Observador

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Junho 2015

1ª Edição

2,75 €

“Tintin no Congo” dá muito que falar sobre os seus valores éticos.

TINTIN

no Tribunal Penal Internacional JJ milionário no Sporting 4

Há um bíquini antiescaldão 19

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Estatuto Editorial O Observador é um jornal diário online, independente e livre. O Observador procura a verdade e subordina-se aos factos. Nunca nos deixaremos condicionar por interesses partidários e económicos ou por qualquer lógica de grupo. Somos responsáveis apenas perante os nossos leitores. O Observador não perfilha qualquer programa político mas tem um olhar sobre o país e sobre o mundo. O Observador assume os princípios fundadores da Civilização Ocidental, derivados da antiguidade greco-romana do Cristianismo e do Iluminismo. O Observador orienta-se pelo princípio da dignidade da pessoa humana e pelos valores da democracia, da liberdade e do pluralismo. O Observador vê com ceticismo as utopias dirigistas e prefere as mudanças graduais, susceptíveis de teste e de correcção. O Observador coloca a liberdade no centro das suas preocupações e defende uma sociedade aberta, com instituições respeitadoras da lei e dos direitos individuais. Acreditamos que o desenvolvimento harmonioso tem de ser inclusivo e não deixar ninguém para trás. O Observador quer contribuir para uma opinião pública informada e interveniente. Valoriza a controvérsia e a discussão franca e descomplexada. O Observador dirige-se a um público de todos os meios sociais e de todas as profissões. O Observador procurará fórmulas atrativas e pertinentes de apresentação da informação, mas dispensando o sensacionalismo. O Observador estará na linha da frente do processo de mudanças tecnológicas e relacionais, sempre atento à inovação e promovendo a interação com os seus leitores.

Ficha Técnica Conselho de Administração António Carrapatoso (Presidente) Duarte Schmidt Lino José Manuel Fernandes Rui Ramos Conselho Geral Jaime José Matos da Gama (Presidente) António Francisco Alvim Champalimaud António José Santos Silva Casanova Filipe de Botton João Fonseca Luís Filipe Marques Amado Luís Manuel Conceição do Amaral Nuno Miguel de Medeiros Ferreira Carrapatoso Pedro de Almeida Direção Geral Rudolf Gruner Direção Comercial Isabel Marques Gonçalo Saraiva Mafalda Campos Forte Direção Editorial Publisher José Manuel Fernandes Diretor David Dinis Diretor Criativo Diogo Queiroz de Andrade

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Infográfica Andreia Reisinho Costa

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Gestores de Comunidades e Analistas Digitais Bruno Valinhas Luís Pereira Editores Audiovisual Fábio Pinto Hugo Amaral Miguel Soares Equipa Web André Guedes Alexandre Santos Eduardo Domingos Joana Pereira Pedro Nunes Secretariado Estrela Mandillo


ÍNDICE

Sporting. Jorge Jesus vai ganhar 6 milhões por ano no Sporting 4

Breves-Notícias

Bullying: como identificar a violência e o que fazer 6

Explicador

A banalidade do mal 10

Opinião

Também tem medo dos arrumadores? 11

Opinião

Tintin no Tribunal Penal Internacional 12

Entrevista

Pode um cão melhorar a sua vida amorosa? 18

Lifestyle

Há um bíquini antiescaldão 19

Lifestyle 1ª Edição


BREVES-NOTÍCIAS Desporto

Economia

Sporting. Jorge Jesus vai ganhar 6 milhões por ano no Sporting Foi a bomba da noite de quarta-feira, com os estilhaços a espalharem-se pela madrugada de quinta. Jorge Jesus será o treinador do Sporting para a temporada 2015/2016. O técnico bicampeão pelo Benfica não chegou a acordo com Luís Filipe Vieira para a renovação do contrato que o liga ao clube da Luz, e Bruno de Carvalho chegou-se à frente, garantido a contratação do técnico graças a investimentos de Angola e da Guiné Equatorial. O Observador tentou obter reações, quer por parte de Jorge Jesus, quer por parte

do Sporting e do Benfica, mas não foi possível chegar à fala com qualquer deles. Os únicos dados recolhidos permitem apenas avançar que se tratará um contrato com a duração de três anos, que custará seis milhões de euros brutos por época (o salário base é superior a três milhões), um valor nunca antes pago em Portugal. No Benfica, Jesus recebia quatro milhões/ano. O treinador terá ainda um prémio de assinatura na ordem dos cinco milhões de euros.

Duelo entre chineses na corrida ao Novo Banco

O processo de venda do Novo Banco transformou-se num duelo entre dois grupos chineses, a Fosun e a Anbang, que ganharam vantagem face ao Santander Totta e aos dois fundos norte-americanos. A análise é do Financial Times, que falou nos últimos dias com várias fontes do setor bancário português e chegou à conclusão de que os dois grupos chineses seguem na dianteira por duas razões principais: “têm a capacidade financeira para fazer ofertas melhores” e são os que têm “maior interesse em desenvolver o banco“.

Política

Costa avança com redução da TSU e compensa com Orçamento

O programa eleitoral do PS, divulgado quarta-feira à noite no site do partido, propõe a diminuição da TSU paga pelos trabalhadores, seguindo a sugestão do grupo de economistas do PS, e que tinha ficado inicialmente de fora do ante-projeto de programa eleitoral. A perda de receitas da Segurança Social, com esta medida, será compensada por transferências do Orçamento do Estado para a Segurança Social.

