por exemplo, a arquitetura de Antonio Gaudí, com suas formas labirínticas e fluídas, numa beleza inquieta e plástica, características que segundo o autor viram do avesso a relação entre função e decoração, é a expressão da revolta da beleza interior contra a beleza fria das máquinas. Na sociedade capitalista e altamente industrializada e mercantilizada do século XX, a beleza encontra-se cada vez mais ligada à função dos objetos, é agora uma beleza reprodutível e efêmera. Em resposta à essa dinâmica surgem movimentos como o dadaísmo, que ilustram a situação com grande ironia, em especial as obras de seu maior expoente Marcel Duchamp, “se é o processo de mercadorização que cria a beleza dos objetos, então qualquer objeto comum pode ser desfuncionalizado como obra de arte” (ECO, 2004. p.377), por outro lado a Pop Art vê a situação de forma fria a cínica, assumindo a perda do artista do monopólio das imagens e da beleza, temos agora uma beleza serial, que já

Fig 08 – Antoni Gaudi, Casa Milá, 1906-1910. (Fonte: www.greatbuildings.com)


não distingue objeto de pessoa. Já em tempos mais contemporâneos, em especial a partir da segunda metade do século XX, surge uma beleza inesperada, que nasce da exploração dos materiais, de uma forma quase espontânea, em que o artista ao experimentar com cada material deixa que este expresse sua natureza, como nas pinturas de Jackson Pollock, e nos exponha sua “secreta beleza”, sejam eles materiais naturais e brutos, sejam elementos industriais. A beleza do século XX, segundo Eco, é uma beleza que transita entre a provocação e o consumo, a beleza da provocação é aquela proposta pelos movimentos de vanguarda já citados, como o dadaísmo, além de outros como cubismo, surrealismo, futurismo, etc. Não se questiona nesse momento a beleza, subentende-se como intrínseca à arte, a qual não busca mais propor imagens de beleza ideal, mas expressar ideais, princípios e sentimentos. A beleza do consumo é aquela regida pela mídia de massa, é, por exemplo, a beleza que rege a moda, que por sua vez rege o consumo. É uma beleza, de certa forma democrática, que propõe variados modelos no lugar de impor apenas um. Umberto Eco ressalta que, até meados do século, 1950 ou 60, os modelos de beleza propostos pela mídia andavam ao mesmo ritmo que as artes, apropriando-se de linguagens e estéticas. Já a partir do da década de 60, a beleza de provocação e de consumo se aproximam, por um lado a pop art toma para si as imagens do consumo, por outro grupos musicais, como os Beatles, por exemplo, de consumo em massa, revisitam formas musicais tradicionais. Forma-se uma cultura de um pluralismo particular, em que todos encontram sua expressão, em que não existe um belo ideal, mas sim diversos belos variáveis. Em suma, Umberto Eco expressa a beleza do momento presente como uma “orgia de tolerâncias, de sincretismo total, de absoluto e irrefreável politeísmo da beleza”. Na arquitetura, por outro lado, mesmo o belo sofrendo influência de aspectos socioculturais, no campo da neurociência acredita-se que certos aspectos deste sejam de fato universais, ao estimularem neurotransmissores que nos fazem sentir ou não a beleza de certos espaços, independente de experiências culturais; aspectos da esfera do equilíbrio, ordem e ritmo, como malhas, zigzags, curvas e espirais; são elementos que quando presentes na arquitetura provocam sensações agradáveis, levando um projeto a ser considerado belo, tratam-se de conceitos e diretrizes favoráveis aos arquitetos, desde que não atuem como limitadores criativos e sim os incentivem a explorar novos usos e composições.

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1.2 A beleza como prática

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beleza é, por um lado, uma construção social dependente de elementos fixos de realidade, como o tempo, o espaço disponível para armazenagem e organização de produtos no banheiro, bem como dos objetos materiais disponíveis no mercado. Por outro lado, a beleza é também uma construção a partir de elementos que variam em função das etapas do ciclo de vida e mudam a relação com os elementos anteriores: tempo, espaço e produtos valorizados. Na história da humanidade as práticas com o propósito de embelezamento ganham espaço a partir do Renascimento, em que o ideal de beleza física feminina era ditado por uma série de regras e de um rígido código moral. As práticas de então nos parecem hoje exageradas, acreditava-se, por exemplo, que ao açoitarem-se as costas seguido da aplicação de pó de giz provocaria o emagrecimento do corpo. A tez branca e bem cuidada era valorizada, e deveria ser cultivado o hábito de cuidá-la afim de sempre estar bela a agradar o marido; condenava-se, entretanto, a beleza lograda através de artifícios, sendo o uso destes ligado à comportamentos imorais, a menos que fossem utilizados com o propósito de obter um bom casamento. Utilizavam-se então cosméticos altamente tóxicos compostos por elementos como carbonato de chumbo ou carbonato de mercúrio, com o objetivo de manter a face o mais clara possível, ao que se somava o cuidado de não se expor ao sol, inclusive pela utilização de máscaras, hábito considerado adequado a damas de alta classe. As mudanças que se seguiram, durante os séculos seguinte, nas práticas e hábitos de beleza, como valorização de outras partes do corpo, uso de maquiagem, de cosméticos, e o avanços destes se devem principalmente às modificações do papel da mulher na sociedade. No Renascimento a beleza feminina ganhava reconhecimento pois acreditava-se que o feminino era mais próximo da perfeição, mas próximo do divino, entretanto seu papel era ainda limitado, inclusive seu corpo era limitado e moldado dentro de apertados espartilhos. Séculos mais tarde as vestes tornam o corpo feminino mais livre, suas formas mais naturais, permite-se explorar uma identidade individual desvinculada do homem. À medida que o papel da mulher avança, e assim ganha novas atividade, hábitos e deveres, muda também a rotina de beleza, ao longo da história e ao longo da vida de cada mulher. No Brasil em geral tem-se uma valorização da “beleza dada por Deus”, encontrando nas práticas de embelezamento um esforço por ressaltar o natural e dissimular da melhor forma possível qualquer tipo de intervenção, ao contrário da beleza

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fabricada das americanas ou europeias. Há quem explique tal comportamento ao meio, ao clima; a mulher brasileira cultiva o corpo por que aqui se mostra mais do que em países de climas mais frios. Seja na maquiagem, seja na cirurgia plástica, o ideal é parecer natural. Os hábitos da mulher brasileira em relação aos cuidados estéticos variam com o tempo, mesmo que não variem muito entre classes sociais, e pode ser claramente percebido ao analisarmos as camadas de produtos aplicados à uma das partes mais essenciais, a face. A beleza é um modo de lidar com o envelhecimento, de assumir controle sobre o próprio corpo, ainda que se trate de um processo inevitável. Na população mais jovem, das mulheres adentrando a vida adulta, os cuidados com a beleza ficam de certa forma em segundo plano, não caracterizando uma rotina no dia a dia, talvez pela não percepção real da ação do tempo; aqui os hábitos são regidos pela “valorização da beleza natural, o foco no resultado mais imediato e consumo tutelado pelas mães” (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008 p.31). Para este grupo bonita é a pele bronzeada de sol, natural, sendo o uso do blush, por exemplo, considerado demasiadamente artificial; o batom, por outro lado, ganha um espaço um pouco maior, embora seja mais por sua capacidade hidratante do que de embelezamento. Entretanto, enquanto a pele é deixada de lado, o cabelo se mostra de maior importância, é no quesito “cuidados com o cabelo” que se nota uma maior preocupação com produtos e marcas, inclusive com proteção solar, mesmo que esta não seja uma preocupação para o corpo. Trata-se de uma população imediadista, que se preocupa apenas com o hoje e agora, com uma eventual espinha, com a oleosidade da pele rapidamente retirada ao lavar o rosto, sem maior preocupação com o produto utilizado, é uma preocupação essencialmente apenas com o aparente. Outro “elemento” importante para esse grupo de jovens mulheres é a mãe, em alguns caso como conselheira, em outro como provedora dos produtos e das marcas apropriadas; muitas jovens buscam nos banheiros das mães os produtos de que precisam, inclusive por questões de gestão de espaço e orçamento familiar. As mães e avós também se mostram como incentivadoras de maiores cuidados, por meio de presentes e maquiagens. Já entre o grupo de mulheres mais velhas, já dentro dos 30 anos, a passagem do tempo se torna uma preocupação, e uso de produtos aparece como uma tentativa de revertê-lo; este grupo se caracteriza pela “idealização das práticas de beleza, a


intensa experimentação e o investimento em novos produtos, a busca de inserção de hábitos na rotina e o rompimento com a tutela familiar” (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008 p.49), surge nesse inconsciente coletivo um ideal de mulher que controla e administra seu próprio corpo e a passagem do tempo. Em resumo, trata-se de um grupo que se caracteriza por “buscar diretrizes de consumo e gestos de cuidados pessoais no mercado, em um processo que concilia o interesse em conhecer o que a indústria oferece com o autoconhecimento” (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008 p.51). É um momento de experimentação, inclusive no que diz respeito ao cabelo, a mulher nesse momento da vida passa a procurar o produto mais adequado para si, não mais o que a mãe compra, podendo encontrar até cinco xampus diferentes no banheiro de uma única mulher. É nesse período também que se insere o uso da tintura no cotidiano, agora como uma “necessidade” e não mais como uma busca por identidade como acontece na adolescência. A rotina de cuidados com a pele se estende e torna-se mais complexa, com produtos adequados para cada parte do corpo e rosto, e incluindo rigorosamente o protetor solar, enquanto que a maquiagem continua a ser usada apenas como uma forma de destacar o natural e em menor quantidade possível, de acordo com o meio e a ocasião. As pesquisadoras Letícia Casotti, Maribel Suarez e Roberta Dias Campos, relatam o depoimento de uma jovem que ao acompanhar a entrada da irmã no mercado de trabalho, em um estágio que exigia uso de maquiagem no dia a dia, tomou a iniciativa de fazer um curso na área, visto que no meio familiar não havia nenhuma tradição no uso de maquiagem. “A aquisição da habilidade de se maquiar ganha, (...), o peso da aquisição de uma habilidade para a vida social que poderia ser comparada ao uso correto de garfo e faca. Remete à conquista de um traquejo social exigido não pela convivência em família, mas por uma rede de relações sociais mais amplas” (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008 p.60). Neste grupo de mulheres nota-se um acúmulo de produtos de beleza, mesmo que não utilizados ou já vencidos, é o momento da experimentação, como já foi citado, que se traduz em pilhas de produtos em banheiros e armários, “para essas mulheres, cremes e outros produtos de beleza talvez remetam a um mundo ideal , onde elas dedicam atenção a si próprias e controlam seu próprio tempo, bem como o processo de envelhecimento” (CASOTTI, SUAREZ, CAMPOS, 2008 p.69). No nicho de mulheres mais maduras, já inseridas no mercado de trabalho e que assumem diversos papéis frente a sociedade – profissional, mãe, esposa, dona-de-casa – os hábitos de beleza tornam-se “religiosos” frente a uma certa urgência de lutar contra o tempo. No âmbito do consumo o comportamento também muda, a experimentação se limita e forma-se uma certa fidelidade aos produtos, além de um maior investimento nos mesmos e investimento em cuidado especializado

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supervisionado por médicos. O rosto continua a ser a principal preocupação, passando por três tipos de cuidados principais: limpeza, hidratação (que varia de acordo com necessidades específicas) e a proteção solar; uma rotina que passa a ser incorporada de forma definitiva. O ideal de beleza natural visto nos grupos mais novos é agora substituído por uma beleza cuidada, que busca preservar e proteger a pele da ação do tempo. O uso de maquiagem aumenta e categoriza-se entre dia e noite, a primeira ainda apresentando caráter sutil e natural enquanto que a segunda é mais elaborada e colorida. O consumo de beleza e sua descoberta se dá ao longo da vida da mulher, mudando a cada etapa, desde percepção e descoberta do mundo cosmético e sua eventual necessidade, passando pela experimentação até encontrar o comportamento ideal para si através do desenvolvimento do olhar crítico. Tal processo se dá, por um lado, pela percepção da passagem do tempo e de seus efeitos sobre o corpo humano, e por outro, pelas próprias mudanças no crescimento do indivíduo e no papel social destas mulheres: de jovem dependente dos pais, jovem independente, a mães com filhos dependentes e mães com filhos já independentes; significando em alguns momentos não apenas uma vaidade ou um consumismo estético, mas também ligação familiar, busca de independência e controle sobre a própria vida, aceitação de limitações de si mesma e redescoberta de si próprias, de sua própria feminilidade. A parte dos cosméticos, seu consumo e manipulação no ambiente doméstico, demarcando territórios e dinâmicas familiares, outro ponto, ou melhor, local, crucial para o cotidiano da beleza da mulher brasileira encontra-se no salão de beleza. São nestes estabelecimentos que as mulheres se preparam “para entrar em cena e desempenhar, publicamente, o papel de mulher” (BOUZÓN, 2008), com cada parte do corpo devidamente embelezada, das unhas, à pele e ao cabelo, este último uma das principais preocupações deste público, é “por meio dos cabelos que muitas sociedades, em especial a brasileira, se concebem visualmente” e é o salão “o lugar por excelência dedicado à elaboração coletiva e ritualística dos cabelos em nossa sociedade” (BOUZÓN, 2008). O cabelo, não só hoje, mas mesmo historicamente, é um dos principais elementos na composição da identidade pessoal do indivíduo, situando-o em grupos sociais específicos, indicando estilo de vida, crenças e valores, e em uma sociedade movida pelo visual é também um elemento que exige cuidado e vigilância constante. “A atividade estética proporcionada pelos cabelos é criadora: põe em prática conhecimentos milenares e estimula a capacidade criativa exclusiva do ser humano de dar significado aos elementos à sua volta. Empregando as mais diferentes técnicas, o ser humano submete os cabelos a um processo de humanização no qual a natureza é literalmente moldada, condicionada e transformada de acordo com as diferentes culturas” (BOUZÓN, 2008). Certos aspectos do cabelo são especialmente reveladores na


