Trabalho Final de Graduação - Luíza Fagundes - Arquitetura e Urbanismo UFRN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUÍZA FAGUNDES DE SOUZA DÓRIA

CONECTA RIBEIRA: ANTEPROJETO DE REUSO PARA UM EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL NO BAIRRO DA RIBEIRA, NATAL/RN

NATAL/RN 2019


LUÍZA FAGUNDES DE SOUZA DÓRIA

CONECTA RIBEIRA: ANTEPROJETO DE REUSO PARA UM EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL NO BAIRRO DA RIBEIRA, NATAL/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. George Alexandre Ferreira Dantas

NATAL/RN 2019


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Dória, Luíza Fagundes de Souza. Conecta Ribeira: anteprojeto de reuso para um edifício multifuncional no bairro da Ribeira, Natal/RN / Luiza Fagundes de Souza Doria. - Natal, RN, 2019. 125f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientador: George Alexandre Ferreira Dantas. 1. Edifício de uso misto - Monografia. 2. Patrimônio Monografia. 3. Reuso - Monografia. 4. Espaço multifuncional Monografia. I. Dantas, George Alexandre Ferreira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE15

CDU 725.22

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


LUÍZA FAGUNDES DE SOUZA DÓRIA

CONECTA RIBEIRA: ANTEPROJETO DE REUSO PARA UM EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL NO BAIRRO DA RIBEIRA, NATAL/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.

Aprovado em 02 de dezembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ George Alexandre Ferreira Dantas Professor Orientador – UFRN

_____________________________________________ Jesonias da Silva Oliveira Professor – UFRN

_____________________________________________ Gabriela de Andrade Lira Mota Assunção Arquiteta Convidada


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado força, inspiração e motivação para a realização desse trabalho. Aos meus familiares, em especial meus pais e meus irmãos que estiveram ao meu lado em todos os momentos, me deram apoio e incentivo sempre que precisei. Aos meus avós paternos que sempre se fizeram presentes e minha avó Geraldinha (in memoriam) que foi um porto-seguro. Ao meu namorado, que esteve ao meu lado em todos os momentos. Obrigada por todo apoio, incentivo e compreensão. A todos os professores e profissionais da UFRN que contribuíram para a minha formação, em especial meu orientador George Dantas, que deu suporte e compartilhou tempo e conhecimento para a realização desse trabalho. A todos os amigos e amigas que a UFRN me deu, em especial Nayara e Carli, que compartilharam momentos de sufoco e de alegria durante o curso. Obrigada pelo suporte e apoio. Por último, mas não menos importante, aos profissionais que contribuíram no meu crescimento e conhecimento sobre arquitetura, Karenine Dantas, Renata Matos e suas equipes. A vocês, muito obrigada.


RESUMO

De acordo com um levantamento realizado no ano de 2018 pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), 130 edificações do Centro Histórico de Natal estão sem utilização e outras 22 em ruínas. A partir dessa situação atual e da observação da importância de preservação do patrimônio histórico para a sociedade contemporânea ao contribuir com sua identidade e memória, faz-se de extrema urgência a busca de alternativas para viabilizar políticas de conservação do Centro Histórico de Natal. Além dessas questões, existe a constatação de que intervenções pontuais, caracterizadas por espaços de cultura e lazer, estão ocasionando transformações e trazendo movimentação e uma nova dinâmica para a Ribeira noturna. Dessa forma, o objetivo desse Trabalho Final de Graduação é elaborar o Anteprojeto de uma solução arquitetônica de reuso para as edificações nº 88 e nº 86 da Rua Chile no bairro da Ribeira, propondo dois novos usos: espaço colaborativo de trabalho e espaço para atividades culturais. Assim, o produto final busca abranger, além de uma proposta de intervenção que visa preservar a edificação histórica, um novo uso multifuncional que siga a dinâmica atual do bairro e funcione durante todo o período do dia reduzindo os espaços ociosos e contribuindo para a atividade cultural noturna da Ribeira.

Palavras-chave: Patrimônio; Reuso; Espaço multifuncional.


ABSTRACT

According to a survey conducted in 2018 by the Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e Urbanismo (SEMURB), 130 buildings in the Historic Center of Natal are unused and another 22 in ruins. From this current situation and the observation of the importance of preserving the historical heritage for contemporary society by contributing with its identity and memory, it is extremely urgent to seek alternatives to enable conservation policies of the Historic Center of Natal. In addition to these issues, there is the finding that specific interventions, characterized by spaces of culture and leisure, are causing changes and bringing movement and a new dynamic to the night. Thus, the purpose of this work is to elaborate a proposal of adaptive reuse for the 88th and 86th buildings of Rua Chile in the Ribeira neighborhood, proposing two new uses: collaborative workspace and cultural activities space. Thus, the final product seeks to include, in addition to an intervention proposal aimed at preserving the historical building, a new multifunctional use that follows the current dynamics of the neighborhood and works throughout the day reducing the idle spaces and contributing to cultural activity nightlife of Ribeira. Keywords: Heritage; Reuse; Multifunctional space.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Síntese das posturas intervencionistas. ........................................................................29 Figura 02: Síntese dos modelos de escritórios até os anos 80 . ............................................... 31 Figura 03: Evolução dos modelos de espaços de trabalho. ......................................................32 Figura 04: Entrada do Impact Hub Recife – Paço Alfândega. ................................................... 37 Figura 05: Área de convivência. .......................................................................................................... 37 Figura 06: Espaços de trabalho com estrutura original e complemento em vidro. ...........38 Figura 07: Sala com mesas para trabalho autônomo. .................................................................39 Figura 08: Acesso para sala destinada a uma empresa membro do coworking. ...............39 Figura 09: Terraço do coworking. ..................................................................................................... 40 Figura 10: Paço do Frevo – Recife/PE. ............................................................................................... 41 Figura 11: Sala com linha do tempo sobre a história do frevo (exposição permanente). 42 Figura 12: Exposição temporária sobre o carnaval. ..................................................................... 42 Figura 13: Zoneamento do Google Campus SP por andar. ...................................................... 43 Figura 14: Bancadas de trabalho. ...................................................................................................... 44 Figura 15: Cabines telefônicas com tratamento acústico. ......................................................... 45 Figura 16: Poltronas individuais em área de convivência. ......................................................... 45 Figura 17: Área de silêncio. .................................................................................................................. 46 Figura 18: Área de descompressão. .................................................................................................. 46 Figura 19: Área do último pavimento. ..............................................................................................47 Figura 20: Terraço do último pavimento. ........................................................................................47 Figura 21: Salas de reuniões temáticas apenas para parceiros do Google. ......................... 48 Figura 22: Área de circulação vertical trazendo integração com o verde. ........................... 49 Figura 23: Fachada da Galeria Metara após o projeto de intervenção. .................................50 Figura 24: Galeria Metara internamente após o projeto de intervenção. ............................. 51 Figura 25: Imagem de corte da Galeria Metara mostrando os três pavimentos. ............... 51 Figura 26: Estudos iniciais de intervenção para a Casa 233. .....................................................53 Figura 27: Estratégias de intervenção definidas para a Casa 233. ...........................................53


Figura 28: Planta baixa de intervenção. .......................................................................................... 54 Figura 29: Antes e depois da fachada principal. .......................................................................... 54 Figura 30: Localização das edificação nº 88 e nº 86. ...................................................................58 Figura 31: Situação atual da edificação nº 88. ................................................................................59 Figura 32: Carta de 1979 com demarcação da edificação nº 88. .............................................60 Figura 33: Carta de 1984 com demarcação da edificação nº 88. .............................................60 Figura 34: Fachada da edificação nº 88. .......................................................................................... 61 Figura 35: Detalhes da fachada da edificação nº 88. ...................................................................62 Figura 36: Detalhes da entrada da edificação nº 88. ...................................................................62 Figura 37: Delimitação do lote da edificação nº 88. ....................................................................63 Figura 38: Patologias encontradas na fachada da edificação nº 88. ..................................... 64 Figura 39: Patologias encontradas no piso do pavimento térreo da edificação nº 88. ... 64 Figura 40: Patologias encontradas no piso do pavimento superior da edificação nº 88. ......................................................................................................................................................................65 Figura 41: Fachada posterior da edificação nº 88. ........................................................................66 Figura 42: Vista para o rio na fachada posterior da edificação nº 88. ...................................66 Figura 43: Fachada da edificação nº 86. ..........................................................................................68 Figura 44: Situação atual da edificação nº 86. ...............................................................................69 Figura 45: Situação interna da edificação nº 86. ........................................................................... 70 Figura 46: Conexão do deck com o rio. ........................................................................................... 71 Figura 47: Deck posterior da edificação nº 81................................................................................ 71 Figura 48: Mapa de uso do solo do entorno. ................................................................................ 72 Figura 49: Mapa gabarito do entorno. ............................................................................................. 73 Figura 50: Edificações presentes na Rua Chile. .............................................................................. 73 Figura 51: Rosa dos Ventos predominantes nos terrenos. .........................................................74 Figura 52: Trajetória Solar nos terrenos. .......................................................................................... 75 Figura 53: Conceito “conexão”. ...........................................................................................................86 Figura 54: Estudo da fachada. ............................................................................................................. 87 Figura 55: Mockup demolição e preservação das edificações. ................................................89


Figura 56: Zoneamento da edificação. .............................................................................................90 Figura 57: Gabarito original e gabarito modificado. .................................................................... 91 Figura 58: Representação esquemática em planta do espaço de transição. .......................92 Figura 59: Estudo de cor para a fachada com o aço corten. ....................................................93 Figura 60: Principais elementos de conexão vertical. ..................................................................93 Figura 61: Estudo de escada na fachada posterior. ..................................................................... 94 Figura 62: Estudo de visual para o rio em planta baixa. .............................................................95 Figura 63: Estudo de proposta de mirante com vista para o Rio Potengi. ...........................96 Figura 64: Uso do verde na edificação. ............................................................................................96 Figura 65: Planta baixa pavimento térreo. ......................................................................................98 Figura 66: Planta baixa pavimento superior. ..................................................................................99 Figura 67: Planta baixa terraço/mirante. ........................................................................................ 100 Figura 68: Fluxos do pavimento térreo. ..........................................................................................101 Figura 69: Fluxos do pavimento superior. ......................................................................................101 Figura 70: Fluxos do terraço/mirante. ............................................................................................. 102 Figura 71: Acesso principal da edificação. ..................................................................................... 103 Figura 72: Esquema de mobiliário idealizado em madeira plástica. ..................................... 103 Figura 73: Madeira plástica. ............................................................................................................... 104 Figura 74: Uso do mobiliário no terraço. ....................................................................................... 104 Figura 75: Diferentes formas de uso do mobiliário. ................................................................... 105 Figura 76: Esquema de estrutura metálica a ser adicionada. .................................................. 106 Figura 77: Detalhe de laje Steel Deck. ............................................................................................ 107 Figura 78: Corte esquemático de parede em DryWall. ............................................................. 107 Figura 79: Pergolado adicionado no terraço. ............................................................................... 108 Figura 80: Esquema da relação entre o campo de visão do pedestre e o pergolado. ... 109 Figura 81: Soluções de conforto adotadas. ....................................................................................110 Figura 82: Fluxo de ar no pavimento térreo. .................................................................................110 Figura 83: Fluxo de ar no pavimento superior. ............................................................................. 111 Figura 84: Fluxo de ar no pavimento terraço. ............................................................................... 111


Figura 85: Fotomontagem da proposta de intervenção no entorno. ...................................113 Figura 86: Proposta de intervenção na escala desenvolvida por Tiesdell, Oc e Heath. ...113

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 01: Síntese dos estudos de referência. .............................................................................56 Quadro 02: Coeficiente máximo de aproveitamento. ................................................................. 76 Quadro 03: Quadro de prescrições urbanísticas para a SZ-4. ..................................................80 Quadro 04: Quadro de prescrições urbanísticas para a SZ-2. ..................................................80 Quadro 05: Quadro de prescrições urbanísticas da OUR. ......................................................... 81

Tabela 01: Programa de necessidades e pré-dimensionamento. ........................................... 84


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional NBR - Norma Brasileira OUR - Operação Urbana Ribeira SEMURB - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo SPU - Superintendência do Patrimônio da União ZEP - Zona Especial Portuária ZEPH - Zona Especial de Preservação Histórica


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 16 1. CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS .......................................................................................................22 1.1. QUESTÃO PATRIMONIAL ..............................................................................................................22 1.1.1. Patrimônio Histórico e Cultural .................................................................................................22 1.1.2. Intervenção no Patrimônio Edificado .................................................................................... 24 1.2. AMBIENTES COLABORATIVOS: NOVAS FORMAS DE TRABALHO ..................................29 1.3. A IMPORTÂNCIA SOCIAL DE CENTROS DE CULTURA ........................................................33 2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA ............................................................................................................36 2.1. ESTUDOS DIRETOS..........................................................................................................................36 2.1.1. Impact Hub Recife – Paço Alfândega .....................................................................................36 2.1.2. Paço do Frevo (Recife/PE).......................................................................................................... 41 2.2. ESTUDOS INDIRETOS ................................................................................................................... 43 2.2.1. Google Campus São Paulo....................................................................................................... 43 2.2.2. Galeria Metara (Rio de Janeiro/RJ) ........................................................................................ 49 2.2.3. Casa 233 (Campina Grande/PB) ..............................................................................................52 2.3. SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA ................................................................................55 3. ESTUDOS INICIAIS ...........................................................................................................................58 3.1. ANÁLISE DO TERRENO E DA EDIFICAÇÃO JÁ EXISTENTE .................................................58 3.1.1. Edificação número 88 ..................................................................................................................59 3.1.2. Edificação número 86 ................................................................................................................. 67 3.2. ANÁLISE DO ENTORNO ............................................................................................................... 72 3.3. CONDICIONANTES AMBIENTAIS...............................................................................................74


3.4. CONDICIONANTES LEGAIS ......................................................................................................... 75 3.5. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ........................................82 4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ...................................................................................................86 4.1. CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ...............................................................................86 4.2. ZONEAMENTO ................................................................................................................................88 4.3. EVOLUÇÃO FORMAL ..................................................................................................................... 91 4.4. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO............................................................................. 97 4.4.1. Soluções funcionais ..................................................................................................................... 97 4.4.2. Soluções construtivas ............................................................................................................... 105 4.4.3. Soluções de conforto ambiental ........................................................................................... 108 4.4.4. Reservatório d’água ...................................................................................................................112 4.5. RELAÇÃO DA EDIFICAÇÃO E ENTORNO ...............................................................................112 4.6. IMAGENS REALISTAS DA PROPOSTA FINAL.........................................................................113 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................121 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 122


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INTRODUÇÃO A cidade do Natal teve a Ribeira, antes conhecida por Cidade Baixa, como um de seus primeiros bairros e pontos de desenvolvimento. Sua ocupação se deu lentamente a partir do crescimento da Cidade Alta, seu bairro vizinho, que teve seu eixo de crescimento ocorrendo no sentido do Rio Potengi: A Ribeira era zona de sítio para plantações, morando apenas os guardas dos armazéns que vigiavam as mercadorias exportadas para Pernambuco. A Cidade Alta era o bairro residencial e comercial por excelência (CASCUDO, 1999, p. 151).

