Minas Terrestres

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Gabriela Azevedo Forlin

Minas Terrestres em Angola Retratos de um drama cotidiano

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Gabriela Azevedo Forlin

Minas Terrestres em Angola

Retratos de um drama cotidiano

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA: Retratos de um drama cotidiano Livro-reportagem fotográfico Produção: Gabriela Azevedo Forlin Orientação: Robson Souza dos Santos Projeto Gráfico e diagramação: Ana Lúcia Dal Pizzol Ano: 2010/1 Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI CECIESA – Comunicação, Turismo e Lazer Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo Disciplina: Projetos Experimentais Trabalho de Conclusão de Curso

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Dedico este livro aos meus pais, Márcia Azevedo Forlin e Cícero Romão Forlin, e a todas as vítimas de minas terrestres em Angola.

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Sumário Apresentação Por que falar de Angola Minas terrestres: o que são e como funcionam Vivendo na zona de risco As vítimas mutiladas Miséria e precariedade agravadas pela superpopulação Crianças abandonadas O processo de desminagem Como ajudar Angola Agradecimentos Referências Bibliográficas Biografia

Pág. 11 Pág. 12 Pág. 14 Pág. 22 Pág. 54 Pág. 84 Pág. 120 Pág. 134 Pág. 150 Pág. 152 Pág. 154 Pág. 156 9


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Apresentação Minas terrestres e UXOs (engenhos explosivos não detonados) são as prin-

Logo após o acordo de paz, Angola lançou-se ao processo de assinar e ratificar

cipais máquinas de guerra que continuam a matar mesmo depois de conflitos ar-

a Convenção de Ottawa, que proíbe as minas terrestres antipessoal. O país é

mados. Os acidentes causados por estes artefatos resultam em amputações e até

signatário da Convenção desde Janeiro de 2003.

mesmo em mortes indiscriminadas, pois são acionados pela própria vítima. Além

Segundo os dados mais recentes do Landmine Monitor (ONG canadense

disso, eles se tornaram grandes obstáculos no desenvolvimento sócio-econômico

responsável pela supervisão do cumprimento da Convenção de Ottawa) e do

dos locais onde estão implantados, pois vetam o acesso a estas terras e as infra-es-

Electronic Mine Information Network, 75 países continuam minados. Ou seja,

truturas necessárias para agricultura, transporte, abastecimento de energia e água.

o problema persiste mesmo com a Campanha Internacional para Banir Minas

As pessoas que vivem próximas às áreas minadas procuram alternativas

Terrestres (ICBL) e com o Tratado para a Proibição de Minas – que completou

na aquisição de terras, emprego e método de deslocamento para poupar vidas,

uma década em 2007. Em Angola, o número de vítimas de minas era de aproxi-

membros do corpo e animais. A assistência para eliminar estes artefatos bélicos

madamente 300 por ano antes de os programas de desminagem se intensifi-

é vital para evitar desastres e preparar a terra para o desenvolvimento sócio-

carem. Entre 2006 e 2008, apesar de todo o trabalho desenvolvido, as Nações

econômico.

Unidas ainda registraram 106 mortes e 250 mutilados pelas minas. Já em 2009,

Depois do Afeganistão e Camboja, Angola é o país com mais minas terrestres espalhadas pelo seu território, resultado de quase quatro décadas de

segundo dados da Angola Press, (principal agência de notícias angolana) foram 54 acidentes que resultaram em 16 mortes e 38 mutilados.

guerra – 13 anos de guerra colonial (1961-1974) mais 27 anos de guerra civil

De acordo com dados da Comissão Nacional Intersectorial de Desmi-

(1975-2002) entre as forças da União Nacional para Independência Total de

nagem e Assistência Humanitária (CNIDAH), das mais de 80 mil vítimas de

Angola (Unita), do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e da

minas que a Angola tem, 40% são do sexo feminino, o que representa cerca de

Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

35 mil mulheres. Sendo assim, esta questão requer uma ação de maior impacto

O fim da guerra foi em 4 de abril 2002, mesma data em que agora se

em nível mundial entre estados, sociedade civil e organismos internacionais,

comemora o International Day for Mine Awareness and Assistance in Mine

caso contrário o país ainda vai ser atingido durante muito tempo pelas conse-

Action, mas as suas sementes continuam plantadas em grande parte do país.

quências trágicas destas armas bélicas.

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Por que falar de Angola A escolha do tema foi baseada primeiramente em meu interesse pela África e por causas humanitárias. Neste caso, mais do que defender uma causa, pretendo usar este livro como instrumento para diminuir a invisibilidade das mazelas sociais angolanas no panorama mundial. Todos estão cientes que minas terrestres são armas de destruição massiva em câmara lenta, mas poucos sabem que elas ainda estão presentes em dezenas de países, inclusive na América Latina, mutilando e matando pessoas todos os anos. A escolha do país, Angola, se deve a sua proximidade com o Brasil. Não a proximidade geográfica, mas por termos o mesmo colonizador e falarmos o mesmo idioma. Sem contar o fato de que a maioria dos escravos que vieram para o Brasil tinha origem angolana. É como se o país africano fosse um irmão de sangue precisando de ajuda. O que mais me mobilizou nesta questão é que, segundo a Unicef, um terço das vítimas de minas terrestres são crianças; e grande parte das vítimas adultas deixam crianças órfãs. Não há como não pensar no futuro delas e, consequentemente, no futuro da nação. Por isso, é de fundamental importância divulgar o máximo possível como vivem os angolanos e o que acontece em seu país. Sendo assim, o principal objetivo deste livro-reportagem fotográfico é utilizar o registro de imagens, como instrumenton de denúncia social, para instigar reflexões e provocar transformações na sociedade angolana e brasileira, estreitando as relações de cooperação e solidariedade entre os dois países. Sei que não se podem apagar do mapa todas as minas de uma hora para outra, mas a maior motivação para a produção deste trabalho é combater o estigma social que as minas terrestres e os danos causados por elas sujeitaram os cidadãos angolanos.

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As áreas em destaque representam os locais percorridos para a produção deste livro – Província do Bié e Província de Luanda.

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA O que são e como funcionam

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inas terrestres são artefatos projetados para explodir quando pressionados, acionados através de um arame esticado ou remotamente. Geralmente, esses engenhos são encontrados no solo ou enterrados entre cinco e dez centímetros da superfície.

Rafael Nakale, profissional de desminagem em Angola, explica que o objetivo dessas armas bélicas é incapacitar pes-

soas ou veículos que entrem em contato com elas durante uma explosão (ou com os fragmentos liberados em alta velocidade). “Elas servem para proteger as tropas e/ou determinados territórios durante um conflito armado, bem como impedir ou forçar o inimigo a passar por uma área em particular”, conta. Além de serem armas baratas e de simples fabricação, as minas terrestres podem ser facilmente espalhadas por amplas áreas. Nakale afirma que, embora haja colocadores mecânicos que podem abrir a terra, colocar as minas e cobri-las, em intervalos regulares, esses artefatos são, em geral, colocados manualmente no solo. “Na grande maioria das vezes elas são enterradas e dispostas em grupos, formando o que chamamos de campos minados”, explica. O desminador lembra que, apesar de existirem mais de 350 tipos desses artefatos, eles podem ser classificados em duas principais categorias: minas antipessoal (AP) e minas antitanque (AT). “Apesar de a função básica das AP e AT ser a mesma, existem diferenças-chave entre elas”, ressalta.

