Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Fazer a Ponte Projeto de uma escola

Trabalho Final de Graduação Luiza Orsini Cavalcanti Orientador Angelo Bucci Novembro 2011

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Fazer a Ponte Projeto de Uma Escola Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo Luiza Orsini Cavalcanti Orientador - Angelo Bucci Novembro de 2011

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Agradeço àqueles que me apoiaram a realizar o trabalho. Ao meu orientador Angelo Bucci, ao Shundi, Guilherme e todos do SIAA. À Margarete e à Ana Elisa pela colaboração. À Paola pela inspiração, aos meus pais e ao Ricardo pela grande ajuda.

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Educar é mais do que preparar alunos para fazer exames, mais do que fazer decorar a tabuada, mais do que saber papaguear ou aplicar fórmulas matemáticas. É ajudar as crianças a entender o mundo, a realizarem-se como pessoas, muito para além do tempo da escolarização.

In, Projecto Educativo “Fazer a Ponte”


Sumário Introdução 9 O edifício escolar paulista 11 A crítica ao modelo de ensino tradicional 19 A Escola da Ponte 23 EMEF Amorim Lima 29 Referências Projetuais 35 Projeto 41 Plantas 50–57 Cortes 58–64 Imagens 66–71 Maquete 72–75 Bibliografia 76

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Introdução A vontade de projetar uma escola no trabalho

programa existente, e ao mesmo tempo fazer

final sempre esteve presente. Quando conheci

com que exprima seus ideais e possibilite suas

a Escola da Ponte, me interessei imediata-

práticas. Uma escola com uma educação tão

mente pelo seu ensino não-convencional de

única deve ter um espaço diverso das esco-

ideais tão fortes.

las tradicionais, que evidencie as diferenças

e possibilite a inserção alunos e professores

Neste trabalho, não defendo a Escola

da Ponte como o modelo ideal de educação

nesse novo universo.

a ser seguido, mas sim um exemplo bem sucedido de uma escola que foge do padrão, nos fazendo repensar a educação tradicional e quais são, ou deveriam ser, seus objetivos.

O desafio consiste em criar um

ambiente totalmente novo, que não segue um Introdução

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Você recebe uma ordem da diretoria da escola que diz “Temos uma grande idéia. Nossa escola não deveria ter janelas, porque as crianças precisam de espaço na parede para pendurar suas pinturas, e também, janelas podem distraí-las do professor.” Agora, que professor merece tanta atenção? Eu gostaria de saber. Porque afinal, o pássaro lá fora, a pessoa procurando abrigo da chuva, as folhas caindo das árvores, as nuvens passando, o sol penetrando: são todas grandes coisas. São lições em si mesmas. Janelas são essenciais para a escola. Você é feito da luz e, portanto, você deve viver com a noção de que a luz é importante. Tal ordem da diretoria dizendo qual o sentido da vida deve ser resistida. Sem luz, não há arquitetura. Louis Kahn

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O EdifĂ­cio Escolar Paulista

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A proposta educacional era de oferecer gratuitamente o ensino elementar (fundamental), deixando o ensino secundário a cargo de instituições privadas, por ser considerado de elite. Essas escolas, chamadas de Grupos Escolares, eram edifícios de destaque, mas não necessariamente luxuosos, e tinham localizações urbanas privilegiadas. O modelo adotado foi o europeu, baseado no controle, disciplina e subordinação dos alunos, além do respeito à hierarquia. O desenho Grupo Escolar Prudente de Moraes, na Avenida Tiradentes. Ramos de Azevedo, 1893 http://saudadesampa.nafoto.net

do edifício seguia leis de racionalização da construção, sem deixar de lado a preocupação

Ao longo dos anos, os pensamentos e ideais

com os preceitos da Igreja Católica. Não havia

sobre a educação sofreram transformações

ainda uma política educacional pública nesse

estruturais, que espelharam os acontecimen-

período. As aulas eram ministradas pelos

tos de cada momento histórico. É importante

chamados “mestres-escola”, em edifícios adap-

entender que a reflexão sobre o ensino e seu

tados ou imóveis alugados.

dos projetos-tipo para padronizar os edifícios.

ver os pontos positivos e negativos de cada

A partir de1889, na Primeira República,

Como um dos principais arquitetos de

experiência.

devido às inúmeras transformações decor-

edifício vem de longa data e é preciso absor-

rentes da transição do poder imperial para O primeiro momento do desenvolvimento

o republicano, o poder público passou a se

escolar paulista ocorreu no Brasil - Colônia,

responsabilizar pela construção das primeiras

em colégios, seminários e aldeias destinados à

escolas.

catequese dos índios ou à educação de acordo

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estética. Havia separação entre meninos e meninas, em alas simétricas. As janelas das salas eram altas para evitar a distração dos alunos. Foi amplamente utilizado o recurso

edifícios escolares nesse período é possível citar Ramos de Azevedo, autor do projeto do Grupo Escolar Prudente de Moraes, na Avenida Tiradentes, o primeiro edifício escolar da cidade de São Paulo, projetado em 1893. As transformações que ocorreram a partir O Edifício Escolar Paulista


do governo Getúlio Vargas (década de 30) visavam universalizar o ensino e alfabetizar a população. Com o surgimento de novos grupos sociais de trabalhadores urbanos e operários, cresceu muito a preocupação pelo ensino por aqueles que buscavam inserção no mercado de trabalho. Deu-se início a uma análise dos edifícios existentes, buscando estabelecer parâmetros para os edifícios escolares. A idéia era de reformular a arquitetura e o ensino, não apenas pela dimensão pedagógica, mas também a so-

