Mulheres Artistas e Arte-Educação Material de apoio ao mediador de educação não formal
SOBRE A AUTORA
GABRIELA MOREIRA MIRANDA Sou natural de São Paulo – SP, estou concluindo a graduação em Artes Visuais pela UNESP de Bauru, cidade do interior de São Paulo, onde pude trabalhar como estagiária no programa de educação não-formal Curumim do Sesc Bauru, no qual encontrei um meio de aliar a arte com a educação de uma maneira que me motivasse e acreditasse. Convido a todos a conhecer o MAAE – Mulheres artistas e Arte-educação, para caminharmos em direção a uma sociedade cada vez mais livres de amarras advindas de preconceitos.
Mulheres Artistas e Arte-Educação Material de apoio ao mediador de educação não formal
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO YAYOI KUSAMA AGORA É A SUA VEZ JANAINA TSCHAPE AGORA É A SUA VEZ FRIDA KAHLO AGORA É A SUA VEZ
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AGRADECIMENTOS
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BIBLIOGRAFIA
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APRESENTAÇÃO Uma das maiores dificuldades que tem de ser apontadas durante o processo de criação de ações artísticas, lúdicas e educativas destinadas a crianças, é aliar o conhecimento artístico de forma profunda, porém condensada, utilizando artistas cuja obra seja interessante e cativante, e que então, haja prazer ao transmitir esse conhecimento. Afim de auxiliar o trabalho do mediador em Artes Visuais inserido em programas de educação não-formal, este material didático disponibiliza um conteúdo de qualidade e com aspecto crítico-social. A escolha de utilizar apenas obras de mulheres artistas como base para as ações artísticas não é fato meramente casual, e sim escolha lúcida, causada pela invisibilidade da obra de mulheres artistas no ensino de arte. Como forma de viabilização de soluções lúdicas, afim de sanar esta lacuna da falta de representatividade, é possível encontrar nas páginas deste livro, ações envolvendo a obra de Frida Kahlo, Janaína Tschape e Yayoi Kusama, assim como um breve panorama sobre suas histórias de vida. Este material didático utiliza das experiências obtidas no Programa Curumim do Sesc Bauru - SP, como meio de exemplificar suas ações artísticas.
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YAYOI KUSAMA
Yayoi Kusama nasceu numa pacata cidade há pouco mais de 200 km de Tóquio chamada Matsumoto, província de Nagano, no Japão. Criada por uma família burguesa, tradicional e conservadora, e acompanhada do contexto social da época em que o severo partido nacionalista comandava o sistema político do país, aliada à depressão econômica dos anos 30 e as consequências da guerra, definitivamente, a época em que Yayoi viveu a infância e adolescência não foi das mais propícias para o florescer de uma artista. Contrariando estes fatos, Kusama já demonstrava desde muito nova um interesse pela arte. Seus desenhos da adolescência já mostravam indícios de uma natural curvatura para tal ofício, e a vontade que sentia de afirmar-se como artista era exposta em várias mostras regionais. Apenas em 1948 a artista recebe a permissão de seus pais para frequentar a Escola Municipal de Artes e Ofícios de Quioto, onde domina a técnica de Nihonga (que havia começado a aprender no colegial) que consiste num misto de pintura tradicional japonesa utilizando tintas naturais fabricadas com pigmentos da terra e colas de origem animal, e características da pintura moderna ocidental. Na escola, Yayoi também começa a firmar seu estilo pessoal que desde os 10 anos já se baseava na famosa repetição de “bolinhas” e entrelaçados. A repetição de bolinhas ou “Infinity Nets” já mostrava os primeiros sinais de esquizofrenia de Kusama, identificados primeiramente pelas alucinações e tendências suicidas, daí o começo de seu estilo pictórico, que desde então influencia fortemente o seu trabalho. Yayoi mantinha uma difícil relação com a sua mãe, em que a artista afirma ter sofridos diversos abusos físicos e assim que demonstrou os primeiros sinais de interesse pela arte, foi fortemente desencorajada a não seguir a carreira artística, e concentrar-se apenas em ser uma boa esposa japonesa tradicional no futuro. Yayoi, porém, além de já desenhar e pintar começa desde muito jovem a cobrir diversas superfícies (paredes, chão, e mais tarde objetos cotidianos) com pequenas bolinhas que viraram a marca registrada de sua obra. A vasta aparição dessa compilação de bolinhas são extraídas diretamente de suas alucinações. Em 1957, aos 27 anos, Kusama deixa o Japão para morar nos EUA, após ter se correspondido com a artista Georgia O’keeffe que a incentivou a mudar-se para Nova York. Foi nos
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YAYOI KUSAMA EUA que Yayoi estabeleceu sua reputação como artista avant-garde. Ela exibiu trabalhos junto à artistas icônicos da pop art da década de 60, como: Claes Oldenburg, Andy Warhol, e Jasper Johns. Através desta vivência a artista encontrou meios de transcender para além das pinturas que abriram caminho para o início de esculturas delicadas como “Accumulations”, e também para a inserção da artista num novo percurso desprendido de suportes convencionais e focado nas subculturas enraizadas em performances e “happenings”, e seguindo também para instalações, onde conseguiu notoriedade dentre as principais correntes críticas da época. A luta política também é bastante presente e perceptível no seu posicionamento pessoal quanto à forma em que sua arte é transmitida. Os chamados “Body Festivals” e “Anatomic Explosions” que Yayoi participava também andavam de mãos dadas numa revolução de costumes além da arte. Esta série de protestos nudistas, psicodélicos e políticos foi encenada em locais notórios em Nova York, inclusive na Estátua da Liberdade e no edifício-sede da ONU, para os quais a artista coreografou ações de dançarinos nus enquanto distribuía folhetos de propaganda política. Apesar de “fazer parte” da geração