Sonhos decifrados
Num universo em que a lógica não tem vez
Dinheiro na mão é vendaval? Depois disso você estará na pior!
Os sonhos decifrados Por que sonhamos? Para que serve o sonho? Ninguém até hoje matou a charada. Para desvendar um dos maiores mistérios da mente, neurologia e psicanálise agora caminham juntas. por Texto André Santoro Já pensou em visitar um lugar em que as leis da física valem tanto quanto uma nota de 3 reais? Onde você pode beijar uma estrela de cinema segundos antes de sair voando, cair e morrer, para levantar em seguida e ir para o trabalho de pijama? Num universo em que a lógica não tem vez, mas tudo parece fazer sentido – até você acordar e não entender nada do que se passou no momento anterior? Você e a humanidade inteira são habitués desse lugar mental – o domínio dos sonhos. Supondo
que uma pessoa passe um terço do dia dormindo e ocupe um quinto do tempo de repouso sonhando, ela passa um fim de semana por mês totalmente desligada do mundo consciente. Em uma existência de 75 anos, os sonhos correspondem a nada menos que 5 anos completos. Apesar de termos tanta familiaridade com os sonhos, poucos fenômenos são tão intrigantes quanto eles. Seus mistérios atormentam o homem desde sempre – e ainda não há nenhuma resposta 100% convincente para esses enigmas. Entre os antigos, os sonhos costumavam ser interpretados como mensagens de outros
mundos. Com a psicanálise, ganharam destaque como o caminho mais privilegiado para decifrar o inconsciente. Os avanços científicos mais recentes são promissores: graças ao desenvolvimento das neurociências, já foram desvendados alguns mecanismos cerebrais e funções da experiência onírica. Sabe-se, por exemplo, que os devaneios noturnos ajudam, e muito, a consolidar memórias. Nesta reportagem, você vai acompanhar a trajetória do pensamento humano no maravilhoso mundo dos sonhos. Por enquanto, fique de olhos bem abertos e aproveite a viagem. Ponte para o divino Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, tentava invadir a cidade fenícia de Tiro (no atual Líbano). Apesar da supremacia de seu exército, a localização da cidade – que ficava em uma ilha a quase 1 quilômetro da costa – atrapalhou os planos do conquistador. Depois de 7 meses de cerco, os soldados estavam sem ânimo e o próprio Alexandre começou a pensar na possibilidade de desistir da empreitada. Antes de bater em retirada, no entanto, ele teve um sonho enigmático com um sátiro dançando sobre o seu escudo. A imagem da figura mitológica ficou martelando tanto em sua cabeça no dia seguinte que ele resolveu se aconselhar com um guia espiritual que acompanhava suas tropas. Depois de ouvir o relato do sonho, o adivinho o interpretou como um sinal de que o cerco deveria ser ainda mais agressivo, pois a cidade seria conquistada em breve. Ele chegou a essa conclusão após desmembrar a palavra sátiro em duas partes – o resultado foi a expressão sa Turos, que pode ser traduzida do grego como “Tiro é sua”. Alexandre acreditou no guru, fechou o cerco e, dito e
feito, invadiu Tiro. Esse episódio foi descrito pelo grego Artemidoro de Daldis na obra Oneirocrítica, escrita no século 2 da era cristã, e reproduzido por Sigmund Freud no livro A Interpretação dos Sonhos. Artemidoro e Ambrósio Teodósio Macróbio – pensador latino que viveu entre os séculos 4 e 5 – colheram relatos de pessoas e, após analisar esse material, dividiram os sonhos em duas categorias principais. Na primeira se encaixavam aqueles que reproduziam fatos do cotidiano do sonhador. Na segunda entravam aqueles que traziam alguma mensagem sobre o futuro, que podia se apresentar de forma direta – quando o próprio acontecimento é imaginado – ou simbólica, como o sonho de Alexandre, que precisou ser decifrado para revelar seu conteúdo oculto. Artemidoro e Macróbio são considerados os principais pesquisadores sobre os sonhos na Antiguidade, mas não foram os únicos. Aristóteles, que viveu no século 4 a.C., já falava sobre o assunto em sua obra. “Ele sabia que o sonho converte informações sem muita importância percebidas durante o sono em sensações fortes”, escreveu Freud. Uma pessoa com febre, por exemplo, pode sonhar que está sendo queimada viva numa fogueira. O filósofo também teve outra sacada genial, que seria mais tarde confirmada pelas neurociências: segundo ele, os movimentos corporais que ocorrem durante algumas fases do sono têm relação direta com os sonhos. Os estudos de Artemidoro, Macróbio e Aristóteles revelam uma preocupação pouco comum entre nossos antepassados. O sonho não era visto como uma produção da mente humana, mas como um fenômeno sobrenatural. A mitologia dos próprios gregos, por exemplo, delega a responsabilidade dos sonhos aos filhos de Hypnos, deus do sono,
