CAMINHOS
AZUIS P A R A
S Ã O
P A U L O
MAÍRA CASEMIRO RIBEIRO - TFG 2017
MAPA SARA 1930
MAPA SARA 1930
M A Í R A C A S EMIR O R IB EIR O Orientadora Profª Drª Norma Regina Truppel Constantino Trabalho Final de Graduação UNESP Campus Bauru - Arquitetura e Urbanismo Bauru Agosto de 2017 Capa: Mapa Sara 1930 4
TFG 2017
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO A PAI SAG E M FL U V I AL COM O ES TRATÉGIA NA RECUPERAÇÃO DO AM B I ENT E U R B ANO
Ag ra d ecim en t o s A toda minha família, especialmente minha tia Isabel, meu pai e irmãos,
A todos os demais envolvidos com esse trabalho, entre os quais, Flávio
por acompanharem todos os meus choros e sorrisos na caminhada
Casimiro, que me acompanhou na visita técnica em campo, Cecília
até aqui.
Gorski, que me recebeu em seu escritório na fase inicial do projeto e Waurie Rolao que revisou cuidadosamente o texto da monografia.
Ao meu namorado, Wellington Tavares, por acreditar em mim e me incentivar todos os dias. Também por ser meu companheiro da vida e
Por fim, em memória a minha mãe, que me deixou como herança a
me ajudar na identidade visual final de todo o meu trabalho, com muita
esperança em um mundo melhor.
paciência e carinho. A minha orientadora Norma Constantino, pela excelência durante todo o processo do trabalho e por me apresentar durante a vida acadêmica o desenho da paisagem. A minha co-orientadora Kelly Magalhães, por explorar todos os significados contidos no meu trabalho e me encorajar. Aos meus amigos de faculdade, por compartilharem as noites em claro, as conquistas acadêmicas e os brindes à vida. Aos meus amigos de longa data, pelo incentivo a seguir os meus sonhos desde pequena. As minhas amigas do intercâmbio, especialmente a Flávia e Michele, por reabastecerem o meu amor pela arquitetura. Aos meus amigos da Grama e Flor, por me apresentarem os detalhes do paisagismo e pela compreensão na reta final da minha formação. A minha psicóloga, Elaine Palma, por estar presente durante a fase de finalização da minha formação e ser uma das responsáveis a despertar em mim energia e foco. 6
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Re s u mo
O trabalho final de graduação apresentado a seguir, propõe o desenho da paisagem fluvial como uma ferramenta para conectar a cidade e a natureza. Para isso, ao longo do processo foram estudados os conceitos de paisagem fluvial e de ecologia urbana. Através de estudos de caso construídos com êxito e da análise histórica de São Paulo, foi possível elaborar um projeto de parque linear às margens de um córrego na periferia urbana. O projeto se desenvolve com o fim de tornar o córrego protagonista da malha urbana e abolir sua conotação atual de depósito de lixo e esgoto.
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Sumário INTRODUÇÃO, 10 PARTE 1
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Capítulo 1 - Paisagem Fluvial, 14 1.1. Os rios urbanos nas cidades brasileiras, 14 1.2. O planejamento urbano e a legislação ambiental, 16 1.3. Os valores culturais e naturais da paisagem, 16 1.4. O desenho da paisagem fluvial, 17
Capítulo 2 – Ecologia Urbana, 20 2.1. A cidade e a natureza, 20 2.2. A ecologia, o ecossistema e a resiliência urbana, 22 2.3. As águas urbanas, 22 2.4. A infraestrutura verde urbana, 23
Capítulo 3 – Estudos de Caso, 26 3.1. Córrego Cheong Gye, Seul, 26 3.2. Rio Manzanares, Madrid, 29 3.3. Parque Linear Canivete, São Paulo , 31 3.4. Córrego Sapé, São Paulo, 32 3.5. Rio Bronx, Nova York, 34
PARTE 2
Capítulo 4 – Os rios de São Paulo, 38 4.1. O período colonial, 38 4.2. As expedições fluviais no interior paulista, 38 4.3. A formação da cidade e o uso dos rios, córregos e chafarizes, 39 4.4. O crescimento populacional, a degradação ambiental e a política higienista, 41 4.5. Geração de energia elétrica e abastecimento de água, 43 4.6. Programas de despoluição das águas urbanas, 44
Capítulo 5 – Cenários de projeto, 46 5.1. Bacia hidrográfica Alto Tietê, 46 5.2. Microbacia hidrográfica Cabuçu de Baixo, 51 5.3. Levantamento do entorno, 58 5.4. Córrego Guaraú, 65 5.5. Pesquisa qualitativa, 68 5.6. Registro Fotográfico, 68
Capítulo 6 – Parque Linear Guaraú, 72 6.1. Diretrizes do projeto, 72 6.2. Maquetes de estudo, 74 6.3. Masterplan 76 6.4. Cortes, 80 6.5. Lista de Espécies, 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS, 96 REFERÊNCIAS, 98 CROQUIS, 100
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I nt rod u çã o
O nascimento da cidade de São Paulo deu-se às margens dos rios que, são importantes até hoje, o Tietê e o Tamanduateí. Através de suas águas os povos indígenas se alimentaram, se refrescaram e se orientaram durante muito tempo. Com a colonização portuguesa, os mesmos povos indígenas foram controlados e dominados, e os mesmos conhecimentos que os guiavam outrora foram transmitidos e utilizados pelos fundadores da Vila de Piratininga. Novamente, as águas serviram para alimentar, refrescar e orientar os mais novos habitantes do continente. E assim, seguiu progressivamente, até a exploração completa dos rios paulistanos que tanto ofereceram aos seus navegantes, trabalhadores e desfrutadores. Os mesmos rios e outros, também seus afluentes e nascentes, foram engolidos pela cidade moderna. Hoje movimentadas avenidas fazem as vezes das correntezas de água doce. Por cima ou ao lado do que um dia foram rios e córregos, a cidade cresceu. Em uma visita ou uma vida na capital paulista, é possível ignorar completamente o que um dia foi fundamental a todos que ali viveram - os seus rios.
O primeiro capítulo da monografia preocupa-se em revelar o significado da paisagem fluvial. Discorre sobre os rios urbanos nas cidades brasileiras e da legislação existente de proteção ao meio ambiente. Além disso, reflete acerca dos valores culturais e naturais contidos na paisagem e sugere estratégias de desenho para explorar os potenciais da paisagem fluvial. Ao longo do segundo capitulo é discutido o tema da ecologia urbana. O texto apresenta a cidade e a natureza como parte do ecossistema. Também apresenta as condições das águas urbanas e a infraestrutura verde como recurso para equilibrar o ciclo hidrológico. No terceiro capítulo são expostos quatro exemplos aplicados em diferentes cidades do mundo. São muitos os exemplos de sucesso; foram selecionados os que, de alguma maneira, se conectam melhor com o objetivo final do projeto. Finalmente, no quarto capítulo é explorada a história da cidade de São Paulo e seu atual potencial hídrico. A cidade conta com muitos córregos esperando para serem, literalmente, descobertos por debaixo do asfalto.
Entretanto, em um olhar que pouco busca, encontram-se grandes volumes de águas fétidas, estreitos fundos de vale usados como depósito de lixo e algumas pontes atrevidas para pedestres. Para os veículos, pontes expressivas.
O capítulo final apresenta o cenário em que será feita a proposta de projeto. A intervenção será realizada no córrego Guaraú, que é subafluente do rio Tietê e pertence à bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo.
Com mais uma busca no olhar, surgem muitas questões. Algumas se perguntam como nossas cidades transformaram seus espaços naturais em restos indesejáveis. E, por onde e como poderíamos mudar tal situação.
Acredito que uma cidade desenhada com espaços livres de acesso público, com conservação dos seus espaços verdes e desenvolvimento de uma cultura ecológica é, de fato, mais democrática. O objetivo deste trabalho é encontrar, entre tantos, alguns caminhos possíveis para tornar esse tipo de cidade uma realidade brasileira.
Foi através de um olhar, talvez da janela de um carro ou de um ônibus, parada no congestionamento, em meio às nuvens de fumaça e cheiro forte de material decomposto, que levantei para enxergar mais ao longe.
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A proposta do presente trabalho é desvendar a história contida nas águas urbanas, assim como projetar um olhar para uma cidade mais sustentável e ecológica.
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É preciso refletir sobre o processo de formação da paisagem atual e compreender os padrões de produção no decorrer da história, para que a partir de uma perspectiva também histórica, seja possível discutir os rumos e futuras possibilidades para uma metrópole como São Paulo.
Figura 1: Rio Tietê em São Paulo. Fonte: Shutterstock.
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PARTE 1 “ R ECO N HE C E R O RIO C OMO P AISAG E M, P ORTANTO, É HABITA R O RIO.”
(COSTA, 2006, P.11)
Capítulo 1 Paisagem Fluvial
Janeiro. O exemplo pode se estender por todas as cidades brasileiras
O primeiro capítulo destina-se à investigação da paisagem fluvial. Nas
grandes muros para proteção contra ladrões, animais e doenças
cidades brasileiras, os rios urbanos se transformaram em espaços residuais e o impacto na paisagem da cidade é evidente. Pretende-se identificar e avaliar as relações entre os rios urbanos e o seu contexto,
Um rio, quando urbano, corta a cidade e tem suas margens ocupadas irregularmente por construções ilegais ou desenfreadamente por vias expressas para automóveis. O resultado é o rio usado como fundo das ocupações, local de despejo e perigo, onde devem ser construídos trazidos por suas águas. Os rios na cidade hoje são vistos mais como problemas do que como
assim como oferecer propostas de desenhos para a paisagem fluvial.
solução. São lugares em que a legislação não permite construções
1.1.
lugares em que deságuam os esgotos urbanos.
OS RIOS URBANOS NAS CIDADES BRASILEIRAS
Os rios são importantes corredores biológicos e espaços públicos de grande valor social (COSTA, 2006). A dinâmica que ocorre entre os diversos usos que podem ter um rio – abastecimento, agricultura, produção industrial, lazer e até mesmo escoamento de dejetos – criam vínculos sentimentais negativos ou positivos com a população do entorno. A observação dessa dinâmica é importante no estudo para identificar padrões nas cidades brasileiras que possam ser aplicados aos rios paulistanos. "[...] eu gostaria de viver para ver esse rio cristalino, para eu derrubar aquele muro, fazer um deck, entendeu [...]. A gente tem às vezes lua cheia, a gente está sentado, escuta aquele barulhinho [...] você imagina se a gente tem um rio limpo, uma cidade tranquila, sem violência, que a gente pudesse ter o rio passando embaixo do deck, e que a gente pudesse descer e se refrescar nesse rio, vamos sonhar, sonhar é isso!" (COSTA, 2002, p.296)
O depoimento acima expressa a vontade contida nos moradores ao redor do Rio Cachoeira, estudo de caso da Lúcia Costa no Rio de
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que carregam as mesmas configurações de espaço socioambiental.
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formais e acabam sendo ocupadas pela cidade informal, além de
A cidade de São Paulo cresceu de costas para os seus rios, tampando quando necessário e deixando-os livres quando possível. Além disso, os problemas habitacionais e de ocupação de solo são considerados mais importantes do que problemas ambientais em uma cidade tão desigual como a capital paulista. A relação entre a comunidade atual e os rios desapareceu na história. Faz parte de outros tempos falar sobre a natação nos rios e córregos da cidade e o problema atual é resolver o acesso à moradia e a mobilidade urbana. Entretanto, a legislação de proteção ambiental, uso do solo e a habitação social são políticas associadas. O risco ambiental acompanha a desigualdade social e deve ser freado. O presente projeto tem como objetivo criar espaços verdes na cidade mais do que resolver questões de âmbito socioeconômico diretamente. Mas é fato conhecido que uma cidade mais democrática também é aquela que abriga mais espaços livres de acesso público em seu território e para sua população.
As cidades coloniais surgiram inicialmente próximas a rios ou à beira-
Figura 2: Córrego com lixo sendo despejado.
mar, pois facilitava a comunicação interna e externa. Portanto, muitos dos núcleos urbanos brasileiros se desenvolveram a partir das margens de rios. (COSTA, 2006) Entretanto, a relação da cidade com os rios não foi harmoniosa. O rio era visto como causador de enchentes que traziam doenças e males, além de empecilho para a expansão territorial em muitas regiões. As águas eram utilizadas para consumo da população, mas também para o transporte de carga e passageiros, local de trabalho para pescadores e lavadeiras, e, quando não proibido, em lugar para diversos esportes aquáticos. Do leito era extraído o barro e areia com que foram edificadas muitas das cidades que surgiram ao redor. Com o tempo, o rio começou a ser utilizado como local de despejo de esgoto, e transformando aos poucos o lugar, motivo suficiente para escondê-lo ou ignorá-lo. As edificações deram-lhe as costas e todas as atividades ali praticadas foram suspensas. Da natação ao
Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2011/08/952592-exfavelados-descartam-lixo-tv-e-ate-sofa-em-corrego-de-sp.shtml>. Acesso em junho de 2017.
ar livre para piscinas de ladrilho, dos pescados das águas urbanas para a importação direta do litoral, do suor das lavadeiras para a
Esse tipo de paisagem urbana é altamente prejudicial a milhares de
mecanização do esforço pelas máquinas a vapor. Aos poucos, tudo foi
pessoas que, por falta de alternativas, submetem-se a essas condições
sendo substituído e aos rios urbanos restou somente a atual função de
de moradia. As comunidades que se instalam e os rios não possuem
recolhedor de dejetos urbanos.
uma relação que incentive a sua limpeza e preservação, pois, apenas reproduzem os atos urbanos.
O território que abrange as margens dos rios é protegido pela legislação ambiental, sendo previstos 30m de mata ciliar em cada
O saneamento básico e o tratamento das águas residuais são de
margem para preservação permanente. A rígida legislação faz com
responsabilidade municipal, entretanto, é uma rara realidade encontrar
que muitos proprietários desses terrenos os abandonem à sorte do
cidades que cumpram totalmente tais obrigações. O município de São
destino, potencializando-os para a ocupação irregular por favelas e
Paulo recolhe aproximadamente 70% do esgoto produzido, e dentro
construções ilegais de risco. O cenário aos poucos foi sendo construído:
desse percentual, trata somente a metade. Todo o restante tem seu
favelas coladas às margens e até mesmo sobre os rios em estrutura de
desague nos fundos de vale, e as consequências são catastróficas
palafita, convivendo lado a lado com esgotos a céu aberto.
para o meio ambiente e a qualidade de vida nas cidades.
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Os fundos de vale são lugares que apresentam alto potencial para a
leito regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de
criação de espaços livres de acesso público que qualifiquem a vida das
2012).
pessoas, dos animais e da vegetação ali instalada. O convívio entre o
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10
homem e a natureza deve ser restaurado. 1.2.
(dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de
O PLANEJAMENTO URBANO E A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50
Existem, na legislação brasileira, direitos e deveres garantidos por meio
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
do Estatuto da Cidade e do Código Florestal sobre o saneamento básico
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de
e a preservação ambiental na cidade.
200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham
Segundo o Estatuto da Cidade: [...]Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I - garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações [...]
Na legislação federal, no 2º parágrafo do artigo 3º e no artigo 4º da LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012: II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas [...] Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do 16
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largura superior a 600 (seiscentos) metros [...]
Há instrumentos legais para a preservação da paisagem fluvial, entretanto, é necessário vontade política para que o futuro sustentável finalmente seja possível. 1.3.
OS VALORES CULTURAIS E NATURAIS DA PAISAGEM
Segundo Faggin (2006, p.47) "a paisagem, reflexo da relação circunstancial entre o homem e a natureza, pode ser vista como a tentativa de ordenar o entorno com base em uma imagem ideal". Entretanto, a ideologia presente em diferentes sociedades atenderam mais aos interesses do homem e negligenciaram as necessidades da natureza, abstraindo que ambos dividem o mesmo espaço. Igualmente Spirn (1995, p. 27) descreve que "muitas cidades devem sua localização, seu crescimento histórico e a distribuição da população, bem como o caráter de seus edifícios, ruas e parques às características diferenciadas do seu ambiente natural", pois, a fundação das cidades, as construções de edifícios públicos e particulares, a ocupação das indústrias e comércios e mesmo a expansão viária estão ligadas diretamente à paisagem onde se inserem.
