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Contos de Assis
"Um Homem Célebre" é um conto publicado no periódico "A Estação" em 1883, e depois no livro "Várias Histórias", em 1896. Exigente, numa leitura cuidadosa, podemos desfrutar umas das melhores histórias de Machado de Assis. O conto aborda o tema da incompatibilidade entre os ideais e a realidade, o desejo e a essência que constitui o individuo.
Esse artigo começou na edição passada. e agora podemos finaliza-la com um acorde de notas bem postas... Ahh! Para acessar o edição anterior, veja em nosso site!
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Quem é Pestana?
de Luciano Negreiros
Haviamos começado o artigo anterior, contextualizando o nosso protagonista Pestana. Suas inspirações por celébres compositores da música clássica. Postos perto do piano como um altar e o evangelho numa sonata de Beethoven. Surge o anceio, o desejo em participar desse hall tão idolatrado. Mas também sabemos a sua maior contribuição musical. A polca. Que lhe traz fama, reconhecimento e paga suas contas.
Mas Pestana gostava dela! Ele ficava cantarolando no caminho de volta. É nessa altura da estória que surge a palavra "vocação". É nessa altura que podemos questionar a vocação de Pestana pela polca versus a ambição pelo erudito.
Mas esse namoro com a polca recém escrita, acaba tão rápido quanto foi compô-la. Basta alguns dias para que a satisfação ceda lugar ao
aborrecimento. Ele mesmo quer que a polca se torne efêmera. Ele reconhece a sua longevidade como aceita a sua rejeição pela canção. Os dois estão em sintonia! Unidos pela brevidade de ambos.
Pestana não somente deseja que o efêmero seja a nota ressonante, mas ele trabalha para que isso aconteça. Ele senta em sua igreja e passa a compor aquilo que vai substituir o polca anterior.
Mas Pestana não desiste de seu sonho. Nunca irá! Isso se reflete nas musas e as relações de amor e ódio, desejo e submissão. Pesatana projeta seu dilema nas duas pretendentes ào seu coração. de um lado temos Maria, boa cantora. Do outro surge Sinhazinha Mota; uma admiradora das polcas. Pestana casa-se com Maria e acredita que agora, em matrimônio, iria desencadear obras seerias, profundas e trabalhadas.
Ele logo se coloca aescrever um noturno; mas falha. Maria identifica o noturno como sendo de Chopin! Era um desastre para Pestana - O que era para ser original, magistral; se tornou um derivado de Chopin. Para decepção de Pestana, Maria tinha razão - sua obra maior, o inicio da virada se mostrou mais uma daquelas notas que se perdem no ar! Elas ecoam para os céus para nunca mais serem ouvidas.
Não tem jeito, ele volta para as polcas. Afinal, pra que lutar. Viva a polca!
A melhor citação que retarata esse jogo, essa dualidade machadiana é a "eterna peteca entre ambição e a vocação". Esse era Pestana!
Ambição vs. Vocação
Existe uma passagem muito marcante no que se refere à essa questão: a morte de sua esposa Maria.
Ele decide escrever um Requiem para ser tocado no primeiro aniversário de sua morte. Ele tinha um ano para compor sua obra, tinha a motivação certa (homenagem póstuma) e trabalhou muito nesse período: paciência, meditação, esforço redobrado... mas, ao final de um ano, se conteve com uma missa e sem o Requiem.
O editor surge mais uma vez – fecha um contrato para várias polcas. Volta a questão da massificação da cultura, da polca e as questões financeiras. Pestana precisava do dinheiro e como a sua inspiração para polcas não o abandona, ele aceita e as entrega. Ele voltava para aquele ciclo de amor / ódio com a polca.