Na segunda metade do século XIX, as atividades portuárias ali estabelecidas potencializaram a ocupação na Rua da Alfândega, atual Rua Chile, que passou a receber edifícios voltados para as atividades de compra, venda e estocagem de algodão e açúcar (CASCUDO, 1999). Esse crescimento se expandiu ainda para as atuais Rua Dr. Barata e a Rua Frei Miguelinho, que possuíam um “movimento intenso devido ao forte comércio” (TINÔCO, SOBRINHA E TRIGUEIRO, 2008, p. 38). Esse desenvolvimento foi potencializado pela instalação da Comissão das Obras do Porto, entre o fim do século XIX e início do século XX, consolidando a expansão do bairro através da construção de diversos edifícios e armazéns (SIMONINI, 2010). Com esse progresso, aos poucos a Ribeira foi recebendo construções de grande relevância e se tornando um polo cultural da cidade devido aos pontos de atividades e lazer. Além disso, passou a receber, ainda na primeira metade do século XX, equipamentos de grande reconhecimento na cidade e assim, conquistou um público da alta sociedade local: Era possível se deparar com intelectuais transitando pelas ruas e avenidas do bairro, sentados na Confeitaria Delícia, ou mesmo na varanda do Tabuleiro da Baiana. Tomando um café com o senhor Teodorico Bezerra no saguão do Grande Hotel, sentados nos bancos da praça Mauá diante do TAM para ler um jornal e discutir política. (TINOCO, SOBRINHA, TRIGUEIRO, 2008, p. 44).

Durante esse período, a Ribeira ficou marcada pelas grandes melhorias que recebeu, caracterizando sua infraestrutura, o tecido urbano e as edificações presentes no bairro até hoje. Porém, foi entre 1939 e 1945 (período da Segunda Guerra) que o bairro


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viveu seu grande apogeu e efervescência cultural e econômica, sendo a porta de entrada dos estrangeiros, que chegavam pelo Porto (TINOCO, SOBRINHA, TRIGUEIRO, 2008). Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Ribeira teve um grande impacto negativo em sua economia. Somado a isso, na segunda metade do século XX, o bairro foi marcado pela perda de diversos equipamentos locais, os quais migraram para a Cidade Alta. Essas e outras questões, acabaram por culminar na queda comercial da Ribeira e perda da apropriação do espaço pela boemia local. Procurando trazer novamente a atmosfera vibrante e cheia de importância cultural para a Ribeira, a partir da década de 1990 iniciou-se as tentativas de revitalização para o bairro, como por exemplo, a Lei nº 3.942/2000 que instituiu a Zona Especial de Preservação Histórica (ZEPH) do município, buscou a preservação dos prédios e sítios históricos de valor arquitetônico, cultural e paisagístico e, ainda, delimitou subzonas de predominância residencial, institucional, de comércio e serviços no bairro da Ribeira, definindo usos, gabaritos de edificações e prescrições urbanísticas para esta localidade. Outro exemplo de grande importância que pode ser citado nesse contexto, é o Programa REHABITAR, aplicado no período de 2000 a 2008, o qual propôs o auxílio na reestruturação urbana de espaços públicos e privados, visando principalmente ao reuso de imóveis com foco no uso habitacional, nos bairros da Ribeira e Cidade Alta. Em 2010, uma parte considerável do bairro da Ribeira foi tombada a nível federal de acordo com a Portaria nº 72/2014, como Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico do Rio Grande do Norte. Logo após, em 2013, iniciou-se o Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas com o intuito de recuperar espaços públicos e prédios de valor histórico, esse promovido pelo Ministério da Cultura e em curso atualmente. A partir disso, entrando na temática do reconhecimento da Ribeira como Patrimônio Histórico e Cultural, é fundamental entender a personificação do Centro Histórico dentro do cenário atual, assim, segundo CHOAY (2001, p. 222):


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(...) tendo se tornado patrimônios históricos de pleno direito, os centros e os bairros históricos antigos oferecem atualmente uma imagem privilegiada, sintética e de certa forma magnificada, das dificuldades e contradições com as quais se confrontam a valorização do patrimônio arquitetônico em geral, e em especial sua reutilização ou, em outras palavras, sua integração na vida contemporânea

Assim, partindo do pressuposto que a história também é relatada através da estrutura arquitetônica das edificações, faz-se necessário a preservação desses bens. Sobretudo, a realidade encontrada na Ribeira atual não se é condizente com esse caso. De acordo com um levantamento realizado no ano de 2018 pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), 130 edificações do Centro Histórico estão sem utilização e outras 22 em ruínas. Assim, com a falta de restaurações, os edifícios se encontram sendo tomados por vegetações, destroços e acúmulo de resíduos. Apenas algumas recuperações pontuais se fazem presente e a realidade de subutilização do espaço se torna progressiva, restringindo, quase que por completo, o funcionamento da Ribeira às repartições públicas. Assim, torna-se nítido a qualquer olhar sob a parte histórica do bairro, a necessidade de recuperação e restauro dos edifícios mais antigos. Por isso, faz-se necessário a criação de projetos que revitalizem esses prédios e reestruturem a história cultural passada por eles. Dessa forma, além das questões de má conservação do patrimônio edificado, o bairro enfrenta a realidade de ser um bairro de uso diurno e pouca ou quase nenhuma vida noturna, pois seus usos se configuram prioritariamente em serviços e institucionais. O que poderia ser apenas uma característica do bairro, passa a ser uma complicação quando se observa esse panorama de forma mais completa, ao gerar problemas relacionados à insegurança e pouco usufruto noturno. Além disso, é ainda mais mobilizador realizar um estudo voltado para esse assunto ao reconhecer que existem espaços pontuais que estão trazendo movimentação e vida para a Ribeira noturna, como Casa da Ribeira, Nalva Melo Café Salão, Atelier Bar, Bar Buraco da Catita, entre outros. Esses estabelecimentos, em sua maioria, funcionam em


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edificações de valor patrimonial e possuem usos voltados para atividades culturais e de lazer. Assim, além de revitalizarem e conservarem o patrimônio arquitetônico, são responsáveis por trazerem fluxo e vida para o bairro durante a noite. Ainda sobre preservação do patrimônio, quando se fala em bens arquitetônicos relaciona-se diretamente com uma de suas principais características, o uso: A arquitetura é a única, entre todas as artes maiores, cujo uso faz parte de sua essência e mantém uma relação complexa com suas finalidades estética e simbólica (CHOAY, 2001, p. 230).

Dessa forma, estreitando a ideia de conservação ao analisar o novo uso, a proposta de trazer um espaço que possa seguir a dinâmica existente na Ribeira, caracterizada por repartições de serviço e institucionais durante o dia e ambientes de cultura e lazer durante a noite, se torna necessária ao querer ter total e integralmente o aproveitamento do edifício. Assim, o objetivo desse trabalho, é elaborar o anteprojeto de uma solução arquitetônica de reuso para as edificações nº 88 e nº 86 da Rua Chile no bairro da Ribeira, propondo dois novos usos: espaço colaborativo de trabalho e espaço para atividades culturais. Com isso, essa proposta traz, além do reuso, um espaço que proporcione a interação e diversidade de usuários, o funcionamento durante o momento diurno e noturno e a redução de espaços ociosos na Ribeira. De dia o prédio seria destinado a um espaço colaborativo de trabalho, pois devido as novas formas de se trabalhar, o ambiente voltado para esse uso precisa ser reformulado e atualizado para as novas necessidades. É preciso se ter um local voltado para a produtividade e conforto do trabalhador. Além disso, esse espaço seria pensado para o trabalho autônomo e a colaboração e conexão entre pessoas de diversas áreas, trazendo assim, oportunidades para o trabalhador que não possui um espaço para gerir seu negócio e a ampliação de seu conhecimento em outras áreas. Já o uso noturno, voltado para atividades culturais, está presente como agente transformador, de maneira a movimentar o bairro, valorizar a essência cultural do Centro


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Histórico e proporcionar um impacto positivo na dinâmica do entorno e na população local: Os centros culturais ou centros de eventos são considerados modelo de participação, possibilitando a realização de oficinas de música, canto, arte, conto de histórias, shows e diversos outros tipos de manifestações culturais, que propiciam momentos de lazer, descontração, valorização, reconhecimento, prazer e despertam e conscientização que a população de que indiferente da classe socioeconômica, o lazer é um direito de todos (SILVA, LOPES, XAVIER, 2009).

O universo de estudo do projeto abarca, como já foi mencionado, o Bairro da Ribeira, mais precisamente um recorte compreendido pelo entorno imediato das edificações nº 88 e nº 861 da Rua Chile. Os objetivos específicos consistem em: discutir os conceitos e estratégias projetuais à luz das teorias e métodos contemporâneos de conservação do patrimônio edificado; analisar projetos de intervenção voltados para usos culturais em edificações de interesse patrimonial; estudar soluções projetuais de edifícios que compreendem espaços colaborativos de trabalho e elaborar o anteprojeto arquitetônico de uso misto em um edifício de valor patrimonial. A estrutura deste trabalho encontra-se dividida em quatro partes: a primeira compreende a construção de um referencial teórico, o qual irá embasar e facilitar o entendimento do trabalho. A segunda parte consiste nos estudos de referência, ou seja, análise de soluções projetuais em edificações que apresentam usos e/ou elementos semelhantes ao que será aqui proposto. Já a terceira e quarta parte, será composta pelos estudos iniciais e pela proposta projetual em si, poderá ser visto o desenvolvimento do projeto até a solução final que será proposta, contendo também toda a evolução formal e o memorial descritivo.

Numeração adotada de acordo com lógica de distribuição da Rua Chile, porém não foi possível a comprovação desse número. 1


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1. CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS Neste capítulo, encontra-se o embasamento teórico utilizado para a realização do atual trabalho. Primeiramente, é referida a conceituação do patrimônio histórico e questões sobre a intervenção no patrimônio edificado diante da perspectiva de alguns autores. Após isso, é discutida a evolução dos modos de trabalho e as características do espaço de trabalho atual e, por último, discute-se a importância dos Centros de Cultura na sociedade contemporânea.

1.1. QUESTÃO PATRIMONIAL 1.1.1. Patrimônio Histórico e Cultural A definição de patrimônio histórico admite hoje um conceito amplo e é abordada por diversos autores. Françoise Choay (2001), em seu livro “A alegoria do patrimônio”, trabalha a evolução do entendimento de patrimônio histórico durante diferentes períodos e a sua conceituação atual. Acredita-se, de acordo com a autora, que a noção de patrimônio que se tem hoje difundiu primeiramente pelo continente europeu após a Revolução Industrial e posteriormente se fortaleceu em diversos países pelo mundo: “A revolução industrial, como processo em desenvolvimento planetário, dava, virtualmente, uma dimensão universal ao conceito de monumento histórico, aplicável em escala mundial” (CHOAY, 2001, p. 127). Inicialmente, o entendimento de patrimônio era associado a bens familiares, ou seja, heranças que eram propagadas de pais para filhos. Porém, passou a atingir uma esfera mais ampla e ser requalificada por distintos adjetivos como “genético, natural, histórico e etc” (CHOAY, 2001). Assim, para Choay, patrimônio histórico passa a compreender trabalhos diversos, artísticos e o “saber fazer”: A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum:


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obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos (CHOAY, 2001, p. 11).

