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_Caio Bastos, 25 “Sou um palhaço e coleciono instantes.” caiocesarbastos@outlook.com
O número dois sempre gera especulações e desconfianças... Seja o sucessor de um baita primeiro disco; seja a sequência de um filme; seja um filho não planejado. Qualquer coisa que tenha por sina substituir, somar, atualizar e ou incrementar algo que no principio tenha dado certo, sempre é visto com rabo de olho...
Nesta segunda edição nós crescemos e o lance de papo de amigo para amigo tem funcionado; do conhecimento de um surgiu o conhecimento de outro que, somado a ideia de outro e sob a influência de todos, temos como resultado a Maklau #2.
Ah... O número dois...
E é para funcionar assim.
Um desafio tão complexo quanto o primeiro. Um exercício tão ardo quanto o primeiro e um resultado tão foda quando o primeiro.
É para continuar assim.
Pois é, meus caros, deixem suas desconfianças de lado e aproveite as próximas páginas...
Aproveite.
Mais uma vez feita com muito esmero, nossa segunda edição mantém o altíssimo nível de arte da primeira e 5
despeja na tela o trabalho de gente muito interessante e talentosa!
É para crescer. E que assim seja...
É isso.
Caio, vulgo eu.
_Maklau mag_fevereiro2014_#2
Capa Bruno Miranda Contra capa Nicole Horn Editor/ Idealizador Caio Bastos Design Caio Bastos Colaboração Anderson Silva Ellen Pellini Dastry
_web maklaumag.tumblr.com _facebook facebook.com/maklaumag _contato maklaumag@outlook.com
É proibida a reprodução total ou parcial dos textos, fotos e ilustrações por qualquer meio sem prévia autorização dos artistas, autores e demais envolvidos.
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FOTO POR CAIO BASTOS.
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Texto por Caio Bastos
2.000.000! Com absoluta certeza você já viu a fonte do André por aí; se acha que não viu, não prestou atenção. Essa que é a verdade meu amigo e minha amiga... E... bem, se por ventura, você trabalha com algo relacionado a design e afins, provavelmente, em algum momento da sua vida, ponderou usá-la... Não? Nunca? Okay, tudo bem... Essa hipótese é um mero detalhe. Outra verdade é que mais de dois milhões e oitocentas mil pessoas fizeram download da Harabara, a fonte do André; somente do site Dafont, onde originalmente foi publicada e distribuída gratuitamente. Dois milhões é gente à beça! Se fosse um vídeo no Youtube, seria um viral bastante relevante; se fossem dois milhões de seguidores no Twitter ou Facebook, ele, o André, seria uma celebridade. Sendo assim sua fonte é um sucesso. Um hit! Motivo de orgulho completamente justificado. Publicitário de ofício e um apaixonado por fontes o André Harabara, o dono da fonte, conversou conosco e falou sobre seu trabalho com a bem sucedida Harabara.
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_André Harabara, 52 “Eu sou um cara feliz com a minha família e com o que faço.” harabara.carbonmade.com
[Maklau] Seremos objetivos cara! Você imaginou que sua fonte faria o sucesso que tem feito? Porque até hoje, foram mais de dois milhões de downloads e uma média de mil downloads por dia, só no Dafont... [André] Não cara, não pensei que fosse fazer tudo isso, por onde olho eu a vejo, fora e dentro do Brasil.
[Maklau] Diante desse sucesso todo, em algum momento surgiu arrependimento em distribuí-la gratuitamente na web? 15
Sim, bateu o arrependimento... Estaria mentindo se dissesse que não. Gostaria, sim, de ter tido um lucro de algum “milhão”, mas passou a vez. Desde que a fiz, em 2009, recebi algumas doações de gente satisfeita com a fonte e isso já me deixa feliz, além do que, o número de rejeições é muito pequeno perto dos que elogiam. Na internet já vi pessoas comparando como a “nova comic sans”, quem sabe? Não posso fazer nada, é o gosto das pessoas que valoriza ou deprecia o seu trabalho.
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[Maklau] Suponho que deve ser bastante gratificante ver o resultado do seu trabalho por aí. Sua fonte pode ser vista em diversos luminosos, de cardápio de restaurantes a transportadoras, de apresentações de estudantes universitários a recente assinatura do Mercado Livre. Como você encara o uso da sua font por grandes empresas? São projetos seus? Eles lhe contataram, pediram autorização ou coisa do tipo?
free, pois não acreditam.
