mamulengo da folia e outras
histรณrias divertidas
mamulengo da folia e outras
histórias divertid RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO Autora: Maluvida Maleitosa
as
Realização: Grupo Mamulengo da Folia Organização editorial, concepção e revisão: Natália Siufi Coordenação do Projeto: Natália Siufi Arte e Diagramação: Maurício Santana Prefácio: Alexandre Mate Ilustrações: Annaline Picollo Mamulengo da Folia são: Danilo Cavalcante Zé Benício Erasmo José Manoel Sabino Natália Siufi Pollyana Aguilar Vídeos e Documentário: Andress Correia Tiragem 1.000 exemplares
Maluvida Maleitosa
T266b Mamulengo da folia e outras histórias divertidas: rir ainda é o melhor remédio / Natália Siufi Rizzo (Org.). Revisão Natália Siufi Rizzo. - São Paulo, 2017. 72 p. : il. 923247 ISBN 978-85-923247-0-4
Este projeto foi contemplado pela 4a edição do Prêmio Zé Renato Pécora de Teatro. O Grupo Mamulengo da Folia realizou vinte e uma apresentações do espetáculo: “A Folia no Terreiro de seu Mané Pacarú”, no Boulevard São João e na Rua Barão de Itapetininga. Foram vinte sextas-feiras e um sábado, de outubro de 2016 à junho de 2017. As rodas, em cada brincadeira, variaram de 100 à 400 espectadores e passantes, pessoas comuns. A equipe de registro, produção e arte realizou entrevistas com o público e criação de um documentário síntese. O projeto propunha a elaboração de um pequeno livreto em cordel com as experiências da temporada. Convidamos a respeitada cordelista piauiense Maluvida Maleitosa para ajudar nessa ‘peleja’.
Dedico esse livreto a todas as vacas Que tudo que é boi pintado Cheiroso mimoso ou estrela Já foi citado ou cultuado No brinquedo popular Mas delas nem um recado Nenhum canto entoado Nem pandeirão nem maracá Mas se todo cavalo é marinho Tambor de crioula e cacuriá Rosinha da Boca Mole Benedito ainda vai respeitar. Às meninas, mutucas, catirinas À Zefa, dona encrenca, com carinho À Dona Vina À Maria Daurea À Nilda Miranda À Nia, minha mãe.
PREFÁCIO por Alexandre Mate
A resistência popular do mamulengo e de sua gente. Um homem-artista e suas andanças-companheiras apresentadas pelos versos e visão de uma artista guerreira.
Lancei ao mar um madeiro, espetei-lhe um pau e um lençol. Com palpite de marinheiro medi a altura do Sol. [...] Com a mão esquerda benzi-me, com a direita esganei. Mil vezes no chão, bati-me, outras mil me levantei. [...] Fundei cidades e vidas, rompi as arcas e os odres. Fundei cidades e vidas, rompi as arcas e os odres. [...] Moldei as chaves do mundo a que outros chamaram seu, mas quem mergulhou no fundo do sonho, esse, fui eu. Manuel Freire (Poema da Malta das Naus).
A história do teatro (e não apenas desta linguagem expressiva), na totalidade dos materiais à disposição, tem contemplado quase que exclusivamente as experiências produzidas ao gosto (e valor, sobretudo moral) das classes dominantes. Assim, e desde a Antiguidade clássica grega, em razão de as sociedades legitimarem processos de segregação e apartamento entre as classes, em todos os níveis, tanto o registro de experiências estéticas como de seus fazedores, passam por inúmeros processos de triagem e de exclusão. As manifestações populares, pelos mais diversos motivos (classista, estético, seleção dos assuntos, protagonismos definidos, irreverência...), apesar da restrição documental, renovam-se, dia-a-dia, por resistência e processos de oralidade. Homens e mulheres, ao longo da história, lançam mão dos símbolos, na condição de necessidades: expressivo-comunicacionais, de sobrevivência, de irreverência e enfrentamento... Homens e mulheres - sem acreditar que a arte fosse restrita e capacidade de eleitos -, e, em muitos casos, por serem colocados à margem das sociedades dominantes -, lançaram e lançam mão dos mais refinados estratagemas para rir “[...] dos reis que não são reis”; para rir da coroa do rei que não é de ouro nem de prata... Louvável, portanto, a publicação de “O Mamulengo da Folia e outras histórias divertidas: rir ainda é o melhor remédio”. Além de a obra documentar experiências com a cultura popular (e se trata de uma grande vitória), precisam ser destacadas as seguintes questões. Primeiro: porque a obra (apresentada em versificações populares distintas) trata do mamulengo, manifestação absolutamente significativa e presente nos “brasis” daqui e de todas as partes do mundo. Segundo: porque a obra trata de um significativo mestre-mamulengueiro e parte de sua companheirada, em eventos do mamulengo ou do teatro de rua. Terceiro: porque a obra é escrita por Maluvida Maleitosa, mulher-artista, uma valorosa e lutadora guerreira das artes. A partir do último destaque (a obra escrita pela percepção e apreensão de uma mulher), e retomando o assunto dos dois primeiros parágrafos, é preciso mencionar que no teatro (dito) erudito a mulher somente vai à cena no século XVII. Antes disso, no teatro ocidental, e desde os gregos da Antiguidade, eram os homens quem apresentavam as personagens femininas. Em oposição a tal determinação, no teatro