de jovens artistas extremamente atuantes em Nova York nos anos de 1960, sua exclusão das grandes galerias – muito provavelmente por questões de gênero e etnia – a fez colocar-se em uma posição de destaque em suas representações e a direcionou para um caminho onde a autossuficiência era necessária. Kusama carrega ainda em sua biografia uma participação informal na Bienal de Veneza de 1966 com a performance “Narcisus Garden”, na qual uma piscina de bolas de espelho rodeava a artista. De forma extraoficial, a artista colocou 1500 bolas em um gramado em meio aos pavilhões da Bienal e vendia cada uma das bolas por US$ 2. A performance acabou com intervenção policial. O reencontro da artista com a Bienal de Veneza aconteceu apenas em 1993, quando representou oficialmente o Japão. Outro fato importante a ressaltar como meio de entendimento da vida e obra indissociável de Yayoi Kusama é o documentário “Self-obliteration” de 1968, onde fica claro o estopim de sua poética de motivos repetitivos, obsessivos que nada mais é do que uma tentativa deliberada de escapar da angústia do momento alucinatório, de perda de controle sobre a própia consciência. É o que ela chama de auto-obliteração. Em meados de 1973 Yayoi retorna ao Japão. Após um período de saúde precária, Kusama fixou residência nas dependências abrigadas de um hospital psiquiátrico em 1977, e durante alguns anos parecia que a persona pública da artista havia se aposentado. Na intimidade do estúdio, ela retomou a produção artística. Em 1980, sete anos após seu retorno ao Japão, realizou cinco exposições individuais. Desde então a produção de Yayoi tem se expandido cada vez mais, tendo inclusive estado no Brasil recentemente uma compilação de suas obras intitulada “Obsessão Infinita”. Nas palavras da artista, hoje com 87 anos e ainda vivendo no hospital psiquiátrico por escolha própia, diz: “Minha arte é uma expressão da minha vida, sobretudo da minha doença mental, originária das alucinações que eu posso ver.
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YAYOI KUSAMA Traduzo as alucinações e imagens obsessivas que me atormentam em esculturas e pinturas. Todos os meus trabalhos em pastel são produtos da neurose obsessiva e, portanto, intrinsecamente ligados à minha doença. Crio peças, mesmo quando não vejo alucinações.”
Figura 1 – Instalação "Dots Obsession" (1998) Fonte: Reprodução “Google Imagens”
O trabalho de Yayoi Kusama sempre caminhou fortemente com suas obras, a artista jamais desvinculou sua arte com quem se tornara. Martín Rietti, diretor argentino diz num assunto com a artista em que ela mesmo confirma essa percepção, que “se ela não pintasse, ela não existiria”. Sua fixação por bolas e formas fálicas está aparente em todas as obras, sua personalidade tem uma característica peculiar que pode ser reconhecida de longe. Isso está recorrente em suas criações desde pequenina. Kusama transformou sua obsessão num campo imenso de obras de arte. Suas milhares de obras podem ser vistas no Japão, Nova York, Espanha, Venezuela e até mesmo aqui no Brasil, com uma grande valorização e curiosidade acerca de seu trabalho pelo público. Suas plataformas são variadas, considerada uma artista contemporânea, Yayoi mistura pintura, com colagem, escultura, instalações e performances. O processo de criação de sua obsessão por pontos e bolas foi marcado desde 1949 até o ano de 2012 com cem obra e que, recentemente, teve sua exposição “Obsessão Infinita” em Brasilia, Rio de Janeiro e em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake no período de 22 de maio à 27 de julho de 2014. A exposição mostrou uma repercussão grandiosa e dessa forma as pessoas começaram a ter mais curiosidade sobre o olhar da criadora por trás das obras, por mais aparentemente decorativas que as “Infinity Nets” possam parecer, são trabalhos completamente sensoriais, que nos remetem ao conceito genial e doloroso da artista, através de toda a sua composição. Suas
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YAYOI KUSAMA obras mais marcantes como “Espelho infinito” “Campo de falos” e “Sala da obliteração” se tornaram apreciados por todos os tipos de públicos, desde crianças até adultos, justamente pelo seu caráter “festivo”, estado que Yayoi não consegue alcançar em sua vida privada. Sua característica e materialidade é aparentemente atraente para quem olha de longe, mas se estudarmos a fundo cada traço que a artista pinta e cada passo que ela dá, estaríamos subversivos a questões de estética. Kusama manifesta sua esquizofrenia em sua arte, o que não é algo negativo, pois a criação a deixa mais “anestesiada”, ajudando a lidar com sua condição. Os elementos utilizados em suas obras, principalmente na exposição que aconteceu no Brasil, são marcados por questionamentos pós-modernos como a “selfie”, a questão da auto aceitação e o refúgio da aparência como distorção de nossa própria imagética. Uma obra que é muito marcante em vários lugares e que está presente também no território nacional é o “Narcissus Garden” que se encontra na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, na instituição Inhotim com uma vasta visibilidade artística. Yayoi Kusama fez de suas obras um infinito questionamento sobre o comportamento humano, buscando nos comover através da arte contemporânea com uma forma de fragmentar os sentimentos, os devaneios, e as particularidades de cada um, nos fazendo enxergar além do nosso universo.
Figura 2 – Instalação “Infinity Mirror Room – Phalli’s Field”, 1965 e Instalação “Infinity Mirror Room”, 2008.
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AGORA É A SUA VEZ LISTA DE MATERIAIS Cola bastão Papel Colorido Tinta pinta-cara Câmera fotográfica
Capacidade da atividade 15 crianças
As crianças são convidadas a ir ao local em que ocorrerá a ação. É interessante que seja um local espaçoso e/ou aberto! Isso auxilia e oferece a elas maior liberdade de colocar o universo artístico que tomaram conhecimento em prática.