Para Carlos Lemos (1987), o patrimônio histórico abrange um acervo maior chamado de patrimônio cultural. Em seu livro, “O que é Patrimônio Histórico”, ele enfatiza que o patrimônio cultural se divide em três categorias: a primeira engloba elementos do meio ambiente; a segunda se refere ao conhecimento, representado pelas técnicas e pelo “saber fazer”; e a terceira esfera, citada como a mais importante de todas, é formada pelos bens culturais, ou seja, por objetos, artefatos e construções. O termo bem cultural também é retratado por Beatriz Kuhl e associado a uma memória social, assim, esses bens seriam caracterizados por “todos os bens que (...) com o tempo adquiriram significação cultural; ou seja, a todos os bens que são testemunhos significativos da operosidade humana e que são suportes da memória coletiva” (KUHL, 2006, p. 20). Dessa forma, o patrimônio histórico após suas transformações e visto de acordo com a sociedade contemporânea, passa a englobar novos bens e técnicas determinado, principalmente, por uma memória local. Isso é enfatizado se conecta com a defesa de Cesare Brandi (1992) em sua obra da Teoria da Restauração, na qual aponta que a conservação de um bem depende de seu reconhecimento pela sociedade no momento atual. Assim, levando em consideração esse sentido cultural obtido pela memória coletiva e aplicando o conceito de patrimônio histórico no campo da arquitetura, é valido considerar o que diz a Carta de Veneza: Artigo 1º - A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Entende-se não só que as grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, significação cultural. (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 01).

Portanto, partindo dessas conceituações, entende-se que qualquer bem que tenha adquirido valor por parte de alguma parcela da sociedade ou que se configure


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como incluso em um contexto da história local pode ser determinado como patrimônio histórico cultural e que deve ser preservado.

1.1.2. Intervenção no Patrimônio Edificado O restauro se caracteriza como uma das principais formas de intervenção no patrimônio e teve o início de sua discussão e seus primeiros estudos por volta do século XX. Dessa forma, é fundamental entender que precisou-se percorrer um caminho no desenvolvimento conceitual para que se atingisse o raciocínio contemporâneo que será levado em consideração nesse trabalho. Em seus primeiros estudos, o restauro abordava a ideia de “restauro filológico” ou “restauro científico” e se limitava a realidade documental da obra sem considerar questões estéticas. Apesar de se caracterizar como um pensamento mais restrito, essa primeira abordagem foi essencial na construção do respeito ao monumento. Posteriormente, ainda no século 20, o restauro passa a ser visto como ato histórico-crítico, respeitando as fases passadas pela obra e a marca do tempo nela presente. Assim, o estudo da restauração recebe a denominação de “restauro crítico”, ou seja, “a restauração assume para si a tarefa de prefigurar e controlar, justificar e fundamentar essas alterações, respeitando seus aspectos documentais, materiais e formais” (KUHL, 2007, p. 199). Com isso, entende-se que é necessária uma ponderação ao se tratar da intervenção no patrimônio e é preciso dominar os princípios da técnica do restauro e seu propósito. Dessa forma, é valido considerar o que retrata a Carta de Veneza em seu Artigo 9º: A restauração é uma operação que se deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a


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marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo arqueológico e histórico do monumento (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 02).

Além disso, como também pôde ser observado no trecho da Carta de Veneza, um ponto de extrema importância na área do restauro-crítico caracteriza-se pela multidisciplinaridade. Para Brandi (2004), o campo multidisciplinar da restauração e sua estreita ligação com as ciências, tornaram restauradores, historiadores da arte e cientistas como fundamentais no processo de restauro. Dessa forma, a teoria brandiana buscava vincular o restauro ao pensamento crítico e científico e afastá-lo do empirismo. Para Brandi: Definindo a restauração como o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte como tal, a reconhecemos naquele momento do processo crítico em que, tão-só, poderá fundamentar a sua legitimidade; fora disso, qualquer intervenção sobre a obra de arte é arbitrária e injustificável. Além do mais, retiramos para sempre a restauração do empirismo dos procedimentos e a integramos na história, como consciência crítica e científica do momento em que a intervenção de restauro se produz (BRANDI, 2004, p. 100).

Faz-se necessário ressaltar, no âmbito da teoria brandiana, a relevância das instâncias que condicionam o estudo do restauro: estética e história. Assim, tem-se intervenções práticas que irão abranger o conceito da restauração e que irão decorrer no “reconhecimento da obra de arte na sua dúplice polaridade estética e histórica e que leva à sua salvaguarda como imagem e como matéria” (BRANDI, 2004, p. 101). O fato do restauro ser fundamentado em questões históricas e estéticas da obra, gera a necessidade da realização de uma interpretação singular, ou seja, cada caso deve ser analisado separadamente. Além disso, a restauração como procedimento multidisciplinar e levando em conta as instancias de estética e história requer estudos e análises aprofundadas, não sendo um processo óbvio e não admitindo simplificações. Assim, com base na teoria brandiana, a restauração se estrutura e deve ser fundamentada em quatro princípios substanciais: distinguibilidade,

reversibilidade

compatibilidade técnica.

ou

retrabalhabilidade,

mínima

intervenção

e


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Alicerçado à ideia que já foi abordada na qual a restauração deve-se manter conexa às ciências históricas, tem-se com base nisso o primeiro princípio: o da distinguibilidade. Ou seja, esse preceito refere-se ao tempo como não reversível e define que a obra não deve incitar o observador ao engano fazendo-o presumir intervenções com o já existente: A integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isso se venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir. Desse modo, a integração deverá ser invisível à distância de que a obra de arte deve ser observada, mas reconhecível de imediato, e sem necessidade de instrumentos especiais, quando se chega a uma visão mais aproximada. (BRANDI, 2004, p. 47).

Assim, tem-se uma intervenção que respeitará o aspecto documental da obra e apresentará características referentes ao período atual, deixando clara as fases passadas e o entendimento da relação antigo/novo. O segundo princípio abrange o conceito de reversibilidade ou retrabalhabilidade. Segundo KUHL: A restauração não deve impedir, deve, antes, facilitar qualquer intervenção futura; portanto, não pode alterar a obra em sua substância, devendo-se inserir com propriedade e de modo respeitoso em relação ao preexistente. (KUHL, 2006, p. 25).

Dessa forma, a intervenção de restauro deve respeitar a obra existente para permitir futuras intervenções que venham a se fazer necessárias. O terceiro princípio refere-se à mínima intervenção, ou seja, remete ao entendimento de que a “restauração não pode desnaturar o documento histórico nem a obra como imagem figurada” (KUHL, 2006, p. 25). Esse conceito está diretamente relacionado com o quarto e último princípio, compatibilidade técnica, o qual deve “levar em conta a consistência física do objeto, com a aplicação de técnicas compatíveis, que não sejam nocivas ao bem e cuja eficácia seja comprovada” (KUHL, 2007, p. 208). Ademais, ao levar em consideração essas premissas, deve afastar-se de “posições imediatistas ou setoriais” e buscar sempre a reinterpretação no tempo presente, jamais propondo a imitação de alguma fase já passada. (KUHL, 2006). Assim, o restauro não se


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caracteriza como uma imitação do passado ou de determinado estilo, e sim o oposto, requer criatividade e projeto, não sendo apenas uma operação técnica. Entrando do campo do projeto de restauro, que se insere no contexto dessas discussões, tem-se que esse deve ser fruto de uma aprofundada compreensão da obra e uma abordagem dos preceitos fundamentais (distinguibilidade, reversibilidade, mínima intervenção e compatibilidade técnica). Esse projeto irá representar a intervenção que será realizada e deve abranger uma relação entre conservar e inovar, além de “levar em consideração as questões relacionadas aos materiais, os valores documentais, formais, memoriais e simbólicos de interesse para a coletividade” (KUHL, 2006, p. 30). Ao estabelecer propostas intervencionistas, além de considerar as premissas já discutidas, também se torna relevante dominar os conceitos de integridade e autenticidade embasados nos axiomas estética e história retratados na teoria brandiana. A discussão sobre autenticidade já existe há séculos, porém passa a ganhar maior notoriedade ao ser adicionada, pela UNESCO, a obrigatoriedade do “teste de autenticidade” na inscrição de monumentos na Lista de Patrimônio Mundial. Esse teste avalia quatro critérios: design, material, workmanship (técnicas construtivas) e setting (entorno). Dessa forma, a lista é baseada no conceito de “notório valor universal”, que se refere a obras que possuam “uma significação tão excepcional que transcenda as fronteiras nacionais e seja de importância tanto para o presente como para as futuras gerações, ou seja, para a humanidade” (VIEIRA, 2008, p. 03). Ao se referir a autenticidade podemos relaciona-la com o conceito de Brandi pertencente à história. Trata-se de não apresentar “falsos históricos” e aborda questões relativas a continuidade, mudança e a noção de verdade (JOKILEHTO, 2006). Retratando da integridade, é valido associa-la a noção de estética abordada por Brandi. Além disso, entende-se a integridade ligada ao estado de conservação e a percepção de completude do conjunto edificado:


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A identificação espacial dos elementos que documentam essas funções e processos ajuda a definir a ‘integridade estrutural’ do lugar, referindo-se ao que sobreviveu de sua evolução ao longo do tempo. Esses elementos proporcionam um testemunho da resposta criativa e da continuidade nas estruturas construídas, fornecendo o sentido do conjunto espacial e ambiental da área (JOKILEHTO, 2006 apud VIEIRA, 2008, p. 05).

Após compreender os conceitos de integridade e autenticidade, é preciso também estabelecer até onde deve-se intervir. Para isso, Tiesdell, Oc e Heath (1996) estabelecem escalas de intervenções com base nos conceitos de “uniformidade contextual”, “continuidade contextual” e “justaposição contextual” (VIEIRA, 2008). A “uniformidade contextual” pode ser entendida como a cópia dos estilos já existentes em determinado entorno ou vizinhança. Dessa forma, nesse tipo de intervenção, tem-se a quebra da autenticidade e a busca pela integridade através da sensação de completude do conjunto edificado. A “justaposição contextual” traz a ideia de uma justaposição de edifícios de épocas distintas e busca destacar a marca do tempo. Porém, o questionamento desse tipo de intervenção é a perda da leitura do conjunto ou o fato da nova edificação chamar mais atenção do que o próprio conjunto já estabelecido. Essa prática, apesar de não prejudicar a autenticidade do conjunto, afeta a integridade por comprometer o entendimento da completude da vizinhança (VIEIRA 2008). Por último, a “continuidade contextual” caracteriza-se como uma postura intermediária entre os dois conceitos já apresentados e representa um tipo de intervenção que respeita a condição da edificação e a leitura estética do conjunto, evitando a criação de uma “falsificação histórica”: Exemplos de "continuidade contextual" podem ser classificados como intervenções que respeitam a condição de obra de arte e trabalham a dupla polaridade histórica e estética defendida por Brandi (VIEIRA, 2008, p. 07).

Assim, esse conceito se compromete a preservar tanto a autenticidade como a integridade e se caracteriza por ser um dos princípios mais modernos de intervenção em espaços de valor artístico patrimonial:


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Esta vertente está ligada às novas concepções arquitetônicas surgidas após o período modernista. Na contemporaneidade, a preocupação com a continuidade histórica das cidades e dos lugares tem levado, em termos arquitetônicos, à legitimação de abordagens de design que se referem à arquitetura precedente e à tradição (VIEIRA, 2008, p. 07).

Portanto, busca-se nesse trabalho realizar uma intervenção que não danifique a leitura do conjunto edificado e respeite a passagem histórica da edificação evitando a criação de falsos históricos. Dessa forma, considera-se a continuidade contextual como referência ao respeitar a integridade e a autenticidade (Figura 01). Figura 01: Síntese das posturas intervencionistas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Vale ressaltar, levando em consideração a complexidade quando se trata de patrimônio cultural, que essa escala de intervenção não funciona como algo fixo, ou seja, uma intervenção pode estar entre duas escalas, estando mais próxima de uma ou de outra.

1.2. AMBIENTES COLABORATIVOS: NOVAS FORMAS DE TRABALHO Para se fazer clara a compreensão da organização atual dos espaços de trabalho, é importante desconstruir a ideia de que o trabalho se resume a um espaço monótono e exaustivo. Primeiramente, é válido salientar que a realidade atual se baseia na inovação, cooperação, tecnologia, flexibilidade, compartilhamento de informações, criatividade, socialização e networking, ou seja, conexão entre pessoas e criação de redes de contato.


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O coworking surge como uma forma de unir essas características e proporcionar um ambiente de trabalho compartilhado que valoriza o trabalhador e o seu bem-estar, que elimine ideias de competição e alimente a cooperação, que não possua uma estrutura hierárquica, que torne o espaço de trabalho um local leve e além disso, viabilize ao trabalhador autônomo e/ou pequenas empresas a terem seu ambiente de trabalho com custos reduzidos. Para se chegar a esse modelo atual e entender sua formação, construção e funcionamento, é válido compreender os modelos anteriores e suas evoluções: O primeiro modelo de espaço de trabalho após a Revolução industrial, conhecido como Escritório Taylorista que foi influenciado pelo taylorismo, uma forma de gestão caracterizada pela rigidez, padronização e organização dos processos empresariais. Após isso, tem-se o Escritório Panorâmico ou Aberto surgindo após a Segunda Guerra Mundial que, segundo Camila Novaes (2014), apresenta uma planta mais livre com um layout integrado e orgânico que passa a priorizar o fluxo de pessoas, a interação social e ambientes informais, porém ainda percebe-se nesse modelo a marcação da hierarquização do espaço. Logo após, o modelo Panorâmico evolui para o Escritório Paisagem, onde temse uma versão parecida com a anterior, porém agora é possível perceber o aumento da valorização dos espaços livres sem hierarquização, maior integração entre pessoas e destaque para o fluxo de informações: O escritório deste tipo passa a ser visto como um centro de processamento de dados e, portanto, preza pela conectividade entre as pessoas. Um ponto marcante deste tipo de escritório é que os espaços deixam de possuir uma hierarquia e passa a ser organizado de acordo com os fluxos de informação (MEDEIROS, 2016, p. 39).

