Livro La Vem Historia

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Escritopor

Heloisa Prieto Ilustrado por

Daniel Kondo


COMO ENCANTAR PELA LEITURA

E AINDA COLABORAR

?

COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA

Ler é alimentar a nossa imaginação. É descobrir novos mundos, multiplicar nossos conhecimentos. Natura Crer para Ver escolheu incentivar a leitura como forma de ampliar o aprendizado, pois acredita na educação de qualidade como um caminho para a construção de um país mais justo.

LER

=

NATURA + SEU CRER PARA VER ENVOLVIMENTO

PRAZER PELA

LEITURA

INFORMAÇÃO =+ IMAGINAÇÃO


Veja abaixo o sumário completo do livro. Nas próximas páginas, conheça 3 dessas histórias

Sumário Contar histórias: uma arte mágica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Vários tipos de histórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Dez histórias para sonhar

(Pequenos contos de magia e encantamento) O gigante Cabeça de Pedra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Napi, os homens e os animais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Bran, o viajante do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 O paraíso dos gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 O caminho das estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Maria Gomes e os cavalinhos mágicos . . . . . . . . . . . . . . 24 O ladrão de sonhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 O tapete voador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 O Negrinho do Pastoreio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 As mil e uma noites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Dez histórias para rir e pensar

(Pequenos contos de ensinamentos) O rei que queria alcançar a Lua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Tyll, o mestre das artes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 As estranhas surpresas da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Os cegos e o elefante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 O galo e o rei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 O macaco e a banana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 O sábio brincalhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Doutor Sabe-Tudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Macunaíma e o Curupira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Sete irmãos sábios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Dez histórias para sentir uma pontinha de medo (Pequenos contos de suspense e mistério)

Wang-Fo e a magia da arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 O pintor do céu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 A noite das bruxas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 As sete corujas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 A armadilha da Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 O fantasma da sorte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 O jovem que não tinha medo de nada . . . . . . . . . . . . . . 70 A festa das bruxas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 O samurai e a misteriosa casa de chá . . . . . . . . . . . . . . . 74 O terrível homem-gato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Sobre a autora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Sobre o ilustrador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79


Contar histórias: uma arte mágica

Sabe-se que há muitos e muitos séculos, quando os homens viviam nas cavernas, costumavam participar de um ritual: reuniam-se em volta de uma fogueira e o feiticeiro da tribo contava uma história. As primeiras histórias falavam da origem dos seres e das coisas, de heróis invencíveis, deuses em seus mundos encantados, viagens extraordinárias. Muita coisa aconteceu desde aquela época. Agora temos automóveis, aviões e computadores. Mas as histórias jamais perderam sua importância. As lendas do folclore mundial continuam a nos encantar em livros, revistas em quadrinhos, peças de teatro, desenhos animados, filmes para televisão ou cinema. E até hoje, sempre que alguém senta para contar uma história, pratica a deliciosa arte de abrir as portas da imaginação. Foi o que fez a TV Cultura de São Paulo ao criar a série chamada Lá vem história, proporcionando às crianças (e aos adultos também) o prazer inesquecível de ter um contador de histórias em casa, que enriquece sua vida com um momento de magia. “Quem conta um conto, aumenta um ponto”, diz um antigo provérbio. Ilana Kaplan, Bia Bedran, Valdeck de Garanhuns e Oscar Simch emprestaram suas vozes, talento e bom humor às histórias da televisão. Quando vocês os virem na tela, lembrem-se das crianças do passado, de como elas também deviam achar gostosa essa horinha de “sonhar de olhos abertos”. Afinal, o tempo passa, as pessoas mudam, mas certas coisas, de tão boas, permanecem. Os editores