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Minas antipessoal Esses engenhos têm como finalidade específica repelir soldados a pé. Eles se dividem em três sub-grupos básicos:

A grande maioria das minas enterradas em Angola é de fabricação russa e chinesa.

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Blast: é o tipo mais comum de mina terrestre. A detonação desse tipo de AP acontece quando alguém pisa sobre ela, aplicando uma pressão de cerca de 5 a 16 kg. Essas minas se destinam a destruir objetos muito próximos, como a perna ou o pé de uma pessoa;

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Fragmentação: essas AP liberam fragmentos em todas as direções, mas podem ser configuradas para arremessar em uma só – são as minas de fragmentos direcionados. Elas podem ferir pessoas que estejam até 200 metros de distância e matar em alcances menores. Os fragmentos expelidos são de metal ou vidro e essas minas podem ser das que saltam ou das que explodem no solo;

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Bounding: essas minas são detonadas por pressão ou através de um arame esticado. Geralmente são enterradas com apenas uma pequena parte do ignitor para fora do solo. Quando ativado, ele libera uma carga propelente que arremessa a mina a cerca de 1 metro no ar. Ela então dispara a carga principal, ferindo a cabeça e o peito da pessoa.

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Minas antitanque Esse tipo de artefato pode ser feito de plástico ou de metal. As minas AT são muito maiores que as antipessoal e a quantidade de material explosivo que carregam é suficiente para destruir um tanque ou caminhão, bem como matar pessoas dentro ou próximas do veículo. A pressão necessária para detoná-las varia entre 200 e 400 kg, ou seja, são normalmente projetadas para não serem detonadas com uma pessoa pisando em cima. Outra característica é que a maioria das minas AT são encontradas apenas em estradas, pontes e grandes áreas livres por onde veículos grandes podem transitar.

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA Vivendo na zona de risco

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pouco mais de 700 km de Luanda encontra-se a agora pacata cidade do Kuito, capital da província do Bié e marco trigonométrico do centro de Angola. Outrora fora a cidade mais minada do mundo e consagrara-se como palco principal da sangrenta

guerra civil angolana. Hoje, sob um céu espraiado de um azul surreal, é apenas mais um município mártir, onde o povo pobre e arrasado ainda luta para (sobre)viver dia após dia.

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Apesar de não mais ostentar o título de maior área minada, Kuito continua ameaçada por essas armas bélicas. O centro já não oferece perigo, pois foi prioridade nas operações de desminagem, mas os arredores – inclusive um terreno ao lado do maior supermercado da cidade – ainda estão comprometidos.

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Na página anterior, a Prefeitura do Kuito é uma das únicas construções reformadas da cidade.


Por ter sido totalmente destruída durante a Guerra dos Nove Meses, em 1993, Kuito sofre até hoje com a falta de infra-estrutura básica que toda cidade precisa ter. Água encanada é quase impossível; poço de água em casa é artigo de luxo, bem como saneamento básico. Energia elétrica não é para todos, nem mesmo para as ruas da cidade, que permanecem em completa penumbra durante a noite, favorecendo qualquer tipo de ato mal-intencionado. Alguns cidadãos mais otimistas comentam que, passadas as obras em andamento na cidade, essa situação mudará. Oxalá.

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Escola do Projeto Tenho Fome, na comunidade do Kunje. O projeto é coordenado por brasileiros voluntários e atende cerca de 400 crianças angolanas.

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Percorrendo cerca de 15km por uma sinuosa estrada de chão, chega-se a Kunhinga, um vilarejo estabelecido sobre a antiga ferrovia de Benguela. Durante os anos 90, a cidadezinha foi arena de violentos combates entre a Unita (União Nacional para Independência Total de Angola) e o governo, que disputavam o controle do local para ter pleno acesso a capital Kuito. Até o ano de 2002, Kunhinga oferecia um enorme risco por conta das batalhas em curso e dos campos minados deixados pelo governo. Grande parte da população deixou o lugar por não haver mais possibilidades de trabalhar e sobreviver.

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As comunidades afetadas pelas minas pagam um preço alto com a perda de seus meios de subsistência, impedimento de acesso à agricultura e desestruturação econômica.

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Fotos do sofrimento e do martírio de um povo são mais do que lembranças de morte, de derrota, de vitimização. Elas evocam o milagre da sobrevivência.” Susan Sontag

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Alguns campos minados permanecem até hoje. Sobre um deles, o TB 529, estima-se que haja 42 famílias morando. O cálculo médio é de sete pessoas por família, ou seja, 294 angolanos vivendo em área de alto risco. Isso, em apenas um dos campos minados da pequena Kunhinga. Grande parte dos chefes de família afirma que não sabia do perigo da área quando se mudaram para lá. É assim que a grande maioria das tragédias com crianças ocorre, sobretudo em zonas agrícolas, como Kunhinga. As famílias estabelecem suas moradias, começam a fazer seu cultivo e acabam não tendo o cuidado necessário com os filhos. Em sua inocência e até pela falta de atividades, eles acabam brincando com qualquer coisa, inclusive os explosivos.

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As estacas de ponta vermelha sinalizam fronteiras entre รกreas limpas e minadas.

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Estes são os grupos que correm mais risco de sofrer os efeitos das minas: homens e crianças envolvidos em atividades de subsistência. Devido à necessidade econômica destas comunidades afetadas,


as pessoas não têm escolha senão entrar nas áreas mais perigosas. Em Angola, onde as mulheres têm um papel significante nas atividades de subsistência, elas também correm um alto risco.

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A estaca de ponta branca sinaliza uma mina antitanque que ainda n達o foi desativada.

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Poucas pessoas sabem que as minas terrestres geram até risco nutricional, já que a segurança alimentar de quem vive próximo a áreas minadas está em perigo. A maioria dos agricultores que tomam conhecimento da existência de minas em certa área, abandona a terra. Assim, os cultivos ficam sem colher e, como resultado, as fontes de alimentos são escassas. É por isso que se encontram tantas áreas desertas no território angolano, principalmente fora da capital. Outro problema são as estradas angolanas ainda fechadas por causa das minas, o que é um entrave para o transporte e, conseqüentemente, para o desenvolvimento das províncias fora da capital. Sem contar as ferrovias que foram completamente minadas durante a guerra e acabaram por ser destruídas posteriormente. Transportar qualquer coisa dentro do território angolano torna-se um desafio. Direta e indiretamente, os engenhos implantados prejudicam a vida de mais de 2 milhões de cidadãos todos os dias, aproximadamente 12% da população total do país.

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Pedras pintadas de vermelho também são sinalizadores das fronteiras entre áreas limpas e minadas.


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Em dias de chuva é quase impossível identificar a demarcação das áreas minadas.


