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Este livro estรก de acordo com a nova ortografia.
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COM A PALAVRA, O PREFEITO Perfis e depoimentos dos políticos que governaram São José dos Campos na segunda metade do século 20 E dita do por
A lb e r t o V . Qu eiroz
Prefeitura Municipal de São José dos Campos 2008
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com a palavra, o prefeito Projeto, Coordenação e Edição Alberto V. Queiroz Pesquisa, Entrevistas e Redação Antônio Marmo, B.Veloso, Cristina Valéria, Fausto Carneiro, Iara de Carvalho, Irênio de Faro, Joaquim Maria, José Roberto Amaral, Júlio Ottoboni, Luiz Paulo Costa, Paulo Bicarato, Ricardo Júlio, Roberto Wagner de Almeida, Sérgio Roberto de Paula
Pesquisa iconográfica As imagens indicadas como “divulgação” foram fornecidas pelos prefeitos ou familiares dos prefeitos. As outras imagens são do Arquivo Público do Município (FCCR). A pesquisa foi feita pelos próprios jornalistas e complementada pelo editor. Colaborou Flávio Forner
Fotografias As fotografias atuais, publicadas junto com as entrevistas, foram feitas especialmente para esta obra. As de Joaquim Bevilacqua, Antônio José e Emanuel Fernandes são de autoria de Marcelo Magano. As de José Luiz Carvalho de Almeida, Robson Marinho, Pedro Yves Simão e Angela Guadagnin são de autoria de Lilian Vinhas. As de Ednardo de Paula Santos são reproduções de imagens gravadas pelo Depav/ FCCR
Revisão Lilian Baroni Schmidt Projeto gráfico e capa Magno Studio Editoração eletrônica Patrick Vergueiro
Todos os direitos reservados para a Prefeitura Municipal de S. J. dos Campos Rua José de Alencar, 123 – Vila Sta. Luzia – São José dos Campos – SP – 12.209-530 Fone: (12) 3947-8000 – Correio eletrônico: 156@sjc.sp.gov.br – www.sjc.sp.gov.br C72 Com a palavra, o prefeito: perfis e depoimentos dos políticos que governaram São José dos Campos na segunda metade do século 20 / Alberto Vasconcellos Queiroz (organizador).— [et al.].São José dos Campos: Prefeitura Municipal de São José dos Campos , 2008. Textos de jornalistas da cidade, baseados em entrevistas, depoimentos e documentos dos ex-prefeitos nas gestões de 1951 a 2000. ISBN 978-85-61192-08-2 1- São José dos Campos – História 2 - São José dos Campos – Prefeitos 3 - Administração pública 4- São José dos Campos - Política municipal I - Queiroz, Alberto Vasconcellos, org. CDU 981( 816.12 ) SJC CDD 981.61 SJC
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Os textos deste livro são de autoria dos jornalistas Antônio Marmo B. Veloso Cristina Valéria Fausto Carneiro Iara de Carvalho Irênio de Faro Joaquim Maria José Roberto Amaral Júlio Ottoboni Luiz Paulo Costa Paulo Bicarato Ricardo Júlio Roberto Wagner de Almeida Sérgio Roberto de Paula
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Dizem que os que governam são espelho da república: não é assim, senão o contrário. A república é o espelho dos que governam. Padre Antônio Vieira (1608 – 1697)
Estuda o passado, se quiseres adivinhar o futuro. Confúcio (551 – 479 a.C.)
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Índice Mensagem por Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro 13 Introdução por Alberto V. Queiroz 15 Cronologia e tempo de duração dos mandatos, de 1951 a 2000 19 Capítulo 1 Benoit Almeida Victoretti, por Fausto Carneiro 23 Capítulo 2 Orlando Campos, por Fausto Carneiro 31 Capítulo 3 Elmano Ferreira Veloso, por Irênio de Faro 43 Capítulo 4 Donato Mascarenhas Filho, por Fausto Carneiro 63 Capítulo 5 Marcondes Pereira, por Luiz Paulo Costa 71 Capítulo 6 José Ferze Tau, por Cristina Valéria 105 Capítulo 7 Sérgio Sobral de Oliveira, por José Roberto Amaral 113 Capítulo 8 Ednardo de Paula Santos, por Júlio Ottoboni 163
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Capítulo 9 Joaquim Bevilacqua, por Roberto Wagner de Almeida 187 Capítulo 10 José Luiz Carvalho de Almeida, por Iara de Carvalho
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Capítulo 11 Robson Marinho, por Joaquim Maria 247 Capítulo 12 Hélio Augusto de Souza, por Antônio Marmo 279 Capítulo 13 Antônio José, por Sérgio de Paula 337 Capítulo 14 Pedro Yves, por B. Veloso 355 Capítulo 15 Angela Guadagnin, por Paulo Bicarato 399 Capítulo 16 Emanuel Fernandes, por Ricardo Júlio 427 Sobre os profissionais que fizeram este livro 469 Índice onomástico 477
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Mensagem
S
ão José dos Campos empurra o pensamento, estimula a cogitação, abre todas as suas asas para que voe a liberdade de chegar e sair, é amiga do sonho e não proíbe a utopia, menos ainda tolhe os movimentos dos visionários. Os dezesseis timoneiros aqui retratados, afortunados condutores de São José dos Campos, não são pessoas iguais. Cada um emprestou seu modo e plano, surgindo desse amálgama a cidade com feição e comportamento únicos. Alguns dos dezesseis excederam-se, outros estiveram abaixo do que deles se esperava. Coisas do homem. Não se deixe de reconhecer, entretanto, a sabedoria que a cidade mostrou, não execrando um de seus filhos, por acaso, menor. A cidade segue; há os que preferem ficar para trás. Isso não representa e nunca representou o perfil ganhador de São José, cidade íntima da fortuna e portadora de louros de toda forma de vitória. São José dos Campos é contemporânea da modernidade da hora. Ela vive os dias do momento e, algumas vezes, se antecipa vivendo, agora, os dias que só depois viveria, caso fosse uma cidade de cronologia normal. São José implica painel onde cabem todas as ousadias, sonhos e desafios. Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro
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Introdução
UMA HISTÓRIA AINDA VIVA
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realização deste livro foi solicitada pelo prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, como uma forma de registrar as contribuições dadas pelos prefeitos à formação e ao desenvolvimento da cidade a partir de um momento crucial que foi a criação do CTA e a abertura da Via Dutra. É uma história muito recente, da qual muitos dos atores ainda são vivos. Essa proximidade, se impede uma abordagem histórica mais objetiva e desprendida, permite, por outro lado, a coleta de depoimentos de quem de fato viveu todos os momentos retratados – a começar dos próprios prefeitos. Permite o contato com uma história ainda viva, pulsante. Precisamente por isso, optamos por utilizar no livro uma abordagem jornalística, que é aquela já acostumada a lidar com a subjetividade do presente. Essa abordagem tem também a vantagem de produzir um material que, ainda que não tão analítico quanto o de um trabalho propriamente historiográfico, é lido por um número maior de pessoas. E é intenção nossa que este livro seja lido não somente por estudiosos, mas por todas as pessoas interessadas em conhecer os fatos de sua cidade. Para fazê-lo, convidamos diversos jornalistas com ligações com a cidade, pedindo a cada um que escrevesse sobre um prefeito. No caso dos prefeitos ainda vivos, solicitamos também a realização de uma entrevista. Deste modo, temos, por um lado, a visão que o jornalista tem daquele prefeito, e, por outro, o prefeito falando de si mesmo, na primeira pessoa. No caso de alguns dos prefeitos já falecidos, publicamos entrevistas dadas anteriormente a órgãos de imprensa. Registre-se que os jornalistas receberam uma diretriz para orientar o trabalho, mas com liberdade para conduzi-lo de forma pessoal. Isso
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produziu textos variados, onde está a marca pessoal de cada jornalista, conferindo ao livro uma diversidade que, a nosso ver, o torna mais atraente ao leitor. As entrevistas com os prefeitos foram gravadas em vídeo e integradas ao patrimônio da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. A versão que aparece neste livro é editada.1 Como dito acima, a atualidade da história abrangida por este livro impede uma abordagem mais objetiva, desapaixonada. Mas há um outro elemento de limitação: o fato de esta ser uma obra editada sob os auspícios da prefeitura. Isso implica que o foco seja sempre posto nas realizações positivas, não nas negativas. Em outras palavras, não é esta uma obra de polêmica. Não visa acusar, suspeitar, tampouco defender ou redimir. As histórias do folclore político da cidade, verídicas ou não, não têm nela guarida. Terão de ser consignadas em outra ou outras obras. O livro também não se propõe, que fique claro desde já, a conciliar visões ou depoimentos opostos. Diversos prefeitos dizem que receberam a prefeitura em más condições financeiras e a entregaram “saneada”. Mas aqueles de quem a receberam e aqueles a quem a passaram dizem o mesmo. Quem está com a razão? Não nos propusemos a resolver tais divergências, mesmo porque não é o ponto mais importante. O mais importante, o leitor verá, é a história que surge a cada momento. Na sua obra clássica que veio a ser chamada de Vidas ou Vidas Paralelas, o escritor grego Plutarco aborda, par a par, uma grande personagem grega e uma romana. Por exemplo, Alexandre Magno e César. Ou Demóstenes e Cícero. Ao tratar deles, Plutarco fala tudo o que pode sobre cada um: desde o seu nascimento, a primeira educação, os esportes etc, até a morte. E, muito interessante, diz ele que: “Não são, por certo, as ações mais preclaras que evidenciam a virtude ou o vício; muitas vezes, um ato sem importância, uma frase, um
1. A edição das entrevistas reflete a necessidade de adaptar minimamente a expressão oral à expressão escrita, que tem suas regras próprias. Sem isso, a veiculação impressa das entrevistas seria de leitura pouco atraente e muito cansativa. Foi necessário, também, reduzir a extensão dos depoimentos.
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gracejo qualquer revelam melhor o caráter do que as batalhas de milhares de baixas, os exércitos em linha mais extensos e os sítios das grandes cidades.” Guardadas as devidas proporções entre os grandes da Antiguidade e os personagens deste livro, podemos dizer que a mesma ideia vale também para estes – como, de fato, para todo político. Muitas vezes, um ato sem importância, uma frase, um gracejo terão melhor evidenciado seu caráter, suas virtudes e vícios, suas forças e fraquezas, sua inteligência e sua tolice. Por isso, quando tratando de cada prefeito, abriu-se aqui grande espaço para questões não diretamente ligadas à administração municipal. Em outras palavras: para entender a administração municipal é preciso entender o prefeito, e para entender o prefeito é preciso entender o homem – ou a mulher – que ele reveste. Como disse o padre Gaston Courtois há 40 ou 50 anos, o ser humano não é um ser racional, mas um ser emocional. É fundamental ter isso em mente para compreender os rumos dados por seus líderes a uma cidade, a um país, a um mundo. Além das histórias específicas, o leitor atento poderá haurir, da presente obra, lições gerais. Se é leigo, sairá com uma visão melhor do que é a política em âmbito municipal. Descobrirá talvez detalhes de administração pública que nunca imaginou. Poderá aprender com os exemplos positivos – São José dos Campos teve bons administradores e bons políticos – como com os negativos. Aprenda-se com os aforismos de Elmano Veloso, por exemplo, o quanto o poder é ingrato. Aprenda-se com Hélio Augusto que é preciso lutar. Aprenda-se com Sobral o exercício da autoridade. Ser prefeito não é fácil. Pode ser uma tragédia ou uma comédia – mais frequentemente é uma mistura das duas coisas. Mas é sempre uma experiência da qual se podem tirar inúmeras lições. Fica aqui, então, à disposição do leitor, este pedaço de história viva de São José dos Campos. Nem todos gostarão de todos os capítulos. São muito diferentes, por refletirem as diferenças entre os prefeitos bem como as diferenças entre os jornalistas. Mas duvidamos que alguém feche o livro sem ter gostado ao menos de um dos textos. Por último, o leitor verá que incluímos no livro um DVD com dois filmes, realizados nas administrações Elmano Veloso (em seu último
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mandato) e Sérgio Sobral. Esses filmes, ainda que sejam peças publicitárias, fornecem interessantes imagens da cidade durante esses períodos e contribuem com isso para a compreensão da administração desses dois prefeitos. *** Este projeto é um produto de muitas mãos. Além dos jornalistas diretamente envolvidos, com quem foi um grande prazer trabalhar, houve a assistência constante de Luiz Paulo Costa e o apoio da Fundação Cultural Cassiano Ricardo – por meio do Arquivo Público do Município e do Depav (Departamento Áudio-Visual), que gravou a maior parte dos depoimentos e editou o material do DVD. Agradecemos, pelo apoio e por conselhos e observações valiosas, a Claude Mary de Moura, Carlos Eduardo Santana, Antonia Varotto, Vitor Chuster, Aydano Barreto Carleial, Ricardo Mendes Trindade, Ângela Tornelli, Jussi Ramos e Thaís França. Agradecemos, também, à Câmara Municipal de São José dos Campos, que prestou auxílio valioso a todos os jornalistas que a procuraram. Alberto V. Queiroz Março de 2008
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Cronologia e tempo de duração dos mandatos, de 1951 a 2000 Benoit Almeida Vi c t or e t t i 1951 - 1954 [2 anos e 10 meses] Orla ndo C ampos 1954 - 1955 [8 meses] E lma no Ferreira Ve l os o* 1955 - 1958 [3 anos] Dona to M a sca renhas F i l ho 1958 [7 meses] E lma no Ferreira Ve l os o 1958 - 1962 [4 anos] Ma rcondes P e r e i r a 1962 - 1966 [4 anos] José Ferz e T au 1966 [80 dias] E lma no Ferreir a Ve l os o 1966 - 1970 [3 anos] Sérgio S obra l de Ol i v e i r a 1970 - 1975 [5 anos e 5 meses] E dna rdo de Pa u l a S ant os 1975 - 1978 [3 anos e 3 meses]
* Elmano Ferreira Veloso já fora prefeito de 1949 a 1950. No total, governou a cidade por 11 anos.
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Joa quim Be v i l ac qu a 1978 - 1982 [3 anos e 5 meses] José Lu iz C ar v al ho de A l me i da 1982 - 1983 [9 meses] Robson Mar i nho 1983 - 1986 [3 anos e 4 meses] Hélio Augu s t o de S ou za 1986 [5 meses] Ant ôni o Jos é 1986 - 1988 [2 anos e 2 meses] Joa qu im Be v i l ac qu a 1989 - 1990 [15 meses] Pedr o Yv e s 1990 - 1992 [2 anos e 9 meses] Angela Gu adagni n 1993 - 1996 [4 anos] E ma nu e l F e r nande s 1997 – 2000 [4 anos] **
** Emanuel Fernandes reelegeu-se em 2000 e cumpriu mais um mandato, de 2001 a 2004, ficando oito anos consecutivos à frente do Executivo municipal.
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C O M A PA L AV R A , O P R E F E I T O
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Capítulo 1
O PREFEITO QUE SE TORNOU ACADÊMICO DA USP Benoit Almeida Victoretti destacou-se na área do saneamento
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engenheiro sanitarista Benoit Almeida Victoretti foi talvez um dos mais jovens e ativos prefeitos de São José dos Campos. Durante o seu mandato de quase três anos, iniciado em 1951, Victoretti implementou o primeiro código de obras da cidade, que estabelecia zonas industriais, comerciais e residenciais, alargou ruas e praças e investiu nos precários sistemas de saneamento básico e de distribuição de água. Victoretti foi nomeado prefeito no dia 9 de junho de 1951 pelo então governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez. Completaria 28 anos de idade dois dias após sua nomeação. A indicação de Victoretti para o cargo sofreu resistência na cidade. “Não conhecemos nem de nome o novo titular da prefeitura”, estampou o semanário Correio Joseense, em texto de primeira página no dia seguinte à nomeação. Naquela época, correntes políticas locais, apoiadas pelo Correio Joseense, lutavam pelo fim das nomeações de prefeitos. Uma das principais causas da rejeição ao novo prefeito era sua suposta falta de ligação com a cidade. Entretanto, apesar de ter vivido boa parte da infância e juventude em São Paulo, e ter-se formado em engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – onde anos mais tarde viria a ser um de seus mais renomados professores –, Victoretti tinha nascido em São José dos Campos, filho de uma família tradicional da cidade. Apesar das reclamações, Benoit Victoretti foi confirmado no cargo. Sua posse aconteceu no dia 16 de junho, no Palácio do Governo do Estado, em São Paulo. Como seus antecessores, tinha o título de “prefeito sanitário”, linha de administradores formados em engenharia ou medicina cujos governos davam ênfase à questão sanitária. Na época, a cidade era dos mais importantes centros de tratamento da tuberculose. No setor administrativo, sua gestão foi marcada por uma série de melhorias na rede viária e pela expansão dos sistemas de saneamento e de distribuição de água. No ano em que tomou posse, a área urbana de São
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José dos Campos tinha cerca de 5 mil residências, das quais apenas 1.892 tinham rede de coleta de esgoto, 2.570 eram abastecidas por água encanada e cerca de 3.000 contavam com energia elétrica. A população total da área urbana da cidade, que se resumia quase que integralmente à atual região central de São José dos Campos, era de 27.000 habitantes. No período de seis meses e meio de governo que teve no ano de 1951, as três realizações mais marcantes da gestão de Victoretti seriam de natureza a dar frutos no médio prazo. Antes de terminar o ano, Victoretti ordenou a tomada de fotografias aéreas da cidade, que serviriam de guia para o planejamento da expansão das redes de água e esgoto. A medida foi duramente criticada por seus opositores, que viam como desperdício o gasto de 400 mil cruzeiros, elevado para a época, com o levantamento aerofotográfico do município. Em novembro de 1951, ele enviou à Câmara Municipal projeto de lei doando um terreno no Campo dos Alemães à Escola Técnica da Aeronáutica, que depois viria a ser o CTA. A doação foi aprovada pela Câmara no dia 16 de novembro por 13 votos a 5. Também em novembro, a Câmara aprovou projeto do Executivo que vetava a construção de prédios de apenas um pavimento na rua 15 de Novembro, na rua Siqueira Campos entre a praça João Pessoa e a avenida Dr. Mário Galvão, na rua 7 de Setembro, na rua Coronel Monteiro entre a rua 7 de Setembro e a praça Cônego Lima e na rua Sebastião Humel entre as ruas 7 de Setembro e 15 de Novembro. O objetivo era estimular o crescimento da região central da cidade. Racionamento de energia O ano de 1952 teve início com a ameaça de racionamento de energia elétrica, apesar de o consumo total da cidade ser relativamente pequeno. Estiagem prolongada, que reduziu a margem dos reservatórios, e problemas na usina Henry Borden, em Cubatão, que produzia parte da energia consumida na região, eram as principais causas do problema. O racionamento viria a ser implantado ao final do ano, com a proibição de uso de iluminação nas vitrines de lojas e nos incipientes painéis de publicidade. Devido à crise no fornecimento, a prefeitura reduziu ao mínimo a iluminação pública nas vias da cidade, deixando às escuras monumentos e algumas praças. A restrição de consumo previa multas e
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cortes de fornecimento a quem ultrapassasse as cotas determinadas em comum acordo entre a companhia elétrica São Paulo Light and Power Company Limited e a prefeitura. Mas a grande novidade deste ano, novidade que mais tarde se converteria em frustração política, foi a extinção das estâncias hidrominerais, que seriam convertidas em estâncias sanitárias a partir de março de 1953. Na prática, um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo e promulgado pelo governador Lucas Nogueira Garcez no dia 31 de dezembro de 1951 encerraria o período de nomeações políticas nas cidades classificadas de estâncias hidrominerais, caso de São José dos Campos. A aprovação da lei garantiria à população escolher pelo voto o prefeito da cidade, aspiração de boa parte dos grupos políticos locais. Com isso, o mandato de Victoretti deveria encerrar o ciclo de prefeitos nomeados. Entretanto, em junho daquele mesmo ano, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) considerou inconstitucional a restituição da autonomia política à cidade. A decisão do TRE foi ratificada em outubro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A população teria de esperar ainda seis anos até poder escolher nas urnas o seu prefeito. Apesar dos problemas no abastecimento de energia e do revés na aprovação da autonomia política ao município, 1952 foi um ano de expansão da cidade, ainda que à custa de pelo menos duas medidas impopulares adotadas pela administração municipal ainda no primeiro trimestre, medidas que acabaram produzindo a reação de adversários e dos comerciantes em geral. Em março de 1952, a prefeitura reajustou o Imposto de Indústria e Profissão, o equivalente hoje ao ISS (Imposto Sobre Serviços), em até 300%. Mesmo com a repercussão negativa, a prefeitura manteve o aumento do tributo. Apesar de isso já garantir o reforço no caixa municipal, Victoretti pediu autorização à Câmara para contrair empréstimo de sete milhões de cruzeiros, o equivalente a quase seis meses da arrecadação municipal. O dinheiro seria usado principalmente em obras viárias e na ampliação do sistema de água e esgoto. No dia 9 de maio, Victoretti inaugurou a primeira ligação terrestre de São José dos Campos com a região bragantina, a estrada de São Francisco Xavier a Joanópolis. Na inauguração, a comitiva do prefeito teve de esperar duas horas em um trecho inacabado da estrada até que cerca de 300 operários terminassem a ligação com o restante do caminho, que já esta-
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va concluído no sentido inverso, de Joanópolis a São José dos Campos. Três meses mais tarde, o governo do Estado liberaria 200 mil cruzeiros para o alargamento de trechos da estrada. Em outubro, a prefeitura fez uma série de inaugurações que perduram até os dias de hoje. Naquele mês, foram entregues o fornecimento de água encanada para o distrito de Eugênio de Melo e o Grupo Escolar Pedro Mascarenhas. Na região urbana, foi aberta ao tráfego a avenida Princesa Isabel, em Santana, e ainda inaugurada oficialmente a delegacia e a cadeia pública da cidade, na praça Afonso Pena. Foi ainda em 1952 que a prefeitura tornou obrigatória a instalação de hidrômetros nas residências e no comércio de São José dos Campos, como medida de combate ao desperdício de água e à redução dos reservatórios das barragens, o que afetava o fornecimento de energia elétrica. Em 1953, a prefeitura iniciou um plano para calçar as principais ruas e avenidas da cidade, graças à instituição da cobrança da taxa de calçamento iniciada no ano anterior. Uma máquina niveladora foi comprada para a realização do trabalho. Algumas das primeiras vias a receber calçamento foram a Francisco Paes, que recebeu ainda galeria de águas pluviais, e a rua Vilaça, ambas na região central da cidade. Em julho de 1953, o prefeito realizou a desapropriação de terreno para retificação e alargamento da avenida Nove de Julho no trecho próximo à rua Esperança, para atender ao aumento de tráfego. Também em julho daquele ano, a prefeitura desapropriou área entre as ruas Jaci e Guaianazes para alargamento da praça Santana. Benoit Victoretti seguiu ampliando as redes de água e esgoto da cidade até sua saída do cargo, em 2 de abril de 1954. Sua renúncia, após quase três anos à frente da prefeitura, daria lugar à nomeação de um médico para o cargo, Orlando Campos, que ficaria apenas oito meses no comando da cidade. Carreira acadêmica Benoit Almeida Victoretti nasceu em São José dos Campos em 11 de junho de 1924, filho de José Victoretti e Zenaide Almeida Victoretti. Apesar de sua ligação com a cidade, ainda menino foi estudar em São Paulo, onde se formou em engenharia sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
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Engenheiro dedicado, logo se tornaria notado entre os colegas. Antes de completar 28 anos, assumiria a prefeitura de São José dos Campos, com uma visão administrativa voltada para o desenvolvimento sanitário da cidade. Após deixar a prefeitura, Victoretti se tornou um dos mais respeitados engenheiros sanitaristas do país, além de professor da Universidade de São Paulo. No Brasil, é creditada a ele a instalação da primeira lagoa de estabilização de esgoto, em 1960, em São José dos Campos. Várias cidades do país adotaram sistemas sanitários desenvolvidos por ele. Em 1958, tornou-se professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde viria a ser chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica. Em 1964, conclui seu doutorado na área de engenharia hidráulico-sanitária. Em 1960, ao ter seu nome aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo, assumiu a Diretoria Técnica do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado. Durante sua passagem pela prefeitura de São José, sempre teve como preocupação o ordenamento do espaço urbano, o que se refletiu na criação do primeiro código de obras da cidade, baseado na premissa de que a instalação de indústrias não poderia se transformar em fator de poluição das zonas habitacionais – daí seu empenho em criar zoneamentos urbanos. Na área acadêmica, foi autor de vários livros técnicos sobre engenharia hidráulica e sanitária e ainda foi professor de pós-graduação na USP. Seu trabalho na área da engenharia sanitária lhe granjeou prestígio e reconhecimento. Entre os prêmios que recebeu, está o de “Personalidade de Destaque no Saneamento Ambiental”, concedido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Victoretti é casado com Thereza do Amaral Victoretti, com quem teve dois filhos, Ângelo e Paulo Murilo.
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Capítulo 2
O CURTO MANDATO DE UM TISIOLOGISTA Uma brincadeira num jantar leva Orlando Campos ao Paço
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rofundo conhecedor da obra de Beethoven, leitor voraz em quatro idiomas, poeta, violinista e apaixonado pela medicina, o médico tisiologista Orlando Campos tornou-se prefeito de São José dos Campos meio por acaso, como resultado de uma brincadeira em um jantar de amigos. Sua administração foi uma das mais breves dentre todos os prefeitos de São José. Campos ocupou o cargo por apenas oito meses, entre maio de 1954 e fevereiro de 1955. O mandato de Orlando Campos foi o penúltimo exercido por um prefeito sanitarista, prática que teve início em 1935, com o médico Leovigildo Trindade, e terminou com seu sucessor, Donato Mascarenhas Filho, em 1959. Nesse período, a cidade foi por várias vezes administrada por médicos ou engenheiros sanitaristas, que se caracterizavam por uma visão administrativa voltada à saúde pública. No curto período em que esteve à frente da prefeitura, Campos realizou algumas obras importantes, que ficaram registradas na história da cidade. Durante sua gestão, ele ampliou a rede de esgoto de São José, promoveu a primeira grande reforma urbanística da praça Afonso Pena, deu início à avenida Francisco José Longo e alterou o zoneamento de parte do município. Orlando Campos chegou em São José dos Campos em 1949, recém-casado e vindo de São Paulo, para ser o chefe do Dispensário de Tuberculose, que ficava na rua Rubião Júnior e que depois foi incorporado ao Centro de Saúde. Também atendia pacientes nas inúmeras pensões de tratamento que havia na cidade. Na época, São José era um dos principais centros de tratamento da doença no Estado de São Paulo. A tuberculose era a principal causa de morte de então. No ano em que Orlando Campos mudou para São José, por exemplo, a cidade registrou 725 óbitos, dos quais 329 (45%) decorrentes da tuberculose.
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A decisão de vir para São José foi difícil. A esposa de Orlando Campos, Dirce Catena Campos, relutou. Depois de ter conhecido o médico em Botucatu, onde ele já trabalhava no tratamento de doentes de tuberculose, e de ter-se casado em São Paulo, onde estava sua família, São José era para Dirce uma aventura. “Eu não queria. Nós viemos pra cá, mas viemos só para conhecer. São José nessa época parecia uma aldeia, uma vila. Só a rua 15 de Novembro era calçada. Quando chegava ali na praça da Matriz, não havia calçamento nenhum.” Apesar da oposição da mulher, Orlando Campos quis ficar, mesmo tendo deixado a filha recém-nascida, Sílvia, aos cuidados da sogra, em São Paulo. Em São José, o casal ficou uma semana hospedado na casa do médico e padrinho de casamento Ruy Dória, na praça Afonso Pena. Depois, passaram alguns meses na pensão Campos, também na praça Afonso Pena, enquanto esperavam vagar a casa em que finalmente viriam a morar, na rua Vilaça. Essa casa foi depois comprada pelo casal e hoje é usada como escritório por um genro de Orlando e Dirce. Depois de certo tempo na cidade, Dirce começou a lecionar em um grupo escolar no bairro de Santana. Passados seis meses, foi transferida para o Colégio João Cursino, que tinha o curso normal. “Eu lecionava, tinha só quatro classes, de primeira a quarta série, de manhã, e depois de primeira a quarta série, à tarde. Nós ficamos. Orlando como médico e eu como professora. Aí então ele foi nomeado prefeito”, conta Dirce. A história da chegada de seu marido ao cargo teve início em um jantar na casa do médico Euclides Fróes com outros amigos, todos personalidades da sociedade joseense na metade do século passado. O ano era 1954. Entre os presentes estavam o prefeito de então, Benoit Almeida Victoretti, o médico Ruy Dória, que também já havia ocupado o cargo, e o vereador Bento de Queiroz Filho, conhecido como Bento Pato. Durante a descontração da festa, começaram as brincadeiras. Em determinado momento, alguém indagou: “E se o Orlando fosse prefeito de São José dos Campos?” A brincadeira ganhou corpo durante o jantar. “O Bento foi brincando, mas já tomando providências, sabe?”, relembra Dirce.
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Naquela época, os prefeitos das estâncias climatéricas e hidrominerais, como São José dos Campos, eram nomeados pelo governador do Estado. A brincadeira iniciada no jantar acabou virando realidade por intermédio de Bento Queiroz, amigo do governador de então, Lucas Nogueira Garcez. Orlando Campos não tinha ligação alguma com o governador, mas era conhecido do vereador. Queiroz indicou ao governador o nome de Orlando Campos para ocupar a prefeitura em substituição a Victoretti, que estava à frente da administração municipal desde 1951. A notícia da nomeação pegou o médico de surpresa. De acordo com sua esposa, ele nunca tinha aspirado a qualquer cargo político. “Foi assim que saiu a nomeação dele. Orlando claro que aceitou, gostou muito, mas não se acostumou. Ele ficou um ano só [na verdade, Orlando Campos ficou apenas oito meses à frente da prefeitura]. Mas alguma coisinha ele fez. Ele era muito inteligente, foi o orador da turma dele na Faculdade de Medicina da USP [Universidade de São Paulo]. Falava de improviso, tinha um conhecimento muito grande”, conta Dirce. Uma das principais medidas adotadas por Orlando como prefeito foi a reforma da praça Afonso Pena, um marco da cidade, que na década de 1950 ainda servia de ponto de parada de charretes e carroças. Apesar de ter recebido iluminação elétrica em 1909, quando ganhou seu nome atual (antes, era chamada de praça 23 de Novembro), a Afonso Pena era escura e ainda servia para acomodar circos de passagem pela cidade e comemorações populares, como festas juninas e apresentações de danças folclóricas. “Era horrível! Era muito feia. Não tinha quase praça”, relembra Dirce Campos. Naquela época, a Afonso Pena era de terra batida, um grande quadrilátero descampado no centro da cidade. O projeto de reforma urbanística foi encomendado ao arquiteto baiano José Zanini Caldas, amigo de Orlando, que redesenhou o traçado, projetando áreas para caminhada de pedestres, jardins e um lago para peixes. Caldas chegou a São José para realizar maquetes do Centro Técnico de Aeronáutica. Depois de entregar o projeto da praça a Orlando Campos, Zanini desapareceu – teria viajado para a Europa, África e China.
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Com o sumiço do projetista, Orlando Campos apelou a um outro amigo para tocar o projeto de Zanini. O executor da obra foi Gregório Gurevich, que havia chegado à cidade anos antes, vindo de Belo Horizonte, para o tratamento de tuberculose. Embora não entendesse nada de projetos e paisagismo, Gurevich aceitou a incumbência. As primeiras plantas que fizeram parte do jardim tropical projetado por Zanini nos 10 mil metros quadrados de área da praça Afonso Pena foram buscadas no Horto Florestal de Campos do Jordão, em sucessivas e demoradas viagens de caminhão pela antiga estrada que dava acesso à cidade serrana. Depois, diante da impossibilidade de preencher as áreas de plantio sem que tivesse que repetir espécies de plantas, Gurevich acabou descendo a serra em direção a Caraguatatuba para retirar da mata nativa novas espécies para compor o jardim. Deu certo. Com a reforma segundo o projeto futurista desenvolvido por Zanini, a região central da cidade ganhou ares de rejuvenescimento. Pela primeira vez desde o século 19, época em que o local também era usado como área para alimentar animais, a praça Afonso Pena deixou de ser ponto de parada de cavalos e charretes e passou a ostentar ares de uma praça de verdade, de cidade civilizada. Saneamento Além da reforma da praça Afonso Pena, Campos investiu no saneamento urbano na região central da cidade. Como médico sanitarista, ele sabia que uma melhor infraestrutura sanitária era fundamental para que São José pudesse atender ao menos parte do crescimento que já se vislumbrava. Complementando outros feitos em administrações anteriores, seus investimentos ajudaram a preparar a cidade para o crescimento exponencial que teria nas décadas seguintes. De fato, o processo de implantação do parque tecnológico, que havia começado com as obras de construção do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), em 1949, e a inauguração da via Dutra, em 1951, fizeram com que o processo de industrialização ganhasse impulso, com claros reflexos sobre o perfil da cidade. Como resultado, no final da década de 1950, a população da cidade era de 77,5 mil habitantes, 55% maior do que os 50 mil de quando Campos deixou a prefeitura. [Em 1970, a população seria três vezes maior que a de 1955, chegando a 150 mil habitantes.]
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A Avenida Francisco José Longo Foi também durante a gestão de Orlando Campos que teve início a construção de uma das principais artérias de São José dos Campos, a avenida Francisco José Longo. A história da construção está ligada ao círculo de amizades do prefeito. De acordo com Dirce, Orlando Campos via a necessidade de uma nova via ligando os bairros adjacentes à área central da cidade. A abertura de uma nova via também era motivada pela necessidade de se desafogar o trânsito crescente da rua Paraibuna. Assim surgiu a ideia de construção da avenida Francisco José Longo. Em vez de adotar o procedimento considerado normal, que era a desapropriação mediante pagamento, Orlando Campos conseguiu convencer alguns amigos proprietários de chácaras a doar parte de suas terras para a construção da avenida. Foi dessa forma que a prefeitura iniciou a construção sem ter que desembolsar um centavo para aquisição de terras. “Ele construiu assim, gastando o mínimo possível, porque ele era muito bem relacionado, tinha muitos amigos. E ele conseguiu fazer com que as pessoas que cedessem essa faixa no meio para construir a avenida tivessem benefícios, pois seus terrenos ficariam valorizados”, relembra a viúva do prefeito. A Francisco José Longo inicialmente era apenas parte da avenida que hoje vai da Via Dutra à João Guilhermino. Seu traçado original era bem mais curto. Foi ampliada em projeto posterior, datando de 1958. Campos também promoveu durante sua administração a retificação do traçado da rua Sebastião Humel, no trecho entre a avenida São José e a rua 15 de Novembro, no Centro. Para ligar as duas vias, ele teve que dar fim a um espaço urbano tradicional do Centro, o chamado “Beco do Mijo”, uma passagem de três metros de largura que dava de frente para a travessa Bento Pinto. Os imóveis que formavam as laterais do beco foram desapropriados em 12 de janeiro de 1955 para dar lugar à ligação da rua XV com a avenida São José.
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Também durante sua gestão, Orlando Campos pôs fim ao antigo matadouro municipal, na rua Siqueira Campos, no Centro. A área do matadouro foi doada ao patrimônio do Estado. Mais tarde, o local daria espaço à escola hoje denominada Suely Antunes de Mello. Zoneamento A breve administração de Orlando Campos não ficou livre de críticas e reclamações da população. Quando prefeito, Campos permitiu a alteração da lei de uso do solo, que fez com que parte da rua Paraibuna e da avenida Nelson D’Ávila passassem de zona residencial para industrial. A medida tornou possível à Cooperativa de Laticínios se instalar na rua Paraibuna, onde ainda hoje funciona, depois de ter sido desalojada de sua antiga sede, próxima do viaduto da avenida Rui Barbosa, para dar espaço à oficina da Estrada de Ferro Central do Brasil. Ao não vetar a mudança aprovada pela Câmara Municipal, Campos teve de aguentar os protestos de moradores das áreas próximas, pois que a transformação de parte de uma zona residencial em industrial não foi bem recebida. As principais críticas dos moradores recaíam sobre a desvalorização dos terrenos e o barulho que a cooperativa iria provocar, já que suas atividades tinham início ainda de madrugada. Ginásio noturno Outra obra digna de menção, entre as executadas por Orlando Campos, está a criação de uma escola em Santana. No dia 30 de junho de 1954, Orlando Campos enviou à Câmara Municipal ofício em que pedia a aprovação de autorização para gastar “uma subvenção municipal de Cr$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros) destinada ao custeio das instalações”. O ginásio era um pleito dos estudantes do bairro, que tinham que se deslocar para o “primeiro subdistrito”, na região central, para estudar. Ao contrário de hoje, naquela época não havia transporte público abundante e as vias de acesso não tinham calçamento, o que dificultava a locomoção, principalmente em dias de chuva. A Câmara aprovou o pedido e o ginásio foi construído.
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Fim de governo Ao fim de oito meses de governo, Orlando Campos deixou o cargo. Dirce relembra sua saída: “Ele não quis mais. Achou que não valia a pena ser prefeito. Acho que se desencantou com a política, eu não sei. Orlando nunca me falou nada. Mas ele não gostava de política, tinha muitos amigos que eram políticos, mas ele não. Ele queria exercer a medicina. Era disso que gostava. O Orlando foi uma pessoa que se preocupava muito com as pessoas, com os doentes.” Perfil O ex-prefeito Orlando de Campos nasceu em Barretos, no interior de São Paulo, em 3 de julho de 1913, filho de Olímpio Campos e Corina de Lima Campos. Depois de concluir a primeira série, em 1923, Campos foi interno do Liceu Coração de Jesus, em São Paulo. Dois anos depois, sua família mudou para Olímpia, onde passou parte de sua infância, entremeada por idas recorrentes a Barretos, cidade em que ainda morava sua avó materna. Orlando Campos foi um menino tímido, com pouca habilidade para as brincadeiras comuns de garoto (futebol de meia, pião, bola de gude), mas dedicado aos estudos. Ainda na infância teve contato com a música, uma das paixões que carregaria para o resto da vida. Muito cedo aprendeu a tocar violino, instrumento em que se tornou especialista graças principalmente a uma professora italiana que conheceu em Olímpia e que ostentava diplomas dos conservatórios de Milão e Paris. Como profissão, Campos acabou por optar pela medicina. Em dezembro de 1942, aos 29 anos, formou-se pela Universidade de São Paulo. Depois de concluídos os estudos, retornou a Olímpia, onde chefiou a Clínica Médica da Santa Casa. Apesar de se sentir atraído pela clínica médica e pela pediatria, tomou o rumo da especialização em tisiologia. Naquela época, a tuberculose era uma doença ainda sem cura por medicamentos, o que tinha provocado o surgimento de vários sanatórios e dispensários para trata-
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mento da doença em cidades de climas amenos, como São José dos Campos e Campos do Jordão, no Vale do Paraíba, e em Botucatu e São Carlos, por exemplo. Em 1945, Orlando Campos recebeu a incumbência de instalar um grande dispensário em São Carlos. Nesse mesmo ano, a jovem filha de italianos Dirce Catena, de São Paulo, também foi parar em São Carlos. “Eu cheguei no dia 7 de maio de 1945. Fui tomar posse da minha cadeira (em pedagogia). Sou formada pela Escola Naval Padre Anchieta. Eu tinha ganho a cadeira como prêmio, tinha ido tomar posse e cheguei no dia 7. E o Orlando chegou também, no dia 8, pois ele foi instalar um dispensário de tuberculose”, conta a viúva de Campos. Apesar de terem chegado à cidade com apenas um dia de diferença, levou ainda dois anos para que eles se conhecessem e começassem a namorar. Dirce, na verdade, já conhecia o futuro prefeito de São José de vista. “Orlando fazia palestras na Escola Normal, gostava muito de dar conferências. E nós, como professoras, éramos convidadas a ir. Eu conhecia o Orlando assim, de vista. Depois é que nós nos conhecemos e aí namoramos e depois casamos”, relembra Dirce. O casamento veio menos de um ano depois de iniciado o namoro. Depois de casado, Campos voltou a São Carlos, onde nasceu sua primeira filha, Sílvia. Seis meses depois, voltou a São Paulo, como Diretor do Serviço de Tuberculose do Estado. Orlando Campos não gostou de suas novas funções. “Ele não se acostumou porque era um serviço burocrático. Ele queria era exercer a profissão de médico”, conta a viúva do ex-prefeito. Foi nesse período que Orlando Campos teve convites para trabalhar em dispensários em São Carlos, Botucatu e São José dos Campos. Dirce não queria voltar para São Carlos nem ir para Botucatu, onde Orlando Campos tinha amigos de faculdade. Apesar de querer se estabelecer em São Paulo, acabou vindo para São José com o marido, “para conhecer” a cidade. Em São José, Orlando Campos veio para ser o chefe do Dispensário de Tuberculose, mas acabou trabalhando em outros sanatórios, como o São José e o Antoninho da Rocha Marmo, dos quais foi diretor-clínico. No campo docente, Campos lecionou por longos anos em diversas faculdades, como as escolas de Direito de Taubaté, de Guarulhos e de
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São José dos Campos e a Faculdade de Odontologia de São José dos Campos. Aqui, ajudou a dar início a várias entidades, além de presidir outras. Foi um dos fundadores do Rotary Club da cidade e um dos criadores da primeira cooperativa de médicos de São José dos Campos, além de ter sido presidente da Associação Médica. Campos sempre teve gosto pela música clássica, com predileção pela obra de Beethoven, e pela literatura – o ex-prefeito lia em italiano, espanhol, inglês e francês. Por tudo o que fez durante sua vida em São José dos Campos, Orlando Campos recebeu o título de “cidadão joseense”, conferido pela Câmara Municipal, em 1976. Orlando Campos morreu no dia no dia 1° de fevereiro de 2001, aos 88 anos. No final de sua vida, sofria do Mal de Alzheimer. Além da viúva, Dirce, Campos deixou três filhos.
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Capítulo 3
UM SERESTEIRO NO COMANDO DA CIDADE Duas vezes nomeado, duas vezes eleito, Veloso foi prefeito por 11 anos
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omo político e administrador, Elmano Ferreira Veloso deixou uma notável marca no município. Afinal, não é qualquer um que consegue a façanha de ser nomeado prefeito sanitário por duas vezes e depois, pela imposição e força das urnas, ganhar mais dois mandatos. Foram vitórias maiúsculas, sem quaisquer manobras de apadrinhamentos, ou artifícios outros, em que o mérito pessoal e o valor individual falaram mais alto. Veloso nasceu no Rio de Janeiro, em 1906. Os pais — o advogado Joaquim Ferreira Veloso e sua mulher, Amália Batista Veloso — teriam partido de Alagoinhas, Bahia, em companhia de um grupo que apoiava o conhecido político Rui Barbosa. Desde cedo, o jovem demonstrou uma irresistível vocação pela música, vocação essa que mais tarde faria dele um musicista de projeção regional. Aos 19 anos adquiriu um violão baratinho, mas foi proibido de tomar aulas, pois a família era contra: “violão é coisa de malandro, de desocupado”. O jeito foi apelar para o irmão mais velho, que manejava bem o instrumento e que o iniciou na difícil arte. A discriminação durou ainda algum tempo, até que um dia o violão foi finalmente aceito pela sociedade, para alegria do jovem Elmano. Um dia, em data não lembrada por parentes, Elmano foi contratado para trabalhar num patronato em Caxambu, Minas Gerais, e para lá se transferiu com armas e bagagens. E, claro, com seu inseparável violão. O problema era a saúde, a começar por aquela incômoda osteomielite — um processo infeccioso na coluna, mal que o fazia andar levemente curvado, à moda de um corcunda. Por volta de 1934, ainda em Caxambu, contraiu tuberculose pulmonar, doença que o fez arrumar as malas e vir para São José dos Campos, a fim de tentar uma cura. Afinal, a cidade era uma promessa. Deu certo. Tal como muitos outros — como o escritor e historiador
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Paulo Setúbal e o advogado e jornalista Altino Bondesan —, Elmano também derrotou a terrível moléstia. Disciplinado e obediente, como era de seu feitio, seguiu todas as recomendações médicas, logo voltando à atividade normal, e não precisou se operar. Por fim, grato pelo solo generoso que o acolhera e o curara, resolveu ficar aqui mesmo, criar raízes, trabalhar, fazer carreira. Prefeito nomeado por Adhemar de Barros Após curar-se, Elmano decidiu permanecer em São José dos Campos. Levava a vida trabalhando, no começo, como coletor estadual e, mais tarde, como fiscal de rendas – função em que se aposentou em 1963. Durante o dia, dava expediente no prédio que ficava na rua Sete, esquina da Sebastião Humel. À noite, descontraído, compunha e tocava violão, seus passatempos prediletos. Certo dia, ainda como coletor estadual, foi convidado a participar do diretório municipal do Partido Social Progressista (PSP) e assim ingressou na política. Foi dessa atividade e de sua imagem de profissional competente que lhe veio, em 1949, a nomeação como prefeito sanitarista. Naqueles tempos, os chefes dos executivos municipais não eram eleitos por meio de sufrágio universal, mas, em vez disso, nomeados pelo interventor ou governador do Estado: um estranho processo que fazia com que os nomeados se equilibrassem em virtuais cordas-bambas, sujeitos a caprichos políticos nem sempre previsíveis. Vez por outra, um cidadão adormecia prefeito e de repente, ao acordar, se via na condição de exonerado, pelo efeito de uma simples “canetada”, nem sempre correta ou justa. A trajetória política de Elmano, assim começada, é de chamar a atenção: nomeado prefeito sanitário em fevereiro de 1949, pelo governador Dr. Adhemar de Barros, e exonerado um ano depois; eleito vereador, pelo PSP, em outubro de 1951; novamente prefeito nomeado, em 1955, desta feita pelas mãos do Dr. Jânio da Silva Quadros, ficando no posto até 1958; escolhido pelo povo, como primeiro prefeito autonomista, nas eleições gerais de 3 de outubro de 1958, no que seria seu terceiro mandato à frente do governo municipal; e finalmente, como fecho de ouro, o “repeteco” que lhe outorgavam os eleitores de São José dos Campos,
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em 15 de novembro de 1966, para um quarto mandato como chefe do executivo municipal. A perda do mandato Neste último mandato, nuvens carregadas começavam a se formar no horizonte. O país vivia um regime de exceção – nada era seguro ou definitivo. Empossado, Elmano Veloso deveria ocupar o cargo de prefeito por quatro anos. Mas, repentinamente tudo se modificou. Apesar de ter cumprido três anos de uma administração bem aceita, o prefeito eleito não conseguiu terminar seu termo; os militares subtraíram-lhe um ano do mandato. O fato é que a Constituinte de 1967, aprovada pelo Congresso, estabelecera que os prefeitos de estâncias hidrominerais, como era, aparentemente2 , o caso de São José dos Campos, teriam de ser nomeados. Com isto, o governo militar podia nomear o prefeito da cidade e, assim, ter maior controle sobre um município que, por abrigar o Centro Técnico de Aeronáutica, era estratégico. O governador Laudo Natel nomeou, no lugar de Elmano, o brigadeiro reformado Sérgio Sobral de Oliveira. Foi assim que terminou, de forma abrupta, a passagem pelo Paço Municipal de um administrador excepcional, que imprimiu na cidade marcas indeléveis. O triste episódio talvez abalasse outros, mas não Elmano Veloso. Segundo o ex-vereador Luiz Paulo Costa, “ele se relacionou muito bem com Sobral, seu substituto nomeado, e acabaram ficando amigos”. Luiz Paulo Costa conta, aliás, que um dia Sobral convidou Elmano a que fosse a seu gabinete, no final do expediente, mas que levasse con-
2. O detalhe a se ter em mente é que as tais “fontes de águas minerais”, razão da súbita cassação do prefeito Elmano Veloso, eram quase que desconhecidas por completo. Havia, sim, uma fonte, todavia não passava esta de um mero filete d’água e quase nada continha em termos de qualidades hidrominerais. Em entrevista ao Valeparaibano de 6 de agosto de 1976, o próprio Veloso diz: “São José dos Campos foi considerada, no passado, uma estância hidromineral, em virtude da fonte d’água Canindu, mas isso foi um artifício a fim de se conseguir verbas do governo para nosso município, então pobre”. E completou de modo enfático: “São José dos Campos não possuía nem possui características de estância hidromineral”.
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sigo o violão. Elmano aceitou o convite e se fez acompanhar do amigo Bem Costa, e então os dois deram um recital privado para o prefeito, o qual, inteiramente descontraído, assistiu a função e a aplaudiu. “Assim era o Elmano, um homem sem melindres, sem mágoas”. Administrador sério e dinâmico Como administrador, Elmano se destacou pela seriedade e dinamismo. Seus contemporâneos – a maioria hoje com mais de 80 anos de idade — afirmam que o prefeito não gastava um centavo além do que a municipalidade recolhia. Durante a quase totalidade de seus mandatos, aliás, ele contou com os bons ofícios de um fiel escudeiro — o tesoureiro da prefeitura, José Monteiro Sobrinho, conhecido por ‘Chato’, não no sentido pejorativo de quem incomoda seus semelhantes, mas simplesmente por sua baixa estatura. Contam que Monteiro Sobrinho era constantemente consultado. “Há dinheiro?” indagava o prefeito. Se a resposta fosse negativa, Elmano abortava seus planos, doesse a quem doesse, pois não era homem de satisfazer a quem quer que fosse, se carecesse de caixa. Não transigia jamais. Embora sempre preocupado com o presente, Elmano tinha também visão de futuro. Ele acertou em cheio, por exemplo, quando encomendou dois planos diretores, para melhor urbanizar e administrar a cidade. Ambos os planos cobriam um vasto horizonte de ação, de trinta anos, pelo menos, e eram bastante abrangentes. Lidavam com planejamento regional, diretrizes urbanísticas, habitação, planejamento viário, saneamento, aspectos sociais, educação, saúde, cultura, promoção social, finanças e desenvolvimento industrial. Elmano trabalhava incansavelmente. Desde seu primeiro mandato como prefeito nomeado, até o final, quando teve de se afastar, o prefeito arborizou, calçou, iluminou, prolongou e promoveu melhoramentos em ruas, praças e jardins; levou água corrente e energia elétrica a vários bairros, inclusive a distritos distantes do Centro; participou do batimento festivo de pedras fundamentais de diversos estabelecimentos; inaugurou pontes sobre rios e riachos; assinou convênios com a Santa Casa para atendimento de pronto-socorro à população; inaugurou um novo matadouro e fábricas diversas, algumas das quais de capital estrangeiro; instalou uma indústria de guias, para escoamento de águas pluviais e
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calçamento de ruas, e uma outra, para preparo de toda a brita a ser consumida pela prefeitura; e criou a bandeira e o hino oficial da Cidade. Educação Elmano cultivava o primado do binômio educação-cultura e costumava repetir, a miúdo, que “sem educação não há progresso”. Conhecido como “Prefeito das Escolas”, ele apoiava, sempre que possível, toda e qualquer medida pertinente aos dois itens. Elmano dava sempre o melhor de si, “botava a mão na roda”, oferecia ajuda, fosse concedendo verbas e/ou benefícios fiscais, fosse doando terrenos para construção de sedes, fosse, ainda, cedendo próprios municipais, a fim de que as escolas funcionassem. Quando lhe pediam apoio, ele não se fazia de rogado; foi assim com as Faculdades de Direito e de Odontologia, que muito dependeram dele. Embora tenha havido outros, os seguintes destaques são bem significativos durante os mandatos de Elmano Veloso: batimento da pedra fundamental de dois estabelecimentos de ensino: a Escola Técnica de Comércio Olavo Bilac e o ginásio noturno; a partir de 1954, a instalação de várias escolas de nível superior — a primeira foi a Faculdade de Direito, com autorização assinada pelo presidente da República, Getúlio Vargas. Outros cursos viriam mais tarde, como os de Ciências Econômicas e Administração, Filosofia, Ciências e Letras, Engenharia e Serviço Social. O ensino técnico também estava em pauta. O prefeito prestigiou a fundação, em 1956, do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia (CDT), o qual mais tarde desembocaria na Escola Técnica Professor Everardo Passos (Etep), na Escola de Engenharia Industrial (EEI) e na Faculdade de Ciências Aplicadas (Facap). A inauguração, em 1959, da nova sede do Grupo Escolar Olímpio Catão, um empreendimento de responsabilidade do governo estadual, gerou algum descontentamento em certos setores, inconformados com a demolição do prédio antigo, considerado um monumento histórico, remanescente do Ciclo do Café, substituído por um “verdadeiro monstrengo”, na opinião de muitos. Sem nada poder fazer, além de inaugurar o novo imóvel, Elmano teria lavado as mãos: “Isso é lá com eles!”
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Eventos mais importantes ainda estavam por vir — todos com a participação decisiva de Elmano. Foi o que sucedeu, por exemplo, com a aula inaugural, para 32 alunos, da nova Faculdade de Farmácia e Odontologia de São José dos Campos, em 28 de março de 1960. (A escola desenvolvia apenas o curso de Odontologia; o de Farmácia na verdade nunca foi instalado e acabou extinto.) Apesar de criada em 20 de janeiro de 1954, a escola teimara em não sair do papel; havia o decreto estadual, mas faltavam os meios. A carência arrastou-se por mais alguns anos, até que Elmano cedeu por empréstimo, à faculdade, alguns próprios municipais – uma sala de aula, duas pequenas salas e parte do pátio do Grupo Escolar Olímpio Catão, e depois mais um casarão, onde a escola montou laboratórios e salas para as aulas das séries restantes – e, depois, convenceu a família Neme, que desenvolvia um novo loteamento imobiliário no bairro de São Dimas, a doar à escola uma área de 9.434 m2, numa esquina da avenida Engenheiro Francisco José Longo, para a construção, iniciada em 1962, de um prédio próprio. Essa visão de Elmano quanto ao incremento educacional superior e cultural atraiu muita gente para a cidade, a fim de frequentar as várias faculdades criadas, procuradas por um grande número de jovens paulistanos, o que fez com que a Viação Pássaro Marron criasse uma linha de ônibus ligando diretamente a capital paulista a essas escolas. Em decorrência, também, começaram a surgir, no bairro central de Vila Ema, inúmeras pensões, vagas e repúblicas para acomodar os estudantes que vinham de fora. Festas cívicas Dotado de grande espírito cívico, e certo de que a população precisava ser prestigiada e motivada, Elmano Veloso promoveu, principalmente nos aniversários do Município, festas que atraíam um grande público, como a da comemoração dos 193 anos, em 1960, abrilhantada pela fanfarra do Corpo de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro, ocasião em que planadores e aviões do Aeroclube e do CTA sobrevoaram a cidade, atirando do alto pétalas de flores e confetes. Melhores ainda foram as festividades do bicentenário, em 1967, as quais contaram com a presença do governador de São Paulo, Dr. Abreu Sodré, e esposa — com uma programação espetacular, extensa e varia-
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da, que agradou a todas as camadas da população, começando por uma missa solene, na parte da manhã, oficiada pelo cardeal Agnelo Rossi e mais cinco bispos, e promovendo à tarde uma exibição da Esquadrilha da Fumaça, da Força Aérea Brasileira (FAB). Finalmente, à noite, a apoteose, com desfile de carros alegóricos e queima de fogos de artifício. Testemunhas da época afirmaram-me que a comemoração teria sido uma das maiores festas cívicas e populares de que a cidade tem notícia. O prefeito também incursionou decididamente pela seara cultural, criando em 1962 a Escola de Belas Artes do Vale do Paraíba. Alguns de seus alunos, como José Carlos Queiroz, Claudionor Itacaramby, Tova Cohen e Kuno Schiefer acabaram famosos, como artistas plásticos, em todo o Vale. Havia quem afirmasse que “o nível de ensino da instituição podia ser comparado aos cursos de arte europeus”. A escola deixou de funcionar em 1969. Outro destaque ocorreu em 27 de setembro de 1968, quando Elmano inaugurou, no centro da cidade, a Biblioteca Pública Cassiano Ricardo, com um acervo inicial de cerca de dez mil títulos. Um homem de virtudes Na visão de José Rubens Barbosa, antigo chefe de gabinete do ex-prefeito, Elmano foi “sem dúvida alguma, um dos maiores vultos de nossa história político-administrativa”. Segundo ele, o homenageado “reunia todos os predicados inerentes e indispensáveis a um homem de seu jaez e de sua estatura: a ponderação, o amor e a honradez”. Caridade, compreensão e preocupação com os carentes faziam parte, igualmente, do manual de Elmano. “Sua vida esteve consagrada difundindo amor e auxílio aos desalentados”. Registrando os depoimentos de parentes e antigos conhecidos de Elmano, constata-se a unanimidade da lista de seus atributos positivos, dentre os quais os que se seguem: honesto, muito querido, popular, humano, bondoso, cativante, inteligente, tranquilo, corretíssimo, chefe de família exemplar, grande incentivador da política educacional e industrial. Consta que não era demagogo, atendia todos com simplicidade, “porque era ele próprio um homem simples”. Um dos quatro filhos de Elmano, o advogado Dr. Maurício Ney Conceição Velloso, que trabalhou por 45 anos na Câmara Municipal,
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onde se aposentou em 2005, diz: “Meu pai consumiu 25 anos de sua vida — praticamente toda sua mocidade — na política, mas nunca se arrependeu. ‘Cumpri com meu dever’, costumava dizer”. Maurício informa que na última vez em que foi eleito, Elmano quase não se candidatou: sentia-se cansado, inclusive os problemas de postura corporal se haviam acentuado, andava cada vez mais curvado. “Enfrentou também uma grande oposição de sua segunda esposa, que preferia vê-lo longe da administração pública. Mas por insistência da Arena foi às urnas e ganhou”. Sobre a veia criativa do pai, Maurício revela que Elmano, em suas composições musicais, não escrevia letras, cuidava apenas das melodias. “Meu pai costumava gravar suas próprias composições, para depois escutá-las e aprimorá-las”. Mas “como nem tudo são flores”, o filho lamenta que “nos últimos tempos, meu pai andava amargo e desiludido, sentia decepção com as atitudes dos políticos e com os pedidos estapafúrdios que lhe faziam as pessoas”. Mário Ottoboni, advogado, trabalhou por 25 anos na Secretaria Administrativa da Câmara Municipal, atendendo 11 mandatos de prefeitos, inclusive os de Elmano Veloso, de quem ficou íntimo. Ottoboni destaca que Elmano tinha um temperamento misto: era normalmente calmo, mas às vezes agitado, quando provocado, “mas nunca deixava de ser uma pessoa cativante”. Hábil em seus contatos, ele conseguia sempre uma maioria absoluta na Câmara, “numa época em que os vereadores não ganhavam nada, trabalhavam de graça... era o exercício gratuito da vereança”. Os tempos eram outros, “ninguém tinha cargos ou dinheiro para oferecer, não tinha nada de acertos, não tinha essa coisa de toma-lá-dá-cá”. O médico mato-grossense-do-sul Dr. José de Castro Coimbra, vereador, deputado estadual e deputado federal, radicado em São José dos Campos desde 1960, lembra-se vivamente de Elmano: “Uma figura determinada, mas simples, que atendia bem os carentes”. Não se recorda de nenhum episódio de perseguição: “Ele era de um trato relativamente fácil”. Para Coimbra, o ex-prefeito entendia bem os dramas da população, porque ele também fora um homem doente. Talvez por isso deu uma contribuição importante no atendimento aos necessitados, “numa época em que nosso município ainda sofria como resultado da São José sanatorial”.
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José de Paula Ferreira, ex-vereador eleito pelo PTB e presidente da Câmara Municipal entre janeiro e dezembro de 1952, ressaltou o espírito de concórdia de Elmano. Afirmou que “o povo gostava muito de Elmano” e que, quando este saía à rua, “cumprimentava e abraçava todo mundo”. Os políticos, em geral nada tinham contra Elmano, e ele sempre conseguia o que queria, “era um homem pacífico e habilidoso”. No que respeita ao aspecto familiar, José de Paula Ferreira repetiu o que tantos outros disseram: “Elmano era um excelente chefe de família, fazia questão de levar a mulher a solenidades oficiais, e de mais a mais teve sorte, os filhos nunca lhe deram desgostos”. Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro, professor do Estado e fundador do antigo jornal Agora, em artigo na imprensa revelou que Elmano Veloso não possuía qualquer formação acadêmica: “Não era um homem culto, mas era um homem sábio em sua simplicidade de seresteiro, compositor de peças sensíveis. Foi quem criou o Conselho Municipal de Cultura, que é a raiz de tudo o que já se fez e ainda se faz em cultura”. Seresteiros ao Luar A par de competente político e administrador, Elmano Ferreira Veloso provou possuir, após ter largado as atividades político-partidárias, grande sensibilidade artístico-musical, mantendo o conjunto Seresteiros ao Luar, que ele liderava e que se apresentava inicialmente na Rádio Clube — hoje Rádio Band — e depois na Rádio Piratininga. Todos os sábados, por oito anos, na década de 1970, a população de São José dos Campos tinha os ouvidos colados a seus receptores radiofônicos, à espera de um programa ansiosamente desejado, quando, por fim, o locutor Álvaro Gonçalves, da Rádio Clube, anunciava o início da apresentação do conjunto, sob o comando de Elmano, já sem o pesado fardo da municipalidade nas costas. Para alegria e aplausos gerais, o Seresteiros ao Luar executava várias composições do próprio violonista Elmano, mas também e preferentemente músicas do cancioneiro popular brasileiro. Compositor de mão cheia, Elmano nutria uma predileção pelo brasileiríssimo chorinho, mas, quando tomado pela febre da inspiração, enveredava por outras “praias”, compondo tangos ou foxtrotes. Costumava compor de ouvido e curiosamente não se preocupava em batizar suas canções; algumas
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passavam tempos e tempos sem qualquer título. Às vezes, num ensaio em casa, ou no estúdio da estação de rádio, seus companheiros de conjunto sugeriam alguns nomes, os quais acabavam pegando. Depois do chorinho, a paixão de Elmano eram as valsas, tal como Contemplando o Banhado — que ele compusera em tributo à cidade onde se curara da tuberculose. O conjunto mudou mais tarde seu nome para Só Saudade, e era constantemente chamado para apresentações3. Poemas e aforismos Nas horas vagas e caladas, notadamente depois de abdicar da vida pública, Elmano dedicava-se também à poesia e a externar, no papel, o que pensava, sob a forma de aforismos. Adicionava deste modo, a par com o violão e composições musicais, um passatempo a mais em sua vida, apesar de que tanto os versos quanto os pensamentos refletissem certa amargura. Embora desprovido de maiores qualidades literárias, seu soneto Meu Fardo serve para ilustrar o desencantamento do político4. No mesmo tom seguem vários de seus pensamentos, como os seguintes: “O declínio se percebe no afastamento dos falsos amigos.” “Se negares um dos mil favores que te pediram, terás ganho na certa mais um a maldizer tua sorte.” 3. Com fitas magnéticas fornecidas por Dr. Maurício Ney Velloso, filho de Elmano, o ex-vereador Luiz Paulo Costa promoveu a recuperação e digitalização de alguns programas. Coube ao músico João Silva, do conjunto Conversa de Botequim, a tarefa de gravar um CD, com peças compostas pelo próprio Elmano Veloso, para distribuição a convidados, quando da comemoração do centenário de nascimento do ex-prefeito. 4. Meu Fardo: Curvo-me sob o peso da tarefa justa / que me deste a carregar estrada a fora; / rebelo-me às vezes, por achá-la injusta: / contrita, em prantos, minha alma chora. / Deste a outros um caminho só de flores, / cujo chão alcatifado lhes amacia o andar, / que nem sequer se afligem com os clamores, / do sofrimento alheio e do seu penar. / Confia, pois, nesta perenal verdade / que tu também pensas ser iniquidade; / é a justiça que se faz presente ... / Ai daquele que acumulou haveres; / no saciamento dos seus parcos prazeres, / da caridade se tornou um grande ausente.
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“Entre as cicatrizes que marcam meu corpo, encontro chagas produzidas pela ingratidão dos homens.” “Se caíres pelo caminho, levanta-te depressa, pois que outros virão e não se aperceberão de ti.” “Os que buscam não têm, os que têm não dão, os que precisam morrem à míngua do favor alheio.” “Ouve o apelo daquele que sofre, pois também terás necessidade de quem te amenize a dor.” “Quantas vezes hesitei em prosseguir na jornada ante a incomensurável estrada que não tinha fim.” “Nas ostentações supérfluas mais afloram as iniquidades da vida.” “Os hipócritas perdoam pelos lábios, os justos pelo coração.” “A glória é efêmera como a brisa que passa, como a chuva que molha a terra árida e como a onda que se desmancha na areia.” Apesar disso, não falta um pouco de confiança e esperança: “Dissipado o nevoeiro, surge o sol que iluminará a estrada da vida.” Um busto na praça da Matriz Elmano faleceu na manhã de 14 de janeiro de 1981, no Hospital Policlin, em São José dos Campos, vítima de um derrame cerebral. Tinha 74 anos e era viúvo5 pela segunda vez.
5. Casado por duas vezes, Veloso teve quatro filhos, sendo dois homens — Jardel e Maurício Ney – com a primeira esposa, Arinda Conceição Veloso, e duas meninas — Maria Amélia e Maria Adelaide — com a segunda mulher, Aída Monteiro de Castro Veloso.
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A municipalidade declarou luto oficial em memória de quem repetidamente assumira, com muita propriedade e retidão, os destinos do município. O sepultamento deu-se no mesmo dia. Elmano faleceu na parte da manhã, foi velado na capela da Santa Casa de Misericórdia e a partir das cinco e meia da tarde iniciava-se o cortejo fúnebre, em direção ao jazigo perpétuo da família, de nº 644, no principal cemitério de São José dos Campos. No dia seguinte, 15 de janeiro de 1981, o jornalista Luiz Paulo Costa, então redator-chefe do jornal diário Valeparaibano, descrevendo o falecimento e sepultamento de Elmano Veloso, não poupou elogios ao extinto e muito disse do seu caráter, na verdade um exemplo para tantos outros políticos: “Ele entrou pobre e saiu pobre”. Sobre seu relacionamento com a mídia, foi taxativo: “Elmano respeitava o papel da imprensa e nunca usou de coação ou pressão em cima dela”. Comentando um curioso aspecto da administração de Elmano, fez ver que este tanto se preocupava com a situação financeira da população, que “calçou a Cidade sem cobrar qualquer taxa de pavimentação dos munícipes, numa época em que o município ainda não recebia a cota do ICM e era muito mais pobre que agora”. Para o jornalista, Elmano “sofreu, como todo o país, o arbítrio militar iniciado em 1964, com devassa em sua administração, mas nada se provou que desabonasse sua conduta ilibada”. O nome de Elmano Veloso ficou gravado na vida da Cidade: numa rua no Jardim Portugal, numa escola estadual no bairro Chácaras Reunidas; num condomínio habitacional na zona sul e em dois auditórios, sendo um no Espaço Mário Covas — onde revive a antiga denominação de Sala Veloso — e o outro na Fundação Cultural Cassiano Ricardo (Parque da Cidade), além de na Medalha Honra ao Mérito Elmano Ferreira Veloso, instituída pela Câmara Municipal, a ser conferida a todo grupo ou cidadão que tenha contribuído para a divulgação de atividades musicais, no âmbito do Município. Na década de 1970, a Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE) criou uma escola de nível superior com seu nome, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Elmano Ferreira Veloso. (A escola, lamentavelmente, teve vida curta e atribulada, sendo finalmente desativada por problemas financeiros, administrativos e políticos, mas não sem antes graduar arquitetos e urba-
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nistas de grande capacidade funcional.) Para completar, em termos de homenagem urbana, o busto de Elmano Veloso pode ser visto na praça Padre João — antiga praça da Matriz, no Centro. Elmano Veloso recebeu títulos, medalhas e comendas diversas, inclusive o diploma de Cidadão Joseense, do qual ele muito se orgulhava. Os demais lhe foram outorgados, por justo merecimento, pelas seguintes organizações: Instituto Butantã, Fundação Valeparaibana de Ensino e Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. A atuação pública de Elmano é uma prova de que não é absolutamente necessária a formação acadêmica para alguém governar. A diferença, no confronto com outras pessoas na mesma situação, foi que Elmano tinha capacidades naturais, além de um bom caráter, e era honesto, firme em seus valores. Não se tem notícia de episódios em que ele tenha oferecido cargos ou verbas em troca da aprovação de seus projetos e atos. Ele soube compensar a falta de estudos universitários com uma notável visão de futuro, uma gestão absolutamente correta, pensando sempre no bem-estar geral e respeitando com rigor as limitações do erário municipal. Além de trabalhar muito. Foi esse o legado, de honestidade e competência, que Elmano Ferreira Veloso deixou para a posteridade.
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O prefeito com assessores: Oswaldo Toledo ĂŠ o segundo da esquerda para a direita; Jamil Mattar ĂŠ o da extrema direita.
Veloso depois de seu Ăşltimo mandato.
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O conjunto Seresteiros ao Luar. Na frente, Elmano Veloso com Siqueira e Bem Costa. Atrás José Portela, Arantes, Black-out, Martinzinho e Jerônimo.
Uma pausa na atribulada vida de político.
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Oswaldo Toledo, Veloso, Juscelino Kubitschek e Jamil Mattar.
Joaquim Bevilacqua, em seu primeiro mandato, recebe Veloso.
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O prefeito-seresteiro.
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Capítulo 4
SETE MESES DE MANDATO Mascarenhas ocupa o Paço enquanto Veloso sai para se candidatar
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ex-prefeito Donato Mascarenhas Filho teve uma passagem-relâmpago pelo Executivo municipal. Sua gestão durou apenas sete meses. Mascarenhas assumiu o comando da prefeitura em 2 de abril de 1958 no lugar do prefeito Elmano Ferreira Veloso, que deixara o cargo em 31 de março para concorrer às primeiras eleições municipais após a cidade retomar o direito de escolher pelo voto o chefe do Executivo municipal. Por deter o status de estância hidromineral, até 1958 cabia ao governador do Estado a escolha do prefeito da cidade. A eleição municipal ocorreu no dia 3 de outubro daquele mesmo ano. Veloso sagrou-se vencedor, pondo fim ao mandato de Mascarenhas, que deixou a prefeitura no dia 27 de outubro para reassumir seu cargo de vereador. A posse de Mascarenhas foi discreta. O cargo lhe foi transmitido em uma solenidade simples na Câmara Municipal. Na sessão, presidida pelo vereador Jamil Mattar, apenas três oradores falaram (Mario de Paula Ferreira, Benedito Matarazzo e Waldemar Ramos), e tão-somente para agradecer as menções a seus nomes feitas por Donato Mascarenhas em seu discurso de posse. A sessão terminou em seguida, sem festa ou comemorações. Mascarenhas Filho teve toda sua formação política ligada ao Legislativo. Vereador em três legislaturas (1952 a 1955, 1956 a 1959 e 1964 a 1969), foi presidente da Casa em duas oportunidades. Sua segunda gestão à frente do Legislativo foi que o credenciou a assumir a prefeitura após a saída de Elmano Veloso. Em sua breve passagem pelo comando da cidade, contribuiu para a elaboração do Plano Diretor do Município, para o aumento da arrecadação municipal por meio da renegociação de dívidas de contribuintes e para a expansão da rede de telefonia da cidade.
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O sistema viário de acesso ao município ganhou espaço em sua gestão. Das obras mais marcantes de Mascarenhas estão a construção da segunda pista de acesso a São José dos Campos (atualmente parte da avenida Nelson D’Ávila) e o primeiro calçamento da avenida São José. Para realizar a obra, Mascarenhas arrendou uma pedreira em Paraibuna, de onde eram extraídos os paralelepípedos usados na pavimentação. A modernização da avenida contribuiu para desafogar o tráfego crescente da rua XV, então uma das mais movimentadas da cidade, que passou a ter mão única. A estrada da Água Soca a São Francisco Xavier, um percurso de 12 quilômetros, também foi pavimentada durante sua gestão, no tempo recorde de dois meses. Para realizar a obra, mandou que o motorista do caminhão que fazia o transporte de materiais e o tratorista responsável pelo nivelamento da estrada ficassem alojados em uma casa ao lado da via. Antes de sair da prefeitura, Mascarenhas conseguiu ainda terminar o último trecho da pavimentação da estrada que ligava São José dos Campos a Campos do Jordão. Também deixou concluída metade da pavimentação que ligava a cidade à estrada de acesso a Caraguatatuba. Ainda deu início à construção da ponte sobre o rio Paraíba, que só seria inaugurada mais de um ano após sua saída do cargo. Em 15 de abril de 1958, duas semanas após assumir a prefeitura, Donato Mascarenhas determinou a atualização do levantamento aerofotogramétrico da cidade e de seus distritos, trabalho que havia sido realizado pela primeira vez em 1952. O levantamento, feito por uma empresa do Rio de Janeiro, cobriu uma área de 15,8 milhões de metros quadrados, incluindo os distritos de Eugênio de Melo e São Francisco Xavier. O objetivo era obter um mosaico de imagens em diversas escalas de todo o município, além do levantamento cadastral das sedes dos distritos, para facilitar a tomada de decisões sobre obras, zoneamento e cobrança de impostos. Logo quando assumiu, Mascarenhas promoveu a negociação de impostos atrasados de contribuintes, por meio de projeto de lei encaminhado à Câmara Municipal. Em dezembro de 1957, três meses antes de assumir a prefeitura, o recebimento de dívidas ativas mais multas cobradas pela prefeitura correspondia a quase 15% da arrecadação total de tributos. Assim, Mascarenhas pôs em prática uma estratégia adotada
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até hoje para regularizar a situação de inadimplentes e ampliar os recursos municipais: o parcelamento de dívidas. Por decreto, os contribuintes com pendências inscritas na dívida ativa do município ganharam o direito de saldar o débito em até dez parcelas. Três meses após a implementação dessa medida, a arrecadação de débitos inscritos na dívida ativa do município já representava 30% da arrecadação tributária. Ainda em sua administração, fez gestões para a ampliação da rede de telefonia do município. Em diversas correspondências à Cia. Telefônica Brasileira, que operava o sistema de comunicações de então, Mascarenhas pedia a instalação de novos terminais na cidade. Apenas dez dias após assumir a cadeira de prefeito, Mascarenhas encaminhou à empresa um pedido de instalação de duas mil linhas telefônicas em São José dos Campos. Foi sob sua gestão que se deu ainda impulso à ampliação da rede de galerias pluviais, graças à implantação de um sistema de construção de tubos iniciada ainda na gestão de Elmano Veloso. As primeiras regiões a receber galerias de águas pluviais foram a avenida Sebastião Gualberto e arredores e o bairro Jardim Bela Vista. Naquele tempo, a cidade já enfrentava um desenvolvimento acentuado, com o surgimento de novos bairros, como o Monte Castelo, que ainda estava na fase de loteamento. Outro marco de São José inaugurado na gestão de Mascarenhas foi a Escola Olímpio Catão. Com capacidade inicial para atender a 500 alunos, a escola foi inaugurada pouco antes de o prefeito deixar o cargo. Apesar de ter sua vida política ligada principalmente ao Legislativo, durante seu curto mandato Mascarenhas contrariou interesses da Câmara. Foi assim com o veto à criação da subprefeitura de Santana, tida por ele como um projeto eleitoreiro, mesmo tendo o projeto de lei do Legislativo sido aprovado por unanimidade na Câmara. Em setembro, uma das últimas ações tomadas por Mascarenhas à frente da prefeitura foi a desapropriação de terreno que permitiria fazer a ligação entre a avenida João Guilhermino e a rua Vilaça, medida que criou um novo corredor de acesso da região central aos bairros adjacentes em expansão. Também naquele mês, Mascarenhas instituiria uma comissão que daria prosseguimento ao Plano Diretor do Município, com a nomeação
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de técnicos que trabalhariam sob orientação do Centro de Pesquisas e Estudos Urbanísticos da Universidade de São Paulo. Mascarenhas deixou a prefeitura no dia 27 de outubro de 1958, após a vitória de Elmano Veloso no pleito municipal, por 6.881 votos contra 3.751 de Onadyr Marcondes, segundo colocado na disputa. Sua saída da prefeitura, entretanto, marcou uma desavença com seu predecessor, que, após vencer o pleito, quis voltar imediatamente ao cargo que havia deixado em março. Mascarenhas esperava que a posse do novo prefeito só ocorresse no dia 1º de janeiro de 1959. Ao juiz eleitoral de então, Campos Maia, teria dito que a atitude de Veloso era “deselegante” e “desrespeitosa”. A desavença durou para sempre. “Naquele tempo a política era uma coisa mais complicada. As pessoas levavam mais a sério”, recorda Décio Fagundes Mascarenhas, um dos filhos do ex-prefeito. “As relações entre eles ficaram estremecidas”, relembra. Apesar de ter tido uma vida política intensa, Mascarenhas dizia jamais ter almejado ocupar a prefeitura. “Nunca desejei ser prefeito. Foi por insistência do sr. Elmano Ferreira Veloso, que precisava de cobertura administrativa e política, que aceitei o cargo”, disse em seu discurso à Câmara Municipal, quando voltou a assumir sua cadeira no Legislativo. Biografia Filho de uma família tradicional, Donato Mascarenhas Filho nasceu em São José dos Campos em 12 de novembro de 1902. Fez seus primeiros anos de estudo em escolas de São José dos Campos até ingressar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, hoje integrante da Universidade de São Paulo. Fazendeiro e pecuarista, fundador da Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos, da qual é o associado número 1, Mascarenhas também era dono do cartório de registros da cidade, negócio herdado do pai. Homem de posses, durante muito tempo sua casa foi uma referência na cidade – por mais de uma década, foi a única de dois pavimentos de São José dos Campos. Apesar de vir de uma família com tradição política – um irmão, Rodolfo Mascarenhas, e um primo, José Mascarenhas, foram prefeitos
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antes dele –, seu ingresso na vida pública se deu relativamente tarde. Foi eleito para seu primeiro mandato na Câmara aos 50 anos. Ocupou a vereança por 13 anos, em três mandatos alternados. Quando chegou à prefeitura, tinha 58 anos. Donato Mascarenhas morreu em 26 de janeiro de 1971, aos 69 anos. Ele era casado com Dinorá Fagundes Mascarenhas, com quem tivera três filhos.
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CapĂtulo 5
O PRIMEIRO PREFEITO SOCIALISTA DO INTERIOR Como deputado estadual, Marcondes Pereira seria cassado pelo AI-5
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advogado José Marcondes Pereira (1923-2007) foi o primeiro prefeito socialista do interior do Estado de São Paulo. Vereador do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no período de 1956-59, não conseguiu a sua reeleição, mesmo sendo o candidato a vereador mais votado da cidade. Transferiu-se então para o Movimento Trabalhista Renovador (MTR), cujo presidente estadual era o amigo, médico e socialista prof. Alípio Corrêa Netto, lançando-se como candidato a prefeito de São José dos Campos nas eleições de 7 de outubro de 1962. O apoio dado como vereador à primeira greve dos trabalhadores na Companhia Rhodosá de Rayon S/A aumentou e consolidou a sua popularidade nas camadas sociais de baixa renda da cidade e estreitou os seus laços de amizade com as novas lideranças sindicais e trabalhistas que surgiam em torno da atuação do presidente do Sindicato dos Têxteis, Francisco Moreno Ariza, e dos seus diretores José Maria Crispim e José Maria da Silva. Por pressões políticas, perdeu o emprego de subgerente do Banco do Vale do Paraíba S/A, mas, já advogado, estabeleceu-se com sua banca de advocacia e escritório imobiliário, liberando-se ainda mais para a campanha político-eleitoral. É preciso lembrar que, na época em que se iniciou a implantação do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), em 1949, e como resultado também da abertura da rodovia Presidente Dutra, em 1951, várias indústrias de porte vieram para São José dos Campos, formando um segundo ciclo industrial. Essas indústrias foram a Rhodosá, chegada em 1950, a Johnson & Johnson, em 1953, a Ericsson do Brasil, em 1954, a Eaton, a General Motors do Brasil e a Fiação e Tecelagem Kanebo, em 1957/58, a Bundy, a Alpargatas e a Avibrás (e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe), em 1961 e as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, em 1962. Do primeiro ciclo industrial ainda se destacavam a Fábrica de Louças Santo Eugênio, a Tecelagem Parahyba e a Cerâmica Weiss.
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Com esse segundo ciclo industrial, São José passou a registrar um crescimento populacional anual de mais de 6%. Em 1962, a cidade já registrava 87.783 habitantes. Naquele começo de década, mais precisamente em 1961, o Centro de Pesquisas e Estudos Urbanísticos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Cpeu-Usp)6, comentava, nos seguintes termos, as consequências da industrialização: “...o afluxo de novos moradores para São José dos Campos era mais intenso entre as camadas populares, em busca de trabalho na própria indústria. A procura foi maior que a oferta, sendo impossível às empresas existentes absorver a totalidade da mão-de-obra disponível. A instalação desses contingentes não podia ser definitiva em virtude da flutuação no emprego e da mobilidade, o que veio resultar na criação de aglomerados de habitações precárias. Ao mesmo tempo, a moradia do operário já fixado também passou a constituir problema sério. (...) No centro ainda são comuns a vadiagem, mendicância e abandono de menores. Está se verificando aí uma tendência para a utilização de fundos de quintal com a finalidade de construir cômodos para alugar, desenvolvendo-se então uma zona de cortiços.” Nesse cenário de industrialização e crescimento populacional, a campanha que levara o advogado Marcondes Pereira à prefeitura joseense já evidenciava que o seu governo não viria a ser tranquilo. A escolha do seu candidato a vice-prefeito, que era votado separadamente do prefeito, ocorreu no ginásio de esportes da Associação Esportiva São José. Concorriam três candidatos: Augusto Pereira da Matta, apoiado pelo clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), Mário Scholz, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e o sindicalista Francisco Moreno Ariza, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabou vencendo a disputa. O acirramento político-ideológico era visível na cidade. Com a renúncia do presidente Jânio Quadros e a posse do vice-presidente João Goulart por força da mobilização nacional da “Cadeia da Legalidade”
6. Citado no estudo Modernidade e Urbanismo Sanitário – São José dos Campos, de Ana Maria Santos Sousa e Luiz Laerte Soares, publicado pela Papercromii Editora e Gráfica Ltda. com recursos de incentivos fiscais da LIF/FCCR/PMSJ, em 2002.
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e da articulação política que levou à introdução do parlamentarismo, as forças políticas mais comprometidas com o progresso social emergiam e se organizavam nos partidos políticos, nos sindicatos de trabalhadores e nos movimentos sociais. As forças políticas mais conservadoras não tinham conseguido chegar a um acordo para lançar apenas um candidato a prefeito. A eleição se realizaria em turno único. Eram também candidatos, dividindo as forças políticas mais conservadoras, o promotor público Tertuliano Delfim Júnior (Dr. Tuta), que já fora prefeito nomeado e tinha o apoio do governador Adhemar de Barros; o vereador Jamil Mattar de Oliveira, que liderou a criação da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, com o apoio do prefeito Elmano Ferreira Veloso; o pecuarista Jorge Vieira da Silva, presidente da Cooperativa de Laticínios, com o apoio do deputado estadual Benedito Matarazzo; e o engenheiro José Garcia Machado, que contava com o apoio dos funcionários da prefeitura. A candidatura de Jamil Mattar de Oliveira, colega de faculdade de Marcondes, era considerada a mais forte, por contar com o apoio do prefeito e pela mobilização que Jamil tinha conseguido em prol da criação da Faculdade de Direito. Marcondes não fazia ataques diretos a ninguém, nem a Jamil, mas passou a sofrer ataques de correligionários de seus adversários. Por ser apoiado por políticos de esquerda da cidade, passou a ser apontado como comunista pelo jornal O Lábaro, órgão oficial da Igreja Católica da região, pelo semanário Correio Joseense e até por panfletos apócrifos distribuídos pela cidade, desgastando a sua imagem perante o eleitorado religioso e conservador. Ao padre Cyrillo Paes, diretor de O Lábaro, encaminhou ofício rechaçando a acusação e fazendo uma profissão de fé anticomunista e de confiança na democracia brasileira: “Entendo de sã consciência que nenhum outro regime político poderá substituir o nosso. Cumpre, isto sim, aprimorar o que temos, melhorando-o cada vez mais, para que tenhamos instituições mais sólidas e independentes, e assim formarmos uma consciência nacional livre. Não aceito, em verdade, as ditaduras quer da direita ou da esquerda; sou pela democracia cristã, que é hoje aceita como a doutrina mais aconselhável a todos os povos, porque, na realidade o que
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está faltando aos homens não é a forma de governo e sim o espírito de solidariedade humana. Não fui, não sou e não serei comunista.” Apesar da reafirmação de suas convicções democráticas, a insidiosa campanha continuava. O escritor e jornalista paulistano Paulino Rolim de Moura, por laços familiares de sua esposa, a poeta Elisa Barreto, transferiu-se para São José e abraçou a campanha de Marcondes. Era irmão do coronel Plínio Rolim de Moura, que assumira a presidência estadual do Partido Socialista Brasileiro. Paulino Rolim de Moura incumbiu-se então da contrapropaganda, equilibrando a dos adversários. Nos últimos dias da campanha, circulou uma reportagem da revista O Cruzeiro a respeito de padres apóstatas. E nela estava o professor gaúcho Duílio Panziera, que havia abandonado a batina e se transferido para São José, embora poucas pessoas soubessem disto na cidade. Ele era o apresentador do programa da Ave Maria na Rádio Clube, quando angariava donativos para a construção da Igreja Nossa Senhora de Fátima, sempre dando mais ênfase para as maiores doações. E ele era não só apoiador da candidatura de Jamil Mattar de Oliveira como também apresentador de seus comícios. Foi um desgaste para a campanha eleitoral de Jamil na reta final da campanha. No final, os adversários políticos tiveram de aceitar a vitória do advogado José Marcondes Pereira, cujos números não deixavam margem a dúvidas: José Marcondes Pereira teve 7.312 votos e Jamil Mattar de Oliveira, 4.373 votos. Jorge Vieira da Silva ficou com 3.195 votos, Dr. Tertuliano Delfim Júnior com 3.224 votos e o engenheiro José Garcia Machado com 790 votos. Para vice-prefeito, o sindicalista Francisco Moreno Ariza teve 5.350 votos, também quase o dobro do segundo colocado, o cirurgião-dentista e vereador Luiz Carlos Veneziani, que ficou com 2.952 votos. José Prianti Chaves, com 2.855 votos, Argemiro Parizoto de Souza, com 1.856, José de Paula Ferreira, com 1.790, Pedro David, com 1.187, Amim Simão, com 982 e José Antonio Cursino (Nenê Cursino), com 790 votos, completaram a disputa para vice-prefeito. Argemiro e Nenê Cursino também eram alinhados a Marcondes. A posse de Marcondes no dia 25 de outubro de 1962 levou quase duas mil pessoas ao Cine Palácio, na praça Afonso Pena. A sessão solene da Câmara Municipal, presidida por um adversário político, o vereador Mário de Paula Ferreira, atraiu as autoridades civis, militares e eclesiásti-
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cas e representantes de todas as forças políticas da cidade. Todos queriam ouvir o discurso de posse do prefeito eleito. E o advogado não decepcionou nem os seus correligionários, nem os seus adversários políticos: “Irei para a prefeitura sem mágoas, sem rancores, sem ódios, sem desejar acertar contas com ninguém, mas irei para fazer um governo que irá ser respeitado pela sua autoridade, pela maneira com que vai conduzir os dinheiros públicos – embora tenha sido criticado, por ter dito que faria um governo humano, principalmente voltado para os humildes. Não fiz demagogia e reafirmo agora que irei fazer um governo voltado para os humildes, para os injustiçados que vivem em São José dos Campos. Percorri a minha cidade e vi muita miséria e vi que muita coisa se tem que fazer, principalmente pelos homens dos bairros periféricos, que estão abandonados. Vi muito desespero e muita revolta nos lares dos humildes e vi muita coisa que o meu coração quase não suportou. Não posso chegar à Prefeitura, eu que tive uma vida humilde... não posso deixar de ajudar os humildes, os esquecidos de toda espécie. Dentro de dias passaremos das palavras às ações, aos atos.” Ao encerrar a sessão solene de posse do prefeito e do vice-prefeito, o vereador Mário de Paula Ferreira não deixou de representar a expectativa dos adversários políticos: “Como dizia o filósofo grego, que em toda cidade havia duas cidades: a dos ricos e a dos pobres, desta feita, chegou a vez da cidade dos pobres eleger o seu prefeito e o seu vice-prefeito. Esperamos que amanhã mesmo esta administração se sintetizará no cumprimento das promessas que foram feitas nas praças públicas.” São José tinha o ônus da industrialização. Os bônus só vieram com a criação do ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), a partir de 1967. A arrecadação municipal mal dava para o pagamento da folha dos servidores. Cumprindo os compromissos de campanha, Marcondes logo introduziu para os servidores municipais o 13° salário, que já havia sido criado para os trabalhadores pelo presidente João Goulart, no primeiro gabinete parlamentarista do primeiro-ministro Tancredo Neves.
