Catรกlogo 2012 II Semestre
Apresentação Suas 135 horas de exibições gratuitas ao público trazem o Cineclube Xícara da Silva a mais uma etapa do fazer cineclubismo como uma prática dentro do pensar e viver cinema. De uma forma simples e aspirante, lançamos uma amostra das reflexões sobre os filmes e do debate traduzido em algumas produções textuais. Os artigos convidados a serem publicados neste catálogo são de iniciativa dos participantes do cineclube Xícara da Silva. Entre estes, alguns textos exclusivos e outros já publicados em veículos de circulação em Anápolis (GO) via impressa e via ciberespaço. As próximas edições do catálogo estão abertas para o envio de artigos, ensaios, críticas e outros gêneros do mais acadêmico ao mais informal livre, perante a seleção e contato como os autores. Sendo ou não cineclubista. O catálogo apresenta os filmes que serão exibidos no II Semestre da parceria Xícara da Silva e SESC Anápolis. Na caminhada de 2 anos e meio de filmes exibidos chega um momento no qual iniciamos uma aproximação ao fazer cinematográfico no Brasil, trazendo filmes que propiciem debates introdutórios e necessários do que há antes do filme brasileiro chegar à telona. Outra aproximação necessária é com os realizadores do cinema goiano que vivem em um ambiente atual de levar o audiovisual às políticas públicas na montagem do Plano e o Fundo Estadual de Cultura com vistas à adesão ao Sistema Nacional de Cultura. O cinema goiano em Anápolis é algo raro que queremos ampliar suas telas de exibição. Como também, porque não, levar os anapolinos a exibir e amadurecerem seus filmes nas telas de Goiás e Brasil afora, tendo em vista os dois festivais já realizados na cidade. Só resta por fim desejar um bom semestre de sessões de Xícara da Silva. Ligue o projetor, apague as luzes e que comece o filme...
Luiz Eduardo Rosa Presidente do Cineclube Xícara da Silva Jornalista
1. Bye Bye Brasil
O que temos para assistir e ler?
2. Saneamento Básico 3. Trombas e Formoso 4. Cinema, Aspirina e Urubus 5. Angatu - Exibição de Animações Goianas 6. À Prova de Morte 7. Mudernage 8. Ainda há pastores? 9. “Qual a utilidade de um cineclube?” de Mário Alarcão
Expediente: Diagramação e Design Geral: Luiz Eduardo Rosa luigi.rosa.silva@gmail.com Colaboradores: Lucas Daher Mário Henrique Alarcão Rodrigo Queiroz Ronaldo P. Monteiro Realização: Cineclube Xícara da Silva xicaracineanapolis@gmail.com Publicação Virtual
10. “Sonhos” de Lucas Daher 11. “A Carruagem Fantasma” de Lucas Daher 12. “As Invasões Bárbaras - Breves Conjecturas” de Mário Alarcão 13. “Freud, Bergman e os Morangos Silvestres” de Rodrigo Queiroz 14. “Os Incompreendidos” de Ronaldo Monteiro
www.cinexicara.wordpress.com
11 de Agosto de 2012
Bye Bye Brasil Título original: Bye Bye Brasil Duração: 105 minutos (1 hora e 45 minutos) Direção: Cacá Diegues Elenco: José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior Ano: 1979 País de origem: BRASIL
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Resumo: Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha são três artistas ambulantes que cruzam o país juntamente com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Junior) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), com os quais a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília. Fonte: www.cineplayers.com.br
25 de Agosto de 2012
Saneamento Básico Direção: Jorge Furtado Roteiro: Jorge Furtado Gênero: Comédia Origem: Brasil Duração: 112 minutos Tipo: Longa-metragem
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: Em uma pequena vila de descendentes de colonos italianos na serra gaúcha, a construção de uma fossa para o tratamento do esgoto é uma emergência antiga e sempre ignorada pelas autoridades. Uma comissão resolve pleitear a obra através dos recursos da subprefeitura. No entanto, são informados de que não há verba para saneamento básico mas que sobra para a produção de um vídeo. O grupo resolve então fazer um vídeo sobre o saneamento básico. Mas o que ninguém esperava é que o grupo amador se envolveria tanto nessa produção que ganha até prêmio na cidade, e que a obra... bem, viraria ator coadjuvante. Fonte: www.cineplayers.com.br
15 de Setembro de 2012
Trombas e Formoso: A Vitória dos Camponeses Direção: Coletivo Magnífica Mundi Equipe Técnica: Ana Lúcia Nunes, Arão de Souza Gil, Gabriela Marques, Ícaro Batista, Luiz Eduardo Rosa, Maiara Dourado e Tatiane de Assis Equipe Auxiliar: Antônio Paulino Ferreira, Ladislau Nunes, Lorena Soares, Kamyla Maia, Maria Cláudia Reis Silva, Osório Manzi, Ossideni – Pisquila (in memorian), Prof.Rosana Borges e Taynara Borges.
