TFG | Biblioteca Pública: renovação cultural em São Sebastião do Paraíso/ MG

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Biblioteca Pública

Renovação cultural em São Sebastião do Paraíso | MG

Maísa Neves Pimenta



Biblioteca Pública

Renovação cultural em São Sebastião do Paraíso | MG

Universidade de São Paulo

Faculdade de arquitetura e urbanismo Trabalho final de graduação dezembro de 2016

orientador:

Antônio Carlos Barossi

Maísa Neves Pimenta


Agradecimentos


Ao professor Barossi, que acreditou neste trabalho, me guiou, me aconselhou e me deu forças para seguir em frente. Obrigada pela confiança e por todos os ensinamentos! Aos amigos que a FAU me deu de presente e que ajudaram a construir este trabalho dia a dia: Juliana, Camila, Larissa, Karina, Rodrigo, Heron, Cibele e Luiza. Obrigada por compartilharem comigo todos os momentos de alegria, cumplicidade, aflições e conquistas que fizeram destes anos de graduação os melhores da minha vida. Às queridas amigas de Paraíso, que contribuíram com a minha formação e estiveram presentes na minha juventude, quando, ainda que inconscientemente, construí a percepção sobre o espaço da minha cidade natal e a memória afetiva que hoje me guia na realização deste trabalho. À Mariana, pela ajuda durante todo este percurso e, principalmente, quando mais precisei, pelo carinho e por ser minha amiga-irmã de hoje e sempre. Ao André, por ser meu companheiro e estar ao meu lado em todos os momentos, pela paciência durante esse ano, por sempre me lembrar de acreditar em mim mesma e pelo amor que sinto todos os dias. À minha família, sobretudo meus pais e minha irmã, pelo amor incondicional e por terem oferecido todo apoio e força essenciais para que eu realizasse este sonho. Amo vocês!




Ă?ndice


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Considerações iniciais

Cidade 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Localização A cidade História Inserção regional Áreas verdes e de lazer Sistema viário Economia Expansão urbana Plano diretor Paisagem urbana

Parque 38 40 42 44 48 50 52 56 58

Proposta Uso do solo Escala urbana Parque linear Setor 3 Análise da área Entorno Implantação Conceito

Biblioteca 62 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88

Estudo do programa Partido do projeto Programa mínimo de necessidades Planta - Térreo Planta - Primeiro andar Corte A Corte B Corte C Corte D Corte E Elevação 1 Elevação 2 Perspectivas

92

Bibliografia


10

Consideraçþes iniciais


Durante a maior parte da vida acadêmica enfrentamos dificuldades e desafios inerentes às grandes metrópoles, como São Paulo, por exemplo. Por isso, trabalhar em uma cidade de pequeno porte significa, neste Trabalho Final de Graduação, um desafio que enseja novas questões, outras problemáticas e diferentes perspectivas. Por razões afetivas, a cidade de São Sebastião do Paraíso- MG foi escolhida para estudo; cidade onde nasci e vivi por 18 anos. Certamente, as experiências e escolhas dessa época fazem parte da bagagem que refletirá na leitura que farei neste trabalho. Neste sentido, o grande desafio será a união dessa vivência pessoal com o conhecimento técnico adquirido ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo. A cidade de São Sebastião do Paraíso localiza-se na região sudoeste do Estado de Minas Gerais e possui, segundo o Censo IBGE 2010, uma população estimada em 70 mil habitantes no ano de 2016. A cidade é a mais populosa da microorregião de mesmo nome, formada por outros 13 municípios. Localizada na região da bacia do Médio Rio Grande, a cidade participa de uma rede urbana regional, chamada AMEG (Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande), na qual exerce papel central juntamente com o município vizinho de Passos. Neste contexto, o município atrai diariamente um fluxo de pessoas em busca, principalmente, de trabalho, educação e serviços, demonstrando o caráter dinâmico de sua economia. Infelizmente, apesar da inexistência de questões urbanas mais graves como assentamentos precários e o grande potencial de São Sebastião do Paraíso não só como centro regional econômico, mas também de lazer e cultura, identifica-se um subaproveitamento dos recursos existentes. A cidade, assim como muitas outras com porte semelhante no país, sofre com falta de urbanidade, ausência de significativas áreas verdes livres, ausência de planos de mobilidade que valorizem o pedestre e as bicicletas em detrimento do carro, e falta de espaços e atividades culturais. O resultado é uma cidade que se desenvolve a mercê do mercado imobiliário e na qual não existe uma verdadeira relação de apropriação entre os espaços públicos e seus habitantes. Este exercício representa um retorno, a compreensão e a reinterpretação de um espaço já conhecido. O trabalho foi estruturado em três grandes temas de estudo: Cidade, Parque e Biblioteca. O primeiro consiste na compreensão de São Sebastião do Paraíso em seus mais diversos aspectos, tais como: infraestrutura urbana, fluxos, economia, planejamento, cultura e proteção ambiental. No segundo, é realizada uma proposta de criação de um parque linear; para isso foram realizados levantamentos em uma escala mais ampliada e foi escolhido um setor para elaboração de uma proposta de implantação do programa. Por fim, no capítulo final, é apresentado o projeto do equipamento presente no parque linear, o qual é primordial para o município e para a renovação representada pelo projeto como um todo. 11



Cidade


Belo Horizonte

5h30

São Sebastião do Paraíso

Ribeirão Preto

1h15

4h20 São Paulo

14

Localização


0

05

MG

Município Rodovia - local

Guardinha

Sede

Rodovia - nacional / estadual Área urbana

Termópolis

Área do município 0

5

26

BR

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base

BR4

91

10 km

fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

São Sebastião do Paraíso localiza-se na região Sudoeste de Minas Gerais, na fronteira com o estado de São Paulo, a 397 km de Belo Horizonte, 335 km de São Paulo e 115 km de Ribeirão Preto. O município possui uma área de 814,925 km2 e conta com, além do distrito sede, mais dois distritos:Termópolis e Guardinha. O acesso ao município é feito principalmente por vias rodoviárias, pois a região não é mais servida por ferrovias e o uso do aeroporto existente não é feito por vôos comerciais. Três importantes rodovias margeiam o município: a MG050, a BR265 e a BR491. Apesar da cidade se localizar em distância muito semelhante entre as duas capitais assinaladas no mapa ao lado, São Sebastião do Paraíso tem ligações econômicas e sociais mais recorrentes com o estado de São Paulo. A hipótese é de que, além de São Paulo ser o centro econômico do país, as melhores condições das rodovias para as cidades paulistas propiciam uma ligação mais direta com o estado vizinho. A MG050 que inicia-se em São Sebastião do Paraíso e segue até a região metropolitana de Belo Horizonte, teve 344 km dos seus 372 km de extensão concedidos à iniciativa privada em 2007 e desde então sofre com atrasos de obras, possuindo, de acordo com o Relatório Executivo de Maio de 2016 ( Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas do Governo de Minas Gerais) apenas 9% do seu trecho em pista dupla e 45% do trecho com terceira faixa. Já a conexão entre São Sebastião do Paraíso e São Paulo se dá pelas rodovias BR491, MG449, SP 340 e SP348 e conta com cerca de 78% vias duplicadas.

Localização Oceano Divisa de estado Área municípios São Sebastião do Paraíso 0

100 km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base cartográfica do IBGE.

A BR265 utilizada na conexão entre o município e Ribeirão Preto destaca-se também pois Ribeirão Preto é o pólo econômico e cultural mais próximo ao município, onde os habitantes (principalmente das classes média e alta) buscam diversos serviços como educação e saúde. Além disso, numa escala mais ampla identifica-se a BR265 como grande eixo de circulação de pessoas e mercadorias, sendo uma rodovia transversal que conecta os Minas Gerais e São Paulo, além de aproximar-se com a divisa entre Espírito Santo e Rio de Janeiro.

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A ocupação do que hoje compreende o Estado de Minas Gerais remonta ao período da colonização portuguesa no Brasil e da extração de metais preciosos na região. Neste contexto, foram fundadas as vilas de Ribeirão do Carmo (hoje, Mariana), Vila Rica (hoje, Ouro Preto) e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição (hoje, Sabará). A ocupação iniciada nestes incipientes núcleos urbanos irradiou-se pela região, originando outros núcleos urbanos. Assim, conforme surgiam novos núcleos urbanos, o governo metropolitano apressava-se em estabelecer a burocracia estatal que garantisse a cobrança de impostos sobre a extração das minas. Porém, embora muitas vilas tenham se adensado rapidamente, a extração do ouro foi de tal maneira intensa que muitas vilas foram despovoadas, conforme o ouro da superfície era esgotado. As terras da região onde hoje está situada a cidade de São Sebastião do Paraíso pertenciam primordialmente à família Antunes Maciel, a quem foi concedida uma carta de sesmaria pela coroa portuguesa. Ao todo, o estado de Minas Gerais foi dividido entre 48 sesmeiros. Lá, fundaram a Fazenda da Serra, onde praticavam atividade pecuária. Por sua devoção católica, doaram à Igreja Católica uma área de cerca de 50 alqueires e promoveram a construção de uma capela. A escolha do local onde seria construída a capela foi dessa forma descrita pelo historiador Luis Ferreira Calafiori (2015): “Caía a tarde do dia 23 de outubro de 1821... o sol poente, por entre densas nuvens multicoloridas, oferecia um vasto e deslumbrante quadro celeste que só mesmo Criador seria capaz de imaginar e pintar, dado à harmonia e profusão de cores dominando todo o vasto horizonte delimitado pela silhueta graciosa da então verdejante serrania. Para enriquecer ainda mais tão magnífico espetáculo contemplado por três cavaleiros à procura do melhor lugar no âmbito da enorme Fazenda da Serra, destinado a servir de base para a pretendida capela comunitária em louvor a São Sebastião, eis que naquele exato momento, um bando de alvas garças em constante algazarra, corta os ares em formação de “V” sob a liderança de uma companheira mais veloz, voando, quem sabe, com destino à “lagoinha” para descanso e pernoite... Quase na lateral da esquerda do início daquele singular planalto coberto por verdejantes pastagens e ornamentado por três ou quatro robustas árvores de ipê amarelo, ouvia-se o suave murmurar de um filete de

Vista praça da Matriz, antiga Rodoviária (atual Biblioteca), 1960 - 1970 Fonte: https://www.facebook.com/groups/ParaisoHistoriaeEstorias/.