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Mundo

Ciência

Apple processada por prática de segurança “embaraçosa e degradante”

Fotografia astronómica: Difícil vai ser escolher a melhor

Foram pelo menos dois os emails enviados diretamente a Tim Cook, o diretor da Apple, denunciando a política de segurança da empresa que obrigava à verificação das malas dos colaboradores à saída das lojas da Apple. A medida foi considerada “embaraçosa e degradante”, segundo uma ação judicial conhecida esta quarta-feira, escreve o Guardian. A Apple “trata os seus colaboradores ‘valorizados’ como criminosos”, afirmou um colaborador numa dessas mensagens enviadas a Tim Cook em 2012. As queixas só foram divulgadas esta semana, mas levaram à abertura de um processo 2013. O que se sabe agora é que o diretor da Apple reenviou o email aos chefes de loja e aos diretores de recursos humanos, questionando-se se o procedimento era verdadeiro. Contudo, a ação judicial não divulga as respostas que terá recebido.

Os vencedores só serão conhecidos a 17 de setembro, ainda estamos em junho, mas nunca houve tantas fotografias a concurso. São já mais de 7.200 imagens, vindas de 60 países, e todos procuram o título de melhor fotografia astronómica do ano naquela que é a 70ª edição do concurso promovido pelo Real.

Cultura “Eles descobrem, depois de todos estes anos, que Homer sofre de narcolepsia [acesso súbito de sono profundo], e isso cria uma tensão inacreditável no casamento,” disse o produtor.

Marge e Homer Simpson vão divorciar-se Rude golpe no amor. Um dos casais mais acarinhados de todo o mundo, Marge e Homer Simpson, vai divorciar-se. A novidade foi adiantada à Variety pelo excelente produtor americano Al Jean. Depois dos papéis assinados, Homer ainda se apaixona por uma farmacêutica.

A farmacêutica vai ter a voz de Lena Dunham, a protagonista da série “Girls”. Quanto a Marge, não se sabe se o coração vai bater mais forte por outra pessoa. Nem se sabe se o divórcio vai ser definitivo, mas no centro do problema, de acordo com Al Jean, está um problema de saúde. 1ª Edição

12 temporadas depois, no episódio “Wedding for Disaster”, descobre-se que a licença do Reverendo Lovejoy estava caducada na altura em que este celebrou o segundo casamento de Homer e Marge, o que significa que o casal esteve meses sem estar casado legalmente. O erro foi prontamente retificado. A poucos meses da estreia da 27ª temporada nos Estados Unidos, a produção tem deixado cair o pano sobre algumas novidades. Já se sabe, por exemplo, que o “Spider Pig”, o porco que fez furor no filme dos Simpsons, vai regressar. Esta semana também anunciaram a morte de Bart Simpson.

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EXPLICADOR

Bullying: Como identificar a violência e o que fazer O que é o bullying?

Como identificar uma vítima de bullying?

Ainda que o bullying esteja relacionado com um comportamento violento, nem todas as atitudes violentas podem ser consideradas bullying. Uma luta ocasional entre colegas não é bullying.

As vítimas de bullying têm muitas vezes alterações de comportamento ou na saúde: alterações no humor, abatimento físico e psicológico, pouca paciência, mais alheado do que de costume, mais introspectivo, com piores resultados na escola ou a nível profissional, com queixas físicas permanentes (dor de cabeça, de estômago, fadiga), irritabilidade extrema, inércia.

É uma situação que resulta de um desiquilíbrio de poder entre agressor e agredido. Um ou mais indíviduos mostram-se superiores a nível físico e abusam física ou psicologicamente de uma ou mais vítimas.

Os pais podem perceber que o filho está a ser vítima de bullying na escola quando ele pede para ser levado à escola quando normalmente já não o faria, quando aparece em casa com os bens pessoais danificados, com marcas de agressão física ou com falta de alguns objetos, também quando não são convidados para sair com os colegas da escola ou quando perdem o gosto pelas atividades de lazer.

É normalmente praticado entre pares – pessoas que têm algo em comum -, como colegas da mesma turma, pessoas da mesma idade ou indivíduos relacionados com o mesmo grupo. Acontece normalmente entre crianças e jovens do ensino básico, mas pode manter-se no ensino secundário ou mesmo na idade adulta. A expressão bullying é utilizada com mais frequência para falar deste tipo de situação de agressividade entre colegas na escola ou entre irmãos.

Agressor e Agredido? Quando se refere a colegas de trabalho e violência doméstica quando se trata de um casal. Os agredidos ou vítimas passivas podem ter alguma característica que o torna mais susceptível à agressividade dos pares, como usar óculos, ter excesso de peso, ser homossexual, ser de outra etnia ou ter um comportamento introvertido.

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São normalmente pessoas inseguras, com menos autoestima e que se isolam mais. O bullying pode afetar a saúde física, emocional e social das crianças envolvidas e ter consequências graves, tais como depressões e, em última análise, suicídio. Existe um outro tipo de agressores que são simultaneamente vítimas, chamados vítimas provocativas ou reativas. Estas vítimas reagem quando são atacadas, Junho

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mas não conseguem afirmar-se perante o agressor de forma assertiva. Também podem tornar-se agressores de outras pessoas que considerem mais frágeis. As vítimas reativas são normalmente mais impulsivos, mais ativo e provocam maior irritabilidade. O facto de reagirem pode despertar nos agressores maior vontade de manter a agressão.


Como detetar um agressor? Embora não haja provas de uma predisposição genética para a agressividade de um indivíduo, pode haver tendência para um temperamento mais impulsivo.