As cidades se formam no entorno de algo importante estrategicamente,
através de barcos para passageiros ou cargas, seu uso para consumo
uma mina de exploração, terras boas para o cultivo, território estratégico
humano, animal e vegetal da água do seu leito e várzeas, além do uso
para rotas comerciais ou proteção regional, litoral para escoamento de
recreativo para as pessoas, possibilitando a prática da natação e outros
mercadorias para exportação, entre outros fins, a maioria comerciais.
esportes, uso para pesca e lavagem de roupas e, infelizmente, uso para
E, a partir da ocupação do homem com a finalidade de domínio ou
escoamento de dejetos. Portanto, os fundos de vale participam de
comércio, a paisagem se molda, conforme as especificidades de cada
modo cultural, natural e até patrimonial, merecendo a preservação e
população.
conservação como símbolos da paisagem.
Os territórios se transformam e modificam também os ciclos naturais
O termo paisagem aparece pela primeira vez na China do século IV, a
da geografia ocupada. As cidades desmataram florestas, poluíram
palavra “shanshui” significava "montanhas e rios". (COSTA, 2006, p.78)
rios e alteraram as temperaturas do ar. É urgentemente necessário
Qual é a composição das nossas paisagens? A cor da Terra vista
compreender que a paisagem urbana é derivada de uma ocupação
de cima? Imensas áreas verdes e azuis. E se avistamos do alto uma
na natureza com alterações do ser humano em amplo alcance.
pequena paisagem rural, logo nos deparamos com lagoas de todos os tamanhos e caminhos naturais ou construídos para que a água flua. A
Para começar a entender uma paisagem urbana, é fundamental
primeira definição de paisagem, muito antes da invenção de satélites
compreender as transformações ocorridas ao longo da história, os
ou aviões, descreve-a exatamente como ela é, porções de terras com
processos de desenvolvimento social e econômico, assim como as
diferentes tamanhos atravessadas em seus pontos mais baixos por
ideologias predominantes da sua população.
filetes de água corrente.
Admitindo-se que a paisagem é uma mistura de arte e ciência,
Assim, observando a paisagem de longe, é possível refletir sobre a
é compreensível que sua construção, a renovação das formas
imensidão dos nossos atos em nossas cidades, nas pequenas porções
antigas ou a criação de novas formas que atendam a novos
emprestadas da paisagem. A paisagem urbana é construção humana
estilos de vida sejam dependentes das conquistas em cada um
e, para a sobrevivência geral, é necessário que se integre a cada dia
desses campos, dependentes, sobretudo, do valor que lhes é
com a paisagem real.
atribuído em cada momento histórico. (FAGGIN, 2006, p.48)
1.4.
O DESENHO DA PAISAGEM FLUVIAL
Os valores da paisagem derivam dos processos ocorridos. É certo,
Os rios urbanos devem ser submetidos a um cuidadoso desenho de
entretanto, que toda paisagem que sofreu modificações pelo homem
paisagem, para que suas potencialidades sejam destacadas. O projeto
possui um valor cultural, que pode ser adicionado a um valor histórico
voltado aos rios deve reconhecer os valores e significados que lhes são
e/ou natural.
atribuídos e tornar essas paisagens visíveis. (COSTA, 2002)
Se analisarmos o histórico de um rio genérico, por exemplo, temos a
Na visão de Faggin (2006, p.49), “o contato com a natureza é significativo
sua utilização como delimitador de territórios ou meio de transporte
e simbólico na vida das pessoas, e as diversas sociedades constroem,
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ao longo do tempo, um tipo de relação peculiar e especifica com ela.” Segundo Manning (1997, p.69) “as margens dos rios são mais do que
toda a cidade. (GHILARDI e DUARTE, 2006, p.116),
Magalhães (2007) complementa que:
bordas ou oportunidades de rotas, são orlas de significado igual para o desenho e a preservação ambiental". Nesse sentido, é importante
Sendo a Paisagem uma entidade espacial e cabendo ao
tornar o rio acessível à população para que sua própria preservação e
Arquiteto Paisagista trabalhar arquitetonicamente esse espaço, é
conservação seja valorizada.
nele que todos os conhecimentos e políticas de intervenção se corporizam e, portanto, é a Paisagem que promove a integração
A água nos rios em constante movimento atrai as pessoas para o uso recreativo e contemplativo. E, muitas vezes, o contato físico com a água é no mínimo desejado, especialmente entre as crianças. (MANNING, 1997)
Costa
(2002)
analisa
que
a
visibilidade
dos
rios
promove
automaticamente a sua valorização pela sociedade, o que indica que um projeto de orla não precisa vir primeiro do que uma conscientização
Os rios são canais para a água em uma viagem a algum lugar, e seu apelo é acima de tudo, nesse sentido, da jornada, real ou simbólica, e em seus contrastes de maneira rápida ou lenta, turbulenta ou calma, propositadamente reta ou preguiçosamente sinuoso e os contrastes da cena através do qual eles passam. (MANNING, 1997)
O trabalho projetual com a água, portanto, é um processo criativo. Deve-se imaginar, criar e, acima de tudo, entender a simbologia das
ambiental da população, as ações podem acontecer simultaneamente sendo ambas fortalecidas. A proposta de desenho da paisagem de Manning (1997) consiste em Extensive to Intensive landscape, em outras palavras, zonas diluídas a zonas aglomeradas de atividades humanas. Entre as diretrizes que propõe destacamos: promover a diversidade horizontal e vertical enriquecendo a orla do rio (diversity), explorar o desenho dos caminhos ao longo da água (circulation design) e criar lugares onde realmente se
águas no lugar onde se está inserido.
pode tocar os rios (contact zones). Para o autor, as pontes também são
As orlas de rios são lugares potenciais para a criação de parques
lugares que encorajam o olhar e despertam a vontade de tocar ou se
lineares que possam proteger e ao mesmo tempo oferecer lazer à população. Guilardi e Duarte (2006) atribuem valor social ao espaço livre público: Os parques lineares promovem a criação de espaços mais democráticos, devido à possibilidade de diversificação dos usos, bem como conectam diversos bairros e áreas livres existentes ao longo de seu trajeto, distribuindo melhor o lazer e a natureza por
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(ou desintegração) dos mesmos. (MAGALHÃES, 2007, p.109)
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muito mais do que a passagem entre duas margens de um rio, são estar mais próximo à água.
Figura 3: Rio Guadalquivir, Sevilla. Fonte: Acervo Pessoal.
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Capítulo 2 Ecologia Urbana O segundo capítulo do trabalho, dedica-se ao estudo da ecologia urbana. Pretende-se analisar e entender o funcionamento da natureza nas cidades e as possibilidades de intervenção para um desenvolvimento urbano sustentável. 2.1.
A CIDADE E A NATUREZA
O equilíbrio entre o homem e a natureza se faz a cada dia mais necessário. O desenvolvimento desenfreado das cidades separou o natural do construído, o homem se deu o direito de dominar a natureza de acordo com os seus próprios interesses. Agora, antes que seja tarde demais, é tempo de reequilibrar as contas, reestruturar as cidades e reaprender a conviver com o meio ambiente do nosso planeta. Após a Revolução Industrial, as cidades cresceram exponencialmente, atraindo multidões aos aglomerados urbanos. As pessoas migravam do campo à cidade para trabalhar nas grandes fábricas em ascensão, potências industriais se erguiam ao mesmo tempo que grandes porções de árvores eram derrubadas para a construção dos novos tempos. O crescimento urbano descontrolado provocou superpovoamento, poluição do ar e da água. A cidade cresceu sem planejamento e se expandiu sobre um lago território, com multidões de pessoas e veículos dividindo ruas estreitas. O esgoto corria a céu aberto nas vias extremamente densas, com construções sem ventilação e sem espaço para atividades ao ar livre. A poluição generalizada do ar, do solo e das águas, e os surtos de doenças, como a cólera, afetavam todas
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as camadas sociais, com baixíssima qualidade de vida urbana. Essa forma de crescimento ocorreu em outras cidades industriais, primeiro na Inglaterra e, depois, em outros países. (HERZOG, 2013, p.40)
A descrição acima discorre sobre o crescimento de Londres no século XVIII e pode ser reinterpretada para diversas cidades do mundo que tiveram sua expansão territorial e socioeconômica da mesma forma, a partir do desenvolvimento industrial. Em pouco tempo, a qualidade de vida nas cidades se tornou insustentável, com péssimas condições de salubridade. O uso intensivo dos rios e córregos para lavagem de roupas, despejo de esgoto e sujeira urbana, a contaminação do ar pela fumaça proveniente da queima do carvão e a construção de cidades densamente ocupadas provocou uma profunda degradação ambiental. O problema sanitário das cidades levou ao surgimento das políticas higienistas no século XIX. Os higienistas e sanitaristas, como se denominavam, eram os “principais formuladores das concepções organicistas da cidade, defendiam o saneamento da cidade, para que a população fosse saudável, sendo que os fluxos deveriam ser restabelecidos nas águas e na ventilação. Com esse objetivo, ruas eram alargadas dando lugar a bulevares; edificações e morros eram removidos; e pântanos eram drenados.” (GORSKI, 2010, p. 78)
Segundo Herzog (2013, p.42), “com o objetivo de melhorar a salubridade das cidades pós-liberais, os governantes adotaram a doutrina do higienismo para orientar as intervenções urbanas, as quais tiveram repercussão social, ambiental e econômica a longo prazo.” A primeira cidade que passou por uma reforma urbana estrutural higienista foi Paris, entre 1851 e 1870, com o urbanista e prefeito Barão
Haussman – “o que foi possível graças a legalização da desapropriação
Geddes, com o livro “Cidades em Evolução”, em 1915.
de imóveis particulares e da obrigação legal de melhorar as condições sanitárias, que eram péssimas.” (HERZOG, 2013, p.42)
No Brasil, o engenheiro Saturnino de Brito (1864 - 1929) destacava-se como sanitarista, defendendo:
Nesse mesmo período, nos Estados Unidos, Frederick Law Olmsted (1822-1903) foi pioneiro no planejamento ecológico da paisagem, em
O controle planejado do desenho das cidades em expansão,
uma visão inédita, entendendo que a preservação da natureza deveria
criticando o informalismo dos interesses particulares, sendo
ser obrigatória. Olmsted “considerava que a saúde física e mental
que, em sua visão de como planejar o desenvolvimento
das pessoas estava relacionada com a possibilidade de desfrutar a
urbano, abarcava o meio físico (hidrografia, relevo), clima,
natureza diretamente.” (HERZOG, 2013, p.43)
condições de salubridade, principalmente para equipamentos urbanos específicos, como mercados ou matadouros. Quanto
Olmsted trabalhou para conquistar a qualidade de vida urbana por
às diretrizes de saneamento, ressaltava a importância das
meio da inserção de parques e da preservação de áreas ambientais.
condições atmosféricas, solos, águas, equipamentos urbanos,
Foi membro ativo do Park Movement – Movimento dos Parques. O
águas ornamentais, limpeza pública, coleta e destinação do lixo,
paisagista tinha uma visão em longo prazo dos benefícios trazidos com
iluminação púbica, abastecimento de água, captação de águas
esse tipo de ocupação territorial, em harmonia com a natureza e o
pluviais e coleta de esgotos. (GORSKI, 2010, p.82)
homem. O seu projeto marcante é o Central Park, inspirado nos parques públicos ingleses, que logo ficou conhecido como o pulmão da ilha de
Entre outras cidades, Brito realizou estudos e propostas para Santos,
Manhattan.
Recife, São Paulo, João Pessoa e Vitória. O engenheiro defendia a condução do esgoto por duto separado ao das águas pluviais, com
Outro projeto de Olmsted, menos famoso globalmente, mas igualmente
destino ao mar. Também realizou propostas para a preservação das
impactante, é o Emerald Necklace (Colar de Esmeraldas), na cidade
matas ciliares e criticava a retificação dos canais. O maior sanitarista
de Boston. Foram necessários 20 anos para implantar um sistema de
brasileiro daquela época acreditava na educação do povo como
parques conectados por um corredor verde multifuncional (greenway),
solução para melhores condições de higiene e saneamento.
a partir da recuperação e renaturalização do rio Muddy e da construção do parque Jamaica, que possui um lago.
Em São Paulo, em 1926, Brito desenvolveu o projeto de Melhoramentos do rio Tietê, em que propunha a redução da
“A urgência em melhorar a qualidade de vida urbana nas primeiras
extensão do rio de 46 para 26 km, retificando alguns trechos na
décadas do século XX levou ao desenvolvimento de propostas de
região Guarulhos-Osasco, pretendendo, com isso, aumentar a
planejamento e projeto das cidades, fundamentados em diferentes
vazão da água e manter seu fluxo constante. Sua meta era prevenir
metodologias e conceitos.” (HERZOG, 2013, p.48)
enchentes e prover o abastecimento. [...] Saturnino enfatizava a importância das várzeas como reservatórios naturais, reduzindo
Nesse destacam-se dois autores ingleses , Ebenezer Howard com a
os impactos das cheias. (GORSKI, 2010, p. 84)
publicação do livro “Cidades-jardins do Amanhã”, em 1898, e Patrick
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 21
2.2.
A ECOLOGIA, O ECOSSISTEMA E A RESILIÊNCIA URBANA
como por exemplo, uma bacia hidrográfica, quanto mais tiver opções de drenagem (áreas permeáveis), menos chances terá provocar de
A palavra ecologia é derivada do grego "oikos" + "logos", que
enchentes ou causar danos.
respectivamente significa casa e estudo, ou seja, a ciência ou estudo da casa, do habitat. Portanto, a ecologia é a ciência que estuda as relações
Da produção ao descarte, desde um simples doce ou um equipamento
entre diferentes seres vivos em uma mesma “casa” ou ambiente em
eletrônico, extraímos da natureza a matéria-prima e lhe devolvemos, de
comum, no caso da ecologia urbana, o ambiente é a própria cidade.
alguma maneira, os restos. Ao processo descrito, conferimos o nome de pegada ecológica e pegada hídrica.
Segundo Spirn (1995, p.20), “a natureza na cidade é muito mais do que árvores e jardins, e ervas nas frestas das calçadas e nos terrenos
A pegada ecológica é o rastro ambiental de um produto da extração
baldios. É o ar que respiramos, o solo que pisamos, a água que bebemos
do seu material ao consumo e descarte, passando pela produção e
e expelimos e os organismos com os quais dividimos nosso habitat.”
distribuição para venda. E, a pegada hídrica, é o volume dos recursos hídricos utilizados ao longo desse mesmo processo de produção e de
A ecologia urbana tem como objetivo estudar todas essas relações
consumo de bens ou serviços. (HERZOG, 2013)
entre a natureza e o ser humano, com o intuito de tornar a cidade um ecossistema melhor para todos.
Vivemos hoje sob uma produção em ciclo aberto, danoso ao meio ambiente, que não garante reciclagem, reaproveitamento ou
O ecossistema é, como o próprio nome sugere, composto por um
recuperação de todos os materiais e recursos naturais envolvidos na
conjunto de sistemas que influenciam uns aos outros intrinsicamente.
produção. Devemos caminhar para o ciclo fechado, em que tudo que é
Compõem esse sistema os fatores abióticos (energéticos, químicos,
consumido deve ser de alguma maneira devolvido ao meio ambiente,
mecânicos e físicos) e os fatores bióticos (fauna e flora).
para que o processo seja, enfim, sustentável.
“A resiliência é a capacidade de um sistema absorver impactos e
Em Design with Nature, Ian McHarg sobrepõe os mapas geológicos,
manter suas funções ou propósitos, isto é, sobreviver ou persistir em
hidrológicos, topográficos e do uso e ocupação do solo, em estudo sobre
um ambiente com variações, incertezas" afirma Herzog (2013, p. 79). A
a Ecologia da Paisagem. A sobreposição dos sistemas é importante,
resiliência urbana é importante porque confere à cidade a capacidade
pois permite uma compreensão dos processos e fluxos naturais que
de suportar naturalmente incertezas e variações, como uma forte chuva
ocorrem na paisagem.
ou ventos mais fortes. 2.3.
