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Conheça o mundo, descubra você

Exclusiva

Marina Silva fala sobre sua saída do Partido Verde e debate a questão de sustentabilidade no Brasil

Febre da conectividade Sair de casa sem o celular é o igual a sair nu. Por que é tão difícil ficar desconectado da internet?

Maio/2012 Ano 40 Edição Piloto

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O grande êxodo já começou. Mudanças climáticas farão milhões de pessoas abandonar seus lares e países em busca da sobrevivência

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Refugiados ambientais


editorial

Questão de foco

Editor e Diretor Responsável DOMINGO ALZUGARAY Editora Cátia Alzugaray Presidente Executivo Carlos Alzugaray

O leitor que se aflige com o estado do planeta pode encarar a conferência Rio+20 de duas maneiras: mais um evento midiático sem grandes resultados destinado a movimentar exércitos de burocratas multilaterais, governamentais e militantes ambientalistas; ou um momento precioso para acelerar a agenda de sustentabilidade e avançar, na medida do possível, na transição para uma economia mais amigável e menos predatória. Ambas as hipóteses estão corretas. Há 20 anos a conferência Eco-92 lançou, no Rio de Janeiro, sementes que floresceram no imaginário global. De lá para cá, o mal-estar da civilização acumulou sintomas inquietantes, mas também expandiu a consciência sobre suas falhas e riscos. Aquele evento gerou iniciativas como a Convenção do Clima, que engendrou o Protocolo de Kyoto, a Convenção da Biodiversidade, crucial para a Amazônia, e a Agenda 21, um programa de mudança multifocal que padece de foco, como muitas das convenções ambientalistas. Nós, da PLANETA, esperamos que a Rio+20 gere decisões importantes. As perspectivas da conferência são o tema da nossa reportagem de capa, de autoria do jornalista José Alberto Gonçalves. Deve haver centenas de relatórios e estudos sobre a crise mundial demonstrando à exaustão o tamanho da encrenca em que estamos metidos. Muitos já têm noção do que deve ser feito, mas a política, como se sabe, não é uma arena dócil. Os políticos são surfistas que influenciam a opinião pública enquanto se equilibram na onda. Nas sociedades democráticas os avanços são feitos gradualmente, por consenso. Talvez algumas ideias ainda não estejam maduras para figurar como prioridade política. A crise econômica que deprime os países da Europa e da América do Norte abre possibilidades para os emergentes como Brasil, Índia e China, mas bloqueia os investimentos para uma economia verde. Tudo o que as economias desenvolvidas querem é crescer, não importa muito como e nem para onde. Não é uma conjuntura auspiciosa para decisões generosas.

Ricardo Arnt Diretor de Redação

DIRETOR EDITORIAL Carlos José Marques DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO Luiz Fernando Sá DIRETOR DE NÚCLEO Mário Simas Filho DIRETOR DE REDAÇÃO Ricardo Arnt (ricardoarnt@planetanaweb.com.br) REDAÇÃO Eduardo Araia (eduardo@planetanaweb.com.br), Renata Mesquita (renata@ planetanaweb.com.br) e Maíra Lie Chao (maira@planetanaweb.com.br) Assistente de redação Roseli Tadei Vieira SUPERVISÃO DE ARTE João Carlos Alvarenga Freire DIRETOR DE ARTE Leonardo Bussadori (leo.bussadori@planetanaweb.com.br) COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Silvia Reali, Marcelo Paes, Anne Palmers, Inês Castilho, Milton Correia Júnior, Lilian Granado FOTO Heitor Realli, Annebelle Gyllenspetz, Frederico Mendes, Mandy Barker TRATAMENTO DE IMAGEM Daniel Costa (Chefe) REVISÃO Giacomo Leone, Lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi AGÊNCIA ISTOÉ Editor-Executivo: Cesar Itiberê Editor: Frederic Jean APOIO ADMINISTRATIVO Gerente Maria Amélia Scarcello SERVIÇOS GRÁFICOS Gerente Industrial Fernando Rodrigues Coordenador Gráfico Ivanete Gomes MARKETING Diretor: Rui Miguel Gerentes: Debora Huzian e Wanderley Klinger Redator: Marcelo Almeida Diretor de Arte: Eric Müller Assistente de Marketing: Marciana Martins e Thaisa Ribeiro OPERAÇÕES Diretor: Gregorio França Gerente Geral: Thomy Perroni Assistentes: Luiz Massa , André Barbosa e Fábio Rodrigo Operações Lapa: Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte Coordenador: Jorge Burgati Analista: Cleiton Gonçalves Assistente Sênior: Thiago Macedo Assistentes: Aline Lima e Bruna Pinheiro Auxiliar: Caio Carvalho Atendimento ao Leitor e Vendas pela Internet: Dayane Aguiar. LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO DE ASSINATURAS Coordenadora: Vanessa Mira Coordenadora-Assistente: Regina Maria Assistentes: Denys Ferreira, Karina Pereira e Ricardo Souza PUBLICIDADE Diretor Nacional de Publicidade: José Bello Souza Francisco Gerente de Publicidade: Paulo Soares Secretária da Diretoria de Publicidade: Regina Oliveira Executivas de publicidade: Danielle Laureano e Mariana Córdoba Assistente de Publicidade: Juliana Richelli Assistente Adm. de Publicidade: Daniela Sousa Coordenadora Adm. de Publicidade: Maria da Silva Gerente de coordenação: Alda Maria Reis Coordenadores de Publicidade: Gilberto Di Santo Filho e Rose Dias Auxiliar: Marília Gambaro Contato: publicidade@editora3.com.br RJ/RIO DE JANEIRO Diretor de publicidade Expedito Grossi. Gerentes executivas Adriana Bouchardet, Arminda Barone e Silvia Maria Costa. Coordenadora de publicidade Dilse Dumar. Fones (21) 2107-6667. Fax (21) 2107-6669 DF/BRASÍLIA Gerente Marcelo Strufaldi. Fone (61) 3223-1205/3223-1207. 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sumário

CAPA Refugiados ambientais

O avanço das mudanças climáticas deve promover movimentos migratórios de grandes proporções nas próximas décadas. Prevê-se que 200 milhões de pessoas poderão estar nessa condição em 2050.

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18 Reportagem Marina Silva

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Ex-ministra do meio ambiente discute sustentabilidade.

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Jovens e adultos enfrentam um novo vício: o de ficar 24 horas online.

adaptou às bicicletas.

43 Saúde O Brasil enfrenta uma epidemia de obesidade por se alimentar muito mal.

Superpopulação de 7 bilhões de habitantes preocupa governos.

45 Ciência Conheça as novas espécies de animais que foram descobertas.

46 Espiritualidade

A arte de mudar de carapaça e evoluir na vida.

47 Cultura Jovens com letra feita. O computador condenou a caligrafia?

Xingu

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42 Viagem Como Buenos Aires, na Argentina, se 44 Ambiente

Conectados

Realidade Aumentada expande a percepção do mundo.

Colunista Marcos Diego Nogueira fala sobre suas impressões do filme.

Seções

10 Entrevista

14 Volta ao mundo

08 Cartas

41 Notas Ambiente

37 Coluna

38 Galeria


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entrevista

Sustentabilidade: ser ou fazer?

