Revitalização do Hotel Brasil em Ribeirão Preto

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LUIZ CARLOS CORRÊA TABLAS JÚNIOR

REVITALIZAÇÃO DO HOTEL BRASIL CONSERVATÓRIO MUNICIPAL

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências parciais para obtenção do Titulo Bacharel em Arquitetura e Urbanismo sob a orientação da professora Ms. Ana Luisa Miranda.

RIBEIRÃO PRETO 2015



Agradecimentos Agradeço a todas as pessoas que diretamente ou indiretamente contribuíram com a conclusão deste trabalho. Minha namorada, Gabriela M. Delfim e a toda a minha família, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da vida, principalmente aos meus pais, Mara D’Ambrosio Tablas e Luiz Carlos Corrêa Tablas e ao meu avô Elzo D’Ambrosio. Dedico também meus agradecimentos à professora Regina Angelini, que foi muito importante para meu desenvolvimento acadêmico e partido do meu projeto. Agradeço à professora Ana Luisa Miranda, que sempre dedicou muita atenção a cada dúvida e progresso e que, com sabedoria, soube dirigir meus passos e pensamentos para o alcance dos objetivos. À professora Rita Fantini, que contribuiu muito para meu desenvolvimento nas primeiras bancas.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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CAPÍTULO I

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CAPÍTULO II 2.1 Pesquisa Histórica 2.2 Análise do Entorno 2.3 Análise tipológica, identificação de materiais e sistemas construtivos 2.4 Intervenções Posteriores 2.5 Levantamento Fotográfico 2.6 Diagnóstico de Patologias

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CAPITULO III 3.1 Conceito e Partido

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CAPÍTULO IV 4.1 Red Bull Station – Triptyque

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CAPÍTULO V 5.1 Estudos Preliminares 5.1.1 Vocação 5.1.2 Programa 5.1.2 Quadra 5.2 Anteprojeto 5.2.1 Diretrizes de Intervenção 5.2.2 Diretrizes Projetuais 5.2.3 Implantação 5.2.3 Perspectivas 5.2.4 Cortes 5.2.5 Projeto 5.2.6 Vistas

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO O Patrimônio Cultural é uma herança, que conta a história de uma civilização. Podem ser rituais, roupas, arquitetura, música, obras de artes, documentos e tudo que possa transmitir características da época, desde técnicas construtivas até costumes. Segundo Lemos (1981, p.07), patrimônio são as “construções antigas e seus pertences, representativos de gerações passadas”. “O Patrimônio Cultural de uma sociedade ou de uma região ou de uma nação é bastante diversificado, sofrendo permanentemente alterações, e nunca houve ao longe de toda história da humanidade critérios e interesses permanentes e abrangentes voltados à preservação de artefatos do povo, selecionados sob qualquer ótica que fosse”. (LEMOS, 1981, p.21) A preservação do patrimônio é uma maneira de resguardar as experiências já vividas, conservar a memória daqueles que já partiram e valorizar os bens que compõem a história do lugar. Assim, como afirma Lemos (1981, p.12), “é incomensurável o número total de bens que compõem o Patrimônio Cultural de um povo, de uma nação, ou de um pequeno município”. A conservação de edifícios já existentes, assim como sua restauração, trazem além de benefícios culturais, benefícios ambientais: Resgatar a história de espaços ou reconstruir patrimônios tombados fortalece o mercado e o comércio da região, na qual estão inseridos, gerando empregos, direta ou indiretamente, e ainda cria um ambiente mais agradável para os moradores locais, que certamente ficarão gratos pelo feito.

