Glossário de Filosofia - 11.º ano

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GLOSSร RIO DE FILOSOFIA 11.ยบ ANO


Ficha técnica Autores: Maria de Lurdes Pereira de Oliveira (organização) & Alunos das turmas de 11.º ano da disciplina de Filosofia (11.º AV; CSE; LH1) Título: Glossário de Filosofia – 11.º Ano | Série “Outros documentos”. Edição: Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, Cantanhede – 2016. Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialCompartilhaIgual 4.0 Internacional.

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CONTEÚDO A PRIORI / A POSTERIORI ........................................................ 5 ANÁLISE ..................................................................................... 6 ANALÍTICO / SINTÉTICO ........................................................... 6 CAMUS, ALBERT (1913 – 1960) ................................................ 7 CAUSA ........................................................................................ 8 CAUSALIDADE ........................................................................... 8 CETICISMO ................................................................................ 9 CONHECIMENTO..................................................................... 11 DEDUÇÃO ................................................................................ 12 DESCARTES, RENÉ (1596-1650) ............................................ 13 DEUS ........................................................................................ 15 DOGMA .................................................................................... 16 DOGMÁTICA ............................................................................ 16 DOGMATISMO ......................................................................... 16 DÚVIDA .................................................................................... 18 DÚVIDA METÓDICA ................................................................. 18 EMPÍRICO ................................................................................ 19 EMPIRISMO.............................................................................. 19 EXISTÊNCIA, SENTIDO DA ..................................................... 21 EXISTENCIALISMO .................................................................. 21 EXPERIÊNCIA .......................................................................... 23 EXPERIMENTAÇÃO ................................................................. 24 EVIDÊNCIA ............................................................................... 24 FENÓMENO ............................................................................. 24 FENOMENOLOGIA .................................................................. 25

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FUNDACIONISMO .................................................................... 26 GÉNIO MALIGNO ..................................................................... 27 HUME, DAVID (1711 - 76) ........................................................ 28 IDEIAS INATAS ........................................................................ 30 INATISMO ................................................................................. 31 INATO ....................................................................................... 32 INDUÇÃO.................................................................................. 32 INTUIÇÃO ................................................................................. 32 KANT, IMMANUEL (1724-1804) ............................................... 33 KIERKEGAARD, SØREN (1813-1855) ..................................... 35 NECESSÁRIO/CONTINGENTE................................................ 36 OBJETIVIDADE ........................................................................ 37 OBJETO .................................................................................... 38 RACIONALISMO....................................................................... 38 RAZÃO ...................................................................................... 40 RES COGITANS ....................................................................... 41 SARTRE, JEAN-PAUL (1905-1980) ......................................... 41 SENTIDO DA VIDA ................................................................... 42 SÍNTESE ................................................................................... 43 SINTÉTICO ............................................................................... 43 SINTÉTICO, JUÍZO ................................................................... 43 SUJEITO ................................................................................... 44

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A PRIORI / A POSTERIORI “1. Uma distinção entre modos de conhecimento. Conhecemos a priori uma dada proposição quando não recorremos à experiência para a conhecer. Por exemplo, uma pessoa sabe a priori que 23 + 12 = 35 quando faz um cálculo mental, não recorrendo à experiência. Conhecemos a posteriori uma dada proposição quando recorremos à experiência para a conhecer. Por exemplo, uma pessoa sabe a posteriori que o céu é azul quando olha para o céu e vê que é azul. Considera-se, tradicionalmente, que a lógica, a matemática e a filosofia são disciplinas a priori porque têm por objeto problemas cuja solução implica recorrer ao pensamento puro. A história, a física e a economia, por exemplo, são disciplinas a posteriori porque têm por objeto de estudo fenómenos que só podem ser conhecidos através da experiência; por exemplo, para saber em que ano Buzz Aldrin e Neil Armstrong foram à Lua é necessário consultar documentos históricos; para saber qual a taxa de inflação em Portugal em 2003 é necessário consultar dados económicos. 2. Diz-se que um ARGUMENTO é a priori quando todas as suas premissas são conhecíveis a priori; e diz-se que é a posteriori quando pelo menos uma das suas premissas só pode ser conhecida a posteriori. Não se deve confundir o a priori/ a posteriori com o ANALÍTICO / SINTÉTICO, nem com NECESSÁRIO/CONTINGENTE. DM” A. ALMEIDA (Org.), (2003), Dicionário Escolar de Filosofia, Lisboa: Plátano Editora, pág. 23.

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ANÁLISE “1. Decomposição de um todo ou de um objeto nas suas partes, quer do ponto de vista material (análise química de um corpo), quer do ponto de vista racional (análise de conceitos). 2. Operação da inteligência que permite destacar de um princípio geral os juízos particulares que contêm.” A. ANTUNES et al., (1997), Dicionário Breve de Filosofia, Lisboa: Editorial Presença, pág.16. ANALÍTICO / SINTÉTICO Analítico está relacionado com o “a priori”. Chega-se a uma resposta pela análise e pela análise chega-se à conclusão. A filosofia analítica (faz parte) é uma vertente do pensamento contemporâneo, reivindicada por filósofos bastante diferentes, cujo ponto comum é a ideia de que a filosofia é análise - a análise do significado dos enunciados - e se reduz a uma pesquisa sobre a linguagem. (B. BARANDAS – 11.º LH1) “Uma distinção SEMÂNTICA, isto é, baseada no significado dos termos usados. Uma frase é analítica se, e só se, o seu valor de verdade é conhecível unicamente com base no significado dos termos usados. Por exemplo, «Nenhum solteiro é casado» é uma frase analítica porque para saber que é verdadeira basta saber o significado dos termos usados. Uma frase é sintética se, e só se, o seu valor de verdade não é conhecível unicamente com base no significado dos termos usados. Por exemplo, a frase «Nenhum solteiro é feliz» é uma frase sintética porque para 6


saber se é verdadeira ou falsa não basta saber o significado dos termos usados. (...) Não se deve confundir o analítico/sintético com o A PRIORI / A POSTERIORI nem com NECESSÁRIO / CONTINGENTE. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 26. CAMUS, ALBERT (1913 – 1960) Escritor, romancista, ensaísta, dramaturgo e filósofo francês nascido na Argélia, num meio modesto, foi criado pela mãe. A tuberculose interrompe a sua carreira universitária; ocupa-se então do teatro, depois do jornalismo, escreve O Avesso e O Direito (1937), e vai para França, onde publica uma antologia de novelas, Noces (1938). Em 1942 tem sucesso imediato com o seu romance O Estrangeiro. No mesmo ano surge O Mito de Sísifo, ensaio filosófico sobre o sentimento do absurdo. Depois de ter escrito editoriais para o jornal Combat durante a libertação, publica romances como A Peste (1947), A Queda (1956), peças de teatro (Calígula, 1945; Os Justos, 1949), ensaios filosóficos hostis ao comunismo, O Homem Revoltado, 1951) e novelas (O Exílio e O Reino, 1957). Verificando a omnipresença da injustiça e do mal na terra, Camus proclama como é absurdo o destino do homem. Esta tomada de consciência desemboca na revolta: se a existência não tem justificação, cabe ao homem não a constatação de uma forma pessimista sem reação, mas impor os seus próprios valores, sendo lúcido e responsável por si mesmo e procurando introduzir no mundo mais 7