É muito gratificante, mas como a fonte é free, poucas pessoas pedem autorização para seu uso, tenho recebido muitos e-mails de fora do Brasil pedindo a licença para o uso, lá fora a coisa é séria, e perguntando se realmente é
Para os estudantes que me pedem a autorização para o uso da fonte, eu os dispenso da doação, não acho justo tirar dinheiro de quem esta começando e está sem ele.
Logo no início quando disponibilizei a fonte, o pessoal da Filipinas me ligou para ver se podia usar em uma campanha nacional (It’s More Fun in the Philippines: facebook.com/morefunPhilippines.official). Fiquei feliz e pasmo, e na hora e pensei: “o outro lado do mundo usando a minha fonte?”
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O exemplo citado do Mercado Livre, só soube da notícia através da internet, navegando mesmo, e pouco tempo atrás vi o novo logo da SulAmérica, que a meu ver estragaram a letra “a” colocando um “rabicho” , isso tirou sua característica além de quebrar a harmonia entre as letras.
[Maklau] O que lhe motivou a desenhála e quais foram suas referências?
designers; então resolvi de que maneira poderia fazer uma fonte. Mergulhei na net, e aí saiu a “Harabara”. A sua base e inspiração é, sem dúvida, a Helvetica e isso não escondo de ninguém; é possível ver as semelhanças facilmente, principalmente nas caixas altas. Minha intenção não foi e não é ser comparada a Helvetica, longe disso, ela é única e intocável, mantem sua beleza e aceitação há mais de 50 anos, inclusive pelos novos designers.
Apenas a curiosidade. Sempre fui apaixonado por fontes e em especial a Helvetica, como a maioria dos 24
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[Maklau] Para o designer diagramar um livro, desenhar uma cadeira e um alfabeto é quase a síntese da vida; com as devidas proporções, é claro. Sua fonte é muito bem sucedida, então qual é o próximo passo? O próximo passo já foi dado, a variação para uma família completa. Uma empresa americana, que fornece produtos para a NASA, me contratou para desenvolver toda a família. Já tenho em mãos a Harabara Mais, que é composta por: Light, Light Italic, Normal, Normal
Italic, Bold, Bold Italic, Black, Black Italic, além do alfabeto russo. Esta nova versão não disponibilizei free, apenas para quem se interessar. Estou tentando achar uma maneira de comercializa-la. Tenho, sim, outras fontes em execução, mas estou sem tempo para finalizá-las. É preciso muita dedicação.
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Texto por Caio Bastos
A fotografia exerceu um papel muito nobre sobre a vida deste amazonense de Benjamim Constant, e, curiosamente, antes mesmo de saber com certeza qual sua trajetória, suas imagens denunciam, de modo ímpar, sua relação com as pessoas e seu fascínio em descobri-las de forma singela e natural. A fotografia aproximou o Janssem das pessoas; e essa não é uma impressão minha... São palavras do próprio! Tal conexão é explícita em suas fotos, escancarada e singela, e a partir daí ele consegue dizer muito. Certo ou errado, o que vale é simplesmente o que fica: A imagem. Simples e absoluta. Além disso, o cara também é um designer de mão cheia, manja de cores e composição, e, claro, isso tudo reflete na sua fotografia. E como é sabido que uma imagem vale mais que mil palavras, não me estenderei para que você possa ver tudo o que ele tem para mostrar.
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_Janssem Cardoso, 34 “Eu sou um observador.” flickr.com/janssem
[Maklau] Como você ingressou na fotografia? Qual foi sua trajetória até aqui? [Janssem] Eu sempre era escolhido na hora de fazer as fotos de família pra fotografar porque eu enquadrava as pessoas na foto, mas isso nunca me fez pensar em ser fotógrafo, sou formado em Design Gráfico, e no curso tive uma matéria de fotografia, a partir daí a vontade de fotografar despertou e desde lá não parei mais, já faz cinco anos.
[Maklau] Qual a marca que você busca em cada fotografia... Qual impressão você deseja que seja perpetuada por aquele quadro? Eu prefiro fotografar pessoas, então eu busco a naturalidade, espero mostrar de fato quem a pessoa é. Muitas as pes33
soas ficam intimidadas com a câmera e isso tira delas a naturalidade e espontaneidade. O ideal seria ser invisível; talvez daí minhas fotos fossem melhores, mas como não posso, procuro ao máximo atuar na discrição.
[Maklau] Então “pessoas” são, de certo modo, seu principal assunto e interesse? Com toda a certeza! A fotografia me aproximou das pessoas, antes eu era muito retraído e desconfiado, a fotografia mudou isso em mim. O melhor da fotografia é poder fotografá-las, as pessoas são complexas, existe um mundo diferente em cada um de nós, tão interessante e rico, que chega a ser infinito.
