Relatório Psicopedagogico

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Exemplo de um Relatório de Avaliação Psicopedagógica 1. Identificação Nome Data de Nascimento Situação Escolar Data da Avaliação Responsáveis pela Avaliação

A. M. 18 –04-2006 3º Ano do 1º Ciclo 18-02 e 31-03-2015 1 Psicóloga Clínica, 1 TSEER e a Estagiária de Reabilitação Psicomotora

2. Motivo da Avaliação Avaliação cognitiva e psicopedagógica para despiste de DAE, solicitada pelos pais. 3. Procedimento 2. MOTIVO DA AVALIAÇÃO 4. Informações do Desenvolvimento O A. tem um irmão gémeo, a gravidez decorreu sem complicações até ao 6º mês, altura em que a mãe teve muitas contrações e por isso ficou de repouso duas semanas. A mãe refere que é ansiosa e que durante a gravidez também sentia alguma ansiedade e fez várias ecografias. O parto foi às 36 semanas, planeado e foi por cesariana. O período neonatal decorreu com normalidade, no pós-parto apresentou icterícia, mas fez uma recuperação rápida. O A. tem uma irmã, da parte do pai, com 29 anos e que nunca apresentou dificuldades escolares. A mãe identifica nela própria algumas das características do filho ao nível da leitura e escrita, bem como na sua maneira de ser (“introversão”). Não foram mencionadas dificuldades ao nível da alimentação. O controlo dos esfíncteres foi por volta dos três anos. O desenvolvimento psicomotor foi harmonioso. Relativamente à linguagem, a aquisição já foi mais tardia e com alteração na produção das palavras, bem como na articulação de alguns sons. Os pais referem que o A. e o seu irmão desde sempre tinham um dialeto caraterístico. Relativamente ao sono, foi mencionado que atualmente adormece sozinho e que dorme a noite toda, mas durante os três primeiros anos de vida tinha dificuldade em adormecer e fazia sonos breves, cerca de duas horas, tal como o irmão. Relativamente ao estado de saúde, destaca-se que quando tinha um mês e seis dias teve um episódio de apneia prolongado, de acordo com os dados fornecidos pelos pais. Após esta ocorrência, fez variados exames, concluindo-se que o seu estado de saúde estava normalizado. Em termos sensoriais já foi avaliado à visão e usa óculos na escola, mas nunca foi avaliado à audição. Ingressou no infantário aos três anos, com uma boa adaptação. No pré-escolar, as aquisições foram as adequadas, destacando-se apenas ser muito introvertido. A mãe refere que o A. desde sempre teve dificuldades na leitura e que a professora recomendou desde o início o treino da leitura. Na opinião do pai, o filho já superou estas dificuldades. Os registos de avaliação do 1º Ciclo, descrevem o A. como pouco comunicativo e distraído. Apresenta como áreas mais fracas a caligrafia, a leitura, principalmente, a interpretação, e a escrita, mais especificamente, a ortografia. Ao longo do 1º Ciclo o A. já teve vários professores. Os pais consideram que o A. tem dificuldades na escrita, tanto ao nível da ortografia, como na produção de textos, mas já melhorou a sua caligrafia. Tem dificuldades na interpretação do que lê, mas também já melhorou. Na expressão verbal referem que ele quer expressar-se tão rápido que se atrapalha e “gagueja”, quando não o compreendem acaba por se calar. Ainda apresenta algumas dificuldades de articulação e algumas palavras diz de forma incompleta. É bom a matemática, à


