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PERINATOLOGIA VETERINÁRIA

Durante o parto, uma série de contrações da musculatura abdominal ocorre seguida por curto período de descanso. O aumento da frequência e da força acontece quando a cabeça do feto força o teto da vagina. Após a passagem da cabeça, pode haver um curto período de descanso, porém grandes esforços de expulsão são necessários novamente para a passagem dos ombros e tórax do bezerro pelo canal do parto. O quadril e membros posteriores saem na sequência, após a passagem do tórax pela vulva.

O segundo estádio do parto dura cerca de 30 minutos a 4 horas, mas indica-se assistência obstétrica o mais cedo possível, se este não estiver progredindo adequadamente. A forma como o feto se insinua nas vias fetal dura (ossos da pelve) e mole (cérvix e vagina) pode favorecer ou impedir que este estádio avance e a avaliação da estática fetal é imprescindível no auxílio obstétrico.

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A estática fetal, definida como a relação entre as partes do feto e entre o feto e a mãe, é dividida em apresentação, posição e atitude (ou postura). A apresentação é a disposição do eixo longitudinal (coluna vertebral) fetal em relação ao eixo longitudinal materno e pode ser longitudinal (anterior e posterior), transversal (ventral ou dorsal) ou vertical (ventral ou dorsal). A posição representa a disposição do dorso fetal em relação ao materno, sendo dorsal, ventral ou lateral (direito ou esquerdo). Por fim, a atitude é a disposição das extremidades fetais (cabeça e membros) em relação ao restante do corpo do feto e pode ser classificada em estendida ou fletida. Na grande maioria das vezes, a estática eutócica, em bovinos, é a apresentação longitudinal anterior, posição dorsal, com cabeça e membros estendidos e insinuados no canal do parto. A apresentação longitudinal posterior pode ocorrer e requer intervenção, pois é considerada de alto risco para a parturiente e para o feto. Todas as outras estáticas são consideradas anormais.

O estádio, ou fase 3 do parto, é caracterizado pela expulsão das membranas fetais. Normalmente esse processo ocorre em até 12 horas após o parto. „ ENFE

RMIDADES DO PA RTO

Quando ocorrem alterações nos eventos descritos anteriormente, o parto ocorrerá com dificuldade, sendo conhecido como distocia. As distocias podem ser ocasionadas por desproporção feto-pélvica, inércia uterina, torção uterina, alterações placentárias, defeitos de estática fetal, malformações fetais, gemelaridade, entre outros fatores. É interessante notar que em primíparas as distocias são decorrentes principalmente de desproporção feto-pélvica, ao passo que em multíparas são os defeitos de estática os maiores fatores de risco. A avaliação clínica e experiência do médicoveterinário são fundamentais para identificação da causa e correção da distocia. Para informações detalhadas sobre afecções do parto, bem como terapêutica conservativa ou cirúrgica, consultar tratados de Obstetrícia, como o Manual de Obstetrícia Veterinária, de Toniollo e Vicente, 3 Obstetrícia Veterinária de Grunert e Birgel 4 ou Obstetrícia Veterinária, de Prestes e Landim-Alvarenga. 5

„ Puer pér io fisiológico

Nos bovinos, o puerpério é definido como o período compreendido do parto ao primeiro estro, de modo que uma nova gestação possa ser estabelecida. De maneira didática pode-se caracterizar o puerpério nas seguintes fases: delivramento, puerpério propriamente dito (involução uterina/ regeneração endometrial) e restabelecimento da atividade cíclica ovariana. Todas essas etapas são necessárias para permitir adequado desenvolvimento folicular, ovulação, concepção e manutenção de uma nova gestação.

Clinicamente, na espécie bovina, o período pós-parto é caracterizado pelo anestro fisiológico, que pode variar entre 30 e 150 dias, até que as condições uterina e ovarianas estejam plenamente restabelecidas. Fatores como raça, condição corporal, presença do macho, produção de leite, grau de dificuldade do parto, afecções uterinas e ovarianas e doenças metabólicas, podem influenciar a duração do anestro pós-parto.

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Figura 3.12. A-F) Imagens fotográficas sequenciais de parto por cesariana. Fonte: S.F. Souza, arquivo pessoal.

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Figura 4.5. Fase III do parto. (A-C) Início da fase de expulsão das secundinas. (D) Delivramento das membranas fetais. Fotos: Bruno Moura Monteiro. Fazenda Santa Eliza, Dourado, SP e Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento/Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – UPD/APTA Regional, Registro, SP.

o período que compreende o início da fase I até a conclusão da fase III pode durar entre 7 e 10 horas (Fig. 4.5, A-D).

Búfalas que não concluem a fase III do parto, em até 12 horas do nascimento do bezerro, podem estar com dificuldade de expulsar as membranas fetais. Casos de problemas no processo de expulsão das membranas fetais, também denominados de retenção de secundinas, podem ter uma incidência entre 1 e 5% dos partos na propriedade, dependendo das condições nutricionais das fêmeas parturientes ou época de parição. Os casos de retenção de secundinas ocorrem mais frequentemente em búfalas magras, concentrando-se a maior parte das intercorrências durante a estação chuvosa do ano. Mais detalhes sobre o tema serão abordados no tópico Retenção das Membranas Fetais (RM F).