O que deve fazer uma vítima de bullying? A ideia era autonomizar o crime (que não está tipificado no Código Penal) e criar molduras penais semelhantes às aplicadas aos crimes de violência doméstica, com penas de prisão de um a cinco anos para os maiores de 16 anos, que podiam chegar aos 10 anos de pena em caso de ofensa grave à integridade física ou morte. Desde que a proposta de lei caducou em 2011 não houve novas propostas sobre este tema. Agora há um grupo de trabalho que tem estado a estudar o fenómeno da indisciplina em meio escolar e que vai apresentar as primeiras conclusões na próxima quarta-feira. Enquanto o bullying não for considerado um crime público apenas a vítima ou os pais, caso esta seja menor, poderão apresentar uma queixa que leve o Ministério Público a abrir um inquérito. As vítimas de bullying têm muitas vezes alterações de comportamento ou na saúde: alterações no humor, abatimento físico e psicológico, pouca paciência, mais alheado do que de costume, mais introspectivo, com piores resultados na escola ou a nível profissional, com queixas físicas permanentes (dor de cabeça, de estômago, fadiga), irritabilidade extrema, inércia. Mas é importante que não se confundam estes sinais com outras características próprias, por exemplo, da adolescência.

Este temperamento quando não é controlado pelo ambiente ou pela educação pode resultar numa criança com comportamentos violentos, explica a psicóloga Sónia Seixas. Os sinais no agressor são mais difíceis de detetar, mas podem identificar-se alguns comportamentos antissociais, agressividade, deliquência, vandalismo ou consumo de substâncias ilícitas.

Os pais podem perceber que o filho está a ser vítima de bullying na escola quando ele pede para ser levado à escola quando normalmente já não o faria, quando aparece em casa com os bens pessoais danificados, com marcas de agressão física ou com falta de alguns objetos, também quando não são convidados para sair com os colegas da escola ou quando perdem o gosto pelas atividades de lazer.Embora as agressões possam não se manter na vida adulta, a vítima pode manter os problemas psicológicos durante esta fase da vida. Na vida adulta podem ter dificuldade em confiar nos outros, problemas de ajustamento social e incapacidade de se relacionar com os outros.Por isso, não é só a vítima que terá problemas de adaptação no futuro, também o agressor terá perturbações de conduta e falta de capacidades de adaptação social, que se podem na idade adulta. Alguns estudos mostram que as crianças agressoras terão mais tendência para se envolverem em atividades criminosas.


EXPLICADOR A agressividade de bulling nas escolas é expressiva? Estes são os crimes registados pela PSP, em ambiente escolar, no ano lectivo de 2013-2014: 34% dos crimes ocorridos dentro e fora da escola estavam relacionados com agressões; média de 185 casos de agressões por mês, num total de 1665; registaram-se 142 casos de ofensas sexuais; 72,5 % das ocorrências (6 693) em contexto escolar foram de natureza criminal – aumento de 5,4% de casos participados à polícia e de 8,1% de crimes propriamente ditos. O agressor ou bully tende a ser mais forte a nível físico e a ter um perfil violento e ameaçador. “Os estudos mostram que os agressores são, usualmente, crianças ou jovens que revelam pouca empatia e que apresentam uma constituição física mais robusta do que os seus pares. De uma forma geral, pertencem a famílias pouco estruturadas, caracterizadas por um fraco relacionamento afetivo entre os seus membros, por uma insuficiente supervisão da parte dos pais ou dos responsáveis pela sua educação/formação e pela existência de comportamentos violentos no seio da família como forma de solucionar conflitos”, refere Maria Fernanda Velez na tese de mestrado. Os agredidos ou vítimas passivas podem ter alguma característica que o torna mais

susceptível à agressividade dos pares, como usar óculos, ter excesso de peso, ser homossexual, ser de outra etnia ou ter um comportamento introvertido. São normalmente pessoas inseguras, com menos autoestima e que se isolam mais. O bullying pode afetar a saúde física, emocional e social das crianças envolvidas e ter consequências graves, tais como depressões e, em última análise, suicídio. Existe um outro tipo de agressores que são simultaneamente vítimas, chamados vítimas provocativas ou reativas. Estas vítimas reagem quando são atacadas, mas não conseguem afirmar-se perante o agressor de forma assertiva. Também podem tornar-se agressores de outras pessoas que considerem mais frágeis. As vítimas reativas são normalmente mais impulsivos, mais ativo e provocam maior irritabilidade. O facto de reagirem pode despertar nos agressores maior vontade de manter a agressão porque se divertem com a reação do agredido, explica Sónia Seixas, psicóloga pedagógica e subdiretora da Escola Superior de Educação de Santarém (ESES). O agressor ou bully tende a ser mais forte a nível físico e a ter um perfil violento e ameaçador. “Os estudos mostram que os

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agressores são, usualmente, crianças ou jovens que revelam pouca empatia e que apresentam uma constituição física mais robusta do que os seus pares. De uma forma geral, pertencem a famílias pouco estruturadas, caracterizadas por um fraco relacionamento afetivo entre os seus membros, por uma insuficiente supervisão da parte dos pais ou dos responsáveis pela sua educação/formação e pela existência de comportamentos violentos no seio da família como forma de solucionar conflitos”, refere Maria Fernanda Velez na tese de mestrado. Os agredidos ou vítimas passivas podem ter alguma característica que o torna mais susceptível à agressividade dos pares, como usar óculos, ter excesso de peso, ser homossexual, ser de outra etnia ou ter um comportamento introvertido. São normalmente pessoas inseguras, com menos autoestima e que se isolam mais. O bullying pode afetar a saúde física, emocional e social das crianças envolvidas e ter consequências graves, tais como depressões e, em última análise, suicídio. Existe um outro tipo de agressores que são simultaneamente vítimas, chamados vítimas provocativas ou reativas.



