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fragmentos de produção e exposição artística maria júlia crosara ferezin_2018
MARIA JÚLIA CROSARA FEREZIN
fragmentos de produção e exposição artística_
Trabalho final de curso apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista sob a orientação do Prof. Me. Onésimo Carvalho de Lima.
Ribeirão Preto 2018
SUMA
ARIO PARTE1
1. Introdução 1.1 mudança de relações 11
2. Relação arquitetura e arte 2.1 aproximações 13 2.2 a importância do lugar 14
2.3 o arquiteto e o artista: exemplos
de aproximações 16
2.4 como os artistas ocupam o
espaço arquitetônico 27
3. Residências artísticas 3.1 a residência artística 29 3.2 como funcionam estas residências 31 3.3 exemplos 32
4. Referências projetuais 34
PARTE2 5. Conexões artísticas urbanas 5.1 percurso e fragmentos 42
PARTE3
6. Aplicação 6.1 Percurso 63
6.2 Projeto arquitetônico 67
7. Considerações finais 107
8. Bibliografia 108
Agradeço_meu orientador Onésimo Carvalho de Lima pelo interesse, dedicação e paciência durante esse processo. Minha avaliadora Bulhões Figueira
Tânia
Meus pais e meu irmão.
Maria
Murilo, Otacílio, Amanda, Beatriz e Vitor por terem me acompanhado em todos os momentos.
Dedico este trabalho aos artistas.
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Este trabalho final de graduação, cuja temática aborda a relação entre arquitetura e arte, surgiu com o interesse de elaborar um projeto arquitetônico que una arquitetura e arte, não apenas como atitude formal, mas também programática, utilizando os moldes dos programas de residência artística, resultando em três edifícios, fragmentos conectados por um percurso resultante da indentificação e conexão de pontos de interesse artístico e cultural na cidade de Ribeirão Preto/SP. Tais pontos foram identificados a partir do levantamento, visitas ao local e pelos estudos das produções artísticas contemporâneas e suas instâncias urbanas, o que inspirou a fragmentação do objeto arquitetônico em três e sua ocupação até a rua, para além dos limites do lote. O trabalho, para tanto, se dá a partir das seguintes etapas: • Pesquisas bibliográficas (teóricas) sobre arquitetura e arte, bem como suas relações, exemplificadas com obras de arquitetos e artistas que apresentam essa aproximação;
• Pesquisa teórica sobre o programa de "residências artísticas"; • Estudo dos lotes de intervenção, com levantamento voltado para zonas de interesse artístico, justificando as locações do programa acompanhado pelos pontos de interesse que conectam tais lotes, gerando o percurso; • Leituras projetuais que auxiliam na compreensão das premissas de fragmentação e intervenção artística no urbano;
• Levantamento aproximado dos lotes definidos;
• Elaboração da proposta projetual.
PROBLEMÁTICA_ Muitos artistas atualmente sentem com a falta de recursos, espaço e tempo para se dedicarem as suas produções. Assim, fazendo um estudo sobre a arte e a sua aproximação com a arquitetura, e como a arquitetura se aproximou da arte, é possível elaborar um projeto que compreenda as premissas da arte contemporânea, e como projetar um espaço onde o arista possa produzir e exibir simultaneamente, sendo flexível e tão urbano quanto arquitetônico. OBJETIVOS_
O objetivo geral da pesquisa é elaborar um projeto de arquitetura para produção e exposição de arte em Ribeirão Preto. Os objetivos específicos são: • Estudar a relação entre arquitetura e arte;
• Fazer um levantamento que direcione a escolha dos lotes que abrigarão as propostas projetuais; • Definir o programa de necessidades;
• Propor soluções arquitetônicas espaciais, estruturais e perceptivas para tal objeto;
• Fragmentar o programa em três edificações conectadas na malha urbana por pontos de interesse.
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1. introdução O maior problema com a arte é: se você vai a um lugar e não pode tocá-la ou usá-la, isso está dizendo que a coisa é mais importante que você, ou a instituição que a guarda essa coisa é mais forte que você [...] você esta lá pra ver, e para estar com algo você tem que fazer mais do que apenas ver, você pode ver algo na revista, deveria haver uma interação. [...] Os desenhos de Piranesi pareciam rabiscos em cima de rabiscos em cima de rabiscos, como se quisesse que o desenho nunca acabasse, e quero que a arquitetura traga essa noção de que não são espaços de pessoas, são espaços que podem ser usados de forma diferentes, modificados pela as pessoas, colidindo por outra pessoas, fazendo com que a arquitetura fale por elas. – Vito Acconci.1
1.1 mudança de relações
O envolvimento da arquitetura com a arte vai muito além do museu, da arquitetu-
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ra como abrigo da arte. Para compreender essa relação, voltemos aos anos 1960, período no qual a arte sai de dentro dos museus e das casas e vai para as ruas, em decorrência das discussões acerca da arte e seu lugar na sociedade e da necessidade de amplificar a audiência, tornando-a mais abrangente e inclusiva. A arte passou a ter um contato maior com o público e deixa de ser algo intimidador. Objetos artísticos deixaram de ser objetos pictóricos e escultóricos de contemplação distanciada e passaram a ser objetos de interação. As pessoas, a partir de então, poderiam tocar, entrar e interagir com as obras. Essa mudança na arte fez com que os museus mudassem também. Segundo DORNBURG (2000) o que antes era visto como um templo, fugindo da escala de seus espectadores, agora passa abrigar outros tipos de atividades, incentivando a permanência das pessoas e tornando a contemplação da arte em algo que poderia fazer parte do dia-a-dia a partir dos movimentos de vanguarda. Os espaços expositivos que antes se resumiam em caixas brancas, tinham uma estrutura espacial que não oferecem mais suporte adequado para abrigar a arte produzida nos séculos XX/XXI. A discussão em torno da arquitetura como arte é extensa. Arquitetos como Bernard Tschumi, Steven Holl, Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira discutiram sobre o assunto, assim como o artista Richard Serra. Durante uma conversa2, Siza e Souto discutiram se a arquitetura é arte. Para eles, o que difere uma da outra é a função, que torna a arquitetura impura em relação à arte, afirmação com a qual Tschumi discorda, dizendo que:
1 Trecho da entrevista feita para 32BNY, disponível na íntegra em https://vimeo. com/61289393, acessado em 18/03/2018, tradução nossa. 2 Disponível em: https://www.publico.pt/2018/02/25/culturaipsilon/entrevista/o-bonito-o-feio-o-janota-e-o-efeito-miles-davis-na-arquitectura-1804242, acessado em 18/03/2018.
Aqueles que dizem que a arquitetura é impura se ela necessita emprestar seus argumentos de outras disciplinas não apenas esqueceram a inevitável interferência da cultura, economia e política, mas também subestimam a habilidade da arquitetura em acelerar o desenvolvimento da cultura, contribuindo para sua polêmica. Como prática e teoria, a arquitetura de importar e exportar. (TSCHUMI 1996, apud SOLFA, 2010, p.61).
Serra, quando diz que arquitetura difere-se da arte3, faz uma crítica ao trabalho de Frank Ghery, salientando que aquilo que pretende ser escultural, é basicamente ornamental, a arquitetura deve atender às necessidades das pessoas, e não se tornar uma grande escultura. O que de fato pode ser extraído desses diálogos, é que a arquitetura e a arte podem ser inspiradas uma pela outra, porém, cada uma em sua essência. Ao pensar arquitetura como função, abrigo, objeto a atender necessidades, pode-se voltar a pensar nos movimentos artísticos de vanguarda que fogem da contemplação distanciada e reforçam a aproximação do espectador, relação entre o objeto e usuário.