felicidade e justiça. Morre num acidente de viação. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1957.” AA.VV. (1997), Nova Enciclopédia Larousse, vol. 5, Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. e Larousse. (adaptado) CAUSA “1. Tudo aquilo que determina a constituição e a natureza de um ser ou de um fenómeno. 2. Tudo aquilo que produz um efeito e se prolonga nele. 3. Na perspetiva empirista, a causa é o antecedente e o fenómeno chamado efeito é o consequente. 4. Aristóteles distingue quatro causas: a causa material (por exemplo, numa estátua, a matéria de que é feita); a causa formal (a figura representada pela estátua); a causa eficiente (o artista); a causa final (o objectivo do artista). A causa final é o princípio diretor que orienta o agente para um fim. É a causa por excelência. 5. Causa primeira é aquela que não é precedida por nenhuma outra e que tem em si mesma a sua própria razão de ser: Deus. A. ANTUNES et al., o.c., pág. 38. CAUSALIDADE “1. Relação entre uma causa e o seu efeito. 2. Princípio fundamental da razão aplicada ao real, segundo o qual todo o fenómeno tem uma causa. «Tudo o que acontece ou começa a ser supõe, antes dele, algo do qual resulta segundo uma regra.» (Kant) 3. Na conceção racionalista, a causalidade é um conceito a priori necessário e universal. Afirma que todas as mudanças acontecem segundo a lei da 8


ligação entre a causa e o efeito. 4. Para o empirismo (Hume), a relação causal funda-se apenas na nossa forma habitual de perceber as relações entre os fenómenos. Assim, a causalidade exprime somente uma projeção sobre a natureza da nossa forma de perceber o real. ” A. ANTUNES et al., o.c., pp. 38 - 39. CETICISMO “A perspetiva que nega total ou parcialmente a possibilidade do conhecimento. De acordo com o cético, se bem procurarmos, encontramos sempre boas razões para duvidar mesmo das nossas crenças mais fortes. Há dois grupos de argumentos céticos: o primeiro baseia-se nas diferenças de opinião, mesmo entre as pessoas mais conhecedoras; o segundo baseia-se nas ilusões percetivas. Há diferentes tipos de ceticismo. Uma forma radical de ceticismo é geralmente atribuída a Pirro de Elis (c. 360 a. C.c. 270 a. C.), para quem devíamos suspender o nosso juízo em relação a todas as coisas. A resposta habitual a este tipo de ceticismo é procurar mostrar que é auto-refutante (...) pois se podemos afirmar que nada sabemos é porque já sabemos precisamente isso. Também DESCARTES procurou responder aos argumentos céticos, mostrando que há pelo menos uma coisa que resiste à dúvida mais insistente: que existimos. Além do ceticismo radical há outros tipos de ceticismo que limitam o seu âmbito apenas a certas áreas. Este tipo de ceticismo parcial pode aplicar-se a aspetos metodológicos: empiristas, como HUME, são céticos em relação ao conhecimento a priori do mundo (ver A PRIORI/A 9


POSTERIORI), enquanto alguns racionalistas duvidam do conhecimento EMPÍRICO. Mas também se pode dirigir apenas a determinado tipo de entidades: o conhecimento de outras mentes, a existência de Deus, o conhecimento do futuro, a INDUÇÃO (...), o conhecimento de verdades éticas, o conhecimento do MUNDO EXTERIOR, etc. Sexto Empírico (c. 150-C.225) e Michel de Montaigne (1533-92) são dois dos mais destacados defensores do ceticismo. AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 37. Em oposição ao dogmatismo, os céticos sustentam a tese de que é impossível atingir qualquer certeza, isto é, defendem que não se pode afirmar nenhum conhecimento como sendo infalivelmente verdadeiro. Pirro de Eleia é o principal representante da corrente cética universal ou radical que se desenvolveu na Grécia antiga, já no período decadente da filosofia. Por isso se tomam os termos ceticismo e pirronismo, muitas vezes, como sinónimos. Segundo os pirrónicos, constantemente se encontram situações em que a dúvida é a atitude mais natural e correcta. Os céticos opõem-se frontalmente a qualquer tipo de dogmatismo, argumentando no sentido de mostrar que o sábio tem apenas uma coisa a fazer: abster-se de emitir qualquer juízo. Também na Modernidade se desenvolveu o ceticismo. O incremento dado ao conhecimento científico originou dúvidas nalguns espíritos que insistiram na questão da fundamentação da validade do conhecimento. Não tão radical como o ceticismo clássico, e assumindo cambiantes éticas, metafísicas e outras, o ceticismo vai desenvolver-se 10


em pensadores como Montaigne e David Hume. Este perseguiu o objetivo de desenvolver uma teoria da natureza humana, por meio da qual pretendia explicar o funcionamento da nossa mente. A sua epistemologia empirista, que é a parte fundamental dessa teoria, encontra-se essencialmente no Livro I do Tratado da Natureza Humana (1739) e na Investigação sobre o Entendimento Humano (1748). Hume apresenta-se como um defensor de um ceticismo mitigado ou moderado e distingue a sua posição do ceticismo radical pirrónico. A crítica principal de Hume ao ceticismo pirrónico é a de que este é impraticável. Por muito bons que sejam os argumentos filosóficos que visam pôr em questão as nossas pretensões ao conhecimento, na prática somos incapazes de levá-los a sério durante a maior parte do tempo. Devido à nossa natureza, não conseguimos deixar de acreditar, por exemplo, que o mundo exterior é real e uniforme. Certas crenças são tão fundamentais e importantes para a ação que nem o pirrónico consegue colocá-las realmente em dúvida, exceto nos raros momentos em que se entrega à reflexão filosófica. Ninguém consegue viver como um cético pirrónico, pelo que esta forma de ceticismo é destituída de sentido. (MLO) CONHECIMENTO “Os verbos conhecer e saber são sinónimos e costumam ser utilizados de três maneiras diferentes. Na frase «a Ana sabe nadar», o termo «sabe» serve para atribuir à Ana uma determinada competência ou capacidade; por sua vez, na 11


frase «a Ana conhece o primeiro-ministro» o termo «conhece» significa que a Ana é capaz de identificar alguém (ou algo), ou também pode significar que ela tem ou teve algum tipo de contacto com essa pessoa (ou coisa); finalmente, na frase «a Ana sabe que Paris é a capital da França», o que se afirma que a Ana sabe é algo que tanto pode ser verdadeiro como falso. Neste último caso, o que vem a seguir a «sabe que» é uma outra frase que exprime uma PROPOSIÇÃO. Este é o sentido proposicional de «conhecer», que é objeto de estudo da EPISTEMOLOGIA. Não existe uma definição satisfatória de «conhecimento», mas há pelo menos três CONDIÇÕES NECESSÁRIAS que, em geral, os filósofos aceitam: não há conhecimento sem crença; a crença tem de ser verdadeira; além de verdadeira, a crença tem também de ser justificada. Quer isto dizer que não podemos conhecer algo em que não acreditamos; que não podemos conhecer falsidades; e que não há conhecimento se as nossas crenças, apesar de verdadeiras, não forem justificadas. AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 42. DEDUÇÃO “1. Operação lógica consistindo em concluir de uma ou várias proposições, postas como verdadeiras, uma ou várias proposições que se seguem necessariamente. 2. Marcha do raciocínio do geral para o particular. 3. O modelo da dedução é o silogismo. Ver Silogismo. 4. Na matemática, a dedução é sinónimo de demonstração. 5. Nas ciências experimentais, o método hipotético-dedutivo parte de uma ou várias proposições postas como hipóteses, retirando 12


delas os conhecimentos necessários que são submetidos à verificação da hipótese.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 52. DESCARTES, RENÉ (1596-1650) Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático francês. É o autor da frase "Penso, logo existo"e é considerado o criador do pensamento cartesiano, um sistema filosófico que deu origem à filosofia moderna. Sempre teve a preocupação de ordem e clareza na sua argumentação filosófica. Propôs fazer uma filosofia que nunca acreditasse no errado e que fosse fundamentada numa única verdade racional. (R. PEREIRA – 11.º LH1) “Filósofo, matemático e cientista francês. É considerado o pai da filosofia moderna. Abandonou os métodos que até então eram habituais da filosofia do continente europeu e que seguiam o estilo de TOMÁS DE AQUINO: no estudo de cada problema filosófico recorria-se à comparação das teorias dos filósofos do passado, sobretudo ARISTÓTELES, e das doutrinas da Bíblia. Ao invés, Descartes enfrenta diretamente os problemas da filosofia, sem comparar as teorias dos filósofos anteriores e sem atender às doutrinas da Bíblia. A sua formação científica diferencia-o também de muitos filósofos medievais, cuja formação era fundamentalmente teológica. Descartes era, contudo, um homem muito religioso e alega que o seu método filosófico lhe foi revelado em sonhos. No Discurso do Método (1637), 13