que por sua vez era irmão gêmeo de Tanatos, deus da morte. Entre os filhos de Hypnos estavam o célebre Morfeu, que trazia os sonhos dos homens; Icelus, que provocava os sonhos nos animais; e Phantasus, que despertava sonhos nas coisas inanimadas. Outro deus relacionado aos sonhos era Esculápio, cultuado em templos aonde as pessoas doentes iam para receber a cura divina durante os sonhos. Outras crenças, tanto antigas quanto atuais, atribuem importância ao conteúdo dos sonhos. “A mitologia em que o sonho tem um papel mais fundamental é a das culturas xamânicas”, diz Malena Contrera, especialista em mitologia e professora da Universidade Paulista. Entre algumas, não há distinção entre o sonho e a realidade. No livro O Ramo de Ouro, o antropólogo britânico James George Frazer cita casos como o da tribo macusi, da Guiana: “Um índio doente sonhou que seu patrão o havia forçado a passar com sua canoa por uma série de cataratas e, quando acordou, reclamou que o mestre não teve piedade ao obrigar um inválido a sair e pegar no batente durante a noite”, escreveu Frazer. O autor cita ainda o exemplo dos dyak, indígenas que vivem na ilha de Bornéu (Indonésia). Eles acreditam que o espírito pode se desgarrar do corpo durante o sonho: “Quando um dyak sonha que caiu na água, ele é enviado a um feiticeiro para que este pesque o espírito de volta”. Também era comum associar os sonhos a mensagens divinas. Em episódios da Bíblia, por exemplo, vários personagens recebem nossas mentes, é razoável
ghfghimaginar que muitas delas podem se expressar ao mesmo tempo em indivíduos diferentes. A teoria psicanalítica teve o mérito de desvendar os mecanismos e funções do sonho para, a partir desse conhecimenconhecimento, permitir o tratamento de distúrbios de comportamento, certo? Não, nem todos pensam assim. “Não acredito na psicanálise como técnica de terapia. Os sonhos revelam alguns conteúdos da vida do indivíduo, mas o fato de relatá-los não cura ninguém de nada”, diz Ângela do Valle, da USP. O psiquiatra Robert Stickgold, da Universidade Harvard, nos EUA, pega mais pesado: “A psicanálise parte de premissas injustificadas e equivocadas, como a de que os sonhos refletem desejos reprimidos. Não há nenhuma evidência real de que isso esteja correto”. Os defensores da psicanálise, é claro, discordam. Mas o fato é que, 14 anos após a morte de Freud, em 1939, os estudos da neurologia jogaram um balde de água fria na interpretação subjetiva dos sonhos. O ataque científico O ano de 1953 foi especial para a ciência. Em abril, James Watson e Francis Crick anunciaram na revista Nature a descoberta da estrutura do DNA. Em setembro, Nathaniel Kleitman e seu aluno Eugene Aserinsky, da UniversiUniversidade de Chicago, publicaram um artigo na revista Science que revolucionou os estudos sobre sonhos. Eles descobriram que, durante várias fases do sono, nós mexemos os olhos como se estivéssemos acordados. O fenômeno foi batizado de sono REM, sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos”, e passou a ser associado aos sonhos. Para chegar a essa conclusão, eles usavam um método parecido com aquele usado por Mary Calkins no século 19: acordavam seus pacientes durante a fase REM e pediam que
eles relatassem se e com o que haviam sonhado. De 27 relatos, 20 foram de sonhos detalhados e repletos de imagens visuais. Estudos posteriores aprofundaaprofundaram a descoberta de Kleitman e Aserinsky. Em 1962, o neurofisineurofisiologista francês Michel Jouvet descobriu, a partir de experiênexperiências com gatos, que o sono REM – e, portanto, o sonho – era controlado por uma parte primitiva do cérebro conhecida como ponte, que não tem relação direta com os centros da emoção. Durante a fase REM, segundo Jouvet, a ponte emite estímulos que se espalham por diversas partes do cérebro, provocando os sonhos. As conexões entre os neurônios explicavam muita coisa, mas ainda faltava descobrir de onde vinham, afinal, as sensações que passam pela nossa cabeça quando dormimos. E para isso Freud ainda era mais útil do que os neurologistas. Mas não por muito tempo. Em meados da década de 1970, o psiquiatra James Allan Hobson, de Harvard, apresentou um modelo que descartava definitivamente o conteúdo subjetivo dos sonhos. Para ele, o ato de sonhar era o resultado da ação de neuroneurotransmissores que ativavam regiões superiores do cérebro, como o sistema límbico, responsável pelas emoções. Para os pesquisadores que aderiram à causa de Hobson, o sonho era apenas uma seqüência aleatória de imagens geradas pela atividade do nosso cérebro enquanto dormimos. As descobertas de Hobson desferiram mais um golpe contra a psicanálise. Quando o charuto de Freud parecia definitivamente apagado, alguns