As discussões que são feitas ao longo deste trabalho são uma tentativa de compreender experiências arquitetônicas e artísticas presentes no cenário atual, que serão refletidas no desenho da arquitetura que permitirá a ocupação do espaço pela arte.
2. relação arquitetura e arte 2.1 aproximações A aproximação do arquiteto com a arte não é novidade, mas a partir do pós-modernismo, quando começara haver questionamentos acerca da homogeneidade do movimento moderno, a arquitetura e a arte no século XX sofrera um processo evolutivo notável. Segundo MONTANER (2001), depois da Segunda Guerra Mundial os arquitetos começaram a buscar referências mais humanistas, psicológicas e contando com a participação dos usuários, e encontraram na obra de arte, e em seus componentes irracionais, uma forma que legitimasse esses novos processos, transformando a arquitetura em uma obra crítica, como, por exemplo, no caso do grupo SITE (Sculpture in the Environment) de James Wines, que no final dos anos 1960 aproximou arquitetura e arte, já que a última teve capacidade de acompanhar mais rapidamente as transformações culturais, sociais, políticas, econômicas do século XX, se aproximando da realidade e das emoções humanas. 3 Disponível em: https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/05/brichard-serrab-era-das-estrelas-da-arquitetura-esta-em-declinio.html, acessado em 18/03/2018.
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Até a arte moderna o público era o espectador, o apreciador, aquele que visitava um espaço expositivo para ver obras, ler imagens; com o advento da arte contemporânea, nem obra, nem objeto são conceitos que possam abarcar a experimentação peculiar a sua produção, o público passou de observador a participe da construção visual e sinestésica da arte. São inúmeros os exemplos dessa inter-relação entre público e produção visual contemporânea, os objetos relacionais da Lygia Clark, os parangolés e os penetráveis de Hélio Oiticica, a arte cinética de Rafael Soto, as intervenções urbanas e empacotamentos de Christo, são exemplos concretos dessa nova forma de relação. (COSTA, 2009, p. 3).
Quando o arquiteto atinge a sensibilidade de pensar no conceito e efeitos da sua obra, é quando ele se conecta com o processo do artista, elaborando estudos projetuais com desenhos similares a obras de arte, buscando uma sensação de nostalgia da infância que vem de uma ação sensorial. E quando o artista pensa na estrutura de sua obra e no efeito que a mesma tem na cidade, ele se aproxima do arquiteto.
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2.2 a importância do lugar Para esclarecer a relação que a arquitetura tem com as obras de arte contemporâneas, e como essas obras ocupam o espaço, é preciso compreender o processo que os autores passam ao desenvolver suas obras, e como a metodologia de uma pode influenciar a outra; ao aproximar arquitetos e artistas, analisando brevemente suas obras. O sentido do objeto nasce no e do espaço público, instituindo uma interdependência notável entre o objeto e o lugar. O próprio conceito de “instalação” que temos hoje parte do pressuposto dessa relação necessária entre o acontecimento formal propriamente dito e o lugar de sua apresentação. (CANOGLIA, 2005, p. 65, apud COSTA, 2009, p.1)
Ao passar de obras autônomas para obras participativas, artistas começaram a questionar como suas obras eram apresentadas em certos contextos. Nesse ponto o site-specific se encaixa muito bem. Segundo DORNBURG (2000), uma obra segue uma função que está diretamente relacionada ao local que está inserida, seja pelo espaço, historia ou contexto social; além de analisar a escala, usuários e potencialidades. Nesse sentido, as obras de site-specific se relacionam totalmente à arquitetura. Ao receber o programa e o local do projeto, o arquiteto deve estudar esse espaço, fazer um levantamento de dados sobre esse local para compreender o impacto de seu projeto e, a partir disso, pensar em um elemento quase que escultórico que vai a partir de então ter uma completa relação com esse local, podendo modificá-lo. Assim como o arquiteto, o artista se tornou multidisciplinar. Os dois lidam com estrutura, espaço e como esse objeto será percebido e traduzido pelo público.
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(1) Fachada do BEST Products Indeterminate (1974) de James Wines.
2.3 o arquiteto e o artista: exemplos de aproximações
(2) Projeto para Klapper Hall (1993-95), em Nova York de Vito Acconci.
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Em uma palestra na segunda edição do evento Performance Presente Futuro, no Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2009, Vito Acconci disse:
“Nada do que fazemos agora é projeto artístico. Fazemos arquitetura, fazemos design… Mas não queremos ser apenas “uso”; queremos uso e algo mais. [...] Mas queremos um lugar que as pessoas usem e onde ocorram mudanças de pensamentos. [...]. Acho que faz sentido que eu tenha vindo de um histórico de performance: eu não quero que a arquitetura seja essa coisa imóvel, quieta… Espero que o trabalho de todo mundo venha de algum tipo de sistema de pensamento e que resulte do modo como se vê o mundo. É bom saber que não existe apenas um modo de se ver o mundo – se todos vissem o mundo ao meu modo, seria um mundo muito chato.”4
Acconci, em sua intervenção na Praça Klapper Hall em Nova York, transforma um lugar de passagem em permanência, com oito esferas baseadas em esferas de concreto existentes na entrada do edifício, onde há a praça. Esses novos elementos trazem um modo diferente de sentar e iluminar.
4 Entrevista completa em: http://dasartes.com/materias/vito-acconci-arte-e-politica-da-performance-a-arquitetura/. Acessado em 17/03/2018.
(3) ‘Tesseratos do tempo’ de Steven Holl e Jessica Lang.
Ao colaborar com a coreografa Jessica Lang na obra Tesseratos do Tempo, Steven Holl diz que a arquitetura está passando por um momento confuso, e deve ser reconectada com outras artes, como música, poesia e dança. Inspirada por outras artes, como antigamente na Renascença, fazendo cenários para apresentações de danças. O arquiteto pode buscar inspirações em outros lugares além da própria arquitetura. Em geral, as artes precisam se conectar para permanecerem fortes. Na colaboração entre o arquiteto e a coreografa, Holl desenvolve os tesseratos (seis cubos dobrados uns nos outros) nos quais os dançarinos podem ficar dentro, ao redor ou subir nas peças no palco, que se adaptam a ela ao longo do processo.
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(4) ‘Tesseratos do tempo’ desenhos de Steven Holl.
(5) Fachada do “Storefront for Art and Architecture”
A obra da renovação da fachada do “Storefront for Art and Architecture” foi uma colaboração de Steven Holl com Vito Acconci. Com um espaço limitado da galeria, que ocupa um lote pequeno, a fachada se torna o principal alvo de intervenção, e o projeto consegue aproveitar toda essa superfície com rasgos improváveis, tornando-a dinâmica. Essas aberturas fazem com que seja quebrado um limite entre o dentro e fora. Esse quebra cabeças estende para o passeio público, integrando os dois ambientes.
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(6) Gehry Residence em Santa Mônica, Estados Unidos
Frank Gehry projeta edifícios com valores muito mais escultóricos e artísticos do que funcionais, agregando diversos fragmentos formais como prismas, cilindros e esferas, tentando fugir da ideia de produção em série e levando sua obra para um lado em que a arquitetura é mais singular. Entre cortes e dobras, o arquiteto desenvolve diversos estudos até chegar a uma obra que seja esteticamente agradável ao seu olhar. O arquiteto explora a textura dos materiais como papelão, arame e telas metálicas.
