De-limitações outras - da Praça ao parquear
DE-LIMITAÇÕES OUTRAS da Praça ao parquear
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Orientador: Prof. Igor Guatelli
DE-LIMITAÇÕES OUTRAS da Praça ao parquear
LUÍZA BRAGA CESÁRIO
São Paulo 2014 3
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AGRADECIMENTOS: Aos meus pais, Mônica e Arnaldo pelo amor incondicional, amizade , conselhos, pelo apoio e presença em minha vida; Ao meu irmão Pedro, pelo entusiasmo, intensidade e referência de crescimento profissional; Ao Luca Caiaffa, pelo companheirismo, motivação, carinho e crescimento ao meu lado. Está guardado em meu coração; Às minhas arquitetas prediletas, Bárbara Reis, Juliana Marcato, Juliana Sae, Letícia Platet, Luiza Andrade, Maria Paula Zorowish, por todos os momentos que passamos, pelo companheirismo que permaneceu firme do começo ao fim da faculdade. Tenho certeza que um grande futuro nos espera; Ao professor Igor Guatelli, pela liberdade e orientação em busca de um outro olhar em minha profissão.
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ÍNDICE [1] Apresentação [1.1] Motivação inical
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[2] Arquitetura da utilidade -Arquitetura da imprevisibilidade
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[3] Desfuncionalizar a arquitetura- liberar o coletivo
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[4] O percurso como prática estética
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[5] MAXXI Museum-A experiencia estética a partir do percurso
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[6] Parque de La Villette-A Articulação a partir da fragmentação
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[7] O Percurso como prática estética - Estudo projetual [7.1] A condição do percurso - Da Praça ao Parquear
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[8] Do vazio contido ao vazio que se espraia [8.1] Jardins contemplativos - Jardim de interação coletiva [8.2] Jardins do sol e do verde - Jardins do ócio e da produção
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[9] Enlouquecer o suporte “útil” - Delimitações [9.1] De- Limitações outras – O Centro de Artes e Mídias [9.2] (Re)Programa e (De)Forma outras – O Centro de Artes e Mídias [9.3] Sobre a materialidade do projeto
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[10] De- limitações outras - Conclusões ou aspirações
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[11] Bibliografia/ Créditos iconográficos
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[1.0] APRESENTAÇÃO
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A época atual seria talvez e, sobretudo, a época do espaço. Estamos na época do simultâneo, estamos na época da justaposição, na época do próximo e do distante, do lado a lado, do disperso. Estamos em um momento no qual o mundo se faz sentir, creio, muito menos como uma grande vida que se desenvolveria através dos tempos do que como uma rede que liga pontos e que entrecruza seus laços.1
O trabalho tem como objetivo propor um estudo reflexivo, em que a arquitetura (objeto arquitetônico) possa ser analisada e criada em função de seu potencial reflexo urbano. Sua existência pode extrapolar suas dimensões físicas restritas ao lote, e de maneira consciente interferir de maneira positiva, na criação da paisagem urbana. A arquitetura seria o meio pelo qual as escalas macro (cidade) e micro (lote/bairro) se mesclariam, propondo um cenário urbano baseado na sociabilidade e experiência do espaço. Com base nas produções projetuais e conceituais de arquitetos contemporâneos, pode-se considerar este trabalho uma busca por relações mais expressivas entre arquitetura, cidade e sociedade. Com esses objetivos, mostra-se necessária a introdução de elementos do projeto final realizado, para a compreensão dos motivos que levaram aos estudos seguintes.
1. FOUCAULT, 1984 apud GUATELLI, 2012. Pg.18.
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[1.0] APRESENTAÇÃO [1.1] Motivação Inicial
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A motivação inicial para tal estudo envolve a questão dos vazios urbanos em paradoxo com a falta de espaços “humanos”. Pode-se compreender como uma análise a respeito da questão urbana na atualidade, e a hostilidade dos projetos de arquitetura que quebram a dinâmica urbana por serem objetos fechados em si, sem criar uma paisagem urbana. O projeto (ato e conceituação) teve como objetivo inicial a articulação entre as escalas urbanas (macro e micro), tendo a arquitetura como o suporte para a ampliação das dinâmicas criadas a partir do contato entre homem, arquitetura, e cidade. Para isso, a escolha do terreno foi essencial na medida em que este está localizado no Bairro de Pinheiros, mais precisamente na quadra entre a Praça Benedito Calixto e a Rua Henrique Schaumann. O projeto poderia ser visto como um possível suporte programático da interação e ampliação da dinâmica de um vazio micro escalar. O vazio citado seria a Praça Benedito Calixto, crucial para a região, pois abriga a tradicional feira de antiguidades, feira gastronômica, entre outros eventos que trazem a característica da “eventualidade” ao espaço. No caso da praça, o evento inusitado qualifica o vazio ajardinado como um lugar que permite a interação entre as pessoas e o espaço urbano. Ou seja, a motivação inicial, frente às analises da praça, era criar a conexão inter-escalar2 por meio do suporte projetual com o objetivo de enriquecer as relações que se concentram na Praça Benedito Calixto e, por consequência, estender tal vitalidade para a Rua Henrique Schaumann e para as demais localidades. Em busca da articulação entre diferentes escalas e essências pelo projeto arquitetônico, é necessário analisar estratégias de inserção desta arquitetura em seu sítio, assim como a maneira em que seu programa é disposto. Ou seja, o objetivo de estudo é explorar a arquitetura e seu papel articulador, enriquecendo as dinâmicas proporcionadas pelo espaço e pela experiencia coletiva em uma troca que ocorre na cidade.
2.Inter-escalar: Ação que ocorre entre escala.
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[2.0] ARQUITETURA DA UTILIDADE - ARQUITETURA DA IMPREVISIBILIDADE
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Para compor um estudo coerente a respeito da arquitetura e sua função urbana e social, é necessário entender a base histórica e o desenvolvimento dos espaços ao longo do tempo para entender a situação atual das cidades. Deve-se lembrar de que a sociedade atual é herdeira de um ideal funcionalista, modernista, em que o pensamento estético, político e social (entre outros) eram regidos por regras deterministas, pré-concebidas e aplicadas no processo projetual. “Um texto fechado e prescritivo, um receituário que deveria ser seguido a fim de alcançar as transformações desejadas.”3
A arquitetura era analisada a partir da correspondência direta entre sua forma e função, com lógicas claras de equivalência entre o que foi projetado e o programa de necessidades. O programa por sua vez, também seguia a vertente funcionalista, pois deveria ser plausível e coerente com as necessidades do projeto. Ou seja, arquitetura era proposta em função das definições feitas “a priori” 4 . No cenário pós-moderno - com parte da herança funcionalista citada acima, e paradoxalmente em busca de novos enquadramentos teóricos – a doutrina que surgia criava uma sociedade baseada no sistema informacional e tecnológico. Como consequência, observa-se a diminuição progressiva da participação do indivíduo como cidadão que usufrui dos espaços da cidade. Assim, pode-se entender que as relações entre homem e espaço ficaram enfraquecidas e, consequentemente, o senso coletivo se torna um elemento frágil na sociedade. Somando estes fatos à escassez de espaços públicos com qualidade, espalhados ao longo da cidade, algumas reflexões devem ser feitas: Como estancar este aprisionamento do indivíduo em lotes murados? Como curar a claustrofobia urbana, a alienação, e a falta de identidade entre o homem e seu espaço? 3. GUATELLI, Igor. 2012. Pg. 26
4. A priori: Termo utilizado pelo filosofo desconstrutivista Jacques Derrida para conceitos pré-estabelecidos, e definidos. Sua dissertação se relaciona à pintura, e subjetivamente, a todas as artes. (DERRIDA, Jacques e BERGSTEIN, Lena. 1998.).
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As pessoas passam pelas ruas e não se reconhecem. Quando se veem, imaginam mil coisas a respeito uma das outras, os encontros poderiam ocorrer entre elas, as conversas, as surpresas, as carícias, as mordidas. Mas ninguém se cumprimenta, os olhares se cruzam por um segundo e depois se desvia, procuram outros olhares, não se fixam.5
Os locais de encontro se tornaram apenas passagens, cruzamentos que ocorrem no espaço da cidade, mas não se relacionam de fato com este. Não há o sentimento de “pertencer” aos lugares e não há relação entre os próprios corpos humanos. A cidade passa a ser tratada como um objeto com valor de troca mercantil, e a cultura se enquadra na mesma situação. Cultura e arquitetura se tornam meios de promoção das cidades, pela exposição de uma imagem icônica, como uma marca a ser vendida. Ou seja, a reflexão que poderia ocorrer no ato de permanecer e criar vínculos com a cidade deu lugar à informação pronta, assim como: “(...) O saber passou a ser produzido para ser vendido, e ele é e será consumido para ser valorizado numa nova produção: nos dois casos, para ser trocado.” 6
Os objetos arquitetônicos, os festivais e eventos ocorrem com o objetivo de colocar a cidade numa perspectiva de animação cultural que parece lhe dar o valor de uma verdadeira cidade. Este fenômeno pode ser citado como espetacularização da cidade7 . Os espaços espetaculares (arquiteturas projetadas para conformar objetos monumentais) criam em seus interstícios espaços residuais, esquecidos por não obterem o valor de mercado. 5. CALVINO, Ítalo. Cidades Invisíveis. 1998. Pg. 51 Obra literária que propõe reflexões a respeito do fenômeno urbano propondo a compreensão da complexidade das cidades, por meio das descritas descobertas de Marco Polo pondo em questão a singularidade de cada cidade em termos de paisagem construção de um espaço e de uma sociedade. 6. LYOTARD, 1998 apud BERENSTEIN; JEUDY. 2006. Pg. 52 7. BERENSTEIN; JEUDY. 2006.
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As arquiteturas se tornam imagens, espaços desencarnados, cenários sem calor humano. As intervenções culturais criadas nos territórios - as que são planejadas- parecem cada vez mais desprovidas de corporeidade. Obedecem a um ritmo de produção e de exibicionismo cultural. Tanto no espaço moderno e funcional, quanto nos espaços espetaculares do pósmodernismo, percebe-se que esses modelos são excludentes. Excluem o elemento essencial para a vitalidade das cidades: o homem e sua eterna condição entrópica8 , ou seja, sua condição existir a partir do que estiver vivenciando, em cada momento uma nova existência. A sociedade do “Ser-Com” 9 , em constante comunicação, que compõe interpretações e momentos que se alteram no tempo, e a partir das experiências que ocorrem neste tempo. Utiliza-se também o termo “ser-aí” (Dasein), constantemente alterado pelas ações e reações de seus contatos com o outro, e que compõe uma conexão e alteração espacial ao demorarse no lugar. Na medida em que a linguagem parte da cena, retirando a espontaneidade. A necessidade de colocar e exprimir palavras. As ideias claras são no teatro como em toda arte, aliás, ideias mortas e acabadas. 10
A questão crucial é a percepção de que na atualidade, o homem não necessita apenas estar “livre” ao momento circunstancial, ele deve ser estimulado por este momento e colocado como parte do processo de criação das dinâmicas urbanas e por consequência da arquitetura. A necessidade do estímulo e de possibilidades espaciais colocam em questionamento as definições feitas “a priori” e seus reflexos na paisagem urbana.