estudos realizados a partir da década de 1980 reacenderam a discussão. O psiquiatra Mark Solms, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, fez uma revisão da literatura médica e descobriu 110 casos de pacientes que haviam deixado de sonhar devido a lesões cerebrais. Para surpresa da comunidade científica, todos tinham a ponte cerebral intacta e continuavam tendo sono REM, o que jogou por terra a relação obrigatória entre a experiência onírica e os movimentos oculares rápidos. Para Solms, os sonhos são ativados por outras regiões do cérebro, como as que transformam a percepção concreta em pensamento abstrato. Qualquer semelhança com a psicanálise não é mera coincidência. Afinal, você já sabe que um dos mecanismos do sonho, segundo Freud, é a transformação de desejos ou experiências em símbolos que não têm relação direta com a realidade. As descobertas de Mark Solms fizeram com que os psicanalistas e psicólogos colocassem novamente as mangas de fora e abriram caminho para a criação da neuropsicanálise, uma área do conhecimento que tenta aproveitar as descobertas sobre a fisiologia do cérebro para justificar parte das proposições de Freud. “A psicanálise não tem o objetivo de desvendar os mecanismos fisiológicos do cérebro. Isso é função da neurociência. Mas os fenômenos que emergem desses processos físicos são objeto da investiinvestigação psicanalítica”, diz o psicanalista brasileiro Yusaku Soussumi, da Sociedade Internacional de NeuropsiNeuropsicanálise. Afinal, por que sonhamos? A resposta mais honesta seria: ninguém sabe ainda. Mas há várias pistas. E uma delas é a relação mais que comprovada entre os sonhos e a memória. Nos últimos anos, vários artigos
têm batido na tecla de que o sono REM – durante o qual, sabe-se agora, ocorrem mais de 90% dos sonhos, mas não todos – é importantíssimo no processo de aprendizado. Fazem parte desse time cientistas como Robert Stickgold, de Harvard, e o brasileiro Sidarta Ribeiro, da Universidade Duke, também nos EUA. Este último vem desenvoldesenvolvendo uma pesquisa que relaciona a expressão de alguns genes ao processo de formação de memórias. Os resultados do estudo indicam que a fase REM ajuda a consolidar memórias recém-adquiridas – sem os sonhos, as informações do dia-a-dia entram por um ouvido e saem pelo outro. Todos parecem concordar que o sonho é essencial para o bom funcionamento do nosso cérebro. “Sonhar é uma ferramenta cognitiva imporimportantíssima”, diz o neurologista Sérgio Tufik, diretor do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo. Mas alguns pesquisadores vão além e afirmam que o sonho é fundamental à nossa sobrevivência. Em um artigo que tem o título sugestivo de A Reinterpretação dos Sonhos, o psicólogo Antti Revonsuo, da Universidade de Turku, na Finlândia, afirma que os sonhos parecem simular ameaças reais que ocorrem no nosso cotidiano. E isso, segundo ele, foi vital para a sobrevivência da nossa espécie – ao sonhar com ameaças, o homem primitivo tinha muito mais chances de se defender em um ambiente hostil. A proposta de Revonsuo faz sentido, mas já foi alvo de críticas. Um time de psicólogos da Universidade de Montreal liderado pela psicóloga Anne
Germain afirmou, por exemplo, que um dos furos da teoria é a baixa incidência de sonhos com temática negativa. Durante o processo evolutivo, o sonho foi incorporado a algumas espécies, mesmo representando um risco real. “Ao desligar-se do mundo completamente, o homem e outras espécies podem ser atacados. Mas ainda assim o sono REM se manteve, o que é um sinal de que os benefícios dessa fase do sono superaram bastante os riscos”, diz o neurologista Rubens Reimão, da USP. Há indícios de que o sono REM e os sonhos teriam aparecido há mais ou menos 140 milhões de anos, quando os mamíferos se desenvolveram a partir dos répteis. As aves também têm sono REM, mas com períodos bem mais curtos, de apenas alguns segundos, o que sugere que as espécies de mamíferos – inclusive a nossa – sonham mais do que todas as outras. E para que serve tanto sonho? “O sono REM mais longo nos mamíferos, em especial nos primatas, pode ter relação com a maior plasticidade das idéias”, diz Sidarta Ribeiro. Ou seja, ao sonhar, nos tornamos capazes de fazer novas associações para resolver tarefas simples ou complexas. Um dos desafios atuais das neurociências é o estudo do conteúdo dos sonhos. Afinal, é relativamente fácil colher depoimentos de pacientes, mas olhar o cérebro com uma lupa para descobrir exatamente o que se passa lá dentro ainda é uma utopia. “Não acredito que, nos próximos anos, teremos instrumentos específicos para a análise dos sonhos ou dos
