Em Busca da Consciência Perdida - José Antônio Cunha e Silva

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EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA Porque mudar a linguagem espírita Consciência Entendimento

Equilíbrio

Paz

Amor

Alegria

Inconsciência

Dor

Pecado

Dívida

Sofrimento

Carma

Resgate


José Antônio Cunha e Silva nasceu em Delfinópolis (MG), entre os contrafortes da Serra das Sete Voltas, nas proximidades do Rio Grande. Nasceu exatamente onde viveu sua última vida no mundo físico. Em fins de 1980, após intensa procura de acesso ao mundo espiritual e ao seu passado distante, conheceu a Técnica Física para a Conquista da Autoconsciência (TFCA). Fato esse que o levou a mudar o entendimento sobre o próprio espiritismo e a conhecer a verdadeira razão de sua criação. Assim, ao longo desses treze anos de prática da TFCA, foi possível vivenciar o despertamento da consciência onde tudo pode ser reaprendido e o entendimento da grande sinfonia da vida pode ser ampliado de forma ilimitada.


EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA Porque mudar a linguagem espírita

© 1993 by José Antônio Cunha e Silva


EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA Porque mudar a linguagem espírita 1ª edição Revisão e Digitação Luís Cavalcanti 2013

José Antônio Cunha e Silva


Sumário Como Tudo Aconteceu........................................................................ 8 Prefácio.............................................................................................. 11 Introdução ......................................................................................... 14 Fatos Ocorridos Antes do Surgimento do Espiritismo ....................... 17 Questões Relativas ao Tema ........................................................... 21 O Surgimento do Espiritismo ............................................................ 28 Questões Relativas ao Tema ........................................................... 33 O Espiritismo no Tempo ................................................................... 37 Reecarnação ....................................................................................... 46 Questões Relativas ao Tema ........................................................... 51 O Carma ou Lei de Causa e Efeito ..................................................... 70 Questões Relativas ao Tema ........................................................... 79 O Bem e o Mal .................................................................................. 83 Questões Relativas ao Tema ........................................................... 87 A Fé e o Conhecimento ................................................................... 105 Glossário ......................................................................................... 111


EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA não é uma obra circunscrita aos atuais limites do espiritismo. Tem a ousada pretensão de dar início às mudanças, necessárias, à linguagem espírita. Procura, também, não perder de vista o ponto fundamental da questão que é o despertar da consciência do Ser Humano. Traça um paralelo entre os princípios básicos constantes do LIVRO DOS ESPÍRITOS e os ensinamentos recebidos pelo autor, nos mundos físico e extrafísico, sobre o assunto. Revela notar que esse entendimento é, muitas vezes, complementar e outras vezes divergente do disposto no LIVRO DOS ESPÍRIOS. Entendemos que a grande obra chamada “ESPIRITISMO” precisa ser revista em seus fundamentos básicos, para que possa retornar à sua trilha de origem. Esse desvio deve ser creditado ao próprio homem que na sua ânsia de saber muito acrescentou à ÁGUA PURA DA FONTE. O fato que faz a diferença entre uma obra e outra é o nível de contribuição para elevação da consciência do Ser Humano em uso de matéria. Para se chegar ao caminho da consciência é preciso estabelecer um divisor de águas, situando de um lado aquilo que caracterize atividade secundária e do outro o somatório das ações que efetivamente contribuem para elevar o entendimento do Ser Humano sobre o semelhante, sobre a vida que o cerca e finalmente sobre o próprio Criador. O passo seguinte é dar o justo valor a cada parte. Aí reside o grande segredo. O autor


Nota do autor Para facilitar a compreensão do fundamento desta obra, achamos por bem colocar esta nota que nomeia as fontes e esclarece ao leitor o tipo de leitura que ele tem pela frente. Este livro tem a pretensão de trazer para o seio do espiritismo uma nova visão sobre seus princípios básicos, alterando a forma pela mudança da linguagem para que a essência resplandeça com o brilho do novo entendimento. Esse caminho da mudança é rota obrigatória por onde precisa passar o espiritismo, pois a inércia particular é estagnação quando todo o conjunto avança. O conteúdo do livro tem como fontes •Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: Allan Kardec, 1957. 425p. •M.A.O, Bianca. As Possibilidades do Infinito: de um Contato de Terceiro Grau à Conquista da Autoconsciência. São Paulo: Kopyin, 1987.119p. •M.A.O, Bianca. A Vida Dentro da Vida. São Paulo: Kopyon, 1990.119p. •O conjunto de ensinamentos ministrados tanto no mundo físico como no mundo extrafísico que formam a própria base filosófica da “TFCA – Técnica Física para a Conquista da Autoconsciência”. •A experiência vivenciada e os ensinamentos recebidos pelo autor em mais de doze anos de aprendizagem no mundo espiritual durante as saídas do corpo físico. •A participação nos trabalhos espíritas tanto no mundo material como no mundo espiritual.


Como tudo aconteceu Pelos idos de 1979, após intensa procura de conhecimento sobre o mundo espiritual, tornei-me espírita. Antes, porém, tive a oportunidade de ler muitos livros sobre o assunto. Filiei-me, inclusive, a várias organizações espiritualistas, frequentei cursos de parapsicologia, viagem astral, enfim procurei conhecer tudo que se relacionasse ao espírito e ao mundo espiritual. Sobre a doutrina espírita consegui ao longo dos anos razoável conhecimento tanto pelo estudo das obras básicas como também pelas experiências vividas nos trabalhos espiritistas de orientação kardecista e umbandista. Mesmo sendo espírita e ter conseguido obter a certeza da continuidade da vida no mundo espiritual, dentro de mim ainda havia ânsia e desejo de descobrir uma forma de acesso ao mundo espiritual. Acreditava eu que, assim procedendo, obteria todas as informações que desejasse sobre minha pessoa. Foi com esse estado de espírito que, em fins de 1980, tive contato com a “TÉCNICA FÍSICA PARA A CONQUISTA DA AUTOCONSCIÊNCIA”. Em pouco tempo de prática dos exercícios ensinados, tive a oportunidade de comprovar a eficiência do método. Descobri que além de ser um caminho objetivo e seguro para contato com o mundo espiritual, era também uma via de acesso à minha própria pessoa tanto na configuração atual, como também na de outras vidas que vivi em outras eras, em corpos diferentes. Enfim, era a minha história que se descortinava à minha frente e eu, como um espectador solitário, podia reaprendê-la em todos seus detalhes. Transcorreram-se os anos e os ensinamentos e experiências do mundo espiritual foram se avolumando, trazendo, por consequência, um maior entendimento sobre os mundos material e espiritual. Ensinamentos nunca dantes imaginados foram 8


recebidos durante o período de repouso da minha matéria (corpo físico), formando novos registros em minha memória. Novo ângulo se abriu por onde eu podia ver a vida em cores novas, convidando-me, de forma imperativa, a mudar. Mudança essa, necessária do meu próprio conceito de passado, presente e futuro. Da mesma forma, a compreensão das dimensões material e espiritual foi se tornando cristalina, afastando para longe as incômodas interrogações. Esses ensinamentos que venho recebendo nos momentos em que saio de minha matéria e entro na dimensão espiritual, levaram-me a compreender que a vida é única e interpenetra dois mundos semelhantes, o material e o espiritual, que se individualizam apenas pela frequência vibratória. É obedecendo a esse princípio que o Ser Humano se acopla, em essência, a uma matéria (corpo) de outra frequência (material), cujo processo chamamos ENCARNAÇÃO. É fácil imaginar que meu entendimento como espírita fatalmente iria mudar. Isso ocorreu de uma forma muito acentuada, pois tive a grata oportunidade de assistir, diretamente no mundo espiritual, a vários fenômenos descritos nos livros da doutrina. Essas experiências e ensinamentos adquiridos nos momentos em que deixei meu corpo físico contribuíram de maneira decisiva tanto para aumentar meus conhecimentos como também para alargar meus horizontes pessoais. Em meados de 1988, em reunião no mundo espiritual, fui convocado por um espírito que lidera o movimento espírita na Terra a cooperar com o espiritismo de forma mais direta e objetiva. De início, deveria escrever sobre esse outro lado da vida, enfocando pontos importantes dos ensinamentos espíritas, dentro do meu entendimento adquirido nas experiências extracorpóreas. Em um segundo momento, deveria então dar início aos trabalhos práticos dentro do espiritismo já utilizando uma nova linguagem. Essa nova forma de intercâmbio com o mundo es9


piritual se processará de maneira bem diferente da atual. As pessoas que estão do outro lado da vida e que irão atuar no mundo físico se apresentarão como elas realmente são. Não haverá necessidade de representarem um papel, usando inclusive nomes fictícios como, em geral, ocorre em nossos dias. A convocação, sem aviso prévio, causou-me surpresa. Tomei, no entanto, a resolução de aceitar o encargo, mesmo sabendo que fico muito a dever a pessoal ideal para o trabalho. Procurei, por outro lado, encarar a questão como uma tarefa que alguém teria que realizar. Assim, dentro dos meus limites, propus-me cumprir esse compromisso, oferecendo o melhor de meus esforços.

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Prefácio Muitos anos, doze ao todo, vivo o que poderíamos chamar de uma maravilhosa aventura de um caçador. Transformei-me, ao longo do tempo, em um caçador de mim mesmo. Se antes eu era a caça assustada frente aos embates da vida, sem destino certo, a caminhar por onde caminhassem as outras pessoas, hoje sou o caçador que finalmente encontrou sua caça. Mas, e o futuro? O futuro eu o tenho preso em minhas mãos. Mas é de todo importante testemunhar o que ocorre com a pessoa quando ela, conscientemente, tem a oportunidade de presenciar a chegada de consciência. São inúmeras as mudanças de profundidade que vão acontecendo ao longo do tempo, tanto no corpo físico como no próprio Ser Humano que o possui. Pode-se distingui-las umas das outras de forma perfeita. Inicialmente quase tudo é imperceptível. É muito sutil para que os sentidos bastante adormecidos possam perceber tantas mudanças. Mas ao prosseguir na grande viagem da busca da consciência começa-se a perceber o imperceptível, a sentir o insensível e a ver o que antes era invisível. Uma grande certeza de que realmente somos seres humanos paira sobre nós. Um grande sentimento de conhecimento ao Criador se aloja em nosso interior, trazendo uma vaga lembrança de que o conhecíamos antes e que o tínhamos esquecido, mas que agora novamente o encontramos. Podemos representar a caminhada em direção à autoconsciência como uma estrada que circula ao redor de nós mesmos. A cada volta que percorremos em vez de nos afastarmos de nós mais nos aproximamos e, por outro lado, passamos a enxergar mais longe. Com isso nos sentimos melhores do que as demais pessoas que nos rodeiam? Não, mas passamos a entender com maior 11


profundidade a enormidade dos problemas que afligem o Ser Humano. Dentre eles o mais terrível: A INCONSCIÊNCIA. Mas atravessar o pântano da inconsciência para singrar os mares da consciência plena não é tarefa fácil. É abrir as próprias entranhas, é rasgar o livro da morte e reescrever o livro da vida. É morrer e nascer de novo no mesmo corpo. Nessa aventura temos que nos despir de todos os nossos agregados psicológicos, temos que expulsar os nossos egos, retirar e lançar fora as nossas máscaras e extinguir a vida de todas as nossas personagens para que vivamos somente “nós”, seres humanos eternos. É uma luta de David e Golias? Verdadeiramente é. A vitória, no entanto, está ao alcance de todo aquele que ousar querê-la. Toda boa luta conduz a uma grande vitória, sabendo onde nos levam os nossos passos, tudo fica mais fácil, as dificuldades naturais da caminhada se nos apresentam como contratempos de uma viagem que tem tempo para terminar. Quando nos pomos a caminho ao nascer do sol a noite jamais nos alcançará. É o voo da águia que eternamente irá voar. Verdadeiramente precisamos quebrar o ciclo do NASCE/RENASCE. E para isso mudar é preciso. A mudança inicia quando o homem começa a conhecer a si mesmo, pois nele está o conhecimento de seu semelhante, os mistérios da vida e o possível entendimento do próprio Criador. Para o planeta Terra só existe uma saída: A HUMANIDADE SE TORNAR CONSCIENTE. Para a humanidade só existe uma saída: O HOMEM SE TORNAR CONSCIENTE. Para o homem só existe uma saída: ELE SE TORNAR CONSCIENTE. Essas três afirmações nos conduzem a uma conclusão: to12


dos os desequilíbrios, as anormalidades, os desvios, as mazelas, o sofrimento e a dor que afligem o Ser Humano têm uma única origem e um único responsável: A INCONSCI-ÊNCIA HUMANA. Tudo o mais que se atribui como causa e como responsável por esses fatos que ocorrem com a nossa humanidade é apenas uma tentativa de encontrar uma explicação para o que não se conhece e ao mesmo tempo responsabilizar alguém por uma culpa que não existe. Essa afirmação derruba por terra toda cultura humana relacionada ao DESTINO, AO CARMA, À LEI DE CAUSA E EFEITO, AO PECADO E AO CASTIGO. Na escuridão da inconsciência não pode ser culpado aquele que se desvia do caminho, ou que fere alguém por não o reconhecer como irmão. A luz da consciência não pode ser doada, mas sim conquistada. Isto porque a conquista significa aquisição de forma paulatina e a consequente adaptação, enquanto a doação significa a mudança, de forma abrupta, da escuridão para a luz o que levaria a pessoa à cegueira, ao desequilíbrio e provavelmente à loucura. O espiritismo é um socorro que veio do “alto”. É um caminho suave que permite ao mundo espiritual vir até ao mundo físico, refazendo novamente a ligação entre o homem e a sua origem, preparando-o para a chegada da consciência. Quando o homem avança e sobe os degraus da consciência ele precisa voar e o espiritismo nesse momento deve fornecer as asas que o conduzirão aos campos do verdadeiro entendimento e da sabedoria maior.

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Introdução Uma triste realidade se apresenta ao homem no ocaso da vida física e uma interrogação paira em sua mente: qual será o seu destino após o fenômeno chamado morte? Mediante simples retrospecto ao passado ele conclui, de forma irremediável, que durante o estágio na matéria densa não obteve o conhecimento e preparo para esse momento de tão grande importância. Daí surgem dramas e tragédias, pois o desconhecido lhe causa medo, angústia e sofrimento. Nada mais aterrador do que perder a individualidade na estrutura íntima do ser, expulsando para terras distantes o bom senso e a razão. Nesse estado de quase desespero mental, procura agarrarse às ideias antigas que sempre ouviu; ora o paraíso maravilhoso e indolente que se lhe apresenta; ora é Lúcifer, convidando-o para o resgate iminente de seus pecados nos caldeirões do inferno. De repente, de sua mente encurralada, surge uma esperança salvadora: o sono eterno. Sim, como tantas vezes ouvira falar, o sono eterno o conduzirá ao porto seguro do juízo final, quando então – milagre dos milagres – mesmo morto em matéria, erguerá seus andrajos humanos e voltará à vida. Apesar de essas ideias desfilarem por sua mente cansada e sofrida, no mais íntimo do seu ser ecoa um pungente pedido de socorro, pois o espírito imortal sabe que, assim como o náufrago precisa de algo sólido para se apoiar, ele precisa da verdade para se sustentar. Toda essa conduta do homem perante a inevitável perda da vestimenta física foi analisada em profundidade pelos líderes do mundo espiritual. A análise não se restringiu ao crepúsculo da vida material, mas se estendeu ao comportamento do Ser Humano, enquanto encarnado, onde se verificou que a razão cedia lugar aos instintos e os sentimentos se transformavam em 14


paixões cegas, filhas diletas da matéria. Tal atitude contrariava as leis naturais conferidas pelo Criador, ao mesmo tempo em que prejudicava o próprio homem na sua caminhada em direção ao CONHECIMENTO MAIOR. Foi assim, que esses líderes do Mundo Espiritual decidiram criar um plano que pudesse constituir-se em um seguro contra essa programação nefasta imposta ao Ser Humano encarnado, ao mesmo tempo em que propiciaria a cura dos seus efeitos perniciosos. Esses ensinamentos distorcidos e distantes da grande realidade que permeia as dimensões material e espiritual são tão danosos, que além de afetar a vida física, se incorporam à pessoa humana, acompanhando-o até o mundo espiritual após a perda do corpo físico, onde passam a constituir verdadeiras prisões mentais. Chega-se ao ponto de pessoas desencarnadas permanecerem “mortas” na dimensão espiritual em virtude das “orientações” recebidas no mundo físico. O despertar dessas pessoas é difícil e doloroso e só se torna possível pela colaboração abnegada dos trabalhadores do mundo espiritual, que não medem esforços para auxiliar o homem a readquirir a sua consciência. A aceitação desses ensinamentos distorcidos só acontece devido ao estado de inconsciência humana, pois uma pessoa que tem consciência plena não dá guarida a esse tipo de ensinamento. Esse auxílio espiritual foi e ainda é necessário, “pois um acidente planetário tornou o homem inconsciente” e a noite da inconsciência roubou o seu passado e o seu conhecimento.(1) Urgia, desse modo, auxiliar-lhe a enfrentar o grande desafio de viver sem saber “QUEM ERA, O QUE ERA E POR QUE” estava aqui na matéria, encarnado em um mundo cheio de contradições onde a fragilidade da razão caminhava ao lado de po-

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derosos sentimentos e emoções doentios.(2) Assim nasceu o espiritismo, movimento integrador do Ser material e espiritual. Um consolador. O espiritismo assim criado foi se constituindo em linha de trabalhos com suas cores próprias, muitas vezes de difícil aceitação pelo nosso pequeno entendimento, mas nem por isso distante do objetivo primeiro que é a busca da consciência perdida. A história da semente do espiritismo, no entanto, se perde na noite dos tempos. “Das onze raças que iniciaram o povoamento da Terra foi somente a raça negra, por suas características de bondade e passividade, que manteve o registro do mundo espiritual. Foi através dessa raça que o nosso contato com a dimensão extrafísica pôde ser reiniciado e mais tarde estruturado o próprio espiritismo com suas diversas linhas de trabalho. O grupo de pessoas que tinha como objetivo o trabalho nos mundos físico e espiritual, ao mesmo tempo, escolheu a matéria negra para suas encarnações, uma vez que ela possuía aqueles atributos já mencionados.”(3)

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Fatos ocorridos antes do surgimento do espiritismo Para todo fato ou efeito existe uma causa e para dar a explicação do porquê do espiritismo, temos que retornar no tempo, viajar ao passado, navegando o rio dos milênios até o momento em que o homem habitava a Terra e era senhor do seu destino porque era autoconsciente e tinha o CONHECIMENTO. “O Ser Humano dessa era provinha de onze raças originárias de onze planetas diferentes.”(4) Tinha o corpo físico em perfeito funcionamento, o que lhe permitia manter intactos os seus registros cerebrais quando realizava a troca de matéria (morte e nascimento). Esse perfeito funcionamento cerebral lhe permitia manter todo o conhecimento adquirido nas encarnações passadas. Era, portanto, autoconsciente. “No início, antes dessas raças se fixarem aqui, foram trazidas primeiro as espécies da flora e fauna desses planetas, que aqui prosperaram e se multiplicaram, complementando a formação de nossos mundos vegetal e animal. Logo que aqui chegaram, verificaram que já existia o mundo espiritual, mas não existia a vida do homem na matéria. Iniciaram, a partir desse momento, a produção de matéria, ou seja, corpos físicos para que os espíritos próprios do nosso planeta pudessem iniciar as encarnações”.(5) Cabe aqui uma explicação do por quê desse procedimento. Na formação dos planetas, primeiro forma-se o mundo espiritual e depois a massa material do globo. Pronto o mundo físico, faltam, no entanto, corpos materiais para que os espíritos que formam a população extrafísica possam iniciar suas romagens no mundo material. É nesse momento que a cola(4) (5)

