Sumário Prefácio.................................................................................................. 1 Introdução...............................................................................................2 1º Capítulo..............................................................................................4 Um hóspede por algumas horas..............................................................8 Sempre na lembrança, aquela mulher...................................................15 Um plano para a fuga............................................................................17 2º Capítulo............................................................................................23 A pomba que voa..................................................................................28 3º Capítulo........................................................................................... 30 Aves de rapina...................................................................................... 33 Um sonho durante a madrugada.......................................................... 34 Amor de perdição.................................................................................35 A ajuda da ave não fora esquecida........................................................38 A grande noite na gruta, junto de uma fogueira e das aves de rapina 41 A volta da grande ave deste sonho inesquecível, que até agora não sabíamos o que seria de nós dois..........................................................42 À espera de um novo dia e a preocupação de fazer a ave nos obedecer................................................................................................ 43 As aves compreendem o desespero do ser humano............................. 43 O ciúmes é o caminho do amor da desconfiança e da perdição.......... 46 O pacotinho azul cor do céu, e as gargalhada e risos, que cortaram a nossa conversação................................................................................ 46 O despertar da ave rainha.....................................................................51 A saída da vila e a ida novamente à casa de Nei..................................51 O pernoite e a segunda acolhida...........................................................52 Um sonho inesquecível.........................................................................55 O tempo passsa, novos casos acontecem..............................................60 A amargura da vida, vem quando a cabeça não pensa..........................60 Uma virgem que foge................................................................65 Contra tudo e contra todos....................................................... 68 A amizade transforma, e a inocência se desfaz........................72 O que passei e pensei naquela semana, durante a noite, e nos dias que se seguiram, naquela semana................................................................72 A vida continua e o destino nos aguarda .............................................72 A tentação em sonho ............................................................................73 A reserva e o destino.............................................................................76
Um novo dia, uma nova esperança.......................................................77 A amarga decisão e o último adeu....................................................... 78 O Término da sessão da meia noite, e o início da sessão da madrugada, que ia até as duas e meia da manhã Sábado..........................................82 Um convite irresistível..........................................................................86
PREFÁCIO Verdadeiramente lisonjeado por ter o prezado escritor: Guerino Pinto de Moraes, me convidando a prefaciar o seu livro: “Um Sonho Inesquecível”,aqui estou para escrever algumas palavras sobre o ilustre escritor que nos brinda com esse romance, tão bem engendrado em muitos anos de pensamentos e sonhos e que agora nos traz essa obra tão bonita e que, tenho a certeza que as pessoas ficarão emocionadas ao ler o seu livro. Guerino é uma pessoa de grande sensibilidade e traz no bojo de seu inconsciente toda a gana do paulista interiorano, porque ele é filho de uma região muito bonita, a sua Mogi Mirim e nós todos que somos fãs de coisas, músicas e canções do nosso interior paulista, agora fomos brindados com esse romance, extraído logicamente das observações que ele cultivou no âmago por tantos anos. Os personagens que integram esse livro têm os seus nomes fictícios, mas creio que absolutamente são pessoas que tiveram e tem suas vidas demonstradas no livro, os amores as paixões e em fim um mundo que era para nós encoberto, porém o ilustre escritos de uma forma magistral nos mostra todas as nuances dos acontecimentos e nos levar a um patamar de sonhos, possíveis e imaginários. Muito obrigado caro escritor Guerino Pinto de Moraes, você compôs o seu livro como um Camilo Castelo Branco, no qual nos parece estar vendo todo o desenrolar da trama como se estivéssemos dentro dela... Muito obrigada mesmo meu caro amigo. Adriano Augusto Costa Filho. Membro da Casa do Poeta Lampião Gás de São Paulo e Movimento Poético Nacional. ADRIANO AUGUSTO DA COSTA FILHO Membro da Casa do Poeta de São Paulo e do Movimento Poético Nacional.
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Introdução Minha mulher grande em arte culinária, disse-me que no dia em que eu parei de escrever alguns rascunhos dessa historia de amor. - Sente-se e saboreie esses quitutes. Sentei-me e saboreei alguns salgadinhos e doces Ela deu uma olhada em meus manuscritos: - Gostaria de ler este livro que você esta escrevendo - afirmou. Olhando para o maço de manuscritos que eu havia deixado no canto da mesa, foi separando um por um pela ordem e deteve-se na folha do meio, que dizia “Quanto mais conheço as mulheres, mais estimo ter nascido homem”. Depois examinou varias outras páginas ao acaso e perguntou: - Por que nestas passagens sublinhadas, você usou seu próprio nome, mas fala como se fosse de outra pessoa, enquanto na maioria das vezes você escreve na primeira pessoa? - Quando se escreve um romance – tentei explicar para ela freqüentemente as palavras ocorrem num impulso de maneira automática. Foram assim que essas passagens em que falo na terceira pessoa que me vieram à mente. No trabalho de releitura preferi não alterá-las, grifando –as apenas para diferenciá-las do restante da narrativa. Não sei se ela entendeu muito bem, mas a seguir comentou: - Esse romance é diferente dos outros, a gente fica sem saber o que pensar. Mas eu acho ótimo, pois é o primeiro livro que você escreveu meu querido. - E foi uma surpresa para todos – respondi-lhe. Pois bem minha querida, apanhe todos esses manuscritos, e leia com atenção, assim você ficara sabendo o que vem a ser este romance. Lembre-se, porém é um romance de amor. Tente ler, e tire você mesma a conclusão. Ela olhou-me com um sorriso nos lábios e disse: - É impossível não tenho tempo o pouco tempo livre de que disponho eu dedico aos nossos filhos. Walter fez uma cara de que não entendeu, abraçou a esposa e falou: - Sabe minha querida, quando esta obra estiver pronta e encadernada, daí vai ser mais fácil para você ler. E vai saber porque essas duas almas se apaixonaram . Seus sonhos eram cheios de poesias e de vários 2
acontecimentos, marcando assim a vida de cada um cheio de contratempos,brigas , reconciliações e paz. Este romance trata da vida, do trabalho e dos amores, sonhos por que passou este homem, e cheio de amores por todas as mulheres que marcaram sua vida. Para ele as mulheres eram a coisa mais sublime que Deus deixou no mundo para os homens. Por que os homens gostam tanto de amar? O leitor ao ler a primeira página, tenho a certeza que ficará curioso e vai sem dúvida nenhuma, querer chegar ao fim. No momento de profunda solidão, onde não há amor nem uma sombra para abrigo, ele soube com perícia construir um grande castelo de amor, para amar e assim passar os dias e as noites feliz, junto de sua amada.
Volume I. – Foi escrito em 1.963, após um sonho que lhe deu origem. Dedico-o a minha esposa e filhos. Nota inicio do primeiro manuscrito em 1.963 a 1.966, segundo volume tudo o que passou de 1.995 a 1.996.
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1° Capítulo Do passado eu só relembro dos dias de amores, caricias que recebi por ser um homem romântico,e creio,por ser despido de maldades. Tudo começou em um sábado 14 de dezembro de 1.963. Era uma manhã clara, o sol brilhava fraco por entre as nuvens. Aparecia e se escondia.Uma insistente garoa caia mansamente, gelada. Um vento frio cortava os rostos dos transeuntes. De repente, o dia escureceu. O que era garoa se transformou em chuva, minhas mãos ficaram geladas e eu fiquei um pouco molhado. Estava sem agasalho,no escritório eu tinha guarda-chuva e capa, mas não levara comigo porque saí pretendendo voltar logo. Fora trabalhar aquela manhã pensando em ir ver um amigo, assim que eu saísse do escritório, para ajudá-lo em uma pequena reforma que ele estava iniciando em sua casa. Não sei se foi obra do destino, ou por capricho sei lá, porque tudo aconteceu sem eu esperar. Tomei o ônibus na Av.da luz das E.M.das Cruzes que explorava a linha São Paulo - Mogi das Cruzes. O bairro onde eu pretendia ir chamava-se Ponte Raza. Sentei-me nas primeiras poltronas, logo atrás do motorista ficando ao lado da janela para apreciar o trajeto do nosso itinerário. Ao meu lado havia um lugar vago. O ônibus não estava lotado, e logo atrás do lugar onde eu estava, sobravam várias poltronas vazias. Eu havia escolhido o lugar da frente para facilitar o acesso no ponto onde iria descer. Antes, porém da partida do ônibus, tomou assento ao meu lado uma linda jovem. Trazia nas mãos duas sacolas pesadas,o que dificultou a subida no veículo. Ajudei-a. Coloquei as duas sacolas em minha frente, deixando agora a janela do ônibus, à disposição dela que me agradeceu. Tinha um corpo bem feito, cabelos longos, acastanhados, caídos até a cintura. Seus olhos pequeninos vivos e atraentes davamlhes ares de uma boneca chinesa. Vestia um conjunto de duas peças, justo que lhe caia muito bem,acentuando as curvas do seu corpo. Começava a pensar que aquela viagem prestes a se iniciar já se mostrava promissora, quando ouvi a voz meiga e deliciosa da minha companheira de assento. 4
- Preciso ir telefonar para minha mãe, volto em minutos. Por favor, peça ao motorista para me esperar - disse levantando-se. E desapareceu na estação, voltando logo em seguida e agradeceu-me com um lindo sorriso, mostrando as pontinhas dos alvos dentes, por entre os cantos finos lábios cor de rubi. –Não fiz mais do que minha obrigação - respondi-lhe. O importante é que você não perdeu o ônibus. Dada a partida ao ônibus, ela começou a ler um exemplar das Seleções Readers Digest. Era evidente, porém, seu desinteresse na leitura, pude observar com o rabo dos olhos. Na revista, enquanto ela aparentemente lia mais atenciosamente um artigo, pude fixar o olhar sobre uma fotografia de uma moça parecida com minha companheira de assento. Lá estavam principalmente os mesmos lábios cor de rubi e finos, semelhantes, quando fechados,a um barquinho. Absorto, embora muito dissimuladamente, na fotografia, nem cheguei a perceber de inicio que a moça abandonara a leitura e apoiara na poltrona reclinada. Parecia mergulhada em pensamentos e seu semblante adquiria um ar tristonho. Daria tudo para saber o que se passava naquela cabecinha. Adoraria a oportunidade de falar-lhe. De repente, o ônibus fez uma curva meia brusca, ela abriu os olhos e,num rápido cruzar de olhares,surpreendeu-me contemplandoa. Disfarcei, ao mesmo tempo que voltei à minha inquirição interior. No que será que ela pensava? Poderia estar pensando nos familiares? Talvez fosse casada, e pensasse no marido, nos filhos. Talvez fosse noiva e pensasse no eleito. E via assim ir chegando o meu ponto, sem certamente ter a oportunidade de conversar com ela. - Não isto não pode acontecer – concluí mentalmente, e resolvi quebrar o silêncio. – O que se passa com você, assim, tão triste e pensativa? perguntei-lhe. E sem esperar sua resposta,num jato de palavras, acrescentei: - Seu silêncio, me faz ficar triste e também a pensar nas amarguras da vida. Sabe eu gosto de conversar,trocar idéias, de fazer amizade. Adoro passeios, observar a natureza, mas,confesso,tenho medo do amor,da tristeza e da morte. Às vezes me preocupo com os 5
sofrimentos alheios, como agora. Estou preocupado, sofro por você, apesar de não saber o que você tem. Diga-me, senhorita, com sinceridade,você é casada,solteira, ou não é comprometida? Eu tenho que descer no próximo ponto, gostaria de obter sua resposta. Só então percebi que ela já tentava me responder. - Afora meus pais e meus irmãos, não tenho mais ninguémdisse. E dando outra direção a conversa, continuou: - Pensei que você fosse ate Suzano, o ponto final desta linha é lá, você conhece? - Não conheço mas gostaria – respondi. - Isto é, caso minha companhia lhe agrade. Se assim for não descerei no próximo ponto. Gostaria que eu fosse com você? Seu sorriso antecipou o sim: - O prazer é todo meu – disse. Só nessas alturas nos apresentamos: - Meu nome é Dulce.E você como se chama? - Walter com W às suas ordens. Prosseguimos num caloroso diálogo Ela me falou do seu amor à natureza,ao campo,às praias. Confessou gostar de cinema, de teatro, de viagens. - Enfim de tudo o que é bom- sentenciou. De minha parte, revelei meu gosto pelo amor e pelas mulheres. Pelo carinho, pelos bons filmes, as boas peças de teatro, a literatura e as viagens. - Gosto muito também- acrescentei - de passar o tempo conversando,como estamos agora. Numa prova cabal de que eu acabara de afirmar, nem perceberia nossa chegada a Suzano, se ela não me interrompesse: - Walter, chegamos e nem notamos. Vamos descer no próximo ponto. Pude assim admirar o surpreendente crescimento da cidade. Já estivera de passagem por Suzano em 1945, quando fui à casa de um amigo de meu falecido pai. Tempos depois voltei para visitar um colega que trabalhava comigo no laboratório Andrômaco, no bairro do Cambuci,em São Paulo. Eu tinha 6
apenas 16 anos de idade, era um jovem sem experiência na vida. Naquele tempo a cidade ostentava uma pequena praça, com um lindo jardim e uma igreja. A avenida principal saia do centro da cidade indo em direção ao cemitério, localizado na parte alta. Encontrava agora uma cidade grande, várias áreas construídas com cinemas, dois enormes jardins e uma bela e grande igreja. Tudo mudara,enfim tudo mudou de 1945, para cá. Comentei as mudanças com Dulce. - Tudo esta diferente aqui, Dulce. Gostei muito em ter vindo, principalmente com tão agradável companhia. – Sei Walter vejo em seus olhos. Do lugar onde estávamos,Dulce me explicou, levava-se uns quarenta minutos a pé. Poderíamos tomar um táxi, ela sugeriu, mas também poderíamos ir a pé. - Gosto de andar a pé – afirmou – e estou acostumada a fazer esse trajeto. Eu segurava duas sacolas pesadas que ela carregava, mas vi na sugestão da caminhada, uma boa oportunidade de ficarmos um pouco de tempo juntos. - Vamos a pé – respondi - Também gosto de caminhar, e de falar de amor. Ela,então,sob os meus protestos, tomou-me uma das sacolas: - Como já lhe falei, cubro este trajeto a pé, todos os sábados, quando venho visitar a minha mãe – disse. - E faço sempre carregando peso. - Não falo de amor porque estou sempre só – disse. Sorriu me olhando, esperando uma resposta minha e sorri também dizendo: - Vamos caminhar. Iniciamos assim a caminhada continuando a conversar sobre vários assuntos. Havíamos percorrido um quarteirão, e eu, depois de tocarmos no assunto amor, preparava-me para falar do que começava a sentir por ela, quando encontramos com duas conhecidas suas. Fui-lhes apresentado como um colega de trabalho. Ao chegarmos próximo da esquina, onde Dulce morava paramos, e eu quis dar a ela a sacola, mas enfrentei sua recusa: - Tem graça isso agora? Seu rosto mostrava descontentamento: - Você irá comigo até em casa. Ou vai ficar aí na esquina 7
esperando minha volta, o que evidentemente não cai bem, não é? Tentei ainda protestar: - Não, Dulce isto não. Não posso ir a sua casa assim tão de repente, pois não faz sentido, nosso conhecimento, começou praticamente agora eu acho melhor darmos tempo ao tempo. - Ora, Walter, deixe de ser bobo, vamos sim meus pais são muitos bons e compreensivos e tem muita confiança em mim. Eles sabem como é que eu escolho as pessoas com quem eu ando. Diante da insistência, resolvi ir junto com ela para conhecer seus pais. Um hóspede por algumas horas Ao chegarmos a casa, conheci uma senhora de estatura regular, bem forte de cor morena, cabelos negros compridos, caídos nos ombros, meiga e atenciosa muito educada. A mãe de Dulce lembrava a minha mãe, meu tesouro que perdi, anos depois, quando Deus a chamou. Depois fui apresentado para os irmãos e irmãs de Dulce. Os garotos eram simpáticos e brincalhões, sem deixarem de ser educados. Um deles era o Joãozinho, fazia-nos rir o tempo todo. Nunca mais esqueci suas brincadeiras o outro, o enteado do Sr. Teodoro, pai de Dulce, parecia Pelé, não só pelas feições, mas também pelo gosto pela bola. Foi um sábado memorável, as horas voavam. Num caramanchão, sob incontáveis maracujás verdes e amarelados, eu sorvia o mate que dona Beatriz, mãe de Dulce, mandava-a me servir. Tanto era a hospitalidade e o carinho a mim dispensados que eu parecia ser o filho mais velho daquela casa. Depois de algum tempo dona Beatriz chamou Dulce e ordenou: - Prepare para o senhor Walter um café: -Não minha senhora não é necessário não se preocupe comigo. - Não senhor nada disso o senhor vai tomar um cafezinho. Depois de tomado aquel cafezinho, dei mais uma olhada no caramanchão que, agora, recebendo os raios solares, fazia-os refletirem-se naqueles lindos maracujás, alguns amarelo-claros, outros amarelo-escuros e outros rosados, prontos para serem saboreados. 8
Alguém me trouxe a revista Sentinela, editada pela seita Testemunhas de Jeová, que eu já conhecia, pois a recebera de um senhor em passagem pela minha casa. Às quartas-feiras, eu me reunia com um conhecido meu,o Sr Adelino, para estudar a revista Sentinela e a Bíblia. Aproveitei a oportunidade, e passei a comparar com Dulce, os dizeres da revista e da Bíblia. Entretanto, já me tornava ansioso pela volta a São Paulo, com as possibilidades de conversar mais com Dulce, e para colocar o meu braço naqueles ombros, acariciar aquele meigo e lindo rosto. Iria pedir a ela que falasse mais sobre si, que contasse mais sobre a sua vida. Estava curioso, pois ao chegar à sua casa, ouvi choro de criança. Estranhei, perguntei à dona Beatriz se ela tinha alguma criança de colo: - É meu netinho, filho da Dulce -- respondeu- me ela. Fiquei sem saber o que pensar, diante da resposta, mas sem dona Beatriz notasse minha surpresa, continuei a ouvi-la. - Olha, senhor Walter, já faz seis anos, que este infeliz sofre – disse-me. Pedi para ver o garoto. No quarto, fiquei espantado ao vê-lo. Era um menino frágil, magrinho, suas pernas pareciam mais uma varinha de palha de trigo, seus olhos afundados naquela testinha magricela, seus bracinhos assemelhavam-se aos de uma boneca de pano. Imediatamente pensei: - Meu Deus será que este menino tem recuperação? Talvez sim, talvez não, eu fiquei naquela duvida e tristonho por ver tal coisa. Sentia-me intensamente amargurado de ver tanto sofrimento. Bem que este menino poderia sair agora desta cama- imaginava - saltitar por aí como um cabritinho. Sim seria um milagre, meu Deus. Como esta família ficaria alegre. Eerguntava-me como tudo aquilo acontecia. Estava ainda mergulhado naqueles pensamentos, quando percebi a pobre moça envergonhada , sem saber o que fazer porque até aquele momento tudo ainda estava envolvido em segredo. Dulce ficou sem ação a tristeza estava estampada em seu rosto. Não esperava certamente, que tudo viesse à tona. Não imaginara que sua mãe me deixasse entrar no dormitório, para que eu fosse olhar o garoto. 9
Ela pensou que o menino estivesse dormindo, e em sua tristeza e sofrimento ainda existia um fio de esperança, para o caso de seu filho no dia de amanhã. Pressenti naquela linda jovem, a força de vencer na vida. Pude adivinhar força e decisão. Lembrei-me daquele dizer “Hei de Vencer”. Com certeza, iria lutar para sobreviver e conseguir de tudo para seus familiares, e para seu filho. Compartilhei também daquela dor e do sofrimento de Dulce porque tudo aquilo era para mim um capricho do destino. – Depois de despedirmos de seus familiares, caminhamos para o ponto de ônibus, que nos traria de volta para São Paulo. – Fomos caminhando e conversando, a respeito de seu filho. - Sabe sou casada e desquitada – revelou-me. Me separei porque meu marido era um alcoólatra incorrigível. Tudo o que você viu hoje em casa foi resultado das suas bebidas, do seu vicio. – Suas mágoas afloraram em caudal: - Meu filho sem saúde, a culpa foi do pai. A bebida acabou com meu exmarido e por causa da sua bebida, meu filho nasceu fraco. Nunca mais vai levantar-se daquela cama, os médicos já me alertaram disso. Olha Walter, às vezes eu fico sem coragem de viver, diante de tanta infidelidade em meu coração, só existe revolta. Tentei consolá-la. - Não minha filha, veja bem, a vida foi feita para ser vivida. Não pense nos desenganos, nas frustrações pense no amor, pense em Deus, e peça a ele paciência e ajuda porque nem tudo esta perdido. Temos Deus em nossos corações e ele nos ajudará. Eu dava a ela aquelas palavras de conforto, mas por dentro eu pensava, nas razões de tanta crueldade, mistérios e infelicidades, na vida daquela moça. – Oh, meu pai perdoai os nossos pecados e dai-nos força para viver- eu meditava. Gostaria de entrar na cabeça de Dulce, para tentar descobrir aqueles mistérios que envolviam a sua vida. Aproveitaria para dizer-lhe, que tudo o que plantamos hoje, colheremos amanha. Conhecimentos mais aprofundado, iniciei um romance com Dulce. Pedi a ela que não fosse egoísta, maldosa, e sem coração e que nunca tornasse um homem escravo do amor. Sabia que eu sou um homem sincero e esclarecido - disse lhe. Gosto das coisas bem definidas para poder amar, e ser bem amado. 10
