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LUIZA LACERDA BORTOLON - VITÓRIA 2019 Trabalho apresentado para a disciplina Projeto de graduação II, para obtenção do grau de bacharel no curso de Arquitetura e Urbanismo, sob orientação do professor Homero Penteado e Co orientação da professora Karla Caser.
AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer à Deus por sempre ter me mantido forte durante essa jornada, à minha família pelo amor e apoio incondicionais em todos os momentos, e aos amigos que tornaram tudo mais leve. Aos professores e mestres, dentro e fora da Universidade, que de alguma forma contribuiram para meu crescimento como pessoa e como profissional, minha eterna gratidão. Cada um foi uma peça essencial sem a qual a realização desse sonho jamais seria possível.
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
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Área
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Tema
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Objetivo
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Métodos adotados
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LISTA DE FIGURAS
EMBASAMENTO TEÓRICO
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Arquitetura Vernacular
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Arquitetura Vastu
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Sistemas construtivos com terra
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Taipa de pilão
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Taipa de mão
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Adobe
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Estudo de caso
O PROJETO
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Inventário
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Programa de necessidades
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Conceito e partido
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Estudo preliminar
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Anteprojeto
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Bloco ar
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Bloco éter
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Bloco terra
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Bloco fogo
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Centro
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de Linhares – ES, com Regência em destaque. Figura 2 – Barco de pesca artesanal em Regência – ES. Figura 3 – Banda de congo na festa de Caboclo Bernardo Figura 4 – Caça e ovo de careba (tartaruga). Figura 5 – Cartaz de programação cultural em Regência – ES. Figura 6 – Oca Indígena na região do Xingu, Brasil Figura 7 – Casa de junco Ma’dan Reed Houses, Iraque Figura 8 – Mandala de Vastu Purusha Figura 9 – Diagrama de setorização por elemento da natureza Figura 10 – Diagrama dos usos em relação a orientação e influência dos planetas na construção Figura 11 – Construção com terra em Old Walled City of Shibam, Yemen Figura 12 – Construção com terra em Old Towns of Djenné, Mali Figura 13 – Etapas de execução das fiadas de uma parede de taipa. Figura 14 – Elementos componentes da estrutura do taipal. Figura 15 – Conjunto dos paus a pique tendo as varas amarradas Figura 16 – Disposição das varas paralelas e intercaladas Figura 17 – Armação de pau a pique Figura 18 – Processo de molde e desforma do tijolo de adobe. Figura 19 – Tucson Mountain Retreat em meio a paisagem do deserto. Figura 20 – Amplas aberturas da sala de estar, e viga de concreto aparente. Figura 21 – Degraus irregulares de entrada da casa em concreto. Figura 22 – Integração entre interior e exterior. Figura 23 – Planta baixa disponibilizada pelos arquitetos. Figura 24 – Corte longitudinal disponibilizado pelos arquitetos, adaptado pela autora. Figura 25 – Detalhe de fundação e viga de cobertura. Figura 26 – Detalhe esquadrias. Figura 27 – Detalhe da estrutura de cobertura do skydeck. Figura 28 – Estrutura metálica vazada da escada de acesso ao deck. Figura 29 – Sky deck funcionando como mirante para a paisagem do deserto. Figura 30 – Esquema de localização do terreno em Regência – ES. Figura 31– Foto panorâmica do terreno escolhido com farol ao fundo.
Figura 32 – Acesso ao terreno pela Avenida Careba. Figura 33 – Entrada para a trilha do farol. Figura 34 – Salsa da praia e sabiá da praia. Figura 35 – Vegetação de restinga na trilha. Figura 36 – Flor Damiana no terreno. Figura 37 – Maciço verde ao lado do farol. Figura 38 – Esquema de partido em planta. Figura 39 – Diagrama de desenvolvimento do partido. Figura 40 – Vista para a entrada principal do centro, e cobertura suspensa do bloco ar. Figura 41 – Pavimentação de adobe continuada da rua para a rampa de acesso ao piso elevado. Figura 42– Vista interna da recepção, e porta de entrada. Figura 43 – Vista do terraço e estrutura da cobertura do bloco éter. Figura 44 – Vista dos dois edifícios componentes do bloco éter e a cobertura independente. Figura 45 – Diferença de piso interno e externo no deck da sala de meditação. Figura 46 – Sala de estudos bom biblioteca vertical. Figura 47 – Janela triangular na sala de meditação e ioga. Figura 48 – Interior da sala de meditação com vista para a vegetação externa. Figura 49 – Vista interna do laboratório com iluminação zenital. Figura 50 – Vista sul do bloco fogo e horta externa à edificação. Figura 51 – Fachada norte do bloco fogo e vista da diagonal para o farol. Figura 52 – Fachada oeste voltada para a Avenida Careba e canteiro frontal. Figura 53 – Vista interna da sala de terapia ao sul do bloco terra. Figura 54 – Pátio central com Flamboyant e mobiliário móvel. Figura 55 – Circulação para o bloco Terra e pátio central. Figura 56 – Espaço de rede no encontro do piso elevado com a sala de meditação. Figura 57 – Vista do pátio rebaixado para a fachada sul da sala de meditação e escada de acesso ao terraço.
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INTRODUÇÃO ÁREA ESCOLHIDA A inspiração para esse trabalho veio da busca de uma ressignificação da arquitetura, quando comparada à grande produção repetitiva que vem sendo feita na era contemporânea de construções e edifícios sem personalidade que deixam a desejar nas relações com o entorno e com a escala humana.
O local escolhido para a realização do projeto foi a vila de Regência Augusta, localizada no município de Linhares no estado do Espírito Santo, na margem sul da foz do Rio Doce (Figura 1). O distrito de Regência possui uma área de aproximadamente 2.400 hectares e 1.204 habitantes, segundo informações do censo IBGE de 2010 (SILVA, 2014).
Partindo desse pensamento procurou-se entender o contexto do estado do Espírito Santo, como forma de traçar um perfil histórico e sociocultural da população, a fim de definir diretrizes de como traduzir as especificidades regionais em projeto. Devido à alguns acontecimentos recentes, evidenciou-se a vila de Regência em Linhares-ES, que pela relativa distância dos grandes centros urbanos foi escolhida como o lugar ideal para colocar as intenções projetuais em prática, uma vez que a reclusão do vilarejo torna possível maior contato com as tradições históricas em grande maioria perdidas nos centros urbanos. A intenção é que ao estudar o passado, se possa recuperar características esquecidas ou perdidas no processo de adensamento e massificação do mundo moderno, tendo a arquitetura como meio veiculador do encontro de comunidades e como pertencente ao meio coletivo. A técnica construtiva se mostrou um dos fortes aspectos a ser tratado, uma vez que materiais tornados populares durante a revolução industrial, como vidro e aço, remetem à frieza e racionalidade, dissociando o usuário do contato com a estrutura física que o envolve nos ambientes construídos. Por esse motivo o uso de técnicas tradicionais de construções com materiais locais foi um importante norteador durante todo o processo. O desenvolvimento da funcionalidade e do programa do projeto foi um resultado dos estudos e visitas ao local, integrando o conceito inicial com as necessidades reais percebidas e se apoiando em novas ideologias de organização espacial condizentes com a proposta para a execução coerente da mesma.
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Figura 1 – Mapa de Linhares – ES, com Regência em destaque Fonte: Silva (2014), adaptado pela autora.
Os principais acessos ocorrem pela BR101 e pela ES010, que levam à estrada não pavimentada de entrada à vila dos moradores. Todo o território se encontra próximo ao nível do mar, com relevo plano de pequenos desníveis. As ruas são de terra batida sem qualquer tipo de pavimentação. As principais atividades econômicas são a pesca (figura 2), o Projeto Tamar, o Ibama, a Petrobrás, empreiteiras, a prefeitura e o comércio (IBAMA, 2002), além do turismo e de serviços locais. Segundo Silva (2014) os aspectos culturais e naturais da vila são os grandes atrativos para a atividade turística que vem crescendo e se profissionalizando. A autora cita como sendo os quatro principais atrativos turísticos as áreas de conservação, como a reserva REBIO Comboios e o Projeto Tamar, o surfe, as comemorações religiosas, com destaque para a festa do Caboclo Bernardo (figura 3), e a pesca no Rio Doce.
Figura 2 – Barco de pesca artesanal em Regência – ES. Fonte: Leonardo (2014).
Além dos atrativos citados, a vila conta com um pequeno centro histórico onde se localizam a igreja da cidade, a casa do congo, um museu de arte, o antigo farol e o centro ecológico ligado ao Projeto Tamar, organizados em torno de uma praça que culmina na Rua do Rio Preto, que leva à orla da foz do Rio Doce, além de receber feiras culturais em épocas de movimento, segundo relato dos moradores. Desde novembro de 2015, com o desastre-crime ambiental do rompimento da barragem de Mariana-MG que resultou na contaminação do Rio Doce e dispersão da lama dos rejeitos no mar, as atividades econômicas e turísticas que dependiam desses meios foram severamente prejudicadas. Atualmente, a vila conta com uma diversidade de grupos e associações representativas da comunidade. Em entrevista com um morador e participante da associação do surfe, ficou claro que as divergências de interesses e a falta de organização comum dos diferentes grupos dificulta a tomada de ações pela comunidade frente à situação de crise. A população local tem fortes veias culturais pautadas nas práticas religiosas, no herói da cidade Caboclo Bernardo, no congo e nos saberes empíricos e tradições relacionados sobretudo à utilização da natureza como meio de sobrevivência. O projeto “Cartografia da foz – Mapeando afetivamente a foz do Rio Doce” realizado por Izoton e Leonardo (2019), conduziu uma série de entrevistas com moradores da vila que relatam suas visões e experiências do que um dia foi a realidade das comunidades ribeirinhas, incluindo a de Regência. É possível perceber, pelos relatos, o grande papel que a pesca exercia na vida de toda a população. Diversos entrevistados descrevem o peixe, juntamente com a mandioca e seus derivados produzidos em pequena escala por cada morador, como o principal alimento na maioria das refeições. Além deles, a agricultura de subsistência e pequenas criações de animais supriam as necessidades dos residentes. O ovo e a carne da tartaruga popularmente conhecida pelos locais como “Careba,” também são apontados como costumes até a proibição da prática pelo IBAMA (figura 4).
Figura 3 – Banda de congo na festa de Caboclo Bernardo Fonte: Leonardo (2014).
Figura 4 – Caça e ovo de careba (tartaruga). Fonte: Projeto TAMAR.
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Outras atividades também são citadas nas entrevistas de Izoton e Leornado (2019), como as construções de casas com madeira e barro, os “juntamentos” como forma de solidariedade da vizinhança, onde a população se juntava cada dia para limpar o quintal de um dos vizinhos, ou “barrear” as casas próximas. Os relatos explicitam ainda a cultura da utilização de plantas medicinais e do “benzimento” como alternativa aos médicos e remédios alopáticos, uma vez que esses não existiam na vila. Em visita a campo, observou-se que o interesse pelos tratamentos naturais ainda é uma prática ativa na vila e ponto em comum aos diferentes grupos. No centro ecológico do vilarejo foi possível registrar cartazes que anunciavam um encontro de saúde, com cursos de florais, reiki, destilação de óleos essenciais, refeições coletivas e roda de troca de saberes, além de atividades regulares como ioga voltadas para todas as faixas etárias da população (figura 5).