8. Entrópico: termo usado para a irreversível condição de desordem natural dos seres vivos. Uma condição não desassociada do ato de viver e existir. 9. Ser-Com = Termo relacionado ao Conceito Mitdasein, variação do conceito de Dasein do filósofo alemão Martin Heidegger. Pode ser traduzido como o ser-aí, o ser-com, que conceitua a ideia de que o ser está em permanente comunicação com algo além dele, possibilitando sua recriação partir da alteração do estado deste ser ao entrar em contato com outro, ao articular-se com algo além dele próprio. 10. DERRIDA. BERGSTEIN. 1998. Pg. 34
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Ou seja, como o “a priori”, as pré-determinações, podem se encaixar na sociedade contemporânea tão complexa e abrangente? E quais os reflexos obtidos desta falta de sintonia entre conceito e fato? Como se pode definir um espaço, sendo que este é mutável por ser resultante do próprio tempo e das vivências que nele ocorrem? A teoria desconstrutivista defendida pelo filósofo Jacques Derrida expressa tal inquietação em relação às determinações feitas “a priori”, anunciando a necessidade do constante questionamento a respeito das certezas pré-estabelecidas em todos os campos de atuação do homem.
O fazer arquitetônico atual está diretamente vinculado às questões relativas ao espaço, entendendo-o como um suporte e suposições, tal como os escritos de Derrida. Fala-se inclusive de uma nova racionalidade, uma nova intuição de espaço como meio (inter) ativo formado por eventos, adjacente e remotos, alavancando rotinas e lógicas outras adversas. 11
A conceituação de Derrida pode ser interpretada para a arquitetura como a criação de espaços abertos ao “porvir” 12 , ao acontecimento inusitado, à imprevisibilidade do evento que pode ocorrer inesperadamente na cidade. Espaços que permitam interação-Tensão. (O homem interage com o espaço – a tensão é formada e propiciada pelo modo como esse espaço é disposto).
11.GUATELLI, Igor. 2012. Pg. 31 12. Por vir = Termo utilizado por Jacques Derrida para explorar o conceito do que poderia vir; da espontaneidade dos fatos. (DERRIDA; BERGSTEIN. 1998)
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[3.0] DES-FUNCIONALIZAR A ARQUITETURA – LIBERAR O COLETIVO
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Tendo como referencia os conceitos de Derrida para propor uma nova relação espacial, a arquitetura poderia ser projetada como suporte (Sous - Porter) da interação urbana. Um suporte que apoia e propicia dinâmicas inesperadas, sob um processo em constante movimento (Jétil)13 , livre de limites14 . Uma arquitetura que se encontra entre o objeto condicionante (programa e necessidades) e objeto condicionado pelo usuário. A arquitetura como um Subjétil. Este termo é utilizado por Derrida em seus escritos a respeito da literatura, dramaturgia, entre outros campos do pensamento humano, como a arquitetura. Interpretando seus conceitos para o urbanismo, o subjétil seria a arquitetura que se encontra entre a situação do suporte que “jaz”( inerte, imóvel), porém se permite ser lançado (jacente), para além de sua pré-determinada condição de suporte, atravessando os limites. Pode-se afirmar que deveríamos buscar no campo da arquitetura, um significado emocional, coletivo e, consequentemente, urbano que não seja moldado em sua forma - ou em uma “forma”. Em busca deste suporte, deve-se romper com os limites funcionais e programáticos associados à arquitetura. O termo Desfuncionalizar a arquitetura expressa este rompimento, pois representa o ato propor uma arquitetura que vai além de sua função e além de sua necessidade programática. O programa por sua vez, nunca poderia ser negado no processo arquitetônico, mas deveria ser reprogramado junto a uma estratégia projetual por parte do arquiteto, com o objetivo de:
(...) criar espaços de significações entre os espaços definidos, espaços catalisadores e motivadores dessas ações do usuário.15
O agenciamento do programa - termo utilizado por Gilles Deleuze e por Bernard Tschumi - estaria relacionado à estratégia de criação de um suporte programático, capaz de gerar tensionamentos e articulações entre as atividades, com a intenção de promover 13. Jétil = Derrida explica o termo jétil, como algo a ser projetado, um lançamento, um movimento inesperado. (DERRIDA; BERGSTEIN. 1998). 14. Delimitação= dé-limitation. Termo usado por Derrida para a construção/desconstrução de entre-lugares que se mantêm em permanente reconstrução, indo além do limite previsto. (DERRIDA; BERGSTEIN. 1998.) 15. GUATELLI, Igor. 2012.
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instabilidade, característica essencial para a projeção de espaços dinâmicos na medida em que esta altera as ações que ocorrem na cidade e de suas respectivas relações. A interpretação destes conceitos no espaço projetual, pode ser compreendida como um “entre- lugares”. Espaços intersticiais, com a capacidade de relacionar o conteúdo programático, os acontecimentos gerados entre as edificações e a presença do homem. Os conceitos se transformam em estratégia projetual que atua como mecanismos abertos que embasam o projeto mesclando programa com os acontecimentos em continua mudança.16
Como afirma Rem Koolhaas17 a respeito da estratégia projetual como meio de expressar um conceito, pode-se dizer que cabe ao arquiteto utilizar elementos estratégicos que introduzam o exercício da experimentação como forma de propor novas ações e pensamentos provenientes de outras possíveis interpretações. Como estratégia, devemos trabalhar a arquitetura como estudo resultante da soma de especulações conceituais, potencialidades programáticas, formas de inserção e organização do edifício no terreno, dimensionamento dos espaços, entre outros elementos que manifestam a condição do entre na arquitetura, condições do surgimento de dinâmicas eventuais. Para Bernard Tschumi, um dos arquitetos contemporâneos que disserta a respeito do conceito e o ato projetual desconstrutivista, deve-se propor o questionamento a respeito da possibilidade de incentivar eventos sociais que criem novas condições para o desenho da arquitetura. No processo projetual do arquiteto, termos como: “disjunção, fragmentação e justaposição”, são estratégias projetuais que expressam a condição da eventualidade e da dinâmica espacial. Como uma releitura dos anseios e mudanças da sociedade, a arquitetura deve ser projetada com jogos formais, e entre elementos fechados e vazios, criando respiros onde 16. El Croqui- OMAMO. Ed. 132/133. Pg. 32 - Tradução própria. 17. Rem Koolhaas, arquiteto e jornalista, é um dos grandes arquitetos da contemporaneidade. Suas obras e seus estudos têm como objetivo, atrelar o campo da arquitetura à política, sociologia, geografia. Seus projetos são resultado do estudo profundo da multicomplexidade das cidades contemporâneas.
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o corpo humano pode ser estimulado a criar a experiência arquitetônica individual, porém com reflexo coletivo. Em seus estudos, Tschumi disserta a respeito da relação entre corpos da cidade e corpos humanos, explorando a ideia de que o “prazer da arquitetura” só é garantido quando esta é preenchida com a expectativa única de cada um de seus usufruidores, proporcionada pela composição projetual, que superando as normativas pré-estabelecidas criam possibilidades para tal corporeidade humana.
(...) não me refiro de fato à desconstrução, mas ao excesso, às diferenças, às superações. Excedendo aos dogmas funcionalistas, sistemas semióticos, precedentes históricos, produtos resultantes de um contexto social e econômico. (...) a arquitetura do prazer só acontece onde a fragmentação do objeto se transforma em deleite para os usufruidores, onde a cultura e a arquitetura não se findam por determinações, e todas as regras são transgredidas. Sem paraísos metafóricos, mas sim, desconforto, e instabilidade proveniente das expectativas.18
A importância da relação entre os espaços vazios e a presença do corpo humano, pode-se associada ao “estado do corpo errante”19 , que claramente faz um paralelo às ideias de Derrida, que chama este estado de “devir errante”. O corpo do errante se torna criativo, lúdico, e embriagado no momento em que este se encontra em relação – pode-se dizer afeto - com o percurso inusitado e desconhecido. O ato de errar seria o instrumento da experiência do corpo no meio urbano e uma ferramenta que pode propor ações que não precisam necessariamente ser programadas, mas sim experimentadas com todos os outros sentidos corporais. A cidade é lida pelo corpo e o corpo escreve o que poderíamos chamar de corpografia. A corpografia seria a memória urbana no corpo, o registro de sua experiência da cidade. 20 18. TSCHUMI, Bernard. 1996. Pg. 92. (Tradução própria) 19.BERENSTEIN; JEUDY. 2006. 20.BERENSTEIN; JEUDY. 2006.
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A cidade habitada, precisa ser tateada observada e sentida, todos os sentidos reunidos (olhar, tato, olfato) irão compor a experiência urbana. O corpo humano, que de fato se integra ao corpo urbano (se lhe for disposto as condições necessárias), cria a dinâmica estudada por este trabalho. A questão lúdica, no momento em que se des-limita (ou desconhece) um caminho, a imaginação que será ativada no momento em que o percurso passa a ser inusitado, o afloramento das atividades sensoriais, da criatividade e a interação inconsciente entre o corpo e o lugar acontecem no momento em que não se sabe o que há por vir, no momento em que os encontros são inusitados e as perspectivas surpreendentes.
Eis a questão: o que é que pode um corpo? De que afetos é que são capazes? Experimentem, mas é necessária muita prudência para experimentar. Vivemos num mundo desagradável, onde não somente as pessoas, mas também os poderes estabelecidos tem interesse em nos comunicar afetos tristes. As tristezas, os afetos tristes, são todos aqueles que diminuem a nossa potencia de agir. (...) A longa lamentação universal sobre a vida: a falta-de-ser que é a vida. Podemos dizer “dancemos”, que nem por isso ficamos alegres. Podemos dizer “que desgraça é a morte, mas era preciso que tivéssemos vivido para termos algo a perder (...)”. Não é fácil ser homem livre: fugir da peste, organizar os encontros, aumentar a potência de agir, afetar-se de alegria, multiplicar os afetos que exprimem e encerram um máximo de afirmação. Fazer do corpo uma potência que não se reduz ao organismo, fazer do pensamento uma potência que não se reduz a consciência. 21
21. DELEUZE. 2004 apud PUGLISI. 2010. Pg.27
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[4.0] O PERCURSO COMO PRÁTICA ESTÉTICA
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Nota-se a importância da presença humana vivenciando a cidade, e por consequência, intervindo a partir da interpretação singular de cada indivíduo, como processo coletivo, criando novas interpretações a respeito dos limites do espaço urbano. A ideia de abrir margem a novos limites e novas percepções do espaço da cidade foi foco de estudo dos situacionistas, por meio do estudo da Deriva22 , termo utilizado para explicar a experiência do percurso como forma de intervenção urbana, coloca o corpo como instrumento cognitivo e reativo ao se conectar ar corpo da cidade. O termo dérive, uma atividade lúdica coletiva que não apenas visa definir as zonas inconscientes da cidade, mas que – apoiando-se no conceito da psicogeografia – pretende investigar os efeitos psíquicos que o contexto urbano produz no indivíduo. A dérive é a construção e experimentação de novos comportamentos na vida real, a realização de um modo alternativo de habitar a cidade. 23
As ideias situacionistas24 se baseavam em promover o estímulo do homem em diferentes espaços das cidades. Estímulo feito através da deriva, da real vivência urbana, em que os aspectos sensoriais, psicológicos e intuitivos, são direcionados pelos aspectos físicos, formais, topográficos e geográficos. O ato de estar a Deriva corresponde a uma concepção lúdica e desestabilizadora da ordem urbana pré-concebida pelo senso comum (pelo pensamento a priori), promovendo novos modos de vivenciar o a cidade. Novamente, vemos o conceito da instabilidade como a abertura de novas interpretações e movimentos no território.
22. CARERI. 2013. 23. CARERI. 2013. 24. É importante citar que os situacionistas não foram o primeiro grupo/movimento a questionar e a criar conceitos a respeito do percurso como prática estética do indivíduo. Dadaístas, Surrealistas entre outros, compartilhavam tal pensamento, cada grupo com sua especificidade. ( CARERI. 2013).