Em 2010 Marina Silva surpreendeu o Brasil conquistando 20 milhões de votos para a Presidência da República. Nesta entrevista, a ex-senadora de 53 anos - e 482 mil seguidores no Twitter - revela por que tomou a decisão de se desligar do Partido Verde. E como pretende contribuir para as transformações de que o país precisa. Por Ricardo Arnt

Marina Silva defende a ideia de sustentabilidade há 30 anos, mas acha que o conceito deve ser visto como “um processo em construção”, uma vez que foi apenas sugerido por princípios genéricos das Nações Unidas e carece de referências históricas concretas. Do seu ponto de vista, sustentabilidade não é só questionar uma maneira inadequada de fazer as coisas, mas ques10

tionar uma “forma inadequada de ser”. Nesse sentido, a apropriação do conceito pelas estratégias de marketing não a surpreende. Em vez de se aborrecer com os que deturpam a proposta transformando-a em propaganda, diz que prefere “se alegrar com os que a transformam em narrativa”. A diferença é que a narrativa, por mais que não seja perfeita, vem da experiência real.

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AFP


Coerente. Eu propus que o PV metabolizasse aquilo que levamos para a sociedade nas eleições: a ideia de um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil e de uma nova forma de fazer política. Recebemos quase 20 milhões de votos. Na campanha eu já dizia que os ganhos da política econômica e da social poderiam ser perdidos pelo atraso da política.

A sra. vai se dedicar a dois institutos, o Instituto Democracia e Sustentabilidade e o Instituto Marina Silva?

O Instituto Democracia e Sustentabilidade foi criado em 2009, fruto do movimento que iniciamos com um grupo de pessoas, chamado Brasil Sustentável, quando saí do Ministério do Meio Ambiente. A ideia quando pensamos em criar o instituto era, enfim, democracia e sustentabilidade. O instituto tem uma agenda, que neste momento prioriza a questão do Código Florestal e o adensamento das diretrizes do nosso plano de governo. O Instituto Marina Silva ainda está nascendo. Como saí do Senado, tenho um acervo grande que gostaria de organizar, com o objetivo de trabalhar a questão da educação e da mobilização para a sustentabilidade, principalmente com jovens e adolescentes. A sede é em Brasília (DF) e o primeiro núcleo, quando tivermos condição de criar será no Acre. É uma coisa muito modesta. Metaforicamente, digo que é uma tenda porque, quando você tem patrimônio, cria um instituto e põe seu patrimônio; quando não tem, faz o que pode.

A sra. é uma defensora dos ativos ambientais da Amazônia. Em dezembro haverá um plebiscito no Pará para dividir o Estado em três: Pará, Carajás e Tapajós. Essa é uma decisão regional. O que lhe parece?

Eu compreendia a ideia da criação do Estado do Tapajós talvez pelo tamanho e pela dimensão do Estado do Pará, mas essa fragmentação maior, como está sendo proposta, confesso que ainda não tive como me debruçar. Existe o desejo da população de ter uma administração mais próxima das suas necessidades. A presença do Estado na Amazônia é uma ausência. Tem-se a ideia de que se um Estado for criado os recursos virão para os problemas. O problema é que isso em parte é verdade, mas também é mais uma assembleia legislativa, mais câmaras de vereadores, mais burocracia, mais um grupo que se apropriará das instituições e das possibilidades de desenvolvimento socioeconômico. Então, não basta essa divisão para que o Estado se faça presente nas reais necessidades da região. maio 2012|

AFP

Como se sente depois de ter se desligado do Partido Verde?

Representante indígena em protesto contra a construção da usina de Belo Monte, que comprometerá o Rio Xingu.

Os interesses econômicos amadurecidos por 30 anos do Projeto Carajás parecem ser a força propulsora da proposta. O sudeste do Pará está entrando em um novo patamar de desenvolvimento?

Um novo patamar de desenvolvimento para mim seria pensar o desenvolvimento em bases sustentáveis dos pontos de vista econômico, social, cultural e ambiental. Qualquer coisa que seja mais do mesmo, em termos da economia, não é um novo patamar, é mais do mesmo. Vai continuar a extrair as riquezas que existem na região. Um novo patamar seria partir daquilo que está delineado no plano Amazônia Sustentável, que envolveu 18 ministérios, governos locais e sociedade. Lamentavelmente não foi implementado. Roberto Mangabeira Unger ficou com o plano na Secretaria de Assuntos Estratégicos e nada saiu do papel. A gente está vivendo um momento paradoxal: o Brasil assumiu metas de redução de 36,1% de carbono equivalente até 2020 e tudo o que se movimenta no tabuleiro é contrário ao cumprimento das metas porque a maior parte delas, 70%, depende da redução do desmatamento. Parece que não serão cumpridas. 11


entrevista Wikimedia

Por que os ambientalistas se opõem mais às hidrelétricas do que às usinas térmicas a gás, emissoras de carbono?

Os ambientalistas criticam, sim, as térmicas a gás. As pessoas que pensam em meio ambiente e desenvolvimento sempre dizem que a matriz energética deve ser limpa e segura e que as termoelétricas são uma realidade da qual o país não precisa. A energia eólica já é mais barata do que as termoelétricas. Talvez as pessoas sérias não ganhem a mesma visibilidade que ganham quando fazem críticas a grandes empreendimentos, mas que a crítica é feita, é feita. O ex-ministro Roberto Rodrigues dizia que o potencial de uso da palha de cana-de-açúcar e do bagaço queimados equivale a três Belos Montes. Por que não há investimentos? O Brasil não precisa ampliar o uso de combustíveis. Precisa manter a matriz energética limpa, segura e diversificada, o que passa pelo uso do sol, do vento, da biomassa e do potencial hídrico. Mas para viabilizar pequenas ou grandes hidrelétricas não precisamos da velha visão de que os impactos socioambientais são externalidades. Enquanto isso perdurar, teremos a repetição do que está acontecendo de errado agora em Belo Monte.

Não, com certeza. Mas os ambientalistas parecem se destacar por obstruir os projetos, não por mudá-los para melhor.

E quantas usinas hidrelétricas os Maurício Tomalsquim , presidente ambientalistas já inviabilizaram na da Empresa de história do Brasil? Planejamento Energético, disse que “as usinas térmicas são resultado da ação dos ambientalistas de impedir o licenciamento das hidrelétricas”. 12

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Discordo totalmente. Durante muito tempo os ambientalistas pediam para os desenvolvimentistas fazerem algo pelo meio ambiente. Há mais de 15 anos são os desenvolvimentistas que pedem aos ambientalistas para fazer algo pelo desenvolvimento. Você vê isso no mundo inteiro. Se for para fazer no velho modelo, considerando que o mundo está em crise e que não dá para persistir na trilha predatória, a palavra é de interdição. Quando é para fazer baseado em novos paradigmas, é de completa colaboração. Há uma competição pelo “caminho de baixo”, com mão de obra desqualificada, desrespeito à legislação trabalhista e ambiental e expansão indiscriminada da fronteira agrícola. Nessa, os ambientalistas não vão colaborar. Na competição pelo “caminho de cima”, com alta tecnologia, aumento da produtividade, respeito à lei ambiental e trabalhista e integração de comunidades, a colaboração dos ambientalistas já é total. Já fizemos muitas coisas com parcerias. Baixamos o desmatamento de 27 mil km2 para 6 mil km2em 2010. A produção agrícola cresceu 60% em toneladas e o desmatamento caiu 76%. Quem fez isso? Foram os ambientalistas.


Google

A sustentabilidade é uma ideia poderosa, mas também é uma ferramenta de marketing. Todos a interpretam como querem. Antigamente todos se intitulavam “democratas”. Agora todos são sustentáveis. O que a sra. acha?

A sra. recebeu 20 milhões de votos em outubro. Dez milhões se definiram depois do último debate na TV Globo. O que isso significa?