TEMA
MÉTODOS ADOTADOS
Dentro do contexto apresentado é possível identificar uma forte característica cultural da população, de identificação com a história e o meio em que estão inseridos. Ao mesmo tempo, observa-se uma grande carência deixada pelo desastre ocorrido em termos da utilização do ambiente natural para finalidades profissionais e pessoais, que é comum a todos os grupos de interesse. Dessa maneira, o tema deste trabalho se volta para a retomada do contato com a natureza, o cuidado e o bem estar da população, buscando fazer uso de práticas já conhecidas e utilizadas pelos moradores tantos das tradições mais antigas quanto dos novos métodos integrando os conhecimentos para que haja a “cura” física e psicológica dos traumas sofridos por essa comunidade.
Os métodos adotados para o desenvolvimento deste trabalho se iniciaram com a escolha do vilarejo de Regência em Linhares para abrigar o projeto por sua história e representatividade cultural no estado. Foram feitas pesquisas gerais sobre a população local, costumes, tradições, além das condições socioambientais após serem atingidos pelos rejeitos provenientes do desastre da barragem de Mariana-MG. Foram realizadas, também, visitas à campo para escolha do terreno, levantamento, e entrevistas à moradores e chefes de associações locais, a fim de criar uma percepção subjetiva e atual da rotina da população e necessidades dos mesmos.
OBJETIVO
Figura 5 – Cartaz de programação cultural em Regência – ES. Fonte: Acervo pessoal.
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O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de um projeto feito com terra – um material de construção tradicional na história da arquitetura brasileira, porém esquecido e não convencionalmente utilizado nas edificações contemporâneas. Acreditando que a arquitetura tem a habilidade de dignificar e valorizar as pessoas, o projeto busca mostrar a possibilidade de construções contemporâneas, simples e elegantes com materiais rústicos de fácil acesso, que realce as características locais da vila sem interferir na sua essência. A ideia é que a edificação, desde o processo construtivo até seu funcionamento, conte com a participação dos moradores, agregando conhecimentos e utilizando das próprias habilidades para criar um senso de pertencimento. Para tal fim, a funcionalidade do projeto foi pensada de forma a englobar atividades cotidianas da população que acontecem individual e coletivamente de maneira informal, num único espaço apropriado para as mesmas, fortalecendo os laços entre a própria comunidade e perpetuando as tradições locais.
Após as impressões da visita, ocorreram pesquisas sobre a arquitetura vernacular e seu impacto no entorno, que por sua vez levaram a busca de teorias concretas sobre as relações entre os fenômenos da natureza e o espaço construído, encontrando na linha indiana chamada de arquitetura Vastu um método milenar de organização de espaços voltados para a harmonia das edificações com o entorno, de forma a proporcionar o bem-estar de seus usuários. Além disso, ocorreram pesquisas sobre técnicas construtivas sustentáveis e bioconstrução, que levaram a consolidação da terra como principal material a ser utilizado em suas diversas técnicas de aplicação. Foram realizados mapas e esquemas de inventário e análise do terreno e suas condições, que juntamente com as teorias permitiram a concepção do conceito e partido de projeto. A partir do conceito e partido iniciou-se o desenvolvimento de um estudo preliminar aplicando os conhecimentos teóricos assim como intenções projetuais, seguido de um maior aprofundamento na fase de anteprojeto e detalhamento de soluções construtivas, sob orientações semanais.
EMBASAMENTO TEÓRICO
Neste capítulo serão apresentadas as teorias que moldaram a concepção do conceito projetual a ser adotado para a criação de um espaço coerente com o contexto em que está inserido, de forma a não se impor sobre tradições culturais
ARQUITETURA VERNACULAR A arquitetura vernacular é um importante objeto de estudo como contraponto à arquitetura contemporânea ou erudita (WEIMER, 2005). Essa arquitetura contemporânea é dominada pelas descobertas tecnológicas recentes, provocando o uso indiscriminado de materiais sofisticados como aço, vidro e concreto, independente da compatibilidade do uso dos mesmos em determinados contextos. Esse tipo de construção vem sendo considerada arquitetura de qualidade, enquanto outros métodos construtivos tradicionais citados por Zilliacus (2017) como adobe, junco e esfagno (tipo de musgo), são comumente associados ao subdesenvolvimento. Dessa maneira, o desprezo pelas técnicas vernaculares tem provocado grande perda de conhecimento arquitetônico técnico e cultural, que vai aos poucos desaparecendo. A definição da arquitetura vernacular é complexa e passível de interpretações. O termo vernacular em si, é um elemento de polêmica discussão entre diferentes autores. Segundo Weimer (2005): “O termo que aí comparece é vernáculo, que provem do latim vernaculu e, originalmente, designava o escravo nascido na casa do senhor. Hoje tem o significado de língua ou costumes próprios de um país ou uma região.” Dessa maneira, o autor julga incorreto o emprego do mesmo para referir-se à arquitetura, preferindo o uso do termo popular que “significa aquilo que é próprio das camadas intermediárias da população”, excluindo tanto as elites quanto os menos afortunados e camadas mais baixas da população. Apesar dos significados incorporados ao termo ao longo do tempo, tanto no sentido positivo do que é de agrado à população, quanto no negativo de trivial ou vulgar, o autor ainda considera o termo popular como sendo o melhor para referir-se a uma arquitetura própria do povo e realizada por meio de seus saberes. Em contrapartida, Teixeira (2017), apesar de reconhecer a polêmica da discussão da origem dos vocábulos, opta por manter o termo vernacular pela consagração de seu uso, e busca uma definição do que seria esse tipo de arquitetura por comparação com outras teorias como a da arquitetura primitiva e por exemplificações de construções. Apesar das discordâncias, o pensamento dos dois autores converge em alguns pontos importantes para a definição dessa arquitetura. Weimer e Teixeira concordam que a arquitetura vernacular é uma expressão social de um grupo, condizendo com a realidade econômica e cultural do mesmo. Para isso, os povos utilizam os materiais de fácil acesso, disponíveis no meio ambiente, que possuem baixa energia incorporada e relação não agressiva e nutriente com a natureza (figura 6). Em seu artigo, Teixeira (2017) considera o uso desse tipo de materiais e técnicas como parte do que ele chama de “tecnologia autóctone”. Essa tecnologia seria uma marcante característica da arquitetura vernacular, e pode ser entendida como um método que não está integrado à estrutura cultural predominante, sendo considerada uma prática subjacente e primitiva quando comparada à tecnologia hegemônica, que por depender do ensinamento informal de geração em geração tende a desaparecer.
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Outra característica que parece ser de comum acordo entre os teóricos e desempenha um importante papel na construção vernacular é a presença da tradição. Weimer (2005) classifica a arquitetura vernacular como resultado de uma evolução multissecular com profundo respeito às tradições culturais presentes. Teixeira também reconhece a influência das gerações anteriores para esse tipo de produção arquitetônica. Para Hassan Fathy (1980), em seu livro Construindo com o povo, a arquitetura não consegue existir fora de uma tradição viva. Ele discorre que a tradição se faz necessária para a sociedade como forma de libertar o projetista de decisões desnecessárias que já foram solucionadas anteriormente, e livrá-lo para as atividades de fato importantes. Ele esclarece:
A arquitetura ainda é uma das artes mais tradicionais. Um trabalho de arquitetura é feito para ser utilizado, sua forma é em grande parte determinada pelos seus antecedentes [...] o arquiteto deveria respeitar a obra de seus antecessores e a sensibilidade das pessoas não usando sua arquitetura como um meio de propaganda pessoal. Na verdade, nenhum arquiteto pode deixar de utilizar o trabalho dos arquitetos que o precederam; por mais que ele se esforce para ser original, a maior parte de seu trabalho existe em alguma tradição. (p. 40-41)
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Figura 6 – Oca Indígena na região do Xingu, Brasil Fonte: UGREEN.
Essas tradições, no entanto, estão sujeitas à adaptabilidade ao contexto de cada local. As técnicas e modos de construir de cada civilização diferenciam-se de acordo com as circunstâncias locais em que estão inseridas, como o clima, o solo, a vegetação local e a topografia, tornando difícil a classificação das construções vernaculares dentro de uma mesma tipologia (figura 7). Em termos de forma, Weimer (2005) considera esse conjunto arquitetônico como sendo evidente por si só, pois o resultado formal é derivado da própria técnica e escolha de materiais. Já Teixeira (2017) afirma que as edificações vernaculares não possuíram grande evolução formal historicamente, utilizando-se de formas básicas e consagradas como o quadrado, o retângulo e o círculo. Isso seria também um resultado da predominância das necessidades funcionais de habitação e sobrevivência em detrimento das qualidades plásticas e estilísticas, aspecto do qual os dois autores parecem concordar. Comparando semelhanças e divergências nos pensamentos dos diferentes autores, é possível chegar a algumas conclusões sobre o modo de construir vernacular. Para a finalidade do projeto em desenvolvimento, essa teoria apresenta diversos argumentos que justificam e inspiram uma arquitetura de baixo impacto ambiental, utilizando os materiais, técnicas e mão de obra locais, mesmo pouco qualificadas, de modo a incluir social e economicamente a população, criando um sentimento de pertencimento, além de não se impor sobre as construções locais.
Figura 7 – Casa de junco Ma’dan Reed Houses, Iraque Fonte: UGREEN.
ARQUITETURA VASTU Levando em consideração a tendência da arquitetura vernacular por processos naturais e sensíveis aos elementos do seu entorno, bem como o objetivo de tornar o projeto do centro um lugar baseado na harmonia e bem estar físico, emocional e psíquico do ser humano, buscou-se teorias que pudessem sistematizar diretrizes de organização dos espaços para chegar o mais próximo do funcionamento ideal dessa construção em acordo com os ciclos da natureza. Para tal fim, se fizeram relevantes os ensinamentos da arquitetura Vastu, que é tida por alguns como precursora do feng shui, mais conhecido popularmente na cultura ocidental. Segundo a autora Juliet Pegrum (2001), Vastu Vidya é a ciência sagrada relacionada ao projeto e a construção da casa. O Vastu é uma linha derivada da filosofia védica milenar desenvolvida na Índia, com base nas escrituras sagradas chamadas de Vedas. Essas escrituras são consideradas os primeiros textos sagrados e os precursores da religião hindu. Além das contribuições filosóficas e religiosas, os Vedas também são a base de outras vertentes voltadas para a saúde e bem-estar das pessoas como o Ayurveda e o Ioga. Os antigos sábios indianos acreditavam que o universo possui “energias ocultas”, e utilizando-se da orientação cardeal, astrologia e elementos naturais eles buscaram decifrar e sistematizar o pensamento Vastu, de forma a replicar esses fluxos de energia existentes no universo dentro de cada ambiente construído de forma a trazer harmonia e prosperidade para os moradores e usuários. Como forma de descrever tais energias ocultas os sábios utilizavam-se de símbolos e mitos, como o de Vastu Purusha. De acordo com a autora Juliet Pegrum (2001), Purusha pode ser entendido como a “essência” ou força vital que permeia tudo e é inerente à existência. Ainda segundo a descrição de Pegrum (2001): “No início de tudo, havia uma entidade que não tinha nome nem forma. Esse fenômeno anônimo e amorfo era tão onipotente que bloqueou todo céu e toda a terra. Por isso, os deuses se uniram e comprimiram essa entidade contra o solo, sentando-se sobre ela. (...) Essa forma ficou conhecida como Vastu Purusha” (pg. 18). Esse mito dá origem à mandala onde temos a figura de Purusha aprisionado sobre um quadrado – considerada a forma representativa da Terra em seu aspecto estável (figura 8). A mandala funciona como um diagrama que mapeia as energias cósmicas, onde pode-se observar Purusha, deitado sob o solo com a cabeça voltada para o nordeste. Figura 8 – Mandala de Vastu Purusha Fonte: Pegrum (2001).