Eduardo Corona

www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo

de escolas, houve a construção de bibliotecas,

moderna ao edifício escolar, em sintonia

teatros, centros de saúde, ginásios etc. Havia

com propostas educacionais avançadas. Os

o intuito de suprir a falta de edifício escolares

espaços escolares construídos deveriam inte-

que pudessem atenuar a demanda da época.

grar a escola à comunidade local. Baseado na

cial, a física e a emocional. Surgiu a proposta da Escola Nova, na qual o centro da aprendizagem era a criança. O espaço escolar deveria ser alegre, bonito e higiênico. Os edifícios se modernizaram, com janelas amplas e pátios acolhedores. Houve abolição dos ornamentos e a diminuição da simetria. Os espaços escolares agora contavam com auditório, sala de leitura, sala para jogos, canto e cinema. Na década de 50, foi criado o Convênio Escolar, no qual a Prefeitura passou a encarregar-se da construção dos edifícios que atendessem a toda a população escolar no município. Além O Edifício Escolar Paulista

proposta do educador baiano Anísio Teixeira, Alguns dos arquitetos que participaram de

defendia a proposta de que a instrução de

projetos de edifícios escolares nesse período

classe deveria ser completada por uma edu-

foram Eduardo Corona, Roberto Tibau,

cação dirigida.Com as eleições municipais de

Oswaldo Corrêa Gonçalves e Helio Duarte.

1954, o Convênio Escolar foi rompido.

Helio Duarte liderava a Comissão Executiva do Convênio Escolar, em 1948. Ele ajudou a imprimir os princípios da arquitetura

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(

Escolas-classe, escola parque

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Depois dos anos 30, com todos os esforços

uma vez, em Salvador, tornou-se uma das

para aumentar a quantidade de edifícios

experiências mais importantes no ensino

escolares em todo o país, notou-se que a

brasileiro.

rede pública como um todo apresentava uma

queda na qualidade do ensino. As escolas

“ineficiente e injusta”. A medida da eficiência

tinham até três turnos por dia, o que sobre-

da escola tradicional se dava pela quantidade

carregava professores e diminuía o tempo

de reprovações, enquanto se considera o

que as crianças passavam em aula. Subiu o

aluno sempre ignorante como ser humano,

número de reprovações e desistências.

e o professor, o detentor do conhecimento.

A injustiça se dava porque o sistema educa-

Para reverter esse quadro, Helio Du-

Duarte considerava a escola até então

arte criou um projeto de educação, baseado

cional, apesar de almejar a popularização do

também no pensamento de Anísio Teixeira,

ensino, não atingia uma grande parcela de

que apesar de ter sido implantado somente

crianças. A escola não era direcionado a elas,

aos seus interesses e, em muitos casos, não lhes garantiria um futuro.

Teixeira tinha afinidade intelectual com as filósofo e pedagogo norte-americano idéias do John Dewey (1859-1952), que desenvolveu uma concepção pragmática de educação baseada na constante reconstrução da experiência diante de um mundo em transformação. Para ele, a escola precisava educar em vez de instruir, for-

Croquis das escolas-classe (1948), em São Paulo, de Hélio Duarte http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo


mar homens livres em vez de homens dóceis, preparar para um futuro incerto em vez de transmitir um passado claro, ensinar a viver com mais inteligência, mais tolerância e mais felicidade. O interesse do estudante devia orientar o seu aprendizado num ambiente de liberdade e confiança mútua entre professores e alunos, em que esses fossem ensinados a pensar e julgar por si mesmos.

)

para 2 mil alunos. Esse espaço seria equipado com biblioteca infantil, museu, pavilhão para atividades de recreação, conjunto para atividades sociais (música, dança, teatro, clubes, exposições) e refeitório, além de pequenos

conjuntos habitacionais destinados a crianças sem família, que estariam sujeitas às mesmas

atividades educativas que os alunos externos.

Durante a manhã, um grupo de cri-

anças teria aulas nas 4 escolas-classe. Durante

(Maria Alice Junqueira Bastos, A escola-

a tarde, este grupo iria para a escola-parque.

parque: ou o sonho de uma educação com-

Enquanto isso, outro grupo com o mesmo

pleta (em edifícios modernos), In Revista AU

número de crianças passaria a manhã na

Especial Escolas).

escola-parque e a tarde nas escolas-classe. Dessa forma, o sistema de escolas sem

O esquema de Escolas-classe, Escola-parque

espaços recreativos suficientes poderia se

tinha como objetivo prolongar o dia letivo,

ampliar de forma a receber grupos de até 4

com um programa enriquecido de atividades

mil crianças num turno de 8h, aumentando

culturais independentes do ensino intelectual,

o período escolar sem prejudicar a qualidade

além de oferecer um currículo diversificado.

do ensino.

O método utilizaria o espaço das escolas já construídas anteriormente, que seriam as escolas-classe. Nelas ocorreriam as aulas do currículo intelectual, tais como Matemática, Língua Portuguesa, Ciências etc.