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: Trombas e Formoso: Memorias de uma Luta é um documentário em curta-metragem que conta a história da Revolta de Trombas e Formoso. O conflito aconteceu entre 1954 e 1957, colocando posseiros de um lado e grileiros e polícia do outro, na luta por uma extensa faixa de terras devolutas na região norte de Goiás. Baseado em depoimentos dos participantes da luta camponesa, o documentário narra a chegada dos camponeses à região e a organização da luta que os levou à conquista da terra. Os camponeses também contam como começaram a construir uma nova sociedade, baseada na cooperação e solidariedade e como esse sonho foi interrompido pela ditadura militar, levando muitos deles à fugir do local e ao desaparecimento de um de seus líderes, o deputado estadual José Porfírio de Souza. Confira: www.trombaseformoso.org
29 de Setembro de 2012
Cinema, Aspirinas e Urubus Cinema, Aspirinas e Urubus, 2005 Direção: Marcelo Gomes Roteiro: Karim Ainouz, Marcelo Gomes, Paulo Caldas Gênero: Aventura Origem: Brasil Duração: 99 minutos
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: O filme conta a história de Johann (Peter Ketnath), alemão que fugiu do país de origem nos auges da 2ª Guerra e chegou ao Brasil, onde percorre regiões inteiras vendendo aspirinas. O sucesso de sua empreitada está no modo como ele faz a publicidade do produto: projetando propagandas no meio de vilarejos, ao ar livre, e encantando os moradores, que, nunca antes tendo visto imagens em movimento, acreditam tratar-se de um medicamento de outro mundo. Fonte: www.cineplayers.com.br
13 de Outubro de 2012
Angatu A curadoria da equipe do evento Angatu - Frames, Rascunhos e Pipoca, escolhe três curta metragens de animação goiana para virem com seus diretores ao Cineclube Xícara da Silva. Enquanto isso, confira o blog desta importante mostra goiana: www.angatuframesrascunhoepipoca.blogspot.com.br
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
27 de Outubro de 2012
À Prova de Morte Título Original: Death Proof, 2007 Direção: Quentin Tarantino Roteiro: Quentin Tarantino Gênero: Policial/Suspense/Terror Origem: Estados Unidos Duração: 114 minutos Tipo: Longa-metragem
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: Ao cair da noite, Jungle Julia, a DJ mais sexy de Austin, pode enfim se divertir com as suas duas melhores amigas. As três garotas saem noite adentro, atraindo a atenção de todos os freqüentadores masculinos dos bares e boates do Texas. Mas nem toda a atenção é inocente. Cobrindo de perto seus movimentos, está Stuntman Mike, um rebelde inquieto e temperamental, que se esconde atrás do volante do seu carro indestrutível. Segunda parte de Grindhouse, um filme duplo realizado em parceria com Robert Rodriguez. Fonte: www.cineplayers.com.br
10 de Novembro de 2012
Mudernage Mudernage | Marcela Borela, Doc., Goiás, 2009, 52 min Classificação: 12 anos
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: Uma reflexão sobre a experiência moderna nas artes plásticas em Goiás a partir de uma diversidade de olhares que se deslocam do presente para o passado. Uma reflexão sobre a modernização das artes na periferia central do Brasil. Um ato, uma ação em direção a realidade artística de um lugar e ao seu passado constitutivo. Um canto de amor e ódio a uma cidade: a jovem metrópole. Goiânia, revestida de futuro, visita seu recente passado sob os olhares vorazes de diversos artistas e da documentarista Marcela Borela.