pensamentos que ocorrem durante a vigília”, diz o psiquiatra Jerome Siegel, da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Enquanto isso, dá para arriscar um palpite sobre um futuro em que as pessoas possam controlar o enredo dos próprios sonhos. Há quem creia que isso seja possível agora: o psicólogo americano Stephen LaBerge organiza workshops de indução de sonhos lúcidos por meio da meditação, do relaxamento e da ioga, ante o horror da comunicomunidade científica “séria”. Ainda que a academia torça o nariz para o bicho-grilismo de LaBerge, ela também acredita no potencial do sonho dirigido. “Se as pressões seletivas sobre a nossa espécie diminuírem ainda mais, o fenômeno do sonho lúcido pode ser usado de forma corriqueira como ferramenta de aprendizaaprendizado”, diz Sidarta Ribeiro. Qualquer pessoa poderia se programar para desenvolver habilidades durante a noite, sem os riscos das experiências reais – se você viu Matrix, sabe que uma simulação de luta pode ensinar quase a mesma coisa que uma pancadaria ao vivo, só que sem os hematomas. Sonhar não custa nada. 5 perguntas sobre os sonhos Como é o sonho dos cegos? Quando uma pessoa nasce cega e não tem referências visuais, os sonhos são recheados pelos outros sentidos, como a audição. Mas ela pode formar imagens mentais relativas ao espaço, assim como consegue perceber os caminhos por onde anda durante o dia. Já quem nasce com a visão em ordem e fica cego mais tarde pode ter sonhos com imagens durante a vida toda. Bebês sonham? Como eles não falam, não dá para saber com precisão. O sono REM, um dos principais indícios do sonho, está presente em todas as idades. Mas a experiênexperiên-
cia deve ser bem diferente da vivida por nós, adultos, pois o bebê tem uma consciência em formação, tem emoções, memória e percepção do mundo, mas ainda não tem uma ferramenta essencial para a construção do sonho como ele ocorre nas pessoas adultas: a linguagem. Sonhamos em cores ou em P&B? Nossos sonhos, segundo os neurologistas, têm cores. O que pode causar a sensação de um sonho em preto-e-branco é a dificuldade que temos de manter as imagens oníricas na memória – elas vão, quase literalmente, esmaecendo no decorrer do dia. Esse esquecimento é causado pelo fato de o conteúdo dos sonhos ficar armazenado em nossa memória de curta duração. Para evitar que uma cena sensacional seja perdida, o único jeito é mentalizar o sonho várias vezes ao acordar. Se tomar nota, melhor ainda. Só assim eles ficam guardados em uma memória mais duradoura – e colorida. Existem sonhos premonitórios? Há muitos indícios de que não. Um deles é a inconsistência dos relatos. “Quem acredita nesse tipo de sonho costuma relatar fatos isolados relativos à experiência premonitória, mas quase nunca diz quantos sonhos não correspondem ao que realmente aconteceu depois”, diz J. Allan Hobson em seu livro Dreaming: An Introduction to the Science of Sleep (“Sonhando: Uma Introdução à Ciência de Dormir”, inédito no Brasil). Animais sonham? Sim, com quase 100% de certeza. Os donos de gatos e cachorros sabem que, durante o sono, os bichos se movem e emitem ruídos que sinalizam uma atividade mental intensa. A ciência já descobriu que os mamíferos – e as aves, em menor escala – têm sono REM, portanto concluiu-se que eles sonham de alguma maneira. O único entrave nessa pesquisa é a
impossibilidade de relatos dos sujeitos – no caso, os animais. Terror sob os lençóis No meio da noite, acordamos sobressaltados, com o coração acelerado e suando frio. Como se não bastasse, demoramos a pegar no sono de novo. Muitas pessoas têm sonhos assustadoassustadores com menor ou maior freqüência. As estatísticas mostram que cerca de 50% dos adultos relatam pesadelos ocasionais e 6,9% a 8,1% têm pesadelos crônicos, que detonam o sono sem dar trégua. Outra curiosidade numérica: as mulheres têm dois a 4 pesadelos para cada um relatado pelos homens – mas ainda não há nenhuma explicação para essa diferença entre os sexos. O pesadelo tradicional, sem nenhuma relação direta com fatos do dia anterior, se encaixa na categoria dos distúrbios do sono. Mas há uma outra classe de pesadelos, os pós-traumátipós-traumáticos, que tem algumas nuances importantes. “O conteúdo, na maioria das vezes, é idêntico ao evento que gerou o trauma”, diz o psicólogo Júlio Peres, que desenvolve uma tese de doutorado sobre o tema. E esse tipo mais realista de pesadelo é tiro e queda: mais de 60% das pessoas que passam por algum tipo de experiência traumatitraumatizante, como assaltos e agressões físicas, acabam desenvolvendo o problema. jeito de liquidar com ele é abrir o jogo e tentar completar, acordado, as histórias que causam a aflição noturna. Esse método, conhecido como Terapia do Ensaio Imaginário, usa o recurso da narrativa para tirar a força das emoções e sensações que teimam em manter viva a chama de uma lembrança ruim. Ninguém esquece o trauma, mas com a terapia dá para tirá-lo de baixo do travesseiro e dormir sem pesadelos.