Para cada grupo de 4 escolas-classe,

haveria uma escola-parque, com capacidade

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Vilanova Artigas, Escola em Itanhaém, São Paulo, 1959. http://www.arq.ufsc.br

Andrade Morettin - Escola FDE - Jornalista Roberto Marinho, Campinas/SP, 2004 foto Nelson Kon

A partir da década de 60, a maior preocu-

O período marcou as primeiras experiências

Primeira República, não se utilizou projetos-

pação era a de distribuir as escolas nas áreas

com uso de peças pré-fabricadas e concreto

tipo, mas sim a padronização dos compo-

onde houvesse maior demanda. Foi criado en-

protendido. Os prédios contavam com corre-

nentes, possibilitando uma maior flexibilidade

tão, o Fundo Estadual de Construções Esco-

dores largos e ventilados. O pátio passa a ter

entre espaços. Houve também um maior

lares (FECE). Havia caráter emergencial para

lugar de destaque como local de encontro.

controle de custos, além de agilizar o geren-

atender a um terço dos alunos da rede es-

Por conta da falta de diálogo entre arquitetos

ciamento do processo.

tadual que ainda assistia às aulas em galpões,

e profissionais da área de educação, muitas

barracões de madeira ou salas inadequadas.

vezes as soluções arquitetônicas não eram as

para o Desenvolvimento Escolar), no final

mais adequadas.

da década de 80, uma das mudanças mais

Os arquitetos que participaram da

construção de escolas nesse período foram

Com a criação da FDE (Fundação

relevantes foi o aumento da carga horária no

Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha,

A demanda crescente de edifícios escolares

dia letivo de 3 ou 4 para 5 horas.

João de Gennaro, Ícaro de Castro Mello, entre

fez com que fosse adotado o princípio da

outros.

racionalização. Diferentemente da idéia da

(Centros Educacionais Unificados), com a

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Nos anos 2000, surgiram os CEUs

O Edifício Escolar Paulista


Andrade Morettin - Escola FDE - Jornalista Roberto Marinho, Campinas/SP, 2004 foto Nelson Kon

EDIF / PMSP - CEU Butantã, São Paulo/SP, 2003 foto Nelson Kon

preocupação de inserir centros de lazer e educação em áreas carentes de São Paulo, para a inclusão das comunidades como um todo, não apenas das crianças. Os autores do projeto Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza, tentam estabelecer referenciais urbanos significativos em bairros carentes da capital paulista. Os centros contam com creches, escolas infantis e fundamentais, telecentro, bibliotecas, piscinas, ginásios e outros espaços para lazer e cultura. EDIF / PMSP - CEU Butantã, São Paulo/SP, 2003 foto Nelson Kon

O Edifício Escolar Paulista

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A crĂ­tica ao modelo de ensino tradicional

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Para entender os fundamentos da Escola da

Ponte é necessário antes analisar criticamente o modelo de educação tradicional que é empregado atualmente.

Para usarmos como referência o

modelo brasileiro, a grande maioria das escolas que conhecemos opera num sistema dividido em séries. Após o jardim de infância, a criança que tem por volta de 6 anos é alfabetizada e entra no Ensino Fundamental. A partir de então, a cada ano que passa ela é transferida ao longo de 9 séries, chamadas de primeiro, segundo, terceiro ano e assim por diante.

O conhecimento é transmitido às

crianças dividido em matérias. Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, Estudos Sociais, Educação Física, Artes etc.

Quando a criança atinge uma idade

de aproximadamente 14 anos, no nono ano, segue para o Ensino Médio, com duração de três anos, onde aprofunda seus conhecimentos e completa sua vida escolar.

As aulas são dadas em salas aonde

os alunos sentam em carteiras individuais, voltados para o professor, que passa a matéria.

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Cada ano tem um currículo com temas que o

a mesma idade delas. No entanto, este parece

aluno deve dominar, e só passará de ano de-

ser um critério de separação raso. O que as

pois de ter provado seu conhecimento sobre

crianças têm em comum de mais importante

todos aqueles assuntos.

umas com as outras, muito além da idade,

é o seu interesse por determinados temas, a

A avaliação é feita por meio de provas

que testam o que cada aluno absorveu. O

sua forma de trabalho, a sua afinidade. Uma

aluno que teve desempenho insatisfatório

criança mais velha, apesar de estar numa série

fica de recuperação, ou seja, deverá estudar

acima, pode entender menos de certo assunto

novamente e fazer uma nova prova. Caso

do que outra mais nova, ou raciocinar de

continue a ter desempenho abaixo da média,

forma menos objetiva.

deve repetir aquele ano, ou seja, assistir no-

vamente a todas as aulas de todas as matérias

o fato de que todas as crianças devem ter o

no período de um ano. É comum o caso de

mesmo ritmo de aprendizado, e estipula um

escolas particulares que visam a excelência

período no qual o aluno deve ter absorvida

dos alunos, em que, se o aluno repete de ano

cada tema. Aquele aluno que não consegue

mais de uma vez, este é convidado a se retirar,

acompanhar o ritmo dos outros é considerado

tendo que procurar outra instituição de

diferente, ou pior. Além disso, ao padronizar

ensino, o que acaba por ser traumático para a

um currículo de ensino, a escola tradicional

criança.

pressupõe que todas as crianças devem

O sistema de ensino atual é

O sistema atual toma como certo

conhecer as mesmas coisas e estudar os

freqüentemente criticado por ser estru-

mesmos assuntos, independente de onde elas

turalmente baseado no sistema industrial

vivem, qual é a sua condição social e quais são

de organização. A separação dos assuntos

seus interesses particulares.

em diferentes matérias pode estreitar a visão

dos alunos a certos temas. Da mesma forma,

trial se dá devido a semelhança com a linha

existe a separação dos alunos pela idade. Cri-

de produção, que acaba por padronizar o

anças convivem apenas com aquelas que têm

ensino a todos os alunos, apesar de suas

A comparação com o sistema indus-

A Crítica ao Modelo de Ensino Tradicional


diferenças e individualidades.

dades e diferentes condições dos alunos, pode

Outra crítica importante ao método utilizado

ajudar a oferecer às crianças possibilidades.

atualmente é o fato dele ser considerado elitista.