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Para explicar a disposição e os efeitos da mandala, Juliet Pegrum (2001) diz que a orientação exerce uma importante função no Vastu. Segundo a autora, os quatro pontos cardeais criam eixos de fluxos de energias aos quais a consciência humana responde instintivamente. Esses eixos convergem ao centro, criando uma cruz com ângulos de 90 graus, e dividindo em quadrantes a forma ideal do quadrado citado anteriormente. O eixo leste e oeste representam a dualidade o início e fim dos ciclos respectivamente, indo dos primeiros raios de sol do dia à escuridão. Já o norte representa o ponto guia fixo no céu, e o sul como representante do passado e dos ancestrais. Dessa forma, os sábios indianos conceberam que com os desejáveis raios de sol da manhã entrando pelo leste e o magnetismo terrestre para o norte, a energia cósmica entra pelo nordeste que seria a melhor orientação dentro de um terreno e se movimenta em direção ao sudoeste. Sendo assim, criou-se uma série de normas do Vastu Vidya chamadas de Vastu Shaastra (PEGRUM, 2001). Dentre elas afirmase que a preferência pelo uso de formas quadradas ou retangulares em detrimento das formas irregulares. Ficam explicitas também as orientações à criação de mais espaços, aberturas e varandas voltadas para o norte e para o leste, evitando vegetações altas, cercas e outros tipos de elementos que possam causar a obstrução desses locais. Além disso, de acordo com Pegrum (2001), o canto sudoeste deve ser tratado como zona de preservação, onde não haja entradas e saídas que podem evitar que a energia “indesejável” que entra pelo sudoeste saia. Já no centro do terreno ou edificação, onde é o ponto de confluência de energias, e também onde se localiza o coração da figura do Purusha na mandala, não devem haver muitos elementos, móveis ou pilares pesados buscando sempre deixar o interior livre. Somando-se à divisão em quadrantes criadas pelos eixos cardeais, Pegrum (2001) apresenta um outro diagrama relacionando à orientação com os cinco elementos naturais e responsáveis pela existência da vida na Terra: água, ar, fogo, terra e éter (figura 9). Assim como todo o universo é regido por esses elementos, eles também estão presentes e se relacionam com o corpo humano na forma dos cinco sentidos. Segundo os conhecimentos passados pelo livro de Juliet Pegrum (2001), o éter é o substrato ou o espaço que dá lugar para todos os outros elementos existentes; se localiza a nordeste e corresponde à audição no corpo humano devendo ser um lugar reservado com sons agradáveis, além de ser o melhor local para introspecção, meditação e prática de ioga. A água e o ar, por possuírem características turbulentas semelhantes de liquidez e fluidez, ocupam o mesmo quadrante noroeste; se configura como um ótimo local para os banheiros ou cômodos em que muitas pessoas possam ir e vir sem ter que permanecer por longos períodos. A terra controla o quadrante sudoeste e representa a forma e o suporte para os demais elementos; é análoga ao sentido do olfato no corpo humano e requer perfumes e aromas agradáveis abundantes. Já o fogo, segundo a autora, tem as “qualidades mágicas” de transformar a matéria; remete às cores e iluminação, e controla o quadrante sudeste onde acredita-se ser a melhor localização para a cozinha da casa.
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Estreitando a relação já mencionada pela autora entre orientação, elementos e astrologia, a autora Juliet Pegrum (2001) destrincha e reafirma as explicações para a localização de cada função dentro de uma casa ou terreno com ainda outro diagrama sobre a influência dos planetas dentro da casa (figura 10). De acordo com ela, a sabedoria indiana apresenta cada planeta como um ser vivo, pessoa ou figura a ser temida ou agradada. O sol é o mais importante dentre todos os planetas com sua energia purificadora; ele habita e reforça a relevância da zona nordeste da casa como área de elevação espiritual. A Lua, regente das atividades instintivas, controla o banheiro que seria um local de limpeza e renovação que se localizam a noroeste no diagrama dentro da influência dos elementos ar e água. Júpiter representa a sabedoria, aprendizagem e conhecimento, associando-se a locais de estudos e bibliotecas, que devem ser colocados na parte norte da edificação. Mercúrio é considerado um mensageiro, volúvel e agitado, sendo ativo nas áreas mais sociáveis da casa onde se recebem os convidados. Vênus controla o lado sensual da natureza humana, a beleza e as artes. Marte mais uma vez associa o quadrante sudeste ao fogo, onde deveria localizar-se a cozinha. E Saturno é o planeta do confinamento, que se move mais devagar e é o mais escuro, sendo propício para armários e porões segundo a autora. O centro, assim como na mandala de Vastu Purusha deve ser mantido livre.
Figura 9 – Diagrama de setorização por elemento da natureza Fonte: Pegrum (2001).
Por ser um tema relativamente novo na cultura ocidental, especialmente no Brasil, há certa dificuldade em encontrar uma variedade de livros e autores publicados sobre o assunto. Dentre os pesquisados o arquiteto Fernando Dias em seu artigo sobre o Vastu Shaastra segue a mesma grande linha de pensamento, substituindo apenas aspectos como a relação de planetas apresentadas no diagrama de Pegrum (2001) por figuras mitológicas ou deuses. As conclusões, contudo, se mostram muito similares, com pequenas diferenças ou acréscimos. Como exemplo Dias menciona a região sudoeste da casa como sendo também uma zona de tranquilidade e repouso, que dialoga com a “zona de preservação” citada anteriormente por Pegrum (2001). Para ele, além de espaços de armazenamento essa área é designada a espaços de descanso como quartos. Esse aspecto será levado em consideração para o propósito desse estudo. Segundo o artigo de Dias, dentro do Vastu há diferentes níveis de harmonia que podem ser alcançados. Porém grande parte dos princípios criados a milhares de anos atrás são impraticáveis na sociedade e modo de vida dos dias atuais, dessa maneira aconselha-se a adoção dos princípios gerais, adaptando os demais princípios ao contexto em que a edificação será inserida da melhor forma julgada pelo projetista.
Figura 10 – Diagrama dos usos em relação a orientação e influência dos planetas na construção Fonte: Pegrum (2001).
SISTEMAS CONSTRUTIVOS COM TERRA A terra é um elemento muito presente em Regência, seja na paisagem predominante das estradas de terra batida, no âmbito psicológico daquela que provem os meios para a subsistência da população, ou nos saberes a ela relacionados como a agricultura e construção com barro relatados no projeto “Cartografia da foz” realizado por Izoton e Leonardo (2019). As técnicas de construção com terra são empregadas desde o período pré-histórico (figuras 11 e 12) com edificações no oriente médio que datam entre 9000 e 5000 a.C. (Minke, 2001 apud Pisani). Essas técnicas se fazem relevantes neste trabalho, pela representatividade que possui no cenário arquitetônico brasileiro como uma das primeiras formas de construir trazida de portugueses e africanos na época da colonização.
TAIPA DE PILÃO A taipa de pilão é um sistema construtivo que utiliza a terra crua como principal componente. Acredita-se que a técnica milenar teve origem no Oriente Médio onde podem ser encontradas edificações datando entre 9000 e 5000 a.C. (MINKE apud PISANI 2004). O processo consiste em apiloar a terra manualmente ou com o auxílio de ferramentas mecânicas, entre um conjunto de formas tipo sanduíche, denominado taipal, formando paredes monolíticas autoportantes que podem variar de 40 a 80cm de espessura (VASCONCELLOS, 1979). Segundo Oliveira (2012) a sequência da construção da taipa vernacular se inicia com a extração. O autor afirma que a terra é usualmente extraída próximo ao local da obra por meios manuais ou mecânicos a partir de 80cm de profundidade do solo para evitar a presença de pedras, gravetos e materiais orgânicos que possam afetar seu desempenho. A terra é selecionada pelo próprio taipeiro de acordo com sua experiência. Ele é o responsável pela definição dos traços de terra, areia e argila, sendo comum na técnica tradicional a adição de esterco, fibras vegetais ou crina animal para “armar o barro” internamente e proporcionar maior resistência (VASCONCELOS, 1979). Em sua tese, Oliveira (2012) cita que no sistema construtivo mecanizado é possível obter a terra extraída por terceirizados e jazidas conhecidas distantes. Essa prática, contudo, eleva os gastos com a comercialização e transporte da mesma. Ainda assim, uma vantagem da sistematização seria a padronização da qualidade do material, submetido a testes para verificar o comportamento e resistência e trabalhabilidade do mesmo, práticas que na técnica vernacular são realizados no próprio canteiro de obras por meio de conhecimento empírico dos construtores.
Figura 11 – Construção com terra em Old Walled City of Shibam, Yemen Fonte: UNESCO.
Figura 12 – Construção com terra em Old Towns of Djenné, Mali Fonte: UNESCO.
Dentro dos preceitos tanto da arquitetura vernacular como da arquitetura Vastu, a terra se apresenta como um excelente material construtivo, sendo de fácil acesso nas redondezas e exigindo pouca mão de obra qualificada para sua execução. Além da baixa energia incorporada e pequeno impacto no ambiente, as construções com terra também conversam com o contexto de Regência, não se impondo sobre as demais edificações vizinhas ou causando perda de identidade local. Dentre as diversas formas de construir com terra, as mais usuais são o adobe, a taipa de mão e a taipa de pilão. A escolha de utilização dessas três técnicas, além de estética, foi pensada como uma forma de participação da população durante a construção como forma criar um sentimento de pertencimento e ao mesmo tempo capacitar os moradores à construção com a técnica presente na história e tradição da população, mas que vem perdendo força e sendo esquecida em detrimento das técnicas “convencionais” de construção com lajotas e concreto.
As fundações das paredes de taipa em geral são sólidas, do tipo sapata corrida, sendo tradicionalmente feita da própria taipa ou do empilhamento de pedras. “Esta estrutura começa abaixo do solo e termina acima dele com um baldrame, evitando a ação da água por capilaridade nas paredes quando em contato direto com o solo” (OLIVEIRA, 2012 p. 22). Mais recentemente pode ser observado o uso do concreto para tal função por suas qualidades estanques e estruturais além da maior normatização e regularidade do material em relação aos citados anteriormente. É possível a utilização de peças de madeira, ou no caso do concreto barras de aço, como esperas para aumentar a aderência da parede à fundação. Feitas as fundações, em seguida ocorre a montagem das formas, ou taipais. O taipal é usualmente feito com pranchas de madeiras justapostas e presas entre si por meio de paus roliços horizontais denominados de agulha ou cangalha, e na vertical denominados costa com fechamento lateral feito por uma outra tábua de madeira chamada de frontão (PISANI, 2004), conforme a figura 14. De acordo com Pisani, os lados do taipal são dispostos criando fiadas horizontais com as juntas verticais desencontradas. Ainda segundo a autora, na primeira fiada o taipal é apoiado diretamente sobre o solo e fixado pelo nível de cima. Após o seu preenchimento, ele é elevado a prumo a 2/3 da altura, encaixando as agulhas inferiores no buraco deixado na fiada anterior. Esse procedimento é repetido até que se atinja a altura desejada da parede, como se observa na figura 13.
