Ginjal, território do entre

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Ginjal • território do entre Almada, Portugal

ginjalArribaCais LisboaAlmada

Júri Prof. Doutoura Arq. Ana Tostões (Presidente) Prof. Arq. Paulo David (Orientador) Prof. Arq. Miguel Vieira (Vogal) Lisboa, Maio 2022 Ginjal, território do entre Construir nos limites, de encontro ao rio Manuel Carvalho Lages Projeto Final em Arquitetura Instituto Superior Técnico Mestrado em Arquitetura Ano Lectivo 2021/2022 Orientadores Prof. Arq. Paulo David Prof. Doutora Arq. Daniela Arnaut

índice Geografiaintrodução propostaleitura Cidade plano urbano Arquitetura materialidadeedifícioinvestigaçãoprograma conclusão agradecimentosimagensbibliografia56524846443834322218108 Ginjal. Almada, Portugal

O Ginjal situa-se na margem sul do Tejo e a sua vida não podia contrastar mais com o intenso ritmo urbano que se vive na margem norte do rio, em Lisboa. A fraca acessibilidade ao local veio acentuar a drástica diminuição de afluência, surgida após a construção da ponte 25 de Abril, que deu início à decadência do território. Entre Lisboa e Almada, entre o Rio e a Arriba, o cais do Ginjal tornou-se parte indeterminada. A capital tem um papel preponderante na definição do lugar e é na estimulação da relação do Ginjal com o rio e, consequentemente, com Lisboa que poderá estar uma resposta a muitos dos problemas que tornaram o Ginjal uma zona ausente da cidade. Intensificar a comunicação entre o Ginjal e as cidades que o limitam é potenciar a passagem e permanência no local e , desta maneira, conceder vivacidade e atratividade ao lugar. Assim sendo, a fruição e ocupação do rio Tejo tornase crucial e, de certa forma, inevitável para desenvolvimento de todo este território.

No âmbito do Projeto Final de Mestrado em Arquitetura do Instituto Superior Técnico, foi lançado um desafio que propõe intervir num território que há muito se encontra em “espera” e no limiar do esquecimento — O CAIS DO GINJAL — uma zona da cidade de Almada, em Portugal, cujo abandono e consequente grau de degradação torna urgente uma intervenção profunda de requalificação urbana e arquitetónica.

introdução

O desafio anunciado tem como propósito desenvolver mecanismos que consigam devolver o interesse e reativar um território singular, que se encontra envolvido num contexto natural ímpar e oferece uma percepção única sobre a cidade de Lisboa. Perante a iminência do esquecimento, é peremptório o estudo e a intervenção urbana e arquitetónica, no Ginjal. Neste sentido, o projeto que se apresenta é o resultado do processo de procura e investigação que permitiu elaborar uma proposta para a sua reabilitação.

O trabalho estrutura-se em 3 momentos principais que se definem, particularmente, pelo nível de aproximação ao território — Geografia, Cidade e Arquitetura , consecutivamente. As três escalas de leitura permitiram observar o território e entender o lugar de modo a reconfigurar o tecido urbano e habitar um novo espaço. O momento inicial, corresponde ao reconhecimento e análise do território – Geografia . Nesta fase, foi fundamental observar, visitar e sentir o lugar para conseguir compreender a sua formação, matriz e essência. Em paralelo, foi feita alguma pesquisa histórica e documental, maioritariamente cartográfica, sobre o local. A partir desta investigação, foi possível realizar uma leitura pessoal e crítica da zona de intervenção, essencial para os momentos seguintes do Oexercício.segundo momento – Cidade – é o de reconfigurar. Parte da análise urbana inicial e compõe-se através da identificação e resposta às características atuais do lugar. Foi necessário definir uma estratégia geral de intervenção que reorganizasse e reestruturasse o tecido urbano de modo a desbloquear o território e tornar o Ginjal um local disponível e capaz de receber novas dinâmicas urbanas. Deste momento, resulta o plano urbano de requalificação que procura valorizar a identidade do lugar e, ao mesmo tempo, tornar a zona mais acessível e próxima da cidade de Almada, do rio e de Lisboa. A mobilidade entre os territórios é crucial para o desenvolvimento do Ginjal, para o crescimento de atividade e para o aumento de afluência ao longo de toda a margem.

O Ginjal, um lugar determinado pela sua topografia - tencionado pela força do rio e pela potência da margem de Lisboa, encontra-se também entre outras duas margens: a cota alta da falésia escarpada e o espaçamento do rio •

Enquadrado neste plano, foi investigado, proposto e concebido um novo programa que procura estimular a frequência e permanência neste lugar – Arquitetura . Pretende-se que a arquitetura assuma e explore a identidade sensorial do lugar, envolvendo-se no ambiente natural do território. A investigação da espacialidade e a caracterização da materialidade procuraram definir os contornos de uma nova experiência arquitetónica para o local. É este o momento que finaliza o exercício e completa a intervenção que se propõe para o Ginjal.

A arquitetura tem um papel fundamental no processo de regeneração do território e deve assumir a sua responsabilidade na resposta ao estado de decadência de um lugar com tanto valor e potencial. É essencial compreender e sentir o lugar para desenvolver uma solução capaz de o reabilitar, sem "apagar" a estrutura que o define ou extinguir os valores que o caracterizam. A qualidade e pertinência da intervenção depende, em grande parte, do seu nível de sensibilidade perante o território. O trabalho procura alertar para a necessidade urgente de pensar o lugar.

1. Ginjal, território de intervenção, 1967

DAVID, Paulo; ARNAUT, Daniela - Ginjal. Construir nos Limites, de Encontro ao Rio. Lisboa, 2019.•

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Dada a sua proximidade com o rio Tejo, constituiu uma importante estrutura portuária e industrial, nomeadamente, de apoio à cidade de Lisboa. Um lugar historicamente ligado ao setor naval, marcado pela atividade marítima e maioritariamente ocupado por operários, armadores, pescadores e trabalhadores da indústria naval. Também atraídas pela facilidade do acesso fluvial, instalaram-se no Ginjal algumas fábricas de conservas, tanoarias e armazéns de vinho. O edificado local repartia-se entre pequenas oficinas, armazéns, empresas de construção, estaleiros navais e pequenos espaços agrícolas. A tipologia arquitetónica,do séc. XVII e XVIII, repete-se um pouco ao longo do cais e define-se, maioritariamente, por edifícios e armazéns de 1 ou 2 pisos, pés direitos altos, formas homogéneas, construção rudimentar e coberturas em telha de 2 ou 4 águas

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As potencialidades do lugar são evidentes. Muitos são os fatores que tornam a sua regeneração crítica e urgente.

Desde a situação geográfica ímpar em que se encontra à importância histórica que tem, nomeadamente, para o desenvolvimento da cidade Lisboa, requalificar o Cais do Ginjal é fortalecer e destacar o papel do rio Tejo na valorização das cidades que o limitam.

Ginjal

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• NUNES, João - Estudo de Enquadramento Estratégico - Quinta do Almaraz. PROAP, 2005 pelo seu encaixe entre a arriba, com diferentes intensidades [...], e o rio ; pela linearidade imposta ao percurso possível e estrita invariabilidade altimétrica ; pela deslumbrante relação visual com o plano de água e a percepção única de Lisboa ; pela degradação do tecido construído, já interiorizada como característica própria do sitio ; pelas circunstâncias de quase inesperado conforto bioclimático ao longo de todo o ano e pela conjugação de radiação reflectida no plano de água e regime de ventos."

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2. Carta Militar de Lisboa, 1951 (à dta.) com a delimitação da área de estudo

GEOGRAFIA GEOGRAFIA

leitura

O Ginjal, um território diferenciado pela sua localização e condição geográfica, pertence à cidade de Almada e compreende-se entre o terminal de Cacilhas e a Quinta da Arealva. Começou a ser construído há 150 anos e resulta da união de um conjunto de pequenos segmentos de cais que se foi consolidando, ao longo de toda a estreita faixa ribeirinha • .

O dia a dia no Ginjal era intenso. Desde as fainas prolongadas, aos (des)carregamentos constantes de mercadoria, à confusa correria dos operários entre varinas e pescadores, o ritmo era afortunadamente caótico. Essa agitação contrasta radicalmente com a energia atual do lugar. 3-4. armazéns Theotonio Pereira, Cais do Ginjal " Voltei à sala da varanda debrucei-me no peitoril a observar mais uma vez o rio e a cidade de Lisboa. Uma fragata, no cais, carregava cascos e barris de vinho que o pessoal dos armazéns encaminhava, rolando, para que o guindaste pusesse dentro da embarcação. [...] Desci a escada e vim para o cais, onde a azáfama era intensa [...] Junto à fábrica La Paloma, o buque, que viera da Ribeira de Lisboa, descarregava sardinha. As varinas, de canastra à cabeça, mão na ilharga, andavam cá e lá no transporte do peixe."

As pequenas indústrias relacionavam-se e cooperavam entre si. As atividades complementavam-se: a produção de vinho e as tanoarias, a pesca, as conservas e as latarias, os estaleiros e as oficinas, etc. O fácil acesso aos produtos e ao peixe fresco, tornou, em dado momento, o Ginjal num local famoso pelos restaurantes e reconhecido pelas "magníficas caldeiradas"•

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VEIGA, Luís Bayó - Cronicas d'agora sobre Cacilhas d'outrora. Conservas de Portugal, 2011 NUNES, João - Estudo de Enquadramento Estratégico - Quinta do Almaraz. PROAP, 2005 CORREIA, Romeu - Cais do Ginjal Lisboa: Editorial Notícias, D.L. 1989. pp 25-29

A Carta Militar de Lisboa de 1951 introduz o objeto de estudo e demonstra, de forma eficaz, a relação que existe entre as margens do rio Tejo. Ainda que a cidade de Almada se tenha desenvolvido de forma considerável, a dependência da margem sul, relativamente a Lisboa, mantém-se. Pertencendo a uma das zonas costeiras mais próximas do centro de Lisboa, o território do Ginjal e o seu estado de inatividade evidenciam a forma como um lugar se pode tornar dependente de outro. Indissociável de Lisboa como se dela fizesse parte, o Cais do Ginjal caracteriza-se:

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C.M.ALMADA - Património Urbanístico, Fonte da Pipa. Câmara Municipal de Almada, 2021 ibid., Arqueologia. Almada Industrial cit. por CARRIÇO, Marlene - Cais do Ginjal. Da fortuna à decadência. Observador, Maio 2015

7. esplanada do restaurante Ponto Final 8. sinais de degradação do Cais do Ginjal

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6. Cais do Ginjal. Júlio Diniz, década de 19605. construção da ponte sobre o Tejo Almada e Lisboa, 1964 Cristo Rei Seminário de São Paulo Cemitério de Almada Casa da CasteloCerca de AlmadaQuinta do Almaraz R.Cândido dos Reis Terminal de Cacilhas 9. pontos de interesse que organizam o limite da cota alta da cidade