Quero ter com você, muito amor e carinho, talvez,seu exmarido não tenha lhe dado, o carinho o afeto que você merece. - Não somos culpado por tudo que o destino nos prepara acrescentei. - A vida nos oferece novos caminhos e eu quero trilhá-los com você deixando as desilusões de lado. - Walter, eu fico muito grata por você me compreender e querer me amar - respondeu ela. Da vida eu já não preciso contar-lhe mais nada. Sou casada, desquitada e tenho um filho doente, você sabe. Se essas coisas não o impedirem de me amar, da minha parte, garanto, há plena reciprocidade. Quero amá-lo, verdadeiramente amá-lo. Então tomado de verdadeira fúria sentimental despejei-lhes uma catapulta de confissões. - Dulce, pretendo amá-la muito mesmo, meu grande amor, meu sonho inesquecível. Amor, de mm você terá meus carinhos, em meus braços sentirá o calor do meu corpo, a delícia dos meus lábios, e o afagar das minhas mãos que percorrerá todo o seu corpo num frenesi inesquecível. Só quero que você seja sincera, fiel e carinhosa, é o que meu coração pede. Perdôo, perdôo sim o seu passado, assim como você perdoa o meu, e caminharemos lado a lado para vivermos o nosso amor, o nosso romance, a nossa felicidade, deste sonho inesquecível. Dulce caiu num choro convulsivo. Contudo, entre as suas lágrimas e soluços, logo começou a desabrochar um lindo sorriso. Abrindo a bolsa em seguida, retirou um lenço azul, enxugou as lágrimas e, ainda soluçando, disse “eu te amo, como te amo” para, num ato contínuo, quase enlouquecida, envolver-me num cálido e profundo beijo. Eu sentia aqueles lábios colados aos meus, o vento soprava uma brisa gostosa e o perfume das flores, juntava-se ao dela e eu continuei a beijá-la, e segurando aquele formoso corpo, sentindo o calor do amor aquele inesquecível amor, amor da minha vida. Ao chegarmos a São Paulo, retomamos a sessão de beijos. Beijei, beijei, sim,e vi que ela estava sedenta de amor, e eu,com o carinho da minha alma, puxei-a mais para perto de mim, e continuei beijar aqueles lábios rosados e gostosos, e era aquilo que o meu coração desejava. Um sentimento de culpa, apoderou-se de minha alma.Por aqueles largos momentos, esqueci-me dos meus filhos e da minha 11
adorada esposa. Não obstante, na semana seguinte tudo parecia para mim, uma nova vida, tudo realmente mudando, com o inicio de um novo romance cheio de paixão. Naquele momento, eu estava era com febre e desejo para ter aquele amor, ter novamente este corpo lindo nos meus braços. Eu não sabia o que fazer daquele novo amor, mas enfim depois de muito lutar consegui encontrarme com ela e fazer com que ela se entregasse a mim de corpo e alma. Comecei a ser amado por aquela mulher, e de agora em diante, teria que pensar nela também, teria que lhe dar muito carinho e amor. Domingo quinze de dezembro de 1.963, dia que eu resolvera dedicar inteiramente a meus familiares, a figura de Dulce que não saíra do meu pensamento toda a noite anterior, continuava na minha cabeça. Após alguns goles de uísque, porém, não tive dificuldade de participar da alegria da minha mulher, e da minha família. Em todo o caso, eu não via a hora de chegar o dia seguinte para receber um prometido telefonema de Dulce. O domingo me parecia esquisito, me sentia calmo, embora radiante, em meu corpo não havia nervos. Todo o meu ser só queria amor, carinho e ternura. Ansiava para beijar novamente aqueles lábios, voltar àqueles momentos de felicidade, sentir meus lábios unidos aos de Dulce, trazer aquele corpo juntinho a mim a lembrança do brilho daqueles olhos mostrando o ardente desejo de ser amada novamente e do sussurro em meus ouvidos das belas palavras de amor enchiam de expectativa o meu domingo. Eu queria também, com todo o meu romantismo, falar belas frases de amor, de um amor cheio de carícias sem par que somente o meu coração, sabia transportar para o meu pensamento. Eu estava em meu sono, não, não estava, estava sim sonhando acordado, quando minha esposa adorada me chamou , para que eu fosse tomar o meu banho, para depois irmos jantar. Atendi ao chamado daquela que na realidade, era o meu verdadeiro amor e até hoje é o meu ser,a minha vida. Fiz de tudo para esquecer aquele romântico inicio de um amor louco, sem lógica e sem direito de existir. Só o sono poderia fazer-me esquecer daquilo que me parecia uma insanidade. E dormindo apaguei inteiramente o pensamento. Ao despertar para um novo dia que se iniciava cheio de indecisões, 12
lembrei-me do nome Dulce novamente. - Será que você vai me telefonar hoje? – perguntava-me. Pensei nisso repetidas vezes, enquanto me preparava para ir para o trabalho. Despedi-me da minha adora esposa e filhos, e dirigi-me para o trabalho, mas sabia sim que os meus verdadeiros amores ficavam ali à espera do meu regresso. Ao chegar ao escritório, fiquei horas à espera do telefonema cujo resultado poderia ser o fim de tudo, ou,ao contrario, a continuação daquele romance praticamente inviável. Depois de ter refletido bem, sobre como lhe falar, julguei que seria bem forte para dizer-lhe que se esquecesse de mim, e que tudo não passou de uma pura amizade. Em meu sonho e em meus pensamentos jamais eu poderia amar duas mulheres ao mesmo tempo. De repente com o trim trim do telefone. O meu amigo atendeu e me chamou: - Walter é para você. Olhei com o semblante sério e preocupado. – Perguntou quem é? - É mulher malandrão - ele me respondeu sorrindo, enquanto me passava o telefone. Ao dizer “alô quem fala” – ouvi do outro lado da linha a linda voz. - Sou eu meu amor já se esqueceu, desta que o ama? Então não se lembra que eu iria telefonar hoje? Após alguns segundos, respondi com a voz ainda presa na garganta: - Não acredito, você cumpriu com a palavra. Como vai minha vida, meu amor? - - Meu amor que bom você ter reconhecido minha voz, como você passou o domingo meu querido? - Bem,bem mesmo, mas só pensando em você. A sua beleza me fascinou e me fez só pensar só em você,em mais nada. - Ah você não tem jeito mesmo sempre romântico. Mas me diga meu querido, nós vamos nos ver hoje? - Sim meu anjo é lógico. - A que horas amor meu? Olhei no relógio, apenas 13:45 horas. - Está bem pra você às 17 horas? - Está bem, meu louquinho, esperarei, ansiosa. 13
As horas passavam voando. Eu me perguntava,“será que ela já me ama?” Sei lá, me respondia. Ela tem razão eu sou louco mesmo,em namorar deste jeito, isto não é pra mim, eu já sou casado e amo minha mulher e filhos. A tarde muda, um vento frio entrou pelos vitrôs que estão abertos, eu me levanto do lugar onde estava, e vou ver porque está tão frio, era a garoa que caia sem cessar e o vento soprava forte jogando a garoa para longe, que batia nos vitrôs deixando-os todos embaçados e com os pinguinhos a escorrer, descendo devagar nas paredes, e se juntando na calçada, já todinha molhada. A garoa que de repente vira uma chuva forte, o vento para, na sarjeta a água corria velozmente carregando todo tipo de rejeitos. Papéis, papelão, caixinhas deslizavam como se estivessem apostando corrida, batendo uma na outra, e a água de vez em quando, com sua fúria causava o naufrágio total daqueles fantasiosos naviozinhos. Eu apreciava o colorido de toda aquela sujeira, descendo rua abaixo, indo cair em um bueiro, a poucos metros de onde eu estava. Tornei a olhar no meu relógio de pulso, e vi que já eram 16:35. Procurei me aprontar, ajeitei todos os processos já despachados em cima da escrivaninha, guardei o romance que lia “Amor de Perdição” no cantinho da gaveta, arrumei mais alguns documentos separei os serviços para a terça-feira e coloquei minha pasta 007, apanhei o paletó, a gravata. Dei uma olhada no espelho ajeitei a gravata, e os meus cabelos ainda pretos, passei as mãos sobre os olhos, vi que tudo estava normal. Despedi-me dos meus colegas de trabalho e saí em direção à Praça da Sé. A chuva continuava a cair mais forte ainda,a minha capa e o meu guarda-chuva quase não suportavam tanta água. No nosso segundo encontro, não resisti à tentação. A beleza, daquela mulher veio-me por inteiro. Mostrava-me ela todo aquele corpo escultural. E seus lábios vermelhos parecendo uma flor ainda em botão, levavam-me ao entorpecimento mental ao beijá-los. Fiquei num esquecimento profundo a respeito de minha vida, não pensava, naquele momento, em quem eu era. Paralisou-se tudo em minha mente, parecia até que eu fora hipnotizado por um ser estranho. Quando voltei a mim comecei a pensar naquela vida que eu iria transformar-me em um garoto ou em homem solteiro, o que eu não era. 14
Eu tinha os meus compromissos e muita responsabilidade, não poderia me separar disto e nem mudar nada na minha vida. Será que uma mulher muda tanto a vida de um homem? Tudo aquilo parecia não ter fim. Um novo amor? Uma nova vida? Será que encontrei um novo amor? Não sei,só sei que quando ela estava ao meu lado, tudo se modificava, era só alegria em nossas vidas. A ternura,com muito carinho, era tudo que eu precisava e ela era pra mim o néctar do amor,iluminava meu caminho, parecia que era minha vida, o meu ser minha alma enfim. Assim sendo, no momento da despedida, eu não tive sequer um pouco de vontade de separar-me daquele anjo, de bondade e carinho que estava cheia de amor pra dar. Eu pedia a Deus para que todos os relógios do mundo parassem de trabalhar para que não houvesse despedida entre nós. Assim não teríamos tristezas e lágrimas para derramarmos. Eu estava beijando aqueles lábios em forma de coração e pensando sobre nós quando ela me falou: - Meu querido já é tarde e eu preciso ir embora. E para dizer a verdade, essas foram as horas mais felizes que passei ao seu lado. No momento fiquei triste, e com pena de mim mesmo, não gosto de despedida, e quase não tive coragem de dizer a ela adeus. Reuni todas as minhas forças para naquele momento pedir a Deus para fazer-me esquecer aquela mulher, naquele momento em que eu estava perdido em alto mar e em timoneiro, e com o coração amargurado e na incerteza deste amor. Eu não poderia amar mulher alguma neste mundo, a não ser a minha esposa e filhos. Por fim consegui dizer a ela adeus e, mentindo, falei: - Adeus, meu grande e único amor, amor de minha vida. Mas ao beijar aqueles lábios adocicados, com o néctar do amor tive a sensação, de que nada na vida faria eu esquecer aquela mulher. Sempre na lembrança, aquela mulher O tempo foi passando, e realmente até hoje eu não consegui esquecer aquela mulher que parece ter vindo marcar a minha vida. Tentei apagá-la dos meus pensamentos, mais inutilmente. O amor dela 15
iria mudar os rumos dos meus dias. Muitos foram os planos que eu montei para vencer meus sentimentos. No terceiro encontro, colocaria uma daquelas artimanhas em execução. A oportunidade veio a calhar justamente quando eu estava na casa de Dulce. Naquela noite, ela estava muito alegre. Perguntei-lhe a razão de tanta euforia: - Hoje é a terceira vez que nós nos encontramos e eu tenho muitas novidades para contar-lhe - respondeu-me. Dulce fez-me conhecer duas irmãs suas gêmeas - esta era a novidade. Diante delas, e antes das apresentações, ela me abraçou e me beijou na boca. Depois me levou até o canto da sala, onde estavam as duas. Esta é a Rute e esta é a Eunice (Riama) – disse a guisa de apresentação. Elas eram de estaturas médias, e lindas morenas claras, olhos castanhos, rostos ovais, cabelos pretos e curtos, Rute tinha os cabelos pintados fazendo dela uma loira artificial, e a pele cor de jambo. Era atraente, dócil e educada, embora dona de um olhar provocante. Eu via com fascínio aqueles olhos. E seus lábios quando pronunciavam uma palavra, pareciam estar pedindo um beijo. Achei-a linda, e para a execução do meu plano, bastava que aquela jovem se deixasse seduzir por mim. Sou teimoso, confesso e reconheço; Não desisto facilmente dos meus planos. E logo os coloco em execução, lutando incansavelmente até conseguir os meus objetivos. No momento em que vi Rute, passei a pensar no estrategema para fazer Dulce se afastar de mim. Entretanto, a idéia de uma traição, entre as irmãs, ainda me causava certo desconforto. Aliviava a situação, o fato de que eu, pensando bem, já começava a gostar de Dulce que era um esplendor de mulher, mas continuava a crer que não seria possível por em prática tal loucura. Travava-se dentro de mim, uma verdadeira luta entre meus desejos, meus pensamentos, as minhas obrigações de marido. Tudo virara uma enorme confusão, eu passava horas fora de casa. O abandono freqüente da minha esposa e dos meus filhos levou-me a uma análise dos meus atos e do meu próprio caráter. Era como uma voz interior que vinha me alertando: - Walter você está errado e não pode continuar a errar, pois a vida não é como você pensa. Seja bom para sua esposa e filhos, deixe 16
de farra, da ida em apartamento com mulheres, ame mais aquela que lhe deu sua mocidade,todo o amor e carinho, que tanto você gosta. Contente-se em ter sempre o amor desse trio que o ama, é, mas, para mim nada adiantou este exame de consciência porque o meu espírito, só pensava em aventura e assim, estava preparado sabendo de tudo o que aconteceu e iria acontecer. Não quis saber de nada, absolutamente de nada, e caminhei para o abismo, para a loucura do segundo amor, e quem sabe o terceiro, e outros mais, só Deus poderia dizer, quantos estariam para chegar. A mulher, sempre a mulher. Bastava que pra isso houvesse uma oportunidade. E esta não demorou a aparecer justamente, quando eu e Dulce,estávamos completando dez meses de grande paixão e de deliciosas noites, nas quais passávamos um ao lado do outro trocando juras e mais juras de amor. Assim fazíamos planos para o futuro. Como eu disse, porém a oportunidade apareceu. Eu estava no escritório e recebi um telefonema de Rute falou-me que eu fosse encontrá-la às 18 horas naquela maravilhosa tarde de verão. - Preciso falar com você – afirmou categoricamente. - Não dá para falar pelo telefone – perguntei. -Não, quero falar pessoalmente. Quero contar-lhe algo de que você vai gostar. Vislumbrei naquele momento, a ocasião, para executar meu plano. - Está bem, encontro-me com você às 18 horas, aqui em frente ao meu escritório. De certa forma, assustei-me com sua resposta: - Ok, amor de minha vida, até já meu querido. Um plano para a fuga Eu queria fugir do amor, mas ele me perseguia onde quer que eu estivesse. E onde houvesse mulher era difícil de fugir ao encanto do amor, sobretudo no verão quando daqueles seres emanava o perfume das flores. Na bela tarde, tudo corria mais fácil do que eu previra. Foi um encontro cheio de surpresas. Rute estava linda vestida com um conjunto, azul escuro cuja saia ajustava-se bem às suas pernas bem torneadas, a blusa branca com decote provocante, deixava os seios altos e pontudos, um pouco para fora do sutiã. 17
Fui chegando bem devagarinho para junto dela e analisando aquele corpo escultural, de cintura bem feita. Seus cabelos amarelados da cor do sol ao nascer, faziam-me lembrar das manhãs de verão, em que eu ficava olhando através do vitrô da minha sala as montanhas enfumaçadas. O Sol aparecia bem redondo e amarelado, ressaltando as montanhas azuladas e bem distantes de onde eu morava. Estendi-lhe minhas mãos e diante da sua, reação ao apertá-las, não cometi uma infração contra a etiqueta: ela parecia pedir que eu beijasse suas mãos. Não hesitei. Levei-a até os lábios. Então veio a surpresa. Em seguida, ela se ergueu na ponta dos pés para beijar-me. Disse antes: - Isso é loucura, mas eu o amo. Eu fiquei sem saber o que fazer, é incrível tudo estava acontecendo fácil demais. Perplexo diante da velocidade tomada pelas coisas, fiz a primeira proposta que me veio a cabeça. Vamos ao cinema? Ela assentiu, mas eu acrescentei: - Espere aí menina, você não disse o que quer comigo, até agora não me falou o que tinha para me contar. - Bobinho não é nada. Acontece apenas é que a Dulce foi para a casa de papai, e Riama vai visitar uma amiga. Eu iria ficar só, então planejei tudo para poder encontrar-me com você não acha que foi uma boa idéia? Como tudo se encaixava dentro dos meus planos, fui em frente. Depois do cinema saboreamos uma apetitosa pizza. E enquanto o garçom preparava a conta e o café, comecei a contar um pouco de mim para ela. A noite estava um pouco fria, e aquele vinho tinto foi bom para nós, esquentou um pouco, e o café caiu bem. Saímos do restaurante ainda sem destino e no caminho fomos conversando sobre vários assuntos, ela aconchegava cada vez mais o seu corpo, junto ao meu. Levei o meu braço por baixo do paletó que ela havia desabotoado, e fiz com que ela parasse, juntei com as mãos aqueles cabelos aloirados e num gesto gotoso fiz com que ela ficasse agora de frente para mim. Fui beijando desde a testa até chegar aos lábios, e vendo aqueles olhos fechados como se estivessem dormindo, continuei a beijá-la, sentindo suspirar gostoso de uma jovem querendo se entregar para o amor. Virei aquele rostinho angelical de um lado, encostei os meus lábios nas orelhas pequeninas, e fui descarregando belas frases de amor, ela 18
suspirava, dizendo: - Walter, meu querido, eu o quero, eu o adoro. Retomamos a caminhada, com ela falando: - Sabe Walter eu estou cega de amor por você, meu querido e amado, você não sabe e nem imagina que eu o amo muito, e a quanto tempo. Desde quando nós trabalhamos juntos. - Não, Rute, não posso acreditar nas suas palavras - disse-lhe. - Walter, eu sei que você não acredita,mas é a pura verdade, juro que é. Fiz-lhe a proposta: - Rute vamos para um local, onde possamos conversar entre quatro paredes, você quer ir? Ela me pediu alguns minutos para pensar. Eu já planejava como tudo iria acontecer. Rute seria a minha arma para provocar ciúmes em Dulce, possibilitando o rompimento do nosso caso. Seria bom que Rute aceitasse o convite para ir ao apartamento, para que as coisas mudassem. Quando Dulce descobrisse meu envolvimento, com sua irmã, certamente brigaria comigo. E eu continuaria, mesmo às escondidas, meu romance com a bela Rute, no esplendor dos seus 17 anos. Os minutos pedidos por ela demoraram apenas alguns segundos. Logo estávamos no apartamento, Rute se entregou de corpo e alma para mim. Mal ouvíamos o ronco dos motores dos veículos que transitavam pela Av. Rio Branco, cada motor tinha um ronco diferente, a madrugada de quem queria dormir, certamente seria um inferno, o que não era o meu caso. Já eram 2 horas da manhã. Enlacei Rute pela cintura, sobre o corpo de banho recém tomado, apenas a camisola rosada, com filetes brancos, só que um pouco grande para aquele corpo mignon. Assentava-lhe bem, deixando transparecer, os tesouros que enganosamente parecia querer ocultar. Ela se mostrava pronta por inteiro para um novo ataque meu. Minhas aos deslizavam pelas suas costas, pelos seus seios e um calafrio começava nas pontas dos meus pés, na medida em que o calor daquele corpo se transmitia ao meu. Ela soluçava baixinho como quem quer chorar, balbuciando: - Amo-o, amo-o quero mais você... Passei a mão sobre a testa dela e fui acariciando aquele pequenino rostinho redondo, até que ela parou de soluçar, e, levantando a cabeça me 19
ofereceu os lábios para que eu a beijasse. Com as duas mãos apertei a sua cintura delgada e quente, trazendoa junto ao meu peito. Andando praticamente de lado, levei-a para o dormitório para nova entrega mútua. O tictac do relógio cuco pendurado na parede da sala não dava trégua ao tempo. Lá fora, o dia clareava rapidamente e nós víamos os primeiros raios solares abraçados, ainda deitados e com preguiça de levantar. O sol agora já cobria todo o quadro da veneziana. Naquela terça-feira, para minha sorte eu estava de folga. Poderíamos assim aproveitar o dia, dar um passeio, procurar um lugar para almoçar. - Qual sua sugestão para passarmos o dia? – perguntei. - Eu gostaria, amor, de ir até a casa da minha prima. O lugar é lindo você vai gostar, vamos? Aceitei a proposta com gosto.Levantamos e fomos ao banheiro juntos, e depois tomamos café. Iríamos para Cotia onde a tal prima morava. Ao chegarmos, entretanto, próximo ao destino planejado, eu me deixei fascinar pela mataria circundante. Enlacei Rute pela cintura, e disse: - Vamos passear um pouco na floresta. Entramos pela luxuriante mataria e logo encontramos um lugar convidativo para deitarmos na grama, sob enormes pés de eucaliptos. Enquanto conversávamos, víamos em cima as folhinhas dos eucaliptos balançarem ao sabor dos ventos que traziam até nós um perfume gostoso. De repente como crianças, começamos a rolar sobre a relva, rindo como dois bobos: - Vou beijá-la toda vez que você ficar por baixo de mim - brinquei. Não foi preciso dizer mais nada.Agora ela ficava sempre por baixo. E, no meio daquele divertimento meio infantil, veio sua sugestão. - Vamos fazer amor ao ar livre? Deve ser gostoso. - Deve ser perigoso. E se alguém nos flagra? - Que nada amor, aqui não passa ninguém. Não foi preciso muitos argumentos da parte dela. Escolhemos um bom lugar ao lado de uma árvore bem frondosa para que se alguém passasse não nos visse. Ela tirou a saia e o saiote, ficando deitada sobre meu corpo somente de calcinha. Entre beijos e juras de amor, passamos algumas boas horas naquela floresta encantada; acariciei-a, e fizemos amor coberto de carícias 20
e mais carícias, e beijos gostosos que somente ela sabia dar. - Foi bom meu amor, me sinto até mais leve – falou ela, quando caminhávamos para a trilha em direção à estrada. - Sabe meu querido, nunca mais vou deixar de amá-lo. Não era uma caminhada das mais fáceis, tivemos algumas dificuldades em encontrar um local que desse um acesso mais suave à estrada, mas enlevados como estávamos, não nos queixávamos dos sacrifícios, só tínhamos palavras para as promessas amorosas. Sua prima, que morava numa casa à beira de estrada nos recebeu alegremente. Elogiou a beleza de Rute, olhando pra mim perguntou: -Ele é seu namorado? A resposta de Rute foi mais uma solene declaração: - É sim prima, este é o meu primo amor, e o meu amor de perdição, estou perdida de amor por ele. Odete, a dona da casa, nos convidou para entrar. O lugar era modesto, mas muito bem arrumado. Sentei-me enquanto as duas foram para a cozinha. Rute voltou logo com um cafezinho, e Odete ficou na cozinha preparando o almoço. Osires, seu marido, ela me informou, estava de folga e virá para o almoço do qual nó participaríamos, salientou, implicitamente nos convidando. - Ele não conhece a Rute e agora vai ser melhor, porque vai conhecer também o namorado dela- acrescentou . Quando seu marido chegou, Odete apresentou-me a ele de forma sui-generis: - Este homem está sem coração, o nome dele é Walter. Rute roubou o coração dele e disse que vai amá-lo eternamente. Osires me olhou e não deixou por menos: - Você é um felizardo, tem em suas mãos uma belíssima jovem, espero que a faça feliz. Tivemos um belo almoço regado a vinho seco Rute de vez em quando olhava para mim sempre sorrindo. Estava radiante. - Voltem, voltem sempre aqui- repetia constantemente a dona da casa. Finalmente, preparamo-nos para as despedidas. Mais uma vez, Odete repetiu seu convite para a nossa volta. - Voltaremos sim, não faltará oportunidade. No caminho de volta, tomei a resolução de jogar mais às claras com Rute. Reagindo a mais uma de suas declarações amorosas, eu 21
disse: - Nessas palavras, logo se vê que você é muito criança ainda, e que não vê que vai cair em um abismo. Eu não posso amá-la, pois sou casado e tenho dois filhos, além do mais, estou velho pra você. - Não, Walter, minha vida, não me fale assim, quero que você me diga que me ama, e que me quer muito, assim então eu serei feliz, muito feliz. - Entenda Rute, da minha vida, eu lhe falei toda a verdade, agora julgue como quiser. Entretanto previno-a de uma coisa. Para que venha a acreditar em seu amor, será preciso que você me dê uma prova. Está bem, Walter, e qual é a prova? Fácil. Basta que você me acompanhe quietinha, até que tudo que vou fazer com você se torne normal.