AS ÁGUAS URBANAS
A resiliência nada tem a ver com a eficiência ou agilidade em livrar-se
22
da água da chuva ou do lixo urbano, por exemplo, mas da capacidade
A água é encontrada em três estados na natureza: estado líquido -
de a cidade absorver naturalmente condições adversas do clima
nos mares, lagos, rios e lençóis freáticos -; estado gasoso - no ar -; e
e persistir mesmo em situações mais extremas. É obtida através do
sólido - nas geleiras. Compõe cerca de 71% do planeta em que vivemos
desenho urbano multifuncional e da preocupação em precaver danos,
e está presente em 60% do corpo humano. É fácil concluir que a água
TFG 2017
é essencial à vida. E da mesma maneira, hoje é indispensável à vida
como as alterações climáticas que promovem descontrole do volume
urbana.
das chuvas, influenciam nos períodos de escassez de água. Por último, os gestores da água na cidade, ao transformá-la em mercadoria,
“A água é o sangue da vida das cidades: impele as fábricas, aquece e
negligenciam seu real valor, e muitas vezes, a desperdiçam na coleta e
resfria as casas, nutre os alimentos, mata a sede e carrega os dejetos.
distribuição pela rede urbana.
As cidades importam mais água que todos os outros bens e matériasprimas combinados.” (SPIRN, 1995, p.145). Como relatado por Spirn,
É necessário pensar na água urbana em sua totalidade, a partir do ciclo
necessitamos de água para beber, lavar, produzir energia e preparar
hidrológico que é “um grande processo pelo qual a chuva cai na terra,
alimentos. Na cidade, a água encontrada se torna parte do estoque de
é absorvida pelo solo e pelas plantas, que nele crescem e corre para os
água urbana.
cursos d’água e oceanos, então se evapora, retornando uma vez mais para o ar.” (SPIRN, 1995, p. 160) Quando contextualizamos esse ciclo na
Spirn (1995, p.146) afirma que “o concreto, a pedra, o tijolo e o asfalto
cidade, podemos enxergar os desvios enfrentados por esse processo
da pavimentação e dos edifícios recobrem a superfície da cidade
para que ele ocorra de forma mínima. As cidades precisam de solos
como um escudo à prova d’água.” É o resultado de uma expansão
permeáveis para que essa água chegue ao subsolo, assim como da
territorial focada no desenvolvimento industrial e comercial.
vegetação para que ela seja retida na natureza.
Como
consequência, as cidades têm cada dia mais problemas com águas poluídas, enchentes e secas.
Spirn (1995, p.163), propõe ainda que “o armazenamento da água das cheias e o lazer são compatíveis nos grandes parques urbanos. Parques
Além disso, impermeabilização do solo e, especialmente, das várzeas,
que exploram a capacidade natural do armazenamento da água das
provocam um aumento de volume e velocidade do escoamento
cheias das várzeas desenvolvem as margens para espaços públicos".
das águas pluviais em direção aos rios e córregos. O rio, em pouco espaço de tempo, é saturado e provoca as enchentes. As enchentes
2.4.
A INFRAESTRUTURA VERDE URBANA
são perigosas porque devastam muitas construções, podem provocar mortes e também carregam água contaminada por toda a sujeira da
No livro “O jardim de granito”, Spirn discute os problemas gerados pelas
cidade, culminando em doenças.
cidades no ar, terra, água e na vida da fauna e flora. A infraestrutura verde urbana, ainda que não receba essa terminologia no livro, é
Embora a enchente seja um processo natural do rio, na cidade é uma
apontada como o recurso para solucionar os problemas descritos em
catástrofe. Spirn (1995, p.147) afirma que “o rio e sua várzea são uma
cada capítulo.
unidade. A várzea é uma área relativamente plana na qual o rio se movimenta, e na qual transborda regularmente quando acontecem as
Herzog (2013), por sua vez, propõe uma divisão do ecossistema urbano
inundações.” A edificação e ocupação das várzeas, negligenciando o rio
em sistemas ecológicos: geológico, hidrológico e biológico. Além
e sua natureza, intensificaram as enchentes e multiplicaram os danos.
disso, divide também o que seriam os sistemas naturais em: social,
Por fim, as secas são e serão enfrentadas por muitas cidades em pouco
circulatório e metabólico.
tempo. A poluição generalizada da água superficial e do subsolo, assim
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 23
As autoras discutem, de formas diferentes, as causas e consequências do comportamento urbano na natureza. É possível aplicar diversos métodos para que a infraestrutura verde funcione nas cidades e
Tetos e paredes verdes
equilibre o estilo de vida atual com as necessidades ambientais.
de drenagem sob a vegetação, para que a água escorra para o
Abaixo, escolhi algumas das técnicas utilizadas, com as definições propostas por Herzog (2013): Alagados construídos (wetlands) Os alagados filtram a água da chuva e a devolvem aos lençóis freáticos, rios ou lagos. Funcionam a partir da construção de uma lagoa de retenção com plantas aquáticas e camadas de areia grossa. O resultado dos alagados contribuem com a biodiversidade e com a criação de espaços contemplativos naturais. Biovaleta As biovaletas são jardins adjacentes ao sistema viário em uma cota mais baixa para permitir a entrada da água. Servem como filtro inicial da água que escorre das pistas de rolamento e estacionamento, as quais contêm resíduos de óleo, borrachas de pneus, poluição e excrementos de animais. Jardins de chuva e canteiros pluviais Os jardins de chuva, similares às biovaletas, são espaços construídos em uma cota mais baixa que o entorno para permitir a entrada da água escoada de superfícies adjacentes impermeáveis. Também funciona como um filtro inicial da água até que está se acomode completamente no solo. Lagoas secas (bacias de detenção) As lagoas secas funcionam como as biovaletas e jardins de chuva, diferenciando-se pela extensão. Geralmente, é uma grande depressão vegetada ou permeável que recebe, durante as chuvas, o excedente de água e lentamente o transfere ao sistema de drenagem, permitindo a infiltração no solo e reabastecimento do lençol freático. 24
TFG 2017
Os tetos e paredes revestidos com vegetação são conhecidos como "verdes". No caso do teto verde, é necessário instalar uma camada sistema pluvial tradicional e não se infiltre pela edificação. A parede verde necessita de uma estrutura vertical de fixação da vegetação e manutenção constante das suas plantas, com rega em períodos de pouca chuva. Pavimentos porosos Os pavimentos porosos permitem a infiltração da água no solo. Podem ser desde materiais sintéticos, como o concreto permeável, como naturais, como a terra e areia. Woonerf (ruas internas para pedestres e ciclistas) São ruas internas que priorizam os pedestres e ciclistas, mas também permitem a passagem e permanência de veículos. São construídas no mesmo nível para todos os usuários, de forma que cada uso seja respeitado naturalmente. Ruas verdes São ruas arborizadas, que aumentam a superfície de drenagem com seus canteiros e diminuem a poluição tanto sonora como do próprio ar que é filtrado pela vegetação. Vias de uso múltiplo As vias de uso múltiplo conciliam diversos usos: a via para veículos, a ciclovia para bicicletas e calçadas para pedestres. Corredores verdes Os corredores verdes são extensões lineares de paisagem natural, como parques lineares ou parques projetados ao longo de rios. Permitem a circulação da fauna e flora em sentido linear.
Figura 4: Alagado Construído.
Figura 5: Biovaleta.
Figura 6: Jardim de Chuva.
Disponível em:< http://www.hargreaves.com/work/ chattanooga-renaissance-park/>. Acesso em junho de 2017.
Disponível em:< https://br.pinterest.com/ pin/458241330805376556/>. Acesso em junho de 2017.
Disponível em: <http://www.portlandmaine. gov/1491/Back-Cove-Rain-Garden>. Acesso em junho de 2017.
Figura 7: Lagoa Seca.
Figura 8: Rua Verde.
Figura 9: Corredor Verde.
Disponível em: <http://ofparamount.blogspot.com. br/2010/05/anniversary-of-two-eruptions-that. html>. Acesso em junho de 2017.
Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/ br/01-62951/a-criacao-de-ruas-verdes-poderiareduzir-em-30-porcento-a-poluicao-no-reinounido>. Acesso em junho de 2017.
Disponível em: <http://conservationmagazine. org/2015/02/greenways-or-freeways/>. Acesso em junho de 2017.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 25
Capítulo 3 Estudos de Caso
do Sul tem se destacado pela recuperação ambiental realizadas em
O terceiro capítulo destina-se à análise de projetos de recuperação
preocupação socioambiental do governo coreano.
de orlas e águas urbanas em diferentes cidades do mundo. Com climas e culturas diferentes e o mesmo objetivo em todos os projetos: proporcionar melhoria na qualidade de vida urbana aos cidadãos
suas cidades. Atualmente o país possui um plano estratégico de crescimento verde e tem implantado o conceito de "ecocidade". Entre os slogans do país estão “Green Korea” e “Reviver rios para a nova Corea!”, enfatizando a
O córrego Cheong Gye atravessa o centro de Seul, no eixo leste e oeste. A área central da cidade foi densamente ocupada a partir da década
através da recuperação ambiental.
de 1950 por uma população carente de recursos financeiros. Similar
3.1.
teve suas várzeas ocupadas por favelas e construções precárias sob
GYE
SEUL, COREIA DE SUL - RECUPERAÇÃO DO CÓRREGO CHEONG
ao que ocorreu aos rios urbanos brasileiros, o córrego nesse período palafitas, sem saneamento ou coleta de lixo. Com a industrialização e a política rodoviarista, o córrego já degradado e poluído, foi coberto
O primeiro estudo de caso analisa a recuperação do córrego Cheong Gye, em Seul, a capital da Coreia do Sul. Atualmente, o riacho é símbolo da cidade e elemento estruturador do conjunto urbano, entretanto, o córrego já foi uma barreira e um forte divisor socioeconômico entre dois lados do centro urbano, o norte e o sul.
com asfalto e uma via elevada com extensão aproximada de 6km. O eixo viário dividiu o centro da cidade em norte e sul, que por sua vez sofria uma divisão socioeconômica: ao norte, os mais pobres e, ao sul, os mais ricos. O país tem encarado a questão da água e da biodiversidade,
O país, fruto da divisão da Coreia em Sul e Norte no período pós-
principalmente, com os objetivos de “enfrentar os desafios das
guerra, investiu na industrialização a todo custo entre as décadas
mudanças climáticas, permitir a coexistência entre pessoas e natureza,
de 60 e 70. Como consequência, teve um grande crescimento
utilizar terras públicas para recreação da população e equilibrar
econômico somado à poluição de seus rios, ao desmatamento, à
desenvolvimento com crescimento verde.” (HERZOG, 2013, p. 235)
urbanização desenfreada e à ocupação irregular por favelas. Os impactos ambientais e sociais foram desastrosos, entretanto, ao
A estratégia é a regeneração das quatro principais bacias hidrográficas
mesmo tempo o país também investiu em educação para sua
do país, com o intuito de proteger as águas, prevenir as enchentes,
população, a qual mudou a mentalidade predominante a partir
restaurar as funções ecológicas com a criação de espaços de usos
dos anos 80. (HERZOG, 2013)
múltiplos e orientar o desenvolvimento das cidades pelos rios.
Os Jogos Olímpicos de 1988 foram a primeira oportunidade para o país investir na recuperação de áreas degradadas e, desde então, a Coreia
26
TFG 2017
Em 2002, Myung-bak Lee, candidato à prefeito de Seul, prometeu à população a remoção das vias e a recuperação do córrego à população. Foi eleito e “cumpriu a promessa em tempo recorde: 27
meses de construção – 1º de julho de 2003 à 1º outubro de 2005. Foram necessários dez meses somente para o desmonte cuidadoso das vias
O conceito do projeto foi o de um córrego urbano naturalizado,
e das galerias subterrâneas.” (HERZOG, 2013, p. 249)
dedicado ao uso humano, com espaços ambientalmente amigáveis e em contato direto com as águas e a biodiversidade,
O projeto foi concebido pelo governo metropolitano de Seul,
oferecendo serviços ecossistêmicos. A extensão do projeto é de
sob direção do vice-prefeito Yun-Jae Yang, um urbanista e
5,85km e inclui a implantação de uma rede de esgotamento
paisagista. Ele e seu time na prefeitura, ao lado de dois consórcios
sanitário; a drenagem de águas pluviais; a construção de 22
de engenharia selecionados por concurso, foram os responsáveis
pontes para conectar os dois lados; o plantio de espécies nativas,
pelas linhas gerais do projeto. Ao longo do processo, engenheiros,
adaptadas a situações de potenciais alagamentos; e áreas com
consultores, arquitetos e paisagistas também se engajaram,
referências histórico-culturais, além da instalação de internet
incluindo o prefeito, que fazia reuniões semanais com os
rápida e pública. (HERZOG, 2013, p. 249)
profissionais mais próximos da obra. (AU, 2013, ed. 234)
O projeto foi pensado para acomodar a água da maior chuva registrada Herzog (2013) comenta sobre o projeto:
em 200 anos. A água e o corredor verde ficam entre 3 a 5m abaixo do nível da rua, com acesso por rampas e escadas a nível do pedestre. O córrego segue até encontrar o Rio Han, que corta toda a cidade,
Figura 10: Fases de transformação do Córrego Cheong Gye.
passando antes por uma reserva ecológica. O projeto possui três partes distintas que se complementam, cada uma com aproximadamente 2km (dois quilômetros) de extensão. Os três projetos foram fruto de uma competição e implantados por três grandes construtoras locais: Daelin, Samsung e Hyunday. (HERZOG, 2013, p. 251) Ao longo do trajeto, os detalhes em escala local são marcantes, com fontes, águas que cascateiam pelos muros, pedras colocadas de forma a poder cruzar o rio, recantos sob as pontes, áreas para exposições, bancos, trilhas e caminhos de vários aspectos ladeados por vegetação autóctone. (HERZOG, 2013, p. 254)
A recuperação do Córrego Cheong Gye é descrita como impressionante pelos autores brasileiros estudados – Cesar Tramontina e Cecilia Herzog Disponível em: < http://www.ecopensar.com.br/arquivos/recuperacao-de-rios-ajudaria-sao-paulo-a-se-preparar-para-as-mudancas-climaticas/>. Acesso em junho de 2017.
- e a cidade recebe milhares de visitantes todos os anos somente para comprovar o feito. Somente em dois anos, o córrego foi completamente
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 27
recuperado e aberto ao uso público.
Figura 11: Córrego Cheong Gye.
Fiquei paralisado quando vi o córrego pela primeira vez. Tudo o que imaginava e havia lido sobre o assunto era pouco diante daquele cenário. O riacho Cheong Gye corria forte e vibrante entre os prédios modernos do centro de Seul. Uma cascata de 10m (metros) de largura indicava o ponto inicial, por onde corria a água. Nas margens vimos, cuidadosamente construídas, largas passarelas de granito sobre as quais as pessoas podiam caminhar. No Brasil, muitas vezes as pessoas cruzam os córregos por meio de pontes frágeis ou pinguelas. Em Seul, uma sequência de pedras largas e grandes, planas na parte de cima, garantia a segurança dos que decidissem passar de um lado para outro. O objetivo era exatamente este, estimular os passantes a cruzar sobre a água, a se divertir em segurança. (TRAMONTINA, 2011, P.41) Fonte: Revista Au, Ed. 234. O projeto de restauração do CheongGyeCheon é contínuo, quer dizer, não é linear, não acaba nunca. É uma metodologia com estrutura adaptativa, que, desde o princípio, quando foi concebida,
Figura 12: Acesso ao Córrego Cheong Gye.
prevê monitoramento e manejo não só para atingir novas metas estabelecidas ao longo do seu processo evolutivo, mas também para melhoria socioecológica permanente. (HERZOG, 2013, p.257)
É importante ressaltar que a cidade também tem investido em mobilidade urbana, com áreas centrais priorizadas aos pedestres e com a cobertura de metrô em todas as áreas da cidade, além de habitação digna à toda população.