popular, e desde sempre: homens e mulheres dividiram os espaços representacionais, fossem: palcos, carroças, praças, espaços em tabernas, salões da nobreza ou qualquer outro espaço. Tal condição igualitária e de parceria - na vida e na cena (e sem qualquer alusão ou apologética romântica), também, qualifica e distingue o popular do erudito, e não apenas teatro. Continuando o assunto anterior, e porque é preciso socializar acontecimentos e informações significativas, uma das palavras que a aristoburguesia mais odeia em arte é panfleto. Muito bem, teatro assumidamente político é panfletário!; teatro popular, que coloca em cena um político excrecente (como a maioria que campeia no País), para ser alvo da chacota e chiste de quem assiste, é considerado panfletário e de mal gosto!! Essa coisa toda... A palavra panfleto (como qualquer outra tem história!!), vejamos, então. Em sentido etimológico, em “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa” (2003), organizado por José Pedro Machado, consta que a palavra deriva do inglês pamphilet e panflet, correspondendo ao nome popular de certa comédia latina, em verso, do século XII, denominada pamphilus seu de amoré. O nome da modalidade de comédia latina, conhecida, principalmente, por causa da personagem representativa: a velha alcoviteira, serviu para designar, na Inglaterra, a partir do século XVI, qualquer escrito satírico de pouca extensão. Sem fazer tanto esforço de interpretação, cabia, portanto, à mulher - que servia seus patrões, de modo quase escravo - socializar as particularidades da esfera íntima àquela pública. Nesse caso, a mulher caracterizavase em espécie de corifeia-pícara que jocosa e corrosivamente narrava acontecimentos, imitando seus algozes. Quanto a esse particular, ainda, na Segunda Jornada, do excelente “Manual Mínimo do Ator”, Dario Fo apresenta uma versão para a criação e procedimento para o aparecimento das jogralescas: em ocasiões especiais, mulheres juntas passavam em revista seus casamentos, tendo como alvo principal a exposição de particularidades de seus “limitados” maridos, sobretudo no concernente a desempenho sexual. Em sociedades classistas, gerocêntricas e machistas é possível entender, portanto, o ódio dos homens pelas mulheres...
Bem, isso exposto, e Maluvida Maleitosa realiza muito bem seu trabalho, fica pendente uma indagação: por que não há mestras mamulengueiras!? Ou estou equivocado?! Se não estiver equivocado, por que a “mulher-panfletária” ainda não figura desse universo!? Para finalizar, apesar da totalidade de nós todos termos raízes camponesas (o Brasil é um país rural e periférico!), por ideologia que liquida esse passado e nossas raízes, a resistência da cultura popular e da arte brincante do mamulengo nos remete ao que não precisamos deixar de ser. Todas as vezes em que tive a felicidade inenarrável de assistir ao Mamulengo da Folia uma alegria atávica me aproxima de todos os meus antepassados. A picardia da linguagem mamulengueira e a alegria contagiante do público acordam em mim o território de que faço parte. Revivo àquilo que ainda existe e sobra de melhor em mim: tenho histórias. Meus avós e pai húngaros (camponeses na Hungria), logo que chegaram ao Brasil foram trabalhar em fazendas de café, em Ribeirão Preto. Minha avó materna, caipira e pícara (como poucas: fumava e tomava pinga todos os dias!), teve seus pais (da Calábria) camponeses na Itália e na região de Itu. Deixo-me levar e reverter minha história do momento àquelas mais distantes e essenciais. Talvez por isso, mas essa história ficará para outro momento, o mamulengo e o teatro popular sejam barrados de entrar nas universidades. As universidades públicas, em sua totalidade absoluta, são tristes e pesadas! Nelas estudamse as manifestações estrangeiras para convalidar a subserviência de nossos antepassados (e de nós mesmos), prestando tributos ao nosso permanente torcicolo cultural. Verdade poeta: O Brasil [e tantas de suas gentes] não conhece o Brasil/ O Brazil está matando o Brasil!
ÍNDICE
14
O MAMULENGO DA FOLIA
17
O QUE É QUE É MAMULENGO?
22
SÃO PAULO, BRASIL. 2017
28
ERA ELE UM NORDESTINO!
37
BOTANDO OS PINGOS NOS IS
47
MOVIMENTO DE TEATRO DE RUA
52
A FOLIA NO TERREIRO DE SEU MANÉ PACARÚ
58
NO ANO QUE ELE NASCEU
66
ÚLTIMO CORDEL DO LIVRETO
68
SOBRE A BRINCADEIRA
- 14 -
O MAMULENGO DA FOLIA
O Mamulengo da Folia Com o Prêmio Zé Renato Quis fazer um livreto-retrato Pra versar sua alegria De seguir na artesania Do boneco popular Poética tão singular Cotidiano de gente pobre Não entra no salão nobre Tem endereço e lugar O Mamulengo da Folia Treze anos pela estrada Muita poeira levantada Sustentando a tradição Mamulengo por missão De Canhotinho o reduto Danilo cabra matuto Na capital veio atuar Fazer paulistano dançar O frevo de Pernambuco
O Mamulengo da Folia Tem um monte de parceiro Mesmo sem muito dinheiro Gente que soma por vontade Tanta generosidade Dignos de homenagem São pessoas de coragem Que acreditam no brinquedo Fundamentais nesse enredo Exemplos de camaradagem O Mamulengo da Folia Segue passando chapéu Em riba da terra debaixo do céu Trio Agrestino pé de serra Andam junto nessa guerra Nessa peleja de ironia Viver de arte e de folia Num país que não investe Só sendo cabra da peste Pra aguentar essa agonia
- 15 -
- 16 -
O Mamulengo da Folia Insiste em criar poesia Da realidade à fantasia Entra sempre na disputa Segue firme na labuta Resistir permanecer Não se mata o que tá pra nascer Na mala do mamulengueiro Sanfona zabumba e pandeiro Pro brinquedo não morrer O Mamulengo da Folia Já rodou o Brasil todinho Anda sempre de mansinho Não corre muito na estrada O boneco é tudo e é nada Aprendizado e brincadeira Artesanato na madeira Leste Sul Oeste e Norte Mulungu nosso pau forte Fincado feito bandeira
O QUE É QUE É MAMULENGO?