Ilustração por: Gustavo N. de Moraes
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2º Capítulo Caminhávamos pela Rua Vitória. Procurava por aqueles amigos que alugavam o apartamento na Avenida Rio Branco comigo. Esqueci de explicar.Eu e mais dois amigos meus mantínhamos em conjunto aquela garçoniére, ou como mais comumente falávamos, matadouro, apartamento exclusivamente alugado para encontros ocasionais com mulheres. Combinara com um dos dois sócios que depois de passar a noite com Rute, eu deixaria de manhã as chaves, na portaria para que ele que pretendia usar o apartamento na noite seguinte. Com a idéia da prova, eu refiz meus planos. Teria que ocupar o apartamento durante a tarde, para isso precisava retomar as chaves. Enquanto caminhávamos, porém, me veio certa dor de consciência. Resolvi assim adiar por uns tempos a execução da prova. Apareceu Everton, um dos sócios, já com aquele sorriso malicioso: - Boa tarde, Walter, como vai você? Tudo bem? - Tudo bem Everton, olhe o brotinho que eu apresento a vocêrespondi. Os dois se olharam. Eu disse para a Rute que Everton era o meu colega de apartamento. Depois falei sobre as chaves, que por sorte estavam em suas mãos. Cuidado, hein, malandrão - disse Everton, jocosamente, ao nos despedirmos. As declarações de amor feitar por Rute convenceram-me ainda mais a adiar a prova dos seus sentimentos que eu pensara em pedir. Impetuosa, como das outras vezes, ela dizia frases poéticas, enquanto voltávamos ao nosso esporte: - Com você Walter,querido eu sou a lua ciumenta e você, meu amor, é o astro de minha vida, é o sol que me aquece nas horas tristes desta vida, é o meu incansável consolador, e é o meu refúgio. Resolvi também entrar no clima das musas. Ela me dera para ler hora antes uma poesia que memorizei. Disse-lhe: - Rute, minha estrela,ainda guardo na lembrança os versos daquela poesia. Guardo também as belas frases de amor que você fala nessas horas de carícias. E,na verdade, eu estava sendo sincero, sentia que começava a me apaixonar realmente. 23
- Rute como devo fazer para esquecê-la? Já vi que não adianta tentar contra o meu coração, a minha vida pensava. De repente, me vi oferecendo-lhe para dar uma prova do meu amor: - O que você quer que eu faça para que você acredite em mim? - Walter meu anjo, você sabe que para mim também é difícil de acreditar em seu amor. Você já amou minha irmã, como posso acreditar em você? - Querida, eu não amei verdadeiramente a sua irmã. Tudo não passou, vamos dizer assim de um agradável passatempo. E quanto a você, esse amor que você confessa por mim, sempre teve? - Sempre Walter. E como já falei, estou disposta a dar qualquer prova disso. Para tanto, basta você falar o que quer. - Rute, minha Rute, você sabe que para o amor não pode haver sacrifícios, ou uma prova de amor, pois o amor, minha querida, nasceu para ser vivido e para ser desfrutado, enquanto como o próprio sangue, circule em nossas veias, enquanto estiver depositado em nossos corações. - Assim é a vida, assim é o amor. Walter meu amor meu bem, eu suplico, acredite em meu amor, neste amor que só a você eu dedico, desde o dia em que o conheci, e passei horas ao seu lado. Meu amor, meu coração já reclamou inúmeras vezes, suplicou humilhou-se perante a você para pedir somente uma gotinha do seu amor. E depois daquelas outras juras de amor, ele me passou uma folha de papel com uma poesia, cujo autor desconheço. Despedi-me de Rute, e fui para minha casa escrever com todo carinho, embebido ainda pelo néctar do amor, e pelo perfume da dama da noite. A vida era a noite, Rute era a minha vida, e pensando em todo o passado, foi que eu começava a copiar a poesia que ela me dera. Onde Onde as estrelas se multiplicam Duas sombras errantes se encontraram Na encruzilhada do destino A primeira disse nasci de um beijo de luz. Sou força vida e esplendor. Trago comigo toda a anciã do desejo. 24
Trago no coração toda força do amor... Disse a segunda nasci de uma lágrima. E vivo nos olhos de quem ama... E nos olhos nevoentos de quem chora... Dizem que vim ao mundo para ser boa... Sou a saudade a sua companheira... Que ama consola e perdoa. Na encruzilhada silenciosa do destino, As duas sombras comovidas se abraçaram. E desde então nunca mais se separaram. Autor desconhecido E as estrelas no céu, se multiplicam... (Acrescentado) São a força, vida e esplendor. (Acrescentado) Após reler várias vezes a poesia, fiquei alegre em relembrar, que minha querida Rute estava preparando uma surpresa pra mim, uma prova de que verdadeiramente me amava, e com ardor. Em nossos posteriores encontros, Rute mostrava-e cada vez mais ciumenta. Dizia que eu estava cheio de mulheres, zangava-se comigo porque eu não confessava a toda hora o meu amor. Certa ocasião mostrei a ela uma belíssima rosa vermelha, de papel, a qual trazia os nomes de todas as mulheres que eu havia conhecido, em minha vida, e tendo algumas que criei em meus pensamentos. Para ver se de fato, Rute me amava, eu lançava mão de qualquer expediente. Quando no encontramos novamente, ela me disse: - Ingrato é assim que você me ama? Com todas aquelas mulheres da rosa? Seja franco, honesto, e fiel, diga-me você tem muitas mulheres em sua vida não tem? Portanto Walter fique sabendo, eu não vou ficar como tropeço em sua vida, eu vou embora. Quando ela me disse isso eu não acreditei e comecei a rir dela a valer, até que não agüentei mais. Depois senti pena de ver aqueles lindos olhos que eram vivos e alegres, tornarem-se tristonhos e sem vida. Assim que notei aqueles sintomas, percebi que só podia ser do amor (ou seria fingimento?), pois aquele rosto alegre que tinha o esplendor do amor, agora em fração de segundos torna-e pálido, cadavérico triste. Seus lábios pálidos, sua testa gelada, como se estivesse morta, seus olhos semicerrados, o corpo todo frio quase sem vida, parecia que estava à espera de uma palavra consoladora.
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Ao meu ver, ela queria ouvir-me dizer “ eu a amo, e te venero, você é meu grande amor” e foi o que eu exatamente disse, acrescentando: - Acredite Rute, no momento estas palavras foram arrancadas do fundo do meu coração. Então Rute vagarosamente abriu os olhos, fitou-me como se penetrasse em meus olhos, e falou: - Walter, eu quero que você também acredite em minhas palavras, pois elas também são verdadeiras. Eu vi,senti, e sei que não o amo mais, nuca o amei realmente. - Não Rute, diga que estas palavras são mentirosas e que você ainda me ama, não venha com essa conversa sem nexo, eu não posso deixar de acreditar na primeiras palavras de amor que você me disse. - Meu amor minha vida, confesse a verdade e diga de coração que me ama e que sempre me amou. Não me faça com que eu lhe force a dizer a verdade, e sem brincadeiras. Rute,neste momento, eu tenho vontade de bater-lhe, ou matá-la, por causa de sua traição entendeu? Para que nunca mais você brinque com os sentimentos meus ou de qualquer outro homem. - Sabe Walter, eu estive analisando bem, e cheguei à conclusão, de que não gosto de você, esta é a verdade. Agora Walter, você faça o que você quiser, até me bater, se for capaz. - Rute você não deve duvidar do meu amor, tudo que fiz por você, enquanto estivemos juntos. - Walter, eu duvido de tudo, não acredito mais em você. Quer saber de uma coisa, vá pro... Ela não chegou a concluir a palavra, e lá estavam as minhas mãos. Dei-lhe umas belas palmadas, e disse: - Eu deveria matá-la, pela sua traição, e para que nunca mais você duvide das minhas palavras e dos meus sentimentos. - Pois você Rute, só quer ter o prazer de ficar ao lado dos homens porque sabe que é bonita e formosa, cativante. Fique sabendo que, desde já, você é livre, fique com eles e me deixe em paz entendeu? Eu não quero mais esses beijos impuros, sem carinho, sem amor e sem sentimentos, basta, basta... vá para o homem que você acha que ama, de quem você soube roubar o amor para fazê-lo infeliz. Um sofredor a mais, um cuidador, dos seus caprichos. Hipócrita, cretina. Vá, vá embora, saia da minha frente. Enfatizei a Rute que nunca mais queria beijá-la nem olhar para seus olhos, que só souberam mentir e, agora 26
sim eu vejo que para mim foram o veneno do amor. Porém eu via aquela mulher naquela noite, seminua em minha frente, uma mulher que tive em minhas mãos, vi que estava pálida, os olhos vidrados, parados, voltados para mim , sua boca sangrando, movimentando-se vagarosamente, parecendo que queria dizer alguma coisa, ou confessar algum segredo. Não pude resistir aquele olhar, aquelas lágrimas e soluços, que me comoveram. E que me deu pena, compaixão daquela mulher, pobre infeliz dama da noite, dama do amor. O beijo da piedade. Beijei sim, beijei aqueles lábios como nunca havia beijado, senti aquelas lágrimas em seus lábios e o calor daqueles lábios ainda sedento de amor, senti carícias daquelas mãos aveludadas, e os suspiros apaixonados, que para mim eram duvidosos. Eu tinha quase certeza de que ela já não mais me amava. Depois de todos os meus sacrifícios, os meus sofrimentos, eu dizia comigo mesmo: - Não é possível meu Deus, devo estar enlouquecendo. Pois eu não tinha mais certeza sobre o que estava acontecendo. Eu fazia o meu próprio julgamento, entre mim e ela. Qual dos dois estava falando a verdade? Assim passamos horas mudos, até que o silêncio foi quebrado, pela voz de Rute, que estava rouca, e falava baixinho, quase sussurrando, acariciando o meu rosto, e cafunegando com seus dedos macios, os meus cabelos. Rute roçava de leve meus lábios nos dela, dizendo: -Walter eu quis ajudá-lo, entendeu meu amor. Você não pode sofrer mais comigo, eu não acho justo. - Eu sei que você, Rute,quer que eu morra, por amor a você quer que eu sofra sozinho. Mas você também haverá de sofrer quando lembrar do meu nome, e do nosso passado de todo o amor, que lhe dei. Daí Rute será tarde demais, para dar-me o seu amor. - Não, não, Walter. Você não vê que eu quero dizer que não posso deixar você,porque já estou sofrendo porque o amo. Mas não posso concorrer com sua esposa, você não é livre. Ah, eu o amo tanto. Te amo como se fosse a minha própria vida, perdê-lo assim eu não me conformo. Que faço meu Deus? E Rute continuava a falar, meio confusamente, como se estivesse em transe: - Não, não hei de ficar sem seu amor, a luz do meu viver. Você é 27
meu refúgio, o meu abrigo, o meu eterno amor. Você ainda será meu todinho, inteirinho meu, pois saberei lutar por este amor. Enquanto houver força, e sangue em minhas veias, eu adorarei meu príncipe. As mentiras, as brigas, foram para provar o amor de Rute. Ela me forçou, para ter uma resposta sincera. - Rute, eu poderei na certa acreditar em você, em seu amor. Assim você terá também o meu. E neste instante, foi que surgiu a paz entre nós, dedico a você, estes meus versos, com todo o meu amor e carinho. Minha amada Rute,dou neste momento, o título a esta poesia, como sendo a pomba que voa, inspirada em minha amada. A pomba que voa... Não sei amor... Tenho medo de perdê-la Tu és a pomba que voa Por esta imensidão sem fim Meu amor Voa pombinha voa da montanha Ao além... Quisera ser forte bem forte Para voar também... Quisera ser forte bem forte... E ter sincero amor até a morte. Sou a montanha em que passa Quando vem e quando vai Fico firme quando vem E por mim as nuvens passam, meu bem Assim com ela lá se vai o meu amor Não sou forte bem sei Para dominar o amor que vem O seu amor é como o vento não sei... Que quando sopra para o sul, você vem E quando sopra para o norte você vai Voa para o norte, para o oeste 28
Voa para o Leste, e para o sul, porque Você é a pomba que voa... - Veja Rute esta é a poesia, que fiz pensando em você e com o coração cheio de amor para lhe dar. - Eu gostaria que pelo menos você agora, minha Rute, acreditasse no meu amor. - Oh Walter, meu anjo, eu sei que você gosta de mim, mas eu acho um tanto esquisito, eu não me conformo, você é casado e ama a sua esposa. - Rute, eu não vou obrigar você a acreditar em mim, em meu amor, somente lhe digo uma coisa: nunca mexa com os sentimentos dos homens,porque são palavras que saem do coração, porque um dia você poderá sair-e mal. Meu querido Walter, eu nunca gostei de homem algum, nunca me entreguei a ninguém, a não ser a você meu inesquecível amor. Eu gostaria de me casar com você. O que você acha? Dei um sorriso, olhei para aqueles olhinhos atraentes, vivos e maliciosos, e disse: - Não é má a sua proposta, mas nunca poderemos ter esta felicidade. Será que você não acredita que sou casado? - Walter, algum dia você será somente meu, não é meu bem? - Ora, Rute, nunca pensei nisso, a não ser que pudéssemos nos casar no Uruguai, mas não adianta nada, a felicidade não será completa. Pois eu tenho a certeza que, mais cedo ou mais tarde, o nosso amor irá terminar. Certa ocasião eu estava sentado, em uma tora de madeira, com Rute, num parque em São Paulo, quando Rute me disse novamente: - Walter, eu não gosto de você. Levei aquele choque, também foi assim à queima roupa, mas eu me controlei e respondi: - É muito fácil meu amor, nós podemos terminar tudo, você vai para onde quiser. Desde este momento, entre nós está terminado. Adeus Rute. - Não, não Walter, você não deve e não poderá me deixar. Eu o amo e disse aquilo somente para deixar você com ciúmes. A verdade é que gosto de você, pois você é minha vida.
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3º Capítulo Walter não acredita mais em Rute e responde: - Escute Rute, eu renuncio a você porque vejo que você não poderá amar-me como diz, eu não acredito. Pois é a primeira vez que você me fala isto, portanto, deixo a você os meus sinceros votos de felicidade, e os meus agradecimentos, por tudo o que você me fez, e por ter me dito isto neste momento, toda a verdade agora mais que nunca. Eu não vou acreditar em você. Adeus, Rute, adeus. Foi assim que teve fim o nosso amor. Tão grande foi para mim. Continuou em meus pensamentos o vulto daquela mulher, e a cada vez que eu me lembrava dela, o meu coração ficava dolorido, pois ela havia feito uma ferida incurável em meu coração, e eu pensava e dizia: - Oh, meu Deus, porque fui conhecer aquela mulher, porque fui amar tanto assim? Somente para sofrer tanto assim, todas as amarguras da vida, confesso que pra mim aquela despedida foi ruim, como eu sofri, e sofro meu Deus. E agora o que fazer, não há outra maneira de procurá-la. Isto não, prefiro morrer. Eu sofria e sofro, pois o nosso amor foi o máximo, eu lembrava das noites que nós passamos juntinhos como dois pombinhos, em nosso apartamento. Lembrava quando abraçado com ela, beijava aqueles lábios ardentes e doces como favo de mel. Eu via de tudo o que o amor havia me oferecido outrora, sua língua por entre meus lábios, e eu sentia a sensação de desejo, a vontade de possuí-la não só uma vez, mas todos os instantes de minha vida. Todo aquele passado, tudo aquilo era felicidade, era o néctar do divino amor. Era o corpo, os olhos, os lábios, era a voz, a maneira com que ela me tratava, com aquele carinho, eu ficava alegre, e com vontade de amar aquela mulher, cada vez mais. Assim continuavam as amarguras da minha vida, nunca sonhava que o amor iria ser vivido novamente. Mas foi. Hoje é o dia mais feliz da minha vida, pois Rute quer falar comigo. À noite fui encontrar-me com ela. Eu estava alegre, a noite estava linda, Rute abraçou-me: - Querido, eu quero ficar - disse-me baixinho - e viver o resto dos meus dias, amando você, que é o meu grande amor.
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Respondi: - Voltarei a amá-la voltarei a ser o que fui para você, mas com uma condição: não brigarmos mais. - Sim, querido, jamais brigarei com você. Walter, eu também não quero que você brigue comigo, nunca mais. Eu o amo, eu o adoro, e não ei viver sem você. - Está bem Rute, já fizemos promessa de não brigarmos mais, então vamos levar a sério, esta promessa até o fim. - Olhe Walter, eu também cumprirei até o fim de minha vida. Eu juro pela saúde de minha filhinha, que nunca mais brigarei com você meu querido. Assim foi o nosso tratado, o nosso pacto de nos amarmos, sem brigar mais e eu estava feliz da vida. Tudo se tornou, alegre, agora sim eu tinha vontade de viver. Eu queria amar Rute mais e mais, pois nós não poderíamos ficar longe um do outro. Quando ela não me procurava eu a procurava, e ela ao me ver ficava contente, e chegava perto de mim, toda sorridente abraçando-me e dando todo carinho de que todo homem gosta. Realmente, em me sentia feliz... Certo dia ela me confidenciou: - Walter eu devo estar ficando louca eu acho. - Porque você me diz isso Rute? - Porque, meu querido, às vezes eu penso que não o amo, mas quando estou longe de você eu sofro, o mundo parece que não existe sem você. O que vem a ser isto Walter? – Ora Rute, aconselho você a fazer um exame de consciência. Veja os prós e os contra sobre nós dois, e tire a conclusão de toda a situação. Talvez você não goste mais de mim. - Eu não sei Walter, antes de tê-lo conhecido, tudo era diferente, eu não queria ninguém ao meu lado, e hoje só você manda em meu coração, eu nunca procurei homens após uma discussão, ou mal entendido mas a você eu fui procurar. Eu nunca obedeci namorado algum e hoje eu obedeço você. O que vem a ser isso Walter? Será meu querido Walter, que é o amor? Sim é isto que eu sinto por você, é o amor que surgiu, e roubou meu coração, ferindo e fazendo, uma enorme chaga e fez com que eu o amasse. É a conclusão de tudo, isto é que ficou em meus pensamentos, os nossos encontros os prazeres da vida, da nossa vida, enfim o amor. Agora me diga Walter, dê-me uma prova de que me ama.
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- Evidentemente, meu anjo, isso não é necessário. Você não vê as horas que fico ao eu lado? Tenho chegado tarde em casa, por sua causa, e vivo cansado ao extremo, mas não desanimo continuo, a amála. Minha Rute, o que você quer mais? - Amor meu, eu quero que você seja só meu . somente meu, porque a minha dúvida é a minha irmã, porque você já a namorou, e já a teve em seus braços, um dia. - Rute não pense assim, minha querida, assim você me deixa magoado, porque verdadeiramente, e simplesmente, eu a amo, com toda a força que há em meu coração, do meu espírito amoroso, e da minha alma ainda em vida. Eis que estou à beira de um abismo, basta que você me diga “atire-se para baixo” que eu obedecerei, pois o meu amor é puro. Ele será vivido, porque nossas almas e nossas vidas, jovens e unidas, e querem se unir ainda, e para um futuro mais além. Minha Rute Helena, menina moça, eu darei uma prova para você, é só você dizer que concorda. É simples, meu bem, você convida Dulce para que nós nos encontremos os três. Depois eu lhe direi na frente de Dulce, toda a verdade sobre o que está se passando entre nós. Direi para Dulce que eu não gosto dela, que nunca gostei e quem eu amo é você. Depois eu quero ver qual a conclusão que você vai tirar, de tudo isto e se você me ama de verdade. Olha Rute se você disser que me ama, eu vou acreditar, e se você falar que não me ama, eu vou embora deixando você aqui. Eu sempre ameaçava Rute que um dia eu a deixaria, mas certa ocasião, ela confessou tristonha que me amava, mas não queria prejudicar duas pessoas. Então eu lhe disse: - Rute se de fato você me ama, como diz, eu acho que você deveria lutar por este amor. A vida às vezes nos oferece algumas oportunidades que se deve aproveitar. - Eu sei querido, que este nosso amor, não vai além de encontros e momentos de ternura, carinho, e uma paixão desenfreada, esta paixão cega , este amor pecador, sem direito a certas coisas que não podemos adquirir, desta vida que nos envolve. E neste mundo fantasmagórico, que não nos deixam em paz, e não querem que nós nos separemos, este fantasma que nos persegue a longos anos. - Quisera querida Rute, poder me separar deste fantasma que não deixa meu pobre coração, o meu ser, em paz; a paz que eu tanto necessito que é a paz de espírito, a paz do amor. - Conte-me querida o que é feito do seu ser do seu coração, de 32
seu amor e do seu fantasma, que tanto a persegue a todo instante. Conte-me amor o que você sente da vida e do nosso amor. Walter descobre onde Rute está trabalhando, e pede para que ela saia de lá, enquanto é tempo. Em nota esclarece: “O pântano é o lugar onde a freqüência e de todos que querem se aventurar nesta vida à procura de alguma coisa que preencha o seu tempo disponível (Salão de Boat, bar noturno inferninho) da boca de lixo”. - Sei querido que já não posso falar como outrora, pois já não me ama, como me amava, porque me encontra aqui. - Pois você sabe Rute, que a amo, como ninguém, você é a minha vida, você é o meu amor. - Agora, Rute depois de você estar nesta outra vida, eu não posso nunca mais, ficar ao eu lado, estou muito magoado com tudo isso, você feriu o meu coração, manchou o nosso amor. Você deixou se afundar neste pântano da vida errada, cobriu de lama os nossos dias, e agora está no abismo à procura de luz na escuridão, e de uma tábua de salvação.