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O município recebia investimentos em obras do chamado “Plano de Obras” do Governo do Estado. Era a política do “chapéu na mão” dos prefeitos. A administração do prefeito José Marcondes Pereira, no entanto, foi marcada, desde o início, por ações voltadas para o setor social. Com a decisiva participação de sua esposa, Célia Marcondes, professora primária cedida gratuitamente ao município pelo governo estadual, criou-se o Departamento de Assistência Social, o DAS, que passou a receber e equacionar as demandas sociais dos mais humildes, representando, pioneiramente, a sistematização da assistência social no município, o que se tornou uma obrigação de todas as administrações municipais posteriores. Na ausência de recursos públicos municipais, Célia Marcondes partiu para a mobilização da sociedade através da realização de quermesses e outras atividades para angariar fundos para o DAS. E isso com objetivos concretos, como na aquisição da primeira ambulância, uma vez que o DAS também passou a atender os mais humildes com consultas médicas, fornecimento de medicamentos e internações hospitalares. No setor de obras de infraestrutura, o prefeito José Marcondes Pereira foi resgatando um a um os seus compromissos de campanha. A construção da estação de tratamento de água do município; o poço artesiano do Lavapés e a estação elevatória do Monte Castelo para levar água com regularidade a toda a região da Vila Maria; a iluminação pública das vilas Anhembi, Piratininga, Bandeirantes e do Jardim Augusta; o alargamento e a abertura da avenida São José até os fundos do Sanatório Maria Imaculada (que o prefeito Sérgio Sobral completou abrindo a avenida Madre Tereza), para a ligação com a rua Luiz Jacinto; a abertura da avenida Olivo Gomes; da segunda pista da avenida 9 de Julho e da avenida Fundo de Vale (princípio do Anel Viário hoje existente). Contando com o trabalho de Argemiro Parizoto de Souza, vereador e funcionário do DER (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem), implantou a pavimentação comunitária (com a participação financeira dos moradores/proprietários), asfaltando e calçando um grande número de vias e logradouros públicos, o que passou a ser um programa de todas as administrações subsequentes. Com a realização da 1ª Feira das Indústrias do Vale do Paraíba – FEVAP, o prefeito José Marcondes Pereira fez a sociedade joseense reconhecer-se como uma sociedade industrial. A cidade industrial já
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existia, mas a sociedade ainda não havia tomado consciência deste aspecto do desenvolvimento econômico. Com a realização da 1ª FEVAP, São José definitivamente passou a ser reconhecida por seus próprios moradores como um polo industrial de relevo entre as demais cidades, aumentando a autoestima de sua população e influindo decisivamente nas decisões das administrações posteriores. O notável é que Marcondes Pereira tenha conseguido realizar tudo isto com a oposição política que sofreu. Para se ter uma ideia, já na sessão ordinária da Câmara de Vereadores do dia 26 de novembro de 1962, portanto um mês após a sua posse, vereadores tentaram congelar os impostos e taxas municipais, não permitindo nem as atualizações monetárias das taxas de prestação de serviços e a cobrança pelo consumo de água e a coleta de esgoto das residências. O alvo também passou a ser o vice-prefeito Francisco Moreno Ariza, ainda no exercício não remunerado da vereança, que teve a sua verba de representação contestada pelos vereadores. O cerco à administração do prefeito José Marcondes Pereira recrudesceu a partir do golpe militar de 1964. A oposição radicalizou e passou a exigir a cassação de seu mandato de prefeito por ato de arbítrio do governo militar. O jornalista Napoleão Monteiro, do Correio Joseense, já atacava a administração por antigas desavenças com José Marcondes Pereira, dos tempos em que este ocupava a vereança: “Uma das ‘obras’ da atual administração em torno da qual se fez (e ainda se faz) grande estardalhaço é a chamada ‘avenida São José’, tortuoso ‘caminho da roça’ que começa no posto União dos Motoristas e vai morrer sem glória nos fundos do Sanatório Maria Imaculada.” O Correio Joseense iniciou mesmo uma campanha pela cassação do prefeito José Marcondes Pereira “por suas comprovadas atitudes de comungante de ideologias exóticas: esquerdista e comunista”. Napoleão Monteiro relembrava os tempos em que Marcondes, como vereador, defendera os trabalhadores grevistas da Rhodosá e por isso fora demitido da subgerência do Banco do Vale do Paraíba S/A. Como prefeito, tinha participado do ato de desagravo pela destruição, pouco antes do golpe de 1964, da Banca Nacionalista (que vendia na praça da Matriz livros e jornais de todas as tendências políticas de esquerda). De sua parte, o prefeito procurava aumentar a sua articulação política. Constituía a Frente Única Partidária Pró-Administração Marcondes
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Pereira, integrada pelo PSD, PSP, PRT, MTR e PRP. Em contrapartida a um “Manifesto dos Párocos ao Povo de São José dos Campos”, no qual voltou a ser apontado como comunista e subversivo por sua atuação junto a trabalhadores grevistas e em defesa da liberdade de imprensa da “Banca Nacionalista”, Marcondes trazia a São José o cardeal dom Agnelo Rossi para inaugurar a Casa da Criança Excepcional, uma iniciativa do Departamento de Assistência Social (DAS) de sua esposa, Célia Marcondes, construída com recursos da comunidade. Apesar da violenta campanha pela cassação do mandato do prefeito, isto não acontecia. Marcondes também tinha bom trânsito junto ao diretor-geral do CTA, brigadeiro Casimiro Montenegro Filho, que não media as pessoas por sua eventual ideologia política e sim por seus atos. Tanto que defendeu o arquiteto Oscar Niemeyer, vencedor do concurso para o projeto arquitetônico do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), mesmo sob acusação de ser ele comunista. A oposição se desesperava. O Correio Joseense já registrava o transcurso do dia 31 de Março (o chamado “Dia da Revolução Democrática”) como o dia 1° de abril – O Dia da Mentira. E o jornalista Napoleão Monteiro ingressava com o pedido de impeachment junto à Câmara de Vereadores. Na sessão legislativa do dia 5 de abril de 1965 foi lido o pedido do jornalista. Em quase trinta laudas datilografadas, Napoleão Monteiro alinhavava todas as acusações contra o prefeito. Dizia o petitório: “Em matéria criminal os juristas admitem que o réu, na ausência do flagrante, pode ser condenado pelas provas circunstanciais e indiciais. No caso do Sr. José Marcondes Pereira as provas são, pode-se dizer, concretas. Citaremos aqui uma delas: Na reunião para a posse dos membros do Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de São José dos Campos, Sua Senhoria presidiu os trabalhos e fez-se fotografar ao lado de seis comunistas, conforme reconhecimento feito pelo major Francisco de Melo, quando de nosso depoimento no Quartel da 4ª Zona Aérea, de São Paulo, ocasião em que Sua Senhoria pronunciou discurso do qual transcrevemos o principal período, exatamente como consta da ata do Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de São José dos Campos, lavrada em livro próprio, no dia da reunião: ‘...usou da palavra o Sr. Prefeito Municipal, doutor José Marcondes Pereira, que disse de sua satisfação de dirigir a palavra aos trabalha-
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dores do campo e que as palavras dos companheiros José Francisco Maia e Raul Alvarenga espelham muito bem a situação do trabalhador rural e que chegou a hora da libertação do camponês como havia chegado a hora no tempo do século passado da liberdade dos escravos’.” Após o golpe de 1964, os militares invadiram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e levaram todos os seus registros e documentos, inclusive o livro de atas, o que aconteceu também em outros sindicatos, além de terem sido presos os sindicalistas mais combativos da cidade. A principal acusação ao prefeito José Marcondes Pereira, no entanto, residia na contabilidade da prefeitura, que apontava uma diferença de caixa. A prefeitura nomeou uma comissão interna que não chegou a nenhuma conclusão. Contratou, em seguida, o professor Agrício Silva, da Escola de Ciências Contábeis da Universidade Mackenzie, que, em seu relatório, também não chegou a nenhuma conclusão, limitando-se a apontar as diferenças encontradas, sem esclarecer a origem e a causa das falhas contábeis. Após ouvir a opinião dos técnicos em administração pública Ivan Fleury Meireles e Durval Leister, cujo parecer também enviou à Câmara de Vereadores, Marcondes decidiu ainda nomear uma Comissão de Sindicância composta por personalidades não pertencentes à administração municipal. E solicitou à Câmara que indicasse também um vereador para acompanhar os trabalhos de exame de toda a contabilidade e documentação da prefeitura. Ao final, os contadores e economistas Durval Leister e Ivan Fleury Meirelles concluíram que, embora não fosse impossível através do tombamento completo dos documentos da contabilidade encontrar a origem da diferença na receita e as suas causas, “a intervenção contábil decorre das próprias falhas existentes no aparelhamento técnico da prefeitura”, e apontou um rol de providências a serem adotadas: “Se o sistema contábil implantado já era imperfeito para gerir as finanças no passado, quando a arrecadação era inexpressiva, fácil imaginar as dificuldades a vencer, no momento presente, quando as finanças municipais possuem projeção em todo o Estado.” Político hábil, Marcondes selecionou dez vereadores que receberam antecipadamente todos os relatórios das apurações contábeis realizadas ou contratadas pela prefeitura, bem como outras informações relativas
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às denúncias do pedido de impeachment. Com esses vereadores firmou um protocolo assumindo compromissos que iam desde a completa apuração da diferença de caixa até a tomada de decisões político-administrativas da prefeitura. (Este bloco suprapartidário perdurou por um bom período garantindo uma certa paz política para a administração municipal terminar o seu mandato a 14 de setembro de 1966, quando o prefeito se afastou para concorrer à Assembleia Legislativa.) Uma comissão especial composta por três vereadores foi constituída, ouvindo todos os envolvidos, juntando toda a documentação apresentada. O seu relator concluiu que a Câmara deveria acolher o pedido de impeachment para ser processado, outro vereador votou contra o parecer e um terceiro votou a favor do relator mas com a ressalva de que não tinha tido tempo para apreciá-lo por completo e assim reservava-se o direito de alterar o seu voto na votação plenária. E assim foi. Em sessão legislativa de 14 de junho de 1965, a Câmara de Vereadores, pelo voto nominal de seus vereadores, rejeitou por dez a seis o pedido de recebimento do impeachment do prefeito José Marcondes Pereira. Sebastião Teodoro Azevedo, um dos vereadores que votaram pela rejeição do impeachment, diz ainda hoje que assim votou porque não viu nenhum indício de que o prefeito José Marcondes Pereira tivesse qualquer envolvimento na diferença de caixa: “Era um problema do sistema contábil da prefeitura!”. Com o bipartidarismo decretado pelo governo militar, Marcondes liderou em São José a constituição do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição consentida ao regime de exceção, enquanto o ex-prefeito Elmano Ferreira Veloso e o deputado estadual Benedito Matarazzo integram as hostes da Arena – Aliança Renovadora Nacional, o partido oficial do governo. Na eleição de 1966, Veloso volta a se eleger prefeito da cidade, pela quarta vez, assumindo em 1967, enquanto Marcondes, que se afastara da prefeitura para ser candidato a deputado estadual pelo MDB, se elege, e Benedito Matarazzo se reelege deputado estadual pela Arena. Na edição de 15 de março de 1969, o jornal Valeparaibano estampava em manchete de primeira página: “Marcondes foi cassado”. Dizia a reportagem:
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“O deputado José Marcondes Pereira (MDB), de São José dos Campos, figurou entre os primeiros quatro parlamentares paulistas cassados com base no Ato Institucional n°5. O Conselho de Segurança Nacional, reunido anteontem à tarde, sob a presidência do marechal Artur da Costa e Silva, presidente da República, cassou e suspendeu os direitos políticos por dez anos de noventa e cinco deputados federais e estaduais. Da Assembleia Legislativa de São Paulo foram cassados os parlamentares José Marcondes Pereira, Esmeraldo Tarquínio, Fernando Perrone e Jacinto Figueira Júnior, os quatro da bancada oposicionista do Movimento Democrático Brasileiro.” Já cassado e com os direitos políticos suspensos, o casal José e Célia Marcondes Pereira foi visitar os amigos prof. Obemor Pinto Damasceno e sua esposa, dona Deise, no CTA, mas foi barrado por um contingente de militares na portaria, cujo oficial responsável informou-lhe: “O senhor agora é pessoa não grata no CTA!” Marcondes prontamente respondeu: “Voltarei aqui um dia e o senhor ainda vai me bater continência!”. Depois de cumprir os dez anos de suspensão dos direitos políticos e ter sido eleito em 1982 como deputado federal pelo PMDB, Marcondes fez parte de comitiva integrada pelo governador Franco Montoro, que foi recebido com honras militares no CTA. *** Não poderia terminar este relato sobre a administração do prefeito José Marcondes Pereira sem deixar o meu testemunho sobre o homem, testemunho talvez suspeito por ter eu participado da campanha que o levou à prefeitura e ter privado de sua amizade e companheirismo. Como jornalista, no entanto, sempre consegui distanciar-me o suficiente para ver as pessoas como realmente elas são e não pelas aparências. E Marcondes sempre foi visto por mim como um ser humano integral. Mesmo quando dele divergia, nunca deixei de vê-lo com todos os atributos pessoais que queria presentes em mim: integridade, humildade, honestidade, coragem, ousadia, dedicação, solidariedade, amizade, bom humor, desprendimento. Enfim, todos os atributos que deveriam pertencer a todos os seres humanos. E ele exercitou essas qualidades, posso dizer, até o último instante.
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O vereador José Marcondes Pereira.
Com a esposa, dona Célia, na posse, ocorrida no Cine Palácio.
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Inauguração da sede da Banda de Santana do Paraíba.
Na abertura da avenida Madre Tereza, ligando a avenida São José à Luiz Jacinto. O prefeito posa sentado no trator.
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Inauguração do Tiro de Guerra, na rua Paraibuna. Marcondes é o de terno claro.
Com o governador Carvalho Pinto, em cerimônia de formatura da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba.
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Com o cardeal dom Agnelo Rossi. À direita, o médico e vereador Oswaldo Toledo.
Abertura da avenida São José, no Centro, no mandato de Marcondes.
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Abertura da avenida Fundo de Vale, hoje denominada TeotĂ´nio Vilela.
Marcondes vistoria o poço artesiano de LavapÊs.
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Marcondes discursa na Convenção do PMDB na Assembleia Legislativa de São Paulo. Acima, da esquerda para a direita, Robson Marinho, Ulysses Guimarães, Alberto Goldman (em pé, de barba), Mário Covas e Franco Montoro.
Marcondes em seu apartamento, no edifício Maria Lúcia.
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O deputado federal Marcondes Pereira com Ulysses Guimarães na campanha “Diretas Já”.
Com Jânio Quadros.
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Um pequeno testamento político
Q
uando fui incumbido de entrevistar o ex-prefeito José Marcondes Pereira (1962-66) e escrever o seu perfil biográfico, em meados de 2007, procurei-o em seu escritório de advocacia, na rua Vilaça n° 410, no centro da cidade. Lá o encontrei, aos 84 anos de idade, em suas atividades cotidianas de 48 anos de militância como advogado. Expliquei-lhe que o prefeito Eduardo Cury havia encomendado a uma série de jornalistas de São José dos Campos a realização de um livro contendo a entrevista e o perfil biográfico dos ex-prefeitos da cidade. Como lhe falei dos pontos principais da entrevista, Marcondes adiantou que escreveria um manuscrito relembrando as passagens de sua vida pessoal e pública para ajudar a sua memória dos fatos e facilitar a minha entrevista. Voltei a ter com ele em várias outras oportunidades, em seu escritório de advocacia ou pelo telefone. Mas ele postergava o encontro, alegando que, embora já tivesse escrito cinco, oito, dez, quinze folhas com as suas lembranças, ia recordando de outros fatos e, assim, preferia ainda não marcar uma data para a entrevista. No dia 26/09, para minha grande surpresa, ligaram me informando que o Marcondes havia sofrido um acidente vascular cerebral. O AVC tinha sido fraco, mas suficiente para deixá-lo internado na UTI. Dois dias depois, 28/09, recebi a informação de que ele sofrera um segundo AVC, bem mais forte que o primeiro, e encontrava-se em coma, sendo pouco provável que pudesse se recuperar. No domingo, dia 30/09, para minha grande consternação, Marcondes faleceu. As folhas manuscritas com o depoimento de José Marcondes Pereira foram editadas por sua esposa, Célia de Jesus Moreira Pereira, e por seu irmão Alfredo Pereira Neto, por quatro noites seguidas, delas sendo retiradas apenas algumas passagens que poderiam constranger familiares daqueles que combateram ferrenhamente o ex-prefeito. Ao fim, procurou-se dar maior precisão a datas e nomes, mantendo integralmente aquilo que a família entendeu que poderia ser publicado como uma autobiografia autorizada. Esse documento inédito, reproduzido a seguir, constitui um pequeno testamento político de José Marcondes Pereira, um homem do povo que chegou a prefeito de sua cidade.
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«Nasci em São José dos Campos, no dia 14 de maio de 1923, filho de Alfredo Pereira Filho e de Aurora Marcondes Pereira, que tiveram sete filhos, a saber: eu, o mais velho, Elina Marcondes Pereira, Alfredo Pereira Neto – o caçula – e os já falecidos Olinda, Herundina, Roberto e Benedito. Em 1952, casei-me com Célia de Jesus Moreira Pereira, filha de Agenor Branco Moreira e Sebastiana Luz Moreira. Tivemos duas filhas, Celsis e Viviani. Celsis é médica formada pela Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp). É casada com José Amaral Wagner Neto e tem duas filhas: Clarissa e Cecília. Viviani é divorciada e tem dois filhos – Erika Jerusa e Thiago José. Nossa afilhada Theia, também considerada como filha, fonoaudióloga, é casada com Gilbert Soliva, com quem tem duas filhas – Letícia e Patrícia. São, portanto, três filhas e seis netos que Deus nos deu. Vivi até os seis anos de idade na zona rural de São José, na fazenda “Pau de Saia”, no bairro do Bengalar, e depois no bairro do Varadouro, no município de Jambeiro, na fazenda São João, onde meu pai era o administrador. Com a queda do café, o proprietário, Sr. João Marques de Abreu, foi à falência, perdendo a fazenda por dívidas, o que obrigou meus pais, sem nada a receber e sem recurso nenhum, a se mudarem para o sítio do Sr. Clementino de Oliveira, às margens do Rio Capivari, no bairro do Tapanhão, município de Jambeiro. Meu pai montou então uma fábrica de farinha de milho onde eu, com apenas oito anos, era seu auxiliar – e muito trabalhei tanto na fábrica como nas entregas do produto nas cidades de Jambeiro, Caçapava e Paraibuna. Nessa época, minha tia Valdomira, que morava na cidade de Itanhandu, MG, leva-me consigo a fim de que eu pudesse entrar na escola, já que com onze anos era analfabeto e nem sapatos tinha para calçar. Na cidade mineira, matriculei-me no grupo escolar Felipe dos Santos em agosto de 1934. Após eu terminar o meu trabalho doméstico, Da. Filomena Marcondes, prima de minha mãe, me ajudava com as lições escolares, e tamanho era o meu empenho que, em pouco mais de uma semana, eu já lia a cartilha, o que causou a admiração do grupo escolar, tendo minha professora escrito em minha caderneta escolar: “É inteligente e aplicadíssimo. Merece a estima e a admiração de sua professora”.
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Naquela época, como eu não tinha cadernos, passava a ferro de carvão as folhas de papel que enrolavam os pães e, com elas, fazia os meus cadernos. Em dezembro de 1934, a família da tia Valdomira mudou-se para a cidade de Varginha, MG, e eu levei meu boletim para matrícula no 2º ano primário. Todavia, meu pai, sabedor das minhas grandes dificuldades, foi me buscar e retornei ao Estado de São Paulo. Matriculado no grupo escolar de Jambeiro, fui sabatinado pelo professor Paulino Bernardes Gil, que me achou apto para o 3º ano primário, pulando, portanto, o 2º ano. Frequentei as aulas até setembro de 1935, quando nos mudamos para São José dos Campos. Em São José dos Campos fui apresentado à professora Maria Luiza de Guimarães Medeiros, que muito me incentivou a fazer o curso ginasial. Apesar de não ter feito o curso preparatório, passei nos exames de admissão, mas não pude fazer minha matrícula devido às grandes dificuldades financeiras da família. Soube então que a pessoa mais importante da cidade era o prefeito da época, o Sr. Arnaldo dos Santos Cerdeira, e decidi procurá-lo. Sua secretária me informou que ele era um homem muito ocupado e não poderia atender um garoto qualquer. Entretanto, não desanimei e continuei esperando por ele. O prefeito então me atendeu, ouviu o meu pedido e, impressionado com o meu desejo de estudar, me deu a gratuidade do estudo. Muitos anos depois, ao ser eleito prefeito de São José, fiz questão de subscrever o primeiro convite para minha posse para o então deputado federal Arnaldo Cerdeira, que compareceu e me disse: “Amigo Marcondes, estou relembrando o obstinado menino magrinho, pobremente vestido que me pedia ajuda para estudar. Como foi bom tê-lo ajudado, pois você hoje ocupa a mesma cadeira que, como prefeito, eu ocupava na época”. Meu pai trabalhou também na Tecelagem Parahyba e depois no D.E.R., mas quando de sua morte, em 1940, deixou minha mãe e seis filhos em quase completa miséria, o que me obrigou a muitos trabalhos, pois com apenas 16 anos eu passei a ser o responsável pelo sustento da família. Uma de minhas obrigações, e de meus dois irmãos, era entregar marmitas fornecidas pela Sra. Antonia Amaral Melo na casa de tuberculosos. O dinheiro que recebíamos ajudava minha mãe nas despesas domésticas. Todavia, D. Antonia chamou minha mãe e dispensou o trabalho de meus irmãos que, mal alimentados, comiam os bifes da mar-
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mita – disse ela que ficaria somente comigo. Passei então a fazer todas as entregas, pois, embora também mal alimentado, nunca nas marmitas tinha tocado. Como se eu pudesse prever o futuro, carregando as pesadas marmitas, eu olhava para as ruas de São José e pensava: “Um dia eu vou mandar nesta cidade”. O acúmulo de trabalho e a grande necessidade financeira da família me impediram de frequentar as aulas. Entretanto, meu colega José D’Ávila, filho do Dr. Nelson D’Ávila, médico tisiólogo de renome na cidade, contou ao pai o drama vivido por seu amigo e colega. Dr. Nelson me chamou e disse: “Marcondes, volte amanhã mesmo para a escola. Todas as suas despesas, a começar pelos sapatos, correrão por minha conta”. Graças à ajuda desse benemérito cidadão é que eu pude retornar aos meus estudos e completá-los. Para a festa de minha formatura, meus colegas me deram o terno, os sapatos e até o álbum de formatura. Durante todo esse tempo do ginásio, eu trabalhava aos domingos na porta do Mercado Municipal, levando compras com um carrinho de madeira. Entre os clientes, atendia ao Sr. Paulo Becker, industrial da cidade, que me dava boas gorjetas que tanto somavam no orçamento familiar. Ainda no ginásio, após as aulas, trabalhei nas lojas dos senhores Badue Cury e Said Calil – nesta última a marca da firma era Marcondes, nove letras sem repetição. Trabalhei também na loja do Sr. Fuad Cury, avô do atual prefeito, Eduardo Cury. Foi no convívio com essas generosas famílias que tanto me ajudaram que aprendi a falar várias palavras árabes e a gostar de sua saborosa culinária. Fiz o Tiro de Guerra 545, comandado pelo sargento Claudomiro Lucas Ferreira, que, além de me fazer secretário do Tiro, permitia que eu mantivesse limpos e polidos os fuzis dos atiradores, que preferiam pagar por esse meu trabalho. Recebi de meus colegas a farda militar. Terminado o curso ginasial, fui informado que havia vaga no Banco do Vale do Paraíba, da família Guisard, de Taubaté, e logo me propus a conseguir esse emprego. Mas soube que para ser admitido seria preciso apresentar uma carta de fiança de cinco contos de réis, o que era impossível para um moço tão pobre. Conhecedora de minha luta e do meu esforço para vencer na vida, minha ex-colega de classe, Ana Maria Bonádio, depois Sra. Octávio Monteiro Becker, conhecida como Dona Nena, pediu então a seu pai, o industrial Conrado Bonádio, e a sua mãe, Assunta Bonádio, que me dessem essa carta. Foi assim que consegui o emprego de
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contínuo no citado banco, no dia 2 de fevereiro de 1942. Posteriormente, o senhor Benedito Pereira de Oliveira, que era auxiliar de contador, ao se demitir, me nomeou seu sucessor. Trabalhei muito, e, em razão do excessivo trabalho, adoeci dos pulmões, o que me obrigou a manter repouso absoluto, ficando acamado, recebendo tratamento do dedicado Dr. Ruy Rodrigues Dória, que, em suas visitas quase diárias, passou a me conhecer melhor. Contei-lhe então da minha amizade com o jornalista Mattos Pimenta – diretor do Jornal de Debates, do Rio de Janeiro –, que mantinha a campanha O Petróleo é Nosso. Eu entrara para a campanha depois de ler o livreto de Monteiro Lobato, que recebi no banco e que a polícia queria recolher. O Dr. Dória também sabia que eu, juntamente com o jornalista Edward Simões, filho do presidente da Associação Comercial, senhor João Lopes Simões, e com o Dr. Jamil Mattar de Oliveira, filho do casal José Mattar e Joana Mattar, editara, em 1951, o primeiro álbum histórico de São José dos Campos. O Dr. Dória me convidou para ser candidato a vereador pelo seu partido, a UDN. Eu já era bem popular, mas consegui na eleição apenas 27 votos. Depois, convidado pelo vereador Mário Scholz e pelo deputado Cid Franco, deixei a UDN e ingressei no PSB onde me elegi para meu primeiro mandato como vereador na Câmara Municipal. Eu contava então com o apoio de seis dos nove sindicatos de trabalhadores da cidade e com o apoio do governador Jânio Quadros, que aventou a ideia de nomear-me como prefeito, o que imediatamente recusei, pois desejava, sim, assumir o Executivo, mas somente como eleito, nunca como nomeado. Minha luta na Câmara em defesa das classes menos favorecidas aumentava dia a dia o meu prestígio político. Houve uma greve dos funcionários da Rhodosá e a fábrica propôs aos empregados um acordo que poucos favoreceria. Tal acordo contava com o apoio do prefeito Veloso e de 16 dos 17 vereadores. Somente eu fui contra, lutando ao lado dos operários por suas justas reivindicações salariais. Vencemos, mas minha situação no banco ficou abalada. A Rodhosá, a Tecelagem e a prefeitura enviaram carta à direção do banco, afirmando que, enquanto eu fosse funcionário, não mais trabalhariam com aquele estabelecimento de crédito. Evidentemente, fui despedido, perdendo um emprego de mais de dez anos. Desempregado, várias atividades, entre elas, corretor de imóveis e vendedor de bebidas e outros produtos, tive de exercer a fim de dar assistência à minha família.
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Em 1959, já bacharel pela Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, tentei o segundo mandato de vereador, mas embora tenha sido o candidato mais votado da cidade, não me elegi, porque meu partido não alcançou o quorum necessário. Recebi muitas manifestações populares de apoio e por isso não me deixei abater. Então, a conselho de meu amigo Edward Simões, lancei minha campanha a prefeito, pelo MTR (Movimento Trabalhista Renovador), para o período de 1962-1966, enfrentando fortes candidatos como o Dr. Tertuliano Delfim Júnior (Dr. Tuta), que já fora prefeito e que tinha o apoio do governador Adhemar de Barros; o vereador Jamil Mattar de Oliveira, com larga folha de trabalho no município e com apoio do prefeito Elmano Ferreira Veloso; o Sr. Jorge Vieira da Silva, presidente da Cooperativa de Laticínios, que contava com o apoio dos pecuaristas e do deputado Benedito Matarazzo; e o engenheiro José Garcia Machado, que contava com o apoio dos funcionários da prefeitura. Para candidato a vice-prefeito, escolhi o vereador e líder sindical Francisco Moreno Ariza. Ganhamos a eleição. Tomamos posse no dia 25 de outubro de 1962, no Cine Palácio, lotado e sob grande manifestação popular. Com aplausos e chuva de rosas, o povo demonstrava sua crença e esperança no governo que se iniciava, voltado para os menos favorecidos e para as classes trabalhadoras em especial. Naquele momento, não poderíamos supor que com o golpe militar da Revolução de 64, que culminou com a ditadura no Brasil, nosso governo iria enfrentar o período mais nefando, funesto e triste da história da liberdade e da democracia brasileira. Meu ideal político se norteava pela luta em busca de uma justiça social mais abrangente e humana. Uma vez eleito, preocupei-me logo em criar o Departamento de Assistência Social (DAS) do Município, que me daria a grande oportunidade de ajudar e servir aos mais carentes da cidade. Designei para dirigi-lo minha esposa Célia, que, comissionada pelo Estado e sem qualquer ônus para o município, fez um trabalho que foi um grande desafio. São José dos Campos era uma cidade com orçamento deficitário e a prefeitura não dispunha de recursos para enfrentar os enormes problemas sociais da época. Trabalhamos muito para criar condições para o desenvolvimento do nosso projeto. A prefeitura organizou a 1ª Fevap – 1ª Feira das Indústrias do Vale do Paraíba, evento que despertou o interesse de grandes industriais paulistas nas promissoras possibilidades que a cidade oferecia. O restaurante da
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Feira foi administrado por minha esposa, que, com sua equipe, serviu centenas de refeições durante todo o evento. Com a renda criamos a Casa da Criança Excepcional, inaugurada pelo reverendíssimo arcebispo de São Paulo, dom Agnelo Rossi. Precursora da APAE de São José, nela mais de 90 crianças receberam tratamento especializado sob a direção da Profª Vera Regina Del’Áquila Santos, sob a supervisão do Dr. Véras, renomado neurologista do Rio de Janeiro. A praça Cônego Lima foi palco da campanha que naquela época mais sensibilizou a população joseense. Durante 45 noites a quermesse ali instalada funcionou em busca de recursos para a compra da primeira ambulância para o Departamento Médico do Serviço Social, o DAS. Além do atendimento ao doente carente da cidade, centenas de pacientes, cujas moléstias ainda não encontravam tratamento em São José, foram transportados para hospitais especializados de São Paulo na ambulância conseguida com o trabalho na praça Cônego Lima e cujo dístico era: “Do povo para o povo”. Foi também criada no Departamento de Assistência Social a 1ª Farmácia Popular, que fornecia medicamentos gratuitos à população carente. Meu prestígio político crescia, e eu contava com o apoio do deputado Arnaldo dos Santos Cerdeira. A oposição ao meu governo sentia-se fraca, pois só contava com o apoio dos militares. Mesmo assim, a pedido do jornalista Napoleão Monteiro, abriu-se um processo de impeachment (impedimento, afastamento, cassação) que teve tramitação ridícula na Câmara, mas que contava com o apoio do coronel Hugo de Sá Campelo, de Caçapava, e do deputado Herbert Levy em Brasília. Foi uma luta insana, mas venci por 11 a 6. Chamado para depor no 2° Exército, lá prestava depoimento quando chegou o coronel Edwin, o diretor dos Tiros de Guerra do Estado de São Paulo, que perguntou ao oficial que me interrogava o porquê do depoimento, dizendo aos interrogadores: “Parem com isso, pois este é o mais humano prefeito que já conheci. Entre tantos benefícios que ele prestou à população, ele também reformou a sede do Tiro de Guerra 545, construiu e mobiliou duas casas para os sargentos”. O interrogatório foi suspenso e eu fui dispensado. Em 14 de setembro de 1966, passei a prefeitura para o Dr. José Ferze Tau, então presidente da Câmara Municipal, deixando pagas todas as contas. A ata de transferência foi assinada pelo Dr. Onadyr Marcondes,
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representando o governador Abreu Sodré. Mais 42 pessoas também testemunharam o ato e ouviram a leitura da ata, quando ficou registrado que todas as contas estavam pagas. Recebi então uma certidão devidamente registrada. Passei para a história política como um dos únicos prefeitos que não tinham deixado contas para os sucessores pagarem. Saí então candidato a deputado estadual enfrentando três impugnações: uma do jornalista Napoleão Monteiro, outra do governador Adhemar de Barros e a terceira do deputado federal Paulo Elias. O presidente do Tribunal Regional Eleitoral me intimou às 16 horas de uma sexta feira para que apresentasse na segunda-feira seguinte a certidão dos andamentos dos três IPMs (Inquérito Policial Militar) que respondia, sendo que um corria no Rio de Janeiro, outro em Brasília e o terceiro em São Paulo. O pedido equivalia a aceitar as impugnações, pois seria impossível de ser realizado devido à exiguidade do tempo. Procurei então meu amigo Dr. Edevaldo Alves da Silva, que após ouvir o caso levou-me até o auditor da 2ª Região Militar, Dr. José Tinoco Barreto, que avocou os três IPMs contra mim e pôde dar a certidão que o tribunal pedira. Fui assim aceito candidato, concorrendo com o nº 1589 do MDB e eleito com votação em mais de cem municípios do Estado de São Paulo. Pode-se perguntar como obtive expressiva votação em municípios que jamais visitara ou conhecera. A resposta está na minha participação num programa de televisão intitulado “O Homem do Sapato Branco”, dirigido pelo radialista Jacinto Figueira Júnior, o qual me chamara para falar sobre a administração municipal. Lá chegando, fui surpreendido pela presença de vereadores da oposição, que pensavam me desmoralizar perante o eleitorado de todo o Estado de São Paulo. O programa iniciou-se às 20 horas e encerrouse às 2h30 do dia seguinte. Consegui rebater todas as acusações. Para completar a defesa, minha esposa, Célia, compareceu e demonstrou que aqueles vereadores nunca visitaram e nem verbas deram para atender as grandes necessidades do Departamento de Assistência Social e da Casa da Criança Excepcional. Quando o programa foi encerrado, a rua 7 de Abril, em São Paulo, estava repleta de pessoas oferecendo hospedagem ao casal e ao mesmo tempo vaiando os vereadores da oposição. Foi um escândalo. O feitiço virou contra os feiticeiros. Nesse episódio, contei com a participação destacada do vereador
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Argemiro Parizotto de Souza e do tenente Dinamite (Oswaldo Fernandes De Mani Rodrigues). Ao chegarmos a São José, uma multidão nos esperava na rua Rubião Junior em frente à nossa casa, e fui muito aclamado por todos. Em 1967, assumi meu mandato de deputado estadual, continuando a minha luta contra a ditadura militar e combatendo a Revolução de 1964 com discursos coerentes e corajosos, denunciando o autoritarismo militar e a morte da democracia e defendendo o retorno da legalidade no País. Meus inimigos políticos não descansaram. Com a ajuda do deputado Herbert Levy, conseguiram em 1969, pelo AI-5 (Ato Institucional nº5), a cassação do meu mandato e a suspensão dos meus direitos políticos por dez anos, até 1979 – o que cumpri integralmente. Sofri intensa perseguição política, fui preso e acusado de ser comunista e guerrilheiro. Foram anos muitos difíceis, não somente para mim e para minha família, mas também para toda a Nação Brasileira, que assistiu milhares de seus filhos serem perseguidos, exilados ou mortos pela ditadura militar que se instalou no País. Voltei ao meu trabalho de advogado sem, entretanto, perder as esperanças de assistir à volta da democracia no Brasil. Fui anistiado em 1978. Em 1982, fui candidato a deputado federal e recebi a maior votação do Vale do Paraíba, próxima aos 80 mil votos, sendo 52 mil em São José, 12 mil em Jacareí, 6 mil em Caçapava e o restante nos demais municípios. Cumpri os mandatos de vereador, prefeito, deputado estadual e deputado federal recusando a aposentadoria política em todos esses cargos por achá-la imoral e injusta. Sempre quis ter as minhas mãos políticas honradas e limpas e jamais sofri a acusação de corrupto. Minhas lutas e desafios foram sempre no campo ideológico. Como deputado federal, participei ativamente da campanha das “Diretas Já” somando a minha voz ao clamor do povo brasileiro, que exigia o retorno da democracia para o nosso país. Empunhando essa bandeira da liberdade, caminhei ao lado de grandes brasileiros como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, Orestes Quércia, Robson Marinho, Joaquim Bevilacqua, Pedro Simon, José Serra e tantos outros, que nunca se curvaram diante da opressão da ditadura militar. Esse movimento vitorioso marcou um dos momentos mais bonitos que a história brasileira pôde registrar.
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Minha popularidade sempre foi consequência da atenção que dediquei não só aos carentes, mas a todos os cidadãos de bem da sociedade. Contei, entre tantos, com amizades marcantes tais como: Sr. Henrique Mudat, homem de iniciativa que sempre lutou pelo progresso da cidade. Bispo dom Gabriel Bueno Couto, meu conselheiro e orientador, amigo que sempre amparou nos momentos mais difíceis e que, ao voltar de uma viagem a Roma, deu-me de presente todas as encíclicas e uma medalha do Papa João XXIII, com a seguinte inscrição: “De um papa revolucionário para um prefeito revolucionário”. Dr. Eduardo de Campos Maia Neto, MM. Juiz de Direito da Comarca, que tomou a minha defesa em muitas oportunidades. Dr. Pedro Barbosa Pereira, ex-Juiz de Direito da Comarca, presidente do aeroclube local, que me deu uma bolsa de 20 horas para que eu aprendesse a pilotar. Deputado federal Arnaldo dos Santos Cerdeira, que me ajudou quando eu era menino e que permaneceu sempre ao meu lado mesmo nos momentos mais difíceis. Sr. Fuad Cury, personalidade de destaque no comércio local, sendo membro da Associação Comercial. Foi quem colaborou para o meu encontro em Brasília com o marechal Costa e Silva, para a transferência do coronel Hugo de Sá Campelo do comando da unidade de Caçapava. Dr. Oscar Strauss, meu conselheiro político, que anonimamente me ajudou em muitas oportunidades. Antonio Leite, radialista e amigo, que sempre reconheceu minha luta em defesa das classes trabalhadoras e dos humildes de nossa cidade. Vereador Luiz Paulo Costa, amigo e companheiro de lutas e ideologia política nos momentos mais críticos e sombrios da história da nação brasileira. Vereador Oswaldo Martins Toledo, que lançou na câmara a minha candidatura a prefeito. Vereador Argemiro Parizotto de Souza, amigo e fiel companheiro de todas as horas.
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Gostaria de poder enumerar muitos e muitos outros companheiros aos quais devo amizade e gratidão. Em minha campanha para prefeito fiz muitas promessas. As mais importantes foram todas cumpridas: Prometi abrir a avenida São José até encontrar a rua Luiz Jacinto. Cumpri: avenida Madre Tereza7. Prometi fazer um novo acesso para o bairro de Santana. Cumpri abrindo a avenida Olivo Gomes. Prometi abastecer com água o bairro da Vila Maria até estourar as torneiras. Cumpri abrindo poços artesianos e levando a água para a torre do Monte Castelo e de lá para as torneiras da Vila Maria. Prometi iluminar os bairros Anhembi, Vila Piratininga, Vila Bandeirantes, Vila Augusta e outros. Cumpri deixando todos os bairros da cidade com luz, tendo para isso contado com a ajuda do sr. Israel Coppio, na época gerente da Light em São José. Prometi o serviço de tratamento de água para a cidade e, com grande esforço, construí a estação de tratamento hoje ampliada pela Sabesp. Cumpri. Prometi para a professora Cleide Calazans que construiria o Instituto de Educação e Ginásio Estadual Coronel João Cursino, que até hoje recebe centenas de estudantes. Cumpri. Prometi que abriria a segunda pista da avenida Nove de Julho (lado esquerdo) do Tênis Clube até a Vila Ema. Cumpri. Prometi fazer uma Feira de Indústria do Vale do Paraíba e fiz a Fevap, inaugurada pelo então secretário do governo Adhemar de Barros, Sr. Penido. Cumpri. Prometi ao padre João Guimarães construir a Igreja da Vila Maria. Cumpri. Prometi ao Sr. Mario Ottoboni, então presidente do Esporte Clube São José, recursos para construção do Estádio Martins Pereira. Cumpri e recebi o título de benemérito do Esporte Clube São José. Prometi atendimento aos menos favorecidos e à classe trabalhadora. 7. Consta que a ligação com a Luiz Jacinto propriamente dita só foi feita na época de Sobral. Marcondes levou a avenida São José de onde fica a Casa do Médico até o início da curva do “s”.
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Cumpri criando o Departamento de Assistência Social da Prefeitura, a Farmácia Popular e a Casa da Criança Excepcional. Minha atuação social e política registrou muitos fatos, passagens, realizações e destacadas atitudes como segue: Em 7/9/1942 recebi o diploma de atleta da cidade ao participar da “Liga da Defesa Nacional” – fogo simbólico que percorria o Brasil. Criei a Comissão Municipal da Defesa do Petróleo, quando conheci o jornalista Mattos Pimenta, diretor do Jornal de Debates do Rio de Janeiro, que sustentou a luta do “Petróleo é Nosso”. Participei da 1ª. turma de contadores da Escola de Comércio “Olavo Bilac”, diplomando-me em 20 de janeiro de 1944. Fui um dos fundadores do Lions Club de São José sob a presidência do Sr. Noemio de Arruda Carvalho, que na época era gerente do Banco do Vale do Paraíba S/A. Participei do programa Voz da América, na Embaixada dos EUA no Rio de Janeiro, quando vaticinei ao falar da duplicação da Via Dutra, dizendo: “A Dutra será no futuro uma grande avenida, unindo as duas principais capitais do País, São Paulo e Rio de Janeiro (...) São José dos Campos será uma das mais importantes metrópoles do interior de São Paulo (...) O Vale do Paraíba será um grande polo industrial do País.” Em outubro de 1963, idealizei, com a denominação de “Conselho de Desenvolvimento do Vale do Paraíba”, enviando ofícios para todas as prefeituras da região, o que depois, em 1970, foi criado pelo ex-prefeito Sérgio Sobral como Codivap – Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba8. Em 15/08/2004 recebi o diploma do Rotary Club Leste - Mérito Participativo. Em 15/12/1991 recebi o título da Fundação Cassiano Ricardo “Patrimônio Humano do Município”.
8. Ver referência ao Codivap, como iniciativa de Sobral, nas págs 138 e 139. (N. do E.)
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Quando fui prefeito, recebi em minha casa a honrosa visita do mestre Masaharu Taniguchi, fundador da Seicho-no-iê do Japão. Recebi título de benemérito da Associação Esportiva São José – Clube Santa Rita pela regularização do terreno onde está construído o clube de campo. Recebi diploma de benemérito do teatro amador de São José dos Campos. Recebi em 15/10/1985, das mãos do professor Baptista Gargione Filho, o título de Aluno Símbolo da Fundação Valeparaibana de Ensino, turma 1954-1959. 1.ª matrícula no 1º vestibular. Recebi Diploma de Honra ao Mérito Esportivo por serviços prestados ao esporte local – Clube José Friggi. Recebi em 18/7/1965 Diploma de Honra ao Mérito da Federação Paulista de Voleibol. Recebi em 25/6/1984 Diploma de Honra ao Mérito da Câmara Municipal, onde fui vereador. Tenho hoje 84 anos de idade e posso afirmar que sou uma pessoa privilegiada e feliz. Espero por muito tempo ainda continuar a minha luta em defesa das classes menos favorecidas da sociedade, pois sempre acreditei que é direito de todo cidadão ter uma vida digna quanto à educação, saúde, segurança, alimentação e liberdade. Quero terminar o meu relato, fazendo minhas as palavras do ilustre amigo e companheiro professor André Franco Montoro, quando disse: “Não há quem sofra que eu não sofra também. Os que passam fome, os que não têm casa, os que sofrem injustiças, os que estão oprimidos, são homens como eu. A eles estou ligado por vínculos de uma solidariedade profunda. Somos membros de uma mesma família humana. Somos todos filhos de Deus”. São José dos Campos, domingo, dia 23 de setembro de 2007. José Marcondes Pereira»
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PREFEITO A CONTRAGOSTO, E POR POUCOS DIAS Ferze Tau considerava que sua vocação era apenas para o Legislativo
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o assumir a Prefeitura de São José dos Campos, José Ferze Tau estava recebendo uma espécie de prêmio por uma longa trajetória política. Até hoje, ele é considerado o único vereador emérito da cidade, por vinte e cinco anos de vereança. Ficou menos de três meses9 na condição de prefeito e disse no seu discurso na câmara, ao se desincompatibilizar e anunciar que assumiria o cargo de prefeito, que não tinha, ou jamais tinha tido, qualquer intenção de ocupar o Executivo, que só o fazia por força da necessidade. Aconteceu que naquele ano o então prefeito José Marcondes Pereira (1962-1966)10 renunciou ao cargo para assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado. O vice prefeito, Francisco Moreno Ariza11, tinha sido cassado e o cargo de prefeito passou para as mãos de José Ferze Tau, então presidente da Câmara dos Vereadores. Ferze Tau fez um discurso, ao deixar a Câmara, onde afirmava que era contra sua vontade que deixava a casa, mas experimentou o gosto, por cerca de 80 dias corridos, de ocupar o cargo mais alto na hierarquia política do município. Sob a presidência de Pierino Rossi, foi lido um ofício que anunciava haver assumido o cargo de prefeito, no dia 14 de setembro de 1966, o sr. José Ferze Tau. Presente à sessão e instado a falar, despediu-se dos colegas vereadores num discurso inflamado “... prestando minha homenagem às suas inteligências invulgares (...) como prefeito de minha terra, não poderia deixar de consignar nesse instante, este humilde vereador, a mais honrosa glória, a mais insigne satisfação que Deus me ofereceu: no
9. De 14 de setembro a 2 de dezembro de 1966. 10. Era prefeito pelo MTR (Movimento Trabalhista Renovador), mas se elegeu deputado pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro). 11. Sindicalista, falecido em 7/11/2003.
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mesmo ano presidente da Câmara e prefeito municipal da cidade que mais cresce no Vale do Paraíba”. E por aí foi, sempre com muita emoção, demonstrando um apego à Câmara como à sua própria casa. “Falo com o coração na mão que me custará grande sacrifício distanciar-me do aconchego deste lar sacramental; custar-me-á ser privado do convívio desta Câmara”. E, ressaltava sua ligação: “(...) esta casa à qual pertenço há mais de vinte anos, sem ter uma falta registrada no meu comparecimento”. A gestão foi meteórica, mas houve tempo para que produzissem algumas histórias e celeumas, embora Ferze Tau fosse homem de espírito conciliador. A principal discussão em que se envolveu no curtíssimo mandato, e que entrou para sua biografia política, foi um projeto de doação de áreas públicas ao Centro Técnico de Aeronáutica, que pretendia expandir-se pelos lados do bairro do Putim. Alguns dos seus pares de vereança não estavam de acordo, entre eles Sebastião Teodoro Azevedo, e durante semanas a discussão tomou conta do plenário. No dia da votação, os vereadores teriam sofrido uma tentativa de intimidação por parte dos militares, que mandaram soldados acompanhar o pleito. Ainda assim, votaram contra, mesmo que posteriormente, por outros meios, a área em questão viesse a ser anexada ao CTA. Seu outro feito, enquanto chefe do Executivo, agradou em cheio aos servidores municipais. Segundo o ex-vereador Luiz Paulo Costa, as boas relações que José Ferze Tau mantinha com o ex-governador do Estado, Adhemar de Barros12, seu correligionário no PSP, renderam-lhe uma liberação de verbas (uma ata da Câmara afirma que foram duzentos mil cruzeiros) que ele usou para pagar vales atrasados dos funcionários públicos municipais. Costa afirma que ele fez isso pessoalmente, pagando um a um os atrasados. Os poucos registros históricos existentes sobre sua trajetória, revelam que se formou uma enorme fila em frente ao prédio da prefeitura, então localizado na rua 15 de Novembro, de servidores ansiosos pelo pagamento. O ex-prefeito José Marcondes Pereira nega que tenha deixado os atrasados.
12. Adhemar de Barros ficou no Governo do Estado até junho de 1966; cassado por Castelo Branco, foi Laudo Natel quem assumiu o governo.
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Depois da breve passagem pela prefeitura, José Ferze Tau voltou à casa que amava e exerceu a vereança nos anos de 67 e 68, mas o ano de 1969 seria particularmente doloroso, com o falecimento de sua mãe e a perda dos seus direitos políticos por dez anos, para nunca mais retornar à cena política da cidade. O motivo de sua cassação pelo regime militar, contudo, ele vai guardar consigo. Os livros que registram as sessões de câmara do período desapareceram13 há mais de doze anos dos arquivos da Câmara. O que se conta é que o motivo alegado pelos militares para cassar José Ferze Tau teria sido uma adulteração no seu registro de nascimento. Segundo se recordam o ex-vereador Sebastião Teodoro Azevedo e o ex-secretário-geral da Câmara Mário Ottoboni, disseram à época que ele teria mudado o ano e o local de nascimento. Natural do Líbano e nascido em 191414, ele teria se naturalizado joseense, mudando também o ano de nascimento para 1921. Se a versão da adulteração é verdadeira, a história de São José dos Campos deve-lhe esse crédito: José Ferze Tau foi cassado porque tentou se fazer passar por joseense e teria sete anos a mais. Há alguns anos José Ferze Tau está sob a curatela de um sobrinho, mas ainda mora na casa onde viveu praticamente toda sua vida, no centro da cidade, perto do Mercado Municipal. Filho dos libaneses Ferze Abdul Ahad Tau e Latif Zaiter Cury, não se casou, não teve filhos, mas foi sempre uma espécie de mentor da comunidade libanesa de São José dos Campos, tendo merecido o respeito e amizade de todos eles. Tendo falecido a senhora que cuidava do ex-vereador, este, doente, ficou por decisão judicial sob a responsabilidade do sobrinho Michel Tau, filho do seu irmão Fábio Tau, já falecido. Numa época em que se fazia política angariando votos na rua, José Ferze Tau se elegeu seis vezes vereador por São José dos Campos, em algumas eleições com votação expressiva para a época, chegando a alcan-
13. Segundo Ana Alice de Faria, da Divisão de Atas da Câmara Municipal de SJC, desde 1995, época em que ela assumiu o cargo, o livro referente aos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro de 1969, está desaparecido. 14. A informação é de um membro da comunidade libanesa, que prefere não se identificar.
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çar cerca de 300 votos15. Até sua primeira candidatura, era comerciante e teve lojas prósperas de venda de tecidos nas ruas Humaitá e Siqueira Campos. Advogado formado pela Faculdade de Direito de Niterói, no Rio de Janeiro, exerceria a carreira de advogado ao longo de toda sua vida com grande empolgação. Tinha perfeito domínio da língua portuguesa, era considerado excelente orador e tinha memória prodigiosa. “Ele jamais se esquecia do cliente e da história dele”, afirma o ex-sócio, Jorge Alwan, que trabalhou com ele até bem pouco tempo, numa sala no prédio da Cinelândia, no centro de São José dos Campos, onde em 2007 ainda existia um escritório com o nome de Advocacia Ferze Tau. Era ali que ele ouvia os problemas dos seus clientes, causas civis e criminais. Ferze Tau era considerado um criminalista competente e certa vez teria permanecido três dias em júri, na cidade de Paraibuna. Alwan afirma que, apesar da sua enorme lista de clientes, só cobrou por quatro ações em toda a sua vida, justamente de conterrâneos, que defendeu e de quem exigiu um valor muito alto como pagamento. Dos demais, atendeu sem cobrar. Pelo menos não diretamente. Possivelmente o pagamento tenha sido por meio de votos depositados lealmente nas urnas eleitorais. Irmãos e sobrinhos do ex-vereador gostam de se lembrar dele como o “advogado dos pobres”. O comércio no centro da cidade, o longo período de vereança, e o peso na balança da Justiça que ele colocava do lado dos pobres, deram a José Ferze Tau popularidade no seu tempo. Somado a isso, sua figura e personalidade ajudaram a criar certa lenda em torno da sua pessoa. Como descendente dos fenícios – povo que viveu antes de Cristo, grandes navegadores e comerciantes – tinha um porte esbelto, alto e magro. É de um tempo que todos os homens usavam terno e gravata, e ele possuía um ou dois modelos, muito parecidos. Dizem que foi um homem elegante, que gostava de manter as aparências, mas nunca esbanjador – ao contrário, preferiu até bem recentemente continuar dirigindo um velho Fusca. Teria sido noivo duas vezes, mas permaneceu solteiro a vida toda. Conta-se que sempre tinha um dinheiro trocado nos bolsos, para ajudar gente que costumava bater à sua porta pedindo auxílio. “Não se
15. Na década de 1960 a cidade tinha cerca de 30 mil eleitores e um vereador se elegia com 150, 200 votos, aproximadamente.
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recusava a ajudar ninguém”, relembra Alwan. Mário Ottoboni afirma que José Ferze Tau foi sempre muito correto com o erário público e que jamais houve qualquer suspeita sobre sua conduta de homem público e político. Um tipo popular sem ser muito expansivo, era homem de ações premeditadas e raramente foi visto em manifestações emocionais, a não ser quando discursava. Até hoje muito conhecido entre as pessoas mais velhas na cidade, por outro lado gostava de preservar sua individualidade. Era bom no discurso e mobilizava seus interlocutores por meio de uma argumentação articulada e segura. Suas histórias davam longas voltas para retornar ao ponto de partida sem que perdesse uma única vez o fio da meada. “Era bom de conversa e às vezes falava demais”, recorda-se em tom de brincadeira Teodoro Azevedo. Outro traço de sua personalidade de homem público era um espírito pouco afeito às rupturas e cisões. Preferia ser conciliador, a ponto de o então vereador José de Castro Coimbra afirmar, na época em que Ferze Tau sentou-se no lugar do prefeito, que tinha-se iniciado uma verdadeira “lua de mel” entre o Legislativo e o Executivo, tão bom vinha sendo o relacionamento entre os dois poderes. De fato, ele aproveitou o curto período como prefeito para praticar a política da boa vizinhança: além da tentativa de doar novas áreas ao CTA, enquanto esteve no cargo almoçou com padres da cidade de Taubaté e com coronéis do Exército de Caçapava. Com esses últimos, o intuito era incentivar jovens joseenses a ingressar na carreira militar. Com os primeiros, não houve justificativa, mas pouco antes de passar a administração para o prefeito eleito, Elmano Veloso, solicitou e conseguiu uma verba de três mil cruzeiros, que foi doada ao já falecido padre João Guimarães Marcondes, pároco da matriz de São José. O dinheiro da prefeitura foi usado para uma viagem do padre à cidade de Fátima, em Portugal, onde foi buscar graças para a nossa cidade. Apesar da presença tão próxima da padroeira em Aparecida, dizem que santo de casa não faz milagre e José Ferze Tau deve ter achado mais seguro garantir as bênçãos de outra santa. Como São José dos Campos cresceu e se desenvolveu com grande vigor, por certo valeu o investimento do ex-prefeito.
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Capítulo 7
O VOO DE SÃO JOSÉ RUMO À MODERNIDADE Sobral fez a transição da cidade provinciana para a São José urbana e tecnológica
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a manhã de 28 de março de 1960 um avião Beechcraft sobrevoa vagarosamente São José dos Campos. Naquele dia, o vento se deslocava na direção contrária dos dias comuns. O vento soprava da Mantiqueira para o mar. Antes de pousar na cabeceira 33, na pista de terra do Campo de Aviação, o piloto aproveita para conhecer melhor a cidade que aprenderia a amar profundamente. Na cabina do Beechcraft, o piloto, um jovem oficial-aviador da Aeronáutica, trazia o filho, que se divertira durante a viagem do Rio de Janeiro a São José dos Campos brincando com os presentes que acabara de ganhar. Naquele dia, o menino completava dez anos de idade. O primeiro contato do oficial da Força Aérea com São José dos Campos é descrito quase 50 anos depois por aquele menino com a mesma emoção e encantamento que sentiu no momento do pouso do Beechcraft. Pois, ao invés de chegada, se tornou o ponto de partida para a grande aventura do oficial-aviador por essas paragens. “São José foi o grande amor da vida dele”, resume Eduardo Faria de Oliveira, um dos quatro filhos do coronel Sérgio Sobral de Oliveira, o oficial da Força Aérea que passaria para a história como o prefeito que realizou com extrema competência a transição da São José pacata e provinciana para a cidade moderna e tecnológica. Não deixa de ser curioso que Sobral tenha chegado pela primeira vez a São José dos Campos nas asas de um avião, que se tornaria o principal símbolo do desenvolvimento tecnológico da cidade e que, anos antes, havia despertado no menino Sérgio o desejo de seguir a carreira militar. Não imaginava ele que também viria a dar uma grande contribuição ao desenvolvimento da indústria aeroespacial. Carreira militar Nascido em 5 de março de 1923 na Fazenda da Forquilha, entre os municípios de Valença (RJ) e Rio Preto (MG), Sérgio Sobral de Oliveira
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criou-se na fazenda dos bisavós, em Barra do Piraí, no Estado do Rio. Sobral era sobrinho do jurista Heráclito Sobral Pinto e também sobrinho do ex-governador de São Paulo Lucas Nogueira Garcez (1951-1955). Fascinado por aviões, ingressou na Escola Militar de Aviação do Exército no Rio de Janeiro. Fez parte de uma das primeiras turmas da Aeronáutica, quando a carreira da Força Aérea, antes vinculada ao Exército e Marinha, passou para a esfera administrativa do Ministério da Aeronáutica, criado em janeiro de 1941. No Rio de Janeiro, Sobral já havia feito o curso ginasial no tradicional Colégio Pedro II. Aos 14 anos, se matriculou na Escola Militar do Realengo. Aos 20 anos já era um oficial-aviador da Força Aérea. Foi também no Rio de Janeiro que conheceu Maria Thereza – filha do promotor de Justiça e professor de Direito Gabriel Bandeira de Faria – , com quem viria a se casar em 1º de junho de 1944. As três filhas mais velhas do casal, Eliane, Leila e Cátia, nasceram no Rio de Janeiro, assim como Eduardo, o caçula, apesar de a família já residir à época em Barbacena (MG). Durante a Segunda Guerra, Sobral participou do patrulhamento de reconhecimento aéreo de submarinos alemães ao longo da costa brasileira. Por sua atuação ao longo da carreira, recebeu a Comenda do Atlântico Sul e a Comenda do Mérito Militar, entre outras. Em 1949, aos 26 anos, muda-se para Barbacena na primeira de uma série de missões designadas pela Aeronáutica. Na cidade mineira, Sobral assume o comando do corpo de alunos da recém-criada Escola de Cadetes da Aeronáutica. Cinco anos mais tarde é transferido para Salvador, onde foi nomeado comandante do Patrulhamento da Costa do Nordeste. De lá, Sobral e a família voltam para Barbacena, e depois, ao Rio de Janeiro. Em 1955, Sérgio Sobral de Oliveira é designado ajudante de ordens do presidente Café Filho. No ano seguinte, o oficial da Força Aérea segue para Guaratinguetá, também com a missão de assumir o comando do corpo de alunos da Escola Técnica de Guaratinguetá, que forma, entre outros profissionais, os controladores de voo. Em Guaratinguetá, ele permanece até 1959, quando retorna novamente ao Rio, já com a patente de coronel, aos trinta e seis anos de idade. Naquele ano, Sobral acabaria preso na Base Aérea de Santos, depois
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de fazer ácidas críticas ao presidente Juscelino Kubitschek. Quando da sua prisão, Sobral era, na hierarquia das Forças Armadas, mais graduado que o próprio comandante da Base, o que causou grande constrangimento no meio militar. Ao voltar para o Rio de Janeiro em 1959, Sérgio Sobral de Oliveira integra um grupo de oficiais que trabalhava na transferência do centro de formação dos oficiais-aviadores da Força Aérea Brasileira, que funcionava no Campo dos Afonsos, no Rio, para a cidade de Pirassununga, a 207 km ao norte de São Paulo. De lá, recebe a incumbência de vir para São José dos Campos. A construção do Inpe e da TV Cultura O oficial da Força Aérea, já com uma larga experiência em desempenhar missões militares, apesar de ter apenas 36 anos de idade, chega a São José com um novo encargo. Seria o responsável por comandar o CPOR (Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva da Aeronáutica), criado sete anos antes, em 1953. O Centro de Preparação, que funciona até hoje, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como principal objetivo formar aspirantes a Oficial da Reserva da Aeronáutica, proporcionando aos alunos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) a prestação do serviço militar e o preparo militar de oficiais para o quadro de oficiais engenheiros da Aeronáutica, da ativa ou da reserva. Em artigo publicado na Revista do CPOR, o aluno Frederico Furst Bittencourt, da turma de 2002, conta o motivo que levou o brigadeirodo-ar Casimiro Montenegro Filho, idealizador do CTA e do ITA, a convidar Sobral para dirigir o Centro de Preparação: “O tenente-coronel-aviador Sérgio Sobral de Oliveira fez uma pesquisa sobre os Códigos de Ética particulares das academias de West Point, Annapolis e Colorado Springs, os principais centros de formação das Forças Armadas dos Estados Unidos. Dessa experiência nasceu o código implantado na então Escola de Aeronáutica e na Escola de Cadetes do Ar. Estando a par dessa atividade desenvolvida pelo ten-cel. Sobral, o ITA convidou-o para ministrar uma palestra aos alunos, em 1959. A resposta foi tão entusiasmada, que a palestra,
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que havia começado logo depois do horário de almoço, continuou noite adentro”. A partir do momento em que assumiu o comando do CPOR até ocupar o cargo de prefeito de São José dos Campos se passaram dez anos, período em que Sobral faz cursos de especialização em relações humanas, chefia e liderança de pessoal. O oficial-aviador ficaria por dois anos à frente do CPOR (de 2 de abril de 1960 até 18 de agosto de 1962), até ser convidado para assumir a diretoria-administrativa do CNAE (Comissão Nacional de Atividades Espaciais), criado por um decreto do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, com o nome de GOCNAE. A instituição, que dez anos mais tarde deu origem ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciou suas atividades com atribuições que incluíam coordenação, estímulo e apoio aos trabalhos e estudos relacionados ao espaço, além da formação de um núcleo de pesquisadores capacitados para desenvolver projetos de pesquisas espaciais e o estabelecimento da cooperação com nações mais adiantadas. Primeiro presidente do CNAE, o professor da Universidade de Stanford (EUA) Aldo Weber Vieira da Rosa, hoje com 86 anos, relata com bom humor uma inusitada colaboração de Sobral para a expansão da área do Inpe, que pertencia ao CTA (atual Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial). “Uma importante contribuição inicial que Sobral fez para o Inpe foi a progressiva mudança da cerca que separava o CTA do Inpe. Cada vez que eu voltava de minhas múltiplas viagens, a nossa área tinha crescido um pouco”, afirmou o brigadeiro em entrevista ao Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T do Vale do Paraíba, publicada em julho de 2007. No final de 1964, Sérgio Sobral de Oliveira decide ir para a Reserva, mas, antes, assume a direção do IPD (Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento), segundo instituto instalado pelo CTA. O primeiro foi o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Constituído em 26 de novembro de 1953, o IPD foi criado para preparar as bases da futura indústria aeronáutica do País com a coordenação de atividades e pesquisas tecnológicas específicas para o setor.
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Foi com Sobral à frente do comando do IPD que o CTA lançou o projeto IPD-6504, que se transformou mais tarde no protótipo do Bandeirante. Um avião bimotor turboélice destinado a cobrir uma série de tarefas da Força Aérea e, também, a ser utilizado no transporte aéreo civil. No livro A Decolagem de um Sonho, de autoria de Ozires Silva, o ex-presidente da Embraer fala da importância de Sobral no desenvolvimento da indústria aeronáutica nacional: “Sérgio Sobral era um homem diferenciado. Realmente aberto a novas ideias e, embora ainda não soubéssemos, teria uma participação fundamental na concepção do novo futuro da nossa equipe. Eu gostava do Sobral. Como todos os homens criativos e determinados, era considerado polêmico, mas granjeou fama de bom administrador e de grande realizador. Ao longo de sua carreira recebeu muitas missões, algumas difíceis, sempre saindo-se bem. Exigente e sério no cumprimento do seu dever, criou ao seu redor uma imagem de pessoa capaz de fazer as coisas acontecerem. Estávamos contentes com a sua designação para ser o nosso diretor e sabíamos que contaríamos com ele”. Os excelentes resultados conseguidos por Sobral à frente do CNAE e do IPD elevaram seu prestígio de administrador junto aos militares. Em 24 de abril de 1967, o coronel, convidado pelo então governador Roberto Costa de Abreu Sodré, indicado pelo Regime Militar, assume a diretoria-administrativa da TV Cultura. Sobral tinha a tarefa de reestruturar o Canal 2 para transformá-lo em uma televisão cultural paulista. O canal, que pertencia aos Diários Associados, foi doado oficialmente à Fundação Padre Anchieta em 1968. A TV Cultura foi reinaugurada em 15 de junho de 1969 tendo Sérgio Sobral de Oliveira como seu diretoradministrativo. A passagem pela TV Cultura durou quase três anos. Foi interrompida por um anúncio feito em janeiro de 1970 pelo governador do Estado, Abreu Sodré: Sobral era o novo prefeito de São José dos Campos.
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Um novo administrador, uma nova administração Às 6 horas da manhã de 5 de fevereiro de 1970, o coronel Sérgio Sobral de Oliveira se prepara para o primeiro dia de trabalho em sua nova missão. Ao chegar à sede da prefeitura, acompanhado pela chefe de Gabinete, Terezinha dos Santos Kojio, Sobral se surpreende com o silêncio no prédio e a falta de movimentação de funcionários e visitantes. Depois de alguns instantes aparece uma servidora, que abre as portas do Executivo ao novo prefeito. “Onde estão os demais funcionários?”, pergunta Sobral para ouvir uma resposta que o deixaria atônito: “Ainda não chegaram”. Naquela época, a prefeitura só funcionava em meio expediente, a partir do meiodia. Sobral então toma sua primeira medida à frente do Executivo. Escreve seu primeiro bilhete, maneira curiosa que adotaria para distribuir tarefas aos assessores: “Dona Terezinha, providenciar horário normal dentro de 72 horas”. A história contada por Terezinha Kojio reflete a marca que Sobral imprimiria a sua administração nos próximos cinco anos. O militar da Aeronáutica tinha como objetivo principal impor um novo ritmo administrativo ao município, nem que para isso tivesse que enfrentar resistências e polêmicas. Em sua edição de 6 de fevereiro de 1970, o jornal Valeparaibano, com o título “O primeiro dia de trabalho de Sobral”, relata a experiência do novo prefeito: “Às seis horas da manhã de ontem, o prefeito Sérgio Sobral de Oliveira já era visto pelas ruas da cidade. Primeiro percorreu as precárias instalações do Mercado Municipal e depois algumas vias públicas. Às oito horas, o novo prefeito joseense chegou ao seu gabinete, iniciando a longa jornada de trabalho diário, de doze, quatorze horas. Juntamente com D. Terezinha dos Santos Kojio, chefe de Gabinete, o prefeito Sérgio Sobral de Oliveira começou a verificação da situação municipal sob todos os seus aspectos. O setor econômico-financeiro já vem merecendo as suas melhores atenções.” O anúncio de Sérgio Sobral de Oliveira como novo prefeito de São José dos Campos ocorrera uma semana antes, em 30 de janeiro. Sobral
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foi empossado oficialmente pelo governador Abreu Sodré às 10 horas no gabinete do então secretário de Justiça do Estado, Hely Lopes Meirelles, em São Paulo, em 3 de fevereiro de 1970. A transmissão do cargo pelo então prefeito Elmano Ferreira Veloso ocorreu às 17 horas do dia seguinte, na sede da prefeitura. Veloso, que fora eleito por voto direto e tomara posse em 5 de dezembro de 1966, teve seu mandato encurtado em dez meses na esteira do Ato Institucional nº5, que restabeleceu o poder presidencial de cassar mandatos e suspender direitos políticos, entre outras medidas duras. No dia 17 de outubro de 1969, foi promulgada pela junta militar a Emenda Constitucional nº 1, incorporando dispositivos do AI-5 à constituição, estabelecendo o que ficou conhecido como Constituição de 1969. Em seu capítulo 15, a Constituição de 69 determinava que caberia ao governador do Estado a nomeação dos prefeitos de cidades consideradas estâncias hidrominerais, caso de São José dos Campos. Apesar da tensão dos “Anos de Chumbo”, a transmissão do cargo se deu em clima de aparente tranquilidade, conforme relata o Valeparaibano: “O prefeito Sérgio Sobral de Oliveira chegou a São José dos Campos às quatro e meia da tarde de ontem, dirigindo-se, de imediato à residência do vereador José de Castro Coimbra, presidente da Edilidade, de onde, poucos minutos antes das cinco horas, partiu para a Prefeitura Municipal. No Gabinete do Chefe do Executivo já se encontravam o ex-prefeito Elmano Ferreira Veloso e inúmeras autoridades civis, militares e eclesiásticas, superlotando aquelas dependências municipais”. Fizeram parte do roteiro de posse uma visita à Câmara de Vereadores e um jantar oferecido pelo Rotary Club. Às seis horas da manhã seguinte Sobral já se colocava a postos para o trabalho e para tomar sua primeira decisão à frente do Executivo. O diagnóstico e os remédios No dia 16 de fevereiro, sete dias úteis depois de assumir o comando do município, Sobral comparece à Câmara munido de um diagnóstico completo da situação financeira que encontrara e fala aos vereadores:
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“Infelizmente devo participar a V. Excelências que a situação econômico-financeira atual do Município não é das mais agradáveis. Nós temos uma despesa mensal fixa de NCr$ 300.000,00 por enquanto. Além disso, nós contamos com uma dívida de NCr$ 5.261.000,00 (...) No momento contamos com uma receita mensal de NCr$ 1.300.000,00. Um milhão e cem canalizados pelo retorno do ICM e duzentos mil cruzeiros dos recursos dos respectivos impostos. As despesas fixas mensais comprometidas e que têm que ser saldadas mensalmente são aquelas que passo a descrever”. E anuncia medidas de contenção de gastos: “[O prefeito] dispensou o motorista, dispensou o automóvel, dispensou gastos de combustível. Está concentrando o pessoal que trabalha diretamente na administração [...] Vamos cancelar a concessão de alguns telefones cujas mensalidades não são baratas, que estão colocados em serviços que não são diretamente do interesse da grande coletividade”. No primeiro discurso, Sobral também divulga algumas de suas ideias e propostas que se transformariam nas prinicipais bases da sua gestão. Fazem parte do pronunciamento medidas como o incentivo ao comércio local (“a ponto de, depois de um certo período, aquele que chegar de Pássaro Marron com um embrulho de alguma coisa que comprou na capital ou em outra cidade comece a escondê-lo de vergonha”); o planejamento de novos acessos viários com a expansão da malha central para a periferia (“Sabemos que em São José dos Campos existem casas em bairros importantes cujo acesso é impossível porque as ruas estão alagadas”); o anúncio de cortes e adequações dos servidores municipais (“Não é cabível se ter uma despesa mensal do volume que temos e uma folha de pagamento tão cara”). Sobral fala também em enxugar a estrutura da máquina administrativa e dá exemplos concretos das futuras providências: “Só devemos ter serviços próprios quando os seus preços forem convenientes. Vamos propor alienar a aquisição de boxes no mercado porque a prefeitura não tem nenhum interesse em possuir esses boxes”.
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O prefeito biônico surpreende a todos ao anunciar que pretende prestar contas de todos os atos da administração aos vereadores. “Pretendo inaugurar uma nova forma de convívio. Pretendo que V. Excelências tenham, em primeira mão, as notícias das diretrizes que o administrador deverá tomar. Embora muitas delas sejam da exclusiva competência do Executivo, não gostaria que V. Excelências tomassem conhecimento dos atos do Executivo em segunda ou terceira mão”, afirma o prefeito para a totalidade dos vereadores, 11 à época. Em 20 de abril, Sérgio Sobral de Oliveira cumpre a promessa e retorna à Câmara para expor o “Plano de Trabalho Completo” para 1970. O documento, com quatro páginas em formato A3, publicado na edição do Boletim do Município de 19 de maio, nortearia os projetos do Executivo para os próximos anos. As engrenagens de uma nova cidade “Dos 120.000 habitantes do perímetro urbano, 110.000 nunca subiram num elevador. Os joseenses não se protegem da corrente de tráfego nas vias públicas, pois têm receio que os julguem caipiras se mostrarem medo de automóvel. A venda de pipocas nas ruas é considerada importantíssima. As modas extravagantes passam depressa nos grandes centros, em Campinas, em Americana, em Bauru, em São José do Rio Preto, mas aqui demoram toda uma vida. O comércio oferece poucos itens à venda. O Poder Público não levou pavimentação, esgotos sanitários e rede de água onde chegaram as casas”. O retrato do cotidiano e o estágio do desenvolvimento urbano da São José do início da década de 70, registrado com pitadas de humor e ironia, foi pintado pelo próprio prefeito Sérgio Sobral de Oliveira em pronunciamento no Rotary Club seis meses após tomar posse. Sobral já havia delimitado que sua principal missão era realizar a transição da São José pacata e sem grandes ambições para uma nova cidade. A transformação seria radical. E Sobral tinha pressa. Em 180 dias após assumir o comando do Executivo, o novo prefeito já possuía uma radiografia completa das contas públicas, conhecia em minúcias todos
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os entraves da máquina estatal, havia traçado os principais planos de sua gestão e, o mais impressionante, já conseguira edificar vários alicerces do governo. No mesmo pronunciamento, ele revela sua paixão pela nova função. “Hoje estou entusiasmado como se fosse um rapaz; tenho a vibração como se fosse um cadete e persigo as realizações com ideia fixa como se fosse uma maníaco. Hei de vencer!”, exclama Sobral durante a reunião festiva do Rotary. Para o oficial da Força Aérea, que chegara a São José dez anos antes, vencer tinha um significado especial. Seu principal desafio era dotar São José de características mais urbanas, criar uma infraestrutura para a expansão industrial e tecnológica que se consolidaria no futuro. Por um paradoxo da própria condição na qual viera a ocupar a cadeira do Executivo, prefeito nomeado e imposto pela Ditadura Militar, Sobral descartava a hipótese de usar a prefeitura e o cargo como trampolins para futuros projetos políticos, o que a história comprovaria mais tarde. “Não sou e nem pretendo tornar-me um homem público. Encerrome pois na minha modéstia e no anonimato. Todos os sucessos serão fruto do trabalho de uma pequena equipe eminentemente técnica”, avisara ele em entrevista ao Valeparaibano um dia depois da nomeação. Sobral também nega a condição de político e afirma não gostar do ofício durante o primeiro discurso depois da transmissão do cargo na sede da prefeitura. “Não sou político, embora pertença oficialmente aos quadros da Arena. Não sei fazer política e mesmo não gosto de política, embora tenha grandes amigos – os meus maiores amigos são muito bons políticos.” Em todos os seus pronunciamentos, Sérgio Sobral de Oliveira enfatizava sua condição nata de administrador e encarava o comando da prefeitura literalmente como uma atividade empresarial. A eficiência
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e a qualidade eram metas que deveriam ser perseguidas durante todo o tempo. “A prefeitura abandonou os processos ortodoxos de administração pública e vem adotando o sistema empresarial. Com isso fugiu da burocracia estática, onerosa e ultrapassada e assumiu o dinamismo característico da empresa moderna”, afirma o prefeito em discurso publicado no Boletim do Município, órgão oficial da prefeitura, em 28 de agosto. Para não ficar apenas no discurso, Sobral, durante todo o seu mandato, não inaugurou nenhuma obra executada pela prefeitura. O que hoje economistas e políticos chamam de “choque de gestão” era receitado por Sobral em 1970. “A experiência nos aconselhou a cancelar várias atividades deficitárias. Entre elas estão a manutenção de viaturas nas oficinas municipais; a permanência em serviço de carros velhos; a execução com serviços próprios de coleta de lixo (...) Determinamos que os Departamentos só exerçam atividades precípuas e que contratem, ao máximo, empreitadas. Assim fazem as indústrias que nos cercam. É muito mais eficiente e muito mais barato (...) Está, portanto, ultrapassada a época em que os homens públicos prometiam tudo que lhes vinha à imaginação. Os homens de empresa só se comprometem com a certeza da execução, pois não podemos colocar em jogo seu crédito que é a segurança da organização. Assim, meus senhores, estão passando por bobos aqueles que ainda não se aperceberam que esta prefeitura é agora uma empresa”. A resposta a uma pergunta As ideias de Sobral eram colocadas em prática com uma velocidade impressionante. Sobral tinha pressa e deixava isso claro para a equipe de assessores, que chamava de “meu time”. A ponta-de-lança era Terezinha dos Santos Kojio, com quem Sobral trabalhava desde 1964, ainda no CNAE. Mesmo depois de sair da prefeitura, Terezinha acompanhou Sobral e foi sua secretária por vários
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anos, inclusive na iniciativa privada. É ela quem descreve a relação do prefeito com a sua equipe de assessores. “O ‘seu’ Sérgio era extremamente organizado. Ele fazia reuniões todas as terças-feiras, pontualmente às 8 horas. Naquele horário todos os papéis já tinham que estar organizados, em cima da mesa. Ele definia todas as metas, o que deveria ser feito, mas não falava: ‘Eu quero assim e pronto’. Pelo contrário, aceitava sugestões. Dizia ‘voto vencido é voto convencido’. Mas, principalmente, tinha uma característica especial. Ele sabia, como ninguém, motivar as pessoas de tal maneira que tínhamos orgulho de poder fazer sem esperar que ele cobrasse.” A chefe de Gabinete conta outra passagem que revela como o prefeito dava valor a pessoas que se esforçavam e cumpriam metas sem a necessidade de uma cobrança constante. “Um dia, ‘seu’ Sérgio foi para São Francisco Xavier, sem avisar ninguém. Na ida, ele viu um rapaz carpindo na beira da estrada, abrindo uma trilha. Na volta, ‘seu’ Sérgio observou que o rapaz estava muito além daquele ponto, havia produzido, e muito. No retorno, ele me contou a história e disse: – Dona Terezinha, esse rapaz vai trabalhar aqui conosco. Ele não precisou de nenhum chefe para executar o que era necessário”. A opção de Sobral em montar uma equipe eminentemente técnica é descrita pelo próprio prefeito em seu primeiro discurso na Câmara dos Vereadores. Ele exemplifica como escolhera a futura diretora do Departamento de Educação, uma das prioridades do novo governo. A escolha, que recaiu sobre a professora Maria da Fátima Ramia Manfredini, que se destacou na função e viria também a ocupar a presidência da Fundação Cultural Cassiano Ricardo no governo Pedro Yves Simão, é o testemunho perfeito do método Sobral de selecionar seus colaboradores. “Tenho a satisfação e o prazer de informar a V. Excelências que já convidei para chefiar o Departamento de Educação uma pessoa desta cidade, que foi escolhida quando se respondeu à seguinte pergunta que se fez: qual é a professora primária mais habilitada desta
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cidade? Qual é aquela que tem o melhor currículo, capaz de responder a todas as dúvidas e perguntas das outras professoras primárias? Já que o ensino de responsabilidade do município é o Primário, então quando apareceu aquela pessoa mais habilitada, ela foi convidada e nomeada”. Sérgio Sobral de Oliveira também costumava publicar portarias no Boletim do Município com congratulações e elogios aos funcionários mais dedicados ou que se destacavam, como esta mensagem de 28 de agosto de 1973: “O prefeito municipal da Estância de São José dos Campos, usando de suas atribuições resolve elogiar o sr. Darcy de Oliveira, pelos excelentes serviços que vem prestando junto à Biblioteca Cassiano Ricardo (...) evidenciando, dessarte, ser um funcionário cônscio de suas responsabilidades e digno de ser imitado”. Por ocasião da passagem do 203º aniversário de São José, em 1970, Sobral mandou publicar no boletim oficial da prefeitura a relação de cem servidores braçais que se destacaram “na limpeza e lavagem de ruas, caiação de árvores e pintura de guias”, trabalhos realizados nos preparativos para a comemoração da data. Por outro lado, Sobral usava o mesmo veículo oficial do município para delimitar prazos para que as tarefas fossem cumpridas pelos chefes de departamento. Era comum o prefeito notificar oficialmente a determinado assessor, e tornar público via Boletim do Município, que tal trabalho ou missão deveria estar pronto em um prazo de trinta dias. Além de Terezinha dos Santos Kojio, chefe de Gabinete, e Fátima Manfredini, diretora do Departamento de Educação, também fizeram parte do time vitorioso de Sobral nomes como Sérgio de Oliveira Alves (Departamento de Obras e Viação), Fauze Métene (Saúde), Ângela Aparecida de Moura (Administração), Jair Ferreira Santos (Finanças), Karl Ingve Beckman (Assessoria Econômica), brigadeiro Itamar Rocha (Urbam), coronel Paulo Delvaux (Planejamento), Ângelo Paz da Silva (Relações Públicas), José Rubens Barbosa (Assessoria Jurídica), Rubens José de Sá, Gustavo Xavier Garnet, Carlos Diacov, Álvaro Gonçalves, Gennaro Tavares Guerreiro, Gianfranco Asdente, Tarcisio José de
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Souza e Silva, Roberto Cursino Benitez, Aníbal Augusto de Almeida, Bráulio Novaes de Castro e Neureny da Costa Vilela, entre outros. O planejamento como ferramenta de trabalho Para Sobral, duas palavras deveriam permear todos os departamentos: organização e planejamento. Não por acaso, o primeiro ato de Sobral como prefeito foi criar uma nova estrutura administrativa para a prefeitura, com nove departamentos, além do Gabinete do prefeito. Aprovada pela Câmara em 23 de fevereiro de 1970 e publicada em 3 de março, a Lei nº 1.537 estabeleceu novos parâmetros para a organização administrativa da prefeitura e já no artigo 1º promove “o planejamento como instrumento de ação para o desenvolvimento físico, territorial, econômico, social e cultural do município.” E Sobral não fica apenas no discurso. No mesmo projeto estabelece a criação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de São José dos Campos, o Plano Plurianual de Investimentos e um Programa Anual da Despesa, entre outras propostas. Para cumprir as metas, foi criada a Assessoria de Planejamento, com as atribuições de coordenar, assistir à elaboração e acompanhar a execução de planos e programas pelos órgãos da administração municipal. A Lei nº 1.537 também cria na prefeitura um regime de dedicação exclusiva, com o objetivo de dinamizar os serviços prestados pelo município. Um novo regulamento interno da prefeitura seria estabelecido por decreto em 13 de agosto de 1970. Para implantação do Plano Diretor, Sobral contou com a experiência do arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, um dos mais conceituados profissionais da área de urbanização e planejamento urbano no Brasil. No currículo, Wilheim possui os projetos de urbanismo do Pátio do Colégio e do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, e a participação no planejamento das cidades de Curitiba e Joinville-SC. Também fez parte da equipe a arquiteta-paisagista Rosa Grena Kliass, considerada uma das mais importantes na história do paisagismo brasileiro moderno e contemporâneo. A contratação de Wilheim havia sido viabilizada em 10 de outubro de 1968, ainda no governo de Elmano Ferreira Veloso. Na cláusula quinta
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do contrato de prestação de serviços entre a prefeitura e a Serete S.A. Engenharia fez-se a exigência de que a empresa contratada, além de sua equipe técnica própria, deveria contar com a colaboração da Jorge Wilheim - Arquitetos Associados, para os estudos dos aspectos físicos do Plano. Veloso teve o mérito de contratar e receber o Estudo Preliminar. Coube à gestão Sobral a consolidação dos estudos com as perspectivas para o município.* O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de São José dos Campos, composto de três volumes impressos e uma coleção de 29 pranchas gráficas em papel vegetal, foi publicado em 30 de novembro de 1971. Para se ter uma ideia de sua importância, o documento orientou a expansão urbana de uma forma que perdura até os dias de hoje. Na avaliação do engenheiro civil e mestre em Planejamento Urbano Vitor Chuster, a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado foi fundamental para estruturar, organizar e mediar os conflitos inerentes a qualquer cidade que experimentasse o “boom” industrial e imobiliário que se avizinhava. “Sérgio Sobral de Oliveira, como visionário e afeito às tarefas de planejamento, tinha plena convicção de que para se estabelecer novas bases de crescimento, sem que houvesse comprometimento da qualidade de vida, era imperioso elaborar, aprovar e implementar um novo Plano Diretor para São José. O estudo desse Plano iniciado em 1968 constituiu-se num período de transição, onde o ano de 1970 pode ser caracterizado como ponto de inflexão, porém nunca de ruptura. É a partir desse ponto que passamos a contar com uma nova organização físico-espacial, que levou a cidade à configuração atual. Sobral conseguiu mediar a relação entre a cidade industrial e o urbanismo moderno, introduzindo e induzindo importantes transformações em nossa cidade. É a partir do início da década de 1970 que São José rompe com o provinciano e se organiza para o futuro. Pode-se dizer que a atividade de planejar passa a ser praticada de forma sistemática na administração municipal, a partir de sua gestão”, afirma Chuster.
* Referência sucinta na pág. 48, no capítulo sobre Veloso. (N. do E.)
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Além do Plano Diretor, Sobral também incrementa outros mecanismos para disciplinar e estabelecer novas bases de crescimento e organização do município. Em 13 de setembro de 1971 o prefeito sanciona a Lei de Uso e Ocupação do Solo, estabelecendo a divisão do município em zonas específicas para as edificações residenciais, comerciais e industriais, além de ordenar a expansão urbana. Antes da edição do Plano Diretor, Sobral também havia baixado um decreto, datado de 16 de junho de 1970, sustando a aprovação na prefeitura de qualquer novo projeto de loteamento ou arruamento. Outra iniciativa do governo Sobral para o ordenamento e o disciplinamento do convívio urbano foi a adoção de um extenso Código Administrativo com 379 artigos, publicado em 28 de setembro de 1970. Conhecido popularmente como Código de Posturas, as regras ali estabelecidas pela gestão Sobral vigoram até hoje com pequenas modificações feitas ao longo de mais de trinta anos. Em seu primeiro discurso na Câmara, pouco depois de assumir o cargo, Sobral já identificava a necessidade de ampliar a arrecadação municipal. “Aumentar a arrecadação significa o aumento do bem-estar social, a melhoria das obras públicas e o engrandecimento de nossa cidade”, dizia. Oito meses depois, em 30 de setembro de 1970, o governo publicaria um novo Código Tributário municipal, disciplinando a cobrança de IPTU e outros impostos. “A conjunção de vários diplomas legais, quase que promulgados ao mesmo tempo, como a legislação de Uso e Ocupação do Solo, Código de Edificações, Código Administrativo, Código Tributário e a Lei de Parcelamento do Solo, todos oriundos do Plano, permitiu corrigir os rumos da urbanização até então praticada, criando um novo padrão de organização territorial, bem como de estética e limpeza. Sem tais diplomas reguladores, São José dos Campos, com certeza, não apresentaria a atual configuração, seja do ponto de vista
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territorial seja sob o aspecto viário, o que a diferencia dos demais municípios vizinhos”, avalia Vitor Chuster. Sobral tinha pressa. Em seu primeiro ano de governo, ele também decidiu terceirizar a coleta de lixo no município. A concessão do serviço, com novas regras, como o depósito do lixo em sacos de plástico, método que até então era uma novidade em todo o País, foi estabelecida por lei municipal de 1º de setembro de 1970. Em 15 de fevereiro de 1974, Sobral também publica a lei que autoriza o Executivo a contratar empréstimo para construir e instalar a usina de tratamento de lixo, que funciona até hoje no bairro Torrão de Ouro. É também remanescente do governo Sobral a última concorrência do transporte coletivo do município antes da realizada em 2008. Datado de 28 de abril de 1970, o contrato previa a concessão de 13 linhas com destino a bairros e outras três diametrais circulares e teve como base legal o processo licitatório 02/70. A Empresa de Ônibus São Bento venceu o certame, que previa um prazo de concessão de dez anos. Em 11 de novembro do mesmo ano, Sobral entrega à população o Terminal Rodoviário, conhecido hoje como Rodoviária Velha. Há 34 anos, Sobral também inovou ao implantar no centro da cidade um sistema eletrônico para cobrança de estacionamento de veículos. O sistema de parquímetros foi um dos primeiros instalados no Brasil. A lei instituindo o uso dos equipamentos é de 8 de maio de 1973. Outra novidade em todo o País lançada por Sobral foi a adoção de uma cor única para a frota de táxi local. Em dezembro de 1973, Sobral também enfrenta o desafio de implantar em São José dos Campos o projeto do governo federal denominado Cura (Comunidade Urbana para a Recuperação Acelerada). O projeto-piloto, destinado, originalmente, à complementação de infraestrutura em áreas de “vazios urbanos”, foi implantado na região da Vila Industrial, zona leste. Outro exemplo importante da capacidade de planejamento do governo Sobral foi a criação de cemitérios particulares em São José dos Campos. A lei que dispõe sobre a aprovação de projetos para construção de cemitérios particulares foi publicada em março de 1973. Um mês depois é aprovada nova lei municipal que criou o Serviço Funerário Municipal.
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O planejamento estratégico contou até com colaboração entre a Prefeitura de São José e empresários americanos para a construção de um bairro inteiro: a Cidade Vista Verde. A história da construção do bairro é assim narrada por antigos moradores na página eletrônica da Saviver (Sociedade de Amigos do Vista Verde): “Em 12 de outubro de 1972, esteve em visita a São José dos Campos, uma comitiva de empresários americanos com o objetivo de comprar uma grande área onde pudessem construir seis mil residências de padrão classe média alta, da época. O então prefeito municipal, Sr. Sérgio Sobral de Oliveira, recebeu a comitiva e levou-a para almoçar no tradicional restaurante do momento, o ‘Santa Helena’, na rua 15 de Novembro. “Após o almoço, a comitiva dirigiu-se ao CTA, e de helicóptero, sobrevoou as áreas mais próprias para a construção das referidas residências. “Os bairros de Santana e Vila Dirce não foram aprovados por serem áreas de muitas elevações. A seguir rumou para a zona sul da cidade, região do Jardim Satélite onde na época, já estavam sendo construídas centenas de casas populares. Também não se decidiram por essa região. “A última área a ser sobrevoada foi a saída da cidade no sentido Rio de Janeiro. Localizaram ali, ao lado direito da Rodovia Presidente Dutra, no quilômetro 120, uma grande extensão de terras. No mês de outubro de 1972, depois da área aprovada, foi contratada a empresa Sociedade Nacional de Engenharia, de São Paulo, que na época também trabalhava na construção do metrô. Juntamente com a empresa Serveng começaram os serviços de terraplenagem, com a marcação das ruas e loteamentos para construção das casas. Em novembro de 1972, foi montada a primeira casa, feita de massa mista batida, que serviu de escritório e depósito de materiais de construção”. Traçar planos para o futuro era quase uma obstinação para Sérgio Sobral de Oliveira, que preparava o terreno fértil e lançava as sementes para o florescimento de uma nova cidade.
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Sobral visionário Ao assumir o comando de São José dos Campos, Sobral logo percebeu a necessidade do município se expandir para os lados, para a periferia, e não ficar apenas restrito e encerrado à zona central. Para obter sucesso, no entanto, era necessário construir uma infraestrutura urbana, inexistente à época. Logo nas primeiras semanas, o prefeito lança um arrojado plano de pavimentação de vias que representam hoje os principais corredores do município. Orçada em 9,6 milhões de cruzeiros, a ofensiva de pavimentação comandada por Sobral asfaltou avenidas e ruas como a Francisco José Longo, Nove de Julho, Nelson D’Ávila, São José, Barão de Rio Branco, Sebastião Gualberto, Princesa Isabel, Olivo Gomes e Luiz Jacinto, entre outras. Até novembro de 1971 já haviam sido pavimentados 693 mil metros quadrados, incluindo a colocação de paralelepípedos. Sobral exemplificava dessa maneira o critério para as pavimentações: “Manda-se estudar, por uma equipe especializada, qual é a maior densidade de tráfego nas ruas não pavimentadas. E as necessidades de tráfego darão a prioridade de pavimentação”. Ao lado do plano de pavimentação, também foram feitas importantes obras de drenagem e construção de galerias de águas pluviais, como na avenida José Longo, onde existia até então uma grande lagoa no cruzamento com a rua Jorge de Moraes Barros. No local, foi construído um dos primeiros túneis urbanos por processo não-destrutivo do Brasil. Responsável por levar à frente os planos de Sobral para o setor, o engenheiro Sérgio de Oliveira Alves, então diretor do Departamento de Obras e Viação, define a estratégia do novo prefeito. “Quando Sobral assumiu, a pavimentação ia apenas até a altura do Tênis Clube. Ele resolve então asfaltar os grandes eixos. A ideia dele era fazer corredores de modo que os bairros tivessem vida própria, expandir o município para a periferia”, afirma o engenheiro, que continuou à frente do Departamento no governo de Ednardo de Paula Santos.
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Para fazer a ligação e a integração entre os bairros, Sobral pôs em prática a urbanização do local conhecido como Fundo de Vale, uma extensa área entre a avenida Nelson D’Ávila, seguindo pelo córrego Lavapés até a avenida Sebastião Gualberto. O decreto declarando a área como utilidade pública para urbanização e abertura de uma avenida foi publicado no Boletim do Município de 22 de fevereiro de 1973. Nomeada no governo Sobral de Presidente Médici e depois rebatizada para Teotônio Vilela, a avenida continua sendo chamada popularmente como Fundo de Vale. No Plano de Trabalho para 1970, Sobral comenta a importância da via do ponto de vista estratégico e anuncia a intenção de canalizar o córrego para viabilizar a construção, o que foi efetivamente realizado. A pavimentação da avenida teve início no governo de Ednardo de Paula Santos. “E aí aparece a avenida Fundo de Vale. Todos nós temos um sentimento de que a avenida Fundo de Vale precisa ser efetuada. Ela tem que ser concretizada. Será uma via natural de escoamento de tráfego intenso, que não suporta mais a avenida Nelson D’Ávila (...) Ela completará a urbanização da cidade”, afirmou o prefeito. Anteriormente, Sobral já havia feito a ligação entre as avenidas Sebastião Gualberto e São José e entre esta e a rua Luiz Jacinto, onde existia um cortiço. “Existia um estudo prevendo uma extensão até a zona sul, mas o principal problema eram as torres da Light. Ao se observar o mapa da cidade era natural que ali passasse uma avenida”, afirma Sérgio de Oliveira Alves. Em 1º de setembro de 2000, o então prefeito Emanuel Fernandes aprovou uma lei que denominou o conjunto de ruas, avenidas e viadutos que fazem parte do anel viário de “Complexo Viário Sérgio Sobral de Oliveira”. Na negociação para a ligação entre a avenida São José e a rua Luiz Jacinto, Sobral travou contato logo nos primeiros meses de governo com a madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico, cujo processo de canoniza-
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ção está em análise no Vaticano. Os dois se tornaram amigos até o ponto de Sobral ter sido uma das últimas pessoas a falar com madre Teresa, já no leito de morte da freira, em 8 janeiro de 1972. Para fazer a ligação era necessário utilizar parte do terreno que pertencia ao Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, congregação fundada por madre Teresa na década de 30. “Seu Sérgio tinha a intenção de comprar parte da área, mas, depois de conversar com a madre, ela decidiu doar o terreno desde que fossem reconstruídos o muro e o necrotério, que existem até hoje”, conta Terezinha Kojio, que participou da reunião. Insatisfeito com os constantes acidentes de trânsito na via Dutra, utilizada como único acesso entre a cidade e a zona sul, Sobral construiu em tempo recorde a ligação entre a rua Paraibuna e o Jardim Satélite, passando pela Vila São Bento. A obra foi entregue em 27 de julho de 1973, no aniversário da cidade, e consumiu 1,6 milhão de cruzeiros. Em 10 de outubro de 1973, Sérgio Sobral de Oliveira fundou a Urbam (Urbanizadora Municipal S/A), uma sociedade de economia mista que tem a Prefeitura de São José dos Campos como sua acionista majoritária. O primeiro presidente da Urbam foi o brigadeiro Itamar Rocha, que anos antes havia chefiado o Serviço das Rotas Aéreas. A Urbam também teve em seus quadros o ex-prefeito Ednardo de Paula Santos, sucessor de Sobral no Executivo joseense. Com a criação da urbanizadora, que possui atualmente cerca de dois mil funcionários, vários serviços de infraestrutura, como coleta de lixo, administração do aterro sanitário e serviço funerário, foram sendo transferidos para ela ao longo das administrações municipais. Outra importante conquista do governo Sobral no setor de infraestrutura foi a extensão das redes coletoras de água e esgoto e o aumento do abastecimento de água em todo o município, com novas captações do Rio Paraíba. A rede de esgotos de bairros como Jardim Esplanada e Jardim Augusta foi concluída ao final do segundo ano da gestão, quando se atingiu a marca de quatrocentos quilômetros de extensão. Para agilizar e melhorar as ofertas dos serviços de saneamento básico, Sobral criou, por meio de lei municipal de 31 de março de 1971, a Comae (Companhia Municipal de Água e Esgoto).
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Com a implantação de uma nova infraestrutura na cidade e com um ousado projeto de atração de novas indústrias, capitaneado pelo assessor econômico Karl Ingve Beckman, Sérgio Sobral de Oliveira também impulsionou um grande boom de industrialização em São José. No final de 1972, segundo ano da gestão Sobral, o município atingia um crescimento econômico de 64% comparado ao ano anterior, contra 17% de crescimento da economia paulista no mesmo período. Empresas como Embraer (com crescimento de 218,5%), General Motors (126,3%) e Johnson & Johnson (73,4%) lideraram o ranking do crescimento industrial no período. Foram instaladas em São José no período Sobral empresas importantes como National, Kodak, Hitachi, Orion Gates, Engesa e Matarazzo, além da expansão da General Motors, Kanebo, Rhodia e Ericsson, com a inauguração do Complexo Industrial de Eugênio de Melo em 1974. Além da indústria, a Era Sobral também foi fundamental para o desenvolvimento do setor de comércio em São José dos Campos. No início da década de 70, a cidade possuía uma atividade comercial tímida, restrita às pequenas lojas e mercados. Em 31 de junho de 1970, menos de seis meses após assumir o Executivo municipal, Sobral assinou um contrato com o Grupo Pão de Açúcar (à época Organização Supermercado Peg-Pag S.A.) para construção da loja localizada na avenida Nelson D’Ávila. O supermercado instalado à época em São José era um dos maiores do País. No mesmo ano, o prefeito também consegue trazer a unidade das Lojas Americanas, instalada em um prédio na esquina da avenida Nelson D’Ávila com a rua Francisco Paes. Ainda como incentivo ao comércio, Sobral criou a galeria Pedro Rachid, na rua Humaitá. Para atrair os empresários, foi outorgada a concessão de uso das áreas com previsão de que os terrenos e todas as benfeitorias retornassem ao município em um prazo de trinta anos. Fiscais do lixo Apesar de ter passado para a história como o executor de grandes projetos viários, Sérgio Sobral de Oliveira foi o artífice de uma revolução silenciosa na Educação.