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O objetivo é indicar o caminho como um instrumento estético capaz de descrever uma natureza que ainda deve ser compreendida e preenchida de significados, antes que projetada e preenchida por coisas.25
Em seu livro ‘Walkscapes – o caminhar como prática estética - (2013)’, Careri propõe uma análise do território com o intuito de compreender o espaço antes de se preencher o mesmo. Criando uma relação entre o percurso lúdico delirante e os termos citados anteriormente, como por exemplo: “agenciamento” “fragmentação”, “sobreposição” e “articulação”, nota-se que estes formam uma trama de possibilidades espaciais inseridas no percurso, que alteram a percepção e a relação do homem no espaço que habitado. São conceitos que criam a condição do entre na arquitetura e liberam a essência do homem errante delirante no momento em que este percorre o espaço e constrói a experiência urbana.
25. CARERI. 2013. Pg. 32.
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[5.0] MAXXI MUSEUM – UMA EXPERIENCIA PESSOAL DA DERIVA ESTÉTICA - Roma, Itália, 2009 - Arquiteta Zaha Hadid
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Proponho aqui expor minha experiência urbana proporcionada pela deriva e relacionada ao objeto arquitetônico. Minha visita ao museu ocorreu em julho de 2008, quando estava na Itália fazendo um curso de Arquitetura e Sustentabilidade. A ida a Roma com os demais estudantes ocorreu em um fim de semana. Estávamos sozinhos, portanto o roteiro poderia ser completamente adaptado as necessidades momentâneas da viagem. Embora tivéssemos um roteiro e mapa em mãos, o objetivo era tentar absorver a essência Romana, daqueles que de fato vivem na cidade, de maneira que não queríamos ficar nos locais selecionados e determinados para turistas. Uma das estudantes propôs a ida ao MAXXI, e pela sua localização (fora do centro turístico), seria uma experiencia nova para nós. O projeto está localizado na antiga fábrica de Jipes militares que ocupava o terreno, localizado no bairro Flaminio em Roma. Foi idealizado em 1998, por meio de um concurso realizado pelo Ministério da Cultura Italiana como um dos projetos previstos para o plano de renovação de Roma. O Museu teria o papel de criar um polo contemporâneo na cidade histórica. Vencedora do concurso, a arquiteta Zaha Hadid, propôs para em seu projeto que a ocupação territorial fosse guiada pelos eixos de direções distintas existentes na geometria do entorno (conformando o terreno). Quando prolongados, estes eixos se cruzam no território, criando uma forma de “fita/ vetores” que por sua vez determinam a inserção do projeto no lote e os fluxos internos do museu adquirindo assim, uma analogia entre ambiente interno e externo. Esta relação análoga ocorre através da sobreposição e combinação dos fluxos, percursos, elementos cheios e vazios, em um espaço contínuo porém indefinido. A ideia era exatamente criar um museu com características relacionadas ao caos urbano, refletidas em seu próprio fluxo interno, deixando de ser apenas um contenedor de arte, mas sim um espaço com novos limites entre espaços internos e externos, o que foi perceptível à mim. Fomos a pé ao museu pois queríamos passar pelos bairros residenciais, ver os pequenos comércios na esquina, a interação entre os italianos. Após muito tempo de caminhada, chegamos ao MAXXI. Na realidade passamos por
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ele. Sua entrada é extremamente “tímida” , aqueles que não sabem exatamente onde estão, passam pelo local com grande facilidade sem percebê-lo. Porém ao adentrarmos no terreno, tive uma experiência inédita. Um Museu que, ao contrário do que se imagina ao pensar em uma produção de Zaha Hadid, é delicado, tímido, porém muito diferente de seu entorno, e principalmente diferente do que se espera de um museu de Arte Contemporânea. A obra se mostrou ao meu ver (sentir) como uma “caixa de surpresas”, adentrei ao espaço inovador e todos os meu sentidos ficaram aguçados na tentativa de entender e descobrir o local. O cansaço deu lugar a curiosidade, de forma que ficamos um bom tempo na parte externa do museu, sentadas entre seus pilares e em seu espaço público, que será explicado posteriormente. De fato ficamos horas sentadas, olhando e observando o ambiente. As vezes levantávamos, íamos à outra esquina do projeto, com o objetivo de entendê-lo como um todo. Mas isto não é possível. É preciso percorrer o local para que seja possível absorver o ambiente, mas nunca há a percepção ótica de seu todo. Literalmente, Zaha projetou um espaço que só existe a partir da experiencia que cada indivíduo tem no lugar, da maneira como este é percorrido. Estudando o projeto para a composição deste trabalho, vi que Zaha Hadid tinha exatamente o propósito de propor um estudo diferenciado em que o museu, não atuaria como um objeto recipiente, mas como suporte interativo para a arte, em que os fluxos e percursos deveriam e se conectar a fim de criar um espaço dinâmico continuo, porém fragmentado. Um espaço fluído, que se encaixa nas reentrâncias da cidade consolidada. A espacialidade interna do museu foi projetada para assumir o papel multifuncional, com versatilidade e fluidez, de forma que o percurso percorrido pelo usuário é o ponto crucial para o dinamismo do ambiente interno, criando uma narrativa que se desenvolve por meio dos espaços contínuos, que geram múltiplos pontos de perspectiva. Estratégias que se refletem de maneira clara no exterior do museu e sua relação com o entorno romano, de forma que o objeto arquitetônico é a cidade. (conceitos vistos também nos projetos e escritos de Tschumi).
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Estas perspectivas internas e externas foram experimentadas por mim. O local é de fato um instigante espaço. Tive a sensação de subir a escada, passar pelos espaços, inesperadamente estava em outro espaço, de maneira que eu não pude perceber a transição entre estes momentos. O meu caminhar - no interior do museu - teve grande relação com o meu caminhar em seu exterior, e principalmente com o meu caminhar nas Ruas de Roma até chegar ao Museu. O percurso é a chave para estar relações. Ele pode ser entendido como a libertação da imaginação, do delírio e da interação do homem e seu subconsciente pode ser observado nesta obra de Zaha Hadid. O ato de Delirar neste caso nos leva a uma pequena introdução das civitas romanas antigas. O ato de delirar é um termo que pode ser associado aos pensamentos da deriva, na medida em que o delírio representa a superação dos limites; romper com as definições, atos e pensamentos restritivos. As primeiras Civitas Romanas estavam associadas à questão da mobilidade, da fluidez e dos percursos feitos pelos homens. Aquele que não era etnicamente romano poderia ser considerado como tal por compartilhar e viver em um território regido pelos conceitos romanos. Primava-se pelo habitar ao invés do visitar, o “permanecer” ao invés do simples “passar por”. Assim, o cidadão romano era aquele que aderia às leis da sociedade. Sendo assim, qualquer visitante poderia ser um cidadão romano, pela sensação de pertencimento ao local. Ou seja, as civitas romanas eram como suportes que garantiam o compartilhamento do espaço por aqueles que se relacionavam com ele.
A fim de garantir transposições permanentes, transgressões culturais motivadas pela mistura e uma transcendência étnica dada pelo convite e reconhecimento facilitado do outro como pertencente ao lugar, uma infraestrutura baseada em transportes era montada. Aquedutos, para transporte da água, rede de esgotos e estradas de ligação entre cidades e com Roma garantiam convivência e o direito mínimo de acesso de todos aos territórios, às civitas romanas. Arquiteturas de linhas, suportes de deslocamentos, e não de templos.26
26. GUATELLI. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.129/4043>.
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Roma pode ser analisada como a antiga cidade delirante. Porém, atualmente sua importância como arquipélago a céu aberto, pode ser interpretada como um limite aos possíveis delírios contemporâneos. A história e o valor que esta tem nos espaços de Roma se destacam no estudo do projeto de Zaha Hadid. Os esforços para manter e cuidar da sua história que por consequência é a história do mundo, são infindáveis. De forma que a proposição de um projeto Contemporâneo no local deve ser feita de maneira cuidadosa e estudada. Além disso, existe a questão econômica. Embora a cidade tenha uma vitalidade intensa, esta obtêm parte de sua economia do turismo relacionado à cidade antiga, de maneira que um dos grandes desafios do concurso era a relação equilibrada e articulada entre a arquitetura contemporânea e seu contexto histórico. Zaha Hadid, por meio de seus feixes e grids urbanos propôs um museu que respeita seu contexto e se “entrelaça” de maneira “reverencial” à importante história que Roma abriga em seus espaços, sem deixar de ser uma expressão contemporânea e diferenciada no entorno da obra, de forma que as “fronteiras históricas” se mesclam de maneira compreensiva e acolhedora ao corpo jovem e estranho, devido à estratégia adotada para a implantação do projeto, que sugere aos visitantes uma contínua deriva, proporcionada pelas escadarias, perspectivas, cantos e saliências, incluindo suas sobreposições verticais internas e externas do espaço. No acesso do museu, chegando ao átrio, percebe-se os principais elementos do projeto: paredes curvas de concreto, escadas pretas suspensas, teto aberto recebendo luz natural. Elementos utilizados por Zaha para proporcionar um percurso fluído pelo museu, criando uma interação diferenciada aos visitantes. O que mais chama atenção é a espacialidade criada pelas circulações e a relação destes com o mobiliário criado para o local. Zaha Hadid, projetou todos os elementos que compõem a obra, desde o projeto arquitetônico ao mobiliário do auditório, do café e dos demais espaço. Este fato demonstra que a essência da espacialidade arquitetônica, é interpretada nos demais elementos que compõem o local.
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Eu vejo o MAXXI como um ambiente urbano de imersão para a troca de ideias, alimentando a vitalidade cultural da cidade.27
A espontaneidade é retratada em suas paredes, que se curvam e se transformam em chão, teto, ou em grandes janelas abertas para a área externa. A constante fragmentação do espaço, a mutação geométrica e dimensional permite a adaptação do local para diversos tipos e práticas expositivas (obras, pinturas, quadros, esculturas instalações eventos, entre outros). Durante o percurso nos espaços internos do museu me deparei com bifurcações, e expansões que resultam respectivamente em espaços transitórios (passarelas e escadas) e de permanência (espaços expositivos). Todo o ambiente interno é coberto por um telhado de vidro que permite a entrada de luz natural filtrada pelas claraboias alinhadas às vigas aparentes. Essas vigas sublinham a linearidade do sistema espacial, articulam as diversas orientações das galerias e conformam a circulação entre os espaços do museu. As vistas e o percurso são projetados como um delirante passeio em que não se percebe exatamente os limites espaciais que diferem os ambientes de permanência e transição. É possível apenas sentir a dinâmica que ocorre a cada adentrar de um novo espaço. Podemos relacionar aqui o termo “disjunção”, em que os espaçamentos criam uma condição/ dimensão diferente e inusitada do lugar. As articulações destes ambientes, realizadas pelas estruturas de circulação (rampas, passarelas e escadas) praticamente se transformam nas áreas de acervo, que por sua vez são articuladas a outro espaço transitório e assim por diante, criando espaços praticamente contínuos em que se mesclam estados de permanência e transição, enriquecendo os sentidos designados a cada um deles. 27.MAXXI: Zaha Hadid Architects: Museum of XXI Century Arts. 2010. Ed. Skira Rizzoli. 29. GUATELLI, Igor. O MAXXI e o delírio de Zaha Hadid em Roma. Projetos, São Paulo, ano 11, n. 129.03, Vitruvius, set. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.129/4043>. 30. Termo utilizado por Igor Guatelli, relacionado ao conceito Derridiano ‘parergon’, no qual o suplemento seria algo que parece ser além do necessário. Ao associarmos este conceito ao elemento arquitetônico, refere-se ao excesso que permite o acontecimento de diversas ações experimentais, diferentes do imaginado e programado. (GUATELLI. 2012. Pg. 68).