A proposta então é: espalhar “bolinhas” pelo espaço em que estão inseridas, fazendo alusão a série de obras “Obsessão Infinita”. Num primeiro momento, o material deve ser distribuído igualmente. Os participantes então podem recortar os papéis coloridos em formatos circulares de tamanhos diversos. Após esta etapa, os potinhos contendo tinta “pinta cara” devem ser colocados à disposição dos participantes. As bolinhas de Yayoi podem então ser espalhadas por todo o ambiente, além de nos corpos e rostos! A ideia é se deixar “engolir” por toda a obsessão de Kusama. A atividade pode ser registrada pelo mediador, ou por algum participante. As fotografias são importantes caso queira dar continuidade a segunda etapa da ação. Os registros, porém, não são imprescindíveis. A vivência da ação é o mais importante.
Em um segundo encontro, os registros da atividade podem ser mostrados às crianças utilizando novamente um espaço com acesso a computadores e internet. As crianças podem, através de um software simples de edição de imagens on-line como o “Pixrl SUGESTÕES O-matic”, utilizando apenas um comando, sobrepor as fotos tiradas durante a atividade com mais imagens de bolas coloridas achadas no “Google Imagens”, assim como interferir na cor e forma de suas fotos, assim dialogando com a obra da artista e seu resultado pictórico.
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AGORA É A SUA VEZ
JANAINA TSCHAPE
Janaina Tschäpe nasceu em 1973 em Munique, Alemanha e foi criada em São Paulo, Brasil. Ela recebeu seu Bacharelado em Belas Artes em Hamburgo e seu mestrado em Belas Artes da Escola de Artes Visuais - New. A artista vive e trabalha em Nova Iorque. Tschape já realizou uma série de exposições em instituições da Europa, Ásia, Estados Unidos e Brasil. Produz uma obra na qual explora toda a multiplicidade de meios de que dispomos na contemporaneidade. A própria artista relata que “os desenhos são fragmentos do pensamento; o vídeo nos traz o mundo das imagens em movimento, tempo e som; a fotografia, que nos revela uma fração de tempo, é um convite para o espectador imaginar uma história além dessa fração; e, a pintura, é a continuação desse trabalho”. (Bousso, 2006) Na parte reservada para descrição de sua biografia em seu site oficial, sua arte é descrita como uma linguagem que Explorando todos os tipos de paisagens, a obra de Tschäpe é um convite a um mundo extraordinário, um lugar cheio de criaturas maleáveis e seres amorfos. Através de várias formas de expressão, a artista reinventa constantemente as percepções do mundo natural, fazendo uso de uma combinação dinâmica de fotografia, desenhos, pinturas e esculturas. Juntos, esses meios trabalham para trazer o observador ao universo aquoso e orgânico de Tschäpe, mundo de curiosidade, assombro e admiração. A estrutura multifacetada do processo criativo de Tschäpe traz ao público criaturas inventadas baseado em memórias, mitos e sonhos, abrindo um diálogo que subverte nossas percepções habituais de paisagens e seres, realinhando nossa visão da paisagem e natureza em geral. (Tradução livre e retirado do Site oficial da artista)
Daniela Bousso numa matéria para o site do Paço das Artes, coloca suas impressões sobre a obra de Tschape em justaposição com as impressões da artista sobre sua obra,
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JANAINA TSCHAPE A artista possui uma forte conexão com o ambiente aquoso, e a água tem um grande peso em seu trabalho; onde é possível observar sua contribuição e manifestação na maioria de seus processos criativos, sua presença encontrada na maior parte de seu trabalho. Notamos sua conexão não só com a fluidez do líquido, mas também os aspectos em camadas que constrói, extensivamente investigado em suas pinturas e desenhos, ou como campo para várias criaturas e entidades realizadas em suas fotografias e vídeos. A água também trabalha para tornar o mundo feminino e sensual que ela abraça, e os seres que habitam os ambientes aquosos na realidade ou na ficção, e tanto a inspiram como: polvos, sereias aguas-vivas, e muitos outros seres marinhos. São inúmeras as referências. Criando um grande universo de organismos extraordinários inspirados em memórias, mitos e sonhos. É curioso o modo como Tschäpe compartilha seu nome - Janaina - com uma deusa do mar brasileira da religião candomblé, completando de forma harmônica a sua peculiar relação com ambientes aquosos. “Tomando o corpo feminino como sua musa, Janaina Tschäpe explora temas do corpo e paisagem, morte, renovação e transformação em pinturas, desenhos, fotografias e instalações de vídeo. Experimentar o trabalho de Tschäpe é nadar através de universos de paisagens polimórficas entre formas embrionárias, personagens ambíguos e vida botânica exótica. Ela visa dar forma ao transe de fazer arte, retratando não um mundo de sonho, mas a sensação de estar em um.” (Tradução livre e retirado do Site oficial da artista)
Figura 3 – Série “Melantropics - Sanguisorbas Danis” (2005) e Série “The Sea and the Mountain - Juju 1” (2004) Fonte: Site oficial da artista (janainatschape.net/photographs/)