Para tanto, é importante que o conteúdo que

Os alunos não vêem mais num diploma esco-

a escola passa seja relevante e significativo

lar a garantia de um futuro, o que traz muita

para o estudante.

desmotivação para a sala de aula, provocando repetências e evasão escolar. A crítica está tanto na dificuldade de levar a educação para as áreas mais carentes, quanto na própria forma do ensino. O conteúdo e a linguagem usados em sala de aula são, muitas vezes, distantes do cotidiano da criança, que por não se identificar com aquilo, perde o interesse pelos estudos.

O conhecimento que a criança leva

à sala de aula, aquele que ela adquiriu no cotidiano familiar, é pouco explorado na escola. Aquilo que a criança conhece não tem utilidade, o que muitas vezes passa um sentimento de incapacidade e e inferioridade. Todo o conhecimento está num único professor que o transfere para a aula e, de certa forma, “deposita” informações nos estudantes.

A exclusão social é, indubitavelmente,

um dos problemas mais sérios do ensino no Brasil. Um modelo escolar menos padronizado, que respeite e aproveite as individualiA Crítica ao Modelo de Ensino Tradicional

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“para entender a nossa escola, o senhor terá de se esquecer de tudo o que o senhor sabe sobre escolas. Não temos turmas, não temos alunos separados por classes, nossos professores não dão aulas com giz e lousa, não temos campainhas separando o tempo, não temos provas e notas.” Aluna da Escola da Ponte, em coluna de Rubem Alves na Folha de S. Paulo

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A escola da ponte

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A Escola da Ponte é uma instituição pública

escoladaponte.com.pt

chamado de Iniciação. Esses alunos são sub-

de trabalhar em grupo, efetuar pesquisas, se

de ensino, localizada na Vila das Aves, no Dis-

divididos em dois grupos: os da primeira vez

auto-avaliar, além como dominar um número

trito do Porto, em Portugal. Criada na década

e os restantes. As crianças que estão na escola

de objetivos nas diferentes áreas do currículo,

de 1970, foi a partir de 1976 que, com a ajuda

pela primeira vez passam pelo processo de

referentes ao que é definido em Portugal

de toda a comunidade, deu início a profundas

alfabetização, numa abordagem pelo método

como o Ensino Básico.

mudanças na organização da escola. Hoje, o

natural e os rudimentos da aritmética.

projeto educativo Fazer a Ponte é referência

alunos desenvolvem as competências defini-

mundial de ensino.

básicas que lhes permitem integrar-se à co-

das para o segundo ciclo do Ensino Básico,

munidade escolar e trabalhar em autonomia,

podendo ainda estar envolvidos, em projetos

tribuídos em anos de acordo com a sua idade.

gerenciando de forma responsável o tempo,

complementares de extensão e enriquecimen-

São divididos em três grandes grupos: Ini-

espaços e objetivos, as crianças passam para o

to curriculares, bem como de pré-profis-

ciação, Consolidação e Aprofundamento.

Núcleo de Consolidação.

sionalização.

Neste momento, os alunos que se encontram

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Os alunos dessa escola não são dis-

O primeiro ciclo da Escola da Ponte é

Ao adquirirem as competências

Na Consolidação, a criança é capaz

No Núcleo de Aprofundamento, os

A Escola da Ponte


blogmeiapalavra.com.br

no Aprofundamento têm total liberdade para

é dado pelo orientador. O grupo se reúne

pesquisa. Os alunos são instruídos a apenas

gerenciar seu tempo dentro da escola.

com um professor, que junto com os alunos,

recorrer ao orientador após esgotar todos

estabelece um plano de trabalho de 15 dias,

os outros métodos de pesquisa. Em um

ocorre a qualquer momento, a partir da ob-

orientando sobre a bibliografia e os temas a

pavilhão, não existe um só professor. Orien-

servação dos professores e do próprio aluno.

serem pesquisados. Ao final desse período,

tadores também trabalham em equipe. Dessa

Como cada criança tem a sua velocidade

o grupo se reúne novamente com o profes-

forma, a qualidade do ensino não depende

de aprendizado e desenvolvimento, a escola

sor e avalia o seu aprendizado. Se o resultado

apenas de um único professor. A responsa-

conta com algumas crianças mais velhas.

for considerado adequado, aquele grupo se

bilidade está distribuída entre vários orien-

Não existem salas de aula, mas sim, espaço

dissolve e forma-se outro para estudar outro

tadores e, principalmente, entre os próprios

de trabalho, sem lugares fixos. Não existe a

assunto.

alunos.

aula convencional. Os alunos formam grupos

heterogêneos com um interesse comum por

vilhões equipados com mesas para trabalho

5 dimensões: lingüística, identitária, lógico-

algum assunto dentro de um tema que lhes

em grupo, computadores e bibliotecas para

matemática, naturalista e artística, e divididos

A transição de um núcleo para outro

A Escola da Ponte

O estudo ocorre em grandes pa-

Os orientadores estão divididos em

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em três pavilhões. O primeiro pavilhão é

desenvolvimento, as crianças são incentivadas

destinado aos estudos das dimensões linguís-

a criar um plano diário, onde organizam o

crianças se distribuem por oficinas, em salas

tica e identitária. O segundo, às dimensões

trabalho que será feito durante o dia e esta-

menores ou ao ar livre, onde ocorrem aulas

naturalista e lógico-matemática e o terceiro, à

belecem metas a serem cumpridas. Ao final

que exploram o universo da dança, consciên-

dimensão artística. Os espaços estão destina-

do dia, é feito um debate informal, onde cada

cia corporal, culinária etc.