Fonte: Revista Au, Ed. 234. 28
TFG 2017
3.2.
MADRID, ESPANHA - RECUPERAÇÃO RIO MANZANARES
Figura 13: Rio Manzanares com vias para carros ocupando suas margens.
O segundo estudo de caso analisa o projeto de recuperação das margens do Rio Manzanares, em Madrid, capital da Espanha. O próprio nome da cidade refere-se à sua hidrologia “[...] Madrid sería la madre
de las aguas, o um lugar de agua abundante", segundo o arquiteto espanhol Luis Fernández-Galiano, no livro “Paisajes en la ciudad. Madrid río: geografia, infraestructura y espacio público” onde o projeto é descrito cuidadosamente pelos autores Francisco Burgos, Ginés Garrido e Fernando Porras-Isla, em 2014. O rio Manzanares atravessa a cidade no sentido noroeste seguindo ao sul e localiza-se na área urbana periférica. A falta de visibilidade que o rio tem na cidade foi um dos motivos que levaram à sua degradação e abandono. Nos anos 1960 e 70, o desenvolvimento industrial levou a instalação de comércio e empresas no centro da cidade, por encontrarse ali maior disponibilidade de residências, enquanto a periferia da cidade foi ocupada por indústrias, região que sofreu um esvaziamento de domicílios. Essa dinâmica levou à construção da rodovia M-30, nas margens do rio em estudo. A rodovia atravessa a cidade e ocupava as margens do rio por aproximadamente 6km. O eixo viário, paradoxalmente, foi produto de um projeto que propunha o sistema viário como eixos verdes, similar à uma infraestrutura verde, com a construção de bulevares que garantiriam esses corredores biológicos. Entretanto, não foi o que ocorreu e todo o espaço livre foi ocupado por asfalto e pistas de rolamento. A rodovia M-30 logo tornou-se uma barreira entre a periferia e o centro da cidade, pois, não garantia o acesso livre do pedestre de um ponto a outro. A rodovia é um dos anéis viários que dão acesso à diferentes saídas para todas as regiões da península ibérica.
Fonte: Revista Au, Ed. 212.
A partir dos anos 80, praticamente após a inauguração da M-30 em 1974, iniciou-se discussões sobre a condição do rio Manzanares e a poluição gerada pelo fluxo constante de carros. Entretanto, somente nos anos 2000 a promessa de uma orla vegetada e o controle do fluxo de veículos saiu do papel, levando à construção do Parque Madrid Rio. A gestão do prefeito Alberto Ruiz-Gallardón, entre 2003 e 2007, dedicou-se a levar a cabo a já histórica necessidade de modernização da M-30. Os objetivos perseguidos foram a melhoria da qualidade ambiental da cidade, aliada ao aumento da mobilidade.(Revista AU, 2011, ed. 212)
Em 2005, a prefeitura lançou um concurso de ideias para o projeto o futuro parque linear do rio Manzanares. A equipe vencedora propôs um parque conectado às diversas paisagens e histórias da cidade, assim como um parque que estivesse em si conectado por uma identidade:
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 29
surgia o projeto do Madrid Río. A equipe era composta por arquitetos espanhóis, Burgos & Garrido, Porras La Casta, Rubio Alvarez Sala, e por
Figura 14: Rio Manzanares com parque linear implantado.
paisagistas holandeses do escritório West 8 Urban Design & Landscape Architecture. O desenvolvimento do projeto ocorreu ao mesmo tempo que as vias eram enterradas e os túneis construídos. Uma das preocupações do projeto era justamente integrar todas as tubulações de ar dos túneis e as saídas de emergência com a identidade do parque. O Parque Madrid Río integrou ao seu projeto a edificação de um antigo matadouro restaurado, hoje um centro cultural, e o já construído Parque de la Arganzuela. Além de todas as pontes, algumas novas, e elementos que controlam a vasão do rio, construídos nos anos 50 e restaurados pelo valor arquitetônico, também servem como travessia. O projeto custou 420 milhões de euros, o que gerou polêmica e controvérsias até hoje sobre a sua realização. Foi entregue em 2011, conforme o cronograma. Fonte: Revista Au, Ed. 212. Figura 15: Parque Madrid Río e Ponte de Toledo.
Fonte: Revista Au, Ed. 212.
30
TFG 2017
3.3.
PARQUE LINEAR CANIVETE, SÃO PAULO – REURBANIZAÇÃO DE
FAVELA E RECUPERAÇÃO DO CÓRREGO
Figura 16: Parque Linear Canivete e Habitação Social.
O Parque Linear Canivete é o único parque municipal existente em toda a bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo. Localiza-se entre a Av. Deputado Cantídio Sampaio e Av. Hugo Ítalo Merigo, no bairro Jardim Damasceno, na subprefeitura Freguesia do Ó/Brasilândia. Foi implantado em 2010 em parceria com a subprefeitura e a Secretaria Municipal de Habitação. Pertence a um conjunto de ações para conter o crescimento urbano sob as áreas de preservação permanente e definir os limites de urbanização na Borda da Cantareira. O projeto do parque propõe a recuperação das margens do córrego existente, implantação de equipamentos esportivos e de lazer e
Fonte: Guia dos Parques Municipais de São Paulo, 2012.
realocação da população em área de risco que ali viviam em habitações irregulares e precárias. Atualmente, ocorrem eventos realizados pela UBS Silmarya Rejane Marcolino Souza, envolvendo temas sobre saúde, meio ambiente e sustentabilidade.
Figura 17: Comunidade, Parque Linear Canivete e Habitação Social.
Fonte: Guia dos Parques Municipais de São Paulo, 2012.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 31
3.4.
SAPÉ
FAVELA DO SAPÉ, SÃO PAULO - RECUPERAÇÃO DO CÓRREGO
Figura 18: Remoções da favela Sapé.
A favela do Sapé situa-se na zona oeste de São Paulo e é cortada pelo córrego de mesmo nome. As precárias habitações da favela ocupavam as margens do córrego e até mesmo o próprio leito sob palafitas. Em 2004, por iniciativa da Secretaria Municipal da Habitação, a favela foi escolhida para sofrer um processo de reurbanização e remoção das famílias que viviam em área de risco. Entre 2004 e 2010, não houve obras, “foi o tempo necessário para regularização dos lotes, validação do direito de propriedade pela prefeitura, obtenção das licenças ambientais e captação de verba para a reurbanização e habitação.” (AU, 2013, ed. 234)
Fonte: Base Urbana Arquitetos.
O investimento foi composto pela própria Secretaria Municipal da Habitação, Caixa Econômica Federal e a SABESP com o programa Córrego Limpo. O projeto foi realizado pelo escritório Base 3 Arquitetos. Inicialmente, o projeto previa a remoção somente das famílias que se encontravam em área de risco e nas áreas proibidas de construir na margem do córrego. Entretanto, foram necessárias obras para
Figura 19: Reurbanização de favela e recuperação do Córrego Sapé.
instalação de infraestrutura, redes de água, esgoto e energia, e também um sistema viário com duas novas ruas que ligasse a favela de um lado a outro. E, por último, para a construção das novas unidades habitacionais foram necessárias glebas livres de terreno. Portanto, ao final do projeto, 1.177 unidades tiveram que ser removidas e realocadas para as novas construções no mesmo local. Foram construídas as novas habitações, atualizado o sistema viário e implantado um parque linear ao longo do córrego. O projeto também tinha a preocupação de destacar o ciclista e pedestre no novo sistema viário, por isso, a velocidade permitida para os carros é reduzida e não há guia rebaixada, distinguindo a calçada e a rua.
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TFG 2017
Fonte: Base Urbana Arquitetos.
Além disso, há pontes e passagens permitindo a integração do tecido urbano à mobilidade dos moradores. Também há corrimãos garantindo
Figura 20: Perspectiva do projeto de urbanização e edificação.
a segurança. No córrego, foi escolhido o uso do gabião para o muro de contenção, por ser um material completamente permeável. Em entrevista com a Revista AU, Marina Grinover, uma das arquitetas responsáveis pelo projeto, contou que [...] a legislação referente às águas e rios é "severa e pertinente" e que é difícil conseguir fazer com que o contato com o rio seja agradável. [...] Uma maneira de valorizar os espaços foi integrálos com elementos urbanos, como passeios, ciclovias, áreas de lazer e esporte, árvores e bancos, unindo programa e terreno e fazendo com que todos ganhassem vida. Para contemplar e adequar essas questões, há uma lei que define que o espaço de 1,5 vez a largura do canal deve ser de área livre, dos dois lados do rio. (AU, 2013, ed.234)
O projeto está em fase de finalização, as habitações foram entregues e as obras do parque linear seguem em construção.
Fonte: Base Urbana Arquitetos.
Figura 21: Adequação do leito fluvial.
Fonte: Base Urbana Arquitetos.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 33
3.5.
RIO BRONX, NOVA YORK – RECUPERAÇÃO DO LEITO FLUVIAL E
SUAS MARGENS
Figura 22:Prática de remo no rio Bronx.
A cidade de Nova York é banhada por um único rio de água doce localizado na sua periferia, o rio Bronx. Por muito tempo, o rio foi esquecido da memória coletiva, principalmente pela sua localização periférica e por atravessar um dos bairros mais pobres da cidade. Em 1999, a iniciativa “Bronx River Alliance criada pela urbanista e ativista ” Linda Cox, propôs a recuperação e revitalização do rio. O projeto apoia-se na ação de tornar o rio visível e envolver a população na sua recuperação. A urbanista defende que o sucesso de qualquer recuperação fluvial é justamente a visibilidade que o rio tem para as pessoas. Apesar de o rio Tietê cortar São Paulo, não há pontos de conexão entre o rio e as pessoas, o que pode justificar sua falta de visibilidade, apesar de aberto e no meio da cidade. O rio Bronx fica na periferia e precisava ser visto pela comunidade.
Disponível em: <http://www.huffingtonpost.com/john-f-calvelli/bronx-riverprovides-blue_b_6030642.html.> Acesso em Set/2016. Figura 23: Medição de tartaruga encontrada na margem atual do rio Bronx.
O “Bronx River Alliance esforçou-se então para conseguir parceiras com ” diferentes pensamentos e envolver o máximo que pudesse a população em suas ações. A limpeza do rio e o controle da qualidade de água são realizados pelos próprios moradores. As ações de preservação do rio transformaram-se em atitudes da comunidade que vive no entorno. No rio, atualmente, é possível a prática de navegação. O próximo passo é torná-lo acessível à prática de natação e pesca.
Disponível em: <http://www.huffingtonpost.com/john-f-calvelli/bronx-riverprovides-blue_b_6030642.html.> Acesso em Set/2016.
34
TFG 2017
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 35
PARTE 2
“A CIDADE É O HABITAT DO HOMEM.” (HERZOG, 2013, P.56)
Capítulo 4 Os rios de São Paulo
trabalho compulsório, a escravidão. A economia brasileira era
cidade de São Paulo, com o objetivo de entender os processos de
4.2.
O quarto capítulo do trabalho dedica-se à investigação histórica da formação da paisagem paulistana atual e a relação com seus rios urbanos. 4.1.
O PERÍODO COLONIAL
Algumas pinturas e descrições históricas nos ajudam a recriar o cenário quinhentista. E, basta ser brasileiro para ter a imagem do português rosado com roupas pesadas típicas do clima europeu, desembarcando em terras desconhecidas, com habitantes nus, cobertos no corpo por tinturas em cor preta e vermelha, de língua e cultura completamente diferentes. Certamente as imagens construídas através dos livros didáticos e expostos em museus é muito diferente do que foi a realidade. Pois, em território americano desembarcaram todos os tipos de portugueses, pessoas que não tinham nada a perder com uma viagem cruzando o oceano em condições nem sempre favoráveis. O importante de tudo isso é, na realidade, a descrição da natureza aqui encontrada. É o que nos interessa para o nosso estudo. As condições em que o território brasileiro, especificadamente o planalto paulistano, se encontrava na época do descobrimento e os processos de transformações sofridos ao decorrer dos séculos. A construção da paisagem é derivada dos processos econômicos, políticos e sociais acontecidos ao longo da história. O Brasil surgiu como colônia de exploração comercial que adotava formas de
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subordinada às determinações e oscilações do mercado externo. O território era organizado em regiões especializadas em determinadas monoculturas. Essa forma de exploração foi predatória, extensiva e móvel, e determinante na formação de sua paisagem. AS EXPEDIÇÕES FLUVIAIS NO INTERIOR PAULISTA
O planalto de São Paulo é separado do litoral pela grande Serra do Mar. Nos séculos XVI e XVII, a comunicação entre o planalto e o litoral era muito precária, através de trilhas estreitas e íngremes, onde a caminhada só era possível em fila indiana. Os colonos dedicaram-se à caça aos índios ou “negros da terra”, como eram chamados na época. Precisavam deles para escoar a sua produção de alimentos para os navios portugueses, os quais desembarcavam e ancoravam no litoral. Com a justificativa de buscar ouro, surgiram as primeiras expedições em direção ao interior paulista, as bandeiras. Eram expedições com mais de 600 homens, duravam meses e até alguns anos, tinham um chefe e dois ajudantes. Todos os participantes, os objetivos e o regimento da bandeira eram registrados na câmara municipal. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999) Embora o objetivo oficial fosse a busca de ouro, os bandeirantes partiam com pólvora, machados, cordas, muitos arcos e flechas, instrumentos de luta que comprovavam o intuito da caça aos índios. Apesar do que é retratado nos livros, as bandeiras viam os rios como um obstáculo à marcha, pois seguiam a pé as trilhas utilizadas pelos nativos da terra, utilizando o rio mais como delineação do território, fonte de água para consumo e usos gerais da expedição. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999) As bandeiras retornavam com muitos índios capturados e nada de ouro, atuando na prática como despovoadores do território. Os índios,
quando não eram capturados, fugiam cada vez para mais longe, o
Figura 24: Partida das monções de Porto Feliz para Cuiabá.
que fazia com que a próxima bandeira desbravasse um território ainda maior. E assim, sucessivamente, até o declínio das bandeiras, quando os índios se encontravam em territórios muito afastados e difíceis de serem capturados. Após o fim das bandeiras, surgem as monções de povoado e comércio. As monções eram expedições que, através dos rios, transportavam pessoas e mercadorias até as minas de Goiás e Mato Grosso. A mineração era uma atividade urbana, os trabalhadores que ali viviam precisavam ser abastecidos com alimentos de outras regiões, gerando o início do comércio interno. Os objetivos dos "monçoneiros" eram comerciais, ficaram conhecidos no interior como os "viajantes" e suas ações eram planejadas e organizadas. O rio Tietê foi a principal via de que se serviram para cruzar São Paulo e atingir o interior do Brasil. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999) Entretanto, o percurso apresentava muitos obstáculos, corredeiras e águas pouco profundas, trechos em que os tripulantes desciam e caminhavam no rio ou, em situações mais críticas, carregavam o barco por terra até que novamente o curso fosse navegável. Definitivamente, a partir das monções o reconhecimento dos rios paulistas se deu através da navegação fluvial. Por questões físicas, as embarcações partiam do porto de Nossa Senhora Mãe dos Homens de Araritaguaba, atual Porto Feliz, e seguiam em direção à foz do Rio Tietê. Com o tempo, foram definidos os meses entre Março e Junho para as partidas, uma vez que esse período coincidia com as cheias e muitos dos obstáculos do rio ficavam encobertos. 4.3.
A FORMAÇÃO DA CIDADE E O USO DOS RIOS, CÓRREGOS E
CHAFARIZES.
Entre 1554 e 1875, a cidade foi tipicamente colonial, delimitada pelo rio
Disponível em: < http://ziegenhof-licoresdestilados.blogspot.com.br/2010/12/ as-moncoes-e-cachaca-artesanal-paulista.html>. Acesso em junho de 2017.