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Considerações históricas


1

2

3

água pura e cristalina, descendo declive abaixo, na atual confluência da Praça Com. José Honório/Rua Padre Benatti... Foi devido a tudo isso que o Capitão Antonio Soares Coelho tomou a iniciativa e proferiu as célebres palavras: “Compadre Antonio Antunes, isto aqui é um paraíso, aqui deverá ser construída a capela”... “Sim, tens razão, isto aqui é um Paraíso!”. Porém, deve-se principalmente à corrida do ouro a ocupação da região de Jacuí, no sudoeste do Estado. Isto ocorreu na segunda metade do século XVII, quando aventureiros deixaram a região das minas de ouro (Sabará, Mariana e Vila Rica) para procurar metais preciosos em regiões até então inexploradas. Este processo foi intensificado após o advento a Inconfidência Mineira, quando muitos fugiram da repressão exercia pelo governo metropolitano. No distrito de Jacuí, em 1855 foi criada a paróquia de São Sebastião do Paraíso. No entorno da primitiva capela, situada próxima ao local onde hoje está a igreja matriz da cidade, surgiu o povoado que em 1870 foi elevado à categoria de vila e em 1871 tornou-se sede do município de Jacuí. Já no ano de 1873, São Sebastião do Paraíso separou-se de Jacuí, tornando-se uma cidade emancipada.

1. Praça da Matriz, 1934.

Fonte: https://www.facebook.com/groups/ParaisoHistoriaeEstorias/.

2. Parque da Lagoinha. Sem data.

Fonte: https://www.facebook.com/groups/ParaisoHistoriaeEstorias/.

3. Vista praça da Matriz, antiga Rodoviária (atual Biblioteca), 1960 - 1970

Fonte:https://www.facebook.com/groups/ParaisoHistoriaeEstorias/.

Após o declínio da extração aurífera, parte da população dispersou-se pelas regiões vizinhas. Os que permaneceram passaram a realizar a agricultura de subsistência. Entretanto, em pouco tempo as férteis terras do sudoeste de Minas Gerais foram ocupadas pela produção do café em expansão desde a década de 1850. Segundo o historiador Luis Ferreira Calafiori (2015), os primeiros pés de café foram plantados em São Sebastião do Paraíso em 1866. Entretanto, devido à dificuldade de acesso à região, levou alguns anos para que a produção cafeeira se desenvolvesse como atividade econômica de destaque. Esta dificuldade começou a ser contornada com a chegada da Estrada de Ferro São Paulo e Minas, na qual foi inaugurada a estação de São Sebastião do Paraíso em 1911. Já a ferrovia da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro inaugurou sua estação na cidade em 1914. A chegada da infraestrutura férrea foi fundamental para a economia local. Ambas as estradas de ferro operaram até a segunda metade do século XX.

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POPULAÇÃO (pessoas)

PIB PER CAPITA (reais)

INCIDENCIA DE POBREZA (%)

Ribeirão Preto

604.682

Itaú de Minas

38.368,44

São João Batista do Glória

35,51

Passos

106.290

Ribeirão Preto

36.194,42

Delfinópolis

34,54

São Sebastião do Paraíso

64.980

São João Batista do Glória 32.832,76

Fortaleza de Minas

29, 89

Piumhi

31.883

São José da Barra

32.261,85

São Tomás de Aquino

29,22

Carmo do Rio Claro

20.426

Ibiraci

24.501,41

Guapé

28,20

Cássia

17.412

Fortaleza de Minas

20.498,73

Cássia

28,18

Itaú de Minas

14.945

São Sebastião do Paraíso 18.978,16

Capetinga

26,70

Guapé

13.872

Capitólio

18.906,08

Itaú de Minas

26,33

Ibiraci

12.170

Passos

17.481,30

Pratápolis

26,27

Pratápolis

8.807

Delfinópolis

17.277,62

Piumhi

24,34

Capitólio

8.183

Piumhi

15.325,65

Passos

23,88

Capetinga

7.089

Claraval

14.221,51

Claraval

23,32

São Tomás de Aquino

7.083

Carmo do Rio Claro

14.141,92

São Sebastião do Paraíso

21,27

São João Batista do Glória

6.887

Cássia

13.169,06

Delfinópolis

6.830

Ibiraci

20,66

São Tomás de Aquino

11.917,97

Claraval

4.542

Carmo do Rio Claro

16,87

Fortaleza de Minas

4.098

Guapé

11.202,73

São José da Barra

16,73

Capetinga

10.469,39

Ribeirão Preto

11,75

Fonte: IBGE 2010

Claraval

Fonte: IBGE 2010

Fonte: IBGE 2010

Delfinópolis

Ibiraci

Piumhi Cássia

São João Batista do Glória

Capitólio

Capetinga Itaú de MInas São Tomás de Aquino

Passos

São José da Barra Guapé

Pratápolis

Fortaleza de MInas São Sebastião do Paraíso Carmo do Rio Claro

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Inserção regional


São Sebastião do Paraíso é um dos municípios localizados na bacia hidrográfica do Médio Rio Grande e, juntamente com outros 14 municípios do estado de Minas Gerais, compõe a Região do Médio Rio Grande (RMG). Como tentativa de compreensão do município estudado em sua região envoltória, foram analisados alguns dados referentes RMG e dados da cidade de Ribeirão Preto, que representa o pólo econômico mais próximo da região e funcionará como parâmetro comparativo para o leitor que se encontra distanciado desta realidade. O município é o segundo mais populoso dentre os municípios da RMG e, junto com o município de Passos, concentra cerca de 52% da população total da região. Logo, trata-se de uma região composta por municípios de pequeno porte que em sua maioria não concentram mais do que 10% da população total. Segundo o Plano de Desenvolvimento Regional da RMG (PDR), o crescimento populacional da região vem diminuindo nos últimos anos, acompanhando o fenômeno que vem ocorrendo em Minas Gerais nos últimos 40 anos. A grande redução concentra-se principalmente na faixa etária de 20 a 25 anos, o que demonstra uma emigração de jovens da região, o que se tornou um sério problema econômico para seus municípios. Apesar de seu caráter agrícola, a região é majoritariamente urbanizada. De acordo com o PDR, já em 1970 cerca de 57% da sua população vivia nas cidades, chegando a 83% no ano de 2000. Importante salientar que, no entanto, essa rápida urbanização não significou o desenvolvimento de grandes pólos industriais e de serviços e se deu predominantemente de forma horizontal. O uso do solo da RMG é tradicionalmente feito pelas lavouras de café, milho, cana-de-açúcar e criação de gado leiteiro. O PDR afirma que estas culturas ocupam juntas, em ordem decrescente, cerca de 90% do solo plantado, sendo que apenas 15% é ocupado pela cana-de-açúcar. Estas três culturas compõem a base econômica da RMG, sendo que outras culturas como arroz e feijão acabam restritas ao consumo local, havendo pouca ou nenhuma exportação. Observando os dados referentes ao PIB per capita é possível observar que o maior índice é dado para as cidades com as maiores empresas da região: o grupo Votorantim presente nas cidades de Itaú de Minas e Fortaleza de Minas e as hidrelétricas de Furnas e Marechal Mascarenhas nas cidades de São João Batista do Glória, São José da Barra e Ibiraci. Apesar da existência dessas grandes empresas na região, a parte da economia que mais emprega habitantes da RMG constitui-se nas culturas agrícolas, na criação, no beneficiamento, no artesanato e na confecção. De acordo com o PDR, o crescimento do PIB foi de 30% para os anos de 2002 a 2006 na RMG, sendo que se retiramos os investimentos hidrelétricos do PIB a RMG teria um crescimento de 12%, abaixo do estado de MG que foi de 20% na mesma época. Importante ressaltar que os investimentos feitos nestas hidrelétricas nos últimos anos representaram gastos relacionados à modernização dos equipamentos, controle e manutenção de equipamentos, logo, não significaram um aumento da capacidade produtiva destas indústrias. Conclui-se que a RMG possui uma economia pouco diversificada e tem crescido pouco, se comparada ao estado. Apesar de estar muito próxima do estado de São Paulo, a região possui um problema de conexão uma vez que as estradas que conectam suas cidades são precárias e o escoamento da produção para exportação acaba sendo prejudicado. A RMG se apresenta para nós como uma região com um grande potencial econômico e turístico a ser explorado, e a cidade de São Sebastião do Paraíso, que é um de seus maiores centros econômicos e populacionais, representa o ponto chave para uma atuação na região de maneira que estes potenciais sejam devidamente explorados.

Inserção regional Represa São Sebastião do Paraíso Área municípios 0

10

20 km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base cartográfica do IBGE.

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Parque São Judas Tadeu Jd. Mediterranée

Pq. das Andorinhas Jd. São José

Verona Conj. Hab. Veneza

Jd. América Colapa

Vila Helena

Parque Industrial I

Cj. Inocoop

Cidade Industrial

Vila Operária

Alto Bela Vista

Jd. Bernadete Vila Dalva Jd. Irmãos Bello Jd. Ouro Verde

Centro

Jd.Alvorada

Vila Radeli Independência

Jd. das Paineiras

Jd.Itamarati Jd. Planalto Vila Formosa Vl. Nossa Senhora de Fátima Parque São Francisco Jd. Cidade Nova

Mocoquinha Vila Muschioni

20

A cidade

João XXIII Vila Nova


O município possuía uma população de 64.980 habitantes, segundo o Censo IBGE 2010, sendo que cerca de 92,3% dessa população situa-se na área urbana. Logo vemos que apesar de ser uma cidade cuja economia está tradicionalmente ligada à produção agrícola, a maior parte da sua população vive distante do verde e num meio urbano que vem se ampliando de forma descontrolada. O IDH municipal é de 0,722 (Censo IBGEv2010), o que representa um índice de desenvolvimento “médio” e inferior aos índices de cidades como Belo Horizonte ( IDH 0,802) , Ribeirão Preto (IDH 0,800) e São Paulo (IDH 0,805). Densidade demográfica (hab./km²) 2.73 a 1006.46

Sinopse do Censo 2010 - Densidade Demográfica Preliminar

(Habitantes/Km2) 1204.62 a 3765.97

3770.6 a 5827.14 5896.15 a 7845.39

2.73 a 1006.46

1204.62 a 3765.97 3770.6 a 5827.14 5896.15 a 7845.39 7910.51 a 12983.9

Fonte: IBGE, Sinopse por Setores, Censo 2010;

7910.51 a 12983.9

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de dados do IBGE, Sinopse por setores, , Senso 2010.

