Malenga - Shetani

Page 1

MALENGA



MALENGA ESCULTURA

(+351) 934 599 563

s.malenga@hotmail.com makondeart.wix.com/malenga


Nas noites húmidas do Planalto de Mueda, nos cemitérios que circundam aldeias do interior da província de Cabo Delgado, frequentemente surgem vultos cobertos de tecidos – são homens mortos, desassossegados, que perturbam o dia-a-dia dos vivos. Noa anos 50 estas criaturas tornaram-se fonte de inspiração para os escultores desta região. Imaginando o que se escondia debaixo dos tecidos, esculpiram-se nesta época shetanis de todo o tipo: shetanis que engoliam outros shetanis, shetanis que furavam a barriga de outros shetanis, shetanis que esmagavam a cabeça de outros shetanis... Os artistas, sem se aperceberem, começaram a esculpir os momentos bárbaros do futuro próximo. Passada apenas uma década eclodiu a Luta Armada de Libertação Nacional, que duraria 10 anos de terror total. O escultor continuou a esculpir o shetani ainda mais violento. Colou elementos humanos com elementos bestiais, numa bizarria que espelhou a realidade dos 17 anos da guerra, designada por Guerra Civil. O shetani surgiu na tentativa de explicação de situações espinhosas, acho eu. Mas o meu shetani não explica, não aponta, nem expõe. Só sugere, como os shetanis originais, a realidade que cada um pode desenhar por baixo dos tecidos. Se o shetani é o oráculo das nossas vidas, agora que Moçambique atingiu quatro décadas de independência levantemos o véu e assim veremos o que o futuro (ou o artista?) nos reservou.


FALSA SENSAÇÃO I

madeira lacada 72x19x19



BIOGRAFIA

Malenga nasceu numa pequena aldeia no norte de Moçambique, no coração da região Makonde, provavelmente um par de anos após a independência do país. Com cerca de 16 anos, já na cidade de Pemba, Malenga segue uma enraizada tradição familiar dedicando-se à escultura. Dois anos mais tarde muda-se para o Maputo onde trabalha na Cooperativa de Arte Makonde, para posteriormente se integrar num grupo de artistas do Museu Nacional de Arte de Moçambique. Em 2007 é distinguido com uma bolsa de estudos que o leva a frequentar um estágio no Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual), em Lisboa e em 2008 na Faculdade de Belas Artes do Porto, ambos em Portugal. Expõe colectivamente desde 1992 e individualmente desde 2005 , em Portugal e no estrangeiro, estando a sua obra representada em colecções públicas e privadas de todo o mundo. Paralelamente dedica-se também profissionalmente à pintura e à música.


1974, Moçambique Vive e trabalha em Lisboa, Portugal Formação 2008 Estágio na Faculdade das Belas Artes do Porto / Portugal 2007 Estágio no Ar.Co / Lisboa, Portugal Exposições individuais 2014 Dinembo / Espaço Vestígius / Lisboa, Portugal 2013 Makonde People / Jardim Botânico de Praga / República Checa 2012 Entre a Árvore e a Alma / World Legend Gallery / Lisboa, Portugal 2012 Ínfimos infinitos / Lisboa, Portugal 2010 Auge latente / Lisboa, Portugal 2008 O Testemunho dos Tempos / Helsingborg, Suécia 2007 Junção de Extremos / Terras de Bouro, Portugal 2005 Mas É o Meu Povo / Hotel Avenida / Maputo, Moçambique Obra em local público 2009 Instalação no Freedom Festival / Portugal 2010 Instalação no Boom Festival / Portugal Colecções Públicas Embaixada Italiana em Maputo / Moçambique Embaixada de Moçambique em Lisboa / Portugal Banco BIM / Moçambique Banco de Investimento de Moçambique/ Moçambique Sede do Tribunal de Contas /Moçambique Sede do Ministério da Cultura / Moçambique Colecções Privadas Moçambique / EUA / Portugal / França / Alemanha / Itália / Suécia / República Checa / Brasil / Uruguai / Argentina