24 de Novembro de 2012
Ainda há Pastores? Realização: Jorge Pelicano Argumento: João Morais, Jorge Pelicano e Cátia Vicente Produtor: Jorge Pelicano Ano: 2006 Género: Documentário Duração: 72’ Elenco: Hermínio Carvalhinho, Fernando Alves (Narrador), Quim Barreiros (Quim Barreiros), João Grazina (João Grazinha)
Horário: 17h30 Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.
Sinopse: Há lugares como Casais de Folgosinho que quase não existem. Não há luz eléctrica, água canalizada, nem estradas. Perde-se no silêncio de um vale entre as montanhas da Serra da Estrela. Em tempos foi um autêntico santuário de pastores… Hoje, os mais velhos vão morrendo e os novos fogem da dura sina de ser pastor. Hermínio, 27 anos, contraria o fim. Dizem que é o pastor mais novo, mas também o mais doido. Sozinho, rádio na mão, rasga montanhas ao som das cassetes do popular cantor Quim Barreiros, que um dia sonha conhecer. Os sons das cassetes e do rádio puxam-no para longe de uma vida de solidão. São a união entre dois mundos diferentes. Até quando o jovem Hermínio será pastor? Mas…ainda há pastores? Fonte: www.filmesportugueses.com/ainda-ha-pastores/
Qual a utilidade de um Cineclube? Desde os 15 anos tinha o sonho de ver um Cineclube surgir em Anápolis! Lembro que um primo sempre me dizia que na universidade montou um com os colegas de curso e se divertiam muito vendo bons filmes, debatendo e estudando cinema e sua história. Foi uma forma que encontraram de estudar o cinema de forma independente e hoje, na profissão de jornalista, ele sempre coloca como esse período foi importante. Fiquei muito alegre quando fui convidado por alguns amigos pra fazer parte do 1° Cineclube de Anápolis: o Cineclube Xícara da Silva. O nome, o símbolo, a ideia, tudo me atraiu! Poder ver os clássicos de novo na telona foi algo que me emocionou muito. Sentia como se tivesse encarando a luz de ouro de um tesouro recém desenterrado. Esse encantamento é próprio do cinema! Se um
livro nos encanta pela história, uma pintura por sua estética, uma música pela sua melodia, o cinema une tudo isso e nos envolve por completo. E se não bastasse participar das exibições, participar do cineclube também tem seus prazeres. Sempre encontramos empecilhos no caminho, mas toda e qualquer associação (mesmo que filantrópica) terá problemas, assim como nossa vida pessoal. Mas somente os integrantes do Xícara da Silva conseguiriam explicar junto comigo o quanto é prazeroso organizar uma sessão de cineclube gratuita e observar o olhar encantado de outras pessoas admirando as grandes obras da humanidade.
car esse sentimento fico um pouco travado, mas no fundo é como se sentíssemos que estamos devolvendo o tesouro da humanidade de volta pra ela!