A construção da ponte 25 de Abril (1962-1966), vem dar início à quebra de atividade do território. O papel ativo do Ginjal foi enfraquecendo até aos dias de hoje. Apesar da ponte possibilitar a travessia mais frequente do rio e o desenvolvimento generalizado da margem sul do Tejo, também ela fez esquecer a importância das zonas ribeirinhas que se confirmaram reféns da atividade fluvial e da associação à cidade de Lisboa. A procura diminuiu, o comércio desmoronou, as fábricas foram falindo e maioria dos restaurantes encerraram. A necessidade de parar, abastecer ou permanecer no Ginjal deixou de existir e o consequente abandono do cais levou à decadência do território, à deterioração do cais e à ruína de maior parte do edificado. Do seu passado, resistem alguns locais de interesse como a Fonte Pipa – chafariz que fornecia água aos moradores da vila de Almada e o principal ponto de abastecimento dos navios que atravessavam o rio Tejo • –, a Praia das Lavadeiras, a ruína de vários armazéns, oficinas e restaurantes, a antiga sede do Clube Náutico de Almada, a Quinta da Arealva, os edifícios da desativada Fábrica de Óleo de Fígado de Bacalhau e as antigas instalações da Companhia Portuguesa de Pesca (C.P.P.) onde, entretanto, se instalou o Núcleo Naval do Museu Municipal de Almada que "salvaguarda um importante espólio de memória na área naval, atestando vivamente a ligação secular do concelho de Almada ao rio e ao mar"••. Sobrevivem também dois ou três restaurantes à custa de algum turismo estrangeiro. "Os turistas adoram isto. Tudo, da comida, à paisagem para Lisboa, ao facto de estarem a comer perto do rio [...] ". ••• Restam as memórias, as ruínas e a paisagem sobre o rio e a cidade de Lisboa. O território permanece espectador da deterioração e, dessa forma, exposto à supressão de um lugar carregado de história, numa situação única e sublime. A fragilidade urbana e o estado de degradação do Ginjal tornam visíveis as diferentes camadas do tempo e evidenciam o comportamento do lugar face ao abandono de atividade a que foi sujeito. Apesar do estado degradado, a génese do edificado ainda está presente no ambiente do lugar. A matriz portuária e industrial é evocada pelas infraestruturas que permanecem ao longo do extenso cais em pedra. Do ferro enferrujado dos guindastes à estereotomia da pedra do cais, forrada pelo musgo, percorrer o Ginjal desde Cacilhas à Quinta da Arealva é percorrer um território repleto de texturas e materialidades. Compreende-se a identidade do lugar e a forma como reagiu à passagem do tempo.

A cidade, um objeto contemporâneo e cheio de camadas, é a acumulação presente de todos os tempos do passado Ginjal e Almada A importância do rio Tejo, na comunicação entre as margens e no desenvolvimento da cidade de Almada, é historicamente inquestionável. O papel da margem da cidade, que contacta com o rio, foi fundamental para o seu crescimento. A zona de Cacilhas e do Ginjal tornou-se um dos principais polos de industrialização da cidade de Almada, constituindo-se como um grande gerador de riqueza e emprego para a população do concelho. Apesar de a ponte ter desvanecido a relevância das zonas ribeirinhas, o Ginjal sempre foi uma das portas da cidade.

A relação entre o cais do Ginjal e Almada é determinada pela topografia do território. A escarpa que separa a cota ribeirinha da cota alta da cidade e a dificuldade em estabelecer acessos entre as duas contribui para o agravamento da decadência da marginal. A dinamização do "plano" que divide os dois territórios é determinante para a inclusão da zona ribeirinha na vida urbana. É necessário estabelecer a comunicação e a circulação entre os dois níveis da cidade criando pontos de acesso e infraestruturas de mobilidade. Os locais de referência que organizam o limite superior da arriba (fig.9) e a zona da cidade adjacente devem assumir protagonismo. O potencial agregador destes pontos de interesse é enorme e crucial na melhoria da comunicação entre as cotas da cidade.

BELANCIANO, Vítor - O rio Tejo é ligação e não barreira. Público

Ginjal e Lisboa

• ROSSI, Aldo - A Arquitetura da Cidade 1ª ed. Lisboa: Edições 70, Novembro 2016

A capacidade dinamizadora da margem norte do rio é responsável pelo nível de intensidade dos movimentos fluviais no rio Tejo, essenciais na ativação do Ginjal. Logo, a cidade de Lisboa tem obrigação de desempenhar um papel mais enérgico, do que o que tem desenvolvido, na revitalização de ambas as frentes ribeirinhas. O crescimento do Ginjal e a exploração do seu valor resultará, seguramente, do trabalho conjunto das duas cidades e da intensidade da participação do rio Tejo no diálogo entre as mesmas. É necessária, finalmente, a discussão produtiva sobre o desenvolvimento de uma cidade a duas margens

14 15 leitura GEOGRAFIA GEOGRAFIA

A afluência ao lugar, facilitada pela acessibilidade excepcional ao local, através da ligação fluvial direta ao Cais do Sodré, pode ser conseguida através dos estímulos adequados e dos incentivos que surgem, nomeadamente, da outra margem. A dependência histórica do território à margem lisboeta, confirmada pelos efeitos da construção da ponte, na prática e sem grande surpresa, ainda se verifica. A regeneração do lugar é depende, em grande medida, do tipo de relação que pode estabelecer com a cidade de Lisboa.

A chegada ao cais do Ginjal é marcada pela desconexão com o movimento e o ritmo intenso da cidade de Lisboa. O excesso de estímulos urbanos dá lugar à serenidade e a uma melancolia muito própria de um lugar, onde a sombra predomina e o silêncio prevalece. Ainda que o abandono marque a maior parte do percurso, os equipamentos que permanecem no cais, as ruínas dos armazéns e a resistência de alguns pescadores tornam palpável a atividade marítima que outrora existiu. Apesar de estagnado no tempo, a sua identidade permanece no ar. É a memória do lugar que o define. Os lugares são mais fortes que as pessoas e o cenário mais que o acontecimento.

11. Lisboa e Almada - fotografia aérea, 2015 10. Panorama de Lisboa e Almada (composição) Francesco Rocchini, 1868 O rio Tejo é ligação e não barreira •

O rio é o elemento que separa as duas margens e, ao mesmo tempo, o único capaz de as unir. sentir o território

Além da memória, também o ambiente natural, excepcional, do território é determinante para a definição do lugar.

O aumento da permeabilidade entre as margens, as boas acessibilidades a qualidade do transporte coletivo e a articulação das atividades económicas são fundamentais para a coesão do território fluvial. Na aproximação das margens, na expectativa de um território único, composto por Lisboa e Almada, o Tejo tem um papel fundamental.

confronto entre margens A linha de costa de Lisboa revela, a capacidade que o homem tem de controlar um território. O confronto entre as margens do rio Tejo permite observar dois modos de encarar o território, duas formas de construir nos limites.

O abandono a que o cais do Ginjal foi sujeito, provoca inquietação e surpresa tanto pelo contraste com a intensa atividade industrial e comercial de outrora, como pela desconsideração do grande potencial que tem, designadamente, no fortalecimento da relação entre as margens do rio Tejo.

12. Ginjal, atmosfera

As condições atmosféricas, provocadas pelas características geográficas e topográficas do local, geram um ambiente muito particular. O lugar é fortemente marcado pela presença da água, pela autoridade da dimensão da arriba, que coloca o território em sombra durante grande parte do dia, e pela densa vegetação que, aliada à fraca incidência de luz solar, contribui para o aumento da humidade.

, Janeiro 2020•

Enquanto que a margem de Lisboa se encontra fortemente dominada pelo homem e pela geometria do desenho, a margem sul, ainda que tenha sido ocupada pela atividade industrial, permanece predominantemente definida pelas linhas naturais do terreno. A formação geológica das margens do rio e o contraste entre o natural e o artificial ajudam a compreender os efeitos concretos das intervenções que levaram dois lugares, geograficamente tão próximos, a possuir vivências e dinâmicas urbanas tão distintas.

O cais do ginjal representa, hoje, um troço de cidade descontinuada e, por isso, fragilizada. A descontinuidade gera decadência e o território acaba por ser resultado da soma dos espaços e não de um todo organizado e estruturado.

O alto contraste de atividade entre as margens, concede lentidão ao lugar pela sensação de "retorno ao elementar" pelo afastamento do quotidiano citadino. O Ginjal seduz pela tranquilidade, pela ausência de movimento, pelo carácter introspetivo da penumbra que o envolve, e pela situação única que o aproxima da "cortina" verde da falésia e permite contemplar o extenso plano de água do rio e a cidade de Lisboa.

Essa desarmonia conduz à fragmentação do território e à sua delapidação.

A sucessiva acumulação de elementos criou uma primeira linha de edifícios que constitui, a barreira que provoca a linearidade, extrema, do cais e torna o seu percurso monótono, inflexível e, por vezes, sufocante. A impermeabilidade destas construções e a tensão do limite da linha costeira "empurram" em direção ao rio e reforçam a sensação de que, hoje em dia, o Ginjal é apenas um lugar que se percorre. A fraca acessibilidade ao local agrava esta condição, excluindo-o da rotina urbana e transformando-o num "quase beco sem saída", de visita esporádica. Surge evidente a necessidade de romper a invariabilidade do percurso com momentos de pausa e programas que suscitem a permanência no local.

A singularidade do território deve-se, também, à invulgar proximidade do seu património natural aos núcleos urbanos adjacentes. O contraste entre diversas materialidades e a fusão de elementos naturais com estruturas industriais e objetos produzidos pelos homem caracteriza, igualmente, o local de intervenção. A acessibilidade e a facilidade do encontro entre duas realidades diversas distingue o lugar do restante território fluvial da cidade. A natureza crua, face à artificialidade do denso tecido urbano da cidade de Lisboa, é crucial na vivência do lugar.

15-16. cais do Ginjal, fotografias de Luís Eme o vazio é tão importante como o cheio, o silêncio tão importante como o barulho • É imprescindível estimular o (re)envolvimento do cais na vida da cidade. Os momentos que potenciam a comunicação entre as cotas da cidade de Almada e a aproximação das duas margens do rio são fundamentais na reativação do Cais do Ginjal. Ao mesmo tempo, é essencial que qualquer esforço no sentido de regenerar o local, exista sem menosprezar a sua identidade e autenticidade, o seu valor histórico e as qualidades da atmosfera que o envolve e o tornam tão peculiar. citação do arquiteto Nuno Grande em aula aberta, no âmbito da disciplina. Abril de 2021•

17-22. Ginjal. Fotografias de João Paulo Ferreira, 2009_2016 serenidadememória industrial texturas, materialidades pesca contemplaçãomelancolia

GEOGRAFIA

Os elementos naturais marcam a visita ao Ginjal. A água sobressai em qualquer experiência sensorial. Neste território "mudo", o som que nos invade, é o das ondas do rio a bater no cais. Ao longe, o zumbido da ponte vai-se dissolvendo e torna-se parte do ambiente do lugar. Para trás, fica o som dos cacilheiros a partir. O lugar ouve os outros sem se ouvir a si próprio. O som do Ginjal é o rio... O vínculo histórico e relação de dependência, entre a margem do Ginjal e a vida do rio, refletem-se, nitidamente, no atual grau de deterioração território.