Até os anos 1980, foram esses modelos citados que puderam ser percebidos nos diversos escritórios da época (Figura 02).


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Figura 02: Síntese dos modelos de escritórios até os anos 80 .

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Após isso e até por volta dos anos 2000, podemos reconhecer os espaços por Escritórios Territoriais, onde esse modelo apresenta um misto das situações anteriores com pequenas evoluções e sendo adaptado de acordo com a demanda e necessidade de cada escritório ou empresa. Com a evolução tecnológica e o uso cada vez mais comum de computadores, celulares e internet, tem-se a adoção de novos modelos conhecidos como Escritórios Não-Territoriais entre os anos 1990 e 2000. Esse modelo apresenta duas variações principais: O Escritório Virtual e o Home Office, ambos com uso das novas tecnologias, porém em espaços distintos: Escritório

Virtual:

faz

uso

da

tecnologia

conhecida

como

Telecommuting, que permite o funcionário realizar suas atividades e acessar todos os canais de informação da empresa onde estiver. Ou seja, é dado ao indivíduo a possibilidade de transformar qualquer espaço em seu escritório através de equipamento como computadores, celulares ou redes de telefonia interna.

Home Office: trabalho realizado em casa, representa redução nos custos de locação do espaço físico. Apresenta inúmeras desvantagens já que normalmente o funcionário está em um ambiente improvisado e sem conforto, além da ausência de convívio social e das mudanças causadas na rotina familiar (ANDRADE, 2007 apud NOVAES, 2014, p. 30).

Apesar de todas as tecnologias utilizadas e a flexibilidade que esse último modelo propiciou, alguns problemas começaram a surgir, como a necessidade de: interação social, troca de informações e um espaço bem estruturado e confortável que atendesse todas as necessidades de trabalho. É nesse contexto e na busca de solucionar tais


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problemáticas que o novo conceito de espaço de trabalho compartilhado, ou coworking, aparece: O objetivo do coworking é conciliar o baixo custo de utilização com uma infraestrutura de escritório completa, a fim de oferecer para o cliente – o profissional – o espaço ideal de trabalho com redução de investimentos quando comparado aos modelos já conhecidos como salas alugadas em edifícios comerciais e os escritórios virtuais (NOVAES, 2014, p. 20).

Com isso, o espaço colaborativo de trabalho surge como um recurso que atende a essa nova configuração e traz uma possibilidade ao profissional autônomo para que possa ter um local onde exerça o seu ofício e gere um crescimento pessoal e coletivo: A teoria da multidão, também conhecida como a inteligência coletiva ou colaboração, é a ideia de que multidões de pessoas com diferentes origens podem mais facilmente atacar e solucionar um problema. Encontros fortuitos, também pensados como encontros sociais, são experiências de aprendizagem sociais que criam e inspiram a troca de conhecimentos. Aquisição de conhecimento ocorre com o tempo que se gasta sendo exposto a diferentes tipos de pessoas no espaço de coworking. O design de espaço de coworking ajuda a facilitar as conversas em função de circunstâncias espaciais. E o networking ocorre nestes espaços para ajudar os indivíduos a ampliarem seu universo de contatos. Estes mecanismos de coworking ajudam empreendedores e startups a aprender, ensinar e colaborar uns com os outros, para aumentar, de modo geral, seu capital social e assim maximizar a chance de impactar a economia (KORDI-HUBBARD, 2013, p. 02 apud DINIZ, 2018, p. 32).

Dessa forma, as mudanças vão aparecer não apenas na conceituação e função do espaço de trabalho, mas também em sua configuração de layout (Figura 03), de maneira a atender as necessidades e demandas desse novo formato. O espaço do coworking precisa ser pensando para que o conceito desse modelo seja refletido e reafirmado em seu ambiente. Assim, algumas características irão marcar esse novo local: flexibilidade, humanização, criatividade, estimulação da socialização, tecnologia e bem-estar. Figura 03: Evolução dos modelos de espaços de trabalho.

Fonte: NOVAES, 2014, p. 32.


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1.3. A IMPORTÂNCIA SOCIAL DE CENTROS DE CULTURA Os centros de cultura possuem uma importância que vai além da disseminação de lazer para a população. Através desses locais é possível gerar a interação social entre os diversos grupos e suas inserções no meio cultural e nas diversas atividades que podem ser proporcionadas: O centro cultural é um importante instrumento para o desenvolvimento de uma população. E, nesse aspecto, o primeiro benefício é a inclusão de um povo na cadeia de produção cultural, sendo que até mesmo aquelas pessoas que se encontram excluídas do consumo das artes possam ter acesso a essas diversas atividades culturais (Conceito.de, 2013).

Dessa forma, além de promover a cultura de forma inclusiva, os centros culturais permitem a propagação e o reconhecimento da cultura local e de artistas principiantes através de atividades e apresentações acessíveis e/ou, muitas vezes, gratuitas: Um centro cultural também tem como objetivo ajudar no desenvolvimento dos artistas que ali se apresentam, abrem-se oportunidades para a classe artística possa apresentar seu trabalho, podendo esse contar com um espaço onde conseguirá apresentar-se de maneira adequada ante seu público. (Conceito.de, 2013).

Assim, “estas manifestações culturais contribuem para a formação de identidades culturais locais, considerando-se a compreensão de que a constituição de uma identidade se estabelece através da comunhão de determinados valores, tais como: a comunicação, a participação e a integração entre os membros de uma sociedade” (PINTO, PAULO, SILVA, 2012, p. 106). E ainda, o “Centro Cultural atende e supre as necessidades dos frequentadores, cumprindo com o objetivo de ofertar atividades diversificadas dando a oportunidade de uma qualidade de vida melhor e saudável” (PINTO, PAULO, SILVA, 2012, p. 106). Consequentemente, entende-se que os espaços culturais se configuram, como um todo, em locais que disseminam a cultura e promovem a aprendizagem, o convívio e o lazer. Porém, cada Centro irá possuir sua estrutura de acordo com a necessidade e o objetivo de cada um. Dessa forma, podemos encontrar nessas edificações ambientes como: salas de exposições, espaços para shows e eventos, biblioteca, auditório,


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restaurantes, cafés, áreas de convivência, entre outros espaços, sempre variando de acordo com o tamanho e o intuito do local. Assim, se vê que um Centro Cultural já possui, por si só, uma grande importância. Ao aliarmos esse uso a uma edificação de valor histórico, tem-se uma forma de proteção e valorização do Patrimônio. Além da conservação e do estimulo à cultura, esse uso se torna um meio de trazer a movimentação e o reconhecimento do Centro Histórico. Portanto, o espaço de cultura pensado como novo uso em edificação de valor patrimonial, valorizando o Centro Histórico e respeitando a edificação já existente, vem como uma maneira de disseminar história, cultura e lazer, transformando o espaço em um local de socialização e inclusão, além da movimentação e enaltecimento do Centro Histórico.


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2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA O presente capítulo apresenta os estudos de referência utilizados como forma de contribuição na elaboração desse trabalho. Foram realizados estudos diretos e indiretos referentes aos dois usos que o edifício proposto acomodará: espaço colaborativo de trabalho e espaço para atividades culturais. Assim, através desses estudos, tornou-se possível um maior entendimento do funcionamento do ambiente atual de trabalho, das estratégias projetuais em prédios históricos, do programa de necessidades dos demais usos, das suas funcionalidades e outras soluções que se tornaram relevantes para a proposta.

2.1. ESTUDOS DIRETOS 2.1.1. Impact Hub Recife – Paço Alfândega O Impact Hub atua como uma empresa global que possui sedes em diversos países. Hoje é possível encontrar 4 dessas unidades em Recife e uma delas localiza-se no Shopping Paço Alfândega, a qual foi escolhida para a realização do estudo de referência por estar localizada em uma área histórica e possuir, em sua construção, alguns traços ainda de sua edificação original. Essa sede foi construída recentemente, há pouco mais de um ano, e encontra-se no 3º piso do Shopping abrangendo uma área de 1500m². Dessa forma, seu programa conta com os seguintes espaços2: 

Offices para 3 a 150 pessoas

36 estações de trabalho divididas entre mesas fixas para equipes inteiras, profissionais autônomos e coworking

01 Sala de Reuniões para 4 pessoas

01 Sala de Reuniões para 6 pessoas

Disponível em: <https://www.impacthubrecife.com/impact-hub-paco-alfandega/> acessado em: 17/08/2019 2


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01 Lounge de convivência para 25 pessoas

01 Auditório para 48 pessoas

01 Terraço

01 Recepção

Além disso, também chamou atenção o fluxo do coworking e a forma como os espaços foram divididos. Logo na entrada, é possível encontrar uma pequena recepção (Figura 04) e após isso, uma área de convivência (Figura 05) com mesas e cadeiras e uma pequena copa que fica aberta para todos os membros. Figura 04: Entrada do Impact Hub Recife – Paço Alfândega.

Fonte: Acervo da autora, 2019. Figura 05: Área de convivência.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


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Ao passar pela área de convivência, tem-se um corredor que já se conecta as áreas de trabalho do coworking. É possível perceber que algumas paredes existentes foram mantidas da edificação original, porém, a maioria delas se têm a existência de meia parede e seu complemento com vidro para se ter um visual de todas as áreas de trabalho (Figura 06). Figura 06: Espaços de trabalho com estrutura original e complemento em vidro.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

O espaço destinado ao trabalho, conta com salas especificas para empresas e uma grande sala aberta com mesas e cadeiras destinadas ao trabalho autônomo (Figuras 07 e 08), além das duas salas de reuniões já mencionadas.


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Figura 07: Sala com mesas para trabalho autônomo.

Fonte: Acervo da autora, 2019. Figura 08: Acesso para sala destinada a uma empresa membro do coworking.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Além dos espaços já mencionados, ainda existe um terraço (Figura 09) que fica ao final do corredor e serve como uma área de descanso e descontração.


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Figura 09: Terraço do coworking.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Outro ponto que chamou atenção durante a visita foi o fato de existir apenas 04 funcionários fixos para manter o funcionamento do coworking: uma pessoa para a recepção, um gerente, um coordenador comercial e um coordenador de eventos. Assim, fica ainda mais clara a possibilidade e simplicidade de manter um espaço como esse ativo. Portanto, esse estudo de referência foi de grande importância para ver de perto o funcionamento do coworking e admitir alguns pontos como auxiliares na elaboração do trabalho: 

O fluxograma e o programa de necessidades do espaço

A utilização de uma copa coletiva

O uso do vidro para separar os ambientes sem perder a permeabilidade visual


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2.1.2. Paço do Frevo (Recife/PE) O Paço do Frevo (Figura 10) está localizado no Recife Antigo e teve seu projeto de restauração realizado pelo escritório Grau Arquitetura em parceria com a curadora Bia Lessa. No prédio, inicialmente funcionava a empresa Western Telegraph Company Limited desde sua construção em 1906 e, posteriormente, ficou abandonado até o ano de 1973. Em 1998, o prédio foi tombado, assim como outras edificações do perímetro urbano de valor histórico demarcado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 2009, em busca de recuperar a edificação, foi iniciada uma reforma que perdurou até o ano de 2013 e em 09 de fevereiro de 2014, dia do frevo, inaugurouse o Paço do Frevo. Figura 10: Paço do Frevo – Recife/PE.

Fonte: ArcoWeb, 2018.

O novo projeto trouxe uma proposta completamente oposta à que havia existido, ofertando uma nova função de ambiente cultural e expositivo aberto ao público. Dessa forma, o prédio hoje, além de receber uma exposição permanente sobre a história do Frevo, possui uma escola de dança, salas para oficinas, uma escola de música, área para exposições temporárias e uma rádio. A edificação se divide em quatro pavimentos, o térreo e o último andar recebem exposições permanentes sobre o frevo. No térreo, logo na entrada do edifício, tem-se


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uma sala com a linha do tempo contando a história do frevo e o seu desenvolvimento (Figura 11). Figura 11: Sala com linha do tempo sobre a história do frevo (exposição permanente).

Fonte: Acervo da autora, 2019.