Rendimento nominal médio mensal do responsável pelo domicílio(R$) 0 a 856 856 a 1712 1712 a 2569 2569 a 3425 3425 a 4281 Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de dados do IBGE, Sinopse por setores, , Senso 2010.

Na escala regional, São Sebastião do Paraíso é sede da Microrregião de São Sebastião do Paraíso e integrante da Região do Médio Rio Grande, representando uma forte participação política, cultural e econômica, sendo um pólo de atração de empregos, comércio, serviços, educação e saúde para a população. Em termos físicos e geográficos, a cidade localiza-se no Planalto com terreno predominantemente ondulado com poucas áreas de inclinação acentuada. Sua altitude varia entre a máxima de 1183 m e mínima de 894 m. A vegetação é caracterizada pelo cerrado e por reminescentes da Mata Atlântica. Os principais rios presentes no município são o Ribeirão Fundo, Ribeirão São Domingos e Rio Santana. De modo geral, a paisagem urbana de São Sebastião do Paraíso compõe-se por edifícios térreos e assobradados, com alguns pontos de verticalização identificados principalmente na área central. A área central e de ocupação mais antiga é caracterizada principalmente por edifícios residenciais sem recuo frontal, com ruas e calçadas estreitas. Já nas áreas periféricas e novos loteamentos encontram-se ruas e avenidas mais largas, com alguma arborização e casas com recuo lateral e frontal. Observando o mapa de densidade demográfica do IBGE é possível identificar uma concentração da população nas áreas periféricas, principalmente nos bairros Jd. Planalto, Parque São Judas Tadeu, Vila Helena, Jd. Itamarati e Mocoquinha. O paradoxo presente nas grandes metrópoles se repete na cidade de médio porte: a área central que representa a origem de ocupação da cidade, dotada de infra-estrutura, esvazia-se e passa a ser ocupada principalmente por comércios e serviços, com grande parte da população sendo levada a residir em áreas distantes do centro e, na maioria dos casos, deficientes de infraestrutura. Esses vazios na área central aliados às deficiências do transporte público, que tem que suprir distâncias maiores, geram uma cidade pouco eficiente e nada democrática. Quanto à distribuição de renda no município, identifica-se uma clara concentração da população de alta renda no bairro Centro e Jd. das Paineiras. Já bairros como Vila Formosa, Jd Itamarati, João XXIII, Jd. Cidade Nova e Conj. Hab.Veneza apresentam as rendas mais baixas do município. A cidade conta com saneamento básico e energia elétrica em 99% dos domicílios da área urbana, sendo praticamente inexistentes os assentamentos precários.

Cidade Área urbana Área do município 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

21


8

3 5 6 2

7 7

12 11

1

10 9

13

14

22

Verde, lazer e cultura

4


Conforme dito anteriormente, o município de São Sebastião do Paraíso situa-se na RMG, área de grande relevância ambiental, pois comporta o Parque Nacional da Serra da Canastra, reserva florestal de importância nacional composta por uma variedade de espécimes do cerrado e na qual se encontra a nascente do Rio São Francisco. Atualmente, em São Sebastião do Paraíso a principal fonte de abastecimento de água são os córregos Pilões, Liso, Carrapatinho, Rangel, Lagoinha, Matadouro, Bosque e Ribeirão Santana. De acordo com Levantamento feito pelo PDR em 2009, 0% do esgoto da cidade era tratado o que significa um elevado índice de poluição destes córregos. Conforme relatório do Instituto Mineiro de Gestão de Águas do primeiro semestre de 2012, o córrego Liso apresentou os maiores índices de poluição do Estado. Segundo o Jornal do Sudoeste (circulação local) estão sendo construídas três estações de tratamento ETE, que auxiliarão na diminuição do problema de poluição dos esgotos. Entretanto, muito ainda precisa ser feito para que o resíduos industriais, principalmente de curtumes, parem de ser jogados nos córregos e para que as nascentes e córregos urbanos sejam devidamente protegidos e valorizados. Os dois principais córregos que cortam a cidade, o córrego do San Genaro e o córrego do Rangel foram canalizados, mas permanecem a céu aberto e possuem uma área verde envoltória, apesar de grande parte da sua mata ciliar ter sido removida. Existem pontos nos quais foram propostas algumas atividades de lazer para a população. No entanto, o abandono de grande parte da área faz com que esses córregos não tenham sua devida importância para a cidade como verdadeiros parques urbanos, área de preservação e lazer para a população. Verde, lazer e cultura 1

Pça. de Esportes Castelo Branco

2

Arena Olímpica

3

Centro de Exposições

4

Ouro Verde Tênis Clube

5

SESI

6

A.A.P

7

Museu Histórico Municipal

8

SESC-MG (em obras)

9

Biblioteca Municipal Prof. Alencar de Assis

10

Biblioteca Municipal Campos do Amaral

11

Escola Municipal de Música

12

Clube Paraisense

13

Teatro Municipal

14

Estádio 1 de Maio Equipamento de esporte/lazer Equipamento educacional Equipamento cultural Cursos d’água Área urbana Área municIpal 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

A cidade conta atualmente com algumas praças e as mais movimentadas são aquelas que possuem igrejas e são ponto de encontro dos moradores cotidianamente, principalmente devido às suas atividades religiosas. Aos domingos, após o horário da missa católica o antigo hábito de permanecer na praça por algum tempo conversando com conhecidos ainda permanece, mesmo que reduzido, se compararmos aos tempos antigos nos quais haviam apresentações no coreto da cidade e a praça era o principal ponto de lazer da cidade. As outras praças da cidade que não possuem este caráter religioso acabam se tornando lugares de passagem e pequenas pausas no dia a dia, com exceção a alguns eventos como pequenas apresentações culturais que são realizadas esporadicamente nestes espaços. Outros importantes pontos de lazer da cidade são aqueles onde os habitantes costumam praticar atividades físicas, como jogar bola ou caminhar. Podemos citar os três principais: Campão, Lagoinha e Parque San Genaro. Ambos localizam-se na área central da cidade e possuem uma pequena infra-estrutura aberta para práticas esportivas como pista para caminhada, equipamento para terceira idade e quadras descobertas. Outro importante equipamento esportivo na cidade é a Arena Olímpica, que tem sediado diversos eventos para a região, servindo também como centro de treinamento para jovens. Observamos que a população paraisense apropria-se dos espaços públicos destinados ao lazer da cidade. As quadras, pistas de caminhadas e parques infantis estão sempre muito frequentados, o que demonstra a importância destes espaços para a cidade como ponto de encontro de seus habitantes. Em termos de cultura, o principal edifício da cidade atualmente é o Museu Municipal que se localiza na antiga estação de trem da Cia. Mogiana. O museu conta com uma exibição permanente composta por peças relacionadas à história e tradições da cidade, além de espaço para exibições temporárias e atividades educativas. O museu conta também com uma praça externa que é esporadicamente palco de atividades e eventos culturais. Além do museu, existem duas bibliotecas municipais que se localizam no centro da cidade e possuem, segundo o site da prefeitura, um acervo de 31000 livros. Apesar de ter sido recentemente reformada, a principal biblioteca sofre com a precária infraestrutura e tem visto o seu número de usuários cair a cada dia, já que seus espaços se tornaram obsoletos e muito pouco atrativos.

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Sistema viรกrio


No mapa ao lado foram demarcados os principais eixos viários que configuram um anel em torno da área central da cidade. São eles: Av. ZeZé Amaral, o binômio formado pelas R. Pimenta de Pádua e R. Dr. Placidino Brigagão e Av. Oliveira Rezende. Este anel é cortado pelos eixos: Av. Brasil que leva à área norte da cidade, Av. Wenceslau Brás, que liga a cidade às rodovias para São Paulo, Ribeirão Preto e Belo Horizonte. Observando o mapa da malha viária nota-se a inexistência de um planejamento eficaz de controle e ordenamento do espaço urbano. As vias foram se distribuindo ao redor dos principais eixos conforme foram realizados os parcelamentos dos lotes, resultando numa malha rodoviária desarticulada, numa ocupação periférica desordenada e na presença de grandes vazios na área central. O que se tem é uma cidade espraiada, com áreas de pouca densidade ocupacional que representam um elevado custo de infraestrutura para o poder público municipal. Na área central, ocupação mais antiga do município, as vias são mais estreitas, tendo em média 9 a 12 metros de largura. Enquanto isso, em outras áreas identificamos vias de mão dupla de 12 a 15 metros de largura e com canteiros arborizados. A grande maioria das vias, que até poucos anos atrás eram de paralelepípedos com tráfego mais lento, hoje são asfaltadas e tem carros circulando em altas velocidades amedrontando pedestres, principalmente idosos e crianças. O transporte público municipal é feito por meio de uma rede de ônibus composta por 7 sete linhas que distribuem-se de maneira ampla pelo município. Entretanto, é possível observar que esta rede concentra-se principalmente na área central da cidade, sendo quase inexistente em diversos bairros, principalmente na área periférica localizada além da rodovia a leste do município e na nova área de urbanização à norte. Conforme pesquisa realizada em 2009 por Andrea Lopes Felix, que teve como proposta a avaliação das condições do transporte coletivo no município, em 2009 a média mensal dos usuários compunha-se de 179.000 passageiros, sendo 67,7% do sexo feminino e 32,29% do sexo masculino, com 85,41% com renda mensal de até 3 salários mínimos. Aproximadamente 9,37% dos entrevistados tinham nível superior completo e 32,39% tinham ensino médio. Isso demonstra que a utilização do transporte público da cidade está restrita às classes sociais mais baixas, sendo o veículo automotivo o principal meio utilizado pela classe média e alta. Isso pode ser explicado, além do aspecto cultural, pelas condições precárias do transporte público municipal. A mesma pesquisa identificou que a maioria dos passageiros reclamam de atrasos nos horários, elevado tempo de espera principalmente nos finais de semana, pontos que não possuem área coberta para espera e vias que encontramse saturadas devido ao excesso de veículos, principalmente na área central. Não existem ciclovias na cidade e por isso a bicicleta acaba permanecendo para muitos moradores apenas como meio de lazer, não sendo efetivamente utilizada como meio de transporte diário pela maioria da população. Apesar de ser uma cidade de médio porte e não possuir vias com tráfego rápido de veículos, os ciclistas não se sentem seguros e acabam sendo levados, especialmente na área central, a circular pelas calçadas o que resulta em muitas reclamações por parte dos pedestres.