Aves de rapina O abismo da vida onde reina o desespero e a loucura, de vozes por falta de reflexão, atrai o ser humano que se lança num verdadeiro mar de lama. Assim aconteceu com Rute, que no momento em que alguém chegou ao seu lado, e convidou para um passeio ela não refletiu, e lá se foi para aquela aventura, esquecendo do seu amado, e caiu no antro das aves de rapina, que devorariam tudo e acabou com o nosso amor, alguém dizia em seu íntimo: - Fuja, fuja, enquanto é tempo, e vá para junto de quem a ama. Eu implorava: - Venha meu amor, sonho da minha vida, da minha alma, venha. Rute sonha com o dinheiro, e grande fortuna e esquece do seu amor e diz: - Não Walter, eu não posso, preciso ganhar dinheiro, preciso fazer a vida, você não vê que eu não posso deixar isto, já sujei minhas mãos, o meu corpo, meu anjo minha vida. - Pois bem Rute, você só sabe pensar em dinheiro, mas nem se cuida mais, só quer riqueza, e já não pensa mais em nosso amor, nossa moral, no caráter, e principalmente na sua saúde. 33
Pobre infeliz, o que será de você , fuja meu amor, fuja enquanto é tempo, procure se salvar no pântano, desse abismo, enquanto as aves de rapina, estão dormindo, ao lado da armadilha da morte, no salão onde a esperam para o banquete do amor, onde elas fazem de tudo com as mulheres, por uma ninharia de dinheiro, no qual você perderá para sempre o seu amor, todo o meu amor que eu dou a você. Um sonho durante a madrugada Pois vi em meus sonhos, você gritar pedindo socorro, corri desesperado, para onde ouvi aquela voz sufocada, rouca, que parecia ser de uma morta. Ela estava num pântano toda coberta de lama, fui tropeçando por entre os arbustos, tirando dos olhos os galhos, das pequeninas árvores, e já com os pés molhados e gelados por causa da lama fria, fui ao encontro daquela mulher, que apesar de tudo eu ainda amava. Tentei tirá-la dali meu amor, mas não consegui, onde você estava era um lugar difícil de sair, mas era fácil de entrar eu entrei e lutei, lutei até esmorecer e naquele desespero vi você indo desaparecendo, afundando naquela lama preta, como azeviche, eu desmaiei de tanto esforço que fiz, para salvá-la e ao voltar deste desmaio, a chamei: - Rute, Rute, Rute, onde você está meu amor, vem que eu estou aqui neste pântano a sua espera, volte, volte, você é o amor da minha vida, vem, vem, meu amor, mas não houve resposta, pobre de mim, a sua voz jamais ouvi. Quis sair dali onde eu estava, mas eu não pude porque estava preso pela perna que ficou presa entre duas pedras, que estavam no fundo do pântano, coberto de lama neste horrível lugar, repleto de aves rapinas e répteis, e outros insetos peçonhentos. Em meus sonhos, eu vi que as aves de rapina e os répteis queriam devorá-la. Eu naquela agonia queria salvá-la mas havia uma coisa esquisita, eu só via aquele enorme vulto, a me segurar, e eu nada podia fazer, vendo a minha amada sofrendo. Eu escutava aquele grito pedindo por socorro, a voz embargada, que se confundia com o piar das aves e dos grandes pássaros que voavam em círculos, querendo apanhá-la também. O meu sofrimento aumentava eu queria me safar das mãos 34
daquele enorme monstro, mas não conseguia. Até que uma enorme ave, veio em vôo rasante, e carregou-me. A ave amiga me levou, para junto da minha amada. Amor de perdição Um amor de perdição... Um sonho, um pesadelo... Ferindo meu coração... Um amor muitas vezes jurado... Jurado por mim e por ela. Naquela noite de verão... Aquele corpo ardente... Que eu sabia que era dela. Eu quisera salvá-la Tudo foi difícil... A ave me levou para junto dela. Depois nos levou para o céu. Que estava cor anil... Nossas almas se acalmaram... O autor Eu tinha visão, das aves de rapina que, talvez, acabassem de devorar o corpo de Rute, e agora era minha vez, por um amor tornei a chamá-la: - Venha meu amor,minha amada. Não acredito que era você, que eu vi em sonho, não pode ser. Pensei que ia enlouquecer, ou que louco já estava, cansei de chamar, mas você não respondeu, fiquei quieto por uns instantes, para ouvir pelo menos o seu respirar, o seu soluçar, mas desta vez também nada ouvi. Passado mais uns instantes eu ouvi o bater de asas e rastejar de répteis, era o nosso fim. Um novo banquete ia começar vi um outro monstro horrível que 35
tinha quatro cabeças, duas caudas e nas cotas havia espinhos agudos e nas bocas, quatro línguas vermelhas, soltando um hálito horrível e das suas quatro línguas saia fogo, que a certa distância, eu senti um grande calor tentei esconder-me atrás dos arbustos, mas não adiantou, ouvi novamente o bater de asas, mas desta vez eu vi quem eram os visitantes, ou melhor, o convidados para o banquete. Olhei atento aos acontecimentos, e vi mais quatro aves que tinham nas asas uma cor azul escuro, trazendo nas pontas das asas uma cor branca como neve, eu pensei comigo mesmo, coitadas destas asas azuis e brancas como neve, eu pensei comigo mesmo, coitadas destas asas azuis e brancas, vão ficar pretas de lama e de sangue no pântano, onde o meu amor deixou jorrar o sangue, ou estaria ainda desmaiada. Fiquei a olhar com toda minha coragem, a vinda das horripilantes aves que tinham uns pés enormes e com afiadas e agudas unhas. Era o meu fim que estava próximo, lá se iam os meus dias de amor. Quis gritar por Rute novamente, mas não pude. Tarde demais. O réptil lançou-me um hálito horrível fazendo-me perder os sentidos por uns instantes. Quando voltei a mim, eu estava preso nos pés de uma grande ave. A grande altura, e um vôo silencioso, que parecia uma grande nave, rasgando o espaço aéreo nos mais altos céus. Dei-me por feliz. Eu estava salvo daquelas horripilantes aves e daqueles medonhos monstros. Talvez eu ainda iria encontrar, se ficasse com vida, o meu amor. Voltei os meus pensamentos ainda para a minha amada Rute. Quis gritar o seu nome pela sétima vez, mas resolvi ficar em silêncio, pois a ave poderia assustar-se e soltar-me naquela imensa altura, ou apertarme com força em seus pés. Seria o meu fim, pensei quem sabe esta ave vai levar-me para junto do meu amor, quem sabe! Depois de ela ter voado comigo por várias horas, soltou-me nos altos céus. Que arrepio, esfriei-me, gelei-me perdi os sentidos, estava caindo como se fosse uma pedra. Quando recuperei os sentidos, estava voando mansamente, pois fui pego novamente por esta amiga ave, seus pés pareciam um enorme alicate que me segurava e me apertava. A ave havia me soltado para me pegar novamente, pela cintura a fim de facilitar o seu vôo e eu agora viajava como se estivesse em uma nave em uma posição mais cômoda, deitado em seus enormes pés, que era para facilitar nosso vôo. 36
Sem querer, eu estava voando, e fomos para o meio de um desfiladeiro, onde havia muitas pedras e muitas cavernas, as pedras eram colorida e de rara beleza, a enorme ave fez um vôo rasante por entre as montanhas. Que ave enorme era esta, será que era de um passado milenar? Quem sabe, o tamanho dela me assustava, eu poderia ser esmagado pelos seus enormes pés. Depois de ter baixado aquele vôo, ela tornou a subir novamente, fazendo um enorme esforço fora do comum, ela já estava cansada. Mas mesmo assim fomos subindo, por entre o céu azul celeste, até que finalmente ela pousou no pico de uma montanha, mais alta do que as outras. Ao posarmos no solo, ela com seu enorme bico, me arrastou para uma gruta escura, onde eu já não podia ver nada, a não ser vários e pequeninos olhos olhando em minha direção, um brilho azul e fosco, vermelho, verde-escuro e cor de maravilha, eu achei aquilo lindo, e aos poucos tudo foi ficando claro, como se fosse dia. A enorme ave não saia da porta de entrada da gruta parecia, que era uma sentinela, seu corpo tapava toda extensão da porta, não havia jeito de fugir, só se fosse por entre as pernas, que estavam semi abertas. Sorrateiramente, eu fui chegando para junto daqueles enormes pés, e somente deu para dar uma olhada para fora e o descortinar o horizonte, bem além, os campos verdejantes e vários picos das montanhas. A ave continuou a me vigiar, depois talvez percebendo que eu queria sair, ela me segurou pelo braço e me levou para fora da caverna, até que paramos em um grande e verde e bem verde gramado, onde havia um corpo estendido no chão, com as vestes todas rasgadas, em um corpo lindo escultural, de uma linda mulher, coberta de lama escura suas pernas coladas uma na outra, mostrava um belo par de coxas, salpicado de lama que cobria todo aquele corpo moreno. Seus cabelos longos, pretos como azeviche, não dava para reconhecer quem era, os cabelos misturados com a lama, cobriam aquele rosto de mulher. A ave ao ver que eu não parava de fitar aquele corpo soltou-me, e ficou me olhando caminhar em direção aquele corpo que estava ali estendido. Ajoelhei e trouxe para junto do meu colo, aquele corpo amorenado, e já queimado pelo sol da manhã, com a lama que o cobria, já secando, o rosto meigo seus lábios fechados como se fosse, um botão de rosa, seus olhos semicerrados. A ave afastou-se de mim por alguns instantes, e deu uns piu pius, depois cantou uma linda cantiga, que foi 37
respondida, por outras aves, assemelhava-se a um bando de perus. Parecia que aquela ave queria me dizer: - Agora estão salvos, você e sua amada. Depois alçou vôo e subiu, subiu, nos céus até que eu perdi de vista. Apanhei o lenço e comecei a tirar a lama que cobria aqueles olhos, senti o respirar de Rute que aos poucos foi acordando daquele pesadelo, daquela angustia que passamos, a sede me devorava mas não tinha tempo, precisava reanimar a minha amada. Ela não tinha forças para caminhar, de repente ouvi a sua voz rouca e cansada me chamar: - Walter, Walter, estou com sede. Carreguei Rute até junto de uma árvore, que naquela hora do dia, fazia sombra, o calor que era insuportável, e a sede era demais. Após deixar Rute bem acomodada e quase recuperada, saí à procura de água.
A ajuda da ave não fora esquecida A água não foi difícil de encontrar. Junto de uma enorme pedra acinzentada, vi que jorrava uma água cristalina que era potável. Bebi até saciar minha sede. E agora como levar água para Rute? Apanhei umas folhas de um pé de mamona, dobrei com cuidado, fiz um copo e consegui encher de água, e fui andando devagarinho até chegar perto de onde ela estava. Ao ver-me Rute sorriu, já estava mais animada. Entreguei aquele copo improvisado, ela tomou alguns goles, depois molhando as mãos, limpou o rosto, permaneceu sentada por uns segundos, levantou-se e me beijou nos lábios demoradamente, com eu corpo colado ao meu, que deu para sentir o bater daquele coração apaixonado, e o suspirar carinhoso junto aos meus lábios. Por um instante parei de beijá-la e segurando firme nos ombros dela fitei aqueles lindos olhos, depois apartei-a em meus braços e beijei-a novamente. - Como a amo! – disse-lhe. Olhei para ela de cima para baixo e acrescentei: - Este lindo corpinho, de cabelos pretos, e os olhos, tudo enfim é que me fizeram me apaixonar por você, que bom meu amor, pensei 38
que ia perdê-la, mas graças a Deus, estamos juntos novamente. Nós nos abraçamos e saímos, a passear por aqueles campos verdejantes à procura de algo para comer, uma fruta talvez. Passamos junto à pedra acinzentada, e tomamos mais água. Rute esperou que eu me distraísse, olhando para algumas árvores e para os lírios do campo, para encher a palma da mão de água e jogar em cima de mim. Depois saiu correndo, dobrando o corpo e fazendo como a grande ave, corria de um lado para outro imitando com seus braços o vôo daquela ave. Saí correndo atrás dela peguei-a pela cintura e derrubei-a no chão de grama macia. Rolamos pela grama como se fossemos crianças e cada vez que eu ficava por cima dela, eu aplicava um beijo gostoso naqueles lábios carnudos, que pareciam mais um morango maduro querendo ser comido. Rolamos bastante, até chegarmos junto a um arbusto no fim do gramado. Deitados ainda,avistamos uma cigarra que cantava alegremente, em cima de um ramo seco de um pé de ipê amarelo, cujas flores formavam um lindo quadro, para qualquer pintor pinta aquelas coisas que só a natureza poderia nos dar. Eu agora olhava par ao céu, e admirava as nuvens que corriam no céu, de um lado para outro, como que querendo encontrar algo que nem poderia saber, talvez estes seriam os mistérios desta vida. A cigarra continuava a cantar a sua tristonha melodia. Mais adiante, nós descobrimos dois sabiás cantando alegremente a sua melodia, que misturava com o canto da cigarra. As borboletas em bando pousaram no pé de ipê, dando aos nossos olhos um espetáculo de uma grande beleza. O casal de sabiás estava contente, na qual eu e Rute também. E ela de repente aproveitou que eu estava distraído, olhando para a cigarra que não parava de cantar, e pulou em cima de mim, como que querendo se vingar dos beijos que eu havia lhe dado, falou fitando em meus olhos: - Devolva-me já os meus beijos que você roubou de mim, vamos amor. Eu não me rendi, enquanto aos gritos ela repetia: - Vamos amor devolva os meus beijos. Eu ria e respondia: - Aqueles beijos eu jamais poderei devolver-lhe. - Não me interessa, eu os quero de volta. – retrucava Rute. Então eu a trouxe para junto de mim, e segurando naquele queixinho bem feito, encostei os meus lábios nos dela, e disse quase que sussurrando: 39
- Amo você - e beijei muito, muito mesmo aqueles lábios tão gostosos. Depois descemos um barranco onde encontramos algumas frutas, fomos escalando devagar por entre as pedras, até chegarmos à primeira gruta, deixando o campo verde a alguns metros longe de nós. Bem abaixo, avistamos um lago cuja água era clara cristalina, que nos convidava para nadar. O sol ainda era quente. Fizemos uma rápida vistoria no lago, e resolvemos entrar nele e nadar um pouco. Rute olhou pra mim e foi se despindo aos poucos para me excitar, o que não era difícil. Quando ela tirou a última peça não resisti, e segurando pelos braços trouxe para junto de mim. Senti aquele corpo colado ao meu, um calafrio e uma tremedeira apoderaram-se de mim. Aos poucos fui sentindo aquele corpo escultural grudado ao meu. Já era hora de se jogar na água e apagar aquele fogo, aquela paixão. Fomos andando até a margem do largo e quando cheguei bem pertinho, atirei Rute na água, e pensei “assim eu apago um pouco, do fogo dela”. Enquanto eu pensava, eu a via nadando como se fosse uma nadadora, profissional dominando o seu mitiér. Observei o lugar onde estávamos, se não haveria perigo enquanto Rute nadava sozinha, tranqüila, inteiramente nua, aguardando que eu entrasse na água também. Já com certeza de que nada poderia nos acontecer, fui para junto daquele corpo que havia sido, maltratado naquele pântano, e que havia passado pelos mai terríveis momentos de sua vida. Ao aproximarme, Rute me abraçou e me beijou, e naquele momento fizemos amor, senti todo aquele corpo junto ao meu. Que coisa estranha e gostosa, a água fazia-nos delirar e nós amamos de verdade. Aquilo era o amor de dois seres apaixonados. Com um sorriso lindo, ela dizia: - Walter eu o amo você é minha vida. Abraçados, saímos da água e fomos ver se a roupa já havia secado. Foi quando vi que Rute estava um pouco tristonha. - O que foi meu amor? - perguntei-lhe. Ela me olhou com carinho e respondeu: - Vamos embora daqui. - Não se preocupe meu bem, eu darei um jeito nesta situação disse-lhe. Saímos da água, vestimo-nos e começamos a escalar o morro para chegarmos à gruta, onde, segundo minha proposta, iríamos dormir ali 40
naquela noite. Ela tornou a me beijar, e assim fomos escalando o morro, pisando, devagar e com firmeza nas pedras, que formavam aquele caminho, que a própria natureza fizera. Ao chegarmos na gruta, preparamos o local para o sono, a nossa janta foram goiaba e amora silvestre. A grande noite na gruta, junto de uma fogueira e das aves de rapina. Saímos dali a procura da lenha e gravetos para fazermos a fogueira da noite, que já se aproximava. Juntamos capim seco, paus e gravetos e fomos para a gruta do amor, nome este que Rute dera por causa do nosso imenso amor. Aquela noite prometia frio, e nada tínhamos para nos cobrir. Quando a noite começou a cair, eu e Rute fomos fazer a fogueira, o fogo começou a pegar e esquentar, bem pelo menos iria dar para nos aquecer, e afugentar as feras e os bichos noturnos. Rute me abraçou, sentamos próximo da fogueira e ficamos ali até que juntinhos esperamos o sono vir. Na manhã seguinte, surgiram os primeiros raios de sol, as cinzas jaziam no chão quietas, suas brasas deixavam ainda escapar uns fios de fumaça cinzenta que ia misturar-se com o azul do céu e com os raios vermelhos do sol que já despontava no horizonte. A brisa da manhã soprava para nós o perfumes das flores que haviam nas montanhas, e nos campos verdejantes. O sol aos poucos foi tomando conta de todas as montanhas e do campo, acabando com quase todas as sombras, ficando somente as das árvores, o dia estava bem claro. Então eu e Rute vimos outras sombras, que a nós já eram conhecidas, eram das aves de rapina, que já começavam a levantar seus vôos à procura de alimentos para iniciar, aquele belo dia. Elas nos viram, mas nos deixaram em paz, eu e Rute já começávamos a gostar daquelas aves que para nós foram bondosas. À tardinha, eu pensei em fazer com que uma daquelas aves nos levasse de volta para a cidade. Chamei Rute que estava sentada em uma pedra, defronte a gruta e falei: - Sabe amor, de que maneira nós vamos embora daqui? 41
- Eu não sei amor. - Estive pensando é simples, Rute, com uma das aves. - Como Walter? - Você irá na garupa, e eu vou guiando a grande ave. Eu tenho duas camisas, vou rasgar uma para fazer as rédeas que me possibilitarão guiar a ave até a cidade. - Resta um problema, Walter. Como vamos fazer para que elas façam isso por nós? - Rute, vamos esperá-la até a tarde quando elas chegarem, você vai ficar atrás daquela pedra, com este pau pontiagudo que vou preparar com minha faca, e se caso a ave não me obedeça, você sai correndo e me dá este pau, que eu tenho um plano para fazê-la voar conosco. -Só,que talvez, elas demorem para vir. - Não faz mal, Rute vamos esperar até que elas venham. A tarde estava linda, as montanhas eram banhadas pelos últimos raio solares quentes e de vez em quando, o vento soprava uma brisa gostosa e perfumada da tarde- Eu e Rute abraçados esperávamos a chegada da grande ave.
A volta da grande ave deste sonho inesquecível, que até agora não sabíamos o que seria de nós dois. Nós estávamos ansiosos para vencer mais este obstáculo que a vida nos oferecia, e com perigo de até perdermos as nossas próprias vidas isto era o mais provável, pois não só eu como Rute também não sabíamos agradar a grande ave para que ela nos levasse de volta, ao nosso destino Teríamos que enfrentar novamente um vôo perigoso por entre o desfiladeiro, até a primeira vila. De repente, olhamos para o horizonte que estava com o céu colorido de cores salpicadas que os últimos raios solares jogavam ainda com a sua pouca força para o alto, despedindo-se do dia e dando lugar para a noite que não tardaria em chegar. Para nós seria horrível, viajar à noite, era isso que nos preocupava. Estávamos pensativos quando vimos as quatro aves voltando para os seus ninhos. Fomos para a gruta a fim de preparar mais uma fogueira, que, talvez, fosse a última. 42
À espera de um novo dia e a preocupação de fazer a ave nos obedecer Teríamos que chegar até os ninhos daquelas aves. Depois de termos aquecido os nossos corpos na fogueira, entramos na gruta e nos deitamos abraçadinhos. A espera da manhã seguinte foi para nós uma noite cheia de amor. Horas depois o sol começou a mostrar-se nos vãos e nas pontas das pedras do desfiladeiro, e descobrindo as sombras no topo das montanhas, com seus raios multicoloridos, fez surgir uma bela manhã. Acordei Rute que dormia um sono de anjo, seu rosto meigo e lindo, estava sereno, seus lábios me convidavam a acordá-la com um beijo. Assim na ânsia daquele desejo, abaixei bem devagarinho, e encostei os meus lábios junto aos dela e a beijei com toda paixão de minha vida. Ela já esperava que eu fizesse isso, estava fingindo que dormia, por isso me beijou gostoso, que quase desfaleci de tanto amor. Depois fomos até a pedra cinzenta, lavamos o rosto com aquela água critalina, sorvemos alguns goles e fomos para junto das aves, com a vara pontiaguda, para domar uma delas. A escolhida, entendendo nosso intento, abaixou-se facilitando a subida em seu dorso. Com toda a cautela, coloquei as tiras de pano que serviriam como rédeas, em volta daquele enorme pescoço. Rute mostrou-se um pouco nervosa e atenta à operação na Rainha, que se mexeu. Com minhas mãos fui fazendo carinho naquele grande pescoço, e quando a ave sentiu o calor de minhas mãos ela deu uns pios e foi abaixando o seu pescoço para que eu pudesse subir no seu dorso, onde Rute já estava sentada. Depois num esforço fora do comum dobrou o pescoço para o lado esquerdo e começou a me beliscar, até que eu compreendi que ela queria que eu puxasse a rédea para alçarmos aquele longo vôo. Retribuí aqueles beliscões, com umas palmada, bem de leve, um pouco abaixo do grosso pescoço. As aves compreendem o desespero do ser humano Quando Rute me viu junto a ela em cima do dorso da Rainha comentou: - Querido até agora ela está obedecendo você. 43
- Graças é dado ao nosso Pai Onipotente- respond- Me dê sua mão e segure bem em minha cintura, que eu vou guiar esta ave até a primeira vila. Fui guiando a ave Rainha num alto vôo até que repentinamente avistamos a vila por onde havíamos passado anteriormente. - Essa é a vila por onde passei com a rainha- gritou Rute. - Eu sei querida eu também passei por este mesmo caminho. Nós nos deliciávamos com aquele vôo em que a grande ave nos levou pelos altos céus, naquela memorável manhã. O vento que soprava era gostoso, trazia para nós um aroma dos perfumes da floresta e das flores. A passagem pelo desfiladeiro, entretanto para nós fora horrível, às vezes parecia que íamos bater contra as pedras de pontas agudas. Veio em seguida uma longa planície verdejante, cujo campo sumia de nossas vistas, e depois o pântano onde nós passamos os piores e mais terríveis momentos de nossas vidas. Ainda aquela ave continuava a nos conduzir, agora para a segunda vila, que avistamos ao longe, bem pequenina. Na entrada da vila eu dei um leve puxão na rédea, e a ave, compreendendo o meu intento foi parando devagarinho enquanto ia baixando cansada das alturas, até que tocamos em terra firme. - Desça com um salto só - ordenei a Rute. Deixei a rédea cair em frente ao pescoço da Rainha, e conduzi junto conosco pela estrada que dava para a vila. A estrada era cheia de árvores copadas que ofereciam sombras convidativas para um descanso. Os pássaros cantavam alegres lindas melodias, acompanhadas pelo sopro morno e gostoso que o vento trazia com o doce perfume das flores que entrava pelas nossas narinas, fazendo-me lembrar lindas frases de amor. O astro sol já brilhava nos altos céus, descendo para banhar aquele rosto moreno e sensual de Rute. Seus cabelos negros brilhavam, junto com os raios solares. De repente, veio algo em meu pensamento, quando o vento soprou mais forte: Vi os galhos das árvores abraçarem-se, as folhas ficavam uma por cima da outra, as flores abriam as pétalas, convidando os beija-flores para um beijo prolongado de amor. O amor pela natureza faz a gente sonhar. Sonhos de amor. Depois vi como se isto fosse verdade, os galhos e aas folhas abraçados trocando juras de amor, então o vento cessou o seu sopro, e cada galho a dado momento se separavam e voltavam e os beija-flores 44
voavam e desapareciam no céu. Tudo voltou a ser triste, repentinamente. Meu silêncio, meus pensamentos, foram cortados por uma voz meiga e suave: - Meu querido, e não sei como é que você consegue caminhar assim pensativo e tristonho. Quando eu quis dar alguma resposta para Rute, não consegui, devido ao aparecimento de várias crianças, meninos e meninas, que olhavam para nós admirados, porque não sabiam como dominamos aquela grande ave. Elas foram chegando para perto de nós perguntando como havíamos conseguido dominar a grande ave. - Foi com muito carinho, e assim ela tornou-se nossa amiga, e nos trouxe até aqui - respondemos ao mesmo tempo eu e Rute. - E onde vocês a encontraram, existem outras? - insistiram nossos pequenos interlocutores. - Existem sim, são várias. No início quando esta aqui nos carregou para lá, pensamos que elas iriam fazer um banquete com a gente, mas graças a Deus, não. Elas tornaram nossas amigas. - Para onde vocês irão agora? - Nós pretendemos chegar na grande cidade, onde moramos. É claro que precisamos de toda ajuda de vocês. A essa altura Rute já fizera amizade com uma jovem índia, a qual lhe entregara um pacotinho azul cor do céu, pedindo-lhe que fosse com ela. Rute olhou-me com aqueles olhinhos vivos e atraentes, e com um jeitinho de piedade, pediu-me: - Walter meu bem, eu posso ir com esta moça? Voltarei logo. Olhei para a linda jovem índia, e respondi em tom rude para deixar Rute um pouco embaraçada diante da amiga: - Vá, mas volte logo. - Nossa como ele é bravo! – exclamou a índia. - Que nada amiga, ele só está brincando, quer ver? - perguntou Rute dando meia volta para olhar para a amiga e dirigir-se a mim. - Amor você está bravo comigo? Olhei para as duas lindas jovens, e comecei a rir: - É só uma brincadeira, pode ir - falei. O povo daquele lugar era hospitaleiro, e só queria nos ajudar. Um senhor de porte físico avantajado, de cabelos pretos, olhos castanhos, de pele cor caju, olhando para mim, me interrogou: 45
- O senhor não tem medo deste monstro? Em resposta, entrei debaixo do pescoço da Rainha, e dei umas palmadinhas carinhosas nas suas longas pernas. A ave deu um piu piu como agradecimento pelo carinho que eu fiz e para que aquele homem tivesse certeza que ela já é domesticada, que jamais faria mal algum a quem quer que seja. Um coro de gargalhadas interrompeu. Era tanto riso das duas jovens que todos nós também começamos a rir sem saber por do que. Rute e a índia estavam ao lado de um belo rapaz, e logo mais vi uma velhinha acompanhada de outra jovem também belíssima. Fiquei com ciúmes daquele rapaz, que estava ao lado da minha amada Rute, mas tive calma e paciência e esperei até que tudo viesse a ser esclarecido, inclusive o porquê daquelas gargalhadas. Mas tinha alguém que me observava, a minha testa estava enrugada, mais do que o comum, o meu rosto moreno estava vermelho, meus lábios estavam secos, o meu respirar era vagaroso, meus pensamentos rodavam na cabeça, sem ter um lugar para parar, a minha alma estava a se despedir deste mundo.