O desenvolvimento sustentável pode ser visto como algo em processo. Não temos ainda uma referência material concreta. Há esforços na Alemanha, no Brasil, na Costa Rica ou na Noruega. As Nações Unidas estabeleceram alguns princípios. Como é algo em processo, não virá pela onipotência do pensamento. Historicamente terá de ser construído. Eu, modestamente, resolvi acrescentar mais três dimensões: precisamos de sustentabilidade estética, política e ética. Não dá para fazer as grandes transformações que o Brasil e o mundo precisam em curto Mas isso não significa 20 prazo. Sustentabilidade, no meu enmilhões de votos tendimento, é um questionamento que ecologistas. precisa ser feito à nossa forma inadequada de ser. Não devemos abrir mão dos conceitos porque alguns resolvem deturpálos e se apropriam inadequadamente. Em vez de me aborrecer com os que usam a proposta como propaganda, prefiro me alegrar com os que a transformam em narrativa. A diferença entre a narrativa e a propaganda é que a narrativa vem da experiência real. Por mais que não seja perfeita. A cobertura que o Jornal Nacional fez de forma equitativa para todos os candidatos foi muito importante, principalmente para quem não tinha tempo de televisão, ou máquina partidária. Mas o crescimento nas últimas semanas só registrou o que eu já vinha vendo na prática, de forma crescente. Posso dizer que ficar em primeiro lugar em Belo Horizonte (MG) e crescer 50% em uma semana parece impossível. Aí temos de valorizar esses 20 milhões. Essa votação sinaliza que o Brasil está integrado a esse grande questionamento político que acontece no mundo, no Egito, no Oriente Médio, na Espanha, em vários lugares. Aqui, se manifestou já nas eleições de 2010 porque havia um script feito para duas candidaturas, a do partido oficial de oposição e a do partido oficial de situação, um processo plebiscitário de intensa polarização. Ao eleitor foi colocada a ideia de espectador da política. Aí o Brasil velado maio 2012|

Os metalúrgicos de São Paulo e do ABC paulista recentemente fecharam a Via Anchieta em protesto contra as importações que ameaçam o emprego e a indústria. O que a sra. acha?

se revelou. Mostrou que existe um grupo grande de pessoas que não quer ser espectador da política. Não quer ser coadjuvante, quer ser sujeito, quer protagonizar. Será que as pessoas têm densidade sobre qual deve ser a política de segurança do país? Têm densidade quando pensam na questão da saúde e da educação? Ou na infraestrutura? As pessoas têm sensibilidade e bom senso. Sabem que precisamos de infraestrutura, de saúde, de educação e de instituições que funcionem. Mas não têm uma teoria sobre o sistema político. Elas têm a sensibilidade de que alguma coisa está errada com a política. Por que vamos exigir que tenham propensão à sustentabilidade? Foram feitas pesquisas e o Brasil é o país de maior consciência ambiental sobre as mudanças climáticas. O Datafolha fez pesquisas que mostram que 80% da população prefere pagar mais caro para proteger as florestas; 80% não quer mudanças no Código Florestal. Os fundamentos da política macroeconômica vêm dando certo. O câmbio é flutuante e a gente tem autonomia do Banco Central. O que assusta na política econômica é que a nossa boca já ficou torta de fumar cachimbo só de um lado, tentando controlar a inflação apenas com a elevação dos juros. Sem um olhar qualificado para a redução do gasto público, aí sim vamos ter problema. O BNDES já fez duas capitalizações de recursos no Tesouro, sem debate no Congresso. Alguém ganha acesso a esses recursos. Qual é o critério? É preciso qualificar o gasto público e fazer um esforço para reduzir a inflação também pela diminuição do gasto público. 13


reportagem

REALIDADE

Dispositivos eletrônicos transformam-se em uma lente que nos permite ver elementos virtuais no mundo real. Essas informações digitais expandem nossa realidade Por Maíra Lie Chao

Filme de ficção dirigido por James Cameron, em 1984. Fez tanto sucesso que a franquia já conta com 5 filmes e uma série de televisão chamada Terminator: the Sarah Connor Chronicles.

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Situaçã o um, em um futuro não muito distante: você está em uma praça, com seus óculos iguais aos do Arn old Schwarzenegger nos filmes da série O Exterminador do Futuro. Em seu campo de visão, o acessório aponta nomes e histórias de objetos, identifica algumas pessoas e lhe dá informações sobre elas. Você olha para o outro lado e o mesmo tipo de informação já está em sua lente, apenas em questão de poucos segundos.

Situação dois: você está num restaurante, com seu celular com câmera digital embutida. Ao apontar o aparelho para uma pessoa, ele, em poucos minutos, lhe mostra algumas informações reunidas sobre ela, com base em perfil das redes sociais Facebook e Twitter. Embora a última cena pareça tão futurista quanto a primeira, ela já acontece em alguns países europeus e asiáticos e também pode ser muito po-

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Nos Estados Unidos e na Europa, o aplicativo de celular Yelp! indica os lugares onde comer de acordo com sua localização


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ra pode ser exportada para a rede social Orkut, podendo interagir com os monstros dos amigos. O mesmo tipo de recurso foi usado em jogos atuais, como Eye of Judgement, para a plataforma PlayStation 3. Ao colocar as cartas diante da câmera, aparece um monstrinho animado na tela. Charme semelhante foi usado em cardgames de esporte. No mundo virtual, jogadores se erguem do card. A realidade aumentada atingiu até os amantes de calçados esportivos. A Adidas investiu nos jogos com esse recurso lançando a linha 523 Augmented Reality, cujos tênis possuem um marcador na língua. Quando o usuário acessa o espaço Originals Neighbourhood do site oficial da marca e põe o produto em frente à webcam, consegue acessar jogos. No primeiro jogo desenvolvido, o “Stormtrooper take down”, inspirado em Star Wars – Guerra nas Estrelas, a pessoa deve disparar balões de tinta nos soldados brancos.

Tênis disponível nas cores amarelo, vermelho e azul.

Divulgação

Ilustração: Ibraim Elias Divulgação A campanha do Dorito’s Lovers foi feita pela agência Cubocc.

pular no Brasil. O reconhecimento de uma pessoa a sua associação a um perfil virtual é um exemplo de realidade aumentada aplicada à telefonia móvel. Realidade aumentada é quando o elemento virtual (informações pessoais do Facebook e do Twitter, por exemplo) interage com objeto real (pessoa no restaurante), de modo a ampliar sua percepção do real. Resultado: agora, você conhece informações sobre as pessoas ao seu redor que, num cenário menos tecnológico, não saberia. Muitas das aplicações de realidade aumentada usadas hoje são peças publicitárias e marqueteiras. Um exemplo disso é a campanha da indústria alimentícia Elma Chips para o salgadinho Doritos Sweet Chilli. Na embalagem do produto há um símbolo de realidade aumentada, chamado também de marcador fiducial, que serve como um código de reconhecimento para a webcam. É só acessar o site da promoção Doritos Lovers, colocar a imagem na frente da câmera e esperar alguns minutos para que um monstrinho saia do seu ovo no ambiente virtual. O diferencial dessa campanha é que a criatu-

Popularidade

Hoje em dia, os mecanismos mais comuns para se criar um cenário de 19


reportagem

Divulgação Martha Gabriel é diretora de tecnologia da New Media Developers e professora de pós-graduação da Business School São Paulo, da Universidade Anhembi-Morumbi, do Senac e do Centro Universitário Belas Artes.