O que é que é mamulengo? Mulungu, caxeta, copaíba Gritaram lá da Paraíba Tem mais de noventa loas Disse o cabra de Alagoas Isso é coisa do saci Me contaram no Piauí Calunga talhado em pau forte Eu vi no Rio Grande do Norte Tanta coisa que me perdi! O que é que é mamulengo? Barraca pra boneco dançá Palpitaram do Ceará É sítio cheio de alegria Ouvi dizer que é da Bahia Empanada torda ou barracão Perguntaram no Maranhão Isso é coisa de matuto Deu cordel em Pernambuco E começou a confusão! - 17 -
- 18 -
O que é que é mamulengo? Diz que o boizinho teve gripe Numa mala lá em Sergipe Benedito com insônia Na barraca de Rondônia Cabo Setenta quis brigá Puxou uma faca no Amapá Veio o Padre com clarins Rezando do Tocantins Mas nenhum deles quis falar! O que é que é mamulengo? É susto suspense espanto Procuraram no Espírito Santo Pé de bode rebeca e pandeiro Telefonaram do Rio de Janeiro É boneco com cabeça de caroço Disse um índio em Mato Grosso Tem chiado de duas sanfonas Ouviram lá em Amazonas E aumentava o alvoroço!
O que é que é mamulengo? A polícia passou o lacre No brinquedo lá do Acre Saiu até nos jornais Lá pras bandas de Minas Gerais Doze horas e nem desafina Na praia em Santa Catarina Quitéria com brinco azul Rodando Mato Grosso do Sul E a aventura não termina O que é que é mamulengo? Começaram a comer paima Foi pertinho de Roraima É teatro de diversão Publicaram em Paulo São Põe os “bêbo” pra brincá Falou o moço do Paraná Fulano e Cicrano de Tal Chegou no Distrito Federal Não conseguiam concordá
- 19 -
- 20 -
O que é que é mamulengo? Coronel beijando Sinhá Na beirinha do Pará A cobra enchendo o bucho No Rio Grande do Sul dos gaúcho Veio velha jagunço e satanás Numa carroça de Goiás É brincadeira de família Registraram lá em Brasília Em livro grande frente e trás O que é que é mamulengo? Em todo pedaço de terra Tudo que é nome traz guerra Não cabe nos livro da história Raiz grossa de tanta memória Não tem receita nem doutor Coisinha miúda de valor Experiência do dia-a-dia Da convivência e da folia Não cabe em verso, não senhor!
O que é que é mamulengo? Já quase acabando o cordel Tendo corrido terra e céu Já iam bem desistindo E viram o mestre sorrindo Ele e o boneco somente Se olharam de repente E começaram a brincar Era a cultura popular Bem ali na sua frente
- 21 -
- 22 -
SÃO PAULO, BRASIL. 2017.