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“as pessoas são complexas, existe um mundo diferente em cada um de nós, tão interessante e rico, que chega a ser infinito”
[Maklau] Existe certo ou errado na fotografia? Dá para julgarmos dessa forma? Acredito não existir certo e errado, existem regras que te ajudam a chegar ao teu objetivo, mas não precisa se prender a isso.
[Maklau] Você é de Benjamim Constant, no Amazonas, trabalhou numa grande agência de publicidade em São Paulo e hoje mora em Londres, uma caminhada cheia de referência, umas mais fortes que as outras, é bem verdade. Isso tudo isso reflete de que forma em seu trabalho? Eu costumo dizer que o meu olhar na fotografia reflete o que eu já vivi e o que
eu vivo. Benjamim Constant é uma cidade no interior do Amazonas, tão esquecida, mas que acrescentou muito do que eu sou hoje, minhas primeiras experiências com a arte foram lá e foi um tempo muito rico. Nessa região do Amazonas é onde se pode encontrar os índios Ticunãs, eles são tidos como os mais artísticos e criativos, talvez eu tenha herdado algo disso. Essa região do Alto Solimões é tão carente de recursos e tão pouca coisa se chega lá, não existe incentivo em nada, uma região realmente esquecida, acho incrível como, mesmo sem recurso, existe coisas boas surgindo, a arte existe lá. Na adolescência fui morar em Manaus, foi o lugar que eu me descobri como artista, mas isso demorou muito, cheguei a fazer uma outra faculdade Desenvolvimento de Software, e só depois descobri o Design 38
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e a Fotografia. Em São Paulo foi um tempo muito bom, lá as pessoas têm acesso a cultura, acho que é a cidade onde mais se tem acesso a cultura, consequentemente as pessoas são mais exigentes. E ter conseguido um espaço nessa cidade me deixou mais confiante. Hoje moro em Londres, faço um trabalho de voluntariado e tem sido um tempo muito importante na minha vida, quero aproveitar pra estudar mais fotografia e cinema.
[Maklau] Sua foto preferida; qual é? Aquela que lhe emociona, que lhe traz orgulho... Eu não tenho foto preferida, as fotos que eu mais gosto sempre são as mais recentes, sou muito crítico, todo dia busco
o melhor de mim. Meu objetivo, quando saio para fotografar, é me superar.
[Maklau] Que tipo de dica você pode dar a quem pretende começar a fotografar? Aquele conselho que gostaria de ter recebido, mas não recebeu e aprendeu com o tempo? Muitas vezes deixamos de fazer as coisas porque não temos o equipamento adequado. Se você está começando e não tem condições de ter um equipamento bacana, não precisa esperar o melhor para começar. É possível fazer fotografia até com celular; é claro que a qualidade não é a mesma, mas a sua ideia pode ser transmitida de qualquer forma; o conteúdo da sua imagem é maior que a qualidade técnica. Existe muita gente 40
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que tem a melhor câmera, mas o conteúdo das fotos não diz absolutamente nada. O outro conselho que posso dar é observar o trabalho dos outros e nunca parar de estudar.
[Maklau] Cor é algo muito marcante em seu trabalho. O resultado da cor é do momento ou existe uma preparação em busca daqueles tons? O meu trabalho é feito com muita naturalidade, não existe um preparo de estudo quanto as cores, minhas experiências anteriores me ajudaram muito com as cores das minhas fotos. O primeiro programa que aprendi a mexer foi o Photoshop. Minha vida pode ser dividida entre antes depois desse programa, foi através dele que me percebi artista. 47
Desde criança eu desenho, por um tempo eu parei e voltei a desenhar justamente por conta do Photoshop. Comecei a fazer pinturas digitais e isso me levou a trabalhar num estúdio de animação em Manaus, esse tempo foi muito importante pra mim e com certeza essa experiência me ajuda hoje nas escolhas das minhas cores. A pintura digital é um processo muito mais demorado e a fotografia ajudou na minha ansiedade por um resultado mais rápido com uma imagem, meu trabalho não existe se eu não puder mexer nas cores, faz parte totalmente, é com elas que eu consigo totalizar o que eu quero passar numa imagem.