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
A condição do “entre” é proporcionada pelos vetores (internamente representados pelas circulações verticais e horizontais e externamente pela sua composição formal em relação ao território). Estes entre-espaços onde as atividades programadas não ocorrem, são exatamente os espaços propícios para o florescimento das experimentações. O ato de transitar, pelos caminhos internos se torna uma prática estética que supera a percepção óptica, explorando a percepção Háptica28. Da mesma maneira, sua forma exterior não permite uma concepção ótica do seu “todo”, compondo uma experimentação corporal do indivíduo dentro e fora do museu, por meio do percurso. É necessário andar pelos caminhos do museu para vê-lo de fato, mas não há a percepção deste como um todo. Pode-se afirmar que a estratégia usada por Zaha Hadid, ao tratar a conexão entre os espaços de transição e exposição de maneira diferenciada, faz com que o percurso seja parte da (re) programação do museu. As desejadas ubiquidade e integridade formal/visual da arquitetura de ‘templos’ da contemporaneidade dão lugar a uma arquitetura de feixe de linhas oblíquas, esparramadas entre coisas. As disformes linhas são vetores articuladores de espaços e não determinações métricas a serviço de demarcações e conformações de invioláveis e ensimesmadas formas na paisagem. Como no espaço liso deleuziano, o espaço do museu é multi-direcional, e não métrico ou dimensional. Tamanho e proporção não parecem importar, o que importa é o contínuo deslocamento e propagação por um espaço apenas sulcado por linhas que o atravessam, tal como uma civitas.29
28. Háptico: De acordo com Igor Guatelli (GUATELLI, 2012, pg.17) o termo é utilizado por Gille Deleuze, que se refere à experiência tátil do olho, onde à percepção ótica, contemplativa, dá lugar ao ótico sensorial. Referente à percepção a partir do contato, das trocas corpóreas 29. GUATELLI, Igor. O MAXXI e o delírio de Zaha Hadid em Roma. Projetos, São Paulo, ano 11, n. 129.03, Vitruvius, set. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.129/4043>.
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O projeto de pode ser considerado uma adição suplementar30 à cidade. Suas escadas, perspectivas, fluídos, aberturas e estreitamentos, são elementos (des) necessários, pois não servem necessariamente para suprir uma carência, mas sim para alterar uma dinâmica do território. Na realidade, sua necessidade é adquirida da sua “desnecessidade”. Como já foi comentado anteriormente, a obra não pode ser observada como um todo em seu exterior. É preciso percorrer todo seu perímetro para compreendê-la. Neste caminho, paralelamente ao edifício projetado, Zaha Hadid criou uma espécie de largo, uma analogia às Piazzas que constituem o centro histórico italiano. Este espaço público foi o ambiente que mais nos atraiu e que nos instigou a ficar horas fora do museu. Este espaço é composto por mobiliário urbano integrado á pequena massa verde e luminárias lúdicas, com formatos de flores. O pequeno espaço pode parecer um pouco irrelevante ao local, mas na visita ao museu, percebi que aquele ambiente é crucial para a experiência lúdica no espaço. Ao sentarmos na área verde, vimos casais sentados ao nosso lado, crianças dentro do espelho d’água brincando enquanto seus pais liam e relaxavam na massa verde, além de grupos de amigos fazendo piqueniques. Sentamos e fizemos o mesmo. Cada um interagiu com o espaço de maneira individual. Alguns de nós leram livros, outros estudaram italiano, dormiram entre outras atividades. Criamos uma dinâmica coletiva por meio de nossas experiencias individuais e pela imaginação e interação que cada um compôs no Museu. Noto aqui, por minha experiência da deriva e da experiência no espaço arquitetônico, grande similaridade com o que proponho em meu projeto final. Uma análise a respeito da arquitetura, que independente das dimensões físicas, possa criar uma dinâmica com característica coletiva e urbana por meio da interação espacial e corpórea.
30. Termo utilizado por Igor Guatelli, relacionado ao conceito Derridiano ‘parergon’, no qual o suplemento seria algo que parece ser além do necessário. Ao associarmos este conceito ao elemento arquitetônico, refere-se ao excesso que permite o acontecimento de diversas ações experimentais, diferentes do imaginado e programado. (GUATELLI. 2012. Pg. 68).
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
I. 05 I. 09_Vista do ‘largo’
I. 05
I. 10_Circulação_ Caos e continuidade
I. 06
I. 07
I. 08 I. 07
I. 10
I. 08
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I. 11_ Vetores interpretados nos pilares da entrada
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[6.0] PARQUE DE LA VILLETTE – FRAGMENTOS ARTICULADOS.
-Paris, França, 1995 -Arquiteto: Bernard Tschumi
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Nas dissertações e projetos de Tschumi, percebe-se que a concepção do espaço, atitudes e movimentos são elementos dependentes entre si. Suas diversas combinações são a possibilidade da surpresa e da ocorrência de acontecimentos imprevisto. O Parque de La Villette é uma das obras paradigmáticas em que Tschumi expressa seus conceitos sobre o papel da arquitetura como elemento potencializador da expressão humana no espaço da cidade. Retoma-se neste estudo (assim como no MAXXI Museum) a ideia da fragmentação como forma de criar as condições do entre no projeto arquitetônico, associando o espaço verde e o agenciamento de condições que fazem da fragmentação, um modo de criar as possíveis eventualidades. O Parque onde o projeto foi proposto, localizado em Paris, continha um cenário pré-constituído por grandes projetos/edificações, como as Cidades da Música e da Ciência e Tecnologia, o Zenith e o Grand Halle. E m meio a estas fortes construções, individualmente geradoras de dinâmicas dispares, a proposta de Tschumi para as áreas livres do parque se baseou na fragmentação (disjunção) do possível objeto arquitetônico, constituindo pequenas unidades espalhadas ao longo do parque. Seria o desaparecimento do objeto arquitetônico para articular o entorno existente e proporcionar a construção do vazio. Sua estratégia parte da composição de três elementos. A sobreposição de linhas (circulação), pontos (folies) e superfícies (pavimentos). Estes elementos, dispostos de maneira fragmentada e sem programações fixas, foram dispostos em uma malha cartesiana com módulos de 120m de espaçamento entre si, pela área total do parque de 55 hectares. As Folies31 , unidades pontuais, em cor vermelha foram baseadas em módulos cúbicos de 10x10mestros com formatos aparentemente aleatórios, em que é possível absorver apenas traços que criam a sensação de aleatoriedade, reforçando sua estratégia de disjunção. Tais pontos (Folies) foram dispostos de maneira que poderiam abrigar diversos usos, promovendo uma rotação entre programas e espaço, e criando uma correlação com a dinâmica móvel e urbana da cidade. Com o objetivo de desassociar a produção de arquitetura como a criação objeto fechado e grandioso por sua presença formal (obras espetaculares) Tschumi propôs uma arquitetura de “espaçamentos programáticos”, móveis, com o objetivo de deixar que os 31. GUATELLI. 2012 - Points of folies: significa pontos de loucura, de intensidade.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
significados atribuídos ao lugar fossem resultados das ações imprevistas que acontecem a cada momento nestes espaços, e entre eles. As Folies, espalhadas pelo terreno, se tornaram o ponto de articulação entre os espaços verdes, as edificações e as pessoas. Consequentemente seria o ponto que liga a eventualidade e as diferentes atividades imprevistas ao espaço arquitetônico. É importante observar no projeto de Tschumi que, apesar da descontinuidade e fragmentação, as Folies se articulam por meio de uma modulação que cria espaçamentos coerentes e locais uniformemente povoados. Ou seja, o projeto, configurou uma dispersão da multidão que - anteriormente - ora se encontrava nos projetos pré-existentes (momento aglomerado), ora caminhava em um longo caminho verde até chegar à outra arquitetura. As Folies, foram inseridas nestes espaços entre as edificações, como fragmentos criadores de dinâmicas entre os polos até então desarticulados. De fato, nota-se a íntima relação entre as Folies e os projetos catalisadores de multidões (os quatro projetos citados anteriormente). Pode-se afirmar que as Folies seriam o suporte para a interação continua e articulada entre os diversos pontos projetuais e o grande espaço verde. É possível associar à obra de Tschumi outro conceito apresentado anteriormente, que seria a interação a partir do ato de percorrer o espaço. O percurso é de fato um dos elementos estratégicos do projeto. Este caminho entre as obras pré-existentes torna-se dinâmico, enriquecido e estimulante devido à presença das Folies. Como constantes interrupções que criam tensões durante o percurso humano. É possível criar um paralelo entre as fragmentações estratégicas de Tschumi e o conceito do projeto como suporte, assim como ocorre com a ideia da arquitetura do entre, expresso nas eventualidades proporcionadas pela articulação fragmentada entre o edificado e o não edificado, como camadas independentes, porém justapostas e conectadas. O projeto do Parc de La Villette pode assim ser visto para incentivar o conflito sobre a síntese, a fragmentação sobre a unidade, a loucura e o jogo sobre a gerência cuidadosa. 32 32. Silva. 2010. Artigo retirado de Vitruvius: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.126/3649>
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I. 12_ Os trës elementos compositivos:
I. 13_Malha Cartesiana de distribuição das Follies
I. 14_ Disjunção e Justaposição da geometria
I. 15_Follies
Linha/ Ponto/ Superfície
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
I. 16_Folie e o vazio verde
I. 17_Instabilidade geométrica
I. 18
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[7.0] O PERCURSO COMO PRÁTICA ESTÉTICA – ESTUDO PROJETUAL
O que se destaca como fator comum entre as obras estudadas e o projeto realizado para este trabalho, é a estratégia utilizada para criar uma relação outra entre espaços edificados e as novas arquiteturas, enfatizando a importância de propostas projetuais que enriqueçam as dinâmicas que ocorrem nas proximidades de seu sítio, potencializando ou alterando de maneira positiva estas dinâmicas.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[7.0] O PERCURSO COMO PRÁTICA ESTÉTICA – ESTUDO PROJETUAL [7.1] A condição do percurso- Da Praça ao parquear
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O próprio bairro de Pinheiros mantém a condição de espaços- suporte para as dinâmicas que ocorrem pela eventualidade. Os comércios, bares, livrarias, e pequenos sobrados podem ser analisados com os conceitos do entre- lugares. A apropriação dos pequenos sobrados anteriormente residenciais, que passam a abrigar usos inesperados para o local, pode ser observada como um ponto de movimento e diferenciação no espaço estático. Fato que atrai, e promove o encontro das pessoas. Com comércios caracterizados pelo sua essência boêmia, e estabelecimentos relacionados a serviços alternativos (brechós, sebos, antiquários), o bairro contém diversos estabelecimentos relacionados à cultura em geral. Música, literatura, arte e arquitetura, compondo um cenário em que diferentes tribos se encontram em um mesmo espaço. Em uma análise mais direta em relação ao trabalho proposto no bairro, A Praça Benedito Calixto foi a pré-existência decisiva para a escolha do terreno de projeto, pois esta é o espaço urbano crucial que proporciona o acontecimento de diferentes dinâmicas e eventualidades na região. Pode-se fazer um paralelo entre o subjétil (suporte) Derridiano e o espaço urbano da Praça – que ao contrário dos vazios urbanos, que se configuram como praças que, muitas vezes ficam subutilizadas na trama da cidade de São Paulo, por não abrigarem nada além da possibilidade do ócio espaço, ou seja, não estimulam o homem a habitar este espaço - a Praça Benedito Calixto, pode ser analisada como um subjétil, um suporte da eventualidade, um espaço que é capaz de absorver e registrar diversas manifestações, atividades e, logo em seguida, voltar a sua condição de suporte auxiliar. Este vazio potencial exerce uma forte influência em seu entorno. É possível afirmar que esta Praça se conforma como um espaço aglutinador, reconhecido pela potencialidade de acolher ações coletivas, encontros e atividades inerentes à sua condição inicial de espaço verde.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
I. 19_Praça Benedito Calixto no sábado. Supor-
I. 20_Praça Benedito Calixto em dia de semana.
te para o evento
Suporte como um suporte.