São Paulo, Brasil. 2017. Nos trens o povo cansado Ninguém mais olha pro lado Whats-up conversa de surdo Pra curtir tanto absurdo Dizem que é nova geração Mas é o sistema que faz o ladrão Polícia prendendo professor O google virando doutor Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017. O centro tal formigueiro Na corrida por dinheiro Vai ter teatro no Boulevard? Quem vai ter tempo de parar? Não precisa mais diversão Mas é o sistema que faz o ladrão Plantando medo na TV Arte bonita é karaokê Só querem saber da eleição
São Paulo, Brasil. 2017. De sexta-feira no meio da rua Refugiado bêbado e mulher nua Família dormindo em barraca Polícia em cada catraca Fizeram da terra um leilão Mas é o sistema que faz o ladrão Na propriedade toda privada A justiça não serve pra nada Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017. Dezembro janeiro e até abril Foi tanta gente ali que viu A folia do mamulengo Teatro e a rua fervendo Público fincou pé no chão Mas é o sistema que faz o ladrão Projeto acaba no cronograma Ninguém cria o tal programa Só querem saber da eleição
- 23 -
- 24 -
São Paulo, Brasil. 2017 Mamulengo já registrado No Iphan foi carimbado Teve festa discurso e coquetel Tudo bem escrito no papel Guardado no cofre da repartição Mas é o sistema que faz o ladrão Os nossos mestres morrendo Parece que ninguém tá vendo Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017 A realidade bem mais dura De todo lado tem censura Nenhum boneco pode falar Antes precisa protocolar Ter documento e autorização Mas é o sistema que faz o ladrão Empresas ditando a lei Mantendo a coroa do rei Só querem saber da eleição
São Paulo, Brasil. 2017 Matam primeiro o pensamento Acabam com tudo que é fomento Fecham as portas do direito Bala surda em cada peito Tropa de choque na consolação Mas é o sistema que faz o ladrão Criando a lei toda abstrata Serve o rico ao pobre destrata Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017 Pesquisa não cabe no edital Só produção comercial Os grupos desesperados Sobrevivendo apertados Volta a política do balcão Mas é o sistema que faz o ladrão Não se discute o mais profundo Apagando o incêndio do mundo Só querem saber da eleição
- 25 -
- 26 -
São Paulo, Brasil. 2017 Nas ruas frias da cidade Todos gritam: não é verdade! Armaram pra nós um esquema Inventaram um novo teorema Deram um nome só: corrupção Mas é o sistema que faz o ladrão Sempre explorando o pobre Sujando os rios de metal nobre Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017 Vendem hamburguer de borracha Cobrando caro a marmita-graxa Apreenderam nosso alimento Batata frita com cimento Câncer veneno comichão Mas é o sistema que faz o ladrão Roubando o tempo que era nosso Transformam a vida em negócio Só querem saber da eleição
São Paulo, Brasil. 2017 No arrebento o povo arreúne Briga discute mas não se une Não sabe mais fazer a pauta Neoliberalismo em alta Ninguém enxerga mais o patrão Mas é o sistema que faz o ladrão Num campeonato do indivíduo Ser-humano perdendo ouvido Só querem saber da eleição São Paulo, Brasil. 2017 OCUPARAM a secretaria da cultura Mas era tempo de ditadura Não pode mais falar tão alto Não pode mais deitar no asfalto Não vai ter trégua e nem perdão Mas é o sistema que faz o ladrão Seguindo o rumo dessa história A luta segue contraditória Só querem saber da eleição
- 27 -
- 28 -
ERA ELE UM NORDESTINO
No estado de Pernambuco Da raiz do Mulungu No sítio em Taruassu Cidade de Canhotinho Nascia pequenininho Cavalcante o traquino Do sexo masculino Lua cheia com trovão Era sua condição Era ele um nordestino!
Da primeira vez que viu Tinha lá pra treze anos Três estaca com dois panos Era branca a barraca inteira Foi num sítio a brincadeira Benedito olhou pro menino Tava dado seu destino Pegou o boneco na mão Era sua condição Era ele um nordestino!
Manoel, o Cavalcante Não quis trabalhar na roça Ficava pulando poça Dos doze era o preguiçoso O sexto irmão e o mais medroso Nunca decorava um hino Era mesmo um desatino Errava todo refrão, Era sua condição Era ele um nordestino! Cresceu nesse desajeito Maria Daurea só rezava Mas ele ainda atentava Era arte todo dia Nunca ele obedecia, - Veio torto esse pepino! - O filho do Severino! - Esse aí tem jeito não! Era sua condição Era ele um nordestino!
- 29 -
- 30 -
Mole que nem boneco Tudo era só brinquedo Não queria acordar cedo Gostava de ir no forró Arroz com feijão e jiló Tinha dois cambito fino Não dava pra bailarino Não queria ser peão Era sua condição Era ele um nordestino! Pra tentar endireitá-lo Mandaram fazer picolé Oito horas ele em pé Só encaixando palito Logo arranjou conflito -Onde é que eu assino? Se sentia um clandestino Odiava obrigação Era sua condição Era ele um nordestino!
Sua mãe aperreada Querendo ajeitar sossego Mandou procurar emprego Com um irmão lá no Recife De garçom fritando bife No bar do seu Agripino Do irmão foi inquilino Mas largou a profissão Era sua condição Era ele um nordestino! Já no sítio da família A mãe não acreditava O rapaz não se agradava Não parava no serviço Era tudo sacrifício E ali sempre mufino Caminhava pelegrino Sob a lua do sertão Era sua condição Era ele um nordestino!
- 31 -
- 32 -
Garanhuns cidade vizinha Tinha oficinas de teatro Cordel, circo, o diabo à quatro Procurando algum sentido Pra ser mais extrovertido Escondido ia o menino Ele agora um interino Fazia gosto na função Era sua condição Era ele um nordestino! Resolveu vir pra cidade Em São Paulo ia ter jeito Lá cabe todo sujeito E na fábrica do chinês Virou peão de xadrez Dobrando os tecido fino Matutino e vespertino Doía cada tendão Era sua condição Era ele um nordestino!
Trabalhando lá no Braz Comprou sua perna de pau Oficina, grupo, o escambau Parecia aquilo um vício Encontrou pra ele ofício Enrolado no intestino Carregando figurino Fazendo apresentação Era sua condição Era ele um nordestino! Entrou no teatro de rua Bem ligeiro no improviso O povo caía no riso Nunca decorava o texto Não aceitava cabresto Continuava traquino Da comédia paladino Inventivo de criação Era sua condição Era ele um nordestino!
- 33 -
- 34 -
Sobreviveu em São Paulo Tirando do bico o aluguel Aceitava qualquer papel Comeu ele um dobrado Guardava todo trocado Pro ônibus clandestino Quatro dias sol à pino Pra voltar pro seu sertão Era sua condição Era ele um nordestino! Desse vai-vem gostava Achou que seria só isso Vida assim sem compromisso Mas veio filho pra criar Os bonecos foi talhar Tudo assim tão repentino Lembrou de quando era menino Do mamulengo e da tradição Era sua condição Era ele um nordestino!