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JANAINA TSCHAPE dizendo que “Para a artista - que, de certa forma, incorpora a vida como matéria-prima em seu trabalho - a possibilidade de transformar tudo em ficção parece ser a razão de criar. Seu imaginário é feito de cenografias nas quais ela mesma se insere. Muitas vezes, fotografa-se ou integra as performances que realiza e filma. Outras, convida os amigos para “brincar”: “eu quero estender essa experiência aos outros e convidá-los a brincar comigo. Quando éramos crianças, nós tínhamos acesso direto ao universo da brincadeira. Eu ainda brinco de estar em todos os lugares ao mesmo tempo”. Em “The sea and the mountain” de 2004 como na maioria de suas séries utiliza diversos suportes artísticos como: vídeo, fotografia, pintura..., descreviam em sua maioria indivíduos com formas proeminentes que estavam ligadas a seus corpos ou anexados a eles de alguma forma. As figuras foram colocadas em vários ambientes ao ar livre na região de Bocaina – SP. Uma infinidade de associações é capaz de serem transmitidas através desta fusão de corpo e escultura, e também a alinhar nosso pensamento com a presença do gênero feminino e seu contato com a natureza, que traz à tona uma visão ancestral do sagrado feminino. Novamente o mar é protagonista desta conexão tão forte e próxima que a artista sente com este elemento da natureza e tenta transmitir através de seus seres disformes que poderiam pertencer a este ambiente marítimo. Em Lacrimacorpus, série de 2004, Tschape novamente explora uma grande variedade de meios, incluindo vídeo, fotografia, instalação e desenho criando assim uma mitologia enigmática centrada na transformação do corpo feminino. Em vídeos e fotografias encenados, ela decorou a si mesma e a seus amigos com balões e preservativos inflados para representar criaturas híbridas com “apêndices” caindo sobre si. Como citado anteriormente, estes espécimes estranhos são geralmente colocados em paisagens aquosas. O vídeo de Lacrimacorpus, ocorre em um ambiente fechado e evoca a história, assim como o mito. O cenário é o castelo de Ettersburg perto de Weimar, que a artista foi atraída por causa de sua história dupla, tanto como uma residência de verão de Goethe (que compôs poemas ali) e um prédio com vista para o campo de concentração nazista de Buchenwald. No vídeo, uma figura feminina, enfeitada com um traje do tempo de Goethe, dança em um corredor vazio até desabar no chão. Seu movimento de giro, junto com a moldura da sala, o ruído de enrolamento mecânico no começo do vídeo, e a música, evocam o algo como uma caixa de música de uma criança. Esta alusão brincalhona e a elegância do cenário encontram-se em tensão com a história trágica do local. O título do trabalho, o latim para "corpo lacrimal", sugere que as bolhas de látex infladas à dançarina são uma cascata de lágrimas - uma expressão silenciosa de sua tristeza enterrada. Na série Água Viva de 2003, novamente Janaína utiliza criaturas com formas embrionárias e disformes, por assim dizer, onde parecem querer promover a extensão biológica do corpo para criar um mundo imaginário que dissemina a ideia de um corpo mutante. Mesmo com estas supostas “anomalias”, estes seres se apropriam dos lugares e das situações de maneira despojada, e há uma visível normalidade entre eles e seus contextos. Por meio dos disfarces ou “travestimentos”, Tschäpe abala a noção de identidade. Estes seres novamente fazem alusão
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JANAINA TSCHAPE de pertencimento a este mundo submarino tão forte para a artista. As obras que mais utilizei como inspiração para as ações artísticas, e que seguem estes mesmos temas de seres de formatos distintos e peculiares, são as séries “Mentropics” (2005) e “The Sea and The Mountain”, onde utilizando diversos tecidos finos e bexigas a artistas constrói seres fantásticos. Estes foram apenas alguns exemplos de seu extenso trabalho, onde a artista contemporânea soube trazer para sua poética e trabalhar de forma única, a sua relação com o corpo, espaço, e o ser mulher, colocando sua trajetória como parte de suas obras e expondo seu íntimo através de suas criaturas fluídas e fantásticas. Trabalhar a obra de Janaína com crianças é convidá-las a adentrar um grande universo de seres imagéticos que poderiam muito bem, estar no nosso convívio de tanto que se encaixam nos ambientes em que são inseridos, provocando uma estranha sensação de pertencimento e utopia.
Figura 4 - Série " Blood, Sea" - Ague, 2004, Cibachrome, 50x64"/127x163 cm
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AGORA É A SUA VEZ LISTA DE MATERIAIS Tecidos diversos Bexigas coloridas/Bexigão Tinta pinta-cara Câmera fotográfica
Capacidade da atividade 15 crianças
Os educandos adentram o universo criado por Janaína, onde são retratados seres híbridos de humanos e animais. As crianças podem então criar os seus próprios seres que poderiam habitar o ambiente em que estão inseridas, um ser imagético. Esta ação também é melhor explorada se aplicada num ambiente aberto. O mediador deve, primeiro, promover uma pequena reflexão sobre o espaço em que estão inseridos, e que tipo de seres poderiam habitar aquele local.
A proposta então é: O material deve ser disponibilizado igualmente. Os participantes podem se dividir em pequenos grupos de “preparo”: Pintura facial, elaboração de “vestimentas” com os tecidos, e encher as bexigas. Esta etapa da ação por si já é bastante divertida e lúdica. Feito isto, os participantes podem explorar o local em que estão, propriamente caracterizados dos “seres” criados. Neste momento, a exploração do ambiente é livre. A atividade pode ser registrada pelo mediador, ou por algum participante. As fotografias são importantes caso queira dar continuidade a segunda etapa da ação. Os registros, porém, não são imprescindíveis. A vivência da ação é o mais importante.
As crianças podem ser convidadas a participar de uma série fotográfica como as consSUGESTÕES truídas por Tschape. As imagens resultantes das ações podem ser utilizadas numa exposição, ou apenas disponibilizada aos participantes.