(7) Water Temple - Tadao Ando
O arquiteto Tadao Ando aborda a relação da experiência do espaço com formas de passagem, a jornada de um ponto a outro, transformando o ato de locomoção em contemplação. Seu projeto “Water Temple”, no Japão, compõe a nova entrada do templo, que deveria oferecer a vista da baía Osaka. Ando, então, projeta uma lagoa oval que é cortada pela escada que adentra o volume e se estende até o hall.
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(8) Fotomontagem - Superstudio
O Superstudio, grupo arquitetônico radical fundado em 1966 pelos italianos Adolfo Natalini e Cristiano Toraldo di Francia destaca-se pela forma como é desenvolvido seus projetos, apoiados na arquitetura e nas artes plásticas. O grupo utiliza de fotomontagens para representar suas ideias revolucionárias para a época com grandes críticas políticas e urbanas, integrando a tecnologia. As propostas envolviam monumentos gigantes e radicais, e a forma de representação vem como forma de concretizar um pensamento crítico que muitas vezes pode não sair do papel.
(9) ATRACTOR - Regina Silveira
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Alguns artistas trabalham diretamente relacionados à arquitetura, com obras de intervenção em edifícios, como a artista Regina Silveira, de Porto Alegre – RS. Em “ATRACTOR” uma instalação com vinil espelhado cobre a fachada da Fundação Iberê Camargo, projeto do arquiteto português Alvaro Siza em Porto Alegre em 2011. A artista também faz obras que remetem a objetos arquitetônicos em ilusões que brincam com os sentidos dos visitantes, dando a sensação de profundidade, como a instalação “ABYSSAL”, que incorpora as janelas da galeria.
Em sua exposição “Todas as escadas” exibida no Instituto Figueiredo Ferraz, nos dias 25 de agosto a 06 de outubro de 2018, Regina Silveira, além de expor as suas obras finalizadas, ela expõe também o processo de criação. Os desenhos técnicos que foram necessários se assemelham aos desenhos arquitetônicos de perspectivas com pontos de fuga.
Fonte: Arquivo Pessoal.
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James Turrell trabalha com a relação da imaterialidade da luz e materialidade física (concreta), utilizando a luz como elemento transformador do espaço. Seu trabalho consiste, principalmente, na cor de suas projeções em espaços arquitetônicos. O artista fez a série ‘‘celas perceptivas’’, nas quais constrói espaços para um indivíduo experimentar a instalação que causa sensações através das mudanças na iluminação. As intervenções realizadas em edifícios arquitetônicos são as mais relevantes para esse estudo. Em Massed Light (1997), Turrell desenvolve seu projeto no edifico da companhia de gás Verbund Netz, na Alemanha, dos arquitetos Becker, Gewers, Kühn & Kühn. O mecanismo de iluminação instalado nas fachadas muda de cor conforme a temperatura se altera, ao anoitecer. As luzes recuperam o pôr do sol perdido pelo entorno industrial. Já sua instalação Aten Reign (2013), no museu Guggenheim de Frank Lloyd Wright, foi uma de suas maiores obras, em que a rotunda do museu foi transformada em uma metamorfose de cores que habita a cavidade branca do museu.
(10) MASSED LIGHT - James Turrell
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(11) Aten Reign no museu Guggenheim - James Turrell
(12) Line describing a cone (1973) - Anthony McCall
Em sua obra “Line describing a cone”, de 1973, o artista Anthony McCall faz uma analogia dos projetores de cinema, que projetavam além da imagem, um cone de luz que era visível, uma luz sólida, e isso o inspirou na criação de sua obra, na qual o cone de luz formava desenhos na superfície que toca. Segundo McCall, “o corpo é uma medida importante”, assim como na arquitetura, o artista pensa na escala e como
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o indivíduo se relaciona com sua obra, ao brincar com os cones de luz, pensando também em como esses volumes fantasmagóricos se encaixam no espaço. Os feixes de luz fazem refletir sobre a semelhança com a arquitetura através dessas esculturas a partir do local onde é projetada. O modo como a projeção atinge a superfície causa efeitos distintos, dessa forma há participação com a instalação, ao causar um desejo de toque, e a percepção ótica se assemelha ao entrar em um ambiente com diferentes texturas de diferentes materiais e revestimentos; a sensação do toque no ambiente traz uma experiência que vai além da ótica.
(13) Transarquitetonica (2014) - Henrique Oliveira
Ao executar a instalação no Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo, o artista Henrique Oliveira consegue transmitir distintas sensações em uma experiência sobre a história da arquitetira. Ao entrar na instalação, uma caixa com acabamento branco liso é iluminada por uma intensa fonte de luz. Ao adentrar no tunel, as paredes comecam a descascar e, aos poucos, revelam suas camadas, como um abrigo ou cavernas do passado, até o ponto onde o espaço se torna o interior da raiz de uma grande árvore. Ocupando 1600m², a obra consegue "abraçar" os pilares de Niemeyer, mostrando a capacidade do artista de se adequar ao espaço expositivo.
(14) Transarquitetonica (2014) - Henrique Oliveira
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(15) Transarquitetonica (2014) - Henrique Oliveira
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(16) (17) (18) Obras de Richard Serra
Richard Serra, escultor norte-americano, trabalha com grandes laminas metálicas, explorando os campos do site-specific. A escultura de Serra, o modo como o artista pensa o espaço, observador, lugar e materialidade, são percepções fundamentais para arquitetos. A escultura em grande escala é como arquitetura: a princípio, observada à distancia, após a compreensão do volume geral, ocorre a esperimentação, quando o corpo entra no elemento e experimenta o espaço. A crítica que Serra faz em relação aos arquitetos é o uso da escultura como elemento decorativo e não algo influencial, apropriando-se desse elemento como arquitetura, estimulando à visão e esquecendo de trabalhar com os outros sentidos.
2.4 como artistas ocupam o espaço arquitetônico A ocupação acontece de forma orgânica, o espaço se molda ou procura-se um perfil espacial que se adeque às necessidades da proposta. Nos anos 1960, em SoHo - Nova York, decorrente das crises econômicas, muitas estruturas arquitetônicas ficaram abandonadas, e devido aos baixos preços de aluguel, e qualidades espaciais como plantas livres e pé direito alto, vários artistas começaram a ocupar tais espaços, induzindo novos usos. Esses locais deram origem ao conceito dos (populares e atuais) “Lofts”. Na atualidade, os processos de gentrificação que os bairros de Nova York sofreram, mediante às novas ocupações e atividades, fazem com que esses imóveis já não fossem mais tão economicamente acessíveis. Além disso, a ocupação de espaços pré-existentes esbarra em empecilhos como a questão da manutenção e reparos, alugueis altos e falta de flexibilidade. Assim, a construção de um novo espaço é uma opção, adequando-se às necessidades contemporâneas dos ocupantes.
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(19) Gordon Matta-Clark no 112 Greene Street, loft abrigado por vários artistas em SoHo.