Projeto chinês propõe ônibus que anda por cima dos carros
Mulheres canhotas são mais egoístas Estudo mostrou que canhotas são menos generosas do que destras. por Thiago Perin Cientistas holandeses criaram um jogo em que os voluntários eram agrupados em pares. Uma pessoa recebia dinheiro, e tinha que decidir quanto iria compartilhar com o colega. O estudo constatou que os homens canhotos são mais generosos do que os destros. Já entre as mulheres é diferente: as canhotas retêm mais dinheiro para si.
Dinheiro na mão é vendaval? Por Flávio de Oliveira, consultor financeiro "Nossa programação é gastar mesmo - fazer vendaval. Só que essa lógica pré-histórica não faz mais sentido. Se antes os recursos eram perecíveis, hoje podem ser conservados e até render juros. Melhor não fazer vendaval." Philipe Maciel, professor da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro Ô SE É "Sua conta aumentou em US$ 1 milhão: você irá conhecer o mundo, viver nos melhores hotéis, pegar caminhões de mulheres, certo? Certo, por 6 meses, se tanto. Depois disso você estará na pior, rezando por outro milhão pra pagar as dívidas." Carlos Cardoso, do Blog do Cardoso NÃO PRECISA SER "Há dois modos de ver o futuro: o vidente e o previdente. Quem prefere a opção vidente, se consulte com um deles e torça para ouvir ‘você vai ficar rico!’. A quem opta pelo caminho previdente, aconselho a iniciar um bom plano de previdência privada."
Segurar o xixi ajuda a tomar decisões por Thiago Perin Psiquiatras da Universidade de Twente, na Holanda, demonstraram que ter bom controle da bexiga ajuda a evitar atitudes impulsivas. Numa experiência, pessoas que tomaram 5 copos de água fizeram escolhas menos imediatistas e mais vantajosas. Isso supostamente acontece porque segurar a vontade de urinar estimula o autocontrole. Obesidade causa danos ao cérebro Estudo revela que comer demais provoca inflamação cerebral - e pode deixar a pessoa neurologicamente incapaz de controlar seu apetite por Texto Salvador Nogueira e Bruno Garattoni
O que há por trás do Facebook? Por trás da rede social de A Rede Social há 60 mil servidores. E muita fé também: se você comprasse o Facebook hoje teria que esperar 100 anos para o investimento dar retorno. por Vinícius Cherobino e Alexandre Versignassi Por trás da rede social de A Rede Social há 60 mil servidores. E muita fé também: se você comprasse o Facebook hoje teria que esperar 100 anos para o investimento dar retorno. Mas tudo bem: pelo menos você seria dono do maior álbum de fotos da história da humanidade. 1 BILHÃO DE PESSOAS O Facebook ganha 8 novos membros por segundo. Se continuar nessa toada, deve saltar dos 500 milhões de usuários de hoje para 1 bilhão no começo de 2013. No Brasil são só 11 milhões, contra 50 milhões do Orkut. Só que ele cresce 10 vezes mais rápido que o concorrente pioneiro. Mantendo o ritmo de hoje, o Feice ultrapassa o Orkut lá por abril de 2012. 55 BILHÕES DE FOTOS A graça do Facebook são as fotos. Não é a gente que está dizendo, mas Mark Zuckerberg, o chefe. São 55 bilhões delas ali. Com isso, o Facebook pode dizer que é o maior álbum online da história - o Flickr, segundo colocado, tem 10 vezes menos. Isso dá uma média de 110 fotos por pessoa. Pouco, até. Mas a coisa deve crescer bem: só na noite de Ano Novo entraram 750 milhões de fotos. 60 MIL SERVIDORES Essa é a quantidade de máquinas que guardam o conteúdo da rede social - segundo estimativas da indústria, porque o Facebook não revela o número exato. O custo estimado para rodar os 60 mil servidores é de US$ 100 milhões por ano. E vai crescer: a rede
social está construindo um data center do zero no Oregon, do tamanho de 26 Maracanãs. O 10º HOMEM MAIS RICO DO BRASIL Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook que foi passado pra trás por Zuckerberg, entrou numa batalha judicial contra o ex-amigo e terminou como dono de 5% do site. Isso o deixa hoje como o 10º homem mais rico do Brasil, já que o Facebook está avaliado em US$ 50 bilhões. Com US$ 2,5 bilhões de dólares, Saverin está logo atrás de Abílio Diniz e de Antônio Ermírio (US$ 3 bi cada). E ele tem 29 anos.