sociedade brasileira, a cor e a textura. Cabelos brancos por exemplo, enquanto simbolizam maturidade, experiência e sabedoria, por outro lado podem ser entendido como desleixo e conformidade com a velhice, comportamento condenado numa sociedade que valoriza o “parecer jovem”. Entretanto essa visão se aplica com mais força em relação às mulheres, tornando-as “escravas” da tintura e do disfarce dos fios brancos, enquanto que para os homens o que é condenado é exatamente o oposto. Os cabelos loiros, por sua vez, possuem um grande papel no imaginário da sociedade brasileira, representando um ideal de beleza, não apenas por ser diferente ao biótipo típico brasileiro, mas inclusive por heranças da sociedade colonial, quando as mulheres de cabelos loiros eram aquelas de origem europeia e de alta posição da sociedade, de tal forma que essa coloração dos cabelos ainda é vista como representativa de status social; embora a cor dos cabelos hoje seja uma opção e não uma condição, ainda existem formas de controle que evitam uma “anarquia estética”, as ditas “regras da moda” vetam certas colorações a certas pessoas, negras e asiáticas, por exemplo, são vistas como inapropriadas a receber cabelos loiros, o que evidencia uma segregação estética em prática pela mídia e pelo mercado. As loiras por outro lado, ao optarem por esta cor de cabelos, acabam por carregar estereótipos discriminatórios como o popular “loiraburra”, ou ainda de acordo com a tonalidade (“loira-pobre”, “loira-perua”, “loira de farmácia”, etc). A loira, em nossa sociedade é vista como sexualmente livre e ativa, em comparação com morenas e ruivas. A cor dos cabelos, em geral, possuem um simbolismo fortemente ligado ao sexual e erótico, as morenas, em tempos coloniais, eram o ideal de beleza hoje representado pelas loiras, objetos de desejo; hoje são vistas como discretas e sérias, que prezam respeito por sua aparência e pela moral, e ao contrário das loiras, às morenas é atribuída a inteligência e são vistas como comuns, “sem sal”, o que se deve, provavelmente, pela familiarização com essa tonalidade de fato comum e numerosa na sociedade brasileira. Já a opção pelo ruivo parece ser uma opção para fugir de estereótipo, embora as ruivas sejam vistas, assim como as loiras, como mulheres que querem chamar a atenção e despertar o desejo, são vistas como mulheres que querem fugir às regras, porém também como artificiais, visto que ruivas naturais no Brasil são raras. Tal discriminação por cor de cabelo não afeta apenas a mulher de hoje, a que opta por esta ou aquela cor, mas historicamente já se construía essa visão estigmatizada da mulher loira, morena ou ruiva, numa visão do século XVI temos que “as moças ruivas, por exemplo, são suspeitas de humores viciados, ao passo que as loiras são suspeitas de humores pálidos, mesmo se elas agradem inconsolavelmente ao multiplicar ‘tranças resplandecentes’ ou ‘raios de sol’. As ruivas são más; as loiras são fracas. As morenas, em compensação, seriam mais fortes, ‘com maior calor que as loiras para queimar e digerir alimentos’, para ‘rea-

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quecer’ as crianças também. Elas teriam a fecundidade das terras castanho-avermelhadas” (VIGARELLO, 2006 p.26). No que diz respeito à textura, é ela que mais provoca a busca por modificações e pelas razões mais variadas, mas sempre relacionadas a algum aspecto de origem cultural, no qual o cabelo atua como uma proteção no julgamento visual, desde que dentro dos padrões socialmente estabelecidos. No caso brasileiro, o alisamento dos cabelos ilustra mais do que um ideal estético um comportamento de ordem social mais profundo; trata-se de uma sociedade em que o racismo se dá pela discriminação de signos estético-corporais que não sejam os de brancos, daí a grande busca por modificar os cabelos crespos, com o propósito de evitar a segregação. Em alguns casos essa intervenção pode ser entendida como uma negação à origem étnica ou racial, uma tentativa de se aproximarem de uma estética do “branco”, de um ideal estético massificado exemplificado pelas expressões populares de “cabelo bom” e “cabelo ruim”, o primeiro sendo o cabelo liso e o segundo o crespo, porém vale lembrar que o “cabelo bom” não diz respeito apenas à textura lisa, mas também ao caimento, movimento e saúde dos fios, de preferência que não exija demasiados cuidados. Pode não parecer, mas elementos estéticos que chegam até a ser considerados fúteis, tem papel relevante no entendimento e na dinâmica de uma sociedade, “são criados pela cultura ao mesmo tempo que a criam” (BOUZÓN, 2008), a prática da beleza, seja no consumo de cosméticos, seja no cuidado do cabelo, do corpo, da pele, formam um universo complexo de evidências de um tempo e de uma cultura, de sua ordem social, estética e comportamental. “Por meio de uma nova realidade corporal, dá-se sentido a uma nova realidade social. Acredita-se que uma textura diferente, um corte ou uma cor nova possam trazer transformações para a vida da pessoa. Se não o fazem efetivamente, ao menos funcionam como motivação para que a pessoa se abra a novas possibilidades e, mais segura com o novo visual, busque sozinha a mudança desejada” (BOUZÓN, 2008).


1.3 Capacitação e Empreendedorismo no Brasil

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importância da educação para o trabalho surge a partir do século XIX, antes disso, na sociedade rural, o trabalho era realizado com o único propósito de sobrevivência sendo que os conhecimentos laborais eram passados dentro do meio familiar e praticado sem diferenciação clara entre educação/trabalho, aprendia-se o ofício a medida que se praticava o mesmo. Na sociedade urbana e industrial o panorama muda, modificações dos sistemas econômico e políticos viabilizaram a inatividade de crianças, adolescentes e idosos; dessa forma “o processo de formação para o trabalho se tornou organizado em grandes estruturas institucionais que passaram a atuar sob a inatividade que atingiu a fase precoce do ciclo de vida” (POCHMANN, 2012) . Visto que após esse processo de formação – escola e faculdade - o indivíduo se via já a adentrar o mercado de trabalho, era exatamente nesta questão que o sistema buscava focar-se. Durante o processo do século XX e início do século XXI, vemos um fenômeno de crescente modificação no mercado de trabalho, por um lado a expectativa de vida do trabalhador aumenta, seu ingresso no mercado de trabalho se posterga cada vez mais devido à maior ênfase no ciclo educacional que se prolonga, ao que se somam as novas tecnologias e modelos de trabalho que vêm modificando a dinâmica geral. É nesse período que nasce o conceito de qualificação, que vê o conhecimento como fundamental na formação do capital humano, “como preparação de mão de obra especializada (ou semi-especializada), para fazer frente às demandas técnico-organizativas do mercado de trabalho formal” (MANFREDI, 1999); paralelamente formou-se também a visão de qualificação como o binômio emprego/educação. Ao contextualizar as transformações de finais do século XX, devemos citar uma nova organização produtora, “a adoção de novas estratégias de competitividade e de produtividade representada por uma nova conduta empresarial seria uma das principais razões explicativas para as intensas mudanças na organização do trabalho” (POCHMANN, 2012). Forma-se uma nova relação entre trabalho manual e intelectual, ganha espaço o trabalho não material, a intelectualização dos procedimentos nos setores industriais e de serviços, este último sendo o que mostra mudanças mais significativas, ao se tratar de um setor heterogêneo que absorve a parcela excedente de força de trabalho dos demais setores e abranger variadas formas de contratação laboral, resultando em uma crescente terceirização da economia. Entretanto o que importa, “do ponto de vista da formação para o trabalho, é garantir que os trabalha-

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dores sejam preparados exclusivamente para desempenhar tarefas/funções específicas e operacionais. Esta concepção de formação profissional está alicerçada numa concepção comportamental rígida, por meio da qual ensino/aprendizagem das tarefas/habilidades deve-se dar numa sequencia lógica, objetiva e operacional, enfatizando os aspectos técnico-operacionais em detrimento de sua fundamentação mais teórica e abrangente” (MANFREDI, 1999), visão que ignora o fato de que o trabalho manual está de fato ligado ao intelecto, envolvendo percepção e pensamento. Nesse contexto de fortalecimento do setor de serviços e transformações nos modos de produção, que o mercado se torna cada vez mais exigente em relação a formação dos trabalhadores; identifica-se nesse momento um analfabetismo funcional, devido ao vertiginoso desenvolvimento tecnológico, a educação profissional busca então “possibilidades de expansão das ocupações profissionais que utilizam maior informação e nas atividades multifuncionais, sobretudo naquelas sustentadas por exigências crescentes de maior escolaridade e qualificação profissional” (POCHMANN, 2012). Com o mercado cada vez mais exigente e competitivo, que busca não somente profissionais com formação, mas que apresentem qualidades de polivalência multifuncional e habilidades ampliadas, um maior nível educacional do trabalhador mostra-se crucial. Cresce a busca e a importância da formação profissional, seja por meios seriados formais como faculdades ou escolas técnicas, seja por meios de ensino profissionalizante não formal, como por exemplo os oferecidos por instituições como SENAI e SENAC. O SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - nasce em 1942, após as mudanças educacionais promovidas pelo então ministro da educação e saúde pública Gustavo Capanema, conhecida como “Reforma Capanema”, a mesma que mais tarde, em 1946 criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, o SENAC. O SENAI aparece com o objetivo principal de preparar mão de obra para a indústria de base, em parceria com a Confederação Nacional das Industrias (CNI) e as Federações das Industrias dos estados, a princípio apenas com ensino profissionalizante de aprendizagem técnica, desprendido de ensino seriado ou superior, mais tarde, modificações na legislação exigiam que as indústrias ao empregarem menores aprendizes deveriam garantir sua capacitação profissional assim como sua educação continuada, garantindo também a frequência dos funcionários às aulas; o SENAI passou também a oferecer cursos de continuação e aperfeiçoamento aos profissionais. O SENAC por sua vez, atua em parceria com a Confederação


Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, oferecendo formação profissional para o mercado de comércio e serviços, trazendo inovações como educação a distância e as empresas pedagógicas, como hotéis-escola e restaurante-escola, proporcionando ao aluno vivenciar o dia a dia da profissão. Sempre atualizado com as necessidades do mercado, o SENAC oferece preparação nas mais variadas áreas como turismo, saúde, beleza, línguas, gestão, arquitetura, etc. e de acordo com as diferentes necessidades do público, oferecendo hoje cursos de modalidades livre, técnica e de nível superior. A instituição também oferece alguns programas sociais, como as unidades móveis que levam cursos e serviços a comunidades afastadas dos grandes centros e programas de gratuidade para o público de baixa renda, em alguns casos ainda oferecendo bolsa-auxílio. Enquanto as instituições profissionalizantes preparam a mão de obra para o mercado de trabalho, seja na indústria, seja no comércio e serviços, aumentando o contingente de profissionais capacitados, não se pode deixar e lado o crescente número de novos empreendedores, em parte resultado de uma nova mentalidade que se instala na população e por incentivos encontrados na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e na Lei do Microempreendedor Individual, promovidos pelo SEBRAE, além de facilidades tecnológicas que diminuíram burocracias no processo, como a possibilidade de obter o CNPJ via internet. O SEBRAE também criou o SEI (SEBRAE para o Microempreendedor Individual), um programa de orientação que trata sete principais temas: vendas, compras, controle do dinheiro, empreendedorismo, união de forças, administração e planejamento. Faz parte do panorama favorável também o período de estabilidade econômica que se instalou nos últimos anos. Hoje o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, em 2010 o país atingiu a taxa de 17,5% da população adulta dentro da faixa de empreendedores em estágio inicial, segundo a pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), sendo o maior número entre os 60 países pesquisados; dados mostram também que 33% da população quer se tornar empreendedor, e entre os principais motivos são a busca por independência pessoal e melhor perspectiva de renda (Portal G1, 2013) ou ainda status e respeito perante a sociedade (GEM, 2012). Na população empreendedora destaca-se a crescente presença feminina, contando hoje 46% dos MEI registrados, e quando avaliado por setor são maioria no setor industrial, com 52%, e somam 50% no setor de serviços (SEBRAE, 2012). Explica-se o fenômeno ao espaço ganho pelas mulheres na sociedade, com acesso a níveis mais elevados de educação além das novas estruturas familiares. Pesquisas mostram que os negócios empreendidos por mulheres apresentam maior taxa de sobrevivência e são, em sua maioria, inseridos no setor de serviços. Tal cenário foi essencial para o consequente crescimento do setor de beleza, com maior participação feminina, entre as atividades mais frequentes entre os MEI a função de cabelei-

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reiro encontra-se em segundo lugar com 7,3% (perdendo apenas para o comércio varejista de vestuário e acessórios), dos quais 77% são ocupados por mulheres. Em geral, o cenário empreendedor brasileiro é formado por homens e mulheres em proporção equilibrada, entre 30 e 39 anos em sua maioria com relativa baixa escolaridade, com ensino médio ou técnico completo, inseridos no setor de serviços. Segundo dados do SEBRAE, a maioria das pessoas viram um acréscimo no faturamento após a formalização do seu negócio. No cenário atual da economia brasileira a formação profissional é essencial para adentrar o mercado de trabalho, que somada a uma vontade empreendedora vem movendo e modificando o setor de comércio e serviços, inclusive abrindo espaço para a ação feminina, bastante presente no setor que nos importa neste estudo, o da beleza. O consumidor brasileiro se torna cada vez mais exigente, em estudos a respeito da satisfação de clientes de salões de beleza, a qualidade e preparação dos profissionais mostrou-se como uma das maiores preocupações e critérios ao escolher um local de serviço. Tornam-se necessárias maiores opções de educação profissional na área, em especial locais pensados para esse fim, que apresente toda a infraestrutura necessária promovendo a visibilidade e a valorização do setor.