13-14. arriba do Ginjal, vegetação

16 17 leitura GEOGRAFIA

Guedes & Saraiva, década

Propõe-se, numa promenade ao longo do cais, estimular o olhar sobre Lisboa (a), a relação com a cidade de Almada, a interação com a naturalidade da arriba, a fruição do rio e o contacto com a água (b) e a valorização do património existente no Ginjal, nomeadamente, do extenso cais em pedra (c). (ver fig.25-28)

Qualquer intervenção que venha tomar lugar no território tem que compreender e considerar, de forma contínua e simultânea, as 3 linhas • que formam o território. A linha baixa, do rio – a interação com a água, a frente ribeirinha e a relação com a cidade de Lisboa. A linha média, de produção – o cais, o edificado construído e a atividade industrial e piscatória. A linha alta, da falésia – o elemento natural, a identidade e a ligação à cidade de Almada.

pontualidade, singularidade, intensidade – uma ideia

Pretende-se que ações pontuais, em momentos diversos, trabalhem em conjunto para dar uma nova vida ao local, preservando a naturalidade da linha de costa e a matriz do lugar. Adiante, desenvolve-se uma dessas intervenções. Neste sentido, a fase seguinte do exercício passa por (re)conhecer o território e identificar a zona a intervir.

do Vento. Paulo

1900

É necessária uma estratégia que considere as variações físicas e sensoriais vividas ao longo do cais e que se ajuste às particularidades do lugar. A pontualidade da proposta não torna prescindível, em momento algum, a elaboração de um plano geral de organização do território. O equilíbrio e a sintonia das intervenções é fundamental para o desenvolvimento de um solução coesa, consistente e, consequentemente, eficaz.

A premissa da intervenção tem por base intensificar momentos. Procura-se identificar e potenciar os momentos que se revelem cruciais na reativação do território, sem comprometer a identidade única do lugar.

Luiz Gonzaga Pereira, 180923.

O entendimento do território, estabelece os objetivos do projeto e define a ideia da solução. A estratégia da proposta assenta na intervenção pontual organizada, como resposta ao estado de decadência do cais do Ginjal. A intenção é contestar um projeto urbano que generalize o lugar intervindo de forma igual em toda a extensão do território.

24. Almada e o Tejo.Boca Emílio de

A solução passa por desenvolver um plano urbano que consiga: intensificar a relação com margem norte de Lisboa, potenciando a fruição do rio Tejo; valorizar a identidade e a matriz do lugar, reabilitando o edificado de interesse preexistente; melhorar a acessibilidade do território, dotando-o de boas condições de circulação e fortalecendo a comunicação com a cidade de Almada. Pretende-se, igualmente, requalificar e reorganizar o espaço público de modo a que toda a área de intervenção tenha capacidade de recuperar ou gerar atividades e condições para receber e integrar novos conteúdos programáticos, tornando-se dinâmica, ativa e, progressivamente, mais atrativa.

18 19 proposta GEOGRAFIA GEOGRAFIA

• 3 linhas - ideia de compreensão do território, proposta pelo enunciado do exercício

O alçado do território (fig.24), permite identificar facilmente as linhas que se referem e os 3 momentos que constroem a vida do lugar. É no encontro entre estas linhas que se pretende trabalhar. A sua estimulação, individual e enquanto conjunto, é essencial para a elaboração de uma proposta que procure reativar, efetivamente, este lugar.

25-28. o esquema e as imagens fazem parte de um exercício de exploração, de uma abordagem sobre o lugar, desenvolvido em grupo (J. Moreira, M. Fernandes), no âmbito da disciplina de Projeto Final. (São imagens de investigação, do conceito acima referido, não correspondem a ações concretas de projeto) cba o rio , o cais e a arriba A compreensão do lugar foi fundamental no desenvolvimento do projeto e revelou ser a base de todo o exercício. A leitura do território permitiu entender as necessidades e os problemas do local para, em seguida, poder responder, de forma adequada, ao seu estado atual de inatividade e passividade face à cidade e perante a passagem do tempo. As principais adversidades que o Ginjal enfrenta são, em grande parte, provocadas pela topografia particular do território. A diferença de cotas entre a cidade e o cais e a linearidade do território, determinam a fraca acessibilidade do lugar. Como referido anteriormente, a construção da ponte constituiu, paradoxalmente, o principal fator do início da decadência e inatividade do local. As más condições dos acessos existentes e a escassez de infraestruturas, nomeadamente, de mobilidade, deram continuidade ao abandono progressivo de toda a linha de costa. A sucessiva degradação do cais e do edificado foi agravada pela fraca qualidade do espaço público, gerada pela sobreposição desorganizada de elementos, que limita fortemente a circulação e a fluidez do percurso.

Apesar de menos conhecida e visitada, a zona que abrange o Olho de Boi (3) e a Arealva (4), reúne vários pontos de interesse histórico e cultural. Imediatamente após o jardim, encontra-se a Fonte da Pipa, junto à qual está situado o Núcleo Naval do Museu Municipal de Almada. Este edifício pertence às antigas instalações da Companhia Portuguesa de Pesca (C.P.P.), que se distribuem por toda a zona do Olho de Boi. Cacilhas (0) é o principal ponto de chegada a Almada por via marítima e a zona onde se concentram os transportes que servem a cidade. Além do carácter funcional, gerado pelo terminal, é também um local de paragem determinado pela vida da Rua Cândido dos Reis e do Largo Alfredo Dinis, nomeadamente, pelos serviços de restauração e hotelaria que oferecem.

O plano pormenor do Cais do Ginjal em vigor não considera as zonas do Olho de Boi e Arealva e os projetos existentes incidem apenas na área compreendida entre Cacilhas e a Boca do Vento, esquecendo este território adjacente. A convicção de que este troço é crucial para a reativação do Ginjal, levou a que o foco do exercício se redirecionasse, precisamente, para este local.

31. interpretação do território, Boca do Vento 32. Quinta da Arealva 33-34. área de intervenção

O cais do Ginjal (1) é um espaço definido pela linearidade do percurso, provocada pela primeira linha de edificado, e pela degradação dos antigos armazéns e construções fabris que constituem a matriz industrial do lugar. Os pontões, as antigas estruturas portuárias e a memória de um antigo cais em pedra vão surgindo ao longo do percurso que termina com o restaurante "Ponto Final" (fig. 30), cujo nome esclarece a ideia que persiste em torno do lugar e acaba por justificar o seguimento do exercício.

A fase seguinte do trabalho corresponde à elaboração de um plano urbano de requalificação da área marginal que compreende a zona do Olho de Boi, desde o elevador da Boca do Vento, e a Quinta da Arealva.

A zona da Arealva (4) constitui, hoje em dia, a área mais "privada" e recolhida de toda a margem. Com acesso próprio, a Quinta da Arealva oferece uma situação única perante Lisboa e um enquadramento excepcional no território, envolvendo-se no entorno natural do lugar.

29. análise do território

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GEOGRAFIA

A Boca do Vento (2) surge imediatamente a seguir ao restaurante e é onde se situa o Jardim do Rio e o Elevador Panorâmico da Boca do Vento. A zona foi recuperada (1999) e concede algum desafogo à estreita configuração do restante percurso. Enquanto o jardim oferece um amplo espaço verde e um momento de pausa e contemplação da cidade de Lisboa, o elevador tem um papel essencial na ligação da cota marginal do rio à zona antiga da cidade de Almada. Ainda que reabilitada e com bom nível de conservação, uma observação cuidada permite concluir que a zona da Boca do Vento constitui uma quebra na continuidade do território. 30. restaurante Ponto Final com o jardim da Bocado Vento ao fundo, Cais do Ginjal proposta GEOGRAFIA 4 (re)conhecimento A leitura inicial e um reconhecimento mais aproximado do território, definiram o local a intervir. A figura abaixo (fig.29) identifica, de forma pragmática, as diferentes zonas deste troço da margem sul do Tejo, de acordo com as suas características. A zona do Olho de Boi (3), assume-se como fim de percurso para a maioria das pessoas que visitam o Ginjal. Vindo de Lisboa, o turista comum inicia a visita, recorrentemente, no terminal de Cacilhas e não chega a ultrapassar o elevador e o jardim da Boca do Vento. A totalidade da(s) experiência(s) que o lugar tem para oferecer acaba por ser desperdiçada, empobrecendo o território. Este momento tem enorme expressão na reativação e na atratividade de todo o cais pelo que é fundamental quebrar essa interrupção e dar continuidade ao percurso de forma a que o território não se desvaneça na zona do elevador.

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22 23 olho de boi _ arealva O plano que se propõe para recuperar a vivacidade do território, entre o Olho de Boi e a Quinta da Arealva, é composto por 3 ações de intervenção cujas altimetrias se relacionam, de forma consecutiva, desde o nível da água do rio. Pretende-se, assim, reorganizar e reabilitar a frente ribeirinha (a), restruturando o espaço público e valorizando o edificado existente; desenvolver um programa (b) que se relacione com o lugar, enaltecendo a singularidade das suas qualidades e criar um novo acesso (c) que reaproxime o Ginjal da cidade de Almada.

CIDADE

36.

A fraca qualidade do espaço público e a convivência frequente dos automóveis com as pessoas, ao longo do cais, tornam a deslocação pedonal difícil e fragmentada. Para resolver essa situação, propõe-se que a circulação automóvel ocorra numa zona mais recuada, junto ao muro que contém a arriba, e que o estacionamento se organize apenas através de zonas comuns. Deste modo, é possível libertar toda a zona marginal do cais para as pessoas, criando um novo percurso ribeirinho, de forma contínua e desimpedida, entre a Boca do Vento e a Quinta da Arealva. É essencial estimular a relação com a água para reaproximar o lugar do rio e da cidade de Lisboa. reestruturação da circulação viária 37. ideia geral da intervenção

A tipologia, o nível de degradação e o interesse histórico, aliados à reestruturação do espaço público, determinaram a subtração de algum do edificado existente. A adaptação dos edifícios às necessidades atuais torna-se inevitável para a receção de novas tipologias e programas. O Ginjal não poderá viver apenas do turismo ocasional de Lisboa pelo que, é fundamental integrar o território na rotina da(s) cidade(s). Para que a reativação do lugar seja eficaz, é necessário diversificar a oferta de usos entre habitação, espaços de trabalho, serviços e equipamentos públicos.