dos aos trabalhos e pesquisas em grupo, mas

aluno avalia se chegou ou não à sua meta,

estas atividades podem ocorrer também em

criada por ele mesmo.

o funcionamento da escola é a Assembléia,

qualquer espaço da escola.

que reúne todos os alunos e professores, na

domina um determinado ponto do programa,

qual são discutidas, analisadas e votadas

amplo e permite que os assuntos sejam estu-

escreve numa folha chamada “Eu já sei”, que

medidas para problemas na escola, de forma

dados de forma interdisciplinar, de forma que

fica no mural da sala. Depois, um professor

democrática e solidária, visando o bem co-

as pesquisas quinzenais abrangem diversas

dirige-se ao aluno e faz uma avaliação, que

mum.

áreas do conhecimento. A flexibilidade que os

pode ser efetuada como uma conversa, um

alunos têm na gestão do tempo permite que

exercício escrito, a resolução de um problema,

descrito anteriormente revela uma forma

eles aprofundem assuntos que lhes interessem

dependendo do objetivo em questão. Quando

de lidar com as crianças que respeita as suas

mais, o que não é possível num calendário de

um aluno, sozinho, percebe-se em dificul-

individualidades e as diferenças de cada uma.

estudos fechado.

dades para estudar um determinado assunto,

Um aluno que tem o poder de gerenciar

escreve numa outra folha do mural, chamada

seus estudos mostra-se mais interessado, e

formas. A observação do aluno é considerada

“Eu preciso de ajuda”. Assim, o professor, ou

principalmente, sente seus desejos e direitos

a mais importante ferramenta para observar

um aluno que já tem o domínio o tema pode

respeitados. A autonomia dada à criança é

o seu desenvolvimento, tanto em termos

oferecer ajuda.

uma prova de que a escola acredita na sua

acadêmicos quanto seus valores e atitudes. A

capacidade de aprender e na sua responsabi-

grande meta é que cada criança seja solidária,

panha de perto um grupo de 8 a 11 alunos, os

lidade como aluno.

responsável e autônoma.

quais monitora o trabalho individualmente e

faz reuniões sistemáticas uma vez por semana

únicos, então cada currículo deve ser único.

lo, a avaliação formal também ocorre todos

para ajudar numa avaliação mais aproximada

Cada um também tem a sua velocidade de

os dias. A partir de um certo ponto no seu

de cada criança.

absorção de determinados temas. É impor-

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O tema oferecido pelo professor é

A avaliação na Ponte é feita de várias

Quanto ao conhecimento do currícu-

Sempre que a criança considera que

Um chamado Professor Tutor acom-

Além dos estudos nos pavilhões, as

Um instrumento fundamental para

O funcionamento da Escola da Ponte

Cada criança é única, com interesses

A Escola da Ponte


tante observar que, se não há um ritmo de trabalho definido para o grupo, não há aquele aluno que não consegue acompanhar a aula, pois cada aluno faz o seu ritmo. Não existem alunos especiais, pois não existem alunos iguais.

O aluno que tem facilidade com

matemática, por exemplo, pode precisar da ajuda de um colega para a língua portuguesa. O incentivo à interação entre os colegas é uma importante ferramenta para um grupo mais solidário e cidadão.

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A Escola da Ponte

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EMEF Amorim Lima

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A EMEF Desembargador Amorim Lima,

localizada no bairro do Butantã, funcionou

desde 1968 nesse endereço como uma escola tradicional, que contava com uma comunidade muito engajada nas atividades escolares. Um alto índice de evasão escolar e de repetência chamava a atenção das famílias, assim como o alto número de faltas dos membros corpo docente. A comunidade percebeu que uma reforma no ensino poderia colaborar em reverter a situação e atrair o interesse dos alunos. Com a chegada da diretora Ana Elisa Siqueira, deu-se início a uma série de encontros e discussões entre pais, professores e alunos, que resultaram numa mudança estrutural na escola, iniciada em 2004, muito inspirada no modelo da Ponte. foto autoria

As paredes entre as salas de aula

foram derrubadas, formando grandes pavilhões onde as crianças hoje estudam em grupos. Apesar de a escola ainda contar com divisão dos alunos por séries, os pavilhões podem abrigar crianças de anos diferentes e permitem que trabalhem umas com as outras. A própria Escola da Ponte, em Portugal funciona em um edifício adaptado, e, devido à falta de recursos, também tem dificuldades

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EMEF Amorim Lima


em realizar o projeto “Fazer a Ponte” em sua plenitude. Tendo isso em vista, optou-se por utilizar o mesmo terreno da EMEF Amorim Lima para o projeto, como um exercício de projetar um espaço ideal para essa prática pedagógica específica, e que seja pensado para esse uso desde o início.

A escola localiza-se na Rua Vicente

Peixoto, no cruzamento com a Avenida Corifeu de Azevedo Marques, no bairro do Butantã, em São Paulo. A região conta uma altíssima heterogeneidade de moradores. Próxima ao Morumbi, que abriga as mais

foto autoria

altas faixas de renda da cidade, a região tem também um alto número de habitações irregulares e favelas, como a São Remo, assim como diversos conjuntos habitacionais antigos. Também tem grande impacto na região a presença da Cidade Universitária, que atrai uma população jovem para o bairro, além de professores e funcionários.