No Brasil o Cinema é ainda pouco acessível para as pessoas e não digo somente os mais pobres, mesmo o brasileiro de classe média ainda não Mário Alarcão pode frequentar o cinema pelo meTesoureiro do Cineclube Xícara da Silva nos uma vez por semana. E mesmo os 10% dos brasileiros que podem Estudante de Direito realizar tal façanha, assistem a uma Universidade Federal de Goiás (UFG) pequena gama de filmes americanos, ou seja, até mesmo os que possuem acesso frequente ainda assim acessam a um mesmo tipo de cinSem contar que através dos debates ema. movimentamos ideias e pensamentos. Muitas pessoas me perguntam: Na I Mostra de Filmes: Liber- “O que você, estudante de Direito E junto à todo ato de pensar caminha o dade, Igualdade e Fraternidade ganha participando de um Cine- ato de resistir! Pensando, resistimos di– Comemoração à Revolução Fran- clube?”. Sendo muito sincero: ante do mundo e nos afirmamos como cesa, o nosso atual presidente Luiz quase nada! Provavelmente nunca indivíduos. Ou seja, Cineclube e o CinEduardo Rosa Silva, com apoio da vou trabalhar com cinema, ou com ema tem pouca utilidade na futura vida Secretaria de Cultura de Anápolis, cultura. Mas Cultura nunca poderia profissional de um acadêmico de Dinão poupou o próprio bolso para re- ser trabalho pra mim! Cultura é um reito. Mas ainda assim, ele (cineclube) alizar a mostra com direito a pipoca grito ao mundo de vida, saúde e re- representa tudo o que acredito: no para o público (não-pagante com sistência! Somente povos sadios fa- amor incondicional ao nosso passado, orgulho). Quando terminamos está- zem cultura, enquanto ato de amor aos nossos semelhantes e à nossa vida. vamos cansados mas, enfim, muito à própria vida! alegres. Sempre que tento expli-
Sonhos Assisti pela primeira vez a um filme de Akira Kurosawa, um dos mais influentes e importantes diretores da história: Sonhos. O filme é dividido em oito partes independentes retratando temas variados, como guerra, arte, tecnologia entre outros. Devo admitir que não compreendi totalmente o significado de uma delas, talvez por se tratar de algo ligado a cultura japonesa – com a qual não estou familiarizado. Kurosawa era pintor antes de se envolver com o cinema. Percebese grande influencia da pintura na fotografia do filme, especialmente no tratamento das cores, realmente magnífico. O aspecto técnico é fantástico. A atenção cuidadosa dada a todos os detalhes é evidente, bem como ao cenário, posicionamento das câmeras, figurino etc. Sendo minha primeira vez que vendo um filme japonês, não sabia o que esperar. No início fiquei decepcionado, pois o primeiro sonho usa um aspecto especifico
da cultura para retratar a obediência. Pensei que toda a história seria assim, mas não. Há um questionamento sobre aspectos da vida contemporânea o qual pode se estender a nossa sociedade atual. Em um segmento ele retrata um desastre nuclear e as consequências terríveis, levando-nos a pensar se os benefícios da energia superam o risco de um potencial debate. O ultimo sonho tem um fundo ecológico do qual discordo completamente. É retratada uma vila camponesa em que um idoso explica a um viajante que eles não usam eletricidade, mas lampiões, porque a noite é escura e deve permanecer assim (se ela deve permanecer assim, por que iluminá-la de todo?). Ao ser questionado sobre não usar tratores para lavrar arroz, ele se mostra contra o uso de tecnologia de ponta e explica que as ferramentas tradicionais são suficientes para alimentá-los (porém essas ferramentas “tradicionais” foram um dia tecnologia de ponta, e caíram em desuso por terem levado vários povos a passar fome ao longo do tempo). Há outros “plot holes” na defesa do estilo de vida tradicional que me incomodaram muito.
Exceto a temática do sonho final, o filme me agradou bastante e no geral é muito bom. Há alguns detalhes realmente interessantes: o viajante aparece no ambiente sem que se mostre sua chegada, como acontece em um sonho real. O ator que interpreta Vincent van Gogh é Martin Scorsese (diretor ítaloamericano famoso por Taxi Driver, Os Bons Companheiros, A Invenção de Hugo Cabret etc).
Lucas Daher Membro do Cineclube Xícara da Silva Estudante do 2º grau E. M.
Carruagem Fantasma
do ano que se finda. Após a morte de David, o filme se passa em uma sucessão de flashbacks retratando a degradação da vida de David e seus problemas com o alcoolismo.