Divulgação

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realidade aumentada são webcam e computador, em virtude da maior facilidade de aquisição. Martha Gabriel explica que, alguns anos atrás, só era possível haver essa interação entre a realidade e o digital com óculos e outros equipamentos especiais muito caros, acessíveis apenas a governos e a algumas universidades. Com o aumento de celulares, webcams, conexão à internet em banda larga e o barateamento desse tipo de tecnologia, é esperado que a realidade aumentada esteja mais presente no dia a dia. “Mas a gente tem vários outros mecanismos, como câmeras com óculos, lentes de contato, braceletes, sensores de movimento e dispositivos de som”, conta ela. A empresa canadense Arcane Technologies aposta no Mirage, um dispositivo semelhante a um binóculo com duas telas, uma para cada olho, que mostra uma animação de realidade aumentada em três dimensões. É possível usá-los, por exemplo, para fazer recortes diferentes, e de vários ângulos, do cérebro de uma pessoa em uma cabeça de manequim. Em breve, esse tipo de tecnologia pode ajudar a sobrepor um exame de raio X no corpo de uma pessoa na mesa de operação, ajudando o médico a encontrar os pontos exatos para a cirurgia.

Recentemente, cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, têm trabalhado em uma lente de contato movida a energia solar para funcionar como um dispositivo para realidade aumentada. Ao olhar para um marcador fiducial, o conteúdo – imagem ou texto – aparece nos olhos do usuário. Mas, por enquanto, o mecanismo só foi testado em coelhos. Uma aplicação da realidade aumentada já disponível atualmente é o navegador de internet (browser) para celular chamado Layar. “É um browser de realidade aumentada para Android (o sistema operacional para celulares do Google) e iOS (do iPhone, da Apple). Ele funciona da seguinte maneira: você está numa praça e o Layar mostra onde tem hospital, hotel, etc.”, exemplifica Martha. Ela também cita os aplicativos para celular que mostram quais pessoas com perfil em redes sociais estão na região. Outro mecanismo cobiçado por empresas é um óculos especial que auxilia na manutenção do motor de um carro, por exemplo. Usando realidade aumentada, o dispositivo dá instruções para que o proprietário realize a manutenção assistida. Impressionado? Pois Martha ainda comenta que essas aplicações são

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Divulgação

O Layar é um aplicativo para celular em que o usuário aponta a câmera do celular para um objeto no real e ele mostra informações adicionais.


Reprodução

Num futuro não muito distante, é possível que estejamos em um cenário onde o digital é elemento natural do real.

“fichinhas” perto do potencial tecnológico esperado.E o que mais se pode esperar em termos de realidade aumentada? “Você pode começar a conectar tudo no seu cérebro por meio de um chip de nanotecnologia. Com ele, você pode pegar informações do mundo digital e aumentar qualquer coisa do real”. Reprodução

História

Paul Milgram é especialista em Fatores Humanos e professor de Engenharia Mecânica e Industrial da Universidade de Toronto, no Canadá.

O termo realidade aumentada foi criado há cerca de 30 anos e hoje está inserido no conceito de realidade mista, criada nos anos 1990 por Paul Milgram. Realidade mista consiste em objetos virtuais interagindo com o real. Há quatro graus de interação: realidade total (a que vivemos), realidade aumentada (virtual ajuda a ampliar o real), virtualidade aumentada (real ajuda a ampliar o virtual) e realidade virtual total (quando a consciência está no virtual). Nenhuma dessas três últimas realidades foi 100% explorada por falta de aparatos tecnológicos e pesquisa. Imagine conseguir fazer com que nossa mente faça parte de um computador e que pudéssemos ingressar e ter vivências em um mundo virtual, como no filme Matrix? Um dia veremos isso acontecer, mas não há como prever quando será possível. maio 2012|

Martha aponta que um dos problemas em termos de realidade aumentada é a falta de pessoas explorando seu potencial. “É um desafio, porque sempre que você aponta a câmera para algo, aparece uma animação, que tem de ser feita antes”, explica. Então, há um trabalho muito maior por trás da realidade aumentada. Quantas animações e informações não seriam necessárias para identificar todos os objetos que compõem uma cidade grande como Nova York, São Paulo ou Rio de Janeiro? Outro problema relacionado à realidade aumentada é birotecnia – a utilização indiscriminada dos recursos de realidade aumentada para montar animações que não estejam ligadas a um conceito de trabalho específico. “É um problema quando há o uso da tecnologia pela tecnologia”, critica Martha. “É preciso usá-la quando faz sentido e não porque é moda. Porque daqui a pouco as pessoas vão achar que a realidade aumentada é algo bo bo, porque não é feita para aplicações que façam sentido. Quando começa a usar uma tecnologia para qualquer coisa e começa a virar algo vazio.” A banalização da tecnologia podem diminuir as apostas na área. E, muito pelo contrário, há muito o que se fazer para que a realidade aumentada facilite nossas vidas. 21


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Refugiados ambientais O avanço das mudanças climáticas deve promover movimentos migratórios de grandes proporções nas próximas décadas. Prevê-se que 200 milhões de pessoas poderão estar nessa condição em 2050 Por Eduardo Araia

Por mais de 30 anos, os habitantes do atol de Carteret lutaram teimosamente contra o Oceano Pacífico. Ao longo desse tempo, as ondas e a água salgada atacaram a vegetação e as casas dos moradores dessas seis ilhas pertencentes a Papua Nova Guiné – cujo ponto mais alto fica 1,7 metro acima do nível do mar –, dificultando cada vez mais a vida ali. Em 22

novembro de 2005, representantes de 150 países, reunidos em Montreal (Canadá) para debater o combate ao aquecimento global e à elevação do nível dos mares, examinaram o caso de Carteret e concluíram: todos os 2.600 habitantes do atol deveriam ser retirados de lá. A mudança começou em maio deste ano, com a transferência das primeiras cinco famílias para

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Nesse atol, a população vives sem carros, telefones, eletricidade ou televisão.


Divulgação

Enquanto uns lutam contra as enchentes, outros, como no caso dos nigerianos (foto acima), fogem da desertificação. Ambos fenômenos climáticos decorrentes do aquecimento global.

Ilha maior que fica a menos de 100 quilômetros de distância de Carteret

Bougainville. Prevê-se que, em 2015, o atol estará totalmente submerso. O jornal britânico Daily Mail ironizou amargamente a situação, ao publicar que os habitantes locais, que não contam com o luxo da tecnologia, provavelmente fazem as mais baixas emissões de dióxido de carbono do mundo, mas foram os primeiros a sofrer as consequências do aquecimento maio 2012|

global. O diário The Guardian, advertiu: o número de afetados pode ainda ser relativamente baixo, mas o processo em andamento pode ser o início de uma migração maciça de habitantes de regiões baixas e cidades litorâneas. “O desastre começou, mas até agora ninguém notou”, escreveu o jornal. Refugiados ambientais não são propriamente uma novidade. As secas

Também britânico, como o Daily Mail.

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Divulgação

ambiente

Cena do filme Climate Refugees, de Michael Nash. Documentário fala sobre as migrações ocasionadas pelas mudanças climáticas.

Mais conhecido por sua sigla em inglês, IPCC. A diferença entre a projeção e a realidade foi de 60%.