A Amorim Lima fica em frente à

Praça Elis Regina, que recentemente foi foco de uma polêmica. O projeto de um túnel, que ligaria as avenidas Corifeu de Azevedo Marques e a Dr. Eliseu de Almeida acabaria com a praça e parte do Parque da Previdência, EMEF Amorim Lima

faz parte da Operação Urbana Vila Sônia/

nas atividades da EMEF Amorim Lima. A co-

Butantã, e foi alvo de inúmeros protestos de

munidade participou ativamente da transfor-

moradores da região. Estes afirmam que o

mação da escola e se mostrou muito aberta a

projeto acabaria com uma grande área verde

esse projeto, opinando e ajudando para que a

de uma região que carece desses espaços,

mudança se realizasse. Além disso, as famílias

além de impactar muito uma região residen-

ainda utilizam amplamente o espaço escolar

cial. A operação é criticada por favorecer o

aos finais de semana para o lazer.

uso do automóvel em detrimento do pedestre

Os estudantes da escola vêm das mais diversas

e dos transportes de uso coletivo. A implan-

famílias e classes sociais, em parte, devido a

tação do projeto está sendo revista.

essa comunidade local tão heterogênea. Outro

motivo é que seu ensino chama a atenção

Esse episódio salientou a comunidade

local como muito engajada e participativa. O

de pais com alto grau de escolaridade, o que

mesmo comportamento pôde ser observado

dificilmente ocorre em outras escolas públi-

31


foto autoria

cas em São Paulo. A maioria desses pais são

servação do seu funcionamento no dia-a-dia.

cipalmente a questão da identidade brasileira.

professores da USP e moradores da região.

As crianças têm uma liberdade muito grande

São ministradas aulas de capoeira, dança,

Outra grande parte dos alunos é residente de

em transitar pela escola durante suas ativi-

consciência corporal, música, entre outras.

conjuntos habitacionais e favelas próximas,

dades. O terreno conta com uma vasta área

vindos de famílias com pouco ou nenhum

aberta e muito arborizada. Os alunos que

salas que costumavam funcionar como salas

histórico escolar.

estão adiantados em suas atividades em grupo

de aula convencionais. Devido ao fato de a

podem realizar outras tarefas, como ajudar os

escola funcionar num edifício adaptado, algu-

uma experiência educacional rica e muito

alunos que apresentam dificuldades em certo

mas salas da escola têm usos completamente

pouco observada em São Paulo, que só tem a

tema ou monitorar visitantes.

distintos. Abrigam, em diferentes horários,

acrescentar na formação dos alunos e faz essa

aulas de música, capoeira e reforços de

escola ainda mais única.

pavilhões, Enquanto não estão em horário de

matemática. É interessante notar a polivalên-

trabalho em grupo no pavilhão, as crianças

cia desses espaços e a forma como as crianças

têm atividades de oficina, que exploram prin-

se apropriam deles. No entanto, apesar de um

Essa diversidade colabora com

Realizou-se uma visita à escola em

horário de aula, que possibilitou a ob-

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Além dos momentos de estudo nos

Todas essas atividades ocorrem em

EMEF Amorim Lima


artifício válido, esse uso das salas reflete uma carência de espaços realmente adequados para cada uso. É possível fazer com que um espaço tenha diferentes usos, contanto que esses sejam semelhantes. Mas atividades como dança e música exigem uma adaptação acústica e espacial que uma sala de aula comum não oferece. Em entrevista à diretora Ana Elisa Siqueira, percebeu-se que a escola ainda está passando pela transformação e ainda não atingiu seu ideal. A idéia é, futuramente, eliminar a separação dos alunos por idade. Devido a essa transformação constante e às particularidades de cada uma das escolas, o funcionamento da Amorim não é igual ao da Escola da Ponte. Entretanto, sua ideologia e fundamentos são os mesmos.

EMEF Amorim Lima

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34


ReferĂŞncias Projetuais

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O projeto para uma escola infantil

foi bastante baseado num projeto anterior, a Ring Plan School, que foi feito com a intenção de exprimir os conceitos de Neutra sobre a escola e o ensino, mas não foi construído.

A Ring Plan School tem a planta em

formato de anel, no qual são distribuídas as salas de aula. Do lado interno do anel fica o pátio do recreio, criando um espaço único pra onde convergem os alunos que saem das classes. Do lado exterior, cada sala de aula conta com um espaço externo delimitado, artepedrodacruz.wordpress.com

Corona School, Richard Neutra (1935)

para onde pode se expandir o espaço da aula durante as atividades pedagógicas. As salas se abrem para fora em portas de vidro de correr, que permitem uma grande fluidez, para que o espaço aberto se confunda com a sala. Lá fora, o gramado é sombreado por árvores e um grande balanço da cobertura ajuda a proteger do sol e da chuva.

Neutra dá uma enorme importância

ao contato da criança com a natureza e expressa isso através do projeto. Também é possível notar sua posição ao possibilitar uma aula ao ar livre, demonstrando uma postura menos rígida e possibilitando que a educação se dê de forma mais prazerosa.

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Referências Projetuais


Outra referência é o prédio da FAUUSP, projetado por Vilanova Artigas em 1961. O edifício exprime uma ideologia sobre educação completamente inovadora, que fica muito clara na forma do projeto e influencia aqueles que estão lá dentro, assim como as atividades que ali ocorrem.

A fluidez entre os espaços, os

caminhos percorridos pelos estudantes e a relação do ambiente interno com o externo são características fortes do projeto que reforçam a transparência do ensino, assim pt.wikipedia.org

FAU USP, Vilanova Artigas (1961)

como possibilita uma enorme interação entre os alunos. Essa interação é percebida principalmente no grande salão central, o salão Caramelo, que abriga eventos, exposições e assembléias estudantis no centro do edifício, podendo ser visto de diversos pontos de seu interior.