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Texto por anderson silva
De vetores inspirados em astros da NBA a videoclipe de rapper produzido no MS Office Power Point... ...O bairro do Grajaú, zona sul de Sampa, conhecido por acolher trabalhadores, gente guerreira e fecundar artistas das mais diferentes patentes, continua desempenhando muito bem o seu papel. Além de todo um trabalho de ilustração, muito rico, em certo aspecto bem humorado, que utiliza várias técnicas, o cara fez o clipe – por enquanto não oficial – da música Grajauex do Rapper Criolo Doido. Você, quando “scrolando” a rodinha do mouse na internet, provavelmente deve ter se deparado com a notícia: “fã do Criolo faz videoclipe da faixa Grajauex no Power Point”. Até onde pudemos catalogar, aqui no Brasil já noticiaram: Revista Trip, Info, O Globo, Galileu, MTV, ADnews, Vírgula, Brainstorm 9, Por57
tal Rap Brasil, Só Pedrada Musical, Criação Criativos, BrasilART, Catraca Livre e provavelmente mais alguns enquanto escrevo esse texto. O trampo do mano cruzou o oceano e na gringa o canal Digg.com publicou: “This Brazilian Rap Group’s Music Video Was Made In Powerpoint, And It Rules”. E como se não fosse suficiente, o próprio Criolo, em sua página oficial noFacebook, já lhe concedeu sua bless: “...me sinto honrado com esse trabalho”. Na sessão portfólio da edição #02 da Maklau Mag trocamos uma ideia com Ayrllys Allan, um sonhador com talento nato em tratar bem as pessoas e em fazer arte, claro.
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_Ayrllys Allan, 25 “Eu sou um cara normal, sonhador pra caralho, morador da zona sul de sampa, e todo metido a ilustrador” cargocollective.com/ayrllys
[Maklau] Por que trabalhar com design, ilustração e animação? Qual sua trajetória? Como chegou até aqui? [Ayrllys] Sendo bem franco, eu só queria desenhar. Lembro que desde pequeno tinha essa resposta na ponta da língua pra a famosa pergunta: “o que quer ser quando crescer?” no fim era só isso, nem sabia que tipo de trabalho conseguiria com esse ideal. Se ia ser rico ou não, isso já descobri. (risos). Os anos passaram mas nunca fiz nenhum curso, até o último ano do Ensino Médio, quando um amigo me indicou um curso de um ano total free, período integral e com professores de primeira, sei lá, caiu totalmente do céu. Não teria grana pra um curso tão especifico na época, então foi meio que “sorte”. Depois de me aprofundar no curso consegui um está-
gio em uma gráfica e por aí a história se desenrolou, trabalhei em uma multinacional, e em uma empresa focada em apresentações. Me formei em Propaganda e Marketing, e já me arrependo, (risos), a vida é isso mano, acerta aqui, erra ali; mas a ideia é sempre buscar algo que curte, no fim a faculdade me ajudou bastante, mas Propaganda é um curso bem genérico pra quem quer trabalhar com esse lado “artístico”, ensina muito sobre mercado, mas não indico se acha que tem essa veia latente de criação, com o tempo você percebe que o “tempo” é a parada mais importante que temos, e faculdade toma quatro anos sem pedir licença e te faz correr atrás de notas apenas, e não do que realmente importa, que pra mim é descobrir e lapidar teu talento.
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“Eu só queria desenhar. Lembro que desde pequeno tinha essa resposta na ponta da língua!”
[Maklau] Seu trabalho com ilustração vetorial é bastante expressivo e cheio de detalhes; essa é sua linha preferida de trabalho? Gosto bastante de vetor, acho que foi um tipo de trabalho que me encontrei, mas pra sempre serei fã dos traços feito à mão, são mais vivos. Sempre que posso me dedico a aprimorar essa arte do lápis, acho animal quem conhece uma tablet mas não troca o grafite por nada.
[Maklau] Essa é do tipo que não se pergunta, mas qual o projeto que mais te orgulha? E claro, por que? 63
Não tenho muitos, mas acredito que foi uma página de esportes na qual fazia todo o conteúdo, eu pensava desde os textos até os infográficos, era legal, me fazia pensar bastante, mas ao mesmo tempo era mega corrido para produzir sozinho, talvez daí o orgulho, quem via as postagens não imaginava que eu produzia durante a madruga, hoje ela está aposentada, não teve um reconhecimento expressivo, mas era bastante divertido, aos poucos foi evoluindo e no final já via uma personalidade grande nas postagens.
[Maklau] Cada trabalho seu apresenta um ponto de evolução em comparação com outro. Quanto do ditado “99% transpiração, 1% de inspiração” é real? Dá pra perceber que você varia técnicas, e isso é uma baita virtude.
[Maklau] Agora, o assunto mais comentado na web nos últimos dias, o clipe de Grajauex, do Criolo, animado totalmente no PPT. De onde surgiu a ideia? Que loucura foi essa (risos)? Puta sacanagem cara!