I. 21_Praça Benedito Calixto_interação e música
I. 22_Praça Benedito Calixto_ Comércio alternativo
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A Praça surgiu em 1925, por diversas condições relacionadas à malha urbana e devido às alterações e ampliações das obras viárias que se iniciavam no local. O proprietário dos lotes onde a praça se encontra atualmente doou a área necessária para a construção de uma praça que, com suas ruas paralelas, auxiliariam no fluxo de automóveis na região. 33
I. 23_Sara Brasil. Área da Praça Benedito Calixto, antes de sua formação 33. De acordo com o site da prefeitura de São Paulo, o proprietário dos terrenos da área em que se encontra a região da Benedito Calixto, Claudio Souza, ofereceu a prefeitura uma facha de terreno de 30 metros ao longo da Rua Lisboa para que ali fosse construída uma praça e para facilitar a ligação entre as Ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio. Esses terrenos doados localizavam-se numa grande depressão e foi preciso fazer um grande aterro para a construção da praça (Anais da Câmara, 1925, pg. 1037/38).
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
O que de fato trouxe ao espaço verde o caráter artístico foram os encontros de jovens hippies e intelectuais na década de 70 que fizeram da praça seu reduto. O Brasil vivia um quadro de forte repressão política e cultural, instaurado pelo regime militar na década de 60 e 70. Dentre as medidas repressivas adotadas na época, houve o fechamento dos edifícios de moradias de estudantes da Universidade de São Paulo, por abrigar as reuniões dos movimentos estudantis e de grupos de esquerda. Estes jovens, revolucionários se instalaram no Bairro de Pinheiros pela proximidade com a Cidade Universitária e devido aos aluguéis baratos da região. Desta população que frequenta a Cidade Universitária gerou também uma concentração de profissionais liberais, artistas (...). Daí o grande número de ateliers de pintura e produção cultural nas mais variadas formas, estúdios de cinema, estúdios de música. A gama da produção cultural vai da literatura, artesanato, música, dança pintura, até mesmo o cinema e apresenta ainda expressões coletivas e manifestações populares.34
Dentro deste contexto de repressão e criatividade, a região de Pinheiros foi se tornando referência alternativa para jovens e artistas na cidade de São Paulo, que a partir da década de 70 foram responsáveis pela criação de uma nova sociabilidade que se expandia na região. A instalação do Teatro Lira Paulistana nas proximidades da Praça, fortaleceu seu caráter de um espaço aberto as expressão e produção cultural do período (influência da Vanguarda Paulista, que tinha como ponto de encontro o Teatro Lira e, por consequência, a Praça Benedito Calixto).
34. OLIVEIRA, 2012. Pg. 64.
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I. 24_Festa do Lira Paulistana na Praรงa Benedito Calixto, 1983
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
O espaço verde em estudo se tornou um polo cultural na região que, em 1985, teve sua primeira Feira de Antiguidades e artesanato, fato conquistado pelo grupo de moradores da região que tinham como objetivo utilizar a praça como meio de expressão e divulgação do trabalho artesanal da comunidade artística. Tal feira acontece todos os sábados até os dias de hoje e é um dos acontecimentos eventuais que mantem a essência alternativa do local. Dessa maneira, nota-se que território em estudo, já é uma região da metrópole em que há as condições relacionadas à eventualidade. A dinâmica nas edificações consolidadas é proporcionada pelo espaço verde e público que abriga os devires de momentos eventuais. Um território que aceita e se doa a ser tomado por uma função, uma programação, mas que sempre retorna à sua essência inicial de suporte. O objetivo principal do projeto é proporcionar por meio do terreno escolhido, a transposição da essência e dinâmica que ocorrem na Praça Benedito Calixto, enriquecendo este espaço. Como estratégia de inserção de um projeto com função articuladora, o Centro de artes e mídias seria como uma válvula de escape pela qual tal essência citada, que se concentra na escala micro (bairro) possa se espraiar para a escala macro (metrópole).
+
-
Rua H. Schaumann
Praça B. Calixto
Situação atual da área: Quebra da dinâmica
+
Rua H. Schaumann
+
Praça B. Calixto
Situação proposta: articulação entre
O espaço público, no caso a Praça Benedito Calixto, éescalas o espaço que se encontra = dinamica espraiada sem-
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pre em processo de sua formação que, de fato, nunca chega a uma formação final devido às variáveis mutantes que compõem o mesmo, como os corpos, as experiências, as passagens e o tempo.
De que maneira esse espaço da condição expectante, ao mesmo tempo um espaço da constituição incondicional e da alteridade, encontraria na arquitetura edificada um aliado na defesa dessa cláusula da in-conclusão, da abertura ao outro, das vibrações sem fim dos sentidos dados e do estabelecido? 35
Como resposta projetual, a proposta para o Centro de Artes deveria ser uma edificação (construção no espaço) capaz de se conectar ao espaço público da Praça, enriquecendo ambas (praça e edificação) ao constituir- se com presenças além das suas existências individuais. Um dos elementos de costura das camadas que formam a cidade metropolitana, e que manifestam a condição “entre espaços” e entre escalas urbanas, é a articulação entre infraestrutura e supraestrutura, como pudemos analisar nas obras do MAXXI Museum e Parque La Villette. As infraestruturas relacionadas à mobilidade no local se limitam às avenidas, sendo o automóvel o principal meio de transporte. Este é um dos motivos que explicam a relação entre a Rua Henrique Schaumann e a Praça Benedito Calixto ser destoante da relação que a Praça compõe com as demais quadras. Há uma quebra de articulação entre estes espaços. A transição de escala contida em cada um dos lugares citados é feita de maneira abrupta e sem articulação. Este fato pode ser associado ao plano de ligação das Avenidas Sumaré e Brasil criado em 1969. Projeto que aprova a extensão e o alargamento da Rua Henrique Schaumann (entre outras), com o objetivo de:
(...) Permitir a transposição em desnível, das vias transversais,
35. GUATELLI, Igor. 2012. Pg. 65
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De-limitações outras - da Praça ao parquear conferindo à nova artéria perfil longitudinal consentâneo com sua importância viária, e garantindo, igualmente, a fluidez tão necessária para desafogo do transito. (....) O plano possibilitará, analogamente, que se estabeleça, agora, sua continuação para a zona sul da cidade, por meio de um complexo viário de alto padrão técnico. 36
Nota-se que assim como em outros planos infraestruturais executados na cidade de São Paulo, o plano implementado tem como objetivo proporcionar um fluxo articulado entre diversas áreas da cidade, porém, com o enfoque na expansão viária, criando a característica de vias “rodoviárias” em diversas avenidas em São Paulo. É o caso da Rua Henrique Schaumann, marcada pelo fluxo intenso de automóveis. É sabido que as avenidas que contém o enfoque exclusivamente viário são inseridas no território com condições que distanciam a possível permanência humana, e vitalidade no local. Assim, a Rua Henrique Schaumann, adquiriu uma característica extremamente viária, que culmina em uma barreira ao espraiamento da dinâmica existente na Praça Benedito Calixto, que por sua vez envolve vivacidade e interações entre pessoas e espaço urbano. A partir dessas análises, a quadra que se encontra entre a Rua Henrique Schaumann e a Praça Benedito Calixto, foi escolhida para a intervenção projetual. O terreno escolhido, atualmente é composto por uma mecânica na face da Rua Henrique Schaumann e um estacionamento que faceia tanto a Rua citada como a Praça Benedito Calixto. O local foi analisado como um potencial pré-existente, já que permite a conexão entre as duas extremidades escalares (Rua Henrique Schaumann e Praça), porém com usos que atualmente, privilegiam o fluxo de automóveis.
36. Trecho retirado do projeto –Lei numero 87 de 1969- Plano de melhoramentos nas Perdizes e Jardim América
e outras Com a finalidade de criar a articulação urbana pelo terreno, foi necessário visitas à providencias.
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Praça Benedito Calixto
I.25_Imagem do Google Maps com delimitação da quadra em estudo
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Rua Cardeal Arco Verde
Rua Teodoro Sampaio
Rua H
De-limitações outras - da Praça ao parquear
área, análise dos padrões legislativos da região e planos a serem implementados nas proximidades do local, com o objetivo de compreender e criar uma análise crítica. Ao analisar os mapas da Subprefeitura de Pinheiros, com destaque ao mapa do Sistema Viário estrutural, é possível notar que existia um plano para a criação de uma ciclovia que iria da Avenida Paulo VI até o Parque Ibirapuera.
Partindo do próprio plano da prefeitura que I.26 não foi de fato realizado, a proposta de
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articulação pelo Centro de artes e mídias seria proporcionada pela interligação do Parque da Água Branca com o Parque Ibirapuera, conectando as ciclovias existentes tanto na Sumaré quanto no Ibirapuera, pela Avenida Brasil, Rua Henrique Schaumann, Avenida Pedro VI. Passando pelo terreno projetual. A expansão da ciclovia que conecta a praça a dois parques, seria a infraestrutura essencial para a aproximação da escala do pedestre à Avenida Henrique Schaumann, e o terreno escolhido para a inserção do projeto, seria o suporte/ válvula de escape para a interação entre a dinâmica urbana e a dinâmica da Praça e a dinâmica urbana (o parquear). O terreno criará permeabilidade na quadra, fato que possibilita que o usufruidor do espaço passe por este, permaneça, adentre, explore, desvie, acesse por diferentes meios de transporte, reconheça novos acontecimentos no espaço e se interesse por algum “porvir”. COLOCAR A MUDANÇA DO CANTEIRO CENTRAL AQUI
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_Croqui da proposta de conexão dos Parques com a Praça. Relação com outras possíveis conexões a partir de pré existencias estruturais.
De-limitações outras - da Praça ao parquear
Parque da água Branca
sil
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Parque Ibirapuera
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Avenid aS
umaré
Praça Benedito Calixto
en Av
que nri nn e H a Rua haum Sc
_ Esquema da idéia proposta sobre mapeamentos reais (ref. Google Maps) Tendo em mente o alargamento que ocorreu na Rua Henrique Schaumann e o caráter rodoviário que esta adquiriu a partir de então, é possível pensar em um novo desenho viário para o local. Para criar a articulação entre as duas escalas existentes no local, foi proposto que o canteiro central que existe na Rua Henrique Schaumann fosse “anexado” à quadra em estudo. A área anexada, relativamente grande, poderia criar um alargamento da calçada que faceia o terreno projetual, criando uma praça paralela á Praça Benedito Calixto, como um prolongamento desta para a metrópole. Visto que o alargamento da calçada, junto ao projeto articulador cria permeabilidade na quadra. Somando estes fatos, à inserção da ciclovia nessa área anexada,é possível obter um ambiente mais confortável para o pedestre, mais propício para a passagem e permanência do indivíduo neste local, aproximando a escala micro à escala macro.
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A partir das diretrizes projetuais ditas anteriormente, foi necessário fazer uma análise sobre os terrenos que poderiam ter seu programa alterado, visando criar a articulação entre as duas escalas que envolvem a quadra. Como mostra o esquema 03, duas áreas compostas por programas que de fato não eram coerentes com a dinamica do lugar foram selecionados como possiveis espaços articuladores. Na esquina norte, próxima à rua Cardeal Arco verde, a mobilidade e fluxo de pessoas é intenso, devido à quantidade de bares, cafés e livrarias que compõem esta ponta da quadra. Em compensação, próximo à Rua Teodoro Sampaio, é notável o enfraquecimento da interação entre as pessoas e o espaço da cidade, fato que pode ser associado à presença do Banco Bradesco na esquina da quadra, além dos demais comércios existentes que tem pouca relação com a existencia da praça. Estes serviços, emboram tenham grande importância para a região (principalmente em dias de semana), resultam numa dinamica relacionada ao “passar” e não ao “permanecer”. Dinâmicas que pouco envolvem o homem ao espaço urbano. Desta maneira, o terreno escolhido se enquadraria exatamente onde a quebra entre as dinâmicas e as relações inter-escalares são mais intensas (esquema 04 e 05).