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AGORA É A SUA VEZ
FRIDA KAHLO
Magdalena Carmen Frieda Kahlo Calderón nasceu no dia 6 de julho de 1907 em Coyacán, um subúrbio da Cidade do México, terceira de quatro filhas de Guillermo e Matilde Kahlo. Frida registra sua árvore genealógica no quadro “Os meus Avós, os Meus Pais e Eu” de 1936, onde é possível observar os pais de seus pais (seus avós), uma Frida em formação no ventre de sua mãe, que está ao lado esquerdo de seu pai, o abraçando, e uma representação da artista já criança segurando a fita que une sua origem. Sua relação com a mãe era ambígua. A descrevia como sendo “muito bondosa, activa e inteligente, mas também como calculista, cruel e fanaticamente religiosa”. A relação com o pai, por outro lado, era terna e o retratava como “cordial e carinhoso”, dizia: “(...) apesar de o meu pai ser um homem doente (sofria de tonturas de mês e meio em mês e meio), foi para mim um grande exemplo de ternura, de trabalho (como fotógrafo e também como pintor) e, acima de tudo, de compreensão de os meus problemas”. (Kettenmann, 1994, p. 09) Aos seis anos de idade Frida sofreu de poliomielite, e durante nove meses seu pai tomou conta dela, certificando-se de que estava fazendo todos os exercícios de fisioterapia, já que por conta da doença, sua perna direita ficou muito fina e mais curta em relação a perna esquerda, e o pé esquerdo atrofiado. Apesar dos esforços do pai para que a filha fizesse corretamente os exercícios de fisioterapia, a sua perna e pé ficaram deformados para sempre. Kettenmann (1994) relata que “este foi um sofrimento que, enquanto adolescente, ela procurou esconder dentro das calças e, mais tarde, debaixo de compridas saias mexicanas”. Como mulher forte e politicamente ativa que era, Kahlo nunca deixou de estar envolvida nos movimentos políticos de esquerda em seu país. Durante a adolescência participou do grupo “Cachucas”, onde “Liam bastante e apoiavam as ideias socialisto-nacionalistas do ministro da Educação Pública José Vasconcelos, o que os levou a discutirem reformas para a sua própria escola”. (Kettenmann, 1994, p. 11) Possuia, também, forte apreço pela Revolução Mexicana (1910 – 1920), chegando a afirmar que nascera no ano de 1910, como se fizesse alusão a ser fruto da Revolução. Revolução esta que “Seguindo-se a era colonial e aos trinta anos de ditadura do general Porfírio Díaz, a Revolução procurou implantar mudanças fundamentais na .
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FRIDA KAHLO estrutura do país”. (Kettenmann, 1994, p. 07) Um fato que mudou para sempre a vida de Kahlo, foi um acidente que sofrera, enquanto estava dentro de um carro acompanhada de seu namorado da época, Alejandro Gómez Arias, e chocaram-se contra um bonde elétrico. O acidente provocou sequelas que a acompanharam durante o restante de sua vida Devido ao acidente, ficou de cama durante três meses. Passou um mês no hospital. Depois de inicialmente parecer ter recuperado por completo, começou a sentir dores na coluna e no pé direito. Também se sentia sempre cansada. Aproximadamente um ano depois, deu de novo entrada no hospital. A coluna não fora radiografada na altura do acidente, e só então se descobria que tinha várias vértebras deslocadas. Durante os nove meses seguintes teve de usar uma série de coletes de gesso. (Kettenmann, 1994, p. 17)
A época do acidente, Frida estudava Medicina e desejava seguir carreira na área. Após o evento trágico, teve de ficar 9 meses de cama, quase que imóvel por conta de seus coletes de gesso. Neste período então, começou a dedicar-se a pintura. O meu pai teve, durante muitos anos, uma caixa com tintas de óleo e pincéis dentro de uma jarra antiga e uma paleta a um canto de seu estúdio fotográfico. (...) Como ia estar presa a uma cama durante tanto tempo, aproveitei a oportunidade para pedir a caixa a meu pai. (...) Minha mãe pediu a um carpinteiro que me fizesse um cavalete de pintor, se é que isso se podia chamar ao material especial que se conseguiu montar na minha cama, pois eu não me podia sentar por causa do gesso. E assim comecei o meu primeiro quadro: o retrato de um amigo. (Kettenmann, 1994, p. 18)
Foi colocado à disposição de Frida, também, um grande espelho que ficava acima de sua cama, afim de que ela pudesse ser sua própria modelo. Começaram assim, as grandes séries de autorretratos de Kahlo, que nos permite observar cada etapa de sua evolução pictórica. Toda a poética de Frida é extremamente autobiográfica. “Eu pinto-me a porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o tema que conheço melhor”. (Kettenmann, 1994, p. 18) Os auto-retratos de Frida Kahlo ajudaram-na a moldar uma ideia do seu próprio eu; ao recrear-se, tanto na arte como na vida, encontrava agora uma identidade. Este facto pode explicar porque é que os seus auto-retratos diferem uns dos outros em apenas alguns aspectos. A artista olha para quem observa o quadro quase sempre com uma cara do tipo máscara, em que sentimentos e temperamento se tornam difíceis de ler. Os olhos dela, encaixa-
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FRIDA KAHLO dos nas sobrancelhas fartas e escuras que se unem acima do nariz, parecendo as asas de um pássaro, são particularmente impressionantes. (Kettenmann, 1994, p. 20)