Como falei desde molequinho desenho, e acho que isso me ajudou muito a fazer os trabalhos de hoje. Conheci ao longo dessa minha curta vida, uma cacetada de amigos bem mais talentosos do que eu, mas a preguiça é um sistema de corte cruel, e a galera vai enferrujando. Até hoje conheço ilustradores que pegam em um lápis uma vez no mês e só falta fazer chover, mas a pessoa não se dá o devido valor, queria eu ter o dom dessa galera, mas como não tenho, vou transpirando.
Loucura total (risos). Sou morador do Grajaú já faz dezoito anos, antes morei no Capão Redondo por quatro, e três na cidade de Campina GrandePB, sim, sou cabra da peste; estava em casa e queria desenhar, esse é um problema de quem desenha, em muitos momentos só queremos desenhar, não tinha um tema especifico, daí a música pulou no player e bateu a vontade de ilustrar uma parte dela, quando fui ver já estava querendo animar. Sou muito ligado a toda a cultura do nordestino, gueto e Hip-Hop, uma 64
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coisa levou a outra.. O tempo passou e eu senti que devia continuar aquele trabalho que tinha ficado pra trás, peguei três telas e mandei bala. Tempo corrido foram cerca de cinco meses sem parar, todo dia era um desenho, no final “transpirei” muito pra finalizar, e sim, todas as animações foram feitas no Power Point velho de cada dia, não sou nenhum maluco, mas me virei com o que tinha, como falei, trabalhava com apresentações, então já tinha um domínio da ferramenta, parando pra pensar é meio loucura, mas o resultado valeu a pena, tive um baita feedback legal do Daniel Ganjaman, produtor musical do Criolo, e de muita gente bacana não só da música, mas amigos e pessoas que admiro, acho que aí tá o grande prazer, ver que pessoas se inspiraram ou foram tocadas com seu trabalho. Antes dessa loucura toda e repercussão, tinha soltado o vídeo dois antes, e tinha batido a marca de cinco mil visualizações, e isso para mim já era uma baita conquista, mas ainda tinha aquela vontade de ver a página do Criolo dar aquela ajuda, confesso, eis que um site chamado Vai ser rimando apostou e fez uma publicação, vinte minutos depois já estava no Brainstorm 9, dai pra frente ficou incontrolável acompanhar, falando nisso queria até agradecer aqui as duas pessoas que postaram nos respectivos sites, Guilherme Junkes do Vai ser rimando e Maria Ligia do Brainstorm 9. E daí tudo rolou...
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[Maklau] Bom, ficamos sabendo também que você pediu as contas de seu trabalho para se dedicar inteiramente aos seus trabalhos. Gostaríamos que você falasse o quanto esse projeto significou para sua vida. Tipo, já está dando uns autógrafos (risos)? Não. Longe de chegar ao nível de estrela, as coisas ficaram bem incontroláveis depois do vídeo, choveu e-mails e mensagens pelo facebook, sai em sites que levam referências diárias pra galera, e dai surgiram muitos contatos. Pensei em conciliar as coisas, mas me encontrei tentando desviar de um curso que eu já tinha definido lá atrás, minha intenção sempre foi fazer
trabalhos desse gênero, trabalhar como um prestador de serviço exclusivo, fazer a minha leitura das coisas, e ter essa liberdade. Trabalhando em agência você perde um pouco daquela vontade de fazer tudo que está na sua cabeça, você vai mais pela linha do que vende mais, e é melhor aceito, e se distancia da suas próprias referências. A área de vídeo também era uma que sempre tive a curiosidade e fascínio, assisti tanto desenho animado que o maior sonho quando era pequeno, era fazer coisas do tipo. Diante tudo isso ficou insustentável pegar um briefing pela manhã de algo que não pudesse colocar uma pitada da minha história.
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clique na imagem para assistir o vĂdeo
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[Maklau] Você pretende fazer outros rappers e músicos felizes? Pretende apostar nesse nicho (videoclipes)? O que podemos esperar do “Rei do Power Point”? Nada de Rei do ppt (risos), conheço muita gente boa que trabalha no programa e até melhor que eu, minha intenção é conseguir fechar os primeiros vídeos que pintaram, apareceu muita gente boa na minha timeline, muito cara interessado, e o legal é que não só do mundo do Rap. Estamos acertando os últimos detalhes e espero em breve ter mais novidades, mas a ideia é essa; mergulhar nesse mundo dos vídeos sem medo de ser feliz, e quem quiser acompanhar já sabe, só procurar pela hashtag “ayrllys”, não é das mais fáceis de lembrar, mas tudo bem!