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Em seu Plano de Trabalho, apresentado em 20 de abril, o prefeito já enfatizava que pretendia dar prioridade ao setor e elege a educação infantil e o ensino profissionalizante como as principais metas. Entre as primeiras medidas implantadas estavam a uniformização de alunos e professoras. Mas os planos de Sobral eram mais audaciosos. Sérgio Sobral planeja a construção de várias escolas de alto padrão, com biblioteca, salas de arte e até piscinas. “A maior escola de São José tinha três salas. Sobral queria que o prédio da escola fosse o mais destacado do bairro”, afirma o então diretor de Obras, Sérgio Oliveira Alves. Nos dois primeiros anos são entregues sete novas escolas, com oito salas de aula cada, com custo unitário de 650 mil cruzeiros, e ampliadas outras três unidades. Novamente, Sobral opta por construir as escolas em bairros periféricos para nortear a expansão da cidade. Entre os bairros que receberam novas escolas estavam o Jardim da Granja, Alto da Ponte, Parque Industrial, Vila Nova Conceição, Jardim Satélite e Vila Industrial. O programa total previa a construção de 24 unidades escolares, uma média de seis por ano. Em apenas dois anos, os resultados já eram significativos. A rede municipal saltara de 113 professores em 1969 para 258 no final de 71. O número de alunos matriculados na rede municipal no período mais que dobrou, saltando de 3.477 para 7.647. “As professoras primárias estão agora em fase de aperfeiçoamento. Nota-se, com grande satisfação, que o ensino municipal vem crescendo de importância e ganhando o respeito dos munícipes. Já há a preferência por matrículas em escolas da prefeitura”, disse Sobral em discurso no Rotary. Sobral também tinha especial atenção pelo ensino profissionalizante para a formação de crianças e adolescentes. Logo nos primeiros meses de governo ele criou o chamado Projeto Brasil, embrião da Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza). Instalado na Vila Industrial, o Projeto Brasil tinha como objetivo ministrar cursos, como mecânica, marcenaria e funilaria, a jovens e adolescentes carentes.
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A necessidade de investir nos menores foi constatada por Sobral de uma maneira curiosa. Ao implantar o sistema de recolhimento de lixo com sacos plásticos, uma novidade em todo o País, Sobral foi surpreendido logo no primeiro dia com ações de vandalismo. Os sacos foram furados e o lixo espalhado por várias ruas do centro da cidade. “ ‘Seu’ Sérgio então chamou algumas pessoas e pediu para que elas fizessem uma campana para descobrir o que estava acontecendo. Descobriu-se então que era arte de vários adolescentes”, conta a chefe de Gabinete, Terezinha dos Santos Kojio. “Nessas horas, ‘seu’ Sérgio era muito calmo. Ele nos chamou e disse que era necessário integrar esses jovens, atendê-los socialmente e ensinar uma profissão para que não se tornassem marginais”. Surgia aí o projeto ‘Fiscais do Lixo’, que transformaria os jovens e adolescentes infratores em fiscais da limpeza pública, evitando novos atos de vandalismo16. Em 1972, a administração criou o chamado ‘Clubinho’, que proporcionava orientação social para crianças e adolescentes. Em 12 de março de 1974, Sobral implantou o Fundo de Promoção Social, para auxiliar o município em ações de desenvolvimento social. Sobral sentiu também a necessidade de investir na assistência médica aos funcionários municipais e seus dependentes. Em 1º de abril de 1971, criou o Famme (Fundo de Assistência Médica e Medicamentosa). No final daquele ano, a prefeitura possuía 1.124 servidores lotados na administração. Outra característica do governo Sobral foi a preocupação de oferecer novas opções de lazer para a população joseense. A principal iniciativa nessa área foi a construção do Parque Santos Dumont, com área de 33 mil m2, inaugurado em 29 de outubro de 1971. “O Vale é uma cidade só” “As águas do rio Paraíba e de seus afluentes, que já nos uniam pela força da natureza, agora nos congregam também pela imensa e in16. Ver referência ao episódio no texto sobre Hélio Augusto, na pág. 307. (N. do E.)
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destrutível força gerada por nossos corações”. (Discurso na cerimônia de lançamento do Codivap.) O Vale do Paraíba com uma única identidade. O sonho de Sérgio Sobral de Oliveira17 de promover uma integração regional entre os municípios do Vale do Paraíba tornou-se realidade em 10 de outubro de 1970. Visivelmente emocionado, Sobral proferiu o discurso em nome de todos os prefeitos e utilizou o rio Paraíba como seu fio condutor. Nascia ali a primeira experiência de um consórcio intermunicipal no Brasil. O Codivap (Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba) foi criado com base na Lei Municipal nº 1.572, de 17 de setembro de 1970, com 17 cláusulas, que disciplinavam a implantação de um consórcio intermunicipal. A ideia original de Sobral, mantida nos primeiros anos, era que o órgão de desenvolvimento pudesse atuar de forma estritamente empresarial, buscando soluções comuns para problemas como educação, saúde, habitação e ligações rodoviárias, entre outros. Entre as propostas concretas estava a implantação de um Centro Regional de Abastecimento. Sobral tinha pressa. A proposta começou a ser articulada pelo prefeito logo nas primeiras semanas de governo, foi incluída no Plano de Trabalho para 1970 e apresentada publicamente por Sobral em discurso na Câmara em 20 de abril. “Nós do Vale do Paraíba temos bastantes problemas comuns. Contudo, se nós somarmos os nossos esforços, seremos capazes de resolver os nossos grandes problemas comuns com menores dispêndios (...) Atualmente somos 33 administradores e estamos prontos para dar os maiores dos nossos esforços. Esquecemos, completamente, as nossas dissidências, as nossas invejas e as nossas vaidades para resolver os nossos problemas comuns. Ao invés de São José dos Campos comprar um grande guindaste valetador, as cidades do Vale do Paraíba poderiam comprar uma única máquina”, afirmou Sobral em seu pronunciamento aos vereadores. 17. Veja afirmação de Marcondes Pereira quanto a já ter proposto a formação de um consórcio do Vale do Paraíba, na página 102. Sobral também toca no tema na entrevista, na pág. 159. (N. do E.)
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Para viabilizar a ideia, Sobral procurou os prefeitos mais influentes da época, Guido Gomes Miné (Taubaté), Malek Assad (Jacareí) e Caio Gomes Figueiredo (Pindamonhangaba), para costurar a criação do órgão. A instalação do Codivap foi precedida de várias reuniões, realizadas em algumas cidades do Vale do Paraíba, como Queluz e Salesópolis, nas quais foram estabelecidas as metas que seriam buscadas pelo consórcio. Mesmo com a liderança de São José dos Campos, Sobral usou de muito tato político ao escolher Pindamonhangaba para ser a sede do novo consórcio, evitando que a escolha recaísse sobre São José para não melindrar outros prefeitos. Um dos argumentos utilizados por ele para a escolha de Pinda era o fato de o município estar localizado no centro geográfico da região. A definição da sede do Codivap já constava na Lei Municipal que criou o consórcio, assim como a determinação de que o presidente do órgão não deveria ser um prefeito, mas um administrador. Com isso, Sobral tirava o peso político do órgão para dar-lhe um caráter mais técnico. Entrou aí também a argúcia de Sobral, que, em comum acordo com os demais prefeitos, convidou para o cargo o engenheiro civil Paulo Egydio Martins, então com 42 anos. Menos de cinco anos mais tarde, em 15 março de 1975, Paulo Egydio assumiria o governo do Estado de São Paulo, nomeado pelo Regime Militar, ficando no cargo até 15 de março de 1979. À época do convite para assumir o consórcio, Paulo Egydio já gozava de grande prestígio junto aos generais que comandavam o País. Havia sido ministro da Indústria e Comércio no governo Castelo Branco (1964 a 1967), quando ocupara também a vice-presidência do Conselho Monetário Nacional. A solenidade de instalação do Codivap, com a presença de Paulo Egydio, foi realizada em 10 de outubro de 1970, um sábado, no Grande Hotel de Campos do Jordão e obteve a adesão inicial de 35 prefeituras. Sobral também tinha outros planos ousados para a integração regional. Ele foi um dos idealizadores e principais defensores da implantação de um transporte rápido de massa como alternativa à Via Dutra. A ideia era instalar um monotrilho elevado ao lado da rodovia na extensão do município de São José dos Campos, com a possibilidade de se expandir
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até a Grande São Paulo18. Apesar do interesse de alguns grupos multinacionais, veiculado à época, o projeto não saiu do papel. Vinte e sete anos depois, em entrevista ao Valeparaibano, Sobral mostrava-se decepcionado com os rumos do consórcio, que hoje congrega 41 municípios. Para Sobral, a mudança do estatuto, que permitiu a eleição de prefeitos para ocupar a presidência do órgão, foi um erro. “O Codivap passou a ser um órgão excessivamente político, repetindo atribuições das secretarias de governo. Se o Codivap retomar sua ideia original e passar a ser uma organização empresarial que otimize recursos da região em benefício do desenvolvimento, voltará a seu verdadeiro slogan: ‘O Vale é uma cidade só’.” O pulso forte de Sobral “Ideias de Sobral assustam comerciantes”. A manchete do jornal Valeparaibano de 12 de março de 1970 revela que as mudanças iniciadas pelo novo prefeito e seu estilo de governar causaram forte impacto na cidade. Apesar do texto oficioso do jornal, o redator deixa escapar expressões como “perplexidade”, “expectativa” e “a dose foi muito forte”, revelando o clima de apreensão entre comerciantes e moradores. Aberto ao diálogo, Sobral, no entanto, fazia valer a força inerente ao Regime Militar. Em seus pronunciamentos, era comum a apologia às conquistas e aos progressos capitaneados pela ditadura em tempos de “Milagre Econômico”. Uma história em particular mostra como Sobral impunha suas ideias. Logo nos primeiros dias de administração, o novo prefeito decide transferir o tradicionalíssimo footing das famílias joseenses da rua 15 de Novembro. Oferece como opção para os passeios das tardes-noites de sábado e domingo a praça Afonso Pena. A ideia de Sobral era utilizar a rua 15 para ampliar o tráfego de veículos. Ao perceber a resistência dos munícipes, Sobral publica no Boletim 18. Cf. o projeto de metrô de superfície, comentado por Pedro Yves, na pág. 391. Ver também fala de Ednardo a respeito de um metrô em São José dos Campos, na pág. 177. Sobral aborda o mesmo tema na entrevista, na pág. 160. (N. do E.)
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do Município uma mensagem à população com o título: “Vamos passear na praça?” “A rua 15 de Novembro tem um papel muito importante, que deve ser mantido e até ampliado: ela é via de tráfego para um grande setor residencial da cidade e também para Campos do Jordão. Além disso, nela estão localizados hotéis, restaurantes, drogarias, que funcionam em período noturno e que precisam do tráfego de veículos, para o desempenho de suas funções”, afirmava o prefeito. A obra na praça Afonso Pena, que contava com uma iluminação com efeitos especiais, recebeu logo o apelido de “Boate do Sobral”. Sérgio Sobral de Oliveira também não titubeava em desapropriar velhos prédios e terrenos particulares, além de retirar favelas e cortiços para abrir novas avenidas e vias. Uma das iniciativas mais polêmicas do ex-prefeito, até hoje lembrada, foi a construção de um muro ocultando a favela Santa Cruz, apelidado depois de “Muro da Vergonha”. Em editorial publicado pelo Valeparaibano por ocasião dos cinco anos da morte de Sérgio Sobral de Oliveira, o editor-chefe do jornal, Hélcio Costa, resume a marca Sobral de governar. “Exercia o poder com uma autoridade sem limites, respaldado pela autoridade dos generais-presidentes Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel. Era firme, autoritário, mas tinha limites claros entre o certo e o errado. “Histórias de Sobral não faltam. Algumas são engraçadas ou curiosas. Consta que ele mandava derrubar muros de terrenos tomados pelo mato, ordenava a limpeza da área e mandava a conta para o proprietário – que, ajuizado, pagava sem reclamar. Muitos lembram que ele mandou murar parte dos barracos da Santa Cruz, para ocultar a favela da vista dos cidadãos. Parte do muro, pintado de branco e transformado em parede de alguns barracos, ainda está de pé como testemunha dessa história. Como se vê, a firmeza de convicção e a polêmica sempre foram dois pontos fortes desse coronel reformado”. Para o engenheiro Sérgio de Oliveira Alves, que trabalhou com o
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ex-prefeito como chefe do Departamento de Obras e Viação, Sobral exercia o poder até um ponto limítrofe. “Ele é o único prefeito que já vi até hoje que sabia o poder que um prefeito tem. E exercia isso. Ele sabia até onde podia ir, mas ele não se intimidava. Teve uma época de crise com a Câmara que ele ficou seis meses sem enviar nada. Esvaziou a Câmara”, afirma. A veia autoritária de Sobral, no entanto, é desmentida por alguns fatos que a própria história escreveu. Em sete meses de mandato, o prefeito compareceu à Câmara em três oportunidades para dar explicações aos vereadores e expor sua plataforma de trabalho. “Eu o convidei e ele foi à Câmara debater com os vereadores o seu programa e falar do que havia encontrado, das dívidas etc. Nenhum prefeito, mesmo entre os eleitos, pelo menos que eu saiba, foi à Câmara quase que espontaneamente reafirmar o que pretendia fazer”, afirma o presidente da Câmara à época, o ex-deputado estadual e federal José de Castro Coimbra. Na opinião de Coimbra, com o respaldo do regime, Sobral era praticamente imune às pressões. “Sobral queria marcar uma época e conseguiu. Ele tinha um preparo maior do que os últimos prefeitos e não tinha o compromisso político-paroquial de atender casos isolados. Ele veio com um olhar macro e, naturalmente, com muita força, porque veio com o respaldo do governador e dos militares, e conseguiu imprimir uma dinâmica diferente. Aproveitou o momento econômico favorável que, talvez, um prefeito eleito tivesse alguma dificuldade [de aproveitar]. Sobral era muito fechado naquilo que ele achava que estava certo e que deveria fazer. Ele não dava marcha à ré”. O filho de Sobral, Eduardo Faria de Oliveira, não se furta em falar do assunto e contesta a versão do suposto autoritarismo exercido pelo ex-prefeito.
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“Meu pai era um liberal. Eu não conheci uma pessoa tão aberta a novas ideias, tão sem preconceito como meu pai. Agora, ele era duro na regra. A regra é essa? Então ela tem que ser cumprida. Às vezes se confundem um pouco essas questões”. Eduardo Faria de Oliveira, hoje com 57 anos, também traz à tona outro fardo carregado pelo pai: ter iniciado o processo de instalação da Revap (Refinaria Henrique Lage) inaugurada, posteriormente, em 1980. O planejamento de instalação da refinaria veio na esteira do II Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado pelo ex-presidente Ernesto Geisel em 1974 para se contrapor ao fim do “Milagre Econômico” e criar bases para um novo ciclo de industrialização. A implantação da Petrobras, na visão de vários críticos, trouxe prejuízos para a qualidade de vida de São José. “Meu pai não teve a menor influência nessa questão. A decisão de instalar a refinaria foi do regime. A ordem partiu dos generais”. Em sua tese de mestrado em Planejamento Urbano, o engenheiro Vitor Chuster conta como Sobral conseguiu resolver o problema de vários loteamentos clandestinos à época com a instalação da refinaria: “A Refinaria Henrique Lage inicialmente seria construída e instalada em um terreno atrás da Kodak, nas proximidades de onde hoje situase o Jardim Morumbi. A Prefeitura, sob o comando do prefeito Sérgio Sobral, desejava a instalação dessa refinaria no município, pois representaria investimentos, prestígio e mais postos de trabalho, porém não queria a instalação em qualquer lugar e a qualquer preço. “Em entrevista dada em 1994 ao arquiteto Emmanuel dos Santos, a arquiteta Iolene Cordeiro, coordenadora de Planejamento da Prefeitura no início da década de 70, afirmou que foi elaborado um relatório, posteriormente encaminhado ao então presidente Ernesto Geisel, no qual Sobral conseguiu convencer o Governo Federal de que em razão dos ventos predominantes e pelas condições de melhor acessibilidade, a Refinaria deveria instalar-se às margens da rodovia
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Presidente Dutra em uma área na altura da General Motors e oposta a essa. “A área sugerida pela prefeitura era, na verdade, um amontoado de 17 loteamentos clandestinos, Jardim Allah, Jardim Fonseca, Jardim Panorama, Parque São Jorge, Jardim Luzitânia, Vila Elizabeth, Chácaras Reunidas, Tupi, Jardim Primavera, Jardim Campestre, Parque das Nações, Jardim Califórnia, Jardim Umuarama, Jardim Vila Lobos, Jardim Residencial São Joaquim, Jardim Santa Cecília, Loteamento São José e Palmeiras de São José, que reuniam nada mais nada menos que cerca de cinco mil lotes. O Prefeito Sérgio Sobral, após convencer o Governo Federal no que diz respeito à nova localização da refinaria, conseguiu mais do que isso, pois ‘resolveu’ a questão dos loteamentos clandestinos, algo que, de outra forma seguramente demoraria décadas e demandaria altos investimentos nas áreas sociais e de saneamento.” Doze cartões Antes de assumir a Prefeitura de São José dos Campos, o coronel Sérgio Sobral de Oliveira recebia todo o final de ano doze cartões de Natal. Naturalmente, o número se multiplicou, e muito, durante o período de governo. A amigos, Sobral contava com orgulho que, no Natal de 1975, seis meses depois de encerrado o mandato, recebera novamente os doze cartões de Natal. E assim foi pelos anos seguintes19. A história resume uma marca indelével deixada por Sobral: a seriedade e a austeridade no trato com o dinheiro público. Outro acontecimento natalino, narrado por Terezinha Kojio, deixa claro como Sobral era obstinado em manter a independência do cargo diante das pressões políticas e estendia o mesmo conceito aos seus assessores diretos. Nas vésperas do Natal de 1970, Sobral e alguns diretores passam a receber diariamente dezenas de presentes, mimos de fornecedores, empresários, enfim, “amigos” do círculo do poder. Os presentes recebidos pelos diretores de departamento são “confiscados” pelo prefeito. 19. Conferir comentário de José Luiz Carvalho de Almeida, na pág. 244. (N. do E.)
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Sobral decide então organizar uma confraternização e convida vários funcionários da prefeitura. Cada diretor foi designado a levar os funcionários mais dedicados. “Dona Terezinha, organize tudo. Vamos realizar o sorteio dos presentes”, avisara o prefeito horas antes. Ao assumir a prefeitura em fevereiro de 1970, Sobral torna pública sua relação de bens. O militar reformado possuía NCr$ 49.878,2020 em patrimônio e NCr$ 3.500,0021 em conta bancária. Entre os bens, um apartamento financiado em 72 meses com 12 parcelas quitadas e um Ford Galaxie 1967, avaliado em dezoito mil cruzeiros. Muitos anos depois, Sobral ainda era visto pelas ruas de São José dirigindo o mesmo Galaxie 1967. Nos dias de hoje, o patrimônio total declarado por Sobral corresponderia a R$ 60,6 mil. Além da sua declaração de bens, o prefeito pedia a todos os assessores de confiança que também apresentassem uma relação de bens ao entrar e ao sair do cargo. Sobral também redobrava os cuidados para evitar favores pessoais como governante e tinha orgulho em dizer que mudara os costumes políticos locais. “Até há pouco tempo, as prioridades para recuperação das estradas municipais eram dadas por influência política, por amizade e até por compaixão”, afirmou em discurso no Rotary Club. O parâmetro para atender as reivindicações da população passaria a ser a resposta a uma pergunta: “Todo processo que chegar às minhas mãos, todos os ofícios, todas as cartas, todas as entrevistas, todas as sugestões serão examinadas diante de uma pergunta: Será bom para São José dos Campos? Se for bom para a cidade, será examinado”, disse Sobral em entrevista ao Valeparaibano antes de assumir o comando da prefeitura. Sobral também ficou conhecido pelo zelo com que escolhia onde e como empregar os recursos e investimentos públicos. “Sempre faço 20. R$ 42.384,00 em valores atualizados para 2007. 21. R$ 2.974,00 em valores atualizados para 2007.
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diferença entre o caro e o muito dinheiro. No caso, caro é gastar algum valor para reduzido grupo. Porém, investir apreciável soma em benefício da grande massa pode ser muito dinheiro, mas é barato”. Ao encerrar o seu mandato e transmitir o cargo a Ednardo de Paula Santos em 8 de julho de 1975, Sobral não olhou para trás. Em nenhum momento se candidataria a um cargo público, deixando claro mais uma vez sua opção pelo caminho administrativo e o desprezo pela política. Cumpriria assim o compromisso assumido antes da posse. “Lembro-me bem quando ele desceu as escadarias da prefeitura. Só ele e minha mãe. Só ele e minha mãe. Eu vi naquele dia meu pai extremamente deprimido, muito triste de ter deixado a prefeitura. Aquilo ali era a casa dele”, afirma Eduardo Faria de Oliveira. Ao sair em 1975, Sobral chegou a ser convocado pelo então governador Paulo Egydio Martins, primeiro presidente do Codivap, para ser prefeito da cidade de São Paulo, mas declinou do convite. “Chegamos a fazer uma foto da família em fevereiro de 1975 na casa em que a nossa família iria morar em São Paulo”, conta o filho. Por ocasião da morte de Sobral, o jornalista Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro, adversário do prefeito em vários momentos da administração, resumiu assim a transformação operada pelo administrador. “Ele entregou uma nova cidade a ela própria (...) Já não era mais aquela morna cidade que ele recebeu e encantou com seus projetos de autoestima e vaidade municipal, operando uma transformação em seu jeito de ser cidade que acabou como que fundando uma outra, quase revogando a que antes existia”. Após cumprir o mandato de cinco anos e seis meses à frente da Prefeitura de São José, Sobral foi trabalhar com Severo e Clemente Gomes, na Tecelagem Parahyba, onde permaneceu até 1982. Ainda na iniciativa privada, ajudou o empresário João Verdi de Carvalho Leite, seu amigo particular, na administração da Avibras Indústria Aeroespacial entre 1982 e abril de 1983. Sobral também trabalhou como diretor da construtora Serveng-Civilsan entre 1983 e 1987.
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Uma viagem no tempo De volta ao Inpe em 9 de março de 1987, o destino de Sérgio Sobral de Oliveira iria se cruzar com o de um engenheiro aeronáutico sobre o qual teria uma grande influência no modo de enxergar e praticar a administração pública. A história é contada por Terezinha dos Santos Kojio: “Algumas vezes eu chegava ao Inpe e via lá no gabinete do ‘seu’ Sérgio um jovem, com um cabelo enorme. Uma vez perguntei ao ‘seu’ Sérgio quem era e ele me respondeu: ‘Dona Terezinha, esse é um rapaz íntegro, honesto e culto’.” E Sobral acrescentou num misto de alegria e resignação: “E ele gosta de política”. Durante seis anos, de 1989 a 1996, Sobral e Emanuel Fernandes, então Superintendente de Planejamento do Inpe, conviveram diariamente. “Nós almoçávamos juntos todos os dias e no final ficávamos conversando sobre os mais variados assuntos. Sobral foi um grande administrador, um dos maiores da história do município”, afirma o atual deputado federal do PSDB. Emanuel fala com extremo carinho e respeito de Sobral, reconhece sua influência e revela o convite feito ao ex-prefeito antes de sua morte, seis meses após o início do governo tucano em 1997. “Eu o convidei para ser secretário de Desenvolvimento Econômico. Sobral já havia aceitado, estava montando a equipe quando veio a falecer”, afirma. “Sempre conversava com ele sobre os rumos do governo. Lembro um dia, uns dois meses depois de assumir, que o Sobral me falou com firmeza: – Emanuel, esse seu governo está muito devagar. É preciso mudar isso, rapaz”.
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Vinte e cinco anos depois, Emanuel faria uma releitura de vários conceitos do governo Sobral para colocá-los novamente em prática, mas essa já é uma outra história. *** Numa terça-feira fria de junho o velho oficial-aviador sucumbe vítima de um infarto. Dois anos antes havia perdido a esposa, dona Thereza. Em 10 de junho de 1997, aos 74 anos, Sérgio Sobral de Oliveira se despede de São José dos Campos, a cidade que aprendera a amar com a mesma profundidade de seus ideais. Haviam se passado trinta e sete anos, dois meses e quatorze dias do primeiro pouso do Beechcraft na cabeceira 33 do Campo de Aviação. Como num filme, por um instante, o oficial-aviador plana seu velho avião e observa as cercanias do Inpe, do CTA. A vida se fez assim, nas asas dos grandes desafios. Com começo, meio e recomeço. Do alto, o aviador relembra os anos de implantação da TV Cultura. No horizonte, as cidades se espalham por um vale caudaloso e encantado. E ele sonha novamente com a integração regional. Sobrevoa agora a cidade. Com suas modernas avenidas de tráfego intenso, a fábrica de aeronaves, os bairros com vida própria, as escolas municipais. Visionário, antevê novas viagens. O oficial-aviador sente orgulho de tudo que ajudou a construir. Naquela manhã, o vento soprava da Mantiqueira para o mar.
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Sérgio Sobral de Oliveira, ao lado de outros coronéis-aviadores, na Academia da Força Aérea dos EUA, em Colorado Springs, Colorado, em 1961.
Sobral ao lado do deputado Benedito Matarazzo, durante a solenidade de posse como novo prefeito, em 4 de fevereiro de 1970.
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Ao lado da mulher Maria Thereza Faria de Oliveira, Sobral comparece à Câmara no dia da posse. No centro, o então presidente da Câmara, José de Castro Coimbra.
Sobral e a esposa, Maria Thereza. Os dois se casaram em 1º de junho de 1944, no Rio de Janeiro. O casal teve quatro filhos.
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Sérgio Sobral de Oliveira participa de reunião do Codivap, primeiro consórcio intermunicipal do Brasil, criado oficialmente em 10 de outubro de 1970.
Sobral durante visita a fábrica em São José dos Campos. À esquerda, o engenheiro João Verdi de Carvalho Leite. No centro, o brigadeiro Roberto Augusto Carrão de Andrade.
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Assinatura de um convênio na sede da Prefeitura de São José dos Campos.
Sobral ouve explanação sobre a Revap diante de uma maquete da refinaria. Da direita para a esquerda: coronel Paulo Delvaux, Sobral e os assessores Bráulio Novaes de Castro e Ângelo Paes da Silva. A pessoa que faz a explanação, à esquerda da foto, não foi identificada.
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Sobral recebe em seu gabinete a visita do arquiteto Lúcio Costa (reclinado, à direita).
O prefeito Sérgio Sobral de Oliveira discursa para alunos do Colégio Olavo Bilac em visita à escola em 8 de março de 1974. À esquerda na foto, o professor Alberto Simões.
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sĂŠrgio sobral de oliveira
Sobral recebe o general Fernando GuimarĂŁes Cerqueira Lima (ao centro) e outros militares em seu gabinete em 19 de fevereiro de 1975.
O prefeito SĂŠrgio Sobral de Oliveira durante entrevista em 13 de fevereiro de 1974.
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Durante evento em 16 de fevereiro de 1974, Sobral conversa com o engenheiro Ozires Silva (ao centro), um dos fundadores da Embraer. A importância do ex-prefeito para a indústria aeronáutica foi reconhecida por Ozires em seu livro A Decolagem de um Sonho. De óculos, o então juiz de Direito Sílvio Marques Neto.
Placa afixada pelo prefeito Sérgio Sobral de Oliveira trazia informações sobre os habitantes, estudantes e número de indústrias no município.
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Entrevista Leia a seguir a última entrevista de Sérgio Sobral de Oliveira a um órgão de imprensa antes de morrer vítima de um infarto. Realizada pela jornalista Iara de Carvalho, a entrevista foi publicada pelo Valeparaibano em 9 de setembro de 1997, um domingo, três meses antes da morte de Sobral. Iara de Carvalho: O senhor era prefeito desta cidade há 25 anos. Como foi o seu programa de governo naquela época? Acredita que aquele programa ainda seria bom para a cidade hoje? Sérgio Sobral: A filosofia de governo, sim. O programa não, estaria ultrapassado. A essência da afirmativa está na ambição da população, que é diferente hoje. IC: O senhor é tido como o prefeito de pulso mais forte que a cidade já teve. Essa mão forte só valeu para aquela época ou o senhor a aconselharia hoje? SS: Ordem e obediência são indispensáveis numa administração. Sem ordem, ficamos próximos de uma anarquia. Sem obediência, não há autoridade. O principal pulso de uma administração é saber dar prioridades aos gastos. IC: O que o senhor se arrepende de não ter feito, quando prefeito? SS: De não ter tido coragem suficiente de limitar o número de andares dos prédios. São José dos Campos devia ser como Paris, onde os prédios têm, no máximo, seis andares. Tínhamos áreas demais, devíamos ter ocupado os espaços urbanos. IC: O senhor até hoje é lembrado como o prefeito que industrializou São José. Depois desse período recente de crise que atingiu o País e também a cidade, o senhor acredita que ainda há como trazer novos empreendimentos para cá? SS: São José dos Campos vai voltar a ter pleno emprego, porque novos postos de trabalho vão aparecer nesta cidade, não só para atender os desempregados como os que vão se emancipando.
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IC: Em que o senhor se baseia para ter tanta certeza disso? SS: São José possui mão-de-obra especializada disponível. Tem áreas, sobra de energia, comunicação, armazéns de carga, transportes. O que falta é ideia. Nunca se despendeu ideia para trazer empreendimentos para cá. Uma ideia factível, por exemplo, é a que o prefeito Emanuel vai implantar a médio prazo: a fábrica de empregos. Fará como o Japão faz com Cingapura. Teremos aqui indústrias montadoras, onde cada emprego direto corresponde a 11 indiretos. Se tivermos 5 mil pessoas em montadoras, teremos 55 mil empregos indiretos e 60 mil empregados. IC: Mas não faltaria o essencial, que são empresas interessadas? SS: Empresário não vai para cidade alguma por razões românticas e sim para ganhar dinheiro. Se mostrarmos a possibilidade de lucro, eles virão. E o prefeito precisa ter credibilidade. Eu trouxe indústrias para São José porque acreditavam em mim. Garanto que vão acreditar no Emanuel. O ruim desta cidade é que se acostumou com o negativo. Ninguém mais liga se a calçada está suja, se há trailer fazendo frituras na rua, se é ruim o atendimento de saúde. A cidade precisa reaprender a exigir o melhor. IC: No seu governo, foi a indústria ou o comércio que mais se desenvolveu? SS: Foi o comércio, principalmente. Naquela época, o pessoal ia comprar tudo em São Paulo. Com uma campanha, passou a comprar aqui. Trouxe Lojas Americanas, Marisa, Peg-Pag. Das indústrias, são do meu tempo a National, Kodak, Hitachi, Orion Gates, Ericsson, Petrobras, Matarazzo, e houve a expansão da GM. IC: O senhor é contra o comércio informal? SS: O comércio informal precisa ser mantido, mas deve ser disciplinado. Sei que o prefeito Emanuel Fernandes vai colocar nos locais mais importantes terminais de ônibus e neles o comércio informal. IC: O senhor acha que vai dar para fazer tudo isso em quatro anos? SS: A cidade vai estar pronta daqui a oito anos. Depois deste tempo, a
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cidade poderá colocar uma placa nos seus principais acessos com os seguintes dizeres: “Esta é a cidade mais limpa do Brasil”. IC: Com a eleição do prefeito Emanuel, cogitou-se sobre sua volta a um cargo público. Isto procede? SS: Aqueles que queriam evitar que eu voltasse foram os que começaram a me anunciar. Toda vez que anunciaram minha volta, a intenção era me queimar. Agora, toda vez que o Emanuel me perguntar coisas, não vou perder a oportunidade de opinar. IC: E ele tem perguntado alguma coisa ao senhor? SS: Para dois meses de governo, acho que tem perguntado bastante. Mas não há nenhum compromisso de emprego. Um homem de 73 anos não trabalha mais por dinheiro. IC: No seu governo, a prioridade da população era lazer. E agora? SS: A necessidade de lazer saudável, moderno e de baixo custo ainda está de pé. A dupla Emanuel/Ednardo poderá fazer em São José um grande centro de lazer, com ambição de trazer turismo de outras regiões do País. Ainda cabe em São José a ideia do meu tempo de tornar o Banhado uma Disneyworld cabocla. IC: O senhor foi o mentor intelectual do Codivap, que fundou com outros prefeitos. As críticas de que o órgão é inoperante e que precisa mudar o estatuto procedem? SS: Procedem. O Codivap passou a ser um órgão excessivamente político, repetindo atribuições das secretarias de governo. Se o Codivap retomar sua ideia original e passar a ser uma organização empresarial que otimize recursos da região em benefício do desenvolvimento, voltará a seu verdadeiro slogan: “O Vale é uma cidade só”. IC: E por que o Codivap não poder ser político? SS: Porque, composto de prefeitos de todos os partidos, deve ser um órgão suprapartidário. Por isto também seu presidente não pode ser prefeito, mas um empresário de sucesso.
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IC: O senhor reconhece na região algum segmento econômico que possa aglutinar o interesse da maioria das prefeituras? SS: Um transporte de massa intermunicipal pode aglutinar interesses. Um grande empreendimento econômico seria rentável a partir de 75 mil passageiros/dia. IC: O senhor está ressuscitando o metrô de superfície? SS: O monotrilho é mais barato. Nos arquivos da prefeitura há um préestudo dessa modalidade, feito pelo Grupo Maksoud. IC: E o transporte de carga não o preocupa? SS: Hoje ou amanhã, nossos trilhos serão explorados por empresários que oferecerão transporte eficiente e mais barato. Isso estará acontecendo em menos de dois anos22. IC: Quer dizer que o Vale terá novos anos dourados? SS: O Vale não sei, mas São José com certeza. IC: O senhor acredita que faltem lideranças políticas à cidade e à região? SS: O Emanuel é, sem dúvida, uma nova liderança política. Há muitos cristãos-novos aparecendo. Entre eles, cito empresários como o Márcio [José Márcio de Castro, fundador] da Tecsat e o Márcio [Barbosa, diretor] do Inpe. IC: Quando o senhor era prefeito, seus maiores adversários políticos foram o Robson Marinho e o Joaquim Bevilacqua. Hoje, eles não ocupam cargos eletivos e atuam nos bastidores da política da cidade. O senhor acha que eles souberam fazer política? SS: Verdade que foram meus adversários, mas não foram meus inimigos. O Joaquim se encontrava comigo num almoço semanal e o Robson, de uma forma mais discreta, na Casa das Pequenas Missionárias. Posso afirmar que somos amigos, eu devendo mais a eles do que eles a mim.
22. O texto sobre Sobral já toca no assunto, na pág. 141. Vide nota 18, na mesma página. (N. do E.)
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Devo confessar, entretanto, que como prefeitos eles foram muito mais políticos que administradores. IC: Faz dois meses que temos um novo governo municipal. O senhor teria algo a comentar sobre esse período e, sobretudo, teria conselhos a dar para o prefeito Emanuel? Quais? SS: Deus não fez o mundo num só dia. Quem pensa que o Emanuel pode mudar a cidade em dois meses pretende que ele seja maior que Deus.
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Capítulo 8
O ÚLTIMO DOS PREFEITOS NOMEADOS Ednardo foi o responsável por planejar o Anel Viário
8 por
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O
s ventos da abertura política sopravam em São José dos Campos mais que em qualquer outro ponto do Brasil. O município sonhava em romper com os mandatos nomeados, consequência de ter sido a cidade, em 1935, classificada como estância climática e hidromineral. Desta data até 1958, o município fora administrado por prefeitos conhecidos como sanitaristas, todos nomeados pelo governo estadual. Em 1958, o município ganhou novamente autonomia para eleger seu representante do poder executivo. Porém durou pouco. Em 1967, durante o regime militar, perdeu novamente essa condição, que só seria retomada em 1978. Dois eventos marcaram esse processo de retorno às eleições para prefeito: a Lei de Autonomia, de 1977, e a aprovação, em junho de 1978, das eleições nas estâncias. A insatisfação com a impossibilidade de dirigir seus próprios rumos explodia junto à política local e ecoava na população. Tanto pior para Ednardo de Paula Santos, de 38 anos, jovem engenheiro do ITA, sem qualquer experiência em administração pública, que assumia em 1975 como o último dos prefeitos nomeados. “O presidente Geisel e o governador Paulo Egydio Martins sabiam o tamanho da distensão existente – fui meio que boi-de-piranha, era um ilustre desconhecido do governador. Eram 33 candidatos, sendo que 32 deles eram da classe política. Somente eu não era, e creio até que fui escolhido por isto, numa tentativa de poupar os outros. No começo foi muito difícil.” A tensão existente naquele período fica clara por um singular episódio: no início de 1978, assim que o município retomou o direito democrático de eleger seu próprio prefeito, o vereador Cyrillo Gonçalves
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Paes Filho, então presidente da Câmara Municipal, na ânsia de findar com o ciclo de nomeações, tomou posse como prefeito. Uma manobra à revelia dos governos estadual e federal, que durou mais de meio ano. Criou-se um quadro peculiar, pois o município passou a ter dois prefeitos (embora só um fosse prefeito de fato), e isto vigorou até o governador Paulo Egydio Martins determinar que São José dos Campos tivesse eleições para o poder executivo em novembro do mesmo ano. Em tal difícil clima político, Ednardo teve de moldar sua atuação a partir da experiência do dia-a-dia. Neste processo, diz que a maior ajuda veio de onde não se esperava: a convivência com o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que aglutinava a oposição da época, foi muito boa. No experiente vereador Mário Scholz, do MDB, Ednardo encontrou um grande conselheiro político. E seu maior aliado no Congresso Nacional era o deputado federal Joaquim Bevilacqua, uma das lideranças oposicionistas de São José. “Pouca gente sabe que fiz meu programa de governo baseado no documento do MDB. Tínhamos uma câmara de alto nível, com vários vereadores extremamente combativos. Era uma relação de idealismo, sempre com o componente ideológico, mas tudo era discutido e feito com muito respeito. Realmente havia uma relação de grande respeito de ambas as partes, as coisas ficavam no campo das ideias e não ultrapassavam isto.” Pouco tempo e obras importantes O governo de Ednardo durou exatamente três anos, três meses e 14 dias. Pouco tempo se comparado a gestões anteriores, mas o suficiente para promover diversas mudanças positivas em São José. Sua passagem pela prefeitura foi marcada pela construção do primeiro Pronto-Socorro da cidade, situado na Vila Industrial, além de deixar a área preparada para a edificação do hospital do município. Na saúde pública, houve um grande salto na democratização do atendimento médico, com a implementação pioneira de seis Unidades Básicas de Saúde (UBS), num modelo que seria copiado por todo o país. Outras ações de relevância se tornaram marcas registradas de sua atuação no executivo municipal. A criação do Calçadão da rua Sete
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de Setembro é um exemplo. A ocupação da antiga rua por um único passeio público deu novos contornos ao comércio de rua no centro da cidade. Revigorada, a região central passou a receber novos investimentos do setor varejista. Outro exemplo: foi Ednardo quem trouxe a Sabesp para distribuir água tratada aos bairros e promover a coleta e tratamento do esgoto. Houve ainda incursões pelo cenário esportivo. Partiu de seu governo a aquisição do Estádio Martins Pereira, que pertencia ao então Esporte Clube São José. Um dos orgulhos da cidade, o time de futebol mantido pela associação se encontrava atolado em dívidas e teria seu estádio leiloado. A prefeitura fez a aquisição do estádio e, para salvar a entidade, foi decisiva na constituição do São José Esporte Clube. Na área administrativa, o ex-prefeito promoveu uma reforma em busca de maior eficiência no serviço público, baseada em modelos empresariais. Também deu início ao novo prédio da prefeitura, inaugurando o processo de modernização dos espaços ocupados pelos poderes públicos, antes todos situados em antigos prédios na área central de São José. Projeto viário Mas o grande trabalho de Ednardo, que marcou sua visão de futuro, foi no campo viário, com o projeto inicial do anel viário23, obra que mudaria o perfil urbano da cidade. “Eu não tinha tido tempo para criar um plano de governo – assumi em julho e tivemos que estabelecer um planejamento para a cidade em três meses. Minha preocupação maior foi com o sistema viário, pois a Via Dutra era identificada como a maior avenida de São José. Tivemos que promover estudos de viadutos e passagens sobre a rodovia, como os viadutos da Petrobras, de Eugênio de Melo, da Johnson e a transposição do anel viário.” Basicamente, esse projeto alterava a concepção das ligações entre as regiões da cidade e a Via Dutra. Ednardo o iniciou ampliando a avenida São João, dando espaço para a criação da avenida Cassiano Ricardo, entregue em novembro de 1978
23. Sobre o anel viário, ver pág. 223 (Bevilacqua), 390 e 391 (Pedro Yves) e 404 e 422 (Angela). (N. do E.)
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– que contribuiu para o crescimento da zona oeste e estabeleceu uma nova ligação à Via Dutra. Fez também dois viadutos na avenida Nelson D’Ávila, um na Francisco José Longo e outro na Heitor Villa-Lobos. (Esse item acabou por chamar a atenção na época e mesmo suscitar novas críticas ao projeto. Foi preciso derrubar um dos pontilhões da Nelson D’Ávila, pois não havia altura suficiente para um ônibus passar por baixo da estrutura.) Entre 1976 e 1977 sua administração construiu as duas pistas da avenida Fundo de Vale, que lhe renderam críticas ferozes. O tempo é o melhor juiz da história. Pelas próprias conclusões do ex-prefeito, foram precisos 20 anos para que se entendesse a dimensão do projeto. Particularmente, para que se visse que sob os viadutos das avenidas Nelson D’Ávila, Francisco José Longo e Heitor Villa-Lobos o caminho estava estruturalmente pronto para receber as pistas de rolagem. No começo da década de 1990 o projeto foi finalmente retomado. Hoje se tornou simplesmente o principal eixo de ligação do município, sem o qual o atual fluxo viário de São José seria impensável. *** Ednardo deixou a prefeitura com 41 anos de idade. Acredita ter cumprido seus objetivos de manter o crescimento da cidade e planejá-la para o futuro, além de promover a transição política de maneira pacífica e entregar o cargo a um prefeito eleito pelo voto popular. Ele terminou o mandato com mais de 80% de aprovação.
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D. Tereza, esposa de Ednardo; Sobral; Ednardo; d. Maria Thereza, esposa de Sobral; o governador Laudo Natel; o brigadeiro Carrão, na época comandante da Escola de Especialistas de Aeronáutica em Guaratinguetá.
Em visita às instalações da Sabesp. Ednardo é o primeiro à esquerda.
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Em comício na campanha de Roberti Costa para prefeito. Da esquerda para a direita: Pereira Lima, Paulo Tau, Ednardo, Maluf, Roberti Costa (discursando), Fauze Métene (de óculos) e Sebastião Teodoro. (Cf. referência de Bevilacqua na pág. 204.)
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Com o vereador MĂĄrio Scholz.
Com o presidente da Câmara, Cyrillo Paes.
Despachando com o governador Paulo Egydio Martins (dir.).
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O prefeito conversando com um quitandeiro na companhia do presidente do Sindicato do ComĂŠrcio Varejista, SebastiĂŁo Paulino da Costa.
O prefeito discursa durante cerimĂ´nia na beira do Banhado.
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Entrevista Júlio Ottoboni: Em que escola o senhor estudou? Eu estudei naquele que é, hoje, o Instituto de Ednardo de Paula: Educação Conselheiro Rodrigues Alves, em Guaratinguetá, desde o primeiro ano até o segundo ano científico – naquela época se chamava científico. Depois eu fui fazer cursinho em São Paulo. E aí eu terminei o último ano em uma escola também pública de lá. Mas, logo em seguida, vim para o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), que também é uma escola pública. Então, eu sou realmente um apologista da boa escola. JO: O senhor entrou no ITA em que ano? EP: Eu vim para o ITA em 1956. Eu cheguei em fevereiro de 1956. JO: O senhor tinha que idade? EP: Eu tinha 18 anos, ia completar 19 anos. Portanto eu me formei bastante jovem, ainda com 22 anos. JO: O senhor é engenheiro aeronáutico? EP: Sim, e sou meio antigo. Eu sou da décima turma do ITA, de 1960. Eu já completei 47 anos de graduação. Realmente é um orgulho muito grande ter feito o ITA. Na época havia três modalidades: eletrônica, aerovias e aeronáutica. Então, me formei em engenharia de aerovias, porque a nossa situação mudou no meio do curso. Na realidade, foi criada uma denominação chamada engenharia de produção, acomodada dentro do curso de aerovias. Sou um dos 22 que se formaram naquele ano com habilitação em engenharia de produção... Eu tive grandes professores e o maior incentivador da minha vinda para o ITA se chama Francisco Antônio Lacaz Netto, que é outro guaratinguetaense, que na época era professor de matemática. Então, ele juntava o pessoal de Guaratinguetá lá, éramos nove ao todo. Uma curiosidade, na época ela era a cidade do Brasil que percentualmente mais tinha gente dentro do ITA. As turmas eram relativamente pequenas, minha turma era de 70 pessoas. JO: O senhor se lembra de algum colega de época?
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EP: Eu tenho alguns colegas que são inesquecíveis. Por coincidência, todos eles foram campeões brasileiros de voo à vela. E, naquela época, existia uma condecoração que se chamava Brevê de Diamante. Quando a pessoa excedia determinados padrões, ela recebia o Brevê de Diamante. Dois colegas de quarto eram Brevê de Diamante – um se chama Guido Pessotti, que foi diretor da Embraer, e o outro Cláudio Junqueira, um grande piloto e que continua voando até hoje praticamente com a mesma idade que eu tenho. Acho que isso foi um período que a gente podia chamar de inesquecível na época do ITA. Todo mundo se conhecia, nós morávamos em apartamento de quarto. Realmente, foi uma época deliciosa. JO: Como era São José nesse período? EP: São José era uma graça. Era a São José do footing. A gente passeava, tinha baile todo fim de semana. Era uma curtição. Biriba Boys era o rei da noite. Aliás, o Biriba tinha duas orquestras: o Biriba mesmo e tinha uma orquestra que tocava tão bem quanto o Biriba Boys, mas era a que animava as matinês. Assim, tinha matinê no Tênis, tinha matinê ali na rua principal, a 15 de Novembro. A gente todo domingo à tarde já tinha programa feito e, quando chegava à noite, ia ver as moças passearem na rua 15. E foi assim que eu casei, com uma moça daqui, a Tereza. Ela é de São José. Apesar de não ter nascido aqui, ela mora desde criança na cidade. E nós nos conhecemos na praça Afonso Pena. Já faz 50 anos de conhecimento e 47 de casado... Eu tenho tudo a ver com São José dos Campos! JO: O senhor fixou residência na cidade de 1956 até agora? Nunca saiu de São José? EP: É. Eu nunca saí de São José dos Campos. JO: O senhor, formado, foi trabalhar onde? EP: Eu fiquei no CTA [Centro Técnico de Aeronáutica, na época], no Instituto de Pesquisas de Desenvolvimento, trabalhando junto ao engenheiro Verdi [João Verdi de Carvalho Leite, dono da Avibras], que era dois anos mais velho que eu, e fiquei como uma espécie de assistente dele. Depois, ele saiu do CTA para formar a Avibras e assumi
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o seu lugar. Fiquei lá por cinco anos, trabalhei com diversas pessoas extremamente interessantes, entre elas o ex-prefeito Sobral, que era meu chefe à época, e o brigadeiro Moraes, que sucedeu depois o brigadeiro Sobral. Realmente foi uma época de emocionantes situações, porque foi quando nasceu praticamente toda a parte de engenharia aeronáutica voltada para espaço. Foi fundada a CNAE [Comissão Nacional de Atividades Espaciais], foram oferecidos diversos cursos e todos os engenheiros do CTA tinham obrigação de fazer. Foi de grande produtividade e formou a base para a própria existência da indústria aeronáutica. JO: Até quando o senhor trabalhou no CTA? EP: Eu fiquei até 1965 no CTA, portanto antes da formação da Embraer. Mas muitos colegas meus foram para a Embraer, porque eles foram tirados dos institutos de pesquisa para a formação do núcleo da Embraer sob a batuta do Max e do engenheiro Ozílio Silva. O Ozílio também, que nessa época estava na França, voltou e foi para a Embraer. Quase que participo dos pioneiros da Embraer – neste grupo estavam aqueles que se formaram nos primeiros cinco anos e a minha turma foi a décima. Mas eu conhecia a todos.
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JO: Na saída do CTA, o senhor foi para onde? EP: Eu fiquei como professor na Escola de Engenharia em Guaratinguetá, como assistente do professor Cecchini durante cinco anos, na cadeira de Química. E dava aula também na Etep [Escola Técnica Everardo Passos], também como professor assistente do Cecchini. E ainda dava aula em Taubaté. Portanto, não tinha muito tempo para curtir a vida de São José. Eu dava aula na Etep, corria para Guará ou então voltava para Taubaté... Enfim, estava aqui, mas sempre no Vale do Paraíba, nunca saí daqui. Eu fui trabalhar em diversas outras entidades, passei uma parte dos meus anos em São Paulo. Já na parte de helicópteros, eu fiz parte de uma audaciosa tentativa de montar uma fábrica no Brasil, que se chama Audi Helicópteros e Aviões. JO: Em que ano isso ocorreu? EP: Em 1973. E, posteriormente, eu fui para a Helibras, onde fiquei dois ou três anos, também na área de helicópteros. Então, eu não perdi o vínculo com a indústria aeronáutica, embora nunca tenha exercido a atividade de prancheta. Só vim a perdê-lo posteriormente quando fui convidado para ser prefeito de São José, função que exerci de julho de 1975 a 30 de novembro de 1978. Já são quase 30 anos que eu deixei o cargo de prefeito. JO: A sua indicação, como é que aconteceu? EP: Foi uma situação extremamente curiosa. Na época, existiam 33 candidatos a prefeito aqui em São José dos Campos! Entre eles, todos os vereadores, todos os políticos de expressão à época e eu. Na realidade, eu não posso dizer por que fui indicado. Eu frequentava as solenidades militares de Caçapava e o general Fernando Guimarães Cerqueira Lima à época achou que meu nome poderia ser cogitado e fui incluído na lista de 33 nomes originalmente examinados. Eu fiquei sabendo que eu tinha sido indicado por volta de abril de 1975 e a nomeação na realidade só saiu em 8 de julho. Esse intervalo foi bastante desgastante, porque fizeram um exame completo da minha vida, extremamente meticuloso. A primeira coisa que aconteceu foi a fiscalização do imposto de renda, a receita federal veio examinar todas as minhas declarações de imposto de renda de 1971 a 1975. E,
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felizmente, não tinha nenhum problema com meu imposto de renda, como acredito que qualquer pessoa assalariada naquele tempo não teria problema. Tudo era controlado pelo Estado. JO: A escolha o surpreendeu? EP: Realmente, foi uma situação nova e fiquei apavorado. Para ser sincero, eu falei: “E agora?” JO: Não era o objetivo do senhor? EP: Não, eu sempre fui voltado para a área social. Eu participei da JUC (Juventude Universitária Católica), fui diretor da JUC por volta de 1958, 1959. Eu tinha, sempre tive uma vocação de me preocupar com os outros. Obviamente que, quando você é moço, pensa em conseguir transformar a situação. Eu era um pouquinho pretensioso aí. Achava que a gente podia dar alguma contribuição para o Brasil. Nós tínhamos passado por aquele período difícil de 1964 e os períodos subsequentes, 1967, 1968. Apesar de eu ter sido nomeado em 1975, ainda existiam todos aqueles resquícios e a gente sempre fica naquela expectativa de dizer: “Eu acho que posso dar uma contribuição”. E foi mais ou menos dentro desse espírito que eu equacionei o governo. Era uma coisa quase que de engenharia: “O que nós podemos fazer? Quais são os nossos problemas? De que forma nós podemos atacar esses problemas? Quais são os problemas principais?” E esses principais problemas acabaram virando um plano de governo, que tinha 14 ou 15 itens, mas nos quais eu destaquei e dei uma atenção especial para a parte dos transportes. Acredito que uma cidade viva em função do transporte. Quanto melhor for o transporte coletivo, tanto maior a cidade pode se tornar sem se deteriorar muito a qualidade de vida. Imagine, então, se nós tivermos metrô aqui. Esse metrô já esvaziaria uma boa parte das ruas – porque as ruas não têm capacidade de serem aumentadas. Só para você ter uma ideia, quando eu era prefeito, o número de veículos de São José dos Campos era 25 mil. Hoje são 250 ou 260 mil veículos. As ruas continuam do mesmo tamanho, quer dizer, elas se espalharam, mas as ruas centrais continuam do mesmo jeito. Elas não têm a menor possibilidade de serem ampliadas. Então, o único jeito é furar debaixo
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da terra, aproveitar os espaços que ainda estão livres e que tendem a diminuir. Em relação ao metrô, acredito que o quanto antes fosse começado tanto mais fácil seria a sua conclusão. Isso contribuiria para a preparação de uma cidade. Vejo que ainda existe uma possibilidade. Não sei por quanto tempo. JO: No campo político o senhor teve mais duas candidaturas? EP: Na realidade, a época da prefeitura foi extremamente frutuosa. A situação política, principalmente depois da Constituição de 1988, mudou tanto que ficava difícil até você conseguir fazer as coisas. O que eu estou percebendo – já estou fora da política desde 2001 – é que cada dia que passa as coisas estão mais difíceis. Aquela possibilidade que você tem, ou aquela expectativa que se teria de ver as coisas melhorarem, realmente não é tão real hoje como era há quinze ou trinta anos. A última vez que estive na prefeitura foi em 1997, já se passam dez anos. Uma cidade muda em dez anos. JO: O senhor tentou voltar à prefeitura? EP: Sim. Eu fui candidato a prefeito em 1988, quando tinha exatos 55 segundos nos dois programas, da parte da manhã e da parte da tarde. Então era uma tentativa, digamos assim, meio quixotesca de ser prefeito. Eu fui bem entendido, nós tivemos cerca de vinte mil votos
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naquela época, o que era bastante, mas insuficiente. Depois, na realidade, ajudei o prefeito Emanuel a se tornar prefeito, porque eu estava insatisfeito com a condição dos rumos políticos e administrativos de São José dos Campos. Encontrei o Sobral no dia 1º de janeiro de 1996 e ele falou assim: “Vamos ajudar o Emanuel”. Eu falei para ele: “Está bem. Você pega de um lado, eu pego do outro e vamos ver o que a gente faz, o que a gente consegue.” E foi assim que me voltei para a candidatura, para tornar Emanuel o prefeito de São José. JO: Além de vice-prefeito, o senhor teve também um cargo no governo. EP: Fui secretário da Fazenda nos primeiros 11 meses e ao mesmo tempo secretário de Desenvolvimento Econômico, depois que a secretaria foi criada. Naquela época, existia um problema seriíssimo aqui em São José, que era a falta de emprego. O desemprego tinha atingido níveis muito altos. Então, toda a tentativa era fazer com que se aumentasse a oferta de emprego. E isso foi conseguido. Vieram diversas empresas, nós quase nos tornamos o polo tecnológico da parte de telecomunicações. Por um momento, imaginei que nós íamos superar Campinas. Foram diversas as empresas que se instalaram aqui, como a Solectron, Segerström, enfim, todas do campo de telecomunicações e que infelizmente nós perdemos. Esse é um campo extremamente dinâmico e traz uma tecnologia muito importante. Essa foi uma das frustrações, nós não conseguimos fazer com que isso se tornasse uma realidade. JO: O senhor tem também um período grande como mordomo do Sanatório Vicentina Aranha. Eu gostaria que o senhor contasse como isso se deu. EP: Como eu já morava aqui [reside no Jardim Apolo, numa rua que faz divisa com o antigo sanatório] havia muito tempo, via que o Vicentina Aranha não tinha nenhuma proteção. Teve uma época que ele foi objeto de vândalos. Como os muros aqui eram extremamente precários, não tinham nenhuma resistência, as pessoas entravam. O Vicentina Aranha estava desativado desde 1970, aproximadamente. Depois teve um período em que teve o INSS no local. Mas ele estava sem nenhuma atividade há 10 ou 15 anos. Então, ficava fácil de haver essas invasões e usarem o lugar como ponto de encontro de drogados
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e coisa desse tipo assim. Num determinado momento, a provedoria da Santa Casa de São Paulo, que era dona do Vicentina Aranha, me convidou para reabrir o Vicentina Aranha sob a forma de um hospital geriátrico. Aí, segui mais ou menos minha vocação de ajudar. Eu tive tudo na vida, para mim não foi tão difícil assim. Então, pensei, vamos ver se a gente consegue ajudar as outras pessoas... Isso foi em 1993 e fiquei até 2004, quando houve o fechamento do Vicentina. JO: O senhor encontrou muitos problemas dentro do Vicentina Aranha? EP: O principal problema do Vicentina Aranha, no primeiro momento, era a quantidade de entulho que tinha lá dentro. Foram cerca de oito mil toneladas. Numa conta rápida, isso significa quase mil caminhões carregados ao longo de dois anos. Depois, as próprias árvores se autopodam quando vão envelhecendo. O vento andou derrubando muita árvore. JO: E os prédios? O senhor começou a fazer também uma recuperação dos prédios. EP: Os prédios foram construídos a partir de 1912, 1913, alguma coisa desse tipo. A inauguração de alguns foi em 1924. O principal problema é que todos os prédios foram feitos com os elementos da época. Não tinha plástico, os canos não davam mais passagem à água por causa da ferrugem. E não tem coisa pior do que parar de passar água dentro de um cano de ferro. Aí, a ferrugem aumenta de volume e diminui ainda mais a passagem. E outro problema são os vazamentos de esgoto. Eu fui obrigado, para preservar a integridade física do prédio, a abrir uma vala de muitos metros de profundidade para eliminar todo o barro, toda aquela argila que estava contaminada pelo esgoto... Na realidade, a grande contribuição que a gente procurou dar foi a constituição de um sistema asilar para pessoas que não tinham como pagar. Nós usávamos o hospital para prover um fim digno para muitas delas. Não foi uma nem duas pessoas que ficaram aliviadas, porque não sabiam o que fazer com seus parentes e também não queriam entregá-los à própria sorte. Novamente tive outra decepção com a política, porque foi por política que isso foi fechado. Não interessava,
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não tinha sentido, velho dependente não dá voto. Então é um negócio realmente deprimente. Na época que fecharam, nós tínhamos 116 pacientes. A Santa Casa, por outro lado, não aguentava manter o Vicentina Aranha sozinha. JO: O senhor foi então um dos precursores em manter o patrimônio do sanatório preservado. EP: É um patrimônio invejável. A arquitetura de um arquiteto extremamente famoso. O mesmo que fez o Teatro Municipal de São Paulo e diversas outras obras. Ele se chamava Ramos de Azevedo. Então, Ramos de Azevedo criou o projeto básico disso, que depois acabou sendo modificado. Não acredito que ele tenha tido interferência nessas modificações, que são ligeiramente diferentes. Mas o conjunto arquitetônico é muito bonito. Nem tudo aí deveria ter sido tombado. Uma das coisas que se disse na época do tombamento foi sobre o muro. O muro sequer existia por volta de 1933. A cerca era a cerca natural, de divisa de fazenda. Isso aqui era uma fazenda. O Vicentina Aranha tinha 22 alqueires e ia até no ribeirão do Vidoca. Então, as cercas naturais eram de bambu. Nós tivemos dificuldades de tirar o muro, porque há aquelas coisas de política: “Não. O muro é tombado etc e tal”. Realmente foi desagradável. Entretanto, foi só tirar o muro
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para haver visitação... Nunca houve uma restrição à entrada até mesmo porque ninguém ia visitar o Vicentina Aranha. Agora eu consigo entender, é que faltava a visão atrativa. O muro era um bloqueio. As pessoas achavam que tudo que estava para lá do muro não era acessível. Quando foi feita a grade, eles falavam “Olha que bonito que está!” Daí o sucesso do Parque Vicentina Aranha. JO: Eu gostaria que o senhor traçasse um paralelo entre a cidade que o senhor administrou, a cidade atual e a que o senhor vê no futuro. EP: O brigadeiro Sobral conseguiu despertar uma coisa fundamental para a cidade, o interesse e a consciência de que a cidade poderia ser extremamente importante se fosse conduzida como tal. Por exemplo, a história do saco de lixo. Veja a revolução que foi a instituição de saco de lixo em São José dos Campos. Então, o Sobral preparou a cidade para ela dar um salto. E, a partir daí, eu acho que contribuí porque nós fizemos toda a engenharia do sistema viário. Na época, o maior problema que eu tinha era mostrar para as outras pessoas que aquilo era possível de ser feito. Hoje, o Anel Viário se mostra como aquilo que acabou permitindo a São José crescer com uma qualidade de vida razoavelmente boa. Em 1998 – isso é uma coisa realmente importante –, eu estava nos Estados Unidos, no World Trade Center, a convite de um grupo de empresários. E uma pessoa veio até mim e disse assim: “Fala com o seu prefeito. Quem sabe a gente consegue fazer um projeto de um metrô.” O World Trade Center pertence a uma organização que se chama Metropolitan Transportation, que é a dona do sistema de metrô de Nova York, dona do porto, de dois aeroportos e mais algumas coisinhas além das duas torres. Ele ofereceu de graça isso. Infelizmente, essa oportunidade não foi aproveitada. ... Naquela época, seria um projeto ao redor de dois milhões de dólares. Feito por alguém que tinha knowhow, porque afinal de contas o metrô de Nova York é uma excelente demonstração de que sabem projetar metrô. Enfim, essas são aquelas decepções que a gente acaba tendo na política – eu não fui bem entendido. Mas eu vejo isso como o fundamental para a manutenção da qualidade de vida no caso de São José continuar crescendo independente da vontade ou do controle. Não existe essa possibilidade de
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planejar de uma forma rigorosa o crescimento da cidade. As pessoas que pensam isso se enganam. O desenvolvimento da cidade se dá pela soma de vontade de milhares de pessoas, que acabam determinando se a cidade cresce para o norte, para o sul, para o leste, para o oeste e em função da intervenção do poder público. JO: Como era fazer política, quando o senhor foi nomeado prefeito? EP: A política era mais romântica e amadora. Os profissionais eram em muito menor número e facilmente identificáveis. E os profissionais eram de alto nível. JO: Na sua opinião, qual a principal característica que um político deve ter? EP: Ser ator. Ter capacidade de transmitir emoção, empolgar, criar esperança, transmitir confiança. JO: O político tende a desconfiar de todos, ou há algumas pessoas próximas em que pode sempre confiar? EP: Desconfiar sempre é penoso para quem o faz – só certas pessoas conseguem, mas são infelizes, embora sobrevivam mais e melhor que as pessoas crédulas, que vivenciam decepções profundas.
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JO: O senhor em algum momento se sentiu, na política, vítima de traição? EP: Muitas vezes, a ponto de me sentir desiludido com as mudanças daqueles que se diziam – que aparentavam ser – amigos leais. O que prevalece é a lei da sobrevivência. Sobreviver é mais importante [para esses] do que ser leal. Desculpas para mudanças sempre podem ser arranjadas. E o tempo se encarrega do resto, de amortecer toda e qualquer mágoa. JO: Foi duro deixar de ter poder, perder o status, quando acabou o mandato de prefeito? EP: O mais difícil é compreender e aceitar a mudança de posição de pessoas – mariposas – que só sabem viver voando em torno da luz, do poder. JO: Pela primeira parte de sua entrevista, a impressão que se tem é que o senhor acha que está difícil dar uma contribuição para o Brasil, dadas as atuais condições políticas. É isso? EP: A contribuição possível, hoje, depende do coletivo. Não existe a possibilidade de aparecerem salvadores da pátria, tipo Jânio. É a so-
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ciedade e sua cultura que vão determinar se os problemas serão resolvidos. Não adianta ter pressa. A democracia é lenta e custosa, mas é o único caminho. A solução é ao mesmo tempo simples, mas de difícil consecução. Basta que a honestidade de propósitos faça parte do dia-a-dia de todos. Se somos iguais perante a lei, bastaria um único artigo na Constituição: ter vergonha de usar os outros, coisa comum na política. JO: O senhor acredita no ser humano? O ser humano é generoso ou egoísta? EP: Já acreditei mais, agora acredito muito menos, principalmente depois de minha passagem pela prefeitura e pelo Vicentina Aranha. JO: O que é São José dos Campos para o senhor? EP: São José dos Campos é minha cidade natal. Eu só não nasci aqui, mas eu já vivo aqui há 51 anos. Três quartos da minha vida já foram passados aqui em São José dos Campos. Eu tenho dois filhos nascidos aqui, apesar de quase todos residirem no Exterior. Só tenho uma filha morando aqui no Brasil. Eu gosto da cidade, pretendo continuar aqui até quando Deus nos permitir.
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Capítulo 9
CHEGADAS E PARTIDAS A carreira marcante e imprevisível de Joaquim Bevilacqua
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le foi, sob vários aspectos, um político singular, com uma carreira rara. Disputou cinco eleições, ganhou todas, sempre com grande folga sobre os adversários. Com apenas dois anos de vida pública como vereador, conseguiu eleger-se deputado federal, numa ascensão fulminante. E teve um desempenho brilhante na Câmara dos Deputados, à qual retornaria tempos depois, eleito deputado da Assembleia Nacional Constituinte, para novamente destacar-se como parlamentar atuante, respeitado por todas as bancadas. Entre uma e outra passagem pelo Congresso, elegeu-se duas vezes prefeito de São José dos Campos, mas cometeu então os maiores erros de sua carreira, marcando-a negativamente com duas renúncias que se provaram vazias de qualquer sentido. Quando vinha tendo à frente do poder executivo um desempenho elogiado pela população, abandonou o primeiro mandato de prefeito na suposição de que poderia vir a ser candidato a senador, perspectiva que depois se transformou em candidatura a deputado federal e acabou sendo candidatura a absolutamente nada, gerando perplexidade em quantos lhe haviam confiado o voto. Sua renúncia resultou inútil e ele dela se arrependeu. Mas, inexplicavelmente, quando tinha recuperado a confiança do eleitorado e havia sido reconduzido pelo voto à chefia do Executivo de São José, mais uma vez deixou estarrecidos os seus admiradores ao repetir o gesto de renúncia ao cargo de prefeito, inebriado por um novo canto de sereia, agora porque seria candidato a vice-governador do Estado. E, para espanto geral, novamente acabou não sendo candidato a nada. O que mais surpreende nesses dois momentos de total falência de juízo é o fato de essas atitudes terem sido tomadas por um político de marcante inteligência, de um nível intelectual bem acima da média dos homens públicos brasileiros. Parece que, nas duas ocasiões, a ambição ou a vaidade conseguiu sobrepor-se ao tirocínio, à perspicácia, à sensatez
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que lhe eram características. Hoje, refletindo sobre as duas renúncias, ele não tem nenhuma dúvida: suspira, lamenta ter agido como agiu, garante que, se pudesse voltar no tempo, completaria os seus mandatos e não faria o que fez. Sabe que, até hoje, paga um alto preço por esses dois graves equívocos. Pena, entretanto, que eles possam ter concorrido para que ele acabasse se desencantando com a política e abandonando prematuramente a vida pública. Ele não diz que seu afastamento tenha relação com aquelas duas renúncias, mas desconfio que estejam na raiz da sua desilusão. E, com isso, muito mais do que ele, quem perde é São José dos Campos e o Brasil. Porque é triste não poder contar mais na prefeitura com o administrador entusiasta e inovador que ele foi, como é frustrante não poder contar mais no Congresso com o parlamentar talentoso e criativo que ele soube ser. Na prefeitura, ele foi pioneiro no país na implantação de um sistema hierarquizado de atendimento na saúde pública, foi o primeiro no Brasil a conceder passe gratuito de ônibus às pessoas idosas, o primeiro também a consultar os anseios e as sugestões da população para definir os investimentos do orçamento municipal, tornando-o participativo, além de ter estabelecido um programa para os menores carentes que foi premiado pelo Unicef e virou embrião do que é hoje a Fundhas, ter enfrentado o desemprego, levando aos bairros cursos profissionalizantes de curta duração, e ter iniciado o processo de desfavelamento na cidade24. Na Câmara dos Deputados e na Constituinte, foi responsável direto pela criação do Superior Tribunal de Justiça para desafogar a atuação do Supremo Tribunal Federal, garantiu aposentadoria proporcional às mulheres e municipalizou a assistência ao menor, e sua competência levou-o a ser um dos relatores-auxiliares da Comissão de Sistematização que definiu o texto final da Constituição de 1988. Quando deixou a Câmara pela primeira vez, para concorrer à Prefeitura de São José, Joaquim Bevilacqua foi objeto de um pronunciamento de Tancredo Neves lamentando que o país estivesse perdendo um grande parlamentar, o mesmo que já fora elogiado em um artigo inteiro do jornalista Alberto Dines, na Folha de S. Paulo e no Jornal do Brasil.
24. Cf. referência sucinta ao tema na gestão de Sobral na pág. 142. (N. do E.)
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Como não deplorar que esse homem, antes mesmo de completar 48 anos de idade, tenha decidido abandonar a política, sob o peso de mágoas e decepções? Ele ainda tinha, e certamente continua a ter, muito a oferecer à sua cidade natal e ao país. No entanto, desistiu de tudo, fechou-se em si mesmo e diz considerar-se uma peça de museu. Não é assim que o vejo. E, garanto, quando você terminar de ler a entrevista que ele me concedeu, na qual perpassa grandes momentos da sua carreira, não é assim que você também o verá. Como eu, você irá considerar lastimável a sua ausência na vida pública brasileira.
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O prefeito recebe meninos do Cosemt.
Com o engenheiro Ozires Silva, presidente da Embraer.
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Inauguração do Centro de Orientação ao Migrante, na Rodoviária Nova. À esquerda, de lado e cabelos brancos, o professor Augusto da Matta. Acima dele, aparece o rosto do vereador Florisvaldo Rocha. À esquerda do prefeito, o vereador Jairo Pintos. À direita, o professor Geraldo Vilhena de Almeida Paiva.
Edvar Simões, Ahed Said Amim, o prefeito e Pierino Rossi.
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Discutindo o projeto do Anel Viário com o engenheiro Ronaldo Garcia e Augustin Soliva. A avenida Presidente Médici teve posteriormente seu nome alterado para Teotônio Vilela.
O prefeito Joaquim Bevilacqua inaugura o Cosemt, acompanhado do vereador Macedo Bastos, do professor Augusto da Matta e do bispo de Taubaté, dom José Antônio do Couto. (Na época, ainda não havia sido criada a diocese de São José dos Campos.)
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Com o vereador Jairo Pintos e o viceprefeito, Pedro Yves.
Iniciativa da gestĂŁo Bevilacqua para diversificar as atividades da Urbam.
O prefeito, com sua filha Isabela. De camisa com listras verticais, o vereador Jairo Pintos. À direita de Jairo, o vereador Cyborg e, à direita deste, o vice-prefeito Pedro Yves.
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O prefeito com dois secretĂĄrios de SaĂşde: o municipal, Walcy Souza Lima, e o estadual, Adib Jatene (dir.).
Bevilacqua com Geraldo Vilhena e Luiz Paulo Costa (dir.) em visita ao hospital Antoninho da Rocha Marmo.
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Entrevista Roberto Wagner: Como você começou a se interessar por política? Joaquim Bevilacqua: Já na juventude, eu gostava de assistir às sessões da Câmara Municipal, lá na rua 15 de Novembro. E gostava também das sessões de júri popular, no fórum, com o Dr. Tuta [Tertuliano Delfim Júnior] atuando como promotor, e advogados como o Jamil Mattar atuando na defesa. Eu me sentia atraído por aquele tipo teatral de oratória. Talvez porque, àquela altura, eu fosse inibido. Eu tinha acanhamento de falar em público, era uma pessoa tímida até então. RW: E quando veio a decisão de participar da política, concorrendo a um cargo eletivo? JB: Foi quando eu já era advogado. Num certo momento, em 1970 ou 1971, o prefeito nomeado Sérgio Sobral de Oliveira baixou um decreto dobrando o período de trabalho das professoras das escolas municipais. Elas foram obrigadas a trabalhar em período integral, o que causou um problema muito sério, porque a maioria delas dava aulas na rede municipal e na estadual. Algumas tiveram que pedir licença das escolas estaduais, outras chegaram a apresentar problemas de saúde, tamanha a carga emocional que passaram a enfrentar. Como a minha mãe era professora concursada e a mais antiga nas escolas do município, foi procurada pelas colegas e trouxe uma comissão delas ao meu escritório. Em nome delas eu impetrei um mandado de segurança contra o prefeito. Mas não consegui a liminar, elas tiveram que continuar trabalhando daquela forma, e esse episódio gerou em mim um sentimento de revolta, porque eu sabia que algumas delas estavam fazendo até tratamento psiquiátrico. Cheguei a escrever um artigo para o jornal do Nenê Cursino [José Antônio Cursino, editor do Diário de São José], usando o pseudônimo de Gil Vicente, ironizando o prefeito, dizendo “a Sérgio o que é de Sérgio: coronel e não brigadeiro”. Em vários setores da cidade começou a se criar um sentimento contra aquele autoritarismo do prefeito que agia em nome dos generais da ditadura. Como você sabe, o Sobral tinha mania de dizer que tinha recebido telefonema do Geisel, do Golbery, e a gente sabia que era tudo teatro, que ele fazia isso para impressionar as pessoas. Sem pre-
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juízo dos muitos méritos que ele teve como prefeito. Aliás, no plano pessoal, mais tarde ele se mostrou muito cortês comigo e com a minha mãe. Mas o fato é que, como administrador, ele era muito autoritário e eu não gostava disso. Certo dia, me aparecem no escritório o [José de Castro] Coimbra e o Luiz Paulo [Costa], me convidando para entrar no MDB. Eu aceitei o convite e entrei no partido. Aí me convidaram a sair candidato a vereador e eu saí. RW: Que idade você tinha? JB: Foi em 1972, eu tinha 28 anos. E, para surpresa geral, e minha própria, eu me elegi vereador. RW: Que lembranças você tem dessa primeira campanha eleitoral? JB: Eu não sabia nem como começar uma campanha. Outro jovem político da época, o Robson Marinho, já era vereador, recebia apoio do ex-prefeito José Marcondes e da sua esposa Célia Marcondes, e encarnava, pela sua juventude e sua oratória incendiária, a figura do anti-Sobral. E havia outros candidatos do MDB com muita experiência, como o Mário Scholz. Eu, que estava começando, fazia o cálculo de conseguir no máximo uns oitocentos ou mil votos, o que me colocaria no “rebolo”, dependendo dos votos da legenda para eventualmente conseguir me eleger. RW: Quantas vagas havia na Câmara, àquela época? JB: Eram 17 vereadores, sem nenhuma remuneração, atuando apenas por espírito público. Então, eu comecei a campanha pelo Alto da Ponte, onde minha mãe dava aulas, pedi a ajuda dos familiares, comecei a fazer amigos pelos bairros, me aproximei do pessoal da roda de viola, dos jogadores de futebol dos times de várzea, porque eu já tinha apresentado um programa de esportes na Rádio Piratininga, e fui tocando a campanha. A gente fazia muita festinha com música caipira, e a campanha começou a crescer. Tanto que, nos últimos 15 dias antes da eleição, o pessoal do Sobral deu muito em cima de meus cabos eleitorais e conseguiu levar alguns deles para a campanha do Rubens Savastano, que o prefeito fazia questão de eleger pela Arena. No dia da eleição, eu vi nas ruas aquele batalhão de cabos eleitorais da
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Arena, enquanto eu não tinha ninguém para esse tipo de trabalho, não tinha nem material impresso para distribuir aos eleitores. Então, corri a uma gráfica na rua Vilaça e, às pressas, mandei fazer lá uns papéis de propaganda e saí distribuindo. RW: E qual foi o resultado das urnas? JB: No dia seguinte, quando começou a apuração, eu nem me preocupei em ir logo para o ginásio de esportes da Associação, porque não tinha a expectativa de me eleger. Dormi até mais tarde, porque estava cansado, tomei o café da manhã com calma, e só depois resolvi ir ver como estava a apuração. Quando comecei a me aproximar da Associação, levei um susto. Um monte de gente vinha me abraçar, me fazer festa. Eu fui o segundo mais votado no MDB, abaixo apenas do Robson, e fui o terceiro mais votado dos dois partidos, ficando apenas um pouquinho abaixo do Jorge Cury, que se elegeu pela Arena. Essa talvez tenha sido a maior alegria da minha vida pública. [Ele para de falar e se esforça para conter o choro. Tenta segurar as lágrimas, leva a mão à boca para sufocar um soluço, e só um pouco depois volta a falar, com a voz embargada pela emoção.] Nenhuma eleição me deu tanta alegria quanto essa. Foi emocionante eu me eleger vereador da minha terra. RW: E aí aconteceu um fato inusitado. Com apenas dois anos como vereador você saiu candidato a deputado federal e conseguiu se eleger, numa ascensão política fulminante. Como isso foi possível? JB: É engraçado. Na minha vida, os grandes erros e os grandes acertos sempre foram consequência de impulso. Não sei se é qualidade, não sei se é defeito, o fato é que eu sou impulsivo, não tenho medo de enfrentar situações. Eu não acredito no impossível, acredito muito na força da determinação. Em 74 foi assim. Eu era líder da oposição na Câmara Municipal, indicado pelo Mário Scholz e aprovado pela unanimidade da bancada, embora eu ainda não tivesse destaque no diretório municipal do partido, que era comandado pelo Robson. Ele era a estrela do partido, mas, pela minha atuação na Câmara, eu fui ganhando visibilidade. Quando se aproximou a eleição para deputado, o Robson decidiu ser candidato a estadual e o partido pretendia
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que o Coimbra saísse para deputado federal, para enfrentar a dobradinha da Arena, formada por Rubens Savastano para estadual e Pierino Rossi para federal, que tinham total apoio do Sobral. Mas o Coimbra desistiu e o Robson, juntamente com o Luiz Paulo, foram me procurar e me propuseram sair a federal. Eu aceitei o desafio. E aconteceu de eu me eleger com quase 55.000 votos, sendo o mais votado para federal na maioria das cidades do Vale do Paraíba. E o Robson elegeuse como um dos mais votados para a Assembleia, com mais de 44.000 votos. Com isso, mais uma vez nós tínhamos derrotado o Sobral e a Arena. RW: E lá foi você para Brasília. Com apenas dois anos de vida pública já era deputado federal. Recentemente, comentando em minha coluna de jornal o desempenho dos vários políticos da região que passaram pela Câmara dos Deputados, mencionei que você, pouco tempo depois de empossado, fez um pronunciamento que motivou um artigo inteiro de elogios do jornalista Alberto Dines, que era diretor de redação do Jornal do Brasil e colunista da Folha de S. Paulo. Por causa desse artigo, que saiu nos dois jornais, da noite para o dia você se tornou um deputado de expressão em Brasília. JB: É verdade. Eu escrevi e li da tribuna esse discurso, a que dei o título “Diálogo com a minha Consciência”. Eu falava da minha frustração de ter chegado a Brasília cheio de entusiasmo, com a disposição de participar da solução dos problemas do País, e me deparar com um plenário que perdia tempo com discussões vazias, sem se dedicar ao debate das questões que realmente interessavam à nação. Aconteceu que eu caí nas graças do Ulysses Guimarães. Ele gostava de mim, várias vezes nós viajamos juntos. Quando chegou a Convenção
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Nacional do MDB, o Ulysses colocou, na chapa que ele apoiava, o meu nome e o do Guaçu Piteri, que também era deputado estreante, para membros de nada menos que a Executiva Nacional do partido. Eu me surpreendi com isso, embora a essa altura eu já fosse vicepresidente da Comissão de Constituição e Justiça, que tinha como presidente o deputado Célio Borja, da Arena, futuro presidente da Câmara, ministro do Supremo Tribunal Federal e ministro da Justiça. Aí, o Orestes Quércia começou a organizar uma chapa para concorrer com a do Ulysses. Diante disso, eu, o Guaçu Piteri e o Pacheco Chaves começamos a trabalhar por uma composição entre os dois grupos, para evitar a divisão do partido. Para isso, eu e o Guaçu desistimos de concorrer e oferecemos as nossas vagas ao grupo do Quércia, para obter a conciliação. Evitou-se, de fato, a divisão, e esse gesto nos deu força dentro do partido. RW: Do que mais você se lembra, dessa sua primeira passagem pela Câmara dos Deputados? JB: O primeiro ano foi de muita aprendizagem, para conhecer aqueles meandros todos, fazer contatos e amizades. No segundo ano eu já dominava um pouco aquilo lá. Quando se iniciou o processo de escolha do líder do MDB, eu fui o coordenador da campanha do Alencar Furtado, contra o Laerte Vieira, que era apoiado pelo Ulysses e pelo Tancredo Neves. Porque eu achava o Alencar mais afirmativo, ele fazia parte do chamado “grupo autêntico”. E nós ganhamos por 77 votos a 70. Aliás, eu me lembro de um episódio interessante. O coordenador da campanha do Laerte Vieira era o Thales Ramalho, que era uma raposa política, genro do milionário João Santos, grande usineiro de Pernambuco. E a gente ficava sabendo que o Thales oferecia vantagens para angariar votos para o Laerte, pois dizia-se que, mesmo pertencendo ao MDB, o Thales tinha contatos com o governo e com as Forças Armadas. Certo dia, em plena campanha para escolha do líder, o saudoso Flamarion Mosri, grande jornalista do Estadão, foi me entrevistar. E disse que o Thales Ramalho tinha se referido a mim de forma irônica, dizendo que o coordenador da campanha do Alencar era um pianista. Eu fiquei louco, o sangue me subiu à cabeça, e eu respondi na hora: “Diga ao Thales que só toca piano quem não tem dedo duro”. E isso saiu no artigo do Flamarion. O Thales ficou
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muito tempo sem falar comigo. O Alencar foi eleito líder do MDB e eu me tornei vice-líder e homem de confiança dele, sem perder a amizade com o Laerte, o Ulysses e o Tancredo. E me projetei também na CPI das Multinacionais, porque fui o relator do voto em separado do MDB. O relator foi o Herbert Levy, da Arena. E o nosso grupo não concordava com as posições dele, nós nos orientávamos principalmente pelo pensamento do Kurt Mirow, autor do livro A Ditadura dos Cartéis, que inclusive nos assessorou em muita coisa. Nós provamos, por exemplo, a existência de um cartel da indústria eletromecânica, que tinha sido constituído formalmente mediante um documento registrado em cartório de Londres. Provamos vários casos de superfaturamento e de subfaturamento de várias multinacionais instaladas no país. Depois, veja que curioso, eu soube que quem gostou muito do nosso voto em separado foi o Ernesto Geisel, que era um nacionalista. Essa CPI foi muito benéfica para o Brasil, teve muita repercussão nos jornais, na televisão, e com isso o Alencar e eu nos projetamos também. Mas isso motivou também várias cassações. RW: Algum outro fato o projetou no noticiário nacional? JB: Sim, foi quando eu propus a convocação do ministro da Fazenda para vir depor na Câmara. Foi a primeira e a única vez, no regime militar, em que o ministro da Fazenda compareceu para depor por convocação da Câmara. E foi por um requerimento meu. Trechos do debate foram ao ar no “Jornal Nacional”, eu apareci formulando perguntas ao ministro Mário Henrique Simonsen e estava, no outro dia, na primeira página de todos os grandes jornais do país. Eu queria que o ministro explicasse as intervenções do Ministério no mercado financeiro, estudei bem o assunto e coloquei diante dele mais de duzentos casos que exigiam explicação. E ele me deu razão em muita coisa. Conclusão: em 1978, quando São José dos Campos recuperou a autonomia e voltou a ter eleição para a escolha do prefeito, pondo fim à era dos prefeitos nomeados, o meu nome estava muito em evidência, devido àquela minha intensa atuação em Brasília. E todas as pesquisas de opinião indicavam o meu favoritismo. Por isso, o partido decidiu que eu deveria ser o candidato a prefeito, enquanto o Robson se lançava à reeleição para a Assembleia, da qual veio a se tornar presidente.
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RW: Foi nesse momento, pelo que sei, que Tancredo Neves fez um pronunciamento lamentando que você deixasse o Congresso Nacional para retornar à política municipal. JB: Não posso negar que tenho muito orgulho disso. Ele fez esse pronunciamento, com muitos elogios à minha atuação parlamentar. Depois, mandou datilografar o texto desse pronunciamento e o assinou, para que eu pudesse guardar como lembrança. Você quer ler? [Ele deixa a sala em que me concede a entrevista e, minutos depois, retorna com o texto do pronunciamento feito por Tancredo Neves, o qual leio.]25 RW: Você tem razão de se orgulhar de um pronunciamento como esse. Mas, agora, me conte como foi a campanha eleitoral para prefeito de São José. JB: Eu me lembro que o primeiro comício foi lá no Alto da Ponte e eu tive no meu palanque ninguém menos que esse mesmo e gran-
25. Eis o seu teor: “Joaquim Bevilacqua vai se candidatar à Prefeitura de São José dos Campos. Se eleito, o seu município estará de parabéns, enquanto a Câmara dos Deputados ficará de pêsames. Ter-se-á interrompido uma carreira parlamentar das mais auspiciosas. Chegado de pouco, impôs-se, entre os parlamentares, pela sua cultura, inteligência, operosidade e espírito combativo. Na Comissão de Justiça, lavrando pareceres eruditos e vazados sob a inspiração da melhor e mais moderna doutrina, ou no plenário, discursando com eloquência, elegância e, não raro, com energia, firmou, em pouco tempo, a merecida reputação que só alcançam velhos parlamentares: a de um homem público vocacionado para o serviço do povo, respeitado pela coerência de suas atitudes e admirado pelos fulgores do seu talento político. Está apetrechado para exercer, com competência e brilho, as mais altas posições na vida pública do país. Não obstante, fiel à sua terra e ao seu povo, secciona uma carreira política na qual estava fadado a construir uma notável projeção do seu nome. No entanto, prefere, deliberadamente, truncar um grande destino para entregar-se aos azares e percalços de uma luta política, no âmbito de sua comuna, para a disputa da sua chefia administrativa. Faz lembrar Antonio Carlos depois de haver deixado o Governo de Minas indo pleitear uma cadeira de vereador na Câmara de Juiz de Fora, ou Afrânio de Mello Franco, depois de haver ocupado as mais altas posições no Brasil e no Exterior, disputando uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Essa é a beleza da política: nela não há posições subalternas. Todas são dignas, desde que exercidas com sinceridade e idealismo. Esse é o caso de Joaquim Bevilacqua. Brasília, 30 de junho de 1978. a) Deputado Tancredo Neves – Líder do MDB”.
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de Tancredo Neves, que era candidato ao Senado por Minas Gerais. Como você sabe, o Alto da Ponte e Santana são bairros de grande número de mineiros. Então, Tancredo pediu votos para mim e eu pedi votos para ele. Àquela época cada um dos dois partidos, Arena e MDB, tinha três sublegendas. Pela Arena saíram candidatos a prefeito o Roberti Costa, o José Domingues, que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, e o vereador Pedro Bala. Eu saí sozinho pelo MDB e fui eleito com 66% dos votos, bem mais que a soma dos votos dos três adversários. RW: Como foi a emoção de assumir o comando da sua cidade natal? JB: Foi muito gratificante poder pôr em prática algumas coisas que a gente pregava. Eu apresentei durante a campanha um Programa Mínimo de Governo e andava com ele no bolso, todo o tempo. Volta e meia eu dava uma olhada para ver o que eu já tinha feito e o que faltava fazer. Havia muitos anos que a cidade vivia sob a ótica dos prefeitos nomeados, que chegavam ao poder sem ter assumido nenhum compromisso com o povo, porque não tinham passado por uma campanha eleitoral. Agora a cidade vivia uma nova realidade, pois como prefeito eleito eu queria governar com intensa participação popular. Tanto assim que o nosso slogan era “O Povo é a Razão”. Toda sexta-feira eu recebia em audiência, no térreo do Paço Municipal, de manhã à noite, um número enorme de pessoas que traziam as suas reivindicações. Eu atendia centenas de pessoas toda sexta-feira, conversando com uma por uma. E fazia mutirões nos bairros, levando os secretários municipais, médicos, dentistas, tudo. Esse contato direto com a população me estimulava muito, era uma fonte de energia. RW: Como era o seu relacionamento com os vereadores? Quem lhe fazia oposição na Câmara Municipal? JB: Eu não tinha problemas com a Câmara, eu nunca tive um projeto rejeitado. RW: Então, você não encontrou dificuldade nenhuma para exercer o cargo de prefeito? JB: A dificuldade foi a inexperiência inicial, a vontade de me inteirar de tudo o que precisava ser feito e começar a fazer imediatamente.
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Eu fui eleito no dia 15 de novembro de 1978 e tomei posse no dia 29, duas semanas depois. A minha vontade de trabalhar era tão grande, que passei a noite de réveillon, de 31 de dezembro de 1978 para 1º de janeiro de 1979, despachando no gabinete, lendo processos, procurando entender o que precisava ser feito. Uma das pessoas que despachou comigo naquela noite foi o Pedro Bala, que era funcionário da prefeitura. Eu tinha 34 anos de idade, tinha trabalhado como advogado, tinha atuado como deputado em Brasília, mas como executivo era neófito, tudo era novidade para mim, e eu não queria errar. Por isso, mantive parte do secretariado deixado pelo Ednardo [de Paula Santos], como o Jair Ferreira Santos na Secretaria da Fazenda, o Ahed Said Amim na Administração, aquele pessoal que “carregava o piano” na prefeitura. Outra dificuldade foi o fato de que, entre a minha eleição e a minha posse, em 14 dias, foram feitos vários acordos para pagar desapropriações, o que reduziu bastante o saldo de caixa da prefeitura no meu primeiro ano de gestão, eu tive que ficar pagando as parcelas desses acordos. RW: Você acha que isso foi feito de propósito, para prejudicar o seu desempenho? JB: Não sei. Sei que eu não teria feito isso. O fluxo de caixa da prefeitura ficou muito comprometido. Mas não me queixo porque, mesmo assim, deu para fazer muita coisa em 1979. RW: Em resumo, quais foram as suas principais realizações nessa sua primeira passagem pela prefeitura? JB: Primeiro, eu quero explicar um conceito que adotei como prefeito. Eu entendia que a prefeitura tinha que ser uma espécie de holding e deveria participar de todos os aspectos da vida da cidade, deveria
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estar presente nas entidades recreativas, nos clubes de serviço, onde quer que fosse necessário o apoio do poder público. Por outro lado, e isso foi discurso da campanha eleitoral, eu queria a participação do povo na definição dos rumos da administração, queria adotar uma administração participativa. Numa cidade que vinha tendo prefeitos nomeados havia muito tempo e acabava de recuperar o direito de eleger o seu prefeito, eu promovi eleições para que a população elegesse também os subprefeitos dos distritos, em Eugênio de Melo e em São Francisco Xavier. Criamos e implantamos, pela primeira vez no Brasil, o Orçamento Participativo. O PT veio a falar nisso muito depois, essa ideia nasceu e foi aplicada aqui em 1980.26 Devidamente orientados, os alunos das escolas municipais levavam um questionário, ouviam em casa os seus pais, anotavam as suas sugestões e as traziam para serem tabuladas pelo nosso Centro de Processamento de Dados. Eu me lembro, por exemplo, que foi assim que descobrimos que 48% da população se preocupava com segurança pública. Então, resolvemos investir mais nessa área. Isso passou a orientar a formulação do orçamento municipal a partir de 1980. Com o mesmo propósito, estimulamos a criação de sociedades de amigos de bairros, para que os moradores aprendessem a reivindicar em conjunto, com prevalência das opiniões majoritárias. Quando eu assumi, havia apenas três delas. Quando saí já havia mais de sessenta, algumas com sedes construídas com ajuda da prefeitura. Como já mencionei, criamos aquela rotina da audiência pública, no Paço Municipal. Toda sexta-feira eu começava a atender a população por volta de 7 e meia da manhã e houve dia em que só saí às 10 horas da noite. Era necessário isso? Talvez não. Na maior parte as pessoas me traziam coisas corriqueiras que podiam ser resolvidas por qualquer servidor, não precisavam da intervenção do prefeito. Mas aquelas audiências tinham um conteúdo educativo para os servidores municipais, eu queria que eles percebessem a importância que eu dava aos munícipes, por mais simples que fossem, e ficava claro que eles deveriam agir da mesma forma quando fossem atendê-los. Com o tempo, esse processo precisou ser modificado. O país passava por uma crise econômica e muita gente passou a comparecer à audiência
26. Cf. afirmação de Angela Guadagnin na pág. 403. (N. do E.)
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pública só para pedir empregos. E o prefeito não tinha como resolver isso. Então, passamos a fazer uma triagem prévia, deixando para a audiência pública somente os casos em que a prefeitura podia oferecer uma solução. E, também como já mencionei, nós fazíamos periodicamente mutirões nos bairros, levando os secretários para conversar com a população e tomar lá mesmo as providências de maior urgência. Então, esse conceito da administração participativa era fundamental. E, para melhor atender a população, eu promovi a descentralização administrativa, criando regionais da prefeitura nas zonas norte, leste e sul. A partir de então, o munícipe não precisava mais vir ao Paço Municipal para protocolar seus pedidos, obter informações e acompanhar o andamento dos processos. Ele passou a fazer isso nas regionais, perto de onde morava. E as regionais, que também executavam obras e serviços, foram colocadas em rede de computadores, comunicando-se com todos os setores da prefeitura. Nós criamos a Codrab [Companhia de Desenvolvimento Rural e Abastecimento], que organizou feiras livres semanais nos bairros, instituiu um varejão de produtos hortifrutigranjeiros na Vila Industrial e participou conosco da criação da Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo], que eu consegui trazer para São José. Além disso, a Codrab tinha um armazém que vendia aos servidores municipais itens de consumo básico a preço de custo, mediante desconto na folha de pagamentos. E atuou ainda no combate ao abate clandestino de carne bovina e suína, que era feito sem a mínima higiene e punha em risco a saúde da população. Quanto ao desenvolvimento rural, nós criamos a Pedreira Municipal, de onde retirava-se cascalho para utilizar nas estradas municipais. Com isso, mesmo no período das chuvas, nunca mais tivemos problemas com as estradas. No trato com os servidores municipais eu estimulei e ajudei a constituir a Assem [Associação dos Servidores Municipais]. E, em relação
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a eles, eu quis ser coerente com o que tinha antes proposto como deputado federal. Na Câmara eu havia apresentado um projeto estabelecendo o reajuste trimestral de salários, porque eles eram corroídos pela inflação. Então, como prefeito, eu me senti na obrigação de instituir esse reajuste para os servidores. Também devido à inflação, eu liderei uma luta dos prefeitos junto ao Governo do Estado para que o repasse da nossa parcela de ICM deixasse de ser mensal, porque ela nos chegava com uma grande perda inflacionária. À época a inflação mensal beirava 40%. O Estado acabou se rendendo e o repasse passou a ser quinzenal e depois tornou-se semanal. Quero ligar um fato recente a outro da minha época de prefeito. O Eduardo Cury desapropriou há pouco tempo a área do antigo Sanatório Vicentina Aranha. Mas saiba que em 1980, quando eu era prefeito, fui informado de que a Santa Casa de São Paulo, proprietária do imóvel, estava em negociação para vender o Vicentina Aranha a um grande grupo empresarial da capital, que iria construir ali vários prédios de apartamentos. Para impedir que isso acontecesse, baixei um decreto estabelecendo que aquela área só pudesse ser utilizada por hospitais e atividades afins27. Porque, à época, o prefeito podia definir o zoneamento da cidade, sem depender da Câmara. Mais tarde, essa preservação tornou-se mais efetiva, quando a área foi tombada como patrimônio histórico. Mas o fato é que, sem aquele meu decreto, não estaríamos hoje falando em Vicentina Aranha, aquilo seria um parque residencial. E consegui também o tombamento da Igreja de São Benedito, ali na praça Afonso Pena, mediante pedido que fiz ao então secretário de Cultura do Estado, o deputado Cunha Bueno.