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boração dos habitantes de outros planetas se faz necessária, oferecendo aos espíritos do orbe iniciante corpos físicos para que através do nascimento tenham suas primeiras vivências no mundo material. Esse início não seria possível sem a participação de outros mundos habitados pelo homem filho do mesmo CRIADOR. Importante observar que “as onze raças que iniciaram o povoamento da Terra foram distribuídas por diversas áreas geográficas, observando-se a semelhança entre os diversos fatores ambientais do nosso orbe tais como: clima, relevo e vegetação aos de seus ambientes de origem”.(6) Assim se explica a razão de existirem tantas raças em nosso planeta com diferenças tão marcantes entre elas. Foi no decorrer dessa era que “o nosso planeta sofreu um terrível acidente motivado por explosões solares que romperam a camada atmosférica protetora da Terra”, fato que é observado até os dias atuais e preocupa a comunidade científica de vários países.(7) Esse rompimento permitiu a passagem de grande quantidade de radiação, o que causou, e continua causando até os nossos dias, danos irreparáveis ao homem que aqui habitava a matéria. O corpo físico sofreu grandes prejuízos, mas os danos causados ao cérebro humano foram incalculáveis. Todos os registros que formavam a memória foram apagados e o homem mergulhou na terrível era da inconsciência. Não mais sabia sua origem e tampouco seu passado. Todo seu conhecimento foi bloqueado. De todos os registros de sua memória apenas um permaneceu, a lembrança de que o socorro vinha do CÉU – princípio que até hoje norteia muitas religiões. Cabe uma explicação para o fato; naquela época os diversos planetas que participaram da colonização da Terra enviavam, de tempos em tem(6) (7)

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pos, equipes para acompanhar o desenvolvimento dos que aqui permaneceram. As naves que visitavam a Terra seguiam por rotas especiais de navegação espacial e quando aqui chegavam desciam do alto, ou seja, do céu. Assim ficou o registro, lembrando ao homem que o auxílio vinha “DO ALTO”. Com o passar do tempo passou-se a acreditar que esse “DO ALTO” ou “DO CÉU” se referia a Deus. Com o acidente ocorrido as naves ficaram impedidas de vir até nosso planeta porque as “rotas especiais” de navegação espacial que as conduziam até a Terra tinham sido bloqueadas pelas explosões solares. Muito tempo transcorreu até que pudessem voltar ao nosso planeta. Quando aqui finalmente as equipes retornaram encontraram o homem em estado deplorável: havia se tornado inconsciente e não mais se lembrava do passado e de sua origem. Em razão disso, as pessoas que compunham essas equipes foram adoradas como deuses. Por mais que tentassem explicar o que tinha ocorrido, só conseguiram despertar a fúria daqueles que queriam adorá-las. A consequência imediata desse comportamento foi a suspensão necessária e por longo período, do envio de novas equipes à Terra.(8)

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QUESTÕES E RESPOSTAS Ao final de cada capítulo foi adicionada uma série de questões relativas ao tema ali desenvolvido. Essas perguntas foram extraídas do Livro dos Espíritos e as respostas originais foram assinaladas com “LE” (Livro dos Espíritos), seguidas de “comentários” do autor, onde se procura mostrar, muitas vezes uma abordagem nova, utilizando uma linguagem atualizada e mais consentânea com o entendimento do homem de nossos dias. Essas respostas estão calcadas no aprendizado espírita nos mundos físico e espiritual, nos ensinamentos que norteiam a Técnica Física para a Conquista da Autoconsciência, bem como no conteúdo das obras relacionadas, no início, na Nota do Autor.

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Questões relativas ao tema 1. Quando a Terra começou a ser povoada?

LE: No começo tudo era o caos; os elementos estavam fundidos. Pouco a pouco apareceram os seres vivos. Comentário: A Terra foi povoada por seres humanos de outros planetas. Assim que aqui chegaram encontraram o mundo espiritual já formado, mas não havia vida humana na matéria. Iniciaram então a produção de corpos físicos para que pudessem dar início às encarnações dos espíritos próprios do Planeta.(9) 2. De onde vieram os seres vivos para a Terra?

LE: A Terra continha os germes em estado latente. No momento certo os seres de cada espécie se reuniram e multiplicaram. Comentário: Boa parte dos seres vivos foi trazida de diversos planetas e colocada sobre a Terra para se multiplicarem. O próprio homem, vindo de fora, aqui deu início ao povoamento de nosso orbe. 3. A espécie humana se achava entre os elementos orgânicos do globo terrestre?

LE: Sim e veio a seu tempo. Comentário: A espécie humana (matéria) não se achava entre os elementos do globo e teve sua origem fora da Terra. 4. Se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos do globo, por que os homens não mais se formam es(9)

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pontaneamente, como em sua origem?

LE: Os homens absorveram em si mesmos os elementos necessários à sua formação, para transmiti-los segundo a lei da reprodução. Comentário: Como já afirmamos anteriormente, o germe da matéria humana não se encontrava entre os elementos formadores da Terra, mas foi iniciada aqui a formação dessa matéria, por seres humanos provenientes de outros planetas. 5. De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na Terra?

LE: Do clima, da vida e dos hábitos. Comentário: As diferenças raciais hoje existentes entre os povos que habitam a Terra tiveram origem no fato de ela ter sido povoada, no início, por onze raças provenientes de onze planetas diferentes. Essas raças foram as formadoras das características físicas atuais do nosso ser humano. 6. O homem apareceu em muitos pontos do globo?

LE: Sim, e em diversas épocas, e é essa uma das causas da diversidade de raças. Comentário: As onze raças que deram origem à população da Terra vieram de planetas que guardavam semelhanças ambientais com certas regiões do globo terrestre. Obedecendo a essas semelhanças com seus planetas de origem as raças foram distribuídas sobre a superfície da Terra. Dessa forma, a raça negra, por exemplo, situou-se basicamente na região que guardava semelhança com o seu planeta de origem, a raça branca da mesma forma e assim por diante. 7. Essas diferenças representam espécies distintas? 22


LE: Não. Todos pertencem à mesma família. Comentário: Representavam raças distintas provenientes de planetas distintos, com características próprias. Esse fato, no entanto não pode nos conduzir à ideia de que a ocupação se deu de forma isolada. Tudo foi realizado dentro de um plano maior onde o trabalho foi a tônica. Esse trabalho de povoamento da Terra era muito importante para dar suporte às viagens interplanetárias empreendidas pelos habitantes desses planetas. 8. A alma dos animais conserva, após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?

LE: Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente. Comentário: Os animais foram criados perfeitos para suas finalidades, mas suas vidas se iniciam com o nascimento e se encerram com a cessação da vida orgânica. A energia que sustenta a organização material se dissipa com a cessação da vida. Após a morte nada restará de um animal em particular porque a própria energia que se dissipa é assimilada por outros animais ou pela própria matéria do Ser Humano. 9. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?

LE: Sim, e que sobrevive ao corpo. Comentário: O animal possui apenas o chamado instinto de sobrevivência e aptidão para aprender. Cessada a atividade física também cessa a vida. 10. Os animais progridem como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas? 23


LE: Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação. Comentário: Os animais foram criados perfeitos para as finalidades a que se destinam. Não há portanto progresso e mesmo que houvesse seria perdido logo que o animal perdesse a vida. Isto dentro do princípio de que a existência do animal se inicia com o nascimento e se encerra definitivamente com a morte física. 11. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta, e que ela se ensaia para a vida. Onde cumpre o espírito essa primeira fase?

LE: Numa série de existências que precedem o período que chamais humanidade. Comentário: O Criador criou o Ser Humano perfeito, distinguiu a uns com o “registro de matéria”, que seguem o caminho da encarnação; e outros, sem esse registro, que os distancia do uso da matéria.(10) Não fomos criados animais para chegarmos a Ser Humano. Quando o Criador quis criar o animal ele o criou, quando quis criar o Ser Humano ele assim o fez. 12. Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?

LE: Não dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e se ensaia para a vida, como dissemos... Comentário: A obra do Criador tem uma lógica suprema, mas não se encadeia da forma que muitas vezes ousamos pen(10)

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sar. Desse modo, o Ser Humano não é um produto da evolução dos reinos animal, vegetal e mineral, mas ao contrário ele é o guardião desses reinos, como participante da grande administração universal. 13. Esse período da humanidade começa sobre a nossa Terra?

LE: A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa em geral, nos mundos inferiores. Essa entretanto, não é uma regra absoluta, e poderia acontecer que um espírito, desde o início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente, e seria antes uma exceção. Comentário: Entendemos que dentro da obra do Criador não existem mundos com os atributos de superiores ou inferiores, existe isto sim, mundos em formação, mundos não habitados e mundos habitados pelo Ser Humano. Quanto ao fato de um espírito habitar determinado planeta isto é antes uma escolha voluntária e não um prêmio ou uma imposição. Esse é o nosso caso em relação à Terra porque todos que hoje a habitam foram voluntários e assumiram o planeta como sua morada. 14. O espírito tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?

LE: Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na natureza se faz por transição brusca... Comentário: Fomos criados como seres humanos e assim permaneceremos. Nesse caso houve certa confusão entre o Ser Humano e a matéria da qual esse se utiliza, pois o espírito (Ser 25


Humano) não passa por gerações, já que essa é uma característica da matéria humana. 15. Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial, ou procedem dos corpos primitivos, por via da reprodução?

LE: A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas, como todas pertencem à grande família humana, qualquer que seja o tronco primitivo de cada uma, puderam mesclar-se e produzir novos tipos. Comentário: Das onze raças provenientes de onze plantas distintos que iniciaram a reprodução de corpos físicos aqui na Terra, tiveram origem, através dos tempos, os nossos corpos atuais. 16. Nos mundos onde a organização é mais apurada, os seres vivos têm necessidade de alimentação?

LE: Sim, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esse alimento não seria tão substancial para os vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam digerir os vossos. Comentário: A matéria (corpos físicos) que usamos na Terra é a mesma matéria usada em outros planetas, excetuando-se apenas alguns atributos próprios de cada povo. Por outro lado, devemos lembrar que os corpos físicos dos habitantes de outros planetas não têm os graves defeitos que têm os nossos, defeitos esses originados pelo grande acidente planetário aqui ocorrido há vários milênios.(11) No tocante à alimentação as pessoas de outros planetas se utilizam, praticamente, de todos os nossos alimentos básicos. (11)

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Não poderia ser de outra forma, pois os nossos alimentos foram trazidos por eles dos seus planetas de origem, quando aqui chegaram e iniciaram o processo de reprodução da matéria humana. “O SER HUMANO É PERFEITO E O CRIADOR NÃO VÊ DEFEITO EM SUA OBRA.”(12)

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O surgimento do espiritismo Após o acidente mencionado a roda do tempo girou incansavelmente, formando a corrente dos séculos até alcançar o momento em que o homem teria que iniciar o aprendizado novamente, já que ele tinha se tornado inconsciente devido a um acidente planetário espontâneo e incontrolável. Passou, a partir daí, a utilizar uma matéria defeituosa. Seguiu através dos séculos a produzir matéria da mesma forma prejudicada. Em outras palavras, todos os corpos de crianças que nasceram a partir desse acidente herdaram esse defeito físico. Assim, a matéria no seu automatismo não corrige seus próprios defeitos, pois esse trabalho só pode ser realizado pelo espírito imortal. Esse bloqueio das matérias recém-nascidas não permitia que os espíritos reencarnantes permanecessem com seus conhecimentos e lembranças de quando não tinham matéria. Portanto, a cada nova reencarnação ou troca de matéria, o homem tinha (e tem) de reaprender tudo novamente. Convém nesse ponto abrir um parêntese para esclarecer uma questão que incomoda o ser humano: é a razão por que ele não se lembra dos fatos e acontecimentos de outras vidas. A resposta é simplesmente uma: porque ele utiliza uma matéria com bloqueios, centralizados principalmente na região cerebral, que não lhe permitem manter o conhecimento anteriormente adquirido.(13) Não se trata, portanto, de um “castigo”, e tampouco do benefício do esquecimento, pois melhor seria que se lembrasse de tudo, inclusive dos fatos desagradáveis, pois desta forma, seria mais fácil evitar a sua repetição. Mas outras questões de foro íntimo afligiam ao homem, principalmente aquelas que diziam respeito à sua origem e ao seu destino futuro. No decorrer do tempo várias organizações (13)

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ocultas, esotéricas e religiosas criadas procuraram fornecer resposta para esse tipo de indagação. A partir daí iniciou-se um processo de programação do ser humano, que no seu estado de inconsciência não teve o discernimento necessário para saber se as respostas oferecidas atendiam às perguntas formuladas. Muitos dos ensinamentos ministrados pelas organizações criavam, e ainda criam certos clichês mentais, dando origem a novos registros que uma vez gravados na memória aí permanecem além da vida física. Muitos desses novos registros em nada contribuíam para o despertar do homem, ao contrário levava-o a se identificar cada vez mais com a própria matéria, que em resumo é apenas uma parte dele e não totalmente ele. Essa identidade com a matéria é a responsável pela maior parte do sofrimento que o aflige. Com essa identificação, o corpo físico passou da condição de “parte” para ser o “todo”. Deixou de ser instrumento para ser comando. OS ANIMAIS FORAM CRIADOS PERFEITOS PARA AS FINALIDADES A QUE SE DESTINAM. NÃO EVOLUEM, MAS SUAS CARACTERÍSTICAS SÃO SUSCEPTÍVEIS DE SEREM ALTERADAS PELO SER HUMANO. O homem quando era consciente tinha uma ponte que o ligava diretamente ao mundo espiritual. Essa ponte foi destruída com o acidente e nos tempos que se seguiram foi criada, em seu lugar, uma muralha de inverdades que o aprisionou mais e mais à matéria.(14) Tanto que nos dias de hoje é clara essa simbiose doentia do homem e a sua matéria, não admitindo aquele que esta não seja ele, mas apenas parte dele. O Ser Humano assim “orientado”, mesmo após a morte física, passou a se comportar de acordo com os ensinamentos recebidos. Muitas des(14)

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sas organizações ensinavam, e ainda ensinam que a vida espiritual e a reencarnação não existiam e que a volta à matéria se daria através do próprio corpo que um dia se ergueria do sepulcro e voltaria à vida. O homem assim programado se recusava a despertar, após a morte física, para sua nova condição de vida, não tomando conhecimento que o seu estado de “ser vivo” continuava, apenas tinha mudado da dimensão física para a dimensão espiritual, onde seus atos eram também reais e concretos, porém pertencentes a uma outra frequência vibratória. Convém notar nesse ponto que muitos ensinamentos e acontecimentos prejudiciais “registrados” na matéria só podem ser entendidos e desfeitos na própria matéria. Por aí se vê que o caminho natural para se desfazer esses registros é a reencarnação. Não se trata aqui da ação da lei de causa e efeito, mas de criar as mesmas condições de quando o registro foi efetivado para que então se dê o entendimento. É importante notar nessa explicação a mudança de linguagem, estamos descaracterizando a dívida e o resgate e mostrando a repetição da experiência na matéria para buscar o ENTENDIMENTO. A isso podemos chamar de AQUISIÇÃO DE CONSCIÊNCIA. Assim, observando o comportamento do homem antes e após a morte física, líderes do mundo espiritual julgaram por bem elaborar um plano que viesse ao mesmo tempo confortar, orientar e conscientizar os seres humanos pertencentes ao planeta Terra. Desse modo, foi criado o espiritismo, que CONFORTA porque dá a certeza de que a vida continua e que a morte do corpo físico é apenas e tão somente um acontecimento da vida na matéria; ORIENTA porque traz ensinamentos essenciais para o entendimento da vida nos mundos material e espiritual; CONSCIENTIZA porque constrói novamente a ponte que liga o homem ao mundo espiritual, levando-o a reconhecer-se imortal e entender que “a matéria é apenas parte dele e não totalmente ele”, e que já viveu antes e viverá de30


pois.(15) O homem que passara a viver com os fatos e lembranças da vida material, começou a presenciar e a conhecer os fenômenos que demonstravam uma outra realidade que estava por trás do mundo visível, realidade essa que mesmo invisível mostrava-se rica em detalhes reveladores capazes de desafiar os céticos mais renitentes e as inteligências mais avançadas. Dessa forma, em um processo ininterrupto o espiritismo foi se expandindo por cidades e países, buscando realizar o despertamento do homem. A partir daí o Ser Humano encarnado passou a contar com a referência do mundo espiritual para se posicionar frente à vida. Com a propagação do espiritismo o homem tomou contato com um mundo novo, pleno de realidades novas, cheio de fenômenos incontestáveis, mas ao mesmo tempo inexplicáveis pelo conhecimento científico. Surgiu a medicina espiritual com as curas e cirurgias que cumprem dois objetivos a um só tempo: em primeiro plano atestar a existência do mundo espiritual e a sua interligação com o mundo material; e em segundo lugar trazer benefícios ao homem quando enfermo. Outras formas de intercâmbio com a finalidade de conscientizar são utilizadas, a exemplo da psicografia, a psicofonia, materializações, dentre outras, que muito contribuem para melhorar o entendimento humano. Importante observar, neste ponto, que o espiritismo surgiu primeiro pelos fatos e depois pela doutrina, consolidando-se tanto pelo valor dos ensinamentos, como também pelo caráter lógico e científico de seus pressupostos. Convém observar que dentro do espiritismo tudo que não passar pelo crivo da razão deve ser deixado de lado, mostrando assim que todo fato ou ensinamento deve primeiro ser entendi(15)

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do e depois aceito em nosso mundo interno. A diferença maior entre o espiritismo e outros grupos religiosos é o caminho seguido. Enquanto muitas organizações buscam “O caminho da fé”, ele percorre “O caminho da razão”, levando ao homem primeiro o entendimento e depois a crença. Dessa forma, a crença proveniente do entendimento se transforma na luz do saber, enquanto a crença filha da fé permanece apenas como crença. No espiritismo também deve haver a fé, mas a fé raciocinada, aquela que passa obrigatoriamente pela trilha da razão, pois não sendo assim não é uma “fé espírita”, mas simplesmente fé. O homem que entende realmente sabe, ao passo que o homem que tem fé simplesmente acredita.

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Questões relativas ao tema 1. Por que o espírito encarnado perde a lembrança do seu passado?