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frequentes no Nordeste, por exemplo, serviram como um forte incentivo à migração. O fungo e as intempéries climáticas que destruíram a produção agrícola na Irlanda, no século 19, levaram cerca de 1,5 milhão de habitantes a deixar o país. Nunca, porém, a situação ficou tão complexa como nos últimos anos. A elevação do nível dos oceanos, as enchentes e a desertificação relacionadas ao aquecimento global podem tirar milhões de pessoas de seus lares nas próximas décadas, afirmam diversos especialistas. A suspeita ganha mais corpo a partir de equívocos já flagrados nas projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU. Elas indicavam, por exemplo, que, entre 1990 e 2006, os mares subiriam 2 milímetros por ano, mas a elevação foi

de 3,3 milímetros, cuja justificativa mais provável está no comportamento ainda imprevisível das geleiras. Pelas mesmas projeções, caso o aumento de temperatura se estabilize em 2 graus centígrados na comparação com 1780 (fim da era pré-industrial), os oceanos subirão entre 0,4 metro e 1,4 metro durante décadas. Mas se a essa previsão for acrescentado aquele desvio de 60%, o aumento variaria entre 0,6 metro e 2,2 metros no mesmo período – uma previsão que afetaria severamente diversas ilhas e áreas costeiras. Bastaria uma elevação de um metro no nível do mar para centenas de milhares de pessoas ficarem em situação de risco. Segundo Norman Myers, essa subida das águas faria cerca de 10 milhões de egípcios, 30 milhões de bengalis e 22 milhões de vietnamitas perde-

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Cientista ambiental britânico criador do termo hotspot, para identificar áreas que devem ter prioridade na conservação por concentrarem alta biodiversidade e maior ameaça de degradação.


AFP/ John MacDougall

Grandes inundações foram a causa da migração de centenas de paquistaneses. Divulgação

De acordo com relatório publicado pela Organização Internacional das migrações, já há mais refugiados ambientais que de guerra. Na foto ao lado, protesto em Frankfurt, na Alemanha, em frente a sede do Banco Central Europeu.

Feito pelo Instituto do Meio Ambiente e da Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (UNU-EHS, na sigla em inglês), pela organização CARE International e pelo Centro para a Rede de Informações Internacionais da Ciência da Terra da Universidade de Columbia (Ciesin, na sigla em inglês).

rem seus lares. Todos, previsivelmente, de países em desenvolvimento – que, como lembra o climatologista italiano Filippo Giorgi, são menos capazes de responder às mudanças climáticas. Mas os ricos não deverão ficar incólumes: cidades como Londres e Nova York também estarão ameaçadas. Somando-se o aumento no nível dos mares a outros fatores característicos do aquecimento global, o quadro fica ainda mais dramático. Segundo um relatório divulgado em junho, a Organização Internacional de Migração (IOM) estima que em 2050 haveria 200 milhões de refugiados ambientais.

Discussão séria

Na Conferência Internacional sobre Meio Ambiente, Migração Forçada e Vulnerabilidade Social, realizada em maio 2012|

outubro de 2008 na Universidade das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), estudiosos do assunto declararam que, no ano passado, já havia 25 milhões de refugiados ambientais. Apenas o avanço do deserto na África Subsaariana já levaria 60 milhões de habitantes daquela região a migrar para o norte do continente e o sul da Europa até 2020, afirmou na ocasião Sergio Zelaya, coordenador de Políticas da Convenção sobre Desertificação. A conferência, que reuniu cerca de 300 cientistas, pesquisadores e representantes de 60 países, tinha como objetivo debater formas de apoiar e proteger esses migrantes. Zelaya lembrou que os refugiados ambientais não saem de seus lares por opção, mas por absoluta falta de alternativa. Além disso, as características deles 25


ambiente

Terras ameaçadas Numerosos países já encaram o desafio das mudanças climáticas associadas a migrações. Veja a seguir a situação de alguns deles.

Níger

Esse país da região central da África sofre com o assoreamento e a poluição do rio Níger, que afetam drasticamente a reprodução dos peixes. A ausência dos homens em busca de trabalho, que antes ocorria apenas durante a estação seca, aumentou nas últimas décadas para alguns anos de duração, o que tem acarretado problemas sociais e ambientais. Todos os habitantes de uma das vilas visitadas pelos pesquisadores haviam abandonado outra aldeia, por causa da degradação do solo.

Bangladesh

Esse país banhado pelo Oceano Índico enfrenta uma situação muito complicada. De início, é superpopuloso: mais de 154 milhões de habitantes se apinham numa área de menos de 144 mil quilômetros quadrados, pouco maior que a do Amapá. Boa parte do país é composta por terras baixas, que enfrentarão, além da elevação do nível do oceano, as águas do degelo do Himalaia, trazidas pelos rios Ganges e Bramaputra. Calcula-se que se o mar subir um metro e não forem erguidos diques (algo bastante provável, já que esse é um dos países mais pobres da Terra), até 20% do território bengali ficará submerso. Depois dos ciclones e inundações mais recentes, a água salgada invadiu áreas de cultivo de arroz. Muitas delas foram convertidas em fazendas de criação de camarões. Diferentemente do arroz, porém, o camarão é caro para os padrões locais e quase toda sua produção é exportada. Além disso, criá-lo exige menos gente, o que colabora para o desemprego. Sem o arroz, muitas pessoas da região voltaram-se para a pesca, que se tornou mais intensiva e menos lucrativa. Os chefes de família desempregados vão para a capital, Daca, em busca de trabalho. Embora o governo bengali tenha criado um ministério para lidar com os desastres naturais, especialistas acreditam que, dada a instabilidade política naquela parte do planeta, movimentos populacionais deflagrados pela mudança climática podem representar uma ameaça para a segurança regional.

estão longe das típicas da média dos emigrantes: em vez de jovens aptos para o trabalho, que encaram positivamente o desafio de cruzar mares e planejam enviar dinheiro para seu país de origem, os grupos de refugiados ambientais englobam em geral pessoas mais pobres, mais mulheres, velhos e crianças, mobilizadas por situações ambientais mais desesperadoras e menos aptas a deslocar-se por grandes distâncias. Outros complicadores são as associações do drama desse grupos a fatores como o tráfico de pessoas e os conflitos armados re26

gionais, como o de Darfur, no Sudão, em cujas origens está a disputa pelo controle da (escassa) água. “Enquanto a migração e os deslocamentos humanos são comumente o resultado de múltiplos fatores, a influência da mudança climática na decisão das pessoas de desistir de seus meios de vida e deixar seus lares está crescendo”, afirma o dr. Charles Ehrhart. A situação exige novos raciocínios e abordagens práticas, adverte a drª Koko Warner, chefe da seção de Migração Ambiental, Vulnerabilidade Social e Adaptação do UNU-EHS e principal redatora do relatório.

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Coordenador de Mudança Climática da CARE International e um dos redatores do relatório.


Vietnã

Essencial para esse país do sudeste da Ásia, o rio Mekong cruza boa parte dele a uma altitude de no máximo quatro metros acima do nível do mar. Em sua época de cheias, ele afeta entre 40% e 50% do território vietnamita, no qual estão 40% da área cultivada e 18 milhões de habitantes, ou 25% da população do país. Segundo o dr. Charles Ehrhart, da CARE, se o nível do mar subir dois metros, e considerando-se a atual densidade demográfica da região do delta do Mekong, as residências de mais de 14,2 milhões de pessoas seriam inundadas, assim como metade da terra agricultável da área. O governo estabeleceu um plano de administração de enchentes pelo qual se responsabiliza pelo reassentamento das pessoas que vivem em zonas vulneráveis ao longo das margens do rio.

Tuvalu

Esse grupo de nove atóis situado no Oceano Pacífico, com altitude máxima de 4,5 metros, já tem seu cotidiano marcado pela elevação do nível do mar. A erosão da costa caminha aceleradamente, inundações de água salgada são frequentes e a agricultura é cada vez mais difícil ali. Outros problemas são a escassez de água doce, a dificuldade de descartar o esgoto e a superpopulação. Onze mil pessoas ainda moram em Tuvalu, mas muitos nativos já saíram – basicamente rumo à Nova Zelândia, que, por um acordo de imigração, recebe anualmente um pequeno número de cidadãos daquele país, além de habitantes de Fiji, Kiribati e Tonga. Pensou-se que, no caso de agravamento das condições ambientais, o governo neozelandês aceitaria a migração de todos os tuvaluanos, mas essa hipótese foi descartada recentemente. A Austrália declarou na mesma época que não considera aceitar refugiados ambientais.