27. Cf. declaração de Robson Marinho na página 269. Ednardo trata de outras questões do Vicentina Aranha nas págs. 179 e ss. (N. do E.)
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RW: Aproveito para fazer menção a outro fato significativo. O poeta Cassiano Ricardo, filho de São José, morreu quando Sérgio Sobral era prefeito. Eu era diretor do jornal “Agora” e passei a sugerir, em seguidos editoriais, que o nome de Cassiano fosse dado a uma das vias públicas da cidade. No entanto, Sobral nunca o fez, no que foi imitado pelo seu sucessor, o prefeito Ednardo de Paula Santos. Ambos não deram nem mesmo a algum obscuro beco da cidade o nome de Cassiano Ricardo. Foi preciso que você assumisse o cargo de prefeito para fazer justiça ao seu conterrâneo, dando o nome dele à avenida que é hoje uma das mais importantes da cidade. JB: Bem, já que você lembrou isso, quero dizer também que, como vereador, foi de minha autoria o projeto que criou a Medalha Cassiano Ricardo, para ser concedida às pessoas nascidas em São José que se destacassem no exercício de suas atividades. RW: Agora, por favor, retorne ao que considera as grandes realizações de sua gestão como prefeito. JB: Nós criamos o Cosemt [Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador], que foi o embrião do que mais tarde se tornou a Fundhas [Fundação Hélio Augusto de Souza]. O Cosemt, que foi sistematizado pelo meu secretário da Promoção Social, professor Geraldo Vilhena Paiva, propiciava estudo e iniciação profissional aos menores de famílias pobres, e acabou recebendo um prêmio da ONU, por intermédio do Unicef. Aliás, quem recebeu o prêmio em nome do Cosemt foi exatamente o Hélio Augusto de Souza, que era meu chefe de Gabinete e mais tarde seria prefeito. Na área da Saúde, eu tinha prometido na campanha que iria criar postos de atendimento nos bairros. Uma vez eleito, convidei para secretário da Saúde o dr. Walcy de Souza Lima, que me convenceu a adotar o sistema hierarquizado que constava da Declaração de Alma Ata. Da equipe dele faziam parte o dr. Gílson Carvalho, que depois seria a segunda pessoa mais importante do Ministério da Saúde e um dos criadores do sistema SUS, e o dr. Flávio Zambrone, grande infectologista, que hoje brilha na Unicamp e tem renome internacional. Esse núcleo da Secretaria da Saúde, que tinha muita competência, estabeleceu em São José o primeiro sistema integrado de saúde do
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Brasil, que começava com as UAS [Unidades Avançadas de Saúde], passava pelas UBS [Unidades Básicas de Saúde], e incluía as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento]*. O sistema era tão bom que permanece até hoje, décadas depois. Em três anos nós criamos muitas dessas unidades pelos bairros, levando o atendimento para perto da população. Criamos um sistema de atendimento universal, a todas as pessoas sem exceção, quando isso ainda não estava previsto na Constituição. A mortalidade infantil que, quando eu assumi, era de 63 óbitos por mil crianças nascidas, caiu para 23 por mil. Criamos também um programa odontológico, que até então não existia. A prefeitura contratou dentistas e instalou gabinetes odontológicos em todas as escolas municipais e algumas estaduais. Acho importante mencionar também que o terreno onde está hoje o Hospital Municipal já não pertencia à prefeitura, que o havia transferido à Santa Casa. Nós fizemos uma negociação com a Santa Casa, recuperamos o terreno para o patrimônio municipal e fizemos o projeto do hospital, que seria construído com recursos do Governo do Estado. O secretário de Estado da Saúde, dr. José Aristodemo Pinotti, esteve aqui na ocasião e assinou um compromisso nesse sentido. Infelizmente, esse compromisso depois não foi cumprido. Em compensação, nós fomos ao Ministério da Previdência e fomos recebidos pelo ministro Jair Soares, a quem mostramos o que estávamos fazendo aqui no setor da saúde pública. Ele ficou tão entusiasmado que ligou, na hora, para o superintendente regional da Previdência, em São Paulo, que era o dr. Tomás Camanho Neto, e determinou que ele celebrasse um convênio com a nossa prefeitura para repassar recursos para o nosso sistema integrado. Com isso, São José foi o primeiro município brasileiro a ter um convênio dessa natureza com o Governo Federal. Como a cidade não possuía creche, nós criamos a primeira delas, a Creche Maroca Veneziani, no bairro do Alto da Ponte, e fornecemos recursos para que o Éden Lar, mantido pelos evangélicos, criasse outra creche no Jardim Satélite. E celebramos convênio para que o Lions Club construísse e assumisse a administração de um albergue no Monte Castelo, para receber moradores de rua vindos do Centro de Triagem e Encaminhamento, criado também em minha gestão. * Sobre as UBS cf. iniciativa de Ednardo, na pág. 166. (N. do E.)
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Na área da habitação, criamos a EMHA [Empresa Municipal de Habitação] e promovemos o desfavelamento do Vidoca, para podermos começar a obra do Anel Viário. Nós construímos o primeiro trecho do que é hoje a avenida Jorge Zarur. As famílias que moravam ali em quase trezentos barracos foram transferidas para embriões habitacionais de 17 metros quadrados, que nós construímos no Campo dos Alemães, onde eu desapropriei uma área de 107 alqueires, que é a mais plana de São José dos Campos, pagando o valor venal, irrisório, tendo em vista que era área do Incra, ou seja, era considerada rural e não urbana. Numa parte dela construímos o bairro que ficou conhecido como Conjunto da EMHA e depois recebeu o nome oficial de Conjunto Elmano Veloso, em homenagem ao ex-prefeito. Criamos lá uma fábrica de blocos, conseguimos doação de areia e os interessados só tinham de comprar o cimento. Dessa forma foram construídos quase mil embriões habitacionais. Com o passar dos anos, os moradores foram ampliando suas moradias, que de embriões se transformaram em casas de quatro, cinco cômodos, em lotes de 125 metros quadrados, devidamente urbanizados pela prefeitura. É preciso dizer que a transferência dos moradores da favela do Vidoca para lá foi realizada sem nenhum atrito, de forma absolutamente pacífica, graças a um excelente trabalho feito por profissionais da Secretaria de Promoção Social. Depois, em parceria com a iniciativa privada, isto é, com o Banco Sul-Brasileiro e a Sérgio Porto Engenharia, construímos na Vila Industrial o Conjunto Integração, com 992 apartamentos, numa área que era da prefeitura. As três pontes que existem em São José tiveram a nossa participação. Uma delas, a mais antiga sobre o rio Paraíba, estava em estado muito precário e eu consegui que a Secretaria de Obras do Estado, no governo do Paulo Maluf, a reformasse inteirinha. A nova ponte sobre o rio Paraíba, à altura do Jardim Telespark, também foi construída mediante convênio com o Governo do Estado. O Estado ficou com a parte mais cara, que era a construção da ponte propriamente, enquanto a prefeitura só teve que construir os acessos, nas duas extremidades. E a terceira ponte, também sobre o rio Paraíba, foi construída lá na Urbanova pelo Fukuoka Bank, sem que tivéssemos de desembolsar nenhum tostão. Aliás, os japoneses também construíram, sem nenhum gasto para nós, a avenida que liga a Urbanova à cidade, numa exten-
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são de aproximadamente quatro quilômetros. A marginal do distrito de Eugênio de Melo, com 11 quilômetros, também não custou nada à prefeitura, porque eu consegui os recursos a fundo perdido com o Delfim Netto, que era ministro da Fazenda. Modéstia à parte, graças ao prestígio que eu havia conquistado antes como deputado. E nós realizamos, por intermédio da Urbam, três Projetos Cura em diferentes locais. Isso tinha começado na administração do Ednardo. Ele havia realizado, se não me engano, dois Curas e, na sequência, eu fiz mais três. Eram recursos que vinham para o que se chamava “urbanização e recuperação aceleradas”. Com esses recursos, que vinham do Governo Federal, era possível realizar obras de pavimentação de ruas, construir creches e escolas, implantar redes de água e de iluminação pública, tudo com juros muito baixos, para pagar em 20, 25 anos. O município entrava com uma contrapartida pequena. A Urbam ficou tão craque nisso, que o BNH [Banco Nacional da Habitação] e a Caixa [Econômica Federal] sugeriam que os técnicos de outros municípios viessem a São José para aprender como gerenciar um Projeto Cura. Além disso, nós fizemos milhões de metros quadrados de pavimentação comunitária, em que a prefeitura pagava uma parte e os moradores dos dois lados entravam com outras partes. Nunca se tinha asfaltado tantas ruas na história de São José dos Campos. Em termos de iluminação pública, quando eu assumi, a cidade tinha pouco mais de sete mil pontos com lâmpadas incandescentes. O saudoso Israel Coppio Sobrinho, que estava na minha equipe e tinha sido gerente da Light, me convenceu a trocar tudo por lâmpadas de vapor de mercúrio, que eram mais econômicas e iluminavam muito mais. No final da minha gestão já estávamos começando a instalar as primeiras com vapor de sódio, ainda melhores e mais econômicas. Para resumir, a cidade que tinha cerca de sete mil pontos de iluminação pública quando eu assumi, passou a ter quase 25.000 quando deixei a prefeitura. Eu tinha confiado a presidência da Urbam ao Augustin Soliva. E ele, com a sua mentalidade empresarial, me propôs transformar a Urbam no que ele chamava “um supermercado de serviços”. E assim foi. Pouca gente sabe que a Urbam chegou a processar a folha de pagamento de 32 municípios, inclusive a de Sorocaba. E a Urbam fazia a coleta de lixo em quatro municípios da região: São José, Jacareí, Caçapava e São Bento do Sapucaí. Reformamos a usina de composta-
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gem de lixo, que estava caindo aos pedaços, e começamos a produzir adubo orgânico, que a gente distribuía durante os mutirões que realizávamos nos bairros, juntamente com mudas de árvores e de hortaliças. O primeiro adubo orgânico registrado no Ministério da Indústria e do Comércio foi o produzido pela Urbam. A partir daí, ele passou a ser vendido e seguia de trem até o Rio Grande do Sul. Com esses serviços, a Urbam recuperava um pouco daquilo que gastava. E era também a Urbam que fazia toda a pavimentação comunitária, foi responsável pelo início das obras do Anel Viário, e assumiu a Funerária Municipal, que até hoje é modelo para muitos municípios. RW: Você cometeu, entretanto, um grande equívoco com a Urbam, ao tentar criar uma usina para produzir álcool de mandioca. Você reconhece isso? JB: Aquilo foi produto de entusiasmo. O Augustin Soliva, que é um vencedor, me trouxe essa ideia. Ele estava convencido de que o álcool de mandioca tinha uma série de vantagens e me convenceu disso. Mas a tentativa acabou não indo pra frente, porque a prefeitura não tinha recursos suficientes. Aquilo foi um sonho que não chegou a se realizar, e foi bom que não se realizasse. Senão, teria sido a minha Paulipetro.28[ri] RW: Mais alguma recordação importante da sua primeira gestão na prefeitura? JB: Eu ainda não falei de Educação. Essa secretaria eu confiei a um físico, ex-professor do ITA e futuro reitor da Univap, o Baptista Gargione Filho. No início ele deu muita trombada com as professo-
28. Referência à empresa criada pelo então governador Paulo Maluf para tentar encontrar petróleo no interior de São Paulo, que gastou fortunas sem encontrar nada.
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ras municipais, porque ele era exigente demais. Como eu tinha entrado na política pela mão das professoras, exatamente porque no tempo do Sobral elas tinham passado por momentos difíceis, precisei chamar o Gargione e dar uma amaciada nele. Aí a coisa melhorou, conseguimos equilibrar a visão de cientista dele com a visão de normalista das professoras, e passamos a obter grandes conquistas. O sistema municipal de ensino que nós herdamos já era muito bom, tinha boa estrutura e bons professores. Nosso papel, então, era melhorar o sistema. Fizemos um convênio com o Ministério do Trabalho para realizar cursos profissionalizantes. Eram cursos cuja duração variava de 40 a 120 horas e eram realizados em trailers, que nós compramos lá em Caxias do Sul, para que pudessem ser levados aos bairros. Em três anos eu entreguei milhares de diplomas a pessoas que tinham concluído cursos de datilografia, culinária, mecânica, corte e costura, e assim por diante. Investimos também na alfabetização de adultos. Criamos o Curso de Educação Ambiental e um Laboratório Ecológico, que funcionava lá no Horto Florestal. O Horto também tinha sido criado por nós na área da antiga Fazenda Boa Vista. Até hoje está lá um grande canteiro de mudas que foi iniciado na minha gestão, graças ao qual a Secretaria de Serviços Municipais pôde aumentar muito a arborização da cidade. Todas as escolas municipais passaram a ter um Laboratório de Ciências, que até então não havia. Quando a Tecelagem Parahyba começou a dar sinais de que iria falir, passamos a nos preocupar com a escola que lá existia e era considerada modelar. Por isso, desapropriamos a escola para evitar que fosse fechada e a incorporamos à rede municipal. E conseguimos com os empresários japoneses da Urbanova a doação de uma área de quinhentos mil metros quadrados para a implantação da Universidade do Vale do Paraíba, porque a criação de uma universidade em São José era também um compromisso assumido na campanha eleitoral. Então, para não me estender demais, acho que esses foram os fatos mais importantes da minha primeira gestão como prefeito. RW: Eu me lembro de que, graças ao apoio que você deu aos clubes, o esporte teve nesse período grande destaque em várias modalidades. JB: Mas foi um apoio moral, não se pôs dinheiro público nisso. Eu sempre fui apaixonado por esporte. A primeira coisa que eu fiz foi pro-
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mover uma reunião, na antiga Cantina do Mário, com os presidentes dos principais clubes da cidade. E pedi que cada um deles dissesse qual era a principal vocação de seu clube. E ficou evidente que a do Tênis Clube era o basquete, que a da Associação Esportiva era a natação, que a do Esporte Clube era o futebol, que a do Clube do CTA era o atletismo. Então, definiu-se que cada um concentraria seus esforços no que era a sua vocação e eu ajudaria no que fosse possível junto a patrocinadores. Nós conseguimos que alguns atletas fossem empregados por empresas e a própria prefeitura contratou alguns deles para dar aulas nas escolas municipais, como foi o caso do Nenê, que era pontaesquerda do time de futebol do São José, e do Carioquinha, que jogava basquete pelo Tênis Clube. A Sabesp, a nosso pedido, contratou o Marcelo Vido. O Edvar Simões, que era técnico do basquete do Tênis Clube, era também meu secretário municipal de Esportes. O resultado disso foi que o CTA foi terceiro lugar em atletismo no Troféu Brasil. O basquete do Tênis Clube foi campeão dos Jogos Abertos do Interior, bicampeão paulista, campeão brasileiro e vice-campeão sulamericano. No futebol amador o time da Rhodia foi bicampeão paulista. No futebol profissional o São José venceu o campeonato da Segunda Divisão e teve acesso à Primeira, nela foi vice-campeão paulista e disputou a série A do Campeonato Brasileiro. Eu me lembro que nós ganhamos do Grêmio em pleno Estádio Olímpico, lá em Porto Alegre. E a Associação Esportiva revelou grandes nomes para a natação e o vôlei feminino, que colecionavam medalhas e troféus em torneios pelo Brasil afora. Eu, como prefeito, ligava para as empresas e conseguia que elas pagassem dezenas de ônibus que levavam a nossa torcida para jogos em outras cidades. Porque eu entendia, principalmente no tocante ao futebol, que o esporte seria um elo de ligação entre os moradores da cidade. São José é uma cidade de forasteiros, de gente vinda de toda parte para trabalhar nas nossas indústrias. E essa gente se aproximava e se conhecia nas arquibancadas, onde aprendia a torcer pelas nossas equipes, aprendia a se identificar com a cidade, aprendia a gostar de São José. Esse era o principal retorno psicossocial do empenho que nós tínhamos com os esportes. RW: Você é lembrado pelas pessoas que participaram da sua administra-
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ção como um chefe amigo, até carinhoso, mas às vezes explosivo, capaz de manifestar grande irritação, dando sonoros tapas sobre a mesa durante as reuniões com sua equipe de governo. JB: É verdade. Às vezes eu não conseguia controlar a emoção diante da angústia de querer fazer cada vez mais. Eu me sentia como quem tivesse uma grande dívida a resgatar perante a população. E, embora o meu pessoal trabalhasse muito, trabalhasse até demais, às vezes eu exagerava na cobrança. Eu era muito exigente, era perfeccionista, eu reconheço isso. RW: E o seu relacionamento com a imprensa? Você teve um episódio de briga com o Bouéri Neto, que apresentava todas as manhã o “Jornal da Clube” pela Rádio Clube, que hoje é a Rádio Bandeirantes. JB: Não foi briga. Eu acho que no jornalismo é importante o respeito mútuo. Um jornalista se faz respeitado quando ele respeita os outros, mesmo os que ele critique. O que é diferente do jornalista que quer ser temido, quer que as pessoas tenham medo dele e das críticas que ele possa fazer. Eu jamais tive medo de jornalista. Eu peitei general, peitei gente poderosa, por que iria ter medo de jornalista? Houve um – prefiro não mencionar o nome – que, certa época, andou publicando um jornaleco em que fazia acusações caluniosas contra várias pessoas. Um dia me atacou. Eu o vi acompanhando uma sessão da Câmara Municipal, fui até ele e lhe esfreguei o jornaleco na cara, quase o fiz engolir aquela porcaria, porque ele fazia jornalismo “marrom” pago por uma empreiteira de obras. RW: Mas não foi esse o caso com o Bouéri Neto, que era um jornalista decente. JB: O Bouéri, que já faleceu – Deus o tenha –, sempre foi muito meu amigo. Adoro a esposa, hoje viúva dele. Mas ele era apaixonado por política e achava que podia pautar as ações do prefeito. Ele achava que eu tinha que fazer o que ele queria, o que ele defendia e propunha pelo rádio. E nunca ninguém me pautou, nem minha mãe, nem minha mulher. Então, quando ele me criticava, eu exigia o direito de resposta. E ele não gostava disso.
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RW: Ele acabou tendo de sair da rádio e disse, ao microfone, que você, como prefeito, tinha ido a São Paulo pedir a cabeça dele ao João Saad, presidente da Rede Bandeirantes. JB: Eu nunca fiz isso. Isso é conversa fiada. E olha que o João Saad era meu amigo, mas eu nunca lhe pedi nada disso. O fato é que o Bouéri foi depois dirigir a redação do jornal Valeparaibano e continuou me atacando. E sempre que me atacava, eu fazia o mesmo de sempre: reivindicava o direito de resposta e rebatia o que ele tinha dito. Foi apenas isso. Eu sou mesmo meio marrudo, mas afirmo a você que nunca pedi a cabeça de jornalista nenhum. E digo mais: aquilo era um pouco em razão da minha juventude, eu tinha trinta e poucos anos, você compreende. Hoje eu sou mais calmo, mais paciente. Se eu pudesse voltar no tempo, muitas das briguinhas que eu tive não teria agora. Com o próprio Robson, quando nós nos desentendemos e politicamente nos separamos, eu hoje admito que foi uma bobagem. Eram divergências contornáveis, coisas mais do ego, da vaidade. Vou ser sincero com você: eu acho que, nesse aspecto, o Robson era mais maduro do que eu. O rompimento se deu mais por minha causa, ele fazia tudo para a gente não brigar. Naquele momento, eu estava me sentindo meio... meio reizinho, sabe como é? No fundo foi isso, eu reconheço. RW: À época se dizia que, se vocês se mantivessem unidos, os dois poderiam ficar se alternando na prefeitura, enquanto quisessem. JB: Pois é, o Hélio Augusto [de Souza], que era meu chefe de gabinete e grande amigo do Robson, fez de tudo para que nós não nos separássemos. Mas eu dificultei muito o entendimento. RW: Você tinha um lado truculento. JB: [Ri.] É verdade, tinha mesmo. Na campanha de 1988, houve um comício na Vila São Geraldo, em que eu estava discursando e, de repente, arrebentou-se um ovo atirado no meu peito. Eu vi dois sujeitos que saíram correndo, pulei do palanque e fui atrás deles, fui pro pau. [Ri.] Naquela escuridão, sem saber se os caras estavam ou não armados, saí correndo atrás dos dois. [Ri.] Que loucura!
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RW: Era uma questão de temperamento? JB: De temperamento, mas principalmente da idade. Outra vez, eu cheguei à prefeitura de manhã e fui informado de que o pessoal do DSM [Departamento de Serviços Municipais] não tinha saído para trabalhar, estava em greve. Eu fui na hora para lá, acompanhado só do meu motorista. Cheguei na frente do DSM, havia um piquete de sindicalistas gritando, eu passei no meio deles, falei pra eles não me encherem o saco, entrei, chamei os empregados e perguntei: “Como é que é? Vocês não vão trabalhar? Quem vai pagar os salários de vocês é aquela cambada de vagabundos que está gritando ali em frente?” Aí, um deles falou: “Não, prefeito, é que nós temos umas coisas para pedir ao senhor”. Eu falei: “Tudo bem. Então, é o seguinte. Vocês saem para trabalhar já, agora mesmo, e amanhã eu recebo três de vocês no gabinete, para a gente conversar”. Foi todo mundo trabalhar, na hora. Eu era assim, não deixava pra depois. Nisso, hoje eu reconheço, às vezes eu cometia alguma inconveniência, agia com certa agressividade. É verdade, eu não nego. RW: Agora, preciso que você explique por que não concluiu o seu mandato de prefeito, renunciando ao cargo em abril de 1982. JB: No final de 1981 eu havia viajado ao Japão na companhia do Paulo Maluf, que era governador do Estado. Ele gostava muito de mim, foi um dos meus padrinhos no segundo casamento. E devo dizer, por justiça, que como governador ele fez muito por São José dos Campos. Maluf é um homem muito inteligente e foi um governador muito dinâmico. É uma pena que se tenha perdido sob outros aspectos, que todos conhecem. Pois bem, uma noite, no hotel lá em Tóquio, ele me chamou para uma conversa particular e disse que gostaria que eu fosse candidato ao Senado. Depois eu fiquei sabendo que ele tinha uma pesquisa feita pela Marplan que, considerando 11 possíveis candidatos, me dava mais de 50% de intenções de voto no Vale do Paraíba e 6% no Estado todo. Então, ele queria lançar três candidatos ao Senado pelo PDS [ex-Arena], que seríamos eu, o Blota Júnior e o Adhemar de Barros Filho. Eu agradeci, mas disse a ele que queria terminar o meu mandato de prefeito. No ano seguinte, em 1982, na inauguração da rodovia dos Trabalhadores [atual rodovia Ayrton Senna] ele me escalou para discursar. Eu, modéstia à parte, fiz um belo discurso,
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e aí foi aquela pressão, os políticos me pressionando para aceitar a candidatura ao Senado, dizendo que o Maluf havia dito que me daria todo o apoio na campanha. Eu comecei a considerar a hipótese, mas fiquei sabendo que o meu vice-prefeito, o Francisco Ricci, queria sair candidato a deputado estadual, não queria assumir a prefeitura. Ah, aquilo foi uma tragédia... Eu acabei renunciando à prefeitura, o cargo foi assumido pelo presidente da Câmara [José Luiz de Almeida], de repente eu não seria mais candidato ao Senado, mas sim à Câmara dos Deputados, e a verdade é que eu não dispunha de estrutura para fazer a campanha. O Maluf ficou me enrolando, não liberava os recursos financeiros que havia prometido, eu acabei desistindo e... [ri] acabei virando padeiro. Montei, em sociedade com um amigo, uma padaria na avenida 9 de Julho, e virei comerciante, virei padeiro. RW: Você se arrepende de ter renunciado ao mandato de prefeito? JB: Ah, se eu pudesse voltar no tempo eu não faria o que fiz. Nas duas vezes em que renunciei, eu agi mal. Eu deveria ter ficado no cargo. RW: Quanto tempo você ficou fora da política, atuando como comerciante? JB: De 1982 até 1985, quando ingressei no PTB, porque havia me tornado muito amigo do ex-presidente Jânio Quadros, com quem convivi bastante, frequentando a residência dele no Guarujá. Quando ele foi candidato a prefeito de São Paulo e derrotou o Fernando Henrique Cardoso, eu participei intensamente da campanha dele. Então, em 1986 fui lançado candidato a deputado federal pelo PTB, para participar da Assembleia Nacional Constituinte. Fui eleito e retornei a Brasília. RW: E como foi a sua atuação na Constituinte? JB: Eu acho que a Constituinte começou mal, porque deveria ter to-
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mado como texto-base a Constituição de 1946, que era muito boa, ou mesmo a de 1967, que também era boa, excluídos os aspectos que atendiam ao regime autoritário. A partir de um texto-base seriam introduzidas as modificações necessárias. Mas não, resolveu-se fazer uma Constituição que partisse do zero, constituindo-se oito Comissões Temáticas e várias subcomissões, cada uma tratando de um assunto, para ao final se juntar tudo, mediante uma triagem a ser feita por uma Comissão de Sistematização. Ora, isso não iria funcionar, como de fato não funcionou. Houve um momento em que se temeu que aquilo nem tivesse fim, o que seria um vexame. Estávamos completando dois anos de Constituinte e a profusão de propostas tinha-se tornado uma confusão, era tanta coisa, descendo a tantos detalhes, que não haveria tempo para se discutir e votar tudo em plenário. Foi aí que o Ulysses Guimarães assumiu o comando pra valer e conduziu as votações a toque de caixa. Tudo o que fosse consumir muito tempo com discussões era, por acordo entre os líderes de bancadas, remetido para futuras leis ordinárias e complementares. Passou-se a incluir uma série de declarações de princípios e vontades nem sempre exequíveis, o texto ficou muito prolixo, resultando numa Constituição que não é técnica. Foi por isso que, já percebendo essas deficiências, eu apresentei uma emenda estabelecendo que, a cada cinco anos, haveria uma re-
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visão constitucional para atualizar o texto e modificá-lo no que fosse necessário. Eu estava apenas seguindo o exemplo bem sucedido do que fora feito em Portugal e que continua a ser feito lá até hoje. Mas o Ulysses entendeu que isso faria com que a Constituição nascesse fraca, porque, no entender dele, ela já nasceria prevendo “mudanças com hora marcada”. O máximo que eu consegui foi que ele aceitasse a emenda para uma revisão a ser feita uma única vez, cinco anos depois. Isso foi aprovado, a revisão ficou estabelecida nas Disposições Transitórias, mas, infelizmente, quando foi realizada, em 1993, resultou numa revisão muito fraca, pífia. A grande vantagem da revisão de cinco em cinco anos, como eu havia proposto, é que ela seria feita em reunião unicameral, Câmara e Senados juntos, com decisões tomadas por maioria absoluta, 50% mais um dos votos. Enquanto que para modificá-la por emenda, como se faz agora, são necessárias duas votações na Câmara e mais duas no Senado, só se aprovando alterações que obtenham 70% dos votos em cada Casa29. Ficou muito mais difícil, muito mais complicado. RW: Além dessa emenda da revisão constitucional você apresentou alguma outra importante? JB: A existência do Superior Tribunal de Justiça se deve, principalmente, ao meu trabalho de constituinte. A maioria das emendas que criaram e definiram as funções do STJ são de minha autoria, e contei para isso com a assessoria do desembargador Mohamed Amaro, que é hoje o decano do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Isso desafogou muito o trabalho do Supremo Federal. Imagine como estaria hoje o Supremo se não existisse o STJ. À época, recebi inúmeras manifestações de agradecimento por parte de juízes, desembargadores e ministros por ter tomado essa iniciativa. Além disso, apresentei e tive aprovadas várias emendas que fortaleceram o Ministério Público e os Tribunais de Contas. Também facilitei bastante, no texto constitu-
29. Na verdade, 3/5 ou 60%, como diz o art. 60, par. 2º, da Constituição: Toda proposta de emenda constitucional “será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.” (N. do E.)
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cional, as municipalizações de serviços públicos. Outra coisa de que me orgulho foi a concessão, com força constitucional, de transporte gratuito para as pessoas idosas. Eu tinha sido pioneiro nessa medida. Como prefeito, em janeiro de 1980 fiz de São José dos Campos o primeiro município brasileiro a tomar essa medida em favor dos idosos. Em 1982 o Mário Covas, como prefeito de São Paulo, tomou a mesma medida na capital. E em 1987 consegui inscrevê-la na Constituição. RW: Se não me falha a memória, você era integrante da Comissão de Sistematização, aquela que tinha de reunir, fazer uma triagem e dar coerência aos textos produzidos por todas as Comissões Temáticas. Ou estou enganado? JB: Não, você está certo. A Comissão de Sistematização era chefiada pelo relator Bernardo Cabral, que contava com a ajuda de alguns relatores auxiliares, entre os quais os deputados Nelson Jobim, futuro ministro da Justiça, o ministro do Supremo, Antônio Carlos Konder Reis, que tinha sido governador de Santa Catarina, e eu. RW: Bem, não há dúvida de que você, mais uma vez, teve atuação de muito destaque no Congresso. JB: É verdade, eu aparecia muito no noticiário nacional. E foi em razão disso que, aqui em São José, voltou-se a falar no meu nome como candidato a prefeito. Eu vou ser sincero com você: dessa vez eu não estava a fim de voltar à prefeitura, não estava com vontade. Mas os apelos foram muitos e eu acabei me lançando candidato contra cinco adversários. Os principais eram o Carlos Sebe, apoiado pelo Robson Marinho, e o Luiz Carlos Pontes, lançado pelo PT. E acabei recebendo mais votos do que a soma obtida pelos outros cinco. Um detalhe curioso: essa foi a primeira campanha eleitoral, em São José, com presença da televisão. A emissora da Rede Globo tinha acabado de ser inaugurada aqui. RW: E como foi o seu desempenho nesse segundo mandato como prefeito? JB: Dessa vez a situação era muito diferente da anterior, porque havia um enorme déficit orçamentário. Era de 100%. Era como se você tivesse, todo mês, de gastar vinte embora só arrecadasse dez. Em outubro, o então prefeito Antônio José [Mendes Faria] havia dado aos servidores
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um aumento maior do que o orçamento permitia, agravando ainda mais a situação que já era crítica. O município tinha centenas de títulos protestados. Então, além de restringir as despesas e investimentos, tomei providências para conseguir aumentar o índice de participação do município na arrecadação do ICM, que era a principal fonte de receita. Aliás, eu já havia feito isso também na primeira administração como prefeito. E tive que renegociar vários débitos que a prefeitura tinha com bancos e fornecedores. Resumindo, em um ano nós conseguimos reduzir esse déficit orçamentário de 100% para 22%. A partir daí a prefeitura voltava a ser administrável. E foi assim que eu a transferi, depois, ao meu vice-prefeito, o Pedro Yves. Acho que a coisa mais importante que fiz nesse segundo mandato foi esse saneamento financeiro. Mas além disso, foi também importante ter conseguido recursos para a segunda parte do Anel Viário. Por sugestão do engenheiro Ronaldo Garcia, que era diretor técnico da Urbam e depois foi seu presidente, nós resolvemos tentar convencer a Caixa Econômica Federal a enquadrar a obra do Anel Viário no Projeto Cura. Não era fácil, porque o Cura, como eu já expliquei antes, dava recursos para construção de escola, creche, rede de água e de iluminação, o que não era o caso do Anel Viário. Mas o Ronaldo era muito amigo de um alto funcionário da Caixa, chamado Otávio Vaninni, e conseguiu convencê-lo de que o Anel Viário era indispensável para a ligação do centro da cidade com a zona sul, onde estavam sendo realizadas obras do Cura. Montamos um projeto de financiamento com esse argumento e o Otávio Vaninni foi decisivo para que fosse aprovado. Com isso, estavam viabilizados os recursos financeiros para a segunda fase do Anel Viário. Mas acabei não podendo ver o “nascimento da criança”. Porque passei a prefeitura ao Pedro Yves, com tudo pronto para receber esses recursos, e ele resolveu mexer no edital que já estava redigido para licitação da obra. Foi infeliz, complicou tudo. O PT entrou na Justiça para impugnar o novo edital, a ação se prolongou por alguns anos, e a segunda parte da obra só teve início na administração petista da Angela Guadagnin. Ela é que acabou parecendo ser a “mãe da criança”. [Ri.]30
30. Cf. o texto sobre Ednardo na pág. 165 e sua entrevista na pág. 180. Ver Também o depoimento de Pedro Yves nas págs. 390 e 391 e o de Angela nas págs. 404 e 422. (N. do E.)
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Eu gostaria de mencionar também que, nesse segundo mandato, dei à cidade o seu Teatro Municipal, que fica no Shopping Centro, lá na rua Rubião Júnior. E não precisei usar recursos financeiros da prefeitura. Aquilo era um cinema, que pertencia ao grupo da Paris Filmes. Eu negociei uma permuta de áreas com eles e o que era cinema foi adaptado pela prefeitura para tornar-se Teatro Municipal. RW: E por que foi que, pela segunda vez, você renunciou e não concluiu seu mandato de prefeito? Você disse que se arrependeu da primeira renúncia. Como pôde incorrer novamente nesse erro? JB: Naquela época não existia a licença do cargo para poder se candidatar. Para ser candidato eu teria que renunciar ao cargo de prefeito. Na verdade, eu saí para ser candidato a candidato, porque aconteceu o seguinte. Eu tinha me tornado presidente do PST [Partido Social Trabalhista] no Estado de São Paulo. E eu vinha mantendo contatos com o Leopoldo Collor, irmão do presidente Fernando Collor, e com o Egberto Batista, que havia sido coordenador da campanha do Collor à Presidência. Eles me garantiam que o Sílvio Santos sairia candidato a governador e queriam que eu saísse candidato a vice. Por isso me colocaram em contato com o Sílvio Santos, com quem eu estive várias vezes e acabei por filiá-lo ao PST. Confesso que fiquei fascinado com a ideia de chegar ao Governo do Estado como vice de uma figura tão popular quanto o Sílvio. E ele concordou que sairia realmente candidato ao Governo do Estado e me teria como candidato a vice em sua chapa. Naquela época ele viajava muito para Miami e, num certo momento em que ele se encontrava lá, ausente do Brasil e sem ser ainda candidato oficial, ele já aparecia com 22% das intenções de voto. Então, ele começaria a campanha com 22% e, no meu entendimento, ganharia a eleição já no primeiro turno. Mas, a partir de um certo momento, quando eu já havia renunciado à prefeitura para poder organizar a campanha de lançamento oficial do Sílvio pelo PST, ele começou a manifestar dúvida. Depois nós ficamos sabendo que estava para vencer a concessão do canal da TV Rio, que era da rede do SBT, e ele tinha receio de que ela não fosse renovada por ele estar ingressando na política. Certa vez ele me disse que estava preocupado porque sabia que, se ficasse fora do ar na
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televisão por quatro meses seguidos para fazer a campanha, o SBT perderia de 30 a 35% de faturamento. E estava também preocupadocom as finanças da rede de lojas Tamakavy, que não estava dando certo, ele estava perdendo dinheiro... Enfim, ele estava com essas preocupações e acabou desistindo de ser candidato. A convenção do PST seria no domingo para lançamento da candidatura, e ele desistiu na quarta-feira. Foi um choque para nós. Depois a gente soube que ele queria que o Collor pedisse expressamente para ele ser candidato, garantindo que o apoiaria, mas o Collor jamais fez isso. O fato é que o Sílvio desistiu e eu fiquei na mão, sem mandato e sem candidatura. Alguns dias depois, recebi telefonema do governador Orestes Quércia dizendo que queria conversar comigo e me convidava para ir almoçar com ele no Palácio dos Bandeirantes. Eu fui e ele pediu para eu me integrar à campanha do [Luiz Antônio] Fleury, que ele estava lançando como candidato a governador pelo PMDB, e me ofereceu o cargo de secretário de Estado do Trabalho e Previdência Social. Àquela altura eu estava louco com o Maluf, louco com o Sílvio Santos, não tinha mais o mandato de prefeito, o que é que eu iria fazer? Aceitei o convite do Quércia e, tenha certeza disso, pouca gente se dedicou tanto à campanha do Fleury quanto eu. Participei de debates na televisão defendendo a candidatura dele, frequentei reuniões na casa dele, organizei comitês eleitorais, trabalhei duro até no próprio dia da eleição. E o Fleury se elegeu. RW: E como foi a sua experiência na Secretaria de Estado, naquele final da gestão do Quércia? JB: Foi muito boa, porque eu trazia da Prefeitura de São José a experiência de um excelente convívio com as assistentes sociais e reproduzi isso na Secretaria. Dei toda a força às assistentes sociais, porque a Secretaria tinha centenas de convênios com entidades pelo Estado
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todo. Elas me trouxeram a informação de que o repasse de verbas do Estado para essas entidades, como as APAEs [Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais] por exemplo, era muito baixo, baixíssimo mesmo. Então, eu fui ao governador e o convenci a triplicar esses valores. As assistentes sociais nem acreditavam: “Como o senhor conseguiu isso?” – elas diziam. E eu descentralizei a Secretaria, criei o protocolo em todas as regionais, para que os processos pudessem ser iniciados e acompanhados no próprio Interior, e criei uma regional em Franca. Para renovar aqueles convênios com as entidades, já com os valores das verbas triplicados, eu saí viajando pelo Interior, entrando em contato com centenas de prefeitos. Tudo isso fazia supor que, quando assumisse o governo, o Fleury me convidasse para ocupar alguma Secretaria. Mas isso não aconteceu. Ele me convidou para ser assessor especial no Palácio, eu cheguei a ir lá por algum tempo, mas acabei me aborrecendo e devolvi o cargo. RW: E resolveu abandonar a carreira política? JB: Eu me desiludi, fiquei muito desencantado. Tive desilusão com o Collor, de quem eu gostava pessoalmente, achava um sujeito vigoroso, cheio de vontade de renovar o país, eu tinha muita empatia com ele. Quando veio à tona tudo aquilo que você já sabe... foi uma desilusão enorme. E eu já tinha tido aquela desilusão com o Maluf, que prometeu me ajudar na campanha, não me ajudou e com isso inviabilizou a minha candidatura; depois veio a desilusão com o Sílvio Santos, e, para completar, a desilusão com o Fleury. Chegou uma hora em que eu disse a mim mesmo: Quer saber de uma coisa? Eu acho que já fiz o que tinha que fazer, o que eu podia dar de mim eu já dei. Chega. Resolvi parar. Isso foi em 1991. E agora, então, com toda essa bandalheira em Brasília, todos esses escândalos se sucedendo, fico ainda mais convicto de ter agido certo ao abandonar a política. Fico de fora, sou apenas um observador.
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RW: Se, hipoteticamente, você voltasse hoje à prefeitura, quais seriam os seus principais objetivos? JB: Olha, com sinceridade, não é para agradar a ninguém, eu acho que o Emanuel Fernandes e o Eduardo Cury foram gratas revelações de homens públicos. Não digo que eu concorde com tudo que eles pensam, dizem ou fazem. Em algumas coisinhas eu até discordo. Quer ver uma pequena diferença? No lugar deles, eu teria feito mais festa do que eles fazem, eu divulgaria mais as realizações. No meu tempo, se eu colocasse três postes de luz em alguma rua, eu iria lá inaugurar, com discurso e foguete. Eu adorava fazer isso. [Ri.] O Emanuel não divulgava nada, o Eduardo divulga um pouco mais. Mas, se fosse eu, divulgaria mais que os dois somados. Disso você pode ter certeza. RW: Dos políticos com quem você conviveu em Brasília, nos dois mandatos como deputado federal, quais os que lhe despertaram maior admiração? JB: Começo por um com quem tive grande convivência na Constituinte: Antônio Carlos Konder Reis, um exemplo de homem público, uma figura impoluta, a quem é impossível qualquer pessoa propor uma desonestidade. Dos tempos de MDB, admiro até hoje Alencar Furtado, de quem fui vice-líder na bancada. Admiro-o pelo sentimento de patriotismo, de amor ao País. Ainda do MDB, admirei muito Franco Montoro, que foi quem mais me influenciou pela forma didática com que sempre fez política, pela forma prática com que encarava as divergências partidárias e os conflitos do dia-a-dia. Ulysses Guimarães, pelo talento da oratória, pela firmeza nos momentos decisivos e pela lealdade aos companheiros. E Tancredo Neves, pela sabedoria, pela cultura e pela lhaneza de trato. RW: Você não sente nostalgia do poder, seja dos tempos de prefeito, seja da época de deputado? JB: Com sinceridade, não sinto. Já houve época em que eu senti, hoje não sinto mais. Eu me realizo muito com o sucesso dos meus filhos.31 31. Do primeiro casamento, com Marialva Ricardo de Moura, teve os filhos Luiz Vicente, Paulo Vitor e Vera. Do segundo, com Celisa Anderaos Medeiros Bevilacqua, teve a filha Isabela. Tem atualmente quatro netos.
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RW: Mas o poder afeta o ego. Ou não? JB: Olha, muita gente gosta de estar perto do poder, gosta de agradar quem esteja no poder. E isso acaba afetando a gente. Negar isso seria hipocrisia. Isso não me afetou a ponto de mudar minha personalidade, mas ninguém pode dizer que não fica envaidecido com o exercício do poder. Há momentos em que você fica se sentindo um reizinho. [ri] RW: Diz-se que o poder corrompe. Corrompe mesmo? JB: Nunca ninguém me chantageou para nomear alguém para qualquer cargo, para só assim votar a favor de algum projeto enviado à Câmara. Nunca nenhum vereador me exigiu isso, eu impunha um certo temor, até em razão daquelas reações meio destemperadas que eu podia ter. Mas, às vezes, mesmo você não querendo prestigiar Fulano, por não ter maior respeito por ele, você tem que engolir em seco e o prestigiar numa solenidade, por exemplo, porque mais adiante vai precisar dele para aprovar um projeto importante. Nessas horas a gente tem que abrir mão de alguns princípios, em favor do interesse público. Muita gente me critica por ter aderido ao PDS e ao Paulo Maluf. Deus sabe que aquele foi o pior dia da minha vida, eu enfrentei um enorme drama de consciência. Deus e a minha mulher são testemunhas disso. Eu não queria aderir, mas se não fizesse isso eu não conseguiria realizar como prefeito tudo o que a população esperava de mim. Vou dar um exemplo. No final da administração do Paulo Egydio Martins, eu fui ao Badesp [Banco de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo], que era presidido pelo joseense Onadyr Marcondes. Eu pedi que ele me ajudasse a trazer a Ceagesp para São José. Ele disse que se eu conseguisse um terreno, ele daria financiamento para a construção da Ceagesp. Eu consegui o terreno, por doação, sem nenhum custo, e o Onadyr abriu o processo de financiamento. Mas antes que isso fosse concluído, começou a administração do Maluf. E logo de cara eu impus duas derrotas a ele. Ele tinha um candidato para a presidência do Conselho de Desenvolvimento Regional do Vale do Paraíba, mas eu me articulei e ganhei a eleição. Pouco tempo depois ele veio a São José para lançar a obra da rodovia dos Trabalhadores, numa solenidade na Faculdade de Direito. Eu, como prefeito do PMDB, não fui recebê-lo, mantive a audiência pública que estava marcada
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para receber os munícipes. Aí, o Blota Júnior, que era secretário de Estado e meu grande amigo, me convenceu a ir à solenidade onde estava o Maluf. Quando eu cheguei lá, atendendo ao apelo do Blota, a solenidade já estava em andamento. Pois bem, eu fiquei sabendo que São José tinha sido retirada da relação de cidades que teriam regionais da Ceagesp. Eu fui a São Paulo, quebrei o pau, xinguei, mas mantiveram a exclusão de São José. Aí, eu fui ao Montoro e lhe coloquei o meu drama. Estava claro que, se eu não aderisse ao Maluf, o Governo do Estado não daria nada a São José. Eu disse ao Montoro que não era justo eu fazer isso com a população da cidade, só para preservar a minha carreira pessoal. Ele não aprovou, mas compreendeu a minha situação. Porque em momentos assim você se vê forçado a abrir mão de seus princípios em nome do interesse público. Eu tenho consciência de que isso me custou, politicamente, muito caro. Mas, conforme eu disse antes, o Maluf acabou fazendo muito por São José. RW: Na sua opinião, qual a maior virtude de um homem público? JB: Ter espírito público, espírito de renúncia e de sacrifício. Ter honestidade pessoal e honestidade de propósitos. O exemplo disso eu acabei de dar, ao explicar o drama de consciência que eu vivi ao me aproximar do Maluf. Como homem público, na tentativa de tomar a decisão certa e necessária, nem sempre se toma a decisão mais simpática. RW: E qual o maior defeito de um homem público? JB: Se tiver sido eleito, é decepcionar os seus eleitores, é trair os compromissos que assumiu com eles, cedendo a interesses pessoais ou subalternos. RW: Você tem um belo piano de cauda em sua sala. Você ainda toca? JB: Raramente. Mas, de vez em quando, me dá vontade e eu toco alguma coisa. Eu tenho a vantagem de ter boa técnica e de ler bem as partituras. Se eu treinar algumas horas já recupero a agilidade. Minha formação foi excelente. Com apenas 12 anos eu me diplomei no conservatório, não apenas como pianista, mas como professor de piano. Tanto assim que ganhei uma bolsa do Ministério da Educação,
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em 1958, para estudar no Rio de Janeiro com uma das mais famosas professoras brasileiras, dona Lúcia Branco, que tinha também como alunos o Nélson Freire e o Arthur Moreira Lima. Aliás, na ocasião, o Nélson Freire tinha aulas com uma assistente dela, porque dona Lúcia não dispunha de horário para ele. RW: Você lê bastante? JB: Leio sempre. E gosto de ler mais de um livro ao mesmo tempo, vou me alternando entre eles. No momento estou lendo O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, De Bagdá Com Muito Amor, de Kay Kopelman, e Código da Vida, do Saulo Ramos. RW: Do que você vive atualmente? JB: Da minha aposentadoria de deputado e de algum trabalho que desenvolvo em consultoria na área tributária, porque não tenho mais paciência para a advocacia forense.
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RW: Que planos você tem hoje? JB: [Suspira.] Eu não tenho nenhum plano de longo prazo. Acabo de passar por uma cirurgia cardiológica de revascularização, meu plano imediato é consolidar a minha recuperação, que está evoluindo muito bem. Eu me sinto muito melhor do que antes da cirurgia. Praticamente parei de fumar, fumo no máximo dois cigarros, quando antes fumava até dois maços por dia. Um plano? Tenho plano de parar de fumar completamente. RW: Você está com 63 anos, tem energia, tem talento, tem experiência, tem tudo para exercer um novo cargo público. Não considera essa hipótese, de jeito nenhum? JB: Eu me desencantei. A política está percorrendo caminhos que não me atraem. A minha época passou, eu tenho consciência disso. Eu já virei peça de museu.
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Capítulo 10
CAFÉ DA MANHÃ COM OS MILITARES Os nove meses de José Luiz Carvalho de Almeida na cadeira de prefeito
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odos os dias ele faz tudo sempre igual, acorda às 5h30 da manhã, cuida dos pássaros, lê o jornal, ouve os programas políticos das rádios locais e, às 7h30, já está pronto para trabalhar. A partir daí, os animais preenchem todo o dia de José Luiz Carvalho de Almeida, proprietário de uma empresa que presta serviço de transporte de animais a pet-shops e clínicas veterinárias. Ao voltar para casa à noite, após trabalho intenso, em vez de sentir cansaço, José Luiz sente-se feliz: “ponho a cabeça no travesseiro e durmo tranquilo. Isto é privilégio de poucos”, comenta. Não é difícil entender o motivo deste privilégio: uma conversa um pouco mais longa com o ex-prefeito já mostra que a simplicidade do menino que veio para a cidade com chinelo nos pés continua parte do caráter do homem – mesmo tendo ele sido, por nove meses, a maior autoridade municipal. E ele tem consciência disso, pois afirma com convicção: ao assumir como prefeito, já sabia muito bem que os holofotes mudariam de direção tão logo outro ocupasse o seu lugar – por isso procurou nunca abandonar a simplicidade. José Luiz nasceu em Barra Mansa, no Rio de Janeiro, em 1944. Quando tinha 12 anos veio para São José dos Campos com cinco de seus nove irmãos, sua mãe e seu pai, que havia recebido o convite do então prefeito Elmano Veloso para abrir um frigorífico no Mercado Municipal. Dois anos depois de chegar à cidade, José Luiz começa a trabalhar pela primeira vez, no açougue do pai. Depois, trabalha na Casa de Massas Primor, na rua Siqueira Campos, até que, com o pai já doente, seu irmão mais velho vende o açougue e abre uma firma de representação de bebidas. José Luiz vai trabalhar com o irmão e ali fica por 26 anos. Começa como carregador de engradados, passa a motorista, vendedor, gerente de vendas e, em 1974, se torna sócio do irmão.
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Paralelamente a essa vida profissional, José Luiz era apaixonado pelo futebol. Jogador desde os 16 anos, só não se profissionaliza porque o pai o colocava contra a parede: “se sair para jogar futebol, não tem volta para casa”. Oportunidades de deixar o amadorismo não faltaram, sendo convidado para jogar no Atlético Mineiro, no Fluminense e no Bangu. Mas o respeito pelo pai falou mais alto e o jogador ficou apenas no São José Esporte Clube, onde jogou na ponta esquerda. Posteriormente, foi diretor, conselheiro e presidente do clube. Assim como o futebol, o Carnaval foi um ponto forte na vida de José Luiz. Participava ativamente da organização do carnaval da cidade e conseguiu levar a Unidos da Vila a um ciclo em que foi campeã por oito anos consecutivos, algo que era um sonho distante para a agremiação. Em 1976, aos 32 anos, José Luiz deu uma guinada em sua vida entrando para a política, como candidato a vereador pelo MDB. Segundo ele próprio, foi justamente seu envolvimento com o futebol e com carnaval que o ajudou a se eleger, com 1.267 votos. Era o mandato de Ednardo de Paula Santos como prefeito. Em 1978, Joaquim Bevilacqua sucede Ednardo, e José Luiz é feito presidente da Câmara para o período de fevereiro de 1981 a fevereiro de 1983. E é em meio a esse período que o destino lhe dá de presente uma chance surpreendente. Em abril de 1982, tanto Bevilacqua como seu vice, Francisco Ricci, renunciam, um para ser candidato a deputado e o outro, para ser candidato a prefeito.32 O cargo é passado ao presidente da Câmara e, sem nunca imaginar que isso pudesse acontecer, José Luiz se vê prefeito de São José dos Campos. Ser vereador é uma coisa, ser prefeito é outra. À parte as questões puramente administrativas, implicações políticas negativas – mesmo em curtos nove meses – surgem a todo momento. Fazia pouco mais de três anos que a cidade perdera sua condição dúbia e mista de estância e área de segurança nacional. A fase de transição vinha sendo longa e gradual. José Luiz se recorda sem saudades dos rotineiros convites para o café da manhã com os comandantes do CTA [Centro Técnico Aeroespacial] e da 12ª Brigada de Infantaria, em Caçapava. Nesses momentos, o prefeito do carnaval e do futebol conta que passou por diversas situações de 32. Conferir esta curiosa transição nas págs. 218 e 219, onde Bevilacqua diz que Ricci seria candidato a deputado. (N. do E.)
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tensão, pois os militares lhe cobravam informações de natureza política ou administrativa. Numa dessas ocasiões, um dos comandantes recomenda ao prefeito o máximo esforço para que o partido do governo vença as eleições na cidade. “Conto com você. Não podemos perder eleições aqui”, afirma o militar. O governo federal tinha um interesse singular por São José dos Campos, comprovado por três visitas do então presidente João Baptista Figueiredo, naqueles noves meses em que José Luiz ficou à frente da prefeitura. É nesse contexto, aliás, que lhe vem o que é uma de suas piores lembranças da passagem pela prefeitura: direto da Presidência da República, pedem-lhe que sejam afastados da administração vários assessores e funcionários cujas atuações não estavam de acordo com as linhas políticopartidárias que o governo esperava. A tarefa ingrata de afastar 36 pessoas dos cargos públicos é cumprida em 15 dias pelo assessor jurídico Sérgio Bacha. Por causa dessas demissões, o prefeito e seus familiares recebem várias ameaças e precisam do apoio do serviço de segurança do Exército para proteção durante longo período. Nove meses é um tempo muito curto. Mesmo assim, o prefeito diz ter-se desdobrado para fazer pela cidade tudo o que estava ao seu alcance. “Saúde, educação e habitação foram o foco principal”, resume, herdados da estrutura de Bevilacqua e voltados para a promoção humana, em grande parte beneficiando a periferia da cidade, onde estavam os setores mais carentes da população. Ao final do mandato, diz José Luiz, a cidade contava com mais trinta salas de aula, tinha recebido o primeiro grande espaço destinado ao lazer e ao esporte, com a inauguração do Estádio João do Pulo, no Satélite, e ainda tinha visto a inauguração de obras viárias importantes, que hoje integram o anel viário, particularmente na área do Vidoca. Ainda nesse curto período, foi inaugurada uma Unidade de Pronto Atendimento no Jardim Satélite e uma Unidade Básica de Saúde chega ao Putim. Após deixar a prefeitura, em 1983, José Luiz chegou a acalentar o sonho de ser prefeito mais uma vez. Prefeito eleito. Mas essa oportunidade não surgiu. Picado pela mosca azul da política, candidata-se em 1986 a deputado federal pelo Partido Liberal, mas não se elege. Depois, tenta voltar à Câmara Municipal em 1992, pelo PMDB, também sem sucesso. Hoje, filiado ao Partido da República, já não pensa em candidatura.
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Transmissão do cargo na rampa do Paço Municipal. À esquerda de José Luiz, o secretário de Assuntos Jurídicos, Luiz Carlos Pêgas; à direita, Joaquim Bevilacqua. De óculos escuros, à esquerda de Pêgas, Isa Bevilacqua. As portas de vidro do Paço refletem as casas do outro lado da rua.
Com o presidente da República, João Baptista Figueiredo.
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Carlos Sebe Petreluzzi, dom Paulo Evaristo Arns, José Luiz, José de Castro Coimbra e Baptista Gargione Filho.
Vistoriando as obras de retificação do Vidoca.
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No Ceagesp: atrás do prefeito, de suéter preto, o vereador Macedo Bastos. Na extrema direita, o radialista Antonio Leite.
José Luiz (de gravata) encontra-se com o ex-prefeito Sobral (esquerda) na presença dos médicos Feiz de Carvalho Muçouçah, Fauze Métene (de óculos) e, no canto direito, Othon Maldos.
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O prefeito José Luiz com o deputado José de Castro Coimbra e Sérgio Bacha.
Vistoria na passagem sobre o viaduto da Nelson D’Ávila: o titular de Assuntos Jurídicos Sérgio Bacha, o prefeito José Luiz, o secretário de Obras Jorge Antonio Sawaya (de camisa listrada), Leny Bevilacqua, Ronaldo Garcia, da Urbam, e mais atrás, de camisa clara, Sabino Indelicato.
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Entrevista Iara de Carvalho: Como é que o senhor entrou para a política? José Luiz de Almeida: Eu tinha algum conhecimento na cidade, porque jogava futebol, estava sempre em contato com muita gente no meio esportivo, era comerciante e ainda gostava muito de carnaval. Isso me aproximava das pessoas. Era também amigo do Joaquim Bevilacqua, do Robson Marinho e do Hélio Augusto de Souza. Foram eles que me levaram para a política, comecei fazendo campanha para eles. Até que me convidaram a sair candidato a vereador. Fui eleito em 1976, com 1.267 votos, pelo MDB. A cidade, naquela época, tinha pouco mais de cem mil eleitores. O prefeito era o Ednardo de Paula Santos. Depois, em 1978, o Bevilacqua foi eleito prefeito, pela primeira vez depois de muitos anos sem eleição direta. Fiz meu trabalho na Câmara, como vereador, até que fui eleito presidente da Câmara para o período de fevereiro de 1981 a fevereiro de 1983. IC: O senhor acabou se tornando prefeito, pois o Bevilacqua renunciou para candidatar-se a deputado e, por incrível que pareça, o viceprefeito também renunciou. JA: Isto mesmo. Exatamente naquela oportunidade, houve prorrogação de mandato. Os vereadores eleitos em 1976, que tomaram posse em 1977 e que tinham quatro anos de mandato tiveram uma prorrogação de dois anos. Estou na presidência da Câmara e chega o período eleitoral de 1982. Bevilacqua, com seu vice, Francisco Ricci, renunciam, um para ser candidato a deputado e outro, para ser candidato a prefeito.33 O cargo fica para o presidente da Câmara, no caso, para mim. Se eu não aceitasse assumir a prefeitura, o juiz da cidade teria que assumir e cumprir o restante do mandato. Dessa maneira, acabei sendo prefeito, sem ter que disputar eleição. Um pouco antes disso, nós já havíamos mudado para o PDS, a fim de viabilizar obras e projetos, pois num partido de oposição e com a prefeitura em dificuldades financeiras, só conseguiríamos fazer alguma coisa com ajuda do governo.
33. Na pág. 219, Bevilacqua diz que sua intenção era primeiramente ser candidato ao Senado, e depois à Câmara dos Deputados. (N. do E.)
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IC: Por que tanta renúncia numa mesma época e todas elas sem nenhum resultado positivo? JA: O Bevilacqua tinha o apoio do Maluf na prefeitura e, depois, recebeu dele o apoio para renunciar. A ideia era que o Bevilacqua saísse candidato a deputado estadual, apoiando Maluf a federal e fazendo oposição ao PMDB e a Franco Montoro. Entretanto, logo depois, o Bevilacqua retirou não só a candidatura a deputado pelo PDS como o apoio político, voltando-se novamente para os candidatos do PMDB. Tentou me convencer a fazer o mesmo ou a ficar neutro. Eu recusei e houve o rompimento político. IC: Por causa das renúncias, São José dos Campos teve um período de quinze anos em que houve nada menos de sete prefeitos. Deve ter sido difícil lidar com duas renúncias ao mesmo tempo, a do Bevilacqua e a do Francisco Ricci... JA: Olha, foi uma situação bastante complicada, um processo muito demorado, muito desgastante. Principalmente no dia anterior à posse. O Bevilacqua já tinha assinado a renúncia, mas o vice ainda não. Faltavam alguns minutos para a meia-noite, e ele ainda não tinha assinado. Ele estava numa viagem, não chegava e começamos todos a ficar ansiosos, pois, se ele não assinasse, no dia seguinte era ele quem seria o prefeito.Tivemos momentos de apreensão, de muita ansiedade. Cinco minutos antes do prazo final para assinar a renúncia, Ricci chega e assina. A posse acontece às 10 horas da manhã seguinte na Câmara Municipal. A transmissão do cargo é logo depois, na entrada do Paço Municipal. IC: O que representou para o senhor o cargo de prefeito? JA: Ocupar o cargo máximo na prefeitura da cidade que me acolheu
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e que eu amo de verdade representou a realização de um sonho. Entretanto, ficar no cargo por alguns meses não fez meus olhos crescerem. Fui antes, durante e depois, a mesma pessoa. Sempre simples e humilde, com muita noção de que tudo é transitório. Tudo passa. Tenho sempre em mente um provérbio bíblico, que diz que “quem se eleva será humilhado e quem se humilha será exaltado”. Além disso, gosto muito de contar uma história que o ex-prefeito Sobral me contou. Segundo ele, antes de ser prefeito, recebia uma meia dúzia de telegramas no dia do aniversário. Quando prefeito, além daquela meia dúzia, recebia outros, centenas, milhares de telegramas. Quando deixou de ser prefeito, voltou aos mesmos seis telegramas de sempre. Essa história me marcou muito. E sei que é verdadeira.34 IC: Quais são suas melhores e piores recordações do tempo em que foi prefeito? JA: Os acontecimentos desagradáveis, as decepções, são sempre mais lembrados do que os fatos positivos. Daqueles, recordo rompimentos políticos. Destes, recordo as alegrias do carnaval, as vitórias da Unidos da Vila, a eleição de Solange Frazão... Eleita Miss São José, Solange foi Miss São Paulo, ficou em segundo no Miss Brasil e foi participar também do Miss Mundo.35 IC: Que lembranças o senhor guarda do regime militar? JA: O período em que estive no cargo foi politicamente difícil, com a transição entre o militarismo e a democracia. Além das dificuldades financeiras da prefeitura, vivemos o final da ditadura no governo Figueiredo e não era fácil administrar uma cidade que até havia pou-
34. Cf. a mesma anedota no texto sobre Sobral, na pág. 145. (N. do E.) 35. Na época, tais concursos tinham grande publicidade. (N. do E.)
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co era considerada um misto de estância e área de segurança nacional, recém-saída dessa condição mas ainda sob o regime militar que imperava no país. Tínhamos que prestar contas de alguns atos, ainda mais que os militares tinham muito interesse por São José dos Campos. Certamente pela importância tecnológica e estratégica de nosso parque industrial. Muitas vezes, tive que ir antes das 7 horas da manhã, no meu carro, para ser mais discreto, tomar o café da manhã com o comandante do CTA [Centro Técnico Aeroespacial]. Ou com o comandante da 12ª Brigada de Infantaria, em Caçapava. Eles queriam saber de tudo. Perguntavam disso, daquilo, dessa ou aquela pessoa. Eles tinham, aqui mesmo, os arquivos com os dados políticos de todos que atuavam no Vale. Perguntavam: “E fulano?” IC: Parece que o presidente Figueiredo visitou a cidade algumas vezes em seu mandato... JA: É. Ele veio aqui três vezes. Uma vez para visitar o CTA. A segunda, ele veio a um congresso nacional de jornalistas, no Sesc da avenida Adhemar de Barros. E a terceira foi para visitar a Embraer. IC: O senhor conseguiu melhorar a prefeitura? JA: Ah, consegui. Um ano depois que tinha deixado o cargo, o então prefeito Robson Marinho encheu a cidade de faixas, informando que a situação financeira da prefeitura estava recuperada, que as finanças públicas estavam reequilibradas. Ora, para mim, isso é um motivo muito grande de satisfação. Porque eu comecei a fazer um trabalho de saneamento financeiro. Administrei com as torneiras fechadas. E deixei pronto um orçamento bem feito para o próximo prefeito conseguir administrar e pagar as contas.36 IC: O senhor ficou nove meses na prefeitura. Depois se candidatou novamente. E hoje, ainda atua na política? Em que partidos o senhor esteve? JA: Depois que deixei o cargo de prefeito, havia impedimento para uma nova candidatura. Então, não pude sair naquele ano. Depois, em
36. Cf. relato de Robson Marinho, na pág. 262. (N. do E.)
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1986, eu saí candidato a deputado federal pelo PL [Partido Liberal]. Na época, o presidente nacional do PL, Afif Domingues, saiu candidato a senador da República e me pediu que anunciasse minha candidatura a deputado federal e não deixasse de participar daquelas eleições. Mas não consegui me eleger. Era um partido novo, em sua primeira eleição. Depois disso, me afastei da política e só voltei em 1992, como candidato a vereador, para atender pedidos de amigos. Nem fiz campanha. Apenas coloquei meu nome. Não me elegi. Aí, parei definitivamente. Hoje, tenho recebido muitos convites de amigos e políticos para sair candidato a vereador. Não pretendo. Estou filiado ao Partido da República, mas essa filiação é recente, não tem mais de dois meses, e ainda falta muita coisa para que eu aceite ser candidato a vereador. Pretendo, sim, participar da eleição assessorando, colaborando com os partidos, com os colegas de partido.
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CapĂtulo 11
PREFEITO OU CONSTITUINTE? Robson Marinho renunciou ao mandato para ajudar a elaborar a Carta Magna
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omo milhares de jovens de muitas cidades que, em onda migratória, vieram para a florescente cidade do automóvel estrangeiro e do avião nacional, Robson Marinho adotou São José dos Campos. Veio de Belo Horizonte, onde nasceu. Cursou o ensino médio na Escola Estadual João Cursino. Em pouco tempo, com a cancha política obtida por meio da atuação como funcionário do Sindicato do Comércio Varejista, lançou-se candidato a vereador, pelo MDB. Venceu, como venceria seis outras eleições: com folga. Tinha apenas 18 anos e foi, naquele ano de chumbo de 1968, o vereador mais jovem do país. A reeleição veio com igual facilidade, em 1972, mas não sem muito trabalho. Enquanto trabalhava e exercia o mandato de vereador, estudou Ciências Jurídicas, na Universidade do Vale do Paraíba. Está inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil sob o nº 62.183. São José dos Campos se desenvolvia de tal modo, na década de 70, que já passava a ocupar o terceiro lugar do Estado em arrecadação de ICMS. O comércio se movimentava, a indústria ganhava músculos. Foi essa cidade que Robson Marinho resolveu representar, na Assembleia Legislativa estadual, em 1974. Não só representar, mas resgatar – é da lavra desse jovem mineiro a lei 1.402, de 5 de outubro de 1977, que devolvia a autonomia política a São José dos Campos. O decreto estadual 7.007, de 12 de março de 1935, tinha feito da cidade “estância climatérica”, passando a ser administrada por prefeitos “sanitaristas” nomeados pelo Estado. Em 1958, o município recuperara a autonomia, mas perdera-a novamente em 1967, no regime militar, ficando sob tutela por ser uma “estância hidromineral”. Como diz a anedota doméstica, por ter água por baixo e mineiro por cima. Bem falante e combativo, Robson ocupou na Assembleia Legislativa de São Paulo, em dois mandatos, os postos de vice-líder (1975 a 1977) e líder (1978 a 1979) da oposição. E, entre 1979 e 1981, assumiu a presidência da Casa.
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A bordo dessa experiência, e embalado pelo feito de ter sido o autor da lei que permitia eleições diretas para prefeito, considerou sua obrigação, em 1982, candidatar-se a prefeito de São José dos Campos pelo MDB, já que os outros três candidatos, à época, eram todos da Arena, o partido do governo. Eleito – de novo com folga –, administrou a cidade entre 1983 e maio de 1986. Como prefeito, Robson procurou sanear as finanças do município, quitando dívidas e restabelecendo o crédito da cidade, e ser fiel à tradição joseense, mantendo logradouros impecavelmente limpos. Esforçouse por ampliar a rede pré-escolar, tendo negociado com o Estado para que este assumisse o ônus do ensino primário (atual fundamental). Na sua administração, em 1985, foi criada a Fundação Municipal de Cultura – hoje Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Foi de sua gestão a lei municipal 2.792/1984, que declarou o Banhado a primeira Área de Proteção Ambiental Municipal do Brasil, com base na Lei Federal 6.902/1981. Com esta lei, o Banhado ficou impedido de receber atividades industriais, comerciais, de mineração ou de serviços, e o mais importante: foi proibido o parcelamento do solo. Essa primeira decisão foi aperfeiçoada, mais tarde, segundo estudo conjunto de três pesquisadores da Universidade do Vale do Paraíba e da Universidade de Taubaté37, pelo Plano Diretor de 1995, pela Lei de Zoneamento de 1997 e pela criação da Área de Proteção Ambiental Estadual, em 2002 (Lei 11.262/2002). Sua gestão também foi marcada por uma controversa intervenção no transporte público da cidade, com o fim de realizar uma licitação que nunca ocorreu. (Em 2008, durante a preparação deste livro, foi finalizada uma concorrência e novas empresas passaram a operar o transporte público municipal.) Robson registra ter dado início a uma ampla consulta popular que resultou no que considera ter sido o primeiro real programa de governo de São José dos Campos, depois da ditadura.
37. Fantin, Marcel, Miranda, Zoraide A. I. de, e Morelli, Ademir F. Aplicação de geotecnologias na avaliação da eficácia social da Área de Proteção Ambiental do Banhado no Município de São José dos Campos - SP. Anais XIII do Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, Inpe, págs. 5199-5206.
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Com alguma modéstia, o ex-prefeito credita os avanços sociais obtidos em sua gestão aos bons préstimos do seu vice, Hélio Augusto de Souza. Habituou-se a falar no generoso plural “nós”, quando se refere à gestão municipal que encabeçou. Relata que teve o bom-senso de cumprir a sua obrigação, dando continuidade a programas já existentes, como o Cosemt (Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador). Em 1986, Robson foi eleito deputado federal constituinte após renunciar à Prefeitura de São José dos Campos para disputar essa vaga – já então pelo PMDB, nova denominação para o MDB. Mas o espinho da renúncia à prefeitura espeta-lhe a garganta até hoje. Como deputado federal constituinte (1987 a 1990), o Estatuto da Criança e do Adolescente foi citado como uma das principais leis que ajudou a elaborar. Em 1988 ajudou a criar o PSDB. Foi vice-líder do novo partido entre 1989 e 1990.38 De 1995 a 1997, foi secretário-chefe da Casa Civil do Governo Covas. Em 1997, foi indicado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Assumiu a presidência desse tribunal em 2000, em 2002 foi feito corregedor e em 2006 novamente assumiu a presidência. Homem de temperamento forte, inteligente e rápido, Robson Marinho mostrou ser polivalente: foi vereador, deputado estadual e federal, pelo Legislativo; prefeito e secretário de Estado, pelo Executivo, e agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Destacam-se, em sua vida política, posturas de modernidade. Participou da devolução da autonomia política a São José dos Campos, da criação da semente do que hoje é a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, da preservação do meio-ambiente.
38. Em 1990, disputou a reeleição à Câmara, não obtendo sucesso. (N. do E.)
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Laerte Pinto e Robson conversam. Entre os dois, ao fundo, Hélio Augusto. À direita de Robson, Marcondes Pereira.
João Leiva, então secretário de Obras do Estado; Antônio José; Robson Marinho; Antônio Carlos Rodrigues; Talmir Canuto, presidente da Fundação Cultural; e, à direita, o brigadeiro Frazão (Pedro Frazão de Medeiros Lima).
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Bouéri Neto, Robson Marinho e Ricardo Trindade, procurador do município, em visita a obra habitacional.
Robson (de paletó e gravata) e Hélio Augusto (de camisa branca) na reabertura da passagem sob a Nelson D’Ávila. Conferir foto do mesmo local na pág. 241.
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O prefeito fala a funcionários da prefeitura, tendo Bouéri Neto à sua esquerda.
Marcondes Pereira, Hélio Augusto e Robson em inauguração.
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Visita a obra: à direita, Marcondes, Bouéri Neto e Robson. À esquerda, de camisa branca e mãos nos bolsos, o secretário de Obras, Sabino Indelicato.
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Entrevista O homem que sorri e me estende a mão amistosa tem o mesmo ímpeto, a mesma voz forte e impostada e a mesma irreverência do líder estudantil de 1968. E o mesmo estilo de corte de cabelo, apesar de têlo agora embranquecido. Estamos na sala despojada da presidência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Robson Marinho guarda o leve sotaque para lhe denunciar, quem sabe de propósito, a origem: “Cê tá bão?” Nesse primeiro momento nós dois nos estudamos para decidir a melhor forma de relaxar e termos uma conversa produtiva. Resolvo ir pelo bom humor e pergunto à queima-roupa: “Cruzeiro ou Atlético Mineiro?” Ele me olha com a expressão de vitorioso e anuncia, com um quê de modéstia: “América”. Rimos, os dois, porque ele conseguiu escapar do quase inexorável binômio futebolístico de Belo Horizonte. “Quando morava em Minas, torcia pelo América. Hoje me envolvo mais com o futebol de São Paulo. Torço pelo Santos. Sou da geração Pelé. Quando eu mudei, em 1964, pra São Paulo, o time do Santos era amplamente ganhador, com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Mas o mineiro nunca deixa de ter vínculo com a sua terra. Sai de lá e vem ganhar a vida fora, mas sempre vai dizer com muito orgulho que a origem dele é mineira. Não há lugar no mundo que você vá e não encontre um mineiro. Eu brinco muito com o Aécio Neves, dizendo que mineiro bom é aquele que consegue sobreviver em Minas Gerais.
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Vencer em São Paulo é mais fácil. Quando eu nasci, e foi a mesma coisa com todos os irmãos, minha mãe cortou o cordão umbilical, enterrou e plantou em cima uma roseira. Esse ato simboliza realmente o vínculo com a terra.” “Roseira vermelha ou branca?”, eu pergunto. Robson Marinho é rápido na resposta, antevendo a possibilidade de um sentido capcioso na indagação: “Vermelha. Mas sem nenhuma conotação política.” Faz uma pausa, reflete um pouco, e admite: “No entanto a cor tem a ver com a minha origem, sim. Fui parceiro do Partidão sem nunca ter sido filiado. Companheiro de viagem. Bem entendido: quando chegasse restabelecida a democracia, cada um seguiria o seu caminho. Fui candidato a vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, a única oposição possível ao regime do general Artur da Costa e Silva. O MDB e o Partidão tinham em comum a linha ideológica da justiça social.” Como se verá no decorrer da entrevista, Robson Marinho não ganhou papas na língua, com a idade. Mas a conversa ronda ainda, por algum tempo, outros assuntos preliminares, porque esperamos a chegada da equipe que fará a gravação da entrevista em vídeo, para que no futuro sirva de documento histórico. Coisa que, aliás, Robson se apressa em dizer que faltava para São José dos Campos: a preservação da memória. Volto para assuntos mais pessoais. Afinal, preciso de um pouquinho mais de fundamentos para desenhar este perfil. E pergunto sobre o lazer preferido. “Meu sobrenome é Marinho. Sou mineiro, e em Minas não há mar. Talvez até pelo sobrenome, sou apaixonado pelo mar. Meu principal lazer é ir para a praia. Como esporte, joguei, durante muitos anos, futebol. Depois que ganhei uma certa idade, passei a jogar tênis. Não jogo mais tênis. Eu perdi, há pouco tempo, um grande amigo, lá de São José, o Adaílson, em um acidente de automóvel, que era meu parceiro. A gente jogava todas as terças-feiras. Depois da morte dele, nunca mais joguei. Hoje, como bom mineiro, sou jogador de peteca. A peteca bem jogada!” Para não perder o rumo do humor, tiro da algibeira uma historinha que circula na Internet sobre ele. É um daqueles contrapontos que
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está publicado, por exemplo, no blog do jornalista Cláudio Humberto. Repito o que li, para que ele me confirme se é verdade. Jura que é folclore. O “causo” seria assim: Robson Marinho era prefeito de São José dos Campos e estava num clube quando, de repente, um homem começou a gritar para ele: “Ladrão! Ladrão!” Marinho reagiu também aos gritos: “Ladrão! Ladrão!” Um assessor do prefeito não se conteve e aplicou um corretivo no provocador. Mas, para sua surpresa, em vez de elogios, tomou uma bronca do chefe: “Como você pôde fazer isso com o meu melhor parceiro de truco?!” Com ar bonachão, Robson Marinho ri da história e afirma novamente que é invenção. “Embora eu tenha jogado truco, mesmo. E realmente no truco você tem essas expressões: ladrão, lazarento, ladrão de igreja velha, papudo. Com estas expressões você está “trucando” o adversário, exatamente pra chamá-lo para aceitar o seu desafio, ou pra espantá-lo, fazendo com que acredite que você tem mais cartas do que na verdade tem. Mas de fato nunca existiu essa passagem que o jornalista menciona.” A lembrança dos velhos hábitos traz de volta a cidade como tema da conversa. Limpeza é uma palavra-chave no discurso de Robson Marinho, como veremos na entrevista adiante. Talvez por herança das Minas Gerais, lugar onde as mulheres zelavam e mandavam zelar pela higiene. Durante a sua gestão, São José dos Campos enfrentou alguns ciclos de desemprego. “Coisa de um mês depois que assumi, ocorreu uma grande crise em São José dos Campos. A cidade é assim: toda vez que a economia do Brasil vai bem, São José sai na frente. Quando vem uma crise, São José é a primeira a sofrer as consequências. Ela prenuncia o que vai acontecer. Pela sua indústria de alta tecnologia, com mão de obra extremamente qualificada. Historicamente, isto acontece. Em 1983, eu assumi em fevereiro, foi um grande momento de desemprego.
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Criamos inclusive uma fundação com pessoas da comunidade, membros da Associação Comercial etc., que dava cesta básica e passe para os trabalhadores desempregados poderem se locomover em busca de um novo emprego. Fizemos isto, por exemplo, com o Sindicato dos Têxteis, que enfrentava uma grande crise por causa das dificuldades financeiras da fábrica de cobertores Parahyba.” Pergunto a ele se a cidade não ficou menos vulnerável aos ventos das finanças, depois que assumiu a nova configuração de ser uma grande prestadora de serviços. Ele concorda. “Ficou, sim. Mas São José continua a ser uma cidade diferente. São José não tem pobre. Miseráveis não existem. Mas também não há ricos, embora tenhamos a melhor média salarial do Estado de São Paulo.” Interrompo para lembrar que existem três núcleos de favela na cidade. A resposta, de novo, é rápida: “É muito pouco! Compare com Campinas! E nossas favelas são bem menores do que nas outras cidades de porte semelhante.” Dá tempo para uma última pergunta, antes do começo da gravação, e quero saber se ele parou para avaliar a sua administração como prefeito. “Todas as administrações erram e acertam. É óbvio que nós cometemos vários erros. E também tivemos muitos acertos. Uma administração é boa quando acertou mais e errou menos. O julgamento é só a população que pode fazer. Eu sou muito grato à cidade de São José dos Campos, e à sua população, pela oportunidade que ofereceu a um cidadão de fora, a um mineiro, dentre tantos outros forasteiros que escolheram a cidade para viver. Casei-me em São José dos Campos, meus filhos todos nasceram em São José dos Campos. Foi um desafio fantástico ter tido a possibilidade de ser o administrador da cidade por um determinado período. Primeiro, administrar é algo que não se faz sozinho. Acho que o grande talento de um bom administrador começa pela escolha da sua equipe. Portanto, eu sou agradecido a São José dos Campos, por ter sido prefeito, e tenho consciência de que errei, mas os erros não foram deliberados. Mas peço desculpas à cidade se não pude fazer mais.” Conserta a postura, ao ver a filmadora voltada em sua direção, e olha para o relógio, com discrição. Pergunta ao cinegrafista, simpático: “Quer
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que eu levante, vire pra você? Você fala e eu obedeço!” E, como prometeu, submete-se obedientemente à sequência de perguntas que resultaram na entrevista transcrita a seguir. Você foi o vereador mais jovem do Brasil, em Joaquim Maria: 1968. Tinha 18 anos. Sentia-se pronto? Achou que fez uma boa vereança, apesar da pouca idade? Robson Marinho: À época eu era líder estudantil, secundarista. Tinha o entusiasmo próprio da minha idade, mas mais do que isso, tinha espírito público. Tanto que, à época em que me candidatei e exerci o mandato de vereador, e fui reeleito, vereador não tinha salário. Fui por seis anos vereador em São José dos Campos sem remuneração, somente por causa do espírito público. Eu trabalhava como empregado da agência de viagens Breda Turismo, e depois como funcionário de um sindicato. Mas São José dos Campos era bem menor do que é hoje. Hoje, o vereador tem que ser remunerado, porque exige-se dele dedicação exclusiva, porque as demandas são muito fortes, em razão do tamanho da cidade. Eu exerci seis mandatos populares, com uma atuação fortemente marcada por acreditar naquilo que eu estava fazendo, por convicção, por ter efetivamente espírito público. Com 18 anos, quando entrei na Câmara, lógico que eu era uma voz discordante, uma voz de oposição, e era muito mais arrojado na prática política do que aqueles que tinham mais idade. Mas é porque eu acreditava que era capaz de modificar a prática política em São José, quiçá no Estado, quiçá no Brasil. Com o mandato de vereador, eu tinha esta crença. E eu sempre dizia publicamente que, se a minha presença na vida pública não servisse para mais nada, pelo menos teria servido para impedir o ingresso de um canalha a mais. Por aí dá pra ver que eu era um oposicionista bem combativo.
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JM: Você também foi eleito prefeito muito jovem, aos 33 anos. É um fenômeno raro, atualmente. A juventude de hoje é menos preparada? Por quê? Ou na época o amadurecimento era mais precoce? RM: Mas eu já tinha passado por dois mandatos na Assembleia Legislativa, tinha sido líder e presidente da Assembleia. Ainda era um jovem, mas já tinha um amadurecimento maior, uma experiência expressiva na vida pública. Mas concordo que a juventude atual, apesar de ser mais preparada intelectualmente, não teve a possibilidade dos jovens da minha época, quando a participação na política se dava com muito maior intensidade, principalmente no período pós-1964. Com a instalação do regime militar, a juventude daquela época, com destaque para os universitários, era muito mais participativa, muito mais combativa. Lutávamos por causas claras, porque tínhamos bandeiras e acreditávamos nelas. Hoje é diferente. Os jovens têm muito mais possibilidades de preparo intelectual, mas muito pouca participação na política, até por estarem muito descrentes da atividade política. Até certo ponto, com justa razão. A imagem do político, hoje, é muito ruim. Claro que não é justo generalizar, porque, da mesma forma que temos maus políticos, temos bons políticos, temos os despreparados mas também os preparados, temos os desonestos mas também os honestos. Mas a verdade é que ninguém é político se não for pelo voto direto. Isto quer dizer que, numa câmara municipal, ou no Congresso Nacional, os vereadores e deputados são representantes do pensamento do povo. O Congresso, por exemplo, é um recorte da sociedade. JM: Isso nos leva à consideração de que os políticos que hoje enfrentam denúncias de corrupção no Congresso representam o pensamento de uma parcela significativa da sociedade. É isto o que você pensa? RM: Com certeza. Mas, evidentemente, quem escolhe maus políticos é principalmente a população de baixa condição sócio-econômica, que não pode ir para a escola e que, portanto, é mais fácil de ser ludibriada por propagandas enganosas. Penso que a educação é a única saída para desenvolvermos o País. O governo tem que dar o peixe, mas também ensinar a pescar – é um mandamento bíblico. Você deve dar o apoio social, mas do outro lado exigir a contrapartida de que a pessoa evolua, estude, se prepare, tenha uma profissão, para vencer por si só na vida.
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Mas acho que falta ao País uma oposição como a que o PT exercia na época em que não era governo, com a capacidade de mobilização que tinha e com a facilidade de fazer denúncia, fosse verdadeira ou não. O PT foi contra a Constituinte, foi contra a CPMF, contra uma série de coisas pelas quais hoje vota a favor. E era uma oposição dura, ferrenha. Os militantes iam à praça pública e gritavam: “Fora FHC!”, iam aos tribunais. Uma oposição mais atuante, mais combativa, hoje, faria com que o desempenho do governo melhorasse. O papel da oposição é este. Quem ganha tem a tarefa de governar. Quem perde, vai para a oposição, e deve fiscalizar. Os partidos políticos, hoje, à exceção do PT, têm pouco enraizamento junto à sociedade. Os cidadãos, de certo modo, estão assustados. Os homens de bem têm dificuldade em aceitar ingressar na vida pública. Temem ficar com o seu currículo chamuscado, porque a prática política predominante não aponta em boa direção. JM: Em que extensão a cidade de São José dos Campos de 2007 é resultado da administração do prefeito Robson Marinho (1983-1986)? RM: Eu acho que o grande trunfo inicial do meu mandato como prefeito foi colocar as finanças em dia. Assumi a prefeitura extremamente endividada39, sem crédito na praça, inchada com um número absurdo de funcionários, sem nenhuma capacidade de investimento. No dia da minha posse havia um montante de dívidas não pagas que equivaliam a dois orçamentos municipais. Os funcionários da prefeitura não tinham recebido ainda o salário do mês anterior. O primeiro ano e meio foi dedicado, de maneira muito forte, a reorganizar as finanças do município. Felizmente conseguimos. O orçamento de São José dos Campos cresceu de Cz$ 14 milhões (cruzados), em 1983, para Cz$ 621 milhões (cruzados), em 1986. É esta uma das contribuições que deixei, além das preocupações, sempre, com as áreas sociais. Mantive iniciativas de outros prefeitos e tomei iniciativas novas que, ainda bem, tiveram continuidade.
39. Conferir depoimento de José Luiz de Almeida, na pág. 245, em que diz que deixou um orçamento preparado para a recuperação das finanças da prefeitura. (N. do E.)
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JM: Mencione uma iniciativa a que você teve orgulho de dar sequência. RM: Manter a cidade limpa. Já faz parte do estado de espírito dos cidadãos joseenses terem uma cidade sempre limpa e arborizada, com praças bem conservadas. Esta postura é da cidade, e todos nós que viemos de fora, um dia, acabamos incorporando esse compromisso. Apesar da grande transformação industrial que ocorreu em São José, e da transformação seguinte, que levou à preponderância do setor de serviços como grande força motora da economia local, a característica de cidade limpa e bem cuidada permaneceu. JM: Mencione uma iniciativa sua que perdura ainda hoje. RM: Minha administração propôs, em agosto de 1985, numa mensagem minha à Câmara Municipal, a criação da Fundação Municipal de Cultura, que evoluiu, desde março de 1986, para o que é hoje a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, que tanto fez e continua fazendo pela cultura joseense e valeparaibana. Tenho orgulho de ter sido a minha administração a dar autonomia à política cultural de São José dos Campos.40 JM: Você disputou a eleição como representante do então MDB, contra três fortes candidatos da Arena. A que você credita a vitória? RM: Tive mais do que o dobro de votos dos três juntos. São José dos Campos, durante muitos anos, teve o prefeito nomeado. Alegadamente, por ser estância hidromineral – na verdade encobrindo a condição de área de segurança nacional. Como deputado estadual, eu tinha feito a lei que restabeleceu a autonomia política de São José dos Campos. Com isso, a cidade voltou a ter eleições diretas, e Joaquim Bevilacqua foi o candidato da oposição, na época o MDB, e se elegeu prefeito. No decorrer do mandato, ele e cinco dos nove vereadores mudaram para a Arena, para o lado do Maluf. Eu e os outros quatro vereadores permanecemos no MDB. Isso me obrigou a ser candidato a prefeito, para resgatar compromissos históricos com a cidade. Nessa condição eu me coloquei como candidato, com um diferencial para São José 40. Conferir a participação de Luiz Paulo Costa e Hélio Augusto de Souza, nas págs. 295 - 297. Nota-se que Veloso criara em 1962 a Escola de Belas Artes, como se vê na pág. 51. (N. do E.)
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dos Campos: pela primeira vez um candidato disputou a eleição tendo uma proposta de um programa de governo. Através da Fundação Pedroso Horta, a sociedade foi convidada a participar. Técnicos, engenheiros, advogados, sociólogos, foram convidados e se reuniram durante vários meses, elaborando, por escrito, uma proposta para um programa de governo.41 JM: O que continha esse programa comunitário? RM: O programa detalhava diretrizes da política de desenvolvimento urbano, como o fortalecimento da economia local e o desenvolvimento das funções urbano-rurais do município. Na política educacional, o programa fazia um diagnóstico acurado de todas as carências e deficiências do ensino público da época, e apresentava propostas em quatro grandes áreas: ampliação da rede escolar, garantia de permanência na escola dos menos favorecidos economicamente, revalorização do professor e inclusão. Na saúde, a proposta principal era descentralizar as atividades de saúde em centros comunitários, além de implantar um programa odontológico preventivo e restaurador. Na área das políticas sociais, havia três prioridades: atendimento aos menores carentes, programa habitacional de interesse social e implantação de unidades básicas de saúde. Na área de política cultural, o programa definia a criação de equipamentos culturais, implantação de alternativas para a formação de público, formas de estimular a produção artística e também como organizar a administração municipal na área da cultura. O programa de transporte tinha como princípio o transporte de produtos, melhorando as vicinais, e resolver a questão do transporte de passageiros, com a criação de um Plano Diretor de Tráfego; e outro capítulo do programa, Desenvolvimento Rural e Abastecimento; complementava a questão. A área de esportes era outra preocupação do programa, e a criação de um Plano Diretor de Esportes previa inclusive a democratização do uso dos equipamentos existentes e de outros a implantar, pelos alunos de escolas de primeiro e segundo grau. Aliás, foi em decorrência da valorização do esportista, que, em 1984, São José dos
41. Cf. pág. 206, em que Bevilacqua aponta que foi o primeiro a fazer, não um plano de governo, mas o próprio orçamento com participação popular. (N. do E.)
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Campos sagrou-se campeã da primeira edição dos Jogos Regionais do Vale do Paraíba, realizada em Cruzeiro. Lembrome claramente que o programa era encerrado com a política de preservação do meio ambiente. Na época, segundo a Cetesb, o Vale do Paraíba tinha 498 indústrias instaladas. Dessas, apenas 36 contribuíam com mais de 90% da poluição industrial lançada no rio Paraíba. E, igualmente preocupante, era que uma grande parcela da poluição do nosso rio se devia ao esgoto doméstico, por falta de infraestrutura básica de saneamento na maioria dos bairros. Em todos os comícios, programas de rádio, fui apresentando o programa, detalhando cada uma das propostas. A partir do momento em que fui eleito, 50% dos cargos de confiança foram preenchidos por pessoas do partido, de fora da administração, e mantive, nos outros 50%, aqueles funcionários públicos de carreira, que já estavam na prefeitura e tinham a vivência, a experiência da administração. E as linhas mestras desse programa de governo nortearam a nossa atuação ao longo do período em que estivemos à frente da prefeitura. Era um compromisso da administração, definindo as prioridades de acordo com a vontade do povo. JM: Você consegue enumerar, hoje, quais eram essas prioridades? RM: Sim. Na educação, por exemplo, São José dos Campos sempre se orgulhou de ter um ensino primário de muito boa qualidade. Nós preferimos manter o que existia de ensino primário, negociando com o governo do Estado para que assumisse a ampliação dessa rede, de
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modo que a administração municipal pudesse ter mais recursos para atender a pré-escola. Em 1982, a rede municipal de educação infantil tinha 3.690 alunos. Só no primeiro ano de governo, recuperamos 11 escolas e construímos sete novas escolas na zona rural. Em 1986, quando deixei a prefeitura, havíamos implantado 132 novas classes em 48 bairros, e o número de crianças atendidas tinha passado para mais de vinte mil. Era a universalização do acesso à pré-escola, já em 1986. No primeiro grau, foram mais de quinhentas classes novas. O número total de crianças atendidas, da pré-escola ao primeiro grau, passou de 81.000 estudantes – quase 30% de toda a população da época. E com uma forte valorização do profissional da educação, do professor. Foi na minha época que se fez a primeira lei de valorização de cargos e salários do magistério municipal. Isto era um compromisso claramente definido durante o período da eleição. Na área social, no atendimento a crianças carentes, que para mim é uma obrigação também da educação, oferecemos orientação a mais de 1.500 crianças no Cosemt, oitocentas das quais, com idade entre 14 e 17 anos, foram aproveitadas na prefeitura, recebendo remuneração para auxiliar na renda da família. Na saúde, a linha mestra foi a prevenção. O poder público atuava decisivamente na saúde preventiva. Atendíamos, em média, 35 mil pacientes em consultas médicas, mais do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Implantamos 56 consultórios odontológicos em escolas e em unidades de saúde, atendendo mais de seis mil pessoas por mês, inclusive na zona rural. Implantamos a UBS da Vila Industrial. Controlamos a raiva canina. Na área dos transportes, asfaltamos, em média, 1.500m2 de ruas por dia, do centro à periferia. Pavimentamos todos os corredores de transporte de ônibus. Ou seja, como o dinheiro da prefeitura não era suficiente para asfaltar todas as vias dos mais de trinta bairros que não tinham asfalto, foram pavimentadas pelo menos as pistas dos itinerários de ônibus. Assegurávamos, assim, que as pessoas chegassem pelo menos próximo de suas casas com mais rapidez – com mais rapidez e com mais limpeza. Foi nesse momento que se fez a lei municipal que define que não se pode asfaltar um metro quadrado sem antes colocar a rede de esgoto e a galeria de águas pluviais. Isto evita que a prefeitura asfalte uma via e que depois de algum tempo seja necessário arreben-
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tar o asfalto para instalação de equipamentos subterrâneos. Além de economia de serviços públicos, a saúde da população tem um ganho extraordinário por causa do saneamento que a rede de esgotos propicia. Isto é algo que não dá voto, porque está escondido embaixo da terra. Foi uma opção política, e fruto desse compromisso assumido com o programa de governo. JM: A propósito disso, você, como prefeito, tem fama de ter implantado uma rotina de governo que incluía a participação social, via conselhos municipais. Como foi essa experiência? RM: Fortalecemos muito as sociedades amigos de bairros. Também incentivamos muito as competições, as jornadas estudantis. Eu tive um vice-prefeito que era espetacular nesse aspecto social. Era o Hélio Augusto de Souza, assistente social de origem. Aliás, um dos grandes programas a que demos continuidade foi o Cosemt [Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador]. Foi a entidade que antecedeu a Fundhas [Fundação Hélio Augusto de Souza], que seria criada em 1988 e cuja primeira presidente foi a assistente social Regina Helena Oliveira Pedroso, minha secretária de Desenvolvimento Social na prefeitura. Regina faleceu recentemente, em Caraguatatuba... Não só mantivemos o programa, que já existia desde 1979, como ampliamos muito o atendimento ao menor carente. O objetivo do programa era muito diferente do do Bolsa-Família42: todo jovem de periferia que tivesse a família em dificuldades financeiras podia, dos 7 até os 18 anos, trabalhar meio-período, recebendo meio salário-mínimo pela jornada de trabalho, mas era condição essencial que estudasse, ou perdia a oportunidade. Essa prática participativa resultou em uma mobilização comunitária inédita, por meio da Jornada Inter-Bairros de Integração Comunitária. A proposta era reunir pessoas dispostas a cumprir tarefas comunitárias. Foram milhares de pessoas participando. A prefeitura distribuiu, na época, um milhão de cruzados, para serem aplicados em melhorias nos bairros, a partir das decisões de assembleias dos moradores.
