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edição 07 - 2016 www.onehealth.com.br
A incrível história do
mestrE
Wanderlei de Oliveira, que já correu o equivalente a três voltas ao redor do mundo
entrevista
siga o mestre Há mais de três décadas Wanderlei de Oliveira treina atletas amadores de corrida de rua – e seu nome se confunde com a própria história da modalidade no Brasil. Hoje, aos 57 anos, cheio de vigor, continua uma referência em qualidade de vida. Confira seus ensinamentos! por yara achôa
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// fotos alexandre battibugli
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Hoje técnico respeitado, Wanderlei de Oliveira também já foi atleta profissional, especialista em curtas distâncias © sérgio gomes
E
le nasceu no esporte. O pai, ex-jogador do Corinthians, foi o grande incentivador. “Aos 6 anos, eu já corria ao lado dele, dando voltas no campo”, conta Wanderlei de Oliveira, técnico de corrida pioneiro no Brasil. No fim da adolescência, foi natural tornarse atleta profissional – um velocista, especialista em provas de 200 e 400 metros. E, além das pistas, WO – como também é conhecido – trabalhava como fiscal na Federação Paulista de Atletismo (FPA), onde iniciava uma carreira promissora. Até perceber que o esporte precisava ir para as ruas. “Naquela época só corria quem era federado, quem pertencia a um clube. Ou seja, era muito elitista.” Então, ele abriu mão do emprego e se juntou a alguns apaixonados por corrida, ajudando a criar o primeiro clube de corrida de São Paulo, a Corpore. Diferente do cenário atual – em que a cada fim de semana são realizadas dezenas de provas de rua –, no início dos anos 1980 a corrida não era popular. “Só treinávamos para competir. Era um esporte. Não havia a proposta de qualidade de vida, de correr por lazer. Quem se arriscava a praticar na rua, sem ser atleta, era visto como folgado, vagabundo. E com as mulheres era ainda pior – quase não havia quem se dedicasse à modalidade. Nossa intenção ao criar a Corpore foi mudar essa percepção. Queríamos mostrar que o esporte era para todos”, conta WO. Wanderlei e sua turma abriram e pavimentaram o caminho da corrida de rua no Brasil. Apaixonado pela atividade, ele tornou-se um ícone. E os números que envolvem sua trajetória impressionam. Há 27 anos, ele corre todos os dias. “Nesse tempo, não perdi um só dia de treino!”, diz com orgulho e sem nenhum histórico de lesão. Nem mesmo uma longa viagem de avião foi capaz de detê-lo. “Ia para Nova York e fiz uma conexão em Miami. Não queria deixar de treinar. Então, consegui autorização e corri em
uma área do campo de pouso”, conta, rindo. Oficialmente, são 306 provas de 10 km, 92 meia-maratonas (21 km) e 24 maratonas (42 km) completadas. “Corri cerca de 120 mil quilômetros, o que corresponde a três voltas completas na Terra.”
PONTO DE PARTIDA
Estudos das mais renomadas instituições do mundo apontam que a corrida contribui com a saúde e a qualidade de vida. Um trabalho da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, por exemplo, comprovou que a modalidade ajuda na regulação do sono e no ajuste do colesterol e da glicemia, evita a hipertensão e auxilia o equilíbrio das taxas hormonais. Já o periódico americano Journal of Nutrition fez um balanço entre mais de 170 pesquisas relacionadas à atividade na diminuição de câncer e concluiu que a corrida ajuda a diminuir os riscos nos casos de tumores de próstata, mama, endométrio e pulmão. Isso porque agiria sobre o sistema hormonal e metabólico e auxiliaria na diminuição da obesidade e adiposidade central e nas mudanças das funções imunológicas. Portanto, todo mundo deveria considerar introduzir a prática no dia a dia. E não tem essa de “corrida não é para mim”. Segundo Wanderlei de Oliveira, com cuidado e orientação, todo mundo pode correr. O ponto de partida deve ser a avaliação médica. “Procure um clínico e faça uma bateria de exames laboratoriais, ortopédico, dentário e, principalmente, o teste ergométrico, para saber como seu coração reage ao esforço físico”, orienta o técnico. Os exames de sangue ajudam a diagnosticar casos de colesterol alto, diabetes, anemias e outros problemas que precisem ser tratados antes de se submeter a uma atividade mais intensa. Já o teste ergométrico, realizado em esteira ou bicicleta