O ciúmes é o caminho do amor da desconfiança e da perdição. Vi o velho Tomé, que me olhou por longos minutos e disse: -Vejo que você está com ciúmes do meu filho. Ele veio nos ver está admirado de você, e quer saber como vocês conseguiram trazer esta ave até aqui. Sorri e falei ao velho Tomé: - Queria Deus seja isto.
O pacotinho azul cor do céu, e as gargalhada e risos, que cortaram a nossa conversação. Rute contou-me que naquele pacote cor do céu estava aquele lindo vestido cor de rosa, que Cenira havia lhe dado, e que as gargalhadas e os risos eram porque eu estava carrancudo e com ciúmes, sem necessidade, porque aquele rapaz que caminhava ao meu lado era 46
noivo de Cenira. Eles haviam combinado que iriam fazer ciúmes para mim. Rute havia notado que para os outros, eu me mostrava contente, mas ela sabia, que por dentro eu estava com ciúmes, e tristonho, pois conhecia aqueles meus olhos dominadores e vivo, conhecia minha alma, sabia perfeitamente que para ela eu estava tristonho. Então sabedora que era dos meus modos de agir, no olhar, na voz, tratou de sorrir: - Meu amor, não se zangue já estou aqui inteirinha para você. Abraçou-me e beijou meus lábios, que estavam sedentos de desejo, por um beijo de amor. Ela se tornou mais linda com aquele vestido cor de rosa. Nós havíamos esquecido das pessoas que estavam ao nosso redor, e quando nós olhamos, vimos o velho Tomé, Cenira, Jussara e Juarez, que riam e estavam contentes por me verem com Rute naquele idílio, com dois pombinhos. Foi quando ouvi a voz do velho Tomé: - Estes dois serão felizes e você, meu filho, também será. Olhando bem para o rapaz, notei que ele era forte como o pai e de um físico espetacular. Tinha tez morena, um pouco mais clara que a do pai, cabelos longos até a cintura, dava-me a impressão que eu estava vendo, um índio guerreiro de bang bangüê. Ele me estendeu a mão, cumprimentando-me: - Estou contente por conhecê-lo, grande homem, você parece um guerreiro, qual a sua graça? - Walter às suas ordens. E você? - Juarez às suas ordens. Ficamos conversando sobre vários assuntos, sobre o campo e também das novidades da cidade grande. Depois de alguns instantes, olhou para mim e comentou: - Walter eu notei que você estava com ciúmes de mim com a Rute, mas pode ficar tranqüilo, eu já escolhi a mulher dos meus sonhos, a vida da minha alma. Portanto apresento a você a minha noiva Cenira. Fiquei surpreso, ao deparar com uma belíssima jovem de rosto redondo, olhos pretos, amorenada, quase da cor de um caju maduro, lábios da cor de rubi. Ao apertar sua mão, ela após me olhar com um leve sorrio, em voz meiga, perguntou meu nome. - Chamo-me Walter ao seu dispor, e desejo a vocês dois, toda a felicidade do mundo, para que vocês sintam o amor a ternura a beleza, tudo enfim que enfim que a natureza nos dá. 47
Rute estava radiante, e alegre por ter feito novas amizades, mas os nossos objetivos não haviam chegado ao fim. Tínhamos que ir para nossa terra, a viagem levara ainda três dias e eu seria obrigado a dispensar a minha amiga, a nossa grande ave, a quem demos o carinhoso nome de Rainha. O velho Tomé, deu para a Rainha, uma gamela cheia de milho, farelo e água. A ave ficou contente, e com o estômago cheio, deitou-se debaixo, da árvore, e dormiu tranquilamente sobre o olhar dos nossos amigos. O amigos de Juarez, me rodearam e fizeram várias perguntas sobre nossa amiga. Contei a eles toda a nossa passagem pelo pântano, desfiladeiro e o vôo longo nos altos céus a gruta, onde dormimos e como fomos parar ali. Enquanto eu contava a nossa aventura do outro lado lá estava Rute rodeada pelas suas amiga, pelas velhas senhoras que quando souberam que nós estávamos ali, vieram de longe para tomar conhecimento do acontecido. Todos ficaram maravilhados com o que nós havíamos contado, e foram chegando para perto da grande ave que continuava a dormir tranqüilamente à sombra daquela árvore. Depois de termos revivido a nossa história, dirigi a palavra a todos os nossos amigos. - Olha pessoal eu e Rute estamos contentes em conhecer um povo tão acolhedor e amigo, por isso agradecemos todos vocês e que Deus proteja a todos agora e sempre. Ouvimos então a voz de um jovem, que nos convidava na presença de todos, para que fossemos à casa de seu pai, onde dona Amélia nos esperava com alguma surpresa que o seu filho Nei mandara preparar. Pedi ao senhor Tomé uma corda, para amarrar a nossa ave que ainda dormia o seu justo sono. Com todo o cuidado passei a corda em suas pernas no tronco da árvore e o velho Tomé ficou tomando conta da nossa Rainha.Monstro como eles chamavam. E assim saímos dali e fomos para a casa do nosso amigo Nei, acompanhado de Cenira, Juarez e as crianças, que não deixavam Rute em paz dizendo “seu noivo é feliz tem duas rainhas, uma que o ama, e a outra que lhe presta serviços, para que todos sejam felizes”. E gritaram: - Viva a Rainha! Quando acabamos de contornar a primeira curva da estrada, avistamos ao longe uma casinha branca, com um telhado bem vermelho 48
da cor de sangue, não dava para salvar as cores das janelas e das portas, porque por onde nós caminhávamos, a estrada era baixa e os arbustos, e as árvores tiravam a nossa visão. Vendo aquelas curvas lembrei-me de um romance que eu havia lido em meados de 1.987, sobre um velho índio que disse: “quando eu morrer enterre o meu coração na curva da estrada”. Com o pensamento ainda naquele romance, eu caminhava observando tudo naquela estrada linda, as flores, os pássaros, as crianças tagarelas gritando e rindo misturando, suas vozes com o cantar dos pássaros. E ao chegarmos na terceira curva da estrada, notei que agora sim, dava para ver as cores das portas e das janelas, que eram de um verde escuro brilhante muito lindo. A alguns passos de casa já dava para ver em sua volta, umas lindas trepadeiras. Na frente estavam plantadas, intercaladas, lindas touceiras de rosas de várias cores, que eram de uma extraordinária beleza. Do alpendre pendiam lindas samambaias de metro, e ao lado do terraço, em um bonito canteiro, estavam plantados vários pés de antúrios de várias cores, destacando-se mais os brancos e vermelhos. Ao chegarmos ao portão, fizemos uma fila indiana para podermos passar: Nei ficou na frente, a seguir Cenira, Juarez, e as crianças, eu e Rute por último, ainda admirávamos o lugar aonde viemos parar. Dona Amélia já nos esperava no outro portão de entrada feito de madeira talhada a mão, com uma pintura de um azul escuro, que dava um toque de bom gosto na decoração. Ela no acolheu, com um lindo sorriso nos lábios, mostrando seus belos dentes, claros como neve, seu rosto arredondado, seus olhos pretos como jabuticaba, seus cabelos longos caídos pelos ombros, indo parar suas pontas naquela cintura de boneca, apesar da idade um pouco avançada. Entramos no terraço, e depois numa grande sala, onde estava nossa espera uma grande mesa, com vários petiscos também se destacavam, na mesa várias cenecas de barro que pareciam, mais um artesanato indígena, todas talhadas igualmente, lindas tanto em formato como nas cores vivas. Eram de uma beleza antiqüíssima, aquilo que meus olhos estavam vendo, e eu fiquei admirado, com aquele trabalho indígena.Depois vi que aqueles canecos estavam ali para serem servidos vinhos, para nós de umas garrafas que não continham rótulos. 49
A embalagem era caseira, e o vinho parecia ser bom. Rute olhou para mim e riu, todos observaram e perguntaram a razão do riso. Cenira que estava mais próxima a ela, já havia visto aquele sorriso, foi a primeira a perguntar: - É que meu amor não pode ver vinho e logo quer experimentar, para depois dizer “este é o vinho com que o senhor fez a Santa Ceia”. Walter gosta demais desta bebida. Todos nós rimos de Rute, que estava linda, naquele vestido que lhe caia bem, e realçava ainda mais a sua beleza natural. Na hora da refeição, Rute sentou-se ao meu lado, defronte aquela mesa que nos oferecia de tudo, que dentro em pouco, iríamos saborear. Cenira sentouse ao lado do seu noivo Juarez, Nei sentou-se ao lado dos seus pais Rosângela acabou de tomar seu banho, e veio para a sala servir o almoço. Todos foram, um a um tomando seus lugares na mesa. O senhor Sampaio, fez uma oração dando graças a Deus pelos alimentos que ali estavam. E disse para se servirem, e “bom apetite”. Assim iniciamos o nosso almoço, com todos nossos amigos. Enquanto almoçávamos, eu estava vendo Rute muito pensativa. Percebi em seus olhos a tristeza da qual eu não sabia a razão. Após o almoço, saí da sala e fui para debaixo de um caramanchão. Em seguida ouvi passos vindo em minha direção. Era Rute. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e a beijei até que ela se acalmou. Sua tristeza, confessou, prendia-se à nossa breve partida e a saudade que isso traria par anos. Lembrou-se das horas terríveis, passadas no pântano e o socorro prestado por Rainha sem o qual, não saberíamos o que nos teria acontecido. - Sabe, Rute, meu amor - ponderei-lhe - agora que tudo já passou, vamos viver a vida que nosso Deus nos deu e com abundância. Como era diferente aquela mesa sem répteis, sem aquelas aves monstruosas, sem horrores e sem tristeza. Onde agora os seres humanos mostravam-se cordiais, alegres, felizes uns para com os outros. O que eu e Rute tínhamos visto anteriormente era horrível, terríveis foram as horas de angústia por que passamos. Lembrei-me de um ditado que diz,“depois da tempestade vem a bonança”, procurei jogar as tristezas para longe, e pensar nos bons momentos que agora estávamos passando, e felizes, e compartilhando de tudo que o senhor Sampaio e família nos ofereciam. 50
Logo após terminarmos o almoço, foinos oferecida a sobremesa, acompanhada com belas frutas, destacando-se entre elas, a uva branca italiana. O despertar da ave Rainha Voltamos para junto do velho Tomé , o bondoso homem que conta para nós, da nossa Rainha. Ao chegarmos junto à ave, vimos que ela já havia despertado daquele sono merecido. Rainha estava a nossa espera, só que não podia levantar-e, seus pés ainda estavam amarrados. Soltei as amarras dos pés da grande ave que rapidamente ficou em pé,olhou-me com tamanha tristeza, porque sabia que agora seria a hora da despedida. O povo do lugarejo, via a nossa rainha pela última vez, e para mim e Rute a despedida seria amarga, mas evidentemente, obrigatória. Acariciamos as pernas e o pescoço da grande ave, retiramos as rédeas dei umas palmadas de despedida, ela correu e alçou vôo sem retorno, enquanto ficamos olhando o seu vôo. Suave, com aquelas grandes asas e pés enormes, ela foi subindo, subindo, desaparecendo, por entre as nuvens. Continuamos a olhar na mesma direção e avistamos a nossa rainha indo em direção ao pântano. Rute com lágrimas nos olhos, abraçou-me observando: - Veja querido, a rainha não queria se separar de nós. - Sei amor. Mas nós não poderíamos ficar com ela - repliquei. Jamais poderemos esquecer daquela ave, todos choraram na sua despedida. Sua chegada ao desfiladeiro é que nos preocupava pois ela foi só, e nós nunca poderíamos saber se o seu regresso foi bem. Depois da despedida ficamos pensando na nossa grande amiga. A saída da vila e a ida novamente à casa de Nei Despedimo-nos de todos os nossos amigos, aquele povo tão acolhedor. Não pude deixar de pensar naqueles que jamais nós iríamos esquecer. Olhei no rosto de Rute e vi as lágrimas rolarem na sua face, a tristeza por termos que deixar os nossos amigos. A noite era calorenta, um mormaço quente fazia a gente transpirar. 51
Abraçado com Rute, caminhávamos devagar, e de vez em quando, um vaga-lume passava à nossa frente com suas lanternas verdes-claras, dando um colorido bonito na estrada. Os curiangos ficavam na beira da estrada e quando ouviam os nossos passos levantavam vôo. As corujas piavam uma aqui,outra mais acolá. Caminhamos assim por aquela estrada, mais ou menos umas três horas, até que avistamos ao longe, um bico de luz que iluminava o terraço da casa de Nei.
O pernoite e a segunda acolhida Ao chegarmos à casa de Dona Amélia, vimos o senhor Sampaio e seu filho Nei preparando um belo churrasco. A poucos metros do grande terraço, dona Amélia, que estava olhando para o portão, nos viu e veio ao nosso encontro, abraçando Rute como se ela fosse sua filha, beijando sua face e convidando-a para entrar. Estendeu-me a mão, e nos conduziu, até onde estava seu esposo e filho. Eu e Rute os cumprimentamos, Dona Amélia, segurando nas mãos de Rute. Arrastou-a para a cozinha deixando nós três, ao lado da churrasqueira. Sampaio apanhou o espeto, onde estava preparando um belo pedaço de picanha, retirou dali uma fatia e deu-me para experimentar. Ele e Nei ficaram me olhando para ver a minha reação: - Que delícia - exclamei. Naquele instante, dona Amélia voltava da cozinha junto com Rute, trazendo uma travessa de maionese, e uma cesta de vime, cheia de pãezinhos. Rute me perguntou o que me arrancara aquela exclamação de delícia: - Não foi nada amor, é que o churrasco, é uma delícia, eu já experimentei uma fatia. Depois de tudo arrumadinho começamos a degustar o churrasco, devagarinho, sentindo a delícia daquele gostoso vinho e aquela maionese saborosa. Do pãozinho nem se fala, era caseiro mesmo. Enquanto nós conversávamos, dona Amélia estava sentada ao lado de Rute observando nós três ao lado da churrasqueira, contando a nossas piadas. O senhor Sampaio nem parecia ser o pai de Nei. Ele e seu filho e sua esposa formavam um perfeito trio de felicidade. Um dormitório só para mim e Rute, que dona Amélia preparou. Após o churrasco, um sono reparador para repousarmos, as energias 52
perdidas durante aquela caminhada. Às seis horas do dia seguinte, tomamos o rumo da grande cidade, aonde iríamos agora realizar os nossos sonhos, há muito sonhados. Nei nos arrumou dois guias para nos acompanhar, e trazer os cavalos de volta, assim que chegássemos na fronteira da grande cidade. Mês de maio, grande alegria para Juarez e Cenira. Juarez nos convidou, para que voltássemos à vila para assistir o seu casamento. Eu e Rute prometemos a Juarez que iríamos fazer o possível para estarmos presentes neste grande dia. Quando eles chegaram à casa do Sr. Sampaio já eram seis horas, e nós já os aguardávamos, ajeitamos as nossas coisas no lombo do cavalo, despedimo-nos de todos e tomamos o caminho em direção da cidade. Eu pensava enquanto acenava para o Sr. Sampaio e para Dona Amélia: - Agora,sim, vamos voar, mas põe terra firme. Rute também acenava para todos com um sorriso nos lábios. Fui chegando devagarinho o meu cavalo, junto ao dela e roubei um pequenino beijo daqueles lábios sedutores. Depois de cavalgarmos cinco horas, começamos a avistar as primeiras casas da cidade que se escondiam por detrás dos montes, ainda azulados, pois o sol não havia atingido, e aquelas nuvens salpicadas, de várias cores, passando por cima dos montes, roubavam a claridade dos raios solares, deixando os montes ainda azulados, aguardando o crescer do dia. Mas o sol que é o astro-rei, com sua fúria foi rasgando sem parar o céu que estava nublado, fazendo as nuvens tornarem-se brancas, como a neve, agora em menor número. E o céu tornou-e azul cor anil. Rute já estava cansada, paramos para dar aos cavalos, e ao mesmo tempo refrescamos um pouco com aquela água cristalina, que aquele pequeno riacho nos oferecia. Uma bica entre as pedras dava-nos a água pura e potável para saciarmos nossa sede. Depois daquele pequeno descanso, seguimos viagem por um atalho que nos levaria mais rápido, para a cidade. Ao contornarmos a última curva do atalho, chamei a atenção de todos, assim que encostei o meu cavalo junto ao grande pé de ipê amarelo, que naquela época do ano estava totalmente florido. - Pessoal, já estamos perto, vejam a nossa grande cidade, em mais alguns minutos chegaremos lá. Sabe amigos, lá está ela com os braços abertos, para que um dia vocês venham nos visitar. Não se 53
esqueçam de vir quando eu e Rute nos casarmos. Eu fiz o convite com um leve sorriso nos lábios. Os rapazes riram também e responderam em coro: - Nesse dia queremos ficar muito alegres e tomarmos muito chopp, que vai sair até pelas orelhas. - Assim espero - falou Rute - Porque sempre quis realizar este meu sonho com um homem que me dedicasse um puro, e nisso eu tive sorte. Saltei do meu cavalo e tomei Rute em meus braços. Ela entregou as rédeas de sua montaria para Eduardo. - Bem meus amigos e companheiros, é chegada a hora de nos despedirmos - disse eu, enquanto passava as rédeas do meu cavalo para José. É com o coração em pedaços que os deixo, sei que vou ficar com saudades de todos. Rute me secundou. - Fiquem sabendo de uma coisa, eu não estou com vontade de ir para a cidade grande, só vou por causa do meu querido Walter, caso contrário eu ficaria com seu povo. Quando Rute disse isso eu fiquei com pena dela. Eduardo tentou reanimá-la: - Não faz mal, nós aqui ficaremos desejando felicidades e tudo de bom para você dois e que tenham muita paz, carinho e amor no decorrer de suas vidas. Dizendo isso, afastaram-se dando adeus, e pedindo para que voltássemos um dia para junto deles. Quando chegamos na casa de Rute, todos davam notícias daquele acontecimento que, naqueles dias, a cidade teve a oportunidade de ver e ficarem aflitos, quando Rute disse a eles que, aquela moça que estava nas garras daquela grande ave era ela e que logo em seguida, aquele corpo que apareceu junto com a ave da moça era o “meu noivo Walter”. Os nossos pais e irmãos surpresos faziam perguntas, eu relatava as aventuras, pelas quais eu e Rute havíamos passado, e tudo parecia um sonho, até mesmo o fato de ainda estarmos vivos. Foi sonho de minha alma, depois de termos contado tudo o que passamos, eles afirmaram que se fossem eles a passarem por nós, talvez suportassem tanto sofrimento. - Ainda bem meus amigos, que tudo não passou de um sonho. Um dia cheio de trabalho, muitos problemas a serem resolvidos, 54
o cansaço toma conta do meu corpo, minha cabeça é uma máquina, que procura uma solução, o pensamento gira, o cérebro trabalha sem cessar à procura de uma saída para o caso, caio na cama e adormeço. Um sonho inesquecível O esforço físico no trabalho, o pensamento voltado para esta moça que é uma criatura viva de carne e osso, que na realidade só apareceu em meu caminho, para que eu esquecesse de tudo e de todos os seres humanos, que passam por este mundo e sofrimento onde há aquele lema “salve-se quem puder”. Foi em minha vida real que passei a gostar desta jovem que disse que me amava também, e que tinha o seu destino traçado, o de vencer nesta vida. Durante o nosso namoro, durante nossos dias de alegria, as nossas noites de prazeres, olhávamos o luar as estrelas, e conversávamos sobre o que seria de nossas vidas. Quanta foram as noites que passamos, horas e horas na praça desta cidade grande, contemplando o luar, e respirando o ar morno e gostoso da noite que se seguiram, quando eu beijava com todo amor, aqueles lábios ardentes, que ao fazer isto eu via que o fim estava se aproximando de nós por causa das palavras, que as vezes Rute pronunciava, querendo esconder algo de mim. Comecei a explorar, aqueles pensamentos que eram frios e traiçoeiros, tanto quanto os da irmã mais velha. Olhando naqueles olhos vivos e penetrantes, é que pude entrar na alma dela e explorar fundo daquele oceano da vida, e ter depois de longos dias de estudos, uma resposta que me surpreendeu. A minha vida, meu coração, a minha alma, ouviram Rute confessar que já não mais me amava. Sentido-me derrotado e humilhado, tive a idéia ( e com este pensamento me veio a inspiração nos dias que se seguiram), de anotar tudo que sucedeu em um caderno. E que não pararia por aí, eu teria que transformar tudo isso em um livro, este seria o meu sonho. O abandono das coisas que eu fazia, a volta para a vida rotineira, correspondeu ao despertar de um sonho. Quando acordei estava com meus pensamentos frios, e como era terrível ter sede naquelas horas da noite. Passei as mãos em meu rosto e vi que o suor 55
escorria, quis ver os meus olhos, o meu rosto, enfim tudo o que se passava comigo, mas era inútil. Mas eu queria que naquela hora a minha alma aparecesse ao meu lado para que eu pudesse ver como era o rosto dela. Corri para o espelho e vi o meu rosto triste e cheio de sofrimento e angústia, molhei a ponta da toalha na água e levei aos meus lábios, que estavam ressecados e pálidos. Molhei meus olhos tristonhos quase sem vida, daí vi meu rosto, tão angustiado e sem cor e acabado por causa daquele falso amor, daquela mulher. Saí da frente do espelho, e sentei-me em uma poltrona na sala, e me pus a pensar, no novo dia que já estava para nascer, e como seria para mim, a vida e a maneira com que eu iria defrontar-me com Rute, que era e seria um amor impossível e que eu não poderia amar aquela mulher, e que depois deste sonho inesquecível, eu não poderia olhar mais para aqueles olhos irresistíveis e tentadores. Hipnotizantes eram os olhos daquela mulher aquele, corpo era tentador, seus beijos eram irresistíveis, fazia qualquer homem perder a cabeça, que eu ao senti-los me paralisava como se fosse uma estátua dos tempos da antiga Grécia. Mas ao olhar para aquela boca, para aquele corpo, tudo aquilo chamando para o amor era como se fosse uma picada da serpente de Cleópatra. Mesmo eu sendo uma estátua de pedra, eu queria ser picado, em todos os instantes da minha vida para obter uma gotinha daquele amor. E daquela boca, daquela língua todo aquele veneno, e aquele corpo pequeno moreno, dengoso, como a natureza fez e que teria que ser só meu. Meu amor, eu sou tão egoísta que mesmo o veneno da morte não quero dar a ninguém. Outro não morrerá em seus braços, somente eu morrerei. Acordei a tempo e vi que era o abismo que se abria sob os meus pés. Daí seria o nosso fim, o fim e do nosso romance, mas tudo foi feito de uma maneira, que ninguém poderia descobrir que eu amei três mulheres ao mesmo tempo, usando vários nomes em cada encontro que tinha com Dulce, Rute e Eunice. Esta última, mais tarde, e com o decorrer do tempo, passaria a ter um pouco dos meus carinhos e do meu amor. Foi pensando na terceira mulher, que eu procurei me afastar das duas irmãs, porque se um dia tudo fosse descoberto, e que todos os 56
erros que eu, Dulce e Rute participamos, vessem à tona como eu iria fazer? E o vexame que eu passaria? Eu estava sentado em um banco de um jardim público, olhando para o céu tão lindo, de um azul cor de anil que sumia de vista lá ao longe. Um urubu todo turvo, voando, fazia umas curvas até lindas. De vez em quando subia mais para os céus, como quem quer chegar até o fim de uma estrada. De repente, volta na mesma hora, fazendo as curvas como se fosse um vôo rasante. Observava a descida deste urubu quando vi pousar em um ramo o pardal que notou logo a minha presença. O vento soprava um mormaço quente e gostoso. Resolvi dar uma caminhada. Depois de andar, parei junto a uma frondosa árvore que dava uma sombra fresca, que acalmava aquele calor intenso. Olhando para o alto da árvore, deparei com o mesmo pardal que vira antes e que se escondia por entre os ramos verdes cor de oliva. Ao perceber minha presença, voou para bem longe também à procura de um lugar, onde pudesse pensar na vida de um pássaro sem destino. O ar que eu respirava era puro e cheiroso. Enquanto eu me deliciava com aquele momento, já caminhara bastante e me perguntava: - Que faço? – Por que penso agora em meu verdadeiro amor. Será que este amor é sincero? Por que não me afasto dele? Como e de que maneira, eu iria afastar tudo aquilo de meus pensamentos? Como é ruim querer afastar dos meus olhos, da minha alma, dos meus lábios, da minha vida, este amor. Ah, aquele corpo cheio de vida seria para mim a perdição, seria a morte lenta e cruel, seria uma loucura acabar com tudo. Seria como uma noite de tempestade que varre a cidade ceifando vidas, trazendo a morte a muitos inocentes, deixando corpos já sem vida, mutilados e feridos à espera de socorro. Absorto nesses pensamentos, eis que vejo Rute sentada numa tora abandonada na beira daquela estrada. Dei alguns passos em sua direção, olhei para o céu como que querendo pedir a Deus um conselho, beijei com meus olhos a imensidão daquele céu azulíssimo, como quem dá uma despedida, olhei para a grande árvore por entre as suas folhas e ramos, recebi contra o meu rosto os raios ainda mornos do sol que também se despedida daquela tarde. Ao chegar perto de Rute, percebi que ela havia derramado 57