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Angolanos reunidos em um “óbito”, como costumam chamar os funerais.

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Crianças circulam livremente e desacompanhadas próximo ao campo minado.


As fotos são meios de tornar “real” (ou mais “real”) assuntos que as pessoas socialmente privilegiadas, ou simplesmente em segurança, talvez preferissem ignorar.” Susan Sontag

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA As vítimas mutiladas O sofrimento causado pelas minas antipessoal é tão grande que as vítimas sempre se lembram do dia, mês, ano e, alguns, até da hora em que ocorreu o acidente. Os médicos cirurgiões de guerra consideram os ferimentos causados por essas armas os piores. Agostinho Calungo, Administrador do Centro Provincial de Reabilitação Física do Bié, explica que, quando alguém pisa em uma mina, a detonação quase sempre arranca uma das pernas ou ambas. “Além disso, durante a explosão, a mina lança fragmentos metálicos e plásticos do seu invólucro, bem como partes do calçado da vítima e estilhaços dos ossos em direção as partes inferiores do corpo”, complementa. Se explodirem quando manuseadas, as minas podem arrancar os dedos, as mãos, os braços ou partes do rosto da pessoa. Ainda, podem cegar as vítimas ou lhes causar surdez, ferimentos no abdômen, no peito e/ou na coluna. Calungo comenta que as vítimas que sobrevivem a uma explosão de mina antipessoal geralmente precisam ser amputadas, passar por múltiplas cirurgias e uma longa reabilitação física. A maioria dos sobreviventes fica com uma deficiência permanente, que acaba gerando sérias implicações sociais, psicológicas e econômicas. “Além do efeito direto sobre as pessoas mortas ou feridas, a família da vítima também sofre, sobretudo se dependem economicamente dela”, ressalta o médico.

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Em Angola, algumas instituições foram criadas para apoiar os mutilados. Os ex-combatentes, por exemplo, contam com a Associação Angolana dos Deficientes Ex-Militares, a AMMIGA. Ela é responsável por enquadrá-los na vida social e apoiá-los como puder nas necessidades mais urgentes. André Rodrigues, deficiente de guerra e Diretor da AMMIGA no pequeno município de Viana, conta que a instituição foi fundada em 1992 e já está presente em 18 províncias. “Já somos reconhecidos como uma organização de utilidade pública, pois conseguimos receber apoio financeiro do governo”, orgulha-se. Basicamente, o grupo depende do Ministério da Defesa, mas Rodrigues ressalta que doações de pessoas solidárias são sempre muito bem-vindas.

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Eu mesmo paguei minha prótese, custou 300 dólares americanos e veio da África do Sul. As que o governo fornece são de um material que me deu alergia... Nós mutilados somos rejeitados em todas as empresas em que vamos pedir emprego. Até curso de mecânica eu tenho, mas eles preferem contratar uma pessoa normal a um deficiente. O que vamos fazer? O que nos resta é sentar cada dia e dar um jeito de ir sobrevivendo. Pedro Abreu André Rodrigues, Diretor da AMMIGA.

Quando fui para o Hospital Militar na Iugoslávia havia cerca de 200 militares mutilados indo comigo. Demorou dois anos para que eu ganhasse a minha prótese, mas pelo menos o governo pagou. Não culpo minha deficiência por não encontrar trabalho, mas os índices de desemprego do país e a falta de oportunidade. Quando eu deveria estar estudando, eu estava na guerra. Meu tempo passou. Afonso Luis Pedro

Minha prótese foi paga pelo governo, mas já estou há dez anos com a mesma e ainda não pude trocar. Cheguei a trabalhar no Ministério da Indústria por três anos, até 1999. Hoje não procuro mais emprego porque não faz mais sentido. Além de só levar não, prefiro ficar em casa cuidando das crianças. Augustinho Félix

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Grande parte dos militares que acionavam uma mina durante o combate ficava sob os cuidados de seu próprio exército, recebendo o tratamento básico necessário para evitar a morte. Após alguns dias, parte deles eram transferidos para o Hospital Militar de Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina, onde recebiam um tratamento diferenciado e permaneciam por até seis meses para a plena reabilitação. Outros não saíam do país, mas também recebiam a assistência necessária no Hospital Militar de Luanda. O tratamento após o acidente durava, em média, três meses. Como os homens já não podiam mais servir ao exército, eram aposentados. Até hoje, a grande maioria permanece desempregada, fazendo bicos quando surge a oportunidade. Alguns recebem uma pensão mensal de ex-combatente que varia de 10.000 a 150.000 Kwanzas, dependendo da patente, o que equivale de 100 a 1.500 dólares americanos. É com esse dinheiro que os militares mutilados sustentam suas famílias, constituídas, em média, por sete pessoas. O problema da pensão é que, além do valor irrisório, ela ainda costuma atrasar em até seis meses, segundo os ex-combatentes. Grande parte deles só mantém a família unida porque as esposas e os filhos ajudam na renda, trabalhando frequentemente como vendedores ambulantes.

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Antônio Sabar foi atingido por estilhaços na cabeça, o que resultou problemas mentais e limitações na fala e na audição.

Perdi completamente o olfato, parte da audição e quase toda a visão. Não recebo pensão de ex-combatente porque o processo para consegui-la é muito burocrático. Vou levando cada dia como posso... Elias Bong

Até hoje tenho estilhaços dentro do corpo: na coluna, no peito e na cabeça. Eu estou sempre disposto a trabalhar, quero trabalhar; sempre faço alguns bicos. Mas quando chego para pedir emprego mesmo nunca consigo. Como ando mancando, de muletas, as pessoas acham que não vou trabalhar direito por causa disso. A vida está mal. João Chiou

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Alguns de nós tínhamos assistência na mata mesmo, com o bocado que tínhamos, era terrível. Até hoje tenho munição dentro de uma das pernas, pois o governo nunca arcou com os custos da operação. Teoricamente há regras que priorizam algumas vagas de emprego para mutilados e deficientes. Mas quando se chega às empresas eles dão alguma desculpa para não te aceitar. O que podemos fazer? Antonio Nassi

Eu era engenheiro e uma mina explodiu quando eu a manuseava. Nunca tive nenhuma assistência por parte do governo para cuidar da saúde. Tive que arcar com tudo sozinho. Por mais que haja o MINARS, os mutilados estão longe de ser inseridos na sociedade e no mercado de trabalho. Luis Eduardo

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Não tenho prótese porque na época do acidente o governo não financiou. Depois não fui atrás... Apesar de ter sido tenente, hoje não recebo pensão de ex-militar, nem trabalho. Além do problema do desemprego no país, com minha deficiência é quase impossível arrumar alguma coisa para fazer. Angueane Gam

Preciso de vários tratamentos, para a visão e para as pernas, mas o governo não arca com os custos. Mesmo estando assim tentei trabalhar. Até como pedreiro... Consegui alguns bicos, mas emprego mesmo é impossível. Klapare Caminada


O ex-militar Laurindo Calungo tambĂŠm jĂĄ sofreu muito preconceito da parte dos empresĂĄrios na hora de procurar emprego. Contudo, o deficiente procura superar as adversidades trabalhando como costureiro da comunidade junto com Anonio Nassi.