Ao mesmo tempo, importa que a memória naval e portuária, definidora da atmosfera local, seja explorada e valorizada. Assim sendo, é importante preservar o valor do extenso cais em pedra e servir o local com espaços de apoio às atividades náuticas e piscatórias. A aproximação das margens do Tejo e a ocupação do rio, insistentemente referidas ao longo deste trabalho, pelo fortalecimento a comunicação marítima com a cidade de Lisboa e o aproveitamento lúdico e recreativo do rio, são vitais para a regeneração do cais do Ginjal.

urbanoplano CIDADE b c a 35. perfil esquemático da proposta geral A reorganização da linha de costa perspectiva, através do desenvolvimento do espaço público, da valorização do cais e da criação de novos programas, devolver ao Ginjal a fruição do rio Tejo. Considerando as dificuldades relacionadas com a acessibilidade, a articulação entre a circulação rodoviária e pedonal é fundamental. É necessário que o desenvolvimento do lugar lhe conceda a capacidade de receber mais pessoas. Uma das razões pela qual o Ginjal não integra a dinâmica diária da cidade prende-se com o facto de se ter tornado um lugar de "ida e volta", apenas visitado pontualmente. É importante que o percurso pedonal ribeirinho seja fluido e acessível e que a estrada que liga Almada ao Olho de Boi tenha continuidade (hoje em dia , é uma via sem saída). Neste sentido, pretendese reestruturar a circulação viária, unindo o caminho que vem do Cristo Rei à estrada do Olho de Boi (fig.36), passando pela zona da Quinta da Arealva. Esta operação procura desbloquear o território, torná-lo num local de passagem mais frequente, aumentando a afluência e consequentemente, incentivando a permanência no lugar.

proteger, integrar Revelar o cais, implica expor um elemento que se encontra frágil e vulnerável às ações da água. Protegê-lo e integrálo torna-se uma condição necessária para a criação de um novo espaço ribeirinho. A zona entre a Fonte da Pipa e a Quinta da Arealva é o sítio onde o cais atinge a sua altura máxima, em relação ao nível da água do rio (quase sempre acima dos 3.00 m). Esse fator permitiu explorar a redefinição do limite entre a terra e o mar, imaginando um espaço intersticial que se desenha, a partir da tensão dos elementos existentes, entre o antigo cais e o rio. Sugere-se o desenvolvimento de um espaço de cota inferior ao cais existente. A solução que se propõe possibilita percorrer o território lado a lado com o antigo cais em pedra que o caracteriza. Tocar e sentir a textura, a materialidade e o desgaste do cais, permite compreender a sua história e observar os efeitos da passagem do tempo e da interação com a água. A nova plataforma controla a invasão da água no cais e o seu escoamento, preservando o cais antigo e protegendo-o da ondulação do rio. A construção original em pedra acaba por se tornar numa pequena "muralha" que, simultaneamente, separa e une dois tempos de intervenção, duas linhas de costa e duas vivências distintas. 41. esquiço inicial 42-47. vestígios do cais em pedra original - levantamento fotográfico

CIDADE 40. limite original do cais, Olho de Boi e Arealva 39. 1884 38. 1626

CIDADE

24 25 revelar A linha de costa do Ginjal é maioritariamente definida pelo limite do antigo cais em pedra. A sobreposição posterior de estruturas industriais e portuárias na zona marginal do Olho de Boi impedem uma relação, mais próxima, com o rio e a leitura desse mesmo cais.

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48. Cais do Carvão, Funchal (1990-1998). Gonçalo Byrne 49. Ribeira das Naus, Lisboa (2009-2014). Global A.P, PROAP "A arquitetura deste espaço consiste então, na contraposição de elementos fósseis com elementos contemporâneos, com o duplo sentido de revelação dos diversos tempos do mesmo lugar (cultura do espaço da cidade) e de ação na utilização do espaço público (circulação, permanência, contemplação, infraestrutura)." NUNES, João; SILVA, João Gomes da - Requalificação do espaço público da Ribeira das Naus. PROAP Janeiro 2009 FERNÁNDEZ, Borja - Carlo Scarpa, o arquiteto da água. Archdaily Dezembro 2018

A praça líquida que se desenha entre o Olho de Boi e a Arealva articula e lança a proposta de uma nova marina que tenciona estimular a prática de atividades náuticas, e fortalecer a comunicação marítima com a cidade de Lisboa. A marina é uma necessidade histórica e evidente do lugar. A sua estrutura, oferece espaço para pequenas embarcações e um pequeno terminal (junto da Quinta da Arealva) com capacidade para receber barcos de maiores dimensões e estabelecer novas rotas entre as margens do rio Tejo.

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O sistema rampeado da nova marginal permite compreender a ondulação do rio e sentir como a força, o ritmo e o som da água alteram a vivência do lugar. O limite do percurso ribeirinho é acompanhado por um pequeno banco que diferencia a área rampeada, junto da água e de maior permanência, da zona plana do percurso que se relaciona com o cais existente e se mantém inalterável, face às alterações do nível das águas do rio.

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26 27

Propõe-se que a nova frente ribeirinha do Ginjal também atue nesse sentido, tornando mais íntima a relação do cais e do corpo dos visitantes com à água do rio, recuperando a histórica ligação do território ao Tejo. Procura-se que a aproximação do lugar à água, estimule a criação de novas dinâmicas fluviais de modo a intensificar a comunicação entre as duas margens.

50-51. The Floating Piers, Christo e Jeanne-Claude Lago Iseo, Itália, 2016 Tenciona-se que a nova marginal dê continuidade à promenade ribeirinha, que vem desde a zona do elevador, e que as linhas precisas do seu desenho consigam, por oposição, evidenciar a irregularidade natural da costa e a sua relação com a água. A dimensão da plataforma procura dar algum desafogo à zona ribeirinha sem comprometer a relação com o antigo cais em pedra. Esse desafogo é pontuado por cinco edifícios térreos (espaços de comércio, restauração e apoio às atividades náuticas) que concedem vida a este espaço sem obstruir a vista do edificado existente e da marginal definida pelo cais original. Estes equipamentos tornam o percurso serpenteante e estimulam a interação com o antigo cais. A comunicação entre as duas cotas do cais faz-se, pontualmente, através dos elementos existentes (escadas) e por duas rampas que tornam o local acessível a todos.

“ [...] através dos detalhes, Scarpa constrói um universo de sensações, um espaço complexo por onde a água flui fazendo uso da luz e do som; um espaço onde não falta nada nem tampouco sobra, de modo que somente podemos compreendê-lo através do percurso e do movimento do nosso corpo.”

52-54. Carlos Prata, Molhes do Douro. Porto, 2005

A instalação The Floating Piers (Walking on Water) dos artistas Christo e Jeanne-Claude (fig.50-51) explora, ao extremo, o contacto com a água, a sensação oscilante da ondulação e a extensão do território, além dos seus limites.

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O tecido urbano do Ginjal encontra-se sufocado. A subtração de parte do edificado e a reestruturação do espaço público foi essencial para que o lugar ganhasse um novo folgo, conseguisse ser compreendido e permitisse a dinamização de novas atividades. As intervenções, acima referidas, que envolvem a Quinta da Arealva, a C.P.P e o Museu Naval, pretendem contribuir para o desenvolvimento de uma frente ribeirinha menos densa, que enalteça o contacto com o rio e revalorize os edifícios existente.

CIDADE CIDADE

água A frente ribeirinha que se propõe vive da dinâmica dos movimentos do rio. O espaço é determinado pelas diferentes fases da maré e redefine o limite entre a terra e a água, tornando-o oscilante e momentâneo. Procura-se explorar a interação entre o cais antigo, um novo elemento e a água. A condição "ativa" do espaço proposto gera novos e diferentes confrontos entre o Ginjal, o rio e a cidade de Lisboa. A água pode momentaneamente invadir o espaço e interagir com o nosso corpo. A perceção do elemento líquido, e do seu movimento intrínseco, suscita uma nova experiência sensorial e aproxima o homem do território. A água é o elemento de conexão que define a dimensão do espaço e envolve todos os elementos.

A zona da Quinta da Arealva foi limpa e reconfigurada. A pequena praça, que encerra o percurso que vem do Olho de Boi, procura evidenciar o conjunto edificado, libertando o espaço que o adianta, em relação ao rio, e desimpedindo a magnífica vista sobre Lisboa. Sendo a situação idêntica, tentou-se desobstruir a frente do extenso edifício da Companhia Portuguesa de Pesca (C.P.P.) e do atual Museu Naval de Almada, com o intuito de os reorientar para o rio e revalorizar a sua relação com o Tejo.

É também em redor da praça que se inicia o percurso que liga o território à cidade de Almada e se desenvolve uma zona de estacionamento subterrânea que procura retirar veículos do espaço público e servir de apoio ao programa que se desenvolverá na arriba.

A convivência do percurso pedonal com as vias rodoviárias, a fraca acessibilidade provocada pela inclinação do terreno e as más condições dos acessos que servem o território, são alguns dos problemas que surgem neste local.

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55. esquiço, perfil de intervenção

57. esquiço, praça Olho de Boi praça

CIDADE CIDADE

A reestruturação do espaço público interdita a circulação automóvel tanto na zona ribeirinha como na rua do Ginjal de modo a garantir a qualidade, o conforto e a continuidade da movimentação pedonal, desde a Fonte da Pipa à Quinta da Arealva. A mesma praça, assegura a comunicação entre as diferentes cotas do território.

Propõe-se a criação de uma 'praça de recepção' que organize o espaço público, distribua a circulação pedonal e rodoviária, estabeleça a comunicação com a cota ribeirinha e integre a nova estrutura de acesso à cidade de Almada.

Aqui, surgem a circulação rodoviária e as zonas de estacionamento. É também deste nível que parte o novo acesso à cidade de Almada. A definição dos patamares não se traduz, de forma alguma, na separação formal dos espaços, sendo vários os momentos em que se encontram. A facilidade e flexibilidade da comunicação entre os 3 níveis é crucial na definição da qualidade do espaço público e, consequentemente, na reativação eficaz do território.

um espaço, três níveis A zona do Olho de Boi é fortemente condicionada pela variação altimétrica do terreno. A reorganização da circulação viária, e a requalificação do espaço público foi um dos principais desafios do plano urbano.

O acesso ao nível ribeirinho faz-se por meio de um percurso rampeado que, ao longo da descida, vai ocultando todo o cenário envolvente. A certa altura, sem o avistar, é possível ouvir e sentir o rio. A dramatização do trajeto procura intensificar o momento em que se revela a perceção do rio e da cidade de Lisboa. A diferença de cotas entre a zona ribeirinha e a praça permitiu desenvolver um novo espaço de restauração, no nível inferior da praça, que tira proveito da situação privilegiada em que se encontra.

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O encontro entre a estrada do Olho de Boi, que vem de Almada, a Rua do Ginjal, que se inicia em Cacilhas, e os caminhos que servem o território, é um dos momentos críticos do projeto. A complexidade e a indefinição do espaço em que convergem as diferentes vias constituem um dos maiores obstáculos da área de intervenção.

Para garantir a fluidez da circulação pedonal e a qualidade do espaço público, definiram-se 3 patamares que estruturam grande parte da área de intervenção. A nova plataforma, que define o limite entre a terra e o rio, constitui o primeiro patamar. O seguinte é delineado pelo desenho do cais existente, Inicia-se na parte da frente do Museu Naval e termina na zona da Arealva, no encontro com o primeiro patamar. Ao nível superior pertence o espaço mais recuado do território, relativamente ao rio, entre a última linha de edifícios e o muro de contenção da Arriba.

56. interseção das vias de circulação, ponto crítico na organização do território

acesso O percurso une o tecido urbano da zona alta da cidade à cota ribeirinha do cais. A seleção do local onde se inicia, em Almada, tem enorme influência no impacto da intervenção. O lugar de onde parte o acesso tornou-se evidente.

Orientada na direção do rio, junto da Casa da Cerca, a rua Vila Campo de São Paulo, sem saída, é a solução ideal para a criação de um novo acesso à zona ribeirinha. Quebrando a barreira que a encerra, a ilusão de que a rua termina no plano de água torna-se interessante na aproximação do território ao rio e a Lisboa. A percepção infinita da rua desperta a curiosidade necessária para estimular a utilização do novo percurso, a ocupação da arriba e a comunicação entre o centro histórico de Almada e o cais do Ginjal.