Em um contexto nacional, a ocupação de imóveis ociosos é mais recorrente. A grande quantidade de edifícios que não cumprem sua função social na cidade faz com que artistas busquem tais lugares para apropriação, pois há falta de espaços adequados para trabalhar e falta de recursos para alugueis. Segundo Nunes (2013, apud XIMENES, 2015, p. 26), com o fim da ditadura militar, os artistas, em conjunto com o governo, começaram iniciativas para enriquecer e incentivar novamente a produção cultural do país. Foi nesse período (1986) que a FUNARTE foi criada, bem como a Lei Rouanet, que concedia benefícios fiscais para empresas vinculadas à arte e à cultura. Ainda assim, faltavam espaços que incentivassem a criação da arte, diferente do expor. Assim surgem os coletivos nos anos 90, artistas trabalhando em grupos, fora de espaços institucionais criados pelo governo, criando espaços autônomos, os quais também enfrentaram dificuldades por falta de apoios financeiros. As ocupações urbanas se popularizaram especialmente em São Paulo, como contrapartidas as artes mercantilizadas e institucionalizadas, que muitas vezes fazem com que o artista produza seguindo normas comerciais. As ocupações são vistas em
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becos, praças, em festivais artísticos híbridos que chamam a atenção da população, especialmente pelo seu contexto urbano. Entende-se, com isso, que as ocupações não acontecem apenas em locais fechados, mas a arte contemporânea ocupa o meio urbano de forma que este vira ponto de partida para diversas obras.
O coletivo “A Batata precisa de você”, por exemplo, formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata, em São Paulo, estabelece a relação da população com o local, evidenciando o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência e reivindicando uma infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público.
As ocupações em pré-existências indicam a tipologia de espaço que é buscada pelos
(20) A Batata Precisa de Você - ocupação regular colaborativa do Largo da Batata
artistas. É notável a necessidade de espaços abertos, com pé-direito alto, possibilidade de configurações internas distintas e que abrigue mais de um artista simultaneamente, demandas que indicam um pré-dimensionamento e um possível programa das novas edificações. Essas ocupações também ajudam a compreender a demanda de espaços novos para produção da arte, feitos para esse propósito. A arte vem ocupando o espaço de forma flexível, as obras se adaptam ao local, e tomam parâmetros mais urbanos, participativos e democráticos. Essa flexibilidade se reflete na arquitetura, criando espaços menos limitados pela forma de exibição, com programas mais complexos, pensando na permanência do indivíduo. A maneira como as pessoas se sentem diante as obras é pensada pelo arquiteto e pelo artista; uma sensibilidade que premissa a criação.
3. residências artísticas 3.1 a residência artística Contemporaneamente, são espaços de criação artística, onde há troca de conhecimento entre culturas e produções distintas, gerando reconhecimento. Isso é reforçado com a vida coletiva que se tem ao participar do programa de residências, dando espaço para artistas diversos, dos mais populares até os ‘desconhecidos’ que buscam no programa uma oportunidade nova, de liberdade criativa. Artistas que fazem trabalhos para fins culturais, intelectuais ou até de valor filosófico cujas intenções comerciais são de um grau menor de importância, veem nesses estúdios, provenientes da residência artística como um espaço que viabiliza a produção de suas atividades, pois não conseguem manter um local próprio, um ateliê. O espaço que abriga o programa da residência artística pode provir de iniciativas privadas, vínculos com instituições, que podem oferecer bolsas, concursos, ou cobrarem uma taxa de inscrição, por exemplo. Seu programa, destinado à criação, oferece de forma adequada e democrática, espaço para artistas produzirem suas expressões artísticas, mas, muito mais que isso, novos artistas, artistas anônimos, não conhecidos, veem nos programas de residência uma abertura para se dedicarem às suas produções com experiências inéditas. Os ateliês se tornam espaços íntimos, de relação direta entre o habitante e o espaço habitado. Torna-se nesse espaço uma forma alternativa em contraste com outros espaços artísticos de criação, produção, formação, etc; agregando vários campos contemporâneos de atuação artística. Para entender o surgimento das residências artísticas, devemos olhar ao passado, para as academias de arte.
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As academias são instituições destinadas à formação de artistas. Deixando de lado as associações informais e os círculos artísticos existentes na Renascença italiana, é possível afirmar que a primeira academia de arte propriamente dita é a Academia de Desenho de Florença, criada em 1562 pelo pintor, arquiteto e biógrafo italiano Giorgio Vasari. [...] As academias garantem a formação científica (geometria, anatomia e perspectiva) e humanística (história e filosofia), rompendo com a visão de arte como artesanato e com a ideia de genialidade baseada no talento e inspiração individuais. (ACADEMIAS de Arte. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http:// enciclopedia.itaucultural.org.br/termo348/academias-de-arte>. Acesso em: 26 de Nov. 2017)
30 As academias do século XVI, segundo Jean-Baptiste Joly (1996) tinham a tarefa de distinguir o artista do erudito, o engenheiro do artesão, criando um espaço para discussões que geravam conhecimento, contribuindo para espalhar inovação pela Itália e Europa.
JOLY (1996) afirma que a Académie de France em Roma, fundada em 1666, pode ser considerada como o primeiro “centro de residência artística” (cujo modelo não é como o atual), que acomodou jovens artistas franceses a pedido de Louis XIV para copiar esculturas clássicas romanas para o jardim de Versalhes. Sem o objetivo de aprofundamento acerca das academias artísticas, traz-se o panorama para um contexto mais atual. Muitas residências artísticas devem sua existência aos movimentos artísticos da Europa e dos EUA nos anos 1960. Artistas baseados na cultura tradicional Europeia desenvolveram a curiosidade de adquirir conhecimento além de sua própria cultura, interesse em tudo que é diferente. Essa tradição inspirou as residências artísticas a receberem pessoas de todos os cantos do mundo, e a compartilhar cultura através da arte. Segundo JOLY (1996), muitos foram forçados em meados do século XX a abandonar suas terras por motivos econômicos e/ou políticos. Essas migrações moldaram a arte moderna e contemporânea consideravelmente.
No Brasil, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) desenvolve ações voltadas especificamente para o campo das residências artísticas. Em 2008, a Funarte lançou o Edital “Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura” oferecendo a artistas de diversos segmentos a possibilidade de desenvolverem projetos de residência artística. Repetiu-se o edital nos anos 2009, 2010 e 2012, contemplando 407 artistas que realizaram residências em mais de 350 pontos de cultura. (VASCONSELOS, 2014, p.17) A Funarte ainda realizou, em 2010, um programa “Bolsa Funarte de Residências Artísticas em Artes Cênicas”, apoiando residências nas áreas de teatro, dança e circo. Isso mostra o alcance de uma residência artística, abordando vários campos.
Ao mesmo tempo, percebeu-se que apesar dos bons resultados alcançados, a Funarte possuía ações dispersas neste campo e não um programa estruturado com objetivos e estratégias claras para o campo das residências. Em outras palavras, não havia política, somente editais e convênios, meros instrumentos de qualquer política pública. Tal situação é inadequada a qualquer campo das artes, uma vez que as ações se tornam extremamente sensíveis às mudanças de gestão e de alocação de recursos orçamentários, o que resulta em instabilidade e descontinuidade das ações empreendidas pela instituição ao longo dos anos. (VASCONSELOS, 2014, p.18)
Isso mostra como o apoio de políticas públicas é fundamental para o desenvolvimento de programas de residências artísticas. A fundação ainda divulga em sua página na web quando há aberturas para novas vagas em diversas residenciais artísticas. Em 2017, lançou uma chamada a procura de consultores para elaboração do Projeto Mapa de Residências Artísticas do Mercosul, iniciativa do Ministério da Cultura da Argentina5.