Referências Projetuais

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Escolas Apollo, Herman Hertzberger (1980-1983) Um terceiro projeto que merece atenção como referência são as escolas Apollo, de Herman Hertzberger, projetadas de 1980 a 1983. Nesses edifícios, as salas de aula são sempre posicionadas de forma a não criar um corredor para onde as crianças saiam ao final das aulas, nos quais poderiam se relacionar apenas com as crianças das salas vizinhas. A interessepublicocoletivogelca2011.blogspot.com

idéia é dispor as salas de forma a criar um ponto comum onde ocorre a saída, criando um grande espaço de encontro e fazendo com que as circulações sejam generosas e proporcionem também um ambiente de estar, exposição e reunião.

Nesses ambientes, em muitos proje-

tos, Hertzberger idealiza também um espaço de apresentação ou estar, na forma de uma espécie de arquibancada situada entre os degraus das escadas, voltada para um espaço plano que pode ser usado como palco. Ele acredita na necessidade de um ambiente escolar que proporcione a exposição dos trabalhos e atividades, otimizando a relação entre colegas e a troca de experiências entre eles.

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Referências Projetuais


Fuji Kindergarten, Takaharu, Yui Tezuka e Kashiwa Sato (2007)

Finalmente, a Fuji Kindergarten, dos arquitetos Takaharu, Yui Tezuka e Kashiwa Sato (2007), é uma escola que prioriza o espaço aberto. Há um deck sobre a laje das salas de aula, que conta com uma leve inclinação, para que as crianças corram sobre ele. Dessa forma, a área livre não se resume ao pátio central, mas avança pela cobertura das salas.

Elementos lúdicos foram adicionados

ao projeto, como um escorregador que liga a cobertura das salas ao pátio central, e árvores que atravessam a laje, tornando-o mais interessante para as crianças. Cada sala também conta com uma abertura zenital na cobertura, pela qual as crianças podem acessá-la, além de portas de vidro de correr que proporcionam abertura total ao espaço externo.

O chão do pátio é feito pedaços de

madeira que absorvem a água da chuva. O projeto destaca para as crianças o ciclo da água, para que elas possam observar a maneira com que ela cai, é absorvida, além de como pode ser reutilizada pelo homem. www.urbanrealm.com/blogs

Referências Projetuais

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40


Projeto

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Localização

O terreno possui aproximadamente

80m de comprimento e 35m de largura tem como limite a oeste a Avenida Corifeu, mas sua entrada é ao norte, na Rua Vicente Peixoto. A rua de acesso tem a saída para a avenida bloqueada, fazendo com que a rua seja acessada praticamente apenas por moradores e estudantes.

O terreno tem pouca variação

topográfica. Passa a ter uma maior inclinação quando se aproxima da Av. Corifeu. É bastante arborizado e as principais massas de vegetação se encontram nesse declive próximo à avenida e bem no centro do lote.

Uma característica muito importante

é a existência de um córrego, que atravessa o terreno longitudinalmente, vindo do lado oeste (Av. Corifeu) em direção ao leste. Atualmente esse córrego encontra-se canalizado e é difícil perceber sua presença.

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Projeto


43


EMEF DesembargadorAmorim Lima

1

Cidade Universitária

2

Praça Elis Regina

3

Parque Jardim Previdência

4

Rio Pinheiros

5

Estação Butantã

6

Av Corifeu de Azevedo Marques

A

Av. Politécnica

B

Rod. Raposo Tavares

C

Av Eliseu de Almeida

D

Av Francisco Morato

E

Marginal Pinheiros

F

R. Alvarenga

G

Av. Vital Brasil

H

(área do projeto)

44

Projeto


A

F

G

5

B 2

6 H 1

3 4

C

D

E

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Partido Desde o início, houve o partido de não

pudessem acontecer tanto em ambientes

momentos, o córrego foi alargado, formando

concentrar todas as atividades da escola num

fechados quanto ao ar livre. Os ambientes

pequenos lagos, evidenciando a presença da

único grande edifício. Uma escola como essa

deveriam ser fluidos e polivalentes, com

água e, conseqüentemente, potencializando a

pedia um espaço aberto, com grande fluidez

potencial para abrigar diferentes brincadeiras,

interação das crianças. O córrego faz a ligação

entre o ambiente interno e o externo. Para

exposição de trabalhos, assembléias, reuniões

do programa no terreno, desde o gramado

possibilitar circulações livres, caminhos ora

etc.

descoberto, no leste do terreno, até a quadra coberta, no extremo oposto.

cobertos, ora descobertos, e uma forte presença da natureza, optou-se por distribuir o

O projeto apropria-se do caminho córrego

programa em diferentes edifícios, espalhados

existente como um eixo principal de circu-

terreno, optou-se por alterar a sua topografia

pelo terreno. Era preciso aproveitar as diversas

lação da escola. A água, que hoje encontra-se

o mínimo possível, além de edifícios baixos,

árvores existentes, e principalmente o córrego.

canalizada, seria descoberta e ficaria visível

para que haja menor interferência nos lençóis

para os alunos. Pequenas travessias foram lo-

freáticos.

calizadas ao longo de seu percurso. Em alguns

Era muito importante também

aproveitar o terreno amplo para que as aulas

46

Devido à existência do córrego no

Projeto


Sobre o córrego, foram posicionados três

volumes serem iguais em seu exterior ajuda a

exterior do terreno, enquanto as crianças mais

volumes de maior destaque no projeto, onde

dar força ao conjunto, que ganha importância

novas se voltam para dentro.