60-62. rua Vila Campo de São Paulo, Almada percurso pedonal A vitalidade do Ginjal e do programa que se propõe depende, em grande parte, do bom relacionamento com a cidade de Almada e da qualidade dos acessos oferecidos. Neste sentido, propõe-se criar um percurso pedonal, assistido por meios mecânicos, que ligue a cota da falésia à cota do cais e sirva, ao mesmo tempo, de acesso ao edifício a desenvolver na arriba. A aparente violência da intervenção é justificada pela urgência de reanimar o tecido urbano existente e face a um diagnóstico crítico das acessibilidades do território. É essencial que o acesso ao Ginjal e ao novo programa se faça de forma rápida e descomplicada. Atualmente, o único local onde o cais comunica com Almada é na zona da Boca do vento, através do elevador ou de escadas. A multiplicação dos acessos à cota alta da cidade, ao longo do território, são necessários de modo a intensificar a mobilidade entre cotas e, assim, envolver o Ginjal na dinâmica diária da cidade. A criação de rotinas facilita e estimula a regeneração do território. A ocupação da cota intermédia da arriba faz parte da proposta geral de requalificação e procura atenuar a barreira que existe entre as cotas da cidade. A fruição da arriba, enquanto espaço habitável, através da fixação de novos programas ou do percurso que se propõe, tem um papel relevante na aproximação dos territórios. 58-59. percurso pedonal assistido de Montemor-o-Velho. Miguel Figueira, 2013

diálogo entre naturezas A integração de um elemento meramente funcional e mecânico, pode revelar-se surpreendente na relação que estabelece com território e na forma como pode ser percorrido, tornando-se, também ele, programa. A subtileza do diálogo entre a natureza do lugar e um sistema, totalmente produzido pelo homem, é essencial para a sua integração no território. Pretende-se que o ritmo do percurso seja variado, suscitando momentos de pausa, contemplação e de interação com os elementos naturais da arriba. As sucessivas mudanças de direção, além de procurarem vencer a inclinação do terreno, pretendem gerar uma composição diversa de vistas, de modo a combater a monotonia do trajeto e enriquecer a experiência do percurso.

urbanoplano CIDADE

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CIDADE

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• onsen - termo japonês para águas/ banhos termais; lugar típico destinado ao banho de relaxamento

programa •••

ARQUITETURA ARQUITETURA “

67. ilustração/recriação do ambiente das antigas termas romanas 63(esq.)-66. fotografias da série The Way of the Japanese Bath, Mark Edward Harris, 2009

A fraca vitalidade do território do Ginjal reclama a fixação de novas atividades ao longo da margem sul do rio. A par da requalificação do espaço público, da criação de novos acessos e da reabilitação e valorização do edificado existente, a constituição de novos conteúdos programáticos é determinante para a reposição da atratividade de toda a linha costeira, desde o Terminal de Cacilhas até à Quinta da Arealva. O surgimento de um novo acesso e um novo programa entre o Cais e a cidade de Almada confere vida à encosta e, por consequência, aproxima os dois Nterritórios.estesentido e seguindo a premissa do plano urbano, o projeto insiste na ideia de afirmação e consolidação de uma identidade própria do lugar – o genius loci • . A proposta pretende assumir o espaço morto que se encontra entre as 2 cidades, criando um programa que procura ser uma fuga ao ritmo do caos urbano e se dedica à saúde e ao bem-estar individual, físico e mental. Para isso, o projeto conjuga zonas de massagens, saunas, salas de relaxamento e repouso com espaços, maioritariamente, dedicados ao banho e à água. Um espaço balnear distinto que se caracteriza, essencialmente, pelo contexto natural em que se insere e pela percepção que oferece sobre Lisboa. Agora, mais do que nunca, a pressão e o ritmo da vida citadina provocam elevados níveis de desgaste, stress e ansiedade. Sugere-se um espaço que permita relaxar num ambiente livre da agitação diária e dos excessivos estímulos urbanos.

O programa adequa-se oportunamente à ausência de luz definida pela orientação solar do território. A penumbra tende a atenuar os impulsos sensoriais e contribui para a desaceleração de um espaço que procura induzir calma e serenidade. Procura-se uma arquitetura lenta que glorifique os poucos períodos de isolamento em que desligamos da vida da cidade, valorize o silêncio, a intimidade, explore a relação com a natureza e proporcione períodos de reflexão e introspeção. genius loci : termo que se refere ao espírito do lugar citações do Prof. Arq. João Pedro Falcão de Campos em aula, outubro 2016 O desejo de proporcionar o bem-estar é fundamental em toda a arquitetura, estabelecendo-se uma ligação física e espacial com as pessoas que irão habitar os edifícios o banho e a arquitetura

32 33 o programa e o espírito do lugar – genius loci

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“A arquitetura deve proteger-nos do mundo incerto e acelerado em que vivemos, numa exposição, ruído e comunicação excessivas. Deve promover a serenidade e o silêncio de forma a propiciar o reencontro com o nosso eu.”

A série fotográfica The Way Of The Japanese Bath de Mark Edward Harris constitui uma das referências iniciais do projeto e torna-se essencial na descoberta e definição do programa. A série revela a intimidade da cultura do banho japonês e a força da relação que estabelecem com a natureza. As fotografias demonstram vários espaços e formas de interagir com a água. O banho termal é uma prática comum do quotidiano japonês e é considerado um escape à sua vida agitada e stressante. O ambiente dos onsen • procura ser calmo e sereno, é o momento do dia em que os japoneses desaceleram e que, usualmente, dedicam à meditação. As atmosferas que caracterizam este ambiente e o modo como se relacionam, nomeadamente, com a paisagem, aproximam-se do foco da proposta e do que se pretende com os banhos. Os romanos transformaram o banho num acontecimento com tempo e lugar próprio, as termas públicas permitiram que qualquer pessoa pudesse desfrutar dos prazeres relaxantes do banho. Nesse tempo, o conceito do banho era distinto e incluía outras atividades como saunas, massagens e terapias de relaxamento. O projeto tenciona recuperar também essa noção mais ampla do banho, explorando, em espaços dedicados, diferentes estados físicos da água. A A ideia procura reinterpretar, de certo modo, a organização tradicional de uma terma romana e corresponder os momentos do apodyterium, laconicum, sudatorium, tepidarium, o frigidarium e caldarium aos diferentes espaços do programa. Comparativamente, o projeto coincide em grande parte na sua finalidade, embora estimule mais o momento individual. Além de conceber um espaço para a água, cria condições que possibilitem a qualquer pessoa, desligar-se da vida citadina, conectar-se com a natureza e contemplar Lisboa num ambiente íntimo e relaxante.

Apenas o controlo adequado, do movimento e do equilíbrio da luz e da sombra permite criar atmosferas e espaços com significado e relevância.

O silêncio da sombra, quase constante, que a arriba produz, desacelera o lugar, confere-lhe calma e uma certa melancolia que estimula a contemplação da envolvente em que está inserido. O programa que se propõe pretende realçar essa mesma qualidade do lugar, promovendo momentos de reflexão, introduzidos pelo desenho dos espaços e aprofundados pelas propriedades relaxantes da água.

“Mas quando fecho os olhos [...] , o que resta é uma impressão diferente, um sentimento mais profundo - a consciência do tempo a passar e das vidas humanas que foram representadas nesses lugares, carregando-os com uma aura especial. Nesses momentos, os valores estéticos e práticos da arquitetura, o significado estilístico e histórico são de importância secundária.”

investigação

A procura pelo equilíbrio constitui grande parte do exercício, é através dele que o programa propõem oferecer um momento de serenidade e reflexão individual, distante dos problemas da vida diária e do ruído urbano em redor. 68-69. imagens de processo, exploração atmosférica PALLASMAA, Juhani - Eyes of the Skin. 3ª ed: Wiley & Sons Inc, 2012 ZUMTHOR, Peter - Thinking Architecture. Basel Birkhauser, 2010, pp. 25-26 (tradução livre) PALLASMA, Juhani - Essências 1ª ed. Lisboa : Gustavo Gili, 2018

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sombra Se na leitura do lugar se referiu a importância do vazio em relação ao cheio, aqui, reflete-se sobre o valor da sombra, em relação à luz, na definição do espaço e enquanto elemento precursor do silêncio. No mundo ocidental considera-se, correntemente, que a beleza de um espaço está associada à sua boa iluminação. No entanto, a abundância de luz num espaço não lhe confere, necessariamente, valor ou qualidade. No oriente, mais concretamente no Japão, acredita-se que o “essencial está na sombra” • . A sombra faz parte da conceção tradicional de beleza deste povo que explora bastante os seus efeitos e o espaço ambíguo onde a luz e a sombra se confundem. Não é a quantidade luz que torna um espaço interessante, mas sim a sua manipulação, a sua qualidade.

A orientação geográfica e a topografia do território do Ginjal compõem um ambiente com características únicas.

TANIZAKI, Junichirō - Elogio da Sombra. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2008• 72. cena de Macbeth de Joel Coen (2021), Stefan Dechant70. Indian Institute of Management (1974), Louis Khan 71. território de intervenção, sombra

Fechando os olhos, o que resta é a sensação. É este "sentimento mais profundo" que preenche e caracteriza a atmosfera de um lugar. A atmosfera é um atributo moldado pela reação corporal e emocional às qualidades sensoriais que um espaço emite. Pallasmaa relembra que as experiências tocantes da arquitetura resultam, exatamente, dessa interação entre o corpo e o espaço através de "memórias e significados bioculturais e pré-conscientes"•••. O edifício que se propõe existe com a pretensão de se relacionar com o corpo de quem o ocupa, aproximando-o do lugar onde está inserido de forma a proporcionar uma experiência que dure no tempo e que marque pela sua presença e identidade sensorial. Essa identidade que se pretende investigar apenas se atinge manipulando, de forma coerente, os vários constituintes do espaço arquitetónico. A luz, o som, as proporções, o ar, os materiais, as texturas, a temperatura, os objetos, a escala, ... são alguns dos elementos que, em harmonia, permitem produzir uma atmosfera arquitetónica.

ARQUITETURA ARQUITETURA

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34 35 o desenho da atmosfera O projeto explora a ideia de regressar ao elementar, estimulando a experiência sensorial dos espaços no seu sentido mais primitivo. O despertar dos sentidos, pelo desenho e estudo das atmosferas, como elemento central de concepção do espaço, foi o processo que orientou fase inicial do trabalho. Ambiciona-se desenvolver uma solução pelo imaginar das sensações que vão ser vividas, defendendo a "forma multissensorial de projetar arquitetura"• que J. Pallasmaa propõe, criticando a prevalência atual do sentido da visão: limitar a arquitetura ao olhar é empobrecer a conceção e a experiência do espaço construído.