Tamanduateí e pelo córrego Anhangabaú, com pouca diferença entre o urbano e o rural. No final do século XIX, a cidade cresce, incorpora o rio, embeleza suas margens ao mesmo tempo que o aniquila do ponto de vista ambiental, social e cultural. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999) Em 1892 a vinculação da Comissão Geográfica e Geológica à Secretaria da Agricultura Comércio e Obras Públicas transformou a ótica de abordagem dos rios. Antes vistos como via de comunicação e um bem natural, os rios passaram a ser usados como recurso para a produção de energia. A mudança ocorreu no período de aparecimento da indústria paulista. Em 1860 o planalto já havia sofrido uma ascensão do algodão com o aparecimento da indústria têxtil para fabricação de tecidos grosseiros. A produção era usada para a vestimenta de escravos e trabalhadores,
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 39
e ensacamento dos produtos agrícolas para exportação. As fábricas se instalavam próximas aos rios para aproveitar a energia hidráulica
Figura 25: Chafariz em São Paulo.
obtida por meio dos moinhos. Aos engenhos centrais para a produção de açúcar também eram permitidos se apropriar do rio, de forma indireta para o uso industrial. E em 1880, as indústrias para exportação do café mudam radicalmente a paisagem paulista. A cidade de São Paulo se transforma na terra do café, importante centro comercial e financeiro. O café financiou as estradas de ferro do oeste paulista, provocando a disseminação do restante dos grupos indígenas ou os expulsando para ainda mais longe. Os rios eram utilizados ainda somente como pontos de referência geográfica e para geração de energia. As matas ciliares e várzeas sofreram agudos processos de desmatamento e erosão. A cidade de São Paulo foi a primeira do país a ser voltada mais aos seus rios do que ao mar. Portanto, o domínio do seu território, as atividades sociais e econômicas, o abastecimento para consumo e, inclusive os nomes de ruas e bairros estão relacionados diretamente com os córregos e rios urbanos. Os chafarizes do século XIX surgiram para abastecer de água pura a crescente população da cidade. Eram construções onde se serviam ricos e pobres, os escravos coletavam a água para os seus senhores e ali mesmo se serviam também. “Dos chafarizes às moradias, trabalhadores pobres e escravos marcavam o cotidiano da cidade com seus itinerários relacionados à coleta de água.” (SANT'ANNA, 2007, p.98) Os chafarizes transformaram-se em ícones de uma época, pois ali se viviam muitas cenas do cotidiano, o que demonstra o papel primordial da água em nossa vida. O Chafariz da Misericórdia, de 1792, foi um dos mais antigos e importantes construídos na cidade, era feito de pedra e possuía quatro torneiras de bronze, as suas águas provinham do córrego Anhangabaú.
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Disponível em: < http://www.novomilenio.inf.br/ santos/h0354d1.htm>. Acesso em out/2016.
Os chafarizes eram construídos em lugares que por vezes favoreciam os mais abastados, apesar de serem tidos como lugares hostis pelos mesmos, pois eram onde pobres e escravos se reuniam. A qualidade das águas dos chafarizes também acompanha o período de degradação ambiental e o crescimento urbano de São Paulo. O horário de uso dos chafarizes era restrito, entre as 05h e 21h ou 22h da noite, também havia sentinelas e guardas que os protegiam. As construções em geral não duravam muito tempo e tinham que ser refeitas constantemente. Isso gerava transtorno a todos que usufruíam daquele ponto para coleta de água. Segundo Sant anna (2007), alguns ’ lugares considerados como chafarizes não eram mais que uma bica d’água, entretanto, a sua importância para abastecimento é indiscutível e também marcavam geograficamente diversos pontos da cidade. Além dos rios da cidade abastecerem os chafarizes, eram usados
por pescadores e lavadeiras com fins de trabalho. Mulheres escravas,
Em 1924, foi realizada uma travessia a nado da cidade de São Paulo.
mamelucas ou imigrantes brancas, como profissão, lavavam roupas no
Infelizmente, em vez de lutar pelos rios, os clubes construíram suas
rio. Em consequência, sujavam e poluíam as águas que se serviam para
piscinas próprias e se desvincularam dos rios com o agravamento da
a lavagem de roupas. As lavadeiras também formavam a paisagem
poluição nas águas urbanas. A represa Guarapiranga e a Billings foram
daquela época, eram vistas nas bordas dos rios, com suas saias
áreas de lazer para a elite até os anos 60. O antigo clube Germânia é o
levantadas até o joelho e roupas molhadas, eram muito assediadas e
atual Esporte Clube Pinheiros e o antigo Palestra Itália, a atual Sociedade
também eram famosas as “brigas de lavadeiras , que ocorriam quando ” uma ocupava o posto da outra. Era uma atividade em que a regra era
Esportiva Palmeiras.
chegar cedo, pois as orlas enchiam-se de lavadeiras ao longo do dia.
Apesar de a maioria desses clubes ainda existirem, nenhum deles é vinculado atualmente à memória do Rio Tietê. Os clubes deram as
O ofício dos pescadores também descreve a paisagem da cidade,
costas para o rio, construindo grandes muros para contenção de
inclusive deu nome a bairros, como o bairro Pari, cujo nome é o mesmo
enchentes e livrando seus usuários da paisagem desagradável das
da técnica de pesca depredadora utilizada ao longo dos rios. A venda
vias expressas ao lado do rio poluído.
dos peixes acontecia em diversos pontos, alguns conhecidos eram as calçadas da Igreja do Carmo e o Mercado Velho, na antiga Rua de
4.4.
O CRESCIMENTO POPULACIONAL, A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Baixo, atual 25 de março.
E A POLÍTICA HIGIENISTA
No começo do século XX, tornou-se comum ver ao longo do Rio Tietê
O inchaço populacional devido aos imigrantes que chegaram
barqueiros retirando areia do fundo de vale para a construção dos
para trabalhar no café, entre 1850 e 1940, resultou no crescimento
edifícios da cidade, os trabalhadores eram na maioria imigrantes
desenfreado da cidade de São Paulo. A cidade se formou fragmentada
italianos e portugueses. Um dos prédios simbólicos da cidade, o
por vazios provocados primeiro pela geografia, com muitas áreas de
Edifício Martinelli, foi construído com a areia retirada do leito fluvial.
várzea, e depois pela especulação imobiliária, com grandes terrenos
As embarcações eram licenciadas e se dividiam entre de carga e de
sendo valorizados em áreas distantes.
recreio. Em1922, estavam registradas 458 embarcações, dentre as quais 309 de carga e 149 de recreio.
Fato é que o crescimento da cidade se deu sem o desenvolvimento de uma rede de esgotos e abastecimento de água, preocupação surgida
Ainda no início do século XX, instalaram-se às margens do Rio Tietê
somente a partir da metade do século XIX, quando a qualidade das
clubes para prática de natação e remo. No ano de 1905, surgiram os
águas da cidade começou a ser contestada.
Clube Espéria, Clube De Regatas São Paulo e Clube de Regatas Tietê. Em 1920, apareceu também o Sport Club Germânia, na Chácara Itaim.
A poluição da água decorria, entre outros, do uso intensivo das
Eram clubes que fomentavam as competições de natação e remo
águas para lavagem de roupas - o sabão e a sujeira derivados da
no rio, além disso, no mesmo período era muito comum o futebol de
atividade poluíam os rios - e do despejo de esgoto diretamente nos
várzea, cujas partidas eram conhecidas como “peladas , faziam parte ” das atividades de lazer e esporte de parte da população.
leitos fluviais. Mesmo após as proibições, ainda existia quem o fizesse clandestinamente, até porque a parcela pobre da população não
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 41
possuía acesso às latrinas legalizadas. A instalação da cidade próxima
No Brasil, a política higienista aplicada foi derivada das ações inglesas
aos rios jogava poluição de todos os tipos também nos fundos de vale,
e francesas. Em São Paulo, teve início a canalização de córregos e rios,
de esgoto industrial à sujeira das ruas.
além da difusão da cultura higienista, com o aparecimento de casas de banho e utensílios para higiene.
No século XIX, o crescimento urbano e a industrialização levaram também outras cidades ao colapso ambiental. É, ainda hoje, notório
Em 1886, o Código de Posturas definia uma série de regras com fins
as ações realizadas em Londres e Paris daquela época para controlar
de higienização, eliminando não somente os micróbios, mas também
o desenho urbano, com a higienização das cidades, livrando-as
os costumes sociais considerados repugnantes. Entre as proibições
de doenças e sujeiras causadas pelo próprio crescimento urbano
estavam o uso de vasilhas de ferro ou cobre não estanhados em
desordenado.
botequins e a recomendação da venda do leite em vasilhas de louça ou folha-de-flandres.
Na Inglaterra, os trabalhos sobre salubridade urbana ganharam importância com a atuação de Edwin Chadwick, jurista e autor do
Havia uma medida que proibia a nadar nu nos rios ou lugares públicos
relatório Sanitary Conditions of the Labouring Population, ele “atribuía as
que cercavam a cidade, entretanto, ainda assim “costumavam nadar
causas das doenças epidêmicas à insalubridade das moradias pobres
nos rios os moleques das escolas e muitos acadêmicos de direito que
e recomendava a canalização da água, assim como um sistema
cabulavam aulas para se banharem no Tamanduateí. E nadavam
de evacuação das águas servidas capaz de impedir infiltrações.”
nus, provocando protestos de toda a espécie.” (SECRETARIA DO MEIO
(SANT ANNA, 2007, p. 203) ’
AMBIENTE, 1999, p.53)
A partir de 1840, após a publicação de documentos parlamentares,
A problemática das proibições foi a subutilização do rio como espaço
iniciou-se na Inglaterra a instalação de uma rede de esgotos e a
de lazer. Aqueles que se atreviam, tornavam-se foragidos da lei,
expansão da água encanada. As condições de salubridade dos mais
consequentemente, o poder público desmotivou completamente o
pobres era associada à insalubridade e altas taxas de mortalidade.
uso dos rios pela população, acarretando na ausência de valor como
Entretanto, os engenheiros franceses suspeitavam da eficácia dos
patrimônio natural no espaço público até hoje.
encanamentos subterrâneos, alegando que poderiam ruir e causar infiltrações. Somente a partir de 1853, com a atuação de Haussman
Na continuação dos trabalhos de saneamento, em 1892, foi criada a
e Belgrand, tiveram início na França reformas higienistas. No ano de
Comissão de Saneamento do Estado, responsável pelos trabalhos de
1860, Belgrand “traçou as linhas mestras do saneamento parisiense
intervenção do escoamento das águas do Tietê. Tentava-se diminuir a
e começou seus trabalhos de repartição e distribuição das águas
quantidade de água retida nas várzeas, mas, além de vários estudos
segundo as zonas da cidade.” (SANT ANNA, 2007, p. 207) A Reforma de ’ Paris construiu grandes bulevares, jardins e parques, abrindo espaço
hidrológicos, essa comissão também realizou um projeto de retificação
para a iluminação e ventilação natural, mas também tinha o intuito
Anhangabaú. (SANT ANNA, 2007, p.244) ’
militar, construindo largas ruas por onde possíveis conflitos civis fossem melhor dominados.
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TFG 2017
desse rio, das canalizações de um trecho do Tamanduateí e do córrego
As áreas de várzeas também “eram vistas como terrenos impróprios
para empreendimentos imobiliários e até como áreas insalubres, onde
Figura 26: Enchente em São Paulo no Século XIX.
se depositava o lixo da cidade, que era espalhado com as enchentes". (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999, p. 102) Em 1914, o Rio Tamanduateí é canalizado e é saneada a sua várzea, atual Parque D. Pedro. O mesmo procedimento ocorreu com diversos rios e várzeas da cidade ao longo do século XX. 4.5.
GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E ABASTECIMENTO DE ÁGUA
A cidade de São Paulo cresceu sob o domínio de grandes companhias que edificavam obras públicas a partir de interesses privados. Foi o caso da empresa canadense Light & Power, pioneira na concessão por explorar do transporte público na cidade. O transporte realizado por bondes elétricos, gerou uma crescente demanda por energia, culminando na primeira usina hidrelétrica da empresa, a Usina de Parnaíba, em 1901, instalada no rio Tietê. Em 1907, para manter o nível da Barragem
Disponível em: <http://www.fsp.usp.br/site/paginas/mostrar/246>. Acesso em out/2016.
de Parnaíba, foi feito o represamento do rio
Guarapiranga,
afluente
do
Pinheiros:
a Light obteve concessão da represa de Guarapiranga e, para facilitar o próprio trabalho, estendeu os trilhos de bondes elétricos até Santo Amaro.(SANT'ANNA, 2007, p.245) Assim, a empresa estendia a cidade, marcando os vazios urbanos, aumentando as distâncias e fomentando a especulação imobiliária. A demanda por energia elétrica crescia de acordo com o ritmo do desenvolvimento da capital paulista. E, no começo do século XX, São Paulo já dava sinais da grande cidade que viria ser. Dessa forma, logo enfrentou severos períodos de corte de energia devido à épocas de estiagem, obrigando a necessidade de novas usinas.
A Usina de Rasgão foi construída próxima ao município de Cabreúva, em 1925. Entretanto, concomitantemente à construção, outros estudos estavam em desenvolvimento. Um dos projetos levados adiante foi o [...] do represamento e reversão do rio Grande, um dos formadores do Pinheiros, em direção ao rio das Pedras, que tem vertente oceânica. Unidos por duas estações elevatórias da Billings para o rio das Pedras, localizado 30 metros acima, provocavam uma queda de 715 metros pelo paredão da serra, indo abastecer a Usina de Cubatão.” (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999, p.133) Portanto, das obras de infraestrutura para geração de energia elétrica derivaram as duas represas principais da metrópole atual, a Guarapiranga e a Billings. Ambas utilizadas durante algum tempo
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 43
também para abastecimento, entretanto, hoje têm a qualidade de suas
Em 1934, através do Decreto Federal 24,643 de 10/3/34, foi criado
águas completamente comprometida, devido à ocupação irregular em
o Código de Águas, legislação específica para disciplinar o uso das
suas margens e o despejo ilegal de lixo.
águas, demonstrando pela primeira vez a preocupação no sentido de recurso econômico e energético. A água havia se transformado
Enquanto a cidade crescia e após a extinção dos chafarizes de rua,
também em mercadoria.
aumentava também a demanda por água potável e encanada para a população. A primeira adutora a servir água para São Paulo, a da
Em 1946, foi realizado o primeiro Plano de Abastecimento de Águas de
Cantareira, pertencia à
São Paulo. Entretanto, as águas dos rios e represas dentro da cidade já estavam comprometidas com a poluição devido ao uso para a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos,
geração de energia. Finalmente, em 1981, foi concluída a construção
era uma empresa privada, fundada em 1878
da Estação Serra da Cantareira, responsável pelo abastecimento de
por empresários brasileiros, que contrataram
grande parte da metrópole até hoje.
engenheiros ingleses para desenvolver o projeto, visando resolver o problema de
4.6.
PROGRAMAS DE DESPOLUIÇÃO DAS ÁGUAS URBANAS
abastecimento de água, já difícil durante o século XIX.(SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE,
Com o agravamento da poluição, surgiram ações e projetos de
1999, p. 118)
despoluição das águas urbanas.
Logo, tornou-se necessário anexar outra adutora, a do Ipiranga, às
Figura 27: Rio Tietê e propaganda da SABESP.
águas da companhia. A cidade foi abastecida somente pelo Cantareira e o Ipiranga até 1903, quando uma forte estiagem forçou, mais uma vez, a reorganização do abastecimento de água. “O governo recorreu ao engenheiro Francisco Saturnino R. de Brito, o primeiro grande sanitarista brasileiro, para estudar o problema da água na cidade.” (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1999, p.119) Saturnino já previa o reforço do suprimento de água com as possíveis fontes de Cotia, Rio Claro e as águas profundas da várzea do Rio Tietê. O sanitarista defendia a última captação como mais fácil e barata, entretanto, sua sugestão não foi aceita, pois naquela época a população não confiava nos tratamentos de purificação da água, e a maioria dos médicos, sanitaristas e engenheiros preferiam a captação de águas em regiões protegidas, distantes do meio urbano.
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TFG 2017
Disponível em: < http://www.ocafezinho.com/2015/08/03/sabesp-despeja-esgoto-no-tiete/>. Acesso em junho de 2017.
