Almanaque de Poesia Moderna

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Almanaque de Poesia Moderna Para os Amantes das Novas Tecnologias LĂ­ricas>>


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A tua Associação tem como uma das funções básicas e essenciais intervir, lutar e organizar os estudantes pela defesa

<AEFLUL>

dos seus direitos, que são constantemente postos em causa e secundarizados por questões financeiras. E é nesse sentido que, o compromisso da Associação de Estudantes se prende precisamente com a luta e defesa intransigente desses mesmos direitos, em todos os espaços de intervenção de uma Associação de Estudantes. Assim, tendo em vista suprir esta lacuna da nossa vida cultural académica, ao arrepio de uma defesa efectiva da cultura, por uma maior envolvência dos estudantes nesta arte que é um prazer, escape, intervenção, etc. – a Poesia – nós temos todo o gosto e prazer em apoiar este núcleo que ajudamos a nascer.

A AEFLUL faz-te chegar as mais vivas boas vindas líricas! Podes conhecer melhor a tua associação em www.aeflul.pt ou contactar para geral@aeflul.pt

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<Ficha Técnica> Coordenação e selecção de conteúdos: Bernardo Álvares; Joana Matias; Paulo Antunes. Conceito: Bernardo Álvares; Nádia Pascoal; Sara Brás. Design e Imagens: Nádia Pascoal; Sara Brás.


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Uma publicação periódica dedicada às Letras e feita por alu-

<Os_fazedores_de_Letras>

nos, para alunos. Genericamente, é isto o jornal Os Fazedores de Letras; especificamente, é decidir o que poderá ser do interesse do corpo estudantil e trabalhar para o criar. É fazer entrevistas e escrever artigos; é ler todo o material literário que nos é enviado por flul-enses (e não só) e seleccionar, com base no único critério em que nos podemos fiar – o consenso nos textos que mais gosto nos dão a ler e que mais queremos ver publicados – o que virá a figurar na próxima edição. É imaginar o jornal em papel e escolher imagens e cores ou, como tem acontecido nas últimas edições, coordenar o trabalho gráfico que levam a cabo estudantes da FBAUL. É esperar que seja impresso e levar quantos couberem nos braços para deixar onde der e onde possa atrair o máximo de leitores. Sobretudo, é saber que existe espaço para fazer deste jornal aquilo que quisermos. Foi em 2009 que foi apresentada uma nova direcção para dar nova vida a este projecto criado em 1993 e inactivo durante os dois anos anteriores. Com as três edições lançadas desde então, procurámos respeitar a história de uma publicação por onde passou um número incontável de estudantes, mas não sem a trazer para o presente e lhe dar uma reviravolta. Queremos que cada edição seja a melhor e que, ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas nos digam o que gostariam de mudar no jornal. E talvez o mais importante de tudo, queremos que o nós subentendido até aqui seja cada vez maior. Esta brochura, na qual participámos a convite da Associação de Estudantes e do Núcleo de Poesia, (para além dos textos enviados para o Núcleo de Poesia) contém textos que nos foram sendo enviados ao longo destas três edições mas que nunca foram vistos fora da nossa sala de redacção porque nem tudo pode caber em vinte e oito páginas. Esperamos que esta pequena amostra do que passa por Os Fazedores de Letras seja do vosso agrado. Envia material que queiras ver publicado para osfazedores@ gmail.com ou escreve-nos manifestando a tua vontade de trabalhar connosco. Informa-te na AEFLUL.

<Núcleo_de_poesia>


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 <Núcleo_de_poesia>

Criado em meados de 2011, o recém-nascido Núcleo de Poesia surgiu para colmatar uma carência de poesia na Faculdade de Letras. Perguntámo-nos “Como é que em Letras não existe um grupo de Poesia?”. E assim, com o apoio da Associação de Estudantes e alguns membros do jornal Os Fazedores de Letras, criou-se um núcleo composto por amantes da Poesia nas suas múltiplas vertentes. O Núcleo de Poesia assume-se como uma junção de estudantes que pretendem realizar actividades líricas no espaço da Faculdade de Letras. Vem assim preencher um espaço híbrido entre outros núcleos da AEFLUL, como os grupos de teatro GTL e ARTEC, que apresentam obras de uma forma performativa, e o jornal Os Fazedores de


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Letras, que publica textos literários. A primeira apresentação pública do Núcleo resultou numa tarde de declamação de Poesia acompanhada por música ambiente que chamou a atenção de quantos passavam em frente aos alfarrabistas dos corredores e que contou com a participação dos membros do Núcleo, assim como daqueles que quiseram experimentar declamar obras suas ou de escritores consagrados. Esta brochura, que parte de uma iniciativa conjunta do Núcleo de Poesia, do jornal Os Fazedores de Letras e da Associação de Estudantes, vem reforçar o nosso objectivo de contagiar o mundo estudantil com Poesia. Vem conhecer outros amantes deste género literário e participar nas nossas actividades. Escreve-nos para poesia@ aeflul.pt ou informa-te na Associação de Estudantes.