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corro todos os dias há 27 anos. Já rodei cerca de 120 mil quilômetros, o que corresponde a três voltas na terra” ergométrica, detecta se existe ou não alguma anomalia cardíaca durante o esforço e indica o atual nível de condicionamento do paciente. “Recomendo até o check-up dentário porque, ao se submeter a um programa de treinamento, a pessoa utiliza todas as suas reservas. Sendo assim, qualquer tipo de infecção, por menor que seja, pode ter seu quadro agravado”, aconselha. A avaliação nutricional é importante ainda para verificar os hábitos alimentares e adequá-los às novas necessidades calóricas impostas pela carga e volume de treinamento. “Por fim, a avaliação ortopédica tem o objetivo de detectar problemas – na coluna, nos joelhos, nas articulações – que podem se agravar quando colocados à prova”, explica WO. Com os resultados em mãos e o atestado comprovando que está apto para a prática esportiva, a dica é procurar um clube de corredores ou a Federação de Atletismo de sua cidade. “Peça indicação de um profissional com experiência comprovada em orientar praticantes de corrida de rua”, sugere Wanderlei. Com relação à escolha de tênis e roupas esportivas, o mestre simplifica: use o que estiver a seu alcance. Claro que é importante buscar um calçado que esteja de acordo com a modalidade e vestimentas confortáveis. “Mas, em um primeiro momento, foque em sair da inércia”, ensina.
PERSISTÊNCIA E OBJETIVOS
“Motivação faz você começar. O hábito faz você continuar.” Esse é o “mantra” que o técnico ensina a seus pupilos iniciantes. Ou seja, persista dia após dia – mesmo quando a cama está quentinha e você quer continuar dormindo ou a preguiça bate na hora de ir para o treino à noite. Seja mais forte que
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suas melhores desculpas! “Se você nunca correu, comece com uma caminhada. Faça uma vez por semana, passe para duas, depois para três, até criar o hábito. Mas reforço: é importante ter orientação para evoluir com segurança. Acredite: você pode chegar a correr todos os dias se quiser.” Para Wanderlei, é essencial também traçar desafios de curto, médio e longo prazos. Você pode, por exemplo, colocar como meta correr 5 quilômetros direto ou baixar seu tempo em uma determinada distância e até mesmo projetar ter saúde para a vida toda. E ele ilustra a dica com sua própria experiência. “Aos 18 anos de idade, eu era um velocista. Queria fazer tudo rápido e ainda achava que estava devagar. Isso era consequência do tipo de prova em que competia. Foi nessa ocasião que resolvi lançar um desafio a mim mesmo. Projetei minha primeira maratona para os 32 anos de idade, em Nova York. Como iniciei na prática do atletismo no ano de 1965, em 1991 já teria 26 anos de treinamento. O suficiente para vencer os 42.195 metros, sem choro. A preparação para minha primeira maratona foi uma lição de vida. Aprendi a planejar, ser persistente, ter paciência e, por incrível que pareça, aprendi a correr devagar. Desde então, fiz dez vezes a Maratona de Nova York, sete vezes a Maratona de Paris (sendo que meu melhor tempo na distância foi 3h07, nessa prova, no ano 2000), cinco vezes a Maratona de Roterdã e duas vezes a Maratona de Chicago.”
CORRIDA PARA TODOS
Idade também não deve ser um problema para quem quer começar a correr. “No Brasil, temos algumas ideais estranhas sobre a maneira de como as pessoas mais ‘velhas’ devem se comportar. Assistindo aos jogos de futebol, é muito comum escutar os comentários a respeito dos jogadores que já passaram dos 30 anos: ‘Vejam o vovô’. Dizem que estão velhos e que deveriam pendurar as chuteiras. Por diferentes motivos, as pessoas com mais de 40 anos são encorajadas a reduzir o ritmo. Eu iniciei mais de 11 mil pessoas na atividade física e muitas começaram justamente quando estavam com 40, 50 e até 60 anos – e hoje são capazes de correr uma maratona. Uma de minhas alunas, dona Mitiko, começou aos 60 anos. Aos 73, ela conquistou o campeonato mundial master na Espanha e continua a correr até hoje, com mais de 80 anos. Não existe desculpa para dar os primeiros passos.” A ciência comprova os benefícios da modalidade entre os mais maduros. Pesquisas recentes realizadas pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) demonstraram que a produtividade de homens e mulheres acima de 50 anos que seguem um programa de corrida, orientados individualmente de acordo com suas características e necessidades, é superior à dos mesmos indivíduos inativos da faixa etária. “Ao longo de meus mais de
Aos 57 anos, WO ĂŠ mestre em iniciar pessoas mais maduras no esporte One Health
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Morgado à frente da montanha Mustagata, na China. Com 7.200 metros, é a segunda mais alta da região
30 anos de carreira, acompanhando ex-sedentários, na maioria acima de 40 anos, tenho observado que essas pessoas adquiriram excelente condição física com a corrida, além de autoconfiança, ganho de autoestima, disposição e jovialidade”, diz WO.