Projeto Tietê, 1992
O programa funcionava com a SABESP responsável por obras de
O Projeto Tietê, do Governo Estadual de São Paulo junto à SABESP, está
prolongamento de redes, coletores e interceptores de água e esgoto,
em andamento desde 1992. O objetivo é a despoluição do Rio Tietê,
enquanto a prefeitura era encarregada da remoção e reassentamento
com a construção de estações de tratamento de esgoto e ampliação
das famílias que viviam em área de risco, implantação de parques
das tubulações.
lineares e fiscalização das ligações de esgoto. O objetivo foi a
O projeto foi dividido em 4 etapas. A primeira e a segunda etapas,
despoluição total de 100 córregos da cidade de São Paulo, distribuídos
finalizadas, previam a estruturação e consolidação do sistema principal
nas zonas Norte, Sul, Leste e Centro-Oeste.
de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo. A terceira etapa,
Fonte: SABESP
em andamento, prevê a complementação do sistema principal e ampliação dos sistemas isolados de esgotos. E, a quarta e última etapa,
Entre 2007 e 2012, o programa Córrego Limpo alcançou com êxito os
iniciada, prevê a universalização da coleta e tratamento de esgotos da
seus objetivos em muitos dos córregos em que atuou. Há exemplos
Região Metropolitana de São Paulo.
notáveis de recuperação das águas e instalação da coleta de esgoto.
O programa diminuiu em 160km a extensão da macha de poluição entre
Entretanto, em 2013 o programa não foi renovado pela prefeitura de São
1992 e 2010 no rio Tietê. Entretanto, nos últimos anos o programa vem
Paulo. Em diversos materiais produzidos pela SABESP, encontramos os
sofrendo uma diminuição dos investimentos, o que tem prejudicado e
resultados do programa Córrego Limpo, assim como em reportagens
desacelerado as obras.
de grandes e pequenas mídias.
Programa Mananciais, 1994
Figura 28: Resultado do programa Córrego Limpo no Córrego do Arboreto.
O entorno das represas Billings e Guarapiranga sofre com ocupações irregulares. O programa, criado em 1994, tem como objetivo conservar a qualidade das águas dos reservatórios Billings e Guarapiranga, através da implantação de redes de água e coleta de esgoto, coleta de lixo, reassentamento das famílias que vivem em área de risco, construção de unidades habitacionais, acompanhamento social junto à população moradora local, educação ambiental e regularização fundiária, mediante aprovação das Leis Específicas de Proteção e Recuperação dos Mananciais Guarapiranga e Billings, entre outras ações. (SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO DE SÃO PAULO, 2016) Programa Córrego Limpo (2007-2012) O programa Córrego Limpo foi uma parceria entre o Governo Estadual de São Paulo, o Governo Municipal de São Paulo e a SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
Disponível em: <http://decadencia-humana.blogspot.com.br/2008/11/crrego-no-horto-despoluido.html>. Acesso em out/2016.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 45
Capítulo 5 Bacia hidrográfica Alto Tietê
O trabalho final tem como objetivo propor uma intervenção em um recorte na paisagem fluvial da cidade de São Paulo. O capítulo seguinte se destina a apresentar o cenário escolhido para a finalização do estudo. 5.1.
pouco distinta. Em 1991, com a Lei Paulista das Águas e a criação do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH), promoveu-se
BACIA HIDROGRÁFICA ALTO TIETÊ
à um fundo de vale em comum é identificado como uma bacia hidrográfica. O território é composto por diversas nascentes, córregos e rios. E, portanto, é possível identificar diferentes escalas de bacias hidrográficas, constituindo bacias e sub-bacias ou microbacias. A cidade de São Paulo é localizada na bacia hidrográfica do Alto Tietê, o rio Tietê nasce na cidade de Salesópolis. A bacia hidrográfica Alto Tiete é composta por seis sub-bacias: Juqueri-Cantareira, Alto TietêCabeceira, Cotia-Guarulhos, Billings-Tamanduatei, Pinheiros-Pirapora e Penha-Pinheiros. Para trabalhar a questão da água doce no Brasil, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos aprovou uma deliberação que divide as grandes bacias do país em regiões hidrográficas, de acordo com as características e as dinâmicas dos principais rios. A bacia do Rio Tietê é uma unidade hidrográfica da Bacia do Rio Paraná, composta por seis regiões hidrográficas ou sub-bacias: Alto Tietê, Piracicaba/Jundiaí; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/ Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê. (RIBEIRO, 2004, p.35) TFG 2017
o
gerenciamento
descentralizado,
participativo
e
integrado dos recursos hídricos através dos comitês. O primeiro a ser criado foi o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT). “O CBH-AT é um órgão colegiado vinculado ao estado de São Paulo, de caráter consultivo e deliberativo, de nível regional e estratégico.” (SIGRH, 2016) A partir de 1997, foram criados seus cinco sub-comitês: Alto TietêCabeceiras;
O conjunto de córregos e rios de uma determinada área que escoam
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Entretanto, o gerenciamento da bacia Alto Tietê adota uma divisão um
Cotia-Guarapiranga;
Juqueri-Cantareira;
Billings-
Tamanduateí; Pinheiros-Pirapora. Fonte: SigRH O rio Tietê nasce na Serra do Mar e toma o sentido inverso, adentrando o território até desaguar no Rio Paraná. O rio corta geograficamente o estado inteiro de São Paulo, de leste a oeste, completando 1.136km da nascente até sua foz. O rio percorre, após a canalização, cerca de 22km dentro da capital, cortando-a também de leste a oeste. Dentro do município nascem e banham o Alto Tietê aproximadamente 300 córregos e rios. No seu curso original havia muitas curvas e meandros, uma característica de rios de planície. Percorria o atual perímetro municipal através de 46km de extensão, com águas limpas e calmas. Entretanto, a sua área de várzea era bastante extensa, especialmente em épocas de cheias. No começo do século XX, os rios de São Paulo já sofriam as ameaças do crescimento urbano. Então, em 1924, o sanitarista Saturnino de Brito propôs um projeto de melhoramento do rio Tietê, com sua retificação e áreas de alagamento previstas para as épocas de cheias, entretanto, seu projeto não foi realizado na época. Em 1930, o crescimento urbano foi incentivado pela indústria do café e
Figura 29: Bacia hidrográfica Alto Tietê.
Fonte: SigRH
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 47
chegada dos imigrantes em São Paulo. O prefeito Prestes Maia adaptou
Figura 30: Projeto de Saturnino de Brito para o rio Tietê.
um projeto de sua autoria, o Plano de Avenidas à proposta de Saturnino de Brito, iniciando a retificação do rio Tietê. O Plano de Avenidas, como o nome sugere, priorizava a mobilidade por automóveis na cidade e, catastroficamente, definiu os fundos de vale como traçado de ruas e avenidas. Atualmente, as marginais do rio Tietê compõem as mais importantes vias da cidade, pois permite a travessia e conexão entre diferentes pontos e, a não ser em horários de pico, possibilita um trânsito muito rápido e eficiente. Entretanto, o preço que se paga por priorizar o transporte individual é muito alto. Além da paisagem comprometida com linhas de asfalto, o ar é poluído com altas taxas de emissões de CO² e outros gases tóxicos. A pouca terra que sobra entre os vazios urbanos é invadida por lixo e dejetos. E, os córregos e rios encontramse contaminados. A grande metrópole é altamente urbanizada, pelas marginais Tietê e Pinheiros, entre tantas outras avenidas que são importantes na locomoção urbana, trafegam carros, diversos tipos de caminhões, ônibus e motocicletas. O espaço para o pedestre e o ciclista é mínimo e em condições muito vulneráveis à acidentes e atropelamentos. Ao longo da marginal Tietê, não há linhas de metrô ou trem, somente as que passam perpendilularmente. Portanto, é uma via que serve exclusivamente o transporte motorizado e, em sua maioria, de veículos particulares. O rio exala um odor muito forte e desagradável, o que por si já afasta qualquer tentativa de interação. Por consequência, não há comunicação entre o pedestre e a paisagem fluvial. As águas urbanas correm no centro da cidade como esgotos a céu aberto - o maior da América Latina - e nada mais.
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Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0020-38742016000300 096&script=sci_arttext>. Acesso em junho de 2017.
Foi realizada uma visita de campo sobre uma das pontes do rio Tietê a fim de registrar o estado atual da paisagem. Além disso, também é apresentado o registro das sensações da visita, que acompanham a maior parte dos rios urbanos paulistanos. As margens do rio Tietê estão completamente cimentadas e a vegetação cresce através de estreitas brechas. O mau cheiro é muito forte e a sujeira explode na água, como se processos constantes de decomposição ocorressem submergidos em um grande esgoto descoberto. A sensação é de insegurança ao atravessar uma ponte da marginal, pois onde se puser os olhos não se avista vida, os carros atravessam em alta velocidade por todas as direções e o espaço destinado ao pedestre é residual e não atrativo ao passeio.
Figura 31:Vista do rio Tietê sobre a ponte Cruzeiro do Sul.
Figura 32: Caminho para pedestre na ponte Cruzeiro do Sul.
Fonte: Autoria própria durante visita de campo em 25/09/2016.
Fonte: Autoria própria durante visita de campo em 25/09/2016.
Figura 33: Vista sentido oeste sobre a Ponte Cruzeiro do Sul.
Figura 34: Vista de acesso viário sobre a ponte Cruzeiro do Sul.
Fonte: Autoria própria durante visita de campo em 25/09/2016.
Fonte: Autoria própria durante visita de campo em 25/09/2016. CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 49
50
TFG 2017
5.2. BACIA HIDROGRÁFICA CABUÇU DE BAIXO
extraído do Google Maps, mostra uma grande área verde que é a Serra da Cantareira, composta ainda por bioma da mata atlântica original.
Os diversos córregos que desaguam no rio Tietê possuem também seus próprios afluentes e formam pequenas bacias hidrográficas, revelando
O Rodoanel é, como o nome sugere, um anel viário que bordeia toda
a riqueza hídrica que existe no município de São Paulo.
a região metropolitana de São Paulo. O último trecho a ser construído é o que se encontra na Zona Norte. As obras já foram iniciadas e pela
A bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo acolhe as águas do córrego
fotografia é possível enxergar exatamente o traçado viário, onde estão
homônimo, o qual é um afluente do rio Tietê. A bacia localiza-se ao
sendo realizadas diversas escavações, implosões de rochas para a
extremo norte da cidade e tem como particularidade abrigar três
construção dos túneis e, desmatamento para que toda essa área seja
situações muito diversas de ocupação territorial.
ocupada por uma via elevada.
A primeira situação, ao extremo norte, abriga a Serra da Cantareira, área
Em São Paulo, adotou-se a construção de “piscinões" para a retenção
de preservação ambiental e extremamente importante para a cidade
das águas pluviais e prevenção de enchentes. Ao final do córrego
e a conservação da mata atlântica no país. É da serra que nascem e
Guaraú, na bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo, há um desses
escorrem as águas dos principais afluentes do Cabuçu de Baixo.
piscinões. Inclusive, um piscinão que ocupa uma área bastante grande, se comparado a outros na cidade. Os piscinões, quando estão vazios,
Em direção ao centro da bacia hidrográfica, os limites do município
não são mais do que depósitos de lixo e lugares inóspitos, prejudicando
edificado são ocupados por construções irregulares, muitas em área
a paisagem e subutilizando um espaço que poderia abrigar atividades
de risco por estarem justamente em solos de várzea. Além disso, a
ao ar livre, com o devido planejamento da área.
ocupação dessas áreas representa um sério risco de desmatamento da Serra da Cantareira, provocando degradação ambiental e perda
O Horto Florestal é um parque urbano de grande importância local.
irreversível de patrimônio natural. E, ainda, ao sul, a ocupação densa por
É o parque mais utilizado dessa região para lazer e esportes, além
construções consolidadas e a foz com o rio Tietê em uma paisagem
de abrigar centros educacionais de biologia e botânica. Possui uma
dominada pela rede viária, comércio e indústrias.
reserva florestal bem conservada e também abriga a famosa “Casa do
A bacia está inserida na área das sub-prefeituras Freguesia do Ó-Brasilândia,
Casa
Verde-Cachoeirinha
e
Santana-Tucuruvi.
Governador , de importância arquitetônica. ”
É
O cemitério da Vila Nova Cachoeirinha ocupa uma área de 350 mil
interessante destacar que as sub-prefeituras são responsáveis, além de
metros quadrados, é o segundo maior cemitério da cidade. Entretanto,
outras atribuições, pela rede de drenagem, limpeza urbana e vigilância
encontra-se com péssimo estado de conservação, tem o seu entorno
sanitária, serviços ligados diretamente às condições do meio ambiente.
como área muito perigosa, com um alto índice de assaltos. O cemitério necessita de uma manutenção constante, pois pode ser fonte de
Ao observar o Mapa 1, são encontrados alguns marcos territoriais
contaminação do lençol freático a partir do “necrochorume", o resíduo
dentro da bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo. A fotografia por satélite,
da decomposição de cadáveres.
Figura 35. Adaptado do Google Maps.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 51
MAPA 1 RECONHECIMENTO DO TERRITÃ&#x201C;RIO
Figura 36: Mapa 1. Fonte: Adaptado do Google Maps.
52
TFG 2017
Por fim, a Avenida Inajar de Souza se encontra sobre o córrego canalizado Cabuçu de Baixo. É uma importante avenida da região, pois faz a conexão dos bairros Brasilândia e Cachoeirinha com os bairros Casa Verde e Freguesia do Ó. Além disso, esse córrego desemboca na Ponte Freguesia do Ó que é um dos pontos de ligação entre a Zona
MAPA 2 SUB-BACIAS DA BACIA HIDROGRÁFICA CABUÇU DE BAIXO
Norte e a Zona Oeste, na região da Água Branca e da Barra Funda. Reconhecer o território a partir desses marcos é importante para que seja realizada a conexão entre as atividades exercidas nessa região. É uma região muito pobre e desvalorizada, mas com muita riqueza ambiental e que demanda, urgentemente, cuidados de conservação. A bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo, é banhada por diversos córregos divididos em cinco sub-bacias. Cada sub-bacia possui um córrego principal que deságua no riacho Cabuçu de Baixo, afluente direto do rio Tietê. São as sub-bacias formadas pelos córregos Bananal, Itaguaçu, Bispo, Guaraú e o próprio Cabuçu de Baixo, conforme o Mapa 2. O maior desafio da expansão territorial nas periferias da cidade é a contenção do desmatamento para ocupação irregular. No caso estudado, a Serra da Cantareira é um parque com mata atlântica nativa que deve ser conservado como patrimônio natural. Além disso, é regulador de todo o clima da cidade e da sua hidrografia, uma vez que muitos dos córregos que drenam toda a parte norte da cidade nascem justamente na serra. As matas ciliares não possuem valor de mercado, pois são protegidas por lei e tornam-se terrenos residuais de grande proveito para a ocupação irregular pela população excluída do acesso à habitação formal. Entretanto, a prática é devastadora ao meio ambiente e os custos são altos. O despejo de lixo e esgoto não-tratado diretamente sobre os corpos d’água rapidamente os transformam em esgotos a céu aberto.