Agora era caso sério Sustentar família inteira Escolheu a brincadeira Passando necessidade Mamulengo na cidade Fazia o serviço fino Tinha ficado lavino Assumido posição Era sua condição Era ele um nordestino! Nesse trecho de caminho A mala foi engordando Mais boneco inventando Já não tinha como negar Era cultura popular Desde que ele era menino Pra aquilo ele tinha o tino Coisa sem explicação Era sua condição Era ele um nordestino!
- 35 -
- 36 -
Manoel de Pernambuco Fez pra si outro roteiro Quis virar mamulengueiro Contrariando os irmãos Dançando frevo nas mãos Brasil mestiço e latino De Maria e Severino Lua cheia com trovão Era sua condição Era ele um nordestino!
BOTANDO OS PINGOS NOS IS
Eu que tenho oreia grossa E boca bem grande aberta Deixo aqui na hora certa Na rima bem registrada As contas tudo prestada Mostrando com toda ética Dando sentido à poética Na coerência socialista Passando tudo em revista Ouvi dizer de gente estranha - Como fizeram tal façanha? - Seis encontros e querem mais? - Vamos botar nos jornais: Artistas ficando milionários Fazendo outros de otários Roubando imposto da gente Ladrão terrorista demente Mas se o relógio ainda gira Todos que tão nessa mira São trabalhador decente - 37 -
- 38 -
Um encontro de mamulengo No centro da capital Nunca tinha tido igual Mestres Zé Lopes e Zé de Vina Nini de Santa Catarina A Roseneide trouxe Bibiu Chico Simões nunca que viu Valdeck só improvisava Enquanto Saúba dançava Fernando Augusto pra explicá Renato Perré do Paraná Cláudia Vasques de Brasília Sandro que já é da família Deu aula o Alexandre Mate Jorge Gonzaga no arremate Luiz André do Sobrevento Alício e Ju no acompanhamento Dois mil e dez da primeira vez Danilo, Natália, Selma, os três Foi que criaram o movimento
Segundo ano, doze brincantes Veio até grupo do Escambo Natanael, Ginu lembrando José de Melo de Maceió Josias e Walter dando nó O Carlos Moura do Recife Afonso Miguel, acredite! De Teresina pegou avião Foi muito grande a diversão Encerramento lá no Pombas Mamulengo e mamelongas Roda de prosa lotada Era época conturbada Ocupação de fato da FUNARTE Pedindo lei pra nossa arte Arapiraca anunciando Os bonecos se ajeitando Toda aquela situação É de guardar recordação A gente junta lutando
- 39 -
- 40 -
Terceiro Encontro foi bem grande Vinte e duas barracas na roda Já quase virando moda No centro o povo aplaudia Cinco, seis horas de folia Segurando na mão a marmita Se contar, ninguém acredita Era tudo trabalhador Nordestino, sim senhor Lembrando da sua terra Fazendo pausa na guerra Conversando com boneco Zabumba com reco-reco Teve Guinhol de Cuba-Havana, Da Argentina teatro bacana, Augusto e Gilberto, do Ceará Até Portugal e os Caçuá Cristian e Fábio da Brava André Bueno também tava E o Biaggiolli veio narrá
Quarto encontro reduzido Esse foi um desespero Não saiu nenhum dinheiro Pouca ajuda da Prefeitura Resistindo pela cultura Os parceiros na boa vontade Foi a prova da amizade Trio Agrestino tocando Nossos mestres celebrando Ninguém queria ir embora Ildeberto veio de fora O Thiago do Distrito Federal Parecia até carnaval Dois dias no Boulevard Pro encontro não parar Fizemos graça e brincadeira Foi na quinta e sexta-feira Doze brincantes juntos Falando vários assuntos Com os boneco de madeira
- 41 -
- 42 -
Quinto Encontro ficou pra história Com um pouco mais de estrutura Teve show de abertura Com Djane e os Camaradas De Portugal as três touradas Wagner da Universidade Celso Ohi da outra cidade Em Guarulhos mais um dia Fizemos essa ousadia Quase trinta apresentação Roda de prosa e gravação Do Sul, Anima Sonhos Os prédios mais risonhos Os olhos cheios de água Da gente cheia de mágoa Do preconceito e ofensa Tinham ali recompensa Vendo o nordeste brilhar E São Paulo festejar Sua terra de nascença
Sexto Encontro foi importante Mamulengo já registrado Ato Solene foi marcado Até o Nabil secretário Teve tanto operário Parando a obra pra ver O boneco aparecer Santini, Rudi, Humberto Ângela Escudeiro perto MTR e a rede fervendo Etcetera e Bandolengo Clóvis, Antônio Joaquim Mamulengo Flor de Jasmin De Portugal, o La Fontana Felipe Riachuelo e Polyanna Mamulengo Rasga Estrada A Lua toda iluminada Xilogravura de lembrança Quatro dias de festança Na memória bem guardada
- 43 -
- 44 -
Sétimo encontro não tem Terceiro ano tentando A comissão rejeitando Prefeitura sempre dura O estado que nem rapadura É doce mas não é mole não Não tem verba pra diversão Os mestres na paciência Sofrendo a consequência Não fazem sua brincadeira Já na idade derradeira O centro cinza e vazio Não pode mais nem um pio Nordestino que se esconda Arranje emprego no Sonda Pintaram de branco tudo Mestre é quem tem canudo Artista é quem é bonito Esse boneco esquisito Melhor que ele fique mudo