logo dê tanto quanto o Google com publicidade online: US$ 2,5 bilhões. Por esse ponto de vista, US$ 50 bi ainda está barato. O Google vale 4 vezes mais. UM PÉ NO NAPSTER O The Facebook, primeira versão do site, permitia o compartilhamento de qualquer arquivo entre amigos - de fotos a músicas ou textos. Desenvolvido pelo próprio Mark Zuckerberg e por Sean Parker (que também é cofundador do Napster), o serviço foi lançado em 2004. Chamava Wirehog. Temendo problemas com pirataria, a dupla eliminou a função em 2006. Mas o Wirehog serviu como base do sistema de fotos que o site usa hoje. Fontes Consultorias Pingdom e Candytech; revista Forbes
LUCROS MIÚDOS O Facebook divulgou que teve lucro de US$ 355 milhões nos primeiros 9 meses de 2010 - o que leva a uma estimativa de US$ 473 milhões no ano. É pouco para uma empresa avaliada em US$ 50 bilhões. A Amazon, que vale a mesma coisa, deu US$ 900 milhões. A Bayer, US$ 1,9 bilhões. Mas ok: a expectativa dos investidores é que o Facebook
Por trรกs da cortina de fumaรงa
A Organização Mundial da Saúde publica o mais completo relatório sobre os efeitos da maconha. E afasta a onda de desinformação que cerca a droga ilegal mais consumida do mundo. por Flávio Dieguez Era para ser uma festa. Era para ser o triunfo da pesquisa médica em seu esforço de separar,
Arte Ă flor da pele
deus existe? No final do século passado, a ciência acreditava ter todas as chaves do conhecimento: decifrar os últimos mistérios da natureza era só uma questão de tempo. Agora, na entrada de um novo milênio, as certezas mais claras agonizam e os cientistas se perguntam... por José Augusto Lemos Existe uma luz no fim do túnel? Eu sinceramente espero que sim. Afinal, faz várias semanas – meses talvez – que estou perdido nesse labirinto escuro. Eu não sei o que fiz para merecer tamanho castigo. De todos os trabalhos que poderiam me dar nesta vida de jornalista, não deve ter abacaxi mais cascudo que esse: uma reportagem sobre Deus... e justo numa revista científica! Mecânica quântica e matemática do caos a gente até entende – com a ajuda de um bom professor, claro. Deus é outra história. É o infinito imponderável: aquilo que não dá para se pensar nem imaginar. É o infinito inefável: aquilo que não dá para se falar. Ou pelo menos essa é a maneira mais segura de abordar – e encerrar – o assunto sem cair no ridículo nem ofender ninguém. Mas são os próprios cientistas que não param de falar em Deus. Os últimos dez anos em especial viram nascer um novo filão literário dedicado a discutir o Divino – aquele mesmo, um Criador Onipotente e Onisciente! – à luz da física e da matemática, da química e da biologia. O culpado, ao que tudo indica, é o físico inglês Stephen Hawking, ocupante da cadeira que foi de Isaac Newton na ultra-prestigiosa Universidade de Cambridge e um dos principais teóricos dos buracos negros. Hawking, todo mundo sabe, realizou um milagre
digno do Grande Arquiteto Celestial ao vender mais de dez milhões de cópias de um tratado de cosmologia e astrofísica, denso o suficiente para fritar o cérebro do público leigo. Publicado em 1988, Uma Breve História do Tempo tornou-se o mais inesperado best seller da história e até filme virou – não sem antes deixar no ar, bem no parágrafo final, uma sedutora insinuação de casamento entre ciência e religião: “Se chegarmos a uma teoria completa, com o tempo esta deveria ser compreensível para todos e não só para um pequeno grupo de cientistas. Então, todo mundo poderia tomar parte na discussão sobre por que nós e o Universo existimos... Nesse momento, conheceríamos a mente de Deus.” Aviso importante: Hawking nunca se declarou religioso e usa essa idéia mais como uma frase de efeito, uma metáfora do conhecimento total do Universo. Mas não demorou para outro cientista inglês do alto escalão, o físico Paul Davies, extrair todo um livro – e mais um sucesso comercial de arromba! – levando ao pé da letra as palavras do colega. Acolhido com uma chuva de prêmios destinados à divulgação científica, A Mente de Deus (1992) passa em revista a história da ciência e da filosofia para afirmar, com convicção, que tudo no cosmo revela intenção e consciência. Como o próprio Davies resumiu em uma entrevista: “Acredito que as leis da natureza são engenhosas e criativas, facilitando o desenvolvimento da riqueza e da diversidade na natureza. A vida é apenas um aspecto disso. A consciência é outro. Um ateu pode aceitar essas leis como um fato bruto, mas para mim elas sugerem algo mais profundo e intencional.”