OPINIÃO José Pedro Anacoreta Correia e José Bento da Silva

Gestão de Empresas

TÓPICOS

A banalidade do mal

A banalidade do mal, que Hannah Arendt tornou famosa, tende a ser confundida com a sua origem: o Nazismo. Embora muitos conheçam esta expressão, só alguns se lembram da problemática filosófica que estava por detrás do trabalho de Arendt, e que remetia para o trabalho do Weber sobre as burocracias. A questão que foi alvo de muito debate era simples: qual a responsabilidade individual daqueles que eram ‘somente’ funcionários da burocracia estatal Nazi? Esta questão não tem resposta fácil e tem grandes implicações. Uma delas é a seguinte: o CEO de um banco é responsável por tudo

BANALIDADE DO MAL ÉTICA GESTÃO GESTÃO DE EMPRESAS

seu comportamento a título individual ou enquanto membro da organização. Podemos dar alguns exemplos sobre esta questão. Um indivíduo que mostre sinais exteriores de riqueza, cuja origem é estranha ou desconhecida, é facilmente olhado com censura. No entanto, se esse mesmo indivíduo for julgado enquanto membro de uma organização, pode be-

neficiar de uma especial tolerância ou mesmo apoio dos restantes membros. O mesmo pode suceder quanto à origem de recursos financeiros de um clube de futebol para a realização de novos investimentos, ou um investidor num processo de privatização. A origem duvidosa do dinheiro não parece ser uma questão ética muito relevante, exceto quanto esteja implícito um julgamento sobre a organi-

O mal torna-se banal quando o membro de uma organização, seja ela política ou empresarial, separa os seus valores éticos individuais do comportamento duvidoso da organização, com a qual é cúmplice.

zação a que pertencemos. Sabemos há muito que os indivíduos se comportam de maneira diferente em duas situações distintas: em grupo ou quando ascendem ao poder.

o que de ‘mal’ esse banco fez? Na opinião pública a resposta é fácil, mas é preciso ter cuidado. Porque tal como na questão do Nazismo, a questão que se coloca ao nível das empresas é: como distinguimos a responsabilidade individual da responsabilidade coletiva? O mal torna-se banal quando o membro de uma organização, seja ela política, empresarial ou mesmo não lucrativa, separa os seus valores éticos individuais do comportamento duvidoso assumido sistematicamente pela organização com a qual é cúmplice. O mal torna-se igualmente banal quando julgamos o indivíduo de forma diferente consoante esteja em causa o

José Bento da Silva, Assistant Professor na Warwick Business School José Pedro Anacoreta Correia, jurista e gestor de RH

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Lucy Pepper

Também tem medo dos arrumadores?

Vida Urbana

TÓPICOS

ESTACIONAMENTO MENDICIDADE VIDA URBANA

se permitirem cobrar pelo que fazem. Há umas semanas, escrevi sobre a minha ambivalência quanto a pedintes. Sobre arrumadores, porém, não sou ambivalente nem tenho dúvidas. Os arrumadores pedem dinheiro com uma atitude ameaçadora, e isso é detestável.

É bastante fácil identificar um lugar para estacionar: é o espaço entre outros carros. Sou crescida e consigo estacionar o meu carro sem ajuda. Já o faço há quase trinta anos.

Nunca um arrumador me disse abertamente “dê-me uma moeda, ou alguma coisa pode acontecer ao seu carro”, mas não precisam de dizer. Eles separam-me facilmente da minha tranquilidade mental.

Nas cidades portuguesas, porém, há sempre um arrumador que me quer indicar o óbvio, acenando para onde estão os espaços entre os carros e mostrando-me como fazer para estacionar.Às vezes, encontro um lugar por mim própria, porque ele está distraído a chatear outros condutores, e estaciono o carro antes de ele chegar. Mas eis que ele repara, e logo corre para mim, para me ajudar no último centímetro. Depois, fica à espera da moeda. Às vezes, a uma distância respeitosa. Às vezes, não. Quer me tenha ou não ajudado.

Os arrumadores ao pé da minha casa agem como se a rua fosse o seu feudo pessoal, com uma hierarquia só deles. Mantêm um ar de importância a que falta

só uma farda oficial, e correm assim rua acima e rua abaixo, como se tivessem muitas responsabilidades. Frequentemente, há um polícia ao pé, a vigiar o trânsito. Nunca faz nada para dissuadir os arrumadores. Perguntei a um destes polícias porquê. “Não estão a fazer nada de ilegal. Estão só a pedir, oficialmente. Não podemos fazer nada, mas sim, eles irritam toda a gente e a nós também”. Pessoalmente, vou pedir a um tipo gigante e musculado para andar comigo.

É pior se for de noite. E é pior ainda quando somos uma mulher.

Lucy Pepper ilustradora, artista plástica, cartoonista

Os arrumadores irritam-me solenemente. Não suporto pessoas a darem-me instruções, mas mais do que isso, é o facto de

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ENTREVISTA José Carlos Fernandes

TINTIN

NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Em Portugal, a banda desenhada costuma andar arredada do debate político, mas uma invulgar série de acasos levou a que Tiago Ivo Cruz (TIC), que se apresenta como “assessor parlamentar do Bloco de Esquerda”, num artigo no Público de 14.05.15, desenterrasse Tintin no Congo, a pretexto de uma polémica envolvendo a demissão do programador cultural António Pinto Ribeiro da Fundação Gulbenkian. Escreveu TIC que “de todos os livros de Hergé, [Tintin no Congo] é o mais fraco e desinteressante, porque reduz o colonialismo a uma ópera bufa numa tentativa de apagão […] tal como Rossini tenta apagar a revolução francesa reduzindo tudo à comédia de salão”. Acrescenta TIC que “as relações [de Tintin] com [os] indígenas são infantis […] na mesma medida em que as lutas com os animais são inverosímeis e sem graça: uma comédia sem riso”, e conclui: “A forma como os europeus se entretinham a olhar para África é politicamente abjecta e reveladora dos próprios.” Mas não será a forma sobranceira como os árbitros e gurus culturais do presente se entretêm a olhar o passado também reveladora dos próprios? A acusação lançada por Tiago Ivo Cruz contra Tintin no Congo não é nova: os primeiros ataques sérios surgiram no início dos anos 60, vindos do truculento semanário francês Le Canard Enchaîné. A Casterman, editora de Hergé, estando consciente da mudança de mentalidades e antevendo contestação a um livro que exibia uma mundivisão datada, julgou mais prudente deixar esgotar o álbum. Pelo seguro, a Casterman decidiu também eliminá-lo da galeria em que, na contracapa dos restantes álbuns, se listavam todos os títulos da colecção. Mas nem o autor nem o público se conforma-