01_ Alteração do canteiro central
02_ Nova dinamica
04_ Articulação por meio os terrenos
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03_ Terrenos potenciais
05_ Terreno para projeto
De-limitações outras - da Praça ao parquear
Nota-se que todos os conceitos estudados e a tentativa de trazê-los e reinterpretá-los para este estudo, têm como objetivo articulação das escalas urbanas, colocando a arquitetura como um elemento suporte para a interação dos corpos humanos no espaço, que reagem inconscientemente enriquecendo a cidade com sua (in)corporação, criando dinâmicas diferenciadas. Microdinâmicas que refletem diretamente na macrodinâmica metropolitana. Ou seja, são termos e conceitos que propõem por um estudo aprofundado que integra a sociedade/ cidade dentro do pensamento projetual. Estes conceitos surgiram da necessidade de uma compreensão singular para cada cidade, analisando suas necessidades que, por complexidade tamanha, vão além das dificuldades físicas, abrangendo as complexidades psicológicas dos seres que a habitam. O arquiteto dentro deste contexto tem o papel de propor e indicar usos e situações, mas nunca definí-las por completo. Tendo em mente que a arquitetura, é a inserção de um objeto no território, mas sim a criação de espacialidades para a sociedade, e para a sociabilidade.
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[8.0] DO VAZIO CONTIDO AO VAZIO QUE SE ESPRAIA
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[8.0] DO VAZIO CONTIDO AO VAZIO QUE SE ESPRAIA [8.1] Jardins contemplativos - jardins de interação coletiva
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Ao dissertar sobre o espaço público e o vazio contemporâneo, inevitavelmente fazemos uma associação aos jardins, parques, praças, canteiros, e demais espaços verdes da cidade. Ao propor o trabalho que prima pela relação articuladora com uma Praça, é necessário entender a relação deste elemento com a paisagem urbana. O estabelecimento da ideia de paraíso – jardim na mente de nosso primeiro antepassado – Pode coincidir com a primeira manifestação da Divindade por ele recebida. Espaço limitado e mesmo cercado, foi o paraíso terrestre. Paraíso, ou ‘pairidaeza’ em persa, assim quer significar “jardim” como “espaço cercado”. As raízes indo-germânicas de palavra “jardim” gards, geard, garde, s ignificam também cerrado, espaço cercado. (...) o primitivo cameleiro do deserto, como o atual, sofria da falta e escassez de vegetação, da secura espantosa do solo, de uma espécie de verão dominante a que estava, e está submetido. A cena paradisíaca, para ele, se transforma: Já não aspira um “claro no bosque” ou uma suspensão do inverno, mas deseja um “Oasis”, verde e primaveril, situado no meio das areias e das pedras, que interrompa o clima canicular. O oásis é o paraíso do nômade meridional, do beduíno, do homem das rotas terríveis, entre um sol branco e a areia tórrida. A emoção paradisíaca do paleolítico subsiste, mas com uma mudança de sistema de referências que revoluciona seu ser.37
A compreensão do espaço ajardinado assim como o espaço arquitetônico, sofreu diversas reinterpretações e análises ao longo do tempo. A história do jardim/espaço verde está relacionada à história do cultivo da terra, da produção que ocorre neste terreno. Ao longo dos séculos o cultivo deu lugar à noção de domesticação da natureza e ao deleite que este espaço oferece.
37. Rubiò i Tudurí, Nicolau Maria, Del paraíso al jardin latino.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
Os jardins eram criados como uma reinterpretação do paraíso perdido, na posse daqueles que tinham o poder de “conter o paraíso” para si, sendo também associados à ideia do território fértil, e à religião. A ideologia do jardim como ”oásis religioso” deu lugar – ao longo dos séculos - aos primeiros jardins fechados, formatados por um rígido traçado geométrico. O paradigma desta evolução o é o jardim barroco francês utilizado como um espaço de contemplação, representativo do controle absoluto do ser humano sobre a natureza, e da hierarquia social entre os indivíduos da sociedade. Em contraposição, os jardins ingleses, eram formados a partir da ideia de organicidade. Os bosques compostos por densa vegetação, que representavam a natureza criavam a paisagem bucólica das clareiras no bosque. Os espaços eram projetados com o objetivo de explorar o campo sensorial daqueles que usufruem do mesmo. Ou seja, neste modelo de jardim a simetria e geometrização das formas deram lugar a uma composição espontânea. Os valores simbólicos atrelados ao jardim inglês, foram a base dos fundamentos básicos dos primeiros parques públicos produzidos no século XIX. O que foi determinante para criação dos parques públicos, que até então eram privados, foi a revolução industrial que ocorreu no século XIX. O intenso êxodo rural resultou em um crescimento repentino da população nas cidades, que não continham a infraestrutura necessária para suprir tal crescimento. Como resultado, o cenário europeu era dominado por falta de salubridade e ploriferação de epidemias. Os espaços verdes abertos ao público surgiram como uma solução de melhorias da saúde e pública, além de proporcionar espaços de reflexão e lazer para as pessoas.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[8.0] DO VAZIO CONTIDO AO VAZIO QUE SE ESPRAIA [8.2] Jardins do sol e do verde- jardins do ócio e da produção
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Como cenário característico dos jardins europeus que foram paradigmáticos na conceituação do espaço verde para interação entre as pessoas, a criação de parques passa a ser dedicada com o enfoque ao lazer humano propiciando o contato dos cidadãos com a natureza por meio de espaços multifuncionais onde se realizam atividades diversas como festivais de cinema, concertos de música, eventos esportivos, feiras, entre outros eventos. Embora o “berço” dos espaços públicos seja a Europa, os conceitos a respeito dos parques urbanos se difundiram com grande força nos Estados Unidos. Como exemplo, é possível lembrar-se da importância do Central Park criado em Nova Iorque por Frederick Law Olmested28, na medida em que este introduziu um novo conceito de espaço paisagístico que relaciona diversos elementos urbanos à vegetação, tornando este lugar um dos elementos estruturadores da cidade.
I. 27 38. Frederick Law Olmested (1822 – 1903). Arquiteto e paisagista americano, jornalista e crítico social. Difusores dos conceitos e projetos relacionados à inclusão dos parques como elemento urbano.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
Porém, há uma ruptura deste pensamento estruturador que era difundido por Olmested, que ocorre durante o período moderno. O funcionalismo que regia a arquitetura da época marca também o espaço público devido às estratégias urbanas adotadas. Estas intervenções na cidade de elevado grau funcionalista, fragilizou a consolidação dos espaços verdes que se resignam aos espaços vazios residuais. Dentre as décadas de 30 e 70, o enfoque na construção de infraestruturas pesadas que tinham como objetivo expandir a malha viária privilegiou o fluxo de automóveis em detrimento do fluxo das pessoas, fato que reflete diretamente nos espaços públicos já que estes se tornaram espaços obsoletos, degradados, sem as qualidades de um lugar apto a ser usufruído pela sociedade. Ou seja, a consequência do planejamento Urbano excludente, que evolutivamente tornou-se cada vez mais incoerente com as demandas complexas da sociedade, afetaram mais do que a estética da cidade. Gerou espaços segregados, periferias, vazios urbanos, interstícios entre infraestruturas e espaços privados, e principalmente, criou-se um cenário de vazios descorporizados. A questão colocada neste momento é que apesar dos grandes parques construídos no modernismo, a relação com espaços verdes em escala micro (que potencialmente poderiam ser espaços utilizados para a sociabilidade) se torna fraca e frágil devido às outras doutrinas adotadas, outros enfoques. Como reação à paisagem funcionalista, a necessidade de reintegrar a experiência da sociedade no espaço, volta a ser uma das diretrizes de projetos do século XXI, com objetivos de reacender a cultura do ‘encontro’ na cidade e introduzir a experiência humana no território. Dessa maneira a articulação dos espaços considerados vazios urbanos que, na realidade são espaços potenciais, seria uma intervenção de caráter infraestrutural com a consciência da importância do ato de vivenciar o espaço. Gilles Clément39 disserta e conceitua a respeito da paisagem verde e sua relação com os vazios urbanos. Em seu conceito de ‘jardim do movimento’, Clément valoriza os vazios, terrenos baldios, que se encontram sempre abertos à invasão de qualquer espécie de maneira natural. 39.Gilles Clément, arquiteto paisagista Frances e escritor, dissertou e projetou diversos parques a partir de seus estudos sobre o desenho da paisagem e relação entre os seres, humanos e vegetais, no espaço.
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Tal valorização é decorrente da ideia de que vivemos em um universo entrópico40 ,onde a desordem seria uma condição natural dos seres vivos, de maneira que nunca conseguiremos controlá-la ou negá-la. Dessa maneira, deve-se atrelar à composição dos jardins contemporâneos a desordem da natureza como condição primordial para a existência deste organismo vivo. O arquiteto seria considerado o jardineiro que guia o sentido, mas não impõe seus pressupostos sobre a organicidade e vivacidade da vegetação. É necessário ter a consciência de que a entropia configura o natural devir das situações essenciais a todo ser vivo. Ao criar uma forma provida de uma incerteza, tem-se a possibilidade de transcrever um sonho. Criam-se imagens do que virá a acontecer dentro de um tempo determinado. Mas é possível que nunca chegue a ser da maneira pensada, porque na paisagem todas as certezas são descartadas. 41
Assim como o arquiteto, que deve pensar em uma arquitetura que recebe as situações agencia as mesmas, porém não se impõe aos acontecimentos, nem se deixa ser dominado por estes, retornando à sua essencial inicial, o jardineiro deve propor em seus jardins a espacialidade, agenciar as mudas, mas não pode nem deve intervir no crescimento natural que ocorre no desenvolvimento da vegetação. Clemént chama o homem, metaforicamente de homem inseto. O aspecto interessante dessa associação, é que o inseto não apenas convive com o jardim, mas também vivencia este, cria, percorre, mas não se coloca em uma condição hierárquica em relação a terra. O homem inseto representa a atitude que o jardineiro deveria ter em relação espaço jardim, e analogicamente, representa a atitude que o arquiteto deveria ter em relação ao espaço da metrópole. O jardineiro e o arquiteto deixam o jardim e o espaço projetado livre para as ações inusitadas do tempo e da nostalgia humana. É notável o paralelo existente entre as idéias de Clément, Derrida e Tschumi, em que a natureza (seja o homem ou seja o verde) é o personagem principal para a criação dos espaços interativos e eventuais, coerentes com a complexidade contemporânea. 40. Vide citação 8. 41. CLEMÉNT, 1991 apud OLIVEIRA, 2000. <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.002/997>.