3.2 como funcionam estas residências
O programa pode abordar diferentes vertentes artísticas, tais como pintura, escultura, música, arquitetura, cinema, teatro, etc., assim como diferentes tempos de duração, podendo variar de semanas até um ano. Existem programas de residência artística, que oferecem espaço para a criação e exposição, e residências propriamente ditas, onde o convidado é hospedado no local. A seleção varia de residência para residência. Algumas lançam chamadas para inscrições on-line. Geralmente, as inscrições exigem propostas do trabalho que será realizado, muitas vezes de acordo com uma temática, ou com um campo no qual a residência atua. 5 Mais informações - http://www.funarte.gov.br/artes-integradas/projeto-mapa-de-residencias-artisticas-do-mercosul-seleciona-consultores/ Acessado em: 26/11/2017
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Em suma, tem como objetivo oferecer um local de criação, espaço para exposição dos projetos desenvolvidos ao longo da estadia dos artistas, interação com o público e espaço para hospedagem. O financiamento pode variar: algumas residências são gratuitas e oferecem todos os recursos, desde passagem até os materiais. Outras cobrem apenas estadia (como hotéis para programas que não oferecem hospedagem na residência), e algumas ajudam o candidato a identificar instituições financiadoras. A Fundação Iberê Camargo, por exemplo, oferece anualmente bolsas para artistas brasileiros participarem de programas no exterior.
3.3 exemplos de residências artísticas
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A Cité des Arts, em Paris – França é uma fundação privada com interesses públicos que é mantida com a participação de várias outras instituições, mediante convênios, e contempla o programa de residências artísticas desde 1965, que recebe artistas de todo o mundo no campo das artes cênicas e visuais, abrigando 282 apartamentos ocupados por um período de 2 a 12 meses, ateliês coletivos, salas de ensaio, espaços expositivos e salas de apresentações. Sua localização, no centro de Paris, facilita o acesso aos principais equipamentos urbanos relacionados à arte, como o Louvre e Palais de Tokyo. Essa inserção no tecido urbano facilita a interação e troca de culturas entre os residentes, que tem contato com vários acervos além do que é produzido na Cité. Por conta das proporções que a fundação tomou, ela mantém outro edifício, também em Paris.
(21) O goiano Helô Sanvoy ocupa seu quarto com os trabalhos - Residência FAAP
Possuindo convênio firmado desde 1996 com a Cité des Arts, a FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), abriga o programa de residência artística desde 1997 com intercâmbio de estudantes, e, a partir de 2005 ocupando o Edifício Lutetia, no centro de São Paulo. Os residentes do programa tem a disposição 10 estúdios de 69m² e 79m², com cozinha, quarto e banheiro privativo, onde morar e desenvolver acontece simultaneamente. Lugares coletivos para convivência também fazem parte do programa, sala de convivência, de encontros, workshops, apresentações e produção de trabalhos. Alguns programas como do Instituto Goethe, localizado em Salvador-Bahia, abordam residências com temática específica. Nesse caso, o tema é ‘O Sul’ referente ao sul global. Cercado por museus e teatros, o Instituto dispõe de lofts onde os artistas se hospedam no local, galerias, pátio, teatro, biblioteca e salas de aula.
Por fim, um exemplo valoroso que será aprofundado posteriormente, a Red Bull Station. O edifício, restaurado pelo escritório de arquitetura Triptyque em 2013 ocupa o antigo prédio da companhia de energia Light, da década de 1920, no centro de São Paulo, funcionando como um centro de artes e música. Dentre os projetos desenvolvidos pelo espaço estão o Red Bull Basement que usa tecnologia para discutir questões urbanas, Cine Performa que exibe filmes e curtas com entrada gratuita, Sófálá - Slam de poesia falada, e finalmente, o programa permanente de Residências artísticas. Cada edição recebe 6 artistas ou coletivos artísticos que trabalham com manifestações contemporâneas. Os residentes ocupam ateliês individuais e tem a disposição dois ateliês coletivos. Em Ribeirão Preto, o CACW – Centro de Arte Contemporânea W promove o projeto de residência artística, coordenado por Élcio Miazaki. O programa, sediado na antiga residência da artista visual Weimar Amorim, realiza quatro edições anuais, recebendo de 4 a 5 artistas de várias cidades por temporada, com duração de 10 dias ininterruptos. O programa oferece hospedagem para ocupantes que não são de Ribeirão Preto, expondo os resultados pela casa e no CACW.
4. referências projetuais Para auxiliar a compreensão pretendida, entender as diferentes formas de ocupação que tal premissa pode recorrer e como um espaço construído pode servir de palco para intervenções artísticas, foram selecionados alguns projetos que traduzem essas ideias. Ao realizar as leituras, o enfoque que foi dado aos projetos é essencialmente aos aspectos de interessam para o objetivo final – a fragmentação e a intervenção artística. Parc de la Villette Paris, 1982-1998 Bernard Tschumi Architects
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(29)
Tschumi, ao pensar o projeto, reflete sobre como as práticas funcionalistas e formalistas do movimento moderno não se adequam às exigências contemporâneas. O arquiteto questiona a noção de unidade, pela qual a fragmentação e dissociação reforçam as medidas flexíveis que a arquitetura pode alcançar. A obra final não tem começos, nem fins A dissociação não é para ser vista apenas como um conceito arquitetônico, mas sim para perceber os efeitos que essa separação tem na sua situação, no caso, o parque. O fato de o programa estar fragmentado impulsiona as relações sociais pela dispersão do sujeito em meio às atividades. Os 25 Folies que compõem o parque formam elementos na paisagem que chamam a atenção pela dimensão e pela cor. Formam elementos arquitetônicos similares a esculturas, e cada um tem um uso distinto, conectados pelos caminhos, ainda que alguns não tenham necessariamente um uso efetivo, tornando-os elementos extremamente visuais. Os 3 sistemas base que constituem o projeto são: Superfícies verdes; Conexões (linhas, caminhos) e Pontos vermelhos – 25 Folies, um a cada 120m. A dissociação não ocorre apenas na escala macro, do parque, também ocorre nos folies. Começando por um cubo vermelho, o arquiteto abstrai os volumes, alcançando várias combinações. Primeiro, ele diagrama a área que cada sistema base deve ocupar, repartindo o programa. A explosão fragmenta todo o programa pelo parque, o recompondo sob um sistema de grelhas. Essa distribuição, aparentemente aleatória, combina programas que normalmente não se associariam.
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PROGRAMA BASE
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DENOMINADOR COMUM
CONSTRUIR-COBRIR-AR LIVRE
EXPLOSÃO FRAGMENTAÇÃO
IMPLOSÃO RECOMPOSIÇÃO
(32) ESQUEMA DE DESCONSTRUÇÃO
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PAREDE GENTIL – Galeria: A Gentil Carioca Fundadores – Márcio Botner, Ernesto Neto e Laura Lima (2003) Centro Histórico do Rio de Janeiro (saara) - Rua Gonçalves Lédo, 17 - Centro, Rio de Janeiro – RJ.
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Fonte: Google Street View
A galeria de arte contemporânea, idealizada pelos artistas, ocupa um espaço urbano de uso intenso, o maior mercado aberto da América Latina. O comercio atrai todos os tipos de pessoas e culturas, sendo um grande atrativo para artistas. Para se aproveitarem dessa vida urbana movimentada, os fundadores da galeria tomaram proveito de uma empena (parede lateral) que ficou a sobras do edifício, o qual a galeria ocupa, onde, a cada 4 meses um artista é convidado para intervir, patrocinado por colecionadores. Tal iniciativa visa reforçar a arte como algo de domínio público.