1.4 A Zona Leste e o Tatuapé

O

município de São Paulo é palco de uma rica e complexa dinâmica urbana que vêm sofrendo inúmeras modificações ao longo de sua história, para o propósito deste trabalho nos interessam, em especial, as modificações ocorridas a fins do século XX, período em que a Zona Leste e o bairro do Tatuapé – local do projeto – começam a formar e consolidar os contornos que o caracterizam como é hoje. As transformações urbanas de São Paulo, provocadas por uma série de processos políticos, econômicos, sociais e normativos, provocaram uma reestruturação não apenas espacial, mas também social na cidade. Como processos modificativos da estrutura urbana do município temos a reestruturação urbana e produtiva da cidade, a redistribuição da população e da renda no território urbano, os impactos trazidos pela Legislação de Uso e Ocupação do Solo de 1979 e a migração de investimentos do setor imobiliário para outros pontos da cidade até então inexplorados (como é o caso do Tatuapé que será discutido mais adiante). Estes processos e transformações vieram, por sua vez, atuar na consolidação de antigas desigualdades e na formação de novas formas de segregação, como por exemplo, aquela gerada pela proliferação dos altos muros em prol da segurança, em que grandes condomínios oferecem proteção contra a violência atraindo as classes mais altas para dentro de espaços privados murados, enquanto o espaço público, a rua, fica para as classes mais baixas; “observa-se claramente um padrão de desenvolvimento do terciário moderno, com o gradativo desaparecimento dos espaços públicos, articulado a um forte modelo de exclusão territorial, atendendo a interesses do capital imobiliário” (ROLNIK, 2001). No caso da reestruturação produtiva, ela se dá, principalmente, pelas transformações do processo produtivo não só de São Paulo, como do país em geral, o qual até a década de 1960 se concentrava na produção industrial e principalmente naquela voltada ao setor automobilístico; entretanto, desde esse período e alastrando-se até a década de 1980, o processo industrial vem a sofrer um forte declínio, que se traduz em São Paulo numa nova distribuição territorial do emprego, com uma forte retração na área compreendida entre o Ipiranga e a Penha. “Condições territoriais como espaço para ampliação e expansão da planta industrial, restrições ambientais, custos elevados com impostos e taxas no MSP (Município de São Paulo) e custos maiores com a circulação de matérias-primas e mercadorias foram algum dos fatores que vem levando, desde então (décadas de 60/70), empresários a mudarem a localização das unidades industriais” (ENDRIGUE, 2008). Dessa forma, muitas indústrias se instalam no interior paulista devido à ofer-

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ta de novas vantagens, embora algumas tenham se mantido na cidade, fosse pela oferta de serviços associados à produção, fosse pelo mercado consumidor. A década de 1980, com o declínio da indústria e o consequente aumento da taxa de desemprego, somado à crise econômica que tomava conta do país, foi um período de fortes mudanças estruturais no município, estas cruciais para a história do Tatuapé, como veremos adiante. Ao final da década a crise atinge em especial os setores têxtil, de couros e madeiras, sendo as regiões que abrigavam estas indústrias aquelas a receberem mudanças mais significativas; com a saída das indústrias os espaços deixados vazios passaram por processos de substituição e adaptação, adequando-se a novos usos e funções da metrópole, em especial os ligados ao setor terciário; percebem-se mutações “desde a reciclagem de galpões e da nova concentração de edifícios de escritórios à substituição do perfil sócio-econômico de bairros consolidados, com a construção de áreas residenciais de alto padrão” (ENDRIGUE,2008); esvaziou-se “a fissura interna que caracterizou a cidade industrial, que traçava uma barreira fabril entre a periferia precária a Norte-Oeste-Leste-Sudeste e a cidade rica e equipada a Sudoeste” (ROLNIK, 2001). Inicia-se então o fenômeno de formação de novas centralidades na cidade, a instalação de novos serviços e empreendimentos do setor terciário, somada a uma nova infraestrutura viária que vem formar novos vetores de ocupação e urbanização, resulta numa maior valorização do solo urbano nessas regiões, provocando o interesse do mercado imobiliário que passa a investir ali. O interesse do capital privado associado a intervenções do poder público provocam, então, a formação de novas centralidades potenciais e uma nova forma de segregação espacial; justamente o fenômeno que promoveu a consolidação do Tatuapé como principal centralidade na zona leste do município. A Zona Leste, em especial, se estruturou em torno do forte eixo Leste-Oeste da cidade, o qual liga o centro às periferias; trata-se de uma localidade que demonstra muito bem o fenômeno descrito anteriormente, um “processo histórico de destinação socioeconômica dos territórios da cidade (que) teve (...) a participação decisiva do poder público, que, de um lado, concentrou investimentos no centro expandido protegendo, através de um complexo regulatório urbanístico, o patrimônio imobiliário da população de maior renda que vive nesse território e, de outro, priorizou investimentos na periferia, basicamente em sistema viário e de transportes, que servem para mover a população trabalhadora da “cidade-dormitório” para os espaços de trabalho” (ROLNIK, 2001). A paisagem do território do centro expandido


sofreu uma marcante mudança, recebendo torres empresariais, edifícios de escritórios, shopping centers, hotéis, tudo de alto padrão, construindo a imagem “de uma nova ordem urbanística: ‘a cidade do terciário avançado’ ou o ‘novo centro da cidade’” (ROLNIK, 2001). Como lembra Endrigue, são justamente as novas acessibilidades, com a abertura de novas avenidas, que trazem as transformações funcionais à periferia do município, com uma urbanização impulsionada pelo capital imobiliário, o qual atrai a instalação de grandes equipamentos do setor terciário, como por exemplo os shopping centers, cujos endereços “vão sendo determinados na cidade seguindo tanto as orientações da sua demanda (o público alvo e o padrão de poder aquisitivo desejado) como a disponibilidade de espaço, as condições de acessibilidade e mobilidade, as tendências do sistema produtivo vigente e as possibilidades de inserção do capital imobiliário” (ENDRIGUE, 2008), fenômeno visível no Tatuapé com a instalação dos shopping centers associados à estação metroviária. Com a consequente valorização do solo, assistimos a um processo de verticalização da paisagem da periferia, em especial na zona leste; verticalização que esteve praticamente ausente na região, já que este tipo de ocupação costumava estar associada a mercados de alta renda antes encontrados na região central da cidade e em áreas próximas às avenidas Paulista e Faria Lima, enquanto que a zona leste apresentava características de área industrial, com ocupação horizontal e de habitação tradicional, como vilas operárias e pensões. Esta verticalização também se viu apoiada no momento em que se tornou necessário ao mercado imobiliário a busca por terrenos maiores e mais baratos de áreas intermediárias, “onde os terrenos não somavam o valor das áreas valorizadas, mas onde a renda diferencial já contribuía para a formação do valor do empreendimento garantindo o ciclo terreno-edifício-capital” (ENDRIGUE, 2008), visto que os lotes de áreas próximas ao centro, mesmo que valorizadas pela grande oferta de infraestrutura e configurando uma área de interesse, teve seu potencial construtivo restringido pela Lei Geral de Zoneamento de 1972 que diminui os coeficientes de aproveitamento. Entretanto, mais tarde, novas legislações vieram garantir os interesses de construtoras e incorporadoras, que somadas a um novo zoneamento causaram um vertiginoso crescimento da habitação verticalizada, especialmente na forma de condomínios fechados, durante a década de 80. Podemos citar Rolnik “a escassez de terrenos e os altos preços imobiliários nos bairros mais cobiçados produzem como efeito uma eterna migração dos investimentos do mercado da incorporação imobiliária, em busca de novas possibilidades de negócios. O mercado imobiliário, cada vez mais concorrido, procura identificar e atender novas demandas passando pela diversificação de bairros e preços” (in ENDRIGUE, 2008). Embora concentrada na região sudoeste da cidade, o Tatuapé se destaca por ser o único bairro da zona leste a receber esse tipo de ocupação.

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Fenômeno interessante se observa nesse processo de verticalização residencial, visto que nas áreas onde esta foi mais significativa, como no Tatuapé na Zona Leste, ou ainda Santana na Zona Norte, a população moradora diminui; sua organização em condomínios fechados de médio/alto padrão acabou por “exportar” população para a periferia, a qual sofreu um forte adensamento e uma crescente favelização, aumentando o grau de exclusão territorial, que se pode perceber através da análise dos dados da região, “como baixa escolaridade, a precariedade das condições habitacionais, a alta mortalidade infantil, os altos índices de homicídios” (ROLNIK, 2001). Dinâmica semelhante à do Tatuapé e Santana, porém em outro nível, ocorreu nos setores intermediários da Zona Leste (Belém, Móoca, Tatuapé, Água Rasa, Penha, Vila Formosa, Vila Prudente), onde lançamentos imobiliários populares, de dois dormitórios, impulsionaram a verticalização, e novamente a diminuição da população moradora. Embora o mercado mostre interesse pela área intermediária da Zona Leste, o mesmo não acontece com os bairros mais afastados nos quais a exclusão sócio-espacial se torna cada vez mais latente, como Lajeado, Guaianazes, Itaim Paulista, Cidade Tiradentes e Iguatemi, onde a pouca verticalização existente está diretamente ligada a programas habitacionais como Cohab e CDHU somada a infraestrutura urbana precária. Todas estas transformações físicas da cidade criaram reflexos na dinâmica social da população, estes novos modelos de ocupação urbana geraram, por conseguinte, uma nova forma de segregação sócio-espacial: “Não há mais na cidade, uma grande periferia de baixa densidade populacional e regiões definidas de média e altas densidades, como ocorria em 1977. O que se observa (...) é uma disputa do espaço na área mais urbanizada por populações de diversas faixas de renda. Este novo fenômeno na ocupação do espaço da cidade produz maior continuidade de um tecido mais consolidado, onde convivem, lado a lado, mesmo nas regiões mais valorizadas, o encortiçado, o favelado e os grupos de renda média, que correspondem (...) à diminuição perversa da segregação sócio-espacial” (ROLNIK, KOWARICK E SOMEKH, 1991 in ENDRIGUE, 2008). Embora as diferenças sociais persistam, a nova organização espacial da moradia e de serviços, além de vias de acesso e transporte, tornam as fronteiras, em alguns momentos, menos nítidas; estas características tornam-se ainda mais visíveis ao observarmos regiões ainda em processo de transição e de exploração imobiliária (como por exemplo a região do baixo Tatuapé, onde se localiza o terreno de projeto, discutido mais adiante).


Fig 09 - A contrução da Avenida Tatuapé, hoje Salim Farah Maluf. Ao fundo, a linha de trens da CPTM e o Cemitério da Quarta Parada. Foto de 1974. (Fonte: Gazeta Virtual)

Tatuapé

A

história do bairro do Tatuapé se estende desde os primórdios da ocupação do que hoje conhecemos como a cidade de São Paulo; entre os anos de 1560 e 1655 a região foi dividida em duas grandes glebas, a de baixo (próxima ao rio Tietê) e a de cima, então conhecida como Capão Grande; a região manteve-se praticamente inalterada até finais do século XIX, com a exceção dos primeiros desmembramentos em fazendas da parte de cima. Momento crucial para a história do Tatuapé foi a inauguração do trecho Brás-Penha da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1875, dando início a uma nova fase na ocupação da área. A estrada de ferro atuou como indutora de novas ocupações do ramal Leste, e trouxe consigo a implantação de novas paradas de trem na região que, somando-se à instalação das linhas de bonde na cidade de São Paulo - que na região circulavam pela atual Av. Celso Garcia - aceleraram ainda mais a ocupação do bairro no final do século XIX, em especial no baixo Tatuapé (porção a norte da ferrovia). Esse eixo de circulação ligando o centro à zona Leste veio também demarcar ainda mais a divisão do bairro em baixo Tatuapé e alto Tatuapé (porções a norte e sul da ferrovia respectivamente). Em 1890 o Banco Evolucionista, por ação do governo, passa a ser proprietário de parte do bairro, iniciando mais tarde loteamentos próximos a ferrovia, “entre as atuais ruas Tuiutí e Antônio de Barros”, nesse mesmo período “chegou à região o Italiano Benedito Marengo que, em 1887, comprou 24000 m² entre as atuais ruas Serra de Bragança, Cantagalo, Monte Serrat e Francisco Marengo, e mais tarde outros 96000m² na mesma área. Além disso, em 1911, a educadora

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Anália Franco fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo ao adquirir a Chácara Paraíso, com 75 alqueires, conformando a ocupação da parte alta. Já em 1927, a atual área do Parque do Piqueri, ao norte do Tatuapé, o conde Francisco Matarazzo comprou as terras correspondentes à chácara do Piqueri” (ENDRIGUE, 2008). A região que antes abrigava olarias e chácaras produtoras de frutas e hortaliças, passa no início do século XX a receber a ocupação industrial, recebendo na década de 20 suas primeiras grandes indústrias, a Fábrica de Tecidos Tatuapé, na Avenida Celso Garcia, e a Cia. Imperial de Indústrias Químicas (ABARCA in ENDRIGUE, 2008), sendo estas as primeiras de muitas que vieram a se instalar ao longo dos anos, e promoveram o desenvolvimento de uma maior infraestrutura no bairro e sua urbanização. Este processo de urbanização ocorre, um pouco tardiamente, com início somente na década de 40, quando são instalados equipamentos urbanos, se desenvolve o comércio, em especial no entorno da Praça Silvio Romero, instalam-se escolas, linhas de transporte e infraestrutura de comunicação; já as áreas verdes e recreativas só são instaladas na década de 70, quando a Chácara do Piqueri é desapropriada da família Matarazzo e devolvida à cidade e são inaugurados o CERET – Centro Educacional Recreativo e Esportivo do Trabalhador e o Centro Educacional Brigadeiro Eduardo Gomes (na área onde depois foi implantada a estação Carrão do metrô). Nesse processo consolidou-se o caráter industrial principalmente na parte baixa, enquanto na parte alta desenvolviam-se loteamentos.