Pra que não haja discórdia É bom aqui salientar Nesse encontro popular E de público orçamento Toda parte do fomento Foi de fato revertida Com mestres bem dividida Pagando trabalhadores E os organizadores Apagando cada incêndio No final desse compêndio Só não estão no prejuízo Porque resta ainda juízo E acreditam no mistério Dinheiro não entra em cemitério Produziram por amor E foram virando doutor De tanto conhecimento Significado movimento Desses anos de labor
- 45 -
- 46 -
Tentamos timidamente Na métrica do cordel Entre essa terra e ceú Tudo os parceiro citar Elton sempre a gravar Foto fina da Annaline Marco Lima arte sublime Deva e Chico Gaspar Erika e Flávio a atuar Emcena, Kelli e Lucas Foram tantas arapucas Abaré e Daniela Landin Paulinho quase no fim Natália e Danilo produções Entrevistas e gravações Valmir o primeiro parceiro Fez o filme sem dinheiro Cada morador de rua Dormindo debaixo da lua Camarada e Companheiro
MOVIMENTO DE TEATRO DE RUA
Lino Rojas aqui presente Pra fazer valer a rima Faca amolada na lima CarcarĂĄ do bico volteado Mais um nosso assassinado Peruano aguerrido Com teatro envolvido Muitas vidas a sua rendeu E numa pomba reviveu Nosso guerreiro querido Acharam que estava morto Deram ele por terminado NinguĂŠm tinha imaginado Um grupo de asas tiradentes Mambembes impertinentes Insistindo em fazer poesia Ser festa e ser fantasia Teatro e comunidade Pra beber a liberdade De golinho todo dia - 47 -
- 48 -
Portas abertas do galpão Antigo supermercado Mercadoria e atacado Virou circo e feijoada Recebendo a criançada Dona Dita, Seu Assunção Biblioteca e diversão Conquistando na periferia O pão nosso de cada dia Arte ofício e função No movimento MTR Lino Rojas é festival Um encontro anual No centro rua e calçada Cortejo com batucada Carinho e cumplicidade Trabalhando na irmandade Assim que nem brincadeira Fincando nossa bandeira Arte pública na cidade
Da mesma geração dele Amir Haddad ainda vive Dar não dói pra quem convive Tripé de homem porreta Se juntar o Idibal Piveta Olho vivo e união Homens de coração Referências e histórias Coerentes trajetórias Servem de inspiração Filhos dessa espécie rara Cada grupo e seu espaço Movimento no cansaço Buscando fortalecer Na fogueira guarnecer Pelo prazer de fazer parte Fazer valer nossa arte Sustentando o duro ofício Com ou sem benefício Levantar o estandarte
- 49 -
- 50 -
Overdose e Se essa rua Nascido em dois mil e dois Foi muito feijão com arroz Pro movimento existir Muita terra pra carpir Conversa reúna confronto No corpo de todo pronto Pra não morrer o coletivo Mantendo o que é luta vivo Priorizando o encontro Tem muita mulher nessa roda Selma Simone Noêmia Dessa galera boêmia Que fez sempre acontecer A cidade não pode perder Uma mostra tão importante E os grupos que nem gigante Movimentando a capital Criando seu próprio jornal Revista de rua na estante
Se os três guerreiro valente Ensinaram alguma lição Noiz que é da rua é irmão Não pode fazer briga besta de domingo quarta e sexta É dia de ir pra praça Fazer teatro de graça E passar nosso chapéu Sem eleger coronel Nem se vender por cachaça Depois da peleja vivida Quinze anos de enfrentamento Segue firme o movimento Roda viva e reunião A pauta é única então Nunca esquecer o combinado Quem já comeu um dobrado Filhos desses três ventre Onde quer que a pessoa entre Não vai ser subordinado
- 51 -
- 52 -
A FOLIA NO TERREIRO DE SEU MANÉ PACARÚ
Vai começá o teatro Praça ficando lotada Ê coisa boa danada Ele espirrando perfume - E essa cara de azedume?! - É boneco lá do nordeste? - Fica aqui seu peste! Montado na burra Mimosa Saltitando todo prosa O Cavalcante do agreste Parou! Parou! Parou! - Já deu beijo numa burra? - Tá precisando duma surra! - Dê um beijinho na boca dela - Ê sujeito da cara amarela! Trio Agrestino pé de serra Feito Gonzaga não erra Mimosa ficando braba Brincadeira não acaba Nos quatro canto da terra
Boa tarde pessoal O meu nome é Caroca 955 anos de fofoca Tô com coceira no joelho Na porta do farinheiro As perna ficando mole - Ô Zé! Arrocha esse fole! Janeiro pescoço comprido Muleque mais atrevido E Rabiola no bole-bole! Casada, solteira ou tico-tico no fubá? - Tu gosta de flores, paixão? - Se morrer ponho uma no teu caixão! Caí de emoção pela Claudete Vem morar na minha quitinete Teu marido é outro assunto! Já já ele vira defunto Passeando de escada rolante Benedito todo galante Levando Rosinha junto
- 53 -
- 54 -