LE: O homem nem pode nem deve tudo saber; Deus assim o quer, na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado, como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado ele é mais ele mesmo. Comentário: O homem deve saber tudo para melhor situar-se no grande concerto da criação. Entendemos que o Criador na sua suprema sabedoria deve querer sempre o máximo e o melhor para seus filhos. Se o homem não se lembra de seu passado, de sua origem e porque ocupa um corpo físico com defeito aqui na Terra, isso tem por causa um acidente e não por que o Criador assim determinou. Comentamos anteriormente esse acidente planetário que causou grande dano à organização física da população terrestre. Portanto, não devemos confundir a escuridão da inconsciência acidental com defeitos da obra divina do Criador. Não se trata assim de uma inferioridade do espírito encarnado, mas sim de um defeito temporário do corpo físico. 2. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas dos quais não ser recorda? Como pode aproveitar-se da experiência adquirida em existências que caíram no esquecimento? Seria concebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-se daquilo que as atraiu, mas desde que não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira, e é assim que ele está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a Justiça de Deus? 33


LE: A cada nova existência, o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito, se ele se recordasse de todo o passado? Quando o espírito entra em sua vida primitiva (a vida espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele: vê as faltas que cometeu e que são causas do seu sofrimento... Comentário: Nesse caso em particular entendemos que a pergunta devesse ser a resposta, pois ali está em essência, a verdade. Reafirmamos que se o homem não se lembra de seu passado de nada adianta atribuir-lhe castigos cujo efeito pode ser a revolta por se sentir injustiçado, já que ele de nada se recorda. Dessa forma, aos fatos relacionados à própria vida material estão sendo atribuídas causas situadas em outras existências passadas. Comparamos a questão ao caso de um homem ao qual fosse atribuída uma tarefa a cumprir. Teria que percorrer um longo caminho cheio de acidentes, tais como montanhas, vales, rios e planícies. Cruzaria no caminho com outros tantos homens e deveria guardar-lhes as feições, seus trajes e todos os seus atributos físicos. No retorno de sua jornada deveria esse homem relatar tudo o que viu, apesar de ter feito o trajeto de olhos totalmente vendados. 3. Podemos ter algumas revelações sobre as nossas existências anteriores?

LE: Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram; e se lhes fossem permitido dizê-lo abertamente, fariam singulares revelações sobre o passado. Comentário: Saber sobre nossas vidas anteriores significa saber “quem somos”. Em outras palavras significa ter acesso a nós mesmos tanto nos aspectos da vida atual, como também sobre os detalhes a respeito do que nós fomos em outras vidas. Isto se consegue trabalhando a nossa condição cerebral e o nos34


so nível energético geral. 4. Nas existências corpóreas de natureza mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais precisa?

LE: Sim, à medida que o corpo é menos material, recorda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara para aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior; Comentário: Nos mundos onde as pessoas usam corpos físicos perfeitos, sem os bloqueios atuais de nossas matérias, a lembrança das nossas vidas anteriores é fato comum. Nesses mundos as pessoas em verdade não morrem como nós entendemos aqui, mas trocam de corpos, após se utilizarem deles por muitos e muitos séculos. Isso se dá não porque o mundo é superior, mas porque não passou por um acidente das proporções do que nós passamos. Se acaso passassem por um acidente incontrolável como o ocorrido aqui, também poderiam se tornar inconscientes e não mais se lembrarem de suas vidas passadas. Dentro do que aprendemos a morte de nossos corpos físicos por esgotamento de sua vitalidade é, antes de tudo, uma doença curável e não uma fatalidade. 5. Por que não nos recordamos sempre dos sonhos?

LE: Nisso que chamas sono não há mais do que o repouso do corpo, porque o espírito está sempre em movimento. No sonho, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros seja neste ou em outros mundos. Comentário: Não nos lembramos com nitidez de todos os nossos chamados “sonhos” porque temos nosso “cérebro seriamente prejudicado, com poucos impulsos energéticos, baixa frequência e pequena vibração”. (16) Durante a noite quando (16)

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nos deslocamos de nossos corpos físicos temos contatos com outras pessoas encarnadas ou não; recebemos informações e presenciamos muitos acontecimentos. Quando retornamos aos nossos corpos a baixa vibração cerebral apaga todas as nossas lembranças. Isso às vezes não ocorre e conseguimos lembrar muito do acontecido. Esse fenômeno só é possível devido a certos picos de energia no cérebro que permitem o registro, no corpo físico, dos fatos ocorridos com a pessoa na dimensão extrafísica. NÃO NOS LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS PASSADAS PORQUE ESTAMOS UTILIZANDO UM “CORPO FÍSICO COM GRAVES DEFEITOS NA REGIÃO CEREBRAL, QUE POR UM ACIDENTE PLANETÁRIO, PASSOU A FUNCIONAR COM POUCOS IMPULSOS, BAIXA FREQUÊNCIA E PEQUENA VIBRAÇÃO”. (17)

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O espiritismo no tempo Devemos entender o espiritismo como um plano elaborado, visando o entendimento do homem e por consequência trazer a sua autoconsciência. Não é objetivo do movimento espírita manter o Ser Humano na ignorância, mas habilitá-lo a tomar as rédeas de seu destino nas mãos e tornar-se senhor de seus próprios passos. Isso ocorrendo, permite-lhe percorrer o caminho de sua preferência, ditado apenas por sua vontade soberana e não o caminho escolhido por outros. Todos nós temos nossos objetivos pelos quais lutamos sempre; se outros determinam nossos caminhos com certeza não trilharemos os nossos, mas os deles. É importante notar que o espiritismo possui uma estrutura espiritual de orientação e apoio, assim como todos os grupos religiosos e espiritualistas possuem o seu grupo espiritual de onde emanam as orientações. Não importa se esse grupo, que está na matéria, acredita ou não na existência do espírito, sempre haverá o apoio do lado espiritual. O espiritismo, por se tratar de uma doutrina calcada em bases científicas e ter por fundamento o despertar do homem para a realidade do mundo espiritual, sempre foi combatido pela maioria das religiões. Nesse combate ao espiritismo sempre foram usadas todas as armas, mesmo aquelas que ferem pela inverdade, com o fim específico de causar dano. A nossa reação a respeito deve ser sempre a de estender o manto de nossa compreensão sobre esses acontecimentos, mesmo por que, conforme já dissemos, as religiões têm seus ensinamentos e seus pressupostos, como se fossem frequências próprias, que só podem ser entendidos pelas pessoas que possuem frequências cerebrais semelhantes. Assim, quando existe essa compatibilidade de frequência há o entendimento, ocorrendo então a acei37


tação. Dessa forma, a frequência do espiritismo torna difícil o entendimento de seus ensinamentos por outros grupos religiosos, pois eles se situam em frequências muito diferentes. Cabe frisar mais uma vez que o espiritismo tem por objetivo o despertar do homem e esse despertar só interessa a ele próprio, vez que em boa verdade a ignorância do Ser Humano encarnado é fonte de poder para muitos. Convém lembrar, nesse momento, a reação do homem frente aos fenômenos desconhecidos. Reação às vezes insana quando tem por suporte apenas a fé e não a razão. Foi assim que muitos fenômenos espíritas foram tratados como “coisa do Diabo”, e as pessoas neles envolvidas simplesmente eliminadas, tudo em nome de Deus “infinitamente bom e justo”. Isso mostra de maneira insofismável que a inconsciência do homem era tamanha que sua razão tornara-se falha e lamentavelmente pobre. O espiritismo tinha que iniciar o seu trabalho junto à humanidade e para que isso se desse nada melhor que a ocorrência do fato incontestável para que o homem despertasse para a existência do mundo espiritual. Assim foram surgindo os fenômenos espirituais nos mais diversos lugares como forma de chamar a atenção para o desconhecido, mas que em síntese faz parte de todos nós. De início os acontecimentos foram negados e tentadas todas as formas para justificá-los ou mesmo classificá-los como fenômenos ligados ao próprio mundo físico. Tudo em vão. As evidências eram tão claras e inusitadas que negar os fatos era impossível. Mesmo sobre rigoroso controle científico os fatos ocorriam de maneira perfeita. Com o tempo foi surgindo a literatura espírita com a linguagem e conceitos muito ao nível do entendimento do homem da época. Foi observada nesse momento a capacidade de compreender que o Ser Humano possuía. Essa capacidade de entender é o ponto fundamental no tocante às religiões. É de todo providencial e oportuno que afirmemos a importância de cada religião, mas elas só existem 38


devido ao estado de inconsciência do homem. A capacidade de entender é dada pela condição da matéria, principalmente a energia cerebral. Como mencionamos anteriormente, os impulsos cerebrais formam a frequência e esta a vibração cerebral que vai delinear um campo maior ou menor de entendimento de acordo com a sua intensidade. Daí a afirmação de que as religiões reúnem os homens por faixa vibratória, ou seja, na exata capacidade de entender. Quando se iniciou a mensagem espírita houve a preocupação em dosar a essência, para que houvesse a absorção necessária, e utilizar uma forma de linguagem que se adequasse à capacidade de compreensão que possuía a humanidade naquele momento. Mas o espiritismo não é obra pronta e acabada, e por isso precisa redimensionar a essência e atualizar a forma, para que muitos ensinamentos possam ser levados ao homem de maneira mais objetiva e racional. Isto sempre dentro do pressuposto de que a capacidade de entender do homem de hoje é muito maior do que a de antes. Dentro do movimento espírita ainda existe muito misticismo que precisa ser expurgado para que a doutrina possa ser clara e inteligível para todos. É neste ponto que os espíritos mais insistem, pois pretendem eles trabalhar junto aos encarnados de maneira natural, sem rituais e encenações desnecessários, usando, inclusive, seus próprios nomes. No tocante à linguagem eles informam que está na hora de abandonar certas formas pitorescas de falar que não são mais necessárias e hoje só atrapalham a comunicação entre o mundo físico e o espiritual. É bom lembrar que se essas formas existem até os dias de hoje a responsabilidade é exclusiva do homem encarnado que não soube se desfazer de mecanismos utilizados quando o seu entendimento era ainda muito precário. Tornou-se assim dependente dessas formas antigas e já desnecessárias, pois só assim se sente confiante na real presença da pessoa desencarnada. Desse modo, as pessoas que estão no mundo espi39


ritual querem essas mudanças, pois acreditam que o homem precisa ser conscientizado da realidade da outra vida, e não receber informações veladas que causam maiores interrogações e falta de entendimento. Em resumo, precisa-se adequar o espiritismo de ontem ao homem de hoje. É bom ressaltar que quando falamos no espiritismo de ontem não estamos querendo dizer que o GRANDE PLANO elaborado pelo mundo espiritual contenha falhas ou erros. Queremos, sim, afirmar que o homem na sua inconsciência muito acresceu de impureza à “ÁGUA PURA DO CÂNTARO”, direcionando os ensinamentos de acordo com sua vontade e seu entendimento restrito. A respeito dessa necessidade de mudar é bom ressaltar que a maioria das religiões já promoveu profundas reformas tanto de caráter interno como externo, para se adaptar aos novos anseios da humanidade do presente. O homem dos tempos atuais busca com maior intensidade respostas novas para perguntas velhas. Demonstra desse modo que seu interior continua insatisfeito com o nível e a qualidade das informações sobre as questões transcendentais da vida. Nesse ponto o espiritismo precisa relançar-se como um caminho mais aberto e claro para que o homem atinja o seu despertamento espiritual. É preciso que as pessoas deixem de ver o espiritismo como uma prática espiritual onde predomina o mistério e passem a perceber que esse intercâmbio entre os mundos material e espiritual é uma atividade natural e deve ser visto como um prolongamento de nosso aprendizado na matéria. O natural para o Ser Humano é tudo aquilo que ele, através da sua estrutura mental, consegue entender. O sobrenatural, ao contrário, foge ao seu entendimento por mais que acione o seu mecanismo de raciocínio. Não entendendo o fato, mas ocorrendo a sensibilização de seu mundo emocional há então a aceitação, a submissão e o devotamento, instalando-se aí o domínio da fé. 40


Mas o espiritismo, como já dissemos, não busca a crença pela fé mas a crença pelo entendimento. A verdadeira liberdade é aquela que tem como lastro a capacidade de entender. É de todo oportuno lembrar aquela sábia inscrição “CONHEÇA A VERDADE E ELA TE LIBERTARÁ”. Isso significa que devemos conhecer e não apenas acreditar, pois quem verdadeiramente conhece entende independentemente de qualquer ensinamento doutrinário que tenha recebido. O homem do terceiro milênio precisa entender que o verdadeiro caminho que conduz a todos os pontos desejados, o livro que contém todas as lições necessárias e o mago capaz de realizar todos os seus sonhos se encontram reunidos no seu mundo interno. Para o Ser Humano só existe um segredo: ele próprio. Desvendando esse grande segredo tudo o mais se torna simples e de fácil entendimento. Devemos, como espíritas, meditar profundamente sobre tudo que já foi dito, escrito e aprendido sobre a doutrina até o momento, lembrando sempre que a razão, muito mais que nossos sentimentos, deve ter a última palavra. Nesse balanço de tudo que aprendemos não vale acreditar mas entender. O verdadeiro conhecimento vem do entendimento e não da crença. É dessa análise retrospectiva que surgirão os frutos que o espiritismo precisa. O espiritismo foi criado perfeito por líderes do mundo espiritual, mas para chegar até o homem teve que passar pelo juízo do próprio homem. Nesse momento houve a mistura do joio ao trigo, agregando-se aos princípios muitas práticas e conhecimentos alheios ao espiritismo. Essa incorporação de regras e ensinamentos estranhos aos princípios espíritas é extremamente prejudicial às pessoas que buscam o amparo no espiritismo. A exemplo disso podemos citar casos de pessoas de nosso conhecimento que após ingressarem em certos grupos espíritas se sentiram de tal forma tolhidas por tantos “ensinamentos” cerceadores de sua liberdade individual que culminaram no afastamento delas do espiritismo. Após se afastarem essas pes41


soas argumentavam que “agora se sentiam mais livres para pensar, escolherem seu modo de vida e os objetivos que queriam alcançar”; desse modo, abandonando o espiritismo voltavam a ter uma vida normal. Dentre esses agregados ao espiritismo podemos citar a chamada “LEI DE CAUSA E EFEITO” ou “CARMA”, que em síntese é uma camisa de força colocada no homem que de forma mansa e passiva se deixa guiar como um cordeiro, sempre na direção que os outros querem. Repetimos, não foi para isso que o espiritismo foi criado. Não foi para restabelecer o reinado do lobo sobre o cordeiro, nem do senhor sobre o escravo. Foi criado sim para trazer luz à escuridão de nossa inconsciência, construindo de novo a “ponte luminosa que liga o MUNDO DA MATÉRIA AO MUNDO DO ESPÍRITO.(18) É bem verdade que muito tem feito o espiritismo em benefício da humanidade, não se nega isso. Pessoas abnegadas têm dedicado suas vidas, tanto aqui como no mundo espiritual, a essa nobre causa. Mas por que não atender ao chamamento desses dedicados guardiões das leis do CRIADOR? Por que não permitir que o espiritismo leve avante sua obra conforme foi planejado? Por que não corrigir o que está incorreto? Por que não permitir que o espiritismo traga consolo e auxílio a todos que necessitam, mas respeitando acima de tudo o direito à liberdade de escolherem seus próprios caminhos, seus modos de vida, suas maneiras de ser, enfim seus próprios destinos? A esse respeito afirmamos: “nenhum homem pode dizer a outro o que deve fazer.” Cada um deve seguir seu caminho guiado apenas pela sua consciência. É verdadeiramente importante observar o paralelo que existe entre a maioria dos grupos religiosos no tocante às ideias de culpa e pecado, dívida e regate. Pairando sobre tudo isso e completando o esquema de dominação do homem, muitos grupos adotaram ainda a figura do Diabo, deus (18)

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do mal, vingativo impiedoso com os pecadores. Essa ideia do Diabo foi tão longamente inculcada na mente do Ser Humano que se transformou em um registro perene, aprisionando grande parte da humanidade a essa imagem criada por poucos para ter o domínio de muitos. Nesse ponto o espiritismo precisa mudar o seu enfoque quando tratar do comportamento do homem. Quando se referir à culpa ou dívida deve substituir por EXPERIÊNCIA NO MUNDO FÍSICO, ao mesmo tempo quando tratar do chamado resgate utilizar o termo BUSCA DE ENTENDIMENTO, que é a expressão mais adequada ao processo de conscientização do Ser Humano. O movimento espírita deve ser varrido e limpo de todo ensinamento ou conceito que subjugue, amedronte ou pressione o homem para agir ou pensar de modo determinado, sem que isso seja de sua livre escolha. É bom lembrar mais uma vez que o espiritismo foi criado justamente para auxiliar o homem a se livrar desses tipos de ensinamentos errôneos que nada têm a ver com a realidade da vida. O ESPIRITISMO FOI CRIADO PARA ACORDAR OS “MORTOS VIVOS” QUE DORMEM O “SONO ETERNO”, CRIADO PELO PRÓPRIO HOMEM INCONSCIENTE.(19) Reputamos de grande importância o espiritismo se desincorporar desses conceitos de ontem que não servem para o homem de hoje. Como dissemos alhures, ouve um tempo em que o Ser Humano tinha sua matéria tão prejudicada que seu comportamento muito se aproximou do animal bruto. Nesse momento esses conceitos subjugadores e restritivos da liberdade foram utilizados e até permitidos pelos nossos líderes espiri(19)

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tuais, mas porque no final se convertiam em benefícios para o próprio Ser Humano encarnado. Hoje, no entanto, a moeda tem outro valor, o homem tem outro comportamento, outro nível de consciência. Dessa forma, as figuras da culpa, da dívida e do resgate e similares não contribuem para aproximar as pessoas do mundo espiritual, tampouco para aumentar o nível de consciência. Por outro lado, impedem e direcionam as experiências na matéria, levando os homens a agirem de acordo com a vontade alheia, e não conforme seus próprios livres-arbítrios. Por aí se vê que esses conceitos não podem fazer parte de um conjunto de ensinamentos que pretendem cooperar na conscientização da humanidade. Existem no seio do espiritismo outras duas figuras que carecem de uma análise acurada. Referimos à dor e ao sofri mento. Existe um ensinamento que afirma ser a dor e o sofrimento importantes para nossa evolução. Contrariamente entendemos que essa afirmação não resiste ao menor argumento, senão vejamos: por que algo que nos maltrata e nos prejudica é importante para o nosso crescimento espiritual? Será que fomos criados para percorrermos tão dolorosos caminhos, sem que o nosso livre-arbítrio possa alterar o curso dos acontecimentos? Será que temos que sofrer para aprender ou será que temos a capacidade para aprender de forma natural sem sofrermos castigos atrozes? Temos a convicção de que esse conceito apologético da dor não tem agasalho dentro da lógica. Se porventura sofremos não devemos creditar esse fato a uma necessidade de sofrer, mas simplesmente por termos perdido a nossa autoconsciência e consequentemente o domínio da matéria. Assim, o sofrimento e a dor não fazem parte da programação de nosso aprendizado. Objetivando clarear melhor o assunto recorramos ao seguinte exemplo: um espírito no momento de reencarnar, ou se44


ja, assumir um corpo material, verifica que esse corpo contém um grave defeito congênito; mesmo assim ele acredita que poderá resolver esse contratempo. Ao assumir o corpo, no entanto, constata que nada pode fazer a não ser amargar o seu sofrimento até o fim daquela matéria. Isto porque estando dentro dela, ele não sabe mais resolver os problemas que ela possui devido à escuridão da inconsciência. Como já foi citado anteriormente o corpo físico utilizado atualmente pelo homem da Terra não oferece condições para que o Ser Humano, ao encarnar, faça uso de seus conhecimentos adquiridos ao longo de suas vidas pretéritas. Dessa forma, ao assumir uma nova matéria o conhecimento anteriormente adquirido é isolado e não é utilizado de forma consciente devido ao bloqueio energético do cérebro humano.