Estava dada a deixa para uma verdadeira enxurrada de físicos-teólogos atacar o assunto em dezenas de publicações semelhantes, como Ian Barbour, Arthur Peacocke, Hugh Ross, Frank Tipler e Gerald Schroeder. Dessa turma, o mais ativo é o também inglês John Polkinghorne, colega de Hawking no departamento de Física de Cambridge, que – depois de 25 anos de carreira acadêmica brilhante – largou tudo para se ordenar pastor anglicano e escrever seus livros de “cristianismo quântico”. “Eu não abandonei a física porque estava desiludido com ela, muito pelo contrário: continuo acompanhando o assunto com o máximo interesse. Só não faço mais pesquisa científica. Mas boa parte dos meus livros consiste em ensinar física quântica aos leigos”, disse ele à SUPER. “Acredito que precisamos de ambas as perspectivas, a científica e a religiosa, para compreender esse mundo admirável em que vivemos.” Alguma transformação radical deve ter ocorrido para que a crença em Deus, assunto que havia se tornado tabu em laboratórios e universidades, renascesse com tanta força. Cem anos atrás, a ciência se projetava como a própria imagem do progresso e da civilização: decifrar todos os mistérios da natureza era só uma questão de tempo. Era como se estivéssemos em um trem, atravessando planícies ensolaradas, com uma visão cada vez mais ampla de tudo que nos cercava. Nós mesmos havíamos nos tornado os senhores do universo. Ninguém necessitava mais de fantasias como “providência divina”. Conceitos desse tipo – e entidades sobrenaturais em geral – passaram a ser considerado ou uma infantilização neurótica (Freud) ou um meio das classes
dominantes subjugarem os pobres e oprimidos (Nietzche e Marx). De repente, sumiram de vista as planícies, a luz do sol e os próprios trilhos do trem. Um terremoto, depois outro, haviam nos atirado dentro de um túnel escuro, onde as velhas certezas voltavam a se converter em mistérios. Esses dois cataclismas eram justamente a física quântica e a matemática do caos. “Ambas teorias mostravam que existe uma imprevisibilidade inevitável espalhada por toda a natureza. Não acho que isso deva ser interpretado como uma infeliz ignorância de nossa parte e sim como sinal de que os processos físicos são muito mais abertos do que a mecânica de Newton sugeria. Quando falo ‘abertos’, estou querendo dizer que existem outros princípios causais em ação, acima e além das trocas de energia que a física descreve”, afirma Polkinghorne. O físico brasileiro Ricardo Galvão, da Universidade de São Paulo – que se diz “bastante religioso” – completa o quadro: “A partir das equações da mecânica de Newton e da teoria do eletromagnetismo de Maxwell, a ciência clássica dava a impressão de que, conhecendo essas leis matemáticas, conseguiríamos descrever todo o Universo. É o que se chama de conceito determinístico, segundo o qual se acreditava que, conhecendo as condições iniciais de um evento ou sistema, poderíamos prever toda sua evolução futura. Mas já no final do século passado, o matemático e físico francês Henri Poincaré (1854-1912) tocou no problema de que essas condições iniciais nunca são bem conhecidas. Ele mostrou que mesmo a mecânica de Newton não era determinística no sentido que se pensava.