exceção da resolução de problemas. Também tem bons resultados a estudo do meio e tem aptidão para os trabalhos manuais. A professora do ensino regular e a professora do apoio educativo, identificam dificuldades na leitura e escrita, a professora do apoio identifica ainda dificuldades no cálculo mental. Não identificam dificuldades na expressão oral. Os pais referem que, por um lado, o A. é responsável e cuidadoso, empenhado, toma a iniciativa para fazer os TPC, é exigente consigo e compete com o irmão. Mas por outro lado, também é relaxado e tem os cadernos com má apresentação. O A. precisa da ajuda da mãe nos TPC, para a interpretação. Tem explicações ao sábado e na escola tem apoio com uma professora de português, desde o 1º ano. No que concerne à relação com os pares, o A. é sociável, respeitador, meigo e gosta de ajudar, nunca se envolvendo em conflitos. Tem um grupo de amigos, com quem gosta de estar nos seus tempos livres, também gosta de ver televisão, jogar computador e fazer trabalhos manuais nestas alturas. Como atividade extracurricular, pratica natação desde os seis anos. As professoras descrevem-no como sendo calmo, pouco interventivo, esforçado para cumprir as regras. É uma criança autónoma. Não faz birras, lida bem como as correções. É meigo, sensível e aplicado, segundo os pais. 5. Observação e Resultados da Avaliação O A. é uma criança reservada e tímida que revelou alguma dificuldade na elaboração das suas respostas. Apesar disso foi sempre colaborante e esteve motivado para as tarefas propostas, apesar de um pouco ansioso quanto à sua prestação. Avaliação Cognitiva Os resultados da avaliação psicopedagógica encontramse sintetizados na tabela abaixo e serão descritos posteriormente.

Avaliação Psicopedagógica

Tabela 1 - Resumo da Avaliação Psicopedagógica

Consciênc ia Fonológic a

Linguagem Oral

PEERAMID 2

Prova Nomeação de categorias Interpretação de frases complexas

Resultado Animais – 14 (esperado 9-16) Países – 6 (esperado 3-13)

Instruções verbais

2 (esperado 5-8)

Formulação de frases Inferir a informação que falta Resumo Oral e Compreensão de Parágrafo – Texto Narrativo Resumo Oral e Compreensão de Parágrafo – Texto Expositivo

Nível Silábico Nível Fonémico

6 (esperado 8-11)

12 (esperado 13-16) 1 (esperado 3-4)

Comentários Prestação satisfatória Prestação inferior Prestação inferior Prestação inferior Prestação inferior

0 (esperado 4-5) 2 (esperado 3)

Prestação inferior

3 (esperado 3-4) 3 (esperado 2-3)

Prestação satisfatória

Segmentação - adquirido Identificação - adquirido Manipulação - adquirido Segmentação – não adquirido

Prestação satisfatória Prestação inferior


Síntese – com dificuldades Identificação – com dificuldades Manipulação - adquirido Conhecimento da relação grafema-fonema e vice-versa – incompleto e algumas confusões Abecedário Oral - incompleto Abecedário Escrito completo

Princípio Alfabético

Conhecimento das Letras

Nomeação Rápida de Cores – Percentil 25

ALEPE Processamento Palavra Escrita

da

PRP

Percentil 25

Fluência – automaticidade reconhecimento das palavras

no

56 palavras por minuto (esperado 85-110 p/m)

Fluência – exatidão reconhecimento das palavras

no

98% êxito (esperado entre 95 – 98% êxito)

Leitura

Fluência – prosódia ou inflexão Compreensão interpretação) Caligrafia

Ortografia

Escrita

Conhecimento de Letras Leitura – Percentil 99 Conhecimento de Letras Escrita - Percentil 25 Leitura de Palavras – Percentil 25 (Total) Leitura de Pseudopalavras – Percentil 50 (Total)

Expressão Escrita

(reconto

e

Nível 2 – (Escala 4 níveis NAEP) 32% êxito no reconto 44% êxito na interpretação (esperado 70-89% êxito) Legível, mas com irregularidades na forma e no alinhamento. 39% êxito no ditado palavras (esperado 75-85%) 80% êxito na identificação de palavras corretas 56% êxito no ditado de pseudopalavras 100% êxito na discriminação auditiva de pseudopalavras iguais e diferentes 93% êxito na discriminação de pares mínimos em pseudopalavras 14% êxito na escrita livre Estrutura e conteúdo pouco desenvolvidos; Vocabulário pobre. Sintaxe inadequada.