Outro marco importante na história do Tatuapé, novamente ligado ao transporte, é a construção da via Radial Leste na década de 60, e mais tarde implantação da linha leste-oeste do metrô de São Paulo na década de 70, chegando em 1991 à inauguração da estação Tatuapé, valorizando o bairro e fortalecendo o desenvolvimento comercial da região da Praça Silvio Romero, o metrô “não somente iria reforçar a divisão espacial do bairro, mas, do ponto de vista socioeconômico, determinaria o desenvolvimento de toda a região” (ENDRIGUE, 2008), o qual teve um movimento no sentido sul-norte, por conta dos terrenos vazios e da saída das indústrias, que vinham em declínio desde meados da década de 70. Esse contexto juntamen-

te com as aberturas viárias das Avenidas Radial Leste e Salim Farah Maluf, e zonas de maior coeficiente de aproveitamento, criavam um meio propício para a expansão do mercado imobiliário, o qual encontrou no Tatuapé, não só as condições físicas, mas também uma grande demanda. Com o desenvolvimento industrial do bairro, enriqueceram comerciantes e industriais, em sua maioria imigrantes, e moradores do bairro que não pretendiam abandoná-lo, e foram estes comerciantes e industriais os primeiro a perceber seu potencial imobiliário, foram as construtoras locais as primeiras em explorar as necessidades dessa população, funcionando como catalisadoras do boom imobiliário que seguiu nos anos seguintes.

Fig10 - Vista parcial do Tatuapé, nas emediações da Radial Leste. Ao fundo a “Curva da Morte” e antes dela, o local onde foram construídos a estação do Metrô e o shopping. Foto de 1974. (Fonte: Gazeta Virtual)

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O crescente interesse em empreendimentos imobiliários de alto padrão se consolida durante a década de 90, principalmente na parte alta do bairro, promovendo a valorização do solo e consequentemente o aumento da verticalização. Já a parte baixa, entre a Marginal Tietê e a Radial Leste, veio a receber o movimento de expansão somente na década seguinte, a partir do ano 2000, causando interesse por conta dos terrenos vazios deixados por indústrias que saíram do mercado; embora venha recebendo novos empreendimentos, essa

área ainda apresenta, de forma proeminente, resquícios de seu passado industrial. É nesse período que o Tatuapé se forma como uma forte centralidade, e “é com a valorização imobiliária que o comércio local ganhará força com novas marcas, que o setor terciário será definitivamente instalado e que a população local sofrerá alteração de seu perfil socioeconômico, apresentando-se como uma daquelas com maior poder aquisitivo no município, mas com exclusividade quando o assunto é zona Leste”(ENDRIGUE 2008).

Fig 11 - Estação Tatuapé do metrô e Shopping Metrô Tatuapé, 1997 (Fonte: Metrô Memória)

Com a crescente valorização do bairro e do interesse do setor terciário, instalam-se, desde inícios da década de 90, uma série de centros comerciais e novos serviços, entre os primeiros o Express Shopping, a faculdade UNICID e o Shopping Center Plaza Chic, seguidos em 97 pelo Silvio Romero Shopping e pelo Shopping metrô Tatuapé, alguns deste instalados onde antes funcionavam antigas tecelagens. Este último, em projeto desde 1990, encontrou impedimentos para sua execução, em especial na Lei de Zoneamento a qual permitia somente a construção de sobrados e pequenas lojas nos arredores da estação Tatuapé do metrô; no ano seguinte foi aprovado um projeto de lei que modificava o zoneamento da área, permitindo a construção do shopping. Em 2007 o Shopping Metrô Tatuapé recebeu sua ampliação, o Shopping Boulevard Tatuapé, localizado ao outro lado da estação, valorizando então esta área do lado do baixo Tatuape. No mesmo período instalaram-se também hotéis, como o Meliá Confort e o Tryp Tatuapé, e universidades como UNIP e São Marcos. Com as mudanças físicas do bairro, seguiram mudanças sociais, a valorização do solo e alto padrão dos novos empreendimentos provocaram, de certa forma, uma seleção do perfil populacional do bairro, em especial na parte alta onde a verticalização foi mais proeminente, atraindo um público de maior

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poder aquisitivo do que na parte baixa onde se observa uma população de classe média padrão. De fato o boom imobiliário, ao trazer não apenas empreendimentos residenciais, mas também promover uma maior oferta comercial e de serviços, tanto de saúde como de educação, provocou, entre o período de 1991 a 2000, o aumento do IDH do Tatuapé, local que foi considerado em 2007 como o bairro com melhores condições de vida do município de São Paulo (segundo dados do Atlas Municipal do Trabalho e Desenvolvimento da Cidade de São Paulo, 2007, citado por ENDRIGUE,2008). Especificamente sobre a parte baixa do bairro, onde se localiza o projeto aqui apresentado, é interessante notar como essa região mostra características de uma fase de transição, enquanto a parte alta apresenta um avançado processo de verticalização, a outra vêm passando por um processo de valorização imobiliária mais recente, onde ainda persistem indústrias de pequeno e grande porte, novas ou tradicionais, principalmente por sua localização estratégica próxima a grandes vias de escoamento como a Marginal Tietê. Como consequência desse processo ainda em andamento, forma-se uma paisagem contrastante e heterogênea, em que se misturam grandes galpões industriais, comércios locais e shopping centers, ou ainda casas e vilas operárias vizinhas a edifícios residenciais de alto padrão.


2. O_Local_de_Projeto 2.1_A_Escolha_do_Lugar

A

seleção do local para intervenção deu-se a princípio pela escolha do município de São Paulo, baseado no fato de que a cidade é a que apresentou maior crescimento do setor de beleza, foco da proposta de projeto; somente no primeiro semestre de 2011 foram abertos 2445 novos estabelecimentos no setor de beleza, totalizando o número de 10128, segundo dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo, publicados no portal G1, o que significa uma alta de 85% em relação ao ano anterior, um crescimento que ainda se encontra em movimento. São Paulo mostra-se como potencial absorvedor de mão de obra do setor, apresentando demanda por profissionais capacitados, não só nos salões como também em eventos como a semana de moda, a São Paulo Fashion Week, entre diversos espetáculos que também tem necessidade de profissionais da área. A fim de melhor selecionar o local para o projeto, foi analisado o mapa da cidade com a localização dos salões de beleza, buscando encontrar possíveis polaridades; o mapa foi gerado em base dos dados disponíveis no sistema Google Maps, embora talvez não mostre os salões em sua totalidade (inclusive pelo fato de alguns atuarem de modo informal), é possível perceber as tendências de localização.

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Fig 12 – localização dE salõEs dE bElEza Em são paulo (googlE maps 2012) a partir dEssE mapa Foram localizadas as concEntraçõEs:

A partir desse mapa foram localizadas as concentrações:

Fig 13 – concEntraçõEs dE salõEs dE bElEza Em são paulo (pEla autora com basE no googlE maps 2012)


Nota-se uma grande concentração a sul da marginal Tietê, que abrange principalmente o centro e as regiões dos Jardins, Perdizes, Moema e Pinheiros, além de um foco na zona norte, em Santana, e outro na zona leste, no Tatuapé. Para refinar a seleção realizou-se o cruzamento do mapa da localização dos focos de concentração de salões de beleza com ma-

pas de dados sócio-econômicos da cidade de São Paulo. Foram utilizados os mapas disponibilizados pela Prefeitura de São Paulo em seu portal na internet, especificamente: Distribuição de Domicílios, segundo faixa de renda 2010; Uso do Solo Predominante 2010; Densidade Demográfica 2000; Regiões Subprefeitura e Distritos; além do cruzamento com o mapa da rede da CPTM.

Fig 14 – Distribuição de Domicílios segundo Faixa de Renda 2010 – mais de 20 salários mínimos (pela autora em base de mapa homônimo disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br)

Fig 15 – Densidade Demográfica em 2000 (pela autora em base de mapa do Censo IBGE 2000)

Fig 16 – Uso do Solo Predominante 2010 (pela autora em base de mapa disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br)

Fig 17 – Malha metroviária (pela autora em base de mapa disponível em http://www.metro.sp.gov.br)

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Ao analisar os mapas constata-se que as três áreas principais (Central/Sul, Santana e Tatuapé) apresentam características relativamente semelhantes, em especial nos aspectos do uso do solo, com predominância de uso residencial de alto padrão, e na distribuição de renda, embora se destaque a região mais a sul onde a renda é significativamente maior; em geral as áreas se caracterizam por uma população de classe média/média alta, em áreas bastante adensadas e todas, com exceção de Moema, são servidas pela rede de metrô. É interessante notar que os três principais focos encontram-se separados entre si por uma faixa predominantemente industrial. Opta-se por descartar a área central/sul, por um lado por já apresentar uma estrutura bastante consolidada e limitadas possibilidades espaciais para o projeto, além de já apresentar serviços semelhantes ao proposto em número suficiente, como se pode observar no Figura 08, o qual mostra a localização das principais e mais renomadas academias de beleza da cidade, Soho Academy, Centro Técnico Ikezaki e Instituto L’Oréal, nota-se que as unidades das duas primeiras encontram-se bastante próximas às estações de metrô, Faria Lima, Vila Mariana e Liberdade, respectivamente, já o Instituo L’Oréal encontra-se um pouco mais afastado.

Entre Santana e Tatuapé, optou-se pelo segundo, por ser um bairro que apresenta fortes potencialidades, que tem se mostrado uma grande centralidade na cidade, em especial na zona leste, apresenta uma forte identidade devido ao seu histórico - que será explorado mais adiante neste trabalho - e acima de tudo por ser uma localidade de fácil acesso à todo tipo de público, cortado pela rede de metrô e trens metropolitanos e importantes vias de conexão como a Marginal Tietê, a Radial Leste e a Av. Celso Garcia. O bairro do Tatuapé é também bastante adequado quando se leva em consideração o público alvo do projeto, por um lado a população local, principalmente de classe média, representa o público potencial dos serviços oferecidos ao público geral no salão-escola; por outro lado o metrô, ao conectar a cidade de lesta a oeste, possibilita o acesso aos que buscam os cursos profissionalizantes, um público de menor escolaridade e faixa de renda; soma-se a isso a possibilidade de uma maior variedade de usuários, visto que a linha vermelha do metrô, citada anteriormente, é a que apresenta maior número de passageiros segundo dados da CPTM, sendo que a Estação Tatuapé, especificamente, apresentou uma média de 72 mil usuários em dias úteis no ano de 2012.

Fig 18 – Malha metroviária e principais academias de beleza em São Paulo (pela autora em base de mapa disponível em http://www.metro.sp.gov.br)

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2.2 Caracterização do Local:Tatuapé

Fig 19 – Limite do distrito do Tatuapé (pela autora em base de mapa disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br)

O

distrito do Tatuapé, pertencente à subprefeitura da Móoca, localiza-se, como já foi mencionado, na zona leste da cidade de São Paulo, fazendo divisa com os distritos Belém e Água Rasa, da mesma administração; ao norte com o distrito Vila Maria, da subprefeitura Vila Maria/Vila Guilherme; a leste pela Penha, da subprefeitura Penha; Carrão e Vila Formosa da subprefeitura Aricanduva/Formosa/Carrão. O bairro apresenta uso predominantemente residencial de médio/alto padrão, e vem sofrendo uma crescente verticalização como podemos observar mais adiante nas imagens do levantamento fotográfico da região. Percebe-se também uma diferenciação entre as porções norte e sul do bairro, que se divide pelo marcante eixo da via férrea, na porção norte podemos visualizar uma maior concentração de residências verticais de médio e alto padrão, além de uma maior concentração de renda, a porção norte apresentava, em 2007, uma renda média acima dos 3501 reais, enquanto a porção sul mostra uma renda média entre 3000 e 3500 reais. Entretanto, quando se analisa o valor do solo urbano no bairro, percebese uma maior homogeneidade, com exceção de uma pequena área entre a Estação Tatuapé do metrô e a Praça Silvio Romero, que apresenta um valor mais elevado do solo, uma área que, como observado em visita ao local, apresenta um uso predominantemente comercial.