Entra Benedito! Entra! Eu não entro de jeito nenhum Tô há três dias de jejum Benedito com vergonha - Anda logo, seu pamonha! - Não consigo sair do banheiro! - Não entro nem por dinheiro! Frouxo frouxo que só Na cobra já deu três nó Salvou a Rosinha primeiro Irmãos dêem as mãos Agora já pode soltar Diz o dito popular Pra baixo o santo ajuda Vale até queimar arruda O padre Lahá-Lahá Não esquece de rezá Dono da cobra de Brasília Pega os dinheiro da família Antes da missa acabá
Filha de Aécio Neves Nascida do malufista A cobra mais vigarista Prima segunda do capeta Nem polícia com escopeta Não matou a atentada A peste ligeira danada Quis comer o Benedito Papou o padre bonito E nem morreu engasgada A velha toda enxerida Procurando namorado O bêbado atormentado Mijou fora do penico Rabiola fica aflito Fugindo do mijo água Coronel chorando as mágoa Pra acabar com a brincadeira Chamou o Cabo Caganeira Que melou a sua anágua
- 55 -
- 56 -
Quitéria rodando a saia Três mês que não toma banho Coronel cabra tacanho Beijou o sovaco dela Ficou batendo panela Cuspiu na cara da gente É pior que aguardente Quando queima os gargumilo Balançando os dois mamilo Batendo a língua nos dente Quando entrou Cabo Setenta Cagadinho Cagadão Apitou pro pelotão Arruma esse cacetete O cabo pisou no chiclete Deu nele uma bofetada Eu não tô sentindo nada - Sargento cara de besta! - Eu falei que hoje é sexta! Escapou da bordoada
Veio a mulher corajosa - Mato a cobra e mostro o pau! Capoeira sem berimbau O boi pra findá com a festa Trio agrestino não presta O zé fazendo gracinha Erasmo do lado da Aninha Rabiola puxando frevo Eu aqui não me atrevo A pegar nessa sombrinha
- 57 -
- 58 -
NO ANO QUE ELE NASCEU
No ano que ele nasceu Foi três mês de trovoada Ninguém ouvia nada Só zunido e um clarão Deu enxente em Tabuão Alagou o Rio de Janeiro Chovia o dia inteiro Tudo foi ficando cinza Gente virando ranzinza Tempo virando dinheiro Bico duro de tucano Amarelo sem-vergonha Matou de grito a cegonha Secou da mãe as duas teta Mais fedido que o capeta Mais amargo que aspirina Mole feito margarina Daquela marca Doriana Ele era tão sacana Que cagava na latrina
Sorrisinho de canto de boca Andava só de marcha ré Não falava lé com cré Ninguém entendia direito Como aquele desajeito Foi nascer nesse planeta E de quem era a buceta Que tinha gerado aquilo Um estrume de esquilo Essa febre de maleita O bicho foi aumentando Grande feito piaimã Carrinho de rolimã Ia derribando tudo Armado com seus escudo Iam chegando de trator Matando trabalhador Queimando casa de gente Jogando água fervente Na roça do agricultor
- 59 -
- 60 -
Parecia até piada Rasgava todas as lei Agia que nem fosse rei Dos tempo da inquisição Determinava os ladrão Conforme sua vontade Era pura vaidade Não tinha inteligência Era mesmo indecência O que fazia na cidade Agia pela desgraça Falava tanta besteira Da boca só era asneira Não articulava nada Pior que mula abestada A população sofrida Ele pintando avenida Vendendo Mac-batata Só tendo duas catarata Pra não ver o genocida
Explodiu doze favela Tamanha a estupidez Chamo pra jogá um xadrez O tão temido diabo Fazia comício do lado Até ganhar eleição Passou até no Faustão Todo os vinte delegado Cheirado e designado Fazendo sua proteção Não adiantou passeata Nem greve ou rebelião Dispararam os canhão Não queriam perder tempo Agia que nem jumento Apelando pro jurídico Foi esse caso verídico Os doente sem remédio E ele decorando prédio Foi um vendaval fatídico
- 61 -
- 62 -
Até os cabelo do saco Parecia que tava grudado Só com fundilho apertado Pra ter cara de fuinha Corria feito galinha Nunca tocou num tambor Não respeitava doutor Cortou a universidade Proibiu a diversidade E prendeu os professor Inventou que a drogolândia Era lugar de terrorista Desempregou os artista E assistente social Nunca teve nada igual Era tamanha violência Ignorando a ciência Achava que ia adiante Se sentia que nem gigante Era pura prepotência
NO ANO QUE ELE MORREU Foi três viva nas quebrada Dona Maria animada Em toda esquina uma festa Amor serenata e seresta O carnaval prolongado Decretaram feriado Desligaram a televisão Bandeirinha de São João E fogos pra todo lado Abriu tudo as secretaria As verbas descongelaram As conquistas retornaram De novo direitos humanos Árabes e muçulmanos Abraçados na liberdade Comiam sushi de qualidade A japonesa do balcão Tropeçou no alemão De tanta felicidade
- 63 -
- 64 -
Do céu desceu um cometa Veio pintado de vermelho Tava com dor no joelho De tão difícil viagem Não era São Paulo a paragem Mas resolveu passar por perto Nesse planeta deserto Escutou nossa risada Depois de toda invernada Quis olhar o tempo aberto Do cometa a estrela pontuda Não era nenhuma conhecida Ninguém tinha visto na vida Brilhando alegre e faceira Disse: é tempo de brincadeira Acabou a guerra da fome Acabou a briga de nome Arrebentando as catracas As ruas não tinham placas Não tinha mais sobrenome