Descartes apresenta um resumo do seu pensamento filosófico, que mais tarde desenvolve em Meditações sobre a Filosofia Primeira (1641). A preocupação central de Descartes é conseguir estabelecer um método seguro para a filosofia, que a coloque no mesmo caminho de sucesso que a ciência do seu tempo começava a percorrer. Como muitos filósofos do seu tempo, Descartes está igualmente preocupado com o CETICISMO. A sua famosa dúvida metódica consiste em levar até às últimas consequências as dúvidas dos céticos, convencido de que no fim haverá uma verdade da qual não será possível duvidar SANTO AGOSTINHO já tinha proposto o mesmo método de refutação do ceticismo, mas Descartes entende que, com base no que restar depois da aplicação da dúvida metódica, será possível reconstruir os fundamentos de todo o conhecimento. Descartes costuma por isso ser visto como um fundacionista (ver FUNDACIONISMO) com respeito à EPISTEMOLOGIA. A verdade irrefutável e que nem os céticos mais radicais poderiam recusar é a própria existência de quem duvida; daí a famosa expressão «Penso, logo, existo» isto é, posso duvidar de tudo, incluindo da realidade do mundo exterior; mas, para poder duvidar; tenho de existir; e por isso a minha própria existência é indubitável e evidente. Mas - a minha existência não se pode confundir com a existência do meu corpo, do qual posso duvidar. E Descartes introduz assim o famoso e poderoso argumento dualista: se é possível que o meu corpo seja uma ilusão, mas é impossível que eu seja uma ilusão, então eu não sou o meu corpo. Com base na certeza de que o eu existe, Descartes 14


procura então mostrar a existência de Deus e, com base na existência de Deus, a existência do mundo exterior. A obra de Descartes, sobretudo Meditações, é um modelo da atividade filosófica genuína e constitui um bom ponto para começar o estudo da filosofia. DM Blackburn, Simon, Pense, Cap. I (Lisboa: Gradiva, 2001).” A. ALMEIDA, o. c., pp. 48-49. DEUS “A ideia de Deus é o aspeto central de quase todas as religiões (excetuando algumas versões do budismo), apesar de existirem diversas conceções de Deus. Para algumas religiões - cristianismo, judaísmo e islamismo - há um só Deus e por isso se chamam monoteístas. Mas há também religiões politeístas, de acordo com as quais não existe apenas um Deus, mas vários. A noção de Deus não é, contudo, exclusiva das religiões. Muitas pessoas, como sucede com os panteístas, acreditam que Deus é IMANENTE ao mundo e às coisas que dele fazem parte, mas as principais religiões monoteístas concebem Deus como um ser TRANSCENDENTE. A conceção de Deus mais discutida em filosofia é a conceção teísta (ver TEÍSMO), exposta nos grandes livros sagrados, como a Bíblia e o Corão, e consolidada e desenvolvida ao longo dos séculos pelos mais destacados representantes das grandes religiões ocidentais. Entre eles encontram-se filósofos como SANTO AGOSTINHO, Santo Anselmo (1033-1 109) e TOMÁS DE AQUINO. O teísmo é a conceção de Deus discutida também por DESCARTES, HUME e KANT, entre muitos outros. O Deus teísta é um Deus criador do mundo, sumamente bom, todo-poderoso e 15


infinitamente sábio. É também encarado por alguns teólogos como fonte de obrigações morais, ou mandamentos, que determinam o que é moralmente bom e moralmente mau. São muito discutidos em FILOSOFIA DA RELIGIÃO os argumentos a favor da existência de Deus (...) AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 50. DOGMA “1. Opinião filosófica recebida numa escola. 2. Doutrina religiosa fundada numa verdade revelada e que exige o acatamento e a aceitação incondicionais por parte dos crentes.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 57. DOGMÁTICA 1. Diz-se da pessoa que afirma uma opinião de um modo categórico, sem admitir contestação ou crítica. 2. Parte da teologia que estuda os dogmas da fé. 3. Segundo Kant, é dogmática toda a pretensão do conhecimento em atingir o absoluto.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 57. DOGMATISMO “Toda a atitude ou doutrina que afirma a capacidade do homem para atingir a certeza absoluta. O oposto de ceticismo.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 57. Corresponde à posição natural do espírito humano, a qual assenta implicitamente no pressuposto de que o homem pode conhecer a realidade, de que o conhecimento humano 16


é verdadeiro e que não há limites para a capacidade do sujeito em apreender o objeto. Entre outros, Descartes e Leibniz são representantes, na Modernidade, desta posição. De facto, todos os racionalistas assumem, de uma maneira geral, uma atitude otimista quanto às possibilidades do conhecimento. Desde que as pessoas façam uso da razão de acordo com as regras lógicas, tudo podem conhecer e explicar, nomeadamente Deus e a alma. A questão é que se raciocine segundo o esquema dedutivo, tomando as ideias inatas como premissas. Dado que estes pensadores consideram que para conhecer não temos que tomar como referência a experiência, antes guiarmo-nos pela razão, que tem a capacidade de aceder a qualquer realidade, mesmo às metafísicas, o racionalismo clássico foi considerado como uma forma de dogmatismo. É neste sentido que Descartes tem o objectivo de mostrar que os céticos estão enganados. Pensa que, se seguirmos o método que nos propõe, poderemos mesmo ficar com um conhecimento certo, isto é, infalivelmente justificado. A epistemologia de Descartes (ou cartesiana) é desenvolvida em várias obras, sendo de destacar o Discurso do Método (1637) e as Meditações sobre a Filosofia Primeira (1641). Segundo Descartes, para obtermos a certeza temos de encontrar um fundamento inteiramente seguro para o conhecimento. Por outras palavras, temos de encontrar crenças ou convicções que não possam se colocadas em dúvida, a partir das quais seja possível justificar infalivelmente outras crenças ou convicções. Recorrendo à dúvida podemos encontrar esse fundamento seguro. É nisto 17


que consiste a dúvida metódica: vamos tentar colocar em dúvida as nossas crenças, rejeitando provisoriamente todas aquelas que não sejam inteiramente indubitáveis. Se descobrirmos que certas crenças resistem a todo e qualquer argumento cético, poderemos considerá-las certas ou indubitáveis e tomá-las como fundamento para o conhecimento. O recurso à dúvida é assim um meio para chegar à certeza. (MLO) DÚVIDA “Duvida-se de uma afirmação ou argumento quando se questiona a sua verdade ou solidez. Ver CETICISMO e DESCARTES. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 52. “1. Suspensão do juízo. Ela pode ser definitiva ou provisória. 2. Dúvida cética é a suspensão definitiva do juízo. O sujeito instala-se na dúvida. Duvida por duvidar. 3. A dúvida metódica considera provisoriamente como falso tudo aquilo cuja verdade não se encontra assegurada. É a dúvida cartesiana.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 57. DÚVIDA METÓDICA “Estratégia proposta por DESCARTES para procurar aquele conhecimento seguro que nenhuma dúvida cética poderia pôr em causa. A ideia é duvidar de tudo o que seja possível duvidar até encontrar algo de que não possamos duvidar; Descartes defende que podemos duvidar de tudo, mas não da nossa própria existência. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 52. 18