Vários tipos de histórias

Para que servem as histórias? Tenho uma amiga muito querida que escreve lindos livros para crianças. Um dia ela me disse: “Quando eu era menina resolvi que, para uma história ser boa, tem que fazer rir, chorar ou sentir medo, senão fica chata e não prende a atenção”. Nessa mesma época eu estava começando a pesquisar histórias na universidade, e descobri que elas podem ser divididas em tipos diferentes: as que ensinam a pensar, geralmente engraçadas; as de mistério, que provocam sempre um pouquinho de medo, e as histórias tristes, que dão vontade de chorar. Minha amiga estava certa. Mas descobri ainda um outro tipo de histórias, do qual gostei muito: as de encantamento, que falam de lugares mágicos e de personagens que se transformam, fogem para outros mundos e nos fazem sonhar. As trinta histórias deste livro são curtas, como as da televisão. Isso quer dizer que você pode lê-las rapidinho, a caminho da escola, na hora do recreio, antes de dormir, enquanto espera os amigos ou depois de fazer a lição. Se você quiser pensar e dar risadas, leia os contos de ensinamentos; se quiser sonhar, os de encantamento, e se estiver com vontade de ficar com uma pontinha de medo, dê uma olhada nos da seção de mistério. Quando tiver finalmente terminado de ler as trinta histórias, você terá conhecido um pouco dos lugares onde elas surgiram. A história do Japão, por exemplo, traz um valente samurai; a da China, um pintor mágico; na Inglaterra, um fantasma que dá sorte; uma das histórias da Austrália, um estranho monstro, o homem-gato, e as nossas, brasileiras, loucas aventuras na floresta ou lá no sertão, com versinhos divertidos que as pessoas cantam tocando viola. Você irá perceber que ler é viajar, entrar na imaginação de outros povos, conhecer os sonhos de outras crianças e que o livro pode ser uma excelente companhia, aquele amigo que fica ao seu lado durante uma vida inteira. Bem, agora chegou a hora! Senta que lá vem história... PS: Sabe como se chama minha querida amiga? Tatiana Belinky! Heloisa Prieto


O caminho das estrelas

H

á muitos séculos, na região do gelo, aconteceu um combate entre o urso negro, que se chamava Wakini, e o urso cinza, que se chamava Wakinu. Ninguém nunca soube exatamente como começou a disputa. Os antigos diziam que os dois grandes amigos ursos se enfrentaram por causa de um pequeno pote de mel. Wakini levara muito tempo colhendo o mel e Wakinu quis arrancá-lo à força do amigo. Uma furiosa luta teve início, e o vencedor foi Wakinu, o ladrão de mel. O líder da tribo ficou inconformado com essa vitória. Pensou que seria uma grande injustiça um ladrão se dar bem no final. Por isso, expulsou o urso cinza da comunidade. Mas Wakinu não tinha mau coração: era só um urso muito guloso. Chorou tanto e parecia tão arrependido que toda a tribo sentiu muita pena dele. Wakinu partiu e caminhou durante vários dias. Mal enxergava, seus olhos estavam turvados de tantas lágrimas. As noites e os dias passavam sem que ele se alimentasse ou parasse para descansar. Até que, de repente, avistou um longo caminho todo prateado. Era uma estrada magnífica que brilhava contra o céu azul-escuro. O urso, pela primeira vez em muitos dias, conseguiu ver nitidamente. O caminho se estendia até as estrelas. Wakinu experimentou uma profunda alegria e começou a correr por aquele solo prateado, e aos poucos foi se sentindo cada vez mais leve. Era quase como se ele, um grande urso cinza, fosse só um passarinho. Nesse mesmo instante, Wakini, seu ex-amigo, sentiu uma vontade imensa de olhar para as estrelas no firmamento. E o viu. — Vejam! — disse à sua tribo. — É Wakinu! Está correndo no meio das estrelas! E toda a tribo se reuniu para assistir àquela cena extraordinária. Wakinu corria, corria, saltava as estrelas, dançava no céu. E alguém comentou:


— Wakinu alcançou o Porto das Almas, o campo das caças eternas! Depois dessa noite, Wakinu nunca mais voltou. Mas até hoje se conta que, durante sua corrida, Wakinu balançou a grossa pelagem, que ficou cheia de luz, e dela respingaram as lindas estrelas que hoje formam a Via Láctea. Há os que não acreditam nisso, porém, e preferem pensar que Wakinu ainda está vivo, no campo das caças eternas, lugar para onde vão todos os guerreiros no final da vida: o caminho de Wakinu, o urso cinza, o grande ladrão de mel. (História do folclore esquimó)