Não dava pra acreditar O falecido no caixão Teve até uma comissão Pra garantir que enterrasse Que nada dele sobrasse As mães tinham leite de novo Podia comer carne ou ovo Não ia mais ter prefeito A estrela pôs defeito Em tudo que não fosse o povo Em algum lugar do Brasil Um russo escreveu na poesia Um homem feliz haveria Não sabia na verdade Que era toda sociedade Felicidade, sem patrão Política com arroz e feijão Não precisou presidente Até quem era descrente Compreendeu a revolução
- 65 -
- 66 -
ÚLTIMO CORDEL DO LIVRETO
Último cordel do livreto Planeta ENDIREITADO O homem vive sentado Internet i-pad i-pod O sujeito nem se fode Ser-humano adoentado Ê destino desgraçado Afinal o que é que pode? Último cordel do livreto Posso brincar de boneco? - Menino vai trabalhar! - A comida vai faltar! Posso brincar de boneco? - Menina tu toma tento! - E vai dormir no relento? Quem pode brincar de boneco? A pergunta derradeira E acabou-se a brincadeira
Último cordel do livreto Quem quiser mais uma rima Antes que alguém nos oprima Vai vê se tem lá na feira Bicho que tem corcunda Não olha a própria a bunda Essa é nossa saidera!
- 67 -
- 68 -
SOBRE A BRINCADEIRA: por várias vozes
“Seu trabalho alcança aquele ponto de sofisticação artística em que o virtuose já não precisa exibir seus valores porque o poder de comunicação que o espetáculo alcança parece ser fruto justo desta consciência primeira, dominada em ato, de que os meios não são os fins. De que a sedução da plateia (o seu inegociável lugar de chegada) decorre da propriedade que o mamulengueiro tem não só dos seus materiais como também, rigorosamente, das várias fontes narrativas do espetáculo – as que já estão no plano inicial e as que vão sendo agregadas no decorrer da representação, desde as técnicas de animação e manipulação em si como também a escuta atentíssima do entorno, que alimenta as incontáveis variações improvisadas. Delas se faz a liga entre o roteiro básico com que os bonecos sobem à empanada e o mundo de possibilidades que vai ganhando espaço na cena aberta com a plateia. Um engenho rústico como a fala simples e direta em que se inspira, um teatro de enorme poder sobre quem assiste.” por Kil Abreu “O profano em sua extensão mais festiva, como a borrar as noções de bem e de mal no que há de mais humano em cada ser, é celebrado com alegria contagiante
no mamulengo ao pé da letra. “A folia no Terreiro de Seu Mané Pacaru” consegue ser flexível sem usurpar a prática do mamulengo. Nascido no agreste pernambucano, em Canhotinho, e radicado na capital paulista desde o início da década, Cavalcante é habilidoso na condição de mestre de cerimônias, de bufão e de bonequeiro. Encontra musicalidade, sotaque próprio. Conversa com a ancestralidade popular, enreda e “arrocha” o espectador contemporâneo entre a modernidade e o arcaico, alcançando e rindo das vicissitudes universais. Arrocha como diz o bordão, com ritmo, humor e malícia para todas as idades.” por Valmir Santos “Sua divisão de capacidade e energia para dar vida a esses pequenos seres impressiona, assim como o seu talento para a conexão com o humor do público presente, mesmo sem olhar. Devemos enfatizar o resgate de uma expressão tão antiga quanto popular, que foi desaparecendo dos espaços públicos. Mamulengo da Folia realiza sua validade, uma vez que consegue que as crianças e adultos viciados em iphone e outros, desfrutem ao máximo de sua proposta. O mérito é inquestionável.” por Marietta Santi “O que é teatro? Se cada praça de São Paulo ou de qualquer outra cidade grande ou pequena desse Brasil ou da América Latina tivesse, aos domingos pelo menos, um grupo de bons músicos/atores como os dessa trupe Mamulengo da Folia, a brincar com as crianças, tal pergunta seria inteiramente desnecessária.” por João das Neves - 69 -
Documentário Mamulengo na Cidade, uma produção da Ó Entretenimento em parceria com o Grupo Mamulengo da Folia. Aproxime seu celular do quadrado abaixo e assista um pouquinho da nossa brincadeira.
APOIO
REALIZAÇÃO
Este projeto foi contemplado pela 4ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade São Paulo
www.mamulengodafolia.com.br :: Danilo Cavalcante 11.981556754 :: facebook.com/mamulengonacidade
Não deixem de perder. Só se fala em outra coisa!
O Grupo Mamulengo da Folia tem o quase prazer de apresentar, não tão orgulhosamente assim, com um pouco de sorte, histórias de vida e de morte. “Sucesso absoluto em todas as paradas (de trem), o livreto de Maluvida Maleitosa é tão fascinante que uma única pessoa levou cinquenta de uma vez. - Era o guarda!” APOIO
RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO (e o mais barato também!)
REALIZAÇÃO