EMPÍRICO “Diz-se do que se refere à experiência sensível. Assim, uma afirmação é empírica se descrever ou de algum modo estiver relacionada com a descrição de um estado de coisas de que temos experiência e puder ser confirmada ou falsificada pela experiência sensível. E o mesmo se aplica em relação às nossas crenças. Ao afirmar que há seres inteligentes extraterrestres estamos a defender uma tese empírica; ao afirmar que Lisboa é maior do que Faro estamos a exprimir uma crença empírica. Isto contrasta com teses ou crenças não empíricas (isto é, conceptuais), como a tese de que 30 + 60 = 90, ou a crença de que o vermelho é uma cor (o que é diferente da crença de que um dado objeto é vermelho). Podemos ainda falar de qualidades empíricas quando dizemos, por exemplo, que determinado objeto é azul. Neste caso trata-se de uma qualidade empírica porque referimos uma característica que pode ser diretamente observada, enquanto as qualidades teóricas são inferidas (ver INFERÊNCIA). Ver também A PRIORI/A POSTERIORI e EMPIRISMO. AA” A. ALMEIDA, o. c., pp. 53-54. (V. SILVA – 11.º CSE) EMPIRISMO “Perspetiva filosófica de acordo com a qual todo o nosso conhecimento substancial deriva da experiência e das impressões colhidas pelos cinco sentidos (ver A PRIORI/A POSTERIORI). O empirismo divide-se, em geral, em duas posições. A posição segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência, não havendo espaço para o 19


conhecimento a priori (esta é a posição empirista radical); e a posição segundo a qual, apesar de todo o nosso conhecimento substancial derivar da experiência, existe conhecimento a priori, só que este não é substancial, nada nos diz acerca do mundo, exprimindo meras relações entre os conceitos (esta é a posição empirista moderada). Um dos primeiros grandes filósofos empiristas foi o inglês do século XVII John LOCKE. Este defendeu que a nossa mente se compara a uma folha de papel em branco (ou a uma TÁBUA RASA, como dizia ARISTÓTELES) na qual os nossos sentidos vão deixando registadas as impressões colhidas do exterior. A mente era vista como uma espécie de recipiente que se vai enchendo à medida que o contacto com o mundo à nossa volta o permite, mas incapaz de ter uma intervenção ativa que não seja a interpretação e manipulação dos dados sensíveis. O desrespeito pelos dados sensíveis é que está, segundo o empirista, na origem das interpretações abusivas em que se apoiam as nossas crenças falsas. O empirismo opõe-se, pois, ao RACIONALISMO, o qual defende que podemos obter conhecimento a priori substancial acerca do mundo. O filósofo escocês do século XVIII David HUME enfrentou, sempre numa perspetiva empirista, algumas das dificuldades apontadas pelos racionalistas, acabando por tirar a conclusão cética (ver CETICISMO) de que era impossível basear na experiência ideias tão importantes para a ciência como as de CAUSALIDADE e de universalidade (...). O inglês Stuart MILL (século XIX), o alemão Rudof CARNAP e o filósofo americano W. V. QUINE, estes já no século XX, são alguns dos mais destacados empiristas. São 20


duas as grandes dificuldades que qualquer teoria empirista enfrenta: explicar a forte intuição de que temos conhecimento a priori substancial e explicar a forte intuição de que existem verdades necessárias. (...) AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 54. EXISTÊNCIA, SENTIDO DA “1. Na filosofia escolástica é uma das divisões do ser. Opõese a essência. Exprime simplesmente o «facto de ser», de ser realmente/de ter uma existência substancial. 2. No existencialismo contemporâneo, designa o modo de ser próprio do existente humano, a realidade humana naquilo que ela tem de absurdo, de deliberado e de irredutível à consciência. Assim para Kierkegaard, um dos fundadores do existencialismo, o termo existência designa «o que eu sou fundamentalmente por mim». Para Karl Jaspers, significa realidade. Para Sartre, a existência é primeiro que tudo, «ser nos meus atos e pelos meus atos.” A. ANTUNES et al., o.c., pág.69. EXISTENCIALISMO “Movimento filosófico constituído por diversas doutrinas unidas por dois aspetos fundamentais: 1) o objeto da sua reflexão é a existência humana entendida como realidade individual concreta que não se explica nem se demonstra, mas unicamente se descreve; 2) reage contra a identificação hegeliana entre realidade e racionalidade porque a existência não está iluminada pela luz da razão. Afirmar, 21


como o fez HEGEL, que tudo o que é real é racional implica desvalorizar os aspetos dramáticos, angustiantes, imprevisíveis e absurdos que caracterizam a existência humana. O existencialismo pretende falar do ser humano concreto. Nada lhe dizem as ideias ou noções abstratas nem os grandes sistemas racionais que tudo julgam poder explicar e solucionar O que lhe interessa é descrever o indivíduo, a realidade singular em devir; dramaticamente comprometida ou envolvida nas suas escolhas e opções. O principal representante da corrente existencialista é SARTRE, embora se considere que as raízes da filosofia existencialista remontam pelo menos a KIERKEGAARD. O filósofo dinamarquês revoltou-se contra a crença tipicamente hegeliana de que a razão podia resolver os problemas fundamentais da vida, fossem eles morais, religiosos, políticos ou artísticos. O resultado desta confiança cega na razão foi a construção de poderosos sistemas filosóficos que tudo pretendiam explicar, mas cujo grau de abstração era tal que perdiam de vista a realidade concreta individual ou lhe atribuía pouca importância. Autenticidade, responsabilidade, escolha, angústia, singularidade, absurdo, são alguns conceitos que o movimento existencialista encontra em Kierkegaard e utilizará conforme a orientação dos seus representantes. Sartre representa o existencialismo ateu, Gabriel Marcel, o existencialismo cristão. Outros pensadores, como HEIDEGGER, Karl Jaspers (1883-1969) e Albert Camus (19131960), são por alguns historiadores da filosofia incluídos 22


neste movimento muito heterogéneo. LR” A. ALMEIDA, o. c., pp. 59-60. “Movimento filosófico contemporâneo segundo o qual a existência precede a essência. O homem, desde o seu nascimento, foi lançado e abandonado no mundo, sem apoio e sem referência a valores. Somos nós que devemos criar os nossos próprios valores. Somos plenamente livres, mas também somos igualmente responsáveis por nós mesmos e por aquilo que nos cerca. O cerne do existencialismo é a liberdade, pois o homem é aquilo que cada um faz da sua vida, nos limites das determinações físicas, psicológicas ou sociais que pesam sobre ele. Sartre e Camus são existencialistas ateus. Gabriel Marcel é um existencialista cristão.” A. ANTUNES et al., o.c., pág.69. EXPERIÊNCIA “Conhecimento que se obtém diretamente da OBSERVAÇÃO do mundo à nossa volta. Diz-se que se obtém diretamente porque não é o resultado de qualquer INFERÊNCIA. Em termos mais precisos, dá-se o nome de «experiência» aos DADOS DOS SENTIDOS, ou sensações, em que tal conhecimento se baseia. Finalmente, o termo usa-se ainda, no sentido de experimentação, para referir o que os cientistas fazem para testar e compreender as consequências das suas teorias, nomeadamente através da manipulação de fenómenos e de simulações laboratoriais. Ver também EMPIRISMO. AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 60.