Fluxos Principais eixos de circulação Rede de ônibus municipal Rodovia -local Rodovia - nacional / estadual Área urbana Área do município 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

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Economia


Foram demarcadas no mapa as principais áreas industriais da cidade, além dos principais eixos de distribuição dos estabelecimentos comerciais. Como não haviam dados oficiais de uso do solo por parte da prefeitura, este mapa foi feito com base no “Google Maps” e em levantamentos in loco feitos pela autora, tendo como proposta auxiliar o leitor na compreensão da distribiução geográfica da economia na cidade. Segundo a prefeitura municipal, a cidade tem uma economia tradicionalmente ligada ao campo, mas tem se diversificado também no setor de serviços, comércio e indústria. O setor agropecuário representa grande fonte geradora de empregos no município, principalmente para mão de obra com baixa qualificação. Destaca-se a produção cafeeira; a cidade é um dos principais centros de produção de cafés finos do Brasil, sendo responsável pela produção para exportação para países como Japão e Itália. Segundo o levantamento do IBGE de Produção Agrícola Municipal de 2014, os principais produtos agrícolas municipais são: café em grão do tipo arábica com 10200 hectares de área plantada e 101388 mil reais de produção, cana de açúcar com 4280 hectares de área plantada e 18147 mil reais de produção, milho com 5500 hectares de área plantada e 8250 mil reais de produção e laranja com 1500 hectares de área plantada e 19500 mil reais de produção. No setor pecuário, segundo o levantamento de Produção da Pecuária Municipal 2014 do IBGE, a cidade conta com um rebanho de bovinos de 45600 cabeças, galináceos de 602.100 cabeças e a produção de leite de vaca foi avaliada em 19800 mil reais. Já o setor de comércio e serviços é composto principalmente pelo comércio local, pelo Hospital Regional do Coração e as diversas Unidades de Saúde da Família, além de órgãos do Poder Judiciário representados por quatro varas da Justiça Estadual, uma vara da Justiça do Trabalho e uma vara da Justiça Federal. O comércio local de roupas, calçados e móveis concentra-se principalmente na área central da cidade, centro de compras que atrai inclusive habitantes dos municípios vizinhos. Já o comércio de produtos mais diversificados, como peças automotivas, supermercados, produtos para construção e armazéns, vem se distribuindo ao longo dos eixos urbanos de maneira mais dispersa. O setor industrial, segundo a prefeitura, tem se destacado principalmente nos setores de material cirúrgico, confecção (principalmente de lingeries, couros e calçados) e laticínios. A cidade representa um pólo que emprega muitos habitantes na região. No entretanto sofre com o isolamento resultante da inexistência de ferrovias e da precariedade das rodovias, principalmente as que conectam o município ao resto do estado de Minas Gerais. As indústrias localizam-se principalmente nas áreas periféricas da cidade, próximas às rodovias. Algumas delas, como alguns curtumes que localizam-se na área urbana leste da cidade, representam conflitos com a população local que é muitas vezes prejudicada pelo mal cheiro expelido por suas atividades que acabam não sendo devidamente inspecionadas pelo poder público local. Segundo o PDR, um dos principais problemas econômicos enfrentados pelas cidades da região, que ocorre também em São Sebastião do Paraíso, é a migração de jovens. Isso ocorre principalmente devido à inexistência de centros universitários públicos e de qualidade na região e pela pouca oferta de emprego para mão de obra qualificada.

Economia Indústria

Além disso, o PDR aponta a fragilidade da economia dessas cidades muito dependente do setor agropecuário e que por isso se encontra demasiadamente suscetível a flutuações internacionais.

Eixos comerciais Área urbana Área municIpal 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

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ExpansĂŁo urbana


Neste capítulo foram identificadas as principais áreas de expansão urbana municipal, a partir dos últimos lançamentos imobiliários. É possível observar que essa expansão se dá principalmente em dois eixos: um eixo norte próximo à Av. Zezé Amaral e que compreende Jardim Mediterranée; e o eixo leste próximo à Rodovia BR492 onde foram construídas residências subsidiadas pelo programa do governo federal Minha Casa Minha Vida, que compreende os bairros Jardim Itamarati, Jardim Alvorada, Parque São Francisco e Alto Bela Vista. É possível observar um nítido contraste entre estes dois eixos de expansão. Enquanto o eixo Norte é composto por grandes lotes localizadas próximos ao novo centro administrativo do município e ao futuro SESC-MG, que será o maior centro cultural da cidade e já conta com ruas asfaltadas mesmo que poucas residências tenham sido construídas, o eixo Leste é composto por pequenos lotes, distantes da infraestrutura existente e com muitas ruas ainda não asfaltas mesmo que grande parte das residências já tenham sido construídas. Os lançamentos verticais na área central nos últimos anos foram praticamente inexistentes. A cidade continua a se expandir horizontalmente, sem que os vazios centrais sejam ocupados ou verticalizados e sem que as novas áreas sejam conectadas às áreas consolidadas existentes. A impressão que se tem é que o eixo de expansão norte, destinado a residências de classe média/alta isola-se da área de ocupação de baixa renda dos bairros do Parque São Judas Tadeu, e Jardim Verona através da APP existente, enquanto o eixo de expansão leste, destinado a residências de baixo padrão, acaba sendo isolado da cidade consolidada pela rodovia BR29. Segundo o PDR, o deficit habitacional da região no ano 2000 era de 6.796 domicílios, sendo 1120 em São Sebastião do Paraíso. Não foram obtidos valores mais atualizados, mas considerando o crescimento municipal dos últimos anos, é possível afirmar que a ocupação da área central, dotada de infraesturutra urbana, deveria ser primordial na produção de moradias.

Expansão urbana Área de expansão urbana Área urbana Área do município 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso.

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Legislação


O Plano Diretor (PD) do município foi elaborado no ano de 2003, e revisto em 2011. O trabalho de elaboração foi assessorado por um corpo técnico do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa. O zoneamento proposto pelo PD divide o território do município de São Sebastião do Paraíso em 11 zonas:. Sendos elas: ZR1 – Predominantemente residencial, permite comércio e indústrias não incômodas de até 150 m². C.A.: 9/T.O. :70/ Gabarito máx.: 16 pavimentos; ZR2 – Predominantemente residencial, permite comércio e indústrias não incômodas de até 120 m². CA: 9, TO: 70, Gabarito máx.: 16 andares; ZR3 – Predominantemente residencial, permite apenas comércio; C.A: 1,5 / T.O: 70 / Gabarito máx.: 3; ZR4 – Predominantemente residencial, permite apenas comércio. C.A.: 1,0 / T.O.: 70/ Gabarito máx.: 3; ZC – Predominância de uso misto, permite indústrias de pequeno porte não incômodas. C.A: 2,4 / T.O. : 70 / Gabartiro máx.: 4; Quadrilátero – Predominância de uso misto, permite indústrias de pequeno porte não incômodas. CA: 3/ T.O: 90/ Gabarito máx.: 6; CP – Predominância de uso comercial, permite indústrias de pequeno porte não incômodas. C.A: 9/ T.O.: 16 9 / T.O.: 70/ Gabarito máx.: 16 CS – Predominância de uso comercial, permite indústrias de pequeno porte não incômodas. C.A: 9/ T.O.: 16 9 / T.O.: 70/ Gabarito máx.: 16 CS1 – Predominância de uso comercial, permite indústrias de pequeno porte não incômodas. C.A: 3.6/ T.O.: 16 9 / T.O.: 80/ Gabarito máx.: 6 ZI – Predominância de uso industrial, permite instalação de indústrias de até grande porte, do tipo incômodas ou perigosas; C.A: 1/T.O. : 70/ Gabarito máx: 3 APA – Restrição da ocupação visando à proteção e manutenção da paisagem; ZRU – Destinada a atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas e agroindustriais. A partir do descrito e da análise do mapa de zoneamento, é possível observar que a lei é pouco restringente no que se refere ao controle de uso e ocupação do solo, uma vez, com exceção da ZI, inexistem áreas com uso restrito. Ademais, o zoneamento tem pouco controle sobre a verticalização e o adensamento na cidade. Mais de 80% do solo urbano é ZR1 ou ZR2, às quais têm coeficiente de aproveitamento 9 e gabarito máximo de 16 andares. Isso significa uma importante permissão para a veticalização da área. A exceção à esse cenário excessivamente permissivo se dá na área central da cidade – demarcada como ZC e Quadrilátero – bem como de alguns pequenos trechos de ZR3 e ZR4, bem como nas ZI e APA. Nestes casos, há alguma restrição em termos de adensamento e verticalização urbana.

Zoneamento Zona Residencial 1 (ZR1) Zona Residencial 2 (ZR2) Zona Residencial 3 (ZR3) Zona Central(ZC) Corredor Pimário (CP) Corredor Secundário (CS) Corredor Terciário (CT) Zona Industrial (ZI) Área de Proteção Ambiental (APA) Área urbana Área municIpal 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municial de São S. Paraíso .