42. Programa do governo federal da administração Lula, que concede uma bolsa mas não exige contrapartida dos beneficiados. (N. do E.)
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Outra mobilização notável foi a JISC [Jornada de Integração SócioDesportiva Cultural], voltada para estudantes, e realizada anualmente com cerca de dez mil participantes. Nesses eventos foram identificadas novas lideranças dentro das escolas. E o que foi mais interessante foi a redução do índice de violência. As escolas ganharam muros coloridos, em vez de muros pichados. E a cidade ficou mais alegre. JM: Você foi prefeito de uma cidade com pouco mais de 280.000 habitantes. Hoje, a cidade passa dos seiscentos mil. O crescimento demográfico ajuda uma cidade como São José dos Campos e facilita a vida de qualquer prefeito, ou dificulta? RM: Olhe, aumentou muito a arrecadação, mas por outro lado aumentaram proporcionalmente as demandas. Então, as dificuldades de hoje não diferem muito das de ontem. A minha gestão coincidiu exatamente com o momento de expansão da atividade industrial da cidade. O ICMS representava mais de 90% da arrecadação do município. Hoje, São José dos Campos tem uma atividade industrial importante, mas a prestação de serviços tem igual ou maior importância. São José dos Campos transformou-se numa grande prestadora de serviços, o que é um dos grandes indutores da cidade e da sua arrecadação financeira. Mesmo antes da minha gestão já se discutia qual o tipo de desenvolvimento que buscávamos para as nossas cidades. E a conveniência, até, de controlar o desenvolvimento populacional de uma cidade, o que acaba não se conseguindo. O ideal, a meu ver, era que as cidades de porte grande, no Brasil, tivessem no máximo 350.000 habitantes, e que tivessem respeitados os seus limites, a sua identidade. Hoje, São José e Jacareí já se confundem; do outro lado, São José com Caçapava também se confundem. Em São José dos Campos, hoje, as pessoas não se conhecem mais. Tem muita gente do bairro que nunca foi ao centro da cidade. Grande parte da população que mora na região sul da cidade, no Jardim Satélite, por exemplo, não conhece a região norte da cidade. Porque têm todas as suas necessidades atendidas no seu próprio bairro, na sua própria região. Um dos pontos importantes do nosso programa de governo era o planejamento urbano. Fizemos, por exemplo, a lei do Banhado, para garantir a preservação daquela área e impedir que fosse tomada por loteamentos. Na minha época se
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decretou a utilidade pública do prédio do antigo Sanatório Vicentina Aranha (inaugurado em 1924). A Santa Casa de São Paulo, que era a proprietária, não tinha dinheiro e começou a fatiar a área – o loteamento Jardim Apolo era uma faixa daquela área. Como a prefeitura não tinha dinheiro para comprar, até iniciamos uma negociação com o então governador Franco Montoro, que se dispôs a permutar um prédio de propriedade do Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, com o prédio do Vicentina Aranha. A negociação não foi concluída, então decretei a área como utilidade pública, para não permitir o fatiamento em loteamentos.43 Felizmente, hoje, a prefeitura adquiriu e transformou em parque colocado à disposição da população. JM: Qual foi a melhor situação para você: o entusiasmo do político jovem ou a ponderação do político maduro? RM: Cada uma a seu tempo, as duas situações foram muito importantes na minha vida pública. Creio mesmo que não teria conquistado a ponderação do político maduro e, por decorrência, os cargos ocupados, sem ter vivido com entusiasmo juvenil o início da carreira política. JM: A maturidade traz lições ou desenganos? RM: Pode-se entender a maturidade como a fase do equilíbrio, da sensatez, da ponderação. Com certeza, ela traz lições de vida que nos levam a evitar os enganos. JM: O que você acha que caracteriza a cidade de São José dos Campos?
43. Cf. comentário de Bevilacqua sobre este tema, na pág. 208. Ednardo fala do Vicentina nas págs. 179 e ss. (N. do E.)
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RM: Grande massa de profissionais qualificados, que constituem uma classe média. Isto, se é vantajoso por um lado, por outro é temerário. Você pega a Embraer, por exemplo. O próprio Ozires Silva me disse que a Embraer não podia ter mais de cinco mil pessoas – hoje tem mais de treze mil. Ou seja, perto de quarenta mil pessoas circulando em torno dos empregos da Embraer. E a razão da afirmação de Ozires é que um produto como o avião, entre a concepção, o desenvolvimento, a montagem e a homologação, leva cinco anos. É um ciclo muito longo. Ainda bem que temos a sorte de a Embraer ter sempre lançado produtos bem aceitos no mercado. E o absurdo, que espero que seja corrigido agora, é este: acabei de ir para o Canadá, e dos Estados Unidos para lá peguei um avião 190 da Embraer. Lá fora nossos aviões são muito usados na aviação regional, e aqui dentro mesmo não usamos o produto brasileiro. JM: Qual foi o maior erro que cometeu? RM: O maior erro que cometi na política foi ter renunciado parte do meu mandato como prefeito para ser candidato a deputado federal constituinte. Foi uma decisão pessoal, isolada, porque o partido, os secretários, todos eram contra, entendendo que eu devia permanecer na prefeitura e completar o meu mandato, que estava indo tão bem. Mas falou mais alto o político. Ser constituinte é uma oportunidade única na vida pública de um cidadão. Durante toda a minha trajetória política, aquela seria a única oportunidade de ser constituinte e ajudar a escrever a Constituição do meu país. Firmado nessa convicção, renunciei ao mandato e, graças ao apoio da população, me elegi. Hoje confesso que foi um erro político e, se eu pudesse voltar atrás, um mês depois eu já teria retornado à prefeitura. JM: Mas por que foi um erro político? Você contribuiu menos como constituinte do que como prefeito? RM: A população, corretamente, julgou que eu estava priorizando a ascensão da minha carreira política, em vez de cumprir o programa de governo que prometi como candidato a prefeito. Se tivesse ficado, teria tido a chance de completar o trabalho administrativo, que ficou pela metade. São José sofreu com essa interrupção. Além disso, foi um erro de estratégia política que teve consequências eleitorais posteriores.
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Você me perguntou, no início desta entrevista, se eu me sentia preparado para ser vereador, aos 18 anos. Eu respondi sim. Pergunteme se há algo de que eu me arrependa de ter feito como vereador, e eu respondo: não! Periodicamente leio os discursos que fiz, de 1968 a 1972, e, com muito orgulho, verifico que a coerência política foi uma marca expressiva que determinou o meu rumo político. No caso específico da renúncia ao mandato de prefeito, acho que foi um erro político, que eu não repetiria. JM: A censura popular à sua decisão foi uma prova de que o povo tem, sim, memória? RM: Nunca questione o resultado de uma eleição. É preciso, isto sim, tirar das urnas os ensinamentos. JM: Qual a lição que a urna nos deu, formando o Congresso atual, tão maculado por denúncias e descrédito? RM: A lição de que os valores éticos e morais da sociedade desceram muito. A quantidade de oportunistas, malandros, gente com grande capacidade de tolerar coisas erradas, é muito maior do que havia no passado. Infelizmente. JM: O poder corrompe? A bajulação irrita? RM: Não há hipótese de existir corrupção quando se trata de homem público sério, porque este não propicia oportunidade para abordagem com aquele intuito. De outro lado, o homem público sério sabe afastar a bajulação, que é sinônimo de incompetência. JM: O político tende a desconfiar de todos, ou há alguns próximos em quem pode sempre confiar? Ou é preciso estar sempre de olhos abertos? RM: Política se faz em equipe, e o grande talento do político é saber escolher os integrantes desse time, além de ter personalidade para afastar aquele que, por qualquer razão, venha a destoar do conjunto. JM: Você, em algum momento, se sentiu vítima de traição? RM: De traição política sim. E, quando ocorreu, com certeza a causa foi a falta do requisito coerência.
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JM: Qual a principal característica que você acha que um político deve ter? RM: A principal característica do político confunde-se com o principal requisito ou condição primeira para alguém estar na vida pública, que é ter espírito público, entendido este como a vontade de servir à comunidade e não a de servir-se do cargo ou do mandato. E nesse mesmo patamar coloco a coerência que o político deve manter durante a sua vida pública, seja em discursos, atos administrativos ou votações. JM: Votar mal é decorrência de falta de educação? RM: Sem dúvida. Falta de educação e de exemplo. Quer de exemplo dentro de casa, quer de exemplo na política, dos governantes. O Lula diz que não sabia nada do mensalão. Mas nunca disse por quem ele foi traído. Agora o Lula vem no Congresso do Partido dos Trabalhadores e diz que ninguém tem mais ética e moral do que o PT. Pode até ser que alguns deles sejam absolvidos, no futuro, por falta de provas. Mas politicamente esses quarenta denunciados foram condenados. A sociedade já os condenou. JM: Um político precisa fazer clientelismo, mesmo que seja só um pouco, para se eleger? RM: Não. Apesar de que alguma cultura nesse sentido ainda viceje em recantos deste país. Entendo que o político de espírito público não necessita desse expediente, bastando que mantenha coerência com seus princípios e convicções e se paute pelo conteúdo programático de seu partido, pois visão de futuro é incompatível com o imediatismo próprio do clientelismo. JM: Classificada no IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] como a 11ª melhor cidade do Estado de São Paulo, São José dos Campos é a terceira cidade no ranking da violência (segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros) no Vale do Paraíba, só perdendo para Jacareí e para Lorena. Por quê? RM: São José dos Campos tem uma localização privilegiada. Está a praticamente meio caminho entre dois grandes centros: São Paulo e Rio de Janeiro. Tem fácil acesso para o litoral norte, tem fácil acesso para a montanha e para o sul de Minas Gerais. Se isto é uma grande
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vantagem econômica, também funciona contra, no que se refere ao crime, porque o crime organizado também se instalou em São José dos Campos, pela facilidade de fuga. O crime organizado, que é o mal moderno, vamos dizer assim, afeta todas as grandes cidades do Brasil, e São José dos Campos não foge à regra. JM: Na sua época, qual era a dimensão da violência, considerando todos os aspectos do problema? RM: A segurança pública não tinha o grau de prioridade que tem hoje na preocupação das pessoas. São José dos Campos tinha índices bastante aceitáveis de criminalidade. Por isso mesmo, a segurança pública não era a prioridade da população; a prioridade era o emprego. JM: O que você não fez, mas gostaria de ter feito, como chefe do executivo em São José dos Campos? RM: Ter completado o meu mandato. Não ter renunciado, como renunciei, a parte do mandato, entusiasmado com a possibilidade de ser um deputado federal constituinte, que é uma oportunidade única na vida de um homem público. Naquele momento, contra a opinião dos meus colaboradores, dos meus assessores, prevaleceu a vontade do homem público político. JM: Por outro lado, o que você fez na prefeitura de São José dos Campos e acha que nunca deveria ter feito? RM: Não tenho lembrança específica de nada tão ruim que eu tenha feito ao ponto de dizer que eu não devesse ter feito. JM: Era difícil deixar de ter poder, perder o status, quando acabava um mandato? RM: Primeiro, apenas sofre aquele político que não percebe que a política é uma gangorra. Nem sempre se está no alto. E quando o regime que se pretende é o democrático, é da sua essência a alternância no poder. Depois, depende da índole do político. Se não abdicar de suas convicções, não só pode como deve continuar fazendo política, mesmo que não detenha cargo ou mandato eletivo. JM: Uma das suas realizações como prefeito de São José dos Campos foi
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reconhecidamente a retomada dos trabalhos no campo da habitação popular, uma demanda crescente na época, até porque São José crescia com a indústria. Mas o senhor não conseguiu resolver a questão das favelas, com essa providência, nem os prefeitos que o seguiram. O que faltou e o que ainda falta? RM: Na época em que fui prefeito, tínhamos apenas e tão-somente três núcleos de favela. Depois, esse número aumentou, porque a população da cidade também cresceu muito mais. Com o prefeito Emanuel Fernandes, São José dos Campos conseguiu reduzir novamente o número de núcleos de favela para dois ou três. São José dos Campos ainda é, com certeza, entre as cidades do seu porte, a que tem menos problemas em relação a essa questão de favelas. JM: A cidade é tida hoje como uma das mais exuberantes cidades do interior paulista, endereço de muitos investimentos. Mas há algo que ainda não esteja pronto, para suportar novos investimentos? RM: O perfil de São José dos Campos está definido. É uma cidade de tecnologia de ponta, a mais sofisticada, capital aeronáutica do país, e, por outro lado, é um polo regional prestador de serviços. Nesta última ocupação, gera a mesma quantidade de empregos que a indústria gera, ou mais, sem riscos de poluição. São José superou isso – a cidade rechaça a instalação de qualquer indústria poluente. Não sai atrás de atrair empresas a qualquer custo. JM: Há uma questão que marcou o seu período como prefeito de São José dos Campos, que foi uma intervenção no sistema de transporte público. O senhor pode detalhar o que houve? RM: Desde o seu início, nossa administração enfrentou com seriedade o problema do transporte coletivo, um dos maiores problemas com o qual a cidade se deparava, à época. A então empresa permissionária dos serviços, alegando dificuldades de ordem financeira, como forma de forçar aumento de tarifa, deixou de recolher as contribuições previdenciárias devidas, os depósitos de FGTS, ao mesmo tempo em que deixou de pagar horas extras e férias vencidas, o que provocou uma greve de seus empregados. Concomitantemente, à custa da alienação de toda a sua frota de ônibus, obteve, em diversas instituições bancárias, empréstimos que não foram saldados, o que resultou em diversas
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ações de busca e apreensão dos veículos. Ademais, durante a greve deflagrada, tomei conhecimento de que tramitavam, no Fórum, quatro pedidos de falência da empresa, fato que, inquestionavelmente, colocava em risco a continuidade da prestação dos serviços. Fui, então, obrigado a tomar a decisão de, constitucionalmente, requisitar os meios da então empresa concessionária, para possibilitar que a Prefeitura, garantindo o direito dos seus munícipes ao serviço, operasse o sistema de transporte coletivo. Determinei, ainda, que fosse acelerado o processo de estudos e, após a competente autorização legislativa, licitei a outorga de concessão dos serviços de transporte coletivo de passageiros, em três lotes distintos, como forma de quebrar o monopólio então existente. Porém, infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, por falta de concorrentes, a licitação resultou deserta. A Prefeitura operou o sistema de transporte coletivo por nove meses, até que um grupo empresarial adquiriu a empresa que detinha, a título precário, a permissão dos serviços. Após exposição das condições mínimas impostas pela Prefeitura Municipal para a operação do sistema, outorguei autorização precária para que, além da empresa que detinha a permissão precária, outras duas novas, pertencentes ao mesmo grupo, operassem o sistema, até que fosse aberta a licitação para outorga de concessão dos serviços de transporte coletivo. Esta decisão resultou num aumento de mais de 30% da frota com idade mínima de cinco anos, contra idade média superior a dez anos da frota existente. Paralelamente, aumentou-se, também, o número de linhas em operação, com o conseqüente aumento da população atendida. JM: Você é um raro caso de homem público que ocupou as funções de vereador, deputado estadual e federal, pelo Legislativo; prefeito e secretário de Estado, pelo Executivo, e agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Em qual dessas funções você prestou mais serviços ao Brasil? RM: A minha vocação é a política, e sempre foi mais de política ideológica. Foi mais marcante a minha atuação no Legislativo. Embora eu tenha gosto pelo Executivo – porque nessa condição você define as prioridades. Eu penso assim: entre uma ponte e uma escola, você tem que fazer a opção. Eu sempre fiz a opção por construir uma escola.
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Nada é mais gratificante do que o Executivo porque você toma uma decisão e em seguida já vê o resultado. Mas a minha formação, eu não posso negar, é no Legislativo. Eu fui forjado na luta contra a ditadura, numa postura claramente programática, claramente ideológica. Por isso, na luta pelo restabelecimento da democracia, eu dei uma contribuição mais acentuada. JM: A partir do momento em que você assumiu como deputado federal constituinte, decisão que já admitiu ter sido um erro político, deixou de ser um representante do Vale do Paraíba e passou a ser uma figura nacional. Qual você considera que tenha sido a sua grande contribuição para o País, como constituinte? RM: Na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, fortemente influenciado pela lembrança do professor Hélio Augusto de Souza. O trabalho que desenvolvemos no Cosemt, em São José dos Campos, o fortalecimento do atendimento à criança carente da cidade, foi coroado com a minha participação na elaboração desse Estatuto – que, pelos tempos atuais, precisa ser rediscutido; muita coisa precisa ser revisada. RM: Uma mensagem final ao cidadão que vai ver o seu depoimento, no futuro, como documento histórico.
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JM: Não posso esconder o meu orgulho por ter feito parte da história da cidade de São José dos Campos, que adotei como minha cidade. E a minha manifestação só pode ser de agradecimento pela generosidade dessa população que, por algumas décadas, me adotou como seu representante, quer no Legislativo, quer no Executivo, e que sempre me deu generosas e consagradoras votações, estimulando-me a continuar defendendo tudo aquilo em que eu acreditava na vida pública.. São José dos Campos é muito maior do que uma administração. Uma administração é um ciclo, seja de quatro anos, seja de oito anos. Claro que cada período dá a sua contribuição, quer na continuação dos programas que já estão em andamento, na educação, na saúde, na segurança pública, quer na influência pessoal do administrador para a eleição dos setores que ele vê como prioritários para a sua gestão. No meu período, a primeira contribuição foi o reequilíbrio das finanças e da credibilidade da prefeitura de São José dos Campos que estavam ameaçadas. Após ter colocado a casa em ordem, reduzido o endividamento da cidade e feito com que a administração recuperasse a capacidade de investimento, consegui me dedicar a uma área que sempre me alegrou, sempre mereceu a minha paixão, que foi a área da educação. Priorizamos a educação, em especial a ampliação da clientela atendida e o número de escolas construídas na pré-escola, e valorizamos o professor municipal. [Dou-me por satisfeito, com as respostas. Em momento algum Robson Marinho manifestou pressa, mas ao ver concluída a entrevista, agradece e levanta-se. Não sem antes se desculpar doze vezes por ter que sair correndo. Tem outro compromisso e nos deixa, depois de apertar atenciosamente a mão de cada pessoa na sala. O assessor barra-lhe o caminho e o faz assinar meia dúzia de papéis, antes que saia. E lá vai ele, a passos rápidos, vestindo no caminho o paletó.]
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NOS RASTROS DO COMETA HÉLIO Na história de Hélio Augusto, um retrato vívido do lado humano da cidade
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aquele ano de 1986, os estoques de binóculos e lunetas esgotaram-se nas lojas especializadas. O mundo inteiro caçava pelos quatro cantos do universo um cigano cósmico, o cometa Halley. De tempos em tempos, ele cisma de armar acampamento pelas bandas do planeta Terra, atraindo a atenção de todos. O conselho era observá-lo de locais altos, longe das luzes das cidades, e apontar as lentes para a constelação de Órion. Mas o mundo inteiro olhou em vão para os céus. Setenta e seis anos após sua última aparição, o cometa Halley passava de novo próximo da Terra, mas a trajetória fez com que seu núcleo de gelo sujo escondesse sua fantástica cauda de poeira e luz. Virou uma mancha pálida, perdida entre as estrelas. Nada do brilho que fascina e amedronta gerações, desde muito antes do nascimento de Cristo. Decepção! Nada menos que cinco espaçonaves foram lançadas ao seu encontro da Rússia, do Japão e da Europa. Apenas elas conseguiram vê-lo claramente. Naquele ano de 1986, exatamente no dia 10 de maio, numa cerimônia no então Cine Palácio, em frente à praça Afonso Pena, o viceprefeito de São José dos Campos, Hélio Augusto de Souza, deixava de ser vice para ser titular do Executivo joseense. Não foi uma cerimônia qualquer. Veio o governador Franco Montoro em pessoa, veio o senador Severo Gomes, Mário Covas, prefeito da capital, entre outros pesospesados, a nata do PMDB paulista. A manchete do Valeparaibano no domingo, dia 11, era: “São José de prefeito novo”. Em 1986, o Brasil acabava de virar as costas para vinte anos de chumbo grosso, fechando o ciclo da ditadura militar, de forma dramática, com a eleição, doença e morte do presidente da República, Tancredo Neves. Ele escondeu seu drama, até ser internado às pressas dias antes da posse, em 1984. Saiu do hospital para um dolorido cortejo fúnebre, ao som de Milton Nascimento e seu “Coração de Estudante”, passando por
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São Paulo, Brasília, Belo Horizonte até São João Del Rey, sua cidade natal. Feito presidente, José Sarney, então no PMDB, convocava seus fiscais para defender o Plano Cruzado, do ministro Dílson Funaro. Também Funaro entendeu que seria melhor “esconder sua doença incipiente (um câncer linfático), convicto de que, do contrário, comprometeria, com a provável imagem de fragilidade, a segurança e o vigor do próprio plano e do esforço para preservá-lo”, no entender do jornalista Jânio de Freitas. Naquele ano de 1986, fervilhavam os preparativos para a Assembleia Nacional Constituinte. Ela se propunha a rediscutir as novas bases legais da vida nacional, sufocada por vinte anos de arbítrio. Robson Marinho passava o cargo de prefeito para as mãos de Hélio Augusto para concorrer a uma vaga em Brasília. Ou seria vice-governador de Orestes Quércia, destacado para suceder Montoro? Ser ou não ser, aí a dúvida. A Constituinte falou mais forte e Robson foi eleito deputado federal. Mário Covas emplaca sua vaga de senador por São Paulo, com 7,7 milhões de votos, a maior votação da história do Brasil na época, tornandose líder do seu partido na Assembleia Nacional Constituinte. A presença maciça do PMDB paulista na posse de Hélio Augusto tinha por finalidade demonstrar coesão da cúpula em torno dos candidatos da legenda, não só para a Constituinte, mas também para o Governo do Estado, cuja eleição se daria ainda naquele ano. Em entrevista no cine Palácio, Montoro relativizava o apoio de Jânio Quadros a Orestes Quércia. Naquele ano de 1986, numa casa da rua Manoel Pedro de Carvalho, no centro de São José dos Campos – assim como na maioria das casas em todo o País –, os moradores saboreavam os capítulos finais de um dos maiores fenômenos da TV nacional, antes proibido pela censura militar. Como hoje, o autor escondia três possíveis desfechos para o triângulo Sinhozinho Malta, Viúva Porcina e Roque Santeiro, vivido por José Wilker. O ano da criança O País estava na rota da redemocratização. Aqueles dias foram chama-
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dos “da Nova República”, do cometa Halley, os jovens curtiam as bandas Camisa de Vênus e Roupa Nova. Aqueles foram os dias dos fiscais do Sarney, do confisco dos bois no pasto diante do sumiço da carne dos açougues, dias de Roque Santeiro. Mas a edição de 1º de janeiro de um dos jornais da cidade – sim, havia mais de um jornal em 1986 – abria esta manchete de primeira página: “86 será o ano da criança”. Não era bola de cristal do Valeparaibano, nem uma daquelas reportagens onde se consultam pais-de-santo e videntes sobre prognósticos para o ano que começa. Como se viu depois, Hélio Augusto já tinha caminho andado para conquistar espaços na mídia com suas propostas. Saltou dos jornais locais para a Globo, em rede nacional, em poucos meses. Assim, 1986 foi também o ano de forte mobilização da Frente Nacional em Defesa dos Direitos da Criança (FNDdC), uma ideia nascida justamente naquela casa da rua Manoel Pedro de Carvalho, no centro de São José dos Campos, residência do prefeito Hélio Augusto de Souza. Ali, Hélio desenhou o esboço da bandeira do movimento, uma bandeira brasileira estilizada com o rosto sorridente de uma criança, copiada depois pelas “empresas amigas” do menor44 . Ele mostrou o esboço para seu irmão Lídio, que aprovou a ideia. A Frente se encaixava no clima quente das discussões para a Constituinte. Na fome por democracia, pelo País inteiro surgiam comitês de debates. Cada grupo mobilizador queria abrir espaço na nova Carta Magna do País, em gestação. Essa mobilização em torno do menor se fortaleceria ainda mais em 1987, para desembocar, em 1988, na Constituição, como um capítulo inteiro sobre os Direitos da Criança e do Adolescente. Ainda vice, em 1985, Hélio havia organizado o 1º Congresso da Questão Social, onde o tema da criança e da habitação popular foram os destaques. Foi ali o lançamento da FNDdC. Na presença de um ministro da República, ele desafiava: “Funabem nunca mais, senhor ministro, feche a Funabem”. Era escudado por um secretário de Estado
44. O autor alterna entre o uso atual, “politicamente correto”, da expressão “criança e adolescente” e o termo “menor”, usual da época de que está tratando. (N. do E.)
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da Promoção Social, Carlos Alfredo Queiroz: “o único mal da Febem é ela existir”. Quanto à habitação, em 20 de agosto de 1986, ele lançava os alicerces da sua Fundação para a Habitação Popular (Funhap), juntando verba para as primeiras construções de um lote de 312 casas no Campo dos Alemães. Defensores de respeito Ele havia angariado defensores respeitáveis. Já no discurso no cine Palácio, o governador Montoro chamou a atenção para o trabalho que vinha sendo realizado nacionalmente em prol do menor abandonado. Disse que essa era uma luta de Hélio Augusto, um “homem sensível e preocupado com um dos maiores problemas do Brasil”. E mais: o próprio presidente Sarney encampava as propostas dele. Meses antes da posse de Hélio, o presidente da República visitava São José, sendo recebido pelas crianças do Cosemt [Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador]. Pouco depois, enviava Dona Marly Sarney para conhecer os trabalhos da cidade em prol da criança e do adolescente. Nos dias 26, 27 e 28 de maio, em Brasília, acontecia o 1º Encontro Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, encerrado com a presença de dom Hélder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, marco da luta contra a ditadura. “De cada dez menores brasileiros, seis são carentes”, ele dizia. Participaram do encontro 450 menores, reunidos durante três dias. O Vale do Paraíba mandou 33 menores. Na época, a Frente já havia formado comissões em seis Estados e organizava-se em outros 18. Em setembro inaugurou sede em Brasília. Em julho daquele mesmo ano, a Frente realiza o 2º Congresso da Questão Social sobre o Menor na Realidade Nacional. Profissionais ligados à questão vieram de dez Estados, representando mais de quarenta cidades. Reuniram-se no auditório do ITA. Houve quatro congressos semelhantes em dois anos – o quarto, em Brasília. A despedida do cometa Em julho daquele ano, o cometa Halley já se despedia de sua passagem
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pela Terra. Ele só foi nosso vizinho (não em órbita da Terra, pois cometa orbita o Sol) de julho de 1985 até agosto de 1986. Também em agosto, Hélio sinalizava que não estava bem. Em suas andanças por Brasília, entre uma audiência e outra, o prefeito de São José dos Campos queixava-se de fortes dores no estômago. “O grande projeto dele era a Frente Nacional. Então, viajava muito para Brasília. E uma vez fomos juntos eu, o Hélio e Maria Augusta, minha mulher, fomos no mesmo avião”. Quem conta é o professor Antônio Gervásio de Paiva Diniz, ex-diretor do Sesc, em São José, e depois o primeiro presidente da Fundação Cultural. “No aeroporto, a gente comia algo, ele não podia comer. Comeu um pedacinho de queijo e vomitou tudo, pura bílis. Pegou um Buscopan e tomou com leite. Sentou-se na poltrona do avião e ficou ali, duro, a viagem toda, para passar a dor”. O então vereador Antônio Alwan, na época membro do diretório do PMDB, conta a mesma história: “Dias antes a gente tinha ido a Brasília para uma audiência com o ministro da Previdência, sobre dívidas da Santa Casa. O Hélio não suportava mais as dores. Tivemos a audiência e voltamos. Em São José, ele fica uma semana em casa, de repouso, volta no dia 22 de setembro à prefeitura, mas se vê obrigado a... olha a coincidência. Foi no dia 23 de setembro de 1986. Hoje é 23 de setembro [dia da entrevista]. Vinte e um anos atrás, neste dia, Hélio se vê obrigado a pedir licença de trinta dias”. Tancredo Neves joseense Aquele foi um dia de reuniões, boatos, correria no 7º andar do Paço. Vicente Simão Filho, que começou a vida como gari no Cosemt e acabou servindo no 7º andar, confirma: “Aquilo parecia um formigueiro, um entra e sai...” Vicente começara a colecionar recortes de jornal sobre a crise.
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Nos recortes do Vicente Simão, os jornais entravam um tanto às cegas na história. Faltava informação, pois nem os próprios médicos tinham um diagnóstico exato, ainda. A edição de 16 de setembro do Valeparaibano manchetava: “Gastrite força Hélio a governar a cidade da cama”. Fora “nocauteado por uma colicistite aguda”. Era esse o diagnóstico até então. Antes fosse uma simples gastrite. Seu médico, dr. Faustino Nelson D’Ávila, o recriminava: “o prefeito não se cuidou corretamente. Agora ele precisa tratar-se, pois não queremos ter um ‘Tancredo Neves joseense’. Afinal, Hélio ainda tem muito o que fazer pela cidade.” Em 22 de setembro, Hélio voltava à prefeitura para assinar a lei que criou a Fundação para a Habitação Popular (Fundhap) e lançar uma cruzada antitóxicos. O prefeito entendia que a questão da criança passava pela família e família sem casa é criança na rua. Neste dia 22, ele ia enfrentar, ainda, uma crise interna com o pedido de demissão de seu secretário de Saúde, Luiz Carlos Roda, numa polêmica sobre a ampliação de número de leitos hospitalares na cidade. Hélio negociava os leitos com o Sanatório Vicentina Aranha. No óbito, carcinose Convencido pelos médicos, licenciado, interna-se no dia 24 de setembro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para uma cirurgia. Sua esposa, Paula Pinotti, levou fotos dos quatro filhos para o quarto – Edric Augusto, então com dez anos, as gêmeas Daniana e Leandra, nascidas em 1981, e Elton Augusto, de 1982. Ela se dizia “otimista”, um otimismo que ela ia buscar na seita japonesa “Seicho-no-iê”, que valoriza o pensamento positivo e a energia humana. Em 27 de setembro, o jornal já falava em um “processo infeccioso a atingir fígado e vesícula”. Antônio Alwan, seu líder na Câmara, desmentia o pedido de prorrogação da licença. “Um dia fui visitá-lo no hospital. Ele estava lendo jornais: ‘Veja só, Alwan. Estou aqui vivo e já estão discutindo no jornal quem vai me substituir’, lamentava.” Hélio recebeu alta após a cirurgia. Vicente mostra outro recorte: “Hélio tira ponto e come ovo caipira”. “O Hélio foi pra Minas com tela e tintas na mala. Era o hobby dele, pintar e escrever”, explica. Mas o “peito de aço”, como o chamavam, resistiu poucos dias após
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a saída do Einstein. Cinco meses e 17 dias após a posse, no “atestado de óbito nº 16.000 da folha 18v do livro C-75 foi lavrado o assento de Hélio Augusto de Souza, em 28 de outubro de 1986, à rua Dolzani Ricardo, 620 – Santa Casa de Misericórdia – por “coma hepática, obstrução das vias biliares, carcinose. Não deixou testamento, deixou bens e quatro filhos menores”. Quarenta mil pessoas velaram o prefeito Hélio Augusto no saguão do Paço Municipal, nos cálculos dos jornais. Quarenta mil pessoas acompanharam o enterro. Taxista, garçom... de tudo um pouco, até prefeito Contado assim, Hélio vira mesmo um cometa que passou pelos céus de São José em apenas cinco meses e 17 dias após a posse. A verdade é que o cometa Hélio teve uma trajetória bem mais longa que a do Halley e deixou rastros claros em sua passagem de 16 anos por aqui. A intenção é seguir esses rastros. Como todo cigano itinerante, o cometa Halley desmontou a tenda em agosto de 1986 e sumiu no nada. Para voltar de novo em 76 anos, no ano de 2.062. Nas contas do universo, isso é menos que um segundo. Dezesseis anos na vida de um homem é um pouco mais que isso. Hélio Augusto de Souza, brasileiro, nascido em 27 de julho de 1947, no bairro da Saúde, em São Paulo, também trazia na própria história a sina da migração, do ser itinerante. Imigrantes da Ilha da Madeira, seus pais Manoel de Souza e Ana Salvador de Souza trouxeram da ilha portuguesa para São Paulo sua tralha de bons cozinheiros e suas receitas de “espetada” de carne de vaca em espeto de louro, do rocambole de carne moída e do bolo do caco, que estão associados às feiras e arraiais. Seu irmão Lídio, hoje morando em Vitória (ES), tem a palavra: “No início, éramos uma família de 12 irmãos cujos recursos não eram poucos, mas foram consumidos com a própria manutenção”. Lucélia de Souza, outra irmã, ex-funcionária da Embraer, hoje Relações Públicas em São José, diz mais: “Papai era dono de um restaurante itinerante, desses que se montam e desmontam em feira agropecuária na região de São José do Rio Preto, Lins. Daí, o pai começou aos poucos a vender o que tinha – terrenos, casa
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de aluguel, a própria casa e, por fim, até o restaurante. E o que aconteceu? Ficamos totalmente sem nada, pobres. Cada um começou a se virar, quem já era grande”. Mas ficaram quatro pequenos. De Rio Preto, a família migrou com a mãe, de novo, para a Capital. Foi para Engenheiro Goulart, bairro de periferia, perto da Penha, onde já moravam os irmãos Roberto, taxista, e Arnaldo, cozinheiro no hotel Terminus. O pai tinha ficado em Rio Preto. “Depois da morte da mãe, em 1970, houve nova dispersão do grupo familiar.O pai fica em Rio Preto. Hélio, então com 23 anos, passou a cuidar dos irmãos menores, todos entre 11 e 15 anos, como se fosse pai.” Lucélia se emociona: “Imagina só, com 23 anos”. Nessa época, Hélio trabalhava com vendas de fogos Caramuru, correndo entre o Paraná e São Paulo. Ele já tinha feito um curso de garçom, de barman no Sesc, em Rio Preto. Lá, ainda menor de idade, foi copeiro da lanchonete do Rio Preto Automóvel Clube, passando depois a garçom.. Não só vendeu fogos. Passou a motorista de caminhão, virou vendedor de lingerie, de carnês de seguro, do Baú... Foi professor substituto em escolas isoladas, professor particular, monitor do Senac para cursos de chefia e liderança. Dos fogos Caramuru passou a taxista, dirigindo um táxi Volkswagen que lhe dava o sustento da casa. Foi quando Hélio Augusto decidiu tentar a faculdade, uma difícil decisão. Afinal, dele dependiam todos. E ele iria embora? Só com a ajuda da mãe, ele conseguiu convencer os irmãos que era preciso deixá-los. Prestou dois vestibulares, um em São Paulo e outro em São José dos Campos, na Fundação Valeparaibana de Ensino. Passou nos dois. Lucélia diz que ele optou por São José “mais para fugir da balbúrdia de São Paulo”. Em São José... Dormindo no Sesc Em São José... quem conta é o professor Antônio Gervásio de Paiva Diniz:
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“Por volta de 1968, eu implantei o Sesc, trouxe o Sesc para São José dos Campos. Era ali no Centro, na rua Capitão Ferreira Maldos, nº 43. Só bem depois fomos para a av. Adhemar de Barros, em 1976. Neste começo de implantação, o Sesc praticamente se resumia ao serviço social mesmo, fazendo jus ao nome. Ainda não tínhamos espaço para atividades maiores como esporte, lazer. Lembro que tínhamos um serviço de odontologia e assistência social. Trabalhávamos muito com estagiárias, só mulheres. Um dia, acho que em 1971, aparece um homem. ‘Tem um homem aí querendo estágio’, as mulheres disseram. Era o Hélio chegando...45 Ele tinha vindo de São José do Rio Preto”, continua Diniz, “veio indicado pelo meu irmão que era diretor do Sesc de lá, veja só. O Hélio tinha feito um curso lá, de garçom, me parece. Em São José entrou como estagiário, recebia uma bolsa pequena que ele usava para pagar a faculdade... Sem espaço para ações na sede, saíamos para os bairros. O Hélio saía com um saco nas costas, carregando rede de vôlei, bolas, uma tralha inteira para fazer recreação de rua, tinha o cinema de bairro, essas coisas. Fizemos muito isso no Telespark, na Vila Sinhá, no Jardim da Granja... o Satélite nem existia ainda.” Para o professor Diniz, “...a verdade é que o Sesc começou nesses bairros. E acho que foi aí que o Hélio se viu como organizador de comunidades. Ele tinha seus 22, 23 anos. Mas ainda era estagiário. Para melhorar a situação financeira, ele fez uma prova interna no próprio Sesc e foi efetivado, foi contratado. Ficou como auxiliar de escritório. Mas mostrava-se muito ativo. Era o tempo do mimeógrafo a álcool. Ele montava apostilas da escola e vendia para os colegas, sempre para pagar a faculdade. Não tinha mesmo recursos. Tanto que ficou morando mais de ano, ali mesmo no Sesc. Dormia lá, na sala onde trabalhava.” Tempos de fome De novo Lídio, irmão e companheiro de agruras: 45. Hélio acabaria casando-se com uma das estagiárias, Paula Pinotti.
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“Nessa época, além das óbvias dificuldades financeiras, Hélio se sentia muito sozinho em São José. Em uma de suas idas a São Paulo, acho que para o casamento do Claudião [Cláudio Mendell, hoje teatrólogo] ele conversou comigo e insistiu para que eu viesse com ele para cá... E ele não escondeu seus problemas. Ao descrever a situação, eu disse: ‘Vou, desde que tenha um trabalho’. Bem, ele não só arrumou trabalho, como conseguiu uma vaga pra mim, no João Cursino... Do Sesc, ele foi morar na casa do sr. Luiz e da dona Leontina, ali perto do cemitério do centro e perto do meu trabalho também. Nós alugamos um quartinho ali. Não era propriamente uma pensão, não tinha café, almoço, essas coisas. Foi uma época muito difícil. Tinha dias da gente passar fome. A gente comentava isso no trabalho.” No “paraíso” dos Sacilotti “Uma colega, a Neusa Sacilotti [ela merece ser lembrada nisso tudo, insiste Lídio], foi tão sensível à história que convenceu seus pais a nos acomodar na sua casa [que também não era uma pensão], mediante um pagamento simbólico, para custear despesas... Acho que ela não tem ideia da sua importância nas nossas vidas. Ela morava perto da Fundação Valeparaibana de Ensino e pra lá fomos nós, eu e o Hélio. Também ali morávamos em um quarto, nos fundos da casa. Bom... pra nós foi como entrar num paraíso. Os filhos da dona Sara e do sr. Paulo Sacilotti eram mais ou menos da minha idade. Entrávamos novamente em uma família e fomos tratados como se fôssemos da família, durante o tempo que moramos lá... Eram pessoas de um coração enorme e uma sensibilidade muito aguçada em relação aos outros. Não sei se encontraríamos esse grau de solidariedade se a situação fosse hoje. Os tempos foram difíceis, mas eu gostaria que as pessoas em condições semelhantes tivessem a felicidade de encontrar as pessoas que encontramos e as oportunidades que tivemos.”46 Neusa, claro, confirma tudo: 46. Lídio, hoje psicólogo, enviou suas respostas por escrito, via Internet.
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“Tinha dia que o Hélio dormia no carro. Eu trabalhava num escritório de contabilidade, do Laurinho, na Coronel Monteiro. O Lídio contou que não tinha onde morar... “Deixa eu contar”, interrompe dona Sara Sacilotti, mãe de Neusa: “O Lídio falou no escritório que estava com muita vontade de comer uma bela macarronada... A Neusa, então, convidou ele para uma macarronada em casa. Eu tinha sete filhos, também não estávamos bem de vida. Tínhamos vindo de Cachoeira Paulista, após perdermos nossa padaria num incêndio. Acolhemos os dois, o Hélio e o Lídio, eles ajudando com o que podiam nas despesas. Era uma casa na rua Machado Sidney, acho que nº 361. Está do mesmo jeitinho, desde 1972.” A verdade é que nem roupa os dois tinham, segundo dona Sara. “Enfiaram umas mudas numa sacola e saíram do antigo quartinho... estavam sem dinheiro. Eles ficaram um ano, só os dois, ali na nossa casa, num cômodo dos fundos. Foi quando ele conseguiu juntar um dinheirinho para se formar. Olha aqui uma foto da formatura dele, de beca e tudo.” Dona Sara lembra que “O Hélio tinha deixado uma namorada em Rio Preto e de vez em quando ia vê-la. Numa dessas visitas achou o pai abandonado, jogado numa pensão. Aí trouxe o pai para São José, ficando também ele em nossa casa. Foi em São Paulo, viu os irmãos também jogados e decidiu trazer a Lucélia, a Ana Maria e o Rubinho, todos com 11, 12 e 15 anos. No fim, éramos 15 sentados à mesa de uma casa de quatro quartos. Todos eram muito simples e alegres.” Neusa e Sara afirmam ter saudades daquela época. Neusa diz que Hélio, o pai e os irmãos homens dormiam no quarto dos fundos. Dona Sara colocou um biombo num dos quartos maiores dividindo-o em dois. Ali ficavam Neusa e as irmãs do Hélio.
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Pensão Nossa Senhora Aparecida Dona Sara ganhava seus trocados como manicure, fazendo unhas no CTA, para a esposa do coronel Ozires, do coronel Piva. “Um dia apareceu uma mulher querendo comprar minha casa e querendo vender uma pensão. Eu não vendi a casa e, mesmo sem dinheiro, acabei arrendando a pensão dela, enorme, ocupando todo o terreno onde hoje fica a Telesp, ali na rua Humaitá... Eu não entendia nada de pensão. Foi quando ‘seu’ Manoel, o pai do Hélio, ofereceu-se para ajudar. Ele tinha experiência com hotel, restaurante. Eu aprendi a cozinhar com o pai do Hélio, exímio cozinheiro.” (Neusa diz que nunca se esqueceu da receita de um rocambole de carne moída.) “Chamamos de Pensão Nossa Senhora Aparecida. O ponto era bom, ficava na esquina da Humaitá com a João Guilhermino, onde depois foi construída a Telesp. Em frente ficava a Prefeitura antiga, hoje sede do Famme. Ali abrigávamos hóspedes e servíamos refeições. A gente chegou a servir mais de duzentas marmitas ali, além de hospedar muita gente.” Tanta marmita rendeu reportagem. O Valeparaibano, em edição de 12 de março de 1978, divulgava o sucesso do empreendimento da dona Sara e ‘seu’ Manoel, com fotos de pessoas pegando marmita. Está claro que o testemunho de mãe e filha é rico para ilustrar uma fase de São José dos Campos em início de crescimento acelerado dos anos 70. Ela diz que a história de Hélio e seus irmãos não era única. “Um dia chegou um casal de médicos pediatras dizendo que tinha acabado o dinheiro para pagar o hotel. ‘A gente está para dormir no carro’, disseram. Pediam para se hospedar na pensão e eu deixava entrar. Assim foi com o Dr. Guilherme, cardiologista, a mesma coisa. Chegavam em início de vida”, diz dona Sara Sacilotti, “sem recursos. Lembra do Dr. Isaías, médico do CTA? Todo mundo ia para a pensão e hoje lembram agradecidos desta acolhida... Só que
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com o Lídio e o Hélio foi diferente. Eles passaram a fazer parte da família, moravam conosco, não na pensão, sentavam à mesa com a gente, me tratavam como mãe.” O professor Diniz e dona Maria Augusta também têm carinho de pai e mãe para com Hélio. No fim, já casado, Hélio comprou uma casa no bairro Vista Verde e levou a turma toda para lá. A célula da Breda Turismo Depois do Sesc, ainda estudante, Hélio conseguiu um emprego na Breda Turismo, sempre como auxiliar de escritório. Lá encontrou o Robson Marinho. Robson já havia despontado como liderança saída do GECA [Grêmio Estudantil Castro Alves], da escola João Cursino. Na Breda também estava o Antônio José. Na linguagem da época seria possível dizer que o escritório da Breda virou uma verdadeira célula partidária, como se vê. Eram os tempos do governo militar, o Sobral como prefeito nomeado. Robson ensaiava os primeiros passos como oposição ao prefeito interventor. Antônio Diniz conta que “o Hélio logo se identificou com o Robson. Vale lembrar que nessa época, até mesmo o trabalho de comunidade com o Sesc a gente tinha que fazer com cuidado. Se era trabalho de grupo, quer dizer, se era reunião, era suspeito. Veja só: a festa de inauguração do Sesc foi na ADC GM... uma festa, com jogos, esporte, coisas assim. E lá estavam dois agentes da Polícia Federal.” A verdade é que professor Diniz tinha histórico de prisão, vinha de Santarém, no Pará, dona Maria Augusta não se esquece. Assim, continuavam de olho nele. Dentro da toca Mas, surpresa: assim que se formou, em 1973, o Hélio foi convidado para
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a prefeitura por ninguém menos que Sérgio Sobral de Oliveira, primeiro prefeito indicado pelos militares na história de São José. À época, a cidade ainda carecia de pessoal especializado. O recém-formado foi apontado pelo professor Geraldo Vilhena como um bom aluno, tendo se tornado logo professor-assistente da mesma escola onde estudara. A indicação de Sobral para a prefeitura, em 1970, tinha pegado todas as lideranças políticas joseenses de surpresa. Quase ninguém sabia que a Constituição de 1967 determinava que os prefeitos das estâncias hidrominerais passassem a ser indicados. O título de estância estaria ligado à presença no município de uma fonte hidromineral, mas a cidade era mesmo área de segurança nacional, pela presença de instituições militares como o CTA, o IEAv e centros de pesquisa. A Petrobrás veio depois, pelo próprio Sobral.* Hélio entrou com a estranha função de “Grande Chefia”, espécie de encarregado de setor, atuando na área da Cultura, organizador de eventos, subordinado à secretária de Educação, Fátima Manfredini. “A cidade pegava fogo” Antônio Alwan, ex-vereador e, quando escrevo, assessor da Secretaria de Transportes estadual, comprova: “Meu primeiro contato com o Hélio foi nessa época. Era em 1974... eu fui pedir emprestada a Sala Veloso. A gente tinha um grupo que tocava em eventos entre 1973 e 1976 e ele, o Hélio, era da Divisão Municipal de Cultura.” Dessa época fala a irmã, Lucélia: “Ele soube levar sua criatividade para a Cultura. Mesmo sendo assistente social, soube se virar e muito bem no setor, levando um pouco a experiência de animador cultural que trouxe do Sesc. Depois de passar pelo Sesc, levando recreação nos bairros, cinema no Telespark, ele criou os Jogos de Integração Inter-Bairros, criou os Jogos das Indústrias, as praças da Cultura... * Cf. fala de Veloso sobre esse expediente na pág. 47, inclusive na nota. (N. do E.)
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“Mas o que fazia a cidade pegar fogo eram as Jornadas Estudantis de Integração Sócio-Cultural e Desportiva, JISC. Olha! Era o exemplo acabado de integração entre escolas. Os alunos faziam de tudo para participar. E não era só pelos jogos, o tal desporto. Era cultural também... Por exemplo”, esclarece a irmã, “em toda época, em toda cidade tem pichador. O Hélio criou uma disputa de murais, provas de pintura mural, com prêmio para ‘o melhor muro de escola, o mais bonito’. E disso tudo começou a aparecer artista no meio da molecada, cada mural... poesia, poetas. Tinha prêmios, até um fusquinha saiu. Entre os itens da gincana, um quadro: ‘O que as crianças esperam de nós’, sobre a expectativa dos alunos em seu contexto social... Aí ele falava: agora, vamos fazer a turminha contar a história das cidades da região... e surgiu um concurso para que se contasse a história de cada cidade, virando desfile depois, com alegorias... Resumindo, ele era educador, professor, era focado na juventude.” A ideia da Fundação “Acho que foi a partir do JISC que nasceu a Divisão de Cultura da Prefeitura”, diz Lucélia. “É, foi o embrião. Antes era algo minúsculo, um departamento. E ele queria fazer uma Fundação...” Não foi bem assim. Aqui quem toma a palavra é o Luiz Paulo Costa, à época já vereador, seu companheiro de partido. “O Sobral tinha desativado o Conselho de Cultura e o Demefe, ambos criados pelo prefeito eleito Elmano Veloso... Demefe era o Departamento Municipal de Educação Física e Esportes. Havia também um projeto de alfabetização, que foi desativado. Desativar era linguagem do estamento militar da época... Quando o Robson assumiu, eu estava no segundo mandato como vereador. Havia essa situação que a gente chamava de ‘marasmo cultural’, que não foi superada nem pelo Ednardo. Ele chegou a criar a Divisão de Cultura, onde o próprio Hélio trabalhou. Ele, o Fernando Fagundes, o... [Luiz pensa, não lembra o nome]... Foi quando nós começamos o movimento com voluntários ligados à Cultura. Era gente que gostava de teatro, de cinema, não obrigatoriamente cineastas ou músicos.
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Como vereador eu tinha um pouco de atuação nesta área... O que a gente queria era ‘recriar’ o Conselho Municipal de Cultura , ‘desativado’ pelo Sobral. O Conselho tinha um passado áureo, desde os festejos do bicentenário da cidade, em 1967, nos tempos do Veloso. Foi a 1ª Semana Cassiano Ricardo, a Semana de Arte e Cultura... Foi aí que nasceu o Conselho como estrutura colegiada, as comissões se reunindo para formular a política cultural da cidade. À frente, o professor Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro... Então, o horizonte era ‘recriar’. Mas a gente só pôde pensar isso quando o Robson assumiu a prefeitura, em 1982. Entretanto, o Hélio entendia que o caminho não era bem Conselho, mas uma fundação. Era o que ele propunha. Ele entendia que uma fundação era um meio mais eficiente de gestão, para atrair verbas... Fundação era um pouco a moda da época como hoje são as ONGs, as Oscip. Hoje se vê que não era bem assim [tão fácil trazer verbas só porque é fundação], mas...” Mas o Robson então ficou entre dois fogos, como o marisco entre as pedras e o mar. De um lado, a ideia do Conselho e do outro, seu próprio Chefe de Gabinete propondo a Fundação. Como político, ele não queria, enfim... “Um dia, como vereador eu tinha que dar uma resposta para o movimento. Eu liguei pro Hélio... ‘Olha! Nós temos que resolver essa questão, essa pendência da Cultura. Não dá para esperar mais.’ E o Hélio: ‘você quer que eu vá aí à Câmara ou você vem aqui à prefeitura?’... Eu acabei indo à prefeitura. De repente, entra o Robson e vê a gente ali reunidos, os dois... ‘Olha, o que vocês decidirem eu assino em baixo’. Eu disse: ‘Olha, Hélio, eu topo a Fundação, mas desde que eu prepare o anteprojeto’. O Hélio topou... E eu concebi a Fundação Cultural com estrutura de Conselho. Então, a Fundação acabou ficando com a estrutura das comissões das sete artes: Comissão de Música, Comissão de Artes Plásticas, de Cinema, etc... Os artistas se reuniam nessas comissões e formulavam tanto a política como as ações culturais. Cada comissão escolhia um coordenador. Entrou até uma de arquitetura. O conselho deliberativo da Fundação era, então, formado pelos coordenadores de cada co-
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missão. Robson fixou em 1% do Orçamento a verba do setor... Isso era 1984. A Fundação foi criada pelo Poder Público, mas funcionava como Direito Privado. Ainda não tinha nome. Com a morte do Cassiano Ricardo acabou virando Fundação Cultural Cassiano Ricardo.”47 O tom do discurso A partir daí, Alwan tem a memória clara sobre a trajetória do cometa Hélio nos caminhos da política propriamente dita: “Acabei me aproximando mais do Hélio na campanha de 1976, com o Robson candidato a vereador. Se não havia eleição para prefeito em São José, havia para vereador. E eu, molecote ainda, ajudei, na época como voluntário, não filiado... Ainda eram os tempos do Manda Brasa, do MDB. O MDB era então um movimento aglutinador das forças que lutavam pela democracia, o Movimento Democrático Brasileiro, assim como a Frente Liberal era uma frente que reunia forças liberais, virando depois o PFL... Já em 1978”, continua Alwan, “o Helião coordenou a campanha do Robson para deputado estadual. O Hélio era um cara superesquematizado, era um organizador nato. Ele ‘dava o tom’, o discurso da campanha. Com isso, o Robson foi um dos mais votados para a Assembleia Legislativa estadual. Robson eleito, o Hélio virou assessor parlamentar... Como deputado, Robson conseguiu restabelecer a autonomia política para São José dos Campos, quer dizer, a cidade voltou a ter o direito de escolher o seu prefeito. Aí, o Joaquim Bevilacqua foi eleito. Bevilacqua, prefeito, Coimbra, deputado federal, e o Robson, estadual.” Alwan relembra que “no MDB, o Robson e o Bevilacqua tornaram-se muito próximos. O Hélio junto. Com a primeira eleição do Bevilacqua [1979-1982], o Hélio virou Chefe de Gabinete dele.”
47. Cf. depoimento de Robson Marinho sobre a criação da Fundação Cultural, na pág. 263. (N. do E.)
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O “Manda Brasa” vira partido “Mas, ainda por essa época, por volta de 1979, 1980, começamos a articular a transformação do MDB, de um movimento para um partido de fato. Virou o PMDB. O Hélio acabou como presidente da nova sigla, o Marcondes Pereira como vice e eu, Alwan, fiquei como tesoureiro. O Luiz Paulo Costa, secretário.” Foi assim: Antônio Carlos Rodrigues foi presidente, em São José, da Fundação Pedroso Horta (hoje Ulysses Guimarães), fundada em 1981, na Capital, por um grupo de “jovens idealistas”, entre eles Robson Marinho e Hélio Augusto. No dia 3 de fevereiro de 1982, a Fundação fazia sua primeira reunião na cidade. Hélio foi eleito presidente. Rodrigues diz que “ela serviu para a formalização de propostas para um futuro governo presidido por Robson Marinho. Tinha 3 objetivos: elaborar propostas de governo mais fortes e consequentes, elaborar pesquisas para avaliar a cidade e formar quadros para o PMDB.” Daí nasceu o “Livro Amarelo”, espécie de guia básico com as propostas do PMDB para São José dos Campos. A área social tinha em Hélio um líder e defensor que queria “um governo compromissado com metas”. Hélio foi o mentor, o criador, o agente e o defensor dessas ideias. “A Fundação não teria existido aqui sem o Hélio”, diz Antônio Carlos. “Ele considerava a Fundação vital para o PMDB joseense e vital para a organização social e política. Hélio soube dar dimensão política ao seu trabalho. Nunca foi um tecnocrata do partido.” Queria ser deputado, não vice “Com a transformação em partido, já nas primeiras discussões para estruturá-lo, Bevilacqua caiu fora. Ele optou pela ruptura nessa época, 1980. Foi justamente quando casou-se com a Isa, o Paulo Maluf como padrinho dele. Ele passou para o PDS”, diz Antônio Alwan. “O Hélio, claro, estava do outro lado e também caiu fora do governo dele, continuando como assessor legislativo do Robson, na Assembleia, até a eleição do Robson para prefeito.”
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Vários depoimentos clareiam um detalhe marcante: Hélio Augusto nunca fez gestões para ser vice. “Houve uma primária no partido em abril de 1982. Em agosto foi a convenção. Já na primária ficou claro, era natural, que o Marcondes Pereira sairia para federal. Então se disputava o nome para deputado estadual. Esse, na verdade, era o desejo do Hélio, sair para deputado estadual... Houve discussão pesada. O Robson – vai lá entender – negociava com o Sobral, seu arquiinimigo de anos antes. O Sobral seria o vice. Acabou dando o inexpressivo Laerte Pinto para deputado estadual. E continuou a pendenga do vice. Houve bafafá no partido, com alguns ameaçando rompimento se o Sobral emplacasse. Até que um dia o Hélio chega e fala: ‘Relaxa, gente... eu vou ser o vice’.” Na solicitação para que a Câmara concedesse o título de cidadão joseense a Hélio Augusto, Alwan reforçava: “Eleito, ao lado de Robson Marinho, em 15 de novembro de 1982, vice-prefeito de nossa cidade, Hélio Augusto não assumiu a postura a que se entregam, tradicionalmente, os vices: colocar-se à margem dos compromissos públicos e manter-se equidistante das responsabilidades do Executivo... Não foi esse seu procedimento. Ele deixou de lado inúmeros compromissos profissionais, inclusive aquele que, segundo seu próprio depoimento, é o que mais o completa – dar aulas – para, ao lado e afinado em ideias e propósitos com seu titular, o prefeito Robson Marinho, arregaçar as mangas e buscar tirar São José do vermelho.” Em 23 de junho de 1983, Robson Riedel Marinho assina a portaria nº 147/83 designando Hélio Augusto de Souza para coordenar e supervisionar as atividades do Departamento de Promoção Humana. Ponte entre as Secretarias Ex-presidente da Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criança,
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membro do grupo de redação do Estatuto da Criança e do Adolescente, assessora convidada pelo Senado Federal para a comissão que discutiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, ex-membro da Secretaria Nacional do Fórum DCA, uma das organizadoras e primeira presidente da Fundação Hélio Augusto de Souza de São José dos Campos: este é o perfil de Regina Helena Pedroso, amiga pessoal e braço direito de Hélio Augusto, sua sucessora na Secretaria de Promoção Humana, também já falecida. O depoimento a seguir vem de uma entrevista dela ao jornal Valeparaibano: “Vi o Hélio pela primeira vez em 1969, quando começou o curso de Assistente Social. Era um rapagão de sandália nos pés, pasta preta nas mãos e aquele olhão verde, lindo. Era uma pessoa descompromissada com o instituído, quebrava o convencional, sempre ansioso em concretizar a Justiça Social”. Na entrevista, Regina Helena chamava a atenção para o trabalho de “ponte” que Hélio fazia entre as secretarias e o prefeito, a “interface” das secretarias, para que cada uma não ficasse como pasta isolada, tipo “Saúde é Saúde, não tem nada a ver com o Social”. “Não. A Saúde se inter-relaciona com o Social diariamente, como o Social se inter-relaciona com a Educação e o Esporte com a Saúde, etc... Era isso que o Hélio, como vice, buscava muito assegurar. Nós criamos até um programa chamado Programa de Integração Interna. Havia então o “bloco social” – Educação, Saúde, Esporte, Desenvolvimento Social e, claro, Comunicação Social. Insistia, inclusive, na Comunicação como proposta social de integração... O Cosemt tinha programas de menores na Saúde, com médicos sediados no Cosemt não para desenvolver uma proposta de Saúde, mas com propostas sociais. E havia a Educação para a Saúde (palestras sobre higiene, drogas, educação sexual). Isso foi uma coisa que o Hélio deixou, de suma importância, os ‘programas integrados’... As reuniões de secretariado eram realizadas uma vez em cada secretaria, para não perder a visão do todo, dentro de cada especialidade”, diz Regina.
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A criança na bandeira brasileira Naquele ano de 1986, Xuxa, com Pelé a tiracolo, despontava como rainha dos baixinhos gritando que “a vida é um doce, doce, a vida é mel”. Superfantástico! A Turma do Balão Mágico decidia “pegar carona no rabo do cometa”, exatamente o Halley. As crianças bem nascidas brincavam com o ursinho Pimpão e iam à praia ao som de xiribiribi pompom-pompom. No início de agosto daquele ano, a Rede Globo iniciava contatos com Hélio Augusto de Souza. Não, ele não iria contracenar com a Xuxa, muito menos com o Fofão. A proposta era jogar em rede nacional sua campanha pela Frente Nacional em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Os spots iriam ao ar durante a Semana da Criança, no outubro seguinte. Isso deu notícia no Valeparaibano no dia 29 de agosto: “Globo encampa teses da FNDdC”. Até então, a Frente já havia realizado onze encontros pelo País todo, e a emissora decidiu dar total apoio ao congresso nacional do movimento, que se realizaria em Brasília. Em princípio, a Coca-Cola também participaria da parte promocional do encontro, mas acabou desistindo. A Globo decidiu bancar tudo sozinha. O Hélio, claro, vibrava. Para ele “o apoio da Globo significava a vitória da Frente. Com isso ela ganhava mais peso no cenário nacional, além de consolidá-la”. Ele achou boa a desistência da Coca-Cola, pois “não via com bons olhos a participação da empresa, por não saber ao certo quais as reais intenções, a finalidade dela nesta participação.” Redação constitucional Neste 4º Encontro sobre o Menor na Realidade Nacional, em Brasília, seria elaborado o documento final contendo as propostas a serem apresentadas na Constituinte. Hélio dizia que não passariam de seis propostas. Foram nove itens. Um grupo de juristas daria uma redação constitucional. Basicamente, Hélio queria que o documento contivesse pelo menos três propostas básicas:
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a garantia de que nenhum Estado iria criar mais órgãos de atendimento às crianças, a aglutinação dos órgãos já existentes e a municipalização desse atendimento. Alwan diz que Hélio Augusto sempre foi municipalista. Que para ele ficava muito mais fácil o cidadão intervir na própria cidade. Mas que ele entendia que era preciso municipalizar também os recursos. Ele insistia que a “máquina burocrática” diluía os recursos. Para ele, diz Alwan, “a saída seria municipalizar o sistema de atendimento de forma que fosse obrigatório a implantação de programas de atendimento à criança por parte de todos os municípios brasileiros, nos moldes do que se faz com a educação regular, que dispõe de 25% do orçamento para tal fim.” Acampar na porta do BNH Ele sempre enfatizava que “dos recursos destinados pelo Governo Federal aos programas de atendimento ao menor, apenas 15% são gastos especificamente nesta tarefa. 85% se perdem na manutenção de uma gigantesca máquina burocrática. Pior: esses 15% são mal aplicados, porque não obedecem a critérios técnicos e sim, no mais das vezes, a critérios políticos.” Mas sua pregação predileta era: “Está na hora de extinguir Febens e Funabens. São esquemas próprios do Regime Militar de 1964 e que não se adequaram às propostas da Nova República. Ou se enfrenta pra valer o problema do menor, ou não se enfrenta. E se é para enfrentar, a saída é municipalizar o programa do menor, fazendo com que a própria Constituição, a exemplo do que se fez com a Educação, obrigue cada Município a aplicar um ‘x’ de seu orçamento em programas desta natureza.”
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E isso valia não só para crianças, como também para casas populares. Ele queria pegar o dinheiro do BNH para o Município, fazer casas aqui. Ele dizia: “vou lotar cem ônibus, vou acampar na porta do BNH e vamos arrancar o dinheiro na marra”. Alwan emenda: “como bom menino, claro, sem violência.” Hélio tinha consciência de que “o trabalho mais difícil da Frente começaria depois do Congresso”. Ele queria que o documento chegasse às mãos do presidente Sarney e a todos os órgãos da área social do Governo. Amarrar cada candidato às propostas... Ele orientava as comissões de frente a fazer um trabalho de base junto aos políticos de seus Estados de forma a “amarrá-los” ao compromisso de aprovar as teses da Frente e incluí-las na Constituição. Para ele “o problema do atendimento à criança é puramente político, já que não faltam recursos para isso.” Ele se mostrava preocupado, pois as eleições para governador estavam colocando a Constituinte em segundo plano e ele não sabia até que ponto os candidatos estavam comprometidos com grupos financeiros. Daí o esforço para que eles assumissem o compromisso com a Frente antes das eleições. ... até o artigo 227 Mas a trajetória do cometa Hélio quis que ele começasse a distanciarse dessa luta quando ela começava a chegar no auge da organização. A Carta à Nação foi divulgada no dia 25 de outubro de 1986. No dia 28, ele falecia. Após sua morte prematura, Regina Helena Pedroso assume a Frente. Foi criado o grupo de redação, integrado por juristas, educadores, técnicos e militantes, que elaborou, em forma de lei, as propostas recebidas. Estas propostas foram discutidas nos Estados e Municípios com a participação efetiva das entidades, meninos, meninas, militantes e técnicos. Em seguida, eram repassadas ao Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que as encaminhava ao grupo de redação e vice-versa.
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Esse processo, no entender de observadores da época, foi considerado um acontecimento único em nossa História: uma lei feita com a fundamental e efetiva participação dos vários setores da sociedade, em especial pelos seus destinatários, não dentro de gabinetes. A principal meta do Fórum foi, então, o engajamento dos diversos segmentos sociais na luta pela aprovação de duas emendas constitucionais: “Criança Constituinte” e “Criança Prioridade Nacional”. Essa última, com mais de trezentas mil assinaturas de eleitores e um milhão de assinaturas de crianças e adolescentes, possibilitou a aprovação na íntegra dos artigos da nova Constituição Federal, em outubro de 1988. O artigo 227 da nova Constituição não escamoteia sobre “o dever do Estado, da sociedade e da família em assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão”. O artigo 228 definiu a inimputabilidade penal até os 18 anos, que hoje gera polêmicas. Menor: caso para juizado Um texto da Fundação Perseu Abramo reconhece que “um dos temas a respeito dos quais a Assembleia Constituinte apresentou um claro avanço foi a questão do menor. A aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em substituição ao antigo Código do Menor, representou a reivindicação de direitos para um ser que, considerado em sua minoridade, ficava absolutamente submetido ao arbítrio dos juízes de menores, sem falar na ação da polícia e das instituições fechadas.” Depois de afirmar os direitos fundamentais da criança e do adolescente, o Estatuto cria órgãos destinados a defender esses direitos. Entre eles se situam os Conselhos da Criança e do Adolescente, em nível municipal, estadual e federal, com participação direta de entidades civis. Ao lado deles, estão os Conselhos Tutelares, com seus representantes eleitos pelo voto direto da comunidade.
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A dobradinha Covas-Robson De novo, vale o testemunho de Antônio Alwan: “Hélio tinha muita pressa, era frenético, não parava. Uma vez ele propôs sairmos a pé... de São José a São Paulo para o comício das Diretas Já, uma passeata pela Via Dutra, veja só. E lá fomos nós. Ele não parava. Assim, quando começaram as mobilizações pela Assembleia Constituinte, ele correu para garantir suas ideias centrais sobre as crianças. Para ele, a criança teria que ter algum dispositivo ali, para garantir direitos básicos.” Fundamental para esse sucesso foi o trabalho da dobradinha Mário Covas - Robson Marinho. O Robson era o vice-líder do Covas e o Covas, senador, era nada menos que o relator da Constituinte. Isso deu uma dimensão maior à luta da Frente Nacional pelos Direitos da Criança. O próprio presidente da República, o Sarney, já tinha assumido a bandeira. Assim, Hélio Augusto de Souza soube mexer com aqueles com quem era preciso mexer. A criança em São José Hélio nunca alimentou a pretensão de arvorar-se como o pioneiro na luta pela criança e adolescente, seja em São José dos Campos, seja no Brasil. Classificado como “atiradão” por todos os entrevistados, ele pode ter imprimido sua forte marca pessoal pela forma com que abraçou a bandeira da criança e lançou uma frente nacional em sua defesa. Mas a atenção que ele atraiu na mídia, como se monopolizasse o tema, até hoje gera frissons, mesmo dentro da Fundhas [Fundação Hélio Augusto de Souza], evolução do antigo Cosemt [Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador], onde ele não é considerado fundador. No caso da Fundhas, ele também não é apresentado como seu criador ou pelo menos não como o único ou, na pior reação, apenas teria cedido o nome para a entidade.
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É compreensível que cada um dos atores envolvidos na luta pelo menor defenda com garra cada gota de suor derramada para a gênese e consolidação de programas, desde as origens do Cosemt até a projeção que a Fundhas ganhou hoje. Alguns desses atores fundamentais eximiram-se mesmo de falar, deixando claro que há cicatrizes não totalmente fechadas, após uma demissão de dez assistentes sociais promovida por Hélio Augusto. De trezentos para três mil atendidos Hoje está claro: saía Joaquim Bevilacqua, então já rompido com o PMDB, entrava Robson Marinho. Hélio Augusto apressou-se a realizar um levantamento, no início de 1982, justamente na área que ele assumia, acumulando o cargo de vice-prefeito e o de assessor para o Desenvolvimento Social, aí incluído o Cosemt. Uma tiragem especial sobre o órgão, editada em 1985 por ocasião da visita da primeira-dama Marly Sarney a São José dos Campos a convite do próprio Hélio, resumia a situação, como a sentiu o vice-prefeito: “O levantamento da situação do Cosemt, no início de 1983, a pedido do professor Hélio Augusto, acusou uma situação de quase abandono do órgão. O atendimento não chegava a trezentos menores e os serviços prestados eram reduzidíssimos. O Cosemt não era prioritário” (entenda-se, para Joaquim Bevilacqua). Por ser “prioritário dentro da Administração Robson Marinho, o Cosemt foi imediatamente ativado. A reforma do prédio, reuniões com pais, reequipamento de oficinas e reorientação técnica foram medidas de emergência adotadas pela Assessoria de Desenvolvimento Social, ao lado de reabertura de vagas para a absorção de novos menores, visando ao soerguimento do Cosemt. E deu certo”, diz a publicação. Em 1984, o órgão já tinha triplicado o atendimento, “absorvendo quase 1.500 menores, de ambos os sexos. Com a ampliação do atendimento surgiu a necessidade de duplicar serviços. Foi quando nasceu o projeto da construção da nova unidade, numa área de 77.500 metros quadrados”, na zona oeste da cidade. Justamente onde hoje ergue-se a sede da Fundhas. Mas a meta era fazer o Cosemt atender até três mil menores. (A Fundhas, hoje, atende cerca de oito mil crianças e adolescentes).
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Os “fiscais do lixo” Claro, o menor sempre teve seus defensores. Fátima Manfredini, por exemplo. Secretária de Educação na gestão do prefeito Sérgio Sobral, ela ajuda a resgatar uma das primeiras tentativas de valorização do menor de rua na cidade: “O prefeito Sobral queria implantar, à época, os sacos plásticos para coleta de lixo nas ruas. Era a novidade naquele tempo, por volta de 1975. Antes só havia mesmo as latas de lixo48 ... Implantado o sistema, no entanto, começaram a surgir problemas. No dia seguinte, os sacos amanheciam rasgados. Foram enviados fiscais para montar campana porque não podia ser só os cachorros. Descobrimos que eram meninos de rua que vasculhavam o lixo em busca de sobra... O Sobral, sensibilizado, dizia: ‘vamos criar um projeto para tirar esses meninos da rua’. Conseguimos convencer um grupo deles a participar de uma reunião, conversamos com eles. Eu disse que a gente precisava deles, explicamos o objetivo e assim criamos os ‘fiscais da noite’. Eram os próprios meninos. Eles teriam carteirinha, ganhavam um valor fixo por semana, para que ninguém rasgasse os sacos de lixo.” Nesse tempo, entre 4 de outubro de 1973 e 7 de abril de 1976, nas anotações e documentos do setor de Recursos Humanos, Hélio trabalhava, seja lá o que isso signifique, na função de “Grande Chefia”, já mencionada, junto ao Departamento de Educação e Cultura, como celetista. A anotação detalhava: foram 916 dias ou 2 anos, 6 meses e 6 dias “não tendo apresentado faltas ou afastamento”. Reportagem de Plínio Marcos Fátima testemunha que... “o Hélio ainda estava ligado mais à área da cultura, não teve participação alguma nessa ideia. Ele trabalhava em eventos [por sua 48. Cf. o mesmo assunto no texto sobre Sobral, nas págs. 131 e 138. (N. do E.)
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experiência no Sesc], com o Fernando Fagundes, se não me engano. O Cosemt começou comigo, a Diná [Diná Aparecida de Freitas Vieira], a Olga... depois a Rosane [Ferreira Faria, hoje da Diretoria Técnica da Fundhas]... Foi quando criamos o ‘clubinho’, já a partir dessa turminha do lixo. O objetivo era valorizar o menino de rua, um problema forte na época, um pessoal que morava na antiga Linha Velha, Morro do Querosene, o Banhado ainda não era tanto... Não visávamos exatamente o pobre, o baixa renda, mas o menor em situação de rua.” Fátima lembra que o Plínio Marcos, esse mesmo de Navalha na Carne, o dramaturgo, chegou a fazer uma reportagem sobre a ideia do “clubinho”. O objetivo era o de “efetuar orientação social para crianças carentes, orientando-os quanto à disciplina e colaborando na formação de novos hábitos de conduta”, segundo folheto oficial da Fundhas. “Mas a história dos ‘fiscais da noite’ foi assim: na primeira noite que eles saíram às ruas, deu um quebra-pau danado, briga, porque só quem tinha participado das reuniões estava sabendo o que devia fazer. Os demais, não tinham a consciência. E achavam que era disputa pelo lixo. Já viu... Aí criamos sala de aula, não uma sala comum. Eram uns cinquenta meninos, tudo barra pesada. A Diná chegou a apartar briga de faca...”. Um artigo publicado na página 2 do jornal Valeparaibano em 2003, pelo professor Geraldo Vilhena, então diretor da Faculdade de Serviço Social na Fundação Valeparaibana de Ensino, defende a ideia de que as origens do Cosemt são mais antigas. Segundo o artigo... “Ainda em 1968, nascia o Dembes [Departamento Municipal de Bem-Estar Social], com um primeiro projeto de atendimento e de iniciação profissional a adolescentes da então conhecida favela da Linha Velha, envolvendo cerca de cem adolescentes. Vinha através de um convênio verbal que firmamos entre a prefeitura ainda com o prefeito Elmano Veloso, o CTA (diretor geral brigadeiro Paulo Victor) e o ITA (reitor Professor Lacaz)... Esse projeto, entre tran-
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cos e barrancos, no dizer do grande e saudoso Darcy Ribeiro, passou pelas fases dos “cenourinhas”49 do prefeito Sérgio Sobral, e do Programa de Menores do prefeito Ednardo.” E o Hélio com isso? Mas onde entra o Hélio nisso tudo? Há quem veja em sua própria história de dificuldades, de atribulada vida familiar, tendo que cuidar de irmãos menores, alguma razão oculta para focar suas preocupações na criança e no adolescente. Lídio, o irmão psicólogo, até poderia confirmar isso, mas não confirma. Eu pergunto: “Lídio, o que levou o Hélio a optar pela luta em defesa da criança e não do migrante, por exemplo?” E a resposta: “Acho que esta opção pela criança ocorreu em função da sensibilidade dele a um problema que assustava a todos: as pressões econômicas sobre as famílias, segundo ele, é que geravam o fenômeno do menor em situação de rua, o menor abandonado, o menor em risco. Ele mesmo sempre se definiu como ‘o assistente social que virou político’ e soube, como ninguém, dar dimensão política à sua profissão... Não acompanhei de perto a criação da Frente, mas me lembro uma vez em que ele mostrou com o maior orgulho a bandeira que ele tinha criado: era a bandeira brasileira, cujo centro ele havia modificado, colocando nela uma criança estilizada, sorrindo. Uma bandeira muito semelhante à usada, hoje, nas embalagens das empresas ‘amigas da criança’. Essa bandeira deve estar em algum depósito da prefeitura... Acho que no caso de São José dos Campos a inovação está em ter sido a primeira iniciativa oficial de um governo municipal a designar recursos não exatamente para a assistência, mas para a formação das crianças.” Lídio conclui, sem esconder a emoção: “Embora eu seja suspeito para falar, só queria deixar registrado que, apesar de ter vivido muito pouco, o Helião cumpriu uma bela mis49. Uma evolução dos tais “fiscais do lixo”.
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são, foi um cara iluminado, viveu mais para os outros do que para ele mesmo. Não se trata de ser missionário ou de humanismo barato. Trata-se de um comportamento ético e de sensibilidade às necessidades do outro. Sem dúvida, foi o melhor amigo-irmão que eu tive.” O assistente social que virou político O Hélio foi a única pessoa que teve o peito de dizer: “fechem a Febem, fechem a Funabem”, ao iniciar sua luta pela FNDdC. “Por mais ululante que pareça”, diz Regina Helena, “há que frisar que antes do Hélio ninguém se dispôs a vir a público para dizer que as propostas de atendimento social eram ‘superficiais’. Hélio foi o primeiro a ter peito de propor a desmontagem de toda a estrutura burocrática na área social em todo o Brasil... A inércia criada nessa área ao longo da história forjou um relacionamento paternalista entre atendente e atendidos, ou melhor, entre assistentes e assistidos. Se o atendimento ao migrante deixa a desejar vale dizer que, para alguns setores, os pedintes não se recuperam. Assim, uma sopinha, um pernoite e uma passagem de volta é o melhor atendimento. Não é assim com a criança, o menor, outros segmentos”, conclui. E como assistente social, segundo Alwan, “ele achava que, para transformar a sociedade, era melhor começar pela criança, pelo seu meio ambiente, a família. Tanto que criou a frase: ‘Se a criança não obtiver na família – o primeiro grupo de que participa – impressões positivas do mundo, ela jamais vai detectar as coisas boas’.” Naquela época, diz Alwan, “...falar de criança como menor abandonado era novidade... não se falava do Poder Público como garantidor de alguns direitos básicos. Criança era problema do ‘Juizado de Menores’. Já o Hélio dizia: ‘nasceu, nasceu com direitos’.”
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Os “guardinhas-mirins” “Em 1983”, diz Alwan, “fizemos uma viagem juntos, ele como vice, eu, vereador. Fomos a várias cidades, justamente para conhecer as diversas experiências em implantação para a Cultura, para a Criança, para o Idoso... Em Araraquara, vimos um trabalho muito bom com idosos que viviam num asilo mas ficaram ricos. É que os velhinhos acabaram tendo participação acionária na Companhia das Águas da cidade. Em Lins, tinha um padre com um ótimo trabalho de Organização Social, em Franca... assim por diante. Acho que o embrião da Fundação Cultural veio dessa viagem. E ele trouxe ideias básicas para a criança também... Naquela época, havia em São José os ‘guardinhas mirins’, uniformizados. Era uma entidade particular, do Rossi, onde prestavam serviços como office boys [os ‘mirinzinhos’]. O Hélio achava que crianças tinham que ser preocupação do Poder Público, não entendia muito bem a ideia dos guardinhas como entidade privada.” Frases em tintas fortes O jornalista Bouéri Neto escrevia no Jornal do Vale em 2 de novembro de 1986, após a morte do prefeito, que Hélio Augusto “sempre teve o hábito de escrever recados e frases em folhas esparsas”. Eis duas dessas frases... “É possível de se aceitar que uma criança possa ser vítima de seu próprio destino, mas é absurdo aceitar que ela se torne vítima da negligência da sociedade ou de quem a gerou”... Pode-se julgar fatalidade a morte de uma criança por acidente, daqueles inevitáveis; nunca o será a morte por fome”. Bouéri anota que “Hélio gostava de escrever carregando nas tintas, com caneta de ponta grossa, mas nos últimos meses sua letra aposta nos bilhetes já revelava sua debilidade”, com menores e moradia fundindose com sua Fundação Habitacional e Fundação para o Menor, duas frentes de batalha.
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Um arquivo vivo Vicente Simão Filho, ex-gari do Cosemt, é um arquivo vivo quando o assunto é Hélio Augusto. Nascido em 1964, na fazenda Nova América, também conhecida como Fazenda dos Martins, ali do outro lado do Banhado, depois Jockey Clube, mudou-se para o Esplanada, quando ainda nem havia o Esplanada de hoje. “Tudo ainda era parte da fazenda dos Martins”, conta. “Depois virou praça Cruzeiro do Sul, e mais depois ainda, praça Sinésio Martins.” Ali, seu Vicente, pai do Vicente Filho... “criava porco, galinha, uma renca de cabrito. Era mesmo uma pequena chácara. Foi meu pai, Vicente, quem plantou as árvores que ainda hoje tem por lá, os coqueiros. Era minha praça de infância, de subir nas árvores, era tudo mato ali. Hoje só tem casa chique. Onde a gente morava é hoje um casarão enorme, uma mansão... Isso até os dez anos, até 1974. Aí mudei pra essa casa onde estou até hoje, na rua Zacarias Silva, 53. Ali também, onde hoje passa a avenida Mário Covas, tudo era começo de nada, abandono total, sem água, sem luz. Do outro lado, começava uma invasão de área pública, que depois virou favela do Vidoca.” Ele continua: “Até que um dia, isso era o ano de 1979, eu tinha 15 anos... o Bevilacqua apareceu no bairro para inaugurar a rede de luz depois de muito sufoco para ter a iluminação. Foi quando eu criei coragem, cheguei nele e pedi um emprego... Ele disse: ‘Vai amanhã na prefeitura que tem um assistente social te esperando. Ele te ajuda’. Era o Hélio Augusto. Foi quando entrei no Cosemt: [ele pronuncia cuidadosamente palavra por palavra] Centro de Orientação SócioEducativa do Menor Trabalhador... Ali davam assistência social para as famílias e encaminhavam para os demais departamentos. Tinha desde mirinzinho [os guardinhas, na época] a engraxate, projeto feira livre e gari. Ficava assim até os 18 anos... Eu entrei como gari, com 14, 15 anos. Varri rua um ano e meio. Era um ‘cenourinha’, porque a gente vestia um uniforme cor de cenoura. Depois passava a office
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boy, fazia um curso profissionalizante. Veja só. Eu mesmo fiz datilografia, virei auxiliar de escritório, isso, auxiliar de escritório. Quando fiz 18 anos, fui contratado como funcionário público efetivo. Fiquei trabalhando no Departamento de Cultura, que funcionava onde é hoje o Seminário dos Padres, na avenida São João. Fazia serviço burocrático ali, xerox, documentação, essas coisas. E, como eu, muitos outros fizeram a mesma trajetória, muitos ainda estão aqui.” No 7º andar “Com 19 anos, acabei no 7º andar [ali funciona até hoje o Gabinete do Prefeito]. Era 1981. O Departamento de Cultura tinha se mudado para o 7º andar, mas passou a ser Comissão Permanente de Festejos. O Hélio cada vez mais engajado no projeto do menor, já havia agarrado a bandeira do menor. Ele ficava ao lado do Setor de Cultura, a gente tinha sempre contato... Nós aprendemos a andar com ele pra cima e pra baixo e eu aprendi a admirá-lo. Ele dizia: ‘eu não vou deixar faltar nada para essas crianças. Eu quero uma secretaria para a criança’. Ali todo mundo era vinculado à Secretaria de Governo, era ela quem respaldava. Daí eu comecei a acompanhar o trabalho do Hélio. E esse trabalho foi de tal forma marcante que o partido o chamou para ser vereador.” Neste ponto, Vicente se perde nas lembranças políticas... Mas Vicente se lembra claramente de um dia que o marcou: “Numa ocasião, a gente ‘tava na cantina da Fundação Cultural, perto da rua Paraibuna. A gente ‘tava comemorando o sucesso de um desfile quando a bandinha da Cosemt tinha se apresentado pela primeira vez. O Hélio tinha o maior orgulho da fanfarra... Tava lá o Fernando Fagundes, o Henrique Coutinho, a Nilza Varella, o José Borges Sobrinho e a Fátima Negreiro [note-se que o fato marcou tanto o Vicente que ele lembra nome por nome]. O Hélio ‘tava junto na mesa. Pediu um momento de oração e começamos a cear. Eu nunca tinha visto tanta comida boa... Aí, de repente, apareceu um grupo de crianças de rua, cinco. Entraram ali pedindo comida.
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Sempre tem um que levanta... levantou um – não me lembro quem – e foi enxotando: ‘sai pra lá, trombadinhas, vão embora!’... Eu disse: ‘não faz isso!’ O Hélio levantou, chamou as crianças e disse: ‘sentem aqui no meu lugar’. E colocou as cinco crianças ali na mesa com a gente, dizendo que era inadmissível aquilo, mandar as crianças embora... elas se refestelaram... O Hélio era isso... Foi quando eu passei a conviver mais de perto com ele e passei a admirá-lo. Pelo trabalho dele, pelo humanismo dele.” O testemunho, aqui, serve também para mostrar que Hélio, então Chefe de Gabinete de Bevilacqua, já influenciava em decisões como o próprio emprego de Vicente e de outros, no Cosemt. Político sabe cuidar de sua saúde? Política, no sentido estrito, é entendida como “a arte de melhorar a vida das pessoas”. Claro, isso não deveria significar piorar a vida do político, pelo menos do bom político. Se ele sempre defende “qualidade de vida” para todos, isso deveria valer, também, para quem defende o princípio. Hélio Augusto de Souza tinha sede de vida, segundo todos os depoimentos. Lucélia, sua irmã, não esconde emoção ao falar disso: “Olha, a gente está aqui falando do Hélio, agora. Aí vão dizer: ‘Ah!, depois que morre... político, etc...’ mas não é isso. Ele era aquilo, sempre foi o que mostrava ser. Era muito querido, amigão de todo mundo, amigo de festas, sempre sorriso. Era carismático... E ele era assim, na família, antes de ser político. Veja... era só entrar no quarto do Edric para ver. Ele decorou o quarto do menino, pintou um céu azulão com um sol bem grande e natureza, árvores – “tem que passar impressões positivas do mundo”, dizia ele... “Era criativo... na casa dele, tudo que tinha na casa dele ele criava, geringonças mil... ele fez um barzinho superpitoresco, num espaço minúsculo, para ele, para os amigos. Gostava de colecionar xícaras de café, xicrinhas... Carnavalesco, recebia mil convites. Todo mundo fazia ques-
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tão que ele comparecesse nos ensaios e ele passava sempre por todos. Frequentava o Luso, levava a gente, os irmãos e irmãs. E pulava junto com a gente. Veja... na época do Bevilacqua, trouxe de volta o carnaval de rua para São José... isso em São José”. Funaro e Covas no “Caipira” Mas dona Maria Augusta, esposa do professor Diniz, concorda e generaliza: “político sempre foi relaxado com a saúde. E ela lembra um episódio envolvendo a alta cúpula do PMDB, em São José dos Campos. Maria Augusta conta, com voz pausada: “Tínhamos tido uma reunião política, de cúpula, na cidade. Depois fomos para o restaurante O Caipira, o antigo Caipira. Estávamos com o Fernando Henrique, Montoro, o Covas e o Funaro, com aquele câncer linfático. O Covas já tinha passado por uma cirurgia de retirada da vesícula... O restaurante servia comida caipira, carne de porco, tudo gorduroso. Mas tinha também uma bela mesa de salada... Eu peguei a mão dos dois, do Covas, e do Funaro, e falei, caminhando para a mesa das verduras: ‘Olha, vocês dois, a mesa de vocês é essa aqui... o Covas olhou pro Funaro, riu e disse: ‘Ela tem razão, Dílson, mas vamos ficar com a mesa de lá’...” Dona Maria Augusta fala como mãe chamando a atenção do filho: “O Hélio... passava a hora de comer e continuava trabalhando, não se alimentava direto, fumando sem parar. E tomando café. Quando teve a crise mais forte, estava de novo em Brasília. E o dr. Escada com ele. Eu o via reclamando de dor, reclamando de dor, e nada de ir ao médico. O problema está aí, é que não queria ir a médico... Uma vez estávamos naquele pub da São João, o London, acho. Ele levantou-se, foi para o banheiro, vomitou e voltou branco. Isso uns seis meses antes do que passamos em Brasília. Já devia estar com o problema.”
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Não queria ir ao médico Hélio foi padrinho de casamento de Antônio Alwan e frequentavam a casa um do outro. Alwan diz que ele “Era super pai e família, curtia muito os filhos, me lembro de um móbile que ele estava fazendo para a caminha da Daniana, acho... nunca deixou de fazer as comidas dele em casa, sempre que podia; gostava de cozinhar e era um bom cozinheiro... aprendeu com o pai, claro. Ele me passou um truque que guardo até hoje, para não exagerar no sal. Você pega um punhado, enche a mão, aperta e solta no saleiro de volta. O que ficar colado na palma da mão é a dose certa de sal.” Mas, Alwan também confirma que “Ele tinha jornadas de trabalho de 12, 14 horas. ‘Esse é o meu maior defeito’, ele dizia. Deixava de se alimentar direito, fumava... café. Mas é compreensível que a rotina de um político acabe sendo corrida. A pessoa acaba negligenciando alguma coisa.” E completa: “Mas eu nem acho que seja só um problema de alimentação adequada. O problema básico é que ele não queria mesmo ir ao médico. Quando decidiu ir, abriram e já desenganaram. Era tarde, muito tarde.” Lembrei que Funaro escondeu seu mal para defender seu Plano Cruzado. Alwan concorda: “Parece que o raciocínio é esse mesmo. Se o vice do Robson tem uma doença incurável, o Robson vai sair e ele vai virar prefeito, o vice não pode mostrar-se frágil. Se fizer isso, começa o questionamento.”
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Uma Chernobil no estômago Naquele ano, em abril de 1986, um dos quatro reatores da usina de Chernobil, na Ucrânia, explodira contaminando com radioatividade 75% da Europa, no pior acidente nuclear da história, em tempos de paz. Suas consequências são sentidas ainda hoje. O dr. Faustino Nelson D’Ávila, médico e amigo pessoal do prefeito, concedeu longa entrevista de duas páginas ao Valeparaibano, guardadas no Arquivo Público do Município. Nelas, o jornalista Roberto Wagner, também muito amigo de Hélio, detalha como foram os 33 dias de agonia dele, desde a operação realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, até sua morte no dia 28 de outubro. “Hélio Augusto dava a impressão de que sentia, no fundo da alma, a gravidade da doença mas, ao mesmo tempo, tentava negá-la para se agarrar a uma esperança que a razão humana desconhece.” Pelos relatos de amigos, o prefeito passava a impressão de que “tinha uma Chernobil no estômago”, mas resistia, lúcida e heroicamente. Tanto que, antes da operação, conta dr. Faustino, “eu fui ao hospital, quando os professores estavam em greve. Veja um aspecto positivo do Hélio e que mostra sua personalidade: minha esposa, Dalva, levou a ele um abaixo-assinado de todos os políticos que faziam pressão a favor dos professores. Hélio não se negou. Leu e disse: ‘Tem algumas coisas aí que são contra o meu partido. Mas vou assinar. Eu sou, antes de tudo, professor e o serei permanentemente. Prefeito e prefeitura são coisas transitórias’. Isso mostra que ele estava lúcido e consciente e que raciocinava com espírito de brasilidade”, conclui o médico. Ritmo galopante “Para nós, médicos”, diz dr. Faustino na entrevista, “o histórico da doença começou em agosto, quando Hélio procurou o dr. Othon Ferreira Maldos. Foi feita uma simples radiografia que confirmava:
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existe uma gastrite.” Roberto Wagner registrava que ele já sentia dores desde maio e “foi ao médico no final de agosto”. O comovente relato do dr. Faustino revela o drama dos médicos e de alguns poucos amigos que já sabiam que o estado clínico do prefeito era terminal, que nunca fora uma simples gastrite. A tomografia computadorizada, na época, existia só em São Paulo “e mesmo assim, se contava nos dedos da mão”, diz dr. Faustino. “Era um procedimento caro. Hélio foi enviado ao Hospital SírioLibanês. A tomografia, então, nos deu a sentença final.Tratava-se de um tumor avançado na cauda do pâncreas, já com metástases nodulares. Isso queria dizer que o câncer já havia invadido o fígado e o pâncreas já estava parcialmente destruído. Apenas eu, o dr. Othon, a Paula, esposa do Hélio, e Carlos Sebe, chefe de gabinete, ficamos sabendo do diagnóstico. Esse segredo resolvemos guardar.” Segundo Faustino, “o câncer do pâncreas é o pior, porque fica escondido. Quando se manifesta tem um ritmo galopante.” A imprensa lembrava Tancredo Mas já estava difícil guardar segredos. A imprensa cobrava, lembrando exatamente o caso de Tancredo Neves, que foi fotografado poucos dias antes da morte como se estivesse bem, numa foto montagem junto com o mesmo dr. Pinotti que operaria o Hélio Augusto. A própria cirurgia só foi descoberta depois pelos jornalistas. O assessor de imprensa, Paulo de Tarso, justificava: “não divulgamos antes porque achávamos que não seria necessária a intervenção cirúrgica.” “A cirurgia, àquela altura”, segundo dr. Faustino, “foi apenas para ver a realidade da extensão e saber se havia a possibilidade de uma químio ou radioterapia. Mas já havia metástase em toda a cavidade abdominal e já com invasão das vias biliares, dos vasos principais do baço. Havia uma constatação que nem a tomografia tinha indicado.” Hélio nunca perguntou e por isso não lhe contaram.