Maldivas Arquipélago do Índico famoso como destino turístico, as Maldivas têm a maior parte de seu território apenas 1,5 metro acima do nível do mar. A ameaça de submersão levou o atual governo a reservar uma fatia do US$ 1 bilhão que arrecada anualmente com o turismo para comprar terras capazes de abrigar os cerca de 300 mil habitantes das ilhas. Sri Lanka e Índia têm a preferência das autoridades maldivenses, já que possuem cultura, culinária e clima semelhantes. Mas o presidente do país, Mohamed Nasheed, não descarta a Austrália, que, segundo ele, ainda tem muita terra desocupada disponível.

Diretor do Instituto do Meio Ambiente e da Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (UNU-EHS).

Para começar a lidar com a situação, Janos Bogardi, considera prioritário monitorar os números e as razões que levam as pessoas a se mudar, pois ainda existem defensores da justificativa de que esses movimentos só ocorrem por motivos puramente econômicos. Também é necessário tirar as autoridades da inação, e nesse sentido pode ajudar uma proposta como a Climate Change, Environment and Migration Alliance (CCEMA), aliança criada em 2008 na Alemanha para subsidiar estrategistas políticos com informações sobre meio ambiente e mudanças climáticas, de maio 2012|

modo que eles possam elaborar programas operacionais para essas situações. O receio geral, porém, é que essas intenções se percam em meandros burocráticos e demorem a se transformar em medidas concretas, deixando que os cidadãos ameaçados se virem sozinhos diante do aquecimento global. Quanto a esse risco, Koko Warner faz seu alerta: “A decisão política que tomamos hoje determinará se a migração e os deslocamentos podem ser uma escolha, uma medida de adaptação proativa, ou se são a prova trágica de nosso fracasso coletivo em proporcionar alternativas melhores.” 27


comportamento

Dependência conectiva Para algumas pessoas, sobretudo os jovens, o celular é percebido como uma extensão do corpo. Sair de casa sem o aparelho é como esquecer uma parte de si. Educadores e psicólogos já encaram a conectividade eletrônica como uma nova espécie de vício Por Maíra Lie Chao

Os jovens que participam do curso de verão da Putney Summer School, nos Estados Unidos, têm de deixar celular, laptop, tablet e qualquer outro aparelho de comunicação na entrada. Durante os 30 dias de estadia, o acesso à internet é limitado – dez horas semanais – e os fones de ouvido são banidos. Se qui28

serem ouvir música, devem conectar o MP3 a uma caixa de som, para que todos compartilhem. O intuito da política é induzir os alunos a interagir uns com os outros em vez de ficarem isolados e imersos em uma tela eletrônica brilhante. Afinal, trata-se de um curso de verão. Os jovens vão lá para se divertir,

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conhecer culturas, gente diferente e fazer amigos. Nos Estados Unidos é cada vez maior a preocupação com a intensidade da relação dos adolescentes com a internet e o celular, principalmente quanto aos limites de utilização desses meios de comunicação. Poder conversar com outras pessoas sem que a fronteira física atrapalhe é ótimo – uma conquista da modernidade. Porém, para manter relações saudáveis é preciso fazer um uso inteligente dos recursos tecnológicos e evitar os excessos da “dependência da conectividade”. Nesse ponto, a escola e, principalmente, os pais são responsáveis pela educação dos jovens. O celular se tornou um item de consumo favorito da população. O Brasil é o campeão em vendas da América Latina. Desde 2005, o número de telefones móveis ultrapassou o de fixos nas residências brasileiras. Além do mais, o celular é o principal representante da convergência tecnológica, permitindo ligações, envio de mensagens SMS e acesso à internet. Não por acaso, uma pesquisa publicada na revista Forbes revela que, desconsiderando os valores monetários, 46% dos jovens norte-americanos afirmam preferir o acesso à internet ao carro. Segundo Thilo Koloswski, da empresa norte-americana Gartner, o celular se tornou um item essencial que confere status, liberdade e sociabilidade aos seus usuários, atributos antigamente oferecidos pelos automóveis.

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Pais e filhos

Quem convive com adolescentes sabe que um dos piores castigos para eles é ficar sem celular e sem computador. Os jovens permanecem conectados aos amigos e à família 24 horas por dia, ligando, trocando torpedos e atualizando status nas redes sociais. De acordo com Zygmunt Bauman, na era da informação, a invisibilidade equivale à morte. Nessa fase marcada pela busca da identidade e da autonomia, é muito comum ver adolescentes imersos nesses meios de comunicação. Mas para o que os jovens usam tanto o celular? A pesquisa “Uso de Celular na Adolescência e sua Relação com a Família”, envolvendo 534 jovens entre 12 e 17 anos de escolas públicas e particulares de Porto Alegre (RS), revelou que o uso mais frequente do aparelho é para se comunicar com os pais (90%) e com os amigos (79%). “É possível perceber que as relações virtuais estabelecidas pelo telefone celular acompanham as relações reais estabelecidas com família e grupo de amigos”, diz a psicóloga Fabiana Verza, especialista em terapia familiar e autora do estudo. As outras utilizações mais populares são vinculadas à coordenação do dia a dia, com funções de despertador e de agenda. Em muitas famílias, o celular pode significar mais que um simples aparato tecnológico. Segundo o livro Adolescência & Comunicação Virtual, dar um celular de presente ao filho é um rito de passagem para uma nova fase do ciclo familiar. Se antes se dava a chave da entrada da casa como símbolo de confiança, liberdade e autonomia, hoje se presenteia o adolescente com um celular.

Sociólogo polonês, autor da obra Modernidade líquida

Escrito pelas pesquisadoras Adriana Wagner, Fabiana Verza, Rosane Spizzirri e Caroline Eifler Saraiva

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comportamento

O aparelho também proporciona mais tranquilidade aos pais e aos jovens sempre que saem de casa. “Existe uma necessidade de monitoramento dos filhos pelos pais, principalmente em função da violência e da insegurança associada a ‘sair de casa’ na atualidade, e, nesse ponto, o celular pode ser um grande elo de ligação”, escrevem as autoras. Mas, cuidado! O aparelho não deve ser uma extensão do cordão umbilical. Ligações recorrentes entre pais e filhos podem indicar a existência de uma relação simbiótica pouco saudável e trazer à tona problemas na estrutura familiar. Segundo Fabiana, o fácil acesso a outros recursos midiáticos via celular, como internet e messenger, também exerce um papel relevante na socialização do jovem. Para os mais tímidos, o celular é um facilitador social. Eles se sentem mais à vontade em ligar diretamente para os amigos, sem ter de falar com os pais deles e de trocar mensagens de texto, recurso que não exige olhar nos olhos. Desse modo, os mais tímidos conseguem se socializar melhor. Em outros tempos, isso não seria possível. Vale lembrar, obviamente, que esse meio de comunicação não deve substituir uma conversa presencial. 30

É importante ter em mente que a juventude de hoje, assim como a das gerações passadas, tem essencialmente as mesmas necessidades: se vincular a um grupo, ter mais autonomia e consolidar uma identidade. O que muda é atender essas necessidades na era da informação digital. O celular pode ser um aliado da educação ou um problema da família. “Alguns pais se sentem desautorizados a interferir na relação entre seus filhos e a tecnologia, pois não têm certeza se isso é positivo ou negativo para o crescimento deles”, analisa Fabiana. Mesmo não entendendo a tecnologia tão bem quanto os jovens, os pais não devem abrir mão de sua autoridade. “A tecnologia deve ser tratada apenas como um complemento nas relações familiares e um estímulo a mais para o desenvolvimento do filho”, diz a especialista. No contexto moderno, cabe aos pais criar novos meios para controlar o uso de celular e internet. Fabiana recomenda que se estabeleçam regras de uso, para que os jovens tenham noção de tempo e de prioridade na utilização. Essa conversa é importante e pode prevenir futuras dores de cabeça, como contas caríssimas no final do mês. Os pais devem ficar atentos caso

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o uso do celular interfira na produtividade do jovem na escola e em atividades extracurriculares e prejudique a interação com família e amigos, levando-o a um isolamento social.