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Segundo Oliveira (2012), dentro do taipal são despejadas as camadas de terra, barro e areia, já misturados na altura de 15cm. Em seguida com o auxílio de um pilão manual ou pneumático a terra é socada dos cantos para o centro, até que se escute um som metálico indicativo de que a mínima quantidade de vazios foi atingida. A espessura da camada pilada é reduzida a cerca de 10cm, e recebe ranhuras na parte superior para aderência da camada seguinte, até que se preencha todo o taipal até a altura final, segundo o autor. No caso das paredes que contém aberturas de portas e janelas, os vãos são demarcados previamente ao preenchimento com a terra, aponta Pisani (2004). De acordo com Oliveira (2012), é necessária a instalação de marcos robustos que funcionam como vergas e contravergas de madeira ou concreto para suportar os esforços da alvenaria. “Os marcos são afixados por chumbadores embutidos em rasgos feitos na parede e assentados com argamassa similar à mistura da qual é feita a parede” (OLIVEIRA, 2012 p. 25). Segundo o autor, os vão das esquadrias são quase sempre chanfrados, otimizando a entrada de luz nos ambientes internos. Oliveira (2012) diz que toda a parte de instalações hidráulicas e elétrica, assim como tubulações de aquecimento ou refrigeração podem ser tanto aparentes e externas às paredes, ou colocadas previamente ao preenchimento do taipal para que fiquem embutidas. Segundo ele, nos casos de instalações embutidas a manutenção deve ser feita quebrando a parede sobre a instalação que pode ser fechada com argamassa apropriada de solocimento. Figura 13 – Etapas de execução das fiadas de uma parede de taipa. Fonte: Pisani (2004).
O mesmo autor afirma que os telhados podem ser estruturados por vigas de madeira apoiadas diretamente sobre as paredes autoportantes, ou podem ser feitas vigas de concreto no topo das paredes que funcionam como um cintamento, transferindo a carga do telhado para as paredes. A fixação das estruturas e lajes de cobertura podem ser feitas por meio de encaixes ou armaduras. Nas construções tradicionais os telhados são em águas, com grandes beirais para evitar a erosão das paredes (PISANI, 2004). A parede de taipa quando bem executada não necessita qualquer tipo de acabamento, exibindo todas as camadas de terra, que podem ser salientadas por meio de pigmentos adicionados à mistura dos estabilizantes durante o processo construtivo (OLIVEIRA, 2012). Apesar disso, na técnica tradicional comumente receber argamassa de reboco de barro ou cal e areia, ou mesmo de esterco de animais (PISANI, 2004). Conforme Oliveira (2012), as paredes rebocadas são geralmente caiadas ou recebem algum tipo de pintura de origem vegetal ou mineral, mais adequada ao material do substrato. Recomenda-se o uso de verniz incolor hidrofugante para melhorar a estanqueidade e resistência a abrasão da chuva. É possível ainda revestir a parede com gesso, massa corrida, ou receber azulejos e tábuas quando desejado. A escolha desse sistema da taipa de pilão também se dá pelas suas vantagens ambientais quando comparado aos sistemas construtivos convencionais. A construção em terra gasta aproximadamente 1 ou 2% da energia empregada em uma construção com concreto ou tijolos cozidos, por exemplo (PISANI, 2004). Além disso, a terra crua possui excelentes qualidades térmicas, capazes de regular a umidade e variação de temperatura ambiental ao longo do dia, que também contribuem para a economia de energia durante a vida útil da edificação. A grande massa térmica gerada pela espessura da parede de terra, além de absorver o calor retardando sua liberação para o ambiente, também é capaz de absorver grande parte de ruídos proporcionando ambientes acusticamente agradáveis.
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Figura 14 – Elementos componentes da estrutura do taipal. Fonte: Pisani (2004).
Além das características já exibidas, é importante observar que o descarte do material da construção possui pouco ou nenhum impacto ao meio ambiente, dependendo da alteração do estado da matéria prima inicial durante o processo construtivo. Mesmo quando aditivos hidrofugantes e estabilizantes são utilizados ainda é possível reutilizar o material descartado para aterros e fundações em novas construções.
TAIPA DE MÃO A taipa de mão, mais popularmente conhecida como pau-a-pique, é um tipo de vedação que pode ser utilizada como estrutura independente ou paredes internas em edificações com parede externas feitas de taipa de pilão. Segundo a autora Maria Augusta Pisani (2004), essa técnica consiste em uma estrutura de madeira rígida, formada por esteios, vigas baldrames, frechais e vergas superiores e inferiores (figura 17). “No nível do piso, esses esteios fincados no solo recebiam encaixes para a colocação de vigas baldrames mais altas que o solo para evitar a penetração da água (...). Sobre as vigas se apoiavam os barrotes de sustentação dos assoalhados, que era o piso mais empregado nesse sistema construtivo.” (PISANI,2004 pg. 5). O autor Sylvio Vasconcellos (1979) cita que geralmente são utilizados paus roliços colocados perpendicularmente entre os baldrames e frechais, encaixados em furos deixados nos mesmos ou fixados por meio de pregos a um espaçamento de aproximadamente um palmo. Ainda de acordo com Vasconcellos (1979), a espessura final das paredes é em geral entre 15 e 20cm, condicionando o diâmetro dos paus verticais a uma espessura de 10 a 15cm. A esses paus verticais, são colocados outros mais finos dos dois lados, chamados de varas ou ripas (VASCONCELLOS, 1979) com espaçamentos menores. Esses podem ser colocados dois a dois no mesmo nível de um lado e de outro ou alternadamente, e são amarrados com cipós ou vegetações propicias para manufatura de cordas, como pode ser observado nas figuras 15 e 16.
Figura 15 – Conjunto dos paus a pique tendo as varas amarradas Fonte: Vasconcellos (1979).
Figura 16 – Disposição das varas paralelas e intercaladas Fonte: Vasconcellos (1979).
Após a execução da trama, a terra previamente colhida é preparada para formar uma massa como a da taipa de pilão, porém com maior plasticidade para poder ser manuseada. Então, dois taipeiros em lados opostos da trama, apertam a terra simultaneamente com as mãos sem auxílio de qualquer ferramenta, até que a trama seja toda preenchida. Pisani (2004) diz que o tempo de secagem de uma parede dura aproximadamente um mês, e após esse período ela pode receber revestimentos que também se utilizam da própria terra para aderir a parede.
ADOBE Adobe ou adôbo é o nome dado ao tijolo de barro utilizado na construção de edificações. Os adobes podem ser utilizados como alvenaria estrutural ou blocos de vedação. Segundo Sylvio Vasconcellos (1979), os tijolos são fabricados a partir de argila, areia e podem também conter fibras vegetais e estrume para aumentar a resistência à umidade e evitar deformações. Johan Van Legen (2004) diz que para a preparação da terra deve-se escavá-la e cobri-la com a palha e pó de esterco por alguns dias. Após o período determinado, é adicionada água à massa e utiliza-se os próprios pés para misturar bem os componentes até a densidade desejada. Essa mistura é colocada em formas de madeira (figura 18) em formato de paralelepípedo geralmente com dimensões em torno de 20x20x40cm (VASCONCELLOS, 1979) e devem ser desenformados com cuidado e colocados para secar à sombra, uma vez que se secos rapidamente no sol podem apresentar rachaduras ou deformações (LEGEN, 2004). Pode ser assentado e emboçado com o próprio barro e aceita emassamento de cal e areia assim como a maioria das demais técnicas apresentadas anteriormente.
Figura 18 – Processo de molde e desforma do tijolo de adobe. Fonte: Legen (2004).
Figura 17 – Armação de pau a pique Fonte: Vasconcellos (1979).
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ESTUDO DE CASO: TUCSON MOUNTAIN RETREAT
Figura 20 – Amplas aberturas da sala de estar, e viga de concreto aparente. Fonte: Archdaily (2013).
Figura 19 – Tucson Mountain Retreat em meio a paisagem do deserto. Fonte: Archdaily (2013).
O projeto escolhido como exemplo de arquitetura contemporânea em taipa para a realização deste estudo de caso foi o Tucson Mountain Retreat do escritório DUST, desenvolvido pelo time de projeto composto por Cade Hayes, Jesus Robles e Dale Rush. A construção foi concluída no ano de 2012 e possui 338m² (ARCHIDAILY, 2013).
Figura 21 – Degraus irregulares de entrada da casa em concreto. Fonte: Archdaily (2013).
O projeto residencial fica localizado no remoto Sonoran Desert, em meio a um ecossistema frágil (figura 19). De acordo com as informações da publicação no site Archidaily, o programa da residência se divide em 3 partes: a de estar, a íntima, e a parte do estúdio de música e entretenimento. Esse programa se traduz em planta em três grandes blocos retangulares adjacentes, completamente separados por uma espessa parede de taipa que serpenteia as extremidades e determina as extensas aberturas que possibilitam a conexão com o ambiente externo (figura 23). Buscando aproximar o exterior e interior, e devido ao clima semiárido onde raramente chove, toda a circulação é feita por fora da casa, forçando os moradores a entrarem em contato com o deserto onde estão inseridos. Reforçando essa conexão os arquitetos ainda projetaram as escadas de entrada em blocos de concreto irregulares, dando a sensação de escalada até o nível da entrada da casa (figura 21), bem como um terraço descoberto, acima da entrada principal que funciona como mirante para a paisagem (figura 29).
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Figura 22 – Integração entre interior e exterior. Fonte: Archdaily (2013).
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Platibanda em taipa de pilão
80
30
Analisando as plantas, o corte (figuras 23 e 24) e as fotografias disponibilizadas pelo escritório, pode-se chegar a algumas conclusões não só quanto ao processo conceitual e formal do projeto, mas principalmente das técnicas e soluções construtivas adotadas para lidar com uma construção utilizando material não convencional. Para fins de estudo, foram feitos alguns croquis esquemáticos de ampliação, visando detectar as dimensões, proporções e conexões aqui empregadas.
Viga em concreto apoiada na parede Parede estrutural em taipa de pilão
30 15 15 30
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Móvel interno em concreto Laje de piso em concreto
Suporte/reforço para laje
Sapata em concreto
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Figura 25 – Detalhe de fundação e viga de cobertura. Fonte: Autoria própria.
A fundação da edificação, como na maioria das construções contemporâneas de taipa, foi feita em sapata corrida de concreto que acompanha a disposição das paredes. A estrutura em concreto eleva-se 50cm acima da laje de piso da casa, evitando o contato da parte em terra apiloada da parede com a umidade do solo.
Figura 23 – Planta baixa disponibilizada pelos arquitetos. Fonte: Archdaily (2013).
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Figura 24 – Corte longitudinal disponibilizado pelos arquitetos, adaptado pela autora. Fonte: Archdaily (2013).