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[9.0] . ENLOUQUECER O SUPORTE “ÚTIL” - DELIMITAÇÕES O suporte é posto em movimento, é recortado em figuras pelas coisas que o penetram. (...)O subjétil não deve ser uma tumba, deve ser louco por nascença. 42
Enlouquecer = ato de perder a razão, o senso. “Estado alucinado, fora do senso comum. A arquitetura e os demais elementos que compõem a cidade devem ser projetados como elementos que podem superar o que espera o senso comum. A Praça Benedito Calixto, pode ser considerada um suporte enlouquecido, assim como o projeto proposto, exatamente pela criação de limites outros abertos às apropriações momentâneas. 42. GUATELLI. 2012. Pg. 111
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I. 28
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[9.0] . ENLOUQUECER O SUPORTE “ÚTIL” - DELIMITAÇÕES [9.1] De- Limitações outras – O Centro de Artes e Mídias
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A articulação infraestrutural criada pela possível ligação da Praça Benedito Calixto com a ciclovia expandida que, por sua vez, liga dois pontos opostos, porém cruciais da cidade (Parque da água Branca e Parque Ibirapuera), resultou nas primeiras decisões a respeito do projeto para o Centro de Artes e Mídias. Explorando os conceitos estudados a respeito da complexidade urbana, destacam-se a existência de vazios verdes, espaços intersticiais desconectados de qualquer valor associado à permanência urbana. Em contraposição, há uma sensação claustrofóbica de que não existem espaços livres na cidade Paulistana. Ou seja, a característica dos vazios existentes não configura a sensação de espaços abertos ao lazer . Com exceção dos parques existentes, os movimentos, fluxos e a relação com o tempo entre outras ações cotidianas, excluem a existência do homem-pedestre. Dessa maneira, para que de fato o projeto possa servir como suporte para a transposição da dinâmica existente na Praça Benedito Calixto, para a escala metropolitana, sua inserção no território deve primar pela liberdade do percurso no térreo, de maneira que este se configure como um vazio, uma espacialidade em meio às edificações fechadas e muradas que compõem a quadra. __Imagem do projeto: Praça Benedito Calixto x Projeto
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De-limitações outras - da Praça ao parquear __Croqui de Conexão a partir da ciclovia. Parque x Praça x Parque
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Os muros configuram outra diretriz projetual. Como nos conceitos de Derrida, as determinações feitas a priori, devem ser constantemente questionadas. Tal questionamento refletiu na análise das definições legislativas e de que maneira esta potencializa a individualização do espaço e, consequentemente, o desenho urbano atual. O terreno escolhido para a inserção de projeto é, ladeado por muros relativamente altos (10 metros), referentes aos fundos de lojas, já que este era utilizado por um estacionamento, conformando uma moldura em volta do espaço.
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_muros existentes - diretriz de projeto A estratégia adotada foi a articulação destes muros como elementos fundamentais para a existência do projeto em termos construtivos. Sendo assim, estas empenas poderiam, a partir de uma reestruturação, configurar a sustentação (em termos físicos), do projeto do Centro de Artes e Mídias. As diretrizes relacionadas ao modo como o projeto foi inserido em seu terreno se baseiam na fusão deste com os elementos pré-existentes (empenas, praças, calçada) para a construção do vazio permeável. Fazendo uma analogia do cenário urbano a um quadro prestes a ser pintado, pode-se interpretar que o projeto de arquitetura, seria a figura à ser pintada no quadro, enquanto a cidade existente seria o fundo de tela. A proposta é o desaparecimento do objeto-figura, em uma fusão deste com seu plano de fundo, quebrando os limites e definições, formando assim uma composição desarticulada de espaços segregados. Funde-se o plano de fundo à nova arquitetura, e estes se tornam elementos de um mesmo plano. Pode-se dizer que a partir disso, o vazio criado na de-formação do objeto, cria a espacialidade do percurso. O vazio criado seria um elemento articulador, resultante do objeto de arquitetura e de sua relação com as pré-existências.
De-limitações outras - da Praça ao parquear
04.Diagrama que representa o fluxo proposto e as empenas existentes.
Praça
Rua Cardeal Arco Verde
Rua Teodoro sampaio
Rua Henrique Schaumann
05. Uso do subsolo para programas eventuais e relacionados à arte.
06. Aberturas no térreo. Vazios que permitem relação entre os acontecimentos nos diferentes níveis
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A partir da noção do vazio que ocorre com a abertura do térreo, outra diretriz de projeto surgiu com o objetivo de propiciar diversas maneiras do espaço projetual ser experimentado, e valorizando a articulação entre este espaço e a cidade. para tal foi proposto dois subsolos com programas de arte, a serem frequentados pelos cidadãos, alem de 4 vazios que articulam visualmente esses dois subsolos com o térreo. Essa nova diretriz cria uma justaposição no olhar do pedestre, estre o projeto que flutua sobre o térreo e o programa diferenciado que está sob o térreo, criando uma relação direta para aqueles que percorrem o espaço no nível da rua, por meio dos vazios espalhados pelo terreno. Estes vazios, que podem ser observados formalmente como prismas aleatórios, criam uma espacialidade no térreo, mantendo o percurso contínuo e possibilitando a visão de um acontecimento em outro nível. Conformam, assim, uma relação entre térreo e subsolo sem que o percurso livre seja interrompido pela arquitetura, apenas é enriquecido por acontecimentos em diversos níveis espaciais. O objetivo da proposta também se relaciona com uma reinterpretação da arte contemporânea e principalmente da arte urbana. Esta última, por ter quebrado normas estabelecidas a respeito do que é arte, de quais critérios e técnicas seriam denominados como artísticos, e principalmente por seu papel de arte expressiva das angustias e incoerências da sociedade contemporânea, é associada aos espaços residuais, às empenas brancas e densas, ao talude de contenção, ao concreto divisor de propriedades, aos becos e buracos. Como exemplo na própria região de Pinheiros, pode-se observar o Beco do Batman, uma confluência de ruas que cria uma situação praticamente labiríntica, e que foi vista como um espaço potencial para a expressão da arte urbana. Se tornando um dos pontos de referência da arte na cidade de São Paulo. Ou seja, a estratégia utilização do subsolo como parte do programa e parte da criação de dinâmicas alternativas, tem uma relação com o programa proposto, mas objetiva liberar a possibilidade do percurso ocorrer em níveis diferentes, não lineares, criando diversas perspectivas deste caminho por meio de aberturas no solo, como uma condição outra do caminho percorrido. A ideia é ativar a interação sensorial e imaginativa daqueles que poderiam percorrer o local.
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I. 29
De-limitações outras - da Praça ao parquear
[9.0] ENLOUQUECER O SUPORTE “ÚTIL” - DELIMITAÇÕES [9.2] (RE) PROGRAMA e (DE) FORMA - CENTRO DE ARTES E MÍDIAS
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__implantação do projeto Térreo livre _Vazios
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
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O programa escolhido para o trabalho é uma tentativa de potencializar as dinâmicas urbanas que ocorrem na Praça Benedito Calixto. Um programa que amplie a sociabilidade existente na Praça, associando-se à condição de um espaço arquitetônico, porém com características de espaço público, livre, com o objetivo de gerar outras relações das quais já conhecemos e esperamos da arquitetura. O objetivo é utilizar elementos de projeto que potencializem o cotidiano da região, visto como o motor transformador da área (como é o caso da estratégia de utilização do subsolo). De maneira que o programa do Centro de Artes e Mídias seria disposto entre ‘polígonos’ irregulares, suspensos em relação ao térreo, e sustentados pelos muros estruturais.
1.Diagrama do edifício
elevado em relação ao térreo: o bloco cont;inuo
2.Fragmentação do bloco. Angulações e quebras
4.Infraestruturas de conexão: passarelas.
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3.Articulação do fragmentos: Possibilidades de percursos
5.Inclinações das coberturas para
uso das empenas como possíveis espaços de projeção
De-limitações outras - da Praça ao parquear
Como mostram os esquemas da página ao lado, o objetivo é criar a partir da fragmentação do objeto, espaços de permanência integrados á espaços de circulação. As passarelas são espaços conectores das diferentes espacialidades, usos e vistas do projeto. A tentativa de articular espaços “fechados” a percursos que chegam a um espaço livre e aberto a vistas foi uma das diretrizes que influenciaram tanto a relação programática quanto a forma do projeto. Em suma, as passarelas, que conectam elementos programáticos, foram dispostas com o objetivo de propor um percurso completo para o usufruidor, que pode tomar diversos caminhos.
__Imagem do projeto: Relação - passarela x Térreo x edifício - cheios e vazios
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Com o objetivo de integrar de fato os eventos da Praça ao projeto, um dos acessos ao subsolo se encontra diretamente na Praça. Uma escadaria que configura a mesma referência visual aos vazios e acessos contidos no terreno do projeto. Com a abertura do térreo, os muros livres se tornam espaços de futuras exposições temporárias, grafites, exposições de mídia interativa, entre outros, porém sempre criando a liberdade do acontecimento de ações temporárias advindas do tempo e das vivencias do espaço. __Planta subsolo 01 - cota: -4.00___01. Acessos_09. Plataforma de carros_10. Sala de mídia interativa_11. Acervo Temporário _12.Exposição de feira_13.Administração_14. Estar funcionários_15. Workshop de artesanato_16. Livraria_17.Café
17
16
15
1 14 1 10 11 13
12 9
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
O subsolo 01 contem usos mais abrangentes, exposições e salas de estudo relacionadas à arte alternativa e contemporânea; produções independentes, e atividades quaisquer que possam vir a ocorrer. Em questões funcionais, o vazio criado no térreo teria uma angulação de um metro em relação ao vazio que seguinte do subsolo 01 ao subsolo 02. Para que a vista do que ocorre no térreo fosse criada sem que houvesse uma perda de qualidade do ambiente em termos de calor e iluminação natural direta, o sistema composto por Light Shelves foi estudado para o local. Geralmente esse sistema é composto por uma “prateleira” colocada a 90 graus em relação à caixilharia do vidro. A partir de pintura ou materiais reflexivos revestindo esta prateleira, é possível bloquear a iluminação de maneira pontual, refletindo-a na prateleira e dissipando os feixes de luz no interior da edificação. Ou seja, esse sistema trabalha com a proteção da iluminação direta, e a utiliza para iluminar de maneira mais abrangente o espaço.
_Detalhe dos vazios: Light Shelves Guarda corpo vidro insulado duplo
Vidro insulado duplo
Vidro reflexivo (light shelves).
Sistema de drenagem da água Fluvial
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O subsolo 02 que, abrange a área do acervo permanente e auditório, pode ser mais associado à condição de um museu. Desta maneira implicita, o espaço gerado atrai um público mais contido, que tem um interesse mais específico em arte e na contemplação da mesma. Fato que não contempla os demais espaços. O objetivo é agenciar usos potenciais, porém permitir que a diversidade ocorra pelos usos dos cidadãos que muitas vezes não têm interesses em algum tema artístico, mas que apreciam o local aberto, o local de encontro, de diversidade de pessoas, do lazer, do sentar, do demorar-se e do alterar-se, ao ser-com, se colocar junto de. __Planta subsolo 02 - cota: -8.00___01. Acessos_02. Estacionamento_03. Depósito_04. Cozinha geral_05. Acervo permanente 06. Café_07. Foyer_08. Auditório_09. Plataforma de carros
8
1 4
2
3
3 9
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1
5
7
6
De-limitações outras - da Praça ao parquear
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Corte Transversal A-A
Com o objetivo de criar um espaço não apenas contemplativo da arte, mas também de produção, aprendizado e crítica, contemplando a multiplicidade de possibilidades que o espaço pode proporcionar, os pavimentos acima do térreo contem os programas mais abrangentes e descompromissados em relação à arte, como as salas de estudo, leitura e Workshop, midiateca, biblioteca, restaurante e coberturas com espaços livres para eventos, exposições, ou apenas para o lazer.