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Tito Rossi tem as duas pernas amputadas, mas trabalha como moto-taxista há três anos: “Demorou muito tempo para eu conseguir trabalhar de novo. Acidentei-me em 1984 e desde então fui sustentado pela minha família e pela mísera pensão de ex-combatente. Não uso prótese, pois prefiro andar de muletas...”

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Viana está a aproximadamente 30 km da capital Luanda. É lá que se encontra o Kapalanga III, uma espécie de condomínio onde vivem 38 deficientes visuais de guerra com suas famílias. O acesso ao local é extremamente difícil, com estradas de chão irregulares, esburacadas e sinuosas. Ir até lá com um carro popular é uma verdadeira aventura. Em dias de chuva ninguém sai e ninguém chega, pois apenas carros grandes e altos, com tração nas quatro rodas conseguem superar os obstáculos do caminho. Não há água corrente no local, muito menos energia elétrica. O acesso a comida e mantimentos é complicado, não apenas por causa do transporte, mas pela falta de recursos financeiros. As 38 famílias lutam como podem para sobreviver todos os dias. Os 38 chefes contam com apenas quatro acompanhantes que os guiam para fora da aldeia quando precisam sair. Apesar de receberem um pequeno apoio financeiro do governo, a vida desses ex-militares e suas famílias não é nada fácil. Não bastasse a pobreza, ainda enfrentam o preconceito e as limitações na hora de procurar emprego. Às vezes recebem visitas importantes, como a do presidente da Associação Nacional de Deficientes Angolanos (Anda), Silva Lopes Etiambulo, mas, segundo o coordenador e síndico do condomínio, Francisco Adão, as condições de vida não apresentam melhoras significativas após os encontros.

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Nossa deficiência física não interferiu nas nossas faculdades mentais. É isso que queremos mostrar para as pessoas e para as empresas. Alguns de nós trazem formação escolar muito boa, adquirida muito antes de ficarmos deficientes. Infelizmente os empregadores não valorizam. Francisco Adão, coordenador do condomínio, foi vítima de uma mina antipessoal reforçada com uma mina antitanque. O acidente resultou na perfuração das duas vistas e na amputação dos dois membros superiores.

O governo me assistiu até que todas as feridas cicatrizassem. Hoje me pagam 20.000 Kwanzas (cerca de 200 dólares americanos) a cada 2 ou 3 meses; e com isso tento sobreviver. Não conheço nenhum cego que trabalhe aqui em Angola; duvido que haja algum... Manuel Bernardo

Luis Mateus nunca mais conseguiu trabalho depois de ter ficado cego. Hoje recebe a pensão de ex-militar, equivalente a patente de capitão.

Os deficientes visuais não conseguem emprego nesse país, pois a reinserção social dos mutilados é quase nula. A grande maioria está como nós, sem eira nem beira. Adão Frango

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É possĂ­vel diferenciar as crianças que vivem no Kapalanga III pela vestimenta (no caso, pela falta dela). Os vizinhos andam de roupas, enquanto os filhos dos deficientes passam dia e noite descobertos.

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O governo fornece gratuitamente serviços de saúde especializados para as vítimas de minas terrestres. Alguns desses benefícios são encontrados no Centro Provincial de Reabilitação Física do Bié, no Kuito. Fundado em 1982 pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, o centro foi gerido por ele até 2004. No ano de 2005, o comando passou a ser do governo de Angola, encabeçado pela Direção Provincial de Saúde do Bié.

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O centro conta com um laboratório de biomecânica, onde realizam o principal serviço oferecido: a ortoprotesia. Isso inclui a confecção de muletas, cadeiras de roda, próteses (aparelhos que substituem um membro) e orteses (equipamentos que corrigem e auxiliam a recuperar funções musculares). No laboratório trabalham quatro técnicos superiores especializados em reabilitação, um técnico médio e um técnico básico. O centro ainda conta com nove enfermeiros de nível médio e sete de nível básico, bem como 28 funcionários administrativos.

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As próteses de polipropileno podem variar de 4 a 5,5kg, dependendo do tamanho. As que são confeccionadas com outros tipos de material (como fibra de carbono, fibra de vidro, titânio ou alumínio) são mais leves e confortáveis, porém o custo é muito mais alto. Por enquanto, o centro não tem recursos para fabricar essas próteses mais modernas.

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Apesar de o governo angolano proporcionar esses serviços, nem todas as vítimas de minas têm acesso aos centros de saúde. Uma vez que muitos dos mutilados do durante e pós-guerra são camponeses que vivem no interior das províncias, não têm conhecimento de seus direitos. Agostinho Calungo justifica que a maior parte dos pacientes que se encontram nos centros é de ex-militares porque eles são privilegiados. Como sempre tiveram uma unidade que os controlassem, eles eram encaminhados automaticamente para os hospitais quando sofriam o acidente; e logo após para o centro de reabilitação. “Os camponeses, mulheres e crianças nunca tiveram a quem recorrer. Quando acionam uma mina recebem o socorro para evitar a morte, mas depois dificilmente continuam com o processo de reabilitação e colocação da prótese. O acesso aos centros do governo é para todos, mas a informação é que não chega para todo mundo”, destaca. Outro problema é que alguns dos que sabem de seus direitos e dos serviços gratuitos oferecidos pelos centros, frequentemente não têm como arcar com os custos do transporte até o local. Sem contar que muitos não podem deixar o lar para passar alguns dias na cidade. “Uma série de vítimas não desfruta dos benefícios de usar uma prótese, por exemplo. E muitos dos que as utilizam, passam anos sem voltar ao centro e sem fazer o acompanhamento médico correto. Isso pode resultar em inflamações, infecções e outras complicações que, se não tratadas corretamente, podem até resultar em morte”, enfatiza Calungo.

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O centro oferece fisioterapia para vĂĄrios tipos de problemas, principalmente para lesĂľes nos pĂŠs, pernas e coluna.

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Os ferimentos causados pelas minas demoram de um mês a um mês e meio para cicatrizar. Após esse tempo, é colocada uma prótese pós-operatória no paciente. Depois disso o amputado utiliza um socker, para acostumar a sentir o remanente do membro dentro de alguma coisa. Isso facilita a adaptação quando for implantada a prótese definitiva.

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Depois do processo de adaptação coloca-se a prótese definitiva. É preciso controlar a marcha, identificar se há irritação ou inflamação na pele e ver se a pessoa se acostumou a andar. Entre sete e 15 dias após a colocação da prótese, o amputado já pode deixar o centro.

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA Miséria e precariedade agravadas pela superpopulação

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medo das minas terrestres em áreas rurais e em províncias fora da capital obriga angolanos a mudarem de cidade. Alguns se deslocam para municípios próximos, mas a maior parte vai para a populosa Luanda em busca de uma vida mais digna. Na capital,

onde vivem aproximadamente 6 milhões de habitantes, os cidadãos vindos do interior são vistos mais como uma carga do que como uma força de trabalho. Assim, o acesso à moradia, escola, emprego, serviços de saúde e infraestrutura básica tornam-se um verdadeiro desafio. Para muitas vítimas mutiladas de minas, a perda de um braço, de uma parte da perna ou mesmo da visão não é o pior. O que mais os faz sofrer é a perda de seu lugar na família e na sociedade, pois em Luanda tornam-se apenas mais um em meio a pobre multidão.