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e regressa o som aos objectos que ficaram em silêncio. o relógio de parede volta a tocar as horas que passam. é maior o dia, a mão que percorre as costas de outras mãos. iluminam-se as flores com os primeiros raios de sol.

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<José Duarte>

as ruas dividem-se e cruzam-se. aqui ou ali habita a luz numa janela – lugares que desconheço, mas que quero observar. deixo claro que as figuras que se escondem por detrás da cortina são personagens que eu invento. nada mais que as sombras que vivem entre corações fora do lugar. é matéria que cresce esta de perceber o que faz as ruas: lixo objects trouvée quinquilharias mãos, braços, pernas, cabeças, mas também palavras, cruzamentos

- como nos metros.

locais subterrâneos de ficção:

“atenção ao intervalo entre o cais e o comboio” – repete incessantemente a voz no fundo, estes locais não passam de construções em movimento com segredos que poucos conseguem desvendar contudo, continuam a intrigar-me as sombras que passam pela janela mas é certo que a luz, inevitavelmente, se apague vejo aqui na rua mensagens de amor absurdas e leio: “amo-te, és a luz da minha vida” e pergunto-me se também aqui é possível habitar, porque estas são formas que confundem a razão.

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ao partir olharemos o caderno pousado sobre a mesa o quadro de ardósia e o cheiro a giz das mãos que tocavam os números e as letras percorrendo a palavra e desvendando os segredos nas linhas e curvas do alfabeto. o poema desenha-se em silêncio quando viramos o olhar.


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“Barata & Tambor”

<Balva Res>

Como animais,

Os instrumentos só se complexificaram Por complexos de inferioridade.

O violino será sempre inferior ao tambor. Não há seres mais adaptados que as bactérias E neste caminho de evolução Só baratas e ratos vão na direcção certa. O bom está no aproveitar aquilo que mais ninguém quer Não em criar sistemas financeiros apoiados em sistemas económicos Regularizados por uma mão invisível Que não te agarra se estiveres a cair para o poço. Deixa-te mergulhar no fundo, Ser Barata & Bactéria Comer e ser comido com a justiça do tambor a vibrar. Tigres & Labirintos Só fazem sentido se estiverem no poço contigo, A trepar a uma macieira com as outras formigas E serem comidos por um pombo. Jamais existirá foie gras melhor do que uma maçã. Os pombos caem com uma chapada invisível da mão  

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E são comidos por ratos Com bactérias Que tocam tambor.

A melodia não passa da tentativa frustrada de acompanhar o ritmo, O primo mais novo que para ser fixe leva os berlindes E afasta as formigas que Simples & Organizadas Vão levando o que os ratos economicamente complexos deixaram Ao ritmo do universo.


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“As palas empiricamente adquiridas” Não é fácil olhar teus olhos Fechados, embora visíveis E dizer o que penso eu de ti Não queiras saber, que nem eu Porém, queria querer, acredita Mas por agora é melhor assim Não queiras saber o que me vai na cabeça Neste espaço tão inspacial Que a pré-definição da tua me venceria Nem eu quero saber o que de mim tens O que é secreto, fechado ficará Que só ressuscitado, cada um de nós, de nós saberia Nada é eterno senão o tesouro sem mapa Que tortura cada ser do mundo Que defunto entrega, sem remédio, à terra Corroído até ao tutano Pacifica e lentamente Inalcançando, ela, o impossível Entre choros e gritos de guerra Mas eu cá vou andando e nadando Contra maremotos e correntes imensas Da fechadura tentando inutilmente emergir Sonhando a todos abrir as portas da mente

<Rafael Coelho do Nascimento> 

Mudar olhares e do mundo fazer

A tábua rasa que Platão disse existir.


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“Greve” Hoje não dá para escrever. Nada de concreto, nada de profundo, Nada de pouco, nada de muito, Nada de tudo como pano de fundo Hoje é dia de greve Greve gráfica, greve ao amor, Sem os que vêm e voltam Cobrindo a contínua solidão, Descendentes naturais da dor.

<Francisco Gomes> 

Transpiro pelos poros da necessidade, Arranco os cabelos da carência,

Meus pés enganaram-se pensando no voo, Mancha única de onde destoo,

Gotas de sangue escorrendo da paciência

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Súbita lucidez Subi à mais alta montanha, Atei a corda às nuvens, Saltei e os pés não tocaram o chão, A angustia da falta de ar… O pescoço não partiu, Minhas lágrimas caíram como cristais, Neve ou chuva ácida… Agarrei a lua, Fiz força e subi, Rebolei da montanha abaixo Sujo de branco nuvem Com cascalho lua nos cabelos, Levantei-me, abri os olhos, Sacudi as calças e fui-me embora…