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EXPERIMENTAÇÃO “Método científico que consiste em provocar artificialmente um fenómeno para melhor conhecer a sua natureza ou lei. A experimentação «verifica» uma hipótese oriunda da experiência e chega, eventualmente, a uma lei dita experimental.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 70. EVIDÊNCIA “1. É evidente tudo aquilo que se impõe ao espírito com uma tal certeza que parece desnecessário demonstrá-lo ou prová-lo. 2. Para Descartes, uma ideia evidente é aquela que é, ao mesmo tempo, clara e distinta. Somente a evidência racional pode constituir critério de objetividade e de verdade.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 68. FENÓMENO “Palavra de origem grega que, em geral, designa o que aparece à consciência e tem origem nos SENTIDOS, por oposição ao que é apreendido apenas pelo intelecto. Em PLATÃO, o fenómeno é o que pertence ao MUNDO SENSÍVEL, enquanto o NÚMENO (a IDEIA ou Forma) pertence ao mundo inteligível. Para KANT o fenómeno é o objeto da EXPERIÊNCIA possível, o que é dado no espaço e no tempo, e opõe-se ao NÚMENO ou coisa em si. AN” A. ALMEIDA, o. c., pág. 65. “1. Em geral, tudo o que é percebido, que aparece aos sentidos e à consciência. 2. Em Kant, o fenómeno é o objeto 24


da nossa experiência, ou seja, aquilo que aparece nos quadros que lhe conferem as formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e as leis do entendimento. O fenómeno constitui o fundamento de todo o nosso conhecimento. O númeno é a coisa-em-si, incognoscível. A distinção fundamental entre fenómeno e númeno permite a Kant resolver a antinomia entre determinismo e liberdade.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 72. FENOMENOLOGIA “Termo pelo qual é designado o movimento filosófico surgido a partir da obra de Edmund Husserl (1859-1938) e que tem por objectivo principal a investigação e a descrição dos fenómenos (ver FENÓMENO) tal como ocorrem na consciência, independentemente de quaisquer pressupostos ou teorias explicativas. (...) AN” A. ALMEIDA, o. c., pág. 65. “1. Descrição reflexiva de tudo o que, de qualquer modo, se apresenta à consciência. (...) 3. Corrente filosófica fundada por Husserl e N. Hartmann que visa estabelecer um método de fundamentação da ciência e de constituição da filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico define-se como um regresso aos fenómenos, àquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. O conceito de intencionalidade ocupa um lugar central na fenomenologia, definindo a própria consciência como intencional, voltada para o mundo: «Toda a consciência é consciência de alguma coisa.» (Husserl). Deste modo, a fenomenologia pretende ao mesmo tempo combater o 25


empirismo e o psicologismo e ultrapassar a oposição tradicional entre realismo e idealismo. A fenomenologia é uma das principais correntes filosóficas do século XX, sobretudo na Alemanha e na França. Influenciou fortemente o pensamento de Heidegger e o existencialismo de Sartre e as obras de Merleau-Ponty e P. Ricouer.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 72. FUNDACIONISMO “Perspetiva epistemológica (...) segundo a qual as nossas crenças se apoiam num número reduzido de crenças mais básicas que servem de fundamento a todo o conhecimento. A ideia pode ser (...) compreendida a partir da conhecida metáfora de DESCARTES que descreve o conhecimento como um edifício que precisa de se apoiar em alicerces sólidos. Tais alicerces têm de ser formados por um tipo diferente de crenças, cuja evidência seja indisputável. Assim, o fundacionismo constitui uma perspetiva acerca do modo como se estrutura a justificação do nosso conhecimento. Quando pensamos no modo como justificamos a maior parte das nossas crenças, verificamos que o fazemos recorrendo a outras crenças que nos parecem mais evidentes do que as anteriores. Mas estas crenças precisam, por sua vez, de ser justificadas com outras crenças ainda mais evidentes, e assim sucessivamente, a não ser que se disponha de um conjunto limitado de crenças fundamentais e completamente evidentes, que bloqueiem o risco de regressão ao infinito. O fundacionismo constitui, por isso mesmo, uma resposta às dúvidas dos céticos (ver 26


CETICISMO) acerca da possibilidade de justificar satisfatoriamente as nossas crenças e opõe-se ao COERENTISMO, segundo o qual as nossas crenças se apoiam mutuamente entre si, sem qualquer necessidade de recorrer a qualquer tipo de crenças que lhes sirvam de fundamento. E de salientar que as crenças fundamentais exigidas pelo fundacionista tanto podem ser de natureza empírica, apelando assim para um tipo de evidência sensível (ver EMPIRISMO), como de carácter racional, apelando para uma evidência de tipo racional (ver RACIONALISMO). AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 74. GÉNIO MALIGNO “Hipótese introduzida por DESCARTES com o fim de dramatizar os argumentos céticos contra a ideia de que sabemos seja o que for; convidando-nos a imaginar que os nossos pensamentos e perceções estão sistematicamente a ser manipulados por uma espécie de Deus enganador. Claro que, sendo enganador, não poderia ser bom e, portanto também não poderia ser Deus, dado que a bondade é uma das características de Deus. Daí dizer que se trata de um génio maligno. O poder desse génio faria com que nos enganássemos de tal modo que tomássemos sempre como verdadeiro aquilo que não passa, afinal, de meras ilusões. Esta hipótese é rejeitada pelo próprio Descartes, concluindo que de uma coisa tal génio não o pode enganar: que existe, dado que está a ser enganado por ele. Uma versão mais atual da hipótese do génio maligno é a EXPERIÊNCIA MENTAL do «cérebro numa cuba», apresentada pelo 27


filósofo americano Hilary Putnam (n. 1926). O filme The Matrix parte da mesma ideia. AA” A. ALMEIDA, o. c., pág. 75. HUME, DAVID (1711 - 76) Nasceu a 7 de maio de 1711 e morreu a 25 de agosto de 1776. Nasceu e morreu em Edimburgo, Escócia. Os seus principais interesses foram: A teoria do conhecimento, a epistemologia, a ética, a estética, a teologia, a política, a história e a economia. David Hume foi um filósofo que se tornou conhecido pelo seu empirismo radical e o seu ceticismo. Opôs-se particularmente a um ponto de vista teológico-metafísico. Teve grande influência em Kant sobre a filosofia analítica no início do século XX e sobre a fenomenologia. As suas principais ideias e teorias foram: a experiência e a observação são os fundamentos sólidos para a ciência; toda hipótese que não pode ser comprovada por meio da experiência deve ser descartada; não houve evolução linear do politeísmo para o monoteísmo durante a história da humanidade, mas sim uma oscilação irracional (teoria da oscilação). As suas principais obras foram: Tratado da Natureza Humana, 1740; Investigação sobre o Entendimento Humano, 1748; Investigação sobre o princípio da moral, 1751; Discursos políticos, 1752; Diálogo sobre a religião natural, póstumo; História Natural da religião, 1757; História da Inglaterra, 1762; Minha vida, 1776 – autobiografia. (A. MARQUES – 11.º AV) 28


“Filósofo, ensaísta e historiador escocês, pertencente à tradição empirista britânica, cujos antecessores foram LOCKE e BERKELEY. É talvez o primeiro filósofo a procurar trazer para a filosofia o tipo de atitude que tantos resultados produziram nas ciências da natureza do seu tempo. Ficou famoso o seu conselho de que devemos deitar à fogueira tudo o que não for ciência empírica ou disciplinas matemáticas. Este tipo de atitude voltaria a ser popular, sobretudo junto dos filósofos do POSITIVISMO LÓGICO. Para não correr o risco de ser ele próprio deitado à fogueira, pelo menos metaforicamente, só permitiu que os Diálogos sobre a Religião Natural (1779) fossem publicados depois da sua morte. Nesta obra, Hume apresenta uma análise hoje clássica dos argumentos contra e a favor da existência de Deus. O seu argumento contra os milagres foi exposto também no Ensaio sobre o Entendimento Humano. A sua primeira obra, o Tratado da Natureza Humana (1739-40), procura ambiciosamente estabelecer os fundamentos de uma teoria empírica da natureza humana. Nesta obra encontram-se algumas das ideias que mudaram a face da filosofia moderna, nomeadamente no que respeita à EPISTEMOLOGIA e à ÉTICA. Porque os seus contemporâneos não lhe prestaram grande atenção, Hume tentou apresentar aproximadamente as mesmas ideias, de forma mais clara, nas obras Investigação sobre o Entendimento Humano (1748) e Investigação sobre os Princípios da Moral (1751). No que respeita à epistemologia, Hume introduz de forma clara a distinção entre conhecimento a priori e a posteriori, a que ele chamou, respetivamente, «relações de ideias» e 29