O 1° e o 2° andar possuem as escolas de dança e música, salas de oficina, uma rádio e um espaço para exposições temporárias, na qual, no dia da visita, estava abrigando uma exibição sobre o carnaval (Figura 12). Figura 12: Exposição temporária sobre o carnaval.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


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Dessa forma, mesmo o prédio necessitando de modificações para receber o novo uso, é clara a preocupação que existiu em respeitar a edificação ao preservar a estrutura interna e externa, havendo apenas modificações de cor na fachada original e um acréscimo de 50m² de área construída. Assim, essa edificação foi escolhida como estudo de referência por somar como aprendizado devido aos seguintes aspectos: 

Projeto de reuso que respeita a construção original

Preservação da estrutura interna e externa

Salas voltadas para exposições permanentes e temporárias

2.2. ESTUDOS INDIRETOS 2.2.1. Google Campus São Paulo O prédio que comporta o espaço do Google em São Paulo, foi inaugurado em 2016 e abrange uma área total de 4.200 m². O projeto é autoria do escritório brasileiro SuperLimão Studio e divide-se em dois tipos de espaços: os destinados a parceiros e empresas selecionadas pelo Google que delimitam os três primeiros pavimentos, e, os pisos abertos ao público que compreendem o quinto e o sexto pavimento (Figura 13). Figura 13: Zoneamento do Google Campus SP por andar.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/


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Os dois últimos pavimentos, nomeados de Campus Café, funcionam como um

coworking aberto ao público, onde qualquer pessoa pode utilizar de forma gratuita como espaço de trabalho, necessitando apenas de um cadastramento prévio. Para esse estudo de caso, o enfoque será realizado com base nos dois últimos pavimentos, pois eles abrangem um uso compatível com a proposta de intervenção presente nesse trabalho e uma escala mais aproximada com a que está sendo trabalhada. Dessa forma, realizando uma análise mais ampla, o Campus Café conta, no quinto pavimento, com bancadas para trabalho (Figura 14), cabines com isolamento acústico para ligações privadas (Figura 15), espaço de convivência com poltronas individuais (Figura 16) e uma “área de silêncio” para trabalhos mais reservados que necessitem de um espaço silencioso (Figuras 17). Figura 14: Bancadas de trabalho.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/


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Figura 15: Cabines telefônicas com tratamento acústico.

Fonte: https://followthecolours.com.br/cooltura/google-campus-sao-paulo/ Figura 16: Poltronas individuais em área de convivência.

Fonte: https://tecnoblog.net/196632/google-campus-sao-paulo-espaco-trabalho/


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Figura 17: Área de silêncio.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/

Ainda no quinto andar, encontra-se uma ampla área de convivência, nominada como “área de descompressão” (Figura 18), contando com sofás, espaço de jogos e algumas mesas. Assim, nesse pavimento, é possível trabalhar, se relacionar com outros membros e ter um local de descontração e intervalo do trabalho. Figura 18: Área de descompressão.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/


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Já o último pavimento, possui um café, mesas e um terraço com bancos em madeira (Figuras 19 e 20). Dessa forma, é possível contar, principalmente, com áreas voltadas para a convivência, troca de conhecimento e informações ao ter um espaço que promova a comunicação e socialização entre os membros. Além disso, as mesas presentes nesse pavimento permitem que as pessoas trabalhem de forma mais leve e descontraída. Figura 19: Área do último pavimento.

Fonte: https://tecnoblog.net/196632/google-campus-sao-paulo-espaco-trabalho/ Figura 20: Terraço do último pavimento.

Fonte: https://www.hypeness.com.br/2016/06/google-oferece-espaco-de-coworking-gratuito-em-saopaulo/


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O Google Campus de São Paulo atingiu em 2017 a marca de 85 mil membros (Estadão, 2017), se tornando um dos maiores Campus do Google. De acordo com entrevista realizada para o Estadão3, o diretor geral do local afirmou: Esse número mostra para nós que há uma demanda reprimida por espaços em São Paulo. (BARRENCE, André, 2017)

Além disso, o Campus Café conta com pelo menos 600 pessoas que passam pelo local para trabalhar e/ou em busca de um local de interação e troca de informações com outras pessoas. Sobre a proposta projetual, o escritório responsável, SuperLimão Studio buscou trazer uma decoração que é “inspirada no conceito “selva de pedra” e contém diversos elementos da cultura paulistana. As salas de reuniões (Figura 21) apresentam a diversidade através das festas da cidade, como Viarada Cultural, Achiropita e Ano-Novo Chinês”. Assim, é possível ver em todo o projeto do Campus elementos urbanos de São Paulo, além de espaços com muito verde (Figura 22). Figura 21: Salas de reuniões temáticas apenas para parceiros do Google.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/

Disponível em: <https://link.estadao.com.br/noticias/inovacao,veja-como-e-por-dentro-o-googlecampus-sao-paulo,70001962359> acessado em: 15/08/2019 3


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Figura 22: Área de circulação vertical trazendo integração com o verde.

Fonte: http://www.superlimao.com.br/item/google-campus-sao-paulo/

Dentre os aspectos relevantes desse estudo de referência para o atual trabalho, o que chama a atenção é: 

A disposição dos espaços e o programa de necessidades

O uso de um mobiliário que incentiva a interação entre as pessoas, além de trazer descontração e bem-estar

A presença do verde em diversos espaços de todo o coworking

2.2.2. Galeria Metara (Rio de Janeiro/RJ) O espaço que abriga a Galeria Metara localiza-se na região portuária do Rio de Janeiro dentro da área hoje conhecida como Porto Maravilha, em uma edificação de valor patrimonial com 235m² e construída nos anos de 1870. O edifício já funcionou como gráfica e como curtume e em 2017 passou por um projeto de restauro para recuperar o prédio e receber o novo uso cultural. Esse projeto foi responsabilidade do escritório nomeado Ateliê de Arquitetura tendo como arquiteta responsável Elaine Fachetti. A escolha desse projeto para servir


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como estudo de caso se deu pelas semelhanças existentes entre ele e o trabalho atual, como o fato de se localizar em uma região portuária, ter uma escala mais aproximada com o edifício escolhido e se tratar de um projeto de reuso que se adaptou para receber um novo uso, nesse caso o cultural. O projeto final (Figura 23) buscou manter a volumetria e fachada original, porém, diferente do que será proposto nesse trabalho, a área interna foi completamente modificada (Figura 24). Assim, as paredes externas com tijolos de demolição foram mantidas, novas estruturas metálicas foram adicionadas contrastando com o já existente, o teto precisou ser reconstruído devido ao seu estado estrutural e o edifício ganhou um terraço no piso superior após a reforma. Figura 23: Fachada da Galeria Metara após o projeto de intervenção.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/875899/galeria-metara-porto-maravilha-atelie-de-arquitetura.


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Figura 24: Galeria Metara internamente após o projeto de intervenção.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/875899/galeria-metara-porto-maravilha-atelie-de-arquitetura.

Assim o novo uso do espaço trouxe no primeiro pavimento: um espaço de galeria, hall, banheiros e varanda. No pavimento superior: espaço para galeria e cursos, banheiro, copa, área de apoio e terraço. Já no mezanino, que fica entre os dois pavimentos é possível observar uma área de galeria (Figura 25). Figura 25: Imagem de corte da Galeria Metara mostrando os três pavimentos.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/875899/galeria-metara-porto-maravilha-atelie-de-arquitetura.


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Dessa forma, esse estudo de referência foi importante pelas semelhanças com a edificação escolhida no atual trabalho e, além disso, foi possível observar alguns pontos que irão agregar de forma positiva: 

Programa de necessidades

Uso de materiais que causam contraste entre o novo e o já existente

Preservação da volumetria original

Restauração da fachada respeitando as características originais

2.2.3. Casa 233 (Campina Grande/PB) A Casa 233 está localizada nas imediações do Centro Histórico da cidade de Campina Grande, foi construída nas primeiras décadas do século XX e passou por um Projeto de intervenção no ano de 2009 para receber o novo uso de escritório de arquitetura com autoria do escritório de arquitetura Vila Nova. Em 2017, o espaço passou a funcionar como coworking e local para a realização de atividades culturais. A

edificação

encontrava-se

com

partes

arruinadas,

modificadas

e

descaracterizadas. Um dos desafios do escritório responsável era adaptar o espaço para o novo uso e manter o máximo da construção original. Assim, após um diagnóstico, foram definidas as seguintes estratégias projetuais para a intervenção: 

Respeito aos tempos do edifício, através de técnicas, materiais e linguagens

Recomposição da volumetria original, com o aproveitamento das fundações existentes para a reconstrução do volume posterior

Mínimo de interferência na relação entre edifício e lote

Substituição e recuperação de pisos e pinturas

Integração entre os ambientes, com poucas alterações na configuração espacial apresentada e exploração do desenho de mobiliário

Máximo aproveitamento das esquadrias presentes no edifício, repintadas de azul para a sinalização da pré-existência


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Proteção da circulação lateral externa, com a inserção de marquise de concreto

Dessa forma, foram traçados os primeiros estudos de intervenção (Figura 26) e posteriormente, as estratégias definitivas (Figura 27). Figura 26: Estudos iniciais de intervenção para a Casa 233.

Fonte: http://vilanovaarq.com/casa-233/. Figura 27: Estratégias de intervenção definidas para a Casa 233.

Fonte: http://vilanovaarq.com/casa-233/.


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Com isso, a proposta final para a Casa 233 conta com: recepção, espaço de

coworking com 6 estações, ateliê, copa, banheiro, depósito e pátio com praça para em média 50 pessoas (Figura 28). Figura 28: Planta baixa de intervenção.

Fonte: http://vilanovaarq.com/casa-233/.

Outro fator importante nesse estudo de referência, foi a intervenção realizada na fachada, pois sua estrutura original e características ecléticas do século XX foram mantidas. Assim, a mesma foi restaurada e recebeu uma nova pintura e, além disso, as janelas pintadas de azul sinalizam as esquadrias originais, padrão esse que segue por toda a edificação (Figura 29). Figura 29: Antes e depois da fachada principal.

Fonte: http://vilanovaarq.com/casa-233/.


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A escolha desse estudo de referência se destacou por se tratar de uma intervenção em uma edificação de valor patrimonial que precisou ser remodelada para receber os novos usos. Essa semelhança com a proposta do atual trabalho foi de suma importância. Além desses pontos, alguns fatores serviram como forma de enriquecimento e referência projetual: 

Respeito com a edificação já existente

Programa de necessidades

Restauração da fachada original, mantendo sua estrutura e caracterização

2.3. SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA De acordo com os estudos de referência diretos e indiretos que foram realizados como forma de colaboração para o desenvolvimento desse trabalho, foi desenvolvido o Quadro 01 para apresentar uma síntese do que será levado em consideração e dos pontos mais relevantes de cada estudo de referência.


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Quadro 01: SĂ­ntese dos estudos de referĂŞncia.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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3. ESTUDOS INICIAIS 3.1. ANÁLISE DO TERRENO E DA EDIFICAÇÃO JÁ EXISTENTE As duas edificações que veem sendo abordadas nesse trabalho, localizam-se no bairro da Ribeira, na rua Chile, uma representada pelo número 88 e outra pelo número 864 (Figura 30). Ambas as edificações se encontram na área histórica da cidade de Natal e estão inseridas na poligonal de Tombamento do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Figura 30: Localização das edificação nº 88 e nº 86.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Numeração adotada de acordo com lógica de distribuição da Rua Chile, porém não foi possível a comprovação desse número. 4


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3.1.1. Edificação número 88 De acordo com um histórico elaborado pela SEMURB, a edificação número 88 foi construída por volta de 1944. Não se tem a informação de qual a funcionalidade inicial que definiu a edificação, mas sabe-se que nela teve o funcionamento do Centro Médico “Saúde do Porto”: No número 88 funcionou a Saúde do Porto, que encontrei administrada pelo Dr. Mário Lira e por onde passaram figuras como Dr. Feijó, Dr. Pelúsio Pinheiro de Melo e muitos outros. (ANDRADE, 1989 apud SAIPUGA/SEMURB, 2015).

Na década de 1980, mais precisamente em 1982, de acordo com registros da SAIPUGA/SEMURB, o prédio passa a servir de depósito para a União e, na segunda metade da década de 1980, recebe um anexo em sua fachada posterior (Figura 31). Figura 31: Situação atual da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015, adaptado pela autora, 2019.


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Registros anteriores, como as Cartas de 1979 e 1984 (Figura 32 e 33), comprovam que o anexo foi realmente construído posteriormente e não faz parte da estrutura original da edificação. Figura 32: Carta de 1979 com demarcação da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015. Adaptado pela autora, 2019. Figura 33: Carta de 1984 com demarcação da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015. Adaptado pela autora, 2019.


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Ainda, na década de 1990, o prédio serviu de gráfica para a União e após isso seguiu funcionando como depósito para a mesma. Já em 2018, o prédio é cedido pela Superintendência de Patrimônio da União (SPU) para o município. Dessa forma, o prédio hoje permanece pertencendo à SPU, porém quem está sob sua responsabilidade atual é a SEMURB. Sobre suas particularidades estéticas e volumétricas, o prédio possui características protomodernistas, trazendo uma simplicidade formal presente na primeira metade do século XX. Além disso, não se tem a presença de adornos que lembrem estilos passados e, ainda, é perceptível a predominância de linhas retas (Figuras 34, 35 e 36). Figura 34: Fachada da edificação nº 88.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


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Figura 35: Detalhes da fachada da edificação nº 88.

Fonte: Acervo da autora, 2019. Figura 36: Detalhes da entrada da edificação nº 88.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Ainda sobre suas características formais, pode-se notar que a edificação segue, em sua fachada frontal, o alinhamento existente na maioria das edificações da Rua Chile, caracterizado pela não existência de recuo e nem de calçadas. Além disso, sua construção atinge toda a delimitação do lote, ou seja, também não se tem a presença de recuos laterais e de fundo (Figura 37).