Figura 37: Mapa 2. Disponível em: <http://sites.poli.usp.br/phd/cabucu/mapas/bacia.h>. Acesso em junho de 2017.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 53
MAPA 3 ZONEAMENTO - LEI 16.402/16
Na bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo temos somado as duas práticas danosas que devem ser contidas: a poluição dos fundos de vale e o desmatamento de mata nativa. O córrego Cabuçu de Baixo apresenta grande trecho canalizado e corre abaixo da Avenida Inajar de Souza. É uma região carente de parques e equipamentos públicos, um parque linear cumpriria a função socioambiental que os bairros do entorno necessitam. . A cidade apresenta um parcelamento do solo conforme determinado em seu Plano Diretor Estratégico (PDE). O PDE vigente em São Paulo consta da Lei Nº 16.402/16, aprovada pelo prefeito Fernando Haddad. O Mapa 3 foi elaborado com a sobreposição do PDE vigente na bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo, apresentando abaixo as classificações que predominam no território em estudo. ZEP – Zonas Especiais de Preservação. A zona coincide com o Parque Estadual da Serra da Cantareira, de interesse regional de preservação ambiental. ZEPAM – Zonas Especiais de Proteção Ambiental. A zona coincide com os parques a serem implantados para contenção do desmatamento da Serra da Cantareira, além da proteção dos córregos Bananal e Bispo. ZEIS-1 – Zona de Interesse Social 1. Segundo a lei, a ZEIS-1 inclui assentamentos precários e informais que precisam sofrer urbanização e regularização fundiária. Conforme o Mapa 3, observa-se que a ZEIS-1 aparece em grande parte do território da bacia hidrográfica e coincide com as áreas de risco, ocupação por favelas e a presença da população com maior índice de vulnerabilidade. O trecho do córrego Guaraú a ser estudado por esse trabalho, está quase em sua totalidade
Figura 38: Mapa 3. Fonte: Adaptado do Mapa Digital da Cidade
54
TFG 2017
na ZEIS-1.
ZM – Zona Mista. A zona coincide com a área mais edificada e a população com menor índice de vulnerabilidade da bacia hidrográfica. ZMa – Zona Mista Ambiental. A zona coincide com o entorno do córrego Guaraú.
MAPA 4 ÁREAS VERDES EXISTENTES E PROPOSTAS
ZEU – Zonas de Eixo da Transformação Urbana. A zona coincide com o trecho inicial da Av. Inajar de Souza, onde o córrego Cabuçu de Baixo ainda é visível, apesar de canalizado. ZEM - Zonas de Eixo da Transformação Metropolitana. A zona acompanha o maior trecho da Av. Inajar de Souza, área que atualmente está bastante urbanizada e edificada. O córrego Cabuçu de Baixo segue canalizado sob a avenida nesse trecho até a foz do rio Tietê. Segundo a Lei Nº 16.402/16, ZEU e ZEM são territórios de transformação, destinados a promover o adensamento construtivo, populacional, atividades econômicas e serviços públicos. Com a qualificação paisagística de espaços públicos será adequada a oferta de transporte público coletivo em escalas, respectivamente, urbana e metropolitana. Ao lado, o mapa 4 apresenta a distribuição de parques estaduais e municipais. Os parques estaduais são o Parque Estadual da Cantareira e o Parque Estadual Alberto Löfgren, conhecido como Horto Florestal. E, os parque municipais, estão divididos em existentes, implantados e em planejamento. Além disso, coincidem com as áreas definidas como ZEPAM no Plano Diretor Estratégico. Os parques municipais, que estariam em implantação, correspondem ao Parque Linear do Córrego do Bananal/Canivete Fase 2, Parque Linear do Córrego Bananal/Itaguçu e Parque Linear do Córrego Bispo. Entre os parques em planejamento aparecem o Parque Linear do Córrego Bananal e o Parque Brasilândia. O único parque municipal existente que aparece é o Parque Linear do Córrego do Bananal/Canivete Fase 1.
Figura 39: Mapa 4. Fonte: Adaptado do Mapa Digital da Cidade
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 55
MAPA 5 OCUPAÇÃO DE FAVELAS
Figura 40: Mapa 5. Fonte: Adaptado do Mapa Digital da Cidade
56
TFG 2017
MAPA 6 ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO
Figura 41: Mapa 6. Fonte: Adaptado do Mapa Digital da Cidade
Portanto, percebe-se uma preocupação com a conservação ambiental dessas áreas que são muito importantes para a contenção do desmatamento e da poluição fluvial nos córregos que ali percorrem. Entretanto, a realidade é que os projetos até agora não saíram do papel, segundo entrevistas, reportagens locais e a minha própria vivência no
MAPA 7 POPULAÇÃO EM VUNERABILIDADE SOCIAL
bairro. A dificuldade de implantação desses parques se deve justamente à ocupação irregular que ali ocorre. O projeto ambiental deve estar atrelado à um programa habitacional de realocação dessa população que vive, não somente em áreas de proteção ambiental, mas também em áreas de risco e em habitações precárias. O mapa 5, apresenta uma concentração de favelas em uma área ambientalmente muito frágil. É o limite do perímetro urbano e o encontro com o Parque Estadual da Cantareira. Especialmente os córregos Bananal, Bispo e Guaraú sofrem uma ocupação por favelas muito densa em suas margens. É uma condição de habitação precária que se repete por todas as periferias da cidade. O mapa 6, apresenta as áreas de risco da bacia hidrográfica. São áreas que podem sofrer solapamento e deslizamento de solo em diferentes níveis de risco, do baixo ao muito alto. As áreas de risco coincidem com a ocupação por favelas nos fundos de vale. O córrego Guaraú, no trecho estudado, tem sua várzea considerada área de risco em níveis alto e muito alto. Finalmente, no mapa 7 observa-se a distribuição populacional segundo os níveis de vulnerabilidade social. E, mais uma vez, a área em estudo, que pertence à Zona Especial de Proteção Ambiental, além de estar ocupada por favelas e possuir muitas áreas de risco, também é a área que abriga a parte da população com maior vulnerabilidade social.
Figura 42: Mapa 7. Fonte: Adaptado do Mapa Digital da Cidade
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 57
5.3. LEVANTAMENTO DO ENTORNO No mapa 8, observa-se a rede de córregos que nascem e se conectam aos afluentes do córrego Cabuçu de Baixo, este último desembocará
MAPA 8 HIDROGRAFIA E ENTORNO
na foz com o rio Tietê. O córrego escolhido para a intervenção é o Guaraú, no mapa ao lado o trecho está destacado e será analisado em conjunto com o seu entorno. O levantamento de dados buscou compreender a área que atinge aproximadamente 2,5 km de distância do centro da área de intervenção projetual. O objetivo foi detectar as potencialidades e carências da área, oferecendo o suporte necessário para avançar com as decisões de projeto.
Figura 43: Hidrografia da Bacia Hidrográfica Cabuçu de Baixo. Adaptado do Mapa Digital da Cidade.
58
TFG 2017
AMPLIAÇÃO 1 CÓRREGOS PRINCIPAIS
Figura 44: Ampliação 1. Fonte: Autoria Própria.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 59
AMPLIAÇÃO 2 MACROÁREAS DO PLANO DIRETOR
Figura 45: Ampliação 2. Fonte: Autoria Própria.
60
TFG 2017
AMPLIAÇÃO 3 ZONEAMENTO
Figura 46: Ampliação 3. Fonte: Autoria Própria.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 61
AMPLIAÇÃO 4 SISTEMA VIÁRIO
Figura 47: Ampliação 4. Fonte: Autoria Própria.
62
TFG 2017
AMPLIAÇÃO 5 EQUIPAMENTOS DE SERVIÇO E LAZER
Figura 48: Ampliação 5. Fonte: Autoria Própria. CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 63
AMPLIAÇÃO 6 PARQUES E ÁREAS VERDES
Figura 49: Ampliação 6. Fonte: Autoria Própria.
64
TFG 2017
5.4.
CÓRREGO GUARAÚ
Distrito Cachoeirinha
O córrego Guaraú é um afluente do córrego Cabuçu de Baixo. Nasce
Localizado no extremo norte da cidade de São Paulo, o Distrito
na Serra da Cantareira e banha os bairros do Jardim Antártica, Jardim
Cachoeirinha abriga os bairros da Vila Nova Cachoeirinha, Jardim
Peri, Jardim Santa Cruz e Jardim Cecy, até a sua foz, local em que se
Antártica e Jardim Peri, entre outros. Em 1933, surgiu o bairro da Vila
encontra o Piscinão Guaraú.
Nova Cachoeirinha, o nome foi devido à existência de uma cachoeira na região, além de diversas fontes naturais, um riacho e lagos.
Nos bairros Jardim Antártica e Jardim Peri, as suas margens e inclusive o seu leito fluvial, encontram-se ocupados por favelas. Conforme as
A cachoeira foi soterrada para dar lugar à Avenida Inajar de Souza,
figuras 53, 54 e 56.(Pág. 69 e 70), percebe-se a descarga de esgoto
assim como as fontes e lagos foram secos para dar lugar à edificações.
diretamente no corpo d’água e habitações precárias.
O córrego Cabuçu de Baixo também foi canalizado para dar espaço à expansão da mesma avenida.
À medida que avançou no território, o córrego sofreu um processo de canalização e urbanização das suas margens para dar lugar a um
Favela Eucaliptos/Jardim do Flamingo
estacionamento e a uma via de veículos automotores. Não houve a implantação de um parque linear ou sequer de algum equipamento
Em 1970, com a construção da ETA Guaraú, os trabalhodores da obra
de lazer. O córrego segue canalizado e sob o sistema viário do final do
instalaram seus alojamentos em locais próximos, os quais foram
bairro Jardim Peri até o Piscinão Guaraú.
gradualmente se transformando em favelas. A favela do Eucaliptos situa-se às margens do córrego do Guaraú, e o seu nome é devido às
A favela instalada nas margens do córrego sofreu diversos processos
árvores de eucalipto que existiam no local.
de remoção ao longo dos anos. Entretanto, a comunidade volta a se instalar na área. De fato, essa dinâmica se dá pela falta de um
Em 2010, viviam aproximadamente 2.636 pessoas em 686 domicílios.
projeto de ocupação das suas margens acompanhando a remoção
A favela encontra-se em área de baixo, médio e alto risco. (IBGE, 2010)
da população. A área é de difícil acesso, pois trata-se de uma comunidade irregular É importante salientar que a comunidade instalada ao longo do
adensada, com pontos de narcotráfico e consumo de drogas ilícitas.
córrego situa-se em uma área de alto risco, pois o terreno sofre
Portanto, foi realizado o levantamento do entorno imediato através do
constantes inundações que podem causar deslizamentos. Além disso,
Google Maps, pelo risco iminente do porte de uma câmera fotográfica
a ocupação irregular não oferece a infraestrutura urbana adequada,
e perigo sugerido do olhar investigador de uma pessoa estranha ao
como o acesso ao saneamento básico, colocando essas pessoas em
ambiente.
contato com diversos agentes contaminadores e nocivos à saúde. O projeto vem a responder as questões acima levantadas, para que
Apesar de se tratar de uma favela, pelo levantamento executado
todos os envolvidos com esse lugar tenham sua qualidade de vida
foram observadas construções consolidadas de alvenaria.
melhorada.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 65
LEVANTAMENTO ENTORNO IMEDIATO 1
1
1
2
2
2
3
9
2
8
3
4 5
7
6
Figura 50: Córrego Guaraú. Fonte: Google Maps. Acesso em set/2016. 66
TFG 2017
3
3
6
6
4
4
7
8
5
5
8
9
Figura 51: Montagem do entorno imediato. Fonte: Imagens do Google Street View. Acesso em set/2016.
CAMINHOS AZUIS PARA SĂ&#x192;O PAULO 67
5.5.
PESQUISA QUALITATIVA
Os entrevistados lembram que o córrego era menos poluído
No dia 29 de novembro de 2016, foram realizadas duas entrevistas com
antigamente, quando era possível a prática de natação e remo.
dois funcionários do Centro da Juventude instalado na Comunidade
Os morros no entorno continham bastante vegetação e eram
Jardim Flamingo, como é conhecida hoje a favela do Eucalipto. A
escalonados para contenção da velocidade da água da chuva.
pesquisa teve o intuito de conhecer melhor a população residente da
Na opinião dos moradores, a área deve ser arrumada, o córrego
favela e sua relação com o córrego Guaraú.
canalizado e as pessoas devem ter direito à habitação social, assim como realizado em outros parques lineares. E, ainda afirmam, que
O córrego Guaraú é conhecido como “riozinho” ou como “rio”, mas não
para muitos falta informação para defender o córrego, pois por
tem mais forma de rio e para os moradores significa o perigo de queda
enquanto ainda lutam para ter o básico.
na água. Na época de chuvas, o rio enche, inundando casas, trazendo perdas materiais, mas também acidentes com as pessoas e tragédias,
5.6.
REGISTRO FOTOGRÁFICO
muitas vezes, fatais. Os moradores preocupam-se muito em cuidar um
O registro fotográfico da comunidade foi realizado no dia da visita
do outro em dias de chuva forte.
e através da coleta de imagens em sites de conteúdo do bairro. Na visita à comunidade, fui recebida e acompanhada por Flávio
Na entrevista, foi informado que a Sabesp às vezes abre as comportas
Casimiro, funcionário do Centro da Juventude instalado dentro da
da ETA Guaraú, aumentando a vazão do rio e provocando os mesmos
comunidade.
desastres de uma enchente. Os entrevistados relataram que a empresa avisa com antecedência sobre o procedimento, mas de nada adianta, pois as perdas materiais acontecem da mesma maneira.
Figura 52: Leito do Córrego Guaraú.
Parte da população já sofreu remoção, alguns voltaram para a Comunidade do Jardim Flamingo, por falta de adaptação e, porque nada foi feito em relação à área liberada, as áreas livres sempre voltam a ser ocupadas. Há algumas quadras esportivas para uso comunitário, mas são escassas e, a mais importante delas é alugada aos sábados para terceiros. Os equipamentos de lazer público da cidade, como os CEUs e Fábricas de Cultura são distantes, há somente o Horto Florestal, que fica muito próximo, que é utilizado. As atividades culturais são ainda mais escassas e realizadas pontualmente por coletivos e ações diversas. A comunidade tem forte conexão com o Hip Hop.
68
TFG 2017
Fonte: Jornal Gazeta da Zona Norte.
Figura 53: Leito do Córrego Guaraú com moradias precárias e despejo de esgoto irregular.
Figura 54: Ponte improvisada sobre o leito do Córrego Guaraú.
Fonte: Flávio Casimiro. Nov/2016.
Fonte: Flávio Casimiro. Nov/2016. CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 69
70
Figura 55: Passagem entre o muro que delimita Condomínio Pedra Branca e a comunidade.
Figura 56: Leito do Córrego Guaraú com moradias precárias sobre palafita e despejo de esgoto irregular.
Fotos: Flávio Casimiro. Nov/2016.
Fotos: Flávio Casimiro. Nov/2016.
TFG 2017
Figura 57: Leito do Córrego Guaraú.
Fonte: Facebook Galeria Jardim Pery Zona Norte.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 71
Capítulo 6 Parque Linear Guaraú
muitas vezes o caminho até o centro-oeste de São Paulo. Tenho proximidade física e pessoal com essa área. Durante a minha infância, ouvi vários relatos sobre o crescimento do bairro e entre muitos, alguns são pertinentes ao meu estudo atual. Meu pai e meus tios aprenderam a nadar e se banhavam nos afluentes do córrego
6.1. DIRETRIZES DE PROJETO
Cabuçu de Baixo. Embora seja impensável essa prática atualmente,
O projeto de recuperação do ambiente urbano a partir da paisagem
pertenceu, atraíram os meus olhares aos córregos do bairro para o
fluvial envolve um complexo trabalho multidisciplinar. É necessário proporcionar moradia digna e segura à população em vulnerabilidade que ocupa os fundos de vale por falta de alternativas. Também é necessário que os parques para proteção da fauna e flora local sejam efetivamente implantados. E, sejam implantadas também, a
a curiosidade e a vontade de retornar a um tempo que nunca me desenvolvimento do meu trabalho final. Após o levantamento de dados, concluiu-se que o projeto a ser desenvolvido na área seria de um parque linear com a reconstrução do percurso fluvial. Foram desenvolvidos diversos desenhos de estudo até
infraestrutura de coleta e tratamento de esgoto universalizada.
que fosse decidido o programa final.