CASE DE SUCESSO
Entre as inúmeras pessoas que passaram pelas mãos de Wanderlei de Oliveira e receberam suas orientações, uma das mais especiais foi Ana Luíza Garcez dos Anjos. Ela foi abandonada pela mãe ainda bebê e passou 18 anos em uma instituição para menores. Quando saiu, foi morar nas ruas e logo estava envolvida com marginalidade e drogas. Vagou por quase duas décadas pelas ruas. Até que uma imagem surgiu diante de seus olhos, como uma visão de um futuro melhor. “Ela se emociona até hoje
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ao contar que parou em uma loja da Rua 7 de Abril, no Centro de São Paulo, e viu uma cena do filme Carruagens de Fogo, em que os atletas corriam na praia”, relata Wanderlei. O fato é que depois disso Ana roubou um tênis e decidiu que iria correr. Por meio de uma assistente social, acabou sendo ajudada pelo secretário de esportes da época, que ofereceu tratamento contra as drogas, moradia e treinamento. O técnico, claro, era Wanderlei de Oliveira. “Em um primeiro momento, eu disse que não tinha condições de treiná-la. Ela era muito agressiva, não obedecia, xingava as pessoas. Tanto que ganhou o apelido de ‘Animal’, que é como ela é conhecida até hoje.” Aos poucos, o mestre foi domando a fera. “Sou exigente, não bravo, e tenho um lado bem paciente. Comecei a colocar regras e exigi disciplina. Ana começou a fazer tempos muito bons, conquistar pódios e até títulos internacionais. Se ela tivesse come-
Wanderlei orienta seus alunos na pista de atletismo no Ibirapuera, em São Paulo. Entre eles, está Ana Luíza
graças ao esporte, ana, uma ex-moradora de rua, tornou-se uma atleta disciplinada, uma campeã” çado a treinar na infância, com certeza teria sido atleta olímpica. Graças ao esporte, ela se tornou uma pessoa disciplinada e equilibrada. Nossa relação já dura quase 20 anos”, conta. Apesar de seu “material de trabalho” ser o corpo, Wanderlei de Oliveira acredita que é preciso ainda desenvolver a mente e o espírito para se chegar ao equilíbrio. “Há muitos anos, quando conheci um mestre indiano que me iniciou na prática da ioga, comecei a praticar a Saudação ao Sol. Acordo diariamente às quatro horas da manhã e realizo uma das 12 posturas ou ásanas, que estimulam a respiração com a troca do ar retido nos pulmões durante o sono pelo ar puro da manhã – rico em oxigênio (prana). Os exercícios são energizantes, ativam a circulação e me deixam forte para o dia”, garante. Esse mesmo mestre ensinou-lhe outro segredo para uma vida longa e saudável. “Além de correr 10 km diariamente,
ele tomava um poderoso suco antioxidante todas as manhãs”, conta. A receita leva o sumo de duas laranjas e um limão; uma cenoura; uma beterraba; um inhame; um tomate; quatro fatias de gengibre; um dente de alho; 18 folhas de hortelã, manjericão e alecrim; 10 gotas de própolis; uma colher (chá) de pó de guaraná; duas colheres (chá) de pólen; duas colheres (chá) de levedura de cerveja; e uma colher (sopa) de mel silvestre. Basta triturar tudo no liquidificador e tomar in natura, sem coar, antes do desjejum. “Ao beber, mentalize que você está recebendo o que a natureza tem de mais puro (energia e vitaminas). O efeito de bem-estar é imediato, porém você colherá os frutos para sua saúde com o uso frequente”, explica. Não perca mais tempo: corra! Sozinho, em grupo, para ir mais longe ou mais rápido, para melhorar a saúde, para se divertir. “Com determinação e alguns cuidados, você vai longe!”, finaliza.
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