«questões de facto». O conhecimento o priori tem por objeto unicamente as matemáticas; todo o conhecimento do mundo é baseado na experiência, não sendo possível estabelecer a priori nem mesmo os princípios mais gerais que regulam as verdades empíricas, como o princípio de causalidade. A teoria da causalidade de Hume baseia-se na projeção psicológica: perante sucessões repetidas de acontecimentos do mesmo tipo, os seres humanos são levados a inferir fantasiosamente a existência de uma conexão causal entre esses acontecimentos. Hume adota a mesma estratégia projetivista em ética. Traçando uma distinção profunda entre factos e valores, declara que não se podem extrair os últimos dos primeiros e que a ética é apenas o resultado da projeção de valores humanos sobre os factos do mundo, valores estes ancorados no sentimento e não na razão. O seu argumento baseia-se na ideia de que os factos são objeto de crença e de que as crenças não são motivadoras, isto é, não têm o poder de nos levar a agir; só os desejos têm esse poder. Tanto no âmbito da epistemologia como no da ética, as ideias de Hume foram das mais influentes de sempre na história da filosofia. DM” A. ALMEIDA, o. c., pp. 78-79. IDEIAS INATAS “Conteúdos mentais anteriores a qualquer experiência e que dela são independentes. Trata-se de ideias com as quais já nascemos e que, portanto, não são adquiridas. DESCARTES deu o exemplo das ideias de Deus, de infinito, de imortalidade e de perfeição, as quais defendia que nada de 30


empiricamente observável pode ter originado. Estas ideias constituem, alegadamente, um tipo de conhecimento que veio a chamar-se conhecimento A PRIORI. A existência ou não de ideias inatas esteve no centro das disputas entre o RACIONALISMO e o EMPIRISMO. Empiristas como LOCKE e HUME opõem-se à afirmação de que há ideias inatas ou conhecimentos a priori. KANT defende que há noções a priori, mas que tais noções são apenas formais, não podendo, só por si, ser consideradas conhecimento. Mas hoje em dia a discussão entre empiristas e racionalistas não se foca em torno desse aspeto, mas em torno do a priori. O conhecimento a priori é diferente do conhecimento inato: o primeiro é aquele que adquirimos pelo pensamento apenas, o segundo não é adquirido, nascemos com ele. AA” A. ALMEIDA, o. c., pp. 80-81. INATISMO “1. Doutrina segundo a qual certas ideias são inatas à razão em virtude de pertencerem à natureza humana, ou seja, à mente ou ao espírito, sendo, nesse sentido, universais. 2. A doutrina da reminiscência de Platão pode ser considerada uma forma clássica de inatismo. 3. Em Descartes, as ideias inatas têm um papel fundamental na sua teoria do conhecimento, porque constituem a base da certeza e da possibilidade do próprio conhecimento (...) ” A. ANTUNES et al., o.c., pág.87.

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INATO “Aquilo que trazemos desde nosso nascimento.” A. ANTUNES et al., o.c., pág.87. INDUÇÃO “Em lógica, é a forma de raciocínio que vai do particular ao geral, isto é, que procede à generalização a partir da repetição e da observação de uma regularidade num certo número de casos.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 88. INTUIÇÃO “1. Modo de contacto direto ou imediato da mente com o real, capaz de captar a sua essência de modo evidente. 2. Para DESCARTES, intuição é a «conceção firme do espírito puro e atento, que se origina unicamente da luz da razão, e que sendo mais simples é, por conseguinte, mais segura do que a própria dedução». 3. Intuição empírica é o conhecimento imediato da experiência, quer da experiência externa (intuição dos dados dos sentidos como odores, cores, sabores, etc.), quer da experiência interna (intuição dos dados psíquicos como desejos, emoções, paixões, sentimentos, imagens, etc.). 4. Intuição racional é a perceção de relações e a apreensão dos primeiros princípios (de identidade, de não-contradição, do terceiro excluído). É por muitos considerada a base do conhecimento discursivo. 5. Em Kant, a intuição pura é uma forma a priori da sensibilidade, constituindo com o entendimento as condições de possibilidade do conhecimento. As intuições 32


puras são duas: o espaço e o tempo, que possibilitam a unificação do sensível e a receção de perceções: «Os conceitos sem conteúdos são vazios, as intuições sem conceitos são cegas.» (Kant) ” A. ANTUNES et al., o.c., pp. 91-92. KANT, IMMANUEL (1724-1804) “Filósofo alemão. Kant nasceu em Königsberg (atual Kaliningrado), na Prússia oriental, onde estudou, trabalhou e viveu toda a sua vida, tornando-se um dos mais influentes filósofos de sempre. Durante mais de uma década trabalhou como precetor e em 1755 juntou-se ao corpo docente da universidade de Königsberg, onde lecionou as mais variadas disciplinas: lógica, metafísica, matemática, geografia, antropologia, pedagogia, etc. É habitual dividir a sua vida intelectual em dois períodos: o «período pré-crítico» e o «período crítico». Durante o primeiro período, Kant escreveu trabalhos menos influentes, nos quais se pode constatar a grande influência de Wolff (1679-1754), discípulo de LEIBNIZ, e do próprio Leibniz. Kant foi também fortemente influenciado por LOCKE, HUME e Jean-Jacques Rousseau (1712-78). O seu período crítico teve início em 1770 com a publicação da sua Dissertação de 1770. Crítica da Razão Pura (1781) é a sua primeira grande obra. O problema que a domina é o de saber como é o conhecimento a priori acerca do mundo possível (ver A PRIORI / A POSTERIORI) ou para usar a sua terminologia, 33


como é o conhecimento sintético a priori possível (ver ANALÍTICO / SINTÉTICO). Kant defendeu que não é possível saber como o mundo é em si, independentemente da nossa experiência. Sucintamente, a ideia de Kant é a de que o nosso aparato cognitivo, seja ele percetivo ou puramente intelectual (ou teórico), impõe certas estruturas ao mundo. Kant defendeu que uma metafísica científica deve usar criticamente a razão na procura dos seus próprios limites: temos de procurar as «formas» que o nosso aparato cognitivo impõe ao mundo. Esta é a «revolução copernicana» de Kant: para sabermos o que podemos conhecer temos de saber como o conhecemos. Na Crítica da Razão Prática (1788), Kant procura os fundamentos da nossa razão prática, isto é, os fundamentos do nosso raciocínio moral. Defende que agir racionalmente é agir moralmente, é agir de acordo com o nosso DEVER, é agir de acordo com o IMPERATIVO CATEGÓRICO. Em Crítica da Faculdade do Juízo (1790), volta a defender a objetividade da razão, mas desta vez relativamente aos juízos estéticos. Contudo, esta não é meramente uma obra de estética. Nela, Kant fornece-nos uma visão global do seu sistema filosófico. Ver EPISTEMOLOGIA, ÉTICA e IDEALISMO. CT” A. ALMEIDA (Org.), o. c., pág. 87.