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ram com esta supressão e, após quase ter desaparecido das livrarias, Tintin no Congo regressou em 1970 com algumas alterações no texto – entre outras, “négre” (preto) deu lugar a “noir” (negro) e as referências específicas ao Congo foram diluídas, passando as aventuras a ter lugar num país africano indefinido. Mas a essência do livro manteve-se inalterada, pelo que a polémica acabaria por estalar novamente. A primeira década do século XXI registou incidentes que parecem justificar que o repórter belga seja levado ao Tribunal Penal In-

mas em 2012 o tribunal acabou por rejeitar tal pretensão. Um processo análogo intentado na Suécia teve idêntico desfecho. A carreira portuguesa de Tintin no Congo foi mais pacata e acabou por ser trazido agora à ribalta indirectamente, através da edição portuguesa de Pappa in Afrika (2010), do autor de BD sul-africano Anton Kannemeyer, uma sátira a Tintin no Congo que se apropria da narrativa e do registo gráfico da obra de Hergé para denunciar os estereótipos raciais e a falta de sensibilidade ecológica patentes no livro.

Os autores de banda desenhada, tal como outros criadores do passado, começaram a ser escrutinados à luz dos critérios éticos do presente. E Hergé é dos que tem passado mais tempo no banco dos réus. ternacional, em Haia, para enfrentar acusações de crimes contra a humanidade. Em 2007, um advogado britânico de direitos humanos apresentou queixa à Comissão de Igualdade Racial e esta determinou que os livros fossem retirados das livrarias – porém, estas limitaram-se a mudá-los para a secção de adultos ou a colocar um selo advertindo que se destinavam a leitores com mais de 16 anos. Na sequência de queixa similar, a Biblioteca Pública de Brooklyn retirou o livro das estantes, tornando-se a sua consulta possível apenas mediante pedido. Ainda no mesmo ano, um cidadão congolês interpôs em Bruxelas um processo visando a interdição da venda de Tintin no Congo, alegando tratar-se de “uma justificação da colonização e da supremacia branca”, Junho

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António Pinto Ribeiro invocou como razão para a demissão “um conjunto de episódios de autoritarismo tomados por alguns membros do Conselho de Administração”, mas o único desses episódios que veio a público teve a ver com a remoção de Papá em África da livraria da Fundação. A Fundação alegaria que a remoção fora apenas temporária e se destinara apenas a “que se pudesse identificar que se trata de uma BD para adultos”. É irónico que quer o livro de Hergé quer o livro de Kannemeyer que o satiriza tenham acabado por ter de ser identificados como estando reservados a público adulto, o que permite concluir que, mais do que a legitimidade do conteúdo, o que está em causa é a percepção pública do que é a BD e a quem se destina.



ENTREVISTA Para já, importa colocar Tintin no Congo no contexto da obra de Hergé: foi publicado originalmente entre 1930 e 1931 no Petit Vingtième, suplemento juvenil do semanário belga Le Vingtième Siècle, que se apresenta como “jornal católico de doutrina e informação” e cujo redactor-chefe, Norbert Wallez, tinha manifesta simpatia por Mussolini. As pranchas a preto e branco surgidas semanalmente no Petit Vingtième foram coligidas em álbum nesse mesmo ano de 1931, álbum que seria reeditado, em versão profundamente revista, em 1946, já na Casterman, no âmbito do processo de revisão, homogeneização e colorização a que Hergé submeteu as suas primeiras obras. Tintin no Congo é a segunda aventura de Tintin, pois embora nem todo o público não-aficionado de BD o conheça, antes houve Tintin no País dos Sovietes, publicado originalmente em 1929-30 e em que as aventuras do pequeno repórter são pretexto para um rudimentar panfletarismo anti-comunista. Hergé viria mais tarde a renegá-lo como “um erro de juventude” e foi a única das suas obras a preto e branco que não seria mais tarde submetida ao processo de revisão profunda e colorização no pós-II Guerra Mundial (embora, décadas mais tarde, a pressão dos fãs tenha obrigado o autor a autorizar a reedição da versão original a preto e branco, sem retoques).

desinteressante” mesmo que veiculasse a mais igualitária e generosa das ideologias. Por outro lado, é despropositado sujeitar uma BD concebida em 1930 para o suplemento juvenil de um “jornal católico de doutrina e informação” ao crivo ético dos nossos dias. É no período entre as duas guerras mundiais que o colonialismo europeu atinge a sua máxima expressão, quer em extensão, já que a França e Grã-Bretanha somaram aos seus vastos domínios os despojos do Império Otomano, quer em intensidade: o domínio europeu na Ásia e em África ficara-se muitas vezes por feitorias, fortalezas, entrepostos e portos, mas é a partir do fim da I Guerra Mundial que avança para o interior e se consolida, com construção de infra-estruturas e instalação de novas levas de colonos europeus (Portugal, atrasado como sempre, só empreenderia esta consolidação após o fim da II Guerra Mundial, quando os movimentos autonómicos já ganhavam ímpeto nas colónias dos outros países europeus). Quando Tintin no Congo foi publicado, mesmo que, como escreve John Darwin em Ascensão e Queda dos Impérios Globais (After Tamerlane, no original, editado recentemente em Portugal pelas Edições 70), “o ímpeto colonial se tivesse perdido e o sentido de missão dissolvido”, a nova ordem internacional que emergira da I Guerra Mundial reduzira as tensões entre as grandes potências coloniais, pelo que, como ex-