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Texto por Caio Bastos
Não existe arte sem... ...inquietação e nem sem dedicação. E bota dedicação nisso... Mesmo as artes mais malucas necessitam de tempo. É, pois é, uns tem mais afinidade e habilidade que os outros e olhando de fora parece que basta o sujeito rabiscar o papel que voilà, obra digna dos mestres em segundos. Bem, não é bem assim... Mesmo para o Bruno, o sujeito das ilustras de texturas e cores certeiras, a máxima de que a prática leva a perfeição, é verdadeira. Seus trabalhos são a soma das referências da sua vida, de videogames a desenhos animados, da música ao dia-a-dia, e que na cabeça do cara são misturadas e distorcidas sabe se lá como, e que se transformam nessas artes malucas e caóticas, de um baita jeito bacana. O legado é essa bagunça! Meus comentários acerca da qualidade do trabalho do rapaz são dispensáveis. O cara manja. Não é à tôa que seus trabalhos têm repercutido muito bem por aí cada vez mais, de capas de revistas a coleções vendidas na Tok&Stok... Ele é seu próprio trabalho e conversou conosco... Confere aí... 83
_Bruno Miranda, 23 “Eu sou o cara dentro desse corpo com uma mão destra que curte ilustrar.” cargocollective.com/brunomiranda behance.net/brunomiranda
[Maklau] Em que momento da vida decidiu trabalhar com ilustração? Como foi sua trajetória... [Bruno] Comecei a me dedicar há mais ou menos três anos fazendo trabalhos autorais, fiz todos com a intenção de satisfazer anseios introspectivos. Durante um ano fiz tudo o que tive vontade relacionado a ilustração para, no ano seguinte, colher os frutos. Tive meus trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais, mas ainda não tinha retorno financeiro. O retorno financeiro se tornou evidente de 1 ano pra cá, que foi onde percebi que era possível viver de arte.
[Maklau] Como funciona sua rotina de concepção; senta e sai rabiscando, a partir de um esboço simples e a arte vai tomando forma ou você pensa em todos os detalhes e quando che-
ga na hora de executar já sabe o que vai desenhar? Por que cara, seus trampos são caóticos, de um jeito sensacional, que só consigo supor a concepção numa bagunça saudável! Obrigado, fico feliz pelo comentário. Geralmente meus trabalhos autorais começam a partir de um sentimento que tenho vontade de ilustrar, tento dar forma a esse sentimento de alguma maneira visual. No primeiro momento faço quase que toda a composição com o auxílio de imagens, recorto, giro, faço o carnaval! Em segundo momento venho com meu traço, desenhando por cima das imagens e adicionando todos os elementos que quero abordar no trabalho em prol da ideia final. Por fim adiciono algumas texturas e ruídos que curto muito.
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[Maklau] Traço ou cor? O que devota mais atenção no seu processo? Na sua estética? Eu sei, é uma pergunta canalha, e estou aqui para fazer as perguntas canalhas mesmo! (risos) Antes de definir meu trabalho como ele é hoje, pensei muito nisso, sabia? Cheguei a conclusão que queria me dedicar bastante no traço das artes e resolver as cores de maneira chapada ou com dégradés simples. Foi o que fiz. No começo não sabia se estava indo bem, mas com o tempo, explorando cada vez mais as formas de abordar isso, cheguei a resultados visuais que me agradaram.
[Maklau] Ilustra preferida? E por quê? Duas perguntas canalhas numa só! A ilustração “Daft o Daft Punk Zumbi
Zombie”,
Essa ilustração representa uma fase de transição muito forte em relação ao meu trabalho, consolidou muito bem o que eu queria pra mim e gostei muito de trabalhar na peça, ouvi todos os álbuns do Daft Punk de forma frenética e toquei o pau. Procurei trabalhar com a temática de que todos os humanos, mesmos não infectados, são zumbis. Apenas troquei uma palavra no nome da música que já aborda um tema parecido, só que, ao invés de zumbis, fazem a associação aos robôs. Escrevi no fundo da ilustra ZOMBIES AFTER ALL [pg 88-89]. 86
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“cada pessoa que tiver contato com sua arte vai interpretar de maneira diferente e isso é muito louco...” [Maklau] Uma curiosidade um tanto idiota que nutro em relação aos desenhadores e coisa e tal... Você consegue transportar pro papel tudo o que pensou? A impressão que tenho baseado nos meus homens palitinhos, é de que nunca saí do jeito que pensei... Como é para um sujeito que tem um estilo próprio e técnica? É cara, nunca fica exatamente como você imagina, mas procuro encarar isso de forma positiva. O fato do resultado de um trabalho autoral ser um pouco inesperado, te dá margem para criar histórias e mundos que às vezes nem você imaginou, o resultado pode te surpreender. Cada pessoa que tiver contato com sua arte vai interpretar de maneira diferente e isso é muito louco. 91
[Maklau] Você é jovem à beça e possui um portfólio bem sólido e consistente, isso tudo pela educação dos desenhos animados? Atribuo grande parte da minha inspiração a música, jogos de vídeo game que proporcionam experiências imersivas, e sim, o desenho animado. Mas acredito que a quantidade de ilustrações que fiz até o momento se deu pela inquietação. Eu tinha necessidade de me expressar de alguma forma e não gostava de ser muito literal. A ilustração me possibilitou uma válvula de escape e sempre que terminava um trabalho, me sentia melhor.