Prestação inferior Prestação inferior

Prestação inferior

Prestação satisfatória Prestação inferior Prestação inferior (nível frustracional) Prestação satisfatória (nível instrucional) Prestação inferior Prestação inferior (nível frustracional) Prestação satisfatória

Prestação inferior

Prestação inferior

Ao nível da oralidade, o A. demonstrou dificuldades nas tarefas que poderão estar relacionadas com a compreensão frásica, com a sintaxe, com a fluência de expressividade e com a atenção. Por outro lado, obteve uma prestação satisfatória ao


nível da nomeação de categorias, o que poderá revelar boas capacidades ao nível da memória de trabalho, bem como no resumo e compreensão do texto expositivo. Nas tarefas informais de consciência fonológica, teve uma prestação satisfatória ao nível da sílaba, mas revela dificuldades ao nível da unidade mais pequena da língua, o fonema. Na correspondência grafema-fonema e vice-versa (princípio alfabético), teve dificuldades em atribuir um som às letras e cometeu alguns erros nesta correspondência, nomeadamente ao mencionar que o som “j” pode ser feito pela letra Z. Estas falhas na consciência fonológica podem interferir com atividades de nível superior, como a leitura e a escrita. O A. não disse o abecedário completo, omitindo o “n” e dando outro nome ao “y”, no entanto, quando solicitado que o escrevesse em letras minúsculas e maiúsculas, não demonstrou dificuldades. Ao nível da leitura, especificamente na prova ALEPE, verificou-se que o A., na nomeação rápida de cores, se encontra no percentil 25, isto é, abaixo da média esperada para a sua idade e grau de escolaridade. Ao nível do processamento da palavra escrita, demonstrou ter um bom domínio do conhecimento das letras ao nível da leitura, mas o mesmo não se verificou ao nível da escrita, onde acaba por confundir o “x” com o “z”, o que automaticamente o coloca numa posição abaixo do que seria esperado para a sua idade e grau de escolaridade. Na leitura de uma lista de palavras, apresentou uma prestação inferior, mas na leitura de pseudopalavras, que serve para avaliar a competência de descodificação, o A. apresentou uma prestação satisfatória. O tempo de reação médio das respostas dadas pela criança nesta prova encontra-se num nível satisfatório. Na PRP, identificou até 22 palavras em 2 minutos e cometeu 3 erros, o que o coloca no percentil 25, ou seja, apresenta um desempenho abaixo do esperado para o respetivo ano de escolaridade. Na leitura de um texto correspondente ao 3º ano de escolaridade, verificou-se que o A. apresenta uma velocidade de leitura abaixo do esperado para o seu ano de escolaridade. Teve uma prestação satisfatória no reconhecimento das palavras, cometendo erros de adição e substituição de letras e substituição de uma expressão, devido ao contexto do texto. Relativamente à prosódia, leu especialmente frases de duas palavras com alguns grupos de três ou quatro palavras. A leitura palavra a palavra ocorreu esporadicamente. O agrupamento de palavras não se relacionou no parágrafo ou contexto global. Nas provas de compreensão da leitura obteve uma prestação inferior. No reconto oral, identificou as personagens do texto e entre 2 a 3 acontecimentos, ficando em falta alguns acontecimentos principais, o tema e a conclusão. Nas perguntas de interpretação, às quais respondeu por escrito, com recurso ao texto, teve mais dificuldades nas perguntas inferenciais e de crítica, tendo respondido corretamente às perguntas literais. As respostas não são dadas de forma completa e são evidentes dificuldades na sintaxe das frases. Na escrita, verificam-se na caligrafia algumas irregularidades na forma e no alinhamento das letras, mas que não interferem significativamente com a legibilidade. O A. é dextro, pega no instrumento de escrita colocando o polegar por baixo do indicador e apoiando o instrumento no dedo médio. Utiliza mão de suporte para estabilizar a folha, numa posição ligeiramente inclinada. Apresenta uma postura adequada. Em termos de correção ortográfica, obteve uma prestação inferior no ditado de palavras e de pseudopalavras. No sentido de compreender melhor estas dificuldades, foram realizados alguns exercícios que permitiram apurar que o A. tem melhores competências na via lexical (memória visual da palavra) e na discriminação auditiva, do que na via fonológica da escrita. Cometeu trocas ao nível dos segmentos fonológicos (vozeado oclusivo: p/b, vozeado fricativo: v/f, ponto articulatório fricativa/sibilante: s/ch), cometeu erros fonológicos no acento das palavras e na sílaba e formato silábico (tl/tel, fl/fel, g/guel), erros ortográficos (s/ç, c/s, gu/g, e/i, u/o, z/s, g/j, h, , qu/c, r/rr, x/cs), erros morfológicos e omissões de letras. .