Seitas ufológicas Grupos messiânicos movidos pela crença na vida extraterrestre arrebanham seguidores mundo afora. Alguns tiveram fim trágico por Marlene Jaggi
No dia 27 de março de 1997, nada menos do que 39 pessoas foram encontradas mortas numa mansão ao norte de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos. Elas haviam cometido suicídio coletivo, levadas pela crença cega em Marshall Applewhite, líder de uma seita denominada Heaven’s Gate (literalmente, “Portal do Paraíso”). Applewhite fez seus seguidores acreditarem que alcançariam a vida eterna se morressem no momento da passagem do cometa Halle-Bopp pela Terra, pois o astro abrigaria em sua cauda uma nave espacial. Fundada em 1970, a Heaven’s Gate é só uma das muitas seitas que se espalharam pelo mundo ancoradas em elementos ufológicos. Na maior parte das vezes, seus líderes se dizem pessoas eleitas por “forças extraterrestres” para cumprir alguma missão na Terra. O ufólogo Vanderlei D’Agostino diz que existem três tipos de líderes de seitas: os bem-intencionados, os que têm algum desvio de conduta (eventualmente patológico) e os literalmente charlatães. Ou seja, não dá para generalizar. Nem todos, é claro, levam a um final trágico quanto o do Heaven’s Gate. A seguir, conheça mais algumas seitas que arrebanharam seguidores com base em crenças e dogmas ligados à ufologia. Movimento Raeliano Fundado em 1975 pelo jornalista francês Claude Vorilhon, que se autodenomina Rael, prega que o ser humano foi criado em laboratório por extraterrestres. Rael, hoje com 59 anos, afirma ter sido contatado e abduzido em 1973 por um ET, que lhe pediu para construir uma
“embaixada” na Terra, para receber de volta os alienígenas. O francês teria sido escolhido como o “messias”, destinado a conscientizar a humanidade sobre a necessidade de evolução. A seita tem 70 mil seguidores no mundo. Nos últimos anos, tem chamado a atenção por sua defesa da clonagem humana – tida como um meio de atingir a imortalidade. Há rumores de que a Clonaid, empresa criada por Rael em 1997, já teria conseguido gerar uma menina, clone de uma mulher de 31 anos. Comando Ashtar Baseia-se em supostos contatos realizados entre humanos e um extraterrestre chamado Ashtar Sheran, que seria o grande “comandante intergaláctico”, incumbido de promover a regeneração da Terra. É um movimento forte na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. A figura de Ashtar estaria ligada a mensagens de alerta à humanidade. Nos anos 50, segundo seus seguidores, Ashtar teria entrado em contato com a Terra para evitar que bombas atômicas destruíssem nosso planeta e colocassem em risco o equilíbrio intergaláctico. Projeto Portal A seita foi fundada há dez anos em Corguinho (MS) por Urandir Fernandes de Oliveira, que se considera um representante dos ETs na Terra. “Tem causado grandes estragos na vida de inúmeras pessoas que o procuram na busca de curas e contatos com ETs”, diz Rafael Cury, presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil. Urandir chegou a ser preso, sob acusação de participar de um esquema de venda ilegal de lotes de terra em Corguinho. Segundo Urandir, o mundo será castigado por uma grande inundação, mas o lugar que ele chama de “A Cidade dos ETs” – onde ficam os tais lotes de terra – estaria imune à tragédia.
Lineamento Universal Superior (LUS) Criado pela vidente brasileira Valentina Andrade e por seu marido, o argentino José Teruggi, em Buenos Aires. Segundo eles, só os seguidores da seita seriam salvos do apocalipse, resgatados por naves espaciais. Nos anos 80, Valentina e outros membros do grupo foram acusados de castrar nove meninos de 8 a 14 anos e assassinar seis deles, em rituais satânicos, entre 1989 e 1993, em Altamira, no Pará. “Quando invadiram sua residência em Londrina, no Paraná, encontraram várias fitas de vídeo em que ela, em transe, dizia: ‘Matem criancinhas’”, conta Rafael Cury. Presa em 2003, Valentina foi julgada e absolvida por falta de provas. Outros quatro acusados foram condenados a penas de 35 a 77 anos de prisão. Grupo Rama Começou no Peru, com os irmãos Sixto e Carlos Paz. Após se desentender com o irmão, Carlos mudou-se para o Brasil e criou um braço da seita, o Grupo Amar (Rama ao contrário). Os irmãos organizavam vigílias para aguardar a chegada de naves alienígenas. Afirmavam viajar com freqüência à Constelação de Órion, onde eram recebidos por ETs. Após denúncias sobre a falsidade desses contatos, a seita caiu no ostracismo. Carlos acabou mudando de sexo e Sixto perdeu credibilidade depois de participar de um programa de TV e ser reprovado por um detector de mentiras. As duas vertentes da seita deixaram de existir no início dos anos 90. Cultura Racional Foi criada por Manoel Jacinto Coelho em 1935, no Rio de Janeiro, num centro espírita no bairro do Méier. Nos meios usados para sua divulgação, a Cultura Racional cita com freqüência discos voadores e seres extraterrestres. Considera-se um movimento cultural, não uma
seita. Nos anos 70 e 80, atraiu milhares de seguidores, entre eles o cantor Tim Maia, que acabou deixando o movimento. Seus princípios se baseavam em um conjunto de livros denominado Universo em Desencanto, considerado por muitos um instrumento de lavagem cerebral.