(CHAIMOVITZ, 2010, p.1) Em contrapartida, edifícios com valor cultural sem uso e não preservados, acabam se tornando abrigo para “moradores de rua”, locais de crimes, o que degrada não só o bem, mas também o seu entorno. Assim, a preservação e restauração do patrimônio arquitetônico torna-se fundamental não só para salvaguardar parte significativa da história, mas para a qualificação dos espaços da cidade. Nessa perspectiva, esse trabalho tem como objetivo restaurar o Hotel Brasil – localizado no quadrilátero central de Ribeirão Preto e tombado pelo CONPPAC (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural), que atualmente está sem uso, o que contribui para a sua degradação. Para tanto, levando em consideração a vocação deste edifício, pretende-se implantar no local uma escola de música. Acredita-se que o primeiro passo para a restauração de um bem é atribuir-lhe uma função útil e adequada à sociedade atual. Mesmo com inúmeros atrativos musicais, a cidade ainda possui uma deficiência em expandir o estudo da música para jovens e adultos. Nesse sentido, o uso cultural deste edifício pode contribuir para a preservação deste bem, assim como para a cultura da cidade e para a requalificação do seu entorno. CAPÍTULO I – PATRIMÔNIO CULTURAL O Patrimônio Cultural pode ser dividido em três categorias: ambiental, material e imaterial. O patrimônio ambiental são os recursos naturais, isto é, rios, matas, cachoeiras, corredeiras, corais, tudo que representa uma importância para a

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sustentabilidade do meio ambiente. O patrimônio imaterial, por sua vez, engloba as técnicas, metodologias, rituais e conhecimentos, ou seja, elementos não tangíveis. Já o patrimônio material refere-se aos objetos, artefatos, roupas, construções e obras de artes, ou seja, tudo o que é tangível. Neste sentido, a preservação do Patrimônio Cultural é fundamental para garantir a compreensão de parte de nossa história social. Assim, preservar segundo Carlos Lemos (1981, p.29):[...] não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um miolo histórico de uma grande cidade velha. Preservar também é gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes populares. É fazer, também, levantamentos de qualquer natureza, de sítios variados, de cidades, de bairros, de quarteirões significativos dentro do contexto urbano. É fazer levantamentos de construções, especialmente aquelas sabidamente condenadas ao desaparecimento decorrente da especulação imobiliária. (LEMOS, 1981, p.29) Na atualidade, há uma valorização, ainda que incipiente, do Patrimônio Cultural e sobretudo dos princípios que envolvem a intervenção nestes bens. Choay (2001) observa que as ações de preservação e restauro ainda não se dão de forma sistematizada. A sistematização das ações de conservação dos monumentos históricos só se dá com a constituição dos patrimônios históricos e artísticos nacionais, a partir do momento em que o Estado assume sua proteção. A conservação dos edifícios (monumentos, grandes equipamentos e outros) tem lugar, necessariamente in situ.

“Ela provoca dificuldades técnicas muito diferentes. Está na dependência do domínio público e político, envolve mecanismos edílicos, econômicos, sociais, psicológicos complexos, que geram conflitos e dificuldades (...). Contra as forças sociais de destruição que os ameaçam, os edifícios antigos têm, como única proteção – aleatória, se não derrisória – a paixão do saber e o amor pela arte”. (CHOAY, 2001, p. 52) A restauração tem como principal objetivo restabelecer danos ocasionados com o passar do tempo em um bem imóvel ou móvel sem perder suas características, sua forma e função original. CAPÍTULO 02 – HOTEL BRASIL 2.1 PESQUISA HISTÓRICA O centro de Ribeirão Preto, mais precisamente o quadrilátero central, engloba vários atrativos culturais com um potencial que precisa ser mais explorado. Da época do café restaram apenas poucos edifícios que possuem importância histórica para a cidade, sobreviventes da especulação imobiliária devastadora de Ribeirão Preto-SP. O Hotel Brasil faz parte dessa história. Construído na década de 20 – na esquina da Rua General Osório (atual nº 20), com a Av. Jerônimo Gonçalves (atual nº 463) -, nele foram hospedadas muitas pessoas importantes, muitos estadistas, membros internacionais, importantes jogadores de futebol, homens de negócio, fazendeiros e pessoas que construíram grande parte da história da época. O edifício possui, portanto, um valor histórico e arquitetônico que deve ser valorizado.