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“quero me dedicar cada dia mais ao meu trabalho e poder viver de arte!” [Maklau] E do futuro, o que você espera? Acho bonita essa pergunta, gosto de imaginar o futuro como um jardim florido, e com certeza, estarei com uma cerveja na mão. Quero me dedicar cada dia mais ao meu trabalho e poder viver de arte, comemorar todos os dias com as pessoas que amo e compartilhar experiências com todos que acompanham meus trabalhos .
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Texto por Caio Bastos
ela fotografa a vida ordinária...
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...o que passa despercebido durante o dia... E daí o que era trivial passa a ter estórias além de suas histórias. Porque um homem cruzando a avenida com sua maleta, não é somente mais um homem cruzando a avenida com sua maleta, dane-se quem ele é de fato, o bacana mesmo é quem ele pode ser; um detetive caminhado até seu gabinete para trabalhar na investigação sobre um sociopata astuto que engana a polícia, ou ser o próprio sociopata caminhando até o seu trabalho, onde engana todos os colegas; ou ainda ele pode ser um professor descontente da rede pública... Quem sabe?
que o tempo, para ela, passa de outra forma...
E aquela janela? Quem já dedicou alguns minutos para contemplar a vista? Talvez uma criança travessa que atira ovos sobre os transeuntes, ou olhar por ela é o passatempo predileto de uma senhorinha que beira os noventa anos e
As fotografias de Nicole nos contam histórias que desconhecemos, como se espiássemos por uma fresta na porta...
Bem, você é quem decide. A Nicole nos convida a partilhar do seu ponto de vista, para ver o que ela vê. Suas fotos tão particulares, nos tornam cúmplices da sua visão e de certo modo da sua vida, como se fôssemos grandes amigos a compartilhar experiências, e desse mesmo modo pela intimidade que não existe, espectador se torna um voyeur oportunista, a observar a vida dela e de seus personagens. Complexo. Simples. Banal. Singelo.
Veja, e note, que sua percepção vai além da foto, pois qualidade para estórias realmente não falta.
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_Nicole Horn, 21 “Eu sou...o que eu vejo!” nicolehorn.com.br @nihorn [instagram] nicolehorn.tumblr.com [sigam!] facebook.com/NicoleHornFotografia [curtam!]
[Maklau] O que sua fotografia diz sobre você? E por que escolheu a fotografia para dizer algo? [Nicole] Ela diz tudo! Eu tenho certa dificuldade em me comunicar verbalmente, principalmente porque sou muito tímida, daí descobri que a fotografia podia falar por mim. Não foi bem uma escolha, ela apareceu na minha vida bem cedo, eu tinha uns seis anos, graças ao meu afeto inexplicável por alguns objetos. Antes de me apaixonar pela fotografia, me apaixonei por uma câmera cor de rosa da turma da Mônica. Depois de um tempo, continuei a fotografar porque alguns amigos me incentivavam com elogios e tal. Comecei a estudar, e não me vejo fazendo outra coisa... Além de ela me aproximar ainda mais do que já é passado, o qual eu tenho uma ligação muito forte, sou muito nostálgica.