algumas lágrimas, mas não quis me dizer o por que. Deixei-a sem lhe dirigir uma palavra sequer, e saí de perto dela, indo junto da árvore novamente onde tornei a me lembrar do urubu visto pouco antes, olhei por entre as nuvens, que estavam salteadas naquele céu ainda um pouco azul, mas não o vi mais. Em seu lugar vi o colorido do sol derramando os seus últimos raios solares, colorindo as nuvens e o céu agora branco e acinzentado, que dava um prazer imenso de viver. O calor havia passado e a tarde era fresca, as árvores agora estavam quietinhas, seus galhos e folhas estavam imóveis, o vento já não soprava forte como antes, parecia que tudo acompanhava o meu triste coração. De onde eu estava chamei Rute, e observei seus passos compassados e dengosos em minha direção e ao chegar junto a mim me abraçou e disse: - Não me deixe, querido do meu coração. Não dei nenhuma resposta, permaneci calado ainda com tristezas em meu coração. Em seguida, praticamente como autônomos, empreendemos nossa volta à cidade. Despedi-me de Rute, no portão de entrada social do prédio onde ela morava, e sem aquele costumeiro beijo, fui me afastando devagar, sem olhar para trás, levando e deixando dúvidas sobre o nosso romance. Caminhei por entre as alamedas do jardim, de cabeça baixa e olhando para as pontas do bico dos sapatos, e pisando nas folhas secas que jaziam no chão, já sem vida, à espera do jardineiro para apanhá-las e levá-las para a esterqueira para onde vai tudo que se torna lixo à espera da podridão, antes de servir de adubo que dará vida. Atravessei a primeira alameda com estes pensamentos, depois fiz um exame de consciência para saber se iria ou não encontrar-me com Rute de novo, nos próximos dias. Antes, porém, que eu formasse a resposta, comecei a pensar no que eu era. Eu também não passava de uma folha seca que quando morresse talvez nem para esterco serviria. – E o que adiantaria a vida assim? – perguntei a mim mesmo durante o trajeto que fiz até chegar a minha casa. - O que adianta a vida assim, Walter? Após ter passado alguns dias sem vê-la, resolvi ir procurá-la. Fui até 58
um telefone público e marquei um novo encontro com ela, no lugar de costume. Rute saiu às 18:30 horas, subiu a Alameda dos Amores, encostou-e em uma árvore e ficou à espera de que o relógio marcasse 19:00 h. Os minutos passaram e eu nem havia percebido. Despedi-me de duas moças com quem conversava e subi com passos firmes e apressados para encontrar-me com Rute. Ao vê-la sorri para aquele rostinho lindo de criança, depois disse a mim mesmo: - O que adianta viver assim. Diga-me Rute, porque eu a amo assim, como o próprio sangue que corre em minhas veias, você é para mim o sopro Divino que Deus me deu. - A nossa despedida algum dia representaria o fim do nosso amor, o fim de nossas vidas Rute, meu grande amor. Como se nunca eu tivesse tentado deixar você, confesso que tentei deixá-la por inúmeras vezes afastar-me, mas não consegui, cheguei até a mentir dizendo que não a amava e que não a queria mais, neguei os meus lábios nas horas que você me dava os seus beijos, os quais ficaram esquecidos e não foram dados. Afastei o meu corpo do seu. - Disse frases que você não compreendeu, nem eu. - Falei muitas palavras, para magoá-la, para que você também se afastasse de mim. -Saí muitas vezes com suas irmãs, para fazer-lhes ciúmes. - Como você vê querida, nada disso adiantou, lembre-se que por duas vezes, nós brigamos como ninguém e nada adiantou, nós voltamos para os braços um do outro. - Ah, meu amor, como foi triste isso para mim. Depois de nos abraçarmos e de trocarmos beijos de amor apaixonados, caminhamos de volta à sua casa, onde trocamos mais alguns beijos e nos despedimos, prometendo nos ver novamente. Depois se passaram vários dias, e eu não vi mais Rute. Durante este tempo, eu procurei estudar por várias maneiras o fim daquele romance, mas não consegui, o nosso amor foi mais forte do que tudo neste mundo misterioso.
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O tempo passa, novos casos acontecem Uma tarde em que a vida para mim era triste, eu sem querer a deixei mais triste ainda, pois eu tinha que acabar com todo o meu romance de amor, romper com aquela que mais amei na vida, e que pelo capricho do destino eu não tenho direito deste amor. Os meus pensamentos tramavam a separação daquele amor, e teria que ser naquela tarde, ou então nunca mais. Eu estava com o coração em pedaços, naquela hora eu via que nenhuma mulher vale tanto o amor dos homens deste mundo. Pois eu estava revoltado comigo mesmo, já vi a traição de Rute contra mim, vi que o fim estava próximo. Eu sabia que as mulheres quando podem castigar elas castigam sem piedade e quando descobrem que o sexo oposto as ama, aí elas castigam ainda mais. Talvez eu fosse o único homem, a fazer uma mulher abaixar-se, e rastejar aos meus pés, beijar-me e dizer “meu eterno amor eu amo, como a minha própria vida”. A amargura da vida, vem quando a cabeça não pensa Depois de meditar tanto, eu jamais aceitaria o amor desta mulher. Deste sonho, puro sonho de amor, que veio em minha mente após um longo dia de trabalho que tive. À noite deitei para descansar, este tão cansado corpo, para sonhar, este meu sonho inesquecível. Rute adoeceu na cidade grande, e eu, preocupado e tristonho, passava os dias na cabeceira da sua cama com esperança que ela se restabelecesse da enfermidade que sofre, dia e noite. Hoje não sei, estou tristonho, faz um mês que Rute está no hospital, oito de maio, dia inesquecível para mim. Walter se troca, ajeita a gravata, vermelha com pintinhas azuis e deixa o último botão da camisa branca, sem abotoar, despede-se da esposa e dos filhos, dizendo eu vou ao escritório resolver uns casos que ficaram pendentes, beija a esposa e sai apressado, entra no carro, dá a partida e sai rapidamente rumo ao hospital., e no seu pensamento, vem a voz de Rute, ele escuta o riso da mulher amada, lembra das palavras 60
lindas, que ela dizia, recorda da noite em que eles brigaram na alameda do amor por causa da decisão de Rute. Ela resolvera ir trabalhar no pântano da vida assim como ele chamava, depois vieram aquelas palavras: - Rute se você for para o hospital, eu lhe levarei frutas. - Se você for para a cadeia, eu lhe levarei cigarros. - Se você for para o túmulo eu lhe levarei flores. De repente, sente um calafrio pelo corpo, o suor desce pelo rosto, os olhos ficam parados como se estivessem vendo um fantasma, diminui a marcha do carro, apanha o lenço na mão e vê o nome de Rute olha para o lenço, e depois como quem não quer usar uma jóia de estimação, guarda no bolso e pega outro e com rapidez enxuga o suor do rosto, olha no relógio no painel do veículo e vê que já são 19 horas, calcula o tempo em que levará, para chegar ao hospital, e diz consigo mesmo “faltam dez minutos”. Depois Walter sente dores horríveis nas pernas, faz um esforço, e coloca o carro no acostamento, o corpo está quente o suor torna a descer pelo rosto, o corpo quente parece estar em brasa, os olhos ardem, os lábios estão secos, limpa o suor do rosto com o lenço, passa a língua nos lábios, deixando-os úmidos, mexe com as pernas e vê que as dores estão diminuindo e relembra das palavras que certo dia ele disse à Rute, em um momento de discussão: - Olha Rute nunca mais quero vêla em minha frente a não ser que você esteja doente em um hospital. Assim ansioso para vê-la, ele entra no carro e vai em direção ao hospital. Walter no trajeto, vai relembrando dos lugares e dos beijos ardentes de Rute, das reuniões que eles compartilharam juntos, das horas alegres que passaram juntos no cinema, nos teatros, daquelas palavras meigas e amigas que davam a ele grande apoio para que a vida continuasse. À vezes ela falava: - Walter, quero que você me ame, com toda a força de seu coração. Seria triste para mim, ficar sem você, não quero ficar na solidão, e depois ter que lembrar destes momentos, destes beijos que só você pode dar. Walter olha tristonho para aquelas sombras, que balançam de um lado para outro, parecendo querer avançar contra o carro, depois ele entra com o auto por uma rua bonita e diz: - Esta sim é uma rua bonita e clara com suas lâmpadas firmes e acesas, seguras nos braços destes postes, dando coragem aos medrosos 61
que por força do destino, são obrigados a caminharem tremendo e com medo dos que por esta vida já passaram. Depois Walter diz para si mesmo: - Meu Deus, como esta vida é cheia de mistérios e surpresas. Não sei, mas alguma coisa me diz que Rute a uma hora desta já não pertence a este mundo. De repente Walter vê o hospital e pensa: - Graças a Deus já estou chegando. Entra com o auto no pátio do hospital, estaciona o veículo na área reservada a visitantes, e sai apressadamente indo em direção à recepção. E, num impulso, volta correndo para o veículo, apanha o pacote que havia esquecido e retorna para a recepção, com um ar tristonho, continua a meditar: Pobre Rute como estará ela? De seus olhos descem lágrimas, ele enxuga com o lenço, uma jóia de estimação. Ele havia retirado do bolso sem notar que aquele lenço não era para ser usado, era a relíquia de sua vida pois fora a sua amada que lhe dera de presente, com o bordado feito a mão. Ele dobrou o lenço com todo o carinho, e colocou no bolsinho do paletó, e andando a passos largos, entrou na recepção onde a atendente era uma madre, ele suspirou fundo e perguntou: - Irmã, em que quarto está a senhorita Rute? A madre olhou para ele e respondeu: - Ah meu filho, ela estava no quarto 96, mas agora não está mais. - Então, irmã, o que houve com Rute? - Meu filho, esta vida é cheia de mistérios e de surpresas, tudo acontece quando a gente menos espera, ontem mesmo eu e Rute estávamos falando do senhor, e ela me dizia que estava arrependida por ter brigado com o senhor, e eu perguntei se ela o amava, ela em soluços me respondeu, que o amava ardentemente, e que estava apaixonada, mas que não podia continuar este romance porque o senhor é casado. Ela trazia no coração a promessa de que depois daquela briga, jamais, iria procurá-lo e quando foi às 18:40 horas, eu recebi um chamado do doutro Maurício e da irmã Dora, de que Rute havia falecido. Walter sai dali acompanhado pela irmã e foram para o necrotério, onde estava o corpo de Rute, sendo velado pelos seus familiares. Depois das palavras de conforto, Walter fica triste e sai dali, com os olhos cheios de lágrimas e vai para junto do corpo de sua amada, que está deitada com as mãos cruzadas, os lábios agora sem 62
vida da cor de cera. O rosto sereno parecia dormir. Ele abaixou junto ao rosto da jovem, e com um beijo respeitoso, selou o fim daquele amor. - Rute nunca esperava que nós iríamos nos separar assimmurmurou. Depois do funeral, Walter volta a ter uma vida cheia de trabalho, na lida do dia a dia, e lutava para esquecer aquele grande amor. Os meses se passaram e aos poucos, Walter vai esquecendo de Rute. A mudança de vida, e do local de trabalho, faz com que Walter faça novas amizades. Mas depois de dois anos o destino lhe prepara mais uma, e ele tem que enfrentar o amor. Certa tarde, Walter estando no cinema que ia com Rute, ele deparou com uma jovem parecidíssima com ela. Não podia ser Rute que já falecera há algum tempo. Enquanto ele olhava para a jovem, ela também olhava para ele e em um dado momento, ela foi em direção da bomboniére, como que o convidando para que ele o aproximasse dela, ele com um olhar fixo nela, aguardou com um aceno que ela deu com a cabeça, balançando a de cima para baixo, por duas vezes. A aproximação, o abraço, e o beijo nas faces após se apresentarem um ao outro. Walter disse a ela “nossa no momento em que a vi pensei que era a sua irmã, você é parecidíssima com ela, ainda bem que você tem esta pintinha no rosto, do lado esquerdo e que eu nunca esqueci, porque ela é que me ajudava saber quem era quem, e assim eu não me enganava com quem eu namorava”. - Walter eu sempre quis namorar com você mais minha falecida irmã – que Deus a tenha em bom lugar- não dava chance. Dizendo isto aproximou eu corpo junto ao meu colocando a cabeça no meu ombro, e com os olhos fixos brilhantes, que dava para ver com reflexo do filme a que estávamos assistindo, e com a mão em meu queixo, puxou-me e me beijou nos lábios. Como era bom, era como se fosse a falecida. O útil e o agradável, eu não queria unir os dois, mas a insistência de Eunice era demais, e eu via que a qualquer momento o meu barco deslizaria no mar do amor, ou naufragaria em uma ilha deserta aonde o destino me levaria. Nosso segundo encontro, lá ia eu para o desfiladeiro do destino, à procura de uma curva para enterrar meu coração. Naquele restaurante ela me esperava radiante, junto a uma mesa no fundo do salão, os 63
garçons corriam de um lado para outro, para dar um atendimento a todos. Fui atravessando o salão até chegar na mesa em que ela havia reservado para nós. Ela se levantou e com os braços abertos, pulou sobre o meu pescoço, como se fosse uma pantera, e colocando seus lábios em cima dos meus. Beijou-me apaixonadamente chamando a atenção dos presentes, que pediam bis por terem visto aquela atitude de tanto amor. Depois do beijo fiquei carrancudo, como sempre fazia quando não gostava de certas liberdades, sentei-me ao lado dela, e fui dizendo a Eunice que aquilo não era possível, pois eu que só tinha amizade por ela, e agora que fazia dois anos que Rute falecera- “eu já começo a gostar de você, pois vejo em você a imagem de sua irmã pobre Rute.” - Walter eu sei que você sofre por causa da minha irmã pois você a vê em mim e nisso acho que você tem razão, mas eu nada posso fazer, só sei que o amo. - Walter, eu farei de tudo para tirar essa tristeza, vou procurar dar de tudo a você e todo meu amor, quero que você entenda, e me ame também, pois o nosso amor não é pecado. - Não Eunice, eu já sou velho demais para amar você uma moça com todo o futuro para ser vivido. Veja bem eu conto hoje 33 anos e você 19, é muita idade. A diferença é grande. - Sabe Walter, para o amor, não há idade nem beleza o amor supera tudo, é por isso que o amo. Não há mais nada para ficarmos pensando, eu acho que devemos continuar nosso idílio. Depois do jantar, eu falei a ela que quando chegasse em minha casa eu iria escrever uma poesia “para você ver o que eu penso da sua pessoa, no dia em que eu lhe falar que a amo, é porque adorarei, para sempre, e eternamente enquanto vida estiver.” Minha querida Eunice... Neste momento, espero que esta vá encontrá-la gozando saúde e bem alegre, é o que eu lhe desejo, meu grande amor, retifico que esta vá encontrá-la com saúde e muitas felicidades, e com o coração repleto de alegria, meu único e grande amor. Meu amor desculpe-me por eu ter errado na carta comecei a escrever-lhe mas um dia lhe faria uma surpresa e prometo escrever-lhe novamente. 64
Aproveitando a ocasião, envio abaixo o poema que prometi compor especialmente para você: A você, virgem Meu amor minha vida ainda virgem... Ainda darei a ti o meu amor... Se fores virgem, serás somente minha, e de mais ninguém... Do teu pedestal, cairá um dia... E ficarás para sempre nos braços meus... Para que sintas um dia o sabor dos lábios meus... Pois do pedestal virás para os braços meus um dia. Minha vida meu amor ainda virgem... Formosa no falar no pensar, e no querer... Terás todo o meu respeito, porque és virgem... Assim farei até morrer... Meu ídolo não cairá do pedestal, porque nem em vida na morte ousarei nele tocar... Pois o meu amor é puro e imortal... Que levarei comigo, para o além onde um dia te Encontrarei... Ass. Walter. Obs: Eunice, ao ler esta poesia, espero que não me critique pois eu não sou poeta, disse apenas aquilo que senti quando cheguei em minha casa, depois de tê-la deixado preocupada e pensativa. Eunice, faça de conta que você fugiu de mim, assim neste momento, eu estou pensando em você e passo a ecrever-lhe esta carta de amor... Ass. O mesmo Uma virgem que foge Minha adorada e amada virgem, você fugiu meu amor, minha vida, por que... ? Os raios de sol também não vieram aquecer seus lábios, não foram aquecidos os meus. Estou triste meu amor, o dia para mim está morto, pois não vejo 65
você, nem seus lábios posso beijar. Venha minha amada e adorada virgem, porque você fugiu sem pelo menos dizer adeus, tudo isso porque a amo, com a minha própria vida. Por que me deixa a sofrer aqui assim, venha meu amor matar esta solidão, esta saudade louca que maltrata o meu pobre coração. Venha Eunice dê-me um pouco da gota do amor ainda virgem do seu ser, dê-me os seus lábios para que eu possa beijar, as suas mãos para que eu possa acariciar, minha fada encantada, minha vida meu amor, eu inesquecível amor... Responda que você ainda volta para os braços meus, dizendo com todo carinho e amor, que me ama, diga meu grande amor que me quer pelo menos por um instante, para assim eu seja feliz e que tenha esperança de um dia vê-la ainda nos poucos dias que me restam de vida. Querida, esperei o dia todo de ontem, mas você não veio e hoje o sol raiou mais lindo ainda, convidando-nos para o amor, a manhã está linda, e eu a estou esperando como sempre, à espera do seu sorriso, do seu olhar dos seus braços, as suas mãos para me acariciar, e os ardentes lábios. Venha meu grande amor transformar os momentos amargos da minha vida dê-me tudo o que é seu o seu amor, se é que você me ama. Estou com o sol à espera da lua, que só se vêem e se encontram quando há eclipse, assim eu e o sol somos iguais de um dia encontrarmos e sermos felizes. Depois então, diremos, até que enfim sou feliz e o sol também o é pois você veio, meu grande amor, diz o sol para a lua e eu digo ao meu mais inesquecível amor, você veio minha virgem, agora sou feliz. E assim, meus caros leitores, no meu pensamento só havia vontade de vencer todos os obstáculos, e eu lutava com toda minha força a minha alma procurava por todos os meios der aquela jovem que um dia eu apelidei de pintinha, aquela moreninha de olhar faceiro, onde eu via toda a beleza de uma virgem. Aquela beleza mexia com os meus pensamentos, a todos os instantes. E ela com calma, pronunciava palavras e suas respostas eram certeiras, e dadas com todo amor e carinho. Às vezes ficava horas a fio estudando uma linha de ataque, para ganhar a simpatia, a confiança e o amor daquela virgem, mas de um momento para outro, eu via que não estava agindo como devia, não poderia de maneira alguma trair a irmã daquela mulher, a qual já me 66
pertencia e que há muito declarara o seu amor por mim. Rute lança do infinito toda graça, e a beleza do amor, no coração da irmã para que esta com sua ajuda, fique me amando também. E assim os dias foram se passando em minha vida e com aqueles dias vinham chegando o amor por aquela mulher para que eu me tornasse um sofredor, à espera do destino, sem saber se seria bom ou ruim. Agora eu perguntava várias vezes a mim mesmo, qual será o meu destino. Minha alma começava a vagar de um lado para outro à procura de paz e de luz divina, para poder sair das trevas, onde eu estava. Aquela escuridão sem fim, minha alma estava triste e sofrendo os horrores do inferno à procura da vida e da luz clara. Meu espírito estava cansado de vagar no além meu corpo já não era dominado por ele mesmo, os meus pensamentos muitas vezes ficavam indecisos, não sabia se deveria ou não ir na casa daquela jovem. De repente como se o meu corpo estivesse sendo dominado ou movido por um ser sobrenatural, lá ia eu às pressas para sair daquele sofrimento, daquela angústia, daquelas terríveis dores de cabeça, à procura da jovem amada. Pobre do meu espírito, só ali ele encontrava a paz e a delícia de um paraíso, ao lado de uma alma ainda virgem, branca como a neve, que riscava o espaço. Como é bom gozar a delícia da liberdade espiritual, a paz de uma alma que não sofre. Enquanto meus pensamentos estavam se deliciando naquela paz o meu corpo estava estirado, abandonado no leito à espera, do retorno da minha alma, para dar vida para aquela matéria, para o despertar de um novo dia. E continuar a sua peregrinação aqui na terra, e cumprir o seu destino. Era como se os meus pensamentos, não pertencessem mais a este mundo, ao meu corpo, e a este tão pobre coração. Agora lá vai ele atravessando avenidas e ruas, praças numa rapidez de um raio, já não vê seres humanos por onde passas, seus olhos agora estão fixados unicamente em um ponto. Onde estava aquela jovem à espera e talvez haveria alguma surpresa, ou poderia de um momento para outro, acontecer o fim de tudo, porque aquele amor é proibido. 67
Contra tudo e contra todos Todos eram contra nós ela me amava e dia a dia me amava mais. E as suas irmãs também eram contra nós. Elas tinham suas razões, no passado elas pertenceram a mim de corpo e alma. Quando houve o rompimento entre mim e Rute, a falecida é que Dulce começou a desconfiar de Eunice, a jovem do meu coração. Ela era às vezes obrigada a fingir que entre nós só havia amizade, e mais do que nunca, ela tinha que cultivar aquela amizade para não por tudo a perder, eu sofria com isso, eu queria declarar o meu amor a todos, mas me faltava coragem, eu me sentia como um covarde na linha de frente de uma batalha, e procurava agir com mais humildade. Certa noite estando eu na presença da irmã de Eunice, peguei uma folha de papel e caneta, e lancei um olhar à escondidas para Eunice, que me compreendeu, naquele momento. Vi naqueles olhos castanhos, enfeitados com aqueles cabelos pretos e com os lindos lábios em forma de coração, o desejo de pronunciar palavras para mim, para que eu entendesse tudo em palavras que não se podia escutar. Me pus a pensar como já estava de posse do papel e da caneta, comecei a escrever uma pequena poesia que dediquei a ela e que transcrevo abaixo. Moreninha dos olhos negros... Do rosto redondo cabelos pretos... Lábios carnudos em forma de coração... Um sonho inesquecível Cheiroso e gostoso, com gosto de mel... Corpo de boneca, menina sapeca... Moreninha, moreninha... Pés pequeninos, pequeninos... Sei que um dia ainda serás minha... Moreninha de pequeninos pés... Minha rosa flor em botão 68
De alma angelical... Meus sonhos minha alma... Minha vida meu amor... Sonhos dos sonhos meus... Que nas noites invade o meu ser... Vida minha vida dos dias meus... Sonhos dos meus sonhos do meu querer...