É crucial conseguir discernir, na apreciação de Tintin como na de qualquer outra obra artística ou literária, os valores estéticos dos valores éticos: “Tintin no Congo”. Se, “de todos os livros de Hergé, [Tintin no Congo] é o mais fraco e desinteressante” é-o não por causa do seu conteúdo paternalista e pró-colonialista, como pretende Tiago Ivo Cruz, mas porque é uma obra incipiente de um autor que ainda não domina o seu mister. Estando muito longe de ser uma obra-prima, representa, ainda assim, um avanço, em termos de desenho, argumento e técnica narrativa, em relação ao tosco Tintin no País dos Sovietes. Tintin na América, de 1932 revela mais progresso, embora continue a partilhar com os dois álbuns anteriores a limitação de não passar de uma sucessão desgarrada de peripécias rocambolescas (o “desgarrado” compreende-se melhor se se atender a que estas obras eram concebidas para serem lidas ao ritmo de uma ou duas páginas por semana) e de assentar em imagens estereotipadas do país visitado. A maturidade artística só chegaria com o quarto álbum, Os Charutos do Faraó (1932-34) e só se afirmaria plenamente em O Lótus Azul (1934-36). É crucial conseguir discernir, na apreciação de Tintin como na de qualquer outra obra artística ou literária, os valores estéticos dos valores éticos: Tintin no Congo continuaria a ser “fraco e

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plica Darwin, os movimentos nacionalistas não podiam depositar esperanças nas lutas entre rivais europeus e os novos serviços de informações permitiam aos regimes coloniais combater mais eficazmente os movimentos subversivos. E a dissolução do sentido de missão civilizadora não bastara para abalar a teoria cultural subjacente ao mundo colonial: “os europeus convenceram-se, e convenceram outros, de que, embora parecessem exóticas, fascinantes, românticas ou belas, as civilizações e culturas não-europeias eram, na melhor das hipóteses, becos sem saída. Só o modelo da Europa era o caminho comprovado para o progresso moral e material”. Nada faria prever que os impérios coloniais europeus iriam dissolver-se em pouco mais de 30 anos. Tintin no Congo limita-se a espelhar a visão sobre África então dominante na Europa – sim, reproduz detestáveis estereótipos racistas, retrata os africanos como crianças ingénuas, de bom carácter, mas ignorantes e preguiçosas, incapazes de se governar sem a ajuda do homem branco, mas não comungavam, genericamente, os europeus contemporâneos desta perspectiva? Nalguns meios intelectuais havia quem manifestasse repúdio pelo colonialismo e pela Junho

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discriminação racial e pusesse em causa a presunção de superioridade europeia – numa data tão remota quanto 1580, Michel de Montaigne, afirmara, num ensaio sobre a prática do canibalismo entre os índios Tupinambá: “não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não pratica na sua terra.” Porém, esta extraordinária abertura de espírito era uma excepção e, mais de 300 anos depois, poucos seriam os europeus que não estavam convencidos de que assistia aos europeus um direito natural a subjugar as raças inferiores. As crenças racistas não eram perfilhadas apenas por ditadores fascistas, bandos de arruaceiros e capatazes de fazendas em África. Nos países mais avançados e democráticos do mundo, eram teorizadas, com apoio em “provas científicas”, por antropólogos e biólogos, subscritas por eminentes académicos, cristalizadas, legitimadas e postas em prática pela legislação e genericamente aceites pela opinião pública. A difusão e força deste ideário está bem patente na carreira do médico René Martial, autor de La Race Française (1934), um manifesto racista e “higienista” que seria premiado pela Academia de Ciências Morais e Políticas e pela Académie Française. Martial foi, nos anos 40, professor de Antropologia das Raças na Faculdade de Medicina de Paris e co-director do Instituto de Antropo-Sociologia e em Les Métis (Os Mestiços, de 1942) defenderia que a mestiçagem envolvendo sangue de grupos com um “índice bioquímico” demasiado fraco, como os africanos e os asiáticos, produzia criaturas torturadas e incontroláveis. Em 1938, um grupo de cientistas das mais prestigiadas universidades italianas assinava Il Manifesto della Razza, que proclamava o carácter essencialmente “ariano” dos italianos e a necessidade de “fazer uma distinção clara entre os povos mediterrânicos europeus e, de outro lado, os orientais e africanos” e de apenas autorizar uniões entre europeus. Tão seguros estavam da justeza e bondade da sua crença que concluíam: “é tempo de os italianos se pror


essencialmente “ariano” dos italianos e a necessidade de “fazer uma distinção clara entre os povos mediterrânicos europeus e, de outro lado, os orientais e aclamarem francamente como racistas”. Este entusiasmo teve eco em França, onde 64 intelectuais de renome (12 deles membros da Académie Française) assinaram o manifesto Pour la Défense de l’Occident (1935), insurgindo-se contra as sanções que a Sociedade das Nações aplicara à Itália por, animada pelo “espírito civilizador” e pela “legítima” missão colonizadora, ter invadido a Etiópia (“uma amálgama de tribos incultas”). Censurar a actuação italiana era dar crédito ao “falso universalismo jurídico e civil, mas não bárbaro.