[Maklau] Qual é o seu assunto preferido para clicar? Eu fotografo o meu cotidiano. Adoro fotografar a cidade e a relação das pessoas com ela. Em toda a minha vida, fui mais uma espectadora do que uma integrante da cidade, e sempre tive um certo fascínio por sua imensidão, suas torres, seus cinzas e como ela toda reflete em nosso humor, nossa personalidade e nossa vida. Com a fotografia, consegui me inserir nisso tudo, mesmo que eu ainda seja a observadora, sinto que faço parte de tudo. E também consigo me comunicar com outras pessoas através de uma lente... Minha timidez vai embora. Estou sempre com minha câmera na bolsa, e se não estou, uso o meu celular mesmo. 110
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“as coisas aparecem naturalmente e eu as
sigo instintivamente” [Maklau] Bem, tenho predileção por imagem em pb, pelo ruído, pelo vulto, pelo rastro... E muitas imagens de sua autoria possuem essas características, podemos dizer que essa é a sua linha, sua estética, ou isso é reflexo do momento específico? Tem relação com as suas referências, ou simplesmente um caminho que surgiu naturalmente? Analógico ou digital? Penso que seja mais um estado de espírito. Sou fotógrafa há aproximadamente seis anos e sei que irei mudar muito ainda, como já mudei nesse meio tempo, e tudo transparece nas minhas fotos. Vamos amadurecendo. Estou começando a me conhecer só agora, e por conta das minhas imagens.
passam as fases, consigo enxergá-las em meu trabalho. Tudo reflete, inclusive minhas referências... Toda a minha bagagem, o que li, o que assisti, o que ouvi e o que presenciei. Analógico. Uso digital mais para trabalhos comerciais, ou quando me dá vontade, embora eu sempre use o meu celular. Mas minha preferência pelo analógico não é por conta de sua estética, e sim pelo processo, pelo anseio e pelo mistério, pelo preparo e por todo o cuidado. Também porque revelar é uma terapia (risos).
As coisas aparecem naturalmente e eu as sigo instintivamente. Depois que 114
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[Maklau] De um modo geral qual seria a trilha sonora para suas fotografias? Tem muitas músicas nas imagens! A música é outra terapia. Fotografo com o fone no ouvido desde que me conheço por gente, mais uma forma de superar a minha timidez. Ouço Radiohead e Beatles, Copeland, The Strokes, Arctic Monkeys, The Killers, Little Joy, Peter Bjorn and John... E para minhas fotos escolho um dos meus álbuns preferidos: Kid A do Radiohead, sem pular nenhuma faixa.
[Maklau] Gostamos de perguntas canalhas, e a mais canalha de todas é perguntar sobre o projeto preferido... 119
No seu caso qual sua foto predileta, mais amada?! Existem horas em que não gosto de nenhuma; em outras tenho minha preferida, sim! Geralmente prefiro uma das últimas, porque depois de um tempo me enjoo de todas elas. Preciso sempre de coisas novas. Em 2013 inteiro trabalhei com fotomontagens, utilizando o meu acervo impresso que guardo nas caixas de sapato aqui em casa. E entre essas imagens, tenho a minha favorita de todos os tempos é: (pg: 120-121), e já dentro do projeto Reflexidade é essa (pg: 122-123).
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Me lembro exatamente do momento em que fotografei e, na época, ainda tinha receio de me posicionar diante das pessoas e fotografar. Entrei numa lotérica e fiz a foto. Isso não diz muito sobre a imagem, mas ela me encanta até hoje.
[Maklau] Como surgiu a ideia para o série “Reflexidade” e o que pretendia estudar ao iniciá-la? O Reflexidade surgiu no meio de um outro projeto que não deu certo. Era meu primeiro semestre no Bacharelado em Fotografia, em 2010, e tínhamos o tema “Cidade gigante e intimista” para a matéria de Projeto Interativo I. Minha ideia inicial era fotografar 90º pra cima, 90º para baixo, talvez isso não explique muito, enfim... Quando em uma das fotos de um carro, em 90º para baixo, um professor chamou minha atenção para o reflexo que havia no vidro, e disse que de todas, aquela era a única imagem que ele gostava. Eu deveria explorar um
pouco mais disso. Saí no dia seguinte para fotografar reflexos e não sabia direito como iria abordar e os meus primeiros resultados foram uma surpresa. Hoje percebo que, mesmo que involuntariamente, estava começando um grande projeto que pôde me ensinar um pouco mais sobre mim mesma. Vivo para me descobrir (risos). Mantive sempre essas sobreposições, os espelhos, as transparências, rastros e névoas dessas imagens em todos os meus trabalhos até hoje, foi o início da descoberta de uma estética pessoal.
[Maklau] E se não houvesse a fotografia? Outra questão canalha! Usaria toda minha falta de talento para desenhar! Eu costumo falar que sou fotógrafa porque não sei desenhar - uma mentira, porque mesmo se soubesse, eu fotografaria... E fotografando, não deixo de desenhar com a luz, né?
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