(34) Carla Guagliardi – Fuga (2017) (35) Renato Pera – Vazão (2015) (36) Rodrigo Matheus - Cobrir e Descobrir (2014) (37) Tiago e Gabriel Primo - À Parede: os dois irmãos viveram, comeram, dormiram, e trabalharam em sua obra por duas semanas. (2009)
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SANTA CLARA (2006) Santa Clara -a -velha, Odemira, Portugal. José Adrião Arquitetos
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O projeto resume-se em conexões feitas nas proximidades da ponte em ruína da ribeira de Santa Clara, a Velha, chamando atenção para o patrimônio, como uma área de descanso e estadia. Por mais que o conceito da fragmentação aqui não envolva edifícios propriamente ditos, o que interessa é o modo como o arquiteto resolveu fragmentar o objeto. A partir da compreensão da identidade do lugar, após uma caminhada com uma criança de 9 anos, moradora do local, é apontado vários pontos de interesse que faz as conexões do mirante, em especial duas ilhotas que eram escondidas pela vegetação. As conexões fazem que com o indivíduo descubra o espaço da mesma forma que o arquiteto descobriu, compartilhando essa experiência através do projeto.
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PAR
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5. conexões artísticas urbanas Como a arte vem cada vez mais ocupando espaços públicos, e tendo mais conexão com a cidade, pensa-se então que o edifício, junto ao programa, também pode ter essa ligação. O conceito da fragmentação pode agir como catalisador para a revitalização da área urbana em que percorre. Toma-se como partido de projeto a disposição do todo em partes, conectadas por pontos de interesse aos artistas e visitantes.
5.1 percurso e fragmentos
A localização dos fragmentos que abrigarão os edifícios, junto ao percurso foi feita a partir de uma análise de possibilidades, após um levantamento dos espaços de produção artística da cidade de Ribeirão Preto.
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Ribeirão Preto tem um núcleo artístico no centro da cidade, mais precisamente ao redor da praça XV de Novembro, onde estão localizados o MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto e Theatro Pedro II, que faz parte do conjunto de patrimônios intitulado “Quarteirão Paulista”, ao lado do prédio do antigo Palace Hotel e o Edifício Meira Júnior (Choperia Pinguim) e, nas proximidades, encontra-se o SESC, a sede do grupo de artes cênicas Engasga Gato, Oficina Portinari e o centro cultural UGT (Associação Amigos do Memorial da Classe Operária). Ao aproximar-se da Praça 7 de Setembro, a galeria céu aberto, que desde 1995 abre espaço para artistas plásticos de toda a região expor e comercializar suas obras, aos domingos, além outras performances artísticas. Ao alcançar a Avenida Independência, em uma linha reta, segue-se em direção à um segundo núcleo artístico, o conjunto formado pela Galeria Marcelo Guarnieri, Instituto Figueiredo Ferraz e Centro de Arte Contemporânea W no bairro Alto da Boa Vista, Zona Sul de Ribeirão Preto. A experiência que foi obtida ao percorrer de uma galeria a outra, e nessas trocas, ter os olhares roubados pelos pontos de interesse que causam uma atração, tanto pela arquitetura quanto pela possibilidade de serem locais de possíveis intervenções, foi o que definiu a área do projeto. Além de no caso do centro da cidade, especialmente no calçadão próximo ao Quarteirão Paulista, ter se tornado um espaço democrático para a população e os envolvidos em práticas artísticas, muitas vezes performaticas, como estátuas humanas, números músicais, dançarinos, performances de grupos de artes cênicas, e tal cenário tornou-se inspirador para que essa forma de ocupação possa acontecer em outras partes da cidade. Os bairros Alto da Boa Vista e Jardim Sumaré estão passando por um processo de metamorfose em seus usos, de bairros residenciais para usos mistos. Isso, e a existência das três galerias, servem de direcionadores para que esses espaços se tornem, assim como o centro, outro centro de fomentação de arte. Após a escolha do local e marcados os pontos de interesse, foram pontuados alguns lotes vazios, dos quais 3 apresentaram melhor conexão, resultando no percurso final.
A_ Vivacidade B_ Centro Cultural Campos Eliseos C_ UGT (Memorial da Classe Operária) D_ SESC E_ Theatro Pedro II F_ Grupo Engasga Gato G_ MARP (Museu de Arte de Rib. Preto) H_ Oficina cultural candido portinari I_ Morro de São Bento J_ Secretaria Municipal da Cultura K_ Instituto Esfera L_ Templo Da Cidadania M_ Coletivo Ferrugem N_ ECEU (Espaço Cultural USP) O_ Galeria Céu Aberto P_ Espaço Cultural Ribcena Q_ Cia. Minaz R_ ARTER Atelier de criação em artes plásticas e fotografia S_ Casa Abaeté T_ Immaginare U_ Instituto Figueiredo Ferraz V_ Galeria Marcelo Guarnieri W_ Centro de Arte Contemporânea W
13
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11 10
1
9
2
8
7 3
6
4
5
PROCESSO 1 levantamento de locais
relacionados a arte, de produção e/ ou exposição artística em Ribeirão Preto
HABITAR
2 escolha da área (bairros Alto da Boa Vista e Jd. Sumaré)
3 deriva
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4 escolha dos pontos de interesse 5 localização de lotes vazios
6 definição do percurso, criando
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conexão entre pontos e 3 lotes
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9 APOIAR
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8
6
Na imagem, uma vista aérea do percurso, que foi definido por amarrar todo o programa. Em preto estão localizados os lotes escolhidos, em cinza, os pontos de interesse.
EXPOR
3
4
5
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IFF. Fonte: Arquivo Pessoal.
1 Instituto Figueiredo Ferraz_ O primeiro ponto de interesse é o IFF, o qual tem como objetivo difundir arte e cultura. O instituto conta com um grande acervo próprio - a coleção de arte contemporânea Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz - e traz exposições temporárias através de parcerias com diversas instituições culturais pelo país.
Fonte: Arquivo Pessoal.
2 Residência da rua Ângelo de Paschoal_ A frente do IFF está localizada a residência que atrai diretamente o olhar. Sua arquitetura difere-se intensamente do padrão das residências adjacentes, o acesso à entrada social, feito por uma rampa que percorre a vegetação é convidativa e atiça curiosidade.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Frente a frente, a residência da rua Ângelo de Paschoal e o IFF estão conectados pela rua. Do primeiro pavimento do instituto observa-se claramente a casa, que atrai atenção ao ser observada pelas janelas. Essa aproximação abre espaço para que ocorram intervenções que conectem os dois pontos de interesse.
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Fonte: Arquivo Pessoal.
3 Estacionamento_ Ocupando uma quadra completa, o estacionamento na rua Nélio
Guimarães é cercado por um muro onde já existem algumas intervenções, os grafites colorem a barreira cinza. 48
Fonte: Arquivo Pessoal.
4 Galeria Marcelo Guarnieri_ Com espaço expositivo também em São Paulo, é importante referência para as artes visuais na cidade, exibindo artistas como Amilcar de Castro, Carmela Gross, Iberê Camargo, Lívio Abramo, Tomie Ohtake, entre outros. O interior é livre, podendo receber diferentes configurações, e o enorme acervo artístico de Marcelo está presente por toda galeria, até no banheiro. A galeria se encontra em frente ao estacionamento, o que, assim como o IFF e a residência da esquina, podem ocorrer intervenções conectadas aos dois locais.