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KIERKEGAARD, SØREN (1813-1855) “Pensador dinamarquês cuja obra tem um só objetivo: esclarecer o que significa a fé cristã. A fé em Deus é uma forma de vida terrivelmente exigente porque dá muito mais importância a Deus do que às coisas humanas e terrenas. Em Temor e Tremor (1843; trad, 1990, Guimarães Editores), Abraão, exemplo do amor e submissão absolutos a Deus, é considerado o modelo do homem de fé, pois para ele, Deus está sempre em primeiro lugar e nem o amor a um filho lhe pode ser superior. Sem Deus o homem está condenado ao desespero. Podemos escolher uma vida dedicada ao prazer e ao divertimento (existência estética) ou ao cumprimento do dever; das obrigações morais e sociais (existência ética), mas o cristão autêntico aposta no Desconhecido e encontra nessa entrega o sentido pleno (existência religiosa). A fé cristã é sofrimento. Reina a incerteza (não sei se Deus existe) e a incompreensão dos outros, pois colocar Deus acima de tudo implica frequentemente contrariar a moral socialmente estabelecida. Critica Hegel por este ter querido tornar acessíveis à razão os dogmas da fé cristã e as Igrejas por a transformarem num hábito tranquilo e rotineiro. Um dos principais representantes do FIDEÍSMO, defende que a fé é superior à razão. Apresenta-nos uma interpretação da sua própria obra em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra Como Escritor (1859; trad. 1986, Edições 70). LR” A. ALMEIDA, o. c., pp. 87-88. 35


NECESSÁRIO/CONTINGENTE “Diz-se que uma verdade é necessária se não podia ter sido falsa. Por outras palavras, sejam quais forem as circunstâncias, é verdadeira. Por exemplo, sejam quais forem as circunstâncias, dois mais dois são quatro. Diz-se que uma verdade é contingente quando é verdadeira, mas poderia ter sido falsa. Por exemplo, é verdade que Aristóteles foi um filósofo, mas isto poderia ter sido falso. Se Aristóteles, por exemplo, se tivesse dedicado exclusivamente à agricultura, não teria sido um filósofo. Há filósofos que rejeitam esta distinção. Não se deve confundir o necessário/contingente com o ANALÍTICO/SINTÉTICO nem com o A PRIORI / A POSTERIORI. CT” A. ALMEIDA, o. c., pág.99. Necessário é aquilo que acontece ou existe por necessidade. Necessidade pode considerar – se como um estado interno de insatisfação causado pela falta de algum bem primordial ao bem-estar físico e psíquico de um ser. Necessário é um conceito que funciona como um impulso para determinados comportamentos e que apresenta uma proporcionalidade direta com a ação, pois quanto maior a necessidade de algo ou de fazer algo, maior a intensidade da ação vivida pelo agente, determinando – se assim, pela satisfação de movimentos perto ou longe do objeto (cognoscido). Assim sendo, no cerne do conceito nuclear de necessidade, pode destrinçar – se o seguinte: 1 – Necessidade física (relação em que uma causa determina um efeito, isto é, existe causalidade determinista na ação). 2 – Necessidade lógica 36


(tem como base, o estudo dos atos do pensamento, tendo em conta, os seus conteúdos materiais, examinando assim, a forma e a validade ou invalidade dos argumentos). 3 – Necessidade metafísica (entende que aquilo que é necessário não depende de nenhuma causa ou condição para a existência, não carecendo assim, de prova empírica, basta usar a racionalidade). 4 – Necessidade ética (obrigação ilustrada pelo imperativo categórico em que, a ação moral, se rege pelo dever e por puro respeito ao dever). 5 – Necessidade Kantiana (a necessidade para Kant, resulta da união da possibilidade com a existência). 6 – Necessidade Humiana (a necessidade para Hume, é apenas o resultado da nossa forma habitual de perceber a realidade, projetando – se assim, como uma natureza psicológica). Assim, em última instância, em todos os mundos possíveis, aquilo que acontece ou existe por necessidade, tem de ser verdadeiro logo, é uma verdade necessária. (C. LIMA – 11.º LH1) OBJETIVIDADE “1. Carácter daquilo que existe independentemente do pensamento. Opõe-se a subjetividade. 2. Em epistemologia, tentativa de construir uma ciência que se afaste da sensibilidade e da subjetividade, baseando as suas conclusões em observações e verificações controladas.” A. ANTUNES et al., o.c., pág. 122.

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OBJETO “1. E aquilo para que a consciência é dirigida, seja de modo cognitivo ou conativo. O objeto cognitivo é tudo o que é percebido, imaginado, concebido ou pensado. O objeto conativo é alguma coisa desejada. 2. Objeto epistemológico é o objeto considerado por um ato de conhecimento, em contraste com o objeto ontológico, que é uma coisa real que corresponde ao objeto epistemológico, quando o conhecimento é verdadeiro. 3. Objeto fenomenal, na filosofia de Kant, é um dos objetos do juízo sintético a priori. O outro é o númeno ou o objeto real. 4. Objeto formal é o modo como o objeto material é entendido pela ciência. 5. Objeto material a coisa própria considerada por uma ciência. 6. Objeto real, no pensamento kantiano, é o númeno.” A. ANTUNES et al., o.c., pp. 122-123. RACIONALISMO “1. A posição filosófica segundo a qual a razão tem um papel preponderante na aquisição de conhecimento. O racionalismo é assim o oposto do EMPIRISMO. Tal como existem versões radicais de empirismo que negam à razão qualquer papel na aquisição de conhecimento, também as versões mais radicais de racionalismo negam aos sentidos qualquer papel na aquisição de conhecimento. Contudo, ao passo que ainda hoje em dia há quem defenda posições empiristas radicais, as posições racionalistas radicais só foram populares na Grécia antiga. As versões mais moderadas de racionalismo defendem que tanto a razão como os sentidos são fontes substanciais de aquisição de 38


conhecimento. Há que não confundir a ideia de que podemos adquirir conhecimento a priori acerca do mundo com a ideia de que o conhecimento não seria possível sem termos experiência do mundo. Uma coisa é como adquirimos os conceitos relevantes usados na formulação das nossas crenças acerca do mundo, os quais podem ser adquiridos através da experiência; outra coisa é saber se, na posse dos conceitos relevantes, podemos ou não saber coisas acerca do mundo sem recorrer à experiência. Por exemplo, o facto de termos adquirido os conceitos de azul e de vermelho através da experiência percetiva não nos impede de saber a priori que um objeto todo vermelho não pode ser azul. Não se deve confundir as posições racionalistas tradicionais com a defesa de uma capacidade racional de intuição responsável pelo nosso conhecimento a priori. Por exemplo, como sabemos que ou chove ou não chove? Porque num certo sentido podemos «ver» através da nossa intuição racional que isso é verdade. Os primeiros grandes filósofos racionalistas foram DESCARTES, LEIBNIZ e ESPINOSA. As posições racionalistas foram praticamente rejeitadas durante o século XIX com a descoberta de geometrias não-euclidianas. Graças ao trabalho de filósofos como Thomas Nagel (n. 1937) e Laurence Bonjour (n. 1943) o racionalismo volta a estar hoje na ordem do dia. 2. Num sentido mais geral, o racionalismo é a ideia de que só racionalmente podemos chegar às verdades acerca do mundo. Tanto a experiência como a razão são métodos racionais de aquisição de conhecimento, por oposição aos 39


processos místicos, como a fé ou a revelação divina. CT” A. ALMEIDA, o. c., pág. 114. (L. ALMEIDA – 11.º LH1) É uma teoria filosófica que defende que o nosso conhecimento deriva, essencialmente, da razão e que esta é capaz de conhecer verdadeiramente as coisas. É a doutrina do racionalismo que considera que tudo o que existe tem uma causa inteligível, ainda que essa causa não seja provada empiricamente, ou seja, só a partir do pensamento, por meio da razão é capaz de atingir a verdade absoluta. É a razão que fornece as ideias normativas e os princípios por meio dos quais conhecemos. Podemos também referir que o racionalismo é universal pois todos são detentores da razão e do bom senso. Todamateria.com.br; Manual Filosofia adotado - 11.º ano. (L. CARDOSO – 11.ºCSE) RAZÃO “A faculdade de raciocinar compreender, ponderar, ajuizar, etc. Os filósofos dividem-se quanto à confiança que depositam na razão. Os mais céticos duvidam dos seus produtos; alguns, como HUME, confiam mais nas emoções e sentimentos. Outros, como DESCARTES ou KANT confiam mais no poder da razão para descobrir verdades importantes. A racionalidade instrumental permite, perante fins dados, determinar os melhores meios para os atingir; por exemplo, quando tenho sede e sei que há água na cozinha, um meio de matar a sede é ir à cozinha. A racionalidade não instrumental, negada por filósofos como 40