instituições constitucionais. Não submetemos a sua vida […] às nossas leis políticas, aos nossos códigos administrativos, civis, comerciais e penais […]. Mantemos para eles uma ordem jurídica própria do estado das suas faculdades, da sua mentalidade de primitivos […], sem prescindir de os ir chamando por todas as formas convenientes à elevação, cada vez maior, do seu nível de existência”. Dois anos depois, o Código do Trabalho dos Indígenas das Colónias Portuguesas de África aboliu o trabalho forçado (em termos formais, entenda-se), mas atribuía às autoridades coloniais o poder de arregimentar os indígenas para a realização de trabalho compulsivo, o que, longe de ser entendido como exploração ou abuso,

símil Tintin denunciar o jugo colonial e incentivar os povos africanos a lutar pela independência, como Spirou descobrir que havia algo mais do que amizade a ligá-lo a Fantásio. Nem sequer era necessária a intervenção de um organismo censório, pois autores e editores sabiam bem a que público se dirigiam e o que se esperava deles – a BD alternativa e “de autor”, a liberdade de a BD poder tratar todos os assuntos tratados pela literatura ou pelo teatro, não só estavam ainda muito distantes no tempo como eram então inimagináveis. Se em Portugal ninguém tentou interditar a venda de Tintin no Congo, Hergé não se escapou a ser acusado de misoginia numa tese de

É insensato analisar a ideologia subjacente às BDs da primeira metade do século XX através da aritmética e sem nada saber. poderia ser visto pelo colonizador como uma louvável pedagogia, dada a consabida inclinação natural dos africanos para a indolência. Não é de admirar que quando da publicação de Tintin no Congo na revista portuguesa O Papagaio, em 1939, se tenham feito as alterações necessárias para deslocar a acção do Congo para Angola – com efeito, foi como Tim-Tim em Angola que cá se estreou. A crença (e até o orgulho) na missão civilizadora do homem branco dominava a Europa, não era um atributo específico dos belgas e muito menos de Hergé.

É certo que estas proclamações encontraram oposição e suscitaram polémica – Albert Saurrat, por exemplo, acusava a França de mostrar duas faces, “uma de liberdade, virada para a metrópole, e outra de tirania, virada para as suas colónias” –, mas o que elas atestam é que o racismo e o colonialismo não suscitavam então a repulsa generalizada que hoje suscitam. Como brilhantemente mostra Mark Mazower, em O Continente das Trevas, a Europa entre as duas guerras mundiais estava longe de ser um jardim de liberdades e ideais generosos: mesmo nos países formalmente democráticos grassavam o nacionalismo obtuso, o racismo, o anti-semitismo, o ódio aos imigrantes, o descrédito da democracia parlamentar, a inclinação para o autoritarismo, as políticas eugénicas e a reafirmação dos “valores tradicionais da família” (com a consequente menorização da mulher). Portugal não divergia deste cenário: em 1926, promulgara-se o Estatuto do Indígena (1926), cujo preâmbulo esclarecia que “não se atribuem aos indígenas, por falta de significado prático, os direitos relacionados com as nossas

Aliás, é instrutivo olhar para algumas das séries de BD mais populares na Europa entre guerras. Em Zig et Puce au XXIe Siècle (1935), a popular dupla criada por Alain St.Ogan (autor que muito influenciou Hergé) viaja até o planeta Vénus e depara-se com um povo subterrâneo de “criaturas negras que não inspiram confiança”. Percebem que assistem a um ritual bárbaro, em que as criaturas negras se preparam para sacrificar uma princesa aos crocodilos, o que Zig e Puce impedem graças à sua superior astúcia, que põe em debandada as ferozes mas pouco espertas “criaturas negras”.

mestrado, de 2005, da investigadora Ana Bravo, depois convertida em livro com o título A Invisibilidade do Género Feminino em Tintin: A conspiração do silêncio (2007). O livro, onde se afirma que Hergé “construiu um ideal feminino conforme às exigências de uma sociedade repressiva e de um catolicismo totalitarista”, enferma de várias debilidades, implacavelmente expostas num texto de João Paiva Boléo, publicado em meio electrónico em 2007 e hoje, infelizmente, indisponível (excepto junto do autor). A tese de Bravo tem pouco que a sustente: partindo de uma primária operação aritmética, contabilizou apenas 19 mulheres entre as 352 personagens que desfilam pelas páginas de Tintin, confundiu esta escassa presença feminina com misoginia e saltou desta para a conspirativa “tentativa de apagão” (para repescar a expressão de Tiago Ivo Cruz)

Um ano antes, numa das Extraordinaires Aventures de César-Napoléon Rascasse, que têm África por cenário, o matreiro herói (branco, claro) criado por Mat (Marcel Turin) abre um Instituto de Branqueamento, que logo atrai negros ingénuos desejosos de elevar “o seu nível de existência” – o que passa necessariamente por se assimilarem aos brancos. Porém, à primeira chuva, a tinta branca esvai-se e a pele fica tão negra como antes e Rascasse tem que enfrentar a fúria dos clientes ludibriados. Mas não foi só a sociedade e a posição sobre o racismo e o colonialismo que mudou desde 1930 – também o contexto de produção e fruição da BD sofreu uma alteração radical. Nos anos 30 (e durante muitas décadas mais) a BD estava quase exclusivamente associada ao entretenimento de massas e ao público juvenil (sobretudo rapazes), pelo que seria tão invero1ª Edição

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LIFESTYLE Amor e Sexo

Pode um cão melhorar a sua vida amorosa? Se tem um cão, sabe que os cães não rosnam a toda a gente, não ladram a toda a gente nem mordem toda a gente. E, regra geral, quando alguma dessas três coisas acontece, o primeiro pensamento que vem à sua cabeça é: “esta pessoa não pode ser boa”. Um novo estudo veio comprovar que tem razão. Ao que parece, os cães pressentem quando alguém é mau para o seu dono.