Prozac virtual

Integrante de um grupode apoio ao dependente em internet do Hospital das Clínicas em São Paulo

Na Coreia do Sul, um dos países mais conectados do mundo, a dependência de internet e, sobretudo de jogos de computador, é um problema tão sério que já virou questão de saúde pública. O Brasil ainda não se aproximou desse nível, mas os especialistas andam atentos. Estima-se que por volta de 10% dos usuários de internet sejam “dependentes”. No Hospital das Clínicas de São Paulo já existe um grupo de apoio para quem tem dificuldade de se desconectar. “Os frequentadores são pessoas de classe média, com bastante estudo, mais homens que mulheres, que abrem mão de qualquer outra coisa para estar na internet”, caracteriza Dora Sampaio Góes. Para eles, o mundo real é mais sem graça, difícil e imprevisível. Nos jogos eletrônicos, o que acontece ao personagem não afeta na vida, de modo que a pessoa se sente mais segura em arriscar. “O jogo acaba sendo um Prozac virtual, um modulador de humor. A pessoa passa a ficar mais calma, mais centrada na internet, porque se descomaio 2012|

necta do mundo real”, explica Dora. A psicóloga alerta que a adolescência em si já é um fator de risco para a dependência, principalmente quando o jovem não tem uma vida social satisfatória nem apoio familiar. É essencial ficar atento caso a quantidade de tempo na internet ou a conexão a algum dispositivo de comunicação interfira nas atividades do dia a dia. A tecnologia não é causadora da dependência. Nesse caso, geralmente o paciente já pode ter algum problema de ordem afetiva. “Não acho que a tecnologia em si seja o fator principal, mas favorece. Afinal, não haveria dependência de internet se ela não existisse. Porém, essa pessoa poderia ter algum outro tipo de transtorno do impulso”, afirma Dora. Os problemas que surgem como indicadores da dependência de internet são: depressão, fobia social, décifit de atenção e hiperatividade (TDAH). Outro fator que agrava o quadro é o barateamento da internet 3G. De acordo um estudo da Telebrasil, os acessos por essa tecnologia aumentaram em 90% entre 2010 e 2011. “O 3G contribui muito para a dependência de internet e pode gerar maior dependência de celular. No último caso, a pessoa não con-

Sigla para Associação Brasileira de Telecomunicações

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comportamento

segue desligar o aparelho nem parar de ver se há algum torpedo ou e-mail novo. Ela fica dependente dessa informação”, relata Dora. Não por acaso, nesse ano, o intuito é abrir, no HC, um grupo de apoio à dependência de celular. De modo geral, tanto a dependência de celular, quanto a da internet são parecidas. Mas quem é dependente do telefone pode não ser de internet e vice-versa. O dependente de conectividade passa o dia inteiro ligado à internet, pondo em risco o emprego, burlando as normas da empresa, faltando às aulas na escola ou abrindo mão de atividades cotidianas, como academia, jantar com amigos etc. “Com o celular, o estudante, por exemplo, vai à aula, mas só de corpo presente”, conta Dora. Para ter um relacionamento saudável com os aparelhos eletrônicos, é preciso manter satisfações fora da internet, como praticar um esporte, cultivar amigos e conviver com a família. O propósito das tecnologias de comunicação deve ser facilitar o contato com outras pessoas, complementando as relações já existentes.

Nas escolas

Muitos pais e professores estão preocupados com a hiperconectividade dos alunos. Mas especialistas alertam 32

que não adianta proibir o celular em sala de aula. Afinal, o pequeno aparelho pode vir silencioso nas mochilas e o professor nem perceber que o aluno está se comunicando com outras pessoas fora do ambiente escolar. “O ideal seria usar o celular como um instrumento de apoio ao progresso do ensino e aprendizagem”, afirma Maria Elizabeth Almeida. Para ela, o celular só atrapalha o aprendizado porque não está devidamente incorporado às atividades pedagógicas. No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, o celular só é proibido na hora da prova. Em sala de aula, a decisão é do professor e cabe a ele usar a criatividade para elaborar atividades em que o aparelho seja um aliado do ensino. Cristiana Mattos Assumpção relata que em uma aula de biologia sobre hormônios um aluno esclareceu uma dúvida da sala se comunicando com a mãe via torpedo. A rapidez com que as informações podem ser acessadas é uma das vantagens. Em outro caso, uma professora de física utilizou um aplicativo de celular que monitora suas corridas diárias para auxiliar o aprendizado. “O contato dos professores e alunos nas redes sociais também é uma grande vantagem, pois aproxima a escola da

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Coordenadora e docente no Programa de Pós-Graduação em Novas Tecnologias da Faculdade de Educação da PUC/SP

Coordenadora de psicologia educacional do Colégio Bandeirantes, em São Paulo.


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sociedade e traz o cotidiano para a aula. Essa integração, em termos educativos, é muito importante”, ressalta Maria Elizabeth. Mas as novas tecnologias e adolescência podem resultar em uma combinação problemática. Por isso, é importante uma conscientização sobre o uso dos aparelhos. É típico da juventude testar os limites e cabe aos educadores, pais e professores impô-los. “Desde 2007, damos o curso de ética e cidadania digital. São três aulas anuais em todas as séries. Possuímos material didático e procuramos discutir os temas mais populares entre eles, como identidade, privacidade, autocontrole, bullying, uso responsável de celular e cuidado com a imagem”, conta Cristiana. Os resultados não são imediatos, mas em longo prazo o colégio colhe bons frutos. Os professores perceberam que os alunos estão mais conscientes. Anteriormente, se expunham demais nas redes sociais. A conscientização sobre esse excesso fez com que compartilhassem informações com mais cuidado. Muitos ex-alunos tentam disseminar o conhecimento e levar o método para as faculdades. Outro tópico é ensinar o aluno a sair da superficialidade e pesmaio 2012|

quisar a fundo os assuntos. “Temos de mudar cada vez mais nossas estratégias para tornar o aluno mais participativo”, diz Cristiana. Segundo Maria Elizabeth, um fator essencial para a melhora da integração com as novas tecnologias em aula é a formação dos professores. “Eles precisam compreender as potencialidades e como elas podem contribuir para o aprendizado e formação humana”, ressalta. Principalmente o celular, que é mais popular que o computador. Trata-se de um instrumento de cultura contemporânea nas mãos dos alunos. “A tecnologia em si não vai fazer a diferença. O ponto-chave é o professor. O desafio é transformar isso em algo educativo. Cabe a nós mostrar esse caminho, sem torná-lo chato”, conclui Cristiana. É importante lembrar que todas as gerações de jovens precisaram de orientação. Com a juventude atual não é diferente. O que muda é o contexto social. “Tem um monte de gente que usa o Facebook para encontrar pessoas, e não para ficar atrás da tela. A ferramenta é muito legal, o que as pessoas acabam fazendo com elas é que pode gerar problema”, finaliza Dora. 33