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Reecarnação Um dos pressupostos básicos do espiritismo é a reencarnação. Aprendemos que o homem reencarna para resgatar suas dívidas pretéritas, aprender e evoluir. A esse respeito, podemos dizer que a humanidade pode ser dividida em dois grandes grupos. Um que desde o início recebe o “registro de matéria” e percorre o caminho do crescimento, utilizando a encarnação em vidas sucessivas. Esse grupo com “registro de matéria” sempre voltará à vivência no meio físico. O segundo grupo constitui-se daquelas pessoas (espíritos) que foram criadas sem “registro de matéria” e não têm como caminho natural a reencarnação, ou seja, a participação direta da vida na matéria.(20) Essa parte da humanidade, não tendo “registro de matéria” permanece sempre no mundo espiritual e constitui os guardiões do conhecimento humano. É a esse grupo que pertencem os ORIXÁS, portadores do CONHECIMENTO. Essa classe de Seres Humanos, pelo grande conhecimento que possui é habilitada a melhor entender as leis emanadas do CRIADOR. Mas o que nos interessa no momento é o primeiro grupo, aquele que utiliza um corpo físico para suas experiências no mundo material. A reencarnação, portanto é uma forma de fixar o espírito, que pertence à dimensão espiritual, a um corpo físico da dimensão material. Por outro lado, não é pelo simples fato de ocorrer um nascimento de um corpo físico que houve uma reencarnação. Para que ela se dê é necessário que um espírito assuma essa matéria, mesmo porque em certas condições existem corpos vivos que não foram assumidos por alguém, sendo ainda assim aparentemente pessoas como as demais. A assunção de matéria se dá de forma paulatina, pois quando ocorre o (20)

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nascimento de um corpo “a ligação do espírito se dá de forma lenta e gradual, de maneira que o processo só se encerra por volta dos 14 anos”.(21) Nessa idade cronológica da matéria o espírito tem então todas as condições para assumi-la por completo. Dessa forma, somente após essa idade é que a matéria passa a fazer parte efetiva do Ser Humano. Observando a criança quando se aproxima da idade de 14 anos verificam-se grandes mudanças tanto no aspecto físico como principalmente alterações de ordem psicológica, sendo evidente assim que antes não havia a total investidura na matéria. A esse respeito cabe a seguinte interrogação: por que essas transformações só ocorrem, via de regra, próximo aos 14 anos de idade, por que não aparecem aos cinco, ou aos dez ou mesmo aos 18 anos, por exemplo? A resposta é aquela que colocamos anteriormente: porque a partir dos 14 anos de idade material é que o espírito reencarnante, assumindo por completo o corpo físico, imprime com maior firmeza e profundidade os seus caracteres particulares, tais como: preferências de toda natureza, comportamento e principalmente os aspectos da personalidade. Dissemos anteriormente que a reencarnação, além de ser UM CAMINHO DE RETORNO À NOSSA CASA, é solução para muitos problemas da pessoa humana. Existem muitos acontecimentos perturbadores que permanecem registrados na memória do homem e que somente através da reencarnação podem ser resolvidos. A solução se dá pelo entendimento. Uma vez entendido o porquê da ocorrência daquele fato deixa de haver a perturbação porque a causa foi eliminada. Voltamos a afirmar que se o fato ocorrido na matéria for de grande relevo, no mundo espiritual torna-se muito difícil o entendimento, porque a ocorrência do fato se deu em outra dimensão, sob as leis que regem a matéria. Desta forma, há que se restabelecerem (21)

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as mesmas condições de antes, ou seja, de quando o espírito habitava a matéria para se dar o devido esclarecimento e consequentemente o entendimento do fato ocorrido. Essas condições são então restabelecidas com a reencarnação e os acontecimentos traumáticos têm solução pela via do entendimento, ocorrendo assim o aprendizado pela vivência no meio físico. Existe, por outro lado, outra maneira de resolver ou amenizar muitos traumas adquiridos pelo Ser Humano na vida física. Referimo-nos aos trabalhos espíritas, que utilizando médiuns fornecedores de energia física proveniente de seus próprios corpos, permitem aos desencarnados, por meio de um choque energético, despertar e entender sua condição de espírito imortal. Nesses casos traumáticos está incluído o problema do sono após a morte do corpo físico. Muitas pessoas após perderem seus corpos materiais simplesmente dormem e não acordam por si mesmas. Isso em virtude dos ensinamentos recebidos quando estavam encarnadas. Essas mensagens são tão engenhosamente ministradas às pessoas que permanecem surtindo seus efeitos deletérios mesmo no mundo espiritual. “Ao ingressarem na pátria do espírito essas pessoas inconscientemente seguem a programação recebida no mundo material, como é o caso típico do sono eterno, em que as pessoas desencarnadas permanecem dormindo. Formam estranha população de mortos vivos a habitar região própria da dimensão espiritual. Esses mortos vivos, na condição de SONO ETERNO são despertados pelos abnegados trabalhadores espíritas tanto do mundo material como do espiritual. O espiritismo, como já foi dito anteriormente, teve como razão principal de sua criação servir de instrumento para o despertamento dessas pessoas que mesmo após a perda do corpo material permanecem inconscientes no plano espiritual.”(22) (22)

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Retomamos neste ponto à discussão do porquê da reencarnação. Afirmam muitos que reencarnamos para resgatar dívidas passadas. Isso a nosso ver não combina com a racionalidade do espiritismo. No caso de haver dívidas passadas a pagar em vidas futuras o indivíduo nunca saberia a quem pagar e nem o que pagar, pois o homem está inconsciente há milênios, e como tal ele não se lembra de quem era, nem por que e para que está aqui reencarnado. Na hipótese de estarmos pagando dívidas isso de nada valeria para o nosso crescimento espiritual ou mesmo para nossa conscientização, pois nem mesmo sabemos se estamos pagando alguma dívida. De outra forma, também entendemos que dentro da inconsciência não há devedor nem credor. Já os atos praticados de forma consciente, apesar de não gerar dívidas a resgatar, se situam dentro do campo da responsabilidade individual de cada um. Julgamos de todo importante esclarecer alguns pontos para que as pessoas possam melhor entender a questão do pecado, do carma e do chamado resgate de dívidas. Primeiro não é só pelo fato de a pessoa deixar o corpo físico e ingressar no mundo espiritual que ela passa a entender a grande realidade da vida. Tanto é que existem na dimensão espiritual muitos grupos de pessoas que ensinam e defendem a existência do carma, da dívida e do resgate, bem como a necessidade da dor e do sofrimento para a evolução espiritual. Acreditam ainda que esses INSTRUMENTOS foram criados pelo Criador para nos tornar seres evoluídos. Esquecem, no entanto, que esses conceitos foram originados aqui na matéria e vieram todos da mesma fonte: A INCONSCIÊNCIA HUMANA. Assim, ao sermos atingidos pelo acidente planetário e tornados inconscientes, tentamos criar explicações para tudo o que nos acontecia. Nessa busca de explicações, os mais inteligentes inventaram o véu e o conto. Enquanto o véu esconde da multidão o que lhe é conveniente ver, o conto fornece a explicação julgada, por eles, mais ade49


quada. Assim criou-se, ao longo do tempo, o teatro da vida onde os homens permanecem imobilizados na inconsciência no decorrer das vidas sucessivas e não encontram a luz que ilumina o caminho que conduz à autoconsciência, onde o véu é rasgado e o conto calado. A reencarnação, ou seja, o uso de matéria é um caminho para o crescimento integral do Ser Humano. Significa que do rebanho total do Criador fomos apontados desde a criação para seguirmos a jornada material, na grande escalada em direção ao infinito.

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Questões relativas ao tema 1. Qual a finalidade da encarnação dos espíritos?

LE: Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar à perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. Comentário: O homem encarna, ou seja, assume um corpo físico primeiro porque é uma contingência do próprio Ser Humano que foi criado com “registro de matéria”; segundo porque no mundo físico aprendemos sentindo a matéria, comungando uma união estreita entre as dimensões física e extrafísica; e terceiro porque temos necessidade de um corpo físico e isso independe do conhecimento, sabedoria ou outro atributo que se dê ao Ser Humano. “Ele sempre sentirá necessidade da matéria e só estará completo com ela.”(23) Como se vê não encarnamos em um corpo físico para sofrer ou para expiar qualquer culpa. Encarnamos em um corpo físico porque esse é o caminha natural e desejado por todos nós que temos “registro de matéria”. 2. Os espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem, têm necessidade de encarnação?

LE: Todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem penas e sem trabalhos e por conseguinte sem mérito. Comentários: “Os espíritos são criados perfeitos e o Cri(23)

A Vida Dentro da Vida

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ador não vê defeitos em sua obra.”(24) Crescem em conhecimento através de experiências adquiridas, nas suas vidas sucessivas em contato com o mundo físico. Não são penas, expiações, dor e sofrimento o que aumentará o mérito de suas conquistas. Até mesmo para os nossos animais está caindo em desuso a utilização de castigos e maus tratos no processo de amansamento, substituindo-se com grande vantagem a violência da chibata pela força da paciência e do afago. Daí se conclui que o homem que também possui, em essência, a mesma matéria animal também aprende melhor na escola da compreensão, da alegria e do carinho. 3. Que dizer da teoria segundo a qual, na criança, a alma vai se completando a cada período da vida?

LE: O espírito é apenas um, inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos os instrumentos de manifestação da alma, que se desenvolvem e se completam; Comentário: O fato puro e simples do nascimento de um corpo de criança não significa que houve uma encarnação ou reencarnação. É preciso que uma pessoa (espírito) sem um corpo físico assuma esse novo corpo. Isto se dá por meio de um processo gradativo que se inicia com o nascimento e se completa por volta dos quatorze anos de idade. 4. A alma não leva nada deste mundo?

LE: Nada mais que a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou amargor, segundo o emprego que tenha dado à vida. Quanto mais pura for, mais compreenderá a futilidade daquilo que deixou na Terra. (24)

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As Possibilidades do Infinito


Comentário: A pessoa ao desencarnar e deixar o mundo material leva consigo primeiro o pesar de deixar o corpo físico que lhe era tão caro; segundo leva todas as sensações da matéria o que lhe causa uma série de necessidades físicas como se nela ainda estivesse e terceiro incorpora ao arquivo próprio do Ser Humano tudo o que apreendeu em sua experiência na matéria. 5. Todos os espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação da alma e do corpo?

LE: Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria. Comentário: O estado de consciência da pessoa que deixa o corpo em definitivo depende do tipo de morte que deu causa ao desencarne. Certos tipos de doença que causam o esgotamento físico de forma lenta e gradual torna o transe pós-morte menos profundo e de mais curta duração. Ao contrário, os desencarnes por acidentes ou por outros tipos de morte súbita podem levar a pessoa a um estado de inconsciência mais longo e profundo. 6. Como pode a alma, que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, acabar de se depurar?

LE: Submetendo-se à prova de uma nova existência. Comentário: Depurar significa “tornar puro, limpar, purificar”. O homem encarna para participar da vida na matéria e continuar aprendendo sempre. Para a humanidade que habita o planeta Terra ela reencarna também para buscar a autoconsciência, pois somente ela é capaz de mostrar o caminho que leva 53


à perfeição. No sentido moral ninguém encarna para se depurar, pois se isso fosse verdade teríamos que colocar em dúvida a capacidade criadora do Criador que teria criado uma obra tão imperfeita que necessita de reparos, ou seja, de limpeza e purificação. 7. Qual a finalidade da reencarnação?

LE: Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Comentário: A reencarnação, ou seja, a vivência no meio físico é inerente a todo Ser Humano que tem “registro de matéria”. No momento da criação o Criador atribuiu a uns o “registro de matéria”, significando que para essas pessoas a eterna caminhada se fará de braços dados com a matéria; para os outros o nascimento na matéria densa não é regra geral, mas a exceção. Isso não por privilégios especiais, mas por não possuírem o “registro de matéria”. A reencarnação assim ocorre por um desígnio da criação e tem por finalidade o nosso infinito aprendizado através das vidas sucessivas na matéria. 8. O número de existências corpóreas é limitado, ou o espírito reencarna perpetuamente?

LE: A cada nova existência, o espírito dá um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas suas impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea. Comentário: O número de existências corpóreas do espírito é ilimitado, mas nem uma única é destinada a lavar impurezas, ou seja, para purificar. Se isso fosse verdade, seria tempo perdido, pois teríamos que sempre vir limpar impurezas, assim como ocorre no banho nosso de cada dia, isso porque sempre nos envolvemos em experiências na matéria passíveis de ser entendidas, erroneamente, como carreadoras de impurezas para 54


nossa organização espiritual. 9. Em que se transforma o espírito depois de sua última encarnação?

LE: Em espírito bem-aventurado; um espírito puro. Comentário: Como já foi dito anteriormente, não existe a última encarnação. Sempre haverá outra. 10. Sobre o que se funda o dogma da reencarnação?

LE: Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois não nos cansamos de vos repetir: um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependimento... O homem tem consciência de sua inferioridade... Comentário: Todo aquele que tem sede se utiliza do líquido. Todo aquele que tem “registro de matéria” usa a reencarnação. O homem não é inferior e afirmar o contrário é não reconhecer a grandeza do próprio Criador. Somos perfeitos, como tudo que ele criou, apenas estamos, temporariamente, utilizando um corpo físico com graves defeitos. 11. A reencarnação é, portanto, uma necessidade da vida espírita, como a morte é uma necessidade da vida corpórea?

LE: Seguramente, assim é. Comentário: A reencarnação é em verdade uma necessidade de todo aquele que tem “registro de matéria”. A morte, ao contrário, não é uma necessidade da vida corpórea, mas é antes uma doença, isso dentro do que se chama morte natural. Excetuando, portanto, a morte acidental ou provocada. 12. Nossas existências corpóreas se passam todas na Terra? 55


LE: Não, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição. Comentário: Antes da criação do mundo físico se dá a formação do mundo espiritual, onde seres humanos aguardam o momento propício para o início das encarnações. Quanto ao estado de perfeição, não são atributos do planeta que o determinam, mas do estado de consciência do Ser Humano que o habita. No tocante ao aspecto de ser mais ou menos material, todo mundo físico assim o é simplesmente, não cabendo portanto a graduação de mais ou menos material. NENHUM ESPÍRITO REENCARNA PARA RESGATAR DÍVIDAS, MAS PORQUE TEM “REGISTRO DE MATÉRIA E SÓ NA MATÉRIA ELE ESTÁ COMPLETO”.(25) 13. A cada nova existência corpórea a alma passa de um mundo a outro, ou pode ela viver muitas vidas num mesmo globo?

LE: Ela pode viver muitas vezes num mesmo globo, se não estiver bastante adiantada para passar a um mundo superior. Comentário: Os mundos não são superiores uns aos outros, mas apenas diferentes dentro do grande concerto da criação. Os homens no entanto podem ter entendimento diferenciado sobre a vida e tudo que o rodeia, como é o nosso caso e que foi motivado por um acidente.

(25)

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A Vida Dentro da Vida


14. É uma necessidade reviver na Terra?

LE: Não, mas se não progredirdes, podeis ir par outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo ser pior. Comentário: O Ser Humano só é completo quando encarnado na matéria. Assim, entendido, temos necessidade da matéria. No caso específico da Terra, para aqui viemos como voluntários e aqui ficaremos até conseguirmos livrar a matéria do globo terrestre de toda anormalidade. Isso também é nossa responsabilidade e como seres eternos pesa sobre todos nós essa obrigação. 15. Há vantagem em voltar a viver na Terra?

LE: Nenhuma vantagem particular, a não ser que se venha em missão, pois então se progride, como em qualquer outro mundo. Comentário: A Terra é o nosso mundo, que abraçamos por vontade própria e com ele temos um pacto de torná-lo perfeito como era antes. Por outro lado, o celeiro físico é o depositário das experiências terrenas e somente nele adentrando temos a benéfica ousadia de vivenciá-las. 16. Não seria melhor continuar como espírito?

LE: Não, não! Ficar-se-ia estacionário, e o que se quer é avançar para Deus. Comentário: Mesmo como espíritos temos condições e oportunidades de aprender sempre, mas continuamos sedentos da matéria, pois é nela que se desenrola a nossa grande batalha para a aquisição do conhecimento do Criador e da criatura. 17. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos 57


semelhantes aos nossos?

LE: Sem dúvida que eles têm corpos, porque é necessário que o espírito se revista de matéria para agir sobre ela; mas esse envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os espíritos, e é isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de percorrer... Comentário: “Semelhantes” é bem a palavra, mas não iguais. Muitas pessoas de outros planetas possuem corpos semelhantes aos nossos, mas com certos atributos que o homem que habita a Terra não possui. Além disso, a humanidade terrestre está atípica com relação a outros seres humanos, pois está utilizando um organismo físico com problemas extremamente graves. Quanto ao aspecto moral de pureza esse conceito não se aplica aos mundos onde o Ser Humano é consciente na matéria, mas prospera entre nós onde o homem confunde inconsciência na matéria com inferioridade espiritual, ou seja, confunde a lâmpada que ilumina com a energia que produz a luz. Se a lâmpada está queimada, a energia por mais forte que seja não produz luz. 18. Passando de um mundo para outro, o espírito passa por nova infância?

LE: A infância é por toda parte uma transição necessária, mas não é sempre tão estúpida como entre vós. Comentário: Em todos os mundos físicos habitados o processo natural da reencarnação ou troca de matéria é sempre o mesmo. Com isso não estamos afirmando que o processo é rigorosamente o mesmo que se conhece aqui. 19. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada globo? 58


LE: Não; os mundos também estão submetidos à lei de progresso. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons. É assim que as raças que hoje povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão a atual, como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras. Comentário: O corpo físico dos seres humanos recebe cuidados especiais nos mundos onde predomina a consciência plena. O próprio deperecimento acelerado da matéria já foi equacionado. No tocante à nossa moral ela só existe onde existe o estado de inconsciência. A moral faz parte dos mecanismos desenvolvidos aqui ao longo dos tempos, objetivando direcionar o comportamento do homem, limitando o campo de suas ações de modo a satisfazer certas regras de conduta criadas no meio social. 20. Por que a vida se interrompe com frequência na infância?