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“O Hotel Brasil, juntamente com as Companhia Antarc- memória e destinar uma função especifica. tica, Paulista e o Mercado Municipal, na Avenida Jerônimo Gonçalves, representaram a pujança cotidiana do mundo do 2.2 ANÁLISE DO ENTORNO café no início do século XX”. (ROSA; SILVA, 2013, p.81) O edifício está localizado na região central da cidade, O edifício, segundo dados históricos não precisos, tem mais precisamente no quadrilátero central, região com forte sua construção datada no final da década de 1910, como fluxo de pessoas e veículos. Esse quadrilátero é demarcado um edifício de apenas um pavimento. O primeiro proprie- por 4 grandes avenidas, a Jerônimo Gonçalves, Av. Francistário foi Vicente Viccari. Em 1921, ele solicitou à Prefeitura co Junqueira, Av. Independência e a Av. Nove de Julho. No Municipal de Ribeirão Preto a aprovação de um projeto de mapa abaixo podemos visualizar a proximidade do edifico autoria do engenheiro Antônio Soares Romeo para amplia- com o calçadão, área muito rica de comércio popular. O cenção do edifício, que posteriormente foi negada. Apenas em tro de Ribeirão Preto mantém um grande fluxo no período 1929, Viccari consegue essa aprovação e constrói o grande diurno, mas no noturno, diminui consideravelmente. hotel, mas, desta vez, o projeto tem como autor o engenheiro L. Dupré. “Após a morte de Viccari o hotel fica de herança para sua filha, que posteriormente veio a permutar o edifício com Pedro Biagi em troca de três imóveis. Atualmente é de propriedade de Maurício Marcondes”. (PIZZI, 2014, p.32). O Hotel Brasil, que viveu seu apogeu entre 1930 e 1955, com grande fluxo de pessoas, devido a proximidade da antiga estação ferroviária da Mogiana, continuou suas funções até o ano de 1987, quando teve suas atividades encerradas. O imóvel, considerado um dos cartões postais da cidade, é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural (Conppac) desde 2007 e faz parte de uma Vista da Rua General Osório no último quarteirão antes da Avenida Jerônimo relação de edifícios, que esperam projetos de restauração. Gonçalves durante enchente. Ao fundo Estação Ribeirão Preto da Cia. Mogiana. Data: 07/março/1927 - Fotógrafo: Aristides Motta - (Registro: 95-APHNo entanto, não há respostas dos proprietários em relação -RP). Fonte: http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/scultura/arqpublico/fotos/95. à revitalização do local e o edifício continua sofrendo com a htm ação do tempo. Nesse sentido, é fundamental resgatar sua

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Fonte: Google Earth, modificado pela autor, 2015

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Uso. O edifício está localizado na região central da cidade de Ribeirão Preto, que se caracteriza por possuir uso comercial e de prestação de serviço. A região central possui um intenso fluxo de pessoas e de mercadorias, em virtude da grande variedade de produtos oferecidos por inúmeros estabelecimentos presentes. Caracteriza a área por uma das mais movimentadas da cidade. Os equipamentos da Av. Jerônimo Gonçalves intensificam esse fluxo e atrai comerciantes para a região. Outro motivo é a estrutura de circulação do transporte público, que funciona circulando de Centro a Bairro e vice-versa, fazendo com que, a maioria dos usuários, que se utilizam do transporte público urbano, passem pelo centro da cidade, promovendo ainda mais o aumento do fluxo de pessoas. Fonte: Andreia Pizzi, 2014

Mapa de Gabarito e ocupação. Observa-se a predominância de edifícios de 1 e 2 pavimentos na avenida Jerônimo Gonçalves, haja algumas execuções como o edifício do estudo, a antiga cervejaria antártica, o estúdio Kaiser de Cinema, a UBDS Central, o Hotel Aurora e o Hotel São José. Fonte: Andreia Pizzi, 2014

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Mapa com os principais pontos culturais.