É importante frisar que, passado o tempo necessário de recuperação, Frida conseguiu retomar suas atividades da maneira mais normal possível. Entretanto, seu corpo permaneceria frágil das sequelas do acidente, provocando com que, mais adiante em sua vida, perdesse um bebê fruto de sua união com Diego Rivera. Fato que a marcou muito, e é retratado na obra “O Hospital Henry Ford” ou “A cama voadora”, de 1932. Em diversas ocasiões o nome Frida Kahlo é associado ao de seu companheiro, Diego Rivera, que foi um famoso pintor muralista mexicano. Não focaremos, porém, na relação entre os dois. O que podemos pontuar, entretanto, é que a relação deles foi de extrema importância ao fazer com que Frida tivesse cada vez mais contato com o meio artístico mexicano, e o partido comunista do México. Além de provar o quanto era uma mulher à frente de seu tempo, ao casar-se com um homem quase 20 anos mais velho do que ela, mantendo mais tarde, um casamento nos moldes de relacionamento aberto. Destacaremos então, a força de sua obra, e mais importante, a narrativa de seus autorretratos. Arcq (2015) disserta a respeito da influência de Frida sobre outras pintoras mexicanas vinculadas ao surrealismo, dizendo que “Para elas, mergulhar no inconsciente era uma forma de autoconhecimento e emancipação, que as levou a criarem extraordinárias imagens visuais em que elas mesmas eram o objeto e o sujeito de sua arte, e nesse sentido Frida Kahlo representou influência fundamental. Seu legado artístico constitui uma narrativa autobiográfica excepcional”. (Arcq, 2015, p. 33) Frida representava-se nos quadros, muitas vezes, utilizando vestes tipicamente índias, demonstrando a sua identificação com a população indígena e reafirmando suas raízes e identidade nacional. No cotidiano, durante muito tempo a artista utilizou vestes masculinas, depois passou a fazer uso de peças de origem tehuana. Na região de Tehuantepec, no Sudoeste do México, as tradições matriarcais ainda hoje estão vivas e a sua estrutura económica reflecte o papel predominante da mulher. Este facto parece ter chamado a atenção de muitos intelectuais e, nos anos 20 e 30, as roupas tehuana foram adoptadas por muitas mulheres cultas da Cidade do México. Essas roupas estavam perfeitamente de acordo com crescente espírito de nacionalismo e com o interesse revivalista pela cultura índia. (Kettenmann, 1994, p. 26)
A artista mudou-se, em novembro de 1930, juntamente com Rivera para os Estados Unidos; que oferecia um pólo atrativo de mercado de arte, além de estarem interessados no chamado “renascimento mexicano”, que foi uma época de grande desenvolvimento cultural no
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FRIDA KAHLO México. É importante ressaltar, porém, que após esse período de grande desenvolvimento, a situação dos artistas no México, mais especificamente, os pintores de murais como Rivera, estava muito ruim. Diversos cortes foram feitos nas verbas destinadas a cultura, logo, o número de encomendas baixou drasticamente. Além de uma forte repressão a movimentos políticos vir se alastrando entre os anos de 1928 e 1934, causando com que o Partido Comunista do México fosse extinto e muitos comunistas presos. Frida relata suas impressões sobre “a terra dos gringos” da seguinte forma numa carta ao amigo Dr. Eloesser: “A alta sociedade aqui não me cativa e sinto um pouco de raiva destes tipos ricos, pois vi milhares de pessoas a viver na mais terrível miséria, sem nada para comer e sem lugar para dormir, isso foi o que mais me impressionou aqui, é aterrador ver os ricos dar festas dia e noite enquanto milhares e milhares de pessoas morrem à fome... Apesar de estar muito interessada em todo o desenvolvimento industrial e mecânico dos Estados Unidos, sinto que os Americanos têm uma completa falta de sensibilidade e de bom gosto. Parecem viver numa enorme capoeira toda suja e desconfortável. As casas parecem fornos de pão e todo o conforto de que falam não passa de um mito”. (Kettenmann, 1994, p. 36)
Figura 5 – Os Meus Avós, os Meus Pais, e Eu, 1936 Óleo e têmpera sobre metal, 30,7 x 34,5 cm Nova Iorque (NY), Collection, The Museum of Modern Art, Doação de Allan Roos, M.D e B. Mathieu Roos
Figura 6 – O Hospital Henry Ford ou A cama voadora, 1932 Óleo sobre metal, 30,5 x 38cm Cidade do México, Coleção Dolores Olmedo
Em relação com este período de sua vida, Frida pinta o quadro “Auto-Retrato na Fronteira do México com os Estados Unidos” de 1932. Afirmando novamente o quão autobiográfica
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FRIDA KAHLO é a poética de Frida, é possível ilustrar, quase que todos os momentos cruciais e importantes de sua vida através de suas obras. Frisando novamente a escolha de trabalhar com os educandos os autorretratos inspirados em Frida Kahlo. Passado algum tempo, Kahlo atingiu seu desejo de voltar ao México, onde num certo período conheceu o pintor surrealista André Breton. “Viu no México a personificação do surrealismo e também interpretou os trabalhos de Kahlo como surrealistas”. (Kettenmann, 1994, p. 41) Frida por outro lado não se afirmava como pertencente ao surrealismo, dizia que aquilo que pintava não era fruto de sonhos, mas sim de sua realidade. Em um artigo da Revista Vogue Bertram D. Wolfe afirma que: Apesar de André Breton (...) lhe ter dito que ela era uma surrealiste, ela não abandonou o seu estilo para seguir os métodos daquela escola. (...) Bastante liberta, também, dos símbolos e da filosofia freudiana que obcecava os pintores oficiais surrealistas, o dela é uma espécie de surrealismo naive, que ela inventou. Enquanto o surrealismo oficial se preocupa sobretudo com as informações dos sonhos, pesadelos e símbolos neuróticos, na variante de Madame Rivera predominam a inteligência e o humor”. (Kettenmann, 1994, p. 41)
Apesar das controvérsias sobre o pertencimento ou não de Frida ao movimento surrealista, na contemporaneidade, podemos observar que a sua contribuição para este movimento artístico é notória. Um exemplo disso seria, a exposição “Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” que ocorreu no período 27 de setembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016 no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. Onde Kahlo é tida como uma espécie de mentora para as pintoras mexicanas surrealistas que a sucederam Na obra das mulheres artistas vinculadas ao surrealismo surpreende a abundância de autorretratos e retratos simbólicos que marcam uma provocativa ruptura da linha divisória que separa o âmbito público do estritamente privado. Lo que el agua me ha dado (1938), uma das pinturas mais complexas de Kahlo e que surpreendeu Breton por seu poder visionário, é um exemplo perfeito de como essas artistas subvertiam o cânone para explorar a sua psique carregada de símbolos e mitos pessoais. (Arcq, 2015, p. 33)
Com o apoio de Breton, Frida realiza sua primeira exposição individual, que ocorre na galeria Julien Levy, em Nova Iorque. A exposição é um sucesso, e Frida é celebrada. Dali em diante muitos eventos ocorrem na vida de Frida, os quais irei pontuar brevemente.