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Bairro pr贸ximo ao Porto de Luanda.

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Mostrar um inferno não significa, está claro, dizer-nos algo sobre como retirar as pessoas do inferno. Contudo, parece constituir um bem em si mesmo reconhecer, ampliar a consciência de quanto sofrimento causado pela crueldade humana existe no mundo que partilhamos com os outros.” Susan Sontag

Mais de 60% da população de Luanda não tem acesso a água potável. Apenas 20% dos habitantes da capital são providos de saneamento básico. Menos de 30% da população de Angola tem acesso à eletricidade.

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Luanda é muito mais caótica do que se pode imaginar. Há quem pense que, por ser uma das principais exportadoras de petróleo da África, Angola oferece boas condições de vida para o povo, especialmente na capital. Enorme engano, que pode ser constatado logo na chegada ao aeroporto e comprovado com uma visita a lugares como a Praça do Catinton e a Praia da Mabunda, no Bairro Camuxiba. O Catinton é um dos lugares mais impressionantes que alguém pode conhecer. A desordenada Medina de Fes, no Marrocos, é um exemplo de organização quando comparada a ele. A “feira” (se é que pode ser chamado assim) é um aglomerado de gente, barracas e guarda-sóis, onde se encontra de tudo, se vende de tudo e se vê tudo. Tudo mesmo. O odor do lugar é simplesmente indescritível. Tem cheiro de tudo e não tem cheiro de nada. Talvez o olor mais próximo disso seja o de um aterro sanitário. O que mais choca no Catinton é o “açougue”. Uma barraca de madeira e lona, com a carne exposta em cima de alguns tablados. Há vários tipos: frango, carneiro, vaca, boi... E mosca! Muitas, mas muitas moscas. As carnes não são cobertas por plásticos ou qualquer outra proteção, mas o que impressiona não é isso. O espantoso é ver os vendedores matando e tirando a pele dos bichos. Ali, na frente de todo mundo. Há vários bezerros presos na barraca e uma infinidade de galinhas. As pessoas chegam e fazem o pedido, se o que quiserem já não estiver pronto ali em cima da bancada. Os funcionários matam e cortam os animais com um machado. Com a mesma ferramenta ainda tiram os ossos e a pele. Esses “restos” ficam por ali mesmo e assim ocorre com o frango e outros animais. Todo o procedimento acontece sob um sol escaldante e no chão. Chão mesmo, batido de areia e lixo, muito lixo. Não é à toa que os angolanos vivem doentes e têm uma expectativa de vida média de 45 anos... Na foto ao lado, a entrada do Catinton.

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As mulheres que trabalham na feira sĂŁo obrigadas a levar os filhos pequenos junto.

O açougue do Catinton.

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Outro lugar impressionante de Luanda é a Praia da Mabunda, onde há uma feira que vende principalmente peixes. É pequena, bem menos caótica que o Catinton, mas igualmente espantosa. As barracas estão estabelecidas em cima de um lixão, e o que divide os dois lados da feira é um imenso esgoto. O cheiro de peixe misturado ao do lixo, do esgoto e da maresia chega a ser pior que o odor do Catinton. Um detalhe que chama atenção é que as pequenas tendas ficam na beira do mar; de vez em quando vem uma onda mais forte que molha todas as mercadorias. E elas continuam à venda, claro. A maioria esmagadora do povo angolano compra em lugares como o Catinton e a Praia da Mabunda. Dentre os mercados populares desse tipo, o maior, mais famoso e ainda mais caótico do país é o Roque Santeiro, também situado em Luanda. Apesar de o nome fazer alusão à novela brasileira (que também foi transmitida em Angola), alguns angolanos afirmam que Dias Gomes é que se inspirou na feira para intitular sua obra. Contudo, não há provas concretas de que o mercado já era chamado assim antes de a novela ser exibida no país. Graças a esses locais é que o povo ainda consegue sobreviver, já que nos supermercados um pé de alface não sai por menos de 6 dólares americanos, um quilo de carne por 30 dólares e um pão fatiado por 5 dólares. Há mercados onde três fatias de presunto são vendidas a 15 dólares. Não é à toa que, em 2009, Luanda foi considerada, pelo segundo ano consecutivo, como a cidade mais cara do mundo. De acordo com a pesquisa Cost of Living Survey (Pesquisa de Custo de Vida), realizada pela empresa de recursos humanos ECA International, se gasta mais para viver em Luanda do que em Tóquio (Japão) e Oslo (Noruega) – capitais que ficaram em 2º e 3º lugar no ranking, respectivamente.

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Enquanto as mães trabalham, os filhos dormem em meio as mercadorias.

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Na página ao lado: crianças também trabalham como vendedoras para ajudar a sustentar a família.



No Catinton é comum ver crianças pequenas, algumas ainda bebês, brincando sozinhas, sem nenhum responsável ao lado.

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Vendedores ambulantes tomam conta das ruas da capital. Ao fundo, é possível ver parte de Luanda Sul, bairro nobre da cidade que ostenta luxuosos condomínios.


Um dos restaurantes no centro da capital.

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Filas enormes se formam nos postos de gasolina em Angola. Apesar de ser um dos maiores exportadores de petróleo da África, o país não conta com uma boa infraestrutura para atender a demanda de seu próprio povo.


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Escolinha Pequena Chama Localizada na costa sul de Luanda, com aproximadamente 30km de comprimento, está a bela Ilha do Mussulo. Apesar da paisagem paradisíaca, a vida dos 6 mil habitantes do local não é nada fácil. A maior parte deles são refugiados da guerra que vieram para a ilha em 1990. São angolanos que não têm esperanças nem motivos para retornar aos seus lugares de origem. As famílias vivem ali numa situação de extrema pobreza, enfrentando a desnutrição dos filhos, a malária e a diarréia e, consequentemente, a alta taxa de mortalidade infantil. Apesar de haver hotéis e pousadas de luxo na entrada da ilha, os habitantes do local não contam com energia elétrica ou distribuição de água potável. Saneamento básico e assistência médica são ainda sonhos distantes. Foi nesse contexto desesperador que, em 2005, nasceu o projeto “Escolinha Pequena Chama”, fundada por integrantes do Movimento dos Focolares (movimento italiano de inspiração cristã e caráter ecumênico). A escola serve à comunidade e ameniza a difícil situação das crianças nativas do Mussulo. O projeto proporciona estudos, atividades de recreação, atendimento médico semanal e uma refeição - que, para muitas crianças, acaba sendo a única refeição do dia. Os pequenos chegam de manhã na escolinha e lá permanecem até o início da tarde. Os funcionários da escola não vivem na ilha. Eles precisam fazer um trajeto de barco todos os dias, mesmo os voluntários. São pessoas que, literalmente, pagam para trabalhar, mas que cumprem seu dever com todo amor e carinho. A equipe conta com três professoras, um zelador e uma merendeira. Felizmente, desde 2009 alguns voluntários passaram a frequentar o local e a colaborar com os mais diversos serviços: nutrição, artes plásticas, pedagogia, recreação e atendimento médico. Ainda é pouco para as mais de 80 crianças matriculadas, mas é um passo em direção a uma vida melhor.