Devo dizer que o final me desagradou bastante: há o arrependimento Conhecemos o cinema sueco pelo de David, sua redenção e volta à grande diretor Ingmar Bergman, vida. O excesso de otimismo destoa um dos melhores de todos os tem- do desenvolvimento da história e é pos. Mas outro diretor da terra demasiado ingênuo. dos vikings está esquecido: Victor Além de se destacar pelo tema, a Sjöström, que em 1921 filmou um progressiva destruição da dignidade dos mais influentes e revolucionári- humana em uma sociedade apática, os filmes de terror: A Carruagem a qual leva indivíduos à loucura e Fantasma. à brutalidade, desenvolvido em aspectos filosóficos e teológicos; Adaptado de um romance de Selma a montagem e a estrutura são realLagerlöf (ganhadora do Nobel de mente excepcionais. literatura), o filme se passa na véspera do ano novo e conta a história Há três planos temporais: o prede David Holm (interpretado por sente, o passado e o passado em Victor Sjöström), um alcoólatra relação ao passado, representados que está em um cemitério com dois por flashbacks dentro de flashbacks amigos. Holm conta-lhes a lenda de e planos monocromáticos, sendo que a última pessoa a morrer a cada cada tempo representado por uma ano, se for um grande pecador, deve cor. Os efeitos especiais foram revcoletar a alma dos mortos na carru- olucionários, principalmente com agem fantasma no ano seguinte. várias exposições duplas, levando a personagens fantasmagóricos caHá uma briga e David é assassinado pazes de ser moverem em três dilogo antes das 12 badaladas. Ele se mensões. encontra com Georges, o cocheiro
O filme exerceu grande influência sobre Bergman, principalmente no filme O Sétimo Selo, que faz referência à caracterização da morte e ao modo como ela é citada (“mestra rigorosa”). A famosa cena de O Iluminado em que Jack Nicholson quebra a porta com um machado é também inspirada em uma cena similar do filme sueco. Recomendo A Carruagem Fantasma não só pela qualidade como filme, mas também pelo valor histórico inestimável. Jornal Estado de Goiás, 18 a 24 de Julho de 2011/ Anápolis Goiás
Lucas Daher Membro do Cineclube Xícara da Silva Estudante do 2º grau E. M.
As Invasões Bárbaras – breves conjecturas Como é viver no Canadá? Ainda: como é viver a política no Canadá? Não que eu esteja dizendo que o filme de Denys Arcand seja “nacionalista” (aqui no sentido de dizer que os temas abordados seriam restritos ao Canadá), mas ao que parece o fato do personagem principal, Rémy, viver no Canadá, com suas particularidades, estabelece um rumo à história. O filme o tempo todo torna fina a linha que separa as experiências de Rémy (um professor universitário canadense), das possíveis experiências de vida que qualquer ser humano (seja qual for sua nacionalidade) em sua faixa etária poderia ter (um brasileiro, por exemplo). Mas voltando ao começo, citei a política do Canadá pelo destaque que lhe é dada pelo longa: o Canadá, ao contrário do seu vizinho “Imperial” (Estados Unidos da América (ver O declínio do Império Americano outro filme de Denys
Arcand)), possui partidos de esquerda política. Cito assim, caro leitor, porque essa particularidade influencia a vida de Rémy: logo no começo do filme, seu filho Sébastien luta contra seu próprio pai tentando convencê-lo a deixar o hospital público (precário para o tratamento de câncer) alegando ser possível colocá-lo em uma clínica particular. Rémy se nega a tal, não por rejeitar o dinheiro de seu filho, mas, por ser socialista, lutou toda a vida por um sistema de saúde público. Portanto se morresse que fosse pelas ideias as quais defendeu (lembremos de Florestam Fernandes, antropólogo e sociólogo brasileiro que lutou pelo SUS e decidiu morrer nas “mãos” do sistema que defendeu). Perceba como uma particularidade cultural e política podem nortear toda uma vida. A escolha de Rémy pelo hospital público pode resultar em sua morte, de maneira que simples escolhas serão os limiares entre: a fatalidade da morte e o prolongamento da vida. Talvez uma leve metáfora do “inferno existencial” de Sartre, ou seja, a “condenação” à nossa liberdade de sempre escolher, e escolhendo, não escolhemos sozinhos, pois nossas escolhas delinearão nossa existência e a dos “outros” que nos rodeiam.