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FRIDA KAHLO é a poética de Frida, é possível ilustrar, quase que todos os momentos cruciais e importantes de sua vida através de suas obras. Frisando novamente a escolha de trabalhar com os educandos os autorretratos inspirados em Frida Kahlo. Passado algum tempo, Kahlo atingiu seu desejo de voltar ao México, onde num certo período conheceu o pintor surrealista André Breton. “Viu no México a personificação do surrealismo e também interpretou os trabalhos de Kahlo como surrealistas”. (Kettenmann, 1994, p. 41) Frida por outro lado não se afirmava como pertencente ao surrealismo, dizia que aquilo que pintava não era fruto de sonhos, mas sim de sua realidade. Em um artigo da Revista Vogue Bertram D. Wolfe afirma que: Apesar de André Breton (...) lhe ter dito que ela era uma surrealiste, ela não abandonou o seu estilo para seguir os métodos daquela escola. (...) Bastante liberta, também, dos símbolos e da filosofia freudiana que obcecava os pintores oficiais surrealistas, o dela é uma espécie de surrealismo naive, que ela inventou. Enquanto o surrealismo oficial se preocupa sobretudo com as informações dos sonhos, pesadelos e símbolos neuróticos, na variante de Madame Rivera predominam a inteligência e o humor”. (Kettenmann, 1994, p. 41)
Apesar das controvérsias sobre o pertencimento ou não de Frida ao movimento surrealista, na contemporaneidade, podemos observar que a sua contribuição para este movimento artístico é notória. Um exemplo disso seria, a exposição “Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México” que ocorreu no período 27 de setembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016 no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. Onde Kahlo é tida como uma espécie de mentora para as pintoras mexicanas surrealistas que a sucederam Na obra das mulheres artistas vinculadas ao surrealismo surpreende a abundância de autorretratos e retratos simbólicos que marcam uma provocativa ruptura da linha divisória que separa o âmbito público do estritamente privado. Lo que el agua me ha dado (1938), uma das pinturas mais complexas de Kahlo e que surpreendeu Breton por seu poder visionário, é um exemplo perfeito de como essas artistas subvertiam o cânone para explorar a sua psique carregada de símbolos e mitos pessoais. (Arcq, 2015, p. 33)
Com o apoio de Breton, Frida realiza sua primeira exposição individual, que ocorre na galeria Julien Levy, em Nova Iorque. A exposição é um sucesso, e Frida é celebrada. Dali em diante muitos eventos ocorrem na vida de Frida, os quais irei pontuar brevemente.
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FRIDA KAHLO • 1939 Frida expõe seus trabalhos em Paris e conhece, pessoalmente, muitos pintores surrealistas. Ao regressar ao México, volta a viver com sua família e divorcia-se de Diego Rivera. • 1940 Viaja a São Francisco, EUA para ser operada mais uma vez pelo Dr. Eloesser. Ao retornar, casa-se novamente com Rivera. • 1941 Seu pai vem a falecer e ela, juntamente com Diego, passam a viver na “Casa Azul” (casa de sua família), em Coyácan. • 1943 Lhe é oferecido um cargo como professora na Escola de Arte “La Esmeralda”. Pouco tempo depois, passa a dar aulas em sua casa, pois seu quadro de saúde volta a piorar. • 1950 Continua a sofrer com sua saúde precária. Faz sete operações na coluna e passa nove meses no hospital. Ao retornar para a casa, utiliza cadeira de rodas na maior parte do tempo e tem de tomar remédios para dores regularmente. • 1953 Organiza-se a primeira exposição individual dos seus trabalhos, em sua própria galeria no México. A artista comparece a abertura deitada numa cama, pois sua perna direita teve de ser amputada até a altura do joelho, devido à uma má circulação sanguínea. Das muitas tragédias acometidas sobre a vida de Frida, como as muitas traições de Rivera, os diversos abortos que sofreu e a condição fragilizada de seu corpo, Kahlo era nada, se não forte. Exemplo de fortaleza, de mulher engajada, independente, e de artista, passou até seus últimos momentos criando arte e militando. Seus autorretratos possuem então, em cada pincelada, um registro de sua existência e a tradução de suas dores e vivências. A artista vem a óbito em 13 de julho de 1954, em sua “Casa Azul”, que hoje é o Museu Frida Kahlo. Diego Rivera sobre as obras de Frida, afirma: “A primeira mulher na história da arte a tratar, com absoluta e descomprometida honestidade, podíamos até dizer com uma crueldade indiferente, aqueles temas gerais e específicos que apenas dizem respeito às mulheres. ” (Kettenmann, 1994, p. 41)
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FRIDA KAHLO
Figura 7 – Autorretrato com colar de espinhos, 1940 Óleo sobre tela, 63,5 x 49,5 cm Austin (TX), Harry Ransom Humanities Research Center Art Collection, The University of Texas
Figura 8 – Autorretrato com trança 1941 Óleo sobre Masonite, 51 x 38,5 cm Cidade do México, Coleção Jaques & Natasha Gelman
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AGORA É A SUA VEZ LISTA DE MATERIAIS Espelhos pequenos Tinta aquarela Papel Canson Pincéis Lápis de grafite Borracha Apontadores Recipientes com água
Inspiradas pelas muitas pinturas de autorretratos de Frida Kahlo, as crianças são convidadas a experienciar a pintura de seus próprios retratos, mantendo as sobrancelhas grossas e o bigode como de Frida para que façam referência às características marcantes da artista.