Depois que terminei de escrever entreguei a ela o papel que, ao ler, ela sorriu e entendeu que com aquelas palavras eu já dizia tudo, e o que eu queria. Aquelas tão poucas palavras, saíram do meu coração que somente desejava aquele amor proibido. Em dado momento, percebi o ciúmes que causamos a Dulce, quando conversávamos, e quando passei a folha de papel para Eunice, que ao terminar de ler me devolveu: - Está linda. A quem pertence e para quem foi dedicada? perguntou. Foi com todo o meu amor, e carinho que respondi: - Pertence a uma grande amizade, que eu quero cultivar em meu coração, por muito e muito tempo, a uma jovem que até agora tem sido compreensiva, educada e gentil para comigo. Eunice lança um olhar calmo e alegre para mim, desmanchando nos lindos lábios em forma de coração um doce sorriso, cheio de segredos que naquela hora e momento não poderiam ser revelados, mas mostrava no olhar e na maneira desembaraçada, com que executava os serviços na sala onde nós estávamos. A noite transcorreu calma, e todos nós conversávamos animadamente. Dulce mostrava-se brincalhona comigo, apesar de estar com ciúmes de Eunice. No fundo, ela também estava preocupada com dona Junei e não queria que ela descobrisse o que havia acontecido conosco, por detrás da cortina da vida. Eunice de vez em quando lançava um olhar que eu não poderia compreender, parecia que queria encobrir qualquer coisa. Eu não podia entender então comecei a puxar outros assuntos, para disfarçar: - Como vai senhor Teodoro e todos de lá? - dirigindo-me à Dulce. 69
- Estão todos bem, papai perguntou por você e quer saber quando você vai aparecer por lá - respondia ela, com um olhar desconfiado. Mas antes de eu retornar as palavras, procurei ler nos olhos de Eunice, qual a resposta que deveria dar para aquela pergunta, depois com calma, concluí: - Ora Dulce, seu pai sabe que eu não disponho de tempo, tenho trabalhado ultimamente como um condenado a serviços forçados. - Eu sei você está sempre trabalhando, meu querido mas você não vai ficar trabalhando a vida toda vai? – falou Dulce , me olhando e com voz tristonha. - Algum dia eu irei visitar seu pai e isto será antes de eu morrer. Depois com ar de brincadeira, continuei. Só irei quando Nice casar. Todos acaram graça e dona Junei observou “que desta menina, não espere isso,pois ela nem namorado tem”. Quando eu ouvi isso, me dei por vitorioso, e naquele momento escutei as palavras com muita atenção, pois a muito eu queria ouvi-la e saber do comportamento de Eunice, quando ela estava só. E como um raio que rasga o espaço, numa noite de tempestade eu perguntei a Eunice a idade dela e “porque você não namora?”. Eunice retrucou com os lábios trêmulos: - É muito fácil senhor Walter o senhor sabe, em primeiro lugar eu sou feia, segundo não tenho idade para tal coisa e além do mais, minha religião não permite namorar com qualquer pessoa a não ser que seja uma pessoa da mesma seita. Eu acho que os meus 19 anos são poucos para um namoro. Simplesmente, por essas coisas é que eu não me preocupei com o fato, não procurei nenhum rapaz. É certo que existe uma pessoa que eu amo, mas não poderá nunca pertencer a mim, porque não sei, talvez, ele nunca irá gostar de mim. - E é por isso que eu não tenho ninguém senhor Walter para me levar para o altar. Quando Eunice terminou de contar suas tristezas e suas desilusões, eu fiquei pensativo e ouvi um longo suspiro. Levantei meus olhos e tive a surpresa de ver Eunice com os olhos banhados em lágrimas, e os lindos lábios em forma de coração da cor rubi trêmulos, à espera de consolo, de uma palavra amiga para apagar aquelas amarguras da vida. Meu coração palpitava dentro do meu peito, meu pensamento corria por uma estrada sem fim desesperado sem ter no momento uma 70
solução para tal acontecimento, as palavras que estavam em meus pensamentos, e afirmavam “eu amo esta jovem, que devo fazer, continuar a correr por esta estrada sem fim como um louco? Oh meu Deus, para que tanto sofrimento”. A estrada da vida, em que eu sempre falo é a estrada da vida do amor que nunca tem fim, nós vivemos e morremos e tornamos a ser pó, aquilo que nos formou, e tornamos a ser pó para nascermos de novo, para nascermos novamente do pó. Tudo isso é o que vivemos, é a vida tendo horas tristes e alegres. Tive naquele momento uma sensação estranha, e percebi o quanto é triste amar, e não saber que por detrás da cortina da vida, eu amava e era amado também. Fiquei longos minutos perdido na escuridão do inferno à espera da salvação daquela linda jovem que estava sofrendo. Sem saber que naquele instante o seu amor sofria também. Lutei em vão com os meus pensamentos. Da minha alma e da alma da minha querida Eunice, eu queria arrancar aquilo que estava escondido, nas profundezas do céu, da terra, dos oceano, e no inferno se é que existe, uma palavra que eu pudesse tirar nossas almas daquele sofrimento. O que estaria pensando meu amor naquele momento? Talvez sofrendo também, sem saber que o seu amor estava ali presente, à espera de uma oportunidade, que amavam sem saber que o destino se encarregaria no dia seguinte, de dar alegria para aqueles inquietos corações. Entristeci-me quando vi Eunice abandonar a ala e seguir para um longo corredor, e desaparecer da minha frente. Já eram 20:50 horas me despedi das moças, já ia me retirando quando ouvi uma voz meiga que vinha do fundo do corredor. - Walter, quando é que você vai me levar para passear, conhecer a cidade? Naquele instante fiquei surpreso diante de tal pesadelo que eu julgava, nunca poderia atender: - Minha cara amiguinha pela nossa amizade, que eu procuro cultivar, corresponder sempre em tudo aquilo que é possível, eu gostaria de dar um passeio assim como você me pede, mas isto depende de sua irmã, pois quero que ela fique sabendo do seu pedido e me autorize. Porque eu quero que ela saiba que entre nós existe uma grande amizade, pura, e sincera. 71
A amizade transforma, e a inocência se desfaz Nunca pensamos em nossa amizade e transformasse em outra coisa e que a inocência de uma jovem se desfaria em loucura, e em um amor proibido. - Eunice eu vou embora com esperança de um dia poder satisfazer ao seu desejo, mas com uma condição a de que sua irmã tenha confiança em nós. Eu pronunciava aquelas palavras, com toda simplicidade e com calma. De minha parte, um só pensamento, a vontade de contar tudo para Eunice, aquilo que eu sentia e me trazia dentro de mim. Depois me despedi de Eunice não deixando de fazer o meu olhar entrar dentro daqueles olhos negros e tristonhos, e ver neles o agradecimento, por não ter negado tal pedido, que talvez, seria o momento de declararmos tudo aquilo que nós sentíamos um pelo outro.
O que passei e pensei naquela semana, durante a noite, e nos dias que se seguiram, naquela semana Eram onze horas da noite, quando fui para casa, fiquei pensando como fazer, para conseguir algum dia o amor daquela jovem que eu tanto sonhara. Por fim cheguei a minha casa alegre por ter passado momentos felizes, e por ter visto mais uma vez, aquele rosto amigo.
A vida continua e o destino nos aguarda Nesta noite, eu dormi bem, a minha alma viveu durante horas, num paraíso repleto de lindas jovens, que palestravam uma com a outra numa alegria sem par. Minha alma e deliciava daquele gosto de querubim sem pecado. Enquanto minha alma passeava por este paraíso, o meu corpo, jazia tranqüilo em um leito. Assim passei uma noite de paz e com o espírito tranqüilo. Ao despertar no dia seguinte, tive uma alegria imensa, o meu corpo estava leve como uma pena e lembrei-me do sonho e do prazer que minha alma havia experimentado naquele paraíso. Eu tive a 72
impressão de que eu fora um anjo por uma noite, ao lado da mulher amada. Naquela semana, os dias e as noites foram cheios de alegria, e eu me sentia feliz da vida, achava que tudo era bom e que a natureza nos oferecia tudo de bom, que o nosso bom pai Onipotente, construíra. O meu amor por Eunice crescia dia a dia eu era o homem mais feliz do mundo, mesmo sem ter a certeza daquele amor. Assim naquele contentamento e com o coração cheio de amor para dar, Passei aquela semana na mais tranqüila calma , com aquelas rosas rosas vermelhas do meu jardim, pensando no meu inesquecível amor. O rompimento de minhas relações com Dulce, ás vezes me causava grande mágoa, mas eu ficava com pena dela e no caso de Rute eu já quase não a lembrava. Pouco a pouco, o semblante daquela mulher ia se apagando da minha mente e saindo da minha vida. Já fazia muito tempo que ela havia falecido, mas quando eu olhava para Eunice, eu via naquele roto o retrato de Rute, que eu tanto e tanto amei. Muitas vezes, Dulce não me compreendia e por isso nós brigávamos e , quando houve o nosso rompimento, muitas vezes eu me escondia na esquina da alameda do amor, à espera daquela que eu tanto queria em meus braços. Eu sempre pensava “como é linda esta mulher, parecidíssima com a falecida irmã. Agora eu sei porque amo tanto esta jovem, pois o amor que eu dedicava à Rute transferiu-se para Eunice, que era unicamente minha.”
A tentação em sonho O convite de Eunice para Walter, em 15 de maio de 1.965, às 15 horas daquela linda tarde, o céu mostrava toda aquela beleza de um azul claro, o ar estava calmo e convidativo para um lindo passeio. Nesta tarde eu estava feliz, e cheio de palavras bonitas em meus pensamentos. Encontrei-me com Nice ela estava linda, e vestida com um lindo tailler azul escuro, e com uma camisa de manga comprida cor de rosa, com babados rendados nos punho que desciam desde o colarinho, até a cintura. Ela estava lindíssima, seus lábios pintados na cor rosa em forma de coração. Ao ver-me ficou sorrindo mostrando por entre os lábios, aqueles dentes alvos como neve, seus olhos movimentam-se de um lado 73
para outro, e fitando-me como quem está querendo adivinhar os meus pensamentos. Fiquei admirando aquela criatura por uns instantes, os seus cabelos negros caídos, nas costas e cujas pontas paravam naquela formosa cintura, a saia azul, combinavam tão bem com aquelas pernas tão bem torneadas. Enquanto eu admirava o corpo daquela mulher, ouvi a sua voz: - Walter, eu preciso falar com você. - Sabe amor, vamos passear ao lado deste rio, assim observamos a beleza da natureza, enquanto conversamos sobre o nosso romance, pois você sabe que eu o quero muito. Beijei Nice na testa, enlacei os meus dedos naquelas meigas mãos, e saímos andando ao lado do leito do rio, olhando as árvores lindas enfileiradas, uma após outra, todas bem enfileiradas. Pareciam até soldados nos dias de parada, cada uma com sua copa redonda, com os galhos que estavam querendo beijar as águas do rio, quando o vento soprava mais forte. Mais além, vimos outras árvores, porém, estas eram diferentes suas ramagens. Eram mais verdes e, apesar de ter um tronco mais grosso e forte, era a mais baixa de todos, mas a sua sombra era acolhedora e gostosa, falando “que linda ave” Nice apontou-me um galho. Olhei por entre os ramos e vi um lindo sabiá laranjeira, que nos olhava quietinho do galho onde estava. Peguei nas mãos umas pedrinhas e fui jogar no sabiá para espantá-lo, mas Nice segurou a minha mão, não permitindo que eu atirasse. O pássaro entendeu o meu propósito, nos olhos entortando a cabecinha para baixo, beliscou a casca do tronco, levantou a cabeça, estufou o peito amarelado cor de laranja saltou para o outro galho e saiu voando. Continuamos a caminhar até encontrarmos uma velha árvore, caída toda deformada pela ação do tempo, dando moradia aos bichinhos. Sentamos em seu tronco em partes forte ainda, porém sem vida, e trocamos palavras de amor, beijos, carícias, até que caiu a noite calma e silenciosa. Nós só escutávamos o ruído das águas a rolar no rio, batendo no barranco e fazendo um barulho mais forte. Apesar de estar anoitecendo, o calor ainda continuava. Em alguns momentos, sentíamos uma brisa fresquinha que era trazida pelo vento. Levantei-me e segurando nas mãos de Nice fiz com que ela levantasse, 74
puxei-a para junto de mim e, segurando a cintura, apertei-a contra o meu peito, onde senti o tiquetaque do seu coração. Beijei aqueles lábios em forma de coração, com toda paixão,depois a empurrei de lado, dizendo em tom de brincadeira “não me aborreça mais, já lhe devolvi os seus beijos”. Saímos dali daquele tronco acolhedor, agora separados um do outro. E assim caminhamos de volta para a casa de Nice, onde eu iria despedir-me dela sem querer, pois eu não desejava que aquela maravilhosa tarde e aquela gostosa noite terminasse. Nice caminhava de calça baixa, movimentando aquele formoso corpo dengoso, balançando de lá para cá como que dizendo “venha, venha meu amor eu quero, se vier eu lhe dou outro beijo, vem, vem, amor”. Eu estava longe dela, a poucos metros, apreciando aquela maravilha que era só minha. Ela continuava a me tentar, não resisti e fui aumentando os meus passos, sem que ela percebesse, até que passei na frente dela e parei. Ela levantou a cabeça com um lindo sorriso me disse “como eu o amo”, abriu os braços e se atirou contra o meu corpo, e para alcançar os meus lábios ela precisava levantar os pés e ficar apoiada nas pontas do bico do sapato. Aquele abraço gostoso, e aquelas palavras fizeram-me suspirar e dizer “eu também a amo”. Olhando-me com ternura ela me beijou demoradamente, e na embriaguez daquele amor eu a beijei, pois nós éramos apaixonados um pelo outro. Fitávamos bem dentro dos olhos um do outro, e íamos quanto nos amávamos. Vi meu rosto de apaixonado dentro daqueles olhos negros vi quanto significava, aquela jovem para mim. Carinhos, ternura, felicidade, entendimentos, de ambas as partes segurança e muito amor, fizeram de nós dois felizes. Vi naquele momento em nossas vidas, uma chuva de rosas e o meu destino, o nosso caminho, e o futuro do nosso amor. Despedi-me de Nice naquela noite com o coração cheio de felicidade, prometendo que nós iríamos nos ver novamente. Nasce um novo dia, e lá ao longe eu vejo logo ao me levantar, a serra azul fazendo subir aos céus fumacinhas brancas, que saem das folhas verdes das flores das árvores secando o orvalho da madrugada que morria triste, para que em seu lugar viesse um lindo dia, no qual o sol rompe os montes sem medo algum, lançado para a terra montes sem 75
medo algum, lançando para a terra e em tudo o que há nela há estes seus raios coloridos, e esquentando o dia até que chegue a noite novamente para que todos possam amar. Naquele momento lembrei-me da noite anterior, quando ao me despedir de Eunice eu havia dito: - Adeus meu eterno amor, tenho esperança em dias melhores para nós. E que amanhã ao me levantar, irei ver o raiar do dia deixando para traz toda a tristeza do meu coração, carregando a bandeira do nosso amor. E conforme eu havia dito, vi o raiar de um novo dia. As montanhas azuladas, e os campos, as flores em meu jardim, os passarinhos saltitando festejando o novo dia. Vi o padeiro descer a alameda das rosas, fazendo barulho com sua carrocinha de roda de ferro, carregando o pão e o leite colocando o pão e o leite, nas janelas e nas portas ainda fechadas. Quando todos ainda dormiam, sem ver o novo dia nascer, vi tudo aquilo e olhando para o céu agradeci a Deus por mais um dia de vida, a alegria reinava em meu coração sem saber o que o destino me daria mais tarde. A reserva e o destino O sol nascia naquele mês de janeiro de 1.966, por detrás da montanha, onde dava somente para ver os primeiros raios rasgando o horizonte ainda azulado, pela manhã enfumaçada. E eu da porta do terraço da minha casa apreciava outra vez o cantar dos passarinhos saltitando nas rosas e nas árvores copadas, que há muitos anos eu havia plantado com todo carinho, pois eu amo a natureza e sei que sem ela não poderei viver. Que lindo um casal de tico-ticos namorando e acariciando a sua amada, tal qual um casal de namorados, naquele momento lembrei-me da mulher que tanto amo, e que eu estava prestes a perder. E quando caiu a noite, como se alguém estivesse presente, eu ouvi sussurrar baixinho em meus ouvidos, aquela mesma voz que já era minha conhecida, que dizia: - Ingrato porque foge de mim, porque me deixa sofrer assim? Porque não marcou um encontro comigo. Para arrancar da minha alma esse sofrimento, essa amargura e fazer com que tudo isso se transfor76
masse em amor, que para mim, é o mais sublime amor. Ela é minha vida enfim. - Não faz mal, meu amor eu saberei esperá-lo e renunciarei a tudo e a todos somente para dar-lhe o meu amor, a minha vida se você quiser querido do meu coração. Agora meu bem amado, que você está assim pensativo, eu lhe peço para que descanse esta noite em paz, porque sei que amanhã estará acreditando em mim, e na hora em que eu lhe telefonar, você verá tudo será resolvido entre nós. Dizendo isto a voz desapareceu, ainda dizendo “adeus meu inesquecível amor, adeus”. Depois que ouvi aquelas palavras, minha alma e o meu ser ficaram mais tranqüilos, dando a mim um sono calmo, mais repousante e cheio de esperança para enfrentar um novo dia, que estava prestes a nascer.