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Figura 37: Delimitação do lote da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015, adaptado pela autora, 2019.

Em relação a situação atual da edificação e seu estado de conservação, de acordo com um levantamento realizado pela SEMURB em setembro de 2015, a edificação apresentou algumas patologias como: fissuras, desgastes, acumulo de sujidades e manchas de fungos (Figuras 38, 39 e 40).


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Figura 38: Patologias encontradas na fachada da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015. Figura 39: Patologias encontradas no piso do pavimento térreo da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015.


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Figura 40: Patologias encontradas no piso do pavimento superior da edificação nº 88.

Fonte: SAIPUGA/SEMURB, 2015.

Levando em consideração essa análise realizada pela SEMURB e o tempo decorrido até a realização do atual trabalho, considera-se a situação presente da edificação semelhante à de tal análise, porém com alguns adicionais desgastes e danos ocasionados pelo tempo. Além das informações e dados já mencionados, um ponto relevante da edificação é sua conexão direta com o Rio Potengi. Sua fachada posterior encontra-se hoje murada e sua ligação com o rio apresenta um recuo maior quando comparado com suas edificações vizinhas (Figuras 41 e 42).


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Figura 41: Fachada posterior da edificação nº 88.

Fonte: Acervo da autora, 2019. Figura 42: Vista para o rio na fachada posterior da edificação nº 88.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


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Portanto, nota-se que a edificação se encontra em estado de abandono e deterioração, porém suas características originais e seu estilo protomodernista permanecem presentes e conservados. Dessa forma, o projeto de revitalização busca preservar suas características estilísticas, sua demarcação territorial e o máximo de esquadrias, pisos e paredes originais. Sendo eliminado apenas o que for necessário devido a fluxos e questões de conforto e acessibilidade, além da parte anexa que foi construída posteriormente e, portanto, não faz parte da construção original.

3.1.2. Edificação número 86 A edificação número 865 encontra-se localizada ao lado da edificação número 88. Provavelmente também foi construída entre o final do século XIX e meados do século XX. Porém o histórico e os dados sobre essa edificação são mínimos e imprecisos, resultando exclusivamente nas informações obtidas in-loco. A fachada dessa edificação encontra-se descaracterizada, não obtendo mais marcas de seu estilo. Nota-se que algumas modificações e ajustes que foram realizados ao longo dos anos e o resultado atual é uma edificação sem características marcantes e sem definição de seu estilo original (Figura 43).

Numeração adotada de acordo com lógica de distribuição da Rua Chile, porém não foi possível a comprovação desse número. 5


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Figura 43: Fachada da edificação nº 86.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Nessa edificação também é perceptível o alinhamento frontal com as outras edificações da Rua Chile, caracterizado pela inexistência de recuo frontal e de calçadas. Além disso, também é notória a ausência de recuos laterais e, o acesso a parte posterior da edificação, permitiu a observação da não existência de recuo de fundo. A edificação também apresentou um anexo que foi construído posteriormente e um deck em concreto que permite o acesso direto ao rio (Figura 44).


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Figura 44: Situação atual da edificação nº 86.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Atualmente, a edificação encontra-se sob domínio de uma empresa de pesca, porém permanece fechada desde o ano de 2006. Hoje seu funcionamento se restringe a depósito de maquinário pesqueiro e o acesso ao interior da edificação por completo está impossibilitado, pois internamente o prédio encontra-se fragmentado, com acúmulo excessivo de materias e sem energia elétrica. O único acesso possível foi pela edificação vizinha ao lado direito, que hoje mantem ligação direta com o prédio e, mesmo assim, foi praticável apenas o contato com a parte interna inicial (Figura 45), não sendo viável


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avançar mais de 3 metros dentro da edificação. Dessa forma, o estado atual e as divisões internas não puderam der observadas, mas é nítido que problemas de deterioração se encontram presentes. Figura 45: Situação interna da edificação nº 86.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Um ponto relevante dessa edificação, como na edificação nº 88, é a conexão direta com o rio. Nesse caso, como já foi mencionado, a ligação acontece atualmente pelo deck em concreto que foi construído posteriormente e era utilizado nas atividades pesqueiras que aconteciam no local (Figura 46). Seu uso hoje encontra-se quase nulo, pois o uso principal é do deck posterior as edificações vizinhas que pertencem a mesma empresa pesqueira (Figura 47).


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Figura 46: Conexão do deck com o rio.

Fonte: Acervo da autora, 2019. Figura 47: Deck posterior da edificação nº 81.

Fonte: Google Maps, adaptado pela autora, 2019.


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Portanto, nota-se que a edificação se encontra sem uso e, devido a todas as modificações já sofridas no decorrer dos últimos anos, não se tem mais características originais de seu estilo. Dessa forma, busca-se nesse trabalho trazer para esse espaço uma nova edificação que funcione como anexo e complemento para a edificação nº 88, porém é de intuito principal manter as características territoriais existentes, não modificando recuos e nem limites de área e gabarito.

3.2. ANÁLISE DO ENTORNO Para a análise do entorno imediato, foi elaborado, primeiramente, um mapa de uso do solo (Figura 48). Através dele foi possível perceber a pouca diversidade de usos presentes na Rua Chile, com predominância de lotes voltados para serviços ou lotes sem uso. Também foi elaborado um mapa de gabarito (Figura 49), mostrando que as edificações, em sua maioria, possuem até 8 metros de altura, porém também é notória uma parte relevante que possui um gabarito entre 8 e 12 metros, como as duas edificações escolhidas para o atual trabalho. Figura 48: Mapa de uso do solo do entorno.

Fonte: SEMURB, adaptado pela autora, 2019.


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Figura 49: Mapa gabarito do entorno.

Fonte: SEMURB, adaptado pela autora, 2019.

Também é relevante mencionar a arquitetura e os estilos presentes nas edificações da Rua Chile (Figura 50). Dessa forma, nota-se a presença de edificações com estilos passados distintos, como protomodernistas, ecléticas, neoclássicas e coloniais. Figura 50: Edificações presentes na Rua Chile.

Fonte: Google Street View, 2019.


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3.3. CONDICIONANTES AMBIENTAIS Levando em consideração que Natal se encontra na zona bioclimática 8 e possui um clima caracterizado por ser quente e úmido, buscou-se encontrar soluções de conforto ambiental coerentes com a localização e com o contexto em que a edificação se insere. Para isso, foram realizados dois estudos: um em relação a ventilação predominante no terreno e outro em relação a incidência solar no mesmo. O primeiro estudo realizado, mostrou que a ventilação predominante está entre Sul e Leste (Figura 51). Dessa forma, a maior incidência de ventos será na fachada principal, a qual deverá ser contemplada por estratégias projetuais que permitam uma permeabilidade para a passagem da ventilação. Figura 51: Rosa dos Ventos predominantes nos terrenos.

Fonte: SEMURB e Projeteee.com, adaptado pela autora, 2019.

Outro estudo realizado, agora sobre a trajetória solar (Figura 52), permitiu perceber que o maior impacto solar se dá a Oeste, que sofrerá com o Sol da tarde. Assim, a fachada posterior precisará de soluções que tragam proteção e diminuam o impacto dessa incidência solar.


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Figura 52: Trajetória Solar nos terrenos.

Fonte: SEMURB e Projeteee.com, adaptado pela autora, 2019.

3.4. CONDICIONANTES LEGAIS Para o desenvolvimento do projeto, foi necessária a realização de consultas da legislação vigente e também de instrumentos de ordenamento urbano da cidade de Natal. Assim, considera-se o Plano Diretor de Natal (Lei complementar n° 082, de 21 de junho de 2007), o Código de Obras de Natal (Lei complementar nº 055, de 27 de janeiro de 2004), o Código de Segurança e Preservação contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte (Lei nº 4436) e as normas de acessibilidade da NBR 9050-2015 pela ABNT. Além disso, sabendo que as edificações se localizam na área histórica a cidade, na poligonal de tombamento do IPHAN e na Zona Portuária, também se considerou normativas vigentes ou que já incidiram nesse local permitindo uma discussão acerca de intervenções em edificações de valor patrimonial, são elas: Zona Especial de Preservação Histórica (Lei nº 3.942, de 09 de julho de 1990), Zona Especial Portuária (Lei nº 4.069, de


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21 de maio de 1992), Operação Urbana Ribeira (Lei complementar nº 079, de 04 de janeiro de 2007) e a Portaria nº 420 de 22 de dezembro de 2010. Sabendo dessas normativas especificas já citadas, é valido enfatizar que essas normas se enquadram como preferenciais quando comparadas com normativas que incidem em toda a cidade como o Plano Diretor e o Código de Obras. Dessa forma, grande parte dos aspectos legais trabalhados e refletidos na intervenção são baseados na condição histórica da área e da edificação. Levando em conta apenas aspectos gerais das normativas que não são especificas para a característica histórica citada.

Plano Diretor de Natal (Lei complementar n° 082, de 21 de junho de 2007) De acordo com as diretrizes da normativa do Plano Diretor de Natal, e sabendo

que o terreno do edifício que receberá a proposta de intervenção localiza-se no bairro da Ribeira, com sua fachada principal voltada para a Rua Chile, tem-se essa área como uma Zona Adensável. Dessa forma, o bairro da Ribeira, que se encontra na Região administrativa Leste, possui um coeficiente de aproveitamento equivalente a 3,0 (Quadro 02). Quadro 02: Coeficiente máximo de aproveitamento.

Fonte: Plano Diretor de Natal, 2007, adaptado pela autora, 2019.


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Código de Obras de Natal (Lei complementar nº 055, de 27 de janeiro de 2004)

Com base no Código de Obras de Natal, a Rua Chile, única rua ligada a uma das fachadas da edificação, é classificada como uma Rua Local. Assim, de acordo com a categorização dessa via e o novo uso proposto para a edificação, determinado pelo Código de Obras como tipo 06 (edifício para prestação de serviço geral), é necessária uma vaga para cada 45m², porém, como se trata de uma edificação histórica, a obrigatoriedade de área para estacionamento é dispensada de acordo com o Art. 124 que diz: “ Pode ser dispensada a reserva de área para estacionamento e guarda de veículos, nos seguintes casos: [...] VI - Imóveis tombados ou de interesse histórico, cultural e artístico, independente do uso pretendido.” Além disso, de acordo com o Código de Obras, no Capítulo III e no Capítulo IV tem-se definições de acerca do dimensionamento mínimo dos ambientes e de questões de iluminação e ventilação, respectivamente. Ainda, no Capítulo V, tem-se questões referentes a acessibilidade, como o Art. 158: Todos os logradouros públicos e edificações públicas ou privadas de uso coletivo, devem garantir o acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, atendendo as seguintes condições e de conformidade com as normas da ABNT: I - observar a compatibilidade entre a altura para a colocação de dispositivos de controle/acionamento de equipamentos e sua utilização por pessoas de menor estatura e em cadeira de rodas; II – dimensionar espaços compatíveis com a adequada circulação de pessoas que fazem uso de instrumentos de apoio, tais como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas, tripés e cães de guia; III - utilizar materiais de piso com características diferenciadas nas circulações, tanto para facilitar a orientação de pessoas com problemas visuais, quanto para demarcar elementos de maior interesse, como extintores de incêndio, telefones públicos, lixeiras e similares; IV - dimensionar adequadamente patamares, degraus, escadas, rampas, guias de balizamento e circulação; V – dimensionar corretamente as aberturas, como sejam, portas, janelas e passagens diversas; VI - reservar assentos para portadores de necessidades especiais nos locais destinados a reuniões ou aglomerações, conforme recomendado pela ABNT; VII - prever vagas específicas para portadores de necessidades especiais em estacionamentos, dimensionadas e quantificadas de acordo com a ABNT [...] (Código de Obras de Natal, 2004, Art. 158).


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Porém, nesse Artigo, um Parágrafo único traz uma condição especial para edificações históricas: “Tratando-se de prédios históricos ou tombados pelo Patrimônio Público, a adaptação ou alteração da estrutura para a compatibilização das exigências contidas no caput deste artigo só é permitida com a prévia aprovação do órgão municipal de licenciamento e controle”. Dessa forma, as modificações buscam respeitar as normativas e as condições históricas e assim, as mínimas alterações internas que serão realizadas acontecem a fim de obedecer às dimensões mínimas e questões de fluxo.

Código de Segurança e Preservação contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte (Lei nº 4436)

Também é importante considerar as determinações do Código de Segurança e Preservação contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte que classifica a edificação de acordo com o uso como “reunião pública”, devendo seguir certas diretrizes dessa determinação conforme o Art. 12: III- deverá dispor de renovação de ar ambiente através de ventilação natural; VI ambientes com mais de 100 lugares, além das aberturas normais de entrada, deverão dispor de saídas de emergência com largura mínima de dois metros e vinte centímetros (2,20m), acrescendo-se uma unidade de passagem (cinqüenta e cinco centímetros) para excedentes de 100 pessoas; VII - edificações com mais de um pavimento terão escadas com largura mínima de um metro e sessenta centímetros (1,60m), para público de até 200 pessoas, acrescendo-se uma unidade de passagem de cinqüenta e cinco centímetros (0,55 m), para excedentes de 200 pessoas; VI- é obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas, em material resistente, evitando-se quedas acidentais.