Capacidade da atividade 15 crianças
A proposta então é: Que sejam feitos autorretratos! É importante que as crianças se percebam como indivíduos, e como seus traços carregam história. Assim como a obra de Frida é extremamente autobiográfica, os participantes são convidados a sentir o mesmo. O material deve ser disponibilizado igualmente. Com o auxílio do espelho as crianças podem reproduzir seus traços, adicionando elementos fantásticos a eles, fazendo alusão aos demais elementos pictóricos fantásticos presentes nas obras de Kahlo, que a encaixam no movimento surrealista
Música instrumental tocando no ambiente, o tornando mais relaxante, e auxiliando na SUGESTÕES atenção dos participantes. Ex: Bixiga 70 A tinta aquarela foge ao que é comumente utilizado nos ambientes escolares. A técnica necessária para usá-la também auxilia na quebra a zona de conforto do educando, podendo assim, ter contato com uma nova forma de utilizar um aparato artístico.
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AGORA É A SUA VEZ
AGRADECIMENTOS É com imenso carinho que agradeço a todos os que direta ou indiretamente me auxiliaram na trajetória de construir esta pesquisa, assim como, me deram suporte e incentivaram em todos os momentos para que se chegasse a este resultado do qual muito me orgulho, mas que nunca teria alcançado sozinha. Em primeiro lugar, agradeço a minha família que esteve sempre presente mesmo quando não fisicamente, mesmo assim nunca ausentes, sempre dentro do meu pensamento e coração. Aos meus amigos e amigas que da mesma forma estiveram comigo e que ajudaram a aliviar os muitos momentos de tensão com suas palavras de conforto e sorrisos. A Fernanda Cavenaghi que me auxiliou durante o processo criativo e estético deste material didático, me ajudando a materializar as muitas ideias abstratas da minha cabeça. A equipe do Curumim do Sesc Bauru que me proporcionou um ambiente de trabalho totalmente propício para o meu crescimento e descobrimento como arte-educadora, e tornaram-se meus ternos amigos, os quais sempre levarei como exemplo de pessoas e profissionais. Aos meus professores e professoras que durante toda a minha trajetória acadêmica me inspiraram e incentivaram. Em especial a Profª Drª Maria do Carmo Monteiro Kobayashi que me orientou durante esta pesquisa, assim como as Professoras Rosa Simões e Caroline Gomes que gentilmente concordaram em participar da avaliação da mesma. Aos movimentos de luta, como o feminismo, que me auxiliam a tornar-me uma pessoa íntegra, e estar sempre a postos para batalhar pelo o que acredito. A esperança de uma sociedade cuja estrutura não seja racista, machista, lgbtfóbica, ou excludente de quaisquer formas, com certeza encontra-se na educação, e porque não dizer, na arte. Mulher artista: Resista!
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BIBLIOGRAFIA ARCQ, Teresa. Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México. Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Set.2015/Jan. 2016. BANDEIRA, Denise. Material Didático: Conceito, Classificação Geral e Aspectos da Elaboração. Curitiba, PR: IESDE, 2009. 448 p. Acesso em 15/02/16. Disponível em: http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/24136.pdf BOUSSO, Daniela. A inflexão da realidade nos corpos de Janaina Tschäpe. Paço das artes, São Paulo, 2006. Acesso em 07/12/16. Disponível em: http://www.pacodasartes.org.br/exposicao/janaina_tschape.aspx BRASIL. Ministério da Educação. PNLD 2017: arte – Ensino fundamental anos finais. Brasília, 2016. Acesso em 20/01/16. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/8813-guia-pnld-2017 CONTEMPORÂNEO, Canal. Janaína Tschape no Paço das Artes. São Paulo, 2006. Acesso em 07/12/16 às 19h. Disponível em: http://www.canalcontemporaneo.art.br/e-nformes.php?codigo=1349 FERNANDES, Renata Sieiro; PARK, Margareth Brandini. Programa Curumim – Memórias, Cotidiano e Representações. OIENO, Maria Alice; FERREIRA, Henrique Barcelos. Cap. 1 – Curumim: Reflexões Coletivas sobre um mesmo Programa, p. 23-44, São Paulo, 2015. KETTENMANN, Andrea. Frida Kahlo – Dor e Paixão. Taschen, México, 1994. SMITH, Philip Larratt; MORRIS, Frances. Yayoi Kusama- Obsessão Infinita. Catálogo editado pelo Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, por ocasião da exposição Yayoi Kusama. Obsessão infinita, no Centro Cultural Banco do Brasil. Rio de Janeiro, Out. 2013 – Jan. 2014. Acesso em 07/12/16. Disponível em: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/wp-content/uploads/2013/12/CATALOGOKusama.pdf TSCHAPE, Janaína. Bio. New York, s/d. Acesso em 07/12/16. Disponível em: http://www.janainatschape.net/biography/ WELLINGTON, City Gallery. Yayoi Kusama: Mirrored Eyes – Primary School Education Resource Kit. Wellington Museums, Nova Zelândia, s/d. Acesso em 07/12/16. Disponível em: http://citygallery.org.nz/assets/New-Site/Education/Educatio-Resources/Kusama%20Ed%20Kit%20Primary %20WEB%20ME.pdf ZAMUDIO, Raúl. Janaína Tschape. Art Nexus, New York, 2004. Acesso em 07/12/16. Disponível em: http://www.artnexus.com/Notice_View.aspx?DocumentID=13758
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