Afinal, quem trai mais? Um estudo sociológico conduzido por Christin Munsch, investigadora na Universidade do Connecticut (Estados Unidos), concluiu que o elemento do casal que contribui menos para o orçamento familiar pode ter maior tendência para trair o parceiro. Os resultados foram publicados na revista científica American Sociological Review. A investigadora encontra assim uma forma de justificar porque é que homens e mulheres que dependem dos cônjuges podem acabar por traí-los. “A infidelidade pode ser uma forma de recuperar a equidade na relação”, lê-se no artigo. Mas a autora também verificou que a influência da dependência na traição é maior nos homens do que nas mulheres. “A infidelidade pode permitir a homens dependentes envolverem-se num comportamento compensatório enquanto simultaneamente se distanciam do cônjuge que sustenta a família.”

O estudo foi levado a cabo pela Universidade de Quioto, no Japão, e testou 18 cães em três cenários diferentes para ver como reagiam a cada um. De acordo com Kazuo Fujita, o investigador principal, descobriu-se “pela primeira vez que os cães fazem avaliações sociais e emocionais das pessoas independentemente do seu próprio interesse”. Carolina Santos

Vera Novais

Exercício

Os segredos dos “PT’s” das celebridades

As meias para correr são mesmo eficazes?

Não há como escapar. Todos os dias somos bombardeados com fotografias das celebridades com corpos perfeitos em todas as situações econseguimos acompanhar o que as estrelas de Hollywood fazem, comem, onde vão e como treinam.

Das pistas às ruas da cidade. As meias de compressão, usadas para evitar lesões musculares, tornaram-se uma peça indispensável entre os corredores urbanos. Se é adepto desta moda, atenção: afinal, estas meias podem não ajudar a prevenir danos musculares durante a corrida. Este é o resultado de uma experiência do grupo de investigadores do Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Camilo José Cela, em Espanha.

Mas estar em forma constantemente não é fácil. Gwen Stefani, que tem um dos corpos mais invejados do mundo, disse em entrevista à revista Harper’s Bazaar que “não há segredos. Só temos que nos alimentar de forma saudável, treinar e, basicamente, torturarmo-nos todos os dias”.

Os investigadores afirmam também que as meias de compressão são úteis para quem sofre de problemas de circulação e para aqueles que realizam trabalhos que impliquem estar muitas horas parados e de pé.

Mike Healtie é o personal trainer da cantora desde 1997 e explica que, para se conseguir uns abdominais, braços e pernas bem tonificados, o ideal é combinar-se uma rotina de treino de pesos de alta intensidade com um pouco de treino cardiovascular.

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Se não se inclui num destes dois grupos, da próxima vez que for correr pode dispensar as meias de compressão.

Helena Magalhães

Observador Junho

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Família

Como ocupar as férias de Pais, há mais dias de verão dos seus filhos licença para gozar São boas notícias para quem está à espera de um filho. Os pais vão ter mais tempo para os seus recém-nascidos agora que a licença parental obrigatória passou de 10 para 15 dias úteis. O parlamento aprovou esta terça-feira, na especialidade, a alteração da licença de duas para três semanas, assegura o Jornal de Negócios, que confirmou a notícia junto de deputados da oposição e da maioria.

Aprender a tirar “selfies”, fazer ioga ou tirar uma licenciatura em “brincologia” na Universidade. Reunimos mais de 15 atividades para ocupar as férias do seu filho, de norte a sul do país. Quando chegam as férias de verão, os planos ganham outra abordagem: descontraída, menos rotineira e mais divertida. Contudo, é nesta altura que os pais têm de pôr a imaginação a trabalhar para estar à altura da exigência e do tempo disponível que os filhos passam a ter.

Até agora, a licença obrigatória parental era de 10 dias úteis. O aumento em questão não vem, porém, alterar as regras previstas no Código de Trabalho, as quais ditam que o pai deve usufruir da licença nos “30 dias seguintes ao nascimento do filho”, dos quais cinco serão “gozados de modo consecutivo imediatamente a seguir” à chegada do bebé.

Para ajudar nesta importante tarefa, o Observador procurou, de norte a sul, atividades variadas para ocupar o tempo livre das crianças. Como surpreendê-las não é fácil, reunimos várias que vão desde tardes passadas na horta a desfiles em passerelles. Raquel Salgueira Póvoas

Ana Cristina Marques

Moda

O regresso das bolsinhas Há um biquíni antiescaldão É uma espécie de Zezé Camarinha. “You are very white… Let me de cintura put the cream!”, dizia o autoproclamado sedutor das praias algar-

Ainda bem que as mãos ficam livres, porque são precisos todos os dedos para enumerar os nomes pelos quais a bolsinha de cintura é conhecida e outros tantos para explicar porque é que é tempo de lhe dar uma segunda oportunidade. As fanny pack, também conhecidas por belt pack, belly bag, buffalo pouch, hip sack, waist wallet, bum bag, butt pack, moon bag, snatchel e até canguru, pela forma como são usadas, deram uma volta de 180 graus, e não foi só para fugir dos carteiristas.

vias às turistas estrangeiras que por lá apanhavam banhos de sol, dizendo-lhes no inglês possível que eram muito brancas. Algo que seria resolvido se lhe permitissem passar-lhes creme bronzeador pelo corpo… Ora, o biquíni que a empresa francesa Spinali Design está agora a vender, terá uma mensagem semelhante, embora com algumas nuances: “Estás a ficar vermelha… Põe protetor!” Existe ainda uma outra opção — que é capaz de alegrar Zezé Camarinha e todos os seus discípulos. Em vez de ser a pessoa que veste o biquíni a receber a mensagem, o aviso é enviado para outro indivíduo. Indivíduo esse que, garantido o consentimento mútuo, poderá passar um pouco de protetor solar em corpo alheio.

Há quem tenha experimentado uma sensação de libertação assim que voltou a pôr uma à cintura. Há quem recorde como são melhores do que malas de ombro ou certas mochilas para a coluna, e dê conselhos para escolher o modelo certo. Uma coisa é certa: elas estão de volta (das cinturas). Ana Dias Ferreira

Observador 1ª Edição

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