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NBR 9050-2015 pela ABNT

Também se necessita da NBR 9050 que trata da acessibilidade universal e possibilita a busca por uma edificação mais acessível a todos os usuários. Assim, para um melhor desenvolvimento projetual da intervenção, considerou-se essa norma para melhorar a mobilidade do ambiente, torna-lo mais democrático e convidativo ao público em geral. Porém, para a edificação patrimonial, precisou-se conciliar a norma ao caráter histórico do edifício pois busca-se manter ao máximo suas características originais.

Zona Especial de Preservação Histórica (Lei nº 3.942, de 09 de julho de 1990)

Levando todas essas normativas em consideração, foi necessário, também, respeitar o fato da edificação estar inserida na Zona Especial de Preservação Histórica (ZEPH), cuja suas particularidades abrangem parâmetros especiais para as condicionantes projetuais. A ZEPH visa a “preservação de prédios e sítios notáveis pelos valores históricos, arquitetônicos, culturais e paisagísticos” e divide-se em quatro Sub-zonas, onde as edificações aqui trabalhadas se inserem na SZ-4. A ZEPH engloba alguns regulamentos específicos, como questões sobre recuos, gabaritos e índices urbanísticos (Quadro 03), como a determinação de que a edificação deve ter altura máxima de dois pavimentos.


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Quadro 03: Quadro de prescrições urbanísticas para a SZ-4.

Fonte: Lei nº 3.942, 1990.

Zona Especial Portuária (Lei nº 4.069, de 21 de maio de 1992)

A normativa da Zona Especial Portuária (ZEP) abrange uma área próxima as margens do Rio Potengi e divide esses limites em duas Zonas. De acordo com essa divisão, as edificações analisadas encontram-se na SZ-2 e devem respeitar algumas condições dessa Sub-zona, como gabarito máximo de 2 pavimentos e a não obrigatoriedade de recuos laterais e de fundo (Quadro 04). Quadro 04: Quadro de prescrições urbanísticas para a SZ-2.

Fonte: Lei nº 4.069, 1992.


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Operação Urbana Ribeira (Lei complementar nº 079, de 04 de janeiro de 2007)

A Operação Urbana Ribeira (OUR) entrou em vigor em 2007 e surtiu seus efeitos durante 6 anos após a publicação. Mesmo esta normativa não estando mais vigente, é válida a sua análise devido à ausência de normas mais especificas e recentes para a área. Dessa forma, além de outras premissas, um dos objetivos da OUR é a valorização do patrimônio histórico, artístico e cultural e a melhoria da infra-estrutura do bairro. Ainda, essa norma apresenta alguns “incentivos fiscais para realização de investimentos na restauração, recuperação e manutenção do patrimônio construído” e algumas prescrições urbanísticas para essa área (Quadro 05). Quadro 05: Quadro de prescrições urbanísticas da OUR.

Fonte: Lei complementar nº 079, 2007.

Portaria nº 420 de 22 de dezembro de 2010

A portaria nº 420 entra como normativa de grande importância por ser um documento do IPHAN utilizado para guiar intervenções em edificações de valor


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patrimonial. Nesse documento, é possível analisar, para efeitos de autorização pelo IPHAN, as diferentes categorias de intervenção, como: Reforma simplificada, Reforma/Construção Nova, Restauração, Colocação de Equipamento Publicitário ou Sinalização e Instalações provisórias. Além disso, essa normativa apresenta alguns cuidados e exigências que um projeto, de acordo com sua categoria de intervenção, deve seguir e, também, enfatiza a importância da análise e da aprovação projetual pelo IPHAN. Após a apresentação das normas vigentes e relevantes para a realização de um projeto na área que está sendo estudada, é válido ressaltar a inexistência de normas bem definidas para a poligonal de tombamento. As normativas aqui avaliadas ajudam e norteiam a elaboração projetual, porém é clara a necessidade de diretrizes que guiem de forma mais esclarecedora intervenções em edificações de valor patrimonial. Dessa forma, busca-se nesse trabalho, seguir todas as possíveis normas e, na falta de um regulamento mais especifico, todas as modificações e anexos adicionados irão respeitar a edificação histórica e o seu entorno como já foi esclarecido anteriormente. Além disso, procura-se manter índices urbanísticos e gabaritos já existentes, não intervindo e nem ultrapassando esses dados. Portanto, é preciso compreender e ressaltar que cada edificação deverá seguir os regulamentos vigentes na cidade e na área histórica, mas levando em consideração as suas particularidades que deverão ser analisadas juntamente com o IPHAN, recebendo seu acompanhamento, consentimento e aprovação.

3.5. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO O edifício Conecta Ribeira foi pensado desde o início para ser, principalmente, um espaço que seguisse a dinâmica do bairro, valorizasse a edificação histórica, permitisse um espaço de cultura para a população local, tivesse o máximo de aproveitando ao


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funcionar durante todo o dia e que contribuísse com o crescimento de uma vida cultural noturna na Ribeira. A partir daí e dos demais estudos e análises que já foram apresentados, os dois usos propostos foram definidos como espaço colaborativo de trabalho e espaço para atividades culturais. Dessa forma, para o primeiro uso, espaço colaborativo de trabalho (coworking), a ideia é ter um local que funcione por todo o horário comercial, proporcione uma estrutura completa de trabalho para os usuários e um espaço que seja possível a realização de eventos e workshop. Assim, o espaço de coworking contará com salas de reuniões, área de trabalho privada e informal, área de descanso, cabines telefônicas, área para armários e copa coletiva. Para o segundo uso, centro cultural, o intuito é ter um espaço de lazer que contemple local para eventos de pequeno e médio porte. Além disso, salas para exposições e oficinas, que foram adaptadas para funcionarem na parte histórica da edificação como forma de gerar movimentação e valorização, agregar valor histórico e cultural e manter mínimas as modificações na estrutura existente do prédio. O edifício contará ainda com espaços de uso comum que irão funcionar em todos os horários de abertura do prédio e os espaços de apoio que irão se replicar no térreo e no primeiro pavimento. Assim, o funcionamento previsto para essa edificação é de dia atividades voltadas para o trabalho e algumas atividades de pequeno ruído, como o café, salas de exposições e oficinas, já a noite, o funcionamento seria voltado para o uso cultural e atividades de maior ruído, contando com a realização de shows e eventos. Portanto, o programa de necessidades e pré-dimensionamento (Tabela 01) foi elaborado elencando as necessidades analisadas nos estudos de referência, tanto diretos como indiretos, e de acordo com os objetivos propostos. Ainda, contribuiu para as próximas etapas de elaboração do Anteprojeto e passou por pequenas adaptações necessárias em relação ao dimensionamento dos ambientes.


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Tabela 01: Programa de necessidades e prĂŠ-dimensionamento.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 4.1. CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO O conceito desse projeto foi pensado a partir dos objetivos do trabalho e das estratégias projetuais e de funcionalidade que desejava-se obter na proposta final. Também foi levado em consideração a condição histórica da edificação e a ideia de criar um anexo que se conectasse à edificação histórica existente. Além disso, era importante um conceito que traduzisse algumas ideias principais da proposta, são elas: conectar a edificação com o entorno natural, conectar os usos propostos e conectar o usuário com o meio, no sentido de apropriação do espaço Dessa forma, como resultado, chegou-se ao conceito de “conexão” (Figura 53), uma ideia que vai ser refletida nas estratégias projetuais e como forma de valorização da parte histórica. Figura 53: Conceito “conexão”.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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A partir do conceito, foi possível chegar ao partido arquitetônico, nele é possível perceber o reflexo da conexão, como forma e como função, em vários aspectos. Primeiramente, como solução formal, tem-se como partido a “forma” da conexão, representada pela ligação de pontos e elementos geométricos triangulares. Essa característica irá aparecer fortemente na fachada principal, como um painel que marca a entrada do novo anexo e representa a relação entre o antigo e o novo, vindo ainda como um elemento complementar a edificação existente, porém marcando a ideia de figura e fundo, representada pelo prédio histórico e o painel, respectivamente (Figura 54). Figura 54: Estudo da fachada.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O conceito também será replicado no projeto como solução funcional, por meio da ideia de conectar, através do zoneamento e dos fluxos, os aspectos explicitados a partir da parte conceitual do projeto. Primeiramente, o zoneamento foi pensado de maneira a conectar os usos, onde foram separados por pavimentos e posicionados de modo que se interligassem por escadas em pontos estratégicos, permitindo a conexão de cada uso específico e valorizando o fluxo de pessoas dentro da edificação. E, além disso, busca-se trazer um ambiente interno marcado pela permeabilidade visual. Assim, a conexão com o meio natural é representada por um ambiente interno


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com quase nenhuma estrutura que dificulte a visual do rio e, também, pela marcante presença do verde em diversos pontos, pelo uso de materiais que ajudem na permeabilidade visual, como o vidro, e espaços de convivência que permitem aos usuários experiências de contemplação do entorno, como o terraço/mirante no último pavimento.

4.2. ZONEAMENTO Partindo primeiramente dos estudos iniciais foi possível pensar o zoneamento da edificação e elaborá-lo de maneira a respeitar os elementos norteadores do projeto, representados nos objetivos, no conceito e no partido arquitetônico. Com isso, para poder realizar o zoneamento, foi feito também um estudo baseado no histórico das edificações nº 88 e nº 86, como já apresentado. Assim, foi possível definir o que seria mantido e o que seria demolido (Figura 55) para, posteriormente, pensar em um zoneamento que respeitasse e valorizasse a parte histórica preservada no projeto. Posto isso, a ideia é manter a edificação original que possui características históricas preservadas e demolir os anexos que foram construídos posteriormente por necessidades funcionais. Também será demolido o galpão representado pelo nº 86, pois, devido a diversas mudanças formais, sua fachada encontra-se completamente descaracteriza e sua demolição não irá prejudicar a integridade do conjunto.


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Figura 55: Mockup demolição e preservação das edificações.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A partir disso, foi pensada uma divisão de acordo com o uso e cada pavimento foi selecionado para abrigar, em geral, um uso específico. O primeiro pavimento abrange, prioritariamente, o espaço cultural, tendo também algumas áreas de uso comum e apoio. Já o segundo pavimento, é voltado para o coworking, possuindo também um bloco de apoio e um acesso direto para o edifício histórico. E, por fim, o terraço/mirante que se encontra no último pavimento é direcionado para ser uma área de uso comum e contemplação do entorno.


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Figura 56: Zoneamento da edificação.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Outro ponto relevante é que o prédio histórico a ser mantido receberá o uso cultural, englobando espaços como sala de exposições e de oficinas, assim, esse uso vem como um meio de valorização e conexão da história com a cultura. Por fim, também é importante ressaltar a ideia de adicionar três novos pontos de circulação vertical, são eles: uma escada que ligará os três pavimentos, uma escada que irá conectar o térreo com o terraço, ou seja, os pavimentos de uso comum e, por último, uma plataforma para atender a questões de acessibilidade e inclusão.


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4.3. EVOLUÇÃO FORMAL As primeiras soluções projetuais que começaram a dar forma ao projeto partiram do conceito, partido arquitetônico e zoneamento. Primeiramente, como já explicitado, a fachada principal aparece como partido do projeto e representação formal do conceito. Além disso, essa concepção é pensada de forma a trazer um contraste entre o antigo e o novo, porém como algo sutil e deixando presente a ideia de figura e fundo. Com isso, o gabarito da nova edificação é idealizado para que não ultrapasse o do edifício histórico que será mantido (Figura 57). Vale ressaltar que a edificação que se encontrava anteriormente possuía um gabarito mais elevado, porém, se esse gabarito fosse mantido, o resultado seria uma nova edificação que se igualasse a antiga e se tornasse um elemento de disputa estética, trazendo uma relação diferente da que se pretendia atingir. Figura 57: Gabarito original e gabarito modificado.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Além disso, nota-se que o elemento da fachada nova mantém o alinhamento frontal da edificação anterior, de forma a dar continuidade a característica das edificações da rua Chile marcadas pela ausência de recuo. Procura-se ainda, enfatizar a estrutura concebida como, além de um elemento de contraste, um elemento conector entre a antiga edificação e a nova. Dessa forma, cria-


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se um espaço de transição, representado por um jardim, que irá demarcar a passagem para o novo anexo (Figura 58). Figura 58: Representação esquemática em planta do espaço de transição.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Dando continuidade à concepção estética da fachada frontal, foi realizado um estudo de cores e materiais de forma a encontrar um material que contrastasse com o antigo, trouxesse personalidade e, ainda, tons que se enquadrassem ao da edificação existente, pois busca-se manter as cores presentes na fachada atual (Figura 59). Dessa forma, o aço corten surge como material que atende as premissas e, além disso, a sua oxidação natural permite a despreocupação com manutenções e ajustes para proteção. Assim, esse material se fará presente nos elementos marcantes e escultóricos da edificação.


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Figura 59: Estudo de cor para a fachada com o aço corten.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Após a concepção da fachada frontal e das definições já propostas, foi possível definir outros elementos formais. Assim, os principais componentes conectivos responsáveis pela circulação vertical e estabelecidos no zoneamento, admitem, além de uma característica funcional, uma representação formal e marcante na edificação (Figura 60). Figura 60: Principais elementos de conexão vertical.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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As duas escadas assumem a função de conexão física entre os usos, porém, de formas distintas, ou seja, a escada central é responsável por interligar os três pavimentos e a escada posterior assume papel conector entre o térreo e o último pavimento (terraço/mirante), como forma de anular o coworking nos horários de não funcionamento. Ainda, a escada posterior passa então a compor a fachada e se tornar o seu principal elemento formal (Figura 61). Figura 61: Estudo de escada na fachada posterior.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Para representar a conexão entre o edifício e o entorno, três soluções foram propostas. Primeiramente, a planta foi pensada de forma a manter uma ligação visual direta com o rio e seu entorno, permitindo sua visualização desde a entrada da edificação (Figura 62).