A maior parte das paredes da casa possui 50cm de espessura, com exceção da parede divisória entre a sala de estar central com o estúdio de música. A diferença provavelmente se deve a requisitos acústicos e de instalações complementares exigidos pela especificidade das tarefas realizadas nesse cômodo. As lajes de piso da casa são em concreto, com 15cm de espessura e recebe um suporte de concreto de 30x15cm no encontro da laje com a fundação para apoio da mesma (figura 25). A estrutura de cobertura por sua elevada espessura de 80 cm, aparenta ser uma viga de concreto, apoiadas sobre as paredes autoportantes com encaixes ou amarrações de algum tipo, não sendo possível obter mais detalhes pela falta de imagens e informações disponibilizadas pelos arquitetos e sites consultados. As paredes de taipa sobem 50cm acima do nível superior dessas vigas e lajes de cobertura formando uma platibanda que esconde envolve a estrutura da mesma, sendo visível somente em alguns pontos para do observador de fora da edificação (figura 20).
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Platibanda em taipa
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Laje de piso do sky deck
Viga em concreto Viga em concreto apoiada na parede
Laje de piso
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Perfil de sobrepor para fixação da esquadria
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Porta de abrir em vidro
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Perfil de sobrepor para fixação da esquadria
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Platibanda
Parede em taipa
DETALHE D2
DETALHE D3
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Figura 26 – Detalhe esquadrias. Fonte: Autoria própria.
Figura 27 – Detalhe de estrutura da cobertura do skydeck. Fonte: Autoria própria.
Analisando o corte, entendeu-se que o mesmo está representado de forma equivocada em planta, e que deveria estar atravessando o hall e portas de entrada para a área íntima dos quartos. Nessa entrada, existem grandes portas em vidro encaixilhado voltadas para um hall descoberto. Essas portas são fixadas diretamente em um elemento de concreto apoiado na viga e que também funciona como linha de sombra ou cortineiro para os ambientes internos, ao mesmo tempo possibilitando que o vidro esconda o topo da laje aparente para o lado externo (Figura 26). Nas demais paredes de fechamento com esquadrias de vidro, as vigas de concreto aparente se tornam a própria platibanda e essa eleva-se 30cm acima do nível superior da laje de cobertura. Essa diferenciação fortalece o contraste dos materiais, bem como dos setores internos da casa.
Acima da entrada principal da casa, acompanhando o volume retangular que separa a área intima da área social, encontra-se um terraço descoberto chamado pelos arquitetos de “sky deck”, como um espaço de contemplação do deserto no entorno. O acesso é feito por meio de uma escada metálica vazada criando diversos efeitos de luz nas paredes ao seu redor (figura 28). Para abrigar esse terraço mantendo o nível das platibandas externamente, ocorre um rebaixo da laje nessa área reduzindo o pé direito interno de 3m para 2,40m. Além do rebaixo da laje existe um vazio de 30cm antes de uma nova laje de piso de 20cm, acima da qual a platibanda sobe 1m, alinhando-se com as demais. (figura 27).
Figura 28 – Estrutura metálica vazada da escada de acesso ao deck. Fonte: DUST.
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A Tucson Mountain Retreat possui poucas janelas, sendo praticamente a totalidade das aberturas feitas por grandes painéis retráteis em vidro, recuados da extremidade das fachadas em que se encontram. Esses painéis, quando abertos, estendem os cômodos até o contato com o exterior, integrando-se com as varandas criadas pelo recuo (figura 22).
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Os panos de vidro são encaixilhados e fixados por meio de trilhos embutidos no forro de gesso ou diretamente nas vigas de borda. Também embutidas na laje de piso encontram-se as guias que auxiliam no percurso das folhas do painel. Todas as folhas correm nas duas direções, podendo o conjunto ser todo recolhido em um mesmo lado onde batentes laterais impedem o contato direto do vidro com a parede de terra.
Levando em consideração as teorias sobre o uso da taipa tradicional e contemporânea, o estudo de caso da Tucson Mountain Retreat mostra bons exemplos da aplicação de algumas dessas técnicas, indo além na aplicação de materiais e tecnologias novas, como os painéis retráteis de vidro, e a substituição do telhado convencional ou embutido pela laje de concreto impermeabilizada. Esses novos elementos abrem margem de interpretação para a interação entre os materiais, sendo passível inferir a existência de armaduras em aço ou algum tipo de cintamento entre a parede e a cobertura, bem como entre a parede e sua fundação. A aplicação dessas técnicas abre novas possibilidades de projeto, apesar de requererem estudos mais profundos com especialistas na área. Figura 29 – Sky deck funcionando como mirante para a paisagem do deserto. Fonte: Archdaily (2013).
O PROJETO
INVENTÁRIO O terreno escolhido encontra-se na Avenida Careba – que é a única via consolidada de acesso à praia – a aproximadamente 500m do mar. Está localizado entre um restaurante local e uma zona de mata de restinga sem construções, que apesar de fechada não é indicada nos mapas de zoneamento fornecidos pela prefeitura de Linhares como zona de proteção. Adjacente ao terreno ainda se encontra a construção do novo farol de Regência a sudeste, circundado por muros cegos e a nordeste a entrada da trilha do farol, que conecta uma pequena praça da cidade com o terreno e termina na areia da praia (figura 30).
Figura 30 – Esquema de localização do terreno em Regência – ES. Fonte: Adaptado pela autora.
Figura 31– Foto panorâmica do terreno escolhido com farol ao fundo. Fonte: Acervo pessoal.
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Do outro lado da avenida encontram-se algumas edificações residenciais de um ou dois pavimentos e uma loja de equipamentos esportivos (figura 32). A avenida, assim como a grande maioria das ruas da vila, não possui qualquer tipo de calçamento, e é movimentada dentro dos parâmetros locais devido a presença de diversos estabelecimentos de comércio que funcionam ali. O uso do solo da rua Careba foi levantado para efeitos de estudo dos tipos de atividades exercidas ali, como se pode observar no mapa de uso do solo. Carros, pedestres e bicicletas dividem o mesmo espaço que não possui passeios, calçadas ou separação de ciclovia. A rua é provida de eletricidade e postes de iluminação ao longo de todo seu comprimento.
Figura 32 – Acesso ao terreno pela Avenida Careba. Fonte: Acervo pessoal.
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MAPA DE USO DO SOLO
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ESC: 1:2000
Figura 33 – Entrada para a trilha do farol. Fonte: Acervo pessoal.
O terreno possui formato irregular, com testada extensa de aproximadamente 74m com frente para a avenida a oeste, e profundidade aproximada de 65m. A área total estimada do terreno é de 5380m². Além do acesso pela rua principal é possível chegar ao terreno por meio da trilha de acesso ao farol que vem da cidade em direção à praia ao sul e possui duas entrada para o terreno em estudo. Os ventos predominantes são os provenientes do nordeste, com ocorrências frequentes também do vento sul. No extremo sudeste do terreno está localizado o novo farol de Regência com o qual o lote faz divisa. O farol é um importante marco da vila, para o qual as principai vistas de dentro do terreno foram apontadas como possíveis influências para o projeto.
LEVANTAMENTO DE DADOS DO TERRENO ESC: 1:500
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Quanto ao levantamento da vegetação existente, o terreno possui um grande descampado central, contornado pelas duas laterais e fundos por vegetação de médio porte com características de restinga.Na testada a oeste há algumas castanheiras existentes, onde notou-se a presença de balanço, slackline e alguns recursos de lazer utilizados pela população. Ao norte, a vegetação é mais espaçada contando com algumas poucas árvores e arbustos que dividem o lote do restaurante vizinho. A sul e leste a vegetação torna-se mais densa e fechada formando um grande maciço verde que compõe a paisagem da trilha até a praia (figuras 35 e 37). Nessa porção alguns caminhos abertos interrompem e dissolvem a continuidade do maciço principalmente nas entradas para trilha a nordeste e sudeste, ao lado do muro do farol. Apesar do movimento da rua, o local é silencioso e tranquilo na maior parte do tempo, com presença de diversas espécies de pássaros, dentre as quais se pode identificar o bem-te-vi, sabiá da praia e João de barro. Também há presença de borboletas e lagartixas circulando frequentemente pelo espaço. Dentre as espécies vegetais mais comuns estão a aroeira, pé de caju, a flor Damiana, ipomeia e a salsa da praia (figuras 34 e 36).
Figura 34 – Salsa da praia e sabiá da praia. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 36 – Flor Damiana no terreno. Fonte: Acervo pessoal.
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Figura 35 – Vegetação de restinga na trilha. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 37 – Maciço verde ao lado do farol. Fonte: Acervo pessoal.
LEVANTAMENTO DE VEGETAÇÃO ESC: 1:500
PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades se baseia na percepção subjetiva das demandas da população local em conjunção com os moradores recentes que vem sendo atraídos para a vila. Pela influência do projeto Tamar, além de outros centros de estudos e monitoramentos, a vila de Regência Augusta tem recebido e se tornado moradia para diversos pesquisadores, cientistas sociais e biólogos. Essa população de uma forma generalizada demonstra interesses por certas atividades e formas de alimentação e tratamentos alternativos aos padrões hegemônicos ocidentais. Esses grupos encontram nas práticas orientais alternativas para atividades físicas e tratamentos naturais, como ioga, meditação, chás, homeopatia, óleos essenciais, etc., e passam a adotá-las em suas vidas cotidianas. Sendo assim, sem deixar de lado as tradições e necessidades dos moradores verdadeiramente nativos, o centro de saúde integrativa busca abranger e mesclar a diversidade das práticas locais com essas “novas” práticas, a fim de reafirmar e reforçar a cultura nativa ao mesmo tempo que soma a ela novas técnicas e modos de pensar relacionados, sempre visando a otimização da qualidade de vida de todos. O centro contará com uma recepção que funciona como centro de informações, loja de comercialização dos produtos produzidos artesanalmente no local e triagem e espera para os atendimentos realizados no centro. Deverá haver uma sala destinada ao escritório financeiro e administrativo, assim como apoio dos serviços contando com banheiros, vestiários, copa de funcionários e área de serviço e almoxarifado.
CONCEITO E PARTIDO A vila, como um todo, inspira o retorno à natureza e ao seu tempo biológico, indo no contra fluxo da tendência mundial da industrialização e aceleração do ritmo de vida. O terreno, em especial, não só traz essa característica conceitualmente, como é de fato circundado por caminhos que levam diretamente ao contato com a natureza por todos seus lados. Local simples e tranquilo, desprovido de qualquer tipo de pavimentação; de um lado é margeado pela principal rua de acesso à praia, do outro pelo farol da vila e por vegetação de restinga que caracteriza uma trilha de acesso direto à areia da praia e, pouco menos de 1km a leste, à foz do Rio Doce. O projeto procura criar espaços que valorizem e reforcem as relações já existentes de proveito e subsistência da população local em relação ao meio ambiente em que estão inseridos, que foram dificultadas ou enfraquecidas pela lama proveniente do desastre-crime ambiental da barragem de Mariana-MG. A intenção é que, por meio de práticas de bem-estar ligadas à componentes naturais, o povoado possa começar o processo de “cura” física e psicológica dos eventos ocorridos por meio de sua própria terra, assim como perpetuar aprendizados e tradições empíricos característicos dessa comunidade. O partido adotado resultou de estudos sobre a linha da arquitetura indiana Vastu, que propõe organizar os espaços de acordo com os pontos cardeais juntamente com os 5 elementos da natureza – água, ar, fogo, terra e éter – otimizando os fluxos energéticos gerados a partir de cada um deles, que convergem para o centro livre, segundo a crença.