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A exibição, em fotos, de crueldades infligidas a pessoas de pele mais escura, em países exóticos, continua a promover o mesmo espetáculo, esquecida das ponderações que impedem essa exposição quando se trata de nossas próprias vítimas da violência; pois o outro, mesmo quando não se trata de um inimigo, só é visto como alguém para ser visto, e não como alguém (como nós) que também vê.” Susan Sontag

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Podemos nos sentir obrigados a olhar fotos que recordam graves crimes e crueldades. Deveríamos nos sentir obrigados a refletir sobre o que significa tais fotos, sobre a capacidade de assimilar efetivamente aquilo que elas mostram.” Susan Sontag

O momento preferido de todas as crianças é a hora do almoço. Todos se preparam rapidamente; os mais velhos ajudam os menores a lavar e secar as mãos.

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Na hora de ir embora, não há pais ou irmãos esperando na porta. As crianças ficam responsáveis umas pelas outras; as maiores levam os mais novos até suas casas.

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA Crianças abandonadas

A

questão das minas terrestres e engenhos não detonados é muito mais abrangente do que se pode imaginar. Como vimos ao longo dos capítulos, as consequências são várias e dos mais diversos graus. Outro problema grave relacionado a essas armas é que elas interferem diretamente no futuro das crianças que

têm os pais mortos ou feridos. A ausência de cuidados médicos e a difícil capacidade de reabilitação das vítimas fazem, muitas vezes, com que os pais abandonem seus filhos. Assim, o crescimento das crianças sem acompanhamento materno ou paterno resulta em nutrição e imunização inadequadas, falta de proteção contra a exploração e o abuso, e também abandono escolar precoce, pois as crianças são obrigadas a trabalhar para reforçar o orçamento familiar. Alguns órfãos ou menores abandonados acabam sendo acolhidos por instituições que lhes proporcionam uma vida mais digna. Viver em orfanatos não se compara a convivência familiar, é claro. Mas em Angola, pode-se afirmar que ser interno de uma associação é sinônimo de sorte. Ao menos, o fungi de cada dia, um teto para passar a noite e a educação básica estão garantidos.

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Associação de Apoio a Criança Abandonada A Associação de Apoio a Criança Abandonada (AACA) foi estabelecida no ano de 1992. Segundo a fundadora e atual diretora, Rosária Pacavira, essa foi a época em que a Guerra Civil angolana invadiu realmente as cidades. Ela conta que as pessoas das províncias mais afetadas (Huambo, Bié, Muxico...) começaram a fugir para Luanda pelos aviões do Programa Alimentar Mundial (PAM); e nesses vôos vinham centenas de crianças que, quando chegavam à capital, ficavam nas ruas. A AACA foi inspirada na iniciativa do Padre Horácio, a primeira pessoa a trabalhar com crianças de rua refugiadas de guerra. Ele recolheu cerca de 400 crianças e deu a assistência que pôde, contando com a ajuda de alguns voluntários. “Eles se revezavam e faziam as principais refeições do dia para levar ao abrigo do Padre Horácio. O único problema, era que ele só recolhia meninos”, lembra Rosária. Assim, em 31 de julho de 1994, Dia da Mulher Africana, a AACA foi oficialmente inaugurada. O espaço da sede, em Luanda, foi negociado com militares. A instituição começou com 18 meninas e tem hoje aproximadamente 80 beneficiadas. A AACA aceita crianças a partir dos 6 anos, que podem permanecer na casa até os 18. As garotas têm aulas de culinária e corte e costura dentro da instituição. A associação é apoiada pelo governo, que dá ensino às internas e paga alguns professores da casa. Porém, a AACA funciona basicamente através da doação de pessoas solidárias.

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Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen O Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen (CACAJ), pertencente à Igreja Católica (porém não financiado por ela), foi fundado em 1993 pelos Irmãos da Congregação dos Missionários do Reino de Deus e pelas Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo. A atual estrutura existe desde 1998 e foi construída pela petroleira britânica British Petroleum. A multinacional também paga o salário dos trabalhadores e a alimentação das crianças. Atualmente, o CACAJ abriga 135 meninos abandonados, de 6 a 18 anos. Eles frequentam a escola normal e dentro da instituição têm aulas de reforço acadêmico, atividades desportivas e oficinas de arte. As crianças são divididas em grupos e cada um tem seu educador para as atividades especiais. O centro conta com um posto médico para emergências e cuidados primários; no ano passado, foi beneficiado com recursos do Programa Fome Zero, do Brasil.

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MINAS TERRESTRES EM ANGOLA O processo de desminagem

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s minas terrestres podem permanecer ativas por mais de cinco décadas depois de serem implantadas. Por isso, o esforço mundial de livrar o mundo dessas armas bélicas tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Uma das instituições que faz o trabalho de desminagem

em Angola é a ONG inglesa Halo Trust. A “Halo”, como é popularmente conhecida, foi fundada em 1988, no Afeganistão, e hoje está presente em dez países, empregando cerca de 7 mil funcionários. As atividades da organização chegaram a Angola em 1994, quando Kuito (capital do Bié) estava cercada pela Unita. Michael Nevard, Diretor Provincial da Halo Trust no Bié, lembra que o município continha minas terrestres por toda parte, principalmente no centro. “Nessa época, Kuito consagrou-se como a cidade mais minada do mundo; morreram aproximadamente 30 mil pessoas”, conta. Atualmente, 852 profissionais trabalham em cinco províncias angolanas, no centro e no sul do país: Benguela, Bié, Cuando Cubango, Huambo e Huíla.

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Cada vez que as equipes de desminagem v찾o aos campos, uma ambul창ncia os acompanha para casos de acidente.

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Nevard explica que a primeira coisa a ser feita no processo de desminagem é localizar as minas que ainda estão enterradas. Contudo, ele afirma que é extremamente difícil encontrá-las, já que muitos campos minados não estão demarcados. “Os soldados cubanos até que eram organizados, tinham um padrão de formação de campos minados. Já as tropas angolanas simplesmente se deslocavam e deixavam minas enterradas por todo lugar que passavam”, descreve. Sendo assim, a localização desses artefatos é esquecida mesmo por aqueles que os colocaram. Por esses motivos, o trabalho dos homens na detecção e desativação de minas terrestres é lento e metódico. Devido ao perigo envolvido, cada etapa é desenvolvida com extremo cuidado. Segundo Nevard, depois de encontrar uma mina, o trabalho de retirada pode demorar de dois a 20 minutos, dependendo das condições do solo e do tipo de artefato. Ele ressalta que, para ingressar no trabalho de desminagem, os profissionais recebem um curso de pelo menos um mês, geralmente ministrados pelos supervisores que futuramente os chefiarão em campo. Enquanto a tecnologia de localização de minas está sendo aperfeiçoada, ainda se confia nos métodos convencionais. A Halo Trust utiliza principalmente os detectores de metais para fazer o trabalho; eles são os instrumentos mais usados na atualidade. Contudo, Michael Nevard explica que os detectores são limitados na sua capacidade de encontrar minas, pois muitas delas são de plástico, contendo pouquíssimo metal. “Além do mais, os detectores são frequentemente ‘enganados’, pois em solos minados encontram-se também outros resquícios de artefatos bélicos, que geralmente são apenas pedaços de metal enterrados no solo”, acrescenta.