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Fig 20 – Uso Predominante do Solo (pela autora em base de mapa disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br)

Fig 21 – Renda Média em 2007 (pela autora em base de mapa disponível em http://www.metro.sp.gov.br)

Fig 22 – Valor do Solo Urbano em 2005 (pela autora em base de mapa disponível em http://smdu.prefeitura.sp.gov)

Fig 23 – Principais Vias e Transporte Público (pela autora)

Observa-se também a disposição dos principais acessos ao bairro, a linha 03 – vermelha do metrô, que corta a cidade de leste a oeste, desde a Barra Funda até Itaquera, e que possuí duas estações no interior do perímetro do Tatuapé, a estação homônima e a estação Carrão, lembrando que na estação Tatuapé localiza-se um pequeno terminal de ônibus; as linha 11 – coral e 12–safira da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos CPTM; e as avenidas Marginal Tietê, mais acima, limitando o bairro; Celso Garcia, cortando o bairro no sentido leste/ oeste, assim como a Radial Leste que corre paralela à linha férrea; e nos sentidos norte/sul a avenida Salim Farah Maluf e o viaduto Eng. Alberto Badra. Observamos também, a partir de informações disponíveis no Google Maps, uma maior concentração de salões de beleza na parte sul do bairro. Fig 24 – Salões de Beleza no Tatuapé (Google Maps 2013)

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2.3 Visita de Campo:Tatuapé

O

passo seguinte baseou-se em uma visita de campo ao bairro, observando a dinâmica local, usos, principais vias, principais fluxos e características da paisagem. A visita possibilitou uma melhor percepção da área, sua arquitetura característica de bairros industriais, onde predominam casas geminadas de gabarito baixo; é frequente no bairro também as pequenas vilas no interior das quadras e antigos galpões industriais (alguns ainda em uso, outros abandonados ou com seu uso modificado). Percebe-se o avanço da verticalização, ao andar pelo bairro encontram-se diversos novos empreendimento imobiliários em andamento, e ao observar o skyline do entorno a fenômeno se torna ainda mais claro. Com a visita foi possível confirmar o que foi antes percebido através da análise dos mapas, a parte sul do bairro apresenta um caráter mais agitado, com maior fluxo de pessoas, ocupado por comércios de caráter mais popular; já a parte norte parece manter um pouco mais da identidade industrial, embora muito já tenha sido perdido dando espaço a grandes edifícios residenciais de alto padrão, o comércio é mais pontual e em menor quantidade, encontra-se em maior número locais de serviço - casas de características industriais agora ocupadas por clínicas e escritórios - são mais numerosos também os edifícios de uso educacional, encontram-se na região, como mostra o mapa de levantamento, escolas públicas e privadas, escolas técnicas, o SENAI Orlando Laviero Ferraiuolo, com foco na construção civil, além de uma unidade da Faculdades Sumaré, a qual oferece cursos relacionados à administração de empresas.

Fig 25 – Levantamento Visita de Campo – parte norte

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Fig 26 – Levantamento Visita de Campo – parte sul

Apresentam-se a seguir os esquemas de localização das fotografias tiradas na primeira visita a campo, realizada no dia 30 de março de 2013, seguidas das mesmas:

Fig 27 – Localização das Fotos – parte norte

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Fig 28 – Localização das Fotos – parte sul

Fig 29 – Foto 01 R. Tuiutí, lateral Shopping Boulevard Tatuapé

Fig 31 – Foto 03 R. Potiguares, casas operárias

Fig 30 - Foto 02 R. Martins Pena

Fig32 – Foto 04 R. Felipe Camarão, casas operárias/verticalização

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Fig 33 – Foto 05 R. Felipe Camarão, antiga tecelagem


Fig 34 – Foto 06 R. Ivaí, vista desde Av. Celso Garcia, antiga fábrica

Fig 35 – R. Jarinu, vista do Shopping Metrô Tatuapé

Fig 36 – Foto 08 R. Tuiutí sentido Pç. Silvio Romero

Fig 38 – R. Julia Izar

Fig 37 – Foto 09 R. Icém

Fig 39 – Foto 11 R. Tijuco Preto

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Fig 40 – R. Tijuco Preto, casas geminadas


Figura 41 – Localização do terreno do projeto à Rua Martins Pena

2.4 Seleção do Terreno

A

pós visita e analise do bairro optou-se por trabalhar na porção norte do bairro, escolha que se deu principalmente pelo fato de a área apresentar outros estabelecimentos educacionais o que torna a implantação do projeto ali coerente, soma-se à isso o fato da não saturação do mercado na região, a porção norte apresenta um número bem menor de opções de serviços em beleza, no que diz respeito à salões de cabeleireiro e manicures (o bairro apresenta um grande número de clínicas de estética), e as opções existentes são estabelecimentos pequenos – excetuando as opções instaladas nos shoppings próximos - atendendo um público limitado. Outro aspecto importante na escolha da área de intervenção é a identidade mais marcante dessa porção do bairro, o que proporciona no-

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vas potencialidades a serem exploradas no projeto. Dos vazios, e potenciais terrenos para intervenção, foi selecionado um terreno onde antes funcionou um estacionamento, defronte à entrada do Colégio Espírito Santo, o qual se encontra na mesma quadra da unidade Tatuapé II das Faculdades Sumaré. O terreno se localiza, mais precisamente, na Rua Martins Pena, próximo ao cruzamento com a Rua Tuiutí, uma das principais vias locais, e a uma distância de duas quadras da estação Tatuapé do metrô e do Shopping Boulevard Tatuapé, esta proximidade ao metrô e a localização estratégica no eixo que liga metrô, terminal de ônibus, Faculdades Sumaré, Escola Espírito Santo, Colégio Meta e Avenida Celso Garcia, foram cruciais para a seleção do terreno.


2.5 Dados do Terreno – levantamentos e legislação 2.5.1 Legislação – Lei de Uso e Ocupação do Solo

Fig 42 – Zoneamento (fonte: SEMPLA – disponível em hhttp://sempla.prefeitura.sp.gov.br)

A

quadra a que pertence o terreno selecionado encontrase, segundo o indicado no Plano Regional Estratégico da subprefeitura da Móoca, em zona denominada Zona Mista de Alta Densidade – b (ZM 3b), o que permite a implantação de usos residenciais (R) e não residenciais (nR, permitindo o desenvolvimento de atividades comerciais, de serviços, industriais ou institucionais); no caso, o uso proposto classifica-se como uso não residencial tolerável nR2 que, segundo item VI do artigo 156 da Subseção II do Capítulo III da Lei de Uso e Ocupação do Solo, envolve estabelecimentos de ensino não seriado destinados ao ensino complementar, aos cursos profissionalizantes ou de aperfeiçoamento, ou à educação informal em geral. De acordo com a seção IV da supracitada lei, e apresentado no quadro nº04 anexo à mesma, estabelece-se: Coeficiente de Aproveitamento Mínimo = 0,2 Coeficiente de Aproveitamento Básico = 2,0 Coeficiente de Aproveitamento Máximo = 3,0 Taxa de Ocupação Máxima = 0,5 (para edifícios com altura menor que 12m aceita-se uma Taxa de Ocupação Máxima de até 0,7) Taxa de Permeabilidade Mínima = 0,15

Recuos: De frente mínimo = 5,0m (exceto quando no mínimo 50% da face de quadra em que se situa o imóvel esteja ocupada por edificações no alinhamento do logradouro, quando, segundo o artigo 185 da Lei de Uso e Ocupação do Solo, não será exigido recuo mínimo) De fundo e laterais mínimos = são definidos pela expressão R=(H – 6)/10 respeitando um mínimo de 3,0m (quando a altura do edifício, medida a partir do perfil natural do terreno, for até 6m, não são exigidos recuos de fundo e laterais). Levando-se em consideração que o terreno de intervenção possui área A=2511,3m², temos: Área de Aproveitamento Mínimo = 502,26m² Área de Aproveitamento Básico = 5022,6m² Área de Aproveitamento Máximo = 7533,9m² Taxa de Ocupação Máxima = 1255,65m² (para H<12m = 1757,9m²) Área de Permeabilidade Mínima = 376,7m²

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2.5.2 Plantas de Situação e Topografia do Terreno

A

Fig 43 – Planta de Situação, terreno em destaque – Escala 1:750

seguir são apresentadas a planta de situação do terreno em escala 1:5000 e outra mostrando a topografia do mesmo em escala 1:750.

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Fig 44 – Terreno e topografia – Escala 1:5000


2.5.3 Levantamento do Entorno do Terreno: usos e gabaritos

Fig 45 – Levantamento: Uso do Solo e Gabaritos no Entorno

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2.5.4 Levantamento Fotográfico

Fig 47 – Arredores do terreno

Fig 46 – Entorno imediato ao terreno (terreno em destaque)

Fig 48 – Arredores do terreno

Fig 51 – Estação Tatuapé do Metrô

Fig 49 – Arredores do terreno (terreno em destaque)

Fig 50 – Terminal de ônibus próximo ao terreno

(FOTO 19) Figura 52 – Vista parcial da fachada existente

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3. Referências_ Projetuais_ e_Programáticas

O

s projetos apresentados a seguir foram estudados a fim de extrair destes referências aplicáveis no desenvolvimento do projeto proposto, seja por sua adequação ao programa, soluções espaciais e volumétricas, ou ainda por sua inserção na malha urbana.

3.1_Referências 3.1.1_Bauhaus,_Alemanha,_1925_–_Walter_Gropius

O

O edifício da Bauhaus em Dessau, Alemanha, foi projetado pelo arquiteto Walter Gropius (1883-1969) e teve sua construção realizada entre 1925 e 1926. A escola de design Bauhaus, antes de ocupar o edifico em Dessau, funcionava na cidade de Weimar desde 1919, mais tarde por uma série de problemas políticos originou-se a necessidade de mudança para outra cidade; por oferecer a oportunidade e o espaço para um edifício próprio para a escola (antes compartilhava o espaço com outra escola, e parte das atividades práticas eram realizadas no escritório do próprio arquiteto) Dessau a recebeu, disponibilizando o terreno para sua implantação, juntamente com a implantação das casas dos professores. O projeto foi elaborado por Gropius em seu escritório, idealizado de forma a abrigar o programa da escola, o qual foi moldado em base de um novo ideal pedagógico para as artes, a Bauhaus propunha um aprendizado que integrava o saber teórico com o saber prático e criativo. Os alunos, em um primeiro momento, passavam por um curso preliminar de um semestre, onde recebiam preparação teórica e conceitual, e somente após a aprovação deste curso

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Figura 53 – bauhaus Vista ExtErna (FontE: googlE imagEns)


passavam aos ateliês/oficinas, onde por sua vez recebiam a preparação prática. Por três anos os alunos exploravam os diferentes materiais e suas possibilidades, a aplicação de conceitos e funções na criação de objetos e expressões artísticas. Por último passava-se ao estudo da arquitetura e urbanismo. A pedagogia, então inovadora, da Bauhaus empregava aulas aos cuidados de dois “mestres”, um professor da técnica, responsável por supervisionar os alunos em questões relacionadas ao trabalho com os diferentes materiais, e um professor da forma, responsável por questões de projeto, supervisionando questões estéticas, conceituais e funcionais. O edifício foi projetado de tal forma que sua volumetria expressa sua setorização funcional, na qual um dos volumes abriga os estúdios de 20m², o qual se conecta pelo volume do auditório e refeitório ao das oficinas, que por sua vez é ligada à escola técnica pela ponte formada pela administração. Cada um dos setores é tratado individualmente atendendo aos

Fig 54 – Axonométrica: volumetria e usos

seus programas específicos; aos observar as plantas de cada pavimento identifica-se com facilidade a setorização e a distribuição dos fluxos. Ao analisar o espaço dedicado às oficinas visualiza-se o que foi mencionado em relação ao programa pedagógico aplicado, grandes ambientes livres para atividades práticas integrados às salas dos professores, demonstrando o valor dado à essa experiência. O auditório integrado ao refeitório em um ponto central do complexo espacializam outro dos ideais do projetista, que encorajava uma intensa interação dos estudantes entre si e com as artes, através de diversos eventos desde jantares e festas a exposições e apresentações/intervenções artísticas.

Fig 55 – Pavimento Térreo (Fonte: Análises de Arquitectura, Documentación Grafica, Madrid 2005. Disponível em www.filestube.com/eqycioHTBr37piiiWqWvs)

Fig 56 – Primeiro Pavimento (Fonte: Análises de Arquitectura, Documentación Grafica, Madrid 2005. Disponível em www.filestube.com/eqycioHTBr37piiiWqWvs) Fig 57 – Segundo Pavimento (Fonte: Análises de Arquitectura, Documentación Grafica, Madrid 2005. Disponível em www.filestube.com/eqycioHTBr37piiiWqWvs)

Fig 58 – Corte pelos estúdios (Fonte: Análises de Arquitectura, Documentación Grafica, Madrid 2005. Disponível em www.filestube.com/eqycioHTBr37piiiWqWvs)

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O que chama a atenção neste projeto é a unidade dada ao edifício, embora a setorização fique clara, a linguagem do tratamento dado a cada setor e ao volume como um tudo tornam o edifício de fácil leitura e funcional de acordo com o programa e com o ideal pedagógico.