Um novo dia, uma nova esperança Quinta-feira, 16 de maio de 1966, nos primeiros minutos da manhã ao acordar às sete horas, lembrei-me das palavras que ouvi daquela moça no sonho que tive na noite passada, ficando ainda em meus pensamentos aquelas perguntas, que não tenham respostas. E aquelas dúvidas. Eu perguntava a mim mesmo: -Será que é Eunice que falou comigo em sonho? Depois pronunciei baixinho estas palavras: - Eu sou um tolo foi Rute que quis brincar comigo, acho que ela está desconfiada de mim, isto sim. Assim pensativo saltei da cama, e fui para o banheiro, tomei meu banho, me vesti, tomei meu café da manhã e fui ver o dia como esperava. Olhei para as flores do meu jardim, elas estavam abertas radiantes e lindas, pareciam sorrir para mim. O céu estava encoberto por algumas nuvens escuras defronte ao sol que lançava os seus lindos raios coloridos nas nuvens e em algumas partes do céu, que estava azul cor de anil. Os passarinhos voavam de um lado para outro, olhei para cima de um telhado de uma casinha branca, a poucos metros de onde eu estava, e um casal de pombos naquelas horas da manhã já trocavam juras de amor. 77
Fiquei admirando e pensando, que coisa, o que é a natureza e como Deus é bom. Ah, se todos desfrutassem da beleza desta vida, e se entendessem uns aos outros com amor, a vida seria bem melhor, pois até os pássaros se entendem. A amarga decisão e o último adeus O meu último adeus para Eunice, com desespero e com dor em meu coração. Tomei esta decisão ao ler e reler a sua carta, onde compreendi que tudo entre nós terminara, minha inesquecível e adorada Eunice. Adeus meu amor, espero que você seja feliz para sempre , é a única coisa que posso oferecer-lhe no momento, minha vida. Do seu e sempre seu, Walter. Assim terminou este lindo amor. Cada um seguiu o seu destino, para nunca mais se encontrarem. Tudo o que o destino preparou, novas lutas, novos trabalhos, a vitória e derrotas. Walter segue seu caminho indo para o trabalho, diariamente, da repartição para a casa da casa para o cinema onde trabalha de gerente, para conseguir outro salário, para completar assim o sustento dos seus familiares. Assim ele passa os dias as noites e madrugadas, trabalhando de fio a pavio. O cansaço vem chegando e também a idade, começa a mostrar os primeiros fios de cabelos brancos. Walter não desanima, segue em frente na luta por melhores dias. Assim ele vê o seu sacrifício compensado, deu para economizar alguma coisa. Agora seus filhos já estão moços, e já se defendem sozinhos. A luta por uma moradia melhor, Walter amplia a sua casa que passa a ser bem maior. Meus cabelos brancos, o primeiro fio brotou do lado esquerdo de minha cabeça, vi com tristeza e pensei pronto estou ficando velho, daqui a mais uns anos e pronto me torno vovô. Minha mulher, minha fiel companheira, lutava comigo para conseguirmos uma vida melhor, e o conforto para nós vinha chegando aos poucos. Ela trabalhava em casa, administrava tudo, cuidava dos filhos. Além disso, me ajudava nos serviços de pedreiro, ela era e é uma 78
lutadora, uma mulher de fibra das que de hoje não existem mais, mulheres de hoje querem se tornar cada vez mais independentes, e as vezes não sabem fazer os deveres de uma verdadeira dona de casa. Tenho feito pesquisas, e conversando com várias jovens do meu meio de amizade, e de dez, uma sabe preparar arroz com feijão, e fritar um ovo, e outras não conhecem nem temperos, nem sabem, preparar uma simples salada. Mulheres, ah as mulheres. A maioria delas só querem curtir. Como se diz na gíria querem dançar, freqüentar restaurantes fino passearem, ir ao cinema, e namorarem em diversos lugares, às vezes se aventuraram para o outro lado pior da vida, que são drogas. Walter redobrou sua carga diária em seus trabalhos, foi cobrador, prestava serviços, para diversos clubes, nos fins de semana trabalhava no Atibaia Clube da Montanha, em Atibaia ao Paulo. Depois com o passar dos tempos, Walter foi trabalhar no cinema, na época sua vida já estava mais estabilizada - daí foi onde o destino tratou de mudar o eu rumo de vida e lhe traçou novos caminhos. Uma jovem senhora passa a notar o seu jeito de homem sério educado, simpático e sempre rodeado de bons amigos, esforçado, honesto e trabalhador, isso fazia daquele jovem senhor ainda de cabelos pretos, inveja a muitas pessoas que queriam ser iguais a ele. A jovem senhora, que trabalhava próximo ao local do trabalho dele gostava de trocar idéias e receber alguns conselhos ou uma palavra de conforto nas horas tristes e nas horas alegres compartilhavam dos lanches, do almoço, ou do jantar, e naquele momento é que conversavam bastante. Walter já havia esquecido das mulheres que passaram por sua vida, agora ele queria paz e sossego não queria transformar a sua vida por nada. Mas surgiu em sua vida outra mulher, esta desenhada, sabe lá por quem, aquela maneira de ser, de espreitar, de seguir seus passos, aquele olhar, aquela da à lanchonete, justamente quando ele ia. A saída do escritório, ela passava por lá onde se reunia com as amigas, para olhálo e comentar sorrindo, aquilo deixava sem jeito e encabulado. Aqueles olhos verdes um corpo escultural, o rosto redondo, os cabelos negros, e aqueles pés pequeninos, que mais parecia uma Cinderela. Não era possível deixar de olhar as escondidas, Walter assim 79
fazia. Olhava e estudava aqueles gestos dengosos e caprichosos, cheios de malícia que ela fazia, quando ele estava só no saguão de entrada, onde ele passava todos os naquele horário, pois para ele o horário era sagrado, e por isso ele sincronizava tudo. E ela fazia de tudo para chamar, mas ele sabendo disso, não deixava perceber que também a observava. Assim se passaram três meses, Walter continuava trabalhando como se nada estivesse acontecendo. Ia para o saguão todos os dias, onde palestrava com seus amigos, que vinham chegando aos poucos, cada um em seu horário, pois eles também sincronizavam tudo, eram gerentes também. O que o destino preparava e traçou na linha da vida de Walter, estava acontecendo, e ninguém poderia mudar o que já estava escrito. Numa tarde, lá chegou Murilo, com suas novidades e rindo de contentamento. Ele entrou já de braços aberto e me apertou fortemente as cotas, dizendo que me trazia boas notícias “e esta chance você não vai jogar fora como as outras vezes, tá?” Fiquei curioso querendo saber qual era a novidade. Murilo porém,fazia suspense. Perguntei se era coisa boa. - Põe coisa boa nisso – me informou. - Se é coisa boa eu topo. Murilo se afastou alguns segundos, deu uma volta no saguão, foi até a bilheteria, deixando-me ali encabulado pensando com meus botões o que seria. Aguardei com ansiedade que ele completasse o seu pequeno giro, quando pude ouvir a sua voz quase em confidência: - Marquei um encontro para você hoje, após a última sessão. - Sabe com quem? Com madame I. - Ora Murilo eu tenho sofrido muito por causa das mulheres. Sei que elas comentam a meu respeito, e que algumas delas gostariam de sair comigo, mas eu não quero e é por isso que eu as trato com muita, seriedade e respeito. - Sendo assim eu não quero me envolver com nenhuma delas, mesmo porque agora estou vivendo uma vida livre, e sem dor de cabeça e penso sim em minha família. - Sabe Murilo, essas moças são muito novas, e eu já estou velho para elas. Ele me olhou , deu umas palmadinhas nas minhas costas e disse: 80
- Você ainda é jovem, meu amigo. - Afinal de contas Murilo, quem é esta dama, a qual você faz tanta questão que eu conheça? - É a Ilma. - Ah não acredito, aquela jovem que vem todas as tardes aqui? - Isso mesmo, ela me disse que está de olho em você, já faz três meses. - É verdade, hoje está fazendo três meses que eu também venho observando esta jovem senhora, com todo o cuidado para que ela não desconfie de nada. - Por outro lado da moeda, a acho muito cativante, mas muito moça para mim. - Que nada meu amigo, você sabe que você é uma pessoa consideradíssima por todos e tem muito cartaz, as mulheres adoram o seu jeito de ser, a sua amabilidade, a sua educação, a sua maneira de fazer amizade: - Por isso, não perca esta oportunidade, vai fundo como se diz na gíria. - Não Murilo, eu gostaria que as coisas ficassem, no pé que estão, eu tenho medo de uma nova aventura, nem sempre é um mar de rosas, o destino está sempre nos pregando uma peça. - Walter talvez você tenha razão, veja amigo nós já conversamos bastante, agora eu vou ver o filme, e quando eu acabar de assistir, caso eu não o veja depois, eu irei embora, mas prometo que na semana que vem se Deus quiser, voltarei para vê-lo novamente. Dizendo isso, o meu amigo Murilo afastou-se e foi em direção à sala de projeção, eu fui para gerência preparar o borderô daquele dia. Quando foi à noite, saí para fazer um pequeno lanche, e vi a jovem com quem eu deveria sair, conversando com suas amigas próximo da bilheteria do lado esquerdo do saguão. Passei observando e ver de perto aqueles olhos verdes, que caiam bem dentro daquele rosto redondo, com aquela boca, cujos lábios pintado de vermelho desenhavam um lindo coração, os cabelos longos e negros como azeviche caiam até a cintura daquele corpo tão bem feito, cuja natureza e o destino haviam colocado em meu caminho. Aquele olhar fulminante me deixou preocupado e cheio de dúvida, até aí não havia decidido se iria ou não falar com ela. Ao retornar da lanchonete, fui diretamente para a gerência passando por outro saguão, sem que as meninas me vissem. 81
No escritório comecei a preparar o segundo borderô da outra sala de projeção, porque nós rodávamos dois filmes, um em cada sala. Quando terminei fiz uma investigação analisando os prós e os contras, e já ciente de tudo o que poderia acontecer, mais uma vez refleti, e tomei uma decisão: eu iria encontrar com aquela bela jovem. Depois fui percorrer as dependências do cinema, para ver se havia alguma normalidade. Graças a Deus tudo corria bem, os meus funcionários exerçam suas atividades com zelo e capricho, eu para eles era como um irmão e não um chefe, todos gostavam de mim, e eu também era bom para eles.
O Término da sessão da meia noite, e o início da sessão da madrugada, que ia até as duas e meia da manhã sábado Agora Toninho tomará conta de tudo no cinema, até no sábado de manhã quando eu voltar para reabrir às quatorze horas. Lavei as minhas mãos, ajeitei os cabelos, folguei um pouco e nó da gravata, poli os sapatos, ajeitei o paletó, dei a última olhadela no espelho, passei as chaves para o meu amigo Toninho, despedi-me dele e saí matutando “o que iria ser de nós dois como seria ela, educada meiga e carinhosa como seria ela”, a pergunta me martelava a cabeça. Encontrei-a estendi-lhe as mãos, fiz-lhe a clássica pergunta de como ia. Ela olhando bem dentro dos meus olhos respondeu-me que ia bem, e um carinho desenhou-se em seus lábios que foram ficando fechados como um lindo coração. E quando coloquei a mão esquerda, em cima da mão dela a qual eu ainda segurava, formei uma concha, apertando bem sentindo a maciez da sua pele. Levei seus dedos até os meus lábios, o que arrancou dela o comentário que eu era o máximo. - Há quanto o esperei, meu amor. - E um suspiro profundo, falou-me: - Sabe meu querido, eu já estava perdendo a esperança, em vê-lo hoje durante o dia eu estava apreensiva, mas agora ao seu lado, tudo mudou, estou feliz. Então me puxou pela mão, e levantando aquele lindo rosto redondo para cima me ofereceu os lábios, para que eu desse um demorado e gotoso beijo. Íamos agora caminhando pela Avenida Rio Branco rumo ao seu apartamento e como nós já tínhamos iniciado o nosso idílio, envolvi os 82
meus braços naquela macia cintura, e caminhamos a passos vagarosos, mergulhando, e cada vez mais, em nossas palavras amorosas. Ríamos, parávamos e nos beijávamos. E no embalo da noite, ouvíamos as músicas que saiam das radiolas dos bares, e das boates, dos salões dançantes e dos restaurantes que viravam as noites trabalhando. Por fim chegamos ao apartamento: - Fique à vontade comandou ela. Sentei-me num sofá confortável e aconchegante, enquanto ela estava na cozinha preparando alguma coisa, Aguardei-a por uns instantes, uma música suave saia do rádio que ela havia ligado quando chegamos, o bolero enchia aquela linda sala, remexendo com os meus pensamentos, dando uma vontade louca de dançar. Foi quando ouvi os passos daquela que talvez mudasse a minha vida do dia para a noite. Ela se aproximou de mim, trazendo nas mãos uma bandeja de prata muito bonita, bonita com alguns salgadinhos, dois copos de cristal, que brilhavam com a claridade das luzes, que vinham da parede e dos holofotes do bar que ficava no canto da sala. No teto, pendurado ao centro, estava um lindo lustre feito de metal amarelo, que faziam as lâmpadas misturarem as suas cores. Após colocar a bandeja na mesinha de centro, ela se sentou ao meu lado e enlaçou-me senti o corpo estremecer, levei a mão nas suas pernas, cujas coxas estavam quentes, minhas mãos se deliciaram por uns instantes, e quando terminamos o beijo, ela se levantou e foi para o bar buscar um litro de uísque, voltou e colocou na mesa de centro, olhou-me, deu-me uma piscadela, sorriu e foi para a cozinha novamente. Trazendo agora uma cumbuca com gelo, sentou-se ao meu lado novamente e foi servindo a bebida, para mim e para ela, com dois cubos de gelo. Tomei o primeiro gole, ela sorveu o primeiro aos poucos, a música continuava no rádio, um bolero meu preferido Gregório Barrios, com seu Bessa-me mucho. Naquele momento me deu vontade novamente de dançar, sorvi um golinho devagarinho de uísque e não sei por que me levantei de supetão, dando um pequeno susto nela que franziu a testa, perguntando o que tinha havido. - Nada, tranqüilizei-a. Minutos depois a convidei para dançar comigo aquele bolero. Ela chegou junto a mim, encostando seu corpo junto ao meu, e enlaçou seus 83
braços em meu ombro, e foi me levando devagarinho para o centro da sala, e num embalar suave, deslizamos por aquele piso brilhante. Ela com seus olhos fechados, cantarolava baixinho acompanhando o som do bolero, em meus ouvidos. Aproveitando a oportunidade e vendo aqueles lábios da cor de rubi, não perdi tempo, beijei-os suavemente, sentindo o calor daquele corpo ardente. Enquanto ela com as pontas dos dedos acariciava as minhas orelhas, e com a outra mão apoiada em minhas costas me puxava para junto do peito. Um calor gostoso se apoderou do nosso corpo, ela ofegante confessava o seu amor: - Amo-o amo-o amor da minha vida. Assim demos o último passo daquele bolero. Ainda com os lábios colados aos meus, olhos fechados, ficamos por alguns minutos parados e quando abri os olhos vi que ela ainda estava ofegante e me admirando, sorriu e falou: - Meu amor agora vou tomar um banho, depois vou preparar o seu. Amorosamente, ela depositou um pequenino beijo em meus lábios, e se foi, me abandonando na sala. Fiquei aguardando foi um banho demorado e perfumado, que da sala dava para sentir aquele, aroma gostoso. Depois ela me disse que o meu banho já estava preparado, deume mais um beijo e sentou-se na sala, enquanto eu ia tomar o meu banho, foi também um banho demorado e gostoso. Quando voltei, ela não estava na sala, fui até a cozinha, ela estava preparando algo para comermos. Voltei para a sala e continuei a ouvir o som da madrugada que agora iniciava um programa de tangos argentinos que eu gostava de ouvir quando eu estava em minha casa. Aquele sofá era mesmo aconchegante, e o sono começou a se apoderar de mim. Cochilei por uns minutos, já eram cinco horas da manhã, acordei com o perfume gostoso daqueles lábios, e o calor daquele belo corpo, quentinho que estava por baixo daquele roupão azul e branco. Levanteime e acariciei aquele corpo de pele macia deu-me uma vontade de tirar as peças íntimas dela, mas me contive, deveria eu deixar chegar a hora. Ela tornou a me beijar e depois falou: -Vou me deitar, assim que você terminar de ouvir as suas músicas, venha para o quarto que eu estou o esperando, meu querido. Venha logo meu amor, porque estou louca, para amá-lo. Lá se foi ela para o quarto, mostrando aquele corpo formoso 84
por debaixo daquele roupão transparente. Quando entrei no quarto, ela estava deitada, com o corpo encostado em cima de dois travesseiros cor de vinho atenta para a minha chegada. Do lado da cama, estava um livro cujo título era “O Gigante de Botas”, romance de Ofélia Nerdal Fontes. Deitei-me ao seu lado, e ela carinhosamente colocou o braço em cima do meu peito, acariciando-me com as pontas dos dedos. Depois de apanhar o livro, deixou-o cair devagarinho sobre o criado mudo, com os dizeres para baixo, marcando assim onde havia parado de ler. Depois me abraçou e me beijou demoradamente, colocando o corpo bem juntinho ao meu. Quando senti aquele calor, daquele corpo gostoso e perfumado comecei a acariciá-lo, ela por sua vez fazia o mesmo, até que chegamos no momento fulminante. Um domingo ensolarado, uma triste despedida e uma nova semana que demoraria a chegar, assim foi a nossa despedida com um fortíssimo abraço, e um apaixonado e demorado beijo. Aconteceu que eu fiquei naquela semana sem vê-la, por três dias eu já estava pensativo e preocupado com aquela mulher, não podia imaginar o que poderia ter acontecido. Fiquei com receio talvez ela não quisesse me ver mais. A mudança do programa cinematográfico e a esperança em revêla novamente. Quinta feira um novo filme Angelique a Marquesa dos Anjos. A calculista, linda, jovem e orgulhosa, apaixonada e encantadora. Eu me punha a pensar, será que a madame I também é assim. O filme Angelique prometia dar bilheteria, deveria puxar como nós gerentes, dizíamos. Mais tarde Murilo chegou querendo saber das novidades. Após os cumprimentos, fomos tomar café e conversamos um pouco. Contei a ele o que se passou no sábado e no domingo. Ele gostou e me deu os parabéns “você é um homem de sorte”. Respondi: - Sabe, até parece que não sei conquistar uma mulher e precisa o amigo fazer isso por mim. - Walter não é nada disso ela já me conhece e me pediu para eu falar com você. Porque achava que você talvez não aceitasse ir ao encontro dela. Sabe Walter ela está gamada por você, e vai gamar ainda 85
mais. Ela vai amá-lo muito. Após a nossa volta para o cinema, depois do café fui direto à gerência, onde deparei com aquela mulher, de rosto arredondado, parada junto à porta da gerência, com aqueles cabelos longos caídos até a cintura, a boca em forma de coração seus olhos verdes penetrantes. Eu não pude resistir àquele olhar, seus lábios sensuais me fizeram beijá-la ali mesmo. Depois entramos na gerência onde ela se sentou em uma cadeira enquanto eu me acomodava em outra, junto à escrivaninha.
Um convite irresistível Naquela quinta-feira saímos às vinte e duas horas daquela gostosa noite de luar, eu aceitei o convite dela e rumamos para sua casa. Quando chegamos, ela abriu a porta da sala, acendeu a luz e seu sem cerimônia nenhuma, adentrei e sentei-me no sofá da sala. O tapete da sala era lindo e combinava com os móveis, e com os quadros na parede, no centro uma mesinha de madeira bem trabalhada artesanalmente. Em cima, uma pedra de mármore, bem lapidada, ornamentava mais ainda aquela sala. A jovem senhora pediu-me licença, e foi para o quarto apanhar a roupa de banho, e guardar as jóias, depois caminhou em direção ao WC, tomou seu banho e voltou trajada com um lindo roupão verde listado, na cabeça um turbante bem colocado, ficando de fora somente aquele rosto redondo, e os olhos verdes e dominantes. Olhando agora aquela cabeça tendo os cabelos cobertos com o turbante branco e cintilante tive a impressão que estava em minha frente o Ibis, um personagem em quadrinhos do meu tempo de garoto. Seus lábios estavam agora sem pintura, as faces eram coradas por natureza. - Ela sentou-se em minha frente, e me ofereceu mais uma dose de uísque, que ao solver o primeiro gole vi que o frio já estava indo embora, o calor se apoderava de mim. A jovem senhora parava e me dominar, lançava olhares maliciosos e, com as pernas cruzadas, me mostrava partes de suas pernas, bem torneadas, da cor de um romã maduro. Eu conversava com ela, como se nada estivesse acontecendo ao meu redor mas dava para ver o seu estado ofegante, e fazendo um ar de 86
tristonha para chamar a minha atenção. Percebi que ela queria carinho, mas dei tempo ao tempo, fingi mais uma vez, como não estivessem nem vendo e sentindo nada. O desespero apoderou-se dela, levantou-e e caminhou em direção à cozinha, apanhei meu copo de uísque , e fui também para a cozinha, onde ela já estava tomando água, esperei-a depositar o copo na pia, solvi o último gole da bebida, coloquei o copo ao lado da mesa, e abracei aquele corpo cheiroso e gostoso, senti aquela carne quente, dando-me mais calor levei minhas mãos por baixo daquele roupão e apalpei aquele corpo cuja pele estava rija e nua ela estava todinha pronta para o sexo, eu sabia disso, mas eu não queria me apressar, nó tínhamos todo o tempo do mundo. Por uns instantes, lembrei-me de Nice, Rute e Dulce e das várias mulheres que conheci. Ela me beijava com os olhos fechados e com os dois braços envolvia o meu pescoço e um suspiro apaixonado, falou-me. - Amor do meu coração não faz mal você ir embora amanhã ? Olhei para ela e sorrindo lhe disse: - Não meu anjo, eu vou sair daqui direto para o meu trabalho. Agora meu amor, devolva-me o meu beijo que há pouco lhe dei. Ela sorrindo disse: - Venha pegar se quiser. Saiu da cozinha a passos largos, indo para o dormitório, corri atrás dela e quando ela parou próximo da cama, eu a segurei pelo braço e a puxei para junto de mim, e a beijei apaixonadamente. Daquele corpo exalava um perfume embriagador, que fazia eu me apaixonar cada vez mais, parecia que eu estava num templo egípcio onde as dançarinas divinas deixavam emanar os perfumes por todo o templo. Os deuses do Egito também sentiam os perfumes do amor. O gosto do beijo no amor, fiel e sincero, é a segurança de nunca haver separação. Com aquele beijo prolongado, e com o perfume daquela divina mulher, eu sentia que jamais me separaria dela. Ela por sua vez soluçava de prazer e me pedia para que nunca me afastasse dela. A noite transcorreu calma, nós conversávamos, acariciávamo-nos e trocávamos beijos e mais beijos, pronunciando lindas frases de amor nunca ouvidas por outros seres humanos, e nem ditas. Estas eram somente nossas, fomos nós que formamos, e escrevemos e colocamos dentro dos nossos 87
corações. O raiar do novo dia, a manhã estava quente, o sol percorria o céu às vezes se escondendo nas nuvens, de vez em quando o vento soprava uma brisa gostosa que entrava pela janela fazendo a cortina de renda cor de vinho balançar de um lado para outro, e eu olhava por entre ela e via o sol brilhante, deslizando naquele céu cor anil. Ela colocou sobre as minhas pernas, a mesinha de cama, com frutas, torradas, café com leite, queijo presunto e em um prato colorido, duas fatias de melão, me beijou e disse: - Tome o seu café, nossa como você se deu bem aqui em casa, dormiu como um anjo. Eu pensei em acordá-lo mas fiquem com pena porque você vai trabalhar hoje e precisava descansar. Terminei de tomar o meu café, mais uma vez abracei aquele corpo dengoso e cheiroso, e cobri de beijos, olhei naqueles olhos verdes, segurei aquele rosto redondo cuja face estava um pouco vermelha, acariciei e tornei a beijar aqueles lábios em forma de coração. Depois saltei da cama e fui para o banheiro toma um banho, deixando-a sentada na beira da cama. Do local onde eu estava, dava para ouvir aquela voz meiga cantarolando uma linda canção de amor, fiquei por momentos ouvindo, enquanto o sabonete deslizava em meu corpo. Saí dali vestido em um roupão branco, e fui para o dormitório, me vesti apanhei a gravata estampada e coloquei no pescoço e de o laço, ela chegou junto a mim e sorrindo ajeitou a gravata bem no centro do colarinho e disse “agora está lindo”. A Apanhei a pasta 007 preta, ajeitei alguns processos e outros papéis, olhei para ela, fechei a pasta, brincando disse a ela já meu boi, quer dizer já me vou amor. Ela sorriu e chegou até a porta de saída, me abraçou e me beijou falando “venha me ver amanhã amor”. Eu respondi a ela que, caso não surgisse nada de urgência ou coisa assim, eu iria sim. Após nós termos nos despedido, rumei em direção ao estacionamento apanhei o carro e fui para o trabalho onde tudo correu bem naquele dia. Uma semana se passou, apesar de estar ansioso para vê-la novamente, eu fazia de tudo para esquecê-la. Às vezes, eu pensava nela, mas nem se quer um telefonema, talvez se esqueceu de mim. Quem sabe um dia ela aprece no cinema, na quinta-feira iríamos trocar a programação, um novo filme deveria estrear. 88
Dentro do meu peito, meu coração palpitava minha alma voava nas asas do vento, o meu pensamento ia longe e a fantasia do amor se apoderava de mim, o corpo daquela mulher não saia da minha cabeça, e eu sonhava em vê-la novamente, às vezes eu beijava em pensamentos. Que vulto lindo, que corpo escultural, eu via aqueles lábios em forma de coração, vindo em minha direção querendo me beijar também, mas era puro sonho, um sonho inesquecível. A minha espera, e as minhas aventuras continuarão. Veja no próximo volume.
FIM O autor: Guerino Pinto de Moraes 1.963- 1.996
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