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O mapa aponta as atividades de lazer durante os periodos diurnos e noturnos. Nas avenidas que delimitam o quadrilátero central é visivel a baixa concentração de atividades noturnas, entre elas, a Avenida Jerônimo Gonçalves. No setor Oeste, onde se encontra o hotel, observamos a maior concentração de atividades diurnas por conta da ação do comércio da baixada, que se encerra as 18h. Já no setor norte, as áreas próximas à avenida. No setor Leste, observamos o predomínio de atividades noturnas, em função dos bares, que se instalaram nesta região. É evidente a escassez de atividades noturnas na região central de Ribeirão Preto, isso é um grande agravante da violência, tráfico de drogas e falta de segurança.

Fonte: Projeto de Revitalização do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto - ROSE BORGES

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2.3 ANÁLISE TIPOLÓGICA, IDENTIFICAÇÃO DE MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS O Hotel Brasil segue um estilo arquitetônico eclético, com predominância de elementos clássicos. Este fato pode ser observado nos pináculos, falsetes de colunas, arco-plenos, ornatos, e portas com arco abatido. O estilo eclético pode ser notado nos artefatos como a platibanda escalonada e simétrica, a presença de guarda corpo com balaústres e o uso de ornamentos.

O hotel possui assoalho de madeira nos quartos; lajotas e cerâmica trabalhadas e lisas nos banheiros e cozinha. Existem pintura nas paredes, que foram cobertas com suas reformas passadas. Ainda é possivel ver esses afrescos, mas seu desgaste é muito aparente.

Fonte: Carolina Simon, 2012

Fonte: Carolina Simon, 2012 Fonte: Carolina Simon, 2012

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Segundo o memorial descritivo constante no processo número 42 do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, a construção foi feita com estrutura de cimento armado, vedação de tijolos, cobertura de telhas cerâmicas e piso de assoalhado e ladrilho hidráulico. Possui três portas de ferro, dez vitrais para Avenida Jerônimo Gonçalves; três portas de ferros e dois vitrais para a Rua General Osório.

Foto da porta do acesso principal do Hotel. Fonte: http://cleciavanzi.blogspot. com.br/2011/09/67dia-catalao-go-ribeirao-preto-sp.html

O hotel possui uma planta bem setorizada. Apresenta um pavimento térreo voltado para atividades sociais, admiFonte: Carolina Simon, 2012 nistrativas e de serviços do hotel. Possui, também uma área destinada ao comércio, voltada para a rua General Osório. Sua circulação une esses três tipos de atividade, e as cir Além disso, uma porta larga de madeira no acesso princulações verticais, dadas através de escadas, unem os três cipal entre as esquina das duas ruas. pavimentos.

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Fonte: Pizzi, 2014.

Seus outros dois pavimentos foram destinados aos quartos e áreas sociais. Embora pequenos, os quartos atendem uma boa organização espacial. Pode-se notar a ausência de banheiros privativos, já que, na época de sua construção, a lei não mencionava essa exigência. Assim, os banheiros foram implantados fora dos quartos e são comunitários. Nota-se também a ausência de áreas de apoio aos funcionários no primeiro e segundo pavimentos.

Fonte: Pizzi, 2014.

2.4 INTERVENÇÕES POSTERIORES Inicialmente, o Hotel Brasil era uma edificação térrea. Com o desenvolver da cidade de Ribeirão Preto e a demanda de turistas, o hotel teve que ser ampliado e posteriormente foram feitas várias outras mudanças, uma em 1960, outra em 1975 e uma última em 1976, assim como mostram as plantas do arquivo histórico de Ribeirão Preto.

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Terceiro pavimento | As vedações em avermelhado são anteriores à 1960, as alaranjadas datam de 1975, já as em marrom foram construídas em 1976.

2.5 LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO

Fonte: Arquivo Histórico de Ribeirão Preto

Primeiro pavimento - As vedações em avermelhado são anteriores à 1960, as alaranjadas datam de 1975, já as em marrom foram construídas em 1976.

Térreo Fonte: Arquivo Histórico de Ribeirão Preto

Segundo pavimento | As vedações em avermelhado são anteriores à 1960, as alaranjadas datam de 1975, já as em marrom foram construídas em 1976.