Fonte: Arquivo Pessoal.
5 Centro de Arte Contemporânea W (CACW)_ O centro, como já mencionado previamente, é um dos pontos mais importantes das conexões, por promover um programa de residência artística. É dividido em duas partes: um espaço expositivo, e a antiga residência da artista visual Weimar Amorim, onde os artistas se hospedam e se apropriam do espaço que se tornam vários ateliers. O CACW se encontra ao lado da Galeria Marcelo Guarnieri, e a forma como ocupa a esquina, virando e entrando na quadra com a residência, se torna uma grande extensão que se relaciona com duas vias.
Fonte: Arquivo Pessoal.
7 Esquina da rua Nélio Guimarães com rua Maestro Inácio Stábile_ A edificação chama atenção por receber uma intervenção em seu muro. O grafite, tão popular em Ribeirão Preto, abre o leque de possibilidades, quando as residências abrem espaço para que artistas realizem seus trabalhos nas faces opacas.
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Fonte: Arquivo pessoal
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8 Residência da rua Maestro Carlos Nardel_ A arquitetura brutalista, a volumetria e a grande massa de vegetação nos muros que percorre a face completa da quadra fazem com que essa residência seja destacada.
Fonte: http://comover-arq.blogspot.com.br/2015/08/o-legado-silencioso-de-herois-05.html
9 Residência Anderson Gattás_ Projetada pelos arquitetos Francisco Segnini e Joaquim Barretto nos anos 1970, a residência também se destaca pelo seu aspecto brutalista, em especial pelo tijolo aparente, material e mão de obra tão presente na época, e as cores, vermelho e amarelo.
6/10/11 Espaços públicos_ As praças triangulares se encontram nas pontas e dão um respiro entre as edificações. As massas verdes podem servir de palco para performances, como ocorre na praça 7 de setembro.
Fonte: Google Maps
12 Residência Moderna_ A esquina das ruas Mantiqueira com Sinhá Junqueira recebe uma residência com arquitetura moderna, e um amplo jardim frontal que chama atenção daqueles que passam a sua frente.
Fonte: Arquivo pessoal
13 Residência da rua Mantiqueira_ Outra residência brutalista, que chama atenção pelo seu grande recuo frontal, os cobogós da fachada e a cobertura abobadada.
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FRAGMENTOS
FRAGMENTO I_expor RUA: Prof. Mario Roxo ÁREA DO LOTE: 720 m²
FRAGMENTO II_apoiar RUA: Maestro Joaquim Rangel ÁREA DO LOTE: 455m²
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FRAGMENTO III_habitar RUA: Dr. Otto Spadoni ÁREA DO LOTE: 435m² Fonte: Arquivo pessoal
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Pontos de ônibus Transporte público Av. Independência Av. Pres. Vargas Av. Prof. João Fiusa Rua Ayrton Roxo R. Nélio Guimarães
O circuito em geral não possui grandes declives ou aclives, exceto pelo trecho em direção a Avenida Presidente Vargas, de forma que a caminhada não seja cansativa.
(27) Principais vias de acesso e rotas de transporte público. (28) Mapa topográfico.
CE NT RO
O percurso é cercado por vias de fácil acesso, as avenidas Independência, Presidente Vargas e Professor João Fiusa, porém, no interior dos bairros não há fluxo intenso de veículos. Diversas linhas de transporte público ligam a área com o resto da cidade, em especial, na avenida Independência, a qual deve ser considerada de interesse principal, pois conecta em uma linha reta, os dois maiores núcleos de produções artísticas, o centro e o local dos projetos.
ASPECTOS LEGAIS_ São apresentados a seguir os aspectos legais acerca da lei complementar nº 2157/2007 de parcelamento, uso e ocupação do solo no município de Ribeirão Preto, que possam influenciar em quaisquer decisões projetuais. 1. Gabarito básico de 10 (dez) metros de altura, podendo ser ultrapassado pois os lotes estão situados em uma Zona de Urbanização Preferencial – ZUP;
2. No caso de subsolo destinado a garagem, cujo piso do pavimento imediatamente superior estiver até 1,5m do nível médio do passeio, não será computado para fins de medição da altura do edifício; 3. A taxa de ocupação máxima do solo para edificações não residenciais será de 80%; 4. O Coeficiente de aproveitamento máximo será de até 5 (cinco) vezes a área do terreno;
5. É obrigatória a manutenção de solo natural coberto com vegetação, na proporção de 10% (dez por cento) da área total do lote para cada imóvel;
6. Construções com gabarito superior ao básico (10 metros de altura) deverão observar recuos de todas as divisas do terreno (R=H/6, maior ou igual a 2); 5 (cinco) metros frontais para as edificações com gabarito até 4 (quatro) metros. 7. O desdobro e a aglutinação de lotes, só será permitido no caso em que os lotes tenham frente para via pública, e ainda, que os lotes resultantes tenham as dimensões mínimas fixadas no Artigo 62 desta lei (125 m²). LEI COMPLEMENTAR Nº 2157/2007 Disponível em: < https://www.
ribeiraopreto.sp.gov.br/J321/pesquisa.xhtml?lei=21377 >.
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PERCURSO - CAMINHAR
Rua Prof. Mario Roxo, ao lado do lote 01, o passeio público se espreme em algumas casas, onde a calçada verde não apresenta dimensões acessíveis.
Fonte: Google
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Continuando na mesma rua, os passeios do grande estacionamento tem bom dimensionamento, porém carece de vegetação em alguns seguimentos. A terceira imagem foi fotografada na Rua Nélio Guimarães. Ao se aproximar do lote 02, algumas massas vegetativas dificultam a mobilidade do pedestre (ponto de interesse 7), fazendo com que o Fonte: Google mesmo alterne os passeios.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Fonte: Google
Passeio irregular na esquina da rua Nélio Guimarães com Rua Mantiqueira.
Fonte: Google Em alguns momentos, as árvores criam espaços agradáveis de permanência. Imagens da rua Mantiqueira.
Fonte: Google
Fonte: Google
Fonte: Google
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Fonte: Google
Fonte: Google Quando o poste de iluminação pública ocupa e atrapalha o caminho, o pedestre modifica seu caminho.
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Fonte: Google
Fonte: Arquivo Pessoal.
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Ao caminhar, nota-se algo muito característico, cada lote, cada residência, comercio ou equipamento urbano segue uma configuração distinta de passeio público.
O percurso tem uma totalidade de aproximadamente 18 minutos a pé.
A caminhada (ou pedalada) é a forma proposta de locomoção pelo percurso.
PAR
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HABITAR
APOIAR
EXPOR
6. aplicação 6.1 percurso tamanho total de percurso_1.475m
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ação conceitual_para sinalizar o percurso, a cor é usada como guia para a localização dos fragmentos, e dos pontos de interesse. Conforme se aproxima de cada edifício, onde os quais têm uma cor que os identifica, é marcado nas entradas principais um colorblock que se estende entre a rua (sendo o espaço pintado dedicado para pessoas, não carros) e o interior. Nas vias públicas, são propostos cubos translúcidos coloridos (cor de acordo com a localização no percurso) modulares, que se encaixam nos postes de iluminação e marcam o percurso. Durante a noite, os módulos, que dispõem de iluminação interna, emitem uma luz colorida, graças a materialidade, tornando-se visível e orientando o caminho em todos os períodos do dia. Servindo de suporte, colado em suas faces, adesivos brancos informam qual o ponto de interesse mais próximo, assim como sua direção, as tecnologias ligadas ao mobiliário (wifi, bluetooth para música, suporte para bicicletas ou bancos).