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Buscando promover a espiritualidade e intelectualidade, haverá duas salas distintas: uma para as práticas de meditação de atividades físicas como ioga, tai chi, biodança, dentre outras; e uma segunda sala de estudos e biblioteca destinada a aprendizagem, cursos e troca de conhecimento sobre as vertentes e modalidades presentes no projeto como construção com materiais sustentáveis, utilização de plantas para tratamentos medicinais, assim como reuniões e palestras sobre assuntos pertinentes. Para a elaboração de produtos e manipulação de medicamentos naturais o projeto terá um laboratório, bem como uma horta de cultivo de alimentos e plantas medicinais. Os produtos nele manufaturados serão comercializados na loja de recepção como forma de arrecadar fundos para a instituição. A horta será comunitária com livre acesso para a população geral. Além disso haverá salas multifuncionais preparadas para receber diversos tipos de terapias e atendimentos profissionais como acupuntura, aromaterapias, massagens com óleos, atendimento psicológico e nutricional, também contendo banheiros e bebedouros próprios como apoio às atividades ali exercidas. O projeto contará também com uma sala destinada a produções e exposições artísticas. Atividades como música, cerâmica, pintura poderão ocorrer nessas salas, que se conectam diretamente com um jardim externo para extensão das mesmas.
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Figura 38 – Esquema de partido em planta. Fonte: Autoria própria.
Para isso, o terreno foi dividido em quatro quadrantes de influências onde haverá quatro blocos separados com funções definidas pelas características dos elementos regentes (figura 38). A noroeste está a zona de influência do ar, elemento do movimento, propício para locais de recebimento de convidados e atividades de curta permanência. A nordeste, temos o elemento éter que expressa a intelectualidade e espiritualidade e se configura como localização mais nobre do terreno. Já ao sudeste localiza-se o elemento fogo, ideal para atividades que lidam com a transformação e manipulação de elementos por meio do mesmo. E por fim na zona de influência do elemento terra, ao sudoeste, temos a representação do fim e da escuridão que para o fim deste projeto pode ser entendido como local de repouso e interiorização. A divisão entre os blocos será reforçada pelo eixo visual do projeto que se configura como o encontro de uma linha reta, que divide os blocos do norte e do sul, com a diagonal que se direciona ao farol e ao início da trilha. Esse eixo será o ponto de partida para a definição dos espaços livres e espacialidade dos blocos.
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ESTUDO PRELIMINAR 䄀嘀 ⸀ 䌀
Pensando o conjunto de influências que regem cada ambiente, assim como as atividades exercidas e a experiência desejada para os usuários, foram pensadas algumas soluções formais e espaciais para alcançar esses objetivos. Tomando como partido o diagrama dos quatro quadrantes regidos pelos elementos naturais citados na filosofia Vastu, ocorreu a alocação de quatro “blocos”, que em alguns casos de fundem ou se dividem de acordo com a necessidade funcional do programa, que se conectam por meio de um caminho centra, conforme o diagrama da figura 39.
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O centro do terreno, segundo a influência Vastu, é livre e se configura como o ponto de confluência de energias e de encontro. Esse espaço foi pensado como o eixo definidor do projeto, que além de organizar e separar a zona de cada elemento permite a vista do novo farol de Regência localizado imediatamente aos fundos do terreno, se impondo como um marco e grande ponto de referência para todos na região. Para isso, o espaço central foi pensado como uma diagonal traçada a partir do enquadramento do farol como ponto focal, que se liga a linha ortogonal da entrada que divide os quadrantes do norte e do sul. Esse caminho visa a criação de um percurso que instigue o observador a desacelerar o passo e continuar explorando e descobrindo as novas vistas e possibilidades até chegar à trilha do farol que leva à praia, sendo convidado a entrar e desfrutar das instalações públicas do terreno durante o percurso.
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Para criar mais permeabilidade, o limite original do terreno, e entradas do farol também foram alterados. O limite do farol configurado como um quadrado com muros altos e opacos, é substituído por uma nova forma inspirada no próprio funcionamento e finalidade do mesmo. O farol é sempre um ponto alto da cidade onde um facho de luz se rotaciona para sinalização daqueles que chegam pelo mar. Esse facho de luz foi entendido como uma forma semicircular que se volta para dentro do terreno como se o estivesse iluminando. Enquanto o antigo muro reto se apresenta como barreira, a característica arredondada se torna mais convidativa a ser contornada até que se depare com o caminho da trilha. Além disso o muro de concreto deverá ser substituído por pequenos pilares de madeira, que remete aos materiais utilizados no projeto entendendo o farol como um elemento que faz parte do mesmo, ao mesmo tempo que cria uma permeabilidade para visualização desse marco no nível dos olhos, apesar do acesso impedido.
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Todos os blocos são elevados acima do nível do solo como forma de proteção da terra contra a umidade e deterioração, assim como criar uma hierarquia diferente do espaço do complexo do centro em relação ao resto da vila. O acesso então, ocorre por meio de uma rampa voltada para a rua principal com inclinação suave, fazendo a transição entre o plano da rua e do piso elevado que interliga todos os blocos. Esse grande deck é suspenso a 45cm do terreno, e como forma de atrair pessoas e criar áreas de permanência, foram criados alguns espaços rebaixados de jardins, de forma que as bordas do caminho elevado funcionem como o próprio local de assento. O principal dele é o pátio central cujo formato busca modelar e dimensionar o caminho do observador até o farol que se encontra nos fundos do terreno.
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Seguindo o mesmo raciocínio do conceito da divisão de blocos, para as coberturas foram pensadas quatro tipologias diferentes e independentes entre si que seguissem o conceito do elemento regente do quadrante onde o bloco está inserido, conforme será apresentado a seguir.
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Figura 39 – Diagrama de desenvolvimento do partido. Fonte: Autoria própria.
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A implantação buscou respeitar a vegetação nativa existente se limitando ao máximo à área descampada conforme visto no levantamento. Os blocos foram implantados recuados da testada do terreno a fim de criar um maior campo visual do complexo como um todo, manter o canteiro com as castanheiras existentes reconhecidas onde acontecem atividades de lazer conforme percebido no levantamento, assim como dar destaque a rampa de acesso. Nos antigos caminhos para a trilha do farol que serão fechados, foi proposto a plantação de árvores ou arbustos para o adensamento da vegetação nativa local, de forma impedir a passagem nesses locais, e criar uma sensação de estar “dentro da mata” nos blocos voltado para o leste.
IMPLANTAÇÃO ESC: 1:500
25
26
A nordeste do terreno, mais próximo ao acesso do terreno e dentro da influência do quadrante do elemento ar foi localizada a recepção, como entrada principal do complexo e espaço de grande fluxo de pessoas, destacando-se em direção à rua principal. A recepção assumiu um pé direito maior como forma de destaque e diferenciação do bloco anexo onde ficam a administração, banheiros e serviços, pensados como a área noroeste de “limpeza” segundo a linha Vastu. A recepção possui uma grande esquadria de vidro voltada para o centro que pode ser a fim de criar uma permeabilidade visual que convide as pessoas a entrarem. As áreas de serviço e administração se encontram ao lado da recepção como suporte técnico para todas as atividades do centro. Procurando manter a privacidade e o conforto térmico, foram pensadas aberturas elevadas, que não possibilitassem às edificações vizinhas e transeuntes contato visual com o interior dos cômodos, mas ainda assim que permitissem a iluminação e ventilação adequada. A cobertura desse bloco, assim como acontece nos demais, foi pensada de forma a remeter simbolicamente ao elemento regente do quadrante em que se localiza. No caso do elemento ar, buscou-se uma cobertura leve, permeável que levitasse sobre a edificação sem tocá-la, possuindo, portanto, apoios independentes. Dessa forma pensou-se num grande pergolado de madeira com cobertura em policarbonato translúcido, apoiado sobre pilares independentes da edificação, que se sobrepõe aos dois blocos interceptados, permitindo a passagem e permeabilidade da luz e livre circulação do ar.
Ao norte foi implantada a sala de estudos, que é a unidade com pé direito mais alto dentre todos a fim de acomodar nas paredes mais altas uma pequena biblioteca da qual os estudantes e usuários em geral pudessem fazer uso, acessada por uma escada móvel que corre ao longo da parede de prateleiras. Ao lado dessa sala de estudos se localiza um outro edifício independente onde será a sala de meditação e ioga. Esses dois elementos apesar de separados foram pensados como um conjunto alocado na área noroeste de influência do elemento éter onde prevalecem as atividades intelectuais e espirituais, além de se afastarem da rua voltando-se para a área tranquila do interior ligada a trilha e a vegetação de reserva. A ligação entre os blocos é determinada pela cobertura única que abriga os dois, indo do ponto mais baixo na extremidade sul da sala de meditação ao ponto mais alto na extremidade norte da sala de estudos, tirando partido da inclinação para criar um espaço de terraço coberto que funciona como mirante para o farol e a natureza local. Esse terraço é acessado por uma escada externa às duas edificações voltada para o centro como forma de convidar os transeuntes a subirem. Acima da sala de meditação onde a inclinação não é suficiente para criar um espaço acessível, o telhado apresenta um vão recortado por onde a água pode permear para o telhado verde que cobre a laje de teto da unidade. As aberturas principais desses dois blocos foram pensadas voltando-se principalmente para o leste, em contato com a vegetação da trilha do farol, sendo que para o edifício da ioga existirá também uma grande esquadria de vidro voltada para norte onde há uma extensão do deck do piso elevado que poderá ser utilizada como parte integrante da sala e para aulas ao ar livre com contato com o ambiente.
No quadrante sudoeste, regido pelo elemento terra, o bloco se desdobra em 2 faces formando uma figura em “L”. O setor a oeste faz alusão a definição de local de repouso e tranquilidade e contém todas as salas de terapias e atendimentos individuais. Prezando pela privacidade e buscando um senso de interiorização as aberturas voltadas para a rua se limitam a janelas elevadas, protegidas do sol pela própria cobertura. As portas das salas são todas voltada para o leste, com painéis de luz fixos ao lado das portas que permitem o contato com o pátio central e podem ser fechados por elementos sombreadores internos durante atendimentos. Ao sul fazendo referência ao planeta vênus está a sala de artes e exposição que se abre com um grande painel de vidro voltado para o deck central como forma de integração visual e física dos ambientes interno e externo. A cobertura de todo o bloco foi pensada como um elemento “enterrado” nas próprias paredes da edificação, como se o telhado se fundisse com a parede de taipa, atravessando-a. Isso resultou numa marquise que corre toda a extensão externa das paredes, deixando uma platibanda de proteção a mostra que funciona para o telhado verde que existe nas lajes de cobertura do bloco.