<Victor R.>


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Diminuto

São horas de apanhar o primeiro transporte público que se atravessar no meu atraso. Mas por favor, deixa-me pelo menos por agora tentar ordenar os ponteiros deste relógio insustentável em cujo tempo se privou de me transportar. Das mãos é preciso exigir mais qualquer coisa além dum mero adeus um verbo qualquer que dê, pelo menos, para comprar o pão de cada verso. Por hoje permite-me que vá devagar para que a poesia onde quer que apareça possa ter a duração de uma pedra por mais um minuto desmesuradamente finito. Inefável. Com que lábios te vais defender dos meus beijos aí, onde nenhum passado nos põe a salvo da memória? Deixa-me fazer um minuto de poesia em nome dos pássaros abandonadamente suspensos em linhas de voo. Um minuto de poesia apenas um bocado o suficiente para flutuvoar rente às ondas pingando indefesas à beira da sede. Fazer um minuto de poesia como se o silêncio doesse mais alto

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que as próprias palavras. Repetir incansavelmente o mesmo verso até que o poema se canse de ser diferente. Amormecer no teu colo e poesiar-me por todos os lados enquanto as sonolências perto da tua voz me dizem baixinho, muito baixinho quase em segredo: Poesia é o prazer que nos acompanha

<Heduardo Kiesse>

quando se escreve em legítima defesa da solidão.

Kléos Sempre desejei ser mais que simplesmente ser... E por entre querer e sonhar demais, medo é o meu de nada ter. Olhar para a posteridade,

<André 

ver-me em palavras futuras. Ser mudança de sociedade, ser luz de estradas obscuras. E mesmo tendo feridas gravadas com meu próprio punhal...

Ortega>

Eu só quero fazer em vida,

coisas dignas de me tornar imortal...


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A Ode ao Candeeiro Extravagante na sua esculpida altura Luz centrada na emanada clareza A majestosa e inquebrável nomenclatura Na incessante atracção, como que realeza Na luminosidade está o inquestionável facto O seu ambiente sublime onde reina a grandeza Berra grita com certeza, a chama da sua presença A tentação incompreensível e impulsiva do atraente tacto Na paisagem envolvente, cria poética e calma firmeza Onde tal inculto no fundo é insulto causando sentença É querer… sentir, absorvendo o banal Pacificamente imaginando o inimaginável Desfrutando, fundindo assim beleza como tal A calorosa sensação da imaginação invendável Reinventando e criando a magia do irreal Admirar a imponente criação abalável Impossível o desviar do ângulo ao dom visual

<Jani R o d r i g u es>   

Palavras escusadas para a caracterizar

Pois poesia não é meramente escrever, sendo Pode consistir no simples contemplar Em ser poeta vendo


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<Mike M a r q u e s > Não é o pôr-do-sol que está a falhar Nem os bocados de carta rasgados do passado – com licença – A tampa da sanita levantada pediu a sombra das quatro da tarde que já não mostra o meu peito na tua cabeça. Para onde fomos nós que nunca quisemos ir? Esqueci-te num bom dia novo sem fodas de mais homens e apresentei-te á família malhada de males dos outros. Esta não é a tua dor. Ajuda me só a dosear a minha seringa e crava-me tinta para comeres Mas vai para uma corrente longe para uma madrugada de retraços e sem falar, para sempre, não esperes.


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“Arritmia” Lavar o ar,

e espera-te no ar

expelir a limpidez que a mente produz

para te lançar ainda mais alto.

que salva a tua selva de questões

Tremes de excitação

carismáticas àquilo que sentes a cada

porque abres os olhos

momento - tumbas que te oferecem

depois de tantos dias na escuridão.

as musas.

Pensas pensar

Podes armar a língua de fumo,

e gritas a verdade inquestionável

descobrir o refúgio de ligação à fuga

da racionalidade.

austera da verdade.

Tocas o paraíso

E começas a escavar,

e é quando já o és. foste.

a lavrar campos de sorrisos

<Afonso Punhal>

ou de lágrimas inesperadamente lúcidas. Sentes e sentas-te sobre o cárcere de cascatas de teorias a argumentar. Trauteias a noite e as estrelas numa frase ríspida e repetida às faces desconhecidamente familiares. Largas o ar, lambes o frio, sacas da arma e disparas para a teia que te rodeia

os braços e as pernas e as palavras deixadas ao acaso do momento. Chicoteias a trama, o drama, a lama que há onze segundos atrás eras. Foges ao inevitável fogo com que te queimaste mas lanças-lhe o cabelo que te cobre o vale de memórias. conheces-te mas pensas reconhecer apenas uma perna partida ou um olho desfeito no mar da saudade.e danças. toda a noite, danças uma arrítmica dança de lobos e frutos silvestres. o buraco telefona-te enquanto falas com o teu reflexo no chão de pedra e sujidade. Mas a explosão lança-te no ar e deixa-te no ar


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<Textos “esquecidos”, mais tarde encontrados. Que agora foram relembrados.>


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