CURRICULO VITAE

Algumas exposições colectivas em Portugal 2014 Exposição Solidária Juntos Contra a Fome / Sesimbra 2013 Artistas da Lusofonia na Galeria de Arte do Casino Estoril 2012 Exposição na Embaixada de Moçambique / Lisboa 2012 Exposição na galeria de arte do C. C. Apolo 70 / Lisboa 2011 Exposições na Embaixada de Moçambique / Lisboa 2010 Origens na Associação Makala / Lisboa 2010 Ajuda-me a sorrir Mãe / Porto 2010 Ajuda-me a sorrir Mãe / Aveiro 2009 Exposição no Centro Cultural de Mala Posta / Lisboa 2009 Exposição da Embaixada de Moçambique / Barcelos 2009 Exposição no Palácio dos Congressos / Lisboa 2009 Exposição na Embaixada de Moçambique / Lisboa 2008 Exposição no Saberes do Campo / Lisboa 2007 Exposição no Palácio dos Congressos / Lisboa Algumas exposições colectivas em Moçambique 2005 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 2004 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 2003 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 2002 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 2001 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 2000 Exposição na galeria da ASSEMA no Museu Nacional de Arte / Maputo 1996 A lei da sobrevivência / Parque de Campismo / Maputo 1996 Exposição no ARPAC / Maputo 1995 Exposição no ARPAC / Maputo 1994 Exposição no ARPAC / Maputo 1993 Exposição na FACIM (Feira do Comercio Internacional de Maputo) 1993 Exposição na Cooperativa Arte Makonde de Maputo 1992 Exposição na Cooperativa Arte Makonde de Maputo 1992 Exposição na Cooperativa Arte Makonde de Pemba


A minha obra traduz fielmente a essência da arte de talha do povo Makonde, tanto a nível formal, com o emprego de técnicas ancestrais, como a nível conceptual, com recurso quase exclusivo ao imaginário tribal que trago como legado, mas que sujeito a confronto permanente com novos ideais adquiridos. O rosto humano é para mim actualmente, como foi desde sempre para os Makondes, fonte de inspiração inesgotável. A sua multiplicidade expressiva é o mais fiel espelho do conflito constante entre o interno e o externo, o íntimo e o social, o puro e o trabalhado. É então clara a associação do rosto humano à máscara, que os Makondes, à semelhança dos Gregos Clássicos, tão bem exploraram – física e metaforicamente. A máscara como extensão do rosto – imaginada, fabricada, fingida – com o seu inevitável vazio, o côncavo espaço da verdade oculta. Digo que a raiz da minha obra figurativa é a Pessoa, no sentido lato: literalmente por meio do rosto, e etimologicamente, no sentido que a palavra grega “persona” encerra.


OBRA ARTÍSTICA

Também o meu trabalho não-figurativo apela directamente ao imaginário colectivo do povo Makonde, que tem no género a que chamou “Shetani” o seu espaço predilecto para a abstracção. Uma derivação da palavra inglesa “satan”, Shetani é o nome dado aos espíritos maléficos que alegadamente andam perdidos pelos cemitérios do oriente africano – que na escultura Makonde são tradicionalmente representados por impressionantes criações vagamente antropomórficas. Mas os relatos de avistamentos de Shetanis (existem vários!) remetem para uma realidade mais contida, descrevendo uma figura fantástica coberta por tecido. É nesta fonte que me baseio para criar os meus Shetanis. Por uma questão de verosimilhança, a minha obra nunca desvenda as formas fantásticas que acredito estarem escondidas debaixo dos contornos do tecido que esculpo, e que muitas vezes cubro com tinta metálica ou acrílica de forma a ultimar a “falsa sensação” de irrealidade real que os Shetanis devem sempre provocar. Malenga



FALSA SENSAÇÃO I

madeira lacada 72x19x19



FALSA SENSAÇÃO II

madeira lacada 72x19x19



BURKA

madeira pintada 70x24x14


(+351) 934 599 563 s.malenga@hotmail.com makondeart.wix.com/malenga


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.