Pode-se observar, ainda que não foram demarcadas as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), embora a construção de moradias de interesse social em áreas já integradas à rede de infraestrutura urbana tenha sido posta como prioridade na política de habitação, conforme o disposto no artigo 18, inciso IX no PD. Como resultado, tem-se que as políticas habitacionais foram implementadas em áreas com infraestrutura precária e com baixo valor de mercado. No que se refere aos aspectos ambientais, o PD identifica apenas duas áreas de APA – uma ao norte do município e uma a oeste, ambas no limite entre as áreas urbana e rural. Vale ressaltar que o PD identifica como áreas de proteção ambiental: as nascente as faixas marginais de proteção de águas superficiais; as florestas e demais formas de vegetação que contribuam para a estabilidade das encostas sujeitas a erosão e deslizamentos; e as bacias de drenagem das águas pluviais. As demais áreas de proteção no município, dentre os quais estão os córregos urbanos, são protegidos dentro do âmbito do Código Florestal (Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012). Porém, em muitos casos, essas áreas tornam-se vazios abandonados em meio à malha urbana. A partir do exposto, pode-se concluir que o PD de São Sebastião do Paraíso é um plano abrangente, com políticas sociais setoriais e dispositivos de controle do uso e ocupação do solo. Entretanto, sua falta de efetividade limita o seu poder de organizar a ocupação do solo urbano. Isso decorre da fragilidade da Lei frente aos interesses dos grandes agente políticos e econômicos do município, bem como pela dificuldade da administração em fiscalizar o uso do solo urbano, uma vez que não dispõe de meios técnicos e recursos humanos profissionalmente qualificados.

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Parque San Genaro - cรณrrego canalizado Fonte: Arquivo pessoal da autora

Parque San Genaro- รกrea de lazer Fonte: Arquivo pessoal da autora

Parque San Genaro

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Paisagem urbana


Parque San Genaro - área contaminada Fonte: Arquivo pessoal da autora

Área de lazer improvisada - Pq. São Judas Tadeu Fonte: Arquivo pessoal da autora

Parque da Lagoinha

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Praça da Matriz - calçadão Fonte: Arquivo pessoal da autora

R. dos Antunes

Praça da Matriz - casarões históricos Fonte: Arquivo pessoal da autora

Tipologia residencial - área central Fonte: Arquivo pessoal da autora

34 São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais Street View - ago 2011

Captura da imagem: ago 2011

© 2016 Google


Rua local - รกrea central

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Arquitetura residencial

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Rua local - Parque Sรฃo Judas Tadeu Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Av. Oliveira Rezende

Museu Municipal Napoleão Joele Fonte: Google Street View

Captura da imagem: ago 2015

© 2016 Google

São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais Street View - ago 2015

Biblioteca Municipal - Prof. Alencar de Assis Fonte: Arquivo pessoal da autora

Escola Municipal de Música Fonte: Arquivo pessoal da autora

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R. Antônio Panaci

Rua sem calçamento - Alto Bela Vista

Minas Gerais

Fonte: Google Street View

Captura da imagem: ago 2011

© 2016 G

São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais Street View - ago 2011

Loteamento - Jd. Itamarati Fonte: Google Street View

São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais

Captura da imagem: set 2014

Street View - set 2014

Passarela na Rodovia BR 491 Fonte: Google Street View

Captura da imagem: dez 2014

Street View - dez 2014

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© 2016 Google



Parque


Cรณrrego do Rangel

Cรณrrego San Genaro

Praรงa da Lagoinha

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Proposta


Após a leitura crítica do município em seus diversos aspectos, foram levantadas as principais necessidades de São Sebastião do Paraíso, possibilitando, assim, a elaboração de uma proposta de intervenção que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de seus habitantes através da solução de problemas levantados nesta análise. Esta proposta consiste na criação de um parque linear urbano como estratégia de intervenção urbana. O parque será formado através da conexão entre as várzeas do córrego Coolapa e do córrego Rangel, constituindo-se num novo eixo no município, uma infraestrutura verde na qual serão propostos diversos equipamentos sociais, culturais e educacionais que procuram sanar as necessidades de seus habitantes e trazer uma nova dinamicidade à cidade e à região. A criação da infraesturutra verde significa a identificação de áreas ambientalmente sensíveis e a implantação de espaços abertos no meio urbano, paisagisticamente tratados, capazes de desenvolver funções de infra-estrutura urbana. Infraestrutura verde é definida por COLMIER E PELEGRINO (2008), como “uma maneira de reconhecer e aproveitar os serviços que a natureza pode realizar no ambiente urbano”, ou seja, a natureza tratada como estratégia de requalificação urbana. Segundo HERZOG e ROSA ( 2010) “O planejamento de uma infraestrutura verde propicia a integração da natureza na cidade, de modo a que venha ser mais sustentável. Favorece também a mitigação de impactos ambientais e a adaptação para enfrentar os problemas causados pelas alterações climáticas, como por exemplo: chuvas mais intensas e frequentes, aumento das temperaturas (ilhas de calor), desertificação, perda de biodiversidade, só para citar alguns.” Além disso, a criação de corredores verdes no meio urbano combate a fragmentação ambiental que vem ocorrendo em diversas cidades e que vem levando espécies nativas à extinção. A infraestrutura verde possibilita a manutenção e regeneração dos chamados corredores biológicos no meio urbano e assim garante o espaço de procriação para diversas espécies da fauna e flora. Conforme explica RIBEIRO (2010), apoiado em McHARG (2000), “a problemática relação entre homem e natureza não se resolve ao utilizá-la apenas para o prazer estético. Tampouco resolve enxergá-la como minimizadora dos aspectos desoladores que a urbanização das cidades tem promovido. É necessário adotar uma postura em que ela figure como base estratégica. Sobretudo, é preciso investigar e descobrir suas particularidades e sutilezas como fonte e significado.” Dessa forma, a proposta do Parque Linear apresenta-se como uma resposta que procura, através da criação de áreas verdes permeáveis e de novos equipamentos urbanos, mudar a vida cotidiana no município, trazer benefícios econômicos para a população, melhorar a saúde, melhorar a qualidade das águas e servir de incremento ao transporte limpo. O objetivo é inserir a cidade de São Sebastião do Paraíso no mapa, fazer desse município um exemplo de renovação aliada à valorização ambiental. Isso significa fazer da natureza da cidade não apenas uma questão estética ou de lazer mas também uma estratégia de requalificação urbana.

Legenda - Proposta 0 0,1

0,5

1km

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de foto aérea do Google Earth.

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Uso do Solo Área de conservação ambiental Vazios urbanos (loteamento) Área residencial Área institucional Área mista Área industrial Vazios urbanos 0

100

500 m

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de foto aérea do Google Earth.

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Uso do solo


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1

2

3

4

Escala 1

Parque linear - São Sebastião do Paraíso / Brasil

2

Parque Ibirapuera - São Paulo / Brasil

3

Central Park - Nova York/ Estados Unidos

4

Universidade de São Paulo - São Paulo / Brasil

5

Avenida Paulista - São Paulo/ Brasil 0

5

44

Escala urbana

0,5 1

Fonte: Google Earth.

2 km


Foi realizado um exercício de compreensão da área de intervenção em sua escala, uma tentativa de torná-la mais “palpável” para o leitor que se encontra distante de sua realidade. Para isso foram feitas comparações com referências que, por se tratarem de áreas mais conhecidas, talvez sejam mais próximas ao leitor. São elas: Parque do Ibirapuera (São Paulo), Avenida Paulista (São Paulo), Cidade Universitária (São Paulo) e Central Park (Nova York). São Sebastião do Paraíso possui cerca de 7,8km de extensão no sentido Leste- Oeste e cerca de 6,2 km no sentido Norte- Sul. Isso significa que o trajeto entre as extremidades da cidade pode ser realizado em cerca de 1h 30 min de caminhada ou cerca de 20 min de carro. A área de intervenção de projeto cria uma nova conexão direta de área verde entre as extremidades da cidade de cerca 6,8 km. Esta medida representa a soma da extensão da Avenida Paulista em São Paulo e do Central Park em Nova York. Em termos de área, a área de intervenção proposta ocupará 157 hectares. Isso representa cerca de metade da área ocupada pelo Central Park de Nova York e área semelhante à do Parque do Ibirapuera, que ocupa 160 hectares em São Paulo.

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Setorização Setor 1 Setor 2 Setor 3 Setor 4 Setor 5 0

100

500 m

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de foto aérea do Google Earth.

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Parque linear


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Setor 1

Área localizada na extremidade norte da área de intervenção, no limite da área urbana da cidade. Seu entorno é composto por um grande contrantes: a oeste tem-se uma das áreas de maior concentração populacional do município com predominância de residências horizontais com renda média/baixa e ausência de equipamentos culturais e educacionais. Já ao lado leste tem-se uma nova área de expansão do município com loteamentos ainda vazios, o novo centro administrativo (novo Fórum, nova Câmara dos vereadores) e área onde está sendo construído o SESC-MG. Córrego do Rangel encontra-se naturalizado e com parte da mata ciliar preservada. Proposta: . Fazer com que o parque seja a integração entre a área urbana consolidada carente de equipamentos e serviços e a nova área de ocupação do município. . Criação de um Museu do Café com plantação in loco próximo à Av. Oliveira Rezende, antigo centro econômico do município e onde atualmente se localiza o Museu Municipal. Excplorar o valor econômico e cultural do café na cidade em seu potencial turístico, fazendo do museu um centro de educação e cultura para a população. . Implantação de um novo equipamento educacional que venha a suprir as carências que já existem na área e que serão potencializadas com o aumento da população residente no local. . Implantação de equipamentos esportivos próximos à área educacional que estejam disponíveis para a população como um todo e que sirvam de infra-estrutura para a educação. . Criação de hortas urbanas que sejam administradas por uma associação dos moradores locais com auxílio do poder público. . Construção de um Centro Comunitário que fortaleça o sentimento de comunidade e que sirva como espaço onde os moradores se encontram, discutem e crescem juntos com sua identidade comunitária.