Fonte: Arquivo Histórico de Ribeirão Preto

1º Pavimento

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2ยบ Pavimento

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2.6 DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS DESTACAMENTO: perda de continuidade entre as camadas superficiais do material com respeito ao seu substrato.

Nota-se destacamento da pintura alteração cromática e infiltração em grande parte da superfície.

Desgaste da madeira do armário, ação de cupins, encrustamento no ladrilho. Necessário o combate ao cupim e limpeza do ladrilho. Destacamento do forro de madeira em virtude da ação de cupins e infiltrações. Necessário combater ao cupim, trocar o forro, limpesa do ladrilho e erradicar a infiltração.

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Nota-se a presença de colonização biológica nas paredes. Limpeza e raspagem da parede para retirar a colonização biológica.

Destacamento da parede, infiltração e incrustação no ladrilho hidráulico. Limpeza de todo o piso de ladrilhos, erradicar a infiltração.

Destacamento do assoalho de madeira será necessário a troca desse revestimento. Necessário a troca permanente de todo o assoalho e a devida limpeza da alvenaria.

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1° PAVIMENTO – O estado do hotel é preocupante, apesar da sua aparência esquecida, ele possui, ainda, alguns elementos conservados, tais como o piso cerâmico do saguão principal e algumas esquadrias. No primeiro pavimento, os cômodos estão muito mais conservados, comparados com os outros pavimentos, a exceção da cozinha e a área de serviço. O revestimento das paredes está descascando com várias fissuras e rachaduras aparentes e alguns pontos com colonização biológica. 2° PAVIMENTO – Grande deteriorização do piso de madeira e infiltrações. 3° PAVIMENTO – O terceiro pavimento é o que mais sofreu com as infiltrações; possui destacamento do forro de madeira e vãos na cobertura. Muito desgaste nas paredes e nas esquadrias. CAPÍTULO 03 - DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO

3.1 CONCEITO E PARTIDO

O projeto de revitalização do Hotel Brasil, parte de um olhar sobre a necessidade que a região e toda a cidade de Ribeirão Preto possuem, de um equipamento cultural voltado para música e a necessidade de se preservar um edifício muito importante para a cidade. A cidade possui uma carência de edificações públicas especializadas no ensino da música; os equipamentos que a cidade possui são edifícios reaprovei-

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tados e que não possuem os mínimos recursos para tal. Esse conservatório municipal de música, parte da preocupação com a inclusão social e disseminação de atividades noturnas e diurnas na região, valoriza a cultura local, o turismo, e o comércio. O projeto do edifício se divide em 4 pavimentos: o térreo, primeiro andar, segundo e terraço em conjunto com um complexo de atividades, que englobará partes da quadra. Proponho o reuso do edifício, antes hotel, agora conservatório municipal, de maneira, que vá suprir essa necessidade histórica e cultural. O hotel se transforma em um berço para hospedar a cultura e a música. CAPÍTULO 04 - LEITURAS PROJETUAIS 4.1

Red Bull Station – Triptyque

A Red Bull Station, está localizada na avenida 23 de Maio, um importante trecho de ligação Norte e Sul da cidade de São Paulo. Um prédio dos anos 30, que abrigava a antiga companhia de energia Light, hoje conhecida como Eletropaulo, ficou sem uso, por anos. A memória do lugar já dava partido para o novo ambiente, a Companhia de Energia Light, agora transformada na Red Bull Station tem seu marketing voltado para energia. O partido mantém a fachada, pois ela é tombada e no seu interior foi feito uma nova organização, retirando o que não era necessário e mantido o restante. As paredes internas que eram indispensáveis foram mantidas e sua pintura original também, embora desgastadas e comprometidas em razão do tempo, pois revela a história da época e suas raízes. A Red Bull Station é um lugar extremamente livre, as pessoas podem almoçar, escutar música, participar de workshops e vê o artista trabalhando. É a arte bruta, é um lugar mais

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O pavimento seguinte possui um ateliê de artistas, sala de vivo, é uma evolução no movimento mundial dos museus de abrirem cada vez mais ao público, para ver como se manifes- exposições e reuniões. tam suas atividades. O programa engloba atividades artísticas, musicais e de lazer. Ele foi adaptado para receber instalações funcionais e bem distribuídas, criando um interação do público com todos os projetos ali realizados. O sub-solo foi destinado a um espaço de exposições de vídeos. Imagem do banheiro no primeiro andar.