Na produção escrita livre, escreveu um texto sobre os pais, sem planeamento prévio, sendo a escrita um processo simultâneo e não sequencial. O texto não tem título e não apresenta uma estrutura organizada. As frases não se relacionam entre si e as ideias são pouco desenvolvidas. A sintaxe dos parágrafos nem sempre é adequada e o vocabulário é pouco elaborado. No final, não fez a revisão do texto. 6. Conclusões e Recomendações O A. apresenta um perfil cognitivo heterogéneo, ressaltando valores Médio na Escala de Realização e resultados Médio Inferiores na Escala Verbal. Verifica-se assim que o aluno apresenta recursos a nível cognitivo para efetuar uma aprendizagem escolar satisfatória e este não justifica as dificuldades evidenciadas em contexto escolar. A nível verbal apresentou em geral uma inibição verbal e dificuldades em elaborar respostas mais desenvolvidas e completas, pelo que a sua prestação foi claramente prejudicada por isso. Salientam-se, porém, bons recursos a nível do cálculo mental e da memória auditiva a curto prazo. A sua prestação não-verbal é homogénea em geral no limite médio. Utilizou estratégias adequadas de planeamento e revisão das tarefas propostas e apresentou um ritmo de trabalho adequado sem interferência de aspetos comportamentais. Atendendo aos dados recolhidos e aos resultados obtidos na avaliação pedagógica, foram observadas dificuldades na compreensão e expressão oral, na consciência fonológica, na leitura e interpretação, e na ortografia e expressão escrita. Assim, considera-se que o A. apresenta uma discrepância entre o seu potencial e a sua prestação académica, na leitura e na escrita, dificuldades estas que o prejudicam quer em termos académicos, quer nas atividades quotidianas relacionadas com estas competências. Para além disto, não apresenta problemas sensoriais e motores, perturbações comportamentais, emocionais ou influências ambientais negativas, que justifiquem as suas dificuldades académicas. Por este motivo, conclui-se que apresenta características compatíveis com o diagnóstico de Dificuldades de Aprendizagem da Leitura (Dislexia) e da Escrita (Disortografia). Avaliando o perfil do A., considera-se importante propor desde já uma intervenção que integre os vários contextos da vida do jovem, através do acompanhamento psicopedagógico e psicológico. Sugere-se, ainda, que sejam implementadas as medidas educativas previstas no Capítulo IV, artigo 16º, do Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro, justificadas pelas suas necessidades educativas especiais de caráter permanente, nas seguintes alíneas: a) Apoio Pedagógico Personalizado; d) Adequações no Processo de Avaliação. Recomenda-se ainda a utilização de estratégias por parte dos professores, as quais se encontram descritas no documento anexo “Livrete para Professores”. Em casa, recomendam-se algumas atividades que podem ser feitas em contexto familiar e que podem ajudar a superar algumas das dificuldades encontradas, as quais se encontram no documento anexo “Livrete para Pais”. Colocamo-nos inteiramente ao dispor para fornecer alguma informação adicional ou esclarecer alguma dúvida. A Psicóloga Clínica, a TSEER e a Estagiária de Reabilitação Psicomotora


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