São apresentados três tipos de configurações, todas contendo suporte de informações. A primeira, usada apenas como sinalizadora, a segunda é indicada para instalar-se no poste de iluminação mais próximo do ponto de interesse, o módulo inclui bancos, que incentivam a permanência e contemplação. O terceiro, além das informações recebe suporte para bicicletas, pensando o percurso como caminho para ser feito a pé ou sobre duas rodas.
planta s/ escala
elevações s/ escala
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6.2 projeto arquitetônico O projeto dos edifícios surge como um todo que foi fragmentado em três partes. A ideia é que os artistas não se limitem a expor apenas dentro dos edifícios, mas também no percurso entre eles, trazendo a cidade e o público próximo da arte. A mesma linguagem formal e soluções estruturais são usadas nos edifícios, os adaptando as suas particularidades de acordo com o programa. forma O deslocamento do corpo no espaço (percurso) é levado para o edifício, que tem sua volumetria angulosa, faces dobradas que se movimentam ao longo da estrutura única de concreto armado. A ausência de pilares e vigas dá a sensação de continuidade, e assim como o percurso, a estrutura não tem começo nem fim. O movimento também está presente na circulação vertical, às escadas se deslocam, em cada pavimento, se encontram em lugares diferentes, em outros casos, abertas, tendo contato com o exterior. São feitos rasgos na superfície térrea do lote, que criam diferentes níveis, desconstruindo a relação dentro x fora, estratégia definida do mesmo modo em relação a legislação de gabarito, sendo assim, o volume foi levado para baixo.
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croquis de projeto
Reflexões sobre possibilidades. Aberturas para entrada de luz, como resolver diferentes níveis e cortes na superfície horizontal, e soluções estruturais.
estudos volumĂŠtricos iniciais As maquetes foram usadas como forma de estudo fĂsico para as volumetrias, dando suporte para mudanças posteriores pensadas nas diferentes alternativas de movimento da forma.
fragmento I
expor
área total 1.615 m² usos exposição, administração, produção, apresentação
Dedicado à produção e exposição das obras, o fragmento expor oferece espaço para que os artistas possam expor suas obras, assim como criá-las coletivamente. O público tem contato direto com esse processo, que acontece abertamente no edifício. Seu acesso principal é marcado pela cor vermelha, que corresponde o ponto em que o fragmento se encontra em relação ao percurso.
6
5
4
O pavimento térreo suporta um ateliê coletivo público para os artistas, o expectador entra pelo backstage, e observa/participa do processo de criação com os artistas, e as aberturas permitem que as atividades sejam levadas pra fora. No pavimento inferior, o auditório não tem uma configuração pré-estabelecida, dessa forma, a organização interna depende do uso. O depósito armazena obras, equipamentos e materiais para os ateliês.
1 ateliê coletivo 2 carga/descarga 3 apoio técnico 4 depósito 5 auditório 6 apoio
3 2
1
Para que a exposição das obras não se limitem apenas as verticalidades existentes, e impossibilitadas de furos posteriores, por serem estruturais, são propostos furos distribuídos nas faces e ganchos são engastados por toda face superior do pavimento, de forma com que as peças, caso necessário, possam ser penduradas por cabos. O pavimento é livre para exposições, e tem conexão com o ateliê pelo rasgo na superfície. No ultimo pavimento, um espaço livre de uso coletivo contempla um uso misto, um pequeno café e uma administração parcial servem de apoio para o edifício.
7
10
9
8
7 espaço expositivo 8 espaço expo./coletivo 9 café 10 administração
Para dar continuidade ao volume total, uma parte oca abriga as instalações técnicas do edifício, como sistema de ar condicionado e reservatório de água. O acesso para manutenção acontece nos sanitários. O painel perfurado de alumínio, além se suportar e distribuir tubulações abre-se e permite a entrada. Os sanitários são elevados para passagem água e esgoto. A mesma solução é adotada para todos os edifícios.
fragmento II
apoiar
área total 595 m² usos exposição, administração, alimentação, educação
O fragmento apoiar complementa o programa total, com atividades que se conectam com os outros edifĂcios, de carĂĄter coletivo. Um lugar feito para trocas. Troca de conversa, toque, conhecimento, experiĂŞncias, sentimentos.
2
Por ser um lote de esquina, o térreo se abre para as ruas, tendo um acesso principal marcado pela cor azul. O uso principal do pavimento é a troca. Um espaço coletivo onde os artistas e visitantes podem conversar e expor obras, criando um local de debate; a administração geral gerencia os três fragmentos.
1
1 espaço coletivo 2 administração geral
6 3 5
As salas de aulas são dedicadas para aulas de arte. Os artistas têm preferência para compartilhar de seus conhecimentos com as pessoas. O café durante o dia, e bar durante a noite, deixa o edifício sempre ativo.
4
3 salas de aula 4 café/bar 5 caixa 6 cozinha
fragmento III
habitar área total 545 m² usos exposição, produção, hospedagem
Dedicado à produção das obras, o fragmento habitar recebe artistas predominantemente de outras cidades, que se hospedam em ateliês individuais durante um período determinado pelo programa de residência artística.
1 circulação 2 recepção 3 espaço coletivo 3
1 2
O pavimento inferior é de uso coletivo dos residentes, como reuniões, debates, celebrações e exposições. O térreo serve de passagem e distribuição, com rasgos que aumentam o pé-direito do pavimento abaixo. O acesso principal é marcado por um plano pivotante verde, e uma abertura lateral possibilita que os artistas levem as produções para fora, no espaço aberto.
5
4
4 circulação 5 ateliê
Os ateliês individuais servem de local de trabalho e hospedagem para artistas durante a participação do programa de residência artística. O espaço é aberto, com pequenos apoios onde, acima, um mezanino para camas com uma escada móvel. O lote, situado em uma esquina, com a face frontal voltada para o sul possibilitou grandes aberturas que iluminam o ateliê, e cortinas servem como filtro, para dar privacidade.
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considerações finais Na busca de projetar um espaço para artistas, a experiência se demonstrou satisfatória e esclarecedora. O publico obtém uma melhor compreensão da arte contemporânea se fizer parte do processo, e a forma como o projeto total foi elaborado possibilitou que essa troca de conhecimento acontecesse.
6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA DORNBURG, Julia. Arte y arquitectura: nuevas afinidades. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A, 2000. FARIAS, Agnaldo. De Richard Serra para os arquitetos. São Paulo. Publicado na Revista Caramelo 6, 1993. 170 p. FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. 5. Ed. Rio de Janeiro: Editoria Zahar, 1976. FOSTER, Hall. O complexo arte-arquitetura. B: Editora Cosac Naify, 2015. MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. 1° Ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. MORAES, Marcos. Residência artística: Ambientes de formação, criação e difusão. 2009. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - São Paulo. XIMENES, Clarissa. Desvios Urbanos: Um olhar sobre as ocupações artísticas da cidade de São Paulo. 2015. Trabalho de conclusão de curso (Especialista em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos) – Universidade de São Paulo - São Paulo. SOLFA, Marília. Interlocuções entre arte e arquitetura como práticas críticas: A teoria arquitetônica de Bernard Tschumi e a cena artística dos anos 1970. 2010. Dissertação apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos – USP, para obtenção do título de mestre junto ao programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. – Universidade de São Paulo - São Carlos.
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