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“Nós só diríamos se ele perguntasse. Ele nunca nos permitiu dar chance de uma conversa desse tipo. Não revelamos que ele era portador de um câncer”, dizia o dr. Faustino na entrevista. Um dos amigos conclui: “Mas ele era inteligente e devia saber. Seu pai também havia falecido com o mesmo mal e ele dizia que iria morrer como o pai”. Em texto publicado no Valeparaibano, Roberto Wagner revela que o dr. Faustino tinha renunciado a ser médico e decidido ser amigo. Que os médicos, é claro, tinham-no proibido de fumar, mas, numa sexta-feira, o dr. Faustino entrou no quarto... “Eu acho que ele gostava da minha visita porque eu chegava lá, ele me olhava com olhar sedento de atenção comum, não a de médico. Eu tomava um café e fumava um cigarrinho. Eu contrariava a ordem do Itamar... Ele me olhava com um olhar assim maroto, de garoto maroto, e falava: ‘doutor, me dá um cigarrinho’. Eu ria e dava a ele um cigarro.” Ainda no texto do jornal, Roberto Wagner comentou: “não era isso que iria alterar o quadro dele, não é?” “Não há dúvida”, disse Faustino. Hélio entrou em coma na madrugada de segunda para terça-feira. No final da tarde dessa terça-feira, 28 de outubro de 1986, Hélio Augusto de Souza descansou. Morte e vida, a conclusão Quem fecha essa história é o Vicente Simão Filho, o antigo gari acolhido no Cosemt por Hélio Augusto e hoje lotado na Secretaria de Transportes do município: “Um dia cheguei pra ele e disse: ‘Hélio, minha esposa está grávida’. Isso foi há 22 anos. ‘Ela fez ultrasom e é um menino. Vou colocar
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teu nome nele’, eu falei. Ele disse: ‘puxa vida: eu tenho que fazer uma bateria de exames, mas ainda vou pegar esse menino no colo, vou ser padrinho. Traz que eu batizo’. Mas a doença chegou antes, se agravou e ele não viu meu Hélio Augusto nascer... Foi quando comecei a juntar tudo que era notícia dele. Na secretaria de Governo eu não deixava passar nada dos jornais. Recortava todos e comecei a colecionar esses recortes. Outro dia pensei em me desfazer deles, mas a mulher falou: ‘não, guarda, a gente nunca sabe’. Cheguei do trabalho, ela me disse: ‘Olha, ligou um jornalista querendo saber da história do Hélio Augusto. Veja só!’... Os rastros do cometa Hélio Vicente conclui: “Eu só sei que a semente que ele plantou rendeu frutos. Como eu, hoje muitos funcionários efetivos, do quadro de carreira, são ex-cenourinhas. Ele aprimorou a filosofia de trabalho, abriu mais chances para os menores. Tanto que depois que ele morreu virou a Fundhas, com o seu nome. Ela é o que é em virtude dessa filosofia de trabalho.” O filho Edric Augusto Pinotti de Souza tinha dez anos quando o pai faleceu. Hoje, um advogado já com seus 30 anos, diz “lembrar-se de um homem que não se cansava de trabalhar”. Segundo ele, o pai o ensinou a valorizar cada conquista: “Aprendemos a valorizar tudo o que tínhamos. De um prato de comida à possibilidade de estudar. Hoje, quando vejo tantas crianças atendidas e com o mesmo sentido de valorização, a sensação é gratificante.” O Hélio era uma “usina de ideias”, dizem seus amigos e irmãos. Veja, saíram dele: A Fundação Cultural (ver relato de Luiz Paulo Costa) A Assem [Associação dos Servidores Municipais]. Naquela época a legislação não permitia sindicato de servidor.
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A reativação do Cosemt A Fundação para a Habitação Popular A volta do carnaval de rua na cidade As JISCs [Jornadas de Integração Sócio Cultural e Desportiva}. As Jornadas Inter-Bairros Os Jogos das Indústrias As praças da Cultura A Frente Nacional em Defesa da Criança A criança na Constituição E para concluir: mesmo a “galeria de ex-prefeitos”, com fotos na entrada da prefeitura50, foi ideia dele, inaugurada por ele. Só faltou apenas a publicação das biografias, como agora.
50. Hoje no auditório do andar térreo. (N. do E.)
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Um poema de Hélio Augusto: “Contemos com a Paz” Contemos com a Paz! Sonhemos com o serenar dos mares, com o cantar cadente dos pássaros, Com o passar das nuvens brancas projetadas no azulão dos céus. Sonhemos com o pôr-do-sol brilhante, com o respirar radiante. Esperemos da Vida o cessar do cinza. (No lugar do cinza) a realeza dos jardins repletos de relvas verdes, fortes, belas. Contemos com a Paz! Cremos no Mundo claro, brando... no sonhar profundo Contemos com nossa própria força. Cremos na lucidez da mente. Assim, não esperaremos a Paz como ação dos céus. Há que se vencer ainda a estupidez das guerras. Não acreditaremos na ternura eterna. Para isso, há que se vencer o egoísmo impune que se apossou dos homens. Não desejaremos risos fluindo da vã vontade de ser feliz. Há que se romper a inércia, sepultar a angústia atroz que, não pretendida, mesmo assim invade a alma de cada ser vivente, nos momentos duros deste mundo imundo de rebeldias e invejas. Contemos com a Paz, mas aquela Paz fecunda, que brote sólida da fertilidade própria dos corações dos seres viventes. Cultivemos a Paz! Conquistemos a Paz!
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Este poema estava na coleção de recortes do Vicente Simão Filho. “Contemos com a Paz”, de Hélio Augusto, foi publicado na Antologia da Poesia Joseense de 1984 e foi reproduzido na coluna do Dailor Varela, no Valeparaibano de 31 de outubro de 1986, logo após sua morte. Segundo Dailor, Hélio Augusto, para aliviar as tensões da política, escrevia poemas e pintava. “Ele sempre costumava me mandar bilhetes escritos de próprio punho sobre polêmicas e discussões levantadas pela coluna ‘Recado’. Um hábito salutar e democrático o dele.” A face humana de São José Hélio Augusto, sua vida e seu trabalho compõem um bom roteiro. Seu irmão Cláudio Souza, que só virou Cláudio Mendell, nome artístico, após o curso na Escola de Arte Dramática da ECA-USP, diz que Hélio é um personagem cinematográfico. E é. De minha parte, formado em jornalismo em 1972, vivi em São Paulo, entre redações, até 1984, tendo passado cinco anos na Amazônia. Voltei a São José, onde vive minha família, justamente no final de 1986. Não cheguei a conhecer o Hélio. O professor Diniz não escondeu: “me orgulho de ter convivido com ele”. Gostaria de tê-lo conhecido. Mas o personagem ou os personagens desta história ajudaram-me a encontrar o componente humano que sempre busco em São José dos Campos, sem achar. A cidade continua se esforçando por apresentar-se como “centro tecnológico”, geralmente frio e sem alma definida. Esta alma, como se vê pela história do Hélio, é toda remendada, uma colcha de retalhos de histórias de cada migrante que aqui chegou. Dados do IBGE – não sei se esses últimos, de 2007, ainda mantêm a informação – mostram que mais da metade, a maioria, algo em torno de 51% dos moradores joseenses, são migrantes, vieram de fora. Quem sabe não seja necessário resgatar a história da Pensão Nossa Senhora Aparecida, dirigida pela dona Sara Sacilotti, para descobrir quão rica é a contribuição dessa gente simples, de alma grande e forasteira, que batia às portas da cidade na década de 70. Um dia vou tentar.
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Da direita para a esquerda: André Franco Montoro, governador, Hélio Augusto de Souza, e José Sarney, presidente da República.
Participação do Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador Cosemt no aniversário da Cidade em 1982 na Administração José Luiz Carvalho de Almeida.
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Crianças do Cosemt trabalhando em horta em 1976, durante a administração de Ednardo de Paula Santos.
Hélio Augusto hasteia a bandeira na Praça de Esportes do CTA, durante a Fase Regional da Competição entre Escolas.
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Uma “Praça da Cultura” na administração Ednardo de Paula Santos, em 1976.
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Recebendo dona Marly Sarney. Logo atrás de Hélio Augusto de Souza está José Guido Alves Cardoso, vereador e presidente da Associação Beneficente dos Motoristas de Táxi. Veem-se ainda na foto, à esquerda, de farda, o brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, diretor do CTA, e mais atrás, Robson Marinho.
O prefeito Hélio Augusto fala durante evento da fase regional da Competição entre Escolas, fase regional, no CTA.
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O prefeito discursa na transmissão do cargo. Atrás, da esquerda para a direita: Marcondes, dona Célia, Robson Marinho, Ednardo, dona Tereza e Antônio José.
O prefeito dá uma audiência em seu gabinete. No centro da foto, David Moura, inspetor de alunos do colégio João Cursino e artista plástico.
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Visita do governador Franco Montoro à Feira do Comércio, Indústria e Turismo (Fecit), em 22/07/1983. À frente e da direita para a esquerda: André Franco Montoro, Orestes Quércia e Robson Marinho.
O prefeito se reúne com um grupo de trabalho. Na cabeceira da mesa: dr. Luiz Carlos Pêgas. À direita da mesa: Hélio Augusto de Souza e Carlos Alberto Macedo Bastos. À esquerda, de perfil, Israel Coppio.
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Hélio no gabinete do prefeito.
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Entrevista Um dia após ter sido empossado como prefeito de São José dos Campos, Hélio Augusto de Souza prestou seu depoimento ao Jornal do Vale, na seguinte entrevista: “Tenho 39 anos, sou casado, quatro filhos. Gosto de artes plásticas, de pintar quando possível, de escrever quando tenho tempo. Tenho um passado que poucas pessoas conhecem, um passado que contraria a imagem que normalmente as pessoas têm a meu respeito. Normalmente a imagem que se tem a meu respeito é a do cidadão que teve uma casa bem montada quando criança, todo estímulo do pai e da mãe, toda cobertura, um bom desenvolvimento educacional. Mas, na realidade, eu sou oriundo de uma família de 12 filhos, de pais bastante humildes. Tive uma aventura na vida: aos 14 anos eu saí de casa e tentei a vida por conta própria, enfrentando os problemas que se colocaram. Consegui concluir um curso secundário e um curso universitário. Hoje, a imagem que talvez as pessoas tenham é a de um pequeno burguês que teve todas as possibilidades de avançar na vida, mas na realidade eu enfrentei muitas dificuldades. Felizmente, consegui superar todas elas. Em São José dos Campos, estou há 16 anos. Vim para cá sem conhecer a cidade, o objetivo foi o de fazer um curso universitário, e me identifiquei com a cidade, encontrei um bom espaço para trabalho. Concluída a faculdade, passei a dar aulas na mesma escola em que estudei e, mais recentemente, fui professor-adjunto de Política Social”. do Vale: Você já foi motorista de táxi e garçom. Em que essas Jornal profissões contribuíram na sua vida política? Augusto: Eu diria que elas foram fundamentais na construção Hélio de minha proposta política. A atividade política entrou quase que por acaso na minha vida. Esse é um outro aspecto que contraria a imagem que as pessoas têm de mim, de que teria alguma tradição política. Pelo contrário, meu pai não tinha nenhuma militância e minha mãe só tinha o título de eleitor. Eu acredito que uma série de questões foram se acumulando ao longo do tempo, pelas dificuldades enfrentadas na vida, pelas injusti-
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ças sociais que a gente detectou a partir do momento em que vivenciou tais injustiças. Não foi só como garçom e motorista de táxi. Foi também como vendedor de fogos, vendedor de lingerie, vendedor de título de segurança, de saúde, carnês do Baú, da Erontex. Eu tive um passado que exigiu muita improvisação a nível de profissões e exerci aquelas que apareciam na minha frente, visando à minha subsistência. Então, essas questões todas geram a necessidade de aprofundar-se no conhecimento das questões sociais. E a atividade política é a forma mais eficiente de se poder intervir nesse processo, poder contribuir para mudanças que tornem a sociedade mais justa. Eu acredito que um dos meus papéis não é fazer política, isto é, não encerro meus objetivos na atividade política. É ter na atividade política a possibilidade de abrir canais para realizar propostas de interesse social. E é isso que eu venho fazendo ao longo desses últimos 13 anos, militando politicamente. Eu vejo na militância política a abertura de canais e não a concretização de propostas que se encerram em si para obter cargos ou posições. Não é esse o meu desejo nem meu objetivo. É abrir canais para realizar propostas de interesse comunitário, de interesse social. JV: Você tem se dedicado sobremaneira à problemática do menor e encontrou várias soluções, o que é inegável. Agora que você passa a administrar uma cidade inteira, olhando a sua problemática geral, quem é que terá sua confiança para atender ao problema do menor? O programa não será prejudicado? HA: Em nenhuma hipótese. Primeiro, porque eu não me afastarei da problemática do menor. Pelo contrário: talvez o único programa do qual eu não me afastarei em hipótese alguma é o da área do Cosemt. Eu não pretendo, ainda que exercendo a condição de prefeito do município, deixar de interferir, de acompanhar diretamente o programa dos menores. E eu já tenho recebido a colaboração de pessoas que já se dedicam ao programa. A Regina Helena de Oliveira Pedroso é uma dessas pessoas, a equipe técnica do Cosemt está imbuída desse espírito, sabe que eu não vou me distanciar, mas sabe que terá que redobrar os esforços para que o programa continue crescendo.
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No momento da minha posse, eu vou pedir licença à população para não me afastar da minha luta política em defesa da criança, com vistas à Constituinte. Minha condição de prefeito não deve e não pode me impedir de continuar essa luta. Então, nós não podemos correr esse risco de permitir o enfraquecimento dessa luta, que tem projeção nacional. Se enfraquecer, nós vamos perder essa oportunidade de influir na Assembleia Nacional Constituinte. Eu tenho a impressão que eu terei que triplicar minha força de trabalho, mas eu não vou diminuir minha dedicação. A Paula [esposa] já está informada disso, os meus filhos estão informados disso. Talvez eles tenham que se privar mais ainda do meu convívio este ano mas nós não vamos abrir mão dessa proposta. JV: Você não vai nomear ninguém para ficar no seu lugar no Cosemt? HA: Hoje eu já não tenho uma ação senão a de acompanhamento do programa e definição da filosofia de trabalho. Eu vou continuar fazendo isso. No trabalho prático dentro do Cosemt nós temos a Regina Helena e temos a equipe técnica coordenada pela Vanda. Então, não deverá haver qualquer tipo de trauma. O que nós vamos fazer é cobrar maior rendimento da equipe, porque nós queremos ampliar o atendimento ao menor, vamos trabalhar nessa direção. As nossas decisões serão no sentido de fortalecer o atendimento ao menor em São José dos Campos e o fortalecimento da Frente Nacional em defesa dos Direitos da Criança, que passa a receber agora, na figura do Robson, um defensor intransigente na medida em que é um candidato à Constituinte. JV: Falta de segurança é um dos grandes problemas do joseense. Segurança será também uma das preocupações principais de seu Governo? HA: Eu coloco três questões fundamentais como alvo da atenção da administração municipal. A primeira questão é, sem dúvida nenhuma, o trabalho que se faz de prevenção da marginalização através do atendimento à criança que, via de regra, não tem como manifestar seus potenciais. Na medida em que ampliamos a rede de ensino, a
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nível de pré-escola inclusive, nós estamos desencadeando uma ação objetivando a prevenção da ociosidade, da marginalidade e, portanto, por decorrência natural, a prevenção da criminalidade. A segunda questão é, sem dúvida, a questão da segurança. É oferecermos tranquilidade para a família, para o cidadão poder exercer seu papel social. Então, nós estamos hoje colhendo os frutos de uma crise muito prolongada e isso faz com que seja sempre crescente o índice de criminalidade. O terceiro aspecto vem exigindo uma solução em curto espaço de tempo. É a questão da habitação e o prefeito Robson Marinho se dedicou a este tema. O que nós vamos fazer é dar sequência à política de governo que o Robson implantou, notadamente nas duas primeiras áreas e tentar atacar a terceira área que, antes, não era possível. Ainda que o prefeito Robson Marinho tivesse o interesse de atacar a área habitacional, ele não tinha essa possibilidade pelas questões econômicas, pelas questões financeiras da prefeitura e por falta de áreas que pudessem ser utilizadas para esse tipo de trabalho. Em relação à Segurança especificamente, Robson conseguiu, num entendimento com a Secretaria de Segurança Pública, duplicar o contingente policial até junho e aumentar em 50% o número de viaturas hoje existentes. E nós vamos trabalhar para poder dobrar o número deixado pelo Robson; isso quer dizer que vamos fazer crescer em mais de 200% o contingente policial que hoje temos. Vamos conseguir porque temos o Robson. O Plaisant Carvalho também está fazendo um bom trabalho. JV: Os funcionários municipais reclamam de seus salários. Assim, como ficará a política de recursos humanos adotada pelo Robson Marinho? Ela está caminhando lentamente. Você dará prosseguimento às determinações? HA: Eu quero fazer um registro: quando assumimos a prefeitura, a situação mais grave que se apresentava para o prefeito Robson Marinho era a questão funcional, a questão da política de recursos humanos. Primeiro, porque a prefeitura, na época, tinha 1.500 funcionários a mais do que devia. E depois, porque os recursos financeiros para cobrir a folha de pagamento superavam a casa dos 63 % da arrecadação.
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Então, São José era um município que tinha 63% dos recursos consumidos na folha de pagamento e 45% para o pagamento a bancos privados. Era uma cidade que devia para toda a rede bancária fixa do município. Hoje a situação é bastante diferente. Hoje, os investimentos que se fazem na área de pagamento do pessoal estão em torno de 50%, a política de recursos humanos vem recebendo atenção especial por parte da administração. Se me for perguntado se o funcionário público de São José dos Campos ganha bem, eu diria que não, absolutamente não. Mas se você me perguntar se a situação é melhor do que aquela que recebemos em 1983, isso, sem sombra de dúvida é. Hoje o funcionário é respeitado, é valorizado e tem certeza do recebimento do seu salário, o que não acontecia no final de 1982 e começo de 1983. A política de salário vem recebendo atenção da administração e nós vamos dar ênfase a essa questão. Nós pretendemos, realmente, desenvolver um trabalho junto ao servidor municipal no sentido de valorizá-lo. E existe uma história por trás disso. Eu sou funcionário da prefeitura desde 1973. Já fui encarregado de setor, chefe de divisão, diretor de departamento, secretário municipal, vice-prefeito e agora tenho o privilégio de ser prefeito. Então, eu tenho toda uma história de servidor público, o que por si só demonstra que eu respeito o funcionário público. JV: Na prefeitura corre um abaixo-assinado em favor do Plano de Classificação dos funcionários em função de seu tempo de serviço, prometido pelo prefeito Robson Marinho e nunca cumprido. Será que existe uma prevenção da administração contra os funcionários mais antigos? HA: Eu sou amplamente favorável ao Plano de Carreira, a uma remuneração mais digna do funcionário, inclusive levando-se em conta sua experiência, seu tempo de serviço. Acho que o Plano de Carreira deve ser executado no mais curto espaço de tempo. Nós vamos de imediato assumir isso, juntamente com a Associação dos Servidores Municipais, para abreviar a concretização do Plano de Carreira. Deveremos levar em conta as questões orçamentárias da prefeitura, o decreto-lei da reforma econômica, mas o Plano de Carreira sairá.
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Capítulo 13
UM MANDATO INESPERADO Antônio José assume a prefeitura com a morte do amigo Hélio Augusto
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ntônio Mendes de Carvalho, já tinha fixado residência com a família no bairro de Santana quando, no dia 2 de março de 1955, seu filho Antônio José Mendes Faria veio ao mundo. A criança nasceu em Pedralva, MG, cidade para onde a mãe viajara a fim de dar à luz pelas mãos de sua própria mãe, parteira de reconhecida competência na região. Trazido alguns dias depois para São José dos Campos, o menino daqui nunca mais se mudou. Antônio José teve uma infância tranquila, brincando de bola, torcendo pelo Santos Futebol Clube e cursando o primário no Colégio João Cursino, onde se formou em 1966 e de onde guarda até hoje a lembrança de amigos e de antigos professores. Completou o ginásio em 1971, no colégio Vieira Macedo, e o colegial em 1974, no Colégio João Cursino. Foi ali, naqueles anos do governo militar, que ele debutou em política, ganhando a eleição para o Centro Acadêmico. Tendo terminado os estudos secundários, Antônio José foi trabalhar na empresa Breda Turismo, onde era vendedor de pacotes de viagem, e onde teve por colegas Robson Marinho e Hélio Augusto de Souza. Paralelamente, ia se interessando pela política. Já aos 19 anos, filiou-se ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que reunia na cidade integrantes de todas as tendências políticas opostas ao regime dos militares. Dois anos depois de filiar-se, em 1977, aos 21 anos, foi candidato a vereador e conseguiu se eleger 2º suplente do MDB para a 8ª Legislatura. O mandato iniciado em 1977 deveria terminar em 1980, mas, em todo o país, foi prorrogado até 31 de janeiro de 1983, resultado de medida do governo para fazer coincidir todas as eleições. Com isso, embora já tivesse tomado posse diversas vezes como suplente, Antônio José pôde tomar posse efetiva na Câmara Municipal no dia 17 de maio de 1982. Nessa oportunidade, assumiu a vaga do vereador José Luiz Carvalho de Almeida, então presidente da Câmara, que se tornava prefeito mu-
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nicipal em consequência do afastamento de Joaquim Bevilacqua e da renúncia do vice-prefeito Francisco Ricci. Seis meses depois, nas eleições de 15 de novembro de 1982, para a 9ª Legislatura, Antônio José era eleito vereador, já agora pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) com 2.937 votos, num universo de 121.047 votantes, sendo o quinto melhor votado. Nesta mesma eleição, seus dois amigos da Breda Turismo, Robson Marinho e Hélio Augusto de Souza, se elegiam respectivamente prefeito e viceprefeito de São José dos Campos. Na Câmara Municipal, com alguma experiência política já adquirida – tinha trabalhado também como assessor político de Robson Marinho na Assembleia Legislativa quando este era deputado Estadual, juntamente com Hélio Augusto de Souza e João Bosco da Silva –, Antônio José foi se articulando para conseguir o que logo estabeleceu como seu objetivo: ser presidente da Casa. Manobrando habilmente, conseguiu os votos que lhe davam maioria, vencendo Fernando Delgado de Almeida, em quem as lideranças partidárias depositavam todas as suas fichas por ser ele o líder da bancada e candidato natural à presidência da Casa pelo partido. Mas, ao conquistar a presidência, Antônio José não imaginava o que isso lhe significaria. Com menos de dois anos de governo, Robson Marinho surpreende a todos e renuncia ao mandato para se candidatar a deputado federal constituinte. Deixa o governo para o vice, o professor Hélio Augusto de Souza. Estava escrito, contudo, que Hélio Augusto também não ficaria na prefeitura. Um câncer fulminante do pâncreas o leva a falecer pouco tempo após assumir o cargo. Como dito acima, Antônio José efetivou-se como vereador, da primeira vez, quando o presidente da Câmara, José Luiz Carvalho de Almeida, assumiu a prefeitura na renúncia de Joaquim Bevilacqua e de seu vice-prefeito. Agora, cerca de dois anos depois, o episódio se repete. Com a morte de Hélio Augusto, o cargo de prefeito está sem ocupante. Deve assumir, mais uma vez, o presidente da Câmara. E esse presidente se chama Antônio José. ***
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Antônio José assume quando restava ainda mais da metade do mandato de Robson Marinho. Sem ter-se preparado, sem expectativa, num cenário de inflação que em alguns períodos chegava a 80% ao mês, ele se vê, de um dia para o outro, comandando uma das principais cidades do País. Não havia o que fazer, a não ser arregaçar as mangas e pôr-se a trabalhar. Foi isso que ele se propôs a fazer, e foi assim que, nesse curto período, ficaram diversas marcas na cidade, umas mais importantes, outras menos. Na Saúde, por exemplo, foi reativado o centro-cirúrgico do Pronto-Socorro da Vila Industrial – importante para o atendimento das vítimas de acidentes da Via Dutra e da Tamoios; foi instalado o Hospital Sul, no Parque Industrial; e foram construídas cinco novas Unidades Básicas de Saúde. No segmento criança e adolescente, sua administração transformou o Cosemt na Fundação Hélio Augusto de Souza (Fundhas), homenageando o amigo falecido. Aliás, como este quisera, Antônio José deu autonomia para a instituição, que passou a dispor de orçamento próprio e, a partir daí, reunir condições para pleitear outros recursos, inclusive de organismos internacionais. Na época, o Cosemt atendia 1.600 menores de 7 a 14 anos e tinha uma lista de espera de outros dois mil. Com a criação da Fundhas, o atendimento elevou-se para três mil crianças. Na questão segurança, foi criada durante a administração Antônio José a Guarda Civil Municipal, com a função de proteger os próprios municipais. Iniciou-se com cem homens, comandados pelo tenente José Guardia Neto, mas já com o objetivo de que esse número chegasse a trezentos, sendo 20% mulheres. Na Habitação, foi criado o loteamento Campos dos Alemães, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional. Expansão das pré-escolas, continuidade do programa de asfaltamento comunitário – iniciado por Robson Marinho – e aumento do número de salas de aula nas escolas municipais foram outros trabalhos de destaque. Uma das decisões mais polêmicas tomadas por Antônio José foi a aprovação do plano de carreira para os funcionários públicos municipais. Embora os estudos para a valorização do servidor e o plano de carreira tivessem sido propostos ainda na administração de Robson Marinho, foi Antônio José quem aprovou e garantiu o plano e concedeu um aumento de 202% – o que gera ainda hoje um contínuo aumento
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da folha de pagamento da prefeitura. Não falta quem o critique por esta decisão, embora, para muitos servidores, a medida tenha apenas corrigido injustiças. Dois anos passam rápido. Findo seu governo, Antônio José muda de partido e vai aninhar-se no PDT (Partido Democrático Trabalhista) do então vice-governador Almino Afonso. Passam-se mais dois anos e, na eleição de 1990, candidata-se a deputado estadual, mas a sorte não lhe sorri. Aliás, dos diversos candidatos que a cidade tinha, nenhum conseguiu se eleger naquela eleição. Para Antônio José, particularmente, foi uma grande decepção, uma vez que julgava – e julga até hoje – ter feito um bom trabalho na prefeitura e merecer o apoio da população. De lá para cá, não concorreu a mais nenhum cargo eletivo. Hoje, fazendo uma análise do seu desempenho político naquela curta carreira, o ex-prefeito acha que fez as coisas certas e que não cometeu nenhum erro grave – exceto, talvez, ao ter se candidatado a deputado estadual. Avalia que o melhor teria sido disputar novamente uma vaga na Câmara de Vereadores. Mas isso é passado e, como ele diz, não dá para voltar atrás. Vinte anos depois de ter deixado a administração, Antônio José exerce a função de advogado – é formado pela Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, turma de 1979. Atualmente filiado ao PT do B, este mineiro de 1,65 m, católico, de 52 anos, que já foi filiado ao MDB, PMDB e PDT, afirma que se considera um político de centro, acha que o poder é resultado de grandes e pequenas lutas, e que Ulysses Guimarães – o “senhor das diretas”, o “senhor democracia” – é um exemplo de um bom político brasileiro. Para ele, o dinheiro é imprescindível, mas não é o mais importante. Diz que, se não fosse advogado, gostaria de ter sido médico; que aprendeu com os pais a ser honesto; e que a frase que julga mais sábia é “faça o bem, não importa a quem”. Para Antônio José Mendes Faria, tudo na vida é uma questão de aproveitar as oportunidades. Em seu caso, acredita que, não só como prefeito, soube aproveitá-las quando elas apareceram.
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Na inauguração da Guarda Civil Municipal.
Na inauguração do centro cirúrgico: Antônio José discursa. Da esquerda para a direita: Dr. Nelson Edi Teixeira, secretário de Saúde (de paletó); Carlos Messias Paes, presidente da Urbam (de camisa listrada); Dr. Carlos Sebe Petreluzzi; Robson Marinho; vereador Fernando Biruel.
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Com João do Pulo.
Antônio José discursa, tendo ao fundo, à sua direita, o ministro da Justiça, Paulo Brossard, e o diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma.
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Com o então secretário de Segurança Pública do Estado, Luiz Antonio Fleury Filho.
Inauguração de um Núcleo de Defesa Comunitária
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Entrevista de Paula: O senhor começou oficialmente na política em Sérgio 1976, quando foi eleito segundo suplente do então MDB, mas só tomou posse de fato em 1982, quando o seu mandato já deveria ter terminado. Por que isso? José: Eu me elegi como segundo suplente em 1976 e já a Antônio partir de 1977 eu vinha assumindo na Câmara, várias vezes. Então, quando chegou em 1980, eu já era um vereador experiente. E aí, o que aconteceu é que se prorrogaram os mandatos dos prefeitos e vereadores de 1980 para 1982, para haver a coincidência das eleições de vereador, prefeito, deputado estadual, federal, governador e senador. Lembrando que em 1982 foi a primeira eleição direta para governador depois do regime militar. O que houve em 1982 foi a minha efetivação como vereador. SP: Como foi a eleição do senhor à presidência da Câmara, já que o mais cotado para ocupar o cargo era o líder da bancada, o vereador Fernando Delgado? AJ: A eleição mais difícil não foi a de vereador. A eleição mais difícil é a de presidente da Câmara, porque ali cada vereador tem um voto. O vereador de cinco mil votos tem o mesmo valor do vereador de mil votos. Convencer os seus colegas de que você é o melhor para dirigir o legislativo realmente foi a tarefa mais difícil que eu enfrentei na minha vida política. SP: Como foi seu trabalho na presidência da Câmara? AJ: Foi um trabalho muito bonito, porque, se você se recordar, em 1984 nós tivemos a campanha pelas “diretas”. Logo em seguida, veio a eleição do Tancredo Neves, embora não eleito diretamente pelo povo, mas o primeiro presidente civil já no regime democrático, pelo PMDB. Então foi um momento de grande ebulição política para o País. E a gente pôde parti-
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cipar. Eu me lembro que eu tive a oportunidade não só de ir a Brasília acompanhar a votação das “diretas”, como de acompanhar, lá em Brasília, de perto, a eleição do presidente Tancredo, pelo Congresso. Eu participava muito ativamente da vida política não só do município, como do País. O meu trabalho como presidente da Câmara foi muito mais nesse sentido, porque era um momento de transformação política. Nós conseguimos que a Câmara de São José participasse ativamente desses grandes eventos que aconteciam no país. SP: Nesse período, o prefeito era o amigo Robson Marinho, do tempo da Breda. Como era a relação do senhor com ele? AJ: Como amigo, que nós sempre fomos, era muito boa. Era um trabalho de respeito, claro, porque os poderes são independentes. Nunca houve imposição do Executivo em cima do Legislativo. E nós fizemos um trabalho em conjunto, porque a administração do município se dá pela irmandade entre os poderes. Havia um respeito muito grande e o trabalho era feito sempre em parceria. SP: Dois anos depois de eleito, o Robson renunciou ao cargo para concorrer à vaga de deputado federal constituinte. Assumiu o Hélio Augusto de Souza. Qual era a relação do senhor com o professor que defendia os direitos dos menores de idade? AJ: Quem me conhece, quem participou daquela época, sabe que a minha amizade com o Hélio era muito intensa. Nós éramos amigos desde a época da Breda. E éramos amigos pessoais, de família, de convivência não só na vida pública como na vida particular. Então foi realmente muito bonito. No curto período em que ele foi prefeito, a interação entre não só o presidente da Câmara e o prefeito, mas entre mim e o Hélio, era intensa. SP: E, de repente, quando o senhor estava em pleno exercício de presidência da Câmara, o amigo e prefeito Hélio Augusto de Souza descobre um câncer de pâncreas e morre em curtíssimo tempo, deixando a cidade enlutada. Como o senhor se sentiu na época, em meio a toda aquela tristeza, tendo que assumir o lugar dele no executivo joseense? Não foi difícil? AJ: Essa talvez tenha sido a parte mais dura na minha vida. A de ter
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que assumir a prefeitura de forma muito triste, porque morria não só o prefeito da cidade, mas um amigo pessoal. Talvez o melhor amigo que eu já tinha tido na vida... É claro que foi difícil. Mas parece que a obra do destino faz com que a gente cresça. Então, no momento em que nós assumimos e passamos a ter a responsabilidade de administrar São José, procuramos, e acho que conseguimos, fazer o melhor possível. SP: Qual foi a equipe que o senhor colocou para ajudá-lo na tarefa de governar São José dos Campos? AJ: A prefeitura naquela época já tinha uma equipe muito boa, porque vinha desde o Robson, passando pelo Hélio. Fiz poucas mudanças, mas mudanças que eu achava necessárias. SP: Houve alguma mudança de equipe depois? Quem o senhor acha que se destacou mais? AJ: Não citaria ninguém, individualmente. Mas eu queria fazer um registro, talvez, do trabalho do Carlos Messias, que foi presidente da Urbam, era meu amigo, uma liderança muito grande no comércio de São José dos Campos, tinha sido dirigente do Sindicato do Comércio Varejista, e fez um trabalho excelente. Porque, na minha gestão, nós conseguimos fazer talvez um dos maiores loteamentos populares do país na época, que foi o Campo dos Alemães. Foi quando nós distribuímos cerca de quatro mil lotes. Cerca de quatro mil famílias carentes do município foram cadastradas, com uma triagem feita de forma séria. Eu acho que talvez tenha sido uma das melhores coisas que nós fizemos na nossa administração. SP: Qual foi a principal dificuldade encontrada pelo senhor, quando assumiu o executivo municipal? AJ: Econômica. Porque assumi em setembro de 1986 e o Plano Cruzado acabou em novembro, se não me engano. Então, a inflação era de 80% ao mês. Pagar a folha dos funcionários naquela época já era difícil, você não sabia se no mês seguinte conseguiria pagar a folha. Mas, apesar disso, a gente conseguiu ir economizando ali e aqui, fazendo ajustes, e, superando essas dificuldades, pudemos terminar a nossa gestão de forma muito boa.
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SP: Quais foram as principais decisões tomadas pelo senhor, quando assumiu efetivamente a prefeitura? AJ: Eu reputo que talvez uma das decisões mais importantes da minha administração tenha sido a reativação do centro cirúrgico, naquela época, no pronto-socorro municipal. O centro cirúrgico havia sido desativado e o nosso pronto-socorro – que foi um embrião do que é hoje o Hospital Municipal – simplesmente não tinha centro-cirúrgico em funcionamento. Por isso, o acidentado chegava no pronto-socorro e tinha que ser realocado para um dos hospitais, encontrar vaga, achar médico para operar e, é claro, deve ter morrido muita gente desse jeito. Quando eu percebi a gravidade do fato, determinei ao secretário de Saúde que começasse a trabalhar para instalar rapidamente o novo centro. SP: O que dava mais trabalho naquela época ao senhor: a política ou a administração? AJ: A administração. Porque, na política, eu era do ramo. Não tinha segredo nenhum. A administração, sim, dava problema, porque era um novo desafio. Porque eu tinha que administrar uma cidade, uma das maiores do estado, maiores do país, com orçamento superior a várias capitais. São José tem hoje um orçamento muito maior, mas na época já era maior do que várias capitais do norte, nordeste. Maior do que vários estados, até. Se não me engano, nós tínhamos já naquela época orçamento superior a sete Estados da federação. Era um desafio! Mas, como eu disse, a nossa equipe era muito boa. Eu acho que a nossa administração foi excelente nesse aspecto.
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SP: Durante o seu governo, o senhor deu um aumento ao funcionalismo de 202% e criou o plano de carreira, que gera um contínuo aumento da folha de pagamento da prefeitura. Foi uma decisão política ou administrativa? Foi acertada? AJ: A decisão foi administrativa, evidente. Primeiro administrativa. Você tem que ter responsabilidade com relação ao orçamento. É claro que também foi uma decisão política. É bom lembrar que nós vínhamos de um Plano Cruzado, que havia fracassado, e havia uma defasagem muito grande no salário dos servidores. E foi uma decisão negociada, na época, com os servidores. O plano de carreira veio corrigir injustiças. SP: Não há como negar que o Esporte Clube São José conseguiu suas melhores glórias quando o senhor foi prefeito da cidade. A administração do senhor injetou recursos no time profissional? AJ: Bastante. O futebol do interior está aí, mostrando claramente que não sobrevive sem a ajuda do poder público. Como nós tínhamos entendido que a cidade merecia ter um time de futebol à sua altura, nós fizemos na época uma parceria de forma que as crianças do programa do menor – da Fundhas, hoje – frequentassem o clube, e a prefeitura remunerava o clube por isso. Com isso, o São José passou a ter mais recursos. Em 1987, foi campeão da então chamada primeira divisão e passou à divisão especial, que é a elite do futebol paulista. No ano de 1988, o São José ficou em 3º lugar do Campeonato Paulista, da divisão especial. Eu acho que foi uma decisão acertada naquela época ter apoiado o clube. SP: A Guarda Municipal de São José dos Campos foi criada pelo senhor. Qual era o objetivo ao criar a Guarda e, passados esses anos todos, o senhor acha que hoje ela cumpre a função que lhe foi destinada? AJ: Com certeza. A gente vê que a Guarda Municipal, hoje, trabalha com a Polícia Militar, há interação. Quando nós criamos a Guarda, o objetivo era dar segurança ao patrimônio público, esse era o primeiro objetivo, e fazer um trabalho junto à comunidade. Nós criamos à época os Núcleos de Defesa Comunitária, instalando, em bairros, postos onde ficava o guarda municipal. Em conjunto com a Polícia
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Militar, uma viatura fazia a ronda naquele local. O posto municipal da Guarda dava suporte à Polícia Militar. SP: O senhor inaugurou o shopping CenterVale, que na época provocou um grande desenvolvimento no comércio local, já que muitos consumidores da região passaram a se dirigir à cidade em busca de novidades. Como foi a negociação para a instalação do shopping em São José dos Campos? AJ: Quando eu assumi, o projeto de aprovação da construção do shopping já estava em andamento. Eu tive a felicidade de inaugurar este grande empreendimento, que veio para a cidade e representou um marco para São José dos Campos. Era São José antes do shopping e São José depois do shopping. E você vê que, depois disso, vieram outros shoppings e São José passou a integrar o rol das grandes cidades, das grandes cidades cosmopolitas, com shoppings. Isso deu um boom no comércio local, no comércio regional. Uma das outras coisas que se implantou no período da nossa administração foi a TV regional, que na época era a TV Globo do Vale do Paraíba. E eu acho que foi importante para a região. Hoje está com cobertura em todas as cidades, não só do Vale, como do Litoral, da Serra da Mantiqueira e região Bragantina. Nós pudemos ajudar no sentido de facilitar a vinda desses empreendimentos para a cidade. SP: Dirigir uma cidade do tamanho de São José era uma tarefa que exigia muito do governante? AJ: Muito. Eram 24 horas no ar. Para a gente não desperdiçar, não gastar o tempo fora do horário de trabalho, o horário produtivo durante o dia, a gente marcava as inaugurações praticamente só para os fins de semana. Então, eu passava sábado e domingo inaugurando campo de futebol, escola e tal. Não marcava durante a semana e deixava para o fim de semana. Com isso, você sacrifica a vida pessoal. SP: O senhor deixou a prefeitura, o partido e na eleição seguinte saiu candidato a deputado estadual por outra agremiação partidária, o PDT, do então vice-governador Almino Afonso. Como foi essa mudança partidária?
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AJ: Aí talvez tenha sido um dos erros políticos que eu tenha cometido. Porque era uma questão de lealdade. O Almino era vice-governador do então governador Orestes Quércia. E trabalhou durante quatro anos para se viabilizar como candidato ao governo. Eu fui solidário a ele, porque, quando ele falou: “olha, se eu for candidato, vocês vão me apoiar?”, eu falei: “vamos”. Aí, no final dos prazos para se desincompatibilizar, o Quércia escolheu um outro candidato, ungiu um candidato, o Fleury, que, aliás, era meu amigo... mas eu tinha dado a palavra ao Almino. E então eu saí do PMDB e fui para o PDT. Foi talvez um erro, um engano, que cometi. Porque com o governo, com a máquina administrativa... O Quércia tinha feito um bom governo, o Fleury era um bom candidato, tanto é que acabou se elegendo governador. Talvez, se eu tivesse ficado no PMDB, tivesse tido mais chance. SP: Qual foi o resultado das urnas? AJ: Não foi muito bom. Mas eu acho que é assim. Política é assim. Você perde uma, ganha outra. As coisas são obras do destino. E, na medida em que eu assumi a prefeitura, em função da morte do Hélio,
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e depois, em 1990, perdi a eleição de deputado, pensei que era bom dar uma parada. Tinha ficado muitos anos fazendo política, tinha sido vereador por dez anos, então pensei: “agora vou cuidar um pouco da minha vida”. E fui cuidar um pouco da minha profissão, pois sou advogado, e cuidar de outras coisas, cuidar mais da minha família. E vai passando o tempo e você acaba ficando fora do processo. SP: O senhor se considera um injustiçado por não ter sido eleito? AJ: Não, não existe essa de injustiçado. Se você não foi bem no resultado de uma eleição, é porque talvez não tenha conseguido fazer com que a população entendesse o trabalho que tinha feito. Eu acho que a culpa não é do povo. A culpa é nossa mesmo. SP: Alguém foi bem naquela eleição? AJ: Não. E naquele ano, especificamente no ano de 1990, nós tivemos mais de dez candidatos a deputado estadual. Naquela eleição a cidade não fez nenhum. Não elegeu nenhum deputado estadual, porque tinha o excesso de candidatos, a votação se pulverizou e acabou não se elegendo ninguém. SP: Ficou alguma mágoa do senhor, daquele tempo em que ocupou o cargo de prefeito de São José? AJ: Como diria Tancredo Neves, umas das coisas boas de se guardar é dinheiro. Como eu não guardei dinheiro, mágoa é que eu não vou guardar. Porque mágoa faz mal, dá doença, dizem que dá câncer, dá não sei o quê e eu não guardo mágoa de ninguém. Evidente que a gente não esquece das coisas. Mas guardar mágoas, não. SP: O senhor tem 52 anos e já está há vinte longe do poder. Isso significa que o senhor abandonou efetivamente a política ou a mosca azul ainda pode voltar a picar? AJ: Não, eu não abandonei a política. São duas coisas diferentes também. Uma coisa é que, para ser político, você não precisa necessariamente ser candidato em toda eleição. Senão vou ficar igual àqueles políticos que saem candidato em toda eleição. Não é isso. Eu não participo da vida pública, mas da vida político-partidária, ajudando
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amigos, ajudando partidos, fazendo articulações, conversando. A política é arte que está no sangue da gente! Não tem como abandonar. Político é diferente de jogador de futebol. O jogador de futebol, como outras atividades da vida, tem um limite de idade. Política não. Na política você vai até morrer. Enquanto você tiver saúde... Eu nunca abandonei a política. Eu apenas abandonei o disputar das eleições, o que é diferente. E o que não significa também que eu não possa amanhã disputar outra eleição. É aquilo: se de fato aparecer uma nova oportunidade para disputar uma eleição e eu achar que eu tenho chance, é evidente que eu vou disputar. Mas, em princípio, não há este interesse neste momento.
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Capítulo 14
UM ESPORTISTA NA PREFEITURA Pedro Yves procurou usar na política a experiência adquirida nas quadras
8 por B . V e l os o
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leitor vai perceber, na medida em que lê sobre Pedro Yves, que seria impossível falar dele na política sem mencionar o esportista que ele foi. Ao contrário dos políticos que evitam associar o que são com aquilo que foram, Yves não fala de si mesmo sem evocar o esporte. Por esta razão damos inicialmente destaque à sua formação pessoal antes de tornar-se homem público, e deixamos o político propriamente dito para a entrevista que vem na sequência. Pedro Yves tornou-se prefeito numa época em que a Administração municipal passava por situação muito difícil. Sua opção por dedicar-se ao social no curto espaço de tempo que lhe foi dado tem muito a ver com sua infância humilde em Agudos, de onde o pai, por se dar mal nos negócios, teve de mudar-se para São José dos Campos em busca de melhores oportunidades. Ele, a mãe e seus três irmãos ficaram distribuídos em casas de parentes na cidade natal, até surgir oportunidade de também se mudarem. Depois veio o basquete. Aos 17 anos, ele não podia frequentar o único clube em que poderia fazer carreira, mas conseguiu superar a fase. Depois, atuou nas maiores equipes da modalidade e fez parte da Seleção Brasileira de Basquetebol e, com isto, visitou muitos países. Ao deixar o basquete, foi dirigir o futebol do São José Esporte Clube, que passava por momentos difíceis: resolveu os problemas e conseguiu levar por duas vezes o time à divisão principal. Ao assumir a prefeitura, sofria-se no País os reflexos da crise financeira fruto do Plano Collor. Na cidade, erros do passado tinham gerado uma dívida bancária de mais de uma dezena de milhões de dólares, o que levara ao bloqueio do ICMS. Ele afirma que a experiência do basquete e do futebol deu-lhe a garra e estratégia para enfrentar os problemas da administração municipal de São José dos Campos. Tudo agraciado pela sorte, “muita sorte”, admite.
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Ao encerrar sua participação no governo joseense, Yves registrou altos índices de aprovação popular detectados pelo jornal Valeparaibano e pelo Instituto de Pesquisa Datafolha. Entre os governos municipais “de curta duração” o de Yves é o mais lembrado. Para ele, um dos principais motivos foi ter agido com uma conduta de esportista na tão conturbada problemática da administração pública daqueles tempos. Aqueles anos nada dourados Em 15 de março de 1990 tomava posse Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente da República eleito por voto direto desde 1960. No dia seguinte, o Brasil recebia surpreso, mas ainda com esperança, a primeira ducha fria no calor de “salvação da pátria” mantido durante a explosiva campanha daquele que se intitulava “caçador de marajás e protetor dos descamisados”: todos os depósitos em bancos, poupança e aplicações financeiras em cifras superiores a cinquenta mil cruzeiros – pouco mais de dois mil reais em 200751 – estavam bloqueados e nas mãos do governo por 18 meses. Como se não bastasse, os salários dos trabalhadores e os preços dos produtos foram congelados. Entrava em vigor o “Plano Collor”, que se propunha a combater uma inflação tresloucada que 15 dias antes, no apagar das luzes do governo José Sarney, chegara a um índice jamais atingido: 84,32% ao mês. A implantação do Plano Collor dividiu as opiniões, provocou ruínas pessoais em gente que aplicou tudo o que tinha – e até o que não tinha – no chamado overnight, um depósito que os bancos corrigiam diariamente pela inflação. Essa operação fora implantada pelo sistema bancário para incentivar a captação de recursos, mas acabou por criar uma ideia ilusória de ganho fácil na qual embarcaram milhares de pessoas não acostumadas a certas artimanhas financeiras. Além disso, todos os empresários recorriam ao overnight na tentativa de minimizar os efeitos da inflação; a aplicação era-lhes oportuna por permitir o saque no momento de saldar compromissos com salários, pagamento de fornecedores e despesas de custeio. Como resultado do congelamento, comércio, serviços e indústria, já atrapalhados pela terrível inflação, tiveram sua situação financeira agravada. 51. US$ 1,3 mil.
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A economia de São José dos Campos, já atingida anteriormente pelos mesmos efeitos da instabilidade econômica, também sofreu, como não poderia deixar de ser, forte impacto. Na prefeitura, a situação, que já era muito difícil, tinha piorado quando a Justiça decretara, pelo nãopagamento de dívidas anteriores, o bloqueio do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), a maior fonte de renda municipal – as outras receitas mal davam para pagar o funcionalismo e varrer as ruas. Agora, com a entrada em vigor do Plano Collor, a situação ficava quase insustentável. Profeta, Ronaldo e Pedrão No começo do governo Bevilacqua, o descontentamento popular já se impunha nos bairros, pelo acúmulo de problemas resultantes da crise. Havia muitos anos aquela população não recebia investimentos em casas populares, o desemprego azedava o humor dos trabalhadores e a violência marcava preocupante presença. Designado pelo prefeito para atender a população como pudesse, movimentava-se pela periferia joseense um homem experiente no enfrentamento de adversários difíceis – embora em atuações nas quadras e campos esportivos durante calorosas disputas: Pedro Yves Simão, exjogador da gloriosa Seleção Brasileira de Basquetebol das décadas de 60 e 70, ex-vice-presidente de futebol do São José e seu presidente naquele momento. Entre outros feitos, ele havia conseguido tirar por três vezes o São José Esporte Clube – paixão futebolística local – de situações desesperadoras e levá-lo à divisão principal. O desempenho da “Águia do Vale” era o consolo das dificuldades do povão e até ajudava a acalmar um pouco os ânimos naqueles anos nada dourados. Pedro Yves era vice-prefeito e Secretário de Esportes, e nas reuniões com a periferia mostrava-se habilidoso em desviar as discussões do campo administrativo para o do Estádio Martins Pereira, sem deixar de passar pelas quadras do esporte amador. Não raras vezes, em tais reuniões, o clima, que começara pesado, terminava com largos sorrisos, mãos nos ombros e muita atenção dedicada àquela multidão de “técnicos” da periferia dando conselhos para a próxima escalação do São José ou “orientando” quanto à aquisição de bons jogadores ou mesmo a dispensa dos jogadores ruins.
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Para o vice-prefeito, era como se a cidade de São José dos Campos disputasse um tipo de “campeonato” que, apesar de acontecer em outra esfera, exigia estratégias de combate semelhantes. Esse jogo extracampo havia sido arquitetado em 1988 pelo mais hábil “cartola” da política local, o prefeito Joaquim Bevilacqua. Tendo ganho todas as quatro eleições de que participara, Bevilacqua conquistara a controvertida fama de invencibilidade nas urnas... e de instabilidade nos mandatos: renunciava sempre, ora para subir mais um ponto na classificação política, ora para coisa nenhuma. Por isto, ao aproximarem-se as eleições de 1988, quando Bevilacqua anunciou (segundo ele, “aceitou”) disputar novamente a prefeitura de São José dos Campos, houve uma corrida de pretendentes ao cargo de vice. Nessa disputa, quem conseguiu calçar o sapato de cristal foi o pretendente Pedro Yves. Bevilacqua conhecia seu passado como jogador em vários times importantes do basquete, acompanhava seus bons resultados na direção de futebol do São José e sabia o quanto Yves tinha capitalizado em popularidade ao longo de toda essa trajetória. Isso leva a crer que o então deputado federal constituinte já pensasse em treinar o amigo esportista na política. Aliás, o próprio Pedro Yves dera sinais de querer “entrar na briga”. Filiara-se ao PMDB52 , mas saíra do partido porque os caciques locais não lhe davam o espaço pretendido. Solidário, Bevilacqua levou-o ao seu PTB53. Depois, nos acordos para a eleição de 1988, Bevilacqua prometeu a Secretaria de Esportes ao PFL. Então, pediu a Yves para sutilmente filiar-se ao partido. A escolha de Pedro Yves como candidato a vice foi bem ao estilo “bevilacquiano”: reunidos na casa do “Profeta”, como era conhecido o advogado Henrique Ferro, diretor e também fanático pelo São José, Bevilacqua perguntou ao jovem filho do Profeta, Ronaldo, que surgia em certo momento na sala: “Garoto! Se ele”, apontou para Yves, “e eu fôssemos candidatos a prefeito, em quem você votaria”? E Ronaldo responde na bucha: “No Pedrão”!
52. Partido do Movimento Democrático Brasileiro, gerado pelo Movimento Democrático Brasileiro surgido em oposição ao regime militar. 53. Partido Trabalhista Brasileiro.
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“Está escolhido o vice”, decidiu Bevilacqua, “é ele mesmo”! E o Pedrão naquele instante derrubava todos os demais pretendentes. Refaça-se a luz A dobradinha Joaquim Bevilacqua e Pedro Yves elegeu-se com 83.979 votos numa disputa acirrada com o candidato do PMDB, Carlos Sebe, em que foi importante certa manobra no horário gratuito da TV maquinada pelo Profeta, que era o coordenador da campanha. Sebe batia direto em Bevilacqua pela televisão, mas a ordem era não responder. Sem que o adversário desconfiasse, o Profeta ia somando os minutos gastos com as “cutucadas”. Às vésperas da eleição, o advogado, aí sim, representou contra Sebe e pediu direito de resposta apresentando a soma do tempo gasto com o acinte. O juiz eleitoral concedeu, então, trinta minutos para Bevilacqua responder dentro do tempo de TV do adversário. Conclusão: era o último dia de campanha pela televisão e Sebe ficou sem o horário para fechar a campanha e ainda levou uma tunda verbal sem ter como responder. Eleição ganha, assumiram em 1º de janeiro de 1989 e, como combinado, Yves foi nomeado secretário de Esportes. Empossado, viu-se logo de início também “empoçado” nos problemas tanto da Secretaria quanto da cidade. Um pequeno exemplo das dificuldades com que Yves se depara como secretário: mal assumiu, cortaram a energia elétrica da Secretaria de Esportes, por falta de pagamento. Aliás, este episódio vale um detalhamento. Era fato que a prefeitura de São José dos Campos não pagava a conta da luz havia sete anos, uma prática adotada pela maioria das administrações municipais no Estado. Mas ocorreu naquele ano assumir a presidência da Eletropaulo54 certo Alfredinho55 , disposto a mostrar serviço. O novo presidente resolveu pôr um fim naquele calote generalizado e levou a cobrança à Justiça com pedido de corte do fornecimento na prefeitura que se mostrasse renitente em não pagar o montante das contas. Muitas administrações, uma delas a joseense, em vez de pagar a con-
54. Concessionária de energia elétrica em São Paulo naquela época. 55. Alfredo Almeida Júnior.
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ta, “pagaram para ver” se a ameaça vingava – e viram. Um juiz autorizou o apagão oficial e ainda escreveu na sentença: “(…) comece o corte pela Secretaria de Esportes porque esporte não é coisa importante”. Para o surpreso secretário-esportista, foi um duplo golpe: o apagão e uma sentença com aquele teor. Cerca de vinte anos antes, o esportista Yves tinha vivido uma experiência bem diferente nos Estados Unidos. Aconteceu quando o avião em que ele voltava de um giro pelo mundo como jogador da Seleção Brasileira de Basquetebol aterrissou no Aeroporto Internacional de Los Angeles. Durante o desembarque, ao dirigirem-se para uma das filas da alfândega, Yves notou fiscais e polícia em rigorosa operação de revista nos passageiros. Não escapava ninguém. Eles paravam jovens e senhoras, examinavam malas, maletas e até cosméticos; um pente-fino padrão, “provavelmente atrás de drogas ou coisa semelhante”, diz o ex-prefeito. Vestida com agasalhos da Seleção, a equipe brasileira entrou na fila da revista. Quando chegou a vez dos jogadores, Yves pensou: “Agora vão fazer uma devassa na rapaziada!” Nisto, o chefe da fiscalização aproximou-se e falou, dirigindo-se a eles: “Vocês podem passar”. “Direto?!”, Yves perguntou entre surpreso e incrédulo. “Sim, direto!”, respondeu o funcionário, e explicou amigavelmente: “Neste país esportista tem tudo, porque o esporte é muito importante para a América e para o povo americano.” A lembrança do episódio não pagou a conta alta da Eletropaulo, mas apagou boa parte da amargura dos dias que se seguiram, em que teve de justificar aos usuários e funcionários desapontados o porquê das quadras esportivas e departamentos da sua secretaria às escuras. Tudo durou, no entanto, poucos dias. O prefeito entrou em acordo com a Eletropaulo e logo se fez luz novamente. Mas o episódio mexeu com os brios do vice-prefeito e só reforçou sua decisão de tentar levar para a política as qualidades humanísticas do esporte: “um esportista na prefeitura” seria a referência de sua atuação política. Por pouco não era 1º de abril Numa tarde de início de abril, pouco mais de um ano após o início do governo Bevilacqua, Pedro Yves recebeu um chamado para que fosse urgentemente ao gabinete do prefeito. Yves estava naquele momento
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numa visita rotineira aos bairrões e, sem saber a razão do chamado, foi como estava: de roupa esporte, como era hábito seu nas visitas à periferia. Quando chegou à sede da prefeitura, subiu direto para o 7º andar, onde Bevilacqua o aguardava. Ao vê-lo, o prefeito disparou de primeira: “Prepare-se que eu vou renunciar e você assume!” “Brincadeira tem hora, Joaquim56, vamos conversar… não é assim; 1º de abril foi ontem!”, argumentou o surpreso vice-prefeito. Mas havia pouco que conversar, porque Bevilacqua já avançara nas providências. Chamara a imprensa, marcara hora para o ato da passagem do governo – e a assessoria jurídica já havia redigido os termos legais da renúncia. Naquele momento, liga o governador Orestes Quércia e tenta tirar da cabeça do prefeito a intenção de renunciar. O fato é que já de algum tempo corria a notícia de que Joaquim Bevilacqua sairia candidato a vice-governador em uma chapa encabeçada pelo apresentador Sílvio Santos. Ambos já haviam se reunido diversas vezes para tratar do assunto e a ideia tomava corpo. Como Quércia apoiava Luís Antônio Fleury Filho para sucedê-lo no ano seguinte, não era de seu interesse bater de frente com uma boa dupla de adversários como a que se anunciava. Dupla boa, sim: curiosamente, embora nunca tivesse participado de uma eleição, Sílvio Santos tinha criado para si a fama de que seria imbatível nas urnas. Além disso, pesquisa da época apontava a possibilidade de o apresentador começar a campanha para o Governo de São Paulo com mais de 20% das intenções de voto. Sem dúvida, isso representava um verdadeiro “canto de sereia” para a cabeça de qualquer candidato, por mais experiente que fosse. Mas tudo o que pesou em sua decisão e na repentina renúncia, só Bevilacqua sabe. O fato é que não deu ouvidos ao que o governador lhe disse e levou adiante a cerimônia, nem dando tempo a Pedro Yves para que fosse até em casa vestir roupa mais apropriada e trazer a esposa Vânia – que, afinal, tinha direito de participar da posse ao lado do marido. “Não dá tempo, Pedro, está quase na hora; marquei 18 horas no Salão Nobre”, disse o prefeito. E encerrou o assunto. Para os fatalistas, estava escrito: “Joaquim Bevilacqua não é político de terminar mandatos”, fazer o quê?! Já para amigos e correligionários,
56. Yves sempre chamou Bevilacqua pelo primeiro nome.
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a ideia da possível candidatura com Sílvio Santos era estimulante – sinal de que o líder ainda tinha “muito café no bule”. Portanto, seria bom para todos. Diante dos fatos, no Paço Municipal, em traje esporte e sem ter a futura primeira-dama ao seu lado, frente a frente com a imprensa, vereadores, autoridades, funcionários, amigos e munícipes, “o dr. Pedro Yves Simão assumiu o cargo de prefeito às 18h30 do dia 2 de abril de 1990”, como está lavrado em livro competente da Prefeitura de São José dos Campos. Terminava naquele instante para Yves o primeiro turno do campeonato que havia durado até ali exatos 457 dias. À noite, ao sair da prefeitura depois daquele dia inusitado, Pedro Yves estava preocupado em como dar a notícia à mulher sem desapontála por não ter sido convidada para a posse. Em casa, ela o recebeu com o sorriso de sempre e ele, a fim de preparar o terreno, disse: “Vânia, hoje você vai jantar com o prefeito de São José dos Campos”. E ela: “Nossa, Pedro! E a que horas o Joaquim vai chegar?!” Estava brincando. Já tinha visto pelo noticiário da TV que se tornara a primeira-dama da cidade. Não se abalara. Na verdade, imaginava outro cenário se um dia acontecesse. Mas, quem disse que na política as coisas são como gostaríamos que fossem? A chegada dos “brimos” No início do século passado, ponto alto da imigração em massa chegando ao Brasil, um navio aportou em Santos trazendo um grupo libanês disposto a começar vida nova. Os “brimos” – como se chamariam uns aos outros ao passar a falar o português – dirigiram-se primeiro para a capital paulista, depois se espalharam pelo interior. São José dos Campos recebeu, entre outros, Fuad Cury, avô do prefeito Eduardo Cury; Badue Cury e Said Cury. Também chegou com eles Riskala Neme, que mais tarde tornou-se dono do tradicional Bar Santa Helena, local de encontro da sociedade “boêmia-política-pensante” joseense. Do mesmo navio desembarcou Paulo Simão, avô de Pedro Yves. Paulo Simão tomou rumo Noroeste e foi parar em Agudos, próximo a
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Bauru. Vinha da cidade libanesa de Antaurin57. Mais tarde, um dos seus filhos, José Simão, casado com a professora Norma De Conti Simão, filha de imigrantes italianos, estabeleceu-se ali em Agudos no ramo de secos e molhados. Mas não deu sorte; os negócios no mercadinho do seu Zé Simão iam mais para “secos” que para “molhados” e, alguns anos depois, com muitas dívidas a pagar, teve de fechar as portas. Foi então que José Simão pediu ajuda aos brimos de São José dos Campos – os que haviam chegado do Líbano com seu pai – e conseguiu um emprego no próspero Bar Santa Helena, de Riskala Neme. Dona Norma não pôde vir logo. Dava aulas nas escolas do Estado situadas nas fazendas próximas a Agudos e uma transferência só seria possível no final do semestre. Com ela ficaram, em casas de parentes, Pedro Yves, Paulo José, Leila e José Arnaldo, uma “escadinha” de quatro filhos com idades de onze a cinco anos. Pedro Yves ficou com uma tia e os outros irmãos e a irmã ficaram com outros membros da família. Naquele tempo, os professores estaduais acumulavam os chamados “pontos” ao longo da carreira, pontos estes que davam o direito de escolher o melhor local disponível onde dar aulas. Ao final do semestre dona Norma valeu-se disso e conseguiu “cadeira” em São José dos Campos, e assim foi possível reunir a família Simão outra vez. Na nova cidade, a mãe de Yves passou a lecionar no bairro de Santana. Havia na rua Capitão Roberto Ferreira Maldos um conjunto de cinco casinhas geminadas. Era uma rua sem calçamento, sem as melhorias atuais, porém um local bastante agradável. José Simão alugou uma dessas casas e foi morar ali com a mulher e os filhos. A vizinhança era muito boa, todos mantinham entre si um relacionamento fraterno. O proprietário desses imóveis era o também libanês José Ferze Tau58 , que depois, durante o ano 1966, no cargo de presidente do Legislativo, tornou-se prefeito durante quatro meses em substituição ao titular e ao vice. 57. Pedro Yves, na década de 90, como deputado federal, representou a Câmara em congresso realizado em Beirute que reuniu parlamentares descendentes de libaneses do mundo todo. Na ocasião, ele teve oportunidade de conhecer essa cidade de onde veio o avô. 58. O capítulo sobre Ferze Tau está na página 105. (N. do E.)
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José Simão trabalhava duro no Santa Helena e dona Norma desdobrava-se como professora: dava aulas pela manhã em Santana, à tarde no Olavo Bilac e à noite no curso de admissão existente na época, obrigatório para o ingresso no ginasial. Apesar de tanto trabalho, a renda familiar mal empatava com as despesas básicas. Quando era possível pagar o aluguel, pagava-se; em mês apertado, ficava por isso mesmo – o Ferze Tau jamais quis receber os atrasados. Esse relacionamento cordial entre a vizinhança, muito comum na São José dos Campos daqueles bons tempos, foi importante ajuda à família Simão na superação das dificuldades dos primeiros anos. Aos poucos, no entanto, as coisas começaram a ficar melhores. Dona Norma tornou-se diretora do Ginásio Olímpio Catão, sem parar com as aulas. Pedro Yves fez o ginásio no Colégio Estadual João Cursino, na praça Afonso Pena, depois, ali mesmo, completou o Curso Científico59 . No ano de 1960, prestou exame vestibular a fim de ingressar na primeira turma da Faculdade de Odontologia da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo)60 e conseguiu ser o primeiro colocado na prova. Em 1965 formava-se cirurgião-dentista. Aqui, vale uma palavra sobre dona Norma, de quem muitos ex-alunos se recordam com muito carinho. Um desses ex-alunos foi o atual prefeito, Eduardo Cury. Outro, o engenheiro aeronáutico Jacques Roussille, lembra-se de dona Norma, sua professora do 4º ano primário, como uma professora que tinha autoridade, “mas era extremamente dócil para com os alunos e ensinava muito bem”. Depois, quando precisou de um reforço para o exame de admissão ao ginásio do João Cursino, ela deu a Roussille aulas particulares que o ajudaram a superar aquele desafio. Na véspera do Natal de 1992, com Pedro Yves já em final do mandato de prefeito, a família reuniu-se na sua casa. Dona Norma falou muito sobre os filhos, sua trajetória desde a cidade de Agudos até aquele momento em São José, o fato de naquele momento serem todos bem sucedidos na cidade que tão abertamente os recebeu. Ela ainda lecionava e era diretora-assistente na Escola Monteiro Lobato. Ao final do encontro, o filho José Arnaldo levou-a para casa, um apartamento em frente ao Parque Santos Dumont. Nas primeiras horas da 59. Correspondente ao Ensino Médio de hoje. 60. A Unesp iniciou o curso de Odontologia em 1960, em São José dos Campos.
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manhã seguinte um telefonema dá a triste notícia de que dona Norma havia morrido. Como sempre desejou: em plena atividade, depois de ter criado bem os filhos e conhecido os netos. O nome de dona Norma é lembrado em São José dos Campos em dois próprios municipais. Um deles, o viaduto situado na Vista Verde, homenagem por iniciativa do prefeito Emanuel Fernandes e do exaluno Eduardo Cury, que era secretário de Transportes. O outro, uma escola no bairro Jardim dos Ipês, igualmente denominada Norma De Conti Simão. O Palmeiras perde um centroavante O sonho de Pedro Yves, desde criança, era ser jogador de futebol. As oportunidades, entretanto, o levaram para o basquete. Tinha muitos amigos nesse esporte, a maioria colegas da escola; possuía também o físico e a altura ideais. Como o avô havia construído para a família uma meia-água no início da avenida Adhemar de Barros, pegada a onde fica a Sabesp61, Yves morava vizinho ao Tênis Clube, onde se praticava o melhor basquetebol da cidade. Aos 16 anos, ele não tinha condições financeiras de ser sócio do Tênis – clube da elite –, ao contrário da maioria dos amigos, que eram sócios e treinavam basquete lá. Mas não seria esse o impedimento. Na divisa de sua casa com o clube havia um muro mais baixo em certo trecho. Os amigos de Yves distraíam o porteiro enquanto ele passava disfarçadamente por cima do muro, podendo dar, assim, os primeiros passos na direção de tornar-se mais tarde um dos grandes jogadores do basquete nacional. Mas a paixão do jovem Yves era mesmo o futebol. Paralelamente ao basquete, ele jogava em uma equipe futebolística do Esporte Clube São José62 , pela qual chegou a ser campeão estadual de amadores. Foi ainda campeão estadual de futebol de salão, pela Associação Esportiva São
61. Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, responsável pelo serviço de água e esgotos. 62. Nome antigo do São José Esporte Clube.
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José, em 1959. Nesta época, já titular do time oficial de basquetebol do Tênis, não mais precisava pular o muro para entrar no clube... Enfim, tinha atuação destacadamente reconhecida nas três modalidades. Certo dia surgiu a grande chance de fazer um treino no Palmeiras63. Naquele tempo era comum os times grandes oferecerem oportunidade aos jovens postulantes ao futebol profissional. Na companhia de dois outros amigos, Robertinho Friggi e o irmão, Zezinho Friggi, lá se foi Pedro Yves cheio de sonhos participar de um treino-teste no Parque Antártica, em São Paulo. Deu-se bem. Jogou como centroavante e até marcou um gol. Mandaram-no voltar outro dia para novo treino em data a ser comunicada. Dias depois, antes da nova convocação do Palmeiras, saiu a chamada para a Seleção Brasileira de Basquetebol, e seu nome estava na lista dos convocados. Pedro Yves ficou dividido entre a possibilidade de jogar pelo esporte que era sua paixão e a certeza de atuar no time principal de bola ao cesto do País. Foi o treinador do Tênis Clube, Alberto Marson, quem acabou logo com a dúvida. Técnico experiente, Marson já havia treinado várias seleções de basquete, sabia dialogar com a moçada e... detestava futebol. Diz a lenda que ele vivia botando fogo nas traves de futsal do Tênis e esconjurando aquele esporte. A verdade é que Marson chamou Yves e, muito persuasivo, falou das vantagens de aproveitar aquela oportunidade, tal e coisa, e encerrou sem rodeios: “Decida de uma vez; é pegar ou largar”. E Yves pegou. Com a decisão, ele não compareceu à peneiragem dos outros treinos de futebol marcados pelo Palmeiras e passou a dedicar-se exclusiva e intensamente ao basquete. Foi assim que o Palmeiras perdeu, quem sabe, um futuro centroavante no time profissional. Fidel não mordeu Se a opção pelo basquete não foi a mais desejada, ao menos foi compensadora. Com a camisa da Seleção, Pedro Yves esteve sete vezes na Europa, depois visitou a Indonésia e inúmeras vezes viajou pela América Latina.
63. Sociedade Esportiva Palmeiras, na época um dos três grandes da divisão principal de futebol profissional de São Paulo.
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Em 1963, ao disputar a final de um campeonato em Havana, capital de Cuba, Yves teve oportunidade de conhecer Fidel Castro, que poucos anos antes havia conquistado o poder. No último jogo, para surpresa geral, Fidel e pequena comitiva – da qual também fazia parte Ernesto Che Guevara – foram ao estádio assistir à partida, que era justamente contra a seleção de Cuba. Havia temor de que o líder cubano estivesse ali para impor com sua presença algum tipo de pressão contra a Seleção Brasileira. Mas esta preocupação logo se dissipou, porque Fidel, político habilidoso que era, fez questão de descer até a quadra para cumprimentar os jogadores, mostrou-se cordial, perguntou a Yves se havia alguma preocupação da equipe brasileira quanto à arbitragem favorecer a seleção de Cuba e coisas do tipo. Deixou-se fotografar com ele e voltou para a platéia. O jovem Yves ficou impressionado pela atitude de Fidel e também porque não havia seguranças ao seu redor, como é comum a um governante de qualquer país. Bem, a partida foi jogada e a Seleção Brasileira venceu. Foi campeã, a arbitragem não favoreceu ninguém e o ditador “não ficou brabo”. O jovem jogador, inexperiente em política, pensou consigo que, apesar da fama que dele chegava ao Brasil por certos meios, Fidel Castro ao menos “não mordia”. Ao contrário, quem poderia ter mordido seria o governo brasileiro um ano depois, quando foi implantado no Brasil o Governo Militar. A revista Manchete havia publicado a matéria sobre o campeonato cubano e “estourado” na página dupla central a foto onde Yves aparece com Fidel. Logo após o golpe de 1964, começava a “caça às bruxas” e um indicador muito usado para escolher quem era adversário do regime eram as matérias publicadas pela imprensa. Representantes do governo viviam atrás desses indicadores quando se tratava de gente famosa, vasculhando tudo o que fora publicado nos últimos anos. Chegaram a prender um dos jogadores para “esclarecimentos”, mas por outro motivo. Três colegas de Yves foram tirados de dentro da faculdade, em hora de aula, e levados presos para o tenebroso navio Raul Soares; logo depois foram soltos. Diante disso, Yves pensava que a foto com Fidel seria um prato cheio para aquele patrulhamento ideológico. Mas, não foi. Curiosamente, ninguém jamais perturbou a Seleção Brasileira por causa daquela foto. Outro sufoco, este nada político, tinha acontecido um ano antes, em 1963, na Indonésia, em jogo agitado contra a seleção do País. Em
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certo momento Yves trombou forte contra um jogador indonésio numa disputa de bola. O jogador caiu e Yves, esportivamente, foi ajudá-lo a levantar-se. Inadvertidamente, para demonstrar camaradagem, passou a mão pela cabeça do adversário como a dizer: “desculpe; está tudo bem”! Neste momento escuta-se da torcida um estrondoso e uníssono “Ooooh!” Yves desconhecia que para os indonésios a cabeça é parte intocável do corpo de uma pessoa, e ele acabava de fazer um gesto tido no País como alta provocação. Foi um “bafafá” generalizado, a partida ficou suspensa e foi preciso a intervenção do representante diplomático do Brasil para acalmar os ânimos. Reiniciada a partida, aconteceu o inusitado: o jogador da Indonésia, sempre que estava próximo, dava tapinhas na cabeça de Yves, fazendo a torcida vibrar. O jogador brasileiro nunca ficou sabendo se o indonésio tinha assimilado o jeito brasileiro de ser amigável ou estava mostrando para a torcida que podia desafiar o adversário quantas vezes quisesse, sem qualquer reação... Ainda em 1963, Yves foi campeão mundial de basquete universitário ao jogar pela Seleção Universitária de Basquetebol no torneio “Universíade”, em Porto Alegre. Um pé no futebol, outro na política Depois de vinte anos de quadras, com atuações em times como o Corinthians, que por anos teve a melhor equipe do Brasil, e em outros grandes como o Palmeiras, o próprio Tênis Clube de São José e o Trianon Clube de Jacareí, Yves despediu-se do basquete. Foi cuidar do esporte do seu coração, o futebol. Participou da diretoria do São José Esporte Clube, inicialmente como vice-presidente de futebol. Nesta altura ele já era empresário do ramo odontológico, sendo proprietário da Odontoclin, uma clínica de porte que mantinha convênio com as maiores indústrias de São José dos Campos e região. A Odontoclin chegou a ter trinta profissionais no atendimento de cerca de trezentas pessoas por dia. Pedro Yves deu sorte no São José e para o São José. Como vice-presidente de futebol, em 1980, sob a presidência de Laerte Pinto, o clube subiu para a primeira divisão. Em 1987, depois de o time ter caído para a segunda, Yves volta à direção, agora como presidente, e o clube sobe de
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novo para a primeira divisão. Em 1988 o time fica em terceiro lugar no Campeonato Paulista e, em 1989, é vice-campeão paulista, empatando com o São Paulo a final, no Morumbi. Yves garante que se a final tivesse sido no Martins Pereira ninguém lhe tiraria o campeonato, “porque naquela época o São José não perdia em casa de jeito nenhum”! O São José Esporte Clube não foi campeão em 1989, mas seu presidente, Pedro Yves, assumiu o primeiro lugar no principal “campeonato” de sua vida: tornou-se prefeito da cidade de São José dos Campos, uma aspiração que nunca escondeu, embora esperasse que fosse acontecer de outra forma. “Eu sempre tive muita sorte na vida” Acercar-se sempre de pessoas melhores e mais experientes é a receita de Pedro Yves para ser bem sucedido no que fizer – até no amor, prescreve o cirurgião-dentista. Das muitas jovens que conheceu e que se encantavam pelo sucesso que fazia nos esportes, escolheu uma que veio de outro Estado. Vânia do Valle era filha de um engenheiro especializado em rodovias, Geraldo Ribeiro do Valle. A família chegou a São José dos Campos quando ela completava 15 anos. O pai viera para as obras de pavimentação da rodovia Presidente Dutra e depois participara também da construção do CTA (Centro Técnico da Aeronáutica). A jovem era aluna interna do Colégio Nossa Senhora de Sion, em Petrópolis (RJ), e só ficava em São José dos Campos nas férias escolares. Yves a viu pela primeira vez quando ela, terminando o ginasial, voltara para a casa da família. Conheceram-se e após quatro anos casaram-se. Yves afirma que sua boa sorte se fez muito presente quando colocou em seu destino a mulher certa para a vida complicada que levava. Diz que foi muito pela compreensão e companheirismo de Vânia que pôde superar as grandes exigências de ter, em primeiro, a vida de empresário somada à de esportista e, depois, a vida de esportista somada à de político. Em ambos os casos, podia dedicar-se muito pouco à família. Como prefeito, Pedro Yves trazia pequena experiência do quase ano e meio vivido ao lado de Bevilacqua, mas “com a caneta na mão” a realidade era bem outra. Tudo o surpreendia. A quantidade de problemas
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a serem resolvidos, o número de iniciativas diárias que tinha de tomar e a quantidade de dinheiro que administrava, apesar dos tempos difíceis. E ele não tinha vice-prefeito para ajudar a “carregar as pedras”. Quando não sabia certo procedimento, recorria aos mais experientes. Manteve quase todo o secretariado de Bevilacqua e valorizou o funcionalismo de carreira, que, diz, foi quem “segurou o rojão” nos momentos de decisões administrativas importantes. Refere ter tido excelentes colaboradores em todas as áreas. Na política, diz que viveu o céu e o inferno. Houve momentos compensadores, como quando entregou quatro mil casas à população carente que amargava mais de vinte anos sem plano de habitação, duas mil no conjunto D.Pedro I e outras duas mil no D.Pedro II. O mesmo aconteceu quando transformou 24 barracos na Vila Abel, condenados a desabar sozinhos ou a ser demolidos, em casas dignas. No episódio, os moradores tiveram somente a sua palavra como garantia de que, uma vez derrubados os barracos, seriam construídas casas de alvenaria e eles poderiam retornar para o local. O lado ruim foi a convivência com aqueles políticos e lideranças que se aproximavam por interesses mesquinhos, foram as traições, as difamações, a inversões de valores. Certa vez, ao anunciar quarenta novos leitos para a saúde, não conseguiu reunir a imprensa nem muita gente para o ato da entrega. Em contrapartida, o Salão Nobre da prefeitura foi pequeno para receber tantos repórteres e curiosos quando apresentou novos jogadores do São José Esporte Clube quando nem mais era presidente do clube. A maior frustração foi não conseguir que seu projeto do metrô de superfície, um trem suburbano que ligaria a zona fabril de Caçapava, São José e Jacareí, fosse continuado pela sucessora na prefeitura. Ele havia conseguido que a fechada Rede Ferroviária Federal cedesse o trecho da ferrovia e que um grupo de empresários italianos financiasse a obra em troca da concessão do serviço por vinte anos. A Tectran, indústria que fabricava veículos de guerra, construiu um protótipo que rodou sobre os trilhos no trajeto. Yves diz que só precisava mais tempo para tornar a ideia realidade. A pressão contrária das empresas de transporte coletivo e o desinteresse da administração que o sucedeu sufocaram a iniciativa.64 64. Ver referência mais detalhada ao tema adiante, na pág. 391. (N. do E.)
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O resultado de seu trabalho na prefeitura, apesar de todas as dificuldades, foi reconhecido pela população. Ao deixar o governo, em dezembro de 1992, exatos 1.004 dias depois de se tornar prefeito, seu slogan “mil obras em mil dias” parece não ter sido mera propaganda. Pesquisas feitas em São José dos Campos por dois jornais, a Folha de São Paulo e o Valeparaibano, deram-lhe altos índices de aprovação no final do mandato. Não havia reeleição na época, porém, dois anos depois a população de São José dos Campos o “reelegeu” levando-o à Câmara dos Deputados. Posteriormente, foi eleito deputado estadual. Pedro Yves considera-se uma pessoa de muita sorte. Principalmente por ter conseguido acercar-se de pessoas competentes, leais e amigas. Isto ele vê como parte do segredo de sucesso que obteve na carreira em que, menino pobre vindo de uma cidade distante, foi recebido de braços abertos por São José dos Campos, nela cresceu, estudou, estabeleceu-se, prosperou e, por fim, participou de seus destinos como prefeito e como deputado federal e estadual. 65
65. Pedro Yves é casado há 42 anos com Vânia do Valle Simão, tem três filhos e quatro netos.
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Jogador de basquete da seleção em visita a Cuba, Pedro Yves (camisa 4) posa ao lado do ditador Fidel Castro.
Com o engenheiro Ronaldo Garcia, diretor-técnico da Urbam (à direita), vistoriando obra do Anel Viário.
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Com o vereador Pedro Bala (Pedro Celestino de Freitas, à direita), em cerimônia no Paço Municipal.
Com moradores da Vila Abel.
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No CAIC do D. Pedro I, o prefeito, por um instante, dรก lugar ao ex-jogador.
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Com a vereadora Lindonice de Brito.
Com Ozires Silva. No fundo, o jornalista MĂĄrio GalvĂŁo.
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Em vistoria às obras do hospital municipal. Por terem-se interrompido nesta fase, o local ficou conhecido na época como “paliteiro”. Da esquerda para a direita: José Raimundo Romancini, Pedro Yves, Itamar Coppio, Macedo Bastos.
Com o secretário de Saúde Gílson Carvalho.
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Entrevista Pedro Yves diz que ser prefeito de sua cidade é a maior realização que alguém pode ter na vida. É o cargo que permite atender de imediato as necessidades mais básicas da população e realizar obras importantes para o presente e para o futuro da comunidade. Mas não é fácil. O dinheiro nunca dá e as necessidades da população jamais terminam. Até um município do porte de São José dos Campos precisa de ajuda dos governos do Estado e Federal, apoio de empresários empreendedores e respaldo de uma equipe eficiente. Entrevistado em sua casa, em outubro de 2007, Pedro Yves relembra como esse conjunto de fatores foi fundamental para sua encurtada administração, que inicialmente só tinha dinheiro para a folha do pessoal, mas que conseguiu sair do vermelho, pagar as dívidas, melhorar condições de vida de bairros esquecidos e iniciar obras para seus sucessores. Todos os prefeitos em final de mandato queixam-se de que B. Veloso: quatro anos é pouco para governar – muitos acham pouco até os oito hoje permitidos – e você teve pouco mais de dois anos e meio sem direito à reeleição. Deu para fazer alguma coisa? Pedro Yves: Eu assumi a prefeitura de São José dos Campos no dia 2 de abril de 1990, e deixei o cargo, ao final do meu mandato, em 31 de dezembro de 1992. Foram mil e quatro dias à frente da administração pública de São José dos Campos. Tive uma alegria muito grande em exercer esse mandato, considero esse período muito profícuo. Acho que consegui realizar obras que marcaram e ainda vão marcar por muito tempo a vida de nossa cidade, além de deixar obras muito importantes iniciadas. Plantei uma ideia que quando puder ser executada irá beneficiar não apenas São José dos Campos, mas toda a região. Claro que considero o período em que estive no governo insuficiente para realizar tudo o que eu pretendia, mas procurei fazer o viável dentro do meu orçamento apertado, principalmente no social. BV: Geralmente ser prefeito é o ponto alto – e até final – de uma escalada política que começa na militância partidária e passa pela câmara de Vereadores por intermédio de alguns mandatos. Há quem
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se eleja deputado antes de chegar ou tentar atingir esse ponto. Você chegou lá de primeira. Isto foi bom ou ruim? PY: Minha primeira experiência na política foi como vice-prefeito e secretário de Esportes durante um ano e três meses. O Joaquim Bevilacqua e eu assumimos a prefeitura em 1º de janeiro de 1989. Nesses dois cargos que exerci preliminarmente, tive muito contato com a população dos bairros, ouvi seus problemas e isto me foi trazendo conhecimentos no ramo. Mas fui aprender de verdade, e rapidamente, quando me tornei prefeito, e o que me permitiu uma adaptação bastante segura ao cargo foi a qualidade de minha assessoria. Mantive de início todos os secretários nomeados pelo Bevilacqua e depois, com o tempo, troquei alguns. Tive a sorte de contar com auxiliares de grande competência entre esses secretários e também no corpo do funcionalismo efetivo. Devo muito a eles nessa parte. Portanto, posso dizer que, apesar da surpresa, foi bom. BV: Depois que soube que o Sílvio Santos voltou atrás em candidatarse a governador, e o projeto dele tornar-se o vice-governador foi por água a baixo, o Bevilacqua tentou interferir de alguma forma na sua administração, já que o pessoal dele ainda estava por lá? PY: Não. Nós sempre tivemos uma amizade muito grande. Ele é uma pessoa a quem eu admiro muito. Entendo que ele seja um dos políticos mais gabaritados que conheci. Um analista político excelente a quem devo muito. BV: Você se considera uma pessoa de sorte. Essa ida para o principal posto do município da maneira como aconteceu seria um exemplo disso? PY: Não vejo assim. Eu me considero uma pessoa de muita sorte com relação às pessoas com que me relaciono. Eu sempre tive a sorte de ter ao lado uma pessoa melhor do que eu, e isto sim considero importante. No basquete, por exemplo, tive o professor Alberto Marson, o Gérson Munhoz dos Santos e o Edvar Simões. Eles me ajudaram muito na carreira; depois, no futebol, eu tive o Diede Lameiro. Ele entendia tudo de futebol e me ajudou muito nessa minha caminhada como dirigente do São José. Na política eu fui o que fui, sou o que sou graças ao Bevilacqua, que mesmo fora da prefeitura, na medida
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de suas possibilidades, procurou me ajudar sempre sem querer interferir diretamente na administração. Todos eles foram muito importantes. Depois o funcionalismo, volto a dizer. BV: Em que condições você recebeu a prefeitura naquele início dos anos 1990 em que o País todo vivia uma época de muita agitação? PY: Estávamos em um período muito crítico e não apenas naquele momento. A dificuldade vinha de muito tempo e era pesada. Pouco mais de um ano antes, quando fomos eleitos, as coisas já estavam muito difíceis na administração municipal, em toda a região, em nosso Estado, e no País. O déficit orçamentário de São José dos Campos era muito grande, a prefeitura arrecadava somente o suficiente para pagar a folha dos funcionários. Não tínhamos créditos nos bancos, a situação era muito ruim, nossa administração pública estava praticamente falida. BV: Quais foram as principais dificuldades que você teve de enfrentar nesse período? PY: Por sermos uma cidade de perfil industrial e tecnológico, vivíamos na administração de São José dos Campos os reflexos da crise por que passavam naquele momento esses dois importantes segmentos, e que se estendia por todo o parque industrial e por todas as atividades econômicas. A Embraer66 ressentia-se da crise da indústria aeronáutica; a Avibrás67 e a Tectran68 amargavam a crise da indústria bélica; a Engesa69 estava praticamente falida, com seus empregados
66. Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer), que na época era estatal. Chegou a ter 12 mil funcionários antes de iniciar demissão em massa. 67. Avibras Indústria Aerospacial, empresa de projetos, produtos e serviços de defesa. Fabricava foguetes, mísseis e veículos armados. 68. Tectran, divisão da Avibrás voltada a equipamentos de telecomunicação e equipamentos industriais eletrônicos entre outros. 69. A Engesa - Engenheiros Especializados S/A fabricava veículos de combate.
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sem receber salários e direitos trabalhistas, e situação semelhante atingia a tradicional Tecelagem Parahyba. As coisas estavam feias mesmo. Havia outras grandes indústrias nas mesmas dificuldades. BV: A prefeitura acabou por ter de ajudar de alguma forma essas indústrias, embora não fosse atribuição direta sua? PY: Sim, e é bom lembrar que a prefeitura já tinha seus próprios problemas, como eu já disse. Ainda tínhamos considerável déficit orçamentário, mas tivemos de socorrer os trabalhadores de algumas indústrias, principalmente da Tecelagem Parahyba e da Engesa, com vale-transporte e cestas básicas, porque a situação desses trabalhadores era de fome, em muitos casos. Nem pense que tenham sido atitudes paternalistas, foi mesmo uma questão de sobrevivência para aquele povo, que estava em situação desesperada. BV: E nesse quadro desanimador a cidade ainda passava pelo bloqueio do ICMS, que é a principal fonte de renda das administrações municipais. Qual foi a razão desse bloqueio? PY: Esse foi outro problema sério. Havia muito tempo que o ICMS de nossa cidade estava bloqueado por ordem judicial. Como você disse, esse imposto, naquela época – como acredito seja até agora –, era a principal fonte de renda municipal, representava de 70 a 80% da arrecadação da cidade. Eu me lembro que só de dívida bancária a gente tinha mais de 14 milhões de dólares. Essa dívida com os bancos foi cobrada judicialmente e gerou o bloqueio. Mas eu consegui saldá-la até o último dia do meu mandato. Só sei que era uma luta todo final de mês a correr atrás do governador – na época, o Orestes Quércia – de “chapéu na mão”, para que ele liberasse o suficiente ao menos para manter a prefeitura em funcionamento. O que nós arrecadávamos mal dava para pagar a folha de pessoal e varrer a cidade. BV: Quanto era o orçamento do município quando você assumiu? PY: Era dez vezes menor do que o orçamento hoje. Eu acredito que em moeda atual seria próximo de R$ 100 milhões ao ano. Isto para arcar com todos os compromissos que a gente tinha, conforme eu já disse, e com o ICMS bloqueado.
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BV: Você falou da dívida da prefeitura em dólares. Na época era comum a gente raciocinar nessa moeda por que a inflação estava disparada e perdemos a noção exata do valor de nosso dinheiro. PY: Exato. A inflação chegou a mais de 1.000% ao ano pouco antes de eu tomar posse. Era um absurdo a forma como este País estava se conduzindo. Então veio o Plano Collor e confiscou os investimentos. Mas eu tive muita sorte. Apesar de a prefeitura estar em situação ruim, conseguimos muita atenção por parte do Governo do Estado. Então, nós corríamos atrás do Quércia70 , depois do Fleury71 , e conseguimos dinheiro para terminar oito escolas do Estado que estavam com as obras paradas e dinheiro para construir duas mil casas ali no Conjunto D.Pedro II. Do Governo Federal fui buscar uma verba para construir duas mil casas no Conjunto D.Pedro I. BV: O setor habitacional era também problemático na época. Havia quanto tempo não eram construídas casas em São José dos Campos? PY: Fazia vinte anos que não se colocava um tijolo para uma casa popular. E eu tive a satisfação de construir mais de quatro mil moradias populares na cidade, durante o período em que estive na prefeitura. BV: E a Unipas teve participação nisso... PY: Sim. É justo lembrar que a Vânia, minha esposa, fez um trabalho muito bonito frente à Unipas [Unidade Participativa de Ação Social]. Ela construiu e reformou cerca de trezentas casas populares para a população mais carente, em que contou com a participação de entidades sociais. Também incrementou mais de cem creches domiciliares. Foi uma obra muito bonita, sem dúvida nenhuma. BV: Você diria, então, que em seu mandato houve um avanço considerável na área habitacional para pessoas de baixa renda? PY: Eu entendo que sim. Inclusive vivemos momentos interessantes e até emocionantes em certo sentido. Tem um episódio do final de 70. Orestes Quércia, governador de São Paulo, de março de 1987 a março de 1991. 71. Luís Antônio Fleury Filho, governador que sucedeu Quércia, de março de 1991 a março de 1995.