Imagem dos ateliers dos artistas

Os materiais mais usados no projeto foi o metal e o concreto. O metal foi essencial para o projeto, pois com ele os arquitetos conseguiram criar novos meios de comunicação interna. Área de exposi No último andar, foi criado um deck com uma marquise, ções no térreo. cuja cobertura lembra uma folha e tem a função de captar água da chuva, para uso interno e principalmente para dife O térreo possui uma área de exposições e um estúdio de renciar o novo do velho, transmitindo ao público, que passa gravação, feito de uma forma de concreto bem bruta que foi no cruzamento, a idéia de algo novo que foi instalado em algo inserida no seu interior. despercebido até então.

Imagem do térreo estúdio ao fundo

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Planta baixa do subsolo. Fonte: http://www.revistaplot.com/es/wp-content/uploads/2014/05/018_Triptyque_StationRedBull_subsuelo.jpg

Planta baixa do térreo. Fonte: http://www.revistaplot.com/es/wp-content/uploads/2014/05/018_Triptyque_StationRedBull_subsuelo.jpg

Planta baixa do 1 andar. Fonte: http://www.revistaplot.com/es/wp-content/uploads/2014/05/018_Triptyque_StationRedBull_subsuelo.jpg

Planta baixa do terraço. Fonte: http://www.revistaplot.com/es/wp-content/uploads/2014/05/018_Triptyque_StationRedBull_subsuelo.jpg

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CAPÍTULO 05 – PROJETO 5.1 ESTUDOS PRELIMINARES 5.1.1 VOCAÇÃO

Fonte: http://www.40forever.com.br/a-maravilhosa-casa-da-musica-da-cidade-do-porto/

O uso destinado para o edifício será de um conservatório de música; sua distribuição espacial condiz com a necessidade física do programa. As áreas que eram destinadas para os quartos conseguem abrigar os programas de sala de aula. Por ser um hotel antigo, os banheiros eram apenas nos corredores, o que será usado no projeto também. O edifício possui total vocação de abrigar esse novo uso. Além da sua localização privilegiada, a região central de Ribeirão Preto tem todo o potencial para criar um equipamento cultural voltado para música; todo o sistema de transporte público passa pelo centro e tem sua localização próxima à rodoviária; a região possui muitos hotéis, que podem servir de apoio aos turistas. É uma região predominantemente comercial, então pode ter ruídos durante o período noturno. E existe uma necessidade de criar equipamentos, que desenvolvam a atividade noturna na região. 5.1.2 PROGRAMA O programa é dividido a partir da necessidade de espaço, fluxo e ruídos. O conservatório possui atividades com poucos e muitos ruídos, assim como a biblioteca e as salas de aula com equipamentos amplificados.

Fonte: http://www.revistaplot.com/es/wp-content/ uploads/2014/05/018_Triptyque_StationRedBull_

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Fonte: Autor

O edifício possui 3 pavimentos, sendo térreo, 1 andar e segundo andar. Mas proponho uma intervenção que possa ser criada uma laje para garantir uma nova função para cobertura.

A biblioteca e a midiateca vão ficar próximas às salas de aulas teóricas. As salas de aulas práticas vão ficar próximas aos estúdios de ensaios e as salas de instrumentos amplificados. O térreo será destinado para atividades públicas, a uma loja e atividades de serviço. O primeiro andar a aulas teóricas, biblioteca, midiateca e estúdio de gravação. O segundo andar será destinado a aulas práticas, individuaise e em conjunto, instrumentos amplificados, canto e estúdios para ensaio. O terraço será destinado a um bar, eventos, cursos de iluminação e cenário e cursos de técnica em áudio. De acordo com a Lei 2505 de Janeiro de 2012 - Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo no Município de Ribeirão Preto, esta área enquadra-se como Área Especial do Quadrilátero Central (AQC) - que abrange a área urbana situada entre as avenidas Nove de Julho, Independência, Francisco

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Junqueira e Jerônimo Gonçalves – e, tem como índices urbanísticos: gabarito básico de 10m de altura; taxa de ocupação de 80% e coeficiente de aproveitamento 5. 5.1.3 QUADRA Para acomodar todo o programa de necessidades, serão usados lotes da quadra para finalizar esta proposta.