“Aqui o tempo abranda. Este é um lugar que ajuda a pensar, a refletir.” • Eduardo Souto de Moura

77. Anta de Pendilhe. V. N.de Paiva, 2900-2640 a.C.76. Templo Hagar Qim. Malta, 3600-3200 a.C.

A cidadela inca Macchu Pichu no Peru, embora mais recente, também é um bom exemplo de uma arquitetura transparente no sentido em que é possível assimilar com clareza como os muros se sustentam, observando o desenho e o encaixe das pedras. Apesar do aspecto exterior "seco" e simples, o interior do conjunto edificado está repleto de significados e detalhes, nomeadamente, no que diz respeito ao controlo da luz, das vistas e da água. Os vãos oferecem vistas panorâmicas e estão minuciosamente alinhados com o caminho dos astros. O percurso das águas está pensado ao pormenor (fig.79). A força da simplicidade é reveladora do lugar e um objetivo do projeto. 78-79. pormenores construtivos (caleira) 80-81. Eduardo Souto de Moura, Pavilhão da Santa Sé, 2018

ARQUITETURA ARQUITETURA o peso dos elementos A forma dos elementos e o modo como pousam na paisagem compõem a primeira sensação transmitida por uma construção. É a partir desse instante que se começa a entender o edifício e a imaginar o habitar do seu interior. O ambiente desacelerado que o programa sugere que persegue a ideia de regressar ao primitivo, a uma arquitetura onde se compreende o peso dos elementos que a compõem e a forma como se relacionam entre si.

A atmosfera interior do edifício, o contraste com o ambiente exterior, a textura orgânica dos materiais, a finalidade do programa, o espaço envolvente e a forma como a crueza da construção humana se funde com os elementos naturais da paisagem, refletem muito do que se imagina com a proposta desenhada para o Ginjal. Neste caso, pretende-se que o abrandar do ritmo frenético da vida urbana, instigado pelo desenho do espaço e potenciado pela situação excepcional do território, proporcione um momento singular de reencontro e serenidade. 73-75. Convento dos Capuchos, 1560. Sintra, Portugal.

A sua simplicidade permite entender como se apoiam os elementos que formam o seu corpo. São estruturas que impressionam pela beleza da rudimentaridade dos sistemas que as erguem.

36 37 PARQUES DE SINTRA - Monumentos: Convento dos Capuchos, uma ode à simplicidade• silêncio

O ambiente que enquadra o Convento dos Capuchos, na Serra de Sintra, expõe várias intenções do projeto. O convento franciscano destaca-se pela simplicidade, pelo estilo despojado da construção e pela forte interação que estabelece com a natureza. O silêncio ensurdecedor dos corredores, o despojamento, a ausência de luxo e conforto do edifício, representam bem o clima de sobrevivência e penitência em que os frades viviam. O lugar dedicava-se essencialmente às práticas da contemplação e da reflexão espiritual. Para criar um ambiente intenso de escuridão, que apele à introspeção, muitos dos revestimentos à base de cal, são alterados pela adição de carvão.

investigação

Os monumentos megalíticos são construções que se pensa compreender no seu todo, de forma quase imediata.

Na capela desenhada por Eduardo Souto de Moura para a Bienal de Veneza de 2018, ressurge a ideia primária da construção arquitetónica. A simplicidade da forma como pousam os blocos de pedra que desenham o espaço interior da capela introduzem a lentidão e calma que este programa exige. O regresso ao processo elementar contribui para a desconexão temporal e estimula a sensação de paz e a espiritualidade que o espaço pretende atingir. cit. por SALEMA, Isabel - Souto de Moura fez uma capela para o Vaticano e tocou o transcendente. Público, Maio 2018•

A construção materializa a filosofia e os ideais dos franciscanos, a procura do aperfeiçoamento espiritual através do afastamento do mundo exterior. Ainda que o propósito seja distinto, o programa que se sugere, coincide na ambição de desconexão, temporal e sensorial, da realidade diária.

O edifício, parcialmente enterrado, introduz um ambiente mais escuro, sombrio e silencioso do que o exterior, criando a sensação de abrigo e um espaço de proteção e conforto. Ainda que a ausência de estímulos assinale a chegada, as diferentes atmosferas dos espaços interiores proporcionam novas, variadas e surpreendentes experiências ao longo do percurso do edifício, através da manipulação da luz, da sombra, da temperatura, da humidade, dos materiais, do som, das texturas e dos objetos.

O enquadramento do edifício, nomeadamente a orientação da entrada, de encontro à arriba, a ausência de contacto visual com o exterior e a repentina ausência de luz remontam, instintivamente, à experiência espacial que se vive no ingresso a uma gruta ou caverna. O momento de chegada é configurado pela surpresa da imersão numa atmosfera subterrânea, completamente distinta da que a antecede, provocando um choque sensorial ao visitante, com a intenção de preparar e potenciar, ao máximo, as experiências seguintes do programa.

83. Cava Arcari, 2018. Zovencedo, Itália. David Chipperfield Architects a experiência e o lugar A localização do edifício surge de forma natural, considerando o desenvolvimento do plano urbano e as características do programa. O edifício desenvolve-se, integrado na arriba, entre o cais e a cidade, em articulação com o novo acesso, num espaço recolhido e protegido do vento e do ruído pela concavidade da escarpa. Pretende-se enquadrar a construção na natureza, sem desejo de a conquistar. Os diferentes volumes do edifício escalam suavemente a arriba e assumem a topografia natural do território sem pretensão de a manipular ou controlar de forma violenta. A vegetação é um elemento fundamental não só na definição do lugar, como na garantia da estabilidade do talude. É ela que, de forma subtil, vai permitindo a consolidação da escarpa.

38 39 edifício 82. Acrópole de Atenas (alçado oeste), Grécia

ARQUITETURA ARQUITETURA

A entrada principal do edifício surge no primeiro piso, juntamente com a recepção. Uma pequena zona de espera recebe os visitantes que são, posteriormente, encaminhados para os vestiários. Também aqui se organizam a área administrativa e algumas zonas de serviço, destinadas aos funcionários e à manutenção do edifício (lavandaria, copa, i.s., elevador de serviço, arrumos e instalações).

entrada A experiência de um espaço arquitetónico é fortemente influenciada pela forma como lhe acedemos. A transição do exterior para o interior do edifício formaliza-se, intencionalmente, a meio da arriba, na presença e em contacto com os elementos naturais da paisagem. O impacto inicial do edifício define-se pela compreensão da relação que a construção estabelece com território natural em que se insere.

A proposta persegue uma ideia basilar da arquitetura, a procura por um lugar de proteção, abrigo e permanência. Projeta-se um edifício de "resistência ao tempo", um espaço onde a lentidão e a serenidade intentam contrariar o ritmo urbano do exterior. O ritmo lento do programa tenciona despertar sentidos e sensações pouco estimuladas pela vida da cidade. Explora-se a relação estreita entre o homem e o espaço que o envolve. Pretende-se que a simplicidade da solução arquitetónica e construtiva permita a compreensão da mecânica do edifício, a perceção do peso dos elementos e da forma como estes pousam ou se apoiam entre si. Simultaneamente, valorizam-se os elementos primitivos do espaço de modo a evidenciar as propriedades dos materiais que compõem o espaço e a atmosfera do edifício.

O projeto desenvolve-se, de forma ascendente, pela arriba. A composição do edifício resulta da sequência hierárquica de acontecimentos que organiza e define os diferentes espaços do programa. O nível de revelação da envolvente também se desenvolve em crescendo até ao último piso. O contacto com o exterior, nulo num primeiro momento, aumenta progressivamente até ao fim da experiência, onde nada fica por desvendar e há percepção plena do entorno do edificado. É no topo do edifício, no local mais privilegiado, que se encontra o espaço superior da proposta, inteiramente dedicado ao banho e à água. Os restantes espaços sustentam o programa e atuam crucialmente na transição e na preparação da experiência "maior". São eles que, ao longo do percurso, constroem o cenário que, através da atenuação dos impulsos sensoriais, visuais e sonoros, desvincula o visitante do mundo exterior.

As linhas geométricas simples e precisas opõem-se à irregularidade e complexidade da arriba, evidenciando-a. As diversas orientações dos volumes procuram maximizar as vistas e oferecer diferentes perspetivas do rio Tejo, da cidade de Lisboa, do Ginjal e inclusive, do entorno natural da própria escarpa.

ARQUITETURA ARQUITETURA

A configuração e disposição das várias cabines tornam os vestiários numa espécie de filtro de transição que determina o fim e o início da “viagem”. A troca de roupa e o duche são uma fase importante da experiência. É a partir desse instante que o estado do corpo sofre uma mudança significativa. As cabines, individuais, procuram tornar a experiência íntima e pessoal explorando, desde logo, o confronto do visitante com o seu próprio corpo. Neste sentido, a linearidade e unidirecionalidade dos estreitos corredores, que distribuem os vestiários, têm também o seu papel na individualização do percurso e da experiência. A penumbra do espaço, revestida pelo vapor dos duches, torna a atmosfera intrigante e tranquilizante.

O poder relaxante das saunas (secas ou húmidas) deve-se à ativação da circulação do sangue e da sudação provocada pela exposição do corpo a altas temperaturas ou a altos níveis de humidade, no caso do banho turco. A abertura dos poros e a sudação associada ao aumento de circulação, além de atuarem na desintoxicação do organismo e na limpeza da pele, livrando-a de impurezas, contribuem para o relaxamento muscular e para a eliminação da tensão e do stress do quotidiano urbano, dois objetivos claros da proposta.

vestiários _ apodyterium Os vestiários operam como antecâmara dos espaços principais da proposta. Juntamente com a zona da entrada, os espaços de circulação, o bengaleiro e as instalações sanitárias, os vestiários completam o primeiro piso do edifício e reiteram o papel fundamental que têm na preparação da experiência e na transição entre o mundo exterior e o programa dos pisos seguintes. Por corresponderem a momentos distintos, decide-se separar, de forma clara, os percursos de entrada e saída do edifício. Os visitantes apenas se encontram antes ou depois da passagem pelo bengaleiro, em idêntico estado de nudez. Desta maneira, é possível garantir o conforto e a privacidade dos visitantes, essencial para o carácter programático do edifício.

A natureza do programa não exige uma sequência precisa de acontecimentos. Neste sentido, pretende-se, em oposição à organização funcional do piso anterior, explorar o carácter deambulatório do espaço. As salas distribuemse pelos limites da construção e organizam-se em torno de um leve plano de água. O amplo espaço central faz com que o visitante percorra livremente o edifício, à descoberta de novos espaços e experiências. Procura-se que cada zona do programa estimule uma sensação única e distinta ao visitante. Os espaços oferecem, todos eles, perspetivas diferentes do território. As aberturas do edifício tencionam aproveitar, ao máximo, a situação privilegiada do edifício destacando a relação com o rio, a vista sobre Lisboa e o contacto com os elementos naturais da arriba.

As saunas, as massagens e as atmosferas compostas pelo desenho dos espaços, ambicionam afastar o visitante dos problemas do mundo exterior de modo a que consiga usufruir de um momento de serenidade e tranquilidade.

saunas, massagens, repouso _ laconicum, sudatorium

Na zona do espelho de água, localiza-se um bebedouro que pretende repor os líquidos perdidos durante a utilização das saunas e dos banhos a vapor. Também em redor do espaço, vão surgindo espaços de repouso e alguns duches que complementam a experiência das saunas e das massagens. Além da componente higiénica, de eliminação das toxinas, o duche frio tem o papel de refrescar e revitalizar o corpo, intensificando o efeito relaxante das saunas.