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meu mandato que mostra bem isto. Na Vila Abel os moradores viviam em uma espécie de submundo. Era um agrupamento de 24 barracos cobertos com lonas, em vez de telhas, uma precariedade máxima. Conseguimos, com uns empresários, tijolos, materiais de construção, e fomos até lá e propusemos derrubar tudo aquilo e construir trinta casas decentes no local. BV: E o pessoal não ficou com medo de que derrubando tudo vocês não construiriam e eles não teriam mais nada? PY: Alguns desconfiaram de nossas intenções. Disseram-me: “Ei, prefeito, o senhor vai meter as máquinas, derrubar tudo, e como vai ficar”? Mas eu argumentei e garanti que a construção sairia e eles poderiam voltar para o local, e assim fizemos as casas. Confesso que até eu fiquei preocupado de a obra não sair. Era final de mandato. Mas deu tudo certo, o povo se ajeitou onde pôde até terminar a obra e eu tive a satisfação de doar as casinhas para o pessoal. É emocionante a satisfação de entregar a “chave da casa própria” a um pai de família ou à mãe de família muito pobre que vem chorar no seu ombro. Uma coisa assim vale por todos os dissabores que a gente passa na administração pública. Então, no Natal de 1992, eu me lembro, dom Nelson Westrupp era o bispo diocesano. Ele rezou uma missa no local e nós entregamos as trinta casas, e foi uma felicidade muito grande para o povo que morava naquele local. São fatos que compensam os dissabores, as traições e os “tapetes puxados”, que a gente recebe na política. É o que realmente vale a pena. BV: E o velho problema dos lotes do Campo dos Alemães – em que muita gente tinha um terreno e nem sabia onde ficava? PY: Pois é. Haviam distribuído os terrenos ali a centenas de famílias, mas ninguém sabia onde ficavam os lotes. Toda aquela área não foi demarcada. Então o cidadão tinha o terreno, mas não sabia onde ficava. Como prefeito eu mandei demarcar toda área e entreguei os
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lotes aos respectivos proprietários, e mais: a Urbam [Urbanizadora Municipal] tinha um espaço ali para fabricar blocos. Então, o proprietário do terreno levava um saco de cimento e nós doávamos setenta blocos para ele. Doávamos pedra, terra, areia… Inclusive, os engenheiros da prefeitura faziam a planta e orientavam aquele povo como fazer a casa dentro dos padrões estabelecidos pela prefeitura. Por isto eu reafirmo que nessa região sul de São José dos Campos nós temos um trabalho muito grande na área da habitação. BV: Havia muita inadimplência nesses lotes? PY: Sim. E eles pagavam uma mensalidade irrisória que nem valia a pena ajuizar para cobrança. Então, nós acabamos por fazer a doação dos terrenos aos proprietários daqueles imóveis. BV: Houve, ao que parece, um trabalho intenso na zona sul, não foi? PY: Quando nós assumimos a Prefeitura de São José dos Campos brigamos muito pelo Projeto Cura 5 , um projeto do Governo Federal que se encontrava parado.72 O Jardim Morumbi, por exemplo, era só barro na chuva e poeira na estiagem. Com esse Projeto Cura nós trouxemos uma verba que deu para asfaltar e trazer esgoto para todo o bairro. No total de meu mandato foram mais de 220 quilômetros de implantação de rede de água e esgoto, em que a prefeitura entrou com a mão-de-obra e a Sabesp com o material. A zona sul era a mais carente, mas cuidamos também de outras regiões da cidade. Asfaltamos as ruas da região leste, São Leopoldo, Santa Fé, levamos melhorias para o Jardim Uirá, região norte, Santana: então; a cidade toda recebeu melhoramentos no meu governo, mas a carência maior mesmo era ali na região sul. BV: O que ficou faltando completar na região sul? PY: Infelizmente não deu para levar o asfalto para a região toda. Dois anos e meio não foram suficientes para fazer tudo. Mas, depois, o Emanuel Fernandes, quando assumiu a prefeitura, levou o asfalto para a região toda. E hoje o pessoal dali mora com toda dignidade e tem até orgulho de dizer que é do local. Naquele tempo, dizia-se
72. Outras referências ao Cura nas págs. 131, 212 e 223. (N. do E.)
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que quem morava naquela região era marginal. Os moradores dali sempre foram trabalhadores. O local, sim, era marginalizado. Hoje todos se orgulham de morar lá. BV: Você se auto-intitula “um esportista na política”. O esporte teve influência na sua vida como empresário? PY: Na verdade, o esporte sempre esteve muito presente na minha vida e a ele eu devo tudo o que conquistei até hoje. Veja, depois que me formei, continuei a jogar basquete. Abri meu consultório ali na avenida Adhemar de Barros e depois ele transformou-se em clínica, a Odontoclin, onde trabalhei na profissão durante trinta anos. Fizemos convênios com praticamente todas as indústrias de São José dos Campos, chegamos certa época a ter 30 dentistas trabalhando comigo na clínica. Atendíamos trezentas pessoas por dia; entretanto havia uma indústria, a Alpargatas73 , uma das maiores empresas em número de empregados, que não assinava o convênio com a gente de jeito nenhum. Eu tentava firmar um convênio, mas nunca dava certo. Os diretores não me recebiam, não falavam comigo, e eu não conseguia entrar na empresa. BV: E você ainda jogava basquete nessa época? PY: Sim, escuta só: eu jogava pelo Tênis Clube de São José dos Campos e estava numa fase muito boa. Certo dia o Corinthians veio a São José jogar contra o Tênis Clube e, como todo atleta tem aquele dia em que dá tudo certo pra ele, calhou de eu estar assim naquele dia. O jogo terminou empatado no tempo regulamentar e foi para a prorrogação. O Tênis Clube, então, ganhou do Corinthians, que era o maior time de basquetebol do Brasil, aqui dentro de nossa cidade, e com boa atuação minha. Quando eu saía do Tênis Clube estava um pessoal por ali sentado a umas mesinhas; eram diretores da Alpargatas que haviam assistido ao jogo. Quando me viram, eles me chamaram e disseram: “Olha! Sabe aquele pedido seu de convênio com a Alpargatas?” Eu disse: “Sei, como é que está?” E eles: “Passe por lá na segunda-feira pra gente ver isso!” E, de fato, na segunda-
73. São Paulo Alpargatas S/A.
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feira eu passei na indústria e assinei o contrato, que foi muito bom empresarialmente para mim. Mais uma que eu devo ao esporte. BV: Quais as suas principais realizações na Secretaria de Esportes? PY: Posso citar a construção de ginásios esportivos; fizemos sete. O primeiro ginásio de esportes do bairro Novo Horizonte foi construído na minha administração. Desenvolvemos esportes nas escolas, conseguimos tirar boa parte das crianças das ruas, evitando que elas fossem presas de traficantes de drogas. Enfim, o trabalho que iniciamos na Secretaria de Esportes é desenvolvido até hoje, claro que em patamar bem mais elevado, mas essa foi minha contribuição com meu trabalho na Secretaria. Muita gente boa que trabalhou comigo naquela época ainda está na Secretaria. BV: Até sua vez, São José dos Campos teve alguns prefeitos que não encerraram seus mandatos. Como a cidade suportou isso? PY: Foram sete prefeitos em dez anos; uma média absurda de um ano e cinco meses por prefeito no cargo*. Cidade nenhuma suporta uma coisa dessas. Essa falta de continuidade administrativa atrapalha. Mas, São José dos Campos se fez maior que o problema e mantevese em desenvolvimento apesar de tudo. Conseguiu superar também essa dificuldade, repito, graças à competência dos funcionários da prefeitura. É um pessoal qualificado, competente, e nesses dez anos de troca-troca de prefeitos foram os secretários, diretores, chefes, funcionários que nos bastidores “carregaram” a prefeitura. Eles que impediram a máquina de parar. BV: Você acha que sempre foi assim? PY: Sem dúvida. É importante dizer que um prefeito, quando assume, leva por volta de seis meses para ver como a máquina funciona, existem muitas dificuldades que atrapalham até o prefeito acertar sua equipe. Nesse período, a administração conta com os funcionários de carreira que estão ali para “segurar o rojão”. Eu entendo que São José dos Campos deve muito a eles por esse progresso, por esse desenvolvimento que tivemos nesses anos todos. E isso é assim até hoje. * Na verdade sete prefeitos em quinze anos, de 1978 a 1992. (N. do E.)
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BV: Apesar dessa sua paixão pelo esporte, houve um caso envolvendo o São José que o desapontou, como você já me disse. PY: Sim, é verdade. Eu já havia me tornado prefeito. Nós íamos inaugurar cinquenta leitos hospitalares no Pronto Socorro Municipal. Nesta inauguração, o Gílson Carvalho – um grande secretário de Saúde – a meu pedido, disse ao secretário de Comunicação que avisasse toda a imprensa. E toda imprensa foi avisada com boa antecedência sobre a inauguração. Era um evento muito importante porque a prefeitura na época tinha trinta leitos e estávamos inaugurando mais cinquenta – depois inaugurei mais cem. A minha expectativa era que a imprensa prestigiasse o evento. No dia da inauguração estávamos lá, e só um ou outro repórter apareceu. Ninguém da televisão, da rádio ou dos grandes jornais. Eu fiquei surpreso, porque nossa saúde era problemática e estávamos dando um passo importante. Passou algum tempo, eu era prefeito ainda, e o São José ia disputar o Campeonato Brasileiro, o maior campeonato nacional de futebol... BV: Você ainda dirigia o clube?! PY: Não, eu não tinha mais cargo nenhum no São José, o presidente era o Pedro Dominicalli, mas eu tinha uma atuação muito grande, ainda. Por isto nós fizemos a apresentação da nova equipe do São José no Salão Nobre da Prefeitura. Eram 13 jogadores de renome, como Viola e outros desse nível. Apenas uma hora antes da apresentação eu pedi ao Fernando Fagundes que telefonasse para a imprensa. Uma hora depois, quando eu entrei no Salão Nobre, estava lotado! A imprensa toda lá! As televisões, os jornais, as rádios, todo mundo. Aí eu senti o que é inversão de valores. Montamos um time, a imprensa toda prestigiou; mais que dobramos os leitos hospitalares da cidade e a imprensa não deu muita bola para o fato. Não adianta; os esportes, principalmente o futebol, apaixonam o brasileiro. BV: A Saúde sempre foi o ponto fraco das prefeituras. Como você enfrentou este problema? PY: Como já citei, tive um excelente secretário de Saúde, o dr. Gílson Carvalho, em quem depositei total confiança. Tenho certeza de que ele fez o que podia ser feito. Inclusive, a primeira Conferência
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Municipal de Saúde foi feita no meu governo e organizada por ele. Só que o problema da Saúde é muito sério. Veja o caso de São José dos Campos, que é um centro administrativo regional. Principalmente para cirurgias eletivas, vem gente de todos os lados para ser atendida, além dos moradores da cidade. Vem gente do Litoral Norte e da Mantiqueira e até do sul de Minas, e nós temos que atendê-las em São José. Então, é muito complicado fazer um serviço que possa ser considerado eficiente, com tantos problemas. BV: Educação é outro ponto que os políticos priorizam nas campanhas eleitorais. Depois, quando assumem, nem sempre conseguem cumprir o que prometeram. O que você considera realização importante nessa área em seu governo? PY: Para mim, a Educação, como a Saúde, sempre foi prioridade máxima. É através dela que formamos o homem de amanhã. Sou filho de professora daqueles bons tempos em que se ensinava mesmo e em que o professor era valorizado. Época em que existia exame de admissão para se entrar no ginásio. No meu tempo de estudante os professores eram bons, valorizados. Tive colegas que saíram do João Cursino e entraram direto no ITA, nas faculdades; era um outro tempo. Vemos hoje crianças que encerram o ciclo escolar sem saber escrever direito. Se o Brasil chegou aonde chegou com esses descalabros que se vê na área da política, foi sem dúvida por falta de base educacional. A ditadura por que passamos por vinte anos dificultou a formação de lideranças. A Educação teve um declínio muito grande. Eu fiz o que foi possível, mas tem muito a ser feito ainda. Procurei prestigiar a classe dos professores. Eu não poderia deixar um setor dessa importância de lado. Eu fiz o que pude. Procurei valorizar o professor, e dotar as salas de aulas com o melhor possível.
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BV: Você aumentou o número de salas de aula? PY: Nós tínhamos oito escolas estaduais com prédios inacabados. Fazia dois anos que as obras estavam paradas. Eu fui ao Governo do Estado e consegui reativar as obras e entregar essas oito escolas à população. Então, a escola do Jardim Morumbi, a escola do Cerejeiras, do Castanheiras, do Campo dos Alemães, entre outras, foram entregues à população. Nesse meu mandato eu tenho o orgulho de dizer que nós construímos duzentas salas de aula, então a educação foi priorizada proporcionalmente aos recursos de que dispúnhamos. BV: E os CAICS? Parece que são “as meninas dos seus olhos”, não? PY: É que eu tenho o privilégio de ter construído os dois primeiros CAICs do Estado de São Paulo, um no Conjunto D.Pedro I e outro no Campo dos Alemães – escolas maravilhosas, muito bem estruturadas, que funcionam até hoje. Eu as trouxe do Governo Federal para São José dos Campos. Os CAICs são escolas modelos. Possuem um belo ginásio esportivo, salas de aulas, salas de reuniões. A criança entrava às oito horas da manhã, tomava café, almoçava, jantava, depois ia para casa. À noite, os pais e as mães se reuniam ali para fazer cursos práticos, como bordados, eletricidade, primeiros socorros, etc. Fico feliz porque foi uma demonstração de carinho especial para essas localidades que receberam os CAICs. Até então eram as mais abandonadas de São José dos Campos. BV: Qual a obra que você reputa mais importante do seu governo? PY: Eu acho que foi dar início ao Anel Viário. A obra desse anel viário que está aí hoje estava paralisada desde a década de 70. Filho bonito tem muitos pais, e hoje todo mundo quer ser o responsável pelo Anel Viário. Eu me lembro que havia muito viaduto inacabado ao longo da Via Dutra. Então eu fiquei praticamente um ano indo para Brasília, brigando com Brasília, na tentativa de trazer o financiamento para o nosso anel viário. Até que consegui o financiamento para a obra. Eu tenho uma cópia do contrato comigo. Fui eu quem assinou esse contrato com a Caixa Econômica Federal e iniciou a ligação da região Sul com o Centro de São José dos Campos.
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BV: Você afirma, então, que no seu governo foi que começou de fato a obra do Anel Viário? PY: Sim. Eu fiz a desapropriação daquelas casas da rua Joaquim Manoel de Carvalho, paguei aquelas desapropriações, fizemos toda a terraplenagem – tenho isso tudo filmado! –, iniciamos o asfalto, então, dei o primeiro importante passo. Sem dúvida uma grande obra. Calcule São José dos Campos hoje sem o anel viário; ninguém poderia transitar por nossas ruas. Felizmente, os prefeitos que vieram depois deram sequência a essa obra que, sem dúvida, é imprescindível para a cidade.74 BV: Qual o projeto que o senhor gostaria de ter feito e não conseguiu? PY: Foi o do metrô de superfície. Eu deixei a viabilização dele muito bem encaminhada, mas nenhum prefeito deu continuidade. Eu estive na Rede Ferroviária Federal para tratar do assunto, o Ozires Silva era ministro da Infraestrutura e conseguiu do Governo Federal a concessão do trecho de Caçapava a Jacareí para explorar o leito da ferrovia. Assinamos esse convênio com a RFF – o que se pensava ser a coisa mais difícil –, então esse trecho de Caçapava a Jacareí já era praticamente das prefeituras, o presidente da República assinou, tudo certinho!75 BV: Mas como seria possível viabilizar essa obra que requer muito dinheiro, se, como você disse, a prefeitura passava por apertos financeiros? PY: Nós procuramos criar interesse na iniciativa privada. Estivemos na Tectran, que fabricava veículos pesados para o Exército, e a Tectran elaborou um projeto do trem que iria correr nessa região, de Caçapava até Jacareí. E nós já tínhamos um grupo de empresários italianos, com os quais eu havia me reunido por diversas vezes, e esse grupo já estava bastante propenso a financiar o metrô de superfície.
74. Cf. as declarações de Bevilacqua, na pág. 223, de Ednardo, nas págs. 167-168 e 182, e de Ângela, nas págs. 404 e 422. (N. do E.) 75. Cf. declaração de Sobral sobre o tema, na pág. 160. (N. do E.)
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BV: O Governo Federal tinha uma ideia da importância desse projeto? PY: Sim. Certa vez, numa solenidade nossa, aqui em São José dos Campos, em que estiveram presentes o ministro da Infraestrutura76 , o presidente da Rede Ferroviária Federal e autoridades do Transporte, nós fizemos o trajeto de São José dos Campos a Jacareí no protótipo da Tectran sobre os trilhos da ferrovia. Todo mundo elogiou, mas depois engavetaram o projeto e ninguém mais falou nele. Se eu tivesse dois mandatos, como é possível hoje – na época não havia reeleição – eu teria implantado o metrô de superfície, com toda certeza. BV: Seria viável, em termos de transportes? PY: Sem dúvida nenhuma. Os trilhos da Rede Ferroviária Federal passam por todas as grandes indústrias dessas três cidades. Seria muito prático em termos de transporte econômico do pessoal dessas indústrias. Como esses trilhos ficam ao longo da Via Dutra, o metrô de superfície serviria também para desafogar o trânsito intenso na rodovia – e a gente sabe muito bem como está hoje, principalmente com os ônibus de fretamento das fábricas. Tanto seria viável que o prefeito Eduardo Cury colocou o metrô de superfície no Plano Diretor. BV: Como foi seu relacionamento com a Câmara de Vereadores no seu tempo de prefeito? PY: Meu relacionamento com a Câmara era ótimo. Todo prefeito que tem um mínimo de habilidade faz um bom relacionamento com a Câmara. O prefeito tem a “caneta na mão”. Mesmo que tenha feito minoria de vereadores na eleição, dentro de dois ou três meses ele passa a ter a ampla maioria da Câmara do seu lado. Porque o vereador precisa do prefeito para sobreviver politicamente. Ele precisa levar obras, levar alguma coisa para sua base. O prefeito, com a caneta na mão, tem muita facilidade para obter adesão da Câmara. Na Câmara atual, de 20 vereadores, o prefeito tem 17 aliados. Só não tem
76. Como já dito, Ozires Silva. Na época, o Ministério da Infraestrutura havia incorporado o Ministério dos Transportes.
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mais porque sempre tem um lado mais radical que dificulta as coisas. BV: Durante todo esse período em que esteve na política, você teve pouco tempo para se dedicar à família, à sua vida particular. Valeu a pena todo esse sacrifício, sua família entendeu? PY: A minha família foi sempre sacrificada, infelizmente. Eu digo isso pela forma de vida que escolhi. A Vânia, minha mulher, aceitou isso quando se casou comigo. Veja, eu, dentista formado, tinha dez, doze horas diárias de consultório; depois, fechava o consultório e enfrentava a Via Dutra três, quatro vezes por semana para treinar ou jogar em São Paulo, no Corinthians, depois Palmeiras. Saía cedo de casa, voltava de madrugada, nessa fase de consultório e de atleta do basquetebol. Terminou essa fase do basquete, a família disse, “bom, agora ele vai sossegar, porque não está jogando mais”. Aí, começou a nova fase de dirigente esportivo. Justo nessa fase que minha família pensou que eu voltaria para casa aconteceu tudo aquilo. Logo em seguida, veio a política. Você, para ser um político, um administrador, precisa dedicar-se inteiramente àquilo que faz. Então a família fica de lado. Para se ter uma ideia, só no nascimento do primeiro dos meus três filhos eu estive presente. Quando minha filha nasceu, a segunda, a Ana Flávia, eu estava jogando pelo Trianon Clube, em Jacareí. Meu sogro foi quem levou minha mulher para a maternidade. O que salva é que eu tenho uma família maravilhosa, e graças a essa família, que entendeu isso tudo, eu pude enfrentar essa luta. BV: Qual o principal problema da administração municipal, hoje? PY: Eu acho que um problema muito sério é o Pinheirinho. É uma área muito grande com mais de duas mil famílias que invadiram aquele terreno. A Justiça já mandou que o povo saia dali, mas eu
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tenho a impressão que eles vão causar sérios problemas77 . Ali tem muita gente que se aproveita politicamente do povo que mora lá. São os que incitam aquele povo a dificultar as coisas. Para mim, o Pinheirinho é o “calcanhar de Aquiles” da atual administração – que fez obras excelentes, como a reforma do Parque Santos Dumont, a aquisição do Vicentina Aranha, sonhos de todo joseense mais antigo. Importante também é o projeto do centro de alta tecnologia que está sendo desenvolvido ali no prédio da antiga Solectron78. Acho que esses passos positivos da administração poderiam somar-se a uma solução do caso Pinheirinho em favor das famílias que não terão para onde ir se tiverem de sair do local. BV: Pedro Yves, qual é a fórmula, caso exista, para alguém ser um bom prefeito de uma cidade? PY: Eu digo que você precisa primeiro ter uma equipe muito boa, do funcionário ao secretário, como eu tive. Você precisa ter auxiliares de confiança, secretariado competente e servidores que ajudem a administrar. Depois, saber priorizar as obras, quais as regiões que você vai atender, depende muito de bom senso, determinação, de equipe eficiente, e é com esses ingredientes que a gente consegue administrar qualquer cidade. Porque os problemas são os mesmos em todo lugar, só muda a proporção deles. Mesmo num município como São José dos Campos, com uma arrecadação prevista para mais de R$ 1,3 bilhão para 2008, é preciso correr atrás dos governos do Estado e da União, é preciso contar com apoio de empresários empreendedores, privatizar o que convém, ter obras voltadas para a sociedade, enfim, é preciso conquistar o respeito da população. BV: Como você vê a classe política hoje? PY: Hoje o político está desgastado, totalmente desacreditado. Com certeza está muito mais difícil participar de política atualmente. É muito difícil passar pela vida pública e ficar incólume a tanta barbaridade vinda da classe política como a que se vê pelo noticiário. 77. Até o momento em que este livro foi redigido, a situação do Pinheirinho estava sub judice. (N. do E.) 78. O Parque Tecnológico Riugi Kojima. (N. do E.)
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Atualmente o governo estadual até que está bem, mas no governo federal a corrupção chegou a um ponto que eu nunca vi. Fala-se em Mensalão, em sanguessugas, é um escândalo atrás do outro em proporções gigantescas. BV: Como você vê a atual administração de São José dos Campos? PY: Dentro das dificuldades de uma cidade do porte de São José dos Campos, é boa. Administrar é um problema sério, porque se você atende a uma reivindicação de um bairro eles já pedem outra coisa, sempre! Fica muito difícil agradar a todo mundo. O ponto importante é que o PSDB já vem aí de oito anos do Emanuel e já vai para quatro anos do Cury. Com isto, a prefeitura não sofreu solução de continuidade, e isto é muito bom. Eu não quero dar nota não, mas considero a administração do Cury boa. Só acho que o lado social deveria ser visto com o maior carinho. Atender à periferia é imprescindível. Já foi feita muita coisa na área da Saúde, mas podem ser feitas mais ações nessa área. Até porque a arrecadação de São José dos Campos é hoje excelente. Sabendo priorizar é possível fazer ainda mais coisas para toda a cidade. BV: Quem, na sua opinião, são as grandes figuras de São José dos Campos, no geral? PY: Eu não gostaria de citar políticos, embora tenhamos tido grandes nomes nessa área. No geral, eu citaria o dr. Nelson D’Ávila. Foi o médico pioneiro em São José dos Campos, com uma obra grandiosa naquele tempo em que a cidade era pequena, era praticamente um sanatório para atender tuberculosos. Na área da educação eu citaria o professor Everardo Passos, que foi uma figura exponencial da educação em São José dos Campos. Quando não se falava de educação em nível mais elevado, o professor Everardo implantou a Etep, com o Olavo Bilac e com outras escolas que são modelos no município. Foi uma excelente pessoa. Acho que foi uma figura que precisamos reverenciar. Depois, na área do esporte, gostaria de citar um ser humano maravilhoso a quem São José dos Campos deve muito também, e que pela sua humildade talvez não seja tão reconhecido: é o Lineu de Moura. Foi presidente da Associação Esportiva São José, foi diretor do Tênis Clube, foi um homem do esporte com grandes
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realizações, e de uma humildade que até o prejudicava. Mais atualmente, cito o ministro Ozires Silva. Nós viemos da mesma região, ali de Bauru, ele chegou antes de mim, mas o Ozires Silva merece ser reverenciado por tudo o que ele representou e ainda representa para São José dos Campos – basta mencionar a criação da Embraer. Acho que devemos muito a ele. BV: Ainda há pouco você citava a corrupção na política. O poder leva à corrupção? PY: Não diria isso. O poder pode até facilitar as coisas, mas temos homens sérios no poder. Há os bandidos e os homens sérios – como em todo ramo de atividade, até na religião. A política sofre por estar mais em evidência. A imprensa está hoje mais investigativa sobre a classe política – e eu acho que tem de ser assim –, por isto dá a impressão que na classe há mais corruptos. Há os que estão no poder e realmente se preocupam com a população. BV: Valeria a pena ser candidato novamente? PY: Entendo que já dei minha parcela de colaboração, tanto na área política quanto na área esportiva. Depois que você é prefeito de São José dos Campos, você não pode almejar mais nada. Às vezes brinco, mas não exagero quando afirmo que São José dos Campos “é o meu País”. BV: Mesmo assim, foi candidato a deputado depois de ser prefeito da cidade. PY: Depois que deixei a prefeitura eu fui eleito deputado federal, depois fui eleito deputado estadual. Mas é diferente. No Executivo você tem a caneta na mão, resolve os problemas, entrega uma casa, um viaduto, uma unidade básica de saúde. Você realiza obras, tem essa opção de realizar obras. Em Brasília, como deputado federal, as coisas são difíceis. São 513 deputados, veja a dificuldade que o exprefeito Emanuel Fernandes está passando hoje em Brasília. Uma dificuldade muito grande, a mesma dificuldade que outros deputados da região passam, tanto em Brasília, quanto em São Paulo, na Assembleia Legislativa. Nessas Casas você é mais um, apenas. Você vai fazer uma lei que amanhã nem é respeitada.
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BV: Você teve projetos, como deputado, que considera importantes? PY: Eu tenho vários projetos na Câmara Federal e outros na Assembleia Legislativa. Ajudei a trazer recursos para São José dos Campos no primeiro ano como deputado federal, como R$ 1,5 milhão em emendas do orçamento. Só para a Santa Casa foram R$ 600 mil, para construir aquela ala mais moderna da maternidade; cerca de R$ 500 mil para o Hospital Antoninho da Rocha Marmo; R$ 400 mil para o Hospital Pio XII. Como deputado estadual também ajudei muito a cidade. Insisti com o governador Mário Covas, na época, com o compromisso que eles tinham para com São José dos Campos de terminar aquele anexo da Santa Casa. Covas morreu, e coube a Geraldo Alckmin liberar R$ 17 milhões para a obra ser concluída. Portanto, em oito anos nas duas Casas a gente faz muito pouco em comparação com o que se pode fazer como prefeito, como foi o meu caso em que fiz “mil obras em mil dias”. BV: Você não acha que essa experiência toda adquirida na política poderia ser passada para os novos, que iniciam carreira agora, por intermédio de partidos políticos bem organizados? PY: Sim, seria importante. A gente procura fazer o que pode. Aqui no Vale do Paraíba eu tenho um relacionamento muito bom com prefeitos, ex-prefeitos, adquirido no decorrer de todos os anos em que estive na política. Também me relaciono com alguns partidos políticos. Sempre que me procuram tento orientá-los da melhor maneira. Agora, partidos bem organizados ainda estamos longe de têlos, infelizmente.
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Capítulo 15
UMA MULHER SOBE AO PODER É a médica Angela Guadagnin, do Partido dos Trabalhadores
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hácaras Reunidas, bairro da periferia de São José dos Campos, idos de 1986. Um surto de hepatite toma conta da região, e uma militante da Pastoral da Família, médica pediatra da rede pública, articula a comunidade e começa a organizar os moradores para reivindicar a limpeza das fossas da área. Mesmo com orientação contrária da prefeitura, foram realizadas reuniões com a comunidade discutindo a falta de saneamento, resultando em uma “constituição” do bairro, a determinar uma escala de serviços nos cortiços para efetivar um mutirão de limpeza. “Se a prefeitura não fazia, fazíamos nós.” Até aí, a história pode ser retratada como a de muitos militantes, sem que se registrassem outros fatos notáveis. Mas foi por conta de ações aparentemente simples que uma médica pediatra fez da pastoral católica e da atuação em comunidades carentes sua militância política – o que, por sinal, nunca esteve separado na história do Partido dos Trabalhadores. Naturalmente, devido a esta atuação na periferia, a médica Angela Guadagnin afiliou-se ao PT. Tal atuação não passou em vão. Em pouco tempo, seu nome surgiu como indicado para a vice-prefeitura de São José dos Campos nas eleições de 1988, na chapa de José Valter Pontes. Resultou num modesto, mas honroso, terceiro lugar nas eleições, o que viria a se caracterizar como o início da pavimentação do então incipiente PT em uma cidade ilustrativa dos tempos da abertura política. Ainda que uma cidade propícia ao novato PT no espectro político nacional, por sediar montadoras e grandes indústrias – a exemplo do berço do partido, São Bernardo do Campo –, em São José dos Campos o Partido dos Trabalhadores enfrentava uma resistência ferrenha por conta do histórico político da cidade, além da falta de recursos. Angela coordenou a elaboração do Programa de Governo Lula na área de Saúde. Em 1990, disputou a eleição para deputada estadual, mas não conseguiu chegar à Assembleia Legislativa. Depois de disputar uma
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prévia com o então deputado Ernesto Gradella, em 1992 acaba sendo a primeira mulher eleita prefeita de São José, com 93.404 votos. Era a primeira mulher e a primeira representante de um partido de esquerda na prefeitura de São José dos Campos. Essas duas coisas já deixavam claro que a administração não seria fácil. Durante os quatro anos de mandato, Angela teve de lidar com uma oposição das mais difíceis na Câmara de Vereadores. Começo difícil O começo foi mais do que difícil. Da administração anterior, Angela diz não apenas não ter recebido quaisquer informações sobre a máquina, sem nenhuma transição política, como ainda ter herdado uma dívida de R$ 79 milhões, em valores da época, sem contar os salários atrasados dos servidores municipais. Considerando-se que o orçamento da cidade beirava os R$ 100 milhões, tal dívida terá sido mais do que alarmante. No final de 1996, quando terminou o mandato, a ex-prefeita refere que o número de empresas cadastradas como fornecedoras havia subido em 600%, as contas municipais estavam em dia e o orçamento previsto era de R$ 315 milhões. As primeiras medidas exigiam cortes drásticos. Até mesmo cheques pré-datados emitidos pela administração anterior tiveram que ser sustados ou renegociados. A reabertura de crédito junto a fornecedores era fundamental e, paulatinamente, conseguiu-se um consenso. Mas, além das dificuldades financeiras, Angela tinha uma ação primordial em mente. Até então, parte dos adolescentes atendidos pela Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) trabalhava na varrição das ruas, os famigerados “cenourinhas”. Tirar esses adolescentes da rua e oferecer formação, educação e oportunidades era uma questão moral, mais do que administrativa. Abriram-se frentes de trabalho para a contratação de novos servidores para cuidar da varrição, pela Secretaria de Serviços Municipais, em lugar dos cenourinhas. Mesmo isso foi alvo de críticas e ataques da oposição, que julgava oportunista a contratação de mais servidores públicos. A disputa era ideológica – vereadores oposicionistas conseguiram protelar, por mais de um ano, até mesmo o projeto de renda mínima proposto pela administração.
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A retirada dos adolescentes da rua motivou a implementação de novos projetos. Na própria Fundhas, os adolescentes atendidos passaram a contar com cursos profissionalizantes. Os resultados, diz Angela, eram visíveis, e ela os ilustra com um caso: aos 18 anos, os adolescentes deveriam deixar a Fundhas. Eis que um rapaz de 17 anos solicita, diretamente à prefeita, que seja desligado da fundação. Isso porque, com o curso de panificação, ele conseguira uma colocação em uma padaria, e passaria a “ganhar mais do que o pai”. Não havia outra resposta: “Ok, vá com Deus, meu filho”. Três pontos De cara, Angela instituiu três pontos básicos da administração: a inversão de prioridades, colocando as ações sociais como marca de governo; a participação popular, que se efetivou com a adoção do Orçamento Participativo79; e a moralização no uso do dinheiro público. Além da reformulação da Fundhas, projetos como o Aruaí, voltado a menores moradores de rua, foram implantados. Em seu escritório, em casa, Angela conserva até hoje um “retrato” do Aruaí: um modesto cesto de lixo, empapelado, produzido por um dos jovens nas oficinas do projeto. O presente foi dado, em mãos, pelo “Ânsso”, um garoto de seus 13 anos presumidos, sem lenço nem documento, sem família, sem sobrenome, sem nada, absolutamente, que foi arregimentado pelo Aruaí. No dia em que a prefeita foi visitar a sede do projeto, “Ânsso”, que depois se descobriu “Anderson”, presenteou-a não apenas com o singelo cesto de lixo, mas com a seguinte frase: “Eu era um cheirador de cola; agora sei escrever meu nome”. “Ânsso”, não satisfeito, fez mais: “emprestou” (para não usar o verbo “roubar”) flores das casas da vizinhança para decorar a sede do Aruaí no dia da visita da prefeita – mas foi orientado a devolvê-las depois. A criança e o adolescente ganharam atenção especial: além dos projetos já citados, com o Férias na Cidade mais de 15 mil jovens tiveram acesso a atividades nunca vistas, ou de que nunca teriam oportunidade
79. Cf. declaração de Bevilacqua, de que já fizera consultas para o orçamento, na pág. 206. (N. do E.)
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de participar. Viagens à praia, ao zoológico de São Paulo, ao cinema, teatro, piscinas... Tudo, porém, acompanhado de orientações nas mais diversas áreas: educação sexual, acompanhamento psicológico, formação profissional, atendimento à família. Os projetos são vários, mas vale ainda lembrar o Casulo, que implementou o primeiro banco de leite humano do Vale do Paraíba. Não por acaso, Angela foi a pioneira na região a receber o título de “Prefeita Amiga da Criança”, concedido pela Fundação Abrinq e reconhecido pelo Unicef. Angela dirigiu as ações de governo prioritariamente para a Saúde, dando apoio integral à estruturação do SUS (Sistema Único de Saúde). Nesta área, quintuplicou os investimentos – ampliou em 34% o número de médicos nas unidades básicas. Por fim, construiu o Hospital Municipal, definido como prioridade no Orçamento Participativo. São José foi um dos vinte primeiros municípios do País que implantaram a municipalização plena do sistema de saúde em 1994. Quanto ao Orçamento Participativo, a ex-prefeita refere que algumas reuniões foram memoráveis. Um exemplo: em seu segundo ano de mandato, uma plenária do Orçamento Participativo reuniu mais de duzentas pessoas, moradoras do Galo Branco e de Eugênio de Melo. As primeiras reivindicavam uma creche para a região; as segundas, a construção de uma galeria de águas pluviais. A discussão se estendeu, até que uma moradora se pronunciou, argumentando que a creche atenderia uma necessidade imediata e funcionaria permanentemente, enquanto a galeria de águas pluviais poderia esperar até o próximo ano. Venceu a proposta da creche. A moralização do uso do dinheiro público, longe de um chavão e, em princípio, um fundamento da administração pública, fez-se notar na concretização de projetos como os já citados e na execução de obras que mudaram o perfil da cidade. O projeto do Anel Viário, engessado por mais de vinte anos, finalmente saiu do papel80. O chamado “Viaduto da Kanebo”, que literalmente ia do nada para lugar nenhum, foi finalmente concluído, e a região sul da cidade ganhou acesso direto à região central.
80. Sobre este tema, cf. págs. 167-168 e 182 (Ednardo), 223 (Bevilacqua), 390 e 391 (Pedro Yves) e 422 (entrevista de Angela). (N. do E.)
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Plano Diretor Numa discussão intensa, que envolveu a Câmara e a população, além de entidades de classe, foi durante o governo Angela que São José dos Campos conseguiu, após anos de espera, aprovar o Plano Diretor de Ordenamento Territorial, contando inclusive com informações obtidas junto ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Foi o que delimitou, entre outras, as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), regulamentando favelas e loteamentos até então clandestinos, e determinou diretrizes para o crescimento ordenado da cidade. Além disso, como presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul e Serra da Mantiqueira, entre 1994 e 1996, Angela foi uma das pioneiras na discussão do uso racional das águas na região. Mas foram quatro anos de mandato, e quatro CEIs (Comissões Especiais de Inquérito) montadas na Câmara. A oposição, sem trégua, beliscava qualquer indício de irregularidade. Angela atribui este comportamento oposicionista à “ciumeira dos vereadores, que acabaram por se acomodar como ‘despachantes de luxo’.” Para Angela, a partir do momento em que a prefeitura assumiu demandas sociais, principalmente na periferia, tirou das mãos dos vereadores o “filé”, ou seja, ações pretensamente sociais que eram apenas usadas como moeda de troca em época eleitoral. Legislar, mesmo, ficou em segundo plano, e o forte eram os ataques à administração. Fiel aos princípios católicos – que, inclusive, parece impossível não relacionar ao seu discurso –, o comportamento enérgico e ao mesmo tempo carinhoso, quase maternal, marcaram a administração. Uma das CEIs, que investigou o projeto de comunicação da prefeitura, deu em nada – como as demais. Mas é relevante o fato de que alguns “produtos” criados na administração de Angela permaneçam vivos e fortes – como o Jornal do Consumidor, exemplo de veículo de comunicação da administração com a população, com farta prestação de serviços. Angela afirma “encarar a luta por mais justiça social como um compromisso, nunca como uma obrigação”. Ela reconhece que, hoje, teria mais maturidade para encarar até mesmo a oposição e, mais ainda, conseguir fazer seu sucessor. Ao fim de seu mandato, Angela contava com nada menos que 85% de aprovação da população, o que lhe conferiria, com folga, requisitos para eleger o próximo prefeito. Discussões
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internas do PT, no entanto, colocaram tudo por água abaixo. Na avaliação de Angela, hoje, a falha maior foi indicar um candidato – no caso, Toquinho – com pouca identificação com a própria prefeita. Tal aprovação popular, porém, garantiu a eleição como deputada federal, em 1998, com 85.177 votos, sendo reeleita com votação recorde, de 151.681 votos em todo o Estado de São Paulo. Do Legislativo, arrebanhou a experiência de presidir a comissão de Seguridade Social e Família, além de integrar a comissão de Ciência e Tecnologia. Participou ainda das CPIs da Mortalidade Materna, da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e da comissão que trata da Lei Nacional de Adoção. Em 2003, quando presidiu a Comissão de Seguridade Social, conseguiu aprovar o Estatuto do Idoso. O que a tornaria nacionalmente conhecida, porém, seria o episódio marcado como a “dança da pizza”. Após a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), acusado de envolvimento no escândalo do “Mensalão”81, Angela comemorou dando passos de dança e gesticulando, o que foi considerado pela mídia como escárnio, ou mesmo afronta. O caso deixou marcas na ex-prefeita e ex-deputada: uma mágoa profunda, além de um sentimento de ter sido instrumento de manipulação da mídia. Em sua defesa, Angela afirma que apenas defendeu o Estado de Direito – João Magno não tinha qualquer acusação formal ou provas contra ele. “Saudades das realizações” Das duas experiências, no Executivo municipal e no Legislativo, Angela afirma guardar mais lembranças da prefeitura. “Tenho saudades das realizações, não do poder. Minha luta é com meus compromissos, não com o poder”, resume. De todas as realizações, a mais marcante, na visão da ex-prefeita, foi motivo de uma das CEIs – que se provou, depois, sem fundamento. A
81. O “Mensalão” foi o suposto esquema de compra de votos de parlamentares em troca de apoio político, por parte do Governo Federal. Denunciado em 2005, representou a maior crise política do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O julgamento pelo Supremo Tribunal Federal ainda está em curso quando é editado este livro. (N. do E.)
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aquisição do Parque da Cidade, uma extensa área até então pertencente à família do ex-senador Severo Gomes, proprietária da Tecelagem Parahyba, gerou uma das mais ferrenhas batalhas de Angela com a Câmara. O negócio envolveu uma triangulação entre a prefeitura, a Tecelagem e o INSS. Marcada pelo paisagismo de Burle Marx e a arquitetura de Rino Levi, a área é hoje um patrimônio de que toda São José dos Campos se orgulha – e desfruta. Quando do final de seu mandato, às vésperas de deixar o cargo, em uma das reuniões de oração com pastores evangélicos – todas as segundas-feiras a prefeita recebia pastores para orações –, um deles citou o Evangelho de São Mateus, no que, em sua opinião, seria um resumo da administração: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.” Formação religiosa Pela casa de Angela, confortável sem exibicionismo ou luxo, veem-se os sinais inequívocos de que ali mora uma família com intensa formação religiosa. São 26 imagens de São Francisco de Assis, de todos os tipos e tamanhos, além de uma coleção de 35 presépios. Símbolos que reforçam a marca que moldou sua iniciação política, a militância junto às pastorais de base da Igreja Católica. Como é de se esperar, uma formação que vem “de berço”. A infância da futura médica foi marcada pelos internatos, primeiro no Colégio São Paulo, em Teresópolis – para onde ia de trem, semana sim, semana não – , depois no Santa Marcelina, no Rio de Janeiro. Quando não era punida e perdia a folga por causa do falatório e da espontaneidade, a diversão era ir à praia de Copacabana com as primas e irmãs. Praia, aliás, que virou motivo de uma piada da própria Angela. Para a avó, “moça de família só fica na praia até o meio-dia”. Angela, naturalmente, “tinha raiva de ser moça de família”, bem como as amigas, irmãs e primas. Carioca nascida em 8 de abril de 1948, segunda de três filhas, do pai Angela conhece quase nada. Edegardo Carneiro de Moraes, militar do Exército, faleceu quando a menina tinha quatro anos. Coube à mãe segurar a barra: Regina Pedreira de Moraes recusou o sustento oferecido
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por um tio e trabalhava intensamente em dois empregos, correndo de um para outro pela barca que fazia a travessia até Niterói. Aos 24 anos, já na faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté, Angela conheceu o amigo-do-namorado-de-uma-amiga. Carlos Alberto Guadagnin viria a ser o primeiro – e único – namorado, que a traria definitivamente para São José dos Campos. Em 18 de janeiro de 1969, casam-se no Rio de Janeiro e, poucos meses depois, o recém-formado físico se estabelece como pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Instalaram-se na mesma casa em que vivem até hoje. No final do primeiro ano de casamento nasceu o primeiro filho, Eduardo, que viria a dar os três netos de Angela – Fernanda, Gabriel e Giulia. Em 1975, quando ingressou como médica da rede pública, veio o segundo filho, Marcelo. Seja como médica, seja como política, Angela marca presença pelo carisma e pela personalidade forte. Enérgica sem perder a simpatia, de um riso que fácil e espontaneamente se transforma em gargalhada, a médica é o que informalmente se chamaria de um “bom papo”, que nunca recusa um convite para um encontro com amigos. Passadas as experiências como prefeita e deputada, Angela retomou seu posto na rede pública, atuando na DIR (Direção Regional de Saúde) de Taubaté.* Quando não está com os netos em casa, o tempo livre é dividido entre hobbies como tricô e tapeçaria e leituras de coletâneas do Reader’s Digest. Palmeirense, mais por influência do marido do que qualquer outra coisa – “só sei o que é gol” – Angela tem se empenhado em escrever suas memórias. Não sabe nem mesmo se quer publicá-las algum dia, mas é a maneira que encontrou de expurgar uma das passagens mais marcantes de sua vida: a intensa – e, na sua opinião, mais do que injusta – exposição midiática a que foi submetida quando do episódio da dança no plenário da Câmara. “Não tenho nenhuma revolta, quero apenas registrar meus sentimentos.”
* Em outubro de 2008, Angela se elegeu vereadora em São José dos Campos. (N. do E.)
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Em cerim么nia com militares: o contraste da mulher no comando.
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Vistoriando antigas instalações da Tecelagem Parahyba, que viria a ser o Parque da Cidade.
Em visita à sede da Engesa (Engenheiros Especializados S.A.), que tinha fechado as portas deixando muitos funcionários sem receber seus direitos.
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Vista aérea do Anel Viário em construção, no cruzamento do ribeirão Vidoca.
No viaduto da Kanebo, terminado em sua gestão após anos parado.
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Educador aborda adolescentes de rua no antigo “Pinicão”, na praça Afonso Pena.
Com Lula, na campanha para eleger Toquinho como seu sucessor.
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Faixa típica de ações da administração petista.
No Tiro de Guerra, passando em revista a tropa. O tenente Ferreira (João Ferreira Lima), à esquerda, foi posteriormente comandante da Guarda Civil Municipal, na primeira gestão de Emanuel Fernandes.
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A prefeita na inauguração de um dos projetos da Fundhas iniciados em sua gestão.
Placa com o logotipo e o mote do governo petista: “Desenvolvimento e Cidadania”.
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Entrevista Bicarato: Como foi o início de sua atuação política? Paulo Angela Guadagnin: O Partido dos Trabalhadores foi o primeiro partido a que eu me filiei, no ano de 1986. Nós íamos votar em deputados e senadores constituintes. Eu tinha uma militância na igreja, na pastoral familiar, com palestras de cursos de noivos, com jovens. E tinha também uma atuação como médica em diversos bairros da periferia da cidade. Já tinha trabalhado no pronto-socorro do Parque Industrial, na UPA do Parque, Limoeiro, Jardim da Granja, Chácaras Reunidas. O trabalho que nós desenvolvíamos era muito parecido com aquilo que eu imaginava no meu evangelho, na minha vivência católica, de que era o necessário para mudar o mundo. Foi aí que eu entrei no Partido dos Trabalhadores. E não entrei para ser candidata a coisa nenhuma. Entrei porque eu acreditava que através de um partido político poderíamos realmente fazer as mudanças que eu defendia para o País. E isso no ano da Constituinte, porque eu achava que realmente o fato de naquele ano votarmos em deputados, senadores, que iriam fazer a Constituição, era a oportunidade de eleger pessoas que fizessem uma Constituição mais progressista, mais cidadã, que foi realmente o que aconteceu. De lá para cá, a entrada no Partido dos Trabalhadores foi quase que a consequência da minha atuação. Já em 1988, a militância indicou o meu nome para candidata a vice-prefeita, numa chapa com o José Valter Pontes. Depois, em 1989, eu coordenei a campanha do Lula, a primeira campanha do Lula aqui no Vale do Paraíba, que foi para mim uma coisa memorável pela quantidade de ações – participamos de eventos para levantar fundos para fazer o material, vendíamos adesivos, estrelinhas para poder confeccionar mais material. Depois, em 1990, eu fui candidata a deputada estadual e, em 1992, houve uma prévia interna no partido. Eu disputei essa prévia com o Gradella, que na época era deputado federal pelo PT. Saí vencedora e entramos na campanha em 1992, para a prefeitura. PB: Quando a senhora chegou à prefeitura, qual era a sua expectativa? AG: Antes até de chegarmos à prefeitura, acho importante falar da cam-
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panha, porque foi muito diferente de tudo o que a cidade já tinha visto. Primeiro, porque nos últimos anos a cidade tinha vivido uma troca de prefeitos intensa, nenhum prefeito tinha cumprido o mandato inteiro. E essa expectativa de uma mudança no clima da cidade era muito grande. Nós fizemos campanha em cima do “Muda São José” – era exatamente o slogan da nossa campanha – e tinha três pontos importantes que a gente frisava o tempo todo: inversão de prioridades – fazer um governo voltado para as necessidades da população, priorizando aquela população que nunca teve voz nem vez; fazer um governo com participação popular – ouvir as pessoas, administrar com as pessoas, dar chance de as pessoas dizerem em qual cidade queriam viver; e o terceiro ponto era uma voz corrente na cidade, a questão do combate à corrupção, da moralização no uso do dinheiro público. Quando entramos na prefeitura, a primeira coisa que fizemos foi verificar exatamente como, em cada secretaria, podíamos fazer cumprir e respeitar esses três compromissos: inverter prioridade, administrar com participação popular e moralizar o dinheiro público. Como cada secretaria tinha uma ação específica, as ações para implantar esses compromissos também eram diferentes. PB: O fato de ser mulher já significou uma mudança no aspecto político... AG: Era uma mudança. O que ouvíamos era que uma mulher seria incapaz de administrar, que uma mulher vai ter sempre alguém por trás mandando, ela não seria capaz de mandar, de tomar decisões. Vimos esse preconceito na campanha, principalmente no segundo turno, e durante os quatro anos de governo, quando diziam que havia alguém que mandava, alguém que tomava as decisões. E a questão ideológica, do partido de esquerda, um partido que nunca tinha assumido o poder da cidade, vir com uma proposta totalmente diferente, de administrar de forma diferente a cidade. PB: E a visão da senhora como mulher, como dona-de-casa até, administrar uma casa e administrar a cidade... como foi essa experiência? AG: Lógico que a proporção é diferente. Mas [o caminho era] deixar transparentes as despesas públicas, administrar com a participação popular. Nós tínhamos que explicar para as pessoas, através das reuniões do or-
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çamento participativo – que foi uma novidade, nunca as pessoas tinham visto aquilo. Nós criamos conselhos em diversas áreas. O Conselho da Saúde já existia, mas fizemos o Conselho da Educação, o Conselho de Esporte, o Conselho de Cultura, o Conselho de Habitação, da Planta Genérica de Valores. Esses Conselhos todos eram muito ouvidos para poderem opinar sobre a forma de administrar a cidade. O Plano Diretor foi muito discutido com todos os setores da sociedade. Essa forma de administrar, de ouvir as pessoas, já era uma coisa muito diferente. Eu lembro também da aprovação da Planta Genérica de Valores e do Plano Diretor da cidade, em que foram feitas reuniões na cidade inteira discutindo o Plano. E a riqueza que foi introduzirmos o Plano Diretor, as Zonas Especiais de Interesse Social, as Zeis, em que, a partir do momento em que sua constituição foi aprovada pelo Plano Diretor, a prefeitura podia atuar em loteamentos clandestinos, em favelas, que eram parcelas da população afastadas da vida da cidade e não tinham voz nem vez. PB: Sua atuação na questão social foi muito forte. Como a senhora se auto-avalia? AG: Quando fizemos aquele compromisso com a população, com a cidade, de inverter prioridades – acabei de dar o exemplo da área de habitação –, de investir em favelas, em loteamento clandestino, regularizar loteamentos, fazer ações concretas para que a população mais carente tivesse oportunidade de sonhar com morar melhor, viver melhor, já era um compromisso exatamente com essa inversão de prioridades, de fazer uma política voltada para pessoas, para o social, para a qualidade de vida. Tradicionalmente, quando falamos de políticas sociais, pensamos na saúde, na assistência, na educação, mas a crian-
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ça e o adolescente e a saúde foram nossas prioridades. Eu lembro do Projeto Casulo, que trabalhou com a gestante de alto risco, com os bebezinhos prematuros. O banco de leite humano, que a região do Vale do Paraíba montou para atender exatamente aqueles prematurinhos que não tinham condições de sobrevida – com o leite materno, havia maiores condições de trabalhar com aquelas gestantes de alto risco, que acabavam de modo geral perdendo o bebê, porque não tinham um atendimento especializado, específico para elas. Houve um outro momento, muito emblemático... foi logo no início do governo, quando os meninos da Fundhas faziam a varrição das ruas – eram os cenourinhas. E menino não é para varrer rua, menino tem que estar na escola, não depreciando nem desvalorizando a varreção de rua, que é importante para a vida da cidade. Eu baixei um decreto: “Vamos nos organizar para tirar os meninos da varrição e contratar adultos, que vão fazer esse papel, que é de adulto”. E os meninos foram tirados da rua. E mandamos para a Câmara um projeto de lei para aumentar o número de funcionários da Secretaria de Serviços Municipais para poder fazer esse serviço de varrição. A Câmara entrou num processo de briga com a gente, não aprovava, engavetou o projeto, enrolava e a cidade foi ficando suja, porque os meninos tinham saído da varrição. E aí começou toda uma imposição na rádio, na imprensa, pressionando, para que os meninos fossem contratados novamente. E nós precisamos de uma mobilização muito grande das pessoas, através até dessa participação popular, para entenderem que nós queríamos aumentar o quadro de funcionários da prefeitura para atender exatamente essa demanda que as pessoas queriam da cidade limpa... Eu tenho orgulho de ter feito isso. Foi um impacto na vida dessas crianças. Quando eu falo assim dessa prioridade com criança e adolescente, vai uma porção de outros projetos. Como o “Férias na Cidade”, que chegou a ter 15 mil crianças. Meninos que nunca tinham ido à praia puderam ver o mar. Meninos que nunca tinham saído de São José dos Campos, foram ao zoológico em São Paulo. Foram ao cinema e ao teatro. Então, é um projeto que dava cidadania para essas crianças, oferecer atividades esportivas e culturais. As piscinas das escolas municipais foram abertas para as crianças. Antes era só para os meninos que estavam na escola municipal. Aí foram abertas para a criançada toda do bairro. Quem nunca tinha tido oportunidade de ir à piscina,
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foi à piscina, foi à praia, foi ao teatro, ao cinema, ao Jardim Botânico em São Paulo. Era muito emocionante acompanhar um projeto como esse. Mas tem um projeto, com criança e adolescente também, que foi o Aruaí, que envolvia meninos de rua. Quando nós começamos o Aruaí, com os educadores de rua indo realmente trabalhar com aqueles meninos e meninas que estavam na rua, fomos percebendo o que levava aquela criança para a rua e a necessidade de intervir não só com ações concretas na vida dessa criança, mas intervir também na família, de estar buscando não só o apoio financeiro, mas também estruturar – com o apoio da assistente social, do psicólogo – a vida dessa família, porque a maioria das vezes a criança ia para a rua por briga com padrasto, briga dentro de casa, por apanhar, e era melhor estar na rua do que apanhar dentro de casa. A única coisa prevista pelo ECA, que a nossa prefeitura não fez, apesar de termos deixado encaminhado, foi a casa para menores em conflito com a lei, que foi uma dificuldade implementar porque as pessoas também não entendem a importância de trazer os adolescentes em conflito com a lei para conviver com a sociedade, conviver com a sua realidade. Então essas foram ações concretas que fizemos. E, na área da saúde, pensamos o SUS em todos os seus setores. Desde implantar a assistência às ações básicas, facilitar para as pessoas, de estar perto de casa, de ter o atendimento domiciliar, a internação domiciliar, que é para quem precisa de um atendimento mais longo. Acabamos com a fila de espera para cirurgias, e também no centro de reabilitação para cidadãos com prejuízo de audição. E aí a gente foi indo a todas as áreas, em todos os setores: da prevenção, da reabilitação, do curativo. Daí foi a construção do Hospital Municipal, daí foi o raciocínio de construir a UTI neonatal, de aumentar o número de leitos de UTI, de fazer uma UTI infantil, de fazer maternidade no Hospital Municipal, que com isso a gente atendia todo o ciclo da demanda que o SUS tem. Das ações preventivas, das ações básicas de saúde, da internação domiciliar, da referência da alta complexidade e da reabilitação. PB: Como foi a relação com o Legislativo? AG: Esse projeto de administrar a cidade trazendo a participação das pessoas gerou muita ciumeira nos vereadores, que achavam que a gen-
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te estava tirando o papel deles de serem interlocutores entre a população e a prefeitura. Um despachante de luxo das necessidades da população junto à prefeitura. Não é. O papel do vereador continuava sendo respeitado, de fiscalizar a prefeitura, fiscalizar o Executivo, fazer leis e fazer realmente a relação com a comunidade. Inclusive, eles eram convidados a participar dos orçamentos até por conta dessa relação que eles têm com a comunidade, de conhecer a comunidade, de estar podendo participar das decisões também. E eles achavam que com isso aí nós tirávamos a autoridade deles, pois são eles que vão aprovar o orçamento. Teve, dentro desses processos de cassação... qualquer coisa que, aparentemente, outras prefeituras faziam, ações até mais radicais, no nosso governo era motivo de cassação, de investigar – por exemplo, fazer comunicação com a população. A constituição federal diz que todo governante tem que prestar conta do que faz. A constituição estadual diz que todo governante tem que prestar conta do que faz. A lei orgânica, de São José dos Campos diz que o governante, o prefeito, tem que prestar conta do que faz. Quando nós fizemos um projeto de comunicação, passou a ser um escândalo, porque nós fizemos uma concorrência, contratamos uma empresa, para fazer a comunicação. Então, além de eu fazer as coisas, eu comecei a dizer o que eu estava fazendo, a informar a população do que eu estava fazendo, e isso aí foi motivo de muito escândalo. Eles não aceitavam de jeito nenhum. Então foi difícil essa relação. Vou contar uma outra passagem, que foi muito sofrida. A lei manda que até o fim do ano legislativo o orçamento do município seja aprovado. Nós enviamos na data correta, em setembro, e o orçamento não era aprovado, não era discutido, não era colocado na pauta. Chegou dezembro, terminou o ano legislativo, os vereadores entraram em recesso e o orçamento não era aprovado, de propósito, com a intenção de eu entrar no ano seguinte sem orçamento. E sem ter or-
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çamento, eu não poderia pagar salário de funcionário, eu não poderia pagar a conta de água, luz, essas coisas mais simples que a prefeitura tem de despesa, eu não poderia comprar gasolina... A prefeitura ia parar. A cidade ia parar. Nós começamos a ir para a rádio, para o jornal, para a televisão, para dizer isso para a população. “Os vereadores não estão aprovando o orçamento. A cidade vai parar! Nós não vamos ter remédio no postinho, nós não vamos ter professor na escola, os funcionários não vão ter salário”. Porque era exatamente essa a ideia, a de que, provocando este caos, a cidade ficaria descontente. “Como que não tem limpeza pública? Como que não tem remédio na farmácia dos postinhos?” Mas eu recebi uma ligação telefônica anônima e a pessoa falou assim: “Prefeita, vê o número tal da Lei Orgânica do município. Estude o artigo tal da Lei Orgânica do município”, e desligou o telefone. Por curiosidade, nós pegamos a Lei Orgânica do município e fomos ler o que dizia aquele artigo. Dizia que, se os vereadores não aprovassem o orçamento até 31 de dezembro, no dia 1º de janeiro o prefeito podia publicar um decreto e administrar por decreto até que a Câmara aprovasse o orçamento. Bom, foi uma coisa assim... Estava no finzinho do ano, dia 28, 29 de dezembro, nós preparamos um decreto para ser publicado em 1º de janeiro, com a despesa da prefeitura e não fizemos o decreto com orçamento da Câmara, porque eles não quiseram aprovar, então quem tinha que ser responsabilizado pelo dinheiro da Câmara, salário dos vereadores, as despesas de água, luz, enfim, funcionamento da Câmara, eram eles. Eu me responsabilizei pelas despesas do município. Isso provocou muita ciumeira, muita briga, muito xingamento, ao mesmo tempo em que foi uma situação em que a gente ria. Eles prepararam uma peça para a gente, de chegar 1º de janeiro e eu não ter recurso para administrar, e nós jogamos a bola para o colo deles. Os vereadores estavam sem orçamento e não podiam fazer nada. E, em menos de cinco dias, o orçamento foi aprovado, regularizado e a cidade voltou a funcionar normalmente. Então, são questões dessas que mostram exatamente essa dificuldade que a gente teve de relação com a Câmara, porque era uma oposição ideológica, não era porque eu fazia uma má administração ou porque a cidade era administrada com irregularidades, cometendo erros legais... Não. Era uma oposição ideológica.
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[Outra coisa:] Entramos com uma carga negativa financeira muito grande e saímos da prefeitura tendo recuperado as finanças, pago as dívidas, colocado a casa em ordem, pagando em ordem os fornecedores, os prestadores de serviços, as empreiteiras que realizavam obras para a prefeitura, pagando, na data programada, e saímos da prefeitura deixando programado também o orçamento para o ano seguinte, com mais de R$ 300 milhões de orçamento. E o prefeito que nos sucedeu veio com um outro patamar, com as finanças saneadas, com o planejamento dos gastos de entrada e de saída perfeitamente adequado para a vida da cidade. PB: Em termos de obras, o Anel Viário seria a principal obra da senhora? AG: Nós fizemos obras na cidade inteira, principalmente obras definidas e decididas no orçamento participativo. Então, obras desde creches, de pré-escolas, de unidade básica, de galeria de águas pluviais. A Vila Guarani, por exemplo, era um local que inundava todo ano. E, logo que a gente entrou, janeiro é o grande mês de chuvas e, nós entrando, aquela comunidade debaixo d’água. Nós fizemos uma obra grande, que ninguém vê. Hoje está lá, não tem mais enchente, nem inundação na Vila Guarani, aquelas casas todas ali, Vila Terezinha, o início do Monte Castelo. As pessoas não veem. Mas então a grande obra foi o Anel Viário, porque deu um grande impacto por estar ligando toda a cidade, todo mundo da zona sul – eram mais de sessenta mil pessoas –, obrigatoriamente tinha que cair na Dutra para vir para cá. Quem fosse para o centro da cidade ou para outra região da cidade tinha que cair na Dutra para vir da região sul. O Hospital Municipal foi um grande desafio, que foi feito com o recurso do orçamento próprio, não só a construção quanto o aparelhamento. Não teve recursos estaduais ou federais. Foi com recurso próprio do município que conseguimos construir. Mas, se a gente for pensar, tantos anos depois, o Anel Viário já tem horário que fica parado nas faixas de rolagem de trânsito, porque o número de veículos aumentou muito. Se formos ver o hospital, já teve obras depois disso, já precisou ser ampliado, porque a cidade cresceu e a demanda de saúde aumentou.
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Eu acho que a maior obra que fizemos foi ter dado a oportunidade para a cidade de ter Parque da Cidade, porque, daqui a cem anos, o Parque da Cidade vai estar no coração da cidade, continuará sendo um local onde as pessoas poderão usufruir um ambiente bonito, agradável, com o paisagismo do Burle Marx. ...O INSS fez uma avaliação para poder adequar o que ia ser entregue, de R$ 32 milhões, na época. Quando saiu essa notícia da possibilidade de parcelar a dívida do INSS, de as empresas parcelarem em oito anos, fizemos uma discussão com o INSS e com a família, triangulamos e então a família deu a área para o INSS e nós desapropriamos essa área que estava sendo entregue ao INSS como pagamento da dívida e negociamos o pagamento em oito anos, como a empresa faria. Assim, a cidade teve possibilidade de comprar, de dar para o seu munícipe, uma área de quase seiscentos mil metros quadrados, para uma população de seiscentas mil pessoas.... PB: Qual o momento mais crítico que a senhora viveu no seu mandato? AG: Eu acho que esse processo de cassação – até por conta de terem achado que era motivo para o processo de cassação nós termos contratado uma empresa de comunicação. Sendo que as pessoas passavam a saber o que estavamos fazendo. Já foi tese inclusive em faculdade de comunicação. O nosso projeto de comunicação, aquele “São José na cidade”, “São José na TV”, aquela “novelinha”, como as pessoas falavam, que era exibida nos fins de semana em todos os canais de televisão e as pessoas ficavam sabendo as coisas que aconteciam na cidade. Então, se teria exame preventivo do câncer de mama, carnaval, se tinha inscrição para entrar na Fundhas todos ficavam sabendo... A vida da cidade era informada para as pessoas, aquela informação era dada às pessoas de uma forma lúdica, aquela novelinha. E isso causou um impacto muito grande. Eu acho até que esses 86% que você citou de aprovação no fim do nosso mandato foi por conta disso. As pessoas, realmente tinham a oportunidade de ver o que a prefeitura estava fazendo, não só pra si, a mudança que acontecia na vida de cada pessoa, mas também na vida dos outros, do bairro, passavam a saber o que estava sendo feito. E o orçamento participativo também, porque as pessoas participavam, e isso tinha um impacto na relação das pessoas
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com o governo. Então, esse processo de cassação foi muito doloroso, foi muito difícil mesmo. E conseguimos sair dele exatamente por conta do apoio da população. As pessoas foram para a Câmara para nos apoiar... PB: É lógico, a cidade muda, são outras demandas etc. Mas hoje, que a senhora ganhou mais experiência, inclusive no Congresso e tudo mais, politicamente, como seria a relação da senhora hoje? Conseguiria trabalhar com mais calma, diferente de toda aquela crise, em que a senhora só apanhava? AG: É lógico que estou mais madura... e essa relação de governabilidade... eu fui deputada no mandato de oposição e no mandato de situação, então, é lógico que a relação a gente aprende na vida, com a experiência. Hoje eu mostraria para os vereadores que eu não estaria impedindo-os de legislar, de fazer seu papel, de ser lideranças de bairro, de estar governando com essa conversa maior, aumentando a governabilidade. PB: A senhora credita a algum fator específico não ter conseguido eleger o sucessor? AG: Apesar de a gente ter uma aprovação como essa, naquele ano, em 1996, ainda não havia reeleição. E o Partido dos Trabalhadores lançou o Toquinho, que é o Edmilson Rogério, ele era um sindicalista. Ele teve grande liderança, tinha facilidade de discurso, tinha e tem ainda essa capacidade de envolver, de empolgar as pessoas. Eu acredito que a população queria um sucessor com o mesmo perfil da gente. Não o perfil ideológico, mas o perfil social. O Toquinho era um sindicalista, um trabalhador de chão de fábrica. Eu era uma médica, classe média. E eu acho que foi essa definição no eleitorado que fez com que o Emanuel fosse eleito naquele momento. Inclusive, no segundo turno eu o defendi, o Partido dos Trabalhadores votou no Emanuel e defendeu o nome do Emanuel, porque ele tinha assumido conosco alguns compromissos de manter o Orçamento Participativo, de manter essas diversas ações que a prefeitura, o nosso mandato, tinha feito. Então, isso o levou a ter o apoio do Partido dos Trabalhadores no segundo turno das eleições. Era um perfil social mais parecido. Eu acho isso, hoje, vendo a história que não fez o Toquinho ser eleito naquele momento.
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PB: Moralmente falando, “cristãmente” falando, a senhora acha que cumpriu a missão, pelo menos parcialmente? AG: Se for falar de mim mesma, vou falar que tenho muito orgulho, tenho certeza que realizei. PB: A senhora foi deputada, teve esse reconhecimento da população. Mas como mede esse reconhecimento? AG: Se eu fosse fazer minha vida esperando reconhecimento eu já teria ido embora para casa há muito tempo. Na realidade, eu tenho alguns princípios, convicções, sonhos e ideais. Continuo trabalhando para a mudança na vida das pessoas e para ter mais justiça. E à vezes a gente fala em justiça social, mas esquece de equidade social. Foi por isso que lutamos muito, principalmente nessa questão de habitação, na urbanização das favelas, para ter justiça social e equidade social. Eu continuo não esperando o reconhecimento das pessoas. PB: E a equipe de trabalho? Como foi a composição? AG: Quando ganhamos o segundo turno, antes de assumir, a primeira coisa era incorporar os companheiros do partido, que fizeram campanha para a gente, que lutaram, defenderam o projeto político; depois os aliados que fizeram conosco também a defesa desse projeto político, desse projeto ideológico, mas, em algumas áreas, nós percebemos que não tínhamos companheiros com experiência, como foi principalmente a área da Fazenda. Então nós montamos a nossa equipe de governo, a grande maioria, com os companheiros da própria cidade, e trouxemos de outros lugares alguns companheiros que eram referência do partido, como no caso das secretarias da Fazenda e dos Transportes, principalmente essas duas áreas, que tiveram secretários de fora. PB: O que São José dos Campos representa para a senhora? AG: Eu vim morar em São José dos Campos em 1969. Vim do Rio de
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Janeiro. Construí a minha vida de adulta aqui. Casei no Rio e vim para cá, criei meus filhos, ganhei netos e construí um amor por esta cidade. Hoje, mais do que São José de coração, joseense de coração, eu sou de fato. Eu tive o orgulho de receber a homenagem da Câmara, o título de Cidadã Joseense. Mas a possibilidade de ter devolvido para a população de São José tudo aquilo que São José me deu quando me recebeu como estudante de medicina, como médica, como militante de pastoral, como militante de saúde na área de periferias... a possibilidade que foi ser prefeita de São José trouxe para a minha vida uma grande satisfação. Por isso, quando eu digo “minha cidade”, é de São José dos Campos que estou falando.
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Capítulo 16
TODO O PODER AO POVO As lições que Emanuel Fernandes tirou de seus oito anos na Prefeitura
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uem conhece pessoalmente o Emanuel percebe logo que ele não se enquadra no estereótipo do político tradicional brasileiro. Não é um homem afeito ao discurso populista e às promessas fáceis. Ele também não se deixa seduzir por rompantes de demagogia e procura evitar qualquer tipo de relação de dependência com o eleitor, que implique na tutela do governo aos cidadãos. Além disso, o ex-prefeito está longe de ser um produto artificial do marketing político. Apesar de já ter ouvido milhões de conselhos dos mais diversos marqueteiros, Emanuel sempre preferiu criar-se a si mesmo, seguir seu próprio faro, suas próprias ideias, sua própria inspiração. No início da sua carreira, até a aparência pessoal parecia depor contra ele. Aquele jeitão meio desengonçado de “menino” estudioso que cresceu demais (ele tem 1,89 metro de altura), o cabelo armado, que já passou do ponto de cortar, e os óculos exageradamente grandes, cafonas, faziam o ex-prefeito destoar da figura clássica de homem público idealizada pela população. Mas todos estes fatores, supostamente contrários à construção do personagem político do Brasil atual, foram atropelados por um fato contundente: como nenhum outro político na história recente do município, Emanuel personificou dois valores essenciais, quase sagrados, do imaginário de uma cidade trabalhadora e tecnológica como São José dos Campos. Por um lado, ele enquadrou-se perfeitamente na figura idealizada do homem de bem, íntegro, que venceu por seus méritos pessoais, pela força do estudo e do trabalho, sem favorecimento, sem privilégio e sem malandragem. Por outro, incorporou o arquétipo do “homem da ciência”, que busca soluções racionais e não ideológicas, não enviesadas, para os problemas da sociedade.
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Em sua trajetória de sucesso, fatores que poderiam ser negativos, como o discurso desapaixonado e desarticulado, o uso de estratégias de campanha um pouco ingênuas – ele pensava em colocar “tucaninhos” nos muros da cidade para fomentar sua candidatura – e os trejeitos desalinhados acabaram favorecendo-o, por conferir a ele um toque de originalidade, de autenticidade, de verdade que o ajudou a conquistar o eleitor. E, como o sucesso não vem por acaso, pode-se dizer que ele realmente correspondeu à imagem construída. É quase consenso que Emanuel colocou a administração pública no eixo da normalidade, do óbvio, do senso comum e também, pode-se dizer, da eficiência, da racionalidade e do pragmatismo. Sem o desejo de construir uma marca pessoal, ele não teve pudores de concluir, melhorar e ampliar obras de governos anteriores. Tratou com minúcia do asfalto, da limpeza pública, das praças e dos jardins. Deu um toque de qualidade e modernidade em muitas pequenas e grandes ações. Deixou a cidade bonita, arrumada e, na opinião de muitos, com cara de “primeiro mundo”. O migrante obstinado que queria apenas ser engenheiro A história de vida de Emanuel explica e justifica, em grande parte, sua trajetória na vida pública e a formação do seu pensamento político. Filho de pai baiano – que foi trabalhador rural, sapateiro e escrivão de polícia – e de mãe paulista descendente de italianos, católica fervorosa, o ex-prefeito se define como um migrante: uma pessoa simples que partiu do interior e conquistou seu espaço na modernidade. Ele nasceu na minúscula cidade de Valentim Gentil, no extremo oeste de São Paulo (a 536 km da capital), e foi criado na igualmente pequena e vizinha Américo de Campos. Menino pobre, com seis irmãos, Emanuel chegou a trabalhar na infância como engraxate e vendedor de laranja (como milhões de outros brasileiros, enfatiza, descartando qualquer tipo de autopiedade ou ressentimento). Na adolescência, quando dizia “vou ser engenheiro”, ele foi até motivo de zombaria da primeira namorada no grotão onde vivia. A virada na vida do jovem Emanuel aconteceu quando ele veio morar em São José dos Campos, tendo como meta a carreira de engenhei-
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ro. Estudou, trabalhou, economizou e conseguiu entrar no curso de Engenharia Aeronáutica do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), a escola do gênero mais disputada do País. Relata que foi um período difícil – o dia era ocupado pelo trabalho e a noite pelo estudo – e que, literalmente, não havia tempo e dinheiro para nada. Emanuel acredita que só triunfou pela obstinação em perseguir objetivos. Atualmente, ele se define no âmbito pessoal como um homem caseiro, avesso à moda e aos modismos, com hábitos despojados de consumo (não tem carro próprio, usa o alugado da Câmara dos Deputados). Tem como hobbies as viagens com a família para a Espanha e a pescaria, hábito que traz desde a infância. Emanuel costuma dizer, inclusive, que só acorda cedo por dois motivos: por causa da política ou para pescar com os amigos. Missão espacial: desejo de fazer algo grande para o Brasil Depois de formado engenheiro, o ex-prefeito tinha como objetivo único exercer a profissão, e não a política. Ele ingressou em 1982 no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) atraído pela possibilidade de participar da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), que envolvia órgãos civis e militares com o objetivo de lançar ao espaço um satélite artificial brasileiro, por meio de um foguete também brasileiro. A meta declarada pelo estado brasileiro era conquistar a autosuficiência do país em tecnologia espacial. Na condição de engenheiro e de brasileiro, Emanuel afirma que na época era movido por um forte sentimento nacionalista: “Queria participar de algo relevante para o Brasil”. Considerava que o exercício da engenharia era uma obrigação, na medida em que havia se formado à custa do Estado e do imposto pago pelo cidadão. Deixar a profissão para fazer política soava, e ainda soa, para Emanuel, como uma espécie de desonestidade, de desvio de conduta. Ainda mais para alguém que tinha chegado lá com tanta dificuldade. No Inpe, onde trabalhou até 1996, quando se licenciou para disputar seu primeiro cargo eletivo, Emanuel pôde desenvolver a habilidade gerencial na liderança de projetos de alta tecnologia. Ele foi um dos gerentes de dois projetos bem-sucedidos, de grande repercussão nacional e
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internacional: o Satélite de Coleta de Dados (SCD-1), primeiro satélite nacional, e o Satélite China-Brasil de Sensoriamento Remoto (CBERS), desenvolvido em parceria com a China. O êxito em suas missões o levou ao cargo de superintendente de planejamento da instituição, entre 1989 e 1992, a convite do então diretor Márcio Barbosa. Com “pai” de direita e “mãe” de esquerda, nasce o político Emanuel Já trabalhando no Inpe, em 1982, Emanuel ingressaria no PMDB, apenas na condição de filiado e militante. Neste período, ele ajudou inclusive a elaborar o plano de governo do ex-prefeito Robson Marinho. Não fazia parte do projeto de vida de Emanuel ainda, nesta época, deixar a condição de coadjuvante e assumir papel central no cenário político municipal. Durante o período no Inpe, Emanuel manteve estreito relacionamento com o ex-prefeito Sérgio Sobral de Oliveira82 , militar reformado, que havia administrado a cidade por indicação dos generais durante o regime militar. Emanuel disse que Sobral, apesar da herança autoritária, com sua visão estratégica da administração pública, foi seu grande incentivador no início da carreira política. Sobral repetia a Emanuel, com insistente frequência, que o engenheiro seria prefeito de São José dos Campos no futuro. Mas a decisão de assumir o papel de protagonista político, de fato, só ocorreu algum tempo depois, quando Emanuel já era filiado ao PSDB e casado com a arquiteta espanhola Juana Blanco Gomes, que, ao lado de Sobral, foi e continua sendo uma das principais impulsionadoras da carreira política do marido. A única diferença é que, ao contrário de Sobral, ela havia sido militante de esquerda, da corrente Liberdade e Luta (Libelu), de orientação trotskista. No dia em que Emanuel resolveu deixar os bastidores da política, ele e a mulher haviam participado de uma reunião do partido com moradores de Eugênio de Melo, mas não ficaram nada satisfeitos com o propósito do encontro. Eles tinham ido até lá ouvir as reivindicações dos
82. Ver capítulo sobre Sobral na pág. 113. (N. do E.)
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eleitores. Na visão do ex-prefeito, estavam repetindo erros do passado: demagogia, clientelismo, promessas... Foi então que Emanuel relata ter concluído que não adiantava apenas formular conceitos para mudar o Brasil. A única maneira de fazer política do seu jeito, de levar adiante novos valores, era tomar a frente do processo, sendo ele próprio candidato. Decidiu então ser uma espécie de “anticandidato”, dizendo e fazendo apenas o que acreditava, sem se importar com o resultado. Era impossível fabricar empregos. A saída foi formar empreendedores Embora hoje defenda até a limitação da expansão da cidade, foi a promessa de incentivar o crescimento econômico de São José dos Campos que levou Emanuel Fernandes pela primeira vez ao cargo de prefeito em 1996. Ele foi conduzido ao 7º andar do Paço Municipal com o compromisso de transformar a prefeitura e a cidade numa “Fábrica de Empregos”. Esta foi uma cartada vitoriosa na eleição, mas de alto risco por ser irrealizável na prática. Como o próprio Emanuel admite, a abertura de fábricas e a geração de empregos privados são fatos que escapam da competência do prefeito, seja qual for a cidade. Esse é um fator que depende, quase que exclusivamente, do cenário econômico nacional e mundial. Mas Emanuel conseguiu escapar ileso à cobrança da opinião pública quanto à suposta “Fábrica de Empregos”. Por meio de um relacionamento estreito com os vereadores, ele estabeleceu uma absoluta hegemonia na Câmara, que chegou até a ser chamada pela imprensa de “Pax Tucana”. 83 Além disso, a oposição a Emanuel foi sempre desarticulada, sem um foco claro de atuação. O ex-prefeito também contou, desde o princípio, com um forte apoio da classe média e dos empresários. Ao mesmo tempo, o Real enfraquecido nos oito anos de governo de Emanuel – entre 1997 e 2004 – favoreceu as exportações de grandes empresas de São José dos Campos como Petrobrás, Embraer, General
83. Referência ao termo Pax Romana – Paz Romana –, aplicado ao período de tranquilidade política durante o reinado do imperador romano Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.). (N. do E.)
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Motors, Johnson & Johnson, Ericsson etc, impulsionando ou, pelo menos, defendendo o nível de emprego. Fazendo-se hoje uma análise distanciada sobre o assunto, pode-se dizer que Emanuel realmente focou o “emprego” em sua administração, mas trabalhando à sua maneira e não da forma imaginada pela opinião pública. Se, por um lado, não brotaram vagas na indústria, por outro, ele investiu em ações de base, estruturais e conceituais, que têm impacto positivo no crescimento da economia e na geração de empregos. Emanuel criou um ambiente favorável aos negócios por meio do respeito às regras na administração pública. Ao mesmo tempo, incentivou o empreendedorismo nas ações de governo e nas escolas, inclusive junto aos jovens assistidos pela Fundação Hélio Augusto da Souza (Fundhas). Também investiu na educação. Construiu, ampliou e reformou escolas. Estabeleceu padrões de qualidade para o ensino público municipal. O ex-prefeito diz ter sempre acreditado na igualdade de oportunidades como mola propulsora do desenvolvimento. Como resultado, Emanuel encerrou seu segundo mandato com um índice de ótimo e bom acima de 70%, o maior entre todos os prefeitos do Brasil pesquisados pelo Ibope em 2004. Com estes números, reuniu os secretários e disse: este é o reconhecimento do trabalho de vocês. Terminou o governo com a popularidade em alta e a satisfação de ter feito o sucessor, Eduardo Cury. Fiel a suas ideias, ex-prefeito pavimenta caminho para voos maiores Depois da prefeitura, entre janeiro de 2005 e junho de 2006, Emanuel ocupou o cargo de secretário estadual da Habitação, coordenando a construção de mais de vinte mil moradias. Neste período, aliás, o nome do ex-prefeito foi cogitado para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Ele chegou até a ser convidado para a disputa pelo próprio governador Geraldo Alckmin, mas recusou, sob a alegação, diz, de não estar preparado. Isso aconteceu antes de José Serra lançar sua candidatura vitoriosa. Emanuel desejava voltar ao Congresso, para ganhar experiência parlamentar. Candidatando-se a deputado federal nas eleições de 2006, foi o 5º mais votado de São Paulo, com 328.486 mil votos. Sua popularidade e sua aprovação haviam rompido os muros da cidade: o ex-prefeito de São
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José dos Campos obteve uma votação expressiva em todos os municípios do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte. Nos primeiros oito meses de mandato, Emanuel não apresentou nenhum projeto de lei de sua autoria. Improdutividade? Segundo ele, não. Em sua visão, o Brasil já tem hoje excesso de regulamentação, de formalismo, numa ânsia do Estado em tutelar a vida dos cidadãos. Para Emanuel, as leis criadas recentemente pelo Congresso partem de três premissas erradas: 1) alguém, o Estado ou o Governo, virá salvar a todos nós, o povo; 2) outro alguém, os inimigos do povo, é responsável pelo nosso insucesso; 3) tudo é possível, desde que haja vontade política, sem levar em conta limitações orçamentárias. Em vez de criar leis que fazem pouca diferença, na concepção de Emanuel, é preciso dar mais poder ao brasileiro – como cidadão, eleitor, consumidor, contribuinte e trabalhador. “Todo poder ao povo. Para com a tutela. Nós precisamos trazer o povão para o centro de campo”, enfatiza. E diz que, para emancipar as pessoas, basta haver regras simples e claras, além da igualdade de oportunidades construída por meio da educação. Dentro desta lógica, o ex-prefeito se dedica a construir, junto com os deputados tucanos Arnaldo Madeira e Mendes Thame, uma proposta para estabelecer no país o “voto por circunscrição”. Semelhante ao voto distrital (no qual cada distrito eleitoral elege seus representantes na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa), o sistema determina que cada região eleja seus deputados. Com isso, diz Emanuel, haveria um vínculo mais forte entre o parlamentar e seus eleitores, além de maior fiscalização do mandato. Emanuel afirma que, assim como ocorreu em toda a sua vida pública e pessoal, também no parlamento não escolheu um caminho fácil ou imediatista. Preferiu seguir suas próprias ideias, sua intuição, seus princípios. Decidiu fazer e dizer só aquilo que julga certo, em que acredita, mesmo que esteja, eventualmente, nadando contra a corrente. Acredita ser sua missão educar o eleitor, o cidadão e, se necessário, até os companheiros de partido. Foi desta maneira que resolveu pavimentar o caminho para voos maiores na política, sem se importar, diz, quando e como isto acontecerá. Mas uma coisa é certa: que ninguém duvide de sua obstinação.
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O prefeito falando a crianças numa escola.
Com o bispo dom Nelson Westrupp, Emanuel e Juana Blanco participam de procissĂŁo no Parque da Cidade
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Inaugurando uma quadra de malha.
Com Alckmin e Mário Covas, na inauguração da 1ª etapa da avenida que depois viria a ter o nome do governador.
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O prefeito no palanque. À esquerda, os vereadores Dilermando Dié, Cristóvão Gonçalves e Cristiano Pinto Ferreira. À direita, José de Castro Coimbra.
Na entrega de casas populares.
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Com o ministro Paulo Renato, da Educação, no lançamento do programa Bolsa-Escola.
Com o governador Geraldo Alckmin.
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Com a esposa, a arquiteta Juana Blanco, que ocupou várias posições na administração municipal.
Na distribuição de macarronada, na festa de 1º de Maio do bairro Novo Horizonte.
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Arquivo Valeparaibano
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Inauguração do Banco do Empreendedor Joseense (BEJ), em 15 de maio de 1998. Da esquerda para a direita: Emanuel, José Maria de Faria, Felipe Cury (assessor de Eventos Oficiais), Manoel Juarez de Oliveira, o vice-governador Alckmin, João Luiz Teixeira Pinto (vice-reitor da Univap), Mário Sarraf e Claude Mary de Moura (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), e o vice-prefeito e secretário Ednardo de Paula Santos.
Pronunciamento no Grande Expediente da Câmara dos Deputados, em 7 de dezembro de 2007.
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O prefeito cumprimenta duas meninas durante visita a escola.
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Da esquerda para a direita: Massao Kimura, José Liberato Jr., Riugi Kojima, o vereador Miranda Ueb, o prefeito, Antônio Gervásio de Paiva Diniz, Antonio Alwan, Luiz Torello e Aydano Barreto Carleial. Com exceção do vereador, todos eram integrantes do governo no primeiro mandato.
Pondo o primeiro bloco de conjunto habitacional no Campo dos Alemães. Atrás, os vereadores Santos Neves e Walter Hayashi.
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Entrevista Júlio: Quem é Emanuel Fernandes? Ricardo Emanuel Fernandes: Eu sou um migrante. Nasci em uma cidadezinha chamada Valentim Gentil, mas muito cedo eu fui morar em Américo de Campos. Morei lá até os 18 anos, depois vim trabalhar e estudar em São José dos Campos. E eu venho de uma família de imigrantes e emigrantes. Do lado da minha mãe, são todos italianos. Meu pai era baiano. RJ: E seu pai? Qual a profissão dele? EF: Trabalhou na roça até os 18 anos e depois virou sapateiro. Depois, estudou e se tornou escrivão de polícia. Ele gostava de ler jornais. E nós, os filhos, nos espelhávamos muito no exemplo da mãe, que incentivava o estudo que ela não tinha, e no meu pai, que tinha saído da roça e se tornado escrivão. RJ: E como foi a sua trajetória de uma cidade minúscula até o ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica], uma das melhores faculdades de engenharia do País? EF: Eu era um aluno regular. Gostava de estudar, de matemática, e meu sonho era ser engenheiro. Só que eu tinha um problema, meu pai não podia me dar um centavo, tanto é que eu saí de lá, tive que fazer cursinho. Eu trabalhava na General Motors como auxiliar de escritório e, à noite, fazia cursinho. Foi uma época de muito esforço. A única escola em que eu podia entrar era o ITA, porque lá você não paga para morar e estudar, além de ganhar na época certo recurso, durante os dois primeiros anos, quando fazia o CPOR [Centro Preparatório de Oficiais da Reserva]. RJ: Você acredita que ter um objetivo faz toda a diferença? EF: É um dos motivos que me trouxe à política. Se você colocar metas na sua vida, manter as contradições num mínimo, se mover em direção a essas metas, você consegue. É uma coisa que depois, ao longo dos oito anos como prefeito, eu procurei incentivar nas crianças: ponha uma meta, vá atrás, persiga o seu sonho, não deixe ninguém rou-
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bar esse sonho. E até brincava com os meninos: “Se eu que era meio burrinho consegui, imagina vocês, que são inteligentes!” Mas foi uma época muito difícil, não tinha namoro, lazer, quase nada. Foram dois anos e meio nessa vida, obstinados, eu ganhava muito pouco, dava para sobreviver, mas o meu objetivo era fazer engenharia. RJ: Esta experiência de vida foi importante para você chegar à política? EF: É, mas a política vem depois, eu queria ser engenheiro, fiz um grande esforço para isso. Ralei, joguei parte da minha juventude fora. Estudei num cursinho mantido pelos alunos do ITA, o CASD [Curso Alberto Santos Dumont]. E aí, depois que entrei na faculdade, me tornei professor desse cursinho. Foi então que comecei a ter contato com a política. No CASD, éramos um grupo de alunos que se interessavam por política. A gente não ganhava para dar aula, era uma coisa comunitária. Na primeira greve que houve em São José, como diretor do CASD, cedi a gráfica do cursinho para imprimir a convocação do movimento. Naquela época, isto era um perigo: se me pegarem eu vou preso, pensei. RJ: Qual greve foi? Em que ano aconteceu? EF: Foi uma greve dos metalúrgicos. Mas eu não conhecia direito as
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coisas. Creio que foi no final de 1978, um pouco antes da Anistia. Havia dois agravantes: a gente estudava numa base militar e, três anos antes, cinco alunos haviam sido presos e torturados em Cumbica. Meu negócio era dar aulas, não queria me meter com política. RJ: Mas qual foi a sua motivação para apoiar a greve? EF: Já era um pouco mais politizado, mas não queria entrar em movimento clandestino. Eu dei duro, queria me formar, ser um cidadão consciente, ajudar a melhorar o Brasil. Dava aula gratuitamente para ajudar outros alunos a realizar seus sonhos. Eu também achava errado, como acho, o sujeito estudar cinco anos com dinheiro público e depois se dar ao luxo de fazer política. Ou seja, jogar fora as integrais, as derivadas, as séries todas que aprendeu. É um comportamento típico de bacana. Eu achava, por exemplo, que as pessoas que gastavam cinquenta mil dólares para se formar e depois iam batalhar em política eram tão desonestas intelectualmente quanto alguém que rouba esse dinheiro. Tanto é que eu fiz questão de ser engenheiro. RJ: Quando surgiu e como surgiu o homem político? EF: Talvez por exercer um pouco de liderança, alguns alunos me convidaram para ser o presidente do Centro Acadêmico do ITA. Aí, sim, eu comecei a entrar mais na política. E se discutia a questão da autogestão que há no ITA. Autogestão no sentido exato da palavra, disciplina consciente, os alunos é que resolviam os problemas disciplinares. Então se discutia no ITA como se conciliar com si mesmo, porque havia a tensão civil-militar. E eu queria que baixasse esta tensão e que o ITA voltasse a ter autogestão. E, como presidente do Centro Acadêmico, tive contato com gente da cidade: Luiz Paulo Costa [jornalista e ex-vereador], Antonio Alwan [ex-vereador e secretário municipal] e Ernesto Gradella Neto [ex-deputado federal e fundador do PSTU], além da minha esposa, Juana Blanco Gomes [ex-militante de esquerda]. RJ: Você atuava com foco na conciliação? EF: Com foco no resultado. É uma coisa que como prefeito e depois como político repito sempre: você só melhora as coisas melhorando,
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não dizendo que vai melhorar. A sua luta resolve o seu problema, o seu ego. É preciso ver o resultado final desta luta, se objetivamente está melhorando a vida das pessoas. RJ: Quais as crenças que norteiam sua atuação política e sua vida pessoal? EF: Primeiro, igualdade de oportunidades. Isso propicia às pessoas serem incluídas. Não existe coisa pior do que se sentir excluído do baile. O segundo é o espírito empreendedor, que também é uma coisa que é mal repartida no Brasil. Nós temos que despertar, socializar o espírito empreendedor. Como aparecem muitos salvadores da pátria da esquerda e da direita, tutela-se, e a tutela mata o espírito empreendedor. Em terceiro, as coisas têm de ser feitas com qualidade. E, por último, a tolerância, essa é uma palavra-chave. RJ: Você é um homem religioso? Acredita em Deus? EF: Eu acredito em Deus. Aliás, me guio por isso, sou cristão. Mas eu não sou de frequentar muito a igreja. Eu me guio por uma frase de Cristo dita quando perguntaram a ele qual era o principal mandamento: “Amai a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Amar a Deus é amar a perfeição, buscar a perfeição. E amar ao próximo é o DNA para a construção da coisa pública, para a vida em sociedade. Se nós tivéssemos este comportamento social, a vida seria muito melhor. Se eu gosto do meu próximo, não jogo lixo na rua, ando na velocidade certa, procuro conviver com os outros com urbanidade. RJ: A clareza de princípios e a visão racional da vida pública são coisas que você construiu como engenheiro do ITA e do Inpe? EF: Eu sou muito racional, objetivo, é coisa de engenheiro. Se você usar racionalidade, alcança resultados mais imediatos. Mas uma coisa que eu aprendi com a política foi que você não pode ser motivado pela razão. Você sempre é motivado pela emoção. Por exemplo, sair de Américo de Campos para São José para fazer engenharia é uma coisa emocional. Motivação, aliás, é motivo, é o que motiva a ação, é você se deslocar. Isso é emocional, mas uma vez emocionado, sen-
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sibilizado, você deve se guiar pela razão. Aliás, quando não dá certo alguma coisa na vida, a pessoa deve olhar para dois eixos. Ou falta conhecimento, sabedoria, ou falta motivação, esforço, determinação. O produto destas duas coisas resolve os problemas. RJ: E, na construção do homem político, qual foi a importância do Inpe? Era um objetivo seu trabalhar lá? EF: Eu queria ser engenheiro e, nesta época a Missão Espacial Completa Brasileira estava começando. Eu e mais 27, 28 amigos formandos fomos para o Inpe trabalhar no projeto. Queria ajudar a construir a engenharia nacional, havia certo nacionalismo na época, um idealismo. Ao mesmo tempo, eu cheguei a fazer seleção para entrar em um banco multinacional e fui até o final, só para dizer não, para eles e para mim mesmo. Decidi trabalhar com tecnologia nacional. RJ: Você não tinha foco em carreira, queria fazer coisas relevantes para você, para a sociedade, para o País? O seu foco era idealizado? EF: Bem, eu queria ganhar o suficiente para ter uma vida melhor do que a que eu tive na época de cursinho, na infância, na adolescência. Embora tenha sido muito feliz, era uma época difícil. Imagine um escrivão de polícia alimentar nove bocas, sete filhos... Eu fui engraxate para arrumar dinheiro para ir ao cinema. Vendia laranja para ir ao cinema, comprar bala. Então eu queria ter uma vida boa. Mas não era um objetivo ficar rico ou ter um status. RJ: Você foi ao Inpe movido por um projeto: colocar o Brasil no espaço?
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EF: Exatamente. É uma das coisas que eu sempre coloco no meu currículo: o SCD-1 [Satélite de Coleta de Dados - 1, o primeiro satélite brasileiro]. Eu ajudei a construir um satélite colocado em órbita. RJ: É uma questão mais de patriotismo... nacionalismo? EF: É um pouco de nacionalismo que havia na época, mas eu sempre pus muita perseverança em tudo o que fiz. Queria fazer a minha parte como engenheiro. RJ: E no Inpe você chegou a gerente. Esse foi o bê-a-bá para administrar a cidade? EF: No final da faculdade, eu fui mais para o lado da economia, da pesquisa operacional. O meu mestrado no Inpe foi em “Análise, Sistemas e Aplicações”, uma espécie de engenharia de produção ligada à administração. Depois ajudei a organizar o sistema de gerenciamento do projeto do satélite, que tem características únicas: é caríssimo, é multidisciplinar, não é seriado e, se ele falhar lá em cima, não tem jeito. Então construímos um sistema de gerenciamento inédito no Brasil. Baseado na experiência do SCD-1, eu fui um dos gerentes no programa com a China, onde estive por dois meses e meio. Quando voltei, o então diretor Márcio Barbosa me convidou para ser superintendente de planejamento, cargo de direção do Inpe. Tive contato com o instituto todo, aprendi mais sobre gestão. Essa experiência me foi útil mais tarde, não só pela vivência adquirida, como pelo fato de que um dos diretores era o ex-prefeito Sérgio Sobral de Oliveira. RJ: E o Sobral teve papel fundamental na sua formação política? EF: Não sei por que, ele achava que eu deveria ser prefeito. Eu já tinha uma militância política na cidade, mas como qualquer cidadão. Participei de diretórios do PMDB, depois PSDB, mas eu não pensava em ser candidato. Alguns amigos que foram políticos tiveram suas vidas prejudicadas. Mas nas conversas que tínhamos, Sobral falava como se fosse uma coisa premonitória: “Quando você for prefeito, vai chegar gente para você e falar isso, aquilo”. E eu dizia: Sobral, eu não quero ser prefeito, não gosto. Em 1982, ajudei a escrever o programa de governo do candidato Robson Marinho. Meu interesse em política acabava aí.
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RJ: Houve algum fato que fez você mudar de opinião e ser candidato? EF: Um dia eu e a Juana tínhamos acabado de voltar de uma reunião do partido em Eugênio de Mello, onde fomos ouvir as reivindicações da população. Porém, eu achava que não deveríamos levar a discussão por este lado, mas dizer: “Esta cidade é nossa, os comportamentos urbanos são nossos e, por melhor que seja o prefeito, se a população não se envolve, não deixa de jogar entulho na rua, a cidade não para de pé.” A cidade é feita pelas pessoas, e não pelos governantes. E isso é uma revolução. Você não tutela a população, você conversa claramente com ela. Então surgiu a ideia: construir um antiexemplo. Ser o anticandidato. Falar só aquilo que a gente acha. Mudar o jeito de fazer campanha. Se você não põe a cara para bater, não melhora o Brasil. RJ: Qualquer que seja o resultado? EF: Sim, na verdade, eu não imaginava ser prefeito. O ex-prefeito Sobral falava: “Não, você tem jeito...” E Sobral é uma pessoa que, para alguns, foi autoritário, mas todos hão de reconhecer que ele mudou a cidade. E, se ele dizia isso, eu achava que não ia fazer feio, pelo menos como candidato. *** RJ: Como prefeito, quais são as marcas da sua administração? EF: Muita gente me aconselhava a deixar uma obra como marca. Eu sempre fugi disso. Eu queria deixar a marca como o conjunto da obra. Como eu disse, eu queria ajudar a construir certos valores, tanto na administração pública como na cidade, como marca. Fazer as coisas bem feitas. RJ: Então a qualidade é uma de suas marcas? EF: É uma marca. A manutenção é outra, um esforço grande na manutenção. Arrumar o tempo inteiro. Tem ainda o lado empreendedor, que a gente procurou construir como valor cultural da cidade: é uma cidade de empreendedores, de oportunidades. Em resumo, é qualidade de vida.