Localizado no sudeste, o bloco fogo é representado por uma edificação única, que faz divisa com o bloco da terra. Foi implantado um único edifício que abriga o laboratório como representante do elemento fogo, onde serão manipuladas as plantas e matérias primas a serem transformadas em diversos tipos de “medicamentos” naturais., além de uma área de apoio secundária com banheiros para atender os blocos da porção sul do terreno. Para a cobertura desse bloco, o fogo foi entendido como fonte de iluminação e conforto térmico, utilizando-se o mesmo desenho de um telhado único de uma água dos edifícios do bloco éter, porém com o diferencial de ter o telhado diretamente apoiado sobre as paredes através de vigas de madeira vazadas que possibilitam a saída de ar quente e manutenção da temperatura interna agradável por mais tempo. Além disso a cobertura possui aberturas zenitais voltadas para o sul como forma de a trazer a luz natural para o ambiente de trabalho que requer ótima iluminação para realização de trabalhos minuciosos. A entrada do bloco, assim como as demais se volta para o centro do complexo, e a intenção das aberturas é criar uma ventilação adequada de forma a dissipar o calor gerado dentro do ambiente, respeitando os ventos predominante, e também, criar vistas como o enquadramento do farol e visualização da vegetação da reserva e da horta de plantas medicinais localizadas que existirá ao sul da edificação.
PLANTA TÉRREO ESC: 1:250
27
28
PLANTA TERRAÇO ESC: 1:250
PLANTA COBERTURA ESC: 1:250
29
01 ELEVAÇÃO OESTE ESC: 1:250
02 ELEVAÇÃO LESTE
30
ESC: 1:250
03 ELEVAÇÃO NORTE ESC: 1:250
04 ELEVAÇÃO SUL ESC: 1:250
31
05 ELEVAÇÃO FACHADA CENTRAL 1 ESC: 1:250
06 ELEVAÇÃO FACHADA CENTRAL 2 ESC: 1:250
32
A CORTE AA ESC: 1:250
B CORTE BB ESC: 1:250
33
C CORTE CC ESC: 1:250
D CORTE DD ESC: 1:250
34
E
CORTE EE
ESC: 1:250
ANTEPROJETO Durante as fases de criação e definições projetuais foram encontrados alguns desafios quanto à adequação da técnica construtiva tradicional às soluções formais contemporâneas adotadas. Dessa maneira, fez-se importante para a compreensão do projeto a apresentação das resoluções construtivas pensadas para permitir a realização do mesmo. A escolha da técnica construtiva com terra utilizada nas paredes externas de cada edificação ocorreu de acordo com a necessidade estrutural, busca por maior ou menor isolamento térmico e acústico entre ambientes, intenção do tamanho dos vão das aberturas e se essas seriam esquadrias de vidro ou muxarabis vazados, conforme será apresentado a seguir. As paredes internas, por funcionarem como divisórias e não estarem expostas diretamente a fortes insolações, ou esforços estruturais serão todas feitas em taipa de mão, uma vez que a espessura dessa técnica é menor – 20cm quando comparada aos 50cm da taipa de pilão – o que possibilita melhor aproveitamento de área útil das salas e cômodos. A maioria das paredes do projeto são cobertas e protegidas pelos grandes beirais das coberturas. Contudo, algumas dessas paredes que possam estar expostas às ações degradantes das chuvas e demais intempéries deverão receber durante o processo construtivo um aditivo de solução de resina B26 aplicada em 3 etapas: a primeira camada pulverizada com 90% de solvente e 10% de resina; em seguida, antes da cura da primeira camada, aplica-se uma segunda camada com 70% de solvente e 30% de resina; e por fim, uma camada exterior como um verniz com 50% de solvente e 50% de resina, segundo o professor e especialista Nelson Porto. Quanto aos pisos e pavimentação do projeto, o piso elevado central será feito com tijolos de adobe assentados como paralelepípedos dentro de uma estrutura em “caixa” de madeira, que é sustentada pela fundação de baldrames de concreto. Essa pavimentação se estende até fachada das edificações do lado oposto da rua, criando uma transição entre a terra batida original do piso da mesma, e os tijolos de terra assentados que se integram e chamam atenção para a entrada do complexo. No interior das edificações, o piso será em madeira de forma a proporcionar ambientes aconchegantes e manter a linguagem de toda a construção, salvo nas áreas molhadas onde deverá ser feita a devida impermeabilização e aplicação de piso cerâmico.
35
6,00
7,00
4,00
9,00
6,00
Vest. Fem. 5,45
21,05 m2
Estudos e Biblioteca 88,00 m2
Vest. Masc.
9,55
20,22 m2
Admin. 15,01 m2
Recepção 36,40 m2
A.S. 13,95 m2
Meditação e Ioga
9,00
Copa 14,85 m2
108,36 m2
RAMPA i=4,8% 4,00
8,16
6,73
9,45
5,7 65
7,7 55
Praça central 197,00 m2
9,5 95
Atendimento
15,75
20,50 m2
Atendimento 20,50 m2
6,50
RA MP A i=4 ,8%
8,0 0
9,4 5
Terapias 20,50 m2
Banh. Masc 13,69 m2
Laboratório 94,50 m2
9,925
Terapias 20,54 m2
Artes e exposição 45,00 m2
Banh. Fem. 13,68 m2
5,45
36 GSPublisherVersion 0.0.100.71
10,00
2,50
16,00
PLANTA TÉRREO ESC: 1:250
2,00 1,00
1,00
50
7,00 1,58 20
3,92
3,30
1,25
2,05
20
65
1,35
Vest. Fem.
1,50
20
50
2,00
2,00
POJEÇÃO DA COBERTURA 2,00
2,00
AR2
BLOCO AR
6,00
+0,45
1,30
9,85
20
±0,00
3,75
11,00
20
20
2,45
4,15
21,05 m2
20,22 m2
O bloco ar se divide em duas edificações diferentes interceptadas entre si. Quanto a materialidade, a edificação de recepção possuem paredes mais espessas em taipa de pilão, enquanto o volume anexo onde se localizam as partes administrativas e de serviços, deverá ser executado com a técnica da taipa de mão ou pau a pique. O motivo da escolha foi para, além de destacar o bloco da recepção como entrada principal do complexo com paredes mais robustas e imponente, possibilitar a criação de muxarabis nessas áreas molhadas e de menor permanência, otimizando a circulação dos ventos predominantes.
PAREDES EM TAIPA DE PILÃO 3,92
1,58
3,80
50
40
20
65
50
25,00
2,50
4,55
+0,45
Admin. 15,01 m2
20
6,00
+0,45
8,00
Recepção
1,50
36,40 m2
20
+0,45
G AR1 Copa
A.S.
14,85 m2
13,95 m2
+0,45
1,25
+0,45
2,75
2,00
PAREDES EM TAIPA DE MÃO
AR2
2,00
20
2,00
+0,45 ±0,00
4,50
AR1 1,50
Esses muxarabis funcionam como aberturas vazadas que ocorrem nas áreas de serviço do bloco, que também ocorrem no edifício do estúdio de ioga e meditação do bloco éter. A intenção é que os muxarabis sejam a própria trama da estrutura da parede de pau a pique exposta, sem o preenchimento do barro. No caso das aberturas convencionais na taipa de mão, são utilizadas vergas, contravergas e ombreiras para a conter a terra e permitir a fixação da esquadria. Contudo, essa prática interrompe os paus estruturantes para criação de um vão livre. Como a proposta é deixar os paus contínuos e a mostra, foram pensadas vergas e ombreiras “sanduíche” que abrangem a estrutura pelos dois lados contendo a terra vertical ou horizontalmente, ao mesmo tempo que permite que os paus da estrutura atravessem o vão que não será coberto com a terra, como pode ser observado no Detalhe 1.
Vest. Masc.
PLANTA BAIXA BLOCO AR
2,00
ESC: 1:100
4,50
1,50
20
3,30 17,00
GSPublisherVersion 0.0.100.70
20
3,10
20
2,00
37
AR1 CORTE AR 1 ESC: 1:100
AR2 CORTE AR2 ESC: 1:100
38
Figura 42– Vista interna da recepção, e porta de entrada. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 40 – Vista para a entrada principal do centro, e cobertura suspensa do bloco ar. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
PREENCHIMENTO COM TERRA
2
LAJE DE CONCRETO AMARRADA NA ESTRUTURA DE PAU A PIQUE
VERGA "SANDUÍCHE"
66
VARAS
PAU A PIQUE
2
PEITORIL "SANDUÍCHE"
PREENCHIMENTO COM TERRA
D1 DETALHE MUXARABIS Figura 41 – Pavimentação de adobe continuada da rua para a rampa de acesso ao piso elevado. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
ESC: 1:10
39
6,50
2,00
50
5,00
50
2,50
50
2,00
±0,00
87
Estudos e Biblioteca
2,00 50
+0,45
3,00
4,65
26 25 24 23 22 21
PAREDES EM TAIPA DE MÃO
ET1
Meditação e Ioga 108,36 m2
+0,45
2,00
10,60
ET3
ESC: 1:100
19,00
GSPublisherVersion 0.0.100.70
20
2,00
2,00
20
1,00
20
40
PLANTA BAIXA BLOCO ÉTER
2,00
2,00
2,00
1,00
3,00
ET1
9,00
9,50
19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
5,80
20
20
2,30
Quanto as aberturas do bloco, além das já mencionadas para o edifício da ioga foi pensada uma janela triangular, que acompanha a inclinação da escada externa do bloco, como forma de manter a ventilação cruzada assim como valorizar a forma da escada e criar uma certa curiosidade entre as pessoas transitando no interior e exterior do edifício. Já no edifício da sala de estudos, as aberturas são grandes painéis verticais que buscam acentuar essa característica do edifício, assim como permitir a visual do maciço verde da vegetação da trilha.
ET2
+0,45
28,00
O bloco também se divide em duas edificações distintas e independentes, cada uma com sua técnica diferente. Para a sala de estudos, por comportar uma biblioteca interna e um terraço superior, fez-se necessário paredes estruturais que suportem as elevadas cargas e por isso será executada em taipa de pilão. Já a sala de meditação e ioga não demanda grandes esforços estruturais. A intenção nessa edificação é de uma maior conexão entre interior e exterior com grandes aberturas, contudo criando elementos sombreadores voltados para a orientação leste que, assim como os muxarabis utilizados na edificação dos serviços, “nasce” da própria estrutura da armação de madeira que recebe a taipa de mão, onde os vão deixados descobertos pela terra se configuram como um muxarabi que permite a ventilação constante e cria uma linguagem com os demais blocos que utilizam do mesmo sistema.
ET2
4,03
4,20
88,00 m2
12,00
4,80
PAREDES EM TAIPA DE PILÃO
4,95
POJEÇÃO DA COBERTURA
50
2,00
6,00
2,00
ET3 2,00
BLOCO ÉTER
9,00
8,00
50
50
50
POJEÇÃO DA COBERTURA
ET3 9,00
Terraço
+4,00
11,00
12,00
88,00 m2
ET2
ET2 +4,55
1,80
26 25 24 23 22 21
2,00
20
5,70
50
No terraço acessível do conjunto, as próprias paredes exercem o papel de platibanda e guarda corpo. Para esse ambiente foi pensado layout móvel, majoritariamente livre, com a intenção de manter o foco na vista externa, além do próprio elemento do telhado como parte decorativa. Pela grande extensão do telhado do bloco éter, e necessidade de poucos pilares interceptando as edificações no nível do térreo, foi necessário buscar uma solução estrutural capaz de suportar essas cargas. Dessa maneira foi projetada uma estrutura de vigas de madeira laminada colada, que faz o papel de uma treliça descarregando os esforços nos pilares. Essa estrutura se configura como elemento visual e decorativo predominante do bloco sendo também um atrativo para a visitação do ambiente de terraço (figura X).