Puerpério e primeiro estro pós-parto

Após um longo processo de dilatação do útero, durante a gestação, este órgão precisa voltar ao tamanho normal o mais rápido possível para que a búfala prepare seu trato reprodutivo para a próxima concepção. Este processo de regressão uterina, normalmente, leva em torno de 28 dias, enquanto a primeira manifestação de estro após o parto acontece entre 30 e 45 dias. Esse processo de regressão uterina não parece sofrer influência nem do sexo nem do peso do bezerro nascido. 9

Quadro 4.14. Vacinas, doses e recomendações de vacinações para bubalinos.

Va vi cina, dose e a de administração Recomendações

Febre aftos a 5,0 mL via subcutânea

Bruce lose 2,0 mL via subcutânea

Le ptos pirose 2,0 mL via intramuscular

Raiva 2,0 mL via subcutânea ou intramuscular

Botu lismo 5 mL via subcutânea

Clostr idioses 3 mL via subcutânea

Tétano 3 mL via subcutânea

Mast ite 2 mL via intramuscular

Diarre ia neon atal 2 mL somente por via intramuscular

Vacinação OBRIGA TÓ RIA . A vacinação segue as recomendações do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA/MAPA) e as diretrizes das agências de defesa sanitária de cada Estado. Geralmente, os animais de todas as idades são vacinados nos meses de maio e novembro de cada ano

Vacinação OBRIGA TÓ RIA . A vacinação segue as recomendações do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT/MAPA). Vacinar somente as fêmeas com idade entre três e oito meses de idade. Há diferenças na utilização da vacina B19 e RB51

Vacinar somente os animais com idade acima de dois meses. No entanto, os animais lactentes devem ser revacinados após seis meses; e os desmamados, anualmente

Vacinar somente os animais com idade acima de quatro meses, anualmente. Os animais primovacinados devem ser revacinados após 30 dias

A primeira dose deve ser aos 4 meses de idade para bezerros de mães vacinadas e 15 dias de vida para bezerros de mães não vacinadas, com revacinação após 30 dias e o reforço anual

A primeira dose deve ser aos 2 meses de idade para bezerros de mães vacinadas e 15 dias de vida para bezerros de mães não vacinadas, com revacinação após 30 dias e o reforço deve ser anual em dose única. Em animais filhos de mães não vacinadas, aplicar a primeira dose a partir da 2 a semana de idade, a segunda dose um mês depois e a terceira dose após seis meses. Nas fêmeas em gestação, fazer a revacinação anual 2 a 6 semanas antes do parto

Vacinar todos os animais anualmente. Revacinar duas semanas antes os animais que vão parir e os que serão submetidos à orquiectomia

Para a imunização de vacas e novilhas saudáveis, em explorações leiteiras com problemas de mastites recorrentes; para reduzir a incidência de mastite assintomática e a incidência e gravidade dos sinais clínicos da mastite clínica causada por Staphylococcus aureus, coliformes e estafilococos coagulase-negativos. O esquema completo de imunização induz imunidade desde aproximadamente o 13 o dia depois da primeira injeção até aproximadamente o 78 o dia após a terceira dose (equivalente a 130 dias depois do parto). Pode-se administrar durante a gestação e a lactação. Em geral, é aconselhável o seguinte programa vacinal: primeira dose: aos 45 dias antes da data prevista do parto; segunda dose: aos 35 dias após a primeira dose (correspondente a 10 dias antes da data prevista do parto); terceira dose: 62 dias depois da segunda injeção (correspondente a 52 dias depois do parto). Este programa de imunização completo deve ser repetido em cada gestação

Recomenda-se vacinação de vacas e novilhas prenhes sadias. De acordo com o programa de garantia de qualidade da carne, este produto deve ser administrado no músculo da região do pescoço. Primovacinação: administrar com intervalo de aproximadamente 3 semanas entre elas, e a segunda dose deve ser dada entre 3 e 6 semanas antes do parto. Revacinação: recomenda-se revacinação com dose única entre 3 e 6 semanas antes da data prevista de cada parto subsequente

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Anestesia e Ana lgesia no Período Perinata l

Ricardo Andrés Ramirez Uscategui Cássia Maria Molinaro Coelho Wilter Ricardo Russiano Vicente

Introdução

Animais gestantes e neonatos, independentemente do manejo e cuidado, podem ser acometidos por afecções álgicas, desordens sistêmicas ou congênitas que necessitam de procedimentos cirúrgicos, ou controle da dor, como parte do tratamento. Ademais, complicações materno-fetais durante o parto são frequentes e, por vezes, requerem analgésicos, anestésicos locais ou gerais para a realização de manobras obstétricas ou mesmo operações cesarianas. Independentemente do tempo de gestação, deve-se ter em mente que as fêmeas gestantes apresentam uma série de alterações morfofisiológicas, assim como os neonatos, as quais podem influenciar direta ou indiretamente na qualidade e segurança do procedimento anestésico. Por essa razão, além de mais critério na escolha do protocolo, é de vital importância o preparo dos cuidados perioperatórios e o monitoramento específico desses pacientes, desde o preparo cirúrgico até a sua recuperação anestésica.

O objetivo deste capítulo é apresentar as diversas condições, que influenciam no procedimento anestésico durante a gestação e no período neonatal, as indicações e contraindicações para a administração de fármacos anestésicos e analgésicos, assim como os protocolos de aplicação prática para esses pacientes, com o objetivo de garantir a segurança para a unidade materno-fetal, pacientes neonatais e pediátricos.

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