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Na província do Bié encontram-se 180 funcionários da Halo. São 11 equipes de oito homens cada para trabalhar diretamente nos campos minados. O restante são funcionários administrativos, motoristas, coordenadores de operação e especialistas em desminagem que dão treinamentos.

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Ainda restam 230 campos minados para serem limpos na provĂ­ncia do BiĂŠ. Estima-se que esse trabalho levarĂĄ de 10 a 15 anos para ser finalizado.


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Outra possibilidade é a desminagem mecanizada, realizada com veículos blindados que contêm ferramentas especiais. A operação se dá removendo e destruindo as minas ao passar com os veículos por cima dos campos minados. “Essa técnica é mais rápida, porém é possível apenas em solos arenosos e de baixa vegetação, como no Afeganistão. O solo angolano é muito pesado... Além disso, o transporte dos veículos especiais é difícil por aqui, e a manutenção é caríssima. Infelizmente, em Angola não há condições de utilizar este método com mais frequência, como gostaríamos”, lamenta Nevard. Veja as estatísticas da Halo Trust de 1994 a fevereiro de 2010 Minas antipessoal destruídas

Angola 53.714

Bié 5.556

Minas antitanque destruídas

12.141

1.319

UXOs destruídos

73.661

9.333

Munição extraviada ou abandonada destruída

77.504

32.308

292.790

175.273

Área minada limpa (hectares)

1.249

336

Estradas completamente livres de ameaças (km)

4.958

1.353

414.814

59.993

545

206

Munição de pequenas armas destruída

Pessoas que receberam educação sobre os riscos das minas Campos minados limpos

As minas terrestres são implantadas a um ritmo 25 vezes mais rápido do que são removidas. As novas tecnologias que estão surgindo tornarão mais fácil a localização delas, porém, não poderão evitar que sejam colocadas. Somente quando todas as nações deixarem de utilizar minas terrestres é que esses artefatos não representarão mais perigo para os cidadãos, sejam eles soldados ou civis.

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Nem mesmo a coordenadoria da base de dados da CNIDAH (Comissão Nacional Intersectorial de Desminagem e Assistência Humanitária) sabe o número exato de minas terrestres que foram enterradas em Angola. Contudo, as estimativas apontam para um mínimo de 1 e um máximo de 15 milhões desses artefatos.

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O tratado de banimento de minas terrestres No início da década de 90, algumas organizações não-governamentais, juntamente com as Nações Unidas e vários Estados, uniram forças em uma grande campanha para chamar a atenção do mundo para o sofrimento causado pelas minas antipessoal. Esse empenho resultou, em 1996, no lançamento de negociações internacionais para banir essas armas. Já em 3 de dezembro de 1997, em Ottawa (Canadá), 121 Estados assinaram a Convenção para a Proibição de Minas Antipessoal. Quinze meses depois de o texto ser adotado, em 1º de março de 1999, o tratado entrou em vigor – após a quadragésima ratificação. O Tratado de Banimento de Minas Terrestres, cujo título oficial é Convenção sobre a Proibição do Uso, Estocagem, Produção e Transporte de Minas Antipessoal e sua Destruição, bane exaustivamente todas as minas antipessoal. Também requer a destruição das minas armazenadas em até quatro anos e a das minas plantadas no solo em até dez anos. Além disso, propõe a aceleração de programas extensivos de assistência às vítimas. De acordo com dados do ICBL –International Campaign to Ban Landmines, 80% cento dos países do mundo (156 Estados) já são signatários do Tratado de Banimento das Minas Terrestres. Polônia e Ilhas Marshall assinaram, mas ainda não ratificaram. Veja no mapa os países que não são signatários do Tratado de Banimento de Minas Terrestres:

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Como ajudar Angola Três meses antes de minha viagem a Angola, vários projetos para aproximar os cidadãos dos dois países foram postos em prática. Eles nasceram a partir do meu contato com ONGs brasileiras e angolanas dispostas a melhorar a vida das pessoas que vivem na miséria, em especial as crianças. Durante a viagem foi fundado o Online Team Collaboration – Angola, que rendeu grandes resultados no sentido de parcerias, doações, voluntariados e prestação de serviços entre brasileiros e angolanos. Diante dos dados recolhidos e de todos os registros fotográficos realizados para a execução do livro-reportagem, o Plano Bié Desenvolvimento foi outra iniciativa que cresceu e expandiu sua rede de contatos e parcerias com o Brasil e até mesmo dentro de Angola, onde é muito difícil estabelecer vínculos de apoio e solidariedade. Segue abaixo uma lista de ONGs e instituições que de alguma maneira estão presentes nesse livro. São associações sérias, responsáveis e comprometidas que esperam ansiosamente pela colaboração de pessoas solidárias. Dinheiro nem sempre é tudo; muitas das organizações precisam apenas de pessoas de boa-vontade que possam auxiliar à sua maneira, mesmo que de longe. Fazer com que as pessoas mundo afora saibam da existência dessas ligas de cooperação já é uma grande ajuda.

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Escolinha Pequena Chama Associação Angolana dos Deficientes Ex-Militares

http://pequenachama.pbworks.com/

ammiga92@gmail.com Fundação Imaculada Mãe de Deus Associação de Apoio a Criança Abandonada

http://www.franciscanos.org.br/v3/missoes/angola/01.php

http://aacaluanda.pbworks.com/ Liga de Apoio ao Desenvolvimento Social Associação dos Escoteiros de Angola - Junta Regional do Bié

http://www.ladsangola.com/

http://escuteiros.pbworks.com/ Online Team Collaboration – Angola Associação para o Desenvolvimento e Apoio ao Campo

http://otca.pbworks.com/

http://adac.pbworks.com/ Os Meninos Pintores de Angola Cáritas do Bié

http://www.osmeninospintoresdeangola.com/

http://caritas.pbworks.com/ Plano Bié Desenvolvimento Cáritas da Madalena

http://www.biedesenvolvimento.org/

http://caritasdamadalena.pbworks.com/ Projeto Tenho Fome – Angola Centro de Acolhimento de Crianças Arnaldo Janssen

http://tenhofomeangola.blogspot.com/

http://arnaldojanssen.pbworks.com/ Promaica Centro Provincial de Reabilitação Física do Bié