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CALÇADÃO

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DEMOLIR


Proponho uma quadra aberta, que proporcionará uma ligação com 2 equipamentos importantes: o Hotel Brasil e o Mercado Municipal. Serão demolidos somente edifícios sem valor histórico e os que não vão ter impacto para a região. O objetivo é ter um espaço de convívio livre, que possibilite a prática de lazer e principalmente como via de pedestres. O miolo da quadra pode ser acessado pelas ruas São Se-

bastião, General Osório e pela avenida Jerônimo Gonçalves. Promover um melhor acesso do pedestre é um dos objetivos da proposta; o pedestre pode vir pelos terminais rodoviários da Jerônimo Gonçalves, ter acesso pelo calçadão da General Osório e também pelo equipamento de muito fluxo, que é o Mercado Municipal. É uma área de respiro em meio ao forte fluxo comercial da região, além de proporcionar atividades culturais noturnas, fator importante para diminuir a violência na região.


5.2 ANTEPROJETO 5.2.1 DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO Serão selecionadas as características marcantes do edifício, ressaltando a real importância que o hotel teve para a época e para a cidade de Ribeirão Preto. Será feita uma mínima intervenção, apenas as necessárias para acomodar o programa. Nas paredes internas, que serão preservadas, sua textura e revestimento serão mantidos, para não descaracterizar sua essência. O restauro deve manter viva todas as fases, por que passou o edifício, respeitando-se as marcas deixadas pelas gerações passadas. Toda e qualquer mudança da sua característica original deverá respeitar a noção de distinguibilidade, deixando aparente que foi modificado algo já existente. Nas áreas que vão precisar de tratamento acústico: estúdio, salas de instrumentos amplificados entre outras, não serão adicionados diretamente na alvenaria, a fim de preservar sua memória. Será feita uma caixa de madeira e dry wall para evitar esse contato direto com a alvenaria. Assim como demonstra o esquema ao lado. Em todo o projeto partiremos do conceito de reversibilidade; todo revestimento acústico será colocado na maneira, que possa ser retirado sem danificar qualquer tipo de estrutura e características existentes. Todo novo acesso será feito de estrutura metálica.

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Será preservada características arquitetônicas da fachada, sua porta principal e esquadrias. Haverá demolição de algumas alvenarias, apenas para acomodar o dinamismo do seu futuro programa.

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5.2.2 DIRETRIZES PROJETUAIS Seu sistema estrutural será reforçado para suportar o peso da nova laje que será implantada. Será adicionado um pilar central de 80x80cm e nele apoiado uma viga treliçada metálica longitudinal de 25x50 cm, cuja a parte central será apoiada no pilar central e uma de suas extremidades na alvenaria existente e a outra em um pilar metálico externo de 25x25 cm. Apoiadas nesta viga metálica, sairão outras 7 vigas menores de 40x20cm, cuja função será distribuir o peso da laje.

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5.2.3 IMPLANTAÇÃO

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5.2.4 CORTES

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5.2.6 VISTAS

Perspectiva Hotel Brasil - Rua General Os贸rio

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Perspectiva Hotel Brasil

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Perspectiva Hotel Brasil - Quadra

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Perspectiva Hotel Brasil - Mostrando o acesso do terraรงO.

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Perspectiva Hotel Brasil - Mostrando o cinema ao ar livre.

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Perspectiva Hotel Brasil - Acesso do cafĂŠ.

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Perspectiva Hotel Brasil - Vista da quadra aberta

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Perspectiva Hotel Brasil - Vista da quadra aberta

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