Porém, a concepção de “inferno” é relativa na vida de Rémy. Durante todo o filme ele relata aos amigos e às pessoas que o visitam, casos amorosos de outras pessoas e, em grande parte, as suas próprias aventuras sexuais (sem contar da presença de sua ex-mulher e sua examante que compartilham da sexualidade ativa de Rémy, aqui vale deixar o mérito do diretor ao conseguir extrair a Mário Alarcão sensualidade das histórias sem a necessidade de cenas explícitas ou “calienTesoureiro do Cineclube Xícara da Silva tes”) demonstrando a sua intensa busca por uma vida “vivida” (que Henry DaEstudante de Direito Universidade Federal de Goiás (UFG) vid Thoreau me perdoe) e ao mesmo tempo carregada de sentido, pois canalizada por ideias filosóficas e políticas da então derrotada ideologia socialista. É como em sua vivência. se o filme nos chamasse (a atual geração) a olhar no espelho. E aqui temos uma genial “sacada” do diretor Denys Arcand: quando Rémy O filme em si possui certas características que relata sua vida abundante em sexo e o tornariam carregado de amoralidade, mas no ativismo político, não está se colocando geral, o filme Invasões Bárbaras chama a atenção como uma pessoa vulgar, mas, ao con- pela sua maneira poética e simples de retratar a trário, denuncia a “vulgaridade” das “teia” de relações da vida. atuais gerações ao se entregarem aos prazeres do consumo e possuírem uma Tribuna de Anápolis, 28 de Novembro a 4 de vida desprovida de sentido. Há duas grandes metáforas na relação Dezembro de 2010, p.2 / Anápolis - Goiás entre as gerações presentes no filme: a discussão entre Rémy e seu filho como uma metáfora do antagonismo entre a antiga geração e a nova; o definhamento e a velhice de Rémy como metáfora
Freud, Bergman e os Morangos Silvestres
Em Morangos Silvestres, Bergman trata da questão do desespero, da angustia humana, com maestria ele faz da angustia humana uma obra de arte, como já fora dito por vários críticos de cinema, além de prestar uma genial homenagem a Freud e a psicanálise, que é evocada várias vezes ao longo do filme sob a forma de metáforas e processos oníricos. O filme também aborda a sua própria angustia. No livro escrito posteriormente pelo próprio cineasta, intitulado de imagens, ele explica as suas conflituosas relações com as pessoas a sua volta (principalmente seu pai e sua mãe) e consigo mesmo, como demonstra o seguinte trecho extraído do livro, em que se descreve como: um filho não desejado, parido duran-
te uma crise física e psíquica de minha mãe.
como dizem os filósofos, “nós só filosofamos porque morremos. A morte é a musa inspiradora da fiO protagonista Isak Borg (cuja losofia”. pronuncia no idioma sueco lembra a palavra“fortaleza de Uma das cenas mais marcantes gelo”) pode ser visto ao mesmo do filme é quando, durante esta Rodrigo Queiroz tempo como o pai de Bergman viajem, o velho Isak, ao ver a e o próprio Bergman. Bergman casa em que cresceu, e ver alParticipante do Cineclube Xícara da era um homem que sentia, em- guns morangos silvestres, tem Silva bora em pleno sucesso profis- uma triste recordação. Lembrasional, que havia fracassado em se do grande amor de sua vida, Bacharel em Direito sua existência, principalmente Sara, que estava colhendo ali, 50 no que tange a sua vida pessoal. anos antes, morangos silvestres, No inicio do filme vemos Isak e nesta ocasião ele a vê paquerescrevendo a seguinte nota em ando com Sigfrid, irmão de Isak, seu diário: Nossa relação com as Sara namora Isak, um rapaz depessoas consiste em discutir com scrito como gentil, educado e seelas e criticá-las. Isso que me rio, porém Sara o troca por seu Morangos Silvestres trata da morte e da afastou, por vontade própria, de irmão Sigfrid, um grande pulha. angustia, e de certa forma, também da toda minha vida social... Tal fato, esta frustração do passapossível inutilidade da vida. Freud dizia do, é uma espécie de trauma deque os homens