http://promaica.pbworks.com/

agostinhocalu@gmail.com agostinhocalu@hotmail.com

The Halo Trust http://www.halotrust.org/

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Agradecimentos A execução deste trabalho nunca teria sido possível sem a colaboração das pessoas a seguir. Para começar, meu muito obrigada ao diretor executivo da Liga de Apoio ao Desenvolvimento Social (LADS Angola), José Domingos e ao brasileiro co-fundador do Plano Bié Desenvolvimento, Celso Salles. Ambos fizeram possível minha ida a Angola através da carta-convite para retirada do visto e me proporcionaram contatos fundamentais no país. José ainda me auxiliou em Luanda na visita de várias comunidades locais. Pela hospitalidade, agradeço a família Araújo, em especial Eliane, que me recebeu com todo carinho, abriu as portas de sua casa e me proporcionou uma estada maravilhosa na cidade. Nunca poderei agradecer tudo o que fizeram por mim enquanto estive em Angola. Obrigada também ao Sr. Ivan Gradin pela atenção, preocupação e apoio na chegada em Luanda; quando conheço pessoas assim é que me dou conta da sorte que tenho. Um enorme obrigada aos senhores André dos Santos e Pedro Abreu, da AMMIGA (Associação Angolana dos Deficientes Ex-Militares), pela atenção e colaboração na produção das entrevistas e fotografias em Luanda. Este agradecimento se estende ao Diretor Provincial de Saúde do Bié, Sr. José Augusto Gonçalves, que autorizou a execução do meu trabalho dentro do Centro Provincial de Reabilitação Física. Obrigada também aos senhores Agostinho Dovala Calungo e Wandalica Na Cozinha, administrador e diretor do referido centro, respectivamente. Agradeço ainda Christian Richmond, Rory Forbes e Marie Demulier, da Halo Trust, que gentilmente me ofereceram a oportunidade de conhecer o trabalho da ONG. Um obrigada especial a Michael Nevard, que me recebeu no headquarter da Halo Trust no Kuito, pacientemente me explicou tudo sobre minas terrestres e atenciosamente me mostrou o trabalho da instituição nos campos minados de Kunhinga, sob a supervisão de Tito Pessela.

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Pela hospitalidade e atenção agradeço também Ernestina Raposo, fundadora e diretora da ONG ADEMUR (Apoio ao Desenvolvimento da Mulher Rural) que me recebeu no Kuito como se fosse alguém da família. Palavras nunca serão suficientes para expressar minha gratidão a essa excelente pessoa e àquelas que lhe cercam e que me trataram como irmã. Meus agradecimentos se estendem também a todos que indiretamente contribuíram para que minha viagem a Angola e a execução do meu trabalho fossem bem sucedidas: obrigada aos jornalistas Rogério Christofoletti, Mônica Delicato, Messias Constantino, Luísa Rogério, Ricardo Soares e Maurício Silva; aos brasileiros que bem conhecem Angola: André Stolze, Gilson Moura, Tânia Jandira e Camila Hatz; aos angolanos Mário Augusto e Olívia Augusto e, finalmente, a espanhola Ana Catarina Costa. Todos os citados me repassaram dicas e contatos valiosíssimos para que minha viagem fosse produtiva, tranquila e segura. Por último, porém não menos importante, pelo contrário, agradeço a duas pessoas muito especiais. Obrigada ao meu orientador Prof. MSc. Robson Souza pela dedicação, paciência, assistência e amizade. Também, toda minha gratidão a minha tia/madrinha/pai/mãe, Cecília Azevedo, que sempre apoiou minhas idéias e projetos, por mais desafiadores e aventureiros que fossem. O incentivo que sempre me deu não tem preço.

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Referências Bibliográficas SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Mapa da página 13: http://www.africa-turismo.com/mapas/angola.htm Mapa das páginas 148 e 149: http://www.astronomiaamadora.net/images/wallpapers/solar_system/planetas_interiores/terra_mapa-mundi.jpg Arte de Joel Minusculi.

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Se o objetivo é ter um espaço para viver a própria vida, então é desejável que o registro de injustiças específicas se dilua em uma compreensão mais geral de que os seres humanos de toda parte cometem coisas terríveis uns contra os outros.” Susan Sontag

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Biografia Gabriela Azevedo Forlin nasceu em 03/06/1988 na cidade de Joaçaba, meio-oeste de Santa Catarina. Em 2010, formou-se em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí, tendo feito um ano de extensão universitária na Universidade de Sevilha, na Espanha. Desde muito nova foi incentivada pela tia que a criou, Cecília, a viajar, estudar novos idiomas e conhecer novas culturas. Aos 16 anos passou oito meses na Nova Zelândia estudando inglês e japonês. Aos 17 começou a dar aulas de reforço de inglês no Colégio Sagrada Família, em Blumenau (SC), onde estudou durante oito anos. Na universidade, sempre participou de atividades extracurriculares. Durante quatro anos trabalhou no grupo de pesquisa Monitor de Mídia e por um ano e meio foi estagiária na TV Univali. Enquanto fazia intercâmbio na Espanha, trabalhou na revista europeia Café Babel e estudou espanhol e italiano. O interesse pela África é antigo; surgiu ainda na educação primária, quando descobriu que havia outros países colonizados por portugueses e que, assim como os brasileiros, falavam a poética Língua Portuguesa. O gosto pelas causas sociais e pelo trabalho voluntário a levaram a utilizar o Jornalismo como ferramenta de transformação social, pois sempre acreditou na força do Quarto Poder. Aos 22 anos, conhece mais de 100 cidades em 17 países diferentes. Já foi premiada por reportagens, documentários e fotografias, em especial os que abordam temáticas sócio-ambientais, culturais, político-sociais e esportivas. Como jornalista, pretende explorar todo o globo para mostrar o que existe mundo afora, principalmente as mazelas sociais que, vergonhosamente, ainda afetam a humanidade.

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Depois do Afeganistão e Camboja, Angola é o país com mais minas terrestres espalhadas pelo seu território, resultado de quase quatro décadas de guerra. Foram 13 anos de guerra colonial (1961-1974) e aproximadamente 27 anos de guerra civil (1975-2002) entre as forças da União Nacional para Independência Total de Angola (Unita), do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Não se sabe o número exato de minas terrestres enterradas no país, mas as estimativas mais otimistas apontam para um mínimo de 1 milhão desses artefatos, que são as principais máquinas de guerra que continuam a matar mesmo depois de conflitos armados. Os acidentes causados pelas minas terrestres resultam em amputações e até mesmo em mortes indiscriminadas. Além disso, eles se tornaram grandes obstáculos no desenvolvimento sócio-econômico dos locais onde estão implantados, pois vetam o acesso a estas terras e as infra-estruturas necessárias para agricultura, transporte, abastecimento de energia e água. “Minas Terrestres em Angola: retratos de um drama cotidiano” mostra em 164 fotografias, coloridas e P&B, como vivem as vítimas diretas e indiretas dessas armas bélicas. As imagens marcantes e dramáticas retratam sem censura a realidade cruel de um povo arrasado pela guerra e que luta para sobreviver dia após dia. A obra traz ainda informações fundamentais para entender como funcionam as minas terrestres e o processo de desminagem e que consequências a implantação desses artefatos acarreta. Também, esclarece como proceder para ajudar essa sociedade tão necessitada.

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