Os cegos e o elefante

N

uma cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas os consultavam. Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles, que de vez em quando discutiam sobre qual seria o mais sábio. Certa noite, depois de muito debaterem acerca da verdade da vida, e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros: — Somos cegos para que possamos ouvir melhor e compreender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora. No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele. O primeiro sábio apalpou a barriga do bicho e declarou: — Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar em seus músculos e eles não se movem: parecem paredes. — Que bobagem! — disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante. — Este animal é pontudo como uma lança, uma arma de guerra. Ele se parece com um tigre-dentes-de-sabre! — Ambos se enganam! — retrucou o terceiro sábio, que apalpava a tromba do elefante. — Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia. — Vocês estão totalmente alucinados! — gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. — Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante!


— Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmo, estão completamente errados! — irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. — Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele. E assim ficaram debatendo, aos gritos, os seis sábios, durante horas e horas. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, ele pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e errados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou: — Assim os homens se comportam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo e continuam sempre tolos. (História do folclore hindu)


A armadilha da Morte

N

a antiga Europa, na época em que muitos morriam por causa da peste negra, três amigos fizeram um pacto contra a Morte. Juraram ficar sempre juntos, proteger um ao outro e matar a Morte quando ela finalmente os encontrasse. Depois, partiram em viagem e caminharam muito até que encontraram um estranho velho. Ele parecia um mendigo e lhes disse: — Que Deus os proteja, cavalheiros.


Porém, o mais orgulhoso dos três, em vez de agradecer a bênção do velho, falou-lhe: — Seu azarado! Como é que conseguiu viver tanto? O velho respondeu com humildade: — Foi porque nunca encontrei ninguém que quisesse trocar sua juventude por minha velhice. Porque gosto da vida simples e a Morte jamais quis me levar. Agora, vou lhes dar um conselho. Não sejam assim tão rudes com as pessoas idosas. Elas precisam de carinho e atenção. Agora, preciso partir. Adeus. Mas outro dos amigos lhe disse: — Seu velho mentiroso, aposto que você é amigo da Morte. Diga-nos onde ela está para que possamos derrotá-la. — Bem, se vocês querem tanto encontrar a Morte — disse o velho —, é só virar aquela esquina, sentar sob uma figueira que fica bem no meio da encruzilhada e aguardá-la. Os três foram até a figueira e entre suas raízes encontraram um grande baú repleto de moedas. O mais orgulhoso dos rapazes disse: — Achado não é roubado. Esse tesouro nos pertence! Vamos fazer o seguinte: dois ficam aqui, cuidando do tesouro, enquanto o outro vai até a cidade buscar o almoço. O mais novo se propôs a ir até a cidade. Enquanto ele estava no caminho, seus amigos resolveram roubar sua parte do tesouro. Eles o matariam logo que voltasse e dividiriam as moedas. Entretanto, o mais novo também teve uma ideia terrível. Pensou: “Bem que eu poderia ficar com todo o tesouro para mim. Para isso, só preciso me livrar dos meus amigos”. Então foi à farmácia e comprou um veneno fortíssimo. Colocou-o na garrafa de vinho e voltou para encontrar os amigos. Assim que o viram, eles o mataram, e depois, rindo, disseram: — Agora, vamos fazer um brinde à nossa fortuna! — E beberam o vinho envenenado, morrendo instantaneamente. Foi assim que a Morte saiu mais uma vez vencedora, levando consigo os três jovens, enquanto o velho continuou a viver, em sua calma sabedoria. Dizem que o tesouro fatal ainda se encontra ao pé da figueira à espera de jovens incautos que muitas vezes caem nas terríveis armadilhas da Morte. (História dos contos de Canterbury, recolhidos por Geoffrey Chaucer)


Para que servem as histórias? Desde que o mundo é mundo, sempre que alguém senta para contar uma história, pratica a deliciosa arte de abrir as portas da imaginação. Ler é viajar, conhecer outros povos, experimentar novas sensações. As trinta histórias deste livro são uma forma de conhecer o mundo: valentes samurais no Japão; diabos espertíssimos na Europa Central; no Polo Norte, ursos que se transformam em estrelas; na Austrália, os imensos homens-gatos.... E mais: Macunaíma, Scherazade, o Negrinho do Pastoreio...


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