Setor 2 A área corresponde à área da APP do córrego do Rangel, entre a Av. Zezé Amaral e a Rua Estela, próxima ao centro comercial da cidade. O entorno é ocupado principalmente por residências térreas ou assobradadas, com exceção de um edifício residencial recentemente construído às margens do parque existente. A população predominante possui renda média/ baixa e dois grandes equipamentos localizam-se na área, o SESI e o SENAI. O córrego encontra-se atualmente canalizado e teve grande parte da mata ciliar retirada. A área verde não possui tratamento paisagístico, e, com exceção de uma pequena quadra de areia, parquinho infantil e equipamentos para terceira idade a área verde, inexistem atividades para a população. Proposta: . Realizar um adensamento das áreas vazias às margens do parque através da construção de Habitação de Interesse Social. Aproveitar-se da localização estratégica da área e da infra-estrutura existente no centro da cidade, criando habitação de qualidade na área que será requalificada. . Renaturalização do Córrego do Rangel e recomposição da vegetação de galeria que reordenará o ecossistema local. . Reestabelecimento da fauna e flora natural do local através de tratamento paisagístico. . Criação de espaços de estar nas margens do córrego com objetivo de aproximar a população do verde e de água, hoje negligenciados no município.

Setor 3

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Área central do parque, conexão entre as APPs do Córrego do Rangel e a do Córrego do San Genaro. Ela abrange a área envoltória da nascente do córrego, a área onde está localizado ginásio de esportes “Arena Olímpica” e encontra o córrego do San Genaro pelas ruas Donizete Fróes e Carlos Luis Castro. A área é predominantemente residencial, com exceção da Av. Zezé Amaral, Av. Monsenhor Mancine Barbosa e Av. Monsenhor Felipe , que constituem dois grandes eixos comerciais do município. Possui grandes vazios compostos por uma área do complexo esportivo que ainda não foi construída, um loteamento ainda não ocupado e área da nascente que atualmente constitui uma área residual em meio às residências. Localizam-se nas imediações três escolas públicas, responsáveis por grande movimento jovens e crianças no local.


Proposta: . Criação de um complexo esportivo próximo às escolas públicas que complemente a Arena Olímpica existente e que seja parte integrante do parque, aberto e acessível para toda a população. . Criação de um complexo cultural na área próxima à Av. Zezé Amaral, composto por um Teatro, uma Biblioteca e uma praça mirante. Tirar proveito da vista privilegiada da área e ao mesmo tempo funcionar como o coração do parque, o principal ponto de encontro de seus usuários. . Proteção e recuperação da nascente do córrego do Rangel. . Implementação de um bicicletário central próximo na Av. Monsenhor Mancine Barbosa que funcione como central para o sistema de aluguel de bicicletas que será implantado ao longo do parque e também em outros pontos da cidade.

Setor 4 Área de conexão entre o parque linear, o Parque da Lagoinha e a Praça da Prefeitura Municipal. Cortada pelas duas principais vias da cidade, a Rua Pimenta de Pádua e a R. Dr. Placidino Brigagão, a área se torna a porta de entrada para muitos visitantes do parque. Atualmente a praça da Lagoinha é um dos cartões postais do município, sendo muito frequentada pela população. Já Praça da Prefeitura passou recentemente por um projeto de remodelação que trouxe mais verde para uma área que antes funcionava apenas como estacionamento. Na área encontra-se também o clube municipal Praça de Esportes Castelo Branco, que é bastante utilizado pela população mas carece de obras de manutenção. Proposta: . Renaturalização do Córrego do San Genaro que encontra-se tamponado neste trecho e recomposição da vegetação de galeria. . Revitalização do clube municipal Praça de Esportes Castelo Branco e integração do espaço à área do Parque Linear. . Utilização da estrutura do prédio da antiga faculdade localizado na Praça da Prefeitura Municipal que hoje é ocupado por órgãos administrativos para a criação de uma Escola de Artes Performáticas. A cidade e a região carecem de políticas culturais mais efetivas, além de profissionais qualificados para a implementação destas ações.

Setor 5 Área localizada no limite leste do Parque Linear, caracterizada pela ocupação industrial e por residências horizontais de população com renda média/baixa. É cortada pela Rodovia MG491, que com a expansão do município no sentido leste acabou tornando-se um bloqueio no meio urbano. O córrego do San Genaro segue pela área canalizado até atravessar a rodovia, sofrendo com despejos industriais, principalmente de curtumes que localizamse muito próximos ao seu leito. Estes curtumes também são responsáveis por um conflito com a população local que se incomoda com o mau cheiro constante. Proposta: . Limpeza e renaturalização do Córrego do San Genaro recomposição da vegetação de galeria que reordenará o ecossistema local. . Análise e avaliação da situação das industrias que localizam-se em áreas muito próximas ao córrego e ao parque, com transferência daquelas que prejudicam a qualidade de vida da população local. . Realizarção de um adensamento das áreas vazias às margens do parque através da construção de Habitação de Interesse Social, aproveitando-se da localização estratégica da área e da infra-estrutura existente no centro da cidade. . Construção de um Mercado Municipal e um Centro Cooperativo que valorizem e qualifiquem a produção local, além de incentivar a produção cooperada que já é uma realidade no município. Esta área funcionará como uma transição entre a área industrial e o parque, aproveitando-se das vantagens da proximidade com a Rodovia para tornar-se um novo centro econômico do município. . Suspensão da Rodovia sobre o Parque Linear para que não haja interrupção no corredor ecológico e para que o parque funcione como um eixo de conexão entre a área habitacional que atualmente está excluída da cidade consolidada. .Implantação de um novo equipamento educacional que venha a suprir as carências que já existem na área e que serão potencializadas com o aumento da população residente no local.

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Setor 3


A proposta do presente trabalho consiste em realizar uma aproximação do Setor 3 como exercício de projeto de implantação do parque. Este setor foi escolhido a partir da proposição de fazer desta área do parque o ponto-chave – o coração – das atividades. Com isso, busca-se a implantação da área cultural como elemento fundamental do parque, de forma que este traga uma nova dinâmica para a área de estudo. Esta área é estratégica devido a uma conjunção de fatores: .representa dois relevantes benefícios ao meio ambiente, uma vez que propõe proteger e requalificar a nascente de água que hoje se encontra abandonada, como um vazio residual, sem receber tratamento adequado, e ameaçada pelas construções que têm sido realizadas ao seu redor; ao mesmo tempo que possibilita a conexão das Áreas de Preservação Permanente (APP) do Córrego do Rangel e do Córrego San Genaro, por meio da implantação de um parque linear; .localiza-se entre dois eixos do município interligados pelo anel de ligação composto pelas avenidas Zezé Amaral e Monsenhor Mancine Barbosa; caracteriza-se como uma área de ocupação predominantemente residencial horizontal, com alguns estabelecimentos comerciais localizados nas avenidas-eixo do município. Além disso, é próxima da nova área de ocupação do território municipal, devido à transferência de seu centro administrativo; . insere-se em um perímetro formado por três escolas públicas e uma particular, o que garante o uso da instalação por jovens e os aproxima de uma área que une, ao mesmo tempo, educação, cultura e contato com a natureza; está localizada em um dos pontos mais altos do município, possibilitando aos usuários a apreciação de uma bela vista; e . Conta com a infraestrutura da arena olímpica, que consiste em um ginásio poliesportivo inaugurado em 2010, com capacidade para 3500 pessoas, além de alojamento e estrutura para receber até 600 atletas. Assim, a arena olímpica, que é hoje um dos cartões postais do município, pode ter seu complexo ainda mais valorizado; Dessa forma, considerando as oportunidades listadas, este trabalho procura compreender as características da área a fim de explorar suas potencialidades e propor respostas aos desafios urbanos que se mostrem presentes.Tem como objetivo, ainda, elaborar uma proposta de conectar o parque – e seu setor cultural – à infraestrutura esportiva já existente e que se pretende ampliar.

Legenda - Proposta Esc: 1/20000 Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de foto aérea Google Earth.

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Anรกlise da รกrea


Cheios e Vazios 0 20 50

100 m

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municipal de São S. Paraíso, imagens de satélite do Google Earth e visitas à campo.

Uso do solo Residências (1 a 2 andares) Residências (3 a 7 andares) Comércio (1 a 2 andares) Serviços (1 a 2 andares) Institucional Indústria Parque, praça Curso d’água 0 20 50

100 m

Fonte: Mapa produzido pela autora a partir de base fornecida pela prefeitura municipal de São S. Paraíso, imagens de satélite do Google Earth e visitas à campo.

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Foto 1

Vista do córrego do Rangel Fonte: Acervo da autora.

Foto 2

Área da nascente do córrego do Rangel Fonte: Acervo da autora.

Foto 3

Área da nascente do córrego do Rangel Fonte: Acervo da autora.

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Entorno


Foto 4

Vista da rua a partir da Av. Monsenhor Mancine

Fonte: Google Imagens.

Foto 5

Vista a partir da Av. ZezĂŠ Amaral

Fonte: Acervo pessoal da autora.

Foto 6

Av. ZezĂŠ Amaral

Fonte: Acervo pessoal da autora.

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Foto 7

Vista da Rua José Bernanrdes Duarte Fonte: Google Imagens.

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Foto 8

Acúmulo de lixo próximo à nascente Fonte: Acervo da autora.

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Foto 9

Rua Nagibe Ozelim Fonte: Acervo da autora.

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Foto 10

Vista da rua a partir da Av. Monsenhor Mancine Barbosa

Fonte: Google Imagens.

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Foto 11

Vista da Arena Olímpica

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Fonte: Acervo pessoal da autora.

Foto 12

Vista da Arena Olímpica a partir da Av. Monsenhor Mancine Barbosa

Fonte: Google Imagens.