Ao pensar na escala de cada bacia hidrográfica o projeto se torna
Inicialmente, o projeto propunha a construção de Habitação de
viável. Pois, realocando a população que habita os fundos de vale, criando parques lineares para proteção dos cursos d’água e para que se tornem espaços livres de lazer para essa mesma população, além de suprir a demanda total por água e coleta de esgoto em cada bacia hidrográfica, resultará em córregos limpos e nascentes protegidas, que por sua vez desaguarão em afluentes diretos do rio Tietê. Essa rede de córregos limpos e nascentes protegidas é um pensamento sistêmico para a despoluição futura do rio Tietê. Portanto, é um trabalho extenso, em grande escala e em longo prazo, entretanto, possível. E o objetivo do presente trabalho é identificar as potencialidades e estratégias a serem adotadas no projeto urbano e paisagístico dos
72
do Cabuçu de Baixo, ao longo da avenida Inajar de Souza, que percorro
Interesse Social na área do Parque Linear. Entretanto, após orientações e pesquisas, chegou-se à conclusão que esse tipo de projeto repetiria a lógica existente, que não é benéfica ao curso fluvial em si, pois repete a exclusão do meio ambiente em favorecimento ao adensamento urbano. Portanto, a partir de reflexões e estudos, foram definidas as seguintes diretrizes projetuais: •
Remoção de favelas em área de risco
•
Realocação da população em Habitação de Interesse Social
em áreas de ZEIS-2
fundos de vale para que, enfim, o sonho se torne realidade.
•
O bairro em que cresci bordeia o córrego do Guaraú e é sobre o córrego
•
Limpeza da poluição difusa descarregada no rio
•
Pontes e áreas de contato com o rio
TFG 2017
Criação de ciclovia, playgrounds, espaços para lazer, pistas de
caminhada etc.
Para que todas as diretrizes fossem cumpridas, o programa básico do parque conta com:
O projeto, seguindo a sequência das águas, se inicia junto ao Centro Cultural e Biblioteca, onde caminhos elevados ou por rampas conectam
•
Ciclovia e estacionamento para bicicletas
os dois equipamentos. Há um muro divisor entre o Condomínio Pedra
•
Playground, academia ao ar livre, quadra poliesportiva, pista de
Branca e a área de projeto, a proposta é que se mantenha a longa
caminhada e pista de skate •
parede com grafites que possam ser renovados de tempos em tempos.
Estacionamento para carros com arborização adequada
• Edifícios:
Adiante, o mirante abre a visão para a Serra da Cantareira e para os
Centro Cultural
bairros adjacentes ao parque. Ali, também estamos no ponto mais alto
Biblioteca
da área. De um lado o mirante e do outro a instalação de uma quadra
Restaurante
poliesportiva para a prática livre de esportes.
Centro Comunitário • Mirante
Após o Centro Comunitário, uma praça se faz de arquibancada e
• Pontes
acesso por rampa ao ponto baixo do parque. Também é criada uma
•
Caminhos para pedestres
conexão viária entre duas quadras cruzando essa área e permitindo
•
Reflorestamento da Mata Ciliar
uma extensão lógica da malha urbana.
A área de projeto requer a realocação da população em habitação
Há, na quadra seguinte, um longo fundo de lotes que dão para o córrego.
social. Seguindo essa lógica, iniciei o exercício delimitando ao longo das
É uma das partes mais sensíveis do projeto. Ali se faz necessária a
margens do córrego Guaraú áreas para que fossem construídas longas
imediata reinserção da natureza e contenção das construções. Há
torres e edifícios lineares a fim de suprir a demanda por moradia.
uma praça projetada com um pequeno mirante, para que sirva de
Com o desenvolvimento do trabalho, entendi que a área não
contemplação das águas por ali.
comportaria ao mesmo tempo a quantidade necessária de habitação social e um projeto de requalificação ambiental. Conclui, através dos
Adiante, uma bacia de retenção, em um dos pontos de inundações
desenhos, a incompatibilidade da área em suprir as duas demandas
periódicas da área. Nos pontos mais altos da borda nessa parte, a
com eficiência.
instalação de um playground infantil e um restaurante, conectados logo mais à frente com um longo deck para descanso e lazer.
Logo, decidi que a área de projeto seria destinada, por inteiro, à implantação de um parque linear. As edificações do programa são
O projeto termina com a pista de skate e academia ao ar livre instaladas
destinadas à responder a demanda de equipamentos culturais e
no lugar de mais fácil acesso da área, com pouca inclinação. O córrego,
sociais do entorno e, também, das necessidades geradas pelo próprio
logo a seguir, será canalizado e continuará a percorrer seu curso.
parque, como restaurantes e banheiros. O Centro Comunitário que se instala no centro do projeto, vem a suprir a demanda por um espaço de encontro coletivo para os moradores do bairro.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 73
6.1. MAQUETES DE ESTUDO 1. ANÁLISE DO RELEVO, ESTUDO DOS CAMINHOS, EDIFÍCIOS E MIRANTE
74
TFG 2017
2. ANÁLISE DO RELEVO, ESTUDO DA PRAÇA EM NÍVEIS COM RAMPA E VIA ELEVADA
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 75
2
3
1 4
5
CĂłrrego GuaraĂş
6
Caminhos, pontes e passarelas
7
8
9
1. Centro Cultural 2. Biblioteca 3. Mirante 4. Quadra Poliesportiva 5. Centro Comunitário 6. Rampa Construída 7. Praça Mirante 8. Bacia de retenção 9. Playground infantil 10. Restaurante 11. Deck/Passarela 12. Pista de skate 13. Academia ao ar livre 14. Estacionamento para bicicletas 15. Estacionamento para carros
10 11
12 13 14
15 Ciclovias
Córrego Guaraú
Espécies de Mata Ciliar
Espécies de Mata Atlântica
Praรงas e canteiros adjacentes
BIBLIOTECA
A
MURO
PONTE
CENTRO CULTURAL
CICLOVIA E CALÇADA
CONDOMÍNIO PRIVADO
CENTRO CULTURAL
PONTE
MURO
CORTE A
CICLOVIA E CALÇADA CANAL CONSTRUÍDO
80
TFG 2017
0m 5m 10m
20m
A proposta do projeto é que o córrego Guaraú tenha suas margens livres e vegetadas o maximo possível. O muro, que divide o terreno com o condomínio de prédios, será usado para exposições temporárias de grafites. As edificações de Biblioteca e Centro Cultural, estão inseridas no parque de forma natural, tornando-se parte do percurso.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 81
MURO
B
MIRANTE
CICLOVIA E CALÇADA
CONDOMÍNIO PRIVADO
MIRANTE PONTE
MURO
CORTE B
CICLOVIA E CALÇADA CANAL CONSTRUÍDO
82
TFG 2017
0m 5m 10m
20m
MURO
C QUADRA POLIESPORTIVA
CICLOVIA E CALÇADA
CONDOMÍNIO PRIVADO
QUADRA POLIESPORTIVA
PONTE CAMINHO PEDESTRE
CORTE C
MURO
CICLOVIA E CALÇADA CANAL CONSTRUÍDO
0m 5m 10m
20m
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 83
D
CAMINHO PEDESTRE
ACESSO ESCADA CICLOVIA E CALÇADA
CENTRO COMUNITÁRIO CAMINHO PEDESTRE
CORTE D
PONTE
CICLOVIA E CALÇADA
0m 5m 10m CANAL CONSTRUÍDO
84
TFG 2017
CAMINHO PEDESTRE
20m
Os caminhos elevados para pedestres possibilitam a preservação das margens e permeabilidade do solo. Em alguns pontos, de difícil acesso e relevo acentuado, é necessária a presença do guarda-corpo. A vegetação é composta por espécies de mata ciliar e mata atlântica. Os acessos se dão por caminhos levemente inclinados, respeitando o acesso universal, e por escadas ao longo do parque.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 85
CICLOVIA E CALÇADA
E PRAÇA EM NÍVEIS E RAMPA
CICLOVIA E CALÇADA
PRAÇA EM NÍVEIS E RAMPA
CICLOVIA E CALÇADA
CORTE E
CICLOVIA E CALÇADA
CANAL CONSTRUÍDO
86
TFG 2017
0m
5m
10m
20m
A praça em níveis, foi pensada para resolver o acesso universal à uma parte alta do parque. É também um espaço para contemplação nas margens do córrego.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 87
F
EDIFICAÇÕES CONSOLIDADAS
CICLOVIA E CALÇADA
PRAÇA MIRANTE
EDIFICAÇÕES CONSOLIDADAS
PRAÇA MIRANTE
EDIFICAÇÕES CONSOLIDADAS
CORTE F
CANAL CONSTRUÍDO
88
TFG 2017
0m
5m
10m
20m
G
CICLOVIA E CALÇADA
BACIA DE RETENÇÃO
CORTE G
RUA EXISTENTE CRUZANDO O CÓRREGO
BACIA DE RETENÇÃO
CICLOVIA E CALÇADA CANAL CONSTRUÍDO
0m
5m
10m
20m
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 89
EDIFICAÇÕES CONSOLIDADAS
H
RESTAURANTE
CICLOVIA E CALÇADA DECK
EDIFICAÇÕES CONSOLIDADAS DECK
CORTE H
CICLOVIA E CALÇADA
90
TFG 2017
CANAL CONSTRUÍDO
0m
5m
10m
20m
Por fim, o projeto se conecta a malha urbana e edificações existentes. Com o programa de equipamentos de esporte e lazer, é possível trazer a população para o uso cotidiano no parque, transformando-o em elemento de integração entre a natureza e a cidade.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 91
I
ESTACIONAMENTO PARA BICICLETAS PISTA DE SKATE
ACADEMIA AO AR LIVRE
ESTACIONAMENTO PARA BICICLETAS
PONTE
PISTA DE SKATE
CORTE I
CALÇADA CICLOVIA
92
TFG 2017
CANAL CONSTRUÍDO
0m
5m
10m
20m
J ESTACIONAMENTO PARA CARROS
AVENIDA E CANTEIRO CENTRAL EXISTENTE
CALÇADA E CICLOVIA
AVENIDA EXISTENTE
ESTACIONAMENTO PARA CARROS
PONTE
CORTE J
CANAL CONSTRUÍDO CICLOVIA E CALÇADA
0m
5m
10m
20m
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 93
LISTA DE ESPÉCIES 1. MATA CILIAR
94
Ipê-amarelo-do-brejo Tabebuia umbellata
Guanandi Calophyllum brasiliense
Ingá Inga uruguensis
Pau-viola Citharexylum myrianthum
Araribá Centrolobium tomentosum
h = 10 - 15 m
h = 20 - 30 m
h = 5 - 10 m
h = 15 - 20 m
h = 10 - 22 m
Mulungu do litoral Erythrina speciosa
Maricá Mimosa bimucronata
Copiúva Tapirira guianensis
Caroba Jacaranda cuspidifolia
Palmito-Jussara Euterpe edulis
h=3-5m
h = 4 - 10 m
h = 8 - 14 m
h = 5 - 10 m
h = 5 - 12 m
TFG 2017
2. MATA ATLÂNTICA
Jequitibá-branco Cariniana estrellensis
Copaíba Copaifera langsdorfii
Jacarandá Paulista Machaerium villosum
Cambuci Campomanesia phaea
Jerivá Syagrus romanzoffiana
h = 30 - 40 m
h = 15 - 35 m
h = 20 - 25 m
h=3-5m
h = 7 - 15 m
Helicônias
Bromélias
3. ORNAMENTAIS
Filodendros
Samambaias
Orquídeas
Fonte: Google Search.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 95
Co ns id era çõ es F i n a is Os rios urbanos nas cidades brasileiras são entendidos mais como problemas do que como solução. A população tem urgência ao acesso à moradia digna, saúde e educação. A questão ambiental é deixada em segundo plano, pela população e pelos governantes. Entretanto, é necessário que tenhamos um plano de desenvolvimento ecológico paralelo ao desenvolvimento social. Pois, o meio ambiente não pode mais esperar. Na cidade de São Paulo, tão rica de córregos e rios, a maior seca da história se instalou entre os anos de 2014 e 2015. Foi o início das respostas da natureza à má conservação de suas bacias hidrográficas. Ao longo do trabalho, estudamos alguns dentre tantos exemplos possíveis de recuperação de rios e córregos. A infraestrutura verde é viável e precisa ser aplicada nos projetos urbanos e paisagísticos. A água é encontrada em camadas subterrâneas e superficiais, o seu ciclo deve ser respeitado e a recuperação, sendo um sistema completo, deve envolver a bacia hidrográfica inteira em que se encontra. Finalmente, o trabalho se concentra na bacia do Alto Tietê, reduzindo sua escala até atingir a bacia hidrográfica Cabuçu de Baixo. O projeto, resolvido em escala de bairro, pode ser ampliado para resolver os problemas de uma cidade inteira, considerando as especificidades de cada área.
96
TFG 2017
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 97
R e f erên ci a s
LIVROS
BRASIL. Estatuto da Cidade: Lei 10.257/2001 que estabelece diretrizes gerais da política urbana. Brasília: Câmara dos Deputados, 2001. BRASIL. Constituição (1988). LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Brasília, DF: Senado Federal. CORRÊA, D.S.; ALVIN, Z.M.F. A água no olhar da história. Secretaria do Meio Ambiente,1999. COSTA, Lúcia Maria Sá Antunes. Rios e paisagens urbanas em cidades brasileiras. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2006. COSTA, Lucia Maria; MONTEIRO, Patrícia Maya. Rios Urbanos e Valores Ambientais. In: DEL RIO, Vicente; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Projeto do lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/ PROARQ, 2002. GHILARDI, Alessandra e DUARTE, Cristiane. In: COSTA, Lúcia Maria Sá Antunes. Rios e paisagens urbanas em cidades brasileiras. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2006. GORSKI, Maria Cecília Barbieri. Rios e cidades: ruptura e reconciliação. São Paulo: Senac, 2010. HERZOG, Cecília Polacow. Cidades para Todos: (re)aprendendo a conviver com a Natureza. São Paulo: Mauad, 2013. LABVERDE- Laboratório Verde – v.1, n.4 (2012). São Paulo: FAUUSP, 2012. LEITE, Maria Angela Faggin Pereira. Destruição ou desconstrução? São Paulo: Hucitec, 2006. MAGALHÃES, Manuela Raposo. Paisagem – Perspectiva da Arquitetura Paisagista. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2007. MANNING, Owen D. Design imperatives for river landscapes. Landscape Research, 22:1, 67-94, 1997. RIBEIRO, Maria Luisa Borges. Observando o Tietê. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica, Núcleo União Pró-Tietê, 2004. SANT'ANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das águas: usos de rios, córregos, bicas e chafarizes em São Paulo (1822-1901). São Paulo: Senac, 2007. SPIRN, Anne Whiston. O jardim de granito. São Paulo: Edusp, 1995. TRAMONTINA, Carlos. Rios de São Paulo: Tietê, presente e futuro. São Paulo: BEI Comunicação, 2011. 98
TFG 2017
Secretaria do Meio Ambiente. Guia dos parques Municipais de São Paulo. São Paulo, 2012. SÃO PAULO. LEI Nº 16.050, DE 31 DE JULHO DE 2014. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Diário Oficial do Município, São Paulo, 01 de agosto de 2014. VÍDEO ENTRE RIOS. Direção de Caio Silva Ferraz, Luana de Abreu e Joana Scarpelini. São Paulo, 2009. (25min., Colorido. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Xi9c_N8uFvY>. Acesso em junho de 2016. SITES PESQUISADOS Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>. Acesso em junho de 2017. Prefeitura de São Paulo. Disponível em: < http://www.prefeitura.sp.gov.br> Acesso em junho de 2017. Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/> Acesso em junho de 2017.
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 99
Cr oqu is
DEFINIÇÃO DAS BORDAS E CAMINHOS DO PARQUE
DEFINIÇÃO DA PARTE MÉDIA DO PARQUE
DEFINIÇÃO DO PRÉDIO CENTRO CULTURAL
DEFINIÇÃO DOS CAMINHOS
100
TFG 2017
ESTUDOS PARA A PARTE BAIXA DO PARQUE
ESTUDOS INICIAIS COM EDIFÍCIOS VERTICALIZADOS NAS MARGENS
ESTUDOS INICIAIS PARA A QUADRA
ESTUDOS INICIAIS COM EDIFÍCIOS VERTICALIZADOS NAS MAGENS
ESTUDOS INICIAIS PARA O MIRANTE
CAMINHOS AZUIS PARA SÃO PAULO 101
UNESP BAURU - ARQUITETURA E URBANISMO