3.1.2 Colégio Gerardo Molina, Colômbia, 2004 – Giancarlo Mazzanti

Fig 59 – Colégio Gerardo Molina – vista aérea (Fonte: Portal Plataforma Arquitectura)

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projeto se insere no meio urbano de Bogotá, propondo não um espaço isolado, mas sim um espaço a ser apropriado pela população, que encoraje o uso do espaço pelos moradores da região, formando uma nova centralidade regional. A própria implantação do edifício, que se forma da rotação dos módulos, forma diversas áreas verdes e praças para uso da população. O edifício em si é formado por uma série de módulos posicionados em forma de corrente, cada módulo adaptando sua posição de acordo com seu uso e as condições do terreno (topografia, insolação, etc), o posicionamento destes conformam também os fluxos de acordo com os usos, e sempre mantendo uma unidade volumétrica do todo. Módulos menores abrigam usos exclusivos da escola, salas de aula, salas de professores, laboratórios e administração; estes são seguidos de módulos conectores que formam as áreas de circulação, além de espaços entre os módulos a serem apropriados pelas salas de aula formando novas áreas pedagógicas; já os módulos maiores e atípicos marcam os espaços de uso também da comunidade, e marcam os acessos e a relação direta com a rua. A solução espacial do projeto deixa claro o fluxo dos alunos, no sentindo de expressar o caminho que estes seguirão a medida que sua formação avançar, estando locada a pré-escola em um extremo, e as últimas séries no outro. Os usos por sua vez ficam organizados em diferentes pavimentos, de forma que as salas de aulas “comuns” localizam-se no pavimento térreo, já os laboratórios e salas de aulas práticas se localizam no pavimento superior, assim

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Fig 60 – Colégio Gerardo Molina – Fig 61 – Colégio Gerardo Molina – Pavimento Térreo Pavimento Superior (Fonte: Portal Plataforma Arquitectura) (Fonte: Portal Plataforma Arquitectura)

como a administração. Assim como acontece no projeto da Bauhaus, o tratamento dado ao volume e a forma como este abriga o programa proposto, criam uma clara funcionalidade, o diferencial deste caso se dá na forma da implantação integrando o entorno e convidando ao uso.


3.1.3 Sassoon Academy, Xangai – A00

Fig 64 – Sasson Academy – Interior (Fonte: archinect.com)

A

unidade de Xangai da conceituada rede de escolas de cabeleireiros Vidal Sassoon foi implantada no local de uma antiga e reformada fábrica de aço, com 560m², abriga em dois pavimentos salas de aula com capacidade para 60 alunos e funcionários. Os arquitetos buscaram transmitir, tanto no interior quanto no exterior do edifício, todo o conceito de modernidade e inovação intrínsecos ao nome Sassoon, incorporando na arquitetura conceitos como cortes (em inglês shear) e camadas (layers), conceitos aplicáveis tanto na arquitetura quanto no meio da beleza. O edifício recebe uma preocupação especial na fachada, o piso se projeta pelo passeio público criando uma pequena praça e convidando ao acesso, a entrada é marcada por uma parede de taipa, seguida por um painel de pixels que se movem com o vento, imitando o movimento que teriam os cabelos; ainda na fachada segue uma grande porta corrediça que revela um pequeno auditório que se apropria da praça como um palco público. Este projeto se destaca em especial por transparecer em sua arquitetura o conceito estético da escola, além do pensamento pedagógico da mesma, seja na organização espacial do programa ou na materialidade empregada no edifício.

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Fig 62 – Sassoon Academy, Xangai fachada (Fonte: archinect.com)

Fig 63 – Sasson Academy – Entrada (Fonte: archinect.com)


3.1.4 Kaze Hair Salon, São Paulo, 2010 – Forte, Gimenez & Marcondes Ferraz Arquitetos

O

sétimo salão da rede Kase de salões, foi pensado de forma a seguir a linguagem do salão construído em 2004 na Móoca, de projeto dos mesmos arquitetos. Neste caso o edifício teve de ser implantado em terreno estreito, levando à uma ocupação verticalizada, organizando o programa em quatro pavimentos.

Figura 65 – Kase Hair Salon – facahada de dia. Fran Parente. (Fonte: Portal ArchDaily)

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Figura 66 – Kase Hair Salon – facahada de noite. Fran Parente. (Fonte: Portal ArchDaily)


Fig 67 – Kase Hair Salon – Pavimento Térreo (Fonte: Portal ArchDaily)

Fig 68 – Kase Hair Salon – Primeiro Pavimento (Fonte: Portal ArchDaily)

Fig 69 – Kase Hair Salon – Segundo Pavimento (Fonte: Portal ArchDaily)

Fig 70 – Kase Hair Salon – Terceiro Pavimento (Fonte: Portal ArchDaily)

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A necessidade por iluminação natural resolve-se na fachada e no átrio central que corta os quatro pavimentos do edifício, a fachada composta por planos inclinados de vidro trazem contemporaneidade ao volume que assim se destaca, recebendo luz durante o dia e proporcionando iluminação à rua durante a noite. O átrio por sua vez além de introduzir luz ao interior do edifício, permite ao usuário a contemplação do painel criado pelo artista plástico Fábio Flaks. Nos três pavimentos mais baixos organizam-se as áreas de atendimento ao público, áreas de corte, lavagem, coloração

e depilação, sendo que no térreo localizam-se a recepção e vestiário (todos os pavimentos possuem sanitários), no pavimento mais alto encontra-se a administração e copa, além de um pequeno terraço. A análise das plantas dos pavimentos nos permite um entendimento claro dos fluxos e da dinâmica do local e os diagramas em corte mostram a atuação da fachada e do átrio em conjunto, não só com função de iluminação, mas também em proporcionar conforto térmico.

Fig 71 – Kase Hair Salon – Corte (Fonte: Portal ArchDaily)

Fig 73 – Kase Hair Salon – Corte Esquemático Conforto no Verão (Fonte: Portal ArchDaily)

Fig 72 – Kase Hair Salon – Corte Esquemático Conforto no Inverno (Fonte: Portal ArchDaily)

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3.1.5 Fudge Hair Pop-up Salon, Londres, 2012 – Zaha Hadid

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Projetado para o London Design Festival em celebração pela London Fashion Week, o salão temporário traz um forte grafismo ao ambiente. Fora o excelente tratamento plástico dado ao espaço, a localização dos postos de trabalho chama a atenção, ao saírem do padrão em que normalmente se posicionam ao longo de paredes, estas são posicionadas no meio do espaço demarcado pelo trabalho gráfico que demarca o piso

Figura 74 – Perspectiva do espaço em uso (Fonte: Portal DesignBoom)

Figura 75 – Posto de trabalho (Fonte: Portal DesignBoom)

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Fig 76 – Átrio central e circulação do edifício (Fonte: http://www.worldarchitecturenews.com)

3.1.6 Hertford Regional College, Hertford, 2009 – Bond Bryan Architects

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difício educacional que oferece qualificação profissional a jovens e adultos, abriga programa que inclui restauranteescola, padaria, teatro para dança e música, estúdio de gravação, salão de beleza, entre outros usos. A ideia do projeto é criar ambientes “shop front”, ambientes de atendimento ao

Fig 77 – Átrio central e circulação do edifício (Fonte: http://www.worldarchitecturenews.com)

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público, convidando a população a se apropriar do espaço. O tratamento dado à volumetria interna dos espaços e suas relações criam ambientes estimulantes e convidativos, o uso da transparência contribui para a integração do edifício como um todo além de resultar em uma interessante manipulação da iluminação natural.


3.1.7 Táña Kmenta Hair Studio, Brno, República Checa, 2012 – Studio Muon

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edifício de 1920, pensado originalmente para um banco, foi remodelado para um showroom de moda e um salão de beleza. A principal preocupação no projeto foi a criação de espaços elevados visíveis desde o exterior do edifício, permitindo que os cabeleireiros exibam suas criações. Outro ponto relevante do projeto diz respeito ao tratamento dado aos materiais, o projeto explora o valor estético e conceitual do concreto, do aço e do vidro em sua forma bruta, contrastando com ambientes minimalistas.

Figura 78 – Interior do salão, área de corte (Fonte: http://www.dezeen.com/2013/03/10/tana-kmenta-hair-studio-by-studio-muon/)

Figura 79 – Interior do salão, área de lavagem (Fonte: http://www. dezeen.com/2013/03/10/tana-kmenta-hair-studio-by-studio-muon/)

Figura 79 – Fachada (Fonte: http://www.dezeen.com/2013/03/10/tana-kmenta-hair-studio-bystudio-muon/)

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3.2 Outras Escolas de Beleza

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m São Paulo encontram-se outras escolas de beleza, semelhantes à proposta do projeto, são escolas particulares associadas à marcas de cosméticos ou ainda à grandes franquias de salões de beleza, que preparam seus próprios profissionais; estas escolas se somam às unidades do Senac, das quais algumas oferecem cursos no área. São aqui listadas algumas das principais escolas e suas características, em São Paulo o Instituto Embelleze, a Soho Academy e o Instituto L’Oréal Professionel, além dos Centros Técnicos Ikezaki; no exterior Sassoon Academy e Tigi Academy; vale incluir também as unidades Senac que oferecem cursos no setor.

da no salão da unidade Academy, somente aos sábados. Para o curso de manicure é exigido 1º grau completo e ser maior de 18 anos, quanto aos cursos de cabeleireiro não são divulgados pré-requisitos.

Instituto Embelleze O Instituto Embelleze, com mais de 40 anos no mercado, é a maior franquia da América Latina em cursos profissionalizantes voltados para a beleza, está presente em 99% dos estados brasileiros com mais de 300 franquias. Oferece cursos de cabeleireiro, maquiador, manicure e pedicure e depilação, além de cursos de atualização para os que já são profissionais. O público alvo são pessoas com mais de 14 anos e com ensino fundamental incompleto (sendo a exigência mínima ter 5ª série do ensino fundamental completa). Instituto L’Oréal Professionnel Inaugurado em 2010 possui duas unidades no Rio de Janeiro e uma em São Paulo, localizada no Tatuapé, foi inaugurada em 2011, com 5 salas de aula e um salão-escola no térreo. Oferece cursos profissionalizantes para cabeleireiros, manicures e maquiadores, através de formação teórica e prática além de capacitação técnica, nos ambientes de sala de aula e do salão-escola, oferece também cursos de gestão de salões de beleza, porém é dada maior importância aos cursos de cabeleireiro e manicure. Além de capacitar profissionais a escola tem o objetivo de fortalecer as marcas L’Oréal Professionnel e Colorama como parceiras de salões de beleza. Próximas unidades serão inauguradas em Belo Horizonte e Curitiba.

Senac O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, desde 1946, oferece educação profissionalizante no setor de Comércio de Bens, Serviços e Turismo em diversas unidades por todo o Brasil, com cursos livres, técnicos e de nível superior. Os cursos que aqui nos interessam, voltados ao setor de beleza, são de caráter livre ou técnico, e abrangem modalidades como hair style (cabeleireiro), visagismo, maquiador, manicure e podologia, além de cursos sobre administração de salões de beleza. Em geral, na unidades do estado de São Paulo, as aulas são ministradas em salas nas quais são realizados todos os cursos voltados à estética e beleza (incluindo cursos de cosmetologia, que por sua vez se aproximam mais da área de saúde do que aqui nos interessa). Já em unidades de outros estados, como Paraná e no Distrito Federal, por exemplo, funcionam junto às unidades Senac os salões-escola, onde não somente os alunos põe em prática o que aprenderam, como também atendem ao público geral. Interessante também é a iniciativa das unidadesmóveis, oferecendo oficinas e serviços gratuitos para a população de regiões mais afastadas, inclusive serviços de beleza. Vale lembrar que nas unidades de São Paulo, em certo ponto do curso, os alunos também realizam atendimento ao público, porém em menor número.

Soho Academy A Soho é uma rede de salões de beleza que oferece, além de serviços ao público, formação profissional em suas unidades Academy (duas em São Paulo, uma no bairro Pinheiros e outra na Vila Mariana). São oferecidos cursos para cabeleireiro e manicure, os alunos tem aulas teóricas e práticas, sendo seu tempo dividido entre a Academy e os salões da rede, parte do curso o aluno atua como assistente no salão da rede mais próximo de sua residência, e outra parte faz prática supervisiona-

Sassoon Academy Com sede em Londres, e franquias pela Europa e Estado Unidos, e cerca de 50 anos no mercado, a Sassoon Academy leva a cabo um forte conceito estético, presente em seus salões e escolas, e na prática de seus profissionais. Este conceito é mantido e reforçado por uma equipe de coordenadores, divididos entre Diretores Criativos e Diretores de Coloração, que definem as tendências e referências de cada estação a ser praticada nos salões e divulgada no site da rede.

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Centro Técnico Ikesazi Com cinco unidades em São Paulo, oferece cursos de especialização e atualização para cabeleireiros já profissionais, e cursos de manicure e maquiagem, além de outros campos da estética. Em sua maioria são cursos rápidos ou workshops em parceria com as marcas comercializadas na loja.


Seu ensino é definido, por eles mesmos, como contemporâneo, relevante e inovador. Oferece cursos para cabeleireiros iniciantes e para quem busca maior especialização, com aulas teóricas e práticas, além disso, oferece um serviço diferenciado, levando os professores de suas academias aos salões de beleza que desejem preparar seus funcionários. A mais nova unidade em Londres possui, no térreo, uma ampla recepção onde também funciona a venda dos produtos que levam o nome da rede; paredes de vidro cercam o átrio onde se ergue a escadaria principal que conecta todos os pavimentos, nos quais se distribuem 4 salas de aula que totalizam 60 estações de trabalho, um pequeno auditório com capacidade para 42 pessoas e equipado com alta tecnologia de vídeo e som, além de uma ampla área de convivência para os alunos. Tigi Academy Com unidades em vários países, inclusive no Brasil com unidade em São Paulo, a Tigi Academy oferece cursos para cabeleireiros e maquiadores, sejam iniciantes ou já profissionais, oferece cursos especialmente voltados ao mercado da moda, especializando os profissionais para editoriais e desfiles. Oferece também preparação na área de negócios, e para professores do setor de beleza. Na unidade brasileira é oferecida uma pequena gama de cursos, e apenas de especialização para profissionais com experiência mínima de três anos.