Hume, permite determinar os próprios fins. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 115. RES COGITANS “Latim: «coisa pensante». Descartes usa o termo para referir o agente que pensa, a coisa que faz o pensamento, de cuja existência é impossível duvidar e que difere do sujeito físico. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 118. SARTRE, JEAN-PAUL (1905-1980) “Filósofo, dramaturgo, romancista e militante político francês cuja obra desenvolve essencialmente uma tese: o homem é liberdade e define-se pelo que faz. No ser humano, a existência precede a essência, afirma Sartre em O Existencialismo é um Humanismo (1946; trad. 1970, Presença). Quer dizer: não há qualquer ideia que se possa fazer sobre um homem antes de ele existir e agir porque não há qualquer modelo predefinido, nenhum destino previamente traçado. A radical afirmação da liberdade humana exige a negação da existência de Deus (em O Ser e o Nada (1643) diz que Deus é uma paixão inútil). Não existe DEUS para nos dizer o que fazer e como viver A liberdade humana é o fundamento de todos os valores e exige do ser humano um compromisso permanente, uma renovação constante por meio de escolhas e atos, porque é o nosso modo de ser como sujeitos conscientes. O 41


existencialismo de Sartre é um humanismo porque afirma depender do homem ser o senhor do seu destino. LR” A. ALMEIDA, o. c., pág. 120. SENTIDO DA VIDA “Em geral, dizemos que uma certa atividade é absurda ou não tem sentido quando não tem qualquer objetivo. Por exemplo, não faz sentido passar a vida aos saltos se isso não tiver qualquer objetivo; mas faz sentido, se o objetivo for exercitar os músculos. Em geral, dizemos também que uma certa atividade não tem sentido, apesar de ter um objetivo, se esse objetivo não puder ser alcançado ou não tiver qualquer valor mesmo que possa ser alcançado. Por exemplo, não faz sentido passar a vida a tentar chegar à Lua a saltar porque nunca o iremos conseguir; e não faz sentido passar a vida a tentar fazer passar um elefante por debaixo da porta da cozinha, não só porque nunca o vamos conseguir; mas também porque, mesmo que o conseguíssemos, isso não teria aparentemente importância alguma. Assim, responder ao problema do sentido da vida é responder às seguintes três perguntas: Terá a vida humana, no seu todo, um ou vários objetivos? Será esse objetivo (ou objetivos) alcançável? Terá esse objetivo (ou objetivos) algum valor? A resposta da maior parte dos filósofos consiste em dizer que o objetivo da vida humana é a felicidade; mas depois diferem no modo como entendem o que constitui a felicidade. As tradições religiosas defendem em geral que a vida só faz sentido se Deus existir; alguns filósofos aceitaram esta ideia, mas acrescentaram que a vida 42


absurda tem de ser então abraçada precisamente porque Deus não existe (ver EXISTENCIALISMO). Contudo, muitos filósofos não concebem o sentido da vida como algo que dependa da existência ou não de Deus e é costume chamar «humanista» a esta tradição. DM” A. ALMEIDA, o. c., pág. 121. SÍNTESE “1. Percurso do espírito que vai das noções simples até às mais complexas. Ato de reunir ou combinar num todo, elementos dados separadamente. Composição. Unificação. 2. Na filosofia kantiana, a síntese é um ato da consciência pelo qual esta reúne num todo, a diversidade dos dados da sensibilidade. 3. Na dialética hegeliana, a síntese é o momento de fusão e de superação da oposição entre tese e antítese. A síntese tornar-se-á uma nova tese que terá a sua antítese e será superada por uma nova síntese até à síntese final, que é o saber absoluto. A. ANTUNES et al., o.c., pág. 154. SINTÉTICO Que possui uma unidade resultante da síntese; que diz respeito à síntese. A. ANTUNES et al., o.c., pág. 154. SINTÉTICO, JUÍZO Um juízo diz-se sintético quando o predicado acrescenta algo à compreensão do sujeito. Ex: Os corpos são pesados. Ao contrário, o juízo analítico é aquele em que o predicado 43


está incluído na definição de sujeito. Ex: Todos os corpos são extensos. Os juízos sintéticos são típicos da tradição empirista, que defende que o conhecimento é adquirido através da experiência. Estes juízos dependem de uma experiência concreta, ou seja, só se pode afirmar a existência de alguma coisa depois de se ter passado por uma experiência (concreta). Inversamente, os juízos analíticos são típicos da tradição racionalista cartesiana, que defende que a ciência é a explicação para algumas verdades evidentes. Possuem o mérito da indiscutibilidade, por se limitaram a afirmações óbvias.1 (J. ALVES – 11.º LH1) É algo relativo à síntese, que resulta de uma síntese, é algo artificial. Em relação aos juízos dizemos que um juízo pode ser analítico ou sintético. Os juízos sintéticos são aqueles em que o predicado acrescenta algo ao sujeito, o predicado mostra mais do que está implícito no próprio sujeito. Por outras palavras, acrescenta algo que não poderia ser alcançado pela análise (decomposição) do conceito do sujeito nos seus conceitos parciais.2 (J. MONTEIRO – 11.ºCSE) SUJEITO O conhecimento humano tem dois elementos básicos: um sujeito e um objeto. O sujeito é o homem, o ser racional que quer conhecer. O sujeito é um ser que tem consciência e 1 2

https://sites.google.com/site/sbgdicionariodefilosofia/juizo-analitico-juizo-sintetico http://oficinakantiana.blogspot.pt/2011/05/juizo-analitico-priori-e-juizo.html

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experiências únicas ou uma entidade que tem um relacionamento com outra entidade que existe fora de si mesma (chamada objeto). Para além disso, podemos dizer que o sujeito é um observador, pois apreende as características do objeto, trazendo assim uma representação mental daquilo que observou. Em geral, pode-se dizer que o sujeito cognoscente interage de maneira permanente com a realidade para gerar algum tipo de conhecimento que lhe permita adaptar-se ao meio. Manual Clube de Ideias – Filosofia 11.º ano3; (R. ALVES – 11.º CSE) “1. Em lógica, primeiro termo de uma proposição predicativa. O termo de que algo é afirmado ou negado. 2. Na metafísica clássica, sobretudo em Aristóteles, é sinónimo de substância. 3. Em teoria do conhecimento, é o espírito, a mente, a consciência, enquanto é aquilo que conhece, opondo-se ao objeto como aquilo que é conhecido.” A. ALMEIDA, o. c., pág. 157.

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http://conceito.de/cognoscente; https://sites.google.com/site/jphylosophya/o-sujeito-e-o objeto-do-conhecimento; https://pt.wikipedia.org/wiki/Sujeito_(filosofia)

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IMAGENS ALBERT CAMUS: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Albert_Camus,_gagnant _de_prix_Nobel,_portrait_en_buste,_pos%C3%A9_au_bureau,_f aisant_face_%C3%A0_gauche,_cigarette_de_tabagisme.jpg RENÉ DESCARTES: https://en.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes https://en.wikipedia.org/wiki/David_Hume DAVID HUME: https://www.youtube.com/watch?v=oDP4vSSuuHk IMMANUEL KANT: https://en.wikipedia.org/wiki/Leap_of_faith SØREN KIERKEGAARD: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sartre_closeup.jpg

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