40 41 edifício

86. sauna, Castell dels Hams. Maiorca, Espanha A2arquitectos, 2011 87. hammam, Café Royal. Akasha, Londres David Chipperfield, 2013

O segundo piso do edifício dedica-se, essencialmente, às zonas 'secas' do programa. É neste momento que surgem as saunas, os banhos de vapor (banho turco) e as salas de massagens, repouso e relaxamento.

Após o trajeto pelos vestiários, o visitante passa pelo bengaleiro, desfazendo-se dos pertences que o vinculam ao quotidiano citadino. Pretende-se que o corpo se vá desligando da rotina e comece a relaxar, perdendo, parcial e gradualmente, a noção do tempo. O percurso de entrada e acesso ao segundo piso, permanece sem contacto visual com o exterior e, aos poucos, é possível escutar a água, muito antes de a ver. O desenho modesto e rigoroso das escadas procura dar destaque à descoberta do espaço seguinte. O caminho de saída perde todo o mistério pois, nessa altura, já tudo foi revelado. É um momento leve, de desafogo, de regresso ao mundo real A simplicidade da construção torna perceptível a forma como se apoiam os elementos e os volumes do edifício. Estruturalmente, são as cabines que, atuando como pilares (fig.85), sustentam a laje de cobertura e tornam possível o vão que acompanha o percurso de saída do edifício. 84. Piscina das Marés (1966), Álvaro Siza Vieira 85. escultura, Carl Andre

Os tanques apresentam valências distintas, através da variação da temperatura, da cor, da materialidade e da forma como a água interage com o corpo. Ao mesmo tempo, a manipulação da luz e da escala dos espaços em que os banhos estão inseridos, contribui ativamente para a exploração e estimulação de sensações distintas.

89. Amangiri Resort Spa Utah, EUA. Studio Rick Joy, 2008 restaurante A criação de um novo programa não garante, por si só ou pela sua tipologia, a atividade necessária para a arriba.

A comunicação entre Almada velha e a zona do Olho de Boi é fundamental para a reativação do território. Neste sentido, foi desenvolvido um espaço de restauração que, devido ao seu carácter público e social, estimula a ocupação da arriba e dinamiza, em conjunto com os novos acessos, a relação entre as duas cotas da cidade.

O espaço procura envolver-se na topografia, relacionar-se com a falésia e usufruir da situação privilegiada em que se encontra, valorizando a contemplação do rio Tejo e da cidade de Lisboa.

Peter Zumthor 88. Termas de Pedras Salgadas Chaves, Portugal. Álvaro Siza, 2009 cit. por SOUZA, Eduardo - Termas de Vals pelas lentes de Fernando Guerra Archdaily, Outubro 2016•

A entrada faz-se pelos “bastidores” do restaurante, há um primeiro momento de afunilamento que pretende dar força ao momento seguinte de contemplação da vista. No interior do espaço formam-se dois patamares que procuram oferecer alguma privacidade ao espaço de refeição e possibilitar a vista desafogada sobre a Lisboa. Este piso, mais formal, dedica-se, essencialmente, às refeições principais. No piso inferior, surge um ambiente mais descontraído, uma zona de estar confortável e um espaço exterior que tira proveito do contexto natural que o rodeia. A zona de confecção, armazenamento e serviço é comum aos dois pisos, facilitando a comunicação e o atendimento.

90-91. Casa de Chá da Boa Nova (1959 - 1963) Leça da Palmeira, Portugal. Álvaro Siza Vieira

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ARQUITETURA ARQUITETURA

O último nível do programa dá lugar aos espaços de banho exteriores. Também estruturado pelo desenho do pátio do piso inferior, o quarto piso tenciona relacionar-se ao máximo com o território, aproximando, inclusivamente, as piscinas dos elementos vegetais da arriba e desimpedindo excepcionalmente a percepção integral da paisagem Oenvolvente.conteúdo programático destes pisos baseia-se na fruição das propriedades relaxantes e terapêuticas da água de modo a proporcionar bem-estar, físico e mental. “ [...] banhar-se é um ritual quase místico, de limpeza e relaxamento [...]. Passa-se por uma mudança ao tirar as rou pas do dia a dia para entrar num mundo novo, de pedra e de água em distintas temperaturas, de luzes, efeitos acústicos e superfícies diferentes, sentidas na pele. Formalmente, tudo é simples e essencial.

A proposta reúne piscinas para banhos de imersão, a várias temperaturas, e alguns mecanismos de hidromassagem (banheiras, jatos e duches). Mais uma vez, a temperatura tem um papel crucial na experiência dos diferentes banhos, conjugando os efeitos salutares de diversas práticas termais e promovendo o alívio do stress e um momento importante de descanso e relaxamento corporal.

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banhos _ tepidarium, frigidarium, caldarium Os últimos dois pisos integram a zona húmida do programa e dão, finalmente, lugar à água, enquanto elemento líquido. É aqui que se exploram as potencialidades do banho e da água, em diversas formas e temperaturas. A prática do termalismo decorre da necessidade do homem de estar em contacto com a natureza. A água e a luz são dois elementos fundamentais da vida humana. Além do seu papel funcional, têm uma dimensão simbólica superior, espiritual e cultural. Neste ambiente, a água é o elemento chave na interação entre o espaço e o corpo. A experiência espacial é determinada pela forma como se manipula e incorpora a água no desenho do espaço. A natureza exploratória do piso anterior mantém-se, potenciando a deambulação livre pelas diferentes zonas do programa. A água é o elemento de ligação entre os vários espaços. No acesso ao último piso, a sobriedade e a rigidez do percurso volta a desempenhar um papel fundamental na transição entre experiências, evidenciando a amplitude e a liberdade do espaço. No terceiro piso, predominam os banhos interiores e o foco situa-se, essencialmente, na vista sobre o rio e Lisboa, e na relação do visitante com o corpo e o espaço. Um pátio central ilumina o interior do edifício, organiza a circulação e define, com a piscina principal, a disposição dos restantes espaços de banho comum e individual.

Ainda que a aparente robustez do exterior da construção marque a primeira impressão do edifício, a forma como os materiais se adaptam e a luz penetra pontualmente o espaço interior, reforça a ideia de refúgio e evidencia o ambiente protegido e reconfortante que se propõe. citação de Eduardo Souto Moura no programa Primeira Pessoa RTP - Primeiro ano, episódio 7. 11 de Outubro 2021

A espessura, significativa, da laje da cobertura, em betão armado, visa responder a várias exigências técnicas do programa como a extração de vapor e humidade do interior do espaço.

O edifício constrói-se, no essencial, com pedra calcária e betão, pigmentado com a adição de agregados naturais do local (fig.92). Estes materiais tendem, ao longo dos anos, a evidenciar a própria passagem do tempo, adquirindo tonalidades muito próprias e, por vezes, incorporando alguns elementos vegetais da paisagem na camada exterior da construção. Essa característica peculiar é relevante para o projeto pois, intencionalmente, a construção vai perdendo artificialidade e, aos poucos, o edifício começará a relacionar-se com os tons da escarpa e a pertencer à paisagem natural do lugar.

Além do seu valor estético e cultural, a pedra apresenta bom desempenho acústico e grande inércia térmica, dois factores determinantes para o programa que se propõe. O bom isolamento dos ruídos aéreos, nomeadamente, dos provenientes do rio e da ponte 25 de abril, é fundamental para o conforto e para a sensação de tranquilidade que se quer estabelecer no interior do edifício.

O sistema de construção da fachada, em pano duplo, permite a ventilação natural e contínua do ambiente, assegurando a renovação frequente do ar e boas condições de higiene e salubridade. Face às características geográficas do Ginjal, esta solução permite ainda, garantir alguma estanqueidade à água, prevenindo infiltrações e controlando a água da chuva. O arejamento da parede evita a humidade e a condensação da fachada, conseguindo maior isolamento e conforto térmico. Para além disso, contribui para o desempenho acústico do edifício, um fator importante para o contexto ruidoso do território.

A natureza dos materiais tornou-se essencial para a expressão elementar da ideia arquitetónica do projeto. A elementaridade da proposta reflete-se, de forma evidente, na opção pelos materiais e no sistema construtivo.

ARQUITETURA ARQUITETURA materialidade

O projeto pretende explorar o carácter atemporal da pedra natural, recorrendo à sensação de peso e durabilidade que o material transmite. É clara a capacidade que as pedras têm de resistir ao tempo e de se integrar na paisagem. São elementos que se transformam ao longo do tempo, consoante o lugar em que se encontram. " [...] eu acho que as pedras são organismos vivos."

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92. amostras de betão 93. Pedra de Vicenza, capela Bienal de Veneza (2018). Souto de Moura 96-97. Musical Studies Center, Santiago de Compostela (2003). Ensamble Studio

94-95. Restaurante Mestizo, Santiado do Chile (2007). Smiljan Radic interiorrelação / exterior materialidadetexturaentrediálogoelementose

Procura-se dar a entender o modo como a estrutura se comporta e como as partes do edifício interagem, destacando, a partir do seu desenho, o encontro entre os elementos verticais da construção e os planos horizontais do edifício.

A solução construtiva permite também, explorar diferentes texturas e materiais nos dois panos da parede, de modo a evidenciar o contraste entre o ambiente exterior e interior do programa. Enquanto no exterior do edifício se procura alguma rugosidade, no interior pretende-se, através de texturas mais delicadas e materiais confortáveis ao toque, garantir a comodidade do visitante.

O projeto equilibra a funcionalidade, das infraestruturas e do edificado, e a harmonia dos espaços que se (re) desenham, de modo a que a zona de intervenção se torne operacional e acessível, sem comprometer a essência e atmosfera do lugar.

O exercício permitiu, em simultâneo, investigar e aprender sobre temas e matérias, aparentemente secundárias, que se tornaram essenciais na abordagem ao lugar e ao programa proposto. Desde a exploração das atmosferas e dos sentidos no desenho do espaço, ao estudo da relação entre a sombra e o silêncio, à compreensão do papel e dos efeitos do banho no corpo humano, ao reconhecimento dos processos elementares na arquitetura e à descoberta da materialidade e da solução construtiva, o trabalho de investigação conduziu decisivamente a conceção da proposta.

Ambiciona-se que as ideias que sustentam o projeto perdurem no tempo e influenciem positivamente a forma como o território será pensado e entendido. Procurou-se, por isso, pensar na continuidade do processo e, desta forma, orientar futuras intervenções que surjam ao longo do cais do Ginjal.

O projeto e o programa que se propõem para o Ginjal foram desenvolvidos com o objetivo de criar espaços com um significado maior do que o meramente visual, que valorizem o tempo, que se aproximem do homem e se conectem com a identidade do lugar e a natureza do território. A arquitetura, pensada de forma cuidada, tem a capacidade de influenciar o nosso comportamento e a nossa experiência, deixando um impacto duradouro. chegada ao Cais do Ginjal, Lisboa ao Fundo (1930-1940)

Procurou-se compreender e potenciar as qualidades do lugar sem transformar a sua essência nem generalizar o território. Neste sentido, a solução urbana que se apresenta, protege e integra o cais, salvaguardando a identidade ribeirinha do local; reabilita o espaço público, recuperando o edificado existente e propondo uma nova estrutura de circulação pedonal e rodoviária; reaproxima o território da cidade de Almada, dotando-o de novos e melhores acessos; estimula a exploração do rio Tejo como meio de comunicação entre as margens, estabelecendo uma marina e possibilitando a constituição de novas dinâmicas fluviais entre o lugar e a cidade de Lisboa.