ficam os pavilhões. Existe um edifício desti-

na composição.

nado aos estudos das dimensões lingüística e

entre os alunos da Consolidação e Aprofun-

identitária, outro para os estudos das di-

Aprofundamento, por uma escada, sobem a

damento não ocorre na Escola da Ponte, por

mensões lógico-matemática e naturalista e o

uma passarela um nível acima, que os dis-

falta de recursos para novas salas. Aqui, além

terceiro para a dimensão artística. Os três são

tribui para os três diferentes prédios. Cada

de acreditarmos que a divisão dos espaços

iguais para quem os vê de fora, e aquilo que

um deles tem mais dois andares. No segundo

contribui para uma maior organização dos

vai diferenciar um do outro são as atividades

andar, fica o pavilhão das crianças da Con-

estudos, optou-se por separar as crianças, pois

que acontecem dentro de cada um deles.

solidação e no terceiro, o Aprofundamento.

existe uma espécie de ritual de passagem na

Optou-se por destacar estes edifícios, pois é

A intenção foi que conforme a criança cresce

mudança de sala, simbolizando o seu avanço,

ali que os alunos passarão a maior parte do

e avança nos estudos, sobe um pavimento,

o seu crescimento e o ganho de novas respon-

tempo, estudando e pesquisando. O fato de os

tendo uma visão cada vez mais ampla do

sabilidades.

Projeto

Os alunos da Consolidação e do

A separação em pavilhões diferentes

47


Cada pavilhão abriga uma biblioteca, com-

o que proporciona um ambiente mais reserva-

putadores e mesas para as pesquisas dos alu-

do para as crianças. Os pavilhões desse prédio

nos. Cada um deles também possui material

têm portas de vidro que abrem a sala para

encontra-se o auditório, cujo palco pode se

específico para os seus respectivos temas. O

o exterior, também enterrado em relação

voltar tanto ao seu interior quanto ao grama-

pavilhão dos estudos da natureza deve abrigar

ao térreo, possibilitando que os estudos

do externo. Sua estrutura tem a mesma lógica

uma espécie de laboratório, o pavilhão das

aconteçam tanto dentro quanto fora da sala,

da cobertura da quadra, com paredes laterais

artes possui espaço para dança e instrumentos

fazendo do ambiente externo sua extensão.

que descem quase até o chão, deixando uma

musicais e assim por diante.

fresta de 50 cm por onde penetra a luz natu-

Na cobertura desse volume fica um

Do lado oposto da quadra coberta

espelho d’água, visível para aqueles que an-

ral.

As crianças da iniciação, por serem muito

dam pelo térreo.

novas, ficam separadas em um edifício

da quadra poliesportiva, um refeitório e

diferente, que também possui pavilhões. O

mesma lâmina dos pavilhões da Iniciação,

uma cozinha. A cozinha fica a 50cm do solo,

edifício está enterrado a meio nível do térreo,

separada pela passarela de entrada da escola.

apoiada nos pilares da cobertura. No entanto,

48

A administração está posicionada na

A cobertura da quadra abriga, além

Projeto


os pilares se posicionam nas duas margens do

leva a água até o córrego. Por fim, a entrada da escola conta com uma

córrego, fazendo com que a cozinha funcione como uma espécie de ponte.

A escola conta com uma grande passarela, no

praça arborizada, onde os alunos podem es-

nível 3,30m, que funciona como um grande

perar seus pais e se encontrarem nos horários

a água que corre no córrego, mas também a

espaço de encontro. Ela penetra pela quadra

de entrada e saída.

captação da água da chuva, podendo aprender

coberta, distribui os alunos para os pavilhões

sobre o seu ciclo. A cobertura inclinada da

e termina no auditório como um camarote.

quadra conta com uma captação da água em

Aquele que passa por ela tem uma visão

seu nível mais baixo, onde fica um rasgo que

ampla de todo o terreno, podendo observar as

leva a água da chuva a cair sobre o espelho

atividades e aulas dos alunos. Sua laje maciça,

d’água na cobertura da administração. No

ora apoiada em pilares, ora levantada por ca-

caso da cobertura do auditório, a água cai

bos, possibilita um desenho livre que permeia

sobre um espelho d’água no nível térreo, que

por toda a escola.

Projeto

As crianças poderão não só observar

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Planta de situação

50

Projeto


AZE

VE

DO

MA

RQ

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R. D

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R. E

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AV. BENJAMIM MANSUR

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R. PROF. VICENTE PEIXOTO

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DO

0

Projeto

10

50


1. Campo 2. Auditório 3. Pavilhão Iniciação 4. Sala Primeira Vez 5. Sala uso múltiplo 6. Sala uso múltiplo 7. Secretaria 8. Coordenação 9. Sala dos professores 10. Quadra coberta 11. Refeitório 12. Cozinha

Planta Nível 0,0

52

Projeto



13. Passarela de distribuição

Planta nível 3,30

54

Projeto



14. Pavilhão de estudos das dimensões Identitária e Lingüística 15. Pavilhão de estudos da dimensão Artística 16. Pavilhão de estudos das dimensões LógicoMatemática e Naturalista

Planta nível 5,90/ 9,20

56

Projeto



Corte EE

Corte AA

58

Projeto



Corte FF

Corte BB

60

Projeto



Corte GG

Corte CC

62

Projeto



Corte HH

Corte DD

64

Projeto



66


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Bibliografia

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