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3.2.1 Visitas de Campo

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ara melhor compreender o funcionamento das escolas e sua organização espacial, foram realizadas duas visitas de campo, a primeira e não muito bem sucedida ao Instituo L’Óreal Professionel, e uma segunda ao Instituto Embeleza unidade Tatuapé. Instituto L’Óreal Professionel Após três tentativas não foi possível conhecer a escola por completo, mas em uma breve entrevista a funcionária Camila descreveu o funcionamento da escola. São cinco salas de aula não muito grandes pelo que foi descrito (algo em torno de 20 ou 30m²) nos pavimentos superiores, e um salão de atendimento ao público no térreo, principal acesso ao edifício; um acesso mais privativo é realizado por

Fig 78 – Instituto L’Oréal, sala de aula (Fonte: http://intitutolp.com.br)

Foi observado que não possuem auditório e não estão de acordo com as normas de acessibilidade, já que não foi visto elevador ou rampas de acesso. O salão de atendimento ao público é pequeno, sem área de espera apropriada e circulação comprometida pela organização do layout das estações de trabalho. A seguir desenhos esquemáticos das áreas visitadas:

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uma porta lateral que dá acesso direto à escadaria que guia aos pavimentos superiores. A sala em que foi realizada a entrevista, e única que foi visitada, encontravam-se montadas estações de trabalho onde os alunos praticam em modelos, posteriormente passando ao atendimento à clientes no salão. A funcionária, ao ser questionada a respeito da administração, explicou que tanto a administração da escola, quanto do salão, é realizada pela mesma equipe nos balcões de atendimento, não havendo um local específico para esse tipo de atividade. Quanto às salas de aula, foi questionado também se havia diferenciação entre salas para aulas teóricas e práticas, ao que foi respondido que são utilizadas as mesmas salas para os dois tipos de aula, havendo apenas uma adaptação de mobiliário de acordo com a necessidade.


No Instituto Embelleze foi possível visitar todo o edifício, a funcionária Marília apresentou a escola e mostrou as instalações. O acesso se dá pela rua Tuiutí, no primeiro pavimento encontram-se o balcão de atendimento e área de atendimento dos consultores, que apresentam aos alunos os cursos disponíveis, além de sanitários e a sala de administração; no mesmo pavimento encontra-se uma das salas de aula, pequena e mobiliada com carteiras comuns, na ocasião acontecia uma aula para manicures. No pavimento superior localizam-se as outras duas salas de aula climatizadas, onde são realizadas aulas para cabeleireiros e maquiadores, no mesmo pavimento encontram-se os lavatórios, localizados fora das salas de aulas no hall do pavimento. Neste caso também não existem salas exclusivas para aulas teóricas, não possuem auditório ou qualquer espaço para possíveis apresentações ou palestras, e também não foi observada a existência de elevadores ou rampas. Não possuem salão para atendimento ao público e prática dos alunos, mas abrem as portas do instituto esporadicamente para atender ao público oferecendo serviços à preços acessíveis. A seguir fotografias e plantas esquemáticas:

Fig 79 – Esquema Funcional Instituo L’Oréal

Fig 80 – Plantas esquemáticas das áreas visitadas do Instituto L’Oréal Instituto Embelleze Tatuapé

Fig 81 – Planta Esquemática Primeiro Pavimento (pela autora)

Fig 82 – Planta Esquemática Segundo Pavimento (pela autora)

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Fig 83 – Instituto Embelleza, sala de aula de cabeleireiros (foto pela autora)

Embora as visitas de campo tenham agregado um melhor entendimento da dinâmica e dos fluxos dentro das escolas, quanto à organização espacial do programa não foi o que se esperava, por se tratarem de ocupações de edifícios já existente, adaptando os espaços internos para o novo uso, o interior destas escolas (L’Oréal e Embelleze) acabam por apresentar um aspecto um tanto quanto informal e improvisado. Dessa forma torna-se mais interessante a busca por referências em escolas internacionais afim de melhor compreender o programa desse tipo de instituição de ensino.

Fig 84 – Instituto Embelleze, lavatórios (foto pela autora)

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4.

ProGrAmA DE NECESSiDADES

O

programa foi elaborado levando em consideração as informações levantadas a respeito de outras escolas semelhantes já apresentadas e as escolas visitadas, ao que se somaram os dados obtidos como resultado do questionário aplicado à população local.

4.1_Questionário

F

oi aplicado um questionário rápido de 10 questões à um universo de 20 pessoas, selecionadas em número igual (5 pessoas) por localidade, a saber: estação Tatuapé do metrô, Shopping Metrô Tatuapé, Shopping Boulevard Tatuapé e arredores do terreno de projeto (baixo Tatuapé). Responderam ao questionário o mesmo número de homens e mulheres, em sua maioria trabalhadores com ensino médio completo. Interessante notar que do total dos entrevistados a distribuição entre moradores e não moradores do bairro do Tatuapé foi bastante próxima, ao que percebemos que se trata de uma localidade frequentada por pessoas de vários pontos da cidade, dada a oferta de serviços e empregos somada ao fácil acesso

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por transporte público, fato percebido não apenas pelos resultados do questionário, mas também por experiência pessoal da autora que, como moradora de município vizinho, utilizou amplamente os serviços oferecidos pelo Tatuapé. Outros dados revelados pela pesquisa mostra que 90% dos entrevistados utiliza serviços de salão de beleza, principalmente para corte de cabelo, com uma frequência entre dois e três meses, em sua maioria, como vemos do Gráfico X. Dos 90% que utilizam salões, 45% frequentam salões no próprio Tatuapé, enquanto outros 45% frequentam estabelecimentos em outros bairros (Jardins, Guarulhos, Liberdade, Parada Inglesa, Penha, Anália Franco).


Foi questionada também a satisfação dos usuários em relação aos estabelecimentos que frequentam, ao que 60% se mostraram satisfeitos; como possíveis melhorias foram apontadas as seguintes observações: maior quantidade de profissionais para atendimento, a fim de diminuir o tempo de espera; uma melhor organização espacial, além de espaço maior; melhor organização no atendimento; melhor localização; melhores produtos e profissionais mais versáteis. Quanto à viabilidade de um novo estabelecimento de serviços de beleza a pesquisa se mostrou favorável.

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O questionário nos revela, portanto, uma viabilidade positiva do projeto proposto, visto que demonstra a existência de um grande contingente de público consumidor do tipo de serviço oferecido, além de demonstrar a viabilidade do local com a possibilidade de atender usuários locais e de outras regiões da cidade, por se tratar de uma localidade de alta transitoriedade. Por fim, vale destacar a importância, mencionada pelos entrevistados, da capacitação dos profissionais e sua versatilidade em relação ao mercado.


4.2 Programa de Necessidades

A

ntes de pensar o programa de forma espacial, devemos primeiramente compreender a dinâmica dos cursos e usos do tipo de edifício aqui proposto, uma beauty academy como são chamadas no exterior, basicamente um centro de capacitação e formação para profissionais do setor de beleza e higiene pessoal. Um dos programas analisados é o da já mencionada Sassoon Academy. Em seu catálogo temos acesso aos detalhes de cada curso oferecido, os cursos são apresentados numa organização piramidal, começando da base dirigindo-se ao topo. Na base encontram-se os cursos da esfera denominada ABC Learning, na qual os alunos são introduzidos aos conceitos e técnicas básicas de corte e coloração de cabelos. No meio da pirâmide encontra-se a esfera do Salon Creative, onde as técnicas aprendidas anteriormente são combinadas e aplicadas, explorando de forma um pouco mais aberta a capacidade criativa de cada aluno. Por último, no topo da pirâmide, encontramos a etapa mais criativa quando, ainda sob supervisão de professores, os alunos são convidados a explorar de forma criativa as técnicas aprendidas, trata-se, segundo a própria Sasson coloca, de um momento de quebrar as regras para assim cada aluno encontrar o seu método e sua identidade como profissional. Esta escola em particular oferece uma variada gama de cursos, atendendo de iniciantes à profissionais já experientes, desde cursos semanais à cursos de 35 semanas, passando por cursos de um só dia (cursos de observação, em que o cliente/estudante pode observar os profissionais e aprender ou praticar técnicas específicas em que busca aprimoramento). Os cursos tratam assuntos técnicos e teóricos como corte, tratamento e tintura de cabelos, além de assuntos como preparação para entrevistas de emprego, comportamento adequado e profissional em salões, como melhor atender os clientes, como trabalhar por conta própria, como organizar sessões fotográficas e montar seu portfólio, etc. Ao final de cada etapa são realizadas avaliações do progresso de cada aluno, que ao final do curso recebe diploma da escola e a NVQ (National Vocational Qualification, certificado que regulamenta a profissão, legitimando o profissional como capacitado para realizar as atividades de seu setor; no Reino Unido é exigida qualificação para a prática de atividades do setor de beleza, conseguido através de uma série de avaliações teóricas e práticas; nos EUA, para conseguir a regulamentação, eram exigidas já na década de 80, um mínimo de 1800 horas de treinamento (DWECK, 2006)). Estes cursos são organizados, tanto na unidade de Londres

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como na de Xangai, como já foi mencionado, em espaços com capacidade para 60 alunos, com espaços de convivência e pequenos auditórios. As unidades de escolas nacionais visitadas – Instituto L’Oréal Professionel e Instituto Embelleze – possuem programas semelhantes de cursos, embora não tão complexos, mas organizados de forma semelhantes, entretanto nenhuma destas apresenta locais como auditórios, ou específicos para apresentações e/ou eventos. Interessante notar que em todas as escolas analisadas os espaços são divididos em um pequeno número de salas de aula (entre cinco ou seis), e apenas os exemplos internacionais se preocupam em espaços maiores, como o já citado auditório, ou ainda com espaços de convívio para alunos e funcionários. Interessante também ressaltar o caráter adaptativos dos ambientes, podendo apresentar variados usos de acordo com as necessidades apresentadas pelo currículo de atividades. Tomando como base programas de outras escolas que oferecem cursos semelhantes, o projeto se organiza em três programas principais: escola, salão-escola e atendimento de saúde voltado à estética; além de área administrativa, responsável tanto pela escola quanto pelo salão, e espaços de convivência. Para escola temos: Salas de aula teoria/prática: salas de aula adaptáveis onde podem ser realizadas aulas teóricas e práticas, foram pensadas quantas necessárias para cada curso. Para cabeleireiros foram pensadas salas para corte feminino e masculino; modelagem de cabelos, a saber, penteados, permanentes, etc.; coloração de cabelos, aplicação de tintura; aplicação de química e tratamentos como hidratações, alisamentos progressivos, etc. Para o curso de manicure são disponibilizadas duas salas, uma para a etapa básica e outra para a etapa avançada, na primeira são realizados procedimentos básicos de cuidados com pés e mãos, enquanto que na segunda são realizados procedimentos mais avançados de embelezamento e cuidados, como por exemplo esmaltação artística, hidratações intensivas, etc. As salas de aula para maquiagem foram igualmente categorizadas, na etapa básica são realizados procedimentos mais simples, com técnicas básicas para o dia-dia do profissional, já na etapa avançada são aplicadas técnicas específicas, seja aplicação de maquiagem em peles com problemas dermatológicos, para cobrir imperfeições, ou ainda técnicas para televisão, fotografia ou desfiles. As salas voltadas à saúde destinam-se à aprendizagem e prática inicial de procedimentos simples como massagens modeladoras, drenagens linfáticas, limpeza de pele e semelhantes. Salas de aula teoria: salas de aula tradicionais, para aulas teó-


ricas. Uma sala voltada à saúde, para o ensino de cuidados pessoais na prática do trabalho, exigências sanitárias e técnicas de esterilização, além de informações para o reconhecimento de possíveis patologias nos clientes; e outra voltada ao empreendedorismo, onde os alunos serão instruídos a respeito das possibilidades de carreira, como administrá-la e chegar aos objetivos, marketing pessoal, como tratar clientes e funcionários, etc. Auditório: um pequeno auditório para eventuais apresentações e eventos, como apresentações de profissionais renomados, workshops, desfiles e lançamentos de produtos (em parceria com marcas cosméticas ou ainda eventos maiores como São Paulo Fashion Week e Hair Brasil). O Auditório também estará disponível para usos ligados ao setor de saúde para palestras e eventos do gênero. Sanitários: comuns e para portadores de necessidades especiais, em número suficiente de acordo com o Código de Obras do Município de São Paulo, que indica 1 bacia sanitária e 1 cuba a cada 20 pessoas. Convívio: espaço para convivência de alunos, professores e funcionários; espaço partilhado com a administração. Faz parte também do espaço de com convívio um pequeno café de acesso comum a todos, sejam usuários da escola ou não. No salão-escola temos o espaço não só de atendimento ao público geral, como também o local onde os alunos da escola, após certo nível de capacitação e habilidade, passam a praticar seus conhecimentos sob supervisão de profissionais. O ambiente consiste em área de recepção e espera, loja, áreas de atendimento ao público (corte e tintura, lavagem, manicure, depilação, maquiagem), áreas de depósito e higienização de instrumentos, área de funcionários e sanitários. A área administrativa, como já foi mencionado, é responsável tanto pela escola como pelo salão, utilizando de forma conjunta espaços da escola (convívio e sanitários); dividi-se entre administração, coordenação de cursos, atendimento ao público e financeiro. O espaço para atendimento em saúde possui funcionamento autônomo, possuindo sua própria administração; trata-se de um espaço para atendimento médico para problemas de algum modo ligados à estética, principalmente atendimentos dermatológicos, havendo também atendimento de podologia. Além disso é um local onde alunos da escola podem trabalhar e praticar como assistentes. Os ambientes e funções se relacionam conforme diagrama apresentado a seguir.