LE: A duração da vida da criança pode ser, para seu espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, e sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais. Comentário: O grande aproveitamento da reencarnação se dá após o período da infância quando o espírito que assumiu aquele corpo efetivamente se liga a ele. Tal fato se dá por volta dos quatorze anos de idade. Assim, podemos afirmar que acontece grande número de mortes na infância devido a pouca resistência da matéria frente aos fatores adversos, como também pelo fato de que o dono da matéria quase não tem condição de prover a sua segurança, pois ELE NÃO ESTÁ NELA, MAS 59


PRÓXIMO DELA. 21. Os espíritos têm sexo?

LE: Não como o entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos. Comentário: Os seres humanos são criados com os sexos definidos. O espírito é o molde e o corpo físico é dotado de todos os elementos que já fazem parte da organização espiritual. 22. O espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?

LE: Sim, pois são os mesmos espíritos que animam os homens e as mulheres. Comentário: Não é regra geral, mas o espírito pode assumir um corpo de sexo diferente do seu. Isso acontece quando o espírito vê a importância do seu trabalho a ser desenvolvido, acima do atributo sexual. Existem várias características que são do espírito, como é o caso do sexo. 23. Quando somos espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher?

LE: Isso pouco importa ao espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer. Comentário: Preferimos sempre seguir a harmonia da vida, encarnando em um corpo que possamos usar na sua plenitude. 24. Por que é que pais bons e virtuosos têm filhos perversos? Ou seja, por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por simpatia, bons espíritos como filhos? 60


LE: Um mau espírito pode pedir bons pais, na esperança de que os seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende. Comentário: No grande concerto da vida não existe o mau e o perverso, existe isto sim, o desequilíbrio que mancha a realidade. 25. Qual é a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos, que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, como as línguas, cálculos, etec.?

LE: Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas do qual ela mesma não tem consciência. Comentário: As aptidões de certos indivíduos para certas atividades aqui no mundo físico vêm da combinação das matérias do pai e da mãe que lhe propiciam um corpo físico com áreas cerebrais favoráveis à lembrança daqueles conhecimentos adquiridos em outras vidas. Não existe gênio em assunto para ele desconhecido. 26. Com a mudança dos corpos, podem perder-se certas faculdades intelectuais, deixando-se de ter, por exemplo, o gosto pelas artes?

LE: Sim, desde que se tenha desonrado essa faculdade, empregando-a mal. Comentário: Perder não é o caso, mas esquecer temporariamente. Mas, por outro lado, temos sempre a sensação de que sabemos fazer ou realizar aquela atividade. 27. Como a alma é recebida, na sua volta ao mundo dos espíritos? 61


LE: A do justo, como um irmão bem-amado e longamente esperado; a do mau, como um ser que se despreza. Comentário: A pessoa após a perda da matéria é recebida na dimensão extrafísica como o viajante que regressa, depois de longa viagem, ao seio de seus amigos e familiares. 28. As almas que devem unir-se estão predestinadas a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do universo, a sua metade, à qual algum dia se unirá fatalmente?

LE: Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam... Comentário: Trata-se de assunto de extrema complexidade, mas pode-se dizer que todos nós desde a criação somos dois em um. Temos a nossa alma gêmea, que é tudo que nós somos, guardando porém polaridade contrária à nossa. 29. Poderia acontecer que uma criança, que deve nascer não encontrasse espírito que quisesse encarnar-se nela?

LE: Deus proveria isso. A criança, quando deve nascer para viver, tem sempre uma alma predestinada: nada é criado sem um desígnio. Comentário: Já dissemos anteriormente que o simples nascimento de um corpo não caracteriza uma reencarnação. Existem mesmo muitos corpos que sobrevivem por muito tempo sem que um espírito esteja nele encarnado. Esse fato não é notado pelas pessoas que convivem com essas matérias que têm apenas vida física. No entanto, quando é gerado o corpo para uma criança e que ainda não foi assumido por alguém, normalmente um voluntário o assume, isso em respeito à matéria humana. 62


30. O momento da encarnação é seguido de perturbação semelhante ao que se verifica na desencarnação?

LE: Muito maior, e sobretudo mais longa. Na morte, o espírito sai da escravidão; no nascimento, entra nela. Comentário: À medida que o corpo físico da criança vai atingindo a idade que permite ao espírito assumi-lo, vai ocorrendo um esquecimento do mundo espiritual e, ao mesmo tempo, uma conscientização da matéria. É como se o espírito “apagasse” no mundo espiritual e “acendesse” no mundo físico. 31. Em que momento a alma se une ao corpo?

LE: A união começa na concepção, mas não se completa senão no momento do nascimento. Comentário: A união do espírito à matéria não ocorre com a concepção e tampouco com o nascimento. Essa união só se completa quando o corpo físico atinge os quatorze anos. É justamente nesse período que ocorrem as grandes transformações de ordem psicológica. Enquanto não se dá essa união o espírito apenas assiste à matéria, ligado energeticamente a ela. Essa tarefa inclusive pode ser delegada a outro espírito se o dono do corpo físico precisar se afastar temporariamente por algum motivo. 32. A união entre o espírito e o corpo é definitiva desde o momento da concepção? Durante esse primeiro período o espírito poderia renunciar a tomar o corpo que lhe foi designado?

LE: A união é definitiva, no sentido de que outro espírito não poderia substituir o que foi designado para o corpo... Comentário: Como foi dito anteriormente o espírito apenas exerce uma “vigilância” sobre a matéria, enquanto não se 63


completa a sua total formação, o que se dá por volta dos quatorze anos. Nesse intervalo de tempo, se houver necessidade, o próprio espírito reencarnante pode ser substituído por outro sem nenhum prejuízo para a matéria. 33. No intervalo da concepção ao nascimento, o espírito goza de todas suas faculdades?

LE: Mais ou menos, segundo a época, porque não está ainda encarnado, mas ligado ao corpo. Comentário: No lapso de tempo que medeia a concepção e o nascimento o espírito reencarnante tem total liberdade, pois é apenas um observador atento ao processo de formação de sua futura matéria. 34. Há, como indica a ciência, crianças que desde o ventre da mãe não têm possibilidade de viver? E com que fim isso acontece?

LE: Isso acontece frequentemente, e Deus o permite como prova, seja para os pais, seja para o espírito destinado a encarnar. Comentário: A natureza de forma inexorável segue seu curso independentemente de nossos desejos. Existem certas anomalias ou doenças hereditárias, já devidamente caracterizadas pela nossa ciência médica, que não permitem o prosseguimento normal do processo de gestação. Esse fato é também observado no processo reprodutivo dos animais. Não podemos assim creditar esses acontecimentos naturais a um procedimento de apenação de alguém, mesmo porque muitos desses casos quando submetidos a um tratamento criterioso são sanados e a gestação é coroada de êxito. 35. Há crianças natimortas, que não foram destinadas à en64


carnação de um espírito?

LE: Sim, há as que jamais tiveram um espírito destinado aos seus corpos: Nada devia cumprir-se nelas. É então somente pelos pais que essa criança nasce. Comentário: A morte intrauterina ocorre, via de regra, por problemas de ordem material ou mesmo por acidente e não por falta de designação de um espírito para ocupar o corpo. A bem da verdade, o corpo pode nascer com vida e assim permanecer por muito tempo sem que haja um espírito designado para ocupá-lo. 36. Toda criança que sobrevive tem, portanto, necessariamente, um espírito encarnado em si?

LE: Que seria ela sem o espírito? Não seria um ser humano.

Comentário: Em todos os casos em que o corpo físico sobrevive sem que haja uma pessoa para assumi-lo, aí não existe o Ser Humano, mas apenas matéria animal. 37. O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?

LE: Há sempre crime, no momento em que se transgride a lei de Deus. A mãe, ou qualquer outro, cometerá sempre um crime, ao tirar a vida à criança, antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser instrumento. Comentário: O aborto se situa no campo da moral e, em segundo plano, nos campos econômico e político. Sob o manto da moral muitas nações definem o aborto como crime e criam as penas correspondentes ao delito. Enquanto isso outras na65


ções fronteiriças admitem a prática do aborto. Uma observação mais criteriosa vai revelar que as nações com grandes espaços vazios a serem ocupados proíbem o aborto, enquanto que as nações com excesso de população quase sempre o admitem. Presentes esses fatos pergunta-se onde está o certo e o errado? Estaria por acaso na inspiração dos legisladores ou na vontade dos governantes? Acima disso tudo paira uma verdade: todo o processo de concepção e gestação é ato voluntário e nunca uma obrigação. Em um estado em que a pessoa esteja consciente de seus atos, ninguém deve dizer a ela o que deve ou não deve fazer. 38. Qual o caráter dos indivíduos em que se encarnam os espíritos brejeiros e levianos?

LE: São estouvados, espertos, e algumas vezes, seres malfazejos. Comentário: Entendemos que tanto as pessoas sem matéria, ou seja, que estão temporariamente no mundo espiritual como também aquelas que estão ocupando um corpo físico não devem ser rotuladas. Ao proceder-se desta forma, sujeita-se a cometer sérios enganos, pois como bem se vê trata-se de um julgamento exterior da pessoa. A análise em profundidade das causas e razões do seu comportamento revelaria uma realidade totalmente diversa do julgamento inicial. 39. É o mesmo espírito que dá ao homem as qualidades morais e as da inteligência?

LE: Seguramente que é o mesmo, e na razão do grau a que tenha chegado. O homem não tem em si dois espíritos. Comentário: As chamadas “qualidades morais” como já dissemos depende tanto das últimas encarnações como da pre66


sente vida na matéria. Se, por acaso, viveu em um meio ambiente - espaço e tempo - em que havia costumes baseados em uma moral severa, o espírito irá levar para a vida futura esses princípios como “registros” adquiridos no caminho percorrido. Esses registros não devem ser classificados como bons ou ruins, mas apenas “registros” de experiências vividas. A criança, criada dentro de padrões rígidos de comportamento, via de regra irá se pautar, na idade adulta, dentro daqueles padrões gravados em sua memória. Dessa forma, as “qualidades morais” não são do espírito, mas foram agregadas a ele. O ser humano em estado de consciência desperta não necessita de nossos ensinamentos morais, pois ele tem gravado no âmago do seu ser todo o ideal divino no ato da criação. Quanto à inteligência, que não devemos confundir com conhecimento, ela é atributo de todo espírito, mas para expressá-la no mundo material é necessário um veículo físico que forneça condição para isso. O que se observa é que raramente encontramos alguém realmente inteligente, mas por outro lado, encontramos muitas pessoas que têm conhecimento invulgar sobre algum aspecto da vida. Esse fato se deve aos graves problemas que possuem nossos corpos, não permitindo a manifestação plena da inteligência. Mas o espírito é sempre inteligente. 40. As faculdades do espírito se exercem com toda a liberdade, após a sua união com o corpo?

LE: O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria. Comentário: As pessoas quando estão na matéria usam suas faculdades e exercem suas capacidades de acordo com as possibilidades do corpo físico, que são propiciadas principalmente pelas áreas do cérebro que estão em funcionamento. 67


Como na maioria dos casos as áreas cerebrais estão quase todas inativas, o uso das potencialidades do espírito fica muito limitado. 41. Qual o objetivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o espírito que se modifica?

LE: É o espírito que retoma a sua natureza e se mostra qual era. Comentário: As mudanças psicológicas que ocorrem na adolescência se devem ao fato de ser esse o momento em que o espírito reencarnante assume efetivamente o corpo físico. Nessa oportunidade ele imprime seus caracteres particulares à matéria. 42. O espírito encarnado permanece voluntariamente no seu envoltório corporal?

LE: É como se perguntasse se o prisioneiro está satisfeito sob as chaves. O espírito encarnado aspira incessantemente à liberdade, e quanto mais grosseiro é o envoltório, mas ele deseja ver-se desembaraçado. Comentário: O espírito permanece voluntariamente no seu corpo físico porque gosta dele. É ele que lhe permite atuar na matéria. Se observarmos as pessoas cujos corpos estão em péssimo estado de conservação, apresentando exaustão quase total das forças e portanto ainda doenças graves, ainda assim elas lutam ferrenhamente para neles permanecer. 43. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

LE: Não, o espírito jamais está inativo. Durante o sono, 68


os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo, não mais necessitando do espírito, percorre o espaço e entra em relação mais direta com os outros espíritos. Comentário: Boa parte do tempo de repouso da matéria, o espírito está fora dela em seus afazeres extrafísicos. Muitas vezes, porém, o espírito tem necessidade de repousar na matéria, sentindo-se bem com isso.

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O carma ou lei de causa e efeito Carma deriva do sânscrito Kri, ou seja, fazer. Os povos hindus são os que mais empregam esta palavra, considerando-a como vocábulo técnico mais apropriado para designar a ação e o seu efeito correspondente nas encarnações sucessivas do espírito na Terra. Para eles toda ação é carma; qualquer trabalho ou pensamento que produzir efeito posterior é carma. É a lei de causa e efeito, espelhando saldo credor ou devedor na vida do espírito encarnado. Ainda dentro desse entendimento, a lei de causa e efeito registra as ações boas e más; a lei do carma, por sua vez, elabora o balanço dessas ações registradas e dá a cada pessoa o resultado que lhe cabe, seja positivo ou negativo. No sentido metafísico, a palavra carma diz respeito ao destino traçado e imponderável, que atua tanto nas coisas animadas como inanimadas, pois rege e disciplina todos os ciclos da vida, do finito ao infinito, do átomo ao planeta e do homem ao universo. Assim, é entendido que existe, pela tradição esotérica, o carma do homem, o da família, o da nação, o do continente, o da humanidade e outros. Somente à luz do verdadeiro entendimento pode-se dar a clareza necessária à história do carma. Ela se inicia de forma muito parecida com a de outros princípios religiosos existentes na face da Terra. O fundamento do carma guarda estreita analogia com outros ensinamentos basilares de certas seitas ou grupos religiosos que, no fundo, procuram manter as pessoas em um comportamento padrão capaz de induzi-las, com facilidade, a proceder como um grande rebanho. Desse modo, agindo conforme é determinado ao grupo a que pertence, o homem é conduzido pelos caminhos que lhe são impostos e nunca por onde está o ob70


jetivo de sua vida na matéria. Em outras palavras, o livre-arbítrio não é respeitado, isso em nome de certas leis que se apregoa emanadas do Criador. “O carma, em boa verdade, surgiu de uma interpretação errônea do princípio da energia causal. Essa energia faz parte de um conjunto de sete energias responsáveis pela existência de tudo, inclusive pela vida na dimensão física e espiritual. A energia causal, com sua força, faz girar a roda da vida, dando origem à multiplicação constante pela reprodução.”(26) O homem encarnado fez, de acordo com seu entendimento da época, uma adaptação do conceito dessa energia, transformando-a em uma lei que passou a imperar entre os homens. Os líderes espirituais encarregados da orientação de nossa humanidade tudo observaram. Dentro de um objetivo maior foi permitido que aquele entendimento errôneo da energia causal permanecesse porque era útil. Essa lei do carma, criada pelo homem, era útil porque serviu para criar nele um comportamento mais civilizado. A partir daí, as religiões e seitas passaram a incorporar esse princípio do carma, seja de forma direta ou sutil. O espiritismo, por sua vez, adaptou esse princípio, incorporando-o como a LEI DE CAUSA E EFEITO, tão conhecida de todos nós. A própria figura do pecado guarda em sua essência a lei do carma, pois conforme ensina a doutrina de algumas religiões, o pecador será julgado e poderá pagar seus pecados nas regiões infernais. Há que se destacar nesse ponto, o fato de que o livre-arbítrio do homem encarnado é respeitado pelas entidades superiores, no momento de transmitir ensinamentos ou mesmo permitir que certos entendimentos errôneos permaneçam ao longo do tempo, até o momento em que a consciência do Ser Humano possa assimilar o verdadeiro sentido desses ensinamentos. Mas o que nos interessa mais de perto, dentro da doutrina (26)

A Vida Dentro da Vida

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espírita, é a lei de causa e efeito. Ela está presente em toda a literatura espírita, constituindo-se em uma ignóbil apologia à dor e ao sofrimento. De início patenteamos nosso entendimento de que a dor e o sofrimento são mazelas humanas exclusivamente materiais, e como tais, têm suas origens nessa vida e seus efeitos se encerram aqui na matéria. Dessa forma, o balanço de nossos atos se encerra neta vida e neste corpo físico. Para as vidas futuras não restam quaisquer dívidas a pagar. Dentro desse entendimento, a afirmação de que o sofrimento é necessário à nossa evolução não resiste a qualquer argumento lógico. O sofrimento é um produto de doenças e deve ser banido da face da Terra. Admitindo-se, para fins de raciocínio, que o sofrimento fosse necessário ao homem, teríamos obrigatoriamente que saber por que sofremos. Caso contrário jamais aprenderíamos a lição e sempre estaríamos nos julgando injustiçados. A esse respeito é comum ouvirmos afirmações de que os filhos pagam pelos pais. Dentro de nosso entendimento isso não tem fundamento quando se trata de vidas sucessivas. O que se dá é que no mundo da energia o mais frágil pode receber alquilo que não lhe é endereçado. Dessa forma, a criança pode ser atingida por algum sofrimento que era destinado aos pais; isso não caracteriza um castigo de Deus, mas apenas resultado de ações entre os homens no mundo material. Por outro lado, porém, esses acertos de contas que acontecem entre os homens não ultrapassam uma vida para atingir a reencarnação seguinte. Se isso acontecesse, o chamado resgate de vidas passadas seria um fato verdadeiro. Cabe, no momento, a abertura de um parêntese para esclarecer uma questão: existem certos acontecimentos de uma encarnação que só podem ser desfeitos na própria matéria. Não se trata aqui de pagar dívidas de outras vidas, mas sim de vivenciar fatos já ocorridos em outras vidas para que a pessoa possa compreendê-los. Os traumas ocorridos em nossas vidas passa72


das são resolvidos à medida que nós entendemos os fatos que lhes deram origem. É a terapia do verdadeiro entendimento. A esse respeito, a título de exemplo citamos os casos de crimes hediondos que acontecem ao nosso redor. Nossa primeira reação é condenar o autor do delito, nos esquecendo que no passado ocorreram bárbaros massacres de pessoas – como nossos índios – que perderam seus corpos em meio a terrível violência, causando-lhes sérios desequilíbrios psicossomáticos. Regressam, agora, à matéria na condição de celerados, porque guardam esses registros deletérios, até o momento em que conseguirem compreender o porquê de seus comportamentos. Poderíamos chamar isso de carma? Não, pois aqui não há dívida a pagar nem resgate a cumprir, mas sim, registros desequilibrantes que precisam ser compreendidos e eliminados os seus efeitos nocivos. Entendemos que a adoção da lei de causa e efeito, pelo espiritismo, trouxe desvios na verdadeira rota que a doutrina devia seguir. Foi uma pequena parada em certo momento do tempo para incorporar um conceito já reinante à época no seio da humanidade. Mas, como nada se perde, tudo se aproveita, o conceito serviu nos primeiros tempos para obrigar o homem a meditar sobre suas ações. A lançar-se no espelho do futuro e reconhecer que havia o imperativo de mudar. O presente era o momento de plantar a semente desse futuro. Vê-se, portanto, que em geral o homem melhora sua conduta pessoal não pelo entendimento que brota da luz da consciência desperta, mas simplesmente por temor. O homem tem medo de que suas ações contrárias ao grande concerto da vida possam lhe trazer consequências danosas. Retomando a nossa argumentação, a doutrina espírita ao fazer essa pausa no tempo permitiu que o homem chegasse à altura de seus postulados, utilizando a escada de seu conhecimento e entendimento. Apesar do aparente contrassenso, essa aber73