O trabalho acaba por refletir, no essencial, uma maneira de ler e abordar o território, uma perspetiva em relação ao impacto da vida urbana, e um modo de pensar o desenho do espaço e entender o papel da arquitetura.

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O trabalho permitiu explorar a noção de temporalidade arquitetónica no desenho do espaço. Sobrepondo diferentes espaços temporais, na requalificação do Cais e da marginal, ou propondo um programa que contrarie o ritmo frenético da cidade, a relação entre o tempo e a arquitetura esteve, inevitavelmente, presente no desenvolvimento do Emexercício.vezdeevitar o 'terror do tempo', podemos e devemos utilizar ativamente a temporalidade na prática espacial de maneira a criar arquiteturas profundamente significativas de lugar, pessoas e memória. A arquitetura tem a capacidade de influenciar o modo como antecipamos e respondemos ao curso do tempo. O movimento e a permanência no espaço constituem dois dos elementos base do desenho arquitetónico. Torna-se fascinante a forma como uma simples ação, alterando um certo movimento ou percurso, influencia a experiência de um determinado espaço, no tempo.

46 47 conclusão

[...] a prática da arquitetura tem adotado a estratégia psicológica da publicidade e da persuasão instantânea; as edificações tornaram-se produtos visuais desconectados da profundidade existencial e da sinceridade" •

O desenho da arquitetura do novo edifício tencionou adaptar-se às circunstâncias, enquadrando-se na natureza, acolhendo as adversidades geográficas e os desafios da topografia com a finalidade de assumir e respeitar a essência do lugar.

O projeto nasce da necessidade explícita de reativação de um território em declínio e desenha-se a partir das exigências nítidas do lugar e do programa. Foi fundamental construir ideias claras, antes de passar às formas e ao trabalho prático.

A insuficiente exploração do rio Tejo, a comunicação limitada entre as margens e a falta de planeamento, nomeadamente político, na articulação económica do Cais do Ginjal com a cidade de Lisboa, demonstraram ser alguns dos principais entraves ao desenvolvimento do território, após a construção da ponte 25 de abril. O abandono consequente do lugar, fixado pela dificuldade em estabelecer relações com a cidade de Almada, levou à degradação generalizada do território.

PALLASMAA, Juhani - Eyes of the Skin. 3ª ed: Wiley & Sons Inc, 2012 pp.29• 98.

A compreensão do lugar foi determinante para a definição da ideia urbana e arquitetónica do projeto. A aproximação sensorial ao território sustentou o desenvolvimento das bases que orientaram tanto a estratégia urbana como a proposta do novo programa. As condicionantes topográficas marcaram manifestamente a elaboração de toda a proposta. O estabelecimento de ligações entre as diferentes cotas da cidade e a estruturação da circulação, garantindo a funcionalidade, a organização e a qualidade do espaço público, constituiu-se como um desafio. A intenção de encastrar um edifício na arriba, sem comprometer a sua naturalidade, gerou complexidade no desenvolvimento do exercício, em particular, no desenho dos espaços, na configuração da circulação interna do edifício e na manipulação da revelação ou ocultação dos volumes construídos na paisagem.

Este exercício procurou explorar formas de projetar que tornem a arquitetura mais experiencial e humana. Existiu, ao longo do desenvolvimento do projeto, a tentativa de reposicionar o corpo e a sensibilidade do ser humano de volta ao centro da arquitetura. Pretendeu-se estimular a procura constante pela natureza fundamental da arquitetura, relembrando sempre o seu papel na melhoria da qualidade de vida das pessoas.

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Google Earth - fotografia aérea NiT - https://www.nit.pt/fora-de-casa/na-cidade/cais-do-ginjal-vai-renascer-restaurantes-artes-casas Google Maps Luís Eme, Casário do Ginjal - http://casariodoginjal.blogspot.com João Paulo Ferreira, Flickr - https://www.flickr.com/photos/jp_ferreira/albums/with/72157664091964204 CiberSul - https://www.cibersul.org/o-ginjal-antigo-e-os-seus-restaurantes/ginjal004/ Gonzaga Pereira, Almada Virtual Museum, Museu de Lisboa - https://almada-virtual-museum.blogspot. com/2021/01/?m=0 Manuel Lages (composição). Fotografia aérea - Google Earth 26-28 João Moreira; Manuel Lages (composição). Fotografias -Manuel Lages 29 Manuel Lages (composição). Fotografia aérea - Google Earth Lisbon weather - https://bestlisbonweather.blogspot.com/2019/10/ponto-final-lisbon-menu.html Manuel Lages (composição). Fotografia aérea - Google Earth 32 Ana Baião, Expresso - https://expresso.pt/economia/2017-09-30-Savoy-estuda-hotel-na-margem-sul-do-Tejo Earth - fotografia aérea Amadeu Ferrari, Arquivo Municipal de Lisboa - Almada Virtual Museum - https://almada-virtual-museum. Manuel Lages, desenho (caneta) Manuel Lages (composição). Google Earth - fotografia aérea Manuel Lages, desenho (caneta) C.M. Almada - Carta Marítima 1626 C.M. Almada, Biblioteca Nacional de Portugal - Plano Pormenor Cais do Ginjal, 1884 Manuel Lages (composição). Google Earth - fotografia aérea Manuel Lages, esquiço (caneta) Manuel Lages, levantamento fotográfico Manuel Costa Alves, Gonçalo Byrne Arquitectos - https://www.goncalobyrnearquitectos.com/cais-docarvao-home NewsBeezer - https://newsbeezer.com/portugaleng/ribeira-das-naus-will-remain-pedestrians-and-cyclistson-sundays/ Mi Chenxing, Christo. Divisarewolfgang-volz-mi-chenxing-the-floating-piershttps://divisare.com/projects/320392-christo-and-jeanne-claudeJoão Ferrand, Carlos Prata Arquitetos - https://cprataarquitetos.com/portfolio/molhes-do-douro/?lang=en Manuel Lages, desenho (caneta) Manuel Lages (composição). Google Earth - fotografia aérea Manuel Lages, desenho (caneta) Márcio Oliveira, Habitar Portugalassistido-de-montemor-o-velho-miguel-figueira-dpucmmv-2009-2013-montemor-o-velho/http://www.habitarportugal.org/PT/projecto/percurso-pedonalManuel Lages (composição). Google Earth - fotografias Mark Edward Harris - https://www.markedwardharris.com/the-way-of-the-japanese-bath Pedro Weingärtner, Domus Romana - https://domus-romana.blogspot.com/2021/03/therma-publica-lastermas-en-la-antigua.html Manuel Lages, colagem 70 Alessandro Vassela, Archdaily - https://www.archdaily.com.br/br/01-112181/light-matters-louis-kahn-e-opoder-da-sombra Google Earth - fotografia aérea (edição Manuel Lages) Alison Cohen Rosa (A24/Apple), MovieMaker - https://www.moviemaker.com/the-tragedy-of-macbethproduction-designer-stefan-dechant/ Parques de Sintra - https://www.parquesdesintra.pt/pt/parques-monumentos/convento-dos-capuchos/ Hamelin de Guettelet, wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Ħaġar_Qim#/media/File:Facade_Hagar_ Qim.jpg João Carvalho, wikicommons - https://commons.wikimedia.org/wiki/Anta_de_Pendilhe Sandro Vaz, Andarilhos do mundo - http://andarilhosdomundo.com.br/2013/05/visitando-machu-picchu/ Hyperaxion - https://hyperaxion.com/history/how-incas-build-machu-picchu/

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54 55 imagens 80-81 Alessandra Chemollo, Afasia - https://afasiaarchzine.com/2018/12/souto-de-moura-33/ 82 Wikimedia (domínio público), Archdaily - https://www.archdaily.com/804921/ad-classics-acropolis-athensictinus-callicrates-mnesikles-phidias 83 Marco Zanta, Divisare - https://divisare.com/projects/390814-david-chipperfield-architects-marco-zantacava-arcari 84 Atelier xyz, Divisare - https://divisare.com/projects/336380-alvaro-siza-vieira-atelier-xyz-leca-swimming-pool 85 Carl Andre, Archdailydel-arte-para-la-formacion-de-cualquier-arquitectohttps://www.plataformaarquitectura.cl/cl/793436/referentes-esenciales-del-mundo86 A2arquitectos, Archdaily - https://www.archdaily.com/887350/architecture-and-the-bare-body-15-spaces-forhealing-relaxing-and-bathing 87 4SeasonsSpa, Divisare - https://divisare.com/projects/316283-david-chipperfield-architects-akasha-wellbeingcentre-at-cafe-royal 88 Artur Machado/Global Imagens, Notícias magazine - https://www.noticiasmagazine.pt/2019/as-termas-jachegaram-ao-futuro/historias/235978/ 89 Aman Resorts, Designboom - https://www.designboom.com/architecture/rick-joy-architects-amangiri-resortutah/ 90 JR10, Archdailyalvaro-siza/20953_21178https://www.archdaily.com.br/br/01-20953/classicos-da-arquitetura-casa-de-cha-boa-nova91 João Morgado, Divisare - https://divisare.com/projects/265753-alvaro-siza-vieira-joao-morgado-renovationof-boa-nova-tea-house 92 Manuel Lages, amostras de material - levantamento fotográfico 93 Alessandra Chemollo, Afasia - https://afasiaarchzine.com/2018/12/souto-de-moura-33/ 94 Felipe Fontecilla, BarqoRadic#prettyPhoto[mixed]/20/http://www.barqo.cl/v1/proyecto.php?tipo=268&arqto=Smiljan%20 95 Gonzalo Puga, Archdailyradic/53c68745c07a80c64a0000b8-restaurante-mestizo-smiljan-radic-fotohttps://www.archdaily.com.br/br/624109/restaurante-mestizo-smiljan96-97 Roland Halbe, AV - https://arquitecturaviva.com/works/centro-de-altos-estudios-musicales0#lg=1&slide=8 98 Almada Virtual Museum - https://almada-virtual-museum.blogspot.com/2018/07/, Horácio Novais 99 Eduardo Galego, Arquivo Municipal de Lisboa, 1966

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Manuel Lages, Maio 2022 foi uma longa jornada até este ponto uma altura complicada, momentos difíceis, coisas boas também eternamenteaqui, incompleta, fica parte do que correu bem, do que me deu gosto fazer é importante simplificar, aosobrigadoaprendimuitosrelativizar,erros,muitoprofessores, pela ajuda e oportunidade aos meus amigos, pelo apoio e desafogo à Joana pelo amor e carinho à minha irmã e aos meus pais, pelo que nunca conseguirei enumerar no final, são as pessoas que fazem a diferença

O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar. “

“ [...] meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância para mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada.

Oscar Niemeyer

agradecimentos

arriba cais lisboa almada memória tempoatmosferaáguanatural tejoritmo silêncio revelarriocidadesomlinhastopografiasmelancoliaterritórios margens ler luz integrar pensar texturas corpo lugar habitar sentiridentidade intimidade ar entre

Projeto Final em Arquitetura – Instituto Superior Técnico – Mestrado em Arquitetura Manuel Lages – Ano lectivo 2021/2022 – Prof. Paulo David, Prof. Daniela Arnaut

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