19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
2,00
6,50
50
+4,00
ET1 Telhado verde 108,36 m2
+4,07
2,50
ET1
Figura 43 – Vista do terraço e estrutura da cobertura do bloco éter. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
PLANTA BAIXA TERRAÇO ET3
ESC: 1:100
GSPublisherVersion 0.0.100.71
41
ESTRUTURA EM MADEIRA
15
15
15
30
15
5 10
PAVIMENTAÇÃO DE ADOBE
70
85
LAJE DE CONCRETO
VIGA BALDRAME
ET1 CORTE ÉTER 1 ESC: 1:100
D2 DETALHE PAVIMENTO ELEVADO ESC: 1:20
O piso elevado com pavimentação do deck da sala de ioga, é uma extensão do piso que interliga todos os demais blocos, feito com tijolos de adobe. Esse piso se eleva a 45cm do nível do solo, sendo assentado sobre uma estrutura de madeira que funciona como uma “caixa” dentro da qual é feita paginação dos tijolos de terra crua, como representados no detalhe 2 a seguir. Esse conjunto é suportado pela fundação na forma de baldrames de concreto, onde a laje de sustentação se afina em direção às extremidades, deixando a mostra apenas o envoltório da caixa de madeira e criando uma espécie de linha de sombra que dá a impressão de estar levitando sobre o solo. GSPublisherVersion 0.0.100.71
42
ET2 CORTE ÉTER 2 ESC: 1:100
ET3 CORTE ÉTER 3 ESC: 1:100
Figura 44 – Vista dos dois edifícios componentes do bloco éter e a cobertura independete. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
43
Figura 45 – Diferença de piso interno e externo no deck da sala de meditação. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 47 – Janela triangular na sala de meditação e ioga. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
44
Figura 46 – Sala de estudos bom biblioteca vertical. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora
Figura 48 – Interior da sala de meditação com vista para a vegetação externa. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
BLOCO FOGO 5,00 50
2,00
2,50
1,50
PAREDES EM TAIPA DE PILÃO
50
2,00
±0,00
50 50
2,00
1,35
20 25
1,00
1,00
25
50
Banh. Masc
3,00
1,80
13,69 m2
3,80
+0,45
FG1 3,00
FG1
Laboratório 94,50 m2
20
Banh. Fem.
50 1,00
50
1,00
1,50
13,68 m2
2,00
Nas aberturas onde haverá esquadrias de vidro convencionais, tanto na taipa de mão quanto na taipa de pilão utilizado o tradicional sistema de vergas e ombreiras como forma de contenção. Entretanto, as paredes de taipa de pilão, por sua maior espessura, para criar uma transição mais leve entre o vão da abertura e a esquadria de fato que se encontra alinhada mais próxima ao interior da edificação, são feitos chanfros na terra de forma a aumentar a luz do lado de dentro que poderia ser bloqueada pelo ressalto da espessura. A técnica pode ser vista no detalhe 3.
50
30
1,00
2,70
FG3
POJEÇÃO DA COBERTURA
FG2
2,00
2,00
O bloco fogo, pensado com uma cobertura apoiada sobre as próprias paredes para que pudessem ser feitas claraboias para iluminar o espaço de trabalho interno, solicita paredes robustas para onde as cargas do telhado possa ser transferida. Dessa maneira, a técnica escolhida para as paredes externas foi novamente a taipa de pilão. Para o apoio do telhado é feito um cintamento no topo das paredes por meio de vigas de madeira treliçadas, que além de transferir a carga da cobertura para as paredes, funcionam como abertura para iluminação e principalmente para a saída do ar quente proveniente do interior da edificação devido às atividades ali praticadas.
1,00
10,00
+0,45
14,00
2,00
3,15
1,50
4,00
FG3
50
8,50
FG2
2,00
6,50
50
3,55
1,00
2,10
2,50
1,35
50
1,00
80
20
20,00
Composteira
Horta
±0,00
PLANTA BAIXA BLOCO FOGO ESC: 1:100
GSPublisherVersion 0.0.100.70
45
60
TELHADO COM TELHA ECOLÓGICA
72
CINTAMENTO DAS PAREDE COM VIGA TRELIÇADA EM MADEIRA PARA APOIO DA COBERTURA
20,00°
FG3 CORTE FOGO 3
165
PAREDE EM TAIPA DE PILÃO
ESC: 1:100
1,50
JANELA RECUADA
165
CHANFRO NA TAIPA PARA AUMENTAR O VÃO DE LUZ
FG2 CORTE FOGO 2
D3 DETALHE CHANFRO E CINTAMENTO
ESC: 1:250
ESC: 1:20
GSPublisherVersion 0.0.100.71
46
FG1 CORTE FOGO 1 ESC: 1:100
Figura 49 – Vista interna do laboratório com iluminação zenital. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 50 – Vista sul do bloco fogo e horta externa à edificação. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 51 – Fachada norte do bloco fogo e vista da diagonal para o farol. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
47
10,00 2,00
2,30
2,70
50
2,00
2,00
Praça central
50
197,00 m2
2,065
55
50
2,00
TR2
BLOCO TERRA
50
Atendimento
+0,45
2,30
1,30
2,00
3,00
20,50 m2
Atendimento
2,30
1,30 3,00
+0,45
Terapias
9,00
50
2,00
TR3
1,30
525
2,035
20,50 m2
2,00
+0,45 1,00
PAREDES EM TAIPA DE PILÃO
TR1
+0,45
50
275
3,00
As paredes como as da platibanda do bloco terra, que possuem o topo exposto além do tratamento do material, recebem um perfil de acabamento sobreposto, com rufo e pingadeira para proteção e escoamento das águas pluviais.
22,00
No bloco terra onde há a marquise do telhado temos a estrutura como mostrada no detalhe 4. A mão francesa de suporte do telhado é encaixada no entalhe deixado na peça de madeira que se fixa a parede de terra. A estrutura horizontal nela apoiada funciona como elemento estético para esconder a calha de escoamento das águas da chuva, assim como criar um forro de madeira para a pessoa que estiver passando por baixo da cobertura. Pelo interior da edificação a cobertura é feita por um telhado verde que é composto pelas camadas da laje em concreto, manta asfáltica, isolamento, geotêxtil, e a terra onde será plantada a vegetação de fato. A laje é apoiada sobre a taipa de pilão com ferragens para amarração entre os materiais.
2,00
3,00
17,00
20,50 m2+0,45
TR1
Terapias 20,54 m2
55
2,50
+0,45
10,00
50
Artes e exposição 45,00 m2
3,50
1,50 2,50
TR2
TR3
2,00
50
POJEÇÃO DA COBERTURA
50
1,20
2,00
1,30
50
48
PLANTA BAIXA BLOCO TERRA
2,00
665
4,00
675 14,00
ESC: 1:100
GSPublisherVersion 0.0.100.70
4,00
665
2,00
Figura 52 – Fachada oeste voltada para a Avenida Careba e canteiro frontal. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
TR2 CORTE TERRA 2 ESC: 1:100
49
TR1 CORTE TERRA 1
TR3 CORTE TERRA 3
ESC: 1:100
ESC: 1:100
RUFO COM PINGADEIRA
39
28
TELHADO VERDE
TELHA ECOLÓGICA
46
15
27
CALHA
5
IMPERMEABILIZAÇÃO
72
ESTRUTURA DE MADEIRA
3
LAJE APOIADA NA PAREDE DE TAIPA
ENTALHE DA MÃO FRANCESA
PAREDE EM TAIPA DE PILÃO
Figura 53 – Vista interna da sala de terapia ao sul do bloco terra. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
D4 DETALHE MÃO FRANCESA
50
ESC: 1:20
CENTRO 8,46
Tendo o centro do terreno como o ponto de encontro de energias segundo a linha da arquitetura Vastu, foi criado um pátio que marcasse a centralidade desse ponto e funcionasse como local de encontro e permanencia de pessoas. Dessa forma o pátio se rebaixe em relação ao nível do piso elevado de circulação entre os blocos e cria esquinas onde o próprio piso, assim como os degraus para descer do mesmo ao pátio se configuram como assentos que podem ser apropriados pelos usuários do espaço. O formato do pátio é resultado do encontro da linha leste-oeste que divide o terreno com a diagonal que direciona as pessoas para o farol e acesso à trilha.
3,46
Praça central 197,00 m2
+0,45
12,60 12,,605 12
11,67 11,,675 11
15,74 BLOCO TERRA
30
30
Além desse espaço central principal foram criados espaços de menor porte nas interseções do piso elevado com os edifícios dos blocos éter e fogo, criando ambientes, com assentos, rede, que pudessem servir para suporte às atividades de cada ambiente, espaços de contemplação e lazer, como pode ser observado na figura 56.
30 2,00
30
6,46
5,34
30
30 2,00
No centro do pátio, no ponto de encontro entre todas as diagonais do poligono, foi localizada uma grande ávore Flamboyant, com floração de cor vermelha em certas estações do ano de forma a remeter às cores de pintura do farol. A árvore alto, de copa larga e pouco densa permite a passagem de alguns raio solares, e cria uma leve cobertura vegetal para praticamente toda a extensão do pátio. Abaixo dela foi pensado a plantação em pequena escala de algumas árvores frutíferas de modo a criar um pomar coletivo do qual qualquer usuário ou transeunte pudesse desfrutas, além de conferir privacidade às esquadrias do bloco de terapias voltado para o centro. Nessa região haveriam também mobiliários soltos para flexibilidade do uso do espaço e auxilio na coleta dos frutos.
5,7 65
13,00
BLOCO FOGO
PLANTA BAIXA PRAÇA CENTRAL ESC: 1:100 GSPublisherVersion 0.0.100.70
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Figura 54 – Pátio central com Flamboyant e mobiliário móvel. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 56 – Espaço de rede no encontro do piso elevado com a sala de meditação. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
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Figura 55 – Circulação para o bloco Terra e pátio central. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
Figura 57 – Vista do pátio rebaixado para a fachada sul da sala de meditação e escada de acesso ao terraço. Fonte: Moviza estúdio, adaptado pela autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho se propôs a criar um espaço multiuso e multidisciplinar que se integrasse com a história, as práticas e as tradições existentes na vila de Regência, de modo a inspirar o fortalecimento de um intercâmbio cultural que imprimisse a identidade dessa população, reforçando o sentimento de pertencimento das pessoas com o lugar em que habitam assim como as valorizando as características turísticas locais. Acredita-se que as medidas adotadas nesse projeto, como o uso das técnicas construtivas em terra envolvendo os moradores no processo, assim como a introdução à novas ideologias como a Vastu que lida com a conexão entre o ser humano, o ambiente e o complexo contexto em que ele habita, criam o ponto de partida para despertar a curiosidade para um estudo mais a fundo sobre os temas não só para pequenas comunidades mas também em escala urbana, buscando criar espaços que promovam o encontro e a integração entre pessoas, indispensáveis para a manutenção das diversas identidades culturais existentes e manutenção da saúde física e psíquica do ser humano. Espera-se que esse projeto possa ser uma inspiração para o retorno a uma arquitetura que responda de forma inteligente e coerente ao meio que se propõe, assim como para a criação de nova linhas de pesquisa sobre métodos, materiais, e ideologias de construção alternativos, sejam eles antigos ou novos, que visem a sustentabilidade de maneira holística, preocupando-se com as repercussões sociais, ambientais e econômicas da construção no contexto em que se inserem.
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REFERÊNCIAS
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