tura permitiu, ao homem, a aceitação dos pressupostos espiritistas. Assim, a lei de causa e efeito se agregou ao espiritismo até o momento em que o homem pudesse dispensá-la pelo verdadeiro entendimento dos princípios basilares da doutrina. Importante lembrar também que o espiritismo sofreu influência, como não poderia deixar de ser, da cultura religiosa vigente ao longo de sua existência. Incorporou, inclusive, certos princípios e rituais de religiões contemporâneas. Com o início da difusão da doutrina através da literatura o homem teve acesso a farto material contendo os princípios espíritas atuais. A literatura básica contém ensinamentos sobre o mundo espiritual que talvez fossem adequados ao entendimento da humanidade daqueles tempos mas que não se ajustam ao homem de hoje. Como é natural, o Ser Humano teve um grande crescimento na sua capacidade de entender o mundo espiritual e a interligação com a matéria. Isso nos leva a concluir que o espiritismo e seus princípios precisam se adequar, através da mudança da linguagem, a esse homem da era do átomo e das viagens interplanetárias. A lei de causa e efeito, como um princípio do espiritismo, precisa ser revista para permitir que o Ser Humano, quando tiver acesso aos seus registros particulares, desta e de outras vidas, não queira contabilizar como prejuízos muitas experiências lucrativas e nem como dívidas para o futuro, fatos que na verdade são apenas acontecimentos circunscritos aos limites da matéria. Essa lei traz em seu bojo um ponto que a nosso ver não combina com a ideia que temos do Criador. De acordo com ela o homem é levado a aceitar passivamente a dor e o sofrimento, deixando de buscar no seu interior a luz do entendimento que leva à conclusão de que é inconcebível o Pai criar o filho para o sofrimento. O contrário, no entanto, é de fácil aceitação e de clarividente lógica. O Criador nos criou para crescermos e ser74


mos felizes. Se assim não somos devemos creditar isso aos defeitos de nossas matérias que não permitem o nosso acesso ao mundo espiritual e a nós mesmos. Portanto, a inaceitação dessa situação é de vital importância, pois isso significa que devemos lutar com toda nossa capacidade até atingirmos o domínio da matéria e sermos, então, senhores do sofrimento e da dor. De acordo com a lei do carma quase tudo que acontece ao homem que lhe seja desfavorável é atribuído a fatores pretéritos. Desde o nascimento em lar privado do mínimo conforto até o desencarne em situação de sofrimento pode ser enquadrado à conta de resgate de vidas passadas. A esse respeito cabe a interrogação: De que vale castigar o criminoso por um crime de que ele não tem a menor lembrança? Dentro do nosso conceito de justiça, isso seria justo? Entendemos que no estado de inconsciência não há culpado nem dívida ou mesmo mal. Somente sabemos se estamos agindo de acordo com a grande realidade da vida quando temos acesso aos nossos registros pela autoconsciência. A humanidade ainda levará muito tempo para se livrar da doença do pecado que é o irmão gêmeo do carma. Mais uma vez é bom lembrar que o Criador nos fez perfeitos e como tal permanecemos. Ocorre que no momento estamos utilizando um corpo imperfeito, o que torna nossa perfeição limitada e sujeita aos desequilíbrios da matéria. Portanto, é ponto fundamental que aprendamos a distinguir “nós” e “nossos corpos”, assim como não podemos confundir a “energia elétrica” que produz a luz com a “lâmpada” que ilumina. É chegado o momento de caminharmos com o espiritismo sem receios, sem medos, sem autocensura ou mesmo só pela intenção de agradar às pessoas que vivem no mundo espiritual, ou seja, os espíritos. O espiritismo deve ser entendido como uma ponte luminosa que liga os mundos material e espiritual. Caminho esse que deve ser compartilhado por todos aqueles 75


que sentem a necessidade de participar da pátria espiritual. Essa participação, essa busca da ligação com o outro lado da vida deve se realizar de forma espontânea e atendendo aos próprios anseios do Ser Humano e nunca pelo temor de dívidas contraídas ou mesmo para aplacar “dores de consciência”. Enfim, é a busca do recomeço. A busca do acesso a essa outra frequência que nos completa, nos reconforta e nos faz sentir novamente filhos do Criador. Verdadeiramente sentimos necessidade de retirar das costas do homem esse fardo pesado da culpa. Por qualquer mazela de que ele padece já é rotulado de devedor do pretérito. Mas que dívida é essa de que tantos falam e ninguém se recorda? Estaria, por acaso, o devedor inconsciente quando a contraiu? Onde estará e quem será o credor? Estaria também inconsciente? Por que não vem explicar ao devedor a origem de sua dívida? Bem, se nem o devedor nem o credor se lembram de uma dívida então ela não existe. Continuando a linha de pensamento, seria porventura o Criador o credor das nossas faladas dívidas? Admitindo-se essa hipótese caberia a interrogação: por que escolheria ele o pagamento na moeda da dor e do sofrimento? Teríamos por acaso sido criados por ele para aprendermos na escola das lágrimas e das lamentações? E por que não na faculdade do riso e da felicidade? Como se vê há uma infinidade de interrogações que vão tornando a ideia da Lei de Causa e Efeito cada vez mais distante do conceito que se deve ter da Justiça e do próprio Criador. Por outro lado, se pensarmos em pessoas com o mecanismo de raciocínio prejudicado por um cérebro defeituoso, com sistema de captação de energias deficiente e um conjunto glandular atrofiado, podemos até entender a origem dessa lei criada pelo próprio homem à sua “imagem e semelhança”. 76


O espiritismo de hoje caminha em sentido contrário à sua trilha de origem. Ele foi criado para quebrar um jugo e restabelecer a ligação com o mundo espiritual. Mas o que acontece de novo é a subjugação do homem encarnado a regras, práticas e rituais que não esclarecem, mas confundem, gerando mais dúvidas sem respostas. Quando ele busca a explicação ou o fundamento para certo fato não encontra os esclarecimentos desejados. Quanto às práticas e rituais desnecessários afirmam, as pessoas do mundo espiritual que é hora de trabalharmos dentro da realidade e dispensarmos a encenação. As formas pitorescas de intercâmbio espiritual devem ceder lugar à comunicação natural à semelhança daquela desenvolvida entre as pessoas encarnadas na matéria. A lei de causa e efeito, por sua vez, é uma espada psicológica sobre a cabeça do homem. Para aqueles que vivem na dor e no sofrimento é uma camisa de força que evita a reação para mudar. Nesse ponto ela é verdadeiramente cruel, pois faz com que a pessoa encarnada baixe a cabeça e se acostume com a dor, tornando-se sócio dela com todos os seus efeitos nocivos. Com o passar do tempo ela vai ficando anestesiada com o sofrimento e esquece todos os seus anseios, sua vontade de viver e de realizar, se transformando pouco a pouco em um animal de raciocínio minguado. Essa “camisa de força” colocada no homem animal traz-lhe benefícios, mas que têm o gosto do vinagre. Guarda semelhança ao caso do animal de serviço que não suportando a carga se recusa a caminhar. Ao sentir o açoite da chibata e a ferida se abrir ele reúne forças e se arrasta. Quando a ferida sara a cicatriz permanece, mostrando que nem o tempo consegue apagá-la. Assim, é o Ser Humano que passa pela ESCOLA DA DOR, guardará para sempre em um compartimento escuro de sua memória o “registro do sofrimento”. Mas teria sido mesmo necessário o seu sofrimento? Dentro do verdadeiro entendimento não pode existir SOFRIMENTO 77


NECESSÁRIO. Se existe alguém que pensa o contrário e se submete a ele é porque ali impera o desequilíbrio da faculdade do raciocínio. Se a sanidade mental está ausente então a organização física está a mercê dos acidentes possíveis na longa caminhada da vida. O espiritismo não pode trocar o trigo pelo joio. O seu PRINCÍPIO MAIOR, tem que ser a VERDADE iluminada pela luz do RACIOCÍNIO. Da mesma forma, o ENTENDIMENTO deve ser sempre o guardião do homem para que o sofrimento e a dor não venham habitar com ele. TERÍAMOS, POR ACASO, SIDO CRIADOS PARA APRENDERMOS NA ESCOLA DAS LÁGRIMAS E DAS LAMENTAÇÕES? E POR QUE NÃO NA FACULDADE DO RISO E DA FELICIDADE?

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Questões relativas ao tema 1. De que serve aos espíritos seguirem o caminho do bem, se isso não os isenta das penas da vida corporal?

LE: Chegam mais depressa ao alvo. Além disso, as penas da vida são frequentemente a consequência da imperfeição do espírito. Quanto menos imperfeito ele for menos tormento ele sofrerá. Comentário: Partindo do pressuposto de que “nós somos criados perfeitos e o Criador não vê defeitos em sua obra”, tudo é experiência e se ocorrem desvios devemos creditar isso não ao condutor, mas ao veículo conduzido. (27) As chamadas “penas” são consequências naturais dos atos praticados dentro de um estado de inconsciência. Não se trata, portanto, de imperfeição do espírito, mas de defeito da matéria. 2. No estado errante, antes de tomar nova existência corpórea, o espírito tem a consciência e a previsão do que lhe aconteceu durante a vida?

LE: Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer, nisto consiste o livre arbítrio. Comentário: O espírito escolhe e traça seu projeto de vida e acha que tudo correrá conforme planejou. Ele pensa, inclusive, que conseguirá resolver todos os problemas que rondam sua futura matéria. Mas, ao mergulhar no ambiente físico ele vai pouco a pouco esquecendo tudo o que sabia antes, inclusive o que havia planejado para a sua existência. Esse esquecimento se torna tão profundo que atinge o estado de inconsciência, não lembrando, a partir daí, nada mais de (27)

As Possibilidades do Infinito

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seu passado e do seu planejamento para o futuro. 3. Como o espírito pode querer nascer entre gente de má vida?

LE: É necessário que ele seja enviado a um meio em que possa sofrer a prova que pediu. Pois bem: o semelhante atrai o semelhante, e para lutar contra o instinto do banditismo, é preciso que ele se encontre entre gente dessa espécie. Comentário: Como foi dito anteriormente ao planejar ou acertar certas condições de vida, o espírito acha que conseguirá resolver tudo, mas o que acontece em geral é a sua falência diante da força que governa o mundo físico. Se ele escolheu viver entre “pessoas de má vida” é porque essa experiência era importante para ele, mas não como prova. 4. Se não houvesse gente de má vida na Terra, o espírito não poderia encontrar nela o meio necessário a certas provas?

LE: E deveríamos lamentar isso? É o que acontece nos mundos superiores, onde o mal não tem acesso; é por isso que neles só existem bons espíritos. Comentário: Os espíritos não encarnam para pagar dívidas ou se submeter a provas, mas para buscar experiências novas, visando tornar concretos seus objetivos de vida. Nos mundos onde as pessoas são conscientes o mal simplesmente não existe, donde se conclui que o chamado mal tem origem na inconsciência humana. 5. O espírito faz sua escolha (da nova existência) imediatamente após a morte?

LE: Não, pois muitos creem na eternidade das penas, como já vos disse, isso é um castigo. 80


Comentário: Depende do nível de consciência ao deixar o corpo físico. Se ocorrer o desenlace de forma traumática, causando um estado de inconsciência profundo ele terá um tempo maior de recuperação. Ao contrário, se a perda do corpo físico se deu sem grandes traumas, de forma que não ocasionou grande perda de consciência, ele terá maior facilidade para se posicionar com relação à sua vida futura. 6. Ao que se devem as vocações de certas pessoas, e sua vontade de seguir uma carreira em vez de outra?

LE: Parece-me que podeis responder por vós mesmos a esta questão. Não é a consequência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas e sobre o progresso realizado numa existência anterior? Comentário: As atividades desenvolvidas pelo espírito em vidas passadas e das quais ele gosta se insinuam nas vidas futuras sob a forma de um desejo de envolvimento com elas. Às vezes é tão forte esse desejo que a pessoa abandona carreiras promissoras para se dedicar a uma outra atividade aparentemente sem nenhum atrativo. 7. Qual é o objetivo da Providência, ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas?

LE: São os espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos, e pela impossibilidade em que se encontram, de se manifestar através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos. Comentário: O Criador na verdade não cria seres imperfeitos e sua obra é toda perfeita. Os casos que conhecemos de pessoas que se inserem no conceito humano de excepcionais se devem a defeitos da matéria oriundos da combinação genética ou ainda a outros casos de patogenia diversa. O espírito ao 81


constatar que o corpo físico em que ele vai reencarnar apresenta grave problema desse naipe acha que pode dar solução ao defeito. No entanto, ao assumir esse corpo se depara com uma situação que está acima de suas capacidades, mesmo porque ele logo mergulha na inconsciência e tudo esquece. “O CARMA HUMANO TEVE ORIGEM, NO PASSADO, EM UM ERRO DE INTERPRETAÇÃO DO HOMEM ENCARNADO”, MAS QUE AGORA PRECISA SER CORRIGIDO.(28)

(28)

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A Vida Dentro da Vida


O bem e o mal O que é o Bem e o Mal? Seria uma lei deixada pelo Criador ou um sistema implantado pelo próprio homem ao longo do tempo? Responder a essas questões significa, antes de tudo, dissecar o Ser Humano, tanto no seu aspecto físico como também no espiritual que viveu ontem, vive hoje e viverá amanhã. Aqui as dobras do tempo não causam interrupções, mas constituem apenas e tão somente pequenas paradas e subsequentes recomeços. A vida e tudo o mais que existe segue o princípio da dualidade. Ao frio se contrapõe o calor, ao alto se coloca o baixo, para o longe existe o perto e assim por diante. Para que possa existir o Bem é necessário que exista o Mal. Um não existe sem o outro, assim como a luz não existe sem a treva, pois uma dá existência à outra. Comecemos pelo Bem. O que é o Bem? É o que aprendemos com outras pessoas? Com nossos pais? Com nossos amigos? Ou com nossos professores? Mas, quem ensinou para eles o que é o Bem? Foram seus pais? Seus professores? Ou seus amigos? E a esses últimos quem ensinou o conceito de Bem? Da mesma forma, podemos raciocinar sobre o conceito de Mal. Neste ponto voltamos à pergunta: seria uma lei deixada pelo Criador? Se verdadeira a afirmação, por que o Bem e o Mal mudam, muitas vezes, de face ao atravessarmos uma simples fronteira de um país? Teria o Criador conceituado um bem para um povo e para outro esse mesmo bem já seria mal? Dentro dessa lógica entendemos que o Bem e o Mal não se encontram dentro da obra do Criador. Porém, se não foi do Criador, onde está a origem do con83


ceito de Bem e Mal? O Bem e o Mal constituem um sistema dentro de outro sistema maior. O sistema Bem e Mal foi sendo engendrado pelas organizações ao longo da história do homem. Esse sistema teve ao longo do tempo suas adaptações, seus aperfeiçoamentos, em uma tentativa de acompanhar o melhoramento físico e mental do homem. Nesse processo de adaptação através dos tempos, cada nação ou região da Terra foi dando uma feição própria ao seu sistema Bem e Mal. Assim é que muita coisa é considerada um bem em um país, em outro pode ser vista como um mal e vice-versa. Um fato pode ser um bem para um homem e para outro ser um mal. Em um mesmo país uma pessoa que tira a vida de outra pode ser condenada, mas se o fato se dá em uma guerra ela pode ser glorificada. Dentro do exposto, o Bem pode ser coletivo, individual, permanente, temporário, físico, espiritual e outros. Vê-se assim que o conceito de Bem pode ser tão elástico como a nossa própria imaginação. Mas e o Mal? Seria tudo aquilo que se contrapõe muitas vezes ao Bem? Mas o próprio Bem de uma pessoa não se contrapõe muitas vezes ao Bem de outra? Daí pode-se concluir que o Bem muitas vezes se confunde com o próprio Mal, dependendo apenas do ângulo em que se analisa a questão. Se observarmos com atenção o Bem e o Mal veremos que são como os pratos de uma balança que pretende medir os atos do Ser Humano. No meio, de forma equidistante dos pratos está o fiel da balança que aqui podemos chamar de consciência humana. Se a pessoa está inconsciente, como é o caso dos habitantes da Terra, ela vai se pautar pelo movimento dos pratos e não pela observação do fiel da balança. Se por acaso o peso é maior do lado esquerdo e o prato desce, ela logo se coloca do lado negro da vida. Assim agindo, e usando o referencial de Bem e Mal, que lhe foi passado por outras pessoas ou grupos que pertença, ela logo irá sentir a dor da culpa por estar 84


do lado do mal. Ao contrário, se o prato da balança pende para o lado direito, o lado do Bem, aí então ela vai se sentir venturosa por estar do lado do Bem e, em seus pensamentos, já bailará, muitas vezes, as imagens do paraíso distante. Agora, por derradeiro, imaginemos que a pessoa em questão fosse consciente e não estivesse utilizando um corpo físico com os bloqueios e desequilíbrios energéticos próprios dos corpos humanos atuais, como ela veria a balança e os seus pratos? Será que ela se guiaria pelo movimento dos pratos ou os veria apenas como instrumentos? Não seria mais próprio afirmar que ela se guiaria pelo fiel da balança, que no caso, é a sua consciência desperta, e desprezaria os pratos recheados de conceitos errôneos que estão sujeitos às ações do tempo, do espaço e das conveniências humanas? O sistema Bem e Mal foi criado com a finalidade de limitar e direcionar o comportamento do homem, enquanto inconsciente. É bem verdade que teve e ainda terá por muito tempo a sua utilidade. Mas nem por isso podemos confundir o real com o irreal, a sombra com a luz. O Bem e o Mal só existem como subproduto da inconsciência humana. Não têm, portanto, existência real sem a sua mãe inconsciência, que os pariu, deu-lhes vida, alimentou-os e os fez verdugos e juízes do próprio Ser Humano. O homem precisa entender o sistema Bem e Mal, viver nele mas não o aceitar como uma realidade eterna que existe em todos os mundos, aplicável a todos os seres humanos. Esse mecanismo foi uma das muletas criadas para que o homem pudesse caminhar e chegar aos nossos dias, mesmo caminhando pela escuridão sem saber de onde vinha nem para onde ia. O Ser Humano, quando criado, trás dentro de si um registro indelével que o torna possuidor da vontade do Criador. A criatura divina, que todos nós somos, foi criada perfeita e não há necessidade de reparos. Mesmo porque se houvesse essa real 85


necessidade somente o Criador seria capaz de detectá-la. O homem, em sua condição original de consciência plena, não necessita do sistema Bem e Mal ou de qualquer um dos outros sistemas que foram implantados na Terra. Tampouco necessita de leis escritas ou faladas que regulem suas ações no meio social. Dispensa, da mesma forma, qualquer ordenamento jurídico nos moldes do nosso que dê sustentação aos seus direitos e o convoque, ao mesmo tempo, à observação de seus deveres. Nesse estado de consciência plena permanece sempre o princípio do entendimento pleno de tudo que rodeia a pessoa humana. Além disso, tem profundo conhecimento da matéria que ele habita e do seu mundo interior. Cabe nesse ponto a interrogação: onde está a grande muralha que separa o homem consciente do inconsciente? Muralha que criou o homem que sofre e que chora, que fere e que mata o seu semelhante, que dorme o grande sono da encarnação e não se lembra de quem era ontem, barreira que criou um novo homem para viver no passado ou no futuro mas nunca no presente? Essa muralha de colossal dimensão é formada pelos BLOQUEIOS DA MATÉRIA HUMANA. Ela é a grande responsável por todas as causas do sofrimento humano. É ela também que separa esse homem sofredor daquele outro que é livre, que não sofre, que vive o passado e o futuro no presente e que ama profundamente o seu semelhante. Assim, o sistema Bem e Mal foi criado para um momento da humanidade. E esse sistema só é aplicável ao homem inconsciente criado pela “muralha”. Para o homem autoconsciente esse sistema é inócuo e não tem qualquer utilidade, é como tentar clarear o dia, acendendo velas à luz do sol.