jamais seriam plenamente Após esta cena, Isak tem um pes- terminante na vida de Isak, pois felizes devido a fatores como a decrepiadelo que sintetiza sua “fobia” este passa a agir de forma egoístude de seu corpo e o convívio social. Em a morte, o que o lança em uma ta e repelir todos a sua volta. A Morangos Silvestres podemos ver o que amarga retrospectiva de sua vida, cena tenta justificar o tipo de ser realmente Freud queria dizer. uma serie de questionamentos humano em que isak se tornou, sobre sua existência, enquanto um homem definido no filme por viaja pra Lund, com a finalidade uma personagem, como sendo: Tribuna de Anápolis, 18 a 24 de Julho de receber um título honorífico. um velho egoísta, sem considede 2011/ Anápolis Goiás O fato que leva ao desencadeam- ração, mas que esconde bem isto ento da torrente de indagações, atrás de sua civilidade e charme. talvez seja a confrontação com a certeza de sua finitude, afinal,
OS INCOMPREENDIDOS
No último sábado, 08 de abril de 2011, foi exibido no Cineclube Xícara da silva em Anápolis, o Filme: Os Incompreendidos (1958), do cineasta francês François Truffau. Ao abordar a adolescência como tema principal, o filme reafirma a concepção de que o cinema representa uma importante fonte de conhecimento. No filme, o diretor revela a trajetória de um adolescente que é vítima da opressão de várias instituições sociais como: a escola, a família, e o reformatório, ou seja, os adolescentes não são compreendidos pela sociedade francesa na primeira metade do século XX. Esta temática demonstra o caráter atual do filme. Diante da opressão institucionalizada, o adolescente vive em busca
da liberdade, e foge da escola e da família, buscando refúgio nas ruas de Paris - cenário do filme. As ruas impõem dificuldades para sobreviver, mas oferecem lazer nas praças, entretenimento no cinema, e liberdade.
Truffaut, era uma câmera inteligente, pois cada imagem produzida era portadora de múltiplos significados. Eram imagens metafóricas, como fica nítido na primeira cena do filme, quando a imagem de um plano sequência apresenta para o expectador a cidade de Paris, que é Para François Truffaut, as questões identificada na imagem que demonrelacionadas ao ser humano, eram stra o símbolo maior da cidade, a as mais importantes para o cinema. Torre Eiffel. Outra inovação do Como representante do movimen- cineasta foi produzir um filme a to Nouvelle vague, ele confirma partir do ponto de vista de um adoas abordagens do movimento que lescente, revelando suas angústias, retratava principalmente a condição e sua compreensão do mundo dos humana, condição esta de estar no adultos. mundo e ter que enfrentar os problemas que a vida nos impõe. O filme pode ser considerado uma cinebiografia, uma vez que retrata Para as pessoas que apreciam os as- acontecimentos ou situações que pectos técnicos do cinema, o filme ocorreram na vida do diretor, como oferece contribuições importantes, a prisão na adolescência, a fuga do porque Truffaut procurou inovar a reformatório em busca da liberdade, linguagem do cinema, ao empregar sua relação com a literatura, e sua no filme tomadas longas, a partir da paixão pelos filmes, que é demonincorporação do plano sequência e strada na cena em que o garoto vai do uso de travellings. Na busca da ao cinema. simplicidade, adotou fotografias quase sem iluminação artificial, Tribuna de Anápolis, 24 a 29 com o intuito de garantir maior re- de Abril de 2011, p.2 / Anápolis alismo ao filme. Goiás Podemos dizer que a câmera de
Ronaldo Monteiro
Diretor de Acervo do Cineclube Xícar da Silva Historiador e Especialista em Cinema e Educação
Agradecimentos especiais: SESC Anápolis Secretaria Municipal de Cultura de Anápolis Assoiação Barsileira de Documentaristas - Seção Goiás Cineastas Goianos Jornal Tribuna de Anápolis Jornal Estado de Goiás Site Agoranapolis.com.br
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