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RJ: Quais são as realizações que mais o orgulham? EF: Certamente, a qualidade das nossas escolas. Construímos muitas escolas e reformamos todas elas. E o desfavelamento da cidade. Quando eu assumi havia muitas favelas na cidade, inclusive na avenida Dr. Nelson D’Ávila, das quais a população não se recorda. RJ: Quantas moradias, quantas famílias deixaram as favelas? EF: Eu não me recordo, mas me lembro de todas aquelas favelas: Salinas, Nelson D’Ávila, Jardim das Indústrias, Vila Industrial, Nova Detroit e aquela que o Eduardo Cury concluiu, nas Chácaras Reunidas. Demos vida digna a muitas pessoas. Você tem os parques, os centros comunitários que fizemos. Muitas pequenas obras. A manutenção da cidade. É isso que me dá mais orgulho. São José é uma cidade que tem pouca pichação, que não tem faixas na rua nem postes pintados de branco. As guias, a sinalização horizontal e a vertical, são bem delineadas. Colocamos muitas flores. A quantidade de calçadas que fizemos e de grama que plantamos é bastante grande. RJ: Assim que você assumiu, baixou a determinação de reduzir gastos. E todos os funcionários deveriam usar em suas salas uma placa avisando: estamos em contenção de despesas. Só que as despesas foram equacionadas e a placa continuou lá. Esta é a sua forma de governar? Exercer rígido controle das finanças? EF: O poder do administrador não é só administrativo: é o poder do exemplo. Eu exercito este poder até o último momento. Sou econômico e exijo economia. Levo uma vida simples e exijo o mesmo das pessoas que trabalham comigo. Eu não gosto de fazer favor, quebrar
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regras. E a gente procurou fazer coisas bem feitas para exemplificar. Eu exigia das pessoas que tivessem o máximo rendimento do dinheiro público. Essa noção de coisa pública é uma coisa que eu tenho bastante forte. Você está trabalhando na prefeitura, você é provisório e está construindo coisas públicas, está mexendo com o dinheiro dos outros. Eu reformei quase todos os prédios públicos de São José dos Campos, o último foi o Paço Municipal, para não parecer que estava fazendo para mim. O carro do prefeito era simples, nunca usado nos finais de semana. RJ: Você entrava na minúcia das licitações? EF: De todas não, mas eu tinha uma noção. RJ: Como engenheiro, você entende de números? EF: E aprendi quanto custava o metro quadrado de tapa-buracos, o metro linear de meio-fio, o metro quadrado de grama, da escola etc. E ficava muito chateado se percebesse que alguém estava usando dinheiro público de qualquer jeito. Esta austeridade eu sempre preguei. Nós queremos construir uma receita de bolo, não só o bolo. RJ: E aquela frase sua que ficou gravada no início da administração: não quero me vender à população, quero ser comprado. Isso é um princípio? EF: É um princípio. O vender e o comprar estão, obviamente, entre aspas. A gente tem que acreditar que está fazendo um bom serviço. E quem faz isso tem valor perante a comunidade. Ou seja, nós não devemos dourar a pílula para nada. Isso valia para mim e eu procurava passar para os auxiliares. É uma vida difícil, você tem que se dar muito. Eu sempre considerava, e considero, o meu trabalho público como missão. Se, apesar deste esforço, a população não quiser, aí quem não quer sou eu. Eu procuro fazer o melhor. Então é esse o sentido da frase. Se eu não for bom, eu não quero estar aqui. RJ: Se você fosse prefeito novamente, há algo que faria diferente? EF: Teria informatizado mais a prefeitura, por exemplo, na Saúde. Se eu tivesse um controle melhor sobre gastos e receitas da Saúde, teria sido melhor. A mesma coisa na Educação. Eu teria informatizado to-
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das as escolas para o pai saber, por exemplo, se o filho está lá. Para o Ministério Público saber e acompanhar. Para a imprensa saber e acompanhar. Muitos erros você acaba cometendo, mas isso faz parte da coisa, senão você se estressa demais. RJ: Há alguma coisa de que você se arrependa? EF: Há, mas são coisas pequenas. Eu não cometi nenhum pecado capital. RJ: Houve algum momento em que você pensou em largar tudo? EF: Teve... rapaz! Os dois primeiros anos foram sacrificantes. Uma vida pessoal muito ruim. Eu e a Juana, uma vez, estávamos andando na Vila Ema e a minha impressão é que as pessoas olhavam para mim e pensavam: lá vai aquele “enrolão”. É o pior sentimento que você pode ter. Eu sentei no caixa para diminuir o custeio e fazer investimentos. Foram dois longos anos, que podem ser caricaturados num fato ocorrido no Vale Rodeio. Por insistência dos promotores, e para incentivar a economia da cidade, eu fui fazer a abertura do evento. Mas o show atrasou três horas e, obviamente, na hora em que eu fui falar... eu reivindico para mim a maior vaia do mundo! Foram três ou quatro minutos, se tivesse um buraco ali, eu teria me enfiado. RJ: Quais são os ônus e os benefícios do exercício do cargo? EF: Eu acho que é uma missão. Você é o que faz, o que você fez. Por exemplo, eu tenho um grande orgulho de andar em São José e as pessoas me cumprimentarem pela administração. RJ: O exercício do cargo afasta ou aproxima as pessoas? EF: O exercício do poder é solitário. É você quem decide. Por isso é que tem que ter este forte sentimento de missão para conseguir. RJ: E as limitações impostas pelo orçamento, pela lei, pela oposição? O poder público pode realmente fazer tudo o que gostaria de fazer? EF: Não. O Brasil tem um formalismo excessivo. Muitos gestores não fazem melhor por causa deste excessivo formalismo, deste controle, desta quantidade de leis. Quantas desapropriações ou pagamentos de precatórios nós fizemos que poderiam ter sido melhor negociados pelo
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prefeito, que teriam dado lucro para a prefeitura? E você não pode fazer porque não é difícil ser acusado de estar querendo bola, quando na verdade está tentando fazer um bom negócio para a prefeitura. RJ: Você traz alguma frustração do exercício do cargo, algo que não pôde fazer porque a lei não deixou? Por que era quase impossível? EF: Eu tenho frustração por não ter podido fazer muitas coisas, mas me faltaram gerentes. Exemplo: as calçadas. Eu elaborei projeto e plano de mídia e preparei curso para arrumador de calçadas e fachadas, porque isso diminuiria o desemprego. Queria me associar aos deficientes visuais, cadeirantes e idosos para mostrar como é difícil andar numa cidade com calçadas ruins, mas faltou alguém para pegar isso. Por outro lado, diminuímos drasticamente as pichações, porque eu tinha uma gerente, a Claude [Claude Moura, ex-secretária da gestão Emanuel e secretária de Governo de Eduardo Cury], e destinei recursos para isso. RJ: Num documento chamado “Conselhos Úteis”, que você editou para os que desejam seguir seu estilo de gestão, você afirma que o prefeito tem uma vontade muito grande de dar, fazer concessões, mas deve controlar-se... EF: Muita gente entra na política e comete um erro grave, que é achar que você é o rei da situação. Fazer um favor indevido é um erro gravíssimo. Você é escravo da regra para ser senhor da situação. Tem que ter sempre um critério. Esse negócio de fazer exceções é uma cilada para quem faz. RJ: No mesmo documento, você aconselha aos políticos que não façam favores. Como é possível? Você foi indicado candidato, construiu maioria na Câmara e governou sem fazer favores? Qual é a receita para isso? EF: Primeiro eu compartilhava, não só com os secretários e com a população em geral, mas com os vereadores, tinha reuniões semanais. E, obviamente, eu ouvia muito. Eu chamava os vereadores para ajudar a priorizar: “Olhem, vocês estão ajudando a governar São José”. Isto dá um senso de responsabilidade.
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RJ: Você nunca foi obrigado a fazer uma concessão que transpusesse o limite da ética, da moralidade? EF: Não, eu conversava claramente e francamente com os vereadores. Eu fazia até um sinal no chão e dizia: tem uma fronteira aqui da qual eu não vou passar jamais. No dia em que eu trair a Dona Maria – eu sempre tive na cabeça uma Dona Maria, que é a somatória de rostos que eu vi ao longo da minha vida – eu saio do setor público. E sempre falei para eles, porque muita gente chegava para mim, não os vereadores, mas pessoas na rua, e diziam: “olhe, Emanuel, cuidado, porque depois que você for prefeito, precisa se precaver com a Justiça.” Eu posso ser bobo, mas eu não vou passar este limite. Não passei. RJ: E quando chegava uma coisa atravessada? EF: A minha cara mostrava. Com os vereadores, nunca tive este problema. Nunca houve um vereador que chegou para mim e insinuou qualquer coisa não-ética. Pediam muito, a todo instante, mas olho-no-olho. Agora, obviamente, de vez em quando alguém chegava, pobre, rico ou remediado – e os mais ricos pedem mais, pedem peixe grande – , e eu sempre cortei na hora, porque eu sou austero comigo mesmo e tenho respeito moral. Na hora que uma pessoa tentava passar do limite, eu dizia: “Não, espera aí, você está querendo uma coisa pública para você.” Eu não me controlava, nunca me controlei, sob este aspecto. Tanto é que, quando eu passava de carro oficial e alguém me dizia: “ladrão!”, eu parava imediatamente, dava ré, descia do carro, encarava e perguntava: “Você me chamou de quê?” Eu não sei como não tomei um tiro. RJ: E as pressões, como lidar com elas? Dos partidos, aliados, vereadores, empresários, sindicatos... Isso impõe limites à autonomia do prefeito? EF: O prefeito não é uma pessoa física, é uma pessoa jurídica. Eu realmente ouvia bastante, mas não deixava ninguém me pautar. E sempre tive critérios. Se me perguntavam: “Por que você fez isso em tal lugar e não fez em outro?”, eu sempre tinha uma resposta. RJ: Ainda naquele documento, você afirma que o político deve ser simpático. A simpatia é uma coisa inata ou pode ser desenvolvida?
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EF: Pode ser desenvolvida. Eu sou bastante tímido, mas na prefeitura acabei desenvolvendo o meu relacionamento humano. É que muita gente acha que ser um bom governante é ser um bom administrador. Isto é verdade para 80% do trabalho. Mas você não é só o administrador racional, também é uma espécie de representante do povo. Neste aspecto, você é um pouco “rei”, “conselheiro”, “juiz”. Você tem várias funções que, de forma atávica, estão nas nossas cabeças, e você tem que desempenhá-las. RJ: É uma espécie de arquétipo da nossa cultura? EF: Em todas as culturas é assim. Você é o guerreiro, é o líder, é uma espécie de pajé, é o administrador racional, é o rei, ou seja, tudo numa pessoa só. São funções que você tem que desempenhar. Uma delas é ser simpático. Eu não saía à rua se estivesse de mau-humor, porque a pessoa que encontra com você, muito provavelmente vai encontrá-lo uma ou duas vezes na vida; você é o prefeito dela e ela quer ver o seu prefeito sorridente. Você não vai pagar isso para ela por ter acreditado em você e votado em você? Faz parte ser simpático, tirar fotografia, conversar com as pessoas. RJ: Em 1996, você foi eleito com o compromisso de transformar o município numa fábrica de empregos. Mas geração de empregos não depende mais da economia global? EF: É, com certeza, depende da economia global. Mas o que a gente queria dizer à época – essa foi uma expressão cunhada pelo ex-prefeito Ednardo de Paula Santos – é que queríamos retomar a busca por empresas que São José tinha tido no passado. Um prefeito moderno não constrói simplesmente praças. Ele deve melhorar as vantagens comparativas da cidade. Embora eu tenha explicado na televisão, isso criou uma expectativa maior do que deveria. Mas, no geral, eu acho que a população entendeu, tanto é que acabei reeleito. E a economia de São José realmente melhorou. Não digo que tenha atuação direta da prefeitura, mas a prefeitura ajuda. Vou dar exemplos. Se o presidente de uma empresa chega a São José e vê uma cidade limpa, ele nota a cultura da limpeza. Se a cidade ensina o empreendedorismo, ajuda. Nós formamos um número grande de empreendedores. O primeiro “banco do povo” do Estado de São Paulo foi construído aqui.
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RJ: Então o incentivo ao empreendedorismo e o investimento na educação são as ferramentas da cidade para a geração de empregos? EF: Sonho com um dia que um joseense desempregado vá bater à porta de um outro e diga: “Olhe, eu gostaria de arrumar a tua calçada, porque eu sou de São José, eu sou um empreendedor, e São José é a terra de oportunidades”, e o vizinho dê o emprego a ele. O empreendedorismo tem como consequência a sociedade de oportunidades. Eu sonho isso para o Brasil, mas o Brasil teme o futuro. Ou melhor, o Brasil não tem muita noção do futuro, e isso imobiliza as pessoas. Se a gente criasse um pouco desta sociedade de oportunidades, se incentivasse a pessoa a querer crescer, a cultuar o sucesso... a gente no futebol faz isso, mas, no caso dos empreendedores que ganham dinheiro, é diferente, eles têm de esconder que se dão bem, parece pecado. Não, o que nós temos de fazer é incentivar o sucesso. O que é errado é não dar oportunidade a todos. RJ: Esta foi a sua forma de tornar realidade a fábrica de empregos? EF: Uma das coisas que havia aqui em São José: o sujeito produzia nas Chácaras Reunidas, mas não conseguia tirar a produção de lá porque tinha enchente, não tinha asfalto, não era canalizado. É um absurdo, as outras cidades dão terreno, asfalto de graça, mas em São José, que já tem um parque industrial, ocorria esse tipo de coisa. No primeiro ano, nós arrumamos aquela área. E tem uma coisa que só os meus amigos mais próximos sabem: quem ia para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico era o ex-prefeito Sobral. Infelizmente, oito dias depois do convite ele faleceu. RJ: Ele viveu só até vê-lo tornar-se prefeito. EF: No começo estava muito ruim, e ele estava preocupado. Eu estava fazendo o dever de casa, puxando o freio das despesas. Mas hoje lá do céu acho que ele deve falar: “Foi legal sim, foi bom.” RJ: São José cresceu, ficou cara e inviabilizou alguns tipos de negócio. Houve o fechamento da Philips, da Solectron, da Kodak e da Tecsat. Qual é o futuro do emprego na cidade? O que o gestor de hoje tem de fazer para que ela seja uma cidade de oportunidades?
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EF: Exatamente o que São José dos Campos está fazendo. Existe uma teoria sobre desenvolvimento que foi encomendada pelo presidente Reagan [o ex-presidente americano Ronald Reagan] ao Michael Potter [economista e professor de Harvard], papa da competitividade nos Estados Unidos. Ele analisou a indústria americana e concluiu que há várias etapas de desenvolvimento. No início, a economia é impulsionada por “custo de fator”: baixo custo da mão-de-obra, do terreno, do meio ambiente, da energia e das coisas que vão para a produção. O que nós insistimos até hoje em continuar no Brasil. O País e São José dos Campos foram impulsionados por esse “custo de fator” por um bom tempo. Só que, com o tempo, você vai tendo uma “deseconomia” de escala, ou seja, o custo de vida aumenta, o preço da terra aumenta, a pressão para cuidar do meio ambiente aumenta, há mais leis trabalhistas, sindicatos etc. Você perde as vantagens comparativas. O que você faz? Senta e chora? Não, você tem que ir para a etapa seguinte. Tem que se desenvolver pela tecnologia, pela inovação. Tem que dar saltos. Então procuramos fazer isso em São José. Essa é a razão do Parque Tecnológico. É a razão do empreendedorismo. Nós não vamos voltar a ser a cidade que fomos na década de 70, quando 52% das pessoas trabalhavam na indústria. Isso está lá na China, na Índia, porque os custos lá são baratos. O que nós precisamos é melhorar a competitividade da indústria, aprimorar a mão-de-obra, os métodos gerenciais. Criar novas tecnologias. E os que não forem mais industriários serão empreendedores. Está acontecendo na indústria o que já aconteceu na agricultura. Antigamente, 70% das pessoas do Brasil trabalhavam no campo para alimentar 100%. Hoje, 15% alimentam o País e a população multiplicou-se por quase cinco. Na indústria está acontecendo a mesma coisa. Cada vez menos gente
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trabalha para produzir coisas para mais gente. Não tem jeito de trazer uma grande empresa, tem que ter o espírito empreendedor e criar a sociedade de oportunidades. RJ: Você acha que a cidade deve continuar crescendo indefinidamente, ou talvez seja hora de dividir este crescimento com outros municípios? EF: Não, eu advogo a tese de que nós devemos segurar, tanto é que quando eu fui prefeito eu procurei segurar. RJ: Crescimento a qualquer custo não? EF: Não. E segurar mesmo. Dificultar loteamentos, a gente procurou ir segurando. RJ: Qual será o tamanho de São José dos Campos no futuro? EF: Eu vejo São José dos Campos como uma cidade – na hora que terminar o processo de urbanização do Brasil, que está terminando – com 750, 800 mil habitantes. Conurbada com Jacareí, vai dar uma cidade de 1 milhão, 1,1 milhão de habitantes. Eu acho que nós ainda vamos ter qualidade de vida. RJ: Qual o aprendizado que o exercício do cargo te deixou? Qual a lição que ficou para a vida toda? EF: Primeiro, tem o lado sentimental. Eu fui o primeiro prefeito que ficou oito anos. E no final, quando o Eduardo já tinha ganhado a eleição, nosso grupo político, nossa receita ia continuar, estava bastante satisfeito e não via a hora de sair. Ia para o Eduardo: “Olhe, isso aqui é assim, isso aqui é assado”, dando as chaves das coisas. Rapaz, quando bateu a última semana, aí veio uma depressão. Estava com ciúmes de São José. E olha que o Cury é meu amigo. Eu estava com ciúmes, não dele, da cidade. É como você criar um filho. Na época dá muito trabalho, você não vê a hora que o bicho cresça, mas depois você fica com saudades desse tempo. Eu brinco com todo mundo que a hierarquia política é a seguinte: você começa como vereador, deputado, prefeito e ex-prefeito. Porque, como ex-prefeito, quem não gosta de você não te aborrece e quem gosta faz questão de dizer: “Emanuel, quando
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é que você vai voltar? Você que era bom”. É um lado gostoso, e eu tenho este orgulho. E de ter saído com a popularidade lá em cima. O prefeito é vaidoso. Eu me lembro que, à época da minha saída, em 2004, nas cidades onde o Ibope pesquisava a intenção de voto, ele fazia também a avaliação do prefeito. E eu tinha a melhor aprovação de todos os prefeitos do país. Tinha 70% de ótimo e bom. Foi uma coisa fantástica. E eu dei para os meus secretários, quando saí, uma cópia desta pesquisa. “Isso aqui é o trunfo que nós vamos levar para as nossas vidas.” *** RJ: Você se considera um político de esquerda, centro ou direita? Ou é avesso a este tipo de rótulo? EF: Eu venho das esquerdas, mas hoje eu estou focado na resolução de problemas. Eu me patrulho bastante para ver se eu estou querendo arrumar uma justificativa para mim, que eu seja uma grife, ou se estou querendo fazer alguma coisa. Não sei como eu me classificaria, mas eu sonho em construir uma sociedade de oportunidades. RJ: Ou seja, não entra em boiada? EF: Eu obviamente tenho meus clubes, minhas tribos, que são um pouco diferentes das tribos consideradas de esquerda. Agora, desde o primeiro instante em que despertei para a política como militante, eu mantenho a mesma situação: focado na pessoa. Pela minha trajetória, pela dificuldade que eu tive. Muita gente tem compromisso com a sua luta, eu tenho compromisso com o objeto pelo qual eu luto. O pior inimigo de qualquer político é ele mesmo. Ele ficar justificando seu problema pessoal para ter uma atuação. RJ: Qual que é a ferramenta desta objetividade? É o exame de consciência, o autocontrole, a experiência? EF: Tem um pouco de experiência, mas é exame de consciência a todo instante. Eu tenho uma Dona Maria na cabeça, e ela fala para mim: “Emanuel, você tem certeza que está me atendendo, ou está inventando alguma coisa para ser político, para continuar?” Eu estou numa missão, que dá muito trabalho.
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RJ: Qual o balanço que você faz de sua atuação parlamentar? EF: Eu participei rapidamente do Congresso em 1996 e de lá para cá mudou muito, e para pior. O papel do Congresso hoje, em geral, e da Câmara, em particular, é um papel bem menor do que foi no passado. Hoje é praticamente homologatório. E não é só culpa dos governos, é culpa das pessoas, dos próprios parlamentares e dos partidos políticos. Por exemplo, nós da oposição precisamos ter uma nova agenda e não temos. A agenda que está aí, na minha opinião, se esgotou, tanto para o atual governo como para nós que somos de oposição. Eu sou um dos vice-líderes do PSDB. Fora este papel, eu também estou fazendo um trabalho de aggiornamento [atualização, em italiano], de revisão das nossas ideias. RJ: Você já tem uma ideia desta agenda, um caminho para o partido? EF: Muitas das coisas que eu apliquei aqui em São José eu estou convencendo os colegas a aplicar em nível nacional. Muitos dos valores, da metodologia... O partido me chama para dar palestras sobre o desenvolvimento das cidades. As pessoas não acreditam que nossos cabos eleitorais em São José não são pagos. Então eu estou procurando influenciar esta nova agenda. RJ: Qual deve ser o papel do Congresso, considerando esta agenda futura? E o papel do parlamentar? EF: Primeiro, eu acho que tem parlamentar demais. Segundo, nós te-
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mos que mudar o sistema de governo e o jeito de votar. Eu sou a favor de se votar por circunscrição, é uma espécie de voto distrital, onde, por exemplo, aqui no Vale do Paraíba, devem caber três deputados federais e uns quatro ou cinco estaduais. Você só poderia disputar na sua circunscrição. Por quê? No voto distrital, aumenta a identidade do eleito com o seu distrito. Hoje no Brasil as pessoas são eleitas, mas todo mundo acha que o Congresso é ruim. Ora, mas é a população que votou, e esse pensamento leva a uma coisa que põe em risco a democracia: achar que o Brasil é errado, não sabe votar. Ou seja, nós não acreditamos em nós mesmos. E a população tem razão: um parlamentar disputa votos aqui e, se não agrada, vai para outro lugar. O que está errado é o candidato virar ambulante. Prenda-o a um lugar. Deixemos a população escolher. O eleitor escolhe ou reprova. RJ: E o próprio eleitor, depois, vai lembrar quem foi que ele elegeu? EF: Sim, e vai aprendendo. Ele é o eleitor, o cidadão. Todo poder deve ser dado ao povo. Para mim é o seguinte: o máximo de informação à população. Deixe-a escolher. Se a população troca o seu voto por não-sei-o-quê é problema dela. Com o tempo isso melhora. O que não pode é sair daqui e se candidatar em outro lugar. E todo poder ao consumidor. E todo poder às relações de trabalho. É óbvio, é preciso haver sindicatos, mas a pessoa tem de parar de ser tutelada, tem de entender as regras de mercado. Por exemplo, se a fábrica não aumentar a competitividade, ela perde o emprego. E todo poder ao contribuinte. Ele tem de saber de onde vem o dinheiro e para onde vai. Eu chamo essas ideias de “todo poder ao povo”, no seguinte sentido: vamos compartilhar diagnóstico e prognóstico. Chega de tutela. RJ: Amadurecimento, conscientização, crescimento do eleitor... EF: Crescimento é isso: é mais de você em você mesmo. Nós tivemos a tutela do regime militar, baseada na força bruta e na tecnocracia. Durante a democratização, a gente acreditava que a votação em si iria fazer o Brasil prosperar, embora você escolhesse o tutor. A eleição vira este vestibular para ver quem é o salvador da pátria. Atualmente nós temos uma tutela pela semelhança: “Eu sou um de vocês, então vote em mim que nós vamos fazer o Brasil melhorar.” Mas é uma forma
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de tutela. Se nós descermos um degrau e tivermos humildade e compartilharmos com a população como se cresce na vida, como são as relações de consumo, como são as relações de contribuição, como são as relações de votação, isso é compartilhar diagnóstico e prognóstico. Uma das poucas indústrias de que o povo entende a regra no Brasil, na qual nós somos os melhores do mundo, é o futebol. O brasileiro não é tutelado no futebol. Ele sabe a regra desde criancinha, ele sabe como ser feliz, ele sabe correr atrás do seu sucesso, ele é empreendedor, você não precisa mandar que ele vá “estudar”: quem é bom e quer se aprimorar fica lá depois do treino, fica treinando bater falta, um drible novo. Ele faz aquilo com alegria, quer ganhar bem, quer ser competitivo. Não adianta o Corinthians ganhar do Jabaquara, tem que ganhar do Palmeiras, do São Paulo. Não adianta o Brasil ganhar de Honduras, tem que ganhar da Argentina lá no La Bombonera. Quer dizer, o brasileiro vê que a competição é uma forma de cooperação. O povão entende a regra e ele dá esse show para a gente. Mesmo assim, nós estamos tutelando na economia, na política, nas relações do trabalho, nas relações de contribuição, na relação com o Estado... Eu acho que temos que tirar esta tutela, emancipar o povo. Eu tenho usado até a expressão power to the people84 . John Lennon “na cabeça”. RJ: Então existe um excesso de tutela do Estado. É por isso que você não apresentou nenhum projeto de lei no Congresso até agora? Não deseja criar nenhum factoide? EF: Não vou colocar esse tipo de lei no meu currículo. Eu tenho alguns projetos sendo engatilhados para o ensino de empreendedorismo e para parques tecnológicos, mas eu tenho que fazer uma coisa que seja útil. Lei tem que ser depois do pacto, não o contrário. Isso é uma formação autoritária, tutelar. RJ: Não é pela quantidade de leis que se mede a produtividade de um deputado? EF: Não. Quando eu estava na prefeitura e o jornal Valeparaibano publicava quantos projetos de lei cada vereador havia apresentado, eu dizia a eles: “Gente, para com isso, o que vai aparecer de lei!” 84. “O poder ao povo”, em inglês. (N. do E.)
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RJ: E leis toscas... EF: Acredita-se que uma lei feita por um douto irá nos redimir, nos salvar. Você traz para o campo formal uma coisa que poderia ser informal. Daqui a pouco nós vamos começar a legislar sobre relações maritais: “Todo marido deve, de manhã, escovar o dente e fechar o tubinho”. Poderia ser uma lei, não é? É o que está acontecendo neste instante no Brasil. Todo mundo pegando apoio para leis e emendas. Nós precisamos ter consensos. RJ: As cidades copiam leis umas das outras. EF: Eu acho isso ridículo. É o que a gente chama de subdesenvolvimento sustentável, que se apoia em três pés. O primeiro: “Existe alguém responsável pelo meu insucesso”. É reconfortante isso. Hora são os americanos, os burgueses ou os neoliberais, alguém é responsável pelo meu insucesso. Segundo: “Tudo é possível, o que falta é vontade política”. Não entendem que as coisas são finitas, que os recursos são finitos. E o terceiro, e mais importante, “alguém virá nos salvar”. Se acertarmos a mão num bom governante... e isso cria raízes para o nosso subdesenvolvimento. RJ: Qual é a função mais gratificante? Ser prefeito ou deputado? EF: Prefeito, com certeza. Você tem a oportunidade de ter um contato com a população muito grande. É um negócio prazeroso. Aos poucos, a minha relação com a população foi educada, as pessoas não me pedem coisas indevidas, e eu tenho uma relação muito legal com a população, eu adoro isso. RJ: Você foi Secretário Estadual da Habitação em 2005, entregando mais de vinte mil casas. Foi eleito em 2006 como o 5º deputado mais votado em São Paulo, com 328.486 votos. Isso o credencia para voos maiores? EF: Obviamente, o meio político o olha com outros olhos. Agora este negócio do futuro eu não sei, realmente. Em 2006, para muitas pessoas eu era o candidato a governador de São Paulo. Muitos prefeitos, ex-prefeitos... O próprio governador Geraldo Alckmin me disse que eu deveria ser candidato. Eu achei que não era o meu momento, disse
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isso ao governador, que naquele momento eu queria ser parlamentar. No final, o Serra acabou saindo candidato e obviamente todos retiraram as candidaturas. Eu achei que não era o momento, e realmente não era. Jesus Cristo lá em cima tinha me avisado, “não entra que vai acontecer alguma coisa aí”. Daqui para frente, o que vai acontecer eu não sei. RJ: Como você se vê daqui a dez anos? EF: Como um grande líder político. Isso não significa necessariamente ter ocupado cargos. A atividade política é você ter um bom diagnóstico, partilhado com a população. E esta capacidade de análise eu modestamente tenho, pela minha vivência. Repetindo o que disse o nosso presidente lá atrás: “Sou um brasileiro igualzinho a você”. O sujeito que sai da cidadezinha no interior tem dificuldades para crescer... Eu acho que experimentei um pouco do que a média dos brasileiros experimentou. Tive a felicidade de conviver com gente muito inteligente no ITA, no Inpe, na política, e eu acho que posso colaborar bastante. Agora, eventualmente, pode ser que esteja no lugar errado. E a situação política no Brasil está muito ruim, muito feia, pode ser que deteriore a ponto de a população olhar e dizer: “Olhe, isso aí não me interessa”. Nesse caso, não interessará a mim. Enquanto eu puder ajudar, eu tenho honestidade intelectual e procuro realmente ajudar. Obviamente, eu tenho o meu emprego, no Inpe, eu tenho uma fonte de renda, gosto do Inpe, posso trabalhar lá e me dedicar mais à pescaria, que me dá prazer da mesma maneira. Mas eu vou insistir até o final. Eu acho que vai acabar acontecendo, tal como aconteceu comigo ser prefeito. Vou acabar virando um líder político e ajudar a melhorar o Brasil. RJ: Você se imagina como governador? E como presidente da República? EF: Não, não, para não me perturbar, para eu não criar dever comigo mesmo. Para mim, fazer política não é uma carreira. Tem uma coisa que os políticos olham de um ponto de vista errado. Eles falam assim: “Quando eu assumi o poder”. Eu não penso deste jeito. Eu tenho poder hoje, fora o fato de ser parlamentar e votar. Eu tenho liderança sobre um monte de gente, o poder do discurso, o poder do exemplo.
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Você muda o Brasil mudando, saindo aqui na rua e conversando com as pessoas sobre o papel da cidadania, voto distrital. RJ: Quais são os maiores desafios do próximo governador do Estado e do próximo presidente da República? EF: O governo do Estado não tem esta relevância que tem a Presidência da República ou a prefeitura. Tem um poder intermediário, tem poder de polícia, mexer com escolas, mas não a representatividade da Presidência da República. Na minha opinião, é preciso que haja um aggiornamento no Brasil e, no nosso caso, por meio do “poder ao povo”. Eu advogo esta tese. Se você não aumentar a identidade eleitoreleito, a democracia não durará. E a democracia que eu digo é não só o parlamentar como também a presidência. Você pode descambar para uma intolerância... RJ: Você acha que existe este risco? EF: Existe. Não digo no curto prazo. Mas a população perde a fé nos valores democráticos. Para a própria sobrevivência, nós precisamos trazer o povão para o centro de campo. Os recursos não são infinitos, não existe ninguém responsável pelo teu insucesso, ninguém virá te salvar, o Brasil é a gente que faz. Essa noção de responsabilidade, de missão. Precisamos discutir isso com a população, tratá-la como gente
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grande. Tem de trazer todo mundo para entender a regra. É como entender o pênalti, o escanteio. É fazer regras claras e simples para a população entender, e ela que decida. É a emancipação da população brasileira. Essa deve ser a nossa agenda. A agenda dos nossos avós foi ruralizar o Brasil, e eles deixaram uma herança muito boa. Se caírem barreiras agrícolas, o Brasil vai pôr comida no mundo inteiro. Nós temos que estar à altura dessa herança e construir a moderna sociedade urbana no Brasil. Essa é a nossa tarefa. E a moderna sociedade urbana é muito interativa, é preciso que os players, os jogadores, entendam. Só quem pode fazer isso, obviamente, é a política: através dos políticos e da mídia. Mas é uma coisa que precisa ser construída.
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SOBRE OS PROFISSIONAIS QUE FIZERAM ESTE LIVRO
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Antônio Marmo Mineiro de Alfenas, é jornalista da safra de 1972 (Cásper Líbero – SP). Trabalhou como repórter, editor, produtor de TV ou colaborador nos jornais Folha de S. Paulo, Diário do Comércio e Indústria – DCI, Gazeta Mercantil, GW Comunicações, Scientific American. Fez parte por dez anos, desde a implantação, da equipe da TV Vanguarda. Atuou por cinco anos na Amazônia, em ações de apoio a Chico Mendes ou pelo desenvolvimento sustentável.
B. Veloso É jornalista profissional. Iniciou carreira na Editora Abril, em São Paulo, onde atuou também na sucursal d’A Tribuna, de Santos, e na Revista Hotéis do Brasil. No Vale do Paraíba trabalhou na editoria de política do Valeparaibano, onde escreveu por cerca de nove anos a coluna “Boca de Urna”, acompanhando diariamente a política de SJCampos e do Vale como um todo. Há 26 anos trabalha na Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Jacareí.
Cristina Valéria Flausino Nascida em São José dos Campos. É jornalista formada pela PUCCampinas e mestre em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. Foi repórter do jornal Valeparaibano durante sete anos e trabalhou três anos na TV Vale do Paraíba (atual Vanguarda). É professora de técnicas jornalísticas na Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, e no Instituto Santa Tereza, FATEA, de Lorena.
Fausto Carneiro Formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos, foi repórter de economia do jornal A Tribuna, de cidades do jornal Notícias Populares e do caderno regional “Folha Campinas”, da Folha de S. Paulo; foi editor-assistente da sucursal do Vale do Paraíba do jornal Folha de S. Paulo e editor de publicações da FT Comunicações. Atualmente, é editor de conteúdo do G1, o portal de notícias da Rede Globo, em Brasília.
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Iara de Carvalho Formada em Jornalismo (1972), pós-graduada em Teoria da Comunicação Humana (1990) e licenciada em Letras (2000). Atuou não só como repórter e redatora, mas também como chefe de reportagem, editora-adjunta e secretária de Redação. Trabalhou nos jornais Lar Católico, de Juiz de Fora, Agora, Diário de Taubaté e Valeparaibano, bem como em assessorias de imprensa das prefeituras de Caçapava, Taubaté, São José dos Campos, Guarulhos e Jacareí.
Irênio de Faro Jornalista profissional desde 1964. Trabalhou como assessor de Comunicação Social e redator de Economia na mídia no Rio de Janeiro, em Niterói, Brasília e São José dos Campos. Como assessor de Imprensa da Embraer editou por oito anos o tabloide semanal O Bandeirante, para empregados da empresa, e as publicações bimestrais Embraer Notícias e Embraer News, dirigidas ao público externo.
Joaquim Maria Botelho Jornalista e professor. No Vale do Paraíba, integrou a assessoria de imprensa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Embraer. Chefiou a reportagem da TV Globo Vale do Paraíba (atual TV Vanguarda) e foi diretor de redação do jornal Valeparaibano. Lecionou Jornalismo na Universidade de Taubaté entre 1989 e 1999. Autor de ensaios e traduções, seu trabalho mais recente é o livro Imprensa, poder e crítica.
José Roberto Amaral Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) em 1992. Foi assessor de imprensa do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo entre 1993 e 1997. Repórter Especial do jornal Valeparaibano de 1997 a 2007, atuou durante nove anos na Editoria de Política, participando da cobertura de cinco eleições. Atualmente é assessor parlamentar do deputado federal Emanuel Fernandes (PSDB-SP).
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Júlio Ottoboni Joseense, trabalhou a maior parte de sua vida na grande imprensa do eixo Rio-São Paulo. Atualmente é repórter da rede nacional da Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil. Foi por uma década repórter nacional d’O Estado de S.Paulo, atuando ainda pelo Jornal da Tarde e Agência Estado. Participou da regionalização da revista Veja. Pósgraduado em jornalismo científico, atuou na assessoria de imprensa do Inpe. É articulista do Observatório da Imprensa.
Luiz Paulo Costa Jornalista, trabalhou na Rádio Piratininga, no Valeparaibano, na Rádio Clube e na revista Realidade. Participou da fundação e colaborou com os semanários Brasil Urgente, Opinião e Movimento, da imprensa alternativa. Foi correspondente d’O Estado de S. Paulo. Autor dos livros Na Luta pelos Direitos do Povo; Corrupção – A Câmara no Banco dos Réus e Histórias e Estórias de São José dos Campos. Recebeu duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo em Equipe (1972 e 1975).
Paulo Bicarato Jornalista, iniciou sua atuação no Valeparaibano. Passou também pela Folha de S.Paulo, nas regionais de Ribeirão Preto e São José dos Campos. Foi correspondente do site Emarketeer.net e colaborador do programa Cultura Digital, do Ministério da Cultura; colaborador de sites e revistas eletrônicas como Novae e Rede Mídia da Paz, integra a equipe da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Jacareí. É pesquisador de redes sociais.
Ricardo do Nascimento Júlio Paulistano, formou-se jornalista pela USP e começou a carreira na Folha de S. Paulo, onde entrevistou personagens importantes da história recente do País, como Lula, Collor, Sarney, Alckmin, Covas, Quércia, Fleury, Ulysses, Meirelles e Gabeira. Integrou a equipe de imprensa da Prefeitura de SJCampos na gestão de Angela Guadagnin. Tem MBA em Administração de Marketing pela FGV. É responsável pelo gerenciamento de comunicação da Volkswagen em Taubaté.
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Roberto Wagner de Almeida Graduado em Direito e Letras, é jornalista desde 1960, começando no Valeparaibano. Em 1969 lançou, com Joacyr Beça, o jornal Agora, do qual foi diretor de redação até 1978. Foi assessor de imprensa da Secretaria do Interior, da presidência da Caixa Econômica do Estado e da Sabesp. É autor do livro Entre a Cruz e a Espada – A Saga do Violento e Devasso Padre Rolim. Desde 1986 produz e apresenta pela Rádio Bandeirantes o programa “Show de Ideias” e desde 2002 escreve para o Valeparaibano a coluna “Roberto Wagner”.
Sérgio Roberto de Paula Começou no jornalismo no Diário do Povo de Campinas, onde atuou por mais de dez anos, como repórter policial, editor e secretário de redação. Em SJCampos, foi editor de cadernos especiais e secretário de redação do Valeparaibano. Foi produtor na TV Bandeirantes Vale do Paraíba, Secretário de Comunicação de Jacareí e assessor de imprensa dos deputados Alberto Goldman e Milton Flávio. Atualmente trabalha como assessor da Assembleia Legislativa, em São Paulo.
Carlos Magno da Silveira (projeto gráfico) Mineiro de São Pedro dos Ferros – pequena cidade da Zona da Mata –, formou-se em Artes Plásticas pela Escola Guignard, em Belo Horizonte, e em Design Gráfico pela Unip. Desde 1991 reside em SJCampos, onde mantém um estúdio de design. Em seus trabalhos, procura sempre aliar técnica, sensibilidade e embasamento conceitual. Amante dos livros, foi buscar em obras antigas e nos mestres do passado os ensinamentos e a inspiração para o presente projeto.
Lilian Vinhas 29, trabalha com fotografia social e eventos desde 2005. Acredita que a fotografia é um instrumento de expressão de uma linguagem mais introspectiva e busca revelar detalhes restritos a entrelinhas por meio de suas lentes.
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Marcelo Magano Natural de São Paulo, vive desde 1991 em São José dos Campos atuando como fotógrafo e produtor de vídeo nas áreas de publicidade, jornalismo e cultura. Consolidou seu trabalho na região completando 25 anos de carreira em 2009. Formado em Cinema pela FAAP e fotografia pelo Senac, atuou em importantes veículos de comunicação do país, realizando também trabalhos no México.
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Alberto Vasconcellos Queiroz Natural de Santos - SP. Formou-se psicólogo pela PUC/SP (1987). Desde 1985, realiza trabalhos de jornalismo, tradução e edição. Em 1994, ingressou como psicólogo na Prefeitura SJCampos, na qual veio a assumir diversas funções de assessoria e de gestão e onde concebeu e/ou implantou programas públicos de destaque regional e nacional. De 1991 a 1994, trabalhou no jornal Valeparaibano, em cuja redação conheceu a maior parte dos jornalistas que participaram deste livro.
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ÍNDICE ONOMÁSTICO
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Amim Simão 76 Ana Alice de Faria 109 Ana Maria Bonádio (Dona Nena) 94 Ana Maria Santos Sousa 74 Ana Salvador de Souza 287 André Franco Montoro 103, 324, 329 Anel Viário 78, 163, 167, 182, 194, 211, 213, 223, 237, 374, 390, 391, 404, 411, 422 Ângela Aparecida de Moura 127 Angela Guadagnin 6, 12, 20, 399, 401, 415, 474 Ângela Tornelli 18 Ângelo Paz da Silva 127 Anhembi (bairro) 78, 101 Aníbal Augusto de Almeida 128 Annapolis 117 Antaurin 365 Antologia da Poesia Joseense 323 Antonia Amaral Melo 93 Antônia Caracuel Varotto 18 Antonio Alwan, vide Alwan Antônio Carlos Konder Reis 222, 227 Antônio Carlos Rodrigues 252, 298 Antônio Gervásio de Paiva Diniz 285, 288, 289, 293, 315, 323, 443 Antônio José Mendes Faria 6, 12, 20, 222, 252, 293, 328 e capítulo 13, passim Antonio Leite 100, 240 Antônio Marmo 6, 7, 12, 279, 471 Antônio Mendes de Carvalho 339 Antônio Vieira, padre 9 Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE 97, 226 Aparecida 111 Araraquara 311 Área de Proteção Ambiental Estadual 250 Área de Proteção Ambiental Municipal 250 Arena – Aliança Renovadora Nacional 52, 82, 124, 198 - 202, 204, 218, 250, 263 Argemiro Parizoto de Souza 76, 78
A Decolagem de um Sonho 119, 156 A Ditadura dos Cartéis 202 Abreu Sodré (Roberto Costa de Abreu Sodré) 50, 98, 119, 121 Adhemar de Barros 46, 75, 96, 98, 101, 108 Adhemar de Barros Filho 218 Adhemar de Barros (avenida) 289, 367, 386 Aécio Neves 256 Aeroclube 50, 100 Afif Domingues 246 Afrânio de Mello Franco 203 Agnelo Rossi (cardeal) 51, 80, 87, 97 Agrício Silva 81 Água Soca 66 Agudos 357, 364 - 366 Aída Monteiro de Castro Veloso 55 Ahed Said Amim 193, 205 Alberto Dines 190, 200 Alberto Goldman 89, 474 Alberto Marson 368, 380 Alberto Simões 154 Alberto Vasconcellos Queiroz 5, 9, 11, 18, 475 Aldo Weber Vieira da Rosa 118 Alencar Furtado 201, 227 Alexandre Magno 16 Alfredo Almeida Júnior 361 Alfredo Pereira Filho 92 Alfredo Pereira Neto 91, 92 Aliança Renovadora Nacional, vide Arena Alípio Corrêa Netto 73 Almino Afonso 342, 351, 352 Alpargatas 73, 386 Altino Bondesan 46 Alto da Ponte 137, 198, 203, 204, 210 Álvaro Gonçalves 53, 127 Alwan 443, 446 e capítulo 12 passim Amália Batista Veloso 45 Americana 123 Américo de Campos 430, 444, 447
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Banco do Empreendedor Joseense (Banco do Povo) 441, 456 Banco do Vale do Paraíba S/A 73, 79, 102 Banco Nacional da Habitação vide BNH Banco Sul-Brasileiro 211 Banda de Santana do Paraíba 85 Bandeirante (avião) 119 Bandeirantes (bairro) 78, 101 Banhado 54, 159, 172, 250, 268, 308, 312 Baptista Gargione Filho 103, 213, 214, 239 Bar Santa Helena 132, 364, 365 Barão do Rio Branco (avenida) 133 Barbacena 116 Barra do Piraí 116 Barra Mansa 235 Barretos 39 Bauru 123, 365, 396 Beethoven (Ludwig Van, compositor) 33, 41 Beirute 365 Belo Horizonte 36, 249, 256, 282, 476 Bem Costa 48, 59 Benedito Matarazzo 65, 75, 82, 96, 150 Benedito Pereira de Oliveira 95 Bengalar 92 Benoit Almeida Victoretti 11, 19, 23, 25, 28, 34 Bento de Queiroz Filho 34 Bento Pato 34 Bento Pinto (travessa) 37 Bernardo Cabral 222 Biblioteca Pública Cassiano Ricardo 51 Biriba Boys 174 Blota Júnior 218, 229 BNH – Banco Nacional da Habitação 212, 302, 303 Boate do Sobral 142 Bolsa-Família 267 Botucatu 34, 40, 92 Bouéri Neto 216, 217, 253 - 255, 311 Brasília, passim Bráulio Novaes de Castro 128
Arinda Conceição Veloso 55 Argentina 463 Arnaldo dos Santos Cerdeira 93, 97, 100 Arnaldo Madeira 435 Arquivo Público do Município 6, 18 Arthur Moreira Lima 230 Artur da Costa e Silva, marechal 83, 100, 257 Aruaí, projeto 403, 419 Assem – Associação dos Servidores Municipais 207, 320, 335 Assembleia Legislativa de Minas Gerais 203 Assembleia Legislativa de São Paulo 27, 29, 83, 89, 249 Assembleia Nacional Constituinte 189, 219, 282, 333 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 29 Associação Comercial 95, 100, 259 Associação dos Servidores Municipais, vide Assem Associação Esportiva São José 74, 103, 215, 367, 395 Associação Médica 41 Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas – APCD 57 Assunta Bonádio 94 Ato Institucional nº 5 (AI5) 83, 99, 121 Audi Helicópteros e Aviões 176 Augustin Soliva 194, 212, 213 Augusto Pereira da Matta 74, 193, 194 Aurora Marcondes Pereira 92 Avibras Indústria Aeroespacial – Avibrás 73, 147, 381 Aydano Barreto Carleial 18, 443 Ayrton Senna, rodovia 218 B.Veloso 7, 12, 379, 471 Badue Cury 94, 364 Banca Nacionalista 79, 80 Banco de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo – Badesp 228
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Carlos Sebe Petreluzzi 222, 239, 318, 343, 361 Carvalho Pinto (Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, governador de São Paulo) 86 Casa da Criança Excepcional 80, 97, 98, 102 Casa do Médico 101 CASD – Curso Alberto Santos Dumont 445 Casimiro Montenegro Filho (brigadeiro) 80, 117 Cassiano Ricardo (avenida) 167 Cassiano Ricardo 209, 474 Castanheiras (bairro) 390 Castelo Branco (Humberto de Alencar Castelo Branco, presidente da República) 108, 140 Casulo (projeto) 404, 418 Caxambu 45 Caxias do Sul 214 Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo 207, 228, 229, 240 Cecchini (Marco Antonio Guglielmo Cecchini) 176 Célia de Jesus Moreira Pereira (Célia Marcondes) 78, 80, 83, 91, 92, 198 Célio Borja 201 Centervale Shopping 351 Centro Acadêmico do ITA 446 Centro de Atendimento Integral à Criança, vide CAIC Centro de Desenvolvimento de Tecnologia - CDT 49 Centro de Orientação Sócio-Educativa do Menor Trabalhador, vide Cosemt Centro de Pesquisas e Estudos Urbanísticos – CPEU 74 Centro Regional de Abastecimento 139 Centro de Triagem e Encaminhamento 210 Centro Técnico de Aeronáutica, vide CTA
Breda Turismo 260, 293, 339, 340 12ª Brigada de Infantaria 236, 245 Brigadeiro Carrão (Roberto Augusto Carrão de Andrade) 152, 169 Brigadeiro Frazão (Pedro Frazão de Medeiros Lima) 252 Bundy (Bundy Tubing) 73 Burle Marx (Roberto) 407, 423 Caçapava 92, 97, 99, 100, 111, 176, 212, 236, 245, 268, 372, 391, 472 Cachoeira Paulista 291 Café Filho (João) 116 CAIC – Centro de Atendimento Integral à Criança 376, 390 Caio Gomes Figueiredo 140 Caixa Econômica Federal – CEF 212, 223, 390 Calçadão da rua Sete de Setembro 166 Câmara dos Deputados 189, 190, 200, 203, 219, 242, 373, 431, 435, 441 Câmara Municipal 18, 26, 38, 41, 51 - 54, 65, 66, 68, 76, 95, 97, 339, 340 Campanha Diretas-Já 90, 99, 305 Campanha “O Petróleo é Nosso” 95, 102 Campinas 123, 179, 259, 472, 475 Campo dos Alemães (bairro) 26, 211, 284, 348, 384, 390, 443 Campo dos Afonsos 117 Campos do Jordão 36, 40, 66, 140, 142 Canadá 270 Canindu (fonte) 47 Cantina do Mário 215 Capitão Roberto Ferreira Maldos (rua) 365 Capivari (rio) 92 Caraguatatuba 36, 66, 267 Carlos Alberto Guadagnin 408 Carlos Alfredo Queiroz 283 Carlos Diacov 127 Carlos Eduardo Santana 18 Carlos Magno da Silveira 474 Carlos Messias Paes 343, 348
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Colégio Olavo Bilac 154, 366, 395 Colorado Springs 117, 150 Comae – Companhia Municipal de Água e Esgoto 135 Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial vide CTA Comissão de Constituição e Justiça 201 Comissão Municipal da Defesa do Petróleo 102 Comissão Nacional de Atividades Espaciais vide CNAE Comissão Permanente de Festejos 313 Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul e Serra da Mantiqueira 405 Companhia de Desenvolvimento Rural e Abastecimento – Codrab 207 Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo vide Ceagesp Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental vide Cetesb Companhia Municipal de Água e Esgoto, vide Comae Companhia Rhodosá de Rayon S/A 73 Congresso da Questão Social sobre o Menor na Realidade Nacional 283, 284 Confúcio 9 Congresso Nacional 47, 166, 189, 190, 203, 221, 222, 245, 261, 271, 272, 301, 303, 347, 424, 434, 435, 461 - 463 Conjunto D. Pedro I 372, 383, 390 Conjunto D. Pedro II 372, 383 Conjunto da EMHA 211 Conjunto Elmano Veloso 211 Conjunto Integração 211 Conrado Bonádio 94 Conselho de Cultura 417 Conselho de Desenvolvimento Regional do Vale do Paraíba 102 Conselho de Segurança Nacional 83
Centro Técnico Aeroespacial, vide CTA Cerâmica Weiss 73 Cerejeiras (bairro) 390 Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental 265 Chácaras Reunidas (bairro) 56, 145, 401, 415, 451, 457 Chernobil 317 China 35, 432, 449, 458 Companhia Telefônica Brasileira 67 Cícero (orador e senador romano) 16 Cid Franco 95 Cine Palácio 76, 84, 96, 281, 282, 284 Cinelândia 110 Cingapura 158 Claude Mary de Moura 441, 454 Cláudio Humberto 258 Cláudio Junqueira 174 Cláudio Mendell 290, 323 Cláudio Souza 323 Claudionor Itacaramby 51 Claudomiro Lucas Ferreira 94 Cleide Calazans 101 Clemente Gomes 147 Clementino de Oliveira 200 Clube do CTA 215 Clube de Campo Santa Rita 103 Clube José Friggi 103 CNAE - Comissão Nacional de Atividades Espaciais 118, 119, 125, 175 Código de Posturas 130 Código do Menor 304 Codivap – Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba 102, 139, 140, 141, 147, 152, 159 Codrab – Companhia de Desenvolvimento Rural e Abastecimento 207 Coimbra, José de Castro 52, 111, 121, 143, 151, 198, 200, 239, 297, 438 Colégio João Cursino vide João Cursino Colégio Nossa Senhora de Sion 371
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Conselho Monetário Nacional 140 Conselho Municipal de Cultura 53, 295, 296 Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba, vide Codivap Cooperativa de Laticínios 38, 68, 75, 96 Corina de Lima Campos 39 Corinthians (Sport Clube Corinthians Paulista) 370, 386, 393, 463 Coronel Monteiro (rua) 26, 291 Corpo de Fuzileiros Navais (do Rio de Janeiro) 50 Córrego Lavapés 134 Correio Joseense 25, 75, 79, 80 Cosemt – Centro de Orientação SócioEducativa do Menor Trabalhador 192, 194, 209, 251, 266, 267, 276 e capítulo 12 passim, 341 Costa e Silva (Arthur da Costa e Silva) 83, 100, 257 Covas (Mário Covas) 56, 89, 99, 222, 251, 281, 282, 305, 312, 315, 397, 437, 475 CPOR – Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva 117, 118, 444 Creche Maroca Veneziani 210 Cristiano Pinto Ferreira 438 Cristina Valéria 6, 7, 11, 105, 471 Cristóvão Gonçalves 438 Cruzeiro (revista) 76 Cruzeiro (time de futebol) 256 Cruzeiro (cidade) 265 CTA 35, 36, 47, 72, 80, 108, 118, 236, 245 Cuba 369, 374 Cumbica 446 Cunha Bueno (Antonio Henrique Bittencourt Cunha Bueno) 208 Cura – Comunidade Urbana para a Recuperação Acelerada (Projeto Cura) 131, 212, 223, 385 Curitiba 128 Curso Alberto Santos Dumont vide CASD
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Cyborg (Edison Cyborg Castro) 195 Cyrillo Gonçalves Paes Filho 75, 166, 171 D. Pedro II (conjunto habitacional) 372, 383 Dailor Varela 323 Darcy de Oliveira 127 Darcy Ribeiro 309 Décio Fagundes Mascarenhas 68 Delfim Netto (Antônio DelfimNetto, político brasileiro) 212 Demefe - Departamento Municipal de Educação Física e Esportes 295 Demóstenes (orador grego) 16 Departamento de Assistência Social – DAS 78 Politécnica da USP 25, 28, 29 Departamento de Educação 126, 127, 307 Departamento de Engenharia Hidráulica (USP) 29 Departamento de Promoção Humana – DPH 299 Departamento de Serviços Municipais – DSM 218 Departamento Estadual de Estradas de Rodagem – DER 78 Departamento Municipal de Bem-Estar Social – Dembes 308 Depav – Departamento de Áudio-Visual 6, 18 Desfavelização, desfavelamento 190, 211, 451 Diário de São José 197 Diários Associados 119 Diede Lameiro 380 Dilermando Dié Alvarenga 438 Dílson Funaro 282, 315, 316 Diná Aparecida de Freitas Vieira 308 Dinorá Fagundes Mascarenhas 69 Direção Regional de Saúde – DIR 408 Dirce Catena Campos 34 Direitos da Criança e do Adolescente 283, 301, 303
tulo 16 passim, 473 Empresa Brasileira de Aeronáutica – Embraer 119, 136, 156, 174, 175, 192, 245, 270, 287, 381, 396, 433, 473 Empresa Municipal de Habitação – EMHA 211 Emílio Garrastazu Médici 142 Emmanuel dos Santos 144 São Bento (Empresa de ônibus) 131 Encontro Nacional dos Meninos e Meninas de rua 284 Encontro sobre o Menor na Realidade Nacional 301 Engenheiros Especializados S.A. – Engesa 136, 381, 382, 410, 471 Engenheiro Goulart (bairro) 288 Ericsson (empresa) 73, 136, 158, 434 Che Guevara (Ernesto Che Guevara) 369 Ernesto Geisel 142, 144, 202 Ernesto Gradella Neto 402, 446 Escada, dr. (Antonio Celso Escada) 315 Escola de Aeronáutica 117 Escola de Arte Dramática (ECA-USP) 323 Escola de Belas Artes do Vale do Paraíba 51 Escola de Cadetes da Aeronáutica 116 Escola de Ciências Contábeis da Universidade Mackenzie 81 Escola Técnica de Comércio Olavo Bilac 49 Escola de Engenharia Industrial – EEI 49 Escola Estadual João Cursino 249 Escola de Samba Unidos da Vila 236, 244 Escola militar de Aviação do Exército (RJ) 116 Escola Militar do Realengo 116 Escola Monteiro Lobato 366 Escola Naval Padre Anchieta 40
Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE 29 Disneyworld 159 Dispensário de Tuberculose 33, 40 Divisão de Atas da Câmara Municipal 109 Divisão Municipal de Cultura 294 Dolzani Ricardo (rua) 287 Donato Mascarenhas Filho 9, 11, 33, 65, 68, 69 Duílio Panziera 76 Durval Leister 81 Eaton (Eaton Corporation) 73 Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 251, 276, 300, 304 Edegardo Carneiro de Moraes 407 Éden Lar das Crianças 210 Edevaldo Alves da Silva 98 Edmilson Rogério de Oliveira (Toquinho), vide Toquinho Ednardo de Paula Santos 6, 11, 19, 133 - 135, 141, 147, 159, 160, 163 e ss., 205, 208, 209, 212, 223, 236, 242, 295, 309, 325, 326, 328, 391, 404, 441, 456 Edric Augusto Pinotti de Souza 286, 314, 320 Eduardo Cury 15, 91, 94, 208, 227, 364, 366, 367, 392, 434, 451 Eduardo de Campos Maia Neto 100 Eduardo Faria de Oliveira 115, 143, 144, 147 Educação Ambiental 214 Edvar Simões 193, 215, 380 Edward Simões 95, 96 Egberto Batista 224 Eletropaulo 361, 362 Elisa Barreto 76 Elmano Ferreira Veloso 11, 17, 19, e capítulo 3, passim, 65, 67, 68, 75, 82, 96, 111, 121, 128, 210, 235, 294, 295, 308 Emanuel Fernandes 6, 12, 20, 134, 148, 158, 227, 274, 367, 385, 396, 413, capí-
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Família Neme 50 Fundo de Assistência Médica e Medicamentosa – Famme 138, 292 Farmácia Popular 97, 102 Fátima (santuário em Portugal) 111 Fátima Manfredini (Maria da Fátima Ramia Manfredini) 127, 294, 307 Fátima Negreiro 313 Faustino Nelson D’Ávila 286, 317, 318, 319 Fausto Carneiro 6, 7, 11, 23, 31, 63, 471 Fauze Métene 127, 170, 240 Favela do Vidoca 211, 312 Favela Santa Cruz, 142 Fazenda da Forquilha 115 Fazenda Boa Vista 214 Fazenda dos Martins 312 Fazenda Nova América 312 Fazenda Pau de Saia 92 Fazenda São João 92 Federação Paulista de Voleibol 103 Fundação para o Bem-estar do Menor – FEBEM 283, 310 Feira das Indústrias do Vale do Paraíba – FEVAP 78, 79, 96, 101 Feiz de Carvalho Muçouçah 240 Felipe Cury 441 Férias na Cidade (projeto) 403, 418 Fernando Biruel 343 Fernando Collor de Mello 224, 358 Fernando Delgado de Almeida 340, 346 Fernando Fagundes 295, 308, 313, 388 Fernando Guimarães Cerqueira Lima 155, 176 Fernando Henrique Cardoso 219, 315 Fernando Perrone 83 Ferze Abdul Ahad Tau 19, 97, 105, 107 - 111, 365, 366 Fiação e Tecelagem Kanebo 73, 136, 404, 411 Kanebo, vide Fiação e Tecelagem Kanebo
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo 25, 28, 29 Escola Suely Antunes de Mello 38 Escola Técnica da Aeronáutica 26 Escola Técnica de Guaratinguetá 116 Escola Técnica Professor Everardo Passos – ETEP 49, 176, 395 Esmeraldo Tarquínio 83 Esperança (rua) 28 Esporte Clube São José 101, 167, 350, 367 Esquadrilha da Fumaça 51 Estação elevatória do Monte Castelo (Monte Castelo) 78 Estadão 201 Estádio João do Pulo 237 Estádio Martins Pereira 101, 167, 359 Estados Unidos 117, 182, 270, 362, 458, 493 Estatuto do Idoso 406 Estrada de Ferro Central do Brasil 38 Euclides Fróes 34 Eugênio de Melo 28, 66, 136, 167, 206, 212, 404, 432 Everardo Passos 395 Fábio Tau 109 Fábrica de Empregos 158, 433, 456, 457 Fábrica de Louças Santo Eugênio 73 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Elmano Ferreira Veloso 56 Faculdade de Ciências Aplicadas – FACAP 49 Faculdade de Direito de Niterói 110 Faculdade de Direito do Largo São Francisco 68 Faculdade de Direito do Vale do Paraíba 75, 86, 96, 342 Faculdade de Farmácia e Odontologia de São José dos Campos 50 Faculdade de Medicina da USP 35 Faculdade de Odontologia da Unesp 366 Faculdade de Serviço Social 308 Família Guisard 94
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FVE 56, 57, 103, 288, 290, 308 Fundação Hélio Augusto de Souza – Fundhas 137, 190, 209, 267, 305, 306, 308, 320, 341, 350, 402, 403, 418, 423, 434 Fundo de Assistência Médica e Medicamentosa – Famme 138, 292 Fundo de Vale (avenida / Av. Teotônio Vilela) 78, 88, 134, 168 Fundo de Promoção Social 138 Funerária Municipal 213 Gabriel Bueno Couto (dom) 100 Galeria Pedro Rachid 136 Galo Branco 404 Gaston Courtois 17 GECA – Grêmio Estudantil Castro Alves 293 Geisel (Ernesto Geisel) 142, 144, 202 General Motors 73, 136, 144, 434, 444 Gennaro Tavares Guerreiro 127 Geraldo Alckmin 397, 434, 439, 441, 464, 475 Geraldo Ribeiro do Valle 371 Geraldo Vilhena de Almeida Paiva 193, 196, 209, 294, 308 Gérson Munhoz dos Santos 380 Getúlio Vargas 49 Gianfranco Asdente 127 Gil Vicente 197 Gílson Carvalho 209, 378, 388 Ginásio Olímpio Catão 366 Gocnae – Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais 118 Golbery (Golbery do Couto e Silva) 197 Gradella (Ernesto Gradella Neto) 402, 446 Grande Hotel (Campos do Jordão) 140 Gregório Gurevich 36 Grupo Escolar de Jambeiro 93 Grupo Escolar Felipe dos Santos 92 Grupo Escolar Olympio Catão 49, 50
Fidel Castro 369, 374 Figueiredo (João Baptista Figueiredo, presidente da República) 237, 238, 245 Filomena Marcondes 92 Fiscais do Lixo 136, 138, 307, 309 Flamarion Mosri 201 Flávio Zambrone 209 Fleury (Luiz Antonio Fleury Filho) 225, 226, 345, 352, 363, 383, 475 Folha de S. Paulo 190, 200, 471, 472, 475 Força Aérea Brasileira – FAB 51, 117 Franca 226, 311 França 175 Francisco Antônio Lacaz Netto 173, 308 Francisco de Melo (major) 80 Francisco José Longo (avenida) 33, 37, 50, 133, 168 Francisco Moreno Ariza 73, 74, 76, 79, 96, 107 Francisco Paes (rua) 28, 136 Francisco Ricci 219, 236, 242, 243, 340 Franco Montoro (André Franco Montoro) 83, 89, 99, 103, 227, 243, 269, 324, 329 Frederico Furst Bittencourt 117 Frente Liberal 297 Frente Nacional em Defesa da Criança – FNDdC 283, 301, 310 Fuad Cury 94, 100, 364 Fukuoka Bank 211 Funabem 283, 310 Funaro (Dílson Funaro) 282, 315, 316 Fundação Abrinq 404 Fundação Cultural Cassiano Ricardo 16, 18, 56, 126, 250, 251, 263, 297 Fundação Municipal de Cultura 250, 263 Fundação Padre Anchieta 119 Fundação para a Habitação Popular – Funhap 284 Fundação Pedroso Horta 264, 298 Fundação Perseu Abramo 304 Fundação Valeparaibana de Ensino –
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Hospital Sul (Hospital de Clínicas Sul) 341 Hugo de Oliveira Piva 327 Hugo de Sá Campelo 97 Humaitá (rua) 110, 136, 292 Iara de Carvalho 6, 7, 12, 157, 233, 242, 472 ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 249, 268, 357, 359, 382 ICM – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias 56, 77, 122, 208, 223 Igreja da Vila Maria 101 Instituto de Estudos Avançados – IEAV (CTA) 294 Igreja São Benedito 208 Igreja Nossa Senhora de Fátima 76 Ilha da Madeira 287 Imposto de Indústria e Profissão 27 Indonésia 368, 370 Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo 73 Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 73, 117, 118, 148, 149, 160, 250, 405, 408, 431, 432, 447 - 449, 465, 474 Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS 179, 407, 423 Instituto Butantã 57 Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada 135 Instituto de Educação Conselheiro Rodrigues Alves 173 Instituto de Educação e Ginásio Estadual João Cursino vide João Cursino Instituto de Pesquisas de Desenvolvimento – IPD 118, 119, 147 Iolene Cordeiro 144 Irênio de Faro 6, 9, 11, 43, 472 Isa Bevilacqua 238 Isabela (Isabela Bevilacqua) 195, 227 Israel Coppio Sobrinho 101, 212, 329
Grupo Escolar Pedro Mascarenhas 28 Grupo Maksoud 160 Grupo Pão de Açúcar 136 Guaçu Piteri 201 Guaianazes (rua) 28 Guaratinguetá 116, 169, 173, 176 Guarda Civil Municipal 350 Guarujá 219 Guido Gomes Miné 140 Guido Pessotti 174 Guisard (família) 94 Gustavo Xavier Garnet 127 Harvard 458 Havana 369 Heitor Villa-Lobos (rua) 168 Hélcio Costa 142 Hélder Câmara (dom) 284 Helibras 176 Hélio Augusto de Souza 11, 209, 217, 242, 251, 263, 266, 276 e capítulo 12 passim, 339, 340, 341, 347, 402 Hely Lopes Meirelles 121 Henrique Coutinho 313 Henrique Ferro 360 Henrique Mudat 100 Henry Borden (usina) 26 Heráclito Sobral Pinto 116 Herbert Levy 97, 99, 202 Hitachi (empresa) 136, 158 Honduras 463 Horto Florestal (São José dos Campos) 214 Horto Florestal (Campos do Jordão) 36 Hospital Albert Einstein 286, 317 Hospital Municipal (Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence) 210, 378, 349, 404, 419, 422 Hospital Pio XII 397 Hospital Policlin 55 Hospital Antoninho da Rocha Marmo 196, 396 Hospital Sírio-Libanês 318
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Jardim Satélite 132, 135, 137, 210, 237, 268 Jardim Telespark 211 Jardim Vila Lobos 145 Jesus Cristo 110, 281, 447, 465 Jornada de Integração Sócio Cultural e Desportiva – JISC 268, 295, 321 Joana Mattar 95 Joanópolis 27 João Baptista Figueiredo 237, 238, 245 João Bosco da Silva 340 João Cursino 34, 101, 249, 290, 293, 328, 339, 366, 389 João do Pulo 344 João Goulart 74, 77 João Guilhermino, dr. (avenida) 37, 67, 292 João Guimarães Marcondes, padre 101, 111 João Leiva 252 João Lopes Simões 95 João Magno 406 João Marques de Abreu 92 João Saad 217 João Santos 201 João Silva 54 João Verdi de Carvalho Leite 152, 147, 174 Joaquim Bevilacqua 6, 12, 20, 59, 99, 160, 166, 167 e capítulo 9 passim, 236 238, 242, 243, 263, 264, 269, 297, 298, 306, 312, 314, 315, 340, 359 - 363, 371, 373, 380, 385, 391, 403, 404 Joaquim Ferreira Veloso 45 Joaquim Maria Botelho 6, 7, 12, 472 Jogos Abertos do Interior 215 Jockey Clube 312 Jogos das Indústrias 294, 321 Jogos de Integração Inter-Bairros 294 Jogos Regionais do Vale do Paraíba 265 John Lennon 463 Johnson & Johnson 73, 136, 167, 434 Joinville 128 Jorge Alwan 110, 111
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica 117, 118, 173, 174, 213, 284, 389, 431, 444 - 447 Instituto Tecnológico de Aeronáutica vide ITA Itamar Coppio 378 Itamar Rocha 127, 135 Itanhandu 92 Ivan Fleury Meireles 81 Jabaquara 464 Jacareí 99, 140, 212, 268, 273, 370, 372, 391 - 393, 459, 471 Jaci (rua) 28 Jacinto Figueira Júnior 83, 98 Jair Ferreira Santos 127, 205 Jair Soares 210 Jairo Pintos 193, 195 Jambeiro 92, 93 Jamil Mattar de Oliveira 58, 60, 65, 75, 76, 95, 96, 197 Jânio de Freitas 282 Jânio Quadros 74, 90, 95, 118, 219, 282 Japão 103 Jardim Allah 145 Jardim Apolo 179, 269 Jardim Augusta 78, 135 Jardim Bela Vista 67 Jardim da Granja 137, 289, 415 Jardim das Indústrias 451 Jardim Califórnia 145 Jardim Campestre 145 Jardim dos Ipês 367 Jardim Esplanada 135 Jardim Luzitânia 145 Jardim Fonseca 145 Jardim Monte Castelo 67 Jardim Morumbi 144, 385, 390 Jardim Panorama 145 Jardim Portugal 56 Jardim Primavera 145 Jardim Santa Cecília 145 Jardim Residencial São Joaquim 145
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José Mattar 95 José Monteiro Sobrinho 48 José Prianti Chaves 76 José Raimundo Romancini 378 José Roberto Amaral 6, 7, 11, 113, 472 José Rubens Barbosa 51, 127 José Sarney 282, 324, 358 José Serra 99, 434 José Simão 365, 366 José Tinoco Barreto 98 José Valter Pontes 401, 415 José Victoretti 28 José Wilker 282 José Zanini Caldas 35 Juana Blanco Gomes 432, 446 Juiz de Fora 203, 472, 473 Júlio Ottoboni 6, 7, 11, 163, 173, 473 Juscelino Kubitschek 60, 117 Jussi Ramos 18 Juventude Universitária Católica – JUC 117 Kanebo 73, 136, 404, 411 Karl Ingve Beckman 127, 136, 457 Kodak 136, 144, 158 Kuno Schiefer 51 Kurt Mirow 202 Laerte Pinto 252, 299, 370 Laerte Vieira 201 Latif Zaiter Cury 109 Laudo Natel 47, 108, 169 Lavapés (córrego) 134 Lavapés (poço artesiano) 78, 88 Lei de Uso e Ocupação do Solo 130 Lei Orgânica do Município 421 Lei de Zoneamento 250 Leny Euzébia Ferreira Bevilacqua 241 Leopoldo Collor 224 Leovigildo Trindade 33 Líbano 109, 365 Liberdade e Luta - Libelu 432 Liceu Coração de Jesus 39 Lídio Souza 283, 287, 289 - 291, 293, 309
Jorge Antonio Sawaya 241 Jorge Cury 199 Jorge de Moraes Barros, rua 133 Jorge Vieira da Silva 75, 76, 96 Jorge Wilheim 128, 129 Jorge Zarur (avenida) 211 Jornal Agora 53, 475 Jornal da Clube 216 Jornal de Debates 95, 102 Jornal do Vale 311, 331 Jornal do Consumidor 405 Jornal do Brasil 190, 200, 474 Jornal Nacional 202 Jornal O Lábaro 75 José Antônio Cursino (Nenê Cursino) 76, 197 José Aristodemo Pinotti 210 José Borges Sobrinho 313 José Carlos Queiroz 51 José D’Ávila 94 José de Castro Coimbra 52, 111, 121, 143, 151, 198, 200, 239, 297, 438 José de Paula Ferreira 53, 76 José Domingues 204 José Ferze Tau 11, 19, 97 e capítulo 6 passim, 365, 366 José Francisco Maia 81 José Garcia Machado 75, 76, 96 José Guardia Neto 341 José Guido Alves Cardoso 327 José Liberato Jr. 443 José Luiz Carvalho de Almeida 6, 12, 20, 145, 219 e capítulo 10 passim, 262, 324, 339, 340 José Márcio de Castro 160 José Marcondes Pereira 11, 19 e capítulo 5 passim, 107, 108, 139, 252, 254, 298, 299, 328 José Maria Crispim 73 José Maria da Silva 73 José Maria de Faria 441 José Mascarenhas 68
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Manchete (revista) 369 Mantiqueira (serra) 115, 149, 351, 389, 405, 435 Manoel Juarez de Oliveira 441 Manoel Pedro de Carvalho (rua) 282, 283 Marcelo Magano 6, 475 Marcelo Vido 215 Márcio Barbosa 432, 449 Marcondes Pereira vide José Marcondes Pereira Maria da Fátima Ramia Manfredini vide Fátima Manfredini Maria Luiza de Guimarães Medeiros 93 Maria Thereza Faria de Oliveira 151 Mário Covas vide Covas Mário Covas (avenida) 312 Mario de Paula Ferreira 76, 77 Mário Galvão 377 Mário Galvão (avenida) 26 Mário Henrique Simonsen 202 Mário Ottoboni 52, 109, 111 Mário Sarraf 441 Mário Scholz 74, 95, 166, 171, 198, 199 Marly Sarney 284, 306, 327 Martins Pereira 101, 167, 359, 371 Masaharu Taniguchi 103 Massao Kimura 443 Mattos Pimenta 102 Matarazzo (Indústrias Matarazzo de Fibras Sintéticas) 73, 136, 158 Max Holste (projetista francês) 175 Maurício Ney Conceição Velloso 51 MDB – Movimento Democrático Brasileiro 82, 83, 98, 107, 166, 198, 201 - 204, 227, 236, 242, 249 - 251, 256, 263, 297, 298, 339, 342, 346 Mendes Thame (Antonio Carlos de Mendes Thame) 435 Mensalão 272, 395, 406 Mercado Municipal 94, 109, 120, 235 Metropolitan Transportation 182 Miami 224
Light S.A. 101, 134, 212 Lilian Vinhas 6, 474 Limoeiro 415 Lindonice de Brito 377 Lineu de Moura 395 Linha Velha 308 Lins 287, 311 Lions Club 102, 210 Litoral Norte 272, 389, 435 Lojas Americanas 136, 158 London (bar) 315 Londres 202 Lorena 272, 472 Loteamento São José 145 Los Angeles 362 Lucas Nogueira Garcez 25, 27, 35, 116 Lucélia de Souza 287 Lúcia Branco 230 Lúcio Costa 154 Luiz Antônio Fleury Filho vide Fleury Luiz Carlos Pêgas 238, 329 Luiz Carlos Pontes 222 Luiz Carlos Roda 286 Luiz Carlos Veneziani 76 Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro 11, 13, 53, 147, 296 Luiz Jacinto (rua) 85, 78, 101, 133, 134 Luiz Laerte Soares 74 Luiz Paulo Costa 6, 7, 11, 18, 47, 54, 56, 71, 100, 108, 196, 198, 200, 263, 295, 298, 320, 446, 473 Luiz Torello 443 Lula (Luiz Inácio da Silva) 272, 401, 406, 415 Macedo Bastos (Carlos Alberto) 194, 240, 329, 329, 378 Machado Sidney (rua) 291 Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico 134 Madre Teresa (avenida) 78, 101 Malek Assad 140 Maluf (Paulo) 213, 218, 219, 229, 243, 298
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Novo Horizonte 387, 440 Núcleos de Defesa Comunitária 350 O Caipira 315 O Cruzeiro 76 O Homem do Sapato Branco 98 Obemor Pinto Damasceno 83 Octávio Monteiro Becker 94 Odontoclin 370, 386 Olavo Bilac, colégio 154, 366, 395 Olímpia 39 Olímpio Campos 39 Olímpio Catão (ginásio) 49, 366 Olinda 92, 284 Olivo Gomes (avenida) 78, 87, 101, 133 Onadyr Marcondes 68, 97, 228 Organização das Nacões Unidas – ONU 209 Orçamento Participativo 206, 403, 404, 416, 424 Ordem dos Advogados do Brasil – OAB 249 Orestes Quércia 99, 201, 225, 282, 329, 363, 382 Organização Mundial de Saúde – OAS 266 Orion Gates 136, 158 Orlando Campos 11, 19, 28 e capítulo 2 passim Oscar Niemeyer 80 Oscar Strauss 100 Oswaldo Fernandes De Mani Rodrigues (tenente Dinamite) 99 Oswaldo Martins Toledo 100 Otávio Augusto 223 Otávio Vaninni 223 Othon Ferreira Maldos 317 Ozílio Silva 175 Ozires Silva 119, 156, 192, 270, 377, 391, 396 Pacheco Chaves 201 Paço Municipal 47, 204, 206, 207, 238, 243, 287, 364, 375, 433, 452
Michael Potter 458 Michel Tau 109 Milton Nascimento 281 Minas Gerais 45, 203, 204, 256, 258, 272, 342 Ministério da Aeronáutica 116 Ministério da Indústria e Comércio 213 Ministério da Previdência 210 Ministério do Trabalho 214 Miranda Ueb 443 Ministério da Educação 229 Missão Espacial Completa Brasileira – MECB 431 Mohamed Amaro 221 Monte Castelo (bairro) 67, 101, 210, 422 Monteiro Lobato 95 Montoro vide André Franco Montoro Morro do Querosene 308 Movimento Democrático Brasileiro vide MDB Movimento Trabalhista Renovador – MTR 73, 80, 96, 107 Muro da Vergonha 142 Napoleão Monteiro 79, 80, 97, 98 National 136, 158 Navalha na Carne 308 Nelson D’Ávila, dr. (avenida) 38, 66, 168, 253 Nelson D’Ávila, dr. 94, 395 Nelson Edi Teixeira 343 Nélson Freire 230 Nélson Jobim 222 Nelson Westrupp 384, 436 Nenê Cursino vide José Antônio Cursino Neureny da Costa Vilela 128 Neusa Sacilotti 290 Nilza Varella 313 Noemio de Arruda Carvalho 102 Norma De Conti Simão 365, 367 Nova Detroit (bairro) 451 Nova York 182 Nove de Julho (avenida) 28, 101, 133
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Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU 446 Partido Trabalhista Brasileiro – PTB 53, 74, 219, 360 Partido Trabalhista do Brasil – PT do B 342 Pátio do Colégio 128 Paula Pinotti 286, 289 Paulino Bernardes Gil 93 Paulino Rolim de Moura 76 Paulipetro 213 Paulo Becker 94 Paulo Bicarato 6, 7, 12, 399, 415, 473 Paulo Brossard 344 Paulo de Tarso 318 Paulo Delvaux 127, 153 Paulo Egydio Martins 140, 147, 165, 166, 171, 229 Paulo Elias 98 Paulo Evaristo Arns (dom) 239 Paulo Maluf vide Maluf Paulo Renato 439 Paulo Sacilotti 290 Paulo Setúbal 46 Paulo Simão 364 Paulo Tau 170 Paulo Victor (brigadeiro) 308 Pedralva 339 Pedreira Municipal 207 Pedro Bala (Pedro Celestino de Freitas) 204, 205, 375 Pedro Barbosa Pereira 100 Pedro David 76 Pedro Dominicalli 388 Pedro Frazão de Medeiros Lima (Brigadeiro Frazão) 252 Pedro Simon 99 Pedro Yves 6, 12, 20, 126, 141, 160, 167, 195, 223 e capítulo 14 passim, 404 Pelé 256, 301 Pensão Nossa Senhora Aparecida 292, 323 Pereira Lima 170
Palácio dos Bandeirantes 225, 434 Palmeiras (clube) 145, 367, 368, 370, 393, 463 Pará 293 Paraíba (rio) 66, 135, 138, 139, 211, 265, 405 Paraibuna 66, 92, 110 Paraibuna (rua) 37, 38, 135, 313 Paris 39, 157 Paraná 288 Paris Filmes 224 Parque da Cidade 56, 407, 410, 423, 436 Parque das Nações 145 Parque Industrial 137, 245, 341, 381, 415, 457 Parque Santos Dumont 138, 367, 395 Parque São Jorge 145 Parque Tecnológico 394, 458 Partido Comunista Brasileiro – PCB 74 Partido da Frente Liberal – PFL 297, 360 Partido da República – PR 237, 246 Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB 148, 215, 395, 432, 449, 461, 473 Partido Democrático Social – PDS 218, 228, 242, 243, 298 Partido Democrático Trabalhista – PDT 342, 351, 352 Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB 89, 83, 225, 228, 237, 243, 251, 281, 282, 285, 298, 306, 315, 340, 342, 346, 352, 360, 361, 432, 449 Partido dos Trabalhadores – PT 206, 222, 223, 262, 272, 401, 406, 415 Partido Liberal – PL 237, 246 Partido Social Progressista – PSP 46, 80, 108 Partido Social Trabalhista – PST 224, 225 Partido Socialista Brasileiro – PSB 73, 74, 95
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Praça Santana 28 Praça Sinésio Martins 312 Praças da Cultura 294, 321 Presidente Dutra (rodovia) 73, 132, 145, 371 Presidente Médici (avenida) 134, 194 Princesa Isabel (avenida) 28, 133 Programa de Integração Interna (p 132) 300 Programa Anual da Despesa 128 Projeto Brasil 137 Projeto Casulo vide Casulo Projeto Cura vide Cura Pronto - Socorro da Vila Industial 341 Pronto Socorro Municipal 349 Putim 108, 237 Quartel da 4° Zona Aérea de São Paulo 80 Queluz 140 Quércia vide Orestes Quércia Quinze de Novembro (rua) 37, 66 Rádio Band 53, 216 Rádio Bandeirantes 216, 475 Rádio Clube 53, 76, 216, 474 Rádio Piratininga 53, 198, 474 Ramos de Azevedo 181 Raul Alvarenga 81 Raul Soares 369 Reagan 458 Recife 284 Rede Bandeirantes 217 Rede Ferroviária Federal 372, 391, 392 Rede Globo 222, 301, 474 Refinaria Henrique Lage - Revap 144, 153 Região Bragantina 27, 351 Regina Helena Oliveira Pedroso 300, 303 Regina Pedreira de Moraes 407 Revolução (de 1964) 96 Rhodia 73, 79, 95, 136, 215 Ricardo do Nascimento Júlio 6, 7, 12, 427, 444, 473
Petrobrás (Petróleo Brasileiro S.A.) 294, 433 Petróleo é Nosso vide Campanha “O Petróleo é nosso” Petrópolis 371 Philips (empresa) 457 Pierino Rossi 107, 193, 200 Pinheirinho 393, 394 Pirassununga 117 Piratininga 78, 101 Plaisant Carvalho (149) 334 Plano Collor 354, 358, 359, 383 Plano Cruzado 282, 316, 348, 350 Plano de Carreira (da prefeitura) 335, 341, 350 Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado 65, 67, 128 - 130, 250, 264, 392, 405, 417 Plano Diretor de Esportes 264 Plano Diretor de Ordenamento Territorial 405 Plano Diretor de Tráfego 264 Plano Diretor do Município 65, 67 Plano Nacional de Desenvolvimento 144 Plano Plurianual de Investimentos 128 Planta Genérica de Valores 417 Plínio Marcos 307, 308 Plínio Rolim de Moura 76 Plutarco 16 PMDB vide Partido do Movimento Democrático Brasileiro Porto Alegre 215, 370 Portugal 111, 221 Posto União dos Motoristas 79 Praça Afonso Pena 28, 33 - 36, 76, 141, 142, 174, 208, 281, 366, 412 Praça 23 de Novembro 35 Praça Cônego Lima 26, 97 Praça Cruzeiro do Sul 312 Praça da Matriz 34, 55, 57, 79 Praça João Pessoa 26 Praça Padre João 57
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Ruy Rodrigues Dória, dr. 34 Sabesp 101, 167, 169, 215, 367, 385, 475 Sabino Indelicato 241, 255 Said Calil 94 Said Cury 364 Sala Veloso 56, 294 Salesópolis 140 Salinas (avenida) 451 Sanatório Antoninho da Rocha Marmo 40 Salvador 116 Sanatório Maria Imaculada 78, 79 Sanatório Vicentina Aranha 286, 394 Santa Catarina 222 Santa Casa de Misericórdia 39, 48, 56, 180, 181, 208, 210, 269, 285, 287, 397 Santa Cruz (favela) 142 Santa Helena (restaurante) 132, 364, 365, 366 Santana (bairro) 28, 34, 38, 67, 87, 101, 132, 204, 339, 364, 366, 385 Santana (praça) 28 Santarém 293 Santos 116 Santos (clube de futebol) 256, 339 Santos Neves 443 São Bento do Sapucaí 212 São Bernardo do Campo 401 São Carlos 40 São Dimas (bairro) 50 São Francisco Xavier 27, 66, 126, 206 São João Avenida 167, 313, 315 São João Del Rey 282 São José (avenida) 37, 66, 78, 79, 85, 101, 134 São José do Rio Preto 123, 287, 289 São José Esporte Clube 167, 236, 357, 359, 367, 370 - 372 São Paulo Alpargatas S/A 386 São Paulo Light and Power Company Limited 27 Sara Sacilotti 291, 292, 323
Ricardo Mendes Trindade 253 Rino Levi 407 Rio de Janeiro 45, 50, 66, 95, 97, 98, 102, 110, 115 - 117, 132, 151, 230, 235, 269, 272, 407, 408 Rio Grande do Sul 213 Rio Preto 115, 123, 288, 289, 291 Rio Preto Automóvel Clube (124) 288 Riskala Neme 364, 365 Riuji Kojima 443 Roberti Costa 170, 204 Roberto Augusto Carrão de Andrade vide Brigadeiro Carrão Robertinho (Carlos Roberto) Friggi 368 Roberto Costa de Abreu Sodré 50, 98, 119, 121 Roberto Cursino Benitez 128 Roberto Ferreira Maldos, capitão (rua) 365 Roberto Wagner de Almeida 6, 7, 12, 187, 197, 317 - 319, 474 Robson Riedel Marinho 6, 12, 20, 89, 99, 160, 198, 208, 222, 242, 245 e capítulo 11 passim, 282, 293, 296, 298, 299, 305, 306, 327 - 329, 334, 335, 339 341, 343, 347, 432, 449 Rodolfo Mascarenhas 68 Rodovia dos Tamoios 341 Rodovia Presidente Dutra vide Presidente Dutra Rodoviária Velha 131 Romeu Tuma 344 Ronaldo Garcia 194, 223, 241, 374 Rosa Grena Kliass 128 Rosane Ferreira Faria 308 Rotary Club 41, 102, 121, 123, 146 Rubens José de Sá 127 Rubens Savastano 198, 200 Rubião Júnior (rua) 33, 224 Rússia 281 Rui Barbosa 45 Rui Barbosa (avenida) 38
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Serveng-Civilsan 132, 147 Serviço das Rotas Aéreas 135 Serviço de Tuberculose do Estado 40 Serviço Funerário Municipal 131 Serviço Social 49, 97, 98, 289, 308 Serviço Social do Comércio – Sesc 245, 285, 288 - 290, 293, 294, 308 Sete de Setembro (rua) 46, 166 Severo Gomes 281, 407 Shopping Centro 224 Sílvio Marques Neto 156 Sílvio Santos 224 - 226, 363, 364, 380 Sindicato do Comércio Varejista 172, 249, 348 Sindicato dos Metalúrgicos 204 Sindicato dos Servidores Públicos Federais 118 Sindicato dos Têxteis 73, 259 Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de São José dos Campos 80 Siqueira Campos (rua) 26, 38, 110, 235 Sobral vide Sérgio Sobral de Oliveira Sociedade Nacional de Engenharia 132 Solange Frazão 244 Solectron (empresa) 179, 394, 457 Sorocaba 212 Superior Tribunal de Justiça 190, 221 Supremo Tribunal Federal 190, 201, 406 SUS – Sistema Único de Saúde 404 Talmir Canuto 252 Tancredo Neves (Tancredo de Almeida Neves) 77, 99, 190, 201, 203, 204, 227, 281, 285, 286, 318, 346, 353 Tapanhão (bairro de Jambeiro) 92 Taubaté 40, 94, 111, 140, 176, 250, 408, 472, 473 Tarcisio José da Silva e Souza 128 Teatro Municipal 181, 224 Tecelagem Parahyba 73, 93, 147, 214, 382, 407, 410 Tecsat 160, 457 Tectran 372, 381, 391, 392
Sarney 282, 324, 358 Satélite China-Brasil de Sensoriamento Remoto - CBERS 432 Satélite de Coleta de Dados – SCD-1 432, 449 Saulo Ramos 230 Saúde (bairro) 287 Saviver – Sociedade de Amigos do Vista Verde 132 Sebastião Gualberto (avenida) 67, 133, 134 Sebastião Humel (rua) 26, 37, 46 Sebastião Teodoro Azevedo 108, 109, 111 Secretaria de Serviços Municipais 214, 402, 418 Secretaria de Promoção Humana 300 Secretaria de Promoção Social 211 Secretaria de Transportes 294, 319 Secretaria de Desenvolvimento Econômico 457 Secretaria de Esportes 360 - 362, 387 Secretaria da Fazenda 205 Segerström 179 Seicho-no-iê 103, 287 Semana Cassiano Ricardo 296 Semana da Criança 301 Semana de Arte e Cultura 296 Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac 288 Seresteiros ao Luar 53, 59 Serete S.A Engenharia 129 Sérgio Bacha 237, 241 Sérgio de Oliveira Alves 127, 133, 134, 142 Sérgio de Paula 6, 7, 12, 337, 346, 474 Sérgio Porto Engenharia 211 Sérgio Sobral de Oliveira 11, 17, 18, 19, 47, 78, 101, 102 e capítulo 7 passim, 169, 175, 179, 182, 190, 197, 198, 200, 209, 240, 244, 293 - 296, 299, 307, 309, 391, 432, 449, 450, 457 Serra da Mantiqueira 115, 149, 351, 389, 405, 435
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Unidade de Pronto-Atendimento 237 Unidos da Vila (escola de samba) 224, 236, 244 Unidade Participativa de Ação Social – Unipas 383 Universidade de São Paulo – USP 25, 28, 29, 35, 39, 68 Universidade de Stanford (EUA) 118 Universidade de Taubaté 250, 408, 473 Universidade do Vale do Paraíba – Univap 213 Universidade Estadual de São Paulo – Unesp 92, 366 Urbanizadora Municipal S/A – Urbam 127, 135, 195, 212, 213, 223, 241, 342, 348, 374, 385 Urbanova (bairro) 211, 214 UTI infantil 419 UTI neonatal 419 Valença 115 Valentim Gentil 430, 444 Vale do Anhangabaú 128 Valeparaibano (jornal) 47, 56, 82, 120, 121, 124, 157, 141, 142, 146, 217, 281, 283, 286, 292, 300, 301, 308, 317, 319, 323, 358, 373, 463, 471 - 475 Vânia do Valle Simão 373 Varadouro 92 Varginha 93 Vaticano 135 Vera Regina Del’Áquila Santos 97 Véras, dr. (Raymundo Véras) 97 Verdi (João Verdi de Carvalho Leite) 147, 152, 174 Via Dutra 73, 132, 145, 371 Viação Pássaro Marron 50, 122 Viaduto da Kanebo 241, 404, 411 Vicente Simão Filho 285, 312, 319, 323 Vicentina Aranha (parque) 183 Vicentina Aranha (sanatório) 179 182, 185, 208, 269, 286, 394 Vidas Paralelas 16
Telesp 292 Tenente Ferreira (João Ferrira Lima), 413 Tênis Clube 101, 133, 215, 367, 368, 370, 386, 395 Teotônio Vilella (avenida) 88, 194 Teresópolis 407 Terezinha dos Santos Kojio 120, 125, 127, 138, 148 Terminal Rodoviário 131 Tertuliano Delfim Júnior (Dr. Tuta) 75, 96, 175, 197 Thaís França 18 Thales Ramalho 201 Thereza do Amaral Victoretti 29 Tiro de Guerra 86, 94, 97, 413 Tomás Camanho Neto 210 Toquinho (Edmilson Rogério de Oliveira) 406, 412, 424, 425 Tóquio 218 Torrão de Ouro (bairro) 131 Tova Cohen 51 Trabalhadores (rodovia dos) 218, 228 Trianon Clube 370, 393 Tribunal de Contas do Estado de São Paulo - TCE 251, 256, 275 Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 221 Tribunal Regional Eleitoral - TRE 27, 98 Tribunal Superior Eleitoral – TSE 27 Turma do Balão Mágico (132) 301 Tuta, dr. vide Tertuliano Delfim Júnior TV Cultura 117, 119, 149 TV Rio 224 UBS da Vila Industrial 226 Ucrânia 317 UDN – União Democrática Nacional 95 Ulysses Guimarães 89, 90, 99, 200 - 202, 220, 221, 227, 298, 342, 475 Universidade de Campinas – Unicamp 209 Unidade Básica de Saúde – UBS 237, 396
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Vidoca (favela) 211, 312 Vidoca (ribeirão) 181, 411 Vila Abel 372, 375, 384 Vila Anhembi 78, 101 Vila Augusta 101 Vila Bandeirantes 101 Vila Dirce 132 Vila Elizabeth 145 Vila Ema 50, 101, 453 Vila Guarani 422 Vila Industrial 131, 137, 166, 207, 211, 266, 341, 451 Vila Maria 78, 101 Vila Nova Conceição 137 Vila Piratininga 101 Vila São Bento 135 Vila São Geraldo 217 Vila Sinhá (125) 289 Vila Terezinha 422 Vilaça (rua) 28, 34, 67, 91, 199 Vista Verde (bairro) 132, 293, 367 Vitória 287 Vitor Chuster 18, 129, 131, 144 Voz da América 102 Walcy de Souza Lima 209 Waldemar Ramos 65 West Point (academia militar americana) 117 World Trade Center 182 Zacarias Silva (rua) 312 Zeis – Zonas Especiais de Interesse Social 405, 417 Zenaide Almeida Victoretti 28 Zezinho (José Antônio Walter) Friggi 368
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O projeto deste livro foi baseado em princípios e lições práticas expostos pelos tipógrafos Jan Tschichold, alemão, e Robert Bringhurst, canadense. A ideia do parágrafo francês para as entrevistas vem de estudo do tipógrafo americano Richard Hendel. O livro foi composto na fonte Electra, corpo 11/15. A Electra é uma fonte para texto corrido que esteve muito em voga nos Estados Unidos em meados do século 20. Foi desenhada pelo americano W. A. Dwiggins e publicada em 1935.
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