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Questões relativas ao tema 1. Os espíritos são bons ou maus por natureza ou são eles mesmos que procuram melhorar-se?

LE: Os espíritos se melhoram e passam de uma classe inferior para uma superior. Comentário: Os espíritos são criados perfeitos, nem bons nem maus. 2. Os espíritos foram criados bons e outros maus?

LE: Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. Adquirem conhecimentos passando pelas provas que Deus lhe impõe. Comentário: Partindo do pressuposto de que os conceitos de Bem e de Mal possuem origem humana e são extremamente relativos, entendemos que o Criador, no ato supremo da criação, estaria muito distante dessa divisão ditada pelos homens. Os caminhos que cada um busca para suas experiências são ditados pelo seu livre arbítrio e não em função de provas. 3. Segundo isto, os espíritos, na sua origem, se assemelham a crianças, ignorantes e sem experiência, mas adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as diversas fases da vida?

LE: Sim, a comparação é justa: a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; seu menor ou maior aproveitamento depende de sua docilidade. Comentário: Primeiro as crianças não são ignorantes e sem experiência, mas são apenas matérias em formação e cujo ocupante ainda não assumiu o controle da organização física. 87


Por outro lado, repetimos, os espíritos são criados perfeitos e dotados com os registros de seu tempo. Possuem, como criaturas perfeitas dentro da criação, todas as capacidades para assimilar conhecimentos e distinguir, entre vários caminhos, o que melhor lhes convém para atingir seus objetivos. 4. Há espíritos que ficarão perpetuamente nas classes inferiores?

LE: Não; todos se tornarão perfeitos. Comentário: Não existem classes de espíritos inferiores, todos são perfeitos e se são perfeitos, uns não podem ser inferiores a outros. Existem, isto sim, experiências diferentes vividas por uns e por outros. É possível um pai afirmar que um filho seu é inferior ao outro? Ou é mais adequado ele afirmar que um filho seu tem características individuais diferentes do outro? 5. Depende dos espíritos apressar o seu avanço para a perfeição?

LE: Certamente. Eles chegam mais ou menos rapidamente, segundo o seu desejo e a sua submissão à vontade de Deus. Comentário: Isso é certo. É como o viajante que mais se dedica à sua jornada, mais rápido alcançará seu objetivo. Mas, por outro lado, devemos perguntar, o que é a perfeição? Uma pedra é perfeita? Uma árvore, uma flor, um animal, são também perfeitos? Entendemos que sim. Então podemos concluir que estamos cercados de perfeições do Criador. Mas, e essa outra perfeição a que se refere a questão? Bem, essa perfeição humana é um ideal que será sempre perseguido pelo Ser Humano. 6. Deus pode livrar os espíritos das provas que devem sofrer para chegar à primeira ordem? 88


LE: Se tivessem sido criados perfeitos, não teriam merecimento para gozar dessa perfeição. Comentário: Partimos sempre do pressuposto básico de que: o Ser Humano foi criado perfeito e as chamada provas não passam de uma tentativa, do próprio homem, de explicar as diferentes experiências vividas por uns e outros na matéria. Se essas “provas” realmente existissem as pessoas que nascem nos países pobres sempre estariam em provas, ao passo que nos países ricos raramente iríamos encontrar alguém “em provas”. Quanto à classificação dos espíritos em ordens nunca ouvimos falar de sua existência na dimensão espiritual. Acreditamos que foi um mecanismo criado aqui na tentativa de explicar o mundo espiritual. 7. Todos os espíritos passam pela fileira do Mal, para chegar ao Bem?

LE: Não pela fileira do mal, mas pela da ignorância. Comentário: Os espíritos não são destinados às fileiras do Mal nem às do Bem, porque essas duas figuras são apenas conceitos humanos e não realidades oriundas do Criador. 8. Como podem os espíritos, em sua origem, quando ainda não têm a consciência de si mesmos, ter a liberdade de escolher entre o Bem e o Mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um lado que para outro?

LE: O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o espírito adquire consciência de si mesmo. Não haveria liberdade, se a escolha fosse provocada por uma causa estranha à vontade do espírito. A causa não está nele, mas no exterior, nas influências a que ele cede em virtude de sua espontânea vontade. Comentário: Os espíritos não seguem o caminho do Bem 89


e do Mal, mas vivem experiências no meio físico que vão ser influenciadas por vários fatores, tais como: meio ambiente, época da reencarnação, costumes, condição social e outros. 9. De onde vêm as influências que se exercem sobre o espírito?

LE: Dos espíritos imperfeitos que procuram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam felizes de fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis representar na figura de Satanás. Comentário: A comunicação entre os espíritos mesmo em frequências diferentes é possível e ocorre. Não podemos, no entanto, creditar as mudanças de comportamento e os atos das pessoas só às influências espirituais. Essas influências, quando existem, têm suas raízes na própria pessoa encarnada. NÃO EXISTEM ESPÍRITOS SUPERIORES E INFERIORES. O CRIADOR PROVEU A IGUALDADE QUANDO DISTRIBUIU O CONHECIMENTO ENTRE TODOS OS SERES HUMANOS. O CONHECIMENTO INTEGRAL SÓ É ATINGIDO COM O SOMATÓRIO DO CONHECIMENTO INDIVIDUAL. 10. Por que Deus permite que os espíritos possam seguir o caminho do Mal?

LE: A sabedoria de Deus se encontra na liberdade de escolha que concede a cada um porque, assim, cada um tem o mérito de suas obras. Comentário: Se a pessoa não prova o gosto do sal não saberá reconhecer o sabor do doce; se não andar descalço sobre os pedregulhos do caminho não saberá o valor do chinelo rústico. Desse modo, tudo é experiência, tudo é aprendizado. 90


11. Havendo espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do Bem absoluto, e outros o do Mal absoluto, haverá gradações, sem dúvida, entre esses dois extremos?

LE: Sim, por certo, e estão na grande maioria. Comentário: Como podemos saber que o espírito seguiu, desde o princípio, o caminho do Mal ou do Bem absoluto? Anteriormente já comentamos que o Bem e o Mal são conceitos extremamente relativos e por isso mesmo de difícil assimilação pelo homem em seu estado de inconsciência. Assim, é muito temerário alguém afirmar que uma pessoa segue o caminho do Bem ou do Mal; para isso teríamos que conhecer até o seu objetivo de vida e isso só ela conhece e possui em seus registros. 12. Os espíritos que seguiram o mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?

LE: Sim, mas as eternidades serão mais longas para eles. Por essa expressão, as eternidades, deve-se entender a ideia que os espíritos inferiores fazem da perpetuidade dos seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver. Comentário: Não existem caminhos do mal e caminhos do bem, mas experiências vividas de colorações diferentes que vão paulatinamente atuando sobre o estado de consciência do Ser Humano encarnado. 13. Os espíritos que chegam ao supremo grau, depois de passarem pelo Mal, têm menos mérito que os outros, aos olhos de Deus?

LE: Deus contempla os extraviados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados maus porque sucumbiram; antes, não eram mais que simples espíri91


tos.

Comentário: Se esse supremo grau existe, ele deve ser a suprema perfeição. Mas essa perfeição só deve existir enquanto um ideal a ser alcançado, pois sendo o crescimento espiritual infinito, os espíritos que aí aportassem estariam condenados à infinita estagnação. 14. De onde vem para o homem as suas qualidades morais, boas e más?

LE: São as do espírito que está nele encarnado; quanto mais puro esse espírito, mais o homem é propenso ao bem. Comentário: O homem em seu estado de inconsciência tem em seu mundo interno um somatório de experiências vividas em muitas vidas. Muitas delas mais marcantes do que outras, trazendo seus reflexos para o presente. Coadjuvando com esses reflexos do passado, o corpo físico também ditará suas normas. O indivíduo, dessa forma, balizará sua conduta influenciado ainda pelo ambiente, pelos costumes, pela família e outros fatores. 15. Parece resultar daí que o homem de bem é a encarnação de um bom espírito, e o homem vicioso a de um mau espírito?

LE: Sim, mas dize antes que é um espírito imperfeito, pois de outra forma poderia crer-se nos espíritos a que chamais demônios. Comentário: Partimos sempre do princípio de que não existem espíritos imperfeitos, mas sim corpos físicos em estado imperfeito. Assim, um homem afeito aos vícios atende em geral à solicitação de seu corpo, já que ele é comandado e não comanda. Os chamados vícios quase sempre passam de pai para filho, na forma de um registro. A classificação que se dá aos homens de bons e maus deveria ser dada pela via da matéria 92


que ele usa e não ao próprio espírito, já que a matéria do homem é a principal responsável pela conduta do Ser Humano. É semelhante ao cavaleiro que não consegue dominar seu animal e dá causa a vários tipos de acidente. 16. Que definição pode dar-se à moral?

LE: A moral é a regra para bem se conduzir, quer dizer, para distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo em vista e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus. Comentário: Dentro do sistema criado, a moral é o veículo que pretende conduzir o homem ao caminho do bem. Ela, como o Bem e o Mal, é uma regra de conduta criada ao longo do tempo, para limitar a liberdade do homem e direcionar seus passos. É extremamente relativa e muda de acordo com uma região do mesmo país ou mesmo de uma camada social para outra. Portanto, a moral se baseia antes na conveniência dos homens do que em “leis do Criador”. 17. Como se pode distinguir o Bem do Mal?

LE: O Bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o Mal, tudo que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei. Comentário: O Ser Humano encontra, muitas vezes, dificuldade em fazer a distinção entre o Bem e o Mal. Pratica um com a intenção de praticar o outro. Isso devido à relatividade que existe entre ambos. A maior dificuldade de assimilação do conceito do Bem e do Mal se encontra no entendimento diferenciado das pessoas. “Esse entendimento é fornecido pelo número de impulsos e pela frequência cerebrais.” Ambos variam de um corpo físico para outro. Logo se vê que o entendimento vai variar de pessoa para pessoa; o conceito “Bem e 93


Mal” vai ter coloração diferente para cada indivíduo. 18. O homem tem meios de distinguir por si mesmo o Bem e o Mal?

LE: Sim, quando ele crê em Deus e quando quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um do outro. Comentário: O único meio de o homem compreender o sistema Bem e Mal é melhorando o seu entendimento, caso contrário é seguir os outros mesmo sem saber se eles estão no caminho que melhor lhes convenham. 19. Por que o Mal se encontra na natureza das coisas? Falo do Mal moral. Deus não poderia criar a humanidade em melhores condições?

LE: Já te dissemos: Os espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa ao homem a escolha do caminho: Tanto pior para ele, se seguir o mal: sua peregrinação será mais longa... Comentário: O Mal não se encontra na natureza das coisas, mas foi engendrado pelo próprio homem por não entender a realidade que o rodeia, como também por não diferenciar o que é o Ser Humano e o que faz parte de sua matéria (corpo físico). 20. O selvagem que cede ao instinto, ao se nutrir de carne humana, é culpado?

LE: Eu disse que o Mal depende da vontade. Pois bem: o homem é tanto culpado, na medida em que melhor sabe o que faz. Comentário: Onde há inconsciência não pode haver culpa; mesmo onde existe a consciência não há a culpa mas a responsabilidade. 94


21. O uso de sacrifícios humanos remonta à mais alta antiguidade. Como pode o homem acreditar que semelhantes coisas pudessem ser agradáveis a Deus?

LE: Primeiro, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade; entre os povos primitivos, a matéria sobrepõe-se ao espírito; eles se entregam aos instintos animais, e por isso são geralmente cruéis, pois o senso moral ainda não se encontra neles desenvolvido. Comentário: É o que temos afirmado. O Bem e o Mal são conceitos relativos e o homem muitas vezes se engana na aplicação de um ou de outro. É o caso dos sacrifícios humanos que buscam, em síntese, as graças de Deus (um bem), utilizando-se de uma prática condenável. 22. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que leva os povos fanáticos a exterminar o mais possível os que não partilham de suas crenças, com o fim de agradar a Deus, parece ter a mesma origem dos que antigamente provocavam os sacrifícios humanos?

LE: Esses povos são impulsionados pelos maus espíritos, e fazendo a guerra aos semelhantes, vão contra Deus, que manda o homem amar ao próximo como a si mesmo. Todas as religiões, ou antes, todos os povos, adoram um mesmo Deus, quer sob este ou aquele nome, e como promover uma guerra de exterminação, porque a religião de um é diferente ou não atingiu ainda o progresso daquelas dos povos esclarecidos? Comentário: É o reinado da inconsciência humana, chegando-se ao ponto de decretar a liquidação de nações inteiras em nome do Deus “justo e bom”. Aliás, nos dias de hoje fatos semelhantes são praticados por “adoradores de Deus”, mas que odeiam aos homens, esquecendo-se que o Criador e a criatura 95


são um e não é possível amar a um sem amar à outra. 23. As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural?

LE: Tudo o que entrava a marcha da natureza é contrário à lei geral. Comentário: O Ser Humano quando encarna não tem por obrigação reproduzir outros corpos físicos. Muitas pessoas, inclusive, têm várias passagens pela matéria sem gerar filhos. Portanto, devemos partir do princípio de que o corpo humano tem um dono e cabe a ele a decisão de submetê-lo ou não à reprodução. Esse princípio nos diferencia do animal cujo automatismo da natureza segue sempre o seu curso. Por outro lado, se a pessoa humana encarnada se mantiver de forma passiva e não fizer uso de sua capacidade de decidir, o automatismo da matéria também, nesse caso, seguirá o seu curso. 24. Que pensar dos usos que tem por fim deter a reprodução, com vistas à satisfação da sensualidade?

LE: Isso prova a predominância do corpo sobre a alma, e quanto o homem está imerso na matéria. Comentário: Um dos maiores problemas que os habitantes da Terra tem a resolver é o do sexo. É o centro de força mais utilizado e por isso mesmo o mais forte. A sensualidade é própria do Ser Humano que já foi criado com ela e não a adquiriu posteriormente em contato com a matéria. Mas, ao reencarnar e assumir um corpo em estado de desequilíbrio, esta força também é submetida ao mesmo processo desequilibrante. 25. O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres, 96


é contrária à lei da natureza?

LE: É um progresso na marcha da humanidade. Comentário: Outro grande problema a ser resolvido pelo Ser Humano é o dos filhos. O casamento foi um sistema criado no passado para proteger a prole. Antes do evento do casamento a reprodução humana passava por dificuldades porque os fatores como segurança, alimentação e todos os demais cuidados com os filhos ficavam só com a mãe que sozinha não possuía meios de se desincumbir da tarefa. A maneira encontrada foi a de ligar o homem à mulher e formar o grupo familiar. O processo funcionou nos primeiros tempos, mas hoje se encontra em estado de falência como bem comprovam os milhares de crianças abandonadas e sem meios de subsistência. Devemos lembrar, no entanto que foi um sistema criado para um momento de emergência, logo após o grande acidente, não significando com isso que ele seja o melhor ou que não existam outros. 26. Qual seria o efeito, sobre a sociedade humana, da abolição do casamento?

LE: O retorno à vida animal Comentário: O casamento é um contrato e como tal pode ser mudado, na forma e na essência. Pode se transformar em pacto verbal, ou tomar outras formas. O próprio regime jurídico já se adapta a essa nova realidade da coabitação informal, oferecendo o agasalho da lei aos filhos e à mulher. Portanto, o casamento nos moldes antigos é uma instituição que permanece mais pela tradição do que pela utilidade que ela representa de proteção aos filhos. Para o objetivo primordial para que foi criado pouco se presta, pois o número de casos em que um dos cônjuges abandona a sociedade é imenso. Assim a quantidade de crianças abandonadas pelos pais ou que se apresenta sem 97


pais conhecidos também é imensa, logo o casamento perdeu a sua finalidade primeira que é a proteção da prole. Nestes termos, e atendo-se antes à realidade dos fatos do que à teoria, conclui-se que o casamento permanece ainda mais pelo apego ao ritual, pelo costume e pela tradição, do que pela real necessidade. Em realidade, o que falta é um maior nível de entendimento do homem para que ele perceba que sem a criança não há futuro. Dessa forma, todo investimento deve primeiro visar à criança, pois cada criança que nasce é o futuro que brota no presente. 27. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia é mais conforme à lei natural?

LE: A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, deve se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há verdadeira afeição; não há mais do que sensualidade. Comentário: A poligamia e tampouco a monogamia pertencem à lei natural que existe em nós como registro, desde a criação. Ambas são criações humanas na tentativa de organizar o caos que se instalou entre os habitantes da Terra após o grande acidente. Um dia, quando o homem conquistar a sua autoconsciência, todos os costumes, tradições e leis contrárias aos nossos registros internos deixados pelo Criador, serão banidos do planeta e a Terra então caminhará para o verdadeiro progresso. 28. Com que fim Deus fez atrativos os gozos dos bens materiais?

LE: Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão, e também para o provar na tentação. 98


Comentário: Todos os atrativos da matéria são obra do Criador. O Ser Humano não foi criado para o sofrimento, que deve ser classificado como uma anomalia, um tipo especial de doença do homem do presente. O contrário é verdadeiro, a nossa caminhada deve ser plena de satisfação, alegria e prazer porque somos criaturas divinas, filhos do GRANDE PAI. 29. Com que fim Deus castiga a humanidade com flagelos destruidores?

LE: Para fazê-lo avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para regeneração moral dos espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? Comentário: As catástrofes geralmente são naturais, ou seja, aquelas que ocorrem de forma espontânea, sem a intervenção humana, como também podem ser provocadas pelo homem. Ele é causador de desequilíbrio sobre a natureza porque age de forma inconsciente sobre ela. Por outro lado, o Criador jamais envia flagelos para castigar o homem a fim de conduzi-lo à perfeição. Uma perfeição conseguida à custa de dor e sofrimento seria uma PERFEIÇÃO IMPERFEITA. 30. Há pessoas que deduzem, do abandono das crias pelos animais, que os laços de família, entre os homens, não são mais que o resultado de costumes sociais, e não uma lei natural. Que devemos pensar disso?