1 18 21
1
20 19
20
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20
__Planta Primeiro pavto__01. Acesso_18. Workshop/sala de estudo_19. Workshop/ salas de informática_20. Passarelas expositivas_21. Biblioteca
De-limitações outras - da Praça ao parquear __Detalhe da treliça com os painéis de vidro e com a fachada
Painéis de fechamento Viga Secundária Diagonais da treliça metálica Viga I metálica: (70cmx35cm) estrutura e compõe a treliça metálica (ref. - catálogos da Gerdau)
Viga secundária espaçada a cada 4,5 metros, com comprimento máximo de 15 metros
1
24
22 1
20 23
20
20
__Planta Segundo pavto__01. Acesso_20. Passarela expositiva_22. Midiateca_23. Cobertura/ projeção_24.Restaurante .
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Corte transversal C-C
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
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Corte longitudinal D-D
É preciso tentar compreender a alteração do espírito e da interação corpórea ao criar a disjunção dos espaços fechados. Os cheios e os vazios, o fechado e o aberto, são elementos que constituem e instigam a imaginação humana intensificando a relação que este constitui com o espaço. Dessa maneira, tanto as rampas quanto as coberturas são elementos que funcionam como uma ruptura do processo e do sentimento de estar em lugar, específico, edificado e fechado, por isso, uma das atitudes projetuais é a criação de respiros entre os blocos, como meio de alterar a dinâmica do local, criar instabilidade. Tanto as passarelas quanto as coberturas, conformam espaços livres e de circulação, porém o objetivo principal é permitir que a eventualidade faça destes lugares espaços de potenciais afetos, de permanência, em que as empenas podem ser tela de uma exposição, de um evento, da mesma maneira que as passarelas podem permitir exposições espalhadas durante sua extensão. Mesclando interatividade, programa e infraestrutura. Com o mesmo objetivo de instigar a visão ótica e háptica dos usufruidores do projeto, o formato irregular tanto das passarelas quanto dos blocos foi adotado com o propósito de dar abertura à suplementaridade projetual. A diversidade das linhas articuladoras é um convite ao percurso entendido como um jogo de diferenciações e intensidades. As aberturas criam diversas perspectivas que rompem com a percepção ótica, estática e comum. Da mesma maneira as cores, transparências, angulações, jogos de espacialidades, e de tensões, potencializam a condição háptica do projeto. As passarelas, definidas como espaços translúcidos, que transmitem os movimentos dos corpos, estimulam o fruidor e criam o convite ao experimento do espaço.
90 Elevação Henrique Schaumann
De-limitações outras - da Praça ao parquear
_Imagem do projeto_ Rua Henrique Schaumann x Centro de Artes e Mídias
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A fragmentação do bloco edificado, a variação entre níveis no projeto, o uso das passarelas translucidas que interligam os espaços, a flexão dos blocos em busca de um apelo sensorial e um convite ao adentrar no vazio foram o modo como expressei as novas de-limitações do projeto suporte para interações espaciais.
92 _Corte Transversal B-B
De-limitações outras - da Praça ao parquear
[9.0] ENLOUQUECER O SUPORTE “ÚTIL” - DELIMITAÇÕES [9.3] SOBRE A MATERIALIDADE DO PROJETO
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A fachada é composta por um painel de vidro insulado duplo e tem como objetivo proteger as áreas do calor excessivo que poderia afetar a permanência nos ambientes. Os painéis de vidro são angulados, de maneira que seus elementos vazados compostos por pequenos brises metálicos horizontais, permitam ventilação natural no ambiente. Por ser composta por dois elementos diferentes - brises metálicos e os vidros insulados – compõem uma fachada com transparências e opacidades diferentes. A angulação mais uma vez foi utilizada e o resultado é uma perspectiva dinâmica em relação ao projeto a cada movimento que se faz. O caminhar novamente é a condição para que o efeito da fachada seja percebido. Assim, ora esta se mostra translucida, ora metálica, em uma transição contínua a partir do movimento do usufruidor do local.
94 Elevação Praça Benedito Calixto
De-limitações outras - da Praça ao parquear Detalhes da fachada_ painéis fixos de metal e vidro
Entrada de iluminação natural
Bloqueio do excesso de raios solares
Vidro Insulado duplo
Fachada da Rua Henrique Schaumann
Fachada da Praça Benedito Calixto
Brises metálicos
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ENLOUQUECER O SUPORTE “ÚTIL” - DELIMITAÇÕES
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
[10] DE- LIMITAÇÕES OUTRAS – DO PARQUE AO PARQUEAR CONCLUSÕES OU ASPIRAÇÕES
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A relação entre Arquitetura e Cidade passou por diversas análises e contradições que refletiram no modo como a sociedade utiliza o espaço urbano. Como já foi dito anteriormente, o cenário urbano atual é reflexo monetário de uma espetacularização das cidades, em que tanto o comportamento humano quanto o espaço em que este se insere, são incluídos na globalização como mais um dos bens de consumo. A cidade é consumida como mercadoria, assim como a arquitetura, que se configura como elemento monumentalizado, crucial para o marketing das cidades. Ou seja, as arquiteturas tem quase se limitado à imagens que expressam o valor de uma cidade; a espaços autônomos que não configuram nenhum tipo de relação com o território ou com a sociedade local. São imagens pontuais, espetaculares, porém individualizadas, finalizadas em suas existências (e ponto final). De fato, esta se torna um ponto, um fim, um limite, possibilitando talvez a exclamação (!) de objeto mas nunca a interrogação (?) do pensar e muito menos a continuação do percurso. Como vimos neste estudo, tal arquitetura pontual é incoerente no contexto das cidades atuais e suas complexidades. A necessidade de entender e analisar um projeto inicialmente “pontual”, como um elemento potencialmente articulador do espaço da cidade é essencial para a produção arquitetônica contemporânea e, de fato, é o propósito deste estudo. Pode-se dizer que esta arquitetura conectora seria como uma linha, como um elemento que se costura a diversos outros pontos da cidade. Uma arquitetura que permeia espaços e lança ao usuário a tarefa de atuar no espaço, dar-lhe o devir por meio da fluição e “fruição” estética. Uma arquitetura que possibilita o ressurgimento de valores de humanidade, baseados na experimentação da cidade, na vida realizada no espaço coletivo urbano. Vitalidade necessária para o futuro da cidade e do próprio homem; Interação e alteração ao mesmo tempo e m ambos os personagens (corpo humano e corpo urbano). Um suporte para as “intensas-ações” . 43 [...] Os processos são os devires, e estes não se julgam pelo resultado que os findaria, mas pela qualidade dos seus cursos e pela potência de sua continuação [...]44
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43. GUATELLI, Igor. Contaminações constitutivas do espaço urbano:. Cultura urbana através da intertextualidade e do entre. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 094.00, Vitruvius, mar. 2008 <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/08.094/155>. 44. DELEUZE.1992 apud Alpendre < http://www.alpendre.arq.br/alpendre1.pdf>
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BIBLIOGRAFIA: _BATLLE, ENRIC. El Jardín de la metrópoli. Editora GG. _CARDIELOS, João Paulo. A construção de uma arquitetura da paisagem. Coimbra, Portugal, 2009. Dissertação de doutorado. _CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo, 2012. Editora GG. _DERRIDA, Jacques e BERGSTEIN, Lena. Enlouquecer o Subjétil. Editora UNESP, 1998. _EL CROQUIS –AMOMA Rem Koolhaas: Delirious and more – double issue. 1996-2006 _GUATELLI, Igor. A arquitetura dos entre-lugares sobre a importancia do trabalho conceitual. São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 2012. _MAXXI: Zaha Hadid Architects: Museum of XXI Century Arts. 2010. Ed. Skira Rizzoli _OLIVEIRA, Fernandes Laerte. Em um porão de São Paulo - o Lira Paulistana e a produção alternativa. 2012. São Paulo. Ed. AnnaBlume. _PRAÇA DAS ARTES. Azougue editorial. São Paulo, 2013. _ JACQUES, Paola Berenstein e JEUDY, Henri. Corpos e cenários urbanos. 2006. Ed. EDUFBA _L’ARCHITECTURE D’AUJORD’HUI – n. 385
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
MONOGRAFIAS E TESES: _AZEVEDO, Ivo Tiago Teixeira. Os Jardins da Cidade: do jardim privado aos espaços verdes enquanto elementos estruturantes do espaço urbano. Coimbra, Portugal. 2013. 167 folhas. Dissertação de mestrado – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de CoimbraDepartamento de arquitetura. _PUGLISI, Mariana de Carvalho. Construir selas urbanas. São Paulo, 2010. Trabalho final de graduação – Universidade Presbiteriana Mackenzie. Orientador: Igor Guatelli. _GUATELLI, Igor e RUBANO Lizete. Os projetos de reconfiguração de territórios urbanos: condições teóricas. São Paulo. 2007 - III Fórum de pesquisa FAU. Mackenzie
LINKS: _GUATELLI, Igor. O MAXXI e o delírio de Zaha Hadid em Roma. Projetos, São Paulo, ano 11, n. 129.03, Vitruvius, set. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.129/4043>. _OLIVEIRA, Ana Rosa de. Gilles Clément e o jardim planetário. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 002.03, Vitruvius, jul. 2000 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.002/997>. _SILVA, Luiz Felipe da Cunha e. Sobre a inutilidade e a desnecessidade da arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 126.11, Vitruvius, nov. 2010 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.126/3649>. _ Pensar o entre. Periódico On-line da UNIFEV. <http://www.alpendre.arq.br/alpendre1.pdf>
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CRÉDITOS ICNOGRÁFICOS:
I.01__ Coisa de Moleque por Thomaz Vita Neto. http://g1.globo.com/sp/araraquara-regiao/noticia/2012/06/salao-nacional-de-fotografia-de-araraquara-sp-divulga-premiados.html I.02__ Bâtiment- istalação por Leandro Erlich: http://www.archdaily.com.br/br/01-38717/a-arquiteturaconstruida-a-partir-de-ilusoes-de-óticas I.03__Struggling To Survive por Omar Vega: http://www.thespiderawards.com/2007presentation/photoshow/nominations/10_photojournalism/ I.04__Restauração Vila madalena. http://img1.adsttc.com/media/images/528b/d0ef/e8e4/4efc/ 1f00/008a/large_jpg/01.jpg?1384894697 I.05__ MAXXI Museum / Zaha Hadid Architects. http://www.archdaily.com/43822/maxxi-museum-zaha -hadid-architects/ I.06__MAXXI Museum, Zaha Hadid Architects. Acervo pessoal I.07__MAXXI Museum, Zaha Hadid Architects. Acervo pessoal I.08__MAXXI Museum, Zaha Hadid Architects. Acervo pessoal I.09__MAXXI Museum, Zaha Hadid Architects. Acervo pessoal I.10__MAXXI Museum / Zaha Hadid Architects. http://www.archdaily.com/43822/maxxi-museum-zaha -hadid-architects/ I.11__MAXXI Museum, Zaha Hadid Architects. Acervo pessoal I.12__Parque de la Villette, Bernard Tschumi.http://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2011/01/ parque-la-villette.jpg I.13__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://issuu.com/brunoamadei/docs/tfg-caderno-brunoamadei_final-issuu I.14__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://segundapielarquitectura.blogspot.com.br/ I.15__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://segundapielarquitectura.blogspot.com.br/ I.16__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://paris-kontrast.com/de/parc-de-la-villette/
I.17__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://paris-kontrast.com/de/parc-de-la-villette/ I.18__Parque de la Villette, Bernard Tschumi. http://paris-kontrast.com/de/parc-de-la-villette/ I.19__Praça Benedito Calixto. http://isamaiolino.com.br/2013/06/especial-vintage-feira-da-beneditocalixto/ I.20__Praça Benedito Calixto.https://www.flickr.com/photos/graduale/86659515643/
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De-limitações outras - da Praça ao parquear
I.21__Praça Benedito Calixto. https://www.flickr.com/photos/graduale/8665951491/ I.22__Praça Benedito Calixto. http://heyitsmi.wordpress.com/2013/09/06/praca-benedito-calixto/ I.23__Mapeamento Sara Brasil, 1930 - Acervo da Biblioteca FAU-Mackenzie I.24__Festa do Lira Paulistana na Praça Benedito Calixto. http://f.i.uol.com.br/fotografia/2013/11/21/ 338573-970x600-1.jpeg I.25__Imagem do Google Maps com delimitação da quadra em estudo I.26__Mapa do sistema viário estrutural de Pinheiros. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/planos_regionais/index.php?p=1891 I.27__Central Park, Ny. http://1.bp.blogspot.com/-6wCjzAPQUNE/UcIPQHThLaI/AAAAAAAADaA/WaV2g9wIKAA/s640/DSC05630.JPG I.28__ Border Hammock, por Murat Gök http://borderlandlevant.com/2013/03/23/another-borderland-kurdistan/ I.29__ http://www.parquedacidade.com.br/portfolio/beco-do-batman-colore-a-vila-madalena/
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