Fig 85 – Diagrama Funcional

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As áreas dos ambientes foram calculadas de acordo com o Código de Obras do Município de São Paulo, considerando as salas de aula teoria/prática como laboratórios utilizou-se a relação de 4m²/pessoa; para salas de aula comuns 1,5m²/pessoa e para o auditório 1m²/pessoa, considerando sempre 15% para área de circulação. Para outros ambientes foram utilizados layouts básicos (croquis apresentados adiante), de acordo com dimensões de mobiliário apresentados em catálogos de fornecedores. Fig 86 – Croquis de layouts básicos para cálculo de áreas (acima: lavatórios, estações de trabalho, depilação/massagem; abaixo: maquiagem)

Tabelas de aproximação de áreas:

ESCOLA Sala de Aula Teoria/Prática Sala de Aula Teoria Auditório Sanitários Comum Sanitários Especiais Convívio

Lotação 15 40 60 6 1 indef.

Área por Unidade (m²)

alunos alunos pessoas pessoas pessoas pessoas

Unidades

69 69 69 16 2,6 100

Total (m²) 11 2 1 2 2 1

759 138 69 32 5,1 100 1103,1m² 1268,6m²

TOTAL TOTAL + Circ.

SALÃO-ESCOLA

Lotação

Recepção Espera Loja Lavatórios Atendimento (corte, tintura, etc) Manicure Maquiagem Depilação Higienização/Depósito Funcionários Sanitários Comuns Sanitários Especiais

3 6 2 8 20 6 3 3 3 6 2 1

Área por Unidade (m²)

funcionários clientes funcionário + cliente funcionário + cliente funcionário + cliente manicures maquiadores depiladores funcionários funcionários pessoas pessoa

Unidades

3,5 6,9 10 1,9 2,4 0,6 1,7 8,8 21 42 5,3 2,6

Total (m²) 1 1 1 4 10 6 3 3 1 1 2 2

3,5 6,9 10 7,6 24 3,6 5,0 26,3 21 42 10,7 5,1 165,5m² 190,4m²

TOTAL TOTAL + Circ.

ADMINISTRAÇÃO Administrativo Financeiro Atendimento

Lotação

Área por Unidade (m²)

3 funcionários 2 funcionários 2 funcionários

Unidades 21 14 14

Total (m²) 1 1 1

21 14 14 49m² 56,4m²

TOTAL TOTAL + Circ.

Clínica Recepção/Espera Atendimento Dermatologia Atendimento Podologia Atendimento Massagens Administração Depósito Sanitários Comuns Sanitários Especiais

Lotação 8 2 2 2 4 2 1 1

funcionário + funcionário + funcionário + funcionário + funcionários funcionários pessoa pessoa

Área por Unidade (m²)

cliente cliente cliente cliente

Unidades

9,2 4,6 4,7 4,7 28 14 2,7 2,6 TOTAL TOTAL + Circ.

A área total do projeto soma 1634,5m², o que se mostra dentro da legislação para o terreno, e o que exige, segundo Código de Obras, aproximadamente 50 vagas de estacionamento.

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Total (m²) 1 3 3 3 1 1 2 2

9,2 13,8 14,1 14,1 28 14 5,3 5,1 103,6m² 119,2m²


5. ProCESSo DE ProJETo A

pós análise bibliográfica, em especial no que diz respeito a visão de belo ao longo da história, e após análise do entorno do terreno, alguns conceitos mostram-se relevantes e adequados ao projeto, em especial proporção, ritmo e volume, acompanhados sempre pela luz, elemento que vem em reforço aos demais. O ritmo em especial, mostra-se presente no entorno, e no próprio terreno na fachada remanescente, como podemos observar nas imagens a seguir.

Fig 87 – ritmo na Fachada ExistEntE.

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Fig 88 – Ritmo do Entorno, casas operárias.

Fig 89 – Ritmo do Entorno, verticalização.

Além de se tratarem de conceitos intimamente ligados à arquitetura, estão também presentes na esfera temática do projeto, ou seja, na beleza. Seja nos cabelos ou na maquiagem, volume e proporção são essenciais, volume dos cabelos e penteados, volume dos cílios; a maquiagem e o corte dos cabelos buscam acentuar a bela proporção da face humana criando um ritmo harmônico. Nestes casos chama a atenção o fato de que os elementos envolvidos no objetivo de gerar proporção, ritmo ou volume, são elementos lineares, seja a “matéria prima” seja nos utensílios de cabelos a pincéis e escovas, como demonstrado nas imagens ao lado.

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Fig 90 – referências de elementos lineares no campo da beleza estética


Tomou-se então como ponto de partida a exploração do elemento linear em uma primeira leitura para a concepção do projeto. Foram realizados estudos plásticos de compreensão do espaço a fim de encontrar uma volumetria adequada, levando em consideração as proporções dos gabaritos do entorno e o marcante eixo de fluxo no sentido norte-sul que conforma o terreno. A seguir apresentam-se fotografias e croquis da maquete de estudos volumétricos.

Figura 91 – Primeiro estudo volumétrico.

Figura 92 – Segundo estudo volumétrico: ocupação fluída da parte estrita do terreno, apresenta muito espaço livre na porção central.

Figura 93 - Terceiro estudo volumétrico: grande ocupação do terreno; ocupação fluída e gradativa do eixo rua a rua.

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Figura 94 – Quarto estudo volumétrico: destaque ao eixo principal (rua a rua) com volume crescente em direção ao interior do terreno, volume decrescente no sentido longitudinal da quadra, acompanhando a gradação dos gabaritos.

Figura 95 – Quinto estudo volumétrico: Semelhante ao anterior, porém com maior fluidez no eixo principal, criando uma volumetria mais convidadita e apropriada ao propósito do projeto.

Este estudo foi de grande importância para uma melhor compreensão espacial das possibilidades volumétricas proporcionadas pelo entorno e pelo próprio terreno que se estende entre duas vias de acesso. Levando em consideração tal configuração, tomou-se como um dos principais pontos de partida a valorização do caminho de passagem do pedestre, seja ele usuário dos serviços ali instalados ou não, proporcionando uma maior conectividade e fluidez no bairro. Assim, estudou-se uma espacialização do programa de forma a atrair e acolher o usuário, ao mesmo tempo que cria espaços de convivência e permanência. Optou-se pela localização da clínica na frente de menor dimensão do terreno com acesso à rua Padre Antônio de Sá, rua de menor movimento e consequentemente menor emissão de ruídos criando uma ambiência adequada ao uso pro-

Figura 96 – Diagrama da Espacialização do Programa

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posto. Na frente maior localizam-se o salão-escola e o acesso à escola em si (cujas atividades ocorrem nos pavimento superiores), voltados à rua de maior movimento estes serviços ganham maior visibilidade além de acesso mais amplo e fluido. Integrando os demais usos o café se localiza no interior do terreno, criando uma centralidade acolhedora de permanência, convidando os usuários do bairro a adentrarem o edifício. Os acessos estão representados na Figura 97, assim como o fluxo de passagem cortando a quadra e interligando as ruas Padre Antônio de Sá e Martins Pena, o qual se posiciona em eixo estratégico no bairro entre duas vias principais, a saber, Av. Celso Garcia e Radial Leste, ao que se soma a estação Tatuapé do metrô, as quais são de grande importância ao conectar a Zona Leste às demais áreas da cidade e ao tornar a área de fácil acesso.

Figura 97 – Diagrama de acessos.

Figura 98 – Diagrama de acessos.

Em uma primeira proposta, como já foi mencionado, a escola se organiza nos pavimentos superiores na forma de dois blocos, o primeiro voltado à rua Martins Pena e o segundo ao longo da parte estreita do terreno, tais blocos se conectam por passarelas criando a integração da escola ao conjunto através de uma maior visibilidade das atividades e fluxos da mesma, ao mesmo tempo que permite

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a criação de um volume interno aberto e livre. A opção pelo uso de passarelas se explica pela intenção de aludir ao histórico industrial do bairro tomando este elemento, comum ao interior de muitas fábricas, como um ícone. Da mesma forma se explica o uso de escadas e outros elementos metálicos da estrutura, os quais serão apresentados na proposta final do projeto.


Figura 99 – Volumetria esquemática do primeiro estudo.

Figura 100 – Primeiro Estudo: croqui da volumetria.

Figura 101 – Primeiro Estudo: croqui do interior do conjunto.

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Uma segunda proposta organizou as salas de aula em forma de U e não de forma linear como a proposta anterior, dessa forma facilitando os acessos e melhorando condições de iluminação e ventilação natural, além de criar um volume mais coeso para a escola. As demais características da primeira proposta foram mantidas. Quanto ao muro pré-existente no local optou-se por manter ape-

nas partes de seu corpo, representando o restante por uma projeção no piso, como uma forma de manter a memória local em repeito à comunidade mesmo não se tratando de um elemento de relevância histórica ou arquitetônica. Na proposta final (apresentada em detalhes nas pranchas anexas) foram a clínica e o café que sofreram modificações mais

Figura 102 – Segunda proposta:

Figura 103 – Segunda proposta: volumetria inserida no entorno imediato.

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significativas. A clínica, antes totalmente térrea, agora organiza-se em dois pavimentos, permitindo assim uma maior valorização e fluidez da passagem entre as duas vias que limitam o terreno do projeto. O café, por sua vez, conforma agora um espaço de convivência mais amplo e iluminado, espaço este que se integra ao centro do projeto juntamen-

te com a banco/passarela e o auditório. Vale lembrar que o auditório possui uma parede especial formada por painéis basculantes que se recolhem para cima, abrindo o ambiente ao restante do projeto de frente ao café que juntamente ao banco/passarela formam um espaço de apresentações e eventos.

Figura 106 – Café-passarela-auditório exemplo no caso de um evento.

Figura 105 – Nova organização da área de convivência.

Figura 107 – Café-passarela-auditório exemplo de usos independentes.

No que diz respeito à escola, os ambientes administrativos foram realocados: uma pequena recepção de pé-direito duplo no térreo, para apresentação da escola e recepção de novos interessados, a administração em si encontra-se no primeiro pavimento e acima desta a sala de professores, juntos estes ambientes formam um volume vertical único marcado por paredes de vidro, reforçando o ideal de permeabilidade do projeto através da integração visual do entorno e valorização da iluminação natural. As salas de aula organizam-se nos pavimentos superiores, onde os alunos aprendem os ofícios que serão praticados sob supervisão no salão e na clínica. É importante explicar aqui que as aulas práticas em geral são realizadas primeiramente em manequins, como no caso do curso de cabeleireiro, ou nos próprios alunos (maquiagem, massagem, etc) apenas eventualmente e em estágio mais avançado do curso as aulas admitem voluntários, sendo que no estágio final do curso os alunos podem atender clientes no ambiente real de trabalho do salão localizado no térreo sempre sob supervisão de um profissional. Assim como o salão, a clínica é também um espaço para prática e aprendizado da dermatologia funcional, tratando problemas como flacidez facial ou corporal, manchas, envelhecimento facial, celulite, estrias, etc, através de procedimentos manuais ou com o auxílio de equipamentos (laser, luz pulsada, ultrasom, etc). Serviços estéticos que complementam aqueles disponíveis no salão. Ambas as fachadas, uma voltada para a rua Martins Pena e a

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outra para a rua Padre Antônio de Sá, são marcadas por peças escultóricas que exploram o elemento linear agregando verticalidade e textura. Na face voltada à rua Padre Antônio de Sá implantou-se uma pequena praça contemplativa, arborizada e com bancos que seguem a linguagem da passarela central, já de fronte à Rua Martins Pena a projeção no piso da fachada préexistente dialoga com os bancos criando uma pequena área de permanência. A escada por sua vez também recebe um tratamento plástico que resulta da exploração do elemento linear, marcando sua verticalidade e explorando também a permeabilidade e o efeito visual de sutis curvas as quais remetem tanto a elementos como proporções do universo da beleza. Outro elemento importante do projeto que merece destaque são as coberturas translúcidas, tratam-se de coberturas metálicas espaciais que permitem a passagem de luz, e marcam a volumetria em três principais usos: uma das coberturas marca o volume da clínica, representando o prática e o atendimento ao público, outra marca o café, espaço de convivência e permanência, e a principal de todas que se projeta além dos limites do edifico traz destaque à escola e à passagem. Em resumo, o projeto buscou proporcionar um espaço convidativo que ao mesmo tempo que respeita a memória e história local, agrega novos usos e uma nova dinâmica à paisagem urbana local. Da mesma forma que abriga espaços funcionais e adequados ao seu propósito de espaço educacional integrado à comunidade.


6. CoNCLuSÃo L

evando-se em consideração a intenção de responder as necessidades de uma localidade específica e de um mercado que vem crescendo ao longo dos anos, o projeto que foi aqui apresentado propôs um ambiente múltiplo, que abriga como principal uso uma escola para formação profissional em beleza, atendendo à uma demanda por profissionais capacitados em um meio cada vez mais competitivo e exigente. Por outro lado o projeto se integra ao bairro através da permeabilidade de seu volume e usos públicos em seu interior (café, salão de beleza e clínica). A materialidade, por sua vez, buscou referência nas indústrias que caracterizaram o Tatuapé por tantos anos, e é no mesmo espírito que se manteve parcialmente o muro pré-existente, como um respeito à memória dos que já eram usuários da região, hoje uma área de bastante movimento. É assim que o projeto buscou, unindo volume e materialidade, não ser somente mais um edifício, mas parte da paisagem urbana e mais uma opção ao cotidiano do bairro.

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