LE: O homem tem outro destino que não o dos animais; por que, querer sempre identificá-los? Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas: há a necessidade do progresso, os liames sociais são necessários ao progresso, e os laços de família resumem os liames sociais. 99


Eis porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a se amar como irmãos. Comentário: A grande diferença que existe entre o homem e o animal irracional é que no interior do homem material existe o Ser Humano eterno, que pode ver, sentir, raciocinar e aprender, e até planejar o seu futuro. O semelhante, para o homem consciente, é sempre amado e reconhecido como irmão. 31. A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?

LE: Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois compreendendo melhor o que é o Mal, dia a dia corrige seus abusos. Comentário: O Ser Humano em verdade não recua, mas seu corpo físico ao contrário pode se desequilibrar ainda mais do que o estado em que ele se apresenta. Esse estado pode ser observado em nossos dias quando o homem se torna cada vez mais irritado e agressivo. Na verdade, não é o espírito que se encontra irritado e agressivo, mas a matéria que ele usa. Em muitos casos o desequilíbrio do corpo físico é tão grande que o seu dono perde totalmente o domínio sobre ele. Nesses casos tudo pode acontecer. 32. Certas pessoas não escapam a um perigo mortal senão para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?

LE: Fatal no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-se. Comentário: A fatalidade em boa verdade não existe. Nem 100


a morte tem seu momento definido para ocorrer. Se ela tivesse o seu momento marcado seria mais prático, conforme entende a maioria das pessoas, sentar-se confortavelmente e “esperar a morte chegar”. No tocante à velhice, ela é uma doença curável e assim sendo, a morte por essa causa pode deixar de existir da forma e no tempo em que nós a conhecemos. As mortes por acidentes ou provocadas não têm tempo nem hora para acontecer. Ocorrem por uma ação, omissão, negligência ou acontecimento fortuito. 33. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos, se a nossa hora não chegou?

LE: Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos, mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência. Comentário: A perda do corpo físico por morte acidental ou provocada pode acontecer a qualquer momento. Cabe a toda pessoa o uso da prudência. 34. Qual o fito da providência, fazendo-nos correr perigos que não devem ter consequências?

LE: Quando tua vida se encontra em perigo, é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviar do Mal e te tornar melhor... Comentário: O homem em sua inconsciência tem o costume de atribuir a Deus tudo o que acontece na matéria. Os perigos que corremos em nossas vidas materiais são próprios das condições do ambiente terrestre. O Ser Humano por meio do 101


raciocínio e discernimento pode se livrar, por si só, da maioria dos perigos. Por outro lado, não é lógico que o Ser Humano vá desejar perigos para si mesmo como advertência contra o Mal e para se tornar melhor. 35. O espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?

LE: Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma que de outra maneira; mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para evitar, e que se Deus o permitir, não sucumbirá. Comentário: Como já foi dito anteriormente, espírito encarnado não tem data marcada para deixar o corpo físico. Um acidente pode ocorrer em qualquer circunstância e a qualquer momento, valendo aqui o “vigiai” constante. A morte por exaustão da organização física também não tem dia nem hora para acontecer, pois a velhice se situa no campo da patologia e como tal pode ser curada. 36. Há fatos que devem ocorrer forçosamente, e que a vontade dos espíritos não pode conjurar?

LE: Sim, mas que tu, quando no estado de espírito, viste e pressentiste, ao fazer a tua escolha. Não acreditais, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Comentário: Existem certos acontecimentos necessários à pessoa encarnada que são previstos com antecipação para que ela possa vivenciá-los. A título de exemplo, podemos citar os casos em que o Ser Humano adquiriu traumas profundos em vidas passadas e cujo remédio certo é a TERAPIA DA REPETIÇÃO. Em outras palavras, os acontecimentos traumatizantes ocorridos em outros corpos físicos, ou seja, quando a pessoa estava encarnada, só podem ser sanados pela repetição, em ou102


tra ou em outras vidas, de todos os fatores que deram causa àqueles traumas. Assim, vivenciando fatos semelhantes sob as mesmas condições dá-se o entendimento e a aceitação. Isso determina o desaparecimento do trauma. É de todo conveniente não confundirmos essa TERAPIA DA REPETIÇÃO com a figura do carma cujos contornos já estabelecemos anteriormente. Neste caso de que agora tratamos não há que se falar em culpa, dívida e resgates, mas repetir uma vivência por uma segunda ou terceira vez para buscar o entendimento e não para efetuar um pagamento com o cheque da dor e do sofrimento. 37. Qual o meio mais eficaz de se combater a predominância da natureza corpórea?

LE: Praticar a abnegação. Comentário: Conquistar a autoconsciência. A pessoa humana enquanto permanecer no estado atual de inconsciência não terá o domínio de seu corpo físico mas, ao contrário, será sempre dominada pela matéria. Há muito já se foi o tempo em que o homem era consciente e habitava a matéria. Houve o grande mergulho na noite da inconsciência; ele dormiu senhor e acordou escravo. 38. De onde procede a crença, que se encontra em todos os povos, nas penas e recompensas futuras?

LE: É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, dado ao homem pelo espírito nele encarnado... Comentário: Os ensinamentos, principalmente os religiosos, são cristalizados na mente através da técnica da repetição e acabam por constituir “registros” indeléveis que perduram até as vidas futuras. Esses “registros” só podem ser mudados com 103


a alteração da energia cerebral e a consequente chegada de novo entendimento. 39. As penas e os gozos da alma, após a morte, tem qualquer coisa de material?

LE: Não podem ser materiais, desde que a alma não é matéria. O próprio bom senso o diz. Essas penas e gozos nada têm de carnal, e por isso mesmo são mil vezes mais vivos do que experimentais na Terra, porque o espírito, uma vez desprendido, é mais impressionável: a matéria não mais lhe enfraquece as sensações. Comentário: As penas e os gozos da alma, o purgatório, o céu, o inferno e o paraíso, tudo isso constitui um sistema pedagógico para ensinar o homem inconsciente o caminho do meio, o caminho do equilíbrio, freando os seus instintos materiais sem controle. Já afirmamos que no estado de inconsciência, o Ser Humano não comanda, é comandado. NÃO DEVEMOS CONFUNDIR “NÓS” E “NOSSOS CORPOS”, ASSIM COMO NÃO PODEMOS CONFUNDIR A “ENERGIA ELÉTRICA” QUE PRODUZ A LUZ COM A “LÂMPADA” QUE ILUMINA.

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A fé e o conhecimento A longa caminhada do Ser Humano sobre a Terra, após o acidente, foi tortuosa e sofrida. Para chegar aos nossos dias, no nível atual de consciência, foram realizadas várias tentativas para que o homem readquirisse um pouco de sua consciência perdida. As religiões tiveram importante papel nessa tentativa de reaproximar o homem do mundo espiritual, mas lamentavelmente o grande papel que deveria ser desempenhado pelas religiões se perdeu ao longo do tempo. Os próprios condutores das atividades religiosas desviaram-na da rota original, com o objetivo de auferir lucros e conseguir poder sobre a grande massa de pessoas inconscientes. Com isso as religiões que deveriam libertar o Ser Humano através da aproximação do mundo espiritual e o aumento do entendimento da realidade da outra vida, passaram a aprisioná-lo mais e mais em um emaranhado de ensinamentos que o leva antes à confusão do que ao esclarecimento. Nesse aprisionamento do homem, com o fito de auferir lucros, os ingredientes principais utilizados sempre foram e ainda são: a existência do pecado, da culpa, do inferno como residência dos faltosos e do próprio Diabo como cruel carrasco dos infratores. Acima de tudo isso se instala, como é natural, o reinado do medo. Medo da morte, medo das penas, medo do próprio Criador, nosso Pai maior. Fica claro, assim, que o homem encarnado tende a se afastar cada vez mais do mundo espiritual, seja por desinformação, seja por falta de acesso ao outro lado da vida ou ainda por medo do que lhe possa acontecer se perder o seu corpo físico. Há ainda outro aspecto grave dos ensinamentos, que é o fato de se negar, peremptoriamente, a existência do mundo espiritual, pregando de forma contundente a inexistência do Ser Humano independentemente de seu corpo físico. 105


Paralelamente à corrente religiosa corre célere o rio da ciência. A ciência calcada em dados mensuráveis e fenômenos demonstráveis pelos nossos meios conhecidos, não visa o entendimento puro e simples mas o conhecimento. Na busca da consciência vale antes o entendimento e depois o conhecimento. O conhecimento é circunscrito e limitado, enquanto o entendimento é transcendente e quem o detém singra os mares da consciência em busca do oceano infinito da perfeição. A ciência do homem inconsciente não poderia, como é natural, muito contribuir para elevar o nível de consciência do Ser Humano na matéria. Ela segue o ritmo do raciocínio humano e está sujeita às mesmas falhas do nosso funcionamento cerebral. Afirma, muitas vezes, o que não é, e nega outras vezes o que é. Nesse mundo de informações conflitantes a ciência tenta explicar a religião enquanto que esta tenta corrigir a ciência. O homem permeando essa relação ora acredita na ciência ora confia na religião, mas em nenhum momento ele tem entendimento suficiente para perceber quando uma ou outra está destoando da grande realidade da criação. E assim, os séculos vão passando e o homem vai caminhando ou pela trilha da ciência ou pelo caminho da fé. Pela trilha da ciência ele armazena conhecimento do que está posto no mundo da matéria, computando-se aí os erros e acertos. Por outro lado, seguindo o caminho das religiões envereda-se pelas escarpas escorregadias da crença pela crença. Recebe a intimação de que deve acreditar na palavra de alguém que lhe transmite ensinamentos e informações que jamais podem ser comprovados e tampouco negados. O homem não tem alternativa, só lhe resta seguir sempre, confiando na palavra bem posta de alguém que, às vezes, nos momentos de sofrimento, consola mas não cura. Só acontece a cura dos nossos sofrimentos da alma quando conseguimos o remédio do entendimento. O Ser Humano, em verdade, encontra-se em uma grande 106


encruzilhada da vida. As religiões passam por grande descrédito nos tempos de hoje porque na ânsia de colher o lucro mataram a árvore que produz o fruto. A ciência, por sua vez, não é capaz de auxiliar o homem a ter acesso consciente ao mundo espiritual e sem esse acesso ao outro lado da vida não há futuro para a humanidade. Sem esse contato consciente com o mundo extrafísico o homem mergulhará ainda mais na inconsciência. Isto porque irá se identificando mais e mais com a matéria ao mesmo tempo em que aceita o seu jugo. Se não houver uma organização que mantenha vivo, no Ser Humano encarnado, esse registro da existência do mundo espiritual, o futuro pode ser o caos. À medida que as organizações que cuidam, aqui na Terra, do patrimônio espiritual, vão se transformando em empresas lucrativas, o homem começa a desativar sua crença. Sem acreditar no investimento espiritual, ele fica imobilizado na matéria. Preso na imobilização material ele não tem disponibilidade para aplicar no capital real da consciência. Se a fé está em processo de deperecimento e o conhecimento é deficitário, então o homem precisa de ajuda. Nesse estado de lamentável pobreza espiritual em que se encontra a humanidade, o espiritismo é o investimento externo que pode construir novamente o grande monumento da esperança. Não sendo nem ciência nem religião, mas um caminho, convida a todos para a grande caminhada em direção ao Criador e à criatura. Mas o espiritismo para preencher na plenitude esse papel da mais alta relevância, precisa passar por algumas pequenas cirurgias corretivas e alguns ajustes. É necessário realizar, em primeiro plano, uma adaptação da linguagem espírita ao homem dos tempos atuais. A linguagem hoje utilizada, incluindo-se aí vários ensinamentos básicos, foi introduzida e permitida em uma época em que as pessoas encarnadas estavam em um nível mental muito precário. Hoje essas pessoas têm um nível mental 107


muito superior e são capazes de alcançar o verdadeiro sentido dos ensinamentos como também dispensar as formas antigas da comunicação espiritual. É bem verdade que a linguagem precisa ser alterada, mas também é verdade que a tarefa é bastante difícil. Vejamos porque: o Ser Humano tem acesso ao seu próprio corpo físico, quando encarnado, por meio do campo energético que envolve o cérebro. É através desse mecanismo que ele transmite suas vontades à organização física para que ela entre em ação para realizar o comando, ou ainda para que ela deixe de agir de determinada forma também obedecendo a uma vontade. Pensemos agora na comunicação espiritual através da mediunidade. Para ter acesso ao corpo físico, o espírito precisa utilizar o campo energético que envolve o cérebro do encarnado. Ocorre que todos os REGISTROS da pessoa encarnada, ligados a essa vida material estão no campo energético. Logo toda comunicação proveniente do mundo espiritual passa pelos REGISTROS do encarnado onde é decodificada, analisada e expedida de acordo com os dados ali registrados. Os ensinamentos do espiritismo foram armazenados nessa energia que envolve o cérebro, através de uma percepção direta na matéria, seja por meio da leitura de livros, participação em trabalhos espíritas, orientação de encarnado para encarnado, ou ainda com base na própria mensagem mediúnica. Mas ao passar pelo campo energético do corpo físico do encarnado, a comunicação espiritual é comparada aos REGISTROS já existentes no campo, e se ela for incompatível com eles, sofrerá as adaptações necessárias para se assimilar com o que ali foi gravado. Portanto, aí reside a dificuldade de se fazer a alteração da linguagem espírita por via mediúnica. Ao se tentar fazer essas alterações através dos mecanismos da mediunidade sempre haverá essa adaptação para o que já existe na doutrina. Mas como solucionar esse impasse? Criando novos registros com as alterações devidas aqui 108


na própria matéria. Eis a razão primeira desse trabalho a que fomos convocados a elaborar. Por meio desse início de mudança na linguagem, ao ser introduzido através de um livro, por exemplo, as pessoas terão maior oportunidade de usar o seu raciocínio e absorver essa nova maneira de entender e de expressar o espiritismo. Feito isso, as pessoa encarnadas que irão servir de intermediários na comunicação espiritual não mais censurarão essa linguagem natural e essa nova forma de entender os ensinamentos espíritas porque já terão acolhido em seus registros esses novos dados. Essa explicação deverá responder a muitos que estarão perguntando por que essa mudança de linguagem não foi introduzida pelos meios mediúnicos conhecidos. A esse respeito podemos acrescentar que além da censura do próprio Ser Humano encarnado que recebe a comunicação espiritual, existe a censura dos órgãos controladores do espiritismo aqui na matéria. Se comunicações espirituais chegam ao mundo físico e não se enquadram nos padrões já conhecidos e aceitos, podem ser censuradas. O conhecimento é infinito e a dosagem a ser ministrada ao homem deve ser de acordo com a sua capacidade de entender. Mas isso não significa que aquilo que foi oferecido ao homem encarnado esgota o assunto. Do mesmo modo, a forma pela qual os ensinamentos foram colocados aqui precisa de uma revisão não por defeito ou erro da fonte, mas porque agora existe maior capacidade de entendimento do receptor. Estamos nos aproximando de momentos de grandes transformações. A Terra não será a mesma e o Ser Humano que a habita com certeza não poderá ser o mesmo na sua maneira de sentir, pensar e agir. O homem animal necessariamente terá que dar vez ao homem racional. Para que isso ocorra ele tem pela frente uma tarefa muito difícil que é aprender a dominar o seu corpo material. Esse aprendizado poderá levar uma ou mais encarnações. Mas isso não importa. O que são algumas 109


dezenas de anos, ou séculos frente à eternidade da vida? Uma gota de água no oceano? Talvez nem isso. O importante é começar. Procurar entender o outro lado da vida de uma forma um pouco diferente já é um bom começo. E esse bom começo vai depender do apego que o homem demonstrar aos conceitos até agora vigentes dentro do espiritismo. Se esses pontos que precisam ser mudados forem como uma planta com raízes fortes e profundas, difícil assim de ser mudada, então esse homem levará muito mais tempo para entender o novo espiritismo de que falamos. Por outro lado, o homem que procurar usar o seu raciocínio puro e não sua crença terá maior facilidade para compreender o fundamento de verdade que existe em tudo que foi explicado até aqui. Todos sem exceção chegarão a esse novo entendimento do espiritismo e do mundo espiritual. Uns chegarão primeiro, outros depois, mas todos, com certeza, chegarão. Por último, queremos deixar o registro de que tudo o que foi dito nas páginas anteriores trata-se de um início da mudança que precisa ocorrer no espiritismo. Dias virão em que teremos que reescrever este livro alongando e aprofundando os conceitos e clareando melhor essa nova linguagem que precisamos adotar. O tempo não permite o maior detalhamento, pois a marcha urge iniciar.

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Glossário ACIDENTE – Grande catástrofe ocorrido, há muitos milênios, em nosso sistema solar. Houve, naquela época, o rompimento da camada atmosférica protetora da Terra, permitindo, assim, a passagem da radiação solar com grande intensidade. Com isso, ocorreu o bloqueio energético do cérebro humano. AUTOCONSCIÊNCIA – Condição de consciência sempre desperta do Ser Humano que lhe permite ter domínio de seu corpo físico e conhecer-se agora e antes, viver o passado e o futuro no presente. CONSCIÊNCIA – Atributo do Ser Humano que sabe que viveu no passado, vive no presente e viverá no futuro, pois tem a eternidade como certeza. cia.

CONSCIÊNCIA PLENA – O mesmo que autoconsciên-

FREQUÊNCIA CEREBRAL – É o número de vezes em que a energia armazenada na base craniana é lançada para a parte frontal da cabeça. FREQUÊNCIA EXTRAFÍSICA – O mesmo que mundo espiritual. IMPULSO CEREBRAL – É o lançamento da energia armazenada na base craniana para a parte frontal da cabeça. QUEM É VOCÊ? O QUE É VOCÊ? POR QUE VOCÊ? – Perguntas que somente o Ser Humano encarnado plenamente consciente pode responder, significando que aquele 111


que sabe QUEM É ELE conhece o seu passado em outras vidas; aquele que sabe O QUE É ELE conhece profundamente o seu corpo físico; e finalmente aquele que sabe POR QUE ELE tem conhecimento dos motivos que o levaram até aquele lugar, a possuir aquele corpo naquelas condições e a vivenciar as suas experiências do presente. REGISTRO – Ato de gravar, de forma permanente, na memória do Ser Humano tudo que ele vivencia ou que lhe é informado. Constituindo, assim, um arquivo próprio da pessoa. REGISTRO DE MATÉRIA – Ato de gravar, desde a criação, na memória do Ser Humano o caminho da matéria para suas vivências. Significa que, possuindo esse registro a pessoa sempre irá encarnar em um corpo físico, pois sempre sentirá necessidade dele e somente nele estará completa. SAÍDA DA MATÉRIA – É a saída temporária do Ser Humano (espírito) de seu corpo. VIBRAÇÃO CEREBRAL – É a energia desprendida pelos impulsos cerebrais.

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