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Figura 62: Estudo de visual para o rio em planta baixa.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Também foi pensado, como já explicitado, o terraço/mirante no último pavimento. Essa solução aparece de modo a proporcionar aos usuários uma área de convivência aberta com contemplação da vista para o rio (Figura 63). O espaço será voltado para ser de uso transitório, como de convivência e mirante, sem estruturas construídas fixas, a fim de respeitar a legislação vigente.


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Figura 63: Estudo de proposta de mirante com vista para o Rio Potengi.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Representado como último elemento conector da edificação e do entorno, o uso do verde aparece em diversos locais internos como forma de levar características naturais para o interior do prédio. Ele também foi pensado de modo a demarcar o limite original entre as duas edificações (Figura 64). Figura 64: Uso do verde na edificação.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Por fim, após as primeiras ideias definidas, alguns elementos foram adicionados posteriormente devido a necessidades funcionais, construtivas e de conforto. Essas soluções aparecem na proposta final explicitada no item seguinte.

4.4. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO Neste item serão apresentadas as soluções finais para a proposta de intervenção como forma de complemento do trabalho e como meio de contribuir com o entendimento do resultado final. Assim, o item apresenta soluções funcionais, construtivas e de conforto ambiental.

4.4.1. Soluções funcionais Após a definição do zoneamento inicial e de acordo com o programa de necessidades e pré-dimensionamento, realizou-se a divisão de cada ambiente de acordo com seu setor e suas relações funcionais. Assim, o edifício se divide pelas zonas: uso comum, espaço cultual, apoio e coworking. De forma geral, como já citado, a edificação foi dividida verticalmente de acordo com os usos, sendo o primeiro piso voltado, prioritariamente, para o espaço cultural e uso comum, o segundo piso para o coworking e o último piso como uso comum. Com isso, no primeiro pavimento (Figura 65) tem-se recepção, café/bar, área para eventos, deck, bloco de apoio com banheiros e depósito, sala administrativa e sala de exposição. O acesso principal se dá pela entrada do novo edifício e a distribuição dos ambientes é dada de forma mais integrada, na qual as separações do espaço central não são demarcadas por estruturas fixas no interior do prédio e sim pela definição do layout.


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Figura 65: Planta baixa pavimento térreo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

No segundo pavimento (Figura 66), o uso principal é o coworking, composto pelos seguintes ambientes: área de trabalho informal e workshop, sala de interação e descanso, salas de reuniões, área de trabalho coletivo, cabines telefônicas e espaço de armários. Também foi locado nesse pavimento um bloco de apoio e salas de exposição, cursos e oficinas localizadas na parte histórica do edifício.


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Figura 66: Planta baixa pavimento superior.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O último pavimento (Figura 67) é composto pelo terraço/mirante e funciona como um espaço de uso comum e temporário.


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Figura 67: Planta baixa terraço/mirante.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Os três pavimentos se conectam pelas escadas, resultando em um importante fluxo vertical. O fluxo de cada pavimento funciona de forma diferente, no primeiro e no último nota-se uma passagem mais livre. Já no pavimento intermediário, tem-se a presença de corredores que funcionam para setorizar, de forma sútil e não hierárquica, o espaço do coworking. Porém, como meio de manter a ideia de um ambiente aberto, foram utilizadas esquadrias e divisórias em vidro que permitem a permeabilidade visual e a sensação de um espaço totalmente integrado. Além disso, com a reforma realizada no edifício histórico foi possível criar, ainda no segundo pavimento, um acesso direto da antiga edificação com a nova (Figuras 68, 69 e 70).


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Figura 68: Fluxos do pavimento tĂŠrreo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019. Figura 69: Fluxos do pavimento superior.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Figura 70: Fluxos do terraço/mirante.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Em relação aos acessos da edificação, o acesso principal (Figura 71) se dá pela construção nova. A entrada do edifício histórico funcionará como acesso secundário, a ser utilizado eventualmente caso haja alguma necessidade. Dessa forma, o controle do acesso é facilitado e questões de acessibilidade são ajustadas, já que a nova entrada se encontra no nível da rua e a edificação histórica possui um desnível que foi mantido. No centro da construção, como já exposto nos itens anteriores, os acessos aos pavimentos se dão pelas circulações verticais, assim, se tem: uma escada que se conecta aos três pavimentos, uma escada que conecta o primeiro pavimento e o terraço, uma plataforma acessível que interliga os três pavimentos e uma escada localizada no prédio histórico que se manteve preservada.


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Figura 71: Acesso principal da edificação.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Por fim, se tem uma proposta para o mobiliário do terraço/mirante. Ele foi pensado para atender a particularidade desse espaço, que foi proposto para não possuir elementos fixos e ser de uso temporário. Com isso, o mobiliário idealizado (Figura 72) funciona como módulo e permite que o layout do espaço seja modificado e assim, atenda a função de um ambiente livre para convivência e como mirante. Figura 72: Esquema de mobiliário idealizado em madeira plástica.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Sobre o material escolhido, optou-se pela madeira plástica (Figura 73), pois é necessário que o resultado final seja um módulo leve para proporcionar suas diferentes diagramações (Figura 74 e 75) e com resistência para permanecer em espaço aberto, além disso, esse material ainda se caracteriza por ser uma opção sustentável. Nota-se ainda que o mobiliário foi pensado para possuir a mesma ideia de formas geométricas definidas no conceito e partido arquitetônico. Figura 73: Madeira plástica.

Fonte: Disponível em Ecopex. Figura 74: Uso do mobiliário no terraço.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Figura 75: Diferentes formas de uso do mobiliário.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

4.4.2. Soluções construtivas O sistema estrutural escolhido para compor a edificação foi uma estrutura metálica, pois o objetivo era se ter uma construção que se distinguisse da existente e que possuísse uma maior liberdade construtiva a fim de permitir grandes vãos e manter a ideia projetual de se ter uma planta livre com obstrução física e visual mínima. Os pilares e vigas da nova construção foram dimensionados com 30cm x 15cm e espaçados de forma variada, não seguindo modulações (Ver Figura 76). Entende-se que esse dimensionamento foi realizado para o Anteprojeto e seu lançamento final provavelmente sofreria alterações. Além disso, esses elementos estruturais devem receber tratamento específico, como pintura anticorrosiva, para que não sofram interferências externas e não apresentem problemas de manutenção.


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Figura 76: Esquema de estrutura metálica a ser adicionada.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A laje adotada foi a steel deck (Figura 77) e dimensionada com uma espessura total de 15cm. As vedações internas foram variadas, no bloco de apoio as paredes são em drywall (Figura 78) e no espaço do coworking em vidro. Além disso, os banheiros e depósito do primeiro pavimento e parte do segundo pavimento (anula-se a área de


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trabalho informal) receberam um forro de gesso como forma de trazer melhor acabamento para as vedações. Figura 77: Detalhe de laje Steel Deck.

Fonte: Disponível em Galvanisa. Figura 78: Corte esquemático de parede em DryWall.

Fonte: Disponível em Viva Decora.


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Com relação as esquadrias, as do prédio histórico foram mantidas, suas janelas são em madeira e algumas também contém vidro, já as portas são todas em madeira e possuem, em sua maioria, bandeirolas. Foi retirado apenas uma esquadria desse prédio, a janela que se localizava na parede demolida para criação de acesso ao novo prédio no segundo pavimento. Sobre as novas esquadrias, foram utilizadas janelas e portas em vidro e alumínio, apenas as portas do bloco de serviço são em madeira.

4.4.3. Soluções de conforto ambiental Com o intuito de trazer para a edificação mais ventilação, luz natural e sombreamento (onde necessário) alguns elementos foram adicionados e outros pensados de forma a se adaptar e contribuir no conforto dos usuários. Primeiramente, como solução de sombreamento, foi adicionado um pergolado no terraço (Figura 79). O intuito é que sirva de proteção para a parte aberta da escada e como área de sombreamento para quem utilizar o espaço de convivência. Figura 79: Pergolado adicionado no terraço.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Essa opção foi escolhida como uma forma de solucionar questões de conforto e não ir de encontro com a legislação vigente ao se tratar de um elemento independente.


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Além disso, o pergolado foi adicionado de forma a não ser visualizado por quem passa pela Rua Chile e assim não interferir na leitura da fachada da edificação histórica, mantendo a integridade da paisagem no nível do observador/transeunte (Figura 80). Figura 80: Esquema da relação entre o campo de visão do pedestre e o pergolado.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Outra solução de sombreamento proposta e pensada desde o início da concepção é o avanço da laje do último pavimento. Essa proposta vem como uma forma de garantir uma proteção para o pavimento intermediário que abriga o coworking. Além disso, ainda para proteger esse pavimento intermediário, foram adicionados brises verticais na fachada posterior aumentando o sombreamento (Figura 81). Também foi pensada uma solução para as esquadrias do coworking como forma de contribuir na ventilação e iluminação natural, assim, elas serão em vidro e irão possuir na parte superior uma janela maxim-ar que permitirá a circulação da ventilação nesse pavimento (Figura 81).


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Figura 81: Soluções de conforto adotadas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Portanto, a fluxo de ventilação na edificação (Figuras 82, 83 e 84) irá ocorrer de forma mais livre no primeiro pavimento e no terraço devido à ausência de grandes barreiras construtivas. Já no pavimento intermediário, apesar da maior presença de divisórias, a abertura vertical e as janelas maxim-ar propostas irão garantir a circulação da ventilação. Figura 82: Fluxo de ar no pavimento térreo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Figura 83: Fluxo de ar no pavimento superior.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019. Figura 84: Fluxo de ar no pavimento terraรงo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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4.4.4. Reservatório d’água Para o cálculo da capacidade do reservatório de água foi levado como base as considerações de Hélio Creder (2006). De acordo com o autor, deve ser considerado o uso da edificação e a quantidade de usuários para chegar a uma estimativa de consumo. Assim, foi definido o valor de 50L/pessoa de acordo com o uso de “Edifícios públicos ou comerciais”. O reservatório também deve prever e suprir dois dias de falta de água, além da reserva de incêndio referente a um acréscimo de 20% sobre o valor total. Para o cálculo foram considerados 220 usuários, também baseado na tabela de Creder (2006). Com isso, tem-se: 220 pessoas x 50 litros = 11.000 litros 11.000 litros x 2 dias = 22.000 litros 22.000 litros + 4.400 litros (reserva de incêndio) = 26.400 litros Como a reserva de incêndio mínima é de 7.200 litros, considerou-se um reservatório com capacidade total de 30.000 litros, esse valor será distribuído em três caixas d’água de 10.000 litros e o abastecimento de água será realizado a partir do reservatório elevado localizado na cobertura da nova edificação.

4.5. RELAÇÃO DA EDIFICAÇÃO E ENTORNO Analisando a proposta final e sua inserção no meio urbano (Figura 85), é possível classificar a intervenção dentro da escala proposta por Tiesdell, Oc e Heath. Para isso, foram levados em consideração as modificações realizadas, a nova construção adicionada, a relação entre as edificações e a relação com o entorno.


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Figura 85: Fotomontagem da proposta de intervenção no entorno.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Portanto, de acordo com as premissas já citadas e com base nos conceitos de integridade e autenticidade, acredita-se que a proposta final encontra-se na escala de intervenção entre “continuidade contextual” e “justaposição contextual”, porém mais próximo da “continuidade contextual” (Figura 86) por respeitar as características históricas e a relação com o entorno. Figura 86: Proposta de intervenção na escala desenvolvida por Tiesdell, Oc e Heath.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

4.6. IMAGENS REALISTAS DA PROPOSTA FINAL


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CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de uma intervenção de reuso em uma edificação de valor histórico vem como forma de valorização da memória e cultura da sociedade. O desenvolvimento do presente trabalho, ao procurar enfatizar essa discussão sobre a preservação do patrimônio edificado, contribuiu principalmente como forma de ampliação do conhecimento na área. Além disso, as contribuições teóricas acerca do patrimônio edificado e suas formas de intervenção juntamente com o estudo e análise sobre as edificações e sobre a Ribeira, foram fundamentais para desenvolver as soluções projetuais e atingir um resultado que aliasse a teoria e a prática. Acredita-se que por meio da concepção final foi possível atingir os objetivos propostos para o desenvolvimento desse TFG, como, por exemplo, a discussão dos conceitos e estratégias projetuais à luz das teorias e métodos contemporâneos de conservação do patrimônio edificado. Aliado a isso, com a realização dos estudos de referência, alcançou-se uma solução com um espaço bem aproveitado, funcional e com as conexões propostas no conceito: espaço e pessoa; trabalho e lazer; edificação e entorno; antigo e novo. Por fim, vale ressaltar que a proposta de intervenção trouxe uma solução que modifica a estética atual, mas que buscou respeitar a integridade e a autenticidade. Além disso, ainda foi levado em consideração os preceitos fundamentais da teoria brandiana, como, principalmente: distinguibilidade e reversibilidade.


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