comportamento

Japoneses descontrolados Por Emi Sasagawa

Uma pesquisa publicada pelo Ministério da Educação no Japão em 2009 indica que o celular está tomando conta da vida dos adolescentes japoneses. O estudo, que entrevistou 20 mil adolescentes em um mês, oferece evidência do uso abusivo do aparelho. No país mais conectado do mundo, 96% dos adolescentes entre 16 e 17 anos possuem celular. De acordo com o estudo, 25% de alunos no ensino fundamental usam o aparelho durante as refeições e 50% de alunos no ensino médio usam durante o banho! Além das funções mais comuns, os jovens japoneses usam celulares para ler shosetsu (novelas), contar passos, tocar piano e fazer compras. O problema é que o uso se tornou compulsivo. Segundo declarações do ministro da educação, Hiroyuki Mantani, os adolescentes japoneses mandam e-mails excessivamente. A pesquisa indica que 7% dos jovens entrevistados mandam mais de 100 mensagens por dia. As meninas inventaram uma linguagem de celular chamada gyarumoji, na qual usam emoji (emoticons) para se comunicar. Nos blogs, elas dão dicas de como se manter conectado, por exemplo, colocando o celular em um saco plástico para usá-lo na banheira. A necessidade de sempre estar conectado criou uma sociedade de ado34

lescentes obcecados por respostas imediatas. Segundo o estudo, 12,4% de alunos no ensino médio acham que um minuto é tempo demais para esperar por uma resposta. Quando as respostas demoram 30 minutos, a espera gera alto grau de ansiedade. No Japão, os celulares são chamados de keitai denwa (telefone portátil). Mas o antropólogo Mizuko Ito afirma que o conceito não pode ser traduzido com precisão. Mais que um simples aparelho telefônico, ele é uma parte intrínseca da sociedade, considerado uma extensão do corpo humano. Os jovens decoram seus aparelhos cuidadosamente para refletir sua personalidade. O apego excessivo gera consequências indesejáveis. A pesquisa indica que os celulares, além de gerar ansiedade, prejudicam o estudo e o sono e são instrumentos de cyberbullying. Com a comunicação eletrônica, os jovens encontram cada vez mais dificuldade para se comunicar verbalmente. Em janeiro de 2009, o Ministério da Educação tomou medidas para banir o uso de celular no ensino fundamental e minimizar seu uso em aula no ensino médio. O país tecnologicamente mais evoluído do mundo sofre para encontrar o equilíbrio entre a vida real e a vida virtual.

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Livros

Cinema

Ideias Geniais

Os Principais Teoremas, Teorias, Leis e Princípios Científicos de Todos os Tempos Surendra Verma, Ed. Gutenberg

Más notícias de lindos lábios Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Beto Brant e Renato Ciasca, conta uma história de amor na Amazônia, sem clichês. A instável Lavínia (Camila Pitanga), casada com Ernani (Zecarlos Machado), um pastor evangélico que acredita ser possível consertar as contradições do mundo, se apaixona pelo fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), em meio às praias do Rio Tapajós, a música do carimbó e a cultura colorida de Santarém, no Pará. Um filme brasileiro sem clichês é um acontecimento raro, e este é um deles. A narrativa não fica a dever ao cinema argentino moderno. A partir do livro homônimo de Marçal de Aquino, a história flui com inteligência e sensibilidade explorando as dúvidas de Lavínia – magistralmente interpretada por Camila Pitanga – e seus conflitos pela traição ao marido que a salvou da prostituição em Copacabana e atração da nova paixão. No fundo, desenrolam-se os conflitos da Amazônia, o desmatamento, a invasão de terras e a luta da população, mas sem rasgos de massacre ecológico, matanças sangrentas, vulgaridades sexuais ou concessões demagógicas. Lavínia vai ao fundo do poço, mas se recupera. Um filme feliz com final feliz. 38

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Os princípios e as leis fundamentais da ciência em linguagem compreensível, com as ideias de cientistas como Pitágoras, Galileu, Newton, Darwin, Einstein, Rachel Carson e James Lovelock.

DVD


O leão e a joia Wole Soyinka Geração Editorial

A história se passa em um pequeno povoado africano, onde dois homens diferentes disputam o amor de Sidi, a beldade do local. A fábula mostra os conflitos de valores e tradição entre os costumes africanos e europeus. Uma das primeiras obras de Wole Soyinka, prêmio Nobel de literatura em 1986.

O céu dos suicidas

Getúlio Vargas: a esfinge dos pampas

Ricardo Lísias Alfaguara

Richard Bourne Geração editorial

O romance conta a história de um jovem colecionador que sofre e se desestrutura após o suicídio de seu melhor amigo, André. Dominado por remorso, culpa e agonia, busca se recompor em uma viagem a Beirute, no Líbano, onde procura a história de sua família.

A vida de Getúlio Vargas através da percepção do inglês Richard Bourne, professor de estudos políticos da Universidade de Londres. A biografia possui uma análise política e psicológica de um dos presidentes que mais marcaram o Brasil.

Divórcio à italiana

Uma das maiores comédias de todos os tempos. O filme de Pietro Germi narra a história do barão Fefè Cefalu (Marcello Mastroianni) que planeja matar a esposa Rosalia (Daniela Rocca), para ficar com a prima Ângela (Stefania Sandrelli). Na Itália dos anos 60 o divórcio era proibido, só restando ao picareta Fefè arrumar um jeito para eliminar a mulher.

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O discurso do rei

Conta o drama de Bertie (Colin Firth), o complexado rei George VI, que sofre de uma constrangedora gagueira. Sua vida muda quando a esposa o leva ao terapeuta Lionel Logue (Geoffrey Rush), que dá lição de humanidade. 39


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Exposição

Patrimônio paulista

Quando: até 17 de junho (terça a domingo, das 10h às 18h). Quanto: R$ 4. Onde: Museu da Casa Brasileira (Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo/SP). Mais informações: (11) 3032-3727

CD

Esperanza Spalding

Junjo, lançado em 2006, é o primeiro álbum da celebrada baixista, compositora e cantora Esperanza Spalding. O disco varia desde as canções de jazz moderno, como “Humpty Dumpty”, à música brasileira contemporânea, como “Loro”, e ao som folclórico argentino, em “Cantora de Yala”.

Exposição idealizada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e pela Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, com 90 fotografias dos bens tombados na região do litoral e do Vale do Paraíba. Com imagens organizadas pelo fotógrafo Iatã Cannabrava e textos da cientista social Margarida Cintra Gordinho, permite apreciar os marcos da arquitetura das vilas do século 16 e 17, como São Vicente, Iguape e Cananéia entre outras. A exposição ensejou o lançamento do livro Patrimônio Paulista: Litoral e Vale do Paraíba (Ed. Terceiro Nome), versão de bolso da mostra.

Sites Einstein na web Manuscritos, cartas e trabalhos de Albert Einstein foram digitalizados e estão expostos gratuitamente no website que homenageia o cientista. Muitos dos documentos estão em alemão, mas no site há uma tradução para o inglês.

> alberteinstein.info/gallery.html

Aplicativo Arte de economizar

Com a proximidade das festas é bom guardar dinheiro. Por meio de geolocalização, o aplicativo para iPhone, WeSave, que possui versão em português, mostra as ofertas dos produtos mais próximas de você. Quem cadastra as promoções são os próprios usuários. Permite economia e ajuda os outros a economizar. Acesse: www.wesaveapp.com/pt

Estratégia no Rio + 20

No Game Change Rio o jogador é o economista-chefe da ONU e deve escolher entre 125 políticas para combater a fome, aumentar a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, proteger o ambiente.

> gamechangerio.org 40

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