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Habitação

Rua T eresa

Biblioteca Pública

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Praça Mirante

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Teatro Municipal

58

Implantação

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Rua

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Bicicletário

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Arena Olímpica (existente)

R. S

Campo de futebol

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Quadras poliesportivas Praça comercial

Piscinas públicas

Legenda Curva de nível - 2m Esc: 1/2500

59


Elementos naturais

Programa

Fluxos

60

Conceito


A proposta de implementação do parque na área do Setor 3 teve como principais objetivos a proteção e a requalificação da área da nascente do córrego do Rangel, o aproveitamento da infra-estrutura esportiva existente na área e a nova conexão com o parque do córrego do San Genaro. O programa foi distribuído de modo que a nova área habitacional do parque fique localizada próximo à Avenida Zezé Amaral, por onde passam as linhas de transporte público, num ponto alto do terreno e muito próximo do edifício da nova Biblioteca Pública. Foi proposta uma ocupação horizontal, com residências assobradadas, sendo que o principal objetivo é que o parque “continue” por meio das residências, criando uma praça interna que se tornará o ponto de encontros e trocas entre seus moradores. Foi proposta a retirada das residências que criavam um anel de isolamento à nascente, desvalorizando a área e colocando em risco a sua integridade ambiental, uma vez que ela estava cada vez mais distante da população. Além disso, também foram retiradas as residências que fechavam e criavam muros para a área da atual Arena Olímpica, de maneira que toda a área verde do parque possa se conectar às ruas. Estas residências deverão ser reconstruídas nas áreas próximas ao parque destinadas à habitação e ao adensamento principalmente da área central do município. Na área onde atualmente se localiza a Arena Olímpica, está localizado um programa esportivo que se conecta diretamente à área educacional existente e se torna um grande atrativo ao público jovem da região. Este programa é composto por 2 piscinas públicas, quadras poliestportivas, vestiários , um novo campo de futebol e uma praça comercial localizada no centro da área. Os dois edifícios culturais, a Biblioteca Pública e o Teatro Municipal são conectados por uma praça mirante e foram localizados próximos à Av. Zezé Amaral e também à área do novo centro administrativo do município. Entre o complexo Cultural e o Esportivo localiza-se a nascente. Nesta área propõe-se uma área de estar e contemplação, rodeada por uma massa vegetativa que protege a nascente e ao mesmo tempo cria diferentes atmosferas em meio à vegetação, intercalando áreas sombreadas com grandes espaços abertos onde se pode tomar sol e observar a paisagem. Os fluxos foram organizados de maneira a distribuir a circulação entre os três eixos principais que foram propostos. O primeiro é o eixo que conecta as três diferentes áreas propostas para o parque: cultura, esporte e contemplação. O segundo faz a conexão entre a continuação do parque, o complexo esportivo e a escola municipal existente na área. Já o terceiro é a conexão entre o setor 3 e o restante do parque linear que segue na direção oeste do município.

61



Biblioteca


Conforme explica Santos (2010), apoiado em (CUNHA, 1997), a palavra “biblioteca” tem origem no grego bibliotheke, uma conjunção de vocábulos, que significa “depósito de livros”. A origem do termo remonta à antiga função das bibliotecas como mero depósito de materiais escritos, sem caráter público. (MARTINS, 2002). Esta característica das bibliotecas na antiguidade demonstra a restrição do uso e sua localização em locais de difícil acesso; ou seja, estar ou frequentar uma biblioteca era um privilégio de que muito poucos podiam usufruir. Esta condição era refletida na arquitetura dos prédios que abrigavam as bibliotecas da antiguidade. Estes eram projetadas de modo a dificultar a circulação, restringindo-a a determinados espaços (Santos, 2010). A biblioteca mais famosa da antiguidade é a de Alexandria, fundada em 208 a.C., no reinado de Ptolomeu I. Sua proposta era transformar a cidade em um polo cultural capaz de fazer frente a Atenas, na Grécia. Seu objetivo não era compartilhar saber, mas sim acumular conhecimento e, por consequência, prestígio. A biblioteca de Alexandria, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo, foi destruída após uma série de incêndios – alguns deles intencionais – no ano de 642 d.C. Durante o período medieval, o objetivo de dificultar a circulação nas bibliotecas foi reforçado. A entrada dos prédios costumava ser vigiada por guardas para restringir o acesso e impedir e o roubo das obras. Segundo BASTOS, citando (Manguel; Guadalupe, 2003) muitas portas levavam à corredores sem saída, havia entradas e saídas falsas, entre outros artifícios que dificultavam o acesso ao acervo. Formavam, dessa forma, verdadeiros labirintos nos quais poucos entravam e saíam impunes. Nesta época, as bibliotecas – bem como a educação – de maneira geral, eram controladas pelo clero e dividiam-se em três categorias: particulares, monacais e universitárias. As bibliotecas particulares eram aquelas mantidas por senhores abastados, incluindo imperadores e reis. Já as monacais eram as mais importantes do período, por serem as responsáveis pela preservação de boa parte do acervo literário da antiguidade. Possuíam grande destaque dentro dos conventos e mosteiros das mais variadas

Biblioteca do Vaticano Fonte: http://libguides.slu.edu/c.php?g=185813&p=1228259.

64

Estudo do programa


ordens religiosas, dentre os quais se destacam as ordens dos Agostinianos, dos Beneditinos, dos Dominicanos e dos Franciscanos. Eram mantidas sob muitas regras e demandavam enorme atenção para evitar que o acervo fosse prejudicado pelo ataque de pragas ou pela umidade. As Bibliotecas monacais mais conhecidas são: Monte Atos (Turquia), Cassiodoro, São Jose e São Paulo (Itália), Fleurysur-Loire, Cluny e Corbie (França), Fulda (ex-Prússia), Saint-Gall (Suíça), e a Biblioteca do Vaticano. Na mesma época foram criadas as primeiras universidades, como prolongamentos das unidades religiosas. Com elas, surgiram as primeiras bibliotecas universitárias, cujo acervo foi, inicialmente, formado por meio de doações. Destacam-se as Universidades de Cambridge, Orleans, Oxford e Sorbonne. Porém, assim como as bibliotecas monacais, mantiveram a restrição e o controle do acesso, a fim de evitar que pessoas não autorizadas utilizassem o acervo. Outra característica herdada das instituições religiosas foi o culto ao silêncio. Objeto principal de todo este cuidado, o livro era entendido como um objeto sagrado, que deveria ser tocado apenas por iniciados capazes de trabalhar com eles. Assim, se a prática da leitura era entendida como sagrada, a biblioteca era um “templo”. Carregava, portanto, a atmosfera religiosa tanto na arquitetura, quando no comportamento dos frequentadores. Conforme explica BASTOS (2011) citando (Milanesi, 2002), copiados a mão e ricamente ornamentados, muitas vezes os livros ficavam presos por correntes às estantes, mas de maneira que pudessem ser levados às mesas de leitura. Portanto, caros, e de acesso restrito, os livros não estavam disponíveis à população, quase toda analfabeta. No Brasil, o início da prática da leitura remonta à chegada dos jesuítas, uma vez que as línguas dos índios brasileiros eram apenas orais. A Companhia de Jesus tinha a função de catequisar o gentio, educar as crianças órfãs e instruir os colonos. O trabalho de instrução e evangelização fez com que estes religiosos fundassem instituições de ensino no Brasil; com isso, cartilhas e livros tornaram-se material de uso permanente, associando-se pequenas bibliotecas às atividades de ensino. Com o passar dos anos, as bibliotecas eclesiásticas dos jesuítas tornaram-se os centros de cultura e formação dos jovens brasileiros, que muitas vezes completavam os estudos em Coimbra. O Colégio de Jesuítas, por exemplo, que possuía sua biblioteca própria, tornouse a Escola de Cirurgia da Bahia, e mais tarde, a Faculdade de Medicina. Já a Biblioteca da Catedral Basílica Primacial de Salvador possuía, em 1759, um acervo com cerca de 15 mil volumes. Esta quantidade é surpreendente, considerando que não havia importação de livros para o Brasil, tampouco oficinas tipográficas. Isso se deve à estreita relação entre a carreira religiosa e a leitura. Além disso, muitos monges eram também educadores – inclusive de leigos – o que lhes incentivava a uma busca permanente por novos conhecimentos. Além dos jesuítas, outras ordens religiosas destacam-se como as guardiãs dos livros no Brasil. Já os franciscanos fundaram seu primeiro convento na última década do século XVI – o Convento de São Francisco de Vitória. Quando chegaram ao Rio de Janeiro, fundaram o antigo convento do Morro do Carmo, em 1608. Sua biblioteca foi transferida de local diversas vezes e foi frequentada por religiosos ilustres. Hoje, parte deste acervo encontra-se dividido entre o Instituo Teológico Franciscano, em Petrópolis, e a Sede da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, em São Paulo.

As bibliotecas tornam-se públicas As bibliotecas públicas podem ser definidas como instituições que apresentam uma complexa delimitação conceitual e institucional: é financiada e segue regulamentações provenientes do Estado com o fim último de promoção de seu caráter social, facilitando o acesso da população à informação em seus mais variados suportes e permitindo a construção de uma sociedade mais justa (Jaramillo et al, 2000 apud BASTOS 2011). Assim, em resumo, pode-se dizer que a biblioteca pública tem as funções de

65


assegurar o acesso à informação nos mais variados suportes informacionais e a todos os sujeitos que a solicitem; subsidiar ações e informações que permitam uma melhor – e real – participação dos sujeitos leitores nas suas ações; permitir uma ampliação dos acessos a suportes de leitura criados e a novas tecnologias; contribuir com a formação continuada dos sujeitos-leitores; ajudar no fortalecimento da economia das comunidades que atende, principalmente da indústria editorial; e servir como um centro difusor de informações para a comunidade. (URIBE TIRADO, 2007 apud BASTOS 2011) Apesar de sua relevante importância na formação cultural da população, as bibliotecas públicas ganharam espaço principalmente a partir do século XIX, com a propagação dos ideais democráticos na Europa e nos Estados Unidos da América. Conforme explica Arruda (2000 apud BASTOS 2011), a origem da biblioteca pública é datada em 1850 na Inglaterra, motivada pelas revoluções burguesas – Industrial, Liberal e Francesa. Em um primeiro momento, essas bibliotecas foram mantidas por magnatas; mas, após lutas e pressão dos trabalhadores, no início do século XX, alguns governos de países como os Estados Unidos da América passaram a repassar verbas para estas instituições. Neste contexto, as primeiras bibliotecas cujo funcionamento voltou-se às necessidades da população estão na Inglaterra e desempenharam funções tais como fornecer informações sobre pontos turísticos, empregos e tarifas. Já no Brasil, as primeiras bibliotecas públicas surgiram com o estabelecimento da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808. A Real Biblioteca portuguesa tornou-se o que, hoje, é a maior biblioteca pública do país: a Biblioteca Nacional. Embora seja significativo o avanço verificado com a fundação das primeiras bibliotecas públicas no Brasil, observa-se uma grande disparidade entre as bibliotecas de países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nas primeiras, é observável uma conexão direta entre elas e a comunidade, de forma que sirvam como meio de informações relevantes para a população. Já nos países em desenvolvimento, nota-se uma dificuldade de aproximação entre a instituição e a comunidade, de forma que esta não se identifica com o espaço. Entretanto, algumas iniciativas buscam alterar essa situação. O sistema de Parque Biblioteca na Colômbia, por exemplo, é uma interessante experiência de conexão entre a comunidade e a instituição da biblioteca. Estas bibliotecas, em suas diferentes tipologias não são simplesmente espaços para consultas de informações; são, simultaneamente, lugares acolhedores e inclusivos, que, ao mesmo tempo, fornecem informações permanentes à população, formação para o integral desenvolvimento humano e oportunidades para encontro e construção coletiva – o que lhes converte em centros de desenvolvimento comunitário local. No Brasil, inspirada nas bibliotecas-parque de Medelín e Bogotá, na Colômbia, a Biblioteca Parque de Manguinhos, inaugurada em abril de 2010, na cidade do

Biblioteca Nacional 66

Fonte: http://www.rce.com.br/noticias/ler-livros-classicos-aumenta-inteligencia.


Rio de Janeiro é a primeira de um sistema de espaços criados para oferecer aos usuários acesso imediato e fácil à informação. Dessa forma, criam um ambiente de convivência e convergência na comunidade, contribuindo, dessa forma, com a diminuição da violência e com a inclusão social. Todavia, ao contrário do que se observa em Manguinhos, a maioria das bibliotecas públicas brasileiras constituem espaços de pouca identificação com os leitores, decorrente do processo histórico contínuo que marca o desinteresse dos brasileiros pela leitura. Por isso, Bibliotecas devem ser projetadas considerando seu papel de aproximar a população e a prática da leitura. Deve ser levado em conta, ainda, que a quantidade insuficiente de bibliotecas nas escolas públicas e particulares sobrecarrega o papel das bibliotecas públicas, que acabam por suprir esta demanda por espaços de leitura. Assim, como resultado de uma inexistente política cultural efetiva, o que deveria ser público, tornou-se escolar (Milanesi, 2002 apud BASTOS 2011). Outro grave resultado da distância entre a população e a literatura é o monopólio exercido pelos meios de comunicação de massa como fontes de informação, que desempenham tranquilamente o papel de formadores de opinião de eleitores que exercitam cada vez menos a interpretação de informações e formação de senso crítico. Este trabalho apresenta-se como uma resposta a esta situação de abandono em que se encontra um enorme número de bibliotecas brasileiras. Neste contexto, representa a elaboração de uma proposta que visa aproximar a população do município a este equipamento e a renovação da biblioteca como centro comunitário, cultural e educacional do município.

Biblioteca Parque de Manguinhos Fonte: http://www.cazadoresdebibliotecas.com/2015/11/bibliotecas-parque-do-rio-de-janeiro.html.

Parque Biblioteca León de Grieff http://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-5937/parque-biblioteca-leon-de-grieff-giancarlo-mazzanti.

67


Permeabilidade visual

Criação de um novo percurso

Conectividade parque-cidade

68

Partido do projeto


A proposta para o edifício da Biblioteca Pública de São Sebastião do Paraíso foi elaborada com o objetivo de unir as atividades de lazer, educação, pesquisa e cultura num conjunto arquitetônico que visa atrair a população para setores que hoje parecem estar esquecidos. O edifício foi implantado de maneira a adaptar-se à topografia existente, tirando o máximo proveito das vistas para o Parque Linear proposto. Para que ele não se tornasse um obstáculo à vista a partir da Av. Zezé Amaral, optou-se por construí-lo num nível inferior à esta avenida, deixando toda sua cobertura livre para a caminhada dos usuários e criando, assim, o vazio interior que se constitui numa praça interna. Essa continuidade entre a cobertura do edifício e a Praça Mirante é quebrada com a elevação da cobertura do bloco Nordeste, que faz com que o edifício se destaque do terreno criando um convite ao transeunte que chega ao teatro ou que passa pela avenida. O bloco Nordeste acaba por funcionar como um “farol”, que traz curiosidade e atrai o público ao exibir ao longe as atividades que serão realizadas nas salas multiuso e o espaço expositivo com a proposta do momento. O projeto teve como principal premissa a exploração dessa especialidade interna que se integre à paisagem construída e natural. A praça interna adquire grande presença no interior do conjunto, torna-se uma grande área de recepção e estar, que distribui as atividades de caráter mais público do edifício, como a cafeteira, o auditório e a entrada para o acervo da Biblioteca. O desnível existente entre a cota da rua e a praça reforça a a proposta de criação de um percurso que leva a uma nova atmosfera, uma pausa em meio à rotina da cidade e às atividades da Praça Mirante. O edifício foi organizado de maneira a permitir a máxima flexibilidade dos espaços, o que garante uma grande variedade de atividades a serem executadas, além de uma grande adaptabilidade do projeto diante do surgimento de novas necessidades para a população no decorrer dos anos. O programa do edifício é organizado de maneira que o acervo geral e os espaços de estudos da biblioteca localizam-se protegidos dos ruídos da Av. Zezé Amaral e diretamente ligados ao parque, enquanto as salas multiuso e o espaço expositivo localizam-se no piso superior, próximos ao acesso da Praça Mirante. Já a administração está localizada em ponto central, num piso intermediário entre a entrada da biblioteca e o acesso pela Rua cinco. O auditório e a cafeteira estão próximos à entrada do bloco da Biblioteca, e conectados diretamente e visualmente ao andar superior por uma escada que passa pelo jardim lateral do edifício. Estes ambientes funcionam como elo de ligação dos outros programas propostos ao edifício, de modo que as diferentes atividades possam funcionar de maneira complementar. Os dois blocos são conectados por um bloco técnico, que serve a todo o conjunto arquitetônico, otimizando as instalações necessárias para o funcionamento do edifício. 69


Espaço p/ grupos

Espaço infantil

Leitura informal Espaço jovens Acervo geral

Espaço externo Balcão de atendimento Sanitários

Administração

Sala técnica

Balcão central

Sanitários

Espaço expositivo

Cafeteria

70

Programa mínimo de necessidades

Auditório


AMBIENTE

AMBIENTE

ÁREA (m²)

ÁREA (m²)

188

188

Estações de trabalho Estações de trabalho

90

90

Deposito

24

24

Atelie de recuperação Atelie de e digitalização recuperaçãode e digitalização de livros livros Espaço para reunião Espaço para reunião

12

12

24

24

Sanitário Circulação

Sanitário Circulação

10 28

10 28

Cafeteria

Cafeteria

Balcão Salão

Balcão Salão

12 75

12 75

Auditório

Auditório

Foyer

Foyer

30

30

Sala técnica

Sala técnica

10

10

Assentos

Assentos

120

120

Palco

Palco

Tecnicos

Tecnicos

Sanitário

Sanitário

180

180

100

100

Hall de recepção Hall de recepção

100

100

Espaço infantil Espaço infantil

102

102

Espaço periódicos Espaço periódicos

120

120

Espaço informática Espaço informática

78

78

Espaço jovem Espaço jovem

220

220

Espaço para grupos Espaço para grupos

102

102

Acervo geral Acervo geral

465

465

Área para leitura Área externa para leitura externa

400

400

Área expositivaÁrea expositiva

160

160

Ateliês

160

160

Balcão central Balcão central

132

132

Praça- PrimeiroPraçaandar Primeiro andar

132

132

Circulação vertical Circulação vertical

120

120

Circulação horizontal Circulação horizontal

414

414

3608

3608

Administração Administração Deposito

Espaço técnico Espaço técnico Área de Estudo,Área Pesquisa de Estudo, e Leitura Pesquisa e Leitura

Organigrama - setores Pesquisa, leitura e estudo Convivência e eventos Técnico Recepção Administração Controle de livros Acesso controlado Conexão entre espaços

Ateliês

Praça interna Praça interna

Área total

Área total

71


1

Recepção

Administração 2

Estações de trabalho

3

Depósito

4

Sala de reunião

5

Recuperação/ Digitalização de livros

6

Estar/ lazer (funcionários)

7

W.C. (funcionários)

8

Cafeteria

9

Auditório

10

W.C.

11

W.C. (unisex)

12

Sala técnica

Biblioteca 13

Espaço informática

14

Periódicos

15

Balcão de recepção

16

Espaço jovem - jogos, gibis

17

Espaço infantil

18

Área p/ leitura externa

19

Balcão de informações / guarda-volume 1:250

72

Térreo


-0,20

18

16

17 11

13

14

15

1,00

10

12

0,00

1

19

2,00

1,00

7

3

8 9 10 5

6 4

0,00

-1,50

2

-0,50


10

W.C.

11

W.C. (unisex)

12

Sala tĂŠcnica

19

Salas multiuso

20

Espaço expositivo

21

Solarium

Biblioteca 22

Acervo geral

23

Sala de estudo para grupos 1:250

Primeiro andar


4,20

22

10

11 23

12

21 4,20

4,80

4,80 20 19

10


2,00

Corte A


8,20

4,20

0,00


2,00

Corte B


8,20

4,80

1,00 0,00


8,20

Corte C


4,80

2,00 0,00

1,00


Corte D


10,00 8,20

4,80

0,00

1,50


0,00

Corte E


10,00 8,20

4,80

1,50 0,00

-0,50

0,00


Elevação 1


8,20

4,80

2,00


Elevação 2


8,20

2,00 0,00


Perspectiva interna - acervo

Perspectivas


Bloco Nordeste - salas multiuso

91


Cafeteria, auditĂłrio e balcĂŁo central

92


Entrada